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Dadaísmo

Outros Nomes
Dada

Definição
Ao contrário de outras correntes artísticas, o dadaísmo apresenta-se como um movimento de crítica
cultural mais ampla, que interpela não somente as artes, mas modelos culturais passados e presentes.
Trata-se de um movimento radical de contestação de valores que utiliza variados canais de expressão:
revista, manifesto, exposição e outros. As manifestações dos grupos dada são intencionalmente
desordenadas e pautadas pelo desejo do choque e do escândalo, procedimentos típicos das vanguardas
de modo geral. A criação do Cabaré Voltaire, 1916, em Zurique, inaugura oficialmente o dadaísmo.
Fundado pelos escritores alemães H. Ball e R. Ruelsenbeck, e pelo pintor e escultor alsaciano Hans Arp,
o clube literário - ao mesmo tempo galeria de exposições e sala de teatro - promove encontros dedicados
a música, dança, poesia, artes russa e francesa. O termo dada é encontrado por acaso numa consulta a
um dicionário francês. "Cavalo de brinquedo", sentido original da palavra, não guarda relação direta, nem
necessária, com bandeiras ou programas, daí o seu valor: sinaliza uma escolha aleatória (princípio central
da criação para os dadaístas), contrariando qualquer sentido de eleição racional. "O termo nada significa",
afirma o poeta romeno Tristan Tzara, integrante do núcleo primeiro.

A geografia do movimento aponta para a formação de diferentes grupos, em diversas cidades, unidos
pelo espírito de questionamento crítico e pelo sentido anárquico das intervenções públicas. O clima mais
amplo que abriga as várias manifestações dada pode ser encontrado na desilusão e ceticismo
instaurados pela Primeira Guerra Mundial, 1914-1918, que alimenta reações extremadas por parte dos
artistas e intelectuais em relação à sociedade e ao suposto progresso social. Na Alemanha, nas cidades
de Berlim e Colônia, destacam-se os nomes de R. Ruelsenbeck, R.Haussmann, Johannes Baader, John
Heartfield, G.Groz e Kurt Schwitters. Em Colônia, Max Ernst - posteriormente um dos grandes nomes
do surrealismo - aparece como um dos principais representantes do dadaísmo. A obra e a atuação de
Francis Picabia estabelecem um elo entre Europa e Estados Unidos. Catalisador, com Albert Gleizes e A.
Cravan, das expressões dada em Barcelona, onde edita a revista 391, Picabia se associa também ao
grupo de Tzara e Arp, em Zurique. Em Nova York, por sua vez, é protagonista do movimento com Marcel
Duchamp e Man Ray.

Se o dadaísmo não professa um estilo específico nem defende novos modelos, aliás coloca-se
expressamente contra projetos predefinidos e recusa todas as experiências formais anteriores, é possível
localizar formas exemplares da expressão dada. Nas artes visuais, os ready-made de Duchamp
constituem manifestação cabal de um espírito que caracteriza o dadaísmo. Ao transformar qualquer
objeto escolhido ao acaso em obra de arte, Duchamp realiza uma crítica radical ao sistema da arte.
Assim, objetos utilitários sem nenhum valor estético em si são retirados de seu contexto original e
elevados à condição de obra de arte ao ganhar uma assinatura e um espaço de exposição, museu ou
galeria. Por exemplo, a roda de bicicleta que encaixada num banco vira Roda de Bicicleta, 1913, ou um
mictório, que invertido se apresenta como Fonte, 1917, ou ainda os bigodes colocados sobre a Mona
Lisa, 1503/1506 de Leonardo da Vinci, que fazem dela um ready-made retificado, o L.H.O.O.Q., 1919. Os
princípios de subversão mobilizados pelos ready-made podem ser também observados nas máquinas
antifuncionais de Picabia e nas imagens fotográficas de Man Ray.

Ainda que 1922 apareça como o ano do fim do dadaísmo, fortes ressonâncias do movimento podem ser
notadas em perspectivas artísticas posteriores. Na França, muitos de seus protagonistas integram o
surrealismo subsequente. Nos Estados Unidos, na década de 1950, artistas como Robert Rauschenberg,
Jasper Johns e Louise Nevelson retomam certas orientações do movimento no chamado neodada.

