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Informativo 916-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
Processo não comentado em virtude de envolver peculiaridades do caso concreto que não têm relevância para concursos
públicos: MS 33202 AgR/DF. Veja ao fim a notícia do julgado.
Processo não comentado por não ter sido ainda concluído já que houve pedido de vista: Pet 7.612 AgR/DF. Será
comentado assim que chegue ao fim.
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Servidor que fazia faculdade particular e é removido, de ofício, para outra cidade tem direito a matrícula em
universidade pública, se não existir instituição privada congênere no destino.
DIREITO AMBIENTAL
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
É inconstitucional lei estadual que prevê a supressão de vegetal em APP para a realização de atividades
exclusivamente de lazer.
EXECUÇÃO
Constitucionalidade do art. 741 do CPC/1973 (art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14; e art. 535, § 5º do CPC/2015).
DIREITO TRIBUTÁRIO
CSLL
A CSLL é constitucional.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Servidor que fazia faculdade particular e é removido, de ofício, para outra cidade tem direito a
matrícula em universidade pública, se não existir instituição privada congênere no destino
Importante!!!
É constitucional a previsão legal que assegure, na hipótese de transferência ex officio de
servidor, a matrícula em instituição pública, se inexistir instituição congênere à de origem.
Ex: Paulo é servidor público federal, lotado em Recife (PE), onde faz faculdade de Medicina em
uma universidade particular. Ele é transferido, de ofício, para Rio Branco (AC). Suponhamos,
hipoteticamente, que, em Rio Branco, as universidades privadas lá existentes não possuem o
curso de medicina. Neste caso, Paulo teria direito a uma vaga no curso de Medicina da
universidade pública.
Fundamento legal: art. 1º da Lei nº 9.536/97.
STF. Plenário. RE 601580/RS, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/9/2018 (repercussão geral)
(Info 916).
Em virtude dessa transferência, Paulo terá direito a uma vaga no curso de Medicina em uma
universidade em Rio Branco (AC)?
SIM. Isso é chamado de transferência ex officio, sendo um direito assegurado pela Lei nº 9.536/97, que
regulamentou o parágrafo único do art. 49, parágrafo único, da Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases
da Educação):
Lei nº 9.394/96
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a transferência de alunos regulares, para
cursos afins, na hipótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo.
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na forma da lei.
Lei nº 9.536/97
Art. 1º A transferência ex officio a que se refere o parágrafo único do art. 49 da Lei nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996, será efetivada, entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino,
em qualquer época do ano e independente da existência de vaga, quando se tratar de servidor
público federal civil ou militar estudante, ou seu dependente estudante, se requerida em razão de
comprovada remoção ou transferência de ofício, que acarrete mudança de domicílio para o
município onde se situe a instituição recebedora, ou para localidade mais próxima desta.
Parágrafo único. A regra do caput não se aplica quando o interessado na transferência se deslocar
para assumir cargo efetivo em razão de concurso público, cargo comissionado ou função de
confiança.
Dependentes
Têm direito à matrícula, em estabelecimentos de ensino congêneres, não apenas os servidores públicos
como também seus dependentes.
Assunção em cargo público, nomeação para cargo em comissão e designação para função de confiança
A prerrogativa da transferência ex officio não se aplica quando o interessado na transferência se deslocar
para outra localidade com o objetivo de assumir:
• cargo efetivo em razão de concurso público. Ex: o pai do estudante de Medicina passou em um concurso
para morar em outro Estado.
• cargo comissionado; ou
• função de confiança.
Requisito da congeneridade
Em 2005, o STF, ao julgar uma ADI proposta contra a Lei nº 9.536/97, deu interpretação conforme ao art.
1º desta Lei e afirmou o seguinte:
Essa previsão de transferência obrigatória para outra faculdade somente pode ser considerada
constitucional se a instituição de destino for congênere à de origem.
Congênere = algo que é do mesmo gênero (tipo), ou seja, algo similar.
Isso significa que, se o servidor (ou seu dependente) estudava em uma universidade pública, ele terá
direito de se transferir para uma universidade também pública na cidade de destino.
