Fantástica, fascinante, frágil, veloz, entre outras essas são algumas características da área de compras. Quem já sentiu a sensação de passar nos corredores e ser cobrado, a pressão pelo atendimento imediato, as queixas da morosidade e também os benefícios de receber mimos e elogios quando as expectativas dos outros são atendidas. Atuar em compras é assim, altas emoções, aprendizado constante, rotina pouco monótona, processos que se repetem de forma cíclica, porém envolvente, do telex ao Erp, papel de pão a requisição, como é bom acompanhar essa evolução, conhecer novas pessoas, negócios e contribuir para o crescimento da organização. Se você também se considera um profissional de compras apaixonado pelo que faz, há de concordar comigo que apesar das turbulências que nos envolvem dia a dia é um enorme prazer fazer parte desse mundo comprador e por mais que houvessem motivos pra nos desprendermos dessa função e buscarmos outras alternativas profissionais não parece ser algo tão simples, afinal, gostamos do que fazemos. Quando iniciei em compras há alguns anos tive a certeza de que estava na área certa, me sentia realizada a cada negociação, sendo assim até hoje, sabe aquela volta no almoxarifado meio que a gestão de “estoque a vista”, ajoelhar no financeiro a tal da “penitência” e aquele “samba em compras” depois de alcançar o resultado projetado, só a gente sabe o que é isso, nós compramos qualquer coisa, pra qualquer pessoa em qualquer empresa porque a gente é Comprador, com um jeitinho diferente temos agilidade, criatividade, esperteza, segurança, tantas habilidades reunidas num único profissional, vou fazer um breve resumo de como entrei em compras mesmo não sendo esse artigo auto biográfico. Eu tinha 16 anos, passei num processo seletivo pra atuar numa empresa metalúrgica de médio porte no segmento de metais não ferrosos, foram 9 horas de testes e um banho de chuva até receber a confirmação de que havia sido aprovada, após convocada o recrutador me perguntou em qual área eu preferia atuar Compras ou Financeiro? Não precisei pensar muito, advinha minha resposta... Lógico que não sabia absolutamente nada de Compras, mas uma certeza eu tinha, se pessoalmente prefiro gastar a que pagar, na empresa não vai ser diferente, melhor gastar o dinheiro da empresa do que pagar as contas dela. O que eu não imaginava é que seria tão envolvente essa atuação e com o tempo fui aprendendo na prática e desenvolvendo as habilidades necessárias para me tornar uma Compradora, parou pra pensar como foi quando entrou em Compras? Como se sentiu, quais eram suas expetativas, seus medos, como eram os processos naquela época? Se mais de 2 décadas deve lembrar que enviávamos os documentos aos fornecedores através de fax, dependendo da empresa até telex, e- mail, google pouco se usava, sem contar que estávamos bem longe do EDI, praticamente todas atividades eram realizadas por um único comprador que fazia todo “purchasing” de compras, requisição, pedido, pedido, requisição. Acumulo de tarefas, sobrecarga total, me fez lembrar de um certo dia que cheguei em pleno staff mental depois de um difícil dia de trabalho, precisava fazer cadastro no fornecedor e como sabem, tinha de enviar, ficha cadastral, contrato social, balanço patrimonial e por ai... Sai da minha mesa pra passar o fax, o aparelho ficava numa mesa em frente a minha, comecei a discar, o telefone chamava e quando alguém atendia desligava, tal fato se repetiu por algumas vezes e enquanto isso acontecia meu telefone tocava, então eu largava o fax pra atender o telefone, até que cansei e ao olhar no visor do fax o número discado de quem era? Somos sem dúvidas um dos profissionais mais sobrecarregados da empresa, tal excesso de tarefas nos faz conviver com situações como essa constantemente, aposto que se cada um for expor quantas vezes viveram algo semelhante ficaríamos dias contando, como me ajudaria ter uma auxiliar, mas os investimentos na nossa área eram escassos e mesmo em tempos atuais quando facilmente encontramos no mercado ERP´s, portais eletrônicos que contribuem para a otimização dos processos e das rotinas algumas empresas se opõe em investir, o que atrasa bastante nossa área em relação as demais, acredito que com engajamento e união de todos nós melhoraremos esse cenário. Inclusive, incentivo as mulheres buscar um crescimento maior porque apesar da atuação hibrida de homens e mulheres na nossa área, ainda existem muitas diferenças de salários e um enorme distanciamento das mulheres em cargos de gestão, por isso, precisamos cada vez mais buscar essa igualdade, nos encorajar e fazermos a diferença. É indignante, mas não faz muito tempo que ao ser contratada pra trabalhar numa organização