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Queertura

Um manifesto pelas nossas vidas


Nos últimos anos, forças reacionárias têm ganhado visibilidade no mundo inteiro. A extrema direita
está em ascensão e os direitos das classes mais vulnerabilizadas são cada vez mais ameaçados. No
Brasil a situação é desesperadora. Após o golpe de 2016, que culminou na posse de Michel Temer,
protagonizamos a implantação de uma agenda neoliberal na América Latina que visa tirar do Estado
sua responsabilidade social, resumindo-o a um comprometimento puramente econômico.

Temer quer colocar a economia acima de tudo, inclusive das nossas vidas. A reforma do Ensino
Médio, junto da nova Base Nacional Comum Curricular, dá ao ensino um fim que se resume à
formação do estudante enquanto trabalhador, alienando-o de sua própria condição humana e cidadã.
A exclusão de matérias essenciais ao pensamento crítico e o projeto Escola Sem Partido, que visa
acabar com a pluralidade de ideias no ensino e cercear a liberdade dos professores em sala, tem o
objetivo claro de tirar das massas populares sua consciência enquanto ser social que não se resume
ao trabalho. Entendendo a importância da conscientização popular na luta contra a LGBTfobia e o
papel da escola no incentivo ao respeito e à diversidade, vemos que medidas como essa afetam
direta e primeiramente a população LGBT.

Não obstante, a PEC 95 que institucionaliza um teto de gastos em áreas sociais e impede o
investimento público nas mesmas é uma afronta direta à nossa existência. A situação de
vulnerabilidade dos LGBTs não é algo novo. O preconceito nos tira vagas de emprego, a falta de
segurança nas escolas impactam diretamente na nossa integridade física e psicológica, somos
violentados em todas as esferas da vida social e necessitamos do serviço público para garantir a
nossa sobrevivência. Medidas que precarizam tais serviços nos são muito danosas e devem ser
combatidas com veemência a fim de garantir qualidade de vida para os nossos.

Fora do âmbito institucional as coisas não melhoram muito. O preconceito incrustado na sociedade
se expressa nos números e mostra sua face mais sombria nas eleições de 2018. Somos o país que
mais mata LGBTs no mundo e tudo indica que a situação será ainda pior nos próximos anos. Os
índices de violência contra os nossos são crescentes e alarmantes. Genocidamos a população trans e
travesti, matamos indiscriminadamente os nossos gays, lésbicas e bissexuais e absolutamente nada é
feito. Sendo estes tratados como crimes comuns que não tem o ódio à existência e ao modo de vida
do outro como seu principal elemento motivador.

Por fim, se há anos recorremos ao discurso da LGBTfobia como fator estrutural da sociedade
brasileira, a eleição de Jair Bolsonaro prova como estávamos certo. Sua popularidade é um reflexo
do desprezo do nosso país para com os LGBTs. Quando saímos às ruas e escolhemos tratar a
questão LGBT como secundária, entendendo que abordar outros assuntos seria mais efetivo para
"virar votos", assumimos com todas as letras que falhamos na luta pela nossa causa.

Diante disso, se faz necessária uma reformulação da luta LGBT. Reformulação essa que deve visar,
em primeiro lugar, a manutenção das nossas vidas, nossa integridade física e nossa plenitude
mental. Mas tendo como um dos seus principais motores a necessidade de criminalização da
homofobia e de introdução de novos valores culturais e morais que garantam a preservação da
diversidade e a sustentação do respeito.

Fundado nesse ambiente de profundo desrespeito aos direitos humanos inerentes aos LGBTs, o
Queertura entende que a atuação de movimentos que visam a emancipação humana de qualquer
preconceito ligado à orientação sexual e à identidade de gênero deve ser dirigida em três frentes:
política, cultural e prática.

Em primeiro lugar, é importante compreender que a luta pelos direitos dos LGBTs é, em essência,
uma luta política. Nossas vitórias, como a criminalização da homofobia e a criação de programas
sociais voltados para os nossos, só serão concretizadas no âmbito institucional, fora dele pouco
podemos fazer. Precisamos ocupar os espaços na política para dar voz e força às nossas
reivindicações. Nesse sentido, é essencial a mobilização dos LGBTs em passeatas, manifestações e
no apoio à candidaturas que se comprometam com as nossas pautas.