Por outro lado, se o servidor (ou seu dependente) estudava em uma universidade privada, ele será
transferido para uma universidade também privada.
Em suma, se o servidor público (civil ou militar) que cursa faculdade for transferido, de ofício, para outra
localidade, ele tem direito de ser matriculado em instituição de ensino superior do local de destino,
observado, todavia, o requisito da congeneridade em relação à instituição de origem.
Veja a ementa do julgado:
A constitucionalidade do artigo 1º da Lei nº 9.536/97, viabilizador da transferência de alunos, pressupõe
a observância da natureza jurídica do estabelecimento educacional de origem, a congeneridade das
instituições envolvidas - de privada para privada, de pública para pública -, mostrando-se inconstitucional
interpretação que resulte na mesclagem - de privada para pública.
STF. Plenário. ADI 3324, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 16/12/2004.
Até aí, tudo bem. Mas... e se a instituição congênere da localidade de destino não oferecer o curso que
era feito pelo servidor em seu antigo domicílio? Suponhamos, hipoteticamente, que, em Rio Branco, as
universidades privadas lá existentes não possuem o curso de medicina. O que fazer neste caso?
Diante desses casos concretos, a jurisprudência dos TRFs e do STJ criou uma exceção ao requisito da
congeneridade.
Passou-se a dizer o seguinte: se não houver curso correspondente em estabelecimento congênere no local
da nova residência ou em suas imediações, deverá ser assegurada a matrícula em instituição não
congênere.
Assim, em nosso exemplo hipotético, como em Rio Branco não havia uma faculdade particular de
Medicina, Paulo teria direito a uma vaga no curso de Medicina da universidade pública.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
O STF, inicialmente, esclareceu que, ao julgar a ADI 3324, ele não examinou os casos de transferência para
cidades em que não havia instituição de ensino congênere.
Em outras palavras, o STF afirmou que, ao julgar a ADI 3324, teria apenas analisado e fixado a regra geral,
mas sem fixar posição para os casos em que a cidade de destino não tivesse o mesmo curso na faculdade
privada. Logo, agora seria o momento de analisar esta situação.
Se a cidade de destino do servidor não tem um curso congênere na rede privada, deve-se admitir a
matrícula em universidade pública, sob pena de haver uma restrição desproporcional.
Exigir que a transferência se dê entre instituições de ensino congêneres praticamente inviabiliza o direito
à educação não apenas dos servidores, mas de seus dependentes, solução que viola o disposto na Lei nº
9.536/97, e exclui, por completo, a fruição de um direito fundamental. Impedir a matrícula do servidor ou
de seus dependentes, em caso de transferência compulsória, quando inexistir instituição congênere no
município, possivelmente levaria ao trancamento do curso ou sua desistência. Assim, permitir a matrícula,
ante a inviabilidade de um dos direitos em confronto, não se afigura desproporcional.
Conclusões pessoais:
Para fins de concurso, é muito importante conhecer a literalidade da tese acima exposta porque é muito
provável que seja cobrado exatamente assim na prova.
No entanto, podemos explicar como funciona na prática, criando uma “regra” e uma “exceção”:
• REGRA: em caso de transferência ex officio de servidor público (civil ou militar), o servidor (ou seu
dependente) terá direito de se matricular em instituição congênere àquela que estava estudando na
origem. Ex: se fazia o curso em uma universidade pública, terá direito de se matricular em uma instituição
pública na cidade para a qual foi transferido. É o chamado requisito da congeneridade.
• EXCEÇÃO: se no local da nova residência ou em suas imediações não houver o curso em uma instituição
congênere, deverá ser assegurada a matrícula em instituição não congênere. Ex: o servidor fazia o curso
de Medicina em uma universidade privada e no local de destino não existe faculdade particular que
ofereça o curso de Medicina. Neste caso, como inexiste instituição congênere à de origem, a lei assegura
a matrícula em instituição pública. O STF afirma que essa interpretação da lei é compatível com a CF/88.
