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OU
ARMAZÉM LITERÁRIO.
VOL. XI.
LONDRES:
1813.
CORREIO BRAZILIENSE
D E J U L H O , 1813.
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
Politica. 9
constantes deste termo, e o mandou lavrar; pelo qual em
conformidade das ordens do mesmo Excellentissimo
Senhor Patriarcha, o mandou sahir do Aljube, e resti-
tuir á sua antiga liberdade, debaixo das cláusulas acima
expressadas, e por elle dito Reverendo Joaõ Rodrigues
Lopes livremente acceitas. E eu Francisco de Paula de
Sousa Couceiro o escrevi.—Doutor JOAÕ MOURAÕ.
O Padre João Rodrigues Lopes.
Politica. 11
acertado a este respeito. Palácio Patriarchal de Marvilla,
17 de Abril, de 1813.
Com a Rubrica do Exmo. Bispo Patriarcha Eleito
Vigário Capitular.
DOMINGOS L E I T E d'AzEVEDO R E N O O , Secretario.
EniTAL.
A' Real Junta do Commercio, Agricultura, Fabricas, e
Navegação baixou o seguinte
AVISO.
mo mo
Ill . e Ex . Sr.—Achando-se incompleto o emprés-
timo, que o Principe Regente Nosso Senhor mandou abrir
pela Portaria de 22 de Abril do presente anno, por naõ
haverem entrado alguns dos negociantes da Praça de
Politica. 17
Lisboa, com as quotas, que lhes foraõ assignadas, o que
obrigou o Erário Regio a um desembolço violento, mas
absolutamente necessário, para se naÕ mallograr a expe-
dição as potências Barbarescas; e devendo o mesmo Real
Erário ser immediatamente indemnizado daquelle desem-
bolço, pelo complemento do referido empréstimo : he Sua
Alteza Real Servido : que a Real Junta do Commercio
faça annunciar por editaes, que todos os negociantes, que
naõ tiverem entrado com ametade das sommas, que lhes
foraõ requeridas, prefaçaõ as mesmas sommas, devendo
depositar logo no cofre da commissaõ encarregada da re-
cepção dos fundos para os negócios de Argel ao menos a
dita metade, ou seja com dinheiro effectivo, ou em letras
com vencimento até um mez : e outro sim tem ordenado
S. A. R., que a sobredita commissaõ faça no dia imme-
diato subir á Sua Augusta Presença por esta Secretaria
d'Estado da marinha, a relação das mesmas entradas,
para que, no caso, naõ esperado, de haver ainda quem
presista em taõ extranhavcl resistência, haja o mesmo
Senhor de proceder as demonstraçoens de desprazer, que
mereceria o escandaloso egoísmo dos que houvessem con-
cebido o projecto de terem parte nas utilidades, que de-
vem resultar da paz com as Regências Barbarescas, sem
a terem nos sacificios indispensáveis para a sua conclusão.
O que V E. fará presente no tribunal para que se execu-
tem estas Reaes ordens na parte que lhe toca.—Deos
guarde a V E. Palácio do Governo, em 16 de Junho, do
1813. D. M I G U E L P E R E I R A F O R J A Z .
Sr. Cypriano Ribeiro Rreire.
E para assim constar se mandou affixar o presente
Edital.—Lisboa, 31 de Junho, de 1813.
JOSEACUIICIO DAS N E V E S .
Politica. 19
e querendo eu além disto dar-lhes mais um sensível
testemunho do meu paternal amor, e solicitude em isenta-
los, quanto ser possa, de novos gravames à custa mesmo
dos maiores sacrifícios, do meu Real patrimônio: sou
servido, suscitando o que vos ordenei na Carta Regia
de Instrucçoens, que vos dirigi em data de 2 de Janeiro
de 1809 determinar-vos, que desde logo procedais a
fazer pôr em venda, pelo modo que vos parecer mais
conveniente, e útil nas actuaes circumstancias, todos os
bens livres da Coroa, taes como casas, e terras e outras
similhantes propriedades patrimoniaes, que eu havia já
mandado pôr em venda; mas que pela maior parte ainda
se achaô existentes; as Capellas da Coroa, e as que forem
vagando ; os bens dos próprios, dos ausentes, e represálias,
que existem em differentes Commarcas; os bens de* pró-
prios por execuçoens, que se achaõ nas Commarcas de
Setúbal, Lamego, Elvas, Ponte de Lima, e outras ; e final-
mente a Prebenda de Coimbra na parte que comprehende
Casas, Casaes, ou Terrenos ; podendo entrar nesta classe
muitos outros bens, que se poderão vender divididamente,
taes como o Paul de Lagos, Marinhas de Farroubilhas,
Coutada de Portei, Charneca de Vallongo, e outros simi-
lhantes ; devendo os productos de taes vendas entrar para o
meu real Erário, e serem applicados para as despezas da
guerra, que tanto convém sustentar com a maior activi-
dade, e energia, até á perfeita restauração da Peninsula,e
inteira expulsão do inimigo para além dos Pyrinneos. O
que assim tereis entendido, e executareis. Escripta no
Palácio do Rio de Janeiro em 13 de Dezembro de 1812.
PRÍNCIPE.
Para os Governadores do Reino de Portugal, e do Algarve.
ESTADOS UNIDOS.
Mensagem do Presidente ao Congresso.
Considadaõs do Senado e da Casa dos Representantes!
c 2
20 Politica.
Pouco depois de se ter fechado a sessaõ passada do Con-
gresso, se communicou formalmente uma offerta do Impera-
dor de Rússia para a sua mediação, como amigo commum-
dos Estados Unidos, e da Gram Bretanha ; a fim de facilitar
a paz entre elles. Sendo o alto character do Imperador
Alexandre um penhor sufficiente da sinceridade e im-
parcialidade de sua offerta, foi esta immediatamente
aceita ; e como ulterior prova da disposição em que estaõ
os Estados Unidos de tractar com o seu adversário sobre
experimentos honrosos para terminar a guerra; se determi-
nou o evitar demoras intermediárias, incidentes á distancia
das partes, providenciando deffinitivameiite para a contem-
plada negociação. Consequentemente foram commissi-
onados tres eminentes cidadãos nossos, com os poderes
necessários para concluir um tractado de paz, com pes-
soas revestidas de similhantes poderes, da parte da Gram
Bretanha. Foram elles também authorizados a entrar na-
quellas convençoens de regulamentos de commercio, entre
os dous paizes, que se achasse serem mutuamente vanta-
josos. Os dous enviados, que estavam nos Estados Unidos
ao tempo de sua nomeação, partiram ja a unir-se a seus
collegas em S. Petersburgo.
OsEnviados receberam outra coinmissaó,authorizando-
os a concluir com a Rússia um tractado de commercio
com as vistas de fortalecer as relaçoens amigáveis, e melho-
rar a proveitosa communicaçaõ que ha entre os dous paizes.
O êxito desta amigável communicaçaõ do Imperador
de Rússia, e desta manifestação pacifica da parte Estados
Unidos, he somente o tempo quem o pode decidir. Deve-
se presumir, que os sentimentos da Gram Bretanha, paru
com aquelle Soberano, produzirão a aceitação da medi-
ação que se offerece. He certo que naõ existem motivos
sufficientes para preferir a continuação de guerra com o s
Estados Unidos, aos termos com que elles estaõ promptos
a terminalla.
Politica. 2i
O gabinete Britannico deve também conhecer, que, a
respeito da importante questão da prisão dos marinheiros,
sobre que a guerra principalmente versa, a busca ou cap-
tura de pessoas ou propriedades Britannicas a bordo ne na-
vios neutros no mar, alto, naÕ he um direito de belligerentes
deduzido do direito das gentes; e he obvio, que nenhuma
visita ou busca, ou o uso de força, para qualquer fim,
abordo do navio de uma potência independente, em alto
mar, pode, seja em tempo de paz, seja em tempo de
guerra, ser sanccionado pelas leys ou authoridade de outra
potência. He igualmente obvio, que para o fim de pre-
servar para cada Estado os seus membros marítimos, ex-
cluindo-os dos navios do outro, o modo de antes proposto
pelos Estados Unidos, e agora adoptado por elles como
ley, e artigo de policia municipal, naõ pode por um so
momento comparar-se com o modo practicado pela Gram
Bretanha, sem uma convicção de sua preferencia; em
tanto quanto este deixa fazer a distineçaõ entre os mari-
nheiros das duas naçoens, a officiaes sugeitos a dar uma
injusta decisaõ, tanto por preocupaçoens inevitáveis,
como por falta de provas, em circumstancias que excluem,
pela maior parte, a imposição de penas coactivas ; e em
que uma decisão injusta, alem da irreparável violação dos
sagrados direitos das pessoas, pode frustrar os planos, e
lucros de toda a viagem : entretanto que o modo que esco-
lhem os Estados Unidos, acautella com estudada equidade,
e efficacia, os erros em taes casos; e evita os effeitos de
erros accidentaes, na segurança da navegação, e bom suc-
cesso das expediçoens mercantis.
Se a racionabilidade da expectaçaÕ e esperança, que se
deduz destas consideraçoens, pudesse assegurar o seu pre-
enchimento, naÕ estaria distante uma justa paz; porém
convém á sabedoria da Legislatura Nacional conservar na
lembrança a verdadeira politica, ou, para melhor dizer, a
indispensável obrigação de adaptar as medidas á supposi-
22 Politica.
çaõ de que o único caminho para aquelle saudável aconte-
cimento he o vigoroso, emprego dos recursos da guerra. E
penosa como he esta reflexão, com tudo este dever hc par.
ticularmente exigido pelo espirito e maneira, com que a
guerra continua a ser feita pelo inimigo, o qual, insensível
aos constantes exemplos de humanidade que se lhes dà,
ajuncta á sua fúria selvagem em uma fronteira, o systema
de roubo e incendidos da outra, igualmente prohibido
pelo respeito devido ao character nacional, é pelas regras
estabelecidas da guerra civilizada.
Como incitativo para continuar, e vigorar os esforços,
que tragam esta contenda a um feliz resultado, tenho a
satisfacçaõ de poder appellar para os bem agourados pro*
gressos de nossas armas tanto por terra, como por mar.
Em continuação dos brilhantes feitos de nossa nascente
esquadra; ganhou o Capitão Lawrenoe, e seus compa-
nheiros, na chalupa de guerra Hornet, um assignalado tri»
umpbo, destruindo uma chalupa de guerraBritannica, com
celeridade taõ sem exemplo, e com mortandade do inimigo
taõ desproporcionada á perda do Hornet, que clama para
os conquistadores o mais alto louvor, e a plena recom-
pensa, que o Congresso providenciou nos casos preceden-
tes. Os nossos navios de guerra do Publico, em geral,
assim como os vasos armados de particulares, tem conti-
nuado a sua actividade e bom successo, contra o commer-
cio do inimigo; e pela sua vigilância e arte tem frustrado
em grande parte os esforços das esquadras inimigas, dis-
tribuídas ao longo de nossas costas, para interceptallos,
quando voltam aos portos, ou quando tornam a sahir a seu
corso. O augmento da nossa força naval, como foi autho-
rizado na sessaõ passada do Congresso, vai indo era seus
progressos. Nos lagos a nossa superioridade está quasi á
maõ senaõ está ja estabelecida.
Os acontecimentos da campanha, em tanto quanto nos
saõ conhecidos, nos ministram matéria de satisfacçaõ, e
Politica. 23
motram, que, com uma organização sabia, e direcçaõ
efficaz, o exercito he destinado a uma gloria naõ menos
brilhante, do que aquella que cerca a esquadra nacional.
O ataque e tomada de York, he, naquella parte, o pre-
sagio de futuras, e maiores victorias; ao mesmo tempo
que nas fronteiras occidentaes o êxito do cerco do Forte
Megis naõ deixa que sentir senaõ um simples acto de valor
inconsiderado.
A morte repentina de um cidadão distincto, que repre-
sentava os Estados Unidos em França, sem que elle tivesse
feito arranjamentos alguns para tal acontecimento, nog
deixou sem a esperada continuação de suas ultimas com»
municaçoens ; e o Governo Francez naõ tem tomado me-
didas algumas para concluir a negociação pendente, por
meio de seu representante nos Estados Unidos. Esta falta
acresce ainda ás delongas taõ extraordinariamente espaça-
das. Nomeou-se successor ao nosso defuncto Ministro, e
está prompto a partir para a sua missaõ. O caminho que
seguirá para a executar he o que prescrevem os verda-
deiros interesses dos Estados Unidos, que igualmente evi-
tam o abandono de suas justas pretençoens, e a connexaõ
de suas characteristicas com o systema de outras potên-
cias.
A receita do Thesouro, desde o I o . de Outubro, até 31
de Março passado, incluindo as sommas recebidas por
contas das notas do Thesouro, e os imprestimos authori-
zados pelos Actos da sessaõ do Congresso passada, e pre-
cedente chegam a 15:412.000 dollars. A despeza, du»
ante o mesmo periodo montou a 15:220.000, e deixou no
Thesouro no I o . de Abril um balanço de 1:857.000 dol-
lars. C ontractou-se o empréstimo de 15 milhoens de
dollars, que forma parte da receita acima declarada. O
resto daquelle empréstimo, que chega a quasi 15 milhoens
de dollars, com a somma de 5 milhoens de dollars, que o
Thesouro teve authoridade para circular em notas e a re«
24 Politica.
ceita avaluada dos direitos de alfândega, e venda das ter-
ras publicas, na somma de 9:000.000 de dollars, fazendo
-um total de 29:300.000 que devia ser recebido, durante os
últimos 9 mezes do presente anno, será necessário para
occurrcr ás despezas ja authorizadas, c ás obrigaçoens
contrahidas, a respeito da divida publica. Estas obriga-
çoens chegam, durante o dicto periodo a 10.500 dollars,
que, com quasi um milhaõ das despezas civis, diplomá-
ticas, e miscellaneas, tanto estrangeiras como domesticas ;
e 17:800.000 para as despezas militares e navaes, inclu-
indo os navios de guerra que se estaõ construindo, e se haõ
de construir, deixarão no Thesouro, no fim do presente
anno, uma somma igual á que ficou no I o . de Abril pas-
sado. Parte desta somma pôde ser considerada como um
recurso, para oceurrer ás despezas extraordinárias ja
authorizadas pela ley, alem das sommas acima men-
cionadas; e como ulterior recurso para alguma neces-
sidade, se achará a somma de um milhaõ de dollars,
cujo empréstimo aos Estados Unidos foi ja authorizado
pelo Estado de Pensylvania, mas ainda se naõ poz em ex-
ecução.
Esta vista de nossas finanças, ao mesmo tempo que mos-
tra igualmente pela limitada conta do rendimento annual,
e dependência dos empréstimos, a necessidade de provi-
denciar mais adequadamente os futuros supprimentos do
Thesouro. Isto se poderá melhor fazer por um systema
bem dirigido de rendimento interno, em auxilio dos re-
cursos existentes; e que teraõ o effeito tanto de diminuir
a somma necessária de empréstimos, como de (pondo em
conseqüência disso, o credito publico em uma baze mais
satisfactoria) melhorar os termos porque se pode obter o
empréstimo.
Naõ se pôde contractar o empréstimo de 16 milhoens
por menor juro doque 7*f por cento; e ainda que nisto
influíram outras causas, naõ re pôde duvidar, que havendo
Politica. 25
a vantagem de mais extensas e menos precárias rendas,
menor porçaõ de juros teria sido bastante. Differir para
mais tempo esta vantagem naõ poderá deixar de ter ainda
maior influencia nos empréstimos futuros.
Recommendando á Legislatura este recurso ás taxas
addiconaes, sinto grande satisfacçaõ na segurança de que
os nossos constituintes, que tem ja mostrado tanto zelo,
e firmeza, na causa de seu paiz, gostosamente daraõ outras
provas de seu patriotismo, que isto exige. Felizmente
nenhum povo, com as excepçoens locaes e territoriaes,
que nunca se podem evitar de todo, se achou mais hábil
do que o povo dos Estados Unidos, para dispensar para
as necessidades publicas, uma porçaõ de seus meios parti-
culares, quer se diga respeito aos proveitos ordinários da
industriar, quer ao preço ordinário da subsistência no nosso
paiz, comparado ao de outro qualquer paiz. E em nenhum
caso pôde haver razoens mais fortes para se submetter ás
contribuiçoens requeridas.
Fazendo os recursos públicos, certos e commensurados
ás exigências publicas, as authoridades constituídas po-
derão continuar na guerra com maior rapidez para o seu
devido êxito: será cortada toda a esperança hostil, fun-
dada em um calculo da falha em nossos recursos ; e ad-
dindo á evidencia do valor, e arte, nos combates tanto no
oceano como em terra, uma presteza em supprir o The-
souro com o necessário para lhe dar o seu pleno effeito :
e, demonstrando assim ao mundo a energia publica, que
combinam as nossas instituiçoens politicas, com a liberdade
pessoal que as distingue, se providenciará a melhor segu-
rança contra as futuras emprezas sobre os direitos e paz
da naçaõ.
A contenda, em que os Estados Unidos se acham empe»
nhados, appella, para o seu auxilio, a todos os motivos
que podem animar um povo naõ conrompido e illumina-
d o ; appella para o amor da Pátria, para o orgulho da
V O L . XI. No. 62. D
26 Politica.
liberdade, para os gloriosos fundadores de sua indepen-
dência ; para uma bem succedida vindicaçaõ de attributos
violados ; para a gratidão e sympathia que exigem segu-
rança contra as mais indignas injustiças, feitas a uma
classe de cidadãos, que se tem mostrado taõ dignos da
protecçaõ de sua pátria, pelo seu heróico zelo em defensa
delia ; e finalmente, para a sagrada obrigação de trans-
mittir integro, ás geraçoens futuras, aquelle procioso pa-
trimônio de direitos, e independência Nacional, que a pre-
sente geração tem recebido, como em deposito, da bondade
da Divina Providencia.
Conhecendo os inconvenientes àque ficaria sugeita uma
sessaõ dilatada, nesta estação; limito a presente commu-
nicaçaõ aos objectos de primeira importância. Em men-
sagens especiaes, que se poderão seguir ao depois, se terá
respeito á mesma consideração. JAMES MADISON.
Washington, 25 de Mayo.
PRÚSSIA.
Proclamaçaõ de S. M.
O inimigo propoz um armistício ; eu o tenho aceitado
com os meus Alliados até 20 de Julho. Isto se tem
feito para o fim de que a fortaleza nacional, que o meu
povo tein taó Iouvavelmente apresentado, possa chegar
ao seu pleno complemento. Uma incansável acti-
vidade, esforços naõ interrompidos, nos conduzirão a este
fim. Até aqui o inimigo nos tem excedido em forças ;
nós podemos somente ganhar a nossa honra nacional ;
hé preciso aproveitar-nos deste breve intervallo, para
nos fazermos assas fortes para conquistar a nossa inde-
pendência. Sede firmes com vosso Rey; e entaõ conti-
nuai os vossos esforços com como ate aqui tendes feito; e
ganharemos o nossa sagrada causa.
FREDERICO G U I L H E R M E .
Ober-Grodiíz. iuneto a Schweidnitz. 5 de Junho
Politica. 27
O armistício, proposto pelo inimigo, lhe foi concedido ;
porém será sufficiente para o conforto de todo o honrado
Prussiano o saber, que este armistício nos naÕ conduzirá a
uma paz, mas sim a renovação de uma mais poderosa, e
enérgica guerra. Os habitantes dos dominios de S. M.
entre as fronteiras Russianas, e o Vistula, se tem distin-
guido por todos os modos, pelo seu zelo patriótico, e par-
ticularmente pelos numerosos destacamentos de voluntários,
que se tem formado, compostos tanto de cavallaria como
de infanteria; assim como por terem completado, com ho-
mens e cavallos, os cinco regimentos nacionaes de cavalla-
ria, e o corpo de 20.000 homens do Landwehr, composto
de soldados robustos, cheios de espirito, os quaes em pouco
tempo se tem trazido a um estado de disciplina, que se
podem empregar nas mais úteis emprezas. Tudo isto se
tem feito, ainda que todo o emprego neste paiz tenha
absolutamente parado ; e a pobreza dos habitantes chegado
ao seu ultimo ponto : consequentemente, éra por extremo
difficil qualquer esforço de sua parte. Deste espirito pa-
triótico, e do extraordinário zelo dos habitantes desta parte
dos dominios de S. M., esperamos, com a maior confiança,
que os seus esforços seraõ continuados com o mesmo
effeito, no proseguimento desta sagrada guerra; e que
elles manifestarão aquelle justo e ardente ódio que todo o
valente Prussiano e todo o Alemaõ deve sentir contra o
inimigo commum, e que os nossos amados compatriotas
provarão que saõ dignos do sangue taõ heroicamente der-
ramado por nossos irmaõs.
(Assignado) MASSENBACH, DONHA.
Governadores militares do paiz entre o Vistula, e as
fronteiras de Rússia.
Konigsberg, 12 de Junho.
D2
[ 28 1
COMMERCIO E ARTES.
Lucroliquido 48:000.000
A este lucro dos contractadores se deve ajunctar o pro-
ducto do rape Francez das tomadias, que ficava para os
contractadores.
Reis 1:840:000.000
Supponhamos que as 83.000 arrobas dimi-
nuem a quarta parte teremos 62.250 arrobas
e suppondo assim mesmo cada uma de 30 li-
bras somente, teremos pelo menos 1:867.500
libras, a 1.200 . 2:240:000.000
INGLATERRA.
Resumo das contas sobre as Finanças e Commercio da
Gram Bretanha, apresentadas ao Parlamento.
A conta annual das finanças e commercio do p a i z , que
se apresentou ao Parlamento, foi impressa, e compre-
hende o anno que acabou aos 5 de Janeiro 1813.
O rendimento daquelle anno, incluindo o imprestimo,
chegou a 95:712.695 libra esterlinas. A receita do tri-
buto das rendas, ou décima, foi de 13:131.548 libras.
O total da despeza durante o mesmo periodo foi de
10I-39S.24S
A divida publica custou ao publicou na quelle anno
3 6 : 6 0 7 . 1 2 8 l i b r a s ; das quaes a somma de 13:482.510
libras, passou para as maõs dos commissarios, a fim de
reduzir ou diminuir a divida nacional.
As importaçoens dos 3 annos, que acabaram em 5 de
J a n e i r o 1813 foram comparadas da maneira seguinte :—
1811 importaçoens 36:427.722
1812 dicto 24:520.329
ISIS dicto 22:991.843
N a õ se incluem nas sobredictas sommas as importaçoens
da índia : as quaes montaram no anno que acabou cm 5
de Janeiro J812 cm 4:106.251 libras.
A seguinte vista comparativa das importaçoens de trigo,
dá uma prova cabal de que a Gram Bretanha be menos de-
pendente dos paizes estrangeiros, para este necessário
artigo
1811 importaçoens de trigo 2:701.240
1812 dicto 465.995
1813 dicto 378.872
Commercio e Artes, 37
Café.
1811 importação de café 5:812.795
1812 dicto . . . . 3:646.814
J813 . . . . dicto 2:573.614
Algudaõ.
1811 importação d'algudaõ 3:882.423
1812 dicto 2:990.821
1813 . . . . dicto 2:166.412
Assucar.
J811 importação do assucar 6:499.044
1812 dicto 5:324.409
1813 dicto 5:033.396
As importaçoens da Irlanda para este paiz, parecem ir
em augmento; pelo seguinte :—
1811 3:280.747
1812 3:318.879
1813 3:551.269
Mas se as importaçoens para a Gram Bretanha dimi-
nuíram durante o anno passado, parece que as exporta-
çoens augmentáram consideravelmente; como se vê do
peguinte :—
1811 exportaçoens 34:923.575
1812 dicto 24:131.734
1813 dicto 31:243.362
O valor real do producto Britannico, e manufacturas
exportadas, segundo as avaluaçocns na alfândega, he
43:657.864. Alem disto a exportação de mercadorias
estrangeiras he a seguinte.
1811 10:946.284
1812 8:227.937
1813 11:998.179
A seguinte he a vista comparativa dos principaes artigos
em que consistiam estas exportaçoens.
38 Commercio e Artes.
Fazendas d^algodaÕ.
1S11 18:033.794
1812 11:715.501
1813 15:972.826
Lanificios.
1811 5:773.719
1812 4:376.497
1813 5:084.991
Café.
1811 1:455.427
1812 1:418.034
1813 4:382.730
Assucar.
1811 - 1:471.697
1812 1:215.119
1813 1:570.277
O seguinte hea vista comparativa das vasos, c navega-
ção da Grum Bretanha e suas depenpencias, pelos 3 annos
que acabaram aos 30 de Septembro em cada anno.
1810 numero de navios 23.703
1811 dicto 24.106
1812 dicto 24.137
Estes navios, em 1812, foram esquipados por 165.030
marinheiros.
Commercio e Artes. 39
Prêmios de seguros.
Brazil hida 8 guineos por cento. R. 4.
vinda 10 a 15
Lisboa c Porto hida 4 G«. R. 50».
vinda 4 G\ R. 50\ por cm combojr
Madeira hida 5 a 6 G*.—Açores 8 G s .
vinda 8 á 12
Rio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a tornaviagem
vinda o mesmo 15 a 20 G5.
t 40 1
LITERATURA E SCIENCIAS.
INGLATERRA.
i\ oticias Literárias.
Acham-se na imprensa as seguintes obras.
History of England, Part I. ; preço lOs. 6d. Historia
de Inglaterra, illustrada por 40 estampas de symbolos,
gravados em cobre, destinados a auxiliar o novo estudante
na historia. Por Maria Anna Rundall, de Percy House,
Bath ; authora da Grammatica da Historia Sagrada. Im-
presso por Parry and Co.
PORTUGAL.
Novas Publicaçoens.
Sahio á luz o livro que tem por titulo Verdadeiras Ine-
Ineditas obras Poéticas de Manuel Maria de Barboza du
Bucage, que formaõ o 4 o . tomo das suas obras, c o l ' . das
posthumas. Neste volume, além de muitas O d e s Sonetos,
E|)istola>, Elogios, Quadras, Motes, e Colchías glosadas
sobre muitos objectos, vem a traducçaõ do excellente
Drama de Metastacio, Atílio Regulo, traduzido em verso
Literatura e Sciencias. 55
heróico com tanta perfeição, que mais parece original que
traducçaõ ; he este volume impresso em bom papel, e
vende-se a 480 réis na loja da Gazeta, e na de Livros na
rua Augusta N°. 1, na de Carvalho aos Martyres, e nas
mesmas se acha o resto das mais obras anteriores deste
poela, aonde se achaõ também em papel para commodi-
dade dos que o quizerem mandar encadernar igual aos tres
primeiros tomos, que j á tiverem, impressos na officina de
Simaõ Thadeo Ferreira, publicados ainda na vida do Au-
thor, no qual formato, e caracter he este impresso. As
pessoas que para estas obras subscreveram, o poderão ir já
receber, aonde fizeraõ as suas assignaturas.
MISCELLANEA.
AMERICA H E S P A N H O L A .
México, 29 de Outubro, de 1812.
O Brigadeiro D. Ciriaco de Llano, Governador, e In-
tendente interino de Puebla, Commandante do Sul,
reme/teo a este Governo superior o seguinte Officio, e as
partes que acompanham.
" EXCELLENTISSIMO SENHOR,—Remetto a V. E. as
duas copias das partes juntas, que acabo de receber do
Tenente Coronel D . Luiz de Aguila, em que refere o
que ocorreo na marcha do comboi para Perote, e a volta
deste com o regimento de Çamora, naõ tendo chegado âs
minhas mãos, o que diz me dirigira de Napulacan, nem a
carta do Brigadeiro D . Rozendo Porlier. Quando che-
gar o comboi a esta cidade, contara o Commandante os
detalhes da victoria, na qual segundo as noticias particu-
lares tivemos pouca perda.
" Esta noite chegou Aguila com a sua vanguarda a
Amazoque, e o comboi com a artilheria, e petrechos a
Acaxete.
" O que participo a V . E. para seu governo, e satis-
fação.—Deos guarde a V- E. muitos annos. Puebla 25
de Outubro de 1812, ás 8 e um quarto da noite.—Ex D "\
Sr. Vice-Rei D . Francisco Xavier Venegas."
Cadiz, 1 de Junho.
O Governador Capitão General da Havana, e das Fio-
Miscellanea. 6L
FRANÇA.
Paris, 26 de Junho.
S. M. a Imperatriz Raynha e Regente recebeo a se-
guinte noticia do exercito, em data. de 21 de Junho : —
O 8 o . corpo, commandado pelo Principe Poniatowski,
que atravessou a Bohemia, chegou a Zittau, na Luzacia.
Este corpo consiste em 18.000 homens, G.000 dos quaes
saõ cavalleria. Tem-se expedido todas as ordens neces-
sárias para o seu completo vestuário, e fornecimento de
tudo quanto possam precizar.
62 Miscellanea.
S. M. foi aos 20 para Pirna, e Koenigsteiu. O Presi-
dente Kans, mandado por El Rey de Dinamarca, teve a
sua audencia de despedida, e partio de Dresden.
O corpo livre Prussiano, levantado da mesma maneira,
que o de Schill, tem continuado depois do armistício a
cobrar contribuiçoens, e prender homens que apanha
isolados. O armistício foi-lhes intimado aos S ; porém
elles declararam, que faziam a guerra de sua própria con-
ta ; e como tem continuado no mesmo comportamento, se
mandaram contra elles varias columnas. O Capitão
Luzow, que commandava um destes bandos, foi morto ;
400 de seus soldados fôram mortos ou aprisionados e OH
demais dispersos. Suppoem-se que naÕ mais de 100
destes salteadores alcançaram tornar a passar o Elbe.
Outra quadrilha, commandada pelo Capitão Colombe
esta completamente rodeada; e he de esperar que, em
poucos dias, a margem esquerda do Elbe esteja inteira-
mente livre da presença destes bandos, que commetem
toda a sorte de excessos, para com os infelizes ha-
bitantes.
O official, que se mandou a Custrin, ja voltou ; a
guarniçaõ daquella praça consiste em perto de 5.000
homens, e tem doentes somente J50. A fortaleza está no
melhor estado, e provida de mantimento para 6 mezes era
trigo, arroz vegetaes, carne fresca, e todos os mais
artigos necessários. A guarniçaõ tem sempre estado se-
nhora da distancia de 1.000 toesas. Durante estes quatro
mezes o commandante naõ tem cessado de augmentar os
meios de sua artilheria, c fortificaçaõ da praça.
Todo o exercito está acampado. Este descanço lie da
maior vantagem para as nossas tropas. As distribuiçoens
regulares de arroz contribuem para sustentar a saúde do
soldado.
(O Moniteur contém longas, mas naÕ interessantes nar-
rativas do bloqueio de Custrin, remettidas pelo Gover-
Miscellanea. 63
nador daquella praça, ao Principe de Neufchatel e
Wagram.)
Decreto de 18 de Junho.
Este decreto foi assignado por Bonaparte, em Dresden,
e he applicavel a toda a extençaõ da 32 a . divisão militar,
que comprehende Hamburgo, Lubeck, &c. Consiste em
7 artigos, cuja substancia be o seguinte :—
O 1°. artigo requer uma lista de todas as pessoas au-
zentes d'aquella divisão, de todos os que tem servido lu-
gares públicos, e deixado-os depois da volta dos Fran-
cezes.
O 2?. requer uma lista dos Senadores, que aceitaram
officios durante a auzencia dos Francezes.
O 3o. Uma lista de todas as pessoas que naõ voltaram,
para suas casas dentro em 15 dias depois da occupaçaõ
d'Hair.burgo pelos Francezes.
O 4 o . Uma list i de todas as pessoas que serviram como
officiaes, ou de outra maneira, na Legiaõ Hanseatica.
O 5 o . Listas de todas as pessoas, que se provar quo
pertenceram ás associaçoens armadas, e pelo seu compor-
tamento trabalharam por irritar o povo.
O 6o. Listas de todas as pessoas que se sabe que tem
sido empregadas em qualquer situação civil ou militar
pelos Russianos, Prussianos, ou Inglezes.
O 7°. Uma lista das pessoas, que deixaram as suas
casas depois do Io. de Março, e naõ voltaram dentro em 14
dias depois da publicação do presente decreto.
Os differentes districtos da divisão 32». devem fornecer
ao Principe Eckmuhl as listas requeridas. Nenhum
dinheiro se pode pagar aos auzentes, nem receber algum
por sua couta. A propriedade deve ser confiscada.
Paris, 29 de Junho.
S. M. a Imperatriz Raynha e Regente, recebeo as
64 Miscellanea.
seguintes noticias do exercito, datadas de Dresden, 24 de
Junho:—
O Capitão Planai, official do estado-maior, encarre-
gado de levar a noticia do armistício, chegou a Dunlzic.
Elle teve muita difficuldade em chegar á praça; porque
o General Rapp, o Governador, fatigado com o grande
numero de bandeiras de tregoa, que o inimigo lhe mandava
todos os dias, declarou que naõ receberia mais nenhuma.
O official portanto teve muita difficuldade cm se fazer
conhecido.
Seria difficil descrever a alegria que a sua presença
causou naquella linda, e numerosa guarniçaõ, que esta
bem longe de parecer uma fortaleza sitiada : está senhora
de todas as circumvizinhança?. As raçoens que se lhe
devem distribuir, durante o armistício, se fixaram a
20.000 diariamente, o que oceasinou justas queixas da
parte do Governador.
Varias vezes aquella guarniçaõ, durante os 5 mezes de
bloqueio, atirou bombas ao quartel-general do inimgo ; e,
come se poderia dizer, o sitiou.
O General Rapp formou um bom batalhão de guardas
de pé, que hc composto de soldados cançados, ou que
foram gelados, e se refugiaram na fortaleza.
Esta tem mantimentos bastantes para um anno. Os
militares calculam que ella pode resistir a trincheiras
abertas por 3 mezes, ainda suppondo que o inimigo ti-
vesse um trem de artilheria de 200 peças ; e sem calcular
a demora que as sortidas da guarniçaõ da praça poderiam
oceasionar nas operaçoens do sitio. Porém até esta hora,
o inimigo naÕ mostrou de forma alguma intenção de tentar
taõ perigosa empreza.
2 de Julho.
S. M. a Imperatriz Raynha Regente recebeo as seguintes
noticias do exercito de 25 de Junho :—
Aos 24, o Imperador jantou com El Rey de Saxonia.
Miscellanea. 65
A noite os comediantes Francezes representaram no theatro
da Corte uma das peças de Moliere, a que estiveram pre-
sentes Suas Majestades. El Rey de Westphalia chegou a
Dresden, a visitar o Imperador.
Aos 25, o Imperador visitou as differentes sahidas do
bosque de Dresden, e viajou 20 léguas. S. M. partio ás
5 horas da tarde, e voltou ás 10 da noite.
Lançaram-se ao Elbe duas pontes, em frente da fortale-
za de Koenigstein. O rochedo de Silienstern, que fica na
margem direita, a meio tiro de peça de Koningstein, foi
occupado. Tem-se preparado, nesta interessante posição,
armazéns e outros estabelicimentos militares. Assim um
campo de 60.000 homens, apoiando-se na fortaleza de
Koenigstein, e podendo manobrar em ambas as margens,
será inexpugnável contra qualquer força.
El Rey de Baviera, estabeleceo um campo de 25.000
homens juncto a Nymphenburg, perto de Munich. O
Imperador óco o commando das tropas Bávaras de obser-
vação ao Duque de Castiglione. Este exercito se tem
ajunetado em Wurtzburg. He composto de seis divisoens
de infanteria, e duas de cavallaria.
O Vice-Rey está ajunetando, entre o Piava, e o Adige,
o exercito de Itália, composto de tres corpos. O Gene-
ral Grenier commanda um delles.
Os novos corpos que se tem formado em Magdeburg,
sob o commando do General Vandame, consistem ja em
40 batalhoens, e 80 peças d'artilheria.
O Principe de Eckmuhl está em Hamburgo. Este
corpo foi reforçado por tropas que vem da França e da
Hollanda, demaneira que, neste ponto, ha mais tropas do
que nunca houve. A divisão Dinamarqueza, que se unio
ao Principe d'Eckmuhl, consiste em 15.000 homens.
O 2 o . corpo, que commanda o Duque de Belluno tinha
só uma divisão durante a campanha, que agora se findou ;
V O L . X I . No. 62. i
66 Miscellanea.
este corpo foi completado, e o Duque de Belluno com-
manda agora 3 divisoens.
No principio desta campanha eram as circumstancias
taõ urgentes, que se achavam dispersos por vários corpos
os batalhoens de um só regimento. Tudo está regulado,
c todos os regimentos tem os seus batalhoens unidos.
Diariamente chegam a Wittenberg, Torgau, e Dresden
grande numero de batalhoens, que em sua marcha passam
o Elbe cm Magdcburgo. S. M. passa revista todos os
dias tropas que ás chegam a Dresden.
As equipagens militares do exercito, estaõ ou em
caixoens do antigo modelo, ou em caixoens do novo
modelo (chamados N°. 2), ou em carros a Ia Cimtoise,
em que se transportam mantimentos para todo o exercito
por um mez. S. Al. tem descuberto que os carros a Ia
Cimtoise, assim como os caixoens do antigo modelo tem
inconvenientes ; e ordenou que as equipagens, á pro-
porção que forem necessárias daqui em diante, se estabe.
leram segundo o modelo N e . 2. puxados por quatro ca-
vallos, e que facilmente levam o pezo de 20 quintaes. O
exercito está munido de moinhos portáteis, que pczam 16
libras ; e cada um hc capaz de moer 5 quintaes de fari-
nha todos os dias : distribuiram-se 3 destes moinhos para
cada batalhão. Trabalha-se com a maior actividade em
augmentar as fortificaçoens de Glogau. S. M. deseja fa-
zer daquella cidade uma fortaleza regular ; e como
o plano he defeituoso, ordenou que se eu br isso com tres
obras coroadas, seguindo quasi o mesmo methodo que
poz em practica em Alexandria o Senador Conde Cbas-
scloup.
Torgau está cm bom estado. Trabalha-se também
com grande actividade em fortificar Hamburgo ; o gene-
ral do engeneiros, Haxo, foi para ali para demarcar a
cidadela, a estabelecer ns obras nas ilhas, que unem Ham-
burgo a Harburgo.
Miscellanea. 67
Os engenheiros de pontes e calçadas estaõ ali construin-
do duas pontes volantes, sobre o mesmo systema das de
Antwerpia ; uma para a maré enchente, outra para a maré
vazante.
O General Hano, tem traçado urna nova fortaleza no
Elbe, da parle de Virden, na boca do Havei. Os fortes
de Cuxhaven, que estavam em estado de sustentar um
cerco, mas que fôram abandonados sem razaõ, e arrazados
pelo inimigo, se estaõ outravez reedificando. Trabalha-se
nelles activamente : naõ seraõ daqui em diante meras ba-
terias muradas, mas um forte, que, bem como o forte Im-
perial do Scheldt, protegerá o arsenal para construcçaõ, e
a bacia, que se projectou estabelecer no Elbe ; desde que
o engenheiro Beaupré, que gastou dous annos a sondar
aquelle rio, descubrio que tinha as mesmas propriedades
do Scheldt, e que ali se podiam construir, e ajunctar as
maiores esquadras, nos seusanchoradouros.
A 3». divisão das guardas novas, que commanda o Ge-
neral Labourde, official de consumando merecimento,
està acampada nos bosques adiante de Dresden, na margem
esquerda do Elbe.
A 4 a . divisão das guardas novas, que commanda o Ge-
neral Fraut, desemboca por Wurtzburg. Alguns regi-
mentos daquella divisão tem ja passado por aquella ci-
dade, e marcharam para Dresden. A cavallaria das
guardas conta j a mais de 9.000 cavallos. A artilheria
consiste ja em mais de 200 peças de canhaõ. A infanteria
forma 5 divisoens, 4 das quaes saõ das guardas novas, e
uma das antigas. O 7 mo . corpo, que commanda, o Ge-
neral Regnier, he composto, da divisão Durutte, que he
uma divisão Franceza, e duas Saxonias: este corpo está
recebendo o seu complemento : acha-se acampado adi-
ante de Goerlitz. Tem-se-lhe unido toda a cavallaria li-
geira Saxonia, que também se vai a completar.
El Rey de Saxonia tem completado os seus dous bellos
i2
63 3Iiscellaneu.
regimentos de Couracciros, plenamente. S. M. está ex-
• *->
Paris, 5 de Julho.
S. M. a Imperatriz Raynha e Regente reeebeo a seguinte
noticia do exercito :—
O Conde de Metternich, Ministro de Estado, e de con-
ferências de S. M. e Imperador d'Austria, chegou a Dres-
7t> Miscellanea.
den, e teve ja varias conferências com o Duque de Bas-
sano.
A Russia acaba de obter d'El Rey de Prússia, que se
dê uma circulação forçada ao papel-moeda Russiano, nos
Estados de Prússia ; c como o papel Prussiano soffre ja
um abatimento de 70 por cento, parece que esta orde-
nança naõ he calculada para levantar o credito de Prússia.
A cidade de Berlin he atormentada de todos os modos
possíveis, c cada dia se sentem nella mais estes vexames,
Esta capital compara ja a sua situação á de varias cidades
da França em 1793.
S. M. o Imperador, aos 28, deo um passeio de 8 ou 10
horas de duração, pelos orredores de Dresden. Temos
recebido varias noticias de Zamosc e Modlin. Estas for.
talezas estaõ no melhor estado possivel, quer se considerem
relativamente aos mantimentos, quer ás muniçoens de
guerra, ou forticaçoens.
Frankfort, 1 de Julho.
Proclamaçaõ do Duque de Castiglione, commandante
em chefe do exercito de observação na Baviera :—
Soldados!—O nosso Imperador acaba de dar-me nova
K2
75 Miscellanea.
prova de sua confiança, pondo debaixo de minhas ordens
seis divisoens, que compõem o exercito Bávaro de ob-
servação. Todas as tropas que se unem a este exercito
saõ melhores, e mais veteranas do que as que se iminorta-
lizáram nos campos de Lutzen e Wurtchen, e que em taõ
breve tempo souberam confundir as falazes esperanças de
nossos inimigos.—Soldados ! Vos tendes ja merecido elo-
gios do Imperador, nas batalhas de Ulm, Austerlitz, Jenn,
Friedland, Wagram, e nas campanhas de Hespanha. Eu
esperoquc sereis dignos da reputação que tendes adquirido.
—Soldados! Lembrai-vos dos louros que tem coroado as
vossas águia». Vos tendes admirado o universo por vosso
valor; sede também a sua admiração por vossa disciplina
NaÕ mancheis o bello titulo de Francezes pela rapina, e
devastação, vós achareis sempre em mim um chefe igual-
mente justo e severo, muitos de vos naÕ ignoram isto.
Respeitai a religião, as pessoas, e as propriedades! Amai
o Soberano, e a Pátria, e a victoria coroará os nossos es-
forços !
(Assignado) ANGEREAU, Duque de Castiglione.
Do campo juncto a Wurtzburg, 1 de July, 1813.
EXERCITO D'ARAGAÕ.
Valencia, 14 de Junho.
Neste momento (4 horas da tarde) recebi uma carta do
Gnvernador de Tortosa, datada de 3 de Junho, \ d'hora
dopois das 9 da manhaã, de que o seguinte he copia:
Monseigneur!—A frota do inimigo apparecêo á vista
de Tarragona, hontem pela manhaã ás 5 horas: consiste
em 180 velas ; e parece fazer rumo a Villanova de Bitjes.
Neste estado das cousas tenho determinado marchar,
com 600 infantes, e 800 cavallos, para a Catalunha baixa,
a fim de ajunctar as tropas do General Decaen : e, se for
possivel, trabalhar por combater os Inglezes. Sou, &c.
(Assignado) O Marechal Duque d'ALBUFERA.
Ao Ministro da Guerra.
Do mesmo ao mesmo.
Valencia, 25 de Junho, 1813.
Senhor Duque 1—Pela minha participação de 21 ; in-
formei a V. Ex*. da precipitação com que os Inglezes le-
vantaram o sitio de Tarragona, e se tornaram a embarcar.
A necessidade de seguir os movimentos da esquadra, me
obrigou a sacrificar o prazer que teria, indo a Barcelona,
cm dar os parabéns ao General Bcrtolette e sua valorosa
guarniçaõ, por esta bella e vigorosa defensa : teria per-
dido seis dias, ao mesmo tempo que logo que recebi uma
participação do General Maurício Matthieu, de Réus, e
duas cartas do General Bertolette, so pensei cm voltar a
Valencia, para que os Inglezes se me naõ ant icipassem.
A erca dos Inglezes em Tarragona foi iuimensa ; 30
peças de pezado calibre, morteiros, navios de fogo, bom-
bas, armazena de argua ardente, carne salgada, &c. tudo
consu-raido pelas chamas porém o inimigo soffrco ainda
mais consideráveis percas, na noite de entre 20 e 21 ; os
signaes, e o fogo das peças, annunciáram que o immenso
comboy tinha decidido cm deixar a costa de Catalunha.
Ao amanhecer se viram em frente das bocas do Ebro dez
navios grandes, que tinham encalhado nas arcas na boca do
rio. V E. poderá melhor julgar disso pelas participaçoens
do chefe das Guardas de Sourde, que tenho a honra de in-
cluir. Logo que disso fui informado, ordenei que se soe-
corressem estes vasos ; porém a grande difficuldade de ali
VOL. XI. No. 62. J.
82 Miscellanea.
chegar impedio que se alcançassem. Vários navios des-
tacados do gram comboy voltaram a traz, c obtiveram
salvar a maior parte das tropas c transportes : parece que
o inimigo naõ perdeo senaõ cinco navios, que cm geral
foram abandonados.
Logo que fui informado de que o inimigo tinha dado á
vela para a costa de Valencia, puz cm marcha a divisão
Musner e Aigrcmont; por um esforço digno de louvor,
ellas marcharam 15 léguas em um dia, ambicionando an-
ticipar as tropas do inimigo em todos os pontos. Todas
as declaraçoens dos capitaens, cujos vasos encalharam,
dizem, que o inimigo tinha de desembarcar em Castellan
de Ia Plana, para me separar da força que eu deixei em
Xucar. A admiração da rapidez da marcha de nossas
tropas, e a violência dos ventos naõ permittiram que o
inimigo executasse os seus projectos ; elle ficou por tres
horas á vist» de Castellan, aos 22, e no mesmo dia che-
guei eu ali com 4.000 homens, e 800 cavallos, e 6 peças
de artilheria ligeira. A frota, batida por ventos contrá-
rios, apparecêo diante do Gráo de Valencia, foi desta-
cada uma fragata para tomar posse do pequeno corsário, o
Determineé : estava elle juncto á praia, e encalhado ao pé
de Murviedro, o General Roulle partio com duas com-
panhias de granadeiros ; e duas peças d'artilheria em seu
soccorro. Houve um vivo fogo, o inimigo lançou ao mar
vários botes cheios de tropa, que tentaram repulsar a
nossa gente, mas fôram obrigados a retirar-se com perda
considerável.
(O resto i\o officio saõ exclamaçoens dizendo, que os
esforços dos Inglezes para accender outra vez a guerra na
Catalunha fôram mal suecedidos.) Sou, &c.
(Assignado) O Duque d'ALBi>tn*.
Miscellanea. 83
E X E R C I T O DE C A T A L U N H A .
Extracto de uma Carta dirigida ao Ministro da Guerra,
pelo General de DivisaÕ Lamarque, Commandante da
Catalunha superior ; datada de Gerona, 25 de Junho.
Monseigneur!—O inimigo tinha concebido o desígnio
de se lançar em Lampurdan : e de tomar, com o auxilio
dos Inglezes, alguns fortes, que nos tínhamos construído ;
fazer sublevar o paiz, e obrigar-nos assim a perder os
fructos de dous annos de trabalhos.
Aos 23 pela manhaã apparecêo diante de Palamos uma
esquadra de 15 navios de linha, 8 dos quaes eram de
tres cubertas e vários transportes. O Baraõ de Eroles
desceo das montanhas de Mieras, e S. Pan, para Banolas,
aonde ordenou que se lhe apromptassem 10.000 raçoens de
paõ. O rumor publico diz que as suas forças eram 5.000
homens tropa de linha, alguns bandos, e 200 cavallos;
annunciaram que marchavam para Escala, a fim de fa-
vorecer o desembarque, e depois distribuir as forças pela
Catalunha Superior.
Naõ havia um momento que perder, eu me decidi a
atacar os que desciam das montanhas, antes da sua junc-
çaõ com as tropas que se suppunham estar embarcadas.
Em conseqüência sahi de Gerona pela uma hora da tarde;
eja a canhonada, e um vivo fogo de mosqueteria se
ouvia do forte de Banolas : o ardor das tropas éra tal, que
em menos de duas horas fizeram uma marcha de tres
grandes léguas, que nos separavam do inimigo. Nos
achamolo rodeando o forte, oecupando o lugar de Banolas,
e tres pequenos oiteiros destacados, cubertos de vinhas e
oliveiras, e divididos por pequenos muros de 8 ou 10 pez
de alto ; o que fazia difficil a aproximação.
Animados talvez pela presença do Baraõ d\Eroles, os
Hespanhoes, pelejaram com mais de ordinária resolução
e até houve um momento em que o lugar foi retomado
L2
g4 Miscellanea.
pela cavallaria iiiimija, que pôz cm desordem a nossa
companhia de Miqucletes. Porem as nossas reservas
estavam ja promptas: o 23 de linha avançou outra vez
contra o inimigo, e penetrou as suas massas : o 1* ba-
talhão (\o regimento 60, commandado pelo Coronel Linud
tomou, a pas de charge, a 2a. altura, que ficou cuberta
de mortos : uma companhia de caçadores do 29 se lançou
no Iu»ar, em quanto o 2°. batalhão do 60 o flanqueou, ca-
pitaneado pelo chefe de batalhão Shepern.
Os hussares de S. Narciso, que tentaram vários ataques,
fôram passados á espada nas ruas e praças, aonde deixa-
ram vários mortos alguns prisioneiros c cousa de 30
cavallos. O Brigadeiro Baraõ Fuxa, que commandava a
cavallaria foi morto.
O inimigo, expulsado da cidade, e posiçoens fortes que
lhe saõ padrastos, cm vaõ tentou com a sua reserva de-
fender a aldea de Meanagas, e as margens dos lngos : tre?
peças de artilheria, retardadas até aqui pela difficuldade
do terreno, chegaram entaõ ; atiraram mais de 200 balas,
e depois de uma batalha de 5 horas, os Hespanhoes, der-
rotados em todos os pontos, voltaram em desordem para
as montanhas escabrosas, d'onde tinham descido.
Segundo os differentes rumores, a perca do inimigo
consiste em 600 homens. Naõ obstante o seu custume de
levar com sigo os mortos e feridos, deixou grande nu-
mero delles no campo de batalha. Tomamos lambem
alguns prisioneiros.
(Seguiam-se aqui as listas dos officiaes que se distingui-
ram, mas naõ se nomeia a perda que houve.)
A esquadra Ingleza depois de estar por dous dias
diante de Palamos, Escala, c bahia de Rosas, se fez na
volta do mar.
Miscellanea. $5
Paris, 17 de Julho.
Magdeburg, 12 de Julho.
O Imperador chegou aqui hoje, ás 7 horas da manhaã.
S. M. montou a cavallo, e visitou as fortificaçoens, que
fazem de Magdeburgo uma das mais fortes praças da Eu-
ropa, S. M. sahio de Dresden aos 1 3 ; ás 3 horas da
tarde. EUe almoçou em Torgau, visitou as fortificaçoens
daquella praça, e passou revista â brigada de tropas
Saxonias, commandas pelo General Leweg. A's seis
horas da tarde chegou a Wittenberg, e vio as fortifica-
çoens. Aos 11, âs 5 horas da manhaã, S. M. passou re-
vista a 3 divisoens vindas de F r a n ç a ; nomeou quem
preenchesse as occupaçoens vagas; concedeo varias
mercês a alguns officiaes, e soldados. O Imperador par-
tto de Wittenberg ás 3 da tarde, e chegou a Dessau ás 2
horas ; da manhaã e ás 5 estava em Magdeburgo, aonde
estaõ acampadas tres divisoens do corpo do General
Conde Vándamnic.
HESPANHA.
Evacuação de Madrid.
Ao Dia 27 de Maio, Dia da AstensaÕ do Senhor.
Madrid, 7 de Junho, de 1813.
Salve astro luminoso, centro da luz, pai da vida, e Cie-
ador do dia mais feliz, que jamais vio a opprimida Capital
das Hespanhas. Salve dia fausto, dia ditoso, dia benéfico,
em que rotas as cadeias da tyrannia, respiraram os Madri-
lenhos a aura suave da liberdade, e em que dissipadas as
trevas do mais atroz despotismo, tornaram a recobrar os
seus direitos debaixo dos auspícios da sua Constituição,
do código sagrado das suas leis, a da sua ventura.
Jazia Madrid agrilhoada com pezados ferros, que cahí-
ram despeçados no dia 10 de Agosto de 1812, a impulso do
immortal Wellington, e de outros guerreiros Hespanhoes;
mas passados tres mezes tornou a inclinar a cerviz ao jugo
8s Miscellanea.
oppressor da tyrannia. Que ais ! que suspiros naõ cxbalou
este generoso, c invencível povo nos seis mezes, que durou
o seu captiveiro! Pura qualquer parte que volvesse os
olhos os via a liberdade alimentando risonha ai suas espe-
traeças. Se os voltava para as Columnas de Hercules via
os Pais da Pátria utxuroulando esforços sobre esforços,
para multiplicar o ferro vingador dos seus ultrages. Fixan-
do-os na poderosa Albion, via cem mil Guerreiros tintos
de sangue Francez, e coroados de louros, auuunciaudo-lhc
que naõ estava longe de gozar, o doce fructo da sua fiel
aliiança. Da parte do Norte via a derrota geral dos satcl-
lites do tyranno da Europa ; mostrando-lhe a impossibili-
dade de poderem prolongar por mais tempo o seu capti-
veiro.
Nestas circumstancias ve snhir do seu centro o que se
denominava Rei das Hespanha--., por naõ considerar que
repousando a estabilidade dos thronos no amor, e fidelidade
do6 povos, naõ pode consolidar-se com a força dos tyrannos.
Madrid crê chegado o termo das horríveis vexaçoens, que
lhe fazem derramar torrentes de lagrimas; mas o feroz
Soult naõ cessa de as renovar multiplicando os flagellos da
oppressaõ. O dia 9 de Abril be um dia de terror, que faz
estremecer este bárbaro, julgando na illusaõ da sua cobarde
atrocidade, que vê ja levantada sobre a sua cabeça a espada
exterminadora vingando a honra ultrajada da Pátria. Dá
accclcradamente todas as ordens para evacuar a Capital;
cegee, e criminosos sequazes do seu partido, esperam o
o tiro da peça de artilheria, que lhes devia annunciar
aaquella mesma noite o momento fatal da sua retirada,
Naõ se ouvem senaõ ais, lamentações, e as ultimas despe-
didas ; os leitos nupciacs vaõ ficar desertos, rompendo os
miseráveis afrancezados em imprecaçoeni contra a Pátria,
que lhes deo o ser, e contra os Guerreiras que os reduzem
a taõ doloroso conflicto.
Mas a Provideacia permitte que se mude a scena; Ma-
Miscellanea. 89
drid vé outra vez eclipsada a luz, que tinha transluzido.
Que flagellos e oppressoens se naõ soffreram desde este dia
até 27 de Maio? A mais desenfreada rapacidade multi-
plicou as contribuiçoens até o ponto de reduzir á ultima
miséria as familias honradas, que viviaõ com decoro. A
indisciplina dos soldados apoiada pelos Chefes conduzio-
se aos últimos excessos, tratando com igual brutalidade as
mulheres casadas, as donzellas, as crianças, e os velhos.
Os enfermos, e até os moribundos tiveram que soffrer â
cabeceira das suas camas os infames exactores do detes-
tável despotismo. O procedimento dos nossos oppressores
foi taõ horrivel, que parece que nos naõ deixaram a vida,
senaõ para que passássemos pela amargura de apetecer a
morte.
Espalharam-se a 15 noticias de que se aproximavam os
Inglezes, e os Hespanhoes ; o que confundio, e atterrou
sobre maneira os coraçoens dos decantados vencedores de
Austerlitz, e Marengo. Reforçam-se as noticias com o mo-
vimento do Empecinado, movimento que equivaleo para
elle a uma victoria, e para os Francezes a uma derrota
completa nos campos de Torrejon ; o terror cresce de tal
modo, que tudo se prepara para fugir. Chega naquella
tarde de Segovia o Ministro Anglo, aonde o General Gazan o
naÕ quiz receber : este ministro tinha sabido seis dias antes
dimittido do seu emprego; esta miserável futilidade bastou
para reanimar os afrancezados. Estes recobram novo alento
com uma carta que se leo no Prado, em que se annunciava
a total derrota dos exércitos Russos, e sem mais reflexão,
nem discernimento, rompem em vivas, e acclamaçoens, a
Napoleaõ, lançando os chapeos ao ar, e derramam-se por
todos os caffés despejando garrafas com festas indiscretas.
E haverá ainda á vista de tudo isto quem duvide de que
ha cabeças vivas sem miolos !
A 26 amanheceram estes miseráveis com as suas espe-
ranças um pouco amortecidas; e ficaram inteiramente con-
V O L . X I . N o . 62. M
90 Miscellanea.
sternados, quando viraõ sahir o numeroso comboi de minis-
tros, empregados, e oppressores de toda a espécie, os quaes
cheios de amargura, dor, e abatimento, deixaram as suas
casas, e familias, talvez para as naõ tornarem a ver nunca
mais; mas apezar disso, ostentavam um orgulho affectado,
que intimidou os espíritos fracos, que deduzem de tudo
conseqüências funestas. Dez, ou doze Einpecinados inter-
ceptaõ pelns -1 da tarde uma partida de dragoens, que
vinha de Getafé, matam tres, e entre elles o official que os
commandava, c um cavallo; os mais em número de 14
cnlregani-t-e prisoneiros á vista, evidencia, e paciência das
guardas da Ponte de Toledo, que presenceáram esta scena
com todo o socego. Pelo fim da tarde entra pela porta de
Alcalá um dragaõ a todo o galope; chega ao Prado, apca-
se, o busca entre a immcnsa multidão dos que andavam no
largo do passeio, o General Lavallc, que também passeava,
enirega-lhe uma parte, que o intrépido Francez le com a
palidez da morte pintada no semblante. Retira-se este
General para o seu alojamento, e expede ordens, que foram
executadas com tanta actividade, que ás 11 apenas haveria
um Francez, c nenhum afianeczado em Madrid ; e pela
meia noite, já esta heróica Capital estava inteiramente livre
dos seus oppressores, e entregue toda a effusaõ de uma
alegria geral, que só se pode comparar na intensidade, e
grandeza com as lagrimas, desgosto, e desolação dos afran-
cezados, e das suas miseráveis famílias.
O 28, e y9 foraõ dias de triunfo para Madrid- O Em-
pecinudo, nome glorioso, que passará ás geraçoens futuras,
com ail mi raçaõ, e respeito, estava com parte das suas tro-
pas na estalagem do Espirito Santo, e em Vicalvaco. O
caminho destes sitios esteve taõ freqüentado a toda a hora,
qne parecia que a povoaçaõ se tinha trasladado para o
caiu) >. Todos tinhaõ os olhos fixos no Heroc da nossa
rcobiÇaõ, < qual revestido da mais cândida singeleza, e
üa magestade que nasce do valor, acolhia, todo o mundo
Miscellanea. 91
com agrado, e exugava as lagrimas dos afflictos com o modo
carinhoso com que os gasalhava. O governo provisório
distribuo entre tanto ordens justas, e acertadas, para
manter a tranquillidade pública, a qual naõ foi interrom-
pida por accidente algum funesto : entre outras determinou,
que com illuminaçaõ geral se festejasse o dia 30, para
celebrar o dia natalicio do nosso Augusto Monarcha Fer-
nando V I I .
O dia 30 foi para todos os coraçoens um dia de júbilo,
de satisfacçaõ, e alegria. Até os mais pobres - moradores
davam a conhecer no seu asseio, e no regozijo que mani-
festavaõ no semblante, que eraõ cidadãos livres, e verda-
deiros Hespanhoes. Naõ se encontravam nem ouviam
pelas ruas senaõ musicas, danças, festas, e cantigas pa-
trióticas, que até as mesmas meninas entoavam em coros
com todas as graças da innocencia. A illuminaçaõ foi
magnífica, e universal em toda a extensão do termo; as
trevas da noite tiveram que ceder o seu império á
claridade assombrosa de innumeraveis luzes, que eraõ
outros tantos signaes de patriotismo de amor da Consti-
tuição, e do Monarcha, que trasbordam nos coraçoens
dos Madrilenhos. Todos os habitantes da Capital, sem
distineçaõ de idade nem de sexo, sahiram á rua pari go-
zarem de taõmagestoso espectucu!o,sem que no meio deste
numeroso concurso se soffresse o menor incommo,'<>. ou
se distinguissem outros sons, á excepçaõ dos vivas, e accla-
maçoens, que a alegria pública fazia resoar por toda a
parle.
Vinde cegos afrancezados, vinde illusos preselytos do
despotismo, vinde contemplar este magnífico espectaculo.
c dizei se uma alegria taõ pura, se uma satisfação taõ geral
vem das persuaçoens dos clérigos, e Frades, ou se na«cc
do sentimento intimo do coração. Os Madrilenhos, ;>ssim
como os mais Hespanhoes prezaõ a honra, e amaõ a Pátria,
sem necessidade de persuaçoens, nem terror dus baionetas,
M 2
92 Miscellanea.
Comparai esta illuminaçaõ com as festas forçadas, que
fizestes offerecer ao vosso José pelas oppressoens deSatini,
* e dos seus sórdidos satellites ; e se tendes ainda algum
resto de senso commum, conhecereis que nem Napoleaõ,
nem lodosos tyrannos junetos, tem força para subjugar um
povo determinado a derramar a ultima gota do seu sangue
para evitar a escravidão. (Diário de Madrid.)
Corunha, 10 de Junho.
Copia da Parte que depois da evacuação de Castro
dá ao Ex—- Sr. D. Gabriel Mendizabal o Tenente
Coronel D. Pedro Paulo Alvares, que era Governa-
dor delia.
Ex mo . Sr.: Depois de 18 dias da mais vigorosa defesa,
em que se soffreraõ 7 do mais horrível fogo de artilheria da
* Dizem que a* partidas tomaram o Secretario deite Satrapa, e 3
carros do comboi. Tarabcin te diz hoje qae apanharam o Ministro
Angulo, e os 4 milhões, que levava em peças de ouro, roubadas aos
Madrilenhos.
Miscellanea. 93
17 peças de grosso calibre, e depois de brecha aberta
na cortina esquerda da Porta de S. Francisco, tendo
soffrido um assalto de mais de 5.500 homens, consegui
salvar a guarniçaõ com grande felicidade, no mesmo
tempo em que os inimigos enfurecidos passavam á espada
os poucos habitantes, que tinhaõ ficado na villa, e incen-
diavam todas as casas, que reduziram a cinzas.
Apresso-me a communicar a V- E . esta noticia, assegu-
rando-o, em quanto se naÕ offerece occasiaõ de lhe remet-
ter o detalhe de todas as operaçoens do sitio, que o dia 11
de Maio de 1813 naÕ cedeo em nada ao 2 do mesmo mez
de 1808.
Deos guarde a V. E . muitos annos,
D . PEDRO PAULO A L V A R E Z .
mo
Ex . Sr. D . G A B R I E L M E N D I Z A B A L .
Berraeo, 13 de Maio de 1813.
P. S. O Comodoro Collier, Commandante da Esquadra
de S. M. Britannica da costa de Cantabria, mandou oppor-
tunamente quatro bergantins, ás ordens do Capitão Bloye,
commandante do Lira, para a defensa desta Praça, os
quaes obraram com o valor que caracteriza esta heróica
naçaÕ nossa aluada, tanto no tempo do sitio, como no mo*
mento do embarque da guarniçaõ.
O Tenente Coronel D . Manoel Aguirre destinguio-se
na brecha, aonde ficou ferido de um bote de baixoneta
D . Mariano Castanhos, que foi Capitão de Artilheria, of-
fereceo-se voluntariamente para a defesa da Praça, em
que deo provas de valor. Quartel-General de Ordunha,
15 de Maio, de 1813.
(Assignado) MENDIZABAL.
94 Miscellanea.
INGLATERRA.
VOL. X I . N o . 62. »
98 Miscellanea.
Officios relativos a Esquadra Ingleza nas Costas da
America.
Officio do Contra-Almirante G. Cockburn, referindo as
suas operaçoens na bahia de Chesapeak.
Navio de S. M. Maidstone, 3 de Mayo,
ancliorado defronte de T u r k e y - P o i n t .
S E N H O R ! — T e n h o a honra de vos informar, que estando
anchorados os brigues, e vasos pequenos em frente da ilha
Squrscuie, na conformidade d e minhas intençoens que vos
participei, na minha relação official de 29 ultimo N ° . 1 0 ;
ob>ervei que se davam fogo a algumas peças, e se alçava a
bandeira Americana em uma bateria, ultimamente con-
struída em Havre de G r a c e , na entrada do Rio Susquehana ;
isto lhe deo uma conseqüência, que eu até entaõ lhe naõ
tinha considerado, c por tanto determinei-me a atacalla, de-
pois de ter completado as nossas operaçoens na ilha : conse-
quentemente lendo sondado na sua direcçaõ, e achado que a
p o u c a profundidade da água só admittia que se lhe apro-
ximassem botes, ordenei que estes se ajunetassem debaixo
do coinmando do T e n e n t e W e s t p h a l ( I o . do Marlborough)
hontem á noite pela meia noute, ao lado do Fantome,
quando os nossos destacamentos de soldados de marinha,
em numero de 150 homens, (como d'antes) sob o comman-
do dos Capitaens W y b o u r n e Carter, com uma pequena
partida d e artilberos, se embarcaram nelles, sob o com-
mando do T e n e n t e Robertson, da artilheria ; estando o
todo debaixo das ordens do Capitão Lawrence, do Fan-
tome ( q u e com muito zelo e promptidaõ tomou sobre si,
por minha solicitação conduzir este serviço) partiram
paia 1 lavre, a fim d e tomar a cuberto da noite, as posi-
çoens necessárias para começar o ataque ao romper do dia.
O s vasos Dolphin e Highflyer, commandados pelos T e -
nentes Hutcliinson e Lewis, seguiram para auxiliar os botes,
mas a pouca u g u a impedio q u e se aproximassem mais
perto do que seis milhas. O Capitão Lawrence, porém,
Miscellanea. 9g
E X É R C I T O S ALLIADOS N A PENÍNSULA.
Officios do General em Chefe dos Exércitos Alliados na
Peninsula.
Carvajales, 25 de Mayo.
Na manhaã do dia 26 cheguei com as tropas ás immedia-
çôes de Salamanca, e achei que o inimigo ainda a occupava
com uma divisão de infanteria, tres esquadroens de caval-
laria, e alguma artilheria do exercito do Meio dia, tudo
debaixo do commando do General Villate. O inimigo
evacuou a cidade quando nos aproximámos a ella; porém
deteve-se mais do que devia sobre as alturas immediatas,
por cujo motivo proporcionou opportuna occasiaõ á caval-
laria do commando dos Generaes Fane, e Victor Alten para
V O L . X I . No. 62. o
106 Miscellanea.
o atacar, passando o primeiro o Tormes no váo de Santa
Marta, e o segundo pela ponte, para causar-lhe maior
damno na sua retirada : muitos foraõ mortos e feridos,
fizemos perto de 200 prisioneiros, e tomámos 1 caixões de
munições, alguma equipagem, provisões, &c.
Retirou-se o inimigo pelo caminho de Babila Fuente, e
perto de lugar de Huerta se lhe incorporou, sobre a
marcha, um corpo de infantaria e cavallaria, procedente
d' Alba de Tormes; entaõ ordenei, que a cavallaria dei-
xasse de perseguillo em attençaõ a que naõ tinha ainda
chegado a nossa infantaria.
O Major-general Long, e o Brigadeiro Morillo, que
commanda a divisão Hespanhola, atacaram Alba de
Tormes, donde inimigo foi obrigado a retirar-se. Nos
dias 27 e 28 estabeleci as tropas, que tinhaõ marchado do
Agueda, e Estrr nadura alta, entre o Tormes, e Baixo
Douro, commandadas pelo Tenente-general Sir Rowland
Hill; sahi no dia 29 de Salamanca, e no mesmo cheguei
a Miranda do Douro. No dia seguinte, 30, achei, em vir-
tude (Io que eu tinha projectado, as tropas do commando
do Tenente-general Sir Thomaz Graham sobre o Esla,
tendo a sua esquerda em Tavora em communicaçaõ com o
Exerciio da Galliza, e a direita neste povo, e com as pre-
cisas disposiçoens para passar o dito rio: com effeito, a
maior parte das tropas o tem effeituado, a cavallaria pelos
váos, c a infantaria por uma ponte, que foi necessário
estabelecer por causa da profundidade das agoasdo sobre-
dito rio, que era tal que mesmo da cavallaria se affogáram
alguns soldados ; os Hussares Inglezes, que foram os que
primeiramente passaram, fizeram perto de Valdepcrdizes
a um official, e 30 dragoens prisioneiros.
O inimigo evacuou Zamora, e as nossas patrulhas en-
traram iii-quclla cidade; as tropas inimigas que haviam
nella, se retiraram para Toro, aonde tem, segundo ouço,
uma divisão de infantaria, c uma brigada de cavallaria.
Parece que o inimigo reuuio cm Nava dcl Rey as
Miscellanea. 107
tropas, que se retiraram de Salamanca, Alba, &c. com
as que haviaõ em Arevalo, e Medina dei Campo, e sup-
ponho, que á proporção, que adiantar esta parte do ex-
ercito, se retirarão para a direita do Douro.
Em Madrid, e sobre o Tejo ainda permaneciam tropas
inimigas no dia 22; porém concluo, que ellas teraõ
evacuado aquella parte do paiz, logo que tivessem noticia
dos nossos movimentos.
Tenho recebido participações a que dou credito, ainda
que naÕ saõ officiaes, d* que a guarniçaõ Hespanhola
evacuou Castro Urdiales, embarcando-se em navios In-
glezes.
Depois do meu anterior despacho, que dirigi a V- E.,
naõ tenho recebido participação alguma de Alicante.
Salvatierra, 22 de Junho.
M Y LORD I—O exercito do inimigo, commandado por
Joseph Bonaparte, e tendo o Marechal Jourdan por seu
Major-general, tomou uma posição, na noite de 19 do cor-
rente, em frente de Vittoria, cuja esquerda se apoiava nas
alturas que findam na Puebla d' Arlanzon, e se extendem
dali cruzando o vale de Zadora em frente da aldea de
Arunel. Occupava o inimigo com a direita o centro de
uma colina que fica a cavalleiro do vale de Zadora, e a di-
reita do seu exercito estava postada juncto a Vittoria, e
p 2
1]6 Miscellanea.
Irunzun, 21 de Junho.
My Lord !—Havendo-se demorado a partida do Cap.
Freemantle até hoje, pela necessidade de concluir os ma-
pas, tenho de referir a V. S. que continuamos a seguir o ini-
migo, cuja retaguarda chegou a Pamplona hoje ; temos.lhe
causado tanto damno quanto podíamos, considerando o
estado do tempo e dos caminhos ; e hoje a guarda avan-
çada, consistindo da brigada do Major-general Victor
Baraõ Alten, e do I o . e 3 o . batalhoens do regimento 95,
e da companhia d'artilheria de cavallo do Major Ross;
tomou a única peça que lhes restara. Os inimigos entraram
em Pamplona com um obuz unicamente.
O General Clausel, que tinha debaixo de seu comman-
do aquella parte do exercito do Norte, e uma divisão do
exercito de Portugal, que naõ entraram na acçaõ do dia
21, aproximou-se a Vittoria aos 22, e entaõ soube da
acçaõ do dia precedente, e achando ali a 6 a . divisão,
que acabava de chegar debaixo do commando do Major-
general o Honr. E. Pakcnham, se retirou para La Guar-
diã, e dahi marcha para Tudela do Ebro. He provável
que o inimigo continue a sua retirada para França.
Eu destaquei o General Giron, com o exercito de Ga-
liza, no alcance do Comboy, que marchou de Vittoria na
manhaã de 20, e espero que o apanhe antes de que cbegue
a Bayonna. Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) WELLINGTON.
Downing-street, 10 de Julho.
Recebeo-se na Secretaria de Lord Bathurst um officio
do Marechal de Campo o Marquez de Wellington, datado
126 Miscellanea.
de Orcoyen 26 de Junho, 1813 ; do qual o seguinte he um
exrracto :—
O inimigo continuou a sua retirada pela manhaã, da vi-
zinhança de Pamplona, pela estrada de Roncesvulles, para
França, e foi seguido pelas nossas tropas ligeiras. A for-
taleza de Pamplona foi investida hoje.
Recebi uma carta aos 22, do Coronel Longa, em que
refere, que tomou seis peças d'artilheria, de um destaca-
mento de tropa>, sob o commando do General Foy» na sua
retirada para França pela estrada real de Mondragon,
Eu devia ter informado a V. S. no meu officio de 24 ; que
aos 23 destaquei o Tenente-general Sir Thomas Graham
para a esquerda, em direitura de Tolosa, com vistas das
operaçoens, que se tem de fazer naquella parte.
Por uma carta delle, em data de 25, parece que chegou
hontem a Tolosa tendo sido contrariado na occupaçaõ da-
quella cidade, pelas tropas que se retiravam sob o com-
mando do General Foy. Elle menciona o auxilio que re-
cebeo do Coronel Longa, e de dous batalhoens do exercito
de Galliza, que o General Girou tinha deixado com elle,
neste ataque contra Tolosa. Sir Joaõ Murray, certamente
desembarcou na Catalunha, aos 4 do corrente, e tomou
posse de Col. de Balaguer, aos 7 : e neste posto acharam
17 peças d'artilheria. Tomaram-se alguns prisinoeiros.
BULETIM OFFICIAL.
Repartição de Guerra, Downing-strect, 25 de Julho.
Rcccbêram-se officios de Lord Wellington, datados de
Zubieta, 10 de Julho. O General Mina participou a
S. S. que o General Clausel tinha marchado de Çaragoça
para Jaca.—Ainda que o inimigo tinha retirado toda a
sua direita c esquerda, para a França, com tudo tres divi-
soens do centro, comruandadas pelo General Clausel, fica-
vam no vale de Bastan, cuja posse pereciam determina-
dos a conservar, por ser mui rico, e cheio de posiçoens
fortes. Aos 4, 5, c 6, do corrente fôram suecessivãmente
desalojados de todos os seus postos por duas brigadas de
infanteria Britannicas, c duas Portuguezas ; comrnandados
por Sir Rowland Hill; c assim fôram obrigados a retirar-
se para França. A perca dos Alliados foi somente 8 mor-
tos, c 119 feridos. Entre estes se acha o Tenente Bali do
regimento 34.
Por cartas particulares se sabe, que aos 12 estava o
quartel-general em Ernani, e Lord Wellington tinha re-
cebido cartas de Lord Bentick, datadas de S. Felipe, aos
7 de Julho ; c do General Elio, em Valencia. O Mare-
chal Suchet, se retirava para o Ebro, tendo deixado 2.000
homens em Morvicdro.
PORTUGAL.
Quartel-general de Tamanes, 23 de Maio, de 1813.
Ordem do Dia.
Sua Excellencia o Sr. Marechal Beresford Conde de
Trancoso manda transcrever nesta ordem os tres parágra-
fos, que abaixo se seguem, da ordem do dia 13 do cor-
rente do Illustrissimo, c Excellentissimo Sr. Marechal Ge-
neral Lord Marquez de Wellington, e de Torres Vedras ;
e espera o Sr. Marechal, que os Officiaes do Exercito
Portuguez prestem toda a attençaõ ao conteúdo nos referi-
dos tres parágrafos.
SICILIA.
Copia de uma Carta de Raynha de Sicilia a Lord
Bentick.
(A sequinte carta foi escripta pela Raynha de Sicilia a
Lord Bentick, em conseqüência de ter falhado na ultima
tentativa de recobrar a sua influencia na Ilha, sob pretexto
de recstabelecer seu marido no throno.)
LORD BENTICK!—NaÕ obstante o presente irregular
procedimento de vossa corte, em me forçar, a mim Raynha
das Sicilias, por nascimento Archiduqueza de Áustria, a
abandonar, depois de uma uniaÕ de 45 annos, El Rey
meu Esposo, e a minha familia, e retirar-mc para o paiz
de meu nascimento, debaixo dos especiosos, porém falsos
pretextos, umas vezes de minha pretensa correspondência
com o inimigo commum (calumnia atroz! que desafio a
que alguém produza a mais leve prova), e algumas vezes
de minha violenta propensidade, como dizem, de criar
obstáculos ao projecto do Governo Inglez, de mudar a
Constituição, com que a Sicilia tem existido por tantos
séculos; naõ obstante que estou bem longe de reconhecer a
authoridade do Governo Britannico, de quem Deus me
fez independente por nascimento, nem por isso deixo de
sentir a necessidade de me submetter ás ordens que elle
VOL. X I . No. 62.
146 Miscellanea.
prescreve, visto que esta submissão parece ser o único
meio de preservar os interesses d i minha familia, a que
me tenho dedicado, durante toda a minha laboriosa car-
reira. Naõ hesito em fazer este ultimo sacrifício, ainda
que me possa talvez custar a vida.
Portanto, my Lord, declaro-vos, e por meio de vos
declaro á vossa corte, que somente cedo a esta conside-
ração, e a nenhuma outra ; e que estou prompta a partir
no fim do presente mez, para voltar aos dominios do
Imperador de Áustria, meu Augusto parente e sobrinho.
"Devo recusar ir para Serdenha, porque naõ quero se-
parar-me de todos os ramos de minha familia ; e como, na
minha idade, esta separação deve ser final; desejo igual-
mente evitar o morrer em terra estranha.
Desejo que, fazendo os arranjamentos para voltar ao
meu paiz natal, esta viagem seja a mais breve, e menos
penosa possivel : a minha idade, e a minha saúde estra-
gada por vinte annos de pczares, de mortificaçoens, e de
perseguiçoens de toda a sorte, mc naõ deixam se quer a
esperança de acabar esta viagem.
Submcttendo-me a este acto de violência, naõ posso
nem devo esquecer-me do que hc devido a meu nasci-
mento, e a minha graduação; requeiro, c exijo, antes de
sua execução, as seguintes condiçoens ; e estou persuadi-
da My Lord, que vós consentireis, c vos dareis pressa a
precnchcllas.
Que se faça um arranjamento para segurar a meus cre-
dores o pagamento de minhas dividas; uaõ desejando eu
sahir da Sicilia sem cumprir com este sagrado dever.
Requeiro também que se tomem medidas para a restituição
de meus diamantes, que estaõ depositados no banco de
Palermo.
Que se me entregue, o mais breve que for possivel, uma
somma igual ás despesas de uma jornada taõ longa, e taõ
remota como a que sou obrigada a emprehender, com um
Miscellanea. 141
séquito igual a graduação em que a Providencia me tem
colocado.
Que se me assegurará uma somma sufficiente para sus-
tentar esta graduação, no paiz para que eu mc retirar, e
que será paga seis mezes adiantados.
Que se dará licença para sahir, a todas as pessoas,
que desejarem unir-se a meu serviço, e ao de meu filho,
Leopoldo, que acompanha sua desgraçada mãy, e que os
que recebem de mim soldo, ou pensoens do Governo
Siciliano, receberão uma segurança de que as mesmas lhe
seraõ transmi(tidas aonde quer que se achem residentes.
Ultimamente, que se porá á minha disposição uma
fragata, pertencente a El Rey, uma cor veta, e os trans-
portes necessários, a bordo de que se possa embarcar a
minha equipagem ; e requeiro também o ter a nomeação
do capitão da fragata, para minha tranqüilidade particu-
lar ; tendo grande medo de viajar por mar.
Tenho razaõ para crer, My Lord, que vós naõ acha.
reis nada que naÕ seja racionavel, e conveniente no que
requeiro, cuja execução he indispensável a uma jornada
taõ longa quanto hc trabalhosa, e a que me obriga o vosso
Governo. As vossas instrucçoens, segundo me informam
de Inglaterra, saõ que façais uso de vossa influencia no
Governo Siciliano, para o dispor a fazer todos os arranja-
mentos necessários, e convenientes, que se possam re-
querer. Se vós tendes até aqui demonstrado extrema
perseverança e firmeza, obrigando-me a fazer um sacrifi-
cia da minha existência, tenho razaõ de esperar, My
Lord, que sem vos desviardes das ordens de vossa Corte,
mantereis o mesmo character, a fim de segurar os últimos
dias de uma Princeza, victima de toda a sorte de desgraças,
e aquém vosso Governo, assim como a mesma naçaÕ In-
gleza, algum dia faiaõ a justiça que ella merece.
Mando-vos esta carta por maõ do General Macfarlane,
a quem sou infinitamente obrigada, e agradecida, pelo
T 2
148 Miscellanea.
delicado modo com que se tem comportado a meu re-
speito, e que me faz desejar o continuar a receber por
meio delle, quaesquer ulteriores explicaçoens sobre este
penoso negocio.
Rogo-vos que façais os meus cumprimentos a Ludy
Bentick, cujo coração sensível estou persuadida que par-
ticipa, e deplora os meus naõ merecidos soflrimentos.
Abril, 1813.
TSTADOS UNIDOS.
A p. 19, publicamos a mensagem do Presidente, ao Congresso,
na abertura da Sessaõ ; nelia veraõ os nossos Leytores, que se naõ
tem abatido a ira daquelle Governo contra a Inglaterra, naõ obstante
terem partido ja para a Rússia os Plenipotenciarios authorizado*
a tractar da paz ; em conseqüência do offerecimento de mediação do
Imperador Russiano.
O exercito dos Estados Unidos tem feito alguns progressos na sua
invasão do Canada ; c supposto que ultimamente fossem derrotados
em Burlington como se vê do bulctim official Inglez,que publicamos
a p. 96, com tudo, antes deste successo, tinham os Americanos
obtido muitas vantagens, que os habilitaram a entrar pelo interior
das provincias lnglezas.
Por outra parte a esquadra a Ingleza, na bahia de Chesapeak,
tem causado grandes estragos nos seus estabelicimentos de beiramar ;
operaçoens que servem de diversão, a fim de attrahir para aquella
parte as forças que alias se destinariam ao Canada.
O que he, porém, mais notável dos negócios nos Estados Unidos,
he o recurso a tributos directos, que o Piesidentc recommenda.
Até aqui naõ pagavam os Americanos nenhumas taxas directas; os
rendiineutos das alfândegas eram mais que suflicicotes para oceurrer
ás despezas publicas ; e tal éra a prosperidade das suas finanças, que
Mr. Jerterson, na ultima falia que fez ao Congresso como Presidente;
alludindo a esta circumstancia, observou, que seria melhor pro-
curar objectos de interesse nacional em que se empregasse o exce-
dente destes rendimentos, do que diminnir os direito* de alfândega
visto que, naõ se pagando estes senaõ de mercadoria» importada*,
principalmente manufacturas • eram os direitos d'alfandega utiliui-
Miscellanea. 155
mos em animar, e dar preferencia ás manufacturas do paiz. Este
brilhante prospecto depressa desappareceo, em conseqüência da
guerra, que lie um dos ctieitos de sua amizade com a França ; e naõ
de mero interesse dos Estados Unidos ; porque, o principal ponto
em disputa, que eram as ordens em Conselho, foi cedido pela Ingla-
terra, por causa de uma resolução do Parlamento na sessaõ do anno
passado; depois levantaram os Americanos a outra questão sobre
a prizaõ de marinheiros; questão que o Governo Inglez estava
prompto a decidir por tractados; logo daqui concluímos, que o
recurso ás medidas de guerra, naõ pôde ser de interresse seuaõ á
França; e he mais que provável, que seja a iustigaçaõ sua.
FRANCA.
Os extractos, que fizemos neste N°. das gazetas Francezas, saõ mui
pouco interessantes; porque durante o armistício nenhumas outras
operaçoens tiveram lugar senaõ marchas de tropas de uns para
utros postos ; e diremos de passagem, que a exaggeraçaõ do numero
das tropas Francezas que vaõ para as fronteiras, he mui evidente;
e com tudo naõ queremos dizer que o exeicito 1 rancez naõ seja
mui numeroso.
Nas ultimas gazetas Francezas, que se acabam de receber, vem o
seguinte artigo.
" Paris, 21 de Julho.—S. M. Imperial a Imperatriz Raynha Re-
gente, recebeo a seguinte noticia do exercito :
" O Duque de Vicenza, Gram Estribeiro : e o Conde de Narbonne,
Embaixador de França em Vienna, fôram nomeados pelo Imperador,
seus Ministros Plenipotenciarios em Praga.
•- O Conde de Narbonne partio aos 3.
" Suppoem-se que o Duque de Vicenza partirá aos 18.
'' 0 Conselheiro de Estado d'Anstett, Plenipotenciario do Impera-
dor de Rússia chegou a Praga aos 12.
" Assignou-se uma Convenção, em Neumarkt, para se prolongar
o Armistício até o meado de Agosto.
Ainda que deste artigo se conheça que o armistício foi continuado,
dos 20 de Julho até 15 ou 16 de Agosto; com tudo nada se pôde
ainda inferir do êxito provável das negociaçoens. He verdade que
os Plenipotenciarios para o Congresso estaõ ja nomeados: os do
Governo Francez saS o Conde de Narbonne, e o Duque de Vicenza
(Caulincourt) o do Imperador de Rússia he o Conselheiro D'Anstett;
o do Rey de Prússia h e o Baraõ Humboldt; doEmperador d'Áustria
he o Conde de Metternich. O mais notável destas noticias Francezas
(que naõ saõ officiaes) he a inencaõ que se faz de um ministro Inglez,
que também se dirige a Praga, e passou por um lugarejo no departa-
mento de Moselle, com um grande séquito e uma escolta Franceza:
158 Miscellanea.
nós em Londres naõ temos ouvido cousa alguma de tal Embaixador
Inglez; se daqui foi, he pessoa que ainda naõ fez falta nas companhias
publicas.
Mui pouco ou nada se sabe ainda no publico das bazes sobra
que aquelle Congresso deve fundar as negociaçoens ; e assim nos
abstemos de entrar nos projectos de paz, planos de negociaçoens, e
arranjos diplomáticos, com que os rumores tem enchido as gazetas
por todo este mez.
Dos exércitos Francezes na Hespanha tem as gazetas da França
publicado algumas noticias, que também copiamos no lugar con-
respondente deste N».; mas os nossos Leitores podoraS ajuizar do
estado da liberdade da impressa em França, vendo que nem uma só
palavra se diz da retirada do exercito de Jozé Bonaparte para França,
nem sobre a importantíssima victoria de Vittoria. Deste silencio
porém se conclue com toda a razaõ, que a derrota dos Francezes
foi taõ completa, que nem lugar dá a que se pudesse arranjar uma
biatoria plausível com que se pudesse cubrir a sua ignominiosa fuga.
A Imperatriz foi para Mayence visitar a seu marido.
HESPANHA.
Os acontecimentos da campanha tem libertado quasi inteiramente
••te paiz da oppressaõ dos Francezes, e he esse um beneficio, de que
os Hespanhoes se fazem merecedores; pela constância, que tem
mostrado, em suas adversidade*, pelo decidido patriotismo, que tem
brilhado ein toda a naçaõ ; a pelo indomável vigor com que tem re-
sistido á mais atroz de todas as invasuens.
Muitas cousai desejaríamos, que tivessem sido melhor dirigidas,
duraute a critica situação da Hespanha, nesta guerra. Mas quando
te rousidera, o estado de abatimento a que a administração de Godoy
i-eduzio a naçaõ ; a serie de accumulados abuso*, a que todas as re-
partiçocn*estavam sugeitas; a confusão inevitável, era que o Estado
fico" '•nvolvido. em conseqüência da anarchia, que resultou do desam-
paro total de seu Governo, e legitimo Soberano ; naõ ba desculpa,
que naõ estajamos inclinados a dar-lhe, por todas as fallas que se
te coiumettido.
Em dou* pontos insistimos sempre, como necessáriosá salvação da
Hespanha: um èr i a nomeação de um chefe geral para todas as tro-
pas que obravam na Península: outro era a accommodaçaõ cora
sua» colônias O primeiro pouto conseguio-se por fimt e os »cu*
beíH-lico» resultado» fôram instantaneamente viziveis: o segundo
I.(/I ran <•» Uinberr. que tenha lu^ar; porque naõ basta expulsar o»
Iranceze* da Hesjauhu.; he piecUo guardar a* fronteira* para que
naõ tornem a entrar ; e e»ie artigo naõ be taõ fácil como parece; •
Miscellanea. 157
de certo exige a uniaõ de Ioda a naçaõ; contra o que muito está a
separação de suas colônias. He de suppôr que o prejuizo ceda gra-
dualmente á razaõ.
INGLATERRA.
S. A. R. o Principe Regente do Reyno Unido concluio a sessaõ do
Parlamento com a falia, que publicamos a p. 94, e que he um re-
sumo do estado politico da naçaõ. Naquella falia se acha uma no-
tável, e positiva asserçaõ, de que por mais desejável que seja a paz
com os Estados Unidos ; a Inglaterra a naõ comprará á custa de seus
direitos marítimos. Da parte da America o Presidente faz uma
quasi igual protestaçaõ: a contenda por tanto he deixada ás vicissi-
tudes da guerra.
Total 7.165
Total 13.495
6 o . Sicilianos, Kc. de Sicilia.
Regimento das guardas Reaes Sicilianas, dous ba-
talhoens S.100
Atiradores Calabrezes, commandados pelo Coro-
nel Carey . 750
1°. Hespanhoes de Majorca.
Primeiro regimento de Caçadores Hespanhoes,
commandados pelo Tenente-Cor. Campbell . . 1.100
Divisão Hespanhola do General V\ hitlingham . . 4.500
Total 2I.S1.-J.
As forças que os Francezes tinham para se oppor ás do (ieneral
Murray; e que em conseqüência de sua retirada ficaram livres para
manobrar no iiauco direito de Lord Wellington, dizem as informa-
çoens particulares que saõ as seguintes.
Suchet o mais que tinha em Valencia eram 20.000 homens, dous
quintos dos quaes eram Italianos; linha também um batalhão d': lia-
den, e dous batalhoens provision.ius de Bavaios; de maneira, que
naõ mais da melado do exercito de Suchet éra francez; e os offi-
ciaes Inglezes saõ de opinião, que os Italianos de sucliet eram
mui inferiores aos Hespanhoes e Italianos do exercito Adiado.
D*onde se conclue que Suchet naõ podia marchar de Xucar com mais
de 3.000 infantes, e 500 cavallos. A força de Barcelona, que veio
em seu auxilio, jul^a-se que naõ excederia a 3.000 homens ; e o Ge-
neral Mathieu, nunca se achou assas forte, se quer para conservar
abertas as coinmunicaçotus com Suchet.
Isto posto esperaremos pela defensa, que faz o General Sir Joaõ
Miscellanea. 1GL
Murray ; o qual nos seus officios conjectura, que as tropas Francezas
eram muito alem do que aqui calculamos; como quer que seja,
culpa sua ou infelicidade irremediável, o ler falhado esta expedi-
ção servio de grande atrazo ás operaçoens de Lord Weliitigton, que
contava com este auxilio na Catalunha.
PORTUGAL.
Começamos este N-\, e o Décimo volume do nosso Periódico,
com os extractos do processo de um Padre, fulano Lopez, na Rela«*aõ
Er.-'.".iastica de Lisboa, por crimes de scisma, e actos lapientes
hteresim.
Quem tal diria, Senhores Inquisidores, contra a herética pravidade I
Quem tal diria, que o Vigário Capitular do Patriarchado de Lisboa,
se atreveria assim a processar crimes, pertencentes ao Sancto Officio
da Inquisição ! Tal será •era duvida a exclamação dos Padres tristes
do Rocio, em Lisboa • mas nós, assim como outra muita gente,
sempre esperamos por isto ; e, se vivermos, mais alguma cousa a
este respeito havemos de vér.
