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Coleta de Dados:

como o conselheiro contribui para o processo

Pa u l D . Tr i p p 1

Em nosso artigo anterior, tratamos do enganoso facilmente me faz cego aos meus
problema da cegueira espiritual e seu poder pecados, preciso de outros crentes que me
para enganar. Vimos que as pessoas que estão amem o suficiente para mostrar minha vida
cegas espiritualmente não reconhecem seu sob a perspectiva de Deus. E eles precisam
estado de cegueira. Portanto, nós conselhei- que eu faça o mesmo com relação a eles. A
ros, devemos estar familiarizados com as natureza humana requer que cada um dos
várias máscaras que a cegueira espiritual usa. nossos relacionamentos tenha em vista o
A cegueira espiritual é sempre um elemento propósito de santificação.
presente no processo de aconselhamento e, Hebreus 3.12,13 resume a questão des-
como conselheiros bíblicos, precisamos estar ta maneira: “Tende cuidado irmãos, jamais
preparados para lidar com ela. aconteça haver em qualquer de vós perverso
Mas é importante lembrar que este não coração de incredulidade que vos afaste do
é um problema que diz respeito somente aos Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mu-
aconselhados. Quando prestamos atenção à tuamente cada dia, durante o tempo que se
admoestação bíblica de que todos nós somos chama Hoje, a fim de que nenhum de vós
por natureza pecadores e espiritualmente seja endurecido pelo engano do pecado”.
cegos, percebemos o quanto nós, como Note que, de acordo com esta pas-
conselheiros, precisamos da mutualidade sagem, o que me move a este ministério
do ministério de uns aos outros que o Novo interpessoal diário não é uma situação, ou
Testamento destaca como parte essencial seja, um pecado ou problema que exija
da vida da igreja. Visto que o meu coração mudança e que eu observei em você. Antes,
o que determina meu envolvimento é uma
condição - o pecado que habita no homem e
1
Tradução e adaptação de Data Gathering. Part 2: What
seu poder para cegar e endurecer o coração.
the Counselor Brings to the Process. Publicado em The
Journal of Biblical Counseling. v. 14, n.3, Spring 1996, Enquanto o pecado perdurar, a cegueira es-
p. 8-14. piritual existirá e continuará a exigir de nós

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relacionamentos que promovam ministério neste ponto que a objetividade bíblica do
mútuo, honesto e em amor. conselheiro é essencial.
A questão é especialmente importante Quando o conselheiro entra no mundo
para aqueles cujo ministério é o aconselha- de um aconselhado, sua visão não está cega-
mento bíblico. Os aconselhados contam da pelos interesses egoístas que dominam o
conosco para penetrar seu mundo com uma aconselhado, desde que ele tenha se subme-
perspectiva divina que os ajude a vencer a tido ao ministério discipulador da Palavra
própria cegueira espiritual. Jamais estaremos e dos irmãos em Cristo. Ele está apto para
aptos para lhes oferecer o que esperam, a não “restaurar” seu aconselhado porque não foi
ser que tenhamos submetido nossa própria “pego” na mesma armadilha espiritual (Gl
vida à luz reveladora das Escrituras, guiados 6.1). Ele pode falar com objetividade bíbli-
por irmãos e irmãs em Cristo que possam ca. Em contraste, um aconselhado que está
nos ajudar a conhecer corretamente nosso espiritualmente cego perdeu a perspectiva
coração. Os conselheiros comprometidos objetiva, se é que algum dia ele a teve. Ele
com o processo de vencer a própria cegueira está preso a uma perspectiva não bíblica e
espiritual desenvolvem várias qualidades esse ponto de partida afeta a maneira como
essenciais para ajudar seus aconselhados. vivencia tudo quanto lhe acontece.
Para a maioria dos aconselhados, o
Você pode contribuir com ponto de partida é a própria experiência. Eles
­objetividade tendem a ver cada aspecto da vida por meio
Muitos aconselhados estão cegados por das lentes da sua história pessoal, pressupo-
sua subjetividade - sua cosmovisão é molda- sições e desejos. A interpretação que fizeram
da por aquilo que desejam. Não conseguem da própria vida até esta altura determinará
perceber quando as suas exigências têm uma também todas as interpretações futuras, além
raiz egoísta. Estão desatentos a seu tom de de dar a cor até mesmo à maneira de enten-
voz, à expressão facial e a como sua versão der a Bíblia! A pessoa que interpreta a vida
do que acontece é sutilmente formatada pelas lentes de sua experiência pessoal faz o
pelo que desejam. Não percebem quando mesmo com a Palavra de Deus. A experiência
criticam outros por coisas que desculpam em pessoal é o que controla sua cosmovisão, e
sua própria vida nem quando se recusam a não as Escrituras.
perdoar pecados de outros e são defensivos ao Essa pessoa precisa de alguém que esteja
serem confrontados. Se estiverem absorvidos em posição diferente, alguém que comece
em uma mentalidade de vítima, não perce- com as Escrituras para depois se mover em
berão seu egoísmo. Também não perceberão direção à vida. A Bíblia precisa se tornar
quando seus atos forem manipuladores, a base para a interpretação da vida, e não
expondo diante de outros (mas deixando vice-versa. Como conselheiro bíblico, você
de reconhecer) a falta de fé que alimenta seu quer trazer essa perspectiva bíblica para o seu
estilo de vida. aconselhado, pois você sabe que a vida muda
Como conselheiro, não endureça seu quando a verdade de Deus se torna a lente pela
coração para com essas pessoas. Se não fosse qual tudo é examinado. No aconselhamento
a graça de Deus, você estaria no lugar delas! de casais, por exemplo, o conselheiro pode
Seus aconselhados necessitam de ajuda para quebrar o perene “Ele disse / Ela disse” com
enxergarem a si mesmos com clareza. É “O que Deus disse?”.

