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42 revista abendi no 72
fevereiro de 2016
Alexandra Alves
A
História sempre testemunhou estudadas e utilizadas atualmente para
a aplicação de materiais com- inspecionar e detectar defeitos em ma-
pósitos. No Egito Antigo, a teriais compósitos, como a termografia,
fabricação de tijolos ilustra uma das pri- radiografia, tomografia, shearografia e o
meiras utilizações dessa combinação de ultrassom (US). Porém, nenhuma delas
elementos. Outro exemplo ocorreu na é capaz de resolver todos os problemas
época do Império Romano, com a cons- de inspeção em campo. Cada ferramen-
trução de espadas medievais, feitas de ta tem suas vantagens e desvantagens.
cobre e outros tipos de metais. Atual- Considero que a shearografia tem exce-
mente, a mistura adequada de elemen- lente potencial para operação em cam-
tos, numa parceria em que uma garan- po’’, explica o pesquisador e especialista
ta a ligação e a outra a força, beneficia na técnica, Daniel Pedro Willemann.
principalmente a engenharia. A com- A shearografia, basicamente, mede
posição de materiais traz ganhos in- deformações. Trata-se de uma técnica Figura 1 A - Corpo de prova plano
discutíveis ao setor, sobretudo conside- interferométrica que utiliza a luz de um fabricado em alumínio e revestido com uma
rando o desempenho das máquinas, que laser para medir defeitos micrométricos camada de material compósito contendo quatro
aumentam a rigidez se tornando, con- na superfície de uma estrutura investi- defeitos internos
sequentemente, mais resistentes à fadiga. gada. “Sua aplicação como END deve-
Na área de inspeção, especificamen- -se ao fato de os defeitos encontrados
te, outra combinação vem dando mui- no interior de uma estrutura compósita
to certo: o uso de Ensaios Não Destru- provocarem padrões de deformação
tivos (ENDs) em materiais compósitos. irregulares na sua superfície. Portanto,
Acompanhe, a seguir, algumas aplica- as imagens resultantes da shearografia
ções bem-sucedidas. mostrarão anomalias que identificarão
O Laboratório de Metrologia e Au- a presença de defeitos na estrutura in-
tomatização da Universidade Federal vestigada’’, acrescenta o pesquisador.
de Santa Catarina (Labmetro), locali- As imagens a seguir dão uma ideia do
zado em Florianópolis, é especializado potencial de inspeção da ferramenta.
em métodos ópticos de medição e, há A Figura 1A mostra um corpo de pro-
dez anos, vem desenvolvendo equipa- va plano fabricado em alumínio e re-
mentos e técnicas para inspeção não vestido com uma camada de material
destrutiva de estruturas compósitas do compósito contendo quatro defeitos
setor de petróleo e gás. “Existem algu- internos (as marcações da Figura 1B in-
Figura 1 B - Resultado da inspeção realizada
mas técnicas de ENDs que estão sendo dicam as posições dos defeitos).
com shearografia
tecnologiapreservando
tecnologia preservandoa avida
vida
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capa
A Figura 2 (no rodapé) revela a ins- • Revestimentos de costados de na- natural, em uma plataforma de petró-
peção de um corpo de prova fabricado vios e plataformas. leo. O duto com diâmetro nominal de 16
com um segmento de tubo metálico de • Revestimentos internos de grandes polegadas foi revestido com compósito
seis polegadas revestido com material tanques de armazenamento de petró- de espessura aproximada de 17 mm. O
compósito. leo e derivados. sistema de shearografia foi acoplado ao
A Figura 3 (no rodapé) destaca um de- • Tubulações e acessórios fabricados duto por meio de cintas de amarração e
feito interno encontrado no revestimen- inteiramente em material compósito protegido do excesso de luz ambiente e
to compósito de uma tubulação metáli- como, por exemplo, Plástico Reforçado ventos. O carregamento térmico foi uti-
ca de 12 polegadas de diâmetro. com Fibra de Vidro (PRFV). Nessas tubu- lizado nos ensaios e foram detectadas
A shearografia é considerada, pelos lações, encontram-se juntas tipo ponta- pequenas delaminações na borda do
pesquisadores, uma ferramenta de teste -e-bolsa e laminadas. reparo. Os poucos defeitos encontrados
muito prática e robusta quando compa- • Estruturas pultrudadas* como gra- não comprometiam o reparo.
