Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Durante muito tempo astronomia e astrologia foram a mesma coisa: misto de ciência e
adivinhação que se propunha tanto a orientar os navegantes quanto a prever o futuro. Durante
muito tempo, quem se ocupou de estudar as propriedades da matéria foi a alquimia. E ela tanto
descobriu substâncias importantes, que usamos até hoje, quanto perseguiu objetivos quiméricos,
como transformar metais sem valor em ouro.
Foram necessários séculos para que a astronomia se separasse definitivamente da
astrologia, e a química se afirmasse como ciência distinta de alquimia. Da mesma forma, há ao
menos um século a linguística se destacou da gramática tradicional, especulativa e normativista.
O curioso é que, enquanto as aulas de ciência ensinam química e astronomia e não alquimia ou
astrologia, nas de português ainda impera a visão eugenista do certo e do errado.
Tal visão imprime nos alunos a crença na velha oposição “certo x errado”, quando o que
deveria ser discutido é a adequação ou não das variedades linguísticas a cada contexto de
comunicação. E, o que é mais grave, essa visão está baseada numa norma desatualizada,
calcada em escritores do passado, sobretudo lusitanos, e não no uso efetivo que os falantes
cultos fazem da língua no Brasil. Parece que as aulas de língua passam incólumes aos
progressos científicos, e quase nada do que se pesquisa nas universidades chega aos bancos
escolares.
(...) Na mídia, professores de português cuja titulação acadêmica quase nunca vai além
de bacharel ou licenciado fazem sucesso doutrinando o público como se fossem pastores. Eles
pregam a virtude que conduz ao paraíso (as formas gramaticais “corretas”) e procuram afastar
os “fiéis” do pecado do erro, digno do inferno – que é a discriminação linguística.
(...) É preciso que haja uma revisão urgente da gramática normativa, para modernizá-la
(adequá-la ao efetivo uso culto atual e incorporar à norma as mudanças que o idioma sofreu),
bem como racionalizá-la – dar tanto quanto possível soluções às irregularidades e às
incoerências da gramática que os falantes já eliminam na prática.
A morte de um dos maiores humoristas do país mostrou que a gramática estava errada. O
jornal carioca O Dia mostrou isso ao estampar em primeira página a oração “Morreram Chico
Anysio”. O sujeito da oração é “Chico Anysio”. A forma verbal, porém, não está no singular, não
é “morreu”. Chico não era um, era vários, era dezenas, era mais de duas centenas. Chico
morreram.
Menelau Júnior http://www.jornalvanguarda.com.br/
02. O texto verbal da manchete jornalística chama a atenção por contrariar uma norma prevista
pela norma-padrão. O que parece erro gramatical é, na verdade, uma
A) metáfora, que consiste no emprego de uma palavra com sentido que não lhe é comum pelo
resultado de uma relação de semelhança.
E) elipse, que consiste na supressão de um termo que pode, facilmente, ser entendido pelo
contexto.
O texto na era digital
Houve um tempo em que o hábito de manter cadernos de anotações era algo bastante
corriqueiro.
[...] Hoje, com mais de 37 milhões de usuários de internet só no Brasil, essa tradição de
escrita parece mais viva do que nunca, impulsionada por novas tecnologias e amplificada pela
comunicação em rede. Não é exagero afirmar que e-mails, blogs e redes de relacionamento já
deixaram sua marca na produção textual contemporânea. Para o escritor Michel Laub [...]:
— O texto da internet é um texto em geral mais coloquial, menos “literário”, no sentido de
ser mediado por truques de estilo. A internet não inventou a coloquialidade, mas fez com que ela
passasse a soar mais natural para muito mais gente e, estatisticamente ao menos, virou um certo
padrão — afirma.
Já o crítico em tecnologia Nicholas Carr dá a entender que a experiência de ler (na internet)
é bastante superficial.
[...] a professora de português Rosângela Cremaschi acredita que a diversidade de
códigos e linguagens tem deixado os jovens mais atentos e receptivos.
Michel Laub também vê com bons olhos os novos hábitos de leitura incutidos pela
tecnologia. Para ele, a propensão a textos mais curtos em sites e blogs não nos tornou
necessariamente mais dispersos ou desatentos. Ao contrário: lê-se mais que antigamente.
A internet não deve ser vista como algo negativo, pois amplia nossas possibilidades de
leitura. É claro que é preciso um olhar crítico, e esse é o papel do educador, o de orientar a
busca, seleção e gerenciamento de informações que estão disponíveis na rede.
03. Nesse texto, observam-se alguns juízos de valor acerca do uso da internet. Partindo das
informações nele expressas, conclui-se que
B) a internet eliminou o caráter literário do texto, ainda que tenha ampliado o uso da escrita.
C) os hábitos de leitura diminuíram à medida que os textos se tornaram mais curtos em blogs.
C) nações industrializadas e urbanizadas, portadoras de um PIB per capita elevado, têm mais
mulheres no mercado de trabalho.
