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VOEGELIN, Eric. Ordem e história. Platão e Aristóteles (vol. III), São Paulo: Ed.
Loyola, 2010, p. 445.
Resenha
toda a história do drama é enunciada na Por isso, como sublinhamos acima,
abertura do diálogo, a descida de Sócra- a filosofia não pode ser vista como
tes ao porto de Atenas. Num ambiente uma doutrina da ordem reta, mas “a
sujo os artistas promoveram um festival luz da sabedoria que incide sobre a
tão bom quanto o dos atenienses, fato luta; e a ajuda não é uma informação
que surpreende a Sócrates. O filósofo é sobre a verdade, mas o esforço árduo
impedido, por seus amigos, de retornar para localizar as forças do mal e iden-
ao Partenon da era de Maratona. Sob tificar a sua natureza” (p. 122). Platão
essas condições, tem-se o começo da retoma o sentido de aletheia presente
“subida espiritual pela construção em na tradição dos “filósofos-místicos”,
palavras da politeia erigida no céu que na terminologia voegeliniana, e dos
deve se tornar o modelo para as almas poetas desde Hesíodo segundo os
daqueles dispostos a responder ao cha- quais a verdade era experimentada em
mado divino” de realizar uma conversão oposição às convenções da sociedade.
interior. Toda essa abertura sintetiza Decorre disso a necessidade de explorar
a finalidade da República: apresentar os pares conceituais (justiça-injustiça,
“uma forma simbólica da vida boa” – saúde-doença, por exemplo) para mar-
como explica Germino (p. 19). car posição contrária à sua época, em
especial à dos sofistas.
Mas como a República simboliza
A interpretação voegeliniana dos
essa ordem reta para a polis? Antes de
diálogos platônicos supera, em exten-
tudo, é preciso reconhecer que a ordem
são, o seu exame da filosofia política
platônica não é apresentada como um
aristotélica. Contudo, as páginas dedica-
“estado ideal”, e, nesse sentido, Platão
das a Aristóteles oferecem uma síntese
e Aristóteles nada têm de “moralistas”,
igualmente crítica e profunda, dentro
no sentido de imporem virtudes para o
da proposta de investigação filosófica
restante dos cidadãos. Mas, ao contrário,
do autor. Recai sobre a primeira parte
buscam compreender o ser humano
do livro o maior número de críticas à
na diversidade e dinamismo em que interpretação do pensamento platô-
vivem. Daí entenderem que a realização nico, debate resumido por Germino na
das virtudes pode dar-se em diferentes introdução (p. 39-47). De todo modo,
graus (p. 16-17). qualquer avaliação que se possa fazer
Seguindo essa compreensão, temos da reconstrução voegeliniana da expe-
que a ordem reta da polis emerge em riência humana por meio dos símbolos
oposição à desordem da sociedade. em Platão e Aristóteles, em vista de cap-
Do mesmo modo que a “justiça não é tar a ordem presente na realidade, deve
definida no abstrato, mas em oposição considerar a intenção, o método e o
às formas concretas que a injustiça modo de argumentação empreendidos
assume”, também “os elementos da por Voegelin. Perspectivas de estudos
ordem reta são desenvolvidos em que essa edição reabre.
oposição concreta aos elementos de
desordem na sociedade circundante”. E, Anderson Felix
assim, Voegelin prossegue explicando: PUC-SP
“a forma, o eidos, da Arete da alma E-mail: felixander@gmail.com