rada a outros métodos de ENDs por ge- des de pisos, guarda-corpos e escadas
rar, como resultado direto, a informação de marinheiro. 2. Testes de linhas em Fibras de Re-
do defeito. “É uma técnica sem contato ‘’As aplicações acima listadas são de forço Polimérico (FRP) de estaleiro
que permite a medição de áreas (não é extrema importância para a indústria As Figuras 5 A e 5 B (na página ao lado)
uma inspeção pontual) e possui altíssi- do petróleo, tornando-se imperioso o mostram o momento da amarração e o
ma sensibilidade, pois é sensível a des- processo de inspeção para garantia da equipamento já acoplado ao spool de 12
locamentos de nanômetros. Essas van- integridade das estruturas e da segu- polegadas para testes em juntas ponta-e-
tagens evidenciam sua grande utilidade rança daqueles que circulam nas suas -bolsa. A variação de pressão foi utilizada
em operações industriais’’, acrescenta vizinhanças. ’’ como carregamento.
Willemann. Conheça, a seguir, algumas inspeções A Tabela 1 (na página ao lado) apre-
Na indústria de petróleo e gás, a shea- com shearografia realizadas pela equipe senta os resultados de oito seções ins-
rografia é aplicada de formas diferentes do Labmetro. pecionadas em uma determinada junta.
para inspecionar materiais compósitos, Apenas um defeito foi encontrado
como: 1. Ensaio em plataforma de pe- (seta indicativa). A área dos retângulos
• Revestimentos compósitos aplica- tróleo marcados sobre as figuras é de aproxi-
dos no exterior de tubulações de aço A Figura 4 (na página ao lado) mostra madamente 145 mm x 60 mm. As Fi-
corroídas e com perda de espessura de o ensaio realizado no revestimento apli- guras 6 A e 6 B (na página 46) mostram
parede. cado em um riser de exportação de gás o resultado ampliado e a marcação do
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Figura 5 A - Fixação do sistema ao duto
Figura 4
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as condições de aplicação normalmen- atividades tecnológicas de hidrogênio do, são os de caracterização elétrica, in-
te não são favoráveis, aumentando a e sistemas de armazenamento energé- cluindo curvas de polarização, varredura
probabilidade de incidência de defeitos tico, incluindo baterias, células a com- de potencial, interrupção da corrente,
como falhas de adesão (nas interfaces bustível e alguns materiais dielétricos. medidas de condutividade elétrica e,
metal-compósito); delaminações (falhas Muitos desses sistemas são baseados em especial, as técnicas de espectros-
de adesão entre as camadas do compó- ou fazem uso de materiais compósitos. copia de impedância (EI). “Essas técni-
sito); inclusões (presença de bolhas e Pesquisador do Cepel, José Geraldo cas podem fornecer informações bas-
corpos estranhos entre as camadas do Furtado explica que, normalmente, é tante detalhadas acerca das interfaces e
compósito) e regiões de não homoge- necessário caracterizar e avaliar mate- constituintes materiais presentes no
neidade na distribuição das fibras no riais, componentes, dispositivos, equi- compósito, bem como dos mecanismos
compósito. Podem também aparecer de- pamentos e sistemas, sem que, com de transporte de cargas envolvidos, e
feitos na estrutura provocados pelo pro- isso, ocorra a destruição dos mesmos. do comportamento do sistema material
cesso de manufatura dos componentes. “Nessas áreas, as principais atividades como um todo. Também fazemos uso
De forma geral, defeitos em revesti- de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de Termografia, que proporciona im-
mentos e reparos protetores podem estão relacionadas ao aperfeiçoamento portantes informações sobre os perfis
comprometer a eficácia da proteção ou e à otimização dos materiais e disposi- térmicos dos sistemas avaliados, possi-
