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Abstract: The themes related to gender and sexuality have been the object of interest of
Geography in various countries, from the existence of disciplines in graduate programs
as a set of well-known publications of human geographers. However, in Brazil these
discussions have not won the necessary importance and is from a small geographical
publication in periodicals, organized events focusing this issue and the limited number
of lines or research projects that have the objective to understand the issues of gender
and sexuality from their spatiality. The ethnocentrism has prevailed in these under-
standings, and largely has not been challenged by non-anglophone geographers. We
support the idea that the study of gender and sexuality are an interesting geographic
scope, which can help us in our understanding of the speci�cs in opening a new world,
complex and diverse.
sexuais, shemales, tgirls, ladyboys, T-lovers, culturais e interações cotidianas que o sexo
e mulheres não-transex. As específicas transforma-se em gênero, a partir de cons-
espacialidades destes sujeitos tencionam truções espaçotemporais especí�cas.
a heterossexualidade inscrita no espaço, A empiria colabora com estas a�rma-
até então invisível (VALENTINE, 1993). ções. Na terceira maior ilha da Indonésia,
Essas re�exões têm se colocado dentro de na Ilha de Sulawesi, reside um grupo ét-
um corpo de discussão em que as prin- nico denominado de Bugis. Este grupo é
cipais in�uências estão localizadas nos estruturado não apenas por dois gêneros,
trabalhos de Simone de Beauvoir, Michel mas por cinco gêneros, sendo que ne-
Foucault, Teresa de Lauretis, Judith Butler, nhum deles é desviante a alguma norma,
Donna Haraway, e mais especi�camente como nos casos de exclusão e segregação
na Geogra�a, nos trabalhos realizados por facilmente encontráveis no ocidente em
geógrafas/os como Davis Bell, John Binnie, relação a grupos homossexuais. Os cinco
Gill Valentine, Nancy Duncan, Richard grupos seriam: Aroane, Makunmi, Cala-
Phillips, Peter Jackson, Linda McDowell, lai, Calabai, Bissu. Generalizações podem
Gillian Rose, entre outros. ser problemáticas, devido à distinção das
Dentre as várias perspectivas lançadas organizações sociais entre ocidente e ou-
pelos autores, uma das proposições que tros grupos não-ocidentais. Entretanto,
tem nos chamado atenção está relacionada a guisa de ilustração, cada grupo seria, a
à discussão feita por Butler (2003), refe- partir da nossa visão ocidental, compará-
rente a seu conceito de performatividade. A vel aos seguintes grupos, na mesma or-
autora entende a performatividade como dem: masculino, feminino, lésbicas, gays,
a reiteração de um conjunto de normas para-gênero masculino/feminino. Esses
que são anteriores aos sujeitos. Esses grupos desa�am nossas noções de que os
papéis de gênero seriam cotidianamente seres humanos dividem-se apenas em dois
retrabalhados, demonstrando sua carac- gêneros, e que é a anatomia que determina
terística de instabilidade, temporalidade e os mesmos (BLACKWOOD, 2005).
espacialidade. Pelo fato de não existir um Tanto em relação ao gênero, a performa-
gênero ideal localizado em alguma posição tividade e a linearidade de sexo, gênero e
social, os elementos ou normas de gênero desejo, o espaço é um elemento primordial
seriam apropriados e re-signi�cados pe- enquanto reflexo, meio e condição das
los sujeitos. Esses papéis são sustentados normas culturais de gênero e sexualidade.
pela imposição aos corpos da linearidade Entretanto, da mesma forma que existem
de sexo-gênero-desejo, pois espera-se que distintas espacialidades, relacionadas
corpos nomeados como macho ou fêmea a distintas práticas sociais, a produção
desempenhem papéis correspondentes geográfica não é homogênea, havendo
de masculinidade e feminilidade. Alguns uma grande variedade entre as temáticas
corpos escapam desta imposição, sendo valorizadas na própria re�exão das espa-
nomeados como desviantes e doentes, e cialidades dos grupos sociais.
tendo outras espacialidades.
