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de Educação
Curitiba
2011
FAEL
Diretor Executivo Maurício Emerson Nunes
Diretor Acadêmico Osíris Manne Bastos
Coordenadora do Núcleo de Vívian de Camargo Bastos
Educação a Distância
Coordenadora do Curso de Ana Cristina Gipiela Pienta
Pedagogia EaD
Secretária Acadêmica Dirlei Werle Fávaro
Editora fael
Coordenadora Geral Dinamara Pereira Machado
Coordenador Editorial William Marlos da Costa
Edição Jaqueline Nascimento
Revisão Ivana Valeria Gonçalves
Silvia Milena Bernsdorf
Projeto Gráfico e Capa Denise Pires Pierin
Diagramação Sandro Niemicz
Ilustração da Capa Cristian Crescencio
. Prefácio.......................................................................................9
1. Função social da escola............................................................11
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Síntese
Nesse capítulo, discutimos a função social da escola, passando por
várias tendências pedagógicas que se constituíram historicamente em
uma escola tradicional, na escola nova e na tecnicista. Quanto à escola
progressista, fizemos uma aproximação a uma de suas vertentes: a con-
cepção histórico-crítica ou crítico-social dos conteúdos. Destacamos
que não existe uma linearidade dessas tendências pedagógicas e que em
vários momentos, inclusive nos dias atuais, podemos perceber que as
práticas pedagógicas mesclam esta ou aquela concepção escolar.
Compreendemos que a escola tem um compromisso social com a
emancipação humana, com a socialização do conhecimento historica-
mente produzido pela humanidade, e que, em muitos casos, para atender
a essa demanda e garantir o direito à educação e à justiça social, outras
políticas especiais (ou compensatórias) deverão articular-se à escola.
Para finalizar esse capítulo, discutimos a função social do Ensino
Médio e da educação profissional, que devem ser concebidos de forma 21
integrada e totalizante, aspectos que nem sempre foram considerados
pelas políticas educacionais para essa etapa e modalidade da educação
nacional. Diante do exposto, espera-se do Ensino Médio e da educação
profissional a composição da totalidade de formação dos indivíduos,
rompendo com a dualidade na formação que só faz prevalecer o caráter
antidemocrático da escola.
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ser elaborado no período, sem nunca ter se efetivado, visto que a sua
construção ocorreu às vésperas do golpe que instituiu o Estado Novo.
A constituição de 10 de novembro de 1937, por sua vez, estabele-
ceu como competência da União, no Artigo 15, inciso IX, fixar as bases
e determinar os quadros da educação nacional, traçando as diretrizes a
que devia obedecer a formação física, intelectual e moral da infância e
da juventude. Saviani (1992) destaca, ainda, que, dando cumprimento
a esse dispositivo legal, o Ministro Gustavo Capanema elaborou as Leis
Orgânicas do Ensino, entre os anos de 1942 e 1946, também conheci-
das como “Reforma Capanema”.
Ainda sobre tal reforma, em 2 de janeiro de 1946, Gaspar Dutra,
e ntão Presidente da República, por meio do Decreto-Lei n. 8.529, estabe-
leceu a Lei Orgânica do Ensino Primário, que, em seu Capítulo V, tratava
de forma muito genérica do corpo docente e da administração escolar:
Art. 34. O magistério primário só pode ser exercido por bra-
sileiros, maiores de dezoito anos, em boas condições de saúde
física e mental, e que hajam recebido preparação conveniente,
em cursos apropriados, ou prestado exame de habilitação, na
28 forma da lei.
Art. 35. Os poderes públicos providenciarão no sentido de
obterem contínuo aperfeiçoamento técnico do professorado
das suas escolas primárias (BRASIL, 1946).
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Síntese
Procuramos, neste capítulo, desenvolver uma análise da formação de
professores no Brasil. Iniciamos a exposição conceituando formação inicial
e continuada, destacamos a importância de cada uma delas no desenvol-
vimento da profissionalização e valorização do trabalhador em educação.
Em seguida, mostramos como se desenvolveu historicamente uma
concepção de formação de docente, primeiro nas escolas normais,
nos cursos de pedagogia e nas licenciaturas. Quanto a essas últimas,
podemos constatar que houve uma priorização do bacharelado em
detrimento da licenciatura.