Difícil localizar influências diretas do dadaísmo na produção brasileira, mas talvez seja possível pensar
que ecos do movimento dada cheguem pela leitura que dele fazem os surrealistas, herdeiros legítimos do
dadaísmo em solo francês. Por exemplo, em obras variadas como as de Ismael Nery e Cicero Dias;
nas fotomontagens de Jorge de Lima, que podem ser aproximadas de trabalhos correlatos de Max Ernst;
na produção de Flávio de Carvalho. De Carvalho, as performances, tão ao gosto das vanguardas - por
exemplo, a relatada no livro Experiência nº 2 -, e também seu projeto para a Fazenda Capuava,
construída em 1938, cujas motivações de aproximação arte e vida lembram, segundo algumas leituras,
o Merzbau de Schwitters.
ARTES: DADAÍSMO, A ARTE DA ANTIARTE
Por Danilo Corci
27/02/2004

"Dadá é o sol, Dadá é o ovo. Dadá é a Polícia da Polícia" - Richard


Huelsenbeck

A fumaça dos cabarés enchia os olhos dos artistas. Ali não havia espaço para a mesmice, para o
lógico, para a conformação. Na cidade de Zurique, na Suíça, intelectuais de várias vertentes se
sentiam inquietos com os rumos das artes, em todas as suas formas de expressão. O ano era de
1916. O mundo estava em sua Primeira Grande Guerra e as ruínas se espalhavam por toda a
Europa.

Neste ano simbólico surge, em solo suíço, o Cabaré Voltaire. Sob a tutela dos escritores alemães
Hugo Ball e Richard Huelsenbeck e do pintor Hans Arp, este exclusivíssimo grupo literário, que
também abria espaço para exposições e teatro, realiza um grande encontro de música, dança,
poesia, artes russa e francesa. Era o início de um movimento. Para batizar, um dicionário de
francês, aberto ao acaso, expõe o termo dada - sem significado aparente - é adotado. Ainda que o
sentido original da palavra - cavalo de brinquedo - possa de alguma maneira se encaixar nas
idéias dos artistas, na verdade, é na escolha aleatória que está o grande cerne criativo para eles,
o que realmente deve ser levado em conta.

A idéia do movimento era romper com tudo o que existia antes, com todos os valores e princípios,
em especial os artísticos. Era iconoclasta por excelência. Aos poucos, outros cérebros foram se
aproximando do grupo original, em especial Hans Arp, Marcelo Janco e o curioso poeta romeno
Tristan Tzara. O tumulto dessa nova arte fez a fama do dadaísmo por toda a Europa. Não por
acaso, Marcel Duchamp e Francis Picabia logo se interessaram.

Uma das principais características do movimento dadaísta está na postura interdisciplinar de seus
trabalhos, afinal estamos falando de poetas, romancistas, artistas plásticos trabalhando em
conjunto. A combinação de elementos era fundamental para a definição da arte dadá. Usando a
subversão, o niilismo, a irreverência e a anarquia, o dadaísmo acaba sendo uma arte rompedora,
não só contra o status-quo mas também com o conceito da própria arte, não apenas os seus
princípios estéticos.

Com negação à idéia acadêmica ou crítica, o dadaísmo tenta validar a expressão humana,
elevando objetos comuns à categoria de obras de artes - vide o Urinol, de Marcel Duchamp. Na
literatura, por exemplo, poemas-pílulas, sem sentido, buscavam alavancar o conceito artísticos
das palavras pelas palavras, desafiando e instigando os leitores. Ou ainda os textos caóticos feitos
através de recortes de jornais, onde os escritores pinçavam palavras, colocavam em um saco,
sorteavam e montavam suas obras ao acaso. Por sua vez, a pintura também buscava nesse
enigma sua ostentação. Artefatos buscados aleatoriamente formavam colagens e usam a técnica
literária - de recortes de jornais para capitanear a obra. Aliando isso à anulação da mecanização
da sociedade, a pintura dadá até ousava em representar objetos por sua poética e não por sua
função.

Já nas esculturas, o ready-made de Marcel Duchamp são o ponto alto da estética Dadá, que junta
a experimentação, a desordem e a improvisação, praticamente criam um raio-X das propostas do
estilo. Tanto que seu Urinol, que ele apresentou ao Salão dos Independentes, em Nova York, para
competir com obras "tradicionais", causou comoção no meio artístico, quando, nas entrelinhas,
estava o questionamento da arte em seu ponto mais crucial, a estética.

