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FERREIRA, Maria Cristina L. (Org.). Glossário de termos do discurso. Porto Alegre: UFRGS, 2001.

Disponibilidade
em: http://www.discurso.ufrgs.br/glossario.html

Glossário de termos do discurso

Acontecimento

Ponto em que um enunciado rompe com a estrutura vigente, instaurando um novo processo discursivo. O
acontecimento inaugura uma nova forma de dizer, estabelecendo um marco inicial de onde uma nova rede de
dizeres possíveis irá emergir.

Alteridade

Termo cunhado por Lacan para explicar a dualidade do sujeito. Vincula-se às produções formuladas a
respeito da função do Eu e à complexa estrutura aí presente, envolvendo os conceitos do outro (pequeno) e o
Outro (grande). O Eu não se encontra como uma forma fechada em si, mas tem relação com um exterior que
o determina. Trata-se do sujeito descentrado: um mesmo sujeito é, efetivamente, outro (Courtine & Haroche,
1988). Lacan aborda esta questão detalhadamente no texto “O estágio do espelho como formador da função
do eu”, de 1949.

Análise do Discurso

É uma disciplina de entremeio (Orlandi, 1996) que se estrutura no espaço que há entre a lingüística e as
ciências das formações sociais. Trabalha com as relações de contradição que se estabelecem entre essas
disciplinas, caracterizando-se, não pelo aproveitamento de seus conceitos, mas por repensá-los,
questionando, na lingüística, a negação da historicidade inscrita na linguagem e, nas ciências das formações
sociais, a noção de transparência da linguagem sobre a qual se assentam as teorias produzidas nestas áreas. A
AD nos permite trabalhar em busca dos processos de produção do sentido e de suas determinações histórico-
sociais. Isso implica o reconhecimento de que há uma historicidade inscrita na linguagem que não nos
permite pensar na existência de um sentido literal, já posto, e nem mesmo que o sentido possa ser qualquer
um, já que toda interpretação é regida por condições de produção. Essa disciplina propõe um deslocamento
das noções de linguagem e sujeito que se dá a partir de um trabalho com a ideologia. Assim, passa-se a
entender a linguagem enquanto produção social, considerando-se a exterioridade como constitutiva. O
sujeito,or sua vez, deixa de ser centro e origem do seu discurso para ser entendido como uma construção
polifônica, lugar de significação historicamente constituído.

Assujeitamento

Movimento de interpelação dos indivíduos por uma ideologia, condição necessária para que o indivíduo
torne-se sujeito do seu discurso ao, livremente, submeter-se às condições de produção impostas pela ordem
superior estabelecida, embora tenha a ilusão de autonomia. Para Althusser, os indivíduos vivem na ideologia,
não havendo, portanto, uma separação entre a existência da ideologia e a interpelação do sujeito por ela, o
que ocorre é um movimento de dupla constituição: se o sujeito só se constitui através do assujeitamento é
pelo sujeito que a ideologia torna-se possível já que, ao entendê-la como prática significante, concebe-se a
ideologia como a relação entre sujeito, língua e história na produção dos sentidos (Orlandi, 1999).

Autor

Uma das posições assumidas pelo sujeito (ver posição-sujeito) no discurso, sendo ela a mais afetada pela
exterioridade (condições sócio-históricas e ideológicas) e pelas exigências de coerência, não-contradição e
responsabilidade. Ao se converter em autor, o sujeito da enunciação sofre um apagamento no discurso,
dividindo-se em diversas posições-sujeito; ou seja, o autor é que assume a função social de organizar e
assinar uma determinada produção escrita, dando-lhe a aparência de unicidade (efeito ideológico elementar).
Foucault (1987) fala em princípio de autoria, uma vez que se trata de considerar o autor não como um
indivíduo inserido num determinado contexto histórico-social (sujeito em si), mas como uma das funções
enunciativas que este sujeito assume enquanto produtor de linguagem.

Coerência

Elemento temático constitutivo de um texto que se estabelece na interlocução e faz com que o texto tenha sentido
(Lingüística Textual). Pode-se dizer que a coerência é, antes de mais nada, um princípio de interpretabilidade, uma
possibilidade de se estabelecer uma unidade ou relação de sentido no texto. O reconhecimento de elementos de
coerência em um texto depende do conhecimento prévio do leitor (conhecimento de mundo). Para a AD, este
conceito, tal como é concebido na perspectiva textual, é restrito, pois dá conta apenas dos elementos textuais e não
dos discursivos.