Finalizamos o capítulo com uma análise da formação dos professo-
res no Brasil, tendo como referência um estudo do Inep de 2009, com
base no Censo de 2007.
35
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Receita / 2010 /
2007 2008 2009
Ano 2020
FPE 16,66% 18,33% 20%
FPM 16,66% 18,33% 20%
ICMS 16,66% 18,33% 20%
IPIexp 16,66% 18,33% 20%
Desoneração
16,66% 18,33% 20%
Exportações
ITCMD 6,66% 13,33% 20%
49
IPVA 6,66% 13,33% 20%
ITR – Cota
6,66% 13,33% 20%
Municipal
10% da
Complement. contribuição
R$ 2 bilhões R$ 3 bilhões R$ 5 bilhões
União de estados e
municípios
Fonte: Sampaio (2009, p. 19).
Fator de ponderação
50 2007 2008 2009
(Resolução (Portaria (Portaria
Nível de ensino
n. 01, de n. 41, de n. 932, de
15/02/2007) 27/12/2007) 30/07/2008)
Creche 0,80 - -
Creche em tempo
- 1,10 1,10
integral
Creche em tempo
- 0,80 0,80
parcial
Pré-escola 0,90 - -
Pré-escola em tempo
- 1,15 1,20
integral
Pré-escola em tempo
- 0,90 1,00
parcial
Séries iniciais do
Ensino Fundamental 1,00 1,00 1,00
urbano
Séries iniciais do
Ensino Fundamental 1,05 1,05 1,05
rural
FAEL
Fator de ponderação
2007 2008 2009
(Resolução (Portaria (Portaria
Nível de ensino
n. 01, de n. 41, de n. 932, de
15/02/2007) 27/12/2007) 30/07/2008)
Séries finais do Ensino
1,10 1,10 1,10
Fundamental urbano
Séries finais do Ensino
1,15 1,15 1,15
Fundamental rural
Ensino Fundamental
1,25 1,25 1,25
em tempo integral
Ensino Médio urbano 1,20 1,20 1,20
Ensino Médio rural 1,25 1,25 1,25
Ensino Médio em
1,30 1,30 1,30
tempo integral
Ensino Médio
integrado à educação 1,30 1,30 1,30
profissional
51
Educação especial 1,20 1,20 1,20
Educação indígena e
1,20 1,20 1,20
quilombola
Educação de jovens e
adultos com avaliação 0,70 0,70 0,80
no processo
Educação de jovens
e adultos integrada à
educação profissional 0,70 0,70 1,00
de nível médio, com
avaliação no processo
Creche conveniada em
- 0,95 0,95
tempo integral
Creche conveniada em
- 0,80 0,80
tempo parcial
Pré-escola conveniada
- 1,15 1,20
em tempo integral
Pré-escola conveniada
- 0,90 1,00
em tempo parcial
Fonte: Sampaio (2009, p. 21)
FAEL
FAEL
Síntese
A democratização da sociedade precede nossa discussão sobre ges-
tão democrática na escola, e o Estado brasileiro somente pode garantir
56 o direito à educação da população mediante a destinação de recursos
públicos para o financiamento da educação.
A melhoria das condições de remuneração docente, melhorias de
infraestrutura, atendendo às exigências de uma sociedade tecnológica,
construção de novas escolas e garantia e ampliação de todos os gastos
com Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE) depende do
financiamento destinado à educação que é operacionalizada pelos entes
federados (estados, Distrito Federal, municípios e União).
A criação dos sistemas de avaliação que enfatizam não apenas o
rendimento do aluno ou professor, mas que consideram, também, as
políticas adotadas nos respectivos sistemas de ensino, podem, se toma-
dos os devidos cuidados e realizadas as mediações necessárias, se tornar
importantes instrumentos para implementação, análise e mudança de
foco das políticas educacionais.
