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CAPÍTULO II

Percebo com alegria, meu mais valioso amigo, que a sombra de seu
descontentamento passou. A luz de seu apoio me agracia novamente, e você
deseja a continuação de minha história. Por isso, sem mais, você a terá.

Acho que o último dia que mencionei foi certo domingo, o último de 1827. Na
terça seguinte, eu havia saído com meu cachorro e minha arma em busca de um
jogo possível dentro do território de Linden-Car; porém, não achando jogo
algum, me voltei contra os gaviões e os asquerosos urubus, cujas depredações,
suspeitei, me privaram de conseguir presa melhor. Com esse propósito, deixei as
regiões mais frequentadas – os vales, os campos de milho, e os pastos – e
continuei a subir a difícil encosta de Wildfell, a mais selvagem e elevada
eminência de nossa vizinhança. Lá, enquanto você sobe, as cercas, assim como
as árvores, tornam-se escassas e atrofiadas; as primeiras, eventualmente dando
lugar a grossas cercas de pedra, parcialmente cobertas de verde por trepadeiras e
musgo; as segundas dando lugar a larícios¹ e pinheiros escoceses, ou isolados
espinheiros negros. Os campos, sendo ásperos e com pedras, totalmente
inapropriados para o arado, eram mais dedicados à criação de ovelhas e gados. O
solo era fino e pobre: pedaços de pedra surgiam aqui e ali dos montes de terra
cobertos de grama; pés de mirtilo e urzes¹ – relíquias de regiões mais selvagens –
cresciam embaixo das cercas; e em várias partes do recinto, tasneiras¹ reinavam
sobre a escassa relva. No entanto, esta não era minha propriedade.

Perto do topo dessa colina, a cerca de duas milhas de Linden-Car, ficava Wildfell
Hall: uma antiga mansão da Era Elizabetana, construída em pedra cinza escuro,
venerável e pitoresca de se olhar, mas sem dúvida, fria e sombria o suficiente
para ser habitada. Com sua grossa fachada de pedra e vidraças entrelaçadas, suas
vastas passagens de ar, e sua posição bastante solitária e desamparada – protegida
somente da força do vento e do tempo por um grupo de pinheiros escoceses, eles
próprios já prejudicados pelas tempestades, com aparência tão severa e
assombrada quanto o Hall. Atrás da mansão haviam alguns campos desolados, e
então, o ápice da colina coberto de urzes; à frente dela (cercado por paredes de
pedra, com um portão de ferro como entrada, e grandes bolas de granito cinza –
similares àquelas que decoravam telhados e cumeeiras - ultrapassando as traves
do portão) havia um jardim – uma vez estocado com plantas e flores tão
vigorosas quanto o solo e o clima permitiam, e tantas árvores e arbustos quanto o
jardineiro aguentava tortuosamente podar, que rapidamente assumiam as formas
que ela escolhia – agora, há tantos anos

¹ Tipos de plantas.
sem ser arado e podado, abandonado a ervas daninhas e ao capim, à geada e ao
vento, a chuvas e secas, apresentava de fato uma aparência muito singular. As
paredes verdes espessas com flores, que haviam demarcado a entrada principal,
estavam em sua maioria ressecadas, e o resto havia crescido além de todos os
limites razoáveis: o arbusto em forma de ganso, que ficava ao lado da máquina
de raspagem, havia perdido o pescoço e metade do corpo; as torres de louro em
forma de castelo no meio do jardim, o guerreiro gigante que ficava em um dos
lados do portão, e o leão que guardava o outro, cresceram em tamanha proporção
que já não se assemelhavam em nada no céu ou na terra, ou nas águas debaixo da
terra; mas, na minha jovem imaginação, eles possuíam uma aparência feérica,
que harmonizava bastante com as fantasmagóricas legiões e sombrias tradições
que nossa antiga governanta havia nos contado a respeito do Hall assombrado e
seus falecidos ocupantes.

Eu havia conseguido matar um gavião e dois urubus quando avistei a mansão; e


então, renunciando a maiores depredações, eu fui caminhando a fim de dar uma
olhada no velho local, e ver quais mudanças haviam sido feitas pela nova
habitante. Não apreciei a ideia de ir exatamente para frente do local, e fitar o
interior através do portão; mas parei ao lado do muro do jardim e olhei, e não vi
diferença alguma – exceto por um anexo, onde as janelas quebradas e o telhado
dilapidado haviam sido evidentemente consertados, e onde um tênue espiral de
fumaça saía dos montes das chaminés.

