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CRIAÇÃO DE REDES DE DESENVOLVIMENTO

COMUNITÁRIO: INICIATIVAS PARA A


TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

PESQUISA/AÇÃO DESENVOLVIDA NA
FAVELA ARGOLLO FERRÃO
(2007)
O projeto de intervenção social intitulado Rede de Desenvolvimento Comunitário
desenvolvido pelo Laboratório de Estudos da Violência e Segurança (LEVS/UNESP)
em parceria com a Faculdade de Ciências Humanas da Universidade de Marília
(Serviço Social/UNIMAR), o Comitê Gestor de Segurança e Qualidade de Vida da
Prefeitura Municipal de Marília e a Secretaria Municipal de Higiene e Saúde tem
como objetivo potencializar os talentos e recursos já existentes na comunidade, bem
como suas relações locais, fazendo-os assumir o papel de protagonistas de sua própria
transformação e mais capazes de bem aplicar recursos que venham de apoiadores
externos (governos e instituições sociais privadas).

A primeira comunidade trabalhada foi a do Argolo Ferrão, mais precisamente o


espaço ocupado com sub-moradias (Favela do Argolo), onde as ações locais de
intervenção e entrevistas apontam os anseios e necessidades dessa comunidade,
inclusive sobre o futuro programa de desfavelamento e/ou reurbanização, conforme
tabelas e gráficos abaixo:

Figura 1
Tempo Residência no Bairro

mais de 20 anos 1,0

16 - 20 anos 2,5

11 - 15 anos 18,7

6 - 10 anos 34,5

2 - 5 anos 24,1

até 1 ano 19,2

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0

Tempo de residência no Bairro: %


Até 1 ano 24 19,67%
2 - 5 anos 29 23,77%
6 - 10 anos 43 35,25%
11 - 15 anos 22 18,03%
16 - 20 anos 3 2,46%
Mais de 20 anos 1 0,82%
122 100,00%

A análise do tempo de residência permite inferir que é uma região com


ocupação recente, uma vez que quase 80% das residências foram fixadas no local há
menos de 10 anos, sendo que 43,4 % se estabeleceram depois de 2001 e 1/5 em 2005
(Figura e Tabela 1).
APREÇO AO BAIRRO

As relações dos moradores com o espaço de vivência (sentimento de


territorialidade) é um forte indício de afetividade que promove o convívio harmonioso e
a redução dos distúrbios sociais. Vis-a-vis, o afrouxamento das relações sociais (de
vizinhança) e de identificação com o Bairro, dificulta o desenvolvimento de
movimentos sociais em busca de melhorias. Sendo assim, as investigações sobre essas
relações morador/bairro, positivas ou negativas, são subsídios para o desenvolvimento
de Políticas Públicas, especialmente de habitação (desfavelamento/urbanização).

Figura 2
GO STA DA FAVELA?
Não
31%

Sim
69%

Gosta do Bairro?
Sim 84 68,29%
Não 39 31,71%
123 100,00%

Figura 3 (motivos para


GOSTA DA FAVELA - MOTIVOS

outros motivos 21,6%


pela segurança 1,4%
Familiares no bairro 6,8%
não aluguel/impostos 12,2%
pelas amizades 21,6%
tranquilidade 36,5%

Gostam do Bairro pelos motivos:


tranquilidade 27 36,49%
pelas amizades 16 21,62%
não aluguel/impostos 9 12,16%
familiares no bairro 5 6,76%
pela segurança 1 1,35%
outros motivos 16 21,62%
TOTAL 74 100,00%
Questionados sobre a relação com o espaço de residência, Figura 2, a maior
parte (69%) dos moradores mostrou forte apreço ao local, percepção reforçada pelas
respostas espontâneas, justificando o motivo do apreço. Nesse universo que
demonstrou gostar do local, há forte indício de afetividade - sentimento de
territorialidade: as justificativas para a permanência e/ou escolha do Bairro são mais
emotivas que econômico-financeiras: a segurança e o não-pagamento de aluguel e
impostos foi motivo de apreço ao local para apenas 13,5% dos que assumiram gostar
do Bairro. Por outro lado, as justificativas sentimentais são predominantes: 65%
justificaram pelos laços emotivos e tranqüilidade (Figura 3).

