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Ola pessoal!
Nesta postagem irei apresentar um resumo das aulas da disciplina Patrimônio Histórico
Brasileiro do 5º Período do curso Licenciatura em História, Faculdade Estácio de Sá.
A palavra patrimônio vem do latim patrimonium, e quer dizer, em sua essência, “herança
paterna”. De modo geral, o termo remete a legado, e desta maneira, podemos entender
patrimônio, grosso modo, como bens – materiais, imateriais e ambientais – legados a uma
civilização e que fazem parte da formação de uma identidade nacional. Sociedades
antigas, como a grega e a romana, preservaram parte de sua memória, especialmente
através de documentos escritos e monumentos. Como exemplo de documentos, podemos
citar os poemas Ilíada e Odisseia, de Homero, que recuperam fatos históricos e
mitológicos da Grécia antiga e a Guerra do Peloponeso, de Tucídides, também sobre a
Grécia clássica. Entretanto, embora a noção de memória seja antiga e considerada
importante para o desenvolvimento de um povo, o mesmo não acontece com a noção de
patrimônio.
Temos também o patrimônio imaterial que é composto por elementos intangíveis, ou seja,
não são objetos. Pode ser desde uma técnica de produção artesanal (conhecimento) até
festas ou manifestações culturais que dizem respeito à memória de um grupo ou de uma
sociedade. No Brasil, temos as cavalhadas, a Festa do Divino e a capoeira. Na culinária,
temos as técnicas para fazer o acarajé (Bahia) por exemplo.
O objetivo principal da UNESCO, que existe desde a década de 1940, sempre foi a
preservação patrimonial. Entretanto, a ideia de patrimônio da humanidade surgiu depois
dos anos 40, e teve um fato concreto que motivou sua criação. Em 1959, o Egito tinha um
projeto de construir a represa de Assuã, no rio Nilo. Mas a represa poderia inundar uma
enorme parte do vale sagrado, que continha tesouros arqueológicos inestimáveis como,
por exemplo, um dos mais belos templos da antiguidade – Abu Simbel. A função da
preservação patrimonial não é impedir o desenvolvimento nacional. Este desenvolvimento
deve ser realizado considerando o dano que será causado aos patrimônios arquitetônicos
e naturais. O caso da represa Assuá é emblemático. O governo egípcio entendia a
importância histórica do vale, mas não poderia abrir mão da construção da represa. Com o
apoio de 50 países, o templo inteiro foi desmontado e reconstruído, pedra por pedra, em
um lugar mais alto, para que não fosse atingido pelas águas de Assuá. Essa iniciativa
arrecadou milhares de dólares, e demonstrou a importância da preservação patrimonial e
a consolidação da ideia de patrimônio da humanidade.
Quando os países latinos se tornaram estados nacionais, buscaram formar uma identidade
própria, mas o modelo adotado ainda era o Europeu. A França, sobretudo, era
considerada o berço da civilização ocidental moderna e muitos de seus princípios, tanto
filosóficos quanto arquitetônicos foram adotados nestes novos países. O príncipe holandês
Maurício de Nassau, que governou a região de Pernambuco, urbanizou as cidades Recife e
Olinda e fez diversas melhorias e obras públicas. Dentre elas está a construção de sua
residência e sede do governo, conhecido como palácio das Duas Torres. Os holandeses
foram expulsos em 1654, mas as obras que aqui fizeram, permaneceram.
Será mais útil fabricar-se quartéis novos, do que bulir no Palácio das Duas Torres, porque
tenho por certo que, por mais que se trabalhe em atalhar as despesas, em bulir a obra,
sempre ficará coberta de remendos. (Trecho da Carta do Conde das Galveias, D. André,
ao Governador de Pernambuco, 1742)
Um dos casos mais emblemáticos, ocorridos na República Velha, foi a ordem dada pelo
então Ministro da Fazenda, Ruy Barbosa, para que centenas de documentos referentes a
escravidão fossem queimados em praça pública. Após a abolição, os senhores de escravos
exigiram do Estado uma indenização por aquilo que julgavam a perda de suas
propriedades. A queima dos documentos impediu que estes senhores provassem a posse
destes escravos e, portanto, não pudessem ser indenizados. Embora importante para o
momento, a perda desta documentação inestimável provocou um enorme prejuízo para a
recuperação de uma história da escravidão.
