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EXERCÍCIO AVALIATIVO
Este trabalho tem por intento investigar a tipificação penal da chamada “saidinha
de banco”, mediante a apresentação de fundamentações doutrinárias e jurisprudenciais
construídas sobre o tema.
Isto posto, anuncia-se, ab initio, que a matéria em comento é objeto de discussão
doutrinária, tendo em vista que parte minoritária acredita tratar-se do crime de roubo majorado
pelo inciso V, §2° do art. 157 do Código Penal (CP), ao passo que, para a maioria dos autores,
o delito encontra respaldo em uma qualificadora do crime de extorsão (§3°, art. 158, CP).
É importante ressaltar, aqui, a inclusão do §3º do art. 158 do CP pela Lei n°. 11.923
de 2009, que inaugurou outra modalidade qualificada do crime de extorsão, tipificando, dessa
forma, o delito de “sequestro-relâmpago”, que assim aduz:
Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito
de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se
faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
[...]
§3°. Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa
condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão,
de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa [...]. (BRASIL, 2016).
Destarte, Greco (2017, p. 860) informa que, para a configuração do crime em tela,
é imprescindível que a vítima tenha sua liberdade mitigada e que tal circunstância seja
necessária para a obtenção da vantagem econômica. Elucida, ainda, que a privação de liberdade
deve se dar por período razoável de tempo, de forma a permitir o reconhecimento de que a
vítima ficou, efetivamente, privada de seu direito de ir, vir ou permanecer, por ocasião do
comportamento do agente. Por fim, salienta que a privação de liberdade da vítima deve ser
utilizada como meio para a obtenção da vantagem econômica, isto é, tal elemento deve tratar-
se de uma condição estritamente necessária para o sucesso do agente.
Portanto, para demonstrar a relação da “saidinha de banco” (como é comumente
chamado o sequestro-relâmpago) com o tipo penal abordado, vale apresentar o exemplo exposto
pelo autor supracitado, qual seja a situação de “quando a vítima é obrigada a acompanhar o
agente a um caixa eletrônico a fim de que possa efetuar o saque de toda a importância disponível
em sua conta bancária [...]” (GRECO, 2017, p. 860).
Por outro lado, não obstante a teoria ora apontada por Greco, é relevante ressaltar
que trata-se de um mero referenciamento à sustentação da doutrina majoritária, uma vez que,
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Se o agente ameaça a vítima ou pratica violência contra ela, visando a obter a coisa
na hora, há roubo, sendo desimportante para caracterização do fato que ele tire o
objeto da vítima ou este lhe seja dado por ela. É que, nesta última hipótese, não se
pode dizer que a vítima agiu, pois, estando totalmente submetida ao agente, não
passou de um instrumento de sua vontade. Só se pode falar em extorsão, por outro
lado, quando o mal prometido é futuro e futura a obtenção da vantagem pretendida,
porque neste caso a vítima, embora ameaçada, não fica totalmente a mercê do agente
e, portanto, participa, ainda que com a vontade viciada, do ato de obtenção do bem.
(Batista apud GRECO, 2017, p. 860).
Por fim, é oportuno destacar que, com precisão, o relator do referido acórdão,
Exmo. Ministro Sebastião Reis Júnior, reitera o entendimento majoritário da doutrina ao
declarar:
Em resumo, no presente caso, não se tem dúvida da ocorrência dos crimes de roubo
mediante grave ameaça exercida com emprego de arma, em concurso de pessoas, e
com restrição de liberdade, contra as cinco vítimas. Quanto à conduta exercida
contra uma das vítimas, consistente em, mediante a restrição da sua liberdade,
exigir o cartão e a respectiva senha, trata-se de extorsão qualificada, prevista no
art. 158, § 3º, do Código Penal. (BRASIL, 2014, p. 5, grifo nosso).
REFERÊNCIAS
_______. Vade Mecum Saraiva. 22. ed. São Paulo (SP): Saraiva, 2016.
GRECO, Rogério. Código Penal: comentado. 11. ed. Niterói (RJ): Impetus, 2017.