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MEDITAÇÃO:
UM CAMINHO PARA A AUTO-CURA.
FLORIANÓPOLIS
2011
1
11
GARDNER, Adelaide. Meditação, Um Estudo Prático. Tradução Pedro R.M. de Oliveira. Ed.
Teosófica: Brasília, 1991. Pg. 24 e 25.
2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 3
1. O QUE É MEDITAÇÃO 6
1.1. Técnicas de meditação 7
1.2. A meditação segundo o Yoga de Patanjali 14
1.2.1. Pratyãhãra 17
1.2.2. Dhãrana 19
1.2.3. Dhyãna 19
1.2.4. Samãdhi 20
1.3. A meditação segundo o budismo 21
1.3.1. Os Caminhos do Budismo 23
1.3.2. O Visuddhimagga 24
1.3.3. O processo de purificação 25
1.3.4. A concentração e os jhanas 26
1.4. A meditação na Bhagavad-Gita 29
2. OS SAMSKÁRAS E OS VÁSANAS 34
2.1. Os samskáras e os vásanas na estrutura psíquica do ser humano 34
2.1.1. Samskára (impressões) 34
2.1.2. Vásanas (tendências) 35
2.2. Samskáras e condicionamentos emocionais 36
2.3. A tirania dos samskáras 37
2.4. Samskáras e a ilusão ou maya 39
2.5. O fim dos samskáras 41
3. O VISÃO DO YOGA DE SAÚDE E DOENÇA 44
3.1. Pequena nota sobre doenças, genética e dor 46
4. A MEDITAÇÃO E A SAÚDE 49
5. DESCOBERTAS CIENTÍFICAS SOBRE A MEDITAÇÃO 52
6. CONCLUSÃO 57
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 59
3
INTRODUÇÃO
Chamando a atenção por seus efeitos terapêuticos, a meditação hoje ocupa lugar
nos negócios, nas profissões e no mundo acadêmico. Segundo Daniel Goleman ―as
pessoas meditam em seus trabalhos para aumentar sua eficiência, médicos e
psicoterapeutas ensinam-na a seus pacientes e estudantes universitários escrevem sobre
ela‖2.
2
GOLEMAN, Daniel. A Mente Meditativa.Tradução Marcos Bagno. 5ª Edição. Editora Ática. São Paulo:
1997.Pg. 22.
4
3
GARDNER, Adelaide. Ob. Cit. pg. 26.
5
Por fim, serão apresentados alguns casos práticos de cura através da meditação.
4
PACKER, Maria Laura Garcia. A Senda do Yoga. Filosofia, Prática e Terapêutica. 2ª edição. Blumenau:
Nova Letra; 2009.pg. 339.
6
1. O QUE É MEDITAÇÃO
5
GOLEMAN, Daniel. A Mente Meditativa, pg. 16.
66
KUPFER, Pedro. Ob. Cit. Pg. 8.
7
7
GARDNER, Adelaide. Ob. Cit. pg. 13 e 14.
8
Cada pessoa deve praticar uma das técnicas de meditação e através da auto-
percepção descobrir com qual delas se identifica melhor, a ponto de poder alcançar seu
objetivo maior. Além disso, é importante conhecer os caminhos aos quais cada técnica
irá induzir a mente do meditador. Estes caminhos estão descritos em tratados como o
Visuddhimagga budista, considerada a mais ampla e detalhada obra de psicologia
tradicional dos estados de consciência humana.
88
PACKER, Maria Laura Garcia. Ob. Cit. Pg. 292.
10
Seja qual for a técnica escolhida sempre que se pratica meditação se estará
lidando com a consciência, com a mente e com o cérebro.
Consciência é algo inerente a todo ser humano e está ligada a atributos pessoais
como individualidade, personalidade, inteligência e vontade própria, mas em um grau
superlativo e transcendente. Individualmente, ela está relacionada àquilo que
conhecemos como alma humana, que é a identidade suprema dos seres humanos e que
está conectada com a Consciência Cósmica superior ou bhagavan. A consciência seria
purusha individualizado, sem a sua percepção pela mente. Quando transcendemos a
mente, aumentamos a nossa consciência e podemos, ainda que por breves instante,
perceber purusha em nós.