A reforma de Pereira Passos, ainda que tenha trazido benefícios para a cidade, era
também uma medida de ordenação social, que expulsava do coração da cidade as classes
populares. No Brasil, a cultura popular não era reconhecida ou valorizada, sendo
entendida como algo feito por vadios e que, em casos como a capoeira, deveria ser
coibida pela lei. A reforma de Pereira Passos não foi a única a alterar a cidade. O Morro do
Castelo abrigou algumas das primeiras estruturas administrativas do século XVI, além da
primeira Igreja da Sé da cidade do Rio de Janeiro, que continha o marco da fundação da
cidade e os restos mortais de seu fundador, Estácio de Sá. Sua importância histórica não
impediu sua completa destruição, levando junto as habitações pobres da população que
nelas viviam. Somente com o fim da República Velha e o início da Era Vargas, entre 1930
e 1945, que o estado brasileiro começou a pensar uma legislação que contemplasse as
práticas de preservação patrimonial. O governo Vargas ocupou-se do estabelecimento de
uma nova identidade nacional, que pode ser vista nas obras deste governo, além do
fomento a determinadas manifestações culturais e na criação de órgãos responsável pela
imprensa e pela propaganda varguista. Em 1937, com o golpe do Estado Novo, os artigos
constitucionais permitem ao Estado interferir na propriedade privada, a fim de preservá-la
se for constatado seu interesse como patrimônio. Essas medidas permitiram ao recém -
criado SPHAN – Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -, que passaria a se
chamar IPHAN – Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dar início ao
processo de tombamento, como hoje conhecemos.
Em finais do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, era comum que diversos
países do mundo fizessem grandes eventos comemorativos, reunindo representantes das
mais diversas nações. Nesses eventos, os pavilhões que representavam os países não
eram feitos como vemos hoje, nas feiras e exposições, pequenas divisórias de madeira ou
material plástico. Eram erguidos grandes prédios. Ao fim da exposição, os prédios eram
geralmente, demolidos. A Torre Eiffel, hoje símbolo nacional da França, foi construída em
1889, para a Exposição Universal ocorrida em Paris. Os parisienses, por sua vez, acharam
aquele monumento, que servia como porta de entrada para a exposição uma
monstruosidade. Seguindo a linha dos eventos, a Exposição Universal de 1904 ocorreria
em Saint Louis, EUA. Para representar o pavilhão do Brasil, foi encomendado ao Coronel
Francisco Aguiar a construção de um prédio, com uma condição: o prédio, após o término
da exposição, deveria ser desmontado pedra por pedra e ser reconstruído no Brasil. Surgiu
assim o Palácio Saint Louis, que depois passou a ser chamado de Palácio Monroe, em
homenagem ao presidente norte-americano, James Monroe.
Resumo da Aula 04 – Conquista e Colonização da América Portuguesa
Uma das questões mais interessantes acerca do patrimônio é que ele resgata uma parte
de nossa história. São manifestações, construções e monumentos significativos para a
compreensão da identidade nacional. No caso do Brasil, uma das principais características
de nossa identidade é a diversificação cultural.
A Península Ibérica estava dividida em reinos como Portugal, Aragão, Castela, Navarra e
Granada. Destes reinos, apenas Granada estava sob domínio muçulmano, sendo todos os
demais, católicos. A Espanha se unifica em torno de um casamento entre duas coroas: os
reinos de Aragão e Castela. Desta união, os outros reinos também passaram a ser
unificados, menos Granada, pois foi necessário a expulsão dos muçulmanos em um
processo chamado de Guerra de Reconquista. Cabe lembrar que apesar da expulsão dos
mouros, há uma intensa contribuição da cultura árabe para a cultura portuguesa e
espanhola. Podemos citar as técnicas de azulejaria. Os azulejos são ricamente decorados e
adornavam prédios públicos e palácios, e que também foram amplamente utilizados na
arquitetura brasileira, desde o período colonial. Por outro lado, a Europa se concentrava
no lucrativo comércio de especiarias, trazidas do Oriente. O eixo da economia era o Mar
Mediterrâneo, mas boa parte das rotas comerciais orientais era dominada pelos
muçulmanos, e os produtos que entravam na Europa, precisavam passar primeiro nas
terras italianas, como Veneza, o que provocava um monopólio comercial com preços
exorbitantes. Mais tarde, o eixo comercial deixaria de ser o Mediterrâneo, e passaria a ser
o Atlântico, o que implicava em enormes mudanças tanto econômicas quanto sociais já
que a navegação por este oceano era algo novo.
