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C o m o escrever sobre

ciência, m e d i c i n a e alta t e c n o l o g i a
para o s m e i o s de c o m u n i c a ç ã o
>2

Fu
FORENSE U N I V E R S I T Á R I A
Estamos ingressando num período
de profundas mudanças e acirrados
debates em que se tem reexaminado o
papel das ciências em nossa sociedade
e, em particular, os aspectos sociais e
econômicos da ciência, da engenharia,
da própria medicina e da tecnologia.
Os grandes jornais e periódicos de
ampla circulação (especializados ou
não) vêm reservando um espaço con-
siderável às controvérsias cientificas
atuais e à divulgação dos novos co-
nhecimentos que se produzem num
ritmo surpreendente. O jornalismo
científico tem alcançado tal importân-
cia na sociedade moderna que se for-
mam, em um sem-número de países,
inclusive no Brasil, associações de
jornalistas científicos, que se empe-
nham cada vez mais em defender os
seus interesses e definir — conferin-
do-lhe especial dignidade — o status
desse tipo de profissional.
Este livro do Prof. WARREN
BURKETT da Universidade do Texas
(Austin) — por enquanto, o mais com-
pleto sobre o assunto já publicado em
língua portuguesa — comprova essa
atualidade do desempenho profissio-
nal de tal classe de escritores e o seu
alcance social. Acima de tudo, este
trabalho original propõe um desafio
ao leitor: entrar no mundo do escritor
de ciência, independentemente da
formação técnica ou acadêmica que
ele traga para esse campo.
Sabe-se que a redação científica
constitui um entre muitos novos tipos
de comunicação especializada que têm
evoluído no século XX. Esta obra,
C o m o escrever sobre
ciência, m e d i c i n a e alta t e c n o l o g i a
para o s m e i o s de c o m u n i c a ç ã o

WARREN BURKETT

Fu
FORENSE U N I V E R S I T Á R I A

\
Fu
FORENSE U N I V E R S I T Á R I A
T í t u l o d o original norte-americano:
News reporting

© Copyright 1986 6 / The l o w a State University Press

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

B u r k e t t , Warren, 1929-
B973j Jornalismo c i e n t í f i c o : c o m o escrever sobre ciência,
medicina e alta tecnologia para os meios de comunicação
/ Warren B u r k e t t ; tradução, A n t ô n i o Trânsito. — Rio de
Janeiro : Forense Universitária, 1990.

Tradução de: News reporting: science, medicine and


high technology.

1. Jornalismo c i e n t í f i c o . 1. T í t u l o . II. T í t u l o : C o m o
escrever sobre ciência, medicina e alta tecnologia para os
meios de comunicação.
CD D - 0 7 0 . 4 4 9 5
90-0226 CD U - 0 7 0 . 4 4 3

ISBN-85-218.0044-4

Proibida a reprodução t o t a l ou parcial, bem c o m o a reprodução de


apostilas a partir deste livro, de qualquer f o r m a ou por qualquer meio
eletrônico ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, de
f o t o c ó p i a e de gravação, sem permissão expressa d o E d i t o r . (Lei n 9 5.988,
de 14.12.73.)

Reservados os direitos de propriedade desta tradução pela


E D I T O R A FORENSE U N I V E R S I T Á R I A L T D A .
Rua Visconde Silva, 3 2 - 2 2 2 7 1 - Rio de Janeiro - RJ
Largo de São Francisco, 20 — 0 1 0 0 5 — São Paulo — SP

Impresso no Brasil
Printed in Brazi!
Dedicado â adorável e amorosa Gay, cujo carinho e paciência
para c o m u m marido f r e q ü e n t e m e n t e ausente t o r n a r a m este
livro possível, e à m i n h a f a m í l i a , Martha B u r k e t t , Karl e Re-
becca B u r k e t t , e Patrícia e T o m Bishop e Chester V . Bishop.
Sumário

Introdução 1

Capítulo 1: O que é redigir ciência? 5


Capítulo 2: Evolução da redação c i e n t í f i c a 27
Capítulo 3 : Escolhendo notícias de ciência 49
Capítulo 4 : Como reunir notícias de ciência 71
Capítulo 5: Distorção e c o m o evitá-la 95
Capítulo 6 : Contando a sua história de ciência 117
Capítulo 7 : A redação científica e o interesse público 133
Capítulo 8: Notícias de ciência,, de medicina e saúde 1 55
Capítulo 9 : Controles sobre notícias de ciência 177
C a p í t u l o 10: Temas éticos na redação c i e n t í f i c a 199
C a p í t u l o 11: T r a n s m i t i n d o notícias científicas 213
INTRODUÇÃO

ESTE L I V R O D E S A F I A V O C Ê a entrar no m u n d o do escritor de ciência, seja


qual f o r o t i p o de formação que você traga para o campo. Os guias mais anti-
gos se concentravam nos problemas de c o m o traduzir termos técnicos para
uma linguagem mais c o m u m , t o r n a n d o os t e x t o s mais simples. O u t r a f o r m a
de escrever sobre ciência é olhar de m o d o mais a m p l o para os aspectos sociais
e econômicos da ciência, da engenharia e da tecnologia. V o c ê , o escritor, co-
nhecerá uma fascinante comunidade de homens e mulheres engajados em em-
preendimentos puramente individuais, que p o d e m ter enorme i m p a c t o sobre
as outras comunidades de nossa sociedade.
Você está entrando n u m p e r í o d o de mudanças e de controvérsia, no
qual se reexamina, t a m b é m , o papel da ciência em nossa sociedade. M u i t o s te-
mas importantes estão sendo analisados. Os métodos tradicionais de pesquisa
aberta utilizados pelos cientistas estão sendo alterados pelas pessoas que, no
governo dos E U A , são responsáveis pela emissão de cheques destinados ao de-
senvolvimento da ciência. Esses cheques, e n t r e t a n t o , são baseados em nossos
impostos e representam, em sua maior parte, capital público. A o p i n i ã o dos
próprios cientistas é divergente q u a n t o a se aumentar o sigilo em t o r n o das
pesquisas não confidenciais, cujos efeitos são duvidosos para a nossa seguran-
ça nacional. Outros temas questionam se a ciência deve o u não intervir em
assuntos de vida e m o r t e de incapacitados e idosos, e até onde essa interven-
ção deveria se estender. As questões de q u a n t o t r a t a m e n t o médico você e eu
podemos custear e q u a n t o nos deveria ser dado estão em discussão. Você está
entrando para o campo da redação c i e n t f f i c a numa época em que novas in-
dústrias estão sendo formadas a partir de descobertas científicas básicas sobre
o material genético que é c o m u m a todas as coisas vivas. A o escolher escrever
para publicações populares, e não para as técnicas, você terá u m papel a de-
sempenhar no engajamento de seus concidadãos n u m debate de grande impor-
tância para uma sociedade democrática.
Este livro encoraja você a estender sua criatividade ao m á x i m o para des-
cobrir formas novas, bem c o m o tradicionais, de contar histórias que irão aju-
dar seus leitores, ouvintes e espectadores a compreenderem os desenvolvi-
mentos técnicos e sociais provenientes de laboratórios espalhados por nosso
pafs e pelo m u n d o . Os próprios cientistas estão demonstrando maior interesse
em alcançar essa compreensão, mais d o que t ê m demonstrado em m u i t o s
anos. C o m efeito, c o m o você irá ver, em certo p o n t o os cientistas estavam evi-
t a n d o deliberadamente a comunicação c o m a sociedade em geral.

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Este livro não pode ensinar-lhe ciência. O que faz é apontar alguns erros
comuns cometidos por aqueles que escrevem sobre ciência e as maneiras de
evitá-los. Você é encorajado a desenvolver suas próprias a'reas de conhecimen-
t o específico sobre ciência, medicina e engenharia. As faculdades e universi-
dades oferecem uma série de cursos e quem escreve sobre ciência lê m u i t o
para melhorar a própria compreensão. Não pode desempenhar a tarefa de es-
crever c o m u m passado de informações acumuladas em uma o u mais áreas da
ciência. C o m o verá, o jornalismo c i e n t í f i c o e a ciência concentram-se no que é
novo e significativo. Se você f o r treinado em ciência, é estimulado a procurar
maneiras mais atraentes e interessantes de explicar seu assunto do que aquelas
usadas na publicação c i e n t í f i c a t í p i c a . Se essa f o r m a de escrever fosse uma
maneira eficiente de t r a n s m i t i r a informação técnica a milhões de não-cientis-
tas, então tais publicações científicas teriam quantidades m u i t o maiores de
leitores d o que t ê m agora, mesmo entre cientistas. H o w a r d Simons, ex-editor
administrativo d o The Washington Post, agora â frente do programa Nieman
Fellowship na Harvard University, aconselha escritores de ciência a se t o r -
narem p r i m e i r o repórteres.
No m u n d o da redação c i e n t í f i c a para os meios de comunicação de mas-
sa, u m ensaio bem escrito e i m p o r t a n t e , dirigido a uns poucos leitores selecio-
nados, pode ser deixado sem publicar para dar lugar a histórias de menor im-
portância que lidam c o m o bizarro e o p s e u d o c i e n t í f i c o o u c o m temas de me-
ro interesse h u m a n o . U m dos desafios é, então, comunicar de f o r m a precisa e
interessante, para que o verdadeiro c o n h e c i m e n t o desperte o interesse de u m
público maior. Ser minucioso não significa necessariamente ser maçante, em-
bora m u i t o s nas comunidades c i e n t í f i c a 6 jornalística associem essas carac-
terísticas.
É i m p o r t a n t e , t a m b é m , t r a n s m i t i r c o m justiça e fidelidade uma idéia
compreensível das pessoas que são cientistas e de seus líderes. Temer o u res-
peitar por medo injustificadamente as pessoas que fazem a ciência o u as nor-
mas públicas pode d i f i c u l t a r a adoção de respostas racionais para o conheci-
mento desenvolvido pelos cientistas. À medida que uma compreensão mais
completa e realística se desenvolver a partir de seus t e x t o s a respeito das ciên-
cias físicas, bem c o m o das sociais, você estará realizando um serviço educacio-
nal para seus leitores e a sociedade em geral. Está em voga d i m i n u i r o efeito
que qualquer i n d i v í d u o pode ter sobre a sociedade. E n t r e t a n t o , o escritor que
respeita a verdade e o bem-estar de seu público terá u m impacto que vai mui-
t o além de palavras sobre o papel e imagens na tevê.
Algumas partes de sua viagem podem ser difíceis e outras, ridículas. Por
e x e m p l o , os funcionários d o governo dos Estados Unidos na metade da déca-
da questionavam o p a t r i o t i s m o de escritores do The New York Times e The
Washington Post por elaborarem textos a respeito de projetos secretos sobre
satélites e armas nucleares, embora a maior parte d o material publicado já

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tivesse sido impresso em outros veículos c o m a bênção de f u n c i o n á r i o s d o De-
partamento de Defesa o u discutido abertamente nos parlamentos d o m u n d o
inteiro ( F r i e n d l y , 1985). Quase ao mesmo t e m p o , os funcionários daquele de-
partamento e de o u t r o s setores do governo p e r m i t i r a m o ingresso d o escritor
de ciência d o Times, William J. Broad, no supersecreto m u n d o das "Star
W a r s " , numa proposta americana de defesa contra mísseis teleguiados e ogivas
nucleares. P o r t a n t o , esteja preparado para encontrar irracionalidade em pes-
soas que consideram a racionalidade c o m o seu p o n t o mais f o r t e . A viagem co-
mo escritor de ciência não será aborrecida e, se você tiver dúvidas sobre se uns
poucos cientistas p o d e m fazer diferença, use suas habilidades de investigação
para analisar o efeito que cinco cientistas, conhecidos c o m o o T T A P S G r o u p ,
tiveram sobre o pensamento m u n d i a l c o m seu trabalho sobre o conceito de
" i n v e r n o n u c l e a r " ( S m i t h , 1984).
Você encontrará u m novo t i p o de redação c i e n t í f i c a emergindo. É mais
agressivo e os redatores de ciência estão dispostos a colocar os cientistas em
algumas posições públicas desconfortáveis para expor as práticas científicas
que possam afetar a saúde e a segurança públicas. No The Wall Street Journal,
o redator de ciência Jerry Bishop e x p l o r o u os possíveis efeitos que u m retar-
d a m e n t o na publicação de u m i m p o r t a n t e estudo sobre cirurgia de câncer de
mama teria sobre mulheres defrontadas c o m uma decisão médica imediata
(Bishop, 1984).
Tenha prazer escrevendo a respeito de ciência, mas não embarque numa
carreira de redator por pensar que será fácil. Escrever é u m trabalho d u r o e
você deve gostar t a n t o de escrever q u a n t o d o tema. Há prazeres em escrever
sobre ciência t a n t o para jornalistas c o m o para aqueles que se consideram cien-
tistas. Parte do apelo de escrever sobre ciência t e m a ver c o m uma abundância
de novos conhecimentos. E n q u a n t o m u i t o s outros assuntos começam a se re-
petir depois de algum t e m p o , você irá se colocar diante de u m f l u x o de infor-
mação sempre fresca e em desenvolvimento, revelando nossa compreensão ca-
da vez mais p r o f u n d a sobre o m u n d o que nos cerca e o nosso m u n d o interior.
Isso é parte da satisfação que os próprios cientistas encontram na pesquisa.
Este livro o levará por águas rasas onde você poderá praticar enquanto desen-
volve suas habilidades individuais e estilos de comunicar à comunidade mais
ampla.

M u i t o provavelmente você irá encontrar alguns vilões, trapaceiros e


charlatães além dos heróis, nesta viagem. Irá encontrar histórias promissoras
sobre ciência e cientistas apenas para descobri-las enveredando por u m beco
sem saída. C o m o em t o d o empreendimento h u m a n o , a ciência nem sempre
produz a história de sucesso inquestionável, uma imagem que as gerações an-
teriores de redatores de ciência instilaram nas mentes dos consumidores dos
meios de comunicação. Os filmes e os programas de televisão abalaram essa

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imagem c o m retratos de cientistas c o m o pessoas perigosamente obcecadas,
uma situação que perturba m u i t o s desses profissionais. A reunião de 1985 da
A m e r i c a n Association f o r the A d v a n c e m e n t o f Science dedicou u m de seus
programas a esse problema da " i m a g e m " . Mas a tendência geral da descoberta
c i e n t í f i c a t e m sido melhorar a sociedade simplesmente porque q u a n t o mais
compreendemos a respeito de nosso m u n d o e de nós mesmos, melhores as es-
colhas que poderemos fazer para nós mesmos e nossos filhos. Uma coisa é res-
peitar tradições que serviram bem à humanidade; o u t r a é permanecermos t o -
talmente amarrados a conhecimentos antigos e práticas superadas que p o d e m
nos levar ao desastre social. Parte da tarefa d o escritor de ciência é ajudar as
pessoas a selecionar esses elementos. Os cientistas p o d e m o u não ser de ajuda
concreta nessa tarefa em virtude de sua p r o x i m i d a d e aos temas. Os cientistas
não t ê m , necessariamente, u m p o n t o de vista u n i f i c a d o ao lidarem c o m ques-
tões políticas é sociais; muitas vezes f i c a m divididos entre si tão f o r t e m e n t e
c o m o qualquer o u t r o g r u p o . C o m t o d a a certeza, você irá conhecer i n d i v í d u o s
interessantes e mesmo corajosos na comunidade c i e n t í f i c a . Eles merecem ma-
térias c o m o pessoas que seu p ú b l i c o deveria conhecer.
O u t r a parte de seu desafio consiste em j u n t a r os empreendimentos disper-
sos da ciência para f o r m a r e m u m padrão coerente. A descoberta c i e n t í f i c a
vem â luz de m o d o picado e desordenado, c o n t r a d i t ó r i o e mesmo c o m ten-
dências que p o d e m levar anos para serem extirpadas. Alguns cientistas estão
pedindo aos jornalistas para julgarem e avaliarem a ciência, á medida que es-
tão relutantes o u incapazes de depender apenas de seu p r ó p r i o consenso. Isso
lhe sugere desenvolver o seu p r ó p r i o sentido de m u n d o e o que este promete
àqueles que dependem de seus relatos. Escrever sobre ciência e medicina acar-
reta responsabilidades t a n t o q u a n t o prazeres.

4
Capítulo 1
O que é redigir ciência?

A REDAÇÃO DE CIÊNCIA É UM ENTRE C o m o r e d a t o r de ciência você p o -


MUITOS novos t i p o s de c o m u n i c a ç ã o derá escrever o u d i f u n d i r , p o r e x e m -
especializada q u e e v o l u e m no século p l o , as p r i m e i r a s matérias sobre m e d i -
X X . Mais de c i n c o m i l pessoas, ape- c a m e n t o s n o v o s , a descoberta de n o -
nas nos Estados U n i d o s , c o n s i d e r a m - vas estrelas o u planetas, o u sobre a
se " e s c r i t o r e s de c i ê n c i a " p o r q u e pas- descoberta de novas f o r m a s de vida
sam o t e m p o t o d o o u a m a i o r p a r t e nas p r o f u n d e z a s dos oceanos — talvez
dele escrevendo sobre temas das áreas m e s m o e m o u t r o s planetas. V o c ê p o -
de c o n h e c i m e n t o a l t a m e n t e organiza- deria ser u m dos p r i m e i r o s escritores
das conhecidas l i v r e m e n t e c o m o ciên- a b o r d o de u m a nave espacial; o u p o -
cias. Isso i n c l u i os campos ó b v i o s co- derá estar r e l a t a n d o histórias e n v o l v i -
bertos pelas ciências f í s i c a s , tais co- das c o m os temas d o m e i o a m b i e n t e
m o a f í s i c a e a q u í m i c a , e as ciências o u energia d o m u n d o .
naturais, biologia e zoologia, por De u m a m a n e i r a geral, os e s c r i t o -
e x e m p l o , e todas as suas r a m i f i c a - res de ciência c o n s i d e r a m que suas
ções. R e d i g i r ciência t a m b é m abran- carreiras são c o n s t r u í d a s ao r e d o r de
ge temas c o m o a aplicação da ciência explicar ou traduzir conhecimento
através da engenharia e t e c n o l o g i a e, c i e n t í f i c o para pessoas que p o d e m
especialmente as ciências-arte da me- ser o u não cientistas. E m 1 8 4 7 , Ja-
d i c i n a e cuidados c o m a saúde. A s mes Prescott J o u l e f o i capaz de le-
ciências social e de c o m p o r t a m e n t o vantar-se d i a n t e de u m a igreja e m
t a m b é m são temas que c o m p e t e m ao Manchester, Inglaterra, e e x p o r sua
redator científico. tese de que a energia se t r a n s f o r m a
M i l h a r e s de o u t r o s redatores exa- e m algo equivalente ao calor, e espe-
m i n a m este m e s m o c o r p o de c o n h e - rar que a m a i o r i a das pessoas presen-
c i m e n t o sem se declararem f o r m a l - tes a essa preleção p ú b l i c a c o m p r e e n -
m e n t e escritores c i e n t í f i c o s . N o p r o - desse suas idéias. O p r i m e i r o r e l a t o
cesso de escrever sobre c i ê n c i a , tais p u b l i c a d o sobre as suas idéias e as ex-
redatores interagem c o m m u i t o s dos periências què a p o i a v a m sua t e o r i a
quase três m i l h õ e s de h o m e n s e m u - apareceram n o j o r n a l semanal de
lheres c o n t a d o s pela S c i e n t i f i c M a n - Manchester. De u m J o u l e m o d e r n o
p o w e r C o m m i s s i o n c o m o cientistas. seria esperado que anunciasse a sua
Os redatores de ciência p o d e m o u descoberta n u m a reunião c o m o u t r o s
não ser f o r m a l m e n t e t r e i n a d o s e m m e m b r o s de sua especialidade c i e n t í -
u m a o u mais ciências. fica o u a publicasse antes n u m perió-

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dico c i e n t í f i c o , e há milhares deles. entistas. T o m e , c o m o e x e m p l o , o
T a m b é m se esperaria de Joule que p r ó p r i o conceito de ciência. O Dr.
explicasse sua teoria e experimentos D i e t r i c h Schroeer, em. Physics and
em palavras t ã o técnicas que m u i t o s Its Fifth Dimension: Society ( 1 9 7 2 ) ,
cientistas de o u t r o s campos não con- chama atenção para idéias paradoxais
seguissem compreender seu significa- sobre o que é a ciência:
do. A ciência é o controle da nature-
P o r t a n t o , a redação c i e n t í f i c a ten- za. Embora esse conceito tenha uma
de a ser dirigida para fora, para audi- tradição que r e m o n t a a mais de tre-
ências além da estreita especialidade zentos anos, a Francis Bacon e o i n í -
c i e n t í f i c a onde a informação se origi- cio do que é aceito hoje c o m o o " m é -
na. O escritor de ciência torna-se par- t o d o c i e n t í f i c o " , o mesmo t e m suas
te de u m sistema de educação e co- falhas. Cobre a tecnologia de produ-
municação t ã o c o m p l e x o c o m o a ci- ção e m a n u f a t u r a , que m u i t o s que
ência moderna e a sociedade mais chamam a si mesmos de cientistas
ampla. Em seus alcances mais extre- desdenham. Se a ciência significa
mos, a redação c i e n t í f i c a ajuda a controlar a natureza, não pode in-
transpor a brecha entre cientistas e cluir a cosmologia, o estudo d o uni-
não-cientistas. Tal é o m u n d o das verso.
duas culturas visto por C. P. S n o w A ciência estuda o mundo mate-
( 1 9 6 1 ) , u m respeitado cientista, an- rial. Isso exclui a física matemática,
tes de se voltar para a escrita de ro- que é principalmente teórica, intelec-
mances e serviços governamentais. tual e especulativa — tal c o m o as con-
Snow temia uma situação de não-co- clusões de A l b e r t Einstein a respeito
municação e compreensão entre pes- de E = M C 2 . Pode ser vista c o m o ex-
soas ligadas a disciplinas científicas e c l u i n d o as ciências sociais e de com-
aquelas que abandonassem a ciência p o r t a m e n t o porque estas e n f o c a m o
e tentassem seguir apenas disciplinas c o m p o r t a m e n t o social, não o m u n d o
humanistas. A redação c i e n t í f i c a edu- material. Este conceito poderia abri-
ca, em vários níveis, adultos cuja edu- gar especialidades novas tais c o m o a
cação f o r m a l t e r m i n a no 2o. grau o u biofísica e a biopsicología, baseado
na faculdade. A redação c i e n t í f i c a em pressuposições de que o c o m p o r -
ajuda a educar crianças sobre o m u n - t a m e n t o é o resultado do estado f í -
do natural que as cerca além de seu sico o u q u í m i c o das pessoas n u m
ambiente i m e d i a t o , além de suas salas t e m p o dado.
de aula, além de sua limitada experi- A ciência é o conhecimento pú-
ência. blico. Embora seja u m belo concei-
C o m o intermediários, os redatores t o para o redator de ciência, essa pro-
de ciência devem esclarecer para si posição oculta vários obstáculos. A
mesmos, seus editores e seu p ú b l i c o , palavra " p ú b l i c o " causa o proble-
algumas idéias e conceitos que não ma. Inclui a ciência a pesquisa se-
são tão claros mesmo para m u i t o s ci- creta, uma prática combatida em

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muitas universidades? A engenharia das o u sequer verificadas por o u t r o s
acrescenta alguma coisa ao conheci- cientistas.
m e n t o c i e n t í f i c o p ú b l i c o o u mera- Sir Richie Calder, cientista e po-
mente à técnica privada? Estão os ca- pular redator de ciência, c h a m o u
dernos de anotações de Leonardo da atenção para outras áreas da ciência
V i n c i , por e x e m p l o , c o m suas im- onde os redatores ajudam a clarear as
pressionantes descobertas, f o r a d o trilhas pelas quais os cientistas cami-
reino da ciência porque ele as escre- nham. U m a dessas áreas inclui o reco-
via em código de espelho e as manti- n h e c i m e n t o da moda e dos cultos na
nha escondidas? Os cientistas dizem ciência. Os cientistas c o s t u m a m se
freqüentemente a redatores de ciên- precipitar para áreas de pesquisa
cia que u m trabalho não é ciência até " q u e n t e s " , especialmente q u a n d o há
que seja revisto por o u t r o s cientistas, grandes quantias disponíveis, c o m a
profissionais igualmente capacitados, mesma rapidez c o m que os jovens se
e publicado na literatura c i e n t í f i c a . a t i r a m às últimas modas em música e
A ciência é o método experimen- roupas. O interferon, u m elemento
tal. C o m o m é t o d o experimental co- q u í m i c o p r o d u z i d o pelo organismo e
mo padrão, a maior parte dos antro- que desempenha u m papel no siste-
pólogos, naturalistas, paleontólogos, ma i m u n o l ó g i c o h u m a n o , f o i uma
e cientistas sociais p o d e r i a m ser ex- área " q u e n t e " de pesquisas nos anos
cluídos da ciência, uma vez que suas 60, esfriou nos anos 7 0 e v o l t o u a se
técnicas são p r i n c i p a l m e n t e de obser- aquecer na década de 1980. A visão
vação. Podem realizar experimenta- dos vírus c o m o causa de câncer, c o m
ção apenas limitada c o m circunstân- o u sem e s t í m u l o ambiental, t e m sido
cias variáveis e controladas. aceita e rejeitada inúmeras vezes. A f í -
O u t r a definição, " A ciência con- sica nuclear e a física de c i r c u i t o inte-
siste em deduções lógicas de muitas grado, f o n t e de maravilhas eletrôni-
observações", é a que Schroeer consi- cas variando de computadores pes-
dera c o m o a definição menos aceitá- soais a videogames, já tiveram suas
vel. Muitas das melhores teorias da épocas. C o m o f o i p r e d i t o por Calder,
ciência f o r a m baseadas em dados in- agora é o D N A em todas as suas ma-
suficientes e mesmo falsos. A percep- nifestações que está o b t e n d o o máxi-
ção interior e as intuições p o d e m ser m o de atenção em muitas áreas de
tão necessárias à ciência c o m o os fa- pesquisa e aplicação científicas
tos e a lógica. Raramente os relató- (1963).
rios c i e n t í f i c o s publicados indicam Calder t a m b é m reconheceu a ne-
certa desordem que acompanha a cessidade de os redatores c i e n t í f i c o s
pesquisa c i e n t í f i c a . A literatura cien- separarem e explicarem para seus lei-
tífica t e m m u i t o s trabalhos em que tores os vários tipos de cientistas. Os
os dados não apóiam as conclusões. cientistas " p u r o s " ou acadêmicos
A maioria dos trabalhos publicados buscam o c o n h e c i m e n t o para o bem
nunca t e m suas hipóteses confirma- da ciência, explorando os paradoxos

7
do m u n d o natural, clareando o des- lucrativamente na linha de produção,
conhecido, procurando a grande teo- quase nunca c o m rapidez. Geralmen-
ria. (O c o n h e c i m e n t o , previne Calder, te são necessários entre vinte e t r i n t a
não é necessariamente sabedoria.) anos para que uma descoberta se mo-
Cientistas " f u n d a m e n t a i s " , aplicados va através dessa esteira até chegar a
o u básicos, e x p l o r a m problemas cujo estar disponível para consumo.
estudo pode revelar informação que
N o m u n d o de Calder, os cientis-
aumenta a compreensão d o proble-
tas acadêmicos-básicos são os " q u e
ma, c o m o no caso d o mecanismo de
t o r n a m possível". Os cientistas apli-
uma doença, das propriedades de u m
cados e os tecnologistas são os " q u e
metal ou d o f u n c i o n a m e n t o de uma
fazem a c o n t e c e r " . Os técnicos são os
célula viva. Os cientistas " a p l i c a d o s "
" q u e fazem f u n c i o n a r " . Os cientis-
trabalham n u m programa específico,
tas sociais, pesquisadores de opera-
buscando respostas específicas; a sua
ções, pesquisadores de mercado e ci-
pesquisa é c o m freqüência nãb-gene-
entistas comerciais são os " q u e fa-
ralizada, aplicável a uma única área.
zem recompensar".
T a n t o a pesquisa f u n d a m e n t a l c o m o
a aplicada freqüentemente são cha- À medida que os escritores de
madas pesquisa " d i r i g i d a " . Os " t e c - ciência espalham informação fora d o
nologistas", t e r m o aplicado por mero núcleo das disciplinas científicas, a
cuidado à maioria dos engenheiros, ciência perde alguma precisão e mui-
t r a n s f o r m a m o c o n h e c i m e n t o funda- t o do jargão técnico. Nos meios de
mental em know-how de produção; comunicação de massa — jornais, rá-
obrigam os fatos c i e n t í f i c o s a traba- d i o e televisão — a ciência torna-se
lhar em seu favor. popularizada e até mesmo "sensacio-
Os técnicos t r a n s f o r m a m u m pro- nalizada", e por uma boa razão. Mu-
d u t o em operações industriais. Uma lheres, homens e crianças, na maio-
das armadilhas da redação sobre ciên- ria das vezes c o m t e m p o l i m i t a d o e
cia e medicina t e m sido conceder pre- freqüentemente cansados, t ê m pouco
matura e demasiada importância a incentivo para mergulharem na pro-
uma descoberta c i e n t í f i c a . Na medi- sa indigesta, que pouco significado
cina, produz falsas ilusões de " c u r a s " oferece às suas vidas cotidianas. Os
antes que haja u m registro sistemáti- escritores de ciência provêem o signi-
co da remissão da doença. Histórias ficado para seu público particular. Is-
de "descobertas" científicas muitas so é parte d o processo de tradução,
vezes ignoram os m u i t o s passos entre freqüentemente o m i t i d o nos discur-
uma e cem experiências de laborató- sos formais e nos trabalhos escritos
rio bem-sucedidas e a produção in- dos cientistas porque seus colegas su-
terminavelmente repetida de u m me- postamente sabem o suficiente sobre
d i c a m e n t o o u novo aparelho. Os fei- aquele campo para agarrar o significa-
tos conseguidos em laboratório não do e ficariam insultados se fosse sole-
p o d e m c o m freqüência ser repetidos t r a d o para eles. Portanto, o redator

8
de ciência deve procurar o "significa- o monge franciscano excomungado e
d o " para o seu público-alvo. f i l ó s o f o da ciência, que a j u d o u a le-
Às vezes a interpretação d o escri- var os primeiros cientistas para a tra-
tor c o m respeito a esse significado dição e m p í r i c a e experimental. U m
pode não c o i n c i d i r c o m a do cientis- de seus princípios, conhecido c o m o
ta, cuja intenção era informar seus " a Navalha de O c k h a m " , afirmava
colegas. Isso leva a acusações de estar que a explicação mais simples de u m
enganando o público. C o m o grande f e n ô m e n o é provavelmente a explica-
parte do m u n d o d o cientista é peque- ção correta.
na ou perigosa demais para ser senti- Isso não significa a defesa da sim-
da diretamente, ou tão grande que plificação irresponsável. A maioria
seu t a m a n h o — c o m o no m u n d o dos dos escritores de ciência t e n t a m con-
cosmologistas — não pode ser com- f i r m a r os fatos e interpretações de
preendido, q u e m escreve sobre ciên- suas matérias c o m especialistas erudi-
cia para o p ú b l i c o em geral tenta ex- tos e de reputação. Esses cientistas
plicá-la em termos de analogia e sími- incluem o pesquisador original e ou-
les. Estes são, por definição, menos tros cientistas que trabalham n o cam-
exatos que a t e r m i n o l o g i a precisa po. E n t r e t a n t o , os repórteres de ciên-
usada pelos praticantes da ciência o u cia experientes sabem que os cientis-
sua linguagem matemática, altamen- tas muitas vezes fazem avaliações po-
te hermética p o r é m precisa. É oastan- bres das implicações e aplicações pos-
te possível que os editores e escrito- síveis de suas descobertas.
res estejam subestimando o nível de T o m e o laser, por e x e m p l o . Nos
capacidade de compreensão técnica e anos 60, pouco depois da sua de-
científica que seus ouvintes e leitores monstração, os redatores de ciência
possuem em m u i t o s países avançados. apressaram-se em perguntar sobre o
Os escritores de ciência, especial- potencial d o laser para se t o r n a r o
mente aqueles que trabalham para os " r a i o da m o r t e " postulado pelos au-
veículos de massa, t e n d e m t a m b é m a tores de ficção-científica. Quase uni-
despir a ciência de muitas nuances. E versalmente os cientistas tentaram
••ão exatamente essas sutilezas que derrubar a idéia de que o laser e seus
deliciam os cientistas e freqüente- raios concentrados de energia podia
mente d e m o n s t r a m a outros cientis- se tornar u m i n s t r u m e n t o ú t i l na ter-
las o b r i l h o de seu trabalho. Dessa ra o u no espaço ao superar os obstá-
lorma, ao escrever sobre ciência para culos de t a m a n h o , fontes de energia
0 público não-especializado, de uma e água, pó o u o u t r a matéria em f o r -
maneira o u de o u t r a , o escritor pode ma de partículas. E n t r e t a n t o , vinte e
iicar vulnerável a acusações de super- poucos anos depois, o D e p a r t m e n t o f
implificação. C o m o será mostrado Defense gabou-se de raios laser para
•diante, os redatores de ciência são c o m b a t e , suficientemente poderosos
inclinados a seguirem as idéias de para cegar soldados inimigos. A A i r
1
tuilherme de O c k h a m (1290-1347), Force liberou fotografias e informa-

9
ção confidencial sobre experiências pensar que cada descoberta provém
usando aviões para testar potentes ar- do pensamento f r i o e racional, do
mas a laser. E o presidente Ronald planejamento cuidadoso e da execu-
Reagan anunciou u m programa de ção de experiências destinadas a do-
defesa nacional para desenvolver um brarem a natureza para que revele
sistema orbital de armas a laser e raios seus mistérios. Você nunca suporia, a
de partículas para destruir mísseis e partir da literatura, que a maior parte
satélites no espaço. Salvo tenha das experiências são fracassos. E tam-
havido mudanças no programa, sem bém não lhe pareceria que a ciência é
dúvida haverá protótipos dessas ar- uma arena desordenada de tubos de
mas a bordo das versões t a n t o milita- ensaio quebrados, falhas de energia,
res quanto civis da cápsula espacial ratos morrendo e competição. Uma
americana. demonstração da competitividade
existente f o i a batalha campal trava-
A cultura da ciência da entre duas expedições de Ivy Lea-
gue pela posse de ossos de dinossau-
Há uma outra visão quanto â reda-
ro. Somente com a publicação de
ção sobre ciências. O Dr. Joel Hilde-
The Double He/ix, de James Watson
brand, que ensinava q u í m i c a e desen-
(1968) é que boa parte do público
volvia pesquisas na University of Cali-
percebeu c o m o os cientistas podem
fornia-Berkeley quase até sua morte,
ser levados por uma feroz competiti-
aos 101 anos, ofereceu a seguinte ex-
vidade a reclamar a descoberta de al-
plicação de ciência: A ciência é o que
go como a estrutura do ácido desoxi-
os cientistas fazem (1957). Com to-
ribonucléico — o D N A , o p r ó p r i o se-
das as suas ramificações, essa defini-
gredo da vida. No entanto, no século
ção oferece m u i t o ao escritor de ciên-
X V I I , Newton e Leibniz disputaram
cia. Jon D. Franklin, redator de ciên-
em público com a mesma ferocidade
cia do vespertino Baltimore Sun e
o crédito de ter inventado o cálculo.
vencedor de dois prêmios Pulitzer,
A vida científica oferece poucas re-
disse que ao invés de escrever sobre a
compensas para o segundo lugar, ao
esotérica da física das partículas, es-
menos aos olhos de alguns cientistas.
colheria escrever sobre os físicos (Le-
Pressões de competição f o r a m usadas
wis, 1985).
como desculpas por cientistas que
A ciência, então, pode e deve ser
violam o p r i n c í p i o da pesquisa ao fal-
compreendida como a atividade hu-
sificarem seus resultados, ameaçando
mana que é. No entanto, é quase o
assim a integridade da ciência.
oposto de como os cientistas geral-
mente se revelam na maior parte de A o escrever sobre ciência, os escri-
sua própria literatura. Muitos aparen- tores lidam com uma cultura humana
tam desejar denegrir por completo a de personalidades que muitos cientis-
personalidade na ciência. A o ler seus tas prefeririam não merecesse publici-
relatórios secos e desapaixonados nas dade. A ciência tem seus heróis ousa-
publicações científicas, você poderia dos, suas vítimas de violentação e pi-

10
Ihagens políticas e intelectuais, seus pesquisas encontram-se exemplos de
mourejadores e seus desprezados. coragem física e m o r a l , trabalho sob
Quando a Dra. Barbara M c C I i n t o c k condições impossíveis e assustadoras,
recebeu seu Prêmio Nobel pela pes- e esperteza. Isso t a m b é m é assunto pa-
quisa demonstrando que os genes ra os escritores de ciência, u m mate-
eram móveis e transportáveis em mi- rial que podem desenterrar c o m tra-
lho, havia v i r t u a l m e n t e parado de pu- balho e imaginação. Todas essas coi-
blicar sua pesquisa. Seus primeiros sas, em c o n j u n t o , c o m p õ e m u m lado
trabalhos haviam sido praticamente h u m a n o da ciência que os cientistas,
ignorados até que a idéia de manipu- na prática, preferem, e m m u i t o s ca-
lação genética e n t r o u em moda na sos, esconder, tal c o m o faziam seus
ciência. Ela f o i redescoberta. E em J. predecessores — sacerdotes e magos
Robert Oppenheimer m u i t o s cientis- — que se apoiavam no mistério para
tas acreditam que a ciência moderna d o m i n a r as multidões que não per-
t e m u m mártir p o l í t i c o comparável tenciam ao seu g r u p o .
a Galileu. 0 f í s i c o Oppenheimer le- 0 escritor de ciência Daniel Green-
vou a equipe d o Los A l a m o s Natio- berg i d e n t i f i c o u alguns dos papas e
nal L a b o r a t o r y ao desenvolvimento t e m p l o s da ciência, seus centros de
das primeiras bombas atômicas. Os poder estabelecidos. Estes incluem os
roteiristas de cinema dramatizaram a laboratórios e a escola de medicina
história das ligações políticas "es- da Harvard University, o Massachu-
querdistas" de Oppenheimer e c o m o setts I n s t i t u t e o f T e c h n o l o g y , o Cali-
estas estavam relacionadas c o m as fórnia Institute of Technology, a
suas reservas em desenvolver a mais S t a n f o r d U n i v e r s i t y , departamentos
poderosa b o m b a de hidrogênio. Me- selecionados em outras universidades
nos f o i escrito sobre E d w a r d Teller, e os Bell Laboratories antes da que-
defensor da b o m b a de hidrogênio e bra da A T & T . O establishment da
u m dos oponentes de Oppenheimer. ciência inclui t a m b é m a National
E menos ainda se escreveu sobre os A c a d e m y o f Sciences, a Smithsonian
anos de quase-ostracismo que lhe f o - I n s t i t u t i o n e o Cosmos C l u b , de
ram impostos por m u i t o s membros Vi/ashington, D. C. Entre os papas da
da c o m u n i d a d e c i e n t í f i c a devido ao ciência estão os titulares dessas insti-
papel que desempenhou j u n t o ao go- tuições e os de certos institutos inde-.
verno dos Estados Unidos para con- pendentes, c o m o o Sloan-Kettering
ceder a Oppenheimer livre acesso a Câncer Center e o Carnegie Institute,
informações secretas. e os vencedores de prêmios Nobel.
C o m o em qualquer o u t r o empre- Dependendo da influência pessoal, o
e n d i m e n t o h u m a n o , as fraquezas dos grupo dos " p a p a s " da ciência pode
cientistas transparecem ocasional- incluir t a m b é m o conselheiro de ciên-
mente: ambição, fraudes, plágio, rou- cia do presidente dos Estados Uni-
bo, ameaças, arrogância, medo e pre- dos. Os " b a n q u e i r o s " da ciência, f o r -
conceito. Por trás dos relatórios de necendo bilhões em subsídios, in-

11
c l u e m os National Institutes of American Association for the Advan-
Health, a National Science Founda- cement of Science, circula e influen-
t i o n , partes do Department o f Defen- cia bem além dos 1 0 0 . 0 0 0 membros
se e d o Department o f Energy, a Na- desta, que é uma das maiores organi-
t i o n a l Aeronautics and Space A d m i - zações científicas. Duas publicações
n i s t r a t i o n , e importantes organiza- médicas dos E . U . A . t ê m poderosa in-
ções beneficentes, tais c o m o a Ameri- fluência c i e n t í f i c a e p o l í t i c a : The
can Câncer Society e a A m e r i c a n New England Journal of Medicine e
Heart Association. U m punhado de Journal of the American Medicai
companhias desfruta do status d o es- Association. Seus editores falam não
tablishment porque dedicam signifi- apenas dos assuntos técnicos da ciên-
cativas percentagens de seus orça- cia c o m o t a m b é m de normas de pro-
mentos á pesquisa f u n d a m e n t a l em cedimentos, p o l í t i c a e consciência.
vez de destiná-las ao mero desenvol- A ciência t a m b é m t e m suas " v o -
v i m e n t o de p r o d u t o s . Essas encon- zes" públicas. Em parte, esses repre-
tram-se primariamente nas indústrias sentantes públicos da ciência são as
q u í m i c a , eletrônica e aeroespacial criações dos escritores de ciência, es-
(Greenberg, 1967). pecialmente os jornalistas a serviço
Na cultura da ciência e da medici- de veículos de penetração nacional.
na existe competição entre os centros A Dra. R a e G o o d e l l , professora de co-
de poder. Por e x e m p l o , os agraciados municação c i e n t í f i c a no M I T , identi-
c o m os prêmios da A m e r i c a n Câncer f i c o u u m grupo que ela batizou de
Society carregam quase t a n t o prestí- " o s cientistas visíveis" (1977). Este
gio q u a n t o os vencedores de prêmios grupo inclui os ganhadores d o Nobel,
N o b e l . Os líderes da A C S sentem-se os diretores de instituições prestigio-
envergonhados se não percebem cien- sas e administradores de agências go-
tistas proeminentes antes de serem vernamentais voltadas para a ciência
reconhecidos pela comissão d o prê- e laboratórios federais. Os redatores
m i o Nobel em Copenhague. Existe a de ciência dependem bastante desse
c o m p e t i ç ã o entre as universidades, l i m i t a d o c í r c u l o para o b t e r e m infor-
hospitais e institutos estabelecidos mações especializadas sobre assuntos
por d i n h e i r o e pessoas, e entre estes e polêmicos de alto c o n t e ú d o médico
instituições de f o r a por esses mesmos o u c i e n t í f i c o . Isto às vezes leva a pro-
recursos. blemas. Por e x e m p l o , na discussão
A ciência t e m t a m b é m suas pró- sobre os efeitos d o uso da maconha,
prias vozes estabelecidas, principal- u m estudo das matérias publicadas
mente os periódicos. Por representa- revelou que a maior parte da infor-
rem grandes segmentos de opinião mação dos jornalistas sobre a mesma
c i e n t í f i c a o u , ao menos, a liderança, vinha de fontes que não t i n h a m expe-
essas publicações são fontes de m u i t a riência de pesquisa sobre os efeitos
informação para os escritores de ciên- da droga. Os jornalistas c i e n t í f i c o s
cia. Science, a revista semanal da encontraram e citaram, a seu c r i t é r i o ,

12
três dos cinco relatórios de pesquisa- mais antigos dão entrevistas melhores.
dores mais f r e q ü e n t e m e n t e citados A c r í t i c a dos colegas, inclusive no
por o u t r o s cientistas envolvidos em que tange à publicação de uma pes-
estudos sobre a maconha. Mas a quisa individual n u m a revista de re-
maior parte da informação impressa e n o m e , c o n t i n u a sendo a primeira
d i f u n d i d a vinha de cientistas alta- prioridade d o cientista. A u m e n t a r a
mente visados, cujas posições oficiais compreensão pública da ciência lhes
o u administrativas mantinham-nos confere poucas recompensas mate-
afastados d o c o n t a t o d i r e t o c o m a riais.
pesquisa de campo (Shepherd, 1979).
A dependência de fontes de infor- As restrições d o empregador tam-
mação tão distantes não é inteira- bém podem desencorajar a comunica-
mente culpa dos jornalistas c i e n t í f i - ção p ú b l i c a . Os cientistas da indústria
cos. Os costumes tribais, no seio da lidam c o m informações que dizem
comunidade c i e n t í f i c a , p o d e m fun- respeito a patentes a partir das quais
cionar c o m o barreiras à comunicação suas companhias esperam lucrar aci-
de informação c i e n t í f i c a através da ma dos concorrentes. Por esse m o t i -
popularização e dos meios de comu- vo, devem manter a boca bem fecha-
nicação de massa ( D u n w o o d y e S c o t t , da à respeito de seu trabalho. A pes-
1982, 52). A o entrar para o campo quisa desenvolvida em ambientes
da redação de ciência, os redatores não-industriais não t e m sido guarda-
irão descobrir que esses costumes afe- da t ã o ciosamente no passado. Isso
t a m o m o d o pelo qual lidam c o m as pode estar m u d a n d o . É m u i t o cedo
fontes de notícias científicas. Os jor- para dizer se os escritores de ciência
nalistas tendem a lidar c o m os cien- irão ter dificuldades em falar c o m os
tistas mais antigos, cuja reputação no pesquisadores agora que a Harvard
seio da comunidade c i e n t í f i c a está U n i v e r s i t y , por e x e m p l o , espera ga-
bem estabelecida. Eles são mais segu- nhar d i n h e i r o c o m a pesquisa sobre
ros e dispostos a falar. No caso dos engenharia genética. Os escritores de
pesquisadores mais novos, a c r í t i c a medicina para veículos populares po-
dos colegas pode c o m p r o m e t e r a po- derão encarar uma nova concorrência
sição na comunidade c i e n t í f i c a , prin- das universidades e outras organiza-
cipalmente se estiverem em busca de ções de pesquisa. T a n t o a Harvard
avanço profissional, d i r e i t o â partici- Medicai School c o m o a M a y o Clinic
pação universitária o u reconhecimen- p u b l i c a m boletins noticiosos sobre
t o de seu trabalho. E n t r e t a n t o , Sha- os cuidados c o m a saúde, dirigidos a
ron D u n w o o d y e Michael Ryan assinantes entre o p ú b l i c o em geral.
(1983) estabeleceram, para u m grupo As empresas t a m b é m estão aumen-
de cientistas, que as questões de ética t a n d o seu uso de pesquisadores aca-
o u inveja podem ter menos relação dêmicos em idéias c o m valor comer-
c o m a concessão de entrevistas d o cial potencial; as condições desses
que c o m o f a t o de que os cientistas contratos de pesquisa podem impe-

13
dir os cientistas de falarem sobre seu São os cientistas sociais^ D u n w o o d y
trabalho. e Ryan, n u m trabalho que se encon-
A p o l í t i c a pode r e p r i m i r a discus- tra em elaboração, especulam que
são aberta. Alguns pesquisadores de isso resulta do f a t o de serem as ciên-
universidades públicas relataram a cias sociais u m campo novo e de te-
D u n w o o d y e Ryan que podem relu- rem se desenvolvido em c o n j u n t o
tar discutir detalhadamente seu tra- c o m os veículos de comunicação de
balho o u opiniões p o r t e m o r â reação massa. A publicidade pode ajudar
de legisladores. A origem e reprodu- esses cientistas a ganharem status e,
ção humana são temas que provocam talvez, f i n a n c i a m e n t o .
f o r t e polêmica. A pesquisa na fertili- Há u m o u t r o grupo de pesquisa-
zação e desenvolvimento de embriões dores que mostra uma disposição
humanos, por e x e m p l o , f o i envolvi- maior para popularização das ativida-
da, nos anos 80, por u m intenso de- des científicas. São os cientistas que
bate religioso sobre quando exata- dependem principalmente de f u n d o s
mente começa a " v i d a " e se terminar públicos para sua pesquisa. C o m o dis-
uma experiência poderia se t o r n a r seram a D u n w o o d y e Ryan, o reco-
u m assassinato. Os cientistas e enge- nhecimento público ajuda a superar a
nheiros envolvidos em pesquisa mili- maior parte das desvantagens da ex-
tar o u espacial sigilosa p o d e m ter ter- posição pública. A publicidade e a
mos em suas subvenções e contratos aprovação pública dos cientistas aju-
especificando que a aprovação da dam as agências que os m a n t ê m a
agência financiadora deve ser dada aparecerem bem em épocas de apro-
antes que qualquer discussão pública vação de orçamento.
sobre a pesquisa seja permitida. Uma Os escritores de ciência aprendem
reunião c i e n t í f i c a aberta assistiu ao os m u i t o s lados dessa notável c o m u -
cancelamento, após aprovação ofi- nidade de i n d i v í d u o s altamente edu-
cial, de mais de cem trabalhos cientí- cados e altamente treinados. As pes-
ficos não sigilosos, devido ao aumen- soas e as instituições que a c o m p õ e m
t o de sensibilidade em Washington são fontes e temas para matérias. O
q u a n t o à divulgação de informações f í s i c o J o h n Z i m a n , em seu livro Pu-
que possam afetar a segurança nacio- blic Knowledge, argumenta que a
nal. Para demonstrar a posição d o go- ciência é menos uma estrutura de co-
verno, agentes d o F B I resolveram nhecimento f o r m a l e f i x o d o que o é
uma vez prender u m i n d i v í d u o acusa- u m consenso público entre os cientis-
d o de espionagem durante uma reu- tas sobre q u e m faz u m " b o m " traba-
nião c i e n t í f i c a e não em o u t r o lugar lho o u q u e m não faz u m trabalho
qualquer. confiável, que informação é aceita ou
U m grupo de cientistas procurado ignorada, e o que é obsoleto o u o que
c o m mais freqüência pelos escritores deve ser ressuscitado. T a m b é m é par-
de ciência parece menos i n i b i d o a res- te d o trabalho do escritor de ciência
p e i t o de contatos c o m a imprensa. descobrir quando u m dissidente ou

14
inconformista merece ser ouvido e nheiro eletrônico que inventou os vi-
onde ir, dentro dessa comunidade deogames e vendeu sua empresa por
cientffica, em busca de avaliações de vinte e o i t o milhões de dólares. Rei-
pessoas e de pesquisa. nhold escreveu: " O L i o n and Com-
Schroeer previne os que compre- pass é para o mundo dos computa-
enderiam a ciência apenas como con- dores o que é o Sardi's para o distri-
senso: o consenso pode atribuir ênfa- t o teatral de Nova Y o r k " (7 de ja-
se demais ao f a t o de a ciência ser públi- neiro de 1984, 7). 0 Cosmos Club,
ca. Isso pode lhe dar a impressão de em Washington, tem status similar
uma organização m o n o l í t i c a de indi- para os que lidam com ciência aca-
víduos desinteressados e não o que dêmica. Extrair u m sentido dos lu-
Schroeer chama de "coleção de pri- gares que os cientistas freqüentam
mas-donas egoístas". O consenso po- quando deixam seus laboratórios po-
de c o n f u n d i r ciência com religião, de conferir uma nova compreensão
uma fé em dados não-verificáveis. O do lado humano da ciência.
cientista individual pode realizar a
sua própria pesquisa por razões mui-
t o diferentes do f a t o de ter que al- A ciência no governo
cançar u m consenso. Conseguir posi- Além das histórias interessantes,
ções, obter uma promoção, fazer for- muitas vezes absorventes sobre a des-
tuna ou outras ambições pessoais coberta científica, e além das fasci-
orientam os cientistas da mesma for- nantes, e, por vezes, estranhas perso-
ma que a nós. O Dr. Hans Mark, que nalidades encontra-se outra esfera de
f o i elevado a vice-gerente da agência preocupação para o redator científi-
espacial dos E U A , disse ter deixado c o — o financiamento da ciência. A
de ser u m físico nuclear e se tornado ciência e sua irmã, a tecnologia, con-
u m p o l í t i c o , um administrador. Você somem grandes quantidades de recur-
encontrará muitos outros administra- sos nacionais. Nos anos 80, o orça-
dores menos sinceros. mento federal para pesquisa e desen-
A o escrever sobre outros dos as- volvimento excedeu os cinqüenta bi-
pectos culturais da ciência e tecnolo- lhões de dólares provenientes de im-
gia, Robert Reinhold, do The New postos, a principal f o n t e de recursos
York Times, flagrou-se descrevendo para a ciência. Outros bilhões foram
a hora do almoço no restaurante despejados na tecnologia aplicada pe-
Lion and Compass, em Sunnyvale, la empresa privada, geralmente em
Califórnia. Por quê? Porque é a í que termos de novos produtos que po-
os cientistas e engenheiros da indús- dem criar problemas para a socieda-
tria eletrônica do " S i l i c o n V a l l e y " de e seus governos. As companhias
vão comer e negociar milhões de dó- obtêm isenções de impostos para
lares em avançada tecnologia de com- despesas com pesquisa e desenvolvi-
putadores. 0 proprietário do restau- mento, o que os torna empreendi-
rante, Nolan K. Bushnell, f o i o enge- mentos privados indiretamente finan-

15
ciados pelos c o n t r i b u i n t e s . As solu- são pequenas vantagens políticas. O
ções para esses problemas criados pe- Argonne National L a b o r a t o r y , perto
la tecnologia geralmente requerem de Chicago, por e x e m p l o , c o n t r o l a
mais tecnologia para a defesa contra u m o r ç a m e n t o anual de 2 1 0 milhões
inimigos, para o c o n t r o l e de novas de dólares, uma equipe de 4 . 5 0 0 pes-
doenças, para a produção de mais soas, m u i t o bem remuneradas. As ba-
energia, para a criação de empregos, talhas por tais facilidades valem a pe-
para o estabelecimento de colônias na por causa do seu efeito sobre as
no espaço, para desfazer-se de resí- economias locais. E n q u a n t o os cien-
duos e para a realização de dezenas tistas podem argumentar que estão
de outras missões que uma civiliza- usando de sua influência para assegu-
ção complexa requer. rar que o dinheiro destinado à pes-
Essas funções de serviço social es- quisa seja gasto nos lugares mais bem
tão reunidas numa coluna de Phillip equipados e c o m ó t i m o s profissionais
B o f f e y d o The New York Times, de- para empregá-lo de maneira sensata,
signada ciência e normas públicas. o u t r o s podem achar que esse exercí-
Daniel Geenberg p r o d u z u m b o l e t i m cio de poder é meramente uma va-
chamado Science and Government riação da p o l í t i c a eleitoreira.
Report. A m b o s relatam a interação Os redatores de ciência que co-
entre decisões governamentais, mano- b r e m a área de normas públicas olha-
bras políticas e efeitos públicos pro- rão para u m relatório da National
duzidos pelos cientistas e sua tecno- A c a d e m y o f Sciences sobre c o m o di-
logia. É u m m u n d o de poder, dinhei- m i n u i r a "chuva á c i d a " , buscando in-
ro, influência e, não raro, normas das dicadores da indevida influência que
mais injustas, baixas e eleitoreiras. exercem as companhias geradoras de
Para alguns repórteres de Washing- energia. Os cientistas que trabalham
t o n , a ciência é mais u m interesse es- n u m a indústria c o m o funcionários o u
pecial, para tentar extrair d i n h e i r o d o consultores podem c o m p o r os pai-
bolso das pessoas, c o m o ocorre c o m néis o u comissões que esboçam as re-
os construtores de estradas e outros, comendações a serem levadas a efeito
d o que propriamente u m empreendi- por agências reguladoras tais c o m o a
m e n t o sério e digno. A comunidade Environmental Protection Agency, a
c i e n t í f i c a pode se u n i r , c o m o o fez Consumer Product Safety Commis-
em 1983, para opor-se a membros do sion e a F o o d and Drug A d m i n i s t r a -
congresso que tentavam obter novas t i o n . Teoricamente, os cientistas co-
construções, laboratórios e o u t r o s fa- locam de lado os preconceitos e in-
vores especiais para seus distritos, clinações pessoais ao examinarem evi-
sem antes terem a alocação desses re- dências; na prática, isto pode ser im-
cursos públicos autorizada pelos possível. Na p o l í t i c a pública o escri-
membros de u m j ú r i encarregado de t o r de ciência deve lidar regularmen-
rever a ciência j u n t o às agências go- te c o m os testemunhos conflitantes
vernamentais. Essas facilidades não de cientistas, engenheiros o u o u t r o s

16
especialistas igualmente qualificados ções alarmantes ter sido bem maior
que recomendam soluções diametral- que o de informações mais t r a n q ü i l i -
mente opostas para as questões públi- zadoras, todas tiveram c o m o f o n t e os
cas. "Para t o d o Ph.D. existe u m próprios funcionários da Nuclear Re-
Ph.D. igual e o p o s t o " , diz uma piada. gulatory Comission. (Stephens e Edi-
Isso coloca o escritor de ciência na son, 1982).
posição de escolher, consciente o u Os redatores de ciência enfrenta-
inconscientemente, qual lado do tes- ram críticas às suas matérias q u a n d o
t e m u n h o o b t é m maior peso n u m a vestígios de u m poderoso pesticida, o
história. ethylene dibromide ( E D B ) , usado pa-
Os redatores dé ciência t a m b é m li- ra fumigar c í t r i c o s e grãos, apareceu
dam c o m os temas mais amplos da por t o d o o país em caixas de produ-
saúde pública e segurança em tempos tos de padaria. C o m o o EDB era sus-
de crise o u furos noticiosos. Espere peito de ser u m carcinógeno m u i t o
ser acusado de sensacionalismo. As f o r t e , sua distribuição imperceptível
matérias d o redator de ciência podem através dos sistemas de alimentação
lidar diretamente c o m a causa da cri- resultou em matérias que alarmaram
se, c o m o quando o M o n t e St. Helen, leitores e espectadores. 0 alarma f o i
no estado de Washington, e n t r o u em justificado? Os c r í t i c o s a f i r m a r a m
erupção, o u quando uma série de aci- que o governo m u d o u as regras de
dentes na usina nuclear de Three Mile uso d o EDB simplesmente por causa
Island f u n d i u a proteção do combus- d o barulho p o l í t i c o , não por t e m o r
t í v e l , c o n t a m i n a n d o parte da usina de u m g e n u í n o risco à saúde. Parte
c o m radiatividade e possivelmente da confusão sobre o perigo d o EDB
ameaçando comunidades próximas. reside em dois conceitos sobre o peri-
Esses eventos incomuns colocaram os go. Os cientistas e funcionários d o
cientistas e os redatores de ciência no governo poderiam falar dos riscos es-
meio de furos noticiosos onde sua ex- timados de que o EDB no a l i m e n t o e
periência em comunicações públicas na água poderia aumentar o risco de
afetou diretamente o p ú b l i c o . E m câncer em apenas alguns casos para
ambos os casos, residentes p r ó x i m o s cada 100.000 pessoas. Os jornalistas,
acompanharam as reportagens noti- c o m o delegados para leitores indivi-
ciosas à procura das indicações que duais, queriam que os cientistas fa-
precisavam para fugir a f i m de salvar lassem sobre o risco enfrentado por
suas vidas. A o olhar para o elemento uma pessoa que comprasse u m paco-
sensacionalismo, está claro que am- te de mistura para sonhos. A ciência
bos os eventos f o r a m sensacionalis- não pode proporcionar essa resposta.
tas por sua própria natureza. No caso Por o u t r o lado, a visão tendencio-
do acidente nuclear de Three Mile Is- sa das fontes de u m redator em as-
land, a maioria das matérias dos jor- suntos de interesse geral, tais c o m o
nalistas esteve longe de ser sensacio- saúde pública, pode resultar em c r í t i -
nalista; apesar d o número de afirma- cas ao redator. A questão de se ava-

17
liar riscos oferece m u i t o s exemplos. S c h m i t t , antigo astronauta e senador
Os jornalistas c i e n t í f i c o s t ê m sido americano pelo Novo México, discor-
acusados de não compreender o u dei- d o u do resto da comissão. Aprender
xar de explicar os " f a t o r e s de r i s c o " a avaliar o risco entre fontes especia-
quando c i t a m estudos c i e n t í f i c o s que lizadas conflitantes será u m problema
a f i r m a m que u m a u m e n t o na taxa de constante para o redator de ciência.
mortalidade o u doença pode resultar S c h m i t t disse que o c o n h e c i m e n t o
da exposição a vários elementos q u í - sobre riscos potenciais âs vezes não
micos no meio ambiente, no local de deveria ser divulgado pelos jornalis-
trabalho, em casa ou em qualquer ou- tas. A Dra. N e l k i n e o resto da comis-
t r o lugar. Science in the Streets, u m são preferem que o jornalista ofereça
relatório do T w e n t i e t h Century h u n d aos leitores e espectadores uma visão
( 1 9 8 4 ) , conclui que a percepção da analítica e inteligente dos riscos exis-
sociedade em relação aos perigos tec- tentes de m o d o que o público possa
nológicos, i n c l u i n d o os de vazamen- participar de f o r m a consciente n u m a
tos de petróleo e poluição do ar, de- sociedade democrática.
pende m u i t o da maneira c o m o esses Às vezes os jornalistas c i e n t í f i c o s
riscos são apresentados pelos veículos usam seu c o n h e c i m e n t o especial e
de comunicação de massa. Alguns fontes de notícias para proporcionar
usuários desses meios os responsabili- matérias secundárias ou que sir-
zam por criarem ansiedade desneces- vam c o m o pano de f u n d o para ajudar
sária; o mesmo fazem alguns cientis- as pessoas a compreenderem u m no-
tas. M u i t o freqüentemente, aqueles vo evento. Quando o presidente Ro-
que agem desta maneira t ê m interes- nald Reagan e o Papa João Paulo II
ses pessoais o u financeiros em reduzir f o r a m alvejados por assassinos poten-
a preocupação c o m várias situações. ciais, os redatores de ciência e medi-
N o relatório do F u n d , e n t r e t a n t o , a cina apresentaram matérias que deta-
socióloga D o r o t h y N e l k i n registra lhavam a natureza e gravidade dos fe-
que os jornalistas de ciência são vul- rimentos dos líderes e explicavam os
neráveis ao cientista o u administra- passos cirúrgicos dados para salvar
d o r que faz uma afirmação clara, de suas vidas. C o m freqüência a rede de
fácil citação sobre o perigo (ou a au- fontes noticiosas especializadas dis-
sência dele) c o m base em poucos da- poníveis aos redatores de ciência po-
dos. Isso aparece mais na tevê e no de ser usada para o u t r o s fins. Quan-
rádio onde u m sound bite de dez o u do o Premier soviético Y u r i A n d r o -
quinze segundos é c o m u m e n t e usado pov desapareceu da vida pública por
para explicar qualquer situação n o t i - vários meses, V i c t o r C o h n , d o The
ciosa. Washington Post, usou seus conta-
Segundo c o n c l u i u o r e l a t ó r i o , os tos c o m médicos em t o d o o país pa-
redatores e jornalistas c i e n t í f i c o s de ra descobrir o que seus colegas na
m o d o geral, não têm-se saído mal. Europa e outras áreas sabiam sobre
E n t r e t a n t o , o presidente Harrison E. os rumores da doença de A n d r o p o v .

18
O resultado f o i uma matéria minu- ciência d o The Wall Street •Journal
ciosa sobre a seriedade de uma do- c o b r e m ciência, medicina, o meio
ença renal que afligia o líder russo. A ambiente e outros assuntos pelos
veracidade da matéria de Cohen f o i efeitos que os novos desenvolvimen-
c o n f i r m a d a após a m o r t e de A n d r o - tos terão potencialmente sobre seus
pov, algumas semanas mais tarde. leitores enquanto seres humanos e
pessoas de negócio. Uma nova droga
para uma doença d o coração, por
Níveis de redação c i e n t í f i c a
e x e m p l o , pode interessar t a n t o ao lei-
Os redatores c i e n t í f i c o s operam t o r que é u m executivo estressado
em m u i t o s níveis e graus de populari- c o m o ao acionista da companhia que
zação, educação e esclarecimento. fabrica o medicamento.
Seu c o n h e c i m e n t o do nível de com- Os redatores que escrevem sobre
preensão de seus leitores o u especta- ciência para revistas traçam o perfil
dores guia t a n t o a seleção de fatos do seu p ú b l i c o de f o r m a ainda mais
c o m o o grau de popularização. 0 rá- limitada. A escassez do espaço dispo-
d i o , a televisão e o jornal local atin- nível, bem c o m o daquele dado às
gem u m p ú b l i c o de faixa etária e grau considerações do p ú b l i c o , f o r ç a m a
de instrução variados e de diferentes Ladies Home Journal, por e x e m p l o , a
origens. Escrever a respeito de ciência deixar a astronomia para ser tratada
para esse público exige a seleção de por outras publicações. A revista Ti-
tópicos de grande impacto o u grande me, segundo u m estudo, usa significa-
significação. Em v i r t u d e da limitação tivamente mais termos c i e n t í f i c o s
de t e m p o o u espaço científicos, os sem tradução do que o faz a News-
assuntos precisam c o m p e t i r c o m mui- week. N e n h u m a das duas trará tantas
tos o u t r o s tipos de notícias e maté- matérias sobre ciência q u a n t o a Sci-
rias. ence News, cujos assinantes c o m p r a m
Os grandes jornais c o m mais espa- a revista para o b t e r e m uma grande
ço, tais c o m o o The New York Ti- dose semanal de informação c i e n t í f i -
mes, irão ver o p ú b l i c o de maneira di- ca. Mas c o m o a Science News é dirigi-
ferente. Ü Times, c o m seus leitores da a u m público c o m p o s t o de jovens
m u i t o bem informados, irá atender e velhos, pessoas m u i t o bem informa-
u m p ú b l i c o interessado em ler sobre das e estudantes, bem c o m o profis-
alguns avanços na ciência ou na me- sionais c o m o u sem c u l t u r a c i e n t í f i c a
dicina, temas que serão ignorados pe- específica, seus redatores podem fa-
los editores do New York Daily zer na verdade mais traduções de ter-
News. A escolha de notícias depende minologia c i e n t í f i c a do que as revis-
quase que inteiramente da visão que tas não-especializadas. Science, a re-
os editores t ê m sobre os interesses d o vista semanal para membros da A m e -
seu p ú b l i c o , se predominantemente rican Association f o r t h e Advance-
da classe trabalhadora ou profissio- m e n t o f Science, não t e m c o m p r o -
nalmente treinada. Os redatores de misso c o m a linguagem técnica em

19
seus artigos principais, escritos por ci- pessoal, incluindo o aspecto econô-
entistas. E n t r e t a n t o , usa va'rios jorna- m i c o dos cuidados c o m a saúde.
listas para acompanhar de perto a O u t r o t i p o de publicação que em-
mutável cena p o l í t i c a , em sua seção, prega redatores de ciência são revistas
" N e w s and C o m m e n t " . A l é m disso, que t r a t a m de temas relativos a in-
Science atende a seu p ú b l i c o , alta- dústria, negócios e comércio. Revis-
mente selecionado, c o m departamen- tas c o m o a Business Week o u a For-
tos tais c o m o " T h i s Week in Science" bes, concentram-se nos interesses de
e "Research N e w s " . A m b o s são escri- administradores e acionistas em com-
tos n u m a linguagem mais c o m u m , panhias importantes, que requerem
f r e q ü e n t e m e n t e explicando artigos mais simplicidade nas áreas técnicas
técnicos de o u t r a parte da revista, pa- que os leitores das revistas Aviation
ra ajudar os leitores tecnicamente Week and Space Technology ou Che-
treinados a compreenderem o jargão mical Engineering, por e x e m p l o . En-
usado em várias disciplinas. t r e t a n t o , q u a n t o mais estreito f o r o
v í n c u l o da revista c o m a indústria o u
A Scientific American emprega vá- segmento de indústria ao qual se diri-
rios editores para trabalharem c o m os ge, mais seletivo será o seu interesse
cientistas que escrevem os artigos da em ciência.
revista. Não obstante, o seu nível téc- Os redatores de ciência t a m b é m
nico permanece m u i t o alto para uma escrevem para companhias e institui-
publicação voltada para u m p ú b l i c o ções, que produzem relatórios para
não-técnico. Para uma noção mais atender a uma ampla variedade de
popular d o que está acontecendo em propósitos. Poderá haver press relea-
ciência, os leitores t ê m a Science Di- ses p r o m o v e n d o u m p r o d u t o da com-
gest e a Science 8 5 (que muda de nú- panhia, uma brochura explicando u m
mero de acordo c o m o ano), que processo em linguagem leiga o u uma
t a m b é m é publicada pela American revista para acionistas o u emprega-
Association f o r the A d v a n c e m e n t of dos. A Exxon, por e x e m p l o , usa re-
Science. Para o fanático por ciência, datores de ciência para explicar suas
que quer literatura de ficção c i e n t í - ações c o m [elação â proteção do am-
fica mesclada c o m artigos conscien- biente onde opera poços de petróleo
ciosos sobre ciência, existe a revista e refinarias. A revista Exxon vai para
Omni. As revistas Psychoiogy Today u m vasto público que inclui jornalis-
e Society se dirigem àqueles que pos- tas, membros do Congresso e outros
suem u m interesse especial pelas ciên- considerados influentes no bem-estaf
cias sociais e de c o m p o r t a m e n t o . A da companhia. A Du Pont distribui
American Health é uma entre muitas u m a revista similar que estimula as
publicações que p r o p o r c i o n a m uma aplicações de novos p r o d u t o s q u í m i -
ampla gama de informação simples, cos nos negócios e na indústria.
confiável, para pessoas preocupadas Os redatores de boletins noticio-
c o m todos os aspectos de sua saúde sos irão focalizar suas matérias sobre

20
ciência ainda mais estreitamente num te, mesmo que cada u m possa ser u m
campo c i e n t í f i c o ou técnico. Alguns dos vários redatores de ciência que
poderão cobrir apenas u m assunto ou trabalham numa publicação tão gran-
agência, tal c o m o o da Food and de c o m o o New York Times. Os reda-
Drug A d m i n i s t r a t i o n o u da National tores de ciência japoneses trabalham
Science Foundation. dentro de u m sistema hierárquico e
Freqüentemente é o grau de sim- de grupo. Uma equipe de redatores
plicidade que separa os redatores de pode trabalhar em vários estágios de
ciência dos "redatores técnicos". Os qualquer matéria. Na Rússia e na Chi-
redatores técnicos voltam-se para u m na, onde os meios de comunicação
público m u i t o especializado ou dão são vinculados ao governo, o treina-
instruções passo a passo para a ope- mento de redatores de ciência e a se-
ração, manutenção ou montagem de leção de matérias apresentadas são de
alguma coisa. Os redatores técnicos preocupação oficial e t ê m , por obje-
preparam manuais e relatórios cien- tivo, proporcionar uma compreensão
t í f i c o s e de engenharia, freqüente- que significa avanço no bem-estar do
mente como u m esforço de marke- Estado. Os redatores de ciência euro-
ting ou serviço ao consumidor de peus tendem a ter uma percentagem
uma companhia. Muitos redatores maior de cientistas em seu meio. No
técnicos também escrevem matérias Terceiro Mundo o u nos países em de-
mais simples sobre ciência e engenha- senvolvimento, os redatores de ciên-
ria em áreas de seu conhecimento es- cia têm o desejo, mas não necessaria-
pecífico, seja c o m o parte de seu tra- mente o espaço e os canais para seu
balho, seja c o m o free-lancers. Alguns trabalho. Tentativas de formar asso-
redatores de ciência e medicina tam- ciações de redatores nessas áreas, à
bém fazem trabalhos extras como maneira da British Science Writers
editores e redatores técnicos, depen- Association ou da National Associa-
dendo de seu conhecimento sdbre t i o n of Science Writers, nos E U A ,
u m determinado campo. produziram organizações que podem
o u não existir em determinado mo-
mento. Essas associações, formadas
Redações científicas de âmbito para aperfeiçoar as habilidades dos
internacional jornalistas locais através de seminá-
Explicar ciência, medicina e enge- rios e contato com cientistas, geral-
nharia, bem c o m o as pessoas que as mente surgem através do p a t r o c í n i o
fazem é u m trabalho que desafia re- de uma ou mais organizações interna-
datores em t o d o o mundo. Seus mé- cionais, tais c o m o a Pan American
todos refletem a natureza e os meios U n i o n o u a Organization o f Ameri-
de comunicação de suas sociedades e can States. A experiência da Asian
países. Os redatores de ciência dos Science Writers Association é t í p i c a .
Estados Unidos, c o m o os do Ociden- A Asian Science Writers Associa-
te, operam em geral individualmen- t i o n f o i organizada inicialmente em

21
1 9 7 0 , após u m s e m i n á r i o p a t r o c i n a - motivo, é essencial que os governan-
tes se torrçem conscientes da conve-
d o pela Press F o u n d a t i o n o f A s i a ,
niência e necessidade de ajudar a
c o m os Estados U n i d o s a j u d a n d o in- ciência a aplicar seus resultados na
d i r e t a m e n t e através da Asia F o u n d a - solução de muitos problemas nacio-
t i o n . D u r o u cerca de c i n c o anos e in- nais. É igualmente importante criar
c l u í a m e m b r o s d o J a p ã o , das F i l i p i - um estado de opinião geral que fa-
voreça o trabalho científico. (Car-
nas, Malásia, T a i w a n e outras nações
don, 1962, 6)
f o r a da C h i n a c o n t i n e n t a l . T e r m i n a -
da a subvenção da Asia F o u n d a t i o n , Dessa maneira, u m a parcela m a i o r de
as atividades da associação de redato- responsabilidade q u a n t o à educação
res de ciência nos pafses mais distan- nacional p o d e estar recaindo sobre os
tes cessaram, d e v i d o às suspeitas de redatores de ciência e m países menos
que a Asia F o u n d a t i o n fosse u m a desenvolvidos.
f r e n t e para a U. S. Central I n t e l l i - U m r e l a t ó r i o da c o n f e r ê n c i a indi-
gence A g e n c y . E m 1 9 7 7 f o i f e i t a c o u que a r e p o r t a g e m c i e n t í f i c a p o d e
u m a t e n t a t i v a de reviver a organiza- ser mais p o l i t i z a d a e m t e m p o s de ten-
ção, e m M a n i l a , d u r a n t e u m a c o n f e - são e c o n f l i t o s i n t e r n o s , p o l í t i c o s o u
rência assistida p o r t r i n t a e c i n c o armados. F o r a dos Estados U n i d o s ,
m e m b r o s dos países ao redor da Ba- t o d o o j o r n a l i s m o é m u i t o mais p o l i -
cia d o P a c í f i c o O r i e n t a l . O g r u p o t i z a d o , m u i t o mais d o que os ameri-
c o n c o r d o u em procurar dinheiro em canos estão a c o s t u m a d o s a ver. A
o u t r a s f o n t e s q u e não fossem seus ciência, nos países c o m t r a d i ç ã o cien-
p r ó p r i o s governos o u os Estados U n i - t í f i c a inexpressiva o u i n e x i s t e n t e , é
dos. N e m os redatores n e m os j o r - f a c i l m e n t e s u b s t i t u í d a nos j o r n a i s
nais e n v o l v i d o s pareciam capazes de p o r n o t í c i a s de c o n f l i t o e c o n ô m i c o
sustentar a organização c o m seus pró- ou político.
prios recursos, c o m o f a z e m os m e m - Uma tentativa posterior foi feita
bros da N a t i o n a l A s s o c i a t i o n of n o s e n t i d o de organizar os jornalistas
Science W r i t e r s , nos Estados U n i d o s ao redor da questão de sua herança
(Laing, 1978). espanhola, através d o Congress o f
A s organizações de redatores de I b e r o - A m e r i c a n Science J o u r n a l - I S M ,
ciência e m o u t r o s países t ê m a p r o x i - realizado e m M a d r i d e m m a r ç o de
m a d a m e n t e os mesmos o b j e t i v o s que 1 9 7 7 . Isso r e s u l t o u n u m a t e n t a t i v a
suas similares nos Estados U n i d o s . de f o r m a r a I n t e r a m e r i c a n Science
U m cientista presente ao p r i m e i r o W r i t e r s A s s o c i a t i o n u m a vez que t o -
S e m i n á r i o I n t e r a m e r i c a n o de J o r n a - dos os países de fala espanhola e p o r -
l i s m o C i e n t í f i c o , há mais de v i n t e tuguesa, c o m exceção de C u b a e Cos-
anos atrás, d e c l a r o u : ta Rica, estavam presentes. H o u v e
m e s m o conversas sobre a possibilida-
A pesquisa científica, e isto é parti-
de de f o r m a r u m a W o r l d U n i o n o f
cularmente comum na América La-
tina, não pode se desenvolver sem o Science W r i t e r s e m b o r a o e n c o n t r o
apoio total do governo. Por esse fosse a l t a m e n t e p a r t i d á r i o e m a r c a d o

22
por rivalidades internacionais (Cor- cluiu que os funcionários dos órgãos
nell, 1977). de informação d o governo existiam
Os grupos que existiram por al- principalmente para glorificar seus
gum t e m p o incluem a European Sci- patrões e não respondiam a chamadas
ence Writers U n i o n e a Swiss Science telefônicas. Isso f o i especialmente
W r i t i n g Association. A International c o m p r o v a d o no National Health Ser-
Science Writers Association c o n t i n u a vice. Os cientistas, incluindo os d o
existindo. A ISWA t e m cerca de 2 0 0 Royal College o f Physicians, pare-
membros e t e m sido mantida inteira, ciam tão intrigados na Grã-Bretanha
principalmente por Howard-Lewis, c o m o nos Estados Unidos c o m a
f u n c i o n á r i o de informações aposen- preocupação dos jornalistas em obter
tado da National A c a d e m y o f Scien- informações mais frescas d o que
ces. A maior e mais estável das asso- aquelas publicadas nos periódicos.
ciações de redatores de ciência, a U. E n t r e t a n t o , a persistência de Winger-
S. National Association o f Çcience son em procurar c o n t a t o direto c o m
Writers, t e m , entre seus membros, os cientistas resultou em entrevistas e
mais de t r i n t a correspondentes es- visitas a laboratórios (Wingerson,
trangeiros. O grupo maior está, não 1979).
admira, no Canadá — onze membros. As reuniões científicas no c o n t i -
O restante está espalhado entre a nente geralmente oferecem poucas
Austrália ( 3 ) , França (3), A l e m a n h a acomodações especiais aos represen-
(3) e Inglaterra (2), c o m correspon- tantes dos meios de comunicação, re-
dentes na Irlanda, Israel, Japão, Mé- latou J o h n F. Henahan, m e m b r o da
xico, Porto Rico, Arábia Saudita, NASW e free-lancer ( 1 9 8 1 ) . Ele usa-
Suécia e Suíça. Embora a maioria va D u b l i n c o m o base para cobrir reu-
seja natural dos países onde residem, niões na Inglaterra e na Europa. O
o n ú m e r o inclui alguns americanos idioma f r e q ü e n t e m e n t e se revelava
que vivem n o além-mar e escrevem uma barreira, embora as reuniões ge-
para veículos americanos. ralmente incluíssem u m ou mais cien-
Os países da Europa Ocidental tistas que entregavam seus trabalhos
oferecem menos assistência aos jorna- em inglês. As poucas reuniões que
listas c i e n t í f i c o s na coleta de infor- p r o p o r c i o n a r a m traduções em vários
mações do que os Estados Unidos. idiomas f u n c i o n a r a m bem no i n í c i o ,
Quando Lois Wingerson, antiga edi- mas as traduções ficaram mais super-
tora de ciência da Record, de Bergen ficiais à medida que os tradutores se
C o u n t y , Nova Jérsei, trabalhou na In- cansavam. A maioria das conferên-
olaterra, e n c o n t r o u pouco encoraja- cias de imprensa sobre ciência é reali-
mento para que seus artigos fossem zada no idioma local e os comunica-
«lém de relatos baseados em matérias dos ao p ú b l i c o não podem ser feitos.
ile ciência impressas no The Lancet, Ser o ú n i c o redator de ciência ameri-
publicação médica inglesa e outras cano n u m país permite produzir ma-
publicações técnicas. T a m b é m con- térias exclusivas, mas o t e m p o gasto

23
em arranjar entrevistas é m u i t o vendo. Em 1983 a administração
maior que nos Estados Unidos. Reagan recusou uma permissão de li-
Na China, a redação popular de cença para u m correspondente cana-
ciência parecia estar mais em mãos de dense f i x a d o nos E U A , que escreveu
cientistas que de jornalistas, diz Da- matérias contradizendo as políticas
vid Perlman, editor de ciência do San de administração sobre os aspectos
Francisco Chronic/e, que Ia' esteve em técnicos do c o n t r o l e de armamentos
duas visitas. Isso provavelmente ocor- e poluição do ar-água. O periódico
re em função da teoria de responsabi- b r i t â n i c o de ciência Nature, e a Eco-
lidade social existente nos pafses nomist, uma revista de notícias, man-
marxistas, que t o r n a a todos respon- t ê m membros de suas equipes nos Es-
sáveis por educar as massas do mo- tados Unidos e procuram regularmen-
do " a p r o p r i a d o " . E n t r e t a n t o , os edi- te ter acesso a material c i e n t í f i c o e
tores de ciência chineses t ê m os mes- técnico que está sendo cada vez mais
mos problemas que os americanos: li- restrito, pelas normas, aos jornalistas
dar c o m cientistas que escrevem ar- americanos.
tigos incompreensíveis aos leigos. Isso pode provocar retaliação ex-
Perlman achou que os jornalistas chi- terna passando-se a negar o acesso,
neses se surpreenderam diante da ha- t a n t o de cientistas q u a n t o de redato-
bilidade dos redatores de ciência dos res científicos americanos, a confe-
E U A em fazerem c o n t a t o pessoal rências que lidem c o m temas indus-
c o m os cientistas sem terem de passar t r i a l m e n t e importantes, tais c o m o
pela hierarquia de ministérios e dire- computadores e biotecnologia. Os re-
tores de laboratórios para obter en- datores de ciência americanos n o
trevistas. Os redatores de ciência chi- exterior p o d e m descobrir que t ê m de
neses consideram i m p o r t a n t e concen- conseguir acesso por i n t e r m é d i o dos
trar-se nas aplicações práticas da ciên- funcionários encarregados d o setor
cia ao invés de explicar o abstrato e o c i e n t í f i c o das embaixadas americanas.
f u n d a m e n t a l . Os chineses estavam No presente, e n t r e t a n t o , o c o n t a t o
preocupados t a m b é m c o m a maneira convencional e d i r e t o c o m as orga-
de desenvolver materiais para intro- nizações e instituições científicas
duzir as crianças à ciência (Perlman, funciona.
1984). A o ler o p r ó x i m o c a p í t u l o , você
Por mais de t r i n t a anos, pelo me- poderá perguntar: por que publicar
nos, os jornalistas de ciência estran- notícias e matérias sobre ciência, en-
geiros fixados nos Estados Unidos genharia e tecnologia, afinal? Uma
t ê m passado c o m alguma facilidade resposta de significado social incluiria
pelas mesmas rotinas da cobertura a importância econômica e p o l í t i c a
noticiosa por que passam os jornalis- da ciência n u m a democracia. Não há
tas americanos. Isso pode mudar c o m dúvida de que o que acontece em ci-
o clima de intensa competição p o l í t i - ência e tecnologia nos afeta a todos.
ca e comercial que está se desenvol- E n t r e t a n t o , m u i t o s redatores de ciên-

24
cia lhe d i r ã o que c o b r e m essa esfera 2. Leia uma revista popular sobre ciência.
Em que categoria de ciência você acha que
p o r q u e há t e m a para boas matérias
cada matéria se encaixa melhor: pura, bá-
ali. A l é m disso é m u i t o d i v e r t i d o . Co- sica, aplicada, tecnológica, cultural ou de
mo disse V i c t o r C o h n , d o The Wash- poITtica da ciência?
ington Post: " O s cientistas são para
os redatores de ciência o que os ra- 3. Busque as revistas de negócios e indús-
trias em sua biblioteca; leia uma edição de
tos são para os c i e n t i s t a s " ( G o o d f i e l d ,
uma revista e faça um relato sobre as maté-
1981, 9 4 ) . rias ligadas à ciência. Quantas há? Que es-
pécie de cientista é sua fonte?

4. Obtenha uma edição de Science. Jour-


nal oi the American Medicai Association,
Experiências ou New England Journal of Medicine. Re-
lacione uma lista de artigos técnicos que
1. Leia a edição de domingo de um im- acha que mereceriam ser popularizados e
portante jornal nacional ou metropolita- dê os motivos.
no. Conte o número de matérias que con-
sidera relacionadas è ciência. As fontes são 5. Faça uma lista de matérias potencial-
cientistas ou outro tipo de fontes? Conte o mente científicas para discussão em classe.
número de matérias existentes no jornal. Como você e seus colegas classificariam es-
Que percentagem é relativa à ciência? sas matérias pelos critérios deste capítulo?