FAEL
Concepções históricas
No século XX, a partir de 1905, a educação geral foi dividida no
primeiro e no segundo ciclo, or- Saiba mais
ganizando o curso denominado
O Liceu foi uma escola fundada por
complementar em duas vias de en- Aristóteles, em 335 a.C. A sua designação ori-
sino: a de letras e a de ciências. Em ginal era lyceum, provavelmente derivado de
paralelo ao ensino liceal, voltado a Apolo Lykeios. Hoje em dia, dá-se a designação
preparar os alunos que frequenta- de “liceu” a vários estabelecimentos culturais
riam o Ensino Superior, desenvol- ou educativos, em vários países, especialmente
veu-se o ensino técnico de caráter a determinadas escolas do ensino secundário
mais prático e vocacional. (WAPÉDIA, 2010).
FAEL
de que toda escola de Ensino Médio (2º Grau) deveria tornar-se uma
escola técnica, quando não havia recursos materiais, financeiros e hu-
manos para tanto. Para o relator, o ensino, e não a escola, deveria ser
profissionalizante. A concepção empregada no Parecer n. 76/75 foi a de
que a habilitação deixaria de ser entendida como preparo para o exercí-
cio de uma ocupação, passando a ser considerada enquanto o preparo
básico para a iniciação a uma área específica de atividade. Dessa forma,
a legislação acomodou-se à realidade, retomando a dualidade existente
antes de 1971.
A proposta de implementação compulsória da profissionalização
do Ensino Médio (2º Grau) foi alterada pela Lei n. 7.044/82, a qual ex-
tinguiu a escola única de profissionalização obrigatória, que nunca che-
gou a existir concretamente. Essa lei reeditou a concepção vigente antes
de 1971, de uma escola dualista (propedêutica e profissionalizante).
A década de 80 do século XX trouxe consigo o processo de aber-
tura política, o movimento desencadeado por setores progressistas da
sociedade, que vinha sendo articulado desde a década de 60 do mesmo
60 século, conquistou espaço, estimulando a produção teórica realizada
por intelectuais e educadores que, alinhados com os interesses hegemô-
nicos do proletariado, animaram a discussão coletiva e a elaboração de
propostas educacionais.
Nesse contexto de avanços e estratégias de contenção das conquis-
tas populares, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
n. 9.394/96, entra em discussão no cenário nacional. Nas palavras de
Saviani (2003), é função dessa lei estabelecer os parâmetros, princípios
e os rumos para a educação do país. Ao fazer isso, explicitará a con-
cepção de homem, sociedade, educação, direito, dever, liberdade, bem
como sua normatização e gestão.
De acordo com Nascimento (2000), na década de 90 do século
XX, com as reformas para o Ensino Médio (propedêutico e profissio-
nal), realizadas mediante a LDB n. 9.394/96 e o Decreto n. 2.208/97,
do Governo Federal, novamente afirma-se a superação da dualidade
estrutural, no nível do discurso, ao remodelá-lo como um novo curso
para preparar o aluno com formação geral e dar-lhe uma habilitação
profissional, por meio da formação complementar e optativa. No en-
tanto, a formação geral e a habilitação profissional não se realizam de
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forma unitária, uma vez que podem ser feitas concomitante ou sequen-
cialmente ao curso regular de Ensino Médio.
O Ensino Médio fica estabelecido na LDB n. 9.394/96 como o
exposto a seguir (BRASIL, 1996a).
Art. 35. O Ensino Médio, etapa final da educação básica, com
duração mínima de três anos, terá como finalidades:
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prosse-
guimento de estudos;
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do edu-
cando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se
adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores;
III – o aprimoramento do educando como pessoa humana,
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico;
IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos
dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática,
no ensino de cada disciplina. 61
Art. 36. O currículo do Ensino Médio observará o disposto na
Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes:
I – destacará a educação tecnológica básica, a compreensão
do significado da ciência, das letras e das artes; o processo his-
tórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua
portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao co-
nhecimento e exercício da cidadania;
II – adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimu-
lem a iniciativa dos estudantes;
III – será incluída uma língua estrangeira moderna, como dis-
ciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma
segunda, em caráter optativo, dentro das disponibilidades da
instituição.
