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CORREIO BRAZILIENSE

OU

ARMAZÉM LITERÁRIO.

VOL. XI.

LONDRES:

IMPRESSO POR W. LEWIS, NA OFFICINA DO CORREIO


BRAZILIENSE, ST. JOHN'S»SQUARE,
CLERKENWEL1.

1813.
CORREIO BRAZILIENSE
D E J U L H O , 1813.

Na quarta parte nova os campos ara,


E se mais mundo houvera Ia chegara.
CAMOENS, c. Vil. e. 14.

POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.

Extractos do processo do Padre Joaõ Rodriguez Lopez,


na Relação Ecclesiastica, em Lisboa.

Francisco de Paulo de Souza Couceiro, Escrivão" de um


dos Officios do Auditório Ecclesiastico do Juizo da Cúria
Patriarchal pelo Excellentissimo Senhor Patriarcha
Eleito, Kc. Certifico que sou Escrivão de uns Autos,
que se intitulaõ pela maneira seguinte.
Titulo dos Autos.
A . U T O S de Libello Crime entre partes : author a justiça
pela pessoa de seu Reverendissimo Desembargador Pro-
motor, e Réo o Reverendo Joaõ Rodrigues Lopez, Presbi-
tero do Bispado de Bragança, e assistente, ha annos,
nesta cidade de Lisboa,—com os Autos do Summario, e
os das Cartas appensas.
E naõ se contém mais em o titulo dos ditos Autos, em
os quaes a folhas vinte e tres, até folhas vinte quatro
verso, se acha um Decreto do theor seguinte

Decreto a Foi. 23.


Achando-se provados os Artigos da Denuncia offer-
cida pelo Nosso Desembargador Promotor contra o Reo
A 2
4 Politica.
Joaõ Rodrigues Lopes, Presbitero Secular do Bispado de
Bragança, e assistente, ha doze annos, neste Patnar-
chado ; e constando pelas Testemunhas do Summario, e
pelas Cartas appensas dirigidas ao Réo pelos seus asso-
ciados do dito Bispado, que elle tem sido propagador, e
fautor de um systema visionário fundado em extasis, e
operaçoens extraordinárias, com o fim de estabelecerem
no grêmio da igreja Catholica uma associação singular,
convidando-se uns aos outros para levarem adiante este
systema, á custa de todos os trabalhos, e até de soffre-
rem a morte, tratando de cegos, e guias de outros cegos,
todos aquelles que naõ seguem o mesmo systema, calura-
niando, e accusando de erros as pessoas catholicas, e ainda
constituídas nos maiores empregos, induzindo-se por este
modo um scisma, que separa os fiéis uns dos outros, com
grande perturbação das familias, e pessoas entre si as
mais conjunetas, ainda por meios bem extravagantes, e
indecorosos, como se tem visto nesta cidade: e sendo bem
constante, que agora mesmo nos nossos dias foi condem*
nado pela Santa Sé Apostólica no Breve do Santissimo
Padre Pio VI. datado em 17 de Julho de 1779, outro
idêntico systema visionário, urdido pelas imposturas de
Anna Agemi, a qual por meio de fingidas revelaçoens, e
operaçoens extraordinárias, tinha jà naÕ só aggregado a
si um grande numero de pessoas, e quatro casas fundadas
debaixo do titulo do Santissimo Coração de Jesus; mas
até pôde induzir aos seus erros, e involver nelles o pa-
triarcha dos Maronitas José Pedro de Stephanis, o qual foi
por este motivo suspenso de toda a sua jurisdicçaõ, e
reduzido ao simples estado de presbitero, até que pelo
seu arrependimento, e detestaçaõ dos mesmos erros foi
restituido pelo mesmo Santissimo Padre Pio VI. á sua an-
tiga dignidade, assim como a sobredita impostora foi
compellida com pena de excommunhaõ a retratar seus
erros oondemnados na* seguintes palàTm—e/tuçue ima-
5
Politica.
ginationes, pratensas revelationes, novas et extraordiná-
rias opinationes de rebus Sacris esse falsas, com-
menlitias, temerárias, errôneas, et ad minus sapientes
haresim; proinde cogendum esse subpcena excommuni-
cationis Lata Sententiae ad eas omnes, et você et scripto
retractandas .—E supposto, que sendo o caso idên-
tico, se deve julgar incluido na mesma condemnaçaõ, o
systema visionário, e extraordinário, de que o Réo he
propagador ; com tudo, ficando reservada para a Santa Sé
Apostólica a definição das doutrinas, e condemnaçaõ
desta Seita, e dos seus sequazes, e limitando-nos a manter
em socego, e perfeita uniaõ as ovelhas, que nos foraõ
confiadas, e a remover dellas o pasto venenoso do dito
systema visionário, e conformando-nos com o parecer da
nossa Relação : havemos por bem mandar, como manda-
mos com preceito formal de obediência, a todas as
pessoas próprias deste patriarcbado, que se abstenhaô de
toda a doutrina, e practica da sobredita seita, e de seus
fautores, e de toda, e qualquer communicaçaõ com elles,
ou por escripto, ou de palavra, e do escandaloso abuso
de insígnias próprias desta supersticiosa filiação, e retrac-
tos de pessoa ainda viva com raios de luz, ou resplendor.
Da mesma sorte prohibimos com pena de excommunhaõ
maior, ipso facto incurrenda, a todos os sectários, ou sec-
tárias do mesmo detestável systema de outra diecese as-
sistentes no patriarcbado, que nelle pratiquem, ou ensinem
qualquer doutrina, ou exercicio próprio da dita seita,
assim como toda e qualquer associação, conventiculo, oa
conferência, sobre o dito systema reprovado. E final»
mente attendendô a que o sobredito Réo na sua petição
a folhas, se confiou, e sujeitou ao nosso juizo, esperando
que por effeito da nossa compaixão o mandássemos pôr
em liberdade, -e aUendendo também ao tempo próprio de
perdão, em que a igreja nos representa os sagrados misté-
rios da nossa redeuipçaõ, ordenamos que edito Réo seja.
6 Politica.
logo posto em liberdade, fazendo primeiro o termo re-
querido na consulta da nossa relação ; e na conformidade
delia mandamos sobpena de excommunhaõ maior ipso
facto, que o dito Réo no termo de tres dias se ponha fora
desta cidade, e no de oito fora do patriarchado, havendo-
se a intimaçaõ desta pelas tres canonicas admoestaçoens,
o que igualmente se deverá extender a todas as mais
pessoas da mesma seita, que forem de outra diecese, ex-
istentes neste patriarchado dentro do mesmo tempo
que principiará a correr desde o dia em que este nosso
Decreto lhes for intimado; e quando naõ obedeçaõ, se
procederá contra os refractarios, como rebeldes, e pú-
blicos excommungados. E mandamos com preceito de
obediência a todas as pessoas, a quem a execução deste
nosso Decreto houver de pertencer, que assim o cumpraõ
e guardem, como nelle se contém, e que se faça publico
na fôrma do estilo. Dado em Marvilla no palácio de
nossa residência aos oito de Abril de mil oitocentos e
treze.*—Com a assignatura do Excellentissimo Senhor Pa-
triarcha Eleito.—DOMINGOS LEITE DE AZEVEDO RENDO,
Secretario.
E naõ se contém mais em o mencionado Decreto, que
sa acha nos ditos Autos, em os quaes a folhas vinte e
cinco se acha um acordaÕ do theor seguinte.

Acordaõ a Foi. 25.


Acordaõ em relação, &c. Em resolução do dito Ex-
cellentissimo e Reverendissimo Senhor, de oito do cor-
rente, tomada em consulta desta meza de seis do mesmo
mez, o Reverendo Desembargador Juiz Relator passe ao
AIjube, em companhia do Escrivão Francisco de Paula
de Sousa Couceiro, onde se acha preso o Padre Joaõ Ro-
drigues Lopes, e o faça soltar, assignando primeiro um
termo nos Autos do Libello contra elle offerecido, onde
declare que faz desistência voluntária, e pede como havia
Política. 1
dicto no seu requerimento, que cesse a seu respeito toda
a accusaçaõ, e autos, sujeitando unicamente a sua causa
á decisaõ do Excellentissimo Senhor Patriarca Eleito, a
quem promette submetter-se, e no qual bem assim se
obrigue a sahir desta cidade dentro em tres dias, e em
oito do patriarchado debaixo da pena de excommunhaõ
maior ipso facto, contando-se os dias da data do termo ;
sendo lhe o mesmo termo, a intimaçaõ, e ficando por
elle suppridas as tres admoestações canonicas. Lisboa dez
de Abril de mil oitocentos e treze.—Doutor MOURAÕ. —
CIDADE.—PEREIRA.—CARNEIRO.—ANDRADE.
E naõ se contém mais no referido acordaõ, que se acha
nos ditos Autos, em os quaes a folhas vinte e seis até
folhas vinte e oito se acha o termo do theor seguinte.

Termo a Foi. 26.


Termo de desistência.—Aos dez dias do mez de Abril
de mil oitocentos e treze, nesta Corte e Cidade de Lisboa,
e Cadéa interina do Aljube, onde se acha preso o Reve-
rendo Joaõ Rodrigues Lopes do Bispado de Bragança, e
ahi comparecendo o Reverendissimo Desembargador JoaÕ
Mouraõ comigo escrivão, por virtude de um acordaõ da
relação, datado do dia supra. E perguntando ao Reve-
rendo sobredito pelo mesmo Reverendissimo Ministro, se
era da sua vontade desistir do direito, que tinha de
defeza no libello crime, que contra elle se havia formado,
disse, que por muito sua livre vontade havia rogado ao
Excellentissimo Senhor Bispo Patriarcha Eleito fizesse
cessar a seu respeito todo, e qualquer procedimento ju-
dicial, impondo se silencio, e cessando toda a accusaçaõ,
e Autos; porque elle só queria extrajudicialmente ser
julgado pela única decisaõ do dito Excellentissimo Senhor,
á qual se submette inteiramente, protestando-lhe a mais
completa obediência, e querendo que termine por esta
maneira a sua causa: e disse mais o dito Reverendo, que
8 Politica.
para testemunho da inteira confiança, que elle tinha no
mesmo Excellentissimo Prelado, em cujo desagrado re-
ceava ter incorrido, lhe havia já em um requerimento,
que fez subir á sua presença, pedido perdaõ de toda, e
qualquer offensa, em que involuntariamente houvesse in-
corrido, o que novamente protesta neste termo, tornando
nelle a pedir se faça público pelos meios, que parecerem
prudentes ao Excellentissimo Senhor Patriarcha, que
nunca fôra da sua intenção offender, nem levemente, as
autboiidades tanto ecclesiasticas, como civis; ás quaes,
reconhecendo teraõ tido motivos para se escandalizarem
de alguns de seus procedimentos, torna a pedir (com a
maior humildade) perdaõ: e vendo a bondade, e com-
paixão com que o dito Excellentissimo Senhor Patriarcha
o favorece, e annuindo ás soas suppiicas lhe manda dar a
liberdade, declara que recebe a intimaçaõ feita judicial-
mente neste termo, que fica supprindo as tres canonicaa
admoestaçoens, e se sujeita voluntariamente às condi-
çoens com que se lhe restitue a sua liberdade; obrigando-
se a sahir desta cidade dentro em tres dias, e em oito do
Patriarchado, debaixo da pena de excommunhaõ maior
ipso facto, que lhe foi comminada em nome do dito
Excellentissimo Senhor Patriarcha, naõ podendo em
qualquer parte, aonde se achar, escrever para pessoas
deste Patriarchado, em matérias de doutrina, como havia
feito, e sujeitando-se a cumprir esta determinação de-
baixo da mesma pena de excommunhaõ maior: e por
assim haver declarado elle dito Reverendo Joaõ Rodrigues
Lopes, que cedia de todo o direito de se defender em
juizo, e de allegar o que julgasse de direito, e isto por
seu próprio arbítrio, e desejo; bem como, que se sujei-
tava á illuminada resolução do Excellentissimo Senhor
Patriarcha, tomada em consulta da sua relação, se
lavrou o presente termo, que assignou com o Reveren-
dissimo Desembargador, que lhe tomou as declaraçoens
/

Politica. 9
constantes deste termo, e o mandou lavrar; pelo qual em
conformidade das ordens do mesmo Excellentissimo
Senhor Patriarcha, o mandou sahir do Aljube, e resti-
tuir á sua antiga liberdade, debaixo das cláusulas acima
expressadas, e por elle dito Reverendo Joaõ Rodrigues
Lopes livremente acceitas. E eu Francisco de Paula de
Sousa Couceiro o escrevi.—Doutor JOAÕ MOURAÕ.
O Padre João Rodrigues Lopes.

E naõ se contém mais em o dito termo, que se acha


nos ditos autos do modo c fôrma, que dito fica, com o
thcor do qual, e do mais neste copiado, passei a pre-
sente certidão em obediência á determinação do Excel-
lentissimo Senhor Patriarcha Eleito, para a haver á sua
Secretaria ; a qual vai na verdade extrahida dos pró-
prios autos, que ficaÕ por agora em meu poder, e car-
tório, aos quaes me reporto; em fé do que passei a pre-
sente certidão por mim assignada. Lisboa, trinta de
Abril, mil oitocentos e treze.
FRANCISCO DE PAULA DE SOUSA COUCEIRO.

Havendo nesta cidade de Lisboa uma associação de


pessoas, que concorriaÕ em lugares determinados, e se-
guiaõ entre si um systema de doutrina de affectada per-
feição, fundado em operaçoens extraordinárias de pro-
fecias, extasis, curativos, milagres, novas opinioens
sobre objectos sagrados, constituindo tudo um Systema
Visionário, com prejuizo do socego, uniaõ, e tranquilli-
dade das familias, e além disto com falta de decoro, e
gravidade de pessoas de qualidade, que nelle se achavaõ
involvidas ; e tendo-se conhecido que o propagador deste
systema no Patriarchado era o Padre Joaõ Rodrigues
Lopes, do Bispado de Bragança, foi por isto mesmo de-
nunciado, e pronunciado a prisão, e livramento. E tendo
o mesmo Padre requerido a sua liberdade com o pretexto
V O L . XI. No. 62. B
10 Politica.
d e dar Iodas as satisfacçoens, e estar por tudo o que .t
lhe ordenasse, havendo-se com elle a piedade possível,
até porque repetio a mesma supplica no sagrado tempo
da Semana Santa, o mais próprio para o perdão dos
delictos, quando se pede com humildade, como elle
pedio : resolveo se, em consulta do Tribunal da Relação
do Patriarchado, que o dito Réo fazendo primeiro termo
de sahir desta cidade, e patriarchado, cm determinado
tempo, com pena de excommunhaõ, fosse posto em liber-
dade ; que a todos os sectários do dito systema se inti-
masse a mesma pena, contando-se-lhes o tempo do dia em
que lhes fosse feita a intimaçaõ ; e finalmente que a todas
as pessoas próprias deste Patriarchado fosse ordenado,
como se ordenou com preceito de obediência, que se ab-
stivessem de todas e quaesquer doutrinas, praticas, ou
exercícios do mesmo reprovado systema.
E supposto que pareça que pelo sobredito modo se
linha prudentemente ultimado este negocio, com tudo
sendo elle, como he, de tanta ponderação, e gravidade,
por involver objectos muito graves da nossa Sagrada
Religião, c comprebender um grande numero de pessoas,
ainda de alta dignidade, c qualidade, e ser taõ amplo na
sua extensão, que comprehende differentes dioceses deste
reino (e talvez que se estenda ainda fôra delle) nos pareceo
conveniente convocar uma Junta de alguns theologos de
maior authoridade, e de pessoas de bom conselho (cujos
nomes constarão de uma relação junta a este Decreto)
para conferirem entre si, em taõ grave assumpto se haveria
falta, ou excesso que necessite de nova providencia, paru
se ultimar este importante negocio com todo o acerto, e
dignidade que convém.
E para se effeituar esta conferência, ordenamos que as
pessoas convocadas para ella concorrao no dia vinte do
corrente mez no palácio da nosa residência ; e que tendo-
se conferido maduramente sobre o coutenúo neste De-
creio, se tome finalmente assento do que se julgar mnis
/

Politica. 11
acertado a este respeito. Palácio Patriarchal de Marvilla,
17 de Abril, de 1813.
Com a Rubrica do Exmo. Bispo Patriarcha Eleito
Vigário Capitular.
DOMINGOS L E I T E d'AzEVEDO R E N O O , Secretario.

Em observância do Decreto de 17 de Abril do cor-


rente anno, achando-se neste Palácio Patriarchal de Mar-
villa os Padres Mestres Doutores, e mais pessoas abaixo
assignadas, e estando todos em Meza, na presença do
Excellentissimo e Reverendissimo Senhor Bispo Patriar-
cha Eleito Vigário Capitular, foi lido o sobredicto De-
creto, e todos os mais papeis pertencentes ao negocio de
que nelle se trata ; e tendo-se visto, examinado, e confe-
rido tudo com a circunspecção devida, por unanime con-
sentimento de todos, se concordou : I o . Que o Padre JoaÕ
Rodrigues Lopes era com effeito propagador, e fautor
das doutrinas, que elle, e seus Sócios do Bispado de
Bragança ensinaõ, escrevem, e se communicaõ recipro-
camente com o fim de fazerem propagar, e diffundir um
systema fanático, impostor, e visionário : 2 o . Que o dito
Padre promovia eflicazmente no seio do Patriarchado de
Lisboa um scisma escandaloso, estragador da verdadeira
doutrina do evangelho, e fatal origem de males incalcu-
veis, que jâ começavaõ a dilacerar a unidade da Igreja :
3 o . Que elle espalhava copias de umas cartas escriptas de
Bragança pelo Padre Pedro Nolasco a toda a confraterni-
dade, em que se encerravaõ máximas perigosas, falsas, e
algumas dellas muito próximas a heresia, proclamando,
como artigo fundamental da Seita, que o Excellentis-
simo e Reverendissimo Bispo de Bragança era enviado
extraordinário de Deos, Profeta, e Apóstolo para re-
formar o mundo no espiritual, e temporal; destruir com-
pletamente as heresias; sustentar, como siugular remédio,
a índefectibilidade da Igreja; e suspender pela sua po-
B2
12 Politica.
derosa oraçaõ o flagello terrível, que nos fere pelos nossos
crimes ; abonando aquella missaõ com o dom de perten-
didos milagres, infusão de Espirito Santo pela imposição
de maõ, e expulsão dos demônios dos corpos dos energú-
menos ; attendendo desta sorte contra a authoridade da
Igreja, a quem exclusivamente compete mostrar os ca-
minhos da salvação, canonizar a virtude, approvar mila-
gres, propor as verdadeiras revelaçoens, prescrever as
formulas dos exorcismos, e collocar na ordem dos Santos,
indivíduos, que saõ por ella como taes reconhecidos : 4 o .
Finalmente que o sobredito Padre ficava assás convencido
de propagador deste systema visionário, e que devia por
tanto eropregar-se contra esta novidade religiosa uma at-
tençaõ séria, e providencias enérgicas para obstar ao
adiantamento de tantos males, e ao progresso rápido de
um já taõ exaltado fanatismo.
Nestes termos assentarão os sobreditos theologos, que
se devia impor silencio a todos os membros desta confra-
ternidade, prohibir o uso das chamadas relíquias, das
medalhas, que saõ distinetivo da Seita, e das estampas,
que representaÕ o Excellentissimo e Reverendissimo Bispo
de Bragança como Santo, contra a expressa determinação
de Urbano V I U . , que prohibe similhantes retratos, até
dos que tem já morrido com opinião de santidade; e que
as penas impostas ao Padre Joaõ Rodrigues Lopes, e
seus sócios pelo Excellentissimo e Reverendissimo Senhor
Bispo Patriarcha Eleito Vigário Capitular, em consulta
de sua relação, posto que moderadas, eraõ justas, e con-
formes á pratica da Igreja; concluindo a final que esta
resolução pastoral, e própria da jurisdicçaõ ordinária,
bem longe de ser nova, ou menos necessária, he uma pro-
videncia de absoluta necessidade inteiramente análoga,
e conforme á do Santíssimo Padre Pio VI., constante do
seu breve datado em 17 de Julho de 1779, no qual con-
demna, reprova, e castiga a doutrina, e partido de ai-
Politica. 13
guns, que á sombra do Patriarcha dos Maronitas, affec-
tando visoens, milagres, e dons do Ceo, sustentavaõ um
scisma desta mesma natureza, e reduz á classe de simples
presbytero o sobredito patriarcha, até que pela confissão,
e retractaçaõ do seu fanatismo foi de novo elevado á sua
primeira dignidade e jurisdicçaõ, eque em taes circuns-
tancias o caso presente, já julgado pelo chefe da Igreja.
Universal, dava um novo esforço á justa e necessária re-
solução do Excellentissimo e Reverendissimo Senhor
Bispo Patriarcha Eleito Vigário Capitular, para cortar
pela raiz todas as difficuldades que poderia encontrar um
negocio de tanta importância, delicadeza, e circum-
specçaõ.
E de tudo isto mandou o mesmo Excellentissimo e
Reverendissimo Senhor Bispo Patriarcha Eleito Vigário
Capitular, que se tomasse assento, que assignou junta-
mente com as mais pessoas abaixo declaradas e eu Domin-
gos Leite d'Azevedo Rendo o escrevi e assignei. Palácio
Patriarchal de Marvilla em vinte de Abril de mil oito-
centos e treze.
Antônio, Bispo Patriarcha Eleito Vigário Capitular.—
Manoel Pereira Cidade, Desembargador Chanceller O
Desembargador Promotor José Antonio de Barbosa e
Araújo.—O Desembargador Relator, Doutor Joaõ Mou-
raõ, .Prior do Sacramento.—O Doutor Desembargador
Henrique .José de Castro, Prior da Freguezia de S. Lou-
renço tle Lisboa.—Doutor Fr. Patrício da Silva, da
Ordem dos Eremitas Calçados de Santo Agostinho.—
Doutor Fr. Jacinto Basto, da Ordem dos Pregadores,
Lente da Faculdade de Theologia na Universidade de
Coimbra.—O Doutor Fr. Joaquim Rodrigues, da Ordem
dos Eremitas Calçados de Santo Agostinho.—Doutor Op-
positor Fr. Antônio Cordeiro, da mesma Ordem.—Doutor
Fr. José Maria de Santa Anna Noronha, d:i Ordem de S.
Paulo Primeiro Eremita.—Fr. José do Rosário e Silva,
14 Politica.
Prior Provincial da Ordem dos Pregadores.—Fr. Manoel
de Santa Anna, da Provincia d'Arrabida.
DOMINGOS L E I T E D ' A Z E V E D O R E N O O , Secretario.

Portaria, para a uprehensaõ dos vadios.


Sendo necessário, que na Estação presente se promova,
e anime a cultura das Terras, as quaes pela falta de culti-
vadores, tem impossibilitado os Lavradores de adiantarem as
sementeiras, e cavas das suas vinhas ; e constando que na
Cidade de Lisboa vagaõ infinitas pessoas sem destino, e etn
boa saúde. Manda o Principe Regente Nosso Senlior, que
na conformidade do Decreto de 4 de Novembro de 1755,
Aviso de 27 de Janeiro de 1157, e Carta Regia de 25 de
Fevererio de 1789, se considerem vadios todos aquelles ho-
mens, ou rapazes em estado de se occuparem, que se acha-
rem sem domicilio certo, sem abrigo, ou destino, dormindo
debaixo de Alpendres, Tilheiros, Cáes, ou Estaleiros, e
que logo que se encontrem pessoas assim designadas,
sejaõ conduzidas ao Castello da Cidade, e fiquem detidas
á Ordem do Intendente Geral da Policia, para que sepa-
rando aquelles, que forem próprios para o recrutamento,
ou para a Real Armada, distribua os outros pelas Comarcas
da Estremadura, segundo as informaçoens, que tiver de
precisão dos trabalhos dos campos ; e os Corregedores das
Comarcas lhes arbitrarão os Jornaes, que deverão vencer,
sendo-lhes pago pelos Lavradores, que os occuparem, naõ
excedendo os preços de duzentos e quarenta réis ; e seraô
obrigados a servir por tempo de seis mezes: E para que
estes vadios possaõ subsistir nos trânsitos, o Intendente
Geral da Policia lhes mandará assistir com 120 réis naÕ
excedendo a 800 réis a cada um, os quaes por sua conta
cobrará no Real Erário : E para que esta importante dili-
gencia se cumpra, e execute, com a maior actividade, em
beneficio da causa Publica, e dos mesmos vadios, tornando-
os membros activos e úteis á Sociedade. O Mesmo Senhor
Politica. 15

authoriza o Intendente Geral da Policia, para que summa-


riamente faça proceder, sem custas, nem delongas nas Casas
do Castello, aonde se recolherem os detidos, e ordene
promptamente as suas remessas ás Comarcas, que julgar
mais necessitadas, em beneficio dos Lavradores. O De-
sembargador, que serve de Intendente Geral da Policia, o
tenha assim entendido, e faça executar, publicando est»
Portaria por Editaes seus.
Palácio do Governo, em 5 de Mayo, de 1812. Comas
Rubricas dos Governadores do Reino.
JOAÕ DA SILVA MOREIRA PAYZINHO.

Portraria para os concertos das casas arruinadas por


occasiaõ da guerra.
mm-

Tendo o Principe Regente Nosso Senhor consideração


ao triste estado, em que se achaõ muitas villas, e lugares
das estradas, que o inimigo devastou na sua retirada, e
quanto se faz necessário animar, e ajudar os povos nos
reparos das suas propriedades, para mais os interessar a
que voltem as suas Aldeas, e que procurem pela cultura
das suas terras, reparar uma tal calamidade : manda o
mesmo Senhor, que o Desembargador Joaõ Gaudencio
Torres, e Francisco Xavier de Montes, Thesoureiro da
Casa da índia, qne tem sido encarregados da applicaçaõ
dos fundos destinados por S. Alteza Real nas Capitanias
ao melhoramento dos povos, comecem logo os reparos nas
portas, janellas, e telhados daquellas villas, e lugares, que
mais o necessitarem, nas casas dos habitantes, que dese-
jem recolher se aos seus lugares, ou nelles ja estiverem
vivendo, e que naõ tenhaõ possibilidade de fazerem os
ditos reparos á sua custa , devendo a estrada central como
Leiria, Pombal, Redinha, Louriçal, merecer toda a
attençaõ, como mais distante dos rios, e privada do com-
mercio. Conferirão entre si nos meios, e modo, com
que poderão com a maior economia, e igualdade, repartir
estes concertos, de sorte que se estenda o beneficio a um
16 Politica.
maior numero de habitantes. Teraõ em vista auxiliar os
povos nos reparos daquellas Igrejas, e Capellas, a que
saõ obrigados, para que se naõ suspendaÕ os Otlicios
Divinos, pela desgraça, e probeza em que se achaõ.
Devendo o sobredito Desembargador Joaõ Gaudeneio,
pelo grande conhecimento que tem dos reíieridos povos
devastados, dirigir todo os reparos, e facilitar todos os
meios para se conseguir taõ importante, e benéfica provi-
dencia ; e o dito Francisco Xavier de Montes ter todo o
cuidado da escripturaçaÕ de toda a despeza, com a indi-
viduaçaÕ dos lugares, e povos, notando os reparos
parciaes, que se ordenarem, assim como de tudo ; tendo
as clarezas e documentos, que bastem para ser presente a
a Sua Alteza Real a execução das suas Reaes ordens.
Obrando ambos de acordo, e fazendo aquellas diligencias
necessárias para similhante diligencia ; dando conta regu-
larmente na Secretaria de Estado dos Negocies do Reino
naõ só da despeza e obras, que vaõ ordenando ; mas de
qualquer successo, que necessitar de prompta providencia.
Todas as authoridades, sendo a este fim requeridas, lhes
prestarão todo o auxilio, e coadjuvaraÕ, dando prompta
execução na parte, que lhes tocar. O Desembargador
Joaõ Gaudeneio Torres, c Francisco Xavier de Montes
o tenbaõ entendido e façaõ executar. Palácio do Governo
em 19 de Junho de 1813.—Com as Rubricas dos Gover-
nadores do Reino.
JOAÕ DA S I L V A M O R E I R A P A I S I N H O .

EniTAL.
A' Real Junta do Commercio, Agricultura, Fabricas, e
Navegação baixou o seguinte
AVISO.
mo mo
Ill . e Ex . Sr.—Achando-se incompleto o emprés-
timo, que o Principe Regente Nosso Senhor mandou abrir
pela Portaria de 22 de Abril do presente anno, por naõ
haverem entrado alguns dos negociantes da Praça de
Politica. 17
Lisboa, com as quotas, que lhes foraõ assignadas, o que
obrigou o Erário Regio a um desembolço violento, mas
absolutamente necessário, para se naÕ mallograr a expe-
dição as potências Barbarescas; e devendo o mesmo Real
Erário ser immediatamente indemnizado daquelle desem-
bolço, pelo complemento do referido empréstimo : he Sua
Alteza Real Servido : que a Real Junta do Commercio
faça annunciar por editaes, que todos os negociantes, que
naõ tiverem entrado com ametade das sommas, que lhes
foraõ requeridas, prefaçaõ as mesmas sommas, devendo
depositar logo no cofre da commissaõ encarregada da re-
cepção dos fundos para os negócios de Argel ao menos a
dita metade, ou seja com dinheiro effectivo, ou em letras
com vencimento até um mez : e outro sim tem ordenado
S. A. R., que a sobredita commissaõ faça no dia imme-
diato subir á Sua Augusta Presença por esta Secretaria
d'Estado da marinha, a relação das mesmas entradas,
para que, no caso, naõ esperado, de haver ainda quem
presista em taõ extranhavcl resistência, haja o mesmo
Senhor de proceder as demonstraçoens de desprazer, que
mereceria o escandaloso egoísmo dos que houvessem con-
cebido o projecto de terem parte nas utilidades, que de-
vem resultar da paz com as Regências Barbarescas, sem
a terem nos sacificios indispensáveis para a sua conclusão.
O que V E. fará presente no tribunal para que se execu-
tem estas Reaes ordens na parte que lhe toca.—Deos
guarde a V E. Palácio do Governo, em 16 de Junho, do
1813. D. M I G U E L P E R E I R A F O R J A Z .
Sr. Cypriano Ribeiro Rreire.
E para assim constar se mandou affixar o presente
Edital.—Lisboa, 31 de Junho, de 1813.
JOSEACUIICIO DAS N E V E S .

VOL. X I . No. 62.


18 Politica.
BRAZIL.
Da Corte do Rio de Janeiro veio dirigida aos Senhores
Governadores a seguinte Carta Regia.
Governadores do Reino de Portugal, e do Algarve:
Amigos: Eu o Principe Regente vos envio muito saudar,
como aquelles que Amo, e Prezo. Sendo evidente pelos
orçamentos, e mais contas da receita, e Despeza actual do
do Reino, que com os vossos officios tendes feito subir á
Minha Real Presença, a necessidade urgentissimade prover
a novos e promptos meios, que, augmentando as rendas
do Estado, possaõ fazer face ás extraordinárias despezas
da guerra, e preencher o grande déficit de doze milhões
de cruzados, que oceasiona a indispensável manutenção do
grande exercito, que he preciso conservar em campo con-
tra o mais atroz, e sanguinário inimigo; esendo-me igual-
mente presente a impossibilidade, que existe, de se poder
realizar em Inglaterra, a pezar das mais activas diligencias,
e negociaçoens, que alli tem tido lugar, um grande emprés-
timo, que fornecesse os necessários fundos, que exigem taõ
superiores empenhos, alias mui dignos dos mais custosos
sacrifícios, pois que se trata do maior, o mais serio, e o
mais sagrado dos deveres, o da defeza da religião, do
throno e da pátria, vindo por tanto a ser indispensável em
taõ urgentes circumstancias lançar maõ de recursos extraor-
dinários para oceorrer aquellas extraordinárias despezas,
naô bastando assaz as úteis reformas, exacta economia,
e quanto com o mais louvável zelo, discrição, e acerto
tendes praticado para conseguir aquelle fim : tendo eu em
vista livrar ainda neste lance os meus fieis vassallos, taõ
caros ao meu paternal Coração, e que taõ evidentes, e taõ
reiteradas provas me tem dado da sua exemplar lealdade,
amor, e patriotismo, de novos tributos, e encargos, tanto
mais pezados, quanto mais escassos saõ os meios para os
satisfazer, tendo elles soffrido taõ afflictivas perdas na
devastadora invasão do mais bárbaro, e pérfido inimigo j
/

Politica. 19
e querendo eu além disto dar-lhes mais um sensível
testemunho do meu paternal amor, e solicitude em isenta-
los, quanto ser possa, de novos gravames à custa mesmo
dos maiores sacrifícios, do meu Real patrimônio: sou
servido, suscitando o que vos ordenei na Carta Regia
de Instrucçoens, que vos dirigi em data de 2 de Janeiro
de 1809 determinar-vos, que desde logo procedais a
fazer pôr em venda, pelo modo que vos parecer mais
conveniente, e útil nas actuaes circumstancias, todos os
bens livres da Coroa, taes como casas, e terras e outras
similhantes propriedades patrimoniaes, que eu havia já
mandado pôr em venda; mas que pela maior parte ainda
se achaô existentes; as Capellas da Coroa, e as que forem
vagando ; os bens dos próprios, dos ausentes, e represálias,
que existem em differentes Commarcas; os bens de* pró-
prios por execuçoens, que se achaõ nas Commarcas de
Setúbal, Lamego, Elvas, Ponte de Lima, e outras ; e final-
mente a Prebenda de Coimbra na parte que comprehende
Casas, Casaes, ou Terrenos ; podendo entrar nesta classe
muitos outros bens, que se poderão vender divididamente,
taes como o Paul de Lagos, Marinhas de Farroubilhas,
Coutada de Portei, Charneca de Vallongo, e outros simi-
lhantes ; devendo os productos de taes vendas entrar para o
meu real Erário, e serem applicados para as despezas da
guerra, que tanto convém sustentar com a maior activi-
dade, e energia, até á perfeita restauração da Peninsula,e
inteira expulsão do inimigo para além dos Pyrinneos. O
que assim tereis entendido, e executareis. Escripta no
Palácio do Rio de Janeiro em 13 de Dezembro de 1812.
PRÍNCIPE.
Para os Governadores do Reino de Portugal, e do Algarve.

ESTADOS UNIDOS.
Mensagem do Presidente ao Congresso.
Considadaõs do Senado e da Casa dos Representantes!
c 2
20 Politica.
Pouco depois de se ter fechado a sessaõ passada do Con-
gresso, se communicou formalmente uma offerta do Impera-
dor de Rússia para a sua mediação, como amigo commum-
dos Estados Unidos, e da Gram Bretanha ; a fim de facilitar
a paz entre elles. Sendo o alto character do Imperador
Alexandre um penhor sufficiente da sinceridade e im-
parcialidade de sua offerta, foi esta immediatamente
aceita ; e como ulterior prova da disposição em que estaõ
os Estados Unidos de tractar com o seu adversário sobre
experimentos honrosos para terminar a guerra; se determi-
nou o evitar demoras intermediárias, incidentes á distancia
das partes, providenciando deffinitivameiite para a contem-
plada negociação. Consequentemente foram commissi-
onados tres eminentes cidadãos nossos, com os poderes
necessários para concluir um tractado de paz, com pes-
soas revestidas de similhantes poderes, da parte da Gram
Bretanha. Foram elles também authorizados a entrar na-
quellas convençoens de regulamentos de commercio, entre
os dous paizes, que se achasse serem mutuamente vanta-
josos. Os dous enviados, que estavam nos Estados Unidos
ao tempo de sua nomeação, partiram ja a unir-se a seus
collegas em S. Petersburgo.
OsEnviados receberam outra coinmissaó,authorizando-
os a concluir com a Rússia um tractado de commercio
com as vistas de fortalecer as relaçoens amigáveis, e melho-
rar a proveitosa communicaçaõ que ha entre os dous paizes.
O êxito desta amigável communicaçaõ do Imperador
de Rússia, e desta manifestação pacifica da parte Estados
Unidos, he somente o tempo quem o pode decidir. Deve-
se presumir, que os sentimentos da Gram Bretanha, paru
com aquelle Soberano, produzirão a aceitação da medi-
ação que se offerece. He certo que naõ existem motivos
sufficientes para preferir a continuação de guerra com o s
Estados Unidos, aos termos com que elles estaõ promptos
a terminalla.
Politica. 2i
O gabinete Britannico deve também conhecer, que, a
respeito da importante questão da prisão dos marinheiros,
sobre que a guerra principalmente versa, a busca ou cap-
tura de pessoas ou propriedades Britannicas a bordo ne na-
vios neutros no mar, alto, naÕ he um direito de belligerentes
deduzido do direito das gentes; e he obvio, que nenhuma
visita ou busca, ou o uso de força, para qualquer fim,
abordo do navio de uma potência independente, em alto
mar, pode, seja em tempo de paz, seja em tempo de
guerra, ser sanccionado pelas leys ou authoridade de outra
potência. He igualmente obvio, que para o fim de pre-
servar para cada Estado os seus membros marítimos, ex-
cluindo-os dos navios do outro, o modo de antes proposto
pelos Estados Unidos, e agora adoptado por elles como
ley, e artigo de policia municipal, naõ pode por um so
momento comparar-se com o modo practicado pela Gram
Bretanha, sem uma convicção de sua preferencia; em
tanto quanto este deixa fazer a distineçaõ entre os mari-
nheiros das duas naçoens, a officiaes sugeitos a dar uma
injusta decisaõ, tanto por preocupaçoens inevitáveis,
como por falta de provas, em circumstancias que excluem,
pela maior parte, a imposição de penas coactivas ; e em
que uma decisão injusta, alem da irreparável violação dos
sagrados direitos das pessoas, pode frustrar os planos, e
lucros de toda a viagem : entretanto que o modo que esco-
lhem os Estados Unidos, acautella com estudada equidade,
e efficacia, os erros em taes casos; e evita os effeitos de
erros accidentaes, na segurança da navegação, e bom suc-
cesso das expediçoens mercantis.
Se a racionabilidade da expectaçaÕ e esperança, que se
deduz destas consideraçoens, pudesse assegurar o seu pre-
enchimento, naÕ estaria distante uma justa paz; porém
convém á sabedoria da Legislatura Nacional conservar na
lembrança a verdadeira politica, ou, para melhor dizer, a
indispensável obrigação de adaptar as medidas á supposi-
22 Politica.
çaõ de que o único caminho para aquelle saudável aconte-
cimento he o vigoroso, emprego dos recursos da guerra. E
penosa como he esta reflexão, com tudo este dever hc par.
ticularmente exigido pelo espirito e maneira, com que a
guerra continua a ser feita pelo inimigo, o qual, insensível
aos constantes exemplos de humanidade que se lhes dà,
ajuncta á sua fúria selvagem em uma fronteira, o systema
de roubo e incendidos da outra, igualmente prohibido
pelo respeito devido ao character nacional, é pelas regras
estabelecidas da guerra civilizada.
Como incitativo para continuar, e vigorar os esforços,
que tragam esta contenda a um feliz resultado, tenho a
satisfacçaõ de poder appellar para os bem agourados pro*
gressos de nossas armas tanto por terra, como por mar.
Em continuação dos brilhantes feitos de nossa nascente
esquadra; ganhou o Capitão Lawrenoe, e seus compa-
nheiros, na chalupa de guerra Hornet, um assignalado tri»
umpbo, destruindo uma chalupa de guerraBritannica, com
celeridade taõ sem exemplo, e com mortandade do inimigo
taõ desproporcionada á perda do Hornet, que clama para
os conquistadores o mais alto louvor, e a plena recom-
pensa, que o Congresso providenciou nos casos preceden-
tes. Os nossos navios de guerra do Publico, em geral,
assim como os vasos armados de particulares, tem conti-
nuado a sua actividade e bom successo, contra o commer-
cio do inimigo; e pela sua vigilância e arte tem frustrado
em grande parte os esforços das esquadras inimigas, dis-
tribuídas ao longo de nossas costas, para interceptallos,
quando voltam aos portos, ou quando tornam a sahir a seu
corso. O augmento da nossa força naval, como foi autho-
rizado na sessaõ passada do Congresso, vai indo era seus
progressos. Nos lagos a nossa superioridade está quasi á
maõ senaõ está ja estabelecida.
Os acontecimentos da campanha, em tanto quanto nos
saõ conhecidos, nos ministram matéria de satisfacçaõ, e
Politica. 23
motram, que, com uma organização sabia, e direcçaõ
efficaz, o exercito he destinado a uma gloria naõ menos
brilhante, do que aquella que cerca a esquadra nacional.
O ataque e tomada de York, he, naquella parte, o pre-
sagio de futuras, e maiores victorias; ao mesmo tempo
que nas fronteiras occidentaes o êxito do cerco do Forte
Megis naõ deixa que sentir senaõ um simples acto de valor
inconsiderado.
A morte repentina de um cidadão distincto, que repre-
sentava os Estados Unidos em França, sem que elle tivesse
feito arranjamentos alguns para tal acontecimento, nog
deixou sem a esperada continuação de suas ultimas com»
municaçoens ; e o Governo Francez naõ tem tomado me-
didas algumas para concluir a negociação pendente, por
meio de seu representante nos Estados Unidos. Esta falta
acresce ainda ás delongas taõ extraordinariamente espaça-
das. Nomeou-se successor ao nosso defuncto Ministro, e
está prompto a partir para a sua missaõ. O caminho que
seguirá para a executar he o que prescrevem os verda-
deiros interesses dos Estados Unidos, que igualmente evi-
tam o abandono de suas justas pretençoens, e a connexaõ
de suas characteristicas com o systema de outras potên-
cias.
A receita do Thesouro, desde o I o . de Outubro, até 31
de Março passado, incluindo as sommas recebidas por
contas das notas do Thesouro, e os imprestimos authori-
zados pelos Actos da sessaõ do Congresso passada, e pre-
cedente chegam a 15:412.000 dollars. A despeza, du»
ante o mesmo periodo montou a 15:220.000, e deixou no
Thesouro no I o . de Abril um balanço de 1:857.000 dol-
lars. C ontractou-se o empréstimo de 15 milhoens de
dollars, que forma parte da receita acima declarada. O
resto daquelle empréstimo, que chega a quasi 15 milhoens
de dollars, com a somma de 5 milhoens de dollars, que o
Thesouro teve authoridade para circular em notas e a re«
24 Politica.
ceita avaluada dos direitos de alfândega, e venda das ter-
ras publicas, na somma de 9:000.000 de dollars, fazendo
-um total de 29:300.000 que devia ser recebido, durante os
últimos 9 mezes do presente anno, será necessário para
occurrcr ás despezas ja authorizadas, c ás obrigaçoens
contrahidas, a respeito da divida publica. Estas obriga-
çoens chegam, durante o dicto periodo a 10.500 dollars,
que, com quasi um milhaõ das despezas civis, diplomá-
ticas, e miscellaneas, tanto estrangeiras como domesticas ;
e 17:800.000 para as despezas militares e navaes, inclu-
indo os navios de guerra que se estaõ construindo, e se haõ
de construir, deixarão no Thesouro, no fim do presente
anno, uma somma igual á que ficou no I o . de Abril pas-
sado. Parte desta somma pôde ser considerada como um
recurso, para oceurrer ás despezas extraordinárias ja
authorizadas pela ley, alem das sommas acima men-
cionadas; e como ulterior recurso para alguma neces-
sidade, se achará a somma de um milhaõ de dollars,
cujo empréstimo aos Estados Unidos foi ja authorizado
pelo Estado de Pensylvania, mas ainda se naõ poz em ex-
ecução.
Esta vista de nossas finanças, ao mesmo tempo que mos-
tra igualmente pela limitada conta do rendimento annual,
e dependência dos empréstimos, a necessidade de provi-
denciar mais adequadamente os futuros supprimentos do
Thesouro. Isto se poderá melhor fazer por um systema
bem dirigido de rendimento interno, em auxilio dos re-
cursos existentes; e que teraõ o effeito tanto de diminuir
a somma necessária de empréstimos, como de (pondo em
conseqüência disso, o credito publico em uma baze mais
satisfactoria) melhorar os termos porque se pode obter o
empréstimo.
Naõ se pôde contractar o empréstimo de 16 milhoens
por menor juro doque 7*f por cento; e ainda que nisto
influíram outras causas, naõ re pôde duvidar, que havendo
Politica. 25
a vantagem de mais extensas e menos precárias rendas,
menor porçaõ de juros teria sido bastante. Differir para
mais tempo esta vantagem naõ poderá deixar de ter ainda
maior influencia nos empréstimos futuros.
Recommendando á Legislatura este recurso ás taxas
addiconaes, sinto grande satisfacçaõ na segurança de que
os nossos constituintes, que tem ja mostrado tanto zelo,
e firmeza, na causa de seu paiz, gostosamente daraõ outras
provas de seu patriotismo, que isto exige. Felizmente
nenhum povo, com as excepçoens locaes e territoriaes,
que nunca se podem evitar de todo, se achou mais hábil
do que o povo dos Estados Unidos, para dispensar para
as necessidades publicas, uma porçaõ de seus meios parti-
culares, quer se diga respeito aos proveitos ordinários da
industriar, quer ao preço ordinário da subsistência no nosso
paiz, comparado ao de outro qualquer paiz. E em nenhum
caso pôde haver razoens mais fortes para se submetter ás
contribuiçoens requeridas.
Fazendo os recursos públicos, certos e commensurados
ás exigências publicas, as authoridades constituídas po-
derão continuar na guerra com maior rapidez para o seu
devido êxito: será cortada toda a esperança hostil, fun-
dada em um calculo da falha em nossos recursos ; e ad-
dindo á evidencia do valor, e arte, nos combates tanto no
oceano como em terra, uma presteza em supprir o The-
souro com o necessário para lhe dar o seu pleno effeito :
e, demonstrando assim ao mundo a energia publica, que
combinam as nossas instituiçoens politicas, com a liberdade
pessoal que as distingue, se providenciará a melhor segu-
rança contra as futuras emprezas sobre os direitos e paz
da naçaõ.
A contenda, em que os Estados Unidos se acham empe»
nhados, appella, para o seu auxilio, a todos os motivos
que podem animar um povo naõ conrompido e illumina-
d o ; appella para o amor da Pátria, para o orgulho da
V O L . XI. No. 62. D
26 Politica.
liberdade, para os gloriosos fundadores de sua indepen-
dência ; para uma bem succedida vindicaçaõ de attributos
violados ; para a gratidão e sympathia que exigem segu-
rança contra as mais indignas injustiças, feitas a uma
classe de cidadãos, que se tem mostrado taõ dignos da
protecçaõ de sua pátria, pelo seu heróico zelo em defensa
delia ; e finalmente, para a sagrada obrigação de trans-
mittir integro, ás geraçoens futuras, aquelle procioso pa-
trimônio de direitos, e independência Nacional, que a pre-
sente geração tem recebido, como em deposito, da bondade
da Divina Providencia.
Conhecendo os inconvenientes àque ficaria sugeita uma
sessaõ dilatada, nesta estação; limito a presente commu-
nicaçaõ aos objectos de primeira importância. Em men-
sagens especiaes, que se poderão seguir ao depois, se terá
respeito á mesma consideração. JAMES MADISON.
Washington, 25 de Mayo.

PRÚSSIA.
Proclamaçaõ de S. M.
O inimigo propoz um armistício ; eu o tenho aceitado
com os meus Alliados até 20 de Julho. Isto se tem
feito para o fim de que a fortaleza nacional, que o meu
povo tein taó Iouvavelmente apresentado, possa chegar
ao seu pleno complemento. Uma incansável acti-
vidade, esforços naõ interrompidos, nos conduzirão a este
fim. Até aqui o inimigo nos tem excedido em forças ;
nós podemos somente ganhar a nossa honra nacional ;
hé preciso aproveitar-nos deste breve intervallo, para
nos fazermos assas fortes para conquistar a nossa inde-
pendência. Sede firmes com vosso Rey; e entaõ conti-
nuai os vossos esforços com como ate aqui tendes feito; e
ganharemos o nossa sagrada causa.
FREDERICO G U I L H E R M E .
Ober-Grodiíz. iuneto a Schweidnitz. 5 de Junho
Politica. 27
O armistício, proposto pelo inimigo, lhe foi concedido ;
porém será sufficiente para o conforto de todo o honrado
Prussiano o saber, que este armistício nos naÕ conduzirá a
uma paz, mas sim a renovação de uma mais poderosa, e
enérgica guerra. Os habitantes dos dominios de S. M.
entre as fronteiras Russianas, e o Vistula, se tem distin-
guido por todos os modos, pelo seu zelo patriótico, e par-
ticularmente pelos numerosos destacamentos de voluntários,
que se tem formado, compostos tanto de cavallaria como
de infanteria; assim como por terem completado, com ho-
mens e cavallos, os cinco regimentos nacionaes de cavalla-
ria, e o corpo de 20.000 homens do Landwehr, composto
de soldados robustos, cheios de espirito, os quaes em pouco
tempo se tem trazido a um estado de disciplina, que se
podem empregar nas mais úteis emprezas. Tudo isto se
tem feito, ainda que todo o emprego neste paiz tenha
absolutamente parado ; e a pobreza dos habitantes chegado
ao seu ultimo ponto : consequentemente, éra por extremo
difficil qualquer esforço de sua parte. Deste espirito pa-
triótico, e do extraordinário zelo dos habitantes desta parte
dos dominios de S. M., esperamos, com a maior confiança,
que os seus esforços seraõ continuados com o mesmo
effeito, no proseguimento desta sagrada guerra; e que
elles manifestarão aquelle justo e ardente ódio que todo o
valente Prussiano e todo o Alemaõ deve sentir contra o
inimigo commum, e que os nossos amados compatriotas
provarão que saõ dignos do sangue taõ heroicamente der-
ramado por nossos irmaõs.
(Assignado) MASSENBACH, DONHA.
Governadores militares do paiz entre o Vistula, e as
fronteiras de Rússia.
Konigsberg, 12 de Junho.

D2
[ 28 1

COMMERCIO E ARTES.

Carta ao Redactor sobre o Contracto do Tabaco.


Lisboa, 1 de Julho, 1813.
S E N H O R Redactor do Correio Braziliense.—O calculo
que v. m. publicou a pag. 572, do seu volume x. (N°. 60.)
tem sido causa de grandes murmuraçoens. Eu naõ pretendo
aceusar os motivos de quem lhe communica taes informa-
çoens ; porém, sendo ellas falsas, pareceme que deve ser
permittido a todo o mundo refutallas; pelo mesmo canal
porque estas noticias inexactas se propagam.
Nos exagerados cálculos, que v. m. fez dos lucros do
contracto, naõ se fez cargo, de fallar do augmento de paga-
mento que se lhe addio em 1803 ; nem das alteraçoens que
modernamente aconteceram no negocio de Macau, com o
que aquelles lucros muito se diminuem; nem metteo em
linha de conta as enormes percas oceasionadas pela invasão
dos Francezes.
Suppoem v. m. no seu pretendido systema de reforma,
que em vez do Governo receber os rendimentos que tira
do tabaco per meio dos contractadores, seria melhor rece-
ber os direitos directamente dos consumidores. Nisto se
vê o que saõ theorias vagas, naõ guiadas pela practica;
porque se v. m. soubesse os esperdicios, despezas e frau-
des; e até mesmo a incerteza da cobrança, conheceria
entaõ quanto mais conveniente he ao Erário receber um
producto certo, sobre que pode calcular sem falência, sem
se sugeitar âs despezas da cobrança, nem ao perigo das
fraudes na administração. Permitta-me pois que lhe ob-
serve, que naÕ he sem muita razaõ, que a experiência do
nosso Governo tem continuado portamos annos esta forma
de cobrar um tributo do tabaco; e que seria summa impru-
dência sahir do caminho trilhado, e conhecido pela expe-
Commercio e Artes. 29
riencia para se lançar a mares desconhecidos só por meras
especulaçoens, e desejo de variar.
Eu naõ crimino tanto a v. m. acustumado a outros es-
tudos, e empregado n'outra vida, naõ pode ter conheci-
mento cabal das operaçoens mercantis, e de negocio; e
assim lhe parece que saõ verdades puras tudo quanto
alguns inimigos do contracto tem enramalhetado para.
lhe mandar.
Permitta-me pois que para sua informação lhe explique
a conta juncta, que espero de sua candura haja de pu-
blicar também para informação do publico; e esteja
seguro, que se alguém negar a veracidade desta conta,
lhe mandarei as provas justificativas delia, com o que fica-
rão confundidos os malévolos que o enganam a v. m. e por
meio de v. m. enganam o publico.

Os actuaes contractadores do tabaco arremataram por


dous milhoens seiscentos e cincoenta mil cruzados, cada
anno, livres para a Fazenda Real, pagos ás mezadas, punc-
tualmente de sessenta contos de reis ; e aos quartéis de
sessenta contos alem do que pertence á obra pia.
Tem mais obrigação de pagar cada anno 2:100.360 para
os soldados da Ilha Terceira entregues aos quartéis na Pro-
vedoria da mesma ilha.
Dezasette para dezoito contos de reis dos ordenados e
emolumentos do Presidente, Ministros, e Officiaes, da
Juncta, que saõ entregues no Erário.
E depositaram no principio do contracto duzentos mil
cruzados.
Consome o contracto nesta cidade, e na do Porto ; e nas
ilhas 83.000 arrobas líquidas pouco mais ou menos; porque
tem de favor 4 libras de abatimento para os direitos em
cada arroba ; e na fabrica do rape de 3 até 5 mil arro-
bas líquidas na sobredicta forma, cujos direitos de um e
3o Commercio e Artes.
outro saõ 1.679* reis por cada arroba alem dos 4 por
cento.
Fico sendo de v. m. Muito venerador e cr.
, p » * *
Resposta á carta acima.
Senhor F. das tres estrelinhas.
Ficamos a v. m. muito obrigados, pela sua carta, em
conseqüência da occasiaõ que ella nos dá, de offerecer á
comparação do publico as nossas ideas sobre o contracto
do tabaco, com as opinioens de outros ; e ainda que con-
fessamos que v. m. tem direito de julgar de nossa habili-
dade como bem lhe aprouver; com tudo nos permittirâ
observar-lhe, que a matéria do contracto do tabaco sobre
que se tem discorrido no Correio Braziliense, posto que
diga respeito a transacçoens mercantis, naõ he agora uma
operação taõ complicada que naÕ possa fallar nella, quem
entende as quatro primeiras operaçoens da Arithmetica ;
e n'algumas cousas o objecto he taõ claro, que para co-
nhecer os enormes lucros do contracto basta saber contar
pelos dedos.
V . M. talvez suppondo que o Correio Braziliense tinha
ja esgotado o que sabia a este respeito vem com a infor-
mação vaga, exposta em termos geraes, do que os contrac-
tadores pagam á Fazenda Real; e quanto aos seus lucros
contenta-se com dizer qual he o consumo do tabaco em
Lisboa, e Ilhas. Porem assim como se publicam estas
ideas que v. m. talvez suppoem conclusivas; assim tam-
bém convém publicar-se, o que se naÕ disse ainda a este
respeito; e deixemos ao publico o julgar quem tem rasaõ.
Eis aqui a conta, do Correio Braziliense tobre este as-
sumpto ; para que o Leitor a compare com o que diz v. m.
Os actuaes contractadores do tabaco e das saboarias prin-
cipiaram em Janeiro de 1798, para findar em Dezembro
de 1803 ; e arremataram o contracto por 2:650.000 cruza-
dos cada anno, alem dos mais encargos que constam do
Commercio e Artes. 31
decreto de arremataçaõ, assim como a forma dos paga-
mentos.
Alem das consideraçoens incorporadas no dicto decreto,
tem as do Contracto de Duarte Lopes Roza, e os privilé-
gios, que vaõ no Regimento; e os das Saboarias.
No anno de 1797 despachou o contracto para o Estanco
4.340 rollos; 3.510 sacas, e duas canastras: estas sacas e
canastras saõ producto dos rollos desmanchados. Para
a fabrica do rape 322 fardos, e 94 barricas de Virgínia
para as quaes tiveram licença.
Importaram os direitos todos 151:043.883
E os 4 por cento 3:472.636
Paga cada arroba, liquido 1.679£ reis ; porque em cada
uma se lhe daÕ 4 libras de favor ; e a Virgínia paga mais a
terça parte dos direitos.
No anno de 179S sahiram para o estanco 4.493 rollos,
e 1.505 sacas e 9 canastras. E para a fabrica da rape 280
fardos.
Importaram os direitos 126:786.499
Os 4 porcento 2:980.788
No anno de 1799 sahiram para o estanco 6.539 rollos, e
1490 sacas e 407 canastras. E para a fabrica do rape 180
fardos, e mais 4 barricas, 1 barril, e 285 massarocas de
Virgínia.
Importaram os direitos 181 -.296.835
Os 4 por cento 4:318.463
Este anno de 1799 naõ deve regular, porque excedeo
extraordinariamente ; porém nos annos antecedentes no de
1797 he pouca a differença ao de 1798.
Em 1798, se suppunha valer o rape mui pouco; ou
quasi nada; assim calcularemos os lucros do contracto,
neste artigo naquelle anno.
Custo 1.200
Frete . 400
Direitos 1.680
32 Commercio e Artes.
32
Despezas naõ calculadas °
Total 3.600
Supponhamos que o custo e direitos do consumo médio
de 4.000 arrobas be 14:400.000
Supponhasse que a maõ d'obra em cada arroba
chega a 2.400 9:600.000
O total do custo, direitos e gastos he 24:000.000
Supponhamos que as 4.000 arrobas perdem a
quarta parte na sua munipulaçaõ, ficarão líqui-
das 3.000 arrobas, e ainda mesmo reduzindo-as
a 30 libras teremos liquido 90.000 arrobas, que
ao preço de 8.000 reis porque se vendia somma 72:000.000

Lucroliquido 48:000.000
A este lucro dos contractadores se deve ajunctar o pro-
ducto do rape Francez das tomadias, que ficava para os
contractadores.

Vejamos agora em geral os lucros dos contractadores;


por cálculos taõ moderados como os que demos em outros
números; porém mais circumstanciadamente.
Paga o contracto á Fazenda Real em cada
anno 1:060:000.000
Entrega na Provedoria da Ilha Terceira 2:799.360
Mette no Erário para os Ordenados e emo-
lumentos do Presidente Ministros e Officiaes
da Juncta do Tabaco 18:000.000
Fornece para a obra pia, por calculo ap-
proximado 9:690.640
Direitos de 83.000 arrobas que se apuram
limpas 139:440.000
Importam os 4 porcento 5:370.000
Utilidade da Fazenda Real 1:1-35:300.000
Commercio e Artes. 33

Despezas que acerescem aos contractadores.


O pagamento das 40 administraçoens das
commarcas inclusas as de Lisboa e Porto,
umas por outras a 2:400.000 96:000.000
Despezas da maõ d'obra ao mais q u e se
pode avaluar, 83 000 arrobas a 2.000 166:000.000
Supponha-se que se compraram 90 000
para se liquidarem as dietas 83.000 arrobas,
aos preços communs e médios de um anno a
3.000 ; incluzos os fretes, e despezas miúdas 270:000 000
Escriptorio, malsins, propinas, administra-
çoens, dádivas, &c. 72:700.000

Reis 1:840:000.000
Supponhamos que as 83.000 arrobas dimi-
nuem a quarta parte teremos 62.250 arrobas
e suppondo assim mesmo cada uma de 30 li-
bras somente, teremos pelo menos 1:867.500
libras, a 1.200 . 2:240:000.000

Lucro liquido 400:000.000


Descemos a todas estas miudezas para mostrarão Snr. F .
das tres estrelinhas, que quem dirige a redacçaõ do Correio
Braziliense naÕ está de todo ignorante do que se passa em
Portugal ; e publicam-se estes cálculos para que as pessoas
que cercam o Soberano o naõ deixem illudir; e j a que a
má fortuna quer que exista similhante contracto a menos
que saiba o publico destes enormes e certos lucros dos con-
tractadores, a fim de que se ponha a lanços em uma com-
petência justa e racionavel, de todos os capitalistas que
quizerem lançar. Corremos o véo a estes escondidos the-
souros, para que todos se animem afoitamente a fazer
offerecimentos ao governo, e j a que o povo paga este pezado
tributo, ao menos que se aproveite delle o Soberano, eseja
VOL. X I . N o . 62. E
34 Commercio e Artes.
applicado ás despezas publicas e naõ a engordar somente
meia dúzia de indivíduos.
Naõ falíamos a respeito da chamada bagatella das sa-
boarias.
Por estas se dava antigamente 40:000.000; quantia que
be distincta dos dous ramos do tabaco ; e alem disto ha
os interesses do privativo do tabaco para a índia, alem do
de Macau, expedido do Brazil; e por conseqüência os
lucros de seus retornos.
Naõ deve admirar o ver reduzido o tabaco todo a pô : quan-
do elle em corda se vende mais barato ; porque isso mesmo
favorece o calculo que se dá acima; visto que o tabaco em
corda nada diminue, e por isso vem a ser mais vantajoso ao
contractador, o qual vende o tabaco em pô por mais de
1.200 reis, como consta do regimento dos estanqueiros.
E dando-se assim o lucro de um milhaõ a olhos fechados
aos contractadores, julgam ainda que he precizo premiallos
com titulos, honras, e mercês, pelo bem que fazem ao pu-
blico!!!
Mas porque naõ pode o soberano saber disto ? A nossa
resposta he ; porque se escondem estes lucros como um
segredo da abelha, c as pessoas, que disso sabem alguma
cousa saõ taõ interessadas na existência do contracto, que
por elle recebem os seus ordenados, pitanças, e propinas.
Por exemplo.
O conservador tem 600.000 reis de ordenado, pagos pelo
contracto; a demais uma pitança ou presente pelo natal e
entrudo de dous dos maiores porcos que se criam no
Alemtejo, e pela Paschoa 24 arrobas de presuntos; e, no
caso de moléstia, alguma gratificação pecuniária.
Os deputados da juncta e outras pessoas empregadas
tem similhantes precalços em proporção; alem das chama-
das amostras do tabaco, em certos dias de conferência.
Ora ' quem ha de esperar, depois disto, que sejam estas
pessoas as que fallem contra o contracto do tabaco ? E no
Commercio e Artes. 35
entanto a ellas he que se manda informar, e decidir de tudo
o que respeita ao contracto.
Advogando aqui a causa do Soberano, na perca dos tri-
butos que impõem, e que ficam na bolça dos publicanos
ou contractadores, se defendem também as propriedades
dos particulares consumidores do gênero ; e destes mais os
pobres do que os ricos; porque, para em tudo ser máo este
tributo, até está de tal modo arranjado, que naõ peza pro»
porcionalmente ás riquezas; visto que, se tanto o pobre
como o rico, pagam o mesmo preço por uma certa quanti-
dade de tabaco que consomem no espaço do dia; a mesma
somma, que he insignificante ao rico, he pezadissima ao
pobre; e he sempre uma consideração que deve entrar nos
bons systemas dos impostos, o fazer com que elles recaiam
nos indivíduos á proporção de suas possibilidades. Assim
por exemplo na Inglaterra, na taxa das janellas; quem tem
só uma naõ paga nada, quem tem duas, paga um guinea,
quem tem 4 paga, naõ somente 4 guineas mas cinco; quem
tem 8 naô paga somente 10, mas 15 ; e assim por diante.
Por falta de se contemplarem estas matérias, no tributo do
tabaco se acha, que um jornaleiro, que somente ganha um
cruzado por dia, gastando 10 reis de tabaco paga 2\ por
cento de seu rendimento ; e o que ganha 4.000 reis paga
2\ por mil de seu rendimento. Esta disproporçaõ faz o
tributo injusto de sua natureza; pela injustiça de sua dis-
tribuição.
A boa distribuição dos tributos ; em proporçoens justas,
naõ he impossível ; nem mesmo difficil de arranjar, senaõ
aos Políticos preguiçosos, que naÕ lhe importa com gastar
o tempo em reflectir sobre as matérias de seu officio; ou
ignorantes, que naõ tendo estudado a sciencia do governo,
nem os principios de legislação, saõ incapazes dos empre-
gos que oecupam : os demais entaõ saõ Godoyanos aquém
só a desordem convém.
Diraõ alguns, que se isto saõ verdades, saõ dietas mui
E 2
36 Commercio e Artes.
descarnadas e nuas ; e por isso offcndem. P o d e rr.ui bem
ser *, mas o Correio Braziliense se tem posto no custume
d e chamar ao paõ paõ ; e ao queijo queijo ; e vai j a
ficando mui velho para mudar de custumes.

INGLATERRA.
Resumo das contas sobre as Finanças e Commercio da
Gram Bretanha, apresentadas ao Parlamento.
A conta annual das finanças e commercio do p a i z , que
se apresentou ao Parlamento, foi impressa, e compre-
hende o anno que acabou aos 5 de Janeiro 1813.
O rendimento daquelle anno, incluindo o imprestimo,
chegou a 95:712.695 libra esterlinas. A receita do tri-
buto das rendas, ou décima, foi de 13:131.548 libras.
O total da despeza durante o mesmo periodo foi de
10I-39S.24S
A divida publica custou ao publicou na quelle anno
3 6 : 6 0 7 . 1 2 8 l i b r a s ; das quaes a somma de 13:482.510
libras, passou para as maõs dos commissarios, a fim de
reduzir ou diminuir a divida nacional.
As importaçoens dos 3 annos, que acabaram em 5 de
J a n e i r o 1813 foram comparadas da maneira seguinte :—
1811 importaçoens 36:427.722
1812 dicto 24:520.329
ISIS dicto 22:991.843
N a õ se incluem nas sobredictas sommas as importaçoens
da índia : as quaes montaram no anno que acabou cm 5
de Janeiro J812 cm 4:106.251 libras.
A seguinte vista comparativa das importaçoens de trigo,
dá uma prova cabal de que a Gram Bretanha be menos de-
pendente dos paizes estrangeiros, para este necessário
artigo
1811 importaçoens de trigo 2:701.240
1812 dicto 465.995
1813 dicto 378.872
Commercio e Artes, 37
Café.
1811 importação de café 5:812.795
1812 dicto . . . . 3:646.814
J813 . . . . dicto 2:573.614
Algudaõ.
1811 importação d'algudaõ 3:882.423
1812 dicto 2:990.821
1813 . . . . dicto 2:166.412
Assucar.
J811 importação do assucar 6:499.044
1812 dicto 5:324.409
1813 dicto 5:033.396
As importaçoens da Irlanda para este paiz, parecem ir
em augmento; pelo seguinte :—
1811 3:280.747
1812 3:318.879
1813 3:551.269
Mas se as importaçoens para a Gram Bretanha dimi-
nuíram durante o anno passado, parece que as exporta-
çoens augmentáram consideravelmente; como se vê do
peguinte :—
1811 exportaçoens 34:923.575
1812 dicto 24:131.734
1813 dicto 31:243.362
O valor real do producto Britannico, e manufacturas
exportadas, segundo as avaluaçocns na alfândega, he
43:657.864. Alem disto a exportação de mercadorias
estrangeiras he a seguinte.
1811 10:946.284
1812 8:227.937
1813 11:998.179
A seguinte he a vista comparativa dos principaes artigos
em que consistiam estas exportaçoens.
38 Commercio e Artes.
Fazendas d^algodaÕ.
1S11 18:033.794
1812 11:715.501
1813 15:972.826
Lanificios.
1811 5:773.719
1812 4:376.497
1813 5:084.991
Café.
1811 1:455.427
1812 1:418.034
1813 4:382.730
Assucar.
1811 - 1:471.697
1812 1:215.119
1813 1:570.277
O seguinte hea vista comparativa das vasos, c navega-
ção da Grum Bretanha e suas depenpencias, pelos 3 annos
que acabaram aos 30 de Septembro em cada anno.
1810 numero de navios 23.703
1811 dicto 24.106
1812 dicto 24.137
Estes navios, em 1812, foram esquipados por 165.030
marinheiros.
Commercio e Artes. 39

Preços correntes dos principaes productos do Brazil em


Londres, 25 Ae Julho, 1813.

Gêneros. Qualidade 'Jauüdad' Preço de - Direitos.

Atsucar branco 112 lib. 54s. 64s. 31. I4s. 7 | d .


trigueiro L)°. 45s. 52s.
mascavado D" 38s. 44s.
Algodão Rio Libra 16p. 20p. IÇs.lId.pMOOlil».
Bahia D°. 22p. 23p.
Maranhão D". 22p. 23p.
Pernambuco D". 23p. 24p.
Minas novas D*. 19p. 21p.
D". America melhor D». nenhum l6s. 1 ld. por libra
Annil Brazil D". 2s. 6p. 3s. 4d. por libra
Arroz D». 112 lib. 45s. SOs. 1 es. 4(1.
Cacao Pará 112 lib. 54s. 60s. 3s. 4d. por lib.
Caffé Rio libra 7 Os. SOs. 2s. 4d. por libra.
Cebo Bom 112 lib. 84 s. 86s. 2s. 8d. p o r l 12 lib.
Chifres grandes 123 20s. 35s. 4s. 8d. por 100.
Couros de b o j Uio grande libra 7$p. 8ip. 8d. por libra.
Rio da Prata D°. 9p. 9èp.
D", de Cavallo D?. Couro Ss. 6p. 9s.
Ipecuacuanha Boa libra I4s.6p. I5s. 6]). 3s. libra.
Quina Pálida libra is. 6p. 2s. Op. s.8d. libra.
Ordinária Do.
Mediana 2s. 8p. 3s.
Fina 4s. 6p. 7s. 6p.
Vermelha 4s. 7s.
Amarella 2s. Cp. 3s.
Chata D".
Torcida 3s. 9p. 4s. 9(1. ls. 8d. por libras.
Pao Brazil tonei 951. 1001. 4l. a tonelada.
Salsa Parrilha 'is. 6'd. libra excise
Tabaco Rolo libra 5p. 6P* | 3l.3s.9d.alf.l00lb.

Prêmios de seguros.
Brazil hida 8 guineos por cento. R. 4.
vinda 10 a 15
Lisboa c Porto hida 4 G«. R. 50».
vinda 4 G\ R. 50\ por cm combojr
Madeira hida 5 a 6 G*.—Açores 8 G s .
vinda 8 á 12
Rio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a tornaviagem
vinda o mesmo 15 a 20 G5.
t 40 1

LITERATURA E SCIENCIAS.
INGLATERRA.

Relatório do estabelicimento nacional da Vaccina, feito ao


Muito Honrado Visconde Sidmouth, Principal Secretario
de Estado da Repartição do Interior, Kc.
Estabelicimento Nacional da Vaccina,
Leicester-square, 22 de Abril, 1813.
JVIY L O R D ! A Meza do Estabelicimento Nacional da
Vaccina tem a honra de informar a V. S., que durante o
anno de 1812, os cirurgioens nomeados por sua authori-
dade, para as nove situaçoens em Londres, tem vaccinado
4.521 pessoas, e tem distribuído ao publico 23.219 cargas
da Lympha Vaccina. O numero das pessoas vaccinadas
neste anno excede o de 1811, em 1.373; e a lympha que
se tem pedido, tem sido muitas vezes taõ considerável,
que com difficuldade se tem podido supprir. A Meza
teve razaõ de pensar o anno passado, que quasi dous ter-
ços das crianças nascidas na Metrópole, foram vaccinadas
pelas instituiçoens charitativas, ou practicos particulares.
Ha razaõ para crer, que tres quartas partes destas man-
cos se submetteram a esta saudável operação. Mas ainda
que os prejuizos contra a vaccina, que artificiosamente
tem sido animados por homens ignorantes e interessados,
parece que vaõ geralmente decaindo na Metrópole, assim
como em outras partes destes dominios, com tudo he com
pezar que a Meza tem de fazer mençaõ do atigriu-nto de
mortalidade pelas bexigas, nesta cidade, o anno passado»
em numero de 1.287.
Antes <ia descuberta da vaccinaçaÕ, o numero médio de
mortos pelas bexigas, dentro da cidade, e seu termo, era
de 2.000 ; e ainda que nos últimos 10 annos creseco a po-
Literatura e Sciencias. 41
pulaçaõ desta grande cidade mais 133.139 pessoas; com
tudo em 1811 pelo beneficio da vaccinaçaõ se reduzio
a mortandade a 751. O augmento do anno passado com
razaõ se attribue á temerária e inconsiderada maneira
porque muita gente se inoculou ainda com a bexiga, e
teve de apresentar-se depois duas ou tres vezes por semana,
no lugar da inoeulaçaõ, em todos os estados da moléstia.
Esta practica da inoeulaçaõ, e da communicaçaõ promis-
cua dos enfermos com a sociedade em geral, he um dos
grandes meios porque a moléstia se conserva ainda em
existência, e se propaga a suainfecçaõ a pessoas, e lugares,
aonde alias nunca se teria visto. Isto naõ somente he a
opinião, desta Meza, opiniaÕ fundada na observação; mas
he um facto confirmado pelas communicaçoens que lhe
tem feito as melhores authoridades, e pessoas de character
as mais livres de prejuizos.
O respeitável collegio dos cirurgioens de Dublin, alle-
ga, que a practica da inoeulaçaõ, naõ somente subministra
uma constante fonte de infecçaõ ; mas impede a extincçaõ
da moléstia, se quer por um breve intervallo.
A populosa cidade de Norwich nunca esteve livre delia
senaõ depois da descuberta da vaccinaçaõ: mas desde
aquelle periodo se tem experimentado, que os seus estra-
gos abatem de tempos a tempos. Em 1807, depois de des-
apparecer por algum tempo foi a moléstia trazida para
esta cidade por um vagabundo de Londres, o qual, com-
municou o contagio antes que os magistrados o soubessem,
e antes que se pudesse seguir o conselho dos facultativos,
de providenciar um lugar aonde tal pessoa pudesse existir
separada da communicaçaõ dos habitantes. De 1.200,
que foram infectados, morreram 203. Naquelle periodo,
1807, ainda naÕ tinham abatido os prejuizos contra a vac-
cina; porém em IS 12, quando aquella cidade estava amea-
çada de similhante mal, por terem npparecido as bexigas
nas suas visinhanças, os magistrados, os facultativos, e o
VOL. XI. No. 62. F
42 Literatura e Sciencias.
clero, concorreram em recommendar a vaccina. Desde
tO de Agosto, até 22 de Outubro seguinte, se vacciná-
os
1.316 pessoas. O resultado foi que ainda que um
ram
eito, cujo filho os facultaticos naõ quizéram inocular,
procurou a matéria das bexigas, que elle mesmo applicou,
e desta fonte se infectaram sette pessoas; com tudo por
meio desta vaccinaçaõ feita a tempo, nem uma só vida se
perdeo.
Este resultado, ainda que differente dos acontecimentos
de 1807, naõ pode deixar de fazer impressão em todos os
espíritos, que se prestam á convicção : quando se naõ
practicou a vaccinaçaõ, 1.200 pessoas tiveram as bexigas,
e deste numero morreram 203 ; quando se recorreo promp-
tamente á vaccina, naõ houve uma só victima da moléstia.
Porém naõ he somente entre nós, que se podem aprender
liçoens que tanto credito fazem a esta nora arte. A
Meza tem communicaçoens abundantes de todas as partes
do mundo, que lhe saõ igualmente vantajosas. Referir
por miúdo todos os testemunhos, que tem recebido de sua
efflcacia, naõ somente em prevenir as bexigas, mas a sua
força em supprimir as suas devastaçoens, em circumstan-
cias as mais desfavoráveis e ameaçadoras, seria extender
este Relatório a uma extensão imprópria, c desusada. A
Meza se contentara com mencionar algumas particulari-
dades, que espera recommendaraõ isto ao favor e con-
fiança de seus compatriotas, e ao fomentador cuidado do
Governo.
No continente da índia, tem a vaccinaçaõ sido rece-
bida como a melhor bençaõ, e tem sido practicada com o
melhor successo, e da maneira mais extensa.
Nas ilhas de Ceylaõ, e Bourbon, tem tido recebida de
maneira naõ menos favorável, e tem sido practicada com
effeitos naõ menos benefícios. Na ilha de Ceylaõ, desde
a sua primeira introducçaõ, se tem vaccinado mais de
200.000 pessoas : somente no anno de 1811, se vaccina-
Literatura e Sciencias. 43
ram 30.491 pessoas, como parece da conta juncta de Mr.
Anderson, o Superintendente Geral, a quem, em grande
numero que vio, somente oceurreo um caso, em que falhou
na tentativa de prevenir as bexigas (e as circumstancias
deste caso o fazem mui duvidoso.)
No cabo de Boa-Esperança se temem tanto as bexiga,*;
como a peste; e ali se tem mostrado menos destruetoras á
vida humana. Lord Caledon, o ex-Governador, estabe-
leceo a instituição da vaccina em Cape-Town ; o que em
breve se póz em actividade no tempo de seu successor,
Sir Joaõ Cradock. Aquella colônia tem uma população
de SO, ou 100 mil habitantes, e se suppoem que 15.000
deste numero estavam sugeitos á infecçaõ das bexigas,
que ali apparecêram aos 12 de Março, de 1812. Entre
este tempo e os 4 de Julho seguinte apanharam esta mo-
léstia 233, e deste numero morreram 100. O resto dos
habitantes, sugeitos á enfermidade fôram salvos por uma
activa vaccinaçaõ, na qual todos os facultativos do Ufgar,
assim como os cirurgioens dos regimentos e da guarniçaõ,
trabalharam com igual assiduidade.
De varias relaçoens, que se tem remettido â Meza, jul-
gamos que he do nosso dever escolher um caso, que tende
a mostrar determinadamente o poder da lympha vaccina,
em impedir o contagio das bexigas.
Quatro centos negros de Moçambique desembarcaram
no I o . de Março em Cape-Town, dos quaes uma mulher
foi atacada pela infecçaõ das bexigas chamadas conflueu-
tes, aos 5 dias, na forma a mais virulenta. Esta mulher
habitava, naquelle tempo, em um grande quarto, juncto
com mais 200 de seus companheiros, sem que se separas-
sem nem de dia nem de noite. Participando-se este caso,
todas estas " victimas da avareza e cubiça," como lhe
chama o cirurgião, fôram immediatamente vaccinadas, e
mudadas no dia seguinte para uma pequena ilha (ilha de
Paarden) a pouca distancia da villa. POUCOÍ dias depois
44 Literatura e Sciencias.
a mulher foi victima sacrificada a um dos mais graves
characteres desta moléstia. Do numero total de negros
78 indivíduos receberam a moléstia da vaccina, a passaram
por um curso regular de sua acçaõ, " Ficaram na ilha
50 dias, durante os quaes naó apparecêo outro exemplo
de bexigas, posto que estivessem expostos a toda a força
de uma atmosphera contagiosa; nem ha um único exem-
plo, em que desta grande porçaõ de pessoas, alguma ficasse
sugeita ás bexigas.'' O facultativo, que escreve esta nar-
ração, accrescenta, que em todo o decurso de sua " árdua
contenda" (a vaccinaçaõ geral) naÕ tem vindo ao seu co-
nhecimento um so exemplo em que a vaccinaçaõ deixasse
de proteger o individuo, contra as bexigas ; sempre que se
averiguou que aquella produzisse o seu efièito.
Em Havana, segundo a conta que deo o Dr. Thomas
Romey, Secretario do Committee de Vaccinaçaõ, 13.447
pessoas fôram vaccinadas em 1810; 1.315 destas pessoas
fôram vaccinadas na cidade de Havana somente; e com
taÕ bom effeito, que por dous annos nem uma só pessoa
se enterrou no cemitério publico daquella cidade, que
morresse de bexigas, as quaes d'antes eram grande causa
de mortandade.
Em Caracas, na America Meredional, se extinguiram as
bexigas pela vaccinaçaõ. Quanto aos meios que adoptou,
o Governo Hespanhol, e seus subditos, devemos referir-nos
aos papeis junetos, que nos fôram ministrados pqr alguns
cavalheiros Hespanhoes que se acham em Londres.
As noticias de varias partes Europa saõ quasi igualmente
favoráveis. No relatório do anno passado se observou,
que as bexigas estavam extinetas em MilaÕ e Vienna; e
neste lugar a mortandade, calculando em termo médio,
chegou a 800.
De Malta recebemos noticias naÕ só de que os navios de
S. M. estaõ suppridos com a lympha da vaccina; para
vaccinar os marinheiros que naõ tiverem tido bexigas,
Literatura e Sciencias. 45
mas também que se vaccináram (grátis) os filhos dos
artistas no arsenal, e quasi 3.000 crianças dos Maltezes: e
M*. Allen, o cirurgião do arsenal accresenta a isto, que
durante uma residência de 7 annos em Malta, nunca soube
de algum exemplo de pessoa vaccinada, que tivesse bexigas
aodepois.
A Rússia tem igualmente participado dos benefícios da
vaccinaçaõ. Ella se introduzio no Império Russiano em
1804; e desde aquelle tempo se tem vaccinado em sua»
varias provincias 1.235.637. e taõ uniformemente bem
succedida tem sido a vaccinaçaõ, que se lhe tem dado na
quella lingua o nome de bexiga de segurança. O D r .
Crighton, medico do Imperador de todas as Russias, aquém
devemos o exacto mappa, que aqui ajunctamos, observa
que(segundoumabem fundada regra de calculo) suppondo
que antes da introducçaõ cia vaccinaçaõ morria annualmente
uma criança em 7 das que tinham bexigas, a vaccinaçaõ
tem salvado as vidas, no Império Russiano, a 176.612 cri-
anças desde o anno de 1804.
O Governo de França, parece que tem tido todo a cui-
dado, em segurar ao povo todas as vantagens que se podem
tirar desta descuberta. Estabeleceo-se logo em Paris uma
instituição central, para animar, e promover a practica da
vaccinaçaõ; e para o mesmo ftm se adoptou um similhante
plano em cada cidade considerável das provincias. Estas
instituiçoens provinciaes, naõ ha muito tempo que ordena-
ram, que se desse uma conta ao governo do estado da vac-
cinaçaõ, nos seus respectivos districtos. Destes documen-
tos se deduzio um relatório, que fizeram Messieurs Ber-
tholet, Perce, e Halie, philosophos" da primeira reputação,
e apresentaram á classe das sciencií.is phisicas do Instituto
Imperial; em que se afirma que de 2:671.662 pessoas, que
fôram propriamente vaccinadas em França, somente appa-
recêram 7 casos de doentes, que ao depois tiveram bexi-
45 Literatura e Sciencias.
gas ; que vem a ser 1 em cada 381.666. Accrescenta-se
que os exemplos bem authenticados de pessoas, que tiveram
bexigas depois de ter sido bem succedida a inoeulaçaõ, saõ
proporcionalmente menos numerosos: e também em
Gancbra, Rouen, e varias outras grandes cidades, aonde o
systema Jenneriano naÕ foi limitado pelos prejuizos popu-
lares, as bexigas ja naõ saõ conhecidas ; e os registros ex-
hibem concludentes provas do conseqüente augmento de
população. O Relatório conclue expresssando grandes
esperanças de que esta desordem pestilencial, desappare-
cerá inteiramemente da sociedade.
Este objecto será indubitavelmente mui adiantado, pela
linha de comportamento que tem adoptado o Real Collegio
de Cirurgioens de Londres ; cidade esta, em que, naõ ob-
stante os artifícios que se practicam, e as falsidades,* que
se propagam para a descreditar, a vaccinaçaõ continua a
ganhar credito. O Real Collegio de Cirurgioens tem re-
solvido de naõ inocular com a matéria das bexigas. O
Collegio de Cirurgioens de Dublin, tomou a mesma resolu-
ção. Em Glocestershire, tres cirurgioens, convencidos da
perniciosa tendência da inoeulaçaõ, em sustentar e propa-
gar as bexigas, se associaram e se obrigaram entre si, a naÕ
a practicar.
O Estabelicimento Nacional da Vaccina, tem recommen-
dado a imitação de taes exemplos á faculdade, em todas as
partes destes domínios, e naõ duvida, que os bons effeitos
de tal conselho, seraõ bem depressa visíveis, na diminuição
da mortandade, e no augmento da população do paiz.
Será próprio acerescentar que os cirurgioens das nove
repartiçoens desta metrópole nos participaram, aos 14 de

* Dentro do termo da eidade te diz que no anão patado morreram


duat pessoal pela vaccina, porém examinado a meza etUbeliciamento
Nacional da vaccina, se achou que tinham morrido de outrat cautai i
e se provou que a asserçaõ era tem fundamento.
Literatura e Sciencias. 47
Janeiro passado, que nenhuma pessoa se lhes tinha quei-
xado de que tivesse bexigas depois da vaccinaçaõ.
A meza tem outravez o prazer de referir que o dinheiro,
concedido pelo Parlamento a Sessaõ passada, foi sufficiente
para satisfazer as despezas do anno de anno de 1812; e he
de opinião que a mesma somma será adequada ás desperas
do anno corrente.
F. M I L M A N , Presidente.
Por ordem da meza,
r
J A M E S H E R V E Y , D . em Medecina, Registrador.

