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60 ARTIGOS

O LÚDICO: UM FENÔMENO TRANSICIONAL

Luiz Alberto Lorenzetto1

RESUMO Ambíguo, divergente e caçador, como todo ser


Este estudo realizado dentro da área da Filosofia da criativo, o ser humano trafega (no mínimo) por dois
Educação, buscou analisar o LÚDICO como um aspecto caminhos:
da TRANSICIONALIDADE, isto é, como um estágio - O do intimismo do corpo (a busca do "eu"), como
intermediário entre a FUSIONALIDADE e a acesso à interioridade, experimentando
AUTONOMIA, em busca da identidade pessoal e o autopercepções profundas.
reconhecimento social. O estudo mostra que: a) este - O do compartilhamento do corpo (a busca do
estágio implica na necessidade de entrar em CONTATO, "nós"), como acesso à exterioridade dos conteúdos
vencer certas RESISTÊNCIAS existenciais e até de vitais e à maiores possibilidades de expressão e
"quebrar o próprio gelo"; e b) que o prazer do jogo comunicação.
diante dos objetos e fenômenos transicionais demonstra Não se conformando em ser apenas o início, o
ser uma excelente forma de contato entre as pessoas, pois meio e o fim de toda a sua subjetividade, o ser humano
diminui a formalidade, promove a alegria e desenvolve a teima em transcender-se, investigando suas
confiança. potencialidades no passado, no presente e no futuro, no
UNITERMOS: Jogo, Transicionalidade, Comunicação, concreto e no abstrato.
Saúde. Donald Winnicot deu o nome de
O brincar implica confiança e pertence ao espaço TRANSICIONAIS3 a algumas experiências humanas
potencial (um tipo de "Play-ground") existente entre o acima, entre as quais estou incluindo o brinquedo como
bebê e a mãe A confiança no amor da mãe; do pai; objeto, o jogo como ação e o lúdico como fenômeno.
da família e do brincar criativo, devem permitir ao Não serão o esporte, a dança, a ginástica e o jogo
bebê, passar da dependência para a autonomia. Os os recursos que o ser humano possui, para alcançar as
fenômenos transicionais evoluem para o brincar, para profundezas e o infinito das suas relações, revoltando-se
o brincar compartilhado, e deste para as experiências contra suas próprias limitações?
culturais. A brincadeira é universal, natural, facilita Não serão as atividades corporais (competitivas,
o crescimento e é própria da saúde. 2 expressivas e utilitárias) um meio para que o Homem se
Este estudo tem a finalidade de questionar as conscientize de que realmente é humano?
possibilidades ou não do lúdico na construção do ser Na prática, dimensões muito grandes da
humano, nos resultados desta edificação e nos caminhos corporeidade têm sido desenvolvidas. Não podendo
que conduzem a esta meta. mudar as regras, o ser humano violenta e se violenta:
Fator histórico e fazedor da história, o corpo tem - Não podendo controlar o cronômetro, ele corre
jogado em vários times, ganhando alguns jogos e cada vez mais rápido.
perdendo outros, segundo o ponto de vista de quem - Não podendo competir com a trena, ele
observa. arremessa cada vez mais longe.
Fruto de grandes paradoxos, o corpo tem sido Embora não possa competir com a ação da
ensinado, domesticado, amado, seduzido, castigado, gravidade, ele salta cada vez mais alto.
exorcizado, massacrado, sacralizado, como fatalmente Seus gestos não são puras quantificações
teria de acontecer, pelo fato de pertencer a seres que mecanicistas, mas também a arte em movimento, o jogo
segregam, estupram, torturam, divinizam, cometendo atos da beleza, do vigor, da precisão, da graça, da fluidez e da
que vão desde os mais ignóbeis aos mais sublimes(sempre harmonia.
dependendo do ponto de vista de quem aponta o dedo). Não estou me referindo apenas aos grandes
Talvez isso aconteça pelas pluralidades do seu atletas, ginastas e dançarinos, mas a todos aqueles que
crescimento e desenvolvimento, na tentativa de ora conseguem superar-se. A educação, como linguagem (ao
agarrar-se às suas origens, ora agarrar-se às suas nível de uma elite ou da maioria), deve desacomodar o
identidades, tendendo em certos momentos para a corpo, para que ele fale quanto, quando e como (a até se),
fusionalidade, e em outros para a autonomia. deseja permanecer (fusionalidade), ou partir (autonomia).
É o que veremos no item seguinte.