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Rafael e Sandra estavam casados há vida cristã demonstrava que eles tinham uma
quinze anos. Haviam chegado a um ponto visão limitada daquilo que Deus tencionava
de seu relacionamento em que lhes era quase alcançar por meio de tudo quanto Ele permi-
impossível discutir alguma coisa sem que tia na vida do casal. Deus estava procurando
a conversa não se tornasse uma guerra de conformá-los à imagem de Cristo.
acusações. Sandra estava convencida de que Finalmente, quanto aos seus desejos,
o melhor de seus anos fora roubado pelo fato eles precisavam perguntar: “O que Deus
de Rafael deixar de tratar certas questões e quer que busquemos de todo coração?”.
estar disposto a fazer concessões ao mundo. Rafael ansiava por “apenas um pouco de
Rafael via Sandra como severa, pronta a respeito”. Esta era sua exigência silenciosa
julgar e tomada de justiça própria. Em suas a cada interação com Sandra. Por sua vez,
conversas, lançavam um contra o outro as Sandra ansiava por “ter um marido que
granadas de amargura que haviam estocado quisesse servir ao Senhor o mesmo tanto
em seus corações ao longo dos anos. Estavam que ela”. Perguntas baseadas em Tiago 4.1-
presos a visões opostas da vida conjugal e 10, Filipenses 3.1-16, e Colossenses 3.1-17
incapazes de resolver seus problemas. Sandra revelaram o jogo “ele quer / ela quer” ca-
e Rafael precisavam da intervenção radical de racterístico do seu relacionamento. Esta era
uma perspectiva bíblica em três níveis. a fonte da sua incapacidade de resolver os
Quanto ao comportamento, precisa- problemas conjugais.
vam perguntar: “O que Deus diz a respeito Sandra e Rafael precisavam da ajuda de
de como falamos um ao outro?”. Seu estilo alguém que partisse do ponto de vista estra-
de comunicação não promovia amor, en- tégico das Escrituras para interpretar o que
tendimento, esperança e soluções. Pelo con- estava acontecendo no seu relacionamento.
trário, era um dos seus maiores problemas. Precisavam de alguém para dar exemplos de
Há princípios claros de comunicação em como fazer as perguntas corretas (ou seja, bí-
Efésios 4.25-5.2 que, se obedecidos, podem blicas), que levariam às soluções que podem
trazer não só uma perspectiva nova para esse ser encontradas somente quando alguém
problema, mas uma mudança permanente examina seu comportamento, os pensamen-
também. tos e os desejos à luz das Escrituras.
Quanto aos seus pensamentos, Sandra Quando procedo à coleta de dados,
e Rafael precisavam fazer a seguinte pergun- tento estruturar as perguntas de uma manei-
ta: “O que Deus disse ser o Seu alvo para nós ra completamente nova para o aconselhado,
como Seus filhos?”. O Novo Testamento, em pois mesmo as perguntas mais profundas
passagens como Romanos 8.28.29, Gálatas feitas pelo aconselhado ainda estão sob o
5.16-26, Colossenses 3.1-14 e 2 Pedro 1.3-9, impacto de sua cegueira. Há certas perguntas
ensina que o alvo de Deus para Sandra e que ele nunca formularia, mas que devem
Rafael é maior que o desejo de Sandra de ser feitas. Há certas perguntas que ele fará a
ver um ministério pessoal sendo realizado respeito de outras pessoas, mas que precisa
e o desejo de Rafael de ter uma esposa res- fazer a respeito de si mesmo. Quando faço
peitosa. O alvo de Deus é torná-los cada vez perguntas, quero lidar com o mesmo con-
mais participantes da Sua natureza divina. junto de fatos com que meus aconselhados
Rafael e Sandra estavam cegos ao fato de que lidam, mas de modo que eles aprendam a
a maneira como brigavam pelas questões da pensar biblicamente sobre sua vida.