25
Capítulo 2
Evolução da redação científica

A REDAÇÃO CIENTIFICA, COMO É seus m e m b r o s f o r a m e s q u a d r i n h a d o s


HOJE, deriva de u m sistema de c o m u - pela Inquisição e u m m e m b r o da so-
nicação secular. Teve seu i n f c i o n o ciedade de F l o r e n ç a suicidou-se para
século X V I q u a n d o os p r i m e i r o s cien- evitar a t o r t u r a (Jeans, 1 9 5 8 , 1 4 8 ) .
tistas se d e f r o n t a v a m c o m a censura e Na I n g l a t e r r a , a R o y a l S o c i e t y f o r
suas atividades pela Igreja e pelo Es- the Improvement of Natural K n o w -
t a d o . E n c o n t r a v a m - s e às escondidas ledge f o i p r o p o s t a p o r Francis B a c o n
e m várias cidades para i n f o r m a r e m e m 1 6 2 0 e aprovada e m 1 6 6 2 p o r
uns aos o u t r o s sobre suas descobertas Charles I I . . M u i t o s de seus m e m b r o s
relativas à nova f i l o s o f i a n a t u r a l . Das estiveram se e n c o n t r a n d o durante
reuniões desses g r u p o s de elite, que anos n o G r e s h a m College, e m L o n -
c o m p r e e n d i a n o b r e s , e r u d i t o s , artis- dres, e em O x f o r d sob o n o m e de In-
tas e mercadores, b r o t o u a t r a d i ç ã o visible College. L o u i s X I V estabele-
da c o m u n i c a ç ã o aberta e oral sobre ceu a A c a d é m i e des Sciences, em Pa-
assuntos c i e n t í f i c o s . ris, e m 1 6 6 6 . O e l e i t o r F r e d e r i c o da
A Accademia Secretorum Naturae Prússia seguiu o e x e m p l o c r i a n d o a
c o m e ç o u e m Nápoles, I t á l i a , e m A c a d e m i a de B e r l i m e m 1 7 0 0 . Os Es-
1 5 6 0 , c o m o a p r i m e i r a de m u i t a s so- tados U n i d o s r e g u l a m e n t a r a m sua
ciedades c i e n t í f i c a s que f l o r e s c e r a m N a t i o n a l A c a d e m y o f Sciences e m
nas cidades o n d e os novos " c i e n t i s - 1863.
t a s " p o d i a m se r e u n i r c o m f a c i l i d a d e . T r o c a s de cartas, m o n o g r a f i a s e li-
R o m a t i n h a sua A c c a d e m i a dei L i n - vros e m l a t i m estabeleceram o p a d r ã o
cei, q u e d u r o u de 1 6 0 3 a 1 6 3 0 . E m da c o m u n i c a ç ã o e n t r e i n d i v í d u o s , en-
F l o r e n ç a , a A c c a d e m i a dei C i m e n t o t r e sociedades nas cidades, e e n t r e as
f o i f u n d a d a sob a p r o t e ç ã o d o Grão- sociedades nacionais. Os cientistas
D u q u e F e r d i n a n d de M e d i e i e seu ir- p r e f e r i a m as cartas ( c o m f r e q ü ê n c i a
mão L e o p o l d o e m 1 6 5 7 . D u r o u dez impressas, de m o d o que cópias pu-
anos, t e r m i n a n d o p o u c o d e p o i s q u e dessem ser enviadas a vários cientis-
L e o p o l d o recebeu seu c h a p é u cardi- tas) p o r q u e os f u n c i o n á r i o s dos go-
n a l í c i o . Os h i s t o r i a d o r e s suspeitam vernos eram m e n o s i n c l i n a d o s a a b r i r
cie q u e o p r e ç o da m i t r a v e r m e l h a f o i o que parecia ser c o r r e s p o n d ê n c i a or-
a c o n t r i b u i ç ã o de L e o p o l d o para a dis- dinária. Seus t e m o r e s t i n h a m a l g u m
solução da A c c a d e m i a , u m g r u p o f u n d a m e n t o . Em 1667, Henry Olden-
p r o b l e m á t i c o para a Igreja. A l g u n s de b u r g , secretário da R o y a l S o c i e t y , f o i

27
aprisionado na T o r r e de Londres pa, e seus publishers editores-impres-
q u a n d o o secretário de estado britâ- sores reescreviam e i m p r i m i a m os ar-
nico achou que alguns comentários tigos dos periódicos c i e n t í f i c o s de
c o n t i d o s numa comunicação c i e n t í f i - m o d o que pudessem interessar a seus
ca criticavam a c o n d u t a de guerra da leitores. T a m b é m arranjavam para
Inglaterra c o m os holandeses pelo co- que membros da sociedade escreves-
m é r c i o das índias Orientais. sem para os leitores dos novos veícu-
F o i Oldenburg q u e m inventou o los de comunicação.
j o r n a l i s m o c i e n t í f i c o . Ele deu i n í c i o Nas colônias britânicas da Améri-
à publicação Philosophical Transac- ca d o N o r t e , esse padrão de c o m u n i -
tions, periódico da Royal Society, cação c i e n t í f i c a repetiu a experiência
em março de 1665, c o m seu p r ó p r i o européia, c o m relatos de febre, cala-
esforço. Através d o d o m í n i o de vá- frios e varíola aparecendo no Publick
rios idiomas, Oldenburg pôde tradu- Occurrences de Boston, em 1690.
zir t e x t o s de várias fontes para publi- Benjamin F r a n k l i n , u m dos f u n d a d o -
cação e m inglês e latim. Não o tivesse res da Ciência A m e r i c a n a , escreveu
f e i t o , o m u n d o poderia não ter toma- u m relato de suas experiências c o m
d o c o n h e c i m e n t o de coisas estranhas papagaios e relâmpagos na edição de
que u m confeccionador de roupas 19 de o u t u b r o de 1752 da Pennsylva-
holandês, em D e l f t , viu quando exa- nia Gazette, que publicava. Entretan-
m i n o u gotas d'água c o m as mesmas t o , durante u m século de grande ino-
lentes de a u m e n t o que usava para es- vação c i e n t í f i c a , demonstrações bem-
t u d a r o pano. Oldenburg conseguiu sucedidas d o barco a vapor ( 1 8 0 7 ) ,
quase duzentas cartas do confeccio- da l o c o m o t i v a a vapor ( 1 8 3 0 ) , d o telé-
n a d o r , A n t o n i van Leeuwenhoeck, o grafo ( 1 8 4 4 ) , e d o telefone (1876) re-
pai da microscopia (Boorstein, 1983, ceberam menções relativamente inex-
3 3 0 , 3 9 0 - 4 1 7 ) . Isso o c o r r e u m u i t o s pressivas nos jornais. O interesse prin-
anos antes que a Royal Society assu- cipal dos editores da época voltava-se
misse responsabilidade pela publica- para a p o l í t i c a partidária. Na era d o
ção d o p e r i ó d i c o c i e n t í f i c o . Olden- jornalismo pessoal, Horace Greeley
b u r g estabeleceu precedentes de cien- escreveu sobre seu interesse em agri-
tistas f u n c i o n a n d o c o m o editores de c u l t u r a e outros aspectos da ciência.
p e r i ó d i c o s da sociedade c i e n t í f i c a e Isto evoluiu para uma coluna sema-
para publicações em vernáculo. Esses nal, "Science f o r t h e p e o p l e " , que
c o n c e i t o s fortaleceram a pesquisa ci- apareceu pela primeira vez c o m esse
e n t í f i c a na Europa. t í t u l o a 3 de março de 1877, após a
M u i t o d o que era publicado podia m o r t e de Greeley. Esse f o i u m perío-
ser c o m p r e e n d i d o por qualquer das d o de escrever n u m a t ô n i c a c i e n t í f i -
pessoas p o u c o letradas da época. À ca sobre as descobertas através da ex-
m e d i d a que a c u l t u r a aumentava, as ploração. Quando o século X I X ter-
p r i m e i r a s versões de jornais e revistas m i n o u , o mesmo ocorreu c o m o f a t o
apareceram na Inglaterra e na Euro- de se escrever sobre a exploração co-

28
mo " c i ê n c i a " . Aventura poderia ser, afirmavam os líderes do movimento
mas não " c i ê n c i a " . de profissionalização, com freqüência
físicos.
Separação e Sensação A especialização, entretanto, esta-
Na década de 1880, os caminhos va no ar. Os pesquisadores científicos
da ciência e da sua popularização es- abandonaram as sociedades locais,
tavam divergindo. A ciência movia-se fundaram seus própios grupos profis-
em direção â profissionalização extre- sionais e assumiram o controle de or-
ma, evidente agora. A ciência e a pes- ganizações "nacionais", tais c o m o a
quisa científica estavam se tornando American Chemical Society. Em no-
ocupações de tempo integral, f o r a do me de uma ciência melhor, o contro-
campo dos comerciantes, dos clérigos le da American Association f o r the
e dos que as praticavam por hobby. Advancement of Science ( A A A S )
Os aficionados da ciência e suas ma- passou aos cientistas da área de pes-
ravilhas ainda afluíam às palestras pú- quisas. A educação pública através de
blicas dos cientistas. Em 1883, o edi- palestras e exposições em museus
tor de Science sentiu-se á vontade pa- permaneceu com as soçjedades locais
ra incentivar amadores a juntarem es- como u m artefato freqüentemente
pécimes de rochas, plantas e insetos administrado pelas elites sociais e fi-
que as sociedades científicas locais nanceiras.
pudessem discutir e analisar. A seu modo peculiar, o jornalismo
U m interesse c o m u m por novos popular da época ajudou esse movi-
conhecimentos ainda existia entre ci- mento. Embora alguns jornais e revis-
entistas e não-cientistas, mas este es- tas veiculassem acuradamente n o t í -
tava se separando. Os cientistas " p u - cias científicas, outros usavam a
r o s " que denegriam o estado da ciên- pseudociência e a ciência sensaciona-
cia americana lideraram a separação. lizada para promover a guerra entre
Havia cerca de quinhentos pesquisa- os jornais. Os excessos cometidos pe-
dores sérios publicando no país na- los jornais de William Randolph
quela época, e eles enfatizavam o Hearst e Joseph Pulitzer, para citar-
avanço de suas disciplinas na direção mos apenas dois, deixaram para trás
dos interesses do público e das indús- o nome Gee Whiz Science. O Dr.
trias locais. Queriam os amadores fo- Hillier Krieghbaum diz: " O trauma
ra. Os cientistas estavam principal- de ter suas atividades mal representa-
mente em universidades ou empregos das f o i tão intenso que, mesmo déca-
do governo, e alguns historiadores das depois e apesar do surgimento de
afirmam que seus motivos podem ter jornalistas científicos c o m o profissio-
levado ao aumento de sua fatia de nais voltados em tempo i n t j g r a l para
prestígio e assistência financeira (Ke- a ciência, os cientistas mais antigos
vles et al., 1980). Na verdade, a ciên- c o n f vn aos recém-chegados os
cia americana da época não era nem 'horrores' de se ter o seu trabalho vei-
tão primitiva nem tão simples c o m o culado pelo"- liftios de comunicação

29
de massa (Krieghbaum, 1978, 6). Es- em novas publicações altamente téc-
ses horrores, naturalmente, eram au- nicas, queixavam-se de que as n o t í -
mentados pelos c r í t i c o s d o jornalis- cias de ciência eram fragmentadas e
m o e serviam àqueles que erguiam as não i n f o r m a v a m através de linhas dis-
barricadas entre os cientistas e os ciplinares rigidamente traçadas.
p o u c o instruídos. Foi no final d o século X I X que
Os americanos não t i n h a m jornais Thomas A . Edison, cuja tecnologia e
c i e n t í f i c o s nacionais no estrito e no- publicidade horrorizavam muitos
vo sentido da " c i ê n c i a " . Nature co- cientistas " p u r o s " , f u n d o u uma re-
meçou na Inglaterra em 1869 e atraiu vista c o m poder de permanência.
notáveis cientistas c o m o autores. Os J o h n Michels, microscopista amador,
americanos lançaram o American era u m redator free-lancer que escre-
Journal of Science, em 1818, para via sobre reuniões das sociedades cien-
noticiar sociedades científicas lo- tíficas para o New York Times. Ele
cais. 0 Scientific American, funda- convenceu Edison a apoiar a revista
d o em 1845, enfatizava as patentes, Science, que apareceu pela primeira
as invenções e a tecnologia. (Vida e vez em 3 de j u l h o de 1880. A revista
sentido novos f o r a m dados à revista trazia, entre suas outras matérias,
q u a n d o o nome e o c o n t e ú d o f o r a m textos importantes sobre o trabalho
rejuvenescidos após a II Guerra Mun- de Edison. U m dos primeiros " f u r o s "
dial.) O American Naturaiist come- de Science f o i o relato de Alexander
çou na década de 1860 quando u m Graham Bell sobre seu "photopho-
grupo de estudantes de Harvard esta- ne". Mas na época da profissionaliza-
beleceu seu p r ó p r i o c e n t r o de ciên- ção da ciência, o status amador de
cia em Salem e lançou a revista Scien- Michels e a mão f i r m e de Edison con-
ce News, em 1878, sob a editoria de t r o l a n d o gastos m a n t i n h a m afastados
W i l l i a m C. W y c k o f f , que havia f e i t o os colaboradores ilustres. Eles gosta-
coberturas de reuniões científicas pa- vam de bons pagamentos. Dezoito
ra o The New York Herald Tribune. meses mais tarde, Edison transferiu a
Science News, c o m o t í t u l o t a m b é m propriedade a Michels e pagou as d í -
f o i rejuvenescido no século X X . Em vidas da revista. Michels, novamente
parte isso f o i uma resposta ao aparen- c o b r i n d o sociedades científicas para
te sucesso de Popular Science Mon- jornais de Nova Iorque, t e r m i n o u por
thly, fundada em 1872 para i m p r i m i r despertar o interesse de Bell pela re-
notícias e análises de temas c i e n t í f i - vista, mas ao fazê-lo perdeu sua pu-
cos nacionais e relatórios de institui- blicação. Bell aconselhou-se c o m
ções científicas. U m a série de outras m u i t o s cientistas na A A A S e conven-
revistas surgiu e desapareceu nesse ceu-se de que Science tinha poten-
p e r í o d o , muitas vezes durando me- cial. Subseqüentemente a j u d o u a
nos de u m ano. Mesmo enquanto os c o m p r a r o interesse de Michels. Co-
cientistas se especializavam e frag- mo editor, instalou Samuel H.
mentavam suas próprias publicações Scudder, u m cientista de Harvard e

30
bibliotecário c o m boas conexões aca- sor. A o f i n a l , a A A A S iria pagar à sua
dêmicas e políticas. Daniel Coit Gil- viúva mais de 2 5 0 m i l dólares pela
man, presidente da Johns H o p k i n s propriedade da revista em 1945 (So-
University, encabeçava o conselho de kal, 1 9 8 0 ) .
editores. Para sublinhar a orientação F o i a melhor c o m p r a que a A A A S
acadêmica e profissional de Science, jamais fez. C o m o no caso de muitas
G i l m a n escreveu: "Science nunca se- outras revistas científicas e médicas,
rá uma leitura fácil e nunca irá entre- sua publicidade disparou q u a n d o bi-
ter quem procura curiosidades" lhões de dólares de d i n h e i r o federal
( K o h l s t e d t , 1980, 33-41). f o r a m despejados para a pesquisa de
Bell e seu sogro Gardiner H u b b a r d desenvolvimento depois da II Guerra
investiram em Science desde 1883 M u n d i a l . A publicidade de construto-
até março de 1894 q u a n d o o então res de equipamentos c i e n t í f i c o s , con-
editor N.D.C. Hodges f e c h o u a revis- tratados d o governo e universidades
ta por falta de f u n d o s suficientes. empregando cientistas t r a n s f o r m o u
Ironicamente, apesar de Bell lamen- as revistas na principal f o n t e de ren-
tar o d i n h e i r o perdido, H u b b a r d em- da para muitas sociedades científicas,
prestou d i n h e i r o a Hodges até o f i m . médicas e técnicas. Em 1980, o orça-
Podia arcar c o m isso porque t a m b é m m e n t o de Science havia ultrapassado
havia iniciado uma nova publicação os 7 milhões de dólares. A circulação,
chamada National Geographic Maga- mesmo t e n d o caído após u m pico de
zine. Esta era popular e bem-sucedida 163 m i l exemplares em 1971, ainda
ao e x t r e m o . era maior que 152 m i l e estava au-
Os líderes da A A A S , t e n d o perdi- m e n t a n d o em 1983 ( W o l f l e , 1980,
d o uma publicação feita a seu gosto, 57-62). Apenas ao reconhecer o seu
propuseram subsidiar uma Science re- centésimo aniversário em 1 9 8 0 é que
nascida que iria publicar os trabalhos Science relembra os dois falsos iní-
apresentados nas reuniões da socieda- cios c o m os tecnólogos Edison e Bell.
de. De u m m o d o que nem a própria As suas edições são numeradas a par-
A A A S compreende, o psicólogo Ja- t i r de Cattell.
mes Mckeen Cattell tornou-se editor. A o c o n t r á r i o do que ocorria nas
Antes que A A A S concordasse em sociedades científicas da Europa,
adotar Science, Cattell havia persua- p r i n c i p a l m e n t e da França, os cientis-
d i d o Bell e H u b b a r d a dar-lhe a pro- tas americanos permaneciam alheios
priedade. Cattell t i n h a u m sólido pas- aos temas p o l í t i c o s . A neutralidade
sado de pesquisas e conexões em No- p o l í t i c a tornou-se a posição oficial
va Iorque pela sua posição de profes- para eles e para o seu trabalho. O jor-
sor da Coiumbia University. Dinheiro nalismo americano t a m b é m seguia
de f a m í l i a livrava Cattell de preocu- u m c a m i n h o neutro denominado
pações financeiras. Cattell e d i t o u a " o b j e t i v i d a d e " . A A A A S t a m b é m eli-
revista por cinqüenta anos, t o r n a n d o - m i n o u a preocupação c o m o sistema
se u m rico editor em vez de profes- de educação americano; encerrou a

31
publicação de Science Monthly, que sidade de seus leitores com muitas
havia sido organizado através da idéias relacionadas c o m isso, porém
A A A S para explorar temas da comu- fantasiosas, incluindo a possível neces-
nidade educacional. A A A A S iria re- sidade de se criarem roupas íntimasfe-
tomar o interesse pela educação mininas à prova de radiação. A ciên-
quando subsídios federais para a edu- cia médica caminhava mal também.
cação, concedidos em função da Na ignorância que segue qualquer no-
guerra, permitiram ao pessoal militar va descoberta, Lancet, a venerável
freqüentar cursos de pós-graduação publicação médica inglesa, propôs
em ciência, expandir as fileiras de que os homens passassem u m peque-
Ph.D.'s, povoar laboratórios para no- no t u b o de raios catódicos sobre os
vos cientistas-administradores, e pu- rostos a cada manhã ao invés de ras-
blicar jornais de pesquisa realçando parem suas suíças. Com esse apoio
as reputações dos laboratórios, das autoritário, médicos, e charlatões
universidades e dos administradores. (com freqüência indiferenciáveis)
Os cientistas declararam-se, e ao seu aplicaram tragicamente altas doses de
trabalho, acima da política. Alguns raios X a seus pacientes com propósi-
mantiveram a postura mesmo quando tos depilatórios.
a política de A d o l p h Hitler fez com Revistas sérias, c o m o a Harper's e
que cientistas judeus, tais como Al- a Atlantic, exploravam eventos e te-
bert Einstein, abandonassem as uni- mas científicos. Uma nova espécie de
versidades alemães. revista florescia na f o r m a de publica-
ções comerciais e industriais voltadas
para os negócios alinhados com as
Ciência Selvagem e Popular novas tecnologias que produziam ma-
Embora os cientistas recuassem do ravilhas químicas, mecânicas e elétri-
contato profissional com o público cas. Os fazendeiros eram os alvos de
em geral e as preocupações práticas revistas sobre agricultura científica.
da sociedade, os leigos não foram pri- Essas publicações estavam em mãos
vados de informação científica e téc- privadas e podiam discutir livremente
nica. Os editores da imprensa popu- tópicos que as publicações científicas
lar escreviam sobre o que eles e seus preferiam ignorar, incluindo batalhas
leitores podiam compreender, mas políticas e pessoais no interior das so-
com o objetivo de despertar o inte- ciedades especializadas.
resse dos leitores freqüentemente en- Os jornais, que estavam rapida-
feitaram suas matérias com o bizarro mente se transformando em veículos
e o imaginário. Wilhelm C. Roentgen de massa, davam aos leigos a impres-
serviu a ciência e provocou sensacio- são de que a ciência se centrava no
nalismo em 1895. Os jornalistas des- bizarro. Histórias sobre o estranho, o
creviam as radiografias do esqueleto i n c o m u m e o impossível enchiam a
humano e outros objetos ocultos. imprensa popular após a virada do sé-
Alimentavam e aumentavam a curio- culo. Entretanto, os jornais também

32
apanharam o p o r t e n t o das teorias de ciência, na imprensa, ainda incluía
A l b e r t Einstein sobre a relatividade e m u i t a coisa sobre as ousadas investi-
a revolução física que se seguiu. A gações físicas. E n q u a n t o alguns aven-
expansão d o uso de serviços noticio- tureiros arriscavam t u d o em balões e
sos telegráficos transmitia textos so- zepelins, aeroplanos feitos à mão o u
bre bezerros de duas cabeças e afir- barulhentos carros de corrida, o u t r o s
mações sobre elos darwinianos perdi- se estendiam para os limites da Terra:
dos pelo c o n t i n e n t e . Ligações m u n - Robert E. Peary para o Pólo N o r t e ,
diais c o m o os cabos submarinos em abril de 1909, e Roald A m u n d -
e o telégrafo sem f i o aumentaram a sen, da Noruega, para o Pólo Sul, em
velocidade e o â m b i t o das comunica- dezembro de 1911. A ciência tam-
ções bem c o m o o embaraço dos cien- bém estava se m o v e n d o em direção à
tistas cujo t r a b a l h o era incorretamen- guerra c o m o resto d o m u n d o , e â
te relatado. Para outros, os tempos descoberta de q u a n t o os Estados Uni-
ofereciam oportunidades de publici- dos dependiam da A l e m a n h a em ter-
dade. Arqueólogos que desencavavam mos de p r o d u t o s q u í m i c o s e conheci-
cidades enterradas e tumbas de faraós m e n t o q u í m i c o . A I Guerra M u n d i a l
levavam jornalistas c o m suas barracas f o i caracterizada c o m o a guerra dos
de acampamento. Tanta coisa pare- q u í m i c o s quando os cientistas (e en-
cia possível que m u i t o pouco parecia genheiros) descobriram novos modos
impossível, mesmo o que fosse im- de p r o d u z i r material de guerra. C o m o
provável aos olhos dos editores. os cientistas relataram, em suas con-
Então c o m o agora, os editores venções, os jornalistas retransmitiam
eram simpáticos a qualquer coisa que e glamourizavam as descobertas da
se encaixasse em sua definição de q u í m i c a — para uma vida m e l h o r ,
" u m a boa h i s t ó r i a " . Alguns cientis- concordavam todos. O papel visível
tas, c o m sua dignidade crescente e da q u í m i c a industrial, desempenhado
maneiras autoritárias, tornavam-se al- durante e após a I Guerra M u n d i a l ,
vos para o h u m o r de jornalistas irre- a j u d o u os jornalistas e seus patrões a
verentes. Samuel Pierpont Langley, reconhecerem que os cientistas mere-
t i t u l a r da Smithsonian I n s t i t u t i o n , ciam atenção mais séria. A II Guerra
atraiu reportagens mordazes com tornou-se a guerra dos físicos por sua
suas tentativas malsucedidas de fazer c o n t r i b u i ç ã o em dividir o á t o m o para
voar u m m o d e l o de aeronave m o t o r i - derivar bombas de fissão e poder nu-
zada, lançando-o de uma balsa no rio clear. Dessa vez nem mesmo os cien-
Pótomac. N o entanto, m u i t o s jornais tistas concordaram que uma vida me-
ignoraram a história dos irmãos lhor resultaria daí.
Whight em K i t t y H a w k , Carolina d o U m novo t i p o de jornalista c i e n t í -
N o r t e , que ocorreu poucos dias de- f i c o surgiu entre as guerras. Esses j o r -
pois da ú l t i m a queda de Langley. nalistas eram mais instrução que mui-
A l b e r t Einstein apresentou suas tos dos seus predecessores. Isso lhes
teorias da relatividade em 1905. A dava uma compreensão melhor de

33
muitas das novas idéias e dos temas rio de M o u n t Wilson enquanto espe-
maiores da ciência. Earl J. Johnson, ravam o m o m e n t o certo de voltar o
que passou de repórter a vice-presi- telescópio para a Nebulosa de O r i o n .
dente da U n i t e d Press International, Certa ocasião, Dietz lembrou-se de
pertencia á velha escola. Esperava-se ter d i t o a M i l l i k a n que teria de perder
que os repórteres depois de cobrir sua palestra. A resposta de M i l l i k a n :
uma sangrenta greve ferroviária n u m " V á em frente e escreva seu t e x t o .
dia, c o n t o u ele a uma platéia d o Não precisa de minhas notas. Sabe
W i l l i a m A l l e n White Memorial Lectu- t a n t o q u a n t o eu sobre o a s s u n t o "
re, passassem em seguida a relatar ( D i e t z , 1 9 7 7 , 2 5 , 2 6 ) . O conhecimen-
uma reunião de cientistas. " S e m dú- t o d o tema por Dietz e a sua aceita-
vida eu era u m camarada versátil, mas ção pelos cientistas não tiveram para-
era uma versatilidade superficial que lelo em sua época e c o n t i n u a m assim
n e n h u m serviço noticioso toleraria hoje.
a g o r a " (Johnson, 1965, 1). E n q u a n t o Dietz se movia pelo
U m dos que realizaram as mudan- país escrevendo sobre pouca coisa
ças na redação de ciência popular f o i além de ciência e medicina, t o r n o u -
o jornalista David Dietz. Dietz escre- se u m entre vários seguidores regula-
veu sua primeira matéria sobre ciên- res da t r i l h a c i e n t í f i c a . Entre seus
cia em 1915 para o Cleveland Press companheiros estavam Alva J o h n s t o n
enquanto era calouro e correspon- do The New York Times. Quando o
dente no campus da Western Reserve p r o p r i e t á r i o do Times, A d o l p h Ochs
University. Suas aulas de ciências de- r e f o r m o u o j o r n a l , substituiu os free-
ram-lhe o vocabulário necessário e o iancers por membros efetivos da
c o n h e c i m e n t o de ciência daquela equipe que se especializaram em re-
época para trocar idéias facilmente portar novidades científicas. Designa-
c o m os cientistas. A sua c o n t r i b u i ç ã o do para c o b r i r a reunião anual de
f o i significativa para que jornalistas 1922 da A A A S , J o h n s t o n convenceu
sérios e bem informados se especiali- os editores do Times a reservarem a
zassem em reportagem c i e n t í f i c a . Em maior parte de uma página a cada dia
1 9 1 9 Sir Oliver Lodge, da Inglaterra, para suas matérias de Cambridge,
concedeu a Dietz uma entrevista que Massachusetts. Essas matérias conce-
c o n s t i t u i u , segundo o jornalista, a deram a J o h n s t o n u m Prêmio Pulitzer
primeira matéria de jornal sobre a li- em 1823, o p r i m e i r o de vários conce-
beração de energia atômica. D i e t z , didos a jornalistas pela cobertura de
que escreveu matérias sobre ciência e notícias científicas.
medicina por mais de sessenta anos, Em 1921, apareceu pela primeira
considerava os cientistas de Prêmio vez u m serviço noticioso dedicado à
N o b e l A r t h u r C o m p t o n , Robert A . reportagem c i e n t í f i c a . O publisher de
M i l l i k a n e Wendell Stanley seus ami- Dietz, E. W. Scripps, da Scripps-Ho-
gos. Ele e o a s t r ô n o m o E d w i n P. w a r d Newspapers e d o serviço tele-
Hubble jogavam cartas no observató- gráfico da U n i t e d Press, lançou o

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Science Service para disseminar n o t í - e m p f f e r t , Laurence, Davis, Blakeslee,
cias e matérias científicas responsá- 0 ' N e i l l , Lal, Slosson, R o b e r t Potter
veis. C o l o c o u o Dr. E d w i n Slosson da Medicai Society of t h e C o u n t y of
c o m o encarregado, ajudado por ou- New Y o r k e do Science Service, De-
t r o jornalista da Scripps-Howard, los S m i t h da U n i t e d Press, e A l l e n
Watson Davis. O Science Service evo- Schoenfield do The Detroit News.
luiu para a atual Science News, a úni- O u t r o m e m b r o , Robert D w y e r , d o
ca revista semanal popular de n o t í - New York Daily News e de sua C i t y
cias científicas. Press Association, se c o n c e n t r o u so-
Nesse p e r í o d o entre guerras, ou- bre os pesquisadores médicos em
tros jornais colocaram profissionais Bellevue e outros hospitais de Nova
em t e m p o integral para assuntos de Iorque (Hohenberg, 1 9 6 1 ) . A o longo
ciência e medicina. Waldemar Kaem- dos anos a NASW obteve u m c o n j u n -
p f f e r t f o i nomeado editor de ciência t o de privilégios operacionais em reu-
no The New York Times, mas William niões científicas que i n c l u í a m uma
L. Laurence escreveu algumas das his- coordenação oficial da imprensa, sa-
tórias mais memoráveis d o Times. las, telefones, máquinas de escrever,
H o w a r d Blakeslee passou a fazer re- cópias dos trabalhos para estudo,
portagem c i e n t í f i c a para a Associated conferências de imprensa, livros de
Press. O Herald Tribune de Nova Ior- referência e outras acomodações pa-
que igualava o Times c o m J o h n J. ra t o r n a r a reportagem mais f á c i l , mi-
0 ' N e i l l . Mesmo William Randolph nuciosa e mais acurada.
Hearst juntou-se ao m o v i m e n t o para 0 ' N e i l l , Laurence, Blakeslee, Lal e
restringir os aspectos mais selvagens Dietz, cinco fundadores da N A S W
da reportagem c i e n t í f i c a , colocando partilharam o prêmio Pulitzer de
o D r . G o b i n d Behari Lal, então u m 1937 por suas reportagens sobre o
estudante indiano graduado em ciên- terceiro centenário da Harvard Uni-
cias sociais em São Francisco, c o m o versity e sua ênfase nos esforços para
o editor de ciência da cadeia. compreender os humanos e seu m u n -
Embora esses repórteres especiali- do. N o meio da II Guerra M u n d i a l ,
zados cobrissem muitas das reuniões Laurence, d o New York Times, desa-
científicas, não estava t u d o bem em pareceu de vista e da imprensa; a ra-
seus relacionamentos c o m os cientis- zão desse desaparecimento só f o i re-
tas. De m o d o tipicamente america- velada depois que as bombas a t ô m i -
no, os repórteres se organizaram para cas f o r a m lançadas sobre Hiroshima e
aumentar seu poder de barganha, por Nagasaki. O governo dos E U A havia
privilégios de imprensa j u n t o às orga- levado o relator de ciência do Times
nizações dos cientrstas. A National para o m u n d o secreto da energia nu-
Association of Science Writers clear e dos ú l t i m o s estágios de desen-
(NASW) teve i n í c i o em 1934 c o m v o l v i m e n t o e testes de armas. Lauren-
doze membros e Dietz c o m o presi- ce t e s t e m u n h o u o p r i m e i r o teste da
dente. Outros membros i n c l u í a m Ka- bomba atômica em T r i n i t y Site, No-

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vo México, em 16 de j u l h o de 1945. de guerra, acompanhado de novas
Escreveu as primeiras histórias sobre pesquisas e técnicas de produção bio-
o uso da bomba atômica em Hiroshi- lógicas faziam crer que as ciências da
ma e Nagasaki e o r o m p i m e n t o do ar- vida podiam tornar a medicina uma
mazém de energia nuclear. Isso trou- ciência verdadeira. A propulsão a ja-
xe a Laurence o seu segundo Prêmio t o , tomada aos laboratórios militares
Pulitzer, que recebeu em 1946. alemães derrotados, prometia u m no-
Em 1984, John Noble W i l f o r d , do vo t i p o de transporte aéreo, a quebra
The Wall Street Journal recebeu o da barreira do som, e velocidades e
Pulitzer pelo c o n j u n t o de seu traba- distâncias de vôo antes inimagináveis.
lho, primariamente os textos sobre A guerra produziu milhões de ho-
os programas de exploração espacial mens e mulheres ansiosos para serem
dos E U A . O mais honrado, embora educados nessas novas ciências. A
não o mais conhecido dos membros ciência havia sido tão útil vencendo a
da NASW, entretanto, é John Fran- II Guerra Mundial, que os cientistas
k l i n , redator de ciência do vespertino do mundo inteiro sentiram uma
Ba/timore Sun. Franklin ganhou sozi- transformação nos modos pelos quais
nho dois prêmios Pulitzer, em 1979 e as nações encaravam e financiavam a
1985, por matérias sobre a mente e o pesquisa científica. A grande ciência
cérebro. Através dos anos, muitos havia chegado, consumindo grandes
jornalistas receberam o Pulitzer e ou- quantidades de fundos públicos e en-
tros importantes prêmios jornalísti- trando no debate p o l í t i c o sobre fi-
cos por artigos sobre assuntos cientí- nanciamento e política, o campo na-
ficos inéditos, embora não tenham tural do jornalismo.
necessariamente se identificado como A competição das notícias cientí-
redatores científicos de t e m p o inte- ficas pelo espaço nos jornais e nas
gral. emissoras de televisão comerciais e
As pressões da guerra e o seu tér- educacionais em expansão levou os
m i n o ajudaram a aproximar os cien- redatores de ciência e os editores a
tistas e os escritores de ciência em examinarem o seu público. A habili-
t o r n o de muitos assuntos. Havia dese- dade das publicações em atrair e
jos compartilhados de compreender manter os leitores é crucial nos veí-
campos inteiros da ciência e tecnolo- culos comerciais para a estabilidade
gia, tais como radar e eletrônica, que financeira. Em televisão e rádio, man-
haviam avançado tremendamente por ter os índices de audiência mais ele-
detrás dos muros do segredo militar. vados que os de redes e estações con-
Físicos perturbados, entre outros, correntes é a alma do negócio.
partilhavam com os jornalistas o de-
sejo de manter aberta e não-confiden-
cial o m á x i m o possível de informa- Por que ler matérias científicas?
ção sobre energia nuclear. O desen- Os redatores e editores com fre-
volvimento da penicilina em tempo qüência presumem que as pessoas

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querem ver — devem ver — o que eles ção, esportes, arte, música e literatu-
desejam t r a n s m i t i r , escrever e publi- ra. Superando as notícias baseadas
car. Centenas de jornais, revistas e em ciência estavam a guerra, a defesa,
shows de rádio e T V que acabaram cobertura de incêndios e desastres,
o u estão em vias de acabar confir- quadrinhos, histórias de interesse hu-
m a m isso. Algumas publicações cien- mano e o t e m p o (Swanson, 1955).
tíficas, a Science entre elas, prospe- A National Association o f Science
ram porque se dirigem a u m p ú b l i c o Writers encomendou posteriormente
seleto de cientistas cujos interesses duas pesquisas ao Survey Research
estão perfeitamente alinhados c o m o Center na Universidade de Michigan.
c o n t e ú d o da publicação. A maioria "Science, t h e News and t h e P u b l i c "
dos milhares de jornais c i e n t í f i c o s f o i conduzida em 1957. O segundo
não consegue se manter a partir de estudo da N A S W , "Satellites, Science
taxas de associação, mas são subsi- and t h e P u b l i c " (McLeode Swinehart,
diados de algum m o d o e os cientistas 1 9 5 9 ) , saiu depois que a Rússia lan-
pagam para ter suas pesquisas publi- çou o p r i m e i r o S p u t n i k . Os pesquisa-
cadas na maioria deles. Com freqüên- dores descobriram que as categorias
cia o d i n h e i r o vem de parte de suas gerais de ciência, medicina e saúde
verbas para pesquisa. Os editores e re- d e t i n h a m mais o u menos as mesmas
datores de periódicos não-subsidiados posições, e que 90% dos leitores de
raramente t ê m essa opção financeira. então sabiam da existência d o Sput-
Na maioria das publicações comer- n i k . Dois pontos se destacavam: a
ciais, pagar para ter u m artigo publi- consciência de u m evento c i e n t í f i c o é
cado significaria tê-lo r o t u l a d o c o m o estimulada pela publicação de n o t í -
matéria paga. cias desse evento, e u m considerável
Os editores e redatores de veículos grupo de indivíduos são curiosos a
de massa não t ê m garantia do interes- respeito de qualquer coisa em ciência.
se dos leitores e p o r t a n t o t e n t a m me- O Dr. Hillier Krieghbaum, u m dos
dir o que os leitores desejam. Duran- primeiros a ensinar e pesquisar a po-
te os ú l t i m o s quarenta anos, pesqui- pularização da ciência, c o n c l u i u des-
sas entre os leitores t ê m dado notas sas pesquisas que o " l e i t o r de ciên-
consideravelmente altas ao interesse c i a " t í p i c o é, no m í n i m o , d i p l o m a d o
dos leitores por informação c i e n t í f i - pela escola secundária, mais velho
ca. Embora todas as pesquisas não se- que a maioria dos leitores, suficiente-
jam diretamente comparáveis, esse in- mente rico para viver nos subúrbios
teresse parece estar em crescimento. m e t r o p o l i t a n o s , e u m c o n s u m i d o r pe-
U m dos primeiros estudos de pú- sado de veículos de comunicação —
blico cobria 130 jornais publicados jornais, rádio, televisão e revistas
entre 1 9 3 9 e 1950. Notícias sobre ( 1 9 5 9 , 1902-95). Essa imagem ainda
ciências, invenções, saúde e segurança se m a n t é m . W i l b u r S c h r a m m con-
colocavam-se acima de acidentes, go- c l u i u ainda que o c o n h e c i m e n t o da
verno nacional, governo local, recrea- ciência é a m p l o , porém não p r o f u n -

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damente d i s t r i b u í d o nos Estados energético, a energia estava em pri-
Unidos. Há áreas de t o t a l desconheci- meiro lugar, acidentes-desastres-fenô-
m e n t o e áreas de informação equivo- menos naturais em segundo, saúde e
cada. O nível de educação e uso de bem-estar públicos em terceiro, tem-
veículos de massa são os dois indica- po ( u m campo da ciência) em q u a r t o ,
dores mais importantes q u a n t o aos o meio ambiente em q u i n t o e a in-
interesses em informação c i e n t í f i c a venção c i e n t í f i c a em oitavo. Apesar
que u m i n d i v í d u o t e m , p o n t o básico dessas indicações de crescente inte-
para que se o r i e n t e m as publicações e resse, o espaço dedicado a essas cate-
os programas c i e n t í f i c o s novos para gorias de notícias e matérias relacio-
u m p ú b l i c o altamente educado. Os nadas è ciência permaneceu sendo
leitores selecionam a informação ci- cerca de 5% para os jornais desde
e n t í f i c a c o m base nas suas "necessi- 1942 ( K r i e g h b a u m , 1978).
d a d e s " percebidas. As mulheres, por O que buscam esses leitores e es-
e x e m p l o , lêem mais notícias médicas pectadores na ciência? Os psicólogos
do que os homens. e sociólogos relacionaram vários n í -
Esse p ú b l i c o deseja mais notícias veis de "necessidades" que as pessoas
científicas. O nível de leitura aumen- buscam satisfazer através dos veícu-
ta onde os redatores de ciência colo- los de comunicação de massa. Em u m
cam sua informação sob a f o r m a de nível, os veículos ajudam a preencher
narrativa o u de história, onde a adap- as necessidades de sobrevivência. Para
t a m às necessidades d o seu público, qualquer organismo, assegurar o ali-
onde a personalizam e até mesmo a m e n t o , o abrigo, e o sexo é básico.
t o r n a m sensacionalista. E, c o n c l u i u Onde a pesquisa c i e n t í f i c a se apóia
S c h r a m m , a maior parte d o que se nessas áreas, particularmente se a in-
aprende sobre ciência vem dos veícu- formação se c o n s t i t u i em ameaça à
los de comunicação depois que as segurança pessoal no preenchimento
pessoas deixam a escola (1962, 1-20). dessas necessidades, o interesse deve
Quinze anos mais tarde, em 1971, ser a l t o , c o m o no caso d o interesse
as pesquisas sobre os usos dos veícu- pela A I D S .
los de comunicação realizados pela A maioria das pessoas, que são
Newspaper Advertising Bureau colo- grandes consumidores dos veículos
caram as notícias sobre ciência e in- de comunicação, já resolveu suas
venções em d é c i m o - p r i m e i r o lugar. necessidades básicas de sobrevivência.
E n t r e t a n t o , a saúde e o bem-estar pú- Raramente t ê m que se perguntar de
blicos, bem c o m o os temas relaciona- onde virá a p r ó x i m a refeição. Entre-
dos c o m ciência e medicina, estavam t a n t o há muitas necessidades além da
em q u i n t o . O n o t i c i á r i o sobre meio sobrevivência. Manter o u melhorar a
ambiente, t a m b é m f o r t e m e n t e de- qualidade de sua sobrevivência ocupa
pendente da pesqu isa c i e n t í f i c a , estava posição de destaque na relação dessas
em nono lugar. Em 1976, em meio a necessidades. Maneiras de obter ali-
preocupações sobre o s u p r i m e n t o m e n t o melhor, moradia m e l h o r , saú-

38
de melhor e sexo m e l h o r , c o m o f o i de f o r m a diferente daquele que des-
relatado por pesquisadores c i e n t í f i - conhece. A familiaridade ajuda, mes-
cos, t ê m aplicação imediata o u grati- m o c o m temas menos pessoais. Earl
f i c a m m u i t o a vida das pessoas. E m Ubell, u m redator de ciência para a
termos modernos, as maneiras de ga- imprensa e para os meios eletrônicos
nhar o d i n h e i r o necessário para asse- de comunicação, certa vez c o n t o u
gurar u m padrão mais alto de sobrevi- u m caso sobre u m redator c i e n t í f i c o
vência para si mesmo o u para a f a m í - cuja primeira matéria sobre u m novo
lia podem surgir das novas e promis- assunto f o i parar no f u n d o do jorr al.
soras indústrias ou de ocupações mais " E , f i n a l m e n t e , na terceira vez em
agradáveis ligadas à ciência e suas que se t o c o u no assunto, ela quase
aplicações potenciais. C o m freqüên- saiu na primeira página porque, na-
cia, essa co-relação c o m os interesses quela ocasião, o editor havia começa-
humanos reconhecíveis são responsá- d o a entender que talvez aquilo fosse
veis pela publicação e difusão de ma- n o t í c i a e que deveria fazer algo a res-
térias derivadas da ciência mas de p e i t o " ( C o m m u n i c a t i o n , 1964, 35).
teor não-científico. A revista Money Algumas publicações usam redatores
permanece c o m o m e m b r o da NASW de ciência c o m o " p o r t e i r o s " : os edi-
e os analistas de ações assistem a con- tores pedem suas opiniões sobre se
ferências sobre novidades científicas uma matéria de ciência d i f u n d i d a pe-
para ter em primeira mão informa- lo rádio e pela T V o u por press re-
ções que poderiam afetar o preço de lease é suficientemente i m p o r t a n t e
ações em companhias públicas, tais para ser impressa.
c o m o as que fabricam e vendem dro- As notícias científicas ajudam a
gas c o m tecnologias avançadas, assim satisfazer o u t r a necessidade humana:
c o m o informação c i e n t í f i c a de inte- a necessidade de diversão, variedade
resse para seus leitores enquanto con- — e n t r e t e n i m e n t o . O novo conheci-
sumidores. m e n t o preenche essa necessidade. A
O interesse dos leitores determina teoria da evolução de Charles D a r w i n ,
os temas mas u m o u t r o f a t o r t a m b é m as fotografias c o m raios X de Roent-
é determinante para que uma matéria gen e as visões acerca d o universo de
seja impressa. Os redatores de ciência A l b e r t Einstein capturaram as imagi-
precisam, antes de mais nada, fazer as nações, p r o p o r c i o n a r a m conversas e
suas histórias passarem pelos editores estimularam o pensamento — não im-
" p o r t e i r o s " , que t o m a m a decisão fi- porta quão equivocadas — porque
nal sobre publicar uma matéria o u li- ofereciam idéias novas. As novas des-
vro o u colocar u m programa no ar. cobertas sobre o m u n d o natural em
U m redator c i e n t í f i c o a f i r m o u que geral, quando suficientemente signifi-
conseguia publicar qualquer matéria cativas, satisfazem uma sede de co-
sobre hemorróidas porque t o d o edi- nhecimento da espécie humana. En-
t o r t e m esse problema. Quando u m t r e t a n t o , educar o p ú b l i c o não está
editor conhece u m tema, irá tratá-lo necessariamente no alto das priorida-

39
des dos cientistas. A l g u n s pensam banal de que três q u a r t o s das m u l h e -
que isso não é sua responsabilidade. res pesquisadas eram m i s t u r a das
E r i c A s h b y , mestre d o Clare College duas f o i ignorada. O m é d i c o se quei-
da C a m b r i d g e U n i v e r s i t y , certa vez xou:
p e r g u n t o u : " E m ú l t i m a análise, exis-
te a questão de p o r que os cientistas Vocês usaram uma pequena obser-
d e v e r i a m c o m p e t i r c o m os c a n t o r e s ? " vação das últimas páginas, fora do
( 1 9 6 0 , 1 1 6 6 ) . O c o s m ó l o g o Carl Sa- contexto, e tornaram-na o tema
principal da reportagem com uma
gan, depois de p r o d u z i r u m s h o w am-
manchete sensacionalista. Isto dá a
p l a m e n t e a n u n c i a d o de a s t r o n o m i a impressão de que há apenas dois ti-
para a televisão, f o i c r i t i c a d o pelos ci- pos de mulheres, aquelas com os
entistas p o r t e r a b a n d o n a d o a ciên- peitos chatos mas com cérebros e
aquelas com grandes seios e baixos
cia. Os e d i t o r e s g e r a l m e n t e não se
Q.l's. . . para dramatizar o slogan
c o n s i d e r a m e n v o l v i d o s n o negócio da "bustos-ou-cérebros" acrescentaram
educação, t a m b é m . a seus artigos fotografias e entrevis-
Os p r o j e t o s c i e n t í f i c o s às vezes tas com estrelas de cinema bem pro-
vidas de busto. Os comentários des-
t e r m i n a m c a i n d o n o r i d í c u l o por cau-
sas senhoras, baseados em informa-
sa da necessidade que os meios de co- ção distorcida, tornaram minha in-
m u n i c a ç ã o t ê m de variar. Os cientis- vestigação uma piada (Strassman,
tas r a r a m e n t e c o m p r e e n d e m esse tra- 1964a).
b a l h o c o m leveza; para eles o f a t o
de os meios de c o m u n i c a ç ã o fazerem Há u m o u t r o lado da questão d o
h u m o r a suas custas i n c o m o d a p o r n í v e l de l e i t u r a . A s i m p l i f i c a ç ã o leva-
m u i t o t e m p o . Mas alguns p r o j e t o s da a u m e x t r e m o p o d e alienar os lei-
são alvos naturais, não i m p o r t a q u ã o tores de dois m o d o s . P r i m e i r o , p o r
significativo ou insignificante ou t e r e m as n o t í c i a s c i e n t í f i c a s u m cor-
q u ã o v á l i d o o u questionável seu re- p o f i r m e e c o n f i á v e l de leitores, levar
sultado científico. Foi o que ocorreu a linguagem especializada da ciência,
c o m o D r . E r w i n O. Strassman, que seu jargão, a u m n í v e l m u i t o b a i x o
se pôs e m c a m p o para pesquisar qual- p o d e o f e n d e r os que c o m p r e e n d e m
q u e r correlação e n t r e o t a m a n h o dos m e l h o r a ciência e custar a u m v e í c u -
bustos f e m i n i n o s e a inteligência das lo a perda d o respeito que deseja dos
mulheres ( 1 9 6 4 b ) . leitores esclarecidos. Isso p o d e l i m i -
Q u a n d o a matéria apareceu n o pe- tar a simplificação onde uma publica-
r i ó d i c o d i r i g i d o à especialidade d o ção de a m p l a c i r c u l a ç ã o , t a l c o m o
m é d i c o , o t r a b a l h o de escrever sobre The New York Times, t e m u m gran-
aquela pesquisa f o i cair nas mãos de de b l o c o de cientistas, engenheiros e
u m r e p ó r t e r c o n h e c i d o p o r seu estilo m é d i c o s e n t r e os seus leitores. O o u -
c o l o r i d o . O resultado f o i u m a histó- t r o perigo é que o r e d a t o r o u a p u b l i -
ria engraçada e v o c a n d o imagens so- cação aliene f u t u r a s f o n t e s de n o t í -
bre belezas desmioladas e Phi Beta cias. C o m o o redator de ciência é
Kappas sem busto. A c o n c l u s ã o algo m u i t o d e p e n d e n t e da boa v o n t a d e e

40
respeito daqueles que se encontram mente fora das disciplinas científicas.
nas várias disciplinas científicas, o ris- Há também alguns cientistas e médi-
co da perda de comunicação pode cos que ocasionalmente escrevem um
inibir os redatores. Essa possibilidade relatório simplificado sobre ciência,
com freqüência leva as publicações a como faz o Dr. Lewis Thomas, chan-
designarem a redação de matérias crí- celer do Memorial Sloan-Kettering
ticas a generalistas para evitar que os Câncer Center em Nova Iorque, em-
repórteres especializados ofendam bora a escrita não seja a sua ocupação
suas fontes e para evitar também que primária. A coleção de ensaios de
um repórter escreva uma matéria fra- Thomas, The Lives of a Cell, recebeu
ca pelo temor de perder os contatos. o National Book Award, em 1974.
Essa tática tem sido usada freqüente- Na opinião do Dr. Miroslav Holub,
mente nos esportes e assuntos poli- autor de treze livros de poesia e pes-
ciais onde os repórteres podem ficar quisador de imunologia no Instituto
m u i t o próximos ás suas fontes. Algu- de Medicina Clínica e Experimental
mas organizações noticiosas mudam em Praga, Checoslováquia, o trabalho
os repórteres para novos territórios de Thomas é exemplar. " A melhor
regularmente, para evitar tais ocor- maneira de escrever sobre ciência é,
rências. na minha opinião, o ensaio científi-
co, por Lewis Thomas, ou seja, o en-
saio que apresenta problemas selecio-
Redatores de ciência:
nados e a maneira científica de pen-
quem e onde sar a respeito deles numa refinada
Quem são as pessoas que escrevem forma literária" (1982-83, 21). A l é m
sobre ciência, medicina e tecnologia? de escrever poesia, Holub edita uma
No sentido mais amplo, estas incluem revista de ciência popular, mas ope-
qualquer u m que construa suas histó- ra sob u m sistema de imprensa consi-
rias com tijolos da pilha do conheci- deravelmente diferente daquele onde
mento desenvolvido pelas disciplinas o fazem os escritores de ciência fora
científicas, engenharia e medicina. Is- dos países do bloco autoritário. A
so poderia cobrir cada redator que fa- educação na f o r m a " c e r t a " de pensar
ça uma pesquisa razoavelmente minu- nas regiões comunistas t e m precedên-
ciosa para uma matéria, uma vez que cia sobre o imediatismo, os assuntos
a informação mais recente sobre em pauta e a competição. FiloSofica-
qualquer assunto provavelmente se mente, a notícia não é particularmen-
encontra com algum cientista da área te prioritária.
de pesquisa. N u m sentido mais restri- Como essas formas polidas de se
to, os redatores de ciência são aque- redigir ensaios levam t e m p o a serem
les que gastam a maior parte de seu conseguidas, raramente preenchem as
tempo escrevendo sobre ciência ou necessidades dos leitores e redatores
assuntos a ela relacionados para u m dos veículos de comunicação de mas-
público que se encontra primaria- sa. Os jornalistas de ciência que te-

41
n h a m uma c o l u n a regular — e t e m p o fora do cio ou no cio. Eu provavel-
para suavizar os t e x t o s — p o d e m se mente deveria ter nascido um cava-
lo ou algo assim" (p. 73).
a p r o x i m a r delas, c o m o o p o d e m m u i -
t o bons e f l u e n t e s escritores.
A l g u n s cientistas escrevem inteira-
Existe c o n t r o v é r s i a e n t r e os jorna-
m e n t e para u m m e r c a d o p o p u l a r . 0
listas c i e n t í f i c o s sobre aqueles dezoi-
D r . Isaac A s i m o v , u m b i o q u í m i c o , é
t o a v i n t e j o r n a i s que p u b l i c a m sema-
u m a v i r t u a l m á q u i n a de escrever. Es-
n a l m e n t e s u p l e m e n t o s de ciência e
creveu mais de t r e z e n t o s livros de
saúde. U m g r u p o favorece os suple-
ciência p o p u l a r e f i c ç ã o c i e n t í f i c a ;
mentos por promoverem u m hábito
ele perdeu a c o n t a d o n ú m e r o de a r t i -
regular de leitura e dar realce a suas
gos de revistas e j o r n a i s em sua cole-
matérias. 0 o u t r o sustenta que tais
ção. E n t r e t a n t o , os redatores treina-
seções p o d e m privar os leitores diá-
dos e m ciência c o n s t i t u e m u m a pe-
rios de matérias c i e n t í f i c a s , restrin-
quena mas crescente m i n o r i a dos es-
g i n d o a c o b e r t u r a sobre aquele assun-
c r i t o r e s de ciência. Certa vez Earl
t o para u m dia p o r semana. Esses re-
U b e l l , bacharel e m f í s i c a , t r a b a l h a n -
datores de ciência a f i r m a m que t a l
d o para The New York Herald-Tribu-
c o n c e n t r a ç ã o p o d e , c o m e f e i t o , redu-
ne, p o d i a gabar-se de ser o ú n i c o a ter
zir o c o n t e ú d o da n o v i d a d e c i e n t í f i -
f o r m a ç ã o c i e n t í f i c a e n t r e os redato-
ca de u m a p u b l i c a ç ã o , assim c o m o a
res de ciência q u e c o m p u n h a m a
q u a n t i d a d e de n o t í c i a s que se levam
e q u i p e d o j o r n a l . Isso não é mais ver-
ao c o n h e c i m e n t o dos leitores.
dade. L a w r e n c e K . A l t m a n d o The
A l g u n s escritores, inclusive cientis-
New York Times t e m o grau de Mes-
tas, usam abordagens provocativas na
t r e . A s i m o v e cerca de dezenas de o u -
redação c i e n t í f i c a , m e s m o que isso os
t r o s m e m b r o s da N a t i o n a l Associa-
e x p o n h a a c r í t i c a s p o r serem irreve-
t i o n o f Science W r i t e r s t ê m Ph. D . O
rentes. Sarah B l a f f e r H r d y , uma an-
q u í m i c o - p e s q u i s a d o r Irving Bengels-
t r o p ó l o g a que escreve para muitas re-
d o r f era e d i t o r de ciência d o Los An-
vistas populares e semipopulares, as-
geles Times antes de ir para o J e t Pro-
sim c o m o para o u t r a s publicações, é
pulsion Laboratory c o m o redator
u m a das melhores. E m seu a r t i g o ,
t é c n i c o especializado; ele c o n t i n u o u
" H e a t L o s s " , para Science 83 ( 1 9 8 3 ) ,
a escrever u m a c o l u n a de ciência para
ela apanha o l e i t o r desprevenido c o m
o Los Angeles Herald.
esta entrada d i v e r t i d a para u m t e m a
sério: p o r que as fêmeas humanas não I n d e p e n d e n t e m e n t e de t r e i n a m e n -
e x p e r i m e n t a m ciclos de " c i o s " . t o , a m a i o r i a dos redatores de ciência
não t r a b a l h a c o m o jornalistas o u nas
"As mulheres são mesmo lamenta- equipes de j o r n a i s e revistas p o p u l a -
velmente complicadas", queixa-se res. Apenas cerca de 2 5 0 a 3 0 0 m e m -
um veterinário apaixonado, na tri-
bros dos mais de 1 0 0 0 associados da
logia de Alan Ayckbourn, The Nor-
man Conquests. "Com outros ani- N a t i o n a l A s s o c i a t i o n o f Science W r i -
mais, bem, a maioria deles, estão ou ters são redatores que f a z e m parte da

42
equipe; apenas cerca de 10% dos pitais, organizações de ciência e saú-
1.700 jornais diários empregam reda- de, governo e comércio, e agências de
tores de ciência ( N A S W . 1983). A l é m relações públicas. Podem trabalhar
disso, a maioria dos redatores que es- para uma organização que emita
crevem sobre ciência e medicina para press releases, boletins noticiosos,
os jornais trabalha nos maiores diá- jornais, revistas, scripts de televisão
rios m e t r o p o l i t a n o s e regionais. Por o u o u t r o s tipos de informação sim-
m u i t o s anos o Post-Bulletin, de Ro- ples das áreas c i e n t í f i c a e médica pa-
chester, Minnesota, f o i o menor jor- ra distribuição aos veículos de comu-
nal que empregava u m redator de me- nicação, pacientes de hospitais, mem-
dicina em t e m p o integral; c o m e f e i t o , bros de associações, empregados e
é publicado na cidade onde a Clínica acionistas, c o n t r i b u i n t e s o u qualquer
Mayo é uma i m p o r t a n t e f o n t e de em- o u t r o t i p o de público que possa ofe-
pregos e de notícias. A maioria dos recer b e n e f í c i o comercial ou institu-
jornais pequenos consegue suas n o t í - cional a partir do c o n t a t o público. O
cias científicas através de repórteres mesmo padrão de emprego se man-
de assuntos gerais, dos serviços tele- t é m para os cerca de 3 . 0 0 0 membros
gráficos o u redatores de informação da A m e r i c a n Medicai Writers Associa-
pública empregados por centros mé- t i o n , cujo q u a d r o de associados ultra-
dicos e c i e n t í f i c o s d o lugar. M u i t o s passa consideravelmente o da NASW,
jornalistas científicos começaram e para a menor A v i a t i o n and Space
suas carreiras c o b r i n d o notícias mé- Writers Association, as organizações
dicas e científicas locais e transfor- de redatores sobre meio ambiente e
maram esse interesse numa especiali- energia e várias associações de reda-
dade. tores agrícolas.
Embora redatores de ciência e me- O n ú m e r o de membros desses gru-
dicina de t e m p o integral trabalhem pos de redatores se expande e se con-
para revistas c o m o Time e Newsweek, trai segundo as condições econômicas
a maior parte dos membros das revis- e as crises de comunicação que de-
tas trabalha para a ciência especializa- mandam redatores c o m conhecimen-
da e, principalmente, publicações mé- tos e contatos especializados. Os re-
dicas. As agências noticiosas — Asso- datores de ciência m u d a m para essas
ciated Press, Reuters, e U n i t e d Press especialidades mais novas à medida
International — empregam u m pu- que o mercado pede. As associações
nhado de redatores de ciência ao re- do meio ambiente nasceram da apro-
dor d o m u n d o . O u t r o pequeno grupo vação de legislação para reduzir a po-
de redatores c i e n t í f i c o s é afiliado às luição do ar e da água. Escrever sobre
redes de rádio e televisão, i n c l u i n d o o energia tornou-se uma especialidade
Public Broadcasting System. organizada na década de setenta c o m
A maioria dos redatores de ciência a escassez de petróleo ocorrida quan-
de t e m p o integral trabalha em insti- do os países estrangeiros reduziram
tuições tais c o m o universidades, hos- sua exportação para os Estados Uni-

43
dos. Da mesma f o r m a , c o m a redução ciência e tecnologia para livros e arti-
do programa de exploração espacial gos de revistas.
dos E U A nos anos setenta, o quadro Os escritores de ciência parecem
de membros d i m i n u i u na associação ser u m grupo excepcionalmente mó-
de redatores sobre espaço. Temendo vel. Segundo a N A S W , por e x e m p l o ,
a imagem de influência comercial in- cerca de vinte por cento de seus
devida, a maior parte das organiza- membros m u d a m de emprego o u en-
ções de notícias técnico-científicas dereço a cada três meses ( N A S W ,
realizam u m c o n t r o l e através d o gru- 1983).
po de membros " a t i v o s " que escre- Geograficamente, os redatores de
vem diretamente para leitores o u es- ciência tendem a ser u m grupo do les-
pectadores. Os educadores, funcioná- te e urbano. New Y o r k C i t y , Boston
rios de informação do governo em e seus subúrbios c o n t ê m grandes nú-
agências orientadas para a ciência e o meros por causa das importantes ins-
pessoal de relações públicas geral- tituições editorais e científico-edu-
mente t ê m status de " s ó c i o " . Isso im- cacionais existentes nessas áreas me-
pede seu acesso por votos, ao contro- tropolitanas. Washington, D. C., leva
le, da organização, que preserva a in- uma outra faixa a escrever sobre po-
dependência d o jornalismo da d o m i - l í t i c a c i e n t í f i c a e pesquisa nos Natio-
nação por aqueles redatores de ciên- nal Institutes of Health ( N I H ) e ou-
cia pertencentes a organizações não- tras entidades d o governo na área. A
noticiosas. Tais restrições são irritan- A m e r i c a n Medicai Writers Associa-
tes e f r e q ü e n t e m e n t e p r o d u z e m con- t i o n t e m seu quartel-general numa ci-
f l i t o d e n t r o das organizações. Os es- dade p r ó x i m a , Bethesda, em Mary-
critores de ciência incluem uma gran- land. Muitos redatores de Washington
de proporção de free-lancers entre trabalham para instituições governa-
seus membros. Por receberem gratifi- mentais e associações médico-cientí-
cações maiores que a média devido f icas. O Journal of the American Me-
ao seu conhecimento especializado e dicai Association, por e x e m p l o , t e m
t e n d o em vista a grande quantidade u m redator especializado em p o l í t i c a
de publicações médicas que f u n c i o - e ciências físicas e naturais e o u t r o
nam à base da publicidade da indús- c o b r i n d o os N I H . Outros redatores
tria farmacêutica, os redatores c i e n t í - de ciência são designados para os es-
ficos e médicos prosperam c o m o critórios de importantes organizações
free-lancers onde m u i t o s o u t r o s reda- noticiosas de Washington, incluindo
tores mal conseguem se arranjar. A l - The New York Times, Associated
guns free-lancers trabalham principal- Press, U n i t e d Press International, Ti-
mente para escritórios de relações pú- me, Newsweek e Business Week —
blicas e informações. Muitos redato- M c G r a w - H i l l W o r l d News.
res de ciência para os meios de comu- A Califórnia, principalmente ao
nicação t a m b é m trabalham em regi- redor de Los Angeles e São Francis-
me de free-lancer c o m o redatores de co, t a m b é m abriga u m grande núme-

44
ro de redatores de ciência que escre- um ano ou mais de experiência para
vem para os maiores jornais da área, novos membros.
instituições do governo, centros mé- Se existe uma exigência a ser cum-
dicos de universidades e outros, a in- prida de maneira a poder se redigir ci-
dústria aeroespacial e um crescente ência (para que o sucesso possa ser
número de revistas especializadas nes- assegurado), esta provavelmente resi-
se e em o u t r o s assuntos. Chicago, en- de na educação. A divisão mais geral-
quanto u m centro de publicações co- mente reconhecida entre os redatores
merciais, pesquisa estatal e privada, de ciência encontra-se na formação
pesquisa de saúde e medicina, produ- o u no treinamento educacional. Os
ção de drogas, e universidades, pro- campos científicos apóiam-se forte-
porciona uma base para muitos ou- mente na apresentação de credenciais
tos redatores científicos. As concen- para admissão; graus mais avançados
trações de redatores de ciência são trazem status. O status para jornalis-
m u i t o diluídas em outros lugares; o tas pode vir da organização de coleta
Texas, c o m a terceira maior popula- noticiosa, e as fontes de notícias ge-
ção estadual tinha apenas uma dúzia ralmente lidam mais abertamente
de redatores de ciência relacionados com alguém de status igual do que
na NASW em 1985. com alguém em quem percebam um
status inferior. A rede de televisão e
o The New York Times, por exem-
C o m o eles chegaram lá? plo, comandam a atenção de todos a
C o m o t e m sido registrado através não ser os mais arrogantes.
de sua história, os redatores de ciên- O treinamento em ciência, o co-
cia vêm de todas as partes e forma- nhecimento e credenciais proporcio-
ções educacionais. Não existe u m nam autoridade. A venda de artigos
programa de treinamento reconheci- para publicação em cadeia, contendo
do ou exigências para o licenciamen- conselhos médicos tem sido a maté-
t o desses profissionais. As interpreta- ria-prima do jornalismo americano
ções da cláusula de "imprensa l i v r e " por muitas décadas. Donna Buys, en-
da Primeira Emenda da Constituição fermeira diplomada e escritora free-
americana a f i r m a m que os jornalistas lancer, alcançou o sucesso escrevendo
não podem ser controlados através de sob seu próprio nome o u sob uma co-
licenciamento. Nos países autoritá- autoria partilhada por outros profis-
rios, a qualidade de membro em u m sionais de saúde, incluindo médicos.
ou mais " s i n d i c a t o s " reconhecidos é É preciso ter credenciais e treinamen-
requerida antes que você possa traba- to para escrever artigos semitécnicos
lhar. Alguns países podem exigir cre- para muitas revistas especializadas.
denciais oficiais, tais como a gradua- Embora alguns redatores tenham
ção em uma escola aprovada pelo go- sido originalmente treinados c o m o ci-
verno. Algumas associações america- entistas, a maior parte dos escritores
nas de escritores profissionais exigem de ciência vem das artes liberais e do

45
j o r n a l i s m o . Três tipos de redatores de cialmente em jornais. Tornar-se u m
ciência ocuparam o campo através redator de ciência de t e m p o integral
dos ú l t i m o s sessenta anos. A p ó s a I pode exigir u m estágio em reporta-
Guerra Mundial predominavam os re- gem geral ou redação, por u m ano o u
pórteres gerais, c o m freqüência sem mais, numa publicação menor, antes
t r e i n a m e n t o universitário. Simples- de ir para uma publicação c o m espe-
mente cobriam o que passava por seu cialistas em ciência. Os controles or-
caminho. Algumas pessoas eram de- çamentários dos jornais menores f o r -
signadas principalmente para a cober- çam os editores a usarem poucas pes-
tura de ciência. O n ú m e r o de redato- soas para c o b r i r e m os vários tipos di-
res científicos a u m e n t o u no p e r í o d o ferentes de fatos que acontecem mes-
após a II Guerra M u n d i a l , através do m o na menor das comunidades. Os
mecanismo de editores-chefes que de- editores t a m b é m c o m b a t e m a idéia de
signavam alguém c o m compromisso ter especialistas capturados o u " c o -
o u c o m interesse em ciência o u me- o p t a d o s " para se t o r n a r e m advogados
dicina para fazer contatos c o m pes- de pessoas o u pontos de vista que no-
soas na comunidade c i e n t í f i c a . Os t i c i a m regularmente. Os editores t ê m
editores perceberam que seus traba- décadas de experiência nisso, em
lhos seriam mais fáceis c o m alguém áreas tão estabelecidas c o m o esportes
que conhecesse editoração e redação. e polícia. Assim, desenvolver experi-
Os editores se desesperavam ao ter ência em redação c i e n t í f i c a depende
que ensinar a cientistas e médicos co- m u i t o de quão bem u m redator gera
m o substituir o jargão técnico por pa- histórias sobre ciência e medicina en-
lavras o u idéias concordantes c o m a q u a n t o está c o b r i n d o outras maté-
sua percepção do que seria u m " h o - rias. A chave do jornalismo de rádio e
m e m c o m u m " . A maioria desses re- T V , de jornais e revistas está na for-
datores de ciência aprendeu seu tra- ma c o m o uma matéria é apresentada,
balho em serviço e apoiava-se nos e c o m que freqüência. As credenciais
poucos cursos de ciências que fize- valem alguma coisa, mas não são t u -
ram na universidade e em leituras que do. Os editores ainda querem boas
realizaram depois. T a m b é m recebiam matérias.
ajuda de seminários e briefings ofere- O sucesso da União Soviética c o m
cidos por associações médicas e cien- o S p u t n i k f o i u m m o m e n t o decisivo
tíficas. Muitos jornalistas consideram para o jornalismo c i e n t í f i c o . A Co-
tais sessões c o m o formas mal-disfar- lumbia University persuadiu as f u n -
çadas de obter publicidade. dações Sloan e Rockfeller a financia-
A educação em ciência pode aju- rem programas de t r e i n a m e n t o cien-
dar u m redator a se especializar, mas t í f i c o para jornalistas em meio de
pode colocá-lo numa posição estra- carreira c o m experiência em reporta-
nha c o m o jornalista profissional. Os gem sobre ciência básica. 0 programa
editores t ê m relutância em criar espe- Nieman F e l l o w , da Harvard, que en-
cialistas em suas publicações, espe- corajava o estudo das ciências, deu

46
c o r p o a este p r o j e t o . Nos anos 1 9 6 0 , Sociedade, e Sociologia na C o r n e l l
outras universidades i n i c i a r a m cursos U n i v e r s i t y , surpreende-se c o m os re-
o u programas de r e p o r t a g e m especia- latos de c o n f l i t o entre cientistas e
lizada e m ciência, m e i o a m b i e n t e e jornalistas. A idealização da ciência e
energia, e n f a t i z a n d o os aspectos f o r - dos cientistas é e n d ê m i c a nos escritos
mais t é c n i c o s , e c o n ô m i c o s , sociais e dos jornalistas. Os j o r n a i s , a p o n t a ela,
históricos da ciência. O M I T oferece c o n t r a t a m c r í t i c o s de p o l í t i c a , de ar-
t r e i n a m e n t o de m e i o de carreira para tes e o u t r o s c a m p o s , mas não de ciên-
u m g r u p o selecionado de c a n d i d a t o s cia. Ela escreve:
a escritores de ciência. A s s i m , os es-
critores de ciência i n c l u e m hoje u m Enquanto os redatores de política
grande n ú m e r o de pessoas c o m mais criticam e analisam, os redatores de
ciência elucidam e explicam. . . . E
t r e i n a m e n t o f o r m a l sobre ciência ci-
tudo isso leva-me a duas perguntas:
e n t í f i c a e m seu passado, i n c l u i n d o Por que a redação de ciência é tão
mais h a b i l i d a d e de avaliar c r i t i c a m e n - pouco crítica em relação à ciência?
te as provas estatísticas e o u t r a s evi- E por que os cientistas são tão crí-
ticos para com a imprensa, tão con-
dências que os cientistas o f e r e c e m
vencidos de sua intenção anticién-
para suas descobertas. cia? (1984b, 4)
E n t r e t a n t o , a f a m i l i a r i d a d e às ve-
zes afeta a o b j e t i v i d a d e . A l g u n s edi- U m a recente pesquisa e n t r e reda-
tores, pesquisadores de j o r n a l i s m o e tores de ciência, realizada p o r C o n r a d
sociólogos da ciência se p r e o c u p a m J. S t o r a d , indica u m grande n ú m e r o
c o m o f a t o de que o c o n d i c i o n a m e n - de j o r n a l i s t a s de ciência i n c l i n a n d o - s e
t o m e n t a l necessário para a especiali- para u m a postura mais c r í t i c a e a n a l í -
zação e m ciência faz c o m que o reda- t i c a . E n q u a n t o a d e m o g r a f i a geral de
t o r de ciência dos meios de c o m u n i - S t o r a d m o s t r a que os redatores de
cação seja menos capaz — o u dispos- ciência t e n d e m a estar no i n í c i o da
t o — a ver falhas nas atividades da co- meia-idade, são a l t a m e n t e educados e
m u n i d a d e c i e n t í f i c a . A experiência c o m m u i t a experiência e m r e p o r t a -
d e m o n s t r o u há m u i t o t e m p o as ten- gens, aqueles que desejam avaliar o
dências dos especialistas de a d o t a r e m e f e i t o social e e c o n ô m i c o da ciência
atitudes, roupas, padrões e discursos t e n d e m a ser mais jovens e mais sin-
das pessoas que c o b r e m . Os redatores t o n i z a d o s c o m a r e p o r t a g e m mais
de esportes deslizam para a g í r i a , re- p r o f u n d a . F r e q ü e n t e m e n t e são pro-
pórteres policiais agem c o m o tiras e d u t o s da ciência u n i v e r s i t á r i a e de
os redatores d o State D e p a r t m e n t e cursos de redação c i e n t í f i c a .
dos negócios a d o t a m a p o s t u r a carac- Escrever sobre ciência não c o n s t i -
t e r í s t i c a de seus a m b i e n t e s . t u i o b s t á c u l o ao avanço da carreira.
Os jornalistas de ciência t ê m a d m i - Não é u m a estagnação d o j o r n a l i s m o .
rado t a n t o os cientistas que a Dra. Os e d i t o r e s Michael 0 ' N e i l l , d o New
D o r o t h y N e l k i n , professora nos De- York Daily News, J o h n T r o a n d o
p a r t a m e n t o s de Ciência, T e c n o l o g i a e Pittsburgh Press e M a r v i n S t o n e d o U.

47
S. News and World Report vieram da f a z e n d o c o b e r t u r a de assuntos e pes-
e x p e r i ê n c i a c o m noticia'rios c i e n t í f i - soas que lhes interessam. Na persegui-
cos. 0 mesmo acontece c o m H o w a r d ção de seus interesses eles se equipa-
S i m o n s , à f r e n t e d o p r o g r a m a Nie- r a m a m u i t o s cientistas que p r e f e r e m
m a n e a n t i g o e d i t o r - c h e f e d o The a pesquisa à a d m i n i s t r a ç ã o .
Washington Post, e A b i g a i l T r a f f o r d
B r e t t , u m a assistente de e d i t o r - c h e f e Experiências
d o U. S. News and World Report. Da-
1. Descubra em sua biblioteca jornais e
v i d H e n d i n passou de e d i t o r e c o l u - revistas, principalmente dos principais cen-
nista de ciência a vice-presidente d o tros populacionais que tenham sido edita-
U n i t e d Features S y n d i c a t e and News- dos por volta da virada do século. Encon-
paper E n t e r p r i s e A s s o c i a t i o n . tre uma matéria de ciência ou medicina da
época e compare-a com uma matéria de
G e r a r d Piei, publisher do Scientific ciência atual.
American d e i x o u seu t r a b a l h o c o m o
e d i t o r de ciência da revista Life para 2. Encontre um artigo científico para cada
c o n s t r u i r o Scientific American. Em cinco anos de 1890 a 1950. Você reconhe-
ceu os nomes dos cientistas do final do sé-
1985, a American Association for the
culo dezenove? E quanto aos cientistas e
A d v a n c e m e n t o f Science empossou aventureiros de 1900 a 1950? Procure-os
Piei c o m o seu p r e s i d e n t e , o p r i m e i r o nas histórias ou enciclopédias de ciência e
j o r n a l i s t a de ciência a encabeçar a relate o que realizaram.
m a i o r e n t r e as organizações c i e n t í f i -
3. Procure no Readers' Guide to Periódi-
cas. Mas os c a m i n h o s de carreira para
ca! Literature ou nos primeiros volumes do
as suítes executivas, tais c o m o são The New York Times Index que assuntos
nos j o r n a i s e revistas, d e p e n d e m mais eram tratados como ciência na época.
de c o m o você se relaciona c o m assun-
4. Entreviste um de seus antigos professo-
t o s mais a m p l o s da sociedade e a d m i -
res de ciência ou um estudante graduado
nistração de publicações — e sorte — em ciência sobre sua postura em relação à
d o que de sua especialidade. Exata- popularização da ciência. O que pensa so-
m e n t e c o m o m u i t o s grandes editores bre a redação científica para jornais? Ele
e repórteres g o s t a m de exercer o j o r - precisa ou deseja saber sobre outros cam-
pos da ciência? Qual é a atitude em relação
n a l i s m o e m pequenas cidades o u co-
à compreensão pública da ciência? Pode o
m u n i d a d e s , m u i t o s escritores de ciên- seu cientista sugerir maneiras de melhorar
cia satisfazem-se e m passar suas vidas o conhecimento público da ciência?

48
Capítulo 3
Escolhendo notícias de ciência

A ABUNDANTE INFORMAÇÃO SOBRE ele e d i t o r , r e d a t o r , c o m u n i c a d o r ra-


ciência, m e d i c i n a , engenharia e tec- d i o f ô n i c o o u de televisão, o u especia-
nologia p o d e ser sufocante. T o d a ela lista e m i n f o r m a ç ã o . Os cientistas são
interessa • p o t e n c i a l m e n t e a a l g u é m , m u i t o c r í t i c o s a respeito de c o m o os
em a l g u m lugar. Escolher e n t r e as jornalistas f a z e m isso.
p r o d u ç õ e s de centenas de milhares de
Esse aspecto d o j o r n a l i s m o t a m -
cientistas é u m a das tarefas mais d i f í -
b é m i n t r i g a os cientistas. E s t u d o s in-
ceis para o e d i t o r e o redator de ciên-
d i c a m que os cientistas que t ê m m u i -
cia. Os redatores de publicações co-
t o s c o n t a t o s e n t r e os p r o f i s s i o n a i s
m o The New York Times e The
dos meios de c o m u n i c a ç ã o de massa
Washington Post recebem a cada dia
não p o d e m prever m e l h o r o q u e os
u m a e n o r m e p i l h a de publicações, re-
jornalistas farão de sua pesquisa, d o
latórios e releases c i e n t í f i c o s de uni-
que aqueles que t ê m p o u c o acesso
versidades e instituições.
aos v e í c u l o s de c o m u n i c a ç ã o ( R y a n ,
A o m e s m o t e m p o , agências d o go-
1 9 8 2 ) . Mas os cientistas provavel-
verno f e d e r a l , estadual e local pro-
m e n t e sentiriam-se d e s c o n f o r t á v e i s se
põem, efetuam ou alteram diariamen-
descobrissem que a decisão sobre o
te os r e g u l a m e n t o s e a p o l í t i c a p ú b l i -
que é n o t í c i a intriga os j o r n a l i s t a s e
ca de saúde e segurança. Mesclados a
publicistas quase t a n t o q u a n t o ás
t u d o isso há choques e n t r e personali-
suas f o n t e s .
dades, planos c o n f l i t a n t e s , solicita-
ções de f i n a n c i a m e n t o à custa d o di- Julgar b e m a i m p o r t â n c i a das no-
n h e i r o p ú b l i c o e temas de p r i o r i d a d e . t í c i a s faz parte d o processo de t o m a -
As indústrias baseadas na ciência ali- da de decisões d o j o r n a l i s t a bem-suce-
m e n t a m essa t o r r e n t e de i n f o r m a ç ã o d i d o . C o m p r e e n d e r alguns dos crité-
c o m declarações de novos p r o d u t o s e rios que d e t e r m i n a m o valor n o t i c i o -
processos. A natureza t a m b é m t e m o so irá a j u d a r a desenvolver o julga-
seu papel o f e r e c e n d o novas doenças, m e n t o das n o t í c i a s . O j o g o segue as
inundações inesperadas, erupções vul- regras estabelecidas pelos v e í c u l o s de
cânicas, t e r r e m o t o s e o u t r o s f e n ô m e - c o m u n i c a ç ã o . C o m o u m r e d a t o r de
nos de escala espetacular. Escolher m e d i c i n a disse de u m m é d i c o c o n h e -
q u a l a p e q u e n a p a r t e de t o d o s esses c i d o seu: " N ó s chegamos a u m acor-
a c o n t e c i m e n t o s que merece ser p u b l i - d o . Ele d e c i d i r á q u a n d o seus pacien-
cada é u m i m p o r t a n t e aspecto da ta- tes estão doentes. Eu d e c i d i r e i q u a n -
refa de u m j o r n a l i s t a c i e n t í f i c o , seja d o são n o t í c i a . "

49
Critérios tradicionais para a u m "gancho n o t i c i o s o " no qual pen-
escolha de notícias durar a história.
A l é m disso, o que parece uma no-
Em parte, a escolha do que deve
t í c i a de ontem pode não sê-lo. Por
ser publicado é feita por u m consen-
causa de atrasos na publicação cientí-
so de redatores e editores. Não há re-
fica, a informação pode ter vários
gras restritivas, embora haja uma con-
meses ou mesmo anos de idade, mas
cordância geral sobre os fatores leva-
merece uma matéria quando um res-
dos em consideração na decisão. Al-
peitado jornal c i e n t í f i c o aparece ho-
guns fatores são baseados na tradição
je contendo o relatório da pesquisa.
e outros são de origem mais recente.
Com efeito, você pode apanhar jor-
O capricho t a m b é m t e m o seu lugar:
nais de domingo ou segunda-feira e
u m editor ou redator simplesmente
encontrar ao menos uma matéria di-
gosta de escrever ou ler sobre u m as-
gerida das últimas edições do Journal
sunto, e por isso assume que os ou-
of the American Medicai Association,
tros também irão gostar. Às vezes o
The New England Journal of Medici-
bom estilo pode superar na balança
ne, ou da revista Science. A liberação
outros fatores detratores. Em geral,
da publicação é o f u r o noticioso. Co-
senso de oportunidade, " t i m i n g " , im-
m o os fins de semana são notoria-
pacto, significado, pioneirismo e inte-
mente dias fracos de notícias, os edi-
resse humano são importantes. A va-
tores dessas revistas distribuem al-
riedade e o c o n f l i t o também são con-
guns exemplares para os serviços tele-
siderações.
gráficos, jornais e outros veículos. Os
jornalistas de ciência às vezes questio-
SENSO DE O P O R T U N I D A D E . Com nam se cada edição desses e outros
algumas exceções, os profissionais da jornais contém ou não uma história
área de comunicação não difundem relevante, mas eles oferecem histórias
conscientemente informação velha. que preenchem os padrões t a n t o de
Se sabem que algo f o i divulgado pre- confiabilidade quanto de oportunida-
viamente e novos desenvolvimentos de. Como a data de publicação de u m
não ocorreram, irão procurar outra dado trabalho c i e n t í f i c o geralmente é
história. Entretanto, o senso de opor- conhecida pelo autor, os funcionários
tunidade na reportagem científica de relações públicas das universidades
significa mais do que simplesmente tentarão alertar os veículos de comu-
imediatismo. Pode acontecer hoje um nicação através de chamadas telefôni-
evento que requeira uma olhada nas cas o u com press releases sobre a pu-
notícias de ontem. Por exemplo, um blicação iminente.
cientista pode ser entrevistado sobre
u m t ó p i c o antigo simplesmente por- " T I M I N G " . Intimamente relacionado
que u m pesquisador entrega hoje um com o senso de oportunidade está o
trabalho numa reunião de especialis- " t i m i n g " . U m assunto pode ser rele-
tas. O evento de hoje proporciona vante na opinião de redatores e de

50
editores, se estiver ligado a algum queles que distribuem as verbas de
evento estranho à ciência. Assim o re- pesquisa.
dator pode publicar no Natal uma
matéria baseada em uma nova pesqui- S I G N I F I C A D O . O significado, c o m o
sa psicológica sobre a melancolia na- é visto por redatores e editores, tam-
tal ina. Cada inverno, vê t a m b é m os bém c o n t r i b u i para a decisão de po-
redatores c i e n t í f i c o s se aprofunda- pularizar u m t ó p i c o c i e n t í f i c o . Mui-
rem em temas c o m o o a n d a m e n t o tos redatores de ciência perdem suas
das pesquisas sobre condições meteo- histórias porque não conseguem mos-
rológicas, gripe e o d i t o resfriado co- trar aos seus editores que o assunto
m u m . Tal material teria menos signi- t e m significado para o público em ge-
ficado para os leitores no Q u a t r o de ral. Jerry Bishop, d o The Wall Street
Julho. Journal, escreve sobre pesquisa bási-
ca, particularmente em campos mé-
I M P A C T O . O impacto é o u t r o f a t o r dicos, e consegue ser publicado por-
determinante do que publicar. Mui- que defende u m p o n t o de vista pes-
tos editores dizem que a melhor ma- soal sobre saúde o u economia para
téria é aquela que afeta maior quanti- seus leitores, d e n t r o da matéria. C o m
dade de leitores. Uma história c i e n t í - freqüência esta é uma das tarefas
fica trivial pode vir a ser publicada mais difíceis para u m redator de ciên-
em t o d o o m u n d o quando os redato- cia quando os pesquisadores f i c a m re-
res e editores percebem que irá inte- ticentes em especular as aplicações
ressar u m grande segmento de seus potenciais de sua pesquisa.
leitores. As pesquisas sobre sexo e A maioria dos jornais, por exem-
m u i t o s o u t r o s relacionamentos hu- p l o , ignorou as primeiras tentativas
manos já trazem o seu p r ó p r i o públi- de transplantar material genético de
co. A pesquisa médica o b t é m atenção células de outras espécies vivas para
porque as pessoas universalmente re- células de bactérias. C o m o os cientis-
conhecem a doença c o m o uma amea- tas disseram p o u c o sobre as implica-
ça. Se tiverem de escolher entre ma- ções d o t r a b a l h o , os redatores f o r a m
térias médicas, a maioria dos redato- incapazes de estabelecer o que mui-
res e editores irá escolher as que ver- tos chamam "parágrafo de significa-
sam sobre câncer, doenças d o cora- d o " em suas matérias sobre os trans-
ção, o u outras igualmente letais em plantes de genes. A frase "engenha-
d e t r i m e n t o das que t r a t a m de afli- ria genética" e n t r e t a n t o , e n t r o u no
ções menos graves. Uma doença mor- vocabulário c o m u m quando os cien-
tal p u debilitante pode não merecer tistas e os industriais começaram a fa-
atenção especial t a n t o da ciência lar mais livremente sobre os riscos e
q u a n t o dos veículos de comunicação benefícios de usar essa técnica para
quando o n ú m e r o de pessoas afligidas manufaturar insulina humana e ou-
por ela é pequeno demais para cha- tros p r o d u t o s q u í m i c o s c o m bacté-
mar a atenção dos jornalistas o u da- rias c o n t e n d o os genes o u plasmídeos

51
transplantados. A técnica t a m b é m t í c i a . Às vezes a competição entre ci-
t o r n o u possível a produção do inter- entistas para obter os direitos d o pri-
f e r o n , u m p r o d u t o q u í m i c o de ocor- meiro c r é d i t o chega a se a p r o x i m a r
rência natural c o m potencial para do não-ético, c o m o f o i mostrado por
combater doenças. Pela primeira vez James D. Watson em The Double
desde que a substância f o i descober- Helix ( 1 9 6 8 ) , u m relato de c o m o
ta quase t r i n t a anos antes, os cientis- Watson e Francis Crick descobriram a
tas puderam obter quantidade sufi- estrutura da molécula de A D N . Por
ciente do p r o d u t o q u í m i c o para tes- o u t r o lado, ser o p r i m e i r o pode não
tar seus usos possíveis. Transplantes levar à aclamação universal. Quando
de células de tecido h u m a n o conten- os cientistas d o M I T realizaram uma
d o fragmentos de ácidos nucléicos Conferência de imprensa para anun-
produtores de h o r m ô n i o s promete- ciar a sua criação d o p r i m e i r o gene
ram remédios potenciais para algu- artificial, o u t r o s cientistas criticaram
mas doenças genéticas. Uma vez que os meios de comunicação por dar a
os cientistas reconheceram essas pos- este assunto tanta publicidade. Na vi-
sibilidades, os redatores puderam ex- são desses c r í t i c o s , o c r é d i t o deveria
plicar para o p ú b l i c o em geral o que ter sido dado àqueles que descobri-
parecia, inicialmente, u m belo t r u q u e ram as técnicas b i o q u í m i c a s que tor-
de l a b o r a t ó r i o , c o m significado ape- naram possível a construção dos ge-
nas para os cientistas. nes. Esse f o i o verdadeiro t r u q u e .
0 significado de alguma coisa para A singularidade, c o m o critério no-
a ciência, mais até d o que para os lei- ticioso, f r e q ü e n t e m e n t e traz uma ar-
tores, pode fazer c o m que uma maté- madilha em si sempre que se escreve
ria seja publicada. A descoberta de sobre ciência. A ciência c o m o méto-
u m novo f e n ô m e n o , tal c o m o u m d o apóia-se na capacidade de u m ex-
" b u r a c o n e g r o " , o u a confirmação de perimentador duplicar os resultados
algum evento o u f e n ô m e n o p r e d i t o de o u t r o . Não conseguir obter resul-
por uma das grandes teorias, tal co- tados semelhantes t e m c o m p r o m e t i -
m o ondas de gravidade, são exemplos do vários casos. À incapacidade de
disso. Estas acendem nossas imagina- o u t r o s pesquisadores em obter resul-
ções embora não afetem diretamente tados preditos pode indicar técnicas
nossas vidas, desde que o redator ci- de pesquisa falhas, uma experiência
e n t í f i c o reconheça a história o u con- mal realizada, o u meramente u m
vença o pesquisador a explicar. evento de ocorrência única — uma
aberração que não pode se esperar
P I O N E 1 R I S M O . Pioneirismo e singu- que ocorra o u seja observada geral-
laridade trazem em si a novidade, o mente. Tais coisas c o m o cobras de
f u r o noticioso que os cientistas às ve- duas cabeças ou mutações bizarras
zes amaldiçoam. Ser o p r i m e i r o em em plantas expostas a pesada radia-
uma descoberta o u teoria é o objeti- ção são estranhezas que os jornalistas
vo da pesquisa. Os primeiros são no- a d o r a m , mas elas cheiram a sensacio-

52
nalismo, no m u n d o da ciência. Não ança doente, aleijada o u excepcional.
se trata de testar a previsibilidade dos É uma técnica c o m u m e n t e usada por
resultados c o n t r a uma teoria confiá- organizações privadas o u em audiên-
vel. Alguns cientistas franzem a testa cias diante de comissões do Congres-
q u a n t o a dar publicidade a uma " p r i - so quando os orçamentos federais pa-
m e i r a " descoberta; eles preferem que ra pesquisa estão sendo discutidos.
uma duplicação por o u t r o cientista Descrever uma v í t i m a sofredora que
ocorra antes que as matérias sejam es- representa os milhares o u milhões de
critas. Mas para os jornalistas, isso pessoas que sofrem d o mesmo mal
iria entrar em c o n f l i t o c o m os crité- provoca uma resposta mais f o r t e que
rios d o senso de o p o r t u n i d a d e , uma as estatísticas. U m cientista, bastante
vez que alguns experimentos levam necessitado de f u n d o s para pesquisa,
anos e o u t r o s nunca são duplicados, propôs u m longo programa de televi-
ou a duplicação jamais é tentada. A são para levantar contribuições para
solução dos jornalistas é escrever a pesquisa básica.
matéria. Há, t a m b é m , as histórias sobre
animais. Os macacos enviados para
I N T E R E S S E H U M A N O . O interesse testar as primeiras naves espaciais
h u m a n o , o u t r o critério noticioso, é c o n s t i t u í r a m o que os redatores cha-
encontrado em matérias que apelam m a m de " b o a m a t é r i a " . Bebês de f o -
às emoções. Mas usar essa abordagem cas, águias, caracóis corredores, lo-
de sentimentos está potencialmente bos, cavalos selvagens e o u t r o s c o n -
em c o n f l i t o c o m as tentativas dos quistam a atenção dos meios de co-
cientistas de apresentar uma visão municação. A questão dos animais
objetiva e desapaixonada de seu tra- utilizados em pesquisas é particular-
balho. U m exemplo dessa abordagem mente sensível entre os p r o p o n e n t e s
implicaria em tentar extrair de u m ci- dos direitos dos animais. Sabe-se q u e
entista citações que refletissem o jú- eles a r r o m b a m laboratórios e liber-
b i l o , fadiga o u outros aspectos visce- t a m os animais. Cientistas que t r a b a -
rais da pesquisa. U m redator pode es- lham c o m cães, macacos e o u t r o s a n i -
colher contar uma história através mais t ê m desconfianças em relação a
da pessoa ao lidar c o m u m material matérias que podem refletir abusos
m u i t o abstrato. O interesse natural reais o u imaginários de animais.
das pessoas por outras leva alguns re- Relacionado à história de interesse
datores a abordarem todas as maté- humano está o perfil da personalida-
rias desse m o d o . de. As pessoas gostam de ler sobre
O interesse humano é freqüente- outras pessoas. Quando o t r a b a l h o d e
mente usado em esforços envidados u m cientista t e m significado e i m p a c -
para levantar d i n h e i r o . 0 pessoal de t o , ou p r o p o r c i o n a r e c o n h e c i m e n t o
relações públicas e os jornalistas ape- o u fama, tal c o m o o Prêmio N o b e l ,
lam para a compaixão do leitor quan- os redatores de ciência podem achar
d o usam, em suas histórias, uma cri- mais fácil centrar suas histórias na

53
f o r m a pela qual a pessoa trabalha em cesso e à metodologia leva à c r í t i c a
ciência. Os subterfúgios, hobbies, o u dos mais velhos q u a n t o a parecerem
o u t r o s interesses não-científicos que não acreditar na ciência. No f o l c l o r e
as pessoas t ê m p o d e m ajudar o reda- não-documentado da ciência há mui-
t o r a mostrar o cientista c o m o u m ser tas histórias de cientistas cujo avanço
h u m a n o afetuoso, minucioso, às ve- profissional f o i atrapalhado pela pu-
zes falfvel, buscador, freqüentemente blicidade sobre seu trabalho. N o
f a l í v e l , c o m o qual os leitores e es- m u n d o da medicina, a inveja profis-
pectadores podem se identificar. sional pode trazer a censura, acusa-
Uma audiência pode não entender a ções de publicidade anti-ética e mes-
ciência mas apreciará a pessoa. Ü Dr. m o a perda da licença.
Paul de K r u i f descobriu, por volta de No e n t a n t o , há histórias maravi-
50 anos atrás, c o m que eficiência as lhosas por trás da exploração d o lado
histórias sobre Pasteur e o u t r o s pio- h u m a n o da ciência. O Dr. Gustave
neiros podiam ser contadas através Ekstein, o grande neurocirurgião. e
do drama h u m a n o de suas vidas na professor da University of Cincinnati,
busca de verdades científicas. Suas era uma autoridade m u n d i a l em peri-
histórias f o r m a r a m uma das séries de quitos e deixava centenas desses pás-
maior sucesso jamais publicadas pelo saros voarem livremente por sua casa.
Reader's Digest. Outros fazem o impossível para es-
Com efeito, t e m mais no m u n d o conder todos os aspectos de suas vi-
da pesquisa c i e n t í f i c a d o que sua co- das além de sua atividade profissio-
ta de personalidades coloridas, fortes, nal. Os colegas provavelmente p o d e m
distintas, e mesmo egoístas. Entre- ajudá-lo a desenvolver tal informação
t a n t o , o m o d o pelo qual os cientistas pessoal.
apresentam sua pesquisa enfatiza a A sorte t e m sua parcela na ciência
metodologia estéril e m i n i m i z a os fa- de sucesso. C o m o W. B. Gratzer da
tores humanos envolvidos, incluindo Cell Biophysics U n i t d o Medicai Re-
erro, acidente e sorte. As reportagens search Council, da Inglaterra, apon-
científicas detalham pouca coisa da t o u : " A f i n a l , descobertas mais valio-
história da descoberta, quase nada a sas d o que alguém se atreveria men-
respeito dos passos mal dados que cionar t e m sido o resultado de obser-
distinguem caminhos sem saída da- vações acidentais de experiências mal
queles que levam a novas percepções. concebidas, conduzidas por incompe-
O estilo impessoal exigido d o relato t e n t e s " ( 1 9 8 4 , 17). Talvez mais cien-
c i e n t í f i c o normal é seco e aborreci- tistas seriam mais bem recebidos se
d o , c o n t r i b u i n d o para que se vejam fossem compreendidos c o m o tendo a
os cientistas c o m o frios e negligentes. rapidez de reconhecer a importância
E n t r e t a n t o , para u m cientista, parti- d o inesperado.
cularmente u m cientista jovem, fazer
revelação demais à imprensa o u pare- C I E N T I S T A S C É L E B R E S . Uma pa-
cer irreverente demais q u a n t o ao pro- rente do perfil de personalidade é a

