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Niilismo

Introdução
Corrosão, desvalorização, morte do sentido. Falta de finalidade. Quem tem um porquê
para viver, disse Nietzsche, pode suportar qualquer “como”. Mas
morreram os porquês. A bússola, que outrora nos orientava, apesar
das crises, apesar das rupturas, apesar das ilusões, explodiu. Tudo
isso é associado a um conceito fundamental da filosofia
contemporânea, o conceito de niilismo.
Veremos, nessa aula, que o niilismo pode ser mais do que
isso. O niilismo, que pode ser uma doença, uma crise, pode ser
também uma oportunidade. Se o niilismo pode ser “negativo”, quer
dizer, pode ser associado à destruição de nossos valores, da ideia de
Deus, de tudo o que nos sustenta, ele pode ser também “positivo”,
isto é, diante da crise dos antigos valores, o homem pode encarar de
frente sua liberdade, criar novas ideias. Vejamos, de maneira geral, então, o que é o niilismo,
ou melhor dizendo, os vários tipos de niilismos que existem.

Origens
A palavra niilismo deriva do latim “nihil”, que significa nada. Muitos podem ser
considerados precursores do niilismo.
Muitos dizem que há niilistas entre os primeiros filósofos
gregos. O filósofo italiano Emanuele Severino no seu artigo
“Retornar a Parmênides” defende que o primeiro filósofo niilista foi
Heráclito. Todos conhecem a famosa frase de Heráclito, “não podes
entrar duas vezes no mesmo rio”. Heráclito dizia que tudo muda, que
tudo passa, que a essência do universo é a mudança, que o que é não
será, e o que será não será depois. Se tudo passa e nada permanece,
para Heráclito, no fundo está sendo dito que tudo vem do nada e tudo
cairá para o nada. Para Severino, toda a cultura ocidental tem um
fundo niilista: se acreditamos que tudo passará, e tudo será o nada,
que todos que foram não serão, e todos que serão não serão depois, somos, na visão dele,
niilistas, pois vivemos a partir da “nadidade” das coisas. Daí vem sua frase fundamental: “a
essência da civilização europeia é o niilismo.” Toda a história ocidental é atravessada por
pessoas tentando buscar um sentido diante desse niilismo, o fato de que tudo passa.
Ainda na Grécia Antiga, há o sofista Górgias, com suas célebres teses sobre o nada. Ele
defendia que a verdade não pode ser conhecida pois tudo o que sabemos são palavras, o nome
das coisas, e não elas mesmas: "nada existe que possa ser conhecido; se pudesse ser conhecido
não poderia ser comunicado, se pudesse ser comunicado não poderia ser compreendido". Para
ele, os deveres e valores variam conforme o momento; a ética depende da situação. Como tudo,
no fundo, é o nada, ele fica conhecido como “O Niilista.”

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Há ainda quem considera Giacomo Leopardi ou Leibniz pensadores niilistas ou que
dialogam com o niilista. Entretanto, é preciso separar as coisas: por mais que haja filósofos que
possam ser considerados precursores do niilismo, o niilismo como movimento filosófico surgiu
no século XIX e está ligado à modernidade e suas crises. É sobre isso que falaremos agora.

Surgimento
O primeiro uso da palavra “niilismo” foi na Revolução Francesa. Os chamados
“niilistas” eram grupos que não eram nem a favor nem contrários à Revolução Francesa”. Na
Revolução Francesa, alguns reacionários, como Joseph de Maistre e von Baader defenderam
que os protestantes seriam os primeiros niilistas, uma vez que eles criticaram a autoridade da
Igreja Católica e assim abriram caminho para um mundo onde, sem autoridade, as pessoas
acreditam apenas no nada. De fato, depois da revolução francesa, pessoas que não se interessam
em nada, que não acreditam em nada, eram chamadas de nihilites.
O primeiro uso filosófico do conceito de niilismo é atribuído a Fridrich Henri Jacobi
(1743-1810), em polêmica contra Kant. Jacobi acusa Kant de niilista. Para falar de maneira
simplificada, Kant dizia que existe uma realidade em si, uma realidade pura que ele chama de
mundo dos “númenos”; entretanto, essa realidade é inacessível para nós. Tudo o que
conhecemos é o que nossa razão é capaz de conhecer, o mundo dos fenômenos. A realidade
em-si, a realidade pura, não é para nós, é inacessível.
Para Jacobi, essa posição de Kant é niilista e ateia, vindo daí sua frase: “idealismo é
niilismo”. Por quê? Para falar de uma maneira simples: ao dizer que a realidade última é
inacessível e tudo o que conhecemos pela razão, Kant e outros estariam dizendo que o mundo
que vivemos é criação de nossa mente, é uma produção nossa, como se nossa mente fosse
onipotente; ao dizer que nada pode ser conhecido para além da experiência, Kant estaria
negando, mesmo que não fosse essa sua intenção, a força da tradição, das escrituras e da fé, isto
é, daquilo que não é racional. Kant, mesmo que não fosse essa sua intenção, nos levaria ao
cúmulo de acreditar que tudo é razão, o que só pode culminar no ateísmo e na crença de que
não há nada no universo além do que nossa mente cria, isto é, um universo niilista.
O filósofo alemão Max Stirner, por sua vez, é
considerado um dos antecessores do anarquismo
individualista e do niilismo. No seu livro O Único e a sua
propriedade (1844), ele crítica todas as éticas que buscam
criar um sentido maior para o homem, um sentido
transcendente ou metafísico, além do indivíduo. Ele, assim,
acusa de niilista, isto é, de baseado no nada e portanto, vão,
inútil, qualquer tentativa coletivista de negar a existência
originária e irrepetível do indivíduo. O filósofo russo
Alexander Herzen, por sua vez, dizia que a filosofia niilista
não transforma as coisas em nada, como se diz, mas apenas
desvela que existe o nada; e quanto confundimos o nada com algo, vivemos uma ilusão de ótica.