Se na Idade Média, o sentido de riqueza era a posse de terras, na Idade Moderna este
parâmetro muda se concentrando na quantidade de metal precioso acumulado pelas
coroas. Podemos dizer que a colonização acontece como um desdobramento do processo
de expansão marítima, acompanhado da adoção das práticas mercantis e
do desenvolvimento comercial corrente em toda a Europa. A partir de 1504, as terras
brasileiras passaram a ser alvo de interesses estrangeiros, notadamente dos piratas
franceses, que estabeleceram relações amigáveis com os indígenas, e estavam em busca
do pau-brasil, assim como os portugueses. O contrabando intensificou-se e o descaso
português permitiu a invasão francesa e a fundação de colônias, como a França Antártica,
no Rio de Janeiro, e a França Equinocial, no Maranhão. Ainda que os franceses tenham
sido expulsos, sua presença no Brasil deixou um enorme legado. A França Antártica deu
lugar a cidade do Rio de Janeiro, e a França Equinocial deu lugar a capital do estado do
Maranhão, São Luiz.
Faz parte do senso comum entender as tribos brasileiras como ingênuas, o “bom
selvagem” do qual nos fala Jean Jacques Rousseau. Diante do domínio europeu, algumas
tribos indígenas ofereceram mais resistência, aliando-se, por exemplo, aos invasores
franceses. Outras se aliaram aos portugueses. Um dos exemplos de resistência foi a
Confederação dos Tamoios (1556-157). Os tupinambás, aliados a outras tribos como os
goitacazes e os aimorés, fizeram uma série de levantes, sobretudo contra a escravização
indígena. Um dos fatores do fracasso das capitanias hereditárias foi justamente a
resistência dos indígenas à invasão de suas terras. A colonização deve ser entendida em
um processo maior, que inclui as necessidades metropolitanas e a economia mercantilista.
O açúcar vinha do Oriente e chegava a Europa principalmente através do comércio
veneziano, e alcançava um alto preço no mercado. Procurando oferecer esta mercadoria a
preços mais competitivos, Portugal implantou nas ilhas, como na Ilha da Madeira,
engenhos açucareiros, o que permitiria que o produto chegasse ao comércio europeu a
um preço mais baixo que aquele praticado pelos comerciantes venezianos, o que
proporcionava grandes lucros. Mas, esta atividade, para gerar o lucro almejado pela
metrópole, deveria ser feita em grandes faixas de terra, que permitissem uma enorme
produção, voltada para o mercado externo. Estabelece-se a economia de plantation que é
baseado na monocultura, na mão de obra escrava e na economia agroexportadora, que
caracteriza a sociedade colonial.
A escravidão não era uma novidade, pois já era praticada nos reinos da África, em geral,
tendo escravos como prisioneiros das inúmeras guerras tribais. Sendo assim, entre os
séculos XVI e XIX, milhares de africanos, de diferentes etnias, foram trazidos para o Brasil
e mantidos sob o regime de escravidão em substituição ao trabalho indígena. De fato, o
comércio negreiro enriqueceu os traficantes. Os escravos eram comumente chamados de
“negros da Guiné”, em referência a esta região, mas, na prática, provinham das mais
diferentes áreas e etnias africanas. O jesuíta André João Antonill chama de boçal o
africano recém-chegado ao Brasil e que não dominava o idioma, o português. Os escravos
que sobreviviam às viagens eram vendidos nos mercados, próximos ao porto. No Brasil,
foram notórios os mercados de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, onde eram
comprados e encaminhados para os engenhos de açúcar. Na Bahia também podemos ver
inúmeras referências a este período histórico como, por exemplo, a construção de um
Pelourinho em praça pública para o castigo de escravos e criminosos.
Durante os séculos XVI, os africanos de origem iorubá praticavam o candomblé, uma
religião politeísta. Ao aportarem no Brasil, eram batizados e submetidos à conversão ao
catolicismo, sendo proibidos de praticar a sua própria religião. A fusão entre os elementos
católicos e iorubás deu origem um intenso sincretismo religioso, notório em diversas
igrejas. Esse sincretismo associaria os orixás aos santos católicos. Assim, a Iemanjá do
candomblé é associada a Nossa Senhora; Iansã, a Santa Bárbara; Ogum a São Jorge e
assim por diante. A devoção dos africanos a Nossa Senhora deu origem a Irmandade de
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que começou a construir uma igreja, no Pelourinho,
no século XVIII. Os membros da Irmandade doavam seu trabalho, que pode ser
observado não só no interior da igreja, mas também no cemitério de escravos que possui
ainda hoje, em seu terreno.