Citta é uma palavra ―derivada de cit ou citt (IV-34), um dos três aspectos do
Paramãtmã, chamado Sat-cit-ãnanda no Vedanta. Este é o aspecto em que se baseia o
lado-forma do universo e através do qual ele é criado. O reflexo deste aspecto na alma
individual, que é um microcosmo, é chamado citta. Citta é assim, aquele instrumento
ou meio através do qual jivãtmã materializa seu mundo individual, nele vive e evolui,
até que se torne perfeito e unido com o Paramãtmã. Em termos gerais, citta
corresponde à mente da psicologia moderna, mas tem um alcance e um campo de
atuação mais abrangente. (...)
Não devemos, entretanto, cometer o erro de imaginar que citta como uma
espécie de meio material moldado sob diferentes formas quando diferentes tipos de
imagens mentais são produzidas. Fundamentalmente, sua natureza é a da consciência,
que é imaterial, mas afetada pela matéria. De fato, pode-se dizer que citta é um
produto de ambos, consciência e matéria, ou purusha e prakriti, sendo ambos
necessários para seu funcionamento. É como uma tela intangível, que permite que a
luz da consciência seja manifestada no mundo manifestado. Mas o segredo real de sua
natureza essencial subjaz na origem do universo manifestado e somente pode ser
conhecido quando se atinge a Iluminação.‖9
Por fim, temos o órgão material humano, o cérebro, que dá lugar para a
manifestação material da mente humana, e que coordena todo o sistema nervoso, o
qual, por sua vez, permite que o indivíduo perceba e interaja com o meio.
99
TAIMNI, I.K. Ob. Cit. Pg. 20.
13
Vários objetos, figuras e imagens podem servir para foco de concentração. Eles
serão um meio para atingir o estado meditativo. Quando a mente consegue se
concentrar inteiramente no objeto ele irá tornar-se um ponto de obstrução, e somente
quando ele desaparecer a meditação ocorrerá.
Por fim, a respiração também deve ser levada em conta, já que no oriente ela é
considerada um fenômeno fisiológico, psíquico e prânico. O controle da respiração é
um meio de controle da mente. Sempre que focamos a respiração, a mente volta para o
momento presente.
10
Yoga Sutra de Patanjali, citado em TAIMNI, I.K. A Ciência do Yoga. Comentários sobre os Yoga-
sutras de Patanjali à luz do pensamento moderno. Tradução Milton Lavrador. Brasília, Editora Teosófica,
2006. 4ª edição, pg. 19.
1111
TAIMNI.I.K. ob. Cit. Pgs, 217, 219 e 221.
15
Antes de prosseguir com o estudo dos 4 últimos passos, que serão os mais
discorridos a seguir, cabe mencionar alguns pontos importantes sobre yamas e nyamas,
posto que ambos são de extrema importância para a vida e para a prática daquele que
tem como objetivo a prática da meditação.
12
PACKER, Maria Laura Garcia. Ob. Cit. Pg. 27.
13
Idem, pg. 28.
16
14
TAINMI, I.K. Ob. Cit. Pg. 204.
17
isola o mundo externo e as impressões por ele produzidas na mente. A mente fica, pois,
completamente isolada do mundo externo (...). Somente nestas condições é que é
possível a prática exitosa de dhãrana, dhyãna e samãdhi.”15
1.2.1. Pratyãhãra
De acordo com o Yoga Sutra II-54: ―Em pratyãhãra, ou abstração, é como se os
sentidos imitassem a mente, retirando-se dos objetos.”16
Praticando pratyãhãra, os desejos, o prazer e a dor são dominados uma vez que
a percepção torna-se uma tomada de consciência e não uma identificação física. A
importância de pratyãhãra reside no fato de que ele trata da relação do homem com o
mundo exterior. ―Em primeiro lugar, o mundo exterior se dá à consciência como
sensação, há um estímulo e uma resposta da consciência. Quando esta resposta passa
por uma elaboração mental, o que era sensação se transforma em percepção: a sensação
de ruído se transforma na percepção de que caiu alguma coisa. Em segundo lugar,
15
Idem, ob. Cit. Pg. 217.