Enquanto eu permanecia assim, inclinado sobre minha arma, e observando as


cumeeiras, mergulhado em um ocioso devaneio, tecendo um laço de impertinente
imaginação, em que antigas associações e a bela jovem ermitã – agora cercada
por aquelas paredes – tinham partes quase iguais, ouvi um leve murmurinho e
alguma agitação no meio do jardim; e olhando na direção de onde o som havia
sido produzido, contemplei uma pequena mão elevada acima do muro: a mesma
agarrou-se ao topo, e então outra pequena mão ergueu-se para ter um suporte
mais firme. Logo, uma pequena testa branca apareceu, dominada por cachos
castanhos, com um par de profundos olhos azuis abaixo, e a parte superior de um
pequeno nariz de marfim.

Os olhos não me notaram, mas brilharam de entusiasmo ao perceber Sancho,


meu lindo setter¹ preto e branco, que percorria o campo com seu focinho no
chão. A pequena criatura ergueu seu rosto e chamou o cão. O simpático cão
parou, olhou para cima, e balançou sua cauda, porém não fez maiores progressos.
A criança (um menininho, aparentemente de cinco anos de idade) escalou até o
topo do muro, e o chamou mais duas vezes; mas, percebendo que

¹ Raça de cão.
isso não era útil, aparentemente decidiu, como Maomé, ir até a montanha – já que a
montanha não ia até ele – e esforçou-se para conseguir, mas uma chata cerejeira
velha, que cresceu demais, o pegou por uma das mangas magricelas de sua roupa
quando seu braço se esticava por cima do muro. Tentando se soltar, seu pé
escorregou, e ele caiu; mas não no chão – a árvore ainda o manteve suspenso. Houve
uma luta silenciosa, e então um berro penetrante; mas, em um instante, eu havia
largado minha arma na grama, e pego o menino em meus braços.

Enxuguei seus olhos com sua roupa, disse que estava tudo bem e chamei Sancho
para acalmá-lo. Ele colocou a mãozinha no pescoço do cão, e começava a sorrir
dentre as lágrimas quando ouvi um barulho no portão de ferro atrás de mim, e um
farfalhar de vestido feminino, e oh! Mrs. Graham lançou-se sobre mim – seu
pescoço descoberto, seus negros cachos ao vento.

“Dê-me a criança!” ela disse, em uma voz mais alta do que um sussurro, mas com
um tom de surpreendente veemência, e, tomando o menino, ela agarrou-se a ele,
como se meu toque transmitisse algum tipo de contaminação; e assim permaneceu,
com uma mão segurando firmemente a dele, a outra em seu ombro, me encarando
com seus grandes e luminosos olhos escuros – pálida, sem fôlego, tremendo em
agitação.

“Não estava machucando a criança, senhora,” eu disse, sem saber se ficava surpreso
ou ofendido, “ele estava caindo do muro, e eu tive a sorte de pegá-lo enquanto ele
balançava suspenso naquela árvore, e prevenir sabe-se lá que catástrofe.”

“Peço perdão, senhor,” ela gaguejou, acalmando-se imediatamente, a luz da razão


parecendo retornar a seu obscuro espírito, e um tênue rubor cobrindo sua bochecha,
“eu não o conhecia, e pensei...”

Ela parou para beijar a face da criança, e abraçou-o afetuosamente.

“Pensou que eu fosse sequestrar seu filho, eu suponho?”

Ela acariciou a cabeça dele, com uma risada meio constrangida, e respondeu, “Eu
não sabia que ele havia tentado escalar o muro. Tenho o prazer de me dirigir a Mr.
Markham, acredito?” ela acrescentou, quase abruptamente.

Curvei-me, mas arrisquei perguntar como ela me conhecia.

“Sua irmã fez uma visita há alguns dias com Mrs. Markham.”

¹ Raça de cão.
“A semelhança é muito grande então?” perguntei com alguma surpresa e não muito
lisonjeado com a ideia – como devia ter ficado.

