Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
Mário C. Ricci
Depto de Mecânica Espacial e Controle, DMC, INPE,
12227-010, São José dos Campos, SP
E-mail: mcr@dem.inpe.br,
Na matemática aplicada, muitos problemas são fornece informações valiosas quanto à proximidade de
descritos por equações diferenciais ordinárias não pontos de bifurcação num processo de continuação.
lineares que dependem de parâmetros reais. A Em seguida, é descrita a vantagem de se utilizar o
estrutura das soluções pode se alterar, de uma forma método dos múltiplos tiros, um algoritmo desenvolvido
dramática, em certos pontos críticos do parâmetro por Bulirsch e Stoer [7], no cômputo dos valores iniciais
chamados pontos de bifurcação. A área que trata para o sistema estendido e das funções de teste.
desses fenômenos não lineares é a teoria das Continuando com o trabalho, é abordada a questão do
bifurcações que vem se desenvolvendo desde cálculo numérico de órbitas periódicas que bifurcam a
Poincaré [1]. Uma revisão da teoria é encontrada em partir soluções estacionárias.
[2], [3] e [4]. Finalmente, na última seção, são apresentados
Para determinar um ponto de bifurcação resultados numéricos. São calculados pontos de
numericamente pode-se utilizar: a) métodos indire- bifurcação para quatro exemplos práticos em diferentes
tos onde um ramo de soluções estacionárias é obtido áreas de aplicação. Um deles mostra a conexão com a
selecionando os valores do parâmetro através de um teoria das catástrofes. Nos três primeiros são obtidos
processo de continuação. A cada passo os sinais das pontos de bifurcação para soluções estacionárias. O
partes reais dos autovalores do sistema linearizado último trata de pontos de bifurcação complexos, onde
são monitorados (uma função especial é utilizada). órbitas periódicas emanam de soluções estacionárias.
A troca de sinais significa alteração na estabilidade
e, portanto, indica a bifurcação. Técnicas de interpo-
lação ou extrapolação fornecem uma aproximação 1. Definição de Ponto de Bifurcação
do ponto de bifurcação; ou b) métodos diretos onde
Considere um operador não linear, Ψ : Y × K → X
um sistema adequado é formulado e resolvido de
uma só vez. Uma revisão e classificação excelentes onde Y, X são espaços de Banach1 e K pode ser o
dos métodos numéricos para problemas de bifurca- campo dos números reais ou complexos. Considere a
ção, suas aplicações, técnicas analíticas, técnicas de equação
transformação, métodos de discretização, determina-
ção numérica de pontos de bifurcação, etc. são Ψ( y, α ) = 0 . (1)
encontrados em [5].
Esse trabalho descreve um método numérico Supondo que Ψ ( y 0 , α 0 ) = 0 para algum y 0 ∈ Y e α 0
desenvolvido por Seydel [6], para o cálculo de ∈ K , o interesse é resolver a Equação (1) para alguma
pontos de bifurcação em problemas não lineares do
valor de contorno em dois pontos, descritos por vizinhança de ( y, α ) = ( y0 , α 0 ) . De acordo com o
equações diferenciais ordinárias. É um método teorema das funções implícitas, demonstrado por
direto que foi escolhido pelo autor devido Hildebrandt e Graves [9], se a derivada de Fréchet (ver
principalmente às facilidades de implementação e apêndice B.1 de [8]), Ψy ( y0 , α 0 ) , é um homomorfismo2
automatização. de Y em X (o que equivale a dizer que Ψy ( y0 ,α 0 ) tem
Primeiramente é dada a definição de um ponto de
bifurcação. Em seguida a essência do método é inversa limitada), então existe um único ramo suave de
focalizada onde o problema do valor de contorno soluções ( y (α ), α ) de (1) tal que Ψ ( y (α ), α ) = 0 com
dado é transformado num outro problema do valor y (α 0 ) = y0 , definido para α − α 0 menor que algum
de contorno com o dobro das equações do problema
ε 0 > 0 . Tais soluções são ditas não singulares ou regula-
original, envolvendo derivadas parciais de primeira
ordem. Cada solução do sistema estendido é um res e são mostradas como curvas (ramos) em gráficos
ponto de bifurcação e, portanto, tudo que o método que geralmente trazem algum aspecto da solução y em
necessita é de um procedimento numérico para 1
solução de problemas do valor de contorno em dois Definições e resultados relativos a espaços de Banach podem ser
encontrados nos apêndices A.4 e A.5 de [8]. O primeiro exemplo que se
pontos. m
Logo após, dedica-se um espaço para a obtenção tem em mente é X = R equipado com a norma euclidiana
m
de valores iniciais, para o sistema estendido, x = ∑ xi2 .
e
visando à viabilidade da convergência do método. i =1
2
Uma função de teste é, logo após, inserida a qual Uma função biunívoca que é contínua e tem inversa contínua é
chamada um homomorfismo.
