O conceito de topos (Ducrot) é amplamente utilizado nos estudos do discurso. Este desenvolvimento se deu em razão de ter sido oportunizado pela visão pragmática da língua voltada para a compreensão das diversas situações de uso. ETIMOLOGIA Do grego topos ao latim locus communis até o português lugar-comum; CONCEITO GENÉRICO Crenças de uma determinada cultura, princípios gerais nos quais se baseiam os raciocínios que levam a determinadas conclusões. Provérbios: modos de pensar aceitos por determinada cultura, permitindo que as pessoas os aceitem como verdades e os utilizem como argumentos em seus discursos. “A pressa é a inimiga da perfeição”. RELACIONAR COM A APRESENTAÇÃO OS TOPOI NA ADL Na teoria da argumentação na língua (ADL), topoi significam termos de princípios gerais comuns aceitos pela coletividade; Para Ducrot, o topos permite o acesso a uma conclusão que pode ser explícita (quando o topos estabelece e torna clara a passagem do argumento para a conclusão) ou implícita (quando deixamos para nossos interlocutores construírem a conclusão e o topos traz o raciocínio que dá acesso a ela). Predicados: É por esse motivo que Ducrot postula que um predicado, mais do que fazer referência a uma propriedade do nome ao qual se liga, contém uma alusão a um topos que autoriza algumas conclusões numa determinada comunidade. Conceito: Desse ponto de vista, o topos constitui um instrumento linguístico que liga as palavras, organiza os discursos possíveis e define os discursos aceitáveis como coerentes para determinada comunidade. “Escorpião 23-10 a 21-11 – Todo empreendimento precisa de muito mais tempo de planejamento do que de execução, pois se o planejamento for meticuloso os resultados serão colhidos mais rapidamente e de outra forma mais segura. Planeje, só isso”. TOPOS: “planejar é importante para a obtenção do sucesso”. Ducrot defende que o topos constitui um princípio interno à própria língua, mas admitem que esse princípio está relacionado a um ponto de vista assumido por um enunciador. [...] Aliás, esta é a preocupação da teoria dos topoi: determinar o ponto de vista argumentativo do locutor, que lhe permite justificar determinada conclusão. As fábulas constituem um exemplo disso."; O PRINCÍPIO DA GRADAÇÃO Os topoi são graduais e estabelecem entre os predicados que associam relações também graduais. A gradação constitui um dos princípios fundamentais da teoria. A partir da ideia de graduação dos topoi e apoiado no estudo da palavra até, Ducrot propôs dois conceitos intimamente ligados: o de classe argumentativa (conjunto de enunciados que conduzem a uma mesma conclusão) e o de escala argumentativa (gradação de força marcada pelo locutor). Ducrot coloca a decisão nas mãos do locutor, ou seja, a determinação de uma classe é uma ação que emana da intenção discursiva do sujeito na elaboração do discurso. Ele observa que o locutor se define não apenas por sua identidade pessoal, mas também pela situação tanto ideológica quanto social ou espaçotemporal na qual ele se insere no momento de sua enunciação, o que nos aponta uma preocupação com o discurso, embora não seja esse o foco de interesse desse teórico da linguagem; Os enunciados de uma classe argumentativa podem constituir uma escala argumentativa caso o locutor marque a existência de uma gradação de força entre os argumentos por considerar que um argumento é mais forte que outro ou outros em relação a uma determinada conclusão. [...] ao construirmos uma escala argumentativa, estamos explicando para o interlocutor um ponto de vista relativo à força dos argumentos que lhe apresentamos para sustentar uma conclusão pretendida. A escolha de uma classe argumentativa e a explicitação de uma escala argumentativa constituem decisões do locutor. ."Os conceitos de classes e escalas argumentativas nos permitem encarar a argumentação como um fenômeno gradual. É preciso lembrar, no entanto, que o caráter gradual é explicitado na língua por elementos específicos, os operadores argumentativos, cuja função é sinalizar as intenções do locutor explicitando quais argumentos ele considera mais fortes ou mais fracos com respeito a determinada conclusão, de acordo com suas intenções frente ao interlocutor".
4. O CONCEITO DE POLIFONIA LINGUÍSTICA
A polifonia linguística está ligada à presença do interlocutor, do outro. Conforme Ducrot, há um princípio geral que ultrapassa o quadro linguístico escrito, mas parece comandar o discurso e distingui-lo do raciocínio lógico: o pensamento do outro é constitutivo do meu e é impossível separá-los radicalmente. Existirá sempre a necessidade de certo grau de adesão à opinião alheia, seja ele de aproximação ou de afastamento. A abordagem teórica de Ducrot sobre polifonia é diversa da de outros teóricos. Para Ducrot, polifonia linguística "[...] diz respeito ao fato de que o locutor põe em cena no enunciado certo número de figuras discursivas, ou seja, enunciadores, com estatutos linguísticos e funções diferentes" (p. 204). Para compreender este conceito do ponto de vista teórico de Ducrot, faz-se necessário compreender a distinção que faz o autor sobre: Sujeito Empírico: autor, produtor do enunciado, pessoa que produziu o texto do enunciado. Ex: propaganda institucional, presidente, não é uma questão linguística, portanto a figura do sujeito empírico não interessa à análise linguística do sentido. Locutor: responsável pela enunciação e pelo enunciado; se inscreve no enunciado pelas marcas de primeira pessoa ("eu"); não se confunde com o sujeito empírico; trata-se de uma entidade linguística; faculta que objetos e animais tomem a palavra. Ex: o presidente na propaganda institucional. Enunciador: corresponde a pontos de vista relativos aos conteúdos expressos no enunciado; não são pessoas, mas pontos de perspectiva abstratos. Segundo Ducrot, o locutor, ao produzir um enunciado, compreendido como segmento de discurso, põe em cena um ou vários enunciadores que realizam atos ilocutórios, aos quais o locutor pode ou não dar o seu assentimento. Segundo Anscombre e Ducrot, o locutor pode assumir pelo menos duas atitudes diante dos enunciadores que põe em cena: ele pode identificar-se com algum deles ou manter distância em relação a eles, assimilando-os a pessoas distintas de si, pessoas que podem ser ou não determinadas" Segundo Ducrot, o enunciado negativo pode trazer a existência de dois enunciadores. A negação polêmica, como a caracteriza Ducrot, põe em cena dois enunciadores antagônicos, um que diz sim e outro que diz não. Os fenômenos representados por conceitos teóricos não acontecem de forma isolada; ao contrário, eles se imbricam na realização de nossas práticas discursivas. A separação que fazemos deles usualmente tem caráter metodológico ou didático.