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ARTUR FERREIRA; DINAH BENSE; HERNANI SOUZA; IAGO MIRANDA; MÁRCIA


CENIRA RODRIGUES; MARYHÁ MENDES.

A VALSA Nº 6 DE NELSON RODRIGUES


ANÁLISES E PROPOSTAS

Análise apresentada junto ao componente


curricular Dramaturgia – Análise do Texto
Teatral do Curso de Licenciatura em
Teatro no Instituto Federal Fluminense
campus Campos Centro.
Profª. Takna Formaginni

Campos dos Goytacazes - RJ


2017
1. ANÁLISE DO TEXTO TEATRAL
1.1 Circunstâncias Dadas
1.1.1 Fatores Ambientais
Localização Geográfica: A peça se passa num plano entre o mundo mortal e o
mundo dos mortos. Não se específica que lugar é esse, apenas a presença de um
piano é descrita pelo autor.
Data: A única noção temporal dada é a idade da personagem Sônia e a data
aproximada de sua morte, no dia que iria ao seu primeiro baile. Através das
expressões usadas pelo autor e a época que foi escrita, é possível deduzir que
provavelmente se passa por volta dos anos 1950.
Ambientação econômica: Dar-se a entender que a família de Sônia era de
classe alta, pela educação dada a família, por terem um médico da família e pela
descrição do vestido que a personagem usava por exemplo. Entretanto, mortos não
possuem economias.
Ambientação Política: Não existem interferências significativas da política que
estejam explicitas no texto. Entretanto, entende-se que o governo da época
influência nos modos de vida das personagens.
Ambientação Social: A educação de Sônia é toda respaldada pelo que se
entendia na época como a educação de uma “boa moça” (melhores escolas, piano,
francês e etc). A igreja também se mostra como uma instituição social presente,
ditando os padrões morais e como lugar de encontro daquele segmento da
sociedade. A personalidade do Pai e da Mãe é característica do que se entende
como padrão, o pai forte e provedor e a mãe mais frágil e emocional. A relação de
Sônia com os pais é também caracterizada por esses fatores. Por fim a relação da
sociedade da época com os bailes de gala é de grande importância, uma vez que a
primeira ida a um baile destes é um marco que tem caráter social, marca a
apresentação de uma “moça crescida” para a sociedade.
Ambientação religiosa: A religião católica é o que rege a conduta moral da
personagem e os hábitos sociais de todos durante a peça. Ela ia a igreja todos os
domingos e a busca, ou desejo, por uma certa pureza é presente em todo o enredo.
1.1.2 Ação Anterior
Sônia é assassinada com um punhal de prata.
Os pais levam Sônia para uma consulta onde ela é diagnosticada por Dr.
Junqueira como mentalmente desequilibrada.
Sônia não consegue dormir durante a noite, ouve vozes, ao chamar a mãe ela
entra em desespero e acha que a filha é louca.
Sônia é possivelmente abusada por Dr Junqueira.
Sônia “vira mocinha” (primeira menstruação).
O Pai de Sônia dá a ela um punhal de prata.
O punhal de prata é roubado.
Paulo beija alguém e depois também beija Sônia.
Sônia tem um caso com um homem casado.
1.1.3. Atitudes de Polarização
Sônia começa a peça sem saber quem é, ela se vê perseguida por ela
mesma sem ter a noção de que é Sônia. Ela não identifica o lugar em que se
encontra ou nada a sua volta. Está apenas envolta num mar de memórias soltas que
não reconhece como suas. Ela tenta compreender esses fragmentos que aparecem
para ela.
Ao final da peça Sônia conhece Sônia e grandes partes da vida desta, mas
ainda não sabe que ela própria é Sônia. Ela não deseja mais compreender as
memórias em partes porque já as entende mesmo que não as reconheça como
suas, afinal “O defunto nem sabe que morreu”.
2. PERSONAGENS
A personagem Sônia tem a aparência de uma menina meiga e delicada, branca,
de classe alta com por volta dos seus 15 anos. Objetiva descobrir quem é Sônia, o
nome que a vem perseguindo. Para isso ela ultrapassa os limites, investindo todas
as forças que possuí em sua jornada, embora os limites de uma pessoa morta sejam
questionáveis, ou pelo menos desconhecidos.
Outra questão discutível é o que se configura como código moral para um ser
que não está dentro do mundo dos vivos. Se observamos a moral da personagem
enquanto ainda viva podemos entender que ela se pauta nos preceitos morais
cristãos católicos, ou pelo menos tenta aparentar isso.
No início da peça a personagem se encontra desesperada e perdida. Ela está
ansiosa e bastante assustada.
3. IDEIA
A peça é sobre uma jovem menina que foi morta por seu “amante” antes do seu
primeiro baile. Num lugar entre o mundo dos vivos e dos mortos, Sônia é perseguida
por Sônia. Ela não sabe que morreu, mas nos conta em detalhes seu caminho até a
cova, levada por um velho médico que se aproveita dela.
A realidade e a loucura o tempo todo se confrontam enquanto Sônia narra os
fatos mais relevantes de seus últimos momentos de vida. Quem afinal é que diz
quem está louca? E quem realmente está louca? Não seria a realidade a própria
loucura?
Do alto de um lugar seguro fora da realidade, mas muito perto de nós, vemos os
vestígios soltos de quem foi Sônia, sem deixar também de nos perguntar quem ela
poderia ter sido.
4. ANÁLISE DE UM FRAGMENTO CÊNICO
4.1. As Unidades Dramáticas
A seguir consta a transcrição do trecho recortado da peça e a divisão em
