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2011
RESUMO
A chegada da China à periferia em desenvolvimento, com uma agenda política e econômica abrangente,
inaugura um novo estágio na projeção internacional chinesa e no próprio sistema mundial. Quais são os
objetivos dessa Novíssima China em termos de política internacional? Não são poucos os que identificam
nas ações chinesas aspirações ambiciosas de dominação mundial, sucedendo os Estados Unidos como
liderança do planeta. Em uma manifestação que beira a sinofobia (como outrora o “perigo amarelo”),
argumentam que seu desenvolvimento almeja concentrar a riqueza mundial em suas mãos, quebrando com
a economia das demais nações. Tomando como base as relações estabelecidas com o continente africano,
defendemos a hipótese de que Pequim inaugura uma nova etapa na grande política internacional e suplanta
a fase em que a Nova China lutava para recuperar sua soberania e desenvolvimento, começando a Novíssima
China a transformar o próprio sistema mundial. Para tal, argumentamos que a China busca evitar as
hegemonias, tanto a dos Estados Unidos como a dela própria, pois nesse último caso, poderia ter a mesma
sorte que a Alemanha nas duas guerras mundiais. Não se trata de uma tarefa fácil, pois a China move-se em
meio à fluidez diplomática do período posterior à Guerra Fria e ao envelhecimento do capitalismo
contemporâneo em seus centros históricos.
PALAVRAS-CHAVE: diplomacia chinesa; sistema internacional; relações China-África.
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zada, satisfatórias para iniciar o desenvolvimento. do Conselho de Segurança da ONU (com poder
Por outro lado, a manutenção de uma estrutura de veto) é o único país em desenvolvimento que
socialista paralela, bem como de um considerável se encontra no núcleo do poder mundial.
volume de população vivendo no campo, permiti-
II. TIBETE E TIANANMEN 1989, A PRIMEIRA
ram ao setor capitalista da economia dispor de
TENTATIVA DE CONTENÇÃO
uma mão de obra abundante a um custo extrema-
mente baixo. Educação, saúde, habitação, alimen- Essa espetacular performance, entretanto, teve
tação e transporte público têm um custo baixo na também um outro lado. A descoletivização do cam-
China, permitindo-lhe uma elevada competitivi- po levou ao aumento da produção, mas gerou
dade. Esse é o significado profundo da ambígua crescentes desigualdades sociais e uma parcela
expressão “economia socialista de mercado”1. de camponeses sem terra, que se tornaram assa-
Além da base material e da estabilidade sócio-po- lariados ou migraram para as grandes cidades. Em
lítica construídas pelo regime socialista, a China um país com quase 700 milhões de camponeses,
possuía ainda a possibilidade de utilizar outros trun- isso constitui um problema sério. Embora em
fos, que haviam favorecido o desenvolvimento de menor intensidade, esse fenômeno também atin-
Taiwan, Hong Kong e Cingapura: a diáspora chi- giu as cidades, em um clima político bem mais
nesa e seus recursos financeiros. complexo. Esse fenômeno agravar-se-á significa-
tivamente na segunda metade dos anos 1980, com
Ao alterar a ênfase de sua política da luta de
os impactos da Perestroika soviética.
classes para as reformas rumo ao mercado, a aber-
tura externa e a aliança com Washington, os co- As reformas soviéticas criaram expectativas
munistas de Pequim não apenas reinseriam o país imensas de uma rápida inserção internacional da
no concerto das nações, como multiplicavam os União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
sinais de confiança, destinados a atrair os investi- (URSS), mas concretamente levaram o país à beira
mentos de seus compatriotas de além-mar, asso- do caos sócio-econômico e da ruptura política.
ciando-os ao projeto e modernização e oferecen- Era um caminho bem diverso do chinês. Pequim
do-lhes bons negócios. Essa estratégia viria a ser desencadeara suas reformas internas e abertura
coroada de sucesso, mesmo em relação aos arqui- externa essencialmente no plano econômico, sem
inimigos do outro lado do estreito de Formosa. estendê-las ao político, ao contrário de Moscou,
Com a introdução do princípio de “uma nação, que as iniciou pelo sistema político, uma década
dois sistemas”, Pequim conseguiu lograr com êxito depois. Ora, os reformistas de Deng Xiaoping
a reincorporação dos dois últimos enclaves colo- desencadearam seu processo de mudanças quan-
niais, Hong Kong e Macau, respectivamente em do a Revolução Científico-Tecnológica (RCT)
1997 e 1999. encontrava-se ainda em sua fase inicial, além de
aproveitarem uma conjuntura internacional mais
O impacto da inserção mundial da China é in-
favorável, conservando seu sistema político
tenso, não apenas pela acelerada taxa de cresci-
unipartidário, o que possibilitou estabilidade e con-
mento, mas pelo peso econômico e populacional
trole sobre as reformas. As reformas de
do país, bem como por sua dimensão continental.