Para que a exclamação dos senhores Inquisidores se faça menos
dolorosa ; temos a honra de lembrar, com o devido acatamento, a
Suas Senhorias Illustrissima» e Rcvercndiiuima*, que S. A. R. o Prin-
cipe Regente de Portugal, ja se tinha obrigado por um tractado que
fez com a Inglaterra, a naõ admittir o tribunal da Inquisição no
Brazil; c que, depois disso, as Còrlcs de Hespanha aboliram aquelle
tribunal, e o declararam incompatível com a Constituição da Mo-
narchia, illegal, c pernicioso & mesma Religião. Iito posto i que
esperanças poden te*' os Illustrissimo* e Reverendi*»irao* Senhores
Inquisidores de Portugal, de que a sua instituição coutinue 3
Olhamos portanto para este acto do Patriarcha Eleito de Lisboa,
como o primeiro goipe publico dos bispos, para vindicarem a sua
jurisdicçaõ, e destruírem a usurpaçaõ do illegal tribunal da In-
quisição.
Naõ repettircmos aqui os argumentos, tantas vezes allegado»,
para mostrar, que os crimes contra a Religião fôram sempre puni-
Miscellanea. 165
dos entre os Christaõs, pelos bispos; e com as penas meraniemente ec-
clesiasticas: as penas corporaes só eram, e só podiam ser impostas pelos
Soberanos; naõ porque elles tenham o direito de obrigar seus subditos
a professar esta ou aquella religião; mas era tanto quanto os crimes
religiosos podem perturbar o Estado. Este principio clarissimainente
demonstrado, por todos os escriptores que puderam escrever livres
do jugo, e do alcance da Inquisição ; nunca foi respondido pelos In-
quisidores, senaõ com a resposta do ferro e fogo; recurso efficaz,
na falta dos argumentos.
Mas agora vemos asseverado; por uma juncta de theologos, e
juristas; convocados pelo mesmo Patriarcha, e á vista desse taõ
abatido e humilhado quanto perverso e cruel tribunal; que o castigo
dos reos por crimes religiosos, compette aos bispos; segundo a disci-
plina e cânones da Igreja. - Que responderão a isto os Padres tristes
do Rocio ? • Chamarão a esta juncta uma combinação de libertinos?
< Diraõ que aquelles ecclesiasticos saõ um tumulto de revolucioná-
rios? Naõ: e quando o digam ninguém os acreditará; porque saõ
homens respeitáveis, naõ so pelo seu character publico, como por suas
luzes; e em fira* sua decisaõ he conforme á de todos os bons cano-
nistas.
Este acontecimento formará sem duvida uma epocha notabilissima
na historia ecclesiastica e civil do Reyno de Portugal; e nao pode
haver a menor duvida, de que o Governo persuadido destas verdades
como está o de Hespanha, e como mostram estar estes theologos,
acabe de uma vez com esta hydra ; naõ pelo meio de deixar esquecer
ou pôr em desuso os seus procedimentos; porque isso seria deixar a
faísca debaixo das cinzas; e os Inquisidores fariam renascer, sempre
que se lhe offerecesse occasiaõ, as suas pretensas prerogativas t
mas por uma terminante, explicita, e argumentativa ley, como acon-
teceo em Hespanha: afimde que um acto desta natureza limpe, em
tanto quanto he possivel, este feio borraõ da historia Portugueza.
CONRESPONDENCIA.
1 de Junho, 1813.
SENHOR REDACTOR ! Como assignante do seu mui interessante
Jornal, e admirador da franqueza com que v. m. falia contra a in-
justiça e mao governo, naõ he impróprio que roube alguns momen-
tos aos meus deveres, a fim de lhe dar noticias do estado actual desta
ilha, que a pezar de ser um pequeno ponto do globo, com tudo he
como a arca de Noe, e nella pode o philosopho analyzar a variedade
das linguas, e o seu mau governo, o que Deus permitia naõ acabe
na mesma confuzaõ. 0 Correio Braziliense será talvez mais dese-
jável trazendo algumas noticias desta cidade, e naõ será impróprio
que todos os mezes, em dppendix, v á o Correio Funchalense, pois que
he assas importante a todo aquelle que se interessar em beneficio de
sua pátria.
Alem das muitas despezas que S. A. R. inutilmente faz, nenhuma
me provoca tanto como a renda de 480.000 reis, palha e cevada, a
cada um dos inspectores de Agricultura. Estes dous naturalistas,
que alem de seu ordenado recebem 1.600 reis por dia para come-
dorias, quando andam em viagem, sabem tanto d'agriculturacomo o
que nunca leo nem ouvio uada sobre a matéria ; como se pôde cou-
jecturar; porquanto suas profissoens, e estudos saõ mui diversos;
ura he boticário, outro he um advogado. He verdade que dizem que
lhe deram estes empregos por mercê ; mas • naõ seria melhor que
se fizesse esta mercê a quem pudesse desempenhar o lugar ? deixando
o pharmaceutico com o arranjo de sua botica, e o jurisconsulto
com a limpeza de seus alfarrábios? Deste modo teria o Governo
Portuguez feito um bem tanto phisico como moral. Quanto melhor
applicaçaõ naõ teria este dinheiro, se fosse destinado ao estabelici-
mento de duas aulas para a educação da mocidade, assaz engenhosa
nesta ilha? Quanto naõ seria de maior louvor para o Governo, e
de maior utilidade para o publico, estabelecer uma aula de historia
natural, para que a mocidade se animasse á investigação da minera-
logia, botânica, e zoologia, desta taõ importante ilha ?
Ao Governador da Madeira he a quem pertence informar sobre
estes negócios; porem infelizmente temos tido por seis vagarosos
annos um homem, que alem do cuidado que tem de metter no banco
de Inglaterra tudo quanto ajuncta, naõ lhe conheço applicaçaõ a
negócios, por isso mc naõ admiro, que cahisse de cama logo que
aqui chegou a noticia, que se lhe tinha nomeado Successor ; etaõ
mal esteve que naõ pôde festejai* os annos do seu Soberano ; conten-
tando-se com receber as davidas que nesse dia he custume fazerem-
J 68 Miscellanea.
lhe os ricos; e alem disso um conto de reis que S. A. R. paga para
as despezas do banquete.
Eu naõ desejo fallar mal de todos os que governam, pelo contra-
rio quero distinguir os bons. O Snr. Assenso de Siqueira fez um
governo nesta ilha, de que deixou saudoso o povo ; mais ainda o
grande e sábio D. Jozé Manuel de Câmara, cujo talento, conheci-
mentos, nobreza, liberalidadc e justiça sempre o elevarão a par dos
heroes. Trabalhou este homem incaoçavelmente a favor do povo;
fez estradas, edifícios, sem lezar o Estado, cumprio com os seus de-
veres como homem de Corte, tractou a todo o individuo com po-
litica; e assim era admirado pelos estrangeiros, e estimado pelos
nacionaes: naõ se poupou a trabalhos; activo, e vigilante nos ne-
gócios Reaes, éra de fácil accesso, naõ demorava os despachos, sus-
tentava a balança da justiça com rectidaõ, e finalmente opprimio a
soberba dos fidalgos de meia tigela desta ilha, a cujos empenhos naõ
attendia. Em uma palavra sahio da Ilha da Madeira, depois do seu
triennio, pobríssimo, pois consta que até de Lisboa mandou pagar a
quem devia, o que lhe naõ serve de deshonra, mas sim de muita
honra.
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
HESPANHA.
Extracto do Manifesto da Regência de Hespanha, re-
lativo ao procedimento do Núncio de S. S. nestes Reynos,
datada de 8 de Julho, e assignado L. de Bourbon,
Cardeal Scala, Arcebispo de Toledo, Presidente.
A Regência faltaria á mais essencial de suas obriga»
çoens, se naõ puzesse fim ás perigosas manobras do
Núncio de S. S. nestes Reynos, D. Pedro Gravina, Arce*
bisgo de Nicea. O seu procedimento politico tem, á
muito tempo, sido tal, que a Regência [quasi julga ser
necessário desculpar-se de seu longo soffriraento : porem
em quanto havia alguma sombra de esperança de que
elle descubriria o M-U erro, e naÕ excederia os limites de
seus legitimos poderes, a Regência crêo que devia respei-
tar o nome, e dignidade deste prelado, e a representação
do Sancto Padre, por quem tinha sido enviado.
A Regência, influída por estas poderosas consideraçoens
trabalhou por dissuadillo de seu propósito; primeiro coro
argumentos, depois com representaçoens e queixas.
Vendo a inutillidade destes meios, lhe intimou, ainda que
com muito pezar, que se continuasse ein seu temerário
procedimento, se veria na necessidade de o fazer t»ahif
Politica. I8l
destes reynos. O Núncio porém continuou obstinada-
mente em seu modo de proceder antigo, proceder incom-
patível com a tranqüilidade publica, e destruidor da
authoridade do Governo; e a Regência, por tanto, se v>.o
na dura, mas indispensável necessidade de pôr era execu-
ção, o extermínio cora que o tinha ameaçado; e a occupa-
çaõ de suas temporal idades, como imperiosamente reque-
ria a sagrada ley da conservação do estado, e dos indi-
víduos.
O tribunal da Inquisição, introduzido nestes reynos
pelos Reys Catholicos l). Fernando e D. Isabel, foi abo-
lido pelas Cortes, depois de maduro e deliberado exames
ellas estabeleceram em seu lugar a ley das partidas; e
ordenaram que o decreto e manifesto, em que elles expli-
cavam as justas e poderosas razoens, que tinham motivado
a abolição deste tribunal, fosse lido em todas as parochias
da monarchia ao tempo da celebração da Missa Conven-
tual, para informação do Povo. O Núncio pretendeo,
que a Inquisição naõ podia ser abolida sem o consenti-
mento deS k S.; e para este fim, fez uma representação á
Regência, aos 5 de Março, escrevendo no mesmo tempo
ao Bispo de Jaen, e aos Cabidos das Sées vacantes de
Granada e Malaga, declarando-Ihe a sua opposiçaõ ao
decreto, e manifesto, e ex liortando-os a conformar-se a
seu dictado, encarregando-os de proceder com o maior
segredo.
A Regência, aos 23 de Abril, admoestou ao Núncio,
por via do Ministro de Graça e Justiça, a que naõ ex-
cedesse a sua authoridade, visto que qualquer excesso a
este respeito, de sua parte, seria contrario aos direitos e
privilégios da Coroa; e para previnir toda a impressão
desfavorável, publicou um manifesto, dirigido aos prela-
dos, e cabidos, em que os informava do procedimento do
Núncio.
O Núncio, pela intervenção do Secretario de Estado,
V O L . X I . No. 63. 2 A
182 Politica.
transmittio ao Governo, aos 28 de Abril, uma nota, em
que expressava a sua admiração desta resolução, e qoe
ella lhe fosse communicada pelo Ministro de Graça e
Justiça, e naõ pelo Secretario de Estado. Esta nota foi
acompanhada de copias de cartas, que elle escreveo ao
Bispo de Jaen, e aos cabidos de Granada e Malaga, e de
uma resposta á nota official, que lhe foi communicada pelo
Ministro de Graça e Justiça, que contém as seguintes
expressoens, suficientemente fortes para ofender a Re-
gência :—" Que elle naõ podia deixar de crer que éra
indispensável obrigação sua obrar, como tinha feito, na
qualidade de Legado do Papa, e no desempenho de seu
ministério." " Que ainda que elle nada desejava mais do
que a paz e tranqüilidade do reyno, e ainda que fosse
contrario ao seu character intromet ler-se em outros ob-
jectos mais do que os pertencentes aos deveres de sua
legaçaõ, com tudo, era matérias ecclesiasticas, elk éra
obrigado a entrar naquella conrespondencia, e communi-
caçaõ, que delle requeriam os deveres de seu officio." E,
como se estas palavras naõ fossem sufficientes para offender
a Regência, elle accrescenta, " que se o procedimento de
se conrespondcr com os reverendos Bispos, e obrar como
d'antes tinha feito, dava offensa ás Cortes, ellas poderiam
obrar, a respeito delle, como bem lhes aprouvesse; pois
elle cria, que o seu procedimento merceria a approvaçaõ
de S. S.; e que lhe daria grande satisfacçaõ o saber, que
mantendo o character de quem representava, o seu Le-
gado tinha olhado para suas temporalidades com a maior
indifferença." Respondeo-se-lhe em um officio de 5 de
Mayo, que a sua admiração teria sido justa, se a nota
do Ministro de Graça e Justiça tivesse sido em resposta á
sua Memória de 5 de Março, que elle apresentou como
Núncio; mas que, nesta nota, aquelle objecto se tinha
unicamente mencionado accidentalraente, e relativamente
ás cartas, que elle tinha escripto como Arcebispo de
Política. 183
Nicea ao Bispo e Cabidos, exortando-os a demorar, e até
mesmo recusar obedecer ao decreto das Cortes; e referin-
do-se ás expressoens que tinham attrahido a attençaõ das
Cortes, e sobre que se pedio uma explicação. Na sua
resposta de 9 de Mayo, elle continuou a insistir no que
tinha dicto antes, que se considerava obrigado a manter
conrespondencia com os bispos e cabidos, e receber delles
explicaçoens, e ellucidaçoens, e a exhortallos ao preen-
chimento de seus respectivos deveres, e ao juramento que
tinham prestado de defender os direitos da igreja, e da
Sancta Sée Apostólica; que tal correspondência éra ne-
cessária para o devido desempenho de suas funcçoens
como Núncio, e éra authorizada pela practica de todas
as Igrejas; que com este objecto fôram dirigidas as cartas
aos Bispos, e Cabidos, incumbindo-lhes o segredo, para
manter a ordem e tranqüilidade publica. O Núncio
accrescenta, que a maior parte dos Bispos, mesmo os que
residiam em Cadiz; tinham declarado a sua opinião
n'esta matéria, na esperança de que, como Legado do
Papa, elle tomaria aquella parte que julgasse próprio ; e
que, portanto, elle tinha sido movido a dar o seu con-
selho e instrucçaõ; aos prelados e cabidos, de maneira
própria seu officio, e que continuaria no mesmo procedi-
mento todas as vezes que se tractasse de similhantes ob-
jectos.
Esta declaração cortou todas as esperanças de que o
Núncio se deixaria de sua determinação de offender os
direitos e privilégios de nosso captivo Rey : e ainda que
a Regência por algum tempo se restringto, em conseqüên-
cia do respeito ao Papa, e da estima e affeiçaõ que tem
por seu Núncio ; com tudo, depois de ter ouvido a opi-
nião do Conselho de Estado em defeza dos imprescripti-
veis direitos e privilégios da coroa, resolveo, como as
leys a authorizam, e a historia de todas as naçoens Catholi-
cas, a ordenar que se communicasse ao Núncio a seguinte.
2 A2
184 Politica.
Nota do Ministro de Estado, communicando ao Núncio a
sua expulsão destes Reynos, e a occupaçaõ de suas tem-
poralidades nelles.
Cadiz, 7 de Julho, 1813.
SENHOR !—O procedimento politico de V- Ex»., a res-
peito do decreto das Cortes geraes e extraordinárias, por-
que se abolio a Inquisição, obrigou a Regência do Reyno
a adoptar as medidas que julgou necessárias, para segurar
o cumprimento de suas ordens, e prevenir que a tranqüi-
lidade publica fosse perturbada. Ao mesmo tempo, afim
de precaver a repettiçaõ do que tinha succedido, S. A.,
por via do Ministro da Graça e Justiça, fez a V. Ex*. as
communicaçoens precisas; intimou que se V. Ex*. naõ
desistisse de seus desígnios, S. A. se verta na necessidade
de vos fazer sahir do Reyno, e tomar posse de vosssas tera-
poralidades.
A resposta, que e V. Ex*. deo aos 28 de Abrd, diri-
gida ao Ministro de Graça e Justiça, foi uma declaração
solemne de que estáveis resolvido e decidido a obrar da
mesma maneira, no uso dos poderes, que vós crieis per-
tencer-vos. V. Ex*. repetio uma declaração similhante,
na nota que foi servido dirigir-me aos 9 de Mayo, respon-
dendo á minha de 5 do mesmo mez, em que eu rogava de
V. E x•*. uma explicação official a nota de 28 de Abril.
Olhando para tudo isto, naõ apparece razaõ alguma
porque S. A. pudesse duvidar sobre o que devia obrar, e
V. Ex*. naÕ podia também duvidar do êxito de taõ des-
agradável negocio. S. A. porém desejou ouvir o Conse-
lho de Estado, a fim de proceder com maior exactidaõ; e
de propósito deixar passar todo o tempo que julgou ne-
cessário ; para ver se V. Ex". considerando o negocio com
espirito mais calmo e sem prejuizo, revogaria as suas no-
tas sobredictas, e farta uma declaração contraria ao seu
coutheudo. Era este o desejo de 8. A. como único meio
que havia de impedir que chegasse a dora extremidade
Politica. 185
a que se via obrigada, em defeza dos privilégios da coroa;
porém, como naõ restam nem esta esperança, nem outro
algum meio, S. A. me tem ordenado que vos envie, como
tenho a honra de fazer, os passaportes do custume, para
que V. Exa. saia destes reynos; e que vos informe que
procederá á occupaçaõ de vossas temporal idades nelles.
S. A. desejando conservar a V. E x \ , naõ obstante tudo
quanto tem succedido, a consideração devida a vossa dig-
nidade e representação ; e desejando igualmente, que V.
Exa. faça a sua viagem com commodidade e conforto,
tem ordenado que a fragata armada a Sabina, seja prepa-
rada para transportar a V Exa. para onde quer que de-
seje partir.
Ao mesmo tempo que communico a V Ex*. esta reso-
lução, tenho a honra de offerecer a V. E x \ os meus sin-
ceros desejos de vos servir com a mais prompta e obsequi-
osa attençaõ.
Deus guarde a V. Ex*. muitos annos.
PEDRO LABRADOR.
Ao Núncio de sua Sanctidade.
SUÉCIA.
COMMERCIO E ARTES.
Tractado de Commercio com a Inglaterra.
LORD STRANGFORD.
O Conde do Funchal feito Conde; e passada a sentença
irrevogável, de que elle naõ ha de continuar a ser em-
baixador cm Londres ; e se continuar na desobediência a
seu soberano, ha de se ver obrigado a hir esconder-se em
Worthing; dado isto, acabáram-se os amores com Lord
Strangford ; e deo-se o primeiro symptona de indiferença
ao até aqui fidus Achates, atacando-se aquelle ministro no
Jornal Scientifico. Mas o mal do tractado já está feito!
Que o Lord Strangford se tem portado mal no seu lugar
nisto, ou naquillo ; naÕ he o nosso ponto. A nosso res-
peito, isto he quanto a este periódico, tem feito até por-
querias, para impedir a sua circulação, e agradar aos
Souzas. Referimos esta ninharia para mostrar, que naõ he
parcialidade; mas sim justiça, quem nos obriga a defen-
dêllo neste caso. NaÕ se faça o diabo mais negro do que
elle he.
Neste N " . do Jornal Scientifico vem uma papelada sobre
Cayenna; e uma questão mui longa que se reduz a isto.
Certa viuva Cayenna pedio a um negociante em Londres,
que a favorecesse na venda de seus bens para se passar a
França; o que éra uma fraude aos Decretos de S. A. R. o
Principe Regente de Portugal, sobre as propriedades de
Cayenna. Esta mulher diz mais na carta ao negociante,
que o Governo em Cayenna carrega direitos dobrados aos
Inglezes que para ali navegam : o negociante Inglez, que
recebeo esta carta referio este facto ao Governo Inglez ;
este mandou a Lord Strangford que representasse ao Go-
verno Portuguez. Lord Strangford fez a representação ; mas
pelas informaçoens authcnticas da Cayenna acha-se ser
falso o que tinha dicto a tal mulher, onde tudo se ori-
228 Commercio e Artes.
Era toda esta enfiada de gente, ninguém he mais ino-
cente do que Lord Strangford ; o qual naõ fez mais que
cumprir coro a ordem de seu Governo, fazendo uma re-
presentação contra a supposta violação dos tractados:
esse éra o seu dever vistas as ordens que recebeo ; e no
entanto contra elle descarregam a fúria, e quem? Os
mesmos partidistas dous Souzas. £ para fazer mais pe-
zada a carga, sahe-se o Scientifico com o que elle chama
contradicçoens na nota official de Lonl Strangford.
De passagem observaremos aqui que a nota official éra
secreta de sua natureza; e que naõ podia vir ter as maõs
dos Redactores, para ser publicada, senaõ como uma das
medidas que se vaõ adoptando para enredar a Inglaterra
com Portugal. Mas vamos á contradição, (p. 273.)
«' Naõ podemos deixar de notar, que representando o
£x m o . Lord Strangford, que todos os objectos de importa-
ção e exportação em navios Inglezes, pagavam o dobro do
que estes objectos pagavam sendo importados ou exporta-
dos em navios Portuguezes, diga na sua nota que esta
medida naõ produzia vantagem alguma pnra a navegação
Portugueza—car depuis Ia conquete de Cayenne, pas un
seul batiment Portugais n'y a paru, ni venant de fEu-
rope, ni y allunt. Portanto, se depois da conquista de
Cayenna, nem ura só navio Portuguez ali aportou, ou
dali sahio <• como se diz que os gêneros importados ou
exportados era navios Portuguezes tem pago a metade me-
nos do que os importados ou exportados em navios
Inglezes ?"
Infelizmente para os scientificos, puzéram aqui as ex-
pressoens de Lord Strangford em Francez: e á vista
dellas mesmo nos querem persuadir, que Lord Strangford
diz que depois da conquista de Cayenna nunca ali foram
navios Portuguezes; ora Lord Strangford naõ diz tal ;
diz que nunca ali foram navios Portuguezes indo para ou
vindo da Europa; " pas un seul batiment Portugais nry a
Commercio e Artes. 229
paru, ni venant de VEurope niy allant." Se nós sup-
pozessemos que isto éra ignorância da lingua Franceza,
mandaríamos toda esta Corja d'ópe de Berkley-square,que
fossem para escola ; mas naõ ; entendem mui-bem, ao me-
nos isto, e de má fé interpretaram as palavras de Lord
Strangford as avessas ; para o ridicularizar até nisto; e,
por meio delle, seguir o plano de intrigar os Inglezes com
os Portuguezes.
Este plano está taõ palpável neste N°. do Jornal Scien-
lifico, desde o principio até o fim; que naõ nos admirare-
mos se o virmos todo traduzido em Francez, e impresso em
Paris, antes de minto tempo. E lá julgarão, que naõ he
este o primeiro serviço, que, tanto em proza como em
verso, tem os Redactores feito ao Senhor Imperador Na-
poleaõ o Magno, &c. &c. &c.
Naõ ha muitos dias que se nos pôz nas maõs certo ver-
sinho, em honra de seu natalicio dia; com vario» docu-
mentos, sobre os grandes serviços feitos aos hospitaes
Francezes, durante a sua estada em Portugal. Tudo isto
he digno de grande patrocínio ; o que naÕ deve admirar ;
quando vemos que o Conde de Funchal Embaixador Por-
tuguez em Londres, recebe em sua casa, e apparece em
publico com um homem condenado á morte em Portugal,
por crimes d'alta traição ; ao mesmo tempo que recusa ad-
mittir a sua alta presença homens, banidos sim de Portu-
gal; mas sem crime, sem sentença, e sem accusaçaõ.
Tudo isto he em character.
Prêmios de seguros.
Brazil bida 10 guineos por cento. K. 5.
vinda 12 a 15
Lisboa e Porto hida 4 G* R. 40*.
vinda 4 G'. R. 40*. por em comboy
Madeira hida 5 a 6 G'.—Açores 8 G*.
vinda 8 á 10
Rio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a tomaviagem
vinda o mesmo 15 a 20 G\
[ 231 ]
LITERATURA E SCIENCIAS.
Nooas publicaçoens em Inglaterra.
EDGEWORTHs Essay on Roads, 8vo. preço 14s.
Ensaio sobre, a coustrucçaõ das estradas e carruagens : seu
author Richardo Lovell Edgeworth, Escudeiro; Enge-
nheiro civil, &c. &c.
Noticias literárias.
Mr. Hodgson intenta publicar em Outubro um tractado
Literatura e Sciencias. 237
sobre as moléstias das artérias e veas, comprehendendo a
pathologia, e tractamento dos neurisinas, e artérias feri-
das, em um volume de Hvo. illustrado com estampas.
Em poucos dias apparecerá a Instaria, e ílluhtraçeens
de archkectura da igreja de Reduiiffe, em Bristol; com 12
estampas.
Mr. Robert Stevens, de Lloyd's, publicará brevemente
um ensaio sobre as avarias, e outras matérias connexas com
os seguros marítimos.
Sir Egerton Brydges tem na imprensa, em dous volumes
de 8 vo. uma obra intitulada " The Ruminator," uma serie
de ensaios moraes, sentimentaes, e críticos.
O Dr. Hales completou a sua Nova Analyse de Chrono-
logía, ao que acerescentará um abundante index geral.
Publicar-se-ha no inverno que vem.
Mr. J. N. Cossham, de Bristol, publicará brevemente
era um volume de 12mo., 365 taboadas, que mostram,
«em precisão de calcular, o numero de dias de cada um
dia do anno, até outro qualquer dia dado.
Mr. G. Riley tem na imprensa, um tractado practico
sobre a arte de pintar flores, e desenhar com tintas de cola,
para instrucçaõ, e divertimento das senhoras.
A obra de Madame de Stael, sobre os custumes, so-
ciedade, literatura, e philosophia dos Alemaens, que se
supprimo no Continente apparecerá no decurso deste mez
em 3 volumes, 8vo.
NOVAS DESCUBERTAS.
Magnetismo. O Doutor Schubler, de Stutgard, tem
feito algumas experiências mui curiosas sobre as agulhas
magnéticas, e modo de lhe communicar o magnetismo, e
suas variaçoens do polo, segundo a distribuição differente
do fluido magnético e sua applicaçaõ. As agulhas metá-
licas que elle usou eram de tres ou quatro pés de compri-
do, suspendidas por uma corda delgada de seda, e abriga-
V O L . X I . N o . 63. 3 a
238 Literatura e Sciencias.
das da acçaõ do ar. O magnete pezava cerca de quatro
libras, e tinha a figura de uma ferradura de cavallo. Com
este magnete communicou a polaridade ás agulhas na
maneira usual, pelo toque simples e doble; e ficaram ver-
dadeiras agulhas magnéticas. Variou entaõ o processo;
colocou o polo do sul do magnete no centro da agulha, e
puchou-o dez vezes para uma da suas pontas, sem voltar
para traz; e entaõ um igual numero na outra ponta de si-
milhante maneira, entaõ a agulba pareceo ter o polo do
norte em cada extremidade, e no seu centro o sul. As
suas variaçoens diárias eram seis vezes maiores do que as
das agulhas communs. Outra agulba foi esfregada pelo
magnete dez vezes, desde o seu centro até o polo do norte:
entaõ este se mudou em polo do sul, e indicou o verda-
deiro meridiano, em vez de indicar o magnético. As suas
oscillaçoens eram extraordinárias, de dous a tres gráos.
Estas mui simples mas importantes experiências, podem ser
repetidas por qualquer pessoa, em um quarto fechado; e
he natural que conduzam a importantes descubertas até
aqui desconhecidas na sciencia do magnetismo. Todo o
apparato necessário para ellas consiste em uma pequena
agulha de marear, para indicar o polo do Norte, e as vari-
çoens da agulha naquelle lugar em particular; um bom
magnete, e alguns pedaços de fio de aço polido. Com isto
até as senhoras poderão talvez fazer descubertas, que
sirvam de salvar as vidas a muitos marinheiros.
Bateria Galvanica. Mr. Children, de Tunbridge, con-
struio a maior bateria Galvanica que até aqui se tem visto.
Consiste em 20 pares de chapas de cobre e zinco; cada
chapa de seis péz de comprimento, e dous péz e oito po-
legadas de largo. Cada par esta unido por pedaços de
de chumbo e posto em um repartimento de madeira.
Todas estas chapas se suspenderam de uma trave no tecto,
de maneira que se podiam levantar ou abaixar sabindo dos
repartimentos. O poder desta bateria he enorme, derre-
Literatura e Sciencias. 239
teo 6 pez de fio grosso de platina; e o que he mais singu-
lar se derreteo por ella maior grossura, mais depressa do
que o arame delgado. Iridiumfoi também deretido com
ella, e tomou a figura globular, e provou que era um metal
frágil, evolatilizou-se, e se evaporou. Carvaõ e outras
substancias naÕ soffreram alteração.
MANTIMENTO VEGETAL.
PORTUGAL.
Carla circular do Governo para os Prelados Diocezanos do
Reino.
Ex™0. e Revm,>. Sr.—Sendo a Vaccina reconhecida por
todas as naçoens civilisadas, como preservativo innocente
da funesta epidemia das Bexigas, que sem elle poucos
deixavaÕ de ter, e muitos morriaõ, e já felizmente muito
exprimentada neste reino, até com o paternal exemplo,
que deo o Principe Regente Nosso Senhor, fazendo vac-
cinar seus Augustos Filhos ; saõ obrigados todos os que
naõ tem tido bexigas a vaccinarem-se, e os chefes de fa-
mílias a fazerem vaccinar nas mesmas circumstancias a
todas as pessoas, que delles dependerem. Para espertar
esta obrigação, e facilitar o uso geral do mesmo preser-
vativo, de que tanto bem resulta a humanidade, e ao
estado, a Academia Real das Sciencias formou a Insti-
tiçaõ vacciiiica, composta de alguns dos seus sócios fa-
cultativos, os quaes muito tem trabalhado per si, e seus
correspondentes, a promover, e facilitar o dito uso geral,
vaccinando de graça todas as pessoas, que se lhes apre-
sentaõ. E como apezar de tantos desvellos, e notórias
utilidades, ainda ha bastante negligencia no comprimento
da dita obrigação, por falta de conhecimento, e persua-
são : Sua Alteza Real Manda remetter a V. E. alguns
exemplares das instrucçoens, sobre o modo de vaccinar, a
fim de que V- E. possa divulgar estes necessários conhe-
cimentos; como melhor lhe parecer: e he servido recom-
mendar a V. E.
I . Que V. E. promovar a vaccinaçaõ por todos os
Literatura e Sciencias. 243
meios possíveis, especialmente pelo exemplo, sempre
mais poderoso, que o Conselho ; procurando naÕ só fazer
vaccinar todas as pessoas da sua familia, que naÕ tiverem
tido bexigas, os empregados, alumnos dos seminários, e
outras corporaçoens, que estiverem debaixo da sua in-
specçaõ, mas também persuadir as pessoas principaes, a
que imitem taõ louvável procedimento ; pois a pratica
deste suadavel invento depende inteiramense da opinião
publica, para se introduzir em todas as familias, e classes
da sociedade.
2. Que V E. ordene aos parrochos, seus subditos, que
naõ cessem de persuadir aos freguezes por todos os modos,
especialmente na estação da Missa em alguns Domingos,
as utilidades da vaccinaçaõ, exhortando a que se pratique
por todos, que delia necessitarem.
Sua Alteza Real Confia nas virtudes de V.E. concorrerá
cordialmente para uma obra taõ meritoria, e de tanto in-
teresse para o Real serviço, e bem de naçaõ.
Deos guarde a V . E . Palácio do Governo, em 19 de
Junho, de 1813.
JOAÕ ANTÔNIO SALTER DE MENDONÇA.
BRAZIL.
Abertura das Aulas da Academia Militar do Rio de
Janeiro.
Sem duvida teríamos passado por esta bagatella, relativa
aos estudos no Brazil, se o Jornal Pseudo-scientifico do
mez de Agosto, naõ referisse este facto insignificante com
toda a pomposidade de bochechas inchadas, para louvar
os Souzas, aproveitando a oceasiaõ de dar uma catanada
no que elle lhe a praz chamar, profecias nossas, que sem-
pre falham.
A necessidade de cultivar as sciencias no Brazil, e de
crear de novo estabelicimentos seientifleos, que naõ ha, he
matéria taõ evidente, que ninguém duvida de que seja
util fomentar as escholas que ha naquelle paiz, boas ou
mas, era quanto as naõ ha melhores. Com estas conside-
raçoens se continuou a eschola militar do Rio-de-Janeiro,
posto que o plano, como mostramos, bem longe de servir
de honra ao Conde de Linhares, que o arranjou, lhe da
maior descrédito i Mas de que o Ministério do Brazil,
naõ tenha ainda, ou por falta de tempo, ou por outros
motivos remediado os defeitos essenciaes daquelle plano;
naõ se segue dahi, que devesse mandar fechar as portas
da academia: basta que ali houvesse uma aula de geo-
metria para isso ser melhor, que nada : mas 3 que prova
isso a favor dos defeitos, que nós censuramos naquelle
plano do Conde de Linhares 1 ou i que faz isso a bem das
sandices, que proferio sobre ibso o Scientifico a favor de
seus patronos?
Abrio-se a Aula, deram-se algums prêmios aos estudan-
tes, que mais se distinguiram; a desta oceurrencia trivial se
Literatura e Sciencias. 247
tira matéria para novos louvores aos Souzas, e novo ob-
loquio ao Correio Braziliense.
Se os Redactores desejam servir bem a seu amo naõ
provoquem discussoens sobre taes matérias o contrario he
reviver as misérias ja sepultadas no esquecimento; e este-
jam certos que nós naõ dormiremos sobre isso, todas as
vezes que nos provocarem.
MISCELLANEA.
BRAZIL.
Relação dos Despachos publicados no Rio-de-Janeiro ne
Faustissimo Dia, 13 de Mayo, de 1813, dos felizes Annos
do Príncipe Regente nosso Senhor.
Titulos.—Dom Antonio de Almeida, Conde de Avintes;
D. Manoel de Noronha, Conde dos Arcos.
O Conde daLouza, Viador da Princeza nossa Senhora.
Commendadores da Ordem de Christo.—O Desembar-
gador do Paço José Antonio de Oliveira Leite de Barros;
Miscellanea. 259
o Coronel Miguel da Silva Vieira Braga ; o Tenente-coro-
nel Luiz Paulino de Oliveira Pinto da França; José de
Arriaga Brun da Silveira, uma vida na Commenda que tem
seu Pai o Conselheiro Miguel da Arriaga Brun da Silveira.
Da Ordem de Aviz.—O Marechal de Campo José de
Oliveira Barboza, Governador e Capitão General do Rey-
no de Angola.
Cavalleiros das Ordens Militares de Christo.—Lourenço
de Abreu Paradas, Desembargador da Relação o Caza do
Porto; Joaõ Pedro Affonso Videira, Corregedor da Co-
marca do Crato ; José Theodozio de Bitancourt Vascon-
cellos Lemos, Coronel de Milicias de Cidade de Angra;
Francisco Pereira Peixoto Ferras Sarmento, Coronel de
Milicias Reformado ; Roberto Mascarennas de Vascancel-
losLobo; Antonio José Vianna; Antonio da Costo Alvares,
Deão da Sé de Cabo Verdo ; José Ignacio Ribeiro de
Abreu e Lima, Presbitero Secular ; Manoel Alvares da
Cunha, Vigário da Igreja de S. Luiz da Villa de Maria no
Cuyabá; Pedro Carlos Midozzi, Official da Secretaria de
Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra; Antonio
Joaquim Ferreira de Sam-Paio, Thesoureiro-geral, e De-
putado de Junta da Fazenda de Pernambuco; José Pi-
nheiro de Freitas Soares; Matheus da Cunha Telles; An-
tônio Luiz de Azevedo e Attaide; Joaquim Antonio Alvez,
Deputado da Junta do Brnco do Brazil; José Caetano de
Andrade Moraes, Abbade da Igreja de Carapito ; Manoel
José de Oliveira.
De Aviz.—Francisco Antonio da Silva Pacheco, Capi-
tão do Mar e Guerra da Armada Real; Felix Velasco Ga-
liano, Capitão Mór do Presidio de Pongo-Andongo no
Reyno de Angola ; Manoel Joaquim Bandão, Sargento
Môr do Real Corpo de Engenheiros; Manoel Godinho
LestaÕ do Aboim, Sargento Mór do Regimento de Dra-
goens de Capitania de S. Pedro do Sul.
Cavalleiros da Ordem da Torre e Espada —Miguel Lino
260 Miscellanea.
de Moraes, Coronel de Infanteria e Ajudante de Ordens do
Governo da Capitania de S. Pedro do Sul; Joaquim
Brusco, Criade í-articular «le Sua Alteza Real.
COLÔNIAS HESPANHOLAS.
O Governo de Puerto Rico, em conseqüência de um
novo decreto das Cortes, publicou variou regulamentos
commerciaes, adaptados a promover a prosperidade da-
quelle estabelicimento. Os privilégios, que até aqui
gozava unicamente a capital da ilha, se extenderaõa todos
os demais portos; aonde os vasos tanto Hespanhoes, como
neutraes, poderão descarregar as suas cargas, e receber
em retorno carregaçoens dos productos da colônia, ou
outra qualquer mercadoria, incluindo mesmo os metaes.
preciosos; sem necessidade de recorrer á alfândega da
capital. A importação do ouro e prata he livre de direi-
tos * na exportação para paizes estrangeiros se deverá pa-
gar no ouro 3 por cento ; e na prata 10 por cento. O
Miscellanea. 263
Hespanhol que exportar gado pagará dous dollars por
cebeça, pelo grande, e quatro reales pelo pequeno. O
exportador estrangeiro pagará tres dollars pelo primeiro,
e 6 reales pelo segundo. Os direitos nos outros artigos
tem de ser rebaixados.
A seguinte he uma copia da proclamaçaõ que descobre
o devido o conhecimento de alguns dos principaes pontos
de economia politica:—
Puerto Rico, 13 de Março, 1313.
Nas ordens expedidas pela Regência do Reyno, con-
forme ao Decreto das Cortes Geraes e Extraordinárias,
para o estabelicimento desta intendencia, se me faz lem-
brar; e se me encarrega estrictamente, " o entregarme
zelosamente ao cuidado de promover todo o melhoramento,
de que he susceptível o rico terreno desta iila; e que,
dando um forte impulso ao seu commercio interno, e ex-
terno, possa o seu Governo ter em breve a satisfacçaõ de
ver, que a affluencia e a felicidade, fomentada em toda a
sua plenitude, que elle deseja, seja a partilha de taõ dig-
nos subditos."
Para que os effeitos da Soberana beneficência, taõ bem
explicada no paragrapho acima, possam daqui em diante
ser experimentados em toda a extençaõ da ilha ; e que os
seus habitantes possam gozar das vantagens, que os con-
vida a sua situação, a fertilidade de seu terreno, e o com-
modo de seus portos; convencidos de que o commercio
naõ requer outra cousa mais do que liberdade e protecçaõ;
e de acordo com o Governador e CapitaÕ-geral, e Juncta
Provincial da Fazenda, as seguintes ordenanças seraõ ob-
servadas desde a presente data :—
1. Todos os portos da ilha, classificados como os outros
portos, poderão fazer o mesmo commercio da capital, sem
nenhuma excepçaõ.
2. A Administração dos dictos portos poderá conceder
2L2
264 Miscellanea.
despachos, e lincenças, sem que seja necessário recorrer a
esta capital para taes documentos.
3. Todo o vaso Hespanhol, amigo, ou neutral, poderá
vender o todo, ou parte de sua carregação, em qualquer
porto desta ilha, com esta liberdade de procurar obter um
retorno da melhor forma que puder, sem detenção, extor-
çaõ ou inconveniente qualquer ; devendo os estrangeiros
conformar-se com as leys e regulamentos do Governo.
4. Os vasos poderaÓ velejar livremente de um porto
para outro, para dispor de suas mercancias, ou completar
os seus retornos, entrando os seus respectivos registros
nas alfândegas que lhes forem mais convenientes.
5. Poder-se-haõ fazer baldeaçoens nos portos aoarbitrio
das partes interessadas, sem que sejam obrigados a desem-
barcar as suas mercadorias.
6. Quanto ás fazendas desembarcadas para reexporta-
çaõ, com tanto que fiquem nos mesmos pacotes, e sem
que haja venda, naõ se pagará direito algum ; e se se tive-
rem pago alguns direitos seraõ restituidos.
1. Será permittida a exportação de todo o producto,
ou manufactura do paiz, proceda de que proceder.
8. Se á também permittida a exportação de ouro ou
prata, naõ cunhados, na qualidade de mercadoria ; e con-
forme ao decreto das Cortes Geraes, de 18 de Septembro,
1811, se cobrará o direito de 3 por cento, de toda a prata
que se exportar para paizes estrangeiros.
9. A importação de ouro, ou prata será livre de todos os
direitos, quer seja feita em navios nacionaes, quer estran-
geiros.
10. O gado, assim como os mais productos da ilha,
poderá ser exportado, sendo o exportador Hespanhol pa-
gará o direito de dous dollars por cabeça no gado maior, e
quatro reales, no menor, e o exportador estrangeiro pagará
o direito de 3 dollars no primeiro, e seis reales no se-
gundo.
Miscellanea. 26 S
11. Os direitos existentes, sobre os productos, e mer-
cadorias, seraõ modificados, se forem oppressivos; e
os qu • se naõ fundamentarem em titulos legitimos, ces-
sarão : e a respeito destes, tenho pedido, e espero obter a
imòrmaçaõ necessária.
IS. Alem das alfândegas, qne actualmente existem, se
estabelecerão outras provisionalmente, para melhor com.
modidade das partes, de maneira que cesse todo pretexto
dos contrabandos, e que a industria seja livre em todos os
seus canaes.
13. Os officiaes das alfândegas se esforçarão no prompto
despacho do expediente <lo commercio, que sempre re-
reqtier brevidade, e promptidaõ. As pessoas desta classe
naõ seraõ izentas dos seus deveres nos dias sanctos.
Mesmo nas festividades ns suas secretarias estarão abertas
duas horas pela manhaã, e uma hora de tarde ; tendo
sempre em lembrança, que devem proceder com equidade
e brandura, e fazer justiça ás intençoens do Governo.
lê. Nas portas da alfândega estará afixada a pauta ou
tarifa dos direitos, que se haõ de cobrar; para que todos
a possam consultar; e, no caso de serem aggravados,
representar o mesmo na repartição competente.
15. Para facilitar o expediente dos negócios se faraõ cir-
cular os formulários de todos os documentos, os quaes
naÕ precisarão de outro trabalho mais, que ser enchidos
com as palavras e nomes courcpondenles.
16. Se houver alguma duvida nestas matérias, as partes
me podt-raõ consultar sem demora, ua intelligencia de que
eu estou authorizado pela Regência de Hespanha a resol-
ver todos os casos, que possam oceurrer, na execução dos
decretos legislativos, para o melhoramento da prosperi-
dade desta ilha.
Tudo o que communico para informação de todos os
habitantes da ilha, e de todo» os negociantes estrangeiros
266 Miscellanea.
que aqui estaõ presentemente, ou aqui chegarem para o
futuro.
(Assignado) ALEXANDRE RAMIREZ.
EXERCITO A I L I A D O NA PENÍNSULA.
Ordem do dia, pelo Marechal-general Wellington, em data
de Ir cuia, y de Julho, i S13
1. O commandante das forças deseja anxiosamente di-
rigir a attençaõ dos officiaes do exercito á situação, em
que elles até aqui se tem achado, entre os povos de Portu-
gal e Hespanha, e aquella em que se poderão achar daqui
em diante, nas fronteiras de França.
2. Daqui em diante se devera usar de toda a precaução
militar para obter noticias, e acaureltar fcurprezas. Os
officiaes generaes e superiores, á frente de corpos desta-
cados, teraõ cuidado de conservar constante, e regular com-
municaçaõ com os corpo» que lhe ficarem i direita e es-
querda, e com a retaguarda ; e se deve impedir, que os
soldados ou os que os seguem saiam dos acampamentos
debaixo de pretexto algum.
3. Naõ obstante que estas precauçoens sejam de abso-
luta necessidade; porque o paiz em frente he do inimigo,
o commandante das forças deseja com particular anxie-
dade, que os habitantes sejam bem tractados; e se deverá
respeitar a propriedade particular.
4. Os officiaes e soldados devem lembrar-se, que ai tuas
aeçoens estaõ em guerra com a França somente porque o
Governante da Naçaõ Franceza lhes naõ permitte estar em
pae; e deseja obrigâlk» a submetter-se ao seu jugo; e
saõ se esquecer que o peior dos males que o inimigo tem
soffrido na sua abandonada invasão da Hespanha e Por-
tugal tem sido produzidos pelas irregularidades dos solda-
dos, e suas crueldades, authorizadas, e animadas por seus
chefes» para tom o* infelizes e pacificou habitantes do
paiz.
5. Vingar este comportamento nos pacíficos habitantes
Miscellanea. 269
âe França, seria deshuraano, e indigno das naçoens, a
quem se dirige agora o commandante das forças; e, em
todo o caso, seria dar occasiaõ aos mesmos males, ou
peiores, do que soffreo o exercito inimigo na Peninsula :
e viria a ser de summo damno aos interesses publicas.
6. Por tanto, as regras que até aqui se tem observado
em pedir, tomar, e dar recibos, pelos provimentos do
do paiz, seraõ continuadas nas aldeas das fronteiras da
França; e os commissarios pertencentes a cada um dos
exércitos das differentes Naçoens receberão as ordens do
commandante em chefe do exercito de sua Naçaõ, relativa-
mente ao modo, e periodo de pagar similhantes provi-
mentos.
(Assignado) £ . PACKENHAM.
Julho 3 1 , 1813.
Mv LORD !—Tenho a satisfacçaõ de informar a V. S.
que ; supposto que pela immensa superioridade de força,
que o inimigo dirigio contra a posição encarregada ao meu
cuidado; era na minha opinião, hontem, imperiosamente
necessário retirar-me daquelle terreno; o comportamento
dos officiaes Inglezes e Portuguezes, foi tal ; que lhes dá
direito a minha total approvaçaõ; e naõ podia desejar que
fosse melhor.
O Major-general Pringle, com a brigada do Major-
general Walker, sob o Tenente-coronel Fitzgerald do re-
gimento 60*., sustentado pelo regimento 34°, e regimento
44*. Portuguez, se oppoz á subida do inimigo pela cordi-
lheria na esquerda da posição, da maneira mais galharda,
repulsou-o repetidas vezes ; e ainda que ultimamente naõ
lhe pôde impedir, que subisse a cordilheira, por um movi-
mento mais distante, as nossas tropas conservaram firme*
V O L . XI. No. 63. 2 o
286 Misccll.inea.
mente o seu terreno, e quando se lhes ordenou a retirada, a
fizeram, debaixo do commando do Major-general Pringle,
com a maior regularidade, e com pequena perca, cobertas
por um batalhão do regimento 14 Portuguez, sob o Te-
nente-coronel M'Donald, do comportamento deste official
e da firmeza de seu regimento, falia o Major-general em
termos do maior louvor.
A brigada do Coronel Ashworth, atacada também nesta
posição por uma força superior, resitio ao ataque com a
maior firmeza, e repulsou o inimigo ante si com a bayo-
neta calada, e conservou o seu terreno, por todo o tempo
que elie julgou prudente fürêllo: e um batalhão da brigada
do brigadeirc-general Da Cosia, manteve a cordilheira na
direita da posição, até o ultimo momento, cubrindo av for-
mação das tropas, no terreno que se lhes mandou tomar:
o inimigo tentou forçar o ponto, mais foi repulsado pelo
brigadeiro Da Costa, e finalmente repulsado pela cordilheira
abaixo â ponta da bayoneta, por aquelle batalhão, e parte
da brigada do Coronel Ashworth, e um pequeno destaca-
mento do regimento 28. Geralmente, posso assegurar a
V . S., que o inimigo naõ tem de que se gabar, nem foi
grande a nossa perda, considerando a disparidade das
nossas forças.
Sinto-me particularmente obrigado ao Major-general
Pringle por seu comportamento nesta occasiaõ, assim como
ao Coronel Ashworth ; Coronel 0'Callaghan, e Tenente-
coronel Fitzgerald, do 60*. regimento de infanteria, que
com manda vam brigadas debaixo de suas ordens : e também
ao Tenente-general Conde d'Amarante, e Brigadeiro-ge-
neral Da Costa que ficou ferido.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) ROWLAND H I L L .
Ao Marechal do Campo Marquez de Wellington, C G . &c.
P . S. Naõ devo omiuir fazer mençaõ dos serviços do
coronel Pamplona, e Tenente-coronel Pyn, do regimento
Miscellanea. 281
18, Tenente-coronel Grant, e Major Mitchell, comman-
dante do 6o. de linha ; e do reg. 6 o . Portuguez da brigada
do Coronel Ashworth.
FRANÇA.
Exercilo na Hespanha.
S. M. nomeou o Marechal Duque de Dalmacia, seu
Tenente-general, commandante de seus exércitos na Hes-
panha. Este Marechal tomou o commando aos 12 de
Miscellanea. 293
Julho, e fez immediatamente as suas disposiçoens para
marchar contra os Inglezes, que estavam sitiando Pamplo-
na e S. Sebastian.
Do mesmo ao mesmo.
Linscoin, 25 de Julho, 11 horas da noite.
O inimigo evacuou, durante a noite, a sua posição de
Col de Roncevaux : elle também se retirou de Lindus,
diante do qual ponto se achava o Conde Reille cora as di-
visoens da ala direita
Ao romper do dia mandei marchar as tropas : as divi-
soens da esquerda, commandadas pelo Tenente-general
Clausel, seguiram a estrada que vai para Pamplona: a
guarda avançada encontrou-se cora os primeiros postos
do inimigo antes de chegar a Viscarete, e os expulsou
para as alturas que ficam antes de Zubery, aonde se for-
2P 2
296 Miscellanea.
máram na sua linha: a difficuldade da estrada, e densi-
dade da nevoa, que começou de manhaã, retardou a nossa
marcha; pelo que éra ja demasiado tarde quando a frente
da columna pode apossar-se das alturas que estaõ em
frente de Linscoin e d'Ervo, aonde houve um pequeno
ataque; mas eu naõ julguei próprio atacar a posição do
inimigo nessa noite, tendo elle quasi 15.000 homens, 9 ou
10 mil dos quaes eram duas divisoens lnglezas, e o resto
Hespanhoes; elles também mostravam algumas peças
d'artilheria.
O Tenente-general Conde Reille, depois de ter forçado
a posição de Lindus, devia manobrar na sua direita, con-
servando a crista das montanhas, a fim de se apossar suc-
cessivamente das desembocaduras que abrem do vale de
Bastan, e obrigar assim o inimigo a retirar-se, o que teria
favorecido o desembocar do Conde d'Erlon. Esta ma-
nhaã as 10 horas naõ queriam os guias conduzidos na-
quella direcçaõ: a nevoa naõ admitlia que elles distin-
guissem os objectos na distansia de 10 passos; elles te-
miam levar a columna a algum precipício, o que deter-
minou o Conde a ajunetar-se com a esquerda em Espinal.
Eu o tenho postado na retaguarda de Linscoin : a manhaã
elle formará o ataque pela esquerda, se o inimigo mantiver
a sua posição.
O Conde de Erlon me escreveo hontem, de tarde, dizen-
do-me, que na conformidade de minhas instrucçoens, as
divisoens do centro tinham atacado e tomado a forte po-
sição de Col de Maya, naõ obstante a vigorosa resistência
que fez o inimigo. A 2*. divisão commandada pelo ge-
neral Darmagnac mostrou nesta occasiaõ um ardor extra-
ordinário.
Depois deste ataque, o inimigo dividio as suas tropas
em duas columnas : uma desceo para o vale de Bastan, a
outra tomou a estrada de Echalar. O Conde de Erlon
ordenou que fossem ambas perseguidas , mas ao depois
Miscellanea. 297
julgou conveniente contramandar este movimento, e unir-
se á divisão do centro em Col de Maya. O inimigo ainda
se mantinha no monte Atchiala. Sinto tanto mais este
accidente imprevisto, porque eu tinha ordenado ao Conde
d'Erlon que manobrasse, a fim de se aproximar de mim:
acabo de lhe reiterar a mesma ordem.
Nesta batalha os Inglezes perderam muita gente, nós
tomamos-lhes 8 peças d'artilheria. Elles perderam tam-
bém muito no ataque que lhes fez o Conde Erlon. O re-
gimecfo 10mo. foi quasi destruído. Um batalhoõ do regi-
mento 6 de infanteria ligeira, da divisão de Foy carregou
aquelle regimento á baioneta, e o derrotou. Em uma pa-
lavra elles também perderam muito no ataque da montanha
de Altabisea, que lhes fez o General Baraõ Clausel, aonde
foram mortos vários officiaes de graduação. Tomamos
muitos prisioneiros.
Ignoro o que se passou hontem, e hoje, no Bidassoa
baixo. Naõ tenho recebido noticias do General Villatte
o qual tem, alem disto, suas instrucçoens.
Nunca vi as tropas cora melhor disposição, nem mos-
trando mais ardor. As guardas nacionaes de Landes e
do baixo Pyrenneo, e os caçadores de montanha, que em-
preguei na fronteira, se rivalisáram em ardor. Farei men-
çaõ delles na participação geral; quando tiver a honra
de me dirigir a V Ex a .
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) O Marechal Duque de D A L M A C I A .
23 de Julho.
S. M. a Imperatriz partio hontem para Mayence.
S. M. a Imperatriz a Raynha e Regente vai para May-
ence, passar ali oito dias, na esperança de ver a S. M. o
Imperador. S. M. a Imperatriz dormirá esta noite em
Chalons; aos 24 era Metz ; e aos 25 em Mayence. S. M.
voltará no principio de Agosto.
27 de Julho.
S. M. a Imperatriz chegou a Mayence na noite de 25,
era perfeita saúde.
S. M. o Imperador sahio de Dresden aos 2 0 ; e fez uma
excursão na Lusacia inferior; pernoitou em Luckaw ; es-
teve em Leiblin ; vio o corpo do Duque de Reggio, e vol-
tou para Dresden aos 22 à uma hora da madrugada.
2 Q 2
304 Miscellanea.
Dresden, 15 de Julho.
O Imperador sahio de Magdeburgo aos 13, depois de
ter passado revista ás divisoens do corpo do General Van-
d anime, e foi para Leipsic.
Aos 14 pelas 9 horas da manhaã, S. M. passou revista
ao 3 o . corpo de cavallaria, que commanda o.Duque de
Padua.
Pela tarde S. M. passou revista, na praça grande de
Leipsic, ao resto das tropas do Duque de Padua, que elle
naÕ tinha podido ver naquella manhaã. Elle ao depois
se metteo na sua carruagem ás 5 horas da tarde, e foi
para Dresden, aonde chegou na manhaã seguinte.
Mayence, 28 de Julho.
Desde hontem temos a felicidade de possuir a S. M. o
Imperador e Rey, que chegou pela noite, acompanhado do
Principe de Neufchatel e Wagram. Ao meio dia Suas
Magestades receberam as authoridades da cidade e de-
partamento. Hoje S. M. passou revista a grande numero
de tropas de todas as armas, que se achavam nesta cidade.
2 de Agosto.
Hontem pelas 6 horas da tarde S. M. o Imperador sa-
hio deste lugar para Dresden : e hoje ás 10 da manhaã as
salvas de artilheria, os rcpiques dos sinos, anniniciaram
aos habitantes de Mayence a partida de S. M. a Impera-
triz Raynha e Regente. S. M. se embarcou a bordo de
um yate no qual desceo pelo Rheno para Colônia, c vol-
tará por Brusselas para a sua capital.
Antes de sua partida, o Imperador se mostrou com sua
Augusta Esposa na varanda do Palácio, aonde conversou
familiarmente |xir meia hora. A Imperatriz parecia estar
afflicta, e derramou lagrimas, quando a carruagem do Im-
perador passou por debaixo da varanda. Durante a sua
estada cm Mayence, o Imperador apparecêo como um pay
entre seus filhos. A residência de Suub Magestades tem
Miscellanea. 305
deixado nos coraçoens de todos os que tiveram a felicidade
de os ver, lembranças que nunca se apagarão.
MALTA.
Noticia da Peste que reyna em Malta.
Extracto de uma carta, datada de Malta, 17 de Junho.
Graças a Deus a peste naõ tem ainda entrado no militar
em um só exemplo. Alguns desejarão saber alguma cousa
delia; e portanto trabalharei por dar-vos a mais concisa
relação, que puder, da origem, progresso, e quizéra poder
accrescentar abatimento desta terrível enfermidade, que
aqui tem reynado por 6 semanas. Ninguém sabe como
entrou nesta ilha. Tem havido suspeitas vagas, mas até
aqui ainda naõ ouvi cousa nenhuma com certeza tolerável;
naõ mencionarei rumores. He da minha intenção referir
unicamente factos, alguns dos quaes, saõ de meu próprio
conhecimento, outros os tenho da melhor authoridade.
Tenho feito um jornal desde o principio. Aos 4 de Mayo
escreveo o Dr. Gravana uma carta a Mr. Green, dizendo
que tinha visitado a familia de um çapateiro, na Strada
Paolo, N ° . 150, chamado Salvador Borg, um dos filhos
deste morreo aos 19 de Abril, depois de breve moléstia.
A mãy adoeceo aos 2 de Mayo, e morreo aos 3. O D " ,
suspeitou que a moléstia seria peste ; e em conseqüência
escreveo aquella carta a Mr. Green.
Na margem da seguinte pagina, achareis a conta diária
do numero que morre, ou he infecto. O çapateiro foi
infectado aos 7 de Mayo, e morreo aos 12; porém geral-
mente fallando, a morte succede á infecçaõ em 36 horas.
Ha somente 3 exemplos de pessoas que tenham escapado ;
e tenho razaõ para crer que isto he falta de cuidado.
Ninguém se chega a uma pessoa infecta, na distancia
de muitas varas. Se alguém se acha taõ mal, que se
naõ pode servir a si mesmo, necessariamente morre; e
tem occurrido vários casos, em que a morte succede quasi
306 Miscellanea.
immediatamente. Aos 5 de Mayo publicou o Governo
uma proclamaçaõ, em que informava o povo de que a mo-
léstia tinh apparecido, e recommendava as medidas de pre-
caução, que fôram somente seguidas pelos Inglezes ; por-
que os naturaes do paiz naõ acreditavam por muito tempo,
que fosse peste, em conseqüência do pequeno numero de
mortes e infecçoens. Acontece o mesmo em toda a parte;
porque apparece a moléstia com symptomas mui diversos;
alem da difficuldade de achar quem saõ as pessoas que
tem tido communicaçaõ com as infectas. Espalhou-se a
moléstia por Casal, Isola, Floriana, S. Julian, Vittoria,
Burmota, e por toda a parte da ilha de Malta, Goza
ainda naõ foi infectada, nem Lampeduza. O forte Ma-
nuel foi despejado, para nelle se recolherem aquelles, que
naõ estavam infectados, mas que tinham entrado em
casas infectas : ou tinham sobrevivido a familias infectas.
Perto de 300 pessoas morreram aqui : porque foram obri-
gados por fim a mandar para aquelle forte todas as pessoas
infectas, as quaes destruíram s que ali se tinham mandado
primeiro. Aquelles que saõ infectados na cidade tem per-
missão de ficar em suas casas, se saõ pessoas respeitáveis,
e as suas habitaçoens arejadas. No campo todos ficam
em suas casas. Os criados do Capitão Chilott, agente de
transportes, adoeceram: um delles morreo; os outros se
estaõ restabelecendo em forte Manuel. O Capitão Chi-
lott, tomando todas as precauçoens tem escapado, e esta
com a melhor saúde ; ainda que todos os criados fôram in-
fectados ha duas semanas ; e toda a familia esta também
de saúde. A moléstia naõ se tem espalhado taõ rapida-
mente como se poderia temer, considerando a immensi-
dade de população. O N° 20, strada Pozzi, tinha origi-
nariamente 25 habitantes, todos morreram excepto uma
rapariguinha, que foi infectada esta manhaã. Eu occupa-
ria um volume se quizesse relatar todas as scenas afflic-
tivas, que tenho prezenciado: em uma casa, jaziam no
Miscellanea. 307
leito o pay e a m ã y ; esta com uma criança de peito ; duas
crianças no chaõ, sem nenhum soccorro ; outra infectada;
porem ainda capaz de se mover, e portanto empregada
em trazer á familia, leite, o as mais cousas que se lhe
deixavam a porta; e esta criança nutria os doentes sem llieâ
tocar: todos elles estaõ agora mortos. Eu vi sette pessoas
postas esta manhaã em um carro, em Horiano, tres de
uma casa: de facto familias inteiras tem sido varridas.
As participaçoens dos dous últimos dias saõ toleravel-
mente favoráveis; e nós principiamos a esperar que o
tempo quente extinguira a moléstia, ainda que hontem
naÕ foi muito bom, pois ha seis pessoas infectas na cidade
porém todas em casas de novo, aonde d'antes naõ tinha
apparecido. Muitos morrem, sem que delles se dê parte
como infectos. Um padre na Strada Real disse missa sab-
bado, e morreo no domingo pelo meio dia.
A cidade está divida em oito districtos, que estaõ sepa-
rados uns dos outros por barreiras: estabeleceo-se um
mercado em cada uma, e naÕ se permitte communicaçaõ
entre elles, excepto com passaportes dos Deputados, dos
quaes ha tres em cada districto, que visitam as casas dia-
riamente, se alguém está doente mandam buscar o me-
dico: Se os symptoraas saõ os da peste, chama-se um
gato pingado, que o leva para o forte Manuel, fecha-se a
casa, e pôem-se-lhe sentihela a porta.
Os Deputados saõ homens respectaveis que se tem ofTe-
recido voluntariamente para este serviço, Mr. Forest, he
um, e Mr. Noble outro: este ultimo fallou com uma das
suas sentinelas domingo, que morreo tres minutos depois
no corpo da guarda. Estabeleceo-se interinamente uma
grande policia, que faz todo o serviço relativamente á
peste; porém a gente empregada em levar e enterrar os
mortos saõ escravos, os quaes, se vivem, saõ pagos a 4 dol-
lars por dia, e alem disso tem a sua liberdade: 26 destes
ja morreram, e o resto recusou hontem trabalhar. Agora
S08 Miscellanea.
tem Grpgos, que se offerecêram voluntariamente, para fa-
zer este serviço. Os escravos morreram por falta de pre-
caução, poiz naõ traziam os vestidos que lhe foram desti-
nados. Estaõ fechadas todas as loges, excepto algumas
poucas que tem licença: ninguém se visita, de maneira
que estamos todos em um completo estado de quarentena.
Todos os papeis saõ defumados as tropas estaõ limitadas
aos seus quartéis e fortes ; todos os soldados que montam
guarda, esfregam o corpo com azeite ; mas fazemos a pa-
rada na forma do custume, na praça do Palácio. A qua-
rentena, e as precauçoens continuarão por 40 dias depois
da ultima pessoa que for infecta.
PORTUGAL.
Estado da Organização do Exercito Portuguez em Cam-
panha no ultimo de Junho, de 1S13.
INFANTERIA.
1
I - Brigada.—Brigadeiro Pack.
Regimento, N°. \, Coronel Hill.
D°. 16, Cor. Francisco Homem de Magalhães.
Batalhão de Caçadores, N°. 4, Ten.-cor. Williams.
2*. Brigada.—Brigadeiro Bradford.
Regimento, N°. 13, Ten-cor. D. Joaquim da Camera.
D° 24, Coronel Guilherme M'Beau.
Batalhão de Caçadores, N". 5, Ten.-cor. M. M'Creagh.
3*. Brigada.—Coronel Ashworth.
Regimento, N°. 6, Tenente-cor. Maxwell Grant.
D» .... ]8, Coronel Manoel Pamplona.
Batalhão de Caçadores, N*. 6, Ten -cor. Sebastião Pinto.
4 a . Brigada.—Brigadeiro Power.
Regimento, N°. 9, Ten.-cor. Carlos Sutton.
j)ow _ 26, Ten.-cor. Giíilherme Bermingham.
Batalhão de Caçadores, N°. 11, Ten.-cor. Dursbacb.
5a. Brigada.—Colonel Stubbs.
Reo-imento, N". 11, Ten.-cor- Alexandre Anderson.
j)° 23, Tenente-cor. James Miller.
Miscellanea. 309
Batalhão de Caçadores, N°. 7. Ten.-cor. Bryan O T o o l e .
6 a . Brigada.—Brigadeiro Sprye.
Regimento, N°. 3, Major Carlos Stuart.
D° 15, Coronel Luiz do Rego Barreto.
Batalhão de Caçadores, N ° . 7, Ten.-cor. D. St. Leger Hill.
V Brigada.—Brigadeiro Madden.
Regimento, N°. 8, Coronel Diogo Douglas.
D° 12, Cor. A. de Lacerda Pinto da Silveira*
Batalhão de Caçadores, N°. 9, Tenente-cor. Joaõ Brown.
8 a . Brigada.—Brigadeiro Lecor.
Regimento, N°. 7, Coronel Niel Campbell.
D° 19, Coronel JoaÕ M'Doyle.
Batalhão de Caçadores, N° 2, Major G. H. Zuchlke.
9 a . Brigada.—Brigadeiro Hippolyto da Costa.
Regimento, N ° . 2, Cor. Jorge de Avillez Zuzarte.
D' 14, Ten.-cor. JoaÕ M'Donald.
10*. Brigada.—Brigadeiro Campbell.
Regimento, N°. 4, Ten.-cor. Aliam Guilherme Campbell.
D°. 10, Colonel Luiz de Souza Vahia.
Batalhão de Caçadores, N°. 10, Ten.-cor. R. Armstrong.
DtVIZAÕ LIGEIRA.
Regimento, N°. 17, Tenente-cor. JoaÕ Rolt.
Batalhão de Caçadores, N°. 1, Ten.-cor. JoaÕ H. Algeo»
D° 3, Ten.-cor. M. P . da Silveira.
CAVALLARIA.
Brigadeiro d'Urban.
Regimento, N \ 1. Tenente-cor. Henrique Watson.
D° 11, Tenente-cpr. Domingos Bernardino.
D* 12, Tenente-cor. Visconde de Barbacena.
ARTILHERIA.
Tenente coronel A. Dickson.
a
I de calibre 9, Major G. S. Jozê d'Arrriaga.
Tenente-coronel A Tulloh.
a
3 . de calibre 6, Major G. JoaÕ da Cunha Preto.
4
" 9, Capitão Eduardo Pereira Amado.
VOL. XI. No. 63. 2 R
SiO Miscellanea.
Major Amaro Jozé Canhaõ.
Ia. de calibre 6, Capitão Francisco Pedroza Barreto.
2a 3, Io. Tenente Jozé Alberto Gilmore.
Bateria de montanha, 2 o . Ten. F. M. Caetano Gorjaõ.
SUÉCIA.
Entrevista do Principe da coroa com o Imperador de Rússia,
e Rey tle Prússia.
Castelo de Traekenberg, na Silesia, 11 de Julho.
O Principe da Coroa sahio de Gripswalda aos 6 de Ju-
lho : pernoitou na primeira noite em Prentzlaw, aonde S.
A. R. foi recebido, da parte de S. M. Prussiana, pelo Prin-
cipe de Sayn Wittgenstein. Aquelle principe tem acom-
panhado a S. A. R. na viagem. Aos 7 continuou a jornada
pelo caminho de Konigsberg, e S. A. foi recebido pelo
General Conde Tauenzien, em Lansberg, no rio Wartha.
Aos 8, S. A. R. viajou pelo caminho de Lissa, aonde o
general Russiano, BaraÕ Winzingerode, tem o seu quartel-
general, dirigindo-se a Traekenberg.
Na estrada entre Ucker e New-Markt de Brandenburg,
S. A. R. passou revista a vários batalhoens de milicias
Russianas, e em Schwedt, passou igualmente revista a um
regimento de hussares, pertencente á Legiaõ Alemaã, que
se deve pôr debaixo de seu commando—em toda a parte
aonde chega se põem as tropas em parada. As cidades
por onde passa se illuminam á noite, e tudo mostra uma
sincera alegria dos habitantes, na jornada de S. A. R. En-
tre Landsberg e Traekenberg, S. A. R. foi escoltado por
um destacamento dos hussares de Elizabethgorod, e do»
cossacos do Don do General Ilowaisky. Immediatamente
que S. A. R. chegou, foi recebido por suas Magestade» o
Imperador de Rússia e Rey de Prússia. S. A. R. o Prin-
cipe da Coroa deProssia chegou na manhaã seguinte.
No séquito do Imperador de Rússia se achavam os Gene-
raes Principe Wolkowsky, Toll, Newerousky, Laraky, e
Miscellanea. 311
Pozzo di Borgo, e igualmente o Secretario de Estado
Conde Nesselrode.
S. M. Prussiana estava acompanhado pelo Chanceller de
Estado, Baraõ Von Hardenberg, General Knisebeck, Conde
Marechal Baraõ Von Maltzahn.
Na comitiva do Principe da Coroa de Prússia estava o
seu Governador-General Gaude, e o Conselheiro de Estado
Ancillon. O Conde Stadion, Ministro Imperial Austriaco
de Estado e Conferências, o Encarregado de Negócios Au-
striaco, BaraÕ Von Libzatern,o Embaixador Britannico na
Corte Imperial Russiana, Lord Cathcart, o General Von
Suchtelin, e Mr. Thornton, o Ministro Britannico na Corte
de Suécia, chegaram igualmente aqui.
Na manhaã seguinte, aos IO, S. A. R. visitou El Rey de
Prússia, e o Imperador de Rússia; e d e tarde o Principe da
Coroa de Prússia.
S. A. R. que ao presente goza do melhor estado de
saúde, voltará amanhaã para Gripswalde.
Dantzic.
Um sugeito que sahio de Dantzic com permissão do
Principe de Wurtemberg, pelo meado de Julho dá a se-
guinte conta de sua situação aquelle tempo :—
A guarniçaõ tinha 8.000 homens capazes de serviço; e
2.000 doentes, dos quaes morriam por dia de 20 a 30. Ti-
nham ainda algum paõ: os outros mantimentos estavam ex-
haustos. Durante os 4 dias immediatamente precedentes
ao annuncio do armistício-, os Russianos os conservaram em
constante susto ; e muitos officiaes tinham sido de opinião,
que naõ se poderia soffrer a fadiga por mais de 15 dias. O
Governador Rapp trabalhou por sustentar os seus espíritos
por uma variedade de noticias; algumas vezes de promp-
tos soccorros, outras vezes de paz no fim do armistício
Elle e todos os seus officiaes trazem o uniforme de hulanos
para lisongear os Polacos, que formará a maior parte da
guarniçaõ. No dia antes de se saber o armistico fez uma
2R2
312 Miscellanea.
sortida, para atemorizar a milicia Landwebr Prussiana, como
elle disse ; porem cila pelejou valorosamente, e o repulsou
com perda de 1.100 homens, perdendo ella somente 300. A
sua primeira requiziçaõ foi de raçoens pai a 30.000 homens *,
porém pedindo-lhe o Principe de Wurtemberg, que pas-
sasse mostras á guarniçaõ para a contar, elle rebateo o
seu petitorio a 17.000, o que se lhe entregou dentro em
15 dias. Depois disso naõ tem recebido cousa alguma;
porque aos 12 de Julho pela noite voltou um official Prus-
siano que se tinha mandado ao quartel-general,—suspende-
o-se a entrega de mantimentos—e aos 14, se mandou um
official á cidade para annunciar, que se lhe naõ daria mais
nada. Naõ se sabe a razaõ disto; porem considera-se
como signal de esperanças, que na terminação do armistício
se renovarão as hostilidades.
A situação dos habitantes he verdadeiramente deplorável.
Grande numero vive inteiramente de farellos e cascas. Uma
libra de carne de cavallo custa tres guilders ; a água ape-
nas se pôde beber; e, n'uma palavra a miséria geral he
alem de toda a descripçaõ. O exercito sitiador tem sido
augmentado a 42.000 homens; a chegaram ja mais de 20
barcas canhoneiras, e se esperam ainda mais. O ataque
principal devia ser encarregado aos botes e ha amaior con-
fiança em que será bem suecedido.
Tem-se averignado que, pouco antes de chegarem os
Russianos, a guarniçaõ consistia em 21.000 homens alem
de 5.000 doentes; tem-se enterrado depois 16.000,0 que
deixa 10.000 homens, como ja se disse. O seguinte artigo,
publicado por ordem de Rapp, na gazeta de Dantzic de 6
de Julho, dará uma idea da insolencia Franceza para com
a Prússia, mesmo durante o armistício. " Vamos a pu-
blicar immediatamente, em uma folha separada, os regula-
mentos expedidos por El Rey de Prússia para o Landstrum.
He um dos mais notáveis documentos de fanatismo que
se tem conhecido em tempos modernos. A penas se pode
Miscellanea. 3-.3
conceber como uma Potência; que há poucos mezes éra
alliada da França, se pode levar a tal ponto de raiva e lou-
cura. A França tem feito a guerra nas quatro partes do
globo, mas ainda naô encontrou (excepto os selvagens de
S. Domingos) um Governo que assim excitasse publica-
mente os seus subditos ao assassinio, envenamento e
crimes malditos. Tanto se tem a Prtissia degraduado por
suas perfidias, que na sua desesperaçaõ seimerge de crime
em crime, e deixa as suas minas para serem consideradas
por todas as potências da Europa, somente como um justo
castigo do Ceo."
Depois desta amostra de sua insolencia, podemos dar um
exemplo de suas extorsoens, e crueldade. Naõ se pôde
persuadir a nenhum dos membros do Senado, a que desse a
lista dos que eram mais capazes de pagar contribuiçoens.
Ordenou-se porem uma contribuição de tres milhoens de
francos na cidade. A lista foi feita pelo Governador, e
immediatamente se prenderam todos os negociantes, em
numero de 80, que se suppunha poderem pagar. Entre
estes foi prezo o Conselheiro de Estado o homem veneravel
de 73 annos de idade, que foi arrancado de seu leito pelos
hulanos; passando por juncto da forca, se lbe mostrou o
corpo de um supposto espiaõ, que estava enforcado, e se
lbe ameaçou com igual sorte. Como os prezos, que o
Governador Rapp tem estado a roubar por seis annos, naÕ
tinham meios de ajunctar as sommas que lhe requerêram,
entrou-se em suas casas, e tirou-se-lhes o que se achou.
Quando os livros de contas naõ conrespondíam com as som-
mas obtidas, fôram os caixeiros metidos a ferros, e lança-
dos nas masmorras communs. Aquelles que declararam
que possuíam mais do que o rateio que lhes cabia, perde-
ram igualmente tudo. Publicou-se uma proclamaçaõ
ameaçando de vender toda a espécie de bens, e alfaias, e
navios—mais, que estes se queimariam se naõ se achassem
compradores; e, para coroar tudo, que se arcabuzaria um
314 Miscellanea.
homem década dez, se a contribuição naõ fosse paga no
dia prefixo.
RÚSSIA.
8 de Julho.
O Commandante etn Chefe dos Exércitos, o General de
Tolly, expedio, aos 10 de Junho, de seu Quartel-general
em Reichenbach a seguinte ordem do dia : —
Tendo S. M. o Imperador sido servido conferir-me o
Commando em Chefe dos Exércitos Russiano, e Alliado,
conheço bem a importância de todas as obrigaçoens, que
lhe saõ annexas : mas a fim de superar as inumeráveis diffi-
culdades, que saõ inseparáveis delle, descanço connada-
mente no conchecido merecimento de todos os generaes,
no valor, constância, e devoção de todos os guerreiros em
geral. He nesta persuaçaõ, que peço a cooperação dos
chefes dos corpos, divisoens, &c. &c. Será do seu dever,
durante o armistício, empregar toda a sua attençaõ em por
em ordem, as armas, muniçoens, e todos os mais objeotos
pertencentes á guerra: vigiar na saúde do soldado, e na
observância de uma exacta disciplina : formar os soldados
novos da arte n'a guerra ;—em uma palavra, levar lodosos
ramos á necessária perfeição. He por estes meios que esta-
remos em estado de apparecer com gloria no campo da
da honra. Guerreiros ! O universo resoa com os vossos
grandes feitos. No meio mesmo dos desastres, que tem
afflígido o vosso paiz, vós vos tendes assignalalado por vic-
torias : savjando-o, vós puzestes em fugida os vossos ini-
migos, que eram o terror do Mundo. O caminho, que
elles decorreram em sua fugida, foi o dos vossos trium-
phos: se a sua marcha precipitada foi em fim retardada, e
se nós deixamos o theatro de nossas victorias, foi somunte
com o nobre desígnio de chegar ao cumulo de nossos de-
sejos. Todos se convencerão desta verdade, quando con.
siderarem, que nas mais sanguinolentas batalhas que se
Miscellanea. 315
lhe seguiram, nos sempre ganhamos novos louros; e nem
perdemos artilheria, nem gente; excepto alguns poucos
feridos ; e que durante a retirada cahiram em nossas maõs
baterias, e batalhoens inteiros. Taes saõ os fructos da
quella providencia, que tem governado todos os nossos
movimentos, e todas as nossas operaçoens. Perseverai na
mesma confiança em vossos chefes ; prestai-lhes a mais per-
feita submissão,—com estes sentimentos e o espirito que
vos anima, naõ acharão obstáculo as vossas armas. Pre-
parai-vos para novas victorias; o nosso Monarcha está entre
nós, elle será testemunha de vossos esforços, e remunerará
a cada um conforme o seu merecimento.
Grodno, 19 de Junho.
O Commandante em Chefe do Exercito de Reserva,
General de Cavallaria Baraõ Benigsen, chegou á nossa
cidade antes de hontem. Depois de passar revista ás tropas
que aqui se acham, S. Ex*. continuou a sua jornada para
Bialistocke.
Hamburgo, 26 de Junho.
S. E . o Conde Von Hogendorp, Governador de Ham-
burgo, expedio um regulamento, aos 23 do corrente, a
respeito das obras das fortificaçoens, que se affixou em
edictaes: em contormid ide delle 4.200 trabalhadores se
requerem todas as semanas em Hamburgo, nas obras da
fortaleza, que devem começar na semana que vem. Cada
cantaõ deve fornecer 700 homens para este fim, os quaes
ser;*õdividos em 7 companhias, consistindo cada uma de
cem homens, e posta debiixo do commando de um capi-
tão, que se deverá escolher d'entre os principaes habi-
tantes da cidade.
Os capitães estaõ authorizados a empregar tres mulheres
em lugar de dous homens ; c 20 rapazes, de 15 a 18 annos
de idade em lugar de 10 homens, ÒÍC. OS que tòrera cha-
mados para as obras vem trabalhar em pessoa, e se naõ
permitte que sejam empregados trabalhadores alugados,
como substitutos.
Miscellanea. 319
OMayoral expedio a seguinte proclamaçaõ:—
Como o serviço dos hospitaes requer taõ considerável
quantidade de pano de Unho velho, para ataduras e fios,
que se naÕ pôde obter uma porçaõ sufficiente, todos os
habitantes de Hamburgo saõ por esta requeridos a trazer
tudo quanto destes artigos tiverem, que puder servir a
taes usos, e entregallos immediatamente na secretaria do
Mayoral; e elles seguramente naõ seraõ tardios em apro-
veitar esta occasiaõ de auxiliar os guereirios seus naturaes,
feridos, e doentes.
(Assignado) O Mayoral, R U D E R .
Hamburgo, 24 de Julho.
Obituario.
Faleceo no Brazil a Senhora Princeza D. Maria Anna i que era
Irruaa de S. M. Fidelissima; e nasceo a 7 de Outubro de 17SÕ.
FRANÇA.
Durante o decurso deste mez, em que estiveram suspendidas as
hostilidades, por virtude do armistício, que mencionamos em nosso
N". passado, houveram alguns factos de importância, relativos a ne-
gociaçoens de paz, os quaes porém terminaram na renovação de
hostilidades.
A Imperatriz foi terá Mayence, debaixo do pretexto de visitar seu
marido, o qual effectivamente ali a foi ver. He bem de presumir que
esta viagem, principalmente sendo ella a Regente do Reyno. naõ éra
«em vistas politicas; e portaato lie mui de notar, que naõ obstante a
proximidade, em que se achava o Imperador d"Auslria, esta princeza
naõ fosse ver seu pay. Daqui se pode mui bem inferir, que, pelo
menos desta vez, os inte.esses de politica pezáram mais com o Impe-
rador de Áustria, do que as relaçoens de familia. A Imperatriz vol-
tou i ara Paris ; e se aununciou, qoe iria ter a therbourg, para as-
sistir a cerimonia de se abrir o dique formado naquelle porto • qae
he nma obra projectada, desde o tempo de Luiz XIV.
As gazetas Francezas, durante todo este mez se oecupéram a des-
crever as marchas de tropas para o grande exercito do Norte; csup-
Miscellanea. 325
posto que estejamos persuadidos, que as forças Francezas sejam mui
numerosas; com tudo he mui evidente o cuidado com que se multi-
plica um mesmo corpo, fallando de suas marchas era artigos de dif-
ferentes lugares, e fazendo parecer que saõ tropas differentes.
Dos exércitos contra Hespanha mui pouco se diz, excepto da re-
sistência, que tem feito a guarniçaõ de S. Sebastião. Nada da ba-
talha de Vittoria ; cousa nenhuma da d rrota de Soul , quando ten-
tou passar os Pyreneos. Publieamos a p. 300 uma proclamaçaõ do
Marechal Soult,que apparecêo nas gazetas lnglezas, posto que baja
algumas duvidas sobre a sua authenticidade; mas ella he taõ con-
forme ás circumstancias do tempo, que naõ podemos deixar de a in-
serir ; principalmente pelas queixas que faz contra seus predeces-
sores ; e pelas ordens que inculca ter recebido de Napoleaõ ; as quaes
porém naõ pdde executar ; posto que as gazetas Francezas ja dem o
seu quartel-general em Vittoria.
Interessará sem duvida a muitos Leytores Portuguezes, um artigo
de Paris de 4 de Agosto, no qual se refere que Junot, o pseudo Ouquo
de Abrantes, morrera; havia alguns dias, no departamento de Cot*
d'0r.
CONGRESSO EM PRAGA.
Aos 12 de Julho chegou a Praga o Baraõ de Amstetten, como
Ministro Plenipotenciario de Russia ; e o Baraõ d* Humbold, Pleni-
potentiario de Prússia. O conde de Metternich, Embaixador de
Áustria, ja ali se achava, e o Conde Narbone como Ministro de
França: e foi dep*is ali ter o Duke de Vicenza (Caulin ourt.) A
Inglaterra enviou também ao Continente Lord Aberdeen; mas naõ
consta que chegasse ao lugar do seu destino.
A primeira sessaõ deste congresso teve lugar, aos 19 de Julho ;
Caulincourt começou as suas funcçoens diplomáticas por uma or-
gulhosa declaração, de que se devia prolongar o armistício antes que
elle principia-se a tractar dos objectos de sua missaõ; e naõ quiz
dar explicação alguma sobre os termos em que queria tractar; por
fim, vendo-se instado, declarou que as suas instrucçoens lhe prohi.
bSam dar explicaçoens algumas; e só deveria receber as proposi-
çoens que se lhe fizessem. Conheceo-se pois que o Governo Fran-
cez, naõ entrava nos termos de negociação senaõ para illudir o Im-
pera or d* Áustria e os alliados, ganhando tempo para fazer os seus
preparativos de guerra; e dar inesperadamente a seus contrários o
golpe mais pezado que pudesse.
Naõ se sabe ainda quaes fôram as proposiçoens ou vistas da
Áustria; mas o resultado foi a dissolução do Congresso de paz; o
darem os passaportes aos Ministros Francezes para que se retirassem;
e a intimaçaõ que se fez a Napoleaõ pela meia noite do dia 10 de
VoL. XI. No. 63. 2T
326 Miscellanea.
Agosto, de que estava acabado o Armistício: e no dia 11, se de-
clarou a Áustria a favor dos Alliados.
Tal foi o fim do breve Congresso de Praga, e temos ja noticias,
posto que naõ officiaes, de terem recomeçado as hostilidades no di»
16 de Acosto.
2T2
328 Miscellanea.
GUERRA DO NORTE.
Havendo findado o Armistício aos 10 de Agosto, e começado u
hostilidades aos 18; com a concurrencia do Imperador d' Áustria,
que se unio aos alliados, parece que a primeira operação dos Frau-
cezes foi atacar e tomar Breslau, mas em um artigo de Berlin se diz,
que os ai liado* retomaram logo a cidade , posto que pela data desta
novidade se ,-ôde inferir, que o rumor merece pouco credito.
Afirma-se porém que o exercito Russiano entrou na Bohemia,
com 90.000 homens; a que se lhe unio o exercito Austriaco de 160,
mil homens; e isto forma a esquerda do exercito Alliado. A Prússia
ordenou um levantamento em massa, o que executa taõ estricta-
mente, que o mensageiro Inglez que acaba de chegar a Londres di-
quelle piiz, avalia o exercito Prussiano a 200 mil homens: poderá
haver nisto exaggeraçaõ ; porém sem duvida o exercito Prussia-
no, que forma o centro dos Alliados está em um pé mui respeitável
A direita dos Alliados he formada pelas tropas, que commanda o
Principe da Coroa de Suécia, o qual teve uma entrevista com o
Imperador de Rnssia e Hey de Prússia, aonde naturalmente se
ajustou o plano da campanha.
O celebre General M.ireau, chegou dos Estados Unidos a Gottcn-
burg, aos 27 de Julho ; seu antigo amigo o principe da Coroa o
recebeo em Stralsund ; e dizem que este veterano official se acha no
Quartel general Ru-siano, e terá um emprego considerável no
exercito Alliado.
De sua parte os Francezes naõ tem poupado esforços para en-
contrar o perigo; mas da natureza desses mesmos esforços se co-
pbese, que Napoleaõ naõ conta com ter victorias fáceis; porque tem
fortificado a cidade de Dresden, e muitos outros lugares oa retaguar-
da. Este modo de fazer a guerra se assirueiha mais ao systema dos
encampamentos entrincheirados de que usaram os Romanos, do que
aos ataques rápidos, e marchas distantes, qu» tem distinguido as
campanhas modernas dos exércitos Francezes..
As disposiçoens da campanha parecem ser as mais judiciosa* i e
alem dos generaes, que ate aqui tem commandado contra os I ran-
cezes acrescem agora aos Alliados o General Moreau, e o Principe
da C< roa de Suecii. Este mandou preparar uma imprensa, que
deve fazer parte de sua equipagem ; e chamou ao celebre Kotzebue,
e a M. Schegel, para conservarem este estabelecimento em plena
actividade. Os Francezes veraõ por isto, que os Alliados tem apren-
dido a fazer uso da mesma arma, que lhes tem sido aos Francezes
taõ favorável—a opinião publica.
Miscellanea. 329
Mappa e Disposição dos Exércitos Francezes na Ale-
manha, no ponto da renovação das hostilidades.
Exércitos. Força. Posiçoens.
1. Marechal D'Avoust ) „ „ . „ . , „ . _
,n • .,c i LU f 100.000 Baixo Elbe, Dantzic, &c.
(Príncipe d'Eckmuhl) > '
3. Marechal Oudinot -, _„ _ „ , .
,_ . „ . . ç 70.000 TLubenau na TLuzacia.
(Duque de Reggio) $
t. Marechal Ney 7 _ „„„ _ .. • . • „ . , .
(Principe de Moskwa) } 2 0 ü - 0 0 ° E^rc.to principal na Silezia.
, „ (Parma, Dresden, e linha
4. Buonaparte (Imperador) 50.000 J d o K | b e S ( j p e r i o r
5. Marchai Augerau i (Exercito de reserva em
(Duque de Castiglione) ) ( Bayreuth eBamberg.
6. General Wrede 25.000 Bávaros em Munich.
7. Marechal Kellerman ) nao «. . < Frankfort, formando o se-
,.> J . r i ,. l »esabei
(Duque de Valmy) > (gundo exercito de reserva.
8. Eugênio Beauharnois > ycrona
(Vice Rey de Itália) j
C Applicaveis ao rpróximo con-
Gram Total 555.000? „ . .
( flicto.
N. B. Desta força 100.000 homens saõ cavallaria.
Lista dos officiaes que se acham empregados nos princi-
paes commandos do dicto exercito.
1. QUARTEL-GENERAL.
O Emperador Bonaparte em Goerlitz.
Murat (Rey de Napoies) suecedeo a Duroc, no commando da ca-
vallaria.
Berthier (Principe de Neufchatel) Major General do Exercito
Francez.
General Conde Eblee, commanda a artilheria.
D». D°. Lery, D". engenheiros.
D°- D". Walthier, D°. cavallaria da guarda imperial.
2 ° . LINHA DO BAIXO ELBE.
Marechal Davoust, Hamburgo, e debaixo de suas ordens o Conde
ndamne.
3. LUZACIA.
Marechal Oadinot, Lubenau, &c
4 . SILBZIA.
Debaixo dos dous Marechaes estaõ servindo, commandando cor-
pos os seguintes.
Marechal Mortier, (Duque de Treviso)
330 Miscellanea.
Marechal Victor, (Duque de Belluno
. Marmont, ( de Ragusa)
• Macdonald, ( de Tarentum)
Gouvion St. Cyr, (Conde)
General Arrighi, Duque de Padua)
Regnier, (Conde, 7°. corpo e Saxonios)
Bertránd, (D°.)
• Lauriston, (D°.)
5 . BAREUTH, E BAKBERG.
Marechal Augereau; (Exercito de Reserva.)
6 . MUNICH. (MÔNACO.)
General Wrede, (Bávaros.)
7. FRANKFORT.
Marechal Kellermann, (2°. Exercilo de reserva.
8. ITÁLIA.
O Vicerey, (Tenente de Bonarte.)
Marechal Massena.
General Conde Grenier.
Os outros officiaes que commandam divisoens na Alemanha taõ -
Cavallaria. General Conde Latour Maubourg,
Conde Grouchi,
Conde Nausonty,
Conde Valence,
Conde S. Germain,
Infanteria. General Conde Laborde,
Loison,
Bonnet,
Molitor,
Friant,
• Legrand.
Os Polacos reduzidos a 15.000 homens estaõ em Pirna, com-
mandados pelo Principe Poniatowski, e a cavallaria pelo General
Dombrouski.
GUERRA DA PENÍNSULA.
Decoramos o nosso N°. passado com a descripçaõ da batalha
de Vittoria, e esplendido bom successo, que ali tiveram as armas allia-
das. Agora temos o prazer de transcrever, entre os officios do feliz
general, que ali commanda, outra victoria alcançada dos Francezes
nos Pyrineos; que enche a Lord Wellington de maior gloria do que
a primeira; porque em Vittoria derrotou um exercito que fugia
amedrontado ;e nos Pyreneos humilhou a soberba de Soultque feio
atacallo de propósito, com ordens de Napoleaõ, e com promessas a
Miscellanea. 331
•eus soldados, de que faria retroceder os Alliados. Naõ he a pri-
meira vez que o illustre General Wellington tem visto correr a Soult
diante de s i ; a cidade do Porto, e Provincia do Minho saõ testemu-
nhas disso; mas a«ora he tanto maior a gloria do vencedor, quanto
eram mais conspicuos o orgulho e audácia do aggressor.
Comparando as noticias Francezas cora os officios dos generaes
alliados he claro, que o sitio de San Sebastian se naõ pôde prosseguir
depois de terem falhado os assaltos ; porque a artilheria de bater se
arruinou com o muito fogo que fez á praça ; mas que esta operação
sem duvida continuaria, logo que chegasse a artilheria, que de novo
se esperava de bordo da esquadra. A cidade está quasi inteiramente
demolida; mas a guarniçaõ pôde sempre obter alguns provimentos
da França por mar ; visto que a sua proximidade faz que seja impos-
sível á esquadra Ingleza do bloqueio, o apanhar todos os barcos que
se escapam da Praça e vaõ ter â França pela costa.
Pamplona ainda que demasiado forte para ser tomada de assalto,
esta bloqueada taõ estrictamente; e os Francezes esperavam taõ
pouco, no principio da campanha, que Lord Wellington estivesse
agora ao pé de seus muros, que negligenciaram inteiramente o met-
ter-lhe provimentos como éra necessário ; assim he mais que prová-
vel que se renda pela penúria.
PORTUGAL.