720
Imprimir Sair Menu
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
regime permanente no eixo das ordenadas e o partir da solução básica trivial. A ramificação a partir de
parâmetro α no eixo das abscissas. Por exemplo, o uma solução mais geral não trivial (bifurcação
diagrama de bifurcações pode mostrar alguma secundária) pode ser reduzida ao caso de uma bifurcação
norma envolvendo um ou mais componentes do primária, por meio de uma transformação apropriada do
vetor y ou o valor de um componente do vetor de problema, caso se conheça explicitamente a solução
soluções num determinado instante do intervalo de básica y (α ) . Em métodos numéricos, a solução básica é
integração (que, por tratar-se de soluções desconhecida e a bifurcação secundária não pode ser
estacionárias, representa o valor fixo resultante da reduzida. Logo, os métodos de investigação de
componente em todo o intervalo de integração). bifurcações primárias não podem ser aplicados à maioria
A teoria das bifurcações estuda o caso onde dos problemas envolvendo fenômenos não lineares.
Ψy ( y0 , α 0 ) não tem inversa limitada. Nesta situação Apenas a título de informação, para dar um exemplo
singular há uma variedade de possíveis conjuntos de simples e concreto envolvendo bifurcação, considere o
soluções de (1). Neste caso ( y0 , α 0 ) pode ser um seguinte problema retirado de [4]:
ponto de reversão (“turning point”) de uma curva de
soluções de (1) ou um ponto de bifurcação simples F (u , λ ) = u (cu 2 + L − λ ) = 0 ,
onde dois diferentes ramos de soluções se
interceptam sem tangência. Outra possibilidade é a onde Y = X = K = R , L, c, λ ∈ R , c ≠ 0 .
ocorrência de um ponto de bifurcação múltiplo, O interesse é obter o diagrama de bifurcações em
onde mais de dois ramos se interceptam. função do parâmetro λ . O problema tem solução u = 0
A figura 1 mostra um diagrama de bifurcações para todo λ . Se c > 0 tem-se duas soluções não-triviais
1
hipotético trazendo a primeira componente do vetor
de soluções em função do parâmetro real α . O para λ > L , dadas por u = ± (λ − L ) c , conforme a Fig.
diagrama é constituído de 5 ramos de soluções 2.
estacionárias a), b), c), d) e e). O ramo de soluções u
a) é o ramo de soluções triviais. Os ramos restantes
são denominados de ramos de soluções não triviais.
O ponto de bifurcação f) é um ponto de bifurcação
primário. Os pontos g), h) e i) são pontos de bifurca-
ção secundários. O ponto g) é um ponto de bifurca- L λ
ção simples. O ponto h) é um ponto de reversão e o
ponto i) é um ponto de bifurcação múltiplo.
y1
Figura 2: Diagrama de bifurcações para F(u , λ ) .
c)
d) e)
h)
1.1 Critério Suficiente para
i) Bifurcações
g) b)
A questão de Ψ ( y , α ) não ser inversível num ponto
y 0 0
No caso de (1) possuir a solução trivial y = 0 Pela Equação (2c) ϕ (h ) = C ≠ 0 ⇒ h ≠ 0 . Nesse caso,
para todo α ∈ R , a bifurcação à partir do ramo (2b) tem uma solução não trivial e Ψy não tem inversa.
trivial é chamada de bifurcação primária (o nome Portanto, ( y , α ) é um ponto de bifurcação.
