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https://www.jota.info/wp-content/uploads/2018/08/312d26ded56d74e21deec42b8cf612e8.pdf
técnica. A morte de uma mulher em decorrência de um aborto seguro é rara. O que
torna o aborto um risco, que pode acarretar complicações e até mesmo morte da
mulher, é a sua realização de maneira insegura.”1
Estamos tratando de um problema de saúde pública e de direito de escolha. Só
aqueles que estão envolvidos com a situação de uma gravidez indesejada são capazes
de e únicos responsáveis por avaliar se existe ou não a possibilidade de levá-la em
frente. Porque, no final das contas, é no máximo duas pessoas que se tornarão
responsáveis por essa escolha. Nós devemos caminhar para uma maior equidade social
e de melhores condições de vida e não para mais mortes e o agravamento das
desigualdades.
A possibilidade de reduzir as mortes maternas existe e passa pelo
reconhecimento do direito da mulher de decidir o que será mais viável para a sua vida.
É preciso repensar o que é a maternidade encarando-a de frente, despida de toda a
romantização e culpabilização sobre a mulher.
É difícil discutir a importância da vida da mulher e do seu protagonismo enquanto
a sociedade ainda encara a maternidade como um peso social que todas as mulheres
precisam carregar. A gravidez não é e não precisa ser um caminho sem volta. Aquelas
que não querem ter um filho precisam ter a chance e a dignidade para poder abortar
sem colocar em risco a sua própria vida.
Se a defesa soberana é aquela feita à vida isso parece ser esquecido quando uma
quantidade considerável de mulheres morre por conta do não acesso a serviço de saúde
que garanta dignidade. Nesta guerra, até então, a manutenção de um zigoto pareceu
ter mais força do que a manutenção da vida de uma mulher. Que essas mulheres sejam
protegidas. O Estado deve dizer sim à vida dessas mulheres.
A sociedade brasileira, que se diz, além de laica, um espaço de livre expressão –
pelo menos quando convém – precisa colocar a mão na cabeça e pensar para além de
suas crenças, para além de sua fé, para além de seus deuses e saber enxergar, mesmo
que com pouca clareza, o outro.
Lutamos pelo direito à vida e à escolha das mulheres, por uma maternidade
saudável e sobretudo desejada, sem romantização, como um desejo dos envolvidos e
não como punição.