Temos de referir uma noticia, que respeita unicamente aos Se-
nhores Inquisidores; porque quanto á demais gente, como ja nin-
guém faz caso delles, o que vamos a dizer he quasi indifferente. Sa-
berão pois os Senhores Inquisidores; que por cartas, que se recebe-
ram em Inglaterra de Goa, se sabe, que foi ali abolida a Inquisição
em Outubro passado, naõ obstante ter o nome de Santo Officio ; e as
prisoens da Inquisição daquella cidade se puzéram abertas, para
inspecçaõ do publico; que teve a satisfacçaõ de ver derribado aquelle
horroroso monumento da mais sanguinária superstição. Com que
Senhores Inquisidores de Portugal vaõ deitando ás barbas de remo-
lho ; e entre outras cousas tenham cuidado de mandar sumirtir os
ossos dos infelizes que Ia tem morto dentro, e que se acbaõ n'um do»
subterrâneos do quintal, que fica por baixo das janellas do Presidente
da Meza; mandem queimar os instrumentos de tortura; e os feitos
e papeis mais importantes; recommendamos-lhes estas medidas com
brevidade; porque a hora de se verem expostos em publico naõ
tardará nmito ; e escondendo essas cousas se livrarão ao menos que
os rapazes os corram as pedradas.
332 Miscellanea.
Deixemos aos Padres tristes; e passemos a cousa de interesse
mais geral.
Temos achado nas gazetas de Lisboa alguns nomes dos que tem
concorrido para o empréstimo do Resgate na praça do Porto
na somma de 80:000.000 de reis; principiou esta publicação
na gazeta de Lisboa, N". 143; e continuando pelo methodo prin-
cipiado nunca terá fim ; naõ sô em razaõ do grande numero
de contribuintes, que será preciso, na proporção de 40 para
4:690.000 de reis; mais de 682 pessoas; como porque mettendo-se
dias de per meio, enfastia esta leitura, esquece ; e eisaqui cm que
para a farça de se dizer que se dá parte ao publico do imprestimo,
imprimindo na gazeta os nomes dos contribuintes.
A praça de Lisboa, apertada por outras consideraçoens e motivos,
tem mostrado mais repugnância a entrar no emprestisrao; e dahi
veio o avizo um pouco puchado, que se publicou na gazeta N*. 144,
era que se usa de certa ameaça aos Negociantes, que naturalmente
lhe naõ devia agradar.
Nos estamos bem longe de lançar-mos toda a culpa ás pessoas,
que actualmente governam em Portugal,- posto que certa Persona-
gem Portugueza aqui em Londres naõ faça mysterio de acusar a D.
Miguel Forjaz a torto e a direito de tudo quanto ali se faz de máo.
O motivo porque naõ lançamos a culpa aos actuaes homens do Go-
verno ein Portugal, he porque sabemos que a falta de credito do
Erário hc a raiz fundamental de toda* as difficuldades que ha nos
empréstimos; e esta falta de credito he ja um peccado velho, que se
naõ pode sem injustiça lançar todo em conta aos presentes Gover-
nadores, Secretários, ou quem quer que be que influe nessas ma-
térias.
Ouvem dizer em Portugal, que em outros paizes, principalmente
em Inglaterra, quando o Govemo preciza de dinheiro recorre aos
Negociantes. Pertcndesse lá imitar o mesmo, e o modo porque o
fazem he atacar os negociantes de quem sabem os nomes, para que
mettam no Erário a titulo de empréstimo a quantia, que o Ministro
suppoem que os indivíduos podem contribuir.
He verdadeque em Inglaterra o Governo recorre aos negociantes;
para os empréstimos; porque esta classe de gente, em todos os
paizes he a que possue sempre maior quantidade de espécie; mas o
Gozcrno In-Hez nunca designa os individuos, que haõ de fazer o
empréstimo ; e depois cumpre exactamente com as condiçoens que
promette.
He um absurdo a practica de Portugal, de escrever o Ministro
uma carta ao Senhor Fuaõ ou Senhor Sutaõ; e pedir-lhe ou mandar-
lhe que entre no Erário com tanto de empréstimo: na suppotiçnõ
de que esses sugeitos porque taõ negociantes haõ de por força ser
Miscellanea. 333
ricoí. Naõ ha gênero de vida em que a propriedade seja mais pre-
cária do que no negociante; o qual muitas vezes, para sustentar o
seu credito principia a fazer casas, a deitar carruagens, &c. &c. a
fim de cubrir com estas apparencias uma bancarrota, que o ameaça
em breves dias: e talvez com este estratagema se salva, e ganha
tempo para cobrar o que espera, e pagar a quem deve. Sendo isto
assim, como na verdade he i que critério pôde ter o Ministro para
saber que Fulano pôde emprestar 20, e Sulano 30? Ha muitas
vezes um negociante que no mez em que se lhe pede o empréstimo
naõ pôde dispensar um real, por letras e outras dividas, que lhe seja
necessário pagar, quando dali a tres ou seis mezes lhe seja fácil
dispensar largas sommas. Obrigar os negociantes a fazer decla-
raçoens destes seus motivos particulares he usar de um depotismo,
que he absolutamente incompatível com a existência do commercio;
salvo se reduzirem o Commercio de Portugal ao negocio dos adelos;
e entaõ os estrangeiros se saberão aproveitar dessj estado das
cousas.
Accresce a isto; que ainda suppondo que o Ministério acertava a
pedir o dinheiro, a quem realmente o tivesse para lho dar; éra abso-
lutamente necessário pagar esta divida e seus juros conforme o pro-
mettido, para naõ passar por caloteiro, e poder ter credito para a
outra vez. O ultimo empréstimo que se fez em Lisboa para o resgate
de Argel, foi manejado por D. Miguel, que nos informam arranjou
o negocio á satisfacçaõ de todos; porém isso foi cahir ultimamente
no Erário, e acabou de um modo peior que insípido; dando louvores
a uns, esquecendo-se de outros, naõ apresentando contas do dinheiro
que veio do Brazil; e dahi resultou, que para este emprésti-
mo se viram obrigados a usar de ameaças, e expressoens árduas,
como se vê do Aviso que publicamos no nosso K°. passado a p. 16:
(em que naõ falíamos entaõ, por desejarmos attender aos Senhores
Inquisidores em primeiro lugar, visto o respeito que lhe temos.)
Sem duvida a falta de credito, e naõ cumprimento de promessas,
he quem produz esta frieza de naõ haver quem empreste ao Erário :
os ameaços, e as palavras árduas augmentam o mal; ja porque
desgostam, ja porque daõ a entender que se recorre a violência
para cubrir irregularidades; e proteger a falta de boa fé no cum-
primento das promessas.
Uma cousa que nos desgostou muito lendo aquelle avizo, he o mo-
do porque he concebido. O aviso he assignado por D. Miguel;
mas antes que lhe descarregeinos o golpe, pede a justiça que diga-
mos, que naõ sabemos, se a minuta he ou naõ delle; ou se as ideas
saõ ou naõ de outros membros do Governo. A assignatura de um
homem publico naõ o deve sempre fazer moralmente responsável
pelo contheudb do que assigna.
VOL. XI. No. 63. 2v
334 Miscellanea.
Seja pois aquelle aviso devido a quem for, escandalitanot muito
nelle, a parte que naõ podemos attribuir a ignorância . por ser o
manifesto effeito de Machiavelismo: isto he a insinuação que vai
sempre fazendo, ao mesmo tempo que pede o favor de um impres.
timo. que o favor he aos mesmos negociantes; porque he para o
Resgate: esta impostura tem um ar avelhacado, que he necessário
desenvolver seriamente.
O Soberano he o Chefe da Naçaõ, Administrador das Rendas
Publicas, Dislribudor da Justiça, &c. ; como tal nunca deve, nem
nunca se suppoem, que cobra os rendimentos públicos, ou os applica
senaõ em beneficio do Estado • d'onde vem logo aqui a cantilena de
dizer que este empréstimo para o Resgate de Argel, resulta em
beneficio dos mesmos negociantes ? He um modo de lhes negar o
merecimento que teriam ; ou o agradecimento que se lhes deveria
por fazerem o imprestimo.
A paz, ou a guerra, a tregoa ou as represálias que o Soberano
faz com outras naçoens, saõ sempre a beneficio da sua • e por isso
tem elle o direito de exigir dos povos os meios de levar a diante as
suas medidas < como, pois, podem armara patranha de fazer deste um
caso novo, e dizer que a paz com Argel he de utilidade aos negoci-
antes de Lisboa ?
Dirão talvez, que os negociantes se interessam mais nesta paz mar i-
ma com Argel, porque saõ donos de navios, que podem ser tomados
pelos Argelinos. Primeiramente naõ he verdade, que os negociantes
donos dos navios sejam os únicos, nem ainda os mais interessados na
sua salvação i a practica dos seguros lhes salva a propriedade ; e os
parentes e amigos da tripulação saõ os que soffrem a perca da gente.
Mas suppondo ainda, que a classe de negociantes e donos de navios
eram realmente os qne mais perdiam ; todo o Estado éra igualmente
obrigado a concorrer para a sua protecçaõ. Para isso se unem os
homens em sociedade para que uns protejam os outros - do contra-
rio, quando os Hespanhoes entrassem como inmigos no Alentejo,
poderiam dizer os Transmontanos, que contribuíssem os Alentejoens
para a guerra ; porqne a elles he a quem ella pezava; e quando en-
trassem os Francezes em Tias os Montes, diriam os Beiroens; paga-
remos para a guerra quando cá chegarem os Francezes i por hora
paguem os Transmontanos que he aquém o» Francezes fazem a
guerra
Este absurdo modo de raciocinar he o que se admitte, quando se
alega por motivo de deverem os negociantes contribuir com o cha-
mado imprestimo, o dizer que elles saõ os interessados na paz com
Art-el i porque tem os navios no mar ; como se a tomadia de navios
pelos Argelinos naõ causasse damno a toda a naçaõ.
No entanto estes procedimentos causam um desgosto dos negoci-
Miscellanea. 335
antes, que infelizmente desta maneira saõ conservados em tal situa-
ção que nem saõ úteis a si, nem podem servir ao Estado, quando o
seu auxilio mais necessário éra. E no meio disto saõ os cstrageiros
hábeis que tem ido adiantando o seu commercio e sua marinha; em
quanto a Portugueza tem ido de cabeça abaixo.
CONRESPONDENCIA.
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
ALEMANHA.
Manifesto da Declaração de Áustria contra a França.
A Monarchia Austríaca foi obrigada, pela sua situação,
por suas differentes connexoens com outras potências, •
pela soa importância na confederação dos Estados Euro-
peos, a entrar na maior parte das guerras que tem devastado
a Europa por mais de 20 annos. Em todo o progresso
destas árduas contendas o mesmo principio politico ten»
Politica. 34S
invariavelmente dirigido a S. M. Imperial. Amante da
paz, por um sentimento de dever, por sua natural incli-
nação, e por affeiçaõ a seu povo,—livre de todos os pen-
samentos ambiciosos de conquista, e engrandecimento,—
S. M. pegou nas armas unicamente quando foi a isso
chamado pela necessidade urgente da própria conser-
vação, pela sua anxiedade a respeito da sorte dos estados
contíguos, inseparável da sua, ou pelo perigo de ver a
todo o systema social da Europa victima de uma Potência
sem ley, e absoluta. Promover a justiça e a ordem tem
sido o objecto da vida de S. M. e de seu reynado ; so-
mente por isto tem a Áustria combatido. Se nestas fre-
qüentes e mal suecedidas contendas tem a Monarchia sof-
frido profundas feridas, com tudo S. M. teve a con-
solação de reflectir, que a sorte do seu império naõ foi
arriscada em emprezas desnecessárias, e violentas ; que
todas as suas decisoens se podiam justificar diante de
Deus, de seu povo, de seus contemporâneos, e da poste-
ridade.
Naõ obstante as mais amplas preparaçoens, a guerra de
1809 teria levado o Estado á sua ruina, se naõ fosse o
sempre memorável valor do exercito, e o espirito de ver-
dadeiro patriotismo, que animou todas as partes da Mo-
narchia; com o que se contrabalançaram todas as oceur-
rencias adversas. A honra da naçaõ, e a sua antiga fama
nas armas, tem felizmente sido mantidas durante todas as
adversidades desta guerra: mas perdêram-se algumas
preciosas provincias : e a Áustria, pela cessaõ dos paizes
adjacentes ao Adriático, ficou privada de toda a partici-
pação no commercio marítimo, um dos mais eficazes
meios de promover a sua industria; este golpe teria sido
ainda mais sensível se ao mesmo tempo se uaõ fechasse
todo o Continente, como se fechou, por um systema geral e
destruetivo, que impedia toda a communicaçaõ commer-
344 Politica.
ciai, e suspendia quasi de todo a communicaçaõ entre as
naçoens.
Os progressos e resultado desta guerra convenceram
plenamente a S. M. de que, na obvia imposibilidade de
um imraediato, e pleno melhoramento da condição poli-
tica da Europa, abalada até os mesmos alicerces, os
esforços dos Estados individualmente, cm sua própria de-
fensa, em vez de pôr limites á miséria geral, unicamente
tenderia a destruir a pequena força que ainda lhes restava,
accelerar ia n queda do todo, c até destruiria todas as
esperanças de melhores tempos para o futuro. Nesta con.
vicçaõ, S. M. preveo a importante vantagem que resulta-
ria de uma paz, que, se fosse segura por alguns annos,
poderia oppor-se a esta demasiado crescida, e até aqui
irresistível potência, podia permittir á sua monarchia
aquelle descanço que éra indispensável ao restabelici-
mento de suas finanças, e de seu exercito ; e ao mesmo
tempo obter para os Estados vizinhos um periodo de
relaxaçaó, que, sendo melhorado com prudência, e ac-
tividade, podia preparar o caminho para mais felizes
tempos. Uma tal paz, nas circumstancias actuaes de
perigo, somente se podia obter por um esforço extraordi-
nário. O Imperador conheceo isto, c fez estes esforços.
S. M. sacrificou lodo quanto éra mais charo ao seu cora-
ção, pela preservação do Império, pelos mais sagrados
interesses do gênero humano, como uma segurança contra
males sem medida, como penhor de melhor ordem de
cousas. Com estas vistas, superior aos escrúpulos do
commum, armado contra toda a sinistra interpretação do
momento, se fest uma aliiança, que era destinada a reani-
inar, por meio de um sentimento de alguma segurança, a
parte mais fraca c que mais soffria, depois das misérias de
«ma luta mal suecedida ; a inclinar a parte mais forte e vic-
toriosa a uma carreira de moderação e de justiça, sem •
Politica. 345
qae a communidade dos Estados sô pode ser considerada,
como uma communidade de miséria.
8. M. era tanto mais justificado nestas esperanças;
porque ao tempo da consumação desta uniaõ, o Imperado-;
Napoleaõ tinha chegado aquelle ponto de sua carreira,
em que a conservação de suas conquistas éra um objecto
mais natural, e desejável do que uma inquieta contenda,
em busea de novas acquisiçoens. Qualquer ulterior ex-
tensão de seus dominios, que ja a muito ultrapassavam
os seus próprios limites, era acompanhada de evidente
perigo, naõ somente para a França, que ja sucumbe de-
baixo do pezo de suas conquistas, mas até para os seus
próprios interesses. O que a sua authoridade ganhava
em extensão, necessariamente perdia em ponto de segu-
rança. Por uma uniaõ com a mais antiga familia Im-
perial na Christandade, o edificio de sua grandeza ad-
quirio aos olhos da naçaõ Franceza, e do mundo, tal
augmento de fortaleza, e de perfeição, que todo outro
plano de engrandeciinento deve naÕ somente enfranquecer
mas destruir a sua estabilidade. O que a França, a Eu-
ropa, e tantas naçoens opprimidas, e em desesperaçaÕ,
pedem encarecidamente ao ceo, he uma solida politica
prescripta ao triumphante Regedor, como ley de própria
conservação—e éra permittido esperar, que tantos e taõ
grandes motivos unidos prevaleceriam á ambição de um
individuo.
Se estes lisongeiros prospectos fôram destruídos, isso se
naÕ deve imputar á Áustria. Depois de muitos annos de
infructuosos esforços, depois de illimitados sacrifícios de
toda a descripçaõ, existiam motivos sufficientes para ten-
tar procurar uma melhor ordem de cousas, por confiança,
e concessão, quando torrentes de sangue naõ tinham até
aqui produzido senaõ miséria e destrucçaõ: nem pôde
S. M. jamais lamentar, que fosse induzido a tentallo.
Ainda se naõ tinha acabado o anno de 1808—a guerra de-
VOL. X I . No. 64. 2 T
346 Politica.
vastava ainda a Hespanha, o povo d'Alemanha apenas
tinha tido tempo sufficiente para se recobrar das devasta-
çoens de duas guerras anteriores,—quando, em má hora
o Imperador Napoleaõ resolveo unir unia considerável
porçaõ do Norte da Alemanha, com a massa dos paizes
que tinham o nome de Império Francez, e roubar ns an-
tigas cidades commerciaes de Hamburgo, Bremen, e Lu-
beck, primeiro de sua existência politica, e logo depois
de sua existência commercial, e com esta dos meios de
sua subsistência. Este violento passo foi adoptado sem
que houvesse sequer pretensoens plausíveis, com des-
prezo de todas as formas decentes, sem nenhuma declara-
ção previa, ou communicaçaõ com outro algum gabinete
e debaixo do arbitrário, c futil pretexto de que assim o
requeria a guerra com Inglaterra.
Este cruel systema, que era destinado a destruir o com-
mercio do mundo, á custa da independência, da prosperi-
dade, dos direitos, da dignidade ; e com a absoluta ruina
de toda a propriedade publica e particular, de todas as
Potências do Continente, foi proseguido com inalterável
severidade, na vaã esperança de forçar um resultado, que
se felizmente se naÕ provasse ser impossível de alcançar,
teria submergido a Europa por longo tempo em um estado
de pobreza, impotência, e barbaridade.
O decreto por que o novo dominio Francez se estabe-
leceo nas costas da Alemanha, debaixo do titulo de 32».
Divisão Militar, éra de si mesmo sufficiente para oceasio-
nar suspeitas aos Estados vizinhos ; e lhes causava tanto
maior susto, quanto isto éra o precursor de futuros, e
maiores perigos. Por este decreto se fez evidente, que o
systema que se tinha creado cm França (ainda que pre-
viamente transgredido, com tudo proclamado ainda cm
existência),—o systema dos pretendidos limites naturaes
do Império Francez, éra sem nenhuma outra justificação
ou explicação, derribado; e até os decretos arbitrários do
Politica. 347
Imperador fôram annihilados da mesma maneira arbitra-
ria. Nem os Principes da Confederação do Rheno, nem
o reyno de Westphalia, em uma palavra nenhum territó-
rio grande on pequeno, escapou, na execução desta horro-
rosa usurpaçaõ. Os limites apparentemente designados
por um cego capricho, sem regra ou plano, sem se ter
consideração ás relaçoens politicas antigas ou modernas,
intersectando rios e paizes, cortaram os Estados da Alle-
manha do centro e do Sul, de toda a connexaõ com o mar
Allemaõ, passaram o Elbe, separaram a Dinamarca da
Alemanha, estabeleceram as suas pretensoens mesmo até
o Baltico, e pareceram approxirnar-se rapidamente á linha
de fortalezas de Prússia, que ainda havia juncto ao Oder ;
e este acto de usurpaçaõ (ainda que poderosamente afiec-
tou todos os direitos e possessoens, todas as linhas de de-
marcação geographicas, politicas, e militares) foi conti-
nuado com tal character de accessaõ determinada, e com-
pleta de território, que éra impossível olhar para elle em
outro ponto de vista mais do que como precursor de ainda
maiores usurpaçoens, pelas quaes a metade da Alemanha
viria a ser provincia Franceza, e o Imperador Napoleaõ o
absoluto Governante do Continente.
Esta preternatural extençaõ de território Francez, naõ
podia deixar de produzir os mais sérios sustos á Rússia e
Prússia. Esta ultima, cercada de todos os lados, e ja in-
capacitada de ter livre acçaõ, privada de todos os meios
de obter novas torças, pareceo que se accelerava á sua dis-
solução. A Rússia ja cheia de temores, a respeito de suas
fronteiras occidentaes, pela conversão da cidade de Dant-
zic, declarada cidade livre no tractado de Tilsit, em um
posto militar Francez ; e de grande parte da Polônia em
provincia Franceza, naÕ podia deixar de ver no adianta-
mento do dominio Francez ao longo da costa do mar, e
nas novas cadêas, que se preparavam á Prússia, o irnmi-
nente perigo de suas possessoens Alemaas e Polacas.
2 Y 2
348 Politica.
Desde este momento, por tanto, ficou como decidida a
ruptura entre a França e a Rússia.
Naõ foi sem profunda e justa anxiedade, que a Áustria
observou a tormenta que se ia ajunctando. A scena de
hostilidades, em todo o caso seria contígua i s suas pro-
vincias, que em conseqüência das necessárias reformas no
systema de finanças, que tinha restringido o restabeleci-
mento de seus meios militares, estavam mui indefensas.
Em mais elevado ponto de vista, a contenda que aguar-
dava a Rússia parecia ainda mais duvidosa; porque co-
meçava, na mesma desfavorável conjunctura de negócios,
com a mesma falta de cooperação da parte das outras
Potências, e com a mesma disproporçaõ nos seus meios
relativos, consequentemente éra taõ desesperada ésla como
as demais contendas anteriores da mesma natureza. S. M.
o Imperador fez todos os esforços em seu poder, pela ami-
gável mediação com ambas as partes, para remover a tem-
pestade que ameaçava. Nenhum juizo humano podia
naquelle tempo prever que estava taõ próximo o periodo,
em que o falharem estas negociaçoens seria mais damnoso
ao Imperador Napoleaõ do que os seus mesmos opponentes.
Porém aosim o tinha resolvido a Providencia.
Quando ja naõ éra duvidoso o principio das hostilida-
des, S. M. foi obrigado a recorrer a medidas, que em uma
conjunctura taõ preternatural e perigosa, pudesse combi-
nar a sua segurança, com as justas consideraçoens dos in-
teresses reaes dos Estados visinhos. O systema da inac-
çaõ desarmada, única neutralidade, que o Imperador per-
mittiria, segundo as suas mesmas declaraçoens, êra total-
mente inadmissível, por todas as máximas de uma politica
solida; c por fim teria sido unicamente um vaõ esforço
para escapar do processo, que se aproximava. Uma
Potência taõ importante como a Áustria naõ podia renun-
ciar a toda a participação nos interesses da Europa ; nem
se podia collocar em uma situação, em que, igualmente
Politica. 349
inefficaz na paz ou na guerra, ella perderia o seu voto, e
a sua influencia em todas as grandes negociaçoens, sem
adquirir garantia alguma para a segurança de suas frontei-
ras. Preparar-se para a guerrra contra a França, teria
sido, nas presentes circumstancias, taõ pouco congruente
com a equidade como com a prudência. O Imperador
Napoleaõ naÕ tinha dado a S. M. nenhum fundamento
pessoal para procedimentos hostis: e naõ se tinha ainda
abandonado o prospecto de obter muitos resultados pro-
veitosos, por um emprego bem manejado das relaçoens
amigáveis ja estabelecidas, por confidenciaes representa-
çoens e por conselhos conciliatórios. A respeito dos inte-
resses immediatos do Estado, uma tal revolução teria ine-
vitavelmente sido acompanhada desta conseqüência—que
o território Austriano teria vindo a ser o primeiro e prin-
cipal theatro da guerra; o que, com a sua conhecida
falta de meios de defensa, teria em breve tempo derribado
a monarchia.
Nesta penosa situação, S. M. naÕ tinha outro recurso
mais do que tomar o campo da parte da França. Tomar
as armas pela França, no sentido verdadeiro da palavra,
teria sido uma medida naõ somente contradictoria com os
deveres, e principios do Imperador, mas até mesmo com
as repettidas declaraçoens deste Gabinete, que tinha, sem
reserva alguma, desapprovado está guerra. Na assigna-
tura do tractado de 12 de Março, de 1812, S. M. procedeo
sobre dous principios distinctos; o primeiro, como se
prova pelas palavras do tractado, éra naõ deixar meios
alguns que se naõ tentassem, que pudessem obter cedo ou
tarde uma paz : o outro foi collocar-se asi mesmo externa
e internamente, em uma posição, que, se fosse impossivel
obter a paz, ou no caso de que a volta que levasse a guerra
fizesse necessárias medidas decisivas de sua parte, pudesse
a Áustria obrar com independência; e, em qualquer des-
tes casos, adoptar as medidas, que lhe prescrevesse uma
350 Politica.
justa, e sabia politica. Foi sobre este principio que se
destinou a cooperar na guerra uma fixa, e comparativa-
mente pequena parte do exercito : os outros recursos mili-
tares, que estavam promptos naquelle tempo, ou que se
tinham ainda de preparar, naõ fôram trazidos ao prose-
guimento desta guerra. Por uma espécie de tácito acordo
entre os belligerantes se tractou o território Austriaco
como neutral. O fim e vistas reaes do systema adoptado
por S . M . naõ podia escapar o conhecimento da França,
de Rússia, ou de outro qualquer observador intelligente.
A campanha de 1812 ministrou um exemplo memorável
de se malograr uma empreza, sustentada por forças gigan-
tescas, conduzida por um capitão da primeira ordem,
quando, na confiança de grandes talentos militares, elle
despreza as regras da prudência, e ultrapassa os limites
da natureza. A illusaõ da gloria levou o Imperador Na-
poleaõ ás entranhas do Império Russiano; e uma falsa
vista politica das cousas o induizo a imaginar, que elle
podia dictar a paz em Moscow, decepar o poder de Rús-
sia por meio século, e voltar entaõ victorioso. Quando
esta magnânima constância do Imperador de Rússia, os
gloriosos feitos de seus guerreiros, e a constante fidelidade
de seu povo puzeram fim a este sonho; éra ja mui tarde
para o arrependimento, com impunidade. Todo o exer-
cito Francez estava espalhado, c destruido: em menos de
quatro mezes vimos o theatro da guerra transferido do
Dniepper e Dwina, para o Oder, c Elbe.
Esta rápida, c extraordinária mudança de fortuna foi a
precursora de uma importante revolução em todas as rela-
çoens politicas da Europa. A confederação da Rússia
Gram Bretanha, e Suécia, apresentava um ponto de re-
união a todos os Estados vizinhos. A Prússia, que os
rumores havia muito tempo tinham declarado, que estava
determinada a arriscar tudo, até mesmo preferir o correr o
risco de uma immediata destruição politica, antes do que
Politica. 351
soffrer a lenta e continuada oppressaõ; lançou maõ do
momento favorável, e se lançou nos braços dos Alliados.
Muitos dos Principes grandes e pequenos da Alemanha
estavam promptos a fazer o mesmo. Em toda a parte os
ardentes desejos do povo, anticiparam os procedimentos
regulares de seus Governos. A sua impaciência para
viver na independenoia, e debaixo de suas próprias leys, e
sentimento de ver offendida a honra nacional, e o ódio de
um dominio estrangeiro, arrebentou por todas as partes em
vivas chamas.
S. M. o Imperador, demasiado intelligente para naõ
considerar esta mudança dos negócios como conseqüência
natural e necessária de uma previa convulsão política ; e
demasiado justo para olhar para ella com vistas de ira, se
inclinou somente a segurar, por meio de medidas bem di-
rigidas e combinadas, os interesses reaes, e permanentes da
Republica da Europa. Ja no principio de Dezembro se
tinham dado passos da parte do gabinete Austriaco, a fim
de dispor o Imperador Napoleaõ a uma politica quieta e
pacifica, sob fundamento, que igualmente interessavam o
mundo, e a sua mesma felicidade. Estes passos fôram
renovados de tempos a tempos, e Cnvigorados. Tinham-
se concebido esperanças de que a impressão da ultima
campanha,—a lembrança dos inúteis sacrifícios de um
immenso exercito, as severas medidas de toda a sorte, que
teriam sido necessárias para reparar aquella perda,—a de-
cidida desinclinaçaõ da França, e de todas as naçoens
connexas com ella, em entrar na guerra, em que sem ne-
nhum prospecto de indemnizaçaõ futura, exhaurio e ar-
ruinou a sua força interna,—finalmente, que uma socegada
reflexão sobre o êxito duvidoso desta nova, e mui immi-
nente crise, moveria o Imperador a prestar ouvidos ás re-
presentaçoens d'Austria. O tom destas representaçoens
foi cuidadosamente adaptado ás circumstancias dos tem-
pos ; sérias quando a grandeza do objecto o requeria, mo-
3S2 Politica.
deradas, quando o desejo de um êxito favorável, ou as
amigáveis relaçoens existentes, exigiam isso.
Naõ podia certamente prever-6e, que aberturas nascidas
de taõ puros motivos seriam decididamente regeitadas;
porém a maneira porque fôram recebidas, e ainda mais o
contraste notável entre os sentimentos de Áustria e todo o
comportamento do Imperador Napoleaõ, até o periodo
destes mal succedidos esforços para paz, bem depressa des-
truíram as melhores esperanças que se tinham. Em vez
de trabalhar por uma linguagem moderada, a melhorar
pelo menos o nosso prospecto futuro, e a diminuir a des-
confiança geral; se declarava solemnemente em toda a
occasiaõ, perante as mais altas authoridades na França,
que o Imperador naõ attenderia a proposiçoens de paz, que
violassem a integridade do Império Francez, no sentido
Francez da palavra; ou que tivesse quaesquer pretençoens
as provincias arbitrariamente incorporadas.
Ao mesmo tempo, se fallou de condiçoens accidentaes,
com que naÕ parecia ter relação alguma este de si mesmo
creado limite : umas vezes ameaçando com indignação;
outras com amargo desprezo: como se naõ tivesse sido
possivel declarar em termos suficientemente distinctos a
resolução do Imperador Napoleaõ, de naõ fazer para o
descanço do Mundo, nem um só sacrifício nominal.
Estas demonstraçoens hostis fôram acompanhadas desta
particular mortificaçaõ para a Áustria, que ellas puzéram
até os mesmos convites de paz, que este Gabinete fez ás
outras cortes com o conhecimento, e apparente consenti-
mento da França, em um ponto de vista falso, e altamente
desavantajoso. Os Soberanos Uuidos contra França, era
vez de dar resposta ás proposiçoens que a Áustria fez
para negociaçoens, ou ás suas offertas da mediação, lhe
apresentaram as declaraçoens publicas do Imperador
Francez. E quando, no mez de Março, S. M. mandou
um ministio a Londres, para convidar a Inglaterra a
Politica. 353
participar nas negociaçoens de paz, o ministério Britan-
nico respondeo, que " naÕ acreditava que a Áustria con-
servasse ainda algumas esperanças de paz, quando o
Imperador Napoleaõ tinha no entanto expressado senti-
mentos, que eram unicamente tendentes á perpetuação da
guerra." Declaração esta que foi tanto mais penosa a S.
M. quanto éra justa e bem fundada.
A Áustria, porém, naõ cessou por isso de imprimir em
termos mais vigorosos e distinctos, a necessidade da paz ;
no espirito do Imperador da França, dirigida em todas as
suas medidas por este principio, de que, como toda a or-
dem e balança de poder na Europa ficou destruida pela
illimitada superioridade da França, naõ se podia esperar
nenhuma paz real, a menos que se naÕ diminuísse aquella
superioridade. S. M. no entanto adoptou todas as medi-
das necessárias para fortalecer, e concentrar os seus exér-
citos, conhecendo que a Áustria devia estar preparada
para a guerra, a fim de que a sua mediação naõ fosse in-
teiramente infruetifera. Alem disto, S. M. Imperial tinha
estado por longo tempo persuadido de que, a probabili-
dade de uma participação immediata na guerra, naõ
devia ja ser excluída de seus cálculos. O estado actual
das cousas naõ podia continuar ; disto estava convencido o
Imperador; esta convicção éra a mola principal de suas
acçoens, e. naturalmente se fortalecia por falharem todas
as tentativas para obter a paz. O resultado era apparente.
Por algum meio que fosse, ou de negociação, ou da força
d'armas, se devia effectuar um novo estado de cousas.
O Imperador Napoleaõ, naÕ somente sabia das propo-
siçoens de guerra da Áustria, mas até reconheceo, que
ellas eram necessárias, e as justificou por mais de uma
vez. Elle tinha razaõ para crer que S. M. o Imperador,
em um periodo taõ decisivo para a sorte de todo o
mundo, poria de parte todos os sentimentos pessoaes, e
momentâneos, consultaria somente a felicidade penna»
V O L . X I . N o . 64. 2 z
354 Politica.
nente de Áustria, e dos paizes porque ella se acha cer-
cada, e naÕ resolveria cousa alguma, senaõ o que este
grande motivo lhe dictasse como um dever. O Gabinete
Austriaco nunca se expressou era termos que justificassem
outra alguma construcçaõ ; e com tudo os Francezes,
naõ só reconheceram, que a mediação de Áustria nao
podia deixar de ser uma mediação armada ; mas declara-
ram, era mais de uma occasiaõ, que a Áustria nas actuaes
circumstancias, naõ podia limitar-se a uma parte secun-
daria, mas devia apparecer no theatro com força, e decidir
como uma Potência grande e independente. Seja o que
for que o Governo Francez possa temer ou esperar da
Áustria, este reconhecimento de persi mesmo éra uma
previa justificação de todas as medidas que se intentavam,
e que ate aqui tem adoptado S. M. Imperial.
Ate este ponto se tinham desenvolvido as circumstancias,
quando o Imperador Napoleaõ sahio de Paris, a fim de
fazer frente aos progressos dos exércitos Alliados. Até os
seus mesmos inimigos tinham feito justiça ao valor das
tropas Russianas e Prussianas, nas sanguinárias acçoens
do mez de Mayo. Porem, que o resultado deste primeiro pe-
riodo da campanha lhes naõ tivesse sido mais favorável, era
devido em parte á superioridade numérica da força Fran-
ceza, e aos universalmente reconhecidos talentos militares
de seu capitão; e em parte ás combinaçoens politicas
porque os Soberanos Alliados eram guiados em todas as
suas emprezas. Elles obraram na justa supposiçaõ de
que uma causa oomo aquella, em que se achavam empe-
nhados, naõ éra possivel que se limitasse só a elles; que
cedo ou tarde, quer fossem bem quer mal suecedide»,
cada um dos estados que ainda gozava de alguma sombra
de independência se deveria unir á sua confederação, e
que todos os exércitos independentos deviam obrar cora
elles. Elles, portanto, naõ largaram rédea ao valor de
suas tropas, senaõ quanto éra necessário no momento ; e
Politica. 355
conservaram considerável parte de sua força para um
período, em que, com meios mais extensos pudessem
olhar para o alcance de majores objectos. Pela mesma
causa, e com as vistas da desenvoluçaõ dos acontecimentos
consentiram no armistício.
No entanto a retirada dos Alliados deo á guerra, por
um momento, uma apparencia, que diariamente se
fazia mais interessante ao Imperador, pela impossibili-
dade, no caso de ir adiante, de permanecer tranqüilo ex-
pectador delia. A sorte da monarchia Prussiana éra um
ponto, que particularmente attrahia a attençaõ de S. M.,
conhecendo, como o Imperador conhecia, que o restabe-
licimento da Monarchia Prussiana éra o primeiro passo
para o de todo o systema politico da Europa; e elle vio
o perigo em que agora estava, como igualmente tocante a
si mesmo. Ja no mez de Abril tinha o Imperador Na-
poleaõ suggerido ao Gabinete Austriaco, que considerava
a dissolução da Monarchia Prussiana, como natural con-
seqüência de sua separação da França; e da continuação
da guerra ; e que agora somente dependia da Áustria o
unir aos seus Estados as mais importantes, e mais florentes
provincias da quella monarchia; suggestaõ esta que mos-
trou assaz distinetamente que se naõ podia com proprie-
dade alguma negligenciar meio algum de salvar aquella
potência. Se este grande objecto se naõ pudesse obter
por uma justa paz, éra necessário sustentar a Rússia e a
Prússia por uma poderosa co-operaçaõ. Com esta natu-
ral vista das cousas, no que nem a mesma França se podia
enganar, S. M. continuou as suas preparaçoens com in-
cançavel actividade. Nos principios de Julho elle deixou
a sua residência, e partio para as vizinhanças da scena de
acçaõ, a fim de trabalhar mais eficazmente na negociação
da paz, que ainda continuava a ser o mais ardente objecto
de seus desejos j e em parte para poder mais efficaz mente
2 z 2
356 Politica.
conduzir as prcparaçoens de guerra, se naõ restasse á Áus-
tria outra alternativa.
Pouco tempo antes o Imperador Napoleaõ tinha decla-
rado, " que tinha proposto que se formasse um congre&so
em Praga, aonde se ajunetassera, e lançassem os funda-
mentos ú fabrica de uma durável paz. Plenipotenciarios
da França dos Estados Unidos da America Septentrional,
Dinamarca, El Rey de Hespanha, e os outros Principaes
alliados de uma parte ; e de outra plenipotenciarios do
Inglaterra, Rússia, Prússia, Insurgentes de Hespanha, e
os outros Alliados desta massa hostil." A quem esta pro-
posição se dirigio, em que maneira, em que forma diplo-
mática, ou porqne orgaõ podia ter sido feita, foi perfeita-
mente desconhecido ao Gabinete Austriaco, que somente foi
informadoda circumstancia por meio das gazetas publicas.
Alem disto, como tal projecto se podia por em execução,
como da combinação de elementos taõ dissinullianles, sem
nenhum principio geralmente reconhecido, sem nenhum
plano regular e prévio, se podia cntablar uma negociação
de paz, éra taõ pouco intelligivel - que éra bem permittido
considerar toda a proposição mais como um jogo de ima-
ginação, do que como um convite serio, para a adopçaõ
de uma grande medida politica.
Perfeitamente informada de todos os obstáculos que se
oppunham a uma paz gerai, a Áustria tinha por longo
tempo considerado se seria possivel obter este distante e
difficultoso objecto progressivamente : e nesta opinião se
tinha expressado tanto a França como á Rússia e Prússia,
sobre o objecto de uma paz continental. Naõ porque a
Áustria tivesse mal concebido, por um só momento, a
necessidade c importância de uma paz universal entre
todas as grandes Potências da Europa, c sem o que naõ
havia esperança nem de segurança, nem de felicidade ;
nem porque imaginasse que o continente podia existir, se
a separação de Inglaterra naõ fosse invariavelmente cou-
Politica. 351
siderada como o mais terrível mal. A negociação que
a Áustria propoz, depois que a medonha declaração da
França, tinha quasi destruido todas as esperanças de que
a Inglaterra unisse os seus esforços na tentativa de pro-
curar uma paz geral ; ér.i uma parte essencial da grande
negociação que se aproximava paru um Congresso de paz,
geral e effcctivo : intentava-sc como preparatório, o esbo-
çar os artigos preliminares de um tractado futuro, para
alhanar o caminho, por um longo armistício Continental,
para uma negociação mais extensa e durável. Se o prin-
cipio sobre que a Áustria tinha procedido tivesse sido
outro algum mais do que este, nem aRussia, nem a Prús-
sia, ligadas pelos mais lòrtcs laços com a Inglaterra,
teriam certamente attendido ás proposiçoens do Gabinete
Austriaco.
Depois que as Cortes de Russia, e Prússia, animadas
pela confiança que tinham em S. M., taõ lisongeira ao
Imperador, tinham ja declarado a sua concurrencia no
proposto Congresso debaixo da mediação da Áustria, veio
a ser necessário obter o formal consentimento do Impe-
rador Napoleaõ, e determinar sobre que principio se
deviam levar a diante as negociaçoens. Para este fim
S. M. Imperial resolveo, pelos fins do mez de Junho,
mandar a Dresden o seu Ministro dos Negócios Estran-
geiros. O resultado desta missaõ foi uma convenção, que
se concluio aos 30 de Junho, aceitando a mediação de
S. M. Imperial, na negociação de uma paz Contin. ntal
geral, e se isto se naõ pudesse effectuar de um preliminar
para ella. Escolheo-se a cidade de Praga para a sessão
do Congresso, e o dia 5 de Julho para a sua abertura. A
fim de obter tempo sufficiente para a negociação, deter-
minou-se pela mesma convenção, que o Imperador Napo-
leaõ naÕ notificaria a ruptura do Armistício, que devia
terminar aos 20 de J u l h o ; e que existia aquelle tempo
entre ellee a Russia; até os 13 d'Agosto ; e S. M. o lm-
358 Política.
perador tomou sobre si o obter uma similhante declaração
das Cortes de Russia c Prússia.
Os pontos que se tinham determinado em Dresden,
fôram communicndos ás duas cortes. Posto que a conti-
nuação do Armilticio trouxesse consigo muitas objecçoens,
e mui sérios inconvenientes para aquellas cortes; com tudo
o desejo de dar a S. M. Imperial outra prova de sua con-
fiança, e satisfazer ao mesmo tempo o mnndo de que ellas
naÕ regeitariam nenhum prospecto de paz, por mais limi-
tado que fosse, que naõ recusariam tentativa alguma, que
pudesse alhanar o caminho para ella; superou toda a
outra consideração. A única alteração que se fez na con-
venção de 30 de Junho, foi que o termo da abertura do
Congresso, depois dos regulamentos fumes naõ podia de-
terminar-se taõ cedo; e que se defferissc ate os 12 de
Julho.
N o entanto S. M. que naõ queria ainda abandonar todas
as esperanças de terminar completamente, por uma paz
geral, as misérias da humanidade, e as convulsoens do
mundo politico, tinha também resolvido tentar de novo o
o Governo Britannico. O Imperador Napoleaõ, naõ so-
mente recebeo a proposição com apparente approvaçaõ,
mas offereceo voluntariamente expedir o negocio, conse-
dendo ás pessoas que para este fim se despachassem para
Inglaterra, uma passagem pela França. Quando Isto se
foi a pôr em execução, levantaram-se difficuldades ines-
peradas, demoráram-se os passaportes de tempos a tempos,
com frivolos pretextos, e por fim recusáram-sc inteira-
mente ; este procedimento deo novos e importantes funda-
mentos para entreter justas duvidas a respeito da sinceri-
dade das seguranças, que o Imperador Napoleaõ tinha
mais de uma vez expressado publicamente, de suas dispo-
siçoens para paz ; ainda que algumas de suas expressoens
naquelle periodo particular deram justa razaõ para crlr,
Politica. 3S9
que uma paz marítima éra o objecto de sua anxiosa soli-
citude.
Durante este intervallo, Suas Magcstadcs o Imperador
de Russia c Rey de Prússia nomearam os seus Plenipo-
tenciarios para o Congresso, e os muniram de instrucçoens
mui decisivas. Aos 12 de Julho chegaram ambos elles a
Praga, assim como o Ministro de S. M . encarregado do
q*ie respeitava a Mediação.
Naõ se deviam alongar as negociaçoens alem de 10 de
Agosto, excepto no caso, em que tomassem tal character,
que induzisse uma firme esperança de resultado favorável.
Até aquelle dia se tinha exlendido o Armistício pela medi-
ação d' Áustria : a situação politica e militar dos Sobera-
nos Alliados, a condição dos paizes que elles oecupavam,
e o seu ansioso desejo de terminar um incommodo periodo
de incerteza, impedi» que ge estendesse a mais tempo.
De todas estas circumstancias estava informado o Impera-
dor Napoleaõ: elle sabia mui bem que o periodo das ne-
gociaçoens estava necessariamente limitado pelo do armis-
tício, e com tudo elle naÕ podia esconder a si mesmo,
quanto as suas determinaçoens influiriam na feliz abrevia-
ção, e bom resultado das negociaçoens pendentes.
Foi portanto com real magoa, que S.M. percebeo logo,
naõ só que a França naõ dava passos sérios para accelerar
esta grande obra ; mas que, pelo contrario, parecia obrar
como se decididamente intentasse a procrastinaçaõ das ne-
gociaçoens, e a evazaó de um êxito favorável. Havia na
verdade um Ministro Francez no lugar do Congresso, po-
rém sem ordens algumas para entrar no negocio, até que
apparecesseo primeiro Plenipotenciario.
Era vaõ se esperou de dia em dia pela chegada deste
Plenipotenciario. E naÕ foi senaõ aos 21 de Julho que se
averiguou, que a demora que houve cm ajustar a renovação
do armistício entre os Commissarios Francezes, Russianos-,
e Prussianos—um impedimento de importância secundaria,
360 Política.
e que naÕ tinha influencia alguma no Congresso, e que se
podia obviar fácil e promptamente pela intervenção da
Áustria—foi practicado para servir de justificação a esla
extraordinária demora. E qu*mdo se removeo, este ulti-
mo pretexto, ainda assim naõ foi senaõ aos 28 de Julho, 16
dias depois do dia nomeado puni a abertura do Congresso,
que chegou o primeiro Plenipotenciario Francez.
Mesmo nos primeiros dias, depois da chegada do Minis-
tro, naõ havia duvida a respeito do exito do Congresso.
A forma porque se deviam entregar os Plenos Poderes, e
se haviam de conduzir as mutuas explicaçoens, ponto que
j a tinham tractado todas as partes, veio a ser objecto de
discussão, que fez abortar todos os esforços da Potência
Medianeira. A apparente insufficicncia dos poderes con-
cedidos ao Negociador Francez, oceasionou um silencio
de vários dias. Nem foi senaõ aos 6 d' Agosto, que este
Ministro fez novas declaraçoens, pelas quaes de forma
nenhuma se removiam as difficuldades relativas ás forma-
lidades, nem traziam a negociação um so passo mais pró-
ximo de seu objecto. Depois de uma inútil troca da notas,
sobre todas as questoens preliminares, chegou o dia 10 de
Agosto. Os Negociadores Russianos e Prussianos naó
podiam estender este termo: o Congresso estava acabado,
c a resolução, que a Áustria havia de formar, estava pre-
viamente determinada, pelo progresso desta negociação—
pela actual convicção da impossibilidade da paz,—pelo
ja naõ duvidoso ponto de vista, em que S. M. examinava
a questão em disputa—pelos princípios, e intençoens do»
Alliados, em que o Imperador via assuus próprias—e final-
mente pelas positivas declaraçoens antecedentes, que naõ
deixavam lugar a intelligcncias enganosas.
Naó he sem sincera afflicçaõ, e somente consolado pela
certeza de que se tinham cxhaurido todos os meios de evi-
tar a guerra, que o Imperador se acha agora obrigado a
o b r a ^ Por tres annos tem S. M. trabalhado com inces-
Politica. 361
sante perseverança, para effectuar, por medidas brandas, e
conciliadoras, uma paz real e durável para a Áustria, e
para a Europa. Todos os seus esforços falharam ; agora
naõ ha outro remédio, naõ ha outro recurso senaõ as armas.
O Imperador as toma sem nenhuma inimizade pessoal, e
pela penosa necessidade de um irresistível dever; e com
fundamentos, que nenhum fiel cidadão de seus reynos,
nem o mundo, nem o mesmo Imperador Napoleaõ, em ura
momento de tranqüilidade e razaõ, deixarão de reconhecer
por justos. A necessidade desta guerra está gravada no
coração de todos os Austríacos, de todos os Europeos, seja
qual for o dominio debaixo de que vivam, em characteres
legíveis, demaneira, que naõ he necessária alguma arte
para os distinguir. A naçaÕ e o exercito faraõ o seu dever.
Uma uniaõ estabelecida pela necessidade commum, e pelo
mutuo interesse de todas as Potências, que estaõ em armas
pela sua independência daraõ o devido pezo a nossos es-
forços ; e o resultado, com o auxilio do Ceo, será tal qual
deve preencher as justas expectaçoens de todos os amigos
da ordem, e da paz.
FRANÇA.
Relatório do Ministro da Guerra, a S. M. o Imperador,
datada de 9 de Agosto, 1813.
SENHOR !—Vos estais informado dos acontecimentos
que sem succedido no norte da Hespanha, desde o mez de
Junho passado, determinando conferir o commando de
vossos exércitos na Peninsula a S. Ex a . o Marechal Duque
de Dalmacia. Logo que elle se poz á sua frente se melho-
raram consideravelmente os negócios na Peninsula. Parou-
se a audácia do inimigo, e desfizêram-se os seus projectos.
Forçados por um momento a levantar o cerco de Pamplona,
perderam os Inglezes muita gente no ataqne que se lhes
fez, e fôram testemunhas da destruição das obras e arma-
VOL. X I . No. 64. 3 A
362 Politica.
zens, que tinham estabelecido juncto aquelle lugar;
pouco tempo depois do inimigo ter embarcado a sua arti-
lheria de cerco, e suspendido por algum tempo o assedio
de S. Sebastian, deixando ao pé daquella praça grande
numero de soldados, que em vaõ tentaram limpar a brecha.
Porem, Senhor, naõ obstante as favoráveis circumstan-
cias, e ainda que os exércitos de Aragaõ e Catalunha, que
naõ tem cessado de ser victoriosos, esperassem novas van-
tagens da concentração de suas forças, he impossível dissi-
mular a necessidade de mandar aos exércitos, reforços que
os ponham em estado de destruir os desígnios des Ingleses,
os quaes podem diariamente receber reforços. A elevação
dos facciosos, que os Inglezes tem excitado na Peninsula,
apresentará novos obstáculos ás nossas tropas: e naõ se
pode demorar o por os exércitos de Hespanha em estado
de as superar todas, e reasumir a superioridade.
Tenho ja submettido a V. M. as differentes cousas qne
me tem pedido os Marechaes Duque de Dalmacia, e d'
Albufera, para obter reforços, que saõ absolutamente indis-
pensáveis.
Agora tenho a honra de propor a V. M., que ordene uma
leva da ultima conscripçaõ, nos departamentos vizinhos
aos Pyreneos.
Os habitantes daquelles departamentos, animados pelo
amor da Pátria, e penetrados de quam importante be,
principalmente para elles, a defensa daquella fronteira,
naõ duvido, que faraõ com ardor novos esforços, que as
circumstancias exigem. Naõ ha ninguém no Sul, que naÕ
eteja penetrado destes sentimentos, e que naõ esteja
prompto a fazer os maiores sacrifícios, se forem necessá-
rios, para sustentar a gloria da França, e defender o terri-
tório. Ja Basques tomou as armas voluntariamente, sem
que fosse chamado por V. M., e marchou contrao inimigo.
Era todos os pontos desta parte do Império, os desejos dos
habitantes, movidos pelo interesse geral, clamam por esta
Politica. [363] 263
medida, que proponho a V. M., e todos estaõ convencidos
de sua absoluta necessidade. Em conseqüência proponho
a V. M. o ordenar, que se faça naquelles departamentos
uma leva de 30.000 homens, para reforçar os exércitos da
Hespanha. O Duque de F E L T R E ,
Ministro da Guerra.
COMMERCIO E ARTES.
Convênio entre os Commissarios Inglesei c Portugueses,
relativo a certos pontos do Tractado de Commercio de
10 de Fevereiro, de 1810.
O Jornal Pseudo-Seientifico.
Os tres principaes Redactores deste Jornal nos tinham
dado esperanças, de que a sua obra seria de utilidade á
naçaõ Portugueza, alargando a esphera dos conhecimentos
das sciencias naturaes, com os extractos, que as numerosas
publicaçoens de Inglaterra lhe potlerium ministrar: porém,
sahindo constantemente fora desta linha, mctlendo-se a
fallar do que naõ entendem, fazendo-se escriptores de par-
tido, e defendendo os Godoyanos ; nos persuadiram, que
delles naõ havia que esperar, mais do que os absurdos e
contradicçoens em que estaõ diariamente cahindo.
Antes que passemos a dizer alguma cousa, sobre a
continuação da carta a respeito do tractado de Commercio
Roevidico, que elles publicaram no seu N°. XXVII, p.
411 • diremos duas palavras a respeito do N°. precedente;
sobre o que naõ tivemos tempo de nos alargar mais no
nosso N°. passado.
Os males que este Jornal tem feito ao partido, a quem
Commercio e Artes. 375
se dispoz a servir, sa5 taõ evidentes, que nos compadece-
mos de quem os emprega; visto que naõ entendem a ten-
dência de um Jornal, que he conduzido a trancos e a bar-
rancos, na direcçaõ justamente opposta aos que inventaram
este jornal para seu serviço. E vejamos exemplos.
I Que outra cousa, senaõ uma profunda ignorância da
maneira de conduzir um jornal de partido, disposto a sus-
tentar os principios, que inculcam, poderia induzir a estes
tres Redactores, a traduzir em língua Portugueza, e en-
viar para ser lido no Brazil, por quantos crioulos sabem
soletrar, " a Constituição Politica dos Negros de S. Do-
mingos í "
Se nós desejássemos obrar com a má fé com que esses tres
Redactores nos aceusam de sermos incendiados, revolu-
cionários, &c. ; diríamos que todos os tres Redactores
punham nas maõs dos negros do Brazil a Constituição Po-
litica dos Negros de S. Domingos, para excitar no Brazil
as ideas revolucionárias, e dar meios aos escravos de ar-
ranjar seus planos para ate fim. Mas nós naõ obramos
assim. E supposto que um dos Redactores seja um
Diplomático, attribuimos aquella publicação á ignorância
formal de quem conduz similhante Jornal, que ignora os
principios porque deve dirigir a escolha das peças que
convém publicar, e das que se devem oinmittir; e por isso
chamamos a tal publicação um erro crassissimo no seu
officio de Jornalista.
A publicação da Constituição de Hespanha naõ éra
sugeita aos mesmos inconvenientes; e com tudo os Godoy-
anos, reílectindo nella, quizéram emendar o que elles sup-
pozéram erro contra seu partido, c mandaram que o Jor-
nal Scientifico fatiasse contra cila ; para que as observa-
çoens em contrario servissem de contrapezo à publicação
da Constituição. Executaram os Redactores ésla tarefa
copiando algumas reflexoens no Jornal intitulado o " Es-
376 Commercio e Artes.
panbol," e mixturando-lhe de seu os miseráveis racionios,
que saõ fructo natural de Mia ignorância nestas matérias.
A p . 196 do N°. X X V l l . , nuttem-sc os Redactores a
querer interpretar o que diz Muntct.quit-.t sobre a orij,. nt
das sociedadades, c a p . 197 dizem isto fc- Nir.gucm ignora
quo a sociedade existe pelo mutuo consentimento i!c seus
membros, mas também todo o mundo sabe que este con-
sentimento, ou contracto he e tem sempre sido tácito, c
consequentemente naõ tem realidade."
Se os Redactores tivessem estudado Direito, como o
deveriam fazer antes de fallar nestas matérias, saberiam
que os pactos tácitos, e os consentimentos presumidos tem
tanta realidade como os contractos expressos; e que na
theoria do consentimento presumido, se fuudamciiti tod:i
a legislação dos quasi contractos, que compor ni uma im-
portante divisão no corpo de direi; j Roniaao c nos códi-
gos de todas as Naçoens Modernas. E quando os Redac-
tores, com taes errou mostram a sua toíal ignorância, alé
excluem a possibilidade de argumentar com cllcs; visto
que nem ao menos posiucm os elementos das sciencias em
que faliam.
Com a mesma ignorância do modo de escrever para seu
partido se mettem na questão de ser ou naõ útil publicar
as contas publicas; c decidem pela atfirmativa, ao mesmo
tempo que aceusam o Correio Braziliense de Revolucio-
nário, porque tem intimado a necessidade desta publicação
como remédio a muitos males públicos; ora no nosso Peri-
ódico nunca se fez uma proposição taõ geral, c por conse-
qüência, que involve absurdo, como hc o suppôr que se
devem publicar as despezas pessoaes do Soberano, coutra
isto sempre nos fomos; c os Redactores a pezar do seu
Godoyanismo atrcvem-se a recommendar tal medida.
Vamos porém á carta continuada.
O Jornal Scientifico seria o ultimo que se encarregasse
Commercio e Aries. 377
de inserir papeis contra o tractado Roevidico, e no entanto
com bordoada de cego, e publicando tudo que lhe cahc
diante de si, defendem aquelles homens o systema Roevi-
dico, e publicam ao mesmo tempo cousas, que se conhe-
cessem a sua tendência as teriam queimado no momento
em que as vissem.
Os Redactores, se entendessem do seu officio, deviam
conhecer, que toda a discussão sobre o tractado Roevidico
tende a pôr o seu partido de mal em peior estado ; c
quando publicam papeis destinados a lançar a culpa aos
Inglezes somente expõem os seus mesmoS protectores, a
ataques, e a retorçoens.
O Author da carta compara a estipulaçaõ do artigo 15
do tractado Roevidico, a uma invasão Franceza, c a sup-
poem peior que esta; em conseqüência da admissão das
manufacturas lnglezas, segundo o tal artigo 15; e propõem
como remédio a isto que se levante o valor ao ouro.
O Jornal Scientifico devia ter a prudência de naõ com-
parar o tractado Roevidico a uma invasão Franceza ; pri-
meiro porque o tractado he obra de seus patronos; e de-
pois, porque a estipulaçaõ do tal artigo 15 ; posto que
obscura; e sem equivalente reciproco, naõ vai ao ponto
de admittir em Portugal todas as manufacturas lnglezas.
Quapto ao remédio, naõ ha um só Economista de nome,
que naõ declame contra o levantar-so o valor á moeda,
para impedir a sua exportação; nós somos decididamente
desta opinião, que nada impede a sahida dos metaes pre-
ciosos de uma naçaõ senaõ a balança favorável de seu
commercio; porém, pelo menos, o remédio do author he
mui sugeito a controvérsia.
Convimo6 perfeitamente com o escriptor da Carta nas
conseqüências funestas, para a industria do Brazil, que se
dednzem deste artigo do tractado; porém ja que elle tanto
se queixa dos Inglezes deveria reflectir agora na conven-
ção que se acaba de ajustar, debaixo dos auspícios do
VOL. XI. N o . 64. 3 c
3T8 Commercio e Artes.
Conde de Funchal, segundo a qual, naõ obstante todos os
clamores contra este tractado, aquelle Ministro conveio
cm arranjar todos os pontos que eram de utilidade a In-
glaterra, e naõ fez mençaõ dos que interessavam a Portugal.
Concedamos, que ao tempo do tractado Roevidico os In-
glezes tomaram por surpreza o Negociador Portuguez; e
agora, depois de se ter dicto tanto sobre a matéria, ja pela
imprensa, ja pelos requerimentos dos Negociantes i que
desculpa daraõ de assim cuidarem do que convinha á
Inglaterra, e deixar no tinteiro, para a outravez, tudo que
dizia respeito a Portugal?
Se a retirada do Conde de Funchal da Inglaterra de-
pende tle quando elle findar esta negociação; e se ella
continuar com o mesmo vagar; morrerá elle e morreremos
nós, muito antes, que elle chegue a obedecer ás ordens de
seu Soberano < que o mandou retirar ao Brazil; mas que
saõ taes ordens ? De minimis non curai Prcetor, dizem
aqui muitos que nos chamaram a nós Jacobinos.
Amais terrível cláusula do tractado, he aquella que o
faz perpetuo ; cm tal estipulaçaõ naõ se sabe qual defeito
do Negociado he mais conspicuo, se a ignorância com
que estipulou a decadência de sua naçaõ; se a arrogante
confiança com que suppoz a sua obra taõ vantajosa, que
nada menos do que a sua perpetuidade lbe convinha.
Conhecidos porém os males, e recusando os Inglezes ainda
assim cumprir o ajustado; o curso natural das coiuas
pedia, que se desse fim a similhante tractado; mas os seus
defensores maquinaram uma comissão de arranjamento
para dar vigor, e conservar as estipulaçoens, que o naõ
cumprimento dellas tornava irritas; e para cumulo de im-
pudencia tiveram a abilidade de embaçar os negociantes,
convocando-os, e fazendo parecer ao mundo que esta se-
gunda approvaçaõ do tractado éra feita de seu consenti-
mento.
Depois disto todos os conselhos, que dá o Author desta
carta; que se naõ admitia isto, que senaõ consinta naquülo,
Commercio e Artes. 379
que o tractado íem estipulado; c que neste mesmo mo-
mento se ratifica,por meio de nova convenção, em que fazem
representar os mesmos negociantes, hc de inutilidade ma-
nifesta ; porque contra o ajustado e rafiçado, naõ sei que
haja remédio. Que quer dizer recommendar o escriptor,
que se imponha ás fazendas lnglezas o direito de 30 por
cento na importação, quando o tractado ajusta 15 ? O
argumenta de que os Inglezes impõem maiores direitos nos
vinhos naõ pode valer contra estipulaçoens expressas.
Nos jamais aconselharíamos a S. A. R. o Principe Re-
gente de Portugal, que quebrantasse a sua Real palavra,
havia meio de dissolver o tractado, quando elle naõ foi
cumprido pela outra parte; a nova Convenção sanou o
defeito, que podia servir; execração venha a quem he
culpado; mas a palavra dos Soberanos, a fé dos tracta-
dos, hc couza sagrada. NaÕ he porem para aqui apontar
o único remédio que ha.
O Escriptor desta carta fallando do artigo 19 do trac-
tado, em que se estipula o que parece reciprocidade na
introducçaõ de manufacturas Portuguezas em Inglaterra ;
diz que este artigo fora calculado para illudir os Portugue-
zes, e principalmente o Ministro Portuguez, que o assig-
nou : e diz que he fácil enganar a quem naõ sabe a legis-
lação Britannica. O Leytor vê bem por isto, que até
neste mesmo Jornal Scientifico, o archi-escravo do partido
Roevidico, se lança em rosto ao Negociador do tractado a
ignorância de que nós tantas vezes o temos accusado ; mas
para que se metlêram a fazer tractados sobre matérias que
ignoravam ? quem os obrigou a isso ? Lea-se a memória
do Conde de Linhares a S. A. R . e ali se achara a expli-
çaõ do enigma. Empregam-se negociadores desta laya, e
depois entram a chorar, como as crianças, que os enga-
naram.
Mas aqui o escriptor da carta queixando-se da falta de
sinceridade do Negociador Inglez, confessa (p. 418) que
toda a naçaõ que sabe governar naõ concede nem deve
38o Commercio e Artes.
conceder mais do que a Inglaterra concedeo a Portugal.
Logo, de que se queixa contra os Inglezes ? De que o
Conde Linhares concedesse o que naõ devia conceder?
Isso naõ está da parte dos Inglezes. Alem disto, naõ era
preciso saber a legislação Ingleza, bastava entender a lin-
gua em que se fez o tractado, para conhecer que esta esti-
pulaçaõ naõ éra reciproca nem ainda nas palavras; por-
que Portugal concedeo a admissão de todas as manufactu-
ras lnglezas, sem limitação; e a Inglaterra concedeo a
admissão das Portuguezas, com a limitação da naçaõ mais
favorecida (limitação que destroe a regra geral, visto que
naõ ha nenhuma naçaõ taõ favorecida na Inglaterra aquém
se concedam importar manifactos) logo até nem nas pala-
vras ha reciprocidade. E se os Scicntificos querem paliar
os horrorosos males que os Roevides fizeram a Portugal
com este tractado, altribuindo até isto á ignorância do
Conde de Linhares, he preciso que convenham que o
Conde nem ler sabia ; o que nós lhe naõ podemos conceder,
porque sabemos que o Conde entendia o Inglez, e quando
naõ o entendesse podia ler a traducçaõ.
Geralmente fallando, o escriptor desta carta repelte os
argumentos; que se acham ns do nosso conrespondente,
nos N°*. 60 e 61 do nosso Periódico; talvez com estylo
mais limado, mas sem outro pensamento novo, mais do que
a continua detracçaõ dos Inglezes, que parece ser agora o
objecto valido dos Scicntificos.
Asora, diremos mais uma palavra, sobre o argumento
usado por nosso conrespondente, e pelo author desta carta,
sobre estar o tractado nullo por falta de reciprocidade, e
por falta de ratificação da parte de Inglaterra.
O Conde do Funchal, ou quem quer que foi que mane-
jou este negocio em Inglaterra, acaba de derribar todos
estes planos de escapar ás misérias do tractado, com o
argumento de ser elle nullo, ou ter ficado depois irrito;
porque o partido Roevidico, a fim de sustentar o tractado,
inventou o estratagema de propor uma Commissaõ, para o
Commercio e Artes. 38 i
fim apparente de remediar algums dos males que provi-
nham do tractado; mas nenhuma cousa se fez a favor dos
Portuguezes nesta Commissaõ, como vimos acima; c ac-
quiescendo ás suas decisoens fundamentadas no tractado,
sanáram-se as nullidades que podia haver, com esta nova
ratificação ex post facto, e para cumulo do arranjamento ;
fez-se passar isto pelas maõs dos Negociantes, para se ale-
gar que os procedimentos, e a escolha dos commissario»
fôram feitos com sua approvaçaõ; e ter pretexto de dizer,
no caso que elles se queixem, " que faliam por effeito
de ignoraacia, loucura, pedantismo, ou natural raaledi-
oencia."
Eis aqui como o argumento da nullidade pela lesaõ
enorme, foi destruído por esta Commissaõ inventada pelo
partido Roevidico ; porque se deo nova approvaçaõ ao
que estava feito; admittio-se a sua justiça, concedêram-se
mesmo mais commod idades aos inglezes; e isto naõ cm
estado de ignorância; mas depois que os escriptos públi-
cos e as representaçoens dos particulares expuzéram todos
os defeitos do tractado ; c apontaram meios de remediar de
algum modo algumas asperezas.
Visto pois, que os mesmos Portuguezes, que deviam
punir por sua naçaõ, se estaõ portando deste modo, que
nos naõ fallera mais em nullidades, nem em lesoens enormes,
ou enganos fundados na ignorância dos Negociadores.
Prêmios de seguros.
Brazil hida 10 guineos por cento. R.5.
vinda 12 a 15
Lisboa e Porto hida 40'. a 60*. em comboy
vinda 4 Gs. R. 40*. por era comboy
Madeira hida 5 a 6 G'.—Açores 8 G*. R. 3.
vinda 8 á 10
Rio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a tornaviagem
vinda o mesmo 15 a 20 G'.
[ 384 ]
LITERATURA E SCIENCIAS.
Novas Publicaçoens em Inglaterra.
NARRATIVE of LanceloVs Tour, 8vo. preço 8s.
Narrativa de uma viagem, feita no anno de 1667, á Grande
Chartreuse e Alet, por Dom Cláudio Lanceiot, author das
Grammaticas de Portroyal; incluindo algumas noticias
de De Rance, Reformador do mosteiro de La Trappe ; e
também do Abbade de S. Cjran, • Jansenio ; com um
breve esboço da celebre Instituição de Portroyal.
NOVAS OESCUBERTAS.
(Artigo Communicado.)
Agricultura. Terrenos e Estrumes.
As vantagens do estrume nas terras saõ taõ grandes ; e
taõ importantes as conseqüências de sua judiciosa applica-
çaõ, aos interesses da Sociedade, que julgamos um dever
nosso, o contribuir com a nossa quota, para fazer o seu uso
mais geral e familiar ao publico. Um escriptor [Ilumina-
do e hábil, tem attribuido qtnsi todas as misérias das So-
ciedades, á penúria de mantimentoH para o homem ; por-
tanto, tudo o que pôde contribuir a diminuir este deffeito,
a abaixar os preços do paõ e da carne, auginentaudo a &ua
3 D 2
388 Literatura e Sciencias.
quantidade, deve ser da maior vantagem â sociedade. Da-
qui vem o valor dos estrumes. A experiência tem prova-
do, que se pôde fazer com que a terra produza pelo estrume
uma quantidade indefiijita de mais graõ, do que produzi-
ria no seu estado natural. A natureza e uso deste estrume,
e o melhor modo de o applicar ao terreno, vem consequen-
temente a ser objectos da primeira consideração na agricul-
tura. Para facilitar o estudo deste interessante ponto prin-
cipiaremos por explicar a natureza dos
Terrenos. A diversidade na composição das terras, em
geral, he tal, que se naõ pode applicar acampo algum uma
definição chimica rigorosa. Portanto as distincçoens dos
agricultores saõ melhores que as dos Chimicos. As divi-
soens communs de terreno quente e frio, saõ mui correc-
tas ; porque algums terrenos aquecem mais depressa do que
outros com os rayos do sol; e alguns se esfriam mais de-
pressa ; outros saõ vagarosos tanto em aquecer como em
esfriar. Esta simples distineçaõ usada judiciosamente,
habilitará o agricultor a conceber noçoens exactas do me-
lhor gênero de estrumes para o seu terreno; e também do
tempo e modo mais conveniente de o applicar. Em geral
os terrenos que contém muito barro duro branco ou amarello
saõ difficeis de aquecer, sendo ordinariamente búmidos re-
tém o calor somente por pouco tempo. Aqui o remédio
he obvio ; augmentar a sua capacidade de receber, e o
poder de reter o calor, e assim se augmentará em proporção
a sua fertilidade. Os terrenos calcareos saõ similhantes
em um sentido, que he o aquecerem-se vagarosamente;
porém como saõ sempre secos, retém o calor por mais tem-
po, consummindo-se mui pouco pela evaporação de sua
humidade. O terreno preto, e cor escura, contem muita
matéria de vegetação e furruginea, requer muito mais calor
do que o terreno de côr pálida, exposto ao sol em iguaes
circumstancias. Quando os terrenos saõ perfeitamente
secos, os que se aquecem mais facilmente também se esfri-
Literatura e Sciencias. 389
am com maior facilidade; porém Sir H. Davy tem averi-
guado, que os terrenos de côr mais escura, abundam em
matéria animal e vegetal, o que facilita o esfriarem- se, e
sendo aquecidos pelos maiores efTeitos do calor do sol se
esfriam mais vagarosamente do que os terrenos pálidos e
humidos; que consistem em matéria terrestre. Uma terra
preta pingue, contendo perto de uma quarta parte tle ma-
téria vegetal , expondo-se ao sol se elevou em uma hora,
de 65 a 88 gráos ; ao mesmo tempo que o terreno cale ireo
somente se aqueceo a 69 gráos nas mesmas circumstanci is.
Porém a terra preta vegetal perdeo, em meia hora, 15
gráos pondo.se á sombra em 62 gráos : ao mesmo tempo
que a terra calcarea perdeo somente 4 grãos no mesmo
espaço. A addiçaÕ da humidade somente augmentou estes
effeitos.
Estrumes. Naõ ha substancia ou principio que minis-
tre o sustento ou pabulum da vida vegetal ; naõ he nem o
carvaõ nem o hydrogeneo, oxigeneo, nem azote somente;
mas todos elles junctamente cm vários estados e combina,
çoens supportam a vegetação. As plantas consistem em
carvaõ, e matéria neriforme ; esta se deriva da seiva, qne
hc formada pela influencia unida da humidade do terreno
e ar externo. As substancias orgânicas, sendo privadas do
vitalidade, começam immediatamente uma serie de mu-
danças, até que se effectue a sua total dissolução. A ma-
téria animal exposta á acçaõ do ar, calor, e luz, se reduz
mais depressa á podridão e decomposição ; os vcí»<aes siõ
mais vagarosos, porém, finalmente cedem á ley geral.
Os períodos próprios para applicar os estrumes as terras
saõ descubertos pelo conhecimento do tempo e meios de
effectuar a decomposição das differentes substancias. Os
estrumes como a pedra de cal, alkalis, írypso, e outros saes,
ajudam este processo. Suppunha-se antigamente, que
estes estrumes obravam somente como estimulante*-, ou
pr,M-rv-uiiles, e que elles ciam, por assim dizer o sal e pi-
Jílü Literatura e Sciencias.
menta da vegetação: agora esta averiguado, que elles saõ
também parte própria do mantimento da planta, e que
elles suprem aquelle gênero de substancia á fibra vegetal,
que he análogo aos ossos dos animaes. A cal morta éra
usada nas arvores de fructo pelos Romanos, os Bretocns,
segundo Plínio, usaram desde tempo immemorial do barro
branco, mas naõ se sabe quando se principiou a usar da
cal queimada. A cal viva suppre a planta de matéria ja
assimilada ; porém perde logo a sua causticidade ; erabe-
bm Io o ácido carbônico, e se faz cal; c com tudo neste
estado se mixtura com outras substancias terrestres, e aug-
menta a fertilidade do terreno. Deseca a terra, priva-a
d • suas qualidades ácidas, e a dispõem a receber mais calor
do sol. A matéria muscilaginosa gelatinosa, saecharina,
oleosa, e carbônica, constitue a baze dos estrumes : o
sueco verde das plantas, que contem matéria saecharina, e
muscilaginosa, deve usar-se logo que a planta morre, c
lavraudo-se a terra em quanto os vegetaes estaõ verdes, a
sua matéria aeriforme, o gaz carbônico e outros, se ajunc-
taraõ na terra. O bolo do nabo agreste deve ser usado
seco e novo, ou semeado com a semente de nabo. A poeira,
que se ajuncta da cevada fermentada, que se tem usado
nas cervejarias, he um estrume mais forte pela matéria
saecharina, que contem. O linho verde, palha, erva do
mar, peixe, ossos em pó, cabèllo, trapos de laã, pennas,
peles, pedaços de couro, sangue, urina, toda a sorte du
estéreo, devem ser lançados na terra, antes que tenham
fermentado, quando os productos da fermentação ajudam
muito a riqueza do terreno. A fibra da madeira, usada nos
curtumes, a terra que se usa para queimar, as cinzas du
madeira, devem ser fermentadas antes que se usem, mix-
turando-as com a terra, por que saõ de difficil decompo-
sição.
Literatura e Sciencias. 391
Mina de Ferro.
Os mineralogistas sabem, que o que se chama flor do
ferro, he um verdadeiro carbonato de ferro. Porém os
chimicos tem modernamente descuberto, que a espécie
chamada barro de pedra de ferro, taõ geralmente empre-
gada em vários paizes como uma rica mina de ferro,
hc também um carbonato de ferro, que differe da flor de
ferro somente cm naÕ estar erristalizada, e ter meclianica-
mente mixturado com sigo alguma substancia siliciosa, e
magnesia. Ordinariamente se acha o alumen mixturado
com a silica, mas naõ em grande proporção. O barro de
pedra de ferro, em Colebrook Dale, consiste em Silicia
10-6, alumen 2, cal 1-6, magnesia 2-4, oxide de ferro 50,
magnese 2-6, e perca pela calcinaçaõ 32, total 101-2.
Esta descuberta pode vir a ser de grande importância aos
fundidores de ferro, naõ somente porque os habilita a se-
parar a magnesia, e çal, mas também a adoptar o carvaõ
que sé expelle, para a manufactura do aço. Desta maneira
se pode manufacturar o aço com o mesmo combustivel,
que agora se usa em fundir a mina de ferro, e he mui pos-
sivel, que se possa também conservar a magnesia.
Diamantes.
Os mineralogistas naõ tem até aqui averiguado, o depo-
sito peculiar ou matriz dos diamantes; ainda que os chi-
micos tenham provado, que a substancia mais dura entre
todas as pedras, consiste quasi inteiramente em carvaõ.
Os diamantes, que se acham na índia, e no Brazil, oceor-
rem ordinariamente em terrenos aonde ha correntes c allu-
vioens, que os separam lavando a terra. Os mineralogis-
tas por tanto tqm somente conjecturado a natureza da sua
cama natural, sem que tenham provas directas do facto.
Felizmente esta difficuldade tem sido removida. O Dr.
Benjamin Heyne, do Estabelicimento de Madras, trouxe
a Londres, uma peça da cama dos diamantes, cm Bina-
392 Literatura e Sciencias.
ganpally no Decan, contendo um diamante actualmente
embedido nella. Este he talvez o primeiro producto deste
gênero que se trouxe á Europa, e merece uma descripçaõ.
A sua apparencia externa, he uma conglomeraçaõ ; porém
como os graõs saõ geralmente arredondados, e a massa he
barro, aproximando-se ao killas em sua apparencia e natu-
reza, parece que mais merece o nome de amygdaloide. O
graõ arredondado de que he composta he principalmente
chalcedonia, de uma cor azulada parda, aproximando-se
alguma cousa ao byalites em sua apparencia. Variam em
grandeza desde o tamanho de uma cabeça d'alfinete, até o
de uma castanha. Estes nodulos estaõ mixturados com
fragmentos angulares de jaspe, e quartzo. Naõ saõ vi-
zives fragmentos alguns de corundum, ainda que se crê quo
apparecem algumas vezes nas camas que contem diamantes.
Ainda que os nodulos naõ saõ idênticos com os que se
acham na amygdaloide de Inglaterra., com tudo ha pouca
duvida de que o rochedo seja amygdaloide pertencente a
formação de um novíssimo floetz. Pela descripçaõ do Dr.
Heyne parece, que ainda que este rochedo amygdaloide be
de considerável grossura, os diamantes estaõ concentrados
em uma cama no centro, que tem mais de um pé de grossura;
e se distingue por ser mais duro que as outras partes.
PORTUGAL.
Sahio a luz : Epístola a S. Ex 1 . Lord Wellington,
Duque da Victoria, Gcneralissimo dos Exércitos Alliados,
pelos seus insignes triunfos, dedicadi em nome da naçaõ
Portugueza, por José Agossinho de Macedo. Acha-se na
loja de Joaquim Manoel Lopes do Nascimento, na rua dos
Algibebes, N°. 18. Na mesma loja se acha um opusculo,
intitulado Dissertação Lithurgica sobre a intelligencia da
Rubricado Missal, em defesa do respectivo Calendário,
relativamente á Missa de Defuntos nos primeiros dias des-
impedidos de cada mez. Segue-se a esta outra Disser-
tação, sobre a omissão da AUcluia em tempo de Páscoa.
[ 393 ]
MISCELLANEA.
(Novidades deste mez.)
AMERICA.
Embargo.
XXAVENDO-SE removido o preceito de segredo, imposto
á cerca dos últimos procedimentos, que se fizeram á porta
fechada na casa dos Representantes, podemos agora desen-
volver a matéria que fixou as suas attençoens.
Na terça feira, 20 do mez, de Julho se recebeo aseguinte
mensagem do Presidente dos Estados Unidos.
MENSAGEM EM CONFIDENCIA.
Ao Senado e Casa dos Representantes dos Estados Unidos.
Havendo fundamento sufficiente para inferir, que o ini-
migo se propunha a combinar, com o bloqueio de nossos
portos, licenças especiaes a vasos neutraes, ou vasos Bri-
tannicos disfarçados em neutraes; para assim tirar de nosso
paiz os gêneros e quantidades precisamente necessários ás
suas necessidr.des; ao mesmo tempo que o commercio ge-
ral continuava impedido : tendo também em vista a insidio-
sa distineçaõ entre os differentes portos dos Estados Uni-
dos ; e como tal systema, se naõ fôr contrariado, terá o
effeito de diminuir mui essencialmente o fim da guerra com
o inimigo, e animallo a continuar nella; ao mesmo tempo
que deixará o commercio geral dos Estados Unidos sugeito
á oppressaõ, que o inimigo lhe quizer impor, sugeitando
assim o todo aos regulamentos Britannicos, e serviço do
Monopólio Britannico. Recomendo á consideração do
Congresso a conveniência de uma immediata e efficaz pro-
hibiçaõ de exportaçoens, limitada a um dia próprio na ses-
saõ seguinte, e com a faculdade de ser removido, no entan-
to, em caso que cesse o o bloqueio de nossos portos.
JAIMES MADDISON.
VOL. X I . No. 64. 3 E
394 Miscellanea.
A mensagem foi referida a um committé de RelaçocnJ
Estrangeiras, que no dia seguinte informou, que naô
convinha obrar na conformidade da mensagem do Presiden-
te. Esta informação foi referida a um committé de toda a
casa, que emendou a primeira informação riscando a palavra
nàÕ convinha, e inserindo convinha. Esta emenda no Com-
mitté de toda a Casa foi tenazmente defendida pelo Ora-
dor, e outros, e com igual tenacidade contrariada por outros.
Deo-se parte que se tinha feito a emenda, e a casa concor-
dou nella, e referib a matéria a um Committé escolhido, do
qual M \ Grundy éra o presidente; este, no dia seguinte,
apresentou o projecto de um Bill, que impunha o embargo;
e consistia em 20 e tantas secçoens, que eram em substan-
cia copias dos actos passados de embargo, e continham
todas as nocivas clausalas do antigo acto que as vigorava.
O Bill foi immediateamente referido a um committé Je toda
a casa; passou acceleradamente pelo Committé, e deo-se
a informação à Casa sem emenda; porque foram regeitadas
todas as emendas propostas; dahi acceleradamente foi co-
piado, tirado a limpo, e passado no mesmo dia. Fez-se o
relatório ás 7 horas da noite. Os votos fôram; Sim, 80;
Naõ, 50.
Nomeou-se um Committé para levar este Bill ao Senado
e pedir-lhe a sua concurrencia. Sabbado, li-*, O Senado
mandou imprimir o Bill (confidencialmente) e pospôz a sua
consideração até o dia 26; e quarta feira o regeitou:
Sim, 16 ; NaS, 13.
29 de Julho.
He com muita satisfacçaõ que nos informam de que o
tyrannico Bill de Embargo, que passou ultimamente na
casa dos Representantes, no Congresso, foi regeitado por
nosso independente Senado, 18 votos contra 16. Estavam
ausentes dous Senadores (Daggctt de Connecticult, e Smith,
de Maryland) que prorarelmente teriam votado contra o
Bill.
Miscellanea. 395
As duas casas adiaram a sessaõ para a segunda feira que
vem, a menos que o Executivo proponha alguma outra vio-
lenta, ou louca medida.
Dizem que os Inglezes tem corrido as enxcarcias, como
se explicam os marinheiros, no rio Potomac, passaram
acima da bahia de Chesapeake, e estaõ mudando a scena
dos sustos que daõ, para Annapolis e Mobloun.
Outravez o Torpedo.
Norfolk, 27 de Julho.
M r . E. Mix, da marinha, sugeito de integridade, e em-
prehendedor, esteve por varias semanas preparando Torpe-
dos, para tentar a explosão de alguns dos navios do inimigo,
na bahia de Linnhaven. O navio Britannico de 74, Plan-
tagenet, tinha estado havia um mez fundeado de fronte do
farol de Cabo Henry, e raras vezes acompanhado por outro
vaso ; assim pareceo a M r . Ivlix, que éra o mais favorável
objecto para fazer a sua experiência. Consequentemente,
na noite de 18 de Julho, accompanhado pelo Capitão Bow-
man, de Salem, e guarda marinha M'Gowan, da esquadra
dos Estados Unidos, que offereceo voluntariamente o seu
auxilio durante toda esta empreza, sahio do lugar determi-
nado, e dirigio-se ao Plantagenet, de 74 peças, em uma
grande barca sem cuberta, a que deo o nome de Chesa-
peakês Revenge (a vingança de Chesapeake) ; e pela ob-
servação, que ja tinha feito, lhe naõ foi difficultoso acertar
com a estação do navio. Quando tinha chegado à distan-
cia de cousa de 40 yards, deixou cahir o Torpedo ao mar;
e no intsante mesmo em que o estava fazendo, lhe falláram
de um dos botes de guarda no navio. Tornou-se logo a
recolher a machina, e elle escapou-se a salvamento. Na
SE2
396 Miscellanea.
noite de 19 fez outra tentativa para descubrir se podia con-
seguir os seus fins, e outra vez foi descuberto antes que
pudesse conseguir os seus fins. N a noite de 20, elle che-
gou-se até á distancia de 15 yards da proa do navio, e di-
rectamente debaixo do gurupcz ; aonde continuou a fazer
os seus preparativos por 15 minutos, quando uma sentinella
do castello de proa gritou " O h , do b o t e ! " e assim elle
teve de escapar-se o mais depressa que pôde : como se naó
respondeo á sentinella, ella deo fogo á sua espingarda o
que foi seguido de uma rápida d e s c a r g a de mosqueteria, e
armas menores. A tiráram-se luzes azues para achar aonde
estava o bote ; naÕ valeo isso : atiraram depois foguetes em
varias direcçoens, que iilumináram a água por considerável
distancia, até aonde chegavam ; e assim obtiveram descu-
brir a posição do visitador nociurno; pelo que começou o
navio a dar fogo á sua artilheria pezada, arieou a amarra,
e fez-se á vela ; ao mesmo tempo que os botes continuaram
a caça. Os atrevidos intrusos, porém, escaparam sem
damno. Rrpeítiram-se estas visitas nas noites de 2 1, 22,
e 2 3 , sem melhor successo; porque o navio ficando assus-
tado, mudava a sua posição todas as noites. Porém na
noite de 24, pôde M r . Mix alcançar o achallo, e tendo to-
mado a sua posição a 100 yards de distancia, na direcçaõ
da suaamura de bombordo, deixou cahir ao mar a machina
fatal, justamente quando a sentinella gritava alerta. Foi
com a maré, e teria produzido o seu effeito completamente,
se naõ fosse uma causa, que naÕ h e conveniente descubrir
íi<*-ora ; mas que se pôde facilmente acautellar nas experiên-
cias futuras : fez a sua explosão poucos segundos antes do
que devia ser. A scena foi terrível e sublime! Foi simi-
lhante á concussaÕ de um terremoto, acompanhado de um
som mais forte, e mais terrifico do que o mais pezado tro-
vão. Levantou ao ar uma pyramide de água de mais 50
pés de circumferencia; na altura de 30 a 40 pés; aapparencia
éra de um vermelho escuro, tincto de purpura pelas bordas.
Miscellanea. 397
FKANÇA.
Paris, 1 de Septembro.
Os acontecimentos militares succedem uns aos outros
taõ rapidamente, que naõ permittem que se faça uma rela-
ção circumstanciada, mas, em quanto se espera, estamos
authorizados a publicar a seguinte carta, dirigida por S.
E x . o D u q u e de Bassano, Ministro dos negócios Estrangei-
ros, a S. A. Sereníssima o Principe Archi-Chanceller do
Império:—
398 Miscellanea.
MONSEIGNEUR!—Tive a honra de escrever a V Ex
hontem, 26, e de annunciar a V A. Sereníssima, que os
exércitos Russianos, Prussianos, e Austriacos marcharam
para atacar Dresden, debaixo da inspecçaõ de seus Sobe-
ranos, e que tinham sido repulsados cm todos os pontos.
Vós comprehendereis facilmente que o Imperador está
por tal maneira oecupado, que lhe he impossível, a este
momento, dar uma relação circumstanciada de todos os
acontecimentos que tem suecedido.
As hostilidades começaram aos 17. S. M. entrou em
Bohemia aos 19, oecupando o principal desembocadouro
em Ramburg e Gabei, tendo marchado as suas tropas até
duas léguas de Praga. Aos 21 estava na Silczia, derro-
tando os exércitos Russianos e Prussianos doi Generaes
Sachen, Langeron, York, e Blucher, e forçando as bellas
posiçoens do Bober.
Em quanto o inimigo suppunha que S. M. estava ainda
na Silezia, elle deixou ali um poderoso exercito, debaixo
das ordens do Duque de Tarentum, fez marchar as suas
guardas dez léguas por dia, e chegou a Dresden, que tinha
estado por alguns dias ameaçada de um iminente ataque.
S. M. entrou na cidade pelas 9 horas da manhaã, e im-
mediatamente fez as suas disposiçoens. Pelas 3 horas da
tarde, o exercito Russiano, Prussiano, e Austriaco, com-
mandado pelos Generaes Wittgenstein, e Kleist, e
Schwarlzenberg, desdobrou 150.000 homens, marchando
para a cidade. Todos os ataques fôram repulsados so-
mente pelas guardas antigas e novas, que se cubriram de
gloria.
O inimigo deixou 4.000 mortos ao pé de nossos reduc-
tos. Nós tomamos 2.000 homens, uma bandeira, c \árias
peças d'artilheria.
Esta manhaã, ás 4 horas, o Imperador foi ao campo ; a
chuva cahia em torrentes; os marechaes o Duque de
R-gusa, e o Duque de Belluno passaram a ponte com os
Miscellanea. 399
seus corpos. A's 8 horas começou o ataque de nossa parte
com uma viva canhonada. A extremidade da esquerda
do inimigo era comandada pelos Generaes Austríacos Ig-
nace, Giulay, e Klenau, e estava separada do resto do ex-
ercito pelo vale de Plauen. O Imperador ordenou que
fosse atacada pelo Marechal o Duque do Belluno, e pela
cavallaria do General Latour Maubourg, debaixo das or-
dens d'El Rey de Napoies. Nós contamos entre os nossos
tropheos de hoje 1 5.000 homens, entre os quaes ha o T e -
nente Field-marechal Metzko, dous generaes de brigada,
muitos ofticies superiores, 20 peças d'artilheria, e 10
bandeiras.
Durante este tempo o General Vandamme, que tinna
desembocado por Koenigsbruck, se apossou das alturas de
Pirna, marchou par ambos os lados da estrada de Peters-
walde, e se asenhorcoU das desembocaduras de Bohemia,
derrotando 15.000 homens, que se apresentaram diante
delle; e fazendo grande numero de prisioneiros.
A este momento todas as estradas de Peterswalde, e de
Freyberg foram intersectadas; os Russianos e Prussianos
vieram pela estrada de Peterswalde, e os Austríacos pela
de Freyberg.
Se o exercito do inimigo, que he numeroso ; porque he
composto de corpos Russianos e Prussianos, e de todo o
exercito Austriaco, se determinar a retirar-se, necessaria-
mente soffrerá perdas consideráveis; se se deixar ficar,
teremos amanhaã acontecimentos mui destruetores.
Desde a acçaõ de Ulm, nunca o exercito Francez esteve
exposto a peior tempo, nem a mais abundante chuva. O
Imperador esteve exposto â chuva todo o dia. A este
momento se vem lecolhendo. As numorosas columnas de
prisioneiros, peças d'artilheria, e bandeiras, que se toma-
ram vem atravessando a cidade. Os habitantes mostram a
mais viva alegria á vista destes tropheos. O Duque do
Reggio devia estar em Berlin aos 23 ou 24. O Duque de
400 Miscellanea.
Tarento expulsou os restes do inimigo de Silesia para
Breslau.
Naõ he um bulletim que estou dirigindo a V A. S. e
porém julguei que éra do meu dever dar-vos esta impor-
tante noticia ; naõ tendo S. M. tempo para escrever ; elle
goza mui boa saúde.
Uma circumstancia excitará a indignação universal; e
he que o General Moreau se acha no exercito do inimigo ;
no séquito do Imperador de Russia, como seu conselheiro
Privado. Elle tem tirado a mascara, que ha alguns annos
o naõ encubria das pessoas intelligentes. Eu naÕ posso
ainda, Monseigneur, mandar a V. A. Sereníssima os docu-
mentos relativos á declaração de guerra de Áustria. No
meio destes acontecimentos, que se succedem uns aos ou-
tros, naÕ tenho achado um momento de os por na presença
do Imperador. Sou com todo o respeito, Monseigneur,
Vosso humilde criado, &c.
O Duque de BASSANO.
Dresden, 27 d' Agosto, 6 horas da tarde.
As nossas perdas fôram mui inconsideraveis; as acçoens
d'hontem naõ nos custaram psssoa alguma da graduação.
19 de Agosto.
Hontem sahio de seus acontonamentos o Marechal Prín-
cipe de Eckmubl. O inimigo foi repulsado em todos os
pontos, depois de ter soffrido uma perna considerável; to-
máram-Be-lhe alguns prisioneiros. Os Dinamarqaezes se
comportaram muito bem. A noite passada mandou o
Principe atacar os tres entrincheiramentos que cobrem
Lauenburg. O 3°. batalhão do reg. 30 de linha, os forçou
á bayoneta calada; e o inimigo se retirou em grande
confusão, cruzando o Stecknitz, deixando a9 trincheiras
cheias de seus mortos e feridos. A perca, que elle soffreo
Besta occasiaõ deve ser considerável.
Miscellanea. 401
Lauenburg, 19 de Agosto.
S. A. Sereníssima, o Marechal Principe de Eckmuhl,
mandou hontem reconhecer a posição do inimigo, em frente
de Lauenburg, achou-se que consistia em 1.300 infantes, e
alguma cavallaria. Os entrincheiramentos, e a artilheria
faziam esta posição mui forte. S. A. Sereníssima mandou
a noite passada que se tomasse pelo 3 o . batalhão do reg.
30, com a bayoneta, sem se fazer fogo. O inimigo, de-
pois de deixar a cidade se retirou na maior confusão, cru-
zando o Stecknitz. Tomamos alguns prisioneiros, entre os
quaes ha vários officiaes Prussianos. A nossa perca, aos
18, consistio em 100 homens, a maior parte delles levemente
feridos; a perca do inimigo he muito mais considerável.