do reforço estrutural e, se não forem de- tivos, principalmente quanto ao incre- bilitando a identificação de heteroge-
tectados e corrigidos, podem evoluir e mento das densidades de energia e de neidades e falhas. ’’
levar a falhas operacionais, acarretando potência, bem como ao aumento da efi- Na Universidade de Campinas (Uni-
risco de vazamento de produtos. Assim, ciência, da vida útil e redução de custos. camp), uma equipe desenvolve experi-
no atual estado de emprego desses ma- Outro objetivo importante é compreen- ências com materiais biológicos, como
teriais, é imperioso proceder à inspeção der os mecanismos de ação e degrada- avaliação da degradação de colmos e
dos revestimentos e reparos aplicados ção dos sistemas materiais em questão. ripas de bambu expostas ao ataque de
em campo, bem como das uniões e jun- Como o desempenho e o comporta- fungos e de brocas; seleção de ripas de
tas em estruturas de compósitos. mento dos dispositivos são funções de bambu para a produção de bambu la-
“Além das vantagens quanto à segu- suas estruturas materiais, caracterizar os minado colado; pega e endurecimento
rança do trabalho em uma linha de pro- principais aspectos estruturais torna-se de compósitos de matrizes inorgânicas
dução, a inspeção periódica, realizada fundamental. Nesse sentido, os ENDs (cimento e gesso) e biomassa vegetal
com um END, é capaz de reduzir custos proporcionam boas abordagens e resul- e, finalmente, avaliação do comporta-
operacionais da indústria do petróleo, tados positivos’’, comenta Furtado. mento de matrizes cimentícias modi-
gás e energia. O valor de uma inspeção Os principais métodos de END empre- ficadas por pozolanas.
END em campo pode ser completa- gados nessas atividades, segundo Furta- Além da Unicamp, participam das
mente justificado quando comparado
ao gasto de mobilização para troca ou
reparo de um trecho de tubulação, por
exemplo. Além dos custos com mate-
rial e mão de obra, necessários ao re-
paro de uma eventual falha na linha de
produção, existe um gasto ainda maior
que é causado pela perda de produção
durante o período de paralisação da li-
nha. Somente isso já seria suficiente pa-
ra justificar a necessidade de inspeção
periódica nas linhas de produção’’, afir-
ma Willemann.
Outra instituição envolvida com tra-
balhos na área de END com materiais
compósitos é o Centro de Pesquisas de
Energia Elétrica (Cepel), que desenvolve
pesquisas as seguintes instituições: Fa- de pesquisa vêm desenvolvendo mé- maior desvantagem do EV é a impossi-
culdade de Tecnologia de São Paulo todos de ENDs, baseados na Termogra- bilidade de detectar pequenas fis-
(Fatec-SP), Serviço Autônomo de Água fia, para manter a qualidade na ope- suras no interior da pá. Já uma inspe-
e Esgoto (Saae), Universidade Estadual ração, evitar acidentes operacionais e ção de END baseada na tecnologia de
Paulista (Unesp) e Universidade Caxias impulsionar a produção. A Flir, espe- imagem térmica infravermelha ativa
do Sul (UCS). Os trabalhos são coorde- cializada na produção de termovisores, pode ser considerada uma boa alterna-
nados pelo especialista no uso de END vem apoiando essas atividades. “Exis- tiva. Em comparação com outras técni-
na avaliação da degradação de bambu, tem vários métodos para inspecionar as cas, a imagem térmica reduz a quanti-
em chapas de partículas prensadas e pás e detectar defeitos, incluindo conta- dade de esforço e tempo para digitalizar
em diversas misturas cimentícias, Anto- tos diretos e testes com US. Porém, cada objetos em grande escala e não é neces-
nio Ludovico Beraldo, coautor do livro procedimento tem seus pontos fortes sário o contato direto com os objetos
Bambu de corpo e alma. e fracos. O ultrassom, por exemplo, di- em inspeção. Além disso, a tecnologia
