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M Universidade Federal do Rio de Janeiro

INSTITUTO DE MATEMÁTICA
DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA

Notas de Aula no 4 — Turma Especial de Cálculo 2 – 2018/2


(Resumo 1)

Funções de várias variáveis reais


Muitas são as aplicações que envovem funções que dependem de mais de uma variável,
diferentemente das que estudamos em Cálculo 1. Por exemplo, se quisermos descrever a
temperatura de uma placa metálica em um dado instante, devemos estabelecer um sistema
de coordenadas com o qual se possa descrever os pontos da placa e a temperatura em cada
um desses pontos. Digamos que a placa seja retangular, com as dimensões 1 metro de
largura e 2 metros de altura. Podemos então estabelecer um sistema de coordenadas cujos
eixos x e y coincidam com os bordos da placa, de modo a identificar cada ponto fı́sico da
placa com um ponto (x, y) no retângulo [0, 1] × [0, 2]. Assim, podemos tentar descrever
a temperatura em cada ponto através de uma função T : [0, 1] × [0, 2] → R, onde T (x, y)
indica a temperatura em (x, y).
De modo análogo, se quisermos descrever a temperatura de uma sala em um dado
instante, por exemplo, podemos estabelecer um sistema de coordenadas de tal forma que
a sala seja representada por um paralelepı́pedo, i.e., conjunto da forma [0, a] × [0, b] ×
[0, c], onde a, b, c ∈ R sejam as medidas da sala e T (x, y, z) a temperatura do ponto de
coordenadas (x, y, z). Além disso, se quisermos descrever a temperatura em cada ponto da
sala durante um intervalo de tempo [0, d], a função deverá contar com mais uma variável
independente, no caso o tempo t ∈ [0, d]. Assim, teremos uma função T (t, x, y, z).
Por uma questão didática, vamos iniciar estudando as funções de duas variáveis. Em
seguida, abordaremos as funções de três variáveis, dando ênfase onde há diferenças a serem
destacadas.

Funções reais de duas variáveis reais

De um modo geral, uma função real de duas variáveis (reais) é definida por duas coisas:
um conjunto D ⊂ R2 e uma regra f que estabelece uma relação entre os pontos de D e os
números reais, satisfazendo a seguinte propriedade:

para cada ponto (x, y) ∈ D, existe um único z ∈ R associado a (x, y)

Nas condições acima, denotamos

f : D → R, z = f (x, y)

1
O conjunto D é denominado domı́nio da função f . Nas aplicações D fica determi-
nado pelas restrições do problema, como no caso da temperatura da placa descrito acima.
Quando não especificado, fica subentendido que o domı́nio D é o maior conjunto para o
qual a regra f faz sentido, que denominaremos aqui como o domı́nio matemático.
xy
Exemplo 1: Se escrevemos z = f (x, y) = 2 , fica subentendido que
x + y2

D = (x, y) ∈ R2 ; (x, y) 6= (0, 0) = R2 \ {(0, 0)}.




Por outro lado, quando escrevemos


( xy
se (x, y) 6= (0, 0),
f (x, y) = x2 + y2
0 se (x, y) = (0, 0),

fica evidente que o domı́nio matemático é R2 .


1 – Gráficos

Assim como no Cálculo 1, as funções de duas variáveis podem ser representadas geo-
metricamente por seus gráficos. Definimos o gráfico de f : D ⊂ R2 → R como o conjunto

Gf := (x, y, z) ∈ R3 ; z = f (x, y) .


Por ser Gf um subconjunto de R3 , é possı́vel sua visualização gráfica. Para isso, os


programa computacionais que geram gráficos são de grande ajuda.
As figuras abaixo mostram (parte) dos gráficos das respectivas funções:
 
xy 2  p |x|y
se (x, y) 6= (0, 0) se (x, y) 6= (0, 0),

f (x, y) = x2 + y 4 f (x, y) = 2 2
 x +y
0 se (x, y) = (0, 0) ; 0 se (x, y) = (0, 0);

Figura 1 Figura 2

2

 2y|x|x2
f (x, y) = x4 + y 2 se (x, y) 6= (0, 0),
0 (x, y) = (0, 0)

Figura 3
2 – Curvas de nı́vel
Como veremos adiante, é importante considerarmos os conjuntos de nı́vel para as
funções de várias variáveis. No caso de duas variáveis, esses conjuntos são denomina-
dos curvas de nı́vel e são definidos geometricamente como a projeção sobre o domı́nio D
de f da (curva) interseção do plano z = α com o gráfico de f . Mais precisamente,
Definição: Seja f : D ⊂ R2 → R uma função e α ∈ R. Chama-se curva de nı́vel α o
seguinte conjunto:
Cα := (x, y) ∈ R2 ; f (x, y) = α .


Embora o conjunto de nı́vel não seja necessariamente uma curva (pense num exemplo
contrário), em muitas situações é isso o que ocorre. Por exemplo, se f (x, y) = x2 + 2y 2 ,
então a curva de nı́vel α > 0 é
x2 y2
+ =1
α α/2
√ p
que é a elipse com centro na origem que contém os pontos (± α, 0) e (0, ± α/2). Se
α < 0, Cα é o conjunto vazio.
Vale também observar que as curvas de nı́vel aparecem em muitas situações práticas.
Por exemplo, em mapas geográficos, que são figuras planas, essas curvas descrevem o relevo.
As isóbaras são as curvas de nı́vel onde a pressão é constante e as isotermas são as curvas
de mesma temperatura.
Leia a Seção 3.1 do livro e faça os exercı́cios da Seção 3.2.
3 – Limites
Como já vimos em Cálculo 1, as ferramentas do Cálculo envolvem processos e métodos
obtidos a partir do conceito fundamental de limite. Portanto, faz-se necessário que enten-
damos esse conceito no caso de várias variáveis.
Intuitivamente, o limite de uma função z = f (x, y) num dado ponto (x0 , y0 ) ∈ R2 ,
quando existe, é aquele único número real l para o qual “se aproxima” f (x, y) quando