1
Professor Doutor do Departamento de Educação Física - UNESP - Rio
Claro
2 3
WINNICOT, 1975, p.71-72-76 WINNICOT, 1975. p.16-17

MOTRIZ - Volume 2, Número 2, Dezembro/1996


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O BRINQUEDO, O JOGO E O LÚDICO: Solomon (apud Winnicot, 1975), relata que a


EXPERIÊNCIAS TRANSICIONAIS transicionalidade não é representada apenas por um
objeto de natureza concreta, mas também por algo
imaginário ou simbólico. Ele explica este fato, chamando
Os códigos, os meios, os codificadores, os
uma "idéia fixa", de objeto transicional internalizado.7
decodificadores, dentro do processo de comunicação
No relato que se segue, Winnicot enfatiza o valor
humana, aparecem sob as formas mais variadas,
do objeto transicional, onde:
dependendo do sexo, da idade, das experiências de vida,
Pode-se supor que pensar ou fantasiar, se vincule a
das relações de família, de trabalho e das atividades
essas experiências funcionais. Tudo isso estou
artísticas e desportivas.
chamando de Fenômenos Transicionais. De tudo
Portanto, os aspectos da comunicação podem
isso, também (se estudarmos qualquer bebê), pode
revelar-se nos bebês, nas crianças, nos ginastas, nos
surgir alguma coisa ou algum fenômeno - talvez uma
dançarinos, nos políticos e nos artistas, pois são
bola de lã, a pontinha de um cobertor ou edredão,
universais.
uma palavra ou uma melodia, ou um maneirismo -
Os meios de comunicação podem apresentar uma
que, para o bebê, se torna vitalmente importante para
dimensão muito abrangente, como é o caso dos meios de
seu uso no momento de dormir, constituindo uma
comunicação de massa, ou uma dimensão mais restrita,
defesa contra a ansiedade, especialmente a ansiedade
como é o caso do cordão umbilical, fator de comunicação
do tipo depressivo. Talvez um objeto macio, ou outro
entre o feto e a mãe.
tipo de objeto, tenha sido encontrado e usado pelo
Entretanto, elementos de comunicação não têm
bebê, tornando-se naquilo que eu estou chamando de
apenas a função de unir, mas também de preparar a
objeto transicional. Esse objeto continua sendo
separação.
importante. Os pais vêm a saber do seu valor e
Esta é uma das funções dos objetos, ações e
levam-no consigo quando viajam. A mãe permite que
fenômenos da transicionalidade.
fique sujo e até mesmo malcheiroso, sabendo que, se
A fusionalidade, explicada por André Lapierre e
lavá-lo introduzirá uma ruptura de continuidade na
Bernard Aucouturier, significa a simbiose total entre o
experiência do bebê, ruptura essa que pode destruir o
feto e a mãe, situação de caráter temporário, onde o óvulo
significado e o valor do objeto para ele.8
e o espermatozóide se transformam num novo
Isto demonstra que o objeto transicional pode
continuador da vida. Segundo os autores, a fusionalidade
apresentar outro paradoxo: ele pode não necessariamente
é também um estado de indiferenciação total onde o feto
fazer parte do corpo humano nem ser necessariamente
não é uma parte separada da mãe e vive numa plenitude
reconhecido como algo externo a esse corpo.
difusa e sem limite.4
O lactente não diferencia mão e chocalho, em
O nascimento impede a continuidade desta
função das sensações fusionais parciais do seu corpo,
plenitude fusional, ausente de necessidades, desejos e
gerando segundo Melanie Klein (apud Lapierre e
frustrações. A perda da fusionalidade absoluta,
Aucouturier), a posição "esquizóide" e o estágio do
caracterizada pela mutualidade da pertinência e do prazer,
objeto parcial.9
é sentida como um verdadeiro trauma para o bebê, que
A busca de uma nova fusionalidade pode ser
começa a experimentar uma série de sensações vindas do
encontrada pelo processo de comunicação entre o bebê e
meio ambiente e a perda da sua plenitude.5
o adulto desejado, através de fenômenos transicionais,
Após o nascimento advém uma independência
como o "calor do corpo, o contato com a pele, o hálito, o
relativa (quando a criança começa a locomover-se),
ato de embalar, o aleitamento, o olhar, a voz e, sobretudo,
situação de caráter transitório, que prepara para uma
o acordo das tensões tônicas.10
independência propriamente dita e para a maturidade.
Quando o emissor (adulto desejado) e o receptor
As passagens dessa evolução são acompanhadas
(bebê), ou vice-versa, não produzirem "ruídos" nos canais
por "objetos e fenômenos transicionais", que Winnicot
de comunicação será estabelecido um verdadeiro diálogo
caracterizou como:
corporal, cuja qualidade poderá influenciar a formação
A área intermediária de experiência, entre o
de aspectos muito positivos da personalidade.
polegar e o ursinho, entre o erotismo oral e a
As atividades realizadas pelas crianças nos
verdadeira relação de objeto, entre a atividade criativa
"play-grounds", como balançar, escorregar, trepar,
primária e a projecção do que já foi introjetado, entre
equilibrar, esconder, girar, rolar e suspender-se, são muito
o desconhecimento primário de dívida e o
parecidas com as ações transicionais executadas com seus
reconhecimento desta (diga "bigado").6

