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Depois perdi-o.
Não sei quantas almas tenho Lembro ? Quem dera !
Não sei quantas almas tenho. Se eu nunca soube
Cada momento mudei. O que ele era.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma. As lentas nuvens fazem sono
Quem vê é só o que vê, As lentas nuvens fazem sono,
Quem sente não é quem é, O céu azul faz bom dormir.
Bóio, num íntimo abandono,
Atento ao que sou e vejo, À tona de me não sentir.
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo E é suave, como um correr de água,
É do que nasce e não meu. O sentir que não sou alguém,
Sou minha própria paisagem; Não sou capaz de peso ou mágoa.
Assisto à minha passagem, Minha alma é aquilo que não tem.
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou. Que bom, à margem do ribeiro
Saber que é ele que vai indo...
Por isso, alheio, vou lendo E só em sono eu vou primeiro.
Como páginas, meu ser. E só em sonho eu vou seguindo.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li Brincava a criança
O que julguei que senti.
Brincava a criança
Releio e digo: "Fui eu ?"
Com um carro de bois.
Deus sabe, porque o escreveu.
Sentiu-se brincado
E disse, eu sou dois !
Assim eu me acomodo
Com o que Deus criou, É boa ! Se fossem malmequeres !
Deus tem diverso modo É boa ! Se fossem malmequeres !
Diversos modos sou. E é uma papoula
Sozinha, com esse ar de "queres?"
Assim a Deus imito, Veludo da natureza tola.
Que quando fez o que é
Tirou-lhe o infinito Coitada !
E a unidade até. Por ela
Saí da marcha pela estrada.
Não a ponho na lapela.
Dorme, criança, dorme
Dorme, criança, dorme, Oscila ao leve vento, muito
Dorme que eu velarei; Encarnada a arroxear.
A vida é vaga e informe, Deixei no chão o meu intuito.
O que não há é rei. Caminharei sem regressar.
Dorme, criança, dorme,
Que também dormirei.
É uma brisa leve
Bem sei que há grandes sombras É uma brisa leve
Sobre áleas de esquecer, Que o ar um momento teve
Que há passos sobre alfombras E que passa sem ter
De quem não quer viver; Quase por tudo ser.
Mas deixa tudo às sombras, Quem amo não existe.
Vive de não querer. Vivo indeciso e triste.
Quem quis ser já me esquece
Quem sou não me conhece.
Eu me resigno. Há no alto da
montanha
Eu me resigno. Há no alto da montanha
Um penhasco saído,
Que, visto de onde toda coisa é estranha,
Deste vale escondido,
Parece posto ali para o não termos,
Para que, vendo-o ali,
Nos contentemos só com o aí vermos
No nosso eterno aqui...