3
(x, y) “se aproxima” de (x0 , y0 ) ∈ R2 . Essa ideia, que aqui apresentamos intuitiva e
informalmente, denota-se por

lim f (x, y) = l.
(x,y)→(x0 ,y0 )

Observe que esse conceito trás uma dificuldade a mais no caso de duas (ou mais) variáveis,
pois temos muito mais liberdade de fazer (x, y) “se aproximar” de (x0 , y0 ).
Antes de formarlizarmos esse conceito, vejamos um exemplo onde o limite não existe.
xy
Exemplo 2: Consideremos a função f (x, y) = 2 . Observe que o domı́nio de f é
x + y2
D = R2 \ {(0, 0)}, de modo que a função não está definida na origem (0, 0). No entanto,
podemos tomar pontos (x, y) ∈ D tão próximos de (0, 0) quanto se queira∗ ; nesse caso,
podemos fazer (x, y) se “aproximar” de (0, 0) por infinitos caminhos. Se encotrarmos dois
caminhos distintos sobre os quais a função tende a valores diferentes, o limite não existe.
Consideremos então as curvas

r1 (t) = (t, 0), r2 (t) = (t, t), t ∈ R.

Então é claro que


  1
f r1 (t) = 0, f r2 (t) = , ∀t 6= 0
2
Assim, os pontos (x, y) que se aproximam de (0, 0) percorrendo as curvas r1 e r2 fornecem
valores diferentes, o que significa que o limite não existe.
Observe que nesse exemplo, (0, 0) é o único ponto que estabelece a indeterminação do
tipo “0/0”; em qualquer outro pondo (x0 , y0 ) do domı́nio da função o limite existe e vale
z0 = f (x0 , y0 ) = x0 y0 /(x20 + y02 ), isto é, a função é contı́nua.
x2 y
Exemplo 3: Consideremos a função f (x, y) = . Observe que o domı́nio de f é,
x2 + y 2
como no caso anterior, D = R2 \ {(0, 0)}. Como veremos a seguir, o limite em (0, 0) nesse
caso existe e vale zero. Seja (x, y) um ponto quaquer do domı́nio D. Então,

x2 y

xy
0 ≤ |f (x, y)| = 2 = |x| = |x| |xy| ≤ |x| . (1.1)
x +y 2 2 2
x +y x2 + y 2 2

Assim, fazendo (x, y) tender a (0, 0) por qualquer que seja o caminho, temos necessaria-
mente x tendendo a zero, de modo que a desigualdade (1.1) implica que f (x, y) tende a
zero (lembra o Teorema do Confronto?).


Dizemos que (x0 , y0 ) é um ponto de acumulação de D se podemos tomar (x, y) ∈ D
tão próximo de (x0 , y0 ) quanto se queira

4
Observação: Para provar a última desigualdade em (1.1), observe que, para todo (x, y) ∈
R2 , temos
x2 + y 2

 0 ≤ (x − y)2 = x2 − 2xy + y 2 ⇒ xy ≤ ;


2 (1.2)
2 2
 2 2
 0 ≤ (x + y) = x + 2xy + y 2 x + y
 ⇒ −xy ≤ ;
2
Das desigualdades em (1.2) concluı́mos que

x2 + y 2
|xy| ≤ , ∀ (x, y) ∈ R2 . (1.3)
2

Aqui podemos destacar um argumento que nos permite “desconfiar” quando o limite
existe ou não existe, no caso de indeterminações do tipo “0/0”, como nos exemplos acima.
Veja que no Exemplo 1, o numerador e o denominador são polinômios do mesmo grau. No
segundo exemplo, o numerador é polinômio de grau 3, e como vimos, podemos destacar
um fator, no caso o x, que faz tudo tender a zero, pois o fator xy/(x2 + y 2 ) é limitado.
Assim, podemos desconfiar que se o grau do numerador for estritamente maior que o do
denominador, devemos fazer estimativas para mostrar que o limite é zero. Caso contrário,
devemos procurar caminhos sobre os quais a função tende a valores distintos ou um caminho
sobre o qual a função tende a infinito.
Exemplo 4: Consideremos a função f : R2 → R definida por

 x sen(y)
se (x, y) 6= (0, 0);
f (x, y) = 2 2
 x +y
0 se (x, y) = (0, 0).

Podemos desconfiar que o limite não existe, pois sabemos que sen(y)/y → 1 quando y → 0.
Assim, o numerador não é polinomial, mas se comporta como xy para valores póximos de
(0, 0). Mais precisamente, podemos escrever
  
x sen(y) xy sen(y)
f (x, y) = 2 = .
x + y2 x + y2
2 y

Como sabemos que


sen(y)
lim = 1,
y→0 y
os mesmos caminhos usados no Exemplo 1 mostram que o limite nesse caso não existe.
Exemplo 5: Consideremos a função f : R2 → R definida por

 x2 y 3
f (x, y) = x4 + y 8 se (x, y) 6= (0, 0);
0 se (x, y) = (0, 0).

5
Veja que o grau do numerador é 5 e o do denominador é 8. Logo, o “desconfiômetro”
indica que o limite não existe, mas para mostrar isso, devemos indicar dois caminhos que
levem a valores diferentes. Para isso, observemos inicialmente que se r1 (t) = (t, 0), então

f r1 (t) = 0, ∀t 6= 0.