4 7
LAPIERRE & AUCOUTURIER, 1984. p.10. SOLOMON (apud WINNICOT). 1975. p.11.
5 8
WINNICOT, 1975. p.10. David Winnicot, op. cit., p.10. WINNICOT, 1975, 1975. p.16-17.
6 9
IBIDEM. p.14 KLEIN (apud LAPIERRE & AUCOTURIER), 1984. P.11.
10
LAPIERRE & AUCOUTURIER, 1984. p.11.

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pais, quando ainda eram bebês, o que caracteriza a Entretanto, outros problemas podem surgir
necessidade de perpetuar o prazer da fusionalidade. quando o "objeto transicional acabar se transformando
Os objetos transicionais podem apresentar-se num objeto de fetiche e assim persistir como uma
para as crianças sob várias óticas: como uma prova de característica da vida sexual adulta"14
amor, de sofrimento, de agressão, de negligência, de Quanto à necessidade da descoberta de uma
defesa, de recompensa e até de ódio. linguagem comum, Winnicot relata que:
Melanie Klein apresentou esta problemática com Quando o adulto consegue extrair prazer da área
relação ao "amor-ódio" da seguinte forma: intermediária sem fazer reivindicações, podemos
Investigações recentes os relacionaram reconhecer nossas próprias e correspondentes áreas
particularmente com o mais primitivo estágio da intermediárias, sendo que nos apraz descobrir certo
infância. Tem sido reconhecida que a clivagem entre grau de sobreposição, isto é, de experiência comum
amor e ódio, comumente descrita como uma divisão entre membros de um grupo na arte, na religião, ou
de emoção, varia de intensidade e toma muitas na filosofia.15
formas. Essas variações estão ligadas à força dos Estas experiências estão diretamente ligadas à
temores persecutórios do bebê. Se a divisão for estética, ao símbolo, ao poético, ao místico, ao ritual, à
excessiva, a relação fundamentalmente importante criatividade, que acompanham o ser humano durante toda
com a mãe não poder ser alcançada com segurança e a sua vida, e que, de certa forma, estão muito ligadas ao
o progresso normal no sentido da integração do ego lúdico.
se perturbar . Isto pode resultar em doença mental
posterior. Outra possível consequência é a inibição PARADIGMAS ALTERNATIVOS DA
do desenvolvimento intelectual, que pode contribuir FUSIONALIDADE E DA AUTONOMIA
para o retardamento mental.11
Esta situação acima é uma das rupturas que O prazer do lúdico na experiência dos objetos e
podem acabar acontecendo no relacionamento humano, fenômenos transicionais demonstra ser uma excelente
embora não haja nem fusionalidade total, nem ruptura forma de estabelecer um satisfatório processo de
