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DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS LINGÜÍSTICOS - DIALETO CAIPIRA
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LINGUAGEM, SER HUMANO E MUNDO: UMA
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.: Fototeca Ao abordar as idéias de Humboldt sobre a linguagem, este texto atravessa
.: Lançamento de Livros temas complexos nos estudos lingüísticos, tais como: a natureza das línguas – se
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processo, estrutura-sistema, ou os dois; a visão de que o estudo das línguas deve
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Wilhem von Humboldt nasceu em Potsdam, em 1767, e morreu em 1835.
.: Resenhas
.: Sugestão de Material Didático Estudou direito, dedicou sua vida aos estudos e atuou em várias áreas, tais como:
.: Tradução de Textos Lingüística, Filosofia, Educação e Política. Vivenciou os acontecimentos referentes à
.: Textos Literários Revolução Francesa, tendo representado a Prússia no Congresso de Viena (onde
.: Vídeos Didáticos houve a definição das fronteiras da Europa após Napoleão Bonaparte) e também
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fundou a Universidade de Berlim (1810), a partir de um ideal humanista de
Veja também educação. Era irmão do renomado explorador e naturalista Alexander von
Humboldt, que o ajudou nas pesquisas lingüísticas fornecendo-lhe dados sobre
diversas línguas e dialetos com os quais entrava em contato em suas viagens. Foi a
partir de 1819 que Humboldt se dedicou mais intensamente aos estudos
lingüísticos, uma vez que as frustrações no campo político o afastaram da vida
da língua e a compreensão em uma dada comunidade. Trata-se de uma negação do
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positivismo lingüístico e de conferir à língua uma concepção estética, sendo “o ato
de criação individual da fala” a realidade essencial da língua (1988, p. 76). Pode-se
dizer que essa descrição se caracteriza por uma abordagem não somente idealista,
mas também romântica da língua. Contudo, Bakhtin/Voloshinov não estava cego
para a complexidade do pensamento humboldtiano, visto que chama a atenção de
Revue Texto!
seu leitor para a profundidade e aparentes “contradições” no pensamento de
Humboldt, aspectos que teriam conferido ao lingüista alemão o papel de “iniciador
de diferentes correntes profundamente divergentes entre si” (1988, p. 73).
Porém, dada a amplitude e a generalidade dos trabalhos de Humboldt,
Texto livre pode-se questionar o termo “subjetivismo idealista” usado por Bakhtin/Voloshinov
para definir o pensamento do teórico alemão. Isso porque as concepções deste
último parecem circular pelo romantismo, idealismo, liberalismo, humanismo e
pelo hinduísmo, conforme se percebe nas citações a seguir:
TRIANGLE
Sua concepção de natureza humana
é fortemente influenciada por Rousseau, e
sua formulação da bondade originária do
homem, pela filosofia da natureza de
UEHPOSOL
Goethe. (ROSENFIELD In: HUMBOLDT, 2004,
p. 22)
Por certo que a ética kantiana e o
ideal humanista de Humboldt da
personalidade sem arestas e harmoniosa
têm algo em comum. (BURROW In:
HUMBOLDT, 2004, p. 97).
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Sua concepção de homem, que parte
de uma crítica do homem do Iluminismo,
apresenta os rasgos do idealismo. Para
Humboldt, o indivíduo precisa de liberdade
para poder alcançar o máximo grau de
desenvolvimento de suas capacidades. A
ação do Estado deve ser limitada, para não
prejudicar o aperfeiçoamento do indivíduo.
(ABELLÁN In: HUMBOLDT, 2004,
contracapa).
Não deveria ser inteiramente
surpreendente que Humboldt, na parte final
de sua vida, tal como Schelling e Wagner,
houvesse desenvolvido interesse pelo
misticismo oriental; ele tornar-se-ia
entusiasmado com o Bhagavad Gita. (nota
7, HUMBOLDT, 2004, p. 177).
De qualquer forma, sobre o ‘problema do rótulo’, vale citar o comentário
de Russell: “Um dos grandes obstáculos à compreensão da filosofia, e na verdade
de qualquer outro campo, é a classificação cega e extremamente rígida dos
pensadores por meio de rótulos. Contudo, a divisão convencional não é arbitrária,
mas sim indica alguns traços das suas tradições” (2002, p. 306).
A seguir, apresento algumas idéias humboldtianas que ainda fazem eco na
lingüística moderna, seja pelo apagamento, seja pela retomada e reconfiguração
que tais idéias sofreram, a saber: uma concepção de língua tida como processo
(energeia), a visão holística acerca do estudo das línguas, e a relação intrínseca
entre língua, pensamento e cultura.
1 A natureza das línguas
Na concepção de Humboldt, as complexidades intelectual e lingüística se
justapõem, não sendo possível falar sobre linguagem sem recorrer a uma certa
concepção de ser humano/ indivíduo. E a individualidade tanto se remete às
nações, com suas particularidades, como aos indivíduos, com suas próprias
línguas. Sobre este último aspecto, o autor chega a sugerir que “[...] seria portanto
melhor multiplicar as diferentes línguas, na medida permitida pelo número de
seres humanos habitantes do planeta” (HUMBOLDT, trad. OLIVEIRA, 2006, p. 09).
À individualidade prende-se a noção de liberdade, que existe na relação de
cada indivíduo com a língua, e esta, por sua vez, aparece a ele pronta e como
produto de gerações anteriores. Assim, liberdade não pode ser entendida como
arbitrariedade em relação à língua, mas diz respeito – em função da
interdependência entre linguagem e pensamento – à utilização criativa do
pensamento e ao uso da imaginação: trata-se, nesse caso, de “atuação autônoma
da individualidade” (HUMBOLDT, trad. BRAGANÇA Jr., 2006, p. 173). Porém, esta
liberdade é limitada, pois a língua possui uma tradição que é constitutiva dela,
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Salienta ainda que a análise da forma não visa identificar e classificar as diversas
partes da linguagem, uma vez que “a quebra em palavras e regras nada mais é do
que obra malfeita e morta, produzida pela prática desmembradora da ciência”
(HUMBOLDT, trad. VOLOBUEF, 2006, p. 101). Essa preocupação com o
esmiuçamento da forma também é evidente no seguinte trecho: “mesmo o falar da
nação mais rudimentar é uma obra natural nobre demais para ser desfigurada em
partes tão casuísticas e ser examinada de forma tão fragmentária” (HUMBOLDT,
trad. MONTEZ, 2006, p. 43). Já o estudo da substância da língua envolve “de um
lado, o som propriamente dito, de outro, a totalidade das impressões sensoriais e
dos movimentos autônomos do espírito que antecedem a construção dos conceitos
com o auxílio da língua” (HUMBOLDT, trad. VOLOBUEF, 2006, p. 112-3).
É na interligação de forma e substância que se revela o caminho da
expressão do pensamento: “por meio da representação da forma deve-se
reconhecer o caminho específico pelo qual a língua, e com ela a nação à qual
pertence, chega à expressão do pensamento” (ibid., p. 115). Percebe-se que para
Humboldt a língua deve ser estudada como constituída, simultaneamente, de
forma e substância. Não se trata de dicotomizar esses dois aspectos para favorecer
um estudo científico da língua; trata-se, sim, de ver no fenômeno lingüístico as
regras e leis que constituem seu funcionamento, bem como o aspecto semântico
(mental) da linguagem.
A abordagem holística de Humboldt também pode ser percebia nas noções
de objetividade e de subjetividade vinculadas à língua. Segundo o autor, as duas
constituem uma realidade só e apenas se diferenciam “porque a ação autônoma da
reflexão as opõe uma à outra” (HUMBOLDT, trad. OLIVEIRA, 2006, p. 11). Com isso,
a objetivação e subjetivação da língua são resultado das ações dos indivíduos
sobre elas, sendo que Humboldt defende que as duas ações deveriam estar ligadas
em uma única, de forma a se “capturar” o todo da língua.
3 Língua, cultura e pensamento
Humboldt concebe a língua como mediadora entre o mundo real e o
mundo da consciência; com isso, ela é, ao mesmo tempo, material e espiritual.
Nesse sentido – como capacidade e atributo da mente humana – a linguagem é
universal, diferente das línguas que, ao serem passíveis de alteração de acordo
com o meio, moldam e modificam a percepção do mundo; assim, línguas
diferentes oferecem diferentes olhares sobre o mundo e, portanto, diferentes
respostas à vida (STEINER, 2005). Devido a essa definição de língua, Seuren (1998)
defende que o interesse principal de Humboldt teria sido a relação dinâmica
existente entre língua, cultura e pensamento. Com isso, culturas mais
desenvolvidas teriam línguas mais complexas e sofisticadas e vice-versa – crença
que teria conferido ao filósofo alemão uma mente chauvinista, o que era comum no
contexto cultural nacionalista em que vivia. Ademais, esse tripé teria servido de
inspiração para a hipótese Humboldt-Sapir-Whorf de que os padrões mentais das
pessoas seriam, em certa medida, determinados pela língua que falam. Contudo,
Seuren (1998) afirma que apesar de as leituras tradicionais localizarem Humboldt
como um representante daquela hipótese, a visão dialética do filósofo alemão se
distancia dela, ao reforçar a existência de uma relação de mão dupla entre língua e
pensamento. Assim, a verdadeira hipótese-Humboldt seria, segundo Heath (in
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