Segundo anúncio da Fifa, a língua portuguesa falada no Brasil passa a ser o sexto idioma
oficial do site, [...] A entidade afirmou que a decisão de incluir o português brasileiro se deve ao
fato de o Brasil ter abrigado a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo em 2014,
além de contar com uma população de mais de 200 milhões de habitantes. Contudo, notícias do
futebol lusitano serão escritas em português de Portugal, uma vez que brasileiros e portugueses
apresentam vocabulários distintos para o mesmo esporte. [...]
*Vocabulário futebolístico
Ao vivo Em directo
Atacante Avançado
Camisa Camisola
Campo Relvado
Goleiro Guarda-redes
B) o título da nota jornalística — Português brasileiro — é inadequado, uma vez que brasileiros
e portugueses possuem a mesma língua.
D) a variedade falada no Brasil é a mais atual, por isso foi adotada no site da Fifa como sexto
idioma.
E) é mais apropriado dizer português brasileiro porque o Brasil possui um número maior de
habitantes que Portugal.
RESTOS
Minha Nossa Senhora do Bom Parto! O caminhão do lixo já deve ter passado! Eu juro, seu
poliça, foi nessa lixeira aqui! Nessa mesminha! Eu vim catar verdura, sempre acho umas tomate,
umas cenoura, uns pimentão por aqui. Tudo bonzinho, é só lavar e cortar os pedaço podre, que
dá pra comer... Aí quando eu puxei umas folha de alface, levei o maior susto. Quase desmaiei,
até.
Eu, uma mulher assim fornida que nem o seu poliça tá vendo, imagine: fiquei de pernas
bamba, me deu até tontura. Acho que também por causa do fedor... Uma carniça que só o senhor
cheirando, pra saber. Mas eu juro por tudo que é mais sagrado! Tinha sim um anjinho morto
nessa lixeira! Nessa aqui! Coitadinho... Deve ter se esgoelado de tanto chorar. A gente via pela
sua carinha de sofrimento. Ele tava com a boquinha aberta, cheinha de tapuru. Eu nem reparei
se era menino ou menina, porque eu fiquei morrendo de pena... E de medo, também... Os olho...
É do que mais me alembro... Esbugalhados, mas com a bola preta virada pra dentro, sabe? Ai!
Soltei um berro e saí correndo.
Eu demorei pra lhe chamar porque eu não queria que o pessoal do supermercado me
visse aqui, ainda mais com um poliça. Já me escorraçaram uns par de vez...! Prefere deixar as
coisas apodrecer do que ajudar a matar a fome dos outros.
Nem no Natal esse povo tem pena de ninguém.
Eu não duvido nada que o anjinho que tava aqui fosse filho de um deles.
Essa raça não presta mesmo! Vai saber...
Agora, eu não. Eu pari e to criando. Tudinho. Os cinco.
Às vez a gente passa fome, ou nem tem lençol pra todo mundo se cobrir, mas eu crio
tudinho.
Uma judiação fazer aquilo com um anjinho daquela idade. Vamo atrás do caminhão? Eu
sei onde fica o aterro, moro lá perto. Só venho aqui pra ver se arranjo umas verdura melhorzinha.
O seu poliça me dá uma carona e lá a gente acha o anjinho. Se algum cachorro ou urubu não
comer ele antes. Vamo? O quê? Aí atrás? No camburão? Mas a minha roupa não tá suja, não
vou melar os banco ali na frente.
Presa? Mas... Minha Nossa Senhora do Bom Parto! Espere, espere... O quê que eu fiz pra
ir presa?
07. Identifica-se a caracterização metafórica dada à terra e a estreita relação com o homem que
nela habita no trecho
E) “... e iguais também porque o sangue / que usamos tem pouca tinta.”
08. Tendo em vista as variações linguísticas no Brasil quanto ao léxico, o argumento da
personagem no terceiro quadrinho expressa
C) o ressurgimento do preconceito.
O Santa Cruz perdeu para o Santos pelo placar de 3 a 2, com um gol no final da partida. O
cenário era para ser de tristeza, já que a equipe pernambucana deu mais um passo para o
rebaixamento da série A, mas não foi bem isso que aconteceu. Ao final do jogo, toda a imprensa
elogiou o espírito de luta dos tricolores.
Perguntado sobre possíveis vaias da torcida no Recife, o atacante Graffite, enquanto
descia aos vestiários, ironizou o repórter:
—Vaias? Que vaias?
Disponível em: http://oglobo.globo.com (adaptado).
10. A progressão textual realiza-se por meio de relações semânticas que se estabelecem entre
as partes do texto. Tais relações podem ser apresentadas explícita ou implicitamente pelo
emprego de conectivos ou expressões conectoras. Considerando o texto,
B) no primeiro parágrafo, o conectivo mas explicita uma relação de adição entre os segmentos
do texto.