unidades dramáticas.
Dizem que...
(corre, desesperada, em círculo)
Dizem o quê? Quero saber o que dizem! Preciso
Quer saber o que dizem
1 saber!
sobre a vítima. (cochicho)
Parece que a vítima...
(grita)
Vítima,
não! o nome! quero o nome!
(chega à boca de cena, apela para a platéia)
Quer saber o nome da Alguém sabe o nome? quem sabe, diga, pelo
2 amor de Deus! Eu
vítima.
não quero nada demais, apenas o nome!
(chorando)
E o que é um nome?
(novo tom)
Quer saber se a valsa nº 6 Pois dizem que a vítima estava tocando uma
música..
3 era a música tocada pela (senta-se, feroz, ao piano)
vítima. Esta?
(Valsa n.0 6)
não, é?
(mais cochicho)
Então, o assassino veio, devagarinho... Pelas
costas...
Começa a contar o (ávida)
4 Que mais? pelo amor de Deus, que mais?
assassinato.
(sinistramente)
Não havia mais ninguém na sala.
Só os dois.
Os dois, sim.
Sônia teve um mau A vítima ia ao seu primeiro baile... Tinha um
vestido branco, de
5 pressentimento antes de lantejoulas prateadas, véu nos ombros... E parece
seu primeiro baile. que teve um mau
pressentimento, porque...
(gritando)
Continue!
(baixo)
Porque parou a música...
Sei, sei!
Então, o assassino pediu...
(corre para o piano)
Mais, mais!
(Valsa nº 6)
Sempre mais!
6 O assassinato. (novo trecho)
Sempre, sempre!
(frenesi)
Mais forte!
(o piano quase vem abaixo)
E a vítima continuava. Não ia parar nunca.
Então...
(pausa. Deixa o piano)
O assassino mergulhou o punhal de prata nas
costas da moça.
Mesmo ferida, a vítima quis continuar tocando e.
(dois acordes ainda)
Gritou?
Gritou.
Sei.
7 Sônia toca até morrer. Mas não deu muita confiança à morte, porque ia
tocando mais.
Porém, a cabeça desabou sobre o teclado...
(golpe no teclado)
Quando apareceu gente, Sônia já estava morta.
(grita)
SÔNIA!
(baixo)
Sônia, disseram Sônia?
(cochicho)
Sônia, sim, como não?
As comadres fofocam Aquela menina.
8 Uma que tocava muito bem.
sobre a morte de Sônia.
E sabia francês.
Natural.
Estudou nos melhores colégios.
(meu lua)
Incapaz de matar uma mosca!
(tranqüila e cruel)
Morreu. Enfim, morreu. Mas eu não estou
satisfeita. Nada
satisfeita. Pelo contrário...
(olha para os lados)
Sônia está revoltada com
9 Seu enterro deve ter sido muito bonito.
a própria morte. E ela própria também, porque as mortas são uma
simpatia.
(sofisticada)
Digo isso, porque manda a boa educação.
(ostensivamente hipócrita)
Uma virgem morta entre flamas.
(feroz, sem transição)
Sônia se sente Larga minhas pernas, Sônia.
10 encurralada por sua (lenta)
Tu já morreste.
memória. Teus olhos estão cegos dentro de mim.
Maldita!
(num aparte melíflua, para a platéia)
feio falar mal dos mortos.
(feroz)
Teu vestido, sim, teu vestido de lantejoulas
Sônia acusa a si mesma prateadas, já não me
persegue mais!
11 de ter sido falsa durante a (na boca de cena)
vida. Escondeste tua maldade de todos! Teu rosto,
ninguém o conheceu.
(hirta)
Usaste uma face doce e altiva que não era a tua.
(mais paixão)
Só a morte viu o teu rosto verdadeiro e último.
(selvagem)
Pensa sobre a morte de
12 Dançarias, não?
Paulo. Dançarias, se Paulo morresse? Pois eu danço
também!
(corre no palco e para para fazer a paródia das
comadres)
Viram o assassino?
Descobre que o médico é Quem?
13 O assassino!
o assassino.
Que coisa!
Completamente gagá!
Médico instruído!
Competente!
(comentário caricatural)
Comentam sobre o velho Os velhos hoje em dia são os piores!
14
médico assassino.
(chamando os outros)
Vamos espiar, vamos?
(cruel)
Está ali, deitada, a menina que iludia a todos.
As vizinhas fofocam sobre
15 (como se rezasse)
Sônia morta. Parecia uma jovem santa, branca e sem mácula,
tão frágil e tão
fina.
(comadre)
Eras boa demais para este mundo!
(hierática)
Vai-te!
Agora Paulo está puro de ti.
E eu queria que ninguém te visse mais.
Sônia amaldiçoa a sua
16 Nem as flores do caminho.
existência terrena. Que teu perfil de morta passe por entre lírios
cegos!
(numa maldição maior)
E onde quer que estejas, odiarás tua lancinante
forma terrena.
Comadres comentam (coro de comadres)
O pai está que nem doido!
17 sobre os pais pós morte De amargar!
de Sônia. E a mãe?
A mãe é bacana. Teve 15 ataques!
(bêbedo, com o típico soluço)
Sabe o que me invocou?
(avidez)
Que foi? que foi?
Fala sobre a vocação para
18 (bêbedo)
o piano de Sônia. É que, mesmo ferida, mesmo com o punhal
enterrado nas costas.
(soluço)
...a vítima ainda queria continuar tocando.
Vocação, ora essa!
(comadre melíflua)
Nessas ocasiões, eu tenho muita pena de quem
fica! E eu de
quem morre.
(sofisticada)
Mas nem tem comparação.
O defunto nem sabe que
19 Eu, hem!
morreu. Claro! Porque quem fica chora...
E o defunto?
O defunto nem sabe que morreu!
(Sônia corre ao piano. Valsa n.0 6. E grita dentro
da música)
Sempre! Sempre!
Fim do Segundo e Último Ato
4.2. Andamento da Cena
Tendo em vista o fragmento de cena escolhido e analisado no item anterior,
podemos estabelecer que o ritmo desta, que se encontra no final da peça, é mais
acelerado e marcado por trocas sucessivas de intenção da própria personagem que
alterna entre ela própria, contar a morte e a fofoca das vizinhas. Ela viaja por suas
emoções de uma maneira absurdamente rápida, muitas vezes sem transição. Toda
a montanha russa de estados de Sônia se encaminha então para um final agressivo.