Novas Publicaçoens em Inglaterra.


Annual Register, 1812, 8vo. preço 16s. Registro an-
nual, ou vista da Historia, Politica, e Literatura do anno
de 1812.

Cogarüs Disquisition on Christianiti/, 8vo. preço l2s.6d.


DiscuçaÕ Theologica sobre as excellencias characteristicas
da christandade; ou inquisição sobre o superior auxilio que
ella presta, e os motivos que contém para a practica da vir-
tude, cultura das melhores afTeiçoens do coração; e em
preparar a producçaõ moral de Deus, para a felicidade per-
manente ; p o r T . Cogan, Doutorem Medecina. Impresso
por Cadell e Davies.
Este volume contem uma serie de discussoens philoso-
phicas, ethicas, e theologicas, sobre as paixoens e afTeiçoens
do espirito humano ; e com isto se dará um titulo geral para
quem comprar os quatro volumes antecedentes.

Smython lhe Customs, 8vo. preço I8s. A practica das


alfândegas, na entrada, exame, e despacho das fazendas e
mercadorias, que usualmente se importam dos paizes es-
trangeiros; mostrando as tarifas em cada artigo, e descre-
vendo os seus characteres, e propriedades peculiares. A
isto se ajuncta, uma illustraçaõ da grande medida da facili-
48 Literatura e Sciencias.
dade commercial, novamente introduzida, no systema de
metter fazendas em armazéns. Tudo isto dirigido a for-
mar um manual completo de practica moderna, no impor-
tante rnmo dos negócios da alfândega; muita parte dos
quaes naõ tem sido explicados de modo connexo e claro,
ha muitos annos. Para uso dos officiaes d'alfandega, ne-
gociantes, correctores, &c. na Gram Bretanha e Irlanda.
Por James Smyth, Inspector Superintendente dos Arma-
zéns no porto de Hull. Impresso por Richardson, juncto
á praça da Commercio em Londres.

Boi der Anliçuities, Vol. I. 4to. preço 2l. 2s. e em papet


grande, 3l. 4s.; e provas em papel da índia 7l. 4s. com 24
Estampas. As antigüidades da Estremadura de Inglaterra
e Escócia, que comprehendem exemplos de architectura,
esculptura, e outros vestígios das idades antigas, desde os
tempos mais remotos, até a união das duas coroas; acom-
panhado de esboços descri pti vos, notas biographicas, e uma
breve historia dos principaes acontecimentos que tem sue-
cedido nesta interessante parte da Gram Bretanha. Im-
presso por Longman and Co.
Esta obra se publica em N°'. cada 3 mezes, e o 5o. N*.
appararecerá em Agosto.

Von BuchJs Traveis in Norway, 4to. Viagens a Nor-


wega c Laponia, nos annos de 1806, e 1807; por Leopoldo
Von Buch ; membro da Academia Real de Sciencias de
Berlin ; traduzido do Alemaõ por Joaõ Black, com algu-
mas notas, e vida do Author pelo Professor Jameson. II-
lustrado com mappas.

Buchanaris Letters, in reply to Buller, 8vo. preço ls.


Carta a Honr. Companhia das índias Orientaes, em ret-
posta a Narração de Carlos Buller, Escudeiro, Membro do
Parlamento, relativamente ao idolo de Jaggernaut: pelo
Literatura e Sciencias. 49
Reverendo Cláudio Bucbanan; extracto das minutas impres-
sas da Casa dos Communs.

Weslhaü, Foreign Scenery. Part III. preço lOs. 6d.


Terceira parte de scenas Estrangeiras, de Westall; con-
tendo duas vistas da ilha da Madeira, e uma da Ilha de
Santa Helena, com descripçoens, em Inglez, e em Francez-,
He esta uma serie de desenhos, da Madeira, Cabo de
Boa Esperança, Timor, China, Ilha do Principe de Gales,
Bombaya, Paiz do Mahratta, S u . Helena, e Jamaica, gra-
vadas, e acabadas com elegância, por C. Heath, Woolnoth,
e G. Cooke, de desenhos feitos naquelles paizes; por Gui-
lherme Westall.

Correspondence of Wakefield and Fox. 8vo. preço 9s.


Conrespondencia do defuncto Gilbert Wakefield, B. A.
com o defuncto Muito Honr. Carlos James Fox ; nos an-
nos de 1796 até 1801; principalmente sobre objectos de
Literatura Clássica.

Martiiís Circle qf A ris, 4 to. preço 2l. ou 13 partes a


3s. cada uma. O circulo das artes mechanicas; contendo
tractados praclicos sobre as seguintes artes mechanica, offi-
cios e manufactuaas. Architectura; Pontes; Fornos, Rol-
danas, Encadernação-; Cervejaria; edificar com tijolo ; fa-
zer tijolo; Vassouras, botoens, marci liaria, carpinteiro,
entalhador e dourador, fazer carruagens, pentes; tanoa-
ria; manufacturas d1 algodão, corrieros, cutelleiros; tinetu-
reiros; engenhos; esmalte, gravura; fazer limas; fundi-
ção ; vidraria, vidraceiros, batedor de folha d' ouro ; acha-
roar, alvenaria, mineiros, modeladores, fazer instrumentos
músicos; fazer pregos, agulhas; pintar casas, fazer papel,
patins, alfinetes, cachimbos, rebocar, chumbar; oleiros,
impressores, destiladores ; cordoaria, serrar madeira; fazer
chumbo de espingarda, fazer sabaõ, pintar papel, fazer
VOL. X I . No. 62. 6
50 Literatura e Sciencias.
goma; velas de sebo, e cera; curtumes; casquinha; tor-
neiros; relojoeiros, teceloens; fazer rodas; fio d* arame,
eardar; e por fim um tractado de Geometria practica. Por
Thomas Martin, Engenheiro civil; ajudado por eminentes
mechanicos, e fabricantes de profissão, lllustrado com
numerosas estampas, gravadas por Lowry, e outros emi-
nentes gravadores. Impresso por Ricardo Rees.

Abercroynbies Practical Gardener, 12mo, preço 9s. O


Jardineiro Practico, em todas as repartiçoens ; ou systema
melhorado de horticultura moderna, adaptada para hortas
pequenas ou grandes. Contem direcçoens amplas e claras
para o arranjamento e cultura das hortas de vegetaes culi-
nares, fruetas, jardins de flores, matas, terreno de recreio,
viveiro de plantas, e plantaçoens de arvores para madeira.
Também, contrucçaõ e manejo das estufas, ou conservató-
rios, e jardim a que chamam forçado. Com taboadas co-
piosas das plantas de cada repartição, divididas sistemati-
camente, aonde abraçam differentes classes; e de maneira
ampliadas, que comprehendem variedades e espécies, no-
vamente descubertas; e cujos nomes se adaptam aos ar-
ranjamentos Botânicos modernos. Tudo disposto alpba-
beticamente, em tractados separados. Por Joaõ Aber-
crombie; author da obra Intitulada Evcry Man his own
Gardener (cada um o seu mesmo jardineiro). Impresso por
T . Cadell.

BeWs Engravings of Morbid Parts. Imp. foi. li. I Cs.


Estampas de exemplos de partes morbosas, conservadas na
collecçaõ do Autaor, na rua de Wiodmill, e escolhidas das
divisoens, Urethra, Vesica, Ren, morbosa, et lassa; que
contém exemplos de todas as moléstias, que saõ acompanha-
das de mudança de estruetura nestas partes; e mostrando
os damnos, que causam os cáusticos, bugias, catbeter, tro-
char, escarpelo, &c. ; usados sem grande precaução. Com
algumas observaçoens. Por Carlos Bell.
Literatura e Sciencias. 51
Rippinghairts Art of Speech, 12mo. preço 6s. A arte
de fallar extempore em publico ; incluindo um curso de
disciplina, para obter as faculdades de discriminação, ar-
ranjo, e discussão oral ; destinado para uso das escholas, e
própria instrucçaõ. Por Joaõ Rippingham.

Stael on Suicide, 12mo. preço 5s. Reflexoens sobre o


Suicídio, por Madame de Stael, Baroneza de Holstein, tra-
duzido do Francez.

Perpetuai War, 8vo. preço 5s. Guerra perpetua ou


exame cândido da politica de Mr. Madison; e contem a
analyse da sua ultima mensagem ao Congresso, no que
respeita QS seguintes pontos; a saber; as pretensas nego-
ciaçoens de paz ; o importante, e interessante objecto da
conscripçaõ de milicia; e o estabelicimento de um exer-
cito permanente de guardas e espias debaixo do nome de
força roluntaria local; por um Agricultor da Nova Ingla-
terra ; author do folheto entitulado " Mr. Madison's War."
Este folheto he nova ediçaõ do que se imprimio em Bos-
ton, na America.

Montefiorè's Commercial Preccdents, 4to. preço li. lOs.


Segunda ediçaõ com alteraçoens e addiçoens consideráveis
da obra intitulada Commercial and Notarial Precedents, ou
Protocolo de formas commerciaes e de Notarios; e con-
tem as mais approvadas formas especiaes e communs, que
diariamente se requerem, e que diariamente precisam nas
transacçoens de negócios, os mercadores, lavradores, me-
chanicos, notarios, procuradores, &c. Cada collecçaõ de
formas he precedida de um resumo das leys sobre a matéria;
principalmente sobre letras de cambio, seguros, salvagens,
&c. como se acha ajustado, e determinado pelas ultimas
decisoens : com uma introducçaõ, que contém as formas
practicas das transacçoens de Notario, e commerciaes;
o 2
52 Literatura e Sciencias.
com um mappa exacto tias propinas dos Notarios; e um
appendix, que comprehende os Actos do Parlamento, re-
lativos aos negócios de navios e marítimos; até o tempo
presente. Por Joshua Montefiore, Procurador, e Notario
Publico, na cklade de Londres.

i\ oticias Literárias.
Acham-se na imprensa as seguintes obras.
History of England, Part I. ; preço lOs. 6d. Historia
de Inglaterra, illustrada por 40 estampas de symbolos,
gravados em cobre, destinados a auxiliar o novo estudante
na historia. Por Maria Anna Rundall, de Percy House,
Bath ; authora da Grammatica da Historia Sagrada. Im-
presso por Parry and Co.

Historia da Inglaterra desde os tempos mais remotos.


Seu author Rapin de Thoyras. Novamente traduzida, e
corrigida; e continuada até o tempo presente : com notas
illustrativas, históricas, politicas e estatísticas, de collec-
çoens particulares, e de registros públicos, depositados no
Museo Britânico, Torre de Londres, &c. Apresentando
uma huminosa exposição de todos os acontecimentos polí-
ticos, militares, e commerciaes, relativos ao Império Bri-
tannico, e a suas possessoens coloniaes ; uma vista geral da
Revolução Franceza, e guerras que dellas resultaram; rela-
ção das viagens e descubertas, e dos progressos da litera-
tura, sciencias, e artes polidas. Por Henrique Kobertson,
Dr. cm Leys.
Esta obra será comprehendirla, em 200 números sema-
naes, ao preço de 18 peniques cada um, em typos novos,
e rasgados. Em cada tres N°". se dará, geralmente uma
estampa, soherbamente gravada. Publicar-se-ha também
em Partes; cada parte de 12 \ ° * . preço Ss. cada nma.
Impresso por J. Cundee, Ivy-lane, Paternostcr-row.
Literatura e Sciencias. 53
O Index das Anecdotas Literárias de Nichols, no 18mo.
século, que forma o VII. volume, está ja completo, e será
entregue, sem outro pagamento ; aos que compraram os
volumes antecedentes; mas exige-se, que se volte (livre de
gasto) ao Publicador a Nota Promissória, que se entregou
com cada jogo : e que as pessoas que foram supridas com
esta obra pelos seus livreiros, peçam o index pela mes-
ma via.
Os 7 volumes se podem agora obter completos por sette
guineos, de Nichols e filhos, Red Lion-passage, em Fleet-
street.

O Doutor Marshall Hall, da infirmaria Real, em Edin-


burgo: está preparando para uma obra practica sobre a
physiognomia, e posturas dos doentes, e sobre os sympto-
mas, diagnosis, e prognosis das moléstias.
Mr. Joseph Wood esta preparando o quarto volume das
Antigüidades de Athenas, &c. por Stuart e Revctt; tirada
de desenhos que estes senhores fizeram em Pona, e nas
ilhas Gregas; incluindo algumas esculpturas addicionaes
do Templo de Minerva em Athenas, tirada de desenhos de
Mr. Pars.
O Doutor Joaõ Moodie de Bath, tem quasi prompta
para publicação uma obra sobre a Geographia Moderna de
Ásia, em dous volumes de 4to., com um Atlas.
As viagens de Mr. Von Klaproth ao Caucaso e Geórgia,
feitas por ordem do Governo Russiano, traduzidas do Ale-
mão, por Mr. Shobert, estaõ j a na imprensa.
As antigüidades do Norte, ou Traços destinados a illus-
trar a historia primitiva, poezia, e romance, das naçoens do
Norte da Europa, se estaõ imprimindo em um volume de
quarto grande.

O Manuscripto da t( Nova Eloisa," na letrado Rousseau,


em 4 volumes de Svo.,eque pertencia a Madame de Hou-
54 Literatura e Sciencias.
delot, qne falecera a pouco, se offereceo á venda em Paris,
no dia 4 de Junho por 8.000 francos ; naõ havendo porém
quem chega-se a e-.te preço, naõ quizéram os testamentei-
ros que se vendesse.
Mr. Gallaud, o Geometra, do lugar de Charveux, juncto
a Niort, obteve do Governo Francez uma patente pela
invenção de um novo systema de óptica e heliophlogia.
E**te sábio usa, em lugar dos vidros concavos, e convexos,
quadrados dioptricos, que magnificam ou aproximam os
objectos, representando as suas imagens de maneira uni-
forme em todos os pontos de suas superfícies, o que naõ
fazem os vidros ordinários. A sua diophlogia quadrangu-
lar apresenta grande e preciosa economia de substancias
combustíveis, unindo em um ponto grande numero de
focos, que produzem, á vontade, todos os gráos de calor
necessários para os usos da vida, sciencias, e artes.
Uma carta da índia, que se leo ante a sociedade Li-
neana, refere uma singular mudança, que acontece diaria-
mente nas folhas de uma espécie de cotyledon, da índia,
que se cultiva, em varias estufas. De manhaã tem as
folhas um amargo-acido, similhante a das azedas; ao meio
dia, saõ insipidas, e pela tarde saõ amargosas. Esta sin-
gular mudança se tem explicado, suppondo que a planta
absorve o gaz oxigênio durante a noite, e que se torna a
decompor durante o dia.

PORTUGAL.
Novas Publicaçoens.
Sahio á luz o livro que tem por titulo Verdadeiras Ine-
Ineditas obras Poéticas de Manuel Maria de Barboza du
Bucage, que formaõ o 4 o . tomo das suas obras, c o l ' . das
posthumas. Neste volume, além de muitas O d e s Sonetos,
E|)istola>, Elogios, Quadras, Motes, e Colchías glosadas
sobre muitos objectos, vem a traducçaõ do excellente
Drama de Metastacio, Atílio Regulo, traduzido em verso
Literatura e Sciencias. 55
heróico com tanta perfeição, que mais parece original que
traducçaõ ; he este volume impresso em bom papel, e
vende-se a 480 réis na loja da Gazeta, e na de Livros na
rua Augusta N°. 1, na de Carvalho aos Martyres, e nas
mesmas se acha o resto das mais obras anteriores deste
poela, aonde se achaõ também em papel para commodi-
dade dos que o quizerem mandar encadernar igual aos tres
primeiros tomos, que j á tiverem, impressos na officina de
Simaõ Thadeo Ferreira, publicados ainda na vida do Au-
thor, no qual formato, e caracter he este impresso. As
pessoas que para estas obras subscreveram, o poderão ir já
receber, aonde fizeraõ as suas assignaturas.

Imitação livre da Ode de Horacio.


Jam tatu terris, nivis atquc dirá, fye.
Jâ «obre a terra Jove dezabrido
Geada, e pedra assáz lançou, seus raios,
Despedidos da maõ abrazeada,
Os templos arrazàram.
Atterrou tanto os povos, que temiam
Voltasse o infausto século de Pirra,
No qual Proteo levou pastar os Phocas
Ao cume das montanhas.
Entaõ se viram couzas nunca vistas *.
Aonde as Aves sabido azilo tinham,
Peixes dos ramos pendurados viaõ ;
Nadavam n'a<-*ua os Gamos.
Vio-se o Tibre torcer, violento, as ondas,
Que a Etruria repulsava contra Roma,
Derrubando de Numa o Paço excelso,
E a Capella de Vesta.
Vio-se innundar de Roma a praia extcnça.
Presumindo vingar d'Uia os nltrages,
Jactar-se no poder de dar-lhe alivio
Contra o que os Céos mandaram.
Mas um dia, os que o ferro poupa, raros
Haõ-de saber com pasmo, que Romanos
Contra Romanos saõ, quaõ melhor fora
Lutar só contra os Persas!
56 Literatura e Sciencias.
Que sangüíneos combates, que injustiças !
Qual Nume invocaremos, que previna
Do Império vacillante a queda horrível
Quando tudo saõ erros /
Que précos fervorozas sacras Virgens
Haõ-de offerecer a Vésta que as regei ta t
Qual victiraa, que expie tautos crimes
Haõ-de escolher os Deozes í
Deos dos Auguros vêm, brilhante Apollo!
Desce das Nuvens, cede á nossos votos,
Ou de Amores, e jogos rodeada
Desce tu Venus Linda !
Ampara a creaçaõ de que és origem
Ou Marte se está farto de combates,
De gritos dos soldados, dos armários
Enropádot cm Sangue.
Venha por comprazer-se soecorrer-nos;
Venha da bella Maia o filho alado;
Tome o gesto c figura do Reinante
Que a Regia Mãy succede.
Demore-se entre nós expulse as feras,
Que em forma humana infestam nossos ares,
E que o dente feroz nos membros cravam
Dos Scipios, dos Emilios.
Xcrêo amanse o már, almo Favonio
Que o lenho, que o torne a nossas praias:
Ah ! vêm, Príncipe, vêm, o teu aspecto
Ha-de assustar os crimes.
Astro eminente, brilha, vêm consola
O povo consternado, á lanto tempo,
Naõ se desgostem vicios delle, ou forcem
A de novo eclipsar-se.
Ah ! recrea-te em ser o pai da Pátria •
Verás em Coro, os Orfaõs, que te chamaõ,
Escapando do rigor d'iniquos ferros,
Cantar teu nome Augusto.
[ 57 ]

MISCELLANEA.
AMERICA H E S P A N H O L A .
México, 29 de Outubro, de 1812.
O Brigadeiro D. Ciriaco de Llano, Governador, e In-
tendente interino de Puebla, Commandante do Sul,
reme/teo a este Governo superior o seguinte Officio, e as
partes que acompanham.
" EXCELLENTISSIMO SENHOR,—Remetto a V. E. as
duas copias das partes juntas, que acabo de receber do
Tenente Coronel D . Luiz de Aguila, em que refere o
que ocorreo na marcha do comboi para Perote, e a volta
deste com o regimento de Çamora, naõ tendo chegado âs
minhas mãos, o que diz me dirigira de Napulacan, nem a
carta do Brigadeiro D . Rozendo Porlier. Quando che-
gar o comboi a esta cidade, contara o Commandante os
detalhes da victoria, na qual segundo as noticias particu-
lares tivemos pouca perda.
" Esta noite chegou Aguila com a sua vanguarda a
Amazoque, e o comboi com a artilheria, e petrechos a
Acaxete.
" O que participo a V . E. para seu governo, e satis-
fação.—Deos guarde a V- E. muitos annos. Puebla 25
de Outubro de 1812, ás 8 e um quarto da noite.—Ex D "\
Sr. Vice-Rei D . Francisco Xavier Venegas."

Partes do Tenente Coronel D. Luiz de Aguila.


1*. " Tendo sahido por ordem de V- S. a tomar o com-
mando da vanguarda a 16 deste mez, conferencici aquella
manhãa com o Brigadeiro Porlier em Amazoque, e fica-
mos conformes em marchar unidos ; pois, por mais exac-
tas que fossem as nossas combinaçoens, podiaó inutilisar-se
por falta de communicaçaõ. Seguimos por tanto a nossa
marcha, e pernoitamos a 17 em Nopalucan. As nossas
V O L . X I . N o . 62. H
38 Miscellanea.
patrulhas, e espias avisáram-nos, que o Cura Morelos dor-
mia em Ozumba, a legoa e meia de distancia da parte
direita do nosso caminho.
" Na madrugada de 18 emprehendemos a nossa marcha
e pouco depois de ter passado o Santuário de Chiapa,
avisáraõ-me da retaguarda, que o inimigo se aproximava
em tres columnas. Roguei ao Brigadeiro Porlier que to-
masse o commando ; o que com effeito fez immediata-
mente, communicandome ao mesmo tempo as suas instruc-
çoens. O comboi composto de 1500 mulas, 9 coches, e
5 liteiras, subio para uma altura, que ficava a um lado
da estrada. A sua frente ficou coberta por um canaveal
de milho, e as mulas ficáraõ entre um figueira!, que as
punha ao abrigo dos ataques da cavallaria inimiga, guar-
dadas pelo batalhão da Uniaõ.
" O batalhão de Asturias, que marchava avançando, teve
ordem para formar a nossa esquerda com uma peça de ar-
tilheria. A herdade de Santa Anna, que a apoiava, 6cou
guarnecida por 80 homens de Guanaxuato. As outras
duas peças e a tropa da marinha formaram o centro da
linha; e os granadeiros, commandados pelo Capitão D.
Victor Manero, com o obuz e 7o cavallos ás ordens do
Capitão de dragoens D. Eugênio Teran, formaram a di-
reita. Para se poder tomar esta posição, ficou na pla-
nicie o Tenente-coronel D . José Morau com perto de 200
cavallos, protegido pelo resto do batalhão de Guanaxuato,
que apenas teria cem homens.
" Os inimigos em número de 6.000, entre elles 2.000
cavallos, atacaram-nos em tres columnas. As duas da
frente deraõ lugar a que a terceira, commandada por Ga-
liana, rodeasse a nossa posição, e nos atacasse pela reta-
guarda. O Brigadeiro Porlier mandou ordem aos grana-
deiros sustentados pelo obuz, e pela cavallaria de Teran,
para que fizessem frente á retaguarda. O fogo principiou
por aquella parte; mas os insurgentes fugiram, tendo-o
Miscellanea. 59

apenas sustentado pelo espaço de cinco minutos; foram


perseguidos pela cavallaria de Teran, que matou muitos.
*' Neste mesmo tempo fomos atacados pela frente da
sua linha; o Tenente-coronel Moran, fingindo que se
retirava, chegou até à distancia de poder ser protegido
pelo batalhão de Guanaxuato, e carregando entaõ em
columna cerrada, bateo-os, tomou-lhes tres peças, dois
carros de muniçoens, e muitas armas, sem que a presença
de Morelos podesse conter a fuga dos inimigos. O bata-
lhão de Asturias combatia na esquerda com vantagem.
Concluída a acçaõ marchamos para Olhodagoa, escol-
tando os granadeiros, e duas peças da marinha, o camboi.
Desejando eu acostumar a tropa a manobrar, fiz marchar
os batalhoens de Asturias, Uniaõ, e Guanaxuato em mar-
cha graduada por batalhoens até Olhodagoa, protegidos
por duas peças, e pela cavallaria. Os insurgentes tinham-
se refugiado ás alturas vizinhas, donde foram tristes es-
pectadores desta marcha de parada.
" Todas as tropas desempenharam a sua obrigação;
mas saõ sobre tudo dignos de elogio o Tenente-coronel
D. José Moran com a cavallaria de S. Luiz, e o Tenente-
coronel graduado D. Pedro Otero, commandante do Ba-
talhão de Guanaxato, o qual com os seus valentes solda-
dos protegeo a marcha do comboi para a altura; e sem
embargo de ficar sõ na planicie, atacou a frente do ini-
migo, e tomou-lhe as peças de artilheria.
" A perda do inimigo foi de 600 homens, além das
peças, armas, e muniçoens de que falíamos.
" O cavallo do Brigadeiro Porlier foi ferido por uma
bala no tempo da acçaõ.
<;
Deos guarde a V- S. muitos annos. Perote 2 de
Outubro de 1812.—Luiz de Aguila.

2 a . " Escrevi a V. S. de Nopalucan, aonde me reuni


com o Sr. Brigadeiro Porlier, o qual participou também a
H2
€0 Miscellanea.
V. S. em carta particular a victoria, que alcançarão a 18
as Armas do Rei nos campos do Santuário de Chiapa. Co-
nhecendo nós ambos a impaciência com que V. S. havia de
esperar noticias do resultado final desta expedição, proeu-
ramos meios para lhas participarmos ; mas em vaõ, pois
que a pezar de se offerecer uma somma considerável a quem
as quezesse levar, ninguém quiz tomar sobre si este risco ;
motivo porque lhe naõ mandei as partes da acçaõ, que
incluo; accrescentando que o Cura Tapia morreo de uma
bala de artilheria, segundo as declaraçoens que me fizeram
nesta herdade.
Depois da acçaõ continuamos a nossa marcha até Perote
sem novidade, aonde chegamos a 20. Descancei a 21 ; e
a 22 sábio o comboi, escoltado pelo Batalhão de Çamora,
100 artilheiros, e o Batalhão da Uniaõ com 160 cavallos.
Eu marchei com os granadeiros, Marinha, Asturias, e
Guanaxuato, pernoitando a 22 em Cuautolapa, a 23 em
Tepetian, e a 24 nesta herdade. O objecto desta marcha
foi de me aproximar a Orizaba, e cobrir a esquerda do
comboi, no caso que fosse atacado. Em Tepetian recebi
a noticia de que Morelos, e os seus bandos estavaõ
cm S. Salvador, e seus contornos ; hoje marchei pela
minha direita; mas os insurgentes fugirão para Santo
André em número de 4000, com dois pedreiros. O com-
boi vai pernoitar a Nopalucan ; eu me adiantarei á manhaã
a cobrir o pinhal, e esperarei em Amozoque as ordens de
V . S.
Deos guarde a V. S. muitos annos. Quartel de Ozamba
24 de Outubro de 1812, ás 9 horas da noite.
Luiz DE AGUILA.
Sr. D . Ciriaco de Llano.
(Gazeta da Regência das Hespanhas de 29 de Maio.)

Cadiz, 1 de Junho.
O Governador Capitão General da Havana, e das Fio-
Miscellanea. 6L

ridas, participa c o m data d e 10 de Abril passado, ter-se in-


formado de officio de q u e na ilheta chamada Barataria,
j u n t o ás bocas d o Mississipi, se formou um estabelecimento
de piratas Francezes, os quaes com alguns navios armados
infestaõ as costas da Lusiana, tomaÕ, saqueaÕ, e destruem
as embarçoens Hespanholas, b e m como as das outras
N a ç o e n s , á e x c e p ç a õ dos Francezes, e depositaÕ os roubos
na dita Ilha, ao abrigo d e um forte, q u e construíram para
este fim, guarnecendo-o com 14 peças de artilheria.
Formaram igualmente um tribunal, q u e denominam do
Vice-Almirantado, aonde as condemnam segundo o seu
capricho, apiopriando-se todos os navios e propriedades,
que vendem depois por baixo p r e ç o ; mas a dinheiro d e
contado, em um mercado público, que tem duas vezes
por semana ; ou as introduzem por contrabando em Nova-
Orleans.
Na G a z e t a da Ltiisiana de I I d e Março se annun-
ciou j á ao Publico o risco q u e corria o commercio,
com uma corporação d e ladroens, q u s se nao acha
a coberto d e P a t e n t e , ou Bandeira a l g u m a ; e para
evitar os prejuizos, que podem causar, o que j á sofferam
algumas das nossas embarcaçoens, se participa o mesmo
aviso ao nosso commercio, para cautela das expediçoens,
que se mandarem aquellas paragens.
(Gazeta da Regência das Hespanhas do I o . de Junho.)

FRANÇA.
Paris, 26 de Junho.
S. M. a Imperatriz Raynha e Regente recebeo a se-
guinte noticia do exercito, em data. de 21 de Junho : —
O 8 o . corpo, commandado pelo Principe Poniatowski,
que atravessou a Bohemia, chegou a Zittau, na Luzacia.
Este corpo consiste em 18.000 homens, G.000 dos quaes
saõ cavalleria. Tem-se expedido todas as ordens neces-
sárias para o seu completo vestuário, e fornecimento de
tudo quanto possam precizar.
62 Miscellanea.
S. M. foi aos 20 para Pirna, e Koenigsteiu. O Presi-
dente Kans, mandado por El Rey de Dinamarca, teve a
sua audencia de despedida, e partio de Dresden.
O corpo livre Prussiano, levantado da mesma maneira,
que o de Schill, tem continuado depois do armistício a
cobrar contribuiçoens, e prender homens que apanha
isolados. O armistício foi-lhes intimado aos S ; porém
elles declararam, que faziam a guerra de sua própria con-
ta ; e como tem continuado no mesmo comportamento, se
mandaram contra elles varias columnas. O Capitão
Luzow, que commandava um destes bandos, foi morto ;
400 de seus soldados fôram mortos ou aprisionados e OH
demais dispersos. Suppoem-se que naÕ mais de 100
destes salteadores alcançaram tornar a passar o Elbe.
Outra quadrilha, commandada pelo Capitão Colombe
esta completamente rodeada; e he de esperar que, em
poucos dias, a margem esquerda do Elbe esteja inteira-
mente livre da presença destes bandos, que commetem
toda a sorte de excessos, para com os infelizes ha-
bitantes.
O official, que se mandou a Custrin, ja voltou ; a
guarniçaõ daquella praça consiste em perto de 5.000
homens, e tem doentes somente J50. A fortaleza está no
melhor estado, e provida de mantimento para 6 mezes era
trigo, arroz vegetaes, carne fresca, e todos os mais
artigos necessários. A guarniçaõ tem sempre estado se-
nhora da distancia de 1.000 toesas. Durante estes quatro
mezes o commandante naõ tem cessado de augmentar os
meios de sua artilheria, c fortificaçaõ da praça.
Todo o exercito está acampado. Este descanço lie da
maior vantagem para as nossas tropas. As distribuiçoens
regulares de arroz contribuem para sustentar a saúde do
soldado.
(O Moniteur contém longas, mas naÕ interessantes nar-
rativas do bloqueio de Custrin, remettidas pelo Gover-
Miscellanea. 63
nador daquella praça, ao Principe de Neufchatel e
Wagram.)

Decreto de 18 de Junho.
Este decreto foi assignado por Bonaparte, em Dresden,
e he applicavel a toda a extençaõ da 32 a . divisão militar,
que comprehende Hamburgo, Lubeck, &c. Consiste em
7 artigos, cuja substancia be o seguinte :—
O 1°. artigo requer uma lista de todas as pessoas au-
zentes d'aquella divisão, de todos os que tem servido lu-
gares públicos, e deixado-os depois da volta dos Fran-
cezes.
O 2?. requer uma lista dos Senadores, que aceitaram
officios durante a auzencia dos Francezes.
O 3o. Uma lista de todas as pessoas que naõ voltaram,
para suas casas dentro em 15 dias depois da occupaçaõ
d'Hair.burgo pelos Francezes.
O 4 o . Uma list i de todas as pessoas que serviram como
officiaes, ou de outra maneira, na Legiaõ Hanseatica.
O 5 o . Listas de todas as pessoas, que se provar quo
pertenceram ás associaçoens armadas, e pelo seu compor-
tamento trabalharam por irritar o povo.
O 6o. Listas de todas as pessoas que se sabe que tem
sido empregadas em qualquer situação civil ou militar
pelos Russianos, Prussianos, ou Inglezes.
O 7°. Uma lista das pessoas, que deixaram as suas
casas depois do Io. de Março, e naõ voltaram dentro em 14
dias depois da publicação do presente decreto.
Os differentes districtos da divisão 32». devem fornecer
ao Principe Eckmuhl as listas requeridas. Nenhum
dinheiro se pode pagar aos auzentes, nem receber algum
por sua couta. A propriedade deve ser confiscada.

Paris, 29 de Junho.
S. M. a Imperatriz Raynha e Regente, recebeo as
64 Miscellanea.
seguintes noticias do exercito, datadas de Dresden, 24 de
Junho:—
O Capitão Planai, official do estado-maior, encarre-
gado de levar a noticia do armistício, chegou a Dunlzic.
Elle teve muita difficuldade em chegar á praça; porque
o General Rapp, o Governador, fatigado com o grande
numero de bandeiras de tregoa, que o inimigo lhe mandava
todos os dias, declarou que naõ receberia mais nenhuma.
O official portanto teve muita difficuldade cm se fazer
conhecido.
Seria difficil descrever a alegria que a sua presença
causou naquella linda, e numerosa guarniçaõ, que esta
bem longe de parecer uma fortaleza sitiada : está senhora
de todas as circumvizinhança?. As raçoens que se lhe
devem distribuir, durante o armistício, se fixaram a
20.000 diariamente, o que oceasinou justas queixas da
parte do Governador.
Varias vezes aquella guarniçaõ, durante os 5 mezes de
bloqueio, atirou bombas ao quartel-general do inimgo ; e,
come se poderia dizer, o sitiou.
O General Rapp formou um bom batalhão de guardas
de pé, que hc composto de soldados cançados, ou que
foram gelados, e se refugiaram na fortaleza.
Esta tem mantimentos bastantes para um anno. Os
militares calculam que ella pode resistir a trincheiras
abertas por 3 mezes, ainda suppondo que o inimigo ti-
vesse um trem de artilheria de 200 peças ; e sem calcular
a demora que as sortidas da guarniçaõ da praça poderiam
oceasionar nas operaçoens do sitio. Porém até esta hora,
o inimigo naÕ mostrou de forma alguma intenção de tentar
taõ perigosa empreza.
2 de Julho.
S. M. a Imperatriz Raynha Regente recebeo as seguintes
noticias do exercito de 25 de Junho :—
Aos 24, o Imperador jantou com El Rey de Saxonia.
Miscellanea. 65
A noite os comediantes Francezes representaram no theatro
da Corte uma das peças de Moliere, a que estiveram pre-
sentes Suas Majestades. El Rey de Westphalia chegou a
Dresden, a visitar o Imperador.
Aos 25, o Imperador visitou as differentes sahidas do
bosque de Dresden, e viajou 20 léguas. S. M. partio ás
5 horas da tarde, e voltou ás 10 da noite.
Lançaram-se ao Elbe duas pontes, em frente da fortale-
za de Koenigstein. O rochedo de Silienstern, que fica na
margem direita, a meio tiro de peça de Koningstein, foi
occupado. Tem-se preparado, nesta interessante posição,
armazéns e outros estabelicimentos militares. Assim um
campo de 60.000 homens, apoiando-se na fortaleza de
Koenigstein, e podendo manobrar em ambas as margens,
será inexpugnável contra qualquer força.
El Rey de Baviera, estabeleceo um campo de 25.000
homens juncto a Nymphenburg, perto de Munich. O
Imperador óco o commando das tropas Bávaras de obser-
vação ao Duque de Castiglione. Este exercito se tem
ajunetado em Wurtzburg. He composto de seis divisoens
de infanteria, e duas de cavallaria.
O Vice-Rey está ajunetando, entre o Piava, e o Adige,
o exercito de Itália, composto de tres corpos. O Gene-
ral Grenier commanda um delles.
Os novos corpos que se tem formado em Magdeburg,
sob o commando do General Vandame, consistem ja em
40 batalhoens, e 80 peças d'artilheria.
O Principe de Eckmuhl está em Hamburgo. Este
corpo foi reforçado por tropas que vem da França e da
Hollanda, demaneira que, neste ponto, ha mais tropas do
que nunca houve. A divisão Dinamarqueza, que se unio
ao Principe d'Eckmuhl, consiste em 15.000 homens.
O 2 o . corpo, que commanda o Duque de Belluno tinha
só uma divisão durante a campanha, que agora se findou ;
V O L . X I . No. 62. i
66 Miscellanea.
este corpo foi completado, e o Duque de Belluno com-
manda agora 3 divisoens.
No principio desta campanha eram as circumstancias
taõ urgentes, que se achavam dispersos por vários corpos
os batalhoens de um só regimento. Tudo está regulado,
c todos os regimentos tem os seus batalhoens unidos.
Diariamente chegam a Wittenberg, Torgau, e Dresden
grande numero de batalhoens, que em sua marcha passam
o Elbe cm Magdcburgo. S. M. passa revista todos os
dias tropas que ás chegam a Dresden.
As equipagens militares do exercito, estaõ ou em
caixoens do antigo modelo, ou em caixoens do novo
modelo (chamados N°. 2), ou em carros a Ia Cimtoise,
em que se transportam mantimentos para todo o exercito
por um mez. S. Al. tem descuberto que os carros a Ia
Cimtoise, assim como os caixoens do antigo modelo tem
inconvenientes ; e ordenou que as equipagens, á pro-
porção que forem necessárias daqui em diante, se estabe.
leram segundo o modelo N e . 2. puxados por quatro ca-
vallos, e que facilmente levam o pezo de 20 quintaes. O
exercito está munido de moinhos portáteis, que pczam 16
libras ; e cada um hc capaz de moer 5 quintaes de fari-
nha todos os dias : distribuiram-se 3 destes moinhos para
cada batalhão. Trabalha-se com a maior actividade em
augmentar as fortificaçoens de Glogau. S. M. deseja fa-
zer daquella cidade uma fortaleza regular ; e como
o plano he defeituoso, ordenou que se eu br isso com tres
obras coroadas, seguindo quasi o mesmo methodo que
poz em practica em Alexandria o Senador Conde Cbas-
scloup.
Torgau está cm bom estado. Trabalha-se também
com grande actividade em fortificar Hamburgo ; o gene-
ral do engeneiros, Haxo, foi para ali para demarcar a
cidadela, a estabelecer ns obras nas ilhas, que unem Ham-
burgo a Harburgo.
Miscellanea. 67
Os engenheiros de pontes e calçadas estaõ ali construin-
do duas pontes volantes, sobre o mesmo systema das de
Antwerpia ; uma para a maré enchente, outra para a maré
vazante.
O General Hano, tem traçado urna nova fortaleza no
Elbe, da parle de Virden, na boca do Havei. Os fortes
de Cuxhaven, que estavam em estado de sustentar um
cerco, mas que fôram abandonados sem razaõ, e arrazados
pelo inimigo, se estaõ outravez reedificando. Trabalha-se
nelles activamente : naõ seraõ daqui em diante meras ba-
terias muradas, mas um forte, que, bem como o forte Im-
perial do Scheldt, protegerá o arsenal para construcçaõ, e
a bacia, que se projectou estabelecer no Elbe ; desde que
o engenheiro Beaupré, que gastou dous annos a sondar
aquelle rio, descubrio que tinha as mesmas propriedades
do Scheldt, e que ali se podiam construir, e ajunctar as
maiores esquadras, nos seusanchoradouros.
A 3». divisão das guardas novas, que commanda o Ge-
neral Labourde, official de consumando merecimento,
està acampada nos bosques adiante de Dresden, na margem
esquerda do Elbe.
A 4 a . divisão das guardas novas, que commanda o Ge-
neral Fraut, desemboca por Wurtzburg. Alguns regi-
mentos daquella divisão tem ja passado por aquella ci-
dade, e marcharam para Dresden. A cavallaria das
guardas conta j a mais de 9.000 cavallos. A artilheria
consiste ja em mais de 200 peças de canhaõ. A infanteria
forma 5 divisoens, 4 das quaes saõ das guardas novas, e
uma das antigas. O 7 mo . corpo, que commanda, o Ge-
neral Regnier, he composto, da divisão Durutte, que he
uma divisão Franceza, e duas Saxonias: este corpo está
recebendo o seu complemento : acha-se acampado adi-
ante de Goerlitz. Tem-se-lhe unido toda a cavallaria li-
geira Saxonia, que também se vai a completar.
El Rey de Saxonia tem completado os seus dous bellos
i2
63 3Iiscellaneu.
regimentos de Couracciros, plenamente. S. M. está ex-
• *->

tremamcnte satisfeito, com os Reys e Gram Duques da


Confederação.
El Key de Wurtomberg se tem particularmente distin-
guido. Considerando as suas posses, tem feito esforços
iguaes aos da França, e o seu exercito, infanteria, caval-
larii, e artilheria, se tem posto no seu estado completo.
O Principe Emilio de IIesse Darmstadt se distinguio
constantemente na ultima campanha, e na presente, pelo
seu sangue trio, e intrepidez. He um principe moço, que
dá grandes esperanças ; e que o Imperador muito estima.
Os Principes de Saxonia saõ os únicos que estaõ atra-
zados nos seus contigentes. Naõ somente a cidadela de
Erfurth está em bom estado, e bem providenciada; mas
fôram restabeledidas as fortificaçoens da cidade; ellas
estaõ cubertas por muralhas avançadas ; e daqui em diante
Erfurth será uma praça forte da primeira importância.
O Congresso ainda senaõ ajunetou ; e com tudo nos es-
peramos que isso se fará dentro em poucos dias. Sc se
tem perdido um mez, a culpa naõ he da França.
A Inglatarra que naõ tem dinheiro ; naõ o (em podido
dar ás potências combinadas; mns acaba de ajustar um
novo expediente. Concluio-se um tractado entre Inglaterra,
Prússia, e Rússia; por meio do qual se creará um novo
papel moeda, garantido pelas tres potências. Hc sobre
este recurso, que se estribam, para oceurrer ás despezas
da guerra. Nos artigos separados, a Inglaterra garante a
terça parte deste papel; de maneira que na realidade he
isto nova addiçaõ á divida de Inglaterra.
Resta saber cm que paiz se hade pôr em circulação este
papel. Quando ébta luminosa idea foi concebida, éra
provável imaginar, que esta circulação teria lugar á custa
da Confederação do Rheno, e até mesmo da França, Hol-
landa. Belgic-», e departamentos do Rheno. Comtudo o
tractauo se naõ ratificou depois do armistício, por aquella
causa.
Miscellanea. 69
A Rússia paga as despezas do seu exercito em papel,
que os habitantes da Prússia saõ obrigados a receber t a
mesma Prússia paga a sua divida em papel. Inglaterra
tem igualmente o seu papel; parece que cada um destes
papeis separadamente ja naõ tem sufficiente credito ; visto
que aquellas potências tem tomado a resolução de crear
um papel commum. Resta que os negociantes e ban-
queiros nos informem, se o credito deste novo papel deve
ser o quociente dellas.
A Suécia somente he qne parece ter recebido dinheiro
da Inglaterra, na somma de 500 a 600 mil libras esterlinas.
A guarniçaõ de Modlen está em bom es*ado ; as fortifi-
caçoens fôram arugmentadas. Temos decyphrado, no
quartel-general, as duas participaçoens dos Governadores
de Modlen e Zamose. As guamiçoens destas duas forta-
lezas estavam senhoras de uma légua de terreno, em torno
dellas : as tropas que as bloqueavam êtam somente mili-
cias mal armadas, e apetreebadas.
O Imperador tomou a seu soldo o exercito do Principe
Poniatowski, e lhe deo nova organização. Em menos de
20 dias será apetrechado de novo, e se achará em bom es-
tado.
Por mais brilhante que esta situação seja ; e ainda que
S. M.tem realmente agora mais poder do que nunca, elle por
isso mesmo deseja agora a paz com mais ardor do que
nunca.
A administração comprou grande quantidade de arroz,
a fim de que, durante o calor excessivo, este artigo con-
stitua a quarta parte da raçaõ do soldado.

Paris, 5 de Julho.
S. M. a Imperatriz Raynha e Regente reeebeo a seguinte
noticia do exercito :—
O Conde de Metternich, Ministro de Estado, e de con-
ferências de S. M. e Imperador d'Austria, chegou a Dres-
7t> Miscellanea.
den, e teve ja varias conferências com o Duque de Bas-
sano.
A Russia acaba de obter d'El Rey de Prússia, que se
dê uma circulação forçada ao papel-moeda Russiano, nos
Estados de Prússia ; c como o papel Prussiano soffre ja
um abatimento de 70 por cento, parece que esta orde-
nança naõ he calculada para levantar o credito de Prússia.
A cidade de Berlin he atormentada de todos os modos
possíveis, c cada dia se sentem nella mais estes vexames,
Esta capital compara ja a sua situação á de varias cidades
da França em 1793.
S. M. o Imperador, aos 28, deo um passeio de 8 ou 10
horas de duração, pelos orredores de Dresden. Temos
recebido varias noticias de Zamosc e Modlin. Estas for.
talezas estaõ no melhor estado possivel, quer se considerem
relativamente aos mantimentos, quer ás muniçoens de
guerra, ou forticaçoens.

O Senado, depois de ter ouvido os Oradores do Conselho


de Estado, c o relatório do commissaõ especial, nomeada
na sessaõ de 28 de Junho passado, era o 1*. de Julho, de-
cretou o seguinte :—
" O Scnatus Consultum, de 3 de Abril, de 1813, que
ordena a suspensão do regimen coustitucional por 3 mezes,
nos departamentos do Ems Superior, Bocas do Wescr, e
Bocas do Elbe, que compõem a 32a. divisão militar, ht
prolongado por mais tres mezes, a contar de 15 do presente
Julho."
Praga, 24 de Junho.
Entre os indivíduos, que chegaram a Praga, ba muitos
correios, que vem de Vienna, Schneidnitz, Opochan, e
Dresden, aisim como também muitos officiaes Russianos, a
Prussianos.
26 de Junho.
O Imperador Alexandre, depois de ter passado 12 dku
Miscellanea. 71
em Opotschna, se retirou poro a Silesia. Este monarcha
visita de passagem a fortaleza de Josephstadt, juncto a Ja-
comerz. Naõ temos ouvido que elle tenha tido algum
avistamcnto com o nosso Soberuno. Parece que El Rej
de Prússia tem estado alguns dias em Opotschna.
O Imperador de Rússia sahio do castello de Opotschna,
• voltou paraGlatz, e Reichenbach, para o castello de Pe-
terswaidalco. O Imperador de Rússia demorou-se 4 dias
em Opotschna: estava acompanhado do seu Secretario
de Guerra Conde Nesselrode, Gram Marechal da Corta
Conde Tolstoy, General Orakeshciff, Ajudante-general
Conde d'Ozazowsky, e vários outros officiaes do estado-
maior.
S. M. o imperador d'Austria fixou a sua residência em
Kosmonos. Mandáram-se para ali moveis de Praga.
Alguns dos primeiros funccionarios de Esiado, e entre
outros o Cbancellor Conde Lazanski, fôram chamados de
Vienna, para ir ter com S . M .
O Imperador d'Austria passou somente alguns dias no
castello de Kosraonos ; ha mais de 8 dias que se acha de
volta em Gitschen. Todas as secretarias, que acompa-
nham S. M. se acham em plena actividade. As commu-
nicaçoens, entre Gischcn, Dresden, e Reitchenbach, saõ
mui freqüentes.
28 de Junho.
Escrevem de Silesia que o General Krusemark que foi
ministro de Prússia em Paris, fora chamado ao quartel-
general em Reichenbach ; e se suppoem que elle será em-
pregado nas negociaçoens.
O Imperador de Áustria ainda está em Gitschen, a pas-
sagem de correios entre os dous quartéis generaes, ainda
continua a ser mui freqüente.
MilaÕ, 30 de Junho.
Annuncia-se, como mui próxima, a partida de S. A. R.
Sahiram para Verona algumas de suas carruagens.
72 Miscellanea.
3 de Julho.
S. A. Sereníssima a Principe Vice-Rey, partio esta ma-
nhaã de Mouza para Verona: a sua auzencia naõ será
agora de grande duração.
Strasburg, 3 de Julho.
A passagem de tropas vindas de Mayence tem sido mui
considerável, durante a semaua passada. Vimos passaT
successivamentc batalhoens do 2 o , 5 o , 11°, 16°, 24°, 67°,
70°, 81°, 93°, e 105", regimentos de linha ; do 6 o . de ca-
callaria ligeira, e do I I o . batalhão do trem d'artilheria.
Todos estes corpos estaõ no seu estado completo, e ani-
mados do melhor espirito.
Copcnhagen, 15 de Junho.
Toda a cavallaria que esta nas ilhas de Zealand, e Fu-
nhcn se deve ajunctar na semana que vem, para executar
grandrs manobras, na vizinhanças desta capital. M. de
Lisakewel.seh, Ministro Russiano, e Conde de Donha,
Ministro de Prússia, ainda se acham nesta cidade. Falia-
se de mudanças no ministério, mas provavelmente sem
algum fundamento. O Almirante Dorkum voltou aqui
com todos os nossos marinheiros, que serviram na es-
quadra em Flessingen.
Junho 22.
A benigna recepção, que o Imperador fez a Mr. de
Kaas, produzio aqui mui agradável sensação. Segundo
se diz, S. M. se expressou em termos os mais lizongeiros a
respeito da Dinamarca.
Hamburgo, 1 de Julho.
Trabalhamos com vigor continuado nas fortificaçoens
de nossa cidade : as obras se adiantam rapidamente, e
apenas he crivei quanto se tem feito durante as poucas se-
manas, desde que foi occupada : trabalham, nos entrin-
cheiramentos, alguns milhares de paizanos de ambas as
margens do Elbe que se tem posto em requisição para o
mesmo fim.
Miscellanea. -73
Nuremberg, 29 de Junho.
O corpo do Duque de Reggio ababa de tomar os seus
acantonamcntos na margem esquerda do Elbe entre W i t -
tenberg, c Torgau extentlendo-se para a sna direita para
Spree. O quartel-general deste corpo está presentemente
no pequeno lugar de Hersberg.
Lcipsic, 22 de Junho.
Hoje apparecêo aqui a seguinte proclamaçaõ:—
Em conseqüência das ordens de S. Ex 1 . o Duque de
Padua, communicada pelo General Bertrand, a cidade de
Lcipsic he declarada em estado de assedio.
A policia da cidade, e seus subúrbios será militar, e sem
a concurrencia do magistrado, o qnal poderá somente ex-
ecutar aquellas ordens de policia, que lhes forem commu-
n içadas, pelos commandantes militares.
As authoridades civis teraõ para o futuro debaixo de
seu cuidado o aquartellamcnto das tropas, o fornecimento
dos mantimentos, forragem, e hospitaes.
As requisiçoens que fizer S. Ex a . o Duque de Padua,
seraõ executadas militarmente, sob o cuidado dos magis-
trados para prevenir os abusos.

O nosso conselho da cidade também expedio a seguinte


notificação :—
Por ordem do Duque de Padua, todos os mercadores e
habitantes desta cidade que possuírem, ou tiverem a seu
cargo mercadorias coloniaes, deverão entregar-nos, á
manhaã, uma conta exacta, assignada com os seus nomes,
da quantidade de todo o gênero de tal mercadoria, para
ser transmittida a S. Ex a .
Todo o producto colonial, que nos naõ for declarado
nestas contas, será aprehendido e confiscado.
Todos os mercadores, e habitantes saõ por esta informa-
dos, que até o dia 23 de Junho, nenhuma mercadoria, de
qualquer gênero que seja, poderá ser mudada de um lugar
V O L . X I . No. 62. ' K
74 Miscellanea.
para outro, seja na cidade, seja nos subúrbios; e que nin-
guém se atreva a obrar em contravenção disto.—Leipsic,
20 de Junho, 1813.
Wurtzburgo, 4 de Julho.
Hoje o Duque de Castiglione passou revista em uma das
praças desta cidade a cousa de 15.000 homens do exer-
cito Bávaro de observação.
Julho 5.
A chegada das tropas do exercito Bávaro de observação
continua sem interrupção. Chegaram aqui hoje dous re-
gimentos de infanteria.
Fronteiras de Saxonia, 1 de Julho.
Os respectivos exércitos tem hido para acantonamentos,
c esperam os resultados das negociaçoens.
O corpo do exercito Saxonio do General Conde Regnier
continua a receber numerosos reforços. O Duque rey-
nante de Saxe-Weimar, está agora em Dresden.
O General Prussiano Guesenan foi nomeado Governa-
dor Militar daquella parte de Silezia que naõ eslá occu-
pada pelos Francezes.
Çaragoça, 1 de Julho.
O General Clausel, commandante-em-chcfe do exercito
do Norte chegou aqui hoje com o seu quartel-general ;
depois de ter batido, e disperso todos os bandos de insur-
gentes que encontrou no seu caminho. Elle tem debaixo
de suas ordens os Generaes Taupen, Barlot, Vandcrmasse,
e Abbe. As tropas que compõem este corpo dYxcrcito
saõ da mais bela descripçaõ.
Berlin, 12 de Junho.
Ordenança relativa a aceitação das notas do banco
Russiano, como moeda corrente :—
*• Nos Frederico Guilherme, &c. & c — Fazemos saber,
que a difficuldade que existe, para os pagamentos das des-
pezas da guerra, oceasionada pela considerável distancia
das fronteiras, augmentada a este momento por se acharem
Miscellanea. 75
no poder do inimigo a maior parte das cidades commer-
ciantes da Alemanha ; exigem que, para o bom successo
da causa commum, epara aquellas partes dos nossos Est»
dos em que presentemente se acham os exércitos, se faci-
litem os meios de pagamentos para o exercito Russiano; e
como a aceitação do papel moeda de um grande e iminu-
tavel Império, segundo o valor fixo em moeda pelo curso
do cambio, naõ offerece os mesmos inconvenientes, que a
circulação forçada do papel moeda, segundo o seu valor
nominal, c como a experiência tem demonstrado, que naõ
resulta nem difficuldade nem inconveniente da circulação
dos bilhetes do banco de Rússia, nas nossas Provincias
d'alem do Vistula, e no Ducado de Warsaw, temos decre-
tado o seguinte:—
(Aqui se segue o decreto, que consta de cinco artigos,
pelos quaes se manda receber o papel moeda Rnssiano,
como se fosse dinheiro corrente, até dous mezes depois dos
Russos terem sabido dos Estados Prussianos; mas naõ se
estende a contractos formalizados antes da data do decreto;
e o curso do cambio se fixa provisionalmente a 25 por
cento, sugueito a alteraçoens.)
Osnabruck, 10 de Junho.
A Commissaõ especial Militar, estabelecida pelo De-
creto Imperial de 25 de Fevereiro, 1813, condemnou, aos
25 de Fevereiro, 1813, á pena de morte Carlos Kamps,
Doutor em Leys, residente em Damme, no departamento
do Ems superior, por ter insultado a gendarmerie, estando
em serviço, e naõ ter querido obeder ás ordens que lhe ex-
pedio o commandante da gendarmerie. A sentença foi
executada dentro em 24 horas depois de passada.

Frankfort, 1 de Julho.
Proclamaçaõ do Duque de Castiglione, commandante
em chefe do exercito de observação na Baviera :—
Soldados!—O nosso Imperador acaba de dar-me nova
K2
75 Miscellanea.
prova de sua confiança, pondo debaixo de minhas ordens
seis divisoens, que compõem o exercito Bávaro de ob-
servação. Todas as tropas que se unem a este exercito
saõ melhores, e mais veteranas do que as que se iminorta-
lizáram nos campos de Lutzen e Wurtchen, e que em taõ
breve tempo souberam confundir as falazes esperanças de
nossos inimigos.—Soldados ! Vos tendes ja merecido elo-
gios do Imperador, nas batalhas de Ulm, Austerlitz, Jenn,
Friedland, Wagram, e nas campanhas de Hespanha. Eu
esperoquc sereis dignos da reputação que tendes adquirido.
—Soldados! Lembrai-vos dos louros que tem coroado as
vossas águia». Vos tendes admirado o universo por vosso
valor; sede também a sua admiração por vossa disciplina
NaÕ mancheis o bello titulo de Francezes pela rapina, e
devastação, vós achareis sempre em mim um chefe igual-
mente justo e severo, muitos de vos naÕ ignoram isto.
Respeitai a religião, as pessoas, e as propriedades! Amai
o Soberano, e a Pátria, e a victoria coroará os nossos es-
forços !
(Assignado) ANGEREAU, Duque de Castiglione.
Do campo juncto a Wurtzburg, 1 de July, 1813.

Secretaria da Policia Geral.


Hamburgo, 30 de Junho.
Os habitantes de Hamburgo, que quizerem residir no
campo, saõ informados de que devem dar uma declaração
para aquelle fim, ao Director Geral de Policia, em sua Se-
cretaria. A declaração deve conter :—
1. O nome e sobre nome do pay de familias, ou dono
da casa, sua idade e occupaçaõ.
2. O nome, sobre nome, idade, e occupaçaõ de cada
um de 6eus filhos, parentes ou amigos, que com cllc resi-
direm.
3. O nome, sobre nome, idade, e lugar de nascimento
de todos os seus domésticos.
Miscellanea. *J7
4. A situação da casa de campo, e o tempo por que in-
tenta residir ali.
N a falta de taes declaraçoens, como as que ficam des-
criptas, se pôde produzir uma inscripçaõ dos auzentes.
(Estes auzentes saõ declarados em uma proclamaçaõ
anterior; e seus bens saõ sugeitos a confisco.)

EXERCITO D'ARAGAÕ.
Valencia, 14 de Junho.
Neste momento (4 horas da tarde) recebi uma carta do
Gnvernador de Tortosa, datada de 3 de Junho, \ d'hora
dopois das 9 da manhaã, de que o seguinte he copia:
Monseigneur!—A frota do inimigo apparecêo á vista
de Tarragona, hontem pela manhaã ás 5 horas: consiste
em 180 velas ; e parece fazer rumo a Villanova de Bitjes.
Neste estado das cousas tenho determinado marchar,
com 600 infantes, e 800 cavallos, para a Catalunha baixa,
a fim de ajunctar as tropas do General Decaen : e, se for
possivel, trabalhar por combater os Inglezes. Sou, &c.
(Assignado) O Marechal Duque d'ALBUFERA.
Ao Ministro da Guerra.

Abstracto de uma carta do mesmo ao mesmo.


Tortosa, 21 de J u n h o , 6 horas da manhaã.
Senhor Duque !—Informei a V Ex*. de que o exercito
Anglo-Siciliano tinha embarcado em Alicante, e partido
daquelle lugar aos 31 de Mayo, e chegado rapidamente,
aos 2 de Junho, a Tarragona. O exercito desembarcou
durante a noite, e se apressou a investir o forte de S. Fe-
lipe, no Col. de Balaguer, e o recinto, sem fosso, que
ao presente constitue a defensa de Tarragona, havendo-se
arrazado os forteç, e as extensas fortificaçoens.
Aos 3, começou o fogo de varias baterias; Balaguer se
sustentou por cinco dias, fez uma honrosa rezistencia, e
matou ou ferio mais de 300 do inimigo. Na manhaã de
-g Miscellanea.
7 houve uma explosão do armazém de pólvora, que obri-
gou a forte de S. Felipe a render-se.
O inimigo conservou o fogo por mar e por terra, e ata.
cou Tarragona ; á partida do exercito Anglo-Siciliano, o
Duque dei Parque tinha chegado de Carolina, para sub-
stituir o General Murray no seu campo em Castella.
Elio com o seguundo corpo Hespanhol, estava chegado
aos nossos postos.
Ldgo que fui informado de que o inimigo tinha sabido
de Alicante, fiz disposiçoens sobre as costas de Valencia
para receber noticias com promptidaõ, ao mesmo tempo que
encarreguei ao General Decaen, que aj une tosse as tropas,
e cahisse sobre os Inglezes. Elle executou promptamente
aquella disposição; c à primeira noticia destacou de Gi-
rona a brigada Beaumann para Barcelona, aonde chegou
aos 10 de Junho. Aos 3 de Junho despachei de ante Xu«
car a divisão Musner, e as brigadas de Pannetier, e Agi-
remont; ellas correram a marchas forçadas para Tortosa.
Eu soube, a lO léguas de Valencia, que o forte de Bala-
guer tinha capitulado. Eu perdi a única estrada para ar-
tilheria por onde podia obrar; mas éra de importância
fazer pararás vantagens do inimigo; e aos 10 marchei
para Tortosa.
A frente de minha columna derrotou os dragoens Ingle-
zes juncto a Perello ; aos 11, chegaram as minhas tropas.
E u mc adiantei aos 12 pela estrada de Tarragona ; e naÕ
podendo obrar na estrada principal, determinei-me a
procurar um caminho de desvio cruzando montanhas im-
practicaveis, a fim de annunciar a minha chegada á va-
lente guarniçaõ de Tarragona, que desattendeo todas as in-
tímaçoens, e se defendeo com todo o valor. Em uma pa-
lavra aos 12, accendi um fogo no cume dos montes, e mar-
chei adiante aos 13, para alem da aldea de Valledollos,
naõ podendo as minhas tropas ver, nem ser vista» de Tar-
ragona.
Miscellanea. 79
N o entanto, o General Maurício Matthieu, sahio de
Barcelona, e marchou a diante para Arbos. A resistência
da praça, e a marcha das columnas de Barcelona e Va-
lencia, assustaram o inimigo, e o obrigaram a levantar o
sitio precipitadamente, e tornar a embarcar a maior parte
de suas tropas, abandonado juncto á praça 27 peças d'ar-
tilheria, e um immenso numero de bombas, balas, &c.
tudo o que tem sido conduzido a Tarragona. O comboy
de 180 velas sahio do porto de Sallou, e foi anchorar a
Balaguer: esta massa de vasos apresentava um belo es-
peataculo. Aos 14 eu adiantei as minhas forças para re-
conhecer o forte ; alguns batalhoens defendiam os seus
aproches, e a frota nos fez um fogo mais vivo, do que
mortífero.
Os dragoens Inglezes fôram mal tractados pela cavalla-
ria Ligeira Westphaliana, em Valledollos; e o 5 o . de
infanteria ligeira obrigou cinco batalhoens Inglezes a re-
troceder para Hospitalit, a cobrir-se com o fogo dos navios
Inglezes.
Aos 15 e 16 houveram algumas leves escaramuças, e o
que referiram 25 desertores me provou, que o inimigo, ou a
cuberto do forte Balaguer, ou embarcado, estava fora do
alcance das tentativas de um exercito de terra.
Em quanto eu estava obrando em Catalunha, deixei õ
General Harispe, com a 2 a e 3 \ divisoens em frente de
Xucar. Quando o deixei lhe ordenei, que recolhesse os
seus postos avançados, e se estabelecesse nas obras prepa-
radas por algum tempo por detraz do rio ; este movimento
se estava executando com precisão, quando, aos 11, o
General Elio, com numerosa cavallaria tentou apertar a
nossa retaguarda. O General Meslop voltou a traz, e á
frente de um esquadrão do 4 o . de hussares carregou vigo-
rosamente o inimigo, matou ou ferio 50 homens, e trouxe
com sigo 60 cavallos, e outros tantos prisioneiros : o Co-
ronel Irlandez Oroman he deste numero. Aos 13 se fez
g0 Miscellanea.
um ataque dobre nos pontos de Albcrcque, e Altura, de
manhaã cedo : o General Harispe susteve cm grande
parte do dia as demonstraçoens do inimigo: houve uma
viva canhonada; porem o inimigo recusou combater. O
Duque dei Parque com a divisão do Principe dWnglona,
c do Inglez Rochc atacou com duas columnas o General
Ilerbcrt, ao pé de Carcaxante ; o qual naõ hesitou em
marchar contra o inimigo, á frente de um esquadrão do
4*1. regimento de Hussares ; e todo o 11°. e 16°. de linha :
elle chegon, e rompeo o inimigo nas ruas c hortas de Car-
caxente ; mais de 400 Hespanhoes fôram mortos ou feri-
dos : tomadas as bandeiras do regimento de Carmona, e o
inimigo posto em completa derrota. Desde aquelle tempo
até os 18, naõ cmprehendeo o inimigo cousa nenhuma
séria contra as tropas de Valencia.
A esquadra desta expedição continua anchorada defronte
de Balaguer, conservando alguns batalhoens juncto a Hos-
pitalit, c debaixo do forte. Estando as minhas tropas
obrando cm desertos, eu decidi Irazellas a Amplona, pela
estrada de Tarragona, para lhes obter água, de que tinham
sido privadas por dous dias; e ali fui informado de que
o General M. Mathicu, sabendo que se tinha levantado o
sitio de Tarragona, marchou para aquella cidade, c para
Réus. Eu, porém, persisti em demorar-me na Catalunha,
a fim de descubrir os projectos do inimigo; quando hon-
tem soube, que os Inglezes tinham resolvido fazer voar o
forte de Balaguer: esta resolução que entrou inteiramente
nos meus projectos, mc prova que o inimigo n-ió renovará
os seus ataques contra Tarragona ; nem obrará seriamente
na Catalunha ; o que suficientemente mc informa do que
ha para fazer.
Assim, Senhor Duque, as primeiras operaçoens dos In-
glezes, em uma linha de 80 léguas, se limitaram a tomar
um forte e uma guarniçaõ de 83 soldados, commandados
por um tenente, ao mesmo tempo que elles perderam cm
Miscellanea. 81
mortos, feridos, e prisioneiros, ou desertores, juncto Xu«
car, e juncto de Tarragona mais de 1600 homens, e uma
bandeira: e ao mesmo tempo que levantaram o sitio, e
abandonaram 27 peças de artilheria, diante de uma praça
desmantelada, sem fossos; porém defendida por uma bem
valorosa guarniçaõ.
(Seguem-se as recommendaçoens de vários officiaes e
Corpos, que se distinguiram.)

Do mesmo ao mesmo.
Valencia, 25 de Junho, 1813.
Senhor Duque 1—Pela minha participação de 21 ; in-
formei a V. Ex*. da precipitação com que os Inglezes le-
vantaram o sitio de Tarragona, e se tornaram a embarcar.
A necessidade de seguir os movimentos da esquadra, me
obrigou a sacrificar o prazer que teria, indo a Barcelona,
cm dar os parabéns ao General Bcrtolette e sua valorosa
guarniçaõ, por esta bella e vigorosa defensa : teria per-
dido seis dias, ao mesmo tempo que logo que recebi uma
participação do General Maurício Matthieu, de Réus, e
duas cartas do General Bertolette, so pensei cm voltar a
Valencia, para que os Inglezes se me naõ ant icipassem.
A erca dos Inglezes em Tarragona foi iuimensa ; 30
peças de pezado calibre, morteiros, navios de fogo, bom-
bas, armazena de argua ardente, carne salgada, &c. tudo
consu-raido pelas chamas porém o inimigo soffrco ainda
mais consideráveis percas, na noite de entre 20 e 21 ; os
signaes, e o fogo das peças, annunciáram que o immenso
comboy tinha decidido cm deixar a costa de Catalunha.
Ao amanhecer se viram em frente das bocas do Ebro dez
navios grandes, que tinham encalhado nas arcas na boca do
rio. V E. poderá melhor julgar disso pelas participaçoens
do chefe das Guardas de Sourde, que tenho a honra de in-
cluir. Logo que disso fui informado, ordenei que se soe-
corressem estes vasos ; porém a grande difficuldade de ali
VOL. XI. No. 62. J.
82 Miscellanea.
chegar impedio que se alcançassem. Vários navios des-
tacados do gram comboy voltaram a traz, c obtiveram
salvar a maior parte das tropas c transportes : parece que
o inimigo naõ perdeo senaõ cinco navios, que cm geral
foram abandonados.
Logo que fui informado de que o inimigo tinha dado á
vela para a costa de Valencia, puz cm marcha a divisão
Musner e Aigrcmont; por um esforço digno de louvor,
ellas marcharam 15 léguas em um dia, ambicionando an-
ticipar as tropas do inimigo em todos os pontos. Todas
as declaraçoens dos capitaens, cujos vasos encalharam,
dizem, que o inimigo tinha de desembarcar em Castellan
de Ia Plana, para me separar da força que eu deixei em
Xucar. A admiração da rapidez da marcha de nossas
tropas, e a violência dos ventos naõ permittiram que o
inimigo executasse os seus projectos ; elle ficou por tres
horas á vist» de Castellan, aos 22, e no mesmo dia che-
guei eu ali com 4.000 homens, e 800 cavallos, e 6 peças
de artilheria ligeira. A frota, batida por ventos contrá-
rios, apparecêo diante do Gráo de Valencia, foi desta-
cada uma fragata para tomar posse do pequeno corsário, o
Determineé : estava elle juncto á praia, e encalhado ao pé
de Murviedro, o General Roulle partio com duas com-
panhias de granadeiros ; e duas peças d'artilheria em seu
soccorro. Houve um vivo fogo, o inimigo lançou ao mar
vários botes cheios de tropa, que tentaram repulsar a
nossa gente, mas fôram obrigados a retirar-se com perda
considerável.
(O resto i\o officio saõ exclamaçoens dizendo, que os
esforços dos Inglezes para accender outra vez a guerra na
Catalunha fôram mal suecedidos.) Sou, &c.
(Assignado) O Duque d'ALBi>tn*.
Miscellanea. 83
E X E R C I T O DE C A T A L U N H A .
Extracto de uma Carta dirigida ao Ministro da Guerra,
pelo General de DivisaÕ Lamarque, Commandante da
Catalunha superior ; datada de Gerona, 25 de Junho.
Monseigneur!—O inimigo tinha concebido o desígnio
de se lançar em Lampurdan : e de tomar, com o auxilio
dos Inglezes, alguns fortes, que nos tínhamos construído ;
fazer sublevar o paiz, e obrigar-nos assim a perder os
fructos de dous annos de trabalhos.
Aos 23 pela manhaã apparecêo diante de Palamos uma
esquadra de 15 navios de linha, 8 dos quaes eram de
tres cubertas e vários transportes. O Baraõ de Eroles
desceo das montanhas de Mieras, e S. Pan, para Banolas,
aonde ordenou que se lhe apromptassem 10.000 raçoens de
paõ. O rumor publico diz que as suas forças eram 5.000
homens tropa de linha, alguns bandos, e 200 cavallos;
annunciaram que marchavam para Escala, a fim de fa-
vorecer o desembarque, e depois distribuir as forças pela
Catalunha Superior.
Naõ havia um momento que perder, eu me decidi a
atacar os que desciam das montanhas, antes da sua junc-
çaõ com as tropas que se suppunham estar embarcadas.
Em conseqüência sahi de Gerona pela uma hora da tarde;
eja a canhonada, e um vivo fogo de mosqueteria se
ouvia do forte de Banolas : o ardor das tropas éra tal, que
em menos de duas horas fizeram uma marcha de tres
grandes léguas, que nos separavam do inimigo. Nos
achamolo rodeando o forte, oecupando o lugar de Banolas,
e tres pequenos oiteiros destacados, cubertos de vinhas e
oliveiras, e divididos por pequenos muros de 8 ou 10 pez
de alto ; o que fazia difficil a aproximação.
Animados talvez pela presença do Baraõ d\Eroles, os
Hespanhoes, pelejaram com mais de ordinária resolução
e até houve um momento em que o lugar foi retomado
L2
g4 Miscellanea.
pela cavallaria iiiimija, que pôz cm desordem a nossa
companhia de Miqucletes. Porem as nossas reservas
estavam ja promptas: o 23 de linha avançou outra vez
contra o inimigo, e penetrou as suas massas : o 1* ba-
talhão (\o regimento 60, commandado pelo Coronel Linud
tomou, a pas de charge, a 2a. altura, que ficou cuberta
de mortos : uma companhia de caçadores do 29 se lançou
no Iu»ar, em quanto o 2°. batalhão do 60 o flanqueou, ca-
pitaneado pelo chefe de batalhão Shepern.
Os hussares de S. Narciso, que tentaram vários ataques,
fôram passados á espada nas ruas e praças, aonde deixa-
ram vários mortos alguns prisioneiros c cousa de 30
cavallos. O Brigadeiro Baraõ Fuxa, que commandava a
cavallaria foi morto.
O inimigo, expulsado da cidade, e posiçoens fortes que
lhe saõ padrastos, cm vaõ tentou com a sua reserva de-
fender a aldea de Meanagas, e as margens dos lngos : tre?
peças de artilheria, retardadas até aqui pela difficuldade
do terreno, chegaram entaõ ; atiraram mais de 200 balas,
e depois de uma batalha de 5 horas, os Hespanhoes, der-
rotados em todos os pontos, voltaram em desordem para
as montanhas escabrosas, d'onde tinham descido.
Segundo os differentes rumores, a perca do inimigo
consiste em 600 homens. Naõ obstante o seu custume de
levar com sigo os mortos e feridos, deixou grande nu-
mero delles no campo de batalha. Tomamos lambem
alguns prisioneiros.
(Seguiam-se aqui as listas dos officiaes que se distingui-
ram, mas naõ se nomeia a perda que houve.)
A esquadra Ingleza depois de estar por dous dias
diante de Palamos, Escala, c bahia de Rosas, se fez na
volta do mar.
Miscellanea. $5
Paris, 17 de Julho.
Magdeburg, 12 de Julho.
O Imperador chegou aqui hoje, ás 7 horas da manhaã.
S. M. montou a cavallo, e visitou as fortificaçoens, que
fazem de Magdeburgo uma das mais fortes praças da Eu-
ropa, S. M. sahio de Dresden aos 1 3 ; ás 3 horas da
tarde. EUe almoçou em Torgau, visitou as fortificaçoens
daquella praça, e passou revista â brigada de tropas
Saxonias, commandas pelo General Leweg. A's seis
horas da tarde chegou a Wittenberg, e vio as fortifica-
çoens. Aos 11, âs 5 horas da manhaã, S. M. passou re-
vista a 3 divisoens vindas de F r a n ç a ; nomeou quem
preenchesse as occupaçoens vagas; concedeo varias
mercês a alguns officiaes, e soldados. O Imperador par-
tto de Wittenberg ás 3 da tarde, e chegou a Dessau ás 2
horas ; da manhaã e ás 5 estava em Magdeburgo, aonde
estaõ acampadas tres divisoens do corpo do General
Conde Vándamnic.

Carta do Duque tfAlbufera ao Ministro da Guerra.


Valencia, 30 de Junho, 1813.
Monseigneur!—Pelas minhas participaçoens de 2 1 , e
25, tive a honra de informar a V E . do levantamento do
cerco de Tarragona, e partida da frota Ingleza; a sua
apparencia nas costas de Valencia; e a volta das tropas
que eu tinha conduzido a Catalunha.
Aos 24 a divisão Musnier, e brigada Aigremont en-
traram em Valencia em mui bom estado. Os habitantes
naõ se podiam persuadir, que estas tropas pudessem ter
andado, em taõ breve espaço de tempo, tanto terreno.
E u concebi o projecto de tirar partido da ausência do
corpo Inglez, para atacar o Duque dei Parque; mano-
brar, e obter, se fosse possível, uma vantagem, que en-
fraqueceria tanto na opinião, como na realidade, um corpo
toleravelmeute bem organizado, e orgulhoso por seu chefe
g6 Miscellanea.
antecedente, Ballesteros. Naõ obstante toda a diligencia
que usei, naõ pude obrar senaõ na manhaã de 2 6 : o ini-
nii<ro se me anticipou ; deixando o seu campo entrinchei-
rado nas alturas, c visinhança de Xucar; e evacuou S.
Philippe, conservando somente uma guarda avançada no
Col. de Ullena, Informado eu da retirada ilo inimigo,
ordenei aos Generaes Habert, e Harispc que o perseguis-
sem com as suas divisoens, c eu mesmo trarcheí para S.
Philippe. Tres companhias do regimento 14, e 4 com-
panhias escolhidas do 44°, atacaram o inimigo cm Col de
Ullena: a defeza foi viva, havendo-se accclerado algumas
reservas cin seu auxilio ; porém o Major Durand poz fim,
i batalha, mandando que as 4 companhias cessassem de
lazer fogo : elle esperou o inimigo, e o carregou com im-
petuosidade á bayoneta calada; a acçaõ foi sanguinolen-
ta ; foram mortos ou feridos mais de 150 Hespanhoes.
Eu tive 4 mortos e 50 feridos; ficaram em iiot*o poder 30
soldados, e 2 officiaes. Desde entaõ continuou o inimigo
a sua retirada para o campo de Castella, do que nos asse-
guraram 15ou 30 desertores, que chegaram ao meu cam-
po durante a noite.
Eu postei duas divisoens, uma em S. Philippe, c outra
•as alturas da estrada real, naõ achando inconveniente cm
adiantar-me ; ellas oecupam posiçoens mais prudentes do
que nas margens do Xucar, e estitõ promptas para se au-
xiliarem mutuamente uma áoutrn. Logo que fui informado
da retirada do corpo do Duque d'el Parque, me determi-
nei a expulsar de Reguina o corpo de Elio, o qual com.
8.000 infantes, e 1.200 cavallos, e 4 peças d'artilheria,
ameaçava Valencia, em quanto o corpo de V illa Campa,
na margem esquerda do Guadalaviar, se aproximava da
Capital. Aos 25 ordenei ao General Musnier, que mar-
chasse contra Villa Campa, cm Pedraiva ; aonde naõ éra
esperado ; fez com que elle tomasse a pássaro Gundidit-
tiur, ao» 26 c 27 ; elle marchou para Reguina com 9 ba-
Miscellanea. 87
talhocns, 500 cavallos, e 4 peças de artilheria, para atacar
E l i o : na sua chegada, os nossos hussares expulsaram a
cavallaria do inimigo para alem da villa : o castello es-
tava oecupado por uma guarniçaõ Hespanhola. O Ge-
neral Musnier, depois de lhe ter atirado algumas bombas,
intimou ao commandante que se rendesse, mas elle reque-
reo a demora até as 6 da tarde, persuadido de que o Ge-
neral Elio daria batalha; o que naõ aconteeeo : rendeo-
sc entaõ no mesmo dia, com 150 soldados, e 3 officiaes.
Achamos no forte algnns milhares de cartuchos Inglezes,
granadas, &c. No dia seguinte, 28, marchou o General
Musnier para Utiel ; o inimigo apresentou 900 cavallos,
que etibríram a retirada de Elio, e que constantemente
evitavam a batalha que se lhes offereceo. Informam-me
que a expedição entrou emAlicantc, aos 24, era desordem:
quam grande seja a consternação daquella cidade pôde
V- Ex*. julgar pela declaração de um capitão de ura
vaso Mourisco, que chegou a Valencia ha dous dias.

HESPANHA.
Evacuação de Madrid.
Ao Dia 27 de Maio, Dia da AstensaÕ do Senhor.
Madrid, 7 de Junho, de 1813.
Salve astro luminoso, centro da luz, pai da vida, e Cie-
ador do dia mais feliz, que jamais vio a opprimida Capital
das Hespanhas. Salve dia fausto, dia ditoso, dia benéfico,
em que rotas as cadeias da tyrannia, respiraram os Madri-
lenhos a aura suave da liberdade, e em que dissipadas as
trevas do mais atroz despotismo, tornaram a recobrar os
seus direitos debaixo dos auspícios da sua Constituição,
do código sagrado das suas leis, a da sua ventura.
Jazia Madrid agrilhoada com pezados ferros, que cahí-
ram despeçados no dia 10 de Agosto de 1812, a impulso do
immortal Wellington, e de outros guerreiros Hespanhoes;
mas passados tres mezes tornou a inclinar a cerviz ao jugo
8s Miscellanea.
oppressor da tyrannia. Que ais ! que suspiros naõ cxbalou
este generoso, c invencível povo nos seis mezes, que durou
o seu captiveiro! Pura qualquer parte que volvesse os
olhos os via a liberdade alimentando risonha ai suas espe-
traeças. Se os voltava para as Columnas de Hercules via
os Pais da Pátria utxuroulando esforços sobre esforços,
para multiplicar o ferro vingador dos seus ultrages. Fixan-
do-os na poderosa Albion, via cem mil Guerreiros tintos
de sangue Francez, e coroados de louros, auuunciaudo-lhc
que naõ estava longe de gozar, o doce fructo da sua fiel
aliiança. Da parte do Norte via a derrota geral dos satcl-
lites do tyranno da Europa ; mostrando-lhe a impossibili-
dade de poderem prolongar por mais tempo o seu capti-
veiro.
Nestas circumstancias ve snhir do seu centro o que se
denominava Rei das Hespanha--., por naõ considerar que
repousando a estabilidade dos thronos no amor, e fidelidade
do6 povos, naõ pode consolidar-se com a força dos tyrannos.
Madrid crê chegado o termo das horríveis vexaçoens, que
lhe fazem derramar torrentes de lagrimas; mas o feroz
Soult naõ cessa de as renovar multiplicando os flagellos da
oppressaõ. O dia 9 de Abril be um dia de terror, que faz
estremecer este bárbaro, julgando na illusaõ da sua cobarde
atrocidade, que vê ja levantada sobre a sua cabeça a espada
exterminadora vingando a honra ultrajada da Pátria. Dá
accclcradamente todas as ordens para evacuar a Capital;
cegee, e criminosos sequazes do seu partido, esperam o
o tiro da peça de artilheria, que lhes devia annunciar
aaquella mesma noite o momento fatal da sua retirada,
Naõ se ouvem senaõ ais, lamentações, e as ultimas despe-
didas ; os leitos nupciacs vaõ ficar desertos, rompendo os
miseráveis afrancezados em imprecaçoeni contra a Pátria,
que lhes deo o ser, e contra os Guerreiras que os reduzem
a taõ doloroso conflicto.
Mas a Provideacia permitte que se mude a scena; Ma-
Miscellanea. 89
drid vé outra vez eclipsada a luz, que tinha transluzido.
Que flagellos e oppressoens se naõ soffreram desde este dia
até 27 de Maio? A mais desenfreada rapacidade multi-
plicou as contribuiçoens até o ponto de reduzir á ultima
miséria as familias honradas, que viviaõ com decoro. A
indisciplina dos soldados apoiada pelos Chefes conduzio-
se aos últimos excessos, tratando com igual brutalidade as
mulheres casadas, as donzellas, as crianças, e os velhos.
Os enfermos, e até os moribundos tiveram que soffrer â
cabeceira das suas camas os infames exactores do detes-
tável despotismo. O procedimento dos nossos oppressores
foi taõ horrivel, que parece que nos naõ deixaram a vida,
senaõ para que passássemos pela amargura de apetecer a
morte.
Espalharam-se a 15 noticias de que se aproximavam os
Inglezes, e os Hespanhoes ; o que confundio, e atterrou
sobre maneira os coraçoens dos decantados vencedores de
Austerlitz, e Marengo. Reforçam-se as noticias com o mo-
vimento do Empecinado, movimento que equivaleo para
elle a uma victoria, e para os Francezes a uma derrota
completa nos campos de Torrejon ; o terror cresce de tal
modo, que tudo se prepara para fugir. Chega naquella
tarde de Segovia o Ministro Anglo, aonde o General Gazan o
naÕ quiz receber : este ministro tinha sabido seis dias antes
dimittido do seu emprego; esta miserável futilidade bastou
para reanimar os afrancezados. Estes recobram novo alento
com uma carta que se leo no Prado, em que se annunciava
a total derrota dos exércitos Russos, e sem mais reflexão,
nem discernimento, rompem em vivas, e acclamaçoens, a
Napoleaõ, lançando os chapeos ao ar, e derramam-se por
todos os caffés despejando garrafas com festas indiscretas.
E haverá ainda á vista de tudo isto quem duvide de que
ha cabeças vivas sem miolos !
A 26 amanheceram estes miseráveis com as suas espe-
ranças um pouco amortecidas; e ficaram inteiramente con-
V O L . X I . N o . 62. M
90 Miscellanea.
sternados, quando viraõ sahir o numeroso comboi de minis-
tros, empregados, e oppressores de toda a espécie, os quaes
cheios de amargura, dor, e abatimento, deixaram as suas
casas, e familias, talvez para as naõ tornarem a ver nunca
mais; mas apezar disso, ostentavam um orgulho affectado,
que intimidou os espíritos fracos, que deduzem de tudo
conseqüências funestas. Dez, ou doze Einpecinados inter-
ceptaõ pelns -1 da tarde uma partida de dragoens, que
vinha de Getafé, matam tres, e entre elles o official que os
commandava, c um cavallo; os mais em número de 14
cnlregani-t-e prisoneiros á vista, evidencia, e paciência das
guardas da Ponte de Toledo, que presenceáram esta scena
com todo o socego. Pelo fim da tarde entra pela porta de
Alcalá um dragaõ a todo o galope; chega ao Prado, apca-
se, o busca entre a immcnsa multidão dos que andavam no
largo do passeio, o General Lavallc, que também passeava,
enirega-lhe uma parte, que o intrépido Francez le com a
palidez da morte pintada no semblante. Retira-se este
General para o seu alojamento, e expede ordens, que foram
executadas com tanta actividade, que ás 11 apenas haveria
um Francez, c nenhum afianeczado em Madrid ; e pela
meia noite, já esta heróica Capital estava inteiramente livre
dos seus oppressores, e entregue toda a effusaõ de uma
alegria geral, que só se pode comparar na intensidade, e
grandeza com as lagrimas, desgosto, e desolação dos afran-
cezados, e das suas miseráveis famílias.
O 28, e y9 foraõ dias de triunfo para Madrid- O Em-
pecinudo, nome glorioso, que passará ás geraçoens futuras,
com ail mi raçaõ, e respeito, estava com parte das suas tro-
pas na estalagem do Espirito Santo, e em Vicalvaco. O
caminho destes sitios esteve taõ freqüentado a toda a hora,
qne parecia que a povoaçaõ se tinha trasladado para o
caiu) >. Todos tinhaõ os olhos fixos no Heroc da nossa
rcobiÇaõ, < qual revestido da mais cândida singeleza, e
üa magestade que nasce do valor, acolhia, todo o mundo
Miscellanea. 91
com agrado, e exugava as lagrimas dos afflictos com o modo
carinhoso com que os gasalhava. O governo provisório
distribuo entre tanto ordens justas, e acertadas, para
manter a tranquillidade pública, a qual naõ foi interrom-
pida por accidente algum funesto : entre outras determinou,
que com illuminaçaõ geral se festejasse o dia 30, para
celebrar o dia natalicio do nosso Augusto Monarcha Fer-
nando V I I .
O dia 30 foi para todos os coraçoens um dia de júbilo,
de satisfacçaõ, e alegria. Até os mais pobres - moradores
davam a conhecer no seu asseio, e no regozijo que mani-
festavaõ no semblante, que eraõ cidadãos livres, e verda-
deiros Hespanhoes. Naõ se encontravam nem ouviam
pelas ruas senaõ musicas, danças, festas, e cantigas pa-
trióticas, que até as mesmas meninas entoavam em coros
com todas as graças da innocencia. A illuminaçaõ foi
magnífica, e universal em toda a extensão do termo; as
trevas da noite tiveram que ceder o seu império á
claridade assombrosa de innumeraveis luzes, que eraõ
outros tantos signaes de patriotismo de amor da Consti-
tuição, e do Monarcha, que trasbordam nos coraçoens
dos Madrilenhos. Todos os habitantes da Capital, sem
distineçaõ de idade nem de sexo, sahiram á rua pari go-
zarem de taõmagestoso espectucu!o,sem que no meio deste
numeroso concurso se soffresse o menor incommo,'<>. ou
se distinguissem outros sons, á excepçaõ dos vivas, e accla-
maçoens, que a alegria pública fazia resoar por toda a
parle.
Vinde cegos afrancezados, vinde illusos preselytos do
despotismo, vinde contemplar este magnífico espectaculo.
c dizei se uma alegria taõ pura, se uma satisfação taõ geral
vem das persuaçoens dos clérigos, e Frades, ou se na«cc
do sentimento intimo do coração. Os Madrilenhos, ;>ssim
como os mais Hespanhoes prezaõ a honra, e amaõ a Pátria,
sem necessidade de persuaçoens, nem terror dus baionetas,
M 2
92 Miscellanea.
Comparai esta illuminaçaõ com as festas forçadas, que
fizestes offerecer ao vosso José pelas oppressoens deSatini,
* e dos seus sórdidos satellites ; e se tendes ainda algum
resto de senso commum, conhecereis que nem Napoleaõ,
nem lodosos tyrannos junetos, tem força para subjugar um
povo determinado a derramar a ultima gota do seu sangue
para evitar a escravidão. (Diário de Madrid.)