16
TAIMNI, I.K. Ob. Cit. Pg. 211.
18
A explicação de pratyãhãra dada por Taimni é mais física, porém não mesmo
profunda e consiste no fato de que os estímulos externos provocam vibrações nos
órgãos sensoriais. Se a mente não estiver ligada ao órgão sensorial, estas vibrações
permanecem desapercebidas. Isso ocorre, em parte, e com algumas vibrações, no nosso
dia a dia. Por exemplo: quando um barulho constante produzido por um relógio de
parede não é percebido por alguém trabalhando compenetrado na sala. No entanto,
apesar de ignorarmos algumas vibrações no dia a dia, outras são absolutamente
incontroláveis. E é delas que estamos nos referindo quando se trata de supressão dos
sentidos. Na realidade, pratyãhãra implica numa total e voluntária abstração dos
sentidos, na exclusão da atenção ou concentração em qualquer objeto do mundo
exterior,―a retirada da mente para dentro de si mesma. É um tipo de abstração tão
completo que os órgãos sensoriais param de funcionar.‖18
17
HENRIQUES, Antônio Renato. Yoga e Conciência: a Filosofia Psicológica dos Yoga-Sutras de
Pátañjali. Porto Alegre, Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1984., pg. 202.
18
TAIMNI, I.K. Ob. Cit. Pg. 213.
19
1.2.2. Dhãrana
O próximo passo é a concentração, ou dhãrana. De acordo com o Yoga Sutra
III-I: ―Concentração é o confinamento da mente dentro de uma área limitada (objeto de
concentração).19
1.2.3. Dhyãna
De acordo com o Yoga Sutra III-2: “Fluxo ininterrupto (da mente) na direção
do objeto (escolhido para meditação) é contemplação.”21
19
Idem, pg. 217.
20
HENRIQUES. Ob. Cit. Pg. 205.
2121
TAIMNI, I.K. Ob. Cit. Pg. 219.
20
1.2.4. Samãdhi
O último estágio passo da Autorrealização é o samãdhi. Yoga Sutra III-3: “A
mesma (contemplação), quando há consciência somente do objeto de meditação e não
de si mesma (a mente), é samãdhi.
2222
TAIMNI, I.K. ob. Cit. Pg. 221.
21
23
HENRIQUES, Antônio Renato. Ob.cit. pg. 208
22
24
KYOKAI, Bukkyo Dendo, Sociedade para a divulgação do Budismo. A Doutrina de Buda. 4ª edição.
Impresso por RRDonnelley Moore. Pg. 156, 157 e 158.
23
25
Este item foi resumido do livro A Doutrina de Buda. 4ª edição. Impresso por RRDonnelley Moore,
página 164 à 177.
24
Os discípulos de Buda ainda devem praticar cinco preceitos: não matar, não
roubar, não cometer adultério, não mentir e não se intoxicar com nenhuma substância.
Este seria, de modo bem resumido, o código de conduta do budismo, para que a mente
se liberte das causas de suas modificações e para a cessação do sofrimento do indivíduo.
Na prática, o clássico budista Visuddhimagga dá uma noção da aplicação dos preceitos
de conduta e de seus efeitos sobre os processos mentais no caminho da Iluminação, que
passa pela meditação. Como o objetivo deste trabalho não é o de exaurir o tema da
meditação, a seguir será dada uma pequena noção da meditação na obra clássica
budista.
1.3.2. O Visuddhimagga
O clássico budista Visuddhimagga, é considerado por Daniel Goleman ―a mais
ampla e detalhada psicologia tradicional dos estados de consciência.‖26 Ele começa
indicando os melhores ambientes para praticar a meditação e as atitudes que preparam o
26
GOLEMAN, Daniel. A Mente Meditativa.Tradução Marcos Bagno. 5ª Edição. Editora Ática. São
Paulo: 1997.Pg. 25.