No início da ocupação portuguesa, Salvador, na Bahia, foi a primeira capital, posto que
ocupou até 1763. Com a descoberta do ouro mineiro, o porto do Rio de Janeiro era a
melhor escolha para o escoamento do minério. Logo, a cidade tornou-se uma das mais
populosas da colônia e, em 1763, o Marquês de Pombal, então ministro do reino,
transferiu a capital da Bahia para o Rio de Janeiro. O poder político carioca tornou-se
ainda mais evidente a partir de 1808, com a vinda da família real portuguesa para o Brasil,
evento que pode ser considerado um dos pontos de partida para a independência, que
aconteceria em 1822. A vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil foi um
acontecimento inédito na história mundial, já que nunca antes uma corte completa tinha
deixado o seu reino para se alojar numa colônia, especialmente em terras tão distantes
quanto o Brasil. As transformações sociais, políticas e econômicas que a vinda da família
real provocou no Brasil foram avassaladoras. Em primeiro lugar, tinha o fim do pacto
colonial. Desde o início da colonização, o Brasil só poderia comercializar apenas com
Portugal. Com a metrópole invadida pelos franceses e o centro do governo sendo
transferido para o Rio de Janeiro, o pacto perdeu sentido. Dom João também revogou o
alvará de 1785, que havia sido implementado por sua mãe proibindo a instalação de
manufaturas no Brasil. Podemos dizer que a partir de 1808, a colônia assume ares de
metrópole, não só se tornando o centro das decisões político administrativas do Império,
mas também do ponto de vista da sociedade.
Desde o início da colonização, vigorava a proibição aos impressos, que foi extinta por Dom
João, com a criação da Imprensa Régia. Então, ainda em 1808, entra em circulação o
jornal Correio Braziliense, publicado em Londres e, mais tarde, a Gazeta do Rio de Janeiro,
sendo estes os primeiros jornais do país. Para fins de defesa, foi criada a Fábrica de
Pólvora, em terras que foram incorporadas à Coroa. E também foi instalado um jardim,
chamado originalmente de Jardim de Aclimação. Mais tarde, o jardim de Dom João passou
a se chamar Real Horto e depois, Jardim Botânico. Por sua história e importância, foi
tombado pelo Patrimônio Histórico em 1937 e nele ainda se encontram as ruínas da
primeira fábrica de pólvora do Período Joanino.
Durante a permanência da corte no Rio de Janeiro, entre 1808 e 1821, também houve
uma intensa urbanização: Surgiram teatros; foi criado o Banco do Brasil; o acervo que
daria origem à Biblioteca Nacional foi trazido de Portugal; diversos artistas vieram à
colônia na chamada Missão Artística Francesa; foi criada a Escola Real de Artes e Ofícios
que daria origem a Escola de Belas Artes, dentre diversas outras medidas. A elevação do
Brasil a Reino Unido consolidou politicamente a autonomia que havia sido iniciada com a
vinda da família real em 1808. Ao retornar, Dom João teve que reordenar a política
portuguesa, e as cortes demandavam o retorno imediato de Dom Pedro, pois desejavam
que o Brasil fosse recolonizado e retornasse ao papel de colônia para reforçar a economia
de Portugal, que então se reafirmaria como metrópole. Mas os interesses da corte feriam
o desejo da elite política e econômica brasileira, que ganhara autonomia no Período
Joanino, e não estava disposta a abrir mão destas conquistas. Sem espaço para uma
negociação viável, restou a Dom Pedro declarar a independência no dia 7 de Setembro de
1822.
A política do início do Segundo Reinado e suas medidas centralizadoras acaba por denotar
um viés antiliberal, em um momento em que o liberalismo se afirma, mundialmente, como
uma tendência política. Em São Paulo e Minas Gerais eclodem movimentos contra esse
estado antiliberal que são reprimidos com violência pelo Estado Imperial. Em 1848,
quando a Europa passava pela Primeira dos Povos, tem lugar, em Pernambuco, a
Revolução da Praieira que era influenciada pelos ideais liberais que dominavam a Europa.
A revolução que durou 2 anos, acabou sendo derrotada, sobretudo, por falta de recursos.