No mesmo Diário se lê o seguinte aviso ao Public».


A Regência do Reyno particularmente interessada em
conservar a tranquillidade interior dos seus povos, e
facilitar aos que ficaram livres da dominação ini-
miga, os meios de suspender o curso dos males, produ-
zidos pelo arbítrio com que procedeo o intruso governo na
imposição, e manejo de contribuiçoens, determinou que os
Empregados na Administração da Fazenda desta Provincia
que emigraram nas ultimas invasoens, se apresentem nesta
Capital, logo que cesse de ser opprimida pelas tropas Fran-
cezas. O Thesoureiro, e contadores correspondendo quanto
lbe hc possivel á confiança do Governo, apressárara-se a
cumprir com as suas obrigaçoens, c já se acbaõ em exer-
cício dos seus respectivos empregos. O que se faz saber
ao público para sua intclligenia. Madrid, 31 de Maio, de
1813.
FRANCISCO ANTÔNIO DE GONGORA, Thesoureiro.

Corunha, 10 de Junho.
Copia da Parte que depois da evacuação de Castro
dá ao Ex—- Sr. D. Gabriel Mendizabal o Tenente
Coronel D. Pedro Paulo Alvares, que era Governa-
dor delia.
Ex mo . Sr.: Depois de 18 dias da mais vigorosa defesa,
em que se soffreraõ 7 do mais horrível fogo de artilheria da
* Dizem que a* partidas tomaram o Secretario deite Satrapa, e 3
carros do comboi. Tarabcin te diz hoje qae apanharam o Ministro
Angulo, e os 4 milhões, que levava em peças de ouro, roubadas aos
Madrilenhos.
Miscellanea. 93
17 peças de grosso calibre, e depois de brecha aberta
na cortina esquerda da Porta de S. Francisco, tendo
soffrido um assalto de mais de 5.500 homens, consegui
salvar a guarniçaõ com grande felicidade, no mesmo
tempo em que os inimigos enfurecidos passavam á espada
os poucos habitantes, que tinhaõ ficado na villa, e incen-
diavam todas as casas, que reduziram a cinzas.
Apresso-me a communicar a V- E . esta noticia, assegu-
rando-o, em quanto se naÕ offerece occasiaõ de lhe remet-
ter o detalhe de todas as operaçoens do sitio, que o dia 11
de Maio de 1813 naÕ cedeo em nada ao 2 do mesmo mez
de 1808.
Deos guarde a V. E . muitos annos,
D . PEDRO PAULO A L V A R E Z .
mo
Ex . Sr. D . G A B R I E L M E N D I Z A B A L .
Berraeo, 13 de Maio de 1813.
P. S. O Comodoro Collier, Commandante da Esquadra
de S. M. Britannica da costa de Cantabria, mandou oppor-
tunamente quatro bergantins, ás ordens do Capitão Bloye,
commandante do Lira, para a defensa desta Praça, os
quaes obraram com o valor que caracteriza esta heróica
naçaÕ nossa aluada, tanto no tempo do sitio, como no mo*
mento do embarque da guarniçaõ.
O Tenente Coronel D . Manoel Aguirre destinguio-se
na brecha, aonde ficou ferido de um bote de baixoneta
D . Mariano Castanhos, que foi Capitão de Artilheria, of-
fereceo-se voluntariamente para a defesa da Praça, em
que deo provas de valor. Quartel-General de Ordunha,
15 de Maio, de 1813.
(Assignado) MENDIZABAL.
94 Miscellanea.

INGLATERRA.

Valia de S. A. R. o Principe Regente, na prorogaçaõ do


Parlamento, aos 22 de Julho, 1813.
MY LORDS E SENHORES! NaÕ devo aliviar-vos de
vossa assistência no Parlamento, sem repettir a expressão
de meu profundo sentimento, pela continuação da lamen-
tável indisposição de S. M.
A attençaõ que tendes prestado aos interesses públi-
cos, no decurso desta sessaõ, requer os meus mais ardentes
reconhecimentos.
Os (splendidos e assignalados bons suecessos, que tem
acompanhado a abertura da campanha na Peninsula, a
consummada arte e habilidade, que tem mostrado o Mare-
chal de campo, o Marquez de Wellington, no progresso
daquella*. operaçoens, que tem conduzido as cousas até a
grande, e decisiva victoria, obtida juncto a Vittoria; e o
valor, e intrepidez, porque se tem distinguido as forças de
S. M. bem assim como as dos seus alliados, saõ taõ gratas
aos meus sentimentos, como o tem sido aos de toda a
NaçaÕ. Entretanto que estas operaçoens acerescentam
novo lustre ás armas Britannicas, ellas offerecem o melhor
prospec'o da libertação da Península da tyrannia, e oppres-
saõ da França; e subministram a mais decisiva prova da
sabedoria daquella politica, que vos tem persuadido, cm
todas as vicissitudes da fortuna, a perseverar na manutenção
desta gloriosa contenda.
Ao haverem-se completamente mallogrado os desígnios
do Governante Francez contra o Império Russiano; e á
destruição do exercito Francez empregado naquelle ser-
viço, se seguio a avançada das forças Russianas, a que
depois se uniram as de Prússia, até as margens do Elbe.
E ainda que, ao tempo de recomeçar a contenda, os exér-
citos alliados fôram obrigados a retirar-se ante o superior
numero que o inimigo ajunetou, o seu comportamento du-
Miscellanea. 55
rante uma serie de conflictos árduos, e sanguinários, tem
nobremente mantido o seu character militar, e attrahido a
admiração da Europa.
Tenho grande satisfacçaõ em vos informar de que existe
entre mim, e as cortes de S. Petersburgo, Berlin, e Stoii-
holmo, a mais cordeal uniaõ e concerto; e espero que
poderei, pelos adjutorios que vós taõ liberalmente ininis-
trastes, fazer efficaz esta uniaõ, para o complemento do
grande objecto para que foi estabelecida.
Lamento a continuação da guerra com os Estados Uni-
dos da America.
O meu desejo de estabelecer entre os dous paizes aquel-
las relaçoens amigáveis, taõ importantes aos seus mútuos
interesses, continua sem abatimento; porém eu naõ posso
consentir em comprar o restabelecimento da paz por sacii-
ficio algum dos direitos marítimos do Império Britannico.
Senhores da Casa dos Communs! Agradeço-vos o libe-
ral provimento que fizestes para os serviços do presente
anno.
Serve-mede grande satisfacçaõ o reflectir, que pelos regu-
lamentos que tendes adoptado para remir a divida nacional,
tendes estabelecido um systema, que naõ retardará a sua
liquidação finai, ao mesmo tempo que providencéa para a
vigorosa continuação da guerra, com o menor accrescimo
possivel aos encargos públicos.
My Lords e Senhores ! Eu approvo inteiramente os ar-
ranjamentos que tendes feito, para o Governo do território
Britannico na índia, e para o regulamento do commercio
Britannico naquella parte do mundo. Elles parecem ter
sido prudentemente organizados, tendo em vista as circum-
stancias que tem occurrido, desde que esta matéria esteve
pela ultima vez presente á consideração do Parlamento.
Por estes arranjamentos vós tendes conservado, em suas
partes essenciaes, aquelle systema de Governo, que a ex-
periência tem mostrado ser naÕ menos calculado a provi-
96 Miscellanea.
denciar á felicidade dos habitantes da índia, do que a pro-
mover os interesses da Gram Bretanha ; e vós tendes judi-
ciosamente estendido aos subditos do Reyno Unido, em
geral, a participação do commercio de paizes dentro do»
limites da Charta da Companhia das índias Orientaes, o
que sem duvida produzirá o effeito de augmentar, e me-
lhorar o negocio e navegação dos dominios de S. M.
A experimentada, e affeiçoada Lealdade do povo de
S. M., a constância que tem mostrado durante esta árdua
guerra, a paciência com que tem carregado com os encar-
go.-., que necessariamente se lhe tem imposto, tem causado
uma indelével impressão no meu espirito. Taõ contínuos,
c perseverantes esforços, em apertos taõ graves, daõ as
mai*. enérgicas provas de sua affeiçaõ á Constituição, cuja
manutenção he o primeiro objecto da minha vida.
No bom successo que recentemente tiveram as armas de
S. M., eu reconheço com devota gratidão a maõ da Provi-
dencia Divina. O uso que desejo fazer desta, e de todas
as outras vantagens, he promover, e segurar a felicidade do
povo de S. M. e Eu naõ posso mostrar esta disposição mais
decididamente, do que empregando os poderosos meios,
que vós puzestes em minhas maõs, de maneira, que sejam
o mais bem adaptados para diminuir as extravagantes pre-
tençoens do inimigo, e facilitar por este modo o alcance
de uma segura, e honrosa paz, em conjuneçaõ de meus alli-
ados.

O Lord Chanceller declarou o Parlamento prorogado


para os 23 de Agosto próximo futuro.

Operaçoens do exercito Inglez no Canada.


Buletim oíficial. Repartição da Guerra, Downing-
street, 24 de Julho, 1813.—O Capitão Macdonald, aju-
dante ile Campo do Tenente-general Sir George Prcvost,
Miscellanea. 97
chegou hoje do Canada, com oflicios datados de 14 de J u -
nho ; dos quaes se v ê ; que, na manhaã de 5 de Mayo, foi
a força Britannica, em Miamis, debaixo do commando do
Coronel Proctor, atacada por uma força superior do ini-
migo ; e os Americanos fôram completamente derrotados,
com perda, em mortos e feridos, de 1.000, a 2.000 homens.
As tropas do Coronel Proctor consistiam em cerca de 450
soldados regulares, do regimento 41 de infanteria, e do
regimento de Terra Nova ; e cerca de 400 milicias. A
perca foi 13 soldados mortos, e 4 1 feridos; e 37 prisi-
oneiros. Tomáram-se aos Americanos 500 prisioneiros
alem dos que ficaram no poder dos índios, cujo numero
ainda se naÕ averiguou.
Aos 5 de Junho, o Coronel Vincent, commaiulante de
uma divisão em Burlington, nas cabeceiras do lago On-
tario, recebeo noticias de que o inimigo tinha avançado
com uma força de 3.500 homens, 9 peças de campanha, e
250 cavallos ; com o determinado fim de atacar a sua po-
sição. O Tenente-coronel Harvey tinha sido mandado
em avançada com as companhias ligeiras do regimento
d'El Rey, e do 49 ; se adiantou o mais chegado que pôde
ser das posiçoens do inimigo, e averiguou as exactamente ;
e propôs ao Coronel Vincent o atacar de noite o campo
do inimigo. O Coronel Vincent, adoptou a suggestaõ, e
avançou na mesma noite com um destacamento dos regi-
mentos 8, e 49 ; que chegava a 704 espingardas. O ini-
migo foi completamente sorprendido, e denotado; e ficou
nas maõs dos Inglezes o campo inimigo, com 4 peças de
artilheria, os Brigadciro-generaes Chandler e Winsen;
primeiro e segundo em commando. A perca da parte dos
Inglezes foi de 19 mortos, 113 feridos, e 52 extraviados.

VOL. X I . N o . 62. »
98 Miscellanea.
Officios relativos a Esquadra Ingleza nas Costas da
America.
Officio do Contra-Almirante G. Cockburn, referindo as
suas operaçoens na bahia de Chesapeak.
Navio de S. M. Maidstone, 3 de Mayo,
ancliorado defronte de T u r k e y - P o i n t .
S E N H O R ! — T e n h o a honra de vos informar, que estando
anchorados os brigues, e vasos pequenos em frente da ilha
Squrscuie, na conformidade d e minhas intençoens que vos
participei, na minha relação official de 29 ultimo N ° . 1 0 ;
ob>ervei que se davam fogo a algumas peças, e se alçava a
bandeira Americana em uma bateria, ultimamente con-
struída em Havre de G r a c e , na entrada do Rio Susquehana ;
isto lhe deo uma conseqüência, que eu até entaõ lhe naõ
tinha considerado, c por tanto determinei-me a atacalla, de-
pois de ter completado as nossas operaçoens na ilha : conse-
quentemente lendo sondado na sua direcçaõ, e achado que a
p o u c a profundidade da água só admittia que se lhe apro-
ximassem botes, ordenei que estes se ajunetassem debaixo
do coinmando do T e n e n t e W e s t p h a l ( I o . do Marlborough)
hontem á noite pela meia noute, ao lado do Fantome,
quando os nossos destacamentos de soldados de marinha,
em numero de 150 homens, (como d'antes) sob o comman-
do dos Capitaens W y b o u r n e Carter, com uma pequena
partida d e artilberos, se embarcaram nelles, sob o com-
mando do T e n e n t e Robertson, da artilheria ; estando o
todo debaixo das ordens do Capitão Lawrence, do Fan-
tome ( q u e com muito zelo e promptidaõ tomou sobre si,
por minha solicitação conduzir este serviço) partiram
paia 1 lavre, a fim d e tomar a cuberto da noite, as posi-
çoens necessárias para começar o ataque ao romper do dia.
O s vasos Dolphin e Highflyer, commandados pelos T e -
nentes Hutcliinson e Lewis, seguiram para auxiliar os botes,
mas a pouca u g u a impedio q u e se aproximassem mais
perto do que seis milhas. O Capitão Lawrence, porém,
Miscellanea. 9g

tendo-os postado hábil e judiciosamente em quanto éra es-


curo, se abrio ao amanhecer, contra o lugar, um vivo fogo
das lanchas e botes de foguetes, a que a bateria respondeo
por algum tempo, mas continuando as lanchas a aproximar-
se, e augmentando em vez de diminuir o seu fogo ; come-
çou o da bateria a fraquear, e observando isto o Capitão
Lawrence mui judiciosamente ordenou, que os soldados ma-
rinheiros desembarcassem na esquerda, movimento este,
que juncto ao pezado fogo que se fazia, obrigou os Ame-
ricanos a começar a sua retirada da bateria, abrigando-se
no lugar. O Tenente G. A. Westphal; que tinha toma-
do a sua estação no bote de foguetes juncto á bateria, jul-
gando agora que esse era o momento favorável, foi direc-
tamente para a bateria, e desembarcando com a equipa-
gem do seu bote, tomou immediatamente posse delia
voltou contra o inimigo as suas mesmas peças, e com isso o
obrigou em breve tempo a retirar todas as suas forças,
para a outra extremidade do lugar, para onde (tendo os
soldados marinheiros desembarcado a este tempo) foram
apertadamente perseguidos, e naÕ se sentido ja capazes de
varonil e aberta resistência, começaram um fogo de cançar
e irritar, por detraz das casas, dos muros, e dos matos;
d'onde, sinto ter a dizer, que o meu valente 1». tenente re-
recebeo uma bala que lhe atravessou a maõ a tempo que
capitaneava a partida que perseguio o inimigo : elle porém
continuou a capitanear a avançada, com que obteve desa-
lojar o todo do inimigo dos seus escondrijos, e o obrigou a
acoitar-se nos matos circ um vizinhos; e em quanto execu-
tava este serviço teve a satisfacçaõ de alcançar, e, com a maõ
que lhe restava, aprisionar e trazer um capitão da sua mi-
licia. Tomamos também um alferes, e alguns indivíduos
armados, mas o resto da força, que se nos oppos, havendo
penetrado para os matos, naõ julguei prudente permittir
que fosse seguida mais adiante por nosso pequeno numero;
portanto depois de lançar fogo a algumas casas, para fazer
N 2
]00 Miscellanea.
com que os proprietários (que as tinham desamparado e for-
mado parte da milicia, que fugio para os matos) enten-
dessem e sentissem ao que se expunham, construindo ba-
terias, e obrando a nosso respeito com tanto inútil rancor,
embarquei nos botes as peças da bateria, e tendo também
tomado ou destruído cousa de 130 armamentos, destaquei
uma pequena divisão de botes pelo Susquchana acima,
para tomar e destruir tudo que e contrassem ; e eu parti
com o resto dos botes, sob o commando do Capitão Law-
rence, em busca de uma fundição de artilheria, de que
obtive noticia, estando em terra no Havre, que estava si-
tuada cousa de tres ou quatro milhas para o Norte, aonde
consequentemente a achamos, e tomando posse sem dif-
ficuldade, comecei instantaneamente a sua destruição, e a
das peças c outros materiaes que ali achamos; o completar
isto nos oecupou o resto do dia ; porque havia ali vários
edifícios, e complicadas e pezadas machinas. Era esta
fundição conhecida pelos nomes de Cccil ou Principio, e
uma das mais preciosas deste gênero na America; cuja
destruição portanto, a este momento, espero que se ache
ser de muita importância nacional.
Na margem* tenho marcado a artilheria tomada ou
destruída pela nossa pequena divisão, hoje, e durante todo
este serviço estivemos em terra, no centro do paiz do ini-
migo, na sua estrada principal entre Baltimore e Philadel-
phia. Os botes que mandei pelo Susqueana acima volta-
ram depois de destruir ali cinco vasos, e uma grande pro-

* Tomadas na bateria de Havrc de Grace—6 peças de calibre 12


e 6.
Destruídas na baleri:i que protegia a fundição — 5 peça* de 24.
Destruídas, que estavam promptas na runtiçaõ para serem trans-
portadas 28 peças de 32.
Destruídas na casa de broriuear da fundição—8 peças e 4 carrona-
dat de vários calibres.
Total.—51 peças, e 130 armamentos.
Miscellanea. 101
visaõ de farinha; e estando tudo completo á minha satis-
facçaõ, se tornou a embarcar toda a divisão, e voltou para
os navios, aonde chegamos ás 10 horas, tendo estado 22
horas em constantes esforços, sem nutrição de qualidade
alguma; e tenho grande prazer em poder accrescentar,
que excepto a ferida do Tenente Westphall, naõ soffremos
outra alguma perda.
As judiciosas disposiçoens que fez o Capitão Lawrence,
do Fantome, durante a noite precedente, e a hábil maneira
por que conduzio o ataque do Havre na manhaã, juncto
ao valor, zelo, e attençaõ que elle mostrou em todo o dia,
lhe daõ justo titulo aos meus maiores elogios e reconheci-
mento ; e espero que lhe assegurem a vossa approvaçaõ.
E tenho o prazer de accrescentar, que elle falia da maneira
mais favorável do bom comportamento de todos os offi-
ciaes, e gente empregada nos botes debaixo do seu com-
mando immediato; particularmente dos tenentes Ale-
xander e Reed, do Dragou, e Fantome, cada um dos quaes
commandou uma divisão: do Tenente G. A. Westphall,
cujo comportamento exemplar e valente fui obrigado a
mencionar, referindo-vos as operaçoens do dia: agora so-
mente acerescentarei, que por um perfeito conhecimento,
que delle tenho (tendo elle servido comigo muitos annos
como I o . tenente) espero sempre deile muito, em similhan-
tes oceasioens; porém hoje excedeo aquellas esperanças,
e ainda que soffrendo dores consideráveis de sua ferida,
insistio em continuar a ajudar-me, até o ultimo momento,
com os seus hábeis esforços, e portanto, Senhor, naõ posso
deixar de esperar confiadamente que os seus serviços de
hoje, e a ferida que recebeo, juncta ao que executou em
French Town (segundo referi na carta que vos escrevi aos
329 de passado) lhe obterão a vossa favorável consideração,
e a dos My Lords Commissarios do Almirantado. Seria
injusto que naõ vos mencionasse também particularmente
o hábil auxilio que me prestou o Tenente Robertson da
102 Miscellanea.
artilheria, que sempre he um voluntário quando ha serviço
que fazer, sendo igualmente conspicuo por sua galhardia,
que por sua habilidade; e também lhe sou obrigado por ter
superintendido a destruição da artilheria tomada na fundi-
ção. Também he devido muito louvor aos Capitaens Wy-
born, e Cartes, que commandavam os soldados de marinha,
e mostraram muita arte em os manejar; assim saõ devidos
os meus reconhecimentos ao Tenente Lewis do Highflyer,
que naô podendo trazer o seu vaso assas perto para dar
adjutorio, offereceo os seus serviços pessoaes com o seu ac-
tivo zelo do custume, no desempenho de seu dever. E he
do meu agradável dever o ter de participar-vos alem disto,
que todos os outros officiaes, e gente pareciam emular uns
aos outros no gostozo e zeloso desempenho de seus deveres;
e tenho por tanto a satisfacçaõ de recommendar, cm con-
seqüência, o seu bom comportamento em geral, á vossa
attençaõ. Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) G. COCKBURN, Contra-Almirante.
Ao muito Honrado Almirante Sir J. B. Warren,
Baronete, &c. &c.

TOMADA DE UMA FRAGATA AMERICANA.


Shannon, Halifax, 6 de Junho.
SENHOR !—Tenho a honra de vos informar, que estando
chegado ao farol de Boston, no Io. do corrente, no navio de
S. M., que está debaixo de meu commando ; tive o prazer
de ver que a fragata dos Estados Unidos Chesapeake (a
quem eu tinha por muito tempo espreitado) sahirá do porto
para pelejar com a Shannon : eu tomei uma posição entre
cabo Ann, e cabo Cod ; e entaõ me fiz na volta para que
ella se nos chegasse : o inimigo veio em mui linda maneira
tendo tres bandeiras Americanas despregadas; aproximou-
se de nós ; arriou as vergas de joanetes: mas eu conservei
as do Shannon, esperando que o vento acalmaria. As 5 |
da tarde o inimigo veio pelo nosso estibordo á distancia de
Miscellanea. 103
falia, e começou a batalha : velejando ambos os navios com
gavias cheias. Depois de dar duas ou tres bandas, o navio
inimigo cahio sobre nosso bordo, e as enxarcias de sua
mezena se embaraçaram com a nossa cordagem de proa.
Eu fui avante para averiguar a sua posição, e observando
que o inimigo hia desertando das suas peças dei ordens de
preparar para abordagem. As nossas valentes partidas im-
mediatamente atacaram, commandadas por seus respecti-
vos officiaes, passando á cuberta do inimigo, e repulsando
tudo o que se lhe apresentava com fúria irresistível. O in-
imigo fez uma resistência desesperada mas desordenada.
Continuou o fogo em todas as amuradas, e entre as gavias,
porem dentro em dous minutos foi o inimigo repulsado de
todos os postos com a espada na maõ. Foi arreada a
bandeira Americana, e a velha orgulhosa Britannica ondeou
trimnphante por sima delia. Em outro minuto cessou o
fogo debaixo, e pediram quartel. Todo este serviço foi
concluído em 15 minutos do principio da acçaõ.
Nos temos de lamentar a perca de muitos de meus valo-
rosos companheiros, mas elles morreram exultando na
conquista.
O meu valeroso primeiro Tenente Mr. Wall foi morto
no momento da victoria, e no acto de içar a bandeira Bri-
tannica : a sua morte be para o serviço uma grande perda.
Mr. Aldham, o Bolça, que se offereceo de voluntário, e
carregou uma partida de gente armada de armas curtas, foi
morto no seu posto na amurada. O meu fiel e antigo se-
cretario Mr. Dunn foi ferido por uma bala juncto a elle.
Mr. Aldham deixou uma viuva para lamentar a sua perca.
Eu peço que o commandante em chefe a recommende á
protecçaõ dos My Lords commissarios do Almirantado. O
meu veterano contramestre Mr. Stephens, perdeo um
braço. Elle pelejou debaixo das ordens de Lord Rodney,
aos 12 de Abril. Espero que a sua idade e serviços sejam
devidamente remunerados.
104 Miscellanea.
Sou feliz em poder dizer, que Mr. Samuel um guarda-
marinha de muito merecimento, he o único official ferido
alem de mim ; e naõ he cousa de perigo. Dos meus va-
lentes marinheiros, e soldados tivemos 23 mortos e 56 feri-
dos. Ajuncto aqui os nomes dos primeiros.
Nenhumas expressoens de que eu pudesse usar fatiam
justiça aos merecimentos de meus valorosos officiaes e
equipagem, a socegada coragem que mostraram durante a
canhonada e tremenda exactidaõ de seu fogo, só pôde ser
igualada pelo ardor com que se lançaram ao assalto. Eu
os recommendo todos mui fortemente á protecçaõ do com-
mandante em chefe. Tendo recebido uma grande ferida
de espada ao principio do combate, em quanto atacava
uma partida do inimigo, que se tinha refugiado no seu cas-
tello de proa; somente pude commandar até que fiquei
seguro da conquista estar completa; e entaõ ordenei ao
segundo Tenente Wallis, que tomasse conta do Shannon,
e segurasse os prisioneiros. Deixei o 3°. Tenente Mr.
Falkiner; que commandava os que deram a abordagem na
cuberta, em posse da preza. Peço licença para recom-
mendar estes officiaes mui fortemente ao patrocínio do
commandante em chefe, pela galhardia que mostraram
durante a acçaõ, e pelo juizo e arte que mostraram no
anxioso desejo de cumprir com os deveres que ao depois
se lhe confiaram.
A Mr. Elough, o Mestre em exercicio, sou muito obri-
gado, pela firmeza com que trouxe o navio ao combate.
Os Tenentes Johns e Law, dos soldados de Marinha abor-
daram valorosamente á frente de suas respectivas divisoens.
He impossível particularizar todas as acçoens brilhantes
que fizeram os meus officiaes, e gente; mas devo mencio-
nar, que Mr. Casnaham, quando as vergas e enxarcias dos
dous navios se embaraçaram, commandava a gavia grande,
e achando se abrigado contra o inimigo pela parte inferior
da gavia, valeo-se da verga, e delia matou 3 do inimigo.
Miscellanea. 105
Mr. Smith, que commandava na nossa gavia de proa as-
saltou a gavia de proa da verga do traquete, e destruio
todos os inimigos que ali se achavam. Eu rogo mui par-
ticularmente permissão de recommendar Mr. Etough, o
Mestre, e os Senhores Smith, Leake, Clavering, Raymond,
e Littlejohn, guardas marinhas. Este ultimo official he
filho do Capitão Littlejohn, que foi morto no Berwick.
A perca do inimigo foi de 70 mortos, e 100 feridos.
Entre os primeiros ha 4 tenentes, um tenente dos soldados
de marinha, o mestre, e muitos outros officiaes. O Capi-
tão Lawrence morreo depois de suas feridas.
O inimigo entrou em acçaõ com um complemento de
440 homens. A Shannon tinha somente apanhado alguns
marinheiros retomados, e tinha por tanto 330 homens. A
Chesapeak he a mais bella fragata, e monta 49 peças de 18
na cuberta principal, de 2 e 3 na popa, e castello de proas.
Ambos os navios ficaram em muito bom estado depois da
acçaõ ; e o massame está taõ perfeito, como se tivessem
somente dado uma salva.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) P. B. V BROKE.
Ao Cap. o Hon. T . Bladen Capen, &c. Halifax.

E X É R C I T O S ALLIADOS N A PENÍNSULA.
Officios do General em Chefe dos Exércitos Alliados na
Peninsula.
Carvajales, 25 de Mayo.
Na manhaã do dia 26 cheguei com as tropas ás immedia-
çôes de Salamanca, e achei que o inimigo ainda a occupava
com uma divisão de infanteria, tres esquadroens de caval-
laria, e alguma artilheria do exercito do Meio dia, tudo
debaixo do commando do General Villate. O inimigo
evacuou a cidade quando nos aproximámos a ella; porém
deteve-se mais do que devia sobre as alturas immediatas,
por cujo motivo proporcionou opportuna occasiaõ á caval-
laria do commando dos Generaes Fane, e Victor Alten para
V O L . X I . No. 62. o
106 Miscellanea.
o atacar, passando o primeiro o Tormes no váo de Santa
Marta, e o segundo pela ponte, para causar-lhe maior
damno na sua retirada : muitos foraõ mortos e feridos,
fizemos perto de 200 prisioneiros, e tomámos 1 caixões de
munições, alguma equipagem, provisões, &c.
Retirou-se o inimigo pelo caminho de Babila Fuente, e
perto de lugar de Huerta se lhe incorporou, sobre a
marcha, um corpo de infantaria e cavallaria, procedente
d' Alba de Tormes; entaõ ordenei, que a cavallaria dei-
xasse de perseguillo em attençaõ a que naõ tinha ainda
chegado a nossa infantaria.
O Major-general Long, e o Brigadeiro Morillo, que
commanda a divisão Hespanhola, atacaram Alba de
Tormes, donde inimigo foi obrigado a retirar-se. Nos
dias 27 e 28 estabeleci as tropas, que tinhaõ marchado do
Agueda, e Estrr nadura alta, entre o Tormes, e Baixo
Douro, commandadas pelo Tenente-general Sir Rowland
Hill; sahi no dia 29 de Salamanca, e no mesmo cheguei
a Miranda do Douro. No dia seguinte, 30, achei, em vir-
tude (Io que eu tinha projectado, as tropas do commando
do Tenente-general Sir Thomaz Graham sobre o Esla,
tendo a sua esquerda em Tavora em communicaçaõ com o
Exerciio da Galliza, e a direita neste povo, e com as pre-
cisas disposiçoens para passar o dito rio: com effeito, a
maior parte das tropas o tem effeituado, a cavallaria pelos
váos, c a infantaria por uma ponte, que foi necessário
estabelecer por causa da profundidade das agoasdo sobre-
dito rio, que era tal que mesmo da cavallaria se affogáram
alguns soldados ; os Hussares Inglezes, que foram os que
primeiramente passaram, fizeram perto de Valdepcrdizes
a um official, e 30 dragoens prisioneiros.
O inimigo evacuou Zamora, e as nossas patrulhas en-
traram iii-quclla cidade; as tropas inimigas que haviam
nella, se retiraram para Toro, aonde tem, segundo ouço,
uma divisão de infantaria, c uma brigada de cavallaria.
Parece que o inimigo reuuio cm Nava dcl Rey as
Miscellanea. 107
tropas, que se retiraram de Salamanca, Alba, &c. com
as que haviaõ em Arevalo, e Medina dei Campo, e sup-
ponho, que á proporção, que adiantar esta parte do ex-
ercito, se retirarão para a direita do Douro.
Em Madrid, e sobre o Tejo ainda permaneciam tropas
inimigas no dia 22; porém concluo, que ellas teraõ
evacuado aquella parte do paiz, logo que tivessem noticia
dos nossos movimentos.
Tenho recebido participações a que dou credito, ainda
que naÕ saõ officiaes, d* que a guarniçaõ Hespanhola
evacuou Castro Urdiales, embarcando-se em navios In-
glezes.
Depois do meu anterior despacho, que dirigi a V- E.,
naõ tenho recebido participação alguma de Alicante.

Quartel-general de Ampudia, 6 de Junho.


Às tropas tem continuado a avançar, depois que dirigi
a V. E. o meu anterior despacho de 31 do passado, e no
Io- do corrente estiveram em Çamora, e [chegaram a
Toro. Achando-se os hussares Inglezes na vanguarda,
encontraram entre Toro e Morales um grosso corpo de
cavallaria inimiga, que foi immediatamente atacado pelo
regimento 10, sustido pelo 15 e 18, e o derrotaram por
muitas milhas, fazendo-lhe 210 prisioneiros, 2 officiaes, e
muitos cavallos.
Inclusa transmitto a V. E. a parte, que me deo o Co-
ronel Grant desta brilhante acçaõ, a qual faz muita honra
ao Major Roberts, do 10°. de hussares, como igualmente
ao Coronel Grant, que a dirigio.
Na tarde do mesmo dia surprehendeo D. JuliaÕ San-
ções o posto Francez, que havia em Castro-Nuno, fa-
zendo 2 officiaes, e 50 dragoens prisioneiros, e arrojando
outro de Polhos, qui alli tinhaõ.
O inimigo havia destruído as pontes de Zamora e Toro,
o que com as difficuldades, que apresentou o passo do
Esla, retardou o movimento da nossa retaguarda, de cuja
108 Miscellanea.
circumstancia elle se aproveitou, para reunir grande
numero das suas forças entre Torrelobaton e Tordcsílias.
Em conseqüência fiz alto em Toro no dia 3, com o fim de
fazer que a divisão ligeira, e tropas do commando do
Tenente-general Sir Rowland Hill passassem o Douro pela
ponte da mesma Cidade, e também dar lugar a que se nos
unisse a nossa retaguarda, e incorporar-se o exercito da
Galliza com a nossa esquerda; o que tendo-se verificado
tornámos a emprehender a marcha no dia 4.
Os inimigos principiaram a reunir as suas forças em
direcçaõ do Douro, quando souberam, que havíamos pas-
sado de Ciudad-Rodrigo, e atravessaram este rio no dia
8 pela ponte de Tordesilhas.
As tropas que haviaõ em Madrid, e os destacamentos
que tinhaõ sobre o Tejo, eroprehenderam a sua marcha n)
dia 27 pretérito, e passaram pela ponte de Douro o rio
deste nome, ficando Valladolid inteiramente evacuada no
dia 4, e deixando o inimigo em Arevalo e Toro conside-
ráveis armazéns de graõ, e algumas muniçoens em Valla-
dolid e Zamora.
Os Francezes tem passado o rio Carrion, e segundo as
aparências se retiram na direcçaõ de Burgos.
Hei recebido a noticia, que acredito, de que os Fran-
cezes tendo levado por mar, desde Sanfona a Castro, 5
peças d'artilheria, abriram brecha nas muralhas do povo
a 11 de Maio, e que em conseqüência o assaltaram, e
tomaram, retirando-se a guarniçaõ para o castello, que
intentaram tomar também por assalto ; porém foraõ recha-
çados com muita perda: a guarniçaõ retirou-se, embar-
cando-se na manhaã do dia 12 nos Navios de Guerra de
S. M. B. a Lyra, Realista, e Sparrow, que a desembar-
carão em Boroméu.
Ainda naõ tenho recebido noticia alguma de Alicante,
depois que dirigia V- E. o meu penúltimo despacho.
Miscellanea. 109
Documento percencente ao Officio de S. E. o Marechal
General Duque da Victoria, datado de Ampudia, á
6 de Junho.
Moralles, 2 de Junho.
My Lord l—Tenho a honra de informar a V- Ex 1 ., que
aproximando-me a Moralles esta manhaã com a brigada de
hussares, apparecêo a cavallaria Franceza em considerá-
vel força, junto daquelle lugar.
O regimento 10 dos Hussars Reaes avançou immedi-
atamente, debaixo das ordens do Major Roberts, o qual
atacou a vanguarda dos esquadrões inimigos, de uma
maneira a mais briosa; a sua primeira linha fez uma de-
cidida resistência ; porém foi immediatamente derrotada
pela irresistível impetuosidade dos hussares N. 10, que
sendo sustentados pelos hussares N. 18 (achando-se o N.
15 em reserva) chegaram á sua segunda linha ; e o im-
pelliram com perda, por espaço de duas milhas, até ás
alturas em frente de Moralles, posição que o inimigo oc-
cupava com uma grande força de cavallaria, e infantaria,
e aonde os restos dos seus esquadrões destroçados se abri-
garam a coberto da sua artilheria.
e>
He com a maior satisfacçaõ que informo a V. E., que
nada pôde exceder a actividade e bravura, que as tropas
mostraram nesta occasiaõ.
Tenho com tudo a lamentar a perda do Tenente Cotton
dos hussares N°. 10, official de pouca idade, mas de
grandes esperanças, que foi morto no meio das fileiras
inimigas. Também sinto ter que accrescentar que o
Capitão Lloyd do mesmo regimento se extraviou.
Tenho a honra de remetter incluso o mappa dos mortos,
e feridos; e também a relação da perda, que soffreo o
inimigo, com aquella exactidaõ que me foi possivel.
Tenho a honra de ser, &c. (Assignado) GRANT.
A S. E . o Marquez de Wellington,
Commandante em Chefe, &c. &c. &c.
P. S. Depois de ter escripto o que acima digo, tive a
HO Miscellanea.

noticia de que a Capitão Lloyd foi ferido, e que tinha


-ficado prisioneiro ; porém o inimigo o deixou em Pedros-
sa d'El Rey, debaixo da sua palavra de honra; a sua
ferida he grande, porém naõ he de perigo.

Relação dos mortos, feridos, e extraviados do Exercito do


commando de S. E. o General Marques de Wellington,
K. G. na acçaõ com a retaguarda do inimigo juncto de
Moralles a 2 de Junho, de 1813.
No 10 de Reaes Hussares, um tenente, e um soldado
mortos; cavallos 4. feridos 10 soldados ; cavallos 9. ex-
traviados um capitão, um quartel mestre, um sargento, e
um soldado; cavallos 10. Total doe homens 16; dos
cavallos 23.
No 15 de hussares do rey, um coronel ferido; cavallo um.
No 18 de hussares, um sargento, e 3 soldados feridos;
cavallos 3. extraviados um soldado, cavallos 1. Total
dos homens 5, dos cavallos 4.
Total dos homens mortos dos tres corpos 2, dos cavallos
4. Total dos homens feridos 15, dos cavallos 12. Total
dos homens extraviados 5, dos cavallos 11. Somma total
dos homens mortos, feridos, e extraviados dos tres corpos
22, dos cavallos 27.
Nomes dos Officiaes, mortos, feridos, e extraviados.
Morto o Tenente Cotton do 10 de Reaes Hussares. Fe-
rido o Coronel Grant do 15 de hussars, commandante de
Brigada, levemente. Extraviados o Capitão Lloyd do 10
de reaes hussares. ATLMER, Colonel, D. A. G.

Villa Diego, 13 de Junho.


MY LORD!—O exercito passou o Carrion aos 7. O
inimigo, tendo-se retirado a travez do Pissuerga, e aos 8,
9, e 10 marchamos adiante com a nossa esquerda e passa-
mos aquelle rio. A celeridade de nossa marcha até este
periodo, me obrigou a fazer vários movimentos aos II, e
a fazer halto com a esquerda aos 12; porem naquelle dia
Miscellanea. 111
adiantei a direita, sob o commando do Tenente-general
Sir Rowland Hill, consistindo do 2 o . Britannico, a divisão
Hespanhola do Brigadeiro-general Murillo ; e a divisão
Portugueza de infanteria do Conde dVAmarante, e a divisão
ligeira, sob o Major-general Carlos Baraõ Alten, e Major-
general Fane, Major-general Long, e do Brigadeiro-gene-
ral o Honr. Ponsonby, e Coronel Grant para Burgos; com
as vistas de reconhecer a posição do inimigo, e o seu nu-
mero juncto aquella cidade, a forçallo a tomar uma decisaõ
ou de abandonar o castello á sua sorte, ou de o proteger
com toda a sua força.
Achei o inimigo postado em força considerável, com-
mandado, segundo se me disse, pelo General Reille, nas
alturas á esquerda de Hormaza, com a sua direita acima
da aldea de Hormaza, e a sua esquerda em frente de Este-
par. Nós flanqueamos a sua direita com os hussares,
brigada de cavallaria do Brigadeiro-general Ponsonby, e
divisão ligeira de lsar, em quanto a brigada de cavallaria
do General Victor Alten, e a brigada da 2*. divisão do
Honr. Coronel 0'Callaghan marcharam para as alturas de
Hormaza; e o resto das tropas, sob o commando do Te-
nente-general Sir Rowland Hill ameaçou as alturas de Es*
tepar. Estes movimentos desalojaram o inimigo de suas
posiçoens immediatamente. A cavallaria na nossa esquer-
da e centro estava inteiramente na retaguarda do inimigo,
que foi obrigado a retirar-se cruzando o Arlanzon pela
estrada grande que vai para Burgos. Ainda apertado
pela nossa cavallaria, e soffrendo considerável perda pelo
fogo de artilheria de cavallo, e obrigado a fazer os seus
movimentos a passo accelerado, para naõ dar tempo a che-
gar a nossa infanteria, executaram isto de um modo admi-
rável ; mas perderam uma peça e alguns prisioneiros, que
foram tomados por um esquadrão do 14 de dragoens li-
geiros, commandado pelo Capitão Milles, e um destaca-
mento do 3o. de dragoens, que atacou a sua retaguarda.
O inimigo se postou na esquerda do Arlanzon e do
212 Miscellanea.
Urbcl, que estavam muito cheios pelas chuvas ; e no de-
curso da noite se retiraram com todo o exercito por Bur-
gos, tendo abandonado, e destruído, em tanto quanto pu-
deram, no breve espaço de tempo que ali estiveram, as
obras do Castello que tinham construído, e melhorado com
tanta despeza : e se puzêram em retirada para o Ebro pela
estrada grande de Brivicsca e Miranda. No entanto todo
o exercito dos alliados fez um movimento hoje para a es-
querda ; e espero que os corpos Hespanhoes da Galliza,
sob o General Giron, e a esquerda do exercito Inglez e
Portuguez, sob o Tenente-general Sir Thomas Graham,
passem o Ebro a manhaã.
No decurso dos 9, 10, e 11, D. Juliaõ Sanchez foi muito
activo na esquerda do inimigo, c tomou vários prisionei-
ros.
Tenho recebido uma carta do General Elio em que me
informa, que o 3°. exercito Hespanhol se unio ao 2 o ., c
estes exércitos se postaram nas posiçoens que antes oceu-
pavam o 2 o . exercito, e o corpo Anglo Siciliano, sob Sir
Joaõ Murray, e que o Tenente-general Sir Joaõ Murray,
se tinha embarcado, em conseqüência das ordens que tinha
recebido, com as tropas debaixo do seu commando, c deo
á vela de Alicante com vento favorável, e se perdeo de
de vista no I o . do corrente.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) WELLINGTON.

Subijana, sobre o Bayas, 19 de Junho.


Mv LonD !—A esquerda do exercito cruzou o Ebro
aos 14, nas pontes de S. Martin,eRocamunde, e o resto aos
15 por aquellas pontes e pelas de Puente Arsenas. Nós
continuamos a nossa marcha no dia seguinte para Vit-
toria.
O inimigo ajunetou aos 16 e 17 um considerável corpo
cm Espcjo, naõ longe de Puente Carra, composto de algu-
mas das tropas que tinham estado por algum tempo nas
Miscellanea. 113
provincias em seguimento de Longa e Mina, e outras des-
tacadas do corpo principal do exercito, que estavam ainda
em Pancorbo.
O inimigo tinha igualmente uma divisão de infanteria
e alguma cavallaria, em Frias desde os 16, para o fim de
observar os nossos movimentos na esquerda do Ebro.
Estes destacamentos marcharam hontem pela manhaã, o
de Frias para S. Millan, aonde o achou a divisão ligeira
do exercito alliado, sob o Major-general Carlos Alten ; e a
de Espejo para Osna, aonde encontrou a I a . e 5*. divi-
soens sob o Tenente-general Sir Thomas Graham.
O Major-general Carlos Alten expulsou o inimigo de S.
Millan, e ao depois cortou a brigada da retaguarda da di-
visão, a quem tomou 300 prisioneiros, matou e ferio
muitos ; e a brigada foi dispersa pelas montanhas.
Os corpos de Espejo eram consideravelmente mais
fortes do que os corpos alliados commandados por Sir
Thomas Graham, que chegara quasi ao mesmo tempo a
Osna. O inimigo se moveo para o ataque, mas depressa
se vio obrigado a retirar-se; e foi seguido para Espejo
d'onde se retirou para as alturas deste lugar. Era ja tarde
quando as outras tropas chegaram á posição avançada
que tinham tomado as de Sir Thomas Graham, e eu man-
dei fazer halto á 4*. divisão que tinha substituído a 5».
juncto a Espejo.
O exercito marcha hoje para este sitio: achou a reta-
guarda do inimigo em uma forte posição na esquerda do
sitio tendo a sua direita cuberta por Subijana, e a esquer-
da pela alturas em frente de Pobes.
Nós flanqueamos a esquerda do inimigo com a divisão
ligeira, em quanto a 4 a . divisão sob o Tenente-general Sir
Lowry Cole o atacou em frente, e a retaguarda foi repul-
sada para o corpo principal, que estava em marcha de
Pancorbo para Vittoria; tendo levantado campo daqui a
V O L . X I . No. 62. P
114 Miscellanea.
noite passada. Informam-me que o inimigo tem desman-
telado Pancorbo.
A divisão do Coronel Longa se ajunctou ao exercito aos
6, chegando a Medina dei Pomar.
O Conde dei Abisbal chegara a Burgos aos 25. Eu
naõ tenho recebido noticias da costa de Leste, depois da
minha ultima a V- S. Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) WELLINGTON.
Tenho a honra de incluir uma participação que recebi
do General Copons, de uma linda acçaõ na Catalunha,
aos 7 de Mayo, por uma brigada de tropas Hespanholas,
sob o commando do Coronel de D . Manuel Llander, e
tenho recebido uma relação (naõ official) de que aos 17
de Mayo o General Copons derrotara o inimigo na posi-
ção de Concal, juncto de El Abisbal.
(Traducçaõ.)
EXCELLENTISSIMO S E N H O R ! — O Deus dos exércitos
favorece as operaçoens do corpo que eu tenho a honra de
commandar.
A 2*. brigada da 2*. divisão, debaixo do commando do
Coronel D. Manuel Llander destruio completamente, aos
7 do corrente, uma columna do inimigo, composta de 1.000
homens, commandados pelo marechal, que sahio de Pui-
cerda para o fim de atacar o flanco do Coronel Llander,
cm quanto elle se occupava no bloqueio de Olot; 4 offi-
ciaes e 290 homens que foram aprisionados, 12 caixoens, e
mais de 500 espingardas, e reduzir o numero do inimigo á
300 homens, saõ os resultados desta feliz acçaõ.
O General Maurício Matthieu, com um corpo de 6.000
infantes, 300 cavallos, e 5 peças d'artilheria, sob os gene-
raes Expert e Debans, marcharam para Tarragona, para
o fim de proteger um comboy.
Eu segui com a 2 a . brigada da I a . divisão o batalhão
do general, e 30 de cavallo, fazendo um total de 3.200
homens. Quando o General Mathicu voltou para Bar-
Miscellanea. 115
colona, eu trabalhei por puchallo para uma posição van-
tajoza, que eu occupava na aldea de Abisbal, aonde lhe
offerecia batalha aos 17. As 7 horas e meia da manhaã
começou o fogo, e bem depressa se fez geral em toda a
linha; o ataque e movimento do inimigo para me flanquear
foi de nenhum effeito. As 12 e meia elle atacou, com
grande espirito, e sendo repulsado, e perseguido vigorosa-
mente, começou a sua retirada, á vista dos nossos valentes
soldados.
O campo ficou cuberto de corpos e de armas : a perca
do inimigo excede 600 homens, mortos, feridos, e prisi-
sioneiros. Um official commandante, e 5 inferiores esta-
vam entre os prisioneiros, e 7 ficaram feridos.
O inimigo confessou esta perda na aldea aonde deixou
uma parte de seus feridos, ao cuidado de um cirurgião
Francez.
A minha perca naõ está ainda averiguada porem sei
que naõ tem proporção com a do inimigo. Quando as
differentes participaçoens me chegarem as mandarei a
V- Ex*.; mas no entanto tenho a honra de fazer a V. Ex .
esta participação para sua satisfacçaõ.
Deus guarde a V. Ex*. muitos annos,
{Assignado') FRANCISCO DE COPONS N A V I A .
Quartel-general de Villa Franca.

Salvatierra, 22 de Junho.
M Y LORD I—O exercito do inimigo, commandado por
Joseph Bonaparte, e tendo o Marechal Jourdan por seu
Major-general, tomou uma posição, na noite de 19 do cor-
rente, em frente de Vittoria, cuja esquerda se apoiava nas
alturas que findam na Puebla d' Arlanzon, e se extendem
dali cruzando o vale de Zadora em frente da aldea de
Arunel. Occupava o inimigo com a direita o centro de
uma colina que fica a cavalleiro do vale de Zadora, e a di-
reita do seu exercito estava postada juncto a Vittoria, e
p 2
1]6 Miscellanea.

éra destinada a defender os passos do rio Zadora nas vizi-


nhança*- daquella cidade. T i n h a o inimigo uma reserva ua
retaguarda da sua esquerda, na aldea de Gomocha.
A natureza do terreno, porque o exercito tinha passado
depois que chegou ao E b r o , tinha necessariamente exten-
dido as .suas columnas, e nós fizemos halto aos 20, em or-
dem a cerrar as columnas, e marchamos com a esquerda
para Margina, aonde ella provavelmente seria mais neces-
sária: eu reconheci naquelle dia a posição do inimigo,
com as vistas do ataque que se havia de fazer na manhaã
seguinte, se elle ainda ali se demorasse.
Consequentemente atacamos o inimigo hontem, e j u l g o -
me feliz em poder informar a V . S. que o exercito alliado
debaixo do meu commando ganhou uma completa victoria,
tendo expulsado o inimigo de todas as suas posiçoens, ha-
vendo-lhe tomado 151 peças d' artilheria, 415 carros de
muniçoens, toda a sua bagagem, mantimentos, gado, the-
souro, &c. e considerável numero d e prisioneiros.
As operaçoens do dia começaram, com o T e n e n t e -
general Sir Rowland Hill tomar posse das alturas de Ia
P u e b l a , aonde se apoiava a esquerda do inimigo, que tinha
oecupado estas alturas com grande força.
Elle destacou para este serviço uma brigada da divisão
Hespanhola, commandada pelo general Murillo; estando a
outra brigada empregada em conservar a communicaçaõ
entre o seu corpo principal e a estrada real que vai de Mi-
randa para Vittoria, e o corpo destacado das alturas. O
inimigo porém descubrio logo a importância destas alturas,
e reforçou as suas tropas ali a tal ponto, que o Tenente-
general Sir Rowland Hill foi obrigado a destacar a brigada
do General W a l k e r , commandada pelo Honoravel Tenente-
coronel Cadogan, e suecessivamente outras tropas para o
mesmo ponto ; e os alliados naõ somente ganharam, mas
conservaram a posse destas importantes altura*» durante to-
das as suas operaçoens, naõ obstante todos os esforços que
o inimigo fez para as retomar. A contenda porém foi aqui
Miscellanea. 117
m r i viva. O General Murillo foi ferido; mas conservou-se
no campo de batalha; e sinto ter de participar que o Ho-
noravel Tenente-coronel Cadogan morreo de uma ferida
que recebeo. Nelle perdeo S. M. um official de grande
zelo, e experimentada galhardia; e que tinha adquirido o
respeito, e attençaõ de todos os da profissão militar, e de
quem se podia esperar, se vivesse, que faria os mais im-
portantes serviços á sua pátria.
A cuberto da posse destas alturas, Sir Rowland Hill pas-
sou successivamente o Zadora, em La Puebla, e no desfila-
deiro formado pelas alturas e rio Zadora, e atacou e alcan-
çou a posse de aldea de Sabijana de Alava, na frente da
linha do inimigo, e que o inimigo fez varias tentativas para
retomar.
A difficuldade da natureza do terreno impedio a commu-
nicaçaõ entre as nossas differentes columnas, que marcha-
vam de suas posiçoens ao ataque, sobre o rio Bayas, taõ
cedo como eu esperava; e era ja mui tarde quando eu
sube, que a columna composta da 3 a . e 7 a . divisoens, sob
o commando do Conde Dalhousie tinha chegado ao posto
que lhe éra destinado.
A 4a. divisão e a ligeira, porém, passaram o Zadora im-
mediatamente depois de Sir Rowland Hill ter tomado posse
de Sabijana de Alava; a primeira pela ponte de Narclam,
e á segunda pela de Tres Puentes, e logo quasi que estas
passaram chegou a Mendonza a columna commandada pelo
Conde Dalhousie; e a 3 a . divisão, commandada pelo T e -
nente-general Sir Thomas Picton, cruzou a ponte mais
acima, sendo seguida pela 7 a . divisão, sob o Conde Dal-
housie.
Estas 4 divisoens, que formavam o centro do exercito,
eram destinadas a atacar as alturas em que estavam posta-
dos a direita e centro do inimigo ; em quanto o Tenente-
general Sir Rowland Hill se adiantasse de Sabijana de
Alava, para atacar a esquerda. O inimigo, porém, tendo
enfraquecido a sua linha para reforçar o seu destacamento
ns] Miscellanea.
nas colinas, abandonou a suaposiçaÕ no vale ; logo que vio
as nossas disposiçoens para o atacar, e começou a sua reti-
rada em boa ordem para Vittoria.
As nossas tropas continuaram a avançar em admirável
ordem, naõ obstante as difficuldades do terreno. No en-
tanto o Tenente-general Sir Thomas Graham, que com-
mandava a esquerda do exercito, composta da 1*. e 5*
divisoens, e das brigadas de infanteria dos Generaes Pack
e Biadford, e das brigadas de cavallaria dos Generaes
Brock e Anson, as quaes tinham marchado para Margina
aos 2 0 : partio dali para Vittoria, pela estrada real de
Bilboa. Tinha alem disto com sigo a divisão Hespanhola
debaixo do commando do Coronel Longa, e General Girou,
que tinha sido destacado para a esquerda, com differentes
vistas sobre o estado das cousas; e foi depois tornado a
chamar, e chegou aos 20 a Orduna, marchou naquella
manhaá dali, demaneira que se achou no campo prompto
a sustentar o Tenente-general Sir Thomas Graham, se o
seu apoio fosse necessário.
O inimigo tinha uma divisão de infanteria e alguma ca-
vallaria avançada na estrada real de Vittoria para Bilbao,
apoiando sua direita em algumas alturas que cubriam a
aldea de Gamarra Maior. Tanto Gamarra como Abechuco
estavam fortemente occupadas como cabeças de ponte no
rio Zadora nestes lugares. O Brigadeiro-general Pack
com a sua brigada Portugueza e o Coronel Longa com
a sua divisão Hespanhola, tiveram ordem de fianqucar e
ganhar as alturas, sendo sustentados pela brigada de dra-
goens ligeiros do Major-general Anson, e 5*. divisão d* in-
fanteria debaixo do commando do Major-general Os-
wald, que teve ordem de tomar o commando de todas e&tas
tropas.
O Tenente-general Sir Thomas Graham participa que
na execução deste serviço, as tropas Portuguezas e Hes-
panholas se comportaram admiravelmente. Os regimentos
4°. e 8°. de caçadores se distinguiram particularmente. O
Miscellanea. 119
Coronel Longa que estava na esquerda tomou posse de
Gamarra Menor.
Logo que as alturas estiveram em nosso poder, foi as-
saltada e tomada mui galhardamente a aldea de Gamarra
Maior, pela brigada do brigadeiro General Robinson da
5a. divisão, que avançou em columnas de batalhoens, de-
baixo de um pezado fogo de artilheria e mosqueteria, sem
dar um só tiro, auxiliado por duas peças da brigada d* ar-
tilheria do Major Lawson. O inimigo soffreo muito e
perdeo tres peças d' artilheria.
Como o tenente-general procedeo entaõ a atacar a aldea
de Abechuco, com a primeira divisão, assestando uma
forte bateria contra ella, que consistia da brigada do
Capitão Dubourdieu e da companhia de artilheria da
brigada do Coronel Halkett, foi tomada a aldea, tendo
o batalhão ligeiro carregado e tomado tres peças e um
obuz sobre a ponte: este ataque foi sustentado pela bri-
gada de infanteria Portugueza do General Bradford.
Durante a operação em Abechuco, o inimigo fez os
maiores esforços para tornar a apossar-se da aldea de Ga-
marra Maior, no que foi galhardamente repulsado pelas
tropas da 5a. divisão debaixo do commando do Major-
general Oswald; o inimigo porém tinha nas alturas da
esquerda de Zadora duas divisoens de infanteria em reserva
e era impossível cruzar as pontes até que as tropas que
tinham marchado para o centro e esquerda do inimigo o
tivessem expulsado para alem de Vittoria.
EntaÕ o todo cooperou no seguimento, que continuou
até anoitecer. A marcha das tropas debaixo do commando
do Tenente-general Sir Thomas Graham, e a sua posse de
Gamarra e Abechuco, interceptaram a retirada do inimigo
pela estrada real que vai para França. O inimigo foi entaõ
obrigado a voltar para a estrada de Pamplona; porém naõ
pode sustentar-se em nenhuma posição por tempo bastante
para dar lugar a puchar adiante a sua bagagem e artilheria.
120 Miscellanea.
Portanto tudo o que desta naõ tinham tomado as tropas no»
successivos ataques das posiçoens, que o inimigo occupára
na sua retirada desde a primeira posição sobre o Aruney, e
Zadora, e todas as suas muniçoens, e bagagem, e tudo
quanto elles tinham foi tomado juncto a Vittoria. Tenho
razaõ para crer que somente levou conisigo uma p e ç a e um
obuz.
O exercito sob o commando de Jozé Bonaparte consis-
tia do total dos exércitos do Sul, e do Centro, e de 4 divi-
soens, e toda a cavallaria do exercito de Portugal e de al-
gumas tropas do exercito do Norte. A divisão do General
Foix do exercito de Portugal, estava nas vizinhanças de
Bilbao: e o General Clausel, que commanda o exercito do
Norte, estava cerca de Logrono, com uma divisão do exer-
cito de Portugal, commandada pelo General Topin, e a
divisão do General Vandermasen do exercito do Norte.
A 6*. divisão do exercito Alliado, sob o Major-general o
Honr. Eduardo Packenham, estava igualmente auzente,
tendo sido detida em Medina dei Pomar por tres dias, para
cubrir a marcha de nossos armazéns e provimentos.
Naõ posso gabar demaziado o comportamento de todos
os officiaes generaes, officiaes e soldados do exercito nesta
acçaõ. O Tencnte-geneaal Sir Rowland Hill falia com
grande louvor do comportamento do General Murillo, e
das tropas Hespanholas debaixo de seu commando, e do
Tenente-general o Honr. W - Stewart e do Conde d' Ama-
rante, que commandavam divisoens de infanteria, debaixo
de sua direcçaõ. Elle igualmente faz mençaõ do compor-
tamento do Honr. Tenente-coronel 0'Callagan, que man-
teve a aldea de Sabijana de Alava contra todos os esforços
do inimigo para a reconquistar; e o do Tenente-coronel
Brooke da repartição do Ajudante-general, e Tenente-
coronel o Honr. Alexandre Abercromby da repartição do
Q.uartel-me-.tre-general.
He impossível que os movimentos de quae»quer tropas
Miscellanea. 121
possam ser conduzidos com mais espirito e regularidade
do que as das respectivas divisoens do Tenente-general
Dalhousie, Sir Thomas Picton, Sir Lowry Cole, Major-
general Carlos Baraõ Alten. Estas tropas avançaram em
escaloens de regimentos, em duas, e ás vezes em tres
linhas: e as tropas Portuguezas na 3 a . e 4 a . divisoens, sob
o commando do Brigadeiro-general Power, e Coronel
Stubs marcharam na frente com uma firmeza e galhar-
dia que jamais foi excedida em alguma occasiaõ.
A brigada do Major-general o Honr. C. Colville da 3 a .
divisão foi seriamente atacada, na sua avançada por uma
força bem superior, e bem formada; a qual porém elle
repulsou auxilliado pela brigada do General Jnglis da 7 a .
divisão, commandada pelo Coronel Grant, do 82. Estes
officiaes e as tropas de seu commando, se distinguiram
muito.
A brigada do Major-general Vandeleur da divisão ligeira,
durante o ataque de Vittoria, foi destacada para auxiliar a
7 a . divisão, e o Tenente-general Conde Dalhousie participa
sobre o seu comportamento mui favoravelmente.
O Tenente-general Sir Thomas Graham refere particu-
larmente os seus sentimentos pelo favorável adjutono que
recebeo do Coronel Delancy, Deputado Quartel-mestre-
general, e do Tenente-coronel Bouverie da Repartição
do Ajudante general, e dos officiaes de seu estado-maior
pessoal, e do Honr. Tenente-coronel Upton, Ajudante
Quartel-mestre-general, e Major Hope, Assistente-aju-
daute, com a primeira divisão : e o Major-general Oswald
participa o mesmo d > Tenente-coronel Berkeley da repar-
tição do Ajudante-general, e Tenente-coronel Gomm, da
repartição do quartel-mestre-general.
Sou particularmente obrigado ao Tenente-general Sir
Thomas Graham, e Tenente-general Sir Rowland Hill,
pela maneira em que elles respectivamente conduziram o
VOL. X I . N o . 62. u
j 22 Miscellanea.
serviço que lhes foi encarregado, desde o principio das ope-
raçoens, que acabaram na batalha de 21; pelo seu com-
portamento na batalha; assim como também ao Marechal
Sir Guilherme Beresford pelos amigáveis conselhos e ad-
jutorio, que delle tenho recebido, em todas as occasioens,
durante as ultimas operaçoens.
Naõ devo omittir mencionar o comportamento, do Ge-
neral Giron, que commanda o exercito da Galiza, o qual
fez uma marcha forçada de Orduna, e se achou actual-
mente no terreno, prompto a auxiliar o Tenente-general
Sir Thomas Graham.
Tenho freqüentemente sido obrigado, e tenho tido occa-
siaõ de chamar a attençaõ de V. S. para o comportamento
do Quartel-mestre-general, Major-general George Murray,
que, nas ultimas operaçoens e na batalha de 21 do corrente,
me prestou outra vez o maior adjutorio. Igualmente devo
muito a Lord Aylmer, Deputado Ajudante-general, e aos
officiaes das repartiçoens de ajudante quartel-mestre-gene-
ral respectivamente; e ao Tenente-coronel I.ord Fitzroy
Somerset, Tenente-coronel Campbell, e officiaes de meu
estado maior pessoal ; e ao Tenente-coronel Sir Ricardo
Fletcher, e officiaes dos Engenheiros Reaes.
O Coronel S. A. Sereníssima o Principe Hereditário de
Orange, esteve no campo de batalha como meu Ajudante
de campo, e se conduzio com a sua usual galhardia, e intel-
igência.
O Marechal de Campo D. Luiz Wimpfen, e o Insprc-
tor-geral D. Thomaz 0'Donojoz, e officiaes do estado-
maior do exercito Hespanhol, me tem invariavelmente
prestado todo o auxilio que estava no seu poder no decurso
«deaV-tó operaçoens; e me aproveito desta occasiaõ para ex-
pressar a minha satisfacçaõ de seu comportamento, assim
como do Marechal de Campo D. Miguel de Alava e do
Brigadeiro-general D. José 0'Lawlor, que por longo
Miscellanea. 123
tempo tem sido empregados comigo, e com grande utili-
dade.
A artilheria foi mui judiciosamente postada pelo Te-
nente-coronel Dickson, e foi bem servida, e o exercito hc
particularmente obrigado aquelle corpo.
A natureza do terreno naõ permittio que a cavallaria
fosse geralmente empregada ; porém os officiaes generaes,
commandantes das diversas brigadas, conservaram as
tropas debaixo de seu commando respectivamente chega-
das á infanteria, para a auxiliar; e foram muito activos
na seguida do inimigo depois que elle foi expulso de
Vittoria.
Mando este officio pelo meu Ajudante de Campo Capi-
tão Fremantle, e peço licença para o recommendar á pro-
tecçaõ de V S. ; elle terá a honra de pôr aos pés de
S. A. R. o Principe Regente as bandeiras do 4*. batalhão
do regimento 100, e o bastão do Marechal Jourdan,
Marechal de França, e que foi tomado pelo regimento 87.
Tenho a honra de ser, &c. WELLINGTON.
Incluo os mapas dos mortos e feridos nas ultimas opera-
çoens ; e um mapa da artilheria e muniçoens tomadas na
acçaõ de 21 do corrente.

Abstracto das percas desde 12 até 2 1 .


Total da perca Britannica.—1 Tenente-coronel, 10 te-
nentes, 4 alferes, 1 do estado-maior, 17 sargentos, 4
tambores, 460 soldados, 92 cavallos, mortos; 1 do
estado-maior, 3 tenentes-coroneis, 5 maiores, 40 capitães,
87 tenentes, 22 alferes, 5 do estado-maior, 121 sargentos,
13 tambores, 2.504 soldados, 68 cavallos, feridos.
Total da perca Portugueza.—3 Capitaens, 1 tenente, 3
alferes, 138 soldados, 1 cavallo, mortos; 1 tenente-coro-
nel, 4 majores, 16 capitaens, 10 tenentes, 19 alferes, 2
Q2
124 Miscellanea.
do estado-maior, 35 sargentos, 1 tambor, 811 soldados
feridos.
Total da perca Hespanhola.—1 Capitão, 2 tenentes,
S J soldados, mortos; 1 do estado-maior-general, 1 te-
nente-coronel, 3 capitaens, 6 tenentes, 453 soldados,
feridos.
Total geral.—Mortos, 1 tenente-coronel, 10 capitaens,
14 tenentes, 7 altere*--, 1 do estado-maior, 19 sargentos,
5 tambores, 683 soldados, 93 cavallos.—Feridos, 2 do
estado-maior-general, 9 tenente coronéis, 9 majores, 50
capitaens, 103 tenentes, 4 alferes, 1 do estado-maior, 158
sargentos, 14 tamberes, 3.768 soldados, 68 cavallos.
N . B. Os differentes corpos dos exércitos Inglez c Por-
tuguez, tem dado parte de extraviados 1 sargento, 2 tam-
bores, 263 soldados, suppoem-sc que a maior parte delles
se perderam dos seus regimentos no decurso da noite, e
que mui poucos caluriam no poder do inimigo.
(Assignado) A Y L M E B , Dep.-Adj.-Gcn.

Mappa da artilheria, carros, e muniçoens tomados ao


inimigo na acçaõ de 21 de Junho.
Vittoria, 23 de Junho.
Peças de bronze em carretas de viajar.—28 de calibre
12; 42 ile 8; 43 de 4 ; 3 obuzes de 8 polegadas; 20
obuzes de seis polegadas ; 3 obuzes de 4 polegadas : 2 de
5 polegadas ; 2 morteiros de 5 polegadas.—Total 151.
Caixoens.—56 peças de 12; 76 de 8 ; 68 de 4 ; 7 de
obuzes de 8 polegadas ; 54 de obuzes de 6 ; 5 de 4 ; e 2
de 5 : 149 de muniçi.õ de armas pequenas.—Total 415.
Cargas de muniç-Õ.—1.936 para peças de 12: 5.424
para peças tle 3 ; 8.434 para peças de 4 ; 97 para obuzes
de 8 polegadas ; 3.52S para obuzes de 6 polegadas.—
Total 14.249.
1:973.000 cartuchos com bala para espingarda, 40.668
Miscellanea. 125
libras de pólvora: 56 carros de forragem: 44 carros de
forja.
R. D. H E N A G A N , Commissario da Artilheria.
A D I C K S O N , Ten.-cor. Commandante da Artilheria.

Irunzun, 21 de Junho.
My Lord !—Havendo-se demorado a partida do Cap.
Freemantle até hoje, pela necessidade de concluir os ma-
pas, tenho de referir a V. S. que continuamos a seguir o ini-
migo, cuja retaguarda chegou a Pamplona hoje ; temos.lhe
causado tanto damno quanto podíamos, considerando o
estado do tempo e dos caminhos ; e hoje a guarda avan-
çada, consistindo da brigada do Major-general Victor
Baraõ Alten, e do I o . e 3 o . batalhoens do regimento 95,
e da companhia d'artilheria de cavallo do Major Ross;
tomou a única peça que lhes restara. Os inimigos entraram
em Pamplona com um obuz unicamente.
O General Clausel, que tinha debaixo de seu comman-
do aquella parte do exercito do Norte, e uma divisão do
exercito de Portugal, que naõ entraram na acçaõ do dia
21, aproximou-se a Vittoria aos 22, e entaõ soube da
acçaõ do dia precedente, e achando ali a 6 a . divisão,
que acabava de chegar debaixo do commando do Major-
general o Honr. E. Pakcnham, se retirou para La Guar-
diã, e dahi marcha para Tudela do Ebro. He provável
que o inimigo continue a sua retirada para França.
Eu destaquei o General Giron, com o exercito de Ga-
liza, no alcance do Comboy, que marchou de Vittoria na
manhaã de 20, e espero que o apanhe antes de que cbegue
a Bayonna. Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) WELLINGTON.

Downing-street, 10 de Julho.
Recebeo-se na Secretaria de Lord Bathurst um officio
do Marechal de Campo o Marquez de Wellington, datado
126 Miscellanea.
de Orcoyen 26 de Junho, 1813 ; do qual o seguinte he um
exrracto :—
O inimigo continuou a sua retirada pela manhaã, da vi-
zinhança de Pamplona, pela estrada de Roncesvulles, para
França, e foi seguido pelas nossas tropas ligeiras. A for-
taleza de Pamplona foi investida hoje.
Recebi uma carta aos 22, do Coronel Longa, em que
refere, que tomou seis peças d'artilheria, de um destaca-
mento de tropa>, sob o commando do General Foy» na sua
retirada para França pela estrada real de Mondragon,
Eu devia ter informado a V. S. no meu officio de 24 ; que
aos 23 destaquei o Tenente-general Sir Thomas Graham
para a esquerda, em direitura de Tolosa, com vistas das
operaçoens, que se tem de fazer naquella parte.
Por uma carta delle, em data de 25, parece que chegou
hontem a Tolosa tendo sido contrariado na occupaçaõ da-
quella cidade, pelas tropas que se retiravam sob o com-
mando do General Foy. Elle menciona o auxilio que re-
cebeo do Coronel Longa, e de dous batalhoens do exercito
de Galliza, que o General Girou tinha deixado com elle,
neste ataque contra Tolosa. Sir Joaõ Murray, certamente
desembarcou na Catalunha, aos 4 do corrente, e tomou
posse de Col. de Balaguer, aos 7 : e neste posto acharam
17 peças d'artilheria. Tomaram-se alguns prisinoeiros.

LONDRES. nEPARTIÇAÕ DA GUERRA, 13 DE JULHO.


Recebêram-se boje, na Secretaria do Conde de Ba-
thurst, officios que dirigio a S. S. o Marechal de Campo
Marquez de Wellington, e de que o seguinte saõ ex-
traclos :—
Ostiz, 3 de Julho, 1813.
O General Clausel, havendo-se retirado para Logroüo,
depois de achar as nossas tropas em Vittoria aos 22 de
Miscellanea. 127
Junho ; e tendo averiguado o resultado da acçaõ de 24 ;
estava ainda nas vizinhanças de Logrono aos 24, e mesw
mo aos 25 ; e naõ tinha marchado para Tudela, como me
tinham informado, quando escrevi o meu officio de 24 do
passado. Eu concebi portanto, que havia alguma proba-
bilidade de que pudéssemos interceptar-lhe a sua retirada;
e depois de mandar as tropas ligeiras para Roncesvalles,
em seguimento do exercito commandado por Joseph Bo-
noparte, fiz marchar as divisoens 3-, 4 a , 7 a , e Ligeira ; e
as brigadas de cavallaria do Coronel Grant, e Major-ce-
ncral Ponsonby, para Tudela, e a 5* e 6'. divisoens ; e a
cavallaria das gaardas, e do General d'Urban, de Vittoria
para Salvatierra, na direcçaõ de Logrono, na esperança
de que poderia interceptar o General Clausel. Elle po-
rém fez algumas marchas forçadas extraordinárias, se-
guindo-o o General Mina, com a sua cavallaria, e regi-
mento da cavallaria Hespanhola do commando de D. J u -
üaõ Sanchez, e chegou a Tudela na noite de 27. Elle
cruzou ali o Ebro ; porem tendo o Alcaide informado, de
que nós estávamos na estrada, immediatamente tomou a
cruzar o rio, e marchou para Çaragoça, aonde me diz o
General Mina que chegara ao depois.
O General Mina vai ainda em sentimento do inimigo, e
lhe tomou duas peças d' artilheria, e alguns armazéns em
Tudela, e 300 prisioneiros. O Tenente-general Clinton
também se apossou de 5 peças, que o inimigo deixou em
Logrono. No entanto as tropas do commando do T e -
nente-general Sir R. Hill, tem conservado o bloqueio de
Pamplona, e tem marchado pelas montanhas para as cabe-
ceiras do Bidassoa, tendo-se o inimigo retirado inteira-
mente para França por aquelle lado.
Incluo uma participação que recebi do Tenente-general
Graham, de suas acçoens com o inimigo aos 24, e 25 de
Junho, que parece terem sido mais sérias do que eu ima-
ginava, quando escrevi a V. S. a 26 do passado.
128 Miscellanea.
O General Foy tinha com sigo a guarniçaõ de Bilboa, e
as dcMondragon, e Tolosa ; alem da sua divisão do exer-
cito de Portugal; e esta força era considerável. Dá-me
grande satisfacçaõ o ver que as tropas Hespanholas, e Por-
tuguesas, mencionadas por Sir Thomas Graham se condu-
ziram taõ bem.
O Tenente-general tem continuado a repellir o inimigo
pela estrada grande, e o tem desalojado de todas as posi-
çoens fortes, que tinha tomado : e hontem uma brigada
do exercito de Galliza, debaixo do commando do General
Castanhos atacou o inimigo, e o obrigou a cruzar o Bidas-
soa, pela ponte de Irun. O inimigo ainda se mantinha em
um posto forte, ou fortaleza de pedra, que lbe servia como
de cabeça de ponte; e algumas tropas em casas, aonde
abriram seteiras, na direita do Bidassoa; porém tendo
o General Giron mandado buscar alguma artilheria Hes-
panhola, e tendo-se-lhe mandado em seu auxilio a briga-
da de calibre 9, do Capitão Dubourdieu, o fogo destas
peças obrigou o inimigo a evacuar, e fazer voar a forta-
leza de pedra, e queimar a ponte.
Sir Thomaz Graham participa, que em todas estas ac-
çoens as tropas Hespanholas se comportaram magnífica-
mente bem. A guarniçaõ em Passages, consistia em 150
homens, que se renderam aos 30 ; ás tropas do comman-
do do Coronel Longa.
O inimigo, vendo alguns dos nossos navios em frente de
Deba, evacuou esta cidade, e o forte de Guetaria, ao 1°.
do corrente, e a guarniçaõ foi por mar para S. Sebastian.
Esta praça está bloqueada por terra com um destacamento
de tropas.
Elles tem igualmente evacuado Castro, e a guarniçaõ foi
por mar para Santona.
Nas minhas participaçoens antecedentes, informei a V. S.,
dos progressos do exercito de reserva d'Andaluzia, sob
Miscellanea. 129
o commando do Conde de Abisbal, para se unir ao exer-
cito, e com effeito chegou a Burgos aos 25, e 26 do passado.
Quando o inimigo se retirou para o outro lado do Ebro,
antes de batalha de Vittoria, deixou uma guarniçaõ de 700
homens no castello de Pancorbo, com a qual senhoreavam a
communicaçaõ entre Vittoria e Burgos, e nos impossibi-
litavam de fazer uso delia. Eu portanto ordenei ao Conde
dei Abisbal, que na sua marcha para Miranda, se assenho-
reasse da villa, e obras inferiores, e bloqueasse a praça, o
maisapertadamente que lhe fosse possivel. Eu naõ tenho
recebido participação de suas primeiras operaçoens; mas
ouço que tomou por assalto a villa e as fortificaçoens infe-
riores aos 2 8 ; e tenho agora o prazer de incluir a partici-
pação do successo final de sua operação, e a copia da ca-
pitulação, pela qual a guarniçaõ se rendeo.
A decisão e promptidaõ com que esta praça se rendeo,
fazem grande honra ao Conde dei Abisbal, e aos officiaes e
e tropas de seu commando.
Sinto ter de informar a V. S. que o Tenente-general
Sir Joaõ Murray levantou o cerco de Tarragona, naÕ
posso dizer em que dia, e tornou a embarcar as suas
tropas. Ficou nas baterias uma grande porçaõ de
artilheria, e muniçoens. Parece que o Marechal Suchet
com um corpo considerável de tropas, marchou de Valencia
por Tortosa, e o General Maurício Mathieu, com outro
corpo, das vizinhanças de Barcelona, para o fim de impe-
dir as operaçoens de Sir Joaõ Murray, que este se naõ
julgou sufficientemente forte para continuar. Eu ainda
naõ recebi de Sir Joaõ Murray as pariicipaçoens circum-
stanciadas destas operaçoens; o Tenente-general Lord
William Bentinck, que se tinha unido ao exercito, e to-
mado o seu commando, em Col. de Balaguer, aos 17, o
trouxe outra vez para Alicante, aonde chegou aos 23, e
estava procedendo a executar as minhas instrucçoens.
Quando o Marechal Suchet marchou para a Catalunha,
V O L . X I . No. 62. n
130 Miscellanea.
o Duque dei Parque tinha avançado, e estabelecido o seu
quartel-general em S. Felipe de Xativa, e as suas tropas
no Xucar, aonde elle ainda estava aos 24.

Tolosa, 26 de Junho, 1813.


