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U m d o s p r o b l e m a s n a o b r a de Freud é o r e e q u i l í b r i o p e r m a -
n e n t e q u e ele deve g a r a n t i r entre a teoria d o a p o i o e u m a de suas
c o n c e p ç õ e s d o a u t o - e r o t i s m o . Ele estava d i v i d i d o e n t r e esses d o i s
p o n t o s o p o s t o s . Talvez as pesquisas atuais lhe possibilitassem resol-
ver esse i m p a s s e . T e n t e m o s , p r i m e i r a m e n t e , f o r m u l á - l o b e m :
a) O c o n c e i t o d e a p o i o
" O seio a m a m e n t a d o r d a m ã e é p a r a a c r i a n ç a o p r i m e i r o
o b j e t o e r ó t i c o , o a m o r aparece e m b a s a n d o - s e n a satisfação da ne-
cessidade de a l i m e n t o " (Freud, 1938).
O a p o i o possibilita a Freud estabelecer u m a r e p r e s e n t a ç ã o te-
órica d o a p a r e l h o p s í q u i c o q u e s u p õ e u m a h i s t o r i c i d a d e - o que é
m u i t o i m p o r t a n t e - e u m laço c o m u m O u t r o p r i m o r d i a l q u e ele
c h a m a de próximo assegurador (Nebenmensch), aquele q u e vai dar
a resposta específica c a p a z de a p a z i g u a r as necessidades (de f o m e ,
de sede, b e m e n t e n d i d o ) . Segue-se u m a q u e d a d a t e n s ã o i n t e r n a
p a r a o bebê, vivida c o m o experiência de satisfação, q u e irá inscre-
ver-se n o p ó l o a l u c i n a t ó r i o de s a t i s f a ç ã o . M a i s t a r d e , q u a n d o é
d e i x a d o s o z i n h o , o bebê p o d e r á reevocar os traços m n ê m i c o s dessa
experiência de satisfação b e m c o m o os traços deste O u t r o aten-
t o , e r e e n c o n t r a r u m a p a z i g u a m e n t o ; é a experiência alucinatória
primária. É nesses t e r m o s que Freud (1973) descreve, n o "Projeto",
a constituição do aparelho psíquico.
A p a r t i r daí p o d e m o s pensar u m a u t o - e r o t i s m o , s u c e d â n e o da
e x p e r i ê n c i a a l u c i n a t ó r i a p r i m á r i a , m i s t u r a d o a certos traços desse
O u t r o assegurador. Esta c o n c e p ç ã o visa integrar o auto-erotismo na
h i s t o r i c i d a d e da relação c o m o O u t r o M a s esta a t r a p a l h a Freud,
e é compreensível, n a m e d i d a em que faz q u a l q u e r experiência psí-
quica derivar do registro fisiológico.
C o m o n ã o c o n f u n d i r fisiologia e p s i c o l o g i a , pergunta-se ele?
C o m o s e p a r a r as p u l s õ e s , sexuais p o r e x c e l ê n c i a , d o r e g i s t r o d a
conservação d o o r g a n i s m o ? A esta q u e s t ã o central, Freud r e s p o n d e -
rá i n t r o d u z i n d o a i d é i a d e u m a u t o - e r o t i s m o i n a t o , q u e c o m a
a p a r ê n c i a de s o l u ç ã o irá criar n o v o s p r o b l e m a s t e ó r i c o s .
b) A h i p ó t e s e de u m a u t o - e r o t i s m o i n a t o
O s bebês q u e se t o r n a r a m autis-
tas n o s levam a p e n s a r q u e o recém-
nascido só olharia para sua mãe - o u
o O u t r o P r i m o r d i a l de sua vida -
q u a n d o ele fizesse a experiência desta
p r o s ó d i a n a voz m a t e r n a . Esta p r o s ó -
d i a l h e p o s s i b i l i t a r i a i d e n t i f i c a r sua
presença c o m o o objeto causa de u m
g o z o deste O u t r o P r i m o r d i a l . Ele vai
procurar o rosto que corresponde a
esta v o z p a r t i c u l a r . E ele p r o c u r a r á
t a m b é m fazer-se o b j e t o d e s t e o l h a r , n o q u a l ele lerá q u e ele é o
objeto causa dessa surpresa e dessa alegria q u e a p r o s ó d i a d a v o z e
os traços d o r o s t o m a t e r n o refletem. Ele terá e n t ã o a m a r r a d o c o m
ela u m c i r c u i t o p u l s i o n a l e s c ó p i c o .
O b s e r v e m o s q u e as pesquisas d o s psicolingüistas fazem-se fora
d o c o n t e x t o d e q u a l q u e r a p o i o sobre a satisfação d a s necessidades
v i t a i s . É s o b r e t u d o aí q u e a p u l s ã o i n v o c a n t e p a r e c e irresistível;
isto é, q u a n d o ela é a p e n a s p u l s ã o . Isto justifica o fato d e t e r m o s
r e t o m a d o seriamente a teoria d o apoio.
Parece-me q u e c o m o objeto voz - ou mais precisamente
c o m a p r o s ó d i a p a r t i c u l a r d a v o z m a t e r n a - F r e u d teria p o d i d o
sair d o i m p a s s e e m q u e se e n c o n t r o u e n t r e u m a p o i o m u i t o a n -
c o r a d o n a fisiologia e u m a u t o - e r o t i s m o i n a t o , i s t o é, e x c l u i n d o
o O u t r o . T a l v e z ele t i v e s s e t i d o a i d é i a o u v i n d o o p o e m a d e
Heinrich Schütz:
R E F E R Ê N C I A S BIBLIOGRÁFICAS
NOTAS
* Ú n i c o t e x t o em q u e F r e u d (1973) a b o r d a l o n g a m e n t e o p a p e l d o o u t r o
assegurador na c o n s t i t u i ç ã o d o a p a r e l h o p s í q u i c o d o bebê.
^ Mas i r e m o s ver q u e é a p e n a s d e p o i s d o t e r c e i r o t e m p o q u e p o d e r e m o s
dizer se há ou n ã o a u t o - e r o t i s m o .