“Periodicamente, os trabalhos são ficulta a rápida detecção dos defeitos de imagem térmica é fácil de operar. ’’
avaliados com o uso de ultrassom (US)”, devido à disparidade da impedância de Segundo Goes, uma imagem térmica
informa Beraldo. Dependendo das ca- som a partir de materiais compósitos. identifica anomalias com antecedência,
racterísticas dos sensores eletroacústi- Além disso, ele revela áreas pequenas, o pois revela a heterogeneidade no objeto
cos utilizados, existe a possibilidade de que implica muito tempo e esforço para exibida pelas diferenças de temperatu-
avaliar, ao longo do tempo de exposi- inspecionar uma pá de pelo menos 100 ra. ‘’Com essa informação antecipada, é
ção, a degradação de materiais biológi- metros de comprimento, por exemplo’’, possível reparar ou substituir uma pá
cos, como bambu e madeiras, ou tam- afirma o gerente de vendas da Flir Amé- assim que o problema aparece. Além
bém de inspecionar in loco a condição rica Latina, Marcio Goes. disso, por ser a imagem térmica um mé-
de estruturas feitas com esses materiais, Em relação ao Ensaio Visual (EV), todo de inspeção sem contato, permite
como postes, cruzetas e dormentes. O Goes avalia que o contato direto re- a detecção de defeitos instantanea-
US aplicado aos corpos de prova tam- presentaria uma inspeção manual da pá, mente no local, sem a necessidade de
bém permite a escolha de tratamentos para a identificação de trincas. “Esse desmontar a peça’’, complementa.
físico e/ou químicos mais adequados pa- método é frequentemente usado com A seguir, imagens das inspeções feitas
ra obter a compatibilidade química en- o US, mas também é muito limitado. A com câmeras termográficas.
tre a biomassa vegetal e a matriz inor-
gânica, basicamente traduzida por uma
faixa aceitável de velocidade do pulso
ultrassônico (VPU), da ordem de 2 km/s.
“Outra utilização recente de END rela-
ciona-se à avaliação da eficiência da
compactação de blocos de solo-cimen-
to, permitindo alterar os parâmetros do
equipamento construído’’, explica.
O uso de materiais compósitos tam-
bém é muito comum em pás eólicas,
responsáveis pela conversão da força do
vento em energia elétrica, medindo de-
zenas de metros e pesando toneladas,
dependendo da capacidade de geração.
No entanto, esses equipamentos estão
continuamente sujeitos a quantidade
significativa de estresse durante o pro-
cesso de fabricação, testes e operação, o Figura 9 - Imagem visual do rotor de uma pá
que resulta em trincas. Para evitar o pro- Figura 10 - Resultado de uma inspeção por infravermelho
blema, fabricantes de pás e institutos mostrando pequena delaminação
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Figura 11 - Turbina Vestas V90 2 MW
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Além da aplicação nas pás eólicas, décimo do período gasto com outros que matou 239 pessoas em março de
a termografia também é utilizada em métodos tradicionais de verificação ma- 2014. Segundo análise do especialista
inspeções na fuselagem de aeronaves. nual, como Tap Test, por exemplo. Para australiano em aviação, Geoffrey Tho-
Aprovada pela Administração Federal se ter uma ideia, em 100 horas de traba- mas, entre os destroços encontrados,
de Aviação (FAA), o método faz parte lho pode-se inspecionar a fuselagem partes relacionadas ao flap mostravam
da área de manutenção de empresas inteira de um Boeing 737 empregando evidentes delaminações que poderiam
como Boeing, Lufthansa e Airbus. “Mui- a Termografia Ativa. Um acidente aéreo ter sido detectadas previamente com
tos usuários afirmam que conseguem de grande repercussão mundial foi a a aplicação do método”, acrescenta
reduzir o tempo de inspeção a até um queda do avião da Malaysia Airlines, Goes.