Mv LORD !—Nnõ foi antes de 23, que recebi ordem de
marchar por Puerto St. Andrian para Villa Franca, e o
tempo e as estradas estavam taõ máos, que somente nma
pequena parte da columna pôde passar a montanha na-
quelle dia : e foi somente aos 24 que eu pude marchar de
Segura para Villa Franca, com a brigada do Major-gene-
ral Anson, de dragoens ligeiros ; os batalhoens ligeiros da
Legiaõ Alemaã d'El Rey, e as duas brigadas Portuguezas,
naõ tendo ainda chegado o resto das tropas.
A retaguarda da columna do inimigo estava entaõ pas-
sando pela grande estrada de Villa Real para Villa Franca,
e elle oecupou com força considerável um forte terreno
na direita da estrada, e do rio Oria, em frente da aldea de
Olaverria, e cerca de milha e meia distante de Villa
Franca.
A brigada do Major-general Bradford marchou por Ola-
verria, e foi empregada, cm desalojar o inimigo da direita,
ao mesmo tempo que o resto das tropas avançou pela cal-
çada, defendido pelos atiradores inimigos, nas alturas; e
por um forte corpo na aldea de Veasayn.
Como o inimigo reforçou as tropas na esquerda; foi
necessário marchar adiante pela calçada, o que se fez com
o batalhão ligeiro, commandado pelo Coronel Halkett,
auxiliado, e ilanqiieado pela brigada Portugueza do Ma-
jor-general Pack ; e este serviço foi executado da maneira
mais galharda, por estas valorosas tropas, que expulsaram
o inimigo da aldea de Veas.iyn. Tendo o inimigo as suas
tropas promptas, postadas na cordilheira de alturas que
ficam de ambas as partes do vale profundo, por cuja baixa
corre a estrada, foi necessário tempo considerável para o
Miscellanea. \ 31
fianquear; e durante isto elle evacuou Vil Ia Franca, sem
mais disputa.
As brigadas Portuguezas, na direita c esquerda do vale,
adiantaram as suas guardas avançadas até Yehasurido,
e as tropas se ajunctáram em Villa Franca. Aqui igual-
mente chegou no decurso da noite a frente do corpo do Ge-
neral Giron, e todo o corpo do Coronel Longa.
Na manhaã seguinte (25) o inimigo evacuou Celequia :
e como elle tinha tomado uma posição mui forte entre
aquelle lugar e Tolosa, cubrindo a estrada de Pamplona,
o corpo Hespanhol do Coronel Longa marchou também
por Alzo para Liz;ira, para lhe fianquear a esquerda : em
quanto o General Mendizabal teve ordem de despachar
alguns batalhoens de Aspeytia para fianquear a sua di-
reita, apoyada em uma montanha, com uma barroca in-
accessivel em frente.
O inimigo foi expulsado das alturas de nma importante
colina, que ha entre as estradas de Pamplou.i e Vittoria
por um bem ajuizado ataque do Teuciite-cov-rn-1 Wil-
liams, com duas companhias de granadeiros de I o . regi-
mento, e 3 do 4 o . de caçadores, pertencentes á brigada
do General Pack. O comportamento do Tenente Quei-
roz, e do Alferes Vasconcellos, do 4 de caçadores, foi mui
1

distincto nesta occasiaõ. Este ultimo official perdeo um


olho por uma balha de espingarda.
A colina foi immediatamente tomada pela brigada do
Major-general Bradford, sustendada por tres batalhoens
da Legiaõ Alemaã d'El R'*y. O resto do dia foi prin-
cipalmente empregado, em escaramuçar com os atiradores
do inimigo, dando tempo a que os corpos Hespanhoes
chegassem ao seu destino.
Principiou um ataque geral entre as G e 7 horas ua
tarde. Duas peças da companhia do Capitão Ramsay, e
duas de calibre 9 do Capitão Dubourdieu, debaixo da es-
colta da companhia de cavallos do Capitão Childer, per.
R 2
j 32 Misc. llanea.
tencente ao 17 de dragoens ligeiros, e da vanguarda dos
batalhoens ligeiros do Coronel Halkett, fôram rapida-
mente adiantadas pela calçada, c fizeram fogo, com mui
bom effeito, contra os corpos, que o inimigo tinha for-
mado na planicie, juncto á cidade ; a tempo que a colum-
na formada pelos batalhoens ligeiros Alemaens, brigada
das o-uardas, e divisão Hespanhola do General Giron, con-
tinuaram a avançar pela calçada.
Dous batalhoens Hespanhoes, e um Portuguez, forman-
do uma columna separada na esquerda da calçada, passa-
ram rapidamente para a esquerda da cidade.
O General Bradford, e os batalhões de linha Alemaens
expulsaram o inimigo em sua frente, pela estrada de Pam-
plona, e o Coronel Longa do lado das montanhas, ainda
mais para a direita, flanqueou e forçou de mui fortes po-
siçoens, todos os corpos do inimigo, postados na direita da
cidade.
O inimigo tinha ainda a posse da cidade, que éra
muito mais capaz de defensa do que se tinha representado
ser- A porta de Vittoria estava entulhada, assim como a
porta de Pamplona, na ponte : e ambas estavam flanquea-
das por conventos, ou outros edifícios grandes, occupados
pelo inimigo ; e a cidade em nenhuma parte estava aberta.
Trouxe-se uma peça de calibre 9, a cuberto do fogo de
um batalhão ligeiro, c postada juncto á porta, foi esta es-
pedaçada.
Era ja noite; e impossível o distinguir as tropas das
differentes naçoens combatentes, o que deo ao inimigo,
que entaõ fugia em todos os pontos, a oportunidade de so
escapar com muito menor perca do que teria soflrido, se
fosse dia claro.
O comportamento das tropas que entraram neste ata-
que, da-lhes grande credito : o dos batalhoens de linha na
estrada de Pamplona, e dos batalhoens ligeiros na porta de
Vittoria, foi tal, qual se esperava destes distinetos corpos :
Miscellanea. 133
e a columna da esquerda fez igual honra ás armas Hespa-
nholas, e Portuguezas. O corpo do Coronel Longa, de-
pois de uma reputação de dilatadas e custosas marchas,
eroprebendeo c executou com o maior espirito, o fatigante
serviço deste dia, e se comportou de maneira a mais ga«.
lharda. Os batalhoens, que o General Mendizabal man-
dou deArpeitou, repulsaram, com grande firmeza, um
ataque do inimigo, e o perseguiram ao depois pela mon-
tanha abaixo, tomando muitos dos seus prisioneiros.
Naõ tenho ainda as participaçoens, porem creio que os
dous corpos Hespanhoes tomaram 200 prisioneiros, e ali
se deixaram ficar muitos feridos. A perca do inimigo,
em mortos, deve também ter sido mui considerável.
Este lugar, alem das defêzasdas portas, tém torres novas
para fianquear a muralha exterior; c nma fortificaçaõ de
madeira forte, na praça ; o que mostra a importância, que
o inimigo, dava á sua occupaçaõ.
Seria uma injustiça ás tropas emgrppagadas neste assalto
naÕ fazer mençaõ de seu exemplar comportamento, depois
de tomar posse do lugar : naÕ se commetteo nenhum ex-
cesso. A legiaõ Alemaã, e o corpo do Coronel Longa
passaram adiante; e se formaram immediatainente alem
da cidade.
Tenho a honra de incluir a lista dos mortos e feridos,
Portuguezes e Inglezes, nestes dous dias, a qual, consi-
derando a natureza do serviço, naõ se podia esperar que
fosse menos.
Os Hespanhoes perderam hontem vários ofíiciaes cm
mortos e feridos; mas eu naõ tenho recebido alguma
lista delles.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) T. G R A H A M , Tenente-general.
Ao Marquez de Wellington, &c. &c.
]34 Miscellanea.
Santa Martha de Cubo, 1 de Julho, 1813.
Senhor!—Aos 29 de Junho passado tive a honra de par-
ticipar vos, para informação de S. Ex*. o General em Chefe
dos exércitos nacionaes, que os caçadores, e granadeiros da
primeira brigada da primeira divisão deste exercito, assal-
taram e tomaram o forte de Santa Martha de Pancorbo.
Tenho agora a satisfacçaõ de vos participar; que, ás 8
horas desta manhaã, se renderam por capitulação o
castello de S. Engracia, e o forte principal de Pan-
corbo. A guarniçaõ consistia em 650 homens; elles ti-
nham mantimentos para vários dias; naõ tinham grande
quantidade d'agua, e a que tinham naõ éra boa. Achamos
castello no 15 peças d'atiIbéria de calibre 4 até 16 ; muitas
carretas de peça, e sufficiente quantitade de muniçoens,
para uma defensa regular. A guarniçaõ se rendeo com os
seguintes artigos de capitulação, e marchará amanhaã para
Burgos.
Desde os 28, dia em que se tomou o forte de Santa Mar-
tha, eu postei os atiradores nas vizinhanças dos muros do
forte; e, bloqueando-o vigorosissimamente, lhe cortei
toda communicaçaõ com a fonte, d'onde seprovlam d'agua;
os diversos destacamentos, empregados neste serviço, fize-
ram o seu dever com uma firmeza, e valor, que merece todo
o louvor, e o inimigo naõ podia buscar água, sem umimrai-
nente risco. Tirando partido desta circumstancia, ordenei
a vários destacamentos numerosos, que se alojassem o
mais próximo das muralhas que fosse possivel, e fôra do
alcance das peças do inimigo. Uma quantidade de escadas,
e outros instrumentos necessários, fôram preparados para
dar o assalto ao castello; porem dezcjando anciosamente
poupar as vidas da minha gente,intimei segunda vez ao Go-
vernador que se rendesse, noque elleconsentio,coma con-
dição de ser levado para França com a sua guarniçaõ; mas
por fim cedeo, tendo eu recusado admittir esta condição, e
ameaçando-o de tomar a praça de assalto. O bem suece-
Miscellanea. 135
dido resultado deste negocio naÕ he pouco devido á intelli-
gencia^ juízo, que o meu Ajudante-de-Campo, o Tenente-
coronel Jozé Maria Reyna, mostrou no decurso das con-
ferências com o Governador. O resultado da negociação
do Tenente-coronel, tem sido de naõ pouca vantagem para
nôs.
Durante o espaço de 24 horas, se construio uma bateria
de seis peças no cimo da colina, pelos incançaveis esforços
dos çapadores do exercito (e vários paizanos), debaixo da
direcçaõ do Commandante-general dos Engenheiros, o
Marechal-de campo D. Manuel Japino, e seis peças d'arti-
lheria, que tinha ajunetado o Coronel, Major-general d'Ar-
tilheria, D. Mathias Ferraz, foram transportadas para o
cimo da colina, com a maior actividade, debaixo da direc-
çaõ do Coronel, que foi habilmente anxiliado pelo Tenente-
coronel d'Artilheria, D. Jozé Jarabia, e pelo Sargento-
maior D. Bartholomeo Gutierrez, e outros officiaes subal-
ternos. Oito horas depois de se ter começado a bateria,
principiaram as peças a abrir o fogo contra o inimigo, e
alem de lbe causar perca considerável, lhe infundiram bas-
tante respeito por nós.
Naõ posso deixar de chamar a attençaõ do General em-
Cbefe dos Exércitos Nacionaes, para o valor e actividade,
que mostraram, nesta occasiaõ, o Brigadeiro-general D .
Jozê Latorre, commandante da primeira brigada de infan-
teria ; o Chefe do Estado-maior, do Exercito, o Coronel
D. Miguel Desmaysieres, que apenas teve um momento de
descanço durante o cerco, o qual durou tres dias ; e o bom
comportamento dos officiaes do estado-maior, que fôram
postos debaixo de suas ordens; e do commandante, e offi-
ciaes de infanteria, e cavallaria, que compunha o corpo si-
tiador.
Devo também mencionar o louvável comportamento
dos meus Adjudantes-de-Campo, os Tenente coronéis D.
Jozé Ruis, D . Jozé Maria Reyna, D . Victor Vinader, e
136 Miscellanea.
Tenente D . Benito D i a z , e do meu Secretario Militar D .
Jozé Serfate e Salagar, que foi portador das minhas ordens,
em varias occasioens, ás muralhas do forte do inimigo, sem
que o fogo destes lhe importasse. O inimigo conservou
um fogo violento das suas peças, &c. mas a perca que nos
casou foi mui inconsideravel. O rendimento da praça pelo
inimigo causou grande descontentamento nas tropas, que
tinham consentido em o tomar por assalto, e somente se con-
solaram com a esperança de terem mais praças a conqui-
star. Eu tenho posto uma pequena guarniçaõ no forte de
Pancorbo, o suprirei immediatamente de mantimentose
água ; porem naõ farei nenhuma addiçaõ ás obras, sem
primeiro saber as intençoens do General-em-( late, rela-
tivamente á demolição ou conservação da praça.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) Ei Conde de ABISBAL.
A . D . Luiz de Wimpffen, &c.
(Seguiam se aqui os os artigos da capitulação do forte
de Santa Engracia de Pancorbo, pela qual a guarniçaõ se
rendia prisioneira de guerra, e se lbe concediam as honras
da guerra: os officiaes conservariam as suas espadas,
cavallos, e bagagem ; e os sargentos e soldados os
seus effeitos; e seriam munidos de transportes; e seriam
trocados na primeira troca de prisioneiros que houvesse;
para cujo fim seriam mudados para a menor distancia pos-
sivel.)

Extracto de uma carta do Marquez de Wellington, datada


de Ostiz, 3 de Julho, 1813.
Tenho participado no meu officio de hoje, que o T e -
nente-general Sir Joaõ Murray levantou o cerco de Tarra-
gona, e se embarcou ; deixando atraz de si parte de sua
artilheria. Sobre este successo eu naõ me acho sufficiente-
mente informado para poder escrever mais.
Miscellanea. 137
Incluo copias das cartas que recebi, relativamente a
Tarragona.

Campo em frente de Tarragona, 9 de Junho.


M Y LORD 1—Na minha carta de 2S de Mayo, tive a honra
de informar a V- S., que em obediência das ordens de V.
S. estava entaõ embarcando o exercito Britannico. Aos 31
demos á vela, e anchoramos a Leste da ponta de Salon, na
tarde de 21. Aos 3, desembarcou o exercito, e eu investi
Tarragona.
Antes de fundear, destaquei abrigada do Tenente-coro-
nel Prevost, comboyada pelo Brune, para atacar o forte de
S. Felipe; e pela noite, o General Copons, a desejo meu,
destacou uma brigada de infanteria para cooperar com as
outras tropas. A brigada do Coronel Prevost, consiste do
2*., 76*., e o batalhão de Roll Dillon ; e a estes se unio ao
depois a brigada das tropas Hespanholas, commandada
pelo Coronel Lander. Foi tomado o forte, e tenho a honra
de incluir a participação que me fez o Coronel Prevost,
com as listas que elle me enviou.
Esta tomadia, na presente situação dos nossos negócios,
he da maior importância, porque impede o mais próximo,
e mais accessivel caminho de Tortosa a Tarragona.
O Almirante Hallowell, com aquelle zelo, e promptidaõ,
que tanto o distinguem, mandou o Capitão Adam, do In-
vencível, para conduzir a parte naval da expedição ; e lhe
ajunctou o Thames, Capitão Peyton , Vulcano, Capitão
Carrol; Strombolo, Capitão Stodart: Brune, Capitão Bad-
cock. O Tenente-coronel Prevost falia mui bem dos es-
forços daquelles officiaes, e sua gente, e eu sei quam pre-
ciosos, e importantes fôram os seus serviços*. As tropas de
ambas as naçoens se submettêram á fadiga, e executaram
o seus deveres com a maior promptidaõ, e espirito, e mere-
cem todo o elogio. O Tenente-coronel, em um officio
anterior, faz particular mençaõ da galhardia e bom com-
Voi,. X I . No. 62. s
1 38 Miscellanea.
portamento do Alferes Nelson, do 67*., e do Alferes Joaõ
Dermot, do batalhão de Roll Dillon.
(Assignado) 3. MURRAY, Tenente-general.
A. S. Exa. o Marquez de Wellington, &c.
P. S. Omitti dizer que os serviços do Capitão Carrol
fôram de peculiar merecimento ; e o Tenente Corbyn, do
Invincible, que commandou uma bateria servida por mari-
nheiros, conservou um vivo, e bem dirigido fogo. A im-
portância desta acquisiçaõ, e a rapidez com que o forte foi
tomado, faz desnecessário que eu diga quanto approvo o
comportamento do Tenente-coronel Prevost, e do Capitão
Adam.
(Seguia-se aqui uma carta do Coronel Prevost, relativa
á tomada do Col de Balaguer.)

Lista dos mantimentos tomados em Forte S. Felipe, aos 17


de Junho, 1813.
160 sacos de biscoito fino, 30 cestos de dicto, 25 barris
de dicto ; 100 paens de farinha fina ; 50 sacos de farinha,
2 sacos de arros, 2 sacos de feijoens, 2 sacos de sal, 15
barris de azeite, 12 presuntos, I pipa de vinagre, 8 pipas
de vinho, um quarto de pipa de aguardente.
(Assignado) A. MORR, Tenente-coronel, com-
mandante do destacamento.
C. MILNER, S. M. S.

Mapa dos mortos, e feridos, c extravidos, das tropas alliadas,


sob o commando do Tenente-coronel Prevost, do regi-
mento 67, na tomada do forte de S. Felipe, aos 3 e 7 de
Junho.
Total.—1 Tenente, 4 soldados, mortos ; l sargento, 1
tambor, 37 soldados, feridos.

Navio de S. M. o Malta, 14 de Junho, 1813.


MY LORD!—O Almirante Hallowell acaba de decidir o
Miscellanea. 139
o mandar um navio a Alicante; e eu meramente tenho
tempo de informar a V- S., como faço com muito pezar,
que me vi na necessidade de levantar o sitio de Tarragona,
e embarcar o exercito do meu commando. Na minha
carta particular de 7 do corrente, mencionei a V S. os
rumores de que se ajunctâvam forças Francezas em Barce-
lona, e que o Marechal Suchet, estava também em Valen-
cia ; e expuz como minha opinião, que se estes rumores se
confirmassem, naõ se podia conseguir o objecto que V. S.
tinha em vista. Infelizmente estes numores fôram verda-
deiros, e eu, a meu pezar, resolvi levantar o cerco, e em-
barcar o exercito, como único meio de evitar uma acçaõ
geral, que devia ser pelejada em circumstancias mui des-
vantajosas. Eu naÕ posso neste momento referir-me a datas;
mas he sufficiente ao presente o dizer, que a força Franceza
em Barcelona, nunca se me representou em menos do que
8.000 homens, e que, antes da sua marcha, montaria a
10.000 homens, com 14 peças d'artilheria; naõ tenho porém
conta alguma, em que excedesse 8.000; he este o numero,
em que se fundou o meu calculo. Esta força, na noite de
9, e manhaã de 10, marchou de Barcelona, e entrou em
Villa Franca, ás 4 horas da tarde do dia 11, d'onde se me
informou que marchara ás 12 da noite para Vendrell, dis-
tante somente 18, ou 20 milhas de Tarragona, pela estrada
grande ; e poucas milhas alem por outra estrada, que dava
fácil passagem á artilheria. Aos 9, ou 10, se me fez saber
da chegada do Marechal Suchet a Valencia; nunca se averi-
guou exactamente qual era a sua força ; mas pelas noticias
que se receberam de Valencia elle marchou dali com 9.000
homens, e certamente tinha em seu poder o tirar grandes
reforços da retaguarda daquella praça.
A estes corpos se devera ajunctar, um de 1.000 homens,
que tinha previamente chegado a Tortosa ; e outro corpo,
independente da guarniçaõ de 2.500 homens, que tinha
chegado a Lerida. Estes corpos, c estou segurou que
s2
j 40 Miscellanea.
naõ exaggero, montam a 25.000 homens, com os quaes em
4 ou 5 dias o Marechal Suchet podia atacar o exercito
alliado, se o julgasse conveniente : ou evitar uma acçaõ,
se desejasse reforçar ainda mais o exercito, V S. obser-
vará por outra parte, que eu apenas podia por em campo
12.000 homens, c que o exercito de Catalunha, se me re-
presentou ser 8.500 homens, que fazem 20.500; daquellas
forças duas brigadas Britannicas, c duas Hespanholas
estavam em Col de Balaguer, e naõ se podiam retirar
dali ; e eu naõ podia deixar menos de 2.500 para cubrir
a artilheria e armazéns, c conter a guarniçaõ de Tarrago-
na. Os dous corpos, ao menos, montariam a 4.500 ho-
mens deixando-me somente 16.000 homens para fazer
face ás melhores tropas Francezas na Hespanha, cm nu-
mero maior de 20.000 homens.
Estou certo que ninguém deseja dar mais credito á ga-
lhardia das tropas Hespanholas do que eu, mas V- S. sabf
muito bem que ellas i-c naõ podem mover, c portanto eu
naÕ podia estar seguro da execução de ordens algumas,
que necessariamente as obrigasse a fazer um movimento ;
e de tropas desta natureza eu teria cousa de J3.000 ho-
mens ; portanto cra-me impossível descançar nellas, a me-
nos, que eu as pudesse postar em uma posição, o que mc
era impossível fazer, porque os Francezes tinham a esco-
lha de pelejar quando, c aonde lhes parecesse. As minhas
tropas lnglezas e Alemaãs montavam a 4.500 homens so-
mente Talvez V S. he informado de que naÕ havia
pos-ibilidade de retirada, no caso de ser mal suecedido—
que naõ podia haver alguma esperança de tornara embar-
car, se fossemos perseguidos—c que o exercito, se fosse
derrotado, ficava inevitavelmente perdido, aventuro-me
a esperar que V S. pensará, que por mais qne seja de
lastimar, com tudo en adoptei o único meio de conservar
inteiro ; on na verdade, de salvar, um exercito de que tanto
se depende. Sinto a maior confiança nesta esperança,
Miscellanea. 141
referíndo-me ao paragrapho 13 das instrucçoens geraes de
V S. para conduzir a campanha.
Conheço mui bem, que ha muitas circumstancias que
podem requerer informação ulterior; e eu me julgarei
feliz, em dar todas as explicaçoens que estiverem em meu
poder, sobre todas as partes deste successo. V S. poderá
talvez ser de opinião, que se devia tomar a praça ; porém
como ella éra demasiado forte para ser tomada por assalto,
creio, naÕ somente que éra impossível fazello, mas que a
naõ teríamos tomado em 8 ou 10 dias: o meu único sen-
timento he o ter continuado o sitio por tanto tempo. Le-
vado pelas esperanças de reforços, continuei até o ultimo
momento, e felizmente sendo o vento favorável, se embar-
caram as tropas sem incommodo. Naõ podia estar seguro
desta favorável circumstancia em outro dia; e portanto
havendo tomado o meu partido, eu o puz immediatamente
em execução, e sinto dizer, que fui em conseqüência obri-
gado a deixar algumas peças nas baterias mais avançadas.
Se me demorasse mais um dia, ellas poderiam ser embar-
cadas ; mas eu naõ quiz correr este risco, quando se trac-
tava da existência do exercito, naõ somente por causa do
tempo naõ ser favorável, como pelo apparecimento do
inimigo, em cuja presença me naõ podia talvez absoluta-
mente embarcar, e de certo o naõ podia fazer sem soffrer
grande perca, e sem a possibilidade de tirar alguma van-
tagem .
Agora so tenho de accrescentar, que se alguma culpa he
imputavel por ter falhado a expedição, nenhuma parle se
deve attribuir ao Almirante Hallowell, que conduzio a
parte naval delia. Deste distincto official recebi todo o
auxilio, e cooperação, que estavam em seu poder: e he
justiça que lhe he devida, o referir, que a sua opinião foi,
que as peças das baterias se podiam ter tornado a embar-
car, ficando em terra toda a noite ; e assim se teriam sal-
vado. Isto porém éra um risco, que eu naõ desejava
142 Miscellanea.
correr por taõ insignificante objecto, e preferi perdéllas,
em vez do risco, que se fizesse opposiçaõ ao embarque; c
que houvesse uma perca mais seria.
Tenho a honra, de ser, &c.
(Assignado) J . M U R R A Y , Tenente-general.
Ao Marquez de Wellington, &c.

BULETIM OFFICIAL.
Repartição de Guerra, Downing-strect, 25 de Julho.
Rcccbêram-se officios de Lord Wellington, datados de
Zubieta, 10 de Julho. O General Mina participou a
S. S. que o General Clausel tinha marchado de Çaragoça
para Jaca.—Ainda que o inimigo tinha retirado toda a
sua direita c esquerda, para a França, com tudo tres divi-
soens do centro, comruandadas pelo General Clausel, fica-
vam no vale de Bastan, cuja posse pereciam determina-
dos a conservar, por ser mui rico, e cheio de posiçoens
fortes. Aos 4, 5, c 6, do corrente fôram suecessivãmente
desalojados de todos os seus postos por duas brigadas de
infanteria Britannicas, c duas Portuguezas ; comrnandados
por Sir Rowland Hill; c assim fôram obrigados a retirar-
se para França. A perca dos Alliados foi somente 8 mor-
tos, c 119 feridos. Entre estes se acha o Tenente Bali do
regimento 34.
Por cartas particulares se sabe, que aos 12 estava o
quartel-general em Ernani, e Lord Wellington tinha re-
cebido cartas de Lord Bentick, datadas de S. Felipe, aos
7 de Julho ; c do General Elio, em Valencia. O Mare-
chal Suchet, se retirava para o Ebro, tendo deixado 2.000
homens em Morvicdro.

Extracto de um officio do Marechal de Campo Marquei


Wellington, datado de
Zubieta, 10 de Julho, 1813.
Depois que mc dirigi a A. S. aos 3 do corrente recebi
Miscellanea. 143
um officio do General Mina, referindo, que o General
Clausel, marchara de Çaragoça para Jaca, NaÕ tenho
ainda ouvido que chegasse á quellc lugar.
Na sua direita tem o inimigo estado quasi na mesma si-
tuação, depois que cruzou o Bidassoa, e destruio a ponte
deIrun.
Naõ obstante que o inimigo retirou a sua direita intei-
ramente para a França, comtudo mantiveram o seu centro
em força no vale Bastão, cuja posse pareciam determina-
dos a conservar, por causa de sua riqueza, e fortes posi-
çoens, que offerece: e tinha ajunetado ali tres divisoens
do exercito do sul, debaixo do commando do General
Gazan. O Tenente-general Sir Rowland H i l l ; porém,
tendo sido aliviado do bloqueio de Pamplona, o desalojou
suecessi vãmente de todas as suas posiçoens aos 4, 5, e 7 do
corrente, com duas brigadas de infanteria Britannica, e
uma Portugueza da 2 a . divisão, debaixo do commando do
Tenente-general o Honr. W . Stewart; e com uma brigada
de infanteria Portugueza da divisão do Conde d'Ama-
rante, debaixo do commando do Conde. O ultimo posto
que o inimigo occupava em Puerto de Maya, entre aquella
aldea, e Urdau, éra notavelmente forte; e a nevoa foi
taõ densa pela tarde, que éra impossível ás tropas o
avançar alem do ponto em que se achavam quando vie-
ram. O inimigo porém tinha sido repulsado vigorosa-
mente, até aquelle ponto, de maneira que foi obrigado a
abandonar o seu posto pela noite, e retirar-se para
França.
Em todas estas acçoens se conduziram as tropas nota-
velmente bem, e o Tenente-general Sir Rowland Hill, ficou
muito satisfeito com o comportamento do Ten.-Gen. o
Honr. W . Stewart, e do Conde d'Amarante.
Depois que escrevi a V . S . a minha ultima, recebi uma
Carta do Tenente-General Lord W Bentick, de 30 do
passado. Parece por outras noticias, que o Duque dei
144 Miscellanea.
Parque se retirou de Xucar, aos 25, sem perca, e tomou
outra vez a sua posição deCastalla.
Incluo a lista dos mortos e feridos aos 4, 5, 7, e 8, do
Corrente.

PORTUGAL.
Quartel-general de Tamanes, 23 de Maio, de 1813.
Ordem do Dia.
Sua Excellencia o Sr. Marechal Beresford Conde de
Trancoso manda transcrever nesta ordem os tres parágra-
fos, que abaixo se seguem, da ordem do dia 13 do cor-
rente do Illustrissimo, c Excellentissimo Sr. Marechal Ge-
neral Lord Marquez de Wellington, e de Torres Vedras ;
e espera o Sr. Marechal, que os Officiaes do Exercito
Portuguez prestem toda a attençaõ ao conteúdo nos referi-
dos tres parágrafos.

Copia dos Parágrafos.


N . 2. O Commandante das Forças recebe freqüentes
queixas do comportamento dos officiaes, c soldados do
exarcito para com os magistrados do paiz; npezar das
repetidas ordens, que se tem publicado sobre este assump-
to ; e parece ainda mais extraordinário, que soldados, e
officiaes do exercito Britannico dém motivo para estas
queixas ; pois hc bem sabido, que na sua própria Pátria
nenhum individuo se pode arriscar a insultar, ou maltra-
tar os magistrados civis.
N . 3. As circumstancias com tudo tem augmentado os
inconvenientes, que resultaõ de similhante conducta, e o
Commandante das Forças roga aos officiaes do exercito,
que se lembrem, que as operaçoens do exercito saõ execu-
tadas dentro dos territórios de Potências amigas, cujas leis
para a protecçaõ das pessoas revestidas com authoridade
saõ taõ rigorosas como as da Gram Bretanha, e que toda a
injuria que se fizer, o ou insulto que se praticar contra as
Miscellanea. 145
authoridades civis do Governo, será seguida das mesmas
conseqüências, que o mesmo comportamento produziria em
Inglaterra.
N. 4. O Commandante das Forças roga, que se tome o
cuidado de communicar estas ordens aos officiaes, e tropas
Portuguezas, do mesmo modo que ás Britânicas ; e elle
espera que os Portuguezes teraõ a mesma attençaõ, e re-
speito para com as authoridades civis de Hespanha, que
todas as classes de pessoas saõ obrigadas pelas leis de Por-
tugal a ter para com as authoridades civis de Portugal.
MOZINHO, Ajudante-general.

SICILIA.
Copia de uma Carta de Raynha de Sicilia a Lord
Bentick.
(A sequinte carta foi escripta pela Raynha de Sicilia a
Lord Bentick, em conseqüência de ter falhado na ultima
tentativa de recobrar a sua influencia na Ilha, sob pretexto
de recstabelecer seu marido no throno.)
LORD BENTICK!—NaÕ obstante o presente irregular
procedimento de vossa corte, em me forçar, a mim Raynha
das Sicilias, por nascimento Archiduqueza de Áustria, a
abandonar, depois de uma uniaÕ de 45 annos, El Rey
meu Esposo, e a minha familia, e retirar-mc para o paiz
de meu nascimento, debaixo dos especiosos, porém falsos
pretextos, umas vezes de minha pretensa correspondência
com o inimigo commum (calumnia atroz! que desafio a
que alguém produza a mais leve prova), e algumas vezes
de minha violenta propensidade, como dizem, de criar
obstáculos ao projecto do Governo Inglez, de mudar a
Constituição, com que a Sicilia tem existido por tantos
séculos; naõ obstante que estou bem longe de reconhecer a
authoridade do Governo Britannico, de quem Deus me
fez independente por nascimento, nem por isso deixo de
sentir a necessidade de me submetter ás ordens que elle
VOL. X I . No. 62.
146 Miscellanea.
prescreve, visto que esta submissão parece ser o único
meio de preservar os interesses d i minha familia, a que
me tenho dedicado, durante toda a minha laboriosa car-
reira. Naõ hesito em fazer este ultimo sacrifício, ainda
que me possa talvez custar a vida.
Portanto, my Lord, declaro-vos, e por meio de vos
declaro á vossa corte, que somente cedo a esta conside-
ração, e a nenhuma outra ; e que estou prompta a partir
no fim do presente mez, para voltar aos dominios do
Imperador de Áustria, meu Augusto parente e sobrinho.
"Devo recusar ir para Serdenha, porque naõ quero se-
parar-me de todos os ramos de minha familia ; e como, na
minha idade, esta separação deve ser final; desejo igual-
mente evitar o morrer em terra estranha.
Desejo que, fazendo os arranjamentos para voltar ao
meu paiz natal, esta viagem seja a mais breve, e menos
penosa possivel : a minha idade, e a minha saúde estra-
gada por vinte annos de pczares, de mortificaçoens, e de
perseguiçoens de toda a sorte, mc naõ deixam se quer a
esperança de acabar esta viagem.
Submcttendo-me a este acto de violência, naõ posso
nem devo esquecer-me do que hc devido a meu nasci-
mento, e a minha graduação; requeiro, c exijo, antes de
sua execução, as seguintes condiçoens ; e estou persuadi-
da My Lord, que vós consentireis, c vos dareis pressa a
precnchcllas.
Que se faça um arranjamento para segurar a meus cre-
dores o pagamento de minhas dividas; uaõ desejando eu
sahir da Sicilia sem cumprir com este sagrado dever.
Requeiro também que se tomem medidas para a restituição
de meus diamantes, que estaõ depositados no banco de
Palermo.
Que se me entregue, o mais breve que for possivel, uma
somma igual ás despesas de uma jornada taõ longa, e taõ
remota como a que sou obrigada a emprehender, com um
Miscellanea. 141
séquito igual a graduação em que a Providencia me tem
colocado.
Que se me assegurará uma somma sufficiente para sus-
tentar esta graduação, no paiz para que eu mc retirar, e
que será paga seis mezes adiantados.
Que se dará licença para sahir, a todas as pessoas,
que desejarem unir-se a meu serviço, e ao de meu filho,
Leopoldo, que acompanha sua desgraçada mãy, e que os
que recebem de mim soldo, ou pensoens do Governo
Siciliano, receberão uma segurança de que as mesmas lhe
seraõ transmi(tidas aonde quer que se achem residentes.
Ultimamente, que se porá á minha disposição uma
fragata, pertencente a El Rey, uma cor veta, e os trans-
portes necessários, a bordo de que se possa embarcar a
minha equipagem ; e requeiro também o ter a nomeação
do capitão da fragata, para minha tranqüilidade particu-
lar ; tendo grande medo de viajar por mar.
Tenho razaõ para crer, My Lord, que vós naõ acha.
reis nada que naÕ seja racionavel, e conveniente no que
requeiro, cuja execução he indispensável a uma jornada
taõ longa quanto hc trabalhosa, e a que me obriga o vosso
Governo. As vossas instrucçoens, segundo me informam
de Inglaterra, saõ que façais uso de vossa influencia no
Governo Siciliano, para o dispor a fazer todos os arranja-
mentos necessários, e convenientes, que se possam re-
querer. Se vós tendes até aqui demonstrado extrema
perseverança e firmeza, obrigando-me a fazer um sacrifi-
cia da minha existência, tenho razaõ de esperar, My
Lord, que sem vos desviardes das ordens de vossa Corte,
mantereis o mesmo character, a fim de segurar os últimos
dias de uma Princeza, victima de toda a sorte de desgraças,
e aquém vosso Governo, assim como a mesma naçaÕ In-
gleza, algum dia faiaõ a justiça que ella merece.
Mando-vos esta carta por maõ do General Macfarlane,
a quem sou infinitamente obrigada, e agradecida, pelo
T 2
148 Miscellanea.
delicado modo com que se tem comportado a meu re-
speito, e que me faz desejar o continuar a receber por
meio delle, quaesquer ulteriores explicaçoens sobre este
penoso negocio.
Rogo-vos que façais os meus cumprimentos a Ludy
Bentick, cujo coração sensível estou persuadida que par-
ticipa, e deplora os meus naõ merecidos soflrimentos.
Abril, 1813.

Reflexoens sobre as Novidades deste Mez.


BRAZIL.
A p. 18 publicamos uma carta regia, -finda do Rio-de-Janeiro •*<>*•
Governadores de Portugal; em que se manda dispor e vender bens
livres da Coroa • para com o seu producto se oceurrer ái necessida-
des da guerra. Convencidos, como estamos, da bondade da Con-
stituição Portugueza, tanto desapprovamoi as tentativas da corte
em invadir os direitos dos povos ; como lamentamos as medidas
tendentes a diminuir ajusta influencia, que o monarcha deve ter no
reyno; e por isto julgamos, que, naõ obstante o louvável, c pater-
nal cuidado, com que S. A. R* o Principe Regente do Portugal se
deseja despojar do que hc seu, a fim de aliviar os encargos de seu
povo ; com tudo os ministros do Brazil naõ deveriam jamais acon-
selhar, nem convir nesta medida de se venderem os bens da corda
1°. por que he impolitica ; e 2°. porque hc desnecessária.
Os bens da Coroa, assim como reguengos, e próprios, constituem
o patrimônio Regio; a fim de que o monarcha seja independente da
contribuição dos povos, para o sustento de sua pessoa, e dignidade
Real. A constituição deixaria de ser monarchica, se El Hey naõ
possuísse bens sufficientes, próprios seus, e direitos da CorAa, que o
fizessem independente da vontade dos povos, neste sentido - porque
todas as vezes que El Rey, por falta de meios, seus próprios, se vir
obrigado a mendicar dos povos a sua subsistência, perde de «na
dignidade, e de sua influencia ; e portanto adquire o povo mais
ascendência no rey dependente do que he justo que tenha. Pelo
contrario, quando o monarcha tem bens da coroa, com que posua
sustentar-sc a si, e ao esplendor da dignidade Keal, naõ se din</'-
ao povo, senaõ a pedir os meios necessários á causa publica, seja
nos castos da guerra, seja nas despezas da paz. Em tal caso ne-
nhuma duvida pode o Soberano ter em fazer com que o seus uii
Miscellanea. 149
nistros dem ao publico conta da receita e despeza das rendas pu-
blicas ; quando que por outra parte seria a maior indecência, que o
monarcha fosse obrigado a dar contas a ninguém de suas despezas
particulares, e individuaes, nem dos gastos de sua casa, ou seus
arranjamentos para conservar a grandeza, c decoro do throno. He
por estes motivos que asseveramos ser impolitica esta medida ; em
quanto tende a fazer o monarcha mais dependente, do que a con-
stituição da Monarchia Portugueza exige que seja ; e todas as m e .
didas tendentes a toear na Constituição do Estado ; seja obrando
contra a sua ley, seja contra o seu espirito ; saõ medidas ímpoliticas,
e em algum sentido revolucionárias.
Mas prescindamos ainda da impolitica da medida neste sentido ;
he impolitica e improvidente ainda no sentido da economia. Sc a
venda dos bens da coroa fosse para pagar uma divida absoluta,
paga a qual naõ havia mais que satisfazer, poderia dizer-se, que re-
mia a necessidade; mas he para supprir, como diz a Carta Regia,
um dcfficit, que naturalmente deve acontecer todos os annos; e se os
financeiros supprein este anuo os 12 milhoens do déficit, vendendo os
bens da Corea - a que haõ de recorrer no anno que vem, se o
deíicit, como se deve suppôr, for o mesmo ?
A conseqüência deve necessariamente ser o recorrer entaõ a novas
imposiçoensou empréstimos; e exaqui,portanto, que o Estado, no fim
do anno que vem, se liade achar nas mesmas necessidades; e a Co-
roa reduzida a mendicidade. Todo o pay de familias que vende o
seu capital para oceurrer ás despezas diárias, está certo de acabar
em pobreza: mas parece, que esta verdade, taõ obvia como he, nem
assim foi alcançada pelos financeiros do Brazil.
Julgamos, em segudo lugar, que esta medida da Tenda dos bens
da Coroa he desnecessária; porque consideramos os recursos d l . l
Rey de Portugal, mui superiores ás exigências, que aqui se alegam ;
com tanto porém que esses recursos se naõ ponham á disposição de
homens ignorantes, ou, talvez, peior qne ignorantes; porque, sem
uma bem entendida economia, naõ ha rendas que cheguem para
cousa alguma.
O déficit, que alega esta Carta Regia, he de doze milhoeus de cru-
zados : e declara-se que foi impussivcl alcançar um empréstimo na
Inglaterra, a pezar das mais aclivas deligeucias e negociaçoens.
Consideremos estas proposiçoens por menor; cm tanto quanto he
possivel, visto que a Carta Regia, declarando o deíicit, naõ estabele-
ce nem a receita ucm a despeza.
Em parte nenhuma do mundo se pode obter um empréstimo actu-
almente com mais facilidade, c termos mais favoráveis do na que In-
glaterra ; se as negociaçoens por tanto falharam, a culpa hc do nego-
150 Miscellanea.
eiador, tanto por sua falta de habilidade presente, como por seu com-
portamento passado, que naõ pôde deixar de ter iinjuriado muito o
credito de seu Governo.
Deixando de parte a falta de habilidade de S. E. ; porque isso naõ
he culpa delle: talentos da-os Deus a quem he servido ; e elle respon-
derá mui bem se disser que nesta parte a culpa he de quem o em-
prega ; faltaremos dos factos positivos, que nos parece terem in-
fluído na prosperidade das finanças, e no credito do Governo do
Brazil.
O tractado do Commercio, he o primeiro escolho que se apre-
senta ; e supposto que fomos por isto assaltados, com toda a furta -
temos a satisfacçaõ de saber, que temos convertido a todos os que
naõ querem fechar os olhos á experiência diária i t até o mesmo
Ex»0. Senhor, confessando os inconvenientes que a practica tem mos-
trado, deita-se de fora, e imputa a culpa ao irmaõ, que ja esta morto.
Este tractado de Commercio ; e as licenças, que o embaixador de
S.A.R. em Inglaterra deo aos negociantes Inglezes, para ir ao Bra-
zil entupir OR mercados de fazendas, estragaram quasi de todo o
rendimento das alfândegas; que a perversa administração lá acaba
de arruinar.
Os diamantes com os mais constractos reaes, saõ outra causa da
ruina das finanças do Brazil; e do descrédito do Governo. Naõ
fatiaremos aqui no modo da administração dos diamantes em In-
glaterra ; porque essa matéria fica reservada para a continuação da
conrespondencia do Redactor, core o Ex", Conde do Funchal;
conrespondencia que se suspendeo, em conseqüência de conside-
raçoens, que a seu tempo sahiraõ i luz; e correspondência, que
naõ está concluída mas somente suspendida. LimiUr-nos-hcraos
agora somente ao que suecedeo com o Banco do Rio-de-Janeiro.
Os nossos Leytores estarão informados de que pela solemne ley da
creaçaõ do Banco Nacional do Brazil, a elle pertencia, entre outras
cousas, a administração dos diamantes, como uin dos fundamentos
do credito daquella instituição, que mais podiam contribuir para
fazer estrondo nos paizes estrangeiros. O Embaixador Portuguez
em Londres tomou sobre si o decidir naõ somente contra a ley fun-
damental do Banco; mas contra as repettidas ordens que seu Soberano
lhe mandou a este respeito ; e naõ somente a sua temeridade ficou
sem o condigno castigo ; mas acommodàram-se, por fim, no Rio de
Janeiro com oque elle cá fez. Nestes termos/ quem ha de dar credito
ao que este homem prometter em nome de seu Governo ? Suppu-
nhamos que elle fatiava ou ao Governo Inglez, ou a alguns nego-
ciantes, para que emprestassem estes 12 milhoens ao Governo do Bra-
zil ; e promcttia taes ou taes rendas para o seu pagamento; a res-
posta seria obvia : que se naõ podiam fiar de suas promessas; por-
Miscellanea. 151
que assim como elle atirou com as leys e ordens de seu Soberano de-
baixo da meza ; sendo ellas sobre matéria taõ importante, como he
o credito do banco nacional; assim também o seu successor poderá
fazer o mesmo com os contractos que elle ajustar.
Estes saõ os verdadeiros motivos da difficuldade de negociar um
empréstimo em Inglaterra, e naõ a falta de dinheiro, nem a falta de
vontade de o dar a juros, com tanto que o pagamento seja seguro.
S. A. R. pois, e a Naçaõ Portugueza podem dar os devidos agrade-
cimentos â familia dos Souzas, por estes importantes serviços que
lhes tem feito. E nós continuaremos a considerar, que necessidade
ha de -vender os bens da coroa.
0 déficit he de 18 milhoens ; logo se houver uma pessoa, que os im-
preste todos a juro certo, e com remissão da divida a períodos deter-
minados ; naõ ha duvida, que está a cousa remediada. Se naõ hou-
ver uma só pessoa que o faça bastarão duas, a 6 milhoens cada uma;
e senaõ quatro, a tres milhoens cada uma; ou em fim, doze pessoas
a um milhaõ cada uma; e muito infeliz deveria ser o Ministério do
Brazil, se propondo um plano seguro para os pagamentos, naõ achasse
entre o Brazil, Portugal, e Inglaterra; 12 pessoas, que completassem;
por si, e por seus amigos, aquella somma.
O tractado de Commercio (que nós daqui em diante chamaremos o
tractado Roevidico ; por ser nome mais breve, e mais adaptado á
matéria) estragou as rendas das alfândegas ; mas se se aproveitar o
resto, se achará ainda com que pagar os juros de um empréstimo de
12 milhoens. Contra isto está a difficuldade de corrigir os abusos
das alfândegas ; com effeito elles saõ taõ grandes, taõ arraigados, e
taõ ramificados, que apenas podemos conceber que se remedeiein no
systema actual; portanto atrevernos-bia-raos a propor como remédio
ao mal, outro mal, que julgamos menor : isto he arrendar os rendi-
mentos de uma, duas, ou tres alfândegas do Brazil (pondo-se a lanços
sem preferencia de valimento) e deixar a cobrança por conta dos
rendeiros; assim como as medidas para a supressão do contra-
bando.
Os juros de 12 milhoens, ainda mesmo a 6 por cento - e mais um
milhaõ por anno para remir o principal; he de certo um pezo com
que as alfândegas podem ; com tanto, que as precauçoens contra o
contrabando sejam tomadas no Brazil, e naõ intentadas nos portos
estrangeiros; o que he um absurdo, que só pôde pegar era um cabeça
de páo.
Os diamantes saõ um objecto da primeira importância ; mas a sua
má administração uaõ se pode provar melhor, do que com a desculpa
official do Embaixador de S. A. R. em Londres, o qual asseverou, com
attestaçoens vindas do Brazil; que lá naõ havia sequer os pezos pró-
prios para averiguar o valor dos diamantes. Por estes motivos jul-
]52 Miscellanea.
gamos, que a S. A. R. naõ faltam rendas para occurrer ás despezas da
guerra» nem meios de obter empréstimos; mas os empregados pú-
blicos, tem arruinado o credito do Erário; c evideutemente naõ saõ
capazes de o consolidar.
Ha ainda outras fontes de riqueza nacional, a que se naõ tem attcn-
dido; e que naõ dependem destes desarranjos, que tem tido origem na
Inglaterra : tal he o Commercio com as Colônias Hespanholas. tTm
tractado de Commercio com o Governo da Hespanha, poria isto em
boa ordem ; principalmente agora, que a Corte do Brazil, entendendo
melhor os seus interesses, se deixou do systema de guerra contra seus
vizinhos.
No entanto, daremos aqui, pois vem taõ aproposito, uma idea da
maneira porque os empregados de S. A. R. o servem na economia
de suas finanças.
Foi de Inglaterra viajarão Brazil, ha algum tempo, um Inglez, mu-
nido com cartas de rccommendaçaõ do Embaixador Portuguez cm
Londres, para seu irmaõ o t onde de Linhares, que ainda entaõ era
vivo. Este Inglez publicou, depois que aqui chegou de volta, um
livro de suas viagens; c deste mesmo livro constam os se-
guintes factos, 1*. Que em conseqüência das cartas de rccommen-
daçaõ do Embaixador Portuguez a seu irmaõ; c da protecçaõ
de Lord Strangford; foi este joallieiro introduzido a S.A. H.
o Principe Regente; debaixo do pretexto desaber fazer manteiga.
j Um joalheiro fazendo manteiga! Como se lá no Brazil, principal-
mente no Rio-grunde, naõ soubessem fazer manteiga até as campo-
nezas de 10 annos de idade. 2°. Que este descubridor da incógnita
arte de fazer manteiga, teve permissão de visitar, por curiosidade, as
minas dos diamantes, acompanhado de uma escolta de soldados, e
ordens do Secretario de Estado, Conde de Linhares, para apenar raval-
gaduras para seu serviço, &c. &c. 3 o .Que o Senhor Mantciguista,
teve permissão de voltar para o Rio de Janeiro do Districto Diaman-
tino, sem se lhe examinar a bagagem : priv ilegio nunca d'antes con-
cedido a ninguém. 1". Que voltou para Londres.
E 5 o . (que naõ consta do seu livro de viagens, mas que se pódc ver
em todas gazetas de Londres pelos aviso» que faz) que em vez de
se applicar á sua desenhei ia de fazer manteiga depois de chegara
Londres, continua na ma loge a vender pedras preciosas, e entre
outras diamantes em bruto, em qualquer quantidade que se queiram ;
em fim continua no seu efficio de mineralogisla joalheiro.
Ora despois deste facto julgue S. A. II. e julguem os Portuguezes
todos, se os empregados públicos tomam algumas precauçoens para
economizar as rendas Reaes, e prevenir os descaminhos
Miscellanea. 153
COLÔNIAS HESPANHOLAS.
Temos constantemente atribuído aos prejuizos dos Hespanhoes Eu-
ropeos, a guerra civil, que infelizmente dessola as Américas Hespa-
nholas; e sem nos demorarmos mais em suas causas, sobre o que
temos dicto assas » simplesmente observaremos, que a p. 57 damos
alguns officios publicados em Cadiz pelo mesmo Governo Hespanhol.
Chegou-nos porem a maõ, uma serie de gazetas dos revolucioná-
rios de México, das quaes os primeiros números saõ impressos com
characteres de páo ; e com anil, cm vez de linda preta, e cm nome
de umajuncta que se intitula suprema. Notamos esta circumstancia,
para fazer ver os recursos que oflFerecem as guerras civis, principal-
mente em um povo engenhoso, e quanto he para lamentar, que o
Governo Hespanhol nao ponha termo a esta guerra civil, em vez
de a fomentar como está fazendo ; mandando fazer ali a guerra com
pequenas forças, que naõ sendo capazes de extinguir a revolução, so
servem de assoprar o fogo da discórdia civil.
A mala do Brazil nos trouxe as seguintes noticias do Rio-da-
Prata em cartas que chegam até o meado de Abril; Segundo estas,as
conseqüências da victoria de Belgrano sobre as tropas de Lima foram
que o General Goyeneche se retirou do Potosi, e o povo na
sua retaguarda se unio aos Revolucionários ; e se esperava que o
povo do Peru fosse governado pelas leys de Buenos Ayres. De
Monte-Video fugiam' diariamente para Buenos-Ayres muitas pessoas
em conseqüência das misérias inherentes ao bloqueio de uma cidade.
Ha algum tempo que o Governador e Cabildo de Monte-Video pro-
testaram contra a demora do Governo Hespanhol, em ministrar os
soccorros necessários para a sustentação daquella cidade, e declara-
ram, que a menos que as Cortes naõ lhes mandassem uni reforço consi-
derável, elles entregariam a praça no 1". de Junho passado. Em
conseqüência deste protesto, as Cortes despacharam a corveta Se-
bastiana, para annunciar a sua intenção de mandar de Cadiz, dentro
em 15 dias, um reforço de 2 a 3.000 homens. A Scbasliana chegou
aos 8 de Abril, ao .Rio-de-Janeiro, deo á vela para Monte-Video
aos 12.
O seguiute decreto foi publicado em Buenos-Ayres:—
1. O Consulado abrirá um registro, em que entrarão os nomes de
todos os negociantes nacionaes residentes nesta cidade.
2. Por negociante nacional se entenderá todo o cidadão, que te-
nha um capital, quer lhe pertença a elle, quer a outrem, no gyro do
commercio.
3. Nenhum bancarrota será registrado; e os que quebrarem ao
depois do registro seraõ riscados da lista.
4. O Consulado terá cuidado cm que o registro se complete dentro
VOL. XI. No. 62. u
154 Miscellanea.
em 15 dias depois da sua publicação ; e que se transmitia uma copia
do mesmo á Administração da Alfândega, aquém também se remet-
terá cada seis mezes uma relação das alteraçoens que se fizeram no
registro, com as suas razoens, bem entendido porém, que se permit-
tira o receber consignaçoens aquelles que se registrarem uos períodos
intermediários, provando o facto.
5. Nenhum negociante naõ registrado poderá receber consigna-
çoens.
6. A commissaõ que devem levar os consignatarios, naõ será
menos de 4 por cento íobre as vendas, e 2 por cento nas compras.
7. 0 J negociantes, que receberem consignaçoens, por menor com-
missaõ qne a determinada, seraõ privados do privilegio de receber
mais consignaçoens, e riscados da lista do registro.
8. O Consulado, e Administrador da alfândega, nas suas respectivas
repartiçoens, ficam encarregados da execução do presente decreto.

TSTADOS UNIDOS.
A p. 19, publicamos a mensagem do Presidente, ao Congresso,
na abertura da Sessaõ ; nelia veraõ os nossos Leytores, que se naõ
tem abatido a ira daquelle Governo contra a Inglaterra, naõ obstante
terem partido ja para a Rússia os Plenipotenciarios authorizado*
a tractar da paz ; em conseqüência do offerecimento de mediação do
Imperador Russiano.
O exercito dos Estados Unidos tem feito alguns progressos na sua
invasão do Canada ; c supposto que ultimamente fossem derrotados
em Burlington como se vê do bulctim official Inglez,que publicamos
a p. 96, com tudo, antes deste successo, tinham os Americanos
obtido muitas vantagens, que os habilitaram a entrar pelo interior
das provincias lnglezas.
Por outra parte a esquadra a Ingleza, na bahia de Chesapeak,
tem causado grandes estragos nos seus estabelicimentos de beiramar ;
operaçoens que servem de diversão, a fim de attrahir para aquella
parte as forças que alias se destinariam ao Canada.
O que he, porém, mais notável dos negócios nos Estados Unidos,
he o recurso a tributos directos, que o Piesidentc recommenda.
Até aqui naõ pagavam os Americanos nenhumas taxas directas; os
rendiineutos das alfândegas eram mais que suflicicotes para oceurrer
ás despezas publicas ; e tal éra a prosperidade das suas finanças, que
Mr. Jerterson, na ultima falia que fez ao Congresso como Presidente;
alludindo a esta circumstancia, observou, que seria melhor pro-
curar objectos de interesse nacional em que se empregasse o exce-
dente destes rendimentos, do que diminnir os direito* de alfândega
visto que, naõ se pagando estes senaõ de mercadoria» importada*,
principalmente manufacturas • eram os direitos d'alfandega utiliui-
Miscellanea. 155
mos em animar, e dar preferencia ás manufacturas do paiz. Este
brilhante prospecto depressa desappareceo, em conseqüência da
guerra, que lie um dos ctieitos de sua amizade com a França ; e naõ
de mero interesse dos Estados Unidos ; porque, o principal ponto
em disputa, que eram as ordens em Conselho, foi cedido pela Ingla-
terra, por causa de uma resolução do Parlamento na sessaõ do anno
passado; depois levantaram os Americanos a outra questão sobre
a prizaõ de marinheiros; questão que o Governo Inglez estava
prompto a decidir por tractados; logo daqui concluímos, que o
recurso ás medidas de guerra, naõ pôde ser de interresse seuaõ á
França; e he mais que provável, que seja a iustigaçaõ sua.

FRANCA.
Os extractos, que fizemos neste N°. das gazetas Francezas, saõ mui
pouco interessantes; porque durante o armistício nenhumas outras
operaçoens tiveram lugar senaõ marchas de tropas de uns para
utros postos ; e diremos de passagem, que a exaggeraçaõ do numero
das tropas Francezas que vaõ para as fronteiras, he mui evidente;
e com tudo naõ queremos dizer que o exeicito 1 rancez naõ seja
mui numeroso.
Nas ultimas gazetas Francezas, que se acabam de receber, vem o
seguinte artigo.
" Paris, 21 de Julho.—S. M. Imperial a Imperatriz Raynha Re-
gente, recebeo a seguinte noticia do exercito :
" O Duque de Vicenza, Gram Estribeiro : e o Conde de Narbonne,
Embaixador de França em Vienna, fôram nomeados pelo Imperador,
seus Ministros Plenipotenciarios em Praga.
•- O Conde de Narbonne partio aos 3.
" Suppoem-se que o Duque de Vicenza partirá aos 18.
'' 0 Conselheiro de Estado d'Anstett, Plenipotenciario do Impera-
dor de Rússia chegou a Praga aos 12.
" Assignou-se uma Convenção, em Neumarkt, para se prolongar
o Armistício até o meado de Agosto.
Ainda que deste artigo se conheça que o armistício foi continuado,
dos 20 de Julho até 15 ou 16 de Agosto; com tudo nada se pôde
ainda inferir do êxito provável das negociaçoens. He verdade que
os Plenipotenciarios para o Congresso estaõ ja nomeados: os do
Governo Francez saS o Conde de Narbonne, e o Duque de Vicenza
(Caulincourt) o do Imperador de Rússia he o Conselheiro D'Anstett;
o do Rey de Prússia h e o Baraõ Humboldt; doEmperador d'Áustria
he o Conde de Metternich. O mais notável destas noticias Francezas
(que naõ saõ officiaes) he a inencaõ que se faz de um ministro Inglez,
que também se dirige a Praga, e passou por um lugarejo no departa-
mento de Moselle, com um grande séquito e uma escolta Franceza:
158 Miscellanea.
nós em Londres naõ temos ouvido cousa alguma de tal Embaixador
Inglez; se daqui foi, he pessoa que ainda naõ fez falta nas companhias
publicas.
Mui pouco ou nada se sabe ainda no publico das bazes sobra
que aquelle Congresso deve fundar as negociaçoens ; e assim nos
abstemos de entrar nos projectos de paz, planos de negociaçoens, e
arranjos diplomáticos, com que os rumores tem enchido as gazetas
por todo este mez.
Dos exércitos Francezes na Hespanha tem as gazetas da França
publicado algumas noticias, que também copiamos no lugar con-
respondente deste N».; mas os nossos Leitores podoraS ajuizar do
estado da liberdade da impressa em França, vendo que nem uma só
palavra se diz da retirada do exercito de Jozé Bonaparte para França,
nem sobre a importantíssima victoria de Vittoria. Deste silencio
porém se conclue com toda a razaõ, que a derrota dos Francezes
foi taõ completa, que nem lugar dá a que se pudesse arranjar uma
biatoria plausível com que se pudesse cubrir a sua ignominiosa fuga.
A Imperatriz foi para Mayence visitar a seu marido.

HESPANHA.
Os acontecimentos da campanha tem libertado quasi inteiramente
••te paiz da oppressaõ dos Francezes, e he esse um beneficio, de que
os Hespanhoes se fazem merecedores; pela constância, que tem
mostrado, em suas adversidade*, pelo decidido patriotismo, que tem
brilhado ein toda a naçaõ ; a pelo indomável vigor com que tem re-
sistido á mais atroz de todas as invasuens.
Muitas cousai desejaríamos, que tivessem sido melhor dirigidas,
duraute a critica situação da Hespanha, nesta guerra. Mas quando
te rousidera, o estado de abatimento a que a administração de Godoy
i-eduzio a naçaõ ; a serie de accumulados abuso*, a que todas as re-
partiçocn*estavam sugeitas; a confusão inevitável, era que o Estado
fico" '•nvolvido. em conseqüência da anarchia, que resultou do desam-
paro total de seu Governo, e legitimo Soberano ; naõ ba desculpa,
que naõ estajamos inclinados a dar-lhe, por todas as fallas que se
te coiumettido.
Em dou* pontos insistimos sempre, como necessáriosá salvação da
Hespanha: um èr i a nomeação de um chefe geral para todas as tro-
pas que obravam na Península: outro era a accommodaçaõ cora
sua» colônias O primeiro pouto conseguio-se por fimt e os »cu*
beíH-lico» resultado» fôram instantaneamente viziveis: o segundo
I.(/I ran <•» Uinberr. que tenha lu^ar; porque naõ basta expulsar o»
Iranceze* da Hesjauhu.; he piecUo guardar a* fronteira* para que
naõ tornem a entrar ; e e»ie artigo naõ be taõ fácil como parece; •
Miscellanea. 157
de certo exige a uniaõ de Ioda a naçaõ; contra o que muito está a
separação de suas colônias. He de suppôr que o prejuizo ceda gra-
dualmente á razaõ.

INGLATERRA.
S. A. R. o Principe Regente do Reyno Unido concluio a sessaõ do
Parlamento com a falia, que publicamos a p. 94, e que he um re-
sumo do estado politico da naçaõ. Naquella falia se acha uma no-
tável, e positiva asserçaõ, de que por mais desejável que seja a paz
com os Estados Unidos ; a Inglaterra a naõ comprará á custa de seus
direitos marítimos. Da parte da America o Presidente faz uma
quasi igual protestaçaõ: a contenda por tanto he deixada ás vicissi-
tudes da guerra.

A gazeta da corte publicou os officios recebidos do Canada, sobre


as operaçoens da guerra com os Estados Unidos, naquelle paiz ; he
porém taõ extensa aquella conrespondencia, que nos vimos obriga-
dos a limitar-nos unicamente ao resumo official que transcrevemos
a p. 96.
O Major-general SheafFe escreve em 6 de Mayo, de Kington, e par-
ticipa, que a cidade de Yorktown fôra tomada pelos Americanos. O
oílicio do Coronel Bayne, de 20 de Mayo do mesmo lugar, menciona
a circumstancia de um ataque mal succedido, que se fez na enseada
de Sackett. A carta do Major Taylor, datada da ilha Noix, 3 de
Junho, refere a tomada de duas barcas canhoneiras dos Americanos,
o Growler, e o Eagle. Um officio do Brigadeiro-general Proctor de
14 de Mayo, de Sandwich, participa que o inimigo fora repulsado
nas fronteiras de Detroit; e outra carta do Bi-igadeiro-gentral Vin-
cent, de 6 de Junho, datada em Burlington Heights, na cabeceira do
lago Ontario, partiruianz. a acçaõ que houve juncto á bahia de
Burlington, em que os Americanos soffrêram mui considerável perda.
Sir George' Prevost, em uma carta de 24 de Junho, refere que, no
ataque que se fez á enseada de Sackett, quando foram destruídos os
preparativos na-aes. que o inimigo ali tinha, o commodoro Chauu-
ccy, deixou de co-opeiar com as forças de terra Americanas, e re-
colheo-se ao porto.
A victoria do Brigadeiro-general Vincent, juncto a Burlington
Heights, aos 6 de Junho, foi mui decisiva; porém os Americanos
antes de ali chegarem tinham tomado, com o auxilio da esquadra
que te.n nos lagos do Canada, uma serie de posiçoens desde lort
George, até Fort Erie ; incluindo Queen s T..wn, e Fort Chippawa ;
com o que ficaram senhores das fronteiras do Niagara, no Canada
Superior : mas be de suppôr, que a victoria de Burlington Heights
158 Miscellanea.
fizesse retroceder aos Americanos, e os despojasse daquellas van.
tagens.
As cartas de Gottcnburgo referem, que chegara ali uma expedição
de Inglaterra; e q u e as tropas iriam logo para Rostock, aonde se
deviam unir a 19.000 Russianos e Alemaeus, que as esperavam.

A lista de Lloyd de 3*. feira 6 de Julho, contem as particularidades


de 383 navios (alem de 80 da lista precedente) que chegaram á
vários portos da Gram Bretanha vindos das índias Occidentaes;
naõ fallando nos muitos que tem vindo de outras partes do globo.
Este paragrapho só de per si deverá convencer a Bonaparte, que naõ
obstante todos os seus esforços, e «inda mesmo auxiliado pela ma-
rinha Americana, a Gram bretanha possue, o que elle tanto deseja,
e tanto trabalha por tirar á Inglaterra: navios, colônias, * com-
mercio.

Sua Magestade Imperial o Imperador de Rússia, foi eleito caval-


leiro d i Ordem da Jarreteira : e S. A. R. o Príncipe Regente manda
um Rey d'armas á Rússia, para lhe entregar a insiguia desta distincta
Ordem.

EXERCITO ALLIADO NA PENÍNSULA.


He da nossa boa fortuna termos de apresentar neste N*., entre o»
copiosos officios relativos á campanha da Peninsula, a carta de Lord
"Wellington, datada de Salvatierra, aos 22 de Junho, que transerc.
vemos a p. 115. Naõ tentaremos recapitular aqui aquelle impor-
tante officio; porque nenhum de nossos Leytoresse contentará com
menos do que ler a sua integra; mas naõ podemos deixar de dizer,
que he a mais completa victoria, que se tem alcançado nesta guerra,
quer se considere na acçaõ da peleja ; quer nas conseqüências, que
resultam da derrota do inimigo. A victoria foi taõ completa, que
os Francezes perderam toda a sua bagagem, e toda a sua artilheria i
as conseqüências taõ importantes, que toda a direita do exercita
Francez, coin o seu pretenso Rey Jozé á frente, se retirou para
França; evacuando inteiramente naquella parte o território Hes-
panhol, como consta dos últimos officios de Lord Wellington, qu«
também copiamos.
Na Inglaterra fôram recebidas estas noticias com os maiores ap-
plausos: em Londres houve uma illuminaçaõ geral por tres noites
consecutivas; uma brilhante festa no famoso jardim publico de
Vauxhall; e o Principe Regente, no mesmo dia que se lhe com-
-municáram os officios de Lord Wellington, lhe conferio o posto
de Marechal de Campo (Field-Marshal) que be o mais elevado
Miscellanea. 159
emprego, que ha no exercito Britannico, e que presentemente s6
tinham dous dos filhos d'El Rey, o Duque de York, e o Duque da
Kent.
A direita do exercito Alliado devia ser apoiada pelas tropas
commandadas pelo General Murray, o qual tendo de se appossar
de Tarragona, deveria fazer recuar os Francezes para a Catalunha,
e abrir, pela sua esquerda uma communicaçaõ com a direita de
Lord Weliington por Çaragoça Este plano porém ficou frustrado
cotno se vê pelos officios do mesmo General Murray, que copiamos
a p. 138; porque elle, depois de ter sitiado Tar.agona levantou o
cerco, e se retirou outra vez com suas tropas para Alicante. Naõ
nos atrevemos a coudemnar este general; como tem feito quasi
todos os jornalistas nossos contemporâneos; pela simples inspecçaõ
das cartas do mesmo general, comparadas com os officios do General
Francez, que lhe éra opposto ; porque Lord Wellington se abstem de
referir a sua opinião sobre o comportamento daquelle general, e por
falta de informação sufficiente. Os reproches porém que se fazem
ao General Murray fundam-se; primeiro em ter elle abandonado o
forte de S. Felippe de que estava de posse, e interceptava a commu-
nicaçaõ dos Francezes entre Tortosa e Tarragona ; e segundo nas
forças superiores que tinha o General Murray, as quaes se suppoem
serem as seguintes.

I o . Tropas lnglezas, vindas de Sicilia.


1°. Batalhão do regimento 10 . 980
1». D» 27 1.100
1». D" ,.81 1.050
1».D° 58 1.100
Um d°. de infanteria ligeira dos regimentos que es-
taõ agora em Sicilia 350
Um batalhão de granadeiros dos regimentos de
Sicilia 800
Um destacamento de cavallaria do regimento 20 de
dragoens ligeiros — 325
3 companhias d'aríiiheria de pé e de cavallo 360
Um destacamento do 95 (atiradores) 300
D*, sappadores e mineiros . . . ... 300

Total 7.165

2°. Tropas Britannicas de Carthagena.


8*. Batalhão do regimento 6 7 . . - - 800
Uma companhia d'artilheria — . 100
j 6o Miscellanea.
3 o . Tropas lnglezas do exercito de Lord JVellington com o
trem d,artilherta que sei~oio em Badajoz.
Uma companhia d'artilheria — ... 130

Total Britannico 8.1!*5


4-B. Tropas Portuguezas do exercito de Lord Wellington
com a sibre dieta Artilheria.
Duas companhias d "artilheria . . . . . . . . . . . . . . . . 250
o
5 Alemaens de Sicilia.
Tres batalhoens de linha da Legiaõ Alemaã d'EI
Rey 3.100
Regimento de Meurou 350
Meio balalhaõ do regimento de De Roll 500
Meio batalhão do regimento de Dillon 500

Total 13.495
6 o . Sicilianos, Kc. de Sicilia.
Regimento das guardas Reaes Sicilianas, dous ba-
talhoens S.100
Atiradores Calabrezes, commandados pelo Coro-
nel Carey . 750
1°. Hespanhoes de Majorca.
Primeiro regimento de Caçadores Hespanhoes,
commandados pelo Tenente-Cor. Campbell . . 1.100
Divisão Hespanhola do General V\ hitlingham . . 4.500

Total 2I.S1.-J.
As forças que os Francezes tinham para se oppor ás do (ieneral
Murray; e que em conseqüência de sua retirada ficaram livres para
manobrar no iiauco direito de Lord Wellington, dizem as informa-
çoens particulares que saõ as seguintes.
Suchet o mais que tinha em Valencia eram 20.000 homens, dous
quintos dos quaes eram Italianos; linha também um batalhão d': lia-
den, e dous batalhoens provision.ius de Bavaios; de maneira, que
naõ mais da melado do exercito de Suchet éra francez; e os offi-
ciaes Inglezes saõ de opinião, que os Italianos de sucliet eram
mui inferiores aos Hespanhoes e Italianos do exercito Adiado.
D*onde se conclue que Suchet naõ podia marchar de Xucar com mais
de 3.000 infantes, e 500 cavallos. A força de Barcelona, que veio
em seu auxilio, jul^a-se que naõ excederia a 3.000 homens ; e o Ge-
neral Mathieu, nunca se achou assas forte, se quer para conservar
abertas as coinmunicaçotus com Suchet.
Isto posto esperaremos pela defensa, que faz o General Sir Joaõ
Miscellanea. 1GL
Murray ; o qual nos seus officios conjectura, que as tropas Francezas
eram muito alem do que aqui calculamos; como quer que seja,
culpa sua ou infelicidade irremediável, o ler falhado esta expedi-
ção servio de grande atrazo ás operaçoens de Lord Weliitigton, que
contava com este auxilio na Catalunha.

Resta agora somente chamarmos a attençaõ do Leylor, para a


honrosa mençaõ que se faz, em todos os officios, d-.s tropas Portu-
guezas, que entraram em acçaõ. O character militar, da Nação
naõ pôde estar mais bem estabelecido ; e o? Portuguezes aparecem
nas margens do Ebro, como libertadores da Hespanha, depois de
terem limpado o seu próprio paiz dos invasores. Eia Napoleaõ ! E
aonde eslá o teu decreto, que mandava lançar os Ingleses pelo Tejo
fora, em Dezembro de 1811 ?
Nisto veraõ os que olham para Bonaparte como ente dotado
de infalibilidade, que os seus bons suecessos saõ devidos á fra-
queza dos meios que se lhes oppóem.
Em vez de lançar os Inglezes ao Tejo, e de arvorar cm Lisboa o
estandarte Francez; Inglezes, e Portuguezes fôram lançar os Fran-
cezes pelos Pyrineos fora, e pôr-se em situação de arvorar as Qui-
nas em França; se isso fosse prudente fazer-se.
Nòs porém naõ julgamos, que as cousas levarão este caminho ; por
algumas razoens politicas, que naõ deixarão de entrar na considera-
ção de Lord Wellington. Primeiro, porque todo o povo da Navarra
Franceza he summamenteafifeiçoado aos Hespanhoes, c nesta guerra
naõ tem ministrado gente alguma ao exercito Francez • e uma in-
vasão no seu paiz os tornaria de amigos inimigos, e esses de naõ
pouca monta nas vizinhanças de Hespanha. Depois; porque a inva-
são da França naõ pôde produzir nenhum bem permanente á causa
geral da Europa, e pelo contrario servirá de reunir mais o povo
Francez com o seu Governo. Talvez, se isso for possivel, um ata-
que momentâneo a Bayonna, para destruir as muniçoens navaes que
ali ha, poderia ter lugar ; porém mais do que isso naõ he provável
que Lord Wellington emprehenda.

Suarlel-general de Huarte, 1 de Julho, 1813.


ORDEM DO D I A .
Com o mais perfeito prazer, e satisfacçaõ passa Sua Excellencia o
Senhor Marechal Beresford, Marquez de Campo Maior, Commandante
em Chefe do Exercito, a fallar da conducta das Tropas Portuguezas na
famosa batalha de21 do mez passado, cm qne o Exercito Aluado ganhou
uma completa victoria sobre o Exercito Francez.
O Senhor Marechal felicita a Naçaõ Portugueza, pelo comportamento
das suas tropas nesta -memorável batalha; e fazendo aos Corpos Portu-
VOL. XI. No. (52. x
IR2 Miscellanea.
guezcs, qne nella tiveram parte, o mais alio elogio, só vem a dixer, •
que elles mereceram.
O Senhor Marechal julga-se obrigado a mencionar com particularidade
a conducta das duas Brigadas, a composta dos regimentos de Infanteria
Num. 9, e 21, e batalhão de Caçadores Num. I I , commaadada pelo
Senhor Brigadeiro Manley Power, e a composta dos regimentos de In-
fanteria Num. 11, c 23, e batalhão de Caçadores Num. 7, commaodada
pelo Senhor Coronel Thomaz Guilherme Stubbs. O Illustrissimo, e Ex-
cellentissimo Senhor Marechal General Duque da Victoria, e o Senhor
Marechal presenciaram a brilhante conducta destas duas brigadas, cuja
firmeza, boa ordem, e valor naS se podem exceder; e Sua Excellencia
o Senhor Marechal General mostrou por tal comportamento a maior ad-
miração.
O Senhor Marechal assegura a estas brigadas, que naS faltará a pôr
com particularidade na presença de S. A. R., o Principe Regente Nosso
Senhor, a sua conducta, e a pedir a S. A. R. um distinetivo de honra
especial para os corpos, que as compõem. O Senhor Brigadeiro Manley
Power, o Senhor Coronel Thomaz Guilherme Stnbbs, o* Commandante*
dos Corpos, e os mais officiaes, officiaes inferiores, e soldados desta*
brigadas acceitaraõ ns agradecimentos do Scuhor Marechal; e naõ espe-
cifica official algum, porque todos fizeram nobremente o leu dever. A
conducta do commandante das quatro companhias de granadeiros dos regi-
mentos de infanteria Num. 9, e 21 merece ser mencionada com particu-
laridade, assim como a das mesmas quatro companhias.
O Senhor Marechal na5 pôde prescindir de dar os seus agradecimentos
á Brigada do Commando do Senhor Brigadeiro Diniz Pack, composta do*
regimentos de infanteria Num. I, e 16, e bai.-ilh.i3 de Caçadores Num. 4,
e de exprimir a sua completa satisfacçaõ a respeito He todo* oi officiaes,
officiaes inferiores, e soldado* destes corpos. O Senhor Brigadeiro, o*
commandantes dos corpos, officiaes, officiaes inferiores, e soldados desta
brigada acceitaraõ a approvaçaõ do Senhor Marechal, que naõ deixará
de fazer mençaS delles a S. A. R.
O Senhor Brigadeiro Diniz Pack, em razaõ de ter sido destacado com
a sua brigada o batalhão de caçadores Num. 8, faz honrosa mençaõ delle,
e Sua Excellencia se regosija, de que este batalhão cuide em conservar a
reputação, que tem adquirido.
O Senhor Marechal dá os seus agradecimentos ao Senhor Brigadeiro
Frederico Sprye, e aos Officiaes, officiaes iuferiorr*, e soldados da bri-
gada do seu commando, composta dos regimento* de Infanteria Nam. 3 , o
15 pela sua boa conducta, e firmeza.
As brigadas de Artilheria Portugueza satisfizeram ao que lhes com-
petio, e mereceram a approvaçaõ do Senhor Marechal.
O Senhor Marechal tem toda a razaõ de eitar satisfeito com a brigada
do commando do Senhor Coronel Carlos Ar»hwor'.h, e com os corpos da
divisão ligeira, o regimento de infanteria Num. 17, e os batalhoens de
Caçadores Num. I, e S , ainda que as circunstancias, e a* tuas po.içocns
respectivas na batalha naõ lhes offerecêram occasiaõ de se di»tLn*uire«*
Miscellanea. 163
com particularidade. O mesmo diz o Senhor Marechal a respeito da
divisão do commando de Sua Excellencia o Senhor Tenente-general
Conde de Amarante, e da Brigada do commando do Senhor Brigadeiro
Lecor, que posto naõ tivessem occasiaõ de entrar em combate, os seus
desejos, e boa ordem foram visíveis.
Naõ he possivel, que todas as tropas de um exercito entrem em acçaõ
em uma batalha ; e ainda menos que todas tenhaõ occasiaõ de se distin-
guirem; porém o Senhor Marechal tem o gosto de dizer ao Exercito Por-
tuguez, que está perfeitamente satisfeito com todas as que estiveram
nesta famosa batalha. Todos os corpos fizeram o seu dever relativamente
ás circumstancias, em que se acharam, e nenhum corpo deixou de se
distinguir, sempre que teve occasiaõ.
O Senhor Marechal repete que terá o mais vivo prazer em levar â
presença de S. A. II. a boa conducta particular, e geral de todo o
exercito, que se achou na batalha, e victoria de Vittoria, em 21 de Junho
de 1813.
O Senhor Marechal usando do poder que S. A. R. foi servido conceder-
lhe promove os officiaes, e officiaes inferiores, que abaixo seguem, pela
sua conducta na batalha.
Gradua em Tenentes-coroneis os Maiores dos Regimentos de Infanteria
N". 9. G. W. Paty, e Archibaldo Ross, o major do regimento de infanteria
N°. 21, Francisco Joaquim Carreti, o maior do regimento de infanteria
N*. II, Daniel Douahoe, e o maior do regimento de infanteria N°. 23,
Franciso de Paula de Azeredo: gradua em majores o capitão do regi-
mento de infanteria N°. 9. Mathias J o z é de Sousa, e o Capitão do regi-
mento infanteria N°. 21. Antonio José Soares : e promove a maior o capi-
tão Johnslon, ajudante de ordens do Senhor Brigadeiro Power, conser-
vando todos o exercicio, que actualmente tem: e promove a Alferes do
regimento de infanteria N°. 9. o sargento ajudante do mesmo regimento,
Carlos José da Cunha ; a Alferes do regimento de infanteria N°. 4, o sar-
gento ajudante do regimento N°. 21, Antonio de Azevedo Almeida, e a
Alferes do Regimento de infanteira N". 23, o sargento ajudante do mesmo
regimento, Antônio Cardoso de Menezes, contando todos os sobredilos
promovidos a antigüidade do dia da Batalha.
Também o Senhor Marechal, para dar mais outro testemunho da sua sa-
tisfacçaõ pela boa conducta de todos os corpos, que entraram na batalha,
vai propor a Sua Alteza Real para effectivos todos os officiaes, que se
achaÕ aggregados por castigo, e entraram em combate na batalha, e saõ os
seguintes.
Regimento de Infanteria, N°. 3.—-O Capitão José Rafael Annes, para a
oitava companhia; o Capitão Joaõ Manoel da Veiga, para a segunda com-
panhia; o Tenente Ignacio da Cunha Gasparinho; o Alferes Francisco
Cardoso da Gama.
Regimento de Infanteria, N". 9.—-O Alferes Manoel Caetano de Sousa
Caldas.
Regimento de Infanteria, N». 15.—O Tenente Joaõ Manoel Borguete;
o Tenente José Gomes Manacbo; o Alferes JoaÕ de Mattos Maia ; o Al-
X 2
164 Miscellanea.
feres Antônio Guedes de Cintra; o Alferes José de MagalhScs da Coita;
o Alferes Antonio Peito de Carvalho.
Regimento de Infanteria, y>. 17,—O Alferes Antonio de Mello Boquete.
Regimento de Infanteria, JVi>. 21.—O Alferes Francisco Manoel de
Castro.
Regimento de Infanteria, A*». 23.—O CapitaS Francisco José Pereira-
para segunda companhia,
Ajudante-general MOSINBO.

(Esta memorável Ordem do Dia dá séculos de gloria & naçaõ Portugue-


sa ; e naõ haverá Portuguez a quem os olhos senaõ arrazem de lagrima*
de gozo, lendo mais este monumento, que attcitará á posteridade mais re-
mota, que as tropas Portuguezas, combatendo ao lado dos Inglece», e
Hespanhoes contra os Francezes de Bonaparte na celebre batalha de Vit-
toria, mereceram uai distinetivo de honra especial.)

PORTUGAL.
Começamos este N-\, e o Décimo volume do nosso Periódico,
com os extractos do processo de um Padre, fulano Lopez, na Rela«*aõ
Er.-'.".iastica de Lisboa, por crimes de scisma, e actos lapientes
hteresim.
Quem tal diria, Senhores Inquisidores, contra a herética pravidade I
Quem tal diria, que o Vigário Capitular do Patriarchado de Lisboa,
se atreveria assim a processar crimes, pertencentes ao Sancto Officio
da Inquisição ! Tal será •era duvida a exclamação dos Padres tristes
do Rocio, em Lisboa • mas nós, assim como outra muita gente,
sempre esperamos por isto ; e, se vivermos, mais alguma cousa a
este respeito havemos de vér.
Para que a exclamação dos senhores Inquisidores se faça menos
dolorosa ; temos a honra de lembrar, com o devido acatamento, a
Suas Senhorias Illustrissima» e Rcvercndiiuima*, que S. A. R. o Prin-
cipe Regente de Portugal, ja se tinha obrigado por um tractado que
fez com a Inglaterra, a naõ admittir o tribunal da Inquisição no
Brazil; c que, depois disso, as Còrlcs de Hespanha aboliram aquelle
tribunal, e o declararam incompatível com a Constituição da Mo-
narchia, illegal, c pernicioso & mesma Religião. Iito posto i que
esperanças poden te*' os Illustrissimo* e Reverendi*»irao* Senhores
Inquisidores de Portugal, de que a sua instituição coutinue 3
Olhamos portanto para este acto do Patriarcha Eleito de Lisboa,
como o primeiro goipe publico dos bispos, para vindicarem a sua
jurisdicçaõ, e destruírem a usurpaçaõ do illegal tribunal da In-
quisição.
Naõ repettircmos aqui os argumentos, tantas vezes allegado»,
para mostrar, que os crimes contra a Religião fôram sempre puni-
Miscellanea. 165
dos entre os Christaõs, pelos bispos; e com as penas meraniemente ec-
clesiasticas: as penas corporaes só eram, e só podiam ser impostas pelos
Soberanos; naõ porque elles tenham o direito de obrigar seus subditos
a professar esta ou aquella religião; mas era tanto quanto os crimes
religiosos podem perturbar o Estado. Este principio clarissimainente
demonstrado, por todos os escriptores que puderam escrever livres
do jugo, e do alcance da Inquisição ; nunca foi respondido pelos In-
quisidores, senaõ com a resposta do ferro e fogo; recurso efficaz,
na falta dos argumentos.
Mas agora vemos asseverado; por uma juncta de theologos, e
juristas; convocados pelo mesmo Patriarcha, e á vista desse taõ
abatido e humilhado quanto perverso e cruel tribunal; que o castigo
dos reos por crimes religiosos, compette aos bispos; segundo a disci-
plina e cânones da Igreja. - Que responderão a isto os Padres tristes
do Rocio ? • Chamarão a esta juncta uma combinação de libertinos?
< Diraõ que aquelles ecclesiasticos saõ um tumulto de revolucioná-
rios? Naõ: e quando o digam ninguém os acreditará; porque saõ
homens respeitáveis, naõ so pelo seu character publico, como por suas
luzes; e em fira* sua decisaõ he conforme á de todos os bons cano-
nistas.
Este acontecimento formará sem duvida uma epocha notabilissima
na historia ecclesiastica e civil do Reyno de Portugal; e nao pode
haver a menor duvida, de que o Governo persuadido destas verdades
como está o de Hespanha, e como mostram estar estes theologos,
acabe de uma vez com esta hydra ; naõ pelo meio de deixar esquecer
ou pôr em desuso os seus procedimentos; porque isso seria deixar a
faísca debaixo das cinzas; e os Inquisidores fariam renascer, sempre
que se lhe offerecesse occasiaõ, as suas pretensas prerogativas t
mas por uma terminante, explicita, e argumentativa ley, como acon-
teceo em Hespanha: afimde que um acto desta natureza limpe, em
tanto quanto he possivel, este feio borraõ da historia Portugueza.

As noticias de Lisboa referem que o enviado Inglez em Argel,


obtivera negociar um vantajoso tractado entre aquella Potência,
e a coroa de Portugal; e foi assignado << 14 do mez passado.
Recebemos ja o tractado, mas naõ chegou a tempo de o inserir-
mos neste N°.
166 Miscellanea.

CONRESPONDENCIA.

Noticia sobre a Barra de Aveiro.

A nova Barra de Aveiro, pelos incessautes dcsvellos do Pro vidente


Geverno de Portugal, e pelo particular apoio e actividade com que
o 111™**- e Ex""'. Snr. D. Miguel Pereira Forjaz Coutinho, Secretario
do Governo, tem constantemente promovido, o seu credito e melhor
estabelecimento : acha-se sendo, indisputavelmente, a segunda deste
Reino era bondade, tendo de profundo sobre o Banco, em agoa
parada de Baxa-mar, todo o anno, de 18 a 22 palmos, o que na Prea-
mar lhe assegura 28 a 32 palmos: a sua largura constante a fora
pequenas variaçoens, hé de 120 braças: o seu alveo limpo de pe-
dras; e a suadirecçaõ entre Oeste Nor-oeste.
Pela Portariado Governo de 27 de Janeiro, de 1813, a sua Pilota-
gem foi melhorada, nomeando-se Piloto-Mor,umdos mais acreditados
da Foz do Douro, que para o effectivo serviço destaBarra, foi chamado.
Acha-se provida de Catraios, Viradores, Anchorotes, e de todos os
aprestes necessários para o prompto, e seguro serviço, de todas as
embaraçoens, que a demandarem, sendo este ramo de Administração,
fiscalizado pelo Dezembargador Superintendente da Barra, Fernando
Afibnso Giraldes, e pelo Tenente-coronel Luiz Gomes de Carvalho,
os quaes cuidadozamente vigiaõ, para que nenhumas faltas oceoram,
e Iodas as Embarcaçoens, que a demandarem encontrarem as precisas
comodidades e absoluta segurança; e a quem saõ devidos todos os
elogios, pelos seus talentos, actividade, e zelo infatigavel, desenvol-
vido no progresso e conclusão desta desta grande e difficil em-
preza.
Hé de esperar, que em conseqüência do seu actual estado,
o decadente Commercio deste Porto, se restabeleça, e que torne a
ser freqüentado, como d'antes era, pelos Navios Commerciantes dos
diversos Portos do Norte : O copioso e excellente Sal, fabricado nas
suas Marinhas próprias, e os Vinhos da Bairrada, ou Anadi.i, bem
conhecidos pela sua superior qualidade, principalmente os brancos,
taõ estimados nos Portos do Baltico, haõ-de atrahir sem duvida, as
especulaçoens Mercantis, fazendo em breve espaço, multiplicar as
vantagens deste fértil, e delicioso Paiz.
Miscellanea. 167

Ao Redactor do Correio Braziliense.


CORREIO FONCHALENSE ou NOTICIAS POLÍTICAS DA MADEIRA.

1 de Junho, 1813.
SENHOR REDACTOR ! Como assignante do seu mui interessante
Jornal, e admirador da franqueza com que v. m. falia contra a in-
justiça e mao governo, naõ he impróprio que roube alguns momen-
tos aos meus deveres, a fim de lhe dar noticias do estado actual desta
ilha, que a pezar de ser um pequeno ponto do globo, com tudo he
como a arca de Noe, e nella pode o philosopho analyzar a variedade
das linguas, e o seu mau governo, o que Deus permitia naõ acabe
na mesma confuzaõ. 0 Correio Braziliense será talvez mais dese-
jável trazendo algumas noticias desta cidade, e naõ será impróprio
que todos os mezes, em dppendix, v á o Correio Funchalense, pois que
he assas importante a todo aquelle que se interessar em beneficio de
sua pátria.
Alem das muitas despezas que S. A. R. inutilmente faz, nenhuma
me provoca tanto como a renda de 480.000 reis, palha e cevada, a
cada um dos inspectores de Agricultura. Estes dous naturalistas,
que alem de seu ordenado recebem 1.600 reis por dia para come-
dorias, quando andam em viagem, sabem tanto d'agriculturacomo o
que nunca leo nem ouvio uada sobre a matéria ; como se pôde cou-
jecturar; porquanto suas profissoens, e estudos saõ mui diversos;
ura he boticário, outro he um advogado. He verdade que dizem que
lhe deram estes empregos por mercê ; mas • naõ seria melhor que
se fizesse esta mercê a quem pudesse desempenhar o lugar ? deixando
o pharmaceutico com o arranjo de sua botica, e o jurisconsulto
com a limpeza de seus alfarrábios? Deste modo teria o Governo
Portuguez feito um bem tanto phisico como moral. Quanto melhor
applicaçaõ naõ teria este dinheiro, se fosse destinado ao estabelici-
mento de duas aulas para a educação da mocidade, assaz engenhosa
nesta ilha? Quanto naõ seria de maior louvor para o Governo, e
de maior utilidade para o publico, estabelecer uma aula de historia
natural, para que a mocidade se animasse á investigação da minera-
logia, botânica, e zoologia, desta taõ importante ilha ?
Ao Governador da Madeira he a quem pertence informar sobre
estes negócios; porem infelizmente temos tido por seis vagarosos
annos um homem, que alem do cuidado que tem de metter no banco
de Inglaterra tudo quanto ajuncta, naõ lhe conheço applicaçaõ a
negócios, por isso mc naõ admiro, que cahisse de cama logo que
aqui chegou a noticia, que se lhe tinha nomeado Successor ; etaõ
mal esteve que naõ pôde festejai* os annos do seu Soberano ; conten-
tando-se com receber as davidas que nesse dia he custume fazerem-
J 68 Miscellanea.
lhe os ricos; e alem disso um conto de reis que S. A. R. paga para
as despezas do banquete.
Eu naõ desejo fallar mal de todos os que governam, pelo contra-
rio quero distinguir os bons. O Snr. Assenso de Siqueira fez um
governo nesta ilha, de que deixou saudoso o povo ; mais ainda o
grande e sábio D. Jozé Manuel de Câmara, cujo talento, conheci-
mentos, nobreza, liberalidadc e justiça sempre o elevarão a par dos
heroes. Trabalhou este homem incaoçavelmente a favor do povo;
fez estradas, edifícios, sem lezar o Estado, cumprio com os seus de-
veres como homem de Corte, tractou a todo o individuo com po-
litica; e assim era admirado pelos estrangeiros, e estimado pelos
nacionaes: naõ se poupou a trabalhos; activo, e vigilante nos ne-
gócios Reaes, éra de fácil accesso, naõ demorava os despachos, sus-
tentava a balança da justiça com rectidaõ, e finalmente opprimio a
soberba dos fidalgos de meia tigela desta ilha, a cujos empenhos naõ
attendia. Em uma palavra sahio da Ilha da Madeira, depois do seu
triennio, pobríssimo, pois consta que até de Lisboa mandou pagar a
quem devia, o que lhe naõ serve de deshonra, mas sim de muita
honra.

