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Patentes
É preciso reconhecer que não é óbvio que as
patentes não são de fato necessárias para inspirar
inovação – e não há muita razão para acreditar
que elas impedem a inovação. Se você possui uma
patente sobre um seletor de arroz mecânico,
então isso significa que você pode evitar que
outras pessoas construam um melhor
selecionador de arroz que é baseado no seu. Para
um número suficientemente grande de anos, seus
concorrentes potenciais não podem legalmente
inovar e melhorar o seu produto – ou, pelo
menos, se o fizerem, eles não podem trazer a sua
inovação no mercado sem a sua permissão até
que a patente expire.
Por outro lado, o que ocorreria se não
houvessem patentes? A primeira pessoa a
implementar uma ideia ainda iria receber
benefícios exclusivos para algum período de
tempo porque mesmo sem patentes, levaria um
tempo para a competição descobrir como imitar a
invenção e apanhar a ideia. Mas os concorrentes
provavelmente iriam descobrir isso antes de
muito tempo, de modo que o inventor original
não poderia descansar sobre os seus louros.
Todos teriam de melhorar constantemente para
se manterem competitivos. A ausência de
patentes levaria portanto a grandes incentivos
para o constante aperfeiçoamento tecnológico.
Vemos essa ideia em muitas inovações onde
empresas não utilizam de patentes para protegê-
las. As pessoas que inventaram shopping centers,
lojas de conveniência 24 horas, supermercados,
franquias de fast-food e tickets alimentação, por
exemplo, não têm quaisquer direitos exclusivos
sobre essas ideias. Nem as pessoas que inventam
perfumes, receitas, desenhos de roupas, móveis
ou carrocerias de automóveis. [7] Mas as pessoas
continuam o processo criativo, porque elas
querem superar seus rivais. Sem privilégios de PI,
elas têm que permanecer focando no que elas
podem fazer para atrair e agradar melhor os
clientes – e não perdem tempo no que elas
podem fazer com o sistema jurídico para esmagar
outras empresas.
Historicamente, tem havido muitos casos
onde as patentes permitiram a seus titulares a
pararem de inovar e, simultaneamente, outros
concorrentes de inovarem. Consideremos
primeiramente o caso dos irmãos Wright. Eles
criaram o primeiro avião nos EUA, melhorando
ligeiramente as ideias não patenteadas de outros
que vieram antes deles, como o engenheiro
britânico Sir George Cayley e o alemão Otto
Lilienthal. Sua patente de 1902 foi registrada para
o sistema de controle de vôo resultante do
“empenamento da asa” e para o uso de um leme.
Glenn Curtiss melhorou o design dos
irmãos Wright, substituindo a técnica de
deformação de asa com superfícies de controle
móveis, os meios pelos quais os aviões controlam
seus movimentos. Para isso, os irmãos Wright –
que não vendiam muitos aviões no momento –
processaram Curtiss para tentar impedi-lo de
vender aviões. Os Wrights então atrofiaram o
crescimento da indústria da aviação nos Estados
Unidos, concentrando-se mais em processar
Curtiss e outros concorrentes do que na
empreitada formar de melhores planos
empreendedores. Como resultado, o
desenvolvimento do avião, em seguida, decolou
na França, onde os irmãos Wright “tiveram pouca
influência legal.” [8]
Um outro exemplo diz respeito ao motor de
vapor de James Watt. Durante o período no final
do século 18 que Watt e seu parceiro de negócios,
Matthew Boulton, realizaram a sua patente
máquina a vapor, a inovação em motores a vapor
praticamente cessou. Quando Jonathan
Hornblower construiu um motor melhor em
1790, Watt e Boulton o processou e impediu de
trazê-lo para o mercado. Outros concorrentes
inventaram suas próprias melhorias, mas
mantiveram-as fora do mercado enquanto
esperavam pelo prazo da patente de Watt
terminar; eles não queriam ser processados como
Hornblower.
Watt foi distraído de melhorar o seu
produto, tanto porque ele não precisou fazê-lo –
ele tinha a proteção do monopólio – e porque ele
estava preocupado com o uso do sistema legal
contra os seus concorrentes. Como resultado,
enquanto sua patente estava no lugar, o Reino
Unido acrescentou apenas cerca de 750 cavalos
de potência aos motores a vapor por ano; nos 30
anos após a patente de Watt ter expirado, a
potência foi adicionado a uma taxa de mais de
4.000 por ano. Da mesma forma, a eficiência do
combustível melhorou pouco, se em tudo,
durante os anos da patente de Watt (1769-1800),
mas aumentou em aproximadamente um fator de
cinco entre 1810 e 1835. [9]
E quanto a produtos farmacêuticos?
Algumas pessoas argumentam que precisamos de
patentes farmacêuticas porque as drogas
requerem caros recursos, muito tempo e mão de
obra bastante especializada para serem
desenvolvidas. Então, a conclusão dos advogados
da PI é a mesma de sempre: se o estado não der o
privilégio da proteção monopolística das patentes
aos fabricantes, eles não vão se preocupar em
produzir drogas.
Numerosos fatos minam este argumento.
Os estudiosos de leis de patentes Boldrin e Levine
descobriram que a indústria farmacêutica
historicamente cresceu “mais rápido nos países
onde as patentes eram menores e mais fracas.”
[10] A Itália, por exemplo, não forneceu nenhuma
proteção de patentes para produtos
farmacêuticos antes de 1978, mas tinha uma
próspera indústria farmacêutica. Entre 1961 e
1980, era responsável por cerca de nove por cento
de todos os novos compostos químicos ativos
para medicamentos. Depois que as patentes
chegaram, a Itália não viu nenhum aumento
significativo no número de novos medicamentos
descobertos por lá – ao contrário do que sugerem
as previsões dos defensores da PI. [11]
A lei de patentes cria um incentivo para os
pesquisadores: perseguir mais do tipo de pesquisa
que vai levar a medicamentos patenteáveis, e
menos do tipo de pesquisa que pode levar a
outros tipos de avanços que não podem ser
patenteados – ainda que, como mostram Bolsrin
e Levine, o último tipo pode envolver alguns dos
mais importantes. [12] Se as leis de patentes
fossem abolidas, é provável que veríamos menos
drogas químicas artificiais, e mais descobertas
relacionadas a remédios a partir de substâncias
naturais, como vitaminas, minerais e plantas.
Tendo em conta os efeitos secundários nocivos de
muitos medicamentos prescritos, é bem provável
que isso traria enormes benefícios para a saúde
das pessoas.