Por outro lado, escolhendo a curva r2 (t) = (t1/4 , t1/8 ), t > 0, obtemos

 t7/8 1
f r2 (t) = = 1/8 ,
2t 2t
de modo que 
lim+ f r2 (t) = +∞,
t→0

o que implica que o limite não existe. Observe que a segunda curva corresponde a um
ramo da parábola x = y 2 .
Para concluir esta seção, vamos apresentar a definição correta de limite para funções
de duas variáveis.

Definição: Seja f : R2 → R. Dizemos que l ∈ R é o limite de f


no ponto P0 = (x0 , y0 ) se, para cada ε > 0, podemos encontrar
δ > 0 tal que, para todo P = (x, y), se |P − P0 | < δ, então
|f (P ) − f (P0 )| < ε.

Leia a Seção 3.3 do livro e faça os exercı́cios da Seção 3.4.


4 – Derivadas parciais
Daqui em diante, a matéria abordada corresponde às Seções 3.5 a 3.9 do livro.
Consideremos uma função z = f (x, y). Se fixarmos uma das variáveis e deixarmos
livre a outra, teremos uma função de uma variável, na qual podemos aplicar tudo o que
aprendemos no Cálculo 1. É esse o processo que denominamos cálculo das derivadas
parciais.
Definição: Sejam f : R2 → R e (x0 , y0 ) no domı́nio de f . Se os seguintes limites

f (x, y0 ) − f (x0 , y0 ) f (x0 , y) − f (x0 , y0 )


lim e lim
x→x0 x − x0 y→y0 y − y0

existem, dizemos que a função f possui derivadas parciais no ponto (x0 , y0 ). Esses números
são denotados respectivamente por

∂f ∂f
(x0 , y0 ) e (x0 , y0 ).
∂x ∂y

6
Observação: É usual as notações fx e fy para as derivadas parciais em relação a x e a y
respectivamente. É também conveniente em muitos casos, considerar a seguinte notação:

∂f f (x0 + ∆x, y0 ) − f (x0 , y0 )


(x0 , y0 ) = lim ,
∂x ∆x→0 ∆x
∂f f (x0 , y0 + ∆y) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim .
∂y ∆y→0 ∆y

Fica claro da definição de derivada parcial que todas as regras de derivação vistas no
Cálculo 1 se aplicam no cálculo das derivadas parciais.
Exemplo 6: Seja f (x, y) = xy sen(x + y 2 ). Então, pelas regras de derivação usuais, temos

∂f
= y sen(x + y 2 ) + xy cos(x + y 2 ),
∂x
∂f
= x sen(x + y 2 ) + 2xy 2 cos(x + y 2 ),
∂y

Convém observar que no caso em que a função é definida por partes, como nos exemplos
das Figuras 1 a 3, não podemos aplicar as regras usuais; é necessário calcularmos a derivada
pela definição.
Exemplo 7: Consideremos a função
( xy
se (x, y) 6= (0, 0);
f (x, y) = x2 + y2
0 se (x, y) = (0, 0).

Observe que

f (x, 0) − f (0, 0) f (0, y) − f (0, 0)


= = 0, ∀ x 6= 0, ∀ y 6= 0.
x−0 y−0

Portanto os respectivos limites existem e são nulos, isto é,

∂f ∂f
(0, 0) = (0, 0) = 0.
∂x ∂y

Vale aqui observar uma diferença gritante com o que aprendemos no Cálculo 1; uma
função de duas variáveis pode ter derivadas parciais em um dado ponto (x0 , y0 ), mesmo
sendo descontı́nua nesse ponto. Como veremos adiante, essa diferença reside no fato de que
ter derivadas parciais não significa necessariamente que o gráfico de f possa se confundir
com um plano (tangente) nas proximidades do ponto (x0 , y0 ).
Nos três exemplos das Figuras 1-3, temos funções que têm derivadas parciais nulas em
(0, 0), sendo a primeira descontı́nua em (0, 0). Verifique.

7
Vamos ver agora como interpretar geometricamente o significado das derivas parciais
em um dado ponto P0 = (x0 , y0 ).

z z

f (P0 )
f (P0 )
y0
y y
θy0
x0 x0 P0
P0 P1

x x θx0 P2

Figura 4.1 Figura 4.2


Na Figura 4.1, a curva (vermelha) é a interseção do plano x = x0 com o gráfico de
f . A reta (verde) que passa pelos pontos f (P0 ) e P1 é tangente à curva no ponto f (P0 ).
Logo, a derivada parcial de f em relação a y é a inclinação dessa reta. Analogamente, na
Figura 4.2, a curva (vermelha) é a interseção do plano y = y0 com o gráfico de f . A reta
(verde) que passa pelos pontos f (P0 ) e P2 é tangente à curva no ponto f (P0 ). Logo, as
derivadas parciais de f em relação a x e a y satisfazem as seguintes relações.

∂f ∂f
(x0 , y0 ) = tg(θy0 ), (x0 , y0 ) = tg(θx0 )
∂y ∂x

5 – O vetor gradiente
Se uma função possui derivadas parciais em um dado ponto P0 = (x0 , y0 ) do seu
domı́nio, definimos o vetor gradiente de f em P0 por

 
∂f ∂f
∇f (P0 ) = (P0 ), (P0 ) .
∂x ∂y

Observe que o vetor gradiente “mora” no plano xy e, como veremos adiante, ele tem várias
propriededades importantes para as aplicações. Uma delas, como provaremos adiante, é
que o gradiente de f um ponto P0 é perpendicular à curva de nı́vel de f que passa por P0 .

8
6 – Derivadas direcionais
Podemos estender o conceito de derivada parcial, considerando outras direções difer-
entes das direções principais dos eixos coordenados.
Definição: Sejam u = (u1 , u2 ) um vetor unitário e P0 = (x0 , y0 ) um ponto qualquer do
domı́nio de f (x, y). Se existe o limite:
f (P0 + τ u) − f (P0 ) f (x0 + τ u1 , y0 + τ u2 ) − f (x0 , y0 )
lim = lim ,
τ →0 τ τ →0 τ
dizemos que f possui derivada direcional em P0 na direção u e

∂f f (P0 + τ u) − f (P0 )
(P0 ) := lim
∂u τ →0 τ

é a derivada direcional no ponto P0 .