Gorbatchov, por outro lado, deram-se sem um
O problema, entretanto, não diz respeito apenas
plano estratégico claramente definido, sem con-
ao peso da China, mas principalmente às caracte-
trole político e, pior ainda, em um momento em
rísticas do projeto chinês. Trata-se de uma po-
que a RCT já dera ao capitalismo uma dianteira
tência nuclear, com imensa capacidade militar,
inalcançável.
além do fato de tratar-se de um modelo de desen-
volvimento de pretensões autônomas. A Repúbli- Os efeitos internacionais da Perestroika e a
ca Popular da China, graças à sua capacidade mi- facilidade com que a URSS estava sendo integra-
litar de dissuasão, armamento nuclear, indústria da ao sistema mundial em uma posição politica-
armamentista própria, tecnologia aeroespacial e de mente subordinada, levaram determinadas forças
mísseis, bem como por ser membro Permanente políticas (dos EUA, de Taiwan e do próprio país)
a tentar atrair a China para o mesmo caminho.
Não se tratava de mera “conspiração”, pois as ten-
1 Segundo Medeiros (1999), a economia socialista de mer- sões sociais e as complexidades políticas (ampli-
cado consiste na descentralização do planejamento e na ação do número de atores políticos, com interes-
centralização do mercado. ses específicos) que acompanhavam as econo-
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micamente bem sucedidas reformas chinesas eram efeitos desestabilizadores, gerando a fragmenta-
consideráveis, além dos dirigentes chineses en- ção social e nacional, essa última particularmente
contrarem-se divididos quanto aos limites e ao rit- presente nos países periféricos. É nesse quadro
mo dessas mesmas reformas. de reordenamento mundial que a Ásia emerge
como uma nova fronteira econômica.
Uma mobilização popular multifacética e con-
traditória emergia no país, especialmente como Os problemas e perspectivas da Ásia não po-
movimento contra a corrupção, e o jovem dem, contudo, ser avaliados unicamente a partir
empresariado e os ultra-reformistas do PCC, da perspectiva econômica. A segurança regional
nucleados em torno do Primeiro-Ministro Zhao levanta uma série de interrogações que, provavel-
Ziyang, procuraram capitalizá-lo em sua luta con- mente, condicionarão as possibilidades econômi-
tra os reformistas moderados como “movimento cas posteriores. A ascensão econômica da China,
pela democracia”. A concentração popular na Praça potencializando o incremento e modernização de
da Paz Celestial (Tiananmen), ponto de inflexão seu potencial militar e, conseqüentemente, ampli-
desse confronto, ocorria durante as comemora- ando sua autonomia político-diplomática, passa-
ções do Movimento de 4 de maio de 1919 e a ram a preocupar particularmente os EUA, que
visita de Gorbatchov, que deveria encerrar três buscam reafirmar sua predominância a um custo
décadas de divergência, e motivava os reformis- mais baixo que durante a Guerra Fria.
tas radicais.
A região do sudeste asiático é particularmente
A repressão militar ao movimento em junho de sensível ao ingresso da China na economia mun-
1989 e a conseqüente derrota dos ultra-reformis- dial, por seu peso e por anular certas vantagens
tas, impediu que a China tivesse o mesmo destino comparativas da região. A Associação de Nações
da União Soviética: a desagregação do país e o do Sudeste Asiático (Asean) tem agido com rapi-
colapso do regime socialista. É, pois, interessante dez, estreitando a cooperação política e econômi-
que naquele ano a estratégia ocidental de luta con- ca entre seus membros, para acelerar o desenvol-
tra o socialismo teve duas conseqüências opos- vimento econômico e garantir a segurança da re-
tas: a derrota dos comunistas soviéticos, simboli- gião. Em 1995, o Vietnã, antigo rival, passou a
zada pela derrubada do muro de Berlim, e a vitória integrar a organização, seguido por Laos, Mianmar
dos comunistas chineses, sinalizada pela repres- e Camboja, abarcando todo o sudeste asiático.
são da Praça da Paz Celestial. Analistas da política
A evolução da Ásia a partir do fim da Guerra
internacional interpretaram essa contradição ar-
Fria e do desaparecimento da URSS foi rápida e
gumentando que se tratava de uma vitória defini-
profunda, gerando uma nova realidade ainda não
tiva sobre a URSS, enquanto no caso chinês, o
devidamente avaliada, pois suas diversas regiões
próprio desenvolvimento capitalista necessaria-
constitutivas, que se encontravam
mente conduziria, em médio prazo, à adoção de
compartimentadas, têm se encaminhado para a
um regime político calcado no modelo ocidental
fusão em um único cenário estratégico. De fato,
de democracia liberal (a tese da contradição entre
o continente asiático esteve, nesse século, sub-
abertura econômica e fechamento político).
metido a uma série de divisões, cujas formas e
III. O FIM DA GUERRA FRIA E A NOVA REA- abrangência alteraram-se, sem que o problema
LIDADE GEOPOLÍTICA NA ÁSIA desaparecesse. A Guerra Fria não fez senão tor-
nar ainda mais herméticas as fronteiras entre as
O declínio e, finalmente, a desintegração da
regiões, tais como o anel insular sob controle norte-
URSS puseram fim à Guerra Fria e ao sistema
americano, a massa continental socialista (dividi-
bipolar, abrindo uma nova era de incertezas na
da desde os anos 1960 entre a China e a Sibéria e
construção de uma nova ordem mundial, em uma
Ásia central soviéticas), o subcontinente indiano
conjuntura marcada pelo acirramento da compe-
influenciado pelo neutralismo, o sudeste asiático
tição econômico-tecnológica mundial. O fenôme-
em conflito e em disputa, o que também era o
no da globalização passa, cada vez mais, pela
caso de outra região asiática, o Oriente Médio.
regionalização, isto é, pela formação de pólos eco-
nômicos apoiados na integração supranacional em Vários “muros” asiáticos ruíram com a desin-
escala regional. E a intensidade do processo de tegração da URSS em fins de 1991. Desde então,
globalização provocou, inicialmente, profundos a cooperação entre a Rússia e a RPC tem sido
crescente nos campos econômico-comercial,
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geográfica e, ainda mais importante, progressiva- trução de uma Ordem Mundial não hegemônica,
mente esboça-se a noção de Eurásia, analisada com um modelo de desenvolvimento nacional, de
adiante. segurança e de governabilidade, o que atrai a aten-
ção mundial, em uma época marcada pela instabi-
IV. A EURÁSIA E A ORGANIZAÇÃO DE COO-
lidade posterior à Guerra Fria.
PERAÇÃO DE SHANGHAI
Esse Novo Segundo Mundo3 mantém uma dis-
A expansão do cenário estratégico asiático para
creta e sutil cooperação estratégica com o “Velho
o interior da Eurásia significa a ampliação de re-
Segundo Mundo” (reduzido à CEI), como foi vis-
cursos naturais e industriais desse, mas, em um
to, e também tem uma relação menos antagônica
quadro de maior diversidade, igualmente o
do que se poderia pensar com os países capitalis-
surgimento de novos problemas e conflitos. Isso
tas da Ásia. Por um lado, os modelos de desen-
afeta tanto os países da Ásia quanto os EUA. Se
volvimento e os regimes políticos dos países asi-
os primeiros conseguem com isso ampliar seu
áticos possuem fortes semelhanças e importantes
espaço de manobra econômica e diplomática, por
interesses comuns, sejam eles formalmente capi-
outro, a complexidade contida na nova realidade
talistas, sejam socialistas. Esses modelos políti-
em formação acrescenta dificuldades a uma re-
co-econômicos, “autoritários e estadistas” na pers-
gião que atravessa uma evolução acelerada (com
pectiva norte-americana, encontram-se hoje sob
todas suas implicações) e não conta com meca-
a pressão ocidental, desde o campo dos direitos
nismos próprios de segurança coletiva. Para os
humanos ao dos mecanismos econômicos. A ten-
Estados Unidos, uma Ásia maior, comportando
dência dos países da região, então, é a de afirmar
maior número de atores políticos e com uma eco-
certo discurso e política comuns. Contudo, al-
nomia que progressivamente entrelaça o próprio
guns são extremamente vulneráveis a esse tipo de
continente, significa maiores dificuldades de in-
pressão, por sua dependência diplomática, militar
fluência sobre a evolução político-econômica da
e comercial em relação aos EUA. Assim, a China,
região.
embora esquivando-se formalmente de desempe-
Existe também outra nova realidade que tem nhar tal papel, acaba sendo a principal garantia do
de ser levada em conta quando se analisa o fenô- chamado “modelo asiático”, um dos responsáveis
meno asiático. No estudo dos cenários estratégi- pelo acelerado crescimento econômico da região.
cos dos anos 1990, alguns analistas referem-se à
Existe também outro fator de longo prazo que
formação de um “Novo Segundo Mundo”,
se encontra associado a esse fenômeno. Com a
nucleado pela RPC. De fato, como lembra o
reincorporação de Hong Kong em 1997 e de
politólogo britânico Halliday (2007), até 1989 vi-
Macau em 1999, para os asiáticos simboliza o
viam em países classificados como socialistas, 1,7
eclipse do ciclo colonial, o que coincide com a
bilhões de pessoas. Após o colapso do bloco so-
ascensão econômica da região. E os dirigentes
viético, existiam ainda 1,3 bilhões nessa posição.
asiáticos têm perfeita consciência de que sem a
Não se trata, contudo, de considerar-se esse como
China isso não seria possível, o que não significa
um simples elemento residual.
ignorar a existência de divergências intra-asiáti-
Acadêmicos norte-americanos, como cas. Observado desde a perspectiva da geopolítica
Huntington (1997), destacaram que o fim do con- clássica da virada do século, não seria absurdo
flito Leste-Oeste e o enfraquecimento de ideolo- visualizar a afirmação da massa continental, ou
gias universalistas, como o socialismo, tiveram Heartland, que passaria a desafiar a Ilha Mundi-
seu lugar ocupado pelo “conflito de civilizações”. al. Estaria essa economia, cada vez mais da Ásia
Assim, o Novo Segundo Mundo atravessa uma continental e menos do Oceano Pacífico, em con-
NEP2 que, diferentemente da soviética, não se dições de sobrepujar a hegemonia da economia
encontra limitada a “um só país”, mas inserida na anglo-saxônica centrada nos grandes espaços
economia mundial, sobre a qual influi de maneira marítimos planetários?
considerável e crescente. Além disso, ele está
gestando um paradigma alternativo para a cons-
3 O conceito de “Novo Segundo Mundo” é apresentado
no Estudo de Macrocenários, realizado pela Secretaria de
2 A política econômica socialista apoiada no mercado, que Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República
vigorou na URSS entre 1921 e 1927. durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
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desde que Vladimir Putin assumiu a presidência, produziu igualmente a explosão da “bolha finan-
passou a reorganizar-se, a crescer economicamen- ceira”. Para evitar a inflação, o governo bloqueou
te, a recuperar parcialmente sua capacidade mili- a oferta de dinheiro, condenando o país à estag-
tar e a desenvolver um significativo protagonismo nação. Ao mesmo tempo, vários bancos faliam,
diplomático. Além da parceria estratégica sem que o Estado pudesse socorrer a todos.
estabelecida com a China, ambos os países cria-
No momento em que a China começou a con-
ram a Organização de Cooperação de Shanghai,
cretizar seu processo de reunificação (iniciado com
um acordo de caráter econômico e de segurança,
a devolução de Hong Kong em 1997) e os Tigres
que engloba igualmente o Cazaquistão, o
tentavam consolidar seu desenvolvimento em mol-
Uzbequistão, o Tadjiquistão e o Quirguistão, além
des autônomos, prosseguia a estagnação japonesa
de associados e observadores. A Ásia central pos-
e, em seguida, ocorreu o terremoto financeiro nos
sui recursos em gás e petróleo que são indispen-
países mais vinculados e dependentes dos Estados
sáveis ao desenvolvimento chinês.
Unidos (Tailândia, Indonésia e Coréia do Sul). Essa
Por fim, importantes países asiáticos indivi- crise, apesar de haver reduzido inicialmente a pro-
dualmente e organizações regionais como Asia- dução, afetou especialmente o âmbito financeiro,
Pacific Economic Cooperation (APEC), The com a desvalorização das moedas locais, o que
Pacific Economic Cooperation Council (PECC), permitiu ao capital forâneo adquirir empresas naci-
South Asian Association for Regional Cooperation onais a um preço reduzido. Além disso, intensifica-
(Saarc) e Asean, entre outras, têm buscado um vam-se as pressões pela fragmentação da China
maior acercamento com países-chave do Tercei- (revivendo a questão do Tibete e de Taiwan) e con-
ro Mundo, particularmente com os chamados tra a Indonésia, que acabaram derrubando o regi-
emergentes, como o conjunto da África Austral me autoritário de Suharto. Mas a China e a Malásia,
nucleado pela África do Sul posterior ao Apartheid bem como o Vietnã, resistiram à crise e a Coréia do
e com o Mercado Comum do Sul (Mercosul), Sul recuperou-se.
particularmente com o Brasil. Assim, o Oceano
A crise ocorreu em um contexto em que o de-
Índico estaria constituindo-se em uma espécie de
senvolvimento da Ásia-Pacífico vinha encaminhan-
rota de ligação com o Sul. A cooperação mais es-
do-se para uma interiorização no continente e seu
treita com essas regiões, apesar de atualmente
centro, o que é particularmente visível não apenas
possuir um impacto limitado no plano puramente
pela intensificação das relações econômicas entre
econômico, possui um potencial promissor de
os próprios países asiáticos. Já a corrida
médio e longo prazo, além de constitui um ele-
armamentista (particularmente naval) na Ásia Ori-
mento estratégico nas disputas entre os pólos de-
ental tem sido percebida de maneiras diferentes.
senvolvidos do Hemisfério Norte. Não se pode
Enquanto para analistas ocidentais essa corrida evi-
deixar de considerar que, pelo fato do pólo asiáti-
dencia a ascensão da rivalidade e da desconfiança
co constituir em linhas gerais uma área em desen-
entre os estados asiáticos, para muitos destes re-
volvimento, existe um amplo espaço para o esta-
presenta implicitamente a capacitação e moderni-
belecimento entre este e os mercados emergentes
zação militar, como forma de dissuadir coletiva-
antes referidos, de uma parceria estratégica ca-
mente possíveis ingerências extra-regionais contra
paz de influenciar o futuro perfil da ordem inter-
a sua soberania (conceito hoje desprezado no Oci-
nacional emergente.
dente, mas profundamente arraigado na Ásia).
V. A CRISE ASIÁTICA DE 1997, A SEGUNDA
VI. GUERRA AO TERRORISMO, A TERCEIRA
TENTATIVA DE CONTENÇÃO
TENTATIVA DE CONTENÇÃO
O contínuo desenvolvimento econômico asiá-
A Guerra ao Terrorismo, que os Estados Uni-
tico, contudo, sofreu em 1997 o forte impacto da
dos desencadeou após os atentados de 11 de se-
crise financeira, que atingiu vários países e reper-
tembro de 2001, inaugurou uma ampla interven-
cutiu na região como um todo. A chamada crise
ção na Ásia central e ocidental. A implantação
asiática teve antecedentes no Japão, que desde o
americana no Afeganistão e no Iraque, bem como
final dos anos 1980 conhecia dificuldades econô-
a presença militar parcial no Cáucaso e nas repú-
micas, e buscava cooperar com o continente para
blicas ex-soviéticas da Ásia Central, bem como a
compensar seus crescentes problemas com os
exploração da crise coreana e da luta contra o ter-
EUA. Em 1991 estourou a “bolha imobiliária”, que
rorismo na linha que vai do sul das Filipinas até o
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Outro ponto comum entre chineses e africa- cio-econômico de ambos, pois isso dificultaria sua
nos é o fato de que compartilhavam a visão de subserviência às potências do Norte.
que as críticas ocidentais apenas procuravam re-
No decorrer da década de 1990, o acelerado
tardar o desenvolvimento dos países mais pobres.
crescimento econômico pelo qual passava a Chi-
Ambos têm um passado comum de exploração
na suplantou a limitada oferta de petróleo que as
européia, o que os torna desconfiados de eventu-
estatais do país produziam, em comparação com
ais manifestações contrárias às suas políticas do-
as crescentes necessidades. Além disso, uma gran-
mésticas e soberania. Além disso, a possibilidade
de parcela da população deixou a linha da pobre-
de crescimento econômico, desvinculado da su-
za, sobretudo aqueles que saíram do campo. Há
jeição a agendas de liberalização política impostas
alguns anos, Angola tornou-se o maior fornece-
pelos países da Organização para a Cooperação e
dor do combustível para o país asiático, superan-
Desenvolvimento Econômico (OCDE) anima inú-
do a Arábia Saudita. Além disso, os chineses im-
meros governantes africanos.
portam outros minérios e vários produtos alimen-
O continente passou, então, a ser considerado tícios.
pela política externa chinesa como o maior espa-
Com base nesses princípios, ocorreu, em 2000,
ço de aliados no mundo. Por outro lado, os afri-
a criação do Fórum de Cooperação China-África,
canos vêem com bons olhos a parceria com a
que visa a regulamentar as relações entre as par-
China, sobretudo devido à posição dessa no Con-
tes, de modo a promover o desenvolvimento mú-
selho de Segurança da ONU. Depois de 1989, a
tuo. As reuniões são trienais e seus principais pon-
ajuda humanitária e os negócios entre as partes
tos não se limitam ao aumento do comércio, mas
cresceram significantemente. O número de visi-
também à cooperação científico-tecnológica e à
tas diplomáticas entre chefes de Estado voltou a
ajuda econômica chinesa, que ocorrem, sobretu-
ter um ritmo ascendente, e foram criadas novas
do, por meio de investimentos em infraestrutura.
iniciativas para que empresas pudessem deslocar-
Na última reunião do Fórum, em 2009, os chine-
se para o continente. Naturalmente, as empresas
ses prometeram conceder dez bilhões de dólares
estatais foram pioneiras, mas logo seguidas pela
em empréstimos aos países africanos, além de
iniciativa privada e atores subnacionais chineses.
favorecer a iniciativa privada chinesa a investir
Vale notar que a China tem, historicamente, mais no continente negro.
relações amigáveis com seus vizinhos. Sempre foi
Quando os Estados Unidos iniciaram uma gran-
de seu interesse buscar parcerias para evitar con-
de intervenção na Ásia central e no Oriente Mé-
frontos futuros, de modo a forjar um jogo de soma
dio, em função da “guerra ao terrorismo”, os in-
positiva. Por isso, os chineses sempre evitaram a
teresses chineses foram gravemente afetados.
intervenção em assuntos internos de outras na-
Havia projetos de oleodutos e gasodutos em mar-
ções. Aos africanos, evidentemente, isso era mui-
cha nessas regiões, e a segurança energética foi
to favorável, pois os organismos internacionais,
ameaçada. Para evitar confrontos com Washing-
tais como o Fundo Monetário Internacional (FMI),
ton, Pequim procurou um espaço onde sua inser-
sempre condicionam empréstimos a medidas de
ção fosse menos onerosa diplomaticamente. Esse
ajuste econômico restritivo e choques de gestão,
espaço era a África e, em menor medida, a Amé-
além de um elevado grau de liberalização político-
rica do Sul. Na mesma linha, a crescente necessi-
econômica que comprometiam a governabilidade
dade de minerais, alimentos e outras matérias pri-
dos estados africanos.
mas, além de áreas para investimento de capitais
Os chineses, por outro lado, concedem ajuda chineses e mercados para seus produtos, fez que
sem questionamentos e com poucas exigências. a cooperação sino-africana atingisse um patamar
Essas medidas são muito criticadas pelo Ociden- estratégico.
te, que detrata a ajuda chinesa a países com histó-
A oferta de prédios públicos (palácios presi-
rico de desrespeito aos direitos humanos, os cha-
denciais, ministérios, hospitais, escolas, centros
mados “estados delinqüentes”. Essas reclamações
de convenções e estádios esportivos) entusiasmou
são encaradas com ceticismo por parte de africa-
os africanos. Os produtos chineses, extremamente
nos e chineses, que entendem que se trata de mais
baratos, encontraram na África um espaço ines-
uma tentativa de impedir o desenvolvimento só-
perado, permitindo aos africanos o acesso a um
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continent. The new New China, then, has begun to transform the world system itself. In this sense,
we argue, China has sought to avoid hegemonies, whether that of the Unitied States or its own. If
this were not so, its fate could turn out to be similar to that of Germany’s, in the aftermath of two
World Wars. Yet such strategies might not be feasible, since China must act today within the context
of post-World War diplomatic fluidity and an aging contemporary capitalism whose historic centers
are in rapid decline .
KEYWORDS: Chinese Diplomacy; International System; China-Africa Relations.
* * *
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