Lord Moira, na sua viagem para a índia aqui se demorou 8 dias,


foi recebido pelo povo com acclamaçoens e vivas, c deixou a todos
saudosos pelo modo com que se comportou, e polidez e affabilidade
que mostrou, como heroe,ecomo cortezaõ) encheram-se as ruas do
Funchal de povo, e de soldadesca, quando elle passou, e o aclamaram
gritando " viva o heroe Inglez."'

No meu segundo correio serei mais extenso; e dando-lhe as no-


vidades desta Ilha nao me pouparei a fazer justiça.
Judex damnalur rum norma tlnolvitur.
Sou, De v. m. m. ven. e Cr*.
INIULINUS.
Miscellanea. \ 69

Carta ao Redactor sobre o Decreto expedido no Rio de


Janeiro, aos 1 de Novembro, de 1812.
[Continuada do vol. ix. pag. 837.]

Que o estabelicimento da Policia em Portugal foi útil na época


da sua creaçaõ, e mesmo ao depois; e muito no tempo da revolução
Franceza; provaõ os factos. Porquanto, sabe muito bem, que
antes da época da creaçaõ da Policia, tinha em Portugal o Santo
Officio o maior e mais illimitado poder naõ só nas matérias dittas
religiozas, mas ate nas Politicas, que o ditto Tribunal á seu modo
fazia annexas aos pontos ecclesiasticos. Em conseqüência do que,
pouco poder restava ao Civil. O Ministério para dar o maior corte
aos seus poderes, e abuzos, e á sua interiferencia com o Poder Civil
foi lhe indispensável crear, e sanecionar uma Auctoridade, que naõ
só vigiasse na tranqüilidade Publica, mas que até d'algum modo
se entremettesse em vigiar no respeito ao Culto Publico da Religião,
&c. Isto naõ só com o fim de naõ ser chamado o Ministério pelos
Inqusidores, e pela Populaça, Herético : mas ate mesmo para os ir
desfraudando dos poderes que elles queriam inculcar dever possuir
como inalianaveis, concedidos, e confirmados pela Seé Apostólica. Em
fim para habituar o povo a que visse sem difficuldade em como o
Fiscal da Religião, e do culto podia ser o mesmo Soberano, ou a
sua Auctoridade delegada nas maons de um Leigo, e naõ exclusiva-
mente nas de certos Padres.
Que o estabelecimento da Inquisição em Portugal, e na Hespanha
foi útil, e até necessário, prova-se pela historia anterior daquelles
dois paizes: que depois se abuzou d'esta instituição, e que por
tanto se tornou prejudicial, e odioza, he outro facto, que igualmente
mostra a historiados seguintes séculos. Mas que por fim a Religião
naõ parece conservar, mais que o nome I desgraçadamente se vé pelo
desprezo do culto, e ate pelo ridículo com que se olha para um
ChristaÕ devoto, e Religiozo: tudo isto naõ só pelas ideas chamadas
liberaes, e de illuminaçaõ, que abrangeram até a Península; mas
mesmo pela falta de uma Policia, ou auctoridade Ecclesiastica: como
vê neste paiz, aonde jamais verá dentro dos seus Templos indivíduo,
que perturbe a devoção dos outros; e aonde a Policia Ecclesiastica,
ou do Arcebispo de Canterbury lie taõ estricta, e austera, que se no
sabbado a meia noite, se uaõ tem corrido o Pano do Theatro, o fazem
correr os officiaes da Policia Ecclesiastica.
Portanto ja se vê, que, se depois da abolição da Iuquiziçaõ, algu-
mas vezes o Intendente da Policia se intrometer em pontos Reli-
giozos em quanto elles tem relação com a tranqüilidade publica,ecom
VOL. XI, No, 62.
170 Miscellanea.
o systema religioso do Governo ; naõ he sair da sua alçada: mas um
deve. seu por ordem do Soberano. Quando os Inquisidorcsobravara a
seu capricho grilava se, e murmurava se de que se deixasse aos Eccle-
siasticos uzurpar a Auctoridade Regia ! Agora se uma auctoridade
Constituída pelo Soberano se entreraete (sem abuzar) nos pontos
Religiozos, também se grita ! Mas os que gritaõ saõ Atheus, e ho-
mens feiu Keligiaõ, e sem cabeça para conhecerem, que nada o povo,
e uma Naçaõ mais respeita que o que lhes he sagrado, e religioso.
Daqui as grandes vantagens, que os Legisladores, e os Políticos sem-
pre snuberaõ tirar das associaçoens Politicas com as Religiozas.
No Brazil; em um Paiz todo novo! e aonde tudo he susceptível,
e dezejoso de novas impressoens, e novos modos de ser; em um
Paiz, aoude se começaõ a ler agora as seduetoras, e corrumpidas
pregaçoens, que seduzirão, e perderão a França? Em fim em um
1' H7, vezinho de revolucionários, epara onde despejaõ os Navios da
Europa toda a immundicê revolucionaria, que cheriamalem Lisboa,
e » >,ue aqui por educação he pestilente ! Digo, em um Paizd'e*tes
deixa por ventura de ser da primeira necessidade uma boa, e vigi-
lante Policia ? Como he que Bonaparte tem conseguido o seu
maior fim, de conservar tranqüilidade em França? Se naõ por
uma triplicada Policia ! a do Maire : Do Perfeito : e a do que vigia
n'estes dois! Como he que se conserva, e mantém em socego esta
immensa Povoaçaõ de Londres? Se naõ por meio de milhares de
agentes da Policia ! Naõ há aqui até uma Segunda Policia para os
Estrangeiros denominada Alien Office.' pela qual todo o alliado
ate mesmo os Portuguezes (que nominalmente, se dizem cm um
Tratado deverem gozar da mesma Liberdade, que os Inglezes gozaõ
de facto em Portugal, e no Brazil) saõ como prisioneiros! poisque
alem de lhes ser precizo renovarem de 3 em 3 mezes as suas Licenças
de residência cm um limitado espaço de Inglaterra! naõ podem ir
ver, e viajar o Paiz sem uma outra Licença ! E se tudo iato assim
be ! Porque naõ deverá haver no Brazil se naõ 2, ou 3 Policias; ao
menos uma para os Nacionaes, e Estrangeiros : mas esta estricta, e
austera como he cá por fora!
A Policia naõ he um papaõ ; nem um come gente : he uma
Auctoridade, que a fazer o seu dever; he das que mais serviços
pode fazer á Monarquia, e ao Monarca. Porque se lenha uma
idea horroroza da Policia era França: segue-se que se deva ter a
mesma da Policia do Brazil? Se o Governo Francez suppoem
muito descontente ; (e por ju*to« motivo»;) e por isso deita maõ de
muitos, e violentos meios. ;Qual he o Governo, que os naõ tenha
mais, ou menos; e portanto, que naõ deva tomar mais, ou meuo»
precauçoens?
Miscellanea. 171
O peior que eu acho na Policia he haverem pessoas, que com o
pretexto de fiscaes do Governo, e da Legislação pertendem desfazer,
e o mais he, contrariar os melhores, e mais bem calculados planos do
Soberano a respeito da Policia I Pessoas porem que quando succede
alguma catastrophe, e desastre Nacional tornam a culpa ao Inten-
dente Geral da Policia! !
Sou Senhor Redactor,
Seu venerador, e creado,
PORTUGUEZ.
CORREIO BRAZILIENSE
D E AGOSTO, 1813.

Na quarta parte nova os campos ara,


E se mais mundo houvera Ia chegara.
CAMOENS, C V t l . C 14.

POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.

Tractado de Paz, ajustado entre Portugal e Argel, aos 14


de Junho, de 1813.
Em nome de Deos Clemente e Misericordioso. ( L . S.)
X RACTADO de paz e amizade entre S. A. R. o muito
alto, e muito poderoso Principe Regente de Portugal, e
dos Algarves, d'aquêm, e d'alêm mar, em África, de Gui-
né, e da conquista, navegação, commercio da Ethopia,
Arábia, Pérsia, e da índia, e t c ; e o Muito de Nobre e
Honrado Sid Hage Aly, Baxá de Argel, e mais Provincias
sujeitas ao seu dominio, ajustado entre o dicto Baxá com o
seu Divan, e Principaes do seu estado, e Jozé Joaquim da
Rosa Coelho, Capitão de Mar e Guerra da Armada Real,
Fr. Jozé de Santo Antônio Moura, Interprete da lingua
Árabe, e Official de Secrelaria d'Estado dos Negócios da
Marinha, e Dominios Ultramarinos, competentemcnte au-
thorizados para elFeituarem o dito tractado, em que inter-
veio como mediador, c garante S. M. Britannica, e para
esle fim se apresentou com os necessários Plenos Poderes
Mr. Guilherme Acourt, Enviado Extraordinário, e Mi-
nistro Plenipotenciario da Corte de Londres.
Art. 1. Haverá uma Paz firme, e estável, e perpetua
VOL. XI. No. 63. z
1*74 Politica.

entre as duas Altas Partes contractantes, e os seus respecti-


vos vassallos ; e quaesquer embarcaçoens assim de guerra,
como mercantes de ambas as naçoens, poderão navegar
livremente, e com toda a segurança para onde bem lhes
convier, levando para isso os correspondentes passaportes.
2. Todas as embarcaçoens, e vassallos de Portugal
poderão entrar, sahir, demorar-se, comraerciar, e prover-
se de todo o necessário nos dominios de Argel, sem que se
lhes ponha embaraço, ou se lhe faça alguma violência.
Os vassallos, c embarcaçoens A rgelinas seraõ tractados da
mesma sorte nos dominios de Portugal.
3 . As embarcaçoens de Guerra pertencentes á Coroa
de Portugal poderão prover-se de todo o mantimento, ou
de qualquer outra cousa de que precisarem dos portos de
Argel, c pelo preço corrente, sem que sejaõ obrigadas a
pagar por isso mais cousa alguma.
4. Nenhum corsário Argelino poderá cruzar na distancia
de seis milhas das costas de Portugal, c suas ilhas, ou de-
morar-se naquelles sitios com o íi m de dar cnça, ou visitar
os navios Portuguezes, ou de qualquer outra naçaõ sua
inimiga, que buscarem os referidos portos por causa do
seu commercio. O mesmo praticarão os navios de Guerra
Portuguezes juncto das costas de Argel.
5. Se alguma embarcação ou navio mercante Portuguez
lor encontrado por corsário Argelino, c este o quizer re-
gistar, o poderá fazer; com tanto que a bordo do navio
naõ subaõ mais de duas pessoas para examinar os seus pa-
peis e passaportes.
6. Os estrangeiros de qualquer naçaõ, e as fazendas de
propriedade estrangeira, que se encontraiem a bordo de
qualquer embarcação Portugueza, ainda mesmo de naçaõ
inimiga da Regência de Argel, naõ poderão ser npprehen-
didas debaixo de pretexto algum, que se queira all<-gar.
O mesmo se praticará da parte dos Portuguezes a respcilo
dos effeitos, que se encontrarem a bordo de qualqurr rm.
baracçaõ Argelina.
Politica. 175

Da mesma sorte os Vassallos e Fazendas pertencentes a


qualquer das partes contractantes, que se encontrarem a
bordo de embarcação inimiga de qualquer das mesmas
partes contractantes, seraõ respeitadas e postas em
liberdade pela outra parte; mas naÕ poderão empre-
hender a sua viagem sem o correspondente salvo-con-
dueto. Se acontecer porém, que este se desencaminhe,
nem por isso as ditas pessoas seraõ reputadas escravos;
antes pelo contrario, certificando em como saõ vassallos
de qualquer das altas partes contractantes, deverão ser
postas immediatamente em liberdade.
7. Se algum navio Portuguez, perseguido do inimigo,
se refugiar em algum dos portos dos dominios de Argel,
ou debaixo das suas fortalezas; os habitantes defenderão
o dito navio, e nao consentirão que se lhe faça prejuizo
algum. Da mesma sorte se alguma embarcação Portu-
gueza se encontrar com embarcação sua inimiga nos Por-
tos de Argel, c aquella quizer sahir para o seu destino,
nao se permittirá que a sua inimiga levante do porto se.
nao vinte e quatro horas depois da sua partida. O mesmo
se praticará nos portos de Portugal com as embarca-
çoens Argelinas.
8. Se alguma embarcação Portugueza infelizmente
naufragar ou encalhar nas costas dos dominios de Argel,
o governador e moradores daquelle districto deveraó tractar
a tripulação com toda a humanidade, naÕ a prejudicando,
nem permittindo, que se lhe roube coisa alguma; antes
pelo contrario lhe prestarão todo o auxilio para poder
salvar a dieta embarcação com a sua carga ou aquillo,
que for possivel; naõ devendo ser obrigada a mesma tri-
pulação a pagar senaõ o salário ou jornal aquelles, que
nisso se tiverem empregado. A mesma consideração se
terá com qualquer embarcação Argelina, que infelizmente
naufragar nas costas de Portugal.
z 2
17*5 Politica.
9. Os vassallos de Portugal poderão commerciar nos
portos e Estado de Argel do mesmo modo, e com as mes-
mas prerogativas, e pagando os mesmos direitos, que estaõ
estipulados para os Inglezes. Os vassallos Argelinos pa-
garão era Portugal iguaes direitos aos que ali pagaõ os
Inglezes.
10. O Cônsul de Portugal estabelecido nos dominios
de Argel será reputado e considerado, como o Cônsul
Britannico; e poderá ter em sua casa, assim como os seus
criados e todos os mais, que o quizerem praticar, o livre
exercício da sua religião. O mesmo Cônsul poderá julgar
todas as contendas c questoens suscitadas entre os vassal-
los Portuguezes, sem que nisso 6e possaõ intrometter < s
Juizes da Terra, ou alguma outra authoridade; salvo se
a questão for entre Portuguez e Mouro, porque nesse
caso a deverá julgar o governador da Terra na presença
do mesmo Cônsul.
11. O referido Cônsul e seus encarregados naõ poderão
ser obrigados a pagar divida alguma contrahida por vas-
sallos Portuguezes ; excepto no caso de se terem obrigado
a cila por escripto feito de sua letra e signal.
12 Se algum Portuguez fallecer nos dominios de Ar-
gel, todos os seus bens se entregarão ao Cônsul de Por-
tugal, para serem por elle remettidos aos herdeiros do dicto
defunto.
13. Succedendo qunlquer contravença, ao presente trac-
tado <Ia parte dos vassallos de Portugal, ou dos vassallos
de Argel, nem por i-so se dissolverá o presente tractado
de paz estabelecido entre as duas naçoens ; mas examinan-
do* se a origem de similhante acontecimento, se dará á
parte offendida a condigna satisfacçaõ.
14. No r MI de se declarar a guerra entre as duas altas
partes contratantes (o que Deo» naõ permitt») naõ se com-
metteraõ hostilidades de parte a parte, senaõ passados seis
Politica. 177
mezes depois da dieta declaração : neste intervallo pode-
rão o Cônsul de Portugal e todos os vassallos do mesmo
Reino retirarem-se com todos os seus bens ; assim como
os vassallos Argelinos, que estiverem em Portugal, para o
seu paiz; sem que se lhes possa por o menor embaraço.
15. Tudo o mais naÕ expecificado nos precedentes ar-
tigos será regulado pelos artigos de paz estabelecida entre
S. Magestade Britannica, e a Regência de Argel.
16. E para que seja firme, e durável este tractado acei-
taõ as duas altas partes contractantes por medianeira e
fiador da sua observância o Rey da Gram Bretanha; em
prova do que o assigna Mr. Acourt, Enviado Extraordi-
nário e Ministro Plenipotenciario da Corte de Londres,
junctamente com os mencionados Enviados de Portugal, e
deste se extrahiaraõ duas oopias, uma para o Soberano do
dicto Rejno de Portugal, e outra para ficar em poder do
seu Cônsul residente em Argel.
Foi ajustado e escripto em Argel aos 14 de Junho, de
1813.
(Corresponde aos 15 de Jomadi-tani de 1228 da Egira.)
JOZE JOAQUIM DA R O S A , Enviado de S. A. R. o Prin-
cipe Regente de Portugal. Como Medianeiro e Fiador,
W I L L I A M ACOURT, E . E. e M. P. de S. M. Britannica.
Fr. JOZE DE SANTO ANTÔNIO MOURA, E . de S. A. R.
o Principe Regente de Portugal.
E sendo-nos presente o mencionado tractado de paz, cu-
jo theor fica acima inserido ; e bem visto, considerado, e
examinado por nós tudo o que nelle se contêm, bem como
a carta, que o Bey de Argel, nos escreveo, e serve de rati-
ficação de sua parte, o approvamos, ratificamos, e confir-
mamos assim no todo, como em cada uma das suas cláu-
sulas, e estipulaçoens ; promettendo em fê, e palavra Real
do Augusto Principe Regente de Portugal, cuja Soberana
Pessoa representámos no Governo destes Reinos, observa-lo,
c cumpri-lo in viola velmente, e faze-lo cumprir, e obser-
173 Politica.
var, sem permittirmos que se faça cousa alguma em con-
trario por qualquer modo que possa ser. E em testemu-
nho, e,firmezado sobredito, fizemos passar a presente por
nós assignada, sellada com o sello grande das armasReaes;
e referendado por D. Miguel Pereira Forjaz, do conselho
de S. A. R., Tenente-general dos seus Reaes Exércitos, e
Secretario dos Negócios da Marinha, Estrangeiros, e da
Guerra. Dada em Lisboa no Palácio do Governo aos 13
de Julho do Anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Christo de 1813.
Bispo Patriarca Eleito.—Marquez de Olhaõ.—Marquei
de Borba.—Principal Sousa.—Carlos Stuart.—Ricardo
Raimundo Nogueira.—D. Miguel Pereira Forjaz Joaõ
Antônio Salter de Mendonça.
(L.S.) D. MIGUEL PEREIRA FORJAZ.

Na Corte do Rio de Janeiro se publicou o seguinte


Alvará.
Eu o Principe Regente faço saber aos que o presente
Alvará com força de lei virem, que tendo sido creado
em mil seiscentos c quarenta e um o tribunal da Juncta
dos Tres Estados, e começando a ter exercicio em mil
seiscentos e quarenta e tres pelo Decreto de dezoito de
Janeiro do mesmo anno, com o fim de administrar os
impostos da décima, usuaes, real d'agoa, direito novo da
Chancellaria, caixas de assucar, e outros estabelecidos
para sustentar a gloriosa guerra da feliz acclamaçaõ, que
restaurou a monarquia, e entender no pagamento dos
soldos, fardamentos, muniçoens de boca, fortificaçoens, e
mais depezas da referida guerra, e na assistência dos
ministros nas cortes estrangeiras; o que pareceo neces-
sário, e útil até que pelos novos regulamentos se reduzio
a sua administração á intendencia do real d'agoa, direito
novo, restos dos bens de reprezalia, e caudelarias, que
lhe tinhaõ sido annexadas pelo decreto de seis de Maio de
Politica. 179
mil seiscentos, e setenta e seis : representando-me os Go-
vernadores do Reyno, que este tribunal era um dos que se
podia escuzar á vista dos poucos objectos, que lhe estavao
agora incumbidos, sem damno, ou inconveniente do
Real serviço, ou do público, como eu fôra servido re-
commendar-lhes, por carta Regia de dois de Janeiro de
mil oitocentos e nove, e por aviso de quatro de Julho de
mil oitocentos e onze, expedido pela Secretaria de Estado
dos negócios estrangeiros e da guerra: tendo consideração
a todo o referido, e desejando simplificar quanto for pos-
sivel a administração pública, diminuindo-se os empre-
gados, que forem de sobejo, para se applicarem a outros
objectos de igual, ou mais interesse para o Estado, e re-
duzir a menos a despeza publica, para que hajaõ mais
rendimentos com que aceudir ás grandes sommas neces-
sárias para a sustentação da guerra, em que se acha
empenhada a minha real coroa, a fim de salvar o estado
de taõ injusta, e violenta oppressaõ: tendo ouvido o pa-
recer de pessoas doutas, e zelosas do meu Real serviço, e
conformando-me com o dos Governadores do Reino, sou
servido extinguir o referido tribunal, e ordenar que passe
para o Conselho da minha Real Fazenda a inspecçaõ sobre
os restos dos direitos reaes, que ainda estaõ a seu cargo,
e a das caudelarias para o conselho da guerra interina-
mente, e em quanto naõ dou sobre este objecto novas
providencias: determinando outrosim, que os deputados,
fiscal, secretario e mais officiaes, que actualmente servem,
e vencera ordenados por inteiro, percebaõ daqui em
diante ametade, em quanto alguns destes naõ forem em-
pregados nas secretarias do conselho da fazenda, sendo
hábeis para este serviço, e necessários segundo o regula-
mento dellas.
Pelo que mando á meza do Desembargo do Paço ; Presi-
dente do meu Real erário ; Regedor das justiças; conselho
da minha Real fazenda; Governador da relação, e casa
ISO Politica.
do Porto ; e a todos os tribunaes, ministros de justiça, «
mais pessoas a quem pertencer o cumprimento deste
Alvará, o cumpraõ, e guardem sem embargo de quaes-
quer leis, ou disposiçoens cm contrario, que todas liei
por derogadas, como se de cada uma dellas fizesse ex-
pressa mençaõ. E valerá como carta passada pela chan-
cellaria, posto que por ella naõ ha de passar, e que o
seu effeito haja de durar mais de um anno, sem embargo
da ordenação em contrario. Dado no Palácio do Rio de
Janeiro em oito de Abril de mil oitocentos e treze.
PRÍNCIPE
Conde DE AGUIAR.

HESPANHA.
Extracto do Manifesto da Regência de Hespanha, re-
lativo ao procedimento do Núncio de S. S. nestes Reynos,
datada de 8 de Julho, e assignado L. de Bourbon,
Cardeal Scala, Arcebispo de Toledo, Presidente.
A Regência faltaria á mais essencial de suas obriga»
çoens, se naõ puzesse fim ás perigosas manobras do
Núncio de S. S. nestes Reynos, D. Pedro Gravina, Arce*
bisgo de Nicea. O seu procedimento politico tem, á
muito tempo, sido tal, que a Regência [quasi julga ser
necessário desculpar-se de seu longo soffriraento : porem
em quanto havia alguma sombra de esperança de que
elle descubriria o M-U erro, e naÕ excederia os limites de
seus legitimos poderes, a Regência crêo que devia respei-
tar o nome, e dignidade deste prelado, e a representação
do Sancto Padre, por quem tinha sido enviado.
A Regência, influída por estas poderosas consideraçoens
trabalhou por dissuadillo de seu propósito; primeiro coro
argumentos, depois com representaçoens e queixas.
Vendo a inutillidade destes meios, lhe intimou, ainda que
com muito pezar, que se continuasse ein seu temerário
procedimento, se veria na necessidade de o fazer t»ahif
Politica. I8l
destes reynos. O Núncio porém continuou obstinada-
mente em seu modo de proceder antigo, proceder incom-
patível com a tranqüilidade publica, e destruidor da
authoridade do Governo; e a Regência, por tanto, se v>.o
na dura, mas indispensável necessidade de pôr era execu-
ção, o extermínio cora que o tinha ameaçado; e a occupa-
çaõ de suas temporal idades, como imperiosamente reque-
ria a sagrada ley da conservação do estado, e dos indi-
víduos.
O tribunal da Inquisição, introduzido nestes reynos
pelos Reys Catholicos l). Fernando e D. Isabel, foi abo-
lido pelas Cortes, depois de maduro e deliberado exames
ellas estabeleceram em seu lugar a ley das partidas; e
ordenaram que o decreto e manifesto, em que elles expli-
cavam as justas e poderosas razoens, que tinham motivado
a abolição deste tribunal, fosse lido em todas as parochias
da monarchia ao tempo da celebração da Missa Conven-
tual, para informação do Povo. O Núncio pretendeo,
que a Inquisição naõ podia ser abolida sem o consenti-
mento deS k S.; e para este fim, fez uma representação á
Regência, aos 5 de Março, escrevendo no mesmo tempo
ao Bispo de Jaen, e aos Cabidos das Sées vacantes de
Granada e Malaga, declarando-Ihe a sua opposiçaõ ao
decreto, e manifesto, e ex liortando-os a conformar-se a
seu dictado, encarregando-os de proceder com o maior
segredo.
A Regência, aos 23 de Abril, admoestou ao Núncio,
por via do Ministro de Graça e Justiça, a que naõ ex-
cedesse a sua authoridade, visto que qualquer excesso a
este respeito, de sua parte, seria contrario aos direitos e
privilégios da Coroa; e para previnir toda a impressão
desfavorável, publicou um manifesto, dirigido aos prela-
dos, e cabidos, em que os informava do procedimento do
Núncio.
O Núncio, pela intervenção do Secretario de Estado,
V O L . X I . No. 63. 2 A
182 Politica.
transmittio ao Governo, aos 28 de Abril, uma nota, em
que expressava a sua admiração desta resolução, e qoe
ella lhe fosse communicada pelo Ministro de Graça e
Justiça, e naõ pelo Secretario de Estado. Esta nota foi
acompanhada de copias de cartas, que elle escreveo ao
Bispo de Jaen, e aos cabidos de Granada e Malaga, e de
uma resposta á nota official, que lhe foi communicada pelo
Ministro de Graça e Justiça, que contém as seguintes
expressoens, suficientemente fortes para ofender a Re-
gência :—" Que elle naõ podia deixar de crer que éra
indispensável obrigação sua obrar, como tinha feito, na
qualidade de Legado do Papa, e no desempenho de seu
ministério." " Que ainda que elle nada desejava mais do
que a paz e tranqüilidade do reyno, e ainda que fosse
contrario ao seu character intromet ler-se em outros ob-
jectos mais do que os pertencentes aos deveres de sua
legaçaõ, com tudo, era matérias ecclesiasticas, elk éra
obrigado a entrar naquella conrespondencia, e communi-
caçaõ, que delle requeriam os deveres de seu officio." E,
como se estas palavras naõ fossem sufficientes para offender
a Regência, elle accrescenta, " que se o procedimento de
se conrespondcr com os reverendos Bispos, e obrar como
d'antes tinha feito, dava offensa ás Cortes, ellas poderiam
obrar, a respeito delle, como bem lhes aprouvesse; pois
elle cria, que o seu procedimento merceria a approvaçaõ
de S. S.; e que lhe daria grande satisfacçaõ o saber, que
mantendo o character de quem representava, o seu Le-
gado tinha olhado para suas temporalidades com a maior
indifferença." Respondeo-se-lhe em um officio de 5 de
Mayo, que a sua admiração teria sido justa, se a nota
do Ministro de Graça e Justiça tivesse sido em resposta á
sua Memória de 5 de Março, que elle apresentou como
Núncio; mas que, nesta nota, aquelle objecto se tinha
unicamente mencionado accidentalraente, e relativamente
ás cartas, que elle tinha escripto como Arcebispo de
Política. 183
Nicea ao Bispo e Cabidos, exortando-os a demorar, e até
mesmo recusar obedecer ao decreto das Cortes; e referin-
do-se ás expressoens que tinham attrahido a attençaõ das
Cortes, e sobre que se pedio uma explicação. Na sua
resposta de 9 de Mayo, elle continuou a insistir no que
tinha dicto antes, que se considerava obrigado a manter
conrespondencia com os bispos e cabidos, e receber delles
explicaçoens, e ellucidaçoens, e a exhortallos ao preen-
chimento de seus respectivos deveres, e ao juramento que
tinham prestado de defender os direitos da igreja, e da
Sancta Sée Apostólica; que tal correspondência éra ne-
cessária para o devido desempenho de suas funcçoens
como Núncio, e éra authorizada pela practica de todas
as Igrejas; que com este objecto fôram dirigidas as cartas
aos Bispos, e Cabidos, incumbindo-lhes o segredo, para
manter a ordem e tranqüilidade publica. O Núncio
accrescenta, que a maior parte dos Bispos, mesmo os que
residiam em Cadiz; tinham declarado a sua opinião
n'esta matéria, na esperança de que, como Legado do
Papa, elle tomaria aquella parte que julgasse próprio ; e
que, portanto, elle tinha sido movido a dar o seu con-
selho e instrucçaõ; aos prelados e cabidos, de maneira
própria seu officio, e que continuaria no mesmo procedi-
mento todas as vezes que se tractasse de similhantes ob-
jectos.
Esta declaração cortou todas as esperanças de que o
Núncio se deixaria de sua determinação de offender os
direitos e privilégios de nosso captivo Rey : e ainda que
a Regência por algum tempo se restringto, em conseqüên-
cia do respeito ao Papa, e da estima e affeiçaõ que tem
por seu Núncio ; com tudo, depois de ter ouvido a opi-
nião do Conselho de Estado em defeza dos imprescripti-
veis direitos e privilégios da coroa, resolveo, como as
leys a authorizam, e a historia de todas as naçoens Catholi-
cas, a ordenar que se communicasse ao Núncio a seguinte.
2 A2
184 Politica.
Nota do Ministro de Estado, communicando ao Núncio a
sua expulsão destes Reynos, e a occupaçaõ de suas tem-
poralidades nelles.
Cadiz, 7 de Julho, 1813.
SENHOR !—O procedimento politico de V- Ex»., a res-
peito do decreto das Cortes geraes e extraordinárias, por-
que se abolio a Inquisição, obrigou a Regência do Reyno
a adoptar as medidas que julgou necessárias, para segurar
o cumprimento de suas ordens, e prevenir que a tranqüi-
lidade publica fosse perturbada. Ao mesmo tempo, afim
de precaver a repettiçaõ do que tinha succedido, S. A.,
por via do Ministro da Graça e Justiça, fez a V. Ex*. as
communicaçoens precisas; intimou que se V. Ex*. naõ
desistisse de seus desígnios, S. A. se verta na necessidade
de vos fazer sahir do Reyno, e tomar posse de vosssas tera-
poralidades.
A resposta, que e V. Ex*. deo aos 28 de Abrd, diri-
gida ao Ministro de Graça e Justiça, foi uma declaração
solemne de que estáveis resolvido e decidido a obrar da
mesma maneira, no uso dos poderes, que vós crieis per-
tencer-vos. V. Ex*. repetio uma declaração similhante,
na nota que foi servido dirigir-me aos 9 de Mayo, respon-
dendo á minha de 5 do mesmo mez, em que eu rogava de
V. E x•*. uma explicação official a nota de 28 de Abril.
Olhando para tudo isto, naõ apparece razaõ alguma
porque S. A. pudesse duvidar sobre o que devia obrar, e
V. Ex*. naÕ podia também duvidar do êxito de taõ des-
agradável negocio. S. A. porém desejou ouvir o Conse-
lho de Estado, a fim de proceder com maior exactidaõ; e
de propósito deixar passar todo o tempo que julgou ne-
cessário ; para ver se V. Ex". considerando o negocio com
espirito mais calmo e sem prejuizo, revogaria as suas no-
tas sobredictas, e farta uma declaração contraria ao seu
coutheudo. Era este o desejo de 8. A. como único meio
que havia de impedir que chegasse a dora extremidade
Politica. 185
a que se via obrigada, em defeza dos privilégios da coroa;
porém, como naõ restam nem esta esperança, nem outro
algum meio, S. A. me tem ordenado que vos envie, como
tenho a honra de fazer, os passaportes do custume, para
que V. Exa. saia destes reynos; e que vos informe que
procederá á occupaçaõ de vossas temporal idades nelles.
S. A. desejando conservar a V. E x \ , naõ obstante tudo
quanto tem succedido, a consideração devida a vossa dig-
nidade e representação ; e desejando igualmente, que V.
Exa. faça a sua viagem com commodidade e conforto,
tem ordenado que a fragata armada a Sabina, seja prepa-
rada para transportar a V Exa. para onde quer que de-
seje partir.
Ao mesmo tempo que communico a V Ex*. esta reso-
lução, tenho a honra de offerecer a V. E x \ os meus sin-
ceros desejos de vos servir com a mais prompta e obsequi-
osa attençaõ.
Deus guarde a V. Ex*. muitos annos.
PEDRO LABRADOR.
Ao Núncio de sua Sanctidade.

DOCUMENTOS RELATIVOS A DEMISSÃO DO NÚNCIO,


PARA FORA D08 DOMÍNIOS HESPANHOES.
N". 1. Representação que o Núncio de S. S. entregou á
Regência do Reyno, em data de 5 de Março.
O Núncio de S. S. soube com a maior amargura de seu
coração, que V. A. está a ponto de circular, e publicar o
manifesto, e decreto do Augusto Congresso, pelo qual
S. M., declarando o tribunal da Sancta Inquisição incom.
pativel com a constituição politica da monarehia, sub-
stitue outro, que possa proteger com sabias e justas leys,
a Religião Catholica, Apostólica, Romana, única verda-
deira, que com exclusão de toda a outra, tem taõ pia-
mente approvado.
Ninguém, ainda mesmo d'entre vassalos naturaes do
186 Politica.
por , respeita mais o Augusto Congresso, ou observará
mais puncttialmcnte as suas sabias regulaçcens : porém
tracta- e agora de objecfo meramente ecclesiastico, da
maior gravidade e transcendência, em que se interessa a
Religião, c de que se podem seguir os mais irreparáveis
damnos. A supressão ou abolição de um tribunal esta-
belecido peio Summo Pontifice, no exercicio da sua pri-
meira e suprema authoridade na Igreja, para tomar co-
nhecimento de todas as matérias puramente espirituaes,
como he a conservação da lê catholica, e a cxtirpaçaÕ
das heresias, deixando sem nenhum effeito a jurisdicçaõ
que S. S. lhe tem delegado. Neste caso, estando encarre-
gado pelo breve da sua nunciatura a applicar-se com a
maior attençaõ aos negócios da fé Catholica, e da Sancta
Igreja Romana, obrando como julgasse conveniente para
o bem da Igreja de Deus, conforto e edificação do povo ;
e honra da Saneia Seé ; elle faltaria a todas estas sagradas
obrigaçoens, se naõ declarasse a V A. com o maior res-
peito, mas com a sagrada liberdade de um legado Aposto,
lieo. e representante do Papa, que a abolição da Inquisição
pôde ser mui prejudicial á religião, e que offcndc os direi-
to do primado do Pontifice Romano, que o estabeleceo
como útil e necessário ao bem da Igreja c aos Feis.
I Naõ se diminuirá o respeito c obediência, que todos os
Christaõs devem ás decisoens do vigário de Jesus Christo,
r cabeça visível da Igreja ; quando se lhes diz, na mesma
igreja, e no meio do Sancto Sacrifício da Missa, que um
tribunal estabelecido, continuado, defendido, e protegi-
do, com as mais,severas penas, pelos Papas de tres sécu-
los, he naõ somente inútil mas prejudicial á Religião, e
co trario ás sabias e justas leys de um reyno Catholico?
Se S. S. gozasse de sua plena liberdade eu me contentaria,
com lhe communicar esta oceurrencia; porém como por
desgraça nossa elle está no captiveiro, que lamentamos,
me incumbe indispensavelmente o representar em seu
Politica. 187
nome contra uma inovação de tal importância á igreja de
Hespanha, pela qual se ferem os direitos do Supremo Pas-
tor da Igreja Universal, e Vigário de Jesus Christo, espe-
rando que V. A. R. com a sua conhecida piedade e con-
summada prudência tomará aquellas medidas que pude-
rem induzir o Augusto Congresso, que tanto deseja pro-
teger a sancta religião que professamos, a suspender a ex-
ecução e publicação do seu decreto, ao menos até que, em
tempos mais felizes, possa obter a approvaçaõ e consenti-
mento do Pontifice Romano, a quem mais particularmente
pertence determinar estas matérias ecclesiasticas e reli-
giosas. Nada disto pode escapar a sabedoria de S. M : e
sua grande piedade naô levará a mal, que no desempenho
do meu ministério com toda a reserva conveniente, e com
a mais humilde subimissaÕ, eu traga ante a sua alta con-
sideração este respeituoso requirimento, em uma matéria
em que se interessa o bem da igreja universal, e princi-
palmente a da Hespanha, a felicidade da monarchia, e a
honra, e propriedade de S. M., por quem fervorosa c in-
cessantemente offereço as minhas oraçoens.
Deus guarde a V- Ex a . muitos annos.
O ARCEBISPO DE IVICEA,
Núncio de S. Sanctidade.
Cadiz, 5 de Março, 1813.
Ao Presidente do Supremo Conselho de Regência.

N". 2. Carta do Núncio ao Bispo de Jaen.


Muito estimado Senhor e Irmaõ!—Julguei que era um
dever de meu ministério, fazer uma representação á regên-
cia, sobre os decretos do Augusto Congresso, que se man-
daram circular e imprimir, e pelos quaes se abole a Sancta
Inquisição. Dou a Vossa Eminência esta informação,
para guia de seu procedimento, e ao cabido desta capi-
tal, sede vacante, com a approvaçaõ dos Senhores bispos
residentes neste lugar.
188 Politica.
Vos os cxecutareis devidamente depois da cuidadosa, e
madura consideração, que requer um objecto de tanta im-
portância, e conseqüência.
A prudência de V. Eminência lhe suggerirá o fazer o
uso que lhe parecer desta informação.
Deus guarde a V. Eminência muitos annos.
O ARCEBISPO DE N I C E A .
Cadiz, 5 de Março, 1813.
Ao Illustrissimo Bispo de Jaen.

N°- 3. Carla do Núncio aos Cabidos de Granada e


Malaga.
I LI.lf.TH ISslMOS E E S T I M ADISS1MOS S E N H O R E S ! OMít-
ni festo das Cortes, c o decreto para a abolição do Sancto
Tribunal, a que se hn de substituir outro, com o titulo de
Protector da Fé estaõ ao ponto de serem circulados, para
serem lidos pelos senhores Bispos nos tres domingos se-
guintes, ua estação da Missa Conventual. Os senhores
bispos que estaõ neste lugar, fazem tençaõ de responder,
que, cm um objei to de tanto pezo, c taõ interessante, elles
naõ podem proceder á execução, sem consultar os seus ca-
bidos, e assim daraõ tempo a explicaçoens. O cabido
desta Igreja, sede vacante, tem também recusado obedecer,
fundando a sua recusaçaõ, na representação de suas pa-
rochius, com outras razoens, que se allegaraõ cm sua res-
posta. Tenho julgado que éra do meu dever fazer uma
representação em nome de S. S., oppondo-me a este pro-
cedimento, u menos que elle naõ receba previamente o
consentimento ou approvaçaõ do Papa; ou, em sua
auzencia, de um Concilio Nacional. Parece-me necessá-
rio notificar isso a V Eminência, para guia de seu pro-
ceder, que esperando que em uma matéria de tanto pezo,
será conforme aos outros ordinários, fazendo nisto um im-
portante sei viço á religião, á Igreja, e ao nosso Sane is-
simo Padre, cuja authoridade e direitos, na minha
opinião, se acham feridos, e a dignidade episcopal pouco
Politica. 189
favorecida. Tudo isto requer, como a prudência de V-
Eminencia muito bem sabe, a maior precaução ; e com a
mesma precaução vos communicarei qualquer cousa, que
sirva de illuminar os vossos procedimentos.
Deus guarde a V. Eminência muitos annos.
O ARCEBISPO DE N I C E A .
Cadiz, 5 de Março, de 1813.
Ao Illustrissimo Deaõ e Cabido da Sancta Igreja de
Malaga.

N°. 4. Nota official do Ministro de Graça e Justiça ao


Núncio.
EXCELLENTISSIMO S E N H O R ! — A Regência do Reyno
pensou, que V. Ex"., naÕ se esquecendo do character
publico de Legado de S. S., de que está revestido, juncto
a uma Naçaõ igualmente heróica e religiosa, teria conti-
nuado dentro de seus limites ; e naõ abusaria da consi-
deração, que o Governo Hespanhol tem mostrado á sua
missaõ, conservando-o nella, naõ obstante que o captiveiro
do Sancto Padre, e o do nosso amado Rey Fernando
7mo. e outras circumstancias, o teriam authorizado a duvi-
dar de sua legitimidade. S. A. esperava isto, em conse-
qüência de motivos taõ respeitáveis, e que deviam ter tanta
influencia em fazer que V Ex". regulasse o seu procedi-
mento particular conforme a elles. Porém S. A. tem
visto, com admiração, o que V Ex*. praclicou no negocio
da Inquisição aos 5 de Março, na Nota que dirigio ao
Presidente do Supremo Conselho de Regência, como le-
gado de S. Sanctidade : no mesmo dia em que V. Ex*.
escreveo, como Arcebispo de Nicea, aos cabidos de Ma-
laga e Granada, e ao Bispo de Jaen, incitando-os, parti-
cularmente aos dous primeiros, a que demorassem, e mes-
mo a que recussassem executar os decretos, expedidos por
S. M., relativamente ao estabelicimenlo de Tribunaes,
Protectores da F é , em lugar da abolida Inquisição; e á
VOL. X I . No. 63. 2B
190 Politica.
publicação do Manifesto das Cortes nas parochias. V. E.
naõ se contentando com escrever estas cartas, que desen-
caminhavam a opinião publica, e que podiam ter causado
uma divisão em ponto taõ importante ; V- E. igualmente
alem disto, como naõ obteve a reserva que recommen-
dava na sua Nota, ao mesmo tempo a aconselhou aos ca-
bidos e Prelado, para que elles o considerassem como au-
thor de um plano, destinado a deixar a authoridade temporal
sem emprego, debaixo da promessa de que cominunicarieis
qualquer cousa que pudesse oceurrer, e lhe darieis infor-
maçoens, para os seus recíprocos procedimentos futuros.
Esle procedimenlo, taõ contrario aos direitos das naçoens,
excede os limites de vosso character publico. V- E. se
aproveitou de sua protecçaõ como prelado estrangeiro,
para organizar a desobediência dos subditos. S. A. naÕ
pode ver com indtfferença este procedimento; e tanto
menos, quanto em defeza delle se allega a necessidade
de fazer um importante serviço á Religião, á Igreja, e ao
nosso Sanctissimo Padre, cuja authoridade e direitos, na
opinião de V. E.; se acham prejudicados por estes decre-
tos, e a digninade episcopal pouco favorecida. S. A.
considera agora as lamentáveis conseqüências, que se po-
deriam seguir para a segurança do Estado, das instiga-
çoens de V Ex., sustentadas, por motivos de tanta influ-
encia ; e a obrigação em que ella se acha de defender o
Estado, e proteger a religião, a authoriza a banir a V E.
destes Reynos, e confiscar as suas temporalidades ; porém,
o desejo de manifestar o respeito, e veneração, que a Na-
çaõ Hespanhola sempre consagrou á pessoa do Papa, e
também o desejo de naõ augmentar a sua afflicçaó, restrin-
gio a S. A. de dar este passo, limitando-se unicamente a
informar-vos, que desapprovava tal procedimento, na se-
gurança de que V E. para o futuro se limitará aos ter-
mos de sua Legaçaõ, e se naõ aproveitará do seu cha-
racter publico para entrar, como prelado cstraDgciro, na»
Politica. 191
mesmas ou similhantes transacçoens, mas sim mera-
mente fazer as suas representaçoens ao Governo, por meio
do Secretario de Estado. Na idea de que se V E . se
se esquecer do seu dever, S. A. se achará na penosa mas
inevitável necessidade de fazer uso de toda a sua autho-
ridade no desempenho dos deveres, que obrigou com j u -
ramento a prencher, quando recebeo o seu officio.
Por sua ordem communico isto a V- E. para vossa in-
formação, e para governo de seu comportamento.
Deus guarde a V E . muitos annos.
Cadiz, 23 de Abril, de 1813. A. C. M A N U E L .
Ao Arcebispo de Nicea.

N". 5 . Resposta do Núncio á Nota official do Ministro de


Graça e Justiça.
E X C E L L E N T I S S I M O S E N H O R !—O Arcebispo de Nicea,
Núncio de S. S., em resposta á Nota official de V E . de
23, em que se diz, que S. A. naõ está satisfeito com o pro-
cedimento que elle tem observado, a respeito da Inquisi-
ção, quanto âs cartas que elle escreveo por esta occasiaõ,
naõ se pode dispensar de representar a V . E . para infor-
mação de S. A., que elle creo, nestas circumstancias, que
de dever e necessidade éra obrigado a fazer o que fez, em
qualidade de Legado do Papa, e no preenchimento e de
seu ministério.
Ninguém nunca desejou nem deseja mais a paz, tranqüili-
dade, e prosperidade destes Reynos ; e lie inteiramente op-
posto a seu character, tanto publico como particular, intro-
metter-se em outros negócios, que naõ sejam os pertencentes
á sua legaçaõ; mas elle naõ pôde allegar ignorância, naõ fa-
zendo o que lhe pertence; e quando os objectos dizem
respeito a matérias ecclesiasticas elle se sente obrigado a
usar de todo o cuidado, e ter aquellas conrespondencias, e
communicaçoens, que saõ taõ próprias de seu officio.
2B2
192 Politica.
Sc este comportamento causa algum descontentamento a
S. A. elh poderá adoptar a determinação que for servida,
no convencimento de que se continuará no mesmo, crendo
que este comportamento merecerá a approvaçaõ de S. S.,e
que, alem disto, lhe servirá de grande satisfacçaõ o s;iber,
que, em defeza de sua representação, seu Legado olha com
a maior indifferença para as temporalidades, imitando o des-
interesse, de que elle tem dado a todo o mundo o mais illus-
tre e heróico exemplo.
Deus guarde a V. E. muitos annos.
Cadiz, 28 de Abril. P . AncEBispo DE N I C E A .
A. S. E. o Ministro de Graça e Justiça.

N: 6. Nota do Núncio ao Ministro de Estado.


f adiz, 28 de Abril.
EXCELLENTISSIMO S E N H O R !—O Arcebispo de Nicea,
Núncio de S. S., tem recebido uma carta do Ministro
de Graça e Justiça ; e depois d* a ter lido, ficou
surprendido de que a communicaç.iõ dos sentimentos da
Regência, relalivos a seu procedimento, lhe nnõ fosse
feita por vossa via: pois he somente com vosco, e em to-
das as oceasioens, que o Núncio tem tido i ommunicaçuõ
ministerial; e tanto mais quanto a dieta carta foi tinnsmit-
tida ao abaixo assignado, em conseqüência de uma repre-
sentação entregue nas maõs da Regência, e d.i qual, para
que naõ faltasse á devida attençaõ, informou a V. E. c lhe
c; tregou uma copia.
O abaixo assignado, naõ obstante isto, deo ao sobre-
dicto ministro a resposta que julgou conveniente; c para
que V- E. esteja informado de tudo que se passa, tem u
honra de incluir uma copia da dieta carta, e sua resposta,
c da carta que elle escreveo á alguns cabidos, e a um bispo,
que parece terem dado occasiaõ á questão.
O abaixo assignado se lisongea de que toda a outra
commuuicuçaõ da Regência, que lhe possa chegar pelo
Politica. 193
mesmo meio, será concebida nos mesmos termos de urbani-
dade e polidez, que elle tem taõ freqüentemente experi-
mentado da parte de V. E.
Com esta occasiaõ tem a opportunidade de repetir as
expressoens da mais absoluta e sincera estimação. E me
confesso. Vosso muito obediente e devotissimo servo
O ARCEBISPO JIE N I C E A .
Ao Snr. D. Pedro Labrador Primeiro Ministro de Es-
tado.

N". 7. Resposta do Secretario de Estado á Nota do Nún-


cio de S. S.
Cadiz, 5 de Mayo, 1813.
EXCELLENTISSIMO SENHOR!—Tenho participado á Re-
gência a Nota que me fizestes o favor escrever aos 28 de
Abril próximo passado, em que pareceis admirado de que
outra vos fosse transmittida pelo Secretario de Graça e J u s -
tiça, quando a Secretaria de Estado, que .agora eu dirijo,
he o único canal ministerial das relaçoens com o Núncio
de sua Sanctidade.
A admiração de V E . se augmenta, considerando que
a nota official, a que vos reíeris, vos foi communicada, era
conseqüência de uma memória, que enfregastes á Regência,
e de que me mandasteis uma copia, a fim de naõ faltar á
attençaõ devida, como V- E. tem a bondade de se expres-
sar, em sua nota.
S. A., considerando o que ella contém, e referindo-se a
todas as antecedentes, me tem ordenando responder a V. E.
que a vossa admiração seria justa, se a Nota official, que
vos foi mandada pelo Ministro de Graça e Justiça, tivesse
sido em resposta da Memória, que V E . apresentou a
S. A., « por causa de uma opposiçaõ, que V. E . como
Núncio, se considerava obrigado a fazer. V. E . , reflec-
tindo, se convencerá immediatamente, que naquella nota
official naõ se responde á vossa Memória; c somente por
194 Politica.
accidente no objecto da Nota Official, que he somente as
cartas que vós acrevestes, como Arcebispo de Nicea, ao
Bispo de Jaen, e aos Cabidos de Malaga, e Granada, ex-
citando-os a deferir, e até mesmo a denegar, a execução
dos decretos das Cortes Geraes e Extraordinárias.
Se o ter ficado sem resposta a Memória apresentada por
V- E. como Núncio, á Regência, conduzio ao erro de
suppôr que a Nota Official do Ministro de Graça e Jus-
tiça éra uma resposta a ella, permittime observar a V E.
que naturalmente aquella Memória naõ podia ter resposta,
em conseqüência de naõ ter sido apresentada na forma
prescripta pelo custume uniforme de todos os Gabinetes
da Europa ; isto he, pelo canal, que V- E. contèssa, um
sua Nota, ser o único por que os Núncios da Papa tem
sempre, em todas as occasioens, feito uso de suas relaçoens
ministeriaes cora o Governo.
A apresentação de uma copia do Memorial, que V. E.
pôz em minhas maõs, depois de ter extregue o original á
Regência, foi uma civilidade, que eu reconheço, c pela
qual lhe dou os meus agradecimentos ; mas ao mesmo tem-
po asseguro a V. E . , que somente podia olhar para
aquelle documento, como mero objecto de curiosidade.
Seria fazer injuria ao discernimento de V E., e à ex-
periência, que tendes do systema geralmente adoptado, o
lembrar-vos de que em se algum tempo os Embaixadores e
Ministros estrangeiros communicáram officialmente de di-
reito com o Poder Executivo, somente foi sobre matérias
leves e triviaes ; e, mesmo entaõ, este desvio na regra ge-
ral tem sempre tido más conseqüências.
Por tanto em conformidade da regva usual, a Regência
do Reyno me tem ordenado, que replique á resposta que
V. E. deo aos 28 de Abril, ao Ministro de Graça e Justiça ;
Que S. A. ouvio com prazer, que ninguém mais desejou
ou deseja a paz, tranqüilidade, e prosperidade do Reyno,
do que V. E . , e que be opposto ao seu character publico
Politica. 195
e particular, intrometter-se em outros negócios senaõ os de
sua legaçaõ.
Porem V. E. accrescenta, que naõ pode deixar de fazer
tudo quanto lhe pertence ; e quando o objecto diz respeito
a negócios Ecclesiasticos, se sente obrigado a usar de todo
o cuidado, e ter conrespondencias, e communicaçoens,
que convém a seu offlcio.
Como esta ultima cláusula admitte mais de uma con-
strucçaõ, V. E . se naõ admirará de que, por ordem de
S. A., eu entre em explicaçoens a respeito disso,
e vos rogue que tenhaes a bondade de dizer, qual
he o sentido que V- E. lhe dá. S. A. nunca se op-
poz, nem se opporá a que o Núncio de S. S., exercite as
legitimas funcçoens de sua Legaçaõ ; e faça as represen-
taçoens a S. A., que forem necessárias, por via do Minis-
tro de Estado. Porém se V. E . entende que os seus po-
deres o authorizam a praticar iguaes ou similhantes cui-
dados como os que tem practicado ; e a ter conrespon-
dencias como as que tem tido com o Bispo de Jaen, e
Cabildos de Malaga e Granada, he indispensável a V. E .
o declarallo.
Em uma matéria de tanta importância, a menor duvida
pôde causar sérios males; e nada he mais justo do
que o desejo de saber a extensão que V- E. dá a sous po-
deres. Eu naÕ duvido que V. E. terá a bondade de dar
esta explicação, que requeiro por ordem de S. A. R. N o
entanto rogo-vos que aceiteis as seguranças de muilia par-
ticular e distincta consideração.
Deus guarde a V. E . muitos annos.
PEDRO L A B R A D O R .
Ao Núncio do Sua Sanctidade.

N°. 8. Resposta do Núncio á Nota procedente do Ministro


de Estado. (O original era em Italiano.)
Ex mo . SENHOR !—O Arcebispo de Nicea, Núncio de
j 96 Politica.
Sua Sanctidade, recebeo a estimada carta qne V E. foi
servido enviar-lhe, na data de 5 ; e procede scra demora á
explicação que deseja e lhe requer, de ordem de S. A.
Quando se discutem negócios ecclesiasticos e religiosos,
que sempre tem connexaõ. com os direitos de S. S., e se
tem muitas vezes admitlido e reconhecido, de uma ma-
neira especial, por bulas, breves, e concordatas solctnncs,
quando se propõem introduzir uma inovaçnõ, o abaixo
assignado se considera obrigado, naõ somente a representar
com propriedade ao Governopor meio de V. E., mas tam-
bém a ter romrounicaçocns com os Bispos e Cabidos, sede
vacante, communicaçaõ esta indispensável, para obter as
suas explicaçoens, e para os estimular ao preenchimento
de seus respectivos deveres, e do juramento que elles pres-
taram a elle ou a seus predecessores, de sustentar, isto he,
de defender os direitos da Igreja, e dos Sanctos Apóstolos.
Taes communicaçoens officiaes, alem de serem necessá-
rias para o desempenho do ministério de um Núncio, e
ainda mais de um Legado á latcre, como representante de
S. S., tem sido authorizadas, c até consagradas pela prac-
tica de todas as Igrejas, cm todos os séculos.
A este único objecto se dirigiam as cartas do abaixo
assignado Núncio, ao Bispo de Jaen, e aos Cabidos de
Malaga c Granada, sede vacante ; e quanto ao recom-
mendar-lhc segredo, isto somente queria dizer, que se evi-
tasse a publicidsde, e se tivesse cuidado de manter a
ordem e tranqüilidade: toda a outra interpretação he
imaginaria, inapplicavel, c sem fundamento.
Se tal deve ser o procetlimcnto uniforme de um Núncio
no desempenho de seu ministério o abaixo assignado re-
quer a V E . que preste a sua atlençaõ ás circumstancias
do presente caso, cm que a maior parte do Bispos resi-
dentes em Cadiz declararam os seus sentimentos, e lhe
deram a entender, que esperavam que elle, como Legado
de S. S. tomasse a parte que cresse que lhe convinha.
Política. 197
; Naõ devia elle requerer, e lazer representaçoens, c entaõ
d-u-Uies o conselho que lhes deo ; para que conforme a
sua prudência obrassem o que fosse de direito, havendo-
se-lhes mostrado, as suas obrigaçoens ? Nem se pôde
presumir que a assignatura das cartas poderia causar a
menor duvida, se ellas eram ou naõ escriptas em quali-
dade de uma pessoa particular; visto que, segundo o cus-
tume e practica constante, todas ellas traziam a mesma as-
signatura de Arcebispo de Nicea.
O abaixo-assignado espera que V E. em fim, perce-
berá e reconhecerá o genuíno sentido da ultima cláusula
de sua carta ; e submeítc ao profundo discernimento de
V. E., que nella, assim como nesta declaração, elle obrou
o que lhe incumbiam os deveres de seu ministério.
O abaixo assignado, desejando sempre contribuir de sua
parte á felicidade publica, está sempre prompto a con-
responder-se com V E., a respeito de tudo quanto V. E .
for servido communicar-lhe, para o regulamento de seu
proceder. Elle tem agora somente de repetir, que com
a mais sincera e obsequiosa estimação fica sendo.
De V E x \
o mais devoto
e obediente Criado
Cadiz, 3 de Mayo. O A R C E B I S P O DE N I C E A .
Ao Primeiro Secretario de Estado de S. M. Catholica.

N°. 9, Nota do Núncio ao Secretario de Estado, quei-


xando-se do Ministro de Graça e Justiça.
» *
mo
Ex . SENHOR!—Como o Arcebispo de Nicea pensava
que o objecto de certas cartas tinha sido considerado por
V. E . cora a maior circunspecção, elle naõ pôde entender
com que motivo foi outra vez trazido ante o publico, e
ante as Cortes-, pelo Ministro de Graça e Justiça, qne
alem disso tem avançado proposiçoens terriveis, que pòem
V O L . X I . N o . 63. 2c
j98 Politica.
a perigo a authoridade do Sancto Padre, e de seu
Núncio.
V. E. naõ ijrnora, quaes saõ os sentimentos de modera-
ção que animam o abaixo assignado ; porém elle naõ pode
deixar de representar S. S. vendo o inesperado procedi-
mento do dicto ministro, que devia saber que as mesmas
Cortes tem estabelecido que os negócios ministeriaes naõ
devem ser discutidos em publico.
O abaixo assignado, portanto, requer a V. E. que faça
uma representação a S. A. para que ella se digne applicar
um remédio a tal inconveniente, que pode dar occasiaõ
a outros insultos ; particularmente dos escriptores públi-
cos de periódico;, os quaes, se consid rarem que o abaixo
assignado os olha com menos cabo, nnõ deixarão de
propagar ideas desa vantajosas ao seu procedimento e repre-
sentação, e o obrigarnõ a dar outros passos, que snõ re-
pugnantes aos seus sentimentos, ainda que a isso o forcem
circumstancias imperiosas.
O abaixo assignado submette estas reflexoens á devida
consideração de V. E., e com a mais sincera, e obse.
quiosa estimação repete que be
De V. Ex*. &c.
Cadiz, 11 de Mayo. O ARCEBISPO DE N I C E A .
Ao Senhor D. Pedro Labrador, Primeiro Ministro
d'Estado dcS. M. Catholica.

N°. 10. Replica do Ministro de,Estado á Nola precedente.


Ex"'. SENHOR!—Tenho dado conta á Regência da
nota, que fosteis servido enviar-me, em data de 14 tio
corrente ; referindo a vossa queixa dos termos e expres-
soens com que o Secretario de Graça e Justiça se explicou
nas Cortes Geraes e Extraordinárias, quando fallou das
cartas escriptas por V. £ . , em conseqüência do decreto,
que abole o Tribunal da inquisição. S. A. mc ordena
informar a V. E. que nada hc mais sabido do que, o naõ
Politica. \$çt
poder ella tomar conhecimento do que se passa nas Cortes;
e que por outra parte, se o Ministro de Graça e Justiça
excedesse na sua falia os limites prescriptos nos regula-
mentos das mesmas, naõ ha duvida de que S. M. terta
remediado qualquer excesso ou afíronta, que tivesse ob-
servado, nas palavras do dicto Secretario.
Rogo a V. E. que aceite as expressoens de minha pro*
funda e distincta estimação.
Deos guarde a V. E. muitos annos.
Cadiz, 17 de Mayo. PEDRO L A B R A D O R .
Ao Núncio de Sua Sanctidade.

SUÉCIA.

Resposta ao artigo, que apparecêo na Gazeta de Copen-


hagen, de 4 de Junhe, de 1813, relativamente ás queixas que
a Suécia, e a Gram Bretanha faziam contra a Dinamarca.
(Veja-se o Corr. Braz. Vol. X. p. 711, N". 61.)
N a . 1. A Dinamarca naõ pode conceber justamente, que
tenha direito de ridicularizar a moderação e desinteresse
do Governo Sueco, por pedir somente a alienação da pro»
vincia de Dronthein; porque desde a paz de Yonfcoping,
que a Suécia tem incessantemente dado provas de sua
moderação. A respeito dos violentos actos commettidos
pelos corsários Dinamarquezes contra a sua navegação
( poderia de alguma forma suppor-se que a Suécia sof-
fresse com paciência por alguma continuação de tempo,
que um Estado, que se apresentava como garante do Sys-
tema Continental, privado como estava de sua esquadra, a
empregando em seu lugar piratarias; um Estado, sem
dinheiro, e sem credito, e embaraçado por accum uladas
bancarrotas, governasse, sem regra, ou limitação, a cora-
tnuoicaçaõ commercial, e negocio costeiro da Suécia?
Com tudo, naÕ foi senaõ depois que foram capturados
«nais de cem vasos Suecos, que os nossos corsários tiveram
2 c 2
200 Politica.
ordens de repulsar os piratas, que perturbavam as nossas
costas.
Todas as reclamaçoens, que officialmente fez o nosso
Embaixador, fôram infructiferas: citáram-se ordenanças,
interpretadas por motivos de lucro ; e pelos mesmos motivos
eram empregadas. Os Suecos, queconfiadamentedescança-
vam na paz entre as duas Potências, levantaram a vóz por
tempo considerável, queixando-se a seu Rey contra este
comportamento da Dinamarca; antes que elles usassem
de força, contra actos de violência, que tinham sido leva-
dos a tal extensão, somente pela incredulidade de sua
existência. Se a Dinamarca se concebia, por um mo-
mento, ter titulo a governar imperiosamente o commercio
Sueco, se o tribunal das prezas na Zelândia (taõ conhecido
por sua rapacidade) tomou sobre si o ser explicador dos
tractados entre a Suécia, Rússia, e França, e se atreveo a
definir os direitos da navegação Sueca; he mais do que
provável que estas pretensoens, ainda mesmo sem resistên-
cia, e por sua mesma futilidade, teriam cahido por terra,
se o Gabinete Dinamarquez considerasse por um so mo-
mento a sua situação.
Por tanto, que moderação espera a Dinamarca ? Exa-
minemos o seu comportamento a respeito da Suécia; pelos
25 annos passados. Qual foi o seu comportamento em
1788? O seu Governo, fraco e irresoluto, vacilou na
guerra, em tempo que todas as suas fronteiras occidentaes,
estavam sem tropas, para sua protecçaõ. Assim procedeo,
até que os nossos Arautos a fizeram parar; e assim retro-
cedeo, ao aproximarem-se aquelles valorosos e galhardos
Dalecarlianos, que ainda tem na lembrança os heróicos
feitos de seus antepassados os contemporâneos de Gus-
tavo Vasa. Deo a Suécia o menor motivo de guerra, em
1808 ? Produzio-se nunca uma mais tortuosa declaração
de guerra, e mais ridícula, do que aquella, que entaõ se
publicou para justificar uma guerra injusta? Naõ éra
Politica. 201
entaõ o objecto tornar a ganhar as provincias conquistadas
por Carlos X ? Porque razaõ o Rey de Dinamarca estig-
matizou com o nome de rebelde o primeiro Sueco, que
depois da revolução de 13 de Março, de 1809 lhe foi en-
viado com aberturas de paz ? Regeitando com altivez as
amigáveis representaçoens que se fizeram da parte de
Suécia; e com tudo, quam depressa deixou o seu tom,
quando por fim foi convencido de que o procedimento
imperioso naõ produzia na Corte de Suécia a menor im-
pressão.
A morte do Principe da Coroa, Carlos Augusto, deo ao
depois um campo mais extenso para esperanças. O sys-
tema de corso foi di- continuado por algum tempo, a fim
de que por aquelle meio se ganhasse a boa vontade da
Naçaõ Sueca; mas isto foi meramente um armistício de
Corsários. El Rey de Dinamarca se atreveo entaõ a pro-
por-se a si mesmo para o throno de Suécia. O seu agente,
em Orebro, condescendeo em fazer as mais ridículas li-
sonjas, com a esperança de ganhar alguns votos. Elle
porém depressa descubrio que pregava no deserto. A
eleição de Carlos Augusto desvaneceo todas estas aerias
imaginaçoens, e os corsários, como se podia esperar, reno-
varam as suas piraterias. Por fim, tendo opposto a esta
violência por tempo considerável, mas em vaõ, todas as
representaçoens diplomáticas, os Suecos empregaram
finalmente a força contra estes piratas, e cessou a sua
maligna actividade.
N°. 2 o . Depois de todos os actos irritantes, e dos reque-
rimentos escandalosos e oppressivos da parte da Dina-
marca, que temos recapitulado em breve i seria de ad-
mirar que a Suécia trabalhasse, ainda que fosse á custa da
Dinamarca, por alcançar para si uma situação, que para o
futuro a protegesse contra a possibilidade de aggressaõ da
parte de um reyno, que senipre.se tem mostrado promuj©
a usar do poder, que teui, para destruir a Suécia?
202 Politica.

N". 3*. A Dinamarca falia dos sentimentos nacionaes,


que deviam fazer detestável o requerimento de 23.000
soldados Dmamarquezes, para se porem debaixo do com-
mando do Príncipe cia Co r oa de Suécia. Porem f que
he feito desta sensibilidade nacional, quando o» Dina-
inai quezes saõ informados que, depois de seu Governo ter
preparado quartéis para as tropas Francezas tomarem
posse de Hamburgo, e Lubeck, um dos ajudantes do
Principe de Eckmuhl teve o commando dos Dinatnar-
quezes em uma destas cidades ? Em breve tempo estas
victimas veraõ, qoe as fortalezas Dinamarquezas saõ
guarnecidas por tropas Francezas. Em lugar deste singu-
lar modo de manter a dignidade nacional c* porque naÕ
sahio a campo o Rey de Dinamarca a commandar em pes-
soa as suus tropas contra o Imperador Napoleaõ. O Ga-
binete adquiriria maior honra por isto, do que armando as
suas costas, e fazendo hostilidades contra os navios de
guerra Inglezes, que elle naõ tem poder de destruir ; e
carregando os habitantes de seus paiz com tributos,
quando elles estaõ ja demasiada».ente opprimidos.
A Corte de Copenhagen, se tem sempre inclinado a
acumular tudo sem fazer nada. Agora passou ja o tempo,
em que tal experimento podia ser bem suecedido. A
arte militar se extende agora alem da parada. A politica
tem também tomado uma direcçaõ mais acura, incompa-
tível com atardeza de custumes antiquados.
N". -t". T e m - s e tomado trabalho para convencer os ha-
bitantes dos dous reynos, e os Alliados; qne El Rey de
Dinamarca estava actualmente inclinado á moderação;
porem < que diraõ elles quando forem informados, como
um facto, que o Conde Bemstorfl*, a respeito do qual te
queixam que naõ fôra recebido pelo Governo Inglez, deve
attribuir a repulsa, que encontrou, á extravagância de
mas pretensoens. Naõ obstante os esforços, que fez o
Gabinete Dinamarquês, para peruiaiir & Europa e o s wu»
Politica. 203
mesmos subditos de que desejava a paz com Inglaterra, e
que se uniria à causa commum, e que por um nobre im-
pulso contribuiria para a defeza de Hamburgo, naõ pre-
cisamos senaõ examinar por um momento o comporta-
mento daquelle Gabinete, para nos persuadirmos de que
elle só buscava ganhar tempo, e accommodar as suas ac-
çoens à mudança dos acontecimentos ; e proceder assim
durante o inverno, a fim de poder melhor desmascarar as
suas vistas depois de começarem as hostilidades, e se ter
averiguado o successo da guerra. Por uma parte, o BaraÕ
d'Alquier be detido, com grande assiduidade, em Copenha*
gen, Mr. Waltersdorff em Paris. Os comboys Inglezes que
passaram peloSunda,e os navios de guerra queosaccompa-
nharam, foram atacados pelo fogo das baterias. Por outra
parte o Gabinete de Dinamarca recusa que o Embaixador
Francez faça cantar um Te Deum pela tomada de Moscow, e
refere esta circumstancia ao Ministro Russiano, como prova
incontestável de coragem : e ao mesmo tempo pede um ar-
mistício com a Inglaterra, e que no entanto cessem as
hostilidades no Sonda. Dahi envia com grande publici-
dade missoens separadas ao Imperador Alexandre, e á
Inglaterra; contribue por uns poucos de dias para a de-
feza de Hamburgo contra os Francezes, e por fim, depois
de um cahos de contradicçoens, e incongruências, adopta
um systema de submissão absoluta ás ordens do Imperador
Napoleaõ.
N°. 5*. O Governo Dinamarquez reconhece, que as
offertas de paz que se fizeram em Londres, naõ eram de
natureza que se pudessem considerar como kncondicio*-
naes; e nisto ao menos fôram, sem saber que o eram, sin-
ceros : porém naõ se acreditará, que a Dinamarca, de-
pois de uma guerra infeliz, e privada co<no ella estava de
todos os meios phisicos e moraes de causar damno algum
á Inglaterra, houvesse de propor aquella potência, que lhe
pagasse um preço pela paz. Tal paz, poderia somente
204 Politica.
dizer respeito á causa commum, e seria de algum valor, no
caso de que a Dinamarca se unisse com suas forças ás
potências alliadas. Naõ se podta em taes circumstan
cias mover questão alguma sobre neutralidade; porque a
proposição crearia necessariamente a suspeita, nos
exércitos que deviam fazer a guerra na Alemanha. Se
o Conde de Bernstorff, chegando a Londres, tivesse dicto,
" a Dinamarca ajudará na causa commum, e as suas
tropas contribuirão, para o seu apoio, mas nos pedimos
a paz, e uma indemnizaçaõ por nossa esquadra, nossas
possessoens, c colônias, subsídios, e a conservação da
Norwega," ninguém se teria admirado disso; e taes
proposiçoens teriam sido claras ; e defuntas. Porem i que
propôs este mesmo Conde Bernstorff, elle que declara que
naõ pôde obter resposta alguma, e naÕ pôde alcançar
nem mesmo uma audiência? Pedio a esquadra, ou
uma indemnizaçaõ por ella ; assim como pelos arma-
zéns que se tomaram em Copenhagen ; a restituição das
colônias de Anbolt, e Heligoland, uma garantia das pos-
sessoens actuaes de Dinamarca; e em consideração de
todos estes sacrifícios, esta potência offereceo occupar
com 10.000 homens as cidades de Hamburgo e Lubeck;
e alem disto pedio, em tal caso, subsídios, cujo objecto e
somma eram indefinidos.
Porém havia ainda outro desejo, que certamente se devia
ter expressado mas que se occultou com muito cuidado, a
fim de ganhar algum gráo de credito ; e isto era com a am-
bição de vir a ser uma potência da primeira ordem, e unir
para este fim as cidades Hanseaticas, e a Holanda, sem
abdicar cousa alguma do que até entaõ tinha constitudo
uma monarchia da terceira ordem. Considerando um
taõ falso documento, quanto a uma questão, somente se
podem assignar dous motivos para sua producçaõ: ou
aquella naçaõ se diverte como uma criança, abraçando a
primeira imaginação acria, que fluctua ante a sua fantasia;
ou entaõ, que nós de propósito exaggerauios a nossa pre-
Politica. 205
tençaõ a fim de receber uma negativa. O Governo Dina-
marquez, sem duvida, deseja que se lhe attribua o se-
gundo destes motivos em vez do primeiro. Sendo este o
caso, deixamos ao mundo o julgar, se esta hea maneira por
que nós devíamos, em taõ critico momento, como o pre-
sente, patentear á Europa que somos sinceros, e animados
pelo zelo de fazer sacrifícios pela causa commum.
N°. 6o. Diz-se, que a Suécia intenta subjugar a Nor-
wega. Os Norwegas saõ um povo demasiado illuminado
para que naõ prevejam, que se jamais pertencerem ao
mesmo Monarcha de Suécia, que elles seraõ unidos aquelle
reyno para sua defeza commum; porém com tal con-
stituição e leys, quaes elles mesmos escolherem para si.
Os Scandinavios anhelam pela gloria e independência de
suas montanhas naturaes, e as naçoens do Sul saõ insensí-
veis a taes sentimentos, com tudo o despotismo pôde exten-
der a sua influencia das costas da Zelândia á mais remota
extremidade de Calábria: porem a liberdade, e o conhe-
cimento dos direitos e character do homem, tem fixado a
sua habitação no Norte.
N°. 7o. Os Norwegas soffrem pelo bloqueio de «eus
males, tanto quanto S. M. Dinamarqueza mesmo poderá
sentir, j Mas porque se naÕ aproveita elle dos únicos meios
que tem de aliviar a penúria de um povo, que elle declara
amar tanto? Porque naõ entrega Drontheim, e fica com
o resto da Norwega, para sempre, ou aceita a indemnizaçaõ
que se lhe offereceo pelo seu rendimento i A Suécia tem
reclamaçoens consideráveis contra o Governo Dinamarquês,
pelas capturas illegaes eommettidas contra o seu commer-
cio. Fizéram-se proposiçoens para dispensar destas recla-
maçoens, obtendo posse de Drontheim. Pôde esta pro-
vincia contrabalançar as vantagem de paz, o restabeleci-
mento das colônias, e actividade do commercio, e a possi-
bilidade de supprir immediatamente ás necessidades dos
VOL. XI. No. 63. 2 D
206 Politica.
habitantes das tres provincias meridionaes da Norwega?
Provalmente se fará uma objecçaõ a isto, a saber; que as
leys da honra naÕ permittem, que, sem meios coactivos se
abdique sequer uma aldea, que se tem herdado dos antepas-
sados ; porém ^ he congruente com taes nobres sentimen-
tos, o naõ suffocar immediamente o chiuierico desejo de
obter as cidades Hanseaticas e a Hollanda, que certamente
naõ pertencem aos dominios hereditários de Dinamarca ?
Para que hé receber do Imperador Napoleaõ, depois que
elle cruzou o Duna, a promessa renovada de conferir â
Dinamarca, a Scania, Hollanda, e a província de Gottem-
burgo? Para que pôr secretamente 15.000 homens á dis-
posição do General St. Cyr ? Para que ordenar ao Minis-
tro dos Negócios Estrangeiros, que escrevesse uma carta ao
Quartel-general Francez, e ao mesmo tempo, em plena con-
tradicçaõ disto, mandar officios ao Baraõ de Blome em S.
Petersburgo, professando um sincero interesse no bom suc-
cesso das armas Russianas, e na destruição do grande exer-
cito do Imperador Napoleaõ ? Se se fizer a objecçaõ, de
que a posse de Drontheim tenderia a supremazia geral
sobre toda a Norwega ; e que, portanto, debaixo da capa
de moderação, a Suécia tinha designios mais extensos, nós
podemos asseverar, que Drontheim esteve unido a Suécia
durante o reynado de Carlos X, e que por tal occupaçaõ
se naõ effectuou a conquista de Norwega.
N°. 8*. A Suécia tem declarado abertamente á Dina-
marca as vistas que a conduziram a este procedimento, e as
obrigaçoens, em que o comportamento da Dinamarca a
obrigou a entrar com os alliados; e portanto naõ se lhe
pode lançar em rosto o ter obrado de maneira insidiosa. A
Suécia naõ pode esperar boa vontade da parte de Dina-
marca ; porque ella trabalha por estabelecer a liberdade c
independência da Peninsula Scandinavia ; e porque a Di-
namarca he inteiramente despotica; porem os desejos da
Suécia saõ, que o Gabinete Dinamarquez admitta ao menos
Politica. 207
que elle tem por longo tempo vacilado nos seus propósitos,
e deseja naõ se engane, tomando por constância o que he
só teima.
Se o Governo Dinamarquez quer ser sincero a respeito da
Suécia, e desistir de seu systema doblede Politica, que taõ
nocivo tem sido aos dous paizes, um systema que tem sido a
causa principal da diminuição do território Sueco ; nesse
caso, o Governo Dinamarquez pôde propor, e a Suécia tal-
vez consentirá em deferir a sua controvérsia com a Dina-
marca, e deixar todas as discussoens ás Cortes Alliadas.
Estaõ promptos 8.000 barris de graõ, em Gottemburgo,
para o fim de serem transportados á Norwega. El Rey de
Dinamarca naõ precisa senaõ dizer uma palavra, e os Nor-
wegas veraõ immediatamente, que se põem fim á fome,
que os tem trazido á desesperaçaÕ: porem se, por outra
parte, El Rey de Dinamarca continua a multiplicar
injurias á Suécia e a representai Ia com falsas cores aos
olhos de Rússia, de Inglaterra, e de todas as outras potên-
cias, S. M. Dinamarqueza naÕ pôde esperar (e nos appel-
lamos para todo o espirito imparcial) que a Suécia con-
sinta em prover e nutrir um povo, que El Rey de Dina-
marca deseja conduzir contra a liberdade Sueca, para o
fim de estabelecer na Suécia os tempos de Christiano II.
Se El Rey de Dinamarca he sincero, elle se expressará
assim; " Eu naõ molestarei mais a Suécia. Eu desejo a
paz geral. Eu ajudarei a manter o equilíbrio politico da
Europa. Eu empregarei nesta justa causa 50.000 homens,
e me porei, em pessoa, á sua frente." A Suécia de sua
parte pode fornecer igual numero de gente ; porque, se
naõ se intentar outra empreza contra Norwega ou Zelândia
elle pôde trazer a campo duas terças partes de suas forças
Deixamos aos Estadistas illuminados, e aos Guerreiros ex-
perimentados o julgar, se 100.000 homens, postadosno
baixo Elbe, podem ou naõ obrigar o Imperador Napoleaõ
a aceitar condiçoens de paz, pelas quaes se naõ diminua,
2 D 2
208 Politica.

nem o seu amor próprio, nem os seus interesses, nem mesmo


a sua gloria militar.