Dentre os que responderam não gostar de morar na favela (Figura 4), o


motivo maior refere-se às questões de segurança (38% foram respostas de violência,
drogas e falta de segurança). É interessante notar que as questões estéticas e de
habitabilidade não são consideradas tão relevantes: apenas 14,7% reclamaram das
condições físicas do espaço (falta saneamento) e 8,8% justificaram de forma genérica o
seu não-apreço ao local (por ser favela). Embora genérica a última resposta, é muito
forte o sentimento de segregação em suas justificativas: o rótulo de favelado impõe-
lhes restrições sociais.

Figura 4
NÃO GO STA DA FAVELA - MO TIVO S

outros 38,2%

falta de segurança 8,8%

por ser favela 8,8%

drogas 8,8%

falta asfalto e saneamento 14,7%

violência 20,6%

Não gostam do Bairro pelos motivos:


violência 7 20,59%
falta de asfalto e saneamento 5 14,71%
drogas 3 8,82%
por ser favela 3 8,82%
falta de segurança 3 8,82%
outros 13 38,24%
TOTAL 34 100,00%
Figura 5
MUDARIA DA FAVELA?
Não;
34%

Sim;
66%

Em contrapartida, apesar do reduzido número de pessoas mostrarem falta de


apreço ao local (apenas 31% admitiram NÃO GOSTAR da favela - Figura 2), grande
parte dos moradores (66%) respondeu que mudaria se houvesse essa possibilidade.

Porém, a indicação dos locais para onde se mudariam corrobora a relação


afetiva com o espaço urbano: entre os que manifestaram desejo de mudança da favela,
23,8% permaneceriam nas imediações (Região do Argolo Ferrão, 13,8%; Vila Jardim,
5% e Alto Cafezal, 5%]. Apenas 17,5% desejariam mudar para bairros mais distantes
como Nova Marília (12,5%), Santa Antonieta (3,8%) e Figueirinha (1,3%).

Figura 6
Preferência para Mudança
Fiqueirinha 1,3%
Santa Antonieta 3,8%
Alto Cafezal 5,0%
Vila Jardim 5,0%
Outra cidade 6,3%
Nova Marília e Região 12,5%
Argolo Ferrão e Região 13,8%
Sair da Favela (s/informar certo) 21,3%

Assim, mudar-se para longe é o que desejam apenas 23,8% de todos os


moradores da favela Argolo Ferrão. Desse total, sair de Marília ainda é a hipótese
menos considerada entre todas as pretensões de mudança, perfazendo 6,3% (Fig. 5).

Isso tudo indica os rumos que deverão tomar as políticas públicas urbanas.
Historicamente há indicações que os programas de desfavelamento e/ou urbanização
devem contemplar as necessidades e os desejos dos moradores que, via de regra, são
de permanência nas proximidades do local de origem, especialmente pelas raízes
sociais (parentesco, amizade e ocupação profissional).
Outros indicadores reafirmam essas percepções. Mesmo quando se investigam
os motivos que levaram as pessoas a residir naquela favela, as respostas não são
muito negativas. Analisando a Figura 7, apesar de mais da metade (51,1%) dos
moradores admitir que reside na favela por falta de condições de pagar aluguel, não se
percebe revolta com a situação. Ao contrário, comparando com as respostas da Figura
2 (69% gostam da favela), é perceptível a relação positiva com o local de residência,
mesmo a despeito das condições precárias de habitabilidade.

A precariedade está presente em diversos aspectos de vida nas chamadas sub-


moradias. Sobre a estrutura das residências, apesar de a quase totalidade (91,2%)
das moradias serem construídas com tijolos e similares, é flagrante a condição
subumana dos moradores das favelas, conforme ilustração fotográfica abaixo.