total. comunicação, da criança com o jovem, do jovem com o
André Lapierre e Bernard Aucouturier chamam adulto, do adulto com o idoso, e de todos eles com o
este tipo de ruptura de Distanciamento Progressivo, o que mundo, trabalhando adequada e harmoniosamente suas
acontece através das seguintes etapas: tensões, a dualidade competição/comparação, seus
Crescer para um local simbólico pluridimensional, em prazeres, suas fantasias, suas ansiedades e frustrações.
relação não apenas ao outro, mas aos outros: é o Parece no entanto que, aprisionado durante muito
acesso a um espaço de comunicação social, de tempo no âmbito da sisudez e da formalidade, o corpo
fusionalidade simbólica no grupo. desaprendeu o jogo de ser feliz.
O jogo, cujo poder mágico reúne o mar e a praia,
Enriquecer-se com todas as ofertas culturais que a tensão e o relaxamento, a noite e o dia, o vaivém de
permitam mediatizar a comunicação: gesto, som cor, todos os pêndulos existenciais, ainda não conseguiu fazer
grafismo e sobretudo linguagem verbal. o Homem Brincar de Brincadeira.
O Homem tem preferido o jogo do poder, o jogo
Diversificar-se e também autonomizar-se na procura político, o jogo das finanças, o jogo da Bolsa, o jogo do
de uma identidade, de uma diferença que vai permitir dólar, o jogo da guerra, o jogo das especulações e o jogo
a si mesmo ser único, não mais ser o outro, o da impunidade. Jogos nem sempre muito transparentes e
complemento do outro.12 com regras geralmente escamoteáveis, tendendo
Ao longo do desenvolvimento humano, os intencionalmente sempre para o lado no qual se joga.
objetos transicionais aparecem fragmentados ou pouco O corpo resiste ao direito de ser e fazer feliz.
compreensíveis. Talvez porque, jogando, o corpo demonstre que
Para Melanie Klein, estes fenômenos serão ama, que deseja, que goza, que enlouquece, que inventa,
reunidos pela capacidade de simbolização, que em suma, que seduz, como se tudo isso fosse fruto do pecado, ou o
significa "reunir afectos" criados por sua própria história. caminho mais fácil para perder o céu.
Esta capacidade ou dificuldade de simbolização Resistir parece ser a palavra de ordem, atrás da
implica desvios de personalidade, que podem alcançar qual homens e mulheres se escudam, evitando os jogos do
níveis de psicose, esquizofrenia ou esquizoparanóia.13 riso, os jogos do amor... os jogos do corpo.
"Resistir" tira o corpo da jogada!

11
KLEIN, 1973. p.184-185
12
LAPIERRE & AUCOUTURIER, 1984. p.24
13 14
REZENDE, Notas de aula, Faculdade de Educaçäo da UNICAMP, WINNICOT, 1975. p.24.
15
1988. IBIDEM. p.24

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"Resistir" tira a responsabilidade, A resistência tem um função capital de manter a


impede a iniciativa e evita o compromisso. integridade do organismo; em última instância, é a
Portanto, se "resistir" é bom, logo, o energia usada para a autopreservação da
feio é "ceder"! individualidade tal como se apresenta. Dizemos
O feio é "abrir-se"! "Não!" ao contato, pelo medo de dissolução do "ser"
Ocorre, porém, que um coração e um corpo com o qual nos identificamos e queremos manter, com
fechados estão sujeitos a não passar por perto nem de consciência ou não.18
grandes nem de pequenas emoções porque aquele que não Durante toda a sua vida, o ser humano aprende a
se abre, nem sabe o que é isto ou aquilo. resistir a várias das suas funções vitais. As experiências
A resistência é perigosa e influente porque está de resistência excessiva podem tornar-se crônicas e
sempre muito perto de todos nós. acabar fazendo parte do comportamento cotidiano.
"Resistir" é ter. Experiências mal sucedidas de resistência podem
"Resistir" é ter medo. levar a infelicidade e dificultar num possível tratamento, o
"Resistir" é ter medo de ter medo. esquecimento de lembranças dolorosas.
"Resistir" é ter medo de ter medo de Por que será que quando encontramos um amigo
jogar o jogo do corpo, de expor-se à vida, de submeter-se infeliz, as primeiras reações para confortá -lo consistem
à auto-reprovação e à reprovação alheia. em dizer coisas alegres, que as dificuldades passam logo,
As opiniões alheias ainda dirigem a maioria dos que o problema está só na sua imaginação , que um bom
comportamentos humanos, principalmente daqueles que gole vale por um bom remédio ou que uma festa pode
ainda não tomaram consciência da sua corporeidade e não ajudá -lo a reencontrar-se?
conseguiram QUEBRAR O PRÓPRIO GELO. Aconchego, alegria, fantasia, festa!
Roberto Crema esclarece o conceito de Não são todos componentes lúdicos, a povoar os
Resistência dentro da Gestalt-terapia, como o oposto ao encontros e desencontros humanos?
conceito de Contato. Ultrapassar a fronteira do contato é Não é o lúdico, na sua função de fenômeno
sair dos limites do EU e inaugurar as possibilidades de transicional, tentando recompor comunicações perdidas e
NÓS.16 fusionalidades interrompidas?
Não querer quebrar o gelo, não querer entrar em Será que a conscientizaçäo da resistência, sua
contato, insistir em manter a resistência, assemelham-se continuidade ou término, não teria maior sucesso se
às características de um processo transicional não contasse com o apoio do lúdico?
resolvido de uma pessoa que se recusa a jogar, justamente Será que o LÚDICO com toda a sua abertura e
por não apresentar alternativas de comunicação. espontaneidade, não teria a magia necessária para abrir as
Resistir é desejar a proteção do tipo "volta ao portas da felicidade?
útero", com: temperatura uniforme, silêncio convidativo, Será que o LÚDICO não poderia apresentar
alimentação constante e sono tranquilo. novas dimensões dos problemas existenciais, evitando
Encarar maduramente as dificuldades do meio que as pessoas sabotassem o seu próprio
ambiente pode significar a perda do paraíso. Morder a desenvolvimento, diminuindo as razões dos seus
maça do lúdico, do erótico e do sensível pode significar o infortúnios?
cometimento do pecado original. Será que o LÚDICO não ajudaria a enxergar
Obstruídas naquilo que mais segrega seus "mais longe", facilitando o aprendizado da pesca,
componentes energéticos (o sistema muscular), as pessoas deixando que as pessoas escolhessem se desejam ou não
transformam suas tensões crônicas num objeto pescar?
transicional da mais alta repressividade, impedindo os Será que o LÚDICO, que dribla o
contatos.17 perfeccionismo, não aproveitaria as preciosas situações de
Assim como a projecção, a distribuição e a erro, do recriar para corrigir o erro e portanto, renascer?
rejeição, a resistência pode exercer a função de um forte Será que o LÚDICO não poderia debelar a
mecanismo de defesa, a fim de garantir a própria guerra INTERNA carregada pela maioria de nós, que faz
integridade pessoal. dos espaços pessoais e sociais constantes campos de
Mais do que "quebrar a resistência", Roberto batalha?
Crema sugere que ela seja compreendida na sua origem e Será que a ausência do LÚDICO na
na sua função: fusionalidade, não acarretaria a ausência do lúdico na
autonomia?
Será que o prazer despertado pelo LÚDICO não
16
CREMA, 1985. p.55
garantiria a reorganização do corpo, quando este fosse
17
CREMA, 1985. p.56, as explicações destes fenômenos foram
apresentadas por Wilhelm Reich, qualificando a resistência como uma
18
energia presa no corpo, na forma de couraça CREMA, 1985. p.57-58.

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submetido às instabilidades emocionais, intelectuais e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


motoras?
Será que o LÚDICO não poderia auxiliar pais e CREMA, Roberto. Análise transacional
professores no trabalho de uma ruptura fusional mais centrada na pessoa ... e mais além. São
tranquila, gradativa e equilibrada?
Será que o LÚDICO (no esporte, na ginástica, Paulo: Agora, 1985.
na dança e no jogo), não poderia evitar os estereótipos KLEIN, Melanie et alii. A educação de
desnecessários da aprendizagem motora, que conduzem à crianças à luz da investigação
obediência cega, à disciplina obrigatória e à repetição pela psicanalítica. Rio de Janeiro: Imago, 1973.
repetição? LAPIERRE, André & AUCOUTURIER,
Será que o LÚDICO não significaria o elemento
conflitante subversivo e revolucionário de que a Bernard. Fantasmas corporais e prática
Educação, a Saúde e o Lazer estão precisando, para tornar psicomotora. São Paulo: Manole, 1984.
os homens mais humanos? LORENZETTO, Luiz A. O corpo que joga o
Será que o LÚDICO não poderia colaborar no jogo do corpo. Tese de Doutorado.
questionamento dos sistemas escolares, onde a lei, as
Faculdade de Educação da UNICAMP,
regras, os estatutos, são todos decididos pela cúpula e não
pelos estudantes? Campinas - SP, 1991.
Será que o LÚDICO não favoreceria um diálogo REZENDE, Antonio M. Notas de aulas.
corporal mais honesto, mais franco e mais confiante, mais Faculdade de Educação da UNICAMP -
empático e mais significativo? Doutoramento. Campinas - SP, 1988.
Será que o LÚDICO não deixaria nua a "figura"
WINNICOT, Donald W. O brincar e a
autoritária do educador, tornando a relação entre os
docentes e os discentes mais igualitária e calorosa? realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
Será que o LÚDICO não favoreceria uma
aprendizagem mais criativa, onde os alunos pudessem Recebido para publicação em 13/03/96
usufruir ao máximo das suas potencialidades?
Será que o LÚDICO não poderia evitar a Endereço para contato:
deterioração do ensino, desvelando as crises do homem, Av. 24-A, 1515 - Rio Claro-SP
as crises da cultura e as crises do mundo? CEP 13506-900
Será que o LÚDICO não poderia ajudar o Depto. Educação Física
homem a discriminar suas contradições, e demonstrar que
alguns dos seus avanços são retrocessos e alguns dos seus
retrocessos são avanços?
Será que é possível sonhar com todas as
possibilidades citadas?
SERÁ QUE O LÚDICO NÃO CONSEGUIRIA
FAZER OS CORPOS JOGAREM OS JOGOS DOS
CORPOS, L U D I C A M E N T E ?

ABSTRACT

This study is a phylosophic analysis of PLAY, as factor of


TRANSITIONALITY, there is, na intermediary stage
between the dependency and the autonomy in search of
the personal and the social identies. The analysis showed
that: a) this stage implies the necessity of people to stay
together, to overcome certain personal resistances and
frigidity; and b) the pleasure of play over the transitional
objects or phenomenons, shows an excellent way to put
the people together, to stimulate happiness and to develop
the confidence.
UNITERMS: Play, Transitionality, Communication,
Health

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