Notas a um Artigo do Moniteur, de 21 de Junho, 1813,


sobre a Suécia e Dinamarca : publicadas em Slralsund,
em Julho, 1813. (Veja-se o Correio Braziliense, Vo-
lume X . , p. 810.)
" S. M. a Imperatriz Raynha e Regente recebeo as seguintes no*
ticas do exercito, em data de 13.
" O Baraõ de Kaas* Ministro Dinamarquez do Interior, portador
de cartas d'£l Rey, foi apresentado ao Imperador.
" Depois do negocio de Copenhagen, se concluio um tractado de
aliiança entre a França e Dinamarca. Por este tractado o Impera-
dor garantio a integridade de Dinamarca. No anno de 1811, a Sué-
cia fez saber em Paris o desejo que tinha de reunir a Norwega á Sué-
cia, e pedio o adjuctorio da França. Respondeo-se-lhe, que por
maior que fosse o desejo que a França tivesse de agradar á Suécia,
tendo concluído um tractado de aliiança com a Dinamarca, pelo qual
se garantia a integridade desta potência. S. M. naõ podia dar o
seu consentimento á desmembraçaõ do território de seu aluado.''
Nota.—A França propoz á Suécia, que fizesse parte de
uma Confederação do Norte, que se hia formar entre á
Dinamarca e o Ducado de Warsovia. A Suécia respondeo,
que a politica da França tinha feito com que a Suécia per-
desse a Finlândia. A Suécia naõ se fiaria mais se naõ na
potência, que lhe fizesse adquirir a Norwega. A França,
querendo unir a Suécia ao seu systema federal, naõ ficou
satisfeita com esta resposta.
" Desde este momento a Suécia se destacou da França, e entrou
em negociaçoens com seus inimigos."
Nota.—Isto naõ he exacto. A Suécia naõ se destacou
da França, senaõ depois que esta invadio a Pomerania,
contra a fé dos tractados. Esta invasão injusta deo lugar
a reflexoens, que ajudaram a fazer conhecer a extensão
dos projectos da França : projectos tendentes a destruir as
forças do Norte, empregaudo-as exclusivamente a com-
bater os patriotas Hespanhoes. Entaõ a Suécia se voltou
para a Inglaterra, e para a Rússia, e conheceo bem que
Politica. 209
para escapar á situação infeliz da Baviera, da Saxonia, da
Polônia, e da Westphalia, devia procurar alliados taõ po-
derosos como a França porém mais interessados na conser-
vação da existência da Suécia.
" Depois fez-se imtninente a guerra entre a França e a Rússia. A
corte da Suécia propoz fazer causa commum com a França, mas
renovando ao mesmo tempo a proposição relativamente á Nor-
wega.
Nota.—A esta epocha a corte de França fez novamente
propor uma aliiança. Respondeo-se-lhe que se o Gover-
no Francez naÕ desejava a guerra, a corte de Suécia pro-
poria um arranjamento á corte de Rússia. (Veja-se a
carta do Principe Real de Suécia ao Imperador, em data de
24 Março, 1812, inserida na conta apresentada a El Rey
por seu Ministro de Estado, Mr. o Conde de Engestrom.)
" Em vaõ representou a Suécia, que dos portos da Norwega éra
fácil um desembarque na Escócia; em vaõ se exiendeo sobre todas
as garantias que a antiga aliiança da Suécia dava á França, do com-
portamento que ella observaria para com a Inglaterra. A resposta
do Gabinete das Thuilherias foi a mesma."
Nota.—O Governo Sueco nunca deo idea alguma, de
inquietar as costas do Império Britannico; nem nunca
se fez similhante proposição. A integridade deste Império
he o antemural dos estados livres.
" Tinha as maõs ligadas pelo tractado com a Dinamarca. Desde
entaõ a Suécia naõ teve mais moderação; ella contractou uma
aliiança com a Rússia e Inglaterra; e a primeira estipulaçaõ deste
tractado foi um ajuste commum de forçar a Dinamarca a que cedece
a Norwega á Suécia."
Nota.—Repette-se que a Suécia naõ contrahio nenhum
ajuste senaõ depois da invasão injusta da Pomerania. Po-
dem-se comparar as datas. A Pomerania Sueca foi inva-
dida aos 27 de Janeiro, de 1812. O tractado com a Rússia
foi assignado aos 3 de Abril, e o tractado com o Inglaterra
aos 18 de Julho seguinte.
" As batalhas de Smolensko, e de Moskwa, entibiáram a activi-
dade de Suécia; ella recebeo subsídios, fez alguns preparativos, inas
naõ começou hostilidades."
210 Politica.
Nota —Naõ se entibiou a actividade de Suécia. 30.000
Russianos que se deviam empregar contra a Dinamarca,
foram mandados, a instâncias da Suécia, para a retaguarda
e ílai:co equcrdo do exercito Francez. Os talentos, que
tem desenvolvido o General Wittgenstein, tem provado,
que a Suécia julgou bem dos acontecimentos, e todo o
observador imparcial reconhecerá, que este movimento
oceasionou a retirada do exercito Francez.
«• Sobreviéram os acontecimento» de 1813; as tropas Franceza*
evacuaram Hamburgo: a situação de Dinamarca fez-se perigosa;
cm pierra com a Inglaterra ameaçada pela Suécia e pela Kusiia
parecia que a Trança naõ e«tava em estado de a sustentar. El Key
de Dinamarca, com esta fidelidade, que o characterica, se dirigio ao
Imperador para sahir desta situuçaõ. O Imperador que deseja que a sua
politica naõ sirva nunca de pezo a seus alliados, respondeo, que a Dina-
marca tinha liberdade de tractar com a Inglaterra, para preservar a
integridade de seu território, e que atua estimação c a sua amizade
se naõ diminuiriam de forma alguma pela nova ligaçuã, que a
força dat circumstancias obrigasse a Dinamarca a contrahir. El
Rey expriinio todo o seu reconhecimento por este procedimento."
Nota.—He mui natural que a França deseje, que um
Governo, que serve a sua politica taõ cegamente como lie
o Dinamarquez, conserve a integridade de seu território.
Sc a França he realmente animada pelo principio, que a
leva a naõ ser pezada a seus alliados <• porque naõ dá oo
Rey de Napoies, á Suissa, á Saxonia, á Baveira, a Wir-
temberg, á Baden, e aos outros principes da Confedera-
ção a mesma latitude que deo á Dinamarca
" Quatro equipagens de excellentes marinheiros tinham sido for-
necidos pela Dinamarca, e manobravam quatro vasos da nosta frota
no Scheldt. El Rey de Dinamarca, no entanto, exprimio o desejo de
que se lhe restituissem os marinheiros» o Imperador lhosenviou com
a mais escrupulosa exactidaõ, exprimindo ao mesmo tempo aos
officiaes e raaruja, a satisfacçaõ que linha com o seu com comporta,
mento."
Nota.—Estes marinheiros fôram restituidos com as vistas
de os empregar contra a Suécia; e o Governo Francez,
sempre liberal, quando se tracta de fazer mal aos de-
Política. 211
scendentes do grande Gustavo, naõ quiz deixar escapar
esta ocasião de dar um testemunho constante do desejo
que tem de arruinar o commercio de Suécia. Por fira
estes marinheiros eram inúteis em Autwerpia.
" Entretanto os acont cimentos seguiram o seu curso. Os allia-
dos creram, que os sonhos de Burke se hiam realizar. O Império
Francez, na sua imaginação, estava ja riscado da superfície do
globo.
" M. de Bernstorff foi a Londres; elle esperava receber um acolhi-
mento favorável ; e naõ ter niais nada a fazer senaõ renovar o trac-
tado concluído com o principe Dolgoroucki; porém qual foi a sua.
admiração, quando o Principe Regente recusou receber a carta d'EI
Rey; e quando Lord Castlereagh lhe fez saber, que naõ podia haver
tractado com a Dinamarca a menos que por um tractado preliminar
se cedesse a Norwega á Suécia ! Alguns dias depois o Conde Bern-
storff recebeo ordem de voltar para a Dinamarca."
Nota.—As instrucçoens, que trazia o Conde de Bern-
storff tinham sido minutadas pelo ministério das relaçoens
estrangeiras de França. A corte de Londres soube disso,
eMr. de Bernstorff voltou, como tinha hido. Por fim a
32». divisão militar foi reunida á França, da mesma ma-
neira que a Pomerania tinha sido invadida; e os verda-
deiros Francezes naÕ achavam mui grande vantagem em
ter no Senado Hamburguezes, que, de sua parte, naõ se
lisongeara mais desta honra, do que os Toscanos, Roma-
nos, Genovezes, e Piemontezes.
Os Alliados naõ creram jamais que a França pudesse
desapparecer. As potências da Europa saõ interessadas
em que a França seja França. Mas o que he evidente,
he que todas as potências fazem votos para que o Governo
Francez cesse em fim de perturbar o descanço de seus
povos.
" O Baraõ de Kaas, em quanto estava em Altona, experimentou
outra scena de perfídia, igual à primeira. Os enviados dos Alliados
foram ter ao seu alojamento, e lhe deram a entender, que elles re-
nunciavam á cessaõ da Norwega, e que debaixo da condição de que
a Dinamarca fizesse causa commum com os Alliados naõ se (aliaria
mais disso : elles o coojurárain a que diferisse a sua partida. A
• 12 Política.
rcsp osta de Mr. deKaas foi simples.—Tenho as rainhas ordens; dcv»
executadas?—Elles lhe disseram que os «xercitos Francezes tinham
sido derrotados; isto naõ o moveo; elle continuou a sua viagem."
IVota.—Hc notório que Mr. de Kaas fingio uma doença
em Altona ; para esperar ali resposta ás proposiçoens, que
lhe fizeram os generaes alliados ; e que o mesmo pretexto
o demorou em Hamburgo ; mas tendo sabido das conse-
qüências da batalha de Bautzen ; esqueceo-sc de que
tinha promcttido esperar uma reposta, e partio para o
Quartel general do Imperador Napoleaõ.
" Entretanto, aos JI de Mayo, apparecêo defronte de Copenhagen
uma frota Ingleza; um dos navios de guerra deo fundo diante da
cidade, e Mr. Thorntoo se apresentou. Elle disse que os alliados
começariam as hostilidades, se dentro em IS horas a Dinamarca naõ
assi^-n.isse um tractado, cujas principaes condiçoens eram reder a
Norwega a .-uecia, e entregar immediatamente, em deposito, a pro-
vincia de Drontheim, e fornecer V5.000 homens, para obrar com os
alliados contra a França, e conquistar as indemnizaçoens, que de.
viam esber em partilha à Dinamarca."
Nota.—Nunca se tractou de hostilidades. Pedio-se á
Dinamarca uma resposta dentro cm 48 horas, longe de a
ameaçar cora um ataque se lhe offereceo um armistício,
pelo general Inglez Hope, Ministro Inglez Thornlon,
Ministro Russiano, o General Sucbtelen, c Chanceller da
Corte de Suécia, o BaraÕ de Wetterstedt. O descanço
lie a primeira necessidade da Europa ; naõ se pôde obter
este bem taõ desejado se naõ por uma paz, fundamentada
lios principios da justiça eterna, que saõ os únicos ga-
rantes da duração dos Governos, e da felicidade do gê-
nero humano. He para obter este grande fim, que se
declara á Dinamarca, que se cila quer cooperar, se
adiarão até a paz geral as suas differenças com a Suécia.
" Elle declarou, ao mesmo tempo que as aberturas feitas a.Mr.
de Kaas, ua sua passagem por Altona, eram desapprovadas, c naõ
podiam ser consideradas, senaõ como dados militares.''
Nota.—Naõ se fez abertura alguma a Mr. de Kaas: n-
pette-se *, foi elle quem as mandou fazer aos generaes
alliados.
Politica. 213
n
El Rey indignado rejeitou esta insolente intimaçaõ.—No en-
tanto, o Principe Real, tendo chegado á Norwega publicou a seguinte
proclamaçaõ.
" A confiança, que El Rey de Dinamarca tem no Imperador, foi ple-
namente justificada, e se tem reforçado e restabelecido todos oslaçoa
entre as duas naçoens.
" 0 Exercito Francez está em Hamburgo; uma divisão Dina-
roarqueza segue os seus movimentos para o sustentar. Os Inglezes
pela sua politica naõ tem ganhado senaõ ignomínia e confusão : os
votos de todos os homens de bem acompanham o Principe Heredi-
tário de Dinamarca, na Norwega. O que faz a situação da Norwe-
ga mui critica, he a penúria de mantimentos: mas a Norwega con-
tinuara a ser Dinamarquesa. A integridade de Dinamarca he ga-
rantida pela França."
Nota.—Os estados de Carlos IV- fôram-lhe garantidos
pelo Governo Francez, e o Governo Francez invadio a
Hespanha. O Governo Francez garantio a Pomerania, em
1809, e elle a invadio no mez de Janeiro de 1812, no
meio da paz. A Rússia, a Inglaterra e a Prússia deram
o seu consentimento á reunião da Norwega à Suécia. A
guerra acerescentará a isto o direito de conquista. Este
direito, que o Governo FVancez tem feito valer tanto, será
mais justamente exercitado ; porque pondo a Dinamarca
em movimento todas as suas forças para concorrer a pôr
em escra vidaõ o Continente, merece ser abandonada pela
grande familia Europea.
A Alemanha séra livre, e he permittido esperar, que era
1814 ella naÕ obedecerá senaõ ás leys Germânicas ; mas
se a mola patriótica, que se manifesta de todas as partes,
naõ preencher o objecto que todas as naçoens esperam, a
Norwega ao menos, reunida á Suécia, poderá gozar dos
benefícios, que nenhum acontecimento continental poderá
arrancar ao Norte.
Em fim naõ he com injurias, que se prova a razaõ.
Os factos faliam.

VOL. X I . No. 63. 2 E


( 214 )

COMMERCIO E ARTES.
Tractado de Commercio com a Inglaterra.

^ I O Jornal Pseudo-Scientifico do mez de Agosto, appa-


recêo, em forma de carta aos Redactores, um discurso
sobre o tractado de coinmercio, que quando naõ merecesse
attençaõ por outros titulos, a deveria merecer por se achar
em um Jornal, que em todas paginas se mostra o mais rép-
til escravo da familia e partidistas dos que fizeram, apoia-
ram, e defenderam aquelle tractado.
Desde que lancemos os olhos pela primeira vez aquelle
instrumento miserável, nos persuadimos da tendência, que
tinha, naõ só a arruinar o Commercio dos Portuguezes,
mas a atacar as fontes da opulencia da Naçaõ ; porém jul-
gamos que éra naô só justo, mas de conhecida utilidade, o
mostrar a origem d'onde o mal procedia ; para que naõ se
imputasse a culpa senaõ a quem a merecia; e para que
assim se achasse a via de lhe dar o remédio.
Os partidistas do tractado seguiram o plano ; primeiro
de fazerem invectivas contra nós por fatiarmos mal delle;
depois, de o justificar em publico, e em particular; lou-
vando-o como o primor d'obra da politica do Conde de
Linhares, c este Ministro apresentou a S. A. R. uma me-
mória particular, destinada a provar-lhe as excellencias do
tractado. O mundo todo porem conhece agora a justeza
das nossas observaçoens contra aquelle tractado, e a experi-
ência diária convenceo, pela practica, até aos mais apaixo-
nados fautores do tractado, que os seus arranjamentos
naÕ podiam produzir senaõ males. Neste caso, muda-
ram-se as baterias *, começaram os do partido do tractado
a confessar os defeitos do mesmo tractado ; mas impu-
tando-os aos Inglezes; e ao presente naÕ se poupam esfor-
ços para fazer odiosa aos olhos dos Portuguezes a Naçaõ
Ingleza; e isto descaradamente, no jornal protegido por um
Commercio e Artes. 215
homem, cujo officio he tractar da harmonia e concórdia
com a naçaõ Ingleza ; e que protegendo similhantes escrip-
tos tendentes a causar discórdia entre as duas naçoens, com
taes imputaçoens ; se faz réo de um grande crime ; por-
que o que n'outros seria leviandade, nelle vem a ser per-
fídia.
A primeira insinuação contra Inglaterra (Invest. Port.
N°. 26, p. 234-.) he reviver o caso das tomadias, que fez a
esquadra Ingleza, de navios Portuguezes, defronte da barra
de Lisboa, e em outras paragens, quando S. A. R. se reti-
rou para o Brazil; e diz, que os tomavam como se estU
vessem em guerra declarada.
A impolitica de reviver uma questão ja concluída entre
duas naçoens; ainda quando a accusaçaõ fosse bem fun-
dada ; he taõ manifesta, que naõ podemos attribuir a outro
motivo o trazer-se otra vez a publico ; e em um Jornal
protegido, como este he, por pessoas taõ connexas com
esta questão; senaõ ao desejo de malquistar a naçaÕ In-
gleza para com a Portugueza ; como se os Francezes naõ
trabalhassem assas nesta sua empreza valida ; de pôr os In-
glezes mal com todo o mundo. Mas alem disso, he insidiosae
falsa a insinuação que contém as palavras "como se estives-
sem em guerra aberta." Com effeito estava-se em guerra, ao
momento em que se deo ordem para se fazerem as prezas :
o Ministro Inglez, em Lisboa, tinha feito o seu ultimo acto
publico,que foi apresentar um commissario para prisioneiros,
e retirar-se ; e S. A. R. de sua parte, tinha mandado, por
um instrumento publico, fechar os portos aoslnglezes e con-
fiscar suas propriedades ; chegou pois entaõ o infeliz mo-
mento, em que o Almirante Inglez, em execução de suas
instrucçoens, ordenou também hostilidades, mandando á
sua esquadra, que aprezasse os navios Portuguezes, que
foram trazidos a Inglaterra ; cessou logo felizmente este
estado de guerra, com a sabida de S. A. R. de Lisboa, e
em Inglaterra se tractou de saber o que se devia fazer das
2 E 2
21S Commercio e Artes.
prezas tomadas durante as hostilidades. Foi isto ob-
jecto de ajustes entre o Ministro de S. A. K. o Principe
Regente de Portugal cm Londres, e o Ministério Inglez ;
porque supposto que o Governo pudesse ceder a parte das
prezas que lhe tocasse, sem grande inconveniente ; óra ne-
cessário ver um modo de satisfazer os captores, que as ti-
nham aprezado, por ordem de seu Almirante ; éra necessá-
rio satisfazer as despezas da captura e libertação ; e ultima-
mente éra necessário ver como se havia de dipôr da pro-
priedade pertencente a donos, que estavam cm Lisboa de-
baixo do poder dos Francezes.
O Ministério Inglez desejou nisto obrar á vontade dos
Portuguezes, e expedio uma ordem em conselho a este res-
peito, tal qual quiz o Ministro Portuguez. Conheceo se
logo que ésla ordem naõ fazia mais do que augmentar a
dependência do Ministro Portuguez, e dar-lhe uma prepon-
derância na administração das propriedades Portuguezas,
que éra mui imprópria. O grito foi geral; e pódem-sc ver
os documentos a este respeito nos diversos N ° \ do Cor-
reio Braziliense, relativos aquella epocha ; e o Ministro
Portuguez, requereo outra ordem cm Conselho. He
publico c notório, que esta segunda ordem foi expe-
dida, a petitorio do Ministro Portuguez; meramente
para o satisfazer ; c segundo o que elle quiz ; ainda assim
se conheceo logo, que esta ordem, bem como a primeira,
tinha mais tendência a lijongcar a vaidade do Ministro,
fazendo-o administrador das propriedades Portuguezes em
Inglaterra, do que a segurar os bens a seus donos; cos ne-
gociaentcs e capitaens de Navios fizeram tal motim, que
o Ministro para os accomodar os chamou a sua casa, pro-
mctteo-llies que obteria ainda terceira ordem em conselho ;
mostrou apparencias de que queria ouvir os SCUH conse-
lhos ; nomeou uma commissaõ que o ajudasse, posto que
ao depois nunca fez mais caso delia; e cora taes opios
Commercio e Artes. 217
os deixou satisfeitos, em quanto negociava obter a ter-
ceira Ordem em Conselho.
A situação deste Ministro, em Londres, éra entaõ a mais
favoraveL para negociar com o Ministério Inglez; princi-
palmente depois que se fez em Portugal o levantemento
contra os Francezes. Tinha o Ministro Portuguez em.
Londres a casa sempre cheia de negociantes Inglezes, que
lhe pediam permissão para ir com suas mercancias ao
Brazil: officiaes militares, que lhe requeriam ir servir
na guerra em Portugal : Cartas do Ministro de Estado,
que lhe rogavam attendesse ás representaçoens do com-
mercio quasi arruinado ; e olhando para o Brazil como
para sua ultima anchora da esperança.
Agora i que partido tirou o Ministro Portuguez de
todas estas vantagens ?
Encheo-se de vento; adquirio um tom soberbo e des-
prezador de seus compatriotas ; quando até entaõ éra ura
triste figurinha; lançou as linhas ao péssimo tractado de
commercio d'onde lhe havia de provir o ser Conde; e
quanto á terceira ordem, sobre as propriedades Portugue-
zas ; obteve-a sim sem difficuldade; mas foi para que
nada se pagasse sem a sua assignatura; c causou cora isso
as demoras, despezas, e incommodos aos donos, que sa5
notórias em Londres, e algumas das quaes se acham regis-,
tradas, ad perpetuam rei memoriam, nas paginas do
Correio Braziliense.
Em uma palavra, ainda depois de fixar este negocio,
segundo as disposiçoens da ultima Ordem em Conselho ;
foi tal o seu comportamento, que um dos membros da
Commissaõ, nomeado por elle, Portuguez, e naõ Inglez,
em fim o honrado Dias Santos, que aceitou aquelle cargo
de ser um dos Commissarios, meramente para bem de sua
naçaõ, desaveio-se de tal modo com o ministro, que nem
llie quiz mais fallar nem ir a sua casa ; e outro Commis-
sario Portuguez, que éra o Cônsul, quiz ceder do emprego;
218 Commercio e Artes.
e o faria, se lhe naõ aconselhassem os Advogados o con-
trario, dizendo-lhe, que uma vez que aceitara a commissaõ,
éra responsável pelos descaminhos de propriedade qne
pudessem haver.
Depois destes factos notórios em Inglaterra, como a luz
do dia ; que as prezas fôram feitas durante as hostilidades
declaradas ; que a sua restituição foi deixada á escolha
do Minislro Portuguez, que este barulhou, e confundio
tudo c* Como tem agora a audácia, o jornal protegido por
este mesmo liomeni, de imputar a culpa destas percas, c
incommodos aos Inglezes ; para semear assim a discórdia
entre as duas naçoens ?
Mas estes Jornalistas, que tinto gabaram aquelle trac-
tado ; que tantas incensadellas (em dado aos Inglezes e
ao seu patrono, em proza e cm verso; como elle ja está
feito Conde ; e ja perderam as esperanças de que fique em
Inglaterra,snppozéram que éra tempo de voltar a casaca;
e começar a gritar taõ bem contra os Inglezes.
Mas vamos ao tractado de Commercio. Quem escre-
veo aquella carta naõ pôde ler peior opinião i\o tractado
do que nós temos e tivemos sempre desde o principio,
em que o leu os. Testemunho saõ os nossos escriptos ; e
as injurias, e assaltos, que por isso recebemos de nossos ad-
versários. A questão pois naõ hc sobre o tractado ser ou
naõ péssimo ; nisto todo o mundo convém. A questão hc
o grito que tem levantado os parliditas dos Souzas contra
os Inglezes. Nós conhecemos mui bem as conseqüências
de entrarmos nesta questão com nossos adversários. Até
aqui éramos Jacobinos, e Francezes ; e ;igora seremos In-
glezes ; maniacos, &c. Isso pouco tios importa. Fiat
fustitia ruat ccrfnm.
A naçaõ Ingleza tem ambição, como todas as outras; c
tem o orgulho nacional, que resulta sempre da prosperi-
dade, grandeza, e poder de qualquer povo. Estas quali-
dades, boas cm si, c produetoras do espirilo nacional, que
Commercio e Artes. 219
faz obrar aos homens grandes feitos, he prejudicial quando
passa de certo ponto; e incommoda ás outras naçoens.
Isto posto, naõ queremos defender a ambição nem o or-
gulho Inglez; ou entrar na questão se elle he moderado se
excessivo: seja o que quizerem. Queremos entrar porém
na questão, até que ponto estas qualidades influem na felici-
dade e prosperidade dos Portuguezes ; e se he isto, ou naõ
um mal irremediável; e na maõ de quem está o remédio.
Tomemos por exemplo, neste tractado, a residência dos
vassallos de uma potência, nos domínios da outra. Esta
se iguala, inteiramente á dos nacionaes; em termos geraes,
e vagos ,* sem se especificarem as leys, que ha em Portu-
gal, ou em Inglaterra, contra esta estipulaçaõ. Quanto ás
de Portugal, esta falta, sendo contra os Inglezes, seria im-
putavel ao seu ministro o inconveniente, que dahi resul-
tasse ; mas a sua desculpa seria, que segundo a natureza do
Governo Portuguez, unia vez que foi o tractado ratificado,
naõ tinha mais do que requer um decreto para sua exe-
cução naÕ obstante todas as leys em contrario, & c . ; e
fica tudo claro; e cftectivãmente gozam os Inglezes nos
dominios de Portugal o mesmo direito de residência, como
se fossem Portuguezes.
Agora quauto ás leys lnglezas i que declaraçoens, esti-
pulaçoens, ou precauçoens lavrou o negociador Portu-
guez; para segurar aos seus nacionaes em Inglaterra o
gozo da quelles direitos de residência, que as leys lngle-
zas denégam aos estrangeiros ? Nenhumas. N a Ingla-
terra, por ura principio de direito, quasi fundamental,
as leys naÕ podem derrogar outras sem dellas fazerem
expressa mençaõ ; e quanto aos tractados; depende a sua
execução de Actos do Parlamento, todas as vezes que ha
ley que lhe seja opposta. Portanto neste caso da residên-
cia dos Portuguezes em Inglaterra ; devia estipular o
Negociador Portuguez expressamente, a que direitos e
privilégios se extendia a estipulaçaõ; e no caso de com-
220 Commercio e Artes.
prehender pontos contrários a leys; estipular também/
que o Governo Inglez recommcndaria ao Parlamento a
revogação dessas leys ; e no caro de naõ obter a sua re-
vogação ficar a estipulaçaõ nulla também da parte de
Portugal. Tudo isto esqueceo ao Negociador Portuguez ?
c pode haver alguém de bôa fé, que diga, que pertencia
ao Negociador Inglez o fazer estas estipulaçoens, e de-
claraçoens a favor da parte contraria, com quem tractava?
Entre outros direitos de residência, que naõ gozam os
estrangeiros em Inglaterra, he o possuir bens de raiz
livres. Esta regulação he fundada na precaução de que
os estrangeiros naõ influam na liberdade dos votos, nas
eleiçoens dos membros do Parlamento, e outras; visto que
os proprietários de bens de raiz livres tem, de jure, voz
activa e passiva nas eleiçoens. Em Portugal, naõ ha-
vendo as mesmas ponderosas razoens, naõ ha a mesma
legislação. Ora perguntamos, cm nome do bom senso,
•di- o Negociador Portuguez se podia persuadir de que
tinha alhanado esta difficuldade importantíssima, mera-
mente com a estipulaçaõ vaga que deos direitos de residir,
viajar, &c. seriam communs c recíprocos aos vassallos de
ambas as Potências contractantes ?
• Como se pôde attribuir aos Inglezes a culpa, de ser o
Negociador Portuguez ignorante das matérias, cm qtíc se
meteo a fazer um tractado; c um tractado de tanfa im-
portância como este, aque se lhe poz a cláusula de per-
petuo ?
Vejamos ainda peiores cousas na practica. Os parti-»
distas do tractado; para imputarem todo o mal aos In-
glezes, tem espalhado, que o Governo Inglez sugeita de
sua livre vontade os Portuguezes, residentes em Inglaterra,
á policia dos estrangeiros, licenças de residir, necessida-
des de passaportes, &c. &c. ; o que naõ sendo necessário
aos Inglezes, lie directamente contrario á estipulaçaõ do
tractado.
Commercio e Artes. 221
A estipulaçaõ do tractado, he clara a este respeito, e naõ
tem inconvenientes legaes na practica ; porque este ramo
de Policia pertence exclusivamente ao Governo, que
pôde aleviar os Portuguezes do ônus que incumbe aos de-
mais estrangeiros, sem que para isso precise novo acto do
Parlamento. NaÕ se cumpre, porém, neste ponto o trac-
tado ; o insinua-se que a culpa he do Governo Inglez.
Como esta imputaçaÕ seja falsa, pede a justiça que defen-
damos a verdade.
O modo ordinário de proceder em taes casos, he, que o
Ministro Postuguez em Londres, sabendo que os seus com-
patriotas naõ gozam desta izençaõ, que o tractado lhes con-
cede, represente isso ao Governo Inglez, e peça a execu-
ção do estipulado; ou uma explicação de seus motivos
para a remetter a seu Soberano. Se o Govemo Inglez
denegasse isto ; o curso natural practicado, por todas as
naçoens, ensinaria ao Governo Portuguez a pôr os mes-
mos entrávez de passaportes, licenças, &c. a respeito dos
Inglezes residentes nos dominios de Portugal; quaes sof-
frem os Portuguezes em Inglaterra; e ésla medida de re-
torsaÕ justa, politica, e necessária á dignidade da coroa,
depressa traria o Governo Inglez a dar as explicaçoens
devidas.
O Governo Portuguez, ou pelo menos o seu represen-
tante em Inglaterra, naõ só naÕ fez isto; mas tem obrado
directamente o contrario. Longe de pedir para os seus
convassallós a izençaõ dos regulamentos do Alien Act;
requereo que se puzesse em execução, no maior ponto a
que pôde chegar o seu rigor, que he fazer sahir o estran-
geiro paia fôra do Reyno ; e disto se acham dous notáveis
exemplos registrados no Correio Braziliense ; e a respeito
de dous individuos, que por mais imprudente, e absurdo,
que tivesse sido o seu comportamento, naõ tinham de for-
ma alguma violado as leys do paiz.
Mais : este mesmo representante do Governo Portuguez
V o u X I No. 63. 2F
222 Commercio e Artes.
fez um arranjamento com o Governo Inglez ; pelo qual se
puzéram os Portuguezes, quanto aos passaportes, em peior
situação do que nenhum outro estrangeiro mesmo France.
zes inimigos ; nisto ; que para que o estrangeiro obtenha
da Policia-do-Estrangeiro em Londres licença de residir
na Inglaterra, basta que apresente uma carta de recommen-
daçaõ de qualquer habitante de probidade, e os Portugue-
zes precisam além disto uma carta do mesmo embaixador
Portuguez ; com o que se augmenta a dependência, e saõ
obrigados os Portuguezes a ir beijar a maõ a S. Ex*. quer
queriam quer naõ ser cortezaõs ; dureza a que naÕ está su-
geilo nenhum outro estrangeiro.
Mais ainda ; tem havido casos, em que a Policia-dos-
Estrangeiros tem concedido estas licenças de rezidir aos
Portuguezes, sem a carta do Embaixador ; e este sabendo
disso requereo á Policia, que cumprisse com os ajustes
feitos com elle em nome de seu Soberano ; e depois de
concedida a licença ao Portuguez ; se exigio pela Policia-
dos-Estrangeiros a dieta carta do Embaixador, com o que
foi o individuo obrigado a ir ao tal beijamaõ.
Depois de factos desta natureza (- como tem um Jornal,
que se acha ao bafo daquelle mesmo homem, o pouco
senso de provocar uma discuçaõ desta matéria, impu-
tando a culpa disto aos Inglezes? Na verdade he preciso
ter a cara forrada de estanho.
Os males, que este tractado de commercio tem feito, nun-
ca se poderão imputar senaõ ao Negociador Portuguez,
a menos que se naõ prove, o que ninguém provará, que
éra indispensável fazer um tractado de Commercio ; e que
os Inglezes lhe mettêram uma faca aos peitos, para que o
fizesse tal qual se fez. Mas he evidente que, nas circum-
stancias de entaõ, nem era necessário algum tractado; nem
houve coacçaõ para que fosse feito este.
Dizem agora em Loudres, que o Conde de Funchal se
deita inteiramente de fôra, e carrega tudo ás costas do
Irmaõ ; porém * como explica elle o que diz o Conde de
Commercio e Artes. 223
Linhares na sua memória secreta a S. A. R. o Principe
Regente; aonde louva o Embaixador em Londres, pelos
seus bons officios, em pôr a efièito e ajudar efficazmente
aquelle que elle chama um vantajoso tractado deCommercio?
Mas estes naõ saõ os únicos favores, que a naçaõ Por-
tuguezes deve a este Ministro.
Grita-se muito contra a introducçaõ de officiaes militares
Inglezes, em todos os postos importantes das tropas Portu-
guezas. Mas ignoram Ia em Portugal o facto de que o Mi-
nistro em Londres, chamava publicamente traidores, e ho-
mens suspeitos, a todos os que ficaram em Portugal, de-
pois da sahida do Principe; do que poderemos produzir
testemunhas se for necessário ; e até documentos ; e cora
estas imprudentes, e mal fundadas vociferaçoens, infundio
no Governo Inglez a má suspeita contra os officiaes Por-
tuguezes; taes saõ as obrigaçoens que lhe deve a tropa.
Foi também fundado neste falso principio, de que os que
ficaram em Portugal eram traidores afrancezados, que
se fundou a determinação de reter nas maõs da Commissaõ
em Inglaterra a propriedade tomada, que pertencia a Por-
tuguezes, habitantes em Portugal no tempo dos Francezes.
O A. desta carta, no meio de suas falsas imputaçoens
contra os Inglezes, naõ deixa de descubrir algumas vezes a
verdade a pezar a seu; e assim pergunta (a p. 251) '< ^ Que
desculpa tem os cônsules, a quem a naçaõ Portugueza
paga para vigiarem sobre os interesses delia em Inglaterra,
de se naõ terem apressado a dar estas informaçoens ao Go-
verno V
Nós perguntáramos ao escriptor desta carta; porque sub-
stituio a palavra Cônsules, á palavra Embaixador ? Por-
que he evidente que se houve omissão he da parte do Em-
baixador, e naõ dos Cônsules; porque estes naõ sabiam
quaes eram as estipulaçoens, que se estavam negociando
em segredo entre as duas cortes : e o Embaixador sabia
dellas, e as favorecia; como se prova pela memória de
2F2
224 Commercio e Artes.
seu mesmo Irmaõ. Em fim o objecto desta carta, assim
como de todas as mais partes do jornal scientijiio, he salvar
os Souzas ponha-se a culpa seja a quem for.
He neste sentido, que na mesma pagina se grita contra
os negociantes Portuguezes em Inglaterra, por naõ informar
em o seu governo do que achavam de bom ou de mao no
tractado; como se os negociantes pudessem advinhar, antes
de se publicar o tractado, quaes eram as suas estipulaçoens,
para representar contra ellas; de maneira que, para salvar
os Souzas, até se exige que os negociantes Portuguezes
em Londres sejam feiticeiros.
Mas a este respeito dos negociantes Portuguezes em In-
glaterra vem outra passagem neste mesmo N s . do Jornal
scientifico (p. 277.) que faz a mesma accusaçaõ aos nego-
ciantes Portuguezes, com tal descaramento, que exige que
digamos nisso duas palavras.
Dizem ali os Redactores aos negociantes Portuguezes,
com o tom mais insultante, estas palavras, " Nos quizé-
ramos entretanto, que os Negociantes Portuguezes, em
vez de andarem gritando pelas praças e ruas contra os In-
glezes, se unissem, que tractassem de esclarecer o Governo
Portuguez, e de lhe representar em corpo o que julgas-
ser útil aos verdadeiros interesses de S. A. R. e da naçaõ.
Se elles continuam na sua dezuniaõ, e nos seus impruden-
tissimos fallatorios só provam ignorância, ou loucura, pe-
dantismo, ou natural maledicencia."
Caspite, capite, com seu esclarecimento Senhores Redac-
tores do Investigador * com que nisto pararam os seu*
jantarei- com o club Portuguez; e todos os elogios, em
proza, e verso, sonetos, motes, glozas, &c? Bravo!
Nós nos achávamos aqui inclinados a referir duas ou tres
anecdotas, relativas a este objecto, que fartam rir a muita
gente ; mas o negocio he demasiado sério para o tractar-
mos de ridículo.
Depois de lançar a culpa aos Inglezes, do que ha de máo
no tractado; como he necessário aceusar alguém, com tanto
Commercio e Aries. 225

que naõ sejam os authores do tractado atacam-se também os


negociantes: em fim atarcarse-ha S'°. Antonio, se isso descul-
par os verdadeiros authores do tractado. Dizem os Redac-
tores, que os negociantes se qut-ixam, e fazem fallatorios im-
prudentissimos. Forte milagre ! queixam-seporquelhedoe,
nada ha mais natural; só lhe pôde chamar imprudência;
quem tem até aqui trabalhado por abafar estes males do
tractado. Se todo o inundo, até mesmo estes reptis escra-
vos dos Souzas, tem por fim cordef3ado, que o tractado he
péssimo para os interesses de Portugal i que muito he que
os negociantes; aquém elle peza mais immediatamente,
também se queixem e gritem ? Os negociantes sofTrem os
males, que indirectamente vem á naçaõ deste tractado, em
commum com os demais Portuguezes ; e além disso soffrern
os incommodos directos e immediatos, que os atacam como
negociantes-; tem portanto duplicado motivo de queixar-
se i aonde longo está a imprudência de soas queixas.
Deviam, dizem elles, ajunctar-se. e fazer representaçoens.
Que descaramento! que os partidistas dos Souzas façam
taõ falsa accusaçaõ, como aqui se insinua, à face dos Portu-
guezes mesmos, e de mil testemunhas em contrario ! He,
como dissemos acima, preciso ter a cara forrada de estanho.
Saibam pois quantos aquella falsa accusaçaõ virem ; que
os negociantes Portuguezes em Londres, convidados por um
amante de sua naçaõ, se ajuiictáram, e formaram um club
ou espécie de assemblea ; a qual tinha originariamcnte por
fim promover a boa harmonia entre os Portuguezes, que
residissem ou viessem ter a Londres, ajunctudo-se todos a
jantar uma vez cada mez.
Que este club tinha mais em vista examinar as matérias
relativas ao commercio, combinar as ideas de uns com
outros ; e dar ás suas representaçoens unidas, o pezo que
alias naõ teriam, se viessem de indivíduos separados.
Que effectivãmente chegaram a imprimir os seus regu-
lamentos do club ; e a fazer algumas representaçoens sobre
matérias commerciaes.
226 Commercio e Artes.
Que o Embaixador Portuguez, procurou logo introduzir
a desunião e discórdia neste club ; primeiro afíectando
que para os negociantes se ajunctarem, e jantarem junetos
em Londres, éra precizo licença do seu soberano : segundo
recommendando que naõ admittissem no club taes e taes
pessoas, posto que Portuguezes fossem: terceiro fazendo
expulsar do club pessoas, que entraram no numero de seus
fundadores: quarto desgostando a muitos que se retiraram
do club, por naõ se verem pizados pelo Embaixador ; de
maneira que, uma associação taõ bem começada, foi por
por meio destas intrigas arruinada ; e ja estaria a este tem-
tempo de todo extincta ; se naõ fossem alguns poucos indiví-
duos que por brio, ou outros motivos, tractam ainda de fazer
com que os poucos membros que existem jantem junetos
alguma vez.
Isto posto ; quem podia esperar, que sahissedos mesmos
aduladores e partidistas dos Souzas, a accusaçaõ de que os
negociantes Portuguezes, se naõ ajunetam, saõ desunidos,
e naõ requerem ?
Que a introducçaõ do Embaixador no Club, havia pro-
duzir a sua annihilaçaõ ; pois elle naõ entrava là para outro
fim ; foi cousa prevista ; por quem o disse a alguns dos
membros, que naõ negarão certamente este facto; nem
he grande milagre, que um homem diplomático soubesse
embolar negociantes, cuja vida, e custumes, he taÕ diffe-
rente das intrigas de corte, que podia manejar quem se
achasse de dentro do club; mas o que admira he ; que
naÕ obstante o facto de se ajunctarem os negociantes sem a
intervenção do ministro ; de ser este quem os desunio, fa-
zendo expulsar uns, e receber outros, alterar suas leis,
obter delles documentos em seu louvor, para obter os quaes
foi preciso expulsar os membros, que se temia que des-
cubrissem, quem notava os louvores do ministro, &c.
seja agora desta mesma parte que venha a accusaçaõ
de que os negociantes Portuguezes se naõ unem ! } Que-
rem-no mais desmacarado?
Commercio e Artes. 227
Como a tal carta sobre o tractado de Commercio pro-
mette continuação : nós também.

LORD STRANGFORD.
O Conde do Funchal feito Conde; e passada a sentença
irrevogável, de que elle naõ ha de continuar a ser em-
baixador cm Londres ; e se continuar na desobediência a
seu soberano, ha de se ver obrigado a hir esconder-se em
Worthing; dado isto, acabáram-se os amores com Lord
Strangford ; e deo-se o primeiro symptona de indiferença
ao até aqui fidus Achates, atacando-se aquelle ministro no
Jornal Scientifico. Mas o mal do tractado já está feito!
Que o Lord Strangford se tem portado mal no seu lugar
nisto, ou naquillo ; naÕ he o nosso ponto. A nosso res-
peito, isto he quanto a este periódico, tem feito até por-
querias, para impedir a sua circulação, e agradar aos
Souzas. Referimos esta ninharia para mostrar, que naõ he
parcialidade; mas sim justiça, quem nos obriga a defen-
dêllo neste caso. NaÕ se faça o diabo mais negro do que
elle he.
Neste N " . do Jornal Scientifico vem uma papelada sobre
Cayenna; e uma questão mui longa que se reduz a isto.
Certa viuva Cayenna pedio a um negociante em Londres,
que a favorecesse na venda de seus bens para se passar a
França; o que éra uma fraude aos Decretos de S. A. R. o
Principe Regente de Portugal, sobre as propriedades de
Cayenna. Esta mulher diz mais na carta ao negociante,
que o Governo em Cayenna carrega direitos dobrados aos
Inglezes que para ali navegam : o negociante Inglez, que
recebeo esta carta referio este facto ao Governo Inglez ;
este mandou a Lord Strangford que representasse ao Go-
verno Portuguez. Lord Strangford fez a representação ; mas
pelas informaçoens authcnticas da Cayenna acha-se ser
falso o que tinha dicto a tal mulher, onde tudo se ori-
228 Commercio e Artes.
Era toda esta enfiada de gente, ninguém he mais ino-
cente do que Lord Strangford ; o qual naõ fez mais que
cumprir coro a ordem de seu Governo, fazendo uma re-
presentação contra a supposta violação dos tractados:
esse éra o seu dever vistas as ordens que recebeo ; e no
entanto contra elle descarregam a fúria, e quem? Os
mesmos partidistas dous Souzas. £ para fazer mais pe-
zada a carga, sahe-se o Scientifico com o que elle chama
contradicçoens na nota official de Lonl Strangford.
De passagem observaremos aqui que a nota official éra
secreta de sua natureza; e que naõ podia vir ter as maõs
dos Redactores, para ser publicada, senaõ como uma das
medidas que se vaõ adoptando para enredar a Inglaterra
com Portugal. Mas vamos á contradição, (p. 273.)
«' Naõ podemos deixar de notar, que representando o
£x m o . Lord Strangford, que todos os objectos de importa-
ção e exportação em navios Inglezes, pagavam o dobro do
que estes objectos pagavam sendo importados ou exporta-
dos em navios Portuguezes, diga na sua nota que esta
medida naõ produzia vantagem alguma pnra a navegação
Portugueza—car depuis Ia conquete de Cayenne, pas un
seul batiment Portugais n'y a paru, ni venant de fEu-
rope, ni y allunt. Portanto, se depois da conquista de
Cayenna, nem ura só navio Portuguez ali aportou, ou
dali sahio <• como se diz que os gêneros importados ou
exportados era navios Portuguezes tem pago a metade me-
nos do que os importados ou exportados em navios
Inglezes ?"
Infelizmente para os scientificos, puzéram aqui as ex-
pressoens de Lord Strangford em Francez: e á vista
dellas mesmo nos querem persuadir, que Lord Strangford
diz que depois da conquista de Cayenna nunca ali foram
navios Portuguezes; ora Lord Strangford naõ diz tal ;
diz que nunca ali foram navios Portuguezes indo para ou
vindo da Europa; " pas un seul batiment Portugais nry a
Commercio e Artes. 229
paru, ni venant de VEurope niy allant." Se nós sup-
pozessemos que isto éra ignorância da lingua Franceza,
mandaríamos toda esta Corja d'ópe de Berkley-square,que
fossem para escola ; mas naõ ; entendem mui-bem, ao me-
nos isto, e de má fé interpretaram as palavras de Lord
Strangford as avessas ; para o ridicularizar até nisto; e,
por meio delle, seguir o plano de intrigar os Inglezes com
os Portuguezes.
Este plano está taõ palpável neste N°. do Jornal Scien-
lifico, desde o principio até o fim; que naõ nos admirare-
mos se o virmos todo traduzido em Francez, e impresso em
Paris, antes de minto tempo. E lá julgarão, que naõ he
este o primeiro serviço, que, tanto em proza como em
verso, tem os Redactores feito ao Senhor Imperador Na-
poleaõ o Magno, &c. &c. &c.
Naõ ha muitos dias que se nos pôz nas maõs certo ver-
sinho, em honra de seu natalicio dia; com vario» docu-
mentos, sobre os grandes serviços feitos aos hospitaes
Francezes, durante a sua estada em Portugal. Tudo isto
he digno de grande patrocínio ; o que naÕ deve admirar ;
quando vemos que o Conde de Funchal Embaixador Por-
tuguez em Londres, recebe em sua casa, e apparece em
publico com um homem condenado á morte em Portugal,
por crimes d'alta traição ; ao mesmo tempo que recusa ad-
mittir a sua alta presença homens, banidos sim de Portu-
gal; mas sem crime, sem sentença, e sem accusaçaõ.
Tudo isto he em character.

VOL. XI. No. 63. 2o


230 Commercio e Artes.

Preços correntes dos principaes productos do Brazil em


Londres, 25 de Agosto, 1813.

Geotrot. QuMlMaile. MDttüad l're\o de a Dirriu».

.-Usinar branco 1 !- Illl. 54 s. 6ts. 31. 1-is. 7 j d .


trigueiro D». 45s. 52i.
mascavado D**. 389. 449.
Algodão Kio Libra 20p. 2lp. 16a. l l d . p r . lOOlil».
Bahia D". 23|). 24p.
Maranhão ü". 23p. 24 p.
Pernambuco 24p. 25p.
Minas n o v a s D". 2lp. 22p.
D " . America melhor D". neiihuiu 16a. I I d . p o r libra
Annil Brazil D". 2s. 6p 3s. ld por libra
Arroz D°. 112 lib. 459. SÜ9. 1 lis lil
Cacao Pará 112 l i b . bis. 1 . • • • > . St. 4 d . por lib.
Caffé Rio libra "Os. 80*. 2t. 4 d . por libra.
Cebo Bom 1 12 l i b . 8. s. 88s. 2s. na. p o r 112 lib.
Chifre* grandes 123 2(ls. 35s. 4s. Htl. por 100.
Couri>t de b o ) Hio jjrande libra 7}|». »ip* 8d por libra.
Kio d a P r a t j ü*-. 9p. "il».
D " , d e C a v a l l o D». Couro - v 6p. 99.
Iperuacuanha Boa libra 4». 6 p . I5s. 6|i 3s. libra.
Quina Pálida libra . s •>,>. 2s. op. 3s. 8 d . libra.
Ordinária Do.
Mediana 2s 8 p . 39.
Fina 4s. 6 p . Ts. 6 p .
Vermelha 49. 7s
Amarella 2s. 6 p . Ss.
Chata D".
Torcida 3s. 9 p . 4 s . 9 d . ls. Mil. p o r libras.
P a o Brazil tonei 9*1. lUUl. 41. a t o n e l a d a .
Salta farrilh.t
St. fid. libra e x c i s e
Tabaco Kolo libra Sp. 7p. J 3 U i i . 9 d . a l f . 100 lb.

Prêmios de seguros.
Brazil bida 10 guineos por cento. K. 5.
vinda 12 a 15
Lisboa e Porto hida 4 G* R. 40*.
vinda 4 G'. R. 40*. por em comboy
Madeira hida 5 a 6 G'.—Açores 8 G*.
vinda 8 á 10
Rio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a tomaviagem
vinda o mesmo 15 a 20 G\
[ 231 ]

LITERATURA E SCIENCIAS.
Nooas publicaçoens em Inglaterra.
EDGEWORTHs Essay on Roads, 8vo. preço 14s.
Ensaio sobre, a coustrucçaõ das estradas e carruagens : seu
author Richardo Lovell Edgeworth, Escudeiro; Enge-
nheiro civil, &c. &c.

Concise Synopsis qf Geography, 8vo. preço 3s. Synopse


concisa de Geographia, para uso da repartição dos meni-
nos de pouca idade no Real Collegio Militar, em Sandhurst.

MartmonCs Practical Fortification, Svo. preço 6s. For-


tificaçaõ practica de campanha, illustrada com estampas;
e formando o segundo volume ou supplemento á theoria
da forticaçaõ de campanha. Por C. Malati de Marte**
mont, Mestre de Fortificaçaõ e Artilheria na Real Acade-
mia militar cm Woolwich.

Debates at the índia House, 22, 26 de Julho, 8vo. preço


Ss. Debates na assemblea geral dos proprietários de fun-
dos da companhia das Índias Orientaes, aos 22, e 26 de
de Junho, 1813, sobre o Bill que se acha ante o Parla-
mento, para renovar a Carta Patente da Companhia.
Com um appendiz. Pelo Edictor dos primeiros debates.

Bruct^s Speechon índia Affairs, 8vo. preço 2s. Resumo


da falia de Joaõ Bruce, Escudeiro, Membro de Parlamento,
no Committé da casa dos communs, sobre as relaçoens re-
lativas aos Negócios da índia, em 31 de Mayo, 1813.

Thompson*s Dictionary qf America, vol. 1,2, 3,


preço 41. 14. 6d.
2G 2
232 Literatura e Sciencias.
Os primeiros tres volumes de um diccionario geogra-
phico e histórico da America, e índias Occidentaes; con-
tendo uma traducçaõ completa da obra Hespanhola do Co-
ronel D. Antonio de Alcedo, capitão das guardas Reaes
Hespanholas, e Membro da Real Academia de Historia ;
com muitas addiçoens e compilaçoens de viagens moder-
nas, e de informaçoens authenticas. Por G. A. Thomp-
son, Escudeiro.
—Magna modis multis miranda videtur
Gentibus bumanis regio, visenda que fertur,
Rebus opima bonis. Lucretius, Lib. I. lin. 727.
Esta obra formara 5 volumes em 4to., impressa elegante-
mente em papel tecido. O Preço para os assignantes, um
gumea e meio por cada volume : quando se preencher a
subscripçaõ, se atigmentará consideravelmente o preço.
Os nomes dos subscriptores se poderão enviar a Mr. Car-
penter, em Bond-street.

Herberfs Memoirs of Charles I. 8vo. grande, preço


lOs. (>d. Memórias dos dou*> últimos annos do reynado de
Carlos I.; por Sir Thomas Herbert, criado da câmara de
Sua Magestade. Com um retracto do Author. Ao que
se ajuncta uma noticia particular do funeral d'El Rey em
uma carta de Sir Thomaz Herbert, a Sir Guilherme Dug-
dale.

Communications Io the Board of Agriculture, vol. 7.


part 2, 4*o. preço 8s. Com estampas. Volume vii. parte
2'; das communicaçoens feitas á meza d'Agricultura sobre
matérias relativas aos negócios ruraes, e melhoramento in-
terno do paiz.

Laskey's Account of the Hunferian Museum, 8vo. preço


6s. Noticia geral do Museum lluntenano: Glasgow:
incluindo uma conta histórica e scienufica dos differentes
Literatura e Sciencias. 233
objectos das Artes, Literatura, Historia Natural, Prepara-
çoens Anatômicas, Antigüidades, & c , naquella celebre
collecçaõ. Pelo Capitão J. Laskey.

Landmatfs Portugal, part 2. imp. 4to. preço li. ls.


Observaçoens Históricas, Militares, e Pinturescas, sobre
Portugal; lllustradas por numerosas estampas illuminadas,
e planos authenticos de todos os cercos, e batalhas, que se
tem pelejado na Península durante a guerra actual. Por
George Landmann, Major no Corpo de Engenheiros Reaes,
Tenente-coronel do mesmo corpo, no serviço de Hespa-
nha, com a graduação de coronel.
Esta obra formará dous elegantes volumes ; o primeiro
comprehenderá uma conta militar e politica daquelle
paiz, desde os primeiros períodos até o tempo de
sua publicação; com muitos documentos curiosos e pa-
peis Francezes, ainda inéditos. O segundo volume con-
terá o reconhecimento militar do author, a historia local,
e observaçoens pinturescas, ornado com vistas escolhidas
para o fim de dar toda a informação militar possivel. As
estampas, 70 em numero, seraõ exactamente illuminadas,
conforme os desenhos originaes do author ; e he de espe-
rar, que o todo se complete e 12 ou 14 partes, publicadas
mensalmente, ao preço de um guinea cada uma. Julgou-
se mais conveniente publicar esta obra em números, de
maneira periódica, a fim de satisfazer melhor os desejos
do publico.

New Reoiew, N*. 8, preço 2s. 6d. O N". 8 da Nova Re-


vista (publicada mensalmente) contém. 1*. Analizes de t o .
dos os livros novamente publicados; perpetuando assim um
index da literatura geral do paiz. 2. Defeza dos Authores
contra as criticas. 3. Index do contheudo no N°. prece-
dente de cada Revista. 4. Lista de todos os Authores
234 Literatura e Sciencias.
vivos, e outras pessoas que de qualquer maneira se men-
cionam na parte orginal de todas as revistas.

Pamphleteer, N°. 2. preço 2s. 6d. O Folheteiro,


N°. T. Contem.—I. Reforma do Parlamento e Ruma
do Parlamento. 2. Encargo do Bispo de Lincoln ao
clero de sua Diocese. 3. Resposta do Dr. H. Marsh,
á segunda carta do Hon. N. Vansitant. 4. Carta de
Rev. P. Gandolph, ao Rev. D . Marsh, sobre a sua in-
quirição a respeito das conseqüências de naõ dar o livro
das oraçoens junto com a bíblia (com um retracto do papa
Pio VI. 5. Plano de supprir os pobres com peixe : por Sir
T Bernard, Baronete. 6. Primeiro relatório do Committé
da Associação das pescas, para supprir a metrópole com
peixe, &c. 7. Memória dirigida aos Protestantes da Gram
Bretanha e Irlanda ; por C. Butler, Escudeiro. 8. Antici-
paçaõ das notas margiuaes, sobre a declaração do Governo
Britannico de 19 de Janeiro, 1813, na gazeta Americana
intitulada " National Intelligencer." 9. Uma carta ao
Muito Honrado Conde de Buckinghamshire, sobre a fran-
queza do Commercio da Índia : por Fabius. 10. Gracchus,
sobre a questão das índias Orientaes. 11 • Probus, em res-
posta a Gracchus.
Cada numero conterá, em termo médio, 12 folhetos,
reduzindo o preço de cada um a 6 peniques. Publicar-se
haõ 5 N°\ annualmente.

Classical Journal, N°. 14, preço 6s. 0 Jornal Clássica


N \ XIV. para J unho ( publica-se de 3 em 3 mezes). Con-
tem uma variedade de literatura clássica, bíblica, e oriental;
com muitos raros e preciosos pequenos tractados Gregos,
Latinos, e Inglezes. f
Neste N°. se imprimio" Prolegomena in Homerum,'
deMr. Payne Knight, &c. N'. 1. com muitas alteraçoens
e addiçoens-desta obra se veiuieo na pouco tempo um
Literatura e Sciencias. 235
exemplar por mais de 3 libras esterlinas. Também N°- I,
da Noticia dos manuscriptos clássicos, bíblicos, e orientaes
da Gram Bretanha, com as suas datas e doadores. Com
uma lista completa de todas as palavras abreviadas do La-
tim, e suas signincaçoens.

Holmes's American Annals, 2 vols. 8vo. preço \l. ls.


Com mappas da America Meredional e Septentrional.
Annaes da America; ou historia chronologica da America,
desde a sua descuberta em 1492 até 1806 ; por Abiel
Holmes, Doutor em Theologia, Sócio da Academia
Americana das Artes e Sciencias, Membro da Sociedade
histórica de Massachusets, e Ministro da Primeira Igreja
em Cambridge. Impresso em Cambridge (Massachu-
sets:) ereimpresso em Londres.
O Interesse peculiar, que presentemente se dá a toda
a espécie de informaçaõ que diz respeito ao Hemispherio
transatlântico, tanto por causa da insurrecçaõ da America
Meredional, como da guerra com os Estados Unidos, indu-
zio aos Publicadores a ornarem com ella a literatura In-
gleza, vista a estimação que tem nos Estados Unidos. O
historiador começa com o primeiro periodo da descuberta
da America, inclue todos os pontos essenciaes, e continua
os seus Annaes em successaõ regular e systematica até o
ultimo periodo possivel.
Elle possuia muitas occasioens opportunas de consultar
os archivos de differentes Estados, e corporaçoens publicas,
de cuja vantagem elle se aproveitou industriosamente,
para o fim de traçar os factos e occurrencias, e arranjar os
materiaes colligidos na sua ordem natural: verificando
assim exactamente a descuberta e historia do novo mundo.
Consultáram-se as authoridade originaes sempre que isso
foi practicavel.

Female Scripture Characters, 2 vols. 8vo. preço 8s.


236 Literatura e Sciencias.
Characters de mulheres tirados da escriptura, para exem-
plificar os deveres das mulheres ; pelo author da obra in-
titulada " Beneficiai eflfects of the Chrístian temper on
donaestic happiness," ou Effeitos benefícios da dispoeiçaÕ
Christaã na felicidade domestica.

DeLucys Traveis in France, &c. 2 vol. 8vo. preço li. és.


Viagens geológicas em algumas partes de França, Suissa,
e Alemanha; por J. A. De Luc; traduzidas do nianu-
scripto Francez.

Kirbys Museum, vol. 4. 8vo. preço I2s. O quarto


volume do Museum maravilhoso de Kirby ; contem 20
retractos de characters excêntricos, e bem conhecidos,
com as suas vidas; acompanhadas de relaçoens de maravi-
lhosos phenomenos da Natureza e Arte, bem autheotica-
dos, e admiráveis.

Hobhouse*s Traveis, 4to. preço 5l. 5s. Viagem pela


Albânia, e outras provincias da Turquia na Europa e Ásia,
ate Constantinopla, durante os annos de 1809, e 1810;
com as vistas de Athenas, Constantinopla, e outras estampas
e mappas; por J. C. Hobhouse.

Porter's Campaign in Rússia, 4to. preço li. l i s . 6d,


Narrative da ultima campanha na Rússia ; que contém in-
formação extrahida de fontes officiaes, e de documentos
Francezes interceptados, até aqui desconhecidos do pu-
blico Britannico; por Sir Roberto Ker Porter. Ulustrada
com planos, &c. dos movimentos geraes de ambos os ex-
ércitos durante a sua avançada e retirada, e um retrato
General Kutusoff.

Noticias literárias.
Mr. Hodgson intenta publicar em Outubro um tractado
Literatura e Sciencias. 237
sobre as moléstias das artérias e veas, comprehendendo a
pathologia, e tractamento dos neurisinas, e artérias feri-
das, em um volume de Hvo. illustrado com estampas.
Em poucos dias apparecerá a Instaria, e ílluhtraçeens
de archkectura da igreja de Reduiiffe, em Bristol; com 12
estampas.
Mr. Robert Stevens, de Lloyd's, publicará brevemente
um ensaio sobre as avarias, e outras matérias connexas com
os seguros marítimos.
Sir Egerton Brydges tem na imprensa, em dous volumes
de 8 vo. uma obra intitulada " The Ruminator," uma serie
de ensaios moraes, sentimentaes, e críticos.
O Dr. Hales completou a sua Nova Analyse de Chrono-
logía, ao que acerescentará um abundante index geral.
Publicar-se-ha no inverno que vem.
Mr. J. N. Cossham, de Bristol, publicará brevemente
era um volume de 12mo., 365 taboadas, que mostram,
«em precisão de calcular, o numero de dias de cada um
dia do anno, até outro qualquer dia dado.
Mr. G. Riley tem na imprensa, um tractado practico
sobre a arte de pintar flores, e desenhar com tintas de cola,
para instrucçaõ, e divertimento das senhoras.
A obra de Madame de Stael, sobre os custumes, so-
ciedade, literatura, e philosophia dos Alemaens, que se
supprimo no Continente apparecerá no decurso deste mez
em 3 volumes, 8vo.

NOVAS DESCUBERTAS.
Magnetismo. O Doutor Schubler, de Stutgard, tem
feito algumas experiências mui curiosas sobre as agulhas
magnéticas, e modo de lhe communicar o magnetismo, e
suas variaçoens do polo, segundo a distribuição differente
do fluido magnético e sua applicaçaõ. As agulhas metá-
licas que elle usou eram de tres ou quatro pés de compri-
do, suspendidas por uma corda delgada de seda, e abriga-
V O L . X I . N o . 63. 3 a
238 Literatura e Sciencias.
das da acçaõ do ar. O magnete pezava cerca de quatro
libras, e tinha a figura de uma ferradura de cavallo. Com
este magnete communicou a polaridade ás agulhas na
maneira usual, pelo toque simples e doble; e ficaram ver-
dadeiras agulhas magnéticas. Variou entaõ o processo;
colocou o polo do sul do magnete no centro da agulha, e
puchou-o dez vezes para uma da suas pontas, sem voltar
para traz; e entaõ um igual numero na outra ponta de si-
milhante maneira, entaõ a agulba pareceo ter o polo do
norte em cada extremidade, e no seu centro o sul. As
suas variaçoens diárias eram seis vezes maiores do que as
das agulhas communs. Outra agulba foi esfregada pelo
magnete dez vezes, desde o seu centro até o polo do norte:
entaõ este se mudou em polo do sul, e indicou o verda-
deiro meridiano, em vez de indicar o magnético. As suas
oscillaçoens eram extraordinárias, de dous a tres gráos.
Estas mui simples mas importantes experiências, podem ser
repetidas por qualquer pessoa, em um quarto fechado; e
he natural que conduzam a importantes descubertas até
aqui desconhecidas na sciencia do magnetismo. Todo o
apparato necessário para ellas consiste em uma pequena
agulha de marear, para indicar o polo do Norte, e as vari-
çoens da agulha naquelle lugar em particular; um bom
magnete, e alguns pedaços de fio de aço polido. Com isto
até as senhoras poderão talvez fazer descubertas, que
sirvam de salvar as vidas a muitos marinheiros.
Bateria Galvanica. Mr. Children, de Tunbridge, con-
struio a maior bateria Galvanica que até aqui se tem visto.
Consiste em 20 pares de chapas de cobre e zinco; cada
chapa de seis péz de comprimento, e dous péz e oito po-
legadas de largo. Cada par esta unido por pedaços de
de chumbo e posto em um repartimento de madeira.
Todas estas chapas se suspenderam de uma trave no tecto,
de maneira que se podiam levantar ou abaixar sabindo dos
repartimentos. O poder desta bateria he enorme, derre-
Literatura e Sciencias. 239
teo 6 pez de fio grosso de platina; e o que he mais singu-
lar se derreteo por ella maior grossura, mais depressa do
que o arame delgado. Iridiumfoi também deretido com
ella, e tomou a figura globular, e provou que era um metal
frágil, evolatilizou-se, e se evaporou. Carvaõ e outras
substancias naÕ soffreram alteração.

MANTIMENTO VEGETAL.

Sir Humphrey Davy tem arranjado uma lista das quan-


tidades de matéria solúvel ou nutritiva, com a mucilagem,
substancia sacharina, glúten ou albumen, que se contem
em 1000 partes dos seguintes vegetaes:—
Vegetaes matéria nutritiva mutilagein ajsucar gliitta
Trigo de Middlesex 995 765 — 120
Trigo de primavera 940 700 — 120
Trigo de Mildewed 210 178 — 32
Trigo estragado por frio 650 620 — 230
Trigo Siciliano 256 725 — 230
D°. d°. 961 722 — 399
Trigo Polaco 950 750 — 200
Trigo da America Septentional 955 730 — 225
Cevada de Norfolk 220 790 70 60
Aveia de Escócia 743 641 15 87
Centeio de Yorkshire 792 645 38 109
Fava commum 750 426 — 103
Ervilha seca 574 501 22 35
Batatas
Batatas de
de . $ a 2260
£
00
$i 20
° $* a 215
155
0
$í a 430
0

Linhaça 155 133 11 17


Acelgas vermelhas 148 14 121 13
Cinoura branca 99 9 90 —•
Cinoura vermelha 91 3 95 —
Nabos 42 7 31 4
Nabos Suecos 64 9 51 2
Repolho 73 41 24 8
2H 2
240 Literatura e Sciencias.
T r e v o de folha larga . . . 39 31 3 2
T r e v o de raiz comprida 39 30 4 3
Saufeno 39 28 2 3
Luzerna 23 18 1
Erva deprado (fox-tail) . . 33 24 8 —
Centeio perene 39 26 4
P r a d o fértil 78 65 6 —
5 _
D° inculto 39 29
E r v a chamada rabo d e caõ 35 28 3
E r v a ponteira (fescue) . . . 19 15 5
Ervacheirosa(sweetscented)brandaS2 72 4
D" vernal 50 43 4 —
P r a d o Fiorin (agrostes solonifera) 54 46 5 1
D ° . cortado no inverno . . 76 64 8 1
T o d a s estas substancias foram sobmettidas á experiência
estando verdes, e no seu estado natural. H e provável q u e
a exceHencia dos difierentes artigos, como mantii-ne-nío,
se achará ser pr-opocional, em grande parte, ás q u a n t i -
dades de matéria solúvel ou nutriente, que ministram :
mas ainda assim naó se pode olhar para estas qualidades,
como Índices absolutos de seu valor. A matéria de albu-
nren ou glutinosa tem o character de substancia animal :
o assucar he mais nutriente e a matéria extrabida menos
nutriente do qne outro algum principio composto de
carvaõ, hydrogenio, e oxigênio. Igualmente certas com-
binaçocns destas substancias podem ser mais nutrientes do
q u e outras.
Nas sobredictas substancias se achou também alguma
matéria extrahida, que he insoluVel por algum processo
animal ; e portanto se j u l g a naõ possuir nutrimento, e
obrar no estômago somente por disfençaõ mechanica. Desta
matéria con U m as favas 41 parles em 1.000, as ervilhas
secas 16, os nabos Sueco*. 2, o trevo de folha larga 3 , o
trevo de raiz comprida 4, o trevo branco 6, o sanfoin 6 ,
a luzerna 4, &c. Parece que as favas e ervilhas c o n t é m
Literatura e Sciencias. 241
mais matéria insoluvel, e inútil do que mesmo o trevo e
as ervas, e que a cevada de Norfolk, considerando a sua
matéria solúvel a sua mucilagera ou goma, e a sua matéria
oacharina he o mais nutriente de todos os vegetaes aqui
aualizados. Estes importantes factos merecema séria at-
tençaõ naõ somente dos levradure*, mas de todas as pessoas,
que consideram a saúde e nutrição entre as primeiras cou-
sas da vida.
Batatas. As raízes bulbosas, e algumas vezes as com-
muins, contém grande quantidade de goma, glúten, e
mucilagera : estas saõ mais abundantes depois que a seiva
tem cessado de correr, e ministram nutrimento aos novos
rebentoens na primavera. De todas as raiees as batatas
contem a maior quantidade de matéria solúvel, e em geral
produzem de 1-5 a 1-7 de seu pezo em goma seca. De
cem partes de batata clamada de rim, se tiraram 32 partes
de farinha, que continham 23 de goma : 100 partes da
batata chamada maçaã deram 18 a 20 partes de goma
pura ; cinco libras da batata chamada Captain-heart pro-
duziram 12 onças de goma: o mesmo pezo das chamadas
reugh-red, -Q\ onças; Moulton-white, 1 | onça; York-
ehire kidney, lO^ onças ; hundred-oyes, 9 onças ; purple-
red, S{ onças; ox-noble, 8£ onças de goma. Donde pa-
rece que a batata de rim (kidney potatoe) be a mais nu-
triente ; logo a chamada maçaã, e assim por diante se-
gundo a quantidade de goma que contém. As batatas,
porém, alem da goma, contem uma substancia fibroza que
se lhe assimelha, l-14;albumen 1-70; e mucilagem 1-25;
demaneira que, ao menos 1-4 da batata se pôde conside-
rar como matéria nutriente; igual ao paõ em todo o
sentido. Donde se segue que 4 libras de batatas saõ
jguaes a uma libra de paõ ; ainda que actualmente custam
somente ametade do preço do paõ; pois este custa 4
peniques, e as batatas meio penique.
As fructas contém mucilagem, assucar, e goma, e al-
gumas vezes ácidos. O valor das fructas para fazer li-
g42 Literatura e Sciencias.
cores fermentados se pôde averiguar pelo pezo de seu
suco; a melhor cidra, e perry, lie feita do suco de ma-
çaãs e peras, que contem o suco mais pezado; pode-se
fazer uma comparação das fructas, mergulhando-as em
uma solução forte de sal, ou assucar e água, e as que
forem mais ao fundo daraõ o melhor suco.

PORTUGAL.
Carla circular do Governo para os Prelados Diocezanos do
Reino.
Ex™0. e Revm,>. Sr.—Sendo a Vaccina reconhecida por
todas as naçoens civilisadas, como preservativo innocente
da funesta epidemia das Bexigas, que sem elle poucos
deixavaÕ de ter, e muitos morriaõ, e já felizmente muito
exprimentada neste reino, até com o paternal exemplo,
que deo o Principe Regente Nosso Senhor, fazendo vac-
cinar seus Augustos Filhos ; saõ obrigados todos os que
naõ tem tido bexigas a vaccinarem-se, e os chefes de fa-
mílias a fazerem vaccinar nas mesmas circumstancias a
todas as pessoas, que delles dependerem. Para espertar
esta obrigação, e facilitar o uso geral do mesmo preser-
vativo, de que tanto bem resulta a humanidade, e ao
estado, a Academia Real das Sciencias formou a Insti-
tiçaõ vacciiiica, composta de alguns dos seus sócios fa-
cultativos, os quaes muito tem trabalhado per si, e seus
correspondentes, a promover, e facilitar o dito uso geral,
vaccinando de graça todas as pessoas, que se lhes apre-
sentaõ. E como apezar de tantos desvellos, e notórias
utilidades, ainda ha bastante negligencia no comprimento
da dita obrigação, por falta de conhecimento, e persua-
são : Sua Alteza Real Manda remetter a V. E. alguns
exemplares das instrucçoens, sobre o modo de vaccinar, a
fim de que V- E. possa divulgar estes necessários conhe-
cimentos; como melhor lhe parecer: e he servido recom-
mendar a V. E.
I . Que V. E. promovar a vaccinaçaõ por todos os
Literatura e Sciencias. 243
meios possíveis, especialmente pelo exemplo, sempre
mais poderoso, que o Conselho ; procurando naÕ só fazer
vaccinar todas as pessoas da sua familia, que naÕ tiverem
tido bexigas, os empregados, alumnos dos seminários, e
outras corporaçoens, que estiverem debaixo da sua in-
specçaõ, mas também persuadir as pessoas principaes, a
que imitem taõ louvável procedimento ; pois a pratica
deste suadavel invento depende inteiramense da opinião
publica, para se introduzir em todas as familias, e classes
da sociedade.
2. Que V E. ordene aos parrochos, seus subditos, que
naõ cessem de persuadir aos freguezes por todos os modos,
especialmente na estação da Missa em alguns Domingos,
as utilidades da vaccinaçaõ, exhortando a que se pratique
por todos, que delia necessitarem.
Sua Alteza Real Confia nas virtudes de V.E. concorrerá
cordialmente para uma obra taõ meritoria, e de tanto in-
teresse para o Real serviço, e bem de naçaõ.
Deos guarde a V . E . Palácio do Governo, em 19 de
Junho, de 1813.
JOAÕ ANTÔNIO SALTER DE MENDONÇA.

Para os Corregedores das Commarcas.


Querendo o Principe Regente Nosso Senhor promover
o uso da vaccinaçaõ nestes Reinos, para livrar seus habi-
tantes do cruel flagello das bexigas, manda remetter a
V. m. alguns exemplares das instrucçoes, que sobre este
assumpto se publicaram, e He Servido:
1. Que V- m. informe do numero de todos os vaccina-
dores, que ha nas terras da sua jurisdicçaõ; seus nomes,
e lugares das suas resdencias, dando com toda a brevidade
conta do que achar, por esta Secretaria de Estado dos
Negócios do Reyno, e declarando se a distribuição dos
vaccinadores, pelas ditas terras, he tal qne os habitantes
delia» achem quem lhes faça esta operação, sem o iuuom-
244 Literatura e Sciencias.
modo de se alongarem muito das suas casas; e havendo
falta de vaccinadores, aponte os lugares onde a houver, e
o modo de a supprir, sem que os vaccinados façaõ des-
peza alguma.
2. Que V. m. annuncie ao publico por editaes os
nomes, e residências dos vaccinadores, e quando for pos-
sivel, os dias, e horas, em que elles estaõ promptos para
vaccinar, fazendo conhecer nelles ao povo, em termos mui
concisos, e accommodados á intelligencia de todos as con-
sideráveis vantagens, que resultaõ da vaccina para a con-
servação da vida, e extincçaõ das bexigas, e recommen-
dando-lhe que se sujeite aos conselhos dos vaccinadores, a
quem os vaccinados se devem apresentar novamente, na
fôrma, que se expõe nas instrucçoens, naÕ só para se
conhecer se a vaccina he verdadeira, e approveitar-se a
matéria, sem a qual naõ pôde continuar a inoeulaçaõ -
mas também para se fazerem as observaçoens necessárias
para se aperfeiçoar o uso da vaccinaçaõ.
3. Que V m. promova a vaccinaçaõ por todos os
meios, que parecerem influir na opinião pública, e con-
correr para que ella se introduza em todas as classes do
povo ; servindo-se porém unicamente da persuaçaó, e do
exemplo, e nunca da authoridade, que em similhantes
assumptos, em vez de aproveitar, só pôde servir de im-
pecer o fim pertendido.
4. Que V. m. procure fazer vaccinar todos os indi-
víduos, que estiverem debaixo da sua immediata direcçaõ,
e naõ tiverem tido bexigas naturaes, ou sejaõ órfãos, ou
pessoas empregadas nos hospitaes, ou convalescentes, que
delles sahirem, ou prezos nas cadêas publicas; ou expos-
tos, ou alumnos de casas de educação, que lbe estaõ su-
jeitos, ou quaesquer outros, que se acharem em similhantes
circumstancias.
Ordena finalmente que V.m. participe aos Juizes de
óra, e ordinários da sua commarca esta Rael Ordem,
Literatura e Sciencias. 245
para que a executem prompta, e exactamente, ficando
V- m. obrigado a fiscalizar a mesma execução.
Deos guarde a V. ra. Palácio do Governo, em 19 de
Junho, de 1813.
JOAÕ ANTÔNIO SALTER DE MENDONÇA.

Em 24 de Junho celebrou a Academia Real das Scien-


cias a sua assemblea pública, a que assistiram alguns dos
Senhores Governadores do Reino, sócios da mesma, e
grande numero de outras pessoas.
O Illustrissimo e Excellentissimo Marquez de Borba,
Vice-Presidente, abrio a Sessaõ com um breve discurso;
a que se seguio outro do Secretario, referindo as trans-
acçoens, e trabalhos acadêmicos do anno decorrido. Se-
guirão se varias leituras de memórias de sócios, que foraõ
as seguintes;
Idéas geraes sobre a Policia pelo Excellentissimo Vis-
conde da Lapa : Memória sobre o descobrimento, e com-
mercio dos Portuguezes nas terras Septentrionaes da Ame-
rica desde 1500 por diante, por Sebastião Francisco
Mendo Trigozo: Reflexoens tendentes a esclarecer o Cal-
culo das Notaçoens, por Francisco de Paula Travassos:
Noticia de um monumento de Legislação Pátria até
agora desconhecido, por Joaquim José da Costa Macedo:
RecopilaçaÕ histórica dos trabalhos da Instituição Vac-
cinica da Academia, durante o seu primeiro anno, por
Bernardino Antonio Gomes.
Apresentáraõ-se também as obras seguintes novamente
impressas : O Livro de Duarte Barbosa, que completa o
segundo tomo da collecçaõ das noticias para a Historia, e
Geographia dos Dominios Ultramarinos : Hyppolito,
tragédia de Seneca traduzida em verso Portuguez, com o
texto Latino ao lado: Dissertaçoens Chronologicas, e
Criticas sobre a Historia, e Jurisprudência Portugueza.
VOL. X I . No. 63. 2 i
246 Literatura e Sciencias.
tom. 3*. parte Ia. por Joaõ Pedro Ribeiro : Collecçaõ de
Opusculos sobre a vaccina desde N°. 3 ate 9.
JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E S I L V A ,
Secretario da Academia.

BRAZIL.
Abertura das Aulas da Academia Militar do Rio de
Janeiro.
Sem duvida teríamos passado por esta bagatella, relativa
aos estudos no Brazil, se o Jornal Pseudo-scientifico do
mez de Agosto, naõ referisse este facto insignificante com
toda a pomposidade de bochechas inchadas, para louvar
os Souzas, aproveitando a oceasiaõ de dar uma catanada
no que elle lhe a praz chamar, profecias nossas, que sem-
pre falham.
A necessidade de cultivar as sciencias no Brazil, e de
crear de novo estabelicimentos seientifleos, que naõ ha, he
matéria taõ evidente, que ninguém duvida de que seja
util fomentar as escholas que ha naquelle paiz, boas ou
mas, era quanto as naõ ha melhores. Com estas conside-
raçoens se continuou a eschola militar do Rio-de-Janeiro,
posto que o plano, como mostramos, bem longe de servir
de honra ao Conde de Linhares, que o arranjou, lhe da
maior descrédito i Mas de que o Ministério do Brazil,
naõ tenha ainda, ou por falta de tempo, ou por outros
motivos remediado os defeitos essenciaes daquelle plano;
naõ se segue dahi, que devesse mandar fechar as portas
da academia: basta que ali houvesse uma aula de geo-
metria para isso ser melhor, que nada : mas 3 que prova
isso a favor dos defeitos, que nós censuramos naquelle
plano do Conde de Linhares 1 ou i que faz isso a bem das
sandices, que proferio sobre ibso o Scientifico a favor de
seus patronos?
Abrio-se a Aula, deram-se algums prêmios aos estudan-
tes, que mais se distinguiram; a desta oceurrencia trivial se
Literatura e Sciencias. 247
tira matéria para novos louvores aos Souzas, e novo ob-
loquio ao Correio Braziliense.
Se os Redactores desejam servir bem a seu amo naõ
provoquem discussoens sobre taes matérias o contrario he
reviver as misérias ja sepultadas no esquecimento; e este-
jam certos que nós naõ dormiremos sobre isso, todas as
vezes que nos provocarem.

Edinburgh Review, N0. XLII,forJuly, 1813. Quan-


do um author vulgar, ou prejudicado, espalha no mundo
opinioens cerebrinas, ou falsas, vem a ser de pouca conse-
qüência a sua refutaçaõ; mas naõ devem ficar sem eluci-
dação os erros, que se propagam por meio de obras acredi-
tadas, como he o periódico que annunciamos, conhecido
na Republica Literária pelo nome de Jornal Critico, Od
" Revista de Edinburg ;" cujos authores saõ homens de co-
nhecidos talentos, e cujas censuras e opinioens saõ hoje
em dia de grande pezo naõ só em Inglaterra senaõ em toda
a Europa.
O motivo que nos obriga agora a noticiar-mos esta obra
he um artigo, que se acha neste N°. 42 ; a p. 462 ; sobre
oT"°. relatório da associação, que ha em Londres, para
promover a abolição do commercio da escravatura ; e co-
nheoida debaixo da appellaçaõ de " African Institution."
Naõ he da nossa intenção, nem entrar na discussão da
legalidade, ou illegalidade do commercio de escravatura,
de sua politica ou impolitica ; nem examinar a justeza dos
meios que se tem adoptado para o extinguir. Levar-nos-
hia essa matéria a uma extensão, incompatível com os
nossos limites ; e fora do propósito, que nos propuzemos
tractar. Dirigimo-nos unicamente a refutar algumas asser-
çoens, que os revisores fizeram a respeito de Portugal; e a
mostrar-lhes a injustiça do indecoro, cora que em seus ra-
cionios tractam a naçaõ Portugueza.
Os directores da " Instituição Africana," queixam-se ao
2 \ 2
248 Literatura e Sciencias.