Syck, 19 de Agosto.
O quartel-general de S. A. Sereníssima o Principe de
Hesse, ainda aqui se acha, mas tudo indica, que se mudará
hoje. Mollu foi tomado; e hoje chegou noticia de que
também se tinha tomado Lauenburg que os Russianos
tinham fortificado. As nossas tropas se portaram valoro-
samente.
Paris, 3 de Septembro.
Recebemos esta manhaã a seguinte carta de Dresden:-—
" NaÕ posso dar vos as particularidades ; porém admi-
ramnos a nos mesmos os nossos bons suecessos. Quasi
sem perda alguma, temos destruído de todo, ou quasi, o
formidável exercito Austriaco. C reio que temos ja tra-
zido para Dresden de 30 a 40 mil prisioneiros Austríacos.
Estamos perseguindo os vencidos , e espero que se naõ
deixarão escapar assim."
Segundo as cartas particulares de Dresden, datadas de
29 pela tarde, o resultado das acçoens que suecederam
depois de 25 d'Agosto, he 50.000 homens mortos ou apri-
sionados, e alem disto tomamos grande numero de peças
dartilheria e bandeiras.
VOL. X I . No. 64. 3 F
4 Oi Miscellanea.
Fal Ia-se de um trem de 300 carretas d'artilhe ri a, que
nós tomamos na estrada de Freyberg.
Dizem que as duas estradas porque o inimigo se aproxi-
mou a Dresden, a de Freyberg, e a de Peterswalde fôram
cortadas pelas bellas manobras que ordenou a providencia
e o gênio de S. M. O inimigo agora, em ordem a retirar-
se para Rohemia, tem somente estradas mui difficultosas,
aonde deve soffrer perdas de toda a sorte. A retirada do
inimigo parece uma fugida.
Cartas de Hamburgo, que acabam de chegar, annun-
ciam algumas novas vantagens, que tem ganhado o Prin-
cipe de Eckmuhl, da parte de Rostock.
5 de Septembro.
S. M. a Imperatriz Raynha e Regente, tendo voltado
hoje de sua jornada a Cherbourg, se apeou no Palácio de
S. Cloud, pela uma hora da madrugada; ao meio dia a
artilheria annunciou a sua chegada á capital.
Paris, 7 de Septembro.
S. M. a Imperatriz e Raynha recebeo as seguintes noti-
cias do exercito, datadas do l" de Septembro:
Aos 28 de Agosto, El Rey de Napoies, e o Duque de
Bclluno pernoitaram em Freyberg, aos 29 em Lichtenberg,
e aos 30 em Zittau, aos 31 em Sayda.
O Duque de Raguza, com o 6 o . corpo, pernoitou aos
28 era Dippoldiswalda, aonde o inimigo abandonou 1.200
feridos ; aos 29 cm Falkenham, e aos 31 em Zenwalda.
O 14°. corpo, debaixo das ordens do Marechal S. Cyr,
estava aos 28 em Maxen, aos 29 em Reinhordt Grumna,
aos 30 em Dillersdorf, aos 31 em Lielman.
O I o . corpo, sob o General Vandamme estava aos 28 cm
Hollendorf, e aos 29 era Peterswalda, oceupando as mon-
tanhas.
O Duque de Treviso estava postado em Pirna, aos 28 e
29.
O General Pagai, commandante da cavallaria tomou
alguns prisioneiros.
Miscellanea. 411
O inimigo se retirou para a posição de Dippoldiswalda
e Altenberg, a sua esquerda seguio a estrada de Plauen, e
retrocedeo por Tharandt para Dippoldiswalda, naõ po-
dendo retirar-se pelo caminho de Freyberg.
A sua direita naõ se podia retirar pela calçada de Pirna
nem pela de Dolma, e portanto se retirou para Maxen; e
dali para Dippoldiswalda: Tudo quanto ali havia de
partidários, ou corpos destacados fôram cortados.
A bagagem Russiana, Prussiana, e Austríaca, se emba-
raçou na calçada de Freyberg; tomaram.se ali vários
milheiros de carruagens. Chegando a Altenburg, aonde
o caminho de Toplitz para Dippoldiswalda he impracti-
cavei, o inimigo tomou a resolução de abandonar mais de
1000 carros de munição e bagagem. Este grande exer-
cito tornou a entrar na Bohemia, depois de ter perdido
parte de sua artilheria e bagagem.
Aos 29 o General Vandamme passou, com 8 ou 10 ba-
talhoens, a garganta da grande cadêa, e marchou para
Kulm; ali encontrou -o inimigo, cora a força de S ou 10
mil homens; que lhe offereceo batalha; mas naõ se
achando sufficicntemente forte, mandou descer o seu
corpo d'exercito; e bem depressa teria derrotado o ini-
migo. Em vez de tornar a subir e postar-se nas alturas,
ficou ali e tomou uma posição em Kulm, sem guardar a
montanha; esta montanha dominava a única calçada; e
he alta. Sô aos 30, o Marechal St. Cyr, e o Duque de
Ragusa chegaram ao desembocadouro de Toeplitz. O
General Vandamme pensou somente em fechar o caminho
ao inimigo, e tomar tudo. A inimigo que foge, ou se
devem fazer pontes de ouro; ou se lhe devem oppor bar-
reiras de ferro. Elle naó se achava assaz forte, para op-
por esta barreira de ferro.
Com tudo, percebendo o inimigo, que este corpo de
exercito de 18.000 homens se achava solitário na Bohemia,
separado por altas montanhas ; e que todos os outros esta-
3G2
412 Miscellanea.
vam ao pé das montanhas, e da outra parte ; vio que elle
estava perdido, a menos que o naÕ derrotasse; e concebeo
a esperança de o atacar com bom successo ; sendo má a
sua posição.
As guardas Russianas estavam á frente do exercito, que
pelejava em retirada , a ellas se uniram de novo duas divi-
soens Austríacas, o resto do exercito inimigo se lhe unio
ao desembocar, seguindo-se o 2*., 6* , e 4o. corpo: estes
alcançaram o I o . corpo.
O General Vandamme mostrou boa face, repulsou todos
os ataques, peneirou tudo quanto se lhe apresentou, e
cubrio de mortos o campo de batalha. Crcsceo a desor-
dem no campo inimigo ; e com admiração se vio o que um
pequeno numero de gente pôde fazer contra uma multidão,
cujo moral está enfraquecido.
As duas horas da tarde, a columna Prussiana do Gene-
ral Kleist, cortada em sua retirada desembocou por Peters-
walda, para se esforçar em penetrar na Bohemia; naõ
encontrou inimigo, chegou ao cimo das montanhas, sem
achar resistência ; postou-se ali, e dali vio o que se estava
passando. O effeito desta columna na retaguarda do ini-
migo decidio o negocio.
O General Vandamme marchou immediatamenle contra
esta columna, que repulsou : elle foi obrigado a enfran-
quecer a sua linha, neste delicado momento. Voltou-se a
fortuna; e com tudo elle pôde obter o derrotar a columna
do General Kleist, que foi morto : os soldados Prussianos
atiraram fora com as armas, e se preciláram nos fossos e
matos. Nesta refrega desappareceo o General Vandamme.
Suppôem-se que foi morto.
Os Generaes Carboneau, Dumoncean, e Philippon, de-
terminaram aproveitar-se deste momento para se retira-
rem ; parte pela estrada grande, e parte pelos atalhos,
com as suas divisoens, abandonando todo o material, que
Miscellanea. 413
consistia em 30 peças d'artilheria, e 300 carros de varias
qualidades, trazendo com sigo os cavallos.
Na situação em que os negócios estavam, naõ podiam
elles obrar melhor. Os mortos, feridos, e prisioneiros,
nesta acçaõ poderão fazer subir a nossa perda a 6000 ho-
mens. Julga-se que a perda do inimigo, naõ podia ser
menos de 4 a 5.000 homens.
O primeiro corpo se concentrou a uma légua do campo
de batalha, sobre o 14°. corpo. Fez-se uma lista das per-
das nesta catastrophe, que he devida ao ardor guerreiro,
mal calculado. O General Vandamme merece ser lamen-
tado, possuía rara intrepidez. Morreo no campo de
batalha, envejado por todos os homens valorosos.
EXERCITO DA CATALUNHA.
Officio do General de Divisão Lamarque a S. Ex*. o General
em Chefe.
Como o recado, que V. Ex*. me mandou, para me infor-
mar de que tinheis abandonado o plano de penetrar até
Vich, naõ me chegou ; naõ pude regular o meu compor-
tamento se naõ pelas ordens, que se continham na vossa
carta de 3 do corrente, escripta em cypbra, que recebi na
tarde de 5.
Ajunctei por tanto de 1.500 a 1.600 homens, que se
muniram com 6 dias de mantimento; e aos 6, pelas 8 ho-
ras da noite, partimos atravessando as montanhas de Lora e
Anzias, para ir ter ao pé de La Salut, d'onde devia puchar
adiante até as alturas de Vicb. Para conseguir este fim,
tivemos de trepar quasi perpendicularmente por duas ho-
ras, até que chegamos a uma brecha des rochedos de dous
on tres péz de largo, que éra a única passagem practicavel
nesta direcçaõ. Poucos indivíduos resolutos poderiam ter
feito parar todo o exercito; mas o ataque dos Miqueletes,
que precedeo a minha columna, foi taõ inesperado e vigo-
OÍO, que os postos do inimigo apenas tiveram tempo dt
Miscellanea. 421
dar fogo a algumas espingardas, e salvar-se com a fugida.
Aos 7, pelas 6 horas da tarde, o meu destacamento, depois
de uma marcha de mais de 20 horas, se formou nas alturas
de La Salut, posição que tinha mandado reconhecer taõ
cuidadosamente, como se tivesse o presentimento de que
tinha de combater no dia seguinte com todo o exercito
Hespanhol.
A altura, que nos occupamos no dia 8, distava de Vich
somente duas léguas e um quarto, e viamos claramente a
cidade. Ao mesmo tempo vimos sobre as alturas entre
Roda e Maulon, uma massa de infanteria, que eu calculei
que era de 2 a 3 mil homens. NaÕ tinha duvida que isto
fosse parte do exercito inimigo, que fugia diante de nossa
columna. Eram 4 horas, e V . Ex». me tinha annunciado.
que, ao mais tardar, chegaria a Vich ao meio dia.
Conservou-se um fraco fogo de mosqueteria; até as seis
horas, quando o inimigo marchou contra a minha direita
com duas peças d'artilheria, e um obuz, e atacou uma al-
tura, que estava occupada por uma companhia de volti-
geurs do regimento 60. Eu fui ali ter.com 200 homens do
dicto regimento, e 3 companhias do reg. 20 de linha. O
fogo foi mui vigoroso. Repetiram-se os ataques até ás 9
da noite, mas nós naõ perdemos um palmo de terreno.
Eu obedeci ás vossas ordens, que eram perseguir o ini-
migo quando elle se retirasse; e eu concebi que no dia se-
guinte elle seria totalmente destruído. O que removeo
toda a possibilidade de duvida, foi a circumstancia de que
todos nós ouvimos um fogo d'artüheria, e vivas descargas
de mosqueteira da parte de Vich. Isto naõ se podia attri-
buir aoutras causas senaófôramdepoisexplicadaspelagazeta
deste lugar, aonde li, que tinha bavido um fogo d'alegria
em todos os nossos acantonamentos, no dia S, em conse-
qüência das noticias das victorias no Norte.
Estávamos assim situados, com as nossas sentinellas em
frente das do inimigo, quando aos 9, aos tres quartos depois
422 Miscellanea.
das duas horas da madrugada, o Capitão Travers me
trouxe novas ordens de retroceder para Gerona. Naõ
tinha um momento que perder; faltava um quatro d'hora
para amanhecer. Os nossos postos avançados se setiráram
em silencio. Passamos pela cidade cm boa ordem e o*
meus escaloens estavam formados da outra parte da ponte
quando o inimigo apparecêo com algumas frentes de co-
lumnas, e com 1.200 a 1.500 atiradores, que avançaram
para nos atacar. Eu poderia ter continuado o meu movi-
mento ; mas éra necessário reprimir o ardor do inimigo,
para podermos ao depois continuar a nossa retirada com
menos incommodo. Os dous batalhoens do reg. 60, por-
tanto, esperaram até que o inimigo chegou á distancia de
meio tiro de espingarda; e entaõ começaram, em duas di-
visoens, um fogo taõ bem dirigido, que todos os que se
tinham adiantado retrocederam para a aldea; c a ponte e
suas vizinhanças ficou cuberta de mortos e feridos.
Nós continuamos a nossa marcha, levando com nosco os
nossos feridos, e nossa bagagem, e também um comboy de
gado, que hia para Vich. Como viemos por um caminho,
donde se separa outra estrada para Gru, foi necessário ac-
celerar a minha marcha; porque o inimigo tinha meios de
marchar pelo meu danço direito, chegar a Salut, e cortar
inteiramente a minha retirada. Eu ordenei ao Ajudante-
commandante Monistrell, que occupas e todas as pequenas
alturas com partidas de infanteria ; e nos marchamos rapi-
damente pelo dcsfiladeiro, de duas léguas de extensão, que
nos separava de La Salut, tendo conservado o inimigo em
respeito a cada passada. Era impossível tentar o subir as
alturas; os pedaços de rochedo, somente, que se rolassem
sobre nós, nos teriam destruído.—(Continuar-se-ha.)
(N. B. Este imperfeito officio se acha desta mesma
forma nas noticias de Hamburgo de que o transcrevemos.)
Miscellanea. 423
DINAMARCA.
Copenhagen, — de Agosto.
Acaba de apparecer aqui um folheto, intitulado « No-
tas a um artigo do Moniteur de 21 de Junho, de J 8 I 3 , " e
publicado em Stralsund, em Julho, de 1813; ali se diz
na Nota 7-.
< He notório, que M. de Kaas fingio estar doente em
Altona, para poder esperar ali a resposta ás proposiçoens
quetiuha feito aos generaes alliados ; e que o mesmo pre-
texto o deteve em Hamburgo: porém tendo sabido o re-
sultado da batalha de Bautzen, esqueceo-se de que tinha
promettido esperar uma resposta, e partio para o Quartel-
general do Imperador Napoleaõ."
E na nota 1 2 : —
" Naõ se fez proposição alguma a Mr. de Kaas; nos o
repetimos, foi elle quem as fez aos generaes dos Alliados."
Porém qualquer que seja a notoriedade disso ; he no-
tório, e mais de 30 pessoas o podem attestar, que M. de
Kaas actualmente adoeceo em Altona, quando ali chegou, se
he que se pôde chamar doença uma pequena indisposição,
nascida da fadiga da jornada, e que o obrigou a estar de
cama, naõ mais de 5 ou 6 horas. Fingir uma moléstia
de 5 ou 6 horas com a intenção que se lhe imputa—^ podia
nisso haver nenhum fim racionavel ? He alem disso no-
tório, e sabido de vários officiaes civis e militares em
Altona; que alguns dos que se chamaram Plenipotencia-
rios no serviço dos Principes Alliados trabalharam quanto
foi possivel para fallar com M. de Kaas, com a intenção
de impedir, por de meio reiteradas proposiçoens, que lhe
fizeram, o continuar na viagem para o Quartel-general
Francez; e para o persuadir a que se deixasse de sua
jornada. Para isto fizeram uso de uma proclamaçaõ im-
pressa, publicada por um General Sueco Von Dobela,
datada de Mayo, de 1812, e de uma missaõ de que M.
de Siguel seria encarregado perante S. M. El Rey de Di-
424 Miscellanea.
namarca, da parte do Principe da Coroa de Suécia. A
partida de Mr. de Kaas para Hamburgo, immediatamente
depois da conversação, que teve com estes senhores, dá
authoridade á reposta, que elle deo, e que devia dar á
taes insinuaçoens. Finalmente he notório, que M. de
Kaas naõ foi encarregado por seu Soberano á receber
nem a fazer taes proposiçoens ou aberturas a pessoa al-
guma. E , u'uma palavra, se factos taõ geralmente
sabidos naõ bastassem para justificar a M. de Kaas da
accusaçaõ de duplicidade, que se lhe deseja imputar, a
fim de manchar a sua corte; he para desejar que alguém
nomeasse os generaes Alliados, a quem M. de Kaas
mandou fazer taes proposiçoens, o seu objecto, e os
nomes daquelles que nisso serviram de instrumento.
Todos estes testemunhos conduzem á conclusão de que,
as notas, acima citadas, naõ podem ser olhadas de outra
forma, se naõ como contos de divertimento, segundo o
dictado antigo " calumniare audacter semper aliquid
haeret." Sendo uma continuação do que se tem promul-
gado, relativamente á missaõ do Conte Bernstorff, a Lon-
dres, e que o Ministério Britannico naÕ escrupulizou
demaziado de usar como meio de sua defensa para si.
Digam antes, que saõ instigados pelo mesmo espirito de
ódio, que tem sempre, e em todos os gabinetes, aonde se
ouve a sua voz, excitado novos inimigos ao Governo Di-
namarquez ; que tem feito comque a Norwega e o Norte
da Alemanha seja inundado de folhetos, cheios de raiva
contra ella; cujo objecto he convencer os Suecos, mas
que será mui difficil fazer-Ihes crer, que foi El Rey de
Dinamarca que primeiro quebrantou o tractado de Jon-
koping. Porém os estados, que compõem a Dieta da
Suécia, saberão algum dia apreciar, e reduzir, ao seu
valor real, todos estes sophismas, que se usara meramente
para lhes fazer crer, que a guerra, em que se acham in-
volvidos, he justa e necessária. Elles saberão apreciar,
Miscellanea. 425
se um gozo feliz e pacifico, que lhes prometeo a ordenança
de 15 de Agosto, de 1812, pela qual se abriram os portos
de Suécia a todas naçoens commerciaes, naõ teria maior
valor do que este systema de conquista, que he somente
gerado na sede da gloria, e que leva com sigo as somcntes
de sua mesma destruição.
Repartição da Guerra.
4 de Septembro, 1813.
Recebeo-se hoje um officio, na secretaria de Lord Ba-
thurst, dirigido a S. S. pelo Marechal de campo o Marquez
de Wellington, datado de Lezaca,25 d'Agosto; de que o
seguinte saõ extractos:—
Nem o inimigo nem os Aluados tem feito movimento
algum de importância, depois que transmitti a minha ul-
tima participação.
Tenho recebido participaçoens do Tenente-general
Lord W.Bentinck ate 19 do corrente, e dellas tenho a honra
4 32 Miscellanea.
de incluir copias, e extractos, dos quaes se vê que o Ma-
rechal Suchet ajunctou as tropas de seu commando em Villa
França, aos 10; consistindo de 25 a 30 mil homens, e
Lord W Bentinck as que tinha dentro do seu alcance em
uma posição sobre o rio Gaya, tendo suspendido todas as
operaçoens do cerco de Tarragona. S. S. porém naõ
ficou satisfeito com a sua posição, que naõ podia occupar
com força sufficiente; porque se lhe naõ tinham unido to-
das as tropas que esperava ; e era sugeita a ser flanqueada
em ambos os fiancos. Elle por tanto se retirou para Cam-
brils sem perca, á proporção que o Marechal Suchet avan-
çou, deixando Tarragona aberta, lugar este que os Fran-
cezes fizeram voar e evacuaram; e o Marechal Suchet se
retirou outra vez para Barcelona.
Peço licença para chamar a attençaõ de V. S. peculiar-
mente para a participação inclusa do Coronel Lord Frede-
rico Bentinck pelo comportamento de um destacamento
dos Hussares de Brunswick, em uma acçaõ com o inimigo
aos 15.
Eu approvo inteiramente que o Tenente-general Lord
Guilherme Bentinck se retirasse, porque naõ tinha podido
ajunctar toda a sua força ; e naõ se considerava suficiente-
mente forte para dar uma batalha geral ao inimigo.
PORTUGAL.
EXERCITO A L L I A D O NA A L E M A N H A .
Renovação das Hostilidades.
Carta do General em Chefe Barclay de Tolly ao Prin-
cipe de Neufchatel.
Reichenbach, 27 de Julho, (8 d'Agosto,) J8I3.
Senhor Major-general dos Exércitos Francezes!—
Naõ tendo as negociaçoens, que se abriram em Praga,
para o restabelecimento da paz, entre as Cortes Alliadas e
França, conduzido ao fim, a que ellas se propunham ;
tenho ordem de intimar a terminação do armistício con-
cluído em Peiswitz aos 23 de Mayo, (5 de Junho,) e
prolongado em Neumarkt aos 13 (26 de Julho.) Em con-
formidade da estipulaçaõ desta Convenção, tenho ordena-
do, a— que leve esta declaração ao quartel-general do
exercito Francez, e também que annuncie, que, em conse-
qüência, as hostilidades começarão no dia 5 (17) d'Agosto,
da parte dos exércitos Russiano, Prussiano, e Sueco.
446
Miscellanea.
Sinto excessivamente, q«ft as circumstancias me impu-
nham o cumpriu ento de taõ pcnos o dever para com V. A.
Sereníssima; e com tudo aproveito esta occasiaõ de reno-
var-vos as seguranças de minha alta consideração.
(Assignado) BARCLAY DE TOLLV.
Quartel-general de S. M. I o Imperador.
Altenburg, 29 d'Agosto, 1813.
M Y LORD Í—Tendo o inimigo abondonado o terreno
ao redor de Dresden, chamado Grossen Gaten, e tendo-se
retirado para as suas obras, e para os subúrbios da cidade,
na manhaS de 2 7 ; julgou-se conveniente fazer um ataque
com uma grande força coutra a praça, cuja posse éra de
considerável importância. As tropas ligeiras do Conde
Wittgenstein, e General Kleist na direita da cidade, tive-
ram alguma perda durante a manhaã de 27 no ataque das
hortas: e na verdade, o inimigo tinha melhorado tanto,
pela arte, as defezas em torno da cidade, que evidentemente
era uma empreza de considerável difficuldade o alcançar.
As tropas marcharam ao assalto pelas 4 horas da tarde,
o Corpo do Conde Wittgenstein, em tres columnas, pela
direita de Gros Garten : o General Kleist marchou com
uma columna de ataque por estas hortas, e duas pela es-
querda. A sua columna da esquerda era commandada
pelo principe Augusto de Áustria : tres divisoens de Aus-
tríacos na equerda da cidade, debaixo da direcçaõ imme-
diata do Conde Colloredo, e Principe Maurício de Lich-
tenstein, se uniram aos Prussianos na esquerda: formando
os Prussianos o centro do ataque. Uma tremenda canho-
VOL, X I . No. 64. 3M
450 Miscellanea.
nada começou a operação *. estando ns baterias plantadas
em forma circular ao redor da cidade, o effeito foi mag-
nificio: depressa ficaram envolvidos no fumo os bcllos
edifícios de Dresden, e as tropas marcharam adiante, na
mais perfeita ordem de assalto. De (odos os lados se
aproximaram juncto á cidade. Os Austríacos tomaram
um reduto avançado de 8 peças, da maneira mais denoda-
da e galharda : eu nunca vt tropas algumas que se com-
portassem melhor: as obras eram da natureza mais furto
e naõ distavam mais de cem yardas da muralha principal;
e eram flanqueadas pelo fogo de mosqueteria, de varias
seteiras abertas em toda a parte dos edificos que domina-
vam ; mas nada podia exceder a galhardia com que foram
assaltadas : o inimigo fugio dali, somente para se abrigar
por detraz de novas defensas, enchendo de gente as grossas
muralhas da cidade, aonde éra impossível abrir brechas,
sem um longo, e continuando fogo de artilheria pezada.
O inimigo, pelo auxilio destes meios de resistência que
ministra uma praça forte, conservou em respeito as tropas
que taõ galhardamente tinham entrado as obras exteriores.
A noite se aproximava : e o inimigo tentou fazer uma sor-
tida com uma força considerável de suas guardas, mon-
tando pelo menos a 30.000 homens, a fim de separar a
tropas Alliadas, e tomar uma ala pelo flanco e ratagtiarda.
Percebeo-se isto immediatamente, e pnreceo evidente, que
naÕ era practicavel tomar a praça naquella noite, manda-
ram-se ordens ás tropas, e ellas voltaram para os seus
respectivos acampamentos. O Principe Maurício de
Lichtenstein, fez uma admirável disposição da parte em
que o inimigo fez a sortida; pelo que se evitou toda a
confusão. Esta empreza á proporção que éra de impor-
tância, foi, também de grande difficuldade : nenhumas
tropas se assignaláram mais ; c na minha humilde opinião
se fosse phisicamente possivel tomar a praça na quellas
circumstancias, ellas o teriam conseguido: mas naó havia
Miscellanea. 451
brechas por onde entratsem as tropas, e a artilheria posto
que juncto á noite fosse trazida juncto a cidade, na dis-
tancia de 100 passos da muralha, naô a podia bater nem
fazer alguma impressão.
Segundo o melhor calculo que pude fazer, avalio a
perda dos Alliados neste ataque, em menos de 4.000 ho-
mens. Os Austríacos foram os que mais soffrêram.
Asortida do inimigo foi o prelúdio de uma batalha mais
geral, que teve lugar na seguinte manhaã de 28. Bona-
parte tinha chegado a Dresden, vindo do seu exercito na
Luzacia, na noite de 22 ; e tendo uma grande força era
Dresden, pelo menos 130.000 homens, parece que se de-
terminou a atacar os Alliados, que oecupavam uma posi-
ção mui extendida nas alturas circumvizinhas.
O inimigo tinha grandes vantagens nas suas disposi-
çoens para o ataque: Dresden, alinhadade. artilheria, es-
tava na sua retaguarda - as suas communicaçoens naõ es-
tavam interceptadas ; se fizessem uma impressão podiam
scguilla, se falhassem podiam retirar-se com segurança, e
as nossas tropas naõ os podiam seguir para debaixo das
peças da praça. Um dos peiores dias que ja mais se vio,
augmentou consideravelmente as difficuldades dos Allia-
dos, que tinham chegado por marchas rápidas, máos ca-
minhos, e desfiludeiros, ás suas posiçoens; e cujos provi-
mentos, de toda a sorte, eram difficeis, senaõ impossíveis
de obter. Aproveitando-se destas desvantagens, Bona-
parte desdobrou ura immenso numero de peças d'artiíhe-
ria; c uma viva canhonada d« ambas as partes formou a
principal parte da batalha. Fizéram-se ataques em vá-
rios pontos, com a cavallaria Russiana, Prussiana, e
Austríaca, que muito se distinguiram; porem os
corpos principaes de infanteria de ambos os exércitos
naõ chegaram a contacto. O tempo estava taõ nebuloso,
e a chuva taõ incessante, que a acçaõ se manteve era todos
os pontos, cora as maiores desvantagens.
3 M 2
452 Miscellanea.
Perto do meio dia suecedeo uma catastrophc, que des-
pertou mais do ordinário a sensibilidade e pezar de todo o
exercito alliado. O General Moreau, conversando com o
Imperador de Russia, teve ambas as pernas quebradas por
uma bala d'arülheria, passando a bala atravessando o ca-
vallo ; perda esta igual á boa causa, e á profissão das ar-
mas. Hc impossível naô lamentar profundamente a sua
sorte. Ainda está vivo.
O inimigo continuou os seus esforços na posição dos
Alliados, até que achou que naÕ podia fazer impressão; e
parou a acçaõ.
A batalha ter-nos-ha custado 6 ou 7.000 homens. O
inimigo perdeo muito mais. Em um carga de cavallaria
Russiana contra a infanteria, e uma bateria ; se hiniou
grande numero de prisioneiros, ainda que se naõ puderam
trazer as peças.
Tenho ja referido a V. S. cm geral, as difficuldades, que
cercavam o exercito Alliado, em conseqüência da grande
força que se lhe oppunha; e pela opinião de que Bona-
parte passaria um corpo considerável de tropas para a
outra parte do Elbe em Koningstein e Pirna, para
se apossar dos passos em nossa retaguarda. Deram-se
ordens para se retirar o exercito Alliado, na noite de 28 ; c
o exercito se acha agora em marcha, em varias coluni-
nas.
He impossível naõ lamentar que taõ bello c taõ numeroso
exercito, perfeitamente completo em todas as suas partes,
tenha uma vez avançado, e feito um movimento retro-
grado ; porque se podem fazer máos cálculos sobre estes
acontecimentos, e o inimigo, pôde snppor que tem ganhado
uma vantagem. Eu posso somente afiançar a V. S. que o
exercito está taõ desejoso como sempre de se encontrar
com o inimigo ; e que existe o mesmo espirito determina-
do c resoluto, ainda que se tenha julgado necessário uma
mudança parcial de operaçoens.
Miscellanea. 453
A força do inimigo naõ se diminuio da parte de Luza-
cia, até os 23, em conseqüência dos seus esforços no E l b e ;
porque elle atacou outravez o General Blucher cora.
grande força, naquelle dia, em sua retirada para Janer.
Porem aos 24, elle avançou outravez, tendo o inimigo re-
trocedido ; o que indicava que elle trazia mais forças para
a Bohemia.
O corpo do General Austriaco Neuberg, avançou tam-
na direcçaõ de Zittau.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) CARLOS S T E W A R T , Tenente-general.
Toplitz, 31 de Agosto.
MY L O R D ! — A brilhante, e bem disputada acçaõ de
30 do passado, em que as guardas Prussianas se cubriram
de gloria, foi seguida por uma victoria geral e decisiva,
sobre aquella parte do exercito do inimigo, que tinha
avançado de Konigstein e Pirna, pela grande calçada, que
vai de Peterswalda a Toplitz. Veio a ser da maior im-
portância fazer este ataque naÕ somente para dar tempo a
que retrocedessem estas columnas do exercito, que ainda
se estavam retirando pela estrada de Altenberg e Dippol-
diswalda ; mas também ao mesmo tempo para ser desem-
baraçado das montanhas.
O inimigo, tinha a vantagem de poder puchar rapida-
mente adiante contra o nosso flanco direito, em uma boa
linha de caminho; ao mesmo tempo que as columnas do
exercito alliado, ainda que se retiravam por linhas mais
curtas, eram impedidas naõ somente pelo estado naõ favo-
rável do tempo, mas pelos caminhos, quasi intransitáveis.
Grande porçaõ do trem d'artilheria, e bagagem do ex-
ercito Alliado, naõ tinha ainda podido sahir das monta-
nhas, quando o inimigo estava j a em Hollcndorf c Kulm,
cousa de 3 milhas distante de Toplitz, aonde foi a scena
da acçaõ.
Tendo-se resolvido atacar, se fizeram immediatamente
as seguintes disposiçoens das tropas destinad >s para este
fim. Seis mil granadeiros Russianos 2.000 infantes, e
4.000 cavallos, debaixo das ordens immediatas do Gene-
ral Miloradovitch, junctamente com 12.000 Austríacos,
sob o commando do Conde Coloredo, e General Bianchi,
começaram a acçaõ; o resto das tropas ajunetadas para
456 Miscellanea.
esta empreza, se formaram em columnas de reserva na pla-
nicie adjacente.
A aldea de Kulm está situada ao pe de uma cordilheira
de montanhas, que forma uma barreira quasi impenetrável
entre a Saxonia e Bohemia; deste ponto se ramificam duas
cordilheiras, o terreno he geralmente lhano, offerecendo
com tudo, em algums lugares boas posiçoens defensivas.
Neste terreno, immediatamente em frente da aldea de Kulm,
colligio o inimigo uma grande força de infanteria, com
grande porçaõ d'artilheria ; conservou se incessantemente
um terrível fogo deste ponto, contra os Russianos, com-
mandados pelo General Miloradovitch.
Tal era a força das alturas adjacentes de Kulm c taõ
habilmente tinha o inimigo disposto de sua força pata sua
defensa, que se julgou mais conveniente fazer o principal
ataque na direita, era conseqüência do que, a infanteria
Austríaca teve ordem de se mover ao longo do terreno
alto da direita, em quanto as guardas Prussianas de infan-
teria começavam o seu ataque na esquerda, logo que os
Austríacos estivessem suficientemente adiantados. Em
quanto se executavam estes movimentos, o corpo do Gene-
ral Kleist, que se naõ tinha desembaraçado das montanhas,
apparecêo na retaguarda do inimigo descendo pelo caminho
porque o inimigo se tinha de retirar cm caso de necessidade.
Começou o ataque de todos os lados da maneira mais deci-
siva c vigorosa. A esquerda do inimigo foi flanqueada
pelo distincto valor e bom comportamento dos Austríacos,
sob Colloredo, carregando a cavallaria repetidas vezes;
em quanto no outro flanco o General Miloradovitch cora
os hussares das guardas, e granadeiros forçaram todos os
pontos, que o inimigo tinha cm vaó tentado defender.
Neste ponto cahiram nas maõs dos Russianos mais de 40
peças d'artilheria, 60 carros manchegos, muita bagagem,
e toda a equipagem do General Vandamme. Completa-
Miscellanea. 457
mente derrotado cm todos os pontos da frente ; e intercep-
tado na retaguarda pelo General Kleist, nada restava ao
inimigo se naó uma desesperada, e precipitada retirada.
A derrota fez-se geral, e o inimigo arremeçando as ar-
mas a terra em toda a direcçaõ, e cessando até de resistir
abandonando peças e estandartes, somente cuidou em pro-
curar abrigo nos matos.
Saõ consideráveis os fructos desta victoria. O General
Commandante Vandamme, seis outros officiaes Generaes
Giott, Haxo, Himberg, e o Principe Reuss ; 60 peças d'
artilheria e perto de 10.000 prisioneiros, com 6 estan-
dastes. Todo o estado maior, e muitos officiaes de gra-
duação estaõ também entre os prisioneiros. O inimigo
continua a sua retirada, perseguido de perto pelos Cossa-
cos, e cavallaria Alliada.
Tendo eu recebido uma grande contusão, pela explosão
de uma bomba, pouco depois do principio da acçaõ, me
vi na necessidade de deixar o campo de batalha ; e sou
devedor, portanto, pelas outras relaçoehs, que tenho dado
a V. S., ao Ajudante de Campo de S. A. R. o Cominan-
dante em Chefe, o Coronel Cooke, o qual assim nesta,
como em todas as outras oceasioens, depois que está juncto
a mim, me tem prestado grande auxilio.
Tenho agora de cumprir com o agradável dever, de
chamar a attençaõ de V^ S. a outro brilhantíssimo com-
bate, que terminou em grande honra, e vantagem do E x -
ercito.
Parece que, aos 25, o Marechal Macdonald oecupou
uma posição mui forte, nas vizinhanças de Jauer, na Sile-
zia ; que elle fortaleceo com numerosa e formidável artilhe-
ria. Foi porém atacado pelo General Blucher, na manhaã
de 26, e depois de uma renhida batalha expulsado de
todas as suas posiçoens, deixando sobre o terreno 50 peças
d'artilheria, 39 carros manchegos c carretoens de muni-
VOL. X I . No. 64. 3N
458 Miscellanea.
çoens, com um numero de prisioneiros que excede a
100 homens.
Renovou-se o combate cora novo ardor, e cora igual
successo da parte do General Blucher, nos dias 27, e 28,
cujo resultado parece ser, que 30 peças d'arülheria, e mais
5.009 prisioneiros fôram tomados durante os últimos dous
dias.
Segundo as ultimas noticias, o General Blucher conti-
nuava a perseguir o inimigo com a maior celeridade.
O General Principe de Reuss, que nomei a V. S. como
tomado entre os prisioneiros, morreo de suas feridas.
Tenho a honra de ser, &c.
CARLOS STEWART, Tenente-general.
Ordem Geral.
Goswicb, Quartel-general, 17 d'Agosto, 1813.
O conflicto sanguinário por nossa independência, tornou
a começar : todos os reforços de nosso illustre Alliado, e
nossos, para obter uma paz durável, sem mais effusaõ de
sangue, tem sido totalmente inúteis. O desígnio éra, que
nos gemêssemos debaixo de um ignominioso jugo, ainda
por longo tempo. A's armas, pois, valorosos Russianos,
Prussianos, e Alemaens! O nosso poder he formidável ;
porque possue, energia e uma grande força numérica S. A.
462 Miscellanea.
1. o Archiduque Carlos he o commandante em Chefe do
Exercilo Imperial Austriaco, que tem feito causa commum
com o nosso. Coragem na batalha, unida com a perseve-
rança, deve infalível mente prevalecer.
Em nome de S. M. El Rey de Prússia, como
General em Chefe do Exercito Alliado.
O Chefe do Estado-maior, Major-general Russiano,
MOREAÜ.
SUÉCIA.
Bulletim II.
Quartel-general, Potsdam, 16 de Agosto.
O Principe Real mudou o seu Quartel-general para esta
cidade a noite passada. O exercito se está concentrando.
Quando expiraram as infruetíferas negociaçoens, que se
começaram em Praga, os Alliados intimaram hostilidades a
manhaã. Aos 11, pela uma hora da madrugada, o Conde
de Metternich entregou ao Conde de Narbonne, era Praga,
a declaração de guerra de Áustria contra a Franca.
S. A. R. acaba de dirigir ao exercito que está debaixo
de suas ordens : a seguinte declaração:—
Bulletim III.
Quartel-general, Charloltcnburg,
18 de Agosto, 1813.
O Principe Real sahio de Potsdara hontem pelas tres
horas da madrugada, transferio o seu Quartel-general pata
este lugar.
Tem-se recebido repetidas noticias de que as tropas do
inimigo se estaõ concentrando em força, em Bayrcutb, e na
direcçaõ de Trabbin, para puchar adiante ate Berlin.
S. A. R. concentrou o exercito combinado entre a capital
eSpandau. Desde hontem á noite tem chegado aquella
posição, quasi 90.000 combatentes. Alguns corpos mar-
charam 10 milhas Alemaãs em 36 horas.
O Tenente-general Baraõ Winzingerode fez um reco-
Miscellanea. 467
nhecimento na direita com 8 ou 6 mil cavallos. Adiantou-
se até Wittenberg, e Juterbock, no flanco esquerdo do ini-
migo, e tomou alguns prisioneiros, dos quaes dous saõ capi-
taens. O Coronel BaraÕ Conde de Sessel foi tomado, com
alguma cavallaria, O Tenente de Vims do regimento de
Hussares de Pomerania, atacou o inimigo em Zesch, e to-
mou 52 homens, e 21 cavallos de remonta, pertencentes a
um regimento de cavallaria de Hesse Darmstadt.
O inimigo, em tanto quanto se sabe, naõ tem passado as
fronteiras senaõ em partidas de reconhecimento.
O General de Divisão Francez Jomini, Chefe do Estado-
maior do Exercito, commandado pelo Principe de Moskwa,
passou-se para os Alliados aos 15 ; e passando pelo exercito
do General Blucher, dirigio-se aoQuartel-general Russiano.
Elle confirmou a noticia deque o Imperador Napoleaõ pro-
jectava atacar o exercito que cobre Berlin. O General
Blucher occupava Breslau aos 14.
Bulleiim IV
Potsdam, 21 d?Agosto.
Annuncia a posição do exercito do Principe da Coroa
de Potsdam até Trebbin Belitz;—que o inimigo tinha de-
baixo das ordens de Oudinot 20.000 homens em Lucken-
walde. Houveram algumas acçoens de postos avançados.
O General Walmoden participa que foi atacado juncto a
Lauenburg aos 17 e 18, por 6 batalhoens; porem que os
tinha repulsado.
Bulletim V.
Ruklsdorff: 24 de Agosto, ao meio dia.
Todas as informaçoens dos agentes secretos annuncia-
ram que na noite de 21 de Agosto, o Imperador Napoleaõ
estava concentrando os corpos dos duques de Reggio, Bel-
30 2
468 Miscellanea.
luno, e Padua, e o dos Generaes Bertrand e Regnier, for-
mando mais de S0.000 homens nos orredores de Bayreuth;
e presagiando tudo da parte destas tropas uma rápida mar-
cha contra Berlin, o Príncipe da Coroa fez as seguintes
disposiçoens:—
O terceiro corpo Prussiano, commandado por Bulow
pos duas divisoens entre Hernandorff e Klein Berin. Uma
divisão occupava ja Mitteuwalde, e outra Trebbin, a fim
de encubrir todo o movimento. O 4*. corpo Prussiano,
debaixo do commando de Tauenzein, se reunio em Bla-
kenfelde. O exercito Sueco sahio de Potsdam aos 22,
pelas 2 horas da madrugada, e marchou para Saarmund,
passou os desflladeiros, e tomou o seu posto em Rudlsderff.
O exercito Russiano e exercito Sueco, • se postaram em
Gutergatre. O General Czernicheff guardava Belitz e
Treunbritzen com 3.000 Cossacos, e uma brigada de in-
fanteira ligeira.
Os agentes secretos annunciáram que o Imperador Na-
poleaõ havia de passar por Luckau, no seu caminho para
Bayreuth. O General Czernicheff executou as suas ordens
com a sua intelligencia custumada, e levou o susto e a in-
quietação á retaguarda das columnas do inimigo. O Ge-
neral Herschfeldt, que tinha recebido ordens para marchar
das vizinhanças de Magdeburgo para Brandenburgo, e dali
para Saarmund, fez um rápido movimento de 5 milhas
Suecas em 10 horas.
Estavam as cousas assim dispostas, quando o inimigo ata-
cou o General Thumen em Trebbin, aos 22 pela manhaã.
A superiordade de seu numero determinou o general a eva-
cuar aquelle posto. O inimigo avançou successivãmente,
e occupou todo o intervallo entre Mittenwalde e o Saare,
cuberto por matos, e flanqueado por pântanos. Os postos
avançados retrocederam vagarosamente, e cubriram a frente
da linha. Aos 23, pek manbaã, o corpo do General Ber-
Miscellanea. 469
trand desembocou contra o General Tauenzien. Este o
repulsou, e tomou alguns prisioneiros.
A aldea de Gross Berin, contra que se dirigiam o 7°.
corpo Francês, e uma forte reserva, foi tomada por elle.
O corpo do Duque de Reggio marchou para Ahrendorff.
Pela occupaçaõ de Gross Berin ficava o inimigo na distan-
cia de 1.000 toesas do centro do campo. O General Bu-
low recebeo ordens de o atacar; elle executou isto com a
decisaõ de um hábil general. As tropas marcharam com o
sangue frio que distinguio os soldados do Grande Federico
na guerra de 7 annos. A canhonada foi viva por algumas
horas. As tropas avançaram com a protecçaõ da artilheria,
e cahiram com a bayoneta calada, sobre o 7mo. corpo, que
estava desdobrado na planicie, e que marchou denodamente
para o campo. Aqui houve varias cargas da cavallaria con-
tra as tropas do Duque de Padua, que fazem grande honra
ao General Prussiano Oppen. O exercito Russiano e
Sueco esteve na batalha, e esperou que desdobrasse o outro
corpo do inimigo para o atacar ao mesmo tempo. O Ge-
neral Winzingerode estava á frente de 10.000 cavallos, e o
Conde Woronzow commandava a infanteria Russiana.
O Marechal Conde Stedingk, á frente da linha Sueca
tinha a sua cavallaria em reserva. A aldea de Rushlsdorff,
situada na frente de seu campo, estava fornecida de infante-
ria, a fim de conservar aberta a communicaçaõ com o Ge-
neral Bulow. Os outros corpos do exercito inimigo naõ
tinham desembocado dos matos, e por isso se naõ moveram
os exércitos Russiano e Sueco.
Com tudo, ameaçando o inimigo a aldea de Ruhlsdorff,
e tendo ja puchado os seus atiradores contra as tropas ligei-
ras Suecas postadas na frente daquella aldea, o Principe
ordenou que alguns batalhoens sustentados pela artilheria
fossem reforçar os postos avançados ; e o Coronel Cardell
teve ordem de avançar com um batalhão de artilheria vo-
lante, e tomar o inimigo pelo flanco.
470 Miscellanea.
Até aqui os resultados da acçaõ de Gross Berin foram 26
peças d'artilheria, 30 caixoens, e muita bagagem ; e 1.500
prisioneiros, entre os quaes ha 40 officiaes, o coronel dos
Ulhanos, das guardas Saxonias, e vários tenentes coronéis
e majores Francezes. O numero de mortos e feridos do
inimigo he mui considerável, e os matos estaõ cheios de
extraviados, que a cavallaria ligeira apanha a todo o mo-
mento.
O inimigo se retirou para alem de Trebbin, que ja está
oecupado por dous regimentos de Cossacos. . Os Generaes
Bulow, Tauenzien, e 0'Rourke vaõ em seguimento do
inimigo, assim como toda a cavallaria ligeira Russiana.
O Principe Real achou entre os prisioneiros officiaes e
soldados que tinham servido debaixo de suas ordens, e que
derramaram lagrimas d'alegria quando tornaram a ver o seu
antigo general.
Bulletim VI.
Quartel-general, Saarmund, 28 d'Agosto.
O Principe Real mudou o seu quartel-general para este
lugar aos 26 d'Agosto.
O corpo do General Hinchfieldt estava, aos 26, cnlrc
Rckau c Golzow, aonde esperava cortar a retaguarda do
General Girard, que marchava de Ziessar para Bruck ;
porém o inimigo passou com tal pressa que o naõ pôde
effectuar.
Aos 25, dous officiaes e l04 soldados do inimigo de dif-
ferentes naçoens fôram trazidos para Potzdam ; elles se
deixáram tomar prisioneiros, por 30 homens de cavallaria
das milicias. Deitaram as armas a terra. Elles assegu-
ram que esta disposição he geral.
A perseguição do inimigo he taõ viva, que aos 25
General Rourke chegou a Gotten, aonde os Duques de
Reggio e Padua, e o General Regnier passaram a noite
precedente com uma divisão de seu exercito.
Miscellanea. 471
Tendo o inimigo obrigado o Coronel Adrianoff a reti-
rar-se de Jutterbock, e tendo tomado uma posição ali com
dous batalhoens de infanteria, e 600 hulanos Polacos,
provavelmente cora as vistas de facilitar uma retirada, e
conservar aberta a sua communicaçaõ com o Elbe, foi
desalojado aos 26, por uma partida de tropas, debaixo do
commando do General Rourke, e dous esquadroens Rus-
sianos, sob o Major Hellwig. O Coronel Krasowski
attacou e tomou posse da cidade. O General Berkendorf
perseguio o inimigo com quatro esquadroens de cavallaria
Russiana. Os dous esquadroens Prussianos, e duas peças
que estavam nas aldeas de Rohnbeck e Boschaw, se lhe
uniram. O inimigo perdeo nesta acçaõ mais de 300 ho-
mens mortos, além de muitos prisioneiros.
Vários officiaes Francezes se tem passado para nós, e
se tem incorporado nas nossas tropas.
O General Czernicheff oecupou Belsig na noite de 26,
com os seus Cossacos. O General Girard, que tinha
íêito halto em Lubnitz a fim de passar a noite ali, foi as-
sustado ; e houve uma viva acçaõ juncto a Belzig. Elle
porém naõ pode alcançar o tomar posse da cidade.
Aos 26, o Coronel Kruss voltou para Nieraeck com o
seu regimento de cavallaria, vindo da expedição a
Dahme, que executou brilhantemente. Cercado de todos
os lados pelo inimigo, naÕ pôde conservar a sua posição.
E com tudo tomou, á vista de uma forte columna, 70
carros carregados de mantimentos e da sua escolta, 6 of-
ficiaes, e 120 soldados; o resto foi morto ou disperso. O
Principe Real ordenou ao General Winzingerode, que
expressasse a este valoroso official a sua inteira satisfacçaõ
pelo valor c habilidade que mostrou em taõ interassente
occasiaõ.
O quartel-general do General Bulow estava era Elshcltz
aos 27; o General Borstell estava nas vizinhanças de
Lnckcnwalda ; o General Tauenasien tinha o seu
472 Miscellanea.
quartel-general era Bareuth aos 2 7 ; o seu corpo estava
postado entre aquella cidade, Goltzen, e Luckau. Elle
mostrou grande habilidade era ajunctar taõ brevemente a
sua reserva ; e muita actividade em expulsar o inimigo
dos matos. O General Wobeser, depois de incommodar
o flanco esquerdo, e retaguarda do inimigo, ajunctou
toda a sua força juncto a Golzen, marchou para Bareuth,
carregando uma força inimiga de 2.500 homens. Todas
as nossas tropas acossaram o inimigo na sua retirada. As
estradas estaõ todas cheias de armas, e cavallos mortos, ou
tesropiados. A retaguarda dos Francezes destruio a sua
bagage.
O General Walmoden atacou uma força Franceza, de
20.000 homens, cammandados pelo Principe de Eck-
mnchl, no dia 21 pela tarde : a batalha durou até muito
depois de anoitecer, ambas as partes mantiveram as suas
posiçoens. A nossa perda he de cerca de 100 homens
mortos e feridos; a dos inimigos, segundo a conta dos
prisioneiros, excede 500. Aos 23, elles se concentraram
em Wittenberg, e depois de varias demonstraçoens, des-
tacaram repentinamente 10.000 homens para Schwerin • o
resto seguio pouco depois. Tomaram uma posição forte
entre o lago grande e pequeno. O General Tettenborn,
com 4 regimentos de Cossacos, sustentado pelo corpo de
Lutzcn e de Reiche o observou de todas as partes, e lhe
cortou as communicaçoens, elles tem ja interceptado mui-
tos correios despachados pelo Governo Francez, e tomado
muitos carros de munição. Alem disto o General Vege-
sack observa os seus movimentos, e toma em conseqüência
as suas medidas. O General Walmoden conhecendo que
naõ devia deixar passar esta arriscada manobra do inimigo;
avançou para Gabreu; porém aos 26 marchou outra vez
porá Schwerin; d'onde o inimigo ainda naõ tentou mover-
se. Os Cossacos tem tomado cousa de 100 prisioneiros
Francezes e Dinamarquezes. O Conde Kielmansegge,
Miscellanea. 473
dos Caçadores Hanoverianos, passou o Elbe com o seu
destacamento juncto a Domitz, aos 25, na manhaã. Elle
atacou o inimigo em um posto entrincheirado, e depois de
ter morto e ferido cousa de 5 0 ; tomou tres officiaes, e 100
soldados.
O dia de hontem foi notável pela derrota do corpo do
General Girard, entre Lubnitz e Belzig, pelos combinados
esforços dos Generaes Czernicheff e Hirchfelt. O inimigo
tinha marchüdo contra Czernicheff, em quanto, sem que o
soubesse, Hirschfeldt estava na sua retaguarda. Elle se
aproveitou desta situação para cahir sobre o seu flanco
esquerdo. As alturas em frente da aldea de Hagel-
berg, e a em que o inimigo se tinha formado, foram toma-
das de assalto, e retomadas varias vezes. Depois de uma
obstinada resistência o exercito do inimigo que era mui
superior era numero ao nosso se retirou, em muita desor-
dem, e nós o perseguimos com os atiradores até que anoi-
teceo.
Nesta occasiaõ o General Czernicheff atacou o inimigo
pela parte de Belzig; a sua cavallaria executou algumas
brilhantes cargas. Um regimento de Cossacos carregou
uma columna de infanteria da força de 1.000 homens, e
os destruio ou aprisionou. Naõ podemos ainda especificar
todos os officiaes que se assignalaram na acçaõ deste dia.
O General Czernicheff tomou 60 officiaes, e 1.500 solda-
dos, e uma peça d'artilheria ; o General Hirsckfeldt entre
70 e 80 officiaes, e mais de 2.000 soldados, alem de 7
peças, muitos carros carregados de munição, e quasi toda
a bagagem do inimigo. A infanteria Prussiana tinha
necessidade de algum descanço depois de taõ trabalhosas
marchas; porém os Cossacos, sob o General Czernicheff
perseguiram o inimigo vivamente. O Coronel Benken-
dorff, na tarde de 27, passou pelos inimigos, e foi ter a
Gorzke. He provável que elles naõ escapem excepto os
VOL. X I . N o . 64. 3 P
474 Miscellunea.
fracos restos do corpo do General Girard, para Magdc-
burg, ou Wittenberg.
O que mais particularmente faz honra ao corpo do
General Hirschfeldt, saõ as marchas forçadas, que elle
executou immediatamente depois desta acçaõ. As tropas
novas da ultima leva, compostas principalmentede milicias
das novas Marcas, obtiveram uma victoria de um inimigo
superior em numero, e em artilheria. Isto prova o que o
ardente patriotismo, guiado por um hábil, e activo general
pôde executar. Saxonios, Bávaros, Wurtemburguezes!
Vôs tendes mostrado a vossa coragem, em uma causa
repugnante aos desejos, e aos interesses de vossa pátria, e
supportando um jugo estrangeiro, que nunca podia existir,
se vós fosseis animados por motivos verdadeiramente
nobres e puros ! Aonde está aquelle poder sobre a terra,
a que os Alemaens, unidos para combater pela indepen-
dência, e integridade de seu paiz, naÕ possam eficazmente
resistir?
O General Thumen mostrou grande valor nas acçoens
que precederam a acçaõ de Gross Berin. Ainda que
ferido, continuou a commandar em pessoa. O General
OcRourke mostrou cm todas as acçoens com o inimigo
grande sangue frio, e talento. Depois da renovação das
hostilidades, a força do inimigo, que se oppóem á dos
Alliados no Norte da Alemanha tem perdido mais de 12.000
homens, segundo as participaçoens dos generaes tem-se
tomado 7.000 prisioneiros, dos quaes 250 saõ officiaes, in-
cluindo vários coronéis, e tenente-coroncis.
Bulelim VII.
Quartel-general, Belitz, 30d'Agosto.
O Principe Real mudou o seu qnartel-general para este
lucrar no descurso do dia.
Por todas as noticias que recebemos dos prisioneiros do
corpo do General Girard, este official foi morto na acçaõ
de 27. O General Putlitz recebeo uma violenta contusão
na espadua, elle mostrou muito valor, e talento. Todas
as horas tomamos prisioneiros, e as tropas perseguem vi-
vamente o inimigo.
O General Borstel occupa Zinna, e Juterbock, e tem
dado em todas as occasioens provas de seu zelo e sciencia.
O inimigo pareceo disposto a concentrar-se hontem, em
Eckmansdorff, e Kattenborn, entre Wittenberg e Truen-
britzen. As noticias que se receberam hoje dos Generaes
Winzingerode, e Woronzoff, ja naõ deixam duvida de
que o inimigo se retirou para o Elbe. O General W i n -
zingerode o persegue com 8.000 cavallos.
O Generel Woronzoff, que foi tomar o commando da
guarda avançada Russiana, fez um ataque contra Juter-
bock, antes de hontem, cerca de noite; com 3 a 4 mil
homens; ao mesmo tempo que o inimigo tinha ao menos
20.000 na cidade ou juncto a ella. Uma viva canhonada
pôz o inimigo em grande susto. Esta operação faz a maior
honra aos talentos do General Woronzoff, que no momento
em que a começou naõ sabia que uma forte columna se
achava em marcha para o auxiliar, em caso que fosse ne-
cessário.
Todo o exercito está avançando.
O grande exercito Russiano, Austriaco, e Prussiano,
debaixo do commando do Marechal Principe Schwart-
3 p 2
476 Miscellanea.
zenberg, desembocou da Bohemia para a Saxonia aos 22
de Agosto, tomando uma posição na margem esquerda do
Elbe. As tropas que o inimigo tinha postado no desfila-
deiro fôram forçadas. Aos 26, o quartel-general dos Al-
liados estava diante de Dresden. Começou o bombar-
deamento, e a cidade estava ja em chamas. O Imperador
Napoleaõ chegou ali aos 25, cora as suas guardas. O
exercito Francez debaixo de suas ordens immediatas,
abandonou a Silezia c Luzacia, c se aproximou ao Elbe.
O General Blucher marchou de Jauer aos 25 pela manhaã,
e o seguio com todss as suas forças.
Bulletim VIII.
O General Principe Koudaschoff, que fora mandado
como expresso pelo Principe Schwartzenberg, do campo
diante de Dresden, a S. A. Sereníssima o Principe Real;
chegou com as suas noticias esta manhaã pelas oito horas.
O general atravessou o exercito do inimigo, cruzou o Elbe
a nado, com 200 Cossacos, entre Reissa e Mcisen, e forçou
vários postos. Elle acaba de partir para Eichenwerda,
d'onde irá para Dahme, aonde se encontrará com as pri-
meiras tropas Prussianas. Na sua marcha aprisionou 6
officiaes Polacos, que trouxe com sigo: chegou ao quartel-
general de S. A. Sereníssima sem perder um só homem.
Dous dos Cossacos fôram feridos de espada.
Bulletim IX.
Quartel-general Treuenbritzen, 1 de Septembro.
S. A. R. mudou o seu quartel-general para Buchholtt,
aos 30 d'Agosto, d'onde veio hontem para aqui ás 8 horas
da manhaã.
O inimigo tinha tomado posse da cidade de Marzahu,
Selwabeck, Eckmansdorf, e Feldhum ; hontem se descar-
regaram alguns tiros d'artilheria entre elle, e os nossos
corpos dereconhecimenío. O General Baraõ Aldcrcreutz
<oi destacado por S. A. R. para ver as posiçoens do íni-
Miscellanea. 477
migo, e marchou a cavallo na dianteira, acompanhado
pelo General Baraõ Tawart, até a distancia de 400 passos
de suas baterias.
O exercito unido está todo juncto. As vanguardas Rus-
stanas e Prussianas perseguem o inimigo pela estrada de
Wittenberg. Um corpo de tropas Suecas, compostas do
regimento de hussares Mornee, 2 batalhoens de Yagers, e
4 peças d'artilheria, commandadas pelo Ajudante-general
Baraõ Ccdestrom, está juncto com a vanguarda Russiana ;
as tropas ligeiras do General Czernicheff, e Coronel Breu-
del, acossam constantemente o inimigo. Os Generaes
Tauenzien e Herschfeldt dirigem os seus movimentos pe-
los do exercito, e estaõ connexos com elle.
O Principe de Eckmuhl ainda continuava na sua posi-
ção juncto a Schwerin, aos 28 d'Agosto. S. A. R. man-
dou hoje o Coronel Bjonsturna, com uma bandeira par-
lamentaria á avançada Franceza, para entregar a capitula-
ção do Commandante de Luckau.
Bulletim X.
Quartel-general de Rodigke, 4 de Septembro.
O Principe da Coroa mudou o seu quartel-general para
Buchaoltz aos 26de Agosto; aos31 para Truenbritzen j
e hontem para este lugar.
Luckau he um daquelles pontos nas fronteiras de Sax-
onia, que o inimigo fortificou com a maior assiduidade,
durante o Armistício. Elle contou com o poder defender
por longo tempo, e naõ esperava vernos taõ cedo. Damos
ao depois a capitulação desta praça. O Principe da Co-
roa ordenou que se fortificasse a montanha vizinha, traba-
balham nisto 6000 homens. Os subúrbios seraõ arrazados,
e por este meio a guarniçaõ de Luckau se poderá defen-
der.
O terreno, que hé muito desigual, a algumas léguas de
Wittenberg, favoreceo a retirada do inimigo, e impedio
478 Miscellanea.
que obrasse a cavallaria ligeira. NaÕ obstante se força-
ram varias vezes as suas posiçoens.
Aos 30 de Agosto, o General Winzingerode tiuha o
seu quartel-general em Niemeck. O General Blucher,
tinha o seu em Treuenbritzen aos 30 d'Agosto, e no 1*. de
Septembro em Frohnsdorff.
Aos 2 de Septembro o corpo d'cste general avançou
para as posiçoens de Schwolbeck e Feldhum, estando a
sua guarda avançada em Morzanher.
O inimigo guarneceo Kropstadt, porem desfilou durante
a noite, e ao romper do dia começou a retirada a sua
retaguarda. O General Borstel o perseguio até Thie-
sen. O inimigo começou uma viva canhonada, e fogo
de mosqueteria, para cubrir a sua posição; porém os
postos avançados do General Borstel se sustentaram ante os
desfiladeiros de Kopping, a 200 passos de Thusen. A di-
visão do Coronel Krafft subio as alturas de Kroppstadt,
para sustentar o General Borstel. Ao mesmo tempo o
General Dobschutz se fez senhor das alturas da cidade de
Zahne. Conservou-se a communicaçaõ com o General
Borstel pelo posto de Wollersdorff, de que tinha tomado
posse o Major Beyer. O resto do corpo do Generel Bu-
low tomou uma posição em Marzalau.
A divisão Prussiana, debaixo do commando do Coronel
Krafft, contribuio principalmente para o bom successo da
acçaõ em Gross Berin, e o seu commandante se distin-
guio por sua intrepidez. O corpo do Principe de Hesse
Homberg tomou igualmente uma parte activa nas acçoens
que houveram, e em todas as oceasioens tem o Principe
dado provas de seu valor e actividade. Sendo o inimigo
mui apertado pela sua esquerda, pelos Generaes Woron-
zoff, Grourk, e Czernicheff, fez algumas tentativas da
parte de Coswig, porém foi sempre repulsado com perda.
Aos 3 de Septembro, Tenente-coronel Zzbacha foi
destacado pelo General Woronzoff, para tomar posse dos
Miscellanea. 479
bosques juncto a Schmilkendorf, e executou as suas or-
dens com bom subcesso. Sendo depois cercado pelo ini-
migo com força quádrupla da sua, fez-lhe ainda assim
frente, e limpou o seu caminho em boa ordem, e com
pouca perda. Schmilkendorf foi outra vez guarnecida
pelo General Woronzoff.
O corpo d'exercito Francez, que tinha avançado para
Schewerin, ainda ali estava aos 2 do corrente: e tinha
destacado uma divisão Dinamarquesa para cubrir a sua
retaguarda. O General Tettenborn continuou a incommo-
modar as communicrçoens do inimigo, e assustar os seus
postos avançados. Elle tomou, juncto a Gadebusch, um
transporte de 40 carros com mantimentos e munição, tendo
morto ou disperso a sua escolta. As conseqüências da
victoria ganhada pelo General Blucher aos 26, no Katz-
bach, saõ decisivas. O resultado daquella acçaõ, aos 30,
montava a mais de 14.000 prisioneiros, 80 peças d'arti-
lheria, e 300 carros de munição.
Toda a divisão Franceza do General Pulhod, poz as ar-
mas em terra, aos 29 ds corrente, juncto a Lowenberg á
excepçaõ de 300 ou 400 homens, que atiraram com sigo
ao Bober. O General Blucher, aos 30 d'Agosto; tinha
o seu puartel-general em Holstein, juncto a Lowenberg, e
continuava em seguimento do inimigo. O General Be-
nigsen, com o seu corpo d'exercito, chegou a Breslaw aos
30, d'onde procedeo para Leignitz, marchando na mesma
linha do General Blucher.
Bulletim XI.
Quartel-general de Juterbocb, 8 de Septembro.
O Principe Real transferio o seu Quartel-general para
Rabenstein aos 4 deste mez.
Ao momento em que S. A. R. começou a marcha, afim
de avançar com o exercito Russiano e Sueco para Roslati,
com a intenção de cruzar ali o Elbe, e de tomar a direcçaõ
480 Miscellanea.
de Leipsic, S. A. R. soube, que o inimigo, depois de fazer
uma demonstração de passar para margem esquerda do rio,
voltou repentinamente para os seus entrincheiramentos de
Teuchel e Tragun, na avançada de Wittenburgh. Esta
repentina volta deo lugar a presumir, ou que elle intentava
atacar o exercito combinado na sua passagem cruzando o
Elbe, ou fazer um rápido movimento sobre Berlin.
O Principe Real demorou a marcha de suas tropas, e an-
itunciou o que teria lugar no dia seguinte : dous batalhoens
um Sueco, e outro Prussiano, foram mandados para Ros-
lau ; debaixo das ordens do Tenente-coronel Host, Aju-
dante de campo de S. A. R., a fim de ajunctar todos os
materiaes necessários, para a construcçaõ de uma ponte.
As noticias dos postos avançados annunciaram a cada
momento, que o exercito do inimigo estava marchando
para Zahne. Este posto, occupado pelo corpo do Gene-
ral Dobschutz, pertencia ao corpo d'excrcito do General
Conde Tauenzien, e foi atacado por uma força mui su-
perior aos 4 de Septembro, pela tarde, e manteve o seu
terreno com grande valor.
Tendo o inimigo sido repulsado em vários ataques,
tornou a entrar nos seus estrincheiramentos ante Wittem-
berg.—No dia seguinte, 5 de Septembro, se renovaram os
mais sanguinolentos ataques contra Zahne, e a pezar da
coragem que mostrou o General Dobschutz, com as tro-
pas debaixo das suas ordens, foi tomada esta posição. O
mesmo aconteceo, depois de uma obstinada resistência, ao
posto de Seyda, ocupado pelo corpo de Tauenzien.
A noticia dos camponezes, dos postos avançados, e dos
agentes secretos, todas annunciávam positivamente, que o
inimigo marchava pelo caminho de Torgau. Estas noti-
cias chegavam a todas as horas, e uma só pessoa trouxe a
novidade do que o inimigo intentava marchar para Juter-
bock.
O Principe Real partio dos 6 de Septembro, ás 3 horas
Miscellanea. 481
da madrugada, de Rabenstein, e ajunctou os exércitos
Sueco, e Russiano, nas alturas de Lobessen. S. A. R. es-
perava as participaçoens do General Tauentzem, que jul-
gava mui adiantado; quando recebeo uma informação do
General Bulow, annunciando que todo o exercito estava
em plena marcha para Juterboch. O Principe Real
ordenou-lhe que atacasse immediatamente o flanco e re-
taguarda do inimigo, antes que o General Tauentzein, que
defendia os aproches da cidade fosse obrigado a succumbir
ao numero maior. O exercito Sueco, que tinha entaõ
marchado mais de duas milhas Alemaãs, partio para Ju-
terboch, que ficaca ainda distante 3 milhas Alemaãs, e
foi seguido pelo exercito Russiano, á excepçaõ da guarda
avançada, commandada pelo Conde Woronzoff; perten-
cente ao corpo do General Czernicheff, a qual continuou
em frente de Wittemberg. Principiou immediatamente
a canhonada e mosqueteria entre as tropas Prussianas e o
exercito do inimigo. Os corpos Russianos e Suecos, de-
pois de suas marchas forçadas, fôram obrigados a fazer
halto por um momento, a fim de formar-se em ordem de
batalha. O exercito Prussiano, quasi de 40 000 homens,
susteve no entanto, com uma coragem verdadeiramente
heróica, os repetidos esforços de 70.000 do inimigo, sus-
tentado por 200 peças d'artilheria. A contenda foi de-
sigual e sanguinoleta. Porem as tropas Prussianas naÕ
se desconcertaram por um só momento, e se alguns bata-
lhoens foram obrigados a ceder, por um só instante, o ter-
reno que tinham ganhado, foi somente para o fim de o tor-
nar a occupar um momento depois. Em quanto isto se
passava 70 batalhoens de Suecos, e Russianos, 10.000
cavallos de ambas as naçoens, e 150 peças d'artilheria,
avançaram eun columnas de ataque, deixando espaços
intermediários para desdobrarem. 4.000 cavallos Rus-
sianos, e Suecos, tinham avançado a toda o galope, para
sustentar alguns pontos, para onde o inimigo dirigia prin-
VOL. X I . N o . 64. 3Q
482 Miscellanea.
cipalmente o seu ataque. A sua presença começou a
fazer parar o inimigo, c a apparencia das columnas con-
cluio o resto. Em um instante se decidio a sorte da bata-
lha. O exercito inimigo tocou a retirada, a cavallaria
carregou o denodamente, com atrevimento que se assimi-
lhava a fúria ; e levou desordem ás suas columnas, que se
retiraram com muita precipitação pela estrada de Dahme.
A força do inimigo éra composta de 4 corpos d'exercito.
O do Marechal Duque de Reggio, os dos Generaes Ber-
trand e Regnier, e do Duque de Padua ; e de 3 para 4.000
Polacos, de pé e de cavallo; tudo isto debaixo do com-
mando do Marechal Principe de Moskwa. O resultado
desta batalha, que se pelejou juncto â aldea de Donnewitz,
por cujo nome será designada, foi, ja hontem pela ma-
nhaã, de 5.000 prisioneiros, 3 estandartes, 25 a 30 peças
d'artilheria, e mais de 200 carros de munição. O campo
de batalha, e a estrada porque passou o inimigo está cu-
berta de mortos e feridos. O inimigo vigorosamente per-
seguido, pareceo desejoso de proseguir para Torgau, mas
naõ chegará aoaElbe antes que soffra perdas ainda mais con-
sideráveis. Hontem pela tarde o General Wobeser, que ti-
nha sido ordenado marchar com 5.000 homens dcLuckau pa-
ra Dahme, atacou naquella cidade, aonde se tinham aquar-
tellado o Principe de Moskwa, e os Duques de Reggio ePa-
dua parte do exercito inimigo, que intentava ir para Dres-
den : e tomou 2.500 prisioneiros. O Major Helwig cora
500 cavallos avançou paraSweitnitz e Hertzberg, e atacou
uma columna do inimigo pela noite, tomando 600 pri-
sioneiros, e S peças d'artilheria. As tropas ligeiras tra-
zem mais a todo o momento : e o General Regnier per-
maneceo por longo tempo exposto ao fogo dos nossos ati-
radores, na situação de um homem que deseja a morte.
Nos avaluamos, que o inimigo perdeo, até este momento,
em mortos, feridos, e prisioneiros, de 16 a 18 mil homens,
mais de 50 peças d'artiJheria, e 400 carros de munição.
Miscellanea. 483
A perda do inimigo, em mortos e feridos deve ter sido
immensa; metade da escolta do Principe de Moskwa foi
morta : o Marechal Duque de Regio carregou em pessoa
a infanteria do Conde Taueutzein. A perda das tropas
Prussianas he grande; e monta a 4 ou 5 mil homens mor-
tos ou feridos. Com tudo os resultados do dia devem con-
tribuir para a consolação de todo o verdadeiro patriota,
que achará, que o triumpho da causa da sua pátria está se-
gura pela morte destes valorosos homens. As tropas Sue-
cas e Russianas perderam pouco.
Os corpos andavam àsenvejas uns dos outros, quem exce-
deria em coragem e devoção. O heróico exemplo que
mostrou nesta occasiaõ o exercito Prussiano, he calculado
para existir para sempre nos annaes de fama militar, e para
inspirar a todos os que pelejam pela independência da
Alemanha. As tropas Russianas e Suecas, que tomaram
parte na batalha, apoiaram valorosamente os esforços de
seus irmãos em armas.
O General Bulow mostrou o sangue frio e valor de
guerreiro, que naÕ tem outro objecto mais do que a gloria
de seu Rey e defensa de sua Pátria. Os officiaes debaixo
de seu commando imitaram o seu honroso exemplo. O
Principe de Hesse Homberg, Generaes Oppen, Borstell,
e Thumen e o Coronel Kraft, se distinguiram da maneira
mais brilhante.
O General Conde Tauentzien continou a dar provas de
seus talentos e sangue frio. Durante quasi toda a acçaõ
elle sustentou os mais vigorosos e repetidos ataques do
inimigo, e tem sido de grande auxilio para o bom successo
da contenda, tanto pelo seu destemido comportamento,
como pela escolha de suas posiçoens.
O General Russiano Conde de Manteuffcl, se distinguio
carregando à frente de sua brigada. Os General Woron-
zoff, Czernicheff, Benckendorff, e Hirschfeldt, tendo sido
postados muito na vanguarda na ala esquerda do inimigo,
3o 2
484 Miscellanea.
naõ puderam ajudar na batalha; porem contribuíram es-
sencialmente para o nosso bom successo, pelas posiçoens
que occuparám.
O Marechal Conde Stedink, e General Baraõ de Win-
zingerode, os Generaes officiaes, e soldados debaixo do seu
commando, sentiram que a precipitada retirada do inimigo,
quando elles se aproximaram, lhes naõ desse occasiaõ a
completar a sua destruição, por um ataque simultâneo. O
vento, e as grades nuvens de poeira, impediram por muito
tempo que os exércitos Russiano e Sueco se distinguissem
um ao outro, naõ obstante o marcharem de concerto, e so-
bre a mesma linha.
O Principe Real tem constantemente andado acompa-
nhado pelo seu estado maior ; o General baraõ de Adler-
creutz naõ o deixou, até que recebeo ordens de marchar
para a direita do exercito Prussiano, com varias peças
d'artilheria, debaixo da direcçaõ do Coronel Cardill. Este
General preencheo, exactamente as intençoens de S. A.
R ; e diariamente adquire novos direitos á sua estimação
e amizade.
Elle está também mui satisfeito com o zelo do General
Baron Tawast, e do General Conde de Lowenbjelm. Os
Generaes o baraõ de Suchtelen, de Vincent, de Kruse-
mark, e Pozzo di Borgo tem constantemente servido junc-
to á pessoa do Principe Real.
Hoje se cantou um Te Deum solemne em todos os corpos
do exercito, pelas vantagens, que ganharam as forças com-
binadas, desde o principio das hostilidades.
Entre os prisioneiros ha um grande numero de Saxonios
que pediram que os deixassem formar em uma Legiaõ
Saxonia, e pelejar a bem da independência dos Soberanos
e da liberdade Germânica. O Principe Real condencen-
deo com a sua offerta, persuadido de que a devoção destes
valorosos homens séra da satisfacçaõ das Potências Alliados.
Miscellanea. 485
Bulletim XII.
Quartel-general de Juterboch, 10 de Septembro.
Cada dia nos dá novas provas que as conseqüências da
batalha de Dennewitz, saõ de maior importância do que se
suppunha ao principio. Ja se calcula a mais de 10.000
prisioneiros, 80 peças, mais de 400 carros de munição, tres
bandeiras, e um estandarte tomados.
Depois que o General Wobeser poz em fugida, o exer-
cito do inimigo em Dahme, continuou este a retirar-se para
Torgau. As nossas tropas ligeiras naÕ desistiram de o
perseguir, tomando-lhes prisioneiros, carros de munição e
bagagem. O inimigo tem destruído as pontes do EIster,
nas vizinhanças de Annaberg, e Hertzberg.
Na verdade, a cavallaria tem cruzado aquelle rio, porém
he necessário concertar as pontes, antes que passe a artilhe-
ria. Tomaram-se 800 prisioneiros juncto á ponte de Tor-
gau, e alguns batalhoens, que acharam que éra impossivel
chegar a Torgau voltaram para a direcçaõ de Muhlenberg,
e tomaram a estrada que vai para Dresden.
O Marechal Principe de Eckmuhl sahio de Schwerin na
noite de 2 para 3 de Septembro, com todo o seu exercito.
Considerando a forte posicaõ em que elle estava, este mo-
vimento parece ser conseqüência dos progressos que faz o
exercito alliado da parte da Saxonia. O inimigo teve tem-
po sufficiente para pôr tudo prompto para a sua retirada,
de maneira que naõ pudemos alcançado com a nossa artilhe-
ria e bagagem. Alem disto levou-nos tempo de dianteira,
antes que os corpos dos Generaes Walmoden, e Vegessack,
o primeiro dos quaes estava etn Crewitz, e o outro juncto
a Warin, pudessem marchar.
O corpo d'exercito, commandado pelo Principe de Eck-
muhl, marchou em duas columanas pelas estradas de
Gadebusch e Rhena, e fez halto a meia milha de distancia
de Ratzburg. A divisão do General Loison se retirou na
mesma direcçaõ de Wismar, por Gravensrauhlentorf para
*86 Miscellanea.
Scouberg. Neste lugar as tropas Dinamarquezas se se-
pararáram das Francezas. Estas marcharam para Ratz-
berg, e aquellas para Lubeck, aonde deixaram uma guar-
niçaõ; e ao depois se acamparam mais adiante em Oldes-
loke. Todo o exercito Francez se retirou, cruzando o
Steignitz, em cujas margens se acampou, destruindo todos
os meios de atravessar aquelle rio. A perda do inimigo
nesta accelerada retirada excede 1.000 homens, dos quaes
mais de 600 tem ficado prisioneiros. Os Cossacos do
corpo de Lutzow e Von Reicbe, com a cavallaria Han-
seatica, fizeram vários ataques na retaguarda do inimigo.
Do lado do General Vegesack, foi o inimigo perseguido
até debaixo das peças de Lubeck. O Major Amim, que
commandava [a cavallaria Hanseatica, com graniu- habili-
dade, foi ali morto por uma bala d'artilheria. Os Yagers
de Mecklanburg atacaram um esquadrão Dinamarquez nas
vizinhanças de Dassow, e lhe causaram perda considerável.
Os Dinamarquezes tem commettido muitos actos de
violência em Mecklenburg. O mais notável heque elles
saõ commandados por um Principe de Hesse, cuja familia
esta declarada pelo Imperador Napoleaõ ter perdido as
suas possessoens; e que com tudo serve aquelle Monarcha,
debaixo do commando do Principe de Eckmuhl.
Wittenberg esta bloqueado pelo General Czernicheff.
Um numero de tropas sufficiente esta observando Magde-
burgo, na margem direita do Elbe. O resto do corpo do
General Girard se escapou para aquella fotaleza, da mar-
gem esquerda do Elbe. As sortidas da guarniçaõ se limi-
tam agora a cortar lenha nos matos de Biederitz, o que se
faz unicamente para destruir aquelle bosque, que pertence
a El Rey de Prússia.
Os postos avançados do corpo do General Tauenzien
estaõ em Enflenberg, Elstewerda, e Rutland ; e as partidas
de reconhecer se adiantam até Hoyerswerda, e vizinhanças
de Grossen Hayn. As tropas ligeiras Russianas estaõ ao
Miscellanea. 487
longo do Elbe até Mecklenberg, e encerram Torgau a
pouca distancia. Destacamentos Russianos e Prussianos
vaõ até as vizinhanças de Bautzen, e se encontram com
os corpos dos generaes Benigsen e Blucher.
Depois destas favoráveis acçoens, o exercito combina-
do se moveo da Bohemia para a Saxonia, e aos 5 de Sep-
tembro, marchou pelo caminho da Peterswalda e Alten-
berg, contra Pirna e Dippoldiswalda. Grandes destaca-
mentos, sustentados por corpos numerosos de reserva, ti-
veram ordem de ir para a retaguarda do inimigo, e cor-
tar-lhe as suas communicaçoens. Durante este tempo o
Imperador Napoleaõ foi outravez para a Silezia, com as
suas guardas e algumas tropas mais. O Principe de
Moskwa devia cubrir o seu flanco esquerdo ; e ao depois
devia derrotar o exercito commandado por S. A. R. e
voltar parte de sua força contra o Neisse. As occurren-
cias do dia 6 estragaram este plano. O exercito do Mare-
chal Principe de Moskwa está disperso ; tem perdido duas
terças partes de sua artilheria; todas as suas muniçoens e
bagagem, e acima de 20.000 homens. O Imperador Na-
poleaõ voltou para Dresden. O exercito do General Von
Blucher o segue ; e com toda a probabilidade lhe causará
uma considerável perda. O exercito unido do Norte da
Alemanha está portanto em connexaõ pela sua ala esquer-
da, com o exercito da Silezia. O General Benigseu
segue todos estes movimentos.
RUSSIA.
S. Petersburgo, 21 de Julho.
Ao momento em que os beroes do Norte; coroados com
os louros da Victoria, descançávam entre as margens do
Elbe e do Oder, depois dos penosos trabalhos a que se
tinham sugeitado, durante o curso de uma campanha,
queserásempre memorável; os verdadeiros filhos daHespa-
nha, na residência dos Monarchas Russianos, se ajuncta-
48& Miscellanea.
tam em torno do estandandarte de seu paiz, e prestaram o
juramento de -fidelidade a seu legitimo Soberano. Anhe-
lando ardentemente unir-se aos seus compatriotas, e re-
conquistar a liberdade e independência de sua pátria. Aos
7 deste mez teve lugar em Zarskoselo a ceremonia da
bençaõ das bandeiras do regimento Imperial Hespanhol de
Alexandre. O Ministro Plenipotenciario, o Cavalheiro
Bardaxi Azara, de acordo com o Ministro da Guerra,
Principe Gortscbakoff, escolheram este dia em memória
da brilhante victoria, ganhada aos 7 de Julho, de 1808,
pelos Hespanhoes, juncto a Baylen. A ceremonia foi
conduzida na seguinte ordem :-—
O novo regimento Hespanhol, consistindo em 1.300
homens, e divido em tres batalhoens, se formou na
melhor ordem na grande praça de Sophia. O Principe
Gortschakoff, logo que chegou lhes passou revista. Es-
tando feitas todas as disposiçoens necessárias, e tendo
chegado a Imperatriz, começou a cerimonia da bençaõ
com as oraçoens do custume. Depois apresentáram-se as
bandeiras ao commandante deste regimento, o Coronel
0'Donnell, e a dous officiaes do mesmo regimento. O
corpo prestou entaõ juramento de fidelidade a Fernando
VII. e á constituição, segundo a forma prescripta. Depois
se cantou o Te Deum ; e se fez o serviço Divino, acabado
o qual, o Sacerdote officiante recitou a oraçaõ pela vida de
S. M. o Imperador, e toda a sua Augusta familia. Os
guerreiros Hespanhoes penetrados da maior gratidão, fize-
ram resoar os ares com gritos de " Viva o Imperador, vi-
va a sua Augusta familia." Depois o Ministro Hespa-
nhol fez a estes guerreiros uin discurso, em que trouxe á
sua lembrança de maneira mui viva, as desgraças de sua
pátria, seus esforços para repellir a tyrannia, o bom suc-
cesso que tinha ja coroado o seu valor, e a perseverança,
que naõ podia deixar de completar o seu triunipho, e exi-
gir um eterno monumento de sua gloria, e lançar os funda-
Miscellanea. 489
mentos de sua prosperidade futura. N a conclusão deste
excellente discurso, a que as circumstancias agora d e r a m
maior interesse, exclamaram todos estes guerreiros,
<• Viva Fernando V I I . " e desfilaram na presença de S . M .
a Imperatriz, e do retrato de seu Soberano. Esta festi-
vidade deo occasiaõ a reflectir em varias circumstancias
extraordinárias. N o anno de 1812 estes mesmos H e s p a -
nhoes, arrancados d e suas casas, e de envolta com uma
confusa mixtura de differentes naçoens da Europa, fôram
atirados por Napoleaõ ao território de Russia: e este anno
se viram apparecer no meio dos Russianos, naÕ como ini-
migos; mas como outros tantos amigos e alliados. Assim
a Providencia, em seus impenetráveis decretos, os t r o u x e
de uma extremidade do sul da Europa até os paizes do
Norte; para prestarem nestas regioens o j u r a m e n t o d e fide-
lidade a seu legitimo Soberano.
COLÔNIAS HESPANHOLAS.
Recebemos gazetas de Buenos-Ayres, e noticias até 10 de Julho:
naõ trazem mais nada de importante, senaõ o que refere uma gazeta
extraordinária de Buenos-Ayres de 19 de Junho; em que se diz, que
o General Carrera, havendo tomado Yercas, Buenos, e San Cinlas,
tomou também a cidade de Concepcion, aos 25 de Mayo; repul-
sando o exercito de Lima.
Os revolucionistas tinham ainda no cerco de Montevideo 7 a
8.000 homens; mas duvidava-se da fidelidade de seu chefe, o General
Artigas; suppondo algumas pessoas, que se a patente, que lhe man-
dou ajuncta de Sevilha, lhe chegasse á maõ antes d'elle se ter de-
clarado a favor da insurrecçaõ, seria este general agora um activo
partidista dos realistas.
Chegou a Inglaterra o navio de guerra Montague, com noticias
do Rio de Janeiro até 6 do passado, e do Rio da Prata até os fins de
Junho. O seguinte saõ extractos de cartas:—
" Rio de Janeiro, 4 de Agosto.
« Eu deixei Montevideo aos 25 de Junho, cm conseqüência do aperto
do cerco. As tropas de Buenos Ayres tem estado por mais de 12
mezes diante daquella praça. Quando eu sahi; mais de 4.000 ha-
bitantes tinham morrido, uns de suas feridas, outros por falta de
mantimento, e pelas moléstias, que se seguem a tal estado das cousa».
Aos 23 do mez passado chegou a este porto um transporte com 300
homens, que pertenciam a ura comboy que traz 1.500, <• saliiram de
Cadiz para Monte Video; aonde teraõ chegado a este (rmp... 15
dias depois de sahir este comboy de Cadiz se lhe devia seguir oul/o
Miscellanea. 493
com 4.000 homens; de maneira que provavelmente, no presente
mez se uniraõ em Montevideo 9.000 homens em armas, incluindo a
guarniçaõ. Esta força indubitavelmente será bastante para fazer le-
vantar o assedio, e emprehender operaçoens offensivas contra Buenos
Ayres; e com tudo eu naõ julgo que tal exercito será sufficiente
para restabelecer a obediência, naquelle Vice Reynado, posto que
1.000 homens, no principio da revolução teriam sido bastantes para
a supprimir.-'
O Montague traz a bordo uma grande quantidade de espécie;
dizem que chega o computo, a 1-.000.000 de dollars ou patacas
Hespanholas, alem de prata e ouro outro milhaõ.
DINAMARCA.
Elsinour, 7 de Septembro.
Aos 2 do corrente commeçáram as hostilidades directas. entre a
Dinamarca e Suécia. Um comboy de vasos mercantes, acompanhado
por alguns navios de guerra Suecos, partiram de Malmoe para passar
o Sund. O Commandante Jessen, teve ordens de fazer uma tentativa
para os fazer pagar o uzual direito em Cronenburg, segundo a prac-
tica. Logo que a divisão deste commandante tomou uma posição
conveniente para este fim, uma fragata Sueca, e 9 barcas canhoneiras
deram fogo a bandas inteiras. Ao mesmo tempo um navio de linha
Sueco, e duas escunas chegaram do sul. O commandante, vendo os
Suecos determinados a passar sem pagar os direitos, tomou uma po-
sição no lado Dinamarquez. e trabalhou por mandar adiante alguns
vasos, que cortassem os navios para fora do comboy. A força unida
do vento e maré, naõ admittia que as barcas canhoneiras obrassem
eíficasmente; ao mesmo tempo que ajudava os Suecos a passar rapi-
damente. Com tudo um navio mercante Sueco foi lançado á costa
Sueca, aonde se queimou : uma barca canhoneira Sueca recebeo 30
balas; porém em geral esta acçaõ naõ teve conseqüências, porque
o Commandante Dinamarquez tinha ordens expressas de esperar até
que os Suecos começassem a fazer fogo.
ALEMANHA.
O Imperador de Áustria unio-se com os Alliados contra a França,
e, o que mais he, assumio o nome de Imperador da Alemanha. A
p. 342 publicamos o manifesto de declaração da guerra,papel mui bem
escripto, eque se attribue á penna do celebre escriptor Mr. Ghent.
Posto que esta producçaõ mostre claramente o comportamento justo e
decidido,que a Áustria adoptou em sua mediação, com tudo está
bem longe de seguir os passos dos de mais Alliados; porque he visi-
vel, ein todo o seu theor, certa contemplação a respeito do Gover-
494 Miscellanea.
nante da França, que se naõ encontra nos papeis públicos dos outros
Alliados: por exemplo; conserva-se sempre o titulo de Impendor
dos Francezes, chama-se a Napoleaõ, mais de uma vez o maior capi-
tão da nossa idade; declara-se que o Imperador d "Áustria naõ tem
contra elle nenhuma razaõ de inimizade pessoal, &c.
Tem alguns explicado isto, pelas differentes vistas dos Alliados,
porque, ao mesmo tempo que se presume, que o Imperador de Hm-
sia e Rey de Prússia, e talvez a Inglaterra, tem em vista a annihi-
Iaçaõ, ou ao menos uma considerável diminuição do poder do
actual Governante da França, julgam que a Suécia se contentará
com poder fazer uma paz taõ favorável, que recebendo algum aug-
mento de território, segure ao mesmo tempo o seu commercio ma-
rítimo, contra os ataques que tem recebido do chamado systema
continental da França ; e suppoem também mais, que a Áustria ape-
nas deseja repellir os Francezes, ao ponto de que naõ tenham a asecn-
dencia, que até agora tem conservado na Alemanha, e nada mais.
Algumas pessoas.q ue asseveram ter tido bons meios de informação;
estabelecem como facto, que o seguinte foi o fundamento das nego-
ciaçoens entre Áustria e França.
A Áustria pedio:
1. A restituição, para si, das provincias Illiricas: 2. Que se eva-
cuassem as fortalezas Prussianas: 3. A restituição de Dantzic á
Prússia: 4. Quesedeclarassem independentes as cidades de Ham-
burgo, e Lubeck ; 5. A extincçaõ da confederação do Rheno : 6.
Quese abandonasse o Gram Ducado de Warsovia, e que se rcstiluis-
sem as suas provincias á Áustria e Prússia.
O Imperador Francisco prometteo aos Alliados; que, se o Go-
verno Francez lhe naõ desse uma resposta cabal, antes do dia 10 de
Agosto, elle declararia guerra á França. Cré-se que a Áustria naõ
esperava uma ruptura, porque tinha razaõ de pensar, que poucos
dias antes de lindar o armistício, a França entraria, pelo menos, em
explicaçoens. Por outra parte he racionavel o presumir, que Na-
poleaõ naõ julgasse que seu sogro iria taõ longe com suas ame-
aças; o certo he que lhe mandou as seguintes.
Proposiçoens da França.
I. A restituição das provincias Illiricas, excepto a Istria : 2.
Abandonar o Gram Ducado de Warsovia, com tanto que se achasse
uma indemnizaçaõ para o Rey de Saxonia, de 500.000 almas: 3.
Evacuar as fortalezas Prussianas, e entregar Dantzic á Prnssia, com
tanto que as fortificaçoens de Dantzie fossem arrazadas.
Estas proposiçoens fôram regeitadas tanto por Áustria tomo pelos
Alliados; e com tudo se crê, que se fosse concedida a Istria, a Curte
de Vienna estava disposta a trabalhar por persuadir os Alliados, a que
concordassem nos demais termos.
Miscellanea. 495
Abertura da campanha na Alemanha.
Findo o armistício, se notificou a renovação de hostilidades, em
uma carta do General Barclay de Tolly, ao Major-general do exercito
Francez. vid. p. 445.
0 exercito Alliado se podia considerar com a esquerda em
Bohemia, tendo o quartel-general em P r a g a ; o centro na Silezia,
com o quartel-general em Breslau : a direita em Prússia; tendo
o quartel-general em Berlin. Na esquerda se achavam os Impe-
radores de Russia, e Áustria, e Rey de Prússia; no centro com-
mandava o General Blucher, e a grande reserva Russiana, o Ge-
neral Beuigsem ; a direita he dirigida pelo Principe da Coroa de
Suécia.
Os Alliados começaram na offensiva, e vendo que as tropas Fran-
cezas tinham atacado o seu centro, a diieita dos Alliados entrou na
Saxonia pelos desiiladeiros de Bohemia, aos 21 d'Agosto, e ameaçou
tomar por assalto Dresden, que he o quartel-general de Napoleaõ,
e o deposito principal do exercito Francez. Esta manobra bem
pensada e executada com promptidaõ, fez recolher Bonaparte a
Dresden, aliviou o General Blucher, que commandava o centro dos
Alliados; e habilitou o Principe da Coroa a marchar de Berlin para
Saar inunde.
Havendo os Alliados conseguido este fim tornaram a sahir das
vizinliancas de Dresden para Bohemia; e os Francezes, tomando
isto por uma fugida desconcertada, mandaram alguns corpos em
seu alcance, Napoleaõ voltou outra vez contra o General Blucher,
e mandou a Ney, que lhe sustentasse a esquerda atacando o Prin-
cipe da Coroa. Tudo sahio errado aos Francezes; p o r q u e ; Ney,
foi derrotado pelo Principe da coroa em Dennewitz; e em vez de
sustentar, com uma victoria, a esquerda de Napoleaõ, foi obrigado
a retroceder ate T o r g a u : Vandamme que na direita perseguia
os Alliados foi feito prisioneiro nosdesfiladcirosde Bohemia, e Bona-
parte, assim desconcertado na esquerda e direita, tornou a recolher o
seu centro - entrou segunda vez em Dresden, aos 6 de Septembro, e
deixou desembaraçado o corpo de Blucher, que se adiantou em
proporção até Bautzen; derrotando o Duque de Tarentum no
Bober aos 26 e 27 d'Agosto; chegando ao Queiss, pondo-se em
communicaçaõ directa, pela direita com o exercito do Principe da
Coroa, e pela esquerda, com o grande exercito de Bohemia.