Não obstante, é preciso entender que o fator cultural heteronormativo se posiciona como um
importante propulsor da LGBTfobia. É necessário, portanto, quebrar esse fator heternormativo e
isso se dá pela cultura, pela inserção dos valores LGBT nas mais diversas esferas da vida social.

Por último, precisamos prezar pela vida dos nossos de maneira prática e imediata. É urgente que se
tire a população trans e travesti das ruas e da prostituição, precisamos imediatamente melhorar as
condições e a expectativa de vida dessas pessoas. A imensidão de jovens jogados nas ruas todos
anos vítimas de LGBTfobia deve ser de alguma forma acolhida, senão pelo governo, pela sociedade
civil. E é nesse sentido que se faz necessária uma atuação prática por parte dos grupos de defesa dos
direitos humanos no sentido de preservar a integridade física e moral dos LGBTs.

Infelizmente, o Queertura não pode, de imediato, abranger todas essas frentes de luta. No entanto,
nos comprometemos em protagonizar a frente política e cultural e oferecer todo apoio possível às
instituições que já atuam na frente prática.

Atuaremos através da realização de eventos culturais e eventos de conscientização política


periódicos, bem como através da mobilização de nossos membros nas atuações institucionais
citadas acima. Estaremos sempre abertos à adesão de novos membros, suas ideias e vontade de
lutar. Entretanto, tal adesão deve ser feita mediante conversa anterior com membros do coletivo e
aceitação das nossas diretrizes de base. Sendo elas:

- Respeito à todas as formas de diversidade sexual, de gênero, étnico-racial e religiosa.


- Negação do ativismo liberal e compreensão do caráter revolucionário e anticapitalista da luta
LGBT
- Compreensão da necessidade de se construir ativamente e continuamente a luta pela emancipação
humana

Dadas estas três ressalvas, o coletivo se mostra plenamente aberto à divergência de opiniões e
formas de luta e entende que qualquer contribuição no sentido de aprimoramento da nossa atuação
social é extremamente bem-vinda.

Para fins de organização do movimento, Anualmente será definida a composição de um conselho


composto por 5 membros, mediante votação de todos os participantes do coletivo. O membro do
conselho mais votado terá o título de presidente e atuará como representante oficial do coletivo. No
entanto, ele não terá poder maior que nenhum outro membro do conselho dentro do coletivo.

A vontade popular do coletivo se sobrepõe à vontade do conselho e, através de abaixo assassinado


que conte com a assinatura de mais da metade dos participantes do coletivo, qualquer ação do
conselho poderá ser desfeita e ações novas poderão ser tomadas. Em caso de crescimento notório do
coletivo, novas instâncias de organização podem e devem ser criadas.

Por fim, expressamos através desse manifesto nossa imensa vontade de redefinir a luta LGBT no
Brasil. Transformando-a em uma luta constante e efetiva que resulte, ao final, na melhora da vida
dos LGBTs do nosso país e na emancipação da humanidade de todo preconceito ligado às questões
sexuais e de gênero. Esperamos honrar este manifesto e a vida de todos aqueles que nos
antecederam nos próximos anos, travando com as forças reacionárias uma embate incansável que só
termine quando todos os nossos direitos forem devidamente assegurados.

Nos comprometemos com cada LGBT desse país e os convidamos a fazer parte desse processo que
se inicia hoje, no dia 04/11/2018. Faremos a diferença, faremos história. Construiremos um futuro
digno e seguro para que as próximas gerações possam gozar plenamente de sua diversidade sexual e
de gênero. Sem medo, nos colocaremos na linha de frente contra a LGBTfobia e não daremos nem
um passo atrás.

Lutaremos até o fim pela vida de todos os LGBTs que morrem a cada 19 horas nessa país. Não
descansaremos até que não haja nem uma pessoa trans ou travesti sequer padecendo nas ruas e nas
prostituição, vítimas da mortalidade desse sistema no qual nos encontramos. Seremos incansáveis
até que nenhum jovem seja jogado pra fora de sua residência ou submetido à processos de 'cura
gay'.

Lutaremos, resistiremos e enfrentaremos com força todas as questões que dizem respeito à nossa
vida. Pelo direito de existir e de viver com dignidade dizemos em alto e bom tom: "Nossas vidas
importam".

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