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Mas é na Rússia que o termo niilismo ganhou força. Lá, niilismo passa a designar uma
rebelião contra a ordem estabelecida, o imobilismo da sociedade e seus valores. O romance
clássico de Ivan Turgueniev, Pais e Filhos, foi talvez o grande responsável
por divulgar o termo. O protagonista do romance é Bazarov, um médico
que visita um amigo, o aristocrata Arcádio, na casa de campo que mora com
a família. Assim, aparece a definição de niilista como “um homem que não
se curva diante de nenhuma autoridade, que não admite como artigo de fé
nenhum princípio, por maior que seja o respeito que o envolve”. O autor do
romance não queria defender o niilismo, mas apenas nomear grupos russos
que desafiavam o poder. Entretanto, o efeito foi inverso: o termo niilista
transformou-se em um estigma.

Aliás, o assassinato de um estudante por um grupo niilista na Rússia motiva


Dostoievsky a escrever uma obra chamada “Os Demônios”. Publicado 45 anos antes da
Revolução de Outubro, o romance critica aqueles que, tentando mudar o mundo, acabam se
transformando em assassinos possessos.
Mas, então, é Nietzsche quem dá ao termo niilismo seu sentido mais profundo e radical.
Nietzsche utiliza o termo pela primeira vez em notas do verão de 1880. Podemos falara em dois
aspectos do niilismo de Nietzsche:
- Por um lado, seu niilismo é um fenômeno negativo, ou seja, que indica a decadência do homem
ocidental. Essa decadência ocorreria devido à dois grandes fatores. Primeiro, o racionalismo
socrático, que instaura o predomínio da razão, da racionalidade argumentativa, da lógica, do
conhecimento científico, da demonstração, “espírito apolíneo”, derivado de Apolo, severo deus
da ordem e do equilíbrio, da razão e da luz. Assim, perde-se a proximidade da natureza e suas
forças vitais, a alegria, o excesso, ou seja, o “espírito dionisíaco”, a própria vida. A história da
filosofia é a história do triunfo da razão contra a “afirmação da vida”. A vida foi subjugada
pela razão. Em segundo lugar, o cristianismo, definido como o platonismo do povo, que também
condena o corpo, condena a vida, e valoriza os ressentidos, os medrosos (o medo é pai da
moral), que negam a vontade e o desejo – os cristãos, que temem os homens livres e fortes,
criaram um inferno fictício para jogá-los. Nossa cultura seria decadente, niilista, porque estava
asfixiada por conceitos como Revolução, Estado, Razão ou Deus, que são vazios, amparados
no nada, e sufocam nossa vida em nome de conceitos. Homens como Platão e Kant, ao colocar
a verdade no outro mundo e definir esse mundo como falsidade ou ilusão, teriam contribuído
para nossa decadência. Esse seria o aspecto negativo do niilismo de Nietzsche.
- Por outro lado, o niilismo de Nietzsche tem também um aspecto positivo, que ele chama de
“método genealógico”: ao destruir as falsidades, demolir os nossos ídolos e outras “muletas
metafísicas” que utilizamos para viver, podemos superar o homem e assim fazer advir o “além-
do-homem” ou super-homem. O filósofo “legislador”, nas palavras de Nietzsche, é aquele que
tem uma capacidade artística de criar novos valores, mas não valores absolutos, e sim novos
mitos, novas fábulas, favoráveis a vida e conscientes de que não são verdades absolutas. É
preciso renunciar à nossa doença (pathos) ocidental de buscar verdades absolutas, e a noção de
verdade é dissolvida. É preciso renunciar ao julgamento platônico-cristão que deprecia esse
mundo em nome de outro e abrir caminho para um anova vida. Quando Nietzsche diz, no