Governo Inglez, de que naõ obstante a estipulaçaõ do ar-


tigo 10, do tractado de Amizade de 1810, entre S. A. R. o
Principe Regente de Portugal, e S. M. Britannica, con-
tinuem ainda os Portuguezes neste trafico : e como o rim
desta associação he promover a abolição da escravatura ein
todas as partes do mundo, entendem o tractado a seu modo
e queixam-se portanto de sua violação; este comporta-
mento he coherente ; e tanto menos razaõ de queixa ha
contra os Directores da " Instituição Africana," cumprindo
com seu officio, quanto a linguagem de sua queixa ao
Governo Inglez, he concebida em termos decentes, fun-
dada nos argumentos, em que elles apoiam a sua institui-
ção, e alegando razoens, sem accumular insultos.
NaÕ se portam porém da mesma maneira os revisores,
porque, depois de citarem uma passagem do relatório, que
diz respeito á continuação do commercio de escravatura de
Portugal, vem com a seguinte diatribe:—
" A culpa, portanto, deve existir ou no Governo Inglez ou no
Portuguez. < He cousa que se soffra, que um Estado, cuja existên-
cia na Europa he mantida pelo nosso sangue, c nossos thesouros,
cujos navios velejam no mar, por meio da nossa protecçaõ « cujas
colônias lhe saõ conservadas somente pela nossa esquadra; insista
cm reter a posse de um pedaço de terreno (a ilha de Bissáo) que so-
mente tem valor como centro de ura contrabando do commercio de
escravatura, o coito de criminozos; que arrostam contra as leys de
sua pátria i * He menos intolerável, que se mantenha a ambigüidade,
que nós desruidadamente soffreroos, que entrasse no ultimo trac-
tado, mas artificiosamente empregada por nossos alliados, para fazer
inefficazcs as demais estipulaçoens ?—Porque, se a passagem, que se
cita, tem algum sentido, deve ser este; que os Portoguezes, achando
que a incúria lhes éra proveitosa, recusam emendar isto por uma ex-
plicação. Seguramente he evidente,que ou o Ministério Britannico
naõ tem exercitado toda a sua influencia para com os Alliados, sobre
quem deviam ter a mais ampla authoridade—ou que os Portuguezes
se tem conduzido com uma insolencia, e ingratidão, para naõ dizer
cousa alguma de sua duplicidade, qne naõ deve soffrer-se por mais
tempo.
» Nos referimo-nos somente aos dous pontos, sobre que loca o
extracto do relatório. Porem o humor dos Portugueze», a respeito
Literatura e Sciencias. 249
delles, parece indicar quam pouco se pode esperar de sua disposi-
ção em preencher as mais importantes estipulaçoens do tractado, e
providenciar na total abolição deste trafico. Sobre esta matéria ex-
plicamos dós ja, em outro lugar, os nossos sentimentos taõ amplamente
que só temos agora de repetir as nossas esperanças, de que nem os
amigos da justiça e da humanidade, nem os advogados do corpo
colonial cessarão jamais de apertar o Governo, até que obtenham a-
quil o a que inquestionavelmente tem direito, uma abolição compul-
sória do commercio de escravatura dos Portuguezes—se nenhuma
outra se pôde effectuar."
Parece incrivel, que n'uma obra taõ respeitável, por
tantos titulos, se consentisse o apparecer um paragrapho
desta natureza ; aonde se encontram tantas falsidades,
quantas saõ as assersoens ; e uma enunciaçaõ tal a respeito
da Naçaõ Portugueza, a intima e mais fiel alliada da Ingla-
terra ; de que os escriptores públicos só fazem uso, fallando
da naçaõ, que he e tem sido sempre suas mais rancorosa
inimiga.
He falsa a assersaõ de que a existência dos Estados Por-
tuguezes na Europa seja somente mantida pelo sangue e the-
souro Inglez. O levantamento de Portugal contra os Fran-
cezesprincipiou antes deque lá fossem tropas lnglezas; nisto
fôram apoiados também pelos Hespanhoes ; e os soldados
Portuguezes se acham agora nos Pyrineos defendendo { o
que ? a causa commum dos Inglezes, e dos Portuguezes,
e dos Hespanhoes, e de todas as naçoens que se oppóem á
França ; donde cada naçaõ alliada entra na guerra com as
forças que pode ministrar; e nem confere nem recebe dos
demais alliados favor algum ; porque todos obram pelo
interesse commum. O exercito Inglez está agora de-
fendendo a Hespanha ; e se nos disserem, que defendendo
a Hespanha, beneficia indirectamente a Portugal; porque
assim impede que os Francezes ali venham, também nos
diremos, que occupando os Francezes em Portugal se im-
pede que elles possam vir a Inglaterra.
He falsa a asserçaõ de que os navios Portuguezes só daõ
a vela debaixo da Protecçaõ Ingleza. Os corsários e na-
2S0 Literatura e Sciencias.
vios de guerra Inglezes, cruzam contra os Francezes ; por
seu próprio interesse, os Portuguezes seus alliados, que
naõ soffrem a guerra com a França senaõ porque 6aÕ
alliados dos Inglezes; visto que naõ ha entre aquellas duas
naçoens motivo algum directo de discórdia ; naõ recebem
outra protecçaõ no mar mais do que a indirecta, de per-
seguirem os Inglezes os corsários do inimigo commum.
Naõ sabemos que para o fim de proteger a navegação
Portugueza, se tenha augmentado um só bote á esquadra
Ingleza, além do que requer a sua mesma defensa ; e
seria querem muito os revisores, exigirem também agra-
decimentos pelos corsários Francezes, que a esquadra
Ingleza toma em sua própria defeza, e do commercio
Inglez.
He falso que as colônias Portuguezas devam a sua con-
servação somente á esquadra Ingleza. Nisto mostram os
revisores, que ignoram tanto o estado actual da naçaÕ
Portugueza, como as vistas politicas, e administrativas
do mesmo Governo Inglez. A mais importante colônia
Portugueza ; hoje em dia quasi a parte essencial da mo-
narchia, he o Brazil, que comprehende uma extensão
imraensa de terreno no interior e nas costas ; que por sua
vastidão he invulnerável; posto que um inimigo marí-
timo lhe possa fazer algum damno temporário desembar-
cando grande numero de tropas em algum dos portos de
mar. Portanto o mais que a esquadra Ingleza pôde
fazer de beneficio aos Portuguezes nas costas do Brazil,
he afugentar os corsários Franceses; mas para isso che-
gam mui bem as pequenas forças navaes dos Portuguezes,
e chegariam a muito mais, se elles quizessem usar dos
meios que tem para augmentar a sua esquadra. Por outra
parte; o beneficio que resulta á naçaõ Ingleza de lhe
consentirem os Portuguezes a sua esquadra no Brazil, he
um favor de mui grande importância; porque por meio
deste entre posto no Brazil, ficam em estado de proteger
Literatura e Sciencias. 251
eficazmente o seu commeroio da America do sul, e das
índias ; o que se naõ poderia de modo algum fazer, sem
os portos dos Brazil, Este beneficio he ainda de mais im-
portância, na consideração de que o Governo do Brazil,
he obrigado em virtude do tractado, a dar mantimentos a
esta esquadra Ingleza, em compensação da vantagem indi-
recta, que o Brazil recebe da expulsão dos corsários do
inimigo commum.
Quanto a retenção da ilha de Bissáo, pelos Portuguezes,
que dá lugar a esta invectiva: naõ entraremos na discus-
são se aquelle pedaço de terreno he ou naõ insignificante ;
se faz ou naõ faz conta a Portugal o vendello c- Que quer
dizer a linguagem dos Redactores, de que naõ he cousa que
se soffra, que os Portuguezes retenham a posse de Bissáo?
A posse de Bissáo pertence indisputavelmente aos Portu-
guezes, logo todas as naçoens saõ obrigadas a soffrer, que
Portugal continue naquella posse, a menos que o seu So_
berano naÕ julgue conveniente alienalla, Se os revisores
querem nisto dizer, que a Inglaterra porque he mais po-
derosa do que Portugal pôde privallo do que he seu ; este
grumenjto, em ponto de direito, tern a mesma força do do
salteador, que por estar armado e cercado de compa-
nheiros, exige a bolça do viajante inerme, e solitário ; em
ponto de facto também essa superioridade de forças nem
sempre he efficaz para o complemento de taes injustiças ;
porque os estados pequenos, quando se vem injustamente
atacados por outros maiores, fazem ligas, e pactos cora
as naçoens que os podem soccorrer, e a historia nos
mostra constantemente exemplos, de pequenos estados,
que tendo homens sábios á sua frente, tomaram assignalada
vingança da injustiça de seus poderosos offensores : assim
temos, que a maioridade de forças dos Inglezes, nem lhes
dá direito, nem lhes assegura a practica impune de per-
turbar o Governo Portuguez na posse de Bissáo, se
252
Literatura e Sciencias.
aquelle Govemo naõ julgar conveniente largar a sua pos-
sessão.
Se Bissáo he covil de contrabandistas, coito de criminosos,
&c.seraõ muito boas, eattendiveis essas razoens, para que o
Governo Portuguez, naõ podendo por cobro a isso da
outra forma, ceda a posse da ilha ; para conservar a boa
harmonia com seus alliados, que alias lhe offerecem nm
equivalente. Mas por melhores que sejam taes argumen-
tos naÕ podem ser applicados senaõ para convencer o
Governo Portuguez de que deve obrar desta ou daquella
maneira ; mas nunca para justificar a compulsão; e menos
ainda para que os Revisores usassem a este respeito da in-
sultante fiaze de que tal posse naõ deve soffrer a Inglaterra;
quando uma naçaõ falia a respeito de outra independente,
he necessário consultar os termos da boa educação, e da
civilidade, em vez dos de arrogância, e falta de polidez.
He falso também que o Governo Portuguez einpresrue
artificiosamente a ambigüidade do que se entende por
costa da Mina, para fazer ineficazes as demais estipula-
çoens do tractado a este respeito.
Nós temo-nos repetidas vezes queixado, de que o Nego-
ciador Portuguez naõ attentasse pelos interesses de sua
naçaÕ, explicando algumas duvidas, e ambigüidades de
grande prejuízo aos Portuguezes; e longe de nos queixar*
mos do Negociador Inglez, temos constantemente tomado
a sua defeza, nesta parte, pela simples razaõ, de que o
Governo Inglez naõ o mandou ao Brazil, nem lhe paga um
ordenado para cuidar dos interresses de Portugal, mas sim
dos da Inglaterra. He logo razaõ que o mesmo argumento
defenda o Negociador Portuguez contra a invectiva dos Re-
visores. Se a expressão " Costa da Minha," he ambígua;
se essa ambigüidade he nociva aos interesses de Ingla-
terra ; queixem-se os Revisores de seu ministro, que naõ
olhou como devia pelos interesses de sua naçaõ ; assas tinha
o Negociador Portuguez que fazer em attender aos interesses
Literatura e Sciencias. 253
de Portugal. Até aqui parece que os Revisores so
queriam exigir um favor demasiado; mas quando
passam a dizer, que esta ambigüidade se emprega
artificiosamente pelos Portuguezes para fazer ineficazes
as demais estipulaçoens do tractado, usara de uma ex-
pressão, que he mui imprópria entre alliados, incompa-
tível com os termos da decência e boas maneiras, e um
libello infamatorio, quando a accusaçaõ he falsa ; e neste
caso, pelo menos naõ he provada.
Que diriam os Revisores, on quem escreveo este para-
pho, se na vida particular, outro homem lhe dissesse, que
a ambigüidade dos termos de uma escriptura de ajustes, em
que tinham entrado por mutuo consentimento era artificio
ramente empregada para illudir os ajustes ? esta asserçaõ
seria tomada por um flagrante insulto ; porque nada me-
nos assevera do que a imputaçaõ do character de bulraõ
e estafador aquém assim obra. E se a civilidade, dos
Revisores lhes deve ensinar a naÕ fazer similhantes accu-
saçoens a outro individuo particular c- como se podem
justificar de as faaer a respeito de outra naçaõ indepen-
dente, soberana, e sua alliada ?
A retorsaÕ naõ he argumento; mas com igual razaõ á
dos Revisores poderia algum Portuguez imprudente re-
sponder, que a ambiguade daquelle artigo do tractado foi
introduzida por Lord Strangford, e empreganda pelo Go-
verno Inglez artificiosamente, para poder illudir ás-estipu-
laçoens, e aprezar os navios Portuguezes em toda parte,
j Naõ gritariam os Revisores contra a injustiça de taes
aceusaçoeus ? Pois deviam também lembrar se que a que
elles fazem naõ be menos mal fiindada; e que os Portu-
guezes naõ saõ menos sensíveis a accusaçoens contra seu
character, mal fundadas, e naõ provadas.
He falsa também a supposiçaõ, que se inclue no perí-
odo seguinte da passagem que citamos, isto he que o mi-
V O L . X I . No. 63. SK
254 Literatura e Sciencias.
nisterio Britannico devia ter a mais ampla a authoridade
sobre seus alliados.
D'onde aprenderam os Revisores de Edinbtirg, que
uma naçaõ possa ter nem pouca, nem muita authoridade,
6obre outra naçaõ independente sua alliada ? Similhantes
expressoens poderiam esperar-se do peduntismo, e igno-
rância de algum escriptor de águas furtadas; mas confes-
samos que nos admira achalas na Revista de Edinburg.
Continuam a supposiçaõ os Redactores, dizendo, que, se o
Governo tem nisto empregado a sua influencia," os Por-
tugueses se tem conduzido com uma insolencia e ingrati-
dão, para naõ dizer cousa alguma de sua duplicidade,
que naõ deve soffrer-se por mais tempo."
Aqui temos repetida outra vez a expressão de soffrer,
como se fosse uma verdade geralmente admittida, que
para cada um possuir o que he seu tenha de dar agrade-
cimentos á Naçaõ Ingleza ; por se dignar soffrer, que a
gente coma o seu paõ, em sua casa. Porém ; a que sup-
poem os Revisores, que he applicavel a palavra insolencia
e ingratidão? O termo insolente involve tal idea de hu-
miliçaó, que ainda quando merecido, só se applica a um
criado, ou outra pessoa em situação respectivamente mui
inferior. Concedamos, por augmento, para satisfazer ás
ideas elevadíssimas dos Revisores; que o Soberano de
Portugal naõ he alliado mas criado, servo abjecto do de
Inglaterra ; e supponhamos que este amo pede a seu criado
que lhe ceda um de seus moveis ; responde o criado, que
o naÕ pôde ceder porque precisa delle, e porque o estima;
que o senhor seu Amo he mui rico e pôde comprar e ter
quantos moveis quizer; mas que seja servido naõ lhe to-
mar a elle pobre criado a pequena propriedade que possue.
Neste caso, senhores Revisores, mesmo suppondo um
humilde criado tractando com seu amo, se naõ podia dizer,
que este comportamento era insolente. Ora ogora j como
6e applicará a palavra insolencia a esta negativa; passan-
Literatura e Sciencias. 255
do-se o facto entre duas naçoens Soberanas e Independen-
tes.
Resta a palavra ingratidão. Portugal deve, infelizmente,
um empréstimo a Inglaterra. Dizemos infelizmente; por-
que nos parte o coração ver, que o paiz mais rico do Mun-
do, em metaes preciosos, esteja reduzido á necessidade de
pedir emprestado dinheiro a nm paiz, que naõ tem em
abundância senaõ carvaõ: e isto pela culpa dós desastra-
dos estragadores daFazenda Real; Mas em fim deve-se um
empréstimo á Inglaterra; ha um exercito Inglez, que de-
fende a Hespanha e Portugal; existe uma esquadra In-
gleza no Brazil, que ajuda a limpar as costas dos corsá-
rios inimigos.
Se os Portuguezes negassem, que isto eram favores, que
recebiam de seu fiel ai liado, seriam taõ inconsiderados;
como saõ injustos, e indelicados os Revisores em suas
asserçoens ; mas destes favores; uma vez que se disputa a
sua importância; para chamar ingratos aos Portuguezes,
logo que se naõ submetiam a tudo e por tudo, ao que
delles se exige ; he justo diminuir as consideraçoens, que
pezam do outro lado da balança a favor de Portugal. E saõ:
Deve ura empréstimo; mas paga juros delle ; e vai re-
mindo o capital; que se emprestou para sustentar mesmo
guerra em Portugal, que interessa também á Naçaõ In-
gleza. Diminuindo pois deste favor o que delle lucra a In-
glaterra vista a sua applicaçaõ á causa commum; e o
pagamento de juros e do capital, o restante de favor naõ
he demasiado grande.
Tem um exercito Inglez em Portugal. Deste favor he
necessário diminuir; que o exercito naõ está agora em Por-
tugal, mas sim em Hespanha ; e o que faz alli he defender
a causa commum da mesma Inglaterra ; distribuindo pois
pelas naçoens interessadas (incluindo a mesma Inglaterra)
o favor da existência deste exercito na Peninsula ; a parte
de gratidão, que toca a Portugal, naõ he demasiado grande.
2 K 2
256 Literatura e Sciencias.
Tem uma esquadra Ingleza no Brazil; mas se deste fa-
vor se descontar, que cila he ali essencial aos interesses de
Inglaterra, para proteger o seu commercio, e que alom disto
he aprovisionada pelo Governo do Brazil; o favordesua
estada ali fica reduzido a cousa bem insignificante.
Conclue o extracto que fizemos, recoraraendando, " a
abolição compulsória do commercio de escravatura dos
Portuguezes, se nenhuma outra se pôde effectuar."
Convencidos, como estamos, que similhante modo de
pensar naõ he o do governo Inglez ; nem o da naçaÕ; nem
ainda mesmo o das principaes pessoas que conduzem a
Redacçaõ da Revista de Edinburgo ; pois mesmo a estes
so accusamos de omissão de deixar inserir em seu útil pe-
riódico, um ensaio taõ imprudente, fatuo, e tndecoroso;
nos achamos obrigados a responder ao escriptor do para-
grapho, pura que o achar-se isto u' uma obra respeitável,
e o ficar sem resposta, naõ lbe desse alguma côr de razaõ.
A linguagem das ultimas palavras, só he igualada pelas
Frazes de Napoleaõ. Da-me o que te peço e he teu; e
senaõ tomo-to por força. O escriptor de similhante para-
grapho devia envergonhar-se de fazer sahir de uma im-
prensa Ingleza expressoens desta natureza; que todos dias
se reprovam com os termos mais fortes na diplomacia de
uofcsos inimigos : a ilha de Bissáo he Portugueza ; o com-
mercio de escravatura legal no Brazil; em tanto quanto a
permissão das leys podem fazer uma acçaõ legal em qual-
quer communidade civil. Suppôr que a naçaÕ Ingleza
ha de obrigar por meio da força os Portuguezes a que
cedam o que he seu, aquillo de que estaõ de posse;
a que a Inglaterra, nem -se quer alega uma sombra de
direito; he suppôr ura absurdo, de que naÕ presumimos
seja capaz o Governo Inglez : e quando o fosse encontraria
com a decidida desapprovaçaõ de toda a naçaõ.
Porém antes de concluir estas breves reflexo -n«, que
temia sabido mais extensas do que intentávamos; e do
Literatura e Sciencias. 257
que permitte a extensão do nosso jornal; sofferaõ os Re-
visores, que lhe digamos, que por mais louvor que mereça
a naçaõ l n g b z a ; porque alguns de seus philar.trepicos
membros solicitara a abolição da escravatura; isso nem
tira o desdouro daquelles de seus membros, que se em-
pregam neste trafico; nem diminue o superior mereci-
mento dos Portuguezes na anticipaçaõd-c seus esforços, para
abolir um coslume, qne naõ fôram elles quem o introdu-
ziram ; e cuja destruição tem as dificuldades immensas, que
todo o homem que tem estudado a matéria deve confessar.
Os negociantes de Liverpool, he cousa bem sabida, que
se tem moitos vezes achado empregados no commercio da
escravatura ; e ha razaõ de suspeitar, que muitos navios,
que se empregara no commercio da escravatura, com ban-
deira Portugueza, pertencem a negociantes de Li v-erpooL
Neste mesmo relatório se referem abuzos, e tráficos de
escravatura, em colônias lnglezas, e até na £'uropa. Se
pois os revisores acham, que o acto de algums Portu-
guezes, que se empregam neste commercio deve attrahir a
toda a sua naçaõ o ódio, e as injurias, que os Revisores com
maõ taõ liberal lhe dispensaÕ; devem confessar, que a
enormidade do crime he muito maior para Inglaterra; por-
que os Portuguezes obram com a sancçaõ das leys do seu
paiz ; e os Inglezes, alem do crime de contrariar, como os
mesmos Revisores affirmam, o direito natural, saõ alem
disso réos da infracçaõ das leys de sua Pátria.
A demais o merecimento de abolir o commercio da es-
cravatura he mais devido a Portugal, ao menos era anfi-
cipaçaõ de tempo. Porque, ja no anno 1761 se legislou
em Portugal, que todo o escravo Affricano, que chegasse
ao Reyno, ficasse ipso facto livre. Toleram-se sim os
escravos no Brazil, pela imraensa difficuldade, e perigo
que se seguiria de sua total e repentina abolição; mas
ainda assim deve dizer-se em honrado character nacional,
que ha oeste objecto restricçoens, que se naõ encontram
258 Literatura e Sciencias.
nem na legislação nem nos custumes de nenhuma outra
NaçaÕ Europea, que conservou ou conserva escravos nas
suas colônias da America.
Deixamos de citar as leys Portuguezas; porque os
Revisores naturalmente naÕ possuem a collecçaõ dellas;
nem talvez as entenderão; mas recommenda-mos-lbcs
que antes fallar outra vez, na matéria, leiam a obra do
insigne jurisconsulto Portuguez Paschoal Joze de Mello,
" Institutionum Júris üivilis Luzitani," Lib. lI.Titulus
I. Como esta obra he em Latim, naõ teraõ desculpa se a
naõ entenderem. Ali acharão, que os Portuguezes sabem
muito bem quaes saõ os principios de direito natural,
publico, c das gentes, a este respeito; que os Soberanos de
Portugal tem legislado nesta matéria, corrigindo sempre o
Direito Romano, que he a baze da legislação de Portugal,
e que tem attentido, ha séculos, e naõ ha dez annos, como
suecedeo em Inglaterra; a estes devidos sentimentos de
humanidade ; que se oppoera ao trafico da escravatura;
posto que as consideraçoens, que ninguém ignora, o façam
hesitar sobre o modo de se oppor á sua tolerância no
Brazil.

MISCELLANEA.
BRAZIL.
Relação dos Despachos publicados no Rio-de-Janeiro ne
Faustissimo Dia, 13 de Mayo, de 1813, dos felizes Annos
do Príncipe Regente nosso Senhor.
Titulos.—Dom Antonio de Almeida, Conde de Avintes;
D. Manoel de Noronha, Conde dos Arcos.
O Conde daLouza, Viador da Princeza nossa Senhora.
Commendadores da Ordem de Christo.—O Desembar-
gador do Paço José Antonio de Oliveira Leite de Barros;
Miscellanea. 259
o Coronel Miguel da Silva Vieira Braga ; o Tenente-coro-
nel Luiz Paulino de Oliveira Pinto da França; José de
Arriaga Brun da Silveira, uma vida na Commenda que tem
seu Pai o Conselheiro Miguel da Arriaga Brun da Silveira.
Da Ordem de Aviz.—O Marechal de Campo José de
Oliveira Barboza, Governador e Capitão General do Rey-
no de Angola.
Cavalleiros das Ordens Militares de Christo.—Lourenço
de Abreu Paradas, Desembargador da Relação o Caza do
Porto; Joaõ Pedro Affonso Videira, Corregedor da Co-
marca do Crato ; José Theodozio de Bitancourt Vascon-
cellos Lemos, Coronel de Milicias de Cidade de Angra;
Francisco Pereira Peixoto Ferras Sarmento, Coronel de
Milicias Reformado ; Roberto Mascarennas de Vascancel-
losLobo; Antonio José Vianna; Antonio da Costo Alvares,
Deão da Sé de Cabo Verdo ; José Ignacio Ribeiro de
Abreu e Lima, Presbitero Secular ; Manoel Alvares da
Cunha, Vigário da Igreja de S. Luiz da Villa de Maria no
Cuyabá; Pedro Carlos Midozzi, Official da Secretaria de
Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra; Antonio
Joaquim Ferreira de Sam-Paio, Thesoureiro-geral, e De-
putado de Junta da Fazenda de Pernambuco; José Pi-
nheiro de Freitas Soares; Matheus da Cunha Telles; An-
tônio Luiz de Azevedo e Attaide; Joaquim Antonio Alvez,
Deputado da Junta do Brnco do Brazil; José Caetano de
Andrade Moraes, Abbade da Igreja de Carapito ; Manoel
José de Oliveira.
De Aviz.—Francisco Antonio da Silva Pacheco, Capi-
tão do Mar e Guerra da Armada Real; Felix Velasco Ga-
liano, Capitão Mór do Presidio de Pongo-Andongo no
Reyno de Angola ; Manoel Joaquim Bandão, Sargento
Môr do Real Corpo de Engenheiros; Manoel Godinho
LestaÕ do Aboim, Sargento Mór do Regimento de Dra-
goens de Capitania de S. Pedro do Sul.
Cavalleiros da Ordem da Torre e Espada —Miguel Lino
260 Miscellanea.
de Moraes, Coronel de Infanteria e Ajudante de Ordens do
Governo da Capitania de S. Pedro do Sul; Joaquim
Brusco, Criade í-articular «le Sua Alteza Real.

Despachos de Ministros para alguns Tribunaes, e Casa da


Supplicaçaõ de Lisboa.
Desembargadores do Paço Honorários.—Francisco José
de Faria Guiãa, continuando no exercicio de Corregedor
do Crime da Corte e Caza ; Manoel Vicente Teixeira de
de Carvalho, continuando no exercicio de Juiz da CorOa
da Primeira Vara ; Manoel Antônio da Fonceca Gouvta
continuando no exeroicio de Chanceller da Relação e
Caza do Porto.
Conselheiros ca Fazendo Honorários.—Antonio José
Guião, continuando o exercicio de Desembargador dos
Aggravos; Bento José Saraiva do Amaral, continuando
no exercicio de Juiz da Coroe da segunda Vara.
Deputado Houorario da Meza da Consciência e Ordens.
•—Antônio Corrêa de Amorim c Castro, continuando no
exercicio de Desembargador dos Aggravos.
Aposentado na Meza da Consciência e Ordens, com o
Ordenade por inteiro.—Francisco Xavier Ribeiro de Saoi-
pião.
Vereador do Senado.—Manoel Pereira Ramos de Aze-
edo Coutinho.
Agravistas.—Joaquim Gomes Teixeira; Francisco Luiz
Dias Pereira; Fernando Affonço Giraldes; José Joaquim
Borges da Silva; José Ribeiro Saraiva.
Corregedor do Crime de Corte e Aggra vista.—Joaõ Ma-
noel Guerreiro de Amorim Pereira.
Desembargador dos Aggravos continuando no exercicio
de Ajudante do Procurador da Fazenda.—Antônio Pereira
dos Santos.
Desembargadores dos Aggravos, continuando no exer-
cício de Ouvidores do Crime.—Joaõ Antonio Teixeira de
Bragcnça; Joaquim Manool Garcia de Castro Barboza.
Miscellanea. 261

Desembargador dos Aggravos, continuando no exercicio


de Juiz da Chancellaria.—Antonio Felix Contreiras da
Silva.
Apozentado na Meza dos Aggravos com o ordenado
por inteiro.—Antonio Joaquim da Costa Corte-Real.
Corregedores do Civel da Corte.—Antonio Xavier de
Moraes Teixeira Homem; Manoel Pedro Tavares de Si-
queira.
Juiz das Capellas da Coroa.—José Alexandre da Silva
Castro.

Pela Mordomia Mor.


O Foro de Fidalgo Cavalleiro.—O Tenente-coronel
Luiz Paulino de Oliviera Pinto da França; Bernardo de
Souza Dias; Antonio de Souza Dias.

Mercês em Remuneração dos Serviços das Pessoas que se


distinguiram na Restauração do Reyno.
O Foro de Fidalgo Cavalleiro e uma Commenda da Or-
dem da Torre e Espada aos Membros que servirão na
Junta que entaõ se estabeleceo na Cidade do Porto, a sa-
ber :—Manoel Lopez Leureiro, Provizor que foi do Bis-
pado daquella Cidade; José Dias de Oliveira, Vigário-
geral do mesmo; o Desembargador José de Mello Freire;
o Desembargador Luiz de Siqueira da Gama Ayola ; Fran-
cisco Ozorio da Fonceca, Provedor de Vianna; Antonio
Matheus Freire de Andrade Coutinho.
N. B. Como o Deputado, e Major do Regimento do
N°. 6., Antonio da Silva Pinto, e o Secretario o Desem-
bargador Manoel Joaquim Lopes Pereira Negraõ, saõ fa-
lecidos, foraõs os seus filhos mais velhos attendidos com o
Foro de Fidalgo Cavalleiro; a mesma graça obteve o suc-
cessor de Bemalié de Oliviera Maia também falecido.
Ccmmeiidador da Ordem de Christo.—-Thomaz da Ro-
cha Pinto.
V O L . X I . N o . 63. 2 L
262 Miscellanea.
Cavalleiros da Ordem de Christo.—O Desembargador
José Felicianno da Rocha Carneiro ; o Arei preste Pedro
Antonio Virgollino ; Domingos José Cardozo, Juiz de
Fora que entaõ era Villa de Barcellos; Luiz de Mello;
José Pedro Cardozo e Silva ; Joaõ de Almeida Ribeiro,
que foi Juiz do Povo; André Ferreira da Costa, Presbi-
tero Secular ; Alexandre Pereira da Costa ; Francisco An-
tonio de Carvalho; Daniel José Lopez da Silva, Juiz de
Fora de Trancoso ; ás Pessoas que cazarem com as Filhas
do Falecido Tenente-coronel Joaõ da Cunha Porto Carre-
iro; Bento José de Macedo de Araújo e Castro, Juiz de
Fora de Penafiel, com uma tença de cincoenta mil réis.
Cavalleiros da Ordem da Torre e Espada.—Luiz Pe-
dro de Andrade Brederode. Deaõ da Cathedral no Porto;
Antonio José de Carvalho Pires ; Victorino José Cerveira
Botelho do Amaral, Desembargador da Relação do Porto;
Bernardo de Mello Vieira da Silva e Menezes; José Mon-
teiro Guedes de Vasconcellos Mouraõ, e José Pereira da
Silva Leite de Berredo, ficando-lhes o direito salvo para
pedirem remuneração dos outros seus serviços segundo o
regimento das Mercês.

COLÔNIAS HESPANHOLAS.
O Governo de Puerto Rico, em conseqüência de um
novo decreto das Cortes, publicou variou regulamentos
commerciaes, adaptados a promover a prosperidade da-
quelle estabelicimento. Os privilégios, que até aqui
gozava unicamente a capital da ilha, se extenderaõa todos
os demais portos; aonde os vasos tanto Hespanhoes, como
neutraes, poderão descarregar as suas cargas, e receber
em retorno carregaçoens dos productos da colônia, ou
outra qualquer mercadoria, incluindo mesmo os metaes.
preciosos; sem necessidade de recorrer á alfândega da
capital. A importação do ouro e prata he livre de direi-
tos * na exportação para paizes estrangeiros se deverá pa-
gar no ouro 3 por cento ; e na prata 10 por cento. O
Miscellanea. 263
Hespanhol que exportar gado pagará dous dollars por
cebeça, pelo grande, e quatro reales pelo pequeno. O
exportador estrangeiro pagará tres dollars pelo primeiro,
e 6 reales pelo segundo. Os direitos nos outros artigos
tem de ser rebaixados.
A seguinte he uma copia da proclamaçaõ que descobre
o devido o conhecimento de alguns dos principaes pontos
de economia politica:—
Puerto Rico, 13 de Março, 1313.
Nas ordens expedidas pela Regência do Reyno, con-
forme ao Decreto das Cortes Geraes e Extraordinárias,
para o estabelicimento desta intendencia, se me faz lem-
brar; e se me encarrega estrictamente, " o entregarme
zelosamente ao cuidado de promover todo o melhoramento,
de que he susceptível o rico terreno desta iila; e que,
dando um forte impulso ao seu commercio interno, e ex-
terno, possa o seu Governo ter em breve a satisfacçaõ de
ver, que a affluencia e a felicidade, fomentada em toda a
sua plenitude, que elle deseja, seja a partilha de taõ dig-
nos subditos."
Para que os effeitos da Soberana beneficência, taõ bem
explicada no paragrapho acima, possam daqui em diante
ser experimentados em toda a extençaõ da ilha ; e que os
seus habitantes possam gozar das vantagens, que os con-
vida a sua situação, a fertilidade de seu terreno, e o com-
modo de seus portos; convencidos de que o commercio
naõ requer outra cousa mais do que liberdade e protecçaõ;
e de acordo com o Governador e CapitaÕ-geral, e Juncta
Provincial da Fazenda, as seguintes ordenanças seraõ ob-
servadas desde a presente data :—
1. Todos os portos da ilha, classificados como os outros
portos, poderão fazer o mesmo commercio da capital, sem
nenhuma excepçaõ.
2. A Administração dos dictos portos poderá conceder
2L2
264 Miscellanea.
despachos, e lincenças, sem que seja necessário recorrer a
esta capital para taes documentos.
3. Todo o vaso Hespanhol, amigo, ou neutral, poderá
vender o todo, ou parte de sua carregação, em qualquer
porto desta ilha, com esta liberdade de procurar obter um
retorno da melhor forma que puder, sem detenção, extor-
çaõ ou inconveniente qualquer ; devendo os estrangeiros
conformar-se com as leys e regulamentos do Governo.
4. Os vasos poderaÓ velejar livremente de um porto
para outro, para dispor de suas mercancias, ou completar
os seus retornos, entrando os seus respectivos registros
nas alfândegas que lhes forem mais convenientes.
5. Poder-se-haõ fazer baldeaçoens nos portos aoarbitrio
das partes interessadas, sem que sejam obrigados a desem-
barcar as suas mercadorias.
6. Quanto ás fazendas desembarcadas para reexporta-
çaõ, com tanto que fiquem nos mesmos pacotes, e sem
que haja venda, naõ se pagará direito algum ; e se se tive-
rem pago alguns direitos seraõ restituidos.
1. Será permittida a exportação de todo o producto,
ou manufactura do paiz, proceda de que proceder.
8. Se á também permittida a exportação de ouro ou
prata, naõ cunhados, na qualidade de mercadoria ; e con-
forme ao decreto das Cortes Geraes, de 18 de Septembro,
1811, se cobrará o direito de 3 por cento, de toda a prata
que se exportar para paizes estrangeiros.
9. A importação de ouro, ou prata será livre de todos os
direitos, quer seja feita em navios nacionaes, quer estran-
geiros.
10. O gado, assim como os mais productos da ilha,
poderá ser exportado, sendo o exportador Hespanhol pa-
gará o direito de dous dollars por cabeça no gado maior, e
quatro reales, no menor, e o exportador estrangeiro pagará
o direito de 3 dollars no primeiro, e seis reales no se-
gundo.
Miscellanea. 26 S
11. Os direitos existentes, sobre os productos, e mer-
cadorias, seraõ modificados, se forem oppressivos; e
os qu • se naõ fundamentarem em titulos legitimos, ces-
sarão : e a respeito destes, tenho pedido, e espero obter a
imòrmaçaõ necessária.
IS. Alem das alfândegas, qne actualmente existem, se
estabelecerão outras provisionalmente, para melhor com.
modidade das partes, de maneira que cesse todo pretexto
dos contrabandos, e que a industria seja livre em todos os
seus canaes.
13. Os officiaes das alfândegas se esforçarão no prompto
despacho do expediente <lo commercio, que sempre re-
reqtier brevidade, e promptidaõ. As pessoas desta classe
naõ seraõ izentas dos seus deveres nos dias sanctos.
Mesmo nas festividades ns suas secretarias estarão abertas
duas horas pela manhaã, e uma hora de tarde ; tendo
sempre em lembrança, que devem proceder com equidade
e brandura, e fazer justiça ás intençoens do Governo.
lê. Nas portas da alfândega estará afixada a pauta ou
tarifa dos direitos, que se haõ de cobrar; para que todos
a possam consultar; e, no caso de serem aggravados,
representar o mesmo na repartição competente.
15. Para facilitar o expediente dos negócios se faraõ cir-
cular os formulários de todos os documentos, os quaes
naÕ precisarão de outro trabalho mais, que ser enchidos
com as palavras e nomes courcpondenles.
16. Se houver alguma duvida nestas matérias, as partes
me podt-raõ consultar sem demora, ua intelligencia de que
eu estou authorizado pela Regência de Hespanha a resol-
ver todos os casos, que possam oceurrer, na execução dos
decretos legislativos, para o melhoramento da prosperi-
dade desta ilha.
Tudo o que communico para informação de todos os
habitantes da ilha, e de todo» os negociantes estrangeiros
266 Miscellanea.
que aqui estaõ presentemente, ou aqui chegarem para o
futuro.
(Assignado) ALEXANDRE RAMIREZ.

Exercilo de Operaçoens da parte do Oriente, sitiando


Montesideo.
QUARTO BULLETIM.
Se a população de Montevideo naõ estivesse opprimida
por um despotismo militar, ou tivesse á sua frente um
Governador civil, que cumprisese com o seu dever, man-
tivesse a sua dignidade, e naõ se humilhasse vilmentc ao
commandante das forças ; antes sim lhe desse a entender
que naõ devia prolongar a deti-za por mais tempo do que
éra útil, e que os habitantes julgassem suficiente ; hc in-
dubitavel, que a praça teria ja á muito tempo pedido ter-
mos de capitulação:
De 23 on 24 mil almas, que estaõ fechadas, sabemos
que duas terças partes desejara receber a nova ordem de
cousas: alguns poi sua inclinação natural; outros para
pacificar os seus temores: porém vendo-os taõ pusilâni-
mes e tímidos, que se naõ atrevem a entrar em expliraçaõ
com os authores de seus inúteis sacrifícios; quando os seus
desejos, e necessidades pedem que as suas portas se
abram ao benéfico exercito do paiz; parece que perdem
o direito á nossa compaixão, offerecendo um objecto des-
gostoso ao gênio da liberdade.
A guarniçaõ composta de 2.500 homens, soldados ou
habitantes armados, so.rente mantém a defensa, na espe-
rança de cousa de 4.000 homens, que se lhe tiiz esperar
que viraõ de Hespanha, no decurso do presente mez, e
em quanto elles se entretem com esles divertidos contos, o
exercito da pátria se prepara para novas operaçoens. Mm
breve tempo as obras avançadas se formarão no campo
de Moile, a artilheria fará o seu effeito, e a praça conhe-
cerá, ja demasiado tarde, a necessidade que ex .-.na de t r
Miscellanea. 267
entrado era um arranjamento, que lhe podia obter termos
racionaveis, cm vez de esperar pelo ultimo rigor da
guerra, que os ameaça.
Todo o trigo da colheita, pertencente aos decididos
inimigos de nossa causa, foi ja recolhido, duas terças
partes do qual tem sido dado aos patriotas, que o reco-
lheram, e outra parte foi tomada a beneficio do estado, de
cujos armazéns se fornecem as raçoens de paõ ao exercito.
Aos 8 do corrente se celebrou cora toda a pompa mili.
tar, no exercito sitiador, o augusto acto de reconhecer a
Soberana Assemblea do Estado, e o Supremo poder exe-
cutivo.
As 11 horas da manhaã se formou o exercito em uma
brilhante e respeitável linha, um pouco na retaguarda
do acampamento. As 12, o General em Chefe, o Major
General, o cbeié da parte Oriental; e os de todos os
corpos, e divisoens, os officiaes subalternos, e ultima-
mente as tropas, prestaram suecessivan.ente o juramento
solemne, na presença de 10.000 pessoas de ambos os
sexos, que com as mais vivas expressoens de alegria teste-
munharam aquella majestosa scena, pela qual se procla-
mou a soberania do povo; em quanto dos muros da praça
o inimigo discorria sem duvida a respeito da novidade,
que observava em nosso campo. A cerimonia se con-
cluio pela descarga de vinte e um tiros de artilheria, e
outra de mosqueteria; por toda a linha do exercito.—
(Gazeta de Buenos-Ayres, de 28 d'Abril.)
Chegou ao Governo um correio extraordinário, que
sahio de Chili aos 3 d'Abril, e trouxe a noticia da infeliz
perca da cidade de Concepcion de penedo, invadida por
1300 homens, aos 39 de Março passado. Aquella capi-
tal se estava energicamente preparando, para castigar o
atrevimento do inimigo, e he de esperar que os resultados
conrespondam ao interesse com que aquelles lugares se
268 Miscellanea.
tem proposto a manter a sua liberdade e independência.—
(Gazetade Beunos-Ayres, de 29 dVAbril.)

EXERCITO A I L I A D O NA PENÍNSULA.
Ordem do dia, pelo Marechal-general Wellington, em data
de Ir cuia, y de Julho, i S13
1. O commandante das forças deseja anxiosamente di-
rigir a attençaõ dos officiaes do exercito á situação, em
que elles até aqui se tem achado, entre os povos de Portu-
gal e Hespanha, e aquella em que se poderão achar daqui
em diante, nas fronteiras de França.
2. Daqui em diante se devera usar de toda a precaução
militar para obter noticias, e acaureltar fcurprezas. Os
officiaes generaes e superiores, á frente de corpos desta-
cados, teraõ cuidado de conservar constante, e regular com-
municaçaõ com os corpo» que lhe ficarem i direita e es-
querda, e com a retaguarda ; e se deve impedir, que os
soldados ou os que os seguem saiam dos acampamentos
debaixo de pretexto algum.
3. Naõ obstante que estas precauçoens sejam de abso-
luta necessidade; porque o paiz em frente he do inimigo,
o commandante das forças deseja com particular anxie-
dade, que os habitantes sejam bem tractados; e se deverá
respeitar a propriedade particular.
4. Os officiaes e soldados devem lembrar-se, que ai tuas
aeçoens estaõ em guerra com a França somente porque o
Governante da Naçaõ Franceza lhes naõ permitte estar em
pae; e deseja obrigâlk» a submetter-se ao seu jugo; e
saõ se esquecer que o peior dos males que o inimigo tem
soffrido na sua abandonada invasão da Hespanha e Por-
tugal tem sido produzidos pelas irregularidades dos solda-
dos, e suas crueldades, authorizadas, e animadas por seus
chefes» para tom o* infelizes e pacificou habitantes do
paiz.
5. Vingar este comportamento nos pacíficos habitantes
Miscellanea. 269
âe França, seria deshuraano, e indigno das naçoens, a
quem se dirige agora o commandante das forças; e, em
todo o caso, seria dar occasiaõ aos mesmos males, ou
peiores, do que soffreo o exercito inimigo na Peninsula :
e viria a ser de summo damno aos interesses publicas.
6. Por tanto, as regras que até aqui se tem observado
em pedir, tomar, e dar recibos, pelos provimentos do
do paiz, seraõ continuadas nas aldeas das fronteiras da
França; e os commissarios pertencentes a cada um dos
exércitos das differentes Naçoens receberão as ordens do
commandante em chefe do exercito de sua Naçaõ, relativa-
mente ao modo, e periodo de pagar similhantes provi-
mentos.
(Assignado) £ . PACKENHAM.

Extracto de um officio do Marechal de Campo Marquez


de Wellington, datado de Zubieta, 10 de Julho, 1813.
Depois que me dirigi a V. S. aos 3 do corrente, recebi
noticias do General Mina, referindo, que o General
Clausel, marchara de Çaragoça para Jaca. Naõ tenho
ainda ouvido chegasse aquelle lugar.
Na sua direita tem o inimigo estado quasi na mesma
situação, depois que cruzou o Bidassoa, e destruio a
ponte de Irun.
NaÕ obstante que o inimigo retirou a sua direita inteira-
mente para a França, comtudo mantiveram o seu centro
em força no vale de Bastan, cuja posse pareciam deter-
minados a conservar, por causa de sua riqueza, e fortes
posiçoens, que offerece: e tinha ajunetado ali tres divi-
soens do exercito do sul, debaixo do commando do Gene-
ral Gazan. O Tenente-general Sir Rowland Hill; po-
rem, tendo sido aliviado do bloqueio de Pamplona, o
desalojou suecessivamente de todas as suas posiçoens aos 4,
5, e 7 do corrente, com duas brigadas de infanteria Bri-
tannica, e uma Portugueza da 2 a . divisão, debaixo do
VOL. X I . No. 63. 2 M
270 Miscellanea.
commando do Tenente-general o Honoravel "W Stewart;
e com uma brigada de infanteria Portugueza da divis õ do
Conde d'Amarante, debaixo do commando do Conde.
O ultimo posto que o inimigo occupou em Puerto de
M »ya, entre aquella aldea, e Urdau, éra notavelmente
forte; e a nevoa foi taõ densa pela tarde, que éra impos-
sível ás tropas o avançar alem do ponto em que se acha-
vam quando vieram. O inimigo porém tinha sido repul-
sado vigorosamente, a'é aquelle ponto, demaneira que foi
obrigado a abandonar o seu posio pela noite, e retirar ae
para França.
Em todas estas acçoens se conduziram as tropas nota-
velmente bem, e o Tenente-general Sir Rowland Hill,
ficou muito satisfeito cora o comportamento do Tenente-
general o Honoravel W. Stewart, e do Conde d'Ama-
rante.
Depois que escrevi a V. S. a minha ultima, recebi uma
carta do Tenente-general Lord W Bentinck, de 30 do
passado. Parece por outras noticias, que o Duque dei
Parque se retirou de Xucar, aos 25, sem perca, e tomou
outra vez a sua posição de Castalla.
Incluo a lista dos mortos e feridos aos 4, 5, 7, e 8 do
corrente.

Londres. Repartição da Guerra, 31 de Julho.


Rcci beo-sc na Secretaria de Lord Bathurst, um officio
do Marecbal-de-Caropo Marquez de Wellington, datado
de Lezaco, 19 de Julho, 1813; de que o seguinte saõ
exíractos:—
Eètab lecemos uma bateria de 4 peças de calibre 18,
contra um convento, que o inimigo tinha fortificado e
oecupado em força, na distancia de 60 varas das obras
de S. Scbastian. Esta bateria abrio o fogo aos 14 pela
manhaã, e se desruio o convento por tal forma, que o
Tenente-general Sir Thomaz Graham ordenou aos 17 que
Miscellanea. 271
se tomnsse por aysillo o convento, e um reduto que pro-
tegia o seu flanco esquerdo. Ainda naõ recebi a sua par-
ticipação das circumstancias destas operaçoens, as quaes
porém lóram bem suecedidas ; e as nossas tropas se esta-
beleceram no convento, e na aldea, que lhe fica próxima,
e immediatamente abaixo ; a qual o inimigo tinha quei-
mado.
Recebi uma participação do General Mina, do dia 12;
em que me informa, que o General Duran se lhe tinha
unido nas vizinhanças de Çaragoça; e que aos 8 tinha
atacado o General Paris, o qual por algum tempo com-
mandou a divisão em Aragaõ. O General Paris se reti-
rou na noite de 9, deixando uma guarniçaõ n'um reduto
nas vizinhanças de Çaragoça , que o General Mina deixou
o General Duran pura o atacar, em quanto seguia o ini-
migo com a sua tropa, e a cavallaria do Brigadeiro D .
Juliaõ Sanches. Tomou elle também aos II, considerá-
vel quantidade de bagagem do General Paris, e um
comboy.
He impossível applaüdir demasiado a actividade, in-
telligencia, e galhardia, com que se tem conduzido estas
operaçoens.
Ouvi depois que o General Paris chegou a Jaca, aos
14, e que levou comsigo as guarniçoens de Ayerbe, Hu-
esca, &c. e que estava ao ponto de se retirar para
França.
O Marechal Suchet evacuou Valencia, aos 5 do cor-
rente, e o General Elio entrou naquella cidade, á frente
do segundo exercito, aos 7. Tenho uma carta de Lord
W . Bentinck, de 7, datada de S. Felipe, na qual me in-
forma, que esperava chegar a Valencia aos 10. Naõ te-
nho ouvido que o Marechal Suchet se retirasse para alem
de Castellon: porém retirou-se a guarniçaõ de Segorbia,
e me dizem que, no 1°. do corrente, o General Severolo
2 M 2
212 Miscellanea.
fez voar o forte de Alcaniz, e marchou para Mequinenza
por Caspe.
Depois de escrever o que fica acima recebi um officio
de Sir Thomas Graham, de que incluo a copia, e contem
a participação do ataque ao convento juncto a S. Se-
bastião.

Extracto do um officio do Tenente-general Sir Thomas


Graham ao Marechal-de-Campo Marques dt Wellinglon,
datado de Ernani, aos 18 de Julho, 1813.
Hontem se tomou por assalto o convento de S. Bartholo-
meu, e as obras contíguas, na extremidade da colina ín-
greme para a parte do rio.
A forteleza natural, e artificial destes postos fortificados,
occupávam um grande corpo de tropas, e a impossibilidade
de accesso por outra parte que naõ fosse a frente, faria com
que fosse para desejar, que se destruíssem as defensas o
mais que fosse possivel, e na noite precedente se começou
outra bateria na esquerda; porem naõ estando ainda
prompta pela manhaã ; foi resovido dai-se o ataque.
Formou-se na direita, para atacar o reduto, e debaixo da
direcçaõ do Major-general Hay, uma columna, consistindo
dos piquetes do regimento 3o- de Caçadores, commandados
pelo Tenente Queirós, de 150 homens do regimento 13
Portuguez, commandado pelo Capitão Almeida; susten-
tado por tres companhias do 9o. regimento, sob o com-
mando do Tenente-coronel Crauford, com uma reserva de
tres companhias dos Reaes Escocezes (Royal Scots) sob o
Capitão Anguimbeau. O Major-general Bradford com-
mandou a columna esquerda, que era composta de 200
homens do regimento 13 Portuguez, sob o commando do
Major Inodgrass,daquelle regimento ; e igual numero do 5*.
de Caçadores, sob o Tenente-coronel Macreagh, e susten-
tado pelo regimento 9'., sob o Tenente-coronel Cameron.
Todas as tropas, empregadas neste serviço, estavam de-
baixo do commando do Major-general Oswald.
Miscellanea. 273
Perto das 10 horas da manhaã principiou o ataque a
columna da esquerda, contra o convento, em quanto
a direita passou a barroca ou baixada juncto ao rio.
Ambos os ataques fôram feitos com tal vigor, e resolução,
que se venceram todos os obstáculos, sem a perda que se
devia esperar.
O inimigo foi repulsado em confusão pela colina abaixo,
levando com sigo um poderoso reforço, que lhe acabava de
chegar de S. Sebastião ; e na sua fugida lançou fogo á
aldea de S. Martin.
NaÕ se pôde cohibir a impetuosidade das tropas, nem
com os esforços dos officiaes superiores, que receberam
ordens do Major-general Oswald, para que naõ passassem
de S. Martin ; esesoffreo alguma perca inevitável naquelles
que seguiram o inimigo até a esplanada, quando voltavam
para S. Martin.
Apenas preciso assegurar a V. S. que nesta, assim como
n'outras occasioens, o Major-general Oswald conduzio o
serviço da melhor forma ; e sou igualmente obrigado aos
Major-generaes Hay e Bradford, pelo seu comportamento,
nos ataques que lhe fôram confiados; e em justiça aos offi-
ciaes,cuja distincta galhardia,capitaneandoasuagente pôde
superar a variedade de obstáculos, que se lhes oppunham,
peço licença para mencionar o Major Inodgrass, o Capitão
Almeida, e o Tenente Campbell, do 2o. regimento de in-
fanteria.
NaÕ posso concluir esta participação, sem expressar a
minha plena satisfacçaõ, a respeito de todos os officiaes e
soldados da Artilheria Real, tanto na bateria de quatro
peças, que se empregou por tres dias contra o convento,
como na margem opposta do rio, aonde algumas peças de
campanha fôram servidas, com o melhor effeito.
P. S. Omitti mencionar, que Major-general Hay, faz
mençaõ de suas grandes obrigaçoens ao Capitão Taylor,
do regimento 48 ; seu Major de brigada.
274 Miscellanea.
Da Gazeta Extraordinária Official Inglesa. Reparti-
çaõ da Guerra, 16 de Agosto.
S. A. Sereníssima o Principe Hereditário de Oran<-*e
chegou a esta Secretaria com os ofiicios, que Lord Wel-
lington dirigio ao Conde de Bathun-t; de que o seguinte
saõ copias.
San Estevan, 1 de Agosto, 1813.
Mv l.o RD!—Havendo-se effecluado duas brechas
practicaveis em S. Sebaslian, aos 24 de Julho, deram-se
ordens para o ataque aos 25. Sinlo ter de participar,
que falhou éstn tentativa para obter posse da praça, c
que a nossa perca foi mui considerável.
Havendo o Marechal Soult sido nomeado Lugar Te-
nente do Imperador (Lieutenant de L'Empcreur) e Com-
mandante em Chefe dos Exércitos Francezes na Hespanha
e provincias Meridionaes da França, por um decreto Im-
perial do Io. de Julho, elle se unio ao exercito, e tomou
o seu Commando aos 13 de Julho ; havendo-se-lhe também
nnido, quasi ao mesmo tempo, o corpo que tinha estado
em Hespanha sob o commando do General Clausel, e ou-
tros reforços, se lhe deo o nome de Exercito de Hespanha,
e se tornou a formar em 9 divisoens de infanteria; for-
mando a direita, o centro, e a esquerda, debaixo do Com-
mando do General Reillp, Conde d'Erlon, e General Clau-
zel, como Tenentes-generaes, e uma reserva debaixo do
Commando do General Villate : e duas divisoens de dra-
groens, e uma de cavallaria ligeira, as duas primeiras,
debaixo do commando dos Generaes Treillard e Tilly, c a
ultima debaixo do Commando do General Pi» ire Soult.
Alem disto deo-se ao exercito uma porçaõ de artilheria;
e ja se lhe unio considerável numero de peças.
O exercito Alliado estava postado, como ja informei a
V. S., nos passos das montanhas. A brigada de infante-
ria Britannica do Major-general Bying ; e a divisão de in-
fanteria Hespanhola do General Murillo, estavam na di-
Miscellanea. 275
reita, no passo de Roncesvales. O Tenente-general Sir
Lowry Cole estava postado em Viscaret, para sustentar
estas tropas; e o Tenente-general Sir Thomaz Picton es-
tava postado com a 3*. divisão era Olaque, em reserva.
O Tenente-general Sir Rowland Hill occupava o vale
de Bastan com o resto da 2*. divisão, e uma divisão Por-
tugueza, sob o Conde d'Amarante, destacando a brigada
Portugueza do General Campbell, para Los Alduides,
dentro do território Francez. As divisoens ligeira e 7m*.
occupáram as alturas de S. Barbara, e a cidade de Vera e
o Puerto de Echalar ; e conservaram a communicaçaõ com
o vale de Bastan; e a 6 a . devisaõ em reserva estava em
S. Estevan. A divisão do General Longa conservou a
communicaçaõ entre as tropas em Vera, e as do Tenente-
general Sir Thomas Graham, e Marechal de campo Gi-
ron, na estrada grande.
O Conde dei Abisbal bloqueava Pamplona.
Aos 24 o Marechal Soult ajunctou a ala direita a es-
querda do seu exercito com uma divisão do centro, e duas
divisoens de cavallaria, em St. Jean de Pied de Porl, c
aos 25, atacou com 30 a 40 mil homens o posto do Gene-
ral Bying em Roncesvales. O Tenente-general Sir Lowry
Cole marchou em seu auxilio, com a 4 a . divisão ; e estes
officiaes puderam manter o seu posto por todo o dia. Po-
rem o inimigo voltou de tarde, e o Tenente-geral Sir
Lowry cole considerou que éra necessário retirar-se de
noite ; e marchou para as vizinhanças de Zubiri.
Nas acçoens, que tiveram lugar neste dia, se distinguio
o regimento 20.
Duasdivisoens do centro do exercito inimigo atacaram a
posição de Sir Rowland Hill, em Puerto deMaya, na frente
do vale de Bastan pela tarde do mesmo dia. O vivo da ac-
çaõ cahio sobre as brigadas do Major-general Pringle, e
Major-general Waikers, na segunda divisão, sob o comman-
do do Tenente-general o Honr. W . Stewart. Estas tropas
276 Miscellanea.
ao principio fôram obrigadas a retroceder; porém tendo sido
sustentadas pela brigada do Major-general Barnes, da 7"",
divisão, tornaram a ganhar aquella parte do seu posto,
que era a chave do todo, e os teria habilitado a reto-
mallo, se as circumstancias o permittissem; porém Sir
Rowland Hill, tendo sido informado da necessidade da re-
tirada de Sir Lowry Cole, julgou conveniente retirar as
suas tropas igualmente para Irtirita; e o inimigo naõ
avançou no dia seguinte alem de Puerto de Maya.
Naõ obstante a superioridade de numero no inimigo,
elle obteve pouca vantagem desta valentes tropas, durante
as si tle horas que combateram. Todos os regimentos
carregaram á bayoneta. O comportamento do regimento
12, que marchou com abrigada do Major-general Barnes,
entra com particularidade na participação que se fez.
O Tenente-general o Honr. W Stewart foi ferido leve-
mente.
Eu naô soube destes acontecimentos senaõ tarde na noite
de 25 para 26 ; e tomei immediatamente medidas para con-
centrar o exercito para a direita, providenciando com tudo
ainda no cerco de S. Sebastião, e no bloqueio de Pam-
plona.
Ter-se-hia effectuado isto cedo na manhaã de 27; se
naõ-fosse terem concordado o Tenente-general Sir Lowry
Cole, e o Tenente-general Sir Thomaz Picton, cm que o
seu posto em Zubiri naõ se podia sustentar, pelo tempo
que seria necessário para ali esperar. Elles portanto se
retiraram cedo no dia 27, e tomaram uma posição para
cubrir o bloqueio de Pamplona, tendo a direita, que con-
sistia na 3*. divisão, em frente de Huarte, e r.\ tendendo -se,
para os outeiro* além de Olaz; e a esquerda, consistindo
da 4 divisão, c brigadas do Major-general Bying, r brisr..-
da Portugueza do Brigadeiro-general Campbell, nas al-
turas cm frente de Villaiba, lendo a sua et-querda em uma
capella por detraz de Sorausen, na estrada grau.k* de Os-
Miscellanea. 277
tiz para Pamplona, e apoiando a sua direita em uma al-
tura, que defendia a estrada grande de Zubiri e Ronces-
vales. A divisão do General Murillo de infanteria Hes-
panhola, e aquella parte do corpo do Conde dei Abisbal,
que naõ entraram no bloqueio, estavam em reserva.
Deste se destacaram os regimentos de Travia e d'El Prin-
cipe, para occupar o onteiro na direita da 4 \ divisão, por
onde se defendia a estrada de Znbiri.
A cavallaria Britannica, sob o Tenente-general Sir Sta-
pleton Cotton, estava postada juncto a Huarte na direita,
sendo o único terreno era que éra possivel usar de cavalla-
ria.
O rio Lanz corre pelo vale que ficava na esquerda dos
alliados, c na direita do exercito Francez. Alem deste
rio está outra cordilheira de montes connexos com Ligas-
so, e Marcalain, por cujos lugares éra necessário commu-
nicar com o resto do exercito.
Ea me ajunetei á 3 a . e 4*. divisoens, justamente quan-
do ellas se estavam postando, no dia 27 ; e pouco depois o
inimigo formou o seu exercito sobre um monte, cuja frente
se extende desde Ostiz, até a estrada grande de Zubiri j
e colocou o inimigo uma divisão na sua esquerda daquella
estrada, sobre uma colina, e cm algumas aldeas, em frente
da terceira divisão. Elle tinha também um grande corpo
de cavallaria.
Pouco tempo depois de se terem os inimigos formado
no seu terreno, o inimigo atacou o outeiro na direita da 4 a .
divisão, que estava entaõ occupada por um batalhão do 4 o .
regimento Portuguez, e pelo regimento Hespanhol de
Pravia.
As tropas defenderam o seu terreno, e expulsaram delle
o inimigo á bayoneta. Vendo a importância deste outeiro
para a nossa posição, eu o reforcei com o regimento 4 0 ; e
este regimento com os Hespanhoes El Principe e Pravia,
o sustentaram desde este tempo, naõ obstante os repetidos
V O L . X I . No. 63. 2w
278 Miscellanea.
esforços do inimigo, durante os 27 e 28, para obter posse
delle.
Quasi ao mesmo tempo, que o inimigo atacou esta altu-
ra aos 27, tomou também posse da aldea de Sourausen, na
estrada de Ostiz, por onde adquiriram a communicaçaõ
por aquella estrada, e conservaram ura fogo de niusque-
teria ao longo da linha até escurecer.
N a manhaã de 28 se nos unio a 6 a . divisão de infanteria,
c eu ordenei, que se oecupassem os outeiros que ficam na
esquerda do vale de Lanz ; e que a 6a. divisão se formasse
atravez do vale na retagunrda da esquerda da 4*. divisão,
apoiando a sua direita era Orican, e a esquerda nas alturas
acima mencionadas.
A 6 a . divisão tinha apenas tomado a sua posição, quando
foi atacada por uma grande força inimiga, que se tinha
ajunetado na aldea de Sorauscn.
A frente porém foi taõ bem defendida, pelo fogo dos
outeiros occupados pela 4*. divisão, e brigada Portugueza
do Brigadeiro-general Campbell, que o inimigo em breve
tempo foi repulsado com immensa perca, que lhe causou
o fogo em frente de ambos os flanços e na retaguarda.
A fim de desembaraçar as suas tropas da difficuldade
cm que se achavam na sua situação do vale de Lanz, os
inimigos atacaram a altura aonde estava a esquerda da 4'.
divisão, e éra occupada pelo 7 o . de Caçadores, e de que
obtiveram uma momentânea posse. Elles foram porém
atacados de novo pelo 7o. de Caçadores, sustentado pelo
Major-general Ross, á frente de sua brigada da 4*. divisão,
e repulsados com grande perda.
A batalha se tez entaõ geral ao longo de toda a frente
da linha de alturas occupada pela 4*. divisão, e em toda
a parte éra a nosso favor, excepto aonde estava postado
um batalhão do regimento 10 Portuguez, da brigada do
Maior-o-eneral Campbell. Este batalhão suecumbindo ao
grande numero de inimigos, foi obrigado a retroceder, ru
Miscellanea. 279
direita da brigada do Major-general Ross ; o inimigo se
estabeleceo na nossa linha, e o Major-general Ross se vio
obrigado a retirar-se de seu posto.
Eu porém ordenei aos regimentos 27 e 48, que carre-
gassem, primeiro aquelle corpo do inimigo que se tinha
estabelecido nas alturas, e depois o da esquerda. Ambos
os ataques fôram bem suecedidos. e o inimigo expulsado
com grande perca : e tendo-se a 6*. divisão movido para
diante, ao mesmo tempo, para uma situação juncto ao
vale, na esquerda do 4". cessou inteiramente o ataque em
frente, e continuou fracamente em outros pontos de nossa
linha.
No decurso desta contenda a volorosa 4". divisão, quo
taõ freqüentemente se tem distinguido neste exercito, sobre
excedeo o seu mesmo comportamento passado. Todos os
regimentos atacaram á bayoneta; e o 40°, 70% 20°, e 23-,
quatro vezes differentes. Os seus officiaes deram o exem-
plo ; e o Major-general Ross teve dous cavallos mortos
debaixo de si. As tropas Portuguezas igualmente se com-
portaram admiravelraente bem: e tenho toda a razaõ
para estar satisfeito com o comportamento dos regimentos
Hespanhoes El Principe, e Pravia.
Eu tinha ordenado ao Tenente-general Sir Rowland Hill
que marchasse por Lanz para Lezasso, logo que achei
que os Tenentes-generaes Sir Thomas Picton, e Sir Lowry
Cole tinham sabido de Zubiri; e ao Conde de Dalhousie
mandei que fosse de San Estevan, para o mesmo lugar,
aonde ambos chegaram aos 2 8 ; e a 7 ma . divisão veio para
Marcalain.
A força do inimigo, que tinha estado em frente de Sir
Rowland Hill, seguio a sua marcha, e chegou a Ostiz aos
29. O inimigo assim reforçado, e oecupando uma posição
nas montanhas, que pareciam pouco sugeitas a ser ataca,
das, achando que naõ podia faser impressão cm nossa
2 N 2
280 Miscellanea.
frente determinou esforçar-se em fianquear a nossa esquer-
da, por um ataque ao corpo de Sir Rowlond Hill.
Os inimigos reforçaram com uma divisão as tropas que
lhe ficavam em frente, oecupando sempre os mesmos pos-
tos as montanhas, aonde tinham formado a sua força
principal ; porém puchàram para a sua esquerda as tro-
pas que oecupavam as alturas em frente da terceira divi-
são ; e oceuparam durante a noite de 28 e 39, com grande
força o vértice da montanha na nossa esquerda de Lanz,
em frente da 6'. e 7*. divisoens ; unido assim a sua direita
da posição, com as divisoens destacadas para atacar Sir
Rowland Hill.
E u , porém, determinei atacar a sua posição, c ordene^
ao Tenente-general Conde Dalhousie, que se apossasse do
cume da montanha cm sua frente com o que se flanquearia
a direita do inimigo : e ao Tenente-general Sir Thomaz
Picton, que cruzasse as alturas aonde estava a esquerda do
inimigo, e lhe rodeasse a esquerda, pela estrada de Hon-
res valles. Fizéram-se todos os arranjamentos para atacar
a frente da posição do inimigo: logo que se percebesse
o effeito destes movimentos no seu flanco. O Major-ge-
neral o Honr. Edwardo Pakenham, que eu tinha manda-
do para commandar a 6". divisão, por ter sido ferido o
Major-general Pack, ílanqueou a aldea de Sorausen, logo
que o Conde de Dalhousie expulsou o inimigo da monta-
nha, que defendia aquelle flanco: e a 6'. divisão, e a
brigada do Major-general Bying, que tinha substituído a
4*. divisão na esquerda da nossa posição, na estrada
de Ostiz, atacaram instantaneamente c tomaram aquella
aldea.
O Tenente-general Sir Lowry Cole atacou igualmente
cm frente a posição principal do inimigo com o 7 o . de Ca-
çadores, sustentado pelo regimento 11°. Portuguez ; e44»
c o batalhão, commandado pelo Coronel Bingbam, con-
Miscellanea. 281
sistindo dos regimentos da Raynha e 53. Todas estas
operaçoens obrigaram o inimigo a abandonar uma posicaõ
das mais fortes, e de mais difficil accesso que tenho visto,
occupada por tropas.
Na sua retirada desta posição perdeo o inimigo grande
numero de prisioneiros.
NaÕ posso applaudir suficientemente o comportamento
de todos os officiaes generaes, officiaes, e tropas em todas
estas operaçoens. O ataque feito pelo Tenente-general, o
Conde de Dalhousie, foi admiravelmente bem conduzido
por S. S., e executado pelo Major-general Inglish, e tro-
pas que compõem a sua brigada ; e o que fez o Major-
general, o Honr. Eduardo Pakenham, e Major-general
Bying ; e o que fez o Tenente-general Sir Lowry Cole }
assim como o movimento de Sir Thomas Picton, merecem
a minha mais alta recommendaçaõ.
Este ultimo official cooperou no ataque da montanha,
destacando tropas para a sua esquerda, no que foi ferido o
Honr. Tenente-coronel Trench ; mas espero que naÕ seja
cousa séria.
Em quanto se continuavam estas operaçoens, e á pro-
porção que eu observava os seus bons suecessos, destaquei
tropas para sustentar o Tenente-general Sir Rowland Hill.
O inimigo apparecêo na sua frente ja tarde na manhaã;
e immediatamente começou e extendeo a manobra no seu
flanco esquerdo, o que o obrigou á retirar-se de um ou-
teiro, que occupava por detraz de Lizasso, indo para a
cordilheira seguinte. Elle com tudo se manteve ali, e
**>
incluo a sua participação sobre o comportamento das
tropas. E u continuei a perseguir o inimigo, depois de
sua retirada para o monte de Olaque, aonde eu me achei
ao pôr do sol, immediatamente na retaguarda do seu
ataque contra o Tenente-general Sir Rowland Hill. Os ini-
migos se retiraram de sua frente durante a noite, e honlcui
285 Miscellanea.
tomaram uma forte posição, com duas divisoens, para eu»
brir a sua retaguarda no passo de Donna Maria.
O Tenente-general Sir Rowland Hill, e o Conde de
Dalhousie, atacaram, e tomaram o passo, naõ obstante a
vigorosa resistência do inimigo, e a fortaleza de sua po-
sição. Sinto ter de accrescentar, que o Tenente-general
o Honr. Guilherme Stewart, foi ferido nesta oceatiaõ.
Incluo a participação do Tenente-general Sir Rowland
Hill.
No entanto eu marchei com a brigada do Major-
general Bying e a 4 a . divisão, sob o Tenente-general
Sir Loury Cole, pelo passo de Velate para lrurita a fim
de fianquear a posição do inimigo por Donna Maria. Em
Elizondo, o Major-general Bying tomou um comboy, que
hia para o inimigo, e fez muitos prisioneiros.
Continuamos hoje o seguimento do inimigo, no vale do
Bidassoa, e se tem tomado muitos prisioneiros, e muita
bagagem ; o Major-general Bying se apossou do vale de
Bastan, e da posição de Puerto de Maya; e o exercito
ficará esta noite quasi nas mesmas posiçoens, que occu-
pava aos 25 de Julho.
Espero que S. A. R. o Principe Regente ficará satisfeito
com o comportamento das tropas de S. M. c de seus al-
liados nesta occasiaõ. Havendo o inimigo reforçado, e
tornado a apetrechar-se depois da sua ultima derrota, fez
uma formidável tentativa para fazer levantar o bloqueio
de Pamplona; com todas as suas forças, excepto a re-
serva, commandada pelo General Villatte, que ficou em
frente de nossas tropas, na estrada grande de Irun. Esta
tentativa foi inteiramente frustrada pelas operaçoens de
uma parte somente do exercito Aluado; c o inimigo
soffrco uma derrota, e grande perca tanto de officiaes
como de soldados.
As esperanças que o inimigo tinha de bom successo,
alem do ponto de fazer levantar o bloqueio de Pamplona,
MisceUanea. 283
eram certamente mui ardentes. Trouxeram para a Hes-
pinha um grande corpo de cavallaria, e grande numero
de peças; mas nenhumas destas armas poderam ter uso
extenso de nenhuma das partes, na batalha que se deo. Oa
inimigos mandaram a artilheria para St. Jcan de Pied de
Port, na tarde de 28 ; e assim voltou a salvamento para
França.
As relaçoens circumstanciadas das operaçoens mostrarão
a V. S. quanta razaõ tenho de estar satisfeito com o com-
portamento dos generaes, officiaes, e tropas. H e impos-
sível descrever o valor enthusiastico da 4 a . divisão; e sou
mui obrigado ao Tenente-general Sir Lowry Cole, pela
maneira em que dirigio as suas operaçoens; ao Major-
general Anson, Major-general Bying, Major-general
Campbell do serviço Portuguez. Todos os officiaes com-
mandantes, e officiaes dos regimentos fôram notáveis por
sua galhardia ; porém observei particularmente o Te-
nente-general 0'Toole do 7". de Caçadores, no ataque
sobre o inimigo na nossa esquerda, aos 28, e capitão Joa-
quim Telles Jordaõ, do 11°. regimento Portuguez, no
ataque do monte aos 30.
Permita-me V. S. que chame a sua attençaõ igualmente
pára o precioso auxilio, que recebi, em todas estas ope-
raçoens, do Tenente-general Sir Rowland Hill; do T e -
nente-general o Conde Dalhousie, e Sir Thomaz Picton,
nas de 30 e 31 de Julho.
Ao Conde dei Abisbal taõbem sou obrigado por me
prestar todo o auxilio em seu poder, que era compatível
com a sua attençaõ ao bloqueio. Tenho ja mencionado o
comportamento dos regimentos de Pravia, e El Principe,
pertencentes ao exercito de reserva de Andalusia, na mais
critica situação; e todo o corpo parecia animado pelo
mesmo zeloso espirito, que prevalecia em todas as tropas
naquella posição.
O Marechal Sir Guilherme Beresford esteve comigo em
284 Miscellanea.
todas estas operaçoens, e recebi delle todo o auxilio ; que
os seus talentos tam bem o qualificam a prestar-me. O
bom comportaraento dos officiaes e tropas Portuguezas,
em todas as operaçoens da presente campanha, e o espirito
que mostram em todas as occaúoens, naõ saõ menos hon-
rosos para aquella naçaõ, do que o saõ para o character
militar do official, que por suas judiciosas medidas tem
restabelecido a disciplina, e revivido o espirito militar no
exercito.
Tenho outra vez de chamar a attençaõ de V. S. á pre-
ciosa attençaõ que recebi em todas estas operaçoens do
Quartel-mestre-general o Major-general Murray, e Adju-
dante-general o Major-general Packenham, e dos officiaes
da quellas repartiçoens respectivamente ; e do Tenente-
general Lord Fitzroy Soraersct, Tenente-coronel Campbell
e officiaes do raeu estado-maior pessoal.
Ainda que saõ numerosos os nossos feridos, julgo-me
feliz cm poder dizer, que, em geral, os casos saõ levia-
nos ; e tenho grande prazer em referir a V. S. que o In-
spector dos Hospitaes o Dr. M'Gregor, e os officiaes da
repartição que lhe he subordinada, tem prestado aos feri-
dos a maior attençaõ.
Considerando a extensão e natureza de nossas opera-
çoens, c as difficuldades de nossas communicaçoens, em
algumas oceasioens, tenho razaõ para estar mui satisfeito
com o zelo e esforços de Sir Robert Kennedy, Commissa-
rio-geral, e mais officiaes de sua repartição, em toda a
campanha : os quaes, geralmente fallando, tem sido mais
bem suecedidos em supprir as tropas, do que se podia se-
perar.
Remetto este officio a V. S. por S. A. Sereníssima o
Principe Hereditário de Orange, que está perfeitamente
informado de tudo que se passou, e da situação do exer-
cito; e poderá informar a V.S. de muitas particulari-
dades, relativas a esto série de operaçoens, para que naõ
Miscellanea. 285
ha lugar em um officio. S. A. teve o cavallo morto de-
baixo de si', na batalla de Sorausen aos 28 de Julho.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) WELLINGTON.
Omitti informar a V. S. no corpo do meu officio, de que
as tropas em Puerto de May a, perderam 4 peças Portu-
guezas aos 25 de Julho. O Major Pringle, que ali com-
mandava, quando começou o ataque, tinha-as mandado
retirar para Maya, e quando chegou o Tenente-general
Stewart, mandou que ellas voltassem, e se retirassem pelo
caminho da montanha para Elizondo. No entanto o ini-
migo se tinha apossado da passagem.e ficou perdida a com-
municaçaõ com aquella estrada, e naõ puderam Ia chegar.
Incluo os mappas das percas, ante San Sebastian, desde
7 até 27 de Julho, e as listas dos mortos, feridos, e extra-
viados, nas operaçoens desde 25 do passado até o 1*. do
corrente.

Julho 3 1 , 1813.
Mv LORD !—Tenho a satisfacçaõ de informar a V. S.
que ; supposto que pela immensa superioridade de força,
que o inimigo dirigio contra a posição encarregada ao meu
cuidado; era na minha opinião, hontem, imperiosamente
necessário retirar-me daquelle terreno; o comportamento
dos officiaes Inglezes e Portuguezes, foi tal ; que lhes dá
direito a minha total approvaçaõ; e naõ podia desejar que
fosse melhor.
O Major-general Pringle, com a brigada do Major-
general Walker, sob o Tenente-coronel Fitzgerald do re-
gimento 60*., sustentado pelo regimento 34°, e regimento
44*. Portuguez, se oppoz á subida do inimigo pela cordi-
lheria na esquerda da posição, da maneira mais galharda,
repulsou-o repetidas vezes ; e ainda que ultimamente naõ
lhe pôde impedir, que subisse a cordilheira, por um movi-
mento mais distante, as nossas tropas conservaram firme*
V O L . XI. No. 63. 2 o
286 Misccll.inea.
mente o seu terreno, e quando se lhes ordenou a retirada, a
fizeram, debaixo do commando do Major-general Pringle,
com a maior regularidade, e com pequena perca, cobertas
por um batalhão do regimento 14 Portuguez, sob o Te-
nente-coronel M'Donald, do comportamento deste official
e da firmeza de seu regimento, falia o Major-general em
termos do maior louvor.
A brigada do Coronel Ashworth, atacada também nesta
posição por uma força superior, resitio ao ataque com a
maior firmeza, e repulsou o inimigo ante si com a bayo-
neta calada, e conservou o seu terreno, por todo o tempo
que elie julgou prudente fürêllo: e um batalhão da brigada
do brigadeirc-general Da Cosia, manteve a cordilheira na
direita da posição, até o ultimo momento, cubrindo av for-
mação das tropas, no terreno que se lhes mandou tomar:
o inimigo tentou forçar o ponto, mais foi repulsado pelo
brigadeiro Da Costa, e finalmente repulsado pela cordilheira
abaixo â ponta da bayoneta, por aquelle batalhão, e parte
da brigada do Coronel Ashworth, e um pequeno destaca-
mento do regimento 28. Geralmente, posso assegurar a
V . S., que o inimigo naõ tem de que se gabar, nem foi
grande a nossa perda, considerando a disparidade das
nossas forças.
Sinto-me particularmente obrigado ao Major-general
Pringle por seu comportamento nesta occasiaõ, assim como
ao Coronel Ashworth ; Coronel 0'Callaghan, e Tenente-
coronel Fitzgerald, do 60*. regimento de infanteria, que
com manda vam brigadas debaixo de suas ordens : e também
ao Tenente-general Conde d'Amarante, e Brigadeiro-ge-
neral Da Costa que ficou ferido.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) ROWLAND H I L L .
Ao Marechal do Campo Marquez de Wellington, C G . &c.
P . S. Naõ devo omiuir fazer mençaõ dos serviços do
coronel Pamplona, e Tenente-coronel Pyn, do regimento
Miscellanea. 281
18, Tenente-coronel Grant, e Major Mitchell, comman-
dante do 6o. de linha ; e do reg. 6 o . Portuguez da brigada
do Coronel Ashworth.

Elizonda, 1 de Agosto, 1813.


M Y L O R D ! — T e n h o a honra de informar a V S. que,
em obediência das intrucçoens que recebi pelo Major-
general Murray, parti homem cora a columna debaixo
de minhas ordens, pela estrada de Donna Maria. Che-
gando nós ao pé do passo, achamos o iuimigo subindo o
outeiro com grande pressa, e apertado mui de perto pela
7*. divisão, marchando por um caminho parallelo, e para
a direita do qual se achava a minha columna. Tendo a
retaguarda da columna do inimigo começado a subir os
montes, antes de nós termos chegado, foi impossível cortar
nenhuma parte delia. Foi porém consideravelmente incom-
modada na sua marcha, por uma peça de 9, e um obuz.
Eu ordenei immediatamente á 2*. divisão, sob o Tenente-
general Stewart, que subisse ao outeiro, pela estrada em
que nós estávamos, em quanto a columna do Conde Dal-
housie subia por outra, mais pela direita. O inimigo to-
mou, uma forte posição no cimo do passo, com uma nuvem
de escaramuçadores em frente.
O ataque, da nossa parte, foi conduzido pelo Tenente-
Stewart com a brigada do Tenente-general Waiker, sob o
Tenente-coronel Fitzgerald, do 6 o ., que fez retroceder os
escaramuçadores do inimigo até a summidade do ou-
teiro; porém cahindo sobre o seu corpo principal, o
achou taõ numeroso, e taõ fortemente postado, que o Te-
nente-general Stewart se resolveo i retirar-se até que a 7%
divisão chegasse assaz perto para cooperar com elle. Por
este tempo foi ferido o tenente-general, e o commando da
divisão se desolveo ao Major-general Pringle, que com a
sua própria brigada, comm:tndadu pelo Coronel 0'Callag-
hau rçnovou o ataque de nossa parte, em quanto a 7*.
2 o 2
288 Miscellanea.
divisn.Õ apertava o inimigo pela outra, e ambas as divisoens
ganharam as alturas ao mesmo tempo, retirando-se o ini-
migo, depois de soflrer perda considerável. O compor,
tamento do Tenente-general Stewart, Major-general Prin-
gle, officiaes e tropas debaixo do seu comando, cm geral,
foi conspicuamente bom; c sinto que a densidade da
nevoa nos impedisse tirar aquelle partido da situação do
inimigo, que alias podíamos ter tirado. Uma parte de
cada urra das divisoens perseguio-o por alguma distancio,
pelo monte abaixo, e lhe causou considerável perca.
Tendo assim preenchido até este ponto as instrucçoens
de V. S. retirei a minha columna do passo, e a fiz
mover para Almandoz.
O General Pringle louva o comportamento do Capitão
Heisse e Capitão Thorn, nesta occasiaõ ; e eu creio, que
hé da intenção do Tenente-general Stewart participar a
V S. o bom comportamento de alguns outros officiaes:
mas a sua ferida o tem provalmente demorado.
Tenho a honra de ser, tfec.
(Assignado) ROWLAND H I L L .

Lczaca, 4 de Agosto, 1813.


M T ÍJORD! — Havendo-sc demorado o Principe de
Orange até hoje, para se obterem as participaçoens, tenho
de informar a V- S. que o inimigo ainda continuava pos-
tado na manhaã de 2, com a força de duas divioens cm
Puerto Ecbafor, e qu.isi todo o demais exercito, por de-
traz do Puerto. As nossas divisoens 4 a ., 7*., e ligeira
av.nçáram pelo vale de üidassoa para a fronteira; e
eu tinha determinado de-.aloj.illo por um ataque e
movimento combinado das tres divisoens.
Havendo porém a 7a. divisão cruzado as montanhas de
Sumbilla, c tendo iuccM,:iriaiiientc precedido a chegada
da 4a. be formou para o ataque a brigada do Major-general
Barnes, a qual avançou, antes que as divisoens 4a c Li-
geira pudessem cooperar, com tal regularidade, c ga-.
Miscellanea. 289
lhardia, qual raras vezes tenho visto igualar, e actualmente
repulsou duas divisoens do inimigo, naõ obstante a resis-
tência, que se lhe oppoz daquelles formidáveis montes.
He impossível que eu possa louvar demasiado o compor-
tamento do Major-general Barnes, e destas valorosas tropas
que fôram a admiração de todos os que as viram.
A brigada do Major-general Kempt, da divisão Li-
geira, igualmente repulsou uma força mui considerável do
rochedo, que forma a esquerda do Puerto.
Naõ ha agora inimigo no campo, desta parte das fron-
teiras Hespanholas.
Tenho a honra de incluir a participação do Tenente-
general Sir Thomas Graham, sobre o assalto de San Se-
bastian.
Em quanto as tropas estavam empenhadas na vizi-
nhança de Pamplona, como referi no meu officio do I o . do
corrente, o Brigadeiro-general Longa oecupou com a sua
divisão esta parte do Bidassoa, incluindo a villa de Vera.
Aquella parte do exercito do inimigo, que tinha sido
deixada em observação das tropas alliadas, na estrada
grande de Irun, o atacou aos 28 ; mas elle a repulsou cora
perca considerável.
Tenho grande prazer em participar o bom comporta-
mento destas tropas em todas estas oceasioens ; c igual-
mente de um batalhão de caçadores Hespanhol, na divisão
do exercito Gallego da divisão do General Barcena, que
tinha sido mandado para a ponte de Yansi, quando o
inimigou se retirou no I o . corrente, e que a manteve con-
tra um numero mui superior, durante grande parte do dia.
Naõ oceurreo nada de importância era Aragaõ, desde o
meu officio de 19 de Julho.
Tenho uma participação do Tenente-general Lord
Guilherme Bentick, datada de Binaroz, aos 21 de Julho ;
e estava fazendo preparativos para cruzar o Ebro.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) WELLINGTON.
290 Miscellanea.
p . S.—Incluo a lista dos mortos e feridos, no ataque da
posição do inimigo, aos 2 do corrente.

Ernani, 27 de Julho, ISI3.


M Y LOKI> '.—O ataque da brecha na linha da mu.
muralha, no ftauco esquerdo de S. Sebastião, teve lugar na
manhaã de 25 ; quando a baixa mar deixou seco o pé da
muralha ; o que aconteceo logo que foi dia. Sinto ter a
dizer que, naÕ obstante a distincta galhardia das tropas
empregadas, algumas das quaes abriram o seu caminho
até a cidade, o ataque naõ foi bem suecedido. O inimigo
ocetipou em força todas as defensas da praça, que ficavam
para aquella parte, donde, e de todos os orredores da
brecha pôde fazer um taõ destruetor togo de metrallia, e
mosqueteria, ílanqueando, e enfiando a colunina ; c ati-
rando igualmente ás tropas com granadas de maõ, que foi
necessário desistir do assalto.
A perca que sofiremos nesta occasiaõ foi pczada ; espe-
cialmente o 3 o . batalhão de Royal Scots ; o da frente da
brigada do Major-general Hay, que, estando de serviço
nas trincheiras, formou a columna de ataque: a brigada
Portugueza do Major-general Robinson; e o 4 o . regi-
mento de caçadores de Brigadeiro-general Wilson, esta-
vam em reserva nas trincheiras; e o todo debaixo da
direcçaõ tio Major-general Oswald, commandante da 5*.
divisão.
Ainda que este ataque falhou, seria grande injustiça nau
segurar a V. S. que as tropas se conduziram com a ga-
lhardia ordinária, e somente se retiraram, quando eu jul-
guei, que a ulterior perseverança no ataque oceasion ria
nm inútil sacrifício de gente valorosa. O Major-general
Hay, Major Frazer, Coronel o Honr. C. F . Greville e
Coronel Cameron, commandaiido os regimentos Rr.yal
Scots o 38°. e 9 o ., se distinguiram mui particularmente.
O Major Frazer perdeo a vida na brecha, com muitos de
eus valorosos c i m u a das.
Miscellanea. 291
O comportamento dos officiaes e soldados da artilheria
Real, e engenheiros, cm todas as operaçoens do cerco ate
aqui, nunca foi excedido no zelo infatigavel, actividade
e galhardia ; e peço licença para mencionar em parti-
cular a V. S. os Tenentes-coroueis Dickson, Frazer, c
May, Major Webber Smyth, da artilheria Real; o T e -
nente coronel R. Fletcher, o Tenente-coronel Burgoyne, e
os Major Ellicombe, e C. F Smith, dos engenheiros
Reaes.
Os tres officiaes deste corpo, empregados em conduzir
ns differentes partes das columnas de ataque, se comporta-
ram admiravelmente ; mas sofFrêram muito. O Capitão
Lcwis perdeo uma perna ; o tenente Jones foi ferido na
brecha e tomado ; o Tenente MacheiI, depois de voltar
foi morto nas trincheiras.
Peço também licença para recommendar a V. S. o Te-
nente Campbell, do 9 o ., que capitaneou a ultima espe-
rança, e foi perigosamente ferido na brecha. Tenlto
também a maior satisfacçaõ em assegurar a V S. do mais
cordeal apoio e auxilio, que tem prestado Sir George
Collier, commandante dos navios de 8. M. nesta costa ; e
todos os officiaes e marujos da esquadra empregados cm
terra.
Naõ faltou esforço algum que se pudesse prestar ; e o
Tenente-coronel Dickson me representou nos termos mais
fortes, o firme e valoroso comportamento de um destaca-
mento de marinheiros nas baterias, debaixo do commando
do Tenente 0'Reilly (primeiro tenente do navio de S. M.
Surveillante) e de seu exemplar comportamento em quanto
estiveram em terra. Peço vos também licença para men-
cionar Mr. Digby Marsh, contra mestre, que fez o serviço
de tenente nas baterias, depois que foi ferido o Tenente
Dunlop. Tenho a honra de ser, &c.
Assignado) T . GRAHAM.
Ao Marechal de Campo o Marquez de Wellington, C.G.&c.
2 92 Miscellanea.
Resumo dos mortos, e feridos, 8tc. em S. Sebastian, de 7
até 27 de Julho.
Inglezes.—1 Major, 2 capitaens, 5 tenentes, l d'estado-
maior, 7 sargentos, e 96 soldados; mortos, 2 tenrnte-co-
roneis, 13 capitaens, 13 tenentes, 3 alferes, 2 dVstado-
maior, 21 sargentos, 1 tambor, e 379 soldados; feridos,
3 tenentes, 2 alferes, 4 sargentos, e 147 soldados extra-
viados.
Portuguezes.—1 Capitão, 2 sargentos, e S8 soldados,
mortos, l tenente-coronel, 1 major, 4 capitaens, 2 tenentes,
2 alferes, 1 d'estado maior, 13 sargentos, 3 tambores, e
313 soldados feridos. 1 capitão, 2 sargentos, 1 tambor,
e 140 soldados extraviados.

Nas acçoens desde 25 de Julho até 2 dAsosto.


Inglezes.—2 majores, 10 capitaens, 12 tenentes, 3 al-
feres, 3 d'estado maior, 46 sargentos, 2 tambores, 462
sotdados, 3 aavallos, mortos. 2 do estado maior general,
11 tenentes coronéis, 13 majores, 51 capitaens, 104 tenen-
tes,! alferes, 7 dVstado maior, 178 sargentos, 14 tam-
bores, 3103 soldados, e 3 cavallos feridos. 1 major, 5
capitaens, 6 tenentes, 4 alfeses, 1 estado major, 14 sargen-
tos, 7 tambores, 462 soldados, e 1 cavallo extraviados.
Portuguezes.—2 majores, 4 capitaens, 1 tenente, 3 al-
feres, 1 d'estado major, 12 sargentos, e 299 soldados, mor-
tos. 1 do estado major general, 2 coronéis, 9 tenentes
coronéis, 10 majores, 21 capitaens, 18 tenentes, 31 alferes,
3 do estado maior, 75 sargentos, 15 tambores, e 1632 sol-
dados ; feridos. Sargentos c soldados 199 extraviados.

FRANÇA.
Exercilo na Hespanha.
S. M. nomeou o Marechal Duque de Dalmacia, seu
Tenente-general, commandante de seus exércitos na Hes-
panha. Este Marechal tomou o commando aos 12 de
Miscellanea. 293
Julho, e fez immediatamente as suas disposiçoens para
marchar contra os Inglezes, que estavam sitiando Pamplo-
na e S. Sebastian.

Carta do General Rey, commandante de S. Sebastian, a S.


Ex\ o Duque de Feltre, Ministro da Guerra, em data de
25 de Julho.
MoMSEiGNEun !—Aos 22, o general de Divisão Inglez
me enviou uma bandeira de tregoa, e eu naõ a quiz re-
ceber. A brecha éra practicavel.
Aos 23, e 24, continuou o inimigo a fazer fogo, com 30
ou 35 peças d'artilheria ; elle destruio todas as frentes
das casas desde o Zuriola até S. Elmo, e abrio duas bre-
chas de novo. Eu averiguei, que a segunda éra practica-
vel, e a terceira menos. Desde os 22 incediou a cidade
em varias partes, e continuou a atirar bombas.
Esta manhaã, 25, ás 4 horas, o inimigo se aproveitou
do cano pára conducçaõ d'agua, da fonte da cidade, para
estabelecer uma mina, que fez voar a praça d'armas que
entra na estrada cuberta. A este signal se puzéram em
movimento varias columnas de ataque. A direcçaõ do
fogo de suas baterias, na tarde de 24, me fez presumir que
eu seria atacado durante aquella noite ou na manhaã, e
fiz as minhas disposiçoens em conseqüência. Em toda a
parte foi o inimigo recebido com o maior vigor, todos os
que se aproximaram aos fossos fôram brevemente repul-
sados, e se lhes impedio estabelecerem-se ali, Este feito
d'armas faz grande honra á guarniçaõ de S. Sebastian ; e
eu terei a honra de informar a V- Ex 1 ., na minha primeira
participação, dos nomes dos valorosos soldados, que parti-
cularmente se distinguiram.
Eu avalúo que os Inglezes perderam de 1.400, a 1.500
homens, nas brechas, na estrada cuberta, ou pelo fogo da
artilheria, obuzes, e bombas que se lhe atiraram juncto á
V O L . X I . No. 63. 2 P
294 Miscellanea.
falsa braga do bastião de S. Joaõ, ou na sua aproximação
ás brechas.
O general Inglez pedio-me tempo para enterrar os
mortos eu concedi-lhe uma hora. Tenho trazido 581 feri-
dos (13 dos quaes saõ officiaes) dos que ficaram na bre-
cha, ou juncto a ella ; alem de 237 prisioneiros ; o inimi-
go teve 50 officiaes mortos, um dos quaes he o major-ge-
neral, commandante da primeira columna. Eu escrevo a
V Ex*. com grande pressa. O Marechal Duque de Dal-
macia me fez a honra de informar-me, que se punha em
marcha a fim de fazer levantar o bloqueio de Pamplona, e
o nosso.
O Conde Songeon, a quem eu confiei o commando da
esquerda de minhas operaçoens, cm quanto eu dirigia as
do centro e direita, mc apoiou admiravelmentc bem: o
chefe de batalhão Blanchard, do regimento 62 de linha,
que commandava os postos exteriores; Gillett, chefe de
batalhão; Brien, commandante da artilheria,fizeramgran-
des serviços.
Eu terei a honra de mandar ao Duque de Dalmacia um
relatório particular, e os nomes dos officiaes, e subofficiaes,
e soldados, que se distinguiram particularmente neste dia,
a fim de que elle possa solicitar para elles os agradecimen-
tos do Imperador. Eu recommendo estes valorosos ho-
mens ao vosso favor. O chefe de batalhão Dessally, do
22°. de linha foi morto na brecha ; o Capitão Bibon, com-
mandante dos çappadores, foi morto no posto de honra.
A nossa perca naõ excede 40 homens incapacitados de
combater. Rogo a V Ex*. que aceite, &c.
(Assignado) R E V .