§ 1º. Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação
serão organizados de tal forma que ao final do Ensino Médio
o educando demonstre:
I – domínio dos princípios científicos e tecnológicos que pre-
sidem a produção moderna;
II – conhecimento das formas contemporâneas de linguagem;
62
Esse sistema paralelo tem sua organização em três níveis de educa-
ção profissional:
a) básico – na modalidade de educação não-formal, de duração variá
vel, não sujeita à regulamentação curricular;
b) técnico – destinado aos matriculados no Ensino Médio ou seus
egressos;
c) tecnológico – destinado a egressos do ensino médio e técnico.
Nesse contexto, entram as orientações do Banco Mundial para
as políticas educacionais brasileiras. Tais orientações fundamentam-se
na redução do papel do Estado no financiamento de alguns níveis e
modalidades educacionais, baseando-se na concepção de equidade em
contraposição à concepção de universalidade.
Segundo Kuenzer (1999), o compromisso do Estado com a edu-
cação pública obrigatória e gratuita mantém-se no limite do Ensino
Fundamental. A partir desse nível, o Estado mantém financiamento
restrito apenas para atender às demandas de formação de quadros e de
produção de ciência e tecnologia, nos limites do papel que ocupa na
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Tendências atuais
Com a mudança de orientação política, advinda da eleição do Pre-
sidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, setores progressistas da
sociedade esperavam que as políticas e processos de encaminhamento
da educação brasileira tivessem alterados seus rumos, como prometia o
plano de governo do recém-eleito Presidente – Uma escola do tamanho
do Brasil. Entretanto, o processo de reintegração entre Ensino Médio
e educação profissional não ocorre por meio de alteração na lei maior,
ou seja, na LDB n. 9.394/96, mas, sim, por meio da aprovação de um
novo decreto: n. 5.154/04 (BRASIL, 2004a).
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Síntese
Historicamente, a linha central das políticas para o Ensino Médio
têm sido organizadas em torno da relação capital e trabalho, atenden-
do, em geral, aos interesses do capital. Por esse motivo, a legislação
recente mantém a lógica da escola estruturalmente dualista.
Nesse capítulo, realizamos um percurso pela história do Ensino
Médio no Brasil, refletindo sobre fatos importantes para seu desen-
volvimento. Concluímos essa caminhada histórica no início do sécu-
lo XX, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(2003‑2006), mediante o Decreto n. 5.154/04, que passa a ser a nova
legislação norteadora da educação profissional brasileira.
65
FAEL
Saiba mais
com poucas alterações, o texto
O conceito de politecnia acaba no transcurso
do Relatório Ângela Amim. Com da elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da
isso, os avanços do substitutivo Educação Nacional, sendo substituído pelo
Jorge Hage foram atenuados pela conceito de polivalência.
incorporação de uma concepção
conservadora, na qual a educação entra em consonância com o projeto
político e social de defesa dos interesses do mercado por eficiência, efi-
cácia e produtividade.
Nessa conjuntura, perpassada por antagonismos entre duas con-
cepções distintas que apresentavam grandes discordâncias sobre o papel
do Estado nas políticas sociais, a proposta aprovada, ainda que con-
templando alguns elementos pertencentes ao projeto democrático-po-
pular de Lei de Diretrizes e Bases,
Saiba mais
representa, em grande medida, a
O projeto de relatoria do deputado Jor-
concepção de educação idealizada
ge Hage integrava formação profissional e
pelo Ministério da Educação, na formação geral nos seus múltiplos aspectos
pessoa de Paulo Renato de Souza, humanísticos e científicos-tecnológicos, sendo
então Ministro, que estava de- síntese de uma série de debates promovidos 69
vidamente afinada com os ajus- pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola
tes e reformas orientados pelos Pública. A segunda proposta foi apresentada
organismos internacionais para a pelo Senador Darcy Ribeiro, articulada ao
intervenção do Estado na política Ministério da Educação, com a qual predomi-
nava uma forma fragmentada e aligeirada de
educacional e contou com grande
educação profissional (FRIGOTTO; CIAVATTA;
apoio do governo do presidente RAMOS, 2005, p. 25).
Fernando Henrique Cardoso, nos
últimos anos de sua tramitação.