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aforismo 125 de A Gaia Ciência que Deus morreu, ele quer dizer que devem morrer as noções
que baseiam a vida em aspectos fora da vida, num mundo ideal ou transcendente.
Em resumo, Nietzsche não apenas apresenta um diagnóstico de nossa decadência, mas
também uma solução. Em Assim Falou Zaratrustra, ele fala em três etapas para nossa salvação:
primeiro, somos como camelos, animais de carga, escravos, suportadores e respeitadores, que
vivemos em função de noções abstratas; depois, somos como leões, revoltados contra toda a
tradição, contra tudo que nos escraviza e mata nossa vida – mas os Leões não criam valores;
por fim, somos como crianças, livres, capazes de enxergar o mundo com outros olhos, criar
novos valores sem comprometer-se com noções tais como Verdade ou redenção:
"A maturidade do homem: isso significa ter reencontrado a seriedade que se tinha ao brincar
quando criança" (Além do Bem e do Mal, Aforismo 94)

Existiria um niilismo passivo, uma reação contra todos os


valores; depois, um niilismo ativo, que destrói esses valores; depois,
um niilismo extremo, que assume a não necessidade de um Deus ou
uma verdade absoluta. Por fim, o niilismo completo é a afirmação
da vida e da vontade de potência!
No século XX, o século do niilismo, as guerras mundiais, os
massacres e o holocausto dão ao niilismo um status de conceito
filosófico quase que onipotente. Depois de Nietzsche e das Trevas do
ocidente, o niilismo teve vida longa.
Na reflexão existencialista de Jean Paul Sartre, confronta-se
com as grandes questões que o nada nos inspira: se, como diz o autor,
“a existência precede a essência”, não há valores ou princípios que antecedem a nossa
existência, e o homem, condenado a ser livre, deve inventar suas vidas e suas escolhas. O
homem nasce inserido numa estrutura de valores determinadas; ao invés de adotar princípios
que ele não criou, ele pode reinventar seus valores e a sua liberdade.
Em Albert Camus, abordado com mais profundidade em outros
vídeos aqui no canal, o romance O estrangeiro mostra um protagonista
totalmente indiferente, inerte, insensível, que entende a gratuidade da
existência e o absurdo do nada em que estamos inseridos. Como o Sísifo
da mitologia grega, devemos enfrentar o absurdo, afastar o suicídio e abrir
nossa liberdade, como o autor defende em O Mito de Sísifo. Para Camus,
uma das poucas posturas filosóficas coerentes é a revolta: ser um homem
revoltado é questionar o mundo a cada segundo, ter certeza de nosso
destino esmagador e não aceita-lo. A revolta dá valor e grandeza a vida,
pois ela reafirma a inteligência contra a realidade. É o que ele defende em
O Homem Revoltado.
Outro teórico niilista, Emil Cioran, aparece como um pensador que denuncia este
mundo e o outro mundo, o finito e o infinito. Seu pensamento é um niilismo metafísico, que
denuncia e aniquila este mundo com as armas da ironia, do desencanto, da dúvida e da lucidez.
O filósofo Martin Heidegger enxerga nossa época como um momento em que o
niilismo tornou-se “condição normal”. Para ele, a erosão e o desaparecimento dos valores, que

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caracteriza o niilismo de nossa época, atinge toda a realidade. Mas não devemos ficar
ressentidos ou procurar restaurar antigos valores; é preciso encarar o niilismo com vontade e
paciência de pensamento, para esperar, como diz o autor “um novo começo”.
Na França, Nietzsche e o niilismo serão recuperados por muitos
pensadores a partir da década de 1960, quando aconteceu a chamada
“Nietzssche-renaissance”. Gilles Deleuze escreveu o clássico Nietzsche
e a filosofia (1962). Jacques Derrida, por sua vez, continua a tradição
niilista ao buscar desmascarar os valores e as verdades tradicionais, as
imposições de sentido e de finalidade.
Na Itália, com nomes como Alberto Caracciolo ou Luigi
Pareyson, a filosofia refletiu profundamente sobre o tema do deísmo
Caracciolo chega a dizer que a nossa época está sob o signo do niilismo
– a maneira como lidaremos com isso determinará a nossa existência ou
a nossa ruina.
Conclusão
Poderíamos ainda citar vários outros filósofos e tradições niilistas, bem como
poderíamos aprofundar os temas citados por muitas horas. Espero que, com esse vídeo, vocês
tenham tido uma ideia central do que é o niilismo e tenham percebido que o niilismo, longe de
ser uma filosofia estática, possui várias interpretações e vertentes. Caso tenha se interessado
por algum pensador citado em particular, anote seu nome e procure suas obras principais.

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