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Letícia Onofre de Figueiredo nasceu no Rio de Janeiro estudou Canto nas classes
de Roberta Gonçalves de Brito e Mathilde Bailly e Composição e Fuga com o professor Paulo
Silva no então Conservatório Brasileiro de Música, além de ter sido aluna do Museu de Arte
Moderna e do Instituto de Belas Artes também no Rio de Janeiro. Foi declamadora, poetisa,
pintora, professora de colocação de voz falada (Fig. 1), de canto, de interpretação e declamação.
Como cantora viajou em turnê pelo Brasil, Europa e toda a América. Foi diretora da Associação
Artística Mathilde Bailly da qual foi fundadora e diretora artística (Fig. 2).
Fig. 1. Atuação de LF como preparadora vocal numa peça de teatro. Correio da Manhã, 24 de Janeiro de 1967. Hemeroteca
Digital Brasileira - site da Biblioteca Nacional.
Fig. 2. Biografia registrada no Programa de concerto de Letícia de Figueiredo, cantora, realizado no Teatro São Pedro, nos dias
17 e 19 de abril de 1945, promovido pela Associação Riograndense de Música. Apud NOGUEIRA (2013)
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Todas as partituras estão disponíveis em: https://pesquisaspianisticas.com/partituras-cancoes-leticia-de-
figueiredo/
compositores tinham a dizer, ao invés de exporem ideias a partir de seu próprio ponto de vista
feminino.
Na Hemeroteca Digital Brasileira no site da Biblioteca Nacional pudemos encontrar
várias notas em jornais da época divulgando os recitais de Letícia de Figueiredo (Fig. 3) na
seção “Música”. Entretanto, encontramos também algumas notas sobre seus recitais na seção
“Sociedade” (Fig. 4) , muito provavelmente porque envolvia uma mulher, inferindo-se que sua
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atuação como intérprete não era profissional, e sim amadora, apenas uma demonstração de parte
da formação esperada das moças da época.
Ao observar alguns dos textos escolhidos pela compositora para suas canções
pudemos observar a escolha por poetas já reconhecidos como Cecília Meireles, Renato Frota
Pessoa e Ribeiro Couto. Identifica-se, porém, como escolha de textos para suas canções, tópicos
não tão usuais à época, e certamente não esperados vindo de uma mulher, como a crítica social
da pobreza nas favelas em “Sinfonia do Morro”, o ceticismo acerca da ideia do amor romântico
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Na Fig. 4, Letícia é mencionada como “talentosa pianista”, o que é claramente um erro visto que na mesma
matéria é citada a pianista que a acompanhou durante o recital.
em “Eu e você”, o retrato depreciativo da figura masculina em “Incontentável” e a
inconformidade com a escravidão (há apenas algumas décadas de extinta) em “Monjolo”. Pode-
se então inferir a preocupação da compositora não somente com os aspectos musicais, mas
também com as injustiças sofridas pelas classes socialmente desprivilegiadas e a desconstrução
dos estereótipos femininos e masculinos.
Através de notas em jornais da época podemos também reafirmar a postura crítica e
de afirmação feminina de Letícia de Figueiredo, principalmente como compositora, ao vermos
sua preocupação em fazer um recital somente com suas composições (Fig. 5) e mais ainda, na
organização de um recital diferenciado somente com canções de compositoras da época (Fig. 6).
Fig. 3. Recital de LF somente com composições próprias. “Correio da Manhã” (RJ) 23 de Julho de 1949. Fonte:
Hemeroteca Digital Brasileira - site da Biblioteca Nacional.
Fig. 4. Nota no jornal sobre recital de Letícia Figueiredo somente com compositoras. “Diário de Noticias”. 11 de
outubro de 1949. Fonte: Hemeroteca Digital Brasileira - site da Biblioteca Nacional.
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Existem normas específicas para a descrição de manuscritos musicais, como as Rules for cataloguing music
manuscripts (GÖLLNER, 1975), publicadas pela – International Association of Music Libraries – IAML e as
normas do Repertoire Internacionale de Sources Musicales – RISM (RÉPERTOIRE INTERNATIONAL DES
SOURCES MUSICALES, 1996). Enquanto as primeiras são regras voltadas para a produção de fichas
catalográficas e trazem uma orientação de cunho marcadamente biblioteconômico, as normas do RISM são
voltadas para uma descrição detalhada das fontes musicais manuscritas. Não cabe nos objetivos desta proposta
aprofundar em nenhuma dessas normativas, mas podemos salientar que serão utilizados os elementos mínimos de
descrição recomendados pelo RISM (Nome do autor (normalizado), Título uniforme e forma musical, Título
próprio, Manuscrito (autógrafo, se for o caso) ou impresso, Designação do tipo de documento (partitura, redução,
livro de coro, etc.), Incipit musical, Nome da biblioteca ou arquivo, cidade e país / assinatura. Devido a
especificidade do gênero cancional serão acrescidas as seguintes informações: Dedicatória, se houver, Local e ano
de composição, Poeta e data de composição do poema, Caráter de expressão e de andamento, Fórmula de
compasso, Linguagem (tonal, modal etc.), Extensão vocal, Duração aproximada, Outras canções com o mesmo
poema, se houver, Gravação da obra quer seja em CD ou em vídeo online, se houver.
ainda o porquê de o pianista fazer suas transcrições, mas uma das partituras, “Sinfonia do
Morro”, possui a versão de Letícia somente com a linha vocal e ideia do acompanhamento e
outra partitura com a harmonização e escrita da parte pianística por Castello Branco da mesma
canção.
Quanto à linha vocal, as canções são silábicas sendo que a maioria possui uma
extensão entre Dó 3 e Fá 4, ou seja, num registro mediano da voz feminina, tornando-se um
repertório muito aconselhável para estudantes que ainda não desenvolveram tecnicamente as
notas mais agudas (Gráfico 4).
Quanto à parte pianística, a maioria das canções possui apenas um tipo de padrão
de acompanhamento por toda a canção, sempre dentro de uma harmonia tonal, em geral com
acordes ou arpejos na mão direita em posição fechada e oitavas na parte da mão esquerda. Tal
tipo de escrita é facilmente tocada pelo próprio cantor proporcionando a possibilidade de se
autoacompanhar. As canções mais variadas na parte pianística, “Tinha de ser assim” com 4
tipos de padrões diferentes e “Sátiras: Experiência, nervosa, crepe, humana e espiritual” com 5
padrões distintos, denotam a preocupação da autora em seguir as imagens poéticas e intenções
expressivas do texto.
Tabela 3. Número de padrões de acompanhamento na parte pianística utilizados por LF nas canções.
Considerações Finais
Referências bibliográficas