Mas o dadá não parou por aí. O cinema e a fotografia também foram discutidas pelo movimento.
Hans Richter, no primeiro caso, e Man Ray, no segundo, são os maiores expoentes dessa arte
dadá. Nas películas, o resultado era tão abstrato quanto absurdo, explorando as imagens e suas
potencialidades de movimento ao máximo. Já na fotografia, Ray, o inventor da conhecida técnica
do raiograma, que consistia em tirar a fotografia sem a câmara fotográfica, ou seja, colocando o
objeto perto de um filme altamente sensível e diante de uma fonte de luz, era o mais inventivo
criador. Para o trabalho dos dois, apesar de seu caráter totalmente experimental, as obras assim
concebidas conseguiram se manter no topo da modernidade tempo suficiente para passar a fazer
parte dos anais da história da fotografia e do cinema artísticos.

Entre os principais nomes do movimento estão, na Alemanha, Richard Huelsenbeck,


R.Haussmann, Johannes Baader, John Heartfield , G.Groz, Kurt Schwitters, Max Ernst -
posteriormente um dos grandes nomes do surrealismo. Nos EUA, encontram-se o multi-homem
Francis Picabia e Marcel Duchamp (originado da França) e Man Ray. Porém, Picabia também foi o
elo de ligação com Albert Gleizes e A. Cravan, na Espanha, onde editaram em conjunto a revista
dadá 391. Por fim, ele também se associa ao grupo de Tzara e Arp, em Zurique.

Com tal proposta eloqüente, uma crítica cultural ampla e irrestrita, o dadaísmo não poderia durar
muito. Oficialmente, o ano de 1922 marca o término do dadá como movimento artístico. Porém,
vários dos protagonistas migraram para o subseqüente surrealismo. Na década de 50, nos EUA,
surgiram artistas como Robert Rauschenberg, Jasper Johns e Louise Nevelson, que buscaram no
dadá certas orientações. No Brasil, alguns ecos foram ouvidos nas obras de Ismael Nery, Flávio de
Carvalho, Jorge de Lima e Cícero Dias.

Esse foi o dadaísmo, um movimento radical que contestava tudo e todos. Uma vanguarda
libertária e avassaladora, que tirou as amarras das artes para todo o sempre. Criou, acima de
tudo, os diálogos interdisciplinares e estabeleceu uma nova maneira de se enxergar o mundo.

Surrealismo

Definição
O termo surrealismo, cunhado por André Breton com base na idéia de "estado de fantasia
supernaturalista" de Guillaume Apollinaire, traz um sentido de afastamento da realidade comum que o
movimento surrealista celebra desde o primeiro manifesto, de 1924. Nos termos de Breton, autor do
manifesto, trata-se de "resolver a contradição até agora vigente entre sonho e realidade pela criação de
uma realidade absoluta, uma supra-realidade". A importância do mundo onírico, do irracional e do
inconsciente, anunciada no texto, se relaciona diretamente ao uso livre que os artistas fazem da obra de
Sigmund Freud e da psicanálise, permitindo-lhes explorar nas artes o imaginário e os impulsos ocultos da
mente. O caráter anti-racionalista do surrealismo coloca-o em posição diametralmente oposta das
tendências construtivas e formalistas na arte que florescem na Europa após a Primeira Guerra Mundial,
1914-1918, e das tendências ligadas ao chamado retorno à ordem. Como vertente crítica de origem
francesa, o surrealismo aparece como alternativa ao cubismo, alimentado pela retomada das matrizes
românticas francesa e alemã, dosimbolismo, da pintura metafísica italiana - Giorgio de Chirico,
principalmente - e do caráter irreverente e dessacralizador do dadaísmo, do qual vem parte dos
surrealistas. Como o movimento dada, o surrealismo apresenta-se como crítica cultural mais ampla, que
interpela não somente as artes mas modelos culturais, passados e presentes. Na contestação radical de
valores que empreende, faz uso de variados canais de expressão - revistas, manifestos, exposições e
outros -, mobiliza diferentes modalidades artísticas como escultura, literatura, pintura, fotografia, artes
gráficas e cinema.