25
meditador para a prática. Descreve também como o meditador deve treinar sua atenção
e o que ele encontra pelo caminho da meditação até atingir o estado de nirvana.
Assim, o comportamento também deve ser controlado porque ele acaba por
afetar a mente e a produção de pensamentos. A conduta moral pura tem o objetivo de
purificar e acalmar a mente.
27
Idem, pg. 27.
26
Para ter a mente calma, dominada e pura, é necessário a contenção dos sentidos
por meio da atentividade. É o pratyãhãra do Yoga Sutra de Patañjali. ―Na atentividade,
o controle dos sentidos advém através do cultivo do hábito de simplesmente observar
percepções sensoriais, sem permitir que estimulem a mente em cadeias de pensamentos.
A atentividade é a atitude de prestar aos estímulos sensoriais o mínimo de atenção.
Quando sistemicamente desenvolvida na prática do vipassana (ver as coisas como são),
a atentividade torna-se o caminho para o estado nirvânico.‖28
O meditador, ainda, deve agir sem avidez e cercar-se de pessoas que pensam
como ele. Por fim, praticando estas ações, o meditador não deve se orgulhar das suas
práticas e de seus frutos, em detrimento daqueles que não as praticam. Todas as
conquistas são perdidas no orgulho, prejudicando a pureza.
1.3.4. A concentração
Então, a pureza é o estado psicológico fundamental para a concentração, sendo
ela responsável pela eliminação sistemática de fontes de distração. Já a concentração
requer a não distração e sua meta é fixar a mente em um único objeto (tal como a
concentração do Yoga Sutra de Patañjali).
28
GOLEMAN, Daniel. Ob. Cit. Pg. 28.
27
29
GOLEMAN, Daniel. Ob. Cit. Pg. 31.
28
experimentar sensações de alegria, arrebatamento, prazer, serenidade, ele pode vir a ter
visões, assustadoras, inclusive, mas é um estado precário de meditação. A meta do
meditador deve ir além dessas sensações e destas visões e, para alcançar o próximo
estágio, o meditador deve abandonar estas sensações.
1. O Senhor Bem-aventurado disse: Aquele que realiza tal ação como dever,
independentemente do fruto da ação, é um asceta, é um Iogue, e não aquele que
carece de fogo e rituais.
2. O que se chama renúncia, deves conhecê-lo como Yoga, Oh Pandava, tampouco
ninguém torna-se um Iogue sem renunciar a vontade formativa.
3. Para o Sábio que busca o Yoga, a ação é chamada meio; para o mesmo sábio
entronizado no Yoga, a serenidade é chamada o meio.
4. Quando um homem não sente apego pelos objetos dos sentidos nem por ações,
renunciando à vontade formativa, então diz-se que está entronizado no Yoga.
30
19. Assim como uma lâmpada não tremeluz em um lugar sem vento, a tal se
assemelha o Iogue de pensamento subjugado, absorto no Yoga do SER.
20. Aquele no qual a mente acha repouso, aquietada pela prática do Yoga; aquele
no qual o Iogue vendo o SER por meio do SER, com o SER se satisfaz;
21. No SER ele encontra o deleite supremo que a Razão pode alcançar além dos
sentidos, onde estabelecido, [o Iogue] não se move da Realidade.
22. Que, havendo-a obtido, pensa não haver maior ganho além dela; onde está
estabelecido, ele não é abalado por qualquer sofrimento;
23. Esta desconexão do vínculo com a dor, deve conhecer-se pelo nome de Yoga. A
este Yoga deve-se aderir com uma firme convicção e mente livre de desalento.
24. Abandonado sem reserva todos os desejos nascidos da imaginação, controlando
com a mente o agregado dos sentidos por todos os lados.
25. Que pouco ganhe tranqüilidade, por meio da Razão controlada com firmeza;
tendo feito que a mente habite no SER, que não pense em nada.