Figura 7

Motivos para Residir na Favela

outros motivos 14,8%


sorteio 1,1%
comprou o terreno 4,5%
casa cedida 12,5%
reside com familiares 15,9%
s/condições p/ aluguel 51,1%

Foto 01

Rua Roberto Vieira – Condição de Moradia


MORADIA
Estrutura Condição de Uso
Material % Própria 98 88,3%
Tijolo 91,2% Alugada 6 5,4%
Madeira 4,8% Cedida 5 4,5%
Adobe 4,0% Financiada 1 0,9%
Emprestada 1 0,9%
TOTAL 100,0% 100,0%

Por extensão, mesmo o fato de a condição de ocupação (uso) apontar para a


predominância de proprietários das residências (88% são donos das suas moradias),
em pouco modifica a situação de penúria dos habitantes. Outro fato interessante,
demonstrado na tabela acima, é a existência de 5% das moradias alugadas,
característica rara nas favelas de Marília.

Outra variável da condição de vida é, sem dúvida, a renda familiar: metade das
famílias recebe em média 2,2 salários mínimos, perfazendo uma média de R$ 657,00.
Porém, 32% das famílias admitiram que não tinham renda e 18,5% vivem com uma
renda abaixo de um salário mínimo, com famílias compostas de muitos membros.
Muitas famílias compostas por crianças têm o benefício de programas institucionais
de complementação de renda (bolsa-escola, bolsa-família).

Figura 8

Renda Familiar

Sem Rendimento 33,6%

Menos de R$ 300,00 18,5%

De R$ 300 até 500 18,5%

Mais de R$ 500 até 1.000 18,5%

Mais de R$ 1.000 até 2.000 9,2%

Mais de R$ 2.000 até 3.000 1,7%

Renda Familiar Total %


Mais de R$ 2.000 até 3.000 2 1,7%
Mais de R$ 1.000 até 2.000 11 9,2%
Mais de R$ 500 até 1.000 22 18,5%
De R$ 300 até 500 22 18,5%
Menos de R$ 300,00 22 18,5%
Sem Rendimento 40 33,6%
Total Declarado 119 100,0%
Entretanto, o demonstrativo de renda familiar (Figura 8) nos remete a outra
consideração: 48% declararam renda maior que o salário mínimo, sendo que 11% têm
renda maior que R$ 1.000,00. Nesse contexto é interessante notar que existem 05
famílias que declararam receber mais que R$ 1.500,00, acima de 05 salários mínimos
e nenhum deles manifestou desejo de mudança da favela: gostam da favela e moram
no local por relações familiares.

Essa relação afetiva com o espaço fica mais flagrante levando-se em conta a
condição degradante de vida no local. O aspecto físico que denota maior deterioração
na favela Argolo Ferrão é, sem dúvida, o que se refere ao escoamento de esgoto
realizado “à céu aberto” (Fotos 02 e 03) em 62% das moradias (Figura 7), conforme
informações do Pesquisa Mapa da Exclusão/Inclusão Social de Marília, desenvolvido
junto ao Projeto GUTO/UNESP.

Figura 8
Condições Escoamento Esgoto

Céu Aberto 61,9

Fossa 1,9

Rede 36,3

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0


%

Fonte: Mapa da Exclusão/Inclusão Social de Marília, http://www.guto.marilia.unesp.br

Foto 02

Esgoto à Céu Aberto – Rua “B”


Foto 03

Lixo – Rua “B”

Na foto 03 é possível perceber também as condições de habitabilidade no que


se refere à destinação do lixo. A análise conjunta com a Figura 8, ilustra com maior
nitidez a situação dos moradores em convivência estreita com a miserabilidade: a
maior parte do lixo, assim como do esgoto, é despejada “à céu aberto” (48%), sendo
que a coleta direta só é feita para cerca de 30% dos dejetos. Um dos principais motivos
para essa destinação do lixo é a situação intransitável das ruas, fator impeditivo do
trânsito dos caminhões coletores.

Figura 9
Destino do Lixo

Queimado/enterrado 11,7

Coleta Indireta 11,0

Coleta Direta 29,4

Céu aberto 47,9

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

%
Foto 04

Lixo nos quintais e ruas

SEGURANÇA

As condições das ruas são apontadas como problemas, também, nas questões
de segurança para a maior parte dos moradores. Solicitados a dar sugestões sobre a
prevenção criminal, 33,8% dos moradores se reportaram ao asfalto, o que, em uma
primeira aproximação parece estranho para a prevenção. Entretanto, na percepção
dos moradores, a falta de asfalto é um fator de imobilidade para a polícia em suas
ações preventivas/repressivas. A sugestão de asfalto para facilitar a ação da polícia
perde apenas para as solicitações de incremento da polícia e de postos policiais nas
proximidades da favela (37,4%), conforme Figura 10.
Figura 10