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Você pode contribuir com mento. Ele traz confiança na Palavra de Deus
­sabedoria (e submissão a ela), que revela e penetra a
Na Carta aos Romanos, Paulo fala cegueira do aconselhado. A sabedoria bíblica
sobre o coração insensato e obscurecido dos que ele oferece é pura, pacífica, indulgente,
pecadores. O insensato é alguém espiritual- tratável, plena de misericórdia e de bons
mente cego. Ele pensa que vê, que é sábio, frutos, imparcial, sem fingimento (Tg 3.17).
que entende, quando na realidade é cego, Resumindo, pela graça de Deus, ele é exata-
tolo e confuso. A descrição do insensato em mente o oposto do insensato.
Provérbios retrata alguém que: Muitos daqueles a quem aconselhamos
ŠŠestá convencido de estar no caminho revelam sua insensatez por meio de um senso
certo (12.15); de valores distorcido. Não possuem um sis-
tema bíblico de valores que possa ajudá-los,
ŠŠrevela rapidamente sua ira (12.16);
na prática, a saber o que é de fato importante
ŠŠé temperamental e imprudente e o que não é. Somente as Escrituras podem
(14.16); ajudar o aconselhado a entender como os
diferentes aspectos da sua vida relacionam-se
ŠŠdespreza a disciplina e a correção
uns com os outros.
(15.5);
O conselheiro pode fazer perguntas
ŠŠdesperdiça dinheiro (17.16); que levem o aconselhado a olhar a vida de
uma perspectiva que não está limitada pela
ŠŠdeleita-se em dar a própria opinião
sua subjetividade habitual. Ele pode per-
(18.2);
guntar o que realmente é importante e qual
ŠŠé rápido para entrar em contendas a verdadeira relação entre os vários aspectos
(20.3); da sua vida, do ponto de vista de Deus. Tais
perguntas podem desafiar a antiga visão de
ŠŠzomba da sabedoria (23.9)
vida, familiar ao aconselhado, encorajando-o
ŠŠé sábio aos próprios olhos (26.5) a se submeter à visão de Deus.
Vamos olhar de novo para Rafael e San-
ŠŠconfia em si mesmo (28.26)
dra. Rafael está convencido de que Sandra é
ŠŠenfurece-se e zomba, não há paz ao seu seu problema, e todas as perguntas que ele
redor (29.9); faz provêm dessa interpretação. Sandra está
convencida de que Rafael é o seu problema,
ŠŠdá total vazão à sua ira (29.11).
e todo seu diagnóstico foi feito a partir dessa
O insensato precisa da intervenção da perspectiva. Ambos compartilham a crença
Palavra de Deus porque suas escolhas, res- de que o problema é serem muito diferentes
postas, perspectivas, ações e atitudes mani- um do outro na abordagem da vida e em seus
festam a todos que ele é cego. Ele precisa das alvos. Entretanto, os princípios de Provér-
lentes da sabedoria bíblica para ajudá-lo a ver bios mostram que a ira e a falta de união e de
e entender a vida à semelhança de Deus. esperança que Rafael e Sandra experimentam
O conselheiro bíblico pode oferecer não são resultado de serem diferentes, mas
a perspectiva sábia de Deus por meio das resultado da maneira insensata com que
Escrituras. Ele traz mais do que apenas lidaram com suas diferenças. As Escrituras
opiniões e pesquisas, experiência ou treina- ainda nos dizem que essas reações fluem dos