As reformas do governo Fernando Henrique Cardoso se plas-
maram para que esta esfera se ajustasse aos processos de des-
regulamentação, flexibilização e privatização. A proposta de
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN),
negociada durante anos por mais de 30 organizações e ins-
tituições da sociedade civil comprometida com as reformas
de base e com um projeto democrático de educação, foi dura
e sistematicamente combatida. (FRIGOTTO; CIAVATTA;
RAMOS, 2005, p. 13).
Nessa circunstância política, é aprovada a nova Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, LDB n. 9.394, de 1996. Vejamos, a
seguir, o desdobramento dessa nova legislação para o Ensino Médio.
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74
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Síntese
Iniciamos este capítulo com uma abordagem acerca do cenário
nacional de reformas educacionais postuladas nos anos 90 do século
XX, no Brasil, para, em seguida, compreendermos o seu caráter efeti-
vo e prático, verificado na legislação aprovada para o Ensino Médio,
especialmente a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – LDB n. 9.394/96, bem como alguns documentos
que acompanham a reforma.
Explicitamos, com base nas conclusões dos autores Kuenzer (2000b)
e Domingues, Toschi e Oliveira (2000), as contradições e problemáticas
para essa etapa da educação básica, chegando a uma das constatações
mais severas, de que, para essa etapa, não temos no ordenamento jurídi-
75
co do período analisado uma fonte de financiamento contundente.
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Um exemplo bem representativo das dimensões reais dessa crise pode ser
dado pelo que se passou na indústria automobilística. Entre 1980 e 1981,
a produção de veículos produzidos no Brasil caiu de 1,16 milhão para 780
mil unidades, isto é, encolheu cerca de 30%. Por sua vez, a força de trabalho
dessa indústria reduziu-se, de um ano para o outro, em 25%; 110 mil traba-
lhadores perderam seus empregos naquele período (TAUILE, 2001, p. 204).
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foi adotada pela maioria dos governos que sucederam a ditadura militar
no contexto de desenvolvimento da globalização em escala mundial.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva se iniciou defrontando-se
com essa situação, em janeiro de 2003. O grande desafio do novo go-
verno em face das expectativas da sociedade civil foi a inversão da lógica
financeira pela lógica social.
Entre tais desafios, inseriu-se o campo da educação, que trazia em
seu plano de governo Uma escola do tamanho do Brasil, concepção de
educação antagônica à que vinha sendo adotada. Em seus princípios,
tal programa defendia uma escola unitária, que enfrentasse o dualis-
mo da organização social brasileira, com reflexo no sistema educacional
que, desde suas origens, separou a educação geral, propedêutica, da
específica e profissionalizante.
Ao tratar da organização da escola e da cultura de seu país, Gramsci
(1968, p. 118) realizou uma importante discussão sobre a função da
educação escolar na sociedade capitalista à luz de suas contradições, ou
seja, elemento de diferenciação e particularização das classes sociais e/
88 ou espaço de emancipação humana. Para ele,
a escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa,
que equilibre equanimente o desenvolvimento da capacidade
de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o
desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual. Desse
tipo de escola única, por meio de repetidas experiências de edu-
cação profissional, passar-se-ia a uma das escolas especializadas
ou ao trabalho produtivo (GRAMSCI, 1968, p. 118).
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Síntese
Neste capítulo, realizamos uma caminhada histórica pelas con-
cepções de educação profissional desenvolvidas no Brasil, do início do
século XX até o início do século XXI. Para tanto, nossa análise cen-
trou‑se nas transformações produtivas resultantes do processo de indus-
trialização da sociedade brasileira, que demandaram modificações na
forma de intervenção do Estado, para conduzir as políticas e processos
de educação profissional que formavam a força de trabalho nacional.
Também refletimos sobre as implicações de tais políticas e processos de
educação profissional na formação do cidadão trabalhador.
89
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Síntese
As propostas de educação progressista, que vinham reacendendo 99
o debate sobre educação e trabalho, não sem resistência, saem grada-
tivamente dos debates e orientações governamentais na década de 90.