Do ponto de vista econômico, o Brasil manteve a conhecida economia de plantation,
estrutura que havia sido montada desde o período colonial, baseado no latifúndio,
monocultor, agro exportador e escravocrata. O imperador Dom Pedro II era instruído, fã
das inovações e das tecnologias, viajou por inúmeros países e boa parte do acervo do
Museu Nacional da Quinta da Boa Vista é oriundo de suas viagens, como a imensa coleção
de objetos egípcios. Dom Pedro II foi em uma feira nos EUA em 1877 e, nessa feira, foi
apresentada uma novidade, o telefone. Dom Pedro II acabou entrando na história como a
primeira pessoa a utilizar o aparelho.
Dom Pedro II reinou com relativa estabilidade, o que proporcionou o primeiro surto
industrial brasileiro, a chamada Era Mauá. A posição da Inglaterra com relação ao Brasil e
as constantes interferências inglesas na política nacional colocavam em xeque a soberania
do país e do imperador. Em 1861, tem início a questão Christie, um incidente diplomático
que abalou as relações Brasil/Inglaterra. A questão Christie é o momento em que o
imperador afirma de fato seu poder e assegura a soberania nacional, pois rompe
politicamente não só com um dos mais poderosos países do mundo de então, mas com o
seu principal parceiro econômico. Pouco antes da retomada das relações Brasil/Inglaterra,
em 1864, ocorre a Guerra do Paraguai que envolveria a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina
e Uruguai) contra o Paraguai.
A região do rio da Prata sempre foi conflituosa, palco das chamadas questões platinas.
Das ex-colônias platinas, o Paraguai era a que possuía a maior fragilidade geográfica.
Sendo assim, o Paraguai buscou a autossuficiência e a diminuição da dependência
externa, a fim de minimizar sua fragilidade econômica, herdada do período colonial. O
exército paraguaio não teve grande dificuldade em conquistar parte do território brasileiro
cujas fronteiras estavam claramente desprotegidas. O próximo alvo foi a província de
Corrientes da Argentina, como parte do plano de expansão de Lopez. Então, em maio de
1865, Argentina, Brasil e Uruguai se uniram para acabar com o Paraguai de Solano Lopez.
A vitória da Tríplice Aliança fortaleceu os militares que por sua vez, exigiriam uma
participação política maior, além do reconhecimento do império. Em 1870, marca o início
da derrocada do regime imperial, que foi fruto da soma de fatores, dos quais podemos
destacar as questões militar, religiosa e escravista.
Além da questão militar, temos também a questão religiosa. Em finais do século XIX, o
Vaticano preocupava-se com a expansão da Maçonaria, e decretara que os padres
proibissem que os maçons tomassem parte nos cultos católicos. Dom Pedro II tinha claras
simpatias pela maçonaria e puniu com prisão dois bispos que seguiram as ordens de
Roma: o bispo de Olinda, Frei Vital Maria; e o de Belém, Dom Antônio de Macedo Costa. A
prisão dos religiosos provocou um grande impacto negativo na imagem do imperador, já
que a maior parte da população brasileira era católica. A escravidão também se colocava
cada vez mais como um problema. Os EUA haviam abolido a escravidão após a Guerra de
Secessão e o Brasil, junto com Cuba, era um dos poucos países que insistia na
manutenção do sistema escravista. Para minimizar o impacto da abolição, foram
promulgadas as chamadas leis abolicionistas, que tinham como objetivo a abolição
progressiva: Lei do Ventre Livre (1871), Lei dos Sexagenários (1885), Lei Áurea (1888).
Politicamente, foi estabelecida uma nova constituição, em vigor a partir de 1891. Seu
modelo inspirador era a constituição dos EUA, que vigorava naquele país desde o século
XVIII. O poder moderador, que havia sido motivo de controvérsia na Constituição de
1824, foi extinto e em seu lugar restabelecida a estrutura dos três poderes: legislativo,
executivo e judiciário. O sistema federalista que aumentaria a autonomia dos estados,
acabou abrindo espaço para que o poder, de fato, ficasse concentrado na região Sudeste
– Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais detinham o maior poder econômico e colégios
eleitorais. O café era o grande motor da economia e, portanto, os interesses dos
cafeicultores eram claramente favorecidos, em qualquer âmbito. Se o Vale do Paraíba
havia se constituído como o principal polo de produção cafeeira, foi, progressivamente,
perdendo o posto para o Oeste Paulista.