A crítica à racionalidade burguesa em favor do maravilhoso, do fantástico e dos sonhos reúne artistas de
feições muito variadas. Na literatura, além de Breton, Louis Aragon, Philippe Soupault, Georges Bataille,
Michel Leiris, Max Jacob entre outros. Nas artes plásticas, René Magritte, André Masson, Joán Miró, Max
Ernst, Salvador Dalí, e outros. Na fotografia, Man Ray, Dora Maar, Brasaï. No cinema, Luis Buñuel.
Certos temas e imagens são obsessivamente tratados por eles, com soluções distintas, como, por
exemplo, o sexo e o erotismo; o corpo, suas mutilações e metamorfoses; o manequim e a boneca; a
violência, a dor e a loucura; as civilizações primitivas; e o mundo da máquina. Esse amplo repertório de
temas e imagens encontra-se traduzido nas obras por procedimentos e métodos pensados como capazes
de driblar os controles conscientes do artista, portanto, responsáveis pela liberação de imagens e
impulsos primitivos. A escrita e a pintura automáticas, fartamente utilizadas, são formas de transcrição
imediata do inconsciente, pela expressão do "funcionamento real do pensamento" - como, os desenhos
produzidos coletivamente entre 1926 e 1927 por Man Ray, Yves Tanguy, Miró e Max Morise, com o
títuloO Cadáver Requintado). A frottage [fricção] desenvolvida por Ernst faz parte das técnicas
automáticas de produção. Trata-se de esfregar lápis ou crayon sobre uma superfície áspera ou
texturizada para "provocar" imagens, resultados aleatórios do processo, como a série de
desenhos História Natural, realizada entre 1924 e 1927.

As colagens e assemblages constituem mais uma expressão caraterística da lógica de produção


surrealista, ancorada na idéia de acaso e de escolha aleatória, princípio central de criação para os
dadaístas. A célebre frase de Lautréamont é tomada como inspiração forte: '"Belo como o encontro casual
entre uma máquina de costura e um guarda-chuva numa mesa de dissecção". A sugestão do escritor se
faz notar na justaposição de objetos desconexos e nas associações à primeira vista impossíveis, que
particularizam as colagens e objetos surrealistas. Que dizer de um ferro de passar cheio de pregos, de
uma xícara de chá coberta de peles ou de uma bola suspensa por corda de violino? Dalí radicaliza a idéia
de libertação dos instintos e impulsos contra qualquer controle racional pela defesa do método da
"paranóia crítica", forma de tornar o delírio um mecanismo produtivo, criador. A crítica cultural
empreendida pelos surrealistas, baseada nas articulações arte/inconsciente e arte/política, deixa entrever
sua ambição revolucionária e subversiva, amparada na psicanálise - contra a repressão dos instintos - e
na idéia de revolução oriunda do marxismo (contra a dominação burguesa). As relações controversas do
grupo com a política aparecem na adesão de alguns ao trotskismo (Breton, por exemplo) e nas posições
reacionárias de outros, como Dalí.

A difusão do surrealismo pela Europa e Estados Unidos faz-se rapidamente. É possível rastreá-lo em
esculturas de artistas díspares como Alberto Giacometti, Alexander Calder, Hans Arp e Henry Spencer
Moore. Na Bélgica, Romênia e Alemanha ecos surrealistas vibram em obras de Paul Delvaux, Victor
Brauner e Hans Bellmer, respectivamente. Na América do Sul e no Caribe, o chileno Roberto Matta e o
cubano Wifredo Lam devem ser lembrados como afinados com o movimento. Nos Estados Unidos, o
surrealismo é fonte de inspiração para o expressionismo abstrato e a arte pop. No Brasil especificamente
o surrealismo reverbera em obras variadas como as de Ismael Nery e Cicero Dias, assim como
nas fotomontagens de Jorge de Lima. Nos dias atuais artistas continuam a tirar proveito das lições
surrealistas.

ARTES: SURREALISMO, O SONHO DO SONHO


Por Renato Roschel
07/10/2004

O surrealismo nasceu da constatação da crise da razão e do sistema lógico feita por alguns
artistas do século XX. Ao perceberem tais problemas, eles propuseram uma fuga para o
inconsciente, o qual, segundo os surrealistas, possibilitaria a única saída para a encalacrada que a
razão humana havia se metido. Com isso eles pretendiam anular a contradição entre sonho e
realidade.

O surrealismo, para esses artistas, começou com o quadro “As Tentações de Santo Antão” , do
holandês Hieronimus Bosch, que viveu no século XVI. O quadro de Bosh mostra uma visão das
tentações do santo, que viveu no século III. É um conjunto de paisagens interiores, corpos
transformados, hermetismo, melancolia e saturnismo. Surrealismo puro. Depois, os surrealistas
chegaram até as obras de François de Nomé, pintor do século XVII. As cenas noturnas de Nomé
foram consideradas metaforicamente por psicólogos e historiadores de arte como uma ilustração
de esquizofrenia atribucionista. Depois de Nomé e Bosh, vieram as iluminuras herméticas de
Francisco de Holanda e as gravuras criadas pelo escritor inglês William Blake.