Coesão

Elemento temático constitutivo de um texto que dá conta da estruturação da seqüência superficial do texto e é,
portanto, representado por elementos formais (conectores, seqüenciadores, argumentadores, marcadores temporais,
etc) (Lingüística textual). Esta forma de compreensão da coesão não interessa à AD por restringir a análise à
superfície do texto e não envolver, portanto, os efeitos de sentido.

Condições de Produção

São responsáveis pelo estabelecimento das relações de força no interior do discurso e mantêm com a linguagem
uma relação necessária, constituindo com ela o sentido do texto. As condições de produção fazem parte da
exterioridade lingüística e podem ser agrupadas em condições de produção em sentido estrito (circunstâncias de
enunciação) e em sentido amplo (contexto sócio-histórico-ideológico), segundo preconiza Orlandi (1999).

Contexto

Elementos externos ao texto que servem para ampliar a sua significação global. O contexto envolve a situação
comunicativa em que o texto é produzido, indo além do que é dito e escrito (Lingüística Textual). Na AD, este conceito
é revisto, já que para a teoria discursiva a exterioridade não está fora do discurso, mas é dele constitutiva, sendo
englobado pela noção de condições de produção.lugar de significação historicamente constituído.

Dado (ver fato)

Objeto empírico da linguagem, quantitativo, constatável, que permite ao analista colocar a língua como foco central
da análise. Trabalhar com o dado significa revelar uma preocupação com o produto e não com os processos de
produção de um discurso. Para a AD, não existem dados enquanto tal, uma vez que eles precisam do fato, do
acontecimento, para significar.

Discurso

Objeto teórico da AD (objeto histórico-ideológico), que se produz socialmente através de sua materialidade específica
(a língua); prática social cuja regularidade só pode ser apreendida a partir da análise dos processos de sua produção,
não dos seus produtos. O discurso é dispersão de textos e a possibilidade de entender o discurso como prática deriva
da própria concepção de linguagem marcada pelo conceito de social e histórico com a qual a AD trabalha. É
importante ressaltar que essa noção de discurso nada tem a ver com a noção de parole/fala referida por Saussure.

Efeitos de sentido

Diferentes sentidos possíveis que um mesmo enunciado pode assumir de acordo com a formação discursiva na qual
é (re)produzido. Esses sentidos são todos igualmente evidentes por um efeito ideológico que provoca no gesto de
interpretação a ilusão de que um enunciado quer dizer o que realmente diz (sentido literal). É importante registrar que
Pêcheux (1969) define discurso como efeito de sentido entre interlocutores.

Enunciação

Processo de reformulação de um enunciado através do qual ele é posto em funcionamento, surgindo como uma de
suas possíveis formas de atualização. Os processos de enunciação consistem em uma série de determinações
sucessivas, pelas quais o enunciado se constitui pouco a pouco e que têm como característica colocar o "dito" e, em
conseqüência, rejeitar o não- dito.
Enunciado

Unidade constitutiva do discurso que nunca se repete da mesma maneira (ver paráfrase e polissemia), já que a sua
função enunciativa muda de acordo com as condições de produção. É a partir dos enunciados, portanto, que
podemos identificar as diferentes posições assumidas pelo sujeito no discurso (ver posição-sujeito).

Equívoco

Marca de resistência que afeta a regularidade do sistema da língua, este conceito surge da forma como a língua é
concebida na AD (enquanto materialidade do discurso, sistema não-homogêneo e aberto). Algumas de suas
manifestações são as falhas, lapsos, deslizamentos, mal-entendidos, ambigüidades, que fazem parte da língua e
representam uma marca de resistência e uma diferenciação em relação ao sistema. Dizemos, com Pêcheux (1988),
que todo o enunciado pode sempre tornar-se outro, uma vez que seu sentido pode ser muitos, mas não qualquer um.

FATO

Dado provido de sentido que se produz como um objeto da ordem do discurso e nos conduz à memória discursiva. A
concepção de fato traz para os estudos da linguagem a possibilidade de trabalhar com os processos de produção dos
discursos, já que nos remete, não à evidência dos dados empíricos, e sim aos acontecimentos histórico-sociais em
torno dos quais se funda um discurso. Todo fato, para se constituir como tal, precisa ter algo de empírico em si.

FORMA-SUJEITO

É a forma pela qual o sujeito do discurso se identifica com a formação discursiva que o constitui. Esta identificação
baseia-se no fato de que os elementos do interdiscurso, ao serem retomados pelo sujeito do discurso, acabam por
determiná-lo. Também chamado de sujeito do saber, sujeito universal ou sujeito histórico de uma determinada
formação discursiva, a forma-sujeito é responsável pela ilusão de unidade do sujeito.

FORMAÇÃO DISCURSIVA (FD)

Manifestação, no discurso, de uma determinada formação ideológica em uma situação de enunciação específica. A
FD é a matriz de sentidos que regula o que o sujeito pode e deve dizer e, também, o que não pode e não deve ser
dito (Courtine, 1994), funcionando como lugar de articulação entre língua e discurso. Uma FD é definida a partir de
seu interdiscurso e, entre formações discursivas distintas, podem ser estabelecidas tanto relações de conflito quanto
de aliança. Esta noção de FD deriva do conceito foulcaulteano (1987) que diz que sempre que se puder definir, entre
um certo número de enunciados, uma regularidade, se estará diante de uma formação discursiva. Na AD este
conceito é reformulado e aparece associado à noção de formação imaginária.

FORMAÇÃO IDEOLÓGICA (FI)

Conjunto complexo de atitudes e de representações, não individuais nem universais, que se relacionam às posições
de classes em conflito umas com as outras. A FI é um elemento suscetível de intervir como uma força em confronto
com outras forças na conjuntura ideológica característica de uma formação social. Pêcheux (1975) afirma que as
palavras, expressões, proposições, mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as
empregam, sentidos esses que são determinados, então, em referência às formações ideológicas nas quais se
inscrevem estas posições (ver formação discursiva).

FORMAÇÃO IMAGINÁRIA

A partir do conceito lacaniano de imaginário, Pêcheux (1975) define que as formações imaginárias sempre resultam
de processos discursivos anteriores. As formações imaginárias se manifestam, no processo discursivo, através da
antecipação, das relações de força e de sentido. Na antecipação, o emissor projeta uma representação imaginária do
receptor e, a partir dela, estabelece suas estratégias discursivas. O lugar de onde fala o sujeito determina as relações
de força no discurso, enquanto as relações de sentido pressupõem que não há discurso que não se relacione com
outros. O que ocorre é um jogo de imagens: dos sujeitos entre si, dos sujeitos com os lugares que ocupam na
formação social e dos discursos já-ditos com os possíveis e imaginados. As formações imaginárias, enquanto
mecanismos de funcionamento discursivo, não dizem respeito a sujeitos físicos ou lugares empíricos, mas às
imagens resultantes de suas projeções.

FORMAÇÃO SOCIAL
Espaço a partir do qual se pode prever os efeitos de sentido a serem produzidos. Para a AD as posições que os
sujeitos ocupam em uma dada formação social condicionam as condições de produção discursivas, definindo o lugar
por eles ocupado no discurso. Ao funcionamento das formações sociais está articulado o funcionamento da ideologia,
relacionado à luta de classes e às suas motivações econômicas.

Heterogeneidade Discursiva

Termo utilizado pela AD para destacar que todo discurso é atravessado pelo discurso do outro ou por outros
discursos. Estes diferentes discursos mantêm entre si relações de contradição, de dominação, de confronto, de
aliança e/ou de complementação. Authier (1990) distingue duas ordens de heterogeneidade: (1) a heterogeneidade
constitutiva do discurso (que esgota a possibilidade de captar lingüisticamente a presença do outro no um e (2) a
heterogeneidade mostrada no discurso (que indica a presença do outro no discurso do locutor). A heterogeneidade
mostrada, por sua vez, ainda segundo a autora, divide-se em duas modalidades: a marcada, da ordem da enunciação
e visível na materialidade lingüística; e a não-marcada, da ordem do discurso e não provida de visibilidade.

História

Produção de sentidos que se define por sua relação com a linguagem. A história organiza-se a partir das relações
com o poder e está ligada não à cronologia, mas às práticas sociais. Para a AD, todo o fato ou acontecimento
histórico significa, precisa ser interpretado, e é pelo discurso que a história deixa de ser apenas evolução.

Historicidade

Modo como a história se inscreve no discurso, sendo a historicidade entendida como a relação constitutiva entre
linguagem e história. Para o analista do discurso, não interessa o rastreamento de dados históricos em um texto, mas
a compreensão de como os sentidos são produzidos. A esse trabalho dos sentidos no texto e à inscrição da história
na linguagem é que se dá o nome de historicidade.

IDEOLOGIA

Elemento determinante do sentido que está presente no interior do discurso e que, ao mesmo tempo, se
reflete na exterioridade, a ideologia não é algo exterior ao discurso, mas sim constitutiva da prática
discursiva. Entendida como efeito da relação entre sujeito e linguagem, a ideologia não é consciente, mas
está presente em toda manifestação do sujeito, permitindo sua identificação com a formação discursiva que o
domina. Tanto a crença do sujeito de que possui o domínio de seu discurso, quanto a ilusão de que o sentido
já existe como tal, são efeitos ideológicos.

INTERDISCURSIVIDADE

Relação de um discurso com outros discursos; vozes discursivas outras que se manifestam em um dado
discurso e interferem no seu sentido. Estes discursos alheios penetram no discurso em estudo, interferindo
assim no seu sentido. Esta noção está ligada, portanto, à noção de heterogeneidade discursiva, de formação
discursiva e de pré-construído.

INTERDISCURSO

Compreende o conjunto das formações discursivas e se inscreve no nível da constituição do discurso, na


medida em que trabalha com a re-significação do sujeito sobre o que já foi dito, o repetível, determinando os
deslocamentos promovidos pelo sujeito nas fronteiras de uma formação discursiva. O interdiscurso
determina materialmente o efeito de encadeamento e articulação de tal modo que aparece como o puro "já-
dito".

INTERPRETAÇÃO

Gesto de leitura de um fato, presente em toda manifestação da linguagem, através do qual a significação é
produzida. A interpretação é uma injunção; diante de qualquer objeto simbólico somos obrigados a
interpretar, temos a necessidade de atribuir sentido. Por um efeito ideológico, a interpretação se apaga no
momento mesmo de sua realização, dando-nos a ilusão de que é transparente, de que o sentido já existia
como tal. Essa transparência é uma ilusão, na medida em que o fato de o sentido ser um e não outro é
definido pelas condições de produção em que se dá o movimento interpretativo. Tanto o cerne do gesto de
interpretação, quanto sua eficácia ideológica se devem à relação dos fatos e do sujeito com a significação,
uma vez que os fatos reclamam sentido e o sujeito tem necessidade de atribuí-lo. A interpretação não é mero
gesto de decodificação, de apreensão de sentidos; interpretar é expor-se à opacidade do texto, é explicitar o
modo como um objeto simbólico produz sentidos. (Orlandi, 1996) A interpretação sempre pode ser outra,
mas o movimento interpretativo não é um movimento caótico, não regido. As condições de produção e a
própria possibilidade de abertura impõem determinações, limites a esse movimento, o que significa dizer que
a interpretação pode ser múltipla, mas não qualquer uma.

INTRADISCURSO

Simulacro material do interdiscurso, na medida em que fornece-impõe a "realidade" ao sujeito, matéria-


prima na qual o indivíduo se constitui como sujeito falante numa determinada formação discursiva que o
assujeita (ver assujeitamento). Ao pensarmos o discurso como uma teia a ser tecida podemos dizer que o
intradiscurso é o "fio do discurso" de um sujeito; a rigor, é um efeito do interdiscurso sobre si mesmo, uma
vez que incorpora, no eixo sintagmático (linear), a relação de possibilidade de substituição entre elementos
(palavras, expressões, proposições), como se esses elementos, assim encadeados entre si, tivessem um
sentido evidente, literal. O que está em evidência, no intradiscurso, é a formulação de um discurso a partir da
realidade presente.

LEITOR

Uma das posições que o sujeito assume no discurso. Todo sujeito move-se em um discurso guiado pela
relação que construiu com os textos lidos em sua história de leitor, ou seja, constituindo-se dentro de uma
memória social de leitura. Assim, ao ser colocado diante de um discurso, o sujeito leitor está sendo impelido
a interpretá-lo (ver interpretação), e esse movimento de leitura estará necessariamente vinculado às
condições sócio-histórico-ideológicas que o envolvem e que determinam tanto o leitor e sua formação,
quanto a leitura a ser feita por este sujeito.

LEITURA

Caminho material para se chegar à interpretação; prática discursiva, não-subjetiva, em que um sujeito-leitor,
inscrito numa determinada formação discursiva, ao entrar em contato com um texto escrito, (re)constrói os
sentidos dos enunciados e, assim sendo, se engaja automaticamente na dinâmica do processo social de
produção de sentidos (ver memória discursiva). É essa circulação de sentidos que, por um lado, assegura o
já-dito e, por outro, abre espaço para a irreverência, a ruptura, uma vez que, pela sua natureza e
especificidade, a leitura tende a ser múltipla, plural, ambígua por si própria.

LÍNGUA

Condição de possibilidade de um discurso, materialidade ao mesmo tempo lingüística e histórica, produto


social que resulta de um trabalho com a linguagem no qual coincidem o histórico e o social. No âmbito
discursivo, a língua é reconhecida por sua opacidade e pela forma como nela intervém a sistematicidade e o
imaginário (ver formação imaginária), aparecendo o equívoco como elemento constitutivo da mesma.

LINGUAGEM

Ação transformadora, trabalho (ainda que simbólico), produção social, interação, na medida em que se
define na relação necessária entre o indivíduo e a exterioridade. A linguagem é um dos elementos
constitutivos do processo discursivo o qual se dá sob determinadas condições histórico-sociais e ideológicas.
MEMÓRIA DISCURSIVA

Possibilidades de dizeres que se atualizam no momento da enunciação, como efeito de um esquecimento


correspondente a um processo de deslocamento da memória como virtualidade de significações. A memória
discursiva faz parte de um processo histórico resultante de uma disputa de interpretações para os
acontecimentos presentes ou já ocorridos (Mariani, 1996). Courtine & Haroche (1994) afirmam que a
linguagem é o tecido da memória. Há uma memória inerente à linguagem e os processos discursivos são
responsáveis por fazer emergir o que, em uma memória coletiva, é característico de um determinado
processo histórico. Orlandi (1993) diz que o sujeito toma como suas as palavras de uma voz anônima que se
produz no interdiscurso, apropriando-se da memória que se manifestará de diferentes formas em discursos
distintos.

PARÁFRASE

Processo de efeitos de sentido que se produz no interdiscurso, retorno ao já-dito na produção de um discurso
que, pela legitimação deste dizer, possibilita sua previsibilidade e a manutenção no dizer de algo que é do
espaço da memória (ver memória discursiva).A paráfrase é responsável pela produtividade na língua, pois,
ao proferir um discurso, o sujeito recupera um dizer que já está estabelecido e o reformula, abrindo espaço
para o novo. Essa tensão entre a retomada do mesmo e a possibilidade do diferente desfaz a dissociação
entre paráfrase e polissemia.

POLISSEMIA

Deslocamento, ruptura, emergência do diferente e da multiplicidade de sentidos no discurso. Processo de


linguagem que garante a criatividade na língua pela intervenção do diferente no processo de produção da
linguagem, permitindo o deslocamento das regras e fazendo resultar em movimentos que afetam o sujeito e
os sentidos na sua relação com a história e a língua (Orlandi, 1999). Essa possibilidade do novo criada pela
polissemia é a própria razão de existência da linguagem, já que a necessidade do dizer é fruto da
multiplicidade dos sentidos. São os processos polissêmicos que garantem que um mesmo objeto simbólico
passe por diferentes processos de re-significação.

POSIÇÃO-SUJEITO

Resultado da relação que se estabelece entre o sujeito do discurso e a forma-sujeito de uma dada formação
discursiva. Uma posição-sujeito não é uma realidade física, mas um objeto imaginário, representando no
processo discursivo os lugares ocupados pelos sujeitos na estrutura de uma formação social. Deste modo,
não há um sujeito único mas diversas posições-sujeito, as quais estão relacionadas com determinadas
formações discursivas e ideológicas.

PRÉ-CONSTRUÍDO

Enunciado simples proveniente de discursos outros, anteriores, "como se esse elemento já se encontrasse
sempre-aí por efeito da interpelação ideológica"(Pêcheux, 1975). Essa formulação de um já-dito assertado
em outro lugar permite a incorporação de pré-construídos à FD, concebida como um domínio de saber
fechado, fazendo-a relacionar-se com seu exterior.

REAL DA LÍNGUA

Impossibilidade de se dizer tudo na língua, série de pontos do impossível, lugar do inconsciente de onde o
sujeito fala o que não pode ser dito. O termo real da língua é designado em francês como "lalangue", o que
corresponde, em português, a "alíngua". Essa distinção terminológica expressa de um modo singular, já na
grafia, a diferença existente entre a noção de língua, que é da ordem do todo, do possível, e a noção do real
da língua (alíngua), que é da ordem do não-todo, do impossível, inscrito igualmente na língua. Esse termo
veio da psicanálise, trazido por Lacan, e foi desenvolvido na lingüistica, sobretudo por Milner (1987), numa
tentativa de nomear aquilo que escapa à univocidade inerente a qualquer nomeação, apontando para o
registro que, em toda a língua, a consagra ao equívoco. Na perspectiva teórica do discurso, torna-se
fundamental uma concepção de língua afetada pelo Real, pois isso vai permitir operar com um conceito de
língua que reconheça o equívoco como fato estrutural constitutivo e implicado pela ordem do simbólico.
(Pêcheux, 1988)

SENTIDO

O sentido de uma palavra, expressão, proposição não existe em si mesmo, só pode ser constituído em
referência às condições de produção de um determinado enunciado, uma vez que muda de acordo com a
formação ideológica de quem o (re)produz, bem como de quem o interpreta. O sentido nunca é dado, ele não
existe como produto acabado, resultado de uma possível transparência da língua, mas está sempre em curso,
é movente e se produz dentro de uma determinação histórico-social, daí a necessidade de se falar em efeitos
de sentido.

SUBJETIVIDADE

Enquanto na Teoria da Enunciação (TE) o Eu é considerado sujeito e centro de toda enunciação, na AD a


subjetividade se desloca do eu e passa a ser vista como inerente a toda linguagem, constituindo-se, portanto,
mesmo quando este eu não é enunciado. Para a teoria discursiva, o sujeito não é a fonte do sentido, nem o
senhor da língua. Despossuído de seu papel central, o sujeito é integrado ao funcionamento do discurso,
determinando e sendo determinado tanto pela língua quanto pela história. (Orlandi & Guimarães, 1988)

SUJEITO

Resultado da relação com a linguagem e a história, o sujeito do discurso não é totalmente livre, nem
totalmente determinado por mecanismos exteriores. O sujeito é constituído a partir relação com o outro,
nunca sendo fonte única do sentido, tampouco elemento onde se origina o discurso. Como diz Leandro
Ferreira (2000) ele estabelece uma relação ativa no interior de uma dada FD; assim como é determinado ele
também a afeta e determina em sua prática discursiva. Assim, a incompletude é uma propriedade do sujeito e
a afirmação de sua identidade resultará da constante necessidade de completude.

TEXTO

Unidade de análise do discurso que, enquanto tal, é uma superfície lingüística fechada em si mesma (tem
começo, meio e fim). É um objeto empírico, inacabado, complexo de significação; lugar do jogo de sentidos,
do trabalho da linguagem, do funcionamento da discursividade. O relevante, no âmbito discursivo, onde o
texto é tomado como discurso (enquanto estado determinado de um processo discursivo), é ver como ele
organiza a relação da língua com a história na produção de sentidos e do sujeito em sua relação com o
contexto histórico-social. Para a AD o texto é dispersão de sujeitos por comportar diversas posições-sujeito
que o atravessam e que correspondem a diferentes formações discursivas. A completude do dizer é um efeito
da relação do sujeito com o texto, deste com o discurso e da inserção do discurso em uma formação
discursiva determinada. Esse movimento é que produz a impressão de unidade e transparência do dizer.

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