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desejos do coração que eles trazem consigo antigo sistema de valores e da paralisia, da
sempre que se encontram. Mesmice e con- confusão ou do entusiasmo mal direcionado
cordância não são os ingredientes essenciais que este sistema de vida geralmente produz.
de unidade, mas sim o amor (a Deus acima Desta forma, quando Rafael aprender a ver as
de tudo, e ao próximo como a mim mesmo) situações biblicamente, poderá identificar as
que nos faz humildes, mansos, pacientes e novas opções para mudança e não ficar mais
capazes de suportar a diferença e as provo- preso à própria subjetividade. Ele não mais
cações (Ef 4.1,2). crerá que está atolado em um casamento
Se Rafael, por exemplo, começasse a derrotado e sem saída, mas começará a ver os
fazer sua própria coleta de dados, fazendo pensamentos e desejos do coração que estão
perguntas a respeito de si mesmo com base na raiz dos seus problemas. Mais adiante,
na descrição do insensato em Provérbios verá como esses desejos moldavam cada
(listada acima), ele desenvolveria um novo reação que tinha para com Sandra, em qual-
esquema para resolver seus problemas con- quer situação. Também não se julgará mais
jugais. preso em uma armadilha ou sempre o dono
Aqui estão alguns exemplos de per- da verdade. Pelo contrário, poderá ver com
guntas que Rafael poderia fazer a si mesmo. clareza o que deve abandonar e o que deve
Em quê ele se firmava para ficar tão conven- colocar em seu coração e comportamento
cido de estar certo, a ponto de não ouvir a para transformar o casamento.
perspectiva de Sandra nem reexaminar seus
próprios pontos de vista? Qual era seu modo Você pode contribuir com a
típico de reagir quando seus pensamentos claridade do evangelho
e decisões eram desafiados por Sandra (Pv As pessoas são intérpretes por natureza,
12.15)? Em quais situações ele tendia a se sempre procurando compreender o sentido
irritar e a se aborrecer rapidamente, respon- da vida. Não é difícil os aconselhados se sen-
dendo impulsivamente com raiva? Qual o tirem muito confusos quando são incapazes
impacto que esta demonstração de ira tinha de entender o que está acontecendo, por que
sobre Sandra e seu desejo de continuar a está acontecendo e o que fazer.
manter um diálogo aberto e sincero (Pv 12.6, Há também muitos aconselhados con-
14.6, 15.1)? O que ele queria de Sandra que fusos que não sabem que estão confusos! Eles
não estava recebendo e o deixava tão bravo? pensam que suas próprias interpretações são
Quais eram os “tesouros” pelos quais ansiava ricas de insight e que suas ações são lógicas.
e que pensava que Sandra estivesse rouban- O problema é que eles não vêem a si mesmos
do dele (Mt 6.19; Tg 4.1)? Estas perguntas nem a sua situação com clareza.
levariam Rafael a encarar a si mesmo diante Uma das áreas mais significativas de
de Deus, a reconhecer sua necessidade da cegueira espiritual que observo no aconse-
misericórdia de Jesus, e a buscar essa miseri- lhamento é a cegueira à realidade do evan-
córdia. Ele começaria a identificar as muitas gelho na vida de um aconselhado. A pessoa
coisas diferentes que poderia fazer para ver está confusa e paralisada porque deixou
uma mudança concreta acontecer. fatos significativos fora do seu sistema de
A pessoa que desenvolve uma pers- interpretação.
pectiva bíblica, ampla e constante da vida, Há três perspectivas essenciais que o
pode escapar da falta de esperança do seu evangelho nos dá sobre as lutas humanas.