Requisitos
Diante de tudo que foi exposto, podemos assim resumir os requisitos para que se proceda à transferência
entre instituições de ensino superior, na hipótese de remoção de servidor público no interesse da
Administração, o cumprimento de três requisitos cumulativos:
a) remoção ou transferência do servidor, ex officio, com mudança de domicílio;
b) qualidade de estudante do servidor (civil ou militar) ou de dependente seu; e
c) congeneridade entre as duas instituições envolvidas, salvo se não houver curso correspondente em
estabelecimento congênere no local da nova residência ou em suas imediações, hipótese na qual deverá
ser assegurada a matrícula em instituição não congênere.
DIREITO AMBIENTAL
Importante!!!
É inconstitucional lei estadual prevendo que é possível a supressão de vegetal em Área de
Preservação Permanente (APP) para a realização de “pequenas construções com área máxima
de 190 metros quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer”.
Essa lei possui vícios de inconstitucionalidade formal e material.
Há inconstitucionalidade formal porque o Código Florestal (lei federal que prevê as normas
gerais sobre o tema, nos termos do art. 24, § 1º, da CF/88) não permite a instalação em APP de
qualquer tipo de edificação com finalidade meramente recreativa.
Existe também inconstitucionalidade material porque houve um excesso e abuso da lei
estadual ao relativizar a proteção constitucional ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, cujo titular é a coletividade, em face do direito de lazer individual.
STF. Plenário. ADI 4988/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/9/2018 (Info 916).
A doutrina afirma que, em relação à competência legislativa concorrente, a CF/88 criou um “condomínio
legislativo” entre os entes federativos.
A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24. Ex: o Congresso
Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das florestas.
A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos
Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a legislação federal editada pela
União. Obviamente, as normas estaduais não podem contrariar as normas gerais elaboradas pela União.
Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados exercerão a
competência legislativa plena para atender às suas peculiaridades. Em outras palavras, não havendo
normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a respeito daquele tema. Vale ressaltar,
no entanto, que se a União vier a editar posteriormente as normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia
suspensa naquilo que for contrário à legislação da União.
Desse modo, o legislador estadual tocantinense permitiu a construção de casas de veraneio, sítios, xácaras
etc. em APPs, desde que fossem menores que 190m2.
A Procuradoria Geral da República ingressou com uma ADI contra este dispositivo afirmando que ele
“confere proteção deficitária” às áreas de preservação permanente do Estado.
A PGR argumentou que esse trecho foi incluído na lei “com o objetivo específico de beneficiar
proprietários de chácaras às margens do Lago da Usina Hidroelétrica Lajeado” e, ao fazê-lo, o estado
extrapolou sua competência legislativa.
Inconstitucionalidade formal
A CF/88 previu, como uma das matérias de competência concorrente, a gestão do meio ambiente,
especialmente no que se refere a “florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo
e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição” (art. 24, VI).
A União, no exercício dessa competência legislativa concorrente em matéria ambiental, editou o Código
Florestal (Lei nº 12.651/2012).
Este ato normativo “estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, Áreas de Preservação
Permanente e as Áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal,
o controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais, e prevê
instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos” (art. 1º-A).
O Código Florestal define, em seu art. 3º, III, o que vem a ser uma Área de Preservação Permanente:
Art. 3º (...)
II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa,
com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e
a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar
das populações humanas;
Ao se ler os dispositivos do Código Florestal que tratam sobre áreas de preservação permanente, constata-
se que não se permite a instalação em APP de qualquer tipo de edificação com finalidade meramente
recreativa, tal como fez a lei de Tocantins.
Percebe-se, portanto, que o legislador estadual previu uma regra que vai de encontro (afronta) à proteção
fixada pelo legislador federal.
Em outras palavras, a disciplina protetiva determinada pelo Código Florestal em relação às APPs acaba
sendo essencialmente escamoteada pela norma estadual, editada com o suposto intento de suplementar
a legislação federal.
Paulo Affonso Leme Machado alerta que “não se pode suplementar um texto legal para descumpri-lo ou
para deturpar sua intenção, isto é, para desviar da mens legis ambiental federal” (Direito Ambiental
Brasileiro. 24ª ed., p. 146).