26. Controlando a mente com tanta frequência quanto ela for oscilante e instável,
que a traga sob o controle do SER.
27. A alegria suprema vem para esse Yogue cuja nem é pacífica, cuja natureza
passional é calma, que é imaculado e da natureza do ETERNO.
28. O Iogue que assim sempre harmonizando o eu, eliminou o pecado, facilmente se
deleita com a bem-aventurança infinita do contato com o ETERNO.
29. O eu, harmonizado pelo Yoga, vê o SER que habita em todos os seres, e todos os
seres no SER; em toda a parte vê o mesmo.
30. Aquele que Me vê em toda a parte, e vê tudo em mim, Eu nunca o abandonarei,
e ele jamais se perderá de Mim.
31. Aquele que, estabelecido na unidade, Me adora, habitando em todos os seres,
esse Iogue vive em Mim, seja qual for seu modo de vida.
32. Aquele que, através da semelhança com o SER, Oh Arjuna, vê igualdade em
tudo, seja agradável ou doloroso, é considerado um Iogue perfeito.
33. Arjuna disse: Eu não vejo um alicerce para esse Yoga que Tu declaraste existir
pela equanimidade, devido ao desassossego;
34. Pois a mente é em verdade inquieta, Oh Krishna; é impetuoso, forte e difícil de
subjugar. Julgo que é tão difícil de controlar quanto o vento.
32
47. E entre todos os Iogues, ao que está pleno de fé, com o SER interior habitando
em Mim, ao que Me adora, é por Mim considerado como o mais completamente
harmonizado.”30
É importante notar que o capítulo inicia com o sutra em que o Senhor Krishna
explica para Arjuna a importância do desapego com relação ao resultado que se espera
de alguma ação. No caso da meditação, o desapego é o que vai resultar o alcance do
samadhi. No entanto, a vontade e a determinação do meditador é fundamental para o
alcance dos resultados. A questão principal é o apego ―a que‖. Até se chegar ao
desapego total, o meditador vai se despegando de alguns padrões mentais para ascender
a um mais elevado. Uma vez atingido um mais elevado, ele novamente necessita se
desapegar para atingir um patamar mais alto, e assim, sucessivamente, até o desapego
final.
Outra questão importante com relação ao apego aos frutos de uma ação é que este
apego pode acabar por produzir expectativa e a ansiedade, sendo que ambas, por sua
vez, podem gerar decepções e uma série de resultados pouco positivos que podem
acabar por atrapalhar o caminho daquele que deseja praticar a meditação.
Nota-se também que o Sr. Krishna explica as atitudes mentais que o Iogue deve
praticar: o desapego, a serenidade, auto-conhecimento, auto-controle, equanimidade
diante das circunstâncias (frio/calor, prazer/dor, honra/desonra); o sub-julgação dos
sentidos. Esta seriam atitudes internas que preparam o yogue para o Yoga, que é a
desconexão do vínculo com a dor (nº23).
30
BHAGAVAD-GITÃ. A Canção do Senhor. Tradução de Ricardo Lindemann. Brasília, Editora
teosófica, 2010.
34
2. OS SAMSKÁRAS E OS VÁSANAS
31
HENRIQUES, Antônio Renato. Yoga e Consciência: a Filosofia Psicológica dos Yoga-Sutras de Patãnjali.
Porto Alegre, Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes, 1984, pg. 85.
32
Idem, Idem.
35
―Para Pátañjali samskára é o mesmo que memória, já que sem memória não
permaneceria na mente impressão alguma, e tampouco haveria desejo de reprisar
qualquer ato que fosse.‖33
33
Idem, idem.
34
http://yogajournal.terra.com.br/show_yoga.php?id=1258, por Sandro Bosco, visitado em 09/05/2011.