Neste ponto, o sexo vai muito além de REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO
um fato, um dado (MCDOWELL, 2003). GEOGRÁFICA EM GÊNERO E
Ele é signi�cado e elaborado socialmente/ SEXUALIDADE
culturalmente, e por isso mutável, variável
e aberto a mudanças (BEAUVOIR, 1967). As discussões geográ�cas envolvendo
É com regulações institucionais, práticas a relação entre as temáticas gênero, es-
trabalho, cotidiano e gênero. No início do Paulo, USP, Brasil), Sonia Alves Calió
século XXI, alguns temas permanecem (Universidade de Uberaba, UNIUBE, Bra-
como as relações entre mulheres e trabalho. sil), Sueli Andruccioli Felix (Universidade
Entretanto, outros temas têm nascimento, Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
como a valorização da obra de Simone de UNESP, Brasil) e Susana Maria Veleda da
Beauvoir para as ciências sociais, plane- Silva (Universidade Federal do Rio Gran-
jamento urbano e gênero, as questões de de, FURG, Brasil)8. Estas/es geógrafas/
gênero na lutas do Movimento dos Sem- os têm se colocado na contra mão do que
Terra, cruzamentos entre gênero, raça e é produzido, via de regra, no Brasil, pois
uma feminização da pobreza, migrações este total é pequeno, frente ao número de
nacionais e internacionais. Nesta década geógrafos/as que trabalham com outras
surgem acusações de ausências e silêncios temáticas já consagradas da geogra�a hu-
do discurso geográ�co, a instituição de mana, como geogra�a urbana ou geogra�a
um espaço paradoxal como resultante da política. Isto difere da relevância dada por
intercessão entre sexo, gênero e desejo, e outros campos do conhecimento às temá-
a espacialidade das homosexualidades. ticas de gênero e sexualidade, temas que
Também fazem parte desta tônica as dis- a tempo são trabalhados na Antropologia,
cussões envolvendo violência, criminali- Sociologia, Psicologia e História.
dade e gênero. Na produção cientí�ca do hemisfério
Esses trabalhos foram realizados na dé- norte, Olesen (2008) aponta em Early Mil-
cada de 1990, ou tem sido realizados neste lennial Feminist Qualitative Research, que os
início de século, pelas/os professoras/es principais campos do conhecimento que
Antônia dos Santos Garcia (Universidade tratam das questões envolvendo gênero e
Federal da Bahia, UFBA, Brasil), Antonio sexualidade são a Antropologia, Sociolo-
Thomaz Júnior (Universidade Estadual gia, Psicologia, Ciência Política, Filoso�a,
Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, História e Estudos Interdisciplinares de
Brasil), Benhur Pinós da Costa (Univer- Mulheres, e os Estudos Culturais, mas
sidade Federal do Amazonas, UFAM, também em programas pro�ssionais como
Brasil), Carmen Regina Dorneles Nogueira Educação, Enfermagem, e Serviço Social.
(Universidade Regional Integrada do Alto Mas infelizmente, dentre as 20 perspecti-
Uruguai e das Missões, URI, Brasil), Dora- vas lançadas pela autora e os 125 trabalhos
lice Barros Pereira (Universidade Federal levantados, nenhum deles está relacionado
de Minas Gerais, UFMG, Brasil), Elizeu a uma re�exão espacial. Mas a geogra�a
Ribeiro Lira (Fundação Universidade tem contribuído à estas discussões.
Federal do Tocantins, UFT, Brasil), Ivana O interesse pelos fenômenos sociais rela-
Maria Nicola Lopes (Universidade Federal cionados ao gênero e à sexualidade surgiu
do Rio Grande, FURG, Brasil), Jones Dari na segunda metade do séc. XIX, como visto
Goettert (Universidade Federal da Grande por Phillips (1999). O nascimento desta
Dourados, UFGD, Brasil), Joseli Maria Sil- curiosidade tinha por origem a modi�ca-
va (Universidade Estadual de Ponta Gros- ção de uma série de práticas discursivas,
sa, UEPG, Brasil), Kelly Cristine Fernandes como dos sistemas hegemônicos do direito,
de Oliveira Bessa (Fundação Universidade da medicina e da religião (FOUCAULT,
Federal do Tocantins, UFT, Brasil), Martha 1988), mas também de outros discursos,
Johanna Haug (Faculdades Integradas como da arte, da pornogra�a, da antropo-
Cândido Rondon, UNIRONDON, Brasil), logia, e da literatura de viagem.
Rosa Ester Rossini (Universidade de São
8
Fonte: Plataforma Lates.
1992; ROSE, 1997). Tais discussões têm 1992; STAEHELI; LAWSON, 1995).
se estruturado a partir do tripé relacional As relações entre poder e epistemologia
sujeito/objeto, métodos/técnicas empre- são centrais nas discussões epistemoló-
gadas, e a política da investigação. Como gicas, pois o simples fato da percepção
nas a�rmações de Oberhauser (2003), a distinta entre homens e mulheres da or-
metodologia feminista tem-se estruturado ganização espacial já tem criado distintas
na crítica a objetividade e ao privilégio à aproximações ou possibilidades de pro-
certas formas de produção de conhecimen- dução de conhecimento (NAST, 1994). A
to, naturais ao positivismo. Mas também principal proposição deste aspecto é de
fazendo uma crítica aos preconceitos que não existe uma clara distinção entre
sexistas e androcêntricos na investigação sujeito pesquisador e sujeito pesquisado.