Sugestões para Segurança

Não responderam 21,1%

Acabar com o tráfico 3,3%

M ais auxílio da prefeitura 6,5%

Asfalto 31,7%

Polícia e posto policial 37,4%

Entretanto, quando questionados sobre a presença da polícia no local, mais de


62% responderam que ela é freqüente. Embora aparentemente paradoxal, a lógica da
resposta está na presença efetiva da polícia, sempre que ocorre um fato criminal nas
imediações. Portanto, na percepção de muitos moradores, a presença dos policiais se
faz menos para uma ação preventiva e mais para ação repressiva.

Figura 11

Policiamento no Bairro

Não sabe 3,0

Raro 15,2

Regular 19,4

Frequente 62,4

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0

Outro aspecto que foge à compreensão da população externa é a percepção de


segurança da população favelada: na figura 12 (parte 1), embora 57% responderam
que a favela não é segura, é um número pequeno comparando-se à sensação de
insegurança da população em geral. Comparando-se as duas partes da figura 12, o
fato de 77% admitirem nunca ter sido vítimas de algum crime ratifica a baixa
criminalidade local, ou, no sentido radicalmente oposto, o medo de admitir a
existência de problemas diante da qualidade da vizinhança.
Figura 12

A Favela é Segura? Vítim as de Crim es


(últim os 05 anos)

S / r e sp. 3%
20%
5%
Sim
38%

Não
57% 77%
Sim
Não
S/ resp.

Figura 13

Violência/crime Mais Freqüente

violência no trânsito 2,8


violência doméstica/ agressão 4,5
assalto à pedestres 5,6
drogas na escola 6,6
assassinato 11,3
PM - violência/abuso autoridade 12,7
roubo/ arrombamento 15,0
vandalismo/ brigas 20,7
uso de drogas/ tráfico 20,9

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0

Como era de se esperar, o problema com drogas é o mais indicado pelos


moradores na área de segurança. Embora 20,9% tenham se referido diretamente às
drogas, somando-se com os 6,6% de problemas relacionados diretamente às escolas,
totalizam 27,5% dos crimes/problemas de violência apontados pelos moradores da
favela.

Outro problema é a incivilidade: vandalismo e brigas, com 20,7%, seguidos


por roubo e arrombamento com 15% das queixas.
Mesmo reivindicando mais presença da polícia (Figura 10), ao serem
inquiridos sobre sugestões para melhorar a segurança no bairro, 12,7% dos
moradores reclamaram da violência e do abuso de autoridade da PM.

SAÚDE
A investigação sobre saúde foi apenas complementar, visto estarmos
acompanhando os agentes comunitários e também ser possível fazer o levantamento
de atendimentos nas fichas da UBS – Chico Mendes.

Por auto-declaração, tem-se 25% das pessoas com problemas de saúde, com
a predominância absurda para a hipertensão arterial, conforme a figura 14. As demais
moléstias relatadas estão bem distribuídas, sem outra concentração mais significativa
que mereça o desenvolvimento de um programa específico para a região.

Figura 14

Problemas de Saúde

Cirro se 3,2%

Depressão 3,2%

Hidro cefalia 3,2%

HIV 6,5%

Sinusite 6,5%

P o rtado r Neces. Físicas 6,5%

Do ença M ental 9,7%

Diabete 16,1%

Hipertensão A rterial 45,2%

Para finalizar, gostaríamos de fazer um agradecimento especial à equipe que


trabalhou na aplicação dos questionários: estagiárias da Faculdade de Ciências
Humanas – Curso de Serviço Social/UNIMAR, estagiárias do Projeto GUTO/UNESP.

Outro voto de louvor à equipe da saúde, não apenas pelo apoio e envolvimento
com a nossa pesquisa, mas para o relevante trabalho de atendimento cotidiano
desenvolvido pelos agentes comunitários naquela região. Não fosse o apoio e a
presença dos agentes, pouco teríamos avançado no diagnóstico dessa população.

Coordenadoras: Profª e Drª Sueli Andruccioli Felix


Profª. Ms. Maria Estela Monteiro

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