Em seu lugar, são formuladas reformas educacionais que enfatizam
a educação como serviço, regulada pelo mercado, e não mais como
direito social. Nesse contexto, os avanços teóricos relacionados à escola
pública, democrática, laica, universal, gratuita e politécnica, alcança-
dos, na década de 80 do século XX, para superação da herança educa-
tiva deixada pelo autoritarismo militar, passam a ser substituídos pela
lógica utilitarista de educação, que determina que os investimentos do
Estado devam destinar-se a ações que resultem em retorno econômico,
na perspectiva do custo-benefício.
Portanto, fundamentada nessa diretiva, a reforma educacional
acompanha as diretrizes básicas do Banco Mundial, que estabelecem
ser a educação básica prioridade estratégica de investimento público.
A partir do exposto, para atingir êxito na implementação dessa lógica
de racionalidade financeira, na década de 90, estabelece-se na socieda-
de brasileira a implantação de uma nova institucionalidade no campo
educacional, que assume o modelo de competências como concepção
orientadora na formulação da legislação educacional.
FAEL
FAEL
Censo 1999
Dependência administrativa Número de matrículas
Federal 101.001
Estadual 265.772
Municipal 37.150
Privada 312.729
Sistema S 48.296
Total 716.652
Censo 2003
Dependência administrativa Número de matrículas
Federal 79.484
Estadual 165.266
Municipal 19.648
Privada 324.985
Sistema S não informado
Total 589.383
FAEL
Censo 2005
Dependência administrativa Número de matrículas
Federal 89.114
Estadual 206.317
Municipal 25.028
Privado 427.433
Sistema S não informado
Total 747.892
Censo 2006
Dependência administrativa Número de matrículas
Federal 75.966
Estadual 233.212
Municipal 23.208
Privado 406.634
Sistema S não informado
Total 739.020
107
Fonte: Censo escolar de 1999, 2003, 2005 e 2006 (INEP, 1999; 2003;
2005b; 2006b).
Federal
Concomitante Subsequente Integrado Total
40.150 43.612 5.352 89.114
Estadual
Concomitante Subsequente Integrado Total
98.239 89.803 18.275 206.317
Municipal
Concomitante Subsequente Integrado Total
6.971 16.574 1.483 25.028
Privado
Concomitante Subsequente Integrado Total
146.161 265.753 15.519 427.433
Total geral
Concomitante Subsequente Integrado Total
291.521 415.742 40.628 747.892
108
Fonte: Inep (2005b).
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Topic_Avanc_Educ.indd 110
Estabelecimentos e Matrículas da Educação Básica / Ano
Etapa /
Diferença 2008- Variação 2008-
Modali- 2008 2009
2009 2009
dade
Tópicos Avançados de Educação
3/1/2011 17:05:34
APROVADO___________
Capítulo 8
Síntese
Os dados apresentados neste capítulo indicam que algumas das
políticas destinadas à reintegração do Ensino Médio e da educação pro-
fissional, reeditadas por meio do Decreto n. 5354/04, têm enfrentado
dificuldades para sua consolidação, após um grande período de desinte-
gração. Como resultado disso, elas perdem efetividade do ponto de vista
da formação humana, da superação da dicotomia entre teoria e prática e
do resgate e inclusão de jovens e adultos no mundo do trabalho, bandei-
ras levantadas nos discursos que fundamentaram a nova reforma.
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124
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de Educação
Com a expansão do ensino a distância no Brasil e o para-
lelo crescimento de oferta dessa mesma modalidade pelas
instituições de Ensino Superior, em especial na formação
de professores, vemos que a EaD é uma realidade e, assim,
ganha importância nas políticas educacionais do país. Nesse
contexto, os materiais didáticos têm um papel central no
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem e na
democratização dos saberes produzidos historicamente.
A contribuição desta obra se dá ao abordar temas relevantes
para a educação nacional, como a função social da escola,
a formação de professores, a gestão e o financiamento da
educação nacional, e temas relacionados ao Ensino Médio e
à educação profissional.
Pretendemos levar o leitor a avaliar criticamente as questões
propostas, ampliar seu conhecimento e conhecer, analisar
e atuar na proposição de políticas públicas educacionais,
visando à democratização e à efetividade do direito à educa-
ção em nosso país.