Blake, autor do Livro de Job e o Livro Primeiro de Urizen, criou uma técnica própria para as
gravuras que imprimia nos seus livros. Suas gravuras parecem relatar experiências com
oabsoluto.

Após Blake, veio Goya, já no final do século XVIII e começo do XIX, com suas gravuras de tom
moralista, recheadas de imagens de seres deformados como galinhas depenadas com rostos de
pessoas. Porém, Goya, talvez, não concordasse com os surrealistas, pois foi ele quem, em uma de
suas obras, escreveu que “o sonho da razão produz monstros”. Polêmicas à parte, toda esta
redescoberta feita pelos artistas surrealistas do século 20, como Max Ernst, Picabia, Salvador Dalí,
Pablo Picasso, André Breton, Joan Miró, entre outros, trazia consigo uma nova maneira de
compreender e fazer arte: o surrealismo.

Na verdade, os artistas dos séculos XVI, XVII, XVII e XIX sequer imaginavam que suas obras
seriam consideradas surrealistas um dia, mas o que é inegável é que, após o surrealismo, toda
obra que remete ao mundo dos sonhos não consegue mais fugir à conceitualização ou ligação com
a arte e com as idéias surrealistas.

As Origens

O surrealismo começou como uma moderna escola de literatura e arte, iniciada em 1924, pelo
escritor francês André Breton. Suas principais características eram o desprezo dasconstruções
refletidas ou dos encadeamentos lógicos e, ao mesmo tempo, o apreço pela ativação sistemática
do inconsciente e do irracional, do sonho e dos estados mórbidos, valendo-se, para tal, do uso
freqüente da psicanálise, que estava então surgindo com toda força.

O surrealismo visava, em última instância, uma renovação total dos valores artísticos, morais,
políticos e filosóficos, ou seja, o movimento sempre teve como perspectiva uma mudança
completa da arte, da cultura e da vida. Como já foi dito, seu nascimento ocorreu, pra valer, nos
anos 20, mas seu fundador, André Breton, veio para este vale de lágrimas em 1896, para
desaparecer, depois de muitas criações, brigas e paixões, em 28 de setembro de 1966.
Para os jovens burgueses que viviam em Paris no início do século, as primeiras imagens sem
razão nasceram das matanças produzidas pela Primeira Guerra Mundial. É exatamente que os
surrealista e Goya não concordam, pois se para Goya a guerra é o sono da razão, para os
surrealistas, é exatemente no âmbito do sonho, isto é, do inconsciente onde está a possibilidade
de mudança do real.

Portanto, depois da morte dos amigos dos surrealistas na Primeira Guerra e da falência das
instituições, não era mais possível esperar que a arte continuasse estática e racional, era preciso
que ela transcendesse coisas como a razão instrumental, a lógica, que ultrapassasse a falência do
racional em relação à barbárie que guerra representou.

Nessa época do pós-guerra, Breton “recruta” os rapazes que compartilhavam com ele o desejo de
fazer um animado cruzamento entre as recentes descobertas de Sigmund Freud (o inconsciente,
os sonhos, a libido etc) e as vítimas da barbárie praticada no mundo moderno em que eles viviam.
Aproximaram-se então de Breton o dramaturgo Antonin Artaud(1896-1948) e o poeta e cineasta
Jean Cocteau (1889-1963), entre os inúmeros garotos que acabariam por se tornar, a nova
intelectualidade da França. Além da França, artistas de outros países se encantaram com as
propostas de Breton; entre os muitos artistas que vieram se juntar a Breton e sua turma,
destacam-se os espanhóis Luis Buñuel e Salvador Dalí.

O primeiro, cineasta, fez entender que o surrealismo poderia ser também cinematográfico. O
outro, pintor, que o surrealismo poderia ser um negócio muito lucrativo. Breton que havia iniciado
sua carreira artística como poeta e escritor, apesar de ter uma formação acadêmica na área de
medicina.

Após 1920, data da recepção do dadá em Paris, por Breton e seus amigos, começam a tomar
corpo as idéias surrealistas. Artaud chega em Paris neste ano, 1920. Imediatamente articula-se
com as pessoas ligadas ao teatro. Logo estará com Charles Dullin no Théâtre de l‚Atelier. Firma-se
assim desde o início como um homem do teatro, da representação. Suas participações também
como intérprete no cinema são conhecidas, cobrindo praticamente a década de 1924 a 1935;
começara em papéis para Abel Gance, Claude Autant-Lara e René Clair, (em Entr´acte,1924). Ao
mesmo tempo que Artaud escrevia suas primeiras poesias_datadas de 1920/1921. Breton está
fundamentando suas idéias sobre o surrealismo.

La Coquille et le Clergyman, filme baseado em um texto de Antonin Artaud é unanimamente


considerado o primeiro filme surrealista. Porém, certos surrealistas como André Breton afirmaram
que a diretora do filme Germaine Dulac havia traído Artaud e “feminizado” o roteiro.

Em 1929, surge “Um Cão Andaluz”, filme considerado como um clássico do surrealismo, feito por
Buñuel e Dalí.

Surrealismo e dadá

À negação como um fim em si do dadá, o surrealismo apresenta uma perspectiva humana,


almejava também uma solução do real e seus terrores através do inconsciente.

O surrealismo que aparece no Primeiro Manifesto do Surrealismo é uma arte recheada de


esperança no ser humano. Os surrealistas foram grandes admiradores da figura da mulher. A
poesia de André Breton, desde o “Poisson Soluble”(Veneno Solúvel) que acompanha o Manifesto,
está cheia de exaltações do feminino e da presença desejável e tangível da mulher, da mulher-
mediadora, da mulher-tesão, da mulher-libertadora dos desejos e da libido humana. A libertação
do espírito em que se empenha o surrealismo, seus reenvios constantes ao "racional
desregramento de todos os sentidos", ao desvelamento das vias reais do desejo e da imaginação
da matéria, já bastaria para o diferenciar do episódio dadá. E dos vanguardismos do momento.

O Surrealismo e o Partido Comunista

A ligação do grupo surrealista com o Partido Comunista durará dos anos 20 até os episódios de
1930/31, com a ruptura do affaire Aragon (Front Rouge, 1932) e a denúncia do dirigismo que se
instalara no comunismo soviético. Logo depois, o grupo surrealista formalizará a denúncia e a
recusa do totalitarismo stalinista. Mais tarde, a questão ficará completamente esclarecida com a
publicação do Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente, feita em 25 de julho de 1938,
e firmada por Breton e Leon Trotsky, no México.
Os anos que se seguem são marcados por uma grande efervescência internacional do surrealismo
(com atividades múltiplas, além de Paris, em Barcelona, Málaga, São Paulo e Rio de Janeiro, Lima
e a revista Que em Buenos Aires; além de Praga, Bucareste, Tóquio, Cuba etc.).

Em 2 de fevereiro de 1937, Breton publica "L‚Amour Fou" (O Amor Louco).

1937 também é o ano de exposições em Tóquio, Londres, Santiago (logo seguidas das duas
grandes mostras internacionais em Paris e Amsterdã, em 1938). Note-se que as exposições do
movimento nunca foram montadas nos moldes tradicionais (só artes plásticas), visto incluírem
poesias,textos, fotos, projeções, objetos e, via de regra, serem montadas numa instalação inédita
para cada evento.

Os anos de 1939 a 45 (Segunda Guerra Mundial) são marcados pelo exílio de boa parte dos
surrealistas. Embora as atividades grupais continuem em Bruxelas e mesmo Paris, iniciam-se as
ativações no Chile, México e em todo o Caribe; em Nova York, Québec, Londres, Bucareste, Praga,
Rio de Janeiro e Buenos Aires são reativadas. Exposições internacionais no México e em NovaYork,
revistas etc. André Breton fala aos estudantes na Yale University — Situation du Surréalisme entre
les Deux Guerres (Situação doSurrealismo entre as Duas Guerras)— e publica: Fata Morgana,
Pleine Marge, Arcano 17. Reedita Le Surréalisme et la Peinture (O Surrealismo e a Pintura),
seguido de Genèse et Perspective Artistiques du Surréalisme et Fragments Inédits (Gênese e
Perspectiva Artísticas do Surrealismo e Fragmentos Inéditos); além da Anthologie de l´Humour
Noir (Antologia do Humor Negro), em 1940, cuja edição fora interditada pela censura do governo
de Vichy. De volta da América, no fim de 1946, Breton trará os textos de Ode a Charles Fourier
(1947), Martinique Charmeuse des Serpents" (Martinica Encantadora deSerpentes) e Poèmes
(Poemas) só foram editados em 1948.

Em Paris, Breton participa ativamente da campanha para angariar recursos e condições com vistas
à liberação de Artaud do asilo de Rodez — realiza-se um ato público em 14 dejaneiro de 1947,
com leitura de uma homenagem a Artaud, feitapor todos os colaboradores desta causa (lida em
público porBreton) e uma sessão especial com o próprio Artaud. Data também de toda uma série
de publicações, a partir de Artaud le Mômo, como Van Gogh, o Suicidado da Sociedade, La Culture
Indienne (A Cultura Indiana), exposição de retratos e desenhos de seu período recluso etc.

Em 4 de março de 1948, Artaud é encontrado morto, sentado aolado de sua cama. Em 17 de


março de 1947, ao assistir uma palestra de Tristan Tzara, na Sorbone, na qual Tzara faz críticas a
algumas posturas do surrealismo, Breton inconformado na platéia, não aceita ouvir as, segundo
ele, “mentiras de Tzara” e parte para as vias de fato. Por causa dessa briga e de seu não apoio a
Artaud, quando este estava internado num asilo, Tzara passou o resto de sua vida num relativo
ostracismo, à margem de qualquer vínculo com o movimento.

Tristan Tzara morreu, em Paris, no ano de 1963.

Em 1961, André Breton voltará a dirigir uma revista do grupo, "La Brèche", na qual propõe num
de seus editoriais — Perspective Cavalière — a necessidade de se passar a dimensionar o
movimento surrealista a partir da sua presente atualidade e não mais em função da primeira
revista, La Révolution Surréaliste.

Em 1961, Breton publicou sua última coletânea de poesias: Le la. Ele ainda participou de mais três
mostras internacionais, de 1961 a 1966. Reeditou os Manifestes du Surréalisme(1962), "Nadja"
(1963), Le Surréalisme et la Peinture (1965)e a Anthologie de l‚Humour Noir (1966).

Em 28 de setembro de 1966, André Breton morre no hospital Lariboisière, Paris.

Surrealismo no Brasil

Aqui no Brasil, quando os dadaístas e surrealistas, à luz da “descoberta” do inconsciente e das


teorias freudianas, começam a decretar o primado das formas livres, da inconsciência se
sobrepondo aos apelos da razão e do cotidiano, Durval Marcondes, por sua vez, iniciava sua
descoberta de Freud. Marcondes fez parte do movimento modernista brasileiro, chegando a
publicar um poema na revista Klaxon, em agosto de1922 —quase seis meses depois da Semana
de Arte Moderna.
Quando Durval Marcondes e Franco da Rocha fundaram a Sociedade Brasileira de Psicanálise, em
1927, vários escritores, como Menotti del Picchia, estavam inscritos entre os 24 primeiros
membros, tamanha era a ligação entre os artistas e a pscanálise.

Em 1954, surge, em Paris, o movimento outsider Phases. O grupo não definia qualquer estética e
propunha, grosso modo, apenas a liberdade para a manifestação do inconsciente. Anos mais
tarde, mais precisamente em 1967, Walter Zanini, o primeiro diretor do Museu de Arte
Contemporânea da USP, organizou o Grupo Austral de pintura, o qual era umrepresentante do
Phases no Brasil.

Surrealismo hoje

Em 1996, quando o surrealismo completava 100 anos de existência, foram feitas uma exposição
em Nova York, uma série de lançamentos literários na Europa e, ainda, uma montagem
surrealista, em palcos brasileiros. O museu Guggenheim, em Nova York, recebeu obras da artista
Meret Oppenheim.

Na Europa, houve uma enxurrada de biografias e ensaios sobre o surrealismo, enquanto em São
Paulo o diretor José Celso Martinez Corrêa estréiou, no dia 25 de setembro, a peça Para Acabar
com o Juízo de Deus, do dramaturgo francês Antonin Artaud.

1996 foi, para o mundo, o ano do centenário do surrealismo. Agora, em 2004, o Instituto Tomie
Ohtake faz uma interessante mostra "Sonhando de Olhos Abertos - O Dadaísmo e o Surrealismo
na Coleção de Vera e Arturo Schwarz", abrigadas no Museu de Israel, em Jerusalém.

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