Assim, a lei estadual afronta o art. 24, § 2º, da CF/88.
Inconstitucionalidade material
Esta previsão da lei estadual possui também uma inconstitucionalidade material porque viola o art. 225,
caput e § 1º, III, da CF/88:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
(...)
Neste caso concreto, é necessário fazer uma ponderação de valores entre o direito à propriedade e a
proteção ao meio ambiente.
A Lei Estadual 1.939/2008, ao permitir a proprietários de imóveis às margens de cursos d’água a
construção de casas de veraneio, pretendeu melhorar-lhes a qualidade de vida, proporcionando-lhes o
aumento do espaço útil destinado à fruição do lazer, algo relevante para a saúde física e mental da
população em geral, e, em última análise, parte integrante da construção da cidadania.
Descrito no rol dos direitos fundamentais, o lazer está presente em vários dispositivos da CF/88 (art. 7º,
IV, art. 217, § 3º, e art. 227, caput), sendo relevante para a construção da cidadania e um dos fundamentos
da República Federativa do Brasil.
A despeito, entretanto, da salutar preocupação com o lazer, a previsão da lei tocantinense, ao permitir a
supressão de vegetação nativa em APPs, vulnerou o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
(art. 225, CF), tendo em vista que não passa por um teste mínimo de proporcionalidade.
O lazer estimulado pelo dispositivo privilegia um restrito grupo de beneficiários — os proprietários de
imóveis localizados às margens de cursos d’água — e, por outro lado, prejudica a coletividade, que arcará
com as consequências negativas provenientes da intervenção humana no meio ambiente.
Vale ressaltar que os proprietários dispõem de todo o restante do imóvel para promover atividades
relacionadas ao bem-estar, fazendo-se dispensável, portanto, que as construções sejam erigidas nas APPs.
Nada impede, por exemplo, que essas casas sejam construídas fora das áreas especialmente protegidas,
que constituem tão somente uma fração da propriedade.
Em suma:
É inconstitucional lei estadual prevendo que é possível a supressão de vegetal em Área de Preservação
Permanente (APP) para a realização de “pequenas construções com área máxima de 190 metros
quadrados, utilizadas exclusivamente para lazer”.
Essa lei possui vícios de inconstitucionalidade formal e material.
Há inconstitucionalidade formal porque o Código Florestal (lei federal que prevê as normas gerais sobre
o tema, nos termos do art. 24, § 1º, da CF/88) não permite a instalação em APP de qualquer tipo de
edificação com finalidade meramente recreativa.
Existe também inconstitucionalidade material porque houve um excesso e abuso da lei estadual ao
relativizar a proteção constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cujo titular é a
coletividade, em face do direito de lazer individual.
STF. Plenário. ADI 4988, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/09/2018 (Info 916).
AÇÃO ANULATÓRIA
A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes
é impugnável por meio de ação anulatória
A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes é impugnável por meio de ação
anulatória (art. 966, § 4º, do CPC/2015; art. 486 do CPC/1973).
Não cabe ação rescisória neste caso.
Se a parte propôs ação rescisória, não é possível que o Tribunal receba esta demanda como
ação anulatória aplicando o princípio da fungibilidade. Isso porque só se aplica o princípio da
fungibilidade para recursos (e ação anulatória e a ação rescisória não são recursos).
STF. Plenário. AR 2440 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 19/9/2018 (Info 916).
Posteriormente, o autor entende que foi enganado pelo réu e deseja “desfazer” a transação pactuada.
Qual o instrumento jurídico deverá ser manejado pelo autor?
Ação anulatória, conforme prevê o art. 486 do CPC/1973 (art. 966, § 4º, do CPC/2015):
Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for meramente
homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil.
Não cabe ação rescisória com base no art. 485, VIII, do CPC/1973?
NÃO. Veja o que dizia o art. 485, VIII, do CPC/1973:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
(...)
VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou a
sentença;
A sentença meramente homologatória de transação não está incluída na hipótese do art. 485, VIII, do
CPC/1973, o qual se endereça à desconstituição de decisão de mérito cujas conclusões se baseiam em
transação. Ou seja, a rescisória prevista no aludido inciso VIII é aplicável apenas ao caso em que a
transação tenha servido de fundamento para a sentença de mérito, a influir no conteúdo do comando
judicial. Se o juiz não resolveu o mérito da causa, mas foram as próprias partes que o fizeram mediante
autocomposição do litígio, como no caso, a ação anulatória, prevista no art. 486 do CPC/1973, é a sede
própria para a discussão a respeito dos vícios na transação homologada judicialmente.
Nesse mesmo sentido é a posição do STJ:
Se a transação celebrada entre as partes foi objeto de homologação judicial por sentença, os efeitos deste
negócio jurídico podem ser afastados mediante a propositura de ação anulatória, nos termos do art. 486
do CPC 1973.
Se a sentença limita-se a homologar a transação efetuada, não tratando sobre o conteúdo da pactuação,
a forma de desconstituí-la é por meio da ação anulatória.
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1314900-CE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012 (Info 513).
Se a parte propôs ação rescisória, é possível que o Tribunal receba esta demanda como ação anulatória,
aplicando aí o princípio da fungibilidade?
NÃO. O princípio da fungibilidade é inaplicável ao presente caso. Isso porque a sua aplicação se restringe
aos recursos em sentido estrito, não abrangendo as ações judiciais, ressalvadas apenas as hipóteses dos
interditos possessórios.
Em suma:
A decisão judicial homologatória de acordo entre as partes é impugnável por meio de ação anulatória
(art. 966, § 4º, do CPC/2015; art. 486 do CPC/1973).
Não cabe ação rescisória neste caso.
Se a parte propôs ação rescisória, não é possível que o Tribunal receba esta demanda como ação
anulatória aplicando o princípio da fungibilidade. Isso porque só se aplica o princípio da fungibilidade
para recursos (e ação anulatória e a ação rescisória não são recursos).
STF. Plenário. AR 2440 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 19/9/2018 (Info 916).
EXECUÇÃO
Constitucionalidade do art. 741 do CPC/1973
(art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14; e art. 535, § 5º do CPC/2015)
São constitucionais o parágrafo único do art. 741 e o § 1º do art. 475-L do CPC/1973, bem como
os correspondentes dispositivos do CPC/2015 (art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14; e art. 535, § 5º).
São dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da coisa julgada com o primado da
Constituição, vieram agregar ao sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia
rescisória de sentenças revestidas de vício de inconstitucionalidade qualificado, assim
caracterizado nas hipóteses em que:
a) a sentença exequenda (“sentença que está sendo executada”) esteja fundada em uma norma
reconhecidamente inconstitucional, seja por aplicar norma inconstitucional, seja por aplicar
norma em situação ou com um sentido inconstitucionais; ou
b) a sentença exequenda tenha deixado de aplicar norma reconhecidamente constitucional; e
c) desde que, em qualquer dos casos, o reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF)
realizado em data anterior ao trânsito em julgado da sentença exequenda.
STF. Plenário. RE 611503/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado
em 20/9/2018 (repercussão geral) (Info 916).
Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga,
remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos,
impugnar a execução, podendo arguir:
(...)
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
(...)
§ 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se também inexigível a
obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei
ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição
Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
Foi proposta ADI contra o parágrafo único do art. 741 do CPC 1973 sob o argumento de que ele violaria
o instituto da coisa julgada, protegido pelo art. 5º, XXXVI, da CF/88. Essa tese foi aceita pelo STF? Esse
dispositivo é inconstitucional?
NÃO.
São constitucionais o parágrafo único do art. 741 do CPC 1973, bem como os correspondentes dispositivos
do CPC 2015 (art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14; e art. 535, § 5º).
Tais dispositivos buscam harmonizar a garantia da coisa julgada com o primado da Constituição e agregam
ao sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia rescisória de certas sentenças
inconstitucionais, com hipóteses semelhantes às da ação rescisória (art. 485, V, do CPC 1973; art. 966, V,
do CPC 2015).
STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016 (Info 824).