Oestado cm que ficavam os exércitos, ao tempo das ultimas noticias,
era este : na esquerda dos Alliados se achavam estes interceptando 1
as estradas de Dresden para a França, por Chemnitz : o exercito do
Principe da Coroa mandava partidas avançadas até Leipsic ; e o
General Blucher apertava a frente dos Francezes. Nestes termos,
se Bonaparte naõ puder derrotar inteiramente um destes tres corpos
496 Miscellanea.
epuchar adiante, o que naõ he mui natural; porque umaaTançadao
expõem sempre a um ataque de flanco ; ou ha de dispor-se a ser blo-
queado em 1 r HIIII - ouhade abi ir o seu caminho aponta da espada,
largar Dresden, e vir estabelecer-se no Rheno ; nesse caso,
se mudará o theatro da guerra, para as fronteiras de França.
He mui difficil saber ao certo o numero dos combatentes de cada
uma das partes; porém, de tudo quanto se tem publicado a este res-
peito, julgamos, que por aproximação se pôde chegar ao seguinte
resultado, das forças combatentes Francezas e Alliadas.
Exercito Francez.
Dresden. Bonaparte commanda aqui em pessoa tendo debaixo
de suas ordens immediatas Murat (Rey de Nápoles,) Berthier (Prin-
cipe de Neufchatel), Ney (Principe de Moskwa).
As guardas commaudadas por Morlier (Duque de Treviso.) 60.000
I o . Corpo; Vandamme - 20.000
«<-. Do. Victor (Duque de Belluno) - - 20.000
6". Marmont (Duque de Ragusa) 20.000
U°.— Marechal St. Cyr, 20.000
Cavallaria; Latour Maubourg - 40.000
Guarniçaõ de Dresden, General Durosnal 20.000
200.000
Exercilo dc Silesia. Commandado por Macdonal Duque de Tarentum.
3 o . Corpo ; pertence a Ney - 20.000
S". Corpo; Conde Lauriston 80.000
11». pertence a Macdonald que he commandante chefe 20.000
20 000
Cavallaria *
80.000
Luzacia. Mantendo os desfiladeiros de Bohemia, em Rumbcrg,
Gabei, Friedland, e Renkenbach Principe Poriatowski,
(Polacos) 20.000
Exercito de Prússia, Commanda Oudinot (Duque de Regio).
4». Corpo; Conde Bertrand 20.000
<,... , Conde Regnier 20.000
I2* . pertence a Oudinot que commadaem Chefe 20.000
10
Cavallaria' - - *000
70.000
Naõ se sabe com quem estaõ o 9*., 10*., e 13°., corpos,
lalvez estaõ com Angereau, que marcha de Bamberg
para a Bohemia, e naturalmente chegarão a 60.000
Baião EWe. Este exercito he commandado por Davonst
(Principe d'Eckmubl) Era composto de 5 divisoens, cada
Miscellanea. 497
uma das quaes consiste geralmente de 7 a 10.OCO homens,
alem de um corpo de Dinauiarquezcs de 13.000 homens,
chamaremos portanto tudo isto • 55.000
Itália. Naõ se tem averiguado a força deste exercito,
mas o menos parece ser - 60.000
Bavária. O exercito Bávaro he commando pelo General
Wrede, está em Branau, e ameaça Liutz, Vienna, e a linha
do Danúbio, avalua-se em 30.000
Alem disto ha, o 2 9 . exercito de reserva sob o General
Kcllermunn (Valray)
Gram total 570.000
200.000
Exércitos Alliado s na Silesia - - 100.000
Do. cm Prússia, 120.000
Tropas Alliadas nos bloqueios de Dantzic, Stettin, Cus-
trin, &c. 60.000
Reserva Russiana, sob Benigsen - 60.000
FRANÇA.
Publicamos neste numero as relaçoens officiaes do exercito; que,
ja desde as derrotas da campanha passada na Russia, deixaram de
apparecer em Bulletims; e alt'm disto, (contra o nosso custume
usual) publicamos algumas noticias particulares, sobre o mesmo as-
sumpto, extrahidas das gazetas Francezas. Obramos assim, para
que os nossos Leytores tenham occasiaõ de observar as omissoens,
que se encontram nas relaçoens officiaes Francezas; e as grosseiras
exaggeraçoens de suas noticias particulares; tudo dirigido a con-
servar os Francezes na perfeita ignorância de quanto lhes diz res-
peito, ou importa ao interesse publico de sua naçaõ.
Acima, no artigo Alemanha, dissemos qual fôra o resultado da
mediação de Áustria; e he evidente que o Governo Francez naõ
deseja ceder a menor parte dos territórios e grandeza, que tem ad-
quirido á custa de todas as mais Potências Europeas; as quaes estaõ
todas persuadidas, que naõ ha para ellas mais salvação do que a hu-
miliaçaõ deste monstruoso poder da França.
A questão somente he - se os meios da França actualmente lhe daõ
bem fundadas esperanças de se oppor aos Alliados,e alcançar a vic-
toria final. Somos de opinião que naõ; e julgamos, que, desde que
Nar.oleaõ assuraio as rédeas do Império Francez, nunca o seu poder
se vio mais arriscado. Dos Estados independentes somente a Dina-
marca se acha de sua parte; mesmo essa, se os Francezes forem
obrigados a retirar-se da linha «Io Elbe, se verá obrigada a tomar
entro partido.
O Relatório do Ministro da Guerra e n França, que publicamos a
p. 361 desde N"., propondo uma leva de 30.000 homens, para os ex-
ércitos destinados contra a Península, fiz uma importante confissão;
e hc, que " se naõ pode dissimular a nere.ssidude de mand »r refor-
ços aos exércitos de Hespanha;" e por outra parte, o expositoi dos
motivos do Scnatus-Consu Itum, que decretou ésla levo, confessa
(vide p. 26i) " que a prudência naõ |-erimlle* que se faça alteração
al"uma da parte da Alemanha:" donde temos; qne, se, naõ ob-
stante essa prudência, forem os exércitos Francezes derrotado», teraõ
elles a maior difficuldade em se restabelecer, ou procurar os reforços
necessários.
As o-azetas de Londres acabam de publicar um mui cuiioso docu-
mento, que veio de Moskow ; e se diz que fora achado entre os papeis
que ali ficaram na casa que oecupou o Major-general do exercito
Francez, quando esteve naquella cidade. Contem uma couta mui
Miscellanea. 499
especificada do numero de tropas, nomes dos commandantes Fran-
ezes. &c. Por aqui se vê, que os Francezes entraram na Russia
com um exercito de 500.000 homens; e somente na batalha e
Borodino perderam 56.000.
PORTUGAL.
A,ou. mole em pedra dura, tanto ddalè que fura. ( Com que se-
nhores Godayauos, ja naõ he crime de lesa magestade, o dizer que
os contractos Reaes se devem por a lanços a quem mais der ? • Com.
que ja se podem seguir as doutrinas do Correio Braziliense mais
neste pontinho ? Ora deixem estar, que naõ ha de ser isto só que
havemos de ver reformado se Deus nos der vida. Nós achamos
ainda assim falta, com este modo de fazer o primeiro avizo para ic
por o contracto a lauços; mas em fim pôz-se a lanços, eis aqui um
ponto ganho ; esc os capitalistas em Lisboa, entrarem a gritar, que
querem os lanços todos dados a um tempo, e em carta fechada, na
presença da juncta • e que o contracto seja arrematado ao que mais
offerecer; taõ bem se ha de ganhar este outro ponto; e assim ja que
afortuna quer que exista o monopólio; ja que as pessoas que em
Portugal entendem de economia politica, naõ tem ainda nas maté-
rias de governo a ascendência, sobre os ignorantes, que éra justo
que tivessem ; ao menos tire o erário o maior partido que he pos-
sivel da existência deste monopólio : arremate-se a quem mais der
em beneficio do thesouro publico; e naõ se atormentem com res-
tricçoens os narizes dos pobres, para fazer com que tal ou
tal contractador fassa uma casa de milhoens, com que viva no luxo,
c superfluidade; e o que peior he; com que peite os ministros, c
homens públicos para que o protejam. Este passo devem os pa-
triotas considerar, como mais uma pluma uocapacetc vktorioso dos
vassallos fieis, dos verdadeims amigos da pátria; eque por con-
seijuencia marca mais um gráo de humiliaçaõ nos Godoyanos.
Miscellanea. 501
O Visconde d'Asseca.
A. p. 341 deste N°. publicamos a sentença de justificação (leste
fidalgo na Rclaçaõ de Lisboa. A qual yem assignada por Guerreiro,
Ferraõ,e Lemos. Naõ sabemos nada do comportamento do Visconde
durante o tempo que elle servio os Francezes, para que possamos
nem se quer conjecturar que elle éra criminoso; porque, quanto
ao dizer que o Marquez d'Alorna, Conde da Ega, e outros fid.ilgos
se tornaram rebeldes contra seu soberano, e traidores contra a Pá-
tria, dahi naõ se segue nada contra a classe dos fidalgos; os crimes
pessoaes naõ devem nunca passar á classe a que pertence o indi-
víduo; outros saõ os defeitos, que achamos nesta classe de fidalgos
Portuguezes.
Mas ainda que tivéssemos alguma cousa a dizer, o que realmente
naõ temos, contra o Visconde; bastava o ler elle sido absolvido j u -
dicialmente por uma sentença, para ser uma injuria atroz, o fallar
delle como culpado de crime de lesa magestade.
Naõ he portanto com o Visconde, mas com os seus juizes, que o
havemos por agora. Com que, Senhores Guerreiro, Ferraõ, e Lemos
assentam Vossas Senhorias, que deviam alegar para a obsolviçaõ do
Visconde, os officios do Senhor Conde de Funchal em Londres? Se
ha coúsa que deva doer a todo o patriota, he ver que os juizes se
fazem homens de partido; porque a imparcialidade, hc (a primeira
qualidade do j u i z ; e sem ella naÕ pôde a magistratura ser res-
peitada.
A presumpçaõ contra o Visconde resultava, de ter elle servido
no exercito Francez, que andara pela França, Alemanha, Russia,
&c.; óra que pôde saber disto o Conde de Funchal, que esteve todo
este tempo em Londres ? Ora essa he boa ; cousa nenhuma. Entaõ
para que allegáram com os seus officios estes juizes ? para que
fallar em uma testemunha, que nem vio nem ouviu nada do reo?
l'v ! porque convém aos amigos dos Roevides atirar com elles diante
do publico a torto, e a direito, como se o mundo se naõ pudesse
nieclier sem o auxilio destes poderosos Atlantes.
Isto lieoijuc se chamam trapaças politicas dos homens que dese-
jam figurar, e apparecer em tudo, que se faz em publico ; e o cus-
tume tem ja feito quese passe por essas pelolicassein grande enfado;
mas realmente he cousa séria ver que juizes, ou magistrados, se
prestem, ao porem de dar uma sentença, a servir estes fins «lc par.
tido. Se o Conde de Funchal se intrometteo por abelhudo e mete-
diço a escrever officios sobre o Visconde de Asseca, de cujo com-
portamento, na Alemanha e Russia, elle naõ podia saber nada de
sciencia própria em Londres, e portanto naõ podia ser testemunha em
tal caso ; similhantes officios naõ tinham lugar no processo do Vis-
502 Miscellanea.
conde, nem tinham os juizes que falhar nelles em seu aecordatn,
salvo se fosse para os declarar irrelevantes.
E se naõ, supponhamos o caso contrario ; isto he, que o Conde do
Funchal aqui de Londres lhe dava na cabeça dizer nos officios, que o
Visconde d'Asseca, se tinha comportado na França ou na Russia
como traidor j naõ alegaria o advogado do Visconde, que o teste-
munho do Conde de Funchal se devia regeitar como sendo de teste-
munha incompetente, que nada sabia de scieucia própria > Pois
se isto havia ter lugar para o caso de condamnaçaõ ; o mesmo se
deve dizer no caso de absolvição.
Perdoem suas senhorias este pequeno lembrete ; mas assim como
naõ conhecemos um character mais respeitável na sociedade doque
he um magistrado; assim também naõ podemos soffrer que algum
individuo na magistratura, odesdoure, serviudo a partidos, coinehe
neste caso, mettendo os Roevldes pelos olhos á gente, sein necessi-
dade, nem motivo.
O General Moreau.
Este infeliz general tinha chegado da America, e entrado no ser-
viço de Russia, como major-general do exercito Alliado, quando na
batalha de Dresden aos 27 de Agosto, teve ambas as pernas feridas
por uma bala de peça, estando de cavallo, e fallando com o Imperador
de Russia; a bala quebrou-lhe primeiro uma perna, atravessou o
cavallo, e ferio-lhe depois a outra perna; ambas foram amputadas,
mas o general morreo no dia 4 de Septembro. A seguinte be a
copia da ultima carta que elle escreveo a sua mulher:—
" MINHA CHARA AMIGA !—Na batalha de Dresden, ha tres dias,
uma bala de peça me levou ambas as pernas. Este velhaco de Bo-
naparte he sempre feliz.
" Fez-se-me a amputação o melhor que foi possivel. Ainda que
o exercito tem feito um movimento retrogrado, naõ hc porque
encontrasse revezes, mas por se achar espalhado, e a fim de se
aproximar ao General Blucher.
" Desculpa a má escripta. Eu te amo e te abraço de todo o meu
coração.
" Encarrego a Rapatel, de acabar. «• V. M."
" MADAMA ! O General me permitte escrever-vos na mesma
folha, em que elle vos traçou algumas linhas. Julgai da minha dor,
e sentimento, pelo que elle acaba de dizer-vos.
" Desde o momento em que foi ferido, que o naõ tenho deixado.
e naõ deixarei mais até que esteja perfeitamente curado. Temos as
melhores esperanças ; e eu, que o conheço, posso dizer que o salva-
Miscellanea. 503
remos. Elle soffreo a amputação com uma coragem heróica ; sem
perder os sentidos; tirou-se o primeiro apparelho, e as feridas vaõ
mui bem. Naõ teve senaõ um pequeno accesso de febre quando se
estabeleceo a supuraçaõ, que tem diminuído consideravelmente.
" Deveis perdoar-me todas estas miudezas, ellas saõ taõ dolorosas
para mim em escrevêllas, como seraõ para vós em Jêllas; tenho ne-
cessidade de coragem ha quatro dias; e necessitarei ainda mais.
Contai com o meu ciudado, minha amizade, e todos os sentimentos
que me tendes inspirado, vós, e elle, para o servir; naõ vos assus-
teis; naõ posso recominendar-vos que tenhaes coragem; eu conheço
o vosso coração.
" Naõ deixarei passar uma só occasiaõ sem vos dar noticias delle.
O medico acaba de assegurar-me, que se isto continua assim, em
cinco semanas poderá andar de carruagem.
" A Deus, Madama, e respeitável amiga, eu sou bem infeliz.
" Eu abraço a pobre Izabella,
" O mais devoto de vossos criados,
*•« Laun, 30 d'Agosto, 1813." «' RAPATEL."
" 1*. de Septembro.—Elle vai bem, a eslá tranquillo."
Guerra da Peninsula.
Oque publicamos neste N°., relativamente á guerra da Peninsula,
consiste no rendimento da cidade, e fortaleza de San Sebastian : a
cidade por assalto, e o forte por capitulação ; he assim, que todos os
mezes nos daõ os exércitos Alliados da Península occasiaõ de lhes
dar os parabéns de sua gloria; e os agredecimentos, pelo serviço,
que fazem á causa da Peninsula, e da Europa civilizada.
Por outra parte publicamos taõ bem um officio do General de
Divisão Lamarque da Catalunha, em que participa ao Governo
504 Miscellanea.
Francez as operaçoens daquella parte do exercito Francez. Os
Francezes retiráram-se de Tarragona, e desmantelaram a praça;
naõ porque fossem a isso obrigados pelo General Murray, nem pelo
General Lord Bentinck (os quaes ambos, julgaram mais prudente
retirar-se á vista dos Francezes do que pelejar com elles); porém
sim pela difficuldade de conservar as suas communicaçoens.
Um official, que chegou do exercito de Lord Wellington, o avalia
em 120.000 homens dos quaes 30.000 saõ Portuguezes, 40.000 In-
glezes, e 50.000 Hespanhoes.
Resposta a Conrespondentes.
LYSITANO. A sua memória he inadmissível; porque as imprensas
naõ tem os characteres, que para isso se necessitam. Seria precizo
mandar fazer uma fundição delles expressamente ; o que occasio-
naria uma despeza, muito alem do que o nosso conrespondente terá
idea.
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
AMEKICA.
Relaçoens com a França.
Mensagem do Presidente dos Estados Unidos ao Congresso.
A' Casa dos Representantes dos Estados Unidos.
Remetto á Casa dos Representantes um Relatório do
Secretario de Estado, que contem a informação requerida
em suas resoluçoens de 21 de Junho próximo passado.
Washington, 12 de Julho, 1813.
(Assignado) J A I M E S MADISON.
DINAMARCA.
Declaração de Guerra contra a Suécia.
Desde o momento em que se concluio, em Jonkoping,
a paz entre a Dinamarca, e Suécia; S. M. tem feito esfor-
ços taõ sinceros como constantes para manter a amizade
e boa intelligencia com aquelle estado vizinho, mas ao
mesmo tempo naõ podia deixar de observar que o Governo
Sueco, longe de ser animado pelos mesmos sentimentos,
tinha demasiado freqüentemente dado provas de differente
disposição.
Pelo tractado de Jonkoping, era a Suécia obrigada a
expulsar de suas costas os navios de guerra, e corsários
des inimigos de Dinamarca. Elles continuaram naõ so-
mente a deter os navios mercantes, juncto ás costas de
Suécia; mas até aprezar alguns dentro dos portos de
Suécia. Raras vezes se dignou responder ; e nunca deo
remédio algum ás reiteradas queixas do Governo Dinamar-
quez, relativamente ás perdas que resultavam daquelle
532 Politica.
estado das cousas, ao Commercio Dinamarquez e da
Norwega. Desta maneira a costa Sueca, no Categate,
ficou ao depois da paz, relativamente á navegação Dina-
marqueza, na mesma posição hostil, em que estava durante
a guerra. A declaração de guerra que o Governo Sueco se
deixou persuadir que devia publicar contra a Inglaterra,
naõ produzio a este respeito alteração alguma : e depois
do restabelecimento da paz com a Gram Bretanha, os pe-
rigos, a que ficava exposta a navegação Dinamarqucza,
se extenderam a toda a costa Sueca.—O navegante Dina-
marquez podia esperar achar-se protegido contra todo o
ataque da parte dos inimigos de sua naçaõ, nas costas de
uma Potência amiga e vizinha. Elle devia crer que um
Governo, que constantemente basofia da sua liberdade e
independência, estaria disposto, ainda que fosse somente
pela consideração de sua própria dignidade, a manter os
seus direitos territoriaes. Porém os marinheiros Dirá-
marquezes fôram enganados mui freqüentemente em suas
esperanças, quando no momento de perigo procuraram
protecçaõ no território Sueco; aonde os botes armados do
inimigo esperavam uma fácil preza.—Despojados de
sua propriedade; e muitas vezes perseguidos pelo inimigo
até no mesmo continente Sueco, somente lhes restava
o sentimento e dor de suas perdas; porem ao mesmo
tempo se despertava a sua justa indignação, vendo o go-
verno de uma naçaõ vizinha dispensar-se de prestar aquella
protecçaõ, que elles tinham direito de esperar.
A estipulaçaõ do tractado de paz de Jonkoping, que
determinava que fosse restituida a propriedade dos res-
pectivos subditos dos dous estados, que depois da ruptura
estivesse posta em estado de seqüestro, foi executada da
parte de Dinamarca sem alguma demora ; e com a mais
escrupulosa exactidaõ. Na Suécia, pelo contrario, tem
ainda sido detida a propriedade de vários vassallos Dina-
roarquezes. As representaçoens freqüentemente renova-
Politica. 533
das, a fim de a obter ou o seu valor, naõ produziram se-
naõ frivolos subterfúgios, ou promessas de indemnizaçaõ ;
cuja realidade até aqui se tem esperado em vaõ.
A Suécia naÕ se limitou a dar estas provas de disposi-
çoens pouco amigáveis para com Dinamarca.
Ja por um tracta o, concluído no principio do anno
passado, entre as Cortes de S. Petersburgo, e Stockholmo ;
e que foi ao depois confirmado em Abo, a Suécia ficou se-
gura do auxilio de Russia, para a execução do plano en-
entaõ fixo de tomar o reyno de Norwega. Com a mesma
intenção se concluio depois um similhante tractado, entre
a Suécia, e a Gram Bretanha.
Mas antes de chegar ás hostilidades declaradas, ella
dezejou experimentar meios mais moderados porém naõ
menos insidiosos.
A Suécia trabalhou por seduzir os habitantes oa Nor-
wega, mandando para este Reyno de tempos a tempos pro-
clamaçoens insidiosas, e esforçando-se assim por allienallo
do dominio de seu legitimo e hereditário Soberano. Ao
mesmo tempo grande numero de navios carregados da
graõ para a Norwega, que se tinham suecessivamente des-
pachado por conta do Governo Dinamarquez, e de vários
indivíduos, fôram detidos nos portos Suecos, aonde tinham
sido obrigados a procurar refugio, ja por occasiaõ de pe-
rigos do mar, ja por causa dos corsários do inimigo. Fo-
ram absolutamente inúteis todas as representaçoens, que se
fizeram contra uma medida, violenta em si mesmo, e atroz
por suas conseqüências a respeito dos habitantes deNorwega.
O Governo Sueco, em vez de resposta, usou de um pretex-
to mui pouco ou nada applicavel ás cargas de graõ de que
se tractava, isto he; que éra prohibida em Suécia a expor-
teçaõ de graõ. Nos nao podemos deixar de entender o
objecto dos obstáculos, que se oppunham a dar mantimen-
tos á Norwega. Era pela fome que se desejava obrigar
os Norwegas a que se submettessem ao dominio de Suesia.
VOL. XI. No. 65. 3z
534 Política.
O Governo Sueco, descançando em seus poderosos Al-
liados, naõ se envergonhou de proporá S. M., que cedesse
a Norwega por outros paizes, de que a Suécia naõ estava
de posse, e de que ella naõ podia, nem devia esperar o po-
der dispor livremente.
Naõ podendo obter o seu objecto, r m com proposiçoens
atrai coadas, a que se uniam freqüentemente as ameaças;
nem pelas reiteradas tentativas para induzir os Norwegas
a que atraiçoassem os seus deveres para com seu Sobe-
rano, o Governo Sueco manifestou o seu mao humor pela
suspensão das relaçoens ministeriaes entre os dous Estados.
O encarregado de negócios de S. M. teve ordem de re-
tirar-se de Stockholmo, e se mandou recolher a missaõ
Sueca em Copenhagen. O Cônsul-geral Dinamarquez
em Gottenburgo, foi também mandado despejar. Pouco
depois o Governo Sueco suspendeo toda a communicaçaõ
entre os dous Estados. Desta maneira tinha ja a Suécia
rompido todas as relaçoens amigáveis com a Dinamarca.
Fechou-se o accesso nos Estados de Suécia a todos os vas-
sallos de Dinamarca.
Naõ parou aqui. Prohibio.se o curso ordinário do3 cor-
reios entre Dinamarca e Norwega, pela Suécia, como se
tinha estipulado nos tractados.
O navios Suecos tiveram ordem de naõ pagar os direitos
do Sund, ainda que S. M. em virtude de tractados anterior-
mente concluídos com a Suécia, e do novo confirmado
pelo tractado de Jonkoping, tinha a elles o mais incontestá-
vel direito.
Porém naô bastou, que os vasos Suecos fossem desta ma-
neira dispensados por seu governo, de preencher a obriga-
ção de pagar os direitos do Sund ; os navios armados Suecos
empregaram a força para impedir que os vasos de outras
naçoens pagassem os direitos.
Por fim um official Sueco de marinha declarou, por es-
cripto, ao Governador d'ElRey emBornbolm, que tinba
Política. 535
ordem de aprehender todos os navios que trouxessem ban-
deira Dinamarqueza; e interromper toda a communicaçaõ
entre Christiansand e Bornholm. Pouco tempo depois um
official da Marinha Real, que voltava de Bornholm para
Copenhagem foi impedido em alto mar, por um brigue
Sueco, e levado a Ystadt, d'onde naõ voltou ainda. Tendo
o Governo Sueco por tantos meios, naõ somente dispensa-
do-se de preencher os deveres de bom vizinho, para com a
Dinamarca, e tendo suspendido todas as communicaçoens,
que em geral subsistiam entre paizes e Estados vizinhos, a
respeito dos quaes existia uma reciproca boa intelligencia,
tanto por ocôasionar perdas aos vassallos d'El Rey, como
por adoptar medidas tendentes a subjugar a Norwega, S,
M. se vê obrigado; postoque a seu pezar, a reccorrer
ás armas, e repellir com a força todo e outro qualquer
insulto da parte de um governo, que por longo tempo teia
exercitado hostilidades contra os Estados Dinamarqueses,
e contra os vassallos d'El Rey.
Tem-se ja expedido as ordens necessárias, a este respei-
to, aos chefes do exercito e Esquadra de S. M.
Nunca houve uma guerra defensiva mais justa—Nunca
Governo algum deo maiores provas de paciência e soffri-
mento, em differir o recurso às armas, para manter a segu-
rança do Estado; e protegera propriedade de seus subditos.
A necessidade somente podia induzir a S. M. a tomar
uma resolução taõ repugnante aos sentimentos de seu cora-
ção. Mas estes devem necessariamente ceder ao dever de
defender os Estados, e subditos, que a Providencia lhe con-
fiou, contra ataques pérfidos, e naõ provocados, da parte
de um Governo, cujos planos hostiz contra a Dinamarca,
toda a Eurppa conhece.
S. M., que sempre descança com inteira confiança na
immovel fidelidade, e constante affeiçaõ de um amado po-
vo ; naõ desejava comprar uma vergonhosa e precária paz,
pelo sacrifício de seus valorosos, e leaes Norwegas. Mas
3z2
536 Politica.
elle deseja sinceramente que o Governo Sueeo, reparando
as injurias que tem feito aos vassallos de S. M., e adoptan-
do, e proseguindo em principios pacíficos, possa dar occa-
siaõ a que se restabeleça entre as duas Naçoens, aquella
boa intelligencia, que somente he adaptada aos seus recí-
procos interesses.
Dado em Copenhagen, aos 3 de Septembro, de 1813.
FRANÇA.
DOCUMENTOS OFFICIAES RELATIVOS A' GUERRA COM A
SUÉCIA.
Relatório do Ministro de Guerra a S. M. o Imperador e
Rey.
SENHOR! V- M., por um tractado, assignado em
Fontainebleau aos 3 de Outubro de 1807, com El Rey de
Dinamarca, garantio aquelle Soberano a integridade de
seus dominios ; todavia ainda que estes ajustes foram co-
nhecidos da Suécia, esta se offereceo em 1807 a fazer cauza
commum com a França, na guerra que entaõ preparava co-
tra a Russia, se S. M. lhe quizesse assegurar a posse da
Norwega, que a Suécia cobiçava sem outros direitos, ou
titulos, que naõ fossem os da sua proporia conveniência. V.
M. olhou esta proposta como uma afronta : nenhuma ra-
zão poderia determinar V. M. a atraiçoar os interesses do
seu alliado : a Suécia teve de buscar, em outra parte o apoio,
que V. M. recuzou à sua ambição: ajunctou-se aos inimigos
de V. M. para roubar o seu Alliado; propôs á Russia, co-
mo em paga de tomar parte na guerra contra a França, que
aquella a ajudasse com suas forças a conquistar a Norwega :
um artigo especial do tractado assignado em St. Petersburgo
aos 24 de Março, de 1812, foi, que, no cazo de que a Dina-
marca estivesse pela cessaõ da Norwega á Suécia, se lhe
dariam indemnizaçoens no território Francez. Estes
contractos sem exemplo nos annaes das naçoens foram apro-
vados ela Inglaterra, e por uma transacçaõ em 3 de Maio
Politica. 537
passado, esta naçaõ accedeo ásconvençÕens que existiam
entre Russia e Suécia, e assegurou a reunião da Norwega á
Suécia. Por estes dous tractados a Suécia tomou contra
V. M. um caracter hostil; mas ja muito antes ella tinhavio-
ladootractado de 6 de Janeiro, de UIO,esquecendo-se das
generozas condiçoens, quo V. M. lhe concedeo, desprezan-
do a obrigação que ella tinha contraindo, em preço da res-
tauração da Pomerania Sueca, de fechar os seus portos ao
commercio Inglez ; e os quaes ella abrio no mesmo anno :
estes portos se tornaram em colônias lnglezas; Cônsules
Inglezes ahi rezidiam ; e ainda que a Suécia tivesse declarado
guerra à Inglaterra, as esquadras, e comboys Britannicos
francamente entravam, e se demoravam nos portos de Sué-
cia ; productos coloniaes, e fazendas lnglezas se accumu-
lavam nos portos Suecos, para d'ahi serem transportados
ao interior da Pomerania, e d'aqui inundarem o continente.
A Suécia fez mais ; rompeo em abertas hostilidades contra
os vassallos de V. M. que foram assassinados em Stralsund**
sem que de taes attentados se podesse obter suficiente repa-
ração. Dous navios com bandeira Franceza foram maltra-
tados em alto mar por navios Suecos, um d'aquelles, o
Mercúrio, atacado por força superior no Sund pelo brigue
de guerra Venta Lille foi conduzido a um porto Sueco,
aonde a tripulação foi posta em ferros. Todas as reprezen-
taçoens do governo de V. M. foram baldadas, e V. M.
ordenou por isso que se occupasse a Pomerania até que a
Suécia desse todas as satisfacçoens devidas á dignidade da
coroa de V. M.
V. M. sentia o ter de uzar de vigor para com uma naçaÕ
que estimava, e que há perto de 200 annos havia sempre
seguido o systema da França. Estas dispozisoens, Senhor,
que só tinham por objecto o chamar a mais justos sentimen-
tos um amigo, que entendeo mal as suas obrigaçoens, des-
mascararam um inimigo j á colleado contra nós: Em vir-
tude dos ajustes d'esta Jiga, cujas principaes esti^uiaçoens
538 Politica.
trago a V- M., as tropas Suecas, no principio d'e&ta
campanha, ouzaram invadir o território Francez. V. M.
por um novo tractado com a Dinamarca, tornando mais
apertados os laços, que o unem a esta naçaõ,e tomando até
mais interesse na cauza d'ella, fez também um tractado
reciproco de aliiança com a Dinamarca, e declarou guerra
á Suécia. Eu proponho á V. M. que mande publicar a
declaração da guerra entre França e Suécia; e ao mesmo
tempo mande communicar ao Senado, e promulgar como
ley do Estado, em conformidade da constituição, o tractado
de 10 de Julho passado entre França e Dinamarca.
(Assignado) O DUOUE DE BASSANO*
Dresden, 20 d'Agosto, (copia fiel).
SUÉCIA.
COMMERCIO E ARTES.
Tractado de Commercio entre Portugal e Inglaterra.
J . ENDO os Redactores do Jornal Pseudo-Scientifico con-
tinuado com a publicação da carta, sobre o tractado do
Commercio, convém que nós os vamos também seguindo.
Os nossos Leitores, que tiverem passado pelos olhos o
que temos dicto de mal contra entre tractado, naõ tem ne-
cessidade de que lhe expliquemos o objeeto que temos em
vista, respondendo a algumas asserçoens deste Conrespon-
dente dos Scicntificos ; mas, pelo que respeita as pessoas,
que naõ tiverem presente na lembrança cousas que se tem
escripto ha alguns annos ; naõ julgamos desnecessário o
repetir aqui, que naõ pretendemos disfarçar ou paliar os
males deste tractado; nem as suas péssimas consequen -
cias ; o que temos em vista he fazer aquella distineçaõ
prudente, que attribue as causas a quem ellas saõ verda-
deiramente imputaveis.
O partido Roevidico naõ tem poupado meios alguns para
insinuar, que he contra o Governo, e Naçaõ Ingleza que
548 Commercio e Artes.
se deve clamar, pelos inconvenientes que resultam dotrac
tado de Commercio ; nós somente este principio comba-
temos, intimamente persuadidos de que o clamor, que o
partido Roevidico está levantando contra os Inglezes, por
meio deste Jornal (e outros que a seu tempo se saberão)
he um clamor injusto ; e mal fundado.
NaÕ se preciza ter estudado muita Diplomacia; nem ter
tido demasiada leitura na collecçaõ geral dos tractados,
para saber que, quando uma naçaÕ propõem a outra uma
negociação ; pede sempre estipulaçoens a seu favor, com
as maiores vantagens, que pode pretextar; mesmo sem es-
peranças de as obter ; e que a parte opposta naõ somente
nega isso, mas até promette muito menos do que na reali-
dade faz tençaõ de conceder; excepto nás proposiçoens
que se fazem como condição sine qua non. Em uma pa-
lavra aquillo que se chama regatear, quando se compra ou
vende por miúdo ou por atacado, entre os mercadores
particulares; he precisamente o que, practicando-se nos
grandes arranjamentos das Naçoens, entre os Diplomáticos,
se chama negociar.
Isto posto, por mais extravagantes que fossem as propo-
siçoens de Lord Strangford ao Coverno Portuguez, naõ
podem os Portuguezes queixar-se delle, porque cumpria
com o seu officio ; e quem he o culpado he o negociador
Portuguez, que lhas concedeo.
Supponhamos que Lord Strangford pedia ametade dos
teritoriosdo Brazil para Inglaterra ; e que chamava a isto
um equivalente de se permittir aos Portuguezes o virem
negociar a Inglaterra ; e suppunhamos mais que o mesmo
Lord Strangford naõ esperava que tal cousa lhe cornedes-
sem, eque pedia aquella extravagância para verse obtinha
uma cousa menor ; e, quando mal pensava, adia que lhe
concedem á olhos fechados tudo o que pedio; < acaso
dirá alguém que competia a Lord Strangford o largar por
maõ á metade do território do Brazil que lhe tinham dado .'
Commercio e Artes. 549
l Que diria delle o seu Governo ? <; e se o seu Governo
consintisse nisso, que diria do Governo a sua Naçaõ.
He necessário por as cousas em seu lugar; e he con-
veniente e útil indagar as causas dos males, para os
atribuir a quem compete; do contrario nunca se reme-
deiam; porquanto, se em vez de se imputar a disgraça deste
tractado ao Negociador Portuguez, se imputa aos Ingle-
zes, seguir-se da dahi; que a manhaã, se torna a mandar
o mesmo negociador ou outro de similhante laya, para ne-
gociar com os Estados Unidos, ou com a França; repetir-
se-ha a mesma scena de erros; e queixar-se-haõ entaõ
dos Americanos, ou dos Francezes ,* e assim por falta de
atribuir o mal á sua verdadeira causa, nunca lhe acertarão
com o remédio;
Exemplifiquemos isto, nos mesmos exemplos desta
carta. A continuação delia, neste extracto, começa pelo
artigo V. do tractado, em que se estipulam os recíprocos
direitos de residência dos vassallos de uma naçaõ nos terri-
tórios da outra.
Nós temos mostrado ja, que naõ só esta estipulaçaõ do
tractado he reciproca, e perfeitamente mutua; mas que
pela parte que he favorável aos Portuguezes, quem tem
requerido a sua infracçaõ tem sido o mesmo Ministro Por-
tuguez em Inglaterra; que fez a requirimento seu expul-
sar daqui o Corrêa, o Viconsul de Liverpool, &c; e que
faz com que na Policia dos Estrangeiros em Londres
(Alien Oflice) se naõ dê passaporte ou licença de residir
a Portuguez algum, sem uma carta delle Embaixador Por-
tuguez. Logo i Como he isto imputavel aos Inglezes ?
A estipulaçaõ deste artigo pela parte de Portugal he so-
mente de utilidade aos Portuguezes; assim como pela
parte de Inglaterra he somente de utilidade aos Inglezes ;
qualquer dos dous Governos pôde, naÕ obstante o tractado,
renunciar ás vantagens que delle lhe provem; se os
VOL. XI. No. 65. 4B
550 Commercio e Artes.
Portuguezes renunciam a esta sua utilidade { que tem com
isso os Inglezes ?
Nem contra isto está o argumento, de que os indivíduos
Portuguezes naõ quizéram, nem querem renunciar ao
grande beneficio, que lhes resulta de se verem livres do
incommodo do Allien-Ofiice; porque as Naçoens naõ trac-
tam com os indivíduos, he com os Governos; e se o Repre-
sentante do Governo Portuguez em Inglaterra renuncia a
qualquer vantagem, que a sua naçaÕ tenha no tractado ; he
por isso que deve estar o Governo Inglez, e naó pelo que
lhe disserem Pedro, Sancho, ou Martinho, posto que Por-
tuguezes sejam.
Neste mesmo paragrapho se faz mençaõ de que os Por-
tuguezes em Inglaterra pagam igualmente com os Inglezes
todos os tributos ; e que naó acontece isto aos Inglezes em
Portugal, aonde saõ izentosde muitos direitos, que os Por-
tuguezes pagam. Imputar isto a culpa dos Inglezes he
um absurdo taõ manifesto, que até os mesmos Redactores
se envergonharam do que tinha escripto o seu pretenso
conrespondente no texto, e inseriram n' uma nota, como
opinião sua, que a culpa he dos Portuguezes que lhes naõ
pedem esses direitos, e naÕ delles Inglezes, que os naõ
haõ de offerecer sem que lhos peçam. Os Scientifico*;
nestas matérias portam-se como o outro que nunca dizia
que o homem naõ tem cabelo, senaõ, quando he taõ calvo,
que Jhe apparecem os miolos.
Quanto ao argumento da nullidade, uma vez que naõ só
o Governo Portuguez, o da, e está dando por valido; uma
vez que os mesmos negociantes Portuguezes em Londres,
fosse por que fosse, pediram que se lhe concedesst-
a izençaõ de certos direitos, fundamentando-se na exis-
tência e validade do tractado; naó sei como se possam
trazer em duvida a sua existência ou validade ; porque
quem pede o cumprimento das condiçoens de um con-
tracto, suppoem o contracto valido ; e quando valido nao
Commercio e Artes. 551
fora por outras causas, o aceitar quaesquer commodos, em
conseqüência, e por virtude desse contracto, he reconhe-
cêllo e ratificállo. Isto saõ principios taõ admittidos na
legislação Pátria, e no direito das gentes que naõ ha para
que nos demoremos em provállo.
Os Inglezes he verdade, que cuidaram unicamente, neste
ultimo arranjamento, feito por Commissarios Negociantes,
que publicamos no nosso Numero passado, em arranjar os
pontos que lhes eram mais importantes ; mas competia aos
Commissarios da parte de Portugal ajustar os pontos, que
convinham a sua naçaõ ; naõ fizeram isto, porque naõ lhes
importou, ou porque tinham outras vistas, queixem-se
de si.
No entanto, como o Ministro Portuguez meteo nisto o
Cônsul de Liverpool, naõ esqueceo estipular, que os do-
cumentos, para provar originalidade das fazendas e navios
Inglezes, fossem legalizados per ante os Cônsules Portugue-
zes em Inglaterra; e logo tiveram a bondade os taes cônsu-
les de determinar que levariam propinas das partes por
esse serviço; e alem disso arrogáram também a si o esta-
belecer o quantum dessas propinas ; verificando assim, que
os empregados Portuguezes fazem dos direitos Majestaticos
roupa de Francezes; pois até os Cônsules acham, que
tem direito para impor tributos a beneficio de suasalgibei-
ras, e determinar quanto esse tributo deva ser.
Foi este o partido que tiraram os Portuguezes, de ter o
Ministro em Londres mettido estes arranjamentos nas maõs
de um Cônsul, que ninguém podia duvidas que havia de
chegar a braza á sua sardinha. Quanto aos interesses de
Portugal, que aqui se pretextam, ninguém, que tenha o
menor conhecimento do modo por que estas cousas se
fazem, poderá julgar, que a medida de fazer reconhecer
os Cockets da Alfândega Ingleza pelos Cônsules Portugue-
zes em Inglaterra, he um meio de impedir o contrabando
no Brazil.
4B2
552 Commercio e Artes.
A prova da originalidade dos navios he ainda mais pre-
cária, do que a das fazendas; porque, como naõ se exige
senaõ o registro do navio; e todos os navios Inglezes, sejam
de construcçaõ Ingleza ou naô, obtém esse registro, como
acontece em Portugal com os navios que tem pago os
direitos no passo da madeira, he evidente que deste regu-
lamento, que fez o tal Cônsul, so resulta o proveito, que
elle tirara, das propinas de reconhecer a certidão do Regis-
tro; e em conseqüência deste ajuste fica o Governo Por-
tuguez com as maõs ligadas, para naÕ poder em seus por-
tos disputar, se qualquer navio he ou naó de construcçaõ
Ingleza, uma vez que lhe apresenta a certidão de registro
da alfândega Ingleza, reconhecida pelo Cônsul Portuguez;
pois tal he o ajuste. Assim vai tudo em Portugal; e quei-
xam-se entaõ dos Inglezes.
SUÉCIA.
Lemos em um dos Jornaes Inglezes, que o Governo de
Suécia promulgou um Edicto, em que se determina, que
se naõ possa dar entrada nas alfândegas de Succia a fazen-
das ou mercadorias algumas, que naõ sejam importadas
em navios Suecos, ou das naçoens donde as mesmas mer-
cadorias forem originárias; a excepçaõ do sal, que se
admittirá em quaesquer navios que seja, e de qnalquer
parte que venha.
Prêmios de seguros.
Brazil hida 10 guineos por cento. 11. b.
vinda 14 a 15
Lisboa e Porto hida 6G'.
vinda 2 G*. cm comboy
Madeira hida 5 a 6 G'\—Açores 8 G'. R. 3.
vinda 8 á 10
ltio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a tornaviajrrm
vinda o mesmo 15 a 18 G'.
[ 555 ]
LITERATURA E SCIENCIAS.
Noticias das obras publicadas em Inglaterra.
jyUTLER's Skelch ofGeography, 8vo. preço 9s. Esboço
de Geographia antiga e moderna, para o uso das escholas;
Por Samuel Butler, Doutor em Thelogia, Primeiro Mes-
tre na Eschola livre de Grammatica, em Shrewsbury.
Noticias Literárias.
Acha-se na imprensa—Index geral á Revista de Edin-
burgo, desde o seu principo até Outubro, de 1812.
PORTUGAL.
Sahio á luz : Matéria Medica, distribuída em classes, e
ordens segundo seus effeitos; em que plenamente se apon-
taõ suas virtudes, dores, e moléstias a que se fazem appli-
caveis, addiccionada com as taboas da Matéria Medica,
methodicamente seguidas de selectas, originaes, e copiosas
formulas, e de um Diccionario Nosologico, ou nomencla-
tura Sinonymica das moléstias, symptomas, vicios, e affec-
çôes da Natureza; para uso dos Estudantes assim de Me-
dicina, e Cirurgia, como de Pharmacia, e mesmo para o
dos práticos modernos. Saô 2 vol. em 4 o . ; e vende-se
nas lojas dos Mercadores de Livros no Terreiro do Paço,
e nas dos mais desta capital a 1.600 réis.
MISCELLANEA.
Jornal Pseudo-Scientifico.
.LNo N°. 47 do nosso periódico, julgamos conveniente
fazer algumas observaçoens, sobre o plano, que se estabe-
leceo para a Academia Militar do Rio de Janeiro, o qual
analyzamos, em um ponto de vista puramente scientifico,
e reprovamos em algumas partes aquelle plano.
He claro, que isto era uma questão meramente literária;
4 c 2
560 Miscellanea.
mas o Jornal Pseudo Scientifico tomou disto occasiaõ, no
seu numero do mez seguinte, para nos assaltar, chaman-
do-nos calumniadores, que atacávamos indirectamente o
Principe, visto que elle tinha approvado aquelle plano,
que a nossa, era a linguagem dos que buscam demolir as
bazes da segurança publica ; que os triumphos da maligni-
dade e da inveja terminam sempre na confusão de seus sec-
tários, &c. &c. e por fim que nos declaravam a ruen a.
Naõ deixou de nos admirar esta destemperada tormenta ;
porque a questão éra meramente scientifica; isto he se o
plano dos estudos mathematicos éra ou naõ bom; nos naõ
faltávamos nos Redactores daquelle Jornal; e a nossa opi-
nião podia ser boa ou má; éra meramente o exame da-
quelle plano; e por tanto a trovoada da parte daquelles
Redactores, concluindo com declaração da guerra paraeeo-
nos mui fôra de propósito, visto que o plano, que nós des-
approvavamos, naô era delles mas sim do Conde de Linha-
res ; e se os Redactores julgavam dirTerentemente a res-
peito da bondade daquelle plano de estudos mathematicos,
naõ sabemos como dahi se seguisse que nos devessem atacar,
chamando-nos homens que desejamos destruir as bazes da
segurança publica, e acabando com a declaração da guerra.
No cntarno respondemos ás suas invectivas ; elles repli-
caram ; e naõ tem deixado de nos atacar constantemente,
e com taes personalidades, que até se orTerecêram como
médicos para nos curar de nossa loucura; ao que temos
julgado conveniente responder sempre alguma cousa.
Assim como nos admiramos daquelles ataques pessoaes,
qne os Redactores nos fizeram ; sem que nos os tivéssemos
ofifendido em couza que saibamos; assim também naõ es-
perávamos que elles agora declarassem, como fizeram, no
seu numero do mez passado, que se naõ queriam metter
mais com nosco.
Eis aqui o que he que chama em Portugal; partida de
cavalleiro; parada de sendeiro.
Ja que julgaram conveniente declarar-nos a guerra sem
Miscellanea. 561
nenhuma provocação de nossa parte; naó obstante a sua
declaração agora, de que naõ querem mais brigar teraõ a
bondade de ouvir uma historia.
Era uma vez um tambor, e desafiou e insultou um sol-
dado, que estava quieto, e naó bulia com elle; e tanto
disse, e tanto provocou o soldado, que este se dirigio ao tam-
bor para lhe dar dous murros : que fez o tambor, deitou-
se no chaõ, e entrou a gritar, que se o soldado lhe desse,
havia dizer a todo o mundo que elle éra um cobarde, que
dava n' um homem deitado. A historia naÕ diz, se o sol-
dado deo ou naÕ dous pontapés no tambor, que se deitou
no chaõ ; mas tal vez este fosse o tractamento que merecia.
Dizerem os Scientificos, que naõ esperdiçaraõ mais o seu
tempo com fazer caso do que nos dizemos, he muito má
desculpa, para se escapar do combate ; se os Senhores
Scientificos acharam, que valia a pena de nos declarar a
guerra, haõ de ter paciência, haõ de esperdiçar algum
tempo em brigar com nosco; porque como saõ duas partes
as que brigam naÕ esta no poder d'uma só começar a
guerra, e acaballa quando quizer ; tenham paciência haõ
de nos ouvir por mais algum tempo.
He verdade, que naõ nos pôde dar grande credito nem
ao nosso periódico, o occupar-nos com responder, ou
examinar seriamente os escriptos de homens, que em vez
tle argumentos se dirigem á pessoa do Redactor, chamando-
lhe jacaré sanhudo ; e outras inepcias dessa natureza ; mas
como a leitura aturada séria, exige que se interrompa al-
gumas vezes com a recreação, julgamos que naõ virá mal
aos nossos Leitores o dar-lhes de vez em quando, para se
divertirem, passagens dos Scientificos ; eos que naõ quize-
rem de todo nem ouvir fallar em taes Scientificos, em vendo
um artigo com este titulo, se naõ estiverem de humor a
rir-se podem passar a diante.
Porém Senhores Scientificos haó de brigar quer se
deitem no chaõ quer naÕ; naõ lhes hade valer a manha.
E julgamos, que nada convém mais aos Redactores do
56*2 Miscellanea.
que instar na peleja; visto que um delles he o celebre
cavalleiro andantc, que desencantou o D or . Cardozo; e hc
dus cavalleiros Andantes o brigar sempre levem murros ou
naó levem. Esperamos pois de sua cavallaria Andantc que
naÕ arrie bandeira.
Vamos ao caso do seu ultimo N". j Com que authori-
dade chamam os Scicntificos aos empregados na actual
Embaixada em Londres, " corja de Beikley-square?"
Nós naõ dissemos que aquellas palavras, de que usamos em
um do nossos N os . anteriores, se deviam attribuir aos Kin-
pregados da Embaixada; tínhamos em vista outra cousa
mui differente ; e se os Scientificos, cm vez de ir pôr a
carapuça ali; perguntassem de quem fatiávamos, lhe darí-
amos uma explicação bem cabal de quem queríamos desig-
nar ; mas elles com a sua custumada prudência, que taó
bem vai servindo ao seus protectores, que tem dado com
elles na lama, fôram chamar aos da embaixada a " corja
de Berkley-square," pondo o barrete em seus mesmos
amigos, sem consultar primeiro quem lhe podia dar a de-
vida explicação. Ora, cm suas consciências, Senhores
Scientificos; digam-nos < naõ deviam perguntar ao arru-
mador do armazém, aquém o barrete pertencia antes de o
entregar a alguém ? Pois olhem; temos melhor opinião
de alguém dos addidos á Embaixada, do que os Senhores
Scientificos tem do chefe; e no entanto, estamos calados.
Dispensar-nos-he mos de retorquir aos nomes, que nos
chamam ; por uma razaõ bem obvia ; porque aquelles ter-
mos taõ baixos, que saõ ainda mais baixos que o vulgar;
trazem com sigo a sua mesma resposta ; visto que mostram
a educação de quem os usa; alem disto nada nos impede,
que lhes digamos couzas bem pezadas, e verdades que
bem lhe doam; sem que nos seja preciso descer a fazer
uso de expressoens, que até ja estaõ prose ri ptas pelos
lacaios, que aspiram a ser creados de escada acima ; dei-
xemos pois as expressoens baixas a quem convém ; vamos
ao que elles escrevem pertendendo seriedade.
Miscellanea. 563
Quando vimos o rompante do seu N<\ passado contra os
negociantes Portuguezes; mal poderíamos conjecturar,
que haviam taõ vergonhosamente cantar a palinodia, no
N*?. seguinte, em termos taõ miseráveis ; chegando a dizer
que naõ conhecem ninguém a quem a sua invectiva fosse
applicavel. Quanto ao faltar á palavra do que promettê-
ram ; de publicar a justifiçaÕdos Negociantes Portuguezes;
isso sempre nos esperamos. Porém vejamos com que
razoens justificam essa falta de palavra.
Naõ cumprem com o que promettêram ; porque a justi-
fiçaõ dos Negociantes apparecêo j a em outro jornal; mas
nem todos os que lem o Scientifico, leraÕ aquelloutro jor-
nal ; e portanto éra de justiça, que o Jornal, que publicou
o primeiro ataque contra os Negociantes, e que publica
agora uma replica ao que elles disseram em sua justifica-
ção, publicasse também essa justificação; do contrario
he mostrar a questão só por uma face. Alem disso o pro-
meti ido he devido; promettêram publicar a Justificação, e
naÕ o fizeram, primeiro alegando falta do tempo : (o qoe
se lhe provou que naõ éra assim ;) e depois, porque ja tinha
apparecido em outro Jornal; o que taõ bem naõ vale;
porque o apparecer aquella Justificação em outros jornaes
naõ os alli via va de sua promessa.
Agora, o outro ponto ; que naÕ se dirigia aos membros
do club, a catilinaria que fizeram. Dizem os Scientificos
(p. 606) " Nos declaramos porém, que naõ conhecemos
um só membro do club, a quem a nossa censura se possa
applicar: se existe, que se emende." O ataque foi feito
aos Negociantes Portuguezes, Negociantes saõ os mem-
bros do Club ; e portanto justificando-se, e mostrando, que
elles tem feito as representaçoens que julgaram conveni-
entes ao Commercio, tem mostrado em si mesmo o exemplo
de negociantes, que naõ andam a gritar pelas ruas; mas
de homens cordatos, que dirigiram as suas queixas ás au-
thoridades que suppozéram, que as pediam remediar.
564 Miscellanea.
Põem os Scientificos a hypothese-se " se algum existe
que se emende." Mas isto he querer justificar a sua accu-
saçaõ suppondo uma hypothese, que tem acabado de con-
fessar que naõ existe. O estrebilho com que concluem os
seus paragraphos " Naõ podemos conceber como se per-
suadiram, &c.'' He uma verbiagem ridícula; porque,
quando se fez um ataque geral a todos os Negociantes
Portuguezes, tinham os do club o direito de se justficar,
mostrando, que aquellas accusaçoens vagas lhes naõ eram
imputaveis ; e fizeram isto com uma moderação extrema,
contentando-se com a narração de factos, taõ simples
quanto he convincente.
Asseveram, que he um facto, que naó ha entre os nego-
ciantes Portuguezes aquella uniaõ systematica, que ha en-
tre os Negociantes Inglezes ; e que deixam de produzir as
provas, e a vil tarefa de nomearindividuos a viz jornalistas.
( Que foi Ia fazer a burra ! Perguntava o frade leigo,
todas as vezes que lhe naõ fallavam a propósito da questão.
t Que foi Ia fazer a burra Senhores Scientificos t* Que
tem a falta de uniaõ systematica dos Negociantes, com os
ter accusado, todos em montão, de serem mal dizentes,
ignorantes, e pedantes. Os negociantes podem naõ ter
entre si uniaõ, e com tudo naõ serem maldizentes, &c.;
isso saõ cousas mui differentes. " E a que vem aqui o
dizer, a tarefa de produzir provas, he deixada a viz jor-
nalistas ? Quererão com isso dizer, que basta a sua hon-
rada palavra para se crer no que elles dizem sem produzir
provas ? Pois se assim pensam, parece-nos que estaõ mui
enganados. E neste caso estamos certos que o publico
todo julga, que a accusaçaõ que fizeram contra os Nego-
ciantes Portuguezes he taõ falsa, quanto lie vaga, e gené-
rica ; e que esta sua palinodia he taó desprezível, «-uauto
he mesquinha, e evasiva.
Esqueciamo-nos dizer duas palavras a respeito de nos
chamarem delatores infames. Perdoem Senhores Scientili-
Miscellanea. 565
cos, nós pensávamos, que o ser delator ou denunciante era
cousa muito honrosa ; seguíamos nisto o exemplo do 111"10.
e Revmo. Senhor Principal Souza, que foi o denunciante na
causa de Panças; pelo mero motivo de servir a coroa como
bom e fiel vassallo ; e quanto aos serviços, que um dos
Redactores do Scientifico fez aos Francezes, em quanto
elles estiveram em Portugal, como fôram publicados por
elle mesmo, na collecçaõ, que ajuncta á sua <( Conducta''
aonde se acham muitas expressoens de agradecimentos dos
empregados Francezes, pelos bons serviços que elle lhe s
fez; julgávamos que isso naõ éra cousa de segredo ; mas,
como se escandaliza, perdoe; e naõ fatiaremos mais nisso ;
ainda que saibamos, que havemos de guardar esta pro-
messa, como os Senhores Scientificos guardaram a pro-
messa que fizeram aos Negociantes Portuguezes de lhes
publicar a sua justificação.
INGLATERRA.
Medalha de distineçaõ para os officiaes militares, que se dis-
tinguem em acçoens.
Guardas-de-cavallaria, 7 de Outubro, 1813.
Tendo-se achado inconveniente considerável, no aug-
mento do numero das medalhas, que se tem concedido em
commemoraçaó dos brilhantes e distinctos acontecimentos,
em que o bom successo das armas de S. M. tem recebido
a approvaçaõ Real, foi o Principe Regente servido orde-
nar, em nome e a bem de S. M., que se adoptassem os se-
guintes regulamentos, na concessão, e circulação de taes
signaes de distineçaõ: a saber;—
1*. Que cada official, recommendado para tal distine-
çaõ, naõ trará senaõ uma medalha.
4D2
568 Miscellanea.
2 o Que para o segundo e terceiro acontecimento, de
que se faça commemoraçaõ em simileante maneira, cada
individuo recommendado para trazer a distineçaõ, porá
um colchete de ouro pregado na fita porque se suspende a
medalha, e nelle escripto o nome da bataiha ou cerco, aque
se refere.
3*. Que admittindo-se a pretençaõ de quarto distinetivo,
trará cada official uma cruz, com os nomes das quatro ba-
talhas, ou sitios, respectivamente escriptos nella ; e a trará
em vez das distineçoens previamente concedidas a taes indi-
viduos.
4 o . Que em cada occasiaõ de similhante natureza, que
possa occurrer, subseqüentemente á concessão da cruz, se
concederá outravez o colhete, aquelles que tiverem di-
reito a distineçaõ addicional, que se deve trazer na fita
porque se suspende a cruz, da mesma sorte que se des-
creve no N". 2 o . destes regulamentos.
S. A. R. he alem disto servido ordenar, em nome e a
bem de S. M., que a distribuição de medalhas, ou condo
coraçoens, por similhantes serviços de distincto mereci-
mento, se regularão da maneira seguinte: a saber.
!•. Que nenhum general, ou outro < íficial, se conside-
rará com direito a recebêílas, a menos que naó tenha es-
tado pessoal, e particularmente na quellas occa<iioens de
grande importância, e peculiar brilhantismo, e em cuja
commemoraçaõ o Principe Regente, em nome e a bem de
S. M. seja benignamente servido conceder taes signaes de
distineçaõ.
2". Que nenhum official será considerado candidato
para a medalha, ou distinetivo, senaõ com a especial seleo
çaÕ, e participação do commandante das forças, no lugar,
referindo que tem merecido a distineçaõ por serviços con-
spicuos.
3 \ Que o commandante das forças transmittirá ao
Miscellanea. 569
commandante em Chefe listas assignadas por elle, em que
especifique os nomes e graduaçoens daquelles officiaes que
tiver escolhido pelas haver em particularmente merecido.
4°. O commandante das forças, fazendo a selecçaõ, li.
mitará a sua escolha ás graduaçoens abaixo mencionadas :
a saber.—Officiaes Generaes. Officiaes commandantes de
brigadas. Officiaes commandantes de artilheria, ou enge-
nheiros. Ajudante-general. Quartel-mestre-general. De-
putado dicto; tendo a patente de field-officer (official su-
perior.) Assistente-ajudante e quartel-mestre general;
tendo a patente de field-officer (official superior;) e sendo
chefe do Estado-Maior, com corpo destacado, ou divisão
distincta do Exercito. Secretario-M.litar, tendo a patente
defield-officer(official superior.) Officiaes commandantes
de batalhoens, ou corpos equivalentes a elles; e officiaes
que tenham succedido ao actual commando, durante a ac-
çaõ, em conseqüência da morte ou mudança do official
commandante original.
O Principe Regente, portanto, he benignamente servido
ordenar, em nome e a bem de S. M.; que em commemo-
raçaõ das brilhantes victorias obtidas pelas armas de S. M.,
nas batalhas de Roliça, Vimeira, Coruna, Tatavera-de-la-
Reyna, Bussaco, Barrosa, Fuentes de Onor, Albubera, e
Salamanca, e nos assaltos e tomadas de Ciudad-Rodrigo, e
Badajoz, os officiaes do exercito abaixo mencionados,
presentes naquellas occasioens, gozarão do privilegio de
trazer as condecoraçoens do distineçaõ ; e tendo S. A. R.
approvado as cruzes, medalhas, e colchetes, que se pre-
pararam, hc servido ordenar, que as tragam os officiaes
generaes suspensas por uma fita da cor da banda com ore-
las azues, peduradas ao pescoço; e os officiaes comman-
dantes de batalhoens, ou corpos que lhes sejam equiva-
lentes, e officiaes que tenham succedido no actual comman-
do durante a acçaõ, os Chefes das Repartiçoens Militares,
e seus deputados e assistentes (tendo a graduação de Field-
officers;) e todos os demais officiaes, que foram especial-
570 Miscellanea.
mente recommendados, a traraõ fixa a uma fita da mesma
descripçaõ na casa do botaõ de seu uniforme.
O Principe Regente he também servido ordenar em
nome e a bem de S. M., que as condecoraçoens, que se
deveriam ter concedido aos officiaes, que morreram entaõ
ou mortos depois das sobreditas batalhas e cercos, seraõ
em signal de respeito por suas memórias, transmittidas a
suas familias.
George Anson.
Guilherme Anson.
James Kemmais.
Roberto Burne.
Joaõ Ormsby Vandeleur.
George T. Walker.
James Kemp.
Honr. E. M. Pakenham.
Roberto Ross.
Lord R. E. Somerset.
Brigadeiro-gen. W. M. Hervey, reg. 79 inf. Portuguez.
Conde D. Luiz de Rezende, Serviço Portuguez.
D . Antonio de Lemos Pereira de laCerda, Portuguez-
Champlemond, Portuguez.
Coronel James Sterling, 42 inf.
James Lyon, 97 irif.
Joaõ Elley, Guardas Reaes de Cavallo.
Carlos P. Belson, 53 inf.
Joaõ Guise, 3 inf. das guardas
Guilherme Stubbs, 23 Portuguez.
Neil Campbell, 16 Portuguez.
James Douglas, 8 Portuguez.
Ricardo Collins, que foi das tropas Portuguezas.
Guilherme Mc Beau, 19 reg. Portuguez.
Ten.-coronel Ernesto Leonhard, inf. L. Alemaã d'El Rey.
Joaõ Cameron, 9 inf.
Guilherme Iremonger, 2 inf.
Eduardo BJakeney, 7 inf.
Henrique Crawford, 9 inf.
R. D. Jackson, das guardas.
Honr. F. C. Ponsonby, 12 dragoens.
Colin Campbell, 63 inf.
F. Arbuthnot, 5 reg. das índias Occidentaes.
F. B. Hervey, 14 dragoens ligeiros.
Miscellanea. 573
Honr. C. M. Cathcart, Assistente Q. M. G.
Rudolpho Bodecker, 1 de linha Legiaõ Alemaã.
Francisco Brooke, 4 inf.
Honr. R. L. Dundas, Estado Maior.
Joaõ Waters, Tropas Portuguezas.
George Berkley, 85 inf.
Hugh Halkett, 7 de linha Legião Alemaã.
Eduardo Gibbs* 52 inf.
Henrique Sturgeon, Estado Maior.
Joaõ Philippe Hunt, 52 inf.
Honr. H. B. Packenham, 26 inf.
Ten.-coronel J . H . Algeo, I o . caçadores.
Joaõ May, Artilheria Real.
Joaõ F. Burgoyne, Engenheiros Reaes.
Guilherme Gomm, 9 inf.
Roberto H . Dicke, 42 inf.
Bryan O T o o l e , 2 Caçadores.
Dudley St. Leger Hill, 8 Caçadores.
D'Araújo Bacellar, 21 reg. Portuguez.
Alexandre Anderson, 11 reg. Portuguez.
Major Adolpho BaraÕ Whurmb, 2 o . de linha L. A.
George Langlands, 13 Batalhão Veterano.
Guilherme C. Seton, reg. 88.
Officiaes que tem direito a trazer somente a medalha.
Tenente-general o Honr. Sir Guilherme Stewart, C. B.
Major-generaes Joaõ Hamilton, Guilherme Houston,
Honr. Guilherme Lumley, Daniel Houghton ; Sir Henri-
que Clinton, C. B . ; George Baraó Bock ; Victor Baraõ
Alten ; Joaõ H o p e ; Honr. Carlos Colville; J. G. de Mar-
cham; Honr. George De G r e y ; Roberto Crauford;
Guilherme Borthwick; J . H . C. D . Bernewitz ; Henrique
Mc. Kinnon ; W . H. Pringle ; Honr. Guilherme Ponson-
by ; Guilherme Inglis; Guilherme F. S p r y e ; Honr.
Thomaz Guilherme Fermor ; Thomas Bradford ; Manley
Power; Matheus Lord Aylmer.
VOL. X I . No. 65. 4 E
574 Miscellanea
Mariscai de Campo, D. Carlos de Hespanha, do exer-
cito Hespanhol.
Brigadeiro-generaes Archibald Campbell, do exercito
Portuguez ; Francisco Joaõ Coleraan, que foi do dicto ;
D. Francisco Ignacio de Capelda, do Exercito II es
panhol.
Coronéis.—H. J. Cumming, reg. 11 de dragoens li«»ei.
ros; Collin Halkett, 2o. batalhão da Legiaõ Alemaã d'EI
Rey ; Roberto Lord Blantyre, que foi do reg. 42; Carlos
A. Harcourt, reg. 40 de inf.; George Klingsohr, que foi
do 5 de linha da L. Alemaã; Guilherme Kelly, do reg. 24;
Honr. Henrique Cadogan, que foi do reg. 71 de inf.;
Hugh H. Mitchell, reg. 51 inf.; A. de Lacerda Pinto da
Silveira, do serviço Portuguez; Antônio Tavares, do ser-
viço Portuguez; D. Júlio 0'Neill, do Exercito Hes-
panhol.
Tencnlc-coroneis.—Burgh Leighton, do 4o. reg. de
dragoens; Frederico Barlow, que foi do reg. 61 inf.;
Honr. Henrique Brand, das guardas; James S. Barnes,
I o . reg. inf; Roberto Fulton, que foi do 79 inf.; George
Cuyler, 11 reg. inf.; Honr. GeorgeCarlton, 44 reg. inf.;
Honr. Alexander Abercomby, 28 inf.; Carlos Pratt, reg.
5 inf. ; Guilherme Johnston, 68 reg. inf.; Luiz Davis,
reg. 36 inf.; Thomas Forbes, reg. 45 inf.; Joaõ Kings-
bury, que foi do reg. 2 de inf.; Joaõ Mc. Lean, reg. 27
inf, Henrique S. Eyre, que foi do reg. 82 inf.; Sara-
brook Anson, que foi do Io. reg. das guardas de inf.;
Guilherme Fenwick, reg. 34 inf.; Roberto Travers, reg.
10 de inf. ; Joaõ Carlos Rooke, 3°. reg. de inf. das guar-
das; Joaõ Broomhead, reg. 77 inf.; George Middlcmore,
que foi do reg. 48 inf.; Joaõ H. Dunkin, reg. 77 inf.;
Carlos de Belleville, da Legiaõ Alemaã d'EI Rey; Gui-
lherme Davy, do reg. 60 inf.; Henrique H. Bradford, do
11 reg. inf.; Alexandre G. Woodford, das guardas;
Carlos de Jonqueires, 2o. reg. de dragoens, Legiaõ Ale-
maã d'£l Rey; Henrique S. Bouverie, das guardas;
Miscellanea. 575
COLÔNIAS HESPANHOLAS.
Buenos-Ayres, 13 Junho, IS13.
Governo de Chili.
O Ministro deste Governo, em um officio de 14 do cor-
rente, remetteo, por um Correio Extraordinário, os se-
guintes documentos:—
Officio do General em Chefe do Exercito Libertador, ao
Excellentissimo Governo Supremo.
EXCELLENTISSIMO SENHOR ! —Com o maior prazer tenho
de communicar a V- Ex. a tomada de Falcahuano, que se
578 Miscellanea.
effectuou depois de um ataque de 4 horas. A pressa com
que sou obrigado a dar esta informação no meio dos meus
deveres para com os exercito que commando, e para tan-
tos objectos de urgente necessidade, somente me permit-
te m mencionar as seguintes poucas particularidades.
A nossa perda nesta acçaõ foi merameute de um grana-
deiro e um membro da milicia nacional; naõ tenho averi-
guado qual tenha sido a perda do inimigo; mas tenho a
felicidade de assegurar a V. Ex., que nesta occasiaõ os
prisioneiros naô soffreram acto algum de violência, pro-
vando que os meus camaradas naõ saó mais valentes do
que generosos; e que os excessos, que se comettem em
taes occasioens, se naõ podem prevenir em nenhum, me-
lhor do que no exercito do Chile.
Neste porto achei 4 fragatas do inimigo, o Miantinomo,
Palafox, Quatro amigos, e Britannica. O ultimo destes
desejava sahir mas o vento lhonaÕ permittio; e tenho, por-
tanto, mandado uma barca canhoneira para tomar posse delia,
a fim de que possam desembarcar os officiaes, passageiros,
traidores e prisioneiros que estaõ a bordo. Eu nomearei
uma Commissaõ para formar os inventários destas prezas,
e outros eflèitos do exercito do inimigo.
" Os prisioneiros, que se tomaram em Yervas Buenas,
fôram-me entregues, e um igual numero de defensores de
sua pátria seraõ postos em liberdade. Tenho abundância
d'armas, vestidos, e muniçoens.
" A artilheria tem sido desmontada pelo inimigo, eu a
restituirei immediatamente ao próprio estado, e tendo pre-
parado convenientemente os meus meios, passarei o mais
depressa que puder a Chilan, para a dar o golpe final aos
miseráveis restos do exercito do Vice Rey de Lima.
" Tenho descuberto aqui grande quantidade de armas,
salitre preparado, mantimentos, c outros effeitos: que nos
seraõ mui úteis. Deus vos guarde muitos annos.
" JOSÉ MIGUEL DE CARRCRA.
" Do Campo de Talcahuano, 29 de Mayo."
Miscellanea. 579
Moniteur Americano, 8 de Junho, 1813.
Pela fragata Vittoria, que chegou ultimamente de Val-
paraiso, e que deixou Lima aos 6 de Abril, recebemos as
seguintes noticias:
O objecto detestado dos Americanos, Goyeneche, escre-
veo de Oruro ao Vice-Rey, renovando a sua resignação
do commando do exercito, que tantas vezes foi derrotado,
debaixo de suas ordens ; e para terminar este difficultoso
negocio, se convocou em Lima um Conselho Militar, a
que assistiram Officiaes de todas as classes; e por fim se
determinou qae o ministro Arequipa se retirasse, e que ou
Abascul, ou Ilinostrosa fosse nomeado em seu lugar. A
nomeação foi feita em conseqüência da carta ; e se orde-
nou, que Goyeneche entregasse o commando a D. JoaÕ
Ramiry, até que chegasse o novo general. Em Lima se
diz, que a derrota do impio Trístan he uma das intrigas de
Goyeneche, e que o esperavam em Lima para lhe dar o
prêmio de suas acçoens, merecido por todos aquelles filhos
desnaturalizados, que tem sido o flagello da mais terna de
todas as mais. Americanos, vede o castigo dos traidores e
infiéis.
Despacho Official.
Excellentissimo Senhor! Hontem, se avistou a fragata
S. Domingos de Guzman, preza de D. Xavier Mandano.
A noite o Commandante deste porto me informou,
que tinha sabido por um official e quatro marinheiros,
que desembarcaram em Cumlus, que havia a bordo 38
officiaes, e 100.000 dollars, para o exercito do General
Paneja. No mesmo instante montei a cavallo, e tomei as
medidas necessárias para que se naõ deixasse o lugar da
Ancboragem. As barcas canhoneiras e outros vasos peque-
nos tiveram ordem de se apromptar para este fim ; e esta
manhaã ao romper do dia, se me annunciou que se tinha
rendido. Desembarcaram ja do navio 32 officiaes 3 entre
os quaes ha um ministro de marinha; e 50.000 dollars,
680 Miscellanea.
com uma quantidade de tabaco, que se trouxe para s
praya. A fragata entrará no porto em duas horas; e entaõ
attenderei a todas as circumstancias, que podem contribuir
para remunerar a marinha Americana, que em tantas
oceasioens tem feito os mais essenciaes serviços á sua
pátria. Os papeis fôram lançados ao mar, e trabalharemos
pelos recobrar. Estamos agora esperando a fragata e 500
espingardas. Logo que possa segurar estas prezas, e o
porto, partirei a toda a pressa pera Chillau, a fim de con-
cluir a nossa feliz campanha.
Por cartas interceptadas achei, que estes eram os uoicos
reforços, que o General Realista esperava, e agora elle naõ
pode esperar nem mais um homem nem mais um real;
porem em quanto elles estaõ lamentado a sua miséria e os
desastres de Goyeneche, ordenaram que se preparasse o
modelo de uma pyramide, que se deve levantar em honra
de seu Rey, e a gloria de suas armas, &c.
Deus guarde a V. Ex*. muitos annos.
JOSÉ MIGUEL DE CARRERA.
Talcahuano, 8 de Junho, 1S13.
Ao Governo Supremo de Chili.
ESTADOS UNIDOS.
Finanças Americanas.
As Gazetas Americanas contem uma carta de Mr. Jones,
que serve de Secretario do Thesouro, fazendo as vezes de
Mr. Gallatin, datada de 19 de Julho, e dirigida a Mr. Bibb,
Presidente do Committee dos Meios-e-Modos, sobre o
objecto de novas exigências, que se faraõ precisas para as
depezas da guerra. Diz a carta, que as despezas addicio-
naes das repartiçoens de guerra e da marinha, requererão
um empréstimo de novo, no computo de dous milhoens de
dollars, para o serviço do anno corrente. Passa depois a
dizer, que " como o empréstimo para o serviço do 1814,
naô pode convenientemente fazer-se naquelle anno, taÕ
cede, que satisfaça ao que se necessita no Thesouro, no
Miscellanea. 581
principio do mesmo anno, propoem-se, que alem da somma
de dous milhoens, acima mencionados, para o presente an-
no, se authorize agora um empréstimo, sufficiente, com
as sommas que se receberem das rendas publicas, para
pagar as despezas dos primeiros tres mezes do anno de 1814.
O que o Thesouro necessita para aquelles tres mezes,
se avalia da maneira seguinte:— Dollars.
Despezas civis, diplomáticas, e miscêllaneas 400.000
Para a divida publica, exclusivas as notas do
Thesouro, e juros dellas, que se tem de pagar
nos mezes de Janeiro, e Fevereiro, de 1814 ;
e que seraõ providenciados do excedente do
fundo de amortização no anno de 1813 1:100.000
Para ás repartiçoens de guerra e marinha. 6:000.000
7:500.000
Receita avaliada.—A somma a receber dos di-
reitos das alfândegas, durante aquelle periodo
se pode avaliar em. 1:500.000
Venda das terras publicas, e direitos internos
que se poraõ em vigor no 1". de Janeiro,
1814. 250.000
O balanço que ficará no Thesouro aos 31 de
Dezembro próximo futuro, se avalia em cerca
de dous milhoens de dollars. Como esta
somma he de algum modo maior do que he
necessário para se reter permanentemente no
Thesouro, se pode delia applicar para as ne-
cessidades do primeiro quartel do anno de
1814, a somma de 250.000
7:500.000
VOL. XI. No. 65. 4 r
582 Miscellanea.
Toda a somma, portanto, que se suppoem conveniente
que o Presidente tenha authoridade de obter por via de
empréstimo, antes do fim do presente anno, vem a ser
7:500.000 dollars, da qual se avalia, que 2:000.000 seraõ
precisos para o presente anno, e o resíduo para supprir o
serviço do anno de 1814.
FRANÇA.
26 de Septembro.
S. M. a Imperatriz Raynha Regente, recebeo a seguinte
noticia do exercito, datada de 19 de Septembro: —
Aos 17, pelas 2 horas da tarde, o Imperador montou a
cavallo, e em vez de ir para Pirna, foi ter aos postos avan-
çados. Tendo percebido que o inimigo preparava grande
quantidade dt faxinas, para defender a decida das monta-
nhas, S. M. ordenou ao General Duvernct, que o atacasse ;
este General tomou a aldea de Aibesan, com a divisão,
42, e expulsou o inimigo para as planícies de Toplitz.
Foi encarregado de manohrar de tal maneira, que pudesse
reconhecer inteiramente a posição do inimigo, e obrigallo
a patentear as suas forças. Este General foi perfeitamente
bem succedido na execução de suas instruc<;oens. Elles
empenhou em uma viva conhonada, alem «Io alcance da
artilheria, e que lhe causou mui pequeno damno ; porém
havendo uma bateria Austríaca de 24 peças deixado a sua
posição para se aproximar á divisão Duvernct, o General
Ornano ordenou que os lanceiros de vermelho «Ias guardas
a carregassem ; elles tomaram estas 24 peças, e passaram
á espada todos os artilheiros, mas somente puderam trazer
com sigo os cavallos, duas peças de artilheria, c um trem de
dianteira.
Miscellanea. 589
Aos 18, o Conde Lobau ficou na mesma posição, occu-
pando a aldea de Arbesan, e todas as desembocaduras da
planicie. As 4 horas da tarde o inimigo mandou uma di-
visão para surprender a altura acima da aldea de Keimitz,
Esta divisão foi repulsada, á ponta da espada, (l'epéedans
les reins) e se fez fogo de metralha por uma hora. Aos 18,
pelas 9 horas da noite, S. M. chegou a Pirna; e aos 19, o
conde de Lobau tornou ás suas posiçoens adiante de Hol-
endorff e do campo de Gieshubel. A chuva cahia em
torrentes.
O Principe de Neufchatel se acha alguma cousa molesto
com um accesso de febre.
S. M. está muito bem.
O Marechal Duque de Valmy recebeo em Mayence um
correio de Dresden, que lhe encarregou de fazer saber em
Paris, que até os 19 de Septembro naõ havia nada de novo
no exercito; e que éra possivel que se passasse algum tem-
po, antes que se expedisse algum correio; assim que se
naõ admirassem, se estivessem alguns dias sem receber no-
ticias do exercito.
Cartas de Bayonna, datadas de 22 do corrente, dizem,
que chegam diariamente aquella cidade dez a quinze deser-
tores Inglezes e Portuguezes.
Noticias de Paris.
4 de Outubro.
O senado se ajunctou hoje 4 de Outubro pelo meio dia,
ob a presidência de S. A. Sereníssima o Principe Archi-
chanceller do Império, que foi recebido segundo a forma
usual.
S. A. Sereníssima, tendo tomado o seu lugar, abrio a
sessaõ, e disse :—
" SEWHORES !—Trago ao Senado, por ordem de S. M.
o Imperador c Rey, os documentos relativos í guerra com
Áustria e Suécia.
«« Esta communicaçaõ, determinada pelas leys, do
Miscellanea. 599
Estado somente tem sido demorada por accidenles impre-
vitos.
" Explicaçoens sobre taõ grandes interesses naÕ accre-
sccntariam cousa alguma á convicção, que vós deveis ter
pelo conhecimento de factos, que somente tle per si in-
formam, e naõ podem ser suppridos pelo raciocínio.
" Ha, porém, Senhores, uma circumstancia em que me
demorarei, e que naÕ escapará a vossa sabedoria, nem a
attençaõ da Europa. A continuação da guerra he con-
traria aos desejos de S. M. Elle tem feito tudo para im-
pedir que recomeçassem as hostilidades ; e vereis que,
ainda quando se perderam as esperanças de accommo-
daçaõ, o Imperador manifestou o desejo de que se tor-
nasse a ajunctar um Congresso, e trabalhou seriamente em
reconciliar os interesses dos differentes belligereutes."
Tendo S. A. R. acabado de fallar, um dos Secretários
leo os seguintes documentos officiaes. Depois desta com-
municaçaõ, o Senado, a proposição de S. Ex*. o Conde
Laccpcde, presidente annual, deliberou sobre apresentar
a S. M. o Imperador e Rey, um Memorial de Agradeci-
mentos, e encarregou ao official conrespondente, que o
preparasse.
7 de Outubro.
Hoje, quinta-feira, á uma hora, S. M. a Imperatriz
Raynha e Regente sahio do Píilacio das Thuillerias, e foi
ter ao Senado, com o séquito, ordem, e procissão, que se
publicou nos jornaes.
Os Gram-Officiaes do Senado, e 24 Senadores, rece-
beram a S. M. na porta exterior do seu Palácio. A Im-
peratriz Raynha e Regente tendo descançado no quarto,
que estava preparado para a receber, foi ter ao salaõ das
sessoens.—(Seguia-se aqui os nomes e ordem da procissão
dos Creados, Officiaes de Estado, &c.) Quando S. M.
chegou, todos os Senadores se descubriram, c puzérain de
pé.
4 H 2
600 Miscellanea.
S. M. subio ao throno colocado á esquerda do Impera-
dor, e os Ministros e Gram-officiaes se sentaram em ca-
deiras á direita e esquerda. S. M. entaõ fez a seguinte
falia :—
» S E N A D O R E S ! As principaes Potências da Europa
indignadas pelas pretençoens da Inglaterra, uniram, no
anno passado, os seus exércitos aos nossos, para obter a
paz do mundo, e o restabelicimento de todas as naçoens.
Com as primeiras casualidades da guerra se despertaram
as paixoens dormentes. A Inglaterra, e a Russia con-
duziram a Prússia e Áustria a unir-se a sua cansa. Os
nossos inimigos desejaram destruir os nossos alliados, e
castigallos por sua fidelidade. Desejaram levar a guerra
ao seio de nosso bello paiz, vingar os triumphos, que le-
varam nossas victoriosas águias ao centro de seus Estados.
E u sei melhor que ninguém o que o nosso povo teria de
temer, -se jamais soífrcsse ser conquistado. Antes que eu
subisse ao throno, a que fui chamada pela escolha de meu
augusto esposo, e pela vontade de meu pay, tinha a me-
lhor opinião da coragem e energia deste grande povo.
Esta opinião tem crescido (odos os dias, por tudo quanto
tenho visto debaixo de meus olhos. Informada, por estes
quatro annos passados, dos mais Íntimos pensamentos de
roeu esposo, sei que sentimentos o agitariam sentado
em um throno envilecido, e debaixode uma coroa sem
gloria."
«< Francezes, o vosso Imperador, o vosso paiz, e a
vossa honra vos chamam."
O Principe Archichanceller tendo recebido as ordens de
S M. permittio que falasse o Ministro de Guerra, o qual
subio á tribuna, e leo um relatório dirigido ao Impe-
rador.
O Principe Archichanceller, tendo outra vez recebido
as ordens da Imperatriz, permittio qne, em nome de S.
Miscellanea. 601
M. fallasse o Conde Reynaud, um dos dous Oradores do
Conselho de Estado, que apresentou ao Senado um pro-
jecto de Senatus Consultum, depois de ter explicado os
seus motivos.
O projecto do Senatus Consultum tem por objecto uma
leva de 280.000 homens, 120.000 dos quaes seraõ das
classes de 1814, e annos precedentes ; e nos departamentos,
que naÕ tem contribuído para a ultima leva de 30.000 ho-
mens ; e 100.000 da conscripçaõ do 1815.
O Conde de Lacepede se levantou e disse :—
SENHORA !—Antes que proponha ao Senado medidas
relativas ao projecto do Senatus Consultum, que acaba de
ser apresentado, tenho a honra de pedir a V M. Imperial
e Real que me permitia offerecer lhe, em nome de meus
collegas, a repcitosa homenagem de todos os sentimentos
de que estamos penetrados vendo qne V- M . preside no
Senado, e ouvindo as memoráveis palavras, que pronun-
ciastes do throno. Com que gratidão, com que religioso
cuidado, conservaremos nós para sempre a sua memó-
ria !
" Senadores 1—Tenho a honra de propor-vos, que se
remetta o projecto a uma Commissaõ." ___
Em conformidade das ordens da Imperatriz Raynha e
Regente, o Principe Archichanceller propoz a votos, a
proposição do Conde Lacepede, que foi adoptada. Pro-
cedeo-se ao escrutínio para a nomeação da commissaõ. A
commissaõ será composta do Conde Lacepede, Duque de
Dantzic, Conde de Ia Apparent, Conde Dejean, Conde
CÕlchen. Fará o seu relatório sabbado que vem.
S. M. adiou a sessaõ, e voltou para as Thuillerias com
o seu séquito. A partida da Imperatriz do palácio das
Thuillerias, a sua chegada ao palácio do Senado, e a sua
volta para as Thuillerias, fôram annunciados por salvas
d'artilheria. S. M. foi accompanhada em seu progresso
de grilos " Viva a Imperatriz !" " Viva o Imperador !"
602 Miscellanea.
9 de Outubro.
Hoje, sabbado, se ajunctou o Senado Conservador, sob
a Presidência do Principe Archichanceller do Império,
entaõ o Senador, Conde Dcjean, cm nome da commissaõ
especial nomeada na sessaõ «le 7 deste mez, fez o relatório
sobre o projecto de Senatus Consultum, apresentado na-
quelle dia, relativo á leva de 280.000 homens ; c o Se-
natus Consultum foi approvado pelo Senado.
Ilnje, quinta feira, 14 de Outubro, se ajunctou, o Senado Conservativo
às duas horas, sob a Presidência do Archi-chanceller.
O Senador Conde Segui-, em nome de um Committé especial, nomeado
na sessaõ de 12 do correnle, fez um relatório de um projecto de Senatus
Consultum, apresentado hoje, relativo á ilha de Guadaloupe. O Senatus
Consultum foi adoptado pelo Senado,e se expedio o seguinte;—
DECRETO.
HESPANHA.
Bulelims Austríacos.
Noticias officiaes do exercito principal, datadas de
Toeplitz, 31 de Agosto, depois de terem narrado as parti-
cularidades da destruição do corpo de Vandamme, referem
o seguinte:—
" O Coronel Mensdorff está manobrando com o melhor
effeito na retaguarda do inimigo. Elle tem interceptado
correios, tomado alguns prisioneiros, disperso varias divi-
soens de cavallaria que se mandaram contra elle, e con-
serva os 8.000 homens da guarniçaõ de Leipsic, em tal
estado de susto, que se naó atrevem a fazer movimeuto
algum."
Quartel-general de Toplitz,
1 de Septembro, 6 horas da tarde.
O Exercito Francez, cora a força de 80.000 homens,
que éra destinado para a Silezia, apenas chega a 10.000,
que estejam em estado de organização; o resto foi deban-
dado, 15.000 prisioneiros, 92 peças, 300 carros de muni-
ção, e 4 águias estaõ nas maõs do conquistador. O resto
saõ mortos, feridos, ou dispersos ; somente o crescimento
das águas do Bober impedio a completa destruição do ini-
migo.
Toda a divisão de Puthod foi destruída juncto a Lowen-
berg; cahio nas maõs do Ceneral Langeron, com o seu
General, e todos os officiaes do seu estado-maior; os «jue
naõ ficaram prisioneiros fôram afogados no Bober.
O Exercito do Marechal Macdonald se pode olhar como
annihilado.
VoL. XI. No. 65. 4 K.
614: Miscellanea.
Quartel-general Toplitz, 9 de Septembro, 18IS.
As guardas avançadas do exercito principal ganham dia»
riamente terreno na Saxonia. A do General Conde Witt-
genstein teve hontem uma mui brilhante acçaõ; expulsou
o inimigo de Pirna e Dohn para Dresden. Pela tarde o
inimigo recebeo reforços consideráveis, e atacou as nossas
tropas com grande impetuosidade; porém este ataque fui
repellido pelos valorosos Russianos, e os postos de Pirna,
Zehist, e também Zitschendorff fôram mantidos. Dous
esquadroens do reg. 14 de hussares Francezes fôram cerca-
dos durante a batalha; a maior parte delles passados á
espada; e todo o resto com o Tenente-coronel, que os
commandava ficaram prisioneiros.
A guarda avançada da ala direita está diante de Zitten,
e em Rumburg. O Coronel Connezichy tomou Rum-
burg por assalto ; e fez ali grande numero de prisioneiros.
O Imperador Napoleaõ parece, que por alguns dias tem
dirigido todas as suas forças contra o General Blucher.
Este, porém, naõ aceitou a batalha que se lhe offereceo; c
marchou contra o Neisse ; em quanto as suas tropas des-
tacadas, em cooperação com as tropas Austríacas do Ge-
neral Babna manobraram com grande effeito na retaguarda
do exercito.
O Major Falkenhausen, e Capitão Schwanenfeld, se en-
contraram no Io. do corrente, entre Goerlitz e Bautzen,
com uma companhia de artilheria Franceza, I esquadrão de
caçadores ; e uma companhia de infanteria. Elles os dis-
persara m completamente, tomáram-lhea ultima peça, que
lhe ficou da batalha do Katzbach. Um Secretario do
Duque de Vicenza, Gram Estribeiro, que tinha sido en-
viado para preparar quartéis em Bautzen, foi tomado no
seu caminho para ali.
Septembro 17.
Incluo as participaçoens dos differentes officiaes, com-
mandantes dos corpos, e artilheria, na acçaõ de Ordal, para
informação de V S.
4 M2
632 Miscellanea.
Septembro 17, 9 Horas da Noite.
Acabo de receber noticia de qne o inimigo sahio de Villa
Franca esta manhãa ; e voltou para Molino de Rey, juncto
ao Lobregat. Incluo uma listados mortos e feridos.
Bulletim XIV.
Quartel-general Koswig, 14 de Septembro.
O Principe da Coroa mudou o seu quartel-general para
este lugar, antes de hontem.
O exercito tem feito um movimento geral para o Elbe.
Elle está oecupado com os meios de obter pontos fortes
juncto aquelle rio, a fim de auxiliar o Grande Exercito.
Os exércitos do centro, commandados pelos Generaes
Blucher, e Bennigsen, se aproximam a Dresden. O Ca-
pitão Sueco Platen, dos hussares de Morner, qae foi
mandado a effectuar uma juneçaõ com o General Blucher,
conseguio o seu fim nas vizinhanças de Bautzen.
O ardente desejo de Napoleaõ, de annihilar o exercito
do Norte de Alemanha, tem oceasionado aquelle Sobe-
rano muita perda de tempo, e muita gente em marchas,
e contra marchas. A fim de sustentar as operaçoens do
Marechal Príncipe de Ragusa, era Hoyeswerda, aos 7 de
Septembro, este corpo, com a força de 25.000 homens
teve ordem de marchar para Berlin, a fim de effectuar
uma juneçaõ ali com o Principe de Moskwa. Portanto se
devia mandar um forte destacamento para o flanco direito
do General Blucher e obrigallo a retirar-se. O Duque de
Ragusa chegou a Hovcs-Dennewitz, c se retirou apressa-
damente duas horas depois ; marchando por Konigsbruck
para Dresden, aonde o Imperador Napoleaõ, que o pre-
cedeo, eutrou na manhaã de 9.
Duas vezes o Imperador Napoleaõ cora as suas guardas,
Miscellanea. 639
e o corpo do Duque de Ragusa fez movimentos offensivos;
e duas vezes, obrigado pelas circumstancias, se retirou
com precipitação e perda.
Na retirada de 8, o corpo do Duque de Ragusa foi
atacado em Hoyeswerda, pelo destacamento do Coronel
Figner, das guardas Russianas. O coronel, á frente de
800 cavallos, perseguio o Duque de Ragusa até Konigs-
bruck matou-lhe muita gente da sua retaguarda, e tomou-
lhe mil prisioneiros. Continuando sem intermissaÕ o segui-
mento do inimigo, este official se encontrou com a baga-
gem, tomou a maior parte delia, matou-lhe muita gente,
trouxe 400 cavallos de puchar. Voltando depois para
Grossenhayn, derrotou dous esquadroens do inimigo, per-
tencentes á divisão de Girardin. Pessoas, que este offi-
cial mandou para Dresden, o asseguraram, quando vol-
taram, que aquella cidade estava provida de mantimen-
tos, e necessários do exercito somente para 15 dias; e
nada restava para os habitantes.
A corte de Saxonia, antigameute taõ feliz, e tranquilla,
vê agora a sua capital exposta a todos os horrores de um
sitio. O mesmo Rey, que éra abençoado por seus subdi-
tos, he agora uma miserável testemunha das calamidades
queopprimem o seu povo, sem que lhe sêju possivel ali-
viallas ; e sem outro prospecto mais do que o vêllas ainda
mais aggravadas.
A naçaó Saxonia conhece a sua humiliaçaõ, e a de seu
Soberano ; e deseja tornara assumir a sua graduação, entre
os Estados independentes : ja se manifesta um espirito pa-
triótico ; e bem depressa se veraõ na Saxonia 100.000 ho-
mens armados, em defeza dos interesses da Alemanha, e
da grande causa da Europa.
A legiaõ Saxonia se está formando ao mesmo tempo que
a de Baden ; e os Alemaens podem mostrar, que saõ dig-
nos de seus antepassados. He de esperar, que, em breve
tempo, todas as naçoens desde as costas do Baltico até
4 N2
640 Miscellanea.
as margens do Rheno, se levantarão em massa, e repul-
sarão os oppressores do Continente para a margem esquerda
daquelle rio. O temor ja os naõ pódc assustar ; porque
400,000 guerreiros victoriosos estaõ promptos em todos os
tempos para os auxiliar e ajudar.