36
Agora, supomos que esta mulher, ao invés de ser estuprada com dezesseis
anos, tenha sido atacada quando ela tinha três anos. Sua experiência foi ainda mais
terrível e traumática, porque como uma garotinha, ela não tinha meios de compreender
o que estava acontecendo. Para ela, a agressão foi como um assassinato. Mas o choque
foi tão insuportável que ela esquece tudo, apagando completamente o episódio de sua
memória consciente. O samskára foi armazenado com uma carga emocional ainda
maior do que no caso da menina de dezesseis anos; e neste caso, o samskára está
completamente inconsciente. Mais tarde, como adulta, sua vida emocional e sexual
inteira será minada por um trauma escondido do qual ela é completamente
desinformada.
O critério para que um grande samskára seja impresso não é dor, mas
intensidade. Fortes samskáras são gravados no corpo astral quando um episódio é
associado com intensidade emocional. Isso se deve ao fato de que quando se enfrenta
uma situação com forte carga emocional, todos os sentidos estão amplamente abertos, e
o indivíduo está totalmente ciente e vigilante. Não é uma nuvem obscura que é
37
Nem todos os samskáras são criados a partir de grandes eventos, mas sim, das
fortes reações emocionais que o próprio indivíduo gera a partir do evento.Os samskáras
podem ser dotados de forte carga emocional, quando são chamados grandes samskáras
ou de pequena carga emocional, quando são chamados micro- samskáras ou samskáras
aceitáveis. Não importa qual, todos eles estão armazenados na nossa mente.
Outra tendência do mecanismo dos samskáras é fazer com que o indivíduo crie
circunstâncias de vida pelas quais eles podem se manifestar. Eles não só aumentam a
dor e emoções atuais através da superimposição, mas também manipulam o indivíduo a
criar dificuldades nas quais as emoções podem ser vividas de novo. Eles atuam como
tendências latentes, influenciando fortemente no destino das pessoas.
36
Henriques. Ob. Cit. Pg. 86.
39
absurdo, entretanto, tudo isso vem à mente do sujeito de forma muito natural e
logicamente.
Enquanto o indivíduo permanece neste modo de reação, ele pode pensar que o
que está vendo é a cozinha de seu amigo. Mas ele está se enganando completamente,
pois em seu mundo, ele está vendo a cozinha da sua avó, cheia de projeções
inconscientes de alcachofra-fantasmas, e o que seu amigo está vendo na cozinha dele é
completamente diferente. A cozinha projetada na mente não tem nada a ver com a
cozinha real, não é nada mais que uma construção mental. Naquele momento, o sujeito
está completamente desconectado; ele está vivendo em um mundo imaginário, como se
fosse uma gaiola; ele está em qualquer lugar, menos ―aqui e agora‖. Seu julgamento é
prejudicado por um fator não visto, e qualquer decisão importante que tivesse que tomar
nesta cozinha, provavelmente seria distorcida.
samskáras. Nós nunca vemos o mundo, nós apenas podemos ver o nosso mundo, que
está cheio dos fantasmas do nosso passado. Nós estamos desconectados e vivemos em
uma nuvem, e nós nem mesmo suspeitamos disto.
Uma maneira de sair da nuvem e, se não retornar, mas chegar mais perto de
purusha pode ser pela prática do Yoga e da meditação, uma vez que ambos atuam de
maneira e livrar a mente de seus condicionamentos, da ―tirania‖ dos samskáras.
37
HENRIQUES, Antônio Renato. Ob. Cit. Pg. 87.
42
invólucro é uma mistura de pensamentos e emoções e na maioria das vezes não sabemos
se estamos sentindo ou pensando. Esta mente está mais identificada com os padrões
emocionais e sensações do que verdadeiramente com o Eu Superior. É a mente
reativa.‖38
A grande mudança na vida do indivíduo que medita ocorre quando ele consegue
adentrar totalmente em uma camada diferente de sua consciência. É a mudança de
consciência passando a viver ligado aos sentimentos e não simplesmente reagindo às
emoções. É quando ele passa a desenvolver buddhi, e abandona progressivamente
manas. Isso significa que a meditação desenvolve o vijñãna-maya-kósa.