Tais dispositivos somente podem ser aplicados quando o órgão julgador, mesmo já havendo decisão do
STF sobre o tema, decide em sentido contrário ao que o Supremo tinha decidido.
A sentença já deve ter nascido contrária ao entendimento do STF. O vício na sentença deve ser um "defeito
genético", ou seja, já nasceu com ela (nesse sentido: Fredie Didier, Leonardo Cunha, Luiz Guilherme
Marinoni).
Ex: em 2012, o STF decidiu que a lei X é inconstitucional; em 2013, o juiz julga a causa aplicando a lei X;
mesmo se esta decisão transitar em julgado, o título executivo será inexigível porque aplicou lei já
considerada inconstitucional pelo STF.
Essa exigência passou a ser prevista de forma expressa no art. 525, § 14 do CPC 2015:
§ 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior ao trânsito em
julgado da decisão exequenda.
E se a sentença transitou em julgado aplicando a lei X e somente depois de algum tempo o STF declarou
que essa lei é inconstitucional? O que acontece neste caso?
O CPC/2015 inovou e previu, expressamente, que, se a decisão do STF declarando inconstitucional a norma
foi superveniente (posterior) ao trânsito em julgado da sentença exequenda, caberá ação rescisória, com
prazo contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo STF. Veja:
Art. 525 (...)
§ 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda,
caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal.
Reafirmação da jurisprudência
O STF, agora em recurso extraordinário submetido à sistemática da repercussão geral, reafirmou o
entendimento acima exposto. Veja a tese que foi definida:
São constitucionais o parágrafo único do art. 741 e o § 1º do art. 475-L do CPC/1973, bem como os
correspondentes dispositivos do CPC/2015 (art. 525, § 1º, III e §§ 12 e 14; e art. 535, § 5º).
São dispositivos que, buscando harmonizar a garantia da coisa julgada com o primado da Constituição,
vieram agregar ao sistema processual brasileiro um mecanismo com eficácia rescisória de sentenças
revestidas de vício de inconstitucionalidade qualificado, assim caracterizado nas hipóteses em que:
a) a sentença exequenda (“sentença que está sendo executada”) esteja fundada em uma norma
reconhecidamente inconstitucional, seja por aplicar norma inconstitucional, seja por aplicar norma em
situação ou com um sentido inconstitucionais; ou
b) a sentença exequenda tenha deixado de aplicar norma reconhecidamente constitucional; e
c) desde que, em qualquer dos casos, o reconhecimento dessa constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade tenha decorrido de julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) realizado em
data anterior ao trânsito em julgado da sentença exequenda.
STF. Plenário. RE 611503/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
20/9/2018 (repercussão geral) (Info 916).
DIREITO TRIBUTÁRIO
CSLL
A CSLL é constitucional
CSLL
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) é um tributo federal instituído pela Lei nº 7.689/88.
A Lei nº 7.689/88 foi fruto da MP 22/88.
Veja o que diz o art. 1º da Lei:
Art. 1º Fica instituída contribuição social sobre o lucro das pessoas jurídicas, destinada ao
financiamento da seguridade social.
Fundamento constitucional
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:
(...)
c) o lucro;
Características principais
• Tributo de competência da União;
• É tributo pessoal, direto, proporcional, complexivo e com finalidade fiscal;
• Fato gerador: é o lucro das pessoas jurídicas (por isso, é assemelhado ao imposto de renda);
• Base de cálculo: é o valor do resultado do exercício (“lucro líquido”), antes da provisão para o imposto
de renda;
• Contribuintes: pessoas jurídicas domiciliadas no País e as que lhes são equiparadas pela legislação
tributária.
• Lançamento: lançamento por homologação;
• Destinação: a arrecadação da CSLL é destinada ao financiamento da seguridade social;
• Aplicam-se à CSLL, no que couber, as disposições da legislação do imposto de renda referentes à
administração, ao lançamento, à consulta, à cobrança, às penalidades, às garantias e ao processo
administrativo.
Tão logo foi instituída a CSLL, iniciou-se uma discussão a respeito de sua constitucionalidade. Vários
argumentos eram invocados, dentre eles, o de que tal contribuição somente poderia ter sido instituída
por meio de lei complementar. Pergunta: o que decidiu o STF? A CSLL é constitucional?
SIM. O STF, ainda em 1992, decidiu que a CSLL é constitucional.
O Tribunal, contudo, fez uma ressalva e afirmou que o art. 8º da Lei nº 7.689/88 era inconstitucional. Isso
porque a Lei nº 7.689/88 entrou em vigor em 16/12/1988 e o art. 8º dizia que seria possível cobrar o CSLL
já no ano de 1989 com base no que a pessoa jurídica lucrou em 1988:
Art. 8º A contribuição social será devida a partir do resultado apurado no período-base a ser
encerrado em 31 de dezembro de 1988.
Assim, esse art. 8º violou o princípio da irretroatividade, contido no art. 150, III, “a”, da CF/88, “que proíbe
que a lei que institui tributo tenha, como fato gerador deste, fato ocorrido antes do início da vigência dela”
(STF. Plenário. RE 146733, Rel. Min. Moreira Alves, julgado em 29/06/1992).
Em 2007, o STF, em sede de ADI, confirmou a constitucionalidade da CSLL: STF. Plenário. ADI 15, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, julgado em 14/06/2007.
Lei nº 7.856/89
Em 25/09/1989, o Presidente da República publicou a MP 86/1989 (posteriormente convertida na Lei nº
7.856/89) prevendo que a partir do exercício financeiro de 1990, correspondente ao período-base de
1989, a alíquota da CSLL deveria passar para 10%.
O STF afirmou que essa alteração foi constitucional porque respeitou os 90 dias exigidos pelo art. 195, §
6º, da CF/88 (princípio da anterioridade nonagesimal ou anterioridade mitigada):
Art. 195 (...)
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos
noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes
aplicando o disposto no art. 150, III, "b".
Isso porque entre 22/09/1989 até 01/01/1990 passaram-se mais que 90 dias. Veja:
Tratando-se de lei de conversão da Medida Provisória nº 86, de 25 de setembro de 1989, da data da edição
desta é que flui o prazo de noventa dias previsto no art. 195, § 6º, da CF, o qual, no caso, teve por termo
final o dia 24 de dezembro do mesmo ano, possibilitando o cálculo do tributo, pela nova alíquota, sobre o
lucro da recorrente, apurado no balanço do próprio exercício de 1989.
STF. Plenário. RE 197790, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgado em 19/02/1997.
Lei nº 7.988/89
Outra discussão envolvendo a CSLL foi decorrente da Lei nº 7.988/89.
O art. 1º, II, da Lei nº 7.988/89 ampliou a base de cálculo da CSLL.
O problema foi que a Lei nº 7.988/89 entrou em vigor em 29/12/1989 e disse que esse aumento já levaria
em consideração o período-base de 1989.
O STF, então, decidiu que isso era inconstitucional porque violava a anterioridade nonagesimal
anterioridade mitigada) consagrada no art. 195, § 6º, da CF/88.
Nesse sentido: STF. Plenário. RE 183119, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgado em 20/11/1996.
EXERCÍCIOS
Gabarito
1. C 2. E 3. E 4. C
Por fim, o cartório outorgado à impetrante, um dos mais rentáveis, não estava submetido ao certame e sua
disponibilização afronta diretamente as normas do próprio edital.
Vencido, parcialmente, o ministro Marco Aurélio, que concedia a ordem para afastar o ato do CNJ apenas no que
determinada a observância das Resolução 80 e 81, ambas de 2009, relativamente ao marco temporal a ser considerado a
fim de se aferir o biênio do exercício da atividade como requisito do concurso de remoção.
A seu ver, a redação do pronunciamento do CNJ mostra-se demasiado ampla, podendo ser interpretada como a
vedar o cumprimento de possível ordem judicial favorável à candidata quanto ao cômputo do biênio exigido.
(1) Enunciado 266/STJ: “O diploma ou habilitação legal para o exercício do cargo deve ser exigido na posse e não na inscrição para o concurso
público”
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