Os Alliados naõ tem desígnios contra a França : elles
amam, elles respeitam os Francezes; porém estaõ deter-
minados a naõ ser governados senaõ por seus próprios
Principes, e por suas leys. Se os Francezes do dia de
hoje saõ dignos daquelle glorioso nome, elles se deixarão
de pelejas por uma causa, que tem trazido tantas calami-
dades ao gênero humano, c que expõem a sua reputação
a tanto perigo.
Segundo as noticias de Itália, o Vice Rey foi comple-
tamente derrotado pelo exercito do General Hiller.
Um desertor, que chegou neste momento de Leipsic,
refere ; que o Duque de Dalmacia, Soult, foi outra vez
derrotado uo terreno Francez, pelo Marquez de W e l -
lington.
A moléstia do General Lagerbring, Chefe do Estado-
maior do exercito Sueco, privou o exercito, por algum
tempo, de seus serviços. O General Von Sparre supre o
seu lugar, e cumprirá com estes deveres entanto quanto
as oecupaçoens deste official lhe permittirem.
O Principe Carlos de Mecklemburg Schwerin tem to-
mado o commando do Landsturm do paiz.
Pequenos destacamentos tem ja passado o Elbe, e tem
atirado mutuamente alguns tiros de espingarda, com os
postos avançados Francezes.
Bulletim XV.
Quartel-general de Zerbst, 16 de Septembro.
O Principe da Coroa mudou hontem o seu quartel-ge-
neral para esta cidade. O General Czernicheff passará
hoje o Elbe com um corpo de cavallaria e artilheria. Elle
Miscellanea. 641
levará o terror á retaguarda do inimigo, e effectuará uma
juneçaõ com os partidários do grande exercito de Bo-
hemia.
O Capitão Russiano Fabeck, pertencente ao corpo do
General Czernicheff, que tinha ja passado o Elbe, avan-
çou para Naumburg, aonde achou o General Thielman
com perto de 1.000 cavallos. O Capitão Fabeck, que
se lhe tinha unido com 80 Cossacos somente, atacou o ini-
migo em Querfurth c tomou prisioneiros um Coronel Bá-
varo um Tenente-coronel Francez, 40 officiaes, c 500
soldados! Elle entregou os soldados ao regimento de
Cossacos do corpo do General Thielman, e mandou todos
os officiaes para esta parte do rio.
As noticias de Cassei referem, que reyna a maior con-
sternação naquella cidade, e paizes adjacentes. Os mem-
bros do corpo diplomático estaõ fazendo preparaçoens para
a sua partida. O Ministro Francez, Rjiuhardt, manifesta
grande inquietação.
O Príncipe de Eckmuhl ainda occupa a linha por detrnz
do Steckwitz ; e aos 12 do corrente tinha o seu q-mrtel ge-
neral em Ratzeburg. Tinha destacado o General Pecheux
com 8 ou 9 mil homens para Magdeburg. O General
Conde Walmodeu foi informado deste movimento por
cartas, que tem sido interceptadas, na margem esquerda
do Elbe. Elle partio com parte de suas forças para Do-
mitz, a fim de vigiar os movimentos do inimigo, e se se
offcrecesse occasiaõ de obrar offensivamente contra elle.
A guarda avançada do exercito do Gen; ral Blucher,
estava aos 13, cm Bautzen, e continuou o seu movimento
para Dresden, perseguindo as tropas Francezas, á propor-
ção, que estas se retiravam. Hontem se receberam noti-
cias do General Wobeser, que está em Falkenberg, diante
de Herzberg, aonde o General Tauenzien tem o seu
quartel-general; elle refere que dous corpos d'exercito do
inimigo, sob o commando do Rey de Nápoles, com 13
642 Miscellanea.
reo-imentos de cavallaria, estavam na margem direita do
Elbe. As patrulhas avançaram para a poáiçaõ do Gene-
ral Wobeser ; e tentaram interceptir um comboy de man-
timentos, porém sem bom successo.
Os Generaes Blucher e Beunigsen daraõ boa conta destes
dous corpos, se elles naÕ tornarem a passar para a margem
esquerda do Elbe. O General Tauenzien obrará conse-
quentemente de concerto com o exercito Alliado, de quem
elle forma a esquerda.
O Quartel-general das tropas Suecas está em Roslau.
A vanguarda está ja na margem esquerda do Elbe, e adi-
anta os seus postos avançados até Dessau. O General
Bulow, tem o seu quartel-general em frente de Witten-
berg ; o cerco começará immediatamente. A guarniçaõ
desta praça foi reforçada.
PROCLAMAÇAÕ.
O Principe da Coroa de Suécia aos Saxonios.
SAXONIOS !—O Exercito Combinado do Norte da Ale-
manha tem passado as vossas fronteiras ; naÕ para fazer a
guerra ao povo de vosso paiz ; mas somente para atacar os
seus oppressores.
Vós naÕ podeis deixar de desejar ardentemente o bom
successo de nossas armas, cujo objecto só he reviver a
vossa arruinada prosperidade, e restabelecer o VOÍ-SO Go-
verno no seu explendor e independência. Nós continu-
amos a considerar a todos os Saxonios como amigos. A
vossa propriedade será respeitada; o exercito observará a
mais exacta disciplina, e as suas necessidades seraõ sup-
pridas da maneira menos pezada ao vosso paiz. Naõ de-
sampareis as vossas casas, continuai como d'antes nas
vossas oecupaçoens ustiaes.
Bem cedo importantes acontecimentos vos libertarão do
perigo de uma politica ambiciosa. Sede dignos descen-
dentes dos antigos Saxonios, e se o sangue Alcnviõ tem de
Miscellanea. 0-1*
derramar-se, seja pela independência da Alemanha, e naõ
para o prazer de um simples individuo, cora quem naõ
estais ligados por laço algum, nem por interesse algum
commum. A França he bella, e assaz extensa; os con-
quistadores da antigüidade se contentariam com tal Im-
pério. Os mesmos Francezes desejam yoltar aos seus li-
mites, que a natureza lhes tem prescripto. Elles odiara a
tyrannia, posto que lhe sejam subordinados. Aventurai-
vos por fim a dizer-lhes, que estais resolvidos a ser livres;
e estes mesmos Francezes vós louvarão; e elles mesmos vos
animarão a perseverar em vossa generosa empreza.
C A R L O S JOAÕ.
Quartel-general de Juterbock, 10 de Septembro, 1813.
Bulletim XVI.
Quartel-general de Zerbst, 20 de Septembro.
O Generul Von Puttlitz, que está encarregado da ob-
servação de Magdeburgo, se acha postado em Mockern :
elle enviou vários destacamentos de infanteria para a mar-
gem esquerda do Elbe.
Duas companhias do regimento de Joseph Napoleaõ,
compostas de 1G4 homens, com o seu chefe de batalhão, e
outros dous officiaes, se passaram para as nossas avan-
çadas em Biedcritz, na noite de 16 paia 17 de Septembro,
Elles tiveram permissão de conservar as suas armas, c
foram levados ao quartel-general de S. A. R., d'onde
seraõ mandados para Hespanha, pela via de Stralsund.
Parte do Landsturm de Preignitz, debaixo do com-
mando do Major Vrou Puttlitz, cruzou o Elbe, e tomou,
posse das vizinhanças de Seehausen e Osterburg. Elle
protege os habitantes da Marca-Antiga de Brandenburg
contra as requisiçoens de partidas errantes, e Governo de
Westphalia.
O Tenente-general Conde Walmoden, tendo recebido
informação de que o Príncipe de Eckmuhl tinha desta-
c l 4 Miscellanea.
, d o a divisão do General Pecheux, para a margem es.
r
nuerda do Elbe, passou aquelle rio em Domitz, e na sua
m a r c h a , aos 16, se encontrou com o iuimigo. O General
P e c h e u x se linha postado vantajosamente nas alturas por
detraz tle G o e r d e . Começou a canbonada; o ataque
feito pelos aliradores de Lutzow e Reiclie, e os bem com-
binados movimentos das columnas de infanteria, forçaram
o inimigo a th i x a r a s alturas, e formar se em massa na
planície. Ao momento em que as nossas columnas tinham
chegado até as alturas, a (avaliaria, e os cossacos appa-
recêram no Üiuico esquerdo do inimigo. Naõ obstante
isto, elle fez uma obstinada defeza, sustentou um vivo
combate com a infanteria, e repulsou vários ataques da
cavallaria. Com tudo depressa foi obrigado a ceder á
artilheria, parte da qual seguio de mui perto a infanteria.
Sendo o inimigo repetidas vezes atacado pela infanteria,
th' vários lados, desejou accelerar a sua retirada; c desde
•entaõ a Mia desordem foi completa; porque caliio sobre
elle tanto a infanteria como a cavallaria. O corpo do ini-
migo teria sido totalmente destruído, senaõ fosse o chegar
:\ noite, <: ser o terreno escabroso, o qne fez que se salvasse
uma paríe. O campo de batalha ficou cuberto de mortos
v feridos. Tomamos 8 peças d'artiIJicria, 12 carros de
munição, e grande quantidade d:-bagagem. O General
de brigada Mcilzinski, dous ajudantes òo General P e -
cheuxj e mais de 1.000 homens, ficaram prisioneiros.
Ainda no dia seguinte se apanharam prisioneiros em todos
os lados; demaneira que o todo c.irga a perto de 1.800
homens. O General Pecheux penico o seu cavallo, e es-
canou--c a pé. O resto de sua divisão se está retirando
em desordem para Ekckcãe ; perseguido pelos Cossacos,
debaixo do comnamlo do General Teítenborn.
A nossa perda consís/e cm .70 officiaes e'100 soldados
mortos ou feridos. Os majores Von Lutzon, Firks, e
Scliaiscr, estaõ feridos: o Major D e n u i x foi morto.
Miscellanea. 645
Todas as tropas debaixo do commando do Tenente-gene-
ral Conde Walmoden andaram ás invejas umas das outras,
neste dia, qual mostraria mais zelo, e valor. O terceiro
regimento de hussares Inglezes, o 1°. da Legiaõ, e vários
outros batalhoens das Legioens Ingleza e Russiana, se
se distinguiram muito. Os atiradores de Lutzou e Reiche
tomaram a primeira peça. A artilheria Ingleza, e os
corpos de fogueteiros merecem os maiores louvores.
Durante este ataque, o inimigo avançou, com alguns
milhares, de homens, contra Boitzenburg porem sem ne-
nhum effeito. O General Walmoden mudou o seu quartel-
general, aos 17, para Dannenherg, para ficar mais perto,
e poder melhor observara quella parte do corpo d'exercito
do Principe de Eckmuhl, que ficou na margem direita do
Elbe.
O grande exercito unido de Bohemia deve ter ganhado
novas vantagens ; as contas officiaes ainda naõ chegaram.
Sabmos por noticias particulares de Leipsic, que na
noite de 16, 8.000 de cavallaria, 2.000 dos quaes esta-
vam desmontados, e varias peças d'artillicria desmontadas
chegaram ali. O hospital de campanha foi trazido de
Dresden para Leipsic, e parte delle se passou até Mer-
seburg.
A falta de forragem em Dresden he taõ grande, que ha
algum tempo, que morrem todos dias 200 cavallos.
O General Thielman aprisionou em Weissenfels, um
general, 37 officiaes, e 1.200 soldados. Aos 14, os cos-
sacos tomaram em Wurtzen um comboy de carros carre-
gados de trigo, que era destinado para a guarniçaõ de Tor-
gau, e era escoltado por um batalhão Saxonio. O Coro-
nel Von Mcnsdorf interceptou correios, cujas cartas ex-
põem o estado de abatimento do exercito Francez.
O General Blucher tem o seu quartel-general em Baut-
zen, pela sua ali direita, combina as suas operaçoens cora
as do exercito unido do Norte d'Aleraauha, e pela sua ala
V O L . X I . No. 65. 4 o
646 Miscellanea.
esquerda se communica com o exercito de Bohemia,
Tendo recebido noticia de que o 6 o . corpo d'exercito do
inimigo marchava para Grossen Hayn, o General Blucher
mandou marchar para Camenz o corpo do General Sa-
chen. A vanguarda deste corpo perturbou o inimigo
todo o dia 15 e 16. O 6". corpo do exercito retrocedeo
para Dresden, e o I o . corpo de cavallaria se poz em movi-
mento para seguir a infanteria. O General Conde Tau-
enzien se preparava para o seguir.
O General Wurtembergez, Franquemonl, se tinha
queixado ao General Delort, chefe do estado maior do 4».
corpo, que as suas tropas andavam sempre em avançada
na vanguarda, e na retirada, na retaguarda. Aquelle ge-
neral lhe respondeo : « Deveis estar satisfeito que isso
assim seja : he do nosso interesse que vós todos sejaes
mortos ; porque do contrario, bem depressa vos voltareis
contra nós."
A Dinamarca, que tem cedido ás ameaças c ardilez do
BaraÕ Alquier, aos 3 de Septembro declarou guerra â
Suécia. He estranho, que nesta declaração, as hostili-
dades previamente commettidas contra a Suécia, tanto
por mar como por terra, se passasem em silencio: Nos
esperamos que o Governo Dinamarquez, sendo informado
das oceurrencias no progresso da guerra, percebera final-
mente o perigo que corre; e obrigado pelo total desar-
ranjo de suas finanças, tomará a resolução, e aceitará as
proposiçoens, que se lhe fizerem. Do contrario, se
aquella Corte naÕse unirá causa commum senaõ quando
esta tiver triumphado, naõ terá nisso merecimento, nem
será de utilidade alguma o alcançar-lhe condiçoens mode-
radas. Todo o Norte vê, com pezar, a illusaõ do Go-
vemo Dinamarquez. O Ministro Alquier, que ali he
conservado, deve elle mesmo admirar-se do poder c eíleiío
de suas ordens. Ao momento em que todos os principes
da Confederação do Rheno, se estaõ preparando para sa-
Miscellanea. 647
Bulletim XVII.
Quartel-general de Zerbst, 22 de Septembro.
O General H o w a i s k i , com os seus Cossacos, e o G e -
neral Von Dobschuss, com 4 esquadroens, que fazem parte
da g u a r d a avançada do General Tauenzien, se encon-
traram, aos 19 do corrente, entre Borack e Schwediss,
com o I o ., 8 o . , e 19°. regimentos Francezes de caçadores
de cavallo, atacáram-nos com tam bom successo, que
destes 3 regimentos apenas se escaparam 30 homens. O
Coronel T a y l l e r a n d , 2 tenentes coronéis, e 16 officiaes,
e 500 homens ficaram prisioneiros, o resto foi morto ou
ferido. U m a circumstancia notável, e que somente se
pode attribuir á falta de uniaõ que reyna nas tropas do ini-
migo, he, que toda a nossa perda consistiu em um só Cos-
saco ferido. O General Dobschuss oecupou C o s d o r f e
Muhlberg. O General W o b e s e r observa T o r g a u . Dous
grandes botes, que vinham pelo Elbe abaixo carregados
de muniçoens e vestuário para a guarniçaõ desta ultima for-
taleza, foram tomados. O Capilaõ Von Zcunest, que
fora mandado com 30 homens do L a n d w e h e r , de cavallo,
para a margem esquerda do Elbe, destruio os entrin-
cheiramentos, construídos juncto a R o g a t z . O inimigo
mandou de W o l m i r s t a d t s 100 homens, p a r a impedir isto ;
porém o Capitão Z e u n e r t cahio sobre elles, á frente dos
seus 30 homens, e depois de uma obstinada resistência os
passou á espada. Tomáram-se alguns prisioneiros q u e
todos estavam feridos. O mesmo Capitão Zeunert ficou
gravemente ferido nesta acçaõ.
O Coronel Bjornsíjerna, tendo sido destacado com as
tropas Suecas para a margem esquerda do E l b e , marchou
aos 20 para Kembcrg, na esperança de surprender ali
uma companhia de Polacos ; mas estes tinham j a deixado
4o 2
648 Miscellanea.
o lugar, e tomaram o caminho de Leipsic. O coronel
foi por fim reconhecer a cabeça de ponte, juncto a Mit-
tenbero-, e tomou juncto mesmo á artilheria da praça um
corpo avançado e um correio que trazia varias cartas.
Entre estas ha varias do Governador-general Lapoype,
dirigidas ao Marechal Ney Duque de Elchingen ; ao
Duque de Reggio; e aos generaes Regnier, Narbonne, e
Margaron. O contheudo destas cartas mostra, naõ so-
mente que os soldados, mas ate mesmo os officiaes e sar-
gentos da quella fraca guarniçaõ de Wittenberg, desertam
todos os dias.
O General Conde Walmoden refere, em data de 19,
que o General Tettenborn perseguio o inimigo na sua fu-
gida para Bleckedee Brackede, Luncnburgo, Winsen, e
mesmo até Harburg ; em toda a parte temos apanhado
soldados, que ficavam atraz. O General Pecheux se
escapou com 500 ou 600 homens, que ajunctou em Lu-
nenburg, aonde chegou na manhaã do dia seguinte ao da
batalha, e procedeo em sua marcha para Winsen, e Hopte,
sem parar. O general inimigo Osten tinha ido adiante com
um destacamento de Harburg para Winsen, mas deixou
aquelle lugar, quando o nosso destacamento se aproximou :
ainda se acham dispersos pelo caminho muitos feridos. O
numero de prisioneiros tem crescido a 1.300, durante o se-
guimento foram tomadas as bandeiras, pertencentes ao re-
gimento 3 o . de linha. Aos 18, o inimigo fez um grande
reconhecimento de Mollen, para a parte de Zarrentein ;
e por fim atirou com sigo para traz, indo com a sua ala
direita contra Boitzenburg. O Conde Walmoden recebeo
ordens de atacar o Principe de Eckmuhl, com as suas
forças unidas. Elle he sustentado por 15.000 homens do
Landsturm de Mecklenburg, sob o commando do Principe
Hereditário.
A leva em massa se esta organizando em toda a parte,
n a margem direita do Elbe. Este exemplo bem depressa
será seguido na margem esquerda do Elbe, e em breve se
Miscellanea. 649
BULLETIM XVIII.
Quartel-general de Zerbs', 26 de Septembro, 1813.
Aos 21 ao romper do dia, dous ofliciaes Saxonios apparecêram
ante os postos avançados Suecos em frente de Worlitz, c os infor-
maram de que os seus batalhoens, se passariam para nos. O Coronel
Bjornstierna, acompanhado por alguns hussares, foi ter á frente dos
batalhoens para os receber. O seu commandante, o Major Von
Buoau, declarou, em nome de toda a sua tropa, que desejava com-
bater debaixo das bandeiras de S. A. R. pela liberdade da Alemanha.
Este batalhão he o primeiro do regimento d'EI Rey : a sua força
chega a 8 officiaes e 360 soldados. Entrou em Worlitz com bayo-
netas fixas, e tambores batentes ; e terá o nome de 1». batalhão da
Legiaõ Saxonia d'El Rey. Em tres dias, ao mais tardar, se comple-
tara a 800 homens.
O official Cossaco Obreis, que foi destacado com 30 homens, aos
23 juncto a Goldwitz, tomou um capitão, 2 officiaes, e 40 dragoens
Saxonios, prisioneiros, depois de um ligeiro combate.
Seis barcas canhoneiras Suecas, commandadas pelo Capitão Kru-
ger, canhoneãram com bom effeito a cidade de Stetlin, o subúrbio
de Damra, e as baterias que ligam estes dous lugares.
Aos 24 de Agosto, se desmontaram tres peças em Damm. O
Tenente-coronel Feririam, o seu ajudante, um sargento-maior, e
vários soldados fôram mortos; e grande numero feridos, da parte
do inimigo. Aos 30 de Agosto, a porta de Damm foi arrombada a
tiros d"artilheria ; e no 1°. de Septembro, se dirigio o fogo contra a
mesma cidade. As barcas tiveram alguns homens mortos nestas
acçoens.
Para attrahir a attençaõ da guarniçaõ de Wittenberg da parte
aonde se tinham aberto as trincheiras, e diminuir portanto a nossa
perda, recebeo o General Bulow ordens de bombardear a praça da
parte opposta. A's 2 horas da tarde de 24 mandou atacar os su-
búrbios. As judiciosas disposiçoens, que fez o General Hirsclifeldt,
fizeram com que o ataque fosse completamente bem succedido. Os
subúrbios foram tomados, e o inimigo repulsado em todos os pontos t
nós tivemos poucos feridos, e nem um só homem morto. Este ata-
que faz grande honra ao General Hirschfeldt.
Abriram-se as trincheiras da parte de Luthersbrunn, na noite de
24 para 25 : o bombardeamento começou na mesma noite, e se in-
cendiaram varias partes: o fogo continuou desde as 10 horas da
noite até ás 5 horas da manliaã seguinte. Podia distinguir-se o
g52 Miscellanea.
fo.ro das torres de Leipsic e Dresden. Ao mesmo tempo se abrio"
segunda parallela, da parte do castello. A cavallaria do (onde
Woronzow guarnece Halle, Querfurth, Ernsleben, Bernsburg e Hal-
berstadt.
Esteve em Quedlinburg um destacamento. Parte desta cavallaria
formou uma juneçaõ com o grande exercito de Bohemia, e marchou
para a retaguarda do General Lefebvre, que escaramuçava com o
General Thielmann. Em Leipsic tudo está na maior confusão.
Esta cidade j a naõ pôde pagar as contribuiçoens de dinheiro, manti-
mentos, e cavallos, que se lhe impõem de todas as partes. O povo
está reduzido a tal gráo de miséria, que as authoridades, que levam
estas ordens tem tudo que temer. Os soldados Francezes estaõ cança-
dos, e enfadados de uma guerra sem objecto a que elles chamam
guerra de assucar e caffé.
O General Czernicheff partio para uma expedição secreta, com
um corpo de 3.000 cavallos.
O Major Hellwig, do corpo do General Bulow, abrio, na margem
esquerda do Elbe uma communicaçaõ com a vanguarda do General
Schulzenheim, em Dessau.
O Feld-marechal, Conde Stedinck, mandou construir obras consi-
deráveis acima de Rosslau, e entre o Elbe e o Mulda. 0 General
Baraõ Winzingerode está formundo a cidade de Achen em uma for-
taleza.
0 governo militar entre o Oder, e o Vistula tem posto todo o
Landsturm na margem direita do Oder, debaixo das ordens do gene-
ral commandante dos sitios de Stettin e Custrin. Este Landsturm
formará uma massa de perto de 55.000 homens em uma linha de 7
milhas Alemaãs. 0 Landsturm na margem esquerda do Oder pro-
duzirá na mesma extensão igual numero de gente. Esta força naõ
he certamente necessária, em conjuneçaõ com as tropas de linha,
para accelerar o rendimento destas praças. Consequentemente era
uma linha de 14 milhas Alemaãs ha j a organizada uma massa de
100.000 paizanos, que estaõ promptos a pelejar em defensa e protec-
çaõ de suas casas.
Quando Magdeburgo estiver cercado, se chamará a campo o Land-
sturm daquella provincia; a cada passo que o exercilo Aluado der
para diante, achará massas, que o ajudem.
Cartas recebidas de Dresden referem, que a Principe de Neufcha-
tel está mui descontente, e que tem feito as mais urgentes represen-
taçoens, para persuadir o Imperador Napoleaõ, que faça a paz. Se
Miscellanea. 653
se tivessem seguido os seus conselhos, a humanidade teria tido
menos que lamentar.
BULLETIM XIX.
4 f 2
fj5g Miscellanea.
BULLETIM XX.
Quartel-general em Dessau, 4 d*0utubro.
O Principe Real translerio hoje o seu quartel-general paia
este lugar.
As tentativas, que fez o inini'_'o, aos 29 de Septembro, para
tomar as obras, que apenas estavam traçadas, na ponte de
Rosslau, foi-lhe mais fatal do que elle suppunha. Os officiaes
e soldados aprisionados e os desertores, e habitantes do paiz,
coincindem em avaliar a sua perda a 1.500 homens, pelo cal-
culo mais biixo, enterraram se aqui de 700 a 1000 homens. O
General Sanilcls lhe causou esta perca somente com tres bata-
lhoens.
O General Blucher, por uma destas marcha» de que a his-
toria apenas fornece exemplo, e que somente podia suggerir o
enthusiasmo pela liberdade de seu paiz ; avançou, com a maior
parte (lc sou exercito das vizinhanças de Bautzen para Elslcr*
c, ainda que tivesse de levar com sigo a equipagem de uma
ponte, effectuou a passagem cm taõ breve tempo, como teria
feito um simples viajante. Depois de passar o Elbe atacou o
4 o . corpo do exercito inimigo, commandado pelo General Ber-
trand, aos 3 de Outubro, juncto a Wartenburg, pôllo em
fugida, matou grande numero, expulsou o de todos os entrin-
cheiramentos, e tomou 16 peças, 70 caixoens com seus arreios,
6 1.000 prisioneiros.
O Tenente-coronel Lowenstein, com um pequeno destaca-
mento de Cossacos, pelejou contra mais de 2.000 homens, nas
ruas bc Bernburg. Depois de u:n conflicto de duas horas, e de
inimigo ter sido reforçado cora artilheria, foi o lugar abando-
nado mas retomado logo no dia .seguinte, a habilidade e cora-
gem dos Cossacos nesta occasiaõ, assim como a que tnn mos-
trado nas precedentes fr-z-lhcs a maior honra * elles pelejam
fi-ualnientc nas fuleiras, rompem os esquadrocn-, atacam os
quadrados massiços, passam os rios a n.ido, e apresentam-se na
retaguarda do inimigo, aonde espalham o terror e a desordem,
O exercito Russiano cruzou hoje o Elbe ern Aclier». O Gene-
ral Winzingerode mandou avançar para Cothcn a sua van
guarda, commandada pelo Conde Woronzoff.
Miscellanea. 657
A cidade de A c k e n estará d e n t r o em p o u c o tempo t a õ bem
fortificada, q u e , para a tomar, será necessário um cerco r e g u l a r .
H e um ponto na margem esquerda, que o inimigo deixou de
o c c u p a r , e d'onde o exercito alliado tira agora utilidades essen-
ciacs.
H a v e n d o o exercito Sueco lançado uma ponte de botes sobre
o Elbe, em llosslau, passou esta manhaã o rio, ao romper do
dia, c se moveo o u t r a vez para Dessau. Os seus postos avan-
çados se cxtemlem para R a g h u n e J o n i t z , e eslá etiectuada a
juneçaõ com o General Blucher. O exercito do Marechal
JNcy deixou Dessau e J o n i t z ás ò horas da m a n h a ã . A sua
retaguarda foi vigorosatnento perseguida, c se t o m a r a m alguns
prisioneiros.
SeraÕ ainda precisos mais 5 ou 6 dias p a r a se completarem
as obras cm Rosslau. Ellas saõ traçadas em uma bella plani-
cie e fazem grande honra ao General S p a r r e . O 3o. corpo
d'exercito 1'rus^iano, sob o commando do General Bullow,
deve cruzar o Elbe a m a n h a ã , o que fará igualmente o G e n e r a l
Conde Tauenzien, com o seu corpo. O General Tliumen
ficará cm frente de Wittenberg. Este general deve c o n t i n u a r
o cerco com o mesmo vigor, que mostrou j á cm Spandau. Se
Wittenberg cahir nas uiaÕs dos alliados, elles ficarão senhores
do Elbe, p o r q u e esta fortaleza c u b r i r á Berlin, e servirá a o
mesmo tempo de deposito p a i a os exércitos alliados.
C m viajante, que chegou aqui de Cassei, ref<Te, que o G e -
neral Czernicheff chegou ali aos 2 8 , tomou a cidade Ha, e poz
cm liberdade os prezos de estado. E s p c i a . s e a conlirmaçaõ
desta novidade.
Antes de hontem, S. A . R . o Principe da C o r o a passou re-
vista ao b a t a l h . õ Saxonio, que se passou p a r a os alliados.
Estas tropas teu» um a bella apparencia. lillas expressaram a
sua resolução de servir á causa da A l e m n n h a , e de seu paiz
natal.
( N . B . Este bulletim conclue com a noticia do rendimento
da cidade, e cidadela de S. Sebastião, n a H e s p a n h a , e d e r r o t a
de Soult aos 31 de Agosto, e l de Septembro.)
658 Miscellanea.
BULLETIM XXI.
Quartel-general de Dessau, 6 d'Oulubro.
O inimigo se retira na direcçaõ de Leipsic. O quartel,
general Jo Marechal Ney, estava em Bittcrneld na noite de 4
para 5. O Maior Czciintscheíf, perseguia anda o inimigo, na
margem direita do Mulda, pelejou todo o dia 4 com a cavalla-
ria da retaguarda, foi cercado varias vezes, p matou e aprisio-
nou grande numero do inimigo. O CapitaÕ Obrcskoff, que
foi mandado com 80 Cossacos para a margem direita do Mulda,
a fim de formar unia communicaçaõ com a guarda avançada do
General Blucher, perseguindo o inimigo entre Oranienburg e
Golp tomou 38 prisioneiros. O General 0'Rourk marchou
para Zorbig, e o Tenente-coronel Melnikoff para Landsberg.
Elle e o Tenente-coronel Chrapowitzky teve hontem uma bri.
lhante acçao, entre Landsberg e Delitsch. O General Francez
Fournier marchou de Leipsic com uma divisão de cavallaria, e
4 peças d'artilheria, a fim de se lhe oppôr. O inimigo, nao
obstante a sua superioridade de forças foi derrotado, e perse-
guido até as portas de Delitsch, com perda considerável em
mortos e feridos, alem de 150 piisioneiros, um dos quaes he
official. O Tenente-coronel Lowenstern continuou a incom-
modar, em frente de Bernbourg, a cavallaria do inimigo, que,
nao obstante ser superior em numero, fez demonstraçoens de
se retirar para Magdeburg.
O Major Baraõ d'Essen, Ajudantc-de-Campo do Principe
da Coroa, e o Capitão Russiano Krasnakutzki, marcharam
para Delitsch, com um regimento de Cossacos. O Coronel
Stael perseguio o inimigo com grande vigor. Elle se distinguio
por seu valor, e habilidade na acçao juncto a Dessau, aos 26
de Septembro.
A expedição do General CzernichelT teve o melhor e mai.
brilhante successo. Ja mais o denodo, os talentos, e o valor
foram taõ conspicuos como nesta occasiaõ. O general, depois
de tres gloriosos combates, entrou em Cassei, aos 30 de Sep-
tembro, por capitulação. Marchou aos 24 para Eisleben, aos
20 para Rosla, e evitando os corpos Wcstphalianos, comman-
dados pelo General Bastineller, postou-se cm Hcilligenstadr,
Miscellanea. 6à9
ESTADOS UNIDOS.
A p. 513 publicamos um extenso documento dos Estados Unidos,
em que se acha mui clara idea do actual estado da questão entre
aquella potência e a Inglaterra. Este elaborado papel, he a resposta
do Secretario de Estado a certos quesitos, que fez ao poder execu-
tivo a Casa dos Representantes no Congresso.
Como a França publicou um documento, ou decreto, em que se
revogavam os seus decretos de bloqueio ; e com data rr.ui anterior ;
a pergunta do Congresso éra tendente a veriguar, se o poder execu-
tivo tivera noticia daquelle decreto, entre a epocha da data que se
lhe attribue, e o tempo de sua publicação. A resposta éra simples ;
mas o secretario de Estado em vez de satisfazer á pergunta, como o
poderia executar, em mui poucas palavras, passa a fazer um longo dis-
curso a respeito das relaçoens politicas com a Inglaterra, esforça-se
em mostrar, que esta naõ revogon as suas Ordens em Conselho, em
conseqüência daquelle decreto Francez; e accumulando tanta ma-
téria estranha a respeito do estado du questão com Inglaterra, nada
diz sobre as relaçoens com a França, sendo aliás a pergunta concer-
nente ás communicaçoens com a França. Por fim sempre responde,
que o Governo Francez naõ coramunicou ao dos Estados Unidos o
tal decreto de revogação de bloqueios, senaõ ao tempo da sua publi-
cação, posto que a data fosse anterior ; d'onde fica evidente, que os
Francezes antidatáram o documento ; e falsamente quizéram per-
suadir, que fora feito ao tempo que declarava; porque éra inútil
fazer um decreto, que se naõ havia de communicar ás partes aquém
interessava. Sobre isto porém o Secretario de Estado naõ faz obser-
vaçoens algumas.
E porém, sem que lho perguntem, faz grandes racionios para mos-
trar; que o Governo Inglez naõ revogou as suas Ordens em Conselho
de bloqueio, em conseqüência da revogação Frauceza, e sim por
outros motivos 5 mas < que tem com isso os Americanos ? Deseja-
vam a revogação das Ordens em Conselho, estas foram com effeit»
VOL. XI. No. 65. 4 Q
662 Miscellanea.
FRANÇA.
O decreto, que inserimos a p. 602, assignado pela Imperatriz, he
um daquelles rasgos de Napoleaõ, de que ha taõ freqüentes exemplos,
e que taõ bem characterizam o fogoso de soa tempera, a qual o leva
muitas vezes ao estado de cegueira.
A Inglaterra estava de posse da ilha de Guadaloupe, que tomou
por força d'armas. Achou depois conveniente ceder esta sua posses-
Miscellanea. G62
HESTANHA.
O Leytor achará neste N°. a p. 602, a importante carta de Lord
Wellington ao Minsstro de Guerra da Hespanha, cm conseqüência
de ter o Governo Hespanhol faltado aos ajustes e condiçoens, que
estabelecera com aquelle General, quando lhe deo o commando
dos exércitos Hespanhoes. Audi alterara partem ,* he uma máxima
essencial, para julgar entre dous ligantes. Lord Wellington es-
tabelece o seu caso naquella Carta : para julgar do seu merecimento,
cora piecisaõ, seria necessário ver a resposta do Govemo Hespanhol,
o que ainda nos naõ chegou á maõ. E com tudo he necessário
confessar, que Lord Wellington estabelece o seu caso com tanta
força, que ficamos convencidos de sua razaõ ; porquo suppómos
impossível, que, tractando-se de factos, Lord Wellington allegasse
áo mesmo Governo Hespanhol com um ajuste que naõ existisse.
Por outra parle; publicou-se, no Diiende-de-los-coffés, em Cadiz,
uma carta de S. Sebastian, assignada " Mirringui \ila\erde," <
que foi copiada cm algumas das gazetas lnglezas, aonde se queixa
aquelle individuo das atrocidades, pilhagem, mortes, estupros, e
incêndios commettidos pelas tropas Alliadas, que tomaram S. Se-
bastian. He impossível que demos credito a acusaçoens, que MÍ
fazem tanto menos criveis, quanto saõ mais abomináveis; simples-
mente pelo testemunho de um individuo; mas uma vez que tae*
cousas se publicam em Cadiz, á face do mesmo Governo Hespanhol,
incumbe a este o examinar, e authenticar aquelles factos; c, se
achar que a acusação he falsa, impor ao promulgador de taes ca-
lumnias, as mais severas penas, que a ley permittir; pelo contrario ;
se as achar verdadeiras, deve exigir de Lord Wellington, qm cas-
tigue exeraplarissimamentc os culpados, c mui principalmente o»
Officiaes commandantes naquella occasiaõ. Sir Thomas Graham»
que commaudava cm chefe o cerco de S. Sebastian, he pessoalmente
designado na quella carta, e portanto be de esperar, que um of-
ficial de tal graduação como elle he, naõ guarde o s.lenc.o n-uma
accusaçaõ taõ seria.
Miscellanea. 665
Quanto a Lord Wellington, estamos plenamente convencidos,
considerando todo o seu comportamento passado, que, se taes atro-
cidades se commetterain em S. Sebastian, elle naõ foi informado
dellas; alias as teria punido como convém. Naõ dizemos isto,
porque o brilhantismo de suas victorias nos offusque a razaõ ao
ponto de o desculparmos, se pensássemos, que elle éra capaz de
fechar os olhos a crimes daquella natureza, commettidos por seu
exercito, contra o$ seus mesmos alliados z nenhumas victorias,
nenhuma gloria militar, nos farta louvar um guerreiro, a quem a
humanidade e a moral faltassem ao ponto de permittir similhante
desenfreamento em suas tropas. Dizemos pois, que ou taes factos
naõ existiram, ou se existiram Lord Wellington naõ soube delles;
porque todos os actos de sua vida publica lhe daõ o character mais
humano, e porque tem mostrado em suas ordens, e proclamaçoens
ao exercito, que commanda, que naõ somente deseja sustentar a
boa disciplina, mas ale exige de suas tropas que os Francezes sejam
bem tractados; e quando elle assim obra a respeito de seus inimigos
l quem se persuadirá, que elle permittisse outra cousa a respeito de
seus mesmos Alliados ?
A concórdia, e a boa harmonia, que deve reynar entre os Al-
liados, exige que se naõ façam, em uma das Naçoens, accusa-
çoens contra a outra, sem provas covincentes; uma vez porém
que se fizeram, a indagação do caso, e a publicação do resultado da
indagação, cora o castigo ou do calumniador ou dos deliquentes,
hc de absoluta necessidade, para o bom êxito da causa commum.
Em prova do character justiceiro e integro de Lord Wrellington,
referiremos uma anecdota. Escreveo aquelle illustre guerreiro
um officio aos 3 de Julho passado, e nelle disse de passagem, que
" o General Clausel tinha repassado o Ebro por que fôra informado,
pelo Alcaide de Tudella, que as tropas Alliadas estavam naquella
estrada." Provou depois aquelle Alcaide, a Lord Wellington, que
elle naõ fôra quem deo a informação aos Francezes; e por mais
insignificante que isto parecesse, Lord Wellington escreveo logo um
officio ao Governo de Hespanha, em data de 22 de Agosto, con-
traiu zendo-se, e dando, com seu próprio punho, publicidade á ino-
cência do Alcaide.
66b Miscellanea.
INGLATERRA.
A p. 567, publicamos uina Ordem do Com mandante em Chefe das
tropas, que descreve os regulamentos piescriptos porS. A. K. o Prin-
cipe Regente ; sobre a distribuição das medalhas concedidas aos offi-
ciaes, que se distinguem em acçoens relevantes.
Publicamos também as listas dos officiaes a quem fôram concedi-
das estas condecoraçoens ; por se acharem ali es nomes de muitos
officiaes Portuguezes, ou conimandando tropa* Portuguezas. K
para naõ perdermosésta occasiaõ de perpetuar a honra das armas de
Portugal, ajunetamos aqui uina estampa em que se representa a me-
dalha, os colchetes, e a cruz, que formam a» differentes insígnias,
pelas quaes »e designam as acçoens, em que os individuo» se distin-
guiram.
Offereccmos t sla Estampa, e a dedicamos, aos SENHOR»s OFFICIAÍ:*
PORTUGUEZLS, que se acham no Exercito, naõ só pelo agradecimento
que lhes devem todos os Portuguezes, como defensores da 1'alria ;
mas também por terem salvado o character Nacional do estado de
despreze, em que geralmente era tido na Europa ; e por provarem
ao Mundo, á custa de seu sangue; que se circumstancias adversas
tinham suspendido por algum tempo a carreira de gloria militar,
qae OK antepassados dos Portuguezes começaram com tanto estrondo
no Mundo, nem por isso se devia julgar que o valor da Naçaõ, ou
seu character militar se tinha annihilado.
Apreciamos ainda mais esta distineçaõ conferida a officiaes Portu-
guezes, por vir de uma Naçaõ Estrangeira; porque o testemunho
uaõ be suspeito : tanto mais que vem de uma Naçaõ donde oi Por-
tuguezes naõ estavam accuslumados a receber demasiados elogios; c
portanto fica evidente a justiça do Louvor; o merecimento dos indi-
víduos, e a gloria Nacional.
PORTUGAL.
Ministros de Justiça.
Publicamos, a p. 509, ura Alvará, expedido em conseqüência de
representaçoens do Governo de Lisboa, pelo qual se regula o nmurro
ée Ministros da Relação de Lisboa, e Porto, e se augmcntaõ a» alça-
das a duas terças partes mais do que até aqui eram.
Quanto á necessidade do augmento das alçadas, he isso mui claro ;
porque tendo subido o preço de todas as cousas; ou, o que he o
mesmo, diminuído o valor nominal do numerário, convinha que a« al-
çadas se augmentassem na mesma proporção; assim como se deve-
ria fazer a mesma alteração nas muletas, propinas, &c, que cm toda a
boa legislação he necessário, que sigam o passo com o valor da»
1 Ife o maJèlo rfajíta, 4.J& a vista, do perfil
</ue pedura a >n. </,i//ut, da. meda Vi a com. arvidnaf
ntvijfrifntrx ao irdof do pescoço, que a coèrem.
e nos corvncis, iw ietaa da cazac, 6 A. cruz, çuc designa
2 ffecoèverso da medalha. 4- iatulhas.
•YOreverso da medalÁa; a âo# 6.0 co&Jwte.tfue designa
genentes k* um pouco maior cada um, uma iata/Áa .
669 Miscellanea.
tribuidos nos tres Tribunaes Supcriories (chamados Kiug s-bench,
Common Pleas, e Exchequer) os quaes de tres em tres mezes se diri-
gem ás provincias, em o que nós chamaríamos correiçoens, decidem
todas as causas civis, e criminaes ; em conjuneçaõ com os magistra-
dos territoriaes, e recolhem-se depois a julgar as causas, que \cn:
por appellaçaõ a seus respectivos tribunaes ; e todos os doze junetos
formam, quando he necessário, uma assemblea, cm que se decidem
os pontos intrincados de direito, que IhesaÕ reservados nas sentenças,
e daõ interpretação authcntica ás leys duvidosas, como se faz cm
Portugal, com os assentos da Casa da Supplicaçaõ.
Nem os limites do nosso Periódico, nem os fins a que elle se dirige,
nos permittem entrar aqui nas miudezas da comparação entre o
estado da magistratura em Portugal, e o de Inglaterra ; c julga-
mos que bastará, para estimular a indagação deste essencial ramo
da administração publica, comparar as generalidades
O território Inglez he maior que o de Portugal; a sua população
muito maior; mais também as transacçoens mercantis; que natu-
menle se seguem do maior commercio interno c externo ; daqui se
deduz, que deve haver maior numero de pleitos.
Logo se na Inglaterra bastam doze Juizes, incluindo os tribunaes
superiores, donde vem, que sejam necessários em Portugal cento c
cinco, alem dos Tribunaes superiores ?
As despezas que este enorme estabelicimento de magistrados
e x i g e ; a complicação que necessariamente produz no foro; e o
favor que isto dá a multiplicação dos pleitos, e a conseqüência neces-
sária delles, que he a incerteza dos direitos de propriedade, reque-
rem um exame circumspecto do estado da magistratura.
Officiaes, e sargentos promovidos, que sendo de divide,, que naS fizeram o sitio
da praça de S.SebasliaS, foram ao assalto, por se offi recerem voluntariamente,
contando a antigüidade dos postos, a que sobem, do dia 31 dt Agosto próxi-
mo passado.
Capitão do regimento de infantaria, N. II, Antonio de Gouvéa da Mnia i
graduado em major.
Tenente do regimento de infantaria. N. II, Ignacio Pereira de Larrrda.
Tenente do regimento de infantaria, N. 23, Jerooymo Rogado de Oliveira,
graduados em capitão.
Miscellanea. 675
Alferesdo regimento de infantaria, N. 17, Joaquim José de Santa Anna.
Alfere? do batalhaS de caçadores, N. 1, Pedro Ozorio da Fonceca, gradua-
dos em Tenentes.
Sargento do regimento de infantaria, N. 11, José Gomes. Sargento do
regimento de infantaria, N. 11 ; JoaÕ Antonio Coelho. Sargento do regi-
mento de infantaria, N. 17, Marcai José sargento do regimento de infanta-
ria, N. IT, Manoel BarraÕ. Sargento do regimento de infantaria, N. 23,
Joaquim Roberto. Sargento do regimento de infantaria. N. 23, José Ig-
nacio. Sargento do batalhão de caçadores, N. 1, Manoel José Pires Car-
reiro, alferes dos dos respectivos corpos.
Mozinho, Adjudante-General.
GUERRA DO NORTE.
Os nossas Leitores acharam neste N°* copiosissimos documentos,
que descrevem os progressos da campanha; e supposto isto nos leve
a publicarmos o nosso jornal muito mais volumoso, do que oroinet-
temos no seu prospecto ; com tudo julgamos que a addicçaõ éra es-
sencial, para conservarmos nelle todas as noticias importantes da his-
toria do sempo.
Começamos com as noticias Francezas, que o Leytor observará
serem mui diminutas ; o que acontece por duas razoens; uma por-
que sendo os acontecimentos da guerra desastrosos aos Francezes, o
seu governo occulta cuidadosamente tudo quanto se passa ; outra
porque, achando-se os Alliados na retaguarda do exercito Francez,
saõ os correios interceptados, e as communicaçoens todas mui pre-
cárias.
Damos depois as noticias officiaes do exercito Alliado, as quaes
nos chegara principalmente pelos agentes Inglezes, que residem nos
quartéis generaes dos exércitos Russiano, e Austriaco, e por fim os
bulletims do Principe da Coroa de Suécia ; com o que se completa a
mais ampla relação da campanha que he possivel obter.
De todas estas noticiasse colhe, que, havendo-se Bonaparte forti-
ficado cm Dresden, e obstinado a copservar aquelle posto a todo
custo, para salvar a sua reputação militar, como quiz fazer em
Moscow ; os alliados o atacaram na sua direita pela Bohemia, com o
grosso dos exércitos Austriaco, Russiano, e Prussiano; em frente
pelos corpos do General Blucher, e reserva Russiana do General
Bennigscn; e na sua esquerda pelo exercito combinado do Norte, sob
o commando do Principe da Coroa. Por varias vezes sahio Bona-
parte de Dresden para atacar, j a os inimigos que tinha na direita, ja
os que lhe licávam em frente ; estes evitando sempre batalha geral
obrigaram constantemente" Bonaparte, a retirar-sc para Dresden sem
676 Miscellanea.
ganhar consa alguma, antes soffrendo alguma perda; e o que mais
he ganhando assim tempo os Alliados para realizar os seus planos.
Por fim o Principe da Coroa passou o Elbe, o mesmo fez o Gene-
ral Blucher, que por uma rápida marcha de flanco chegou a Elster;
ambos se dirigiram á retaguarda de Leipsic ; e ali formaram uma
juneçaõ com os exércitos de Bohemia, que de Toeplitz e Bgra mar-
charam por Chemnitz e Freyberg e Gera, para as vizinhanças de
Leipsic ; aonde formam um cordaõ ua retaguarda do exercito de
Bonaparte, que completamente o separa da França e de todos os
seus recursos.
Bonaparte se acha portanto na mesma situação, em que esteve o
anno passado em Moscow; isto he, reduzido â necessidade de formar
todo o seu exercito em uma columna, e cortar o cordaõ qoe o cerca
abrindo a passagem com a espada na maõ, para ir ter k França.
Esta operação naturalmente expõe ni a sua columna a ser constan-
temente atacada nos flancos, e naõ duvidamos, que a retirada lhe
seja taõ desastroza como a que fez o anno passado.
0 seu systema de aliiança» se enfraquece todos dias i porque o tello
desamparado o General D'York o anno passado; produzio o desam-
parallo a Prússia; daqui se seguio a separação da Áustria - e desta
ultimamente a da Baviera t que se unio ja aos Alliados por um
traclado, que assignou com Áustria, aos 8 de Outubro; em que se
obriga a por em campo contra os Francezes 35.000 homens.
O Governo Francez ordenou uma leva de 280.000 homens, mas
antes qae elles lêjain soldados se acharão nas fronteiras de França os
immensos exércitos Alliados, tendo á sua disposição os paizes da Con-
federação do Rheno, e talvez a Hollanda e a Suissa t o que diminue
tanto os recursos Francezes, quanto augmenta em dobro o dos
Alliados.
Em um snpplcraento a Gazeta de S. Peteriburgo, de 24 de Sep-
tembro se acha nm bello estado comparativo das forçai phisicas, eco-
nômicas, e moraes de Napoleaõ, no anno de 1812, com as que elle
tem no anno de 18131 que he o seguinte.
Em Janeiro, de 18131 Napoleaõ estava de posse absoluta do Im-
pério Francez, do Reyno de Itália, llliria, e parte meredional da
Hespanha. 2. Era indubitavelmente senhor dos estados da Confe-
deração do Rheno. da Prússia, do Reyno de Napoies, e do Gram
ducado de Warsovia i tinha a posse das fortalezas do Oder, o uma
limitada alliaoçacom a Dinamarca. 3. A Áustria temia o seu poder,
estando o seu poder militar reduzido, o sendo obrigada pebs cir-
«nmslancias a ser alliada da França, e dar-lhe um contingente de
30000 homens 4. A Russia tinha os seus portos fechados; ICO.OOO
Miscellanea. 677
homens nas fronteira, para defender a sua independência; porém
estava em guerra com a Inglaterra, com a Porta, e pouco depois com a
Suécia. 5. Esta ultima Potência estava em neutralidade com a
França; e Napoleaõ lhe offereceo subsídios para a obrigar a declarar-
se por elle. 0. Napoleaõ tinha um exercito de 500.000 veteranos no
Oder, e no Vistula, para atacar a Russia: esta guerra tirou de seus
thesouros mais de 600 milhoens, e de seusarsetiaes 2.(00 peças d'arti-
lheria. Os Polacos lhe ministraram 80.000 homens, c 100 milhoens.
Elle trouxe para esta guerra 70.000 cavallos. 7. Napoleaõ tinha
em suas maõs o monopólio dos productos coloniaes, em quasi toda a
Europa. Este monopólio lhe rendia 100 milhoens. 8. Napoleaõ
tirou contribuiçoens da Áustria, da Prússia, e da Uliria. Elle tinha
os rendimentos de toda a Itália, da Confederação da Alemanha, da
Polônia, e de todo o Império Francez, que montavam a quasi mil
milhoens. Naõ obstante estes recursos, o déficit no anno de 1812,
foi dobrado. 9. Naõ obstante as batalhas de Aspern e Eyhu, Napo-
leaõ conservou a reputação de ser invencível; elle gozou uma opi-
nião de que nada lhe podia resistir* bastava-lhe mandar, e tudo
cedia á sua vontade,—ordenar, e tudo estava feito,—dirigir e tudo
se movia á seu prazer,—amiunciar um acontecimento, e a pre--
dicçaõ era cumprida. Somente a Hespanha formou uma excepçaõ,
a qual com tudo naõ dissipou a crença geral.
Agosto, 1813.
I. Napoleaõ perdeo parte da 32». divisão militar, parte da Illiiia,
toda a Hespanha, e as ilhas da Dalmacia. 2. A Prússia, Mccklein-
burg, e Gram Ducado de Warsovia, ja naõ eram dependências suas ;
pelo contrario a Prússia e Mecklemburg, estaõ em armas contra
elle. 3. A Áustria tem um exercito de mais de 400.000 homens ;
ella ja naõ he alliada da França, e se tem unido em nova aliiança
contra ella. 4. A Russia tem alem de suas fronteiras 200.000 ho-
mens ; ella occupa o Gram Ducado de Wassovia ; os seus portos
estaõ abertos ; ella esta unida com a Inglaterra, Prússia, Suécia, e
Hespanha: em paz com a Turquia, que augmenta consideravel-
mente a sua força moral; e tem provado por factos, que naõ pôde
ser conquistada. 5. A Suécia entrou na guerra, e fornece ãO.oOO
homens, que obram no Continente. f>. Estes 500.000 veteranos de
Napoleaõ, desapparecéram: elle perdeo toda a sua cavallaria, vários
marechaes, 80 generaes; deste exercito somente lhe restam alguns
milhares de officiaes. A artilheria, armas e effeitos, os 600 milhoens,
tudo está perdido, junctamente coin os contingentes Prussiano e
VOL. XI. No. 65. 4 s
678 Miscellanea.
Pol.ico. Destes elle tem som *nle lõ.OiO homens, com as tmldiçoeus
e s t u paiz. "•• Aquelle moco, t lio tom dt-opparecido, quasi intei-
ramente, depois que se abriram os portos de Uus-iae l'rus*i •, depois
niie teru.inmi a guerra entre os Hus.-ian->» e Turcos, e que os Ino-le-
zes occupiram as ilhas da Dalmacia. 8. Tem cessado as contribui-
çoens Austríacas, Polacas, e Prussianas. A llliiia eslá exhsusla ; as
despezas da guerra e do exercito lera dobrada i qual será portanto
o déficit do ann« de 1813? Ja naõ existe o systema conlineiilal
contra a Inglaterra *, de fado está destruído. 9. As batalhas de
Smolensko, e Uorodino, de Krasnoi, de Lutzen, e Ioda a ultima
campanha provam, que, com forças iuferiores se lhe pode resistir e
derrotallo ; e que, consequentemente, elle deve ser vencido com for-
ças iguaes, e destruído com forças superiores.
Deste estado comparativo resulta que o poder c gloria de Napo-
leaõ tem dirainuido sensivelmente, desde o anno de 18l«; o seu
exercito tinha entaõ além disso 110.000 auxiiiarcs, a saber,
50.000 Polacos, 30.000 Prussianos, e 30.010 Austríacos • o seu in-
imigo tem agora uma força auxiliar de 330 000 homeus; a «aber
200.000 Austríacos, 100.000 Prussianos, e 30.000 Suecos. As suas
rendas tem diminuído cem milhoens; e a diminuição será ainda
maior, se tomar-mos em consideração, o que elle recebia pelas re-
quisiçoens em Prússia, e todos os paizes da Confederação do Rheno.
e as contribuiçoens de guerra de Prússia, Polônia, e Áustria.
Guerra da Peninsula.
Este nome he apenas applicavel, quando se tracta do Exercito
Alliado, que commanda Lord Wellington; porque elle se acha ja
dentro em França; nem faz ao caso a pequena porçaõ de território
que os Francezes ainda oecupam na Catalunha, e em Aragaõ.
Profetizou Napoleaõ, que lançaria os Inglezes ao mar pelo Tejo
fora, e arvoraria as águias Francezas cm Lisboa i Como se cumprio
a profecia ? Justamente pelo contrario. Portugal ja a muito que
está libertado dos Francezes, a Hespanha quasi livre com uma mui
pequena excepçaõ; e <> exercito Alliado invadindo a mesma França,
postado nos seus territórios, e ameaçando Bayonna.
Se resultados desta mfureza nzõ persuadem os partidistas Franco-
zcs de que as piofecias Vapoleouica» saõ (alliveis; a sua obstinação
he na \crdade incurável.
A força moral do Governante da França deve estar abatida, naõ
somente nus naçoens estrangeiras, mas até mesmo entre os France-
zes. Napoleaõ tem sempre tido o cuidado de desfigurar, de occultar
Miscellanea. 67 9
mesmo inteiramente os progressos do exercito Alliado de Hespanha ;
ainda se naõ publicou em França nenhuma conta da batalha de Vit-
toria, nem da tomada de S. Sebastian; porém agora será absoluta-
mente impossível, que os Francezes ignorem, que os desastres de
seus exércitos em Hespanha tem sido taes, que as tropas alliadas
estaõ estabelecidas em França • e que sensação naÕ deve isto causar
em Paris f
Napoleaõ tractava sempre de ridículo as tropas Portuguezas e
Hespanholas, naõ faliava de outros inimigos na Peninsula senaõ de
40.000 Inglezes; se naõ tinha de brigar senaõ contra estes, muito
miseráveis eram os seus 100.000 Francezes, que oecuparam a Hes-
panha e Portugal, visto que fôram derrotados por 40.000 homens.
Mas a experiência terá ensinado aos Francezes, que os povos da
Peninsula sabem brigar-; e que ha mais alguma gente em armas do
que os 40.000 Inglezes.
[ 680 "j
CONRESPONDENCIA.
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
P O R T A R I A SOBRE OS R E C R U T A M E N T O S .
Artes Mecânicas.
Art. 7. Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha e
milicias os mestres, officiaes, aprendizes, operários e indi-
víduos empregados nos arsenaes Reaes do exercito, da ma-
rinha, das obras publicas e militares, e suas respectivas de-
pendências ; na. impressão Regia e Real fabrica de cartas de
jogar, suas administrações e commissões ; na Real fabrica
das sedas e agoas livres ; e nas minas de ferro e carvaõ de
pedra; com tanto que todos elles se mostrem munidos de
um titulo extrahido dos livros de matricula do modelo C,
que deve haver em cada uma das sobreditas repartições,
particularmente para este fim ; pelo qual mostrem que se
achaõ effectivamente empregados no serviço de qualquer
ramo das referidas repartiçoens; reformando-se estes titulos
na forma reconimendada no artigo 2., os quaes devem ser
assignados pelos chefes de cada uma dellas.
Art. 8. Saõ isemptos do recrutamento da tropa de linha
os mestres, officiaes, e aprendizes das fabricas estabele-
cidas por Alvará, ou Decreto, e por Portaria da Real
Junta do Commercio em resolução de Consulta, pro-
vando os donos ou mestres das fabricas perante o ministio
territorial respectivo que as suas fabricas se achaõ estabe-
lecidas em virtude de algum dos referidos titulos, e que
naõ tem mais officiaes e aprendizes do que aquelles que
lhes saõ indispensáveis ; e devendo ter os mestres, ou do-
nos das sobreditas fabricas os livros de matricula determi-
nados no Artigo 7, rubricados pelo ministro territorial,
para delles extrahirem os attestados, que deverão passar
aos seus officiaes e aprendizes para gozarem da sobredita
isenção; devendo estes attestados ser também rubricados
690 Politica.
pelo dito ministro, e reformados de seis em seis mezes na
forma prescrita tios artigos antecedentes.
Artes Liberaes.
Art. 9. Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha e
milicias os cirurgiões, Boticários, Dentistas, e Alveitares,
apresentando elles as suas competentes cartas de examina-
dos, e approvados nas suas respectivas artes : como tam-
bém os praticantes de Cirurgia e Pharmacia, provando
uns e outros freqüência e aproveitamento com. certidões
de matricula: saõ igualmente isemptos do recrutamento
de tropa de linha e milicias os alumnos das aulas regias
de desenho e architectura civil, e de esculptura, provando
uns è outros freqüência e aproveitamento com certidões de
matricula.
Officios Mechanicos.
Art. 10. Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha
os mestres, e os aprendizes até á idade de vinte annos,
(tendo dado cinco annos ao officio), dos seguintes officios;
carpinteiro de carros, capinteiro de casas, carpinteiro de
machado, carpinteiro de noras ; Moleiro; Pedreiro ; Can-
teiro ; Cabouqeiro ; Ferreiro; Serralheiro; Espingardeiro;
Albardeiro ; Selleiro; Freireiro; Corrieiro; Cuteleiro ;
Bainheiro; Fusteiro; Surrador ; Cortidor ; Odreiro ; Co-
ronheiro ; Çapateiro ; Alfaiate ; Algibebe ; Tanoeiro ;
Latoeiro de fundição ; Latoeiro de folha branca; Batefo-
Iha, Fundidor de cobre; Dourador; Serigueiro de chapóos ;
Serigueiro de agulha ; Torneiro; Oleiro ; Sombreireiro;
Tecelaó ; Vidraceiro; Ourives de prata; Esparteiro; Cor-
doeiro de esparto, piassa e linho; devendo tanto os mes-
tres como os aprendizes mostrar a identidade das suas pes-
soas com attestados authenticos, a saber; os mestres apre-
senteraõ attestados passados pelo Juiz do Povo, e nas ter-
ras em que o naõ houver, pelos juizes dos officios, ou juiz
do respectivo julgado: quanto aos aprendizes seraõ igual-
Politica. 691
mente obrigados a apresentar semelhantes attestados, com
a differença porém de serem passados pelos seus respecti-
vos mestres, e rubricados pelas sobreditas authoridades.
Saõ igualmente isentos do recrutamento de tropa de linha
os aprendizes provenientes da casa pia, em quanto naõ
completarem vinte e um annos de idade ; bem entendido
que estes e os outros aprendizes, só lhes aproveita a refe-
rida isenção no caso de serem effectivos nos seus officios,
circunstancia que deverá ser expressamente declarada nos
•obreditos attestados.
Art. 11. Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha
e milicias os feri adores, assim os Mestres como os officiaes
e aprendizes, exceptuando o caso de serem precisos para
servirem na praça de ferradores nos regimentos de caval-
laria, e no batalhão de artilheiros-conductores; ficando
tanto os mestres, como os officiaes e aprendizes obrigados
a apresentar no acto das revistas semestres attestados, se-
melhantes aquelles, que ficaõ determinados no artigo ante-
cedente para os mestres e aprendizes dos officios nelle
especificados.
Sciencias.
Art. 12. Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha
os estudantes matriculados nas aulas do collegio das artes,
da Universidade de Coimbra, e nos annos de cada uma das
seis faculdades da mesma Universidade : igualmente saõ
isentos do sobredito recrutamento os estudantes matricula-
dos na Academia Real da Marinha de Lisboa, e da cidade
do Porto, e na Real Academia de Fortificaçaó, Artilheria,
e Desenho; como também os estudantes matriculados nas
aulas do commercio e d e desenho, e seminários episcopaes,
provando uns e outros estudantes a sua freqüência e apro-
veitamento com certidões de matricula.
Conclusão.
Art. 15. FicaÕ por tanto sujeitos ao recrutamento de
tropa de linha todos os indivíduos nacionaes e naturalisa-
dos, comprehendidos nas idades de dezoito a trinta annos
cuja altura naõ for menor que 57£ pollegadas, e cujas
circunstancias declaradas nos sobreditos artigos de isençaÕ,
os naõ isentarem deste recrutamento; tendo aliás a consti-
tuição fysica apropriada para o serviço do exercito.
Art. 16. S. A. R. por esta occasiaõ lembra e recom-
menda o cumprimento do disposto nos parágrafos II. e IV
do Alvará de 17 de Fevereiro, de 1797, pelo qual ficaÕ
privados de varias graças, e privilégios, e além disto sujei-
tos a pagarem o quinto dos bens de morgados e capellas
para as despezas da guerra aquelles administradores dos
mesmos vinculos, que naõ tendo impossibilidade, deixa-
rem de se alistar voluntariamente nos corpos do seu ex-
ercito ; e cuja execução está privativamente confiada aos
provedores das comarcas do Reyno.
Art. 17. S. A. R. Manda igualmente declarai*; que no
VOL. XI. No. 66. 4 v
694 Politica.
recrutamento de milicias deve seguir-se restricta, e rigoro-
samente o que se acha determinado no seu regulamento,
com a differença porém de se recrutar somente até a idade
de 45 annos; e de terem baixa do serviço os milicianos,
que completarem 50 annos de idade ; convém a saber que
em quanto houverem indivíduos proprietários, isto he,
donos de prédios rústicos ou urbanos, se recrutarão unica-
mente destes, preferindo os solteiros aos casados; (]tie só
na falta absoluta de proprietários se recorrerá aos homens
de officios, dando-se igualmente entre elles preferencia
aos solteiros ; e que só na falta absoluta de proprietários,
e homens de officios se recrutarão os homens jornaleiros,
entre os quaes se devem também preferir os solteiros aos
cassadss; bem entendido, que nos homens jornaleiros senaõ
devem comprehender os criados de servir.
Art. 18. Finalmente determina S. A. R. a mais inteira
observância dos presentes artigos a todas as authoridades a
quem cumpre a execução do disposto no regulamento para
o recrutamento de tropa de linha e milicias, approvado e
mandado observar pOr Portaria de 22 de Agosto, de 1812.
Palácio do Governo, em 28 de Septembro, de 1313.
D. M I G U E L PÜREIRA FORJAZ.
Politica. 695
MODELO A.
4 v 2
696 Politica.
MODELO B.
NOMES
Annos de Idade ao
tempo da Matricula. Filiações.
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Politica. 699
ÁUSTRIA.
INGLATERRA.
Falia do Principe Regente, na abertura do Parlamento.
My Lords e Senhores,
Com o mais profundo pezar sou de novo obrigado a annun-
ciar-vos a lamentável indisposição de S. M. O grande eesplen.
dido successo, com que a Divina Providencia foi servido aben-
çoar as armas de S. M., e de seus Alliados, uo decurso da pre-
sente campanha, tem produzido as mais importantes conse-
qüências para a Europa. Em Hespanha, a gloriosa, e decisiva
victoria, alcançada junto de Vittoria, foi seguida pelo adianta-
mento das forças Alliadas até os Pyreneos. pela repulsa do
inimigo em totlas as tentativas para reganhar o terreno que
tinha sido obrigado á abandonar, pela tomada das fortaleza de
St. Sebastian, e finalmente pelo estabelecimento dos Exércitos
Alliados sobre as fronteiras de França.
Nesta serie de brilhantes operaçoens, vós tereis observado
4x2
704* Politica.
com a maior satisfacçaõ o consumado saber, e habilidade do
Grande Commandante, o Feld-Marechal Marquez de Wç|.
lington, e a firmeza, e inconquistavel espirito que tem sido
igualmente desenvolvido pelas tropas das tres naçoens unidos
debaixo de seu commando.
A terminação do armistício no Norte da Europa, e a decla.
TaçaÕ de guerra do Imperador de Áustria contra a França, tem
sido accompanhadus, por um systema de cordeal uniaõ e con.
certo entre as Potências Alliadas. Os cfTcitos desta uniaõ tem
excedido as esperanças que se tinham calculado. Pelas assig.
naladas victorias ganhadas sobre os exércitos Francezes na
Silezia, em Culm, e em Dennevitz, foram completamente frus.
trados os esforços do inimigo, que intentava penetrai- no coração
da territórios da Áustria, e da Prússia. Kstes suecessos tem
sido seguidos por uma serie de operaçoens, combinadas com
tanto juizo, e executadas com taõ consumada prudência, vigor
e habilidade, que nao so tem resultado delles o desarranjo de
todos aquelles projectos, que o Governante da França tinha taS
presunçosamente annunciado na renovação da contenda, mas
também o captiveiro, e destruição da maior parte do exercito
debaixo do seu immediato commando.
Os annaes da Europa naõ oíTercccm exemplos do victorias
mais brilhantes, e decisivas do que as que tem sido recentemente
alcançadas em Saxonia. Em quanto a perseverança, c coragem
exhibidas pelas forças alliadas de todas as espécies, empenha-
das neste conflicto, tem exaltado seu character militar ao mais
alto ponto de gloria, vós haveis, estou persuadido, concordar
comigo em prestar o tributo de applatiso aquelles Soberanos, e
Principes que nesta sagrada causa de independência nacional,
taõ eminentemente se tem distinguido como Capitaens dos exér-
citos de suas respectivas naçoens. Com tal prospecto diante
de vos, estou persuadido que posso contar com a maior confi-
ança sobre a vossa disposição para me habilitar a fornecer a
necessária assistência, em apoio d'um systema de aliiança, que
tendo origem principalmente nas magnânimas, e desinteressadas
-vistas do Imperador da Russia, e seguido, como tem sido, pelas
outras Potências Alliadas com correspondente energia, tem
Politica. 705
COMMERCIO E ARTES.
Contracto do Tabaco em Portugal.
ji-EPETIDAS vezes temos falladodaadministraçaódo Ta-
baco, considerando-o, ja como importante ramo das ren-
das publicas, ja como objecto de agricultura, e commer-
cio. A naçaõ conseguio por fim, que se declarasse, nas
gazetas de Lisboa, que o contracto do tabaco se havia de
pôr a lanços ; e que se admittiiiam em justa concurrencia
todos os que nelle quizessetn lançar. NaÕ he pouco ter-
se obtido esta medida; principalmente quando se consi-
dera, a natureza dos argumentos, que se produziram,
contra as observaçoens do Correio Braziliense a este res-
peito.
Aceusar o Correio Braziliense de jacobino, desorganiza-
dor, &c. porque recommendava, que se puzesse a lanços
o contracto, he uma daquellas diatribes, que estamos acus-
tumados a ouvir, e que sempre esperamos, todas as vezes
que trazemos a publico as tramas dos Godoyanos: porém
diatribes e insultos naõ saõ argumentos. Por toda a razaõ
por todo o argumento, os defensores do antigo systema
naô disseram outra cousa senaõ, que o govomo tinha mui
boas razoens para obrar como obrava; e que naõ éra ob-
rigado a dar satisfacçoens ao Correio Braziliense, nem a
seus sequazes. E eis aqui o veo do mysterio prompto a
cubrir quanto ha de máo.
Commercio e Artes. 721
Nós admittimos, como parte essencial de qualquer ad-
ministração, o que se chama " Segredo de Estado" e este
segredo he o único mysterio em Politica. Tudo o mais he
impostura ; ou, fallando em fraze commum, capa de vi-
lhacos. No caso de que tractamos, he evidente, que naõ
havia taes razoens occultas, para se naõ pôr o contracto a
lanços, senaõ razoens, que se envergonhavam de ver a luz
do dia : e a prova disso he ; que, naõ obstante essas pon-
derosas razoens, está rezolvido que se ponha o contracto a
lanços a quem mais der. < Aonde estaõ pois essas razoens,
que faziam chamar jacobino e desorganizador a quem
clamava por esta mesma medida, que o governo adoptou
agora ? i Accaso se tornaria também o Governo jacobino,
e desorganizador ?
Como tenhamos alguma noticia de que o Governo de
Hespanha tem feito certas proposiçoens a Portugal, relati-
vamente ao negocio do tabaco, da-nos isto occasiaõ de tor-
nar a entrar na matéria, e fazer algumas observaçoens
sobre a importoncia de deixar este commercio do tabaco
livre; ou, pelo menos, quando se continue o monopólio, a
tomar algumas precauçoens, para que naõ soffra tanto a
cultura do gênero, nem se cause tanto damno ás rendas
publicas que dabi se podem tirar.
Os contractadores do tabaco tem sempre posto todos
entrávez possíveis para que se naõ exporte o tabaco de
Portugal para Hespanha ; e como as condiçoens do con-
tracto naó lhe permittem, nem nunca peruiittiram, o im-
pedir isto directamente; valem-se de todos os meios indi-
rectos, que estaõ em seu poder, para o fazer.
He quasi desnecessário o repetir aqui, o que tantas
vezes temos dicto, que quanto mais se favorecer o consum-
mo deste gênero tanto mais se favorece a sua agricultura ;
por conseqüência, tanto mais se fomenta o emprego dos
povos, e tanto mais se augmentam as rendas publicas que
dahi resultam, como saõ os dizimos, direitos de alfândega
722 Commercio c Artes.
na exportação do gênero, direitos das fazendas, que vem
em retorno delle, fretes dos navios que se empregam na
exportação, e depois nos gêneros de torna viagem, &c. ítc.
Logo todo o impedimento directo ou indirecto no con-
t-unimo do gênero he de grande detrimento á prosperidade
do Estado, e ás rendas do Erário. E tal impedimento hc
sem duvida a objecçaõ que fazem os contractadores á MU
exportação.
O argumento dos contractadores para impedir que se
exporte o tabaco de Portugal para Hespanha, e outros
paizes, he que lhes falta este gênero para o consumo do
paiz. Este argumento naÕ deve de forma alguma valer
aos contractadores; porque elles se obrigam a fornecer o
Reyno deste gênero ; e se naô forem providentes em o
mandar buscar a tempo, e que isso produza temporaria-
mente escacez no gênero, so firam a pena de seu descuido
ou desmazêlo, comprando-o mais caro aonde quer que o
acharem ; e sem duvida o augmento do preço do gênero
estimulará o lavrador a plantar mais, c induzirá o negoci-
ante a trazer maior quantidade ao mercado, com o que
voltarão os preços ao seu nivel natural.
Este he o remédio, que convém á prosperidade do paiz,
e naõ o outro taõ mal entendido de impedir a exportação
do gênero ; e muito menos ainda a impolitica medida de
permittir aos contractadores, como se tem feito, que impor-
tem o tabaco da Virgínia. Os privilégios se chamam em
direito leys odiosas ; e portanto nunca se devem entender
senaõ restrictamente. O contracto do tabaco, odioso neste
sentido, assim como n' outros, deve limitar-se e restringir.
se meramente â faculdade que se lhe concedeo, de impos-
tar exclusivamente do Brazil todo o tabaco que for neces-
sário para consummo do Reyno de Portugal, e nada mais;
logo a cultura deste gênero no Brazil, que livre éra, livre
ficou, e livre he também a exportação deste gênero para
os paizes estrangeiros ; e portanto o odioso privilegio dos
Commercio e Artes. 723
monopolistas naõ se deve por forma nenhuma interpretar
cxtendendo-.se a estes ramos, que o seu contracto naõ ab-
range; e tudo quanto se faz a beneficio dos contractadores,
alem da mera letra do contracto, he um abuso, e uma in*
justiça formal a todos os que se empregam na cultura ou
commercio daquelle gênero.
Nestes termos os arranjamentos sobre a exportação do
tabaco de Portugal para a Hespanha devem ser unicamente
objecto de ajustes entre o Governo Portuguez e Hespa-
nhol, sem que para isto seja necessário consultar nem a
Juncta do Tabaco nem os contractadores ; visto que este
negocio com o estrangeiro naÕ entra de forma alguma nas
condiçoens do contracto.
Os terríveis abusos do Governo de Hespanha, principal-
mente durante a administração de Godoy, saõ taõ conheci-
dos, que naõ he preciso demorar-mo-nos em provallos ;
mas convém dizer aqui o modo porque elles influíam em
Portugal, neste commercio do tabaco, para que se acautel-
lem os mesmos males para o futuro, uma vez que se tracta
de fazer ajustes com Hespanha nesta matéria.
Nòs sabemos que havia certo contractador, ou contrac-
tadores do tabaco em Lisboa, que tinham formado relaço-
ens na Corte de Madrid, com o corrompido Governo de
Godoy, para metter na Hespanha grandes quantidades de
tabaco. Isto posto convinha a taes contractadores causar
escacez do gênero em Lisboa, para lhe levantar o preço:
dahi impediam a sua exportação, com o pretexto da falta
do gênero ; e depois exportavam-no elles mesmos para
Hespanha.
Depois de causar estes abuzos em Portugal iam fazer
outros maiores em Hespanha ; porque no tranzito de Por-
tugal até Madrid tinham arranjado os meios e modos de
deixar ficar grande parte pelo caminho, que vendiam por
contrabando: da porçaõ que chegava a Madrid, parte éra
recusada com o pretexto de que era gênero de má quali-
724 Commercio e Artes.
dade, e tornava-se a tirar para fora, e antes que chegasse
ao porto aonde se tornaria a embarcar, ficava a maior por-
çaõ vendida por contrabando. Deste modo a ardilez do
tal contractador em Lisboa, e a corrupção da administra-
ção em Madrid, vexava o commercio do gênero em ambas
as naçoens, defraudava os réditos de ambos os Governos, c
engordava os rilonopolistas, e concussionarios públicos.
Naõ he necessário neste caso nomear pessoas ; porque
o que temos aqui em vista he que se acautellem os mes-
mos abusos para o futuro ; e basta lembrar os factos para
que o Governo fique aprecatado; se quizer fazer o seu
dever.
Pouca penetração basta para conhecer, que, estabele-
cida esta conrespondencia, de fraudes systematicas ; quanto
mais obstáculos se punham ao commercio do tabaco, maior
éra o lucro dos interessados no abuso, tanto em Portugal
como na Hespanha ; e quanto mais os Governos faziam
opposiçaõ ao contrabando, tanto mais a seu salvo embol-
savam os monopolistas os seus ganhos, demaneira que
alem do monopólio que a ley lhe concedia, podiam também
apossar-se do monopólio do contrabando.
Seria infinito discorrer por todas as conseqüências funes-
tas, que se deduzem do estabelecimento de monopólios ; c
se o facto, que temos citado, naõ basta para abrir os olhos
do Governo, inútil seria multiplicar os exemplos.
Dando porém um passo mais adiante nesta matéria;
parece-nos que, uma vez que a Hespanha tem feito pro-
posiçoens a Portugal sobre este ramo de commercio, naó
só convém ao Governo Portuguez o facilitar a exportação
do gênero para Hespanha, mas esforcar-se em persuadir o
Governo Hespanhol aque facilite a entrada do gênero,
para com isso augmentar as suas rendas provenientes dos
direitos de importação; e também fazer que os direitos
sejam suficientemente módicos para favorecer o consummo
do gênero, e desanimar as emprezas dos contrabandistas,
Commercio e Artes. 726
fazendo que o lucro do contrabando naõ equivalha a pena
do risco.
Nisto se deve empregar a habilidade de um bom negocia-
dor; mas he necessário, que o Governo Portuguez dê o
exemplo da liberaliclade de ideas, e que prove com a prac-
tica a utilidade deste bem entendido systema de econo-
mia politica, que deve ser igualmente útil a ambas as
naçoens.
Agora he necessário considerar-mos outro estratagema
a que se tem recorrido, depois que as declamaçoens a este
respeito obrigaram o-Governo a declarar, que poria o con-
tracto a lanços, e em justa competência de quem mais
desse. Consiste o estratagema em naõ apparecer quem
lance no contracto.
He em casos similhantes, que o Governo deve mostrar
a sua firmeza e energia : he contra uma conspiração simi-
lhante, aquém se naõ pode assignar o cabeça, que o minis-
tério deve dirigir a sua habilidade; he nestes casos que
se precisão os talentos dos políticos.
Ninguém se persuadirá, que os actuaes contractadores
arremataram o monopólio, meramente para beneficio do
Estado; nem que tem continuado nelle empobrecendo-se
todos os dias. Ninguém se persuadirá, que os negocian-
tes, que o anno passado offerecêram mais pelo contracto,
do que deram os que o disfrustam, fizeram esses offereci-
mentos ás cegas e sem calcular ; o objecto he de demasiada
importância, para que entrassem nelle ás apalpadellas.
Logo se naÕ ha quem se offereça a lançar, ao menos tanto
quanto aquelles promettiam, a causa naÕ pode ser o temor
de perdar; deve haver outros motivos. Sejam elles quaes
fôrem; a linha de comportamento do Governo deve ser a
mesma, firme, resoluta, e justa. Mas, antes de dizermos
mais alguma cousa sobre as medidas que o Governo deve-
ria adoptar vejamos se podemos achar uma hypothe-se,
que explique a falta de concurrentes a lanços (se he que
V O L . X I . N o . 66. 5A
726 Commercio e Artes.
existe) sem recorrer k causa alegada do temor de perda*
inseparáveis de similhante contracto.
Supponhamos, pois, que os actuaes contractadores, e os
outros que se lhe oppuzéram o anno passado, se distribuem
em varias facçoens, que cada um delles faz uma combina-
ção com a roda de amigos ricos, com quem se ajusta, e
diz ; que o melhor modo de se assegurar do monopólio he
naõ lançar em publico, mas sim dirigir-se a vias particu-
lares, ainda que sejam necessárias despezas, para obter o
monopólio por via de mercê especial, como até agora se
fazia. Este calculo se fundaria; primeiro, em que o Gover-
no naturalmente se havia assustar, vendo que naõ apparecia
quem lançasse no contracto ; e segundo, que a favor disto
estava a practica passada ; e que o ministério antes se ac-
commodaria ao custume velho, do que tentaria novas, e
perigosas experiências ; alem disto, se a estes argumentos
faltasse força, força lhe dariam alguns presentes.
Pomos isto como hypotese, mas esta hypotese explica
porque naõ ha quem lance publicamente no contracto, sem
ser necessário recorrer ao temor de perdas, para explicar a
falta de arrematantes. Outras bypoteses igualmente ter-
ríveis mas practicaveis se podem considerar; baste-nos po-
rém esta para passarmos a examinar, como o Governo lbe
pode obstar.
Para animarmos o Governo a manter-se com energia
contra todos os monolistas, basta lembrar, que as safras
médias, e regulares do tabaco montam de 22.000 a 25.000
rolos: o contracto faz uso de 8.000, até 10 000 rolos;
logo nem o GoveroOf nem os lavradores dependem unica-
mente do contracto para o consummo do gênero, antes a
abolição do contracto, barateando o gênero, lbe deve aug-
mentar o consummo.
Depois: a Juncta pedio a declaração dos sócios fiadores
dos que lançassem no contracto : esto medida fez retroce-
der os que queriam arrematar, sem figurar em publico ;
Commercio e Artes. 727
donde se segue que nao he o temor da perda, mas o sys-
tema dos estratagemas, quem os impede de apparecer.
He possivel, que achando-se o Governo, em Lisboa, ou
no Rio-de-Janeiro, embaraçado por faltas de dinheiro, al-
guém aconselhe, que se aceite algum empréstimo de pes-
soas ricas, aquém em recompensa se dê entaõ o contracto.
Muitas vezes, com esta capa do interesse publico, se fo-
mentam e adiantam as vistas dos indivíduos; mas he entaõ
que a energia do Governo deve naõ sacrificar interesses
geraes e permanentes, a utilidades secundarias, e tempo-
rárias. Medidas desta natureza saõ comparáveis ás do pay
de família improvidente, que para satisfazer ás despezas
de um dia, empenha os seus bens nas maõs de um usura-
rio, sacrifica todas as suas rendas para pagar as usuras, e
chega em breve ao estado de total ruina.
Mas i que se aconselharia entaõ ao Governo, nesta per-
plexidade?
Naõ he possivel, que nestes breves ensaios possamos
desenvolver planos, que necessitam de longas combinaço-
ens para se explicarem, e que dependem da discussão de
outros pontos da Administração publica do Reyno; mas
em geral podemos dizer, que se as circumstancias fazem
que se naÕ possa desatar o nó, o Governo deve ter energia
bastante para o cortar.
Em uma palavra, antes do que submetter-se á vontade
dos monopolistas, o Governo deve, ou assumir a si a ad-
ministração do monopólio; ou (o que he infinitamente
mais preferível) pôr livre o commercio do gênero, e im-
pôr-lhe tal direito no consummo, que eqüivalendo ao que
pagam os monopolistas, seja menos gravoso aos consum-
midores; e pôr conseqüência favoreça mais a extração do
gênero, com maior vantagem da agricultura, e acerescen-
tamento das rendas do Erário.
He entaõ, que o Governo Portuguez pode entrar em
ajustes com a Hespanha, sem estar com as maõs ligadas
S A2
T28 Commercio e Artes.
por contractos ruinosos ; e, tendo resolvido esta medida,
pôde combinar com o Governo Hespanhol os meios de
impedir o contrabando; meios que seraõ tanto mais prac-
ticaveis, quanto os direitos fôrem mais moder <io<.
Nós naÕ julgamos, que o Governo Portuguez possa ul-
timar uma reforma taõ uni como esta, sem achar obstácu-
los, sem que se exponha aos gritos ja dos Godoyanos inte-
ressados, ja dos afferrados a tudo que he custume, ja dos
ignorantes, que em vez de raciocinar, e estudar, preferem
antes a rotina de seguir o que está feito, favorecendo a
priguiça, que os desinclina do trabalho. Mas se um indi-
viduo, mettido aqui n' um canto da terra se tem atrevido a
arrostar contra os abusos dos grandes, dos poderosos, dos
ricos monopolistas; e tem resistido a seus ataques, e tido
a satisfacçaõ dt- ver fazer reformas úteis; quanto maior naõ
deve ser a coragem d* um Governo, que obra convencido
de que só tem em vista o bem de seus subditos ?
Lisboa, 6 dt Novembro.
EDICTAL.
JoaÕ de Mattos e Vasconcellos Barbosa de Magalhães, do
Conselho de sua alteza Real o Principe Regente Nosso
Senhor) Intendente Geral da Policia.
Sendo necessário attender por meio de novas providen-
cias á necessidade, que a cultura das terras na provincia
da Estremadura tem experimentado, como be notoriamente
sabido, por falta dos braços indispensáveis aos trabalhos
ruraes, muito particularmente na presente estação, em que
se precisa cuidar do apanho da azeitona, cuja producçaõ na
dita Provincia felizmente foi no presente anuo uiuitoabon-
daute ; e constando que naõ tem sido bastante, nem as de-
terminações desta Intendencia para se restituirem ás terras
des seus antedecentes domicílios os homens jornaleiros, que
tinhaõ vindo para esta capital por causa da invasão do ini-
migo, nem as positivas ordens a este mesmo fim publicadas
Commercio e Artes. 729
na portaria Regia, de 9 de Junho deste anno, transcripta
no Edictal affixado por esta Intendencia em data do l s . de
Julho ultimo, conservando-se ainda nesta mesma capital
uma parte dos referidos homens jornaleiros, que com suas
mulheres, e filhos preferem a ruinosa mendicidade ao lucro
honesto, que em seu proveito, e em beneficio da agricultura
podiaõ tirar dos trabalhos próprios da sua condição, vol-
tando aos seus domicílios; do que resulta a existência do
escândalo, desordens, e abusos perniciosos, que precaveo a
ley da creaçaõ da policia em conformidade do que contra os
ociosos, e vadios, se achava disposto na ordenação do Rey-
no liv. V. tit. 68. Convindo muito providenciar efficaz-
mente sobre o referido: determino o seguinte :
1. Os indivíduos, que adquirem a sua subsistência avul-
samente pelo trabalho honesto dos seus braços, como
cabazieros, vendilhões, e outros occupados em serviços de
pouca consideração, e proveito, com especialidade aquel-
les de um, e outro sexo, que existem ainda nesta capitai
desde quando vieraõ refugiar-se por causa da invasão do
inimigo em 1810, e tinhaõ nos seus domicílios aquelle, ou
similhante modo de vida, devem no mais breve espaço de
tempo, que naõ excederá ao dia 15 do corrente, sahir de
Lisboa a procurar serviço no apanho da azeitona nas terras
da Provincia de Estremadura. E por esta Intendencia se
lhes expediráõ gratuitamente, e com esta declaração, os
passaportes necessários para o seu transito.
2. Entender-se-haõ particularmente comprehendidos
nesta determinação todos os bomens, mulheres, e rapazes
em estado por sua saúde de serem assim occupados, que
passado o referido termo forem achados vagando sem do-
micilio certo, sem abrigo, ou destino, pernoitando nesta
cidade debaixo d'Alpendres, ou tilheiros, nos cães, estalei-
ros, ou barracas, procedendo-se a seu respeito como em
similhantes circumstancias foi determinado pelo Principe
Regente Nosso Senhor, em Portaria de 5 de Março, de
730 Commercio e Artes.
1812, que se publicou por esta intendencia em edital afi-
xado a 6 do dito mez e anno.
3. Todos aquelles indivíduos, que achando-se nos ter-
mos expressados se naõ conformarem ao referido, seraõ
prezos, e obrigados immediatamente a irem empregar-se
nos sobreditos trabalhos, aonde precisos forem, vencendo
alem da comedoria do estilo um jornal inferior ao do preço
corrente, o qual em pena da sua desobediência lhes será
taxado pela Câmara, a que pertencer o districto em que
forem occupados ; e a referida taxa naõ poderá ser abaixo
de 240 réis diários aos homens, e 120 réis ás mulheres, e
rapazes.
4. O lavrador que precisar de taes jornaleiros, passado o
dia 15 do corrente, os poderá requerer nesta Intendencia
apresentando-se a esse fim legitimado com uma guia ex-
pedida pelo presidente da Câmara, em cujo districto tiver
a sua residência, e tendo assignado um termo em que *e
obrigue a satisfazer o preço regulado na forma do artigo
antecedente, e pelo tempo que declarar se lhe fazem neces-
sários os mesmos jornaleiros para empregar nos seus tra-
balhos, para por esta Intendencia lhe serem entregues.
5. Em ordem a facilitarem os ajustes dos- lavradores com
os homens de que precisarem, a praça do campo de Santa An-
naservirá para que nos domingos de cada semana,começan-
do no 1*. depois do dia 15 do corrente, os indivíduos de um,
e outro sexo, que se acharem nas circumstancias referidas,
concorraõ a dita praça, ajuntado-se ali a fim de contracto-
rem com os ditos lavradores, nomeando entre si capatazes
da sua escolha para formarem ranchos, e passarem logo a
empregar se no trabalho, como he costume geralmente
practicado nas terras do Reyno.
6. Ajustado o rancho, e assigoado pelo lavrador o termo
de que trata o artigo 4, será o mesmo lavrador obrigado a
prestar a cada pessoa do rancho 40 réis por legoa para as
despezas do caminho, acompanhando o referido lavrador,
Commercio e Artes. 731
•u pessoa por elle proposta os jornaleiros de que assim se
encarregar, para conduzillos ás terras, em que se propozer
empregallos.
7. Os ministros criminaes dos bairros desta capital, os
juizes de fora, e ordinários das terras da Estremadura te-
raõ cuidado de vigiar sobre a observância do que fica es-
tabelecido especialmente nos artigos 2, e 3. O mesmo
faraõ as Patrulhas da Guarda Real da Policia, ficando par-
ticularmente incumbido ao Juiz do crime do bairo de An-
daluz ter cuidado, e dar as providencias próprias para que
no ajuntamento em praça, de que trata o artigo 5, haja re-
gularidade, e boa ordem.
E para que chegue a noticia de todos, cumprindo-se
assim, mandei lavrar o presente edital, que será impresso,
e aífixadoem todos os Lugares públicos desta eapital, ena
provincia da Estremadura, para que das disposições nelle
conteudas se naõ possa allegar ignorância.
JOAÕ DE MATTOS E VASCONCELLOS BARBOSA
DE MAGALHÃES.
Lisboa, em 3 de Novembro, de 1313.
Prêmios de seguros.
Brazil hida J0 guineos por cento. R. 5.
vinda 14 a 15
Lisboa e Porto bida 8 G\
vinda 2 G'. em comboy
Madeira hida 5 a 6 C—Açores 8 G5. R. 3.
vinda 8 á 10
Rio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a tornaviagem
vinda o mesmo 15 a 18 G5.
LITERATURA E SCIENCIAS.
Noticias das obras publicadas em Inglaterra.
MISCELLANEA.
Jornal Scientifico.
\J PERIÓDICO, que por irrisaó se tem designado com
este titulo, em conseqüência de suas extravagantes preten-
soens, que o fizeram julgar, que ninguém mais tinhadireito a
fallar em matérias scientificas, guardou jaosilencio a nosso
respeito no seu N° do mez passado; por outras palavras,
deitou-se no chaõ para naõ brigar, como se isso o livrasse
da ignomínia em que tem incorrido. Declarou a guerra e
deitou a fugir. Seus Redactores aproveitaram se da liber-
dade da imprensa em Inglaterra, para declamar contra essa
mesma liberdade; e aproveitáram-se da protecçaõ dos Go-
doyanos para espalhar as suas rapsódias contra tudo quanto
ha de racionavel em politica; e por fim com as declara-
çoens de que naõ fariam personalidades, tem atacado todas
as pessoas que saõ, óu suspeitam ser de opinioens diversas
das suas. Ja dissemos que lhes naõ havia de valer a manha
744 Miscellanea.
de se deitarem no chaõ ; provocáram-nos, lie justo que ex-
ponhamos as suas iuconsequencias, e sua perniciosa ten-
dência.
Entre as muitas personalidades, que se acham neste con-
tradictorio jornal, que prometteo naõ fazer personalidades,
he conspicuaa diatribe com que naquelle jornal se atacou
aos negociantes Portuguezes em Inglaterra, e quando estes
se justificaram, cantou o jornal Scientifico a Palinodia, e
declarou que naô queria fallar dos Negociantes Portugue-
zes em Inglaterra, que naõ éra do club Portuguez que
tractava, que se naõ devia entender de seus membros o que
dizia ; e ainda que fosse natur<:l o declarar de quem fadava,
calou esta parte essencial: dematicira quo a sua inocente
accusaçaõ deve entender-se contra ninguém.
Dahi vem com uma longa catilinaria contra o Correio
Braziliense, e accusa um Veterano I. da C. que ameaça
com denunciar aonde compete ; e quando a pessoa a -juem
éra appücavel a descripçaõ se queixou, cantam outravez
os scientificos a palinodia, e declaram no sen N". passado,
em letra garrafal nos termos mais abjectos de humiliaçaõ,
que naÕ he elle de quem fallaõ. Pois entaõ, Senhores
Scientificos, de quem fallavam ? Oh ! de ninguém, de
ninguém. Faremos conhecer o I. da C. aonde compete.