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Sem o entendimento prático proporcionado todas as coisas (mesmo as aparentemente
por tais perspectivas, a vida não fará sentido caóticas e sem propósito) para o meu be-
ou será entendida de maneira não bíblica e, nefício (Ef 1.22,23). Ele está operando em
portanto, incorretamente. O evangelho nos cada situação para me livrar da escravidão
dá a verdadeira noção de nós mesmos, de dos pecados do coração, para me ajudar a
Deus e do processo em que estamos. experimentar as riquezas da graça que Ele
derramou sobre mim em Cristo, e para me
A noção de si mesmo conformar à imagem de Seu Filho (Rm
Nossa reação diante de qualquer situ- 8.28 e Ef 1.3-7). Ele é o Deus que perdoa,
ação está sempre baseada no entendimento o Reconciliador, Libertador, Restaurador e
que temos da nossa identidade. Consequen- Aquele que conforta.
temente, precisamos do evangelho para nos Por causa de Sua atividade santificadora
informar e corrigir nossa definição de quem incessante, cada situação da vida - mesmo
realmente somos e quais são as nossas lutas aquelas que são escuras, confusas, e que
verdadeiras. O que o evangelho me ensina é me causam medo - é santificada, cheia de
que minha luta é mais profunda do que os significado, propósito e esperança.
problemas do meu passado, as dificuldades Os aconselhados, frequentemente, têm
nos meus relacionamentos e as situações pouca noção do Deus do evangelho, que
do cotidiano. Pedro diz que a corrupção reina sobre o mundo de tal maneira que Ele
no mundo é causada pelos desejos maus não está longe de cada um de nós e que a
do coração. Este é o lugar onde a mudança qualquer momento podemos procurá-lO,
precisa acontecer. alcançá-lO e encontrá-lO (At 17.26, 27).
Muitas das pessoas que aconselho têm Sem esta noção, os aconselhados tendem a
pouca noção da presença e poder do pecado ter pouca esperança quando chegam ao fim
que habita em nós. Têm pouca noção dos de sua sabedoria e força própria. Seu Deus
pensamentos, desejos, e escolhas do cora- funcional é pequeno, fraco, desinteressado
ção que estão na raiz de suas dificuldades e distante - não é alguém a quem confiar o
pessoais. Portanto, continuam a culpar que há de mais precioso e frágil em sua vida
pessoas e situações, cegas à luta do coração pessoal. Suas reações à vida, e a confusão em
que está presente em todas as situações da que se encontra, estão diretamente relacio-
vida. O evangelho apresenta a luta interior nadas à noção de quem é Deus.
(Romanos 7 e Tiago 4) como o primeiro
alvo do processo de santificação de Deus A noção do processo
(2Pe 1.3,4). O evangelho não apenas declara que
Deus está ativo, mas descreve o que Ele
A noção de Deus está fazendo e como Ele está operando.
Aqui também fico impressionado ao É esta noção do processo de santificação
ver como meus aconselhados têm pouca que falta a muitas pessoas que aconselho.
noção do Deus do evangelho - o Redentor Elas não têm um modelo da santificação
sempre presente e ativo, o Todo-poderoso, progressiva para compreender melhor sua
cumpridor de promessas. A Bíblia apresenta vida atual e os problemas.
Deus como meu ajudador sempre presente Deus instituiu um processo com o alvo
em todos os problemas (Sl 46), que controla de “que o vosso amor aumente mais e mais