0 0
bifurcação às vezes é usado indiscriminadamente,
ver [10] e [11]). A maioria dos trabalhos e métodos
sobre a teoria das bifurcações trata da bifurcação a
721
Imprimir Sair Menu
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
Resolvendo (8) obtém-se o valor α 0 do ponto de problema do TEOREMA 1 tem-se a seguinte forma final
bifurcação (0, α 0 ) . para o sistema
y (x ) f (α , x, y )
2.2 Adição de Variáveis Auxiliares α 0
Y (x ) := , Y ′ = F (x, Y ) := ,
y (x )
2
y1
A resolução dos problemas até agora vistos n
h (x ) f (α , x, y )h
1
r ( y (a ), y (b ))
y n (a ) = 0 (10b) não tem solução para ( y , α ) ≠ ( y , α ) . Removendo a l-
1
yn (b ) − η 2
0 0
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
que esteja próxima de h0 para ( y , α ) próximo de As funções τ lk podem ser determinadas numericamente
( y0 , α 0 ) . resolvendo o sistema (15) e, subseqüentemente,
Para resolver (13) é necessário a armazenagem de utilizando (16) para cada par ( y , α ) obtido durante o
f y (α , x, y ) . Isto também tem que ser codificado em processo de continuação. Entretanto, é muito mais
(11) para a obtenção do ponto de bifurcação. Então, conveniente e econômico usar o método descrito no
é conveniente uma modificação nas condições de próximo item para o cálculo das funções e das condições
iniciais, que é baseado no método dos múltiplos tiros.
contorno de (11) para permitir o cálculo de h que
será utilizado como dado inicial para (11). Tal
sistema modificado também é linear e, portanto, a 5. Cálculo de τ lk e CI’s Pelo Método
solução numérica não é difícil de ser obtida
dos Múltiplos Tiros
Y ′ = F (x, Y ), Ao invés de resolver problemas do valor de contorno
y(a ) − y (a ) para calcular as funções τ lk (16) e os dados iniciais (13)
α −α ou (15), pode se usar o método dos múltiplos tiros [7],
R (Y (a ), Y (b )) := y n (a ) = 0. (15) que requer apenas operações algébricas.
1
Considere os problemas do valor inicial
(I − Pl )( Ah(a ) + Bh(b ))
hk (a ) − 1 h′ = f y (α , x, y )h, h(a ) = s ∈ R n (18a)
e
G ′ = f y (α , x, y )G, G (a ) = I .
4. Mapeamento τ (18b)
forma matricial
hk (a ) − 1
Plk h(a ) = el , 1 ≤ l ≤ n, el dado por (14) , (21)
Para τ ∈ R (17) representa uma família de
problemas do valor de contorno que contém o onde os elementos p da matriz P (n × n ) são dados por
problema (11) para τ = 0 . τ pode ser considerada ij lk
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
resultando numa equação algébrica linear para h(a ) As soluções estacionárias são os estados de equilíbrio
de (3a). As propriedades de estabilidade de uma solução
Elk h(a ) = el . (26) estacionária podem se alterar para algum valor de α 0 do
parâmetro α e podem ocorrer dois tipos de bifurcação:
A escolha do índice l deve ser tal que Elk não seja a) um outro ramo de soluções estacionárias pode emanar
do primeiro (ou interceptá-lo) - assunto abordado até o
singular. Dado que Elk é igual a E com a l-ésima momento; ou b) o “novo” ramo consiste de soluções
linha substituída pelo k-ésimo versor do R n , k dado oscilatórias que dependem do tempo. O restante do
por (6), para simplificar, o índice l deve ser trabalho irá tratar do cálculo de órbitas periódicas (ciclos
escolhido de forma que a l-ésima linha de E não seja limite) que bifurcam de soluções estacionárias. Esse tipo
um vetor unitário, ou melhor, de bifurcação é denominado na bibliografia especializada
de “bifurcação de Hopf” (ver [12] ou [13]) ou
l ∈ {1 ≤ i ≤ n ∃ j ,1 ≤ j ≤ n, ∃η ∈ R “bifurcação complexa”.
O cálculo numérico de soluções periódicas será
t.q. ri ( y (a ), y (b )) = y j (b ) − η}, (27) executado em duas etapas: a) primeiro, calcula-se o
ponto de bifurcação; b) após, calculam-se os ciclos limite
significando que a l-ésima condição de contorno que emanam das soluções estacionárias. Na próxima
prescreve y j (b ) . seção o método direto, desenvolvido para cálculo de
Na resolução do problema do valor de contorno pontos de bifurcação estacionários, será modificado
adequadamente no intuito de se calcular pontos de
dado, (3) ou (10), as matrizes A, B, Gk e E são
bifurcação de Hopf. Na seção seguinte será descrito um
geradas numericamente pelo método dos múltiplos método para o cálculo de órbitas periódicas (ver [14]).
tiros e h(a ) é facilmente determinado por (26). O
cálculo da função τ lk é dado pelo produto escalar de
h(a ) pela l-ésima linha de E
7. Cálculo de pontos de bifurcação de
Hopf
τ lk = elT Eh(a ) . (28) Pontos de bifurcação podem ser encontrados nume-
ricamente de uma forma indireta ou de uma forma direta
Os dados iniciais h(xk ), 2 ≤ k ≤ m , para o sistema como foi explicado no início do trabalho.