Vil e occulta delação < porque te naõ mostras cara a
a cara com o delatado ? Porque a intriga e mentira só se
nutrem ra escuridão e nas trevas. Mas os amantes da boa
causa, os verdadeiros patriotas, os vassallos fieis, devem re-
gosijar-se, vendo que os Godoyanos naõ acham para assa-
lariar, senaõ Redactores desta casta, cutos escriptos
assignalam a cada pagina novos triumphos á razaõ, e áo
bem do publico ; a pezar de seus esforços em contrario.
Homens educados nos principios da escravidão, e vileza,
naô conhecem aqueMe termo medido de dignidade, que
deve seguir o homem honrado, e o espirito independente.
Miscellanea. 745
Insolentes na prosperidade, viz e. rasteiros na adversidade,
naó conhecem outro trilho senaõ a tyrannia e o despotismo
de uma parte, sustentados pelo orgulho ; c da outra a ab-
jecçaõ, e a infâmia.
Naõ pense aquelle dos Redactores a quem istodirigimos,
que intentamos por aqui fazer-lhe cargo da liumílidade de
sua origem ; nem que chamamos um crime o ter elle co-
meçado a vida por limpar os çapatos a um pobre mestre de
grammatica em Coimbra; nem subir elle depois a alta digni-
dade de abrir e fechar a porta do collegio dos frades Ben-
tos de Coimbra com uma correa atada á cintura, d'onde
teve occasiaõ de entrar no collegio dos pobres denomina-
do o collegio da brôa.
Bem longe de fazermos disto motivo de accusaçaõ sup-
poriamos isso occasiaõ de elogio ; porque segundo os nos-
sos principios a nobreza que os homens adquirem por si,
fazendo-se babeis nas armas ou nas letras, he de muito
maior louvor ao indivíduo, do que a nobreza, que se herda
dos antepassados :
EXÉRCITOS ALLIADOS NA A L E M A N H A .
PItUSSIA.
BERLIM, 25 D*OUTIIBTIO.—Recebemos agora do exercito as seguin-
tes noticias officiaes : —
O corpo do General Von Langeron, e o do General Von Sacken,
passaram a noite de 19 do corrente, em Skenditz, e o do General
Von Yorck, em Halle. No dia 20, o General Wastitscheff, que tinha
passado o Flster, puxou para diante para Lutzen, c fez 200 prisio-
neiros. O General Von Blucher, mandou que o corpo de exercito
acima, marchasse de Skenditz para Lutzen, pelas pontes de Leipsig
naõ estarem ainda bem completas. Durante este tempo, o General
Ton Yorck tinha marchado de Halle para Mucheln, c mandado, que
o inimigo, que tinha passado o Saale perto de Weissonfels, fosse per-
seguido pela cavallaria, e artilheria volante, a qual fez um vivo fogo
5 F2
768 Miscellanea.
sobre elle. O inimigo relirou-sc para dentro das vizinhanças <l*>
Frieliurg. No dia 21, ao romper da manhaã, os corpos de rxerrilo
dos Generais Von Langeron, e Sacken, estavam nas vizinhanças dr
Weissenfels; o iuimigo immediatamente queimou a ponte, c retirou-
se sobre Fricburg. O General Von Rlurhvr imincdiiitamentc lançon
uma ponte sobre o Saale, e ambos os corpos passaram aquelle rio.
0 General Von Yorck tinha, no meio tempo, marchado parti Qucr-
furth, para prevenir o iuimigo de estender a sua ala esquerda, e mar-
char cm diversas columnas. Nisto foi elle completamente bem suc-
cedido. Atacou o inimigo junto a Frieliurg, c depois de um mui
vivo combate de infantaria, fello fugir, com perda de 1.200 prisio-
neiros, 18 peças d'artilheria, e um grande numero de carros do trem.
A's tres da manhaã, o inimigo deixou a cidade, lie impossível de-.-
crever a confusão que reinava de fronte da cidade. Ali i animem
estendidos, acolá carroças de muniçoens, c de bagagem, c ontris car-
ruagens reviradas, umas por entre as outras, mesmo até as margem
do Unstrutt.
Entaõ o nosso exercito attravessou o Unstrutt sobre tres pontes,
entre Frieliurg, e Taucha, e eslá agora no antigo Prinripado de Er-
furth, para a capital do qual as restantes forças do inimigo se tinham
retirado todas, cm razaõ do General Von Yorck lhes embaraçar o
marcharem cm columnas separadas. O Coroti'-l Conde Ilenkel,
afFortunadamente libertou um numero de officiaes Prussianos, Htix-
sianos, c Austríacos, c 4.000 soldados, que tinham cabido nas maus
do inimigo, e fez prisioneira a forte escolta que os conduzia.
0 Ilettman Platoff, tinha tomado a estrada de Xainnberg, com um
grande corpo de Cossacos, para interceptar o inimigo ua sua reti-
rada, c o corpo do General Von Yorck ia uo seguimento delle pelo
caminho de Halle.
Montem as 8 horas, o Principe da Coroa avançou com todo o s-*u
exercito contra Leipsig, aonde o inimigo nos recebeo com um mui
vivo acrolbiineiilo d • bailas de artilheria, <• granadas, du uma bate-
ria que elle tinha reservado para o fim de estorvar uma perseguiça»
mui forte. Isto com tudo foi mui depressa feilo arroinmodar.
Coiza de uma hora antes de a cidade ser de todo evacuada, o Prín-
cipe da Coroa foi informado pelo Imperador da Russia, que o Key
de Saxonia, que estava cm Leipsig, tinha mandado um parlamenta-
rio, para se render á descripçaõ, e que so tinha pedido que se pou-
passem os habitantes, e as suas propriedades; e S. M, o Imperador
da Russia lhe tinha respondido,qu* o Rey de Saxonia podia estai
Miscellanea. 769
socegado á respeito da cidade de Leipsig, e seus habitantes, porem
que ua sua pessoa, S. M. Imperial somente via uni Principe de ani-
mo hostil. S. A. 11. o Principe Coroa f »i ao mcs'iio tempo informa-
do, de que o Imperador Napoleaõ no verdadeiro estilo de Protector
di Confederação do Rheno, havia mandado dizer ao desafortunado
Augusto, que se houvesse com os Alliados o melhor que podesse,
porque elle naõ lhe podia dar auxilio.—[Aqui se^ue-se, como os Im-
peradores da Áustria, e da Russia, o Rey de Prússia, e o Principe de
Suécia, entraram pelas difíerentes portas e se encontraram ua praça
do mercado, dando-se mutuamente os parabéns.]
Vinte c seis Generaes Francezes estaõ prisioneiros. Os principaes
saõ os Generaes llegnier, e Laurision. O Genoral Latour Matibourg
teve aqui um pé cortado fora, c ainda assim Napoleaõ o obrigou a
sair da praça, em conseqüência do qne morreo naõ longe daqui.
Tres outros Generaes Frincczes soíIVcram hoje amputação. A per-
da do exercito combinado he considerável, pore:n, ua verdade uaõ
pode ser comparada coin a total destruição de todo o exercito de
Napoleaõ. O exercito Sueco foi o que soílreo menos perda. O
numero dos carros de bagagem, c iniiiiiçocus, tomados calcula-se cm
l.jOO. Ternos cm Leipsig 23.000 Francezes doentes, e feridos, aflo-
ra 30.000 que foram tomados prisioneiros. Além das j a mencia-
nadas, focava achadas carretis de peças em grande numero, e 30.000
espingardas encaixotadas caíram cm nosso poder.—(Gazela de Slral-
sund, 28 d'Outubro.)
Lr.ipsic, 19 D'OOTUBRO.—Logo que o exercito da Silezia comple-
tou a sua reunião com o grande exercito, e que o Príncipe Heredi-
tário de Suécia, teve lançado as necessárias pontes sobre o Halle,
partiram de Schkcuditz. O iui.tiigo eslava junto de Radefeldo, e
Ledcnthal, porem a sua força naõ era conhecida.
No dia 16 d'0utu!m>, deram-se ordens para se fizer um ataque
geral sobre as posiçoens do inimigo. O grande exercito marchou
pela estrada que vai de Borna á Leipsig. O General Conde Guilay
avançou de Lutzen pela estrada de Markranstadt. A' uma hora, o
exercito da Silesia começou o ataque. O Conde Von Langeron des-
alojou o inimigo de RadcfclJc, e avançou para Breitenfeld, sobre
Grosswettcnlz. O General Vou Yorck tomou a aldea du Ledeutliaf,
e repellio o inimigo para a banda de Leipsig. Aqui acharam elles
consideráveis massas de inimigos, que se tinham postado entre Eu-
tretsch, c Mockern. Este ultimo sítio estava guarnecido por infau-
taria inimiga: foi tomado, e tornado a perder. O inimigo trouxe
40 peças de artilheria para este ponto, com as quaes protegia a sua
T70 Miscellanea.
infanteria que estava travada. O total da infanteria du «orno ( i (
Von Yorck veio por degraos ao fogo de miisc*ucteria, em quanto o
corpo do Condo Langeron tiufia tomado, perdido, c tomado a tomai
as aldeas do Grande, c Pequeno YYittcritz sob o-flanco esquerdo. (1
corpo de Sacken formava a reserva. O gencral-ein-clielc deo-lbe
urdem para avançar ; porem antes de elle chegar, o valoi das tropa»
tiuha decidido a contenda. O inimigo foi inteiramente rechaçado
em Mockern, e a cavallaria penetrou a infanteria que fugia ,
e findou a batalha com a chegada da noite junto de Eutrelsch r
Gohles, de fronte de Leipsig. Unia águia, dous pares de bandeiras,
c para cima de 2.000 prisioneiros, foram o resultado da batalha de
Mocke.-n. O Marechal Marmont coininandava o exercito iniinisro
que consistia do 4"., 6"., e 7°. corpos.
A nossa perda he considerável; vários officiaes de graduaç.-iõ per-
tenceutes ao corpo do General Von Yorck, foram feridos. \ o dia
lt (1'Outuhro, o corpo d»; General Langeron fez um movimento
contra a direita do inimigo, a qual estava formada detrás de ICn-
tretsch. O Tenente-general WasellschekofF avançou com os seu>
Cossacos, c quatro regimentos du cavallaria, entre Entretscb, •
Schonfcld, contra a linha inimiga que o recebeo com um vivo fogo
d°artilh?ria. O inimigo linha puxado cavidlario sobre o seu flanco
direito. Dous regimentos da cavallaria de WasctLschekoff lançaram-
se sobre a cavallaria inimiga que estava postada por detrar da in-
fantaria, e a ti/eram fu^ir á redea solla para os subúrbios de Leipsig,
que por delraz se giiariieeein de 2.000 peças. Aqui tra\ aram-se, c
um grande numero de infantaria c cavallaria foi passada a espada
foram tomados muitos prisioneiros, e cinco peças d'.n Irlheria.
A linha do inimigo que e-!ava posta em ordem, e em cuja relta
guarda se fez o ataque, permanecei» em niassu a pé firme, e fez uni
fogo de canhaõ para todos os lados. Os luiss.ins collocaram no
centro a artilheria que Uniram tomado, c voltaram para o meio do»
seus camaradas debaixo do fogo da mosquetaria inimiga.
Este ataque de cavallaria pode contar-sc entre os inaiK excellentes
e distinclos no curso desta campanha. O inimigo a-;ora retirou-»"
ao travez do Partha, e para o lado de Leipsig. Pela tarde, o exer-
cito do Norte juntou-se ao llanco esquerdo do exercilo da Silezia, c
recebeo-se informação do exercito principal, que o General Hennig-
seu havia de chegar a tempo de se poder atacar o iuimigo uo dia ls,
por todo* os lados.
No dia 13 ao romper da manhaã o estrondo da artilheria começou
a nm tempo, em toda a roda do exercito Francez. Segundo a» dis
Miscellanea. 77 í
posiçoens que se fizeram, o corpo do Conde Langeron devia unir-se
ao exercito do Principe Hereditário de Suécia, passar o rio Partha
nas vizinhanças de Taucha, e atacar a direita do inimigo. O General-
em-Chefe, com tudo, da posição do inimigo concluio, que naõ seria
mui difficultozo forçar o Partha junto de Mockau, e como o desfi-
lamento do exercito do Norte pela banda de Taucha, havia por isso
ser facilitado, deo ordens para o ataque. O inimigo fez pouca re-
sistência, e o corpo do General Langeron avançou sobre o Partha
para a banda de Leipsig. Estávamos nos mesmo a ponto de ataear
alguns dos regimentos de cavallaria do inimigo, quando elles deser-
taram para nos; eram Saxonios. A infantaria, e artilheria Saxonias
desertaram para o exercito do Norte. O exercito do Norte avançou
logo sobre oflancoesquerdo do inimigo, e reunio-se-Ihe o de Ben-
nigsen, o qnal tornou a juntar-se ao exercito principal, que estendia
a sua esquerda até o Elster. Pelo meio dia, o fumo dai tilheria
mostrava o concentrico progresso de todos os exércitos. Meio mi-
lhaõ de homens estava em acçaõ dentro do espaço de uma, milha
quadrada (Alemaã). O corpo do General Langeron achou o inimigo
postado sobre, e â roda de Schonfeldt, aonde elle encontrou com
uma mui forte canhonada. O General Langeron mandou atacar
Schonfeld, pela infanteria: tomou-o; o inimigo poz lhe o fogo ; reto-
mou-o, e naõ era ainda noite quando Langeron o tornou a tomar ;
entretanto, o General Sacken, para o ajudar, tinha atacado a cidade
de Leipsig, e o Rosenthal com infantaria, e por este modo repartio
as forças do inimigo. O corpo d'York esteve de reserva neste dia.
Ao principio da noite, foi o inimigo forçado a recuar de todos os
lados, de encontro a Leipsig: porem sobre a estrada de Lutzen, e
Weissenfels obteve com força superior, o fazer retirar para o Elster,
o corpo de observação do General Conde Guilay, e deixa* desempe-
dida a estrada de Lutzen.
Com esta informação, o General-em-chefe mandou marchar na
mesma tarde, o corpo do General Von Yorck para Halle, para che-
gar primeiro que o inimigo â margem esquerda do Saale perto do
Merseberg, e Weissenfels.
No dia 19 d'Ouíubro, o inimigo via-se ir em plena retirada para
dentro da cidade de Leipsig. Uma quantidade de carros do trem,
puxados para defronta de Leipsig, foram incendiados por elle. As
nove horas estava o inimigo limitado á cidade, e vimollo ir-se reti-
rando em desordem. Entaõ fez-se um ataque de todos os lados; o
inimigo defendeo-se com muita obstinação. O corpo de Von Sacken
tomou de assalto os entrincheiramentos defronte da porta de Halle,
772 Miscellanea.
e avançou mesmo para a porta; porém a posição do inimigo cm mui
vanlajoza; c dous canhoens postados na porta jogaram com inc-
tralha por tal maneira que o valor das tropas uaõ pode vencer estes
obstáculos. O General-em-chefe mandou-lhes soccorro pelo corpo do
Conde Langeron que avançou a passo ligeiro pelos prados fio longo du
Partha, e este movimento decidio a tomada da porta de Halle, a vista
do que o inimigo deixou a sua poiiçaõ cm plena fugida. 0 exer-
cito do Norte tinha assaltado a porta Alemaã, c combatia na espla-
nada. Por quatro lados os soldados da* quatro naçoens maiores da
Europa, penetraram na cidade, e fraternalmente assistiam uns aos
outros. Todas as tropas Alctnaat que se achavam na cidade se ren-
deram. Os Generaes commandantes, Regnier, e Lauriston caíram
em nosêo poder, assim como muitos outros Gunerac* e um immcnio
numero de prisioneiros, que se avalia para sima de 20.000 j 103 ca-
nhoens, e mais-dc 2000 carros de muniçoens foram tomados somente
na cidade de Leipsig. O corpo do Príncipe Poniatowski foi achado
no rio Pleiwa. O inimigo vai fugindo pelo lado de Lutzen. Ainda
se naõ pode perceber como elle pode escapar. O Imperador Napo-
leaõ, com 20..i00 homens das Guardas forma a rettaguarda.
Acaba de receber-se a seguinte noticia certa:—
Napoleaõ intentava uttravcssar o passadiço junto de Koesco, ni
tua retirada: porem achou lá Von Yorck, o qual lhe tomou 54 ca-
nhoens, e por esta razaõ foi outravíz obrigado a voltar para a direita.
Quinze mil Wirtemburguezes guuriicciain Franckfort sobre o Mcin -
espera-se ali nm segundo corpo. O Hey, que segundo noticias, tem-
se posto da banda dos Alemaens, eslá levantando o Laoüwehr, em
seus estados.
BERLIN, 20 D'OCTOURO.—O grande desposito militar Francez que
estava para ser transportado cm 40 embarcaçoens de Dresden para
Torgau caio cm nosso poder, c espera-se que chegue a Berlin, no dia
St do corrente.
BDLLKTIX XXII.
Quartel-general de Leipsig, 10, i'Outubro.
O rrande exercilo de Bohemia, e oi exércitos unidos du Norte da
Alemanha, da Silezia, c o do comniando do General Bcnigssen ti-
nham marchado todos para a banda de Leipsig, aonde Napoleaõ
tinha concentrado o total das suas força». Depois das memoráveis
batalhas de 16, c 18 de Outubro, a cidade de Leipsig fui tomada por
assalto no dia 19, á uma hora da tarde. O Imperador da Áustria, c
Miscellanea. 773
iia Russia, o Rey de Prússia, e o Principe Hereditário de Suécia en-
contrarem-se juntos nesta cidade. Uma conta mais particular desta
notável occurrencia guerreira, será dada sem demora.
O Imperador Napoleaõ vai em plena retirada com os restos do seu
exercilo, o qual segundo todas as contas, naõ excede o numero de
75, á 80.000 homens; e vain-o perseguindo fortemente. A crença
da sua invencibilidade está destruida. As I ropas Alemaãs, e Polacas
abandonam os seus estendartes em grande numero. A liberdade da
Alemanha, e a independência da Europa foram ganhadas em Leipsig.
A perda do exercito Francez, excede 60.000 homens, 15 Generaes
prisioneiros, entre elles, os Chefes de corpos inteiros do exercito,
Regnier, e Lauriston para cima de 15.000 prisioneiros, 250 peças de
artilheria 900 carroças de trein, e umas poucas de águias, e estandar-
tes saõ estes os resultados daquelle gloriozo dia. O inimigo deixou
á traz de si, neste sitio 23.000 doentes, e feridos.
BULLETIM XXIII.
Quartel-general de Leipsig, 21 d?Outubro, de 1813.
Os movimentos e marchas do exercito combinado, que precederam
os grandes resultados agora obtidos, tem necessariamente suspeno.do
a publicação das operaçoens, em ordem a approveitar por uma vez
o plano, e suas conseqüências.
O Imperador Napoleaõ, •vixou Dresden, em 5 de Outubro, e mar-
chou em duas columnas sobre e Meissen, uma tomando a esquerda, e
a outra a margem direita do Elbe. Chegou a Wurtzen, e féz alto.
Este movimento, que foi 4 dias tarde demais, foi fatal para o exer-
cito Francez, e destruio em 2 batalhas, o character maciço da
invencibilidade de Napoleaõ. Os exércitos da Silezia, e do Norte
da Alemanha, estavam sobre a margem esquerda do Elbe. Nem
possuíam de facto uma posição, nem uma praça forte em uma
ou outra margem . porem fortes no valor de seus soldados, tinham
formado a resolução de naõ repassarem o rio sem darem, ou recebe-
rem batalha.
O Principe Real, e o General Blucher, dezejando sair promptamente
desta precariasituaçaõ,uniram-se com oPrincipeGuilherme de Prússia,
em 17 de Outubro, om Muhlbeck, junt;> ao Mulda, e determinaram
marchar para Leipsig. O Imperador Napoleaõ, desejando passar-lhe â
diante, formou tençaõ de atacar o exercito de Silesia. Marchou
contra elle com int'*-;aõ de lhe penetrar a linha, e impediilo dt re-
gauhar a ponte r, ., elle tinha construído em VVartenburg. Este rao-
VOL. XI. No. 66. 5a
774 Miscellanea,
vimcnto foi previsto,? o exercito da Silesia passou da direita par» ;i
margem esquerda do Mulda • na noite de 10, c I l,os dous exércitos
deixaram as suas posiçoens cin Zorbig, Jessnitz, c Hadegast, em ordem
a porem-se detrás do Saale. O exercilo da Silesia marchou sobre
Halle, e o do Norte da Alemanha, marchou sobre Hotbenburg, <*
Bernburg. O Imperador Napoleaõ atônito com esta marcha, parou
o seu movimento sobre o Elbe, e despois tomou a resolução de o con-
tinuar. Tomou sobre Dessau as obras, c a ponte de Roslati, desta-
cou dous corpos de seu exercito sobre Wittenberg, e mandou que o
(iencral Tbuuien, que commandava o bloqueio da fortaleza, fosse
atacado. Aquelle general, depois de se ter defendido valorozaineote
recuou sobre o corpo do General Tauenzien, que tinha repassado o
Elbe. O iuimigo immediatamente marchou sobre Roslau, c atacou
o General Tauenzien, o qual, ua conformidade das suas instrucçoens,
fez um movimento retrogrado, para cobrir Berlin. O inimigo mar-
chou sobre Acken, com tençaõ de destruir a ponte. As tropas pos-
tadas sobre a margem direita, defenderam os approchesdc certas ba-
terias mal completas, mas foram por fim obrigados a retirar-se para a
margem esquerda do rio, e trouxeram com sigo alguns botes que
compunham a ponte ; e naõ sofreram perda. A que elles tiveram
nos encontros antecedentes nas visinh ancas de Dessau, Coswig,e Wi-
temberg, naõ montava á mais de 40(1 homens.
Tendo-se recebido noticias de toda a parte, que o Imperador Napo-
leaõ tinha ajunetado uma força considerável, entre Duben, c Witten-
berg, em ordem a desfilar ao travez daquella cidade, sobre Magde-
burg, e por-se fora da sua arriscada posição, o exercito do Norto
da Alemanha, repassou o Saale no dia 13, e marchou sobre Cuthcn,
com o destino de seguir a marcha do exercito do Imperador c de o
atacar aonde quer que o encontrasse. Tinha-se recebido noticia que
o 4°., e o 7"., corpo, do 2°. corpo de cavallaria, estavam sobre a
margem direita do Elbe, o 1 Io. em Wittenberg, c o > . em Ocssau, e
as guardas antigas, e novas, em Duben. O Duque de Ragusa eslav»
em Delitzsch. O inimigo na mesma tarde atacou a cidade de Acken.
A divisão do Principe de Hesse Homburg marchou naquella direcçaõ,
repom o General Hirsfeld tinha ja tido a boa fortuna de repellir aquella
porçaõ do 3». corpo Francez que tinha feito o ataque.
A ponte de Acken eslava ja restabelecida, c todas ai preparações
feitas para se atravessar o Eibeá viva força, quando chegaram noli-
cias que o Imperador Napoleaõ, tinha feito retroceder diversos corpos
do seu exercito, e tinha reunido as suas tropas entre Duben, c Wui t-
ren. A presença, com tudo, de dous corpos entre Dessau. e Witlc
Miscellanea. 775
berg, e Duben, féz suspeitar que elle intentava dar um grande golpe,
tendo mudado os seus planos. Porem como estava continuamente
vio-iado todos os seus movimentos eram conhecidos, e os do exerci-
to do Norte da Alemanha eram por conseqüência regulados em pro-
porção. O exercito marchou sobre Halle, no dia 15 de Outubro.
0 Imperador percebendo que elle hia para atravessar o Saale, con-
centrou o seu exercito na visinhança de Leipsig. O Grande exercilo
de Bohemia, commandado em chefe pelo Principe Schwartzenberg, ap-
proximou-se daquella cidade, ao mesmo tempo, e a situação do exer-
cito Francez tornava-se peior cada momento. Nodia 16 de Outubro,
o exercito do Norte da Alemanha, em vez de marchar sobre o Saale,
raovco para a esquerda, c dirigio a sua marcha sobre Landsberg. O
General Blucher, que tinha ja marchado sobre Schkenditz, marchou
sobre Freyroda, e Radefelde, aonde elle, no mesmo dia, atacou o ini-
migo, c o forçou a recuar para traz do Partha, depois de uma obsti-
nada peleja : e tomou nesta occasiaõ 2,000 homens, uma águia, e 30
peças de canhaõ.
Todas as informaçoens annuuciarain que o Imperador Napoleaõ,
havia de atacar, no dia seguinte, o exercito da Silezia com a maior
parte das suas forças unidas. O exercito do Norte da Alemanha pos-se
em marcha no dia 17, pelas 2 da manhaã, da sua posição em Lands-
berg, echegou mui cedo aos altos de Breitenfeld, aonde se accampou
O dia estava socegado. Na manhaã seguinte, o Principe William de
Prússia e o General Blucher reuniram-se ao Principe Real; Sua Al-
teza Real foi informado de que o exercito da Bohemia havia de ata-
car o inimigo naquelle dia, eelle resolveo-se a tomar uma parte vigo-
rosa no ataque. Concertou com o General Blucher, que o exercito
do Norte havia de proceder sobre Taucha, para formar, pela esquerda,
a juneçaõ com o exercito do General Bennigscn, e que o corpo do
General Conde Langeron, havia de obrar durante o dia, debaixo das
ordens de Sua Alteza Real. Poucos momentos despois, ouvio-se
uma canhonada na direcçaõ do exercito da Bohemia, c as tropas
marcharam em ordem a passar o Partha. O corpo do General Bu-
low, e a cav -diária do General Winzingerode, que formavam a ex-
tremidade da esquerda, avançaram sobre Taucha. O exercito Rus-
siano, cuja guarda avançada era commandada pelo Tenente-ge-
neral CondeWoronzorfF, vadeeu acorrente, perto de Grasdorf. O
exercito Sueco passou entre aquelle sitio, e Plausig: ja ua tarde prece-
dente o General Winzingerode tinha feito occupar Taucha, e tomou
neste sitio tres oíHciacs, e 200 homens. O inimigo, comtudo. perce-
bendo toda a importaucia daquelle ponto, tinha desalojado os Cos-
5 G 2
776 Miscellanea.
sacos, e occnpado a aldéa com força considerável. O General Pah.
len, valorosamente sustentado pelo Coronel Arnoldi, da artilharia
a cavallo, que perdeo uma perna nesta occasiaõ, teve um brilhante
ataque, tomou a aldea,cercou dous batalhoens Saxonios que lá cita-
vam, e feios prisioneiros. A cavallaria entaõ avançou, e concluio a
juneçaõ com a guarda avançada do General Neipperg, que formava
parte de uma divisão Austriaea, commandada pelo General Conde
Bubna, pertencente ao exercito do General Bennigsen. 0 Hettinan
Platoff chegou ao mesmo tempo com os seus Cossacos, e poucos mo-
mentos despois Sua Alteza Imperial, o Gram Duque Constatitino. 0
iuimigo que tinha abandonado a aldeá de Paunsdorff, ataceu-a ou-
travez vigorosamente, com infantaria, e varias baterias. 0 corpo
do General Bulow, que justamente acabava de subir, foi mandado
atacar aquella aldea. Foi tomada com grande valentia: o inimigo
começou uma viva canhonada; diversas baterias Russianas, • Prus-
sianas lhe corresponderam, e cobriram-se de gloria. A cavallaria
Russiana, com o General 0'R»urke, Manteufel, Pahlen, Bekendorff,
e Ch.-stak á sua frente, esteve varias horas exposta a um fogo de 100
peças de artilharia, com o mais determinado desprezo da morte, o
que fez desmaiar o inimigo. Pelas tres horas começou elle a desfilar
as suas massas, das aldeas de Sellershausen, e VolkmersdoríT. O Prín-
cipe Real ordenou quea cavallaria Russiana atacasse: o movimento
do inimigo afrouxou,perdeo 4 peças de canhaõ,e reentrou nas aldeai.
Poucos momentos despois, o General ManteuíHe foi ferido com ama
baila de canhaõ, de que despois morreo. Este completo official he
geralmente chorado.
As nossas columnas iaõ marchando sobre Leipsig, qnando podero-
sas massas do inimigo foram vistas desembocar, entre Molka, c F.n-
glesdorff, ameaçando fianquear a nossa esquerda. O General Blucher
que casualmente estava postado defronte da aldea de Stelteritz, man-
dou mover em frente ás suas tropas, o que foi executado pelo General
Conde Neipperg, e assim, o inimigo estava colocado na presença de
sua divisão. Um official de artilheria Saxonio, tiuha ja passado para
nos 10 peças de canhaõ. As tropas postadas naquelle ponto, naõ
pareciam muita* em numero: foi necessário reforçadas. O Príncipe
de Hesse Horaburg foi mandado avançar para lá, e elle executou esti-
mo vimerito cora a precisão, e regularidade de uma parada. O Ge-
neral Bulow atacou, e tomou as aldeas de Stuntz, e Sellershausen, ai
quaes estavam fortemente occupada», e protegidas com artilheria
A resistência foi obstinada, as tropas Prussianas sustentaram-tc lá du-
rante a noite, em despeito dos repetidos esforços do inimigo. F.ste
Miscellanea. 777
ataque decidio os resultados do dia daquella parte. 0 inimigo, com-
tudo, continuou a avançar sobre a nossa esquerda, em ordem a demo-
rar a nossa marcha sobre Leipsig. Como naquella direcçaõ havia
falta de artilheria, o Principe Real dirigio o General Rnssiano Baraõ
de Wit, a convidar, da sua parte, o official commandante das baterias
Saxonias, para que lhe emprestasse o uzo da sua artilheria, ate che-
garem as baterias do exercito, que estavam detidas nos desfiladeiros
Este official, que ja tinha servido debaixo do commando do Priucipe,
appresiou-se a obedecer-lhe, e as 10 peças intentadas pouco antes
para consolidar a escravidão da Alemanha, foram despois applicadas
para assegurar a sua independência. Este exemplo deveria provar ao*
conquistadores, que o terror que elles inspiram, termina cora o poder
que o creon. O Coronel Diedericks commandante da artilheria Rus-
siana, unido ao General Bulow, fez grandes serviços nesta ocasião
0 Capitão Bogu« commandante da companhia de fogueteiros Ingleza
assignalou-se da mesma maneira. Este bravo official foi morto, e he
geralmente lamentado. Os foguetes produziram o mais decidido ef-
feito. 0 inimigo, no meio tempo, mandou sair um mui considerável
corpo, de Leipsig, pela sua esquerda, o qual marchou contra o Gene-
ral Conde Langerou. Este general, que com suas tropas tinha mos-
trado grande valor na tomada da adea de Shonfeld, achou qoe era
necessário apoiar o General, Conde de St. Priest, que naõ tinha arti-
lheria. Viste peças Suecas debaixo das ordens do General Cardel
chegaram à todo o gallope: o ponto foi assegurado, e o inimigo, por
meio de um vivo, econtiunado fogo, obrigado a fazer uma precipi-
tada retirada.
Chegando entaõ a noite, poz-se o exercito em vigia. Os gene-
raes Suchtelin, Stewart, Vincent, Pomo di Borgo, e Krusemark,
estiveram por va.-ias horas, expostos áo fogo mais violento. O pri-
meiro teve um cavallo morto. Pelas 5 da manhaã seguinte, tendo-
se o iuimigo retirado de Volkmersdorff, para dentro dos subúrbios,
de Leipsig, o 1'rincipe Real ordenou áu General Bulou que tomasse
a cidade; e este mandou áo Principe de Hesse Homburg, que fizesse
o ataque: a divisão do General Borstell foi destinada para o apoiar.
A porta éra protegida por uma palissada, e os muros estavam cheios
de seleiras; naõ obstante isto as nossas tropas forçaram o ca-
minho até dentro das ruas a tempo que o Principe de Hesse Hom-
burg foi ferido por uma balia * o inimigo tendo oecupado todas as
cazas, fez-se o conflito mui violento, e esteve indecizo por algum
tempo. Um reforço de 6 batalhoens Suecos, que tinha chegado com
uma balaria, féz um serviço essencial. O Major Doblenfoi morto ;
778 Miscellanea.
bc uraa grande perda para o exercito. A artilharia Sueca foi dirj.
gida pelo Major Edenhelm, que foi gravemente ferido: o General
Burstcll tomou o commando no lugar do Principe de Hesse Hom-
burgo : elle chegou com tropas frescas, a cidade foi conservada, e
quem do inimigo se naõ quiz render foi passado a espada. Cinco
batalhoens de caçadores Russianos da guarda avançada do General
Woronzoff, tinham no meio tempo avançado para apoiar as tropas
Prussianas, e Suecas, no ataque da cidade. 0 regimento 14 de ca-
çadores, commandado pelo Coronel Krasowski, tomou a porta cha-
mada Das Grimmische Thor, e tomou diversos canhoem. 0 Gene-
ral Baraõ Aldercrutz, esteve em todo a parte aonde o perigo éra
maior, annimando as tropas pelo seu valoroso exemplo.
Como o inimigo foi o obrigado á fazer a sua retirada pelos desfila-
deiros de Plejssa, a bagagem, canhoens, e tropas, apertavam-se era
confusão ao longo das passagens estreitas que lhes restavam abertas,
e que fôram em breve suffocadas pela sua geral desordem. Nenhum
pensava senaõ de se escapar. As guardas avançadas do exercito da
Silezia, e de Bennigssen, entraram quazi áo mesmo tempo pelas ou,
trás portas da cidade.
O Imperador da Áustria, e o da Russia, o Rey de Prússia, c o
Principe Hereditário de Suécia, encontrarem-se em Leipsig depois
desta brilhante victoria.
Os resultados das batalhas de Leipsig, saõ immensos, e decisivos.
Ja no dia 13, o Imperador Napoleaõ tinha começado a por o seu ex-
ercito em retirada pelas estradas de Lutzen, e Weissenfels. Elle naõ
retirou a sua pessoa daquelle sitio até ás 10 horas da manhaã do dia
19. Sabendo que um fogo de mosquetaria tinha ja commeçado á
porta de Ranstadt, para a banda de Lutzen, foi obrigado a sair pela
porta de Pegau Os exércitos Alliados tinham tom ido | j Generaes,
e entre elles o General Regnier, e Lauristnn que coinm.inilavain cor-
pos de exercito. O Principe Poniatowski foi afogado, einprchen-
dendo attravessar o Elster. O corpo do General Dumoiircsticr,
Chefe de Estado-Maior do corpo 11°. foi achado uo rio, c mais de 100
homens foram afogados nelle. O Duque de Bassano, eicapou 4 pé.
O General Ney suppoem-sc que foi ferido. Mais de 250 peças de
canhaõ, 900 caixoens, e acima de 15.000 prisioneiros tem caidu nas
maõs dos Alliados, e varias águias, e bandeiras. O inimigo aban-
donou aqui mais de 23.000 doentes, c feridos, com todo o estabeleci-
mento do Hospital. A perda total do exercito Francez deve montar
á perto de 1)0,000 homens. Segundo todos os calculus, o Imperador
Napoleaõ naõ pôde salvar do desastre geral, mais de 75, á 80,00»;
Miscellanea. 77&
homens. Todos os exércitos Alliados, cstam em marcha na persc-
guimento delle, e a cada momento cstam chegando prisioneiros, ba-
gagens, e artilheria. As tropas Alemaãs, c Polacas desertaram dos
estandartes, em bandos • e tudo annuncia que a liberdade da Ale-
manha foi conquistada em Leipsig.
Naõ se pode conceber, como um homem que tem commandado em
30 batalhas regulares, e que se tem feito famoso por gloria militar,
appropriandoá si todo o mérito dos antigos Generaes Francezes, tenha
sido capaz de concentrar o seu exercito em uma posição taõ pouco
favorável como aquella em que elle o collocou.
O Elster, e o Pleissa na rettaguarda, um terreno pantanozo para
attravessar, e tam somente uma única ponte para passarem 100,000
homens, e 3,000 carros de bagagem. Todos preguntaraõ, he este •
grande Capitão que até agora tem feito tremer a Europa ?
FRANÇA.
Noticias officiaes do Exercito na Alemanha.
30 D"OUTUBRO.—S. M. a Imperatriz, Raynha Regente, recebeo a s e -
guinte noticia da situação dos Exércitos, aos 4 de Outubro :—
O General Conde Lefebvre Desnouettes foi atacado, aos 28 de Septem-
bro, ás 7 horas da manhaã, em Altenberg, p o r 10.000 cavallos, e 3.000 in-
fantes. EUe effectuou a sua retirada diante de forças mui superiores; fez
786 Miscellanea.
alguns ataques lindos, e causou grande damno ao inimigo. Elle perdeo300
de sua infanteria e chegou ao Saale. O inimigo éra commandado pelo
Hetman Platow, e pelo General Thielman. O Principe Poniatowski mar-
chou aos 2 para Altenberg por Nossen, Waldheim, e Colditz, derrotou o
inimigo, tomou mais de 400 prisioneiros, e o repulsou para a Bohemia.
Aos 27 o Principe de Moskwa tomou posse de Dessau, que uma divisão
Sueca occupava; e repulsou aquella divisão para a cabeça de ponte. No
dia seguinte chegaram os Suecos, e retomaram a cidade. O General Ouil-
leminot os deixou avançar até tiro de metralha ; desmascarou entaõ as suas
baterias, e os repulsou, com perda considerável.
Aos 3 d'Outubro, o exercito inimigo da Silezia marchou por Konigs-
bruk e Elsterwerda para o Elster, lançou uma ponte na curvutura do Elbe,
em Wartenberg, e passou ali aquelle rio. O General Bertrand foi postado
em nm istbmo, e excellente posição cercada de pântanos. Entre as 9horas
da manhaS e 5 da tarde, fez o inimigo 7 ataques e foi sempre repulsado •
e deixou 600 mortos no campo de batalha; a nossa perda foi de SOO homens
mortos e feridos. Esta grande differença foi devida á bondade da posição,
que occupavatn as divisoens de Morand e Fontanelli. Pela tarde, o Ge-
neral Bertrand, vendo que desembocavam novas forças, julgou conveniente
effectuar a sua retirada, e tomou uma posição no Mulda, com o Principe
de Moskwa.
Aos 4, o Principe de Moskwa estava em Doelitz, na margem esquerda
do Mulda. O Duque de Ragusa, e o corpo de cavallaria do General La-
tour Mauburg, estavam em Eulenberg. O terceiro corpo eslava em Tor-
gau; 350 partidários, commandados por um Major-general Russiano,
tinham marchado para Mulhausen, e sabendo que a cidade de Cassei estava
sem tropas, tentaram surprender-lhe as portas. Elles foram repulsados -
porém no dia seguinte, tendo-se debandado as tropas Westphalianas, os
partidários entraram em Cassei. Elles entregaram tudo ao saque, e reti-
ráram-se passados alguns dias. El Rey de Westphalia se tinba retirado
para o Rheno.
5 i g
792 Miscellanea.
raes de divisão Vtal, e Rctchamfeeau morreram gloriosamente. A nossa
perda neste dia pód* »er avaliada em 4.00*9 homens mortos ou feridos i a do
inimigo «teve ter sido extremamente consiatravel. Elles naõ nos tomaram
prisioneiros, e nós tomamos-lhe 500 homens.
A's 6 horas da tarde o Imperador fez as suas disposiçoens, e deo as or-
dens para o dia seguinte. Porém ás 7 horas, os generaes Sorbier, e Du-
lauloy, commandantes da artilheria do exercito, e das guardas, vieram ao
seu bivouac, e o informaram de que a munição de reserva eslava acabada,
e restavam somente 16.000 bailas de peça: « que isto apenas seria bas-
tante para uma canhonada de duas horas, depois do que naõ restaria mu-
nição para os acontecimentos ulteriores • quo o exercito tinha, em 5 dias,
atirado mais de 220.000 balas, e que só se poderia obter mais suprimento
em Magdeburg ou Erfiirt. Este est-ado das cousas fez necessário um proni-
to movimento, para um deste» dous grandes depósitos. O Imperador se
decidio para Erfort, pela mesma razaõ qne o induzio a vir a Leipsic, a flm
de poder apreciar a desersaõ de Bavária.
O Imperador deo immediatam-eníe ordens para que a bagagem, os
parques, e a artilheria passassem os desfiladeiros de Lindenau : deo ordens
similhantes á cavallaria, e aos differentes corpos do exercito, e foi entaõ
ter ao Hotel Prussiano; nos subúrbios de Leipsic, aonde chegou ás 9 horas
da noite. Esta circumstancia obrigou o exercito Francez a renunciar ot
fructos de duas victorias, em que tinba com tanta gloria derrotado tropas
mui superiores em numero, e os exércitos de todo o continente. Porém
este movimento naõ deixava de ter difficuldades. De Leipsic até Lin-
denau ha um desfiladeiro de duas léguas, com 5 ou 6 pontes no caminho.
Propoz-se o postar 6.000 homens, e 60 peças d' artilheria em Leipsic, que
he uma cidade murada; e occupar aquella cidade como eabeça-de-desflla-
deiro, e queimar os seus vastos subúrbios, a fim de impedir qne o inimigo
eíftctuasse o alojar-se ali, e dar pleno campo á nossa artilheria dos muros
para jogar. Por mais odiosa que fosse a traição dos Saxonios, naõ se pôde
resolver o Imperador a destruir uma dtts mais hellnB cidades dn Alema-
nha ; entregalla ás desordens de todo o gênero, que saõ inseparáveis de tal
modo de defensa; e isto debaixo dos olhos de um Rey, que fora servido
acompanhar o Imperador de Dresden, e que estava sensivelmente afllicto pelo
comportamento de seu exercito. O Imperador quiz antes expor-se a per-
der alguns centos de carros do que-adoptar esta barbara medida. Ao rom-
per do dia, todos os parques, a bagagem, e toda a artilheria, a cavallaria,
as guardas, e dous terços áo exercito, tinham Ja pairado o desvlndeiro. O
Duque de Tarentum, e Principe Poniatowski, estavam encarregados de
conservar os subúrbios por tanto tempo, quanto bastasse para todo o exer-
cito desembocar, e executarem entaó", elles mesmo», a passagem do desfila-
deiro ás 11 horas. As 6 horas da manhaS os Magistrados de Leipsic man-
daram uma deputaçaõ ao Principe Schwartzenberg, para lhe pedir, qae
naõ fizesse daquella cidade a scena de «ma accaõ, o que oceosionaria a «ua
ruina. As 9 horas o Imperador montou acavallo, entrou em Leipsic, « tf.
Miscellanea. 793
uma visita a El Rey. Elle deixou a este Principe em plena liberdade de
fazer o que lhe parecesse c de naÕ deixar os seus dominios expostos aquelle
espirito sedicioso, que se tinha fomentado entre os seus soldados. Tinha-se
formado um batalhão Saxonio, em Dresden, que se unio ás guardas novas.
O Imperador mandou formallo em Leipsic, em frente do Palácio do Rey,
para lbe servir como guarda, e protegêllo contra os primeiros movimentos
do inimigo. Meia hora depois o Imperador foi ter a Lindenau, para espe-
rar ali a evacuação de Leipsic, e para ver que as ultimas tropas passassem
as pontes, antes de se pôr em marcha. No entanto o inimigo foi breve-
mente informado de que a maior parte do exercito tinha evacuado Leipsic,
e qae somente restava ali uma forte retaguarda. Elle atacou portanto vi-
vamente o Duque de Tarentum e o Principe Poniatowski; mas foi repeti-
das vezes repulsado; e no acto de defender os subúrbios a nossa retaguarda
effectuou a sua retirada. Porém os Saxonios, que tinham ficado na cidade,
fizeram de cima dos muros fogo ás tropas, o que as obrigou a accelerar a
sua retirada, e occasionou alguma desordem.
O Imperador tinha ordenado que os engenheiros fizessem minas ptw
baixo da ponte entre Leipsic e Lindenau, a fim de afazer voar no ulti-
mo momento, e retardar assim a marcha do inimigo, e dar tempo á nossa
bagagem para desfilar. O General Dulauloy tinha encarregado esta ope-
ração ao Coronel Montfort. Este coronel, em vez de permanecer no seu
posto, para dar as ordens, e fazer o signal, ordenou a um cabo de esqua-
dra, e quatro sapadores que fizessem voar a ponte no instante em que o
inimigo apparecesse. O cabo de esquadra, um ignorante, comprehenden-
do mal a natureza do serviço de que fôra encarregado, logo que ouvio o
primeiro tiro, que se deo dos muros da cidade, lançou fogo ás minas, e fez
voar a ponte. Parle do exercito estava ainda do outro lado com um
parque de 80 peças de artilheria, e alguns centos de carros ; a guarda
avançada desta parte do exercito, que se ia aproximando á ponte, vendo-a
voar, concebeo que estava em poder do inimigo. Um grito de susto se es-
palhou de fileira em fileira—" O inimigo está cerrado com nosco na reta-
guarda, e as pontes estaõ cortadas."—Os infelizes soldados se dispersaram,
e trabalharam por escapar-se do melhor modo que puderam. O Duque
de Tarentum cruzou o rio a nado: o Conde Lauriston menos feliz foi a
fogado; o Principe Poniatowski montou em um cavallo fogoso, atirou
com sigo á água, e naõ foi mais visto. O Imperador naõ foi informado
deste desastre, senaõ quando éra ja demasiado tarde para o remediar. De
facto, naõ éra possivel remediar-se. O Coronel Montfort, e o cabo de
esquadra dos sapadores fôram entregues a um conselho de guerra.
He impossível ainda o averiguar as perdas oceasionadas por este infeliz
acontecimento, mas ellas se avaliam em 12.000 homens, e alguns centos de
carros. A desordem que occasionou no exercito mudou a face das cousas.
O exercito Francez, posto gue victorioso, chegou a Erfurt como chegaria
um exercito dtrrotado. He impossível descrever o pesar que sente o exer-
cito pelo Principe Poniatowski, Conde Lauriston, e todos os valorosos
794 Miscellanea.
homens que pereceram em conseqüência deste fatal acontecimento
Nós naõ temos noticia do General Regnier, naõ se sabe se foi morto oa
aprisionado. A profunda dôr do Imperador se pode facilmente conceber,
considerando, que elle vè, pela inattençaõ a suas sabias disposiçoens, que
os resultados de tantas fadigas, e trabalhos, se tem desvanecido completa-
mente.
Aos 19, o Imperador pernoitou em Márkranstaedt; o Duque de Reggio
f cou em Lindenau. Aos 20, o Imperador passou o Saale em WeisscnfeU.
Aos 21 o exercito passou o Unstret em Freyhurg; o General Bertrand so
postou nas alturas de Cosen. Aos 22 o Imperador pernoitou na aldea de
Ollendorf. Aos 2S chegou a Erfurth. O inimigo, que se tinha enchido de
consternação pelas batalhas de 16, ede 18 i pelos desastres de 19 se enchro
de coragem, com a ascendência da victoria. O exercito Francez, depois
de taõ brilhantes suecessos, perdeo a sua postura victoriosa. Achamos cm
F.rfurt mantimentos, muniçoens, vestuário, e tudo que o exercito precisava.
O Estado maior publicará as participaçoens dos diferentes chefes do exer-
cito, pelo que respeita os officiaes, que se distinguiram nas grandes bata-
lhas de Wachau e Leipsic.
MILAÕ, 19 DOUTIBRO. — A falia feita no Senado do Império, pella Im-
peratriz Raynha e Regente, he bem digna de ser enusiderada por todos os
Italianos. S. M. entre outras, repetio estas memoráveis pallavras: —
" Eu conheço melhor que ninguém o que o nosso povo terá pura temer
se algum dia elle se deixa conquistar.
" Italianos I he á nós, he principalmente á nos a quem pertence o re-
tectir sobre estas palavras, que evidentemente sahiram do coração da
Imperatriz. Ella passou a sua primeira mocidade no meio daquelles mes«
mos indivíduos, que tem presentemente empenhado seu Pay em fazer-nos
guerra. Ella disse que conhecia melhor que ninguém os sentimentos com
que elle* estaõ animados, e a sorte que nos fariaS loffrer se chegassem a
conquistar-nos.
" Italianos 1 se os sentimentos com que os nossos inimigos eitaõ animado»
deviaõ excitar a coragem e a resistência dos Francezes, quanto mais devi-
am elles infiammar o nosso patriotismo, e valor? Os Francezes nunca
fôram vassallos de nossos inimigos. Estes naõ tem coiza alguma que expro-
brar ios Francezes senaõ o serem mais fortes, e mais bem commandados.
Porem nós que temos mudado de Soberanos, e que estamos ligado* ao nosso
Rey por tantos laços de gratidão, e de amor i nós que temos posto nossa
gloria, eamkiçaõ em servillo, formemos, se be possível, nma idea do re-
tentimento, e particular vingança de que bem depressa seremos o objecto,
e as victimas.
" Nibguem duvida que os esforços de nossos inimigos haõ de tornar-*»^
em vergonha sua, e que haõ de cahir diante do gênio, e poder do Impera-
dor. Os dias de Lutzen, e Dresden, deviaõ convencellos do absurdo d«
suas esperanças, e provar-lhes que o Imperador be agora mais forte e mal»
grmnde que nunca.
Miscellanea. 795
" Supponhamos que o inimigo havia por um momento peneirar até nos t
elle naõ havia, ao principio, deixar de fallar-nos em um estilo paternal, •
prometter-nos de se esquecer do passado. Porem quem de entre nos se
deixaria enganar com suas artificiosas promessas f Nos o conhecemos.
Nos naõ temos ainda esquecido o dia 13 de Messidor, que precedeu o im-
mortal dia de Marengo. Podemos nós crer que i Imperador havia de
perdoar jamais aos funecionarios de todas as classes, aos generaes, offi-
ciaes, aos soldados, que o tem taõ ameudadas vezes conquistado ? Haveria
elle de perdoar aos Lombardos seu primeiro enthusiasmo, e a fidelidade de
que elles tem dado tantas provas ? Haveria elle de perdoar aos Batonais,
aos Brecianos—os sentimentos de admiração, c zelo com que elles tem sido
constantemente animados para com o Imperador? Haveria elle de per*
doar aos Venezianos a profunda pena que lhes causou o tractado de Campo
Formio, e a alegria que mostraram ao ouvir do tractado de Presbourg l
Haveria de perdoar aos Modenezes os serviços de todas as sortes que elles
tem feito ao Soberano nas administraçoens, e nos exércitos. Aos Tirolezes
os sentimentos de fidelidade que elles tem provado despois do ultimo tra-
tado de Viena ? Aos Professores de nossas Universidades, e nossos Liceos,
os preceitos, os exemplos de patriotismo que elles tem dado á nossa moci-
dade? Ah? perguntai, perguntai a S. M. a Imperatriz ; ella se dignará
jnforuiarvos que aquelles se enganam estravagantemente asi mesmos em jul-
gar que podem obter poimeio de covardia, o abandonarem seus pri-
muros deveres.
" Italianos! todos nós conhecemos os nossos deveres, e naõ podemos de-
maziadamente repetir que os nossos mais importantes interesses nos man-
dam preenchellos."
4 DE NOVEMBRO.—S. M. a Imperatriz Raynha e Regente recebeo as se-
guintes noticias a respeito da situação dos exércitos em 31 d'Outubro:—
Os dous regimentos de courasseiros do Rey de Saxonia, que formavam
parte do primeiro corpo de cavallaria tinbam ficado com o exercito Fran-
cez. Depois que o Imperador deixou Leipsig, mandou ao Duque de Vi-
cenza, que lhes escrevesse a carta annexa e mandou-lhes que retrocedessem
para Leipsig para servirem de guarda ao Rey. Quando nós ja éramos
sabedores da rebelião da Baviera, um batalhão Bávaro estava ainda com
o exercito: S. M. mandou que a seguinte carta fosse escripta, pelo Major-
general, ao commandante daquelle batalhão. " O Imperador deixou
Erfurth no dia 25." O nosso exercito féz tranquillamente a. sua marcha
para o Main. " No dia 29 chegou a Gilnhausen: um corpo de inimigos de
o á 6.000 homens de cavallaria, infanteria, e artilheria, o qual nos sabia-
mos por prisioneiros que era a guarda avançada do exercito Austriaco, e
Bávaro; apparecêo ali. Esta guarda avançada foi repellida e obrigada
a retirar-se. Nos em continente restabelecemos a ponte que o ini-
migo tinha destruído. Logo soubemos de prisioneiros que o exercito
Austriaco, e Bávaro que se dizia ser de 60 a 70.000 homens robustos, vin-
dos de Branau, tinham chegado á Hanau, e pretendiam estorvara passagem
ao exercito Francez.
No dia 29 pela tarde os attiradores da guarda avançada do inimigo fo-
ram repellidos para alem da aldea de Langeusebolde, e ás 7 da tarde
79G Miscellanea.
Imperador, e seu quartel-general estavam no Castello de Jesembnrg, na.
quella aldea.
No dia seguinte, 90, ás 9 horas da manhaS, o Imperador montou a ca-
vallo. O Duque de Tarento marchou a diante com 5.000 attiradores-
debaixo das ordens do General Charpenlier, a cavallaria do General Se-
bastiani, a divisão da guarda commandada pelo General Friant, e a caval-
laria da antiga guarda os seguiam ; o resto do exercito marchava na reta.
guarda.
O inimigo tinha postado seis batalhoens na villa de Ruckengem, em
•rdem a cortar todas as estradas que vaõ ao Rheno. Algumas descargas
de metralha, e um ataque de cavallaria fizeram retirar estes batalhoens
precipitadamente. Os attiradores assim que chegaram ao principio dum
bosque, duas legoas distante de Haoau, naõ demoraram mais o travarem-
se. O inimigo foi repellido até aquelle ponto do bosque aonde se juntam
as estradas, nova, e velha. Naõ tendo que oppôr á superioridade da
nossa infanteria, fez esforços por se approveitar de seu grande numero,
« extendeo o fogo para a sua direita.
A brigada de 2.000 attiradores do 2*. corpo, commandada pelo General
Dubreton, estava empenhada em sacudillos, e o General Sebastiaai féa
qne varias cargas bem succedidas fossem executadas sobre os attiradores
do inimigo nas partes abertas do bosque.
Por este modo os nossos 5.000 attiradores reprimiram todo o exercito
inimigo, ganhando insensivelmente tempo até as S da tarde.
Logo que chegou a artilheria, o Imperador mandou ao General Cúria,
que marchasse á passo de carga, «obre o inimigo, com dous batalhoens de
caçadores das guardas antigas, e que o repeli isse até além da desemboca-
dura ; ao General Drouet que subisse immediatamente com 50 peças de
c tohaõ, e ao General Nansouty, com todo o corpo do General Sebastlani,
e rom a cavallaria das guardas antigas atacasse vigorosamente o inimigo na
planicie.
Todas aquellas disposiçoens.foram exactamente executadas. O General
Cariai destruio diversos batalhoens do inimigo. Os Austríacos, e os Bá-
varosficaramatterrados so com o aspecto das guardas antigas. De 15 ate
58 peças de canhaõ, foram suecessivamente collocadas com aquella activi-
dade, intrepidez c sangue frio, qne distingue o General Drouet.
O General Nansouty marchou na direita destas baterias, e mandou que
um corpo de 10.000 homens de cavallaria inimiga fosse atacado pelo
Onerai Leveque, major da guarda antiga, pela divisão de couraceiros de
St. Germain, e suecessivamente pelos granadeiros, e dragoens dn cavalla-
ria da guarda. Todos estes ataques tiveram o mais feliz resultado • a ca-
vallaria inimiga foi destruída, e aceutilada; diversos quadrados de infante-
riaforampenetrados; o regimento Austriaco 8ordes, e os Hulaoos do Prin-
cipe Schwartzenberg foram inteiramente destruído».
O inimigo abandonou precipitadamente a estrada de Frankfort qne
tinba tomado, e todo o terreno que occupava com sua esquerda : póz-sc
etn retirada, e pouco depois em completa derrota. Eram cinco da tarde,
fez o inimigo um esforço na sua direita, para desempenhar a esquerda, e
dar á «ta tempo para se reformar. O General Friant mandou dou»
Miscellanea. 797
batalhoens da guarda antiga para uma casa de quinta situada sobre a es.
trada velha de Hanau.
Foi logo o inimigo lançado fora de sua vantajosa posição, sua direita
obrigada a recuar, pôs-se em retirada, e repassou em desordem o ribeiro
de Kentzig. A victoria foi completa. O inimigo que pretendia fechar
todo o paiz, foi obrisado a evacuar a estrada de Frankfort e de Hanau.
Fizemos 6000 prizioneiros, e tomámos diversas bandeiras, e varias peças
de canhaõ. A perda do inimigo andou por 19.000 homens entre mortos,
feridos, e prizioneiros. A nossa apenas anda de 400, á 500 mortos ou feri-
dos. Nos tivemos empenhados taõ somente 5*000 attiradores, 4 batalhoens
da guarda antiga, e perto de 80 esquadroens de cavallaria, e 120 peças de
canhaõ.
O inimigo, áo romper da manhaã do dia 30, retirou-se na direcçaõ de
Aschaffenburg
O Imperador continuou a sua marcha, e ás 3 da tarde S. M. estava em
Frankforj.
As bandeiras tomadas nesta batalha, assim como as que se tomaram nas
batalh.-is de Wachau, e Leipsig, foram enviadas para Paris.
Os couraceiros, os granadeiros a cavallo, e os dragoens fizeram cargas
brilhantes. Dous esquadroens do 5°. regimento das guardas de honra,
commandados pelo Major Salucas, distinguiram-se particularmente, e daõ
razaõ para presumir o que se pode esperar deste corpo para a seguinte
primavera, quando elles estiverem perfeitamente organizados e discipli-
nados.
O General da artilheira do exercito, Nourrit, e o General Devaux, major
da artilheria da guarda, mereceram ser distinguidos. O General Letort,
major de dragoens nas guardas, ainda que ferido na batalha de Wachau,
queria atacar á frente do seu regimento, e teve o cavallo morto.
No dia 31 de tarde, o grande quartel general estava em Frankfort; o
Duque de Treviso, com duas divisoens das guardas novas, e o primeiro
corpo de cavallaria estava em Gilnhausen ; o Duque de Regio tinha che-
gado a Frankfort; o Conde Bertrand, e o Duque de Ragusa estavam em
Hanau ; o General Sebastiani juncto ao Nidda.
5 iS
gOO Miscellanea.
droens dos hussares negros Prussianos, para apoiar os dragoens etn
outro tempo chamados La Tour, porem agora SI. Vicente. 0 S».
reo-itneato de dragoens Francezes, apanhou estes novos regimentos
de flanco, lançou-se sobre elles, e destruio-os completamente; ao
momento em que um único esquadrão do 13°., rodeado por 800
cavallos formados em circulo, destruía tudo o que lhe chegava áo
pé. Este esquadrão era commandado pelo Chefe de Esquadrão de
Xigneville. " Ao mesmo tempo a cavallaria ligeira, commandada
pelo General Subervie, voltando de ter derrotado um igual numero
de hussares Prussianos, e um esquadrão de hulauos, achou-se ll.ui-
queada por dobrado numero de inimigos: porem o Coronel Merraet,
que na ausência do General de Grigada, commandava os regimentos
18°., 19'., 22°., e 24». de dragoens recebeo 6rdens para desdobrar a
sua columna; o 18". e 1!)°. bateo o inimigo em todas as partes, o
qual deixou 660 mortos sobre o campo da batalhn, 100 soldados da
cavallo, e vários officiaes prisioneiros, e 1S0 cavallos. Nós lemos
somente para sentir a falta do capitão de escolha do 11°. de dra-
goens, 14 caçadores, e 4 dragoens. O Generaes Montiligier e Suber-
vie destioguiram-se, Todos ns officiaes e soldados, durante estci
quatro suecessivos ataques sobre um terreno de um quarto de legoa
de comprido, combateram á voz de " Viva o Imperador!"
Os regimentos de dragoens de M. Vicente, c de Hohenzollcrn, e a
cavallaria ligeira de Keyser foram destruidos nesta valorosa peleja.
Nos tivemos, da nossa parte, 18 mortos, e 120 dragoens, caçadores,
ou hussares feridos; porem um cento delles, tornarão para os seus
postos dentro de 7, ou 8 dias. Os corpos do inimigo eram comman-
dados pelos Generaes Thielman, o Principe de Liclitenstein, e Biron
de Courland. O inimigo tinha 4.000 cavallos, e nós apenas V.600.
Oi dragoens antigos de La Tour, e a cavallaria ligeira de Kcyser
eram a flor da cavallaria Austríaca.
Em a minha relação áo Duqne de Castiglione, fiz conhecer os
nomes de diversas pessoas que se portaram com valor; porem todos
•aõ merecedores dos favores de S. M. pela sua intrepidez, c zelo.
(Assignado) Conde MILHAUD, General de Divisão.
DECRETO IMPERIAL.
Napoleaõ, por graça de Deus, e pela Constituição, Imperador da
França, Rey de Itália, Protector da Confederação do Rheno, Medi-
ador da Confederação Suissa, &c. &c.
A todos aquelles que as presentes letras virem, saude.
Nos temos decretado, e decretamos o seguinte :—
O Corpo Legislativo he convocado para o dia 2 de Dezembro
próximo.
Nos mandamos, e ordenamos que o presente seja inserido no bwle-
tim d;is le\ s.
Lado etn nosso quartel-general Imperial de Gotha, aos 52 de Ou-
tubro, de 1813.
(Assignado) NAPOLEAÕ.
Pelo Imperador. Visto por nos,
O Ministro Secretario d>* Estado, Conde l>»t:t'.
Vice-grandc Eleitor, Cins. .M*i meio.
DECRETO IMPERIAL.
FRANÇA.
Tem sido uma observação geral, que as conquistas rápida», e
demasiado extensas, naõ podem ser de duração t ma» nunca o caitigo
da ambição descomedida seguio de mais perto o crime, do que no
exemplo de Bonaparte. Teve este homem era seu poder findar a
revolução Franceza, passar para sua familia o throuo Francez, e
dar paz e socego á Europa. Cuidaria alguém que o alcance de ob-
jectos de tanta magnitude satisfariam a ambição de um aventureiro,
que á força de crimes chegou a ser soberano de uma naçaõ pode-
rosa. Mas naõ bastou isto: subjugou naçoens independente», e pa-
cificas ; uietteo a contribuição seus alliados, meditou a ruina dos
maiores Impérios da Europa ; intitulou-se omnipotente; e expedio
decretos em forma de prophecia».
No 3°. bnlletim, datado de Berlin dos 10 de Novembro 1806 de-
clarou, que o exercito Francez naõ sairia de Berlin até se naõ entre-
garem as possessoens e colônias Hespanholas, Hollar.tlezai, e Fran-
cezas, e so fizeste uma paz geral. No bulleiiu- JU di»»c, que era
necessário que a presente guerra fo»»e a ultima, a I»tit de que o» qne
daqui em diante tomassem armas contra o povo Francez, conhe-
cessem bem o perigo de tae» empreza», e de «ua» inevitáveis conse-
qüências. Ao» 26 de Outubro de 180g proferiu no Senado de Pari»
estas palavras : " Eu parto dentro em pouco» dias, para me por em
pessoa á frente do meu exercito ; e cora a ajuda de Deu» coroar El
Key de Hespanha era Madrid ; e arvorar as minhas águias nos muro»
de Lisboa. Era 29 de Fevereiro de 1813, ja depois de derrotado em
Russia, declarou," que estava satisfeito com seus alliado», que os
naõ abandonaria, que manteria a integridade de »eu» E»tado», qne
os Russianos voltariam para o» seu» horrororo» climas.
Miscellanea. 815
Tudo iito tem succedido pelo contrario. Elle foi obrigado a sair
de Berlin, c as colônias de Hollanda, e França longe de serem resti-
tuidas, entraram com as que restavam no poder da Inglaterra. O
pretenso Rey de Hespanha he um triste fugitivo em França. Por-
tugal está livre e seguro j c as tropas Portuguezas e Hespanholas in-
vadindo o sul da França. Os Alliados com quem Bonaparte se dava
por satisfeito, longe de estar satisfeitos com elle, todos o tem aban-
donado ; e o norte da França corre tanto perigo de invasão como
o sul.
Quanto ao estado interno da França, naõ pôde haver duvida de
sua consternação. Ho mui difficil averiguar de um paiz estrangeiro,
qual he a opinião publica em França; mas todos os symptomas
tendem a mostrar que o Governo soffre uma grande agitação. Bo-
naparte exige uma leva de 300,000 homens. O Senado suspende a
execuç?õ da Constituição, naõ permittindo a renovação de uma
terça parte de seus membros, que devia ter lugar. O ministério
tem uma mudança considerável, nos chefes de todas as reparti-
çoens. Tudo isto prova a mais decidida agitação.
Se reílectimos além disto, que em todos os momentos críticos
desta revolução os Francezes se tiraram do embaraço momentâneo,
mudando a forma do Governo, e imputando ao antigo todos os
inales acontecidos, posto que fossem quasi as mesmas pessoas, quo
compunham o Governo novo ; nada nos admiraria ss víssemos Bo-
naparte deposto do throno; e algum outro Governo substituído era
seu lugar; e estamos persuadidos que as mudanças de ministério
naõ tem outro fim senaõ tentar a opinião publica a ver se estas
mudanças satisfazem ; e se o descontentamento continuar, recorrer
entaõ a mudança mais radical,
Os suecessos da guerra, que recapitularaos em outra parte, trou-
xeram a Paris Bonaparte, e a sua linguagem, era vez de prophetizar
conquistas nao faz mais do que appellar para orgulho nacional
Francez, conjurando o povo a que se defenda da invazaS que o
ameaça.
Se a ruina do exercito exigio a leva de "Í00 mil homens, a deca-
dência das finanças obrigou ao expediente de duplicar os tributos,
espécie de vexame, a que até aqui naõ estavam os Francezes muito
aceustumados.
Ao mesmo tempo que em Paris se estavam apresentando á Impe-
ratriz Memórias de parabéns, que se pretendiam serem escriptas na
Hollanda, os Hollandezes estavam expulsando de seu paia as autho-
lidadas Francezas, e declarando a sua independência,
5M 2
816 Miscellanea.
A confederação do Rhcuo está extincta, e todos os principes dr
alguma nota, que pertenciam a esta forçada e violenta liga, „• tem
revoltado, e unido aos Alliados. A Suissa sacudio o ju"o de seu
pretenso Mediador ; e supposto, que por hora sô se tenha declarado
neutral, ninguém duvida que e»te seja o primeiro passo para se re-
solver coutra a França. O Tirol, e parte das costas do Adriático
incluindo o importante porto de Trieste obedecem já ao Imperador
de Áustria, e quanto á Itália, Eugeuio Beauharnois, tem sido obri-
gado a retisar-se para aquém do Adige, com o fraco exercito que
commanda.
No entanto Napoleaõ continua a ter em prisaõ o Summo Ponti-
fice, e o legitimo Soberano da Hespanha; ma» estas victimas da
traição e da aleivosia, naõ podem com seu captiveiro melhorar a
condição do tyranno, antes servem de fazer mais conspicua a sua
horrorosa injustiça.
Em uma palavra, he chegado o momento em que Bonaparte deve,
sem remédio, vere humilhado o seu orgulho.
-*%%*».
HESPANHA.
Mo nosso N". passado fizemos mençaõ do uma accuiaçnS, que te fei rm
Cadiz, por meio dos Jornaes pnblicos, contra o exercito Alliado, na to-
mada de S. Sebastião, e temos agora a satisfacçaS de annunciar, que Lord
Wellington coofotou amplamente a calumnia. He verdade, que naO nega
o saque, nem as terríveis consequencins de uma tomada por asiallo ; mai
em prova da impossibilidade de impedir os males, alega com a circum-
staocia da grande mortandade dos officiaes Alliados naacçaO ; mortandade,
que deixou a soldadesca sem chefe», e por conseqüência tem tem superio-
res, que pudessem reprimir as violências, que se comattem em taet oceatí-
ocus: além disto, logo que soube o que te passou, mandou procurar o» cul-
pados, que punio mui exemplarmente. Convencido! como ettnmot, poi
uns razoens de que na3 podia fazer iiiais, na<J lendo nó» publicado a.
accusaçoens, julgamos qne naO he necessário deraorarmo-nos em copiara
justifiçaS daquelle chefe, ta3 bom general, como homem justo e humano.
O Ministro do3 Negócios Estrangeiros em Cadiz, fez um relatório k\
Cortes, tobre as relaçoens da Hespanha com outras Potências, em quo
menciona o protesto do Núncio do Papa, que ainda se acha em Tavira i rr*
fere os procedimentos da Corte do Rm-de-Janeiro, para com Buenot-
Ayrcs e Montevideo, expõem as relaçoens amigáveis que editem com »
corte de Palermo, mas qne aquella nação1 protestou contra o artigo da
Consti tuçaS, que regala a «uccetsaS á corda de Hespanha. Mostra ot bon«
.ermos em que estad com a Inglaterra; e que, ouc5 obstante nafl te ter
completado um tractado de subsídios, com tudo a Inglaterra aflereceo ar-
Miscellanea. 817
mas, muniçoens, e vestuário para um exercito de cem mil homens. A me-
diação Ingleza para com as colônias Hespanholas ficou suspensa ; As re-
laçoens, com Russia e Suécia, saõ as melhores. A Turquia ficoo neutral,
e permittio a residência de um Enviado Hespanhol cm Constantinopla.
O Governo dos Estados Unidos naõ reconheceo ainda Fernando VII-
como rey de Hespanha, e com tudo permittio-se a residência de um En-
viado na eapital ; naõ obstante apossou-se de algumas terreno de Hes-
panha.
O Secretario da Fazenda fez também o seu relatório, no qual conta com
um exercito de 140.000 homens de infanteria, e 18.000 de cavallaria, para
cuja mantença lhe falta dinheiro ; e explica o imprestimo de 8 milhoens
que a Regência contrahio, para occurrer a estas despezas ; e ainda assim
se naõ julgaram as rendas publicas adequadas ás despezas, e se propunha
pedir emprestado á Inglaterra dez milhoens.
Nos negócios do interior da Hespanha achamos uma oceurrencia algum
tanto ridícula, qne mencionaremos por curiosidade. Um Jornalista ob-
scuro da Irlanda, cnthusiasmado com a gloria de seu patrício Lord Wel-
lington, disse que elle merecia ser Rey de Hespanha, este despropósito foi
copiado para algumas gazetas lnglezas ; e sabendo-se isto em Cadiz, al-
guns Nobres da primeira ordem, taes como o Doque de Ossuna; o Viscon-
de de Gante, o Duque de Frras, fizeram nma declaração publica, por oc-
casiaõ disto; de que nunca obedeceriam a outro Soberano em Hespanha,
mais do que a Fernando VII. ou seus successores, segundo a ordem da
ConstituiçaS. Para quem entende que cousa hc a liberdade da imprensa
em Inglaterra, e como o jornalistas em suas conjecturas põem reys e tiram
reys, aquella solemne declaração parece um pouco irrizoria: mas isso
prova, o pouco que se entende na Hespanha o espirito, e modo porque
saõ conduzidos os jornaes públicos em Inglaterra.
HOLLANDA.
As setteProvinocia Unidas, que constituíam, o que >e chamava comminn
mente Hollanda, victimas da perfídia Franceza ha tantos annus; sa-
cudiram aquelle pezado jugo, c declararam a sua independência. An-
nunciou-se em liava este a acontecimento pela seguinte notificação, aos
17 de Novembro.
'* Tendo sido dissolvido o Governo, se as cnu«a« roVinua-fcm assim,
por poucos dias que fosse, te poderiam temer a-, mais horroio^as conseqüên-
cias da saque, c effiisau de sangue; temos por tiinlo julgado k P r de nosso de-
ver convocar sem demora um ajunctamento dos principiara» membros e mi-
nistros do antino Governo, que sub-islia cm 1724, . 1795. O ajuncta-
mento se fará a manhaã pelo meio din,em casa de Mr. Gvsbert Carcl Von
Hogendorp, em Knrnterdyk."
(Assignados) V. V A \ D F . « DI;VN VAI» MtAnrv.
C. K. VA.V HoorvooRP,
O. RF.PELAEK VAN- Dnirr,
J. F. VAN- II....i MI ,
f. D. CnANcnoit,
T. C. D E JO\CK.
Em conseqüência desta convocação se nomeou um Governo Provi>ion.*il,
o qual mandou immediatamente uma deputaçaõ a Londre-, pedindo ao
Principe de Orange, que voltasse para a Hollanda a restabelecer o an-
tigo Governo, em que a tua familia tinha por tantos anno, gozado
da dignidade de Stadhoulder. O Principe de Oran-*e partio immediata-
mente. c se embarcou cm Deal aos 37 de Novembro, com a promci-a do
Miscellanea. [819]
Governo Inglez de que se lhe mandariam logo em seu auxilio 16.000
homens, parte dos quaes está j a embarcada.
Como os Hollandezes precizam neste momento alguma personagem que
ponham á frente dos negócios públicos, e que lhes sirva de ponto de re-
união, naõ obstante as consideraçoens, que estaõ em contrario, he indi-
zivel o enthusiasmo com que se olha para o Principe de Orange. As
authoridades Francezas, coui o chamado Duque de Placcnça (Le Brun) a
sua frente deitaram a fugir com a maior pressa que puderam, mas naõ
taõ velozmente que alguns naõ ficassem victimas do furor popular. Gor-
ciim lie o lugar para onde retiraram por haver ali alguma guarniçaõ ;
mas os exércitos Alliados do Príncipe da Coroa, e de Blucher, entraram
ja no território Hollandez pelo Norte. O susto dos francezes hc tal,
que evacuaram, sem fazer a menor restiteneia, as praças de Bergcn-op-
Zoom, Breda, e. Nimeguen ; quese acham agora orcupadas pelos patriotas.
Maestricht porem, posto que expulsasse os Francezes, naõ parece
decidida a abrir as portas ao partido de Orange. Os Cossacos entraram
em Amsterdam aos 23 de Novembro, e aguarniçaõ Franceza que se
tinha fechado na casa da cidade rendeo-seprisioneira. Roterdam e
Leyden saõ os quarteis-generaes dos chefes patrióticos e os Francezes
naõ se atrevem a passar de Gorcum.
INGLATERIIA.
A perseverança deste paiz em manter a guerra contra as usurpaçoens
Francezas, foi em fim coroada com o melhor successo ; e assim vemos hoje
em dia todas as naçoens da Kuropa seguindo o mesmo partido. Os sa-
crifícios, que a Inglaterra lie obrigada a fazer, saõ mni consideradaveis;
com tudo o credito do Governo parece naõ ter limites.
Pelo* tractados feitos com a Russia, Áustria, Prússia, e Suécia, que
publicamos neste N°. a p. 707 e seguintes, se obriga a Inglaterra a dar a
estas naçoens avultados subsídios, que augmentam a divida nacional, e
que pelo modo porque saõ feito-., isto hc garantindo o papel moeda con-
tinental, era de suppôr, que isto deteriorasse algum tanto o credito pu-
blico. Pelo contrario ; n-tõ *ó os empréstimos para os despezas correntes
vaõ adiante, in.-.s as acçoens do novo empréstimo se estaõ vendendo a 10
por cento de prêmio.
A falia de S. V. R. o Principe Regente, na abertura do Parlamento,
vai copiada a p. 70.3 ; e os principios de moderação, que ali se acham,
deram geral satisfacçaõ na Inglaterra; porque ficou ali declarado, que o
Governo Inglez naõ exige da França senaõ termos, que tornem a paz
segura, em vez de fazer uma trégua incerta.
POUTl'G AL.
Entre as reformas úteis, que temos tido a felicidade de testemunhar em
Portugal, desde que escrevemos este Periódico, he a publicação de certa*
820 Miscellanea.
contas, e rendimentos, que a Naçaõ tem direito he SHber como saíi arran-
jadas, e que he do interesse do mesmo Governo publicar, para adquirii
credito, e a confiancia da Naçaõ. A commissaõ, que administra as
contribuiçoens do Resgate d'Argel, continuou a ministrar ÀAcademia Real
das Sciencias de Lisboa os documentos necessários para se publicarem si
contas a este respeito ; e j a sahio o 3°. N*. impresso na Impressão Regia.
Isto he um modo indirecto ou tortuoso de fazer as cousas; porque a Aca-
demia das Sciencias naõ tem relação alguma com o arranjo de contas de
dinheiro:; mas assim mesmo louvamos a medida; por ser boa em si, pelo
exemplo que dá, e porque he preciso desculpar a pouca regularidade,
quando se se começa de novo em uma Naçaõ uma practica útil, de que naõ
havia exemplo. Vejamos agora unicamente a utilidade desta medida.
Acha-se feito o arranjo mercantil das contas com a clareza e distineçaõ,
que dependia da Commissaõ, e be para desejar que este louvável traba-
lho, c que tanta houra faz á Commissaõ do ReBgatc, continue até o final
ajuste do producto das loterias, distracte dos empréstimos, e principal-
mente a separação clara deste objecto, para que se naõ ronfundn com
outras despezas, que tejam de diversa natureza. E aqui devemoi
lembrar, que a naçaõ tem o direito a esperar que no N*. 4*. te publi-
quem os nomes, e condição dos resgatados, para que a ninguém Aque o
menor escrúpulo da exacta applicaçaõ dos fundos ao objecto tomente
aque os eontribuintes os applicáram. Naõ podemos inculcar dema-
siado, quanto o Governo ganha cm credito com ette honesto modo de
proceder.
A utilidade desta publicação fica evidente, quando contiderar-mos, que
por ella se pôde vir no conhecimento das faltai na administração • o
lembrundo as cousas, que pódein produzir duvida se oferece át partri
interessadas occasiaõ de dar cxplicaçoeut, e desfazer quaes quer sus-
peitas que possam occurrer, donde resulta, firmar-se cada ver mais e msis
o credito publico.
Por exemplo: esperamos nós uma etplicaçaõ dos 800.000 rtis, quea
p. 6 da collecçaõ N°. 1". a Juncta do Commercio deo do cofre do Mari-
nheiro da índia; e que differença fazem dos 4:000.000, que a p. 45 do
N". .1". se acham na lista dos donativos com apparencia de forçados;
porque a primeira quantia se diz extrahida daquelle cofre, e a segunda
se diz, que pertence a elle. Como este cofre pertence a certa classe de
prsoas, o publico tem direito de saber, com que authoridade, e porque
termos se fez uso deste dinheiro alheio.
Os nossos Leitores teraõ a bondade referir-te ao que dissemos em
outro N". deste jornal, relativamente a 4:000.000 de reis, que »e nppli-
cáiam ao res".ite; e que tínhamos duvidas n este respeito ; agora se ver»
por estas contas, que os taet 4:000.000 de reis foram tirados do Mari-
nheiro da índia; do que •• Juncta do Commercio naõ de\o ter di-
reito de dispor a seu arbítrio; pois aquelle dinheiro naõ he seu ; e na".
Miscellanea. 821
convém fazerem-se liberal idades do dinheiro alheio: mas como isto
pôde naõ ser assim uma explicação conveniente servirá de satisfazer o pu-
blico, de que,naõ obstante as apparencias, o que se fez foi justo e correcto.
A. p. 10 do N". 2 o . achamos tombem outro motivo de duvida, que vem
a ser uns 20:000.000 de reis recebidos do Rfo-de-Janeiro, sem que sobre
isto se diga mais nada. O Avizo de 28 de Novembro, de 1812, que pu-
blicamos no Correio Braziliense, (vol. x. p- 101.) he posterior ao rece-
bimento do dinheiro, que teve lugar em 7 de Agosto, de 1811 ; logo he
justo que se explique, que capitanias ou indivíduos contribuíram, para
se dar o louvor a quem o merece.
A transacçaõ do Almirante Ramires, também exige alguma explicação ;
que por oflerecendo S.Ex*. a p. 7, do N°. I o . 800.000 reis para o resgate de
seu filho, que estava entre os captivos, depois a p. 2*2 achamos que soli-
citou haver a si outravez aquella quantia. Ora as contribuiçoens da
naçaõ, evidentemente se deviam applicar primeiramente aos pobres, e
naõ aos que naõ precízam de esmolas.
Outro artigo, que naõ está claro a nosso modo de entender, hea quantia
de 2:000.000 de reis, que se consignaram pela Ribeira. • Donde, e como
sahio este dinheiro ?
Naõ temos a memor duvida de que nos N os . futnros, a Comuiissaõ dará
cabaes respostas a tudo isto, mas lembramos os factos para mostrar a
utilidede que se segue de taes publicaçoens, e que os Senhores do Governo
enteudam, que ha quem retticta nestas matérias.
GUERRA DO NORTE.
No nosso N°. passado tínhamos deixado a Napoleaõ na marcha de
Dresden, para Leipsic; e no decurso de um mez, este chefe orgulhoso
VOL. X I . No. 66- 5N
8á-2 Miscellanea.
peideo a decisiva batalha de Leipsic, c t-ndo sido dctliuidn o seu exercito
retirou-se para Frankfort c Mayence com um resto de 80.000 homens,
tendo «ahido a campo com 570.000.
Obstinou-se Bonaparte em conservar Dresden, como fez o anno passado
em Moscow, e o resultado foi o mesmo; isto he foi obrigado a retirar-se
o o fez taõ tarde, que j a se naÕ pôde salvar. O seu caminho era por
Lcipsic, c nesta cidade concentrou todas as suas forças. O Leitor verá
pelos documentos que publicamos a este respeito, que os Alliados tiveram
tempo de marchar de todos os lados, formando um circulo em torno de
Lcipsic, e do exercito Francez. Bonaparte oflereceo batalha e foi der-
rotado : nestes lermos rompeu a linha c fugio, e os Alliados entraram
Lcipsic por todas as partes, e de tal maneira, que á mesma hora se
acharam na praça publica de Lcipsic os Imperadores.de Russia, e Áustria
o Rey de Prússia, e Principe Real de Suécia.
Aqui encontraram o Rey de Saxonia, que Bonaparte tinha abandonado,
e o fizeram prisioneiro.
A cavallaria Alliada, seguio os restos do exercito Francez até Mnyrnce,
r Bonaparte chegou a Paris, a pedir outra conscripçaõ de 300.000 ho-
mens.
Os Aluados marcharam contra a França em tres columnas. Uma pelo
sul que vai juncta com as tropas Bávaras, unidas ja na Aliiança outra
pelo centro, a que se tem aggregado os Príncipes que formavam a confr-
deraçaõ do Rheno, outra pelo Norte, que commanda o Principe da
Coroa de Suécia.
Esta, tendo reduzido a nada o reyno de Wcttphalia, cujo rey-rnque,
Jeronimo Bonaparte, fugio logo'se vio em perigo; passou a restabelecei
o Eleitora !o de Hannover a seu legitimo Soberano; e dahi procedeo pira
a Hollanda. aonde os patriotas tinham ja feito preparativos para sacudir o
jugo Francez, e abrir as portas aos Alliados.
D.LVottít, que continuou cm Hamburgo, acha-se agera com a única re-
tirada, que podia ter, cortada inteiramente, vista a revolução da Hollanda.
e a sua uniaõ aos Aluados.
Deita maneira os Departamentos quese tem j a desmembrado da França,
contem uma população mui considerável; que juncto aos Principes, que
ahjuiáram a confideraçaõ Uo Itheno, tornam a França relativamente mui
fraca.
As percas Fraiice/as foram exactamente avaliadas no Berlin Conrespon-
de.nl de 6 de Novembio, acçaõ por acçaõ, com a declaração das datu* e
'ugarrs das batalhas; c montam 129.152 prisioneiros, 801 peças d' arti-
lüeiia ; e 2.906 carros de munição.
A isto se devem acrescentar 16.000 homens, qae se renderam com o
marechal St. Cyr, e u Dre-Jen, ao general Klenan ; e os perda» suh-e-
qurules aquella dali. Tudo o mais saõ m.irto», ou ettropiados oo ponto
a,- se naõ conto cm entra o. prisioneiro».
MiscelUmea. 823
Agora resta-nos considerar as vistas e fins da guerra. A falia do Prin-
cipe Regente da Gram Bretanha, no Parlamento, declara que, a guerra
se naõ faz com motivos de ambição, e que a Inglaterra naõ desej' 1
impor á França condiçoens humilhantes.
Na proclamaçaõ do Conselheiro Austriaco, Roschmanny, aos Tyrolezes,
publicada em Botzen aos 24 de Outubro, se acham estas notáveis pa-
lavras.
•' A determinação dos limites de cada Estado, naõ dependerá para o
futuro do prazer de um só Soberano, nem do direito de conquista, porém
sim do consentimento das outras Potências. Tal he o desejo de meu Amo
—o objecto desta guerra—o espirito da paz, que se deve conquistar, e que
restabelecerá a todos os povos da Europa os seus direitos."
Se as primeiras Potências da Europa concordar em neste principio, ve-
remos restaurado o Direito Publico, e das Gentes; que a revolução
Franceza tinha derribado, e pizado aos pés, começando com o pretexto
das mudanças, que os antigos Governos precisavam ; eacabando com obrar
tudo quanto a sua desenfreada ambição e cobiça lhe dictava, dando por
toda a razaõ, como Bonaparte tantas vezes declarou, que isso convinha á
França : e apoiando a usurpaçaõ com o poder das armas.
Este estado violento das cousas, cm que se negava até a existência do
do direito Natural, e das regras imm.uta.vei» da moral, naõ podia ser de
duração; e se a infelicidade fosse tal que elle durasse, os Europeos se
tornariam taõ selvagens como os mais bárbaros, e ignorantes Alfricanos.
Aquellas palavras portanto da Proclamaçaõ, que citamos, nos fazem
crer, que se contempla • estabelecimento de algum Congresso, em que os
grandes direitos das Naçoens se discutam: e nada he mais fácil do que
isso, se as Potências Principaes garantirem as dsecioens de tal Congresso
amas ás outras : a ley decidirá entaõ e naõ a força.
5 N 2
824 Miscellanea.
CONHESPONDENCIA.
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
EDICTAL.
Domingos Jozé Cardoso Commendador da Ordem de Christo,
Desembargador da Casa da Supplicaçaõ, e Commissario
em Chefe do Exercito Portuguez, por S. A. R. o Prin-
cipe Regente Nosso Senhor, SCc.
IS AO tendo esquecido aos Paternaes Cuidados de S. A .
R. todas as providencias, que as circumstancias actuaes
tem offerecido para remediar os males, q u e a presente
guerra tem oceasionado aos povos : pelas providentes or-
dens, que me foraõ dirigidas em l de O u t u b r o do corrente
anno, também tem mercido a sua consideraç;iõ o pagamento
das dividas de transportes a t r a z a d a s ; mandando consignar
para esse fim sommas equivalentes para se amortizarem ;
mas sendo necessário saber-se ao certo a importância das
ditas dividas, para regular os pagamentos com a igualdade,
que he própria da sua indefectível justiça, naõ he possivel
verificarem-se nesta parte as justas intenções de S. A. R.,
sem que primeiro sejaõ reunidos, e legalizados todos os
documentos, q u e existem em poder das pessoas, a quem
pertencem.
Fará verificar pois esta medida assas necessária, vou por
este Edital fazer publico, que na Corte e Provincia da E x -
tremidura está authorizado o assistente cotnmiisario, Cle«
Voh. X I . N o . 6 7 . 5 o
830 Politica.
mente Eleuterio Amado, para receber todos os documen-
tos, que se lhe apresentarem das dividas dos transportes, (
que o mesmo está obrigado a dar ús partes cautelas inten
nas, que seraõ as copias dos mesmos documentos, etn
quanto lhes naõ entregar os seus legitimos titulos.
Que do mesmo modo estaõ authorizados no Algarve o
deputado Joaquim Gomes de Abreu, residente em Kxtrc-
moz ; na Beira-Baixa, o commissario José Antonio Vcloso
residente no Rocio de Abrantes; na Beira Alta, o assistente
commissario Manoel Lopes de Figueiredo, residente no
Porto da Raiva, e o deputado commissario geral Joaquim
de Magalhães e Menezes, residente em Lamego; no Porto
e Minho, o commissario Domingos Joaquim de Almeida,
residente na dita cidade ; e em Tras-os-Montes, o depu.
tado Francisco Luiz Ferreira, residente em Chaves.
Que os sobreditos empregados estaõ munidos de iustruc-
ções necessárias para promover as sulemnidades, que a lei
exige para validade dos dictos documentos ; facilitando-se
deste modo ás Partes as diligencias, que de outro modo
seriaõ muito incotnmodas ; em razaõ das grandes distan-
cias, em que se acham os empregados, de quem dependem
as sobreditas solemnidades.
Que para maior commodidade das Partes estaõ também
authorizados os Ministros Territoriaes, para receberem os
referidos documentos, passando cautelas interinas, e ha-
vendo dos sobredictos deputados as copias acima ditas, para
entregarem ás partes, as quaes ficarão inteiramente tendo
a mesma validade, que os originaes donde forem extra-
hidas.
Que depois de reunidos, e Jegnlizados t- referidos docu-
mentos, seraõ numerados os títulos, que se houverem de
dar ás partes, para por via delles serem chamados por sua
ordem para os pagamentos, que se houverem de fazer.
Que aquelles Vales, que naõ poderem ser legalizados
por defeituosos, seraõ entregues ás partes para usarem do-
Politica. 831
ÁUSTRIA.
Proclamaçaõ" publicada pelo General Von Hillcr em Trenlo, em 2a
d •Outubro, de 1813.
Povo DE ITÁLIA,—Tenho passado o» Alpes com um exercito de
80.000 homens, e entro nas planices da Itália. A Providencia vai a
por termo á tyrania que vos opprimia, que sacrificava oi vossos
-filhos no norte da Hespanha por uma injusta causa; paralisava o
commercio, e a industria, e espalhava a desolação pelos campos do
Itália, taõ favorecidos pelo Ceo. Eu tenho oecupado os passos de
communicaçaõ entre a Itália, e a Áustria, lenho rodeado cm suai
fontes, o Isonzo, o Tagliamento, o Piava, e o Brenta, e tenho tor-
nado impossível para o vosso General-em-Chefe o escapar-me, para
qualquer parte que se volte. Verona, Mantua, Milam, esperam ter
libertadas em poucos dias. 0 Norte, o Este, e o Oeste da Europa
tem fornecido todas as suas forças, e a flor da mocidade de sua po-
voaçaõ, para restabelecerem a independência de seus Estados, e ja
agora estam livres. Procurai na Áustria, na Russia, na Prússia, e
na Hespanha o Francez que governava o mundo 1 acliarcii cadáveres,
prisioneiros, feridos, e traços de devastação, porém o inimigo já là
naõ tem corpo algum de tropas cm armas.
As excellentes provincias do Sul da Europa devem também parti-
cipar da alegria do inundo, a fim de que voltem os teinpoi antigos,
de ordem, e de justiça. O meu Soberano foi servido confiar-me cita
grande obra; levantai-vos, portanto, povos de Itália, vos sabeii o»
meios de resistência que o inimigo tem para me nppor, vos liem
vedes que saõ os ultimos. Eu tenho debaixo das minhas bandeiras
30.00U homens que ainda naõ tem pelejado nesta santa guerrt, o
que estam ardendo em dezejos de terem parte na gloria daquelle»
que os precederam. Novos exércitos se estam formando além dos
Alpes; a sorte da Itália está decidida; lembrai aos vossos filhos que
elles nasceram no antigo paiz da gloria, e que » cumulo da f;ioT,s*
consiste era combater debaixo das bandeiras do mais justo dos Mo-
narcas, pela paz do mundo, e pela independência das naçoens.
O General d'Artiiheria, Commaodantc-eni-Chcfc dos Imperiaes
e Reaes Exércitos do Tyrol, e da Itália,
Baraõ HILLFII.
Politica. $33
BAVIERA.
Declaração de Guerra contra a França.
Todos sabem as relaçoens que estes últimos oito annos tem ligado a
Bavária â França, assim como também os motivos qne as ocrazio-
•aratn, e a escrupulosa boa fé cora que o Rey tem preenchido as suas
condiçoens. Outros Estados, gradualmente seguiram o primeiro
Alliado do Império Francez. Esta juneçaõ de Soberanos tomou a
forma de uma Uniaõ, de uma natureza de que a Historia de Alema-
nha mostra mais de um exemplo. O Acto de Confederação, assignado
cm Paris cm 12 de Julho, de 1806, ainda que imperfeito, estipulou
as condiçoens mutuas que deviam existir entre os Estados Confede-
rados, e S. M. o Imperador dos Francezes, como Protector desta
Aliiança.