38
PACKER, Maria Laura Garcia. Ob. Cit. Pg. 44.
39
Idem.Pg. 44.
43
3.
4. A VISÃO DO YOGA DE SAÚDE E DE DOENÇA
44
Estando o Yoga ancorado sobre a visão holística do ser, seu objetivo é que o
indivíduo tenha tanto saúde mental quanto a física. Para o Yoga, a doença reflete um
desequilíbrio interno, e significa um ―nível de distanciamento entre o ego e o Ser.
Quanto mais distantes nos encontramos de nós mesmos, ou seja, da nossa essência
eterna e divina, mais doentes nos encontramos. Todas as doenças físicas e mentais são
sintomas desta causa primeira. A dor (duhkha) é o mecanismo de nos trazer para mais
perto de nós mesmos, para percebermos aquilo que clama internamente pedindo
atenção.‖40
―Nosso Ser existe em uma dimensão que transpõe o corpo físico. Somos
sentimentos, pensamentos, energia potencializada. Estas dimensões fazem parte da
nossa percepção do mundo e com elas criamos a nossa realidade relativa instante a
instante. Tornamo-nos aquilo que projetamos com nossa mente distanciada da
Realidade Absoluta que somos. Com tudo isso, vamos criando padrões e crenças,
condutas, hábitos, tendências que vão gerando dor, levando sofrimento e produzindo
enfermidades no corpo físico como forma de liberar a energia antagônica e destoante do
Ser.‖41
40
PACKER, Maria Laura Garcia. Ob. Cit. Pg. 339.
41
Idem, idem, pg. 339.
45
A ponderação sobre os opostos é o remédio mais eficiente para tratar dos maus
hábitos e condicionamentos, enfim, dos implusos que carregamos desde vidas passadas.
Sempre que o meditador estiver agindo ou pensando de acordo com seus
condicionamentos e impulsos que o levam a agir e pensar de maneira contrária aos seus
novos ideais, a ponderação e a consideração sobre o oposto de suas tendências
indesejáveis é o melhor remédio. Este sutra é considerado por Taimni como ―uma das
leis mais importantes sobre a construção do caráter, uma lei que a moderna psicologia
reconhece e recomenda quando lida com os problemas da autocultura.‖43
42
TAIMNI. Ob. Cit. Pg. 185.
43
TAIMNI. Ob. Cit. Pg. 185.
44
PACKER, Maria Laura Garcia. Ob. Cit. Pg. 341.
46
Como preceitua o yoga, a saúde existe quando o indivíduo pensa e age de acordo
com a sua natureza individual, em consonância com seu Eu Superior. Estando em
desacordo com o Eu superior, o indivíduo pode manifestar no corpo tal desequilíbrio.
Assim de acordo com a maneira segundo a qual o indivíduo responde às situações da
vida ele terá ou não saúde, ou seja, o indivíduo não é fruto do ambiente, mas sim, a
postura individual frente às situações cotidianas é que irá determinar o desenrolar dos
fatos e a saúde pessoal. Não são as condições externas que devem determinar a situação
interna, mas o contrário.
A doença ocorre, então, quando o indivíduo faz ou mantém atitudes que não
correspondem ao seu nível de evolução, ou seja, seus pensamentos e suas ações vão
contra o fluxo da sua natureza íntima e sua sabedoria relativa. Exemplo disso é quando a
pessoa age contra sua vontade, com o objetivo de agradar outra pessoa. Assim, doenças
corporais podem ser desencadeadas por atitudes nocivas que o indivíduo pratica com
relação a si mesmo, mesmo sem ter consciência delas.
no âmago de seu ser. A condição genética recebida pela transmissão dos pais ou os
genes, são um meio do qual a alma se serve para exteriorizar sua constituição interior.
Assim, indivíduos da mesma família possuem semelhanças na constituição física e
emocional.
Desse modo, compreende-se que não somos vítimas das informações genéticas.
