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A tendência dos países ditos civilizados de jogar um véu pudico sobre suas próprias
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08/11/2018 Quando um colonialismo oculta outro
Alimentados por um discurso que lhes diz que o seu país está sempre do lado bom, os
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franceses parecem a anos-luz do caos que os seus próprios dirigentes contribuem para
construir. Os problemas do mundo não os afectam senão quando hordas de miseráveis se
acumulam às suas portas. E são numerosos os que concedem seus votos – como muitos
europeus – àqueles que pretendem poupar-lhes esta invasão. Naturalmente, esta defesa
da "sua casa" deveria logicamente ser acompanhada da recusa de ingerência na casa dos
outros: de que valeria um patriotismo que autorizasse o forte a ingerir-se nos assuntos
do fraco? Ora, a experiência mostra que estes "patriotas" raramente estão na linha de
frente do combate pela independência nacional fora do mundo pretensamente civilizado.
Quais os partidos da direita europeia, por exemplo, apoiam o direito dos palestinos à
autodeterminação nacional? Manifestamente, eles não têm pressa de honrar os seus
próprios princípios.
Mas isto não é tudo. Pode-se mesmo perguntar se estes pretensos patriotas o são
verdadeiramente para si próprios: quantos deles, com efeito, são favoráveis à saída do
seu próprio país da NATO, esta máquina de arregimentar as nações europeias? Tal como
para a pergunta anterior, a resposta é clara: nenhum. Estes "nacionalistas" acusam a
União Europeia pela sua política migratória, mas este é a única amostra de seu repertório
patriótico, verdadeiro disco arranhado com sotaques monocórdicos. Incham os músculos
diante dos migrantes, mas são muito menos viris frente aos EUA, bancos e multinacionais.
Se levassem a sua soberania a sério, questionariam a sua pertença ao "campo ocidental"
e ao "mundo livre". Mas sem dúvida será demasiado pedir-lhes isso.
A França é um dos raros países em que um colonialismo oculta um outro, o velho, aquele
que mergulha suas raízes na ideologia pseudo-civilizadora do homem branco,
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encontrando-se como que regenerado pelo sangue novo do belicismo dos "direitos do
homismo". Este colonialismo, por sua vez, é um pouco como o antigo colonialismo
"acessível aos caniches", para parafrasear Céline. Ele pretende fazer-nos chorar antes de
lançar os mísseis. Em todo o caso, a conivência implícita entre os colonialistas de todas
as plumagens – os velhos e os jovens, os arqueo e os neo – é uma da razões da errância
francesa no cenário internacional desde que rompeu com uma dupla tradição, gaulista e
comunista, que muitas vezes lhe permitiu – não sem erros – arrumar a sua própria casa:
a primeira por convicção anticolonialista, a segunda por inteligência política. Dia virá, sem
dúvida, em que se dirá, para fazer a síntese, que se a França semeou o caos na Líbia, na
Síria e no Iémen era, no fundo, para "partilhar a sua cultura", como afirmou François Fillon
a propósito da colonização francesa dos séculos passados. No país dos direitos do
homem, tudo é possível, mesmo atirar areia para os olhos.
05/Novembro/2018
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