geográ�ca. Em contrapartida, o pressu- Sob esta perspectiva, o que se obtém do
posto da aproximação feminista destaca processo de investigação é o resultado
a subjetividade e a parcialidade inerentes de condicionamentos recíprocos entre os
dos processos de pesquisa (MCDOWELL, vários elementos que produzem o pró-
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As tradições geográ�cas da investigação feminista já foram motivo de re�exão de Silva (2007a) em Amor, Paixão e Honra como
Elementos da Produção do Espaço Cotidiano Feminino, evidenciando as interseções entre corpo, emoção, afetos e honras nas relações
entre gênero e espaço urbano.
prio conhecimento. Isto quer dizer que os tem notado inicialmente a ausência do
sujeitos, em uma relação de produção de gênero enquanto um tema colocado em
conhecimento, se expressam posicionados questão.
a partir de distintos pontos de vista, tanto Um dos primeiros assuntos destes
pesquisador como colaborador. Portanto, questionamentos era de que, no mínimo,
sempre a única possibilidade de cons- as mulheres eram um grupo de pessoas di-
trução de uma versão sobre a realidade ferentes dos homens. Kay (1991) tem argu-
é parcial, desviando-se da construção de mentado que, mesmo que os trabalhos em
metanarrativas (MIGNOLO, 2004). geogra�a histórica não tenham feito nada
O par da posicionalidade é a re�exibili- contra as mulheres, estes têm uma imensa
dade, pois continuamente à percepção das dívida, na inclusão de informações sobre
pessoas investigadas moldam a estrutura as mulheres em suas pesquisas. Isto resulta
e a interpretação das narrativas produ- em uma paisagem histórica, em que apenas
zidas através do trabalho de campo. Isto a metade da população é visualizada. Da
diferencia claramente, para Oberhauser mesma forma, Mikesell (2000) a�rma que
(2003), a pesquisa masculinista, que de�ne a geogra�a cultural ignorou metade da
quais serão os sujeitos investigados e as população humana. O autor traz à luz pro-
questões a serem colocadas, das pesquisas blemas tanto da re�exão sobre as mulheres
feministas, de caráter aberto e re�exivo da em contextos ocidentais como não-oci-
investigação, culminando na própria parti- dentais. Uma outra proposição assenta-se
cipação ativa dos sujeitos investigados na sobre as diferentes formas de visualização
orientação de interrogatórios e dos termos da paisagem, entre a Geogra�a Cultural
da própria pesquisa. A autora aponta que Tradicional e a Nova Geogra�a Cultural.
esta perspectiva é aberta a múltiplas técni- Criticando o privilégio e a interpretação
cas e métodos, apropriados aos contextos dada às paisagens materiais, os geógrafos
sociais e aos objetivos de investigação, culturais que trabalham com gênero vêem
como métodos quantitativos e qualitativos, que em diversas vezes esta paisagem é tida
etnogra�a, histórias de vida, entrevistas como neutra, uma visualização branca, de
em profundidades e artes visuais. classe média e masculina (MONK, 1992;
Compreendendo que o gênero possui ROSE, 1994).
conectividades transversais com classe, Outra diferenciação coloca-se nos du-
etnia, idade e sexualidade, e que estas se alismos inscritos nos discursos utilizados
colocam como estruturas dominantes das para compreender espaços e comporta-
relações de poder, a metodologia feminista mentos, como a dualidade entre cultura e
direciona atenção à diversidade, à re�exão natureza. Uma das proposições pode ser
crítica dos sujeitos investigados e à própria vista no fato de que tanto masculinidades
responsabilidade com estas vozes e suas como feminilidades são espacialmente
vidas, pois para Oberhauser (2003), os mé- especí�cas e vinculadas à distintos com-
todos buscam tencionar o que sabemos, e portamentos espaciais (ROSE, 1993). Outra
mais importante, como viemos a saber. distinção se faz entre a visão masculina
As dualidades críticas têm se localiza- que incorpora a razão e a feminina que
do, da mesma forma, na interface entre incorpora a emoção (BONDI, 1992).
Geogra�a Feminista e Geogra�a Cultural, Para McDowell (2003), a distinção tra-
tanto na sua vertente tradicional como balhada pelas/os geógrafas/os humanos
renovada. As incursões geográ�cas que entre os espaços públicos e privados,
avaliam a dimensão espacial da cultura associados ao gênero, influenciaram o
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Mudanças se apresentam no horizonte, com a previsão de
DINIZ, Alexandre Magno Alves; CASTRO, José
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