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operação de um sistema inteiro. É exata-
mente aí que os ENDs entram, fazendo
o controle da integridade dos materiais
aplicados em tempo real, sem paradas,
poupando o tempo que seria gasto em
reparos e evitando os custos de pausa
para manutenção’’, complementa.
Autor de pesquisas na área, desenvol-
vidas no Laboratório na Coppe/UFRJ (o
instituto de pós-graduação e pesquisa
Figura 15 - Termografia Passiva Figura 16 - Termografia Ativa por em engenharia da Universidade Federal
Lock-In mostra defeitos
do Rio de Janeiro), Souza estudou a apli-
cação de Emissão Acústica (EA) e US em
juntas de dutos PRFV (Polímero Reforça-
do por Fibra de Vidro), muito utilizados
em plataformas de petróleo, especifica-
mente em linhas de água de injeção, es-
senciais para a manutenção da pressão
do poço de petróleo. ‘’O ultrassom, por
ser uma técnica de contato, ainda pos-
sui algumas limitações devido à super-
fície de alguns materiais que dificultam
o acoplamento. Entretanto, uma saída
pode ser o método de imersão local ou
até a usinagem de superfície de inspe-
ção’’, salienta.
Em relação à termografia, acrescenta
Souza, quando utilizada para detecção
de pontos quentes não é muito eficien-
te. “A termografia é uma técnica muito
limpa, sem contato e de resultados rápi-
dos, mas, para o caso da caracterização
Figura 17 - Resultado da inspeção mostra infiltrações de água pelos ENDs, necessita de um conheci-
na fuselagem de um avião mento, até mesmo matemático, mais
aprofundado por parte dos profissionais
Acima, imagens resultantes de ensaios. ponsabilidade estrutural. O conheci- que, para aplicá-la, deverão entender de
O diretor de soluções portáteis da mento gerado nesse setor pode, com domínio de frequência e serem capazes
M2M do Brasil, Marcos Paulo de Souza, é certeza, ser estendido ao óleo e gás, ge- de interpretar os dados com segurança
outro especialista na aplicação de ENDs ração de energia e outros. ’’ e gerar resultados confiáveis”. A imagem
em materiais compósitos. “Tanto em ter- Segundo Souza, muitos materiais na página seguinte mostra que o sim-
mos de propriedades de materiais quan- compósitos são trocados apenas quan- ples monitoramento de um objeto cerâ-
to em custo, os ganhos dos compósitos do falham, devido ao baixo preço ou à mico com uma câmera termográfica não
são inegáveis. Um grande exemplo dis- facilidade de aplicação. ‘’Mas quando é capaz de detectar os defeitos. Já a trans-
so é o setor aeronáutico, que os utiliza se têm milhares de juntas aplicadas formação deste mesmo monitoramento
frequentemente em aplicações de alta numa plataforma, por exemplo, pode para o domínio de frequência, com da-
performance. Seja na aviação militar ou não ser eficiente trabalhar com este dos matemáticos específicos, possibilita
na comercial, já existem aeronaves com tipo de reparo, que requer o fechamen- a obtenção das imagens de fase que,
um percentual muito alto de materiais to temporário de linhas para ser reali- além de ressaltarem os defeitos, possi-
compósitos em peças de grande res- zado, ou até mesmo a interrupção da bilitam seu dimensionamento.
Figura 18 - Termografia: imagem radiométrica sem defeitos e imagem de fase realçando defeito
O mestre em ENDs e Soldagem pela Em relação à inspeção, Bartholo desta- Os principais tipos de ENDs aplicados
URFJ e sócio-diretor da Check Mat, Pablo ca que a aplicação de ENDs nesse tipo de em vasos de pressão de materiais com-
Uchôa Bartholo, destaca os benefícios equipamento é tão fundamental quan- pósitos são US, Termografia, EA e Radio-
da utilização de materiais compósitos to a de um vaso de pressão em aço-car- grafia. ‘’Porém, a aplicação em campo
na fabricação de vasos de pressão. “Para bono. “É importante destacar que a se- de muitos desses ensaios acaba sendo
algumas condições operacionais, os va- gurança dos trabalhadores é de suma inviável por diversas razões. Para isso,
sos fabricados com materiais compósi- importância e a Norma Regulamenta- a seleção da técnica correta e sua res-
tos são mais vantajosos, principalmente dora 13 (NR-13) inclui vasos de pressão pectiva eficácia dependem da interpre-
no controle da corrosão. Uma vez que o de compósitos no seu escopo. Atual- tação das condições operacionais e do
fluido de processo não degrade o mate- mente, no mercado de óleo e gás não há conhecimento das técnicas e de suas
rial por incompatibilidade química, não difusão adequada da existência desse limitações’’, alerta Bartholo.
há a preocupação com a perda de espes- tipo de material, nem de como realizar Em casos de vasos de pressão de pe-
sura por corrosão. Outro fator que favo- sua respectiva inspeção. A metodologia queno porte, que não permitem a en-
rece a utilização desse tipo de equipa- a ser aplicada é responsabilidade do trada do inspetor, a Emissão Acústica é
mento é o baixo custo de fabricação, Profissional Habilitado (PH) que, muitas considerada uma excelente ferramenta
por conta da matéria-prima e produção vezes, não sabe proceder da melhor for- durante a inspeção, assim como o Teste
em série. ’’ ma nesse tipo de inspeção’’, argumenta. Hidrostático.
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Muitos desses equipamentos pos- neira complementar, desde que o calor de materiais compósitos industriais,
suem dispositivos internos, como mem- necessário não comprometa a integri- principalmente em solicitações es-
branas, que seriam danificadas com dade física do equipamento. Em relação truturais, é uma demanda ainda bem
pressões acima da PMTA (Pressão Má- à radiografia, os resultados também são recente se comparada principalmente
xima de Trabalho Admissível) utilizadas muito eficazes, porém, a sua realização ao uso dos materiais metálicos. Eles já
no teste hidrostático (equivalentes a em campo pode exigir preparações es- são uma realidade mundo afora e os
30% acima da PMTA). Aplicando a EA peciais, relacionadas à segurança, logís- ganhos possíveis, tanto em termos de
é possível pressurizar o vaso até a sua tica etc. Por último, o ultrassom é tido propriedades de materiais quanto em
PMTA e monitorar as respostas duran- como uma ferramenta poderosa na ins- custo, são inegáveis. Muito já foi ge-
te um período de tempo. A figura logo peção de compósitos; entretanto, a ne- rado em termos de conhecimento e
abaixo mostra um esquema para a ins- cessidade de um bloco de calibração no muitas aplicações já estão consolida-
talação dos sensores de emissão acústi- mesmo material acaba inviabilizando, das, mesmo que em setores distintos,
ca no vaso. muitas vezes, sua aplicação’’, explica e isso deve ser aproveitado. Interdisci-
‘’Nesses casos, a EA pode trazer re- Bartholo. plinaridade e colaboração podem ser
sultados como rompimento de fibras, Questionado sobre o futuro da utili- as chaves para um futuro ainda mais
regiões heterogêneas, entre outros. Já zação dos materiais compósitos, Mar- empolgante dos materiais compósitos
a termografia deve ser aplicada de ma- cos Paulo de Souza avalia: “A aplicação na indústria brasileira”. a