Métodos diretos que partem de (29) foram propostos
(11) são dados por (19).
por Kubícek [15], Kubícek e Holodnick [16]. As condi-
ções para bifurcações de Hopf são formuladas como um
6. Oscilações em Equações Dife- sistema de equações algébricas.
Devido, principalmente, às facilidades de implementa-
renciais Ordinárias ção e automatização utilizar-se-á aqui o método de
Oscilações estão presentes em diversos Seydel [14] que parte do método de Seydel [6],
fenômenos naturais (em células de convecção, minuciosamente detalhado nesse trabalho. Agora, o
“flutter” em asas de aviões, reações químicas,...). período T é uma incógnita e uma normalização tem que
Para certos valores de um parâmetro físico (técnico, ser introduzida a qual fixa o período.
biológico,...) as oscilações podem ser periódicas e O método anexa o sistema linearizado
para outros valores o movimento periódico pode
desaparecer ou tornar-se turbulento. Problemas h′ = f y (α , x, y )h . (4a)
contendo oscilações podem ser modelados por
equações diferenciais ordinárias (por exemplo, Sem perda da generalidade, a seguinte condição
equações de Duffing, equações de Van der Pol ou normalizante será imposta a primeira componente de (4a)
equações de Lorenz) e os valores críticos dos
parâmetros que separam soluções qualitativamente n
∂f (α , x, y (0))
diferentes são pontos de bifurcação. 0 = h1′(0 ) = ∑ 1 hi (0) . (30)
i =1 ∂yi
Considere um sistema modelado pelo conjunto de
equações diferenciais dadas por (3a)
Por simplicidade, o intervalo de integração será
725
Imprimir Sair Menu
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
h′ = Tf y (α , x , y )h , (31a) y ( x ) Tf (α , x , y )
h(0 ) = h(1), Y (x ) := α , Y ′ = F (x , Y ) := 0 ,
(31b) T
h1′(0) = 0, 0
y (0 ) − y (1) α (0 ) − α ∗
onde ′ em (31a) denota derivada com relação a x .
f1 (α , x , y (0)) = 0, com g ( y, α , T ) = T (0 ) − T
∗
(34)
Então, o sistema (11) para o caso de bifurcação de g ( y, α , T ) y (0) − η.
Hopf é o seguinte problema do valor de contorno k
em dois pontos de dimensão 2n + 2
A condição de contorno g ( y,α , T ) controla a seleção
y ( x ) f (α , x , y ) de uma solução periódica. Se um valor α = α ∗ é
α 0 prescrito como condição inicial para o parâmetro, então
Y (x ) := , Y ′ = F (x , Y ) := ,
T 0 g ( y,α , T ) = α (0) − α ∗ ; se um valor T = T ∗ é prescrito
h( x ) Tf (α , x , y )h como condição inicial para o período, então g ( y, α , T )
y
= T (0) − T ∗ ; e se, finalmente, um valor η é prescrito
y (0 ) − y (1) como condição inicial da componente k (por exemplo,
h (0 ) − h (1) k = 1 ), então g ( y,α , T ) = y1 (0 ) − η . Fazendo g = 0 , um
n ∂f1 (α , x , y (0)) = 0. (32)
∑ ( )
hi 0
ramo de soluções periódicas pode ser parametrizado em
i=1 ∂ y
pelo menos uma das três possibilidades.
h1 (0) − 1
i
Deve-se destacar que soluções estacionárias também
resolvem (34) e sob parametrização de um ramo de
soluções, na vizinhança de um ponto de bifurcação, a
O sistema (32) é um método conveniente para
convergência é no sentido de se obter soluções
calcular pontos de bifurcação de Hopf e não se
estacionárias e não periódicas. Se a parametrização de
limita somente a estes casos. A bifurcação de ramos
um ramo de soluções periódicas está longe do ponto de
de soluções estacionárias pode também ser obtida
bifurcação, o processo iterativo continua obtendo
por (32).
soluções periódicas. Logo, (34) é bem adequada para
calcular ramos de soluções periódicas longe do ponto de
8. Cálculo de Órbitas Periódicas bifurcação.
Para cálculo de ciclos limite nas imediações de um
No cálculo de órbitas periódicas pode-se utilizar ponto de bifurcação uma outra parametrização deve ser
um método numérico desenvolvido por Langford utilizada. Uma característica marcante que distingue as
[10] que é capaz de calcular órbitas periódicas que soluções estacionárias das soluções periódicas é a
bifurcam da solução trivial. Entretanto, o método de amplitude. A amplitude é zero para soluções constantes e
Langford é muito complicado exigindo expansões e diferente de zero para soluções periódicas. Então, uma
derivadas de altas ordens do termo do lado direito parametrização que considere a amplitude não será
de (3a). O cálculo de órbitas fechadas pode ser dúbia. Um cálculo numérico preciso da amplitude é
muito mais simples. Uma técnica de se obter ciclos mostrado em [17]. Há, contudo, uma maneira mais
limite estáveis consiste em integrar diretamente o simples de parametrizar um ramo periódico. Para isso,
problema do valor inicial (3a) por um longo define-se amplitude como um incremento genérico
intervalo da variável independente.
Uma outra abordagem para o problema consiste A := y1 (0 ) − y1 (x1 ), (35)
em reformular o sistema de edo’s dado e obter um
“TPBVP”, problema do valor de contorno em dois onde 0 < x1 < 1, com x1 arbitrário mas fixo. Levando em
pontos, relativamente simples, pois não se pode
perder de vista que o mesmo deve ser facilmente conta a normalização (33), realmente, deve existir um x1
automatizável. onde y1′ (x1 ) = 0 tal que A é a amplitude real da primeira
Sem perda da generalidade, a seguinte condição componente de y.
normalizante será imposta a primeira componente Considerando (35) as seguintes asserções são válidas:
de y, condição esta que fixa o período incógnito T (i) Se y é uma solução não estacionária de (3a) então
da solução periódica de (3a) há uma componente de y (sem perda da generali-
dade, y1 ) e existem A ≠ 0 e x1 tal que y1 (0 ) −
0 = y1′ (0) = f1 (α , x , y (0)) . (33)
y1 (x1 ) − A = 0.
726
Imprimir Sair Menu
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
não apresentará dificuldades. deve ser função de A, e, por meio de (35), tem-se
O problema do valor de contorno a ser resolvido,
de dimensão n + 3 , para se calcular órbitas
A = y1 (0) − y1 (x1 )
periódicas que bifurcam de soluções estacionárias é
o seguinte = y01 (0) + δh01 (0) − y01 ( x1 ) − δh01 ( x1 ) . (38)
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
numéricos para quatro exemplos. Os três primeiros dos para os valores de γ = 20,0 e β = 0,4 :
envolvem pontos de bifurcação para soluções
estacionárias e o último trata de órbitas periódicas δ y1
que emanam de soluções estacionarias. Para a
obtenção das soluções numéricas os exemplos foram 0,0779303111 0,568898584
transformados em problemas do valor de contorno 0,1375574408 0,869483841
da forma (10) ou (34). Várias soluções foram Tabela l: Pontos de bifurcação para o Exemplo 9.1.
calculadas, num procedimento de continuação,
variando, por exemplo, α ou y . Com o intuito de
2
O diagrama de bifurcação associado é mostrado na
obter informações a respeito do comportamento das Fig. 3 e a função de teste τ 11 , mostrada na Fig. 4, indica
bifurcações, funções de teste foram determinadas os pontos de bifurcação. Evidentemente, a solução nos
através de (28) após cada passo da continuação. Os pontos de bifurcação pode dar um salto para uma ligeira
pontos de bifurcação foram calculados resolvendo o variação no parâmetro δ . Além disso, a Fig. 3 mostra os
sistema (11) ou (32) com as condições iniciais dadas diagramas para vários valores diferentes de γ . Para um
por (19). valor de parâmetro γ = 14 não há pontos de bifurcação.
Todos os problemas de valor de contorno foram
O diagrama de bifurcação com relação a γ e δ é mostra-
resolvidos pelo algoritmo dos múltiplos tiros [7],
[20] utilizando um integrador runge-kutta. Os exem- do na Fig. 5. Os limites da região hachurada consistem
plos apresentam diferentes graus de dificuldade na nos pontos de bifurcação com relação a γ e δ . Para
determinação da solução numérica. Os três primei- valores de γ e δ dentro da região hachurada o problema
ros estão numa escala crescente de dificuldade. O de valor de contorno possui três soluções estacionárias
último tem o mesmo grau de dificuldade do primei- (duas externas assintoticamente estáveis e uma interna
ro. Para detalhes quanto o significado físico das instável); para valores exteriores a região o problema
variáveis e parâmetros sugere-se a consulta a litera- possui uma única solução. Em [23] este tipo de bifurca-
tura original. ção é chamado de cusp catastrophe. Resultados similares
são encontrados se o parâmetro β também é variado.
9.1 Modelo de uma Reação Catalí-
y
tica 1,0
O modelo de uma reação química com uma γ = 10,0
partícula porosa catalítica na forma de placa é
descrito pelo problema de valor de contorno (ver
[18] e [19]): γ = 14,0
0,5
y′′ = δy exp[γβ (1 − y ) / (1 + β (1 − y ))],
y′(0 ) = 0, y (1) = 1.
γ = 20,0 γ = 17,0 γ = 16,0
0,1 0,2 δ
As soluções dependem de três parâmetros reais:
β , γ e δ . Com o intuito de calcular pontos de bifur-
cação em relação ao parâmetro δ , o seguinte siste- Figura 3: Diagrama de bifurcação para o Exemplo 9.1
ma foi resolvido: (β = 0,4).
τ 11
y1′ = y2 ,
γβ (1 − y1 ) 1,0
y2′ = y1 y3 exp ,
1 + β (1 − y1 )
y3′ = 0, ( y3 := δ ),
y4′ = y12 , 0,5
y5′ = y6 ,
γβ (1 − y1 ) γβy1
y6′ = y3 y5 exp 1 − ,
1 + β (1 − y )
1 [1 + β (1 − y1 )]2
0,5 1,0 1,5
δ
y1 (1) = 1, y 2 (0) = 0, y4 (0) = 0,
y5 (1) = 0, y6 (0) = 0, e y5 (0) = 1 (k = 1). −0,5
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
γ sistema variacional:
y6′ = 0,
20,0 y7′ = y12 ,
y8′ = y9 ,
y9′ = y10 c4 (t )(− c1 (t ) sen y3 + c2 (t ) cos y3 ) − c3 (t ) y9 ,
y10′ = y11 ,
15,0 y11′ = y6 y8 c4 (t )(c1 (t ) sen y3 − c2 (t ) cos y3 )
δ + y1 y6 y10 c4 (t )(c1 (t ) cos y3 + c2 (t ) sen y3 ) − c3 (t ) y11 ,
0,1 0,2
com as seguintes condições de contorno:
Figura 5: Cusp catastrophe para o Exemplo 9.1
(β = 0,4). y7 (0) = y8 (π / 2) = y9 (0 ) = y10 (0 ) = y10 (π / 2) = 0,
y8 (0 ) = 1, (k = 1).
9.2 Flexão de Tubos Elípticos Este problema do valor de contorno foi resolvido e
A flexão de um tubo cilíndrico de parede fina dois pontos de bifurcação foram calculados para os
com seção elíptica é descrita pelas equações valores de γ = 0,25 e e = 0,7 :
diferenciais (ver [21]):
α mx
y1′ = y2 , 4,51918878 2,77255230
y2′ = c4 (t )(c1 (t ) cos y3 + c2 (t )sen y3 ) − c3 (t )y 2 , 8,31769839 5,36080852
y3′ = y4 , Tabela 2: Pontos de bifurcação para o Exemplo 9.2.
y4′ = y1 y6 c4 (t )(c1 (t ) sen y3 − c2 (t ) cos y3 ) − c3 (t ) y4 ,
O diagrama de bifurcação da Fig. 6 mostra a
y5′ = y1 ((c5 cos y3 + c6 sen y3 ) cos t
dependência de mx com α .
−(c5 sen y3 − c6 cos y3 )e sen t ),
com 5,0 mx
c1 (t ) := cos t + γe sen t ,
c2 (t ) := γ cos t − e sen t , 4,0
c3 (t ) :=
(1 − e 2 )sen t cos t ,
cos 2 t + e 2 sen 2 t
c4 (t ) := (cos 2 t + e 2 sen 2 t ) ,
1/ 2 3,0
c5 := 1 + cos(2 arctan γ ),
c6 := sen (2 arctan γ ), 2,0
y6 := α . 2
1,0
Condições de contorno:
y1 (π / 2 ) = y 2 (0 ) = y5 (0 ) = 0,
y3 (0 ) = y3 (π / 2 ) = arctanγ . α
0 5,0 10,0 15,0
α , e e γ são parâmetros reais, α descreve certas Figura 6: Diagrama de bifurcação para o Exemplo 9.2
propriedades físicas do tubo. Um momento mx pode (γ = 0,25 e e = 0,7 ).