identifiquei ao longo do processo que pra mesma posição estava sendo contratado um homem que por sua vez, não tinha qualificações superiores as minhas, nem mesmo experiências que me sobressaíssem, por que o salário maior? No momento uma outra empresa me chamou pra participar de um processo seletivo, foi quando consegui barganhar um salário melhor com a empresa que já estava me contratando, mas até hoje fico intrigada quando me lembro desse episódio. Em Compras a igualdade dos gêneros vem acontecendo de uma década pra cá quando se ia buscar por uma vaga de Comprador no mercado, o nome já dizia tudo “Comprador” ao contatar o Recursos Humanos das empresas tínhamos a seguinte informação “Vaga somente para o sexo masculino” podia ligar e implorar para concorrer a vaga a resposta seria “não”, as pessoas acreditavam que se contratassem uma mulher a área seria mais morosa, por ser a mulher do sexo frágil não saberia se defender de abusos masculinos, ao ir a produção ou até mesmo visitar fornecedores, até porque o assédio moral era muito maior nas empresas que hoje até porque o Rh funcionava mais como Departamento pessoal, da mesma forma acontecia com as promoções, mulher promovida? Saia com o chefe, claro! Cheguei a perder promoções por não ter um convívio social tão afinco com meus chefes, fornecedores, por não jogar futebol as quartas e não frequentar barzinhos as sextas, porém nada disso me amedrontou e ao longo desses anos sobressai a muitas turbulências, toquei projetos, atuei com diversos profissionais, engenheiros, consultores, diretores, com eles discuti processos, finanças e em 2013 também me formei em Engenheira, detalhe numa turma de 70 alunos homens, se formaram apenas 2 mulheres eu e uma amiga em 5 anos de curso, ambas casadas, sendo eu mãe de 2 crianças, deixo claro que não estou movimentando aqui um feminismo, longe disso, nem mesmo como Sheryl Sandberg – Diretora de Operações do Facebook que acredita que um mundo de fato igualitário seria aquele em que os homens dirigissem a metade dos lares e as mulheres metade de cargos de liderança, penso apenas que o mérito de conquistar uma ocupação, seja de uma liderança empresarial, governamental ou um cabeça familiar, deve ocorrer por competência, por honra e mérito ao que buscou conhecimento e se esforçou pra conquistar seu espaço. Acredito, que muito tem a evoluir em âmbito mundial quanto a aceitação das mulheres nos cargos de liderança, hoje não deixo de frequentar coquetéis, barzinhos com meus pares, parceiros, gestores, enfim, mantenho meu ciclo de relacionamento profissional ativo e atrativo, uma barreira que já quebrei há tempos e que não me impede de crescer, alavancar oportunidades e incentivar profissionais da nossa área a se unirem em busca de reconhecimento e melhorias relevantes a nossa profissão, quantos de vocês já ouviram alguém falar sobre os Compradores serem comissionados em função de seus savings, diferente da área de vendas em que os vendedores ganham além de salários fixos comissões, nós não recebemos nada além de muita pressão, no entanto, essa é uma sugestão apesar de coerente pouco válida para as empresas que nem mesmo nos enxerga de forma tão significativa para seus negócios, uma pena porque sem dúvida alguma, somos o profissional que maior parte do tempo está mitigando possíveis impactos a empresa, faz a política da boa vizinhança com os parceiros, sempre lembra das necessidades seja num serviço externo ou nas horas de folga, não mede esforços, estende horários, trabalha aos fins de semana, vai retira material com seus próprios recursos, nada disso importa, por queremos ver as coisas acontecerem e eliminar o máximo de fadiga possível. Eu passei parte da minha vida tentando entender por que tinha que comprar correndo, por que as necessidades existiam muito antes de chegar a minha mesa, mas quando chegavam não podia aguardar que eu tivesse tempo hábil pra fazer ao menos 3 cotações e negociar com pelo menos um fornecedor até o fechamento do pedido, por muitas vezes também não entendi porque eu comprava com tanta urgência e depois de 1 ou 2 meses o material comprado ainda não tinha sido utilizado, até o dia que me tornei muito mais analítica e passei a apontar os motivos pelos quais tais coisas aconteciam com frequência, foi ai que virei a “Sargenta” era assim que me chamavam quando o CSI acabava e eu começava cobrar todos envolvidos nas emergências que impactavam nos custos e me deixavam de cabelo em pé, resultado desse trabalho, as Comprar emergenciais reduziram de forma bem significativa e eu compreendi que no mundo corporativo é assim, somos ouvidos quando provamos através de dados e fatos os impactos que as falhas causam no resultado da organização.