Observe que se e1 = (1, 0) e e2 = (0, 1)), as derivadas direcionais nas direções e1 e e2
são respectivamente as derivadas parciais em relação a x e y. Verifique!
Para exemplificar, consideremos as funções das Figuras 1, 2 e 3.
Exemplo 8: A função f : R2 → R,

 xy 2
se (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x2 + y 4
0 se (x, y) = (0, 0) ;

possui derivada direcional no ponto (0,0) em todas as direções. De fato, você pode verificar
que se u = (u1 , u2 ) é vetor unitário, tem-se

f (τ u1 , τ u2 ) − f (0, 0) u22 /u1 se u1 6= 0,
lim =
τ →0 τ 0 se u1 6= 0.

Logo, temos uma função descontı́nua em (0, 0) que possui derivadas direcionais em todas
as direções.
Exemplo 9: Considere a função f : R2 → R,

 p |x|y se (x, y) 6= (0, 0),
f (x, y) = 2 2
 x +y
0 se (x, y) = (0, 0).
Verifique que, quaquer que seja o vetor unitário u = (u1 , u2 ), temos

∂f  p|u1 |u2
se (x, y) 6= (0, 0),
(0, 0) = u 2 + u2
1 2
∂u
0 se (x, y) = (0, 0);

9
Exemplo 10: Verifique que a função f : R2 → R definida por

 2y|x|x2
se (x, y) 6= (0, 0),
f (x, y) = x4 + y 2
0 (x, y) = (0, 0)

possui derivada direcional nula em (0, 0) em todas as direções.


Observação: Você poderia estar se perguntando: qual o significado geométrico da deri-
vada direcional? Como calcular as derivadas direcionais sem aplicar a definição, i.e., sem
calcular limites?
Para responder a primeira pergunta, veja a Figura 5. Nessa figura, a curva (vermelha) é
a interseção do gráfico de f com o plano paralelo ao eixo z, que contém a reta r (t) = P0 +tu.
A reta (verde) que passa pelos pontos f (P0 ) e P3 é tangente à curva no ponto f (P0 ). Logo,
a derivada direcional de f na direção u é a inclinação dessa reta, isto é,

∂f
(x0 , y0 ) = tg(θu ),
∂u

onde θu é o ângulo que a reta (verde) faz com o plano xy.

f (P0 )

y
u
x0
θu
P3

x
Figura 5
Para responder a segunda pergunta, isto é, como calcular derivadas direcionais sem
usar a definição, precisamos introduzir o conceito de diferencial.

10
7 – Diferenciabilidade
Voltemos no tempo para lembrar o que aprendemos no Cálculo 1. Se sua memória não
falhar, você certamente lembra que uma função f : R → R é diferenciável em um ponto
x0 se seu gráfico se confunde com a reta tangente que passa pelo ponto x0 , f (x0 ) . Essa
“definição intuitiva” nos levou ao problema de definir o que entendemos por reta tangente,
que por sua vez nos fez introduzir f ′ (x0 ), a derivada de f no ponto x0 .
Podemos estender a mesma definição intuitiva para o caso de uma função de duas
variáveis, substituindo reta tangente por plano tangente: dizemos que f : R2 → R
é diferenciável no  ponto P0 = (x0 , y0 ) se o plano tangente ao gráfico de f no ponto
x0 , y0 , f (x0 , y0 ) se confunde com o gráfico de f na vizinhança desse ponto.
É claro que essa definição não nos permite provar coisa alguma, mas podemos avançar
um pouco a partir dela. Para começar, observemos a Figura 6, que é uma junção das
Figuras 4.1 e 4.2. Vimos que as duas retas (verdes) são tangentes às curvas (vermelhas)
no ponto P = x0 , y0 , f (x0 , y0 ) . Logo, se f admite um plano tangente, esse plano deve
necessariamente conter as duas retas.

y0
y
x0
P0

x
Figura 6
Para determinar a equação do plano tantente, consideremos a função z = h(x, y) cujo
gráfico é um plano. Então h(x, y) = ax + by + c, onde a, b e c são números reais. Como
esse plano contém o ponto P , temos h(x0 , y0 ) = f (x0 , y0 ) = ax0 + by0 + c. Assim, obtemos
as seguintes equações:
h(x, y) = ax + by + c, f (x0 , y0 ) = ax0 + by0 + c. (1.4)
Subtraindo a segunda equação da primeira em (1.4), obtemos
h(x, y) = f (x0 , y0 ) + a(x − x0 ) + b(y − y0 ) = ax + by − (ax0 + by0 ).
Logo, c = −(ax0 +by0 ) e podemos determinar as outras constantes calculando as derivadas
parciais de h, observando que essas derivadas são as inclinações das retas tangentes (vide

11
Figuras 4 e 6), i.e.,
∂h ∂h
(x0 , y0 ) = a = tg(θx0 ), (x0 , y0 ) = b = tg(θy0 ).
∂x ∂y
Portanto, se f admite um plano tangente no ponto P , a equação desse plano é necessari-
amente dada por

∂f ∂f
z = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ).
∂x ∂y
(1.5)

Exemplo 11: Vamos admitir por um momento que a função f (x, y) = x2 + 2y 2 possui
plano tangente no ponto P0 = (1, 1, 3). Então, f (1, 1) = 3,
∂f ∂f ∂f ∂f
= 2x ⇒ (1, 1) = 2 e = 4y ⇒ (1, 1) = 4.
∂x ∂x ∂y ∂y
Logo, a equação do plano tangente é z = 3 + 2(x − 1) + 4(x − 1), que pode ser reescrita
como
2x + 4y − z = 3.