ser expresso em termos de y5 (π / 2 ) :
9.3 Supercondutividade dentro de
mx = −(2α / π ) y5 (π / 2 ).
uma Chapa
A dependência de mx com α é de interesse. Para O modelo de uma chapa supercondutora de espessura
o cálculo dos pontos de bifurcação são adicionados d imersa num campo magnético paralelo é abordado na
as equações diferenciais das variáveis auxiliares e o ref. [22]. As equações de Ginzburg-Landau são equiva-
729
Imprimir Sair Menu
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
lentes ao sistema: cilindro oco de raio interno ligeiramente maior que o raio
do rotor e com o espaço entre eles sendo preenchido por
x ′′ = K 2 x(x 2 − 1 + λz 2 ), um fluído lubrificante foi abordado em [24], [25]. O
TPBVP para cálculo de bifurcações é o seguinte:
z ′′ = x 2 z ,
x ′(− d / 2 ) = x ′(d / 2 ) = 0, y1
z ′(− d / 2 ) = z ′(d / 2 ) = 1,
y (0) = 1 (k = 1).
7
Figura 8: Função de teste τ 21 para o Exemplo 9.3.
ramos
2πy12 2 y4
0,814211758 1,50982475 2 − 1 − + 2 cos y 3 ,
0,920702676 1,08570337 2 (2 + y12 )(1 − y12 ) y 5
0,954964373 1,75521841 3 2π
y 3′ = f 3 = y4 ,
0,959531656 1,66841418 2 y6
2π 12π 2 S 2 y4
Tabela 3: Pontos de bifurcação para o Exemplo 9.3. y ′4 = f 4 = 1 −
y 6 (1 − y12 ) 2 (2 + y12 )
1
y5
O diagrama de bifurcação é mostrado na Fig. 7 e
48π Sy 2 2
a função de teste τ 21 , mostrada na Fig. 8, indica os + − ( y 2 y 4 + sin y 3 ) ,
y 5 (2 + y12 )(1 − y12 ) y1
pontos de bifurcação. Os pontos de bifurcação y 5′ = f 5 = 0 ( y 5 ≡ ω r ),
separam soluções que descrevem estados físicos
qualitativamente diferentes. Para valores do campo
y 6′ = f 6 = 0 ( y 6 ≡ ω ),
∂f1
magnético no intervalo 0,9207 < λ < 0,9549, y 7′ = f 7 = y8 ,
∂y 2
cinco tipos de soluções não-triviais co-existem para ∂f ∂f ∂f ∂f
o mesmo valor do parâmetro. y 8′ = f 8 = 2 y 7 + 2 y 8 + 2 y 9 + 2 y10 ,
∂y1 ∂y 2 ∂y3 ∂y 4
∂f
y 9′ = f 9 = 3 y10 ,
∂y 4
9.4 Mancal Radial de Deslizamento ∂f ∂f ∂f ∂f
y10′ = f 10 = 4 y 7 + 4 y 8 + 4 y 9 + 4 y10 ,
O modelo de um mancal radial de deslizamento ∂ y1 ∂y 2 ∂y3 ∂y 4
consistindo de um rotor que gira dentro de um
730
Imprimir Sair Menu
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
com as seguintes condições de contorno: parametrização, para ω r > 1,3462..., o problema fornece
a solução estacionária instável mantendo constante o
r1 = y1 (0 ) − y1 (1) = 0, r6 = y8 (0 ) − y8 (1) = 0, valor da freqüência. A parametrização do ramo periódico
r2 = y2 (0 ) − y2 (1) = 0, r7 = y9 (0 ) − y9 (1) = 0, na sua parte estável também é mostrada.
r3 = y3 (0 ) − y3 (1) = 0, r8 = y10 (0 ) − y10 (1) = 0,
y6
r4 = y4 (0 ) − y4 (1) = 0, r9 = y8 (0) = 0, 1,5
r5 = y7 (0) − y7 (1) = 0, r10 = y7 (0) − 1 = 0,
y1 (0 )
A Figura 9 mostra a amplitude da variável y1 (0 )
(excentricidade do rotor em relação ao centro do 1,0
mancal) no instante inicial, em função da velocidade
adimensional do rotor, para um valor fixo do
parâmetro S = 0,33703. Para valores de ω r no
intervalo ≅ 1,2 < ω r < 1,346261494, verifica-se que, 0,5
em regime permanente, co-existem três soluções:
uma estacionária estável e duas periódicas (uma 1,4 1,8 2,2 2,6 y5
instável (tracejada) e outra estável).