O fundamento deste tractado, de ambos os lados, era o interesse de
ambas as partes, nem outro podia existir; porque de outra sorte este
Acto de Confederação nao seria senaõ um acto de incondicional sub-
missão.
Entrctando o Governo Francez mostra tello considerado neste
sentido, porque em todos os actos que se seguiram aquelle solemne
contracto nunca teve em vista a applicaçaõ dos pontos funda-
mentaes que faziam a guerra Continental mutua para as differentes
partes contractantes, nem o espirito, nem a intenção que presidia em
seu teor, porem deo-lhe, de seu próprio capricho, a mais extensa
explicação: requeria, á sua vontade, as forças militares da Confede-
ração, para guerras que eram inteiramente alheas de seus interesses,
e cujos motivos lhes uaõ tinham sido previamente intimados.
A Bavária, que considerava a França como o principal sustenta-
culo de sua preservação, porem cujos principios, naõ obstante, lhe
causaram' os mais sérios cuidados, preenchia com reflecçaõ to-
das as obrigaçoens para com a França com o maior zelo e integri-
dade; para cila nenhum sacrifício parecia demasiadamente grande,
para satisfazer aos desejos de seu Alliado, e para contribuir para a
restauração da Paz Continental que se dizia ser o fim destas renova-
das emprezas.
Quando, cm 1812, o Imperador Napoleaõ determinou a guerra
«outra a Russia, exigio da Bavária o contribuir cora o maximum do
seu contingente. Esta guerra éra innegavclmcnte toda alhea dos in-
teresses da Bavária; foi-lhe doloroso, em todos os respeitos, soffrer
que as suas tropas marchassem contra um Estado que tinha sempre
sido seu amigo, e que por muitos tempos passados fôra o affiançador
da sua independência, e contra um Soberano que hc ligado á família
834 Política.
Real por um dobrado vinculo de parentesco. Ja o Ministério Fran-
cez se tinha exprimido nos termos mais assustadores, e mesmo oi
tinha proclamado em documentos diplomáticos á face da Europa.
Estas expressoens naõ tendiaõ, senaõ a representar os Estados da Con.
federão como se elles fossem os vassallos de França, e seus Principes
ligados, sob pena de traição, a tudo o que S. M. o Imperador Napo-
leaõ quizesse exigir delles.
Naõ obstante o receio que a expressão de principios taes deve ne-
cessariamente causar, ainda a Bavária se resolveo, como naõ tinha
ponto de lei que apoiar, a consentir que 30.000 homem das suas tropas
•e reunissem ao exercito Francez. As desgraças sem exemplo que
distinguiram aquella campanha saõ demasiadamente bem conhecidts
para aqui fazer agora a triste descripçaõ dellas. Todo o exercito
Bávaro, incluindo um reforço de 8000 homens, que se lhe reunio no
mez de Outubro, foi destruído. Poucas familias ha que naõ andas-
sem de lueto por aquella catastrophe; e o que mais dôr causava ao
paternal coração de S. M., era que Unto sangue tinha sido derramado
em uma cansa que naõ era a da naçaõ. Entretantofizeram-sepre-
paraçoen» para uma nova campanha, e Bavária, que era tam adhe-
rente ao seu alliado, quanto desgraçada, naõ hesitou em tornar a por
os debilitados restos de 38.000 Bávaros que tinham combatido de-
baixo dos estandartes Francezes, em uma nova divisão. No começo
da campanha, gloriosos prospectos coroaram as f.rmas do Imperador
Napoleaõ, tam freqüentemente victoriosas. A Alemanha, e toda a
Europa, cria que, como o Imperador se achava entaõ em uma con-
dição em que podia mostrara sua moderação, sem se expor talguma
suspeita de fraqueza, acceitaria a mediação que Áustria, pelos mais
sábios c generosos motivos, offerecia, para o fim de procurar paz
ao mundo, ou pelo menos ao Continente. Esta esperança foi des-
truída. Pelo contrario vio ella crescer o numero de seus inimigos
pela poderosa coaliçaõ de Áustria, á coaliçaõ ja formada contra o
Imperador Napoleaõ. Desde eite momento, a situação da Bavária
tornou-se mui critica. A energia do Governo Bávaro, e o affecto de
uma naçaõ, que naõ considera pezado sacrifício algum quando he ne-
cessário provar o seu amor para um adorado Soberano, tinha Ja, como
por um poder mágico, creado um novo exercito o qual marchou
para as Fronteiras da banda da Áustria; porem o exercito Francez
a que o Imperador Napoleaõ tinba dado o nome de Exercito da
Observação da Bavária, e que se estava reunindo nas vizinhanças de
Wurtzbourg* e nos territórios circumvizinbos, cm vez de apoiar o
exercito Bávaro, de repente recebeo outro destino. Nesta critica
Politica. 835
situação naS se dignou o Imperador Napoleaõ empregar «obre o
seu mais fiel Alliado, a menor consideração dos meios de sua pro-
tecçaõ. Nem o segundo Exercito de Observação que estava para
se ajunctar debaixo do commando do Marechal Augerau, se chegou
a formar, e o seu débil casco, que estava ainda em Wurtzbourg,
inteiramente dcsappareceo. Estando desta maneira totalmente
desamparado, S. M. teria infringido o mais sagrado de todos os de-
veras, se naõ tivesse cedido aos desejos dos seus fieis vassallos, que
diariamente mais se manifestavam. Os Soberanos Alliados contra
a França naõ deicharam de informar o Governo Bávaro dos prin-
cipios de moderação que o animava, e de assegurallo da sua formal
garantia da integridade do Reyno de Bavária, e de todas as tua*
fronteiras, como eram naquelle tempo, com condição qne o Rey
havia de ajunctar suas forças de guerra ás delles, naõ para
continuarem uma guerra de ambição contra a França, mas para
assegurar a independência das Naçoens Alemaãs, e dos estado»
de que ella consiste, e para obrigarem o Imperador Napoleaõ
a assignar uma paz honrosa. S. M. naõ podia recuzar similhantes
proposiçoens sem se fazer criminoso para com os seus vassallos,
c sem ser cego para com os sagrados principios sobre os quaes a
sua conservação somente pode ser fundada. Confiando plenamente
cm tam francos, e generosos oferecimentos, rcsolveo-sc portanto
a acceitallos em toda a sua extençaõ • e a concluir uma aliiança com
os tres Principes, contra as extensas vistas que a França tem mos-
trado manter, e para os bons eflèitos do que S. M. ha de fazer os
seus maiores exforços. S. M. deseja que uma prompta paz, haja de
restaurar cedo as relaçoens que el!e naõ teria abandonado, a naõ ser
a illegal extençaõ de um poder, que se fazia cada dia mais insuppor-
tavel, que o obrigou a dar este passo, c a fazer a aliiança q ac féza
Daqui em diante, S. M. unida nos interesses, e nos sentimentos com
os seus altos, e poderosos Alliados, naõ ha de desprezar meio algum
que possa contribuir para tornar inais apertados os vinculos que •
ligam a elles.
CONFCDERAÇAÕ SllISSA.
Nos os Landamman, e os Membros da dieta dos 19 cantoens da con-
ederaçaõ Suissa; a vos, caros confederados, saúde. A guerra que
ha pouco estava longe das nossas fronteiras, vai-se approximando do
nosso paiz, e das nossas pacificas habitaçoens. Debaixo de taes cir.
cnnstancias era do nosso dever, como Deputados dos Cantoens Confe-
derados, reflectir maduramente sobre a situação do paiz. para dirigir
836 Política.
comnumicaçocns ás Potências Beligerantes, e fazer todas as ulterio-
res disposiçoens que as circunstancias pedem.
Fieis aos principios de nossos antepassados, temos em virtude e
ordens do nosso governo, declarado, com unauime voz, e vontade a
neutralidade da Sussia.
Nos vamos transmitir, e notificar nas mais próprias formas, aos
Soberanos em guerra, o solemne acto que acabamos de passar com
esta intenção.
Graças á protecçaõ divina, a observação de uma cxar.ta neutralida-
de tem, por muitas idades, afiiaiiçado a liberdade, e repouso do nosso
paiz ; Agora, da mesma forma que em outro tempo, so esta neutrali-
dade compete à nossa situação e ás nossas necessidade*. Nos, portan-
to, dezejamos estabelecella, e fazella respeitar por todos os meios que
estiverem em nosso poder: nos dezejamos assegurar a liberdade e a
independência da Suissa, manter a sua prezente constituição, r preser-
var o nosso território de todas as tentativas; o que he o fim de todos
os nossos exforços.
Para este effeito dirigimo-nos a vos, caros Confederados de todos
os Cantoens da Suissia, e vos damos immediatamente informarão
da declaração que acaba da ser publicada, A Dieta espera de cada
um de vos, quem quer que sejais, que haveis de obrar nas mesmas
vistas; que haveis de contribuir por todos os meios para a causa
commum; que haveis de fazer todos os exforços e sacrifícios que o
bem do paiz, e a sua preservação pedirem; e que assim toda a na-
çaõ se mostrará digna dos seus antepassados, c da felicidade que elles
gozaram.
Queira o Soberano Senhor do mundo acceitar a homenagem de
nossa profunda gratidão pelos immensos benefícios que ategora tem
espalhado sobre o nosso paiz, e seja a preservação, a tranqüilidade, e
a felicidade deste Estado, posto debaixo da sua protecçaõ, concedida
ás nossas súplicas.
Dada em Zurich, cm 20 de Novembro.
O Landamman da Suissa, Presidente da Dieta,
(Assignado) J. I)s* Rr.iNHAnn.
O Chanceller da Confederação,
(Assignado) Monuso-r.
HOLLANDA.
Proclamaçaõ' feita pelo Commandante Russiano aos habitantes da
Hollanda.
BRAVOS HOLLANDEZES !—Seria um insulto o suppôr que voi pre-
cizais que vos lembrem as grandes façanhas de vossos antepassados.
Todos vos sabeis perfeitamente quanto eitc desgraçado paiz loflreo
em conseqüência de ser subjugado pelos Francezes. Os Exércitos
Francezes estam annihilados, e portanto esta nas vouni inaons o
verdes-vos livres dos poucos Francezes que ainda permanecem na
vossa pátria. Um exercito às ordens do Principe Hereditário de
Suécia ; e commandado pelo General Russiano, Baraõ Winzingerode
approxima-se ás vossas fronteiras, para livrar-vos do jugo da escra-
vidão Franceza, para restaurar o vosso commercio, e restabelecer
aquella liberdade para a qual os vossos antepassados tao profusamente
sacrificaram suas vidas, e fortunas. Confiai naquella Divina Pro-
videenia, que ha de coroar cora suas bcoçaons os vossos exforçm na
causa da liberdade, e da vosia pátria. Sede obedientes aquelles a
quem, até que um ulterior arranjo se faça, está confiado o Go-
verno. Perto está o periodo em que vos haveis de gozar de um go-
verno estabelecido, o qual se ha de empregar em fazer-vos esquecer
dos vossos passados males.
PROCLAMAÇAÕ.
Em nome do Governo Geral.
Como a paz, e segurança comuns estejam ammesçadas pela banda de
Gorcum por um bando de Paisanos de Antwerpia e Brabantezcs con-
jcriptos, reunidos para aquelle fim por meio da força , temoi ajune-
tado um corpo de tropas para fazer parar os progressos deste bando
desesperado • e noinoado para o commandar o General Baraõ Sueerts
De Landas,
Politica. 839
Hollandezes I assisti-o p o r toda a parte *, Magistrados das cidades,
Paizanos habitantes das vilas, e das aldeas- cada u m c o m o poder. O
general fará arranjos para a devida a applicaçaõ dos meios que v o s
lhe podcrdes facilitar.
(Assignado) GILBERTO K A R E L V A N H O G E N D O R P .
F. D . CHANGUION, Principal Secretario.
ITÁLIA.
Proclamaçaõ do Principe Vice-Rey.
Povo DO RÍVNO DE ITÁLIA !—Vos fostes felizes testemunhas dos primei-
ros feitos do Heroe, qne preside aos vossos destinos; pelo que vós estaes
mais constantemente presentes nos seus pensamentos, e sois mais cliaros a o
seu coração.
Apenas tinha elle restabelecido, com sua triumphante maõ, o throno de
Carlos Magno, quando esse throno se fortificou, e confirmou para sempre.
Todos os Francezes juraram sustentallo, e defendello ; elles tem sido fieis
a seu juramento.
Porém o que o Imperador tem feito pela França, naõ éra sufficiente para
a sua grande alma. Elle naô podia ser insensível á sorte da Itália. O seu
primeiro desejo foi tornarvos a dar a vossa antiga existência, e a vossa an-
tiga fama.
Elle pôz sobre a sua cabeça a coroa de ferro, por longo tempo deixada
em esquecimento, e as abobadas de vosso templo resoáram, com aquellas
memoráveis palavras, D/eu me Vá donnée, gare aqui ta touche.
Estas palavras excitaram o vosso enthusiasmo, e até o vo,\>o orgulho ; vós
apreciastes o verdadeiro sentido dellas, e unanimemente repetistes, Dieu
ta lui ti donnée, gure a qui Ia touche.
Desde aquelle momento existio o reyno de Itália ; desde aquelle mo-
mento os Italianos renascidos, se lembraram da gloria de seus antepassa-
dos; desde aquelle momento, aos olhos da Europa admirada, tomaram o
seu lugar entre as naçoens mais honradas.
Italianos I Eu vos conheço ; vós também sereis fiéis aos vossos juramen-
tos. Um inimigo, que vos tem de tempos a tempos subjugado, e que, nas
idades passadas mais contribuio para vos dividir, naõ vio sem inquietação,
nem sem zelos, a vossa resurreiçaõ, e o expleudor que a cercava.
Pela terceira vez se atreve agora a ameaçar o vosso território, e a vossa
independência.
Vòs tendes valorosamente corrido a reprimir os seus primeiros esforços;
Vós nao deixareis de o fazer arrepender de seu terceiro ; quantos motivos
de novo excitam agora o vosso patriotismo e o vosso valor!
Naõ vos tendes esquecido, que lia doze anno» éreis capazes de sentir o que
sois agora;
A maõ, que vos creou, vos tem dado as instituiçoens mais nobres e mais
5 P2
840 Commercio e Artes.
.-encrosas. Estas instituiçoens constituem ao mesmo tempo o vosso ort-uth*
r a vossa felicidade e vòs naõ sotfrereis que elles se atrevam a tentar o rou
bar-vo-las. Itália, Itália, este sagrado nome, que na antigüidade pro-
duzio tantos prodígios, seja agora o vosso grito de reunião.
Levantem-se os vossos guerreiros a este grito ; voem em tumulto a for
segnnda muralha á pátria, ante aqual o inimigo se naõ atreverá a an
tar-se.
O valoroso homem, que peleja por sua casa, por sua familia, pela gloria
e independência de sua pátria, he sempre invencível.
Seja o inimigo obrigado a sabir de nosso território, e nós em breve tem-
po poderemos dizer a nosso augusto Soberano,'« Senhor, éramos dignos de
receber de vos uma pátria, temos sahido defendella."
(Assignado) EUGÊNIO NAPOLEAJ.
Quartel-general de Gradisca, 11 de Outubro, 1813.
COMMERCIO E ARTES.
-Estado do Commercio em Portugal.
IM AO deixará de haver quem snpponha, que he fasti-
dioso repetir tantas vezes observaçoens sobre os mesmos
objectos, e que, tendo nós fallado do contracto do tabaco
em tantos dos nossos números, deveríamos naõ cansar mais
os leytores com tal matéria. A isto respondemos, que por
mais que os gritos do gotoso sejam repettidos, e enfastiem
o enfermeiro, com tudo em quanto as dores da gota
continuam a molestar o doente, elle tem direito de conti-
nuar também a gritar: assim* acabe a oppressaõ do mono-
pólio, e nós deixaremos logo de fallar no contracto do
tabaco.
A manufactura do tabaco chamado rape, que em 1800
produzia o que bastava para o consumo de 936 arrobas, em
1812, ex cedeo a 26.000 arrobas, com proporcionado
augmento de lucro dos contractadores, sem que por isso
acerecesse maior rendimento á coroa ; antes pelo contrario
grande damno á cultura do tabaco do Brazil, pela intro-
ducçaõ em Lisboa do tabaco de Virgínia *. pessoa ititclli-
Commercio e Artes. 841
sente avaluou este excesso de lucros em mais 320:000.000
de reis. Constamos que se fez saber u to ao Governo do
Rio-de-Janeiro; quando os Contractadores solicitaram o
augmento do preço do rape ; augmento que effectivamente
alcançaram.
Importa mui pouco á natureza dos crimes de que alguém
heaccusado, quaes saõ os motivos do accusador: sija inveja,
ódio, amor da justiça; nada tem isso que fazer como o
crime; a questão be se a accusaõ se prova ou naõ. He
neste sentido que nos importa pouco, que as pessoas de
quem recebemos as nossas inforniaçoens sejam ou naó
influídas por inveja dos lucros dos Contractadores ; ou por
zelo das rendas publicas : o que nos importa he averiguar,
se os monopolistas se enrii-uessem com rendimentos, que
ou o povo naõ devia pagar, ou deviam ser ap.jlicados para
o Erário Regio.
A primeira e mais obvia observação, que oceorre a res-
peito do tabaco ; he a indevida influenci-i qne os Contrac-
tadores tem no commercio deste gênero em gera!. O
Privilegio do contracto consiste unicamente no direito
exclusivo de vender tabaco no R e y n o ; a exportação do
gênero para fora naõ só naó he da sua competência ; mas
qualquer ingerência do contracto he sumuiamente nociva
aos interesse da cultura e commercio deste ramo, e conse-
quentemente damnoso ás rendas do Estado.
Dizem que a Corte do Rio-de-Janeiro, naõ podendo
resistir ás representaçoens, que se lhe tem feito a este
respeito, ordenou ao Governo de Lisboa, que informasse
sobre isto, e o Governo pedio o parecer da Juncta do
tabaco.
Se de propósito se quizesse ficar na ignorância do que
ha a dizer nesta matéria, naõ poderia o Governo tomar
melhor expediente do que mandar buscar informação á
Juncta do Tabaco. Esta Juncta he composta de Magis-
trados, que pelos seus serviços, probidade, e applicaçaõ ao
842 Commercio e Artes.
«•studo de direito, e conhecimentos sobre matérias forenses
tem talvez chegado aos mais eminentes, tt mais reiidosot
lugares da Magistratura ; mas destas mesmas qualincaçoens
se M?»iie, que similhantes homens naõ saõ competentes tura
decidir esta matéria do contracto, que depende de conhe-
cimentos alheios de seus estudos. Deixando por agora o
tabaco, consideraremos o commercio do Reyno em geral.
A Juncta do Commercio de Lisboa expedio uma ordem,
em data de 18 de Outubro, 1813; em conseqüência de
immediata resolução de S. A. R. de 9 de Novembro, de
1812; e despacho da mesma Juncta de 4 de Março, de
1813 ; determinando ao Dezembargador do Porto Jozé de
Mello Freire, que convocasse 20 negociantes daquella
praça, os quaes em uma memória por escripto apontas-
sem os abusos, que se acham introduzidos no commercio,
e providencias que convém dar-lhe. O documento nos
parece taõ importante, que julgamos dever copiallo aqui
por exteuso.
Prêmios de seguros.
Brazil hida 10 guineos por cento. R. 5.
vinda 14 a 15
Lisboa e Porto hida 8 G ' .
vinda 2 G*. em comboy
Madeira hida 5 a 6 G\—Açores 8 G'. R. 3.
vinda 8 á J0
Rio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a torna viagem
vioda o mesmo 15 a 18 G\
[ 853 ]
LITERATURA E SCIENCIAS.
Novas descubertas nas Artes.
./VlNDA que a Politica seja o principal objecto do nosso
periódico ; e que os grandes interesses dos Estados occu-
pem quasi exclusivamente a attençaõ da Europa, neste
momento, naõ perdemos com tudo de vista o dar a nossos
Leytoresj em um pequeno espaço deste jornal, noticias
das novas descubertas, que continuamente tem lugar nas
artes úteis, mesmo no meio dos estrondos da guerra ; com
o que progressivamente se melhoram os conhecimentos dos
homens, e se augmentam os benefícios da vida social.
Sociedade Real. Londres, 4 de Novembro.
Quinta feira passada teve esta Sociedade uma Sessaõ,
depois das ferias grandes. Sir Joseph Banks, seu digno
Presidente, tomou a cadeira de presidência. Leo-se um
papel do Dr. Wollaston, sobre o que elle denomina «* os
equivalmentes Chimicos"; e consistia em uma lista das
partes componentes de todos os saes conhecidos, quanti-
dade de oxigênio, hydrogenio, azote, baze, e água que
contém, pelo seu pezo e medida ; e as proporçoens defi-
nitivas dos átomos integraes, de todos os compostos conhe-
cidos. O objecto deste papel he abreviar o trabalho dos
Chimicos analistas, auxiliar a memória do estudante, e
apresentar uma vista summaria ou resumo dos conheci-
mentos Chimicos, reduzidos á forma de taboa, que se pôde
usar com uma escala graduada movei, ou regra corrediça,
que demonstra os differentes productos, e respectivas
partes componentes, em um ponto de vista.
Insectos. Mr. Serres, de Montpelier, fez experiências
na anatomia dos insectos ; e descubrio, que os gafanhotos,
e outros insectos de gêneros análogos, naÕ saõ, como até
aqui sesuppunha, animaes ruminantes ; elles naÕ trazem
segunda vez o mantimento á boca; porem meramente, em
VOL. X I No. 67. Sn
851 Literatura e Sciencias.
certas circumstancias, lançam fora um sueco de bilisou fel,
que possuem em grande abundância. Este phisiologista
examinou os líquidos curados, na cavidade do peritoneum
de vários insectos, e elles fôram absorvidos pelos vasos com-
pridos, e delgados, que sempre se acham fixos a alguma
porçaõ do canal intestinal. Isto tende a provar que o uso
•ie taes vasos he a secressaõ da massa commum dos hu-
mores, dos licores digestivos, e lançallos no canal intesti-
nal. Elle averiguou também, que os foliculos de certos
insectos, que se bem considerando como estômagos, nunca
recebem o mantimento, e saõ meramente reservatórios do
humor da bilis."
Víboras. M. Dutrachet observou uma circumstancia
notável, na prenhez das víboras. Parece que as pequenas
víboras tem os seus vasos umbilicaes distribuídos, naõ so-
mente sobre a gema do ovo, em que estaõ originaria-
mente incluídas, mas que, parte destes vasos estaõ também
distribuídos pela superfície interna do ovidueto, e formam
ali uma rede, que se pôde considerar como verdadeira
placenta. As víboras, portanto, participam do modo de
nutrir o foetus peculiar aos animaes mamães, e que até
aqui se suppunha faltar inteimmenve nos animaes da
classe dos oviparos.
Mel. Segundo as experiências, que tem feito vários
chimicos, parece que o mel consiste em quatorze-quizeavos
de charope, e um quinto de substancia branca farinacea,
insipida. Sendo adulterado com farinha ou gomtna, o ue
muitas vezes acontece, se pôde descubrir a fraude aque-
cendo-o; quando he puro se derrete todo em charope fino
transparente; mas se he adulterado, o corpo extraneo lhe
dará a apparencia de lodoso. A substancia branca farina-
cea que se acha no mais puro mel, pôde ser separada do
charope evaporando-o com carvaõ. He esta substancia
branca que faz com que o mel obre taõ poderosamente no
estômago, « baixo ventre; se o charope for limpo delia,
Literatura e Sciencias. 855
àü poderão tomar tres on <iuatrn oiiças para o almoço, sc*m
oileilos nocivo-;, ou violentos: mas uma doze de duas
oitavas deste branco, ou parte concreta oceasiona choli-
cas, laxidaõ, &c. Para preparar o charope de mel, que
he mui saudável, e nutriente, e livre dos effeitos spasmo-
dicos e laxativos do mel commum, se daõ as seguintes
direcçoens. Dissolvam se oito onças de mel com duas de
água fria, ajnnte-se-lhe uma onça le carvaõ de o^sos (os-
sos calcinados, phosphato de cal) mexa-se a mixtnra, e
deixe-se repousar por hora e meia, e entaõ se filtre. O
charope passa primeiro muito turvo, mas pouco depois se
faz claro. O carvaõ lhe dá um ciie.ro particular, que fa-
cilmente se lhe tira, expondo-o a um fogo brando por um
quarto d'hora.
Cogumelos soporiferos. Os habitantes de Kamtschatka
e paizes vizinhos, fazem uso, segundo Lóngsdorf, de uma
espécie de agaiico ou Cogumelo, pelas suas qualidades de
ebriegar. Um cogumelo grande, ou dous pequenos, diz
elle, he bastante para produzir grande excitaçaõ, ou
extrema ebriaguez. Os effeitos narcóticos <l,jste fungus,
que se augmentam muito pelo uso da água fria, se maui-
festam em meia hora, ou mais, até duas horas, depois de
tomados, por irritação dos músculos, tontura da cabeça,
somnolencia, e todos os effeitos geraes do vinho, ou es-
píritos ardentes. A propensão para dançar, e fazer gestos
extraordinários, characteriza o uso deste agarici- (o mes-
mo que exhala dos gazes de oxide, e de a/ote) e he mui
notável a sua acçaõ na urina. Esta secreçaõ adquire as
qualidades narcóticas muito mais decididamente do que os
mesmos cogumelos, e os bêbados naquelles paizes avida-
mente bebem a urina de seus companheiros. Uma taça
mediana cheia desta urina, produz ainda dous dias ao de-
pois, maior gráo de ebriaguez, e a urina da pessoa que a
bebe produz ainda maior estado de bebedice, e assim por
diante até a urina do quinto bebedor. Duas ou tres cu«
5 R 2
í\")fy literatura e Sciencias.
lheves de gordura, ou azeite de peixe, saÕ sufficientes pjr*
remediar os má.s effeitos uo estômago e baixo ventre, oc-
casiouados pe1;) uso deste agarico, cuja espécie particular
Mr. Langsdoif naõ descreve.
Carvaõ. Os navios de S. M. Britannica Spitfire, e
Bonnc Citoyenne, andando a corso na costa de Greenlatid
descubriram, ha pouco tempo duas camadas distinetas de
carvaõ nas ribanceiras da ponta de Nordeste da ilha do
Urso. A camada de cima he de qualidade superior; a ca-
mada de baixo he pezada, e cheia de sulphur, mas arde
bem. Com esta se acha mixturada uma mina metálica,
que se julga ser estanho, mas provavelmente será ferro.
A ilha do Urso está na lat. 74° 28, long. 18". 20. E com
bom anchoradouro todo em roda da ilha, e de fácil ac-
cesso, excepto ao S. E. aonde a costa he alta, e de roche-
dos. A ilha terá 12 milhas de diâmetro, he estéril, e
contém unicamente alguns ursos e rapozas, e aves aquáti-
cas. A feliz descuberta de uma ilha em tal situação, e que
contém tal thesouro mineral como he o carvaõ, deve ser de
incalculável vatagem para a maior parte dos Norvegas
que dependem deste paiz para o combustível, e que an-
nualmente padecem muito pela falta de fogo, naó só para
os objectos culinares, mas também para as fabricas, e of-
ficios mechanicos em geral.
5s2
86*1 L>'cralurc e Sciencias.
MISCELLANEA.
BuUctúiis do Exercito do Norte de Alemanha.
KuL-.ri-iji XXIV.
Quartel-general de Muhlhauscn, CS d Outubro, de 1813.
o PRÍNCIPE da Coroa mudou hontem o seu quartel-general paru
Muhlh-itisen, para cujo sitio tinha avançado por Mcrschurg, Artem,
eSue.dersli-.msen. Oi grandes resultados da batalha de Leipsig, cada
dia se fazem mais e mais visíveis. O exercito do Imperador Napo-
leaõ vai-se retirando a marchas forçadas, e cada dia soffre perdas
consideráveis. Kllc marchou em direcçaõ a Erfurt; porem, segundo
as ultimas nciicias, aquelle ponto está ua posse dos alliados. 0 Ge-
neral Bluchersegue apertadamente todos os vestígios du inimigo;
em quanto o grande exercito tle Bohemia, cujo quartel-general es-
tava no dia 4 em Weimar, vai marchando pelo seu flanco esquerdo,
e o exercito do Norte da Alemanha está em parte sobre o seu flanco
direito, c cm parte se estende mais alem.
Os Generaes Yorck, e Wasilschikovr, cujos corpos formam a van-
guarda do exercito da Silezia, atacaram a rettaguarda do inimigo
perto de Weissenfels, e Freyberg, c tomaram para cima de 4.000
prisioneiros, 40 peças d'artilheria, e um numero de carros de baga-
gens c muniçoens. O General Bubna tomou 800 ppisionciros da
Guarda Impei ial, cm Butliestadt, e o General Bcnnigsen, que mar-
chou pela estrada de Bcbro, achou um grande numero de extravia-
dos, c de canhoens abandonados, e carroças das bagagens, tudo ao
longo da estradas. Na estrada du Erfurt, o mesmo Imperador Na-
poleaõ mandou queimar mais du* 600 carros dj pólvora. O Coronel
Chrapowitski tomou posse da cidade do Gotha no dia 22, e entaõ fez
prisioneiros o Ministro Francez, Baraõ de Aynon, 73 officiaes, c DIW
homens. Fez voar SO carros de pólvora, e depois disto rcuiiio-w
cm Moischleben, ao General Slowaisky no dia 12; o qual tinha sido
destacado do grande exercito para se por cm roda do exercito Fran-
cez. O Coronel Bekeudorf, ao mesmo tempo incomodou o inimigo
em toda a sua marcha para F.rfurt, foi continuamente escaramu-
çando com a cavallaria do General Sebasliani, e tomou uma quan-
tidade de prisioneiros. O General Czernitscheff, a cujo corpo estes
partidistas pertencem, marchou para Eisenach para prevenir a tc*-ta
da columna iuiniigi. O Imperador Napoleaõ, no dia 10, dorinio
em Mark-Raustadt, no dia 20 em Weissenfels, em 21 em Eckarit-
berg; na madrugada do dia 23 estava em F.rfurt, donde partio para
Gotha.
Miscellanea. 807
Cartas interceptadas dizem, que naquellas vizinhanças, as estradas
reaes estavam cobertas, c. como se estivessem semeadas de fugi-
tivos, sem armas, nem fardamento. O Marechal St. Cyr fez um
movimento de Dicsde para Torgau; provavelmente com o intento
de tirar as guarniçoens d.iquella fortaleza, e de Wittcuherg, e unidas
ao seu corpo, avançar até Magdeburgo, e dali para França. Vários
corpos de exercito estam avançando, de differentes pontos, uns para
os outros, reunindo se para o accometerem, e cortallo. O General
Tauenzien está na vizinhança de llostau ; e hade reunir os corpos
dos Generaes Von Hirchfeld, e Von Thumen ao seu. O General
Conde Tauenzieu segue os movimentos do General St. Cyr, e o
General Bennigsen cujo exercito se tinha ja reunido ao do Principe
da Coroa, ha de mandar que o corpo do General Doctoroff tome a
mesma direcçaõ, c ha de tomar sobre si o commando de todas aa
tropas Russianas, e Prussianas, que estaõ destinadas para manobrar
contra os corpos inimigos. O General Strogonoff ha de reunir-se ao
exercito do Principe da Coroa.
O General Tetteuborn, que estava com um corpo de tropas ligeiras,
perto de Lunembourg tomou posse, no dia 15 d'Outubro, da cidade de
Bremen, por capitulação. O General Conde Walmoden está de ob-
servação ao exercito do General Davoust que, mui provavelmente,
pouco hade tardar que naõ se retire. A perda total do exercito
alliado do Norte da Alemanha, naõ excede de 2 a 5.000 homens,
entre mortos e feridos. A do General Conde Langeron foi mais
considerável. Este General faz os maiores elogios ao comporta-
mento dos Generaes Keptzewitzch, do Conde de St. Priest, e Rond-
zewitzsch, e igualmente a todos os officiaes e soldados debaixo do
seu commando. Na batalha de 18 d'Oulubro, o Tenente-general Sir
C. Stewart colocou elle mesmo os fogueteiros Inglezes, no meio do
fogo mais vivo, e voluntariamente emprehendeo a execução de va-
rias ordens de S. A. II. o Príncipe da Coroa, e o fez a inteira satis-
facçaõ de S. A. R. Os Generaes Tawast, e Lawinheihu, distinguiram-
se; o primeiro conduzio 2 baterias de 12 cauhoens a um ponto que
estava mui fortemente atacado pelo inimigo, e por este inodo con-
tribuio para a segurança deste flanco do exercito. O General Sure-
main dirigio elle mesmo a artilheria Sueca a qual fez fogo sobre a
porta de Leipsig, e depois nas ruas daquella cidade. A cavallaria de
Winzingerode avançou até Vach, e segue os movimentos do inimigo,
que em parte parece tomar a direcçaõ de Witzlar. Este General
mostrou na batalha de Lcpsig os mesmos talentos, e valor, de que
d'antes tinha dado tantas proras. A infanteria ltus-iiana tem sus-
8GS Miscellanea.
tentado sua antiga fama por uma firmeza, qua sempre a dislm*.,;,.
Os Generaes Woronzoff, Laptieff, Harpe, e Wonitsch, deram a
S. A. R. a maior satisfacçaõ pelo seu com por lamento.
BULLETIM XXV.
Quartel-general de Heiligenstadl, 30 d'0utubro, de 1813.
O Principe da Coroa mudou hoje o seu quartel-general para este
sitio. O Imperador Napoleaõ continua a sua retirada para o ilhenn.
Os exércitos alliados seguera-o, e estam-o incomodando continua-
mente. Todas as informaçoens recebidas nos asseguram que elle
naõ tem comsigo mais de 50, á 60.000 homens; o resto do seu ex-
ercito está disperso, e anda errante pelas montanhas, sem guia, nem
armas. O General Czernitscheff, que commanda uma das vanguar-
das do exercito alliado do Norte da Alemanha, no dia 25 do cor-
rente, junto a Elstrode, naõ longe de Eiscnach , mandou atacar utn
destacamento de cavallaria de SOO homens, commandado pelo Ge-
neral de Divisão Fournier: meteo-o para dentro de um desfiladeiro
aonde a maior parte destes homens foram passados á espada, e 300
feitos prisioneiros. Os Cossacos que fizeram este ataque naõ eram
mais de 200, ou 300 homens mas valentes. Tcndo-se DO dia 27, rece-
bido informação de que as novas guardas Francezas tinham passado a
noite em Fulda, o General Czernitscheff fez seu imincdiato o Ge-
neral llowaiski e destacou o Coronel Benkcndorf para Fulda. Este
General fez fugir o inimigo, tomou-lhe 500 prisioneiros, e destruio
o almazeni de trigo que ali estava estabelocido. Como se soube que
as novas guardis formavam a vanguarda do exercito Francez.; o
General Czernitscheff colocou-se entre ellas, e o exercito que ai
seguia, debaixo do commando do Imperador Napoleaõ, e assim es-
perou a approximaçaõ das columnas inimigas. Logo que elle lhe
percebeo a frente, mandou-a atacar. Tres esquadroent. de gendar-
ines das guardas foram atacados e feitos recuar sobre as tropas que
os seguiam O General Czernitscheff dispersou a vanguarda do
Imperador Napoleaõ destruio-lhe os almazens donde elle pensava
suprir o seu exercito e pôs-lhe as estradas impracticavei». 0 Te-
nente-general Conde Woronzoff no dia 28, mandou guarnerer Cam-I
por uma parte da sua vanguarda ; poucas horas depois, o Conde de
M. Priest, do exercito da Silesia, entrou naquelU praça. O Conde
Von Woronzoff também para Ia foi hoje, e ha de ir tamlx ni o Ge-
neral BaraÕ Von Winzingerode com todo o seu exercito. O Rey
de Wcstphaüa, ignor.mte do resultado da batalha de Leipsig, fi-
tava ainda socegado em Cassei no dia 24, c naõ tinha com sigo mais
de 4 ou 5.000 recrutas. So ao outro dia, 25, soubs quam mal seu
Miscellanea. 869
Irmaõ tinha sido tractado, e no dia 26 partio sem demora para
Coblentz, pelo caminho de Wetzlar. O General Carra St. Cyr tor-
nou a entrar em Bremen, porem provavelmente naõ ha de lá estar
muito tempo. O Marechal Principe de Eckmuhl ainda estava aos
26 na posição que tinha tomado no Stciknitz, porem observou-se
que se andavam fazendo preparaçoens para lançarem uma ponte
junto a Zollcnspecker. 0 que elle intenta fazer ainda se naõ sabe
exactamente. Algumas pessoas que se julgam bem informadas,
dizem que o Imperador Napoleaõ lhe dera ordens de se defender
em Hamburgo até a ultima extremidade, para prevenir, o mais
que podesse, que os Dinamarquezcs declarassem guerra contra a
França. Os Francezes naõ se daõ bem com os Dinamarquezcs;
estes, nada mais dezejam sinceramente, do que fazer causa commum
com os Alliados, e esperam com impaciência a declaração do seu Rey.
0 exercito Saxonio que se unio aos alliados, e recebeo o exercito
do Norte debaixo d'armas quando elle entrou em Leipsig; ha de por-
se etn campo sem demora. Os seus Generaes, Officiaes, e soldados,
dezejam vingar os insultos que se lhes tem feito. O Rey de Wirtem-
berg declarou-se a favor da boa causa dos alliados. As suas tropas
ja chegaram a Aschaffcnburg, e estam em marcha para se unirem ás
tropas Austríacas, e Bávaras, debaixo do commando do General
Conde Wrede. A libertação de Hanover cedo ha de acontecer. O
Poder, e a Justiça estam a ponto de destruir o edificio levantado pela
oppressaõ, e força superior.
BOLLETIM X X V I -
Quartel-general de Hanottr, 10 de Sovembro, de IS,j
O Principe Real transferio o seu quartel-general para Hano>«i
tendo passado por Gottingen, Eimbeck, e Ettzi.
O Imperador Napoleaõ repassou o Rheno em Mcnlz ; deixou as es-
tradas cubertasde mortos, e moribundos: estes tmtes, c irrefriigavri»
testemunhos das suas derrotas tem mostrado aos exércitos alliados a
estrada que elles devem seguir ; Hanau, emfim,veio a ser para Na-
poleaõ tuna nova Beresjna, He somente ao heroísmo de seus solda-
dos, e aos talentos de seus Generaes que elle deveo a sua salvação. O
General Czernischeff, que constantemente formou a guarda a>ançada
contra o exercito Francez durante a sua retirada para o Rheuo, contri-
buiu grandemente para o resultado da batalha de Hanau. Aquelle gene-
ral cançou o inimigo durante todo o dia 30 de Outubro ; c tendo sido in-
formado no dia 31, que uni corpo de 10.000 homens de cavallaria ia
escoltando o Imperador Napoleaõ, resolveo atacallos com 5 regiincn-
tosde Cossacos, no que foi muito mais bem succedido do que espera-
va, porque por varias vezes rechaçou o inimigo, que foi obrigado a
retirar-se debaixo do fogo dos seus canhoens, e tomou-lhe 400 prizi-
oneiros. Este General desde Erfurt até as margens do Rheno foi in-
cessantemente o perseguidor de Napoleaõ ; umas vezes atacando a sua
guarda avançada, outras vezes retardando-lhe a marcha, fjzcndo-lhe
voar as pontes, cortando-lhe as estradas, ou entiilhando-lhas. Estas
operaçoens, que o Imperador Napoleaõ affiecta considerar como um
indigno modo de lazer a guerra, porqiie ellas lhe saõ perniciosas,
obrigaram-o a entrar muitas vezes em combates,cm os quaes o Gene-
ral Czernischeff tomou 400 prizionciros, incluindo dous coronéis, e
'iOoutrosoiikiaes. Este General de divisão tem obrado sempre como o
corpo ligeiro doExercito do Norte da Alemanha, daquelle exercito, que
Napoleaõ encontrou em Gr.-s Beurcu, em Dennewitz, c cm Leipsig.
O Tencute-g *neral Conde Woronzoff louva altamente- os talento» do
Tenente-coronel Chrapowitski, o qual enrostaudo-se aosflanemdo
inimigo durante a sua retirada, fez 500 prizionciros. A guarda
avançada do General Baraõ Win/iii^erotle, pcr«*guio o corpo du
General Rigaud, c oulms destacamentos inimigos sobre a e-rfiadade
Wesel,c Dusscldorff. A vilade Minister foi occtipada no dia 5 por
tropas Ruíwianai. IMa f.<rça do inimigo perdeo em sua rcliiada
mais de 600 prizioneiros, dos quaes o Major tVtcscwskv tomou iOu.
O tíeneral Telteiihorn cot., os seus corpos lerniiiilo a divisão do tie-
ncral CarraSt. Cyr, <; a» tropas que vinliani i!e Hollanda, asquaci de»
wjava".i reocupar Bremen. O Principe Ht-al (-.ti IUUÍIO saliitcíl»
<.<im-t ai (i-.itladc da«i';'•!!<• Gcneiaf
Miscellanea. 871
O Marechal Davoust ainda occupa a sua antiga posição sobre o
Stecknitz, eja naõ pode cffeituar a sua retirada para França. O Ge-
neral Baraõ Winzingerode está a um dia de marcha de Bremen,e ha
de extender as suas tropas por todo o paiz de Oldenburg mesmo até
as fronteiras de Hollanda, para onde elle j a mandou o Coronel Na-
rishkin. O General Bulow está em Miuden ; ha de mandar um corpo
para Munslcr, c a sua cavallaria está prompta para formar uma
juneçaõ com a do General Czernicheff sobre as margens do Rheno.
0 General Conde Woronzow está em marcha sobre Luneburg. Uma
divisão do exercito Sueco, commandada pelo Tenente-general, o
Baraõ de Sandels está em Brunswick; a divisão do Major-general de
Posse,em Hanover, e a do Major-general de Beye, em Hildesbcim.
A cavallaria debaixo do commando do Tenentc-gcueral Shilde-
braud, occupa as aldeas em roda de Hanover.
0 exercito está recobrando-sedas suas fadigas, c reparando o seu
fardamento, e suas equipagens. A Regência do Eleitorado de Hanover
foi restabelecida, e o inimigo agora somente occupa sobre o baixo
Elbe, Harburg, Stade, e o pequeno forte de H o p e ; porem pode-se
presumir que naõ poderá defender-se muito tempo. Em Hanover,
os habitantes de todas as classes tem dado provas do mais terno
affecto para cora o seu Soberano, e o mesmo em todas as outras par-
les do Electorado. O Principe Real, cuja fortuna foi tellos comman-
dado em outro tempo como um General do inimigo, tem recebido
com sensibilidade os signaes de lembrança, e de reconhecimento, que
elles lhe tem dado pelo modo com que elle se comportou para com
elles.
0 quartel-general do Grande Exercito Alliado estava no dia
5 em Frank fort. Assim os inauditos esforços que a França féz em
1813, tiveram os mesmos resultados que osde 1812. As legioens Fran-
cezas, que faziam tremer o inundo, estam-se retirando, buscando a
sua salvação para de traz do Rheno, natural barreira da França, e que
seria mesmo uma barreira de ferro ; se Napoleaõ naõ tivesse desejado
subjugar todas as naçoens, e extorquir-lhes as suas terras.
Ainda que os limites parecem fixados pela natureza, o exercito
Russiano apprezcnta-se diante delles, porque Napoleaõ foi buscar os
Russianos a Moscow, o exercito Prussiauo apparece diante delles, por-
que cm quelirantamento de sua fé jurada, Napoleaõ ainda possue as
fortalezas daquella Monarquia, o exercito Austriaco apparece defronte
delles, porque a Áustria tem insultos que vingar, e porque ella se lem-
bra que despois da paz de Presburg, o titulo de Imperador de Ale-
pianka foi arrancado ao seu Supremo Chefe ; se os Suecos também lá
5T2
872 Miscellanea.
BULLETIM XXVII.
ao seu conhecimento.]
Tenho a honra de ser, &C,
(Assignado) CARLOS STEWART, Tenente-general.
5 U2
580 Miscellanea.
P. S. Acaba de chegar a noticia de que uma parte da guarniçaS
Franceza de Magdebourg foi inteiramente destruída e repellida para
debaixo dos muros da praça. Foram tomados T00 infantes, e 6
canhoens. Remeto incluzo o bulletim publicado em Halle, em 9 do
corrente. C. S.
Proclamaçaõ'.
As victoriosas armas dos potências alliados, tem, debaixo da ma-
nifesta protecçaõ da Divina Providencia, quazi completado a liberta
çaõ do paiz dos seus dez annos de soffrimento. O valente exercito
do Norte ja se está avizinhando, elle he commandado por S. A. R. o
lllustre Principe Hereditário de Suécia, cujo amor da justiça e he-
roísmo, o tem disposto e qualificado para vir a ser o libertador dos
Alemaens. As tropas do nosso Rey, unidas a este exercito, tem ja
oecupado a capital, e grande parte do paiz. Todos os fieis Hano-
verianos haõ de venerar ogradecidamente nesta conjoladora mu-
dança de coizos, aquellas sabias medidas que o nosso bem amado
Rey, tem sempre firmemente seguido durante as mais calamitosas cir-
cumstancias, e as quaes S. A. R. o Príncipe Regente, que he com
igual fervor interessado no bem de seos hereditários Estados Ale-
maens, tem cora igual constância continuado, e completado. Em
vez de gemermos debaixo do jugo de um governo estrangeiro, para
quem a anniquilaçaõ de nossa constituição e liga, a destruição
da nossa propriedade, e a efuzaõ do sangue de nossos filhos, era
somente um pretexto para a gratificação de uma vaã ambição,
somos outravez abençoados pelo paternal Governo de Principes
Naturaes, que cstam acostumados a procurar a sua gloria, e felici-
dade, em fazer a nossa. Um filho do nosso mui reverenciado Mo-
narcha, S. A. R. o Duque de Cumberland, que sempre depois da sua
primeira residência entre os Hanoverianos, tem concebido o mais
vivo affecto para elles, está prezente em pessoa, e tem-se generosissi-
tnamente resolvido a contribuir activãmente para se effectuar o bem
da antiga herança de seus illustres antepassados.
FRANÇA.
Extr actos do Moniteur.
As nossas fronteiras estam ameaçadas—inimigos implacáveis, eu
jas fieiras tem sido ingrosBadas pela traição, dezejam invadir o terri-
tório Francez. A guerra acendida na Europa pela influencia^da In-
glaterra, naB pode ser sugeita aos cálculos comuns da politica. A
questão naõ he sobre parcial cessaõ de território, he o Norte preci-
pitando-se sobre o Sul, como se precipitou nos primeiros tempos da
Miscellanea. 903
Monarchia. A França foi entaõ, como hé agora, o grande obstá-
culo para o successo das naçoens do norte. O nosso paiz tem sido
sempre o Baluarte da civilização, e um objecto de inveja para as
outras potências, porque elle he também o paiz das artes o centro
dos melhoramentos, e um modelo para as naçoens, em tudo o que
he nobre e glorioso.
He portanto aquelle antigo ódio contra a França, aquelle desejo de
humilhar a sua gloria—que agora dirige os planos de nossos inimi-
gos. He em circumstancias dificultosas que a grandeza das naçoens,
assim como a dos indivíduos, se conhece. A naçaõ advertida de
seu prezente perigo, experimentara que a sua salvação está depen-
dente da sua energia, e da sua cabal confiança no Governo. Saõ ne-
cessários grandes sacrifícios; todas as consideraçoens particulares de-
vem ceder o passo ao bem de todos : o inimigo está ás nossas por-
tas, he-nos precizo repellilo. Os Francezes devem outravez mos-
trar-se dignos dos seus antepassados cuja gloria he como um depo-
sito sagrado confiado ao seu patriotismo: sejam, em uma palavra,
dignos do nome que tem, e do Soberano que freqüentemente os
tem conduzido á victoria, tomando parte em suas fadigas, e em
seus perigos.
Os nossos inimigos tem esquecido qne a França he a terra dos va-
lentes, e a pátria da honra. Naõ se lembram, que á voz da pátria
ameaçada, naõ ha Francez que naõ saiba qual he o seu dever, e que
naõ esteja prompto para o preencher. Talvez elles imaginem que
nós havemos de esperar socegadamente por aquellas cohortes indisci-
plinadas que a toda a parte levam comsigo roubo, e devastação.
As suas esperanças haõ de ser frustradas. Os nossos monumentos
públicos, os chefes de obra das artes, immortaes tropheos de nossas
victorias, cada porçaõ desta terra natal, tam favorecida pela natu-
reza ; tudo o que he Francez está debaixo da guarda de todos : he
assim que de Mayence a Perpignam, de Brest a Toulon, dos Alpes
aos Pirineos, todo o cidadão estará prompto para voar em auxilio
dos seus concidadãos. Nos ja vimos os Prussianos em campa-
nha, ja vimos os Russianos sobre as nossas fronteiras, lemos aquellas
proclamaçoens, em que as ameaças eram misturadas com insulto, e
um so único movimento da naçaõ foi bastante para dissipar todo o
perigo. Exaqui um nobre exemplo que deve agora ser imitado.
Acorde pois todo o Francez á voz do governo, que dirige os nossos
recursos, e os nossos esforços ; lembre-se cada um de nos, que nada
haque temer, com tantoque se corresponda ás exigências do seu Sobe-
rano. He por um unanime e generoso movimento que nós havemos
5 Z 2
904 Miscellanea.
de expedir para longe das nossas cidades, de nossas mulheres, e de
nossos filhos, para longe dos sagrados túmulos de nossas pai s, <> fla-
gelo da guerra, o insulto, e a devastação. Nos somos Franceses, e
nunca deixaremos de o ser.
20 D E NOVEMBRO.—S. M. hontem em St. Cloud presidio a um con-
selho de Estado ; decretou nelle a creaçaõ de dons exércitos de
100.000 homens cada um; um será organisado cm Turin, e o outro
in Bourdeaux.
21 D E NOVEMBRO.—Hontem a tarde foram apprczentadoipor S. E.
o Principe Archi-chancellcr do Império, para prestarem juramento o
Conde Mole nomeado Gram Juiz, Ministro da Justiça ; o Duquede
Bassano, emqualidadc de Ministro Secretario de Estado ; o Duque de
Vicenza, cm qualidade de Ministro dos Negoicos Estrangeiros; o
Conde Daru, em qualidade de Ministro para a administração da
Guerra; o Baram Castas, em qualidade de Director Geral das pontes,
e das estradas. S. M. nomeou Ministros de Estado, o Duque de
Massa, e o Conde de Cassan: e eiprimio-lhes a satisfacçaõ que os
seus serviços lhe tinham causado, e o desejo que elle tinha de que
elles continuassem a ajudallo com os seus avizos, e bons conselhos i
c que naõ havia outra razaõ para os mandar retirar, senaõ a da
saúde destes Ministros. S. M. nomeou, o General Conde Bertrand,
Grande Marechal do Palácio • o Marechal Duque de Albufera,para o
posto de Coronel-general da guarda ; vago pela morte do Duque de
Istria. Os generaes de divisão, Conde Kegnier, Conde Lahord,
Conde Charpentier, Baron Maison gram-cruzes da Imperial Ordem
da Reunião.
Uma naçaõ taõ generosa, como illuminada, taõ poderosa como a
naçaõ Franceza preciza somente ser fiel a si mesma, proteger os de-
zejos de seu governo, para preservar a sua graduação entre as na-
çoens, e confundir os projectos dos seus inimigos. A historia está
cheia de factos notáveis que provam que os perigos llic tem le-
vantado o annimo,e que ella tem sido sempre superior aos aconte-
cimentos. Nos devemos agora dar aos nossos descendentes aquelle
exemplo que recebemos dos nossos antepassados. A hereditária glo-
ria do povo Francez nunca deve ser obrigada. Se alguns coraçoens
houver gelados pelo egoísmo, capazes de olhar com indilTerença para
os perigos da pátria ; excite-os o sentimento do seu interesse pró-
prio. Tudo o que elles agora possuem na ordem social, a salvação
dos indivíduos depende da salvação do todo. O humilliador jugo de
um estrangeiro, o insulto, o roubo, havia de cair sobre todas as
cabeças, sobre todas as condiçoens, e amargos, e inúteis pezarct,
Miscellanea. 905
haviam seju'r-se immedi itamente á inctividarJe, e á falta de zelo
nos cidadãos.
He Inglaterra quem está diant d - uós ; Inglaterra está nos cam-
pos dos nossos iuimigns, he em favor delia, lie para satisfazer o sea
inextinguivel ódio contra França que as naçoens do Norte se tem
posto ein campo. Ódio para com a França he o patriotismo de um
Inglez. Quem he o Francez que a tal idea naõ esti p r o m p t i a pegar
em armas, e exclamar : naõ, a França nunca dobrar o pescoço diante
da Inglaterra ! Este nobre sentimento existe no c. raçaõ de todo o
Francez, se disso podemos formar um juizo pela actividade com que
os valorosos homens destinados para defenderem as nossas fronteiras
marcham para o posto da honra. Uma emulação digna de louvor
annima os departamentos ; e nós pensamos que he um dever o parti-
c*ilarizar aquelles que se distinguem pelo seu zelo, e pela sua ener-
gia. Nós diremos delles que tem sido beneméritos da sua pátria.
DECRETO IMPERIAL.
Total 27:569.996
3. A ditta quantia total de 27:569.966 francos, scra paga em divisoens
na conformidade da lista appensa ; a saber:—
Sobre o producto das 30 centessimos levantadas na
conformidade do nosso Decreto de 11 do corrente.. 22:067,62'i
£ sobre o producto das taxas das terras 5:502.344
DECRETO IMPERIAL.
Do Palácio das Thuillerias, 29 de Novembro, de 1813.
Napoleaõ, Imperador dos Francezes, Rey de Itália, Protector da
Confederação do Rheno, Mediador da Confederação Suissa, &c. &c. &c.
Temos decretado e decretamos o seguinte:—
ART. 1. A abertura das Sessoens do Corpo Legislativo, fixada pelo
nosso Decreto de 25 de Octubro próximo passado, para 2 de Decembro,
terá lugar em 19 de Dezembro.
O presente será inserido no Bulletim das Leis.
(Assignado) NAPOLEAÕ.
Pelo Imperador,
O Ministro Secretario de Estado,
(Assignado) O Duque de BASSANO.
HESPANHA.
ARTIGO OFFICIAL.
A Regência do Reyno foi servida publicar o seguinte Decreto :—
As Cortes desejando por em execução o seu Decreto de 3 do cor-
rente relativo a sua mudança para Madrid, decretam, que a Regên-
cia do Reyno deverá informar as Cortes do momento em que o es-
tado da saúde publica, e as precauçoens tomadas pelas juntas da
saúde haõ de permittir esta mudança.
HOLLANDA.
AMSTERDAM, 20 DE NOVEMBRO.
Hontem, em conseqüência de uma resolução dos Delegados para o
Governo de Amsterdam, e do Norte da Hollanda, fez-se acçaõ de
graças em todas as Igrejas desta cidade pelas especiaes mostras do
favor Divino dadas ao nosso paiz nestes tempos memoráveis, na expul-
são dos nossos jurados inimigos das terras Hollandezas, com humildes
preces a Deus para abençoar com o seu amparo, e favor os esforços
de S. A. R. o Principe de Orange, dos Delegados do povo cin geral, e
de todo o Hollandez em particular. Os Ministros eccleslastscos tam-
bém exhortaram os seus ouvintes para assistirem com contribui,
çoens voluntárias, ao restabelecimento do thezouro publico, que foi
quazi inteiramente saqueado pelos nossos inimigos Francezes, &c. &c
para que a Hollanda venha a ser um paiz feliz, e com o favor de
6 A 2
912 Miscellanea.
Deus, estando o mar aberto, possa dar a cada um a opportunidade
de reparar as perdas que tem soffrido, e para que possamos em con-
seqüência estar seguros de nos naõ acontecerem infortúnios taes
como os que soffreram os nossos lamentados irmaons de Wocrdens
que convencem todos os Hollandezes que nenh uns sacrifícios saõ de-
maziadamente grandes, sendo para nos livrar do jugo do9 Francezes.
2 DE DEZEMBRO.—Hontem pelas 3 horas, S. A. S. o Principe de
Orange féz a sua entrada solemne dentro desta capital, pela porta de
Haerlem, ao estrondo da artilheria, e ao som dos repiques de todos
os sinos. A alegria foi geral em todas as classes de habitantes. Naõ
se pode descrever o numero do povo que estava juncto, e que
corria a todos os pontos aonde S. A. passava. Naõ cessavam as ale-
gres acclamaçoens de " Viva! Orange boven!" e " Viva Guilher-
me Primeiro, Soberano Principe dos Hollandezes!" Esta noite a ci-
dade esteve illuroinada.
HARLFM, 29 DE NOVEMBRO.—Varias noticias das margens do Yssel
annunciam, que o General Prussiano Poppen, com uma columna de
8000 homens, e 40 peças de canhaõ, decampou no dia 28 para mar-
char para Utrecht, pelo caminho de Doesburg, e Arnhem. O Gene-
ral Benkendorf chegou no dia 17 a Zwoll, com 2.000 hussares, 2.000
infantes, e 10 peças de canhaõ. O General Bulow, com o exercito
principal, que he avaliado em 30.000 homens, decampou de Munstcr
no dia 25. Zutphen foi occupada pelos Alliados; porem os Fran-
cezes ainda tinham uma guarniçaõ cm Deventer.
(Gazeta Extraordinária do Zueder-Zcc, 30 de JiTovembro.)
Amslerdam, 30 de Novembro.
Em nome de S. S. A. o Principe de Orange, e Nassau, e da Assem-
blea Geral dos Hollandezes Unidos para o Governo dos Negócios de
A [ii-.irril.uii. e do Norte da Hollanda.—A importância da nova que
temos de communicar persuadio-nos a publicar esta Gazeta Extraor-
dinária, para fazer saber que o General Krayenhef, Governador da
Cidade de Amsterdam, hontem 29, pelo seu Ajudante-dc-Campo
Colonel Van Don Posch, tomou posse da cidade de Utrecht, em
nome de S. A. R. o Principe d e Orange. Brevemente communica-
remos os nomes das pessoas que tem emprehendido o administrar o
governo desta cidade, agora restaurada aos Hollandezes.
(Assignados) J. M. KKMPF.R.
J A N I L ' 8 í-CHULTfcfR.
( Postscripto.)
LONBRES :—SECRETARIA DOS NEGÓCIOS DA GUERRA, 4 DE DEZEMBRO.
Um officio de que o seguinte he uma copia foi hoje recebido pelo
Visconde de Castlereagh, Principal Secretario de S. M. da Reparti-
ção dos Negócios Estrangeiros, vindo do Tenente-general Sir William
Stewart, K. B. datado de
Marburg, junto a Frankfort, 18 de Novembro, de 1813.
Mv LORD,—Em um officio antecedente roínmuniqm i a V. S. a
substancia de uma relação, recebida na manhaã do dia 15, do Ge-
neral Thielman, contendo o rendimento de Dresden, e da sua guar-
niçaõ ficando prisioneiros de guerra. Pelos noticias mais officiaes-
que V. S. agora receberá, ha de ver que a relação, recebida no
quartel-general do exercito do Norte, naõ era correcta, a respeito
do rendimento da guarniçaõ como prisioneiro* de guerra. A capi-
tulação, pela qual a guarniçaõ havia de tornar para França, e ser
trocada homem por homem,foi pedida, e concedida; porem isto naõ
foi ratificado pelo commandante em chefe ; assim tem ainda de pas-
sar mais algum tempo primeiro que tomemos posse desta importante
praça.
Eu siuceramente lenho pezjr de ter dado a V. S. uma relação, que
me veio de taõ boa authoridade, e que naõ obstante, suecedeo naõ
ser confirmada, em todos os seus factos.
Tenho a honra de ser, &c. &c.
(Assignado) CARLOS STEWART.
Ao fisconde Castlereagh, Sfc. &e.
Miscellanea. 919
SECRETARIA DA GUERRA, 4 DE DEZEMBRO.
Receberam-se officios de Heligoland, datados de 28 de Novembro :
As baterias de Blexen, e Carlsburgh estam em poder dos Alliados;
em conseqüência a navegação de Weser tornou-se perfeitamente
livre. O exercito do Priucipe Real vai marchando contra Ham-
burgo com grande força. As tropas Dinamarquezas estám junctas
nas vizinhanças de Altona.
Os Alliados estaõ de posse de Ratzeburgh ; tomaram o forte de
Hope na passagem do Elba, em Zoliin Spmcher.
Dantzic tem sido meia destruída pelo bombardeamento.
PRÚSSIA.
BERLIN, 26 DE OUTUBRO.
Os Magistrados sentem o maior prazer em appresentar aos habi-
tantes desta cidade est:is expressoens da satisfacçaõ de S. E. M.,e dos
quaes lambem se pode confiada mente esperar, que haõ de correspon-
der a confiança que S. M. nelles põem, e que naõ haõ de ter desmaio
no ultimo exercicio do seu zelo patriótico.—Berlin, 28 d'Outubro,
de 1813.
O Burgomestre, e Conselho desta Real Capital.
BUSCHING.
PORTUGAL.
Estado da Organização do Exercito em Campanha em o
I o . de Novembro, de 1813.
2* D I V I S Ã O , Tenente-general Sir Howland Hill.
5*. Brigada, brigadeiro Carlos A s h w o r t h . —
R e g i m e n t o d e Infanteria, N". 6.—Tenente-coronel Maxwel Grant.
R e g i m e n t o d e Infamteria, N». 18.—Major Mathias José de Sousa.
Batalhão de C a ç a d o r e s , N", 6, — T e n e n t e - c o r o n e l Pedro Fearon.
D I V I S Ã O P O R T U G U C Z A , a qual anda sempre annexa á 2*. Tenente-
çreneral Joaõ Hamilton.
2". B r i g a d a , B r i g a d e i r o J o a õ B u c h a n .
R e g i m e n t o d e Infanteri i, N». 2 , — T e n e n t e - c o r o n e l J o a õ Gomersall.
R e g i m e n t o d e Infanteria ,N." 1 4 , — M a j . J a c i n t o A l e x a n d r e Travassos.
922 Miscellanea.
4*. Brigada, Brigadeiro Archibaldo Campbell.
Regimento de Infanteria, N'°. 4,—Major Henrique Grove.
Regimento de Infanteria, N \ 10,—Coronel Luís Maria de Sousa Vahia.
Batalhão de Caçadores, N°. 10,—Capitão graduado em Major Fraa-
cisco Antonio Pamplona.
3'. DÍVISAÕ, Tenente-general Thomas Piclon.
8*. Brigada, Marechal de Campo Power.
Regimento de Infanteria, N°. i),—Corouel Carlos Sutton.
Regimento de Infanteria, N".2I,—Coronel Joaõ Telles de Menezes.
Batalhão do Caçadores, N°- II,—Tenente-coronel Durzback.
4*. DIVISÃO, Tenente-general Jorge Lawrey Cole.
9*. Brigada, Coronel José de Vascoucellos.
Regimento de Infanteria, N°. 11,—Tenente-cor. Alexandre Andrcson.
Itegimentodc Infanteria, N".22,—Tenente-coronel Diogo .Miller.
Batalhão de Caçadores, N°. 7,—Major Joaõ Scotl Lille.
5*. Di VISA õ, Tenente-general James Lcith.
3 \ Brigada, Coronel Luis do Rego Barreto.
Reo-iiuento de Infanteria, Nu. 3,—Coronel Miguel Mac Creagh.
Regimento de Infanteria, N°. 15,—Major Archibald Campbell.
BaUlhaõ de Caçadores, N". 8,—Capitão Joaquim Antônio Duarte.
6*. DIVISÃO, Tenente-general lV. H. Clinton.
7*. Brigada, Coronel Joaõ Douglas.
Regimento de lufanteria, N". 8,—Cap. Antonio Venccslaõ Santo Clara.
Regimento de Infanteria, N°.12,—Tenente-coronel Guilherme Bealy.
Batalhão de. Caçadores, N°. i),—Tenente-coronel Jorge Brown.
7* DIVISÃO, Marechal de Campo Carlos Frederico Lc Cor.
o*. Brigada, Coronel Joaõ Uoyle.
Regimento de Infanteria, N". 7,—Ten.-cor.FranciscoXavicrCalheiroí
Begimenlu de Infanteria, N". Il>,—Ten.-col Francisco José da Costa
do Amaral.
Batalhão de Caçadores, N°. 2.—Tenente-coronel (.'. II iíarhf-lkc,
Um» AO LIGEIRA, Major-gi-ueral Baraõ d ' Aliem.
R.*j>in\ei-tode Infanteria,N". 17,—Tenente-coronel Jo.ij Itolt.
Batalhão òc Caçadores, N". I,—Maj. Ant. Lobc. Teixeira de Barro».
Batalhão de Caçadores, N" 3,—Ten.-cor. Manoel Pinto da SiUeii a.
N. B. Estas 2 Brigadas uaõ estaõ anno ;a» a Divisão.
1* Brigada, Brigadcinr Wilson.
Regimento de Infanteria, N" I,— Major Guilherme 0*llara.
Urgimentodeliifaiiteria.No. 16,—Coronel Francisco Homem de
Magalãcs 1'izarro.
Batalhão de Caçadores, N«. 4,—Tenente-coronel E. H. Williams.
Miscellanea. 923
10». Brigada, Marechal de Campo Thomas Bradford.
Regimentode Infanteria, N°. 13,—Ten.-cor. Joaõ Carlos de Saldanha.
Regimento de Infanteria, N°. 24,—-Coronel Guilherme Mac Bean.
Batalhão de Caçadores, N». 5,—Tenente-coronel Thomas St. Clair.
Major-general II. Fane.
Regimento de Cavallaria, N". 4,—Coronel Joaõ Campbell.
Coronel Visconde de Barbacena.
Regimento de Cavallaria, N°. 1,—Tenente-coronel Henrique Watson.
Regimento de Cavallaria, N». 6,—Tenente-corenel Ricardo Diggens,
Regimento de Cavallaria, N". 11,—Tenente-coronel Martinho Corre»
de Moraes e Castro.
Regimento de Cavallaria,N«. 12,—Tenente-cor. Antonio Carlos Carri.
Andaó~ annexas á Divisão" Portugueza.
Commaiiilanle-gera! o Tenente-coronel de Regimento de Artilhe-
ria, N». 3, Alexandre Tulloh.
Brigada de Artilheria de Calibre Commandada pelo Capitão do Regi-
9, guarnecida pelo Regi- incuto de Artilheria, N°. 3 .
mento, N°. 2 — Carlos Michell.
Brigada de Artilheria de Calibre Commandada pelaCapitaõgraduado
6, guarnecida pelo Regi- emMajordo mesmo Regimento
mento, N°. 1 — de Artilheria N°. 3, Joaõ da
Cunha Preto.
Brigada de Artilheria de Cali- Commandada pelo Capitão gradua-
bre 9, guarnecida pelo Re- do em Majordo mesmo Reg. de
gimento, N*>- 1, — Artilheria N°.3,Sebastião José
de Arriaga
N. B. Ha uma Brigada de Artilheria do Regimento N°- 1, com-
mandada pelo Capitão do mesmo Regimento Pedro Rozierres, a
qual naõ tem bocas de fogo.
MANOEL DE BRITO MOZINHO, Ajudante general.
Quartel-general de Errazu, 1°. de Novembro, de 1813.
DECRETO.
Tendo consideração á capacidade, e prestirao de Antônio Moreira
Dias : Hey por por bem fazer-lhe mercê do emprego de Adminis-
trador do Terreiro Publico da cidade de Lisboa, ficando sem effeito
a que teve Francisco Monteiro Pinto, por Decreto de 24 de Julho,
de 1811, que por justos motivos, que me fôram presenteo sou ser-
vido revogar. O Conde de Peniche Inspector Geral do Terreiro
Publico o tenha assim entendido, e o faça executar. Palácio do Rio-
de-Janeiro, em 29 de Julho, 1813.
924: Miscellanea.
Reflexoens sobre as novidades deste mez.
BRAZIL.
No Rio-de-Janeiro se imprime um Jornal, cujo titulo h e " O Patriota;"
c com o do mez de Ajosto vieram ter-nos á maõ algumas traducçoens im-
pressas no Brazil; e t n rc outras a Hrnriadade Voltaire.
Ha dez annos, estando a Corte era Lisboa, que ninguém se atreveria a
dar a um Jornal o nome de Patriota; e a Henriada de Voltaire entrava no
numero dos livros que se naõ podtam lt-r sem correr o risco de passar por
atheo, pelo menos por Jacobino. E temos agora que em taõ curto espaço
j a se assenta, que o povo do Brazil pode lêr a Henriada de Voltaire • e
pode ter um jornal com o titulo de Patriota, termo que estava proscripto,
como um dos que tinham o cunho revolucionário. Por mais insignificante
que pareça a circumstaucia de se deixar correr um jornal com o nome de
Patriota, ou permittir-se uma traducçaõ da Henriada; nos julgamos isto
matéria de importância; porque he seguro indicio, de que o terror inspirado
pela revolução Franceza, que fazia desattender a toda a prnpnsiçaS de
reformas, principia a ."-bater-se, é ja se naõ olha para as ideas de melhora-
mento das instituiçoens publicas, como tendentes á anarchia, em vez de
servirem á firmeza do Goveruo.
Rarisssmas vezes as grandes mudanças nacionaes saõ o resultado de con-
spiraçoens; procedem ellas sempre de causas profundas, e extensas, na cs-
truetura e estado da Sociedade ; donde resulta a necessária rombinnçaõ
de indivíduos, que parecem ser os authores, quando na realidade naõ saõ
senaõ ns instrumentos da revolução, que sahe á luz em virtude das circum-
stancias.
Nestes termos quanto mais se expuzerem os males do Estado, mais facil-
mente se lhe providenciará o remédio, e mais directamente se deslroem os
causas originaes das grandes commoçoens publicas.
Por uma perversão insensata, durante a revolução Franceza, se attri-
buio á palavra Patriota, o mesmo sentido de Revolucioui»|a,ou monarcho-
maco. e com este phantasma se punham os povos em opposiçaõ com os
governos, fazendo os Gorioyannos entaõ os seus interesses nas águas en-
voltas. A palavra Patriota significa, o bom cidadão, o amante de sua
pátria; e por conseqüência o defensor do Governo, e das instituiçoens do
paiz. Vemos pois cora muito prazer, neste annuncio do Rio-de-Janeiro,
que esta honrada denominação, começa a surgir do opprobio em que se
achava.
O exemplo da Henriada, te pôde extender a muitos outros livros, que
naõ prohibidos, pelo temor de que produzam opinioens erradas, no povo.
A nossa opinião be, que a revolução Franceza produzio os escriptos que
em muitos paizes da Europa, principalmente em Portugal, tem sido prohi-
dos ; como te fossem causadores da revolução; nós dizemos que esta foi
que.m produzia taes escriptos, e naõ 03 escriptos a revolução. Nenhuns
Miscellanea. 925
escriptos se publicaram em Portugal, que fossem o ' precursoresou motores
da revolução de 1649: muitos appareceram depois: as causas daquella re-
volução fôram as oppressoens e máo governo dos Felipes, que occasioná-
ram a combinação de circumstancias, que serviram de estimulo aos con-
jurados, e a p o z elles a todo o povo de Portugal. Os escriptos illuminam
tanto o povo como o governo. Se expõem abusos, que na realidade exis-
tem; o governo naõ tem mais que remediallos para alcançar a approvaçaõ
e a confiança da naçaõ. Se os abusos naõ existem, como em taes escriptos
se pôde dizer o que naõ he verdade, facilmente se responde a elles, e o
povo em geral naõ acreditará o que he falso, quando se lhe apresenta em
comparação com o que he verdadeiro.
ESTADOS UNIDOS.
O committé do Congresso, a quem se referio a parte da mensagem do
Presidente, relativa a guerra, apresentou uma volumosa collecçaõ de do-
cumentos, para justificar as queixas, que tem contra a Inglaterra. Estes
documentos fôram divididos nas seguintes classes. I. Mao tractamento dos
prisioneiros Americanos. 2. Detenção dos marinheiros Americanos, como
vassallos Britannicos, debaixo do pretexto deterem nascido em território
Britannico, ou de naturalização. 3. Detenção dos marinheiros como prisio-
neiros, por se acharem em Inglaterra quando se declarou a guerra. 4. Ser-
viço forçado dos marinheiros Americanos, prezos para bordo dos navios
de guerra Inglezes. 5. Violação das bandeiras parlamentarias e de tre-
goa. 6. Resgate dos prisioneiros Americanos, que recebem os selvagens,
que estaõ ao serviço de Inglaterra. 7. Roubo, e destruição da proprie-
dade particular na bahia de Chesapeake e paiz vizinho, 8. Matança dos
prisioneiros Americanos (que se renderam aos officiaes da Gram Bretanha)
practicada pelos selvagens empregados no serviço Inglez : abandonando
aos selvagens os cadáveres dos prisioneiros Americanos mortos pelos In-
glezes, &c. 9. Crueldades commettidas em Hampton na Virgínia.
Por occasiaõ deste relatório se repettem' os argumentos contra os proce-
dimentos de Inglaterra, que se acham públicos, em vários documentos.
Este negocio da America parece interminável: porque os Americanos naô
cessam de representar ao mundo o que dizem ser o seu direito ; enaõ apre-
sentam forças nem de mar nem de terra, com que obriguem a Inglaterra a
ceder, do que os Inglezes chamam justo, e os Americanos injusto. No
Canada tiveram os Inglezes ultimamente algumas victorias, mas em sue-
cessos mui insignificantes ; porque nenhuma das Potências tem forças assaz
consideráveis, para decidir a contenda.
HESPANHA.
As Cortes Ordinárias de Hespanha foram inauguradas aos 25 de Septem-
bro- O Senhor Ledesma, da Estremadura foi escolhido Presidente: Ge-
VOL. X I . No. 67. 6c
92ü Miscellanea.
mez Herrera, de Caba, Vice Presidente: Feliu, do Pern, 1«. Secretario .-
Z.imalacarregui, de Guipuscoa, i*. Secretario : Acosta, de Cuba, S*. Se-
cretario : e Dias, de Granada, 4 a . Secretario. As Cortes encerraram a
sua sessaõ na Islã de Leon aos 29 de Novembro; e deverão ajnnctar-se em
Madrid no 1'. de Janeiro, 1814.
A Regência deveria começar a sua jornada para Madrid, pelo meado dr
Dezembro.
FRANÇA.
A falia de Napoleaõ ao corpo Legislativo no dia 19 de Dezembro, que
publicamosap.—expâema presente situação da França com maior clareza
do que podia esperar-se. Confessa Bonaparte as derrotas, que tem soffri-
do, o desamparo dos Aluados ; a actual invasão do território Francez; a
falta de dinheiro; e a precisão de um exercito numeroso.
Parece-nos, que ha um meio seguro de avaliar as perdas dos Francezes,
pela calculo que resulta dos seos recrutamentos. Em Septembro de 1812,
se determinou uma conscripçaõ de 137.000 homens (veja-se o Côrr. Braz.
Vol. IX. p. 580.) Em 11 de Janeiro de 1813; se decretou a leva de 350.000
homens; (Corr. Braz. vol. X. p. 64.) Era Agosto de 1813 ; se de terminou
outra leva de 30.000 homens; (Corr. Braz. vol. XI. p. 361) e agora, se
determina a leva de 350.000 homens, fazendo isto um total, no espaço de 14
mezes, de 867.000 homens; alem dos chamados voluntários, e gene d'ar-
merie.
Enorme como esta multidão de gente parece, ainda assim naõ he a perca
dos soldados somente quem produz as difficuldades, em que se acha o Go-
verno Francez. Os fardamentos, muniçoens, equipaget, carros, cavallos,
A c 4c. &c, que he necessário para por cm campanha 867.000 homens hc
matéria de grande momento.
Bonaparte falia da paz, e dá a entender co-n a maior ambigüidade pos-
sível, que tem ajustado, ou concordado em preliminares de paz. Ao de-
pois consideraremos este ponto, quando tractarmo» dos alliados; por agora
notaremos, qae as expressoens de Napoleaõ saõ taõ vagas, qne se naõ po-
dem entender em outro sentido senaõ o de entreter os Franceses, em
quanto estes lhe daõ a gente, e o dinheiro, qae lbe saõ necessários: antes
da batalha de Leipsic se fizeram proposiçoens a Bonaparte, que elle nnõ
quiz aceitar; naõ he natural, que os Alliados depois de batalha de Leipsic,
e acontecimentos subsequentes, mitigassem as suas pretensoens.
Bonaparte se mostrou sempre iuimigo da divida publica, e svitema de
empréstimos para occurrer as despesos do Estado; e o mais forte argu-
mento de snas predicçoens sobre a ruina de Inglaterra, he a divida publi-
ca Ingleza. No entanto este mesmo Napoleaõ recorre agora a emprésti-
mos, e se contenta com fallar mal do papel moeda.
A França tem perdido debaixo do governo de Bonaparte, colônias que
tinha formado durante seus antigos reys ; e conquistas, que tinha adquirido
Miscellanea. 927
no tempo mesmo de sua anarchia Republicana. A marinha está destrnida ;
o commercio externo limitado ao ramo das piratcrias de corsários ; a p o -
pulação diminuída, e os recursos públicos enfraquecidos com as repettidas
perdas de homens, de dinheiro, de cavalllos, de artilheria, e de tudo o qne
na fraze Franceza se chama o material do exercito. Bonaparte em sua
falia ao corpo Legislativo exige mais sacrifícios. * Para que fim saõ estes
sacrifícios dos Francezes ? Para sustentar no throno da França uma dy-
nastia nova, e satisfazer a ambição de um individuo, que, tendo sido no-
meado cônsul, assumio o titulo, e o poder de Imperador, e de déspota.
Bonaparte conservou os Francezes em total ignorância de seus desas-
tres, até que os Alliados vieram dentro da França contar os suecessos de
suas victorias. Bonaparte continua a chamar-se Protector da Confedera-
ção do Rheno: confederação que j a naõ e x i s t e ; igualmente se intitula
Mediador da Confederação Suissa, quando esta sedeclara neutral; que he
o mesmo que sacudir as ligaçoens que tem com o Mediador.
Deste esboço do estado interno da França he impossível naõ concluir,
que o poder de Bonaparte está taõ abalado, que se os Alliados forem fieis
a seus interesses he impossível que as couzas continuem em França como
se acham agora.
INGLATERRA.
O Parlamento adiou as suas sessoens até Março, próximo futuro: medi-
da que causou algum debate; porque alguns membros queriam, que a ses-
saõ ou continuasse por mais tempo, ou tornasse a começar antes daquella
epocha.
Em conseqüência da independência da Hollanda, o Governo Britannico
levantou o bloqurio daquelle paiz, e permittio o commercio entre as duas
Naçoens; a notificação, que se fez aos Ministros Estrangeiros residentes
em Londres sobre este assumpto, apparecêo na Gazeta da Corte de 11 de
Dezembro.
Por nma igual communiçaõ official, se declarou, na mesma data, que as
costas do mar Adriático, entre Trieste, e a extremidade Meredional da
Dalmacia, estavam livres da dominação Franceza; e por tanto se tinha
levantado o bloqueio que faziam ali as forças navaes Brilannicas.
PORTUGAL.
A p. 831, publicamos uma provisão do Dezembargo do Paço do
Rio-de-Janeiro, na qual se manda reprehender a Câmara da cidade
de Ponta Delgada na Ilha de S. Miguel, pelos procedimentos que teve
com o Vereador mais velho, que servia o lugar que se chama Juiz
pela Ordenação.
Naõ temos nenhuma informação do facto, mais do que o indica-
do na provisão ; e portauto nem podemos, nem desejamos entrar na
justiça do caso. 0 nosso fim he notar as expressoens da provisão ;
que se fazem dignas de louvor, pelos principios, que admittem. A
mesma provisão naõ entra nas particularidades do facto, e se limita
VOL. X I . No. 67. G o
934 Miscellanea.
a dizer, que " se havia excessos c abusos a emendar, havia tambein
contra elles os remédios das leys, e recursos competentes ;" e declara
m lis a provisão que " o que se practicou sem authoridade e jurisdic-
dicçaõ, hc uma usurpaçaõ formal dos supremos direitos Ua Sobe-
rania."
Alegramo-nos de ver reconhecidos, cm um instrumento publico
desla natureza, os principios que temos adoptado, sobre as matérias
de governo; pelos quaes lemos combatido; c que nunca deixaremos
de inculcar; em quanto continuarmos na redacçaõ deste Jornal.
As leys snõ feitas para proteger o fraco contra o poderoso ; o
ouço intendido contra o mais astuto ; e portanto os attentados con-
tra os directos dos indivíduos saõ tanto mais abomináveis, quanto
vem em nome das authoridades constituídas, e em violação das
leys. Se o Juiz pela Ordenação cm Ponta Delgada commetteo er-
ros, appliqueiu-se a elles os remédios das leys, por mais que elle me-
recesse castigas, esses castigos se tornam injustos sendo impostos
•cm as formalidades das leys, e por pessoas que naõ tem authoridade
para o fazer.
Quando os infelizes deportado» pela Septembrizaida de Lisboa, e
que residem em P. Miguel, lessem esta provisão 4- que diriam dos Se-
nhores Reverendissimo.1» Governadores do Reyno, que os degradaram
sem mais ley que a sua vontade, sem ínai» processo nem formalidade,
do que a ordem arbitraria de prizJÕ c extermínio.
Naõ podemos admittir, que nem ainda o mesmo Soberano tenha
direito de obrar despoticamente, e sem as formalidades, senaõ em
casos rarksimos, e extremos ; ma* ja que assim querem, em nome da.
fortuna, ou para melhor dizer da desgraça, diga-se que o Hey tem o
direito de assim obrar; ae.coiiiinodar-nos-heinos com isso; porque
um fim diz o rifaõ, que be necessário que haja um rey que no» enfor-
que. Alem disto, se o rey tem paixoens essas poderão ser nocivas só
a um ou outro indivíduo; e quando aconteça algum caso dessesdeve
ter-se paciência; e considerar o bem geral; antes do que o mal da
um individuo. Mas naõ estamos dispostos a extender a mesma in-
dulgência, a quanto homem máo se achar revestido com alguma ju-
risdicçaõ, seja muita, seja pouca, em nome do Monarcha. Naõ te-
mos duvida cm recommendar, qne os homens se sugeitam ás arbitra-
riedades de um rey» fazendo este sacrifício i o bem commum • mas
dizer que todos os que possuem alguma jurisdicçaõ podem fazer o
que quizerem ; porque obram em nome d'El Rey, be um absurdo
que naõ deve entrar na cabeça de ninguém.
0 modo porque esta provisão esta bole o principio, que nós tonU
vezes temos inculcado, he quasi nas mesmas palavras, que em algu-
mas oceasioens temos usado» isto hc, " que o que se practica sem
anlhoridade e jurisdicçaõ, hc uoea usurpaçaõ formal dos supremo*
Miscellanea. 935
direitos da Soberania." Donde se segue, que os empregados pú-
blicos, que obram contra as leys, longe de lhes servir de abrigo o
nome do Soberano, com cuja authoridade se cobrem, segundo que-
rem os Godoyauos ; saõ réos de outro crime mais, alem da violência
quecauzam ao indivíduo particular; e hc, a usurpaçaõ dos direitos
Soberanos.
Quando pois a caterva de escriptores, alugados pelos Godoyanos,
se lembrar de nos chamar jacobinos, desorganizadores, doidos, &c.
por avançarmos estes e similhantes principios, será bom olhar para
usta provisão, aonde vemos «anecionadocom um documento publico
desta natureza, o principio que inculcamos contra os Godoyanos.
Nem basta dizer-se, que os Governadores de Portugal nao fôram
castigados pela atrocidode das deportaçoens da Septembrizaida ; e
que assim parece que aquelle crime foi saríceionado pela auctoridade
suprema.
A isso repondcinos, que nem todos os que o merecem vaõ á forca:
uns escapam por empenhos; outros por testemunhas falsas ; outros
porque as circumstancias naõ saõ provadas, &c. Assim o escaparem
osGovenadores do Reyno naõ prova nada contra o nosso principio,
que vemos aqui authorizado neste documento ; e nos regozijamos
de o ver adoptado em theoria, c executado na practica. Naõ he
esta a primeira vez, que temos tido a satisfacçaõ de ver gente de
grande authoridade convertida aos principios do Correio Brazili-
ense ; e esperamos que naõ seja este o ultimo exemplo.
6 D 2
936 Miscellanea.
CONRESPONDENCIA.
INDEX
DO VOLUME XI.
JI30, 62.
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
Extractos do processo do Padre Joaõ Rodriguez Lopes na Relação
Ecclesiastica, em Lisboa p. 3
Portaria para concertar as casas arruinadas por occasiaõ da guerra 15
Edictal da Juncta de Commercio, sobre as contribuiçoens para o
Resgate em Argel 16
Brazil. Carta Regia, para a venda dos bens da coroa 18
Estados Unidos. Mensagem do Presidente no Congresso 19
Prússia. Proclamaçaõ d'F,l Rey 26
COMMERCIO E ARTES.
Carta ao Redactor sobre o contracto do Tabaco 28
Reposta á corte acima 30
Inglaterra. Resumo das contas Publicas, sobrefinançase commercio
do Reyno 36
Preços correntes em Londres 39
LITERATURA E SCIENCIAS.
Inglaterra. Relatório, sobre o estabelicimento da Vaccina ...... 40
Novas Publicaçoens em Inglaterra 47
Noticias literárias 52
Portugal. Novas Publicaçoens 54
Imitação da Ode livre de Horacio, Jam satis terris Sfc. 55
MISCELLANEA.
tfouidades destt mtz. America Hespanhola 57
940 Index.
França. Noticia* officiaes do Exercito p. 61
Decreto, que ordena certas listas na 32*. divisão militar 03
Continuação das noticias do exercito do Norte (jj
Noticias do Exercito d'Aragaõ "J7
Hespanha. Evacuação de Madrid ft7
Officio do coronel Alvares, sobre o evacuação de Castro 02
Inglaterra. Falia do Príncipe Regente ao Parlamento 94
Operação do Exercito Inglez no Canado 96
Noticias officiaes d i Esquadra Ingleza, nas Costas d'America 98
Tomada de uma fragata Americana 102
J!3ü. 63.
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
Tractado de Paz entre Portugal e Argel p. 173
Alvará de abolição da Juncta dos Tres Estados 178
Hespanha. Extracto do Manifesto da Regência, sobre os procedi-
mentos do Núncio do Papa 185
Documentos relativos á demissão do Núncio 180
Suécia. Resposta a um artigo da gazeta de Copenhagen 199
Notas a um artigo do Moniteur de 35 de Junho 208
COMMERCIO E ARTES.
Sobre o Tractado de Commercio com Inglaterra .... 214
Preços correntes em Londres 230
LITERATURA E SCIENCIAS.
Novas Publicaçoens em Inglaterra 231
Noticias literárias 236
Novas descubertas 237
Portugal. Circular aos Bispos, sobre o Vaccina 242
aos Corregedores sobre a Vaccina .... 243
Sessaõ da Academia dos Sciencias em Lisboa 245
Brazil. Abertura da Academia Militar 246
Resposta á Revista d'Edinburgo 247
MISCELLANEA.
JI20. 64,
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
Portaria para o Reígate d'Argrl 337
Avizo a Manuel Antonio da Fonceca Gouvra, sobre o dicto •• 339
Francisco Antouio Ferreira, sobre o dicto . 340
Sentença do Visconde d'Asseca, no juizo da Inconfidência .. 341
Alemanha. Manifesto de declaração da Áustria contra França .. 342
França. Relatoi io do Ministro da Guerra ao Imperador, 9 d'Agoito 361
Motivos do Senatus Consultum para uma leva de 30.000 homem .. 363
Relatório do Conde Bournonville, sobre o mesmo •• • 364
COMMERCIO E ARTES.
Convênio entre os commissarios Inglezes e Portugueses sobre certos
pontos do tractado de commercio de 1810 •••• *"*'
Observaçoens sobre o papel precedente *69
Index. 943
Sobre o Jornal Pseudo-Scientifico p.374
Resumo dos gêneros recebidos em Lisboa do Brazil para Soccorro
do Ex-reito 381
Resumo dos gen**ro< entrados no porto de Lisboa no mez de Junlio 382
Preços correntes em Londres 383
LITERATURA E SCIENCIAS.
Novas publicaçoens em Inglaterra 364
Novas descuberta; 387
Portugal. Novos publicaçoens ... 392
MISCELLANEA.
Novidades deste mez.
America. Embargo nos Estados Unidos • • • • 393
Torpedo, outra vez posto em uso • • • • 395
França. Noticias do Exercito do Norte - • • • 397
Exercito da Catalunha 420
JI30. 65.
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
Alvará, que regula os Ministros do Cosa do Supplicaçaõ, &c 509
Tabeliã do regulamento dos alçados 512
America. Relaçoens com a França. Mensagem do Presidente dos
Estados Unidos ao Congresso 515
Dinamarca. Declaração de guerra contra a Suécia 530
França Documentos relativos a guerra com a Suécia 535
Documentos relativos á guerra cootra o Áustria 538
Suécia. Declaração de guerra contra a Dinamarca 54*'
Index. 945
COMMERCIO E ARTES.
Sobre o Tractado de Commercio entre Portugal e Inglaterra p. 549
Suécia. Regulamentos Commerciaes 552
Resumo dos gêneros que entraram em Lisboa, em Julho, 1813 . . . . 552
D*. - em Agosto, 1813 553
Preços correntes em Londres 554
LITERATURA E SCIENCIAS.
Noticias das obras publicadas em Inglaterra 555
Noticias literárias 557
Portugal _ 559
MISCELLANEA.
Sobre a Jornal Pseudo Scientifico * • 659
Quezitos dirigidos aos Redactores do Jornal Scientifico 665
Novidades desde mez.
Inglaterra. Medalha de distineçaõ para os officiaes militares, que
se distinguem em acçoens 567
Colônias Hespanholas. Noticias de Buenos-Ayres - 577
Estados Unidos. Finanças Americanas 580
Carta do Imperador Alexandre a Madama Moreau • 582
Estado comparativo das forças dos Belligerantes 483
França. Noticias do exercito d'Alemanha - 584
Exércitos d'Aragaõ e Catalunha 590
Exércitos da Itália 598
Noticias de Paris 593
Falia da Imperatriz ao Senado 600
Decreto sobre a ilha de Gaudaloupe 600
Hespanha. Carta de Lord Wellington ao Ministro da Guerra, de
Huarte, 2 de Julho, 1813 602
Ba, 66.
POLÍTICA.
Documentos Officiaes relativos a Portugal.
Portaria sobre os Recrutamentos p. 685
Áustria. Tractado de Aliiança com a Russia 699
Inglaterra. Falia do Principe Regente no Parlamento 703
Convenção com o Imperador de Russia 707
Resumo da Convenção entre a Inglaterra e Prússia 710
Convenção entre Inglaterra e Russia 711
Convenção Supplementaria entre os mesmos 715
Convenção Supplementaria, en're Inglaterra e Prússia 719
COMMERCIO E ARTES.
Contracto do tabaco em Portugal 720
Edictal sobre os vadios em Lisboa 728
Gêneros comestíveis entrados em Lisboa, no mez de Septembro ... 731
1—, no mez d' Out ubrq 732
Preços correntos em Londres 733
LITERATURA E SCIENCIAS.
Noticias das obras publicadas em Inglaterra 734
Analize da obra intitulada, Revolucion de Ia Nueva Hespana 736
MISCELLANEA.
Jornal Scientifico '43
Jf30. «57.
POLÍTICA.
COMMERCIO E ARTES.
Estado do Commercio em Portugal - - 840
Resumo dos gêneros, que entraram em Lisboa, en Novembro 850
Preços correntos em Londres - 852
LITERATURA E SCIENCIAS.
Novas descubertas nas Artes . 853
Analize da obra intitulada " Tableau Politique," &c. 856
Noticia de novas publicaçoens em Inglaterra - 864
MISCELLANEA.
Bulletins do Exercito do Norte da Alemanha.
Bulletim XXIV. datado de Mulbansen, 28 d'Oatubro - .866
XXV. Heiligenstadt, 30 d-Outubro 868
XXVI. - Hannover, 10 de Novembro 879
< XXVII. Lubeck, 6 de Dezembro - 872
WM n o VOL. XI.