Observação: Você certamente se lembra da equação  cartesiana de um plano que passa


~ ~ ~ ~
por P0 e tem N como vetor normal: N · P − P0 = 0. Observe então da Eq. (1.5)
que se esse plano é tangente ao gráfico de uma função diferenciável f (x, y) em P0 , então
necessariamente o vetor normal é dado por
 
~ = ∂f ∂f
N (P0 ), (P0 ), −1
∂x ∂x

Passemos então à definição correta de diferenciabilidade, lembrando ainda o que apren-


demos no Cálculo 1. Seja f : R → R uma função derivável no ponto x0 , cujo gráfico seja
a curva (vermelha) na Figura 7.
y
ǫ(∆x)

f ′ (x0 )∆x

f (x0 )
x
x0 x0 + ∆x

Figura 7

12
De acordo com a figura, temos

f (x0 + ∆x) = f (x0 ) + f ′ (x0 )∆x + ǫ(∆x). (1.6)

de onde se conclui que

ǫ(∆x) f (x0 + ∆x) − f (x0 )


= − f ′ (x0 ).
∆x ∆x
Assim, vemos que f é diferenciável em x0 se, e somente se,

ǫ(∆x)
lim = 0. (1.7)
∆x→0 ∆x

Com base nos argumentos acima, podemos estender para as funções de duas variáveis
o conceito de diferenciabilidade.
Definição: Seja z = f (x, y) uma função e P0 = (x0 , y0 ) um ponto do domı́nio de f .
Dizemos que f é diferenciável em P0 se as seguintes condições são válidas: para cada
(∆x, ∆y) ∈ R2 ,

∂f ∂f
f (x0 + ∆x, y0 + ∆y) = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )∆x + (x0 , y0 )∆y + ǫ(∆x, ∆y),
∂x ∂y

onde
ǫ(∆x, ∆y)
lim p = 0.
(∆x,∆y)→(0,0) ∆x2 + ∆y 2

Podemos reescrever as expressões acima de forma mais geral e concisa se denotarmos


P = (x0 , y0 ) e ∆P = (∆x, ∆y);

f (P0 + ∆P ) = f (P0 ) + ∇f (P0 ) · ∆P + ǫ(∆P ), (1.8)

onde
ǫ(∆P )
lim = 0. (1.9)
∆P →(0,0) |∆P |

O limite em (1.9) nos diz que o “erro” ǫ(∆P ) decai a zero “mais rapidamente” que
∆P , independentemente de como P = P0 + ∆ se aproxima de P0 . Disso decorrem várias
propriedades que enunciamos a seguir e cuja prova apresentamos ao final do texto.
Teorema 1: Toda função f diferenciável em P0 é contı́nua em P0 .
Teorema 2: Se a função f tem derivadas parciais contı́nuas no ponto P0 , então f é
diferenciável em P0 .
Vamos analisar a diferenciabilidade de algumas funções para ilustrar a aplicabilidade
dos Teoremas 1 e 2. Por exemplo, segue como consequência direta do Teorema 1 que a

13
função do exemplo da Figura 1 não é diferenciável em (0, 0), visto que ela não é contı́nua
nesse ponto.

Exemplo 12: Consideremos a função : R2 → R definida por



 x2 y 2
f (x, y) = x2 + y 2 se (x, y) 6= (0, 0),
0 se (x, y) = (0, 0).

Vamos mostrar que f é diferenciável em (0, 0) de duas manerias: (1) aplicando o Teorema 2
e (2) pela definição.
1o Caso: Precisamos calcular as derivadas parciais e mostrar que elas são contı́nuas em
(0, 0). Calculando diretamente, temos

∂f 2xy 4 ∂f 2yx4
(x, y) = 2 e (x, y) = 2 .
∂x (x + y 2 )2 ∂y (x + y 2 )2

Observe que em ambos os casos o numerador tem grau maior que o denominador. Logo,
os limites das derivadas parciais em (0, 0) devem ser nulos. De fato,

y4

∂f
0≤
(x, y) ≤ 2|x| 2

2 2
≤ 2|x|
∂x (x + y )

Como |x| tende a zero quando (x, y) → (0, 0) independentemente do caminho, concluı́mos
que
∂f
lim (x, y) = 0.
(x,y)→(0,0) ∂x

O mesmo argumento mostra que

∂f
lim (x, y) = 0.
(x,y)→(0,0) ∂y

Para concluir que f é diferenciável, basta então verificar que as derivadas parciais de f em
(0, 0) são nulas. De fato, para todo ∆x 6= 0 e ∆y 6= 0, temos

f (0 + ∆x, 0) − f (0, 0) f (0, 0 + ∆y) − f (0, 0)


= = 0.
∆x ∆y

Com isso, mostramos que

∂f ∂f ∂f ∂f
lim (x, y) = (0, 0), lim (x, y) = (0, 0),
(x,y)→(0,0) ∂x ∂x (x,y)→(0,0) ∂y ∂y

isto é, as derivadas parciais são contı́nuas e, consequentemente, f é diferenciável.

14
2o Caso: Por
p definição, preciamos mostrar que o erro ǫ(∆x, ∆y) tende a zero mais rapida-
mente que (∆x)2 + (∆y)2 , onde
∂f ∂f
f (0 + ∆x, 0 + ∆y) = f (0, 0) + (0, 0)∆x + (0, 0)∆y + ǫ(∆x, ∆y).
∂x ∂y
Como vimos acima, f e as derivadas parciais em (0, 0) se anulam em (0, 0). Logo
(∆x)2 (∆y)2
ǫ(∆x, ∆y) = f (∆x, ∆y) = ,
(∆x)2 + (∆y)2
de onde se conclui que
ǫ(∆x, ∆y) (∆x)2 (∆y)2
p = 3/2 . (1.10)
(∆x)2 + (∆y)2 (∆x)2 + (∆y)2

Observe que o numerador de (1.10) tem grau 4 e o denominador tem “grau” 3. Logo,
o limite da expressão é nulo (verifique!), o que mostra por definição que a função é dife-
renciável em (0, 0).
Observação: Vale observar que o Teorema 2 dá somente condição suficiente para a dife-
renciabilidade. De fato, a recı́proca não vale nem mesmo para uma função de uma variável,
como mostra o exemplo abaixo.
Consideremos f : R → R definida por
 
1

2
f (x) = x sen x se x 6= 0,
0 se x = 0.
Então, calculando diretamente
 
1 − cos 1

df 2x sen x se x 6= 0,
(x) = x
dx 0 se x = 0.
df
Como o limite de cos(1/x) quando x tende a zero não existe, concluı́mos que dx (x) é
descontı́nua no ponto x = 0. Por outro lado, é fácil ver (verifique!) que f é função
diferenciável em x = 0 com f ′ (0) = 0.
8 – A diferencial de f
Se uma função z = f (x, y) é diferenciável em P0 = (x0 , y0 ), podemos escrever

∆z = ∇f (P0 ) · ∆P + ǫ(∆P ),

onde ∆z = f (P0 + ∆P ) − f (P0 ). Se |∆P | é pequeno, podemos desprezá-lo para obter


um valor aproximado de ∆z. Isso nos leva a considerar a função linear nas variáveis
(dx, dy) ∈ R2 , definida por
∂f ∂f
dz = (x0 , y0 ) dx + (x0 , y0 ) dy.
∂x ∂y

15
Essa função é denominada a diferencial de f no ponto P0 = (x0 , y0 ) e seu gráfico, nas
coordenadas (dx, dy, dz), é um plano que passa pela origem.
Vejamos num exemplo bem simples como a diferencial pode ser usada para aproxi-
mações.
p
Exemplo 12: Calcular um valor aproximado para α = (3, 002)2 + (4, 001)2 .
Solução: Consideremos
p (x0 , y0 ) = (3, 4) e (dx, dy) = (0.002, 0.001). Se considerarmos
2 2
z = f (x, y) = x + y , então α = f (x0 + dx, y0 + dy).
Se a função é diferenciável, tem-se

∂f ∂f
α = f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )dx + (x0 , y0 )dy + ǫ(dx, dy).
∂x ∂y

Desprezando-se o erro √ǫ, podemos obter uma aproximação razoável para o valor de α.
Então, como f (3, 4) = 25 = 5 e

∂f x ∂f y
=p e = p ,
∂x x2 + y 2 ∂x x2 + y 2

temos
∂f 3 ∂f 4
(3, 4) = e (3, 4) = .
∂x 5 ∂x 5
Logo,
α ≈ 5 + 0.6 × 0.002 + 0.8 × 0.001 = 5.002.

Observação: As aproximações obtidas pela diferencial, i.e., desprezando-se o erro ǫ(∆P )


são denominadas aproximações de primeira ordem.
8 – Regra da Cadeia
Vejamos agora como calcular derivadas de funções compostas. Num primeiro caso,
consideremos composição do tipo f ◦ r , onde f : D → R é função de duas variáveis e
r : [a, b] → R2 é uma curva plana. Se a imagem de r está contida em D, temos a seguinte
situação,
r f
[a, b] ∈ R −→ D ⊂ R2 −→ R (1.11)

e a composta (f ◦ r ) : [a, b] −→ R está bem definida.


Uma situação desse tipo pode ocorrer se f representa a temperatura de uma placa
plana identificada com a região D ⊂ R2 e r (t) a posição de um besouro sobre a placa
no instante t. Então, ψ(t) = f r (t) é a função que descreve a temperatura sentida pelo
besouro no instante t.
A Regra da Cadeia é a regra estabelecida pelo seguinte resultado (como os anteriores,
a demonstração desse resultado é apresentada no final do texto):

16
Teorema 3: Nas condições de (1.11), se f é uma função diferenciável em (x0 , y0 ) ∈ D e r
é uma curva diferenciável em t0 tal que r (t0 ) = (x0 , y0 ), então f ◦ r é função diferenciável
em t0 e vale a seguinte regra:

dr
(f ◦ r )′ (t0 ) = ∇f (r (t0 )) · (t0 ). (1.12)
dt

Em termos de coordenadas, a regra (1.12) toma a forma

∂f ∂f
(f ◦ r )′ (t0 ) = (x0 , y0 )x′ (t0 ) + (x0 , y0 )y ′ (t0 ). (1.13)
∂x ∂y

A tı́tulo de ilustração, consideremos um exemplo bem simples.


 p
Exemplo 13: Calcular a derivada de ψ(t) = f r (t) onde f (x, y) = x2 + y 2 e r (t) =
2
ln(t), et .
Primeiramente, observemos que o domı́nio de f é R2 e seu gráfico é um cone (de
uma folha) com vértice na origem (0, 0). Assim, vemos (geometricamente) que f não é
diferenciável somente em (0, 0). Além disso, a curva r está definida para todo valor de
t > 0 e não passa pela origem.
Vamos calcular de duas maneiras a derivada da composta ψ(t) em um ponto t0 > 0
qualquer, primeiramente derivando diretamente a composta e, depois, aplicando a fórmula
(1.12).
1o Caso: Fazendo a composta, temos
2
(ln(t0 )/t0 ) + 2t0 e2t0
q

ψ(t) = ln(t) + e2t2 ⇒ ψ (t0 ) = q . (1.14)
ln2 (t0 ) + e2t0
2

1o Caso: Usando (1.12), temos


 
t2 dr 1 2
, 2t0 et0

r (t) = ln(t), e ⇒ (t0 ) = , (1.15)
dt t0
!
p x0 y0
f (x, y) = x2 + y 2 ⇒ ∇f (x0 , y0 ) = p , p .
x20 + y02 x20 + y02
2
Como r (t0 ) = (x0 , y0 ) = ln(t0 ), et0 , temos
 
t20
ln(t0 ) e
∇f (r (t0 )) =  q , q . (1.16)
2 2t2 2 2t2
ln (t0 ) + e 0 ln (t0 ) + e 0

Tomando-se o produto escalar de (1.16) com (1.15), obtém-se (1.14), como era de se esperar.

17
O Exemplo 13 evidencia que, se as funções são conhecidas, é mais fácil calcular a
derivada da composta diretamente, como no primeiro caso acima. Mas nas situações
em que somente temos dados numéricos (por exemplo, dados experimentais)e que não é
possı́vel calcular a função composta, podemos medir a derivada da composta se tiremos os
dados adequados. Vejamos um exmplo.
Exemplo 15: Imaginemos uma placa aquecida cuja temperatura no ponto P0 = (1, 1)
é 45 ◦ C. Num dado instante é feita a medida do gradiente da temperatura e obtém-se o
vetor (4.4 ◦ C/cm, 5.2 ◦ C/cm). Nesse mesmo instante, uma partı́cula que se desloca sobre
a placa está passando por P0 com velocidade v = (1.1 cm/s, 3.1 cm/s). Qual a taxa de
variação da temperatura na partı́cula nesse instante?
Podemos admitir que a temperatura da partı́cula em cada ponto da placa é igual à
temperatura da placa. Nesse caso, se f (x, y) é a temperatura da placa em P = (x, y) e
r (t) é a posição da partı́cula no instante t, a temperatura
 da partı́cula no instante t0 em
que ela está no ponto P0 é dada por φ(t) = f r (t0 ) . Admitindo-se que as funções f e r
são diferenciáveis, temos

dr
φ′ (t0 ) = ∇f (x0 , y0 ) · (t0 ) = (4.4, 5.2) · (1.1, 3.1) = 4.54 + 16.12 = 20.66 ◦ C/s.
dt

Observe que insistimos em grifar a hipótese —“são diferenciáveis”— na conclusão


acima. Por que tanta insistência? Veja com atenção o exemplo abaixo.
Exemplo 15: Considere a função

x2 y
se (x, y) 6= (0, 0),

f (x, y) = x2 + y 2
0 se (x, y) 6= (0, 0).

(1) Mostre que ∇f (0, 0) = (0, 0).


(2) Considere a curva r : R → R2 , r (t) = (t, mt), m 6= 0.
(3) Calcule ψ(t) = (f ◦ r )(t) e ψ ′ (t).
(4) Verifique que
dr
ψ ′ (0) 6= ∇f (0, 0) · (0). (1.17)
dt
Observação: O Exemplo 15 evidencia a necessidade da hipótese da diferenciabilidade de
f no ponto (x0 , y0 ) para a validade da Regra da Cadeia enunciada no Teorema 3. Veja no
Exemplo 15 que a composta ψ(t) é derivável em qualquer ponto t, mas a regra da cadeia
(a fórmula (1.12) não vale nesse caso. Isso se deve ao fato de que f não é (verifique!)
diferenciável em (0, 0).
Os seguintes corolários são consequências importantes da Regra da Cadeia. O primeiro
responde a pergunta que ficou pendente no final da seção sobre derivada direcional e o
segunda tem aplicações importantes em diversas áreas (fı́sica, quı́mica etc.)

18
Corolário 1: Se f (x, y) é função diferenciável em P0 = (x0 , y0 ) e u = (u1 , u2 ) é vetor
unitário, vale a fórmula .

∂f
(x0 , y0 ) = ∇f (x0 , y0 ) · u
∂u

Corolário 2: Seja f (x, y) função diferenciável em P0 = (x0 , y0 ) tal que o vetor gradiente
de f em P0 não é nulo. Então, ∇f (x0 , y0 ) é vetor ortogonal à curva de nı́vel de f que
passa por P0 e, além disso, indica a direção de maior crescimento de f .
9 – Demostrações
Para concluir, vamos apresentar as demonstrações dos teoremas e corolários enunciados
nessas notas.
Teorema 1: Toda função f diferenciável em P0 é contı́nua em P0 .
Demonstração: Por hipótese, se P = P0 + ∆P , temos

ǫ(∆P )
f (P0 + ∆P ) = f (P0 ) + ∇f (P0 ) · ∆P + ǫ(∆P ), lim = 0.
|∆P |→ |∆P |

Então,
0 ≤ |f (P0 + ∆P ) − f (P0 )| = |∇f (P0 ) · ∆P + ǫ(∆P )| ≤ |∇f (P0 ) · ∆P | + |ǫ(∆P )|
≤ |∇f (P0 )||∆P | + |ǫ(∆P )|
Observe que
|ǫ(∆P )|


 lim |ǫ(∆P )| = lim |∆P | = 0,
|∆P |→0 |∆P |→0 |∆P |

 lim |∇f (P0 )||∆P | = 0.
|∆P |→0

Logo, lim|∆P |→0 |f (P0 + ∆P ) − f (P0 )| = 0, como querı́amos provar.

