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Conteúdo citado na página 456 do livro Medicina ambulatorial, 4a edição.

ABORTAMENTO E PRINCÍPIOS DA BIOÉTICA


A bioética tem sido amplamente aceita em todo o mundo to se este ato está contra a sua consciência.2,3 Entretanto, en-
como uma ferramenta para orientar a discussão das políticas quanto a objeção de consciência libera o médico da obrigação
de saúde, assim como a conduta profissional de trabalhado- de fazer a interrupção da gestação, não o libera do dever de
res desse setor. Os quatro princípios básicos da bioética são orientar a mulher a outro colega que não tenha essa objeção.
autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. Além disso, a objeção de consciência é individual e não insti-
tucional, e todo serviço tem o dever de prestar atendimento ao
abortamento dentro dos limites da legalidade vigente.
Autonomia
Baseia-se no reconhecimento do direito e da capacidade
de ser informado e tomar decisões responsáveis, o que fa- Não maleficência, beneficência e justiça
vorece o direito da mulher para decidir conscientemente se Os princípios da não maleficência e da beneficência
continua ou interrompe sua gestação, como um agente mo- obrigam a repudiar qualquer restrição colocada ao acesso aos
ral com total autonomia. Ao mesmo tempo, esse princípio serviços que realizem interrupções legais da gravidez com o
rejeita categoricamente a noção de que a mulher pode ser máximo de segurança, seja estabelecendo obstáculos buro-
pressionada a interromper uma gestação. Considerando que cráticos excessivos que tornem o abortamento legal inacessí-
o respeito à liberdade individual pode ser limitado apenas vel (como acontece algumas vezes em casos de estupro), seja
com o propósito de prevenir um dano sobre outra pessoa, é evitando que as pessoas tenham acesso fisicamente a esses
preciso estabelecer se o ovo fertilizado, o embrião ou o feto serviços. Esses princípios também implicam a penalização
se qualificam plenamente como pessoas, e, portanto, mere- de pessoas que realizam abortamentos sem possuir o conhe-
cem o mesmo respeito que a mulher grávida. cimento necessário ou sem recursos técnicos básicos para
realizá-los sem risco desnecessário de dano para a mulher.
A maior parte das pessoas parece concordar em que o di- Nesse sentido, pode-se afirmar que os países com legislações
reito de um indivíduo em desenvolvimento aumenta ao longo restritivas em relação ao abortamento violam o princípio de
de sua vida intrauterina e ainda depois do nascimento. Esse não maleficência, visto que tais restrições resultam em au-
conceito é contrário ao ponto de vista daqueles que argumen- mento do dano para as mulheres e para a sociedade.
tam que a primeira célula, o zigoto, já possui direitos morais
completos iguais àqueles de uma pessoa adulta. É verdade que O princípio de justiça serve para enriquecer a aplicação
nenhum dos pontos de vista debatidos a respeito do momento dos princípios anteriores. Especificamente, obriga-nos a não
em que se pode estabelecer a existência de outra pessoa com ignorar que são os setores mais carentes da sociedade os que
direitos iguais àqueles da mulher que o carrega no ventre po- sofrem os efeitos negativos da falta de acesso ao abortamento
derá dar satisfação a todos. Em outras palavras, o dilema éti- seguro. As mulheres que estão no extremo inferior dos es-
co mais difícil está em definir em que estágio de desenvolvi- tratos socioeconômicos são as mais atingidas pelas restri-
mento o feto adquire direitos morais e legais que lhe permitam ções legais e pelas complicações dos abortamentos realiza-
contrapor-se ao direito de autodeterminação da mulher. dos em condições inseguras. Na realidade, as mulheres com
melhores condições econômicas não têm dificuldades para
Ainda se aceitássemos que a interrupção da gravidez obter abortamentos ilegais, mas seguros. Segundo a OMS,
afeta duas pessoas com direitos semelhantes, persiste a ques- “em países onde o abortamento provocado legal é altamente
tão: qual dos dois deve ter prioridade? Essa questão é parti- restrito e/ou inacessível, o abortamento seguro costuma se
cularmente relevante quando a gravidez ameaça a saúde ou tornar privilégio dos ricos, enquanto às mulheres pobres não
a vida da mulher e é preciso fazer uma opção entre o feto e restam outras opções que recorrer a práticas ilegais, causan-
ela. A preferência pela mulher é quase unânime, incluindo a do morte e morbidade, que se tornam responsabilidade social
Igreja Católica, que permite o que tem se chamado de abor- e financeira do sistema público de saúde”.4
tamento “indireto”, ainda que apenas em duas circunstâncias
Por outro lado, as legislações restritivas muito raramente
específicas (gravidez ectópica e câncer dos órgãos genitais
têm focalizado o homem, que comparte as responsabilidades
coexistente com a gravidez).1
pela gravidez não desejada e que, com frequência, pressiona
Finalmente, o princípio de respeito pelas pessoas tam- a mulher a fazer um abortamento ou cria as condições que a
bém implica que ninguém pode ser forçado a prover servi- levam a procurá-lo.5 Em outras palavras, as legislações restri-
ços de abortamento contra sua consciência, ou seja, ninguém tivas violam, na prática, o princípio de justiça com respeito à
pode obrigar um provedor de saúde a realizar um abortamen- equidade de gênero e de estrato socioeconômico.
Referências
1. Nunes MJR. O tema do aborto na Igreja Católica: divergências
silenciadas [Internet]. [S.l.]: Católicas pelo Direito de Deci-
dir; 2012 [capturado em 25 fev. 2013]. Disponível em: http://
www.catolicasonline.org.br/artigos/conteudo.asp?cod=3486.
2. Schenker JG, Cain JM. FIGO Committee Report. FIGO Com-
mittee for the Ethical Aspects of Human Reproduction and
Women’s Health. International Federation of Gynecology and
Obstetrics. Int J Gynaecol Obstet. 1999;64(3):317-22.
3. World Health Organization. Twentieth world health assembly
resolution 20.14: health aspects of family planning. Geneva:
WHO; 1967.
4. World Health Organization. Safe abortion: technical and poli-
cy guidance for health systems. 2nd ed. Geneva: WHO; 2012.
5. Casas Becerra L, Foro Abierto de Salud y Derechos Repro-
ductivos. Mujeres procesadas por aborto. Santiago: Foro Abi-
erto de Salud y Derechos Reproductivos; 1996.

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