5. PROPOSTA DE CENA
Para a cena, entendemos que o discurso de Sônia tem uma potência de alcance
muito maior tendo várias atrizes interpretando a personagem ao mesmo tempo.
Todas vestem o mesmo vestido branco de lantejoulas prateadas descrito no texto.
Não haverá cenário. Quando necessário, os atores corporificam o cenário.
A plateia se põe ao centro do espaço de encenação, numa espécie de arena
invertida e é cercada por um hexágono de tecidos brancos translúcidos esticados,
de forma que os atores são retroiluminados e têm suas sombras projetadas nos
tecidos que deixam aparecer apenas uma pequena parte das expressões dos
atores.
O objetivo desta proposta é trazer para o espaço os devaneios de Sônia,
evocando de forma simples esse espaço branco e indefinido proposto por Nelson
como uma espécie de limbo, um lugar além dos lugares terrenos, mas que se
inscreve próximo ao real puxando a plateia para dentro deste.
A sonoridade principal será a própria valsa nº 6 de Chopin por sua grande
relevância para a história e dar o tom de nervosismo que a peça requer.
O espaço se abre para a multiplicidade de personagens que é Sônia.

REFERÊNCIAS
MICHALSKI, Yan. Apostila de Análise de Texto. Inédito.
RODRIGUES, Nelson. Valsa Nº 6. 1951. Disponível em: http://groups-
beta.google.com/group/digitalsource.

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