“Há uma semelhança em relação aos olhos e feição, eu acho,” ela respondeu,
dubiamente analisando meu rosto, “e acredito tê-lo visto na igreja no domingo.”

Eu sorri. Algo nesse sorriso ou talvez nas lembranças que ele despertava foi
particularmente desagradável para ela, pois logo assumiu novamente aquele olhar
orgulhoso e indiferente, que havia incitado minha total aversão na igreja; um olhar
de repelente desdém, tão facilmente assumido, e inteiramente sem a menor distorção
de qualquer traço, que, enquanto estava em seu rosto, aparentava ser sua expressão
natural, e isso era o mais provocador para mim, pois eu não conseguia imaginá-la
diferente.

“Tenha um bom dia, Mr. Markham,” ela disse; e sem outra palavra ou olhar, ela
adentrou o jardim com seu filho, e eu voltei para casa, irritado e insatisfeito – mal
poderia contar a você a razão, então não tentarei.

Eu só fiquei para guardar minha arma e berrante, e dar algumas direções


indispensáveis a um dos rapazes da fazenda, e então fui ao vicariato para consolar
meu espírito e tranquilizar meu confuso espírito com a companhia e conversa de
Eliza Millward.

Eu a encontrei, como de costume, ocupada com um mimoso bordado (a moda das


lãs de Berlim ainda não haviam começado) enquanto sua irmã emendava uma pilha
de meias, com o gato em seu joelho.

“Mary, Mary! Largue isso!” Eliza dizia apressadamente assim que entrei no
cômodo.

“Eu não, de fato!” foi a impassível resposta; e minha presença preveniu uma maior
discussão.

“Que infortúnio, Mr. Markham!” observou a irmã mais nova, com um de seus
olhares céticos e desconfiados. “Papai acabou de sair para a paróquia, e
provavelmente não voltará em menos de uma hora!”

“Não tem importância... posso passar alguns minutos com suas filhas, se elas me
permitirem,” eu disse, levando uma cadeira para perto do fogo, e sentando nela, sem
esperar que me oferecessem.

¹ Raça de cão.
“Bom, se você for bondoso e divertido, não faremos objeção.”

“Peço que sua permissão seja incondicional, pois não vim para dar prazer, mas para
buscá-lo,” respondi.

No entanto, achei razoável fazer um pequeno esforço para tornar minha companhia
agradável; e, por menor que tenha sido o esforço que fiz, aparentou ser bem-
sucedido, pois Miss Eliza nunca esteve tão bem-humorada. Parecíamos estar, de
fato, mutuamente satisfeitos uns com os outros, e tentamos manter entre nós uma
alegre – porém não muito profunda – conversa. Não era muito melhor do que um
tête-à-tête, pois Miss Millward nunca abria a boca, exceto ocasionalmente, a fim de
corrigir alguma afirmação aleatória ou expressão exagerada de sua irmã, e uma vez
para pedir que ela pegasse a rolo de algodão que rolara para debaixo da mesa. Eu
mesmo fiz esta última, entretanto, por dever.

“Obrigada, Mr. Markham,” ela disse quando apresentei o objeto. “Eu mesma o
pegaria, mas não queria perturbar o gato.”

“Mary, querida, isto não é desculpa aos olhos de Mr. Markham,” disse Eliza. “Ele
odeia gatos, ouso dizer, tão cordialmente quanto odeia criadas – como todos os
outros cavalheiros. Não é verdade, Mr. Markham?”

“Eu acredito que seja natural para o nosso desafável sexo não gostar das criaturas,”
respondi, “pois vocês, damas, as enchem de agrados.”

“Saúde a elas, tão queridas!” ela exclamou, em uma repentina explosão de


entusiasmo, virando e inundando o gato de sua irmã com uma chuva de beijos.

“Não, Eliza!” disse Miss Millward, um tanto rudemente, enquanto a empurrava.

Contudo, era hora de ir embora: por mais que me apressasse, ainda assim estaria
atrasado para o chá; e minha mãe era a ordem e a pontualidade em pessoa.

Minha bela amiga evidentemente não queria despedir-se de mim. Eu acariciei


afetuosamente sua mão ao partir, e ela me recompensou com um de seus mais doces
sorrisos e um olhar encantador. Fui muito feliz para casa, com o coração cheio de
brandura, e transbordando de amores por Eliza.

¹ Raça de cão.

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