Em 1891, mesmo ano da constituição, foi aberta a Avenida Paulista, cujo objetivo era
abrigar residências e desafogar as ruas mais ao centro financeiro. A Avenida Paulista logo
se tornou o lugar dos grandes palacetes, pertencentes a cafeicultores e a grandes
empreendedores, que construíam sua casa com enorme luxo e ostentação. A maior parte
dos antigos casarões, na Avenida Paulista, que já abrigou nomes como o Conde
Matarazzo, foi demolida na década de 80 do século XX. Poucos exemplares restaram, mas
os processos de tombamento são dificultados por disputas entre os herdeiros e o estado.
Diversos prédios históricos se perderam como, por exemplo, o Palacete Santa Helena. O
edifício abrigava parte da vida cultural paulistana, contando com cinema e teatro. Foi
demolida na década de 1970, para dar lugar à estação de metrô. Mas o edifício Martinelli
teve sorte e resistiu à especulação imobiliária. Construído em 1929, foi um dos arranha-
céus do país e acabou por se tornar um símbolo do progresso paulista, sendo hoje um
bem tombado pelo patrimônio histórico. Em 1922, tem início a Semana da Arte Moderna,
traduzindo o espírito de uma cidade que convivia entre a modernização urbana e o antigo
poder oligárquico e rural. Os modernistas, como Mario de Andrade, Tarsilia do Amaral,
Anita Malfatti e Oswald Andrade preconizavam uma arte moderna brasileira, buscando
inspiração nos mais diversos tipos, urbanos e rurais, que ocupariam espaço privilegiado
em sua literatura e em sua arte.
No Rio de Janeiro, uma das das principais obras foi a abertura da Avenida Central, atual
Avenida Rio Branco. As ruelas e becos, tão característicos daquela região desapareceram
para dar lugar as grandes avenidas das quais a Central é um dos melhores exemplares.
Embora tenha de fato modernizado o centro da cidade, nem todos os aspectos da reforma
foram positivas. A expulsão da população pobre estimulou a formação das favelas, como a
do Morro da Favela, atual Morro da Providência, na zona portuária.
Nas eleições de 1930, esperava-se que o Washington Luis indicasse um mineiro, mas
acaba indicando um outro paulista, o Júlio Prestes, para concorrer as eleições. Tal atitude
rompe o elo dos partidos que constituía a base da república: o PRM (Partido Republicano
Mineiro) e o PRP (Partido Republicano Paulista). Então, os mineiros se aliaram com os
gaúchos e lançou um político do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas, que teria um
paraibano, João Pessoa, como vice-presidente. Tal aliança foi chamada de Aliança Liberal.
Mas as eleições de 1930 deram vitória a Julio Prestes. Por outro lado, São Paulo era o
maior colégio eleitoral do país e, por isso, Júlio Prestes teve a maior vantagem.
As grandes reformas não impediram que, em 1937, ocorresse um novo golpe, dando início
ao Novo Estado, um período ditatorial que se estenderia até o fim da Era Vargas em 1945.
Sob a justificativa de impedir o avanço dos comunistas, começa um período de repressão
e censura, com a criação de órgãos como o DIP (Departamento de Imprensa e
Propaganda) e a Polícia Secreta, chefiada por Filinto Muller e responsável pela deportação
de Olga Benário. Olga era judia e companheira do líder comunista Luis Carlos Prestes. Ela
foi deportada para a Alemanha nazista e morreu em um campo de concentração em 1942.
A eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, deu um novo salto econômico para o
Brasil aumentando seus índices de importação e exportação. No plano interno, também
existiam pressões das elites e da população para a abertura política, o que acabou por
fazer com que Vargas fosse obrigado a abandonar o poder em outubro de 1945. Mas
Vargas voltaria ao poder através das eleições de 1951. Apesar de inúmeras controversas,
as mudanças operadas em sua gestão foram fundamentais para o desenvolvimento do
país e para o processo de industrialização, tardio e necessário.
Resumo da Aula 10 – O Nacional Desenvolvimentismo
As políticas iniciadas por Vargas teriam continuidade mesmo após sua saída do governo,
em 1945, com a inauguração de um novo momento na história da República: o nacional-
desenvolvimentismo, que se estende de 1945 até 1964, quando ocorre o golpe que
inaugura a ditadura militar brasileira. O desenvolvimentismo, segundo Vera Cepêda, é um
projeto de transformação social profunda, operada politicamente de maneira racional e
orientada pelo Estado, vinculando economia e avanço social.