Copta de uma Carta do Duque de Dalmacia, ao Ministro


da Guerra: datada do Campo, nas alturas deAllabisca,
25 de Julho, ás 11 horas da noite.
SENHOR DUQUE !—Eu ataquei hoje a direita do inimi-
Miscellanea. 295
go, formada de duas divisoens lnglezas, e da divisão Hes-
panhola de Murillo. Nós o expulsamos de uma posição
mui forte, que fica adiante do desfiladeiro de Altabisea.
Surprendeo-nos uma nevoa extraordinariamente densa, ás
3 horas e meia, ao momento em que perseguíamos o ini-
migo, o que nos impedio chegar ao plano de Altabisea;
á manhaã ao romper do dia faremos isto. Somente pude-
mos tomar 200 prisioneiros; mas os Inglezes sofFêram.
muito. O General Reille naõ pôde chegar a Lindus,
aonde se devia postar: elle tinha observando um movi-
mento na linha do inimigo pela sua direita. Eu naõ re-
cebi, durante o dia, nenhuma participação do Conde d'Er-
lon ; elle devia atacar o Col de M a y a ; igualmente uaõ
tive noticias do General Villatte.
As tropas mostraram grande ardor, e os generaes muita
devoção : o 6 o . e 25°. ligeiros, e particularmente o 50°. de
linha se comportaram cxcellentemente.
Quando as operaçoens me derem mais algum tempo,
terei a honra de enviar a V- Ex a . uma relação raaÍ3 cir-
cumstanciada. Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) O Duque de D A L M A C I A .

Do mesmo ao mesmo.
Linscoin, 25 de Julho, 11 horas da noite.
O inimigo evacuou, durante a noite, a sua posição de
Col de Roncevaux : elle também se retirou de Lindus,
diante do qual ponto se achava o Conde Reille cora as di-
visoens da ala direita
Ao romper do dia mandei marchar as tropas : as divi-
soens da esquerda, commandadas pelo Tenente-general
Clausel, seguiram a estrada que vai para Pamplona: a
guarda avançada encontrou-se cora os primeiros postos
do inimigo antes de chegar a Viscarete, e os expulsou
para as alturas que ficam antes de Zubery, aonde se for-
2P 2
296 Miscellanea.
máram na sua linha: a difficuldade da estrada, e densi-
dade da nevoa, que começou de manhaã, retardou a nossa
marcha; pelo que éra ja demasiado tarde quando a frente
da columna pode apossar-se das alturas que estaõ em
frente de Linscoin e d'Ervo, aonde houve um pequeno
ataque; mas eu naõ julguei próprio atacar a posição do
inimigo nessa noite, tendo elle quasi 15.000 homens, 9 ou
10 mil dos quaes eram duas divisoens lnglezas, e o resto
Hespanhoes; elles também mostravam algumas peças
d'artilheria.
O Tenente-general Conde Reille, depois de ter forçado
a posição de Lindus, devia manobrar na sua direita, con-
servando a crista das montanhas, a fim de se apossar suc-
cessivamente das desembocaduras que abrem do vale de
Bastan, e obrigar assim o inimigo a retirar-se, o que teria
favorecido o desembocar do Conde d'Erlon. Esta ma-
nhaã as 10 horas naõ queriam os guias conduzidos na-
quella direcçaõ: a nevoa naõ admitlia que elles distin-
guissem os objectos na distansia de 10 passos; elles te-
miam levar a columna a algum precipício, o que deter-
minou o Conde a ajunetar-se com a esquerda em Espinal.
Eu o tenho postado na retaguarda de Linscoin : a manhaã
elle formará o ataque pela esquerda, se o inimigo mantiver
a sua posição.
O Conde de Erlon me escreveo hontem, de tarde, dizen-
do-me, que na conformidade de minhas instrucçoens, as
divisoens do centro tinham atacado e tomado a forte po-
sição de Col de Maya, naõ obstante a vigorosa resistência
que fez o inimigo. A 2*. divisão commandada pelo ge-
neral Darmagnac mostrou nesta occasiaõ um ardor extra-
ordinário.
Depois deste ataque, o inimigo dividio as suas tropas
em duas columnas : uma desceo para o vale de Bastan, a
outra tomou a estrada de Echalar. O Conde de Erlon
ordenou que fossem ambas perseguidas , mas ao depois
Miscellanea. 297
julgou conveniente contramandar este movimento, e unir-
se á divisão do centro em Col de Maya. O inimigo ainda
se mantinha no monte Atchiala. Sinto tanto mais este
accidente imprevisto, porque eu tinha ordenado ao Conde
d'Erlon que manobrasse, a fim de se aproximar de mim:
acabo de lhe reiterar a mesma ordem.
Nesta batalha os Inglezes perderam muita gente, nós
tomamos-lhes 8 peças d'artilheria. Elles perderam tam-
bém muito no ataque que lhes fez o Conde Erlon. O re-
gimecfo 10mo. foi quasi destruído. Um batalhoõ do regi-
mento 6 de infanteria ligeira, da divisão de Foy carregou
aquelle regimento á baioneta, e o derrotou. Em uma pa-
lavra elles também perderam muito no ataque da montanha
de Altabisea, que lhes fez o General Baraõ Clausel, aonde
foram mortos vários officiaes de graduação. Tomamos
muitos prisioneiros.
Ignoro o que se passou hontem, e hoje, no Bidassoa
baixo. Naõ tenho recebido noticias do General Villatte
o qual tem, alem disto, suas instrucçoens.
Nunca vi as tropas cora melhor disposição, nem mos-
trando mais ardor. As guardas nacionaes de Landes e
do baixo Pyrenneo, e os caçadores de montanha, que em-
preguei na fronteira, se rivalisáram em ardor. Farei men-
çaõ delles na participação geral; quando tiver a honra
de me dirigir a V Ex a .
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) O Marechal Duque de D A L M A C I A .

Carta do General Rey, commandante em San Sebastian,


a S.E. o Duque de Feltre, Ministro da Guerra, da-
tada de 26 de Julho, 1813.
MONSEIGNEUR!—Apresentou-se aqui esta tarde um
official com uma bandeira de tregoa, para pedir informa-
çoens a respeito de vários officiaes extraviados.
Elle parecia estar muito inquieto, a respeito da sorte
298 Miscellanea.
o
do Coronel do I . Regimento Real, que foi morto na
brecha. He certo que no assalto, os Inglezes perderam ura
Coronel, 4 Tenentes-coroneis ou Majores, e 42 officiaes;
que o numero de subalternos e soldados he de 1.000 mor-
sos, feridos ou prisioneiros, todos os Inglezes, e perto de
300 Portuguezes.
Os Inglezes faliam de seus alliados com desprezo. Este
official confirmou o que os prisioneiros tinham ja dicto;
que as suas 8 melhores companhias de granadeiros fôram
totalmente destruídas, no dia em que se fez o assalto.
De manhaã o inimigo embarcou 36 botes de feridos ; ati-
rou, durante o dia, grande quantidade de bombas; e so-
mente dirigio alguns obuzes contra as casas incendiadas;
o que me fez presumir, que começavam a embarcar as
suas tropas. O official que trouxe a bandeira de tregoa
nos agradeceo em nome de seu general, o cuidado que tí-
nhamos tido com os seus feridos. Metade da cidade está
inteiramente destruída, a maior parte das casas que restam
estaõ summamente damnificadas: nos ainda naõ pudemos
extinguir o incêndio ; se crescer o vento se perderá o resto
da cidade. A quantidade de muniçoens, que os Inglezes
tem consummido, com as suas 45 peças d'artilheria, con-
stantemente em acçaõ, he pasmosa. A proximidade do
mar, e da esquadra, he somente quem podia ter supprido
taõ grande consumo.
E u continuo a mandar entupir as bocas das ruas, com
travessas, que faço tençaõ de defender palmo a palmo, se
em qualquer tempo me vir obrigado a deixar a minha pri-
meira linha. V E. pode estar descançado, de que a
guarniçaõ de S. Sebastian fará o seu dever, e continuará a
dar provas de sua devoção pelo nosso augusto Imperador.
Rogo-vos, &c.
(Assignado) R E Y .
P. S. Esquecia me mencionar a V. E. sobre as escadas
com que estavam provi as as tropas do inimigo no seu
assalto da estrada cuberta; que ficaram em nosso poder.
Miscellanea. 299
Carta do mesmo ao mesmo, datada de 27 de Julho, 1813.
MONSEIGNEUR !—Esta manhaã pelas 4 horas, visitando
os postos avançados na esquerda, com o Coronel Songeon,
que os commanda, percebi; que vários botes sahiam das
baterias na arêa, para se unir aos que andavam cruzando ;
e immediatamente me convenci de que as baterias, que
tinham estado batendo em brecha, estavam desarmadas.
Eu fui aos postos avançados de terra, aonde o inimigo
tinha descontinuado as suas obras. O inimigo ja naõ
fazia fogo. Eu decidi immediatamente o fazer um reco-
nhecimento nas trincheiras ; e por um movimento accele-
rado fazer com que o inimigo desdobrasse : e informar-me
do que elle estava fazendo. Portanto ordenei a duas com-
panhias dos Caçadores de montanha do 3 o . batalhão, os
Voltigeurs do regimento 62 ; e os çapadores que estavam
nas obras, que avançassem rapidamente para as trinchei-
ras, e destruíssem tudo que encontrassem : a artilheria
recebeo ordem ao mesmo tempo de proteger a retirada
destes destacamentos, e jogar sobre tudo quanto o inimigo
maudasse em soccorro das trincheiras. Como eu esperava,
o inimigo naõ contava com ser atacado a esta hora; as
trincheiras foram tomadas por surpreza, e destruído tudo
quanto nellas se achou. A columna, que tomou a direcçaõ
do subúrbio de S. Catalina, avançou para queimar a
ponte, e a 2». para as casas queimadas em S. Martin. O
resultado desta operação, que foi conduzida pelo chefe de
batalhão Blanchard, com muita intelligencia e distineçaõ ;
foi inteiramente completo- Thomamos 381 Inglezes e
Portuguezes prisioneiros, 9 dos quaes saõ officiaes; 140
Inglezes, que intentaram passar o rio, morreram afogados ;
a artilheria produzio grande efièito: o inimigo perdeo em
menos de uma hora mais de 1.200 homens ; isto he, quasi
todos os que estavam nas trincheiras.
Esta acçaõ faz muita honra á guarnçaÕ: as tropas obra-
ram com o vigor. Os Caçadores de montanha, o 62, e os
300 Miscellanea.

çapadores merecem o maior louvor. O Tenente Dujar,


dos Caçadores de montanha, se distinguio mui particu-
larmente, sendo o primeiro que entrou nas trincheiras;
elle ficou ferido. O inimigo somente deo fogo a cinco
peças d'artilheria ; uma do monte Julian, uma da bateria
velha da brecha, uma em S. Bartholomeu, e duas na
avançada de S. Bartholomeu. Nos entupimos as suas
trincheiras. O inimigo tem começado a embarcar-se para
levantar o sitio. Esta cidade merecia melhor sorte. Ten-
do crescido o vento, nós empregamos todos os nossos
esforços para diminuir os seus effeitos.
Rogo-vos, &c.
(Assignado) REV.

PROCLAMAÇAÕ DO MARECHAL SOULT.


Para ser lida por um official commandante, á frente das
companhias em cada regimento.
SOLDADOS !— Os accontecimentos recentes da guerra,
fizeram com que o Imperador me investisse, em virtude
de um decreto Imperial do Io. do corrente, com o com-
mando em chefe dos exércitos na Hespanha; e mc hon-
rasse com o lisongeiro titulo de seu Lugar-tenente (Licu-
tenant.) Esta alta distineçaõ naõ pode deixar de trazer ao
meu espirito sensaçoens de gratidão, e alegria; mas ellas
naÕ deixam de ser mixturadas com pezar, pelos sérios acon-
ciraentos, que, na opinião de S. M., fizeram necessária
na Hespanha esta nomeação.
Soldados!—Vós sabeis, que a inimizade da Rússia,
posta era actividade pelo inimigo eterno do Continente,
fez necessário, que se ajunetassem na Alemanha no prin-
cipio da primavera, numerosos exércitos. Para este fim
se retiraram muitos de vossos camaradas. O mesmo Im-
perador tomou o commando ; e as armas de França, guia-
das por seu gênio poderoso e governante, effectuou uma
série de victorias taõ brilhantes como as que mais adornam
Miscellanea. 301
os annaes de nossa pátria. A presumpçosa esperança de
engrandecimento, que o inimigo entretinha, ficou con-
fundida. Fizéram-se proposiçoens pacificas : e o Impe-
rador, sempre inclinado a consultar o bem de seus vas-
sallos, seguindo conselhos moderados, prestou ouvidos ás
proposiçoens que se lhe fizeram.
Em quanto a Alemanha éra assim o theatro de grandes
acontecimentos, o inimigo, que, debaixo do pretexto de
soccorrer os habitantes da Peninsula, os tem na realidade
sacrificiado á ruina, naõ esteve inactivo. Ajunctou todas
as forças de que podia dispor. Inglezes, Hespanhoes e
Portuguezes, commandados pelos officiaes mais experi-
mentados ; e, confiando-se na superioridade do numero,
avançaram em tres divisoens contra a força Franceza, que
se ajunctou no Douro. Com fortalezas bem providas na
frente e retaguarda, um general hábil, que gozasse da
confiança de suas tropas, escolhendo boas posiçoens, teria
arrostado, e desconcertado esta misturada leva. Mas in-
felizmente, neste critico periodo, se seguiram conselhos
pusilânimes e tímidos. Abandonáram-se e fizéram-se voar
as fortalezas ; marchas aeceleradas e desconcertadas deram
confiança ao inimigo ; e um exercito veterano, na verdade
pequeno era numero, mas grande em tudo quanto consti-
tue o character militar, que tinha pelejado, derramado
sangue, e triumphado era todas as provincias de Hes-
panha, vio com indignação murchados os seus louros ; e
obrigado mesmo a abandonar todas as suas acquisiçoens,
os tropheos de tantos, taõ bem pelejados, e taõ sanguino-
lentos dias. Quando por fim a indignada vós das tropas
fez parar esta ignominiosa fugida, e o seu commandante,
tocado de vergonha, cedeo ao desejo geral, e se determi-
nou a dar batalha juncto a Vittoria, quem pode duvidar,
visto este generoso enthusiasmo, este bello sentimento de
honra, qual teria sido o resultado se o General fosse
digno de suas tropas ? Em uma palavra se elle tivesse
VOL. X I . No. 63. 2Q
30 2 Miscellanea.
feito as disposiçoens e movimentos que lhe segurassem a
uma parte de seu exercito a cooperação e apoio da outra ?
Naõ roubemos, porem, ao inimigo o louvor que lhe
he devido. As disposiçoens, e arranjamentos de seu ge-
neral foram promptos, hábeis, e consecutivos. O valor
e firmeza de suas tropas tem sido dignos de louvor. E
com tudo naÕ vos esqueçais, que he ao beneficio de vosso
exemplo que elles devem o seu character militar actual;
e que, todas as vezes que se tem preenchido os deveres
relativos de um General Francez, e de suas tropas, o
seus inimigos, commmumente, naõ tem tido outro recurso
senaõ a fugida.
Soldados!—Eu participo de vossa afflicçaõ, de vosso
desgosto, de vossa indignação. Sei que a culpa da pre-
sente situação do exercito he imputavel a outros, seja
vosso o merecimento de lhe dar remédio. Eu tenho teste-
munhado ao Imperador o vosso valor e zelo.
As suas instrucçoens saõ o expulsar o inimigo daquellas
elevadas alturas, que lhe daõ occasiaõ a lançar ufano um
golpe de vista, sobre os nossos férteis vales; e que o
lancemos para além do Ebro. He no terreno Hespanhol
que as vossas barracas se devem agora postar; e dali se
devem tirar os nossos provimentos. Nenhumas difficul-
dades podem ser insuperáveis ao vosso valor e devoção.
Esforcemo-nos pois com muito ardor, e estai seguros, que
nada dará mais felicidade ao paternal coração do Imperador,
do que o conhecimento dos triumphos de seu exercito, do
augmento de sua gloria, de se ter feito digno delle, e da
nossa amada pátria.
Armamentos extensos e combinados para o soccorro das
fortalezas estaõ ao ponto de terem lugar. Elles se comple-
tarão em poucos dias. Date-se a conta de nossas vantagens
desde Vittoria, esêja celebrado na quella cidade o dia do
nascimento de S. M. Imperial; assim faremos memorável
Miscellanea. 303
uma epocha dignamente chara a todos os Francezes. Julho
23. 1813.
(Assignado) SOULT, Duque de Dalmacia,
Lieutenant de TEmpereur.

Noticias do Exercito do Norte.


Paris, 21 de Julho.
S. M. Imperial, a Imperatriz Raynha e Regente rece-
beo a seguinte noticia do exercito:—
O Duque de Vicenza, Gram estribeiro, e o Conde de
Narbonne Embaixador de França em Vienna, foram no-
meados pelo Imperador seus Ministros Plenipotenciarios
em Praga.
O Conde de Narbonne partio aos 3.
Suppôem-se que o Duque, de Vicenza, partirá aos 18.
O Conselheiro de Estado D'Amstett, Plenipotenciario
do Imperador de Rússia, chegou a Praga aos 11.
Assignou-se uma convenção em Neuraarkt; para a pro-
longaçaõ do armistício, até o meado de Agosto.

23 de Julho.
S. M. a Imperatriz partio hontem para Mayence.
S. M. a Imperatriz a Raynha e Regente vai para May-
ence, passar ali oito dias, na esperança de ver a S. M. o
Imperador. S. M. a Imperatriz dormirá esta noite em
Chalons; aos 24 era Metz ; e aos 25 em Mayence. S. M.
voltará no principio de Agosto.
27 de Julho.
S. M. a Imperatriz chegou a Mayence na noite de 25,
era perfeita saúde.
S. M. o Imperador sahio de Dresden aos 2 0 ; e fez uma
excursão na Lusacia inferior; pernoitou em Luckaw ; es-
teve em Leiblin ; vio o corpo do Duque de Reggio, e vol-
tou para Dresden aos 22 à uma hora da madrugada.
2 Q 2
304 Miscellanea.
Dresden, 15 de Julho.
O Imperador sahio de Magdeburgo aos 13, depois de
ter passado revista ás divisoens do corpo do General Van-
d anime, e foi para Leipsic.
Aos 14 pelas 9 horas da manhaã, S. M. passou revista
ao 3 o . corpo de cavallaria, que commanda o.Duque de
Padua.
Pela tarde S. M. passou revista, na praça grande de
Leipsic, ao resto das tropas do Duque de Padua, que elle
naÕ tinha podido ver naquella manhaã. Elle ao depois
se metteo na sua carruagem ás 5 horas da tarde, e foi
para Dresden, aonde chegou na manhaã seguinte.

Mayence, 28 de Julho.
Desde hontem temos a felicidade de possuir a S. M. o
Imperador e Rey, que chegou pela noite, acompanhado do
Principe de Neufchatel e Wagram. Ao meio dia Suas
Magestades receberam as authoridades da cidade e de-
partamento. Hoje S. M. passou revista a grande numero
de tropas de todas as armas, que se achavam nesta cidade.

2 de Agosto.
Hontem pelas 6 horas da tarde S. M. o Imperador sa-
hio deste lugar para Dresden : e hoje ás 10 da manhaã as
salvas de artilheria, os rcpiques dos sinos, anniniciaram
aos habitantes de Mayence a partida de S. M. a Impera-
triz Raynha e Regente. S. M. se embarcou a bordo de
um yate no qual desceo pelo Rheno para Colônia, c vol-
tará por Brusselas para a sua capital.
Antes de sua partida, o Imperador se mostrou com sua
Augusta Esposa na varanda do Palácio, aonde conversou
familiarmente |xir meia hora. A Imperatriz parecia estar
afflicta, e derramou lagrimas, quando a carruagem do Im-
perador passou por debaixo da varanda. Durante a sua
estada cm Mayence, o Imperador apparecêo como um pay
entre seus filhos. A residência de Suub Magestades tem
Miscellanea. 305
deixado nos coraçoens de todos os que tiveram a felicidade
de os ver, lembranças que nunca se apagarão.

MALTA.
Noticia da Peste que reyna em Malta.
Extracto de uma carta, datada de Malta, 17 de Junho.
Graças a Deus a peste naõ tem ainda entrado no militar
em um só exemplo. Alguns desejarão saber alguma cousa
delia; e portanto trabalharei por dar-vos a mais concisa
relação, que puder, da origem, progresso, e quizéra poder
accrescentar abatimento desta terrível enfermidade, que
aqui tem reynado por 6 semanas. Ninguém sabe como
entrou nesta ilha. Tem havido suspeitas vagas, mas até
aqui ainda naõ ouvi cousa nenhuma com certeza tolerável;
naõ mencionarei rumores. He da minha intenção referir
unicamente factos, alguns dos quaes, saõ de meu próprio
conhecimento, outros os tenho da melhor authoridade.
Tenho feito um jornal desde o principio. Aos 4 de Mayo
escreveo o Dr. Gravana uma carta a Mr. Green, dizendo
que tinha visitado a familia de um çapateiro, na Strada
Paolo, N ° . 150, chamado Salvador Borg, um dos filhos
deste morreo aos 19 de Abril, depois de breve moléstia.
A mãy adoeceo aos 2 de Mayo, e morreo aos 3. O D " ,
suspeitou que a moléstia seria peste ; e em conseqüência
escreveo aquella carta a Mr. Green.
Na margem da seguinte pagina, achareis a conta diária
do numero que morre, ou he infecto. O çapateiro foi
infectado aos 7 de Mayo, e morreo aos 12; porém geral-
mente fallando, a morte succede á infecçaõ em 36 horas.
Ha somente 3 exemplos de pessoas que tenham escapado ;
e tenho razaõ para crer que isto he falta de cuidado.
Ninguém se chega a uma pessoa infecta, na distancia
de muitas varas. Se alguém se acha taõ mal, que se
naõ pode servir a si mesmo, necessariamente morre; e
tem occurrido vários casos, em que a morte succede quasi
306 Miscellanea.
immediatamente. Aos 5 de Mayo publicou o Governo
uma proclamaçaõ, em que informava o povo de que a mo-
léstia tinh apparecido, e recommendava as medidas de pre-
caução, que fôram somente seguidas pelos Inglezes ; por-
que os naturaes do paiz naõ acreditavam por muito tempo,
que fosse peste, em conseqüência do pequeno numero de
mortes e infecçoens. Acontece o mesmo em toda a parte;
porque apparece a moléstia com symptomas mui diversos;
alem da difficuldade de achar quem saõ as pessoas que
tem tido communicaçaõ com as infectas. Espalhou-se a
moléstia por Casal, Isola, Floriana, S. Julian, Vittoria,
Burmota, e por toda a parte da ilha de Malta, Goza
ainda naõ foi infectada, nem Lampeduza. O forte Ma-
nuel foi despejado, para nelle se recolherem aquelles, que
naõ estavam infectados, mas que tinham entrado em
casas infectas : ou tinham sobrevivido a familias infectas.
Perto de 300 pessoas morreram aqui : porque foram obri-
gados por fim a mandar para aquelle forte todas as pessoas
infectas, as quaes destruíram s que ali se tinham mandado
primeiro. Aquelles que saõ infectados na cidade tem per-
missão de ficar em suas casas, se saõ pessoas respeitáveis,
e as suas habitaçoens arejadas. No campo todos ficam
em suas casas. Os criados do Capitão Chilott, agente de
transportes, adoeceram: um delles morreo; os outros se
estaõ restabelecendo em forte Manuel. O Capitão Chi-
lott, tomando todas as precauçoens tem escapado, e esta
com a melhor saúde ; ainda que todos os criados fôram in-
fectados ha duas semanas ; e toda a familia esta também
de saúde. A moléstia naõ se tem espalhado taõ rapida-
mente como se poderia temer, considerando a immensi-
dade de população. O N° 20, strada Pozzi, tinha origi-
nariamente 25 habitantes, todos morreram excepto uma
rapariguinha, que foi infectada esta manhaã. Eu occupa-
ria um volume se quizesse relatar todas as scenas afflic-
tivas, que tenho prezenciado: em uma casa, jaziam no
Miscellanea. 307
leito o pay e a m ã y ; esta com uma criança de peito ; duas
crianças no chaõ, sem nenhum soccorro ; outra infectada;
porem ainda capaz de se mover, e portanto empregada
em trazer á familia, leite, o as mais cousas que se lhe
deixavam a porta; e esta criança nutria os doentes sem llieâ
tocar: todos elles estaõ agora mortos. Eu vi sette pessoas
postas esta manhaã em um carro, em Horiano, tres de
uma casa: de facto familias inteiras tem sido varridas.
As participaçoens dos dous últimos dias saõ toleravel-
mente favoráveis; e nós principiamos a esperar que o
tempo quente extinguira a moléstia, ainda que hontem
naÕ foi muito bom, pois ha seis pessoas infectas na cidade
porém todas em casas de novo, aonde d'antes naõ tinha
apparecido. Muitos morrem, sem que delles se dê parte
como infectos. Um padre na Strada Real disse missa sab-
bado, e morreo no domingo pelo meio dia.
A cidade está divida em oito districtos, que estaõ sepa-
rados uns dos outros por barreiras: estabeleceo-se um
mercado em cada uma, e naÕ se permitte communicaçaõ
entre elles, excepto com passaportes dos Deputados, dos
quaes ha tres em cada districto, que visitam as casas dia-
riamente, se alguém está doente mandam buscar o me-
dico: Se os symptoraas saõ os da peste, chama-se um
gato pingado, que o leva para o forte Manuel, fecha-se a
casa, e pôem-se-lhe sentihela a porta.
Os Deputados saõ homens respectaveis que se tem ofTe-
recido voluntariamente para este serviço, Mr. Forest, he
um, e Mr. Noble outro: este ultimo fallou com uma das
suas sentinelas domingo, que morreo tres minutos depois
no corpo da guarda. Estabeleceo-se interinamente uma
grande policia, que faz todo o serviço relativamente á
peste; porém a gente empregada em levar e enterrar os
mortos saõ escravos, os quaes, se vivem, saõ pagos a 4 dol-
lars por dia, e alem disso tem a sua liberdade: 26 destes
ja morreram, e o resto recusou hontem trabalhar. Agora
S08 Miscellanea.
tem Grpgos, que se offerecêram voluntariamente, para fa-
zer este serviço. Os escravos morreram por falta de pre-
caução, poiz naõ traziam os vestidos que lhe foram desti-
nados. Estaõ fechadas todas as loges, excepto algumas
poucas que tem licença: ninguém se visita, de maneira
que estamos todos em um completo estado de quarentena.
Todos os papeis saõ defumados as tropas estaõ limitadas
aos seus quartéis e fortes ; todos os soldados que montam
guarda, esfregam o corpo com azeite ; mas fazemos a pa-
rada na forma do custume, na praça do Palácio. A qua-
rentena, e as precauçoens continuarão por 40 dias depois
da ultima pessoa que for infecta.

PORTUGAL.
Estado da Organização do Exercito Portuguez em Cam-
panha no ultimo de Junho, de 1S13.
INFANTERIA.
1
I - Brigada.—Brigadeiro Pack.
Regimento, N°. \, Coronel Hill.
D°. 16, Cor. Francisco Homem de Magalhães.
Batalhão de Caçadores, N°. 4, Ten.-cor. Williams.
2*. Brigada.—Brigadeiro Bradford.
Regimento, N°. 13, Ten-cor. D. Joaquim da Camera.
D° 24, Coronel Guilherme M'Beau.
Batalhão de Caçadores, N". 5, Ten.-cor. M. M'Creagh.
3*. Brigada.—Coronel Ashworth.
Regimento, N°. 6, Tenente-cor. Maxwell Grant.
D» .... ]8, Coronel Manoel Pamplona.
Batalhão de Caçadores, N*. 6, Ten -cor. Sebastião Pinto.
4 a . Brigada.—Brigadeiro Power.
Regimento, N°. 9, Ten.-cor. Carlos Sutton.
j)ow _ 26, Ten.-cor. Giíilherme Bermingham.
Batalhão de Caçadores, N°. 11, Ten.-cor. Dursbacb.
5a. Brigada.—Colonel Stubbs.
Reo-imento, N". 11, Ten.-cor- Alexandre Anderson.
j)° 23, Tenente-cor. James Miller.
Miscellanea. 309
Batalhão de Caçadores, N°. 7. Ten.-cor. Bryan O T o o l e .
6 a . Brigada.—Brigadeiro Sprye.
Regimento, N°. 3, Major Carlos Stuart.
D° 15, Coronel Luiz do Rego Barreto.
Batalhão de Caçadores, N ° . 7, Ten.-cor. D. St. Leger Hill.
V Brigada.—Brigadeiro Madden.
Regimento, N°. 8, Coronel Diogo Douglas.
D° 12, Cor. A. de Lacerda Pinto da Silveira*
Batalhão de Caçadores, N°. 9, Tenente-cor. Joaõ Brown.
8 a . Brigada.—Brigadeiro Lecor.
Regimento, N°. 7, Coronel Niel Campbell.
D° 19, Coronel JoaÕ M'Doyle.
Batalhão de Caçadores, N° 2, Major G. H. Zuchlke.
9 a . Brigada.—Brigadeiro Hippolyto da Costa.
Regimento, N ° . 2, Cor. Jorge de Avillez Zuzarte.
D' 14, Ten.-cor. JoaÕ M'Donald.
10*. Brigada.—Brigadeiro Campbell.
Regimento, N°. 4, Ten.-cor. Aliam Guilherme Campbell.
D°. 10, Colonel Luiz de Souza Vahia.
Batalhão de Caçadores, N°. 10, Ten.-cor. R. Armstrong.
DtVIZAÕ LIGEIRA.
Regimento, N°. 17, Tenente-cor. JoaÕ Rolt.
Batalhão de Caçadores, N°. 1, Ten.-cor. JoaÕ H. Algeo»
D° 3, Ten.-cor. M. P . da Silveira.
CAVALLARIA.
Brigadeiro d'Urban.
Regimento, N \ 1. Tenente-cor. Henrique Watson.
D° 11, Tenente-cpr. Domingos Bernardino.
D* 12, Tenente-cor. Visconde de Barbacena.
ARTILHERIA.
Tenente coronel A. Dickson.
a
I de calibre 9, Major G. S. Jozê d'Arrriaga.
Tenente-coronel A Tulloh.
a
3 . de calibre 6, Major G. JoaÕ da Cunha Preto.
4
" 9, Capitão Eduardo Pereira Amado.
VOL. XI. No. 63. 2 R
SiO Miscellanea.
Major Amaro Jozé Canhaõ.
Ia. de calibre 6, Capitão Francisco Pedroza Barreto.
2a 3, Io. Tenente Jozé Alberto Gilmore.
Bateria de montanha, 2 o . Ten. F. M. Caetano Gorjaõ.

SUÉCIA.
Entrevista do Principe da coroa com o Imperador de Rússia,
e Rey tle Prússia.
Castelo de Traekenberg, na Silesia, 11 de Julho.
O Principe da Coroa sahio de Gripswalda aos 6 de Ju-
lho : pernoitou na primeira noite em Prentzlaw, aonde S.
A. R. foi recebido, da parte de S. M. Prussiana, pelo Prin-
cipe de Sayn Wittgenstein. Aquelle principe tem acom-
panhado a S. A. R. na viagem. Aos 7 continuou a jornada
pelo caminho de Konigsberg, e S. A. foi recebido pelo
General Conde Tauenzien, em Lansberg, no rio Wartha.
Aos 8, S. A. R. viajou pelo caminho de Lissa, aonde o
general Russiano, BaraÕ Winzingerode, tem o seu quartel-
general, dirigindo-se a Traekenberg.
Na estrada entre Ucker e New-Markt de Brandenburg,
S. A. R. passou revista a vários batalhoens de milicias
Russianas, e em Schwedt, passou igualmente revista a um
regimento de hussares, pertencente á Legiaõ Alemaã, que
se deve pôr debaixo de seu commando—em toda a parte
aonde chega se põem as tropas em parada. As cidades
por onde passa se illuminam á noite, e tudo mostra uma
sincera alegria dos habitantes, na jornada de S. A. R. En-
tre Landsberg e Traekenberg, S. A. R. foi escoltado por
um destacamento dos hussares de Elizabethgorod, e do»
cossacos do Don do General Ilowaisky. Immediatamente
que S. A. R. chegou, foi recebido por suas Magestade» o
Imperador de Rússia e Rey de Prússia. S. A. R. o Prin-
cipe da Coroa deProssia chegou na manhaã seguinte.
No séquito do Imperador de Rússia se achavam os Gene-
raes Principe Wolkowsky, Toll, Newerousky, Laraky, e
Miscellanea. 311
Pozzo di Borgo, e igualmente o Secretario de Estado
Conde Nesselrode.
S. M. Prussiana estava acompanhado pelo Chanceller de
Estado, Baraõ Von Hardenberg, General Knisebeck, Conde
Marechal Baraõ Von Maltzahn.
Na comitiva do Principe da Coroa de Prússia estava o
seu Governador-General Gaude, e o Conselheiro de Estado
Ancillon. O Conde Stadion, Ministro Imperial Austriaco
de Estado e Conferências, o Encarregado de Negócios Au-
striaco, BaraÕ Von Libzatern,o Embaixador Britannico na
Corte Imperial Russiana, Lord Cathcart, o General Von
Suchtelin, e Mr. Thornton, o Ministro Britannico na Corte
de Suécia, chegaram igualmente aqui.
Na manhaã seguinte, aos IO, S. A. R. visitou El Rey de
Prússia, e o Imperador de Rússia; e d e tarde o Principe da
Coroa de Prússia.
S. A. R. que ao presente goza do melhor estado de
saúde, voltará amanhaã para Gripswalde.
Dantzic.
Um sugeito que sahio de Dantzic com permissão do
Principe de Wurtemberg, pelo meado de Julho dá a se-
guinte conta de sua situação aquelle tempo :—
A guarniçaõ tinha 8.000 homens capazes de serviço; e
2.000 doentes, dos quaes morriam por dia de 20 a 30. Ti-
nham ainda algum paõ: os outros mantimentos estavam ex-
haustos. Durante os 4 dias immediatamente precedentes
ao annuncio do armistício-, os Russianos os conservaram em
constante susto ; e muitos officiaes tinham sido de opinião,
que naõ se poderia soffrer a fadiga por mais de 15 dias. O
Governador Rapp trabalhou por sustentar os seus espíritos
por uma variedade de noticias; algumas vezes de promp-
tos soccorros, outras vezes de paz no fim do armistício
Elle e todos os seus officiaes trazem o uniforme de hulanos
para lisongear os Polacos, que formará a maior parte da
guarniçaõ. No dia antes de se saber o armistico fez uma
2R2
312 Miscellanea.
sortida, para atemorizar a milicia Landwebr Prussiana, como
elle disse ; porem cila pelejou valorosamente, e o repulsou
com perda de 1.100 homens, perdendo ella somente 300. A
sua primeira requiziçaõ foi de raçoens pai a 30.000 homens *,
porém pedindo-lhe o Principe de Wurtemberg, que pas-
sasse mostras á guarniçaõ para a contar, elle rebateo o
seu petitorio a 17.000, o que se lhe entregou dentro em
15 dias. Depois disso naõ tem recebido cousa alguma;
porque aos 12 de Julho pela noite voltou um official Prus-
siano que se tinha mandado ao quartel-general,—suspende-
o-se a entrega de mantimentos—e aos 14, se mandou um
official á cidade para annunciar, que se lhe naõ daria mais
nada. Naõ se sabe a razaõ disto; porem considera-se
como signal de esperanças, que na terminação do armistício
se renovarão as hostilidades.
A situação dos habitantes he verdadeiramente deplorável.
Grande numero vive inteiramente de farellos e cascas. Uma
libra de carne de cavallo custa tres guilders ; a água ape-
nas se pôde beber; e, n'uma palavra a miséria geral he
alem de toda a descripçaõ. O exercito sitiador tem sido
augmentado a 42.000 homens; a chegaram ja mais de 20
barcas canhoneiras, e se esperam ainda mais. O ataque
principal devia ser encarregado aos botes e ha amaior con-
fiança em que será bem suecedido.
Tem-se averignado que, pouco antes de chegarem os
Russianos, a guarniçaõ consistia em 21.000 homens alem
de 5.000 doentes; tem-se enterrado depois 16.000,0 que
deixa 10.000 homens, como ja se disse. O seguinte artigo,
publicado por ordem de Rapp, na gazeta de Dantzic de 6
de Julho, dará uma idea da insolencia Franceza para com
a Prússia, mesmo durante o armistício. " Vamos a pu-
blicar immediatamente, em uma folha separada, os regula-
mentos expedidos por El Rey de Prússia para o Landstrum.
He um dos mais notáveis documentos de fanatismo que
se tem conhecido em tempos modernos. A penas se pode
Miscellanea. 3-.3
conceber como uma Potência; que há poucos mezes éra
alliada da França, se pode levar a tal ponto de raiva e lou-
cura. A França tem feito a guerra nas quatro partes do
globo, mas ainda naô encontrou (excepto os selvagens de
S. Domingos) um Governo que assim excitasse publica-
mente os seus subditos ao assassinio, envenamento e
crimes malditos. Tanto se tem a Prtissia degraduado por
suas perfidias, que na sua desesperaçaõ seimerge de crime
em crime, e deixa as suas minas para serem consideradas
por todas as potências da Europa, somente como um justo
castigo do Ceo."
Depois desta amostra de sua insolencia, podemos dar um
exemplo de suas extorsoens, e crueldade. Naõ se pôde
persuadir a nenhum dos membros do Senado, a que desse a
lista dos que eram mais capazes de pagar contribuiçoens.
Ordenou-se porem uma contribuição de tres milhoens de
francos na cidade. A lista foi feita pelo Governador, e
immediatamente se prenderam todos os negociantes, em
numero de 80, que se suppunha poderem pagar. Entre
estes foi prezo o Conselheiro de Estado o homem veneravel
de 73 annos de idade, que foi arrancado de seu leito pelos
hulanos; passando por juncto da forca, se lbe mostrou o
corpo de um supposto espiaõ, que estava enforcado, e se
lbe ameaçou com igual sorte. Como os prezos, que o
Governador Rapp tem estado a roubar por seis annos, naÕ
tinham meios de ajunctar as sommas que lhe requerêram,
entrou-se em suas casas, e tirou-se-lhes o que se achou.
Quando os livros de contas naõ conrespondíam com as som-
mas obtidas, fôram os caixeiros metidos a ferros, e lança-
dos nas masmorras communs. Aquelles que declararam
que possuíam mais do que o rateio que lhes cabia, perde-
ram igualmente tudo. Publicou-se uma proclamaçaõ
ameaçando de vender toda a espécie de bens, e alfaias, e
navios—mais, que estes se queimariam se naõ se achassem
compradores; e, para coroar tudo, que se arcabuzaria um
314 Miscellanea.
homem década dez, se a contribuição naõ fosse paga no
dia prefixo.

RÚSSIA.
8 de Julho.
O Commandante etn Chefe dos Exércitos, o General de
Tolly, expedio, aos 10 de Junho, de seu Quartel-general
em Reichenbach a seguinte ordem do dia : —
Tendo S. M. o Imperador sido servido conferir-me o
Commando em Chefe dos Exércitos Russiano, e Alliado,
conheço bem a importância de todas as obrigaçoens, que
lhe saõ annexas : mas a fim de superar as inumeráveis diffi-
culdades, que saõ inseparáveis delle, descanço connada-
mente no conchecido merecimento de todos os generaes,
no valor, constância, e devoção de todos os guerreiros em
geral. He nesta persuaçaõ, que peço a cooperação dos
chefes dos corpos, divisoens, &c. &c. Será do seu dever,
durante o armistício, empregar toda a sua attençaõ em por
em ordem, as armas, muniçoens, e todos os mais objeotos
pertencentes á guerra: vigiar na saúde do soldado, e na
observância de uma exacta disciplina : formar os soldados
novos da arte n'a guerra ;—em uma palavra, levar lodosos
ramos á necessária perfeição. He por estes meios que esta-
remos em estado de apparecer com gloria no campo da
da honra. Guerreiros ! O universo resoa com os vossos
grandes feitos. No meio mesmo dos desastres, que tem
afflígido o vosso paiz, vós vos tendes assignalalado por vic-
torias : savjando-o, vós puzestes em fugida os vossos ini-
migos, que eram o terror do Mundo. O caminho, que
elles decorreram em sua fugida, foi o dos vossos trium-
phos: se a sua marcha precipitada foi em fim retardada, e
se nós deixamos o theatro de nossas victorias, foi somunte
com o nobre desígnio de chegar ao cumulo de nossos de-
sejos. Todos se convencerão desta verdade, quando con.
siderarem, que nas mais sanguinolentas batalhas que se
Miscellanea. 315
lhe seguiram, nos sempre ganhamos novos louros; e nem
perdemos artilheria, nem gente; excepto alguns poucos
feridos ; e que durante a retirada cahiram em nossas maõs
baterias, e batalhoens inteiros. Taes saõ os fructos da
quella providencia, que tem governado todos os nossos
movimentos, e todas as nossas operaçoens. Perseverai na
mesma confiança em vossos chefes ; prestai-lhes a mais per-
feita submissão,—com estes sentimentos e o espirito que
vos anima, naõ acharão obstáculo as vossas armas. Pre-
parai-vos para novas victorias; o nosso Monarcha está entre
nós, elle será testemunha de vossos esforços, e remunerará
a cada um conforme o seu merecimento.

Grodno, 19 de Junho.
O Commandante em Chefe do Exercito de Reserva,
General de Cavallaria Baraõ Benigsen, chegou á nossa
cidade antes de hontem. Depois de passar revista ás tropas
que aqui se acham, S. Ex*. continuou a sua jornada para
Bialistocke.

(Do Conservateur Imparcial.)


A gazeta de Berlin contém uma relação circumstaticiada
dos horrorsos acontecimentos, que, sob a direcçaõ dos Fran-
cezes, ensoparam em sangue o paiz, e inclinaram os es-
píritos dos homens para a independência ; o seguinte he um
abstracto do que foi conseqüência deste nobre movimento.
O Sub-Prefeito Trochet, quando se retirou, nomeou uma
commissaõ administrativa, composta de cinco membros,
encarregados de exercitar as funcçoens durante a sua au-
zencia. Esta commissaõ se vio obrigada, pela demissão do
Mayoral de Oldenburgo, a estabelecer em seu lugar uma
Commissaõ Communal, composta de cinco membros da an-
tiga magistratura da cidade ; ao mesmo tempo mandou
cartas circulares á provincia, pelas quaes conservava os
Mayoraes dos Communs Ruraes no exercicio de suas func-
316 Miscellanea.
çoens, debaixo do nome de Commissarios Communaes.
Encarregou-os expressamente de manter a tranquillidade e
boa ordem nos seus districtos, e formar em cada um, para
este fim, uma guarda composta de proprietários de terras-
Esta medida a mais prudente, dictada pelas circumstancias
locaes, foi condemnada como um crime, em uma carta que
escreveo o Prefeito, Conde Urberg : e logo que os Fran-
cezes tornaram a apparecer nesta cidade, fôram prezos os
cinco Membros da Commissaõ, e conduzidos a Bremen.
A Commissaõ Militar, convocada pelo General Vandamme,
produzio, entre os principaes artigos de accusaçaõ contra
a Commissaõ Communal, o ter faltado em sua circular das
das tropas que se aproximavam, sem especificar por isso
que queria dizer, que as tropas que se esperavam eram
Francezas ; e tarabera de as ter assignado, na quali-
dade de commissaõ Administrava, sem declarar, que éra
uma Commissaõ Franceza, estabelecida pelo Sub-Prc-
leito. Por estas accusaçoens se condcinnáram os cinco
membros a seis mezes de prizaõ. Uma testemunha oceu-
lar, digna de credito, nos assegura, que durante os inter-
rogatórios, elles se comportaram com toda aquella digni-
dade, que he o resultado de uma consciência pura, e que
nenhum delles se retractou, mas todos concordaram, cm
que tinham obrado de concerto. Porém nem o seu com-
portamento, nem a sua defensa, teve influencia alguma
sobre o comportamento de seus oppressores: requeria-se
que se fizesse um exemplo, que espalhasse o terror.
Soube-se vários dias antes, era Bremen, que estavam de-
signados para ser dous dos Membros daquella Commissaõ,
os senhores Borger, e De Fenk. Indubitavelmente os
Francezes tinham determinado a escolha destas duas vic-
tiraas ; porque elles, na qualidade de Conselheiros do
Duque de Oldenburg, primeiros lugares na Adminis-
tração do paiz, se tinham distinguido por seu saber, e pela
estimação geral; que alem dUso as s>uas assignaturas eram
Miscellanea. 317
as primeiras na ordem, em todos os documentos publicados
pela commissaõ. Os outros tres membros eram M. de
Negeleir, e os Negociantes Bulling e Klaavemaim. O
interesse que elles inspiravam he alem de toda a expressão
Até se nos assegura que se offereceo por M r . de Fenk nm
resgate de 40.000 coroas. Ambos mostraram a maior
resolução até o ultimo momento, em que a sentença hor-
rível foi posta em execução. Quando quizéram tapar os
olhos a Mr. De Borger, elle pedio *' que lhedeixas>em ver
o aspecto daquelle ceo para onde estava a partir." Con-
cedeo-se-lhe isto, e elle cahio ao primeiro fogo. Mr. de
Fenk padeceo por muito tempo ; e naõ terminou a vida
senaõ rlepoisde varias descargas. As suas ultimas palavras
fôram," recommendo vos minha mulher e meus filhos.
Os outros tres membros fôram obrigados a assistir á exe-
cuçaó de seus infelizes collegas. Fôram depois con-
demnados á prizaõ, que ao depois se commutou em
muleta.

(Do mesmo papel.)


Para dar provas do pouco respeito que os Francezes
prestam aos tractados, que contrahem, será sufficiente
citar os dous factos seguintes, que suecedêram depois da
conclusão do armisticio; e que se inseriram nas gazetas
de Berlin de 28, e 29 de Junho.
A cavallaria do corpo de Ltitzow, que estava com um
pequeno destacamento de infanteria nas vizinhanças de
Gera, fez uma espécie de convenção com o iuim go, era
virtude da qual devia ser escoltado até a passagem do
Elbe: chegando a ura desfiladeiro, aonde se ajunctou á
dita escolta um regimento de cavallaria de Wurlcnsberg ;
o inimigo, superior era numero, atacou repentinamente o
corpo de Lutzow, passou á espada vários da cavallaria, e
Ibz o resto prisioneiro. Um pequeno numero, queescapou
a morte ou ao captiveiro, chegando a cerla distancia de
VOL. XI. No. 63. 2 s
318 Miscellanea.
Leipsic, mandou uma bandeira de tregoa, ao Duque de
Padua, queixando-se desta infame traição; c pedindo ao
mesmo tempo, que se lhe desse passagem livre durante o
armistício. O Duque de Padua, em vez de resposta o»
mandou rodear por suas tropas, de maneira que estes valo-
rosos Prussianos naõ tiveram outra alternativa senaõ ren-
der-se. Da mesma forma, e a despeito da ley do armi-
stício, prenderam o valoroso Major Blucber, e o seu
companheiro em armas, Katt. Dizem que o Major Blu-
cher, achou meios de se escapar. Indubitavelmente naõ
imitaram n'isto os exemplos dos bárbaros do Norte. Lem-
bra, nos que o General Tchernicheff, estando ao ponto de
aprisionar G.000 homens, cm Leipsic, se absteve com
tudo de ulteriores hostilidades, quando se lhe notificou
em íòrma o armistício.

Hamburgo, 26 de Junho.
S. E . o Conde Von Hogendorp, Governador de Ham-
burgo, expedio um regulamento, aos 23 do corrente, a
respeito das obras das fortificaçoens, que se affixou em
edictaes: em contormid ide delle 4.200 trabalhadores se
requerem todas as semanas em Hamburgo, nas obras da
fortaleza, que devem começar na semana que vem. Cada
cantaõ deve fornecer 700 homens para este fim, os quaes
ser;*õdividos em 7 companhias, consistindo cada uma de
cem homens, e posta debiixo do commando de um capi-
tão, que se deverá escolher d'entre os principaes habi-
tantes da cidade.
Os capitães estaõ authorizados a empregar tres mulheres
em lugar de dous homens ; c 20 rapazes, de 15 a 18 annos
de idade em lugar de 10 homens, ÒÍC. OS que tòrera cha-
mados para as obras vem trabalhar em pessoa, e se naõ
permitte que sejam empregados trabalhadores alugados,
como substitutos.
Miscellanea. 319
OMayoral expedio a seguinte proclamaçaõ:—
Como o serviço dos hospitaes requer taõ considerável
quantidade de pano de Unho velho, para ataduras e fios,
que se naÕ pôde obter uma porçaõ sufficiente, todos os
habitantes de Hamburgo saõ por esta requeridos a trazer
tudo quanto destes artigos tiverem, que puder servir a
taes usos, e entregallos immediatamente na secretaria do
Mayoral; e elles seguramente naõ seraõ tardios em apro-
veitar esta occasiaõ de auxiliar os guereirios seus naturaes,
feridos, e doentes.
(Assignado) O Mayoral, R U D E R .
Hamburgo, 24 de Julho.

Do Jornal do Departamento das Bocas do Elbe, de 25 de


Julho.
O Marechal Principe de Eckrauhl, Governador Gene-
ral da 32a. divisiar militar, commandante em chefe do
13°. corpo, considerando as ordens de S. M. o Imperador
e Rey, datadas de 16 de Julho, 1813, decreta as se»
guintes dispoçoens :—
ART. 1. Concede-se o perdaõ pelos actos de rebelião,
insurrecçaõ, e deserção, commettidos até o dia de hoje»
na 32a. Divisão Militar.
2. Saõ exceptuados desta amnistia, pelas razoens ex-
pressas no artigo 3 a . os indivíduos, cujos nomes se
seguem.
Gries, Ex-Syndico, Ex-Secretario Geral das Bocas do
Elbe, em Hamburgo.
Eoth, Ex-Senador de Lubeck, em Lubeck.
Kruckenberg, Ex-Mayoral de Luneburg, e Luneberg.
De Meding, Ex-Legislador, e Membro da Commissaõ
de Liquidação, em Luneburgo.
De Marshall, Ex-Mayoral do Circuito de Stedt.
De Zesterleth, Ex-Conselheiro da Corte Imperial de
Hamburgo.
2 s 2
320 Miscellanea.
De Deken, filho, Ex-Conselheiro em Hanovcr, e pro-
prietário em Stadt.
Von Hess, Doutor, em Hamburgo.
De Zastrou, Ex-Inspector dos bosques, cm Hambourg.
De Kielmansegge, proprietário, juncto a Lauenberg.
M^ltletcamp, pixileiro era Hamburgo.
Haníf, Mestre Carniceiro, em Hamburgo.
DeGruben, Sub-Prefeito, em Bremerleke.
De Deken, pay, Exministro do Eleitor de Hanover.
Langrehr, Ex-rccebcdor municipal era Luneburg.
Tesdorff", Ex-official superior, no serviço da Inglaterra
era Barmstedt.
D.* Zrsterfieth, Ex-substituto do Procurador Imperial
em Bremerleke.
D'1-.srndorff, Ex-Juiz em Bremerleke.
De Wetzcb, Ex-substituto do Procurador Imperial em
Bremen.
De Decyen, Ex-substituto do Procurador Imperial em
Stadt.
De WitzendoríF, dicto, cm Lubeck.
De Sode, dicto em Hamburgo.
Frederico Perthes, bibliothecario, em Hamburgo.
De Ilavpt, Ex-advogado na Corte Imperial de Ham-
burgo.
Zemmermann, Ex-advogado, cm Hamburgo.
Llncstein, Ex-coproprietario do Coiirespondentem, cm
Hritnburgo.
3. Estes indivíduos saõ declarados inimigos do estado,
e banidos para sempre do Império Francez. A sua pro-
priedade he confiscada. Aquella parte da dieta proprie-
dade, que se destina a este momento ao serviço publico,
será apropriada ao uso a que presentemente se destina ; o
resto cr.trará nos bens, que constituem o domaiuc extra-
ordinário.
4. Todas as pessoas, que pertencem á 32". divisão mi-
Miscellanea. 321

litar, e que se naõ tiverem ausentado depois do I o . de


Março de 1813, e tiverem ja voltado ao tempo da publi-
cação desta presente resolução, e das outras que se espe-
cificam no art. 2, tem a faculdade do ultimo termo (até 5
de Agosto) para voltarem para o lugar de sua habitação,
ou residência ordinária. Elles faraõ certificar a saa volta
em processo verbal, perante o Mayoral. O Mayoral re-
metterá uma copia do sobredicto processo verbal ao Pre-
feito do Departamento, o qual informará disso ao Ministro
da Policia Geral, por uma parte, e por outra ao Governa-
dor General. O processo verbal original ficará depositado
nos archivos da Secretaria do Mayoral.
5. Aquelles indivíduos, que naõ voltarem dentro do
termo prescripto, seraõ considerados da mesma forma que
as pessoas especificadas no segundo artigo desta presente
resolução, e ficarão sugeitos ás mesmas penas.
6. Os pays, mãys, e tutores daquelles indivíduos que
forem de menor idade, ou que naÕ gozarem de seus privi-
légios, seraõ responsáveis por aquelles de seus filhos ou
pupilos, que pegarem cm armas contra a França, ou que
naÕ voltarem dentro do termo prescripto. Consequente-
mente, dentro do espaço de um mez, pagarão a pena pe-
cuniária, conforme a lista que deve fazer o Prefeito, que
montará a quatro vezes a somma annual dos seus rendi-
mentos, e tributos pessoaes.
7. A presente amnistia se naõ extenderá aos actos de
violência, ataques, e mortes de indivíduos ; nem igual-
mente aos roubos, furtos, e outros excessos, ainda que
estes actos se originassem na insurrecçaõ, e rebelião.
Naõ se fará alteração alguma nesta amnistia, na sus-
pensão provisória das pessoas cm magistratura, ofiiciaes.
públicos, ou Agentes, qne antes da publicação desta reso-
lução estivessem ja publicamente declarados ; nem em
nenhuma outra medida adoptada pelos governadores, ou
chefe da policia.
S22 Miscellanea.
8. Dar-se-ha a maior publicidade á presente resolução.
O chefe do Estado-major General, transmiltirá copias
delia ao Tenente-general de Justiça, Prefeitos, e Director-
general da Policia Superior.
Dada no Palácio do Governo em Hamburgo, aos 14 de
Julho, de 1813.
(Assignado) O Marechal Duque de AUEUSTAOT, e
Principe de ECKMUHL.
O General, Chefe do Estado-maior, General
do 13° Corpo, CÉSAR DE LA V I L L A .
(Esta conforme)
O Prefeito do Departamento das bocas do Elbe, BHE-
TEUIL.

Reflexoens sobre as novidades deste mez.


BRAZIL.
S. A. R. o Principe Regente de Portugal acaba de mandar estabe-
lecer na Cayenna ura Regulamento, intimado por uma proclamaçaõ'
do Primeiro Magistrado na quella Colônia, que tem o titulo de In-
tendente i pelo qual te confiscam oi bens daquelles Francezes, que,
naõ querendo sugeitar-se ao Governo de S. A. R. fôram residir, ou
ja residiam em paizes inimigos, ajunrtando-se a isto varias disposi-
çoens collateraes, para pôr em devida execução aquelle Regula-
mento.
Naõ pôde duvidar-se do justo titulo, que a conquista daquelle pais
deo a S. A. R. i ara poder tomar similhante medida, a qual, longe
de imitar o procedimento de Napoleaõ, quando entrou em Portugal
a pretexto de amigo, e obrigou os habitantes a resgatar as suas pro-
priedades ; mostra uma moderação, dignidade, e grandeza d'alma i
que fazem sumiria honr.» aS. A. R. o Príncipe Regente.
Notamos lambem nisto unia circunstancia, que nos pareceo
interessante ; - he, a ca. sa que se alega para esta medida| a saber •
a necessidade de obter o dinheiro necessário, para manter os estabe-
licimentos públicos do paiz; para o que se diz, que naõ saõ bastantes
os rendimento» provenientes dos tributos, qne se acharam estabele-
cidos na quella colônia « e os sentimentos de clemência de S. A. R.
que naõ deseja gravar aquelles provo» com impostos novos, que
seriam aliás precisos para suprir ao déficit existente.
Miscellanea. 323
De naõ ter S. A. R. declarado ainda o território da Cayenna,
parte integrante de seus Estados, junctamente com esta circunstancia
de dispor de certas propriedades para occurrer ás despezas publicas,
deduzimos a conclusão, de que o Governo do Brazil naõ está deci-
dido a annexar permanentemente aquelle território aos demais do-
minios de Portugal • do contrario, cuidaria em procurar rendimen-
tos permanentes, para occurrer a despezas annuaes.
Como esta supposiçaõ convém perfeitamente com as nossas ideas;
conjecturamos que o Governo do Brazil reserva esta conquista, para
com ella obter algum equivalente ou vantagens no tempo da nego-
ciação da paz geral: e este plano nos parece mui acertado.
Naõ faltarão certamente homens que a conselhem o cont.-ario i
ja porque o seu interesse particular os leve a desejar manter a au-
thoridade que possuam naquella colônia; ja porque intentem fazer
ali estabeliciraeutos; ja porque se offusqueiii com as ideas de uma
gloria mal entendida do augmento de território.
Porém todo o Politico imparcial, que conhecer a extensão da ma-
zimade quea grandeza dos Estados naõ depende somente da quanti-
dade do terreno, principalmente quando este lie deserto, naõ terá dif-
ficuldade em resolver esta questão sobre a Cayenna.
O território do Brazil he de tal vastidão, que dá amplo emprego
para um Governo activo e inteligente, que o deseje aproveitar
como elle merece i e largos annos, na verdade largos séculos, se pas-
sarão, antes que a sua população exija augmento de território.
Os rios da Prata, e dos Amazonas saõ os limites mais decididos, e
formam as fronteiras mais defensiveis ao Brazil, que he possivel
conceber: territórios alèin destes rios, em vez de distinguir, confundi-
riam as demarcaçoens; em vez de servir de defensa, dariam occasiaõ
a intrigas e communicaçoens illicitas com os vizinhos • em vez de
segurança seriam motivos de discórdia.
Quanto à gloria da nova arquisiçaõ; parecenos que basta o es-
plendor da conquista; e as vantagens, que-podem resultar de sua
cessaõ ao tempo da paz. A verdadeira gloria de um Estado deve
consistir na prosperidade e felicidade dos subditos nu interior, e no
respeito e bom nome para com os Estados Estranho*. Toda a outra
gloria.; assim como naõ produz beneficio solido assim se desvanece
como o fumo. O Brazil o que menos necessita he de terreno ; o que
mais precisa lie uma população proporcional; e composta de gente
que sirva a melhorar a casta, que presentemente ali habita ;e melho-
ralla tanto phisica como moralmente. Conhecemos bem, que este
melhoramento se naõ pôde fazer com remédios parciaes, e para assim
nos explicar-mos de remendos; he necessário u» plano seguido, coni-
binado.extenso- e executado com braço vigoroso. Se assim se obrasse,
324 Miscellanea.
dentro em 30 annos aquelle paiz mudaria de face ; evitaria a neces-
sidade du importação de Africanos, que produzem uma inevitável
mixtura physica, e moral na população; o quehe um dos maioresen-
traves aos melhoramentos que se necessitam. A aquisição, logo, de
mais territórios alem de inútil, serviria de divertir a attençaõ do
Governo para objectos differentes do qne mais importa.
Agora só resta desejar, que ao tempo da paz S. A. R* tenha na
Europa providenciado d*ante maõ, quem faça valer esta conquista
da Cayenna, e naõ d :ixe ir pela água abaixo os seus interesses, como
tem acontecido em muitas oceasioens ; e modernamente na pai
d' Amiens. Nós temos a este respeito mais informaçoens do quepede
a prudência, que se communiquem ; e assaz temos soffrido, pelo que
soubemos, ainda sem nada dizer, a respeito das nefarias transacçoens
do anno de 1802. Limitamo-nos portanto a dizer outra vez, qne
desejamos qne S. A. R. tenha na Europa algum homem de intelligen-
cia, e de quem se possa fiar, quando inesperadamente se tractar dt
paz ; porque esse momento ha de chegar um dia ou ontro.

Obituario.
Faleceo no Brazil a Senhora Princeza D. Maria Anna i que era
Irruaa de S. M. Fidelissima; e nasceo a 7 de Outubro de 17SÕ.

FRANÇA.
Durante o decurso deste mez, em que estiveram suspendidas as
hostilidades, por virtude do armistício, que mencionamos em nosso
N". passado, houveram alguns factos de importância, relativos a ne-
gociaçoens de paz, os quaes porém terminaram na renovação de
hostilidades.
A Imperatriz foi terá Mayence, debaixo do pretexto de visitar seu
marido, o qual effectivamente ali a foi ver. He bem de presumir que
esta viagem, principalmente sendo ella a Regente do Reyno. naõ éra
«em vistas politicas; e portaato lie mui de notar, que naõ obstante a
proximidade, em que se achava o Imperador d"Auslria, esta princeza
naõ fosse ver seu pay. Daqui se pode mui bem inferir, que, pelo
menos desta vez, os inte.esses de politica pezáram mais com o Impe-
rador de Áustria, do que as relaçoens de familia. A Imperatriz vol-
tou i ara Paris ; e se aununciou, qoe iria ter a therbourg, para as-
sistir a cerimonia de se abrir o dique formado naquelle porto • qae
he nma obra projectada, desde o tempo de Luiz XIV.
As gazetas Francezas, durante todo este mez se oecupéram a des-
crever as marchas de tropas para o grande exercito do Norte; csup-
Miscellanea. 325
posto que estejamos persuadidos, que as forças Francezas sejam mui
numerosas; com tudo he mui evidente o cuidado com que se multi-
plica um mesmo corpo, fallando de suas marchas era artigos de dif-
ferentes lugares, e fazendo parecer que saõ tropas differentes.
Dos exércitos contra Hespanha mui pouco se diz, excepto da re-
sistência, que tem feito a guarniçaõ de S. Sebastião. Nada da ba-
talha de Vittoria ; cousa nenhuma da d rrota de Soul , quando ten-
tou passar os Pyreneos. Publieamos a p. 300 uma proclamaçaõ do
Marechal Soult,que apparecêo nas gazetas lnglezas, posto que baja
algumas duvidas sobre a sua authenticidade; mas ella he taõ con-
forme ás circumstancias do tempo, que naõ podemos deixar de a in-
serir ; principalmente pelas queixas que faz contra seus predeces-
sores ; e pelas ordens que inculca ter recebido de Napoleaõ ; as quaes
porém naõ pdde executar ; posto que as gazetas Francezas ja dem o
seu quartel-general em Vittoria.
Interessará sem duvida a muitos Leytores Portuguezes, um artigo
de Paris de 4 de Agosto, no qual se refere que Junot, o pseudo Ouquo
de Abrantes, morrera; havia alguns dias, no departamento de Cot*
d'0r.

CONGRESSO EM PRAGA.
Aos 12 de Julho chegou a Praga o Baraõ de Amstetten, como
Ministro Plenipotenciario de Russia ; e o Baraõ d* Humbold, Pleni-
potentiario de Prússia. O conde de Metternich, Embaixador de
Áustria, ja ali se achava, e o Conde Narbone como Ministro de
França: e foi dep*is ali ter o Duke de Vicenza (Caulin ourt.) A
Inglaterra enviou também ao Continente Lord Aberdeen; mas naõ
consta que chegasse ao lugar do seu destino.
A primeira sessaõ deste congresso teve lugar, aos 19 de Julho ;
Caulincourt começou as suas funcçoens diplomáticas por uma or-
gulhosa declaração, de que se devia prolongar o armistício antes que
elle principia-se a tractar dos objectos de sua missaõ; e naõ quiz
dar explicação alguma sobre os termos em que queria tractar; por
fim, vendo-se instado, declarou que as suas instrucçoens lhe prohi.
bSam dar explicaçoens algumas; e só deveria receber as proposi-
çoens que se lhe fizessem. Conheceo-se pois que o Governo Fran-
cez, naõ entrava nos termos de negociação senaõ para illudir o Im-
pera or d* Áustria e os alliados, ganhando tempo para fazer os seus
preparativos de guerra; e dar inesperadamente a seus contrários o
golpe mais pezado que pudesse.
Naõ se sabe ainda quaes fôram as proposiçoens ou vistas da
Áustria; mas o resultado foi a dissolução do Congresso de paz; o
darem os passaportes aos Ministros Francezes para que se retirassem;
e a intimaçaõ que se fez a Napoleaõ pela meia noite do dia 10 de
VoL. XI. No. 63. 2T
326 Miscellanea.
Agosto, de que estava acabado o Armistício: e no dia 11, se de-
clarou a Áustria a favor dos Alliados.
Tal foi o fim do breve Congresso de Praga, e temos ja noticias,
posto que naõ officiaes, de terem recomeçado as hostilidades no di»
16 de Acosto.

Naõ podemos porém deixar passar esta matéria do Congresso da


Praga, sem reflectir-mos na situação em que se achariam os inte-
resses de Portugal; se a negociação fosse adiante; e na situação em
que se acharão ainda, todas as vezes que se renovarem as proposi-
çoens de paz.
Naõ tinha S. A. R. o Principe Regente de Portugal, quem o re-
presentasse naquelle Congresso, nem nos consta que tenha agora
Ministro na importantíssima Corte de Rússia. He verdade, que tem
dous embaixadores em Londres um de dentro outro de fora, o que
serve .de grande edificação aos mirones políticos; mas ao menos-
seria útil que houvesse uma quarta parte dos dous em Rússia, ainda
que ficassem em Londres as tres quartas partes restantes*, e talvez
assim se poupasse parte dos ordenados, que necessariamente se pa-
gam, por via de economia, ao embaixador de fora, e ao embaixador
de dentro; em quanto disputam os Sarainagos; qual he o verda-
deiro Amphitrinõ.
Sabemos mui bem, que aquelles homens que saõ sustentados nos
s-jus lugares, pela influencia, e ro^osde Naçoens Estrangeiras; sendo,
como he natural que sejam, desejosos de seu patTOcinio, diraõ
que bastarão no caso de outro tractado de paz geral os bons
officios da Inglaterra ; e que este fiel Adiado terá cuidado de Portu-
gal. Ninguém descança mais na boa fé, e na sincera amizade da
Inglaterra para com Portugal do que nòs; que estamos plenamente
convencidos da probidade do governo Inglez ; porém isso naõ basta;
e s e basta, escusa-se o trabalho e despeza de pagar a embaixadores nas
cortes estrangeiras, e diga-se logo que os Alliados arrangem lá
tudo como melhor convier.
Em uma palavra, queremos dizer com isto, que o Sobt-rauw de
Portu***al he taõ poderoso, e a sua situação taõ importante na con-
junetura actual, que se naõ figura no mundo como uma Potência
de Prinieiri Ordem, a culpa lie de seus Ministros, que o enganam
redondamente, pintandu-ihe as suai forças como pygmcas, e a da*
outras nnçoens couío gigantescas ; mas como na éra de hoje ja se
naõ deve crer em b.uchas; todos estes políticos, que ha dez anno»
a.on>elliavain aPortugal, que se submettensc á frrançi, ou que lhe
aconselham agorj, que se faça cau:laUrio de nenhum i outra l'o-
tencia, o menos que merecem, se o fazem somealc por ignorância,
Miscellanea. 327
he deitallos à margem, e fazer com que naõ tenham parte nenhuma
nos negócios públicos da naçaõ.
Quando observamos a figura que fazem «s Portuguezes em In-
glaterra, pela maneira por que he represeutado o seu Soberano, e
comparamos o pé decente de respeito com que figura a Suécia;
quando reflectimos entaõ sobre os differentes meios destas duas
Potências; naõ podemos deixar de reprovar vivamente os sacrifí-
cios de dignidade, de gloria, e de interesses, que conselheiros igno-
rantes ou mal intencionados tem induzido a fazer á Naçaõ Por-
tugueza.
Nôs escusamos noraeallos ; mas para S. A. R. os conhecer, naõ
tem mais que comparar os sacrifícios que elles aconselham que se
façam as naçoens estangeiras; com a protecçaõ pessoal, que elles
recebem dessas mesmas naçoens; e como he impossível que S. A. R.
naõ esteja de posse destes factos, julgamos que he impossível que os
naõ conheça por este critério.
Damos disto um exemplo, na ignomínia com que D. Lourenço de
Lima se vendeo aos Francezes, sendo em Paris Embaixador de Por-
tugal. Este homem depois de uma serie de malversaçoens, que naõ
he preciso agora enumerar, até fez unia viagem expressa a Lisboa,
para persuadir a S. A. R. que naõ sahisse para o Brazil; quando
atraz deste ministro vinha um exercito Francez, cujas vistas naõ
eram outras senaõ a aprehensaõ da familia Real.
O Soberano de Portugal, pois, he ainda assaz poderoso, para fi-
gurar por si, entre as mais respeitáveis Potências; e se os seus mi-
nistros nas cortes estrangeiras se submetterem a indignidades porque
lhe faz conta o residir ali, ou ter patrocínios estranhos, pede o in-
teresse de toda a naçaõ; e pede a dignidade do monarcha, que se
ponha cobro a isso o mais depressa que for possivel.
A distancia, em que se acha S. A. R. da Europa impede natural-
mente, que elle possa mandar a tempo um ministro, quando se trac-
tar de um Congresso de paz; isso he uma razaõ forte para que o
tenha d' ante maõ preparado; mas naõ para que se submetta a nin-
guém. Bem longe estão da Europa os Estados Unidos, e nem por
isso deixaram de merecer que o Imperador de Rússia Ia mandasse
offerecer-lhe a sua mediação para com a Inglaterra. E nós nunca nos
convenceremos, que o Brazil seja menos poderoso em recursos do
que os Estados Unidos, e assim naõ podemos convir em que deva
fazer no mundo figura mais secundaria. Quando S. A. R. mudar
certos homens, conhecerá que as informaçoens que receber entaõ da
Europa differem bastante dos quadros políticos, que mensalmente
lhe mandam certas personagens.

2T2
328 Miscellanea.
GUERRA DO NORTE.
Havendo findado o Armistício aos 10 de Agosto, e começado u
hostilidades aos 18; com a concurrencia do Imperador d' Áustria,
que se unio aos alliados, parece que a primeira operação dos Frau-
cezes foi atacar e tomar Breslau, mas em um artigo de Berlin se diz,
que os ai liado* retomaram logo a cidade , posto que pela data desta
novidade se ,-ôde inferir, que o rumor merece pouco credito.
Afirma-se porém que o exercito Russiano entrou na Bohemia,
com 90.000 homens; a que se lhe unio o exercito Austriaco de 160,
mil homens; e isto forma a esquerda do exercito Alliado. A Prússia
ordenou um levantamento em massa, o que executa taõ estricta-
mente, que o mensageiro Inglez que acaba de chegar a Londres di-
quelle piiz, avalia o exercito Prussiano a 200 mil homens: poderá
haver nisto exaggeraçaõ ; porém sem duvida o exercito Prussia-
no, que forma o centro dos Alliados está em um pé mui respeitável
A direita dos Alliados he formada pelas tropas, que commanda o
Principe da Coroa de Suécia, o qual teve uma entrevista com o
Imperador de Rnssia e Hey de Prússia, aonde naturalmente se
ajustou o plano da campanha.
O celebre General M.ireau, chegou dos Estados Unidos a Gottcn-
burg, aos 27 de Julho ; seu antigo amigo o principe da Coroa o
recebeo em Stralsund ; e dizem que este veterano official se acha no
Quartel general Ru-siano, e terá um emprego considerável no
exercito Alliado.
De sua parte os Francezes naõ tem poupado esforços para en-
contrar o perigo; mas da natureza desses mesmos esforços se co-
pbese, que Napoleaõ naõ conta com ter victorias fáceis; porque tem
fortificado a cidade de Dresden, e muitos outros lugares oa retaguar-
da. Este modo de fazer a guerra se assirueiha mais ao systema dos
encampamentos entrincheirados de que usaram os Romanos, do que
aos ataques rápidos, e marchas distantes, qu» tem distinguido as
campanhas modernas dos exércitos Francezes..
As disposiçoens da campanha parecem ser as mais judiciosa* i e
alem dos generaes, que ate aqui tem commandado contra os I ran-
cezes acrescem agora aos Alliados o General Moreau, e o Principe
da C< roa de Suecii. Este mandou preparar uma imprensa, que
deve fazer parte de sua equipagem ; e chamou ao celebre Kotzebue,
e a M. Schegel, para conservarem este estabelecimento em plena
actividade. Os Francezes veraõ por isto, que os Alliados tem apren-
dido a fazer uso da mesma arma, que lhes tem sido aos Francezes
taõ favorável—a opinião publica.
Miscellanea. 329
Mappa e Disposição dos Exércitos Francezes na Ale-
manha, no ponto da renovação das hostilidades.
Exércitos. Força. Posiçoens.
1. Marechal D'Avoust ) „ „ . „ . , „ . _
,n • .,c i LU f 100.000 Baixo Elbe, Dantzic, &c.
(Príncipe d'Eckmuhl) > '
3. Marechal Oudinot -, _„ _ „ , .
,_ . „ . . ç 70.000 TLubenau na TLuzacia.
(Duque de Reggio) $
t. Marechal Ney 7 _ „„„ _ .. • . • „ . , .
(Principe de Moskwa) } 2 0 ü - 0 0 ° E^rc.to principal na Silezia.
, „ (Parma, Dresden, e linha
4. Buonaparte (Imperador) 50.000 J d o K | b e S ( j p e r i o r
5. Marchai Augerau i (Exercito de reserva em
(Duque de Castiglione) ) ( Bayreuth eBamberg.
6. General Wrede 25.000 Bávaros em Munich.
7. Marechal Kellerman ) nao «. . < Frankfort, formando o se-
,.> J . r i ,. l »esabei
(Duque de Valmy) > (gundo exercito de reserva.
8. Eugênio Beauharnois > ycrona
(Vice Rey de Itália) j
C Applicaveis ao rpróximo con-
Gram Total 555.000? „ . .
( flicto.
N. B. Desta força 100.000 homens saõ cavallaria.
Lista dos officiaes que se acham empregados nos princi-
paes commandos do dicto exercito.
1. QUARTEL-GENERAL.
O Emperador Bonaparte em Goerlitz.
Murat (Rey de Napoies) suecedeo a Duroc, no commando da ca-
vallaria.
Berthier (Principe de Neufchatel) Major General do Exercito
Francez.
General Conde Eblee, commanda a artilheria.
D». D°. Lery, D". engenheiros.
D°- D". Walthier, D°. cavallaria da guarda imperial.
2 ° . LINHA DO BAIXO ELBE.
Marechal Davoust, Hamburgo, e debaixo de suas ordens o Conde
ndamne.
3. LUZACIA.
Marechal Oadinot, Lubenau, &c
4 . SILBZIA.
Debaixo dos dous Marechaes estaõ servindo, commandando cor-
pos os seguintes.
Marechal Mortier, (Duque de Treviso)
330 Miscellanea.
Marechal Victor, (Duque de Belluno
. Marmont, ( de Ragusa)
• Macdonald, ( de Tarentum)
Gouvion St. Cyr, (Conde)
General Arrighi, Duque de Padua)
Regnier, (Conde, 7°. corpo e Saxonios)
Bertránd, (D°.)
• Lauriston, (D°.)
5 . BAREUTH, E BAKBERG.
Marechal Augereau; (Exercito de Reserva.)
6 . MUNICH. (MÔNACO.)
General Wrede, (Bávaros.)
7. FRANKFORT.
Marechal Kellermann, (2°. Exercilo de reserva.
8. ITÁLIA.
O Vicerey, (Tenente de Bonarte.)
Marechal Massena.
General Conde Grenier.
Os outros officiaes que commandam divisoens na Alemanha taõ -
Cavallaria. General Conde Latour Maubourg,
Conde Grouchi,
Conde Nausonty,
Conde Valence,
Conde S. Germain,
Infanteria. General Conde Laborde,
Loison,
Bonnet,
Molitor,
Friant,
• Legrand.
Os Polacos reduzidos a 15.000 homens estaõ em Pirna, com-
mandados pelo Principe Poniatowski, e a cavallaria pelo General
Dombrouski.

GUERRA DA PENÍNSULA.
Decoramos o nosso N°. passado com a descripçaõ da batalha
de Vittoria, e esplendido bom successo, que ali tiveram as armas allia-
das. Agora temos o prazer de transcrever, entre os officios do feliz
general, que ali commanda, outra victoria alcançada dos Francezes
nos Pyrineos; que enche a Lord Wellington de maior gloria do que
a primeira; porque em Vittoria derrotou um exercito que fugia
amedrontado ;e nos Pyreneos humilhou a soberba de Soultque feio
atacallo de propósito, com ordens de Napoleaõ, e com promessas a
Miscellanea. 331
•eus soldados, de que faria retroceder os Alliados. Naõ he a pri-
meira vez que o illustre General Wellington tem visto correr a Soult
diante de s i ; a cidade do Porto, e Provincia do Minho saõ testemu-
nhas disso; mas a«ora he tanto maior a gloria do vencedor, quanto
eram mais conspicuos o orgulho e audácia do aggressor.
Comparando as noticias Francezas cora os officios dos generaes
alliados he claro, que o sitio de San Sebastian se naõ pôde prosseguir
depois de terem falhado os assaltos ; porque a artilheria de bater se
arruinou com o muito fogo que fez á praça ; mas que esta operação
sem duvida continuaria, logo que chegasse a artilheria, que de novo
se esperava de bordo da esquadra. A cidade está quasi inteiramente
demolida; mas a guarniçaõ pôde sempre obter alguns provimentos
da França por mar ; visto que a sua proximidade faz que seja impos-
sível á esquadra Ingleza do bloqueio, o apanhar todos os barcos que
se escapam da Praça e vaõ ter â França pela costa.
Pamplona ainda que demasiado forte para ser tomada de assalto,
esta bloqueada taõ estrictamente; e os Francezes esperavam taõ
pouco, no principio da campanha, que Lord Wellington estivesse
agora ao pé de seus muros, que negligenciaram inteiramente o met-
ter-lhe provimentos como éra necessário ; assim he mais que prová-
vel que se renda pela penúria.

PORTUGAL.
Temos de referir uma noticia, que respeita unicamente aos Se-
nhores Inquisidores; porque quanto á demais gente, como ja nin-
guém faz caso delles, o que vamos a dizer he quasi indifferente. Sa-
berão pois os Senhores Inquisidores; que por cartas, que se recebe-
ram em Inglaterra de Goa, se sabe, que foi ali abolida a Inquisição
em Outubro passado, naõ obstante ter o nome de Santo Officio ; e as
prisoens da Inquisição daquella cidade se puzéram abertas, para
inspecçaõ do publico; que teve a satisfacçaõ de ver derribado aquelle
horroroso monumento da mais sanguinária superstição. Com que
Senhores Inquisidores de Portugal vaõ deitando ás barbas de remo-
lho ; e entre outras cousas tenham cuidado de mandar sumirtir os
ossos dos infelizes que Ia tem morto dentro, e que se acbaõ n'um do»
subterrâneos do quintal, que fica por baixo das janellas do Presidente
da Meza; mandem queimar os instrumentos de tortura; e os feitos
e papeis mais importantes; recommendamos-lhes estas medidas com
brevidade; porque a hora de se verem expostos em publico naõ
tardará nmito ; e escondendo essas cousas se livrarão ao menos que
os rapazes os corram as pedradas.
332 Miscellanea.
Deixemos aos Padres tristes; e passemos a cousa de interesse
mais geral.
Temos achado nas gazetas de Lisboa alguns nomes dos que tem
concorrido para o empréstimo do Resgate na praça do Porto
na somma de 80:000.000 de reis; principiou esta publicação
na gazeta de Lisboa, N". 143; e continuando pelo methodo prin-
cipiado nunca terá fim ; naõ sô em razaõ do grande numero
de contribuintes, que será preciso, na proporção de 40 para
4:690.000 de reis; mais de 682 pessoas; como porque mettendo-se
dias de per meio, enfastia esta leitura, esquece ; e eisaqui cm que
para a farça de se dizer que se dá parte ao publico do imprestimo,
imprimindo na gazeta os nomes dos contribuintes.
A praça de Lisboa, apertada por outras consideraçoens e motivos,
tem mostrado mais repugnância a entrar no emprestisrao; e dahi
veio o avizo um pouco puchado, que se publicou na gazeta N*. 144,
era que se usa de certa ameaça aos Negociantes, que naturalmente
lhe naõ devia agradar.
Nos estamos bem longe de lançar-mos toda a culpa ás pessoas,
que actualmente governam em Portugal,- posto que certa Persona-
gem Portugueza aqui em Londres naõ faça mysterio de acusar a D.
Miguel Forjaz a torto e a direito de tudo quanto ali se faz de máo.
O motivo porque naõ lançamos a culpa aos actuaes homens do Go-
verno ein Portugal, he porque sabemos que a falta de credito do
Erário hc a raiz fundamental de toda* as difficuldades que ha nos
empréstimos; e esta falta de credito he ja um peccado velho, que se
naõ pode sem injustiça lançar todo em conta aos presentes Gover-
nadores, Secretários, ou quem quer que be que influe nessas ma-
térias.
Ouvem dizer em Portugal, que em outros paizes, principalmente
em Inglaterra, quando o Govemo preciza de dinheiro recorre aos
Negociantes. Pertcndesse lá imitar o mesmo, e o modo porque o
fazem he atacar os negociantes de quem sabem os nomes, para que
mettam no Erário a titulo de empréstimo a quantia, que o Ministro
suppoem que os indivíduos podem contribuir.
He verdadeque em Inglaterra o Governo recorre aos negociantes;
para os empréstimos; porque esta classe de gente, em todos os
paizes he a que possue sempre maior quantidade de espécie; mas o
Gozcrno In-Hez nunca designa os individuos, que haõ de fazer o
empréstimo ; e depois cumpre exactamente com as condiçoens que
promette.
He um absurdo a practica de Portugal, de escrever o Ministro
uma carta ao Senhor Fuaõ ou Senhor Sutaõ; e pedir-lhe ou mandar-
lhe que entre no Erário com tanto de empréstimo: na suppotiçnõ
de que esses sugeitos porque taõ negociantes haõ de por força ser
Miscellanea. 333
ricoí. Naõ ha gênero de vida em que a propriedade seja mais pre-
cária do que no negociante; o qual muitas vezes, para sustentar o
seu credito principia a fazer casas, a deitar carruagens, &c. &c. a
fim de cubrir com estas apparencias uma bancarrota, que o ameaça
em breves dias: e talvez com este estratagema se salva, e ganha
tempo para cobrar o que espera, e pagar a quem deve. Sendo isto
assim, como na verdade he i que critério pôde ter o Ministro para
saber que Fulano pôde emprestar 20, e Sulano 30? Ha muitas
vezes um negociante que no mez em que se lhe pede o empréstimo
naõ pôde dispensar um real, por letras e outras dividas, que lhe seja
necessário pagar, quando dali a tres ou seis mezes lhe seja fácil
dispensar largas sommas. Obrigar os negociantes a fazer decla-
raçoens destes seus motivos particulares he usar de um depotismo,
que he absolutamente incompatível com a existência do commercio;
salvo se reduzirem o Commercio de Portugal ao negocio dos adelos;
e entaõ os estrangeiros se saberão aproveitar dessj estado das
cousas.
Accresce a isto; que ainda suppondo que o Ministério acertava a
pedir o dinheiro, a quem realmente o tivesse para lho dar; éra abso-
lutamente necessário pagar esta divida e seus juros conforme o pro-
mettido, para naõ passar por caloteiro, e poder ter credito para a
outra vez. O ultimo empréstimo que se fez em Lisboa para o resgate
de Argel, foi manejado por D. Miguel, que nos informam arranjou
o negocio á satisfacçaõ de todos; porém isso foi cahir ultimamente
no Erário, e acabou de um modo peior que insípido; dando louvores
a uns, esquecendo-se de outros, naõ apresentando contas do dinheiro
que veio do Brazil; e dahi resultou, que para este emprésti-
mo se viram obrigados a usar de ameaças, e expressoens árduas,
como se vê do Aviso que publicamos no nosso K°. passado a p. 16:
(em que naõ falíamos entaõ, por desejarmos attender aos Senhores
Inquisidores em primeiro lugar, visto o respeito que lhe temos.)
Sem duvida a falta de credito, e naõ cumprimento de promessas,
he quem produz esta frieza de naõ haver quem empreste ao Erário :
os ameaços, e as palavras árduas augmentam o mal; ja porque
desgostam, ja porque daõ a entender que se recorre a violência
para cubrir irregularidades; e proteger a falta de boa fé no cum-
primento das promessas.
Uma cousa que nos desgostou muito lendo aquelle avizo, he o mo-
do porque he concebido. O aviso he assignado por D. Miguel;
mas antes que lhe descarregeinos o golpe, pede a justiça que diga-
mos, que naõ sabemos, se a minuta he ou naõ delle; ou se as ideas
saõ ou naõ de outros membros do Governo. A assignatura de um
homem publico naõ o deve sempre fazer moralmente responsável
pelo contheudb do que assigