Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Sinopse
Constitui um dos aspectos mais relevantes do interesse pela filosofia
de Kant nas últimas quatro décadas, a par com a descoberta da filosofia
1
CFUL – Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. E-mail: leonelrs@netcabo.pt
2
Alexander G. Baumgarten. Ästhetik (Latein-Deutsch). Hamburg: Felix Meiner, 2007,
§1, Teil 1, p. 10. A ideia de que há uma «lógica da fantasia» ou «lógica da imaginação»
(Logik der Phantasie/ Logik der Einbildungskraft) fora já avançada pelo pensador suíço
Johann Jacob Breitinger, na sua obra Critische Abhandlung von der Natur, den Absichten
und dem Gebrauche der Gleichnisse (Zürich, 1740), onde se lê, nas p.238-239: «Muitas
vezes me ocorreu a ideia de que a imaginação, tal como o entendimento, necessita de
uma certa Lógica. [...] Se as imagens dos sentidos entre si concordantes se ligam entre si,
nascem na Lógica da fantasia as metáforas, tal como, na Lógica da razão, da ligação dos
conceitos que se deixam pensar resultam as proposições.» [Es ist mir manchmahl in den
Sinn gekommen, dass die Einbildungs-Kraft eben so wohl als der Verstand einer gewissen
Logik vonnöthen habe. […] Wenn die zusammenstimmenden <Sinnen-Bilder> mit
einander verbunden werden, so entstehen in der Logik der Phantasie die Gleichniss-
Bilder, wie in der Vernunft-Lehre aus der Verknüpfung der Begriffe, die sich gedencken
lassen, die Sätze hervorwachsen.] Veja-se: Horst-Michael Schmidt. Sinnlichkeit und
Verstand. Zur philosophischen und poetologischen Begründung von Erfahrung und Urteil
in der deutschen Aufklärung (Leibniz,. Wolff, Gottsched, Bodmer und Breitinger,
Baumgarten). München: Wilhelm Fink, 1982, pp.140 ss.
3
A. G. Baumgarten. Meditationes philosophicae de nonnullis ad poema pertinentibus
(Latein-Deutsch). Trad. e introd. de H. Paetzold. Hamburg: Felix Meiner, 1983, § 96 (p. 84-
86): «graeci iam philosophi et patres inter aistheta et noetá sedulo simper distinxerunt
[...] Sint ergo noetá cognoscenda facultate superiore obiectum Logices; aisthetá, epistémes
aisthetikés, sive AESTHETICAE.» Na Introdução à Estética Transcendental da Crítica da
Razão Pura, Kant invoca essa mesma antiga distinção entre os noetá e os aisthetiká,
mas, segundo tudo indica, sem conhecer essa passagem do opúsculo do seu antecessor.
4
É bem significativo que seja Kant a registar isso, e fá-lo em várias ocasiões, de que dou
exemplos: Welches sind die Fortschritte, Ak XX, 343: «Die Philosophie ist hier gleich als
Vernunftgenius anzusehen.»; Refl. z. Logik, Ak XVI, 65:«Zu Künsten und
Nachahmungswissenschaften gehört Gelehrtigkeit, zur Philosophie Genie.»; Opus
postumum, Ak XXI, 141: «Mathematik ist eine Art von Gewerbzweig, (Handwerk) reine
Philosophie ein Genieproduct.» Salvo indicação em contrário, os escritos de Kant são
citados pela edição dos Kants gesammelte Schriften (Akademie-Ausgabe: Ak), Berlin,
1902 ss (reimpressão: Berlin: Walter de Gruyter).
5
«Philosophiam et poematis pangendi scientiam, habitas saepe pro dissitissimis,
amicissimo iunctas ponerem ob oculos.» Meditationes philosophicae de nonnulis ad poema
pertinentibus, 1735,
6
F. W. J. Schelling, System des transcendentalen Idealismus (1800), Schellings Werke,
ed. M. Schröter, München: Beck’sche Verlagsbuchhandlung, 1927 ss, Bd. II, p. 349-351;625-
629.
7
O mais antigo programa de sistema do idealismo alemão. Este singular manifesto
filosófico foi editado, traduzido, introduzido e anotado por Manuel José do Carmo Ferreira,
in Philosophica, 9 (1997) p. 225-226.
8
KrV A22/B 35; Ak IV, 30/ Ak III, 50: «Os Alemães são presentemente os únicos que se
servem da palavra Estética para designar aquilo que outros chamam crítica do gosto.
Reside na base disso uma falhada esperança que o notável analista abraçou de subordinar
a apreciação crítica do belo a princípios racionais e de elevar as regras da mesma a uma
ciência. Só que este esforço é em vão. Pois as supostas regras ou os critérios, no que
respeita às suas [principais – B] fontes, são meramente empíricas e nunca podem servir
para leis [determinadas – B] a priori, segundo as quais o nosso juízo de gosto se deva
reger, sendo antes este último propriamente a pedra-de-toque da correcção daquelas».
9
Nessa linha se inscreve o ensaio de Kant de 1764, Beobachtungen über das Gefühl des
Schönen und Erhabenen.
10
Tal o título da obra de Edmund Burke, A Philosophical Enquiry into the Origin of our
Ideas of the Sublime and Beautiful, 1757, na qual Kant largamente se inspira.
11
Não deixa de ser estranho que precisamente aquele sentido que mais irredutível é à
beleza e o mais impuro seja assim a base da Estética da Modernidade. Os sentidos
tradicionalmente considerados como estéticos eram a vista e o ouvido, capazes, um, de
captar as formas, as figuras, a luz, o brilho e as simetrias e proporções, e o outro, as
harmonias (outra espécie de proporções ou relações). O próprio Rousseau, no Émile (IV),
diz, do gosto, que «l’activité de ce sens est toute physique et matérielle.»
12
Veja-se: Alexander von Bormann (Hrsg.). Vom Laienurteil zum Kunstgefühl. Tübingen:
Max Niemeyer Verlag, 1974. Especialmente o texto de Friedrich Nicolai (1755), p. 125-
129: «Eine genaue und gesunde Kritik, <ist>das einzige Mittel, den guten Geschmack
zu erhalten, und zu bestimmen. .. Die Hülfe der Kritik ist uns nur desto unentbehrlicher,
da wir anfangen müssen, die feinen Schönheiten zu erreichen, und die feinen Fehler zu
vermeiden, die nicht, gleich den gröbern, sogleich in die Sinne fallen, und auf die wir
bisher zu wenig Acht gegeben haben. ... Die Kritik ist die einzige Helferin, die, indem sie
unsere Unvollkommenheiten aufdeckt, in uns zugleich die Begierde nach höhern
Vollkommenheiten anfachen kan.»
14
Kant continuará a usar o adjectivo «estético» no sentido do que se refere ao intuitivo e
sensível, como oposto ao lógico (discursivo, intelectual). Sobre isso, veja-se o meu ensaio:
«O estatuto da sensibilidade no pensamento kantiano: Lógica e Poética do pensamento
sensível». In: RIBEIRO DOS SANTOS, 1994, p. 13-37.
Kant conclui:
Representações dadas num juízo podem ser empíricas (por
conseguinte, estéticas), mas o juízo que é proferido através delas é
lógico, se no juízo elas são referidas apenas ao objecto [Objekt].
Inversamente, porém, mesmo se as representações dadas fossem
completamente racionais [gar rational], caso num juízo elas fossem
referidas simplesmente ao sujeito (ao seu sentimento [sein Gefühl]),
elas seriam sempre enquanto tais estéticas [so sind sie sofern jederzeit
ästhetisch].
15
Empfindung tem no uso que Kant faz do termo um significado muito amplo. Tanto pode
dizer a sensação, como o sentir, como o sentimento. Aponta mais frequentemente para o
aspecto material da percepção, mas pode indicar também a dimensão subjectiva – a
capacidade de o sujeito ser intimamente afectado e o modo de o ser. Veja-se: Takeshi
Nakazawa. Kants Begriff der Sinnlichkeit. Seine Unterscheidung zwischen apriorischen
und aposteriorischen Elementen der sinnlichen Erkenntnis und derren lateinische
Vorlagen, Stuttgart-Bad Cannstatt: Frommann-Holzboog, 2009, p. 145-152.
16
KU, Ak V, 277: «Es ist auch nicht zu läugnen, dass alle Vorstellungen in uns, sie mögen
objectiv bloss sinnlich, oder ganz intellectuell sein, doch subjectiv mit Vergnügen oder
Schmerz, so unmerklich beides auch sein mag, verbunden werden können (weil sie
insgesammt das Gefühl des Lebens afficiren, und keine derselbe, sofern als sie Modifikation
des Subjects ist, indifferent sein kann); sogar dass, wie Epikur behauptete, immer
Vergnügen und Schmerz zuletzt doch körperlich sei, es mag von der Einbildung, oder gar
von Verstandesvorstellungen anfangen: weil das Leben ohne das Gefühl des körperlichen
Organs bloss Bewusstsein seiner Existenz, aber kein Gefühl des Wohl-oder Übelbefindens,
d.i. der Beförderung oder Hemmung der Lebenskräfte, sei; weil das Gemüth für sich allein
ganz Leben (das Lebensprincip selbst) ist, und Hindernisse oder Beförderungen ausser
demselben und doch im Menschen selbst, mithin in der Verbindung mit seinem Körper
gesucht werden müssen.»
17
Wahrheit und Methode. 4. ed. Tübingen: Mohr, 1975.
18
«Schönheit nur für Menschen, d. i. tierische, aber doch vernünftige Wesen, aber doch
nicht bloss als solche (z. B. Geister), sondern zugleich als tierische.» KU §5, Ak V, 210.
19
«Schönheit ist Form der Zweckmässigkeit eines Gegenstandes, sofern sie ohne
Vorstellung eines Zwecks an ihm wahrgenommen ist». Ak V, 236. Como traduzir a expressão
alemã Zweckmässigkeit? Finalidade?, conformidade a um fim?, teleoformidade? Temos
adoptado esta última solução, pois nos parece inadequada a primeira e para evitar o
circunlóquio da segunda.
20
São do género várias expressões usadas por Nicolau de Cusa: «douta ignorância»,
«altíssima profundidade», «possest»; ou a «música calada» do poeta barroco e místico
espanhol San Juan de la Cruz. São também exemplos de expressões oxímoras (que se
autoanulam, que dizem o mesmo e o seu contrário, provocando o paradoxo ou a
perplexidade) na Crítica do Juízo: «Kunst als Natur / Natur als Kunst»; «Gesetzmässigkeit
ohne Gesetz», «freie Gesetzmässigkeit» (Ak V 241): para falar do modo de produção da
imaginação: «Dass die Einbildungskraft frei und doch von selbst gesetzmässig sei, d.i.
dass sie eine Autonomie bei sich führe, ist ein Widerspruch. Der Verstand allein gibt das
Gesetz. Wenn aber die Einbildungskraft nach einem bestimmten Gesetze zu verfahren
genötigt wird, so wird ihr Produkt, der Form nach, durch Begriffe bestimmt, wie es sein
soll; aber alsdann ist das Wohlgefallen, wie oben gezeigt, nicht das am Schönen, sondern
am Guten (der Vollkommenheit, allenfalls bloss der formalen), und das Urteil ist kein
Urteil durch Geschmack. Es wird also eine Gesetzmässigkeit ohne Gesetz, und eine
subjektive Übereinstimmung der Einbildungskraft zum Verstande ohne eine objektive, da
die Vorstellung auf einen bestimmten Begriff von einem Gegenstande bezogen wird, mit
der freien Gesetzmässigkeit des Verstandes (welche auch Zweckmässigkeit ohne Zweck
genannt worden) und mit der Eigentümlichkeit eines Geschmacksurteils allein zusammen
bestehen können.» Note-se que a Gesetzmässigkeit ohne Gesetz ou a freie
Gesetzmässigkeit =Zweckmässigkeit ohne Zweck, o que significa que
Einbildungskraft=Urteilskraft!
21
«Eine Blume, z.B. eine Tulpe, wird für schön gehalten, weil eine gewisse
Zweckmässigkeit, die so, wie wir sie beurteilen, auf gar keinen Zweck bezogen wird, in
ihrer Wahrnehmung angetroffen wird.» Ak V, 236.
22
«Dieser transzendentaler Begriff einer Zweckmässigkeit der Natur... gar nichts dem
Objekte (der Natur) beilegt, sondern nur die einzige Art, wie wir in der Reflexion über die
Gegenstände der Natur […] vorstelle, folglich ein subjektives Prinzip (Maxime) der
Urteilskraft; daher wir auch, gleich als ob es ein glücklicher unsre Absicht begünstigender
Zufall wäre, erfreuet […] werden.» Einl.,V. KU, Ak V,
E no § 12:
A consciência da teleoformidade meramente formal no jogo das faculdades
de conhecimento do sujeito, por ocasião de uma representação, mediante a
qual um objecto nos é dado, é o próprio prazer, porque ela contém um princípio
determinante da actividade do sujeito com vista à dinamização das suas
faculdades de conhecimento do mesmo, por conseguinte, uma causalidade
interna (que é teleoforme) […] uma simples forma da teleoformidade
subjectiva de uma representação num juízo estético.24
De acordo com tal pressuposto, não há objectos que são estéticos por
si e outros que o não são; já que, em qualquer um, pode um sujeito descobrir
a teleoformidade de uma forma que o torna para ele ocasião de um juízo ou
sentimento estético. Pense-se, por exemplo, no quadro de Van Gogh «Sapatos
velhos com atilhos». Nada recomendaria aqueles objectos como belos, nem
sequer como dignos da atenção e muito menos para um juízo estético ou
sequer como matéria para o pintor. Deixá-los-íamos à porta da rua para que
os recolhedores do lixo os levassem para a lixeira, pois – assim velhos, gastos,
rotos, deformados, sujos – já nem préstimo para o uso de um pedinte têm.
Muito menos nos ocorreria a ideia de os levar para os entronizar como um
objecto de contemplação numa das salas da nossa casa. Todavia, ao caírem
sob o olhar do pintor ou do artista, eles são, por assim dizer, transfigurados
por esse olhar e logo também pela sua arte, revelando, tanto para o artista,
quanto para os que venham a contemplá-los, uma qualidade estética – isto
23
«Das Geschmacksurteil hat nichts als die Form der Zweckmässigkeit eines
Gegenstandes (oder der Vorstellungsart desselben) zum Grunde.[...] Also kann nichts
anders als die subjektive Zweckmässigkeit in der Vorstellung eines Gegenstandes, ohne
allen (weder objektiven noch subjektiven) Zweck, folglich die blosse Form der
Zweckmässigkeit in der Vorstellung, wodur uns ein Gegenstand gegeben wird, sofern
wir uns ihrer bewusst sind, das Wohlgefallen, welches wir ohne Begriff, als allgemeine
mitteilbar beurteilen, mithin den Bestimmungsgrund des Geschmacksurteils, ausmachen.»
KU § 11.
24
«Das Bewusstsein der bloss formalen Zweckmässigkeit im Spiele der Erkenntniskräfte
des Subjekts, bei einer Vorstellung, wodurch ein Gegenstand gegeben wird, ist die Lus
selbst, weil es einen Bestimmungsgrund der Tätigkeit des Subjekts in Ansehung der
Belebung der Erkenntniskräfte desselben, also eine innere Kausalität (welche zweckmässig
ist) in Ansehung der Erkenntnis überhaupt, aber ohne auf eine bestimmte Erkenntnis
eingeschränkt zu sein, mithin eine blosse Form der subjektiven Zweckmässigkeit einer
Vorstellung in einem ästhetischen Urteile enthält.» KU § 12.
25
O mesmo se poderia dizer do famoso urinol de Duchamp, resgatado da sua muito útil
mas baixa e vil função e, uma vez rebaptizado como «Fonte», vê-se sublimado
esteticamente, tornando-se um nobre objecto estético, não tanto, talvez, para uma mera
contemplação desinteressada quanto, muito mais, para sobejas dissertações e discussões
acaloradas acerca da natureza e estranho destino da arte contemporânea! (Veja-se: T. de
Duve. Kant nach Duchamp. München: Boer, 1993). Por muito que tal nos pareça algo
contra-natura, Kant ver-se-ia assim, não ultrapassado e negado, mas antes promovido a
verdadeiro patrocinador intelectual de toda a arte do modernismo e até do pós-modernismo
(J-F.Lyotard. Leçons sur l’Analytique du Sublime. Paris: Galilée, 1991; L’inhumain.
Causeries sur le temps. Paris : Galilée, 1988 («Le sublime et l’avant-garde»). Deve,
todavia, ter-se em conta que Kant dispunha de contrapesos à arbitrariedade instituinte
do artista que os modernistas e pós-modernistas já não têm. Tais contrapesos eram a
natureza, o sentido comum e, em última instância, uma visão moral do mundo, a qual no
fundo envolve toda a concepção kantiana das questões estéticas.
26
PESSOA, Fernando. Poemas completos de Alberto Caeiro. Ed. de Teresa Sobral Cunha.
Lisboa: Presença, 1994. p. 76.
27
O escritor, ensaísta e pensador português Vergílio Ferreira viu isso com particular lucidez,
na sua obra Invocação ao meu corpo. Lisboa: Bertrand, 1969. Veja-se, a propósito, o meu
ensaio «A arte como obsessão, ou o humanismo estético de Vergílio Ferreira», no meu
livro Melancolia e Apocalipse. Estudos sobre o Pensamento Português e Brasileiro. Lisboa:
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2008. p. 349-374.
28
KU, § 27.
conseguinte, o juízo sobre o sublime na natureza não deverá ser excluído da divisão da
estética da faculdade de julgar reflexionante, pois ele exprime também uma teleoformidade
subjectiva que não se funda sobre um conceito do objecto» (ed. Lehmann, p. 59-61).
30
KU § 28, parágrafo final.
31
Reflexion 672, Ak XV, 298.
32
«Die ästhetische Vollkommenheit besteht in der Übereinstimmung des Erkenntnisses
mit dem Subjekte, und gründet sich auf die besondre Sinnlichkeit des Menschen. Es finden
daher bei der ästhetischen Vollkommenheit keine objektiv- und allgemeingültigen Gesetze
statt, in Beziehung auf welche sie sich a priori auf eine für alle denkende Wesen überhaupt,
doch subjektiv für die gesamte Menschheit Gültigkeit haben: lässt sich auch eine
ästhetische Vollkommenheit denken, sie den Grund eines subjektiv-allgemeinen
Wohlgefallens enthält. Dieses ist die Schönheit – das, was den Sinnen in der Anschauung
gefällt und eben darum der Gegenstand eines allgemeinen Wohlgefallens sein kann, weil
die Gesetze der Anschauung allgemeine Gesetze der Sinnlichkeit sind. Durch diese
Übereinstimmung mit den allgemeinen Gesetzen der Sinnlichkeit unterscheidet sich der
Art nach das eigentliche, selbständige Schöne, dessen Wesen in der blossen Form besteht,
von dem Angenehmen, das lediglich in der Empfindgung durch Reiz oder Rührung gefällt,
und um deswillen auch nur der Grund eines blossen Privat-Wohklgefallens sein kann.»
Ak IX, 36-37.
33
«Der Grund des Wohlgefallens bei Vernunftsätzen liegt, wo ich nicht irre, in der
Vermehrung der Einsichten, und Vollkommenheit derselben [-] bei Produkten des
Geschmacks, in der Leichtigkeit eine Menge mannigfaltiger Eindrücke aufnehmen, sie
ohne Mühe ordnen, unterscheiden, lebhaft empfinden und im Ganzen überschauen zu
können. Unsere Sinnlichkeit Gesetze sagten wir oben sind mit dem Gesetzen der
Sinnlichkeit anderer sehr übereinstimmend, und daraus werden die Grundregeln des
Geschmacks bezogen. Was sind das für Gesetze? – Unsere Sinnlichkeit ist in beständiger
Aktivität und will es auch beständig sein. Aus diesem Grundgesetz der Sinnlichkeit zieht
man die Regel des Geschmacks: soll ein Objekt der Sinnlichkeit gefallen, so muss darin
Mannigfaltigkeit angebracht werden, damit sie Stoff bekomme womit sie sich beschäftigen
kann: Das Gemüt ist bei der Form aller Gegenstände tätig. Es gibt die Materialien her,
und will sie durch den Gegenstand gebildet haben. – Alles was diese Aktivität der
Sinnlichkeit hindert, ist ihr verdriesslich und unangenehm. Hieraus fliesst die Regel: man
bemühe sich in dem Mannigfaltigen, Symmetrie, Harmonie und Klarheit und überhaupt
Fasslichkeit anzubringen, damit die Sinnlichkeit den Gegenstand ohne Mühe fassen, die
Eindrücke desselben leicht unterscheiden und empfinden kann. Also fordert der
Geschmack Mannigfaltigkeit, Kontrast, Harmonie, Leichtigkeit, Klarheit und einen
allmählichen Übergang von einem bis aufs Oppositum desselben, der Sprung verwirrt
die Sinnlichkeit. Ein Gegenstand an dem dieses alles in einem fasslichen Verhältnis
angebracht ist, ist wesentlich schön und gefällt allgemein. Ein grosser Gegenstand als
ein Gebäude gefällt wenn Symmetrie darin angebracht ist; sie erleichtert den Anblick
des Gebäudes. […] Es gibt also gewisse gemeine Gesetze der Sinnlichkeit in Ansehung
der Form und dieses werden, wo ich nicht irre, diejenigen sein die ich bisher
durchgegangen. – Allein es muss der Reiz gans abgesondert werden. [...]]Wenn ein Mensch
die Gesetze der Sinnlichkeit nicht weiss, so kann ihm auch das Schöne nicht gefallen:
denn Gegenstände der Sinne müssen nach Gesetzen der Sinnlichkeit beurteilt werden;
ein solcher Mensch urteilt dann nach dem Reiz.» (Logik-Philippi, Ak XXIV, Berlin, 1966,
apud Jens Kulemkampf. Materialien zu Kants Kritik der Urteilskraft. Frankfurt a. Main:
Suhrkamp, p. 106-107).
34
Assim, no Prefácio da KU: «[…] kann die grosse Schwierigkeit, ein Problem, welches die
Natur so verwickelt hat, aufzulösen, einiger nicht ganz zu vermeindenden Dunkelheit in
der Auflösung desselben, wie ich hoffe, zur Entschuldigung dienen…» Também a carta a
Reichardt (15 out. 1790, Ak XI,228) alude ao «so schweer zu erforschenden
Geschmacksvermögen». Noutros lugares, Kant sugere que a comunicabilidade e
universalidade do gosto se fundam na proximidade que esse sentimento tem com o
sentimento moral. A já citada Carta a Reichardt di-lo sem ambiguidade (texto citado
infra): sem sentimento moral não teríamos qualquer sentimento do belo e do sublime.
35
Segundo Hume, o que funda a pertinência do juízo de gosto e estabelece as normas do
gosto é o conhecimento dos experimentados, portanto, a comunidade dos conhecedores,
que aliás são raros. A universalidade do gosto é estatística: o que de uma forma
permanente é altamente apreciado pelo maior número de pessoas, isso deve ser tido por
belo e bom. Hume até concede que «as normas universais do gosto são as mesmas para a
natureza humana em geral»; mas as diferenças entre os indivíduos, as deficiências e os
preconceitos de cada um deles, as diferenças entre culturas, países e épocas tornam
muito improvável, senão até impossível, o acordo inequívoco e duradouro num juízo de
gosto.
36
«Man könnte sogar den Geschmack durch das Beurteilungsvermögen desjenigen, was
unter Gefühl an einer gegebenen Vorstellung ohne Vermittlung eines Begriffs allgemein
mitteilbar macht, definieren.» KU §40, Ak V 295.
E o § 40 conclui:
O gosto poderia ser chamado sensus communis e o juízo estético, com muito
mais razão do que o juízo intelectual, pode ser chamado um sentido comum
a todos [eines gemeinschaftliches Sinnes], se se quiser empregar a palavra
sentido [Sinn] como um efeito da simples reflexão sobre o ânimo [Gemüt];
pois aí entende-se por sentido [Sinn] o sentimento de prazer [Gefühl der Lust].
Poder-se-ia até definir o gosto como o poder de apreciação
[Beurteilungsvermögen] daquilo que, numa dada representação e sem
mediação de um conceito, torna universalmente comunicável o nosso
sentimento.38
37
Ak V, 294.
38
Ak V, 295.
39
KU § 56; Ak V, 338.
40
KU § 40, Ak V, 296. Foi essa muito peculiar natureza do juízo de gosto que levou Hannah
Arendt (Lições sobre a Crítica do Juízo, postumamente publicadas) a reconhecer, nesse
tópico, não tanto as virtualidades para compreender as questões estéticas, quanto o núcleo
mais original e fecundo para pensar a filosofia política de Kant e a própria essência do
político.
41
KU § 41.
42
A associação entre o bom e o belo estava difusa na tradição filosófica desde Platão e
encontra expressão em muitos ensaios de autores do século XVIII. Já no início dos anos
70 (Aus einer Logikvorlesung, Logik-Philippi [May 1772]; Ak XXIV, Berlin, 1966), Kant
declara: «Das Gute ist der essentiale Grund des Schönen. Das Wohlgefallen ist nur ein
akzidentaler und die Gründe desselben zufällig.» (apud J. Kulenkampf. Materialien…, p.
111). Ver abaixo, na nota 53, passagens das Lições de Antropologia e da Correpondência
que afirmam não só uma íntima afinidade entre o sentimento estético e o sentimento
moral, mas sugerem mesmo que o que garante a universalidade do juízo estético é a sua
origem no sentimento moral.
E conclui:
Nesta modalidade dos juízos estéticos, a saber, da necessidade a eles
atribuída, reside um momento capital para a crítica da faculdade de julgar.
Pois ela faz precisamente reconhecer neles um princípio a priori e subtrai-os
à psicologia empírica, onde, de contrário, ficariam sepultados sob os
sentimentos de deleite e de dor [Gefühlen des Vergnügens un Schmerzens]
(somente sob o epíteto, que nada diz, de se tratar de um sentimento mais
requintado [eines feinern Gefühls]), colocando-os e, mediante eles, a
faculdade de julgar [Urteilskraft], na classe daqueles que têm por fundamento
princípios a priori, fazendo-os passar enquanto tais para a filosofia
transcendental.43
43
KU §29, último parágrafo.
44
Sobre a concepção kantiana do génio, veja-se: O. Schlapp. Kants Lehre vom Genie und
die Entstehung der Kritik der Urteilskraft. Göttingen, 1901; Jürgen Saartrowe. Genie und
Reflexion. Zu Kants Theorie des Ästhetischen. Neuburgweier/Karlsruhe, 1971.
45
KU § 50.
46
Aspecto este destacado por Hannah Arendt, na sua interpretação da filosofia política
de Kant e da Crítica do Juízo.
47
KU § 41.
48
Embora o tenha feito por uma torção hermenêutica, foi com toda a razão que Hannah
Arendt apontou a extraordinária fecundidade da abordagem kantiana do juízo de gosto,
tanto para se compreender o cerne da filosofias política kantiana, quanto para uma
refundação filosófica do sentido da existência social e política dos homens. Veja-se, a
propósito, o meu ensaio «Da estética como filosofia política: Hannah Arendt e a sua
interpretação da Crítica do Juízo de Kant». In: Hannah Arendt: luz e sombra. Lisboa:
Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2007, p. 157-192.
«Der Geschmack macht gleichsam den Übergang vom Sinnereiz zum habituellen
49
Übereinstimmung der Lust des Subjekts mit dem Gefühl jedes anderen nach einem
allgemeinen Gesetz, welches aus der allgemeinen Gesetzgebung des Fühlenden, mithin
aus der Vernunft entspringen muss: d.i. die Wahl nach diesem Wohlgefallen steht der
Form nach unter dem Prinzip der Pflicht. Also hat der ideale Geschmack eine Tendenz
zur äusseren Beförderung der Moralität.". Numa Carta a Reichardt (15 Out.1790; Ak XI,
228), falando do propósito que teve com a Crítica do Juízo, ao tratar os traços fundamentais
(Grundzüge) da tão difícil de investigar faculdade do gosto (so schweer zu erforschenden
Geschmacksvermögen) escreve: "Ich habe mich damit begnügt, zu zeigen: dass ohne
sittliches Gefühl es für uns nichts schönes oder Erhabenes geben würde: dass sich eben
darauf der gleichsam gesetzmässige Anspruch auf Beyfall bey allem, was diesen Nahmen
führen soll, gründe und dass das Subjektive der Moralität in unserem Wesen, welches
unter dem Namen des sittlichen Gefühls unerforschlich ist, dasjenige sey, worauf, mithin
nicht auf obiective Vernunftbegriffe, dergleichen sie Beurtheilung nach moralischen
Gesetzen erfordert, in Beziehung, urtheilen zu können, Geschmack sey: der also
keineswegs das Zufällige der Empfindgung, sondern ein (obzwar nicht discursives, sondern
intuitives) Princip a priori zum Grunde hat."
53
KU §42; Ak V, 298-299.
54
Disso foi Hegel o principal responsável, especulativamente falando. Nas suas Lições
sobre Estética, desde o primeiro parágrafo ele decide que nelas se trata de uma filosofia
da arte e da beleza artística, com isso significando que toda a teoria estética se centra na
obra de arte como produção e afirmação do espírito e da autónoma subjectividade do
artista, desqualificando como irrelevante e deixando mesmo fora de consideração tudo o
que se refere ao belo natural como algo que, por si mesmo, é desprovido de qualidade ou
significado estéticos, só os tendo como reflexo do belo artístico. Hegel radicalizou ainda
mais e absolutizou a subjectivização da estética e rompeu aquele equilíbrio tenso e fecundo
que na concepção kantiana dos sentimentos estéticos se mantinha entre o sujeito (a arte)
e a natureza.
56
G. W. F. Hegel. Vorlesungen über die Ästhetik. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1970. Bd. I,
141-142.
57
Tenha-se presente o já citado manifesto filosófico conhecido por O mais antigo programa
de sistema do Idealismo Alemão, cuja autoria é atribuída a três jovens colegas na Stiftung
de Tubinga, que dão pelos nomes de Hölderlin, Schelling e Hegel, e cuja versão manuscrita
que até nós chegou terá sido redigida por Hegel. Aí se afirma que «o supremo acto da
razão é um acto estético». Na mesma linha vão as teses de Schelling, na sua obra Sistema
do idealismo transcendental (1800), onde se podem ler declarações como esta: «O
verdadeiro sentido para compreender este modo de filosofia [i. é, a filosofia transcendental]
é o estético e, precisamente por isso, a filosofia da arte é o verdadeiro organon da filosofia.»
(Introdução, § 4, in Schellings Werke. Ed. cit. de M. Schröter, Bd. II, p. 351).
58
Tal como os mausoléus das pessoas ilustres da história antiga, os Museus – esses templos
ou santuários da arte que se instituíram sobretudo a partir do século XIX e até à actualidade
– cumprem simultaneamente a função de monumentos de consagração e celebração e de
sarcófagos ou túmulos da arte. E cada vez é mais difícil discriminar o que é digno ou não de
ser celebrado ou consagrado por essa instituição. Sobre o debate actual em torno do tópico
da «morte da arte», veja-se: BELTING, 1984; LANG, 1984; DANTO, 1997.
ABSTRACT: The aim of this essay is to identify some peculiar aspects of Kant’s treatment
of aesthetic sentiment, showing his tensions and balances and also his fecundity to the
actual philosophical debate concerning aesthetic problems. I try to demonstrate that
Kant’s meditation represents a singular moment of instable equilibrium between two
different paradigms of aesthetic thought: one, that turns on the category of taste
(Geschmack), understood as an aesthetic common sense that invokes a social and
communitarian preoccupation, the other, that turns on the category of genius (Genie)
and assumes the presupposition of the absolute character of the individual subjectivity
as source of creativity; one, that rehabilitate the human sensibility (Sinnlichkeit) and the
sensible qualities of objects as contemplated or appreciated by the subject, the other,
based on the idea of inner sentiment (Gefühl), considered as something inalienable and
as the absolutely subjective dimension of individual experience.
KEYWORDS: Aesthetic experience. Kant’s Aesthetics. Genius. Sensibility. Sentiment.
Taste.
Referências
ARENDT, H. Lectures on Kant’s political philosophy. Chicago: University of
Chicago Press, 1982.
BAUMGARTEN, A. Ästhetik (Latein/Deutsch). Hamburg: Felix Meiner, 2007.
______ . Meditationes philosophicae de nonnullis ad poema pertinentibus
(Latein/Deutsch). Trad. e Introd. de H. Paetzold. Hamburg: Felix Meiner, 1983.
BELTING, H. Likeness and presence: a history of the image before the end of
art. Chicago: University of Chicago Press, 1984.
BREITINGER, J. J. Critische Abhandlung von der Natur, den Absichten uind
dem Gebrauche der Gleichnisse. Zürich: [s.n.], 1740. Reimpr.: Stuttgart, 1967.
BURKE, E. A philosophical enquiry into the origin of our ideas of the sublime
and beautiful (1757). Ed. with Introduction by Adam Phillips. Oxford: Oxford
University Press, 1990.
DANTO, A. After the end of art. Princeton: Princeton University Press, 1997.
De DUVE, T. Kant nach Duchamp. München: Boer, 1993.
FERREIRA, Vergílio. Invocação ao meu corpo. Lisboa: Bertrand, 1969.
GADAMER, H.-G. Wahrheit und methode.Tübingen: Mohr, 1975.
HEGEL, G. W. F. Vorlesungen über die Ästhetik. Frankfurt a. Main: Suhrkamp,
1970.