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De início, faz-se por bem a conceituação do que vem a ser poder de polícia e o seu
enquadramento junto aos poderes administrativos dos quais os entes públicos gozam em
virtude da supremacia e da indisponibilidade do interesse público.
Conforme ensina Hely Lopes Meirelles, poder de polícia é a “Faculdade de que dispõe a
administração pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos
individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado. ”. Traduzindo em outras palavras,
poder de polícia nada mais é que a atividade administrativa que atua restringindo bens e direitos
particulares para que o interesse público seja satisfeito, é o poder que restringe a esfera privada
em satisfação da esfera pública.
O poder de polícia pode ainda ser preventivo, quando trata de disposições genéricas e
abstratas; pode ser repressivo, ao praticar atos específicos observando sempre a obediência à
lei e aos regulamentos, e ainda fiscalizador, quando previne eventuais lesões.
No que tange aos modos de atuação da administração no uso do poder de polícia, estes
se dividem em 4 e são denominados pela doutrina de “ciclos de polícia”, são eles: a ordem de
polícia, o consentimento de polícia, a fiscalização de polícia e a sanção de polícia.
Como é cediço, para que o ato administrativo seja válido, dentre outros requisitos, se
faz necessário que o agente, ou o órgão administrativo, seja competente para praticá-lo. Sendo
essa competência, de regra, estabelecida em lei. Só o órgão ou o agente a que ela foi atribuída
pode exercê-la, a não ser que outra lei disponha de forma diversa. Porém, pelas mais variadas
razões que, por vezes as leis particularizam, a competência para a prática dos mesmos atos pode
ser atribuída a outrem. Por pelo menos duas formas pode isso ser feito: ou nova lei atribui,
quando possível, a competência a terceiro, ou permite que a competência seja delegada.
A possibilidade de delegação do poder de polícia para pessoas administrativas
vinculadas ao Estado não encontra óbice, posto que tais entidades são o prolongamento do
Estado e recebem deste o suporte jurídico para o desempenho, por delegação, de funções
públicas a ele cometidas.
A dúvida quanto a matéria consistia em saber se as pessoas da iniciativa privada
poderiam receber delegação do poder de polícia, entretanto, hoje é pacifico na doutrina e na
jurisprudência de que os atos que manifestem expressão do poder público de autoridade
pública, como a polícia administrativa, não podem ser delegados pois ofenderiam o equilíbrio
entre particulares em geral e colocariam em risco a ordem social.
No que tange à possibilidade de delegação, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Ação
Direta de Inconstitucionalidade nº 1717, que analisava a constitucionalidade do art. 58 da lei
9649/98, declarou que os conselhos reguladores de profissão têm natureza jurídica de
autarquia, uma vez que atuam no exercício do poder de polícia, ao estabelecer restrições ao
exercício da liberdade profissional e que tal poder é indelegável a particulares. É fato que tais
Conselhos de Profissão atuam no exercício do poder de polícia pelo fato de limitarem e
definirem o contorno para o exercício das profissões e ofícios por eles regulados, exigindo
licenças para o exercício da atividade e aplicando penalidades, pelo que, não podem ostentar a
qualidade de particulares.
Ainda se mantêm, nesse sentido, as decisões mais recentes da Suprema Corte acerca da
matéria:
(STF - MS: 28469 DF, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento:
19/02/2013, Primeira Turma, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-
087 DIVULG 09-05-2013 PUBLIC 10-05-2013)
Contudo, parte da doutrina admite delegação em situações especiais. Desta forma,
certos atos materiais que precedem a atos jurídicos de polícia podem ser praticados por
particulares, por delegação ou simples contrato de prestação de serviços. Nesses casos, não
seriam delegados os atos de polícia em si, mas tão somente atividades materiais de execução,
não se transferindo ao particular contratado qualquer prerrogativa para emissão de atos
decisórios ou atos que gozem de fé pública, mas tão somente a execução material das ordens
postas pela Administração.