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em pleno conhecimento e toda percepção, tinha para com aqueles que falhavam com
para aprovardes as cousas excelentes e serdes ela. Ela não percebia que sufocava outros
sinceros e inculpáveis para o dia de Cristo, com suas necessidades. Seus amigos eram
cheios do fruto de justiça, o qual é mediante seus deuses funcionais, de quem dependia
Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” para viver. Quando procurou ajuda, sentia-se
(Fp 1.9-11). O alvo principal de Deus não sozinha, esquecida por Deus e pelos amigos.
é que eu experimente felicidade pessoal no Confusa e incapaz de compreender porque
presente. Seu alvo não é nada menos que tudo aquilo estava acontecendo, ela se tor-
eu me torne participante da Sua natureza nou cada vez mais absorta em si mesma e
divina (2Pe 1.4). Além disso, os próprios depressiva. Não via nenhuma esperança de
relacionamentos com os quais luto e as si- mudança duradoura. De onde estava, via
tuações difíceis de que gostaria de me livrar apenas que tudo de bom que tentava fazer
são os instrumentos que Ele usa para pro- acabava se voltando contra ela.
duzir a mudança fundamental do coração, Sílvia falou sobre como Deus possi-
que resultará em uma vida frutífera para a velmente a odiava. Ela disse que não era tão
Sua glória. má pessoa, e não podia entender porque as
O sofrimento não deveria ser uma pessoas “usavam e abusavam” dela. Havia
surpresa nem deveria ser recebido como in- parado de ler sua Bíblia e de orar, e sua fre-
dicação de distância de Deus e falta do Seu quência à igreja era esporádica. Acreditava
cuidado. O sofrimento é instrumento propo- ter sido injustamente escolhida para sofrer.
sital do amor santificador de Deus. Para que Tudo o que ela queria é que aquelas situações
entendam biblicamente os seus problemas, tivessem um fim.
nossos aconselhados precisam cultivar a O evangelho não fazia sentido para
confiança no processo ativo e progressivo de a vida de Sílvia, que também não tinha
santificação estabelecido por Deus. noção funcional do Deus do evangelho que
Sem o entendimento do pecado que é soberano, santo, perdoador, restaurador,
habita em nós e da luta que o acompanha, reconciliador, sempre presente, sempre ativo,
e sem compreender a presença, o caráter e a reinando sobre todas as coisas para o seu
atividade de Deus, bem como seu processo bem, e que derramava sobre ela a riqueza da
santificador, a vida não faz sentido. O acon- Sua graça em Cristo Jesus (Ef 1.3-9).
selhado fica confuso porque lhe falta sabedo- Ela não via a si mesma como uma
ria, discernimento e entendimento prático pecadora a quem o evangelho foi dirigi-
para estabelecer propósitos que resultam de do, e também não via a idolatria do seu
uma visão de si mesmo e das circunstâncias coração que a fazia entrar em situações e
do ponto de vista do evangelho. relacionamentos repletos de expectativas
Silvia vivia em função de ser aceita pelas egoístas e exigências silenciosas. Ela não
pessoas, mas não foi isso o que a trouxe para via como todas essas expectativas idólatras
o aconselhamento. Ela veio porque estava determinavam o desapontamento constante
deprimida devido a vários relacionamentos que ela experimentava, e também não tinha
quebrados. Entretanto, Sílvia estava cega às noção do sistema de vingança declarada ou
suas exigências, ao seu medo e à maneira disfarçada com o qual reagia às pessoas que
como manipulava as pessoas. Também estava a faziam sofrer. Não percebia que assumia o
cega às reações de vingança e condenação que papel de deus como legisladora e juíza.

Coletânea de Aconselhamento Bíblico  Volume 2 43


Finalmente, Sílvia não tinha noção imagem do Seu Filho, suprindo tudo quanto
do processo de santificação progressiva. precisamos para fazer aquilo que Ele nos
Não reconhecia a mão de Deus nas suas chamou para fazer. Portanto, não devemos
circunstâncias. Deus estava operando com cair na falsa esperança de nos tornarmos por
propósito santificador em cada situação e nós mesmos indivíduos fortes, saudáveis,
relacionamento, mas Ele não estava com- entendidos e felizes. Tudo quanto fazemos
prometido em dar a Sílvia a aceitação pela e esperamos está enraizado no fato de que
qual ela tanto ansiava. Deus estava ativo em somos vasos de barro, frágeis, mas cheios
suas experiências dolorosas para expor seu do poder infinito da presença de Deus.
coração e comportamento pecaminoso, e Olhamos para o futuro com esperança,
por meio dessas experiências conformá-la preparando-nos para um tempo quando
à imagem de Cristo. Aquelas mesmas cir- não haverá mais doenças, tristeza, pecado
cunstâncias que serviam de exemplo para ou morte, pois estaremos com Ele e seremos
a “infidelidade” de Deus eram, na verdade, como Ele eternamente. Eis a razão por que,
administradas por Seu cuidado e amor fiel mesmo nos dias escuros de sofrimento neste
que operavam para o bem de Sílvia. Ela es- mundo caído, não perdemos a esperança
tava confusa porque excluiu da avaliação da (2Co 4.7-18).
sua vida os fatos essenciais, ou seja, os fatos Não se pode “descristianizar” os prin-
do evangelho. cípios das Escrituras sem violentá-los. Tudo
Sílvia representa todos aqueles que o que Deus nos chama para fazer baseia-se
aconselhamos. Se seus olhos estão cegos às naquilo que Ele está fazendo. Se o evangelho
realidades de quem são como pecadores, ao não estiver no centro do sistema interpreta-
caráter e atividade de Deus, à herança que tivo do aconselhado, os princípios bíblicos
têm como Seus filhos e ao processo de reden- não farão sentido para ele, e ele não reagirá
ção (santificação) que está em andamento, de maneira apropriada.
não há como nossos aconselhados interpre- A claridade que trazemos para a vida
tarem corretamente o que está acontecendo. do aconselhado é o próprio evangelho. O
Não há como eles se comportarem de uma evangelho é o que queremos que ele veja,
maneira bíblica apropriada. talvez pela primeira vez. Todo problema
Este é o distintivo central do aconse- pode ser enfrentado por meio da provisão
lhamento bíblico. Os conselheiros bíblicos multiforme de Cristo. Considere a oração
não vêem a Bíblia como uma enciclopédia de Paulo pelos efésios:
de princípios de vida que apenas precisam ser Iluminados os olhos do vosso cora-
seguidos para se ter uma existência feliz. Pelo ção, para saberdes qual é a esperança
contrário, as Escrituras nos dão uma visão do seu chamamento, qual a riqueza
radical da vida com raízes no evangelho; toda da glória da sua herança nos santos,
perspectiva e princípio das Escrituras têm e qual a suprema grandeza do seu
raízes no evangelho. poder para com os que cremos,
A perspectiva bíblica é que somos segundo a eficácia da força do seu
pessoas escolhidas por um Deus soberano e poder; o qual exerceu ele em Cristo,
amoroso que, em Cristo, perdoa-nos e nos ressuscitando-o dentre os mortos, e
adota em Sua família. Ele está trabalhando fazendo-o sentar à sua direita nos
em cada situação para nos conformar à lugares celestiais, acima de todo

44 Coletânea de Aconselhamento Bíblico  Volume 2


principado, e potestade, e poder, viverão como Deus os chamou para viver
e domínio, e de todo nome que se estiverem cegos ao poder e à presença
se possa referir não só no presente de Cristo que opera em suas vidas. Em vez
século, mas também no vindouro. E disso, suas vidas serão “inativas e infrutuosas”
pôs todas as cousas debaixo dos seus (2Pe 1.8,9).
pés e, para ser o cabeça sobre todas Esta claridade do evangelho deve dar
as cousas, o deu à igreja, a qual é o forma à nossa coleta de dados à medida
seu corpo, a plenitude daquele que que também oramos para que “os olhos
a tudo enche em todas as cousas. do coração (do nosso aconselhado) sejam
(Ef 1.18-23) iluminados”. Faremos, então, perguntas
Paulo orou que esses cristãos vissem a que procedem do evangelho, levando nossos
si mesmos e toda sua vida pelo ângulo das aconselhados a orientarem o olhar para as
verdades radicais do evangelho. Sua oração coisas que não viam antes. À medida que
é que fossem capazes de ver o poder e a responderem a essas perguntas, a claridade
riqueza que lhes pertenciam como herança do evangelho começará a afastar as nuvens
em Cristo. Nossos aconselhados também não da confusão.

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