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COMENTADO

DIREITO
2015

QUESTÃO DISCURSIVA 04

O caso de C.P.S., com 29 anos de idade, espancado e esfaqueado até a morte no início de julho,
após ter sido amarrado a um poste em São Luís – MA, chocou o país. Cercado e atacado por um grupo
após a acusação de roubo, ele foi linchado em plena luz do dia. No Rio de Janeiro, N.C.S. também foi
espancado até a morte na favela da Rocinha, acusado de tentar matar uma mulher e seus dois filhos.
Em comum, os dois casos trazem à tona a inegável brutalidade dos linchamentos, um fenômeno que
tem chamado a atenção no país.
Apesar de justiçamentos pelas próprias mãos configurarem crimes de homicídio ou de lesão corporal,
o comportamento de alguns setores da população, de parte da polícia e até mesmo da mídia revela, por
vezes, um clima de aceitação da violência quando cometida contra um suposto criminoso. Na opinião
de uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), que analisou 589 casos de linchamento na
região metropolitana de São Paulo entre 1980 e 2009, dos quais apenas um foi à julgamento, é preciso
que a polícia passe a ver os linchamentos como um problema, como um crime ser investigado e punido.

Disponível em: <http://www.bbc.com>. Acesso em: 6 out. 2015 (adaptado).

Considerando que a notícia apresentada tem caráter motivador, redija um texto dissertativo, abordando
o Sistema de Proteção dos Direitos Humanos, acerca do seguinte tema: O poder-dever de punir do
Estado no contexto das garantias da pessoa humana.

Autor: Marcus Vinicius Boschi

COMENTÁRIOS

A pergunta “por que punir?” remonta a própria existência da humanidade e, até hoje, se debate so-
bre o tema. Aliás, não só ela, mas também aquelas relacionadas a “quando punir?” e a “o que punir?”
atormentam as mentes daqueles que estudam o sistema punitivo criminal.
Diversas foram as teorias que perpassaram o estudo do tema, sendo as mais conhecidas e relevantes
as absolutistas ou retribucionistas e as preventivas, estas últimas subdivididas nas espécies de geral
e especial, negativa e positiva.
Por certo que outras tantas poderiam ser citadas, notadamente a da expiação, defendida por Heiko
Lesch, e aquela, mais recentemente, tratada por Jakobs. Todavia, a discussão em torno dos funda-
mentos e das razões da punição somente é realizada e a própria pena só ganha uma aceitação social
minimamente tranquila quando se percebe que o Estado é efetivo na jurisdição.

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COMENTADO

Pode-se discutir a exatidão dessa assertiva, no sentido de que um sentimento popular de que o
Estado não funciona no âmbito da persecução penal e, por isso, há que se fazer justiça pelas próprias
mãos, ainda que de forma arbitraria, pré-tempestiva ou ilegítima.
A polícia, não raro, abusa de pedido de prisões cautelar para que, caso deferidas, seja possível en-
carcerar o acusado por alguns dias, ainda que seja, porque possui, em dadas hipóteses o sentimento
de que, ao final do processo, a punição é insignificante em comparação ao delito praticado.
Os casos de linchamento revelados pela pergunta espelham, infelizmente, esta realidade: a de
uma população que se encontra descrente com tudo e com todos; que não guarda respeito ou cren-
ça nas instituições de Estado e que, por sentir-se desamparada e largada à própria sorte, toma as
rédeas da justiça penal.
A Constituição Federal com base nos Tratados dos quais o Brasil é signatário e, sobretudo, pelo
Direito Penal moderno não propõe essa forma de solução de conflitos. A pena há que ser a manifes-
tação de um castigo público, proporcional e adequado ao caso, nos exatos limites do delito praticado.
Os direitos humanos não autorizam a pena privada e muito menos a sua execução, na figura do
olho por olho, dentre por dente, tal como revelado pela questão trazida, porque impõem o respeito a
uma tábua de valores do Estado e dos particulares que se revela indeclinável.
O respeito aos direitos humanos, em suma, e no âmbito criminal, reclama o respeito ao homem
como ente superior, não apenas na fase da investigação ou do processo, mas, sobretudo, na da
execução penal; e traz a máxima de que a pena é um castigo público, ainda que se possa discutir
qual a sua finalidade precípua.

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