Figura 11: Diagrama de bifurcação para o Exemplo 9.4
y1 (0 ) (S = 0,06177). Linha cheia (tracejada) representa
0,5 soluções estáveis (instáveis).
y6
1,66
0,1
$QDLVGRR&RQJUHVVR7HPiWLFRGH'LQkPLFDH&RQWUROHGD6%0$&
31-maio a 3-junho-2004
UNESP – Campus de Ilha Solteira
[3] G. H. Pimbley, Eigenfunction branches of [17] K. H. Becker e R. Seydel, A duffing equation with
nonlinear operators, and their bifurcations. In: more than 20 branch points. In: Numerical solution
Lecture notes in Maths. 104:, Berlin, Springer, of nonlinear equations, Allgower, E. L. et al., eds.,
1969. lectures notes 878:98-107, Springer, Berlin, 1981.
[4] I. Stakgold, Branching of solutions of nonlinear [18] V. Hlavacek, M. Marek e M. Kubícek, Modelling of
equations. SIAM Review 13:289-332, 1971. chemical reactors - X. Multiple solutions of
entalphy and mass balances for a catalytic reaction
[5] H. D. Mittelmann e H. Weber, Numerical within a porous catalyst particle. Chem. Engng. Sci.
methods for bifurcation problems - a survey and 23:1083-1097, 1968.
classification. In: Bifurcation problems and their
numerical solution. Mittelmann, H.D.; Weber, [19] M. Kubícek e V. Hlavacek, Solution of nonlinear
H., eds., Birkhäuser Verlag, Basel, 1980, pp.1- boundary value problems - IX. Evaluation of
45. branching points based on the differentiation with
respect to boundary conditions. Chem. Engng. Sci.
[6] R. Seydel, Numerical computation of branch 30:1439-1440, 1975.
points in ordinary differential equations. Numer.
math. 32:51-68, 1979. [20] J. Stoer e R. Bulirsch, Introduction to numerical
analysis. Springer Verlag, Berlin, 1980.
[7] R. Bulirsh e J. Stoer, Numerical treatment of
ordinary differential equations by extrapolation [21] H. J. Weinitschke, Die Stabilitat elliptischer
methods, Numer. math. 8:1-13, 1966. Zylinderschalen bei reiner Biegung. ZAMM 50:411-
422, 1970.
[8] D. Ruelle, Elements of differentiable dynamics
and bifurcation theory. Boston, Academic Press, [22] F. Odeh, Existence and bifurcation theorems for the
1989. Ginzburg-Landau Equations. J. Math. Phys. 8:2351
-2356, 1967.
[9] T. H. Hildebrandt e K. M. Graves, Implicit
functions and their differentials in general [23] T. Postom e I. Stewart, Catastrophe Theory and its
analysis. A.M.S. Trans. 29:127-153, 1927. applications. Dover, Mineola, 1996.
[10] W. F. Langford, Numerical solution of [24] M.C. Ricci, Aplicação de Métodos Numéricos de
bifurcation problems for ordinary differential Continuação e de Bifurcações ao Problema do
equations. Numer. math. 28:171-190, 1977. Mancal Hidrodinâmico Liso, Longo, Com e Sem a
Presença de Cavitação, Tese de Doutorado em
[11] M. M. Vainberg, Variational methods for the Ciência Espacial/Mecânica Espacial e Controle,
study of nonlinear operators. San Francisco, INPE, São José dos Campos, 1997.
Holden-Day, 1964.
[25] M.C. Ricci e P. N. Souza, Mancal radial de
[12] E. Hopf, Abzweigung einer periodischen deslizamento: determinação de ramos de soluções
lösung von einer stationären losüng eines periódicas e pontos de bifurcação complexos. In:
differential-systems. Bericht der Congreso sobre Métodos Numéricos y sus
mathematisch-physischen klasse der Aplicaciones (ENIEF), 10., Bariloche, Argentina,
sächsischen akademie der wissenschaften zu 10-14 nov. 1997. Mecanica Computacional,
leipzig, 94:1-22, 1942. Asociación Argentina de Mecánica Computacional,
[13] J. E. Marsden e M. McCracken, The hopf v. XVIII, p. 133-142, 1997. (INPE-9851-
bifurcation and its applications, Springer- PRE/5433).
Verlag, New York, 1976.
[14] R. Seydel, Numerical computation of periodic
orbits that bifurcate from stationary solutions