Não são elas as únicas responsáveis pelo aparecimento das doenças herdadas ou de má
formação, mas sim nossa condição inata, que nos atrai a uma família geneticamente
compatível e que possibilita estampar no corpo as marcas condizentes com nossa
própria estruturação interna.‖45
45
VALCAPELLI & GASPARETTO. A Metafísica da Saúde, vol.I – Sistema Respiratório. Editora Gráfica Vida
& Consciência. Edição on-line
46
Idem.
48
4. A MEDITAÇÃO E A SAÚDE
49
47
KUPFER, Pedro. Guia de Meditação. 1ª Edição, 1999.Pg. 184.
4848
Extraídos do livro ― A Senda do Yoga‖, de Maria Laura Packer, pg. 294.
50
equilíbrio, com uma lucidez que a impede de entrar em conflitos emocionais internos,
principalmente de origem afetiva. Quem a pratica regularmente percebe com algum
tempo de prática que passa a ter muito mais clareza mental, objetividade, paciência,
compreensão e até mesmo senso de justiça.
49
Do site http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI222969-15257,00.html, consulta em
17/05/2011.
50
Este item foi inteiramente retirado do site http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI222969-
15257,00.html, consultado no dia 17 de maio de 2011.
52
A espessura da ínsula (verde) e o córtex pré-frontral cerebral em quem medita é mais grossa
- 2008: estudo publicado em julho pelo BHI mostrou, pela primeira vez, que a RR
produz uma mudança no padrão de ativação dos genes – e maior ela é quanto mais
tempo a meditação é praticada. O mesmo trabalho mostrou que os praticantes tiveram
menos danos fisiológicos celulares ligados ao estresse do que o grupo de controle.
- 2010: um grupo ligado ao BHI, liderado por Marlene Samuelson, provou que mulheres
brancas submetidas a um programa de 2,5 horas semanais de práticas mente/corpo
durante 12 semanas tiveram uma significativa redução na frequência de 12 queixas
cotidianas, como dor de cabeça, confusão visual, tontura, náusea, prisão de ventre,
diarréia, dor abdominal, dor nas costas, dor no peito, palpitações, insônia e fadiga.
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Capítulo extraído de http://acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/cerebro.php, em 17/05/2011.
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autora sênior do estudo. "Este estudo demonstra que mudanças na estrutura do cérebro
podem dar suporte a algumas dessas melhorias que foram relatadas e que as pessoas não
se sentem melhor simplesmente porque estão passando algum tempo relaxando."
CONCLUSÃO
As teorias sobre a meditação parecem ser simples, mas sua prática requer muita
disciplina. Treinar a mente a ponto de trazê-la para a compreensão da realidade não é
um trabalho fácil, pois requer o exercício de um processo lento, longo e gradual de
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ouvir e ler explicações sobre a natureza das coisas; pensar e refletir sobre a informação
gerada e só então se poderá transformar a mente através da meditação.
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GOLEMAN, Daniel. Ob. Cit. Pg. 120.
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Com o início da prática, outros aspectos da vida do meditador que constam nos
códigos de conduta vão sendo automaticamente desenvolvidos, como, principalmente, o
auto-esforço e a disciplina e, com o conseqüente desenvolvimento do
autoconhecimento, a purificação acaba por ser um processo natural.
Enfim, lembrando sempre que devemos nos desapegar dos frutos, é inevitável
que as mudanças que ocorrem na vida do meditador incluindo a melhora do bem-estar
de modo geral e demais consequências positivas da prática meditação irão constituir a
alavanca fundamental para a continuidade no trabalho e a continuidade de seus passos
no caminho da autorrealização ou da autocura, até que um dia, tudo isso deverá ser
abandonado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sites da internet:
- http://www.possibilidades.com.br/meditacao/o_que_eh.asp, consulta em
12/04/2011.
- http://www.clairvision.org/portugues/regressao-a-terapia-de-vidas-passadas-
para-a-libertacao-imediata.html#Cap1, consulta em 03/05/2011.
- http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI222969-15257,00.html ,
consulta em 17/05/2011.
- http://acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/cerebro.php, consulta em
17/05/2011.