A perspectiva criminológica defendida por Baratta, como se sabe, possui base
marxista. Assim, a diferenciação que o autor faz em seu texto sobre a violência estrutural e a violência institucional parte de uma análise da formação da sociedade capitalista. Desde o seu surgimento, o Estado burguês coloca como um de seus fundamentos a igualdade formal. A implantação desse modelo de estado, ao mesmo tempo que traz uma série de garantias formais contra o arbítrio do modelo absolutista, “congela” a possibilidade de satisfação das necessidades reais de uma parte da população, ou seja, da igualdade material. Logo, a desigualdade material é estrutural do Estado liberal. É essa injustiça social que Baratta estabelece como violência estrutural. É a violência estrutural que permite, portanto, a seleção de dos bens jurídicos que serão protegidos e determina o processo de criminalização. Além disso, historicamente, a justiça social e a defesa dos direitos humanos surgem, especialmente no pós-guerra, como uma maneira de sustentação do capitalismo quando se evidencia a violência estrutural de maneira que todo o sistema pode ser colocado em cheque. Já a violência institucional é aquela perpetrada pelas instituições que mantém a sociedade capitalista. A pena, nesse sentido, é a violência institucional que reforça a violência estrutural. Logo, a penalização e o cárcere, mesmo funcionando dentro dos moldes de um Estado de direito liberal, não pode ser entendida como uma defesa dos direitos humanos. A pena é, portanto, uma resposta simbólica e não possui uma função instrumental de prevenção ou defesa social. Em relação a política criminal alternativa, Baratta afirma que essa prática parte de uma análise das condições estruturais das relações sociais e de produção. Parte também do entendimento de que a questão penal não está somente ligada a contradições que se exprimem sobre o plano das relações de distribuição, e não é, por isso, resolúvel, atuando somente sobre essas relações.