54
entrevista de uma celebridade o u au- China recebem menos espaço noticio-
toridade. Poucos cientistas são tão re- so do que uma enchente local que
conhecidos pelo nome o u pelo rosto não mata ninguém. Isso t e m vários
q u a n t o os atores o u outras pessoas aspectos dos quais o redator de ciên-
que consideramos celebridades. Eins- cia deve estar consciente. Esses aspec-
tein talvez tivesse sido uma exceção. tos c o n t r i b u e m para t o r n a r as rela-
Por o u t r o lado, há u m grande núme- ções entre cientistas e jornalistas m u i -
ro de cientistas cujos escritórios e/ou t o sensíveis. Primeiro, a significação
realizações p r o j e t a m status e poder. da p r o x i m i d a d e pode superar a signi-
O secretário da Smithsonian Institu- ficação para a ciência. Os meios de
t i o n , o presidente da National Acade- comunicação em países vastos c o m o
m y of Sciences, os vencedores do No- os Estados Unidos e o Canadá são
bel o u o u t r o s prêmios importantes, m u i t o limitados pela distância. A rá-
os funcionários executivos da A m e r i - d i o F M e os sinais de tevê atingem
can Association f o r t h e A d v a n c e m e n t apenas uma distância limitada da ci-
of Science, A m e r i c a n Chemical So- dade, não i m p o r t a qual a capacidade
ciety, A m e r i c a n I n s t i t u t e o f Physics, que as estações instalam o u a que al-
National Institutes of Health e outros tura elevam suas torres para expandir
podem atrair a atenção dos veículos a sua linha do horizonte. A maioria
de massa c o m o "cientistas visíveis" a dos jornais pode distribuir c o m lucro
q u e m esses veículos pedem para falar cópias de cada edição apenas d e n t r o
em nome da comunidade c i e n t í f i c a . de uma área limitada. 0 l i m i t e é fre-
Seus nomes conferem mais respeita- qüentemente d e f i n i d o pelo local on-
bilidade e consideração a uma pesqui- de e n c o n t r a m o u t r o jornal f o r t e , faci-
sa. O q u í m i c o Linus Pauling, Prêmio lidade de transporte, t e r r e n o , e pa-
Nobel, por e x e m p l o , defendeu c o m drões comerciais. Geralmente esse
algum sucesso o uso de doses maciças m á x i m o se estende a algumas cente-
de vitamina C c o m o remédio, uma nas de q u i l ô m e t r o s , da cidade de pu-
postura vista ceticamente por m u i t o s blicação, quando m u i t o . Individual-
de seus colegas. Tais pessoas mere- mente, os veículos devem desenvol-
cem atenção por seus pontos de vis- ver leitores e ouvintes leais em núme-
ta e pela sua compreensão das repre- ro suficiente para p r o p o r c i o n a r u m
sentações do poder. mercado para os anunciantes locais,
caso c o n t r á r i o irão à bancarrota. Es-
P R O X I M I D A D E . A proximidade é tudos sobre esses leitores e ouvintes
o u t r o dos valores tradicionais da no- indicam que os veículos devem trazer
tícia. Q u a n t o mais perto os leitores e informações sobre eventos locais o u
espectadores estão d o local de u m regionais para manter o p ú b l i c o em
evento, mais provável que eles e os seus t e r r i t ó r i o s .
editores o considerem de interesse O desejo de atenção por parte das
noticioso. Assim, milhares de pessoas tevês de rede e cabo, do rádio, das re-
morrendo durante uma enchente na vistas nacionais e de alguns poucos

55
jornais nacionais, tais c o m o The Wall repórter c i e n t í f i c o . Exceto nos maio-
Street Journal e USA Today, obscu- res jornais o u aqueles de â m b i t o na-
rece muitas das implicações geradas cional, os repórteres científicos e de
pelo fato de que a maioria dos veícu- medicina podem lidar c o m aspectos
los é local. Uma conseqüência disso é não-científicos da cobertura noticio-
que u m cientista de uma universidade sa. Em Cincinnati, por e x e m p l o , o re-
local, ao expor u m trabalho numa pórter c i e n t í f i c o - m é d i c o pode cobrir
reunião na cidade ou fora dela, pode coletas de f u n d o s pela associação d o
receber cobertura noticiosa mesmo coração, Cruz Vermelha, e assim por
que o assunto e o interesse pelo au- diante. Isso não é necessariamente
m e n t o de c o n h e c i m e n t o c i e n t í f i c o uma desvantagem. Coloca os repórte-
sejam m í n i m o s . Provavelmente o es- res em c o n t a t o c o m as realidades da
c r i t ó r i o de relações públicas da uni- política científico-médica e com a
versidade irá informar à imprensa e â competição econômica entre as vá-
m í d i a eletrônica local sobre o evento, rias organizações de saúde e pesquisa.
talvez até mesmo proporcionar u m Uma o u t r a conseqüência da geografia
sumário do trabalho o u artigo de jor- da distribuição dos veículos é que
nal. T a n t o a universidade c o m o os q u a n t o menor a cidade, mais i m p o r -
veículos noticiosos t ê m interesse em tante o papel da p r o x i m i d a d e . Os veí-
manter cobertura das pessoas locais e culos das cidades pequenas terão me-
suas atividades. Esse interesse pode nos fontes de informação c i e n t í f i c a
superar o peso da importância c i e n t í - disponíveis ao repórter e menos reda-
fica da pesquisa. tores c i e n t í f i c o s c o m experiência, se
Segundo, a ocorrência de u m tiverem algum. Há as exceções, tal
evento especial pode testar e afiar as c o m o em Rochester, Minnesota, cida-
habilidades de u m redator. Quando de da afamada Clínica Mayo. Soman-
uma organização c i e n t í f i c a o u médi- do-se a isso, q u a n t o menor for a equi-
ca local, estadual o u nacional se reú- pe, mais trabalho se espera e menos
ne numa cidade, os veículos locais t e m p o resta para pesquisar e escrever.
irão relatar a reunião. Isto leva jorna- Os sobreviventes desse sistema de car-
listas das mais variadas origens, expe- reira geralmente mudam-se para uma
riências e habilidades ao c o n t a t o c o m cidade maior, para u m serviço n o t i -
cientistas especializados. Mesmo nas cioso ou uma revista onde mais recur-
cidades de 5 0 0 m i l habitantes o u sos — inclusive t e m p o — são disponí-
mais, u m repórter de assuntos gerais veis. Os repórteres desenvolvem suas
o u algum c o m uma especialização especializações, durante esse p e r í o d o
não-científica pode receber a tarefa em veículos de pequeno a médio por-
de redigir a matéria. Q u a n t o menor a te e a í c o m e t e m a maioria de seus en-
cidade, mais generalizadas as tarefas ganos. Dessa f o r m a os redatores de
dos repórteres. Algumas cidades mui- ciência e pessoal de relações públicas
t o grandes p o d e m ter u m repórter que os cientistas e n c o n t r a m no cená-
médico, mas não necessariamente u m rio nacional e internacional t ê m a

56
maior parte de seus erros atrás de si, ca. Uma m a t é r i a sobre astronomia se-
dispõem de mais t e m p o e apoio para rá equilibrada c o m uma matéria so-
pesquisa e têrrr mais contatos c i e n t í - bre m e d i c i n a mais provavelmente do
ficos. Q u a n t o maior o v e í c u l o , menos que c o m o u t r a história sobre uma das
o valor noticioso se prende à p r o x i - ciências físicas. As revistas de ciência
midade. popular desejam uma mistura de ma-
Uma terceira conseqüência da lo- térias sobre física, biologia e ciências
calização é que os jornalistas e o pes- sociais.
soal de relações públicas irão procu-
rar os cientistas locais para explicar o C O N F L I T O . C o n f l i t o , para o bem o u
trabalho de o u t r o s cientistas e co- para o m a l , é u m c o m p o n e n t e da se-
mentar assuntos envolvendo ciência e leção noticiosa. C o m freqüência o
tecnologia. A mesma pesquisa entre c o n f l i t o p o d e ser pessoal o u o c u l t o .
leitores que revela a administradores Pode envolver dois famosos cirur-
de jornais que estão negligenciando a giões cardíacos que não podem mais
população e os temas locais c o m o partilhar créditos o u instalações hos-
perigo de perder circulação, t a m b é m pitalares p o r q u e o seu c o n f l i t o pes-
lhes revela que os leitores desejam soal é intenso demais. O c o n f l i t o po-
ouvir as opiniões dos especialistas lo- de emergir a partir dos objetivos da
cais e explicações sobre eventos pesquisa e dos testes, c o m o ocorreu
maiores. Isto é o u t r a área da cobertu- entre médicos, engenheiros biomédi-
ra de notícias científicas que oferece cos e administradores de hospital du-
ao redator de ciência o u publicista rante o implante d o p r i m e i r o coração
iniciante uma o p o r t u n i d a d e para se artificial. As teorias p o d e m c o n f l i t a r .
desenvolver. Supervalorizada, a pro- O c o n f l i t o t a m b é m pode envolver o
ximidade se transforma n u m provin- redator c i e n t í f i c o e m assuntos mais
cianismo c ô m i c o . A maioria dos reda- amplos de ética e de normas públicas.
tores e editores procura o e q u i l í b r i o . O redator médico o u c i e n t í f i c o sensí-
vel irá registrar a disputa e suas cau-
V A R I E D A D E E E Q U I L f B R I O . A va- sas.
riedade e o e q u i l í b r i o são fatores f o r - A abordagem adversária para re-
tes que d e t e r m i n a m o c o n t e ú d o dos solver c o n f l i t o s é uma tradição nos
jornais, revistas e transmissões n o t i - Estados Unidos. O ganho, a perda o u
ciosas. Permeiam todos os veículos, o compromisso resultam da estraté-
incluindo jornais c i e n t í f i c o s , porque gia de se colocar u m o u mais pontos
cada u m deles está l i m i t a d o seja pelo de vista em combate mais o u menos
t e m p o , seja pelo espaço o u por am- aberto. Numa época mais simples da
bos. Os locutores programam uma se- ciência, cada realização de laborató-
leção da " m e l h o r " mistura de histó- rio era considerada progressiva, bené-
rias para uma audiência em determi- fica e recompensadora. Os cientistas,
nado dia. 0 material c i e n t í f i c o pode assim c o m o os redatores de ciência e
ser e m p u r r a d o para fora pela p o l í t i - o p ú b l i c o em geral concordavam c o m

57
esse p o n t o de vista, a julgar pela acei- e p o l í t i c o s . C o m freqüência, até mes-
tação não-crítica dispensada a anún- m o os números não c o n c o r d a m . Ou-
cios de descoberta c i e n t í f i c a antes da t r o fator nesse c o n f l i t o da incerteza
II Guerra Mundial e por muitos anos reside na natureza da ciência. Ela é
depois. M u i t o s redatores de ciência, estatística e casual. Os leitores de no-
suspeita-se, gostavam de suas carrei- tícias científicas estão p r o c u r a n d o
ras porque relatar esses avanços pare- respostas pessoais, individuais, que se
cia isento de controvérsia. U m f a t o a p l i q u e m a eles a partir dessa i n f o r -
estabelecido pelo m é t o d o c i e n t í f i c o mação. A informação c i e n t í f i c a pode
parecia mais f i x o , quase certo. suprir informação geral necessária pa-
O combate p o l í t i c o entre os cien- ra levar os i n d i v í d u o s a t o m a r e m de-
tistas que desenvolveram a bomba cisões mais prudentes.
atômica e outros p r o d u t o s de fissão e No que se refere à ciência propria-
fusão nucleares sacudiu u m pouco mente dita, os escritores de ciência
da complacência dos jornalistas e de estão m u i t o ocupados em relatar o
seu p ú b l i c o . 0 clima de intensa pes- que alguns chamam de efeitos c i e n t í -
quisa e desenvolvimento na II Guerra ficos para além da ciência, d o â m b i t o
Mundial p r o d u z i u a penicilina e o social e da tecnologia. Os assuntos
D D T , u m eficiente pesticida para as médicos não gravitam mais em t o r n o
zonas de combate tropicais, que aju- do saber se uma doença pode o u não
d o u a espalhar preocupações c o m o ser curada. 0 novo enfoque dado à
meio ambiente por causa de seu efei- questão — o de q u a n d o prolongar a
t o letal nas aves. Mais de vinte anos vida e a vida de q u e m deve ser pro-
depois que o relatório d o diretor na- longada — envolve uma série de con-
cional de saúde dos E U A condenou o siderações de o r d e m financeira, ética,
hábito de f u m a r cigarros, depois que profissional, social e p o l í t i c a . Os re-
a maioria dos médicos parou de f u - datores que escrevem sobre energia se
mar, a indústria d o tabaco pode en- deparam t a m b é m c o m problemas t ã o
contrar cientistas credenciados dis- difíceis q u a n t o estes, em suas repor-
postos a declarar que a relação entre tagens. Pede-se-lhes que dêem cober-
o f u m o e o câncer dos pulmões o u t u r a à discussão, entre batalhões de
doenças d o coração não estava esta- especialistas da área de ciência, sobre
belecida com firmeza suficiente. o melhor m o d o de converter maté-
Agora os redatores de ciência fa- rias-primas em energia ú t i l , e seus
lam sobre o jornalismo c o m o o jorna- custos. O uso agrícola de pesticidas e
lismo da incerteza. M u i t o dessa incer- herbicidas, os perigos dos h o r m ô n i o s
teza provém do f a t o de que cientistas usados nos animais que servem para a
de uma determinada área da ciência alimentação e os preservativos usados
podem concordar sobre os números nos alimentos são campos de batalha
mas não sobre o que esses números similares. O mesmo ocorre c o m o
significam para as pessoas em termos campo da nutrição humana e a n i m a l ,
de efeitos físicos, sociais, econômicos onde existe uma preocupação a res-

58
peito d o potencial das bactérias ani- leção de notícias e ênfase na seleção
mais para desenvolverem resistência a é complicada pela probabilidade de
a n t i b i ó t i c o s veterinários. Tal resistên- que os perigos para o meio ambiente
cia poderia levar a infecções humanas se revelem inicialmente d e i m o d o in-
que não p o d e m ser tratadas c o m su- significante, evoluam lentamente e le-
cesso porque as versões humanas dos vem u m longo t e m p o para reverter.
a n t i b i ó t i c o s t a m b é m se t o r n a r a m ine- As soluções podem oferecer muitas
ficientes. À disposição dos leitores há combinações de técnicas e custos. A
edições de livros de bolso, publicações falta e a falha de energia elétrica ofe-
sobre saúde e segurança e brigas p o l í - recem evidentes situações emergen-
ticas cujo resultado terá conseqüên- ciais. Os perigos oferecidos ao meio
cias potencialmente sérias. ambiente e à saúde pelas usinas de
energia nuclear não são temas a se-
Esses e o u t r o s temas geram inten-
rem discutidos apenas por especialis-
sas pressões emocionais. Às vezes eles
tas, mas são tão carregados de emo-
se t r a n s f o r m a m em c o n f l i t o f í s i c o ,
ção, que uma discussão calma é d i f í -
i m p o n d o aos redatores c i e n t í f i c o s
cil. A l é m disso, o desenvolvimento de
u m cuidado maior na cobertura noti-
informação segura pode levar anos.
ciosa. As pessoas em lados diferentes
da discussão de temas c o m o a cons-
trução de usinas e armas nucleares,
Alguns c r í t i c o s , t a n t o da ciência
a b o r t o e a salvação de baleias, inter-
q u a n t o da redação c i e n t í f i c a , gosta-
r o m p e r a m reuniões científicas e mé-
riam que os jornalistas, tradicional-
dicas c o m manifestações, algumas das
mente neutros na reportagem de con-
quais t e r m i n a r a m em c o n f l i t o s vio-
f l i t o s , assumissem o papel de selecio-
lentos. Esse t i p o de c o n f l i t o tenta os
nar qual lado desses c o n f l i t o s oferece
jornalistas a centrarem suas histórias
as evidências mais confiáveis (Good-
inteiramente sobre esse evento. Fre-
field, 1 9 8 1 ) . Se os veículos de comu-
qüentemente c o m a cooperação entu-
nicação de massa são meros agentes
siástica de seus editores. Para evitar
de poder na sociedade onde operam,
perder todas as outras notícias de
c o m o a f i r m a m alguns pesquisadores
uma reunião c i e n t í f i c a , o consenso
da área, isto é efetivamente tarefa ár-
entre responsáveis redatores c i e n t í f i -
dua para u m grupo que há apenas uns
cos t e m sido relegar tais diversões pa-
vinte anos considerava suficiente rela-
ra uma matéria separada, conhecida
tar o que era d i t o por u m cientista e
c o m o "sidebar". Outros escritores
traduzir o seu jargão em palavras fá-
pesam conscienciosamente a impor-
ceis de entender. Praticamente, os
tância de tal rixa para a reunião co-
jornalistas, c o m o observadores neu-
m o u m t o d o e concedem-lhe espaço
tros em situações de c o n f l i t o s , ten-
em suas matérias de acordo c o m isso.
t a m relatar imparcialmente todos os
Os redatores de meio ambiente en- aspectos do c o n f l i t o à medida que es-
caram c o m p l e x i d a d e similar. Sua se- tes se desenvolvem.

59
Outros valores importantes para a habilidades básicas de trabalho e al-
notícia científica gum m í n i m o de tempo livre para usar
como agradar a cada um. As ameaças
0 c o n f l i t o , a proximidade, o inte-
á gratificação dessas necessidades
resse humano, a personalidade e simi-
evocam respostas profundas e pode-
lares não são os únicos valores impor-
rosas.
tantes para a notícia, que acionam os
meios de comunicação de massa. O As leis de preservação do meio
psicólogo Abraham Maslow desenvol- ambiente podem dever seu nascimen-
veu a proposição de que as pessoas t o a tais respostas. A surpreendente
agem para preencher certas "necessi- velocidade com a qual as leis que ver-
dades e gratificações". A idéia de que sam sobre o meio ambiente passaram
parte desse preenchimento pode vir nos anos setenta refletiu f o r t e apoio
através da mídia impressa e eletrôni- público. As regulamentações f o r a m
ca orienta grande parte do processo aprovadas sem grandes debates públi-
de seleção de notícias científicas. Um cos, seja no Congresso, seja nos meios
jornal imprime uma abundância de de comunicação, um fato raro em se
histórias sobre órgãos sexuais femini- tratando de leis que implicam em
nos e seus distúrbios. A equipe dá a mudanças profundas numa socieda-
elas o nome de "histórias de ú t e r o " . de. A lei do fluorcarbono, que alguns
Os editores assumem que cada mu- poucos cientistas consideravam uma
lher tem um e se preocupa a respeito; ameaça á camada de ozônio que pro-
o interesse masculino é considerado tege a Terra de pesada radiação ultra-
automático. Essas histórias encaixam- violeta, passou rapidamente por pes-
se nas "necessidades" de Maslow co- quisas e estudos r u m o a sua decreta-
m o informação de sobrevivência. Os ção. Outra grande ameaça â saúde
leitores e a intensidade de leitura pre- emergiu em 1984 e provocou pressão
sumivelmente aumentam com a apli- pública nos funcionários estaduais da
cação dessas orientações psicológicas. área de saúde e na Environmental
Protection Agency. O pessoal dessa
área estava preocupado com as quan-
NECESSIDADES DE S O B R E V I V Ê N - tidades do pesticida cancerígeno
C I A . Um grande interesse de leitores ethylene dibromide (EDB) descober-
e espectadores volta-se para matérias t o nos lençóis de água. Quando vestí-
ou temas que lidam com aspectos gios do EDB apareceram nas misturas
fundamentais de sobrevivência, como de flocos de m i l h o e farinha, e nos
alimentação e moradia, transporte frutos cítricos, o uso do pesticida f o i
básico, saúde e segurança pessoal, se- proibido e outras medidas de contro-
xo e procriação, e algum nível de le f o r a m tomadas. Outras reações
afeição e contato social. Também igualmente fortes f o r a m provocadas
postulados como necessidades de so- pelo medo de se expor as pessoas ao
brevivência por Maslow são o empre- lixo atômico e à dioxina, u m subpro-
go do tempo de maneira significativa, d u t o q u í m i c o ligado ao câncer e aos

60
defeitos congênitos. A EPA c o m p r o u lha de carreira. O sexo e a sexualida-
uma cidade inteira de Missouri que de do mesmo m o d o , p o d e m ser exa-
estava contaminada pela d i o x i n a con- minados em termos de qualidade. A
tida no refugo de óleo que f o i borri- maneira c o m o as outras pessoas usam
fado ali para fazer baixar a poeira nas seu t e m p o e d i n h e i r o é de grande in-
ruas da cidade. teresse, talvez para guiar os leitores
Noticiar tais atividades pode fazer na melhoria de suas escolhas de habi-
c o m que " o s meios de c o m u n i c a ç ã o " tação, transporte, recreação e vestuá-
sejam acusados de estar assustando as rio.
pessoas desnecessariamente. Os médi- Nesse nível, onde está a maioria
cos d o Missouri, por e x e m p l o , conse- dos usuários dos meios de comunica-
guiram marcar uma convenção da ção, as pessoas t ê m a necessidade e a
A m e r i c a n Medicai Association, para o p o r t u n i d a d e de aumentar seu auto-
passar uma resolução censurando os c o n h e c i m e n t o para proporcionar u m
veículos de comunicação e o público auto-aperfeiçoamento. Assim, proje-
que reagirem exageradamente à tos de pesquisa, especialmente na
ameaça da d i o x i n a . A resolução f o i área das ciências sociais, podem ser
cancelada no dia seguinte pelos dele- de a m p l o interesse mesmo que os ci-
gados. entistas os considerem limitados
O campo da ciência conhecido co- quanto á sua aplicabilidade apenas
mo análise de risco surgiu de tais aos pequenos grupos envolvidos nos
ocorrências; elas fizeram c o m que os testes. Os repórteres, editores e leito-
cientistas sociais olhassem para tais res podem ter empatia pelas pessoas
questões c o m o se os riscos de sobre- envolvidas na experiência e extrair
vivência fossem mais aceitáveis se as dela u m significado que pode não ter
pessoas pudessem escolher seus pró- se mostrado de imediato. Os jornalis-
prios riscos, c o m o f u m a r o u dirigir; e tas podem sentir-se mais confortáveis
menos aceitáveis se u m risco é lança- lidando c o m as ciências sociais por-
do sobre elas por outras. Tais são os que tiveram cursos similares na escola
efeitos perturbadores que acompa- o u o material parece mais intimamen-
nham a reportagem dos temas de so- te relacionado â experiência humana
brevivência. d o que as ciências físicas.

NECESSIDADES CULTURAIS. O NECESSIDADES DE CONHECI-


" e s t i l o de v i d a " o u as necessidades M E N T O . A l é m dessas necessidades
culturais podem dominar os interes- emergem as "necessidades de conhe-
ses dos leitores, depois que as necessi- c i m e n t o " , a satisfação da curiosidade
dades de sobrevivência são satisfeitas. em t o r n o d o organismo h u m a n o . Es-
Os temas nessas áreas incluem c o m o sas necessidades podem estar ligadas,
fazer as melhores escolhas alimenta- no que se refere a ciência e tecnolo-
res e nutricionais, c o m o melhorar gia, a possibilidades de crescimento
condições de trabalho o u fazer esco- em áreas pessoais e econômicas o u a

61
desenvolvimento oferecendo novas sição do seu p ú b l i c o : demografia. De-
possibilidades de carreira. Podem ser f i n i r notícias científicas significa de-
encaradas c o m o e n t r e t e n i m e n t o ape- fini-las c o m o " n o t í c i a s para q u e m ? "
nas de m o d o marginal, embora o or- Exemplos de dois extremos são a
ganismo humano aprecie a variedade. ciência escrita para a revista i n f a n t i l
A receptividade â nova informação Highlights e a que é dirigida aos assi-
vinda da ciência, medicina e ciências nantes adultos de Science Digest. A
sociais aumenta, embora o conheci- pesquisa sobre o c o n t r o l e da natalida-
m e n t o contribua pouco ou nada para de terá u m significado diferente para
a vida diária, exceto pelo f a t o de se os leitores de Seventeen e os leitores
saber algo novo. Os leitores e especta- das publicações da A m e r i c a n Associa-
dores dos meios de comunicação de t i o n o f Retired Persons o u de certas
massa t a m b é m , a esse nível, podem revistas patrocinadas por igrejas. As
estar interessados em ver c o m o as revistas Science e Science 85 são fei-
pessoas m u i t o diferentes deles pró- tas pela mesma organização, mas o
prios trabalham e vivem. Isto prova- p ú b l i c o de cada uma t e m expectati-
velmente esta' r e f l e t i d o no sucesso vas diferentes a respeito d o c o n t e ú d o
das publicações sobre celebridades e da publicação. Mesmo d e n t r o de Sci-
no continuado interesse por figuras ence você encontrará diferentes graus
c o m o A l b e r t Einstein. Esse mesmo de simplificação da n o t í c i a ; os edito-
f a t o possivelmente responde pela dis- res de "Research N e w s " , por exem-
posição de m u i t o s leitores para acom- plo, podem achar necessário explicar
panhar assuntos m u i t o complexos u m relatório técnico especializado de
quando o redator conta a história m o d o que u m grupo mais a m p l o de
através da vida pessoal do pesquisa- cientistas compreenda sua importân-
dor. cia. As considerações a respeito dos
As matérias desenvolvidas para níveis de escolaridade, tipos de edu-
proporcionarem respostas âs necessi- cação, ocupação, renda, idade, dis-
dades de sobrevivência, cultura e co- t r i b u i ç ã o por sexo e quaisquer inte-
nhecimento tendem a ser chamadas resses especiais, bem c o m o outras
"matérias de serviço". Proporcionam características que identificam u m
u m serviço aos leitores que procuram determinado p ú b l i c o desempenham
orientação que os ajude nos afazeres papéis fundamentais na determinação
diários. O escritor de ciência pode ser das histórias que serão impressas o u
chamado para fornecer matérias de transmitidas.
serviços tais c o m o " d e que f o r m a en- A influência de considerações de-
contrar u m m é d i c o " o u "nove cami- mográficas estende-se aos jornais me-
nhos para uma vida saudável". t r o p o l i t a n o s . Se você é u m redator
o u editor de ciência poderá selecio-
D E M O G R A F I A . As revistas são espe- nar e escrever matérias baseado na fi-
cialmente sensíveis para julgar as no- losofia d o j o r n a l , se é que ele a man-
tícias, tendo c o m o objetivo a compo- t é m , de que toda história deveria in-

62
teressar a todos .eitores. Diferen- Na última parte do século X X — vol-
tes escolhas de matérias cabem, se o tando atrás até os primórdios da ciên-
material é dirigido a u m segmento se- cia — inúmeros exemplos de viola-
lecionado, i n f o r m a d o e talvez tecni- ções das normas de pesquisas c i e n t í f i -
camente treinado dos leitores. Crité- cas surgiram ao p o n t o de merecer
rios u m t a n t o diferentes irão orientar uma investigação do Congresso e uma
o julgamento se você for u m redator torrente de matérias.
de ciência e tecnologia designado pa- Depsr dendo de c o m quem você
ra a seção comercial da publicação. fala, esses exemplos são raros ou são
Os especialistas em notícias econômi- apenas pequena parte do que real-
cas encontram essa espécie de confli- mente ocorre nos laboratórios de pes-
t o , se deve se abordar u m tema co- quisa científica. Dois redatores de ci-
m o uma história de " c o n s u m i d o r " o u ência do New York Times, ambos
como uma dirigida à comunidade antigos membros da equipe de reda-
econômica. ção da revista Science, analisaram es-
sas ocorrências em Betrayers of the
Notícias de desordem social Truth (1983), que deveria ser leituia
O sociólogo Herbert J. Gans suplementar para qualquer f u t u r o re-
(1980) identifica o u t r o valor noticio- pórter c i e n t í f i c o . Broad e Wade afir-
so em Deciding What's News, um re- mam que os exemplos de violações
latório sobre o tempo que passou nos descobertos representam apenas a
escritórios da CBS, NBC, Times e ponto de u m iceberg de fraude, rou-
Newsweek. Esse valor pressupõe que bo, apadrinhamento, favoritismo e
certos padrões de c o m p o r t a m e n t o , falhas no autopoliciamento da co-
mitos ou crenças guiam uma comuni- munidade científica. Cientistas que
dade. Esses podem ser prorr ulgados prestaram declarações diante do Sub-
por seus líderes e tidos como paradig- committee on Investigations and
ma: ou modelos a serem seguidos, e Oversight o f the Committee o n
apregoados c o m o virtudes para aque- Science and Technology, United Sta-
les de fora da comunidade. Na comu- tes House o f Representatives, entre
nidade científica, esses padrões in- 31 de março e 1 de abril de 1981 (U.
cluem a honestidade no registro do S. Congress, 1-350), afirmaram que
resultado de observações r.ientíficas, os pesquisadores identificados com as
precisão dos dados, perfeição dos re- violações eram aqueles poucos indiví-
latórios, imparcialidade na revisão do duos que sofriam abalos diante de in-
trabalho de colegas, publicação julga- tensidade mental e física de seu tra-
da apenas por mérito, crédito por pri- balho.
meira descoberta e assim per diante. Tais histórias também caem no
Gans concluiu que as violações de d o m í n i o do redator de ciência. Ele
tais normas oferecem exemplos de provavelmente ouvirá a respeito delas
desordem social e moral, que os quando começa a cobrir matérias so-
meios noticiosos acham irresistíveis. bre o que os cientistas fazem como

63
membros da comunidade. Essas ocor- ca, o u t r o s cientistas o u funcionários
rências assumem, para o público em de regulamentação em agências tais
geral, significado mais a m p l o onde c o m o a F o o d and Drug Administra-
consideráveis somas de d i n h e i r o pú- t i o n são mais passíveis que os jorna-
blico m a n t ê m a pesquisa, onde a pes- listas de ver os sinais de dados incon-
quisa precisa ser publicamente repu- sistentes o u consistentes demais. Os
diada por causa de seus erros, e onde jornalistas provavelmente ouvirão so-
o perigo para a saúde e segurança pú- bre situações questionáveis pela pri-
blica estão envolvidos. Freqüente- meira vez através de comunicados
mente as drogas que necessitam de oficiais de funcionários governamen-
prescrição médica ( c o m u m e n t e deno- tais o u institucionais a não ser que te-
minadas drogas " é t i c a s " ) devem ser nham fontes m u i t o boas nas rodas de
removidas d o mercado porque dados mexericos da ciência.
enganosos o u incompletos o c u l t a m
mortes, defeitos de nascimento e
efeitos colaterais menos severos. N o Ambigüidade nas notícias
caso de Sir C y r i l B u r t , da Grã-Breta- científicas
nha, u m pioneiro no desenvolvimen- Nesses meios de comunicação os
t o de normas públicas a partir de ex- valores noticiosos constituem fontes
tensões de seus estudos sociais, sua de m u i t a ambigüidade e c o n f l i t o en-
pesquisa conquistou-lhe u m lugar no t r e redatores de ciência e seus infor-
sistema de educação b r i t â n i c o de mo- mantes. As tensões que existem po-
d o que a p o l í t i c a escolar do governo, dem ser exageradas, mas os cientistas
c o m base na citada pesquisa, afetou acumularam algumas queixas sérias
as crianças durante décadas. Após a contra a ciência, c o m o é apresentada
m o r t e de B u r t em 1971, o reexame nos veículos de comunicação de mas-
de seus dados e trabalhos científicos sa. T a n t o os cientistas c o m o os escri-
levaram outros pesquisadores a ques- tores de ciências concordam que as
t i o n a r a validade de ambos ( K a m i n , piores distorções d o material c i e n t í f i -
1974). co aparecem nos t í t u l o s colocados
E m termos de valores noticiosos em matérias de jornais diários. Vir-
tradicionais, o redator de ciência no t u a l m e n t e cada redator de ciência po-
j o r n a l i s m o americano f u n c i o n a c o m o de se lembrar de ao menos u m exem-
o vigia da comunidade c i e n t í f i c a de plo no qual u m t í t u l o era enganoso,
pesquisa. Quão bem os jornalistas po- quando não errôneo. Em parte isso
dem fazê-lo certamente está em aber- resulta d o sistema de edição d o jor-
t o para debates. Em matéria de polí- nal, no qual a necessidade que p edi-
tica e negócios públicos, a polícia, os t o r da matéria t e m de causar impacto
promotores e similares descobrem leva-o além do que há na própria ma-
mais exemplos de condutas ilegais d o téria. Os redatores de t í t u l o s usam
que os jornalistas. Dada a natureza padrões de medidas diferentes dos
técnica da pesquisa c i e n t í f i c a e médi- usados pelos cientistas e redatores de

64
ciência, que colocam a maior i m p o r - E n t r e t a n t o , isto se choca c o m a de-
tância na precisão e no significado da manda de cobertura noticiosa compe-
informação. Os editores colocam a titiva diariamente por parte da im-
cor e a excitação c o m o padrões pri- prensa e dos repórteres de rádio e
mários para classificar a matéria cien- T V , bem c o m o c o m as expectativas
t í f i c a (Johnson, 1963). dos administradores de departamen-
Uma parte do c o n f l i t o ocorre por- tos editoriais, que esperam matérias
que os redatores de ciência não con- diárias. Uma resposta às queixas dos
seguem mostrar os pontos principais c r í t i c o s t e m sido u m sistema de con-
de sua matéria de f o r m a clara, direta senso operado pelos membros de u m
o suficiente para o seu p r i m e i r o lei- " c í r c u l o i n t e r n o " de repórteres cien-
t o r , o e d i t o r . Alguns cientistas suge- t í f i c o s dos mais importantes meios
rem que o redator de ciência t a m b é m noticiosos. A o se consultarem entre
escreva o t í t u l o , mas tal prática iria si, e c o m os cientistas que os aten-
entrar em c o n f l i t o c o m muitas opera- dem, nas salas de imprensa, em even-
ções internas dos jornais. M u i t o s jor- tos c o m o reuniões científicas, che-
nais pedem aos redatores de ciência gam a u m consenso geral sobre as me-
para aconselharem os editores na se- lhores matérias d o dia. Tornam-se
leção de matérias locais e telegráficas. mais colaboradores que competidores
Pode ser possível ao redator sugerir em suas tentativas de esclarecer pon-
palavras o u termos para os t í t u l o s tos sutis e assegurar a precisão da in-
que se encaixem nas matérias. Poucos formação. Isso lhes permite se con-
redatores experimentaram colocar t í - centrar na precisão enquanto os alivia
tulos " t e s t e " em suas histórias antes das queixas dos seus editores sobre
de enviá-las ao copidesque. deixarem de cobrir uma história que
C o n f l i t o maior existe em t o r n o da pode lhes parecer melhor porque a
questão de se dar ou não cobertura à concorrência a possui ( D u n w o o d y ,
ciência sob a f o r m a de " n o t í c i a " . Os 1978). Este c í r c u l o interno de reda-
cientistas argumentam que os prazos tores fornece m u i t o d o que o público
e limitações de espaço trabalham lê c o m o notícias de ciência, porque
contra a precisão e a adequação da inclui membros da equipe de grandes
n o t í c i a c i e n t í f i c a . A o invés de c o b r i r publicações c o m o Los Angeles Ti-
as notícias científicas c o m o "even- mes, The Wall Street Journal, The
t o " , alguns cientistas e jornalistas Boston Globe, New York Daily
iriam relatar os desenvolvimentos ci- News, Newsweek, Chicago Tribune,
e n t í f i c o s c o m o " p r o c e s s o " , usando The Washington Post, San Francisco
matérias mais longas, mais minuciosa- Chronicle, Philadelphia Inquirer, e
mente pesquisadas o u o f o r m a t o em The New York Times. Outros mem-
série para mostrar c o m o os desenvol- bros representam a Associated Press,
vimentos c i e n t í f i c o s se constroem United Press International, Scripps-
gradualmente a partir de uma série de H o w a r d Newspapers e Hearst News-
descobertas de vários pesquisadores. papers — Baltimore American. Assim,

65
m u i t o da reportagem c i e n t í f i c a fre- Parte da c r í t i c a dos cientistas diri-
qüentemente representa u m consenso gida à redação e apresentação de
editorial. ciência popularizada pode ser u m a
A q u i reside u m paradoxo c o m o questão de postura. O f a t o de u m ci-
qual todos os redatores de ciência entista o u grupo de cientistas come-
precisam conviver. Estes p r o d u z e m a çarem a elogiar os jornalistas aberta-
maior parte das notícias de ciência mente, significaria questionar u m a
popularizada impressas nos jornais tradição de quase cem anos de c u l t u -
dos E U A , mas os cientistas que criti- ra c i e n t í f i c a . Os cientistas estão longe
cam os redatores de ciência c o m o de afastar-se dos meios de comunica-
grupo os recompensam c o m freqüên- ção. D u n w o o d y pesquisou u m g r u p o
cia c o m o indivíduos, concedendo- de cientistas e descobriu que 75% de-
Ihes prêmios pela excelência da sua les acolheriam bem uma nova entre-
redação c i e n t í f i c a . C o m o em m u i t o s vista c o m u m jornalista. 15% dos
paradoxos da ciência, as causas disso cientistas haviam iniciado o p r i m e i r o
aguardam maior pesquisa. c o n t a t o c o m a imprensa, e 3 0 % o u
A o examinar o enigma, a professo- mais haviam escrito ao menos u m a
ra Sharon D u n w o o d y , que ensina re- matéria para a imprensa p o p u l a r .
dação c i e n t í f i c a na University of Wis- Apesar de os cientistas t e r e m d i t o que
consin, descobriu que esses redatores a pior cobertura de ciência é f e i t a pe-
c i e n t í f i c o s o b t ê m grande parte de seu los repórteres de rádio e televisão,
material em conferências de impren- mostravam-se m u i t o interessados e m
sa. C o m o as conferências de impren- aparecer na televisão ( D u n w o o d y e
sa são arranjadas por cientistas e as- S c o t t , 1982). Assim, o redator de ci-
sociações científicas, cujos membros ência deve manter em mente que a
são qualificados para julgar a signifi- aparente relutância em ser entrevis-
cação o u obter orientação, c o n c l u i u tado pode ser o u não genuína. Os re-
que os cientistas parecem exercer datores de ciência p o d e m ter de
uma grande dose de influência sobre agüentar a mesma sorte de embaraços
o que os meios de comunicação im- impostos a jornalistas de outras espe-
primem e transmitem. Por o u t r o la- cialidades até que provem às suas
d o , m u i t o s redatores de ciência disse- fontes que são precisos, bem i n f o r -
ram que as observações de D u n w o o - mados e habilidosos. Os redatores
d y não procedem, já que são os reda- precisam saber distinguir entre u m a
tores c i e n t í f i c o s que requerem confe- f o n t e determinada a evitar uma en-
rências de imprensa sobre tópicos es- trevista e o u t r a que pode ser induzida
pecíficos em reuniões científicas. a fazê-la. Portanto os redatores de-
Uma vez que os prêmios de jornalis- vem trabalhar no aperfeiçoamento de
m o são freqüentemente instituídos suas habilidades no campo das rela-
para encorajar o aperfeiçoamento, os ções humanas.
patrocinadores podem estar premian- U m teste dessas habilidades pode
d o o que pode se salvar d o lixo. acontecer quando u m redator se de-

66
parar com alguns dos preconceitos cientes para vencer o preconceito. Às
subjacentes nas visões que os cientis- vezes a relutância do cientista em fa-
tas têm da imprensa. Como f o i obser- lar pode não ser superada para uma
vado por D u n w o o d y e S c o t t , essa entrevista. Se a situação é d i f í c i l de-
percepção inclui a idéia de que os jor- mais, descubra outra f o n t e . C o m o se-
nalistas são de status inferior ao dos rá mostrado no p r ó x i m o c a p í t u l o , ra-
cientistas. Essa imagem pode ser ramente você fica sem caminhos al-
compensada pelo poder o u prestígio ternativos para a informação cientí-
que algumas publicações conferem a fica.
seus redatores ou a força da reputa- U m assunto que a maioria dos ci-
ção pessoal do jornalista. 0 veículo entistas, particularmente aqueles de
para o qual o redator trabalha tam- universidades estaduais politicamen-
bém pode fazer diferença. Se você re- te sensíveis, têm relutância em tocar
presenta uma revista, o cientista pro- é o debate sobre a origem da vida: o
vavelmente será mais condescenden- criacionismo contra o evolucionismo,
te. Os cientistas preferem a impren- a Bíblia versus Darwin. Por o u t r o la-
sa ao rádio e â T V para transmitir do, há cientistas que gostam de rus-
uma mensagem pública e têm as re- gas com os criacionistas. Muitos cien-
vistas em melhor cotação que os jor- tistas são religiosos e seguem duas
nais. Talvez isso reflita seu reconheci- grandes fés. Uma é a existência de
mento de que mais cuidados de pes- u m Deus. A o u t r a , a fé na ciência,
quisa e redação entram em artigos de que lhes diz que há ordem no univer-
revistas, d i m i n u i n d o assim as possibi- so, que os humanos podem discernir
lidades de erro. Essa preferência pode essa o r d e m , e que é bom para eles fa-
simplesmente significar que as revis- zê-lo. Outros seguem apenas sua fé na
tas se parecem m u i t o com periódicos ciência.
científicos familiares aos cientistas.
Os jornais, por o u t r o lado, são ele-
Risco Tecnológico
mentos estranhos em alguns aspectos.
Primeiro há aqueles problemas com Os cientistas, assim c o m o os reda-
os t í t u l o s . Depois há a companhia tores de ciência, estão divididos
que matérias científicas nos jornais quanto a relatar os riscos existentes
representam diariamente c o m o : assas- no ambiente de alta tecnologia de
sinatos, batalhas políticas, crimes, te- nosso c o m p l e x o mundo. Já que a ex-
diosos conselhos de dieta, "caixas perimentação com humanos não é
pretas" que transformam água em ga- aconselhável, os riscos devem ser esti-
solina e horóscopos. Nas publicações mados estatisticamente e através de
sensacionalistas essa mistura também experimentação com não-humanos.
inclui receitas de curas milagrosas e A l é m dessa generalização, usar dados
visitações de seres extraterrestres. resultantes de experiências com ani-
As habilidades no campo das rela- mais para estimar o risco da canceri-
ções humanas podem não ser sufi- genidade o u outra condição patológi-

67
ca gera problemas. U m problema é a nem todas ficam c o m câncer; a ances-
aceitação de resultados em animais tralidade humana — e possivelmente
c o m o válidos para humanos. Diferen- a resposta — é diferente.
tes animais testados produzem resul- C o m o esse painel f o i convocado
tados diferentes. U m o u t r o proble- por solicitação do American Indus-
ma reside em colocar em perspectiva t r i a l Health Council, c o m o apoio de
a interpretação de dados feita por u m indústrias químicas interessadas no
cientista — a descoberta é conserva- resultado das suas deliberações, nem
dora ou liberal? O u t r o problema c o m todos os pesquisadores concordam
números de " r i s c o " é que diferentes c o m suas restrições q u a n t o à utilida-
tipos de testes c o m freqüência pro- de de se predizer causa e efeito para
p o r c i o n a m números diferentes. A l - indivíduos em grandes populações
guns desses problemas de estimar a humanas. Estatisticamente, poucas
validade de testes feitos em animais pessoas estão contaminadas em rela-
f o r a m salientados n u m relatório d o ção à população t o t a l , mas membros
Interdisciplinary Panei o n Chemical individuais do p ú b l i c o dos meios de
Carcinogenicity ( 1 9 8 4 ) . A extrapola- comunicação t ê m dificuldade em ava-
ção de resultados de experiências fei- liar o significado de tais riscos.
tas em animais para predizer a inci-
A reportagem sobre riscos numa
dência humana deve considerar os
escala diferente c o n f r o n t o u jornalis-
q u a t r o fatores:
tas de todos os tipos, incluindo espe-
1. Onde a resposta (câncer) ocorre cialistas em ciências, a 3 de dezembro
em taxas de 10% a 100%, os assim de 1984. O vazamento de u m gás
chamados modelos matemáticos do- q u í m i c o venenoso da fábrica de pes-
se-resposta p r o p o r c i o n a m resultados ticida da U n i o n Carbide C o r p o r a t i o n ,
similares. em Bhopal, índia, resultou nas esti-
2. Onde as taxas de respostas são mativas de 2 . 0 0 0 m o r t o s e possivel-
mais baixas, e talvez não observáveis, mente 2 0 0 . 0 0 0 feridos. Esse f o i u m
os vários modelos matemáticos de in- dos mais sérios acidentes industriais
cidência humana predita dão resulta- registrados e representa u m risco de
dos m u i t o variáveis. ocorrência pouco provável — mas
3. As reações a doses pequenas d o c o m uma alta probabilidade de m o r t e
cancerígeno potencial t a m b é m va- o u f e r i m e n t o a qualquer pessoa en-
riam; isso m a n t é m viva a teoria de volvida. Uma das conseqüências d o
que u m " l i m i t e " tolerável para a re- acidente de Bhopal f o i uma exigência
posição existe; nem todos os pesqui- pública de que as empresas divul-
sadores aceitam o conceito de limite. guem o t i p o e natureza de todos os
4. Linhas de animais experimen- p r o d u t o s q u í m i c o s utilizados em suas
tais e culturas de células usadas nos dependências. A tarefa de relatar o
testes t ê m ancestralidade e ambien- risco que tais p r o d u t o s q u í m i c o s re-
tes quase homogêneos, embora sua presentam, para uma questão tão po-
resposta à exposição t ó x i c a varie — lêmica, emocional e ligada â sobrevi-

68
vência, caberá aos redatores de ciên- 3. Marque um encontro com um cientista
cia. ou peça a seu instrutor para arranjar a visi-
ta de um cientista á classe para discutir sua
visão de como os meios de comunicação
de massa julgam a importância da notícia.
O cientista pode dar o nome de alguns re-
datores que fazem um bom trabalho?
Experiências
4. Examine os jornais de uma semana.
1. Procure nos jornais de uma semana ou Com uma régua, meça o conprimento de
em várias revistas, matérias que contenham cada matéria e t í t u l o contendo informa-
informação científica ou médica. A partir ções científicas, médicas ou sobre ciên-
do tema do redator ou sua abordagem do cias sociais. Que categoria obtém maior es-
assunto, você pode classificá-las como his- paço?
tórias sobre eventos ou processos?
5. Convide um agente de publicidade da
2. Você pode caracterizar essas histórias a universidade ou da equipe da sociedade
partir dos valores noticiosos tradicionais médica local, ou o presidente da comissão
como sendo usados por razões de proxi- de relações públicas da sociedade médica
midade, personalidade, impacto, ou outros para visitar sua classe. Discuta o critério
valores tradicionais? Você viu valores de que ele ou ela adota para decidir que ma-
sobrevivência, culturais e de conhecimento térias deverão ser recomendadas para os
funcionando? veículos de comunicação locais.

69
Capítulo 4
Como reunir notícias de ciência

DUAS HISTÓRIAS ILUSTRAM ASPEC- c i e n t í f i c a s . A ciência emerge c o m o


TOS-CHAVE da coleta de n o t i c i a s de n o t í c i a mais f r e q ü e n t e m e n t e e m c o n -
ciência, engenharia, m e d i c i n a e tec- venções de cientistas, m é d i c o s e enge-
nologia. Os repórteres p e r g u n t a r a m nheiros, o u c o m a d i s t r i b u i ç ã o de
uma vez a u m f a m o s o c r i m i n o s o p o r seus p e r i ó d i c o s profissionais. Sema-
que roubava bancos. " P o r q u e é ali nas, meses e m e s m o anos p o d e m es-
que o d i n h e i r o e s t á " , r e p l i c o u ele, es- coar-se e n t r e u m a descoberta c i e n t í -
p a n t a d o de que alguém o perguntas- f i c a o u m é d i c a e seu a p a r e c i m e n t o na
se. Fazer u m a carreira na redação ci- literatura científica. O jornalista c o m
e n t í f i c a significa localizar os c o f r e s boas f o n t e s no seio da c o m u n i d a d e
do c o n h e c i m e n t o c i e n t í f i c o , penetrá- c i e n t í f i c a p o d e ficar sabendo de u m
los até o n d e se e n c o n t r a o interesse evento e não p o d e r escrever a respei-
p ú b l i c o e e n f r e n t a r u m a série de me- t o p o r q u e o t r a b a l h o não f o i r e v i s t o ,
didas de p r o t e ç ã o . consagrado e p u b l i c a d o . S u p e r a r tais
A o u t r a história pode ser a p ó c r i f a , obstáculos para u m a matéria c i e n t í f i -
mas sabe-se que u m cientista resmun- ca fresca é p a r t e d o j o g o .
gou ao f a l e c i d o W i l l i a m L. Laurence,
redator de ciência d o New York Ti-
A t í p i c a matéria científica
mes e v e n c e d o r d o Prêmio P u l i t z e r :
" V o c ê s redatores de ciência v i v e m A t í p i c a matéria científica é um
das migalhas de nossa m e s a " . Disse artigo sobre " c o m o fazer", conheci-
Laurence: " I n f e l i z m e n t e , s e n h o r , é d o por q u a l q u e r u m que fez c u r s o de
u m a vida d i f í c i l p o r q u e as migalhas redação de matérias o u leu q u a l q u e r
f r e q ü e n t e m e n t e estão v e l h a s " . dos n u m e r o s o s livros o u artigos sobre
Laurence refletia a i m p a c i ê n c i a de redação e x p o s i t i v a . A tarefa d o escri-
m u i t o s jornalistas de ciência c o m al- tor é compreender o " c o m o " o u o
guns dos costumes tribais dos cientis- " p o r q u ê " de a l g u m processo c i e n t í f i -
tas. C o m a exceção das primeiras i m - co o u m é d i c o e sua significação, e
plantações de corações mecânicos e m t r a n s m i t i r isso ao l e i t o r o u especta-
seres h u m a n o s , vôos espaciais ameri- dor c o m a m á x i m a precisão possí-
canos p i l o t a d o s , a queda da b o m b a vel. M e s m o se a f o r m a de sua reda-
a t ô m i c a e certos desastres naturais, ção é a h i s t ó r i a - n o t i c i o s a - p a d r ã o - 5 -
os redatores de ciência r a r a m e n t e W, grande parte de sua pesquisa se-
p a r t i c i p a m da c o n s t r u ç ã o de n o t í c i a s rá voltada para o b t e r u m a c o m p r e -

71
ensão d o processo da ciência, seus relato preciso e honesto dessa realida-
procedimentos passo a passo, e a fre- de. O cientista e o redator c i e n t í f i c o
qüentemente sutil lógica d o raciocí- casam o senso de o p o r t u n i d a d e na re-
n i o c i e n t í f i c o . Pontos-chave da lógi- portagem, embora suas escalas de
ca, processo e procedimentos irão t e m p o sejam bastante diferentes.
completar o histórico que o seu pú- Algumas de suas diferenças vêm
blico irá precisar para compreender do a t r i t o entre duas fés. Grandes no-
seja notícias, seja matérias mais lon- tícias no campo da ciência podem es-
gas. capar aos jornalistas se estes não con-
Assegurar a cooperação e as infor- seguem compreendê-las, não podem
mações necessárias fica mais fácil ver a sua relação c o m seus leitores e
quando os jornalistas mostram aos ci- espectadores, não podem convencer
entistas que estão trabalhando na di- u m editor de sua importância o u não
reção de alguns objetivos comuns a podem colocar suas complexidades
ambos. O sucesso de experimentados em palavras que pensam irão interes-
redatores científicos em lidar com sar leitores, espectadores e editores.
cientistas provém, em parte, da con- A ausência de figuras o u de outros t i -
fiança m ú t u a estabelecida através dos pos de imagens pode d i f i c u l t a r o tra-
anos com base na integridade e boas balho de u m repórter c i e n t í f i c o de
intenções de ambas as partes. televisão. A fé dos jornalistas na ne-
cessidade desses elementos é tão f o r -
te q u a n t o a dos cientistas no m é t o d o
Perseguidores de Realidade c i e n t í f i c o . A fé de ambas as discipli-
C o m o muitas pessoas a p o n t a m , os nas suportou testes severos.
jornalistas e os cientistas t ê m vários A fé na necessidade de se ter senso
pontos de concordância básicos. A m - de o p o r t u n i d a d e freqüentemente ge-
bos procuram conhecer a realidade e, ra c o n f l i t o , especialmente quando as
possivelmente, a verdade. Os jorna- preocupações médicas e de segurança
listas geralmente lidam c o m informa- c o n s t i t u e m u m fator em jogo. Os jor-
ção específica e o p o r t u n a sobre even- nalistas vivem do imediatismo dos
tos que julgam importantes e interes- eventos. Os cientistas t e m e m a pre-
santes. Os cientistas usam esses deta- maturidade na revelação de seu co-
lhes para construir generalidades so- nhecimento até que seus dados, pro-
bre o m u n d o natural, previsibilidade, cedimentos e conclusões tenham sido
e mesmo universalidade. O cientista estudados por seus colegas e publica-
e o jornalista p a r t i l h a m u m interesse dos de u m m o d o por eles aprovado.
pela objetividade (Tankard, 1976, 4 2 ; C o m o humanistas práticos, os jorna-
Mehlberg, 1958, 14). T a n t o o cientis- listas se sentem desconfortáveis quan-
ta q u a n t o o escritor de ciência acredi- do uma descoberta potencialmente
t a m no conhecimento aberto e públi- salvadora de vidas pode levar u m ano
co dessa realidade. Ciência secreta o u rrais para entrar em ampla circula-
não é ciência. A m b o s acreditam no ção por causa do processo de publica-

72
ção científica. Os pesquisadores mé- ta-se ou não. Uma pessoa é de fé ou é
dicos, por o u t r o lado, sabem que um estranho, um i n f i e l " (1983, 287).
muitas terapias promissoras não vão a Como em qualquer fé, há mem-
parte alguma o u azedam mesmo de- bros que, em terminologia religiosa,
pois da sua aceitação pelos médicos. "desertaram" em diferentes níveis.
Os cientistas e escritores de ciên- Talvez todos o tenham feito, se você
cia freqüentemente discordam, tam- insistir no ideal num m u n d o não tão
bém, sobre graus de precisão e meti- ideal. O cientista e o escritor de ciên-
culosidade na reportagem. A realida- cia freqüentemente se apóiam nas fa-
de para o redator c i e n t í f i c o inclui o lhas u m do outro e às vezes estas são
arredondamento ou a supressão de al- notícia. Esse c a p í t u l o visa aumentar
guns números porque os leitores dei- seu conhecimento sobre as concor-
xam de ler se o seu jornal o u progra- dâncias entre o redator de ciência e o
ma de televisão se parece demais com cientista na seleção de notícias so-
um exercício de matemática em sa- bre o que os cientistas estão fazendo.
la de aula. A tradução de termos téc- Mas c o m o Altschull observa: " A difi-
nicos em analogias o u ilustrações culdade em se acomodar artigos de
ameaça basicamente o amor que os naturezas opostas sobre nunca deve-
cientistas têm pela precisão. E para ria ser m i n i m i z a d a . " A sua escolha de
os cientistas pesquisadores, o conhe- notícias científicas não irá sempre sa-
cimento é uma coisa m u i t o pessoal. tisfazer todos os cientistas o tempo
A ampla disseminação, mesmo com todo.
pleno crédito, diminui — ainda que
pouca — a satisfação do saber mais
do que qualquer outra pessoa sobre Onde encontrar notícias científicas
um aspecto do m u n d o que nos cerca.
Como f o i discutido no c a p í t u l o Como o assaltante de banco, os re-
anterior, os praticantes de jornalismo datores científicos vão às fontes — às
têm fé num conjunto de valores noti- pessoas, às reuniões e às publicações
ciosos m u i t o diferente daquele no — para reunir notícias científicas. Es-
qual confia a maioria dos cientistas. colher entre as matérias possíveis po-
A fé dos jornalistas é reforçada por de parecer irresistível, imobilizando
seus colegas, exatamente c o m o o é a alguns redatores. Essa m u l t i d ã o de
fé dos cientistas. Sobre essa fé J. Her- fontes possíveis inclui qualquer u m
bert Altschull, antigo professor de dos 3 milhões de cientistas, qualquer
jornalismo na Indiana University, uma das milhares de publicações ci-
previne: "Os artigos de fé são, por de- entíficas impressas pelo m u n d o , ou
finição, irracionais, isto é, não se che- qualquer artigo no interior dessas pu-
ga a eles pela razão. São freqüente- blicações.
mente mantidos com a paixão de ver- No rio de publicações a dificulda-
dadeiros crentes. U m artigo de fé não de em escolher a melhor matéria
está sujeito â análise crítica. Acredi- científica dessa torrente amazônica é

73
aumentada porque m u i t o mais de cia c o m que u m relatório o u u m cien-
metade desses artigos pouco impres- tista é citado na pesquisa de o u t r o s .
siona a comunidade c i e n t í f i c a . Com Embora muitas pesquisas de se-
e f e i t o , a quantidade de periódicos ci- gunda clasSe encham as publicações
e n t í f i c o s constitui em si uma espécie menos conhecidas, os periódicos es-
de obstáculo; alguns t ê m fama de te- pecializados são o lugar para come-
rem começado c o m o veículos onde çar. Percorrer o índice de uma publi-
pesquisadores c i e n t í f i c o s e médicos cação pode alertá-lo para u m artigo
publicavam trabalhos rejeitados por potencialmente valioso c o m o n o t í c i a .
o u t r o s meios mais prestigiados. Os ci- A o invés de ler t o d o u m artigo de u m
entistas t e n t a m publicar no periódico desses periódicos que pareça interes-
o u periódicos mais lidos por seus cole- sante, m u i t o s redatores vão p r i m e i r o
gas. C o m u m e n t e essa é a publicação de à seção de " c o n c l u s ã o " o u " s u m á r i o "
sua sociedade o u especialidade cien- d o artigo para começar a julgar se o
t í f i c a . Descobrir quais as publicações t e m a o u os resultados podem ou não
importantes para u m campo da ciên- interessar ao público não especializa-
cia é u m primeiro passo para se loca- do. O estilo c o m u m para escrever o
lizar artigos importantes. Os editores trabalho c i e n t í f i c o é o o p o s t o do ar-
de uma das principais publicações tigo popular. Os cientistas geralmen-
médicas, o New England Journal of te colocam os problemas de pesqui-
Medicine, descobriram que mais de sas, teorias e métodos de pesquisa no
80% dos trabalhos que rejeitavam i n í c i o do artigo. Então apresentam os
apareciam subseqüentemente em ou- dados e f i n a l m e n t e dão sua conclu-
t r o lugar. Portanto, a pesquisa signifi- são. É m u i t o lógico para o propósito
cativa não é necessariamente encon- do cientista, mas não para o jornalis-
trada apenas nos periódicos mais co- ta. Às vezes os resumos c o n s t i t u e m
nhecidos. u m rápido indicador da importância
Parte do significado da c o n t r i b u i - o u interesse d o assunto para a n o t í -
ção de u m cientista à compreensão é cia, mas c o m muita freqüência, ofere-
medida pela freqüência c o m que ou- cem apenas u m relato seco o u quase
tros cientistas usam aquele trabalho etéreo d o que realmente aconteceu.
em sua própria pesquisa, constroem A l é m disso, na conclusão, o cientista
experiências novas baseando-se nele, deve apresentar as suas palavras mais
o u citam-no em seus próprios artigos fortes e convincentes.
para publicações especializadas. Rela- Complicando a escolha de uma
tivamente poucos desses artigos são história adequada nos jornais existe
citados mais de u m a vez por outros algo conhecido, em parte c o m o hu-
pesquisadores, indicando quão pouco m o r , a " L P U " , que significa, "least
os cientistas c o n f i a m na pesquisa de pubiishabie unit". (unidade menos
outros. Uma maneira de medir a publicável). U m trabalho do t i p o
" b o a c i ê n c i a " é verificar na literatura LPU lida c o m apenas parte dos resul-
o u c o m outros cientistas a freqüên- tados de uma série de experiências o u

74
projetos de pesquisa. Os cientistas, ciência precisa obter comentários so-
particularmente nas universidades, re- bre o que os resultados ali recém-re-
cebem aumentos de salário, prestígio, latados significam, se são novos o u
promoções e direitos em parte c o m o não, e se são significativos. Mas mes-
resultado dos trabalhos que publi- m o se você acha que sabe, vale a pe-
cam. C o m o a maioria dos experimen- na c o n f i r m a r seu j u l g a m e n t o c o m
tos c i e n t í f i c o s são trabalho d u r o que uma segunda opinião.
envolve várias pessoas, pesadas des- A redação c i e n t í f i c a , c o m o em t o -
pesas c o m laboratórios e/ou animais d o o jornalismo, apóia-se sobre cinco
para pesquisa, e longos períodos de fatores: documentação, verificação,
t e m p o , alguns pesquisadores extraem interrogação, observação e participa-
o m á x i m o de publicações possíveis ção. Periódicos especializados forne-
de seus dados. D i v i d e m os resultados cem documentação aceitável. Os re-
em muitas facetas para dar c r é d i t o a datores de ciência tendem a cometer
cada m e m b r o da equipe e talvez al- menos enganos na transcrição de da-
gum c r é d i t o ao departamento o u ao dos o u citações d o artigo. 0 trabalho
administrador d o i n s t i t u t o t a m b é m . t a m b é m c o n t é m uma espécie de veri-
Vários trabalhos publicados a partir ficação porque o u t r o s cientistas, su-
dos mesmos dados básicos ajudam a postamente tão informados q u a n t o o
demonstrar p r o d u t i v i d a d e quando a pesquisador, leram o trabalho e veri-
equipe pede mais d i n h e i r o d o gover- ficaram as suposições e os dados
no o u de fundações privadas. Quando q u a n t o á sua plausibilidade. As histó-
u m redator de ciência encontra u m rias derivadas de u m jornal c i e n t í f i c o
artigo de j o r n a l intrigante, faria bem de uma maneira geral contêm grande
em perguntar aos cientistas se é parte aceitabilidade por parte dos cientis-
de u m p r o j e t o de pesquisa maior e tas. Os artigos publicados merecem
onde se enquadra naquele projeto. c r é d i t o por causa da pressuposição da
Tais perguntas p o d e m levar a uma honestidade c i e n t í f i c a na execução e
história mais significativa. no relato das experiências.
Provavelmente você irá escolher Os artigos de periódicos, no entan-
uma história possivelmente c i e n t í f i c a t o , t ê m desvantagens do p o n t o de vis-
na base de seu valor c o m o n o t í c i a ta j o r n a l í s t i c o . Os eventos descritos
jornalística — significação para a neles terão acontecido meses o u anos
ciência, i m p a c t o , o u as necessidades antes. O estilo é seco, desapaixonado.
de seus leitores o u espectadores. Dar Outros cientistas realizando pesquisas
alguma perspectiva e pano de f u n d o à relacionadas já terão t o m a d o cons-
história é i m p o r t a n t e . C o m o os cien- ciência do relatório há m u i t o t e m p o .
tistas escrevem para o u t r o s cientistas, Embora simplesmente a publicação
não explicam c o m freqüência o que seja suficiente c o m o f u r o noticioso,
esses resultados significam para ques- os redatores científicos prudentes fa-
tões mais amplas de c o n h e c i m e n t o rão c o n t a t o c o m os pesquisadores e
o u ignorância c i e n t í f i c a . O redator de outros profissionais do campo antes

75
de escrever uma matéria. Novos fatos Guide to Periódica/ Literature e ou-
podem acrescentar cor e o p o r t u n i d a - tros catálogos são boas opções para
de à história, atualizando-a. Em casos se começar. Essas técnicas exigem
extremos, as evidências recentes o u t e m p o e esforço que m u i t o s redato-
outras influências podem forçar os ci- res c i e n t í f i c o s dizem não poder dis-
entistas a m o d i f i c a r e m e mesmo reco- pender perto do final d o prazo para
lherem o artigo. entregar a matéria. Freqüentemente
A interrogação de o u t r o s cientis- a história é escrita apenas c o m base
tas deveria levar â avaliação do traba- no periódico c i e n t í f i c o , dando-se o
lho e dos pesquisadores. Essas avalia- c r é d i t o para essa f o n t e . Muitos reda-
ções podem ser e x t r e m a m e n t e c r í t i - tores poderiam encontrar t e m p o para
cas, exigindo que você busque, j u n t o ler u m artigo de enciclopédia sobre o
aos pesquisadores originais, uma res- tema. Depois de algum t e m p o escre-
posta à altura dessas críticas. Os no- vendo informação c i e n t í f i c a você irá
mes das pessoas a q u e m recorrer po- desenvolver sua própria lista de con-
dem ser o b t i d o s de várias maneiras. tatos, c o n s t r u í d a c o m confiança mú-
M u i t o s artigos listam os nomes dos tua, para avaliação e para informação.
co-autores. Notas de rodapé de arti-
gos publicados c o n t ê m referências ao As melhores histórias, e as mais di-
trabalho d o qual deriva a nova pes- fíceis de interpretar, freqüentemente
quisa, e u m catálogo de cientistas o u vêm de periódicos associados a uma
u m 1/Vho's Who irão fornecer-lhe sua estreita especialidade ou sociedade
cidade natal ou locação universitária. c i e n t í f i c a , tal c o m o as subseções d o
Quando você falar aos pesquisadores, American I n s t i t u t e o f Physics. C o m o
pergunte-lhes pelos nomes e localiza- os cientistas gostam de divulgar seu
ções de o u t r o s que estejam trabalhan- melhor trabalho em publicações que
d o em pesquisas similares. Freqüente- tenham prestígio e que sejam lidos
mente o f u n c i o n á r i o que lhe atenda pelos colegas que conhecem seu cam-
no serviço de informações de u m co- po, o redator de ciência irá encontrar
légio o u universidade local irá ajudá- menos referências e perspectivas mais
lo a localizar alguém no campus que amplas nesses periódicos. Entre os
conheça o assunto, o u que possa indi- periódicos mais freqüentemente utili-
car alguém que o conheça. Os biblio- zados e citados pelos jornalistas estão
tecários podem encaminhá-lo para o New England Journal of Medicine
outros trabalhos publicados, incluin- ( N E J M ) , o Journal of the American
d o artigos populares, que irão ajudar Medicai Association ( J A M A ) , e as pu-
a colocar esse desenvolvimento em blicações inglesas Lancet para medi-
perspectiva. U m n ú m e r o crescente de cina e Nature (para ciência em geral).
bibliotecas e organizações noticiosas Colaboradores se engalfinham por to-
subscrevem serviços de informação d o o m u n d o para serem incluídos
computadorizada que podem acelerar nessas publicações. Seus editores es-
sua pesquisa de literatura. 0 fíeader's tabelecem normas rígidas para a revi-

76
são de pesquisa realizada por u m co- t i o n e outras agências usaram Science
lega, q u a n t o a sua originalidade. para publicar as primeiras análises ci-
0 periódico mais freqüentemente entíficas dos dados das explorações
citado dos E U A é o Science, publica- lunares e planetárias e o u t r o s eventos
do pela A m e r i c a n Association f o r t h e importantes. Parte da primeira pes-
Advancement o f Science. Parte da ra- quisa sobre a identificação do vírus
zão pela qual os jornalistas c o n f i a m da A I D S f o i publicada em Science.
em Science é sua freqüência semanal As cartas dirigidas ao editor ocasio-
e sua seção " N e w s and C o m m e n t " , nalmente revelam disputas sobre te-
u m guia para os c o n f l i t o s sobre a po- mas c i e n t í f i c o s e de p o l í t i c a .
lítica c i e n t í f i c a e os negócios públi- Science News, uma revista sema-
cos, os financiamentos do governo e nal de poucas páginas, publicada pelo
outros tópicos. Embora os longos ar- Science Service em Washington, D. C.,
tigos sobre ciência, na parte da f r e n t e é o u t r a parte d o sistema de " a l e r t a "
da revista, sejam datados, eles p o d e m para os redatores de ciência. Os jor-
fornecer aos redatores de ciência po- nalistas da Science News, dedicam
pular, d o p o n t o de vista da n o t í c i a , m u i t o mais t e m p o â leitura de perió-
b o m material i n f o r m a t i v o para histó- dicos c i e n t í f i c o s que a maioria dos
rias sobre " e v e n t o s " e matérias que profissionais da área. Suas notícias
se prestam a interpretações mais am- e matérias precisas e m u i t o populares
plas. A r t i g o s assinados por funcioná- oferecem pontos de partida para ou-
rios d o governo t a m b é m oferecem vi- tros jornalistas pesquisarem suas pró-
sões de c o m o a p o l í t i c a c i e n t í f i c a fe- prias histórias, para seus públicos par-
deral se desenvolve. Sua seção " R e - ticulares. Às vezes jornais e revistas
search N e w s " , escrita e editada por irão r e i m p r i m i r essas matérias intac-
Ph. D's, ajuda os redatores de ciência tas, c o m permissão e crédito.
a localizarem novos e significativos Informação antecipada sobre a pu-
desenvolvimentos porque é uma se- blicação de matérias no periódico ci-
ção escrita para ser compreendida e n t í f i c o é c o m u m . Muitos dos i m p o r -
através de linhas disciplinares. Os re- tantes periódicos da sociedade c i e n t í -
pórteres da "Research N e w s " con- fica enviam cópias o u provas de arti-
quistaram vários prêmios de reporta- gos antecipadamente aos redatores de
gem. No f i n a l de Science está " R e - ciência dos principais jornais, serviços
p o r t s " , uma seção às vezes lida por noticiosos e revistas. Alguns t ê m
redatores de ciência à procura da pri- equipe de relações públicas que cha-
meira evidência de descoberta o u pes- m a m repórteres selecionados na im-
quisa c i e n t í f i c a de interesse h u m a n o . prensa, no rádio e na T V . Muitas uni-
C o m o os editores de Science podem versidades irão alertar os redatores ci-
oferecer u m p e r í o d o de t e m p o relati- entíficos locais quando u m de seus
vamente rápido de seis semanas o u cientistas t e m u m artigo publicado.
menos para a publicação, a National Alguns enviarão u m press release
Aeronautics and Space A d m i n i s t r a - quando determinado artigo é aceito

77
para publicação, embora alguns pe- chama u m pesquisador diretamente e
riódicos científicos insistam no sigilo diz: "Gostaria de falar-lhe sobre o seu
até a publicação efetiva. Um longo t r a b a l h o . " Isso significa eliminar cha-
t e m p o pode se passar antes da publi- teações e floreios como conferências
cação efetiva, embora o redator cien- de imprensa, arranjos do pessoal de
t í f i c o possa receber uma cópia ma- relações públicas e conexões da cida-
nuscrita do artigo ou u m resumo do de natal. Você está dependendo de
mesmo. Se a nova descoberta é sufi- sua própria reputação, abordagem e
cientemente significativa, os agentes persuasão para obter uma entrevista.
de publicidade locais ou mesmo a so-
Fazer sua tarefa de casa é essen-
ciedade nacional irão realizar uma en-
cial. Aprenda algo sobre o cientista e
trevista formal ou conferência de im-
o assunto. Antes de uma entrevista,
prense a respeito da publicação. O re-
às vezes antes mesmo de procurar
dator de ciência deve ser incluído,
uma, você deve ao menos recorrer a
como contato, na lista das institui-
u m 1/Vho's Who nacional ou regional
ções que lidam com ciência, medicina
em busca de material biográfico. Os
e tecnologia.
bibliotecários podem indicar-lhe ou-
tras referências. A " m o r g u e " ou a bi-
Os Cientistas — cara a cara blioteca de u m jornal pode conter
mais material informativo. Isso lhe
A interrogação ou a coleta de no-
dará bastante informação sobre a pes-
tícias científicas por meio de entre-
soa, economizando tempo de entre-
vistas diretas com as pessoas respon-
vista. Se a pessoa trabalha numa uni-
sáveis por nova informação científica
versidade ou num negócio voltado
é uma das mais agradáveis tarefas do
para a tecnologia há boas chances de
redator de ciência. A sua atitude e a
que o departamento de relações pú-
forma de abordagem são importan-
blicas ou a secretária do departamen-
tes. Prepare-se para a entrevista lendo
t o do cientista possa fornecer uma
o m á x i m o que o tempo permitir so-
biografia e talvez mesmo algumas có-
bre a área de interesse do cientista.
pias de artigos que outros redatores
Se você entrar dançando ou saraco-
tenham publicado sobre o cientista
teando no laboratório do pesquisador
ou trabalhos que ele mesmo tenha
esperando fazer uma piada sobre o
publicado.
trabalho para o qual ele vive e a sua
completa ignorância, a atmosfera po- A t é que você conquiste uma boa
de se reduzir a Zero Absoluto a não reputação com os cientistas, você po-
ser que as circunstâncias sejam mui- de ter de depender da assistência do
t o , m u i t o especiais. Blair Justice, que pessoal de relações públicas. A maio-
financiou seu Ph. D. em psicologia es- ria dos escritórios de relações públi-
crevendo notícias científicas, diz que cas mantêm arquivos de biografias e
o verdadeiro teste da aceitação de u m recortes de seu pessoal. Às vezes o
redator de ciência ocorre quando ele departamento de RP irá obter cópias

78
de artigos c i e n t í f i c o s que u m pesqui- uma figura i m p o r t a n t e em ciência po-
sador tenha publicado. lítica para conhecê-la, nada mais. Seu
V o c ê geralmente tem uma razão h o m e m de relações públicas perdeu
para escolher u m cientista em parti- isso de algum m o d o na transferência
cular, mas obter algumas informações da informação. A m b o s perdemos — o
sobre seu passado campo não irá pre- cientista, porque se perguntava por
judicar. Ler u m artigo de enciclopé- que m o t i v o eu estava ali, e eu, por-
dia ainda é melhor do que não fazer que não podia imaginar sua irritação
n e n h u m t i p o de preparação. Assume- sobre chegarmos ao m o t i v o d o en-
se que você tenha f e i t o já algum tra- c o n t r o . Portanto, deixe claro c o m an-
balho para u m curso de ciências e tecedência o que você deseja falar.
que você tenha u m interesse g e n u í n o Isso ajuda seu entrevistado a se
pelo assunto, assim c o m o se assume aprontar para suas perguntas, algu-
t a m b é m , que você já leu revistas de mas das quais você deve preparar an-
notícias e de ciências. Ninguém sabe tes da entrevista. Evite colocar per-
t u d o , e n t r e t a n t o , e todos são apanha- guntas " f e c h a d a s " , aquelas que po-
dos despreparados uma vez o u outra. dem ser respondidas c o m u m sim o u
U m cientista visitante pode chegar à u m não. As perguntas c o m saídas
cidade inesperadamente, por exem- abertas não podem ser resolvidas c o m
plo. Os cientistas t e m e m t a n t o a le- monossílabos c o m o resposta. Elas
gendária ignorância dos jornalistas trarão mais informação e oferecerão
que mesmo uma preparação e conhe- a ambos u m prazer maior pelo encon-
cimentos modestos p o d e m evocar t r o . As perguntas fechadas são me-
uma dose de boa vontade i n c o m u m lhores para obter e verificar fatos es-
numa f o n t e . Os cientistas esperam ter pecíficos: números, horários, locais e
de explicar seu trabalho para os que datas.
não são da área, mas é demais pedir-
Às vezes, mesmo quando você está
lhes que eduquem u m redator desde
preparado, seu entrevistado irá per-
o início.
manecer t a c i t u r n o , pouco comunica-
U m a referência ú t i l e p o u c o co- tivo e de pouca ajuda. Para o redator
nhecida para os redatores de ciência é de ciência este é o equivalente de
a Encydopedia of Ignorance, p o r Ro- uma " t e s t e m u n h a h o s t i l " de u m pro-
nald Duncan e Miranda Weston- motor. Poderá ser preconceito c o n t r a
S m i t h (1978). Os editores persuadi- jornalistas científicos, poderá ser me-
ram cerca de sessenta cientistas a es- do, poderá ser u m mau almoço e po-
crever ensaios sobre o que é sabido e derá ser má fé ao aceitar o e n c o n t r o .
desconhecido em seus campos. Essa Seja qual f o r a razão, será melhor pa-
publicação t a m b é m pode servir c o m o ra o redator procurar outras fontes,
f o n t e de idéias para matérias. das quais há muitas para quase todos
O cientista deve saber c o m ante- os temas. C o m o f o i observado antes,
cedência o que você deseja falar. os cientistas maduros e experientes
Uma vez solicitei uma entrevista c o m estão sempre mais dispostos a falar. E

79
a maioria dos cientistas que já tive- de perguntas anteriores. Algumas
ram c o n t a t o c o m representantes dos companhias e i n d i v í d u o s usam o sis-
veículos de comunicação aceitam tema da pergunta escrita c o m o ma-
bem o u t r o s contatos. Saia c o m o que neira de desencorajar jornalistas.
conseguir. O o u t r o lado desta moeda U m b o m entrevistador tenta não
é que, na maioria das vezes a sua pre- t o m a r mais t e m p o d o que o necessá-
paração irá capacitá-lo a convencer o rio de u m entrevistado. Você sempre
seu entrevistado de que você é edu- pode voltar, c o m sua reputação pro-
cável. O entrevistado irá se abrir para vavelmente melhorada. Assegure-se
você e às vezes sugerir novos aspectos de que t e m os números d o escritório
para a matéria. Você deve ir à entre- e da casa d o cientista de m o d o que
vista preparado para deixar de lado possa telefonar-lhe para verificar fa-
algumas perguntas e seguir novas pis- tos, citações e perspectiva — e preen-
tas se tiver o p o r t u n i d a d e . cher em sua história os claros deixa-
Provavelmente terá de encorajar o dos por perguntas que esqueceu de
cientista a abandonar o jargão técni- perguntar ou respostas que não com-
co e partir para uma linguagem mais preendeu inteiramente. Oferecer-se
comum, analogias e explicações. para fazer isso pode evitar de se ouvir
" V o c ê s não iriam falar desse m o d o a desagradável solicitação de " l e r a
c o m sua m ã e " , censurou u m cientis- história para verificar a precisão,
ta a seus colegas por usarem lingua- q u a n d o tiver t e r m i n a d o " . Poucas or-
gem técnica ao explicar seu trabalho ganizações p e r m i t e m que uma f o n t e
a não-cientistas. Naturalmente, você leia matérias, histórias e scripts termi-
estará em apuros se a mãe tiver u m nados ou assistam c o m antecedência
Ph. D. em física. a uma matéria em f i t a o u filme. En-
Ocasionalmente você poderá en- t r e t a n t o , demonstrar sua própria
contrar alguém que deseje conhecer preocupação c o m a precisão da ma-
as perguntas antes. Os jornais geral- téria c o m freqüência reassegura o en-
mente não gostam de fazer isso em trevistado e ajuda-o a afastar as soli-
assuntos p o l í t i c o s . Você terá de fazer citações para você " m o s t r a r seu tex-
seu p r ó p r i o julgamento a respeito da t o " . Por o u t r o lado, os redatores de
ciência se a sua publicação não tiver ciência da área de relações públicas
normas rígidas. Os redatores desco- trabalhando para uma organização ci-
b r i r a m que u m c o n j u n t o de questões e n t í f i c a ou médica p o d e m esperar
provocativas pode estimular uma pes- que todas as suas matérias sejam re-
soa que está cansada das mesmas an- vistas por uma ou mais pessoas da or-
tigas perguntas ou que é conhecida ganização, inclusive pelos próprios in-
c o m o d i f í c i l de contatar. Algumas d i v í d u o s que são objeto delas. Algu-
empresas fornecem a seus executivos, mas revistas seguem essa prática tam-
cientistas e pessoal de relações públi- bém. Os repórteres de jornais e servi-
cas conjuntos de respostas padrão ços noticiosos evitam mostrar as ma-
preparadas com antecedência a partir térias porque a rapidez dos processos

80
editoriais para c u m p r i r prazos, pode entistas acham que as entrevistas des-
resultar em mudanças no t e x t o . perdiçam t e m p o quando t o d a a infor-
Por causa de suscetibilidades sobre mação necessária está disponível nas
a divulgação de pesquisas antes da re- publicações. Ela previne os cientistas
visão dos colegas e de sua publicação, de que quando eles t e n t a m escrever
alguns cientistas podem se mostrar f o r a de sua própria especialidade, po-
reticentes a respeito de pesquisas em dem ficar t ã o perdidos e inclinados a
andamento. Se o risco da divulgação erros c o m o qualquer jornalista. A
prematura f o r uma ameaça à publica- Dra. Gastei admoesta os cientistas-es-
ção d o trabalho, o cientista pode evi- critores de que eles t a m b é m iriam
tar falar sobre certas áreas. Entretan- precisar obter informação fresca so-
t o , o redator não deve cair na armadi- bre a pesquisa e c o n f i r m a r a validade
lha da auto-censura antes de inquirir. d o trabalho f e i t o m u i t o antes de ter
Seja direto. Quando os cientistas esti- sido publicado. Diz aos cientistas-es-
verem preocupados, eles lhe dirão e critores que eles, t a m b é m , iriam pre-
apreciarão seu reconhecimento d o cisar d o que o jornalista não-cientis-
problema. ta precisa: citações, detalhes de inte-
Pode ser possível obter uma pro- resse humano, impressões, cor e des-
messa de notificação quando f o r che- crições. Essas coisas acrescentam car-
gada a hora. A Dra. Barbara Gastei, ne e sangue aos ossos nus da vida
médica e escritora de t e x t o s para pu- c i e n t í f i c a descrita na literatura.
blicações populares e médicas, acon- Gastei lida com o u t r o problema,
selha os pesquisadores que t e m e m a conseguir a precisão dos detalhes en-
publicação prematura á oferecerem q u a n t o se perde o enfoque maior de
para chamar os jornalistas q u a n d o es- uma matéria. Assegure-se de que cap-
tiverem prontos para discutir seu tra- t o u o conceito central ou a imagem
balho (1983). E n t r e t a n t o , o acompa- geral e que pode colocá-la claramente
n h a m e n t o d o processo permanece para seus leitores o u espectadores an-
sendo responsabilidade d o redator. tes de começar a falar em detalhes.
Os cientistas t ê m memórias notoria- Dê perspectiva e orientação a si mes-
mente ruins para redatores de ciên- m o e a seus leitores; mostre-lhes a
cia, exceto para aqueles que traba- floresta antes de levá-los para as árvo-
lham nos principais jornais e redes de res isoladas. Essa informação é parte
tevê. 0 mesmo se aplica a muitas pes- do "parágrafo de significação" o u d o
soas da área de RP. histórico.
Gastei t a m b é m aponta dois pro- Ler Gastei irá proporcionar-lhe
blemas que freqüentemente confun- uma boa revisão das práticas cientí-
dem as entrevistas cientistas-jornalis- ficas d o p o n t o de vista d o cientista,
tas. Primeiro, existe u m grupo de ci- assim c o m o modos de abrir novas li-
entistas que pensa que os jornalistas nhas de comunicação c o m u m a f o n t e
deveriam obter t o d o o seu material que permanece cética em relação à
das publicações científicas. Esses ci- popularização. A l é m disso, você, co-

81
m o muitos outros redatores e edito- As aplicações e a tecnologia ofere-
res, pode desejar aproximar-se de um cem chances melhores para o redator
cientista ou médico para escrever um ver e relatar o que acontece. Por
artigo para sua publicação. Se o espe- exemplo, os escritores de ciência já
cialista compreende melhor alguns andaram em aviões, dentro de fura-
dos problemas e técnicas, você estará cões, ao lado de pesquisadores me-
servindo seu público de uma maneira teorológicos. Ritchie Ward, autor de
nova. Uma cópia do livro da Dra. livros e artigos de revistas, f o i convi-
Gastei poderia ser u m presente útil dado para u m vôo à América do Sul
para suas fontes. onde passou uma semana com cien-
O cientista reticente tem um opos- tistas oceânicos a bordo de u m navio
t o , pois a ciência tem também seus de pesquisas, simplesmente porque os
buscadores de publicidade, como cientistas gostaram de u m de seus li-
ocorre na maioria das profissões. Al- vros que encontrou u m caminho para
guns são cientistas m u i t o bons que fazer parte do material de leitura do
quebram a imagem estereotipada que navio (1978, 19).
têm os habitantes de laboratórios: t í -
midos e retraídos. Alguns poucos
compreendem bem demais como ma- Escavações arqueológicas, expedi-
nipular jornalistas para concederem ções de campo, visitas a laboratórios
t e m p o no ar e t i n t a a assuntos que e outras oportunidades podem se
têm pouco valor, mas podem ajudar a abrir ao redator de ciência que procu-
decorar u m pedido de financiamento ra. Os cientistas, particularmente os
ou o livro de recortes das relações pú- administradores, gostam de mostrar
blicas da universidade. Décadas atrás, suas instalações. Mesmo se você não
esses cientistas adquiriram o apelido observar uma "descoberta" verdadei-
de "operators". A opinião de uma ra, as descrições dos lugares e condi-
outra pessoa pode ser de ajuda se vo- ções nas quais a ciência é realizada
cê suspeitar que está sendo excessiva- constituem leitura interessante para
mente usado. aqueles que podem imaginar mas
nunca têm a chance de sair de trás da
cortina. Enquanto você não vir al-
Observando a ciência de perto guns aparelhos usados pelos físicos
A observação direta da ciência, ou pesquisadores de energia, vai lhe
por parte dos jornalistas, no ato em faltar a sensação exata a respeito de
que está se fazendo, é rara. A maioria sua escala de operações. Uma visita a
dos eventos significativos não pode laboratórios não é exatamente o mes-
ser vista de modo algum em muitas mo que descer ruidosamente por um
ciências. A descoberta surge da mani- canal de Everglades com u m biólogo
pulação de dados, seja nas cabeças aquático, mas qualquer experiência
dos cientistas seja em longas análises pessoal o ajudará a colocar os assun-
de computador. tos em perspectiva melhor.

82
Participação ainda mais rara Às vezes períodos formais de in-
ternato são oferecidos para estudan-
Os cientistas gostariam que hou- tes de nível superior ou já graduados
vesse mais redatores de ciência com bem como para jornalistas que já
experiência em pesquisa. Você não exercem a profissão. Freqüentemente
pode avaliar o problema sem compre- estipula-se uma remuneração. O M I T
ender a localização, as condições ou a oferece dois tipos de experiências
experiência física. Alguns redatores pesquisa-estudos para aqueles que po-
procuram experimentar o que estão dem dispor de u m tempo no seu tra-
discutindo. O oceanógrafo Bill balho como redatores de ciência. U m
Cromie, e presidente do Council for dura algumas semanas, o o u t r o cobre
the Advancement of Science Writing u m ano acadêmico com as despesas
(CASW), ajudou cientistas no dificí- pagas. 0 programa Nieman Fellows,
limo esforço de capturar tartarugas da Harvard, paga aos jornalistas por
gigantes para marcá-las com etique- um ano acadêmico, que pode incluir
tas. Uma vez teve de ser resgatado de cursos científicos. Redatores de ciên-
uma ilha de gelo que se derretia. Da- cia treinando na Columbia University
vid Perlman, do San Francisco Chro- cortam cadáveres em aulas de anato-
nicle, também participou de expedi- mia c o m o parte de sua experiência
ções científicas de campo como educacional. A American Association
membro trabalhador da equipe. A m - for the Advancement o f Science ofe-
bos relatam que sua compreensão da receu por vários anos a alguns jovens
ciência evidenciada na sua redação cientistas u m programa interno em
científica é melhor por causa das ex- jornais, T V e revistas para mostrar-
periências. Devido à contribuição que lhes como os meios de comunicação
emprestaram ao trabalho das expedi- funcionam.
ções, ambos experimentaram maior
aceitação das pessoas quanto aos seus
Essas experiências acrescentam au-
esforços de reportagem e amizades
tenticidade e drama às histórias de
com membros das expedições. Várias
pesquisa científica. Mesmo aqueles
universidades, laboratórios privados,
cujo treinamento inclui cursos de
hospitais e instalações governamen-
ciência e experiência em laboratórios
tais, tais como os National Institutes
deveriam tirar vantagens de qualquer
of Health, levam os redatores cientí-
oportunidade que possam agarrar,
ficos para dentro de suas rotinas coti-
mesmo se for apenas para passar al-
dianas por algumas semanas ou me-
gumas horas com pesquisadores tra-
ses. Através da realização de trabalho
balhando durante toda a noite numa
útil, que varia desde escrever press re-
experiência intrincada. Mesmo o té-
leases e anotar observações até mes-
dio tem significado. Sua experiência
mo lavar vidros do laboratório, o re-
irá acrescentar detalhes e maior per-
dator obtém experiência direta sobre
cepção ao seu trabalho, coisas que de
como a ciência é feita.
outra maneira lhe escapariam a não

83
ser que seja u m entrevistador imagi- Os relatórios podem ser encontra-
nativo. dos em desenvolvimento na maioria
das agências governamentais federais
e de muitos estados. A National Aca-
Relatórios especiais
demy o f Sciences e a National Aca-
Outra f o n t e de matérias científi- demy o f Engineering administram
cas pode ser encontrada em relatórios uma organização de investigação co-
especiais. É c o m u m funcionários e nhecida como o National Research
agências do governo entregarem te- Council (NRC). É a maior fonte de
mas particularmente complicados pa- renda da academia. O trabalho prin-
ra serem analisados por um painel es- cipal do conselho é avaliar dados
pecializado, tal como uma "comissão científicos sobre problemas específi-
de faixa azul". Freqüentemente esse cos e compilar relatórios que reco-
é u m método usado para retardar mendam ações técnicas a serem de-
uma decisão ou justificar uma deci- senvolvidas pela agência governamen-
são política impopular. Tais pai- tal que solicita o estudo. 0 National
néis de investigação especial foram Research Council não pesquisa dire-
usados para pesquisar as causas do tamente, embora possa contratar la-
acidente da usina nuclear de Three boratórios privados ou governamen-
Mile Island, e para determinar se os tais para a realização de testes espe-
fluorocarbonos, amplamente usados cíficos. Com exceção de alguns estu-
em condicionadores de ar e refrigera- dos sobre armamento e outros proble-
dores, deveriam ser controlados por mas de segurança nacional, o traba-
causa de seu potencial para danificar lho do NRC é de d o m í n i o público.
a camada atmosférica que protege a
terra. O redator de ciência pode ba- Geralmente o relatório será divulga-
sear matérias nas conclusões do rela- do aos jornalistas pela agência patro-
t ó r i o . No mundo competitivo dos cinadora. Os relatórios do NRC têm
jornalistas, alguns receberam prêmios inconvenientes similares aos das co-
por terem contatos que lhes fornece- missões de faixa azul. Os membros
ram antecipadamente uma cópia de dos painéis que avaliam os dados e fa-
u m relatório ou de seus descobrimen- zem as recomendações podem ser tra-
tos, antes da sua divulgação oficial. zidos, por causa de sua experiência,
Você também deve descobrir quem de firmas, negócios e instituições
marca os contatos com essas comis- com interesse econômico na maneira
sões e quem os consegue. Não é in- pela qual os problemas serão resolvi-
c o m u m encontrar-se u m painel cheio dos. Os membros dos painéis não pre-
de membros cuja história pessoal e cisam ser membros das academias;
profissional dificulta a consideração podem servir como voluntários por
imparcial dos temas. Sempre que isso causa do prestígio, ou outros prêmios
ocorrer, o potencial de distorção provenientes da sua associação com
num relatório deve ser mencionado. as academias. As academias tentam

84
fazer recomendações que evitem inte- restrito ou facilmente retirado da
resses conflitantes. classificação de restrito por alguém
Muitas agências governamentais desejando u m pouco de publicidade.
conduzem grande parte de sua pró- Quando u m projeto está com proble-
pria pesquisa. O Nationai Bureau of mas políticos, os redatores acham
Standards e a Consumer Product Sa- mais fácil obter acesso a informações
f e t y Commission, por exemplo, pres- se os militares pensarem que u m pou-
tam informações de interesse para re- co de compreensão pública ajudará.
datores de publicações comerciais ou Os contratantes também podem re-
orientadas para o consumidor. Fre- ceber a visita de u m jornalista ou se-
qüentemente o primeiro alerta de ris- rem entrevistados por ele sobre te-
cos na segurança, nos Estados Uni- mas de natureza militar delicados.
dos, vem da rede de informações so- Qualquer dessas organizações pode
bre danos, operada pela comissão de proporcionar ao redator de ciência
segurança dos produtos. Dependendo um p o n t o de partida na pesquisa pa-
das tendências políticas ou comer- ra uma matéria. Os National Institu-
ciais dos funcionários federais em tes of Health e os Centers for Disease
qualquer m o m e n t o dado, as normas Control freqüentemente compilam
de uma agência quanto à coleta e di- relatórios sobre a situação de proble-
vulgação dessa informação pode va- mas médicos e das pesquisas que fi-
riar. Redatores de ciência alertas po- nanciam. Você pode usar isso como
dem ser os primeiros a detectar tais fontes iniciais de referência para suas
mudanças e elas podem merecer n o t í - matérias, exatamente como usa os ar-
cia. William J. Broad, do The New tigos de periódicos científicos. Escre-
York Times, f o i o primeiro a desco- va a essas agências pedindo esse ma-
brir quando o Department of Energy terial e entre para suas listas de cor-
parou de divulgar testes subterrâneos respondentes.
de bombas nucleares.
O Department of Defense, as três
Reuniões científicas
forças armadas, e a National Aero-
nautics and Space A d m i n i s t r a t i o n Uma das mais ambíguas fontes de
( N A S A ) mantêm gigantescos orça- matérias científicas é a reunião cien-
mentos destinados ao desenvolvimen- t í f i c a . Geralmente realizadas uma vez
to de pesquisas em seus próprios la- por ano, essas reuniões congregam os
boratórios e aos contratos de pesqui- membros de uma sociedade para fa-
sas repassados para universidades, ins- lar sobre negócios profissionais e
tituições não-lucrativas e firmas co- ouvir relatórios de cientistas sobre
merciais. Seus projetos abrangem des- sua pesquisa e, freqüentemente, nor-
de pesquisa básica e fundamental, ao mas, ética ís financiamento. Os médi-
trabalho final de desenvolvimento e cos as têm, os virologistas as têm e o
engenharia para grandes projetos. mesmo acontece com enfermeiras e
M u i t o do trabalho de defesa é não- biólogos experientes. Essas reuniões

85
h o n r a m a tradição c i e n t í f i c a de dis- a essas reuniões à procura de histó-
c u t i r e criticar abertamente a pesqui- rias, de novas idéias e de c o n t a t o c o m
sa relatada na reunião. Várias socie- cientistas que p o d e m ser fontes de in-
dades t a m b é m realizam reuniões lo- formação de grande utilidade. Ele-
cais, municipais, estaduais e regio- mentos das televisões local e de ou-
nais, assim c o m o nacionais. tras redes vêm à procura de maté-
Diversas razões t o r n a m essas reu- rias. Entre os jornalistas haverá pes-
niões atraentes aos colecionadores de soal de relações públicas e funcioná-
notícias. Por si mesmo, as reuniões rios de informação d o governo pro-
científicas já representam u m evento m o v e n d o os oradores de suas institui-
noticioso local. Sociedades m u i t o ções e renovando contatos c o m re-
grandes, tais c o m o a A m e r i c a n Medi- presentantes dos meios de comunica-
cai Association, A m e r i c a n Geophysi- ção. Existe u m c l i m a de festa conti-
cal U n i o n , o u a A m e r i c a n Associa- do. Parte da f o r m a l i d a d e que rege os
t i o n f o r the Advancement of Science contatos, mesmo c o m os cientistas
( A A A S ) , atraem milhares de partici- domésticos se dissipa.
pantes de t o d o o m u n d o . Personali-
dades famosas estão na cidade, dispo- Nas salas de imprensa das associa-
níveis para entrevistas, se você puder ções maiores, cópias da maioria dos
agarrá-las. Os programas, distribuí- trabalhos a serem apresentados são
dos c o m antecedência, relacionam as deixadas à disposição para serem apa-
apresentações de trabalhos c i e n t í f i - nhadas. A liberação das histórias es-
cos: mais ou menos uma dúzia para critas a partir dessas cópias geralmen-
uma sociedade pequena, centenas pa- te está condicionada ao dia e hora em
ra as grandes c o m o a A A A S , o Ame- que cada trabalho será apresentado.
rican Institute of Physics, ou o Ame- Em outras reuniões, a equipe pode
rican Institute o f Aeronautics and reproduzir uma cópia de u m trabalho
Astronautics. A seleção de histórias para arquivo, mediante solicitação.
científicas a partir de quantidades co- M u i t o s jornalistas c i e n t í f i c o s escre-
m o essas é uma tarefa d i f í c i l para o vem suas histórias a partir dessas có-
redator de ciência. pias evitando ficar sentados durante
as palestras. E n t r e t a n t o , isso se revela
A l é m disso, existe a competição.
embaraçoso se o orador deixa de
As reuniões da A A A S p o d e m atrair
comparecer o u faz modificações im-
centenas de jornalistas às salas de im-
portantes. Repórteres de ciência que
prensa. Convenções importantes co-
usam esse material antes da apresen-
m o essas m o b i l i z a m os serviços noti-
tação efetiva geralmente incluem nas
ciosos, bem c o m o os redatores dos
suas matérias uma frase tal c o m o :
jornais nacionais e dos grandes diá-
" E m um t r a b a l h o a ser apresenta-
rios regionais. Revistas noticiosas e
do. . . " e fazem uma verificação para
periódicos comerciais enviam equipes
ver se o trabalho f o i apresentado con-
para a reunião. A l é m disso, redato-
f o r m e programado.
res free-lancer de t o d o o país a f l u e m

86
Nas ocasiões em que trabalhos são ra aquele dia. T a m b é m se i n f o r m a r ã o
retirados dos programas, as razões j u n t o à equipe da sala de imprensa e
disso p o d e m valer uma reportagem. j u n t o aos diretores de relações públi-
Em 1983, por exemplo, a administra- cas da sociedade sobre a que grupo
ção Reagan o r d e n o u que os cientis- de cientistas deveriam solicitar confe-
tas retirassem cerca de cem trabalhos rências noticiosas. Esse g r u p o de re-
não-confidenciais de uma reunião da datores de ciência sêniores exerce
Society o f Photo-Optical Engineers. e n o r m e influência por várias razões.
Foi a primeira indicação da determi- Eles representam veículos poderosos
nação dessa administração em fazer de grande circulação. Geralmente sa-
c u m p r i r a nova p o l í t i c a de manter a bem mais sobre questões de ciência,
ciência e tecnologia americanas f o r a c o n t e m p o r â n e a d o que o u t r o s repór-
do alcance de o u t r o s países. Curiosa- teres p o r q u e comparecem regular-
mente, alguns cientistas — a maioria mente à maioria das principais reu-
dos quais m a n t i d o s por concessões e niões das associações. T a m b é m co-
contratos d o governo — protestaram nhecem pessoalmente os cientistas
contra essa censura da pesquisa cien- mais i m p o r t a n t e s e os f u n c i o n á r i o s
t í f i c a . O assunto só f i c o u conhecido das sociedades.
porque u m repórter da Science News
Sharon D u n w o o d y , analista de re-
p a r t i c i p o u da reunião.
dação c i e n t í f i c a , c o n c l u i u que a orga-
Se a sala de imprensa não t e m có- nização da conferência de imprensa
pia de u m trabalho, os oradores c o m permite a manipulação dos veículos
freqüência trazem cópias extras para pelas equipes das associações c i e n t í -
distribuir a todos que desejarem. Em ficas (1979a). As notícias que pro-
reuniões de pesquisa médica, obter vêm da reunião são controladas pela
cópias pode ser c o m p l i c a d o pelo fa- programação de conferência de im-
t o de que alguns periódicos se recu- prensa p o r q u e t o r n a certos tópicos
sarão a publicar a pesquisa se outras mais fáceis de serem cobertos. Geral-
publicações tiverem usado histórias e mente o consenso dos redatores so-
dados detalhados retirados de u m tra- bre que história irão enfatizar se rela-
balho apresentado n u m a reunião pú- ciona à matéria de uma das conferên-
blica. cias de imprensa onde os redatores
t ê m a o p o r t u n i d a d e de o b t e r deta-
O R G A N I Z A Ç Ã O D A IMPRENSA. lhes maiores diretamente dos autores
Se a ocasião é suficientemente impor- dos trabalhos escolhidos para aquele
tante para atrair os redatores de ciên- dia. A conveniência e eficiência das
cia dos meios de comunicação nacio- conferências de imprensa levam ou-
nais, c o m o f o i mencionado antes, u m tros escritores de ciência, que p o d e m
pequeno g r u p o de cerca de uma dú- ter menos compreensão d o tema, a
zia de redatores dos maiores jornais e seguirem os líderes. Os redatores de
serviços noticiosos alcançará u m con- ciência protestaram que as conferên-
senso sobre qual história escolher pa- cias de imprensa haviam e v o l u í d o a

87
partir de solicitações de jornalistas funcionários. As maiores oferecerão
c i e n t í f i c o s (Bishop, 1980). máquinas de escrever e telefones, có-
D u n w o o d y t a m b é m concluiu que pias dos trabalhos e alguns materiais
os redatores de ciência c o m mais for- de referência c i e n t í f i c a . As reuniões
mação c i e n t í f i c a e os que não costu- maiores t a m b é m preparam áreas se-
m a m ser pressionados por prazos, tais paradas para entrevistas de rádio e te-
c o m o redatores de revistas, t i n h a m levisão, e providenciam tomadas de
matérias mais interessantes que aque- força e conexões de telefone confor-
las escritas pelo grupo, e escolhiam me necessário.
temas diferentes. Free-lancers e reda-
tores das equipes de redação de re- CONFIAR EM CONFERÊNCIAS.
vistas usarão mais as reuniões para Apesar das vantagens que oferecem
colherem informações e o b t e r e m en- as reuniões c o m o f o n t e de matérias
trevistas para matérias de enfoque para jornalistas e da respeitada tradi-
mais a m p l o d o que o farão os jorna- ção das reuniões científicas, m u i t o s
listas premidos por u m o u mais pra- cientistas não gostam de ver matérias
zos diários. Freqüentemente esses re- escritas a partir de apresentações
datores se satisfarão c o m reunir có- orais. A pesquisa apresentada, ale-
pias para os seus arquivos de informa- gam, é freqüentemente experimental
ções (uma tática ú t i l para outros e os dados insubstanciais. Os temas
redatores também). As reuniões são p o d e m ser triviais e, n o entanto, al-
u m b o m lugar para arranjar futuras cançar as manchetes enquanto traba-
visitas e entrevistas. U m redator tam- lho mais consistente passa desperce-
bém pode recolher trabalhos menos b i d o . Os trabalhos não são revistos tão
importantes que facilitarão' a elabora- minuciosamente q u a n t o aqueles apre-
ção de matérias em o u t r a ocasião ou sentados aos periódicos científicos, e
em outros departamentos d o jornal a pesquisa apresentada numa reunião
o u revista. A pesquisa psicológica po- pode nunca aparecer numa publica-
de iniciar uma matéria para a seção li- ção. As conferências de imprensa, di-
gada a estilo de vida, por e x e m p l o , zem os cientistas, oferecem a hábeis
o u u m físico pode falar sobre o v ô o operadores a o p o r t u n i d a d e de conse-
de bolas de beisebol ou golfe, numa guir publicidade, ao insinuar que
matéria para a página de esportes. existe a possibilidade da inveja, t a n t o
Biólogos p o d e m ser encontrados fa- q u a n t o a genuína preocupação c o m a
lando sobre os hábitos de peixes, pás- ciência, estarem em jogo. O u t r o pon-
saros e o u t r o s animais selvagens. t o c o n t r a as matérias provindas de
Q u a n t o maior a organização mais reuniões, de acordo c o m alguns dos
sofisticados serão os preparativos pa- cientistas, é que pesquisadores sérios
ra o c o n t a t o c o m a imprensa. As or- cedem lugar a estudantes graduados e
ganizações pequenas p o d e m não dis- os trabalhos geralmente entram na
por de uma sala de imprensa, deixan- programação apenas para preencher
d o a seu cargo encontrar oradores e espaço.

88
Essa é uma posição curiosa. Os sobre a pouca i m p o r t â n c i a d o mate-
jornalistas não t ê m qualquer influên- rial parecem infundadas. O f a t o de as
cia n o que os cientistas incluem em sociedades profissionais c o n v i d a r e m a
seus programas. Se há uma abundân- c o b e r t u r a jornalística indica que os
cia de ciência de segunda categoria, líderes das organizações sentem que
isso é u m problema de c o n t r o l e de existem alguns benefícios na cobertu-
qualidade que diz respeito àqueles ra noticiosa. A diferença dos traba-
que planejam a reunião, não aos jor- lhos, em t e r m o s de qualidade, se exis-
nalistas que a relatam. Se essa pesqui- te, só faz aumentar a pressão sobre o
sa é t ã o p o u c o confiável c o m o alguns redator de ciência para selecionar
cientistas indicam, por que os cientis- uma matéria de valor para o seu pú-
tas desperdiçam t e m p o preparando blico. As reuniões oferecem aos reda-
o u comparecendo a essas reuniões? tores uma o p o r t u n i d a d e de apanha-
Talvez eles compareçam pelas mes- rem os cientistas ao ar livre, longe da
mas razões que a imprensa — é u m proteção de secretárias, estudantes
evento e você sempre o b t é m algo de- graduados e portas de laboratórios.
le. Os pesquisadores a f i r m a m que ti- A o invés de se basear em trabalhos
ram'mais da conversa c o m colegas d o individuais, você poderia substituí-los
que das sessões formais. A inveja pro- por entrevistas c o m cientistas visitan-
fissional pode ter t a m b é m o seu pa- tes. Certifique-se de que seu t r a b a l h o
pel na reclamação. Por o u t r o lado, o de casa f o i f e i t o antes para ajudar a
c o m p a r e c i m e n t o de cientistas da im- assegurar u m a sessão f r u t í f e r a . Algu-
prensa d i m i n u i u significativamente mas vezes você poderá imaginar uma
na reunião anual em 1985, da A A A S , história original ao se deparar c o m
levantando questões sobre a c o n t i n u i - u m tema c o m u m sendo abordado em
dade d o interesse em reuniões desti- vários trabalhos. E parte da c o b e r t u r a
nadas ao c o r p o geral das preocupa- noticiosa das reuniões t e m a ver c o m
ções científicas. os negócios de rotina da p r ó p r i a so-
Apesar d o que os cientistas dizem ciedade, tal c o m o a eleição de novos
sobre as matérias provindas de reu- funcionários. Afastar-se d o g r u p o de
niões, os jornalistas jamais ignorariam redatores pode p r o p o r c i o n a r histórias
uma reunião grande na cidade c o m o exclusivas para o redator que se pre-
podem ignorar u m grande incêndio para para a reunião.
ou explosão. C o b r i r o que está acon- Cobrir reuniões científicas perma-
tecendo na cidade é uma das tradi- necerá na agenda d o redator de ciên-
ções d o jornalismo. E as reuniões t ê m cia por m u i t o t e m p o . As reuniões
f e i t o emergir os novos rumos da ciên- oferecem vantagens demais para que
cia. Algumas das primeiras especula- arrisquemos ignorá-las. A suposta
ções sobre os v í r u s c o m o causadores qualidade inferior dos trabalhos ofe-
de câncer f o r a m tornadas públicas rece u m desafio para ver o u farejar
pela primeira vez em reuniões c i e n t í - uma história melhor a partir das f o n -
ficas. Assim, afirmações arrasadoras tes disponíveis. C o m o redator c o m

89
alguma experiência em ciência, você e estações de rádio irão imprimir e
pode encontrar histórias originais transmitir os press re/eases de ciência
nessas reuniões. Se o campo for estra- como lhes foram passados, embora os
nho à sua experiência passada, procu- veículos maiores com equipes melho-
re orientação dos presidentes locais res irão relatá-los e editá-los de ma-
do programa quanto aos melhores tó- neira a servir a sua clientela específi-
picos da reunião. Geralmente essas ca. Entretanto, parte da melhor reda-
pessoas podem ser contatadas através ção de ciência é realizada pelo pes-
da sociedade ou do escritório de rela- soal de relações públicas. Alguns
ções públicas de uma universidade press releases constituem matérias de
antes da reunião. ciência melhores do que suas versões
Uma lista das reuniões ou conven- reescritas pelos veículos. Isso não
ções programadas para a sua área geral- acontece com a maioria. A qualidade
mente pode ser encontrada nas câma- da redação tem pouca importância na
ras de comércio locais ou nos centros decisão dos veículos em prepararem
de convenções. A revista Science pu- sua própria versão.
blica uma listagem completa das da- Os redatores de ciência dos veícu-
tas e lugares das reuniões científicas. los de comunicação têm em mente
Os membros da National Association que as matérias preparadas por em-
of Science Writers rotineiramente re- presas comerciais, universidades, hos-
cebem aviso de futuras reuniões vin- pitais e outras instituições são dirigi-
do dos escritórios de relações públi- das à promoção do bem-estar das or-
cas de várias sociedades. Os redatores ganizações, e não a satisfação das ne-
são aconselhados a verificar sobre o cessidades dos leitores ou espectado-
acesso da imprensa bem antes da data res. Isso significa que você deve fazer
da reunião. Algumas das sociedades muitas perguntas sobre as idéias com-
menores, mais especializadas, têm de- piladas de press releases, brochuras e
sencorajado a cobertura da imprensa revistas institucionais. Essas fontes
em geral e outras admitem free-lan- podem necessitar de suplementação
cers apenas se estes apresentarem porque raramente mencionam estu-
provas, tais como a carta de u m edi- dos semelhantes feitos por outras ins-
t o r , de que estão ali trabalhando nu- tituições, por exemplo. U m hospital
ma tarefa específica. pode alardear a compra de uma nova
peça de equipamento médico, mas
deixa de dizer que há outras na cida-
Fontes de relações públicas de exatamente iguais. U m hospital
Há mais redatores de ciência ou clínica pode anunciar a existência
trabalhando para empresas e institui- de u m novo procedimento médico
ções do que para veículos de comu- sem dar informações passadas ou
nicação. Esses redatores de relações prospectivas a esse respeito, tais co-
públicas oferecem outra fonte útil de m o os riscos envolvidos ou tratamen-
informação científica. Alguns jornais tos alternativos. Os agentes de publi-

90
cidade da indústria farmacêutica são ciam c o m uma instituição a igualdade
notórios por p r o m o v e r e m ligeiras va- de direitos c o m os meios nacionais,
riações nas drogas existentes ("me mas obter a história antes c o n t i n u a
too drugs") sem mencionar os produ- sendo o alvo.
tos dos competidores. Os efeitos co- Desse m o d o , o redator de ciência
laterais, que são aquelas reações que arrisca-se a apanhar de alguém de fo-
a c o m p a n h a m os efeitos pretendidos ra em seu p r ó p r i o t e r r i t ó r i o . Esse é o
de qualquer droga, raramente são argumento para manter-se em bons
mencionados nos press releases. É termos c o m o escritório de relações
trabalho d o redator de ciência perma- públicas, mas t a m b é m para desenvol-
necer alerta a essas omissões e pro- ver o m á x i m o possível suas próprias
porcionar a perspectiva e imparciali- fontes na c o m u n i d a d e c i e n t í f i c a .
dade necessárias. Essa colocação das melhores histórias
Por o u t r o lado, o pessoal de rela- para o efeito m á x i m o nos meios de
ções públicas pode oferecer aos reda- comunicação nacionais é uma conse-
tores de ciência dos meios de comu- qüência da quantidade de press re-
nicação assistência na identificação leases sendo enviados a redatores de
de matérias e na obtenção de entre- ciência dos meios de comunicação.
vistas. Isso, teoricamente, é a sua ra- Por causa da quantidade, os releases
zão de ser, embora qualquer observa- c o m freqüência são abertos e selecio-
dor prudente irá reconhecer que seu nados por u m f u n c i o n á r i o menos gra-
p r i m e i r o objetivo é a p r o m o ç ã o e a duado, não por u m redator de ciên-
proteção das organizações que pagam cia. Muitas organizações estão redu-
seus salários. Em muitas organiza- z i n d o o n ú m e r o de press releases em
ções, a atividade de relações públicas favor de uma colocação mais pessoal
é considerada parte de marketing e e especializada de histórias indivi-
vendas. No i n í c i o d o desenvolvimen- duais.
t o dos escritórios de relações públi- O redator de ciência da área de re-
cas, o t r a t a m e n t o imparcial dos lações públicas c o m freqüência esco-
meios de comunicação locais era u m lhe a que matérias de uma importan-
dos p r i n c í p i o s de operação estabele- te instituição dar publicidade. Em
cidos. Durante os ú l t i m o s anos isso instituições menores, o departamento
m u d o u . Sob o r a c i o c í n i o d o marke- de RP precisa trabalhar m u i t o d u r o
ting pelo maior retorno, as necessi- para localizar informação fresca e
dades dos redatores c i e n t í f i c o s que obter u m release aprovado pelos
trabalham para os meios de c o m u n i - administradores de escalão superior.
cação locais podem ser sacrificadas O trabalho de RP inclui examinar mi-
em função dos prováveis benefícios, nuciosamente informações que ser-
resultantes da colocação de uma his- vem c o m o histórico para serem distri-
t ó r i a exclusiva numa das publicações buídas e preparar conferências de im-
nacionais o u nas redes de televisão. prensa. M u i t o freqüentemente os re-
Algumas vezes jornalistas locais nego- datores de ciência da área de relações

91
públicas são criticados porque u m dem perder informações significati-
cientista ou administrador deseja dar vas. Apoiar-se nas notícias liberadas
publicidade a u m material que é tri- pelo governo não oferece garantia.
vial o u incompleto. Os redatores dos Sibbison descobriu m u i t a coordena-
veículos de comunicação podem sim- ção e consultas entre a F D A e as
plesmente ignorar tal matéria ou, n o companhias farmacêuticas sobre ma-
pior dos casos, divertir-se c o m a ten- teriais de publicidade. Às vezes, avi-
tativa de publicidade. Em 1981, a sos sobre riscos sérios em drogas no-
Harvard University f o i ridicularizada vas são editados nas matérias dos re-
por dar publicidade a certas pesquisas pórteres, de m o d o que a responsabi-
c o m o " n o v a s " quando eram, na ver- lidade pela falta de aviso não cabe in-
dade, uma extensão de trabalhos fei- teiramente aos redatores e ao pessoal
tos uma década antes na U C L A . Em- de relações públicas. As boas reporta-
bora o trabalho anterior fosse citado gens sobre remédios novos devem in-
em notas de rodapé, sua relação c o m cluir a solicitação de cópias d o " r ó t u -
a pesquisa mais nova não fora torna- l o " o u " b u l a " que a lei exige que
da clara nos materiais passados aos conste da caixa que c o n t é m a droga
repórteres. Paul Jacobs, d o Los Ange- de prescrição. Os repórteres t a m b é m
les Times, t r o p e ç o u no cientista que podem obter cópias das cartas for-
deu origem à técnica que lidava c o m mais que os fabricantes devem enviar
o e s t í m u l o do crescimento ósseo, en- a outros médicos quando emergem si-
q u a n t o procurava avaliação de outros nais de perigo. O b o l e t i m da F D A ,
cientistas a respeito da n o t í c i a anun- que é grátis e de periodicidade quin-
ciada por Harvard (Silberner, 1981). zenal, Drug Bulletin, t a m b é m pode
Matérias p r o m o v e n d o drogas no- dar pistas aos redatores de ciência
vas trazem maus m o m e n t o s aos jor- q u a n t o à descoberta de fatalidades
nalistas de ciência. C o m m u i t a fre- o u outros problemas relacionados
qüência as drogas desapontam ou se c o m remédios (Sibbison, 1985).
mostram inesperadamente perigosas O pessoal das equipes dos veículos
depois que matérias f o r a m escritas a de comunicação, e n t r e t a n t o , pode
partir de dados proporcionados pelos conseguir ajuda para obter entrevistas
seus fabricantes e agências d o governo. através d o escritório de relações pú-
Soube-se de press releases que dimi- blicas. O pessoal c o m p e t e n t e , da área
n u í r a m os perigos ou deixaram de de relações públicas em ciência deve
mencioná-los, diz J i m Sibbison, antigo conhecer as especialidades e o signi-
redator da Associated Press e da F o o d ficado d o trabalho nas suas institui-
and Drug A d m i n i s t r a t i o n . Os fabrican- ções. C o m freqüência sugerem maté-
tes de drogas podem t a m b é m evitar rias aos redatores de ciência. Aconse-
perguntas sobre os perigos do produ- lham os executivos da companhia so-
t o , se puderem, durante conferências bre que histórias poderão atrair a
de imprensa. Assim os repórteres que atenção dos veículos, a embalagem
se apoiam apenas nos press releases po- necessária e que material i n f o r m a t i v o

92
pode m e l h o r a r a u t i l i d a d e de u m a científico ao selecionar um tema para ma-
téria. Anote o maior número dessas per-
c o n f e r ê n c i a de imprensa. Os f u n c i o -
guntas que puder.
nários de relações públicas t a m b é m
p o d e m oferecer a u m r e d a t o r dos 2. Localize vários periódicos científicos
meios de c o m u n i c a ç ã o privilégios nas em sua biblioteca e procure idéias para a
matéria. Traga uma lista para a classe e re-
b i b l i o t e c a s de universidades e empre-
late por que acha que essas são boas possi-
sas assim c o m o facilitar-lhes a pesqui- bilidades de textos.
sa c o m p u t a d o r i z a d a de l i t e r a t u r a pa-
ra matérias mais i m p o r t a n t e s . Nas ra- 3. Folheie uma revista de ciência e outro
ras ocasiões e m que u m e v e n t o na periódico em busca da lista de reuniões
científicas. Há reuniões programadas perto
área de ciência o u m e d i c i n a se consti-
de sua cidade? Prepare uma lista de reu-
t u i n u m " f u r o " n o t i c i o s o , tal c o m o niões de ciência locais. Peça à classe para
os p r i m e i r o s i m p l a n t e s de corações votar nas que soarem mais promissoras pa-
a r t i f i c i a i s , u m f u n c i o n á r i o de relações ra histórias de ciência popular.
públicas que c o m p r e e n d e o que os
4. Obtenha de sua câmara de comércio ou
meios de c o m u n i c a ç ã o precisam para
escritório de convenções uma lista de reu-
relatar a d e q u a d a m e n t e u m a h i s t ó r i a niões, se existe alguma. A classe poderá
p o d e dar u m a o r d e m d e f i n i t i v a para a comparecer? Contate os patrocinadores
coleta de n o t í c i a s , que p o d e se t o r n a r enumerados pelo escritório de convenções.
u m a situação de c o m p e t i ç ã o o n d e
5. Algumas bibliotecas de universidades
não e x i s t e m regras.
são depósitos de documentos do governo;
se a sua é assim, obtenha uma lista das
Experiências aquisições recentes e veja se alguma ofere-
1. Há várias perguntas implícitas no capí- ce a possibilidade de uma matéria de
tulo que você deveria fazer como redator ciência.

93
Capítulo 5
Distorção e como evitá-la

RARAMENTE, NA PRÁTICA, A ESCO- p o d e m jamais resolver. Para os cien-


LHA DE UMA matéria de ciência e tistas que respeitam apenas os pe-
suas f o n t e s pode ser tão c o m p l i c a d a riódicos c i e n t í f i c o s , a redação sim-
c o m o parece no processo descrito an- ples sobre ciência e medicina repre-
t e r i o r m e n t e . Equacionar o significa- senta o m á x i m o da entropia. Se você
do, os interesses d o p ú b l i c o e os valo- não está e n t e n d e n d o , v e r i f i q u e a se-
res noticiosos tornam-se habituais à gunda lei da t e r m o d i n â m i c a n u m li-
medida que você amadurece na reda- vro de física.
ção d o n o t i c i á r i o de ciência. C o m
e f e i t o , redatores e editores arriscam- Hipóteses científicas
se a cair c o m m u i t a facilidade em ro- Uma f o n t e de distorções na reda-
tinas para decidir a seleção de maté- ção c i e n t í f i c a vem através de p o n t o s
rias. Apenas u m a atenção constante de vista diferentes sobre hipóteses
q u a n t o à necessidade de se ter mate- científicas. C o m muitas exceções no-
rial recente e uma abordagem mais táveis, a ciência experimental
atualizada para temas antigos p o d e m move-se em pequenos passos, cada
manter o redator f o r a do lugar-co- qual precedido por uma hipótese que
mum. propõe u m a explicação da totalida-
Menos administrável é o risco de de o u parte de u m f e n ô m e n o natural.
se distorcer a n o t í c i a de ciência nessa Baurch S. B l u m b e r g , M. D., Ph.D. e
busca de algo n o v o para leitores e es- vencedor d o Prêmio Nobel de 1976
pectadores. E m alguma parte entre o por seu t r a b a l h o levando à identifica-
processo de seleção de t ó p i c o s e o ção d o v í r u s da hepatite B c o m o cau-
processo de redação, o cientista e o sador d o câncer no f í g a d o e a u m a
redator divergem. Isso é responsável vacina c o n t r a a doença, abre, desse
por parte das críticas sobre a popula- m o d o , a sua fala c o m o o r a d o r de
rização, d a n d o uma impressão falsa uma f o r m a t u r a em 1983.
d o que é boa ciência e boa reporta- A ciência o u o m i t o irão explicar
gem c i e n t í f i c a . U m a série de pergun- satisfatoriamente os fenômenos
tas críticas ajudará o redator de ciên- observados na natureza; o m i t o é es-
cia a d i m i n u i r o índice de erro. Irão tabelecido para aceitação c o m o única
permanecer diferenças de o p i n i ã o explicação. N e n h u m a o u t r a possibili-
que as disciplinas de j o r n a l i s m o e dade é p e r m i t i d a . U m e x e m p l o f o i a
ciência ( o u jornalistas e cientistas) teoria m a n t i d a pela Igreja sobre o

95
planeta Terra (e a humanidade) c o m o mais corretamente compreendida co-
c e n t r o d o universo. m o uma coleção integrada de hipóte-
A s hipóteses (explicações) cientí- ses não-relacionadas." ( 1 9 8 3 , 12).
ficas são estabelecidas para serem tes-
tadas; a hipótese será uma f o r t e afir- O jornalismo, e n t r e t a n t o , prefere
mação " i n e q u í v o c a " , e a experiência fatos estabelecidos; uma história c o m
destinada a p r o d u z i r dados que rejei- qualificações e proteções demais pa-
tarão a hipótese se esta f o r falsa. Se, rece fraca e não-confiável. Se os cien-
após testes suficientes, os dados mos- tistas a f i r m a m em seus discursos, tra-
t r a r e m que a hipótese não f o i rejei- balhos o u publicações que os dados
tada, esta poderá ser aceita — experi- apoiam a hipótese, o jornalista aceita
mentalmente e provisoriamente. En- isso, não havendo qualquer protesto
t r e t a n t o , dados posteriores e hipóte- de outras áreas científicas. É o cien-
ses relacionadas p o d e m enfraquecer, tista, e não o consenso da comuni-
m o d i f i c a r o u anular a hipótese, por- dade, que se espera deva aceitar a res-
que cada teste pode gerar idéias para ponsabilidade pelo trabalho. As pro-
novas hipóteses. Dessa f o r m a , a hipó- teções modestas, c o m freqüência su-
tese original pode nunca ser " c o m - permodestas, são ignoradas o u a his-
provada" do modo comumente t ó r i a é eliminada. E n t r e t a n t o , mais
e n t e n d i d o , mesmo se sobreviver a redatores de ciência estão colocando
m u i t o s testes. A hipótese permanece avisos em suas histórias através de
apenas " n ã o - r e j e i t a d a " , sempre dis- frases qualificativas tais c o m o : "se o
p o n í v e l para ser considerada falsa e relatório permanecer v á l i d o " o u "até
suplantada por uma hipótese o u teo- c o n f i r m a d o ou rejeitado por mais
ria mais completa, que explique a pesquisas". Os repórteres de ciência
realidade de uma maneira melhor. Os podem procurar e citar cientistas que
pesquisadores p o d e m agir c o m o se a discordem, arriscando-se à inimizade
hipótese ou teoria fosse provada (ver- d o pesquisador cujo trabalho é posto
dadeira) até que se quebre o u seja e m dúvida. É duvidoso que os edito-
substituída. Às vezes você poderá en- res jamais p e r m i t a m avisos tão proe-
contrar duas teorias em uso ao mes- minentes nas redações de ciência co-
m o t e m p o . O universo n e w t o n i a n o , m o os que os jornalistas usam para
por exemplo, é suficiente para a via- marcar matérias políticas sobre go-
gem espacial planetária e m u i t o s ou- vernos que censuram matérias, preve-
tros empreendimentos de astrono- n i n d o os leitores de que o c o n t e ú d o
mia; entretanto, apenas a visão eins- pode ser oficial mas não necessaria-
teiniana do universo será suficiente mente acurado. Se os guardadores
para explicar o u t r o s fenômenos. Diz dos portões da ciência, aqueles que
o Dr. Blumberg: " É u m paradoxo in- revisam os trabalhos c i e n t í f i c o s ou
teressante que a ciência c o m freqüên- encobrem os oradores numa reunião
cia seja vista c o m o uma série de fatos fossem insistir em que os cientistas
estabelecidos, quando poderia ser negassem o que haviam a f i r m a d o po-

96
deria fazer pouco sentido escrever so- Fragmentação
bre o que os cientistas estão dizendo.
Outra fonte de distorção reside na
Os próprios cientistas poderiam se
natureza da reportagem sobre even-
frustrar por ter seus resultados tão
tos ou em tratar a ciência como notí-
proscritos por seus colegas e para
cias rápidas. Sem ao menos alguma
seus colegas.
informação histórica para a matéria,
as histórias de ciência podem deixar
Onde os cientistas oferecem infor-
os leitores sem uma perspectiva da
mação fora do ambiente, de uma reu-
importância do que está sendo relata-
nião ou de u m periódico c i e n t í f i c o ,
do. Tal perspectiva pode envolver de-
o redator pode proporcionar sinais de
f i n i r u m termo e a maneira pela qual
aviso. Tais avisos não precisam ser in-
os médicos o usam. Uma " e p i d e m i a " ,
tromissões. Estas incluiriam observar
por exemplo, significa para os cien-
que " o trabalho não f o i p u b l i c a d o "
tistas da saúde uma incidência da
ou que o cientista "planeja apresen-
doença acima da ocorrência normal.
tar os resultados" numa reunião espe-
Não significa necessariamente uma
cífica. Uma outra proteção não intro-
ocorrência alcançando amplas áreas
missiva, " n u m relatório formal a ser
geográficas ou grande número de pes-
publicado em breve" pode ser usada
soas. Pode significar essas coisas, mas
onde u m periódico c i e n t í f i c o aceitou
determinar isso requer outras ques-
a pesquisa para publicação numa data
tões para levantar as localizações e a
futura. Quando dois cientistas libera-
quantidade de vítimas.
ram seus relatórios de pesquisa para a
National Science Foundation sobre a As acusações de distorção podem
possibilidade de que as árvores pode- envolver a forma pela qual o redator
riam "comunicar-se" prevenindo ou- aborda uma matéria. Essa f o i a con-
tras árvores quando os insetos ou as clusão a que chegou o pessoal do Na-
doenças as atacam — liberando pro- tional Câncer Institute, que analisou
dutos químicos aéreos similares aos 2.138 matérias publicadas sobre cân-
pheromones, uma história da Asso- cer num período de três meses. 0 es-
ciated Press trazia esta frase: "Se con- t u d o indicava que pequena cobertura
firmadas, as descobertas da Universi- f o i dada â informação que ajudaria as
t y of Washington iriam marcar a pessoas a prevenir o câncer ou lidar
primeira vez em que se mostra que as com seus efeitos. E a cobertura jorna-
plantas emitem produtos q u í m i c o s lística tendia a reforçar o que o dire-
que levam informação a outras." tor de informações do NCI chamava
(Leary, 1983, A-2). Desse m o d o , os de aspectos "negativos" (mortes)
redatores podem imaginar palavras mais do que estratégias "positivas"
para transmitir a sensação de desco- (lidar com o câncer). As matérias so-
berta científica e a sua qualidade ex- bre os efeitos causadores de câncer
perimental sem enfraquecer suas ma- dos produtos químicos raramente da-
térias. vam informações sobre os perigos re-

97
lativos das substâncias o u sobre c o m o causas. Nesse estudo, 92% das maté-
os indivíduos p o d i a m lidar c o m o rias eram reportagens de notícias pro-
acaso ( V a n Nevel,1979). Os jornalis- priamente ditas, c o m apenas 7% de
tas não precisam aceitar essa acusa- histórias e 1 % d e reportagens em pro-
ção uma vez que quase todos os gru- f u n d i d a d e o u c o m informações histó-
pos c o m os quais lidam terão a sua ricas. Ironicamente, enquanto apenas
p r ó p r i a idéia d o estilo apropriado de 7% c o n t i n h a m recomendações dos
apresentar sua mensagem. E n t r e t a n t o cientistas q u a n t o a ações individuais,
u m engano c o m u m d o redator de 4 6 % c o n t i n h a m recomendações sobre
ciência iniciante é não saber distin- o que as agências governamentais po-
guir entre os m u i t o s tipos de cânce- deriam fazer para m i n i m i z a r a expo-
res e as variadas estimativas de sobre- sição de indivíduos.
vivência de suas v í t i m a s . Quando o Os jornalistas devem assumir algu-
presidente Ronald Reagan submeteu- ma responsabilidade pela distorção.
se a uma cirurgia de câncer no c ó l o n O National News Council censurou o
em 1985, os especialistas em câncer e The New York Times em 1983 por
cirurgia deram estimativas de sua so- uso incorreto de fatos em sua matéria
brevivência por cinco anos sem a sobre os riscos para a saúde c o n s t i t u í -
ocorrência de o u t r a espécie de câncer dos por herbicidas, usados nos cam-
de 4 0 a 80%. pos de arroz d o Arkansas. O conselho
Essas acusações, e n t r e t a n t o , suge- disse que uma afirmação de u m bio-
rem que os redatores e editores de q u í m i c o f o i usada fora de c o n t e x t o
ciência deveriam insistir em propor- para respaldar o t í t u l o de uma maté-
cionar alguma informação histórica ria que dizia que " m é d i c o s e cientis-
nas matérias para colocar a nova in- t a s " apoiavam as afirmações de peri-
f o r m a ç ã o em perspectiva, deveriam go. O relatório dizia que o repórter
referir-se ao risco individual onde a do Times o m i t i u os fatos que mostra-
doença é u m f a t o r e deveriam relatar vam que algumas das áreas de arroz
maneiras de m i n i m i z a r os riscos de t i n h a m baixas taxas de incidência de
sobrevivência. (Isso pode requerer câncer, enquanto mencionava índices
mais espaço d o que alguns editores de mortalidade c o n t i d o s n u m relató-
estão dispostos a conceder.) A análise rio divulgado u m ano antes, ao invés
d o Câncer Institute reconhece, entre- de usar u m número-média mais bai-
t a n t o , que onde estiver f a l t a n d o pers- x o , baseado em vários anos ou mes-
pectiva os jornalistas não precisam m o números de uma taxa de m o r t e
carregar t o d a a culpa. Às vezes os es- mais elevada de uma área que não
pecialistas em câncer e seus assisten- plantava arroz. A matéria d o jornal
tes de informação não sabem c o m o é t a m b é m mencionava u m estudo cor-
f o r t e u m carcinógeno em compara- relacionando a incidência de palato
ção c o m o u t r o , não t ê m recomenda- f e n d i d o e uso de herbicidas, sem
ções sobre c o m o evitar exposição o u , mencionar a conclusão d o estudo de
em casos de uma nova doença, as que o a u m e n t o n o índice de palatos

98
tendidos era o resultado de melhor e não se deve esperar que o façam. Os
pesquisa médica e não do uso de dados e a opinião científica podem
herbícidas. A perspectiva e as infor- orientar uma decisão, mas a intuição,
mações históricas devem incluir rela- o julgamento e a p o l í t i c a também de-
tos completos sobre estudos cientí- sempenham papéis na decisão. Lixos
ficos. A reportagem seletiva que igno- químicos tóxicos vazando de depósi-
ra os fatos contraditórios fere a credi- tos abandonados, por exemplo,
bilidade de cientistas e jornalistas obviamente são prejudiciais á saúde e
(National News Council, 1984). arruinam casas e outras propriedades
nos arredores. Será possível reunir
todos os dados u m dia? Décadas po-
Relatando a ambigüidade científica dem se passar antes que uma condi-
Faça uma pergunta clara aos cien- ção patológica esteja plenamente es-
tistas: seus dados apóiam uma deci- tabelecida. Mas as decisões políticas
são que aprova o u rejeita u m q u í m i - deveriam ser retardadas até que t o d o
co, u m p r o d u t o o u uma atividade? o indicador c i e n t í f i c o tenha sido re-
Este é o conselho de Barbara Culli- latado? A não ser que a indulgência
t o n , editora da revista Science e anti- resulte de decisões políticas e gover-
ga presidente da NASW. Esse t i p o de namentais, isso continuará u m fator
questionamento é decisivo no que poderoso influindo nas normas públi-
concerne normas públicas onde se cas, fator esse que os meios de comu-
discutem temas para além da ciência: nicação podem e irão influenciar. Por
lixo t ó x i c o , chuva ácida e outras o u t r o lado, Robert C. Cowen, editor
questões relativas ao meio ambiente. de ciência natural para o Christian
Em 1981 o ministro da saúde ameri- Science Monitor e o u t r o antigo presi-
cano recomendou que as mulheres dente da NASW, previne que o trata-
grávidas evitassem o álcool para mi- mento simplista de temas carregados
nimizar o risco de seus bebês adquiri- de emoção que são tecnicamente
rem síndrome de álcool fetal. Os re- complexos representam quase u m
datores de ciência apontaram para o embaraço para os redatores de ciên-
fato de que os dados eram antigos; a cia (1984). No entanto devem os re-
nova interpretação do ministro da datores de ciência o u quaisquer ou-
saúde f o i conservadora. Culliton tros jornalistas ficar restritos a noti-
observou: " À luz do óbvio estresse ciar apenas os dados nus, suficientes
psicológico que a postura do ministro o u insuficientes? As decisões devem
poderia criar, é razoável pensar que sempre ser racionais? Devem apenas
uma matéria sobre a sua decisão de- fatos cientificamente estabelecidos
veria incluir informação sobre as am- apoiar as decisões?
bigüidades da informação c i e n t í f i c a "
(1981, 19). Ciência não-ortodoxa
Com freqüência apenas os dados Na vida de cada jornalista de ciên-
científicos não apoiarão uma decisão cia aparecerá alguém reivindicando

99
novas, espantosas e fantásticas desco- 2. Ela prediz alguma coisa? O ato
bertas. Poderia ser o inventor de uma de predizer é o coração da hipótese e
máquina que alegadamente produz teoria científicas; os resultados de-
mais energia do que consome, o u t r o vem ser suscetíveis a testes indepen-
aparelho de " m o t o - p e r p é t u o " . O u dentes. Pergunte que fatos preditos
poderia ser uma matéria de periódico estão i m p l í c i t o s — (não para que serve
c i e n t í f i c o p r o p o n d o uma maneira uma descoberta.)
completamente nova de encarar u m 3. Está ligada a alguma coisa?
tema relativo à ciência. Os cientistas (Devem ser suspeitas as afirmativas
o r t o d o x o s irão incentivá-lo a não pu- que não se ligam a outras grandes
blicar a história. Mas a competição teorias que sobreviveram até agora ao
entre você mesmo e outros jornalistas teste de m u i t o s pesquisadores em
o u entre os meios de comunicação muitas situações diferentes). 0 traba-
pode exigir alguma espécie de ação. lho de 1905 de Einstein que deu no-
Seu editor aguarda explicações. A va diretriz à física ligava-se c o m a f í -
afirmação não o r t o d o x a de u m novo sica de N e w t o n e o u t r o s e predizia
p o n t o de vista sobre a natureza pode efeitos que poderiam ser testados ex-
ser válido. Os vírus c o m o causa pos- perimentalmente c o n t r a a teoria
sível para alguns t i p o s de câncer fo- (Bernstein, 1982, 21 A ) .
ram vaiados quando propostos ini- Três outras perguntas, acessíveis
cialmente. Pouco depois, quase todos mesmo a redatores de não-ciência,
os pesquisadores de câncer f o r a m ar- oferecem alguma utilidade que é ba-
rastados para a caça aos vírus. C o m o seada em credenciais. Estas vão além
você separa, para seus leitores, o real de Bernstein.
do falso? A resposta não é fácil e às
vezes nunca é alcançada. 1. Onde o cientista trabalha? As
O f í s i c o Jeremy Bernstein, que es- conexões c o m uma universidade, ins-
creve ciência popularizada para o The t i t u t o o u companhia de pesquisas de
New York Times e o The New Yorker, boa reputação, podem avalizar a
entre outros, duvida que não-cientis- competência para realizar o trabalho
tas possam discernir ciência não-con- reivindicado; a aceitação i m p l í c i t a de
vencional, mas boa, daquela que ele colegas bem treinados em pesquisa
chama ciência " d e a r a q u e " . Nem ele pode reassegurá-lo e a seu editor. A
acredita que os próprios cientistas falta de tal conexão pode levantar
possam fazer a distinção em campos suspeitas sobre o pesquisador e pode
afastados de suas próprias especiali- merecer u m lugar em qualquer histó-
dades. Bernstein faz três perguntas ria resultante, j u n t o c o m a resposta
quando encontra uma proposta não- d o cientista. Se você t e m dúvidas,
convencional: chame os colegas d o pesquisador o u
o f u n c i o n á r i o de informações da ins-
1. Ela explica alguma coisa? (E, t i t u i ç ã o para levantar fatos específi-
diga diretamente, o que explica?) cos.

100
2. Qual é o passado educacional dade na ciência. A falta de publica-
do pesquisador? Você pode verificar ções recentes pode indicar uma longa
o seu treinamento? O orgulho que a ausência da pesquisa o u a entrada nu-
maioria dos pesquisadores tem de ma nova área. A não ser que o pes-
suas listas de graduações e outras cre- quisador tenha saído recentemente
denciais geralmente torna-os propen- da universidade, a ausência de qual-
sos a fornecer essa informação. Você quer registro de publicações merece
pode sentir que não convém fazer as um inquérito adicional. Se o trabalho
perguntas diretamente, sob certas cir- aparece num periódico menos conhe-
cunstâncias. As biografias da maioria cido, você deveria considerá-lo válido
dos doutores em filosofia encontram- se checar a reputação do periódico
se nos Who's Who ou outros catálo- com outros cientistas do campo. Essa
gos especializados. Tais biografias, publicação científica t e m alguma sig-
entretanto, são preparadas pela pes- nificação para a comunidade c i é n t í f i -
soa, e podem não ser totalmente con- ca? É realmente u m periódico de
fiáveis. Houve casos de informações ciência? Algumas revistas científicas
forjadas. Novamente, uma chamada de segunda classe sujeitam-se, para
às instituições pode revelar discrepân- preencher o espaço, a dar publicida-
cias entre as afirmativas da pessoa e o de a indústrias farmacêuticas e de
registro. Até que uma série de peças equipamentos, sem questionar m u i t o .
fossem pregadas às universidades e Outras mantêm altos padrões de acu-
centros médicos, nos anos oitenta, as rácia, significado e senso de o p o r t u n i -
credenciais e referências raramente dade. Trabalhos de pesquisa forjados,
eram checadas. As universidades e falsificados e roubados t ê m aparecido
hospitais ainda se descobrem engana- em periódicos secundários e publica-
dos uma vez o u outra por farsantes ções descuidadamente editadas, desti-
espertos. Você também poderá des- nadas mais ao lucro do que para in-
cobrir que a pessoa está trabalhando formação.
numa área científica alheia a seu
campo de treinamento. Nada diz que
o cientista treinado em buscar infor- Outras pesquisas novas
mação não pode aprender u m campo Mesmo com base em relatórios de
novo, mas especialistas atuando fora pesquisa o r t o d o x a , os redatores de
de sua especialidade são u m risco. ciência podem melhorar seu estilo de
3. O cientista publicou alguma reportagem com perguntas que po-
coisa recentemente em periódicos dem afastar possíveis distorções na
científicos de reputação? Como as forma final do artigo. Essas perguntas
outras perguntas, esta não oferece incluem:
u m teste seguro (de tornassol) em si 1. 0 seu cientista pode dar-lhe os
e por si. Entretanto, a aceitação atra- nomes de outros que trabalham no
vés da revisão pelos colegas é u m campo? Caso a resposta seja negativa,
ponto a mais na direção da credibili- por quê? Porque muita coisa na ciên-

101
cia é c o n s t r u í d a sobre o trabalho de nião. Você não deve favores. Esse é
o u t r o s , u m pesquisador competente exatamente o t i p o de agente de im-
provavelmente terá em mente o u t r o s prensa ou-cientista que irá expô-lo a
cientistas que t ê m c o n h e c i m e n t o so- críticas sobre sua acurácia e falta de
bre o mesmo p r o b l e m a o u sobre pro- minúcia se você p e r m i t i r que ele o
blemas i n t i m a m e n t e relacionados. As faça desistir de encontrar uma f o n t e
notas de rodapé nos relatórios de pes- alternativa de informação.
quisa freqüentemente c o n t ê m indica-
ção para o u t r o s pesquisadores se os 2. De onde vem o d i n h e i r o para a
materiais realmente são adequados ao pesquisa? Os seus custos t o r n a m im-
trabalho sob discussão. A l é m disso, provável o seu auto-financiamento o u
se o trabalho é g e n u í n o , você pode a realização de experiências baratas,
descobrir o u t r o s colaboradores, que a não ser naqueles casos incomuns
merecem ser mencionados. Uma crí- que se tornarão boas matérias por
tica à redação de ciência popular en- causa de sua singularidade. Verbas d o
volve acusações de que os redatores governo federal, que podem ser veri-
ignoram q u e m merece crédito igual, ficadas c o m a agência de financia-
talvez maior, por este ú l t i m o avanço. m e n t o se as respostas levantarem
Os press releases de universidades po- suas suspeitas, são o t i p o mais co-
dem deixar i m p l í c i t o , por omissão, m u m de apoio financeiro. Essas ver-
que suas escolas são as únicas c o m bas são identificadas por u m código
cientistas fazendo u m t i p o particular dado à agência financiadora e por u m
de pesquisa. Isso é bobagem. Insista n ú m e r o dado ao f i n a n c i a m e n t o , que
que o escritório de imprensa o u o algumas agências pedem seja usado
cientista forneçam nomes e lugares em qualquer matéria impressa, inclu-
onde trabalho relacionado esteja sen- indo os press releases. N o caso de al-
do realizado. guns p r o d u t o s farmacêuticos e de
Alguns funcionários de RP podem saúde e de o u t r a pesquisa aplicada, a
insistir em não dar os nomes de ou- identificação dos patrocinadores po-
tros, alegando que não t ê m por que de indicar uma inclinação tendencio-
dar publicidade a trabalho de f o r a de sa para que os resultados sejam favo-
suas próprias instituições. Esse racio- ráveis para a companhia patrocinado-
c í n i o espúrio indica uma disposição ra. A imprecisão a respeito de patro-
por parte dos cientistas e do pessoal c í n i o , seja por parte d o cientista o u
de RP para p e r m i t i r e m distorção f u n c i o n á r i o de relações públicas, po-
em benefício pessoal. Alguns poucos de indicar a necessidade de especifi-
redatores de ciência a f i r m a m que a cação. U m cientista de universidade,
pesquisa é tão c o m p e t i t i v a que esta usado c o m o porta-voz " n e u t r o " na
linha de questionamento pode ofen- conferência de imprensa que apresen-
der u m cientista. Se os sentimentos tava uma droga nova f o i mais tarde
estão tão tensos, a situação pede descoberto ser u m consultor contra-
abertamente para se obter o u t r a opi- tado pelo fabricante.

102
3. A subvenção poderá ser renova- vendidos por outras companhias. Os
da? Os redatores de ciência suspeitam produtos podem valer uma história
que a publicidade em t o r n o da época pelos padrões jornalísticos, mas para
em que uma subvenção expira pode evitar enganar leitores, editores e a si
ajudar a constituir renovações. Isso mesmo, pergunte se são realmente
parece improvável a muitos cientistas novos o u se têm mesmo alguma coisa
que esperam que a revisão feita por a mais do que os produtos existen-
outros cientistas sobre a aplicação tes. Pergunte também sobre as limi-
dessas verbas e os resultados alcança- tações de seu uso e, no caso de dro-
dos levem a renovações. Mas se o ci- gas, sobre os efeitos colaterais que
entista ocasional acha que a publici- possam oferecer riscos para alguns
dade ajuda, você poderá ter ofereci- consumidores potenciais. Compare o
das a você algumas descobertas apres- que é d i t o a respeito da segurança
sadamente arranjadas. Essa é uma quanto ao consumo dessa droga, com
possibilidade para funcionários de re- o que está indicado no seu " r ó t u l o "
lações públicas das instituições tam- o u na " b u l a " sobre suas contra-indi-
bém e as críticas resultantes podem cações de uso.
embaraçar a escola ou a companhia
assim como os cientistas envolvidos.
Distorção por omissão
4. Que outras companhias fazem
esse produto? Os repórteres de ciên- Deixar de fora de uma matéria in-
cia dos veículos de comunicação têm formação de importância crucial por
uma visão desconfiada de compa- causa de limitações de espaço e tem-
nhias farmacêuticas e outras orienta- po ou preguiça, ou ignorância, atrai
das para produtos, com alguma ra- sérias conseqüências. U m exemplo
zão. Cada companhia, incluindo seus clássico ocorreu quando a Rand Cor-
cientistas, está no ramo para seu pró- poration, uma instituição de pesqui-
prio benefício. Por isso muitos press sa, liberou u m relatório indicando
releases seguem diretamente de mui- que alguns alcoólatras poderiam ser
tas companhias anunciando novas capazes de recomeçar a beber após o
drogas, articulações de bacia, marca- tratamento. Embora os principais jor-
passos, membros artificiais e outros nais e serviços noticiosos que recebe-
aparelhos. Vistos fora de c o n t e x t o , ram a matéria tivessem informação
cada u m pode parecer u m avanço sig- resumida sobre as incertezas dessa
nificativo. A experiência dos redato- conclusão, muitos dos qualificativos
res de ciência, entretanto, leva-os a desapareceram na edição de jornais e
acreditar que foram com freqüência estações de rádio e T V menores que
usados demais para publicidade gra- transmitiram a história. Como resul-
t u i t a e enganosa. Os escritores confia- tado, a Rand f o i castigada por todos
vam demais na ética dê suas fontes. os setores que lidam com o tratamen-
Muitas novas drogas e aparelhos eram to do uso abusivo do álcool por — su-
produtos feitos para competir com os postamente — dizer de f o r m a direta

103
que os alcoólatras poderiam voltar a gia, marcar as histórias de novas téc-
beber, o que, na verdade, ela rião dis- nicas médicas como experimentais, e
se. C o m o f o i mencionado antes, inquerir médicos e cientistas sobre
Sibbison (1985) descobriu press re- efeitos potenciais das novas descober-
leases que o m i t i a m os avisos das bu- tas se se pretende aplicá-las ampla-
las, redatores de ciência que não mente.
olhavam além dos press releases e avi-
sos a consumidores que eram edita-
Perspectivas da distorção
dos das histórias dos repórteres.
E m o u t r o exemplo, poucas maté- Existem poucos remédios eficazes
rias de ciência questionavam os peri- para se receitar contra a distorção.
gos da exposição aos raios X quando M u i t o depende do senso de integrida-
a mamografia f o i proposta como me- de e responsabilidade do redator. Co-
dida de saúde geral para a detecção m o t o d o jornalista, os redatores de
do câncer de mama. Quando o risco ciência têm a responsabilidade de
dessa proposta se t o r n o u aparente compreender e relatar inteiramente
mais tarde, apareceram matérias di- qualquer história que abordam. Se
zendo às mulheres para evitarem você não alcança o ideal, não deve-
raios X de seios. Por sua vez, as impli- rá ser por falta de tentativa. Essa é a
cações em evitar raios X quando os primeira proteção contra a distorção.
médicos os recomendavam foram Outra proteção reside numa atitu-
pesquisadas mais tarde (Shaw, 1977). de aberta e tolerante em relação à
U m terceiro exemplo vem dos anos crítica. E apesar da c r í t i c a freqüente-
oitenta. Nessa época, as companhias mente vigorosa, os cientistas e reda-
começaram a vender botas de saúde tores de ciência estão mais perto uns
que permitiam às pessoas ficarem dos outros na maioria dos pontos do
penduradas pelos calcanhares, em que qualquer dos grupos freqüente-
uma barra, teoricamente aliviando a mente admite. As exceções podem
pressão na coluna e nos músculos das ser aquelas, t a n t o na ciência c o m o no
costas. Algumas histórias impressas jornalismo, que caem na intolerância
nos jornais e transmitidas pelos meios de acreditar demais em sua própria
de difusão observaram que essa ativi- retórica. Talvez seja ilustrativo de co-
dade devia ser feita c o m alguém por m o a ciência se t o r n o u fragmentada o
perto para ajudá-lo a descer antes que fato de que os cientistas são m u i t o
você desmaiasse ou que o f l u x o de mais críticos a respeito de matérias
sangue na cabeça estourasse vasos feitas sobre suas pessoas do que sobre
sangüíneos fracos. Na verdade, pou- cientistas em campos similares o u di-
cas histórias chegaram a verificar, ferentes. Essa é uma história c o m u m
c o m médicos, os benefícios alegados. para jornalistas; eles a ouvem tam-
Esses exemplos mostram que os reda- bém de autoridades municipais, jui-
tores de ciência devem perguntar so- zes, criminosos e outros segmentos
bre efeitos adversos da nova tecnolo- da sociedade, exceto quando os alvos

104
são retratados heroicamente. Tal crí- conferências de imprensa sobre des-
tica não reflete necessariamente dis- cobertas menores o u , por e x e m p l o ,
torção significativa (Tichenor et a/., os poderes curativos superotimistas
1970). a t r i b u í d o s aos raios X n o i n í c i o deste
U m p r o d u t o das notícias distorci- século. Os cientistas t a m b é m são co-
das de ciência e medicina, acusaram nhecidos por alegar erros de citação e
os cientistas, é que as pessoas são le- de representação q u a n d o a sua hipér-
vadas a decisões errôneas. A f o r t u n a - bole é impressa, c o m o o fazem os po-
damente as pessoas raramente con- líticos.
f i a m em apenas uma f o n t e de infor- No caso da distorção, m u i t o dos
mação ao t o m a r e m decisões sobre suas desacordos entre cientistas e redator
vidas. Elas verificam as informações vem das diferenças nas duas fés. A o
dos meios de comunicação c o m ami- mesmo t e m p o em que o professor
gos, experiências pessoais e autorida- Michael Ryan e n c o n t r o u os cientistas
des. Os cientistas e os médicos estão e os jornalistas mais em acordo d o
errados quando descarregam t o d a a que em desacordo sobre pontos de
culpa sobre os meios de comunicação reportagens científicas, ele salienta
ao serem perturbados por chamados que os jornalistas não c o n c o r d a m
sobre novo t r a t a m e n t o o u afirmações c o m o desejo dos cientistas de ler
equivocadas. Isso não desculpa o re- suas matérias antes da publicação o u
dator de ciência da falta de precisão c o m o f a t o de os repórteres escreve-
e impressões enganosas, apesar de ra- rem os t í t u l o s das matérias c i e n t í f i -
ramente ser ele o único responsável cas. Raramente u m cientista concor-
pelo f a t o . dará c o m os repórteres sobre a afir-
A l g u m a distorção é auto-induzida mação de que as notícias científicas
e provavelmente inevitável. Qualquer parcas vezes são sensacionalistas; o
redator médico pode prevenir cuida- que é sensação para u m é a cor e o in-
dosamente os leitores q u a n t o a u m teresse h u m a n o para o u t r o . Não há
novo t r a t a m e n t o o u droga ser experi- concordância c o m a idéia de ter ape-
mental, ter sido testado apenas c o m nas o cientista para avaliar a contri-
animais, e provavelmente estar a anos buição de sua pesquisa. Nem o reda-
do uso geral. As pessoas ainda assim t o r de ciência aceitará o argumento
chamam seus médicos para perguntar de que ele não deve interpretar aí
sobre o t r a t a m e n t o . E n t r e t a n t o , os conclusões dos cientistas. Os cientis-
redatores c i e n t í f i c o s devem rever tas acham que informações m u i t o im-
suas histórias em busca de frases que portantes são omitidas; a maioria dos
pudessem encorajar essas falsas espe- redatores de ciência acha que não.
ranças. O u t r a f o n t e de falsa esperan- A m b o s discordam t o t a l m e n t e a res-
ça é que os cientistas tendem a exa- peito de escrever sobre ciência c o m o
gerar suas realizações, exatamente co- n o t í c i a apenas depois que f o r publi-
m o o fazem os prefeitos, governado- cada n u m periódico c i e n t í f i c o ( R y a n ,
res e presidentes. Às vezes isso leva a 1979, 1982).

105
O redator de ciência deve manter abordagem geralmente modesta dos
em mente que nem a ciência nem a cientistas em relação à publicação.
redação científica são monolíticas. A Schwartz advoga u m estilo fantástico
aceitação em cada grupo depende de descrever e ilustrar e elogia a abor-
grandemente das performances indi- dagem do National Enquirer para ma-
viduais, pessoais. Você se sairá me- térias de jornal. Embora gráficos me-
lhor com algumas matérias do que lhores, mais claros e o uso de cor pos-
com outras. Alguns cientistas expres- sam com efeito tornar muitas maté-
saram admiração por sua coragem em rias de ciência mais fáceis de enten-
sair para escrever para os veículos de der, os jornais que obedecem esse es-
comunicação sobre ciência em geral. t i l o têm sido criticados fortemente
U m cientista, salientam eles, faz bem pelos cientistas por distorção. Reco-
em conhecer os segmentos de uma nhecendo a crítica, o National Enqui-
grande disciplina. Os redatores de rer instalou um procedimento m u i t o
ciência são solicitados a escrever his- rígido de verificação de fatos. A posi-
tórias sobre muitos campos de conhe- ção de Schwartz sustenta que o con-
cimento especializado. trato do redator é com os leitores,
Uma ameaça de distorção mais sé- não com os cientistas o u colegas jor-
ria â aceitação individual de u m reda- nalistas, e que os leitores comuns não
tor de ciência pode ser a tendência gostam de histórias aborrecidas. Isso
em direção ao que pode ser chamado é verdade, mas a vivacidade não deve
" n o v o sensacionalismo" no jornalis- superar a responsabilidade do autor
m o americano e talvez mundial. Esse de apresentar uma história tão apu-
é moldado no estilo de apresentação rada e livre de distorção quanto pos-
do tablóide inglês, alguns trabalhos sível (Holder, 1983).
de Rupert Murdoch e o National En-
quirer ou outros dos "jornais de su-
permercado", que usam muitas maté- Enganos e fraudes
rias baseadas em ciência. A conselho Enganos e fraudes na ciência colo-
de consultores tais como professor cam u m problema de distorção intei-
Stuart Schwartz, da Geórgia State ramente diferente para os jornalistas
University, alguns jornais de cidades científicos. A não ser que o redator
pequenas estão adotando u m estilo possua todos os talentos de u m cien-
de reportagem e de manchetes mais tista pesquisador, é improvável que
vivo, estridente e de abordagem pes- ele realize eficientemente a função de
soal. " M a m i l o s causam câncer" é fre- vigia da imprensa. Mas provavelmen-
qüentemente citado c o m o o t í t u l o te qualquer fraude de u m cientista se-
mais memorável de u m jornal de rá descoberta por pesquisadores cole-
O h i o recriado por Schwartz (Holder, gas, e o redator pode ouvir a respeito
1983). através de u m amigo no laboratório
Esse estilo, mais gráficos colori- o u de uma nota em publicação cien-
dos, contrasta grandemente com a t í f i c a . Quando a fraude é descoberta,

106
as convenções da ciência pedem u m a u m cientista o u relatório, que p o d e m
retratação pública dos trabalhos de ajudar a revelar algo da qualidade da
pesquisa d o cientista suspeito p u b l i - pesquisa.
cados pelo p e r i ó d i c o c i e n t í f i c o . Os
editores desses periódicos, c o m o suas 1. O trabalho o u a publicação
contrapartes nos meios de comunica- c o n t é m todos os resultados de todas
ção populares t ê m relutância em im- as experiências? A ciência exige rela-
p r i m i r tais notas de correção. É o si- tórios completos. O apoio a uma hi-
nal de que o sistema de revisão pelos pótese por vezes f o i mais realçado
colegas f a l h o u . pela reportagem seletiva de experiên-
A extensão da fraude na pesquisa cias, incluindo apenas os dados que
c i e n t í f i c a , médica e de engenharia se ajustavam mais perfeitamente à
permanece em disputa. Os escritores teoria.
de ciência W i l l i a m J. Broad e Nicholas 2. A t é que exte/isão os dados ofe-
Wade, d o The New York Times, anti- recidos c o m o evidência f o r a m suavi-
gamente c o m a revista Science, dizem zados em relação aos dados nus? Pa-
que há u m bocado de fraudes. E m rece b o m demais? A experimentação
Betrayers of the Truth (1983), eles é u m negócio mais confuso d o que
discutem mais de uma dúzia de casos m u i t o s cientistas a d m i t e m . Não é fa-
de fraude em ciência. Alguns deles t o desconhecido dos pesquisadores
f o r a m revelados apenas após u m sé- que c o r t a m e arredondam dados para
culo de aceitação. Teoricamente os fazê-los se encaixar aos resultados
mecanismos de autopoliciamento da preditos por suas hipóteses. Obvia-
ciência deveriam tê-las rejeitado rapi- mente o curso em métodos de esta-
damente. O h o m e m de P i l t d o w n teve tística e pesquisa ajudará o redator
u m lugar aceito na ciência por p e r t o de ciência a reconhecer padrões inco-
de t r i n t a anos, depois que f o i supos- muns.
tamente desenterrado em 1908; não 3. O u t r o s cientistas citaram esse
f o i conclusivamente marcado c o m o pesquisador? A citação na pesquisa
uma fraude até o advento da datação de o u t r o s cientistas indica que o tra-
por radiocarbono nos anos cinqüen- balho f o i d u p l i c a d o o u usado em no-
ta. Os líderes da comunidade c i e n t í f i - vos experimentos e que resistiu. Mui-
ca a f i r m a m que os casos de fraudes t o trabalho de pesquisa nunca mais é
são poucos, relativamente ao tama- testado; permanece na literatura e às
nho da comunidade, e resultam de vezes é ressuscitado. A citação signi-
enganos de técnicos e de indivíduos fica que o u t r o s pesquisadores con-
quebrando-se sob a pressão de suas f i a m no trabalho da pessoa. A quan-
exigentes tarefas e ambições. tidade de trabalhos publicados relata-
Não obstante, o estudo de Broad e da por u m cientista às vezes pode não
Wade sugere que há perguntas que o ser relevante por causa de técnicas
redator c i e h t í f i c o pode colocar, usadas para aumentar a quantidade
quando estiver cético a respeito de de publicações e partilhar de crédito

107
p o r trabalhos realmente realizados tes de descobertas acidentais, de des-
por outros. cobertas inesperadas e felizes, que os
4. Q u a n t o t e m p o levou para com- pesquisadores reconheceram c o m o
pletar a série de experiências? A pes- indicando algo novo. Algumas das
quisa é consumidora de t e m p o . Uma grandes descobertas, incluindo os
pesquisa fraudada pode trair-se por- raios X , caíram no c o l o de pessoas
que ao cientista f a l t a t e m p o f í s i c o que buscavam o u t r a coisa. A resposta
para completar o trabalho e recorre pode p r o p o r c i o n a r uma nova aborda-
ao "lápis m á g i c o " o u " l a b o r a t ó r i o a gem à sua história.
seco" — fraudando os dados. Broad e 8. Qual f o i a c o n t r i b u i ç ã o d o pes-
Wade c i t a m o e x e m p l o de coelhos quisador ao trabalho? Existem exem-
numerados que aparecem, desapare- plos suficientes para que Broad e Wa-
cem e reaparecem novamente na pes- de concluam que o r o u b o de c r é d i t o
quisa. Alguns dados parecem ter so- por descobertas é u m risco para o
frido o "fenômeno Andréa Doria" — cientista. Diretores de laboratórios
p e r d i d o por acidente e reconstruído. p o d e m reclamar c r é d i t o por trabalho
5. O trabalho f o i publicado ou f e i t o por o u t r o s o u aparecerem c o m o
aceito para publicação? U m a queixa autor sênior em trabalhos, sem t e r e m
sobre a reportagem de ciência t e m si- f e i t o qualquer pesquisa. Cientistas
d o de que matérias são escritas sobre apropriaram-se de dados de experi-
trabalhos que nunca aparecem nova- mentações de outros. Quando desco-
mente no sistema de relatos c i e n t í f i - bertos, os erros p o d e m ser a t r i b u í d o s
cos; suspeitas a f i r m a m que esses tra- a assistentes, pressões de t r a b a l h o ,
balhos podem ter sido escritos a par- memórias falhas e expectativas ir-
t i r de premissas frágeis que f o r a m reais, entre o u t r o s fatores.
abandonadas. Entre as causas de fraude â parte
6 . O relatório é suficiente para al- o engano d i r e t o , há o auto-engano e a
guém repetir a experiência? A l g u é m p o l í t i c a de poder. Os cientistas vêem
mais a fez? Às vezes os pesquisadores o que desejam ver nos resultados,
p o d e m achar passos ou ingredientes uma das razões para a revisão pelos
essenciais deixados de fora o u que pares. Mas o sistema de revisão pelos
apenas o pesquisador original pode colegas de profissão ocasionalmente
fazer a experiência f u n c i o n a r , embo- deixa passar conclusões pouco funda-
ra o relatório c i e n t í f i c o a f i r m e dar mentadas e houve alguma indicação
t o d a a informação necessária essen- de que membros poderosos da c o m u -
cial p a r a ' r e p e t i r a experiência. Pou- nidade de pesquisa podem receber
cos cientistas d e i x a m seus dados crus menos escrutínios d o que outros.
disponíveis para inspeção. Trabalhos de instituições de pesquisa
7. O pesquisador estava procuran- tradicionalmente fortes podem inibir
d o por esse f e n ô m e n o o u alguma ou- as críticas, de acordo c o m Broad e
t r a coisa, relacionada o u não-relacio- Wade. A p o l í t i c a é u m f a t o r sutil na
nada? A ciência está cheia de inciden- comunidade c i e n t í f i c a c o m o em ou-

108
tras comunidades. Algumas de suas p r ó p r i o p r o c e d i m e n t o são falhos. O
possibilidades estão apenas agora sen- sistema p o l í t i c o americano é adver-
do experimentadas por sociólogos e sarial, o que pode não ser adequado à
historiadores da ciência. A s reuniões idéia d o consenso c i e n t í f i c o . C o m o a
e os periódicos de ciência que os his- maioria dos pesquisadores c i e n t í f i c o s
toriadores e sociólogos da ciência dependem de verbas federais e de
oferecem aos redatores c i e n t í f i c o s consultorias que prestam às indús-
são o u t r a f o n t e de matérias sobre a trias, questões legítimas p o d e m ser
c u l t u r a d a ciência e, ocasionalmente colocadas a respeito de sua indepen-
material para corrigir distorções da dência, q u a n t o às pressões exercidas
auto-reportagem dos cientistas. por interesses especiais d e n t r o de
Medidas corretivas recomendadas uma agência, por indústrias associa-
por aqueles escolhidos para investigar das c o m u m a agência para a q u a l tra-
casos de fraudes alegadas incluem balham o u da qual recebem f u n d o s
abrir e partilhar arquivos de dados para pesquisa. C o m o ocorreu c o m a
brutos, pedir a laboratórios externos Environmental Protection Agency,
para verificarem experiências, usar es- sob a administração Reagan, u m a
tudos mais codificados, desencorajar mudança na esfera p o l í t i c a pode pro-
cientistas de trabalharem sozinhos, duzir ordens cancelando alguma pes-
reforçar o interesse na qualidade da quisa o u m o d i f i c a n d o suas direções.
pesquisa mais d o que na quantidade O sistema adversarial coloca os ci-
de publicações e divulgar padrões de- entistas uns c o n t r a os o u t r o s e m au-
talhados de análise e preservação de diências d o Congresso, convocados
dados em t o d o s os laboratórios. para servir de testemunha para sena-
dores e representantes q u a n d o discu-
t e m a legislação. Não se deve ser in-
A ciência entre os p o l í t i c o s gênuo em pensar que as testemunhas
A credibilidade c i e n t í f i c a se apro- são chamadas a essas audiências p o r
x i m a d o seu maior perigo quando u m a equipe imparcial d o c o m i t ê . Os
misturada na elaboração das normas membros d a equipe chegam c o m f i -
públicas. Os redatores de ciência ne- liações partidárias. Algumas testemu-
cessitam estar conscientes de algumas nhas são chamadas e algumas solici-
das distorções da ciência introduzidas t a m ser ouvidas p o r causa de seu inte-
por cientistas quando t e s t e m u n h a m resse nas leis sob consideração. A s
em debates sobre normas públicas. notícias científicas distorcidas che-
C o m o f o i mencionado antes, p o r si gam ao p ú b l i c o porque esse sistema
só os dados p o d e m não ser suficiente- adversarial p r o p o r c i o n a a existência
mente f o r t e s para darem u m a indica- de ciência partidária, e os jornalistas
ção clara das direções políticas. Ü u precisam fornecer informação histó-
os cientistas p o d e m atacar a credibili- rica nessa área. C o m freqüência as
dade da pesquisa de o u t r o s cientistas, testemunhas realmente ouvidas são
a f i r m a n d o que a interpretação o u o chamadas por causa de seu prestígio.

109
conexões c o m instituições de prestí- Questões de sobrevivência
gio o u suas opiniões públicas sobre o
A distorção de informação cientí-
assunto mais d o que pela experiên-
fica e tecnológica ocorre c o m mais
cia em pesquisa na área relevante.
facilidade em situações de "sobrevi-
Não é i n c o m u m que fatores p o l í t i -
v ê n c i a " onde a n u t r i ç ã o , a energia ou
cos, econômicos e emocionais se so-
o meio ambiente estão em jogo. A
breponham á objetividade c i e n t í f i c a
distorção pode ser positiva ou negati-
na interpretação dos dados.
va — o t i m i s t a a respeito das implica-
Os conflitos de interesse geralmen- ções da descoberta o u salientando
te são econômicos, embora possam seus aspectos de ameaça á vida. En-
ter uma carga ética o u moral. O go- t r e t a n t o o redator deve encontrar
verno federal, por e x e m p l o , agiu em uma f o n t e c i e n t í f i c a que possa fazer
1983 para retirar dos pais e seus mé- extrapolações sobre qualquer desco-
dicos o d i r e i t o de escolher manter as berta o u c o n f i r m a r suspeitas que ele
vidas de crianças nascidas tão defor- possa ter sobre o significado de impli-
madas que a qualidade da existência cações da descoberta. Algumas desco-
dos bebês, a existência de seus pais e bertas obviamente tocarão teclas uni-
sua sobrevivência financeira pareciam versais de "sobrevivência".
estar em jogo. Essas orientações d o
governo federal deveriam ser postas T o m e os relatórios conflitantes so-
em vigor através d o f e c h a m e n t o de bre a pesquisa dos efeitos d o alimen-
t o d o s os financiamentos d o governo t o sobre o c o m p o r t a m e n t o h u m a n o .
para qualquer hospital cujos médicos U m xerife do Texas leu histórias so-
não aderissem ás novas diretrizes fe- bre os efeitos calmantes dos alimen-
derais. Quando o f o r m a l d e í d o , usado tos naturais n o t e m p e r a m e n t o das
para fazer isolamento para casas e ca- pessoas e ordenou que as máquinas
sas móveis tornou-se suspeito de cau- de vender c o m i d a na prisão fossem
sar reações severamente tóxicas o u esvaziadas de batatas fritas, doces e
alérgicas nos residentes dessas casas, a congêneres. Mas apesar de numerosas
E n v i r o n m e n t a l P r o t e c t i o n Agency, a matérias sobre os efeitos malignos
Occupational Safety and Health das "junk foods", c o m elevado teor
A d m i n i s t r a t i o n , e a Consumer Pro- de carboidratos, sal e colesterol, so-
d u c t Safety Commission f o r a m inca- bre o c o m p o r t a m e n t o , uma conferên-
pazes de alinhar apoio suficiente para cia de pesquisadores em nutrição
conseguir que seus dados fizessem c o n c l u i u que o principal efeito das
c o m que esse isolamento fosse retira- "junk foods" era a sonolência (Kola-
d o de uso. Os esforços de lobby da ta, 1982). Poucas matérias equaciona-
indústria no congresso prevaleceram ram isso c o m a preocupação dos cien-
para manter os materiais no mercado. tistas c o m os efeitos mais a longo
Obviamente os cientistas industriais prazo causados à saúde pelos alimen-
t ê m suas próprias questões de sobre- tos carregados de colesterol. Então,
vivência. uma campanha geral para m o d i f i c a r a

110
dieta americana f o i lançada em 1984 tores de ciência n u m dilema. Ignorar
pela A m e r i c a n Câncer Society e a a previsão de u m cientista é arriscar-
American Heart Association, c o m se a ser deixado para trás em furos
quase ninguém examinando as possí- noticiosos e colocar o p ú b l i c o em pe-
veis exceções — pessoas que pode- rigo. Os californianos f o r a m coloca-
riam ter sido prejudicadas pela dieta dos em estado de inquietação várias
recomendada. Relações óbvias entre vezes por previsões de que u m abalo
pão e massas e casos possíveis de es- i m p o r t a n t e irá ocorrer ao longo da
quizofrenia q u i m i c a m e n t e induzida fenda de San Andreas d e n t r o de u m
f o r a m inferidos de descobertas de p e r í o d o de t e m p o específico, embora
que o glúten de trigo reduzia a eficá- na época das previsões, a maioria dos
cia d o t r a t a m e n t o de u m grupo de cientistas que estudavam a terra acre-
esquizofrênicos (Singh e K a y , 1976). ditasse não ter c o n h e c i m e n t o sufici-
As distorções podem se originar ente para fazer uma previsão confiá-
em campos tais c o m o nutrição, ener- vel. Muitas organizações noticiosas
gia e meio ambiente quando o reda- relatarão tais previsões; as melhores
t o r se i m p o r t a c o m u m aspecto ape- perguntarão aos pesquisadores se o
nas em lugar de buscar fontes para se- cientista que está predizendo é qualifi-
parar os possíveis desdobramentos cado em seu campo o u se o que se sa-
positivos e negativos das decisões po- be nessa área de c o n h e c i m e n t o ho-
líticas. U m pesticida nocivo ao meio je t o r n a possível fazer previsões váli-
ambiente a longo prazo, pode ser das e c o m pequena margem de erro.
s u b s t i t u í d o por o u t r o mais perigoso Essa informação se t o r n a r á parte de
para aqueles que o aplicam, criando qualquer matéria.
u m novo problema de saúde ocupa- Warren E. Leary da Associated
cional o u risco inesperado para aque- Press e n c o n t r o u o u t r o dilema ao rela-
les que podem ser acidentalmente tar u m estudo que ligava a contagem
borrifados c o m ele. Custos de energia de espermatozóides drasticamente
mais baixos o u estáveis p o d e m levar baixa em homens jovens a vestígios
nações a f u t u r o s racionamentos de de p r o d u t o s q u í m i c o s t ó x i c o s en-
energia porque a exploração de novas contrados em seu sêmen. Ele obte-
reservas de petróleo, a produção de ve d o cientista uma lista de causas al-
equipamentos elétricos mais eficien- ternativas para uma baixa contagem
tes o u o desenvolvimento de fontes de espermatozóides e isso p r o p o r c i o -
de energia alternativa podem parar nou u m respaldo para colocar o estu-
por razões econômicas o u porque as d o d o pesquisador em perspectiva
pessoas f i c a m mais complacentes. (1979).
As explosões vulcânicas, terremo- A o escrever sobre temas de sobre-
tos e outras liberações de forças natu- vivência você pode achar conveniente
rais gigantescas t a m b é m t o c a m os pri- pedir aos pesquisadores que salien-
mitivos temores de sobrevivência. As t e m áreas específicas onde mais co-
previsões a respeito colocam os reda- n h e c i m e n t o é necessário. A f o n t e po-

111
de ser o cientista que anuncia uma ções obsoletas o u equivocadas (Tan-
descoberta o u alguém trabalhando no kard e A d e l s o n , 1 9 8 2 ) . O efeito dos
mesmo campo o u n u m o u t r o a ele re- artigos de serviço não pode ser subes-
lacionado. É importante pedir á fon- t i m a d o ; a informação dos meios de
te para traçar uma linha entre o fato comunicação pode ser tão importan-
e sua interpretação, opinião o u espe- te quanto as fontes de informação se-
culação. Pergunte que provas apóiam xual para adolescentes, por exemplo.
seu p o n t o de vista. (Courtright e Baran, 1980).
A preocupação c o m os temas de
sobrevivência também revela charla-
A distorção em matérias
tães. Observe a proliferação de vende-
de serviço
dores de vitaminas, minerais e outros
A matéria de " s e r v i ç o " tem uma suplementos de saúde. O American
longa história nos meios de comuni- Medicine News SerVice oferece aos
cação. Esse t i p o de artigo pretende subscritores dos meios de comuni-
contar a leitores ou espectadores co- cação uma " l i n h a d i r e t a " para verifi-
m o melhorar aspectos de suas vidas: car fpntes o u obter informação adi-
saúde, nutrição, beleza, segurança, cional além de sua cobertura de reu-
educação, ocupação e assim por dian- niões médicas e científicas como fon-
te. 0 cuidado deve reinar aqui por- te de história sobre medicina, saúde,
que você espera que as pessoas ajam nutrição, cuidado com crianças, apti-
de acordo com suas recomendações. dão física e estilo de vida. Tais maté-
A coluna médica escrita por médicos, rias podem ser verificadas com médi-
às' vezes em colaLoração com u m jor- cos locais, uma vez que muitas idéias
nalista, é u m b o m exemplo, c o m o o é novas podem levar vários anos para
a coluna de conselhos pessoais, tal serem geralmente aceitas c o m o práti-
c o m o a da psicóloga Joyce Brothers. cas médicas. Consultar médicos locais
Uma das possibilidades sérias de dis- sobre novas técnicas fará com que os
torção reside em dar conselhos obso- leitores saibam se tais serviços estão
letos e desencaminhadores. No cam- o u não disponíveis em sua área. Com
po da saúde mental, duas não profis- freqüência os médicos locais podem
sionais (Abigail Van Buren e A n n ser o t r a m p o l i m para histórias de ser-
Landers) recebem pontuação alta no viço lembrando os leitores sobre
item "precisão" porque construíram doenças comuns a uma área, tais co-
uma rede de contatos científicos e m o os cânceres de pele induzidos pe-
médicos dispostos a partilhar com lo sol no sul e no oeste, e como lem-
elas a última informação. Os redato- bretes para procurar tratamento pro-
res também estão sempre m u i t o dis- fissional diante da ocorrência de sin-
postos a recomendar que seus leitores tomas.
procurem orientação profissional. A As matérias de serviço arriscam-se
sua performance não apóia os mitos â distorção ao o m i t i r e m discussões de
de que tais colunas oferecem indica- risco (perigo de incêndio associado a

112
novos plásticos, por exemplo) geral- res para planar ou correndo no chão.
mente porque os redatores se interes- ( L e w i n , 1983).
sam por apenas u m aspecto da maté- Histórias tais c o m o anéis de detri-
ria. U m estudo de artigos de revista tos rodeando o sistema solar, tenta-
sobre insetos não conseguiu encon- tivas de resgatar baleias na praia, os
trar nenhum exemplo de u m redator processos lentos e multifásicos do en-
sugerindo outra coisa que não modos velhecimento, e a descoberta de cida-
de destruir insetos (Morre et al., 1982). des antigas podem ser mais interes-
Na verdade, a maioria dos insetos são santes por seus aspectos específicos
benéficos o u neutros em seus relacio- do que por seu lugar no esquema ge-
namentos com o homem e sua pro- ral do universo. Para Sandra Blakes-
priedade. O jornal diário de Austin, lee, que escreve para o The New
Texas, por o u t r o lado, encontrou York Times (1983), os detalhes hu-
grande popularidade entre os leitores manos da antiga dieta revelados atra-
para uma longa série que simplesmen- vés de u m novo método de detectar
te identificava e explicava os hábitos isótopos de plantas em ossos fósseis
de numerosos insetos, aves e mamífe- claramente suplantaram a elegância
ros locais. As fontes, naturalmente, do método. Ou considere u m extre-
eram cientistas dá universidade local. m o , uma história sobre o barbeiro,
que mata lentamente milhões na
América do Sul, infectando-os com a
Distorção no interesse humano
doença de Chagas, mas que pode ser
Alguns esforços científicos, apesar conhecido melhor nos Estados Uni-
dos protestos sobre distorção por dos por picar as pessoas no rosto e
parte dos cientistas, podem ser avalia- defecar na ferida do que pela miséria
dos principalmente por seu potencial que causa, graças a uma matéria
para gerar conversa entre os usuários transmitida pela Reuters (Reuters,
dos meios de comunicação de massa. 1981).
Atualmente é d i f í c i l compreender O redator também pode encontrar
porque isso deveria preocupar seja u m parágrafo o u uma matéria útil ao
cientistas seja redatores de ciência, esclarecer porque certos animais são
embora a trivialização de seu traba- usados como partes da pesquisa para
lho seja freqüentemente citada por ajudar a condição humana. Os ratos,
pesquisadores. A perspectiva no signi- onipresentes na ciência, têm u m sis-
ficado mais amplo da ciência é boa, tema reprodutivo que proporciona
mas quando as pessoas falam estão u m análogo p r ó x i m o aos dos huma-
abertas a aprender e não precisa ser nos. O sistema cardiovascular dos
t u d o tão sério como o é para os cien- porcos oferece respostas aceitáveis
tistas. Uma história negligenciada para testes destinados em última aná-
nessa categoria é o debate sobre se os lise aos humanos. Explicar esses rela-
ancestrais das aves desenvolveram sua cionamentos pode ajudar a compre-
habilidade de voar saltando de árvo- ender a ciência. Com freqüência exis-

113
te a tentação de dar u m t i r o fácil nos de u m trust ou não-cumprimento de
cientistas ridicularizando sua pesqui- u m contrato ou regulamento. Onde
sa por causa dos animais usados co- puderem, as companhias concordarão
m o temas de pesquisa; o melhor pro- c o m u m acordo pelo qual não te-
cedimento é perguntar pelas razões nham de alegar nem culpa nem ino-
da escolha e onde a pesquisa se encai- cência. O redator de ciência é limita-
xa num cenário mais amplo. do por privilégio legal ao que é relata-
do abertamente no tribunal ou ao
que consta nos documentos arquiva-
Distorção em documentos dos sobre o caso. Isso pode produzir
públicos distorção por omissão porque rara-
Os tribunais e os órgãos normati- mente existe algum registro de provas
vos, como a EPA, oferecem registros de libelo que revele a história inteira,
públicos que o redator de ciência po- c o m o no caso em que a Mobil Corpo-
de usar para informação. Os Environ- ration concordou em pagar mais de
mental Impact Statements oferecem 100.000 dólares e conduzir uma cam-
u m exemplo de tais registros públi- panha educacional depois que a En-
cos. Embora essas análises de efeitos vironmental Protection Agency acu-
possíveis de coisas tais c o m o impor- sou a companhia de violar as regras
tantes projetos de construção sejam sobre a quantidade de c h u m b o na ga-
supostamente objetivos, os dados po- solina ( " M o b i l w i l l p a y " , 1983). Tais
dem ser oblíquos ou omitidos. Os re- decretos de anuência e acordos nego-
latórios de progresso e investigação ciados comumente não dão detalhes
deveriam ser examinados criticamen- sobre ofensas alegadas e nem reco-
te por falhas similares; essas se trans- nhecem culpa.
formaram em pastas da Nuclear Re- Todos os tipos de acusação podem
gulatory Commission, por exemplo, ser feitos quando u m processo civil é
assim como de outras agências. A encaminhado. Embora esses docu-
maioria das agências estaduais e fede- mentos sejam o registro público, as
rais tem o equivalente a u m inspetor leis do libelo em muitos estados irão
geral o u u m escritório de contabilida- exigir que você espere até que a ou-
de responsável por monitorar os ne- tra parte forneça uma resposta subs-
gócios internos de uma agência. Esses tancial antes que esse material seja li-
escritórios podem ser uma fonte de berado para i m p r i m i r . Como uma ré-
tais documentos. plica pode levar várias semanas, os
Os jornalistas freqüentemente irão jornalistas podem tentar obter o ou-
obter notícias de violações de cientis- t r o lado da história chamando o
tas a normas o u padrões da socieda- acusado. Às vezes é suficiente apon-
de, através dos tribunais ou arquivos tar que o processo dá apenas u m lado
policiais. Na maioria das vezes isso de uma história. Tal limite não se
envolve indivíduos ou companhias aplica à acusação criminal, que é le-
acusadas de desrespeito à lei, violação vantada pelo estado. A imparcialida-

114
de d i z que você deve fazer t o d o es- rial p r i v i l e g i a d o , mas é sujeito a dis-
f o r ç o para dar ao acusado u m a o p o r - t o r ç õ e s p o r causa d o sistema adver-
t u n i d a d e de responder às acusações. sarial. A m b o s os lados de u m t e m a de
Por o u t r o lado, u m d o c u m e n t o advocacia t e n d e m a superestimar seus
privilegiado, tal c o m o u m oferecido p r ó p r i o s d a d o s , seus p r ó p r i o s casos e
c o m o evidência n u m j u l g a m e n t o o u a usar dados seletivos. Juizes e júris de-
transcrição o f i c i a l de t e s t e m u n h o t e r m i n a m os f a t o s assim c o m o a cul-
j u r a d o na c o r t e , p o d e ser usado sem pa o u a inocência. 0 sistema não en-
t e m o r de l i b e l o c o n q u a n t o você seja coraja apresentações equilibradas.
acurado na r e p o r t a g e m . Os p r o c e d i - E m casos o n d e a segurança p ú b l i c a
m e n t o s de c o r t e p o d e m oferecer ao está e m risco, os redatores de ciência
redator de ciência a ú n i c a o p o r t u n i - e n c o n t r a m pressão crescente para
dade de ver o u o u v i r dados necessá- que eles e seus v e í c u l o s f o r c e m o
rios para p r o d u z i r u m a m a t é r i a sem equilíbrio.
correr risco f i n a n c e i r o p o r causa das
Experiências
leis de libelo. T a l f o i o caso q u a n d o
cientistas da I n d u s t r i a l Bio-Test, Inc. 1. No papel de "redator de ciência céti-
c o " releia matérias de ciência que você leu
f o r a m acusados de falsificar estudos
ou matérias em jornais e revistas atuais. Es-
usados p o r empresas para o b t e r e m a colha uma ou duas histórias que necessi-
graduação de segurança necessária tam de resposta quanto a algumas das per-
aos p r o d u t o s a l i m e n t í c i o s , farmacêu- guntas colocadas nesse capítulo. Prepare-se
t i c o s e q u í m i c o s (Marshall, 1 9 8 3 ) . para discuti-las em classe.

D o c u m e n t o s de c o r t e e julgamen- 2. Prepare uma lista de temas contempo-


t o s o f e r e c e r a m visões similares sobre râneos que precisam de algum comentário
lado o b s c u r o da ciência e cientistas científico para serem colocados em pers-
pectiva. Verifique o catálogo de sua uni-
na d i s p u t a sobre se a chuva r a d i a t i v a
versidade ou faculdade e selecione nomes
m a t o u o u não carneiros d u r a n t e tes- de pessoas que você acha que poderiam
tes c o m b o m b a s nucleares em Neva- dar alguma luz sobre esses temas.
da, e nas acusações de que o K e p o n e ,
u m pesticida f a b r i c a d o pela A l l i e d 3. Há questões adicionais que você possa
levantar para testar a credibilidade de ma-
C h e m i c a l C o r p o r a t i o n , havia p r e j u d i -
térias de ciência, medicina e engenharia?
cado a pesca no R i o James, na V i r g í - Prepare uma lista delas para discussão em
nia ( S m i t h , 1 9 8 2 ; C o t i a u x e D a r l i n g , classe.
1 9 7 6 ) . J u l g a m e n t o s , audiências pú-
blicas e d o c u m e n t o s a eles relaciona- 4. Peça a um estudante graduado ou um
instrutor de ciência para sugerir outros tes-
dos o f e r e c e m t a n t o provas diretas
tes sobre como medir o valor de um relató-
c o m o indiretas b e m c o m o dados q u e rio científico.
p o d e m não ser o b t e n í v e i s n e m p u b l i -
cáveis de o u t r o m o d o . F r e q ü e n t e - 5. Examine matérias de ciência de jornais
m e n t e revelam fatos sobre u m a c o m - ou revistas em busca de exemplos de pos-
síveis distorções que deveriam ter sido cor-
panhia o u i n d i v í d u o e n q u a n t o se re-
rigidas na matéria. Pode sugerir maneiras
f e r e m a o u t r o s temas. Esse é o mate- de verificar a existência de distorção?

115
Capítulo 6
Contando a sua história de ciência

VOCÊ ESTÁ PRONTO PARA ESCRE- O parágrafo de signif icância


VER UM PRIMEIRO RASCUNHO da
sua matéria ou script de ciência. Vo- Por que sua história é importante
cê passou esses pontos decisivos: deve estar claro em sua matéria. Re-
datores profissionais colocam esse
1. Seleção de u m tema a partir de sentido n u m "parágrafo de signif icân-
u m periódico c i e n t í f i c o , uma reu- c i a " , mesmo quando esse implica
nião, uma entrevista, uma conferên- apenas uma curta frase o u sentença.
cia de imprensa, u m press release, Isso estabelece a conexão entre você
u m palpite, ou outras fontes; e seus leitores: por que você está es-
crevendo a matéria e por que eles de-
2. Verificação de sua idéia quanto ao vem lê-la. O parágrafo de significân-
seu valor noticioso através de docu- cia dá ao seu editor e ao responsável
mentação (periódicos científicos e pelos t í t u l o s , se você escreve para jor-
trabalhos), interrogatório (entrevistas nais, o gancho no qual pendurar o t í -
de fontes), observação (visita a lo- t u l o ou manchete e decidir qual a
cais), participação (experiência pró- projeção a ser dada à história. A falta
pria). de uma informação clara, breve e ine-
Também se assume que sua infor- quívoca c o n t r i b u i para manchetes
mação é acurada, que você t o m o u inacuradas, enganosas e excessiva-
cuidado na tomada de notas o u nos mente sensacionalistas. Com freqüên-
registros para obter números e cita- cia demais a ausência de uma afirma-
ções corretas, e que você sente que ção de significado o u a presença de
tem informação suficiente para com- uma informação nebulosa resulta da
preender sua história. Essa informa- falha do redator-repórter em compre-
ção deve incluir material histórico su- ender a matéria. Em tempos passados
ficiente para ligar os novos desenvol- e mais simples, a reportagem descriti-
vimentos de uma maneira significati- va do que os cientistas diziam parecia
va à informação mais antiga. Saiba ser suficiente, mesmo se o significado
como essa nova informação muda não fosse por si evidente. Agora você
nossa compreensão. Não deveria ser está escrevendo numa era analítica. É
necessário que seu editor perguntas- importante impelir as fontes a res-
se: "Por que isso é i m p o r t a n t e ? " o u ponderem à pergunta: " O que isso
" P o r que temos de publicar isso?" significa?" Você terá uma informa-

117
ção m u i t o útil e direta para citar ou lógico de organização fica com fre-
parafrasear. A d m i t i r confusão não qüência perdido, quando os redatores
causa dano permanente à sua reputa- se enrolam subconscientemente nos
ção. Mesmo que você pense que sabe detalhes que relatam. Bastante fre-
o significado, verifique com uma ou qüentemente o significado pode ser
mais de suas fontes. o m i t i d o ou estar profundamente en-
Você pode também desenvolver terrado numa história. Se estiver en-
uma apresentação original da signifi- terrado longe do t í t u l o da matéria, os
cância. Às vezes as anotações, entre- leitores podem ficar confusos ou
vistas e gravações em f i t a não se fun- aborrecidos porque não conseguem
dem numa afirmação clara de signifi- ver por que devem gastar seu tempo
cado, ou esta pode estar despida de com você.
jargão técnico ou sem significação.
Desenvolva sua própria versão em lin-
Escolhendo a forma de uma
guagem clara e teste-a em c o n f r o n t o
matéria
com os cientistas. "Posso dizê-lo des-
se m o d o . . . " é uma maneira decente Os redatores, particularmente os
de iniciar a paráfrase de uma afirma- redatores de ciência, têm mais esco-
ção científica. " C o m o podemos fa- lhas sobre como fazer seu trabalho
lar sobre isso em inglês?" é um come- do que muitos acreditam. O processo
ço viável também. Falando de modo t o d o é uma série de escolhas o u u m
geral, de acordo com estudos de ati- consenso estabelecido com os edito-
tudes, o cientista, o leitor e o repór- res. Nunca uma história se "escreveu
ter estarão mais de acordo sobre a por si mesma", como alguns repórte-
acurácia e significado da matéria do res afirmam. Se algumas histórias
que os editores e leitores de textos saem facilmente de sua máquina de
(Tannembaum, 1962, 1963). O arti- escrever ou processadora, provavel-
go ou trabalho de u m cientista pode mente é porque o conteúdo torna as
não conter uma afirmação de signifi- suas decisões fáceis ou você vê rapi-
cado; o mesmo depende do conheci- damente u m início que funcionará.
mento do público para pegar o signi- Você pode ser mais rápido do que al-
ficado. Entretanto, haverá tempos guns de seus colegas em tomar uma
em que você, como redator, discorda- decisão. Entretanto, é fácil esquecer
rá de uma fonte sobre o significado, que não existe uma maneira certa de
desenvolvimento ou aplicação da pes- organizar uma história. Todas as ma-
quisa. Confie em seu conhecimento, térias representam uma série de esco-
sua percepção, seus instintos — mas lhas criativas
verifique-os com pessoas qualificadas. O papel de guardiães de editores
As informações sobre significado torna a sua concordância essencial,
devem aparecer ao começo de sua especialmente para o redator de ciên-
matéria ou ali por perto. Elas podem cia iniciante. A pesquisa recente indi-
ser o t í t u l o . No entanto, esse p o n t o ca que é nesse p o n t o que o "sensacio-

118
n a l i s m o " geralmente e n t r a nas maté- mais i n f o r m a i s que c o l o c a m fatos-
rias de ciência. E m seu e s t u d o sobre chave, e m b o r a c o m f r e q ü ê n c i a roti-
editores e repórteres de ciência pa- neiros, ligeiramente mais para d e n t r o
ra j o r n a i s , C a r r o l l J . G l y n n , da C o r n e l l na matéria. Esses ú l t i m o s são conhe-
U n i v e r s i t y , d e f i n i u o sensacionalismo cidos c o m o " n o t í c i a s suaves" o u
c o m o " c o l o c a r ênfase e x c e p c i o n a l "leads de i m p a c t o o u de e f e i t o len-
e m aspectos singulares de u m a situa- t o " . V i r t u a l m e n t e t o d a s as matérias
ç ã o " . Os e d i t o r e s d ã o mais peso a es- de revistas são u m a f o r m a d o a r t i g o
se e l e m e n t o na avaliação de u m a ma- de destaque. A m a t é r i a de revista ge-
t é r i a d o que os repórteres, e a razão r a l m e n t e é f o r m a d a ao r e d o r de u m
p o d e b e m estar na associação mais " t e m a " o u idéia c e n t r a l , d o q u a l faz
longa d o e d i t o r c o m o j o r n a l i s m o , parte a i n f o r m a ç ã o sobre a sua signi-
u m a i n c l i n a ç ã o i n s t i t u c i o n a l e m gerar ficância.
excitação pela e x c i t a ç ã o e m si. Para
ilustrar a n a t u r e z a consensual da sele-
SUMÁRIO DAS NOTICIAS NOS
ção de matérias, G l y n n r e l a t o u que
LEADS. A q u i há alguns e x e m p l o s de
os e d i t o r e s a c r e d i t a m serem os ideali-
sumários dos leads para matérias de
zadores de u m a grande percentagem
" n o t í c i a s de i m p a c t o " :
das matérias de ciência e n q u a n t o os
repórteres d i z e m que a percentagem
Menos casos novos da síndrome da
v i n d a dos e d i t o r e s é m u i t o baixa. Ca-
imunodef iciência adquirida, ou
da q u a l a p a r e n t e m e n t e acredita que AIDS, foram relatados nos Estados
suas barganhas p r o d u z e m dois vence- Unidos na segunda metade de 1983
dores ( G l y n n , 1 9 8 5 , 7 0 ) . do que na primeira metade do ano,
disseram funcionários federais da
G e r a l m e n t e a p r i m e i r a escolha re- saúde ontem. Entretanto, preveni-
side e n t r e u m a a b o r d a g e m de " n o t í - ram que é cedo demais para tirar
cia de i m p a c t o " e de " a r t i g o de des- conclusões sobre uma tendência de
t a q u e " o u "lead de e f e i t o l e n t o " . A l - longo prazo (Altman, 1984, 6).
guns j o r n a i s e algumas poucas esta-
MIDDLETOWN, Pa., Jan. 5 (AP) -
ções de r á d i o e T V insistem e m man-
Operários encarregados da limpeza
chetes de i m p a c t o para v i r t u a l m e n t e do reator nuclear danificado na
t o d a m a t é r i a . O b v i a m e n t e a escolha é Three Mile Island poderiam estar
importante porque a abertura modela expostos a seis vezes mais radiação
do que se pensou inicialmente, dis-
a maneira pela q u a l a m a t é r i a i n t e i r a
se hoje a Nuclear Regulatory
se desenvolve. A s manchetes de im- Commission (Associated Press,
p a c t o geralmente são t í t u l o s sumá- 1984b, 6).
rios, v a r i a n d o entre a t r a d i c i o n a l his-
tória noticiosa (quem-o quê-quando- Tais sumários dos leads, sobre
o n d e - p o r q u e - c o m o ) que p r o d u z a eventos i n c l u e m f r e q ü e n t e m e n t e nu-
matéria e m p i r â m i d e i n v e r t i d a , c o m ma sentença, (1) q u e m disse o u reali-
os f a t o s a r r u m a d o s e m o r d e m decres- zou a ação, U) o que a c o n t e c e u : u m a
cente de i m p o r t â n c i a , e sumários descrição d o e v e n t o / a ç ã o , (3) q u a n d o

119
e (4) o n d e o e v e n t o / a ç ã o o c o r r e u . O velmente ser interpretados como
" p o r q u e " e o " c o m o " t a l matéria deterioração ocasional de prótons,
os blocos de construção de toda a
descritiva o u " o b j e t i v a " v e m mais
matéria. Mas são rápidos em apon-
t a r d e e geralmente são a t r i b u í d o s a tar que as observações poderiam
u m a o u mais f o n t e s noticiosas. H a b i l - ser explicadas de outros modos.
m e n t e escritos, tais sumários t r a n s m i - A prova real de tal deterioração te-
ria implicações arrasadoras, pois os
t e m a i n f o r m a ç ã o r a p i d a m e n t e e até
prótons existem nos núcleos de to-
m e s m o de f o r m a cadenciada. E n t r e - dos os átomos, e sua deterioração
t a n t o , p e r d e m pela extensão e fre- iria destruir gradualmente toda a
q ü e n t e m e n t e e s c o n d e m o p o n t o de matéria no universo. A destruição
u m a m a t é r i a atrás de dados que o lei- não iria ocorrer, entretanto, antes
da passagem de bilhões e bilhões de
t o r desconhece.
anos (Sullivan, 1984, 6).
A q u i está o u t r o t i p o de s u m á r i o
de lead: a conclusão q u e d e i x a os da-
T o d o s os e x e m p l o s seriam m e l h o -
dos de r o t i n a para u m parágrafo pos-
rados se a sua essência pudesse ser
terior:
condensada e m menos palavras, mas
o material técnico trabalha contra
A L B A N V , N.Y., Jan. 6 - Um rela-
isso. Essa é u m a das razões pelas
to hoje ao governador Cuomo con-
cluiu que os serviços psiquiátricos quais muitos repórteres e editores
estão num estado crônico de crise g o s t a m de u m a a b o r d a g e m de desta-
por toda New York City e são capa- que.
zes de lidar apenas com os mais do-
entes, violentos e suicidas entre os
pacientes. (Barbanel, 1984). LEADS

Os leitores e n c o n t r a r a m o " q u e m " LEADS M A I S I M P O R T A N T E S . Os


leads mais i m p o r t a n t e s t o m a m m u i -
i n t e g r a d o n u m parágrafo d a n d o pers-
t o s c a m i n h o s , sempre c o l o c a m o sig-
pectiva sobre o n d e a liberação desse
n i f i c a d o b e m para d e n t r o da história.
r e l a t ó r i o se encaixa n u m a c o n t r o v é r -
A d i f e r e n ç a , e n t r e t a n t o , reside e m
sia p o l í t i c a e m curso sobre os cuida-
usar abordagens d r a m á t i c a s o u l i t e r á -
dos c o m a saúde m e n t a l . N u m a r t i g o
rias e aplicá-las t a n t o a eventos n o t i -
e s t r i t a m e n t e c i e n t í f i c o , Walter Sulli-
ciosos c o m o a matérias c o m p l e t a s , re-
van, d o The New York Times, c o l o -
portagens de situação o u análises que
c o u os três parágrafos r o t i n e i r o s b e m
p o d e m não estar ligadas a u m evento
para d e n t r o da h i s t ó r i a , d a n d o mais
ou t e m p o específico. Patrick Young,
peso a " o q u e " estava sendo d i t o , u m
d o N e w h o u s e N e w s Service, c o m e ç o u
aviso sobre as incertezas e o significa-
sua matéria sobre as descobertas n o
do:
G e r o n t o l o g y Research Center desse
modo:
Cinco grupos experimentais, na ín-
dia, Ohio, Japão, Sufça e Utah, di-
zem que registraram, com detecto- BALTIMORE - Por que envelhece-
res, fenômenos que poderiam possi- mos?

120
A resposta permanece desconhe- cientistas em manipular genes e
cida. Mas em um quarto de século transferi-los de um organismo para
de exploração dessa pergunta in- outro. As vacinas, que poderiam
temporal, os pesquisadores do Balti- constituir armas seguras e baratas
more Longitudinal Study of Aging contra muitas doenças infecciosas,
definiram mais de perto o que é en- representam a primeira mudança
velhecer e demoliram alguns mitos e básica na tecnologia das vacinas em
estereótipos sobre os idosos (1983, cerca de duzentos anos (1983, 31).
sec. 1, 30).

A m a t é r i a q u e p e r m i t e essa se-
Por causa da poderosa pressão so-
q ü ê n c i a de a f i r m a t i v a s d r a m á t i c a s se
cial sobre os a f e t a d o s pela lepra, u m
desenvolve c o m u m a r e d u ç ã o d o c l í -
redator da Associated Press c o m e ç o u
m a x antes de c o m e ç a r u m a nova f o r -
u m a m a t é r i a desse m o d o :
m a de c o n t a r a h i s t ó r i a n o c o r p o da
m a t é r i a . Essa f o r m a f o i c o m p a r a d a a
LOS ANGELES (AP) - Carlos imi-
uma " a m p u l h e t a " em estrutura por-
grou do México em 1969, casou-se
e teve dois filhos, agora com 6 e 11 que após a i n t r o d u ç ã o você p o d e sal-
anos. Mas tem um segredo para com t a r para a organização p o n t o p o r
seus filhos — Carlos tem lepra p o n t o o u seguir u m d e s e n v o l v i m e n t o
(Associated Press. 1983, 32D). c r o n o l ó g i c o . Essa e s t r u t u r a de " a m -
p u l h e t a " p o d e ser a t r i b u í d a t a m b é m
A p a r t i r desse i n í c i o h u m a n i z a d o a u m e v e n t o n o t i c i o s o . Depois d o
e personalizado a m a t é r i a movia-se lead c o n v e n c i o n a l d o t i p o 5 - W - & - H ,
através de t r e c h o s que serviam c o m o você p o d e passar para u m a c r o n o l o -
referência e q u e l i d a v a m c o m p o n t o s gia de eventos o u u m r e l a t o detalha-
c o m o a u m e n t o na incidência da lepra d o d o çvento-chave, n u m a seqüência
c o m a chegada de pessoas de o u t r o s lógica, crescendo na d i r e ç ã o de u m f i -
países, o n ú m e r o de v í t i m a s e m t o d o nal p l a n e j a d o . Os redatores mais c u i -
o m u n d o e n a c i o n a l m e n t e , declara- dadosos irão planejar o f i n a l n o m o -
ções de m é d i c o s de que a doença não m e n t o e m que f i x a r e m sua a b e r t u r a
é contagiosa, e que novos t r a t a m e n - o u c o m e ç a r e m a d e c i d i r sobre u m fa-
t o s estão sendo desenvolvidos. to-chave, citação o u o u t r o m a t e r i a l
J e r r y E. B i s h o p e Michael Wald- c o m o q u a l encerrar a m a t é r i a . Isso
holz, d o The Wall Street Journal, fi- evita q u e você se encurrale e m a l g u m
zeram d o parágrafo s i g n i f i c a t i v o a sua c a n t o de o n d e escape c o m d i f i c u l d a -
abertura: de. Lembre-se t a m b é m , que a h i s t ó r i a
c i e n t í f i c a básica é a m a t é r i a sobre
Estimulados por importantes avan- " c o m o fazer".
ços na engenharia genética, os pes-
quisadores estão providenciando
uma hoste de novas vacinas que po- Desenvolvendo o corpo
deriam evitar doenças em milhões
Desenvolver o corpo de sua maté-
de pessoas. As novas vacinas podem
ser o maior dividendo até hoje da ria de ciência freqüentemente se tor-
recém-descoberta habilidade dos na u m exercício para fazer não-cien-

121
tistas apreciarem objetos, idéias, pro- lavras. (Há u m e x e m p l o no t e x t o pre-
cessos e eventos fora da experiência cedente.) Essa é uma razão por que
sensorial c o m u m . E n q u a n t o estabele- os textos universitários às vezes fa-
ce o curso de sua matéria através da zem d o r m i r . As histórias que tenham
escolha de u m lead você pode consi- c o m p r i m e n t o m é d i o de frases entre
derar as restrições reais d o t e m p o que 17 e 2 0 palavras parecem ser classifi-
você dispõe para escrever, de maneira cadas, pela maioria do seu público,
a c u m p r i r seu prazo. O u t r o limite c o m o leitura fácil. Isso não significa
real envolve espaço que lhe é destina- que você não possa usar sentenças
d o e que estabelece a extensão de sua mais longas. Significa que você mistu-
matéria. Mais de 6 0 0 palavras numa ra c o m p r i m e n t o s de sentenças para
matéria noticiosa o u artigo de f u n - atingir u m nível onde as pessoas c o m
d o noticioso p o d e m exigir arranjos educação ginasial o u menos p o d e m
especiais, exceto no caso de eventos pegar o seu significado mais facilmen-
m u i t o dramáticos. O espaço e o tem- te. Isso t a m b é m é ú t i l quando os
po l i m i t a m a a m p l i t u d e de sua repor- membros de u m p ú b l i c o c o m habili-
tagem em termos de detalhes e dra- dades de leitura mais altas, se v o l t a m
matização. para você em busca de ajuda quando
O u t r o f a t o r a considerar é o grau estão cansados, quando procuram
de legibilidade de sua história. Essa é distrair sua atenção de negócios preo-
uma combinação de dois elementos. cupantes, o u simplesmente quando
Apesar de os cientistas reclamarem d o uma compreensão fácil de material
sensacionalismo, as histórias de ciên- d i f í c i l é desejada. A não ser que você
cia, quando avaliadas por pesquisado- tenha consciência d o problema, é
res da área de comunicações, t e n d e m m u i t o fácil você se pegar escrevendo
a ser classificadas c o m o tediosas. Sur- uma história que apenas u m profes-
preendentemente, as matérias c i e n t í - sor universitário pode compreender.
ficas dos jornais são classificadas co- Assim, q u a n t o mais longa a frase,
m o mais chatas e mais difíceis de ler mais longas as palavras, maior o risco
d o que as das revistas noticiosas, que de perder o f i o da lógica e seus leito-
usam termos mais técnicos. A maté- res.
ria de ciência dos jornais em geral se O o u t r o elemento principal na le-
classifica c o m o adequada para públi- gibilidade das matérias de ciência en-
cos de nível universitário, embora se- volve a tradução de termos técnicos.
ja dirigida a u m nível de leitores me- O vocabulário especializado nos cam-
nos informados do que as matérias de pos c i e n t í f i c o e médico t o r n a m im-
revistas noticiosas (Levine, 1 9 8 1 ; possível evitar de t o d o o uso de jar-
Pitts, 1980; K w o l e k , 1973, 2 2 5 ) . gão. E n t r e t a n t o , o redator pode defi-
U m elemento de legibilidade é a nir as palavras d o cientista antes o u
extensão das frases. É m u i t o fácil es- depois de sua colocação numa frase.
crever frases, especialmente leads que Isso exige o planejamento da constru-
c o n t e n h a m 40, 50 o u mesmo 100 pa- ção de cada frase de m o d o que a tra-

122
d u ç ã o , e x p l i c a ç ã o o u d e f i n i ç ã o pare- p o d e c o m p r e e n d e r a idéia de 10-à-
ça n a t u r a l e não desajeitada. T o m e sexta-potência ser igual a u m m i l h ã o .
c u i d a d o n o c o n s t r u i r a t r a d u ç ã o para A m a i o r i a dos o u t r o s p ú b l i c o s f o r a
evitar falar de c i m a c o m seu p ú b l i c o . das c o m u n i d a d e s c i e n t í f i c a s , de en-
Ser desajeitadamente ó b v i o o f e n d e genharia e d o s negócios, provavel-
m e s m o aqueles que sentem necessida- m e n t e acharia essa n o t a ç ã o c i e n t í -
de da e x p l i c a ç ã o . Inclua tais d e f i n i - f i c a a b o r r e c i d a senão i n t r i g a n t e . A
ções e m sua m a t é r i a d o m o d o mais não ser q u e u m n ú m e r o preciso faça
d i s c r e t o possível, u m p o u c o antes o u u m a d i f e r e n ç a c r í t i c a na c o m p r e e n -
depois de usar pela p r i m e i r a vez u m a são da m a t é r i a , o a r r e d o n d a m e n t o
palavra técnica. dos n ú m e r o s f a c i l i t a a leitura.
A q u i há algumas o u t r a s dicas. Use Quando o tamanho relativo é u m
palavras c u r t a s q u a n d o p u d e r , escreva f a t o r , a c o m p r e e n s ã o p o d e ser au-
e x p l i c i t a m e n t e , dê e x e m p l o s de apli- mentada fazendo-se comparações
cações práticas e analogias. Use pala- c o m coisas f a m i l i a r e s , tais c o m o dis-
vras " p e s s o a i s " q u a n d o p u d e r . Escre- tâncias e n t r e p o n t o s geográficos, ve-
va " s u a e x p e r i ê n c i a " ao invés de " a locidades, pilhas de moedas, grãos de
experiência". t r i g o o u areia. (As comparações c o m
Os n ú m e r o s , linguagem da ciência o t a m a n h o de u m p e r í o d o e m seu
q u a n t i t a t i v a , causam ataques nos re- j o r n a l o u revista o f e r e c e m u m a refe-
datores científicos. Os editores rência ú t i l pela q u a l u m l e i t o r p o d e
o d e i a m i n t u i t i v a m e n t e os n ú m e r o s . visualizar t a m a n h o s relativos). A s
Pensam q u e os n ú m e r o s p r o v o c a m p r o p o r ç õ e s o f e r e c e m o u t r o instru-
a f l i ç ã o nos leitores. Os n ú m e r o s pro- m e n t o ú t i l para c o m p a r a ç ã o . Dizer
v o c a m a f l i ç ã o nos editores. Essa afli- que d e t e r m i n a d o planeta é q u a t r o ve-
ção p o d e a t i n g i r os editores mais que zes maior o u m e n o r d o q u e a T e r r a
os leitores, u m a vez que m u i t o s leito- o u que u m a t e m p e r a t u r a é mais alta
res l i d a m c o m n ú m e r o s r o t i n e i r a - que a d o Sol oferece ao não-cientista
m e n t e . E n t r e t a n t o o l e i t o r não esco- algumas conexões mentais e físicas
lhe c o m u m e n t e u m t e x t o de matemá- c o m a realidade c i e n t í f i c a .
t i c a c o m o l e i t u r a de recreação. Por- Para dar aos leitores leigos a l g u m a
t a n t o , use os n ú m e r o s seletivamente. compreensão d o d i m i n u t o t a m a n h o
I n c l u a apenas os n ú m e r o s mais im- de u m ú n i c o á t o m o , G a r y Z u k h a v
p o r t a n t e s . E x p l i q u e seu s i g n i f i c a d o . usou esta analogia:
Essa m á x i m a se aplica de m o d o di-
f e r e n t e a cada p e r i ó d i c o . Os e d i t o r e s Para se ver o núcleo de um átomo,
d o Scientific American r a r a m e n t e se este deveria ser tão alto quanto um
e n c o l h e m d i a n t e de n ú m e r o s preci- edifício de quatorze andares! O nú-
cleo de um átomo alto como um
sos, m e s m o na classe dos bilhões e
edifício de quatorze andares teria o
t r i l h õ e s . A m a i o r i a das pessoas que tamanho aproximado de um grão
c o m p õ e o p ú b l i c o p r o f i s s i o n a l e al- de sal. Como uma partícula nuclear
t a m e n t e b e m i n f o r m a d o da revista tem cerca de duas mil vezes mais

123
massa que um elétron, os elétrons T a n t o os n ú m e r o s c o m o os dese-
girando ao redor de seu núcleo te- nhos c o n s t i t u e m armadilhas e opor-
riam a massa semelhante à das par-
t u n i d a d e s de m á - i n t e r p r e t a ç ã o . Sem-
tículas de pó.
O domo da basílica de São Pedro, pre que possível, o r e d a t o r de ciência
no Vaticano, tem um diâmetro de deveria checá-los d u p l a m e n t e c o m o
cerca de quatorze andares. Imagine pesquisador. M a n t e n h a as ilustrações
um grão de sal no meio do domo de (tabelas de n ú m e r o s , desenhos e f o t o -
São Pedro com algumas partículas
grafias) t ã o simples q u a n t o possível
de pó girando ao seu redor nos limi-
tes externos do domo (1979, 32). para o p ú b l i c o e m geral. D e i x e que a
ilustração e n f a t i z e apenas o detalhes-
S u p o n d o que n e m t o d o s visitaram chave que se e n c a i x a m e m sua maté-
o u p u d e r a m visualizar a basílica de ria.
São Pedro, mas apenas referências lo-
cais, falar de u m estádio c o n h e c i d o Instrumentos literários
q u e t e n h a f o r m a t o esférico p o d e r i a U m arsenal de i n s t r u m e n t o s lite-
s u b s t i t u i r b e m a basílica. Tais estru- rários p o d e ajudá-lo a escrever sua ma-
t u r a s darão aos artistas gráficos u m a
téria de ciência e fazer o invisível fi-
base de e n c o n t r o à q u a l p o d e r ã o fa-
car v i v o para leitores, o u v i n t e s e es-
zer as ilustrações para c o n t a r parte da
pectadores. T o d o s f o r a m acostuma-
mensagem de sua matéria. dos pelos p r ó p r i o s cientistas a t e n t a r
descrever o que não p o d e ser visto.
Os redatores de ciência da revista
Esses i n s t r u m e n t o s i n c l u e m a ambi-
Fortune t ê m excelentes artistas gráfi-
entação d o cenário, anedotas, analo-
cos para apoiar suas palavras c o m de-
gias, descrições, detalhes sensórios es-
senhos, tabelas, mapas e o u t r o s pic-
p e c í f i c o s , p a r a d o x o s , m e t á f o r a s , sí-
togramas m o s t r a n d o v i s u a l m e n t e as
miles, narrativas, c r o n o l o g i a e assim
relações numéricas. E s t i m u l a d o s p o r
por diante.
U S A Today e o u t r o s j o r n a i s nacio-
nais, mais j o r n a i s e revistas estão reti-
AMBIENTAÇÃO DE CENÁRIO.
r a n d o os n ú m e r o s das matérias e co-
U m dos i n s t r u m e n t o s literários mais
locando-os e m q u a d r o s e tabelas ilus-
populares é a a m b i e n t a ç ã o dos cená-
t r a t i v o s . Os redatores devem pensar
rios. Os e x e m p l o s a b u n d a m p o r cau-
e m suas histórias c o m o " p a c o t e s " de
sa de seu valor e m a t r a i r u m p ú b l i c o
palavras e ilustrações. Ocasionalmen-
para a matéria. M e n d e l escolhendo
te os cientistas p r o v i d e n c i a r ã o dese-
suas ervilhas, p o r e x e m p l o . Veja co-
n h o s e tabelas o u rascunhos para
m o R i c h a r d D. L y o n s , d o The New
o r i e n t a r artistas gráficos. Eles pode-
York Times, leva você para o ama-
r i a m p r o p o r c i o n a r mais se você pedis-
nhã.
se. A d i s t o r ç ã o nas p r o p o r ç õ e s de
seus i n s t r u m e n t o s gráficos será t o m a -
CORCORAN, Calif. — Imagine a fa-
da t ã o seriamente c o m o suas pala-
zenda do futuro. Tal operação po-
vras. deria combater insetos substituindo

124
o bombardeio com enormes doses Hadden não foi um gráfico nem um
de produtos químicos pela mistura diagrama nem uma micrografia de
de atrativos sexuais aos inseticidas elétron. Ao invés disso, era uma xi-
para diminuir o uso dos pesticidas. logravura japonesa de um elefante
Essa fazenda do futuro teria muitas rodeado por homens cegos. . . Mais
colheitas que seriam semeadas, cul- do que qualquer imagem projetada
tivadas, fertilizadas, colhidas, empa- durante os quatro dias da conferên-
cotadas e despachadas sem serem cia, em novembro, essa ilustrou a
tocadas por mãos humanas. Células enorme brech^ entre o que sabemos
fotoelétricas iriam localizar os fru- e o que precisamos saber sobre a
tos prontos para embalagem de mo- epidemia que o U.S. Public Health
do que apenas frutos maduros che- Service declarou sua primeira prio-
gassem ao mercado. . . Futuristas ridade (1984, 8).
como possam ser tais idéias, elas es-
tão sendo usadas hoje, aqui no San
Joaquín Valley (1983, 1). A N E D O T A S . Outro instrumento é o
uso de anedotas. A s anedotas são m i -
J u d i t h Randal d o Daily News de ni-histórias, histórias d e n t r o da histó-
N o v a I o r q u e usa a a m b i e n t a ç ã o d o ria, que i l u s t r a m u m p o n t o e m seu ar-
c e n á r i o para aguçar o p a r a d o x o d o t i g o o u servem c o m o a b e r t u r a . A his-
i m a g i n á r i o t r a n s f o r m a d o e m real: t ó r i a d o elefante na m a t é r i a prece-
d e n t e é t a n t o u m e s t a b e l e c i m e n t o de
WASHINGTON - Parece ficção-ci- c e n á r i o c o m o u m a a n e d o t a q u e ca-
entffica: supor que ser contratado
racterizava o c o n h e c i m e n t o dos cien-
ou promovido poderia depender
dar-se bem numa bateria de testes tistas das causas o u e t i o l o g i a da
de sangue por ter genes compatíveis. A I D S . Tanto a Bíblia quanto o
No entanto, 59 companhias — a Reader's Digest as usam c o m o cha-
maioria delas na lista da revista For- marizes e t r u q u e s para dar vida às
tune das 500 mais importantes cor-
partes tediosas. A n e d o t a s , c o m o por
porações dos EUA — revelaram re-
centemente ao Congressional Office e x e m p l o , o que a c o n t e c e u q u a n d o
of Technology Assessment que pla- u m a nova idéia f o i o f e r e c i d a pela pri-
nejam fazer da verificação genética meira vez ao p ú b l i c o , são d i f í c e i s de
uma parte de sua política de pessoal
o b t e r p o r q u e precisam ser a p r o p r i a -
dentro dos próximos cinco anos
(1982, 8A). das à m a t é r i a , encaixando-se exata-
m e n t e na mesma. Para obtê-las, você
R i c h a r d D . S m i t h , u m a n t i g o edi- p r o v a v e l m e n t e terá de f o r ç a r seus en-
t o r de The Sciences, baseado e m No- trevistados c o m perguntas abertas,
va I o r q u e , usa a a m b i e n t a ç ã o de ce- tais c o m o : " C o m o v o c ê . . . ? " , " O n d e
n á r i o para colocar os leitores n u m au- você. . . ? "
d i t ó r i o escuro o n d e u m c i e n t i s t a está
e x p l i c a n d o os m i s t é r i o s d a S í n d r o - O U T R O S I N S T R U M E N T O S . N o in-
me da I m u n o d e f i c i ê n c i a A d q u i r i d a t e r i o r da história, você p o d e usar o u -
(AIDS): t r o s i n s t r u m e n t o s literários para re-
O primeiro slide na tela durante a t r a t a r o que é invisível para o não-ci-
apresentação do imunologista John entista o u para u m a pessoa t r e i n a d a

125
e m ciência, n u m a d i s c i p l i n a m u i t o di- Grande excitação ontem no Hotel
f e r e n t e . A l g u n s desses i n s t r u m e n t o s , New York. . . A notícia é que o
próton parece um pêssego. O nêu-
que t a m b é m dão vida ao t e x t o , in-
tron é como uma noz. A descrição
c l u e m a m e t á f o r a , o s í m i l e e a ana- pode revelar a longo prazo o que
logia. mantém o universo unido. A estória
começa com a descoberta do pró-
ton há meio século; o nèutron foi
A m e t á f o r a t e n t a descrever u m
encontrado trinta anos atrás (1961,
e v e n t o , experiência o u p e n s a m e n t o 3).
c o m base e m a l g u m a o u t r a coisa. V o -
cê está f a l a n d o e escrevendo f i g u r a t i - U b e l l não estava se d i v e r t i n d o
v a m e n t e , d e i x a n d o u m a coisa perma- c o m os esforços dos cientistas, mas
necer c o m o o equivalente d o o u t r o , essa p a r ó d i a arrancada d o estilo lin-
para efeitos de c o m p a r a ç ã o . A metá- g ü í s t i c o chinês p r o p i c i o u o uso de
f o r a insinua, e m vez de estabelecer m e t á f o r a ao l o n g o d o a r t i g o . C o m
comparações exatas. Q u a n d o cientis- menos de q u i n h e n t a s palavras, U b e l l
tas f a l a m " c a t e d r a l da c i ê n c i a " , eles conseguiu u m a m a n e i r a d i s t i n t a m e n -
t r a z e m à sua m e n t e u m a bela estru- te d i f e r e n t e de descrever a essência
t u r a , elevando-se para os céus e cons- de u m a nova visão da e s t r u t u r a atô-
t r u í d a c o m os t i j o l o s e as pedras d o m i c a . N ã o subestime o p o d e r de es-
conhecimento. crever c o m n o v i d a d e e c o m u m a voz
f o r t e e ativa. U m a e x p e r i ê n c i a sobre
S í m i l e é a f i g u r a de linguagem que
legibilidade realizada p e l o professor
os professores lhes d i z e m ser i n t r o d u -
L l o y d B o s t i a n ( 1 9 8 3 ) m o s t r o u que
zida p o r " c o m o " . C u r t o e c o m p a c t o , m e s m o estudantes u n i v e r s i t á r i o s lêem
o símile implica em congruência (ou
matérias de ciência mais r á p i d o e des-
quase-congruência) ao invés de sole- c o b r e m os temas mais interessantes
t r a r a coisa p o n t o p o r p o n t o . " O s elé-
q u a n d o você escreve na voz ativa. Há
t r o n s movendo-se c o m o vagalumes
indicações e m seus estudos de que os
para estados mais b a i x o s de e n e r g i a " leitores menos letrados a p r e c i a m a re-
é u m s í m i l e i n v o c a n d o algo conheci-
dação ativa ainda mais. O " e s t i l o no-
d o para descrever a liberação de u m
m i n a l " , aquela f o r m a abstrata de es-
f ó t o n de energia q u a n d o u m e l é t r o n
crever e n c o n t r a d a e m t e x t o s e traba-
m u d a de u m estado e x t e r n o de m a i o r
lhos c i e n t í f i c o s , é o mais t e d i o s o e di-
energia para u m a ó r b i t a mais baixa, f í c i l de c o m p r e e n d e r . A l é m disso, faz
i n t e r i o r , ao redor d o n ú c l e o de u m
c o m que você escreva mais palavras.
á t o m o . A constante c h u v a de poeira
cósmica sobre a t e r r a pode, p o r A analogia exige q u e você faça o u
e x e m p l o , ser c o m p a r a d a à camada de insinue u m a longa c o m p a r a ç ã o e n t r e
poeira que se j u n t a sobre seu carro. duas situações nas quais você traça
Earl U b e l l usou u m a a b o r d a g e m du- m u i t o s p o n t o s de s i m i l a r i d a d e . Por
pla para descrever o a p a r e c i m e n t o e x e m p l o , você p o d e r i a ilustrar a
dos c o m p o n e n t e s d o á t o m o : e n o r m e escala d o t e m p o geológico

126
antes dos h u m a n o s aparecerem na nar o q u a n t o você b r i n c a c o m as téc-
t e r r a e m t e r m o s de cidades ao longo nicas mais fabulosas d o d r a m a e da li-
de u m a c a m i n h a d a o u viagem trans- t e r a t u r a . Saiba, e n t r e t a n t o , q u e usar
c o n t i n e n t a l de N o v a I o r q u e a Los alguns t r u q u e s de redação é m e l h o r
Angeles. d o que colocar d i r e t a m e n t e o p r o b l e -
Procure figuras de linguagem para ma n o coração de sua m a t é r i a de
dar vida aos seus t e x t o s . Peça aos ciência. E m b o r a isso possa r o u b a r
cientistas c o m p a r a ç õ e s , analogias e graça a o estilo ( o u pretensões a isso),
símiles. Procure figuras de linguagem é c o m u n i c a ç ã o de p r i m e i r a . O estilo
na conversação casual dos cientistas. d i r e t o p o d e n e m sempre ser o me-
Crie suas p r ó p r i a s figuras de lingua- l h o r , mas é e f i c i e n t e . H a r r y N e l s o n ,
g e m , mas teste-as de e n c o n t r o aos d o Los Angeles Times, e n c u r t a sécu-
conceitos dos cientistas q u e entrevis- los de t e c n o l o g i a médica c o m isso:
t a para assegurar que as comparações
são válidas. Evite a m e t á f o r a m i s t a ; Dentes falsos, olhos de vidro e peru-
considere o que está d i z e n d o c o m o se cas podem não soar como descober-
tas médicas, mas, centenas de anos
você estivesse t e n t a d o a ter " o c e a n ó -
atrás, constituíram o início do Ho-
grafos s o n d a n d o mais p r o f u n d a m e n t e mem Biônico.
no mar do c o n h e c i m e n t o . " Hoje, novos materiais sintéticos e
Lembre-se t a m b é m da n a r r a t i v a , tecnologia eletrônica expandiram
grandemente a capacidade do ho-
essa f i e l c o m p a n h e i r a d o c o n t a d o r de
mem de construir uma variedade de
histórias; disposta de f o r m a linear; órgãos artificiais e partes de repo-
princípio, meio e f i m . Geralmente a sição que imitam modestamente as
organização é c r o n o l ó g i c a . A o cons- criações da natureza (1984, séc.
t r u i r a h i s t ó r i a n u m a seqüência t e m - 5,90).
p o r a l m e n t e o r d e n a d a de eventos,
m u i t o s dos seus p r o b l e m a s de organi- O Business Week e o u t r o s p e r i ó d i -
zação se resolvem p o r si. Isso t o r n a a cos i n d u s t r i a i s o u p r o f i s s i o n a i s f a v o -
n a r r a t i v a u m a das f o r m a s mais p o p u - recem esse t i p o de i n í c i o p o r causa
lares. Quase t o d o s os redatores p r o - da f a c i l i d a d e c o m a q u a l atinge os in-
fissionais irão dizer-lhe para planejar teresses e c o n ô m i c o s de seus leitores,
c o m o irá t e r m i n a r a h i s t ó r i a q u a n d o c o m o m o s t r a esse e x e m p l o :
planeja o i n í c i o , não i m p o r t a q u a l a
f o r m a . Os passos-chave levando a A cada outono um desastre natural
u m a descoberta p o d e m ser usados so- atinge os fazendeiros dos EUA, cau-
sando centenas de milhões de dóla-
zinhos o u ligados à c r o n o l o g i a . Na
res em perdas agrícolas. Até agora,
n a r r a t i v a , o f i n a l t o m a c o n t a de si os fazendeiros não foram capazes
mesmo. de fazer muito contra a mortífera
geada anual. Mas alguns cientistas
C o l o q u e o problema diretamente acreditam agora que podem dar a
volta no problema. Eles identifica-
Seu p r ó p r i o t a l e n t o c o m a lingua- ram o culpado, e este não é Jack
gem e os usos literários irão d e t e r m i - Frost.

127
Ao invés disso, é um grupo de sua história. N u m p e r f i l de personali-
desprezíveis bactérias que têm a
dade, o c e n t r o da h i s t ó r i a é u m a pes-
curiosa habilidade de formarem
cristais de gelo quando o mercúrio soa, mas essa história p o d e ser às ve-
mergulha apenas um par de graus zes c o n t a d a através dos o l h o s de ami-
abaixo do ponto de congelamento gos e, às vezes de i n i m i g o s :
("Aquecendo. . ." 1983, 138).
NOVA IORQUE - Bruce Alperts
O free-lancer B i l l C r o m i e , t a m b é m conheceu Barbara McCIintock há
d i r e t o r d o C o u n c i l f o r t h e Advance- cerca de 13 anos, quando fez um
m e n t o f Science W r i t i n g e oceanógra- curso que ela ministrava no lugar
onde estava baseado, o Cold Spring
f o , dispôs desse m o d o o p r o b l e m a es-
Harbor Laboratory, em Long Island.
sencial para a Mosaic, u m a publica- Alperts é microbiólogo e Mc-
ção p o p u l a r sobre ciência para a Na- CIintock é uma geneticista de plan-
t i o n a l Science F o u n d a t i o n : tas, de modo que não há muita so-
breposição em seu trabalho. Mas
McCIintock tem o tipo de mente
O hidrogênio queima sem fazer su- que não presta atenção a classifica-
jeira. Propriamente oxidado produz ções. O mundo inteiro da ciência
apenas calor e água. Uma vez que a biológica está a seu alcance.
água é também uma fonte de hidro- Foi mais ou menos nessa época
gênio, o ciclo deveria se repetir in- que a comunidade biológica come-
definidamente e o combustível não çou a perceber que tinha um gênio
deveria exaurir-se jamais. não-apreciado em Barbara McCIin-
O problema é que a energia re- tock. Essa avaliação atingiu sua con-
querida para extrair hidrogênio da clusão apropriada no início de ou-
água é maior do que a energia pro- tubro quando McCIintock, com 81
duzida ao queimar o hidrogênio. anos, recebeu o Prêmio Nobel de
Mas se a energia usada para separar Medicina de 1983 por seu trabalho
a água em oxigênio e hidrogênio pe- sobre "genes saltadores" que reali-
la hidrólise pudesse ser solar, o hi- zou mais de trinta anos antes.
drogênio poderia concentrar e acu- (Edelson, 1983, 31).
mular efetivamente a luz do sol pa-
ra uso posterior (1981, 7).
A abordagem através da personali-
dade, adorada pelas revistas n o t i c i o -
Personalizar a história sas, dá ao r e d a t o r mais liberdade para
C o n t a r a sua h i s t ó r i a através das aberturas i n f o r m a i s e prazeirosas.
pessoas envolvidas representa o u t r a A q u i está T r a c y K i d d e r para Science
m a n e i r a de a u m e n t a r a atenção. A s 8 3 e n t r e v i s t a n d o u m dos mais desta-
pessoas gostam de o u v i r sobre o u t r a s cados cientistas da H a r v a r d Univer-
pessoas, especialmente se são f a m o - sity:
sas, talentosas, i n c o m u n s o u expressi-
vas. V o c ê p o d e t r a n ç a r i n f o r m a ç õ e s a Mike McEIroy gosta das grandes
questões. A origem da vida, por
respeito da ciência q u e elas p r a t i c a m
exemplo. Tem lidado com ela du-
c o m as i n f o r m a ç õ e s históricas sobre rante os últimos dez anos. McEIroy
o assunto e o m a t e r i a l de a p o i o de ocupa uma das prestigiosas cadei-

128
ras de química da Harvard e desfru- O u t r a a b o r d a g e m para h u m a n i z a r
ta da invejável liberdade — o dinhei-
a ciência é personalizar suas reações,
ro de pesquisa, os aprendizes, a au-
tonomia para satisfazer os seus gos- e m b o r a isto traga alguns riscos se vo-
tos ecléticos. Ouvi-lo divagar sobre cê f o r sensível a c r í t i c a s . A d i f i c u l d a -
as origens da vida é uma maneira de e m escrever u m r e l a t ó r i o persona-
maravilhosa de passar uma tarde lizado sobre u m a visita a u m labora-
tranqüila em pleno inverno da Nova
t ó r i o p o d e t e n t a r os i m a t u r o s a z o m -
Inglaterra.
Cerca de três bilhões de anos barem da ocasião. Por o u t r o lado, u m
atrás, um pouco repentinamente, e, relato a c u r a d o , escrito de maneira
concordam muitos cientistas, por sensível, i n t e l i g e n t e e séria, p o d e r i a
causa do florescimento da vida, o ser eficaz. Mais f o r t e seria seu relato
oxigênio apareceu na atmosfera da
terra (1983, 59). pessoal da observação o u p a r t i c i p a -
ção n u m a experiência o u e x p e d i ç ã o
U m a a b e r t u r a que m i s t u r a vários de c a m p o . Lembre-se d o d i t a d o d o
e l e m e n t o s , c o m o o faz esta, p r o m e t e r e d a t o r : m o s t r e (descreva), não con-
aos leitores que você irá d i s c u t i r cada te. Seja e s p e c í f i c o , c o n c r e t o c o m
aspecto da história. É u m i n s t r u m e n - seus detalhes. E v i t e o a b s t r a t o a não
t o para c o n q u i s t a r os leitores e a t r a í - ser que você o siga de p e r t o c o m u m
los através da h i s t ó r i a até q u e você e x e m p l o que ilustre a abstração.
t e n h a c o b e r t o cada i t e m . ( U m dos
lapsos de redatores e editores e não
Escrever numa crise
apenas na redação c i e n t í f i c a — é o m i -
t i r u m o u mais e l e m e n t o s q u a n d o vo- O que f o i d i t o acima i m p l i c a u m a
cê escreve; esse e m p i l h a m e n t o de ele- abordagem prazeirosa, bem pen-
m e n t o s é u m a f o r m a de organizar a sada, à redação c i e n t í f i c a . Isso é en-
sua história. Mas você precisa entre- ganoso p o r q u e m e s m o sob as mais le-
gar cada u m deles ao seu leitor.) ves pressões de prazo, o j o r n a l i s m o
E m o u t r a s variações, você p o d e precisa c o m p o r u m a h i s t ó r i a n u m r i t -
concentrar-se n u m g r u p o de cientis- m o mais r á p i d o d o que o d o estudio-
tas, tais c o m o u m a e q u i p e de c i r u r - so. U m a das c o n t r i b u i ç õ e s que u m re-
giões d e transplantes de coração o u na d a t o r de ciência t r a z ao j o r n a l i s m o é
equipe c o m p l e t a de u m l a b o r a t ó r i o alguma p r o f u n d i d a d e de c o n h e c i m e n -
o u empresa e na f o r m a c o m o estes t o p r é v i o sobre o m u n d o n a t u r a l e
c o m b i n a r a m t a l e n t o s e personalida- c o m o e n c o n t r a r as pessoas que po-
des para t o r n a r a i n s t i t u i ç ã o ú n i c a . d e m a m p l i a r o c o n h e c i m e n t o d o re-
Desenvolver u m a análise e descrição d a t o r de ciência. N u n c a esse conhe-
das interações dos t a l e n t o s c i e n t í f i - c i m e n t o é t e s t a d o mais f o r t e m e n t e
cos e das personalidades da e q u i p e c o m o q u a n d o você precisa escrever
pode mostrar c o m o a ciência f u n c i o - e m m e i o a u m a crise de novas n o t í -
na. N o p e r í o d o da grande ciência, o cias. A p r e n d a a pensar a t i v a m e n t e pa-
cientista solitário é u m a raridade. ra escrever a t i v a m e n t e , na antecipa-
Mas isso é uma o u t r a h i s t ó r i a . ção desse dia. U m p r o g r a m a bastante

129
abrangente de leitura talvez seja a da natureza das notícias, d o n ú m e r o
única maneira de se preparar. de m o r t o s e da extensão de danos à
Embora poucos jornalistas o admi- propriedade, o p r ó p r i o evento prova-
t a m , há m u i t o poucos " f u r o s noticio- velmente superará a ciência c o m o his-
sos" nos jornais e revistas o u trans- t ó r i a principal. 0 redator c i e n t í f i c o ,
missões de rádio e televisão. A maio- e n t r e t a n t o , será chamado para t o r n a r
ria dos eventos relatados diariamente os eventos inteligíveis aos leigos e sob
pode ser antecipada, ao menos em as mais fortes pressões de prazo, c o m
linhas gerais. " F u r o n o t i c i o s o " signi- t o d a a probabilidade. C o m efeito, de
fica o inesperado. U m e x e m p l o seria u m p o n t o de vista j o r n a l í s t i c o , os
a t e n t a t i v a de assassinato de u m che- editores podem olhar para tal mo-
fe de estado e a necessidade de reda- m e n t o c o m o justificativa para ter u m
tores de ciência o u medicina para es- redator de ciência na equipe. 0 reda-
crever sobre seus f e r i m e n t o s , a serie- t o r é u m banco de informação histó-
dade e o curso d o t r a t a m e n t o de rica instantânea sobre os eventos e
emergência. Outros exemplos in- sobre fontes de informação.
cluem a ameaça de haver uma fusão Espera-se que você lance mão d o
no núcleo de u m reator de energia seu c o n h e c i m e n t o , de pesquisa de bi-
nuclear, c o m o a que aconteceu na blioteca o u de c o m p u t a d o r , que pos-
usina nuclear de Three Mile Island, a sa ser realizada n u m curto espaço
2 8 de março de 1979, uma erupção de t e m p o e de quaisquer especialis-
vulcânica, o u o aparecimento de uma tas que possam oferecer informação
nova doença, tal c o m o a A I D S o u a adicional. Poucas ocasiões geram a
doença dos legionários. U m desastre busca de informação em uma área es-
tal c o m o uma maciça falta de ener- pecífica ou a c o m p e t i ç ã o acirrada en-
gia, u m t e r r e m o t o , tsunami, ou algo t r e os meios de comunicação, c o m o
semelhante proporcionam outros uma crise. Mesmo o anúncio de u m
exemplos. R o t i n e i r o c o m o possa pa- evento singular, tal c o m o o p r i m e i r o
recer cada vôo espacial é para o jor- transplante de coração o u o u t r o ór-
nalista uma crise em andamento gão i m p o r t a n t e , pode trazer uma
p r o n t a para acontecer. O fogo na atmosfera de crise. Q u a n d o o dentis-
cápsula espacial que m a t o u três astro- ta Barney Clark recebeu o p r i m e i r o
nautas no programa A p o l l o dos E U A coração mecânico, centenas de jorna-
e uma explosão d u r a n t e uma missão listas de t o d o o m u n d o , c o m conheci-
lunar ilustram c o m que velocidade a m e n t o médico variando do leigo ao
rotina pode se deteriorar. Sugestões profissional, inundaram o hospital
de crises similares nos programas nu- c o m pedidos de i n f o r m a ç ã o , pessoal-
clear e espacial russos escapam de mente ou por telefone.
tempos em tempos. É p o u c o dizer que tais eventos
Essas situações pedem que o reda- oferecem as piores condições para a
t o r de ciência tenha velocidade e ca- coleta de informações. Freqüente-
pacidade de improvisar. Dependendo mente a informação não existe. No

130'
caso d o acidente nuclear de Three lhas convencionais, burocráticas, de
Mile Island, os especialistas em ener- comunicação. U m estudo das prefe-
gia nuclear f o r a m incapazes de esta- rências dos cientistas q u a n t o à co-
belecer imediatamente a causa o u a municação diz que eles preferem fa-
extensão d o acidente. Descobrir a lar diretamente a jornalistas. Os cien-
causa da doença dos legionários, as- tistas mais jovens irão recorrer a u m
sim chamada porque emergiu após escritório de informação pública c o m
uma convenção da A m e r i c a n Legion mais freqüência d o que os mais anti-
em Filadélfia, levou meses de pesqui- gos, a maioria dos quais entra em
sas de laboratório e de campo. c o n t a t o c o m os veículos diretamente.
Embora os especialistas de infor- Apenas u m p o u c o mais da metade
mação e de relações públicas possam dos cientistas contratados disse que
entrar em cena, seus acessos a f o n t e s era i m p o r t a n t e para os cientistas t o r -
competentes podem ser limitados. nar seu c o n h e c i m e n t o disponível ao
N e n h u m plano realmente aplicável público, de m o d o que as relações cor-
de relações públicas o u informação diais no passado pudessem ser mais
pública pode ser escrito adiantada- importantes para o redator n u m a cri*
mente para cobrir todas as c o n t i n - se do que o senso de responsabilidade
gências. Mesmo quando existe u m dos cientistas. Os jornalistas iniciam a
plano b r u t o , c o m m u i t a freqüência maior parte dos contatos, e apenas
os administradores públicos e priva- cerca de 15% dos cientistas aboliria
dos perdem a paciência o u m u d a m os escritórios de relações públicas na
suas prioridades a respeito da discus- universidade sob estudo. E n q u a n t o
são plena e aberta dos eventos. As uma grande percentagem (66%) dos
suas próprias fontes de i n f o r m a ç ã o cientistas achava que o escritório de
podem se demonstrar inadequadas o u informações públicas às vezes atrapa-
incompletas. A competição cresce fe- lhava a comunicação, 72% disseram
roz entre os representantes dos veí- que os membros da equipe de rela-
culos de comunicação por qualquer ções públicas tornavam o relaciona-
isca de informação. Os rumores pre- m e n t o c o m os veículos mais fácil
encherão o vácuo, e o jornalista cien- ( D u n w o o d y e Ryan, 1983).
t í f i c o — não menos que qualquer ou- Em resposta ao problema de obter
t r o — enfrenta a possibilidade de ir informação numa crise, u m redator
para o ar o u de ter que redigir c o m que cobre a área de exploração espa-
informação não-verificada. cial t e n t o u manter tanta independên-
Durante uma crise você está por cia q u a n t o possível para si mesmo
sua própria conta para improvisar o c o n s t r u i n d o uma biblioteca p o r t á t i l
mais que puder. Os cientistas seniores de referência, sobre rodas. Levava a
oferecem boas fontes durante crises, sua biblioteca técnica a cada lança
particularmente se você lidou antes m e n t o , reservando u m assento de
c o m eles o u seus colegas. Em situa- avião para o carrinho. Na maioria das
ções normais, você poderá seguir tri- instâncias, entretanto, o redator de

131'
ciência deve i m p r o v i s a r , c o n s t r u i n d o vorável o u desfavorável ( F i t z g e r a l d ,
sua h i s t ó r i a a p a r t i r de leituras feitas 1 9 8 4 ) . A s organizações de v e í c u l o s
n o passado, experiências e quaisquer de c o m u n i c a ç ã o v a r i a m g r a n d e m e n t e
f o n t e s qualificadas que possam ser al- e m sua disposição e recursos para re-
cançadas. sistirem a tais pressões.
Essas são as ocasiões em que as fés
da ciência e d o j o r n a l i s m o c o l i d e m ,
f r e q ü e n t e m e n t e para d e t r i m e n t o de
Experiências
a m b o s e m t e r m o s de respeito p ú b l i -
co. A solução na Rússia e alguns ou-
1. Leia artigos numa edição de uma revis-
t r o s países a u t o r i t á r i o s é simplesmen- ta de ciência popular ou matérias de ciên-
te não n o t i c i a r desastres até depois cia num jornal. Analise os instrumentos li-
de r e l a t ó r i o e investigações plenos es- terários usados pelos redatores.
t a r e m c o m p l e t o s . A l g u m a s vezes de-
2. Leia inteiramente vários artigos em re-
sastres i m p o r t a n t e s nunca são relata-
vistas como Science, New Scientist, Nature
dos e m p ú b l i c o . A l g u n s cientistas e ou outros periódicos científicos ou médi-
figuras p o l í t i c a s gostariam de u m a cos. Você pode encontrar exemplos em
circunspecção similar aplicada no que os cientistas usam esses recursos lite-
rários?
O c i d e n t e . Essa é, e n t r e t a n t o , u m a ex-
p e c t a t i v a f ú t i l d i a n t e de meios de co- 3. Percorra várias edições da revista
m u n i c a ç ã o destinados a serem f o n t e s Science ou outros periódicos científicos.
de i n f o r m a ç ã o independentes d o go- Na seção "Reports" de Science você en-
v e r n o o u o u t r a s f o n t e s estabeleci- contrará cientistas relatando resultados de
seu trabalho. Escreva várias combinações
das. Os jornalistas de ciência devem
de aberturas e "parágrafos de significãn-
ser t ã o persistentes c o m o quaisquer cia" a partir de sua leitura. Traga os seus
o u t r o s e m d e f e n d e r seu acesso á in- parágrafos de abertura e significado e uma
formação. cópia do artigo original para discussão em
classe.
Os jornalistas de ciência t a m b é m
encaram pressões de a n u n c i a n t e s . E m 4. Leia vários artigos científicos ou médi-
u m a d i s p u t a o Journal of the Ameri- cos para descobrir um ao redor do qual vo-
can Medicai Association perdeu 2 5 0 cê possa desenvolver uma abertura de
"ambientação de cenário". Os Periódicos
m i l dólares e m a n ú n c i o s q u a n d o u m
médicos são especialmente bons para isso
f a b r i c a n t e de drogas c o l o c o u obje- porque os médicos freqüentemente usam o
ções a u m a matéria sobre u m p r o d u - método de estudo de casos para relatar
t o dos c o m p e t i d o r e s . U m a das e d i t o - seus resultados.
ras d o JAMA disse ao r e d a t o r m é d i c o
5. No que você leu até agora, deve ter en-
Howard Wolinsky que fora demitida
contrado um artigo que gostaria de trans-
n o debate sobre os artigos que a re- formar em matéria de ciência ou medicina
vista i m p r i m i a a respeito de p r o d u t o s popularizada. Escreva a matéria para seu
c o m p e t i d o r e s e sua apresentação fa- jornal diário local.

132'
Capítulo 7
A redação científica e o interesse público

V Á R I A S ÁREAS DA REDAÇÃO CIEN- ações p ú b l i c a s " r a c i o n a i s " favorecen-


TIFICA apresentam aos jornalistas d o u m lado o u o u t r o . Por não esta-
p r o b l e m a s especiais de r e p o r t a g e m . r e m os cientistas e engenheiros fazen-
Essas áreas i n c l u e m p o l í t i c a e n o r m a s d o r e l a t ó r i o s para os seus colegas,
públicas, n o t i c i á r i o e c o n ô m i c o , rela- suas revelações e interpretações f o -
ções públicas e assuntos t r a n s c i e n t í - r a m consideradas menos q u e c o m p l e -
f i c o s tais c o m o a g r i c u l t u r a , m e i o am- tas em m u i t a s ocasiões. N e n h u m
b i e n t e , energia, n u t r i ç ã o , segurança dos cientistas o u seus empregadores
n a c i o n a l , d e p ó s i t o de l i x o t ó x i c o , a t r a i u censura da c o m u n i d a d e c i e n t í -
saúde e m e d i c i n a . E m b o r a as f o n t e s f i c a por tais atividades de p o l í t i c a pú-
c i e n t í f i c a s e a i n f o r m a ç ã o desempe- blica.
n h e m papéis c r í t i c o s nas histórias so- E n t r e t a n t o , a c o n f u s ã o gerada f o i
bre esses temas, o r e d a t o r deve ir grande e n t r e jornalistas, f u n c i o n á r i o s
além da ciência para dar ao p ú b l i c o p ú b l i c o s e o p ú b l i c o e m geral. Os au-
u m a r e p o r t a g e m adequada. tores das p o l í t i c a s e os jornalistas não
A s histórias sobre tais t ó p i c o s con- sabem e m q u e m acreditar c o m t a n t o s
t ê m e l e m e n t o s carregados de valores t e s t e m u n h o s c o n f l i t a n t e s . T ã o grande
noticiosos: conflito, sobrevivência, f o i a c o n f u s ã o que cerca de v i n t e
d i n h e i r o , p o d e r , i m p a c t o e persona- anos atrás o D r . A r t h u r K a n t r o w i t z ,
lidade. Esses a f e t a m e são afetados presidente da A v c o - E v e r e t t Research
pela c o m u n i d a d e c i e n t í f i c a , assim co- L a b o r a t o r y , Inc., p r o p ô s a criação de
m o todas as o u t r a s c o m u n i d a d e s o u u m a " c o r t e da c i ê n c i a " na q u a l pai-
interesses especiais. Os líderes e agên- néis c o m p o s t o s de j u i z e s especializa-
cias g o v e r n a m e n t a i s desempenham dos e m i t i r i a m u m a decisão sobre a
papéis a t i v o s nas interações desses validade dos a r g u m e n t o s t é c n i c o s . A s
grupos, c o m o m e d i a d o r e s , a p o i a d o - tradições j u d i c i a i s p e r m i t e m ás c o r -
res, alvos e p r o t e t o r e s d o "interesse tes, c o m o u sem j ú r i s , d e t e r m i n a r e m
p ú b l i c o " . Os dados c i e n t í f i c o s e tec- t a n t o a lei c o m o os f a t o s .
n o l ó g i c o s , q u a n d o c o n v é m , s ã o organi- A idéia de u m a c o r t e de teste e m
zados para a d i s p u t a e n t r e os p a r t i c i - 1 9 7 8 q u a n d o o governador R u d y
pantes d o j o g o . Cientistas e engenhei- Perpich e n v i o u 1 5 0 soldados d o esta-
ros e m i n e n t e s e não t ã o e m i n e n t e s d o para c o n t r o l a r os h a b i t a n t e s de,
vão à arena p ú b l i c a para oferecer suas M i n n e s o t a p r o t e s t a n d o c o n t r a a cons-
interpretações dos dados e e s t i m u l a r t a n t e exposição á radiação e l e t r o m a g -

133'
nética possivelmente perigosa, prove- O u t r o e x e m p l o : O p r i m e i r o cida-
niente de uma linha de transmissão dão sueco a receber u m coração arti-
de eletricidade de 4 0 0 quilovolts. O ficial tornou-se legalmente m o r t o
governador Perpich estava disposto, e q u a n d o seu p r ó p r i o coração morreu,
a F o r d F o u n d a t i o n e a National pela definição estabelecida por seu
Science F o u n d a t i o n d o governo dos país.
E U A concordaram, a pagar os custos
C o m o Daniel S. Greenberg, u m
da experiência. E n t r e t a n t o , nem os
dos poucos jornalistas especializados
defensores d o meio ambiente nem as
em ciência e p o l í t i c a pública obser-
duas cooperativas de energia, que ha-
vou, a idéia de uma corte de ciência
viam vencido nas cortes regulares, pu-
não era nem tão boa nem tão má.
deram concordar sobre essa f o r m a de
Sua maior falha era a suposição de
arbitragem.
que os fatos c i e n t í f i c o s e técnicos po-
dem ser isolados de sua ambientação
Muitas disputas c o m o essas vão
social, p o l í t i c a e econômica. " C o m o
agora ao sistema judicial regular para
se revela, na maior parte das contro-
resolução, e vários juizes d u v i d a m da
vérsias c i e n t í f i c o - p o l í t i c a s , os fatos
habilidade das cortes em chegarem a
c i e n t í f i c o s estão menos em questão
u m acordo justo. Para alguns parece
do que os valores ligados a eles", dis-
que a tecnologia ultrapassou a habili-
se Greenberg ( 1 9 7 8 ) .
dade da sociedade de compreender e
c o n t r o l a r os temas levantados por A reportagem sobre temas p o l í t i -
ela. U m exemplo disso é o status le- cos, normas públicas, meio ambien-
gal dos embriões humanos congela- te, economia e negócios, bem c o m o
dos. São esses agrupamentos de célu- sobre sociedade, leva o redator de
las seres humanos? A t é que p o n t o os ciência a se prender mais a aspectos
cientistas podem fazer experiências das realidades dos afazeres mundanos
c o m eles ao longo de seus estágios de do que à " r e a l i d a d e " da ciência. É
crescimento? Podem herdar proprie- u m m u n d o de poder p o l í t i c o e eco-
dades de u m o u de ambos os pais se n ô m i c o , que historicamente perma-
estes morrerem antes que tais em- nece vulnerável à manipulação para
briões sejam transplantados para uma fins privados e individuais. Esses fins
mãe e levados ao nascimento? Essa incluem o ganho assim c o m o o evitar
situação ocorreu q u a n d o u m casal ri- danos econômicos o u danos a reputa-
co faleceu, deixando u m par de em- ções pessoais. É o m u n d o no qual o
briões em uma clínica australiana de estudo c i e n t í f i c o pode ser solicitado
pesquisa sobre f e r t i l i d a d e , em 1984. a p r o d u z i r respostas nas quais o go-
Q u e m possui os embriões? Alguém verno e a p o l í t i c a social podem se ba-
herda os embriões j u n t a m e n t e c o m sear. É u m m u n d o no qual as respos-
outras propriedades? Quais são as res- tas podem ser exigidas antes que a
ponsabilidades dos herdeiros para ciência desenvolva dados suficientes
c o m esses pedaços de matéria viva? para orientação p o l í t i c a .

134'
Política e normas públicas agrícola, como parte do compromis-
so assumido pelo Department of
Os redatores de ciência que lidam
Agriculture de aplicar verbas em uni-
com assuntos públicos devem perma-
versidades rurais e de melhorar o tra-
necer conscientes da política que afe-
balho agrícola nos Estados Unidos,
ta a ciência básica e ciência aplicada,
recebeu financiamentos constantes e
bem como das peças-chave desse jo-
substanciais do governo. Apenas a in-
go. A política envolve ordenar o re-
dústria química, liderada pela
lacionamento entre indivíduos e en-
DuPont, mantinha programas subs-
tre instituições numa sociedade. É
tanciais de pesquisa. A indústria da
também a arte do compromisso. A
aviação financiava seus próprios mo-
política é a arte de usar poder, pes-
delos novos, com algum encoraja-
soal e institucional. Por causa dos va-
mento do War Department (como era
lores ligados a temas envolvendo po-
chamado então). A Primeira Guerra
der governamental, os assuntos ten-
Mundial demonstrou a praticabilida-
dem para o compromisso o u para os
de da ciência química e de aviação. A
trade-offs como os engenheiros a cha-
Segunda Guerra Mundial demonstrou
mam. T o d o mundo obtém algo; nin-
que mesmo ciências mais exóticas po-
guém consegue t u d o o que pede. . .
diam ser impelidas, com grandes
normalmente. Os trade-offs podem
quantias de dinheiro de impostos, a
ser feitos com base em fatores outros
descobertas práticas: energia nuclear,
que não os fatos científicos ou sua
eletrônica, medicina, óptica, foguetes
validade. Emoção, trabalhos, votos,
de propulsão a jato e outras. O com-
dinheiro, amizades e valores institu-
bate, o ú l t i m o dos temas de sobrevi-
cionais são algumas das bases para a
vência, sempre f o i uma incubadora
resolução de conflitos políticos. O
para a ciência e tecnologia novas. O
envolvimento primário entre a ciên-
sucesso com inovações em tempos de
cia e os cientistas e o governo vem
guerra levou a maioria dos países a
através do dinheiro e conceitos dife-
adotar subsídios financeiros do go-
rentes sobre o bem-estar geral.
verno para a ciência e tecnologia em
época de paz.
O R Ç A M E N T O E F I N A N Ç A S . O di- Os orçamentos e gastos do gover-
nheiro dos impostos federais, coleta- no são temas pegajosos para se escre-
do de todos nós, alimenta a ciência ver a respeito. Em 1984, o Battelle
nos países mais industrializados. Não Memorial Institute, em seu relatório
f o i sempre desse m o d o . Antes da dé- anual, estimou que 94,2 bilhões de
cada de quarenta e da Segunda Guer- dólares seriam gastos nos Estados
ra Mundial, a ciência pura era u m em- Unidos com pesquisa e desenvolvi-
preendimento pequeno, pago quase mento. Mais de metade disso, 48,8
inteiramente por orçamentos univer- bilhões de dólares viriam da indús-
sitários, fundações privadas o u doa- tria, uma mudança em relação aos
ções de indivíduos. Apenas a ciência primeiros dias pós-Segunda Guerra

135'
Mundial, quando o d i n h e i r o d o go- de dólares f o i d i v i d i d o desse m o d o :
verno sufocava a c o n t r i b u i ç ã o da in- pesquisa básica — 7,2 bilhões, pesqui-
dústria privada. Os gastos d o orça- sa de defesa — 28,1 bilhões, outras
m e n t o de pesquisa e desenvolvimento agências — 11,4 bilhões. Dos 7,2 bi-
d o governo dos E U A f o r a m calcula- lhões e pouco para pesquisa básica,
dos em 42,7 bilhões de dólares. As cerca de metade vai para escolas e
estimativas de o r ç a m e n t o colocaram a universidades, c o m aproximadamen-
c o n t r i b u i ç ã o federal, em 1984, em te dez escolas o b t e n d o a maior parte
46,7 bilhões de dólares, que i n c l u í a m do dinheiro. O O f f i c e o f Science and
d i n h e i r o a ser c o m p r o m e t i d o c o m T e c h n o l o g y Policy (OSTP) estimou
projetos, mas não realmente gasto. que os gastos c o m pesquisas f o r a m
Os redatores de ciência devem ser mais o u menos divididos por igual en-
cuidadosos ao analisar financiamen- tre agências que apoiavam as ciências
tos. Os anos orçamentários federais da vida (3,3 bilhões) e as ciências físi-
começam em o u t u b r o . Os orçamen- cas e engenharia. E n t r e t a n t o , a mar-
tos geralmente recebem menos fun- gem financeira das ciências físicas e
dos que os administradores das agên- engenharia era aproximadamente de
cias requerem. E há dois orçamentos 6 0 0 milhões - 3,9 bilhões. Esses f u n -
federais e estaduais: u m envolve di- dos são gastos através dos vários de-
nheiro designado o u autorizado para partamentos e agências. Existe u m es-
pesquisa e desenvolvimento; o o u t r o c r i t ó r i o central para monitorá-los no
o r ç a m e n t o lida c o m d i n h e i r o efetiva- O f f i c e o f Science and Technology
mente apropriado para ser gasto em Policy presidencial. Existe uma con-
qualquer ano dado. C o m o grandes traparte no O f f i c e of Technology
projetos de tecnologia aplicada levam Assessment d o Congresso. Apesar
vários anos a serem construídos, co- das afirmativas oficiais de racionali-
m o no caso de uma nova aeronave, o dade, a distribuição desse d i n h e i r o é
d i n h e i r o pode ser c o m p r o m e t i d o o u o b j e t o de muita p o l í t i c a .
autorizado para projetos mais apro- Os contatos em cada escritório
priados e gasto durante vários anos. f o r n e c e m ao redator postos-de-escuta
Misturar os números autorizados e os para a maior parte dos temas que sur-
apropriados numa matéria pode con- gem no governo. Outras fontes in-
f u n d i r os redatores e os leitores. Es- cluem a equipe e os membros eleitos
colha u m o u o u t r o c o n j u n t o — o u dos vários comitês e subcomitês da
use tabelas m u i t o claras para mostrar Câmara e d o Senado que t ê m a res-
as diferenças. ponsabilidade pela autorização orça-
Os redatores de ciência devem per- mentária, sua apropriação e supervi-
manecer sensíveis às mudanças nas são para cada agência.
alocações de d i n h e i r o de pesquisa e Mesmo se você não estiver em
desenvolvimento. N o ano fiscal de Washington, entre nas listas de cor-
1984, o o r ç a m e n t o oficial de pesqui- reio para receber relatórios e as trans-
sa e desenvolvimento de 46,7 bilhões crições de audiências desses escritó-

136'
rios e comitês. Eles podem lhe forne- ciência, medicina e alta tecnologia.
cer i n f o r m a ç ã o histórica sobre o te- A l é m de p r o p o r c i o n a r e m notícias
ma bem c o m o fontes de informação através das leis que apoiam o u dei-
para projetos específicos. Se a biblio- xam de apoiar, fornecem coletas de
teca da sua faculdade o u universidade dados que apoiam a regulamentação
local é u m depositório oficial para assim c o m o alguma pesquisa que
d o c u m e n t o s d o governo, esses docu- acrescenta c o n h e c i m e n t o ao celeiro
mentos estarão disponíveis lá. O b t ê - da ciência. A Eovironmental Protec-
los dos comitês e agências geralmente t i o n Agency é uma agência regula-
é mais rápido. A National Science mentadora t í p i c a c o m pesada ativida-
F o u n d a t i o n e os National Institutes de de pesquisa em a d i t a m e n t o às res-
of Health custeiam a maior parte da ponsabilidades de regulamentação e
pesquisa de ciência e medicina básica. seu c u m p r i m e n t o . Às vezes a regula-
A alocação de f u n d o s entre as várias mentação está ligada a responsabili-
agências e mesmo d e n t r o delas é m u i - dades promocionais, c o m o no De-
t o uma f u n ç ã o de lobby p o l í t i c o . partment o f A g r i c u l t u r e . Isso leva a
Os principais jogadores na p o l í t i c a u m c o n f l i t o de interesses em m u i t o s
da ciência e suas alocações de f u n d o s casos, uma vez que tais agências ge-
são as várias fundações não-lucrativas ralmente se t o r n a m cativas da cliente-
de " d o e n ç a s " . Elas p r o p o r c i o n a m la que t a m b é m regulam. A antiga
muitas das testemunhas que argu- A t o m i c Energy Commission f o i des-
m e n t a m pelo a u m e n t o o u mudança feita c o m base nisso, c o m a pesquisa
de apropriações a cada ano. Os mui- para o desenvolvimento de mecanis-
tos National Institutes o f Health são mos movidos a energia atômica entre-
p r o d u t o de lobbies desses grupos de gue ao D e p a r t m e n t o f Energy, e a se-
interesse especial em medicina e saú- gurança de operação e funções de su-
de pelas suas doenças favoritas. Os re- pervisão passadas para a Nuclear Re-
datores devem olhar t a m b é m para a gulatory Commission. A alta adminis-
influência p o l í t i c a de legisladores po- tração da Environmental Protection
derosos a favor de facilidades em seus Agency passou por uma reorganiza-
distritos. Os administradores de uni- ção completa em 1984 depois que se
versidades e cientistas proeminentes revelou que as políticas da agência fa-
serão encontrados fazendo lobby a voreciam as companhias que a EPA
favor de seus representantes c o m tan- devia regulamentar. Os jornalistas
ta intensidade q u a n t o qualquer o u t r o aprenderam a desconfiar de compro-
interesse especial. missos c o m agências regulamentado-
ras durante mudanças na administra-
AGÊNCIAS REGULAMENTADO- ção. Novos designados p o l í t i c o s po-
RAS. As agências regulamentadoras dem o u não experimentar o sucesso
federais e estaduais freqüentemente na mudança da direção dos progra-
oferecem aos redatores de ciência ou- mas de pesquisas da agência que de-
tras visões da p o l í t i c a e políticas da f i n e m a necessidade o u a extensão da

137'
regulamentação. A natureza técnica m e n t o para processar os produtos
dos dados que apoiam a regulamen- agrícolas. E n t r e t a n t o , c o m o é t í p i c o
tação presta-se às habilidades d o re- ocorrer em casos c o m o esse, havia
dator de ciência. p o u c o , se é que havia algum, questio-
C o m freqüência a regulamentação namento sobre a conveniência de se es-
está c o m departamentos de gabine- palhar fontes de radiação nuclear em
tes, tais c o m o o U.S. D e p a r t m e n t o f t u d o o que parecesse ser u m t e r m i n a l
A g r i c u l t u r e , por causa das influências de armazenamento de grãos nos Esta-
políticas dos interesses especiais que dos Unidos, Canadá e México. Essas
regulamenta. O U S D A apóia toda são questões que os redatores de
uma f a i x a de projetos de pesquisa ciência e especialmente aqueles da re-
por seus próprios cientistas e labora- portagem ambiental devem levantar.
tórios e cientistas em universidades Procure por soluções que levantam
e faculdades voltados ao uso da ter- novos problemas.
ra. O objetivo do U S D A é tornar a Tais c o n f l i t o s interagências estão
agricultura mais lucrativa, o que o longe de serem raros. Eles constituem
t o r n a u m regulamentador amigável. o u t r o aspecto da p o l í t i c a científica.
0 relacionamento de uma agência Os redatores de ciência irão procurar
c o m a indústria que apóia e regula- em vão por uma p o l í t i c a central e ra-
menta f r e q ü e n t e m e n t e põe sob sus- cionalizada para a ciência d o país. Há
peita algumas das descobertas das políticas d e n t r o de cada agência
pesquisas e coloca agências em con- q u a n t o à natureza e custeio das pes-
f l i t o . Por exemplo, quando a conta- quisas que servirão à " m i s s ã o " de ca-
minação por ethylene dibromide da agência. Assim, as tendências de
( E D B ) f o i descoberta em alimentos a agências o u institutos podem levar a
base de grãos, em 1984, os redatores c o n f l i t o . A agricultura, por exemplo,
de ciência encontraram o EPA ten- pode custear pesquisa sobre c o m o au-
tando escrever leis mais estritas para mentar o r e n d i m e n t o dos campos de
o uso de pesticidas — e seu eventual tabaco enquanto o D e p a r t m e n t of
abandono — enquanto o U S D A tra- Health and H u m a n Services tenta de-
balhava para manter o veneno carci- sencorajar o uso de tabaco, apoiando
nogênico em uso para que os planta- pesquisas sobre seus efeitos deletérios.
dores de cítricos controlassem inse- Mesmo t e n d o existido para cada
tos (Sun, 1984). E n t r e t a n t o , o f i m d o presidente, desde J o h n F. Kennedy,
uso de EDB acenou c o m uma o p o r t u - u m conselheiro oficial para a área de
nidade para a indústria nuclear por- ciência, a pluralidade de interesses
que a irradiação dos grãos e f r u t o s trabalhando através d o congresso e
para matar insetos e suas larvas emer- da Casa Branca às vezes produz polí-
gia c o m o u m contendor f o r t e para ticas conflitantes. Por exemplo, nu-
substituir os pesticidas q u í m i c o s . A ma certa altura a administração Rea-
indústria nuclear iria lucrar c o m as gan estava advogando a redução dos
vendas m u i t o aumentadas de equipa- custos c o m cuidados médicos e a

138
intromissão do governo nos assuntos significa compreender decisões que
privados. Então, em c o n f l i t o c o m sua dependem de mudanças pequenas
postura a n t e r i o r , a administração en- mas significativas no nível dos riscos
t r o u na assim chamada controvérsia estatísticos permitidos.
"Baby Doe" para forçar uma opera- 0 medo dos jornalistas aos núme-
ção de salvamento da vida de uma ros c o m freqüência entorpece sua efi-
criança retardada, c o m espinha bífida ciência na reportagem de ações regu-
(uma condição em que a coluna espi- lamentadoras. Por exemplo, na con-
nhal não se fecha, deixando a medula trovérsia d o E D B , que p r o d u z i u man-
espinhal exposta) e outros defeitos chetes de primeira página durante se-
de nascimento. Os pais e seu médico manas por causa das questões de so-
haviam c o n c o r d a d o em deixar a cri- brevivência c o m relação a alimentos
ança morrer em lugar de mantê-la contaminados, apenas W i l l i a m Hines
confinada por toda a vida aos cuida- do Chicago Sun-Times produziu in-
dos institucionais, pagos por f u n d o s formações úteis para os leitores, n u m
federais de cuidados médicos e bem- estado de c u l t i v o de cítricos quando
estar. as regulamentações finais f o r a m emi-
O uso dessa p o l í t i c a data da época tidas. Seis jornais diários estudaram
do dólar federal. As instituições e in- as notícias publicadas sobre o EDB
divíduos recebendo dinheiro federal ser p r o i b i d o depois de nove meses,
c o n c o r d a m em obedecer às diretrizes mas apenas a história de Hines deu
da agência financiadora o u se arris- aos consumidores e plantadores uma
cam a ter o apoio retirado. No caso leitura sobre a quantidade de EDB
"Baby Doe", qualquer hospital o u permitida a permanecer nos f r u t o s
médico recusando alimento o u trata- até que o seu b a n i m e n t o entrasse em
m e n t o seria considerado c o m o vio- vigor (1984).
lando os direitos civis da criança e Outra consideração na reportagem
desperdiçando o apoio federal. É de temas de p o l í t i c a pública é que os
uma tática disponível para o governo Estados Unidos operam em dois ní-
em quase qualquer controvérsia. veis governamentais: federal e esta-
As agências regulamentadoras são dual. Freqüentemente eles estão em
as mais negligenciadas das organiza- c o n f l i t o . 0 Estado de Mississipi, por
çfies d o governo em termos dos veí- exemplo, uma vez t o m o u conta de
culos de comunicação de massa. Mo- uma fábrica de pesticida abandonada
vem-se lentamente, num processo para p r o d u z i r u m f o r m i c i d a de longa
quase judicial. Seu trabalho é c o m duração que a EPA dissera devia ser
freqüência altamente técnico e suas banido. Geralmente a lei federal se
regulamentações escritas em prosa le- sobrepõe à lei d o estado em c o n f l i t o ,
gal quase espessa demais para ser de- mas até que as regras estaduais sejam
cifrada. Uma agência geralmente fa- examinadas na Corte, ambas podem
vorece aquelas que regulamenta. permanecer em vigor. Onde não há
Obter uma história c o m freqüência c o n f l i t o , cs sistemas operam em para-

139
leio, c o m as disputas, especialmente A negligência geral para c o m as
sobre assuntos de meio ambiente, in- agências regulamentadoras por parte
d o para a corte em u m o u o u t r o caso dos outros jornalistas permite ao re-
— ou ambos. Quando acordos coope- pórter de ciência talhar aqui uma po-
rativos para a implementação de re- sição profissional. H o w a r d Simons,
gras são elaborados entre agências fe- antigo redator de ciência e mais tarde
derais e estaduais, a agência estadual e d i t o r administrativo d o The Wash-
aplicará ambos os c o n j u n t o s de regu- ington Post, disse que uma das suas
lamentos. técnicas para obter histórias exclusi-
A o mesmo t e m p o , essas agências vas era ir a essas agências que poucos
são fontes de matérias, muitas publi- repórteres tocavam e cavar até desco-
cadas pelas agências para seu p r ó p r i o brir uma história baseada em ciência
b e n e f í c i o . Relatórios e estudos con- que pudesse vender a seus editores. 0
duzidos por cientistas da agência, poder das agências regulamentadoras
contratados fora o u por painéis de re- e os interesses econômicos que afe-
visão, geralmente necessitam atualiza- t a m apoiam u m campo quase o c u l t o
ção e verificação cuidadosa em com- de jornalistas. Esses são os redatores
paração a outras fontes de informa- de ciência e negócios para os periódi-
ção. De uma maneira geral, é uma cos industriais e profissionais e para
boa p o l í t i c a que os jornalistas cientí- boletins noticiosos especializados cu-
ficos perguntem " q u e m lucra?" ao jos subscritores esperam uma cober-
examinar as conclusões de tais estu- t u r a acurada e técnica da interação
dos. E m m u i t o s casos as agências pe- entre ciência, tecnologia e p o l í t i c a
dirão á National A c a d e m y of Sci- afetando os negócios dos subscritores.
ences para agir c o m o uma " c o r t e de Para os jornalistas c o b r i n d o essas
c i ê n c i a " nos estudos de problemas agências, a compreensão da mescla de
o n d e a evidência c i e n t í f i c a não é cla- ciência, tecnologia e interesses econô-
ra, os problemas p o l í t i c o s m u i t o sen- micos e legislação governadora da
síveis e os temas econômicos confli- agência é essencial. Todos os elemen-
tantes. Esse f o i o caso quando a Na- tos devem estar presentes numa ma-
t i o n a l A c a d e m y o f Sciences estudou téria. Parte desse trabalho é feita com
dados sobre a questão da chuva ácida mais facilidade para o jornalista des-
e c o n c l u i u que havia c o m efeito uma de que os dados de impacto econômi-
conexão entre a queima de carvão no co se t o r n a r a m uma parte exigida de
centro-oeste industrial e a acidez nos muitas proposições regulamentado-
lagos d o nordeste e d o Canadá. Esse ras. Os cálculos de impacto econômi-
relatório estava em c o n f l i t o c o m as co são vulneráveis às tendências da
argumentações da administração Rea- agência, de m o d o que o redator de
gan que defendia a necessidade de se ciência deve ser cético a tais predi-
realizar mais pesquisa antes que tal ções. As especialidades científicas,
relação pudesse ser feita (Pasztor, tais c o m o reportagem ambiental e de
1983). energia, c o b r i r a m várias agências fe-

140
derais e suas contrapartes (em regula- Várias razões t o r n a m a reporta-
mentação aquática, aérea e terrestre) gem de ciência e tecnologia u m com-
no nível estadual e às vezes municipal ponente fundamental de muitas co-
ou de distrito. Os congressistas locais berturas noticiosas do campo dos ne-
e legisladores estaduais, em algumas gócios. (1) As organizações comer-
instâncias, podem extrair informa- ciais produzem e consomem a maior
ções dessas agências. Pode ser neces- parte da nova tecnologia mundial e
sário usar as leis de Freedom o f In- proporcionam empregos nessa área.
f o r m a t i o n and Open Records esta- (2) a ciência aplicada que cria e re-
duais e federais para obter registros solve problemas sociais provavelmen-
de decisões, dados de pesquisa e ou- te virá dos grupos comerciais. (3) À
tras informações. medida que as organizações comer-
ciais ficam maiores, podem suplantar
Ciências, negócios e economia o poder dos governos em influência
Os redatores de ciência que escre- nacional e internacional. (4) Para o
vem para leitores do mundo dos ne- leitor geral e da área de comércio a
gócios devem se preocupar com a in- compreensão de aplicações comer-
teração da ciência e tecnologia com ciais da ciência e da tecnologia ajuda-
dinheiro, poder, empregos e outros rá a entender as tendências sociais,
fatores sócio-econômicos. Se o foco políticas e econômicas. (5) Há u m
da publicação ou programa está sobre cruzamento e fusão crescentes das
a comunidade de negócios, os fatores comunidades econômicas e científi-
econômicos provavelmente d o m i n a m cas como resultado do uso da ciência
a ciência na abordagem do redator a e tecnologia pelo comércio.
qualquer matéria. No The Wall Street Alguns dos melhores e piores as-
Journal, Forbes e Business Week, por pectos da ciência e tecnologia apare-
exemplo, u m redator deve procurar cem na reportagem comercial. Certa-
u m ângulo econômico que justifique mente é bom para redatores de ciên-
a impressão da sua história. As exce- cia e tecnologia escreverem sobre os
ções são feitas, geralmente, apenas se benefícios econômicos inerentes a
você puder demonstrar u m efeito, tal novas aplicações de conhecimentos.
como de saúde ou financeiro, sobre a Por exemplo, considere a promessa
vida pessoal do público. Exemplos de da ciência-arte, da engenharia genéti-
algumas das mais minuciosas matérias ca e a criação seletiva de organismos.
ciência-tecnologia-negócios aparecem Essa aplicação potencial da ciência
numa revista inglesa, The Economist. produziu para Steven J. Marcus do
Sua perspectiva ligeiramente diferen- The New York Times uma importan-
te quanto ao m u n d o assim como o te matéria de seção de comércio so-
seu valor em mostrar como integrar o bre a possibilidade de criar micróbios
passado econômico com o jornalismo para limparem tipos específicos de
c i e n t í f i c o fazem com que valha a pe- resíduos agrícolas, u m problema am-
na lê-lo. biental de d i f í c i l solução, e excretar

141
s u b p r o d u t o s q u í m i c o s úteis ( 1 9 8 4 ) . m o alvo de atenção especial pelo Juiz
Com muita freqüência, entretanto, a que o acusou de violar " t o d o s os pre-
m a t é r i a c i ê n c i a - c o m é r c i o t e n d e a cen- ceitos é t i c o s " d o j u r a m e n t o hipocrá-
trar-se u n i c a m e n t e nos b e n e f í c i o s po- t i c o . U m a c o r t e de apelações fez c o m
tenciais e m t e r m o s de empregos e lu- que a a f i r m a ç ã o d o j u i z na c o r t e fos-
cros. Da mesma f o r m a , as histórias se e l i m i n a d a d o registro c o m o sendo
d e i x a m de e x p l o r a r as possibilidades f o r t e demais para a ocasião.
negativas, especialmente aqueles efei-
t o s que u m a nova t e c n o l o g i a p o d e As companhias, freqüentemente
p r o d u z i r q u a n d o aplicada a m p l a m e n - lideradas por f i r m a s dos E U A , c r i a m
t e . A p r o f u s ã o de artigos plásticos m u i t o s p r o d u t o s novos e úteis. M u i -
quase i n d e s t r u t í v e i s , p o r e x e m p l o , tos causam p o u c a , se a l g u m a , p e r t u r -
quase s u f o c o u os m é t o d o s c o n v e n c i o - bação no m e r c a d o o u na sociedade
nais de lidar c o m l i x o . a l é m dos lucros. E n t r e t a n t o , o poten-
A i n d ú s t r i a f a r m a c ê u t i c a oferece cial para o b e m e para o d a n o nacio-
m u i t o s e x e m p l o s de novos p r o d u t o s nal e m e s m o m u n d i a l a c o m p a n h a ca-
c o m resultados indesejados. N o mes- da p r o d u t o que causa os rápidos e
m o dia e m que a h i s t ó r i a dos m i c r ó - eficientes sistemas de marketing e
bios apareceu n o The New York Ti- d i s t r i b u i ç ã o das empresas modernas.
mes c o m as esperanças da engenharia Às vezes os efeitos não p o d e m ser
genética, o j o r n a l t a m b é m r e l a t o u a previstos; f o r a m necessários quase
a f i r m a ç ã o lida p o r u m j u i z federal em c i n q ü e n t a anos para que o p o t e n c i a l
M i n n e a p o l i s , o Justice Milers Lord, para a p o l u i ç ã o d o ar pelos a u t o m ó -
para três f u n c i o n á r i o s de c o m p a n h i a veis p r o d u z i d o s e m massa fosse reco-
f a r m a c ê u t i c a c o m o parte de u m acor- n h e c i d o . Às vezes os efeitos já são co-
d o e s t i m a d o e m 4 , 6 m i l h õ e s de dóla- nhecidos, e ignorados, q u a n d o são
res de processo c o n t r a as vendas de negativos. Os a d m i n i s t r a d o r e s de em-
u m i n s t r u m e n t o de c o n t r o l e de nata- presas t ê m sido c o n h e c i d o s p o r supri-
lidade. Disse o Justice Lord: m i r dados adversos ( i n c l u i n d o m o r -
tes) a respeito de p r o d u t o s , t e n t a r
A sua companhia, sem prevenir as usar i n f l u ê n c i a p o l í t i c a para conquis-
mulheres, invadiu seus corpos aos tar endosso c i e n t í f i c o e governamen-
milhões e causou-lhes milhares de t a l a p r o d u t o s espúrios e o b t e r dis-
danos. . . Sua companhia, diante da
pensa de decisões de cortes a f i r m a n -
avassaladora evidência nega sua cul-
pa e continua seu monstruoso engo- d o responsabilidade de c o m p a n h i a s
do. Vocês tomaram a linha mais p o r m o r t e e f e r i m e n t o s . U m n í v e l de
baixa como linha-guia e a estrada risco c o n h e c i d o p o d e ser aceito mera-
baixa como seu caminho. Essa é a
m e n t e c o m o o c u s t o de fazer negó-
irresponsabilidade das corporações
em seu pior aspecto (Associated cios. A i n f l u ê n c i a de interesses espe-
Press, 1984a, 9) ciais p o d e ser e x e r c i d a através de pro-
messas de v o t o s o u c o n t r i b u i ç õ e s a
U m m é d i c o que t r a b a l h a para u m
campanhas.
f a b r i c a n t e de drogas f o i escolhido co-

142
Desse m o d o , o redator de ciência t a m b é m operam seus laboratórios na-
orientado para o comércio irá procu- cionais próprios. C o m o a informação
rar desenvolvimentos c i e n t í f i c o s e em algumas dessas agências é confi-
tecnológicos c o m significado para a dencial o u ao menos "seguramente
indústria. Os redatores de ciência e m a n t i d a " pela p o l í t i c a , os redatores
tecnologia t a m b é m devem experi- de ciência p o d e m obter sua primeira
mentar as fontes de companhias so- visão c r í t i c a da nova tecnologia atra-
bre as possibilidades de uso errôneo vés de trabalhos c i e n t í f i c o s em reu-
de novos produtos, os efeitos desses niões de cientistas e engenheiros o u
produtos quando multiplicados aos de u m relatório i n t e r n o de uma agên-
milhões, e os resultados dos estudos cia. Na maior parte dos casos uma vi-
de "análise de riscos". É uma admi- sita aos laboratórios privados o u fe-
nistração de companhia i m p r u d e n t e derais pode ser arranjada para repor-
aquela que não tenta tais estudos, tagem sobre u m p r o j e t o em particu-
considerando os prejuízos potenciais lar. Em o u t r o s casos, os veículos de
no julgamento de responsabilidade comunicação e a indústria podem ser
por p r o d u t o . As cópias de tais análi- forçados a usar o Freedom of I n f o r -
ses freqüentemente encontram o ca- m a t i o n A c t para obter dados c r í t i c o s
m i n h o para as mãos dos jornalistas. sobre u m p r o d u t o o u indústria das
Às vezes companhias de seguro e la- fontes federais.
boratórios de testes independentes A c o m p a n h a n d o o crescimento da
podem fornecer tal material. A revis- indústria relacionada à ciência nos
ta Consumer Reports opera seus pró- Estados Unidos encontra-se o cresci-
prios laboratórios de testes. m e n t o de boletins noticiosos e perió-
Uma outra f o n t e de análise de tec- dicos sobre comércio dedicados a ca-
nologia podem ser os relatórios de la- da ramo e sub-ramo de uma indús-
boratórios d o governo. U m grande tria. O jornalista c i e n t í f i c o que
número das pessoas treinadas c o m o aprende u m c a m p o especializado po-
cientistas gastam seu t e m p o testando de bem descobri-lo lucrativo para tra-
e analisando p r o d u t o s , m o n i t o r a n d o balhar para — o u para iniciar — uma
o meio ambiente e coletando e anali- dessas publicações. Essas publicações
sando dados. A maioria dos projetos da indústria servem, t a m b é m , c o m o
do governo envolvendo pesquisa, de- fontes de notícias e informação his-
senvolvimento e engenharia é realiza- tórica sobre a indústria. Obviamente
da sob c o n t r a t o federal, e análises po- uma tendência o u p o n t o de vista pró-
dem ser encontradas em agências pa- indústria irá prevalecer na maioria
trocinadoras tais c o m o a National dos casos, mas isso será fácil de loca-
Aeronautics and Space A d m i n i s t r a - lizar e descontar, se necessário, se vo-
t i o n , o D e p a r t m e n t o f Energy, a En- cê ficar familiarizado c o m o campo.
vironmental Protection Agency, De-
partment o f T r a n s p o r t a t i o n e o De- EMPREGOS, E N E R G I A E PATEN-
partment o f Defense. Essas agências TES. O u t r o lado da reportagem co-

143
mércio-ciência será mais controver- trabalho pode variar de administra-
so do que cobrir o marketing da no- ção a administração.
va tecnologia o u correr atrás de u m A reportagem sobre energia é ou-
c o n t r a t o governamental o u o u t r o . Os t r a especialidade relacionada à ciên-
aspectos científicos e médicos da saú- cia cujo f o c o é f u n d a m e n t a l m e n t e
de são tópicos m u i t o negligenciados orientado para os negócios. Embora
na maioria dos países. Escrever sobre exista uma vasta e complexa pesqui-
a segurança e saúde d o trabalho ofe- sa e u m establisment de engenharia
rece problemas ao redator de ciência avançada no governo e na indústria,
por causa da dificuldade de obter in- as questões de disponibilidade de
formação confiável e livre de libelo. energia geralmente giram ao redor da
questão: " P o r que p r e ç o ? " A miría-
A manufatura de m u i t o s p r o d u t o s
de de fontes de tecnologias de ener-
envolve exposição a poderosos pro-
gia oferece ao redator de ciência a úl-
dutos q u í m i c o s . Isso inclui pílulas de
t i m a equação de trade-off na escolha
c o n t r o l e de natalidade, pesticidas,
das perguntas sobre quanta energia,
componentes eletrônicos e outros.
de que fontes, a que preços e, no ca-
Algumas indústrias, tais c o m o a mi-
so da energia nuclear, a que m á x i m o
neração de carvão e urânio e a indús-
risco. As estimativas realistas dos cus-
t r i a t ê x t i l expõem os operários a con-
tos comparativos de energia devem
dições que p r o d u z e m doença, tal co-
incluir o custo a longo prazo d o ar-
m o o debilitante " p u l m ã o n e g r o " da
mazenamento de l i x o radioativo.
mineração de carvão. A responsabili-
As patentes e o d i r e i t o de proprie-
dade por doenças e lesões relaciona-
dade para fazer d i n h e i r o c o m novas
das ao trabalho, c o m o a segurança de
invenções são o u t r o aspecto da repor-
p r o d u t o s , será negada pela maioria
tagem comércio-ciência. Obter infor-
das companhias e defendida na corte.
mação que é considerada patenteável
Por exemplo, defrontados c o m pro- torna-se d i f í c i l porque a revelação
cessos alegando responsabilidade por prematura pode custar ao inventor
exposição de operários e consumido- o u a uma companhia os direitos de
res a p r o d u t o s d o asbesto, os seus fa- patente se os examinadores de paten-
bricantes f o r a m acusados de usar as te considerarem c o n h e c i m e n t o co-
leis de bancarrota c o m o parte de sua m u m a informação, aplicação, o u téc-
estratégia de defesa. M u i t o da infor- nica. A informação sobre patentes
mação a ser o b t i d a nessa área virá pode emergir de uma o u duas manei-
através de sindicatos, documentos de ras. Uma é a concessão de uma paten-
corte o u às vezes d o National Institu- te, a t r i b u i n d o ao inventor o u proprie-
te of Occupational Safety and Health t á r i o da patente os direitos comer-
( N I O S H ) o u da Occupational Safety ciais. As matérias sobre patente tam-
and Health A a m i n i s t r a t i o n , ambas bém podem emergir na corte quando
agências federais. O vigor c o m que es- a propriedade de uma patente é
sas agências investigam condições de ameaçada. U m a matéria começou

144
cerca de vinte anos atrás quando u m vem perguntar sobre as fontes de da-
antigo graduado da Columbia Univer- dos usadas para t o m a r decisões. Uma
sity processou seu professor vence- maneira pela qual os interesses espe-
dor de Prêmio Nobel e a Bell Tele- ciais f u n c i o n a m num sistema p o l í t i c o
phone Laboratories sobre o crédito é prejudicar a eficiência de uma agên-
por u m conceito-chave na invenção cia persuadindo os administradores
do laser. Mais que uma matéria sobre ou legisladores a manter o número
patente, esse é o u t r o aspecto da bata- de pessoal treinado abaixo do neces-
lha c o n t í n u a dos cientistas por esta- sário para fazer u m trabalho meticu-
belecer a prioridade pela primeira loso de regulamentação e testes.
descoberta. Com instrumentos tão Associações de indústria o u co-
amplamente usados como o laser ou mércio podem fornecer-lhe dados
as fotocopiadoras, fortunas estão em mas você deve estar avisado que esses
jogo. Algumas das batalhas de corte grupos patrocinados pela indústria
mais duramente travadas no f u t u r o desempenham u m papel de obstácu-
irão envolver direitos de patente em los á regulamentação potencial. A
processos de biotecnologia e enge- Lead Industry Association certa vez
nharia genética, parte da literatura ameaçou processar os U.S. Centers
aberta do m u n d o c i e n t í f i c o . Os direi- for Disease C o n t r o l se seus cientistas
tos a tais processos serão comprados não desmarcassem uma reunião desti-
e vendidos entre companhias. nada a revelar aos médicos como pre-
Um dos c o n t í n u o s problemas de venir envenenamento por c h u m b o
escrever sobre negócios e seu envol- em crianças novas (Marshall, 1984a).
vimento com normas do governo des-
tinadas a proteger a saúde e seguran-
ça de trabalhadores e consumidores Relações públicas e especialistas
tem sido a confiança dos legisladores em informação
em dados da indústria. Em ao menos Os redatores de ciência são empre-
uma instância, a credibilidade c i e n t í f i - gados por empresas o u pelo governo
ca da EPA ao aprovar pesticidas f o i como funcionários de informações
ameaçada quando se descobriu que públicas em estabelecimentos de pes-
os cientistas da EPA estavam mera- quisa e engenharia avançada do go-
mente t o m a n d o dados fornecidos pe- verno, indústria e instituições não-
la indústria para testes sobre a t o x i c i - lucrativas. Esses redatores de ciência
dade de pesticidas e passando-os e especialistas e m informações públi-
adiante c o m o trabalho independente. cas provavelmente perfazem a maio-
O uso similar de dados de compa- ria daqueles que se chamam redato-
nhias de petróleo f o i encontrado no res de ciência. Há mais homens e mu-
Department of Energy. A reportagem lheres trabalhando em relações públi-
da indústria não é passível de salien- cas e informações de ciência do que
tar os aspectos de " p i o r caso" de u m empregados c o m o redatores científi-
produto e os repórteres de ciência de- cos de jornais, revistas, rádio e televi-

145
são. M u i t o s trabalharam c o m o reda- f o n t e leia o t e x t o para verificar a acu-
tores de ciência em veículos de co- rácia e o t o m ou as palavras. Teorica-
municação antes de aceitarem empre- mente, isso aumenta o nível de preci-
gos na indústria. Com freqüência esse são, embora o redator c i e n t í f i c o pos-
pessoal de relações públicas é o pri- sa não gostar de discutir as palavras
meiro c o n t a t o entre jornalistas e uma exatas c o m cientistas, departamentos
companhia, agência ou u m cientista. legais e administradores da institui-
M u i t o s desses redatores de ciência ção. Às vezes essas batalhas funcio-
institucionais t a m b é m se c o m u n i c a m nam para ocultar da pessoa de rela-
diretamente c o m não-cientistas atra- ções públicas e dos empregados e pes-
vés das publicações e transmissões de soas de fora, fatos sobre as operações
suas próprias companhias. da companhia.
Os redatores de ciência " d a casa" N u m curso normal de eventos, as
t ê m c o m o alvos os empregados e companhias tendem a seguir o precei-
equipe da instituição. O u t r o s produ- t o de que o melhor relações públicas
zem jornais, boletins noticiosos e re- é a verdade. E n t r e t a n t o , a ligação d o
vistas para audiências externas, inclu- pessoal de relações públicas a organi-
indo consumidores, acionistas, con- zações corporadas e de marketing in-
t r i b u i n t e s , líderes de opinião pública dica claramente que seu trabalho é
e meios de comunicação de massa. vender p r o d u t o s , serviços e imagens.
Seu trabalho mais i m p o r t a n t e é expli- Às vezes as companhias tentarão es-
car a instituição e suas atividades às camotear informação d o departa-
pessoas que t ê m ou podem ser per- m e n t o de relações públicas. Assim, os
suadidas a ter u m interesse d i r e t o na redatores de ciência de relações pú-
organização, incluindo seu progresso blicas agirão bem em fazer tantas per-
financeiro e tecnológico. O u t r o pes- guntas quantas fazem os jornalistas
soal de relações públicas coloca maté- sobre os projetos de pesquisa e desen-
rias diretamente para os jornalistas v o l v i m e n t o . Provavelmente os jorna-
o u responde às suas perguntas sobre listas irão fazer o mesmo t i p o de per-
matérias. N u m a organização peque- guntas e o escritório de relações pú-
na, uma pessoa pode realizar todas blicas pode achar prudente sugerir
essas tarefas. que se evite a ou mesmo que alguma
Especialistas de informação astu- limpeza seja feita para que a compa-
tos operam c o m o jornalistas para nhia o u instituição não se encontre
construir sua própria série de conta- em circunstâncias embaraçosas. Uma
tos e informantes, especialmente den- das funções d o pessoal de relações
t r o de uma grande corporação, tal co- públicas é antecipar ou prever a rea-
m o a I B M ou uma universidade im- ção dos veículos de comunicação às
portante. A o c o n t r á r i o dos jornalis- atividades de uma organização.
tas, que raramente mostram seu tex- M u i t o s jornalistas de ciência ten-
t o às suas fontes, o redator de ciência dem a pensar que o pessoal de rela-
de relações públicas espera que a sua ções públicas vendeu c o m freqüência

146
demais aos meios de comunicação através de uma verba ou c o n t r a t o d o
histórias que não representam avan- governo, a instituição é requerida pe-
ços genuínos em ciência e tecnologia. lo acordo a verificar o release e escla-
Assim, os jornalistas dos meios de co- recer quaisquer conferências de im-
municação de massa são especialmen- prensa c o m a agência que está pagan-
te sensíveis a uma t o r r e n t e de chama- do pela pesquisa. Em outras instân-
dos, press releases e o u t r o s materiais cias, a agência contratante fará o pró-
que e m p u r r a m p r o d u t o s que são ape- prio anúncio para receber os benefí-
nas aperfeiçoamentos marginais sobre cios da publicidade.
a produção de outras companhias. Os Nem todos os anúncios de negó-
redatores podem obter uma medida cios são baseados apenas em procu-
de proteção contra serem enganados rar propaganda gratuita através da
ao perguntar pelo nome genérico o u publicidade. As regulamentações da
q u í m i c o de qualquer droga " n o v a " e Securities and Exchange Commission
verificar esse nome nos livros de refe- referem-se às companhias cujas ações
rência q u í m i c a de outros produtores. são comercializadas nas bolsas de va-
Ocasionalmente, f o r a m escritas maté- lores para que anunciem novos desen-
rias críticas sobre conferências de im- volvimentos passíveis de ter efeito
prensa convocadas para divulgar pes- significativo nas operações de uma
quisa e desenvolvimento duplicados companhia, principalmente seus lu-
o u questionáveis. cros. 0 pessoal de relações públicas
Há m u i t o s passos t a m b é m que u m esperto t a m b é m deve ter respostas a
redator de ciência de relações públi- perguntas financeiras e afins onde es-
cas pode dar para assegurar u m b o m sas são parte do a n ú n c i o . M u i t o s
desenlace, se a pesquisa interna indi- administradores de companhias pre-
ca que u m p r o j e t o merece publicida- ferem contar o menos possível sobre
de. U m desses é preencher as defici- azares, custos e lucros potenciais.
ências dos redatores dos veículos, in- Mas há outras fontes que os de f o r a
clusive providenciando informação podem usar. Os jornalistas p o d e m
histórica bem pesquisada. Essa infor- obter estimativas independentes de
mação pode ser proporcionada aos analistas da indústria nos mercados
jornalistas através de kits de Imprensa de ações ou dos competidores. A Se-
d i s t r i b u í d o s na conferência de im- curities and Exchange Comission,
prensa o u c o m o informação de apoio mantém informação em p r o f u n d i d a -
ligada a u m release noticioso. C o m o de sobre companhias cujas ações são
os anúncios geralmente são feitos por comercializadas no mercado p ú b l i c o .
conveniência da instituição em seu As bibliotecas e revistas de negócios
escritório de relações públicas, deve- oferecem outras fontes de dados.
ria haver t e m p o suficiente para asse- Mais e mais jornalistas verificam os
gurar pesquisa e acurácia minuciosas. relatórios trimestrais e anuais das em-
Em m u i t o s casos em que a pesquisa presas e os mais detalhados relatórios
ou trabalho contratado é financiado financeiros arquivados no SEC. Os

147
jornalistas t a m b é m usam os 9 9 0 for- meios de comunicação torna-se d i f í -
mulários do Internai Revenue Service cil reconquistá-la. A n o t í c i a da per-
para obter informação de renda sobre formance ética viaja rapidamente no
organizações de pesquisa não-lucrati- pequeno m u n d o dos redatores de
vas. ciência nas relações públicas e nos
Existem suspeitas de que muitas veículos de comunicação.
realizações científicas e tecnológicas Seguindo os mesmos passos de ve-
dúbias anunciadas em conferências rificação que o jornalista usa está a
de imprensa da indústria provêem d o auto-proteção mesmo para aqueles
desejo da administração de acrescen- que produzem publicações internas,
tar u m bocadinho ao preço das ações que ocasionalmente chegam aos jor-
da companhia. nalistas e tornam-se "dicas de n o t í -
Os periódicos do comércio indus- cias" para os veículos de massa. Se a
trial oferecem fontes de informação publicação de uma companhia traz
alternativas e embasadas para os jor- informação falsa o u enganadora, é
nalistas. Tais periódicos comerciais improvável que a organização carre-
t a m b é m são uma f o n t e i m p o r t a n t e gue a culpa por qualquer controvérsia
de histórias sobre companhias a res- que resulte, mesmo se essa tiver cir-
p e i t o de suas atividades. Alguns pe- culado c o m o p o l í t i c a de administra-
riódicos operam agressivamente e ção. Por o u t r o lado, os redatores de
m a n t ê m fontes independentes de in- ciência de relações públicas t ê m vá-
formação no interior de companhias rios fatores trabalhando a seu favor.
que fazem parte da indústria que co- Não são m u i t o s redatores de ciência
brem. Os redatores de ciência de rela- que se entregam à reportagem investi-
ções públicas precisam se tornar fa- gativa. Algumas das ações f o r a m resu-
miliarizados c o m essas fontes de in- midas pelo Dr. Rae Goodell ( 1 9 8 1 ) .
formações alternativas para evitar
afirmações conflitantes e proteger a 1. A ciência e os cientistas i n t i m i -
si mesmos de situações que podem dam grande parte da imprensa.
causar uma perda de confiança pelos 2. Os editores e redatores não t ê m
jornalistas. Sabe-se de companhias confiança em investigações c i e n t í f i -
que sacrificaram pessoas de relações cas.
públicas colocando-as em circunstân- 3. Os redatores de ciência sabem
cias comprometedoras. Se a pessoa da sensibilidade da comunidade cien-
de relações públicas não consegue t í f i c a às críticas e t e m e m perder suas
dissuadir a companhia de liberar in- fontes.
formação enganosa, a demissão pro- 4. C o m o os redatores de ciência
vavelmente é o melhor curso quando partilham do entusiasmo dos cientis-
o f u n c i o n á r i o de relações públicas tas pela ciência e seus valores, são fa-
deu o melhor conselho possível e o cilmente cooptados.
teve rejeitado. Uma vez destruída a 5. A maioria dos escritores de
confiança entre os jornalistas dos ciência não t e m interesse em cobrir

148
aspectos p o l í t i c o s e econômicos da dividuais assistindo à reunião sem in-
ciência. vadir o t e r r i t ó r i o da sociedade.
6. T a n t o redatores de ciência O redator de ciência da indústria
q u a n t o cientistas tendem a focalizar t a m b é m pode ter de lidar c o m uma
as perguntas no tecnicamente possí- nova figura que aparece nas reuniões
vel em lugar daquilo que é desejado. científicas. É o analista de seguros
7. Os editores de jornais diários que, trabalha independentemente, o u
não compreendem a natureza da para uma das casas de corretagem de
ciência e concedem mais t e m p o e fle- ações. Esses analistas estarão procu-
xibilidade para matérias de p r o f u n d i - rando por sinais de pesquisa que pos-
dade. sam levar as ações de uma companhia
Se você escreve para uma corpora- a aumentar o u d i m i n u i r sua cotação.
ção publicamente comercializada, Alguns jornalistas financeiros assis-
universidade o u organização não-lu- t e m a reuniões científicas e médicas
crativa, você pode assistir a reuniões c o m o mesmo propósito. C o m fre-
científicas para ampliar o u manter qüência, tal informação não virá de
seus contatos com jornalistas c i e n t í - u m relatório de companhia mas de
ficos. Essas reuniões t a m b é m ofere- uma universidade o u pesquisador d o
cem insights no trabalho dos compe- governo que testou o p r o d u t o para
tidores. Você pode esperar pagar uma verificar sua eficácia o u segurança.
taxa de inscrição na reunião, embora Esses analistas, que p o d e m ser anti-
algum pessoal da área de informações gos jornalistas de ciência o u pessoal
receba cortesias da sala de imprensa de relações públicas, t a m b é m assis-
sem taxas, c o m o ocorre c o m a maio- t e m às conferências de imprensa para
ria dos jornalistas.Não é b o m usar a fazerem a sua avaliação d o efeito de
ocasião para uma promoção mais do novos p r o d u t o s sobre os destinos de
que discreta de sua organização. É uma companhia. Os analistas inde-
possível, entretanto, ter cópias dos pendentes freqüentemente p u b l i c a m
trabalhos de seus cientistas colocados boletins noticiosos c o m conselhos a
na sala de imprensa o u arranjar entre- acionistas, aumentando a necessidade
vistas. Os administradores da sala de de preparar-se para questões econô-
imprensa de uma reunião c i e n t í f i c a micas além daquelas relativas a ciên-
podem pedir ao redator de ciência de cia e tecnologia.
uma indústria para ajudar a arreba-
nhar os cientistas da companhia se es- A L G U M A S Q U E S T Õ E S N O V A S . As
tes se enquadrarem nas necessidades companhias que fabricam drogas que
de imprensa da sociedade, mas orga- necessitam de prescrição o u materiais
nizar uma conferência de imprensa que devem ser administrados por mé-
de companhia em separado quebra o dicos colocam alguns problemas no-
p r o t o c o l o . O redator de ciência de re- vos para os praticantes de relações
lações públicas geralmente pode ar- públicas e marketing científicos. É a
ranjar entrevistas para jornalistas in- prática de anunciar e promover dro-

149
gas c o m nomes comerciais, aparelhos Parte da pressão para anunciar no-
médicos, e outros materiais direta- mes de marca e medicamentos paten-
mente a consumidores. No passado, teados diretamente aos usuários pro-
os médicos eram os únicos alvos des- vém da crescente demanda por dro-
se t i p o de p r o m o ç ã o , sob a teoria de gas "genéricas". Esses medicamentos
que apenas o médico iria escolher o são vendidos sob seus nomes q u í m i -
t r a t a m e n t o para u m paciente. E m cos ao invés de nomes de marca. As
1980, entretanto, a Collagen Corpor- medicações genéricas são vendidas
a t i o n , p r o d u t o r a de u m material que por consideravelmente menos que
poderia ser usado para alisar cicatri- suas contrapartes c o m nome de mar-
zes e marcas de espinhas, partiu, atra- ca o u " p r o p r i e d a d e " . E n q u a n t o exis-
vés de publicidade em revistas femi- t e m essas pressões econômicas com-
ninas, a encorajar as pessoas a requisi- petidoras, haverá afirmações compe-
tarem o tratamento. Alguns fabrican- tidoras sobre se os genéricos são tão
tes de drogas t a m b é m procuraram a eficientes q u a n t o os nomes de mar-
permissão da F o o d and Drug A d m i - ca, mesmo se o consenso das autori-
nistration para anunciar seus produ- dades médicas aceitar o uso de gené-
tos que necessitam de prescrição mé- ricos. O redator de ciência das corpo-
dica em publicações de consumido- rações pode ser pressionado a defen-
res. Robert P. Charrow, professor de der o p r o d u t o mais caro da compa-
D i r e i t o na University o f Cincinnati, nhia em notícias e t e x t o s de publici-
preveniu que isso aumenta a exposi- dade sem parecer estar desafiando a
ção de uma companhia a processos convenção c i e n t í f i c a , embora algum
por responsabilidade. Quando produ- cientista, em algum lugar, poderá ser
tos médicos são comercializados ape- encontrado para p r o p o r c i o n a r dados
nas para médicos, a d o u t r i n a legal de de pesquisa favorecendo u m p r o d u t o
"intermediário i n f o r m a d o " requer c o m nome de marca.
que o fabricante previna apenas os T a m b é m em pauta t a n t o para os
médicos sobre os efeitos colaterais redatores de ciência da indústria co-
possivelmente indesejáveis o u as con- m o dos veículos de comunicação es-
seqüências de tal tratamento. tá a possibilidade de que as decisões
( C h a r r o w , 1983; " S m o o t h b e l l i n g " , sobre desenvolvimento c i e n t í f i c o irão
1984). Embora este seja u m tema tender a concentrar-se nas mãos do
possível de decisão nas cortes, o mar- que David Dickson, o repórter de ci-
keting público pode exigir que os ência em Washington para Nature,
administradores de relações públicas chama "classe de líderes de corpora-
da ciência incluam avisos similares ções, bancos ou m i l i t a r e s " , sem esta-
em todas as apresentações públicas. rem sujeitos às considerações do pro-
M u i t o s jornalistas c u l p a m o pessoal cesso democrático maior na socieda-
de relações públicas por ser pouco de (1984). Dickson assume que os
franco a respeito dos riscos agora as- cientistas de universidades, o b t e n d o a
sociados c o m novas drogas. maior parte de seu apoio na indús-

150
tria, irão achar mais d i f í c i l manter a risco tecnológico. Isso coloca u m
independência e a discussão aberta problema para todos os redatores de
em face desse poder p o l í t i c o e finan- ciência porque, se por um lado pode
ceiro e as tentações de novas f o r t u - resultar na retenção de informação
nas possíveis em tais áreas emergen- ao público, por o u t r o pode despertar
tes como as formas de vida construí- medos desnecessários. Adicionalmen-
das através da engenharia genética. te, a ciência, arte, ou técnica de esti-
Uma visão mais benigna afirma que mar os riscos para a sociedade e para
as empresas estão comprando pesqui- os indivíduos é nova e altamente es-
sa universitária para aprender primei- peculativa. Os métodos e dificulda-
ro sobre desenvolvimentos novos e des de prever tais riscos merecem ma-
não para controlá-los. térias.
Entretanto, o debate sobre a su-
pervisão o u controle de tais formas Alguns cientistas iriam, como o
de vida produzidas pelo homem, co- antigo astronauta e senador pelo No-
m o as bactérias que f o r a m alteradas vo México Harrison H. Schmitt, esca-
para atingir vários fins comerciais, irá motear estimativas de perigo aos jor-
continuar. O National Institute of nalistas ou pedir-lhes para censurar
Health mantém poder de aprovação informação sobre possíveis perigos na
informal sobre tais micróbios destina- tecnologia (Schmitt, 1 9 8 4 , 1 7 ) . Essa é
dos ao uso em laboratórios. Mas ex- uma solicitação antiga, indo no m í -
perimentações posteriores irão reque- n i m o até as instâncias em que prefei-
rer testes externos, que os ambienta- tos pediam aos jornais para não divul-
listas vêem como u m risco de altera- garem a presença de tubarões na
ções no equilíbrio da natureza consi- praia porque isso iria afetar os negó-
derando-se as chances de que tais mi- cios turísticos. As análises custo-bé-
cróbios venham a escapar das áreas nefício o u risco-benefício pedem que
de testes. Isso ocorreu com a introdu- a sociedade, de certo m o d o a sangue-
ção de outros organismos, tais c o m o f r i o , aceite certo número de mortes,
formigas vermelhas nas regiões onde por exemplo, em desastres de avia-
não têm inimigos naturais. ção, porque garantir a segurança t o t a l
contra morte ou ferimentos tornaria
o custo da viagem aérea proibitivo.
Avaliação de riscos Nós vivemos num m u n d o estatístico
Ter influência sobre a f o r m a pela onde corremos nossos riscos. Mas os
qual os meios de comunicação irão jornalistas foram criticados por alar-
abordar estas e outras questões será mar leitores sobre riscos tecnológicos
uma questão para os redatores de ci- que são m u i t o mais baixos que o ris-
ência resolverem. A " a j u d a " especia- co de ferimento ao cruzar uma via
lizada será oferecida sob o disfarce de metropolitana, dirigir u m carro atra-
educar redatores e leitores da manei- vés da cidade ou outras situações de
ra " a p r o p r i a d a " para observarem o " r i s c o " comuns e aceitas.

151
Parte da controvérsia reside em se substâncias perigosas em suas depen-
as pessoas escolhem os riscos que cor- dências. U m a u m e n t o na quantidade
rem, tais c o m o dirigir o u f u m a r cigar- de acidentes de estradas e ferrovias
ros o u se t ê m o risco imposto a elas provocou uma pressão similar nas dé-
por outras. U m e x e m p l o de tal risco cadas de 1960 e 1970 e f o r ç o u as
i m p o s t o poderia ser viver nos arredo- companhias químicas a rotularem
res de uma fábrica onde os adminis- carros-tanque t r a n s p o r t a n d o produ-
tradores iniciam a produção de u m tos q u í m i c o s perigosos. As compa-
p r o d u t o q u í m i c o suspeito de ocasio- nhias o fizeram c o m relutância, exa-
nar doença. U m tema de discussão no tamente c o m o muitas resistem à reve-
c a m p o da saúde ocupacional é se os lação franca dos riscos no trabalho.
trabalhadores de uma indústria de- E n t r e t a n t o , u m c o m i t ê da National
vem o u não aceitar uma exposição A c a d e m y of Sciences a f i r m o u que in-
maior a riscos q u í m i c o s por causa de f o r m a r os trabalhadores sobre os ris-
seu trabalho d o que o p ú b l i c o em ge- cos existentes em seus locais de tra-
ral deve aceitar. O u t r o f a t o r nos ní- balho é uma ação ética fundamenta-
veis de risco aceitáveis reside no co- da nos benefícios para a sociedade em
nhecimento pleno do risco. Por geral a partir d o d i r e i t o de u m indiví-
e x e m p l o , os bombeiros na cidade na- d u o à autodeterminação.
tal d o autor estavam dispostos a com- A socióloga D o r o t h y N e l k i n , uma
bater u m fogo q u í m i c o numa fábrica estudiosa da ciência na sociedade e
de tintas — até descobrirem que 0 m e m b r o do quadro de diretores da
e d i f í c i o continha nitrocelulose, algo- A A A S , a f i r m a que o acesso dos veí-
dão-pólvora, u m explosivo usado em culos de comunicação à informação a
sua f o r m a l í q u i d a c o m o ingrediente respeito dos riscos assim c o m o bene-
em certas tintas. Os jornalistas cientí- f í c i o s da tecnologia é f u n d a m e n t a l
ficos terão muitas oportunidades de para a existência de uma cidadania
escrever sobre esse novo campo de i n f o r m a d a capaz de empenhar-se com
determinação de riscos á medida que c o n h e c i m e n t o em escolhas políticas.
a pesquisa sobre ele crescer durante A comunicação o p o r t u n a da informa-
os p r ó x i m o s anos. ção sobre os riscos ao público tam-
Por trás das objeções ao relato de bém t e m importância prática. A co-
riscos pelos meios de comunicação de bertura dos meios de comunicação
massa — mesmo exagerados e sensa- pode exagerar o problema dos riscos,
cionalistas, estão interesses econômi- mas aumentar a consciência pública,
cos e profissionais que podem achar pode t a m b é m elicitar o apoio que é
mais d i f í c i l atingir seus objetivos eco- necessário para trazer os riscos sob
nômicos por causa da opinião pública c o n t r o l e . Pode f o r ç a r funcionários
adversa. A calamidade industrial em públicos a serem responsáveis perante
Bhopal, índia, em 1984, a u m e n t o u a seus constituintes. E pode ajudar a
exigência pública de que as compa- trazer problemas c r í t i c o s à agenda
nhias revelem a presença de todas as pública ( N e l k i n , 1984a, 21). Na reali-

152
dade, esses são os resultados deseja- Index to Dental Literature, acúmulo
dos p o r grupos de interesse especial impresso m e n s a l e anual pela National
q u a n d o estes s o l i c i t a m o a p o i o dos Library of Medicine e t a m b é m í n d i c e
meios de c o m u n i c a ç ã o , f r e q ü e n t e - de c o m p u t a d o r M E D L I N E . American
m e n t e c o m dados superestimados, Men and VJomen of Science (catálo-
para o seu lado da questão. go).

Fontes de informação BASES DE D A D O S C O M P U T A D O -


R I Z A D O S : Pharmaceutical News In-
A q u i estão algumas f o n t e s de in-
dex ( n o t í c i a s da i n d ú s t r i a f a r m a c ê u t i -
f o r m a ç ã o que irão ajudá-lo a pesqui-
ca). Science C i t a t i o n I n d e x (vida e
sar assuntos transcientíficos. A ciências físicas). M E D L I N E (medici-
m a i o r i a p o d e ser e n c o n t r a d a e m qual- na, enfermagem e odontologia).
quer b i b l i o t e c a , e m b o r a algumas se- C E N D A T A (dados d e m o g r á f i c o s d o
jam experiências especializadas dis- Bureau o f Census). O acesso a estes
poníveis na m a i o r i a das faculdades p o d e vir e m pacote c o m subscrições
o u universidades e m u i t a s bibliotecas de m u i t o s serviços c o m e r c i a i s de da-
de empresas. dos.

C O M É R C I O : The Wall Street Journal Experiências


Index ( c o m p a n h i a s , t ó p i c o s gerais), 1. Examine a seção de notícias de comér-
cobre de 1 9 5 7 até o presente. Bu- cio de um jornal metropolitano. Faça uma
siness Index (seções de c o m é r c i o e m lista de matérias que tenham um forte con-
teúdo de ciência ou tecnologia. Em que
jornais desde 1 9 7 9 ) . Standard and
dessas diferem de outras matérias de ciên-
Poor's Corporation fíecords (atuali- cia que você já leu?
zado a n u a l m e n t e ) . Moody's Industrial
2. Percorra uma edição do The Wall
Manual (anual). The Stock Market
Street Journal. Quantas histórias reque-
Directory, 1 9 8 2 (cobre 1 5 0 0 compa- riam explicação de algum aspecto da ciên-
nhias). Directory of Corporate Affi- cia ou tecnologia?
liations (anual). America's Corporate
3. Examine cópias recentes de Business
Families (anual). Standard and Poor's
l/Veek, The Economist ou Forbes à procu-
Industry Surveys (anual), cobre 6 9 7 ra de histórias cuja significação econômica
indústrias e f i r m a s i m p o r t a n t e s . ou de negócios repouse sobre ciência ou
tecnologia.
P O L Í T I C A : Congressional Quarterly 4. Procure no Readers'Guide to Periodical
(semanal). National Journal (sema- Literature, no Business Index, ou no The
Wall Street Journal Index por histórias in-
nal). Public Affairs Information Ser- dicando processos sobre responsabilidade
vice ( P A I S ) , mensal e d i s p o n í v e l atra- de produtos.
vés de c o m p u t a d o r e m algumas bi-
5. Você pode descobrir histórias envol-
bliotecas.
vendo comércio e ciência-tecnologia nas
quais haja pistas de que pessoal de relações
M E D I C I N A E C I Ê N C I A : Index Medi- públicas do governo ou da indústria aju-
eus, International Nursing Index, and dou essas matérias a serem impressas?

153
Capítulo 8
notícias de ciência, de medicina e saúde

A MAIOR PARTE DA REPORTAGEM e f i c i e n t e nessa área. I m p o r t a n t e s co-


MÉDICA LIDA COM n o t í c i a s trans- m o as f o n t e s de n o t í c i a s são em ou-
c i e n t í f i c a s . E m lugar n e n h u m há ten- tros campos, a cooperação d o pessoal
dências de e m p r e e n d i m e n t o s c i e n t í f i - nos campos da saúde e medicina é vi-
cos mais mesclados por valores eco- tal para o r e d a t o r . Este c a p í t u l o so-
n ô m i c o s , p o l í t i c o s , de personalidade bre n o t í c i a s c i e n t í f i c a s de m e d i c i n a e
e sociais d o que na m e d i c i n a e ciên- saúde irá ajudar os redatores a evita-
cias de saúde o u suas relações. Histó- rem algumas das armadilhas que po-
rias de vida o u m o r t e , os valores de d e m alienar f o n t e s e guiar os redato-
sobrevivência, são específicas e pes- res a alguns aspectos que o pessoal da
soais e m b o r a t a m b é m amplas e ge- área discute apenas c o m relutância.
rais. A s doenças c o m o o câncer e as Na segunda metade d o século X X ,
d o coração, para t o m a r e x e m p l o s a m e d i c i n a desenvolveu-se de u m a ar-
ó b v i o s , são individualizadas; nós so- te incerta para algo que se a p r o x i m a
f r e m o s e m o r r e m o s u m por u m . Essas da ciência. Isso não é subestimar os
doenças t a m b é m declaram milhões séculos anteriores de c o n h e c i m e n t o
de vidas a cada ano em estatísticas m é d i c o d i f i c i l m e n t e c o n q u i s t a d o an-
sem r o s t o e sem n o m e que as r o t u l a m tes da descoberta e p r o d u ç ã o de anti-
c o m o as mais freqüentes causas de b i ó t i c o s , t a n t o q u a n t o apontar para o
m o r t e . E n t r e t a n t o , a maioria dos mé- redator de ciência c o m o t e m sido re-
dicos e dentistas c o n q u i s t a suas posi- lativamente maior o p r o d u t o de déca-
ções de respeito e suas vidas através das recentes e quantos fatores ainda
d o c u i d a d o d i á r i o de males menores: permanecem desconhecidos. U m a do-
febres, gargantas irritadas, ossos que- ença t e m i d a , a v a r í o l a , f o i e l i m i n a d a .
brados, gengivas e dentes doentes, he- Muitas pessoas sobrevivem a males e
m o r r ó i d a s , infecções, úlceras, acnes, doenças antes fatais. O a u m e n t o da
resfriados, gripes, músculos distendi- longevidade da vida não é senão o re-
dos, a p e n d i c i t e , pressão sangüínea sultado dessa revolução nos cuidados
alta etc. etc. etc. D i f i c i l m e n t e temas médicos eficientes. Permanece quase
que f a z e m n o t í c i a . O u faz? Seu im- esquecido o f a t o de que nos p r i m e i -
p a c t o é universal. ros anos da década de 1 9 0 0 m u i t o s
Os redatores de ciência precisam homens e mulheres m o r r i a m antes de
c o m p r e e n d e r a c u l t u r a da saúde e da c o m p l e t a r 5 0 anos. A expectativa de
m e d i c i n a para escreverem de maneira vida excede agora os 7 0 . Desse ú n i c o

155
f a t o ramificam-se dezenas de mudan- dentes. Alguns médicos e fornecedo-
ças na sociedade que afetam as opor- res de p r o d u t o s médicos alcançaram
tunidades de trabalho, escolha de car- a riqueza através de subornos entre
reiras, cuidado c o m os idosos, p o l í t i - planos de seguros de saúde federais,
ca, alocação de recursos, atividades estaduais e particulares. E a imagem
de lazer e serviços sociais. dos médicos c o m o gentis figuras pa-
As profissões que lidam na área de ternas m u d o u para a de tecnocratas
cuidados c o m saúde empregam mi- de elite, eficientes mas alienados.
lhões de pessoas no m u n d o inteiro Uma indústria menor surgiu para
no que é chamado "dispensa de cui- mostrar aos médicos c o m o adminis-
dados c o m saúde". Apoiando-os há trar suas práticas lucrativas, investir
o u t r o s fabricantes de drogas, supri- seu d i n h e i r o e empenhar-se em ativi-
mentos e instrumentos médicos. Hos- dades políticas, geralmente em opo-
pitais e clínicas às dezenas de milha- sição aos programas nacionais de cui-
res através dos Estados Unidos dão dados c o m a saúde. De uma falta de
representação física institucional à médicos na metade d o século, os go-
idéia dos cuidados c o m a saúde. Tais vernos dos Estados Unidos e os go-
instituições freqüentemente empres- vernos de outras nações avançadas
t a m identidade às cidades que as abri- começaram a se perguntar se não fo-
gam, c o m o faz a M a y o Clinic c o m ram treinados médicos mais do que
Rochester, Minnesota, o u a Mennin- suficientes mesmo que sua distribui-
ger Clinic c o m Topeka, Kansas. ção nas áreas metropolitanas tenha
Medicina é dinheiro. O i m p a c t o deixado muitas cidades rurais caren-
e c o n ô m i c o da indústria de cuidados tes de médicos e hospitais.
c o m a saúde é intenso. Durante as dé- O acesso ao t r a t a m e n t o médico
cadas de setenta e oitenta, o custo abrangente, de primeira classe — dis-
crescente dos cuidados médicos e ae c u t i d o nos anos sessenta pela A M A —
saúde e das drogas elevou os índices por causa de u m tema de p o l í t i c a na-
de inflação e representou dilemas cional c o m o os f u n d o s Medicare e
econômicos nacionais. O o r ç a m e n t o Medicaid para os idosos e os indigen-
nacional para medicina excede 3 5 0 tes f o r a m ameaçados c o m o esvazia-
bilhões de dólares por ano, mais ae m e n t o . As ações dos médicos para de-
10% do Produto Nacional B r u t o pe- sacelerar os crescentes custos c o m a
las estimativas do D e p a r t m e n t o f medicina não t r o u x e resposta similar
Health and Human Services. Isso cor- dos hospitais, t a m b é m líderes na in-
responde a aproximadamente 1.400 flação dos anos setenta e oitenta. Na
dólares por pessoa. Em 1984 a Ame- realidade, os hospitais ofereciam tan-
rican Medicai Association pediu aos t o potencial de lucro que grandes
seus membros médicos para pararem companhias, tais c o m o a Humana, e a
de aumentar os honorários durante Hospital C o r p o r a t i o n of A m e r i c a , fo-
u m ano. As rendas de m u i t o s médi- ram formadas para o negócio de pos-
cos alcançaram números surpreen- suir e operar hospitais. Isso reverteu

156
uma tendência de quase u m século Estados Unidos é a " c l í n i c a de emer-
d u r a n t e o qual a propriedade de hos- gências m e n o r e s " de d o m í n i o priva-
pitais mudou-se das mãos privadas, do. Localizada na vizinhança de edi-
geralmente as de u m médico, para as f í c i o s de escritórios o u shopping cen-
de organizações públicas, não-lucra- ters, supera os médicos de f a m í l i a ,
tivas o u religiosas. Os hospitais públi- que há m u i t o t e m p o haviam deixado
cos municipais restantes f o r a m força- para trás os chamados a d o m i c í l i o e
dos a c o m p e t i r por pacientes pagan- os números em recesso de alas de
tes o u segurados para ajudar a d i l u i r emergência dos hospitais. As facilida-
os custos hospitalares daqueles doen- des para a " c i r u r g i a no d i a " aparece-
tes e pobres que eles, c o m o institui- ram t a m b é m , para pacientes que pre-
ções públicas, eram obrigados a acei- cisavam dos serviços p r o t e t i v o s de
tar. A u m e n t o correspondente nos salas de operação inteiramente equi-
seguros privados médicos, dentários e padas, mas apenas algumas horas de
de saúde levaram os negócios a pro- cuidados de enfermagem pós-opera-
porcionar o custo da cobertura para tórios d u r a n t e a recuperação. Depois,
seus empregados e dependentes c o m o para eles, era ir para casa, para recu-
b e n e f í c i o marginal. Perguntas pertur- perar-se em leitos menos dispendio-
badoras f o r a m levantadas sobre se o sos c o m a ajuda da f a m í l i a , amigos
preço de tratar a doença havia o u não o u enfermeiras visitantes. A década
se m o v i d o além das possibilidades de de setenta t a m b é m assistiu rejuvenes-
todos a não ser os ricos? cer o interesse por duas práticas mé-
Na segunda metade d o século, no- dicas mais antigas: as parteiras e o
vas formas de cuidados c o m a saúde parto em casa.
entraram para o uso geral, encoraja- O u t r o novo desenvolvimento f o i o
das pela economia e p o l í t i c a pública. m o v i m e n t o beneficente no qual o
Uma f o i a Health Maintenance Orga- conceito de medicina preventiva ex-
nization, surgida c o m o pioneira nos pandiu-se além da vacinação contra a
anos quarenta, c o m o Kaiser Perma- doença e além da legislação de saúde
nente, na Califórnia, para os empre- pública destinada a assegurar comi-
gados d o que era então a Kaiser In- da, água e remédios seguros. Esse de-
dustries. A H M O t i n h a o o b j e t i v o de senvolvimento e n c o n t r o u a p o i o na
proporcionar cuidados médicos pré- c o m u n i d a d e médica que encorajou as
pagos, às vezes na própria clínica da pessoas a assumirem mais responsabi-
H M O , não apenas u m seguro para pa- lidade pessoal por sua própria saúde
gar uma parte das contas d o hospital ao invés de esperarem que os médicos
e d o médico se você ficasse doente. restaurassem e consertassem. Ironica-
Em teoria, a H M O oferecia t a n t o aos mente, o m o v i m e n t o r e t i r o u parte de
médicos c o m o aos membros vanta- sua força da falta de confiança no sis-
gens em relação aos cuidados médi- tema existente de cuidados c o m a
cos através da prática independente. saúde baseado na ciência. O movi-
O u t r o desenvolvimento recente nos mento enfatizava a dieta, exercícios.

157
ambiente limpo e, para alguns, uma free-lancers, preparam materiais edu-
fé quase mística numa série de vita- cativos para os funcionários, os pa-
minas, alimentos saudáveis "natu- cientes e o público. Estes incluem
rais", instrumentos e outra paraferná- brochuras, panfletos e roteiros para
lia que se acreditava servisse para filmes e fitas. Alguns escritores de
manter a forma e mobilizar as defesas ciência servem como especialistas
naturais contra a doença e o envelhe- educacionais para traduzir e estender
cimento. Essa é uma área de cuidados instruções médicas para pacientes.
c o m a saúde freqüentemente assolada Alguns poucos redatores de ciência
por fraudes e charlatães, incluindo al- relataram ter encontrado u m conse-
guns com diplomas médicos, atacan- lho de relações públicas contratado
do através dos receios das vítimas da para promover médicos individuais
doença e de sua disposição de tentar ou membros de práticas de grupo.
qualquer caminho para uma cura. As As instituições médicas também
indústrias da carne e dos laticínios usam redatores de ciência e editores
enfrentaram u m declínio quando mi- para fazer os press releases destinados
lhões de adultos trocaram a carne aos veículos de comunicação, publi-
vermelha e o leite por aves, peixes e cações para empregados, revistas e
grãos. outros materiais que i n f o r m a m equi-
pe, membros, líderes da comunidade,
pacientes, antigos pacientes e doado-
O papel dos veículos de
res em potencial, sobre as necessida-
comunicação na saúde
des e atividades da instituição. Esses
e medicina
redatores geralmente trabalham na
A medicina absorve m u i t o o uso comunidade ou departamentos de re-
dos meios de comunicação e emprega lações públicas e escrevem notícias
a maior parte dos relatores de ciência gerais e matéria promocional, assim
e medicina. Os hospitais e os centros c o m o artigos médicos e de ciência
de pesquisa médica empregam reda- popular.
tores, editores, fotógrafos e artistas Outros redatores de ciência e me-
para as comunicações c o m a equipe, dicina produzem u m vasto suprimen-
pacientes e comunidade médica. Par- t o de publicações médicas dirigidas a
te da produção, especialmente para cada segmento da comunidade médi-
os fotógrafos e artistas, envolve a do- ca: médicos, enfermeiros, administra-
cumentação de procedimentos cirúr- dores, técnicos, fabricantes e assim
gicos e preparação de relatórios de por diante. Muitas dessas publicações
pesquisas. Alguns relatórios de pes- se originam com as associações pro-
quisas são polidos e editados por re- fissionais para cada especialidade mé-
datores médicos e editores a partir de dica e ocupacional. Quase t o d o pe-
relatos brutos preparados pelos pes- riódico patrocinado é acompanhado
quisadores. Outros redatores médi- por uma publicação comercial, tal
cos, alguns na equipe e outros como como Medica! World News, geralmen-

158
te privada. A m b o s os c o n j u n t o s de meiros de salas de operações. Hos-
publicações apóiam-se nos anuncian- pitais é para aqueles que a d m i n i s t r a m
tes de suprimentos médicos e medica- uma variedade de instituições de cui-
mentos. Muitas das publicações co- dados c o m a saúde. C o m o você pode-
merciais são de "circulação c o n t r o - ria imaginar, os redatores para essas
lada", enviadas gratuitamente a prati- publicações traduzem menos jargão
cantes na área da saúde. Os redatores técnico porque escrevem para profis-
dessas publicações estarão envolvidos sionais que compreendem os detalhes
c o m matérias sobre a ciência e a po- de seu negócio e exigem u m alto grau
l í t i c a da ciência e da medicina nas ca- de acurácia técnica e financeira.
pitais estaduais e em Washington, D. O u t r o s empregadores importantes
C. Mudanças em programas federais, de escritores de ciência e medicina e
apropriações, normas e administrado- editores incluem o governo, nos ní-
res afetam os profissionais dessas veis federal e estadual, e as organiza-
áreas e seus bolsos. Quase cada ramo ções de voluntários, tais c o m o a
das ciências médicas e de saúde t e m A m e r i c a n Heart Association o u a
sua legislação diante do congresso a A m e r i c a n Câncer Society, associadas
cada ano. O Journal of the American a doenças específicas. A l é m de servi-
Medica/ Association, o Medicai Tri- rem c o m o veículos para a redação ci-
bune e Medicai World News oferecem e n t í f i c a , essas agências e associações
exemplos de publicações que mistu- c o n s t i t u e m importantes f o n t e s de in-
ram informações de ciência, medici- formação para redatores de ciência e
na, p o l í t i c a e profissional em cada medicina que escrevem para veículos
edição. de massa. C o m as profissões médicas,
Outras revistas tais c o m o Medicai as instituições médicas e as publica-
Economics e Dental Economics, ções médicas especializadas, f o r m a m
atraem leitores e anunciantes profis- a base para u m sistema de comunica-
sionais c o m artigos mostrando aos ção médica, saúde e medicina para o
profissionais c o m o administrar seus público em geral.
escritórios, seu t e m p o e seus investi- Os propagadores da medicina tam-
mentos. Por causa das altas rendas de bém encontram seus canais em publi-
médicos e administradores médicos, cações para consumidores de todas as
as revistas t ê m sido publicadas para variedades, incluindo jornais e revis-
lhes mostrar c o m o administrar seu tas. A maioria das publicações femi-
t e m p o livre e c o m o se d i v e r t i r . Quase ninas traz uma coluna regular de no-
todas essas publicações profissionais tícias médicas relacionadas às mulhe-
l i m i t a m suas circulações a membros res, ao lar o u às crianças. Q u a n d o u m
licenciados o u registrados nessa pro- jornal expande sua equipe noticiosa
fissão o u uma especialidade. RN é di- para incluir especialistas em ciência,
rigida a enfermeiros d i p l o m a d o s , por geralmente escolhe u m redator médi-
e x e m p l o , enquanto Today's OR Nur- co p r i m e i r o . A American Health tipi-
se dirige o seu material para enfer- fica várias publicações destinadas ao

159
público em geral que oferecem notí- será discutida mais amplamente no
cias de desenvolvimento em pesquisa c a p í t u l o 9, mas um de seus efeitos é
médica, nutrição, medicina clínica, aumentar a chance de erro quando
aptidão física e outros aspectos do você cobre reuniões de pesquisas mé-
"estilo de vida saudável". Por causa dicas, a não ser que você possa fazer
do grande interesse popular pela me- uma verificação cruzada dos números
dicina e pelas pessoas que fazem me- de suas anotações com o cientista.
dicina e desenvolvem na prática, as
promessas de suas pesquisas, a medi-
cina t e m sido o p o n t o alto da revista Trabalhando com médicos
para o consumidor. Isso envolve tan- Como membros de uma das mais
t o aqueles que escrevem para a co- antigas e mais cerradamente organiza-
munidade médica como aqueles que das profissões, os médicos movem-se
escrevem sobre a comunidade médica numa trama sensível de relações com
n u m esquema único de relacionamen- pacientes, outros médicos, hospitais,
tos. Compreender isso como u m sis- equipes de enfermagem, a lei e o pú-
tema de comunicação irá suavizar seu blico. A área mais sensível é a da con-
caminho através da redação médica. fiança e confidencialidade entre mé-
Os escritores que popularizam a dico e paciente. Como redator você
medicina irão chocar-se com a " I n - precisa de informação de pacientes.
gelfinger Rule", que desencoraja a re- Mas c o m o os equívocos na transmis-
velação prematura de resultados de são da informação médica sobre pa-
pesquisas. Por isso os redatores po- cientes específicos podem tanto ser
dem ter dificuldade em persuadir al- divulgados abertamente como guar-
guns médicos pesquisadores a fala- dados em sigilo, a informação confiá-
rem livremente antes da publicação vel é quase não-obtenível sem a co-
de sua pesquisa em periódico espe- operação do médico. Alguns são mais
cializado. O Dr. A r n o l d S. Relman, cooperativos com os jornalistas do
editor do New England Journal of que outros e o ajudarão a obter o
Medicine, o mais rígido praticante da consentimento dos pacientes para as
regra, tem tentado esclarecer sua po- matérias assim como arranjarão tem-
lítica de não publicar uma história po para entrevistas. Cultivar a amiza-
que recebeu o que considera publici- de profissional com esses médicos pa-
dade prematura. O Dr. Relman acon- ga muitos dividendos. C o m o a comu-
selha os pesquisadores médicos a não nidade médica é tão apertadamente
entregarem aos redatores de ciência o tecida, a sua reputação por acurácia,
trabalho efetivo apresentado numa conhecimento e consideração irá se
reunião e fornecer detalhes demais, espalhar rapidamente. Se f o r boa, vo-
inclusive números, antes que os cole- cê poderá encontrar u m f l u x o cres-
gas revisores do NEJM tenham visto o cente de sugestões de matérias em
material e a NEJM tenha publicado a sua direção. Isso pode aumentar a sua
pesquisa (1984). A Ingelfinger Rule lista pessoal de contatos para infor-

160
mação e avaliação de histórias poten- de alguém. Tal uso de n o m e falso de-
ciais. ve ficar m u i t o claro para seus leito-
N u m a crise de coleta de notícias, res. Embora isso leve a uma das áreas
tais c o m o uma cirurgia i m p o r t a n t e éticas sensíveis d o j o r n a l i s m o , os re-
n u m líder m u n d i a l , os jornalistas mé- datores usam pseudônimos regular-
dicos precisam dessa rede de contatos mente. A identificação pode ser reali-
noticiosos para obter rapidamente in- zada c o m apenas o p r i m e i r o nome.
formações t a n t o específicas q u a n t o Quando o " m e n i n o da b o l h a " , u m
gerais sobre procedimentos cirúrgi- jovem d o Texas, chamado David,
cos, chances de recuperação, e assim m o r r e u em 1984, depois de ter pas-
por diante. sado 12 anos em quartos fechados
Por causa de seu t e m p o freqüente- c o m telas plásticas por ter nascido
mente l i m i t a d o , os médicos apreciam sem capacidade imunológica. os reda-
o t e m p o que você passa pesquisando tores de ciência entraram n u m a cons-
o t ó p i c o de matéria específico antes piração c o m médicos, enfermeiros,
de começar uma entrevista. Essa pes- amigos e os pais de David para esca-
quisa inclui ampla leitura de enciclo- motear o n o m e da f a m í l i a e c o m isso
pédias médicas assim c o m o artigos es- proteger sua identidade, privacidade
pecíficos de periódicos o u estudos de e sua liberdade de estudar e ter ou-
casos. U m dos cursos mais úteis que tros contatos limitados c o m o m u n d o
u m redator médico iniciante pode fa- e x t e r i o r . Em troca, os redatores obti-
zer é o curso de t e r m i n o l o g i a médica, veram a cooperação da f a m í l i a em
disponível em muitas universidades providenciar acesso para matérias e
para estudantes pré-médicos e de en- informação sobre a criança enquanto
fermagem. Será de grande ajuda ao esta crescia. U m p s e u d ô n i m o não o
conversar c o m médicos e traduzir ar- protege automaticamente c o n t r a o
tigos médicos. assédio p ú b l i c o o u invasão de privaci-
Os doutores em medicina escre- dade, e n t r e t a n t o . A verdadeira iden-
vem m u i t o s relatórios c o m o estudos tidade pode emergir simplesmente
de casos e estes prestam-se facilmente porque o caso é único.
à dramatização e às anedotas. Res- A o lidar c o m médicos, os redato-
tringir tal dramatização entretanto, é res de medicina deviam se lembrar
uma boa regra mesmo que m u i t o s de- de que nenhuma pessoa pode " f a l a r
talhes clínicos específicos, tais c o m o pela m e d i c i n a " . As opiniões são estri-
t a m a n h o de tumores, graus de defor- tamente individuais na m e d i c i n a c o m o
mação e perda de sangue ou funções o são na p o l í t i c a e nos afazeres públi-
corporais sejam soletrados c o m ex- cos. U m consenso entre os médicos
cruciante exatidão. Algumas vezes o pode se desenvolver sobre a prática
uso de u m pseudônimo o u nome fal- médica aceita, mas os casos indivi-
so será adequado para u m paciente duais podem exigir exceções a proce-
por causa da natureza d o caso o u da d i m e n t o s geralmente aceitos, e cáda
possibilidade de invadir a privacidade médico t o m a responsabilidade apenas

161
por suas próprias ações e opiniões. As Existe também uma respeitada tradi-
ações médicas são sujeitas a revisão ção na medicina de que o alívio dos
tanto pelos seus colegas c o m o por con- sintomas, particularmente sintomas
selhos de revisão médica. Tal revisão ameaçadores de vida, de uma doença
pelos colegas pode ter lugar ao nível não-tratável pode dar ao corpo o
local ou estadual onde a associação t e m p o para curar a si mesmo ou pa-
médica estadual geralmente assume a ra que a doença estabeleça seu curso,
responsabilidade por licenciar médi- c o m o acontece com o resfriado.
cos. Os redatores de ciência também
Os médicos lhe contarão sobre devem moderar seu entusiasmo por
procedimentos-padrão, e você pode novos tratamentos e novas drogas ao
usar o Merck Manual of Diagnosis discuti-los com os médicos. As maté-
and Therapy como um breve guia rias nos meios de comunicação popu-
desses procedimentos. O Physicians lares a respeito de novos procedi-
Desk fíeference, comumente conhe- mentos são um dos agravos, freqüen-
cido como PDR, irá revelar muitos temente citados, a médicos e pesqui-
fatos sobre drogas e seus efeitos. Co- sadores praticantes. Tais matérias po-
mo grande parte da informação em dem ser embaraçosas se o médico ain-
ambas as referências provém dos fa- da não ouviu falar do procedimento.
bricantes de drogas, muitos redatores Mais importante, os médicos temem
de ciência procuram mais informação que estas levantem falsas esperanças
com professores de medicina e farma- em pacientes para quem u m novo tra-
cologia. Nesse c o n t e x t o , os redatores tamento ou droga não é adequado ou
de ciência devem sempre inquirir so- não fornece um prognóstico melhor
bre efeitos colaterais específicos de (um t e r m o médico para prever o pro-
qualquer terapia por droga. Nenhum vável resultado) que o de outros tra-
p r o d u t o q u í m i c o suficientemente po- tamentos. Com algumas exceções, e
deroso para ter um efeito significati- às vezes resultados trágicos, os médi-
vo na neutralização de uma doença cos são m u i t o conservadores a respei-
ou seus sintomas se apresentará sem t o de adotar novos tratamentos.
alguns efeitos indesejáveis.
Os redatores de ciência iniciantes
Médicos e hospitais
precisam desconfiar de tratamentos
errôneos dirigidos à própria doença e Quase tão sensível quanto o rela-
aqueles dirigidos a aliviar os sinto- cionamento médico-paciente é o rela-
mas. Os tratamentos do resfriado co- cionamento médico-hospital. Os hos-
m u m , por exemplo, aliviam os sinto- pitais são lugares m u i t o politizados
mas mas não atacam os vírus que o com "pecking orders" estritas e com-
provocam. Apenas alguns poucos re- plicados relacionamentos de poder
médios, nesse estágio, afetam doen- entre médicos, equipe administrativa,
ças causadas por vírus, e estes estão enfermeiros diplomados, enfermeiros
em uso limitado e experimental. em treinamento, técnicos, secretárias

162
e voluntários. Os médicos, quase sem c o n c o r d a m que a matéria irá ajudar a
exceção, necessitam de aceitação for- todos, os arranjos para a matéria ofe-
mal em cada hospital onde trabalham recem poucos problemas. Mas há
para poder cuidar dos pacientes que muitas histórias a serem contadas. O
enviam para lá. A permissão pode ser administrador d o hospital terá pon-
revogada. A s anotações que os médi- tos de vista diferentes da equipe mé-
cos fazem dos pacientes, principal- dica. Isso envolve manipulação mú-
mente as feitas por cirurgiões, são re- t u a pela imprensa e f o n t e , natural-
vistas regularmente e confrontadas mente, mas todas as partes e n t r a m
c o m o desempenho esperado naquele nisso c o m os olhos abertos. O u t r a
hospital e, em especial, c o m os regis- ajuda em arranjar matérias pode vir
tros de todos os casos de uma doença de f u n c i o n á r i o s e pessoal de relações
específica. Alguns hospitais são mais públicas para associações que forne-
rígidos que o u t r o s . U m hospital le- cem d i n h e i r o para lutar c o n t r a doen-
vou anos para reconhecer e afastar ças específicas, êspecialmente p e r t o
u m cirurgião de coração que estava da época d o esforço de captação de
legalmente cego de u m o l h o . Entre- recursos anuais. C o m o os f u n c i o n á r i o s
t a n t o , a necessidade de médicos para competentes dos hospitais e das asso-
praticarem n u m hospital redunda em ciações estão d e n t r o da c o m u n i d a d e
benefício d o redator médico, parti- médica, são c o m freqüência, infor-
cularmente aquele em i n í c i o de car- mados secretamente de avaliações so-
reira. A necessidade de publicidade bre a organização e seus vários mem-
dos hospitais ajuda a assegurar a co- bros. Eles p o d e m , se o redator de
operação dos médicos ocasional- ciência estiver a t e n t o ao que d i z e m ,
mente. afastá-lo das histórias triviais e d o
Todos os hospitais precisam enco- médico o u administrador ocasional
rajar a confiança da comunidade ne- que procura publicidade pessoal c o m
les, e p r o c u r a m fazê-lo através da pu- pouco fundamento.
blicidade a respeito de seu sucesso, Os próprios hospitais sáTo temas
equipamentos, instalações, pessoal, legítimos para matérias. Cada qual
serviços e pacientes. A maioria dos t e m sua própria personalidade, p o l í -
hospitais t e m alguém que os p r o m o - tica e estilo. Você provavelmente de-
ve e nos hospitais menores essa pes- ve arriscar perder parte de sua boa
soa pode ser o principal administra- vontade acumulada e inquirir sobre
dor o u presidente d o quadro de dire- tais estatísticas c o m o as taxas de
tores. O u t r o s t ê m membros que são mortalidade e taxas de infecção por
profissionais de relações públicas o u estafilococos em pacientes d e n t r o
de relações comunitárias. Aqueles en- dos próprios hospitais. Existem al-
carregados de relações públicas po- guns marcos referenciais que servem
dem ajudar a arranjar notícias o u co- de indicadores da qualidade dos cui-
berturas de matérias. Quando os mé- dados. A comparação de preços e
dicos, pacientes e equipes de hospital quartos e o u t r o s serviços entre hospi-

163
tais locais e regionais proporciona que podem tornar uma leitura fasci-
matérias bem aceitas. Muitos regis- nante para um público dependente
tros estarão disponíveis, naturalmen- deles para assegurar a própria vida. A
te, nos hospitais públicos, mas qual- inveja pode ser elevada na comunida-
quer hospital que aceita pacientes do de médica, e algumas sociedades mé-
Medicare e Medicaid, financiados por dicas de cidades ou municípios po-
impostos, enviam relatórios financei- dem ainda ter normas rígidas referen-
ros públicos às agências que pagam as tes à auto-promoção á custa de ou-
contas. A Blue Cross também põe em tros médicos, embora essas restrições
disponibilidade as análises das contas. tenham d i m i n u í d o . Em anos anterio-
Tais registros permitem-lhe comparar res, os médicos, como os advogados,
os custos entre os hospitais lucrativos eram proibidos de fazer publicidade
e não-lucrativos de sua área. Em algu- exceto através de listas de telefone e
mas instâncias, esses custos podem placas de escritório. Algumas socieda-
ser elevados a uma taxa de 25% ou des médicas locais proibiam as listas
mais para pacientes de hospitais co- de especialidades. Em algumas cida-
merciais. des o presidente da sociedade médica
U m repórter médico precisa de fa- pode ser o único a falar sobre temas
miliaridade com os vários " c ó d i g o s " médicos.
de hospital, ou políticas que gover-
nam a liberação de informação públi- Os médicos correm graves riscos
ca sobre pacientes. O repórter médi- de abuso de drogas, alcoolismo e ou-
co pode esperar ser usado freqüente- tros perigos que cercam as profissões
mente por editores de notícias para de alto potencial de stress, como
apoiar repórteres gerais na coleta de ocorre com a comunidade médica in-
informações sobre pacientes feridos teira. Regularmente as sociedades
em acidentes e desastres. O bom rela- médicas e os hospitais encontram fal-
cionamento pessoal com as equipes sos profissionais entre os médicos da
médica, de enfermagem e administra- comunidade. As rendas disponíveis
tiva de hospitais locais ajudará a ace- dos médicos estão bem acima dos
lerar esse processo. Tais contatos não 80.000 dólares em média, de acordo
podem ser desenvolvidos numa crise. com as pesquisas de Medicai Econo-
mics. Os neurologistas levam para ca-
sa mais de 90.000 dólares. Rendas
Médicos entre médicos e outros como essa t o r n a m os médicos u m
Os clínicos compõem u m dos mais mercado m u i t o atraente para anun-
complexos subconjuntos da comuni- ciantes e para esquemas de confiança.
dade médica. São sujeitos a mexeri- Inveja existe entre as especialidades e
cos, observações, engodos, inveja, entre os ramos das artes curativas, co-
admiração e assim por diante, através mo na competição existente entre os
de toda a gama de emoções. Praticam osteopatas, os médicos clínicos, e
individualmente e em grupos, temas quiropráticos.

164
Os médicos regulam suas próprias A medicina e a lei
profissões, embora o licenciamento A associação médica de seu estado
seja f e i t o através dos governos esta- provavelmente oferece o melhor ca-
duais na maioria dos casos. M u i t o s m i n h o para localizar sumários das leis
médicos consideram p o l í t i c o , embora que governam a prática da medicina
não o b r i g a t ó r i o , pertencer à A m e r i - no local. Dar uma examinada nessas
can Medicai Association. Cada estado leis pode sugerir matérias que valham a
t e m sua própria associação médica pena desenvolver. Alguns acharam
c o m graus variáveis de c o n t r o l e sobre necessário m o n i t o r a r o m o d o c o m o
os médicos que trabalham sob sua os médicos prescrevem narcóticos
égide. Os abusos desse sistema de au- n u m esforço de controlar o abuso de
to-regulamentação em favor o u con- drogas no estado. Os estados t a m b é m
tra médicos individuais a f l o r a m regu- variam na maneira em que p e r m i t e m
larmente. As associações de médicos a dispensa de cuidados médicos ao in-
estão entre os mais poderosos coleto- digente e ao encarcerado. Escrever
res de d i n h e i r o para campanha de co- sobre c o m o esses subsistemas de dis-
mitês de ação p o l í t i c a de vários tipos. pensa de cuidados c o m a saúde ope-
Perfis dessas organizações e sua ope- ram oferecem aos leitores mais co-
ração oferecem aos redatores uma nhecimento de sua c o m u n i d a d e em
o p o r t u n i d a d e de explicar importan- situações dramáticas.
tes segmentos de nossa sociedade aos Leis estaduais e federais governam
leitores. A eleição de médicos para a liberação da informação médica so-
encabeçar associações médicas da ci- bre indivíduos. De acordo c o m estu-
dade, m u n i c í p i o ou estado propor- dos por A l a n F. Westin e M . A . Baker
ciona-lhe a chance de traçar o p e r f i l ( 1 9 7 2 ) , sistemas de gravação com-
desses líderes médicos em f u n ç ã o de putadorizados p e r m i t e m acesso ilegal
seu c o n s u l t ó r i o . O u t r o s médicos en- a dados pessoais cuja proteção é das
trarão no olhar p ú b l i c o através da obrigações mais sagradas d o médico.
p o l í t i c a , negócios e às vezes d o cri- É menos culpa dos médicos indivi-
me. Os registros da corte e julgamen- dualmente d o que dos hospitais, c l í -
tos — i n c l u i n d o julgamentos por má nicas e companhias de seguro. A s
prática — f r e q ü e n t e m e n t e dão ao jor- companhias de seguro reúnem i n f o r -
nalista médico uma visão diferente mações e reclamações de saúde, e as
sobre a prática da medicina na comu- quitações que esses pacientes preci-
nidade. Por causa d o potencial de da- sam assinar para obter pagamentos de
no às reputações das pessoas para seguro p e r m i t e m a troca de dados in-
quem a reputação é u m a t r i b u t o pro- dividuais. Cópias de histórias médicas
fissional principal, n e n h u m aviso de- às vezes aparecem nas mãos de com-
veria ser necessário sobre a aderência panhias de crédito e empregadores. A
estrita aos mais altos padrões de acu- computadorização t a m b é m p e r m i t e a
rácia e imparcialidade ao se lidar c o m quase t o d o s que saibam os códigos de
a c o m u n i d a d e médica. acesso a t i r a r e m e venderem cópias

165
não autorizadas de registros médicos crianças podem recorrer à Justiça
dos hospitais. A proteção de tais re- através de seus pais, estão legalmente
gistros em seu estado é tema para protestando contra seu próprio nasci-
uma matéria de alto interesse. mento. Tais casos irão aumentar ain-
Processos por má prática alegando da mais o c o n f l i t o ético, moral e po-
morte ou ferimentos indevidos como l í t i c o que já se revolve ao redor do
resultado do erro de u m médico ofe- aborto.
recem para os redatores médicos ou- Questões literais de vida ou morte
tra área que vale a pena explorar. Os envolvem leis e políticas regulamen-
seguros contra as queixas de má prá- tando quando as pessoas estão legal-
tica custam á profissão médica mais mente mortas, uma vez que máquinas
de u m bilhão de dólares por ano, se- de coração e pulmão artificiais e ou-
gundo certas estimativas. A pesquisa tros instrumentos podem suster a vi-
médica e as novas técnicas para de- da física m u i t o depois que a ativida-
terminar a condição de bebês no úte- de do coração e do cérebro deixa de
ro desencadearam novas questões le- se registrar em instrumentos de moni-
gais para médicos e juizes. Há tam- toração. Os redatores de ciência fica-
bém as questões de "wrongful birth" rão envolvidos em histórias sobre se
e "wrongful life" para crianças com as pessoas podem o u não escolher
severos defeitos de nascença que po- morrer, solicitando que o tratamento
dem ser atribuídos â prática médica. prolongador da vida seja detido por
Periodicamente as decisões sobre razões de custo e de qualidade de sua
tais queixas levam os prêmios de se- vida remanescente. Tais escolhas, fre-
guro a níveis que fazem os médicos qüentemente forçadas sobre parentes
anunciarem que não irão mais fazer abatidos, estão entre os temas que os
partos. redatores médicos podem esclarecer.
A lei levanta outras questões per-
turbadoras. A suprema corte do esta-
do de Washington decretou em 1984, Medicina e a política pública
por exemplo, que duas crianças retar- Os redatores de ciência e medicina
dadas não deveriam ter nascido. Essa irão escrever sobre a medicina como
decisão coloca os médicos na posição política pública em vários níveis. O
de fazer papel de Deus, dizem os clí- U.S. Department of Health and Hu-
nicos. Casos similares ocorreram em man Services controla m u i t o ao di-
Nova Jersey e Califórnia. Outros sem nheiro e das políticas federais, embo-
dúvida acontecerão à medida que a ra nos Estados Unidos a saúde públi-
peneiração genética em busca de de- ca seja descentralizada.
feitos potenciais de nascimento se Cada cidade ou m u n i c í p i o de
t o r n a r mais intensamente usada. Os qualquer tamanho terá seu funcioná-
processos por wrongful birth também rio de saúde pública, geralmente u m
p o d e m surgir de nascimentos após médico trabalhando em t e m p o inte-
operações de esterilização. C o m o as gral ou parcial para supervisionar e

166
fazer c u m p r i r leis e determinações f u n c i o n á r i o s da saúde pública podem
afetando todos os residentes. A clora- não ter o poder legal para assumirem
ção e a adição de f l ú o r à água é u m tais atitudes. Os f u n c i o n á r i o s de saú-
exemplo de p o l í t i c a de saúde públi- de pública vivem n u m estado de ten-
ca. Os funcionários da área de saúde são c o m médicos particulares e hospi-
locais t a m b é m podem supervisionar e tais locais porque praticam a medici-
operar clínicas de saúde pública, pro- na em larga escala e porque traba-
gramas pré-natais e o u t r o s projetos lham c o m o empregados d o governo e
de serviços médicos. Os números e não c o m o profissionais liberais. Por
mesclas de serviços variam de estado serem funcionários públicos, os mé-
a estado e são m u i t o sensíveis ao cli- dicos na saúde pública não precisam
ma p o l í t i c o local. As inspeções de co- ser realmente tão reticentes ao falar
mida de lugares públicos podem ser c o m os jornalistas c o m o os o u t r o s
dirigidas de u m escritório desse t i p o . médicos. E n t r e t a n t o a p o l í t i c a local
Nos casos de epidemias de gripe o u t o r n a alguns m u i t o t í m i d o s .
doenças mais sérias, o f u n c i o n á r i o de Os departamentos de saúde esta-
saúde pública pode ter autoridade pa- duais são boas f o n t e s noticiosas para
ra fechar escolas e lugares de reunião escritores de ciência. Esses departa-
pública. Grande parte da f u n ç ã o d o mentos p r o p o r c i o n a m atividades de
escritório é educacional. Para os reda- testes e coleta de dados numa escala
tores de ciência e medicina esse escri- estadual o u nacional. Números sobre
t ó r i o f r e q ü e n t e m e n t e se revela uma a incidência das doenças são aqui
f o n t e de n o t í c i a incerta. M u i t o de- compilados a partir de dados envia-
pende do vigor p o l í t i c o da pessoa dos por médicos e hospitais; c o m fre-
que detém a posição. Alguns funcio- qüência, os primeiros avisos sobre au-
nários t ê m sido conhecidos por mino- mentos em doenças a f l o r a m aqui. Os
rar a existência de problemas de saú- estados d o oeste, por e x e m p l o , emi-
de para evitar disputas políticas lo- t e m avisos sobre animais c o m raiva e
cais. a peste bubônica através de f u n c i o -
C o m o os m u n i c í p i o s são circuns- nários estaduais de saúde. Alguns es-
crições administrativas do estado, o tados programam a supervisão de
oficial de saúde pública t a m b é m po- hospitais e clínicas de repouso atra-
de responder ao d i r e t o r do departa- vés d o f u n c i o n á r i o estadual de saúde
m e n t o estadual de saúde pública. O assim c o m o a organização de progra-
departamento de saúde do estado da mas de saúde pública de larga escala.
Flórida localizou p r i m e i r o os altos As estatísticas reunidas aqui p r o p o r -
níveis de pesticida ethylene dibro- cionam ao escritor de ciência ú t i l in-
mide ( E D B ) em bolos empacotados e formação de f u n d o para matérias so-
outras misturas de padaria e proscre- bre qualquer problema médico.
veu sua venda. Nova Iorque e Califór- Todas as fases da saúde pública
nia t ê m departamentos de saúde esta- concentram-se no O f f i c e o f t h e Sur-
dual fortes. Em outros estados, os geon General in the D e p a r t m e n t of

167
Health and Human Service federal, Fundado após a II Guerra Mundial
que provê grande parte do financia- para proporcionar financiar a pesqui-
mento para programas estaduais. As sa biológica básica, o N I H t e m sido
estatísticas e análises f l u e m dos ní- incapaz de resistir aos esforços p o l í t i -
veis local e estadual para os Center cos de dividir seus recursos entre su-
f o r Oisease Control, em Atlanta. Os bstitutos centrados em uma ou
médicos e técnicos do CDC são a tro- mais doenças. Dirigindo essa atomiza-
pa de choque da epidemiologia envia- ção encontram-se as organizações na-
da para áreas de crises de saúde pú- cionais de voluntários que têm força
blica, tais c o m o ondas de encefalite e política através do Congresso e sub-
meningite, para encontrar fontes e comitês que supervisionam o orça-
causas e sugerir remédios aos funcio- mento do N I H . Essa divisão de recur-
nários da saúde locais se necessário. sos, tornou-se conhecida como sín-
Lidam com a doença em ampla escala drome da "doença do mês" entre os
e levam sua responsabilidade a sério redatores científicos. Na verdade, só
c o m o porta-vozes públicos em situa- em 1984 havia onze institutos dife-
ções críticas de saúde. Com freqüên- rentes. Entretanto, os esforços de
cia esses funcionários federais de saú- lobby da A r t h r i t i s Foundation (trinta
de serão mais condescendentes com os e seis milhões de sofredores estima-
jornalistas do que os funcionários de dos nos Estados Unidos) conseguiram
saúde locais. produzir o décimo segundo — O Na-
tional Institute f o r A r t h r i t i s and Mus-
culoskeletal Diseases. Os outros insti-
Política de pesquisa médica tutos são National Câncer Institute;
A pesquisa médica recebe a maior Heart, Lung and Blood Institute,
parte de seu financiamento através de Dental Institute; A r t h r i t i s , Diabetes
u m ramo do Department of Health and Digestive and Kidney Diseases,
and Human Services, os National Ins- Neurological and Communicative
titutes of Health. O N I H é localizado Disorders and Stroke; Allergy and In-
no subúrbio de Bethesda, em Wash- fectious Diseases; General Medicai
ington, Maryland, juntamente com Sciences; Child Health and Human
u m aglomerado de outras organiza- Development; Eye; Environmental
ções federais de saúde. O N I H é pro- Health Sciences; e Aging.
vido de mais de 4 bilhões de dólares 0 que está em discussão é se o di-
por ano para a pesquisa básica e apli- nheiro da pesquisa, treinamento e
cada de saúde. Esse dinheiro é gasto equipamentos dispensado através do
em seus próprios centros de pesquisa Congresso ao orçamento de cada ins-
ou como verbas para cientistas de t i t u t o dilui ou não a pesquisa básica
pesquisa (que podem ser ou não mé- que poderia ser usada para atacar
dicos) em universidades, hospitais e mais de uma doença. Cada instituto,
instituições de pesquisa independen- entretanto, tem uma poderosa clien-
te. tela de organizações de saúde volun-

168
tárias nos distritos de origem de cada Estados Unidos. Através d o Bureau
representante e senador dos E U A . Es- o f Biologics, a F o o d and Drug A d m i -
sas organizações são capazes de exer- nistration t a m b é m licencia, conserva
cer pressões fortes e emocionais so- e encoraja a produção de vacinas con-
bre funcionários eleitos. Existe, é cla- tra uma hoste de doenças. C o m o a
ro, a competição pelo d i n h e i r o entre medicina preventiva, a vacinação está
os cientistas de pesquisa básica, médi- agora menos favorecida por causa das
cos e aqueles fazendo pesquisas no drogas antibacterianas, tais c o m o as
campo de uma doença específica. sulfas, penicilinas e tetraciclinas que
Para o redator de ciência e medici- efetivamente c u r a m a maioria das
na popular, cada i n s t i t u t o é uma f o n - doenças c o m menos despesas e pro-
te de informação. Cada u m t e m sua blemas. Mas c o m o os a n t i b i ó t i c o s
própria equipe de relações públicas, f u n c i o n a m apenas em infecções bac-
coordenada através d o escritório da terianas, a vacinação antes da infec-
diretoria geral de N I H . Para a impren- ção é a estratégia mais eficiente para
sa médica, cada m o v i m e n t o n o siste- lidar c o m doenças viróticas. Confun-
ma d o N I H é uma história i m p o r t a n - dir a eficiência dos a n t i b i ó t i c o s con-
te. Os institutos podem fornecer lis- tra doenças bacterianas c o m trata-
tas dos receptores de suas verbas e in- m e n t o possível de infecções viróticas
f o r m a ç ã o de f u n d o sobre status da é uma das armadilhas para o redator
pesquisa em seus vários campos. Os de ciência iniciante. Muitas doenças
institutos t a m b é m podem arranjar viróticas não t ê m vacina que as cure.
entrevistas c o m especialistas em suas C o m efeito, remédios eficientes para
diferentes áreas de especialização. O doenças raras p o d e m não ser produzi-
N I H opera a U. S. L i b r a r y o f Medici- dos porque seu desenvolvimento e
ne e bases computadorizadas de da- produção não p e r m i t i r i a m lucros. Por
dos tais c o m o M E D L I N E e Index Me- algumas dessas condições, a F D A di-
dicus para pesquisa de literatura com- rige u m f u n d o de pesquisa e desen-
pleta c o m o pessoal médico e redato- v o l v i m e n t o de "orphan drugs".
res de medicina. O conceito de vacinações em mas-
sa sofreu u m revés em 1976, quando
funcionários da saúde perceberam
Drogas e medicina
uma ameaça de gripe porcina m o r t a l
O u t r a i m p o r t a n t e f o n t e de n o t í - varrendo os Estados Unidos. Uma va-
cias sobre pesquisa e aplicações de cina f o i apressadamente colocada em
saúde é a F o o d and Drug A d m i n i s t r a - produção e administração. Mas reve-
t i o n . A F A D t a m b é m t e m ligações lou-se a possibilidade d o ato de vaci-
com departamentos estaduais de saú- nação produzir uma condição de in-
de, mas seu impacto maior vem atra- validez conhecida c o m o s í n d r o m e d e
vés do licenciamento d i r e t o das no- Guillain-Barre. Os analistas da repor-
vas drogas de prescrição e principais tagem c i e n t í f i c a c o m freqüência ci-
equipamentos médicos para uso nos tam a cobertura noticiosa d o progra-

169
ma de vacinação contra a gripe porci- vimento. A investigação irá levá-lo
na como o exemplo do governo ma- para dentro de uma das áreas quase
nipulando os meios de comunicação místicas da filosofia médica na qual
para apoiarem uma inoculação pre- os médicos invocam os maravilhosos
matura em massa apenas para ver os poderes do corpo de curar a si pró-
veículos voltarem a opinião contra o prio. Mas os humanos têm uma fasci-
projeto porque os médicos e funcio- nação pelo consumo de drogas assim
nários de saúde pública não preveni- como a maioria dos médicos. A in-
ram contra os riscos a indivíduos sen- dústria das drogas está baseada nessa
síveis. procura de uma "bala de p r a t a " que,
0 resultado dessa descoberta f o i a na mitologia da farmacologia, derru-
relutância de muitos países a darem be magicamente doenças específicas.
a vacina difteria-coqueluche-tétano A t é recentemente a maioria das dro-
(DPT) às crianças. Conquanto as gas era derivada das plantas seja di-
chances de uma reação fatal à vacina retamente, seja por identificação dos
são m u i t o menores que o risco de produtos químicos efetivos que po-
morte por qualquer uma das doenças, diam por sua vez ser manufaturados.
as incertezas da decisão paralisam u m Esses produtos químicos das plantas
grande número de pais. Uma questão são a base de úteis remédios regio-
adicional reside na relutância dos fa- nais. Agora a q u í m i c a ligada a com-
bricantes de vacinas em seguirem os putadores promete a capacidade de
passos daqueles médicos pioneiros desenhar moléculas químicas que
que descobriram a inoculação contra preencham as especificações para o
a doença. Onde as vacinas foram cul- combate à doença.
padas por danos, grandes julgamentos O Bureau of Drugs da F D A , teori-
legais fizeram com que os fabricantes camente, m o n i t o r a a segurança das
de vacinas repensassem a lucrativida- drogas. Na verdade verifica dados de
de da produção de vacinas. uma série de testes de laboratório,
testes animais, testes humanos em pe-
quena escala e testes de campo " c l í -
Drogas e segurança
nicos" em grande escala. Esses dados
As drogas, ao menos por defini- são fornecidos, de m o d o geral, pelo
ção, são venenos. Entre os truísmos fabricante da droga. Esses testes pré-
da prática médica "dar alguma coisa" licenciamento podem custar ao fabri-
a u m paciente traz resultados. Às ve- cante de drogas milhões de dólares,
zes essa "alguma coisa" é um place- incentivo suficiente para obter novas
bo, uma pílula de açúcar sem poten- drogas e equipamento médico para
cial curativo demonstrado, que não colocar no mercado. Às vezes a F D A
obstante, parece ajudar o paciente. contrata testes independentes para
Por que os médicos e pesquisadores verificar os dados do fabricante ou
pensam que funciona com freqüência explorar onde este não entrou. A t é as
é uma matéria que merece desenvol- primeiras leis de segurança contra

170
drogas, em 1938, os fabricantes de O registro da F D A e da indústria
drogas p o d i a m comercializar qual- de drogas é, no m í n i m o , confuso. As-
quer coisa. O governo t i n h a de provar sim o repórter médico não deve ficar
que era perigoso para conseguir que surpreso de ver drogas retiradas após
uma droga suspeita fosse retirada d o terem sido colocadas no mercado.
mercado. As leis promulgadas desde Todas as agências d o governo rece-
então fazem o fabricante provar a se- bem críticas por se basearem demais
gurança e a eficácia antes da aprova- em dados fornecidos pela indústria.
ção. A F D A m o n i t o r a os dados e ana- C o m milhões investidos no desenvol-
lisa o desenho da pesquisa para ver se v i m e n t o e testes a pressão aumenta
os testes produzirão os dados corre- sobre os administradores das compa-
tos. nhias farmacêuticas para começar a
vender o p r o d u t o e recuperar seus
A lei de 1938 b r o t o u da tragédia. custos. O investimento d o governo e
A sulfanilamida, a primeira droga mi- da indústria na droga interferon, que
lagrosa, requeria doses grandes, p í l u - parecia p r o m e t e r imunidade c o n t r a
las m u i t o grandes que as crianças não u m a m p l o e x p e c t r o de vírus, f o i esti-
engoliam c o m facilidade. C o m o a sul- mado em 5 0 0 milhões de dólares sem
fanilamida não se dissolvia em água qualquer p r o d u t o útil. Se o F D A en-
o u álcool, os solventes médicos mais contrar companhias submetendo da-
comuns, as companhias começaram a dos falsos de testes, pode principiar
vender u m elixir ( l í q u i d o ) de sulfa uma ação legal. E n t r e t a n t o , o poten-
misturada c o m diethyleneglycol, me- cial para ganhar bilhões por meio de
lhor conhecido c o m o anticongelante. vendas pode justificar os riscos, aos
Cerca de 100 pessoas, p r i n c i p a l m e n t e olhos da companhia farmacêutica. As
crianças, m o r r e r a m por ter os seus multas são c o m u m e n t e aceitas c o m o
rins destruídos, risco que poderia ter parte d o custo de fazer negócios.
sido detectado antes, c o m o o f o i Testemunhos relatados q u a n d o as
mais tarde, através de testes c o m ani- v í t i m a s de uma droga levam uma
mais. Esse incidente resultou no re- companhia à corte indicam que os fa-
q u e r i m e n t o legal de demonstração de bricantes p o d e m aceitar rotineira-
segurança antes da colocação no mer- mente a possibilidade de certo núme-
cado e na subcultura médica de in- ro de mortes. ( O u t r o e x e m p l o de ris-
dústrias voltadas para testes de dro- co i m p o s t o aos consumidores por
gas e na criação de ratos. A b u n d a a agentes externos). Os jornalistas mé-
suspeita de que parte dos testes é ma- dicos p o d e m bem acrescentar a seu
nipulada para produzir resultados fa- r e p e r t ó r i o de perguntas algumas so-
vorecendo o fabricante. Tentar man- bre o n ú m e r o esperado de mortes
ter o c o n t r o l e de qualidade dos testes preditas para qualquer droga nova.
e da administração de testes perma- Que n ú m e r o é aceitável? Uma droga
nece c o m o uma preocupação cons- contra a r t r i t e f o i ligada a 29 mortes
tante para todos os laboratórios. na E u r o p a quando o C o m m i t t e e o n

171
the Safety of Medicines da Inglaterra Escrever sobre testes
a proibiu. Os testemunhos de paren- Como resultado desse incidente na
tes de u m americano v í t i m a da droga década de sessenta, que não f o i com-
que processaram o fabricante indica- pletamente acertado, as companhias
ram que o diretor de pesquisa do fa- farmacêuticas passaram a fazer testes
bricante não considerava isso inespe- mais longos e complicados e reduzi-
rado. Poucas, se alguma, indústrias ram o r i t m o da introdução de novas
farmacêuticas saíram dos negócios drogas. A t é o final do século, muitas
por produzirem maus remédios. novas drogas estarão entrando no
mercado. Algumas, como a droga
A história clássica da prevenção contra artrite, serão recolhidas devi-
no marketing de drogas reside no ca- do às suas conseqüências. Os jornalis-
so da Talidomida. A Dra. Francês D. tas de ciência podem esperar também
Kelsey da F D A recebeu a maior re- escrever sobre acusações contra fabri-
compensa civil do governo por sua cantes que estejam ocultando mortes
ação ao bloquear sua venda neste por causa de algumas drogas. Tam-
país. Como alguns relatórios sobre o bém haverá pistas de que as compa-
tranqüilizante mencionavam exem- nhias estão super legisladas enquanto
plos de neurite periférica, uma dor- os fabricantes pressionam por testes
mência nos dedos e outras extremida- mais fáceis e marketing mais rápido.
des, ela deteve a aprovação sob tre- A maioria dos redatores de ciência
menda pressão do fabricante de dro- aceita esses testes por seu valor apa-
gas e seus distribuidores. Enquanto rente, raramente inquirindo profun-
esperava, os médicos europeus come- damente quanto aos métodos e técni-
çaram a relatar milhares de crianças cas. Entre os testes mais significativos
nascidas sem membros, a par de ou- de eficiência ou efetividade há varia-
tros defeitos, ou com nadadeiras em ções do teste " d u p l o cego". Uma par-
lugar de braços depois que suas mães te de um grupo de testes recebe o
tomaram a droga durante a gravidez. p r o d u t o ; a outra parte, o grupo de
O caso teve dois efeitos, um deles jor- controle, não recebe. Quando o teste
nalístico. O F D A começou a requerer é administrado por uma terceira par-
testes para defeitos de nascença po- te neutra, mesmo o experimentador
tenciais. O o u t r o efeito f o i estimular não sabe que membros do grupo re-
o London Times num desafio quase cebem a droga que está sendo testa-
aberto às leis da Inglaterra contra a da. Isso minimiza os efeitos de place-
publicação de matérias pré-julgamen- bo, onde as pessoas demonstram me-
t o sobre o caso na corte. A equipe do lhoria simplesmente porque pensam
jornal arriscou-se à censura depois de estarem obtendo o remédio ou por-
descobrir que o fabricante inglês es- que alguém está lhes prestando aten-
tava usando táticas m u i t o duras na ção.
negociação de acordos com pais das Os jornalistas não devem aceitar
crianças deformadas pela talidomida. c o m o válido nenhum teste sem grupo

172
de c o n t r o l e a não ser que o pesquisa- dos de testes. A o u t r a c o n t r a q u e i x a
dor ofereça razões aceitáveis para não é que oferecer à f o r ç a quantidades
usar o c o n t r o l e . Algumas condições e x t r e m a m e n t e grandes de u m produ-
são tão raras que juntar dois grupos to, o u a d i t i v o a l i m e n t í c i o , por exem-
para u m teste pode ser impossível. Os plo, p r o p o r c i o n a leituras falsas. Essa
estatísticos médicos trabalham c o m posição c o n t é m t a n t o a verdade
números de pequenos grupos, c o m li- q u a n t o a hipérbole enganosa. Depen-
mites reconhecidos de validade, por dendo dos animais escolhidos para os
essa razão. Questões éticas em vez testes, as substâncias que causam da-
de proporcionar t r a t a m e n t o médico nos aos sistemas humanos — c o m o in-
a alguns e negá-lo a outros p o d e m às dicado pelos antigos testes animais
vezes ser responsáveis pela invalida- com drogas de sulfa — tenderão a
ção d o teste. C o m o uma medida para causar danos a sistemas animais simi-
até quão longe u m teste pode se des- lares. M u i t o da confiança nos testes
viar dos m í n i m o s aceitáveis, alguns c o m animais desenvolveu-se através
experimentadores acreditam que ne- de novos testes c o m p r o d u t o s q u í m i -
n h u m teste c o m menos de 100 amos- cos que inicialmente eram suspeitos
tras de i n d i v í d u o s serão suficientes. c o m o fontes de doenças humanas. O
Os testes q u í m i c o s o u de c a m p o de back-testing envolve dar aos animais
alimentos, drogas e p r o d u t o s médicos substâncias ligadas às doenças huma-
envolveram milhares de pessoas. C o m nas e ver se resultam em condições si-
m u i t a freqüência esses testes p o d e m milares. Os pesquisadores t a m b é m
ser conduzidos em países estrangeiros examinam os dados animais retros-
onde as normas em relação às drogas pectivamente quando reações inespe-
são m u i t o mais relaxadas. Os escrito- radas às drogas aparecem. A lógica
res de ciência devem procurar deta- convencional assusta-se c o m a idéia
lhes sobre c o m o os testes são condu- de que oferecer aos animais doses
zidos. realmente grandes de uma substância,
Os testes em animais precedem e c o m o adoçante artificial, p o r exem-
às vezes substituem os testes huma- plo, prova que a substância causa
nos. Você não provoca deliberada- câncer nos humanos. O ataque conti-
mente u m câncer em seres humanos, nua: "Por que você teria de t o m a r 50
por e x e m p l o , para ver se pode curá- barris de refrigerante para o b t e r essa
lo. T a m b é m os animais podem passar quantidade."
por vários tipos de nascimento-mor- Isso é verdade, até a í . O câncer,
te para a p r o x i m a r os ciclos humanos por e x e m p l o , é uma doença que se
que ultrapassariam a vida dos experi- desenvolve lentamente ao longo de
mentadores. A extrapolação de testes u m t e m p o relativamente grande e em
animais nunca é exata. Esse é o pri- taxas imprevisíveis. A f i l o s o f i a sim-
meiro contra-ataque lançado quando plificada subjacente a esses testes ani-
u m fabricante de u m p r o d u t o comer- mais a f i r m a que algumas cobaias fi-
cial é prejudicado por testes e resulta- cam c o m câncer o u o u t r a doença

173
c o m alimentação forçada de c u r t o mesmo teste de doença. Parte da vali-
prazo, números previsíveis de sujei- dação da co-relação entre o câncer e
tos, incluindo os humanos, irão de- o f u m o , colocada mais de 2 0 anos
senvolver cânceres similares ao longo atrás no p r i m e i r o relatório d o U.S.
de u m p e r í o d o mais a m p l o c o m dosa- surgeon general, por e x e m p l o , está
gens menores. E em 50 anos você po- sendo superada na crescente taxa de
deria m u i t o bem estar exposto ao câncer nos pulmões entre as mulhe-
equivalente de vários barris de uma res, muitas das quais f u m a v a m quan-
substância. Isso não significa que vo- d o o r e l a t ó r i o apareceu pela primeira
cê, individualmente, será o u não uma vez. E n t r e t a n t o , esses o u t r o s estudos
v í t i m a . C o m o i n d i v í d u o , você pode relacionados mostram "associação",
não ser suscetível, exatamente c o m o não causa e efeito claramente defini-
alguns fumantes inveterados não de- dos, de m o d o que sempre haverá es-
senvolvem câncer nos pulmões. Mas paço abundante para os especialistas
isso é uma maneira de desenvolver al- argumentarem sobre a qualidade tan-
gum conceito sobre os " f a t o r e s de t o da experiência c o m o da interpreta-
r i s c o " aumentados q u a n d o números ção dos dados. O consenso e aceita-
de pessoas o u animais são expostos ção pela comunidade médica de tais
ao p r o d u t o q u í m i c o suspeito. Quan- resultados deve ser colocado à prova
d o comparado c o m a incidência co- pelo repórter.
nhecida de uma população geral o u Todas as sugestões sobre c o m o
grupo de c o n t r o l e c o n t r a i n d o uma m o n i t o r a r a " b o a " ciência se aplicam
doença, os pesquisadores p o d e m des- à medicina. O redator de ciência deve
c o b r i r os números indicando u m fa- investir em qualquer de vários bons
t o r de risco de 1,3 o u 1,5 para ani- dicionários médicos e em u m o u mais
mais recebendo a substância. Isso sig- livros leigos sobre cuidados médicos.
nifica uma chance de 30% o u 50% Obviamente não há s u b s t i t u t o para
maior de contrair a doença através da cursos organizados de fisiologia o u
exposição â substância sendo testada. medicina, mas você não é médico e
Os cientistas se sentirão mais c o n f o r - não estará fazendo diagnósticos. V o -
táveis c o m os redatores de ciência cê apenas escreve sobre doenças. Vo-
que a b o r d a m o relato dos riscos cau- cê está procurando comunicar o mais
telosamente, cuidadosamente. acuradamente possível o que as auto-
Peça mais detalhes aos cientistas ridades médicas c o n t a m a você. Cur-
sobre tais fatores de risco. Isso ajuda- sos f o r m a i s irão ajudar a sua compre-
rá a aumentar a credibilidade de suas ensão se você tiver a o p o r t u n i d a d e e
matérias. Poderá ser boa prática pro- o t e m p o de freqüentá-los. Os cursos
curar detalhes n u m m o d e l o experi- da saúde pública e de administração
m e n t a l usado desde que u m esquema hospitalar são comuns em m u i t o s co-
particular de testes pode produzir légios. Os redatores médicos estão
uma taxa mais baixa o u mais alta de sempre n u m processo de aprendiza-
doença d o que outros modelos para o do.

174
Quase t o d o s estão f a m i l i a r i z a d o s 2. Visite os laboratórios de um funcioná-
rio da área de saúde da cidade ou municí-
c o m relatos j o r n a l í s t i c o s e várias do-
pio e reúna material para uma matéria so-
enças, sejam d r a m a t i z a d o s e enfoca- bre o que se passa ali. Arranje para entre-
dos n u m a única v í t i m a o u sumariza- vistar a pessoa encarregada do escritório
dos. Possivelmente é a m a t é r i a m é d i - em suas operações pela sua cidade.
ca escrita e t r a n s m i t i d a mais f r e q ü e n -
3. Arranje, se puder, que o presidente ou
t e m e n t e pelos meios de c o m u n i c a ç ã o
diretor executivo da sociedade médica da
de massa. A l g u m a pesquisa indica cidade, município ou estado visite a classe
que essas não são as matérias que e fale tanto sobre a cobertura de medicina
mais interessam aos leitores. A s ma- dos veículos de comunicação de sua área
térias sobre p r o b l e m a s específicos de como sobre os mais prementes problemas
médicos, inclusive a economia.
saúde e doenças p o d e m ter p e q u e n o
i m p a c t o e m leitores individuais, con- 4. Selecione um ou mais hospitais locais
c l u i u H u g h M. C u l b e r t s o n e G u i d o H. ou da área e reúna material para um perfil
S t e m p e l I I I ( 1 9 8 4 ) após pesquisar lei- sobre o hospital, os serviços que oferece,
como opera, suas especialidades, custos
tores de u m g r u p o de j o r n a i s d o cen-
por paciente, seus problemas e assim por
tro-oeste. Os custos médicos e assun- diante. Junte amostras de boletins inter-
t o s de seguros o c u p a v a m a atenção nos, memorandos de quadros de aviso,
de 7 4 % dos pesquisados, mas apenas press releases e revistas externas que o aju-
12% das menções dos jornais. Essa dariam a documentar sua matéria. Diga
que serviços de emergência são disponíveis.
preocupação c o m os aspectos econô-
micos da m e d i c i n a estava dez vezes 5. Obtenha estatísticas de seu funcionário
mais elevada d o que o u t r o s interesses de saúde pública local para mostrar as con-
relacionados à saúde. dições médicas de sua cidade. Quantos mé-
dicos você tem em relação à população ge-
ral? Isso é mais alto ou mais baixo do que
a média estadual ou nacional?

Experiências 6. Passe um dia ou noite como participan-


te observador, se puder obter permissão,
1. Procure em um ou mais Periódicos mé- com a equipe de emergência de um hospi-
dicos por um relatório de estudo de caso tal, uma equipe de emergência de serviços
e transforme-o numa matéria de ciência médicos, uma clínica de emergências me-
popular. nor ou uma clínica de saúde pública.

175
Capítulo 9
Controles sobre notícias de ciência

MUITOS CONTROLES FORMAIS E u m cientista e publicação num perió-


I N F O R M A I S rodeiam a comunicação dico de reputação. Assim você pode-
de informação sobre ciências, medici- rá encontrar resistência a qualquer
na, engenharia e tecnologia. Embora discussão detalhada do mais atual tra-
alguns sejam comuns a t o d o jornalis- balho de pesquisa de um cientista. Is-
mo, esses controles e sua aplicação so é u m exemplo de como a redação
variam com o país, o assunto, o tem- de ciência pode ser controlada pelos
po e a ocasião. É importante compre- códigos profissional e ético de outro
ender a natureza desses controles grupo. Uma das querelas mais gra-
porque eles podem retardar a reunião ves para os redatores de ciência tem
o u publicação de informação em mo- sido uma disputa desse t i p o com o
mentos os quais você menos pode su- Dr. A r n o l d S. Relman, editor do New
portar u m retardamento. Sabendo England Journal of Medicine. Sobre o
que existem, você pode antecipar-se e Dr. Franz Ingelfinger, predecessor do
dessa maneira evitar situações que Dr. Relman no NEJM, o periódico es-
provocam c o n f r o n t o e demora. tabeleceu uma política de que ne-
Alguns controles são únicos à nhum trabalho de pesquisa que tivesse
ciência e tecnologia como cultura e sido discutido extensivamente na im-
como negócio. Outros controles, tais prensa ou em periódicos da profissão
como as leis do libelo e invasão de médica seriam aceitos para publicação
privacidade, afetam todos os jornalis- no NEJM. Essa decisão c o n t r i b u i u
tas, mas têm significados especiais para o t e r m o "Ingelfinger R u l e " —
quando você lida com cientistas, mé- regra Ingelfinger — para a redação ci-
dicos, e engenheiros ou seu traba- entífica. Poucos outros periódicos se-
lho. Outros controles, primariamente guem essa prática tão rigidamente.
aqueles de censura direta em nome Em parte, submeter u m artigo ao
da segurança nacional, têm dentes NEJM é concordar com o m í n i m o de
mais afiados tanto para os jornalistas publicidade enquanto este está sob re-
c o m o para os cientistas. visão ou no prelo. Embora o Dr.
Relman (1979) tenha d i t o que não
Convenções da ciência faz objeção a reportagens noticiosas
Falamos antes sobre o p r i n c í p i o das apresentações nas reuniões cien-
de que os dados se tornam " c i ê n c i a " tíficas, desencoraja a concessão de
apenas após a revisão pelos colegas de entrevistas posteriormente, a distri-

177
buição de cópias de trabalho â im- teratura profissional; e os redatores
prensa o u cópias de slides e gráficos, de ciência devem freqüentar as reu-
uma vez que esses p o d e m aparecer no niões apenas para informação de f u n -
N E J M . Tal gráfico p r e c i p i t o u uma d o , uma vez que m u i t o d o trabalho
c o n f r o n t a ç ã o entre o redator de ciên- apresentado nas reuniões é incom-
cia J o h n n E l l i o t t , d o Journal of the pleto e não revisado e pode jamais vir
American Medicai Association, o Dr. a ser publicado. Ele t a m b é m aponta
Relman e o D r . Sander Shapiro, u m que a N E J M precisa de material fres-
dos dois autores da University o f co, original e não-publicado para
Wisconsin de u m trabalho de pesqui- manter seu status. Embora o f o c o de
sa lido numa reunião da A m e r i c a n debate seja sobre o material apresen-
F e r t i l i t y Society ( E l l i o t t , 1979). t a d o em reuniões científicas, o D r .
A Regra Ingelfinger sofre oposição Relman t a m b é m disse aos repórteres
de dois grupos de redatores de medi- que a p o l í t i c a visa tentar evitar a li-
cina e ciência. Os redatores de jornais beração de qualquer informação não
sustentam que as políticas da N E J M verificada, tal c o m o afirmações de
p o d e m arrolhar informações que os cura de câncer que levantam falsas es-
médicos precisam imediatamente. Se peranças ( M c D o n a l d , 1 9 8 3 ) .
tal informação aparece p r i m e i r o n u m
t r a b a l h o lido numa reunião aberta Os argumentos de Relman f o r a m
médica e c i e n t í f i c a , os médicos que derrubados pelos contra-argumentos
não assistiram poderiam ser alertados de o u t r o s editores de periódicos. O
por reportagens noticiosas. O o u t r o D r . William Barclav, editor d o Jour-
g r u p o de oposição inclui redatores e nal of the American MedicaI As-
editores de revistas comerciais de me- sociation, diz que os médicos não tra-
dicina e saúde, algumas populares e t a m pacientes na base d o que lêem na
algumas dirigidas unicamente a médi- imprensa popular. O Dr. Edward
cos. E n q u a n t o os redatores de veícu- H u t h , editor de Annals of Internai
los de massa t ê m o seu papel de aler- Medicine, diz que confia nos veículos
tar o p ú b l i c o , as revistas de médicos de massa e na imprensa médica para
o b j e t i v a m passar aos médicos o má- preveni-lo sobre novos desenvolvi-
x i m o de informação ú t i l que o t e m p o mentos. O Dr. Michael Gregg, editor
e o espaço p e r m i t e m . Essas publica- de Morbidity and Mortality Weekly
ções médicas comerciais estão em Report, publicado pelos Centers f o r
c o m p e t i ç ã o econômica direta c o m o Desease C o n t r o l , diz que tal p o l í t i c a
N E J M , embora o a l t r u í s m o de ambos pode inibir o cientista de relatar
os grupos seja temperado pelo auto- p r o n t a m e n t e informações críticas re-
interesse em levar as informações a levantes à saúde pública. M a r k B l o o m ,
seus públicos p r i m e i r o . redator de ciência para American
Os médicos, a f i r m a o D r . Relman, Health e u m dos c r í t i c o s mais severos
t ê m o d i r e i t o de ler sobre os novos da regra, apresentou evidência de que
desenvolvimentos inicialmente na li- a p o l í t i c a não t e m a p o i o dos editores

178
de periódicos ingleses e canadenses Entretanto, o artigo solicitado apare-
( " B l o o m vs. Relman", 1982). ceu numa edição distribuída pouco
A rigidez do sistema de informa- depois que a solicitação do F O I t i n h a
ção científica pode ter retardado por sido arquivada, e S t o c k t o n não conti-
vários anos o reconhecimento públi- nuou no assunto. (Frenkel, 1981).
co e médico de que as crianças eram
vulneráveis à Sfndrome de Imunode-
ficiência A d q u i r i d a , A I D S . O Dr. Liberdade de informação
Larry Bernstein do Albert Einstein Embora o Freedom of Informa-
College o f Medicine contou à redato- t i o n A c t tenha sido usado para obter
ra de ciência Rita Rubin (1985) que dados científicos, os esforços não
em 1981 ele e outros médicos tenta- partiram de jornalistas mas de empre-
ram persuadir os editores do periódi- sas. Jerry E. Bishop, redator de ciên-
co da American Academy of Pedia- cia para The Wall Street Journal,
trics que desde 1978 eles estavam re- mantém a posição de que apenas
cebendo, duas ou três crianças a cada quando fundos para pesquisa provêem
semana, com sintomas de A I D S . Os totalmente de fontes privadas o cien-
editores do periódico rejeitaram o tista t e m o direito de decidir quando
relatório proposto pelos médicos ad- e onde a informação deve ser libera-
vertindo sobre a A I D S e pré-AIDS da. Diz Bishop: " U m a obrigação f u n -
em crianças. Naquele estágio inicial damental de qualquer u m que acei-
da pesquisa sobre a A I D S , acredita- ta fundos públicos é a revelação
va-se que a doença fosse limitada a pública de c o m o e onde esses f u n d o s
homens homossexuais adultos. De são usados. Essa revelação não pode
modo que se passaram quase cinco ser feita quando quem recebe o di-
anos antes que os perigos mais am- nheiro decide fazê-la. Deve ser feita
plos da contaminação da A I D S se por solicitação" (1982, 2).
tornassem conhecidos. William Stock- Tal posição não recebeu apoio ju-
t o n , antigo diretor de notícias cientí- dicial. Em 3 de março de 1980 a Su-
ficas do The New York Times, amea- prema Corte dos E U A decidiu que o
çou recorrer ao Freedom of Informa- grupo privado ou individual traba-
t i o n A c t para obter informação onde lhando com fundos federais podia re-
a pesquisa é financiada com dinheiro ter informação que não houvesse sido
de impostos. " S o u u m jornalista em fornecida a uma agência do governo.
primeiro lugar e redator de ciência A corte a f i r m o u que o Congresso não
em segundo", disse ele ao grupo de torna uma pessoa "agente" do gover-
redatores de ciência, afirmando que a no ao conceder-lhe fundos para pes-
tarefa da imprensa é informar o pú- quisa. Antes a corte havia d i t o que os
blico, não educá-lo. S t o c k t o n disse dados não podiam ser arrancados de
que havia submetido uma de tais so- um grupo privado para o benefício
licitações de informação retida pelo de o u t r o grupo em termos de ganho
The Journal of Infectious Diseases. financeiro ( F o r s h a m v. Califano,

179
1980, 1 9 7 8 ; Ciba-Geigy v. Mathews, você a conseguiu? Segundo, se se tra-
1977; Washington Research Project ta de dados brutos, você pode fazer
v. Dept. of Health, Education and c o m que sejam interpretados c o m ha-
We/fare, 1974). bilidade? Então vem a decisão sobre
U m dos medos dos cientistas a res- publicar a matéria o u não. No caso
peito d o uso da F O I e das leis esta- d o N I N C D S ou casos de pesquisa in-
duais de registros abertos se refere à c o m p l e t a , (que poderiam bloquear a
revelação de nomes de pacientes o u complementação de u m programa)
temas de pesquisa se os dados brutos contatar os pesquisadores assim co-
p o d e m ser o b t i d o s livremente. A po- m o examinar os seus dados poderia
sição das cortes leva os cientistas ago- ter evitado o surgimento de temores
ra a submeter sumários de dados ao sem f u n d a m e n t o sobre os perigos dos
patrocinador de sua agência uma vez anestésicos, dos quais há diversos.
que apenas o material que estiver re- E m b o r a toda experimentação c o m
almente nas mãos de agências fede- humanos requeira a assinatura de u m
rais pode ser f o r ç a d o a revelações. " c o n s e n t i m e n t o c o n s c i e n t e " que su-
Antes da legislação da Suprema Cor- postamente explica o projeto,algumas
te, u m repórter da U n i t e d Press In- pesquisas podem ser prejudicadas pe-
ternational obteve dados d o National la publicidade integral o u errada a
I n s t i t u t e of Neurological and Comu- respeito d o seu o b j e t i v o . Por o u t r o
nicative Disorders and Stroke antes lado, uma matéria que empurra os
da sua publicação. O cientista f o i cri- leitores a perguntarem mais a seus
ticado publicamente por liberar os médicos sobre procedimentos médi-
dados prematuramente, quando na cos d i f i c i l m e n t e representa uma in-
verdade estes f o r a m forçados sob trusão para o médico.
protesto da N I N C D S , relatou o D r . Relatórios e recomendações de
D o n a l d B. T o w e r , t i t u l a r d o institu- programas em áreas de ciências apli-
t o . Inacurácias na história causaram cadas tais c o m o defesa, exploração
temores e ansiedades sem f u n d a m e n - do espaço, transportes e saúde no tra-
t o a respeito dos efeitos de anestési- balho podem ser retidos para escon-
cos em bebês durante o nascimento, der avaliações embaraçosas da agên-
revelou Dr. T o w e r aos redatores de cia. A segurança nacional freqüente-
ciência (1979). A queixa d o D r . mente é dada c o m o a razão d o segre-
T o w e r f o i ecoada por M o r t o n H. A l - do. Apenas onde a eficiência da
per, M . D . anestesista-chefe d o Boston agência, os gastos ou outras decisões
Hospital f o r Women. estejam em questão, a necessidade
Quando estiverem buscando infor- de i n f o r m a r leitores sobre atividade
mação sob alegação do F O I o u a lei o f i c i a l parece ter primazia. A aplica-
dos registros abertos, os redatores de ção de julgamento à matéria perma-
ciência talvez devam considerar o j u l - nece nas mãos do redator da ciência,
gamento em duas fases. Primeiro vale mas a revelação completa de qual-
a pena ter a informação depois que quer fase da atividade do governo pa-

180
rece mais desejável que o segredo. Es- A violação ao copyright e o plágio
sa filosofia não é universalmente par- envolvem o uso das palavras exatas
tilhada. de um autor, conforme publicadas.
Não há linhas-guias rígidas sobre que
Copyright e marca registrada quantidade você pode republicar de
u m periódico o u trabalho preparado
Os redatores de ciência podem in- para uma reunião, que é protegido
correr em problemas legais em duas automaticamente como trabalho cria-
outras áreas. A revista Science venceu tivo, c o m o o é o manuscrito de u m
u m julgamento contra Science Digest redator de ciência. Algumas citações
em 1980 porque a capa e o logotipo extraídas de u m trabalho o u artigo
de uma Science Digest redesenhada de jornal, com o respectivo crédito,
enfatizavam a palavra "Science". En- provavelmente não atrairão críticas
quanto a corte não disse que a infra- o u , pior, u m processo legal. Entretan-
ção era deliberada, decidiu que " D i - t o , publicar t o d o ou a maior parte de
gest" não estava realçado da mesma u m trabalho como se tivesse sido es-
forma. Poucos redatores de ciência c r i t o para a sua publicação se aproxi-
criam revistas, mas se você desenha ma de uma violação clara t a n t o do es-
t í t u l o s de colunas o u boletins noti- p í r i t o c o m o da letra da lei de su-
ciosos (ou revistas) saiba que os pu- pyright. U m trabalho impresso em
biishers de publicações estabelecidas múltiplas cópias e d i s t r i b u í d o numa
lutarão arduamente para defender reunião pode ser considerado " p u b l i -
seus direitos de propriedade. Quase c a d o " num sentido limitado, mas a
t o d o redator recebeu uma nota de propriedade do copyright permanece
uma o u outra companhia queixan- com o autor até que ele assine u m
do-se sobre o uso do nome de uma f o r m u l á r i o legal transferindo o direito
marca registrada sem capitalização e de publicação. Se você deseja publi-
crédito. car um trabalho especialmente bom e
Como é colocada tanta ênfase em que vá ser lido, você e o editor de sua
basear matérias de ciência e medici- publicação devem assegurar a obten-
na em trabalhos lidos em reuniões, o ção de permissão escrita e oferecer
risco de infringir o copyright é m u i t o pagamento ao cientista. Isso é f e i t o
real. Os fatos não são protegidos por regularmente em publicações técni-
copyright, embora seja honesto dar cas, uma vez que as idéias ganham
crédito aos cientistas e periódicos ci- autoridade sob a assinatura de u m ci-
entíficos em todas as matérias que entista. Mas seus editores devem tra-
usam seus dados. Tal crédito não pre- tar honestamente o cientista-autor.
cisa ser tão elaborado a p o n t o de es-
tragar sua matéria. E se o periódico
publicou uma parte errada da pesqui- Controles administrativos.
sa, seu editor pode dividir a culpa Diversos controles administrativos
com você. o u imprevistos podem interferir em

181
seu t r a b a l h o . Alguns são deliberados ângulo novo á história para redatores
e alguns são acidentais. Patrick que haviam sido passados para trás.
Y o u n g , redator de ciência para a Uma maneira de f u g i r de u m blo-
New-house News Service, descrobriu queio burocrático o u a d m i n i s t r a t i v o
que os funcionários de informações é descobrir até que altura da hierar-
d o governo ás vezes tornam-se com- quia da agência o apoio se estende.
petidores. T e n t o u obter o que pensa- Freqüentemente u m empregado de n í-
va ser uma história mais o u menos ro- vel inferior entende equivocadamen-
tineira sobre o p r o j e t o de pesquisa te a p o l í t i c a o u a força que recebe
sobre os olhos patrocinado pelos para uma ação. E m p u r r a r a questão
N I H . O médico insistia em que a co- escada acima pode abrir negociações
ordenação fosse através d o escritório que p r o d u z a m uma m e l h o r compre-
de informações d o N I H , que arrasta- ensão por parte de todas as pessoas
va os pés nas respostas às perguntas q u a n t o ao que realmente é a p o l í t i c a
de Y o u n g . Quando Y o u n g questio- em questão. Algumas vezes o pessoal
n o u a legalidade de se reter informa- da informação sente-se simplesmente
ção, descobriu que os N I H t i n h a m t í m i d o em relação a abordar u m cien-
seus próprios press releases moven- tista para uma entrevista. E às vezes
do-se em processo de liberação den- lhes dizem para serem evasivos c o m
t r o dos N I H . Y o u n g r e t i r o u sua ma- u m jornalista. Alguns cientistas-ad-
téria d o escritório principal de comu- ministradores usarão outra pessoa, se
nicação dos N I H baseado em que as puderem, para evitar discutir tópicos
perguntas dos meios de comunicação sensíveis. Tente chamar a pessoa dire-
deviam ser respondidas antes, mesmo t a m e n t e se lhe disserem que é " m u i t o
se u m press release está em andamen- ocupada para atendê-lo". O u t r o tru-
t o (1981). que é falar ao assistente d o adminis-
trador o u ir a u m superior. Mas tente
Isso provoca uma disfunção no a negociação c o m outras táticas antes
processo de informação. As matérias de usar a artilharia pesada de uma so-
ás vezes se perdem quando u m j o r n a l licitação de F O I . Isso é mais rápido e
o u estação fura uma matéria. Por menos danoso às relações no interior
causa disso é aparentemente exclusi- de uma burocracia. Às vezes, entre-
va de u m c o m p e t i d o r , os o u t r o s veí- t a n t o , você poderá ter de usar a
culos podem ignorar a matéria até F O I o u as leis dos registros abertos
que seja realmente uma matéria mui- para convencer os administradores de
t o grande. Isso resulta em informa- que é sério.
ções úteis que deixam de entrar em Para repetir, o j o r n a l i s m o c i e n t í f i -
circulação geral. Funcionários de in- co é uma questão de j u l g a m e n t o , e
f o r m a ç ã o alertas c o m freqüência pre- você pode descobrir que as boas rela-
param uma conferência de imprensa ções c o m o f u n c i o n á r i o de informa-
c o m o cientista o u arranjam algum ções lhe proporcionarão resultados
o u t r o evento de m í d i a para dar u m melhores do que passar por cima do

182
escritório de informações. Algumas sinem uma carta c o n c o r d a n d o sub-
pessoas da área de informações são meter-se^à hora de release na segun-
rápidas e cooperativas; outras podem da-feira para obter cópias adiantadas
precisar informar-se. Os melhores po- de cada tema. Em certa época, os
dem levar você através da burocracia press reieases traziam r o t i n e i r a m e n t e
e ajudá-lo a convencer as fontes dos notícias sobre o dia e hora que o ma-
méritos de se conceder ehtrevistas. terial podia ser usado. Essa prática
Ocasionalmente você pode querer le- f o i largamente abandonada, embora
var uma situação â atenção dos f u n - alguns eventos especiais possam ser
cionários da associação local o u na- coordenados desse m o d o . Poucos
cional de redatores de ciência o u me- press reieases são usados na íntegra
dicina e procurar sua ajuda para as- pelos principais veículos de qualquer
segurar a liberação de informação. maneira, de m o d o que u m acordo
O u t r a alternativa é encontrar f o n - desse t i p o causa poucos problemas.
tes de informação. Se você f o r ousa- Antes de concordar em fazê-lo o u
d o e disposto a arriscar-se ao desa- romper u m acordo, o redator de ci-
p o n t a m e n t o , f r e q ü e n t e m e n t e poderá ência prudente deve verificar a histó-
fazer suficientes chamadas telefôni- ria e ver p o r que u m a hora de libera-
cas a pesquisadores que estejam de- ção f o i especificada.
senvolvendo trabalho similar para As horas para liberação freqüente-
conseguir arrancar-lhes a essência da mente aparecem nas cópias para a im-
informação bloqueada. Essa é uma prensa de trabalhos preparados para
tática usada f r e q ü e n t e m e n t e q u a n d o uma reunião c i e n t í f i c a . Geralmente
uma comissão especial o u painel o u essa hora está ligada ao dia e hora
titular de uma agência retém i n f o r - em que o orador deverá fazer a sua
mação enquanto está arranjando uma palestra. Na possibilidade de u m ora-
conferência de imprensa para a tele- dor retirar o trabalho - o que acon-
visão. Se a matéria vale a pena, se va- tece — seria tolice escrever uma histó-
le o trabalho extra e a despesa de ria baseada no que poderia ser uma
chamar qualquer especialista que po- pesquisa não confiável. U m trabalho
derá ter uma visão adiantada da infor- que é retirado pode valer uma maté-
mação. Nao são m u i t o s eventos que ria, se o cientista quiser discutir por
merecem esse t r a t a m e n t o . Isso pode que f o i retirado d o programa. Dada a
ser usado para mostrar que você co- natureza rotineira da maioria dos tra-
nhece seu trabalho e não está depen- balhos e reieases noticiosos, você de-
dendo de eventos encenados o u co- ve ter razões m u i t o boas para violar a
mendo na mão do escritório de infor- hora da liberação. Uma reputação de
mações. ousadia é uma coisa; a não confia-
O u t r o controle a d m i n i s t r a t i v o é o bilidade ou descuido é outra. Se
"release time" para reieases de n o t i - uma história está embargada para t o -
cias o u periódicos. O N E J M , por dos os jornalistas, você t e m t e m p o
e x e m p l o , pede aos repórteres que as- extra para preparar uma matéria

183
mais minuciosa que os seus c o m p e t i - instalações de pesquisa militares o u
dores. Mas quando u m v e í c u l o rompe civis. D i f i c i l m e n t e existe qualquer
u m release o acordo geralmente é questão que você perguntaria a u m
considerado quebrado para todos. cientista o u administrador que não
0 d i r e i t o de acesso a laboratório, possa perguntar diante de u m f u n c i o -
bases militares e outras instalações nário da área de informações. Você
coloca problemas difíceis agora. Em às vezes t e m que pedir-lhe para não
certa época, durante a guerra fria dos i n t r o d u z i r as suas perguntas numa en-
anos cinqüenta, o autor percorreu t o - trevista, mas a maioria deles está ge-
das as áreas não-classificadas de uma nuinamente do lado dos jornalistas
base de comando aéreo estratégico na obtenção da liberação de informa-
sem uma escolta. Era u m privilégio ções. Mas isso é o u t r a f o r m a de con-
conquistado por insistir em que, co- t r o l e administrativo que você, c o m o
m o cidadão e c o n t r i b u i n t e , o repór- redator de ciência, deve pesar por
ter devia ter permissão para andar em seu efeito em seu acesso à informa-
qualquer lugar onde o m o t o r i s t a de ção. Você não precisa desistir de sua
caminhão de cerveja ou qualquer ou- independência simplesmente porque
t r o entregador servindo à base pudes- f o i designado para cobrir áreas de in-
se ir. Leads para muitas histórias não- formação delicada.
confidenciais interessantes foram
O acesso às instalações da pesqui-
conseguidos apenas por conversar c o m
sa privada é u m assunto diferente.
pessoas, observar e o u v i r . Tornei-me
C o m o cidadão e c o n t r i b u i n t e , você
parte d o cenário, na realidade. Evi-
t e m algum d i r e i t o de entrar na maior
tando as partes de acesso restrito da
parte das instalações do governo. Em
base, não dei â p o l í c i a militar razão
propriedade privada, o d i r e i t o de
para suspeitar de quaisquer violações
acesso é c o n t r o l a d o pelo proprietá-
de segurança. Isso f o i antes da guerra
rio. Você obterá mais cooperação —
d o V i e t n ã e dos protestos antimilita-
e mais controle sobre o que lhe é d i t o
res às vezes violentos, antes que dois
— ao lidar c o m operações de pesquisa
presidentes fossem assassinados e an-
comercial por desenvolver seu traba-
tes d o crescimento daquela f o r m a pe-
lho através de f u n c i o n á r i o s de infor-
culiar de assassinato conhecida c o m o
mações. Se você não confiar na infor-
t e r r o r i s m o p o l í t i c o . O privilégio pode
mação que receber, não pode ficar
não valer o risco agora.
perambulando pelo lugar sem se arris-
Escolher membros da imprensa car a cometer u m d e l i t o de invasão.
é u m controle a d m i n i s t r a t i v o c o m u m Algumas histórias p o d e m valer esse
entre f o n t e s civis e militares. Você risco, mas uma determinação recente
pode pensar que u m acompanhante da Suprema Corte dos E U A , entre-
irá interferir em seu estilo de entre- t a n t o , p r o í b e a invasão de proprieda-
vistar, mas por que deixar que isto de privada mesmo q u a n d o c o b r i n d o
ocorra? Pode ser fisicamente perigoso u m evento noticioso p ú b l i c o , a não
andar desacompanhado por algumas ser que o proprietário lhe dê o con-

184
sentimento. Isso poderia demonstrar- de avião e outros desastres. U m en-
se m u i t o grave para redatores que tendimento semelhante sobre o que a
ocasionalmente cobrem desastres de polícia estadual ou local tem permis-
aviões e acidentes industriais em ins- são de fazer no local deve ser explica-
talações de pesquisa por cruzar pro- do numa carta para você. Freqüente-
priedade privada ao alcançarem o lo- mente as políticas oficiais não são co-
cal do acidente. As leis estaduais po- nhecidas ao nível de campo ou pelos
dem ajudar a ultrapassar barreiras funcionários locais que t e r m i n a m por
uma vez que a lei c o m u m dá aos jor- traçar suas próprias regras. Não é in-
nalistas algum direito de acompanhar c o m u m para a polícia estadual assu-
bombeiros, policiais e outros funcio- mir que está sob direção de funcioná-
nários públicos às áreas de desastre. rios federais no local de u m acidente
Seja cauteloso. Os desastres de quando a política oficial pode permi-
aviação são u m triste espetáculo, pois tir o acesso pela imprensa. E a polícia
neles há pedaços de corpos humanos militar geralmente favorece o acesso
e de aviões espalhados por toda par- para jornalistas, com ou sem escolta
te. Os aviões, hospitais e laboratórios de imprensa. Como certos militares
industriais freqüentemente contêm abrigam uma tendência contra a re-
gases e líquidos exóticos cuja força portagem aberta de tais eventos, uma
explosiva ou efeitos venenosos po- carta ou cartão indicando a política
dem atrapalhar todos os seus planos. oficial de acesso pode ser algo inte-
A exposição à radiação é sempre uma ressante para trazer consigo.
possibilidade que envolve alguns aci-
dentes militares e civis. Vigie seus fo-
tógrafos. Alguns laboratórios têm Riscos de difamação impressa
oxigênio puro e hidrogênio na área, (libelo) e privacidade
como os hospitais, que podem ser atin- As leis de libelo também colocam
gidos pelo calor ou fagulhas de uma algumas ameaças m u i t o reais aos jor-
unidade de flash ou a fagulha de uma nalistas de ciência. Os riscos são espe-
câmera operada eletricamente. O mes- cialmente altos em áreas de transci-
mo pode valer para o seu gravador de ência, carregados de conotações polí-
f i t a , rádiotransmissor-receptor o u ou- ticas e emocionais. Você pode se
t r o equipamento. Em algumas áreas emaranhar num processo de libelo
eletricamente sensíveis, seu terminal mais ou menos inocente ou descuida-
de computador portátil pode ser damente. Médicos, pesquisadores, en-
proibido se é que você leva u m para genheiros, enfermeiras e pessoal semi-
uma entrevista. profissional nas profissões científicas
Se o seu f u r o inclui uma instala- baseiam-se em suas boas reputações
ção do governo, civil ou militar, vale para garantir a sua subsistência, suas
a pena obter do Quartel General em posições e seu bem-estar geral. Prote-
Washington, D. C., uma declaração ger essa reputação é parte integrante
clara da política de acesso a acidentes do exercício de suas profissões.

185
O libelo (difamação impressa) e a via prescrito para u m paciente proe-
calúnia (difamação falada) são danos minente. A possibilidade de libelo
â reputação que p o d e m ser reparados pode desencorajar redatores de so-
através do j u l g a m e n t o de processo ci- licitar comentários excessivamente
vil. Defender-se c o n t r a u m processo c r í t i c o s sobre o trabalho de u m cien-
de difamação na corte, mesmo se tista. Você pode ser culpado de libelo
você ganhar, custa m u i t o dinheiro. O mesmo quando cita alguém correta-
curso e o livro sobre a lei das c o m u n i - mente e o que a pessoa diz contém
cações devia ser parte d o armamento afirmações caluniosas sobre outra.
de t o d o redator. E n t r e t a n t o , uma de- Uma companhia pode ser proces-
f i n i ç ã o curta e f u n c i o n a l de libelo sada por libelo c o m o u m i n d i v í d u o
a f i r m a que o libelo é uma afirmação associado a uma corporação sujeito
falsa, impressa o u transmitida pelo rá- às leis. Dar a entender que uma com-
d i o o u pela T V , a respeito de alguém, panhia está c o m problemas finan-
o que tende a levar essa pessoa ao ceiros é uma f o r m a singular de libe-
ó d i o , desprezo o u ridicularização pú- lo à corporação, a não ser que você
blicos o u prejudicá-la no seu negócio comprove a acusação. As compa-
o u ocupação. A palavra chave é falsa. nhias que se enquadram no capí-
O libelo precisa conter q u a t r o ele- t u l o II sobre lei da bancarrota não
mentos: publicação, i n c l u i n d o comu- estão falidas, mas buscando pro-
nicação ao menos para uma terceira teção legal para se reorganizarem sem
pessoa; identificação por nome o u serem forçadas à bancarrota; essa dis-
c o m o m e m b r o de u m grupo suficien- tinção deve estar clara em qualquer
temente pequeno para identificação; matéria. A identificação errada de
dano ou prejuízo real, i n c l u i n d o pre- uma pessoa o u companhia pode re-
j u í z o m o n e t á r i o , reputação prejudica- sultar em libelo, tal c o m o dar o nome
da, angústia e s o f r i m e n t o mental, ri- errado do fabricante de u m p r o d u t o
dicularização e h u m i l h a ç ã o ; e fraude perigoso. Portanto, qualquer história
sabendo que uma afirmação era falsa, que possa danificar uma reputação
estimular dúvidas acerca de sua ve- merece verificação minuciosa, talvez
racidade ou publicá-la c o m comple- c o m u m advogado. Lembre-se, os fa-
t o desprezo ( m a l í c i a ) sobre se era tos precisam ser comprováveis na cor-
verdadeira o u falsa. A verdade é sua te, se necessário. Isso não e a mesma
melhor defesa c o n t r a acusações de li- coisa que " a c r e d i t a r " que são verda-
belo. O comentário imparcial é outra. deiros.
Sugerir erradamente que alguém C o m o essas regras de libelo se apli-
t e m uma doença t e r r í v e l o u repug- cam à redação científica? Quando o
nante oferece u m exemplo de libelo. ator Rock Hudson estava hospitaliza-
Desafiar o julgamento profissional é d o , os repórteres tiveram o cuidado
o u t r o . U m médico recebeu retratação de não dizer que Hudson tinha A I D S
de uma revista de ciência que ques- 'até que ele e seus agentes concede-
tionara o t i p o de t r a t a m e n t o que ha- ram permissão. Obtenha consenti-

186
m e n t o de i n d i v í d u o s ou pais e guar- luntariamente, numa controvérsia pú-
diães de menores, assinado se neces- blica.
sário, para matérias e fotografias usa- A corte d e t e r m i n o u que os empre-
das em conexão c o m histórias médi- gados públicos, são funcionários pú-
cas. Deixe claro que pretende publi- blicos se t ê m , o u parecem t e r , res-
car o material que obtenha. Não ex- ponsabilidade substancial por condu-
traia informação usando' nomes o u zir assuntos d o governo. Isso, até
propósitos falsos. Obtenha ambos — aqui, inclui funcionários eleitos, can-
o u mais — os lados de qualquer histó- didatos a algum cargo i m p o r t a n t e ,
ria, e dê às pessoas a o p o r t u n i d a d e de polícia, juizes,examinadores médicos
responder a ataques. Deixe claro em d o condado, e u m psiquiatra no hos-
suas matérias que tiveram essa opor- pital estadual. U m professor de q u í -
tunidade. " C o n s e n t i m e n t o " e " o p o r - mica de nível secundário f o i conside-
tunidade de r é p l i c a " oferecem defe- rado f u n c i o n á r i o público e n q u a n t o
sas contra libelo e invasão de privaci- u m professor de história não o f o i . A n -
dade. tigos governadores e uma pessoa con-
A F I G U R A P Ú B L I C A . A idéia d o tratada pelo governo fazendo análise
" f u n c i o n á r i o p ú b l i c o " o u " f i g u r a pú- de impacto ambiental não f o r a m con-
b l i c a " t e m significado especial na re- siderados f u n c i o n á r i o s públicos nem
portagem de ciência, tecnologia e me- figuras públicas.
dicina. As pessoas que são figuras Os cientistas de pesquisa p o d e m
não-públicas o u " p r i v a d a s " necessi- não ser figuras públicas. R o n a l d R.
t a m de m u i t o poucas provas de dano H u t c h i n s o n , u m pesquisador da ciên-
à sua reputação se processam por li- cia do c o m p o r t a m e n t o , f o i declarado
belo. A figura pública deve provar figura de destaque quando processou
que o libelo f o i publicado c o m com- o senador W i l l i a m P r o x m i r e e u m as-
pleto desprezo pela verdade o u c o m sessor de imprensa, que concederam
sérias dúvidas a respeito da mesma. a H u t c h i n s o n a premiação pejorativa
" M a l í c i a " é o t e r m o legal para isso. Golden Fleece para pesquisa patro-
Mas definir uma figura pública não é cinada pela N A S A e pela Marinha.
tão fácil. Nem todos os empregados Proxmire disse que a pesquisa, sobre
públicos o u pessoas que recebem di- por que os macacos e o u t r o s animais
nheiro p ú b l i c o são funcionários pú- apertam os punhos e as m a n d í b u l a s
blicos ou figuras públicas q u a n d o vis- sob stress, era u m desperdício de di-
tos pelas cortes. E m teoria, a Supre- nheiro. H u t c h i n s o n d e m o n s t r o u c o m
ma Corte dos E U A disse que as f i - sucesso o seu p o n t o de vista ao anali-
guras públicas são pessoas que " o c u - sar c o m o os humanos poderiam c o m -
pam posições de poder e influência portar-se sob stress. O caso Hutchin-
tão abrangentes que são consideradas son v. Proxmire (1979) estabeleceu
figuras públicas para todos os propó- o u t r o precedente. C o m o o senador
s i t o s " c o m o o são aquelas que por e m i t i u a acusação n u m press release
não serem famosas'se colocam, vo- — e não de sua posição priviJegiada

187
c o m o senador — repetiu-a numa trans- autor de u m livro de dietas, uma fun-
missão, o senador perdeu sua imuni- dação contra o abuso de drogas, uma
dade sob a cláusula de discurso ou companhia de seguros, opositores da
debate da Constituição dos E U A , fluoretação, atletas profissionais e
sentenciou a corte. u m repórter esportivo. Pessoas que
Se você trabalha c o m base em do- levantam fundos para projetos de ca-
cumentos oficiais o u no discurso de ridade, u m cientista de pesquisa com
pessoas que gozam de imunidade, p a t r o c í n i o , u m ex-condenado, u m jó-
você t e m uma defesa contra libelo. quei e u m p r o m o t o r ativo na p o l í t i c a
Os eventos que o c o r r e m na corte f o r a m todos considerados não-públi-
aberta, por e x e m p l o , são prerroga- cos. Assim, a determinação de q u e m
tivas se você der u m relato imparcial é uma figura pública torna-se m u i t o
e acurado. Os d o c u m e n t o s da corte e intrincada e o redator de ciência de-
o u t r o s registros públicos trazem prer- veria basear-se em outras defesas pos-
rogativas para você. Jornalistas e ou- síveis. Escrever sobre pesquisa frau-
tros t a m b é m t ê m permissão de usar a dulenta pode esperar repúdio público
defesa de " o p i n i ã o e comentário ho- após uma investigação oficial, numa
n e s t o " n u m assunto de interesse pú- audiência pública, ou em retratação
blico e/ou f a t o apresentado n u m ar- publicada n u m periódico c i e n t í f i c o .
tigo c o m o verdadeiros o u que se
acredita serem verdadeiros. Isso deve R E P O R T A G E M N E U T R A . C o m o os
ser comentário o u o p i n i ã o , não uma jornalistas de ciência operam a par-
alegação de f a t o , e identificável c o m o t i r de material publicado, o conceito
opinião. Mesmo quando os jornalistas mais novo de " r e p o r t a g e m n e u t r a "
i d e n t i f i c a m suas matérias c o m o uma c o m o defesa de libelo é importante.
" c o l u n a " , implicando c o m e n t á r i o im- Ele provém de uma matéria do The
parcial e opinião, j ú r i e juiz podem New York Times relatando que a re-
não concordar. U m redator de ciên- vista da A u d u b o n Society havia acu-
cia d o Atlanta Journal and Consti- sado vários cientistas proeminentes
tution f o i considerado culpado de li- de serem "porta-vozes de cientistas"
belo ao traçar uma comparação entre pagos, que citavam a contagem anual
as propostas de u m vencedor de Prê- dos passados no natal, pela sociedade
m i o Nobel para esterilização paga a c o m o prova de que os bandos esta-
pessoas de Q l Daixo e as experiências vam sobrevivendo apesar do pesticida
médicas na Alemanha Nazista; em- D D T , u m assunto m u i t o atacado po-
bora a indenização concedida fosse liticamente em 1972. Embora u m
apenas de 1 dólar, o jornalista perdeu j ú r i de corte distrital decidisse que os
a causa e o jornal pagou uma conside- cientistas haviam sofrido libelo, a se-
rável conta legal (Associated Press, gunda corte de apelações dos E U A
1984c). e m i t i u o julgamento contra o Times e
Figuras públicas têm sido identifi- a A u d u b o n Society. A Suprema Cor-
cadas c o m o atores e animadores, o te recusou-se a ouvir a apelação dos

188
cientistas (Edwards v National Au- ção que podem evitar que você seja
dubon Society). Isso abre caminho forçado a identificar fontes de infor-
para relatar sobre acusações publica- mação; essa proteção pode ser m u i t o
das numa disputa com base em que fraca e limitada.
você está apenas transmitindo acusa- Às vezes os redatores precisam de
ções proferidas com veemência em seu próprio advogado e seguro con-
debate público. tra libelo. Quando as indenizações
A lei federal de libelo é um campo por libelo eram m u i t o inferiores aos
relativamente novo e em desenvolvi- julgamentos de muitos milhões de
mento. A maior parte das leis de li- dólares que começaram na década de
belo são leis estaduais e o redator setenta, os redatores assumiram que
também precisa ter familiaridade o jornal ou revista pagaria os custos
com as leis locais sobre publicação da defesa de libelo. Hoje isso não é
a transmissão em rádio e televisão. mais automaticamente assim. Reda-
Essas variam de estado para estado tores free-lancers com freqüência de-
em tais coisas como o estatuto das li- vem assinar contratos condicionan-
mitações, o tempo além do qual você do-os a pagarem ou partilharem des-
não pode ser processado. As cortes pesas de libelo. A l é m disso, os inte-
também estão olhando com m u i t o resses do redator e do jornal podem
rigor para as tentativas daqueles ser diferentes. U m jornal e sua com-
que f o r a m criticados de desviar as panhia de seguro contra libelo podem
críticas através de processos. Alguns deixar o redator encalacrado concor-
publishers estão processando, por sua dando que é mais barato resolver u m
vez, se acham que os processos são caso de libelo fora da corte e pagar a
levantados para embargá-los e aos indenização. Parte dessa indenização
membros de suas equipes. Em alguns pode ser depositada em j u í z o em no-
estados e retratação oportuna, a cor- me de u m redator e o redator pode
reção ou a argumentação pode de- querer defender sua reputação na
monstrar sua boa-fé em reduzir os da- corte ao invés de fazer acordo.
nos possíveis. Às vezes a retratação
apenas é suficiente para evitar u m
processo, que também significa pesa- Invasão de privacidade
das despesas para os queixosos. Os As pessoas envolvidas em eventos
redatores não devem tentar fazer re- de valor noticioso cedem um pouco
tratações sem o conselho de u m ad- em seu direito à privacidade, estejam
vogado, que pode negociar u m acor- envolvidas no evento voluntária o u
do que inclua uma concordância em involuntariamente. Geralmente as
não processar se você publicar uma cortes deferem ao julgamento do re-
correção. Correções mal enúnciadas dator sobre o que é notícia ou não.
ou rancorosas, podem tornar a situa- Portanto, você geralmente pode es-
ção pior. E alguns estados oferecem crever sobre temas de legítimo inte-
o limitado respaldo de leis de prote- resse público com segurança, mesmo

189
se o t ó p i c o não f o r u m evento de no- ration, em Louisville, se depararam
tícias rápidas. c o m esse problema. O Dr. William C.
E n t r e t a n t o , a lei da privacidade DeVries disse aos redatores de ciência,
t a m b é m t e m algumas armadilhas es- pouco depois de ter i m p l a n t a d o o
peciais para os redatores de ciência. terceiro coração artificial, que iria
Às vezes uma matéria proporciona- limitar a informação que daria à im-
rá a o p o r t u n i d a d e t a n t o para libelo prensa sobre os pacientes o u o proce-
c o m o invasão de privacidade. A lei da d i m e n t o experimental. A t é esse mo-
privacidade protege o d i r e i t o de ser m e n t o os redatores de ciência consi-
" d e i x a d o em p a z " . De certo m o d o , é deraram a assistência de informações
o o u t r o lado da lei d o libelo, q u a n t o que lhes f o r a dada u m exemplo per-
mais verdadeira a afirmação, maior a f e i t o da cooperação entre imprensa e
invasão de privacidade. C o m o o libe- m é d i c o , u m exemplo de relações pú-
lo, a lei da privacidade aplica-se ape- blicas de livro didático. DeVries cha-
nas a pessoas vivas, mas as cortes re- m o u a operação de " n o t í c i a s antigas
conhecem direitos de privacidade pa- agora... vocês simplesmente não pre-
ra parentes de pessoas famosas ou pú- cisam saber t a n t o q u a n t o precisavam
blicas, vivas o u mortas. As violações antes". ( A l t m a n , 1985, 6). Diz que os
p o d e m ocorrer através de intrusão receptores dos corações estavam sen-
em negócios privados além d o que é do afetados por terem de responder a
relevante para a n o t í c i a . Desse m o d o perguntas da imprensa e serem f o t o -
você pode ver-se sobre terreno pouco grafados e que desejava preservar seus
f i r m e desenvolvendo material sobre dados e análises para publicação cien-
as f a m í l i a s e vidas pessoais de cientis- t í f i c a . À sua ação seguiu-se a c r í t i c a
tas e pacientes que não cooperam pública de outros membros da comu-
c o m seu p r o j e t o . A revelação de ma- nidade de pesquisa médica sobre a
terial sensacionalista sobre saúde, quantidade de dados liberada diaria-
vida sexual o u afazeres econômicos mente em conferências de imprensa.
pode intrometer-se através da publi- Ocasionalmente uma pessoa irá
cidade de assuntos privados. Relatar cooperar c o m entrevistas e fotogra-
e fotografar o que t e m lugar em pú- fias, mas mudará de idéia sobre ter a
blico, c o m o numa rua pública ou ter- matéria publicada. Isso pode ser pos-
reno p ú b l i c o , não c o n s t i t u i intromis- sível quando você estiver enfocando
são. Informações de mau gosto reti- o i n d i v í d u o para representar uma ví-
radas da história de uma pessoa po- t i m a t í p i c a de uma doença, por
dem constituir uma invasão de priva- exemplo. A não ser que você possa
cidade se ela sobrevive à transgressão. persuadir o i n d i v í d u o a voltar atrás,
O consentimento lhe oferece uma irá precisar encontrar o u t r o exem-
defesa, mas o consentimento pode plo.
ser retirado. Redatores de ciência co- A apropriação do nome, a seme-
b r i n d o as operações de coração arti- lhança, o u personalidade de uma pes-
ficial no hospital da Humana Corpo- soa, c o m propósitos de exploração

190
comercial também viola a privacida- Obstáculos comerciais
de. O retrato de u m cientista usado Dados os problemas do libelo e da
como uma notícia ou matéria mais privacidade, você pode compreender
longa é uma coisa; mesmo se for tirado porque a revista Science escreveu
n u m lugar público, usar esse retrato m u i t o cuidadosamente e respeitosa-
num anúncio para u m p r o d u t o , in- mente sobre u m inventor que rece-
cluindo a sua publicação, pode ser beu muita publicidade em New Or-
uma violação — sem consentimento leans, e sobre o jornalista de televisão
assinado. Você também pode invadir que havia adotado a causa do inven-
a privacidade, em algumas cortes, se re- t o r . 0 inventor se queixava de ter si-
velar segredos comerciais o u demons- do prejudicado pelo U.S. Patent and
trar como a pessoa realiza alguma ha- Trademark Office que se recusou a
bilidade especial de modo que essa conceder-lhe a patente de uma má-
possa ser duplicada. quina que parecia gerar mais energia
do que era necessário para operá-la.
Colocar numa pessoa u m falso bri- Isso pareceria desafiar a segunda lei
lho é outra armadilha legal na lei da da termodinâmica e ser a máquina de
privacidade. Pode ocorrer quando modo perpétuo que a ciência declara
você tenta dramatizar ou condensar impossível. O redator de ciência Eliot
fatos ou eventos numa notícia ou ma- Marshall (1984, 6) c i t o u toda a im-
téria mais longa ou quando aciden- pressionante documentação apoiando
talmente coloca o nome real de uma a queixa do inventor, incluindo afir-
pessoa numa composição de vários mações dos engenheiros tecnicamen-
caracteres, como faria ao personalizar te capacitados que fizeram avaliações
u m relato de alguma pesquisa de ci- da mesma.
ência social de longo alcance. Quan- Quando u m cientista ou uma com-
do você usa u m personagem compos- panhia t e m o documento para obten-
t o , diga-o. É m u i t o possível, uma vez ção de uma patente sob estudo, o se-
que a lei de privacidade ainda está em gredo prevalece, porque a d m i t i r que
desenvolvimento, que os redatores de a informação exclusiva caia no co-
ciência interpretem erradamente os nhecimento geral pode invalidar a re-
propósitos dos cientistas o u sua pes- quisição de uma patente. A docu-
quisa e você caia numa situação de mentação, 'na literatura científica, é
"falso b r i l h o " . É claro, também, que parte das provas legais para estabele-
você deve resistir às tentações de se cer os direitos sobre invenção e pa-
divertir à custa de pesquisa científica tente, que geralmente cabem ao em-
de indivíduos quando o tédio de es- pregador do cientista. Essa é outra
crever histórias sérias faz com que vo- razão pela qual a primeira notícia
cê anseie por algo divertido sobre que significa t a n t o , mesmo para os
escrever. A ridicularização e o falso pesquisadores de ciência básica. Por
brilho também podem originar pro- mais de- vinte anos depois-que a ex-
cesso. plosão de pesquisa e desenvolvimento

191
se seguiu à II Guerra M u n d i a l , os di- que permite esse t i p o de troca com
reitos de patentes de invenções finan- ou sem encargo. As companhias de
ciados através de c o n t r a t o ou verba pesquisa e desenvolvimento podem
do governo ca iram no d o m í n i o públi- t a m b é m permitir-lhe usar suas biblio-
co. Gradualmente a indústria t e m se tecas técnicas. E matérias desenvolvi-
m o v i d o para diante em sua solicita- das após visitas a uma fábrica podem
ção de direitos exclusivos de paten- dar aos leitores uma compreensão
tear tais desenvolvimentos com pro- melhor da comunidade, mesmo se a
pósitos comerciais, e conseguiu em companhia não revelar todos os seus
algumas partes da indústria espacial e segredos. Pode ser ú t i l para você mais
da defesa. O governo ainda usa estas tarde na compreensão da companhia
gratuitamente. ou alguns novos produtos.
Assim você pode ser solicitado a Em muitas corporações grandes,
abster-se de escrever sobre algumas os administradores da pesquisa de
coisas que você vê em laboratórios in- campo o u das instalações de produ-
dustriais o u manufaturas. A l é m de ção t ê m autoridade limitada para li-
aparelhos potencialmente patenteá- dar c o m os meios de comunicação.
veis em teste, você pode ver valiosos As solicitações para uma visita à fá-
segredos comerciais, modos de fazer brica ou laboratório podem necessi-
coisas que não são patenteáveis. A l - tar de aprovação do quartel-general
gumas companhias irão p r o i b i r suas da corporação. É no m í n i m o justo
câmeras, em suas instalações. As me- dar alguma idéia do t i p o de história
lhores companhias se oferecerão para que está procurando, de m o d o que as
tirar fotografias por você. pessoas possam preparar respostas pa-
Os cientistas na indústria privada ra você. E é uma boa idéia manter
podem manter a boca fechada sobre contatos na sede da corporação, mes-
o que discutem. Em algumas compa- m o se f o r c o m o pessoal de relações
nhias, simplesmente conversar sobre públicas, para aqueles m o m e n t o s em
campos de pesquisa de interesse é que você precisar de alguma informa-
p r o i b i d o pelos administradores c o m o ção o u favor, às pressas, ao lidar com
revelação dos planos da companhia os administradores locais.
para o f u t u r o . Outras firmas são mais Os cientistas pesquisadores da vida
abertas e colocam u m p o n t o final às p o d e m ficar mais relutantes em dis-
discussões da pesquisa apenas quando cutir a pesquisa c o m os meios de co-
o desenvolvimento claro de u m pro- municação à medida que se t o r n a
d u t o parece e c o n ô m i c o . Os cientistas crescentemente possível usar organis-
t a m b é m abafam sua c r í t i c a aos com- mos vivos, tais c o m o bactérias, em
petidores o u às práticas industriais processos de produção de remédios,
para evitar complicações c o m leis co- proteínas puras o u outros p r o d u t o s
merciais. Eles p o d e m , entretanto, valiosos. Os cientistas vêem esses pro-
fornecer-lhe material histórico se vo- cessos, inclusive a clonagem e a enge-
cê t r a n s m i t i r o t i p o de confiança nharia genética, c o m o caminhos para

192
os tipos de fortunas pessoais feitas nos) o processo aberto e c o m p e t i t i v o
antes pelos cientistas em química, de licitação existe. Desse m o d o os re-
plásticos, computadores e eletrônica. datores de ciência têm acesso à infor-
A Harvard e outras universidades mação científica e técnica assim co-
com biólogos de pesquisa altamente mo às especificações de preço, e tem-
capacitados iniciaram suosidiárias co- po-por-desempenho. Esse processo de
merciais devotadas à tal bio-engenha- licitações é destinado a manter os
ria e tecnologia, que poderiam afetar contratados honestos e os preços bai-
o f l u x o de informação das reuniões xos. Não funciona sempre, mas qual-
científicas, literatura e veículos de quer um pode usar os "Quadros de
comunicação. Licitação" nas instalações governa-
Outro obstáculo comercial à mentais para obter informação sobre
obtenção de informação científica e contratos propostos e especificações
técnica pode aflorar com pessoas de equipamento, desempenho, insta-
contratadas pelo governo. Essa é uma lações e assim por diante. Algumas
cláusula encontrada na maioria dos compras de segurança nacional são
contratos entre uma companhia e mantidas secretas ou detalhes da pro-
uma agência do governo. O contrato posta restritos a pessoas autorizadas.
condiciona a companhia a obter Notificações de licitações não-confi-
aprovação da agência antes de liberar denciais geralmente são remetidas pe-
qualquer informação sobre o contra- lo correio perto do escritório contra-
to. Um propósito da cláusula é mini- tante. Você pode examinar os contra-
mizar a publicidade que o contratado tos propostos e os existentes, tam-
recebe e assegurar a agência de que bém, a não ser que sejam confiden-
será notificada de qualquer liberação ciais. Os relatórios do progresso da
de informações. Algumas vezes os maioria dos projetos também são re-
funcionários das agências desejam as- gistro público. Encontre o " Q u a d r o
segurar que eles, e não seu contrata- de Licitações", onde os avisos de
do, recebam créditos pelos novos de- contratos são colocados, e aprenda a
senvolvimentos. Os funcionários de usá-lo.
informação do governo e da indús-
tria lutam regularmente entre si e
com os seus supervisores técnicos de Segurança e censura
administração para autorizar a libe- Infelizmente, aos olhos de muitos
ração de tais informações. Os redato- cientistas, a guerra e os avanços tec-
res de ciência dos meios de comuni- nológicos caminham juntos. Isso sig-
cação freqüentemente farão melhor nifica que você irá encontrar esforços
solicitando acesso e entrevistas tanto de censura t o t a l e sigilo visando a se-
á agência como ao contratado. gurança e a defesa nacionais. Você fi-
Por causa da sórdida história dos cará surpreso pela facilidade com
contratos do governo (remontando à que material " T o p Secret" pode ser
época das legiões romanas, pelo me- desclassificado quando o administra-

193
d o r de u m p r o j e t o d o governo acha Em 1979, o D e p a r t m e n t o f Ener-
que você escreverá uma matéria favo- gy e o Justice D e p a r t m e n t obtiveram
rável. P o r t a n t o , peça a informação. A uma injunção para impedir a revista
maioria d o que está classificado pro- The Progressive de publicar u m artigo
vavelmente não deveria estar, mas i n t i t u l a d o " H o w a Hydrogen B o m b
classificá-los é mais fácil para f u n c i o - W o r k s " . A batalha f o i longa e com-
nários d o governo t í m i d o s d o que se plicada e os jornalistas venceram os
arriscarem a uma consulta pessoal. censores quando meia dúzia de ou-
U m relatório sobre os usos d o arco e tras publicações publicaram o artigo
flecha permanece classificado, pelo ou outros similares, independente-
ú l t i m o relato. A l é m disso, a classifi- mente. A publicação simplesmente re-
cação é uma maneira fácil de escon- velou q u a n t o da informação já estava
der falhas e o u t r o s problemas tecno- nas prateleiras das bibliotecas abertas
lógicos o u p o l í t i c o s embaraçosos dos o u em livros didáticos e quão p o u c o
repórteres e outros estranhos. dos detalhados processos de uma
Duas vezes, ao menos, o governo bomba-H f o r a m revelados. Isso difi-
federal t e n t o u censurar matérias so- cilmente era suficiente para se cons-
bre a ciência e tecnologia das armas t r u i r uma b o m b a ; pouco, se algo,
nucleares. E m março de 1 9 5 0 a A t o - apareceu que fosse desconhecido de
mic Energy Commission persuadiu a qualquer f í s i c o que fizesse u m m í n i -
Scientific American a destruir três m o de pesquisa sobre o t ó p i c o . C o m
m i l exemplares da revista para apagar efeito, durante o final da década de
várias passagens de u m artigo do físi- setenta, vários estudantes de física
co ganhador de Prêmio Nobel, Hans reuniram relatórios de pesquisa sobre
A . Bethe, sobre o desenvolvimento c o m o construir bombas nucleares.
da b o m b a de fusão de hidrogênio. U m dos enganos de The Progressive
T o d o o material havia sido t o m a d o residiu em submeter o manuscrito ao
por Bethe de fontes não-classificadas, governo para aprovação. A aprovação
primariamente livros disponíveis em f o i naturalmente recusada, acenden-
bibliotecas públicas. O presidente do o debate. A constituição dos E U A
Harry S. T r u m a n havia ordenado que c o m o interpretada pela Suprema Cor-
o trabalho da bomba-H continuasse, te, p r o í b e a restrição antes da publi-
contrariamente ao conselho de mui- cação, mas isso não evita que funcio-
tos cientistas, inclusive Bethe, que nários federais e mesmo estaduais
trabalhou nas bombas atômicas, o u t e n t e m censurar se você lhes der
de fissão. A explicação pública para oportunidade.
tal ação f o i que o artigo poderia ser Esse e o u t r o s incidentes indicam
t o m a d o mais a sério por causa da re- que a melhor tática d o jornalista é
putação de Bethe. Esse é u m dos publicar antes. Se você c o m o jornalis-
poucos casos de restrição prévia de ta pode descobrir a informação, é
publicação bem-sucedida nos Estados quase certo que qualquer agente de
Unidos. espionagem t a m b é m possa fazê-lo. A

194
censura é uma técnica através da qual versidades que restringiram a inscri-
os inimigos de u m país freqüente- ção em certas aulas de engenharia e
mente sabem mais sobre as forças e ciência de computadores para estu-
fraquezas dos E U A dos que os cida- dantes americanos.
dãos. Se você conseguir acesso a ma- Erwin K n o l l , editor do The Pro-
terial confidencial e decidir que a pu- gressive, c o m p i l o u uma lista de ou-
blicação não irá ferir a segurança na- tros esforços de censura: u m aviso à
cional, não se vanglorie na matéria Scripps-Howard News Service de que
impressa por ter visto material restri- este poderia ser processado sob o
to. Por que provocar algum burocrata A t o m i c Energy A c t de 1954 por re-
com a idéia de que de algum m o d o ceber documentos indicando que fal-
ele cometeu algum engano? Para o re- tava urânio nas instalações nucleares
lato completo do caso do The Pro- de Oak Ridge em quantidades sufi-
gressive, leia "The Progressive the cientes para construir 85 bombas;
Bomb and the Papers", de Bruce M. avisos de violações de leis de espiona-
Swain (1982). gem dadas a dois antigos especialistas
Na gestão do presidente Ronald da inteligência da A i r Force que desa-
Reagan muitos avanços no acesso pú- fiaram as explicações oficiais de co-
blico à informação reverteram nova- m o u m jato da Korean A i r Lines f o i
mente. A censura com propósitos de derrubado, e 9 dos 175 trabalhos de
segurança nacional e para inibir a tro- pesquisa sobre criptografia impugna-
ca de tecnologia comercialmente va- dos pela National Security Agency
liosa enrijeceu em muitas áreas da ci- ( K n o l l , 1984). Algumas propostas evi-
ência e tecnologia. Houve algumas in- tariam que estrangeiros viessem aos
dicações de que grande parte da ten- Estados Unidos para conseguir certos
dência para o sigilo veio do Depart- tipos de graduação em física e eletrô-
ment of Commerce, e dos militares. nica. As ações de 1983 f o r a m sufi-
De modo que a segurança nacional cientes para fazer com que a Ameri-
não estava envolvida. Science News can Association f o r the Advancement
descobriu que quase u m terço dos o f Science iniciasse u m projeto espe-
600 trabalhos não-confidenciais no cial de pesquisa sobre os efeitos po-
programa da Society o f Photo-Optical tenciais do sigilo sobre a condução da
Instrumentation Engineers para a pesquisa científica (Chalk, 1983).
reunião de San Diego foram cancela-
dos a pedido dos departamentos de
Controle de conferências
Defesa e Comércio (Greenberg,
de imprensa
1982). Visitas de cientistas russos fo-
ram canceladas e universidades e so- Dois outros mecanismos poten-
ciedades científicas sofreram pressões ciais de controle sobre o que é relata-
para restringir a participação em reu- do perdem a importância ao lado das
niões a "cidadãos americanos ape- restrições de segurança, que podem
nas". E houve relatos de algumas uni- ter efeito limitador sobre a informa-

195
ção c i e n t í f i c a o u médica que é trans- cement of Science. A maioria dos re-
m i t i d a aos cientistas e ao público. Os pórteres c o b r i u os tópicos apresenta-
analistas de redação c i e n t í f i c a Rae dos durante as conferências de im-
Goodell, d o M I T , e Sharon Dun- prensa ( D u n w o o d y , 1 9 7 9 b ) . Jerry
w o o d y , da University of Wisconsin, Bishop do The Wall Street Journal
se concentraram nas regras para o uso a d m i t i u para D u n w o o d y a maior par-
de conferências de imprensa e acesso te de seus pontos e reconheceu que a
a salas de imprensa para limitar os da- prática c o n t r i b u i para uma vida mais
dos e a f o r m a em que eles são obti- confortável, mas disse que a prática
dos pela imprensa. U m g r u p o seleto era mais obra dos repórteres do que
de jornalistas f o i convidado para o dos cientistas. O que é relatado, disse
que f i c o u conhecido c o m o a Asilo- Bishop, é menos notícias de ciência
mar Conference, onde os cientistas do que o que é a melhor história den-
elaboraram as diretrizes para m i n i m i - tre as de uma reunião de u m dia espe-
zar os perigos na pesquisa da recom- cial. Em o u t r o dia uma história simi-
binação d o D N A , o m é t o d o pelo qual lar poderia ser ignorada. Sem as con-
novo material genético é colocado ferências de imprensa, freqüentemen-
em células de bactérias para p r o d u z i r te realizadas por solicitação dos re-
insulina. U m embargo que a maioria pórteres, poucos repórteres iriam às
dos- repórteres aceitou passivamente, reuniões, disse Bishop (1980).
pelo privilégio de assistir, evitou que
procurassem pontos de vista alterna-
tivos e conflitantes aos apresentados Códigos de hospitais
pelos organizadores da conferência. O u t r o controle sobre o que os re-
Assim, os riscos de escape de mutan- datores de ciência p u b l i c a m reside
tes f o r a m enfatizados sob os pontos nos códigos hospitalares estabelecen-
de vista dos cientistas menos preocu- do a p o l í t i c a para liberar informação
pados c o m os perigos de bactérias fu- sobre pacientes. T a n t o a Colorado
gitivas. As diretrizes da conferência Hospital Association c o m o a S o u t h
foram virtualmente abandonadas pe- Carolina Hospital Association, e ou-
los N I H e universidades q u a n d o pro- tras profissões de serviço de saúde,
dutos comerciais pareceram possíveis procedem por regras de informação
5 partir dessas técnicas de Dio-enge- uniformes adotadas em seus estados.
iharia. Goodell c o n c l u i u que os jor- Na Primavera de 1981, The Denver
lalistas t o m a m c o m freqüência de- Post soube de u m bebê sendo opera-
nais o caminho mais fácil, escreven- do no útero da mãe numa tentativa
io a partir do que estiver disponível de prevenir a hidrocefalia, uma con-
>ara eles (Goodell, 1981). dição onde a pressão dos f l u i d o s so-
D u n w o o d y chegou praticamente à bre o cérebro pode retardar o desen-
nesma conclusão após analisar 800 v o l v i m e n t o mental. O j o r n a l desejava
listórias de uma reunião anual da detalhes c o m p l e t o s da operação. O
Vmerican Association f o r the Acivan- escritório de informações d o Centro

196
M é d i c o de Denver recebeu o r d e n s da r i a m , mas você geralmente p o d e
a d m i n i s t r a ç ã o d o hospital de não res- o b t e r o n o m e d o paciente, natureza
p o n d e r a perguntas. d o a c i d e n t e , localização geral dos fe-
Os m é d i c o s t a m b é m recusaram-se r i m e n t o s e sua natureza, u m a decla-
a c o o p e r a r , mas o j o r n a l o b t e v e u m a ração sobre o seu estado e o n o m e d o
cópia d o r e l a t ó r i o dos médicos, que m é d i c o . A i n f o r m a ç ã o se t o r n a m u i t o
não havia sido entregue a u m p e r i ó d i - mais l i m i t a d a o n d e existe e s t u p r o , in-
c o m é d i c o para p u b l i c a ç ã o . Os m é d i - toxicação ou doença mental. Onde o
cos recusaram-se a dar mais i n f o r m a - caso não é de registro p ú b l i c o , a per-
ções. U m apelo ao Code o f Coope- missão escrita para a liberação de
r a t i o n C o m m i t t e e da C o l o r a d o Hos- q u a l q u e r i n f o r m a ç ã o pode ser o b t i d a
p i t a l C o m m i s s i o n t r o u x e u m a deter- d o paciente.
minação de que o paciente havia se Os redatores de ciência d e v e m
t o r n a d o u m a pessoa p ú b l i c a p o r cau- o b t e r cópias d o p l a n o de liberação de
sa dessa operação p i o n e i r a e havia i n f o r m a ç õ e s de cada h o s p i t a l d u r a n t e
p e r d i d o o d i r e i t o de privacidade. Co- desastres naturais o u acidentes q u e
m o a comissão t i n h a poderes apenas e n v o l v e m m u i t a s pessoas. Os r e d a t o -
de aconselhar, os médicos e a d m i n i s - res de ciência quase c e r t a m e n t e serão
tradores d o h o s p i t a l ignoraram a de- e m p u r r a d o s para tal c o b e r t u r a n o t i -
t e r m i n a ç ã o . O t r a b a l h o dos m é d i c o s ciosa geral p o r q u e são mais f a m i l i a -
apareceu no N E J M treze meses após rizados c o m o pessoal dos h o s p i t a i s
a cirurgia. Esse i n c i d e n t e oferece u m d o que os o u t r o s m e m b r o s da e q u i p e .
e x e m p l o espetacular d o que p o d e
acontecer q u a n d o jornalistas p r o c u - Experiências
ram i n f o r m a ç õ e s hospitalares além da
rotina. 1. Obtenha cópias de códigos hospitalares
G e r a l m e n t e a i n f o r m a ç ã o será so- de sua área e prepare uma matéria sobre as
bre pacientes c o m p r o b l e m a s m é d i - políticas de informação dos hospitais para
seus leitores. Descubra um código unifor-
cos mais c o m u n s : f e r i m e n t o s p r o v o -
me para a associação hospitalar estadual e
cados por p r o j é t e i s , q u e i m a d u r a s , aci- o que envolve.
dentes de a u t o m ó v e l e similares. Os
redatores de ciência e m e d i c i n a de-
2. Entreviste ou convide como palestrante
vem o b t e r cópias da o r i e n t a ç ã o de ca- um cientista ou médico que discuta a In-
da h o s p i t a l para a liberação de i n f o r - gelfinger Rule e suas vantagens e deficiên-
mações. Esta geralmente é baseada cias. Como ele responderia à situação em
Denver? A demora de treze meses na pu-
nas recomendações da A m e r i c a n Hos-
blicação afetaria muitas crianças doentes?
p i t a l A s s o c i a t i o n . Elas estarão ajusta- Como você descobriria quantas?
das para se e n c a i x a r e m c o m várias
leis estaduais relativas á privacidade e 3. Contate a polícia de sua cidade e/ou
ao t i p o de i n f o r m a ç ã o que p o d e ser uma base militar próxima e peça uma có-
pia do regulamento que determina o aces-
liberado nos assim chamados casos de
so dos jornalistas às áreas de desastre, in-
registro p ú b l i c o . A s especificações va- cluindo quedas de aviões e acidentes indus-

197
triais. Os hospitais militares podem ter re- mas com segredos industriais ou informa-
gulamentações sobre liberação de informa- ção confidencial?
ção que difiram das dos hospitais civis.
Talvez você possa arranjar um palestrante 5. As universidades têm regras diferentes
entre seus contatos. sobre projetos de pesquisa classificada nos
campos por causa das dificuldades poten-
ciais de ter a pesquisa das faculdades publi-
cada. Quais são as orientações em seu
4. Selecione um tema para matéria e cha- campus? Você pode localizar cientistas
me administradores de laboratórios ou que encontraram dificuldades, inclusive re-
centro de pesquisas de sua cidade ou de visão a priorI, com a publicação de sua pes-
uma universidade. Você encontra proble- quisa?

198
Capítulo lu
Temas éticos na redação científica

COMO REDATOR DE CIÊNCIA VOCÊ ética a d o t a d o s p o r seus j o r n a i s , esta-


ENFRENTA UM NÚMERO m a i o r q u e ções de r á d i o - T V , revistas e redes. A l -
o c o s t u m e i r o de escolhas éticas q u e guns desses códigos p r o í b e m aceitar
a t o r m e n t a m os jornalistas. Essas po- viagens grátis, a l o j a m e n t o e a l i m e n t a -
d e m e n v o l v e r , p o r e x e m p l o , o subor- ção de u m a f o n t e n o t i c i o s a . U m dos
no, o f e r t a s de d i n h e i r o para a n u n c i a r códigos mais r í g i d o s , o d o Louisville
u m a droga. A l t o n Blakeslee, u m res- Courier Journal and Times, não per-
p e i t a d o r e d a t o r de ciências da Asso- m i t i r á q u e os repórteres a c e i t e m se-
ciated Press d u r a n t e m u i t o s anos, re- quer u m a refeição de cortesia. Os re-
l a t o u que lhe o f e r e c e r a m 1 7 . 0 0 0 d ó - datores d e v e m fazer a l g u m pagamen-
lares para m e n c i o n a r o n o m e de u m a t o . E m o u t r a s publicações, os a d m i -
droga c o m e r c i a l e m u m a de suas ma- nistradores e d i t o r i a i s sentem que ne-
térias. O d i n h e i r o seria pago indireta- n h u m redator maduro permitirá que
m e n t e e secretamente pelo f a b r i c a n t e alguns dólares de c o m i d a e b e b i d a
da droga ( C o m m u n i c a t i o n , 1 9 4 6 , 6 0 ) . grátis i n f l u e n c i e m o que escrevem.
V o c ê e n c o n t r a r á alguns lapsos p o r C o n t u d o , para evitar que surja algu-
parte dos v e í c u l o s , c o m o o f e z Eli- ma i n f l u ê n c i a indevida, cada vez mais
zabeth M . Whelan ( 1 9 8 4 ) . M a t e r i a l redatores c i e n t í f i c o s e suas p u b l i c a -
da A m e r i c a n M e d i c a i A s s o c i a t i o n e ções estão pagando suas despesas pa-
da A m e r i c a n A c a d e m y o f F a m i l y ra o s e m i n á r i o anual p a t r o c i n a d o pela
Physicians convenceu-a de que os edi- A m e r i c a n Câncer S o c i e t y para u m
tores da Time e Newsweek minimiza- n ú m e r o seleto de redatores dos p r i n -
ram os perigos d o f u m o nas matérias cipais v e í c u l o s de c o m u n i c a ç ã o . Os
para os s u p l e m e n t o s especiais de saú- seminários são realizados na véspera
de das revistas para evitar c o n f l i t o d o esforço anual de captação de re-
c o m os anunciantes de cigarros. cursos para o câncer e as redes locais
G e r a l m e n t e as práticas éticas de- f r e q ü e n t e m e n t e pagam parte das des-
senvolvem-se para ajudar a m a n t e r os pesas de enviar u m j o r n a l i s t a da sua
redatores e seus v e í c u l o s f o r a de con- área.
f l i t o s de interesses reais o u aparentes Essas reuniões, o n d e a A C S reúne
que possam c o m p r o m e t e r a acurácia redatores de ciência e m e d i c i n a c o m
e a veracidade de suas reportagens. especialistas em pesquisa e t r a t a m e n -
Para alguns redatores, as escolhas éti- t o de câncer, t ê m sido u m a t r a d i ç ã o
cas serão orientadas pelos códigos de de décadas na A C S . A l a n C. Davis, da

199
sociedade do câncer, defende a práti- atrás, ao objetarem as afirmações da
ca de reunir redatores e cientistas em ACS de que " u m em três pacientes
ambientes confortáveis no i n í c i o de que contraem o câncer é c u r a d o " .
novas linhas de descoberta. As trocas Geiger apontou que os redatores e
sociais e profissionais têm lugar numa editores devem pedir mais explica-
atmosfera relaxada. Jerry Bishop do ções quando tais afirmações são fei-
The Wall Street Journal considera tas porque estas dão ao leitor médio
que as ocasiões estenderam as confe- a idéia de que as vítimas de qualquer
rências de imprensa e afirma que elas espécie de câncer que t ê m tal chance
agora contêm menos notícias cientí- de sobreviver cinco anos são conside-
ficas ao que em anos anteriores. Diz radas curadas. Na realidade, os cânce-
Bishop, "nunca estive numa confe- res ocorrem em muitas formas e ti-
rência de imprensa que tenha sido pos, observou Geiger, e essa estatísti-
convocada para benefício da impren- ca de sobrevivência é o p r o d u t o da
sa, tenha sido ela organizada pela Ca- média de todas as taxas de sobrevi-
sa Branca, Merck, Harvarò, U C L A ou vência. Juntar a média m u i t o alta de
pelo Departamento de Bombeiros sobrevivência de u m t i p o de câncer
V o l u n t á r i o s " . Ele não se sente obri- de pele com a taxa m u i t o baixa do
gado a ir ou escrever uma matéria a câncer dos pulmões, por exemplo,
não ser que algo novo seja apresenta- engana. Mas esses truques estatísticos
do. Os benefícios para a ACS são ir- c o n t i n u a m a ser explorados em várias
relevantes. O falecido Pat McGrady, ocasiões, e a boa prática ética e pro-
que iniciou os seminários, disse que fissional pede que você peça detalhes
os palestrantes dos seminários origi- todas as vezes que alguém lhe fornece
nalmente eram escolhidos por seu va- u m número " m é d i o " . Provavelmente
lor noticioso, mas seu sucesso levou ele é enganoso para você e seus leito-
os administradores da ACS a assumir res (Peterson e Geiger, 1962).
mais a direção e especificar quais pa-
lestrantes poderiam ser convidados.
Na medida em que o conteúdo noti- Conflitos de interesse
cioso decaiu, McGrady disse ter pe- Aceitar uma viagem e despesas fre-
dido para sair da organização dos se- qüentemente significa a diferença en-
minários anuais (Davisef al., 1978). tre obter uma matéria e não obtê-la,
U m risco do contato prolongado para alguns redatores. As grandes or-
pode ser conduzir os redatores para ganizações de comunicações t ê m a
um pensamento não-crítico e afastá- verba de despesas para pagar por
los de pontos de vista adicionais. O qualquer cobertura. Isso não é válido
Dr. Osler L. Peterson e Dr. H. Jack para os jornais, revistas e estações de
Geiger (redator de ciência antes de rádio e televisão pequenas, onde a
entrar para a escola de medicina) cha- maioria dos jornalistas iniciantes co-
maram a atenção para esse risco da meça. Os free-lancers também perde-
aceitação não-crítica, vários anos riam oportunidades de matérias e a

200
chance de, às vezes, obter novas ex- m o nos campos de ciência e medici-
periências sem assistência das fontes na. Alguns free-lancers farão trabalho
de informação. Essas fontes, obvia- de relações públicas e escreverão tex-
mente, t ê m u m interesse em obter tos de publicidade. Isso exige uma vi-
publicidade em troca de pagar todas são clara de nossa própria integridade
o u parte das despesas do redator. E c o m o redator e a compreensão de
alguns redatores t ê m a reputação de exatamente que espécie de trabalho
viver bem e t o m a r t u d o que podem você está fazendo em qualquer mo-
obter de tais viagens. O u t r o s redato- m e n t o dado. M u i t o s redatores se re-
res disseram que reagem c o m hiper- cusam a tocar textos de publicidade e
c r i t i c i s m o , às vezes, para mostrar sua promocionais. Por causa de c o n f l i t o s
independência. E o pessoal de rela- aparentes ou reais e da c o m p e t i ç ã o ,
ções públicas, cujos orçamentos com- muitas publicações não p e r m i t i r ã o
p o r t a m essas mordomias, p o d e m não que seus redatores de equipe façam
convidar novamente u m redator se trabalho free-lancer. Outras compa-
uma matéria desagradar seus chefes. nhias l i m i t a m o trabalho para fora a
O redator não pode apagar todos os livros o u veículos não-competitivos.
pensamentos sobre tais possibilida- O u t r a escolha delicada para os re-
des. E n t r e t a n t o , o c o n t r a t o social es- datores de ciência envolve saber exa-
tá estabelecido entre o redator, o edi- tamente de que publicações aceitar
t o r e o leitor. Obter a reputação de encomendas de matérias. A Pfizer,
jornalista facilmente comprável difi- por e x e m p l o , p a t r o c i n o u a distribui-
c i l m e n t e ajudará a sua reputação o u a ção de America's Health, uma revista
de sua publicação. Considerações prá- orientada para o c o n s u m i d o r da
ticas reforçam a idéia de que escrever W o r l d Wide Medicai Press, Inc. Em-
para publicação sempre envolve julga- bora t a n t o a Pfizer c o m o o publisher
m e n t o e e q u i l í b r i o . U m dos marcos declarem não haver qualquer influên-
de orientação do redator deve ser o cia sobre o c o n t e ú d o da revista, exis-
conselho do f i l ó s o f o A l b e r t Camus, te a possibilidade de que u m redator
de que não devemos mentir sobre o pudesse ser identificado c o m u m in-
que sabemos. teresse comercial. Sua reputação de
Os free-lancers t ê m mais assuntos imparcialidade poderia sofrer.
para decidirem por si mesmos do que O free-lancer t a m b é m poderia ter
os redatores de equipe, que t ê m o be- a o f e r t a de dois cheques pela mesma
n e f í c i o das políticas estabelecidas matéria. U m a companhia ou institui-
por seus editores e códigos de ética. ção pode oferecer u m cachê para pes-
Mesmo os redatores de equipe enca- quisar e escrever uma matéria e per-
ram essas decisões quando fazem m i t i r que o redator venda a mesma
free-lancer em parte d o t e m p o , c o m o ao editor de uma revista o u jornal.
ocorre c o m m u i t o s redatores de ciên- Redatores de viagens encontram isso
cia. Poucas pessoas podem viver intei- c o m m u i t a freqüência. Em tal situa-
ramente de matérias free-lancer, mes- ção, seu editor deve saber os deta-

201
lhes sobre o acordo, incluindo quais- preender as políticas da companhia
quer bônus por colocar tal história sobre o uso de informações para ga-
numa publicação específica. Então o nhos pessoais, enquanto se faz "traba-
editor tem a decisão sobre se tal his- lho c o n t r a t a d o " como membro pago
tória entra em c o n f l i t o ou não com a da equipe. Algumas organizações no-
ética do editor ou política da compa- ticiosas p r o í b e m retirar informação
nhia. A revelação de tal acordo não reunida para uma história da equipe,
deve vir como surpresa para o editor dando-lhe uma nova tendência e ven-
depois da publicação. Alguns editores dendo a história revista para outra
e redatores insistem em incluir em publicação, mesmo uma não-compe-
suas histórias u m parágrafo explican- tidora. Isso, como em muitas outras
do que o redator f o i convidado da situações invocando esses problemas
f o n t e noticiosa enquanto reunia o de ética m u i t o pessoais, parece exces-
material. sivo a outros redatores. Os fatos,
Alguns editores aceitam o c o n f l i t o mantêm eles, não se t o r n a m proprie-
de interesses, se estes são revelados dade exclusiva de uma companhia e
aos leitores. Entretanto os redatores quando redatores fazem matérias du-
de ciência criticaram a Associated rante seu próprio t e m p o , deveriam
Press por uma série em dez partes so- ser livres para vender esse p r o d u t o de
bre câncer, escrita por A l t o n Blakes- seu esforço criativo. U m redator do
lee, u m membro aposentado da equi- New York Times entrou em disputa
pe da AP. Blakeslee escreveu a série com sua companhia porque seu livro
c o m o consultor pago pela American f o i aceito por u m competidor da divi-
Câncer Society. A AP pediu para ver são de publicação de livros do Times.
os artigos e vendeu a série aos jornais Esses e outros exemplos levam os re-
sem lhes contar que Blakeslee f o i pa- datores a se perguntar quão profun-
go pela American' Câncer Society, damente a política da corporação de-
fonte da maior parte da informação. ve intrometer-se nas decisões éticas e
A decisão mereceu protestos tanto de financeiras pessoais. Enquanto o re-
Blakeslee quanto da ACS, mas os edi- dator produz as histórias solicitadas
tores da AP preferiram identificar o pela empresa, deve ter a escolha livre
autor como " t r a z i d o da aposentado- do uso de seu tempo?
r i a " para a ocasião. ( ' B l o o m , 1979). Uma questão financeira mais te-
Esses conflitos potenciais demons- naz aflige os especialistas t a n t o de ci-
tram que muitas publicações prefe- ência c o m o de comércio. Trata-se do
rem ter redatores de equipe fornecen- uso de suas oportunidades para des-
do todos os seus textos. cobrir informações prévias sobre uma
companhia e lucrar com isso em ne-
gócios ou investimento em ações. Os
Ganho financeiro pessoal redatores de ciência e comércio tra-
Redatores de ciência que perten- balham no principal nível de planeja
cem à equipe devem também com- mento dos negócios e da alta tecnolo-

202
gia. Os redatores de serviços telegrá- quais você escreve, e muitos redato-
ficos e jornais e revistas nacionais sa- res permanecem voluntariamente fo-
bem que uma matéria favorável ou ra do mercado. Outros redatores con-
desfavorável afetará os preços das sideram que o modo pelo qual qual-
ações à medida que os subscritores quer ação irá se mover é arriscado, no
compram ou vendem suas ações de- melhor dos casos, e não vêem quais-
pois de lerem a matéria. Os redatores quer problemas em possuir ações e
de ciência sabem que são bajulados especular. Recomendar ações especí-
por alguns fabricantes de drogas com ficas, entretanto, poderia forçá-lo a
a esperança de aumentar o mercado ser registrado c o m o agente sob as re-
de ações. Os cientistas e médicos que gras da Securities and Exchange
investigam a eficiência de drogas de- Commission. Comprar e vender ações
frontam-se com tentações similares. baseado, em informações prévias des-
U m relatório r u i m sobre os efeitos se t i p o poderia deixá-lo vulnerável a
colaterais de uma droga, por exem- acusações de "insider trading", em-
plo, pode fazer as ações caírem. E os bora o SEC não seja uma força de
redatores de ciência e comércio têm sanção escrita. Como quaisquer con-
informações prévias e oportunidades troles o u licenças do SEC sobre uma
de chamar seus corretores antes que a publicação, tais como u m boletim
matéria apareça. Bishop, d o The Wall noticioso sobre investimentos, amea-
Street Journal encontrou analistas de çam violar garantias Constitucionais
ações em conferências de imprensa e da liberdade de imprensa, a ética pes-
reuniões científicas. Também conta soal pode ser o único guia aqui. Mas
a história dos 300 milhões de dólares há tentações potencialmente crimi-
em ações da Merck & Co. mudando nosas também; u m redator de comér-
de mãos na véspera de um press re- cio t e r m i n o u na prisão por procurar
lease prévio ser impresso. Freqüente- pagamento para reter uma matéria
mente os analistas estão em listas de desfavorável.
mala-direta que lhes possibilitam
obter cópias adiantadas de periódicos
científicos e outros materiais. O u t r o Ética das publicações
repórter do Wall Street Journal obte- Os administradores de publicações
ve de u m analista de ações o t e x t o às vezes precisam olhar para seus pró-
completo de uma pesquisa clínica fa- prios padrões éticos. A Science 83 in-
vorável dois meses antes de sua data cluiu anúncios classificados que pro-
de publicação. Existem suspeitas de metem graduação colegial pelo cor-
que o pesquisador e o analista tives- reio e diplomas sem aulas. Isso pare-
sem esperanças por uma boa matéria ce uma notícia estranha numa revista
para levantar o preço das ações (Bi- patrocinada pela American Associa-
shop, 1981). t i o n for the Advancement of Science,
Algumas publicações proíbem cujos membros são tão cuidadosos
possuir ações nas empresas sobre as sobre o caráter original de seus pró-

203
prios credenciados e de seus colegas. nos para trás o mais rápido possível.
A publicação de u m anúncio não é A relutância em corrigir erros é uma
necessariamente o endosso de u m das razões por que muitos leitores di-
p r o d u t o , mas o leitor poderia se per- zem que não confiam em jornalistas.
guntar o que mais a publicação acha- A possibilidade de imaginar uma cor-
ria aceitável. Anúncios de remédios reção pode temperar alguns saltos
questionáveis, assim como terapias e apressados a conclusões. The At/anta
aparelhos, aparecem regularmente Journal and Constitution a d m i t i u er-
nos jornais. ro em associar a radiação de uma usi-
Os veículos de comunicação fre- na nuclear do Rio Savannah a uma
qüentemente atraem críticas pela bai- doença do sangue rara e fatal, que
xa velocidade e espírito rancoroso não tinha qualquer elo conhecido
com que reconhecem o erro. É m u i t o com a radiação como causa. Os reda-
mais fácil agora obter uma correção tores confundiram a doença fatal
do que no passado, exceto em casos com outra menos séria, cuja incidên-
envolvendo um libelo potencial. Mas cia na população estava dentro das
muitos redatores e editores parecem normas esperadas.
relutantes em admitir que são huma-
nos e erram. A natureza técnica da
maioria das matérias de ciência torna Contar o que você sabe
os redatores de ciência especialmente Cada redator de ciência é solicita-
vulneráveis. O The New York Times do a enterrar uma história uma vez
levou mais de três meses para reco- ou outra. Geralmente a solicitação
nhecer uma interpretação errônea nu- vem de cientistas que o previnem pa-
ma matéria sobre matemática apesar ra não escrever sobre os relatórios de
de matemáticos terem chamado a u m deles. O redator t e m a escolha,
atenção do Times para o fato. Os ma- uma vez que há mais para se escrever
temáticos ficaram aborrecidos, prin- sobre ciência do que a maioria das
cipalmente porque a matéria se espa- pessoas jamais terá t e m p o de publi-
lhou pelo país por meio da distribui- car. A ocasião para tal solicitação
ção dos serviços telegráficos. Quando ocorre, geralmente quando alguma
finalmente publicada, a concessão de nova interpretação é fornecida a da-
erro estava enterrada seis parágrafos dos antigos ou uma nova teoria é pro-
após o i n í c i o de uma nova matéria posta. Não há respostas firmes, mas
cujo golpe era de que os matemáticos os redatores de ciência respeitados
americanos estavam agora dizendo tendem a ser libertários. Imprimirão
que a descoberta matemática era me- o tema se f o r interessante para os lei-
nos significativa do que parecia antes. tores em geral e deixarão os cientistas
Exceto para correções exigindo os ponderarem sobre seu conceito mais
conselhos de u m advogado, tais como tarde. A verdade geralmente sairá por
em caso de libelo, parece haver pou- si mesma e irão escrever sobre a bata-
ca razão para evitar colocar os enga- lha enquanto esta ocorre. E se o as-

204
sunto não passa pelo teste do debate, Pergunte se o que f o i p r e d i t o está no
deixarão de escrever a respeito. Os re- campo da especialidade dos pesquisa-
datores de ciência tendem, ao menos dores e, além disso,se o campo de ciên-
sob esse assunto, a concordar c o m o cia possui as técnicas para que o re-
Dr. Barry C o m m o n e r , o ambientalis- sultado seja confiável. Colocada a vá-
ta, que incentiva você a se lembrar rios cientistas, essa pergunta deve
que a mãe-natureza sempre t e m o úl- permitir-lhe saber se tal n o t í c i a ba-
t i m o lance. seada em previsão t e m apoio geral ou
Os cientistas não estão sempre cer- se é teoria de u m o u alguns poucos
tos. Earl Ubell (Communication, pesquisadores. Dessa maneira sua his-
1964, 36) lembra-se que o p r i m e i r o tória pode ser ponderada pelo con-
cientista a apontar vírus c o m o causa senso. Mas não há chance de que avi-
de leucemia "quase f o i esfolado vi- so sobre saúde pública e segurança se-
v o " numa reunião c i e n t í f i c a . Ubell jam ignorados.
f o i pressionado a ignorar o relatório A l g u m j u í z o c r í t i c o é inevitável.
d o cientista. Pouco depois a pesquisa J o h n Lear, antigo editor de ciência
d o cientista recebeu o Prêmio Kalin- na Saturday Review, certa vez obteve
ga das Nações Unidas, e a maioria dos uma carta assinada por sete cientistas
pesquisadores d o câncer estava se- eminentes, incluindo u m vencedor de
guindo a t r i l h a d o vírus. A ciência e a Prêmio Nobel, protestando contra a
medicina freqüentemente seguem possibilidade de que meteoritos te-
modas, algumas das quais, c o m o as nham escavado as bacias oceânicas há
sangrias, p o d e m durar u m século o u m u i t o s e m u i t o s anos. Lear a p o n t o u
mais. Às vezes os cientistas desco- que enquanto o u t r o s cientistas pode-
brem que c o n s t r u í r a m suas carreiras riam discordar, as credenciais d o pes-
sobre idéias desacreditadas o u fora de quisador eram tão boas q u a n t o as de-
moda e teorias que defendem até se- les e que o respeitado periódico bri-
rem forçados a abandonar. t â n i c o Nature p u b l i c o u o trabalho d o
Por que e c o m o você deve mode- h o m e m . " N ã o há nenhuma teoria
rar essa tendência a i m p r i m i r ? As dú- aceita", escreveu Lear (1962, 41).
vidas p o d e m permanecer mesmo de- Similarmente, os antropólogos fus-
pois de determinar que uma pesquisa tigaram o The New York Times por
ou uma interpretação vai ao e n c o n t r o escrever sobre u m artigo, retirado de
de t o d o s os testes sugeridos antes. A s periódico e r u d i t o , acusando os espe-
previsões de desastre, por e x e m p l o , cialistas em Astecas de encobrirem a
vão ao e n c o n t r o de todos os testes de extensão do canibalismo na antiga so-
valores noticiosos. Quando uma agên- ciedade. U m c r í t i c o manteve que
cia do governo emite u m release noti- mesmo se u m periódico respeitado
cioso, c o m o a U.S. Geological Survey trazia o artigo, isso não significava
fez em 1979, sobre indicações de u m que seria apropriado para o jornal
t e r r e m o t o potencial, você não pode passar esses pontos de vista para o
simplesmente jogar o anúncio fora. público. O debate no periódico erudi-

205
t o estava bem, mas " n ã o na imprensa dade da pesquisa e do pesquisador.
popular onde as pessoas t e n d e m a Sua matéria f o i protegida por qualifi-
acreditar- em qualquer coisa que cativos. Estudos posteriores, entre-
l e i a m " , disse u m a n t r o p ó l o g o (Rens- t a n t o , não verificaram os resultados.
berger, 1977, sec. 2, 2 3 ) . E m b o r a dis- Ele suspeita que o relatório f o i passa-
postos a dar publicidade às lutas de d o para ele por entusiastas da droga
outras pessoas, os jornalistas podem c o m o cura milagrosa ( 1 9 7 8 ) .
não fazer publicidade demasiada so-
bre suas próprias escaramuças éticas. O colunista B o b Green (1982) irá
Quase ninguém escreveu sobre u m ar- lamentar por longo t e m p o ter deixa-
tigo de pesquisa indicando que arti- do de disfarçar adequadamente o no-
gos de j o r n a l dando publicidade a as- me de uma estudante secundária cujas
sassinatos-suicídios por pilotos de iniciais verdadeiras í i s o u n u m a maté-
aviões parecem inspirar assassinatos- ria sobre seus problemas c o m a droga.
suicídios adicionais (Phillips, 1978). Suas amigas rapidamente identifica-
Os jornalistas de ciência p o d e m ter ram-na e colocaram-na n o ostracismo
raciocinado que não havia meios de para seu desespero pessoal. A partir
s u p r i m i r as matérias sobre qualquer dessa e outras experiências, diz ele,
assassinato-suicídio; assim, por que se aprendeu a ajudar aqueles que não sa-
t o r t u r a r a respeito? bem o suficiente sobre os efeitos da
A maioria dos jornalistas, sem publicidade para se defenderem. A l -
qualquer o u t r a razão compulsiva, se gumas vezes os redatores seguem ou-
alinhará c o m Bishop, d o The Wall tras razões para a autocensura. Co-
Street Journal quando solicitada a m o g r u p o , os redatores de ciência
manter informação c i e n t í f i c a fora de atendem às solicitações de nenhu-
publicação. " O s repórteres de ciência ma publicidade dos pesquisadores d o
não devem se meter a avaliar pesquisa sexo W i l l i a m Masters e Virgínia J o h n -
c i e n t í f i c a ; não éseu papel serem cole- son-Masters, mesmo e n q u a n t o esta-
gas revisores.. . O repórter que tenta vam p u b l i c a n d o seus relatórios deri-
t o m a r esse t i p o de decisão torna-se u m vados de medir e fotografar a relação
pregador, u m moralizador, não u m sexual humana. Matérias sensaciona-
r e p ó r t e r " ( 1 9 8 1 , 20). listas poderiam ter sido escritas a par-
Você vive c o m seus enganos. t i r da literatura aberta, mas os reda-
Harry Nelson, editor médico d o Los tores de ciência evidentemente senti-
Angeles Times, sabia instintivamente ram a necessidade de proteger a pes-
q u e não devia ter f e i t o uma matéria a quisa de ataques se a natureza exata
partir de u m relatório d o M e m o r i a l do p r o j e t o se tornasse amplamente
Sloan-Kettering Institute dizendo conhecida. Portanto, os redatores de
que uma droga suspeita usada no tra- ciência podem e deverão exercer au-
t a m e n t o d o câncer realmente de- tocensura, mas querem passar o julga-
m o n s t r o u alguma eficiência. V e r i f i - m e n t o , b o m o u r u i m . Faz parte d o
cou todos os indicadores de legitimi- aprendizado ver a si mesmo c o m o

206
jornalista, e não como educador o u propósitos ao invés de separar mate-
cientista. Algumas vezes você estará rial para o público geral de material
errado. de auto-serviço, u m sinal de precau-
ção colocado por John L. H u l t i n g d o
A ética nas escolhas The Boston Globe em seu manual so-
bre princípios éticos para a American
Outra questão de ética tem a ver
Society o f Newspaper Editors (1983).
com o padrão de suas escolhas de ma-
térias para reportagem. Escolher es- Isso pode ser interpretado c o m o
crever regularmente sobre o bizarro, se você se envolvesse em uma causa
i n c o m u m , o excepcional em ciência e onde o propósito é mais abertamente
medicina mostra aos leitores o que p o l í t i c o do que para o bem geral. Por
você ou seus editores pensam ser im- o u t r o lado, alguns críticos da impren-
portante em ciência. Se esses leitores sa censuram os veículos por não dis-
concordam ou não com você é o u t r a porem de u m raciocínio o u filosofia
coisa. Pode-se afirmar que tais esco- clara para os tipos de matérias que es-
lhas depreciam a ciência. colhem. Esses críticos querem que os
veículos operem mais por propósitos
Você deve apoiar grupos comuni-
educacionais o u de responsabilidade
tários a exporem seus pontos de vista
social. O Dr. Gene Burd da Universi-
para o bem da sociedade? O redator
t y of Texas em Austin analisou u m
de ciência free-lancer David R.
jornal metropolitano em busca de
Z i m m e r m a n (1979) questiona se os
evidências de jornalismo preventivo
redatores de ciência devem ou não
em medicina, matérias dando histó-
envolver-se e às suas publicações mes-
rias educacionais aos leitores sobre
m o em atividades tais c o m o histórias
c o m o prevenir problemas ou lidar
educacionais envolvidas com contro-
com situações tais como o stress. Em-
le de natalidade, hábito de f u m a r ,
bora a quantidade de espaço para no-
dietas de baixo colesterol e todas as
tícias de medicina e saúde devotada à
outras campanhas de organizações
saúde preventiva (17%) tenha surpre-
voluntárias. Por natureza, essas são
endido Burd, a maior parte deste pro-
como todas as campanhas de relações
vinha da coluna de saúde de Jane E.
públicas, não-críticas, tediosas e cha-
B r o d y , distribuída pelo The New
tas. Há razões suficientes para que os
York Times, ou outros redatores de
jornalistas as ignorem, diz Zimmer-
fora. M u i t o pouco t e x t o de saúde
man. Além disso, essas campanhas
preventiva vinha do redator de medi-
usam os veículos para um cliente de
cina e saúde do jornal sobre temas lo-
relações públicas parcialmente o u
cais (Burd, 1981).
completamente o c u l t o e representam
a promoção de u m interesse especial Isso oferece uma visão de aborda-
tanto quanto esclarecimento. Quan- gem filosófica a uma cobertura de
do você ou seu veículo se alistam em ciência e medicina. O u t r o redator,
tais campanhas, podem ter sido co- trabalhando com uma percepção di-
optados pelos promotores para seus ferente de notícias científicas, pôde

207
explorar os efeitos potenciais do ape- Joseph Skaggs, um instrutor de co-
lo do Papa João Paulo II em novem- municações de massa na School of
bro de 1983 para que os físicos aban- Visual Arts em Nova Iorque, enganou
donassem a pesquisa para armamento u m repórter crédulo da United Press
militar. Cinco meses depois, nenhu- International com uma conferência
ma publicação do mundo havia anali- de imprensa artificial e releases noti-
sado o efeito. Não teria o possível ciosos sobre hormônios de uma su-
efeito da persuasão moral se registra- perbarata que curava alergias e ou-
do com os redatores de ciência como tros problemas. Uma verificação roti-
uma matéria além do evento da de- neira pelos indicadores discutidos
claração do Papa? aqui e antes teria descoberto uma
universidade não-existente como pis-
ta de que as coisas não eram confor-
Fraudes na redação científica me apresentadas. Mas a UPI não f o i a
Há profundas explorações filosófi- única enganada. Uma coleção de re-
cas disponíveis sobre o que causa cortes mostrou que aproximadamen-
fraudes na ciência, mas a maioria dos te cem jornais usaram a história. Uma
repórteres científicos não as encon- das armadilhas em ciência é que suas
trarão na cobertura das notícias diá- descobertas são tão grandes que qua-
rias. Uma fraude simples, talvez ino- se qualquer coisa soa possível (Mc-
cente, é u m evento mais provável. Po- Donald, 1981).
de ser sobre você ou sobre o leitor na 0 jornalismo está m u i t o além do
pressa da publicação o u transmissão t e m p o , em 1913, quando Joseph
eletrônica. A edição de j u l h o de 1983 Knowles e Michael McKeogh levaram
da revista Omni trazia uma matéria uma proposição ao Boston Post.
pretendendo ligar o uso humano pré- Knowles viveria praticamente nu, na
histórico do símbolo da suástica a floresta, por dois meses, c o m o uma
uma pesquisa mostrando que tal pa- experiência " c i e n t í f i c a " de sobrevi-
drão poderia ter sido f o r m a d o no céu vência, vestindo-se com peles de ani-
pelo gás de u m cometa ou o u t r o mais e comendo nozes, frutinhas, raí-
objeto celestial encontrando campos zes, peixe, patos selvagens e veados.
magnéticos no espaço. U m dos dois McKeogh escreveria as matérias a par-
investigadores com crédito pela des- tir de mensagens que Knowles rabis-
coberta disse que a pesquisa não indi- caria com carvão em cascas de bér-
cava tal conclusão. Além disso, os tula. Infelizmente era t u d o falsifica-
dois homens não haviam trabalhado ção. A pele de urso de Knowles tinha
juntos por muitos anos, implicando dois buracos de balas e ele f o i visto
que algum trabalho m u i t o antigo ha- entrando na cabana de McKeogh on-
via se introduzido na imprensa como de reinava u m chefe de cozinha (Car-
notícia fresca (Oslo, 1983). son, 1981). Essa era uma época em
Por o u t r o lado, você pode ser en- que a fraude médica e científica tam-
ganado — e enganar seus leitores. bém reinava. Elas c o n t r i b u í r a m mui-

208
t o para a desconfiança entre a ciên- guiar os não-cientistas na avaliação
cia e os meios de c o m u n i c a ç ã o , c o m d o i m p a c t o de novas descobertas. Es-
estes f r e q ü e n t e m e n t e se revelando colher a coisa certa a fazer n u m a de-
u m c ú m p l i c e disposto. Seja c é t i c o a mocracia deve levar, c o m o avisa o
respeito de histórias que pareçam pesquisador Daniel Y a n k e l o v i c h , a
boas demais para serem verdadeiras; q u e os cientistas r e d u z a m seu isola-
c o m f r e q ü ê n c i a , não o são. m e n t o e a p r e n d a m u m a disciplina
T a n t o a f r a u d e médica q u a n t o a mais c o n f u s a , c o m o lidar c o m o a t o
c i e n t í f i c a ainda estão p o r aí. A chave de fazer p o l í t i c a p ú b l i c a na arena
para a f r a u d e reside no segredo. A ci- aberta. T a m b é m serão necessários
ência, o j o r n a l i s m o e o g o v e r n o con- jornalistas dispostos a aprender e
d u z i d o s e m segredo, não desafiados, c o m p r e e n d e r o que esses cientistas
o f e r e c e m chances demais para abuso estão f a z e n d o se o p ú b l i c o fizer esco-
de c o n f i a n ç a . Rex B u c h a n a n , u m re- lhas racionais. Y a n k e l o v i c h escreve:
d a t o r de ciência e professor de reda- " M a i s cedo o u mais t a r d e as decisões
ção c i e n t í f i c a vê a necessidade d e os que d e t e r m i n a m a nossa sobrevivên-
jornalistas m a n t e r e m algo da posição cia deverão ser endossadas pelo elei-
adversária c o m os cientistas sem alie- t o r a d o " ( 1 9 8 4 , 12).
narem as f o n t e s de i n f o r m a ç ã o cien- A n t e s de aceitar c o m a n i m a ç ã o
t í f i c a . Isso exige c o m u n i c a ç ã o aberta excessiva a a r b i t r a g e m dos assuntos
e t o l e r a n t e c o m os cientistas ( 1 9 7 9 ) . p ú b l i c o s pelos cientistas, os jornalis-
tas p o d e r i a m m u i t o b e m se lembrar
dos avisos d o f a l e c i d o Polykarp
V o c ê é envolvido?
K u s c h , f í s i c o e vencedor de P r ê m i o
P o d e m ser levantadas questões, Nobel:
t a m b é m , sobre a ética d o não-envol-
v i m e n t o , t a n t o para cientistas c o m o A ciência não pode fazer um grande
para redatores de ciência. Essa é a número de coisas, e assumir que a
p o s t u r a que alguns cientistas a d o t a m , ciência pode descobrir uma solução
que não aceita responsabilidade pelos técnica para todos os problemas é
caminho para o desastre. . . A ciên-
usos f e i t o s de suas descobertas. Os
cia, em si mesma, não é a fonte dos
jornalistas estão sob ataque t a n t o p o r padrões éticos, da visão moral, da
sua n e u t r a l i d a d e na r e p o r t a g e m c o m o sabedoria que é necessária para fa-
p o r serem p a r t i d á r i o s . U m a sociedade zer julgamento de valor, embora se-
de leitores e espectadores sentindo-se ja um ingrediente importante para
fazer julgamento de valor. Um nú-
confusa e incapaz de separar assuntos
mero desanimador de cidadãos acre-
a l t a m e n t e técnicos d i f i c i l m e n t e p o d e dita que cabe ao cientista fazer o
ser culpada p o r olhar o cientista co- julgamento, como se ele tivesse um
m o f r i o e o jornalista c o m o confuso, conjunto especialmente válido de
valores (Kusch, 1961, 3).
e a m b o s , n o m e l h o r dos casos, igual-
m e n t e i m p o t e n t e s q u a n d o seus rela-
t ó r i o s não t ê m m a t e r i a l q u e p o d e r i a

209
A pseudociência nos veículos sas drogas milagrosas oferecem ape-
de comunicação nas dois exemplos. Os repórteres ge-
A grande quantidade de falsa ciên- rais assim como os de ciência devem
cia ocupando t e m p o e espaço nos ser céticos sempre que alguém os
veículos de comunicação é assunto aborda com afirmativas de " c u r a "
de preocupação imediata dos cientis- através de alguma f ó r m u l a o u apare-
tas e redatores de ciência. Os admi- lho exclusivo e secreto, u m simples
nistradores dos meios de comunica- método de alívio, testemunhos vagos
ção se preocupam sobre a credibilida- de pessoas cuja identidade plena não
de dos meios enquanto exercem mui- pode ser estabelecida o u alguma solu-
t o pouca influência sobre o conteúdo ção especial dietética o u nutricional.
que os leitores educados e conhece- Outra pista para u m jogo de confian-
dores, assim c o m o os espectadores ça é quando a promoção repousa em
afirmam ser de valor d ú b i o , no me- limpar o corpo de venenos njio-espe-
lhor dos casos. Os horóscopos diários cificados.
e o u t r o material de astrologia ofere-
Os redatores devem ser prevenidos
cem o mais notável exemplo dessa es-
de que estão por tomar parte em prá-
pécie de material. Sua publicação po-
ticas não-éticas se a f o n t e de notícias
de ser justificada pelo fato de que mi-
alega aprovação da F o o d and Drug
lhões de pessoas acreditam em horós-
A d m i n i s t r a t i o n ; a lei federal não per-
copo e exigem-no de seu jornal ou
mite sugerir a aprovação da F D A no
comprarão o u t r o . Os valores de en-
marketing. Cuidado, p o r t a n t o , com
tretenimento também proporcionam
afirmações de que a F D A , o esta-
u m raciocínio para a publicação dos
blishment médico ou as conhecidas
horóscopos. Entretanto, isso enfra-
fundações de doenças estão em algu-
quece o caso dos veículos quando
ma conspiração para reter informa-
procuram impor respeito na base da
ções ou a aprovação do assim chama-
acurácia e seriedade de propósitos.
do tratamento. Freqüentemente essas
Os meios de comunicação são vul-
promessas estão envolvidas por uma
neráveis também, em terreno ético, à
confusão de termos vagos de sonori-
publicação de uma grande variedade
dade científica que a u m exame na-
de assuntos de moda, de medicina e
da significam. Isso ajuda o charlatão
saúde, sem buscar informação adicio-
negar ter f e i t o quaisquer promessas
nal, especializada. Periodicamente,
quando a lei começa a perceber a pa-
por exemplo, os meios de comunica-
tifaria.
ção trarão matérias sobre pessoas que
saciam as suas vontades em tentativas Os médicos charlatães usam os re-
exóticas para curar qualquer t i p o de datores e o público ao negociar uma
doença crônica. Sentar-se em antigas transferência de confiança, uma tare-
minas de urânio para absorver radia- fa tornada mais fácil por algumas das
ção ou voar para algum país estran- bem divulgadas práticas médicas e
geiro para tomar injeções de misterio- econômicas de hospitais e médicos. A

210
tática incluiu comparações de custo, das para apoiar a esperança e susten-
tratamentos i n t r o d u t ó r i o s grátis, afir- tar o charlatanismo. Cuidado c o m
mações de que todos os médicos são afirmações t a n t o científicas q u a n t o
açougueiros ou envenenam os pacien- médicas que dependem de percep-
tes, dizendo aos crédulos que os pra- ções sensoriais; os sentidos podem ser
ticantes da medicina convencional es- enganados c o m o qualquer mágico po-
tão " o c u p a d o s demais" para dar ple- de testemunhar. Insista em ver os da-
na atenção a uma condição, e uma dos de teste reunidos de uma manei-
dúzia de outras alegações para minar ra organizada e neutra. V e r i f i q u e as
sua confiança. Esses são truques de fontes de tais dados.
vendedores bem conhecidos, levando-
Os redatores p o d e m ser induzidos
o a concordar em u m p o n t o e trans-
na aceitação e publicação de material
portar essa concordância para outros
não-ético através d o endosso de uma
campos.
associação aparentemente legítima,
O u t r a t r a m a favorita dos charla-
profissional o u de negócios. V e r i f i -
tães é a redescoberta de uma " c u r a "
que os membros de tais associações.
na China, Á f r i c a , T i b e t o u o u t r a terra
Nada é mais fácil de f o r m a r d o que
exótica conhecida pelos antigos e
uma associação auto p r o t e t o r a . Veri-
perdida d u r a n t e séculos.
f i q u e credenciais; no campo dos cui-
Os testemunhos são particularmen-
dados médicos e de saúde, não existe
te difíceis de resistir. Poucos ofere-
tal coisa c o m o uma escola confiável
cem documentação de que as pessoas
sem créditos.
f o r a m diagnosticadas c o m o realmen-
te t e n d o a doença afirmada. Entre- A National Association o f Science
t a n t o , mesmo as pessoas c o m as do- Writers a f i r m a que você deve t o m a r
enças mais devastadoras às vezes sen- todas as medidas necessárias para as-
tem-se m e l h o r , embora brevemente. segurar que toda a informação que
Algumas doenças simplesmente se- transmite seja acurada, verdadeira e
guem seu curso, c o m ou sem trata- imparcial. A associação t a m b é m fran-
m e n t o . Somente u m n ú m e r o sufici- ze a testa a receber remuneração pa-
ente de remissões espontâneas da do- ra p e r m i t i r que seu nome seja usado
ença, por razões que os médicos gos- para " p r o m o v e r " u m serviço comer-
tariam de compreender, são registra- cial, p r o d u t o o u organização.

211
Capítulo 11
Transmitindo notícias científicas

AS REPORTAGENS NOTICIOSAS CIEN- sucesso dessa série reside parcialmen-


TIFICAS EM RÁDIO E TV chegam em te em seu m o d e r a d o r , D r . Red D u k e ,
t a m a n h o s e qualidades de pacotes al- u m m é d i c o envolvente, de fala arras-
t a m e n t e variáveis. Os pacotes variam tada, de bigodes crespos, cujos óculos
de " n o t í c i a s " curtas de v i n t e a no- de vovô de aros de aço não p u d e r a m
venta segundos, espremidas entre esconder sua projeção de intensa
eventos locais e m u n d i a i s nos noticiá- preocupação pelos pacientes. Ele pa-
rios da n o i t e , aos d o c u m e n t á r i o s ela- recia soar m u i t o d i f e r e n t e de seu mé-
borados de u m a hora de duração, d o dico de f a m í l i a c o s t u m e i r o .
National Geographic e a série educa- Esse sucesso ilustra dois p r o b l e -
cional " C o s m o s " que fez d o a s t r o f í - mas que os jornalistas de rádio e T V
sico Carl Sagan, da Cornell U n i v e r s i t y , encaram ao fazer reportagem de no-
u m a celebridade i n t e r n a c i o n a l . Cada tícias c i e n t í f i c a s . E m televisão, espe-
d o c u m e n t á r i o e cada programa de c i a l m e n t e , você precisa de u m a c o m -
uma série p o d e levar semanas a ser binação de voz e personalidade q u e
p r o d u z i d o , e ás vezes meses o u anos. se mesclam ao assunto e m f o c o pa-
Para alcançar os padrões técnicos da ra prender u m a audiência o t e m p o
rede é necessário e q u i p a m e n t o elabo- suficiente para conseguir c o n t a r a
rado de p r o d u ç ã o e f i l m a g e m o u v í - m a i o r i a das histórias de ciência. A
deo-teipe. Isso t o r n a os d o c u m e n t á - personalidade pelo rádio chega c o m a
rios proposições m u i t o dispendiosas. mesma f o r ç a através d o t i m b r e de
A l é m d o mais, os shows de ciência e voz e r i t m o d o discurso, c o m b i n a d o s
medicina são vistos c o m o programas c o m as vozes de o u t r o s atores d o dra-
de interesse de u m p ú b l i c o l i m i t a d o . ma. De o u t r o m o d o , a tendência d o
Houve algumas exceções. O p ú b l i c o a m u d a r para algo mais dra-
H e a l t h Science Center da U n i v e r s i t y m á t i c o o u magnético p r o d u z uma
o f Texas, em H o u s t o n , p r o d u z i u , baixa audiência que uma rede o u es-
c o m p r o p ó s i t o s educacionais e de re- tação local não pode s u p o r t a r . Os ín-
lações públicas, u m a série de progra- dices baixos de audiência prejudica-
mas de conselhos médicos que rece- ram essencialmente u m p r o g r a m a se-
beram p e r t o de dois m i n u t o s de pre- manal de T V sobre ciência, apresenta-
cioso t e m p o de transmissão em shows d o por Walter C r o n k i t e , q u e t i n h a a
noticiosos de dúzias de cidades n o imagem e reputação de ser o apresen-
Texas e em outras partes d o país. O t a d o r , merecedor da m a i o r c o n f i a n ç a

213
nas notícias das redes. A honestidade e grama de ciência c o b r i n d o todas as
confiança não f o r a m suficientes para áreas, exceto as ciências sociais e a
manter a audiência, uma vez que ele medicina. Suspeitas trocadas entre os
se m o s t r o u afastado dos eventos comunicadores eletrônicos indicam
excitantes e f r e q ü e n t e m e n t e estres- que acreditam que os programas de ci-
santes das notícias diárias, para os ência convencional atraem uma au-
espectadores. diência estimada entre 10 e 20% dos
A National Public Radio, algumas espectadores de fãs de ciência hard-
poucas estações locais e o Public core que assistirão a qualquer coisa
Broadcasting Service m a n t ê m com- desse gênero. Com freqüência, pro-
promissos com programas de ciência gramas de ciência-natural são encai-
e natureza porque a p o l í t i c a dita que xados em brechas de t e m p o onde o
devem fazê-lo. T a m b é m lidam c o m nível de audiência é baixo de qual-
uma audiência fiel de pessoas educa- quer maneira. Uma vantagem dos seg-
das e afluentes, espectadores ideais mentos curtos dedicados à programa-
de notícias científicas. O "Undersea ção de ciência é que eles p o d e m ser
W o r l d of Jacques Costeau" f o i u m i n t r o d u z i d o s em programas noticio-
marco na televisão pública. A Cable sos ou t e m p o comercial não-vendido
News N e t w o r k t a m b é m usou progra- sem m u i t a perturbação á programa-
mas médicos regulares patrocinados ção regular. A falta de apelo comer-
por uma companhia farmacêutica. A cial seguro da ciência c o n t r i b u i para
A m e r i c a n Association f o r t h e A d - uma d o l o r i d a frustração c o m os veí-
vancement o f Science e x p e r i m e n t o u culos entre os redatores de ciência e
com notas de rádio de noventa segun- cientistas que vêem a televisão c o m o
dos distribuídas às estações comer- uma maneira especialmente efetiva
ciais para uso g r a t u i t o e o A m e r i c a n de ensinar a respeito de ciência às
Institute of Physics t e n t o u interes- pessoas.
sar estações de T V usando " f l a s h e s " Embora todas as três redes nacio-
de ciência de dois minutos d u r a n t e os nais tenham u m o u mais especialistas
shows de notícias. Eventualmente, em notícias científicas as aparições
estações de rádio comercial dedicam ao vivo de Jules Bergman da A B C ,
t e m p o â ciência e medicina e os ani- que é o deão dos jornalistas c i e n t í f i -
madores de shows de entrevistas cos da televisão, após cerca de t r i n t a
irão arrebanhar u m cientista entre anos c o m a rede, ou de Robert Bazell,
seus convidados uma vez por outra. da N B C , são limitadas p r i n c i p a l m e n t e
Freqüentemente os especialistas li- a matérias noticiosas curtas exceto
dam em ciência aplicada, tal c o m o o quando "grandes eventos" o c o r r e m
h o r t i c u l t o r que responde a perguntas na ciência o u medicina. Bergman, por
sobre métodos de plantio e podas de e x e m p l o , o b t é m sua maior exposição
árvores. Há excecões. A estação KGO, de câmera durante os vôos espaciais
F M , de São Francisco, concedeu em ou quando u m o u t r o evento tecno-
1983 duas horas semanais a u m pro- lógico, tal c o m o a implantação d o

214
primeiro coração artificial, faz n o t í - podem trabalhar u m dia o u dois nu-
cia por outras razões que não a ciên- ma matéria de dois minutos o u uma
cia envolvida. O especialista em ci- semana numa que leve seis minutos
ência apóia a cobertura noticiosa do (Alexander, 1985). Muitos jornalistas
evento com explicações ou entrevis- descobriram que necessitam de trata-
tas interpretando os processos téc- mento vocal e certo t i p o de atitude
nicos que rodeiam o evento em si. para lidar com os equipamentos de
Bergman e Phil Lewis, seu p r o d u t o r , gravação e as complexidades de cor-
receberam o Prêmio Science in So- tar e retalhar as fitas de gravação
ciety da National Association of Sci- magnética.
ence Writers por "Asbestos: The Way Para a maioria dos jornalistas cien-
t o Dusty D e a t h " . Esse documentário t í f i c o s , a melhor oportunidade para a
b r o t o u de u m evento noticioso de redação de ciência em rádio e televi-
uma controvérsia pública que irrom- são virá como p r o d u t o r . Há pequena
peu quando processos alegando do- especialização de personalidades de
enças relacionadas ao asbestos amea- vídeo c o m suas equipes de televisão
çaram a estabilidade financeira de local para notícias e matérias porque
companhias na indústria do asbestos. se espera que cubram vários eventos
O documentário desafiou Bergman a noticiosos a cada dia. Muitos preci-
explicar os aspectos médicos, econô- sam escrever também seus próprios
micos e legais da história. scripts. Os altos salários dos corres-
pondentes noticiosos das redes tor-
nam antieconômico, na visão da ad-
Escrevendo para veículos ministração da T V , ter "pessoas"
eletrônicos envolvidas tempo demais na lo-
O apelo dos veículos eletrônicos, gística de pesquisar uma matéria,
especialmente a televisão e suas vari- promover os compromissos de filma-
antes, atrai os redatores de ciência gem e movimentar equipes de câme-
apesar da feroz competição por em- ra pelo ambiente. Esse trabalho fica
pregos e tempo no ar. George Ale- a cargo do p r o d u t o r .
xander, repórter de ciência para Los O produtor é responsável por pes-
Angeles Times, deixou seu jornal quisar e apresentar idéias de matérias,
após vinte e cinco anos de jornalismo conduzindo-as através do processo de
impresso para u m fellowship de u m seleção, fazendo ou orientando pes-
ano na Macy Foundation destinado a quisa de campo, escolhendo locações,
levar mais jornalistas científicos para administrando as equipes de câmeras,
os meios eletrônicos. Sua maior sur- organizando as seqüências de produ-
presa f o i o ajustamento necessário ção e freqüentemente escrevendo o
para minimizar suas próprias contri- esboço final (ou a versão final) do
buições e deixar seus temas contarem script. Depois que t u d o isso está no
a história com suas próprias palavras. lugar, os "anchors" entram para rever
Os jornalistas dos meios eletrônicos o script e gravar as seqüências onde

215
aparecem. A televisão é u m esforço tas pré-gravadas, c o m o c o n j u n t o de
de g r u p o . Embora a i n t r o d u ç ã o de perguntas a serem feitas pelo apre-
novas câmeras leves miniaturizadas sentador. Estas vêm de companhias e
e material de gravação sonora não instituições visando publicidade grá-
torne mais a televisão duas m i l libras, tis usando o nome d o cientista para
em lápis, de jornalismo, é mais traba- promover a finalidade de sua escola,
lhosa para os jornalistas d o que o j o r - companhia o u p o n t o de vista. De ma-
nalismo impresso. Alguns shows de neira geral é publicidade gratuita. Os
tevê são feitos c o m o produções de es- funcionários de relações públicas
t ú d i o ; " C o s m o s " , por e x e m p l o , usava t a m b é m p r o d u z e m curtos segmentos
elaborados ambientes de palco para de v í d e o para uso em redes de c o m u -
realçar a sensação de que o modera- nicações internas para t r e i n a m e n t o
dor Sagan estava fazendo uma viagem de empregados de i n f o r m a ç ã o . Tais
pelo universo. p r o d u t o s raramente discutem os da-
dos menos atraentes de u m t e m a o u
Os repórteres de rádio precisam de
e x p l o r a m inteiramente as p r o f u n d e -
u m gravador de f i t a de qualidade pa-
zas da controvérsia.
ra transmissão, u m que reproduza as
conversações e entrevistas c o m uma Dos repórteres dos serviços tele-
fidelidade melhor d o que os gravado- gráficos t a m b é m se espera que escre-
res de f i t a disponíveis na f a i x a mais vam para o rádio e para a imprensa.
baixa na escala de preços. U m repór- Para servir consumidores da linha d o
ter de imprensa pode arranjar-se com rádio, os redatores dos serviços n o t i -
limpidez suficiente de som para ciosos t a m b é m incluirão uma matéria
transcrever as notas-chave. O repórter curta escrita para estações de rádio
r a d i o f ô n i c o pode trazer pessoas para que subscrevem os serviços noticio-
o estúdio para entrevistas ao vivo no sos. C o m freqüência os repórteres d o
ar, mas arrisca-se a perder a audiência serviço noticioso irão ler seus t e x t o s
se a q u í m i c a produzir u m aconteci- em f o r n e c i m e n t o s às estações. Os es-
m e n t o chato. Os repórteres de rádio c r i t ó r i o s de relações públicas tam-
podem j u n t a r seus próprios comentá- bém enviam fitas e releases noticiosos
rios aos das pessoas a q u e m entrevis- adaptados para rádio. O rádio t e m a
t a m . Essa técnica elimina trechos te- habilidade de usar efeitos sonoros e
diosos e malfalados da f i t a , mas po- música para evocar imagens e respos-
de ser prejudicada distorcendo-se as tas emocionais nas mentes dos ouvin-
palavras e o c o n t e x t o do entrevistado. tes. O uso excessivo dessas e outras
M u i t o s funcionários de relações pú- técnicas, t a n t o na tevê c o m o n o rá-
blicas irão fornecer " a t u a l i d a d e s " pa- d i o , pode levá-lo para aquela f r o n t e i -
ra uso pelo rádio, afirmações pré-gra- ra cinzenta, mutável, entre informa-
vadas que oferecem explicação e ção e e n t r e t e n i m e n t o fabricado. O
comentário de temas d o campo da ci- uso habilidoso d o som " n a t u r a l "
ência o u ciência-comércio públicos. pode evocar respostas poderosas. Em
Você pode obter até mesmo respos- 1984 Walter C r o n k i t e fez u m uso efi-

216
ciente dos sons suaves e estalidos me- tros. A chave para a redação eficiente
tálicos de robôs trabalhando numa fá- de rádio e tevê é lembrar-se de que
brica deserta e escura para " H i g h você está transferindo informação
T e c h : Dream or N i g h t m a r e ? " As ce- através d o o u v i d o e não através d o
nas estabeleciam u m t o m para o o l h o . O o u v i d o aceita a informação
show, que levantava questões sobre o n u m r i t m o m u i t o mais lento e requer
uso f u t u r o de humanos nas fábricas e o c o n d i c i o n a m e n t o da mente a rece-
os tipos de empregos, se algum, dis- ber através d o o u v i d o . E n t r e t a n t o , á
poníveis para a maioria dos trabalha- medida que você desenvolver a habili-
dores. A televisão t a m b é m está sujei- dade de escrever para o o u v i d o , vai
ta a fazer os redatores procurarem poder apreciar a beleza da precisão
pela frase de efeito agudo; o t e r m o c o m que pode controlar esse instru-
"trabalhadores de colarinho de a ç o " , m e n t o maravilhoso, a voz humana,
de C r o n k i t e , descrevendo os robôs é através de seus scripts.
u m e x e m p l o . Essas frases se registram Esse c o n t r o l e é realizado por se
através d o ouvido e se f i x a m no cé- saber que a voz n o r m a l de discurso
rebro. transmite de 150 a 180 palavras por
Uma das queixas dos cientistas, al- m i n u t o . Isso permite que você o u as
guns dos quais se deliciam c o m a pessoas para q u e m você escreve esti-
o p o r t u n i d a d e de aparecer na televi- m e m o t e m p o de uma matéria em
são o u n o rádio, é que os jornalistas termos de segundos. Quando você se
dos meios eletrônicos são particular- familiarizar mais c o m seu p r ó p r i o r i t -
mente vulneráveis ao cientista-opera- m o de discurso o u o de alguém para
dor que pode condensar o u supersim- q u e m escreve regularmente, você po-
plificar uma situação complexa numa de atingir o t e m p o requerido c o m
frase enganosa. Em televisão isso está precisão. Você e seu apresentador de-
ligado c o m os perigos da imagem- vem ler o script inteiro em voz alta
pensamento, nos quais os argumentos para localizar redação r u i m e incerta
ponderados e racionais apoiando uma na versão falada e obter u m t e m p o
suposição c i e n t í f i c a , p o d e m ser subs- real. (Pelas mesmas razões, m u i t o s re-
t i t u í d o s por uma série de imagens e datores de imprensa descobrirão que
palavras zumbidas que levam os es- suas matérias saem beneficiadas ao
pectadores a uma conclusão mais rá- serem lidas em voz alta para revelar
pida que a mente — e a razão — po- problemas similares nas matérias para
dem seguir. Os tempos curtos desti- os meios impressos.) Alguns redato-
nados a cada matéria n u m programa res t ê m a habilidade de o u v i r uma
noticioso c o m p õ e m os problemas e matéria enquanto a lêem silenciosa-
t o r n a m o v e í c u l o vulnerável à distor- mente.
ção e á interpretação incorreta. Por que você está escrevendo para
Escrever para rádio e televisão voz e o u v i d o , que processam a infor-
vem mais naturalmente para alguns mação mais lentamente que o o l h o ,
redatores de ciência d o que para ou- suas frases devem ser m u i t o mais cur-

217
tas, mais declarativas. Isso requer bilando para o o u v i n t e . Evite juntar
pensamentos claros e agudos. As sen- fatos e números demais numa única
tenças mais curtas t a m b é m dão ao sentença. E n q u a n t o os editores dos
seu apresentador a o p o r t u n i d a d e de meios impressos gostam dessa reda-
respirar. Use u m estilo ativo sempre ção retesada e compacta, atirar coi-
que puder. Diferentemente da pala- sas demais para o o u v i n t e sobrecar-
vra impressa, as convenções de rádio rega-lhe o o u v i d o e o cérebro. A re-
e televisão favorecem o uso da reda- dação falada é m u i t o mais relaxada e
ção no presente. Você pode misturar c o n t é m palavras incluídas para sepa-
o presente e o passado, o que é de- rar as partes pesadas de fatos que f l u -
sencorajado na maior parte dos traba- t u a m através de uma sentença.
lhos impressos. Embora as pessoas ge- A comunicação falada é mais efi-
ralmente leiam uma matéria de j o r - ciente q u a n d o o o u v i d o e o cérebro
nais e revistas silenciosamente e a sós, estão condicionados a receber sua in-
a rádio e a televisão parecem para os f o r m a ç ã o . Por isso, poucos redatores
membros da audiência m u i t o mais de rádio começarão uma matéria o u
pessoais d o que a imprensa. Por isso sentença c o m u m n o m e , a não ser
você pode adotar u m estilo de abor- que a base para identificação já tenha
dagem pessoal u m t a n t o mais casual sido exposta na matéria. " U m f í s i c o
d o que poderia usar para uma maté- disse hoje q u e . . . "precederá a senten-
ria que fosse para a imprensa. Evite a ça c o n t e n d o o nome d o cientista a
orientação que lhe d i z para escrever não ser que ele seja bem conhecido.
c o m o fala, a não ser que fale efetiva- Alguns fatos de rotina p o d e m ser
mente m u i t o b e m . Escrever para os o m i t i d o s inteiramente. Idades, t í t u -
meios eletrônicos é escrever c o m o vo- los precisos, endereços e às vezes no-
cê gostaria de falar. Apenas algumas mes de cidades perdem a pertinência
poucas estações especializadas tole- de comandar o t e m p o n u m a reporta-
ram a expressão carregada de gíria e gem curta de rádio o u televisão. Você
informalidade. Dirigir-se diretamente economiza cada palavra que pode
é mais aceitável para os editores de porque não terá suficientes delas pa-
n o t í c i a s de rádio e televisão d o que o ra contar todos os fatos relevantes. A
é para os editores dos meios impres- informação histórica t a m b é m o b t é m
sos. p o u c o espaço de t e m p o nas matérias
Há algumas coisas a evitar ao es- noticiosas eletrônicas.
crever para o o u v i d o . Não alinhe as Os repórteres de rádio t ê m uma
palavras c o m " s " e " c " o u outras si- vantagem sobre suas contrapartes da
bilantes juntas. O mesmo vale para as tevê. Podem encaixar o u coletar uma
percussivas, tais c o m o "Peter Piper conversação telefônica na transmis-
picked a peck..." As sibilantes e per- são o u em seus gravadores de f i t a sem
cussivas p o d e m fazer o seu apresenta- acordos anteriores elaborados. Você
dor soar c o m o uma instalação elétri- deve, e n t r e t a n t o , dizer a seu entrevis-
ca em c u r t o - c i r c u i t o . Você estará si- tado que está gravando a conversa

218
para uso dos meios eletrônicos. A o das por segundo para a f i t a . Rara-
editar trechos de conversação para a mente as histórias na televisão são a
transmissão, você precisa ter cuidado f i t a completa, não editada, " c r u a " ,
de manter esses fragmentos no con- registrada pela equipe de câmera.
t e x t o da conversação toda. Isso é jor- Elas são editadas, o que você c o m o
nalismo ético. p r o d u t o r pode fazer t a m b é m , para
preservar apenas as melhores ima-
gens e citações.
Palavras com imagens
Duas coisas que os vefculos ele- Você pode usar na matéria fil-
trônicos não podem tolerar é ar para- me ou f i t a " d e f o r a " , de u m cien-
do e telas mortas. Você se lembra de tista o u escritório de informação pú-
dirigir e ouvir o rádio? Subitamente blica, "dublando-as" ou copiando
não há som. Isso o espantou? Você segmentos e retalhando-os para sua
pode ter se perguntado se foi o rádio matéria. Muitos pesquisadores fil-
que quebrou. U m problema de energia mam experiências ou gravam exem-
t i r o u a estação do ar? 0 apresentador plos para mostrar suas discussões. Os
pode ter apenas ficado fora da cabine hospitais de ensino podem ter a as-
por mais t e m p o do que pretendia, sistência de fotógrafos m u i t o especia-
permitindo que uma f i t a o u disco lizados, artistas e redatores para aju-
terminasse. Seja o que for que dá-los. Você precisa apenas saber a
aconteceu, certamente não f o i plane- extensão de tempo requerido para
jado. Como você viu pelo f a t o de mostrar uma quantidade adequada de
adaptar os scripts para 150 a 180 pa- ação científica, a fertilização de u m
lavras por m i n u t o , você pode estimar óvulo pelo esperma, por exemplo.
o t e m p o até uma fração de segundo. Então você pode escrever a quantida-
O processo trabalha ao contrário — de de t e x t o necessária a cobrir e ex-
o u simultaneamente — para a televi- plicar a imagen pelo tempo em que o
são. As imagens e palavras são coor- f i l m e o u f i t a estará no t u b o ou tela
denadas do mesmo m o d o , com as de cinema. Quando você tem o acom-
molduras o u centimetragem de ima- panhamento de imagens, não precisa
gens a ser usada na história. Isso per- colocar a matéria toda em palavras.
mite que você inclua imagens de uma Deixe que as imagens contem o máxi-
transmissão de tevê ao coordená-las mo possível, explicando o menos que
com a voz do apresentador. Você de- precisar. A o trabalhar com imagens,
ve preencher o tempo no ar reservado não explique o que é óbvio ao espec-
para a matéria. E os segmentos de tador. Use suas preciosas palavras pa-
som devem igualar os segmentos de ra informação de f u n d o , destacar o
filme o u f i t a em cada cena da maté- significado e explicar o que sua audi-
ria. O f i l m e e a f i t a são medidos pela ência não está vendo mas precisa sa-
velocidade de projeção, em quadros ber para compreender a imagem. Os
por segundo para o filme o u polega- redatores de televisão e filmes, bem

219
como os editores, seguem a regra de vimento de filmes ou fitas. Uma f o t o -
que "menos é mais". grafia parada pode ser "congelada"
Se a f i t a o u filme tem seu p r ó p r i o na tela para dar aos espectadores uma
som, como u m entrevistado respon- visão de perto de alguma parte-chave
dendo a uma pergunta ou u m som da ação. Muitas estações têm artis-
inerente â ação sendo observada, tas gráficos que preparam mapas,
você precisará de u m par de transi- gráficos, e ilustrações com imagens
ções. Essas são palavras conhecidas paradas para ilustrar seu p o n t o . Estes
como "lead in" e "lead out" destina- podem ser alimentados para a ima-
das a condicionar seus espectadores à gem eletrônica de projetores para fo-
mudança de cena por acontecer. Se a tografias e slides. Parte da arte da te-
f i t a o u f i l m e não t e m som p r ó p r i o , levisão bem-sucedida e interessante
você deve providenciar u m "voice reside em escolher a mescla de tais
over" para explicar o que está acon- materiais para produzir o efeito certo
tecendo. Novamente, evite explicar o em sua audiência assim como ilustrar
óbvio. seu p o n t o .
Os scripts podem ser escritos in-
teiramente em maiúscula o u maiúscu-
Procurando a ação
las e minúsculas. Uma das conven-
ções da transmissão eletrônica é o As imagens paradas são considera-
script "allkaps". Entretanto, uma das de pequeno nível de interesse na
combinação de letras maiúsculas e programação de televisão, mesmo que
minúsculas é mais fácil de ler. Prova- seja a melhor maneira de ilustrar
velmente seu t e x t o será colocado o ponto de sua história. Aceite,
num gerador de caracteres que proje- entretanto, que a tevê é o veículo do
tará o script num aparelho de leitura movimento. Assim, uma matéria com
off-câmera que permite aos apresen- muita ação irá derrubar uma história
tadores seguirem o t e x t o sem parece- sem ação. U m dos desafortunados
rem estar lendo de u m script. Com obstáculos visuais das matérias de ci-
freqüência o equipamento para lei- ência e medicina é que muitos dos
tura é uma tela de televisão oculta na mais dramáticos momentos não po-
mesa do apresentador. Os geradores dem ser vistos ou não podem ser fo-
de caracteres, de modo bastante se- tografados — o u não há ação. Você
melhante aos processadores de pala- pode conseguir animação simulada
vras, podem também colocar infor- através de várias técnicas. Uma técni-
mação adicional e instrumentos gráfi- ca é a fotografia em lapsos de t e m p o ,
cos diretamente na tela. Por exemplo, aquelas imagens onde você vê uma
você pode aumentar a informação lo- f l o r se abrindo, por exemplo. Como
cal com u m " c r a w l e r " de palavras ao com a f l o r se abrindo, a fotografia de
longo do pé da imagem o u em pon- lapsos de tempo perdeu sua novidade
tos-chave destacados. Você não está e tornou-se u m lugar-comum. As ve-
limitado, t a m b é m , a imagens em mo- zes passear o f o c o da câmara através

220
de várias partes de uma f o t o g r a f i a pa- tais ilustrações, esse processo po-
rada especialmente dramática de uma de oferecer t a n t o a cientistas c o m o
experiência f u n c i o n a para obter mo- a jornalistas c i e n t í f i c o s u m m o d o
v i m e n t o simulado aos olhos d o espec- mais acurado de retratar para a audi-
t a d o r . A animação real, o processo ência em geral c o m o os especialistas
pelo q u a l os personagens dos dese- pensam que o m u n d o f í s i c o opera. Is-
nhos animais parecem mover-se, é so acrescentará novas dimensões à
dispendiosa e demorada, d i f i c i l m e n t e compreensão através de ver o não-vi-
adequada para notícias curtas. Gráfi- sível.
cos mais rápidos, i n c l u i n d o gráficos Similarmente, as figuras em movi-
animados, p o d e m ser o b t i d o s de no- m e n t o p o d e m documentar partes da
vos programas de software desenvol- investigação real. As cópias p o d e m
vidos para m i c r o c o m p u t a d o r e s . No estar disponíveis se você pedir. Mui-
m o m e n t o essas possibilidades gráficas tos processos de alta velocidade, tais
emergentes f u n c i o n a m melhor nas c o m o t ú n e l de vento e testes de tem-
meios de programadores experientes. peratura, usam f o t o g r a f i a de alta ve :
Por o u t r o lado, os "pacotes gráfi- locidade chamada Schtieren (som-
c o s " estão se t o r n a n d o cada vez mais bras), que registra as mudanças na
parte da documentação c i e n t í f i c a , e densidade do ar ao redor de u m obje-
muitas de suas fontes noticiosas po- t o em teste. Alguns laboratórios te-
dem produzi-las c o m o parte de suas rão o e q u i p a m e n t o eletrônico neces-
investigações. Seu pessoal de câmera sário para acrescentar cores falsas à
pode fotografar essas ilustrações da f o t o g r a f i a em preto e branco. É dessa
tela de u m c o m p u t a d o r o u talvez tê- maneira que a cor é acrescentada às
las duplicadas em fitas vídeo-cassete. fotografias de satélites da terra, dis-
Pergunte sobre essas possibilidades poníveis através de escritórios d o go-
eletrônicas. Em algumas universida- verno. A técnica pode ser aplicada a
des, laboratórios do governo, hospi- outras imagens computadorizadas pa-
tais e indústrias, há artistas gráficos, ra t r a n s f o r m a r o invisível em uma
fotógrafos o u técnicos de design as- imagem.
sistidos por c o m p u t a d o r , o computer- Em m u i t o s eventos noticiosos, tais
aided design ( C A D ) que p o d e m ser c o m o lançamentos espaciais, os cien-
capazes de produzir simulações para tistas e o escritório de relações públi-
você. Os próprios investigadores o u cas p o d e m colocar à disposição mo-
escritórios de relações públicas po- delos, chamados mock-up, e ajudan-
dem fazer os arranjos. As ilustrações tes em t r e i n a m e n t o c o m o figurantes
geradas por c o m p u t a d o r que incluem e apoio para acrescentar interesse vi-
m o v i m e n t o simulado atingiram u m sual às suas matérias. Os médicos fre-
nível m u i t o realista em alguns labora- qüentemente fazem operações simu-
tórios. O processo de programação é ladas em animais, bonecos e cadáve-
tedioso e caro. A medida que se res c o m o parte de sua preparação pa-
aprende sobre programação para ra procedimentos experimentais. Esse

221
pode ser u m material f o r t e para colo- dando o entrevistado a procurar res-
car na televisão. A maior parte da ci- postas curtas e diretas onde possível.
rurgia experimental é d o c u m e n t a d a Mas você já pensou nos problemas de
rotineiramente, passo a passo, c o m tentar explicar o D N A em t r i n t a se-
comentários d o experimentador-che- gundos?
fe. O problema de gosto pode forçá- Algumas restrições de t e m p o fa-
lo a editar parte dos segmentos mais zem as entrevistas de televisão pare-
sangrentos o u a ter a coragem e apoio cerem supersimplificadas. O u t r o obs-
da administração para t r a n s m i t i r ma- táculo é que os entrevistadores de te-
terial que pode chocar u m grande nú- vê raramente são especialistas em
mero de espectadores. U m ramo pe- ciência. São generalistas o u t ê m uma
queno porém em crescimento da lei familiaridade melhor c o m o material
lida c o m a responsabilidade legal dos da p o l í t i c a e dos negócios públicos.
veículos pela disseminação de mate- Assim, a habilidade de u m repórter
rial que pode ter efeitos adversos em e m compreender o coração de uma
espectadores desavisados. Os experi- história o u c o m p r i m i r as perguntas e
mentos c o m animais podem provocar respostas em poucos segundos pode
protestos de grupos de proteção aos orientar mais as escolhas de matérias
animais além de ilustração para suas d o que o significado d o c o n t e ú d o
matérias. O redator pode querer con- c i e n t í f i c o e tecnológico. Q u a n t o mais
siderar u m aviso aos espectadores de perto a descoberta o u aplicação che-
que tal material está entrando n u m a ga da experiência humana geral, mais
produção. provável que a televisão, o verdadeiro
A maioria das ilustrações, particu- meio de comunicação de massa, irá
larmente para histórias noticiosas, se- usar a história. " C o m o resultado esse
rá t o m a d a no local por suas equi- sistema requer jornalistas c o m estô-
pes de câmeras. A melhor das reu- magos fortes, capazes de fazer per-
niões científicas lhe providenciará guntas embaraçosas que sabem ser es-
u m lugar isolado para entrevistar t ú p i d a s " , diz Ira F l a t o w ( 1 9 7 9 , 10),
cientistas. Se isso não f o r parte dos da National Public Radio. Os jorna-
arranjos para a imprensa, você terá de listas eletrônicos t ê m apenas uma
encontrar seu p r ó p r i o canto tranqüi- chance c o m a matéria.
lo. Q u a n t o mais leve e mais p o r t á t i l C o m o as ilustrações na televisão
for o equipamento E N G ( e l e t r o n i c f l u e m diante do espectador, despir o
news gathering — coleta eletrônica de trabalho de arte e f o c o da fotografia
notícias) isso se tornará mais fácil, até os elementos mais simples é mais
mas você precisa p r o p o r as perguntas. i m p o r t a n t e d o que para os jornalistas
Isso fica m u i t o d i f í c i l quando você dos meios impressos. Uma ilustração
sabe que terá apenas uns poucos se- completa n u m jornal o u revista pode
gundos para a matéria no ar. A maio- ser estudada e reestudada pelo leitor,
ria dos repórteres de tevê fará uma mas isso fica além da capacidade de
entrevista a seco antes de gravar, aju- memória dos espectadores de televi-

222
são. O material gravado em vídeo-cas- Acurácia versus estereótipo
setes pode ser uma exceção se o equi- Nem todos os jornalistas de ciên-
pamento tiver uma função de "stop- cia aceitam o padrão da televisão co-
action" que irá congelar e manter o mercial, mesmo quando o sucesso fi-
quadro na tela de tevê para projeção nanceiro vem com a f ó r m u l a . O anti-
demorada. A l g u m material educacio- go presidente da NASW, Edward
nal faz uso dessa capacidade para per- Edelson do Daily News de Nova Ior-
mitir aos espectadores estuoarem que chamou a f ó r m u l a para " T h a t ' s
uma cena até que compreendam o Incredible" de "piores notícias pos-
que vêem. síveis para jornalistas que estão ten-
tando escrever seriamente sobre ciên-
Combinar a seqüência de ilustra- cia e medicina nos E U A " . A mescla
ções e descrições que as acompanham proposta de matérias que o ofendeu
exige m u i t o da mesma lógica e arte apoiava-se fortemente em itens sobre
para organizar uma matéria longa de percepções extra-sensoriais, "espan-
ciência para impressão. A história se tosas" realizações científicas, pesqui-
move da abertura, através de pontos- sa com rãs e outros animais, vodu e
chave até seu clímax. A matéria noti- "grandes mistérios naturais". Esses
ciosa curta pode cobrir, no máximo, são elementos da ciência schlock, a
apenas u m aspecto da história. Evite pseudociência que trata do bizarro
sobrecarregar a matéria com detalhes (1980, 2).
que consomem tempo. Se tiver uma U m cientista preveniu os entrevis-
matéria mais longa, você poderá pre- tadores de televisão que podem es-
ver a organização com "story- tar na trilha errada perseguindo o
boards". Estes são esboços grosseiros, apelo do medo na ciência. As pergun-
desenhados no f o r m a t o de tela, das tas pessimistas dos entrevistadores de
ilustrações-chave da história, os mar- tevê estão em agudo contraste com as
cos que ajudam a visualizar a organi- perguntas otimistas que o cientista
zação e progresso da matéria. Obvia- diz receber de públicos que vêem
mente a produção de televisão envol- promessas na ciência e tecnologia. É
ve mais do que os passos gerais deli- uma postura mental para a qual um
neados aqui. Vários livros lidando jornalista, de imprensa ou eletrônico,
com o processo de escrever para tevê pode escorregar facilmente (Rosen,
estão disponíveis, mas esses passos 1977).
básicos servirão para você começar. Parte dessa armadilha é formada
Muitos colégios e ginásios oferecem através de programas de entreteni-
cursos de produção de televisão, e em mento na televisão. Grande parte do
muitas comunidades a empresa local aprendizado que ocorre sobre a ciên-
de cabo oferece acesso gratuito ou cia e cientistas chega indiretamente
barato ao treinamento de produção através dos shows de entretenimento.
de tevê como parte de seu contrato Com algumas exceções, esses progra-
local. mas estereotiparam a ciência c o m o

223
ameaçadora e os cientistas c o m o britânicos em relação à m o r t e antes
frios, calculistas e f r e q ü e n t e m e n t e re- da remoção de órgãos para transplan-
preensíveis. Ou os cientistas f o r a m te. As doações de rins c a í r a m 50%
retratados c o m o supercérebros, capa- (UPI, 1980). Por o u t r o lado, o uso de-
zes de produzir milagres, o que pode liberado do poderoso efeito d o veícu-
bajular os cientistas mas erra o alvo. lo c o m propósito p o l í t i c o f o i a inten-
O u t r o estereótipo é o cientista que é ção do D r . Bernard Nathanson quan-
brilhante no laboratório mas canhes- d o p r o d u z i u u m vídeo-teipe de ima-
t r o f o r a dele. C o m o ressurgimento gens cenográficas de u m f e t o sendo
do interesse pela ciência, tais atitu- abortado.
des podem levar a expectativas erra-
das devido a uma imagem fabricada Os jornalistas de ciência t a m b é m
o u à desistência da participação de ci- t ê m a o p o r t u n i d a d e de corrigir im-
dadãos em assuntos e confiança no pressões equivocadas da ciência e da
especialista. medicina c o m o aparecem nos shows
O f í s i c o Jeremy Bernstein, u m re- de e n t r e t e n i m e n t o . M i k e Oppenheim,
dator de ciência para The New Yor- M. D., a r g u m e n t o u em TV Guide que
ker, encontra objeções ao uso de ela- a violência nos shows de entreteni-
boradas técnicas de palco e produção m e n t o deveria ser ainda mais efetiva
para reportagem c i e n t í f i c a : (1) os m o s t r a n d o o que realmente aconte-
pontos c i e n t í f i c o s p o d e m se perder ce c o m o conseqüência de ferimentos
na beleza do cenário; (2) você pode de t i r o , por exemplo, embora u m he-
t o r n a r os eventos excessivamente vi- rói sendo f e r i d o no o m b r o pareça em
suais, além da realidade; e (3) os re- f o r m a novamente após uma semana
sultados preditos podem não ocorrer. c o m o braço numa t i p ó i a , a verdade é
Em lugar de conseguir o efeito dra- m u i t o mais dolorosa, e é uma dor e
mático através de cenários, pode ser incapacidade de longa duração. As
suficiente mostrar simplesmente a matanças a faca não são rápidas e fá-
seu p ú b l i c o os locais, as construções ceis, disse o Dr. O p p e n h e i m . " A l é m
onde os importantes eventos de ciên- disso, qualquer u m que tenha obser-
cia tiveram lugar, os laboratórios on- vado u m peão inexperiente matar u m
de a ciência é feita hoje. Ele t a m b é m porco sabe que a sujeira resultante
aconselha a recriação de famosas pa- deve ser vista para se acreditar que a
lestras nas quais cientistas revelaram m o r t e humana é similar. Mostrar a
suas descobertas ( 1 9 8 1 ) . violência c o m o ela é realmente faria
O efeito da televisão nos especta- m u i t o n o sentido de desencorajar
dores é poderoso e pode ter resulta- qualquer fascinação por ela, argu-
dos inesperados. A Royal Medicai So- menta. Já atacados por mostrar vio-
ciety e n t r o u numa séria disputa pú- lência demais, os produtores de T V
blica c o m a British Broadcasting Cor- mal p o d e m imaginar levar mais realis-
p o r a t i o n (BBC) após u m documentá- m o para os anunciantes aprovarem
rio alegando inadequação nos testes ( O p p e n h e i m , 1984, 20).

224
" A s pessoas assistiriam a mais flexão, mas isso poderia arrancar a re-
ciência na televisão e aprenderiam portagem de ciência dos moldes este-
mais se os organizadores de progra- reotipados de entrevista de tevê e
mas pudessem produzir u m bom es- longos documentários nas transmis-
petáculo em vez de uma boa lição de sões de notícias. Algumas organiza-
vida selvagem. Há alguns S/JOws de ções estão tentando isso agora com
horário nobre que misturam conteú- clips educacionais sobre ciência, me-
do médico com d r a m a " , diz Barbara dicina e cuidados com a saúde (Her-
Culliton, antiga presidente da NASW bert, 1982-83, 9).
e editora de notícias para a revista
Science. Não há evidência de que o C O N T R O V É R S I A . Alguns dos ou-
público esteja saturado de notícias tros problemas da cobertura de ciên-
científicas, diz ela. " A o contrário, há cia e eventos médicos da televisão in-
uma demanda que é interessante" cluem obter notícias antes do conhe-
(1982-83,4). cimento levantando alarme desneces-
Don Herbert, que apareceu na sário nos espectadores e assustando
NBC por quinze anos c o m o " M r . as pessoas em relação ao tratamento.
Wizard", oferece esse guia de quatro Estes foram ilustrados por: " A I D S :
passos para escrever para os meios de Profile of an E p i d e m i c . " Esse do-
comunicação eletrônicos, familiar a cumentário de 1984 sobre a doença
qualquer pessoa que escreva matérias recentemente identificada conheci-
longas. da como " S í n d r o m e da Imunodefi-
ciência A d q u i r i d a " ( A I D S ) f o i prepa-
1. Conquiste a atenção dos especta- rado pelo Public Broadcasting Sys-
dores. tem . O reconhecimento da A I D S
2. Desperte a curiosidade com pro- c o m o condição identificável ocorreu
messas de coisas interessantes à fren- em 1979 e f i c o u conhecida fora dos
te. círculos médicos em 1981. Os Cen-
3. Desenvolva uma " t r a m a " : o que ters f o r Disease Control federais em
acontecerá em seguida? A t l a n t a avisaram inicialmente sobre
4. Resolva a " t r a m a " , cumpra a pro- sua prevalência entre homens homos-
messa, satisfaça o espectador. sexuais promíscuos e usuários regula-
res de drogas. O padrão de um colap-
Herbert empacotou isso num for- so na habilidade das vítimas a persis-
mato de 9 0 segundos para demons- t i r ao que são chamadas infecções
trar fenômenos científicos, num " o p o r t u n i s t a s " e u m câncer raro fo-
show mágico. O problema é o mesmo ram descobertos também entre u m
encarado por pessoas que escrevem c o n j u n t o de imigrantes do Haiti nos
comerciais de puDlicidade como mi- Estados Unidos e algumas vítimas de
nidramas. Conseguem-nos muitas ve- doenças sangüíneas, tais como hemo-
zes em menos de 90 segundos para filias, que requerem tratamento com
u m comercial. É preciso cuidado e re- transfusões de sangue. M u i t o mais

225
tarde f o i conhecida oficialmente babilidade de m o r t e . A c r í t i c a de to-
em bebês nascidos de usuárias de dos os veículos r e p o r t a n d o sobre a
drogas e alguns homens possivel- A I D S f o i quase universal. O Dr. Vir-
mente bissexuais. Alguns médicos gil A . Hatcher, professor na escola de
n o A l b e r t Einstein Hospital tentaram medicina da New Y o r k University e
antes obter material sobre bebês para autor de u m livro sobre A I D S , rece-
a literatura médica, mas f o r a m repe- beu tantos elogios c o m o críticas pelo
lidos ( R u b i n , 1985). Inicialmente a d o c u m e n t á r i o da PBS. E n t r e t a n t o , a
doença parecia limitada aos Estados matéria da PBS f o i p r o d u z i d a depois
Unidos. À medida que a consciência que novos conhecimentos emergiram,
da doença se espalhou, ela f o i relata- conhecimentos não disponíveis seja
da por médicos em vários países e, fi- a médicos seja a jornalistas trabalhan-
nalmente, identificada c o m o ampla- d o no caso antes. O Dr. Hatcher cul-
mente instalada na Á f r i c a . O t o t a l de pou o programa por deixar de definir
casos em meados de 1984 f o i relata- claramente os elementos que carac-
d o c o m o abaixo de q u a t r o m i l . No f i - terizam a doença. Esta deveria ter si-
nal de 1985, o n ú m e r o de pessoas d o uma das primeiras tarefas dos re-
identificadas nos Estados Unidos datores e produtores, mas teria fica-
c o m A I D S chegava a mais de quator- d o obsoleta na época que apareceu;
ze m i l , c o m mais de m i l o u t r o s na os haitianos, por exemplo, f o r a m
Europa. O n ú m e r o de v í t i m a s pare- mais tarde removidos c o m o grupo de
cia quase dobrar a cada ano e a taxa risco especial de pegar ou t r a n s m i t i r
de mortalidade parecia p r ó x i m a aos A I D S quando a prevalência geral d o
80%. Suas vítimas i n c l u í a m várias vírus suspeito se t o r n o u melhor co-
pessoas, de o u t r o m o d o saudáveis, nhecida. O estigma ligado aos haitia-
que haviam c o n t r a í d o a doença atra- nos pela ignorância inicial sobre a
vés de transfusões de sangue, incluin- doença era, em retrospecto, desneces-
d o uma freira. U m teste p r i m i t i v o de sário. E n t r e t a n t o , parte das primeiras
anticorpos c o n t r a a doença, para es- cicatrizes associadas à A I D S reside na
t i m a r a exposição, f o i desenvolvido ignorância dos jornalistas de c o m o a
apenas depois de q u a t r o anos, prima- comunidade aplica o t e r m o "epide-
riamente para proteger as doenças de m i a " a qualquer a u m e n t o além da in-
sangue. O Congresso e a administra- cidência " n o r m a l " esperada de uma
ção federal providenciaram f u n d o s de doença. Assim, uma epidemia pode
emergência para pesquisa sobre as envolver números relativamente pe-
causas da A I D S , cuidados, possíveis quenos para casos de uma doença ra-
curas e vacinas potenciais c o n t r a a ra. E n t r e t a n t o , no desenvolvimento
doença. da história da A I D S , a versão "sensa-
c i o n a l i s t a " ainda pode se mostrar
A história da A I D S c o n t i n h a to-
mais acurada à medida que os médi-
dos os elementos necessários para a
cos desenvolvem seus dados. Dessa
reportagem sensacionalista: sexo,
maneira, as notícias correram adiante
ameaça à saúde, mistério e alta pro-

226
do c o n h e c i m e n t o . A reportagem não banco de sangue, amigos e conheci-
podia esperar pelos anos necessários dos casuais e os pacientes da A I D S .
para desenvolver informação mais E n q u a n t o tentava trazer racionalida-
plena, embora ainda incompleta. de generalizada a essa imagem, o D r .
O u t r a c r í t i c a envolvia a falha dos Hatcher n o t o u , u m p o n t o que se re-
meios de comunicação em transmi- feria aos baixos perigos da transmis-
t i r as imensas dificuldades que os pes- são casual de uma pessoa para o u t r a
quisadores enfrentam para localizar f o i negado pelo f i n a l d o programa,
as causas da A I D S o u qualquer doen- que prevenia: "Use precauções extre-
ça nova através dos métodos lentos, mas quando em c o n t a t o c o m u m pa-
dolorosos da pesquisa básica. A epi- ciente da A I D S . " (Esse f o i , entretan-
demiologia ajuda a localizar, escrever t o , u m conselho que m u i t o s na co-
e definir m u i t o s aspectos de uma do- munidade médica iriam apoiar a par-
ença nova, mas os pesquisadores po- t i r de ''seu p r ó p r i o conhecimento das
dem postular várias e ainda c o n f l i t a n - incertezas da ciência e medicina até
tes teorias o u hipóteses, que precisam que todas as evidências possíveis so-
ser testadas e verificadas. Durante o bre a A I D S tivessem sido desenvol-
calor da controvérsia sobre a A I D S vidas, e f o i uma indicação de opi-
documentada pela PBS, t a n t o os niões divergentes encontradas nas dis-
cientistas franceses c o m o os america- putas médicas).
nos identificaram u m vírus acredita- O Dr. Hatcher elogiou os p r o d u t o -
d o c o m o a causa da A I D S . N o final res da PBS por t r a n s m i t i r e m uma des-
de 1985, a comunidade c i e n t í f i c a crição suficiente e ampla dos sinais
ainda não havia alcançado consenso que os leigos poderiam usar para re-
universal sobre se este era o mesmo conhecer a A I D S em seus estágios
vírus idêntico o u duas versões d o mais precoces. N o entanto, quando
mesmo, levantando a possibilidade de u m f u n c i o n á r i o p ú b l i c o , casado, no
que o vírus da A I D S , c o m o o da gri- Texas declarou ter tais sintomas, os
pe, simplesmente poderia ser capaz jornalistas não o pressionaram para
de passar por uma mutação mais rapi- reconhecimento p ú b l i c o da verdadei-
damente d o que os cientistas p o d i a m ra natureza d o seu estado. T a n t o os
desenvolver vacinas. jornalistas de imprensa c o m o os dos
0 p r ó p r i o d o c u m e n t á r i o da A I D S meios eletrônicos usaram material de-
parecia c o n t r a d i t ó r i o , observou o D r . talhado de seu certificado de ó b i t o ,
Hatcher. U m de seus propósitos era entretanto, para p e r m i t i r que seus
estabelecer que a A I D S é d i f í c i l de públicos inferissem a A I D S , embora
t r a n s m i t i r de uma v í t i m a para colegas isso nunca tenha sido d i t o explicita-
de trabalho, pessoal médico e f a m í - mente. Dr. Hatcher t a m b é m elogiou
lias. Essa falta de compreensão da do- os produtores por o m i t i r e m descri-
ença causou u m certo afastamento en- ções e fotografias dos procedimentos
tre empreendedores, enfermeiras, mé- de t r a t a m e n t o , que podem ser dolo-
dicos, empregadores, operadores de rosos. Os produtores de tevê, mais d o

227
que os redatores da imprensa, devem suficiente para prender uma audiên-
ser sensíveis à possibilidade de que cia. A realidade precisa ser transfor-
pessoas precisando de t r a t a m e n t o pa- mada em e n t r e t e n i m e n t o , no ethos
ra a A I D S , câncer o u quaisquer ou- da tevê. C o m o os jornalistas geral-
tras doenças procurem evitar o trata- mente e os repórteres de televisão em
m e n t o depois de vê-lo e às suas con- particular t ê m limitada percepção
seqüências (Hatcher, 1984). Os médi- dos riscos tecnológicos, eles tendem
cos freqüentemente afastam as soli- a se basear em funcionários do go-
citações dos pacientes em relação a verno c o m o fontes de informação
tais detalhes ou passam ligeiramente c o m autoridade, responsáveis e neu-
por eles, pela mesma razão. tras. Quando o governo está confuso
Em situações de furos noticiosos, o u insensível a riscos emergentes, os
os poderosos efeitos das imagens de jornalistas provavelmente v o l t a m aos
televisão ligados a situações de crise, seus pré-condicionamentos aos shows
c o m o o acidente de 1979 na usina de e n t r e t e n i m e n t o . As perguntas
nuclear de Three Mile Island o u even- mais fáceis que podem fazer são: " E
tos territoriais e de seqüestros aéreos, se. . . ? " , que evocam respostas espe-
fizeram com que a tevê se tornasse culativas arrancadas das possibilida-
f o c o de consideráveis críticas de ou- des dos piores casos.
tros do meio e de fora. U m a linha de Seja u m meio impresso o u eletrô-
críticas a f i r m a que a tevê, c o m a aju- nico, há p r i m i t i v i s m o em todos nós.
da de escritores de não-ciência dos Quando os cientistas estão intrigados,
veículos impressos, exagerou os peri- c o m o o professor David M. R u b i n
gos dos vazamentos de irradiação em (1980) escreveu no acidente de Three
Three Mile Island. Os c r í t i c o s d o po- Mile Island, u m t e m o r antigo leva os
der nuclear, por o u t r o lado, acusam redatores a usarem todos os recursos
as redes de televisão de m i n i m i z a r a para informação enquanto condicio-
seriedade do acidente. Vários estudos nados a procurar pelo p i o r . Dr.
seguindo-se àquele incidente particu- E d w a r d Burger, d i r e t o r d o Institute
lar mostrado pelos repórteres de tevê of Health Policy Analysis da George-
geralmente agiram responsavelmente, t o w n University Medicai Center, con-
mas espelharam a confusão entre os t o u Daniel Machalaba d o The Wall
cientistas nucleares e engenheiros em Street Journal, "o p ú b l i c o merece ser
cena. educado a respeito de ciência, mas a
Após o acidente, a c r í t i c a real diri- imprensa enfatiza o simplístico e o
gida à T V f o i a falta de análise pon- assustador" (Machalaba, 1984). Mas
derada. A socióloga D o r o t h y N e l k i n quando os xamãs alcançam o limite
(1984a) a t r i b u i u a falta de tais análi- de seu conhecimento, o que se en-
ses parcialmente às pressões da tevê contra ali fora pode ser m u i t o assus-
para selecionar material visualmente tador. A maior parte da história de
estimulante. Cabeças falantes, diz ela, Three Mile Island f o i escrita (Sills,
não são consideradas estimulantes o 1982), mas os dramas inerentes na

228
busca da cura e prevenção da A I D S Experiências
ainda d e v e m ser desempenhados, j u n - 1. Das matérias de ciência que você leu,
t a m e n t e c o m sabe-se lá q u a n t o s ou- escolha um ou dois assuntos que pensa
preencherem os requisitos para um progra-
t r o s dramas a g u a r d a n d o para serem
ma de televisão, e explique por que, num
descobertos. Por e x e m p l o , u m dos memorando de uma página destinado a
novos quebra-cabeças da A I D S emer- convencer um diretor de notícias de tevê
giu na descoberta de u m a c o n c e n t r a - que eles podem ser produzidos.
ção de v í t i m a s n u m a pequena cidade 2. Baseando-se na revista Science, o New
da F l ó r i d a assolada pela p o b r e z a . Por England Journal of Medicine ou outro Pe-
quê? F i q u e s i n t o n i z a d o . riódico, escreva duas matérias noticiosas
para o rádio. Se tiver um gravador, grave-
as para ouvir e criticar em classe.
Desvendar tais mistérios c o l o c a d o s
3. Escolha uma matéria de sua leitura de
por u m m u n d o natural é o propósito
Periódicos ou a partir da experiência e pre-
da ciência. Colocar o progresso errá- pare um script de tevê de dois minutos, e
t i c o da ciência e m perspectiva é a ta- os storyboards para o mesmo. Talvez sua
refa da redação c i e n t í f i c a , faça-o vo- classe possa reunir o melhor das matérias
cê apenas c o m palavras o u s o m , m o - num programa de ciência.
v i m e n t o e imagem. T o d o s os r e d a t o - 4. Entreviste o funcionário de informa-
res c i e n t í f i c o s devem ser versáteis e çfles públicas da universidade para um pro-
dispostos a operar no m e i o de c o m u - grama de rádio ou vídeo sobre os proble-
mas de lidar com os cientistas e os assun-
nicação que possibilita a m e l h o r c o m -
tos científicos em sua escola.
preensão. Seja q u a l f o r a sua escolha,
será u m a e x c i t a n t e j o r n a d a intelec- 5. Arranje para visitar a sala de imprensa
de uma universidade local ou estação de
t u a l e f í s i c a , em boa c o m p a n h i a , para
televisão durante as preparaçSes para um.
o d e s c o n h e c i d o . Poderá ser u m a noticiário; observe a seleçSo e edição de
a v e n t u r a satisfatória. matérias.

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Impresso por
Gráfica Portinho Cavalcanti Ltda.
Rua Santana, 136/138 (edifício próprio)
Tel : 224-7732 (PABX).
Rio de Janeiro — RJ
que transcende, sem dúvida, o seu
valor prático como guia para determi-
nada classe sócio-profissional, desen-
volve uma abordagem pormenorizada
de temas pertinentes como a coleta,
seleção, controle, tratamento técnico e
divulgação das notícias sobre os dife-
rentes campos das ciências, as cone-
xões entre o interesse público e a re-
dação científica, e as questões éticas
que esta compreende.
Confiante no seu papel de veículo
de democratização cultural, o Autor
reconhece que a redação científica
tende a ser dirigida para fora, ou seja,
para audiências situadas além da es-
trita especialidade científica onde a
informação se origina. O escritor de
ciência aparece aqui focalizado como
parte de um sistema de educação e
comunicação tão complexo como a
ciência moderna e a sociedade mais
avançada do ponto de vista de seu de-
senvolvimento técnico-científico. Em
seus alcances mais extremos, o jorna-
lismo científico pode ajudar-nos, de
forma vigorosa, a transpor o fosso
entre cientistas e não-cientistas. Essa
é a mensagem fundamental deste livro
que a EDITORA FORENSE UNI-
VERSITÁRIA tem o orgulho de con-
fiar aos leitores brasileiros e, em par-
ticular, às nossas comunidades cientí-
fica e jornalística cada vez mais aten-
tas à responsabilidade de se veicula-
rem informações sobre a produção das
ciências no mundo atual.

Capa: Rimsky
OUTRAS OBRAS DE INTERESSE
PERMANENTE

A ÉTICA NO JORNALISMO:
Um Guia para Estudantes, Profissionais
e Leitores
Philip Meyer
Esta obra de Philip Meyer, Professor de Jornalismo William
Rand Kenan, Jr., da Universidade Chapei Hill da Carolina do
Norte e um dos mais expressivos representantes do chamado
jornalismo de precisão, baseia-se em uma ampla pesquisa sobre
editores, coordenadores ou diretores editoriais e outros profis-
sionais da área jornalística. O livro documenta a confusão ética
atestada na imprensa dos EUA no rastro do escândalo de Water-
gate e da controvérsia dos Papéis do Pentágono. Ele fornece
uma fundamentação analítica e histórica para mostrar como a
imprensa alcançou esse nível de crise e sugere maneiras como
esta pode ser mudada para melhor. Procura focalizar, sob uma
nova perspectiva, algumas áreas importantes da preocupação
ética - a pressão por parte dos anunciantes, a objetividade, o
conflito de interesses, a invasão da privacidade - a fim de exa-
minar como os diversos jornais lidam com esses problemas ou
com outros afins.

PROFISSÃO JORNALISTA:
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Cremilda Medina
A EDITORA FORENSE UNIVERSITÁRIA, que teve o
privilégio de publicar obras fundamentais de grandes pensadores
de nosso tempo como A Arqueologia do Saber de Michel Fou-
cault e Cultura de Massas no Século XX de Edgar Morin, está
consciente de haver destinado ao público brasileiro um texto ca-
pital sobre esta classe profissional e a comunicação no mundo
moderno. Na tarefa de traçar o quadro de responsabilidade so-
cial em que se insere o jornalismo, o estudo de Cremilda Medina
vai muito além e aprofunda a nossa compreensão dos aspectos
essenciais da questão: agir sobre realidades que nos são contem-
porâneas exige um tremendo esforço que abrange a vigilância
crítica sobre si próprio e sobre a estrutura social e política do
país em que se trabalha, sobretudo quando pesa sobre este o ta-
cão de regimes ou governos autoritários.

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