Teorema 2: Seja f (x, y) uma função que possui derivadas parciais nos pontos de seu
domı́nio D. Se as derivadas parciais são contı́nuas no ponto P0 , então f é diferenciável em
P0 .
Demonstração: Seja P0 = (x0 , y0 ) e P = (x0 + τ, y0 + λ). Então podemos escrever

f (x0 +τ, y0 +λ)−f (x0 , y0 ) = f (x0 +τ, y0 +λ)−f (x0 +τ, y0 )+f (x0 +τ, y0 )−f (x0 , y0 ). (1.18)

Como f possui derivadas parciais em D, a função φ2 (λ) = f (x0 + τ, y0 + λ) é derivável no


intervalo ]0, 1[. Pelo Teorema do Valor Médio, existe ξ2 ∈ ]0, 1[ tal que φ2 (1) − φ2 (0) =
φ′2 (ξ2 ), isto é,
∂f
f (x0 + τ, y0 + λ) − f (x0 + τ, y0 ) = (x0 + τ, y0 + ξ2 λ)λ.
∂y

19
Analogamente, a função φ1 (τ ) = f (x0 + τ, y0 ) é derivável em ]0, 1[. Logo, existe ξ1 ∈ ]0, 1[
tal que
∂f
f (x0 + τ, y0 ) − f (x0 ) = (x0 + ξ1 τ, y0 )τ.
∂x
Portanto,

∂f ∂f
f (x0 + τ, y0 + λ) = (x0 + τ, y0 + ξ2 λ)λ + (x0 + ξ1 τ, y0 )τ.
∂y ∂x

∂f ∂f
Somando e subtraindo (x0 , y0 )τ e (x0 , y0 )λ no dado direito da expressão acima,
∂x ∂y
obtemos
f (x0 + τ, y0 + λ) = f (x0 , y0 ) + ∇f (x0 , y0 ) · (τ, λ) + ǫ(τ, λ),
onde  
∂f ∂f
ǫ(τ, λ) = (x0 + ξ1 τ, y0 ) − (x0 , y0 ) τ
∂x ∂x
 
∂f ∂f
+ (x0 + τ, y0 + ξ2 λ) − (x0 , y0 ) λ,
∂y ∂y
Portanto,

ǫ(τ, λ) ∂f ∂f ∂f ∂f
√ ≤ (x 0 + ξ 1 τ, y 0 ) − (x 0 , y 0 ) + (x 0 + τ, y 0 + ξ 2 λ) − (x 0 , y 0 )
τ 2 + λ2 ∂x ∂x ∂y ∂y

Como por hipótese as derivadas parciais são contı́nuas em (x0 , y0 ), a conclusão da demons-
tração segue do Teorema do Confronto.
Corolário 1: Se f (x, y) é função diferenciável em P0 = (x0 , y0 ) e u = (u1 , u2 ) é vetor
unitário, vale a fórmula
∂f
(x0 , y0 ) = ∇f (x0 , y0 ) · u. (1.19)
∂u
Demonstração: Considere a reta

r (t) = P0 + tu = (x0 + tu1 , y0 + tu2 )



e ψ(t) = f r (t) . Pela Regra da Cadeia, temos

 dr
ψ ′ (0) = ∇f (r (0) · (0) = ∇f (x0 , y0 ) · u. (1.20)
dt
Por outro lado
ψ(t) − ψ(0) f (x0 + tu1 , y0 + tu2 ) − f (x0 , y0 ) ∂f
ψ ′ (0) = lim = lim = (x0 , y0 ). (1.21)
t→0 t t→0 t ∂u
De (1.20) e (1.21), tem-se (1.19), como querı́amos motrar.

20
Corolário 2: Seja f (x, y) função diferenciável em P0 = (x0 , y0 ) tal que o vetor gradiente
de f em P0 não é nulo. Então, ∇f (x0 , y0 ) é vetor ortogonal à curva de nı́vel de f que
passa por P0 e, além disso, indica a direção de maior crescimento de f .
Demonstração: De fato, seja α = f (P0 ) e Cα a curva de nı́vel α de f . Seja r (t), t ∈ [a, b]
uma dada parametrização de Cα tal que r (t0 ) = (x0 , y0 ) e ddtr (t0 ) 6= (0, 0) (observe que
uma tal parametrização é sempre possı́vel; basta imaginar uma partı́cula percorrendo essa
curva com velocidade escalar constante). Então

ψ(t) = f r (t) = α, ∀ t ∈ [a, b].

Logo ψ ′ (t) = 0 para todo t. Pela Regra da Cadeia, temos

dr
0 = ψ ′ (t0 ) = ∇f (x0 , y0 ) · (t0 ), (1.22)
dt

o que significa que os vetores ∇f (x0 , y0 ) e ddtr (t0 ) são ortogonais. Mas sabemos que o vetor
(velocidade) ddtr (t0 ) é tangente à curva no ponto P0 . Logo, o gradiente é ortogonal à curva
nesse ponto, como querı́amos mostrar.
Para concluir, vamos mostrar que ∇f (x0 , y0 ) indica a direção de maior crescimento de
f . Sabemos que, dados dois vetores não nulos u e v de R2 , vale a fórmula

u · v = |u||v | cos(θ),

onde θ ∈ [0, π/2] é o ângulo entre os vetores u e v . Considerando então u = ∇f (x0 , y0 ) e


v vetor uniário, temos pelo Corolário 1,

∂f
(x0 , y0 ) = ∇f (x0 , y0 ) · v = ∇f (x0 , y0 ) cos(θ).
∂v
Lembremos da interpretação geométrica da derivada direcional de f na direção de um vetor
unitário u (veja a Figura 5):
∂f
(x0 , y0 ) = tg(θv ).
∂v
Como cos(θ), com θ ∈ [0, π/2] é máximo quando θ = 0, concluı́mos que o maior valor
da derivada direcional é atingido quando θ = 0, i.e., v é paralelo a ∇f (x0 , y0 ). Sendo v
unitário, temos
∇f (x0 , y0 )
v =
∇f (x0 , y0 )
e, nesse caso,

∂f ∇f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = ∇f (x0 , y0 ) · = ∇f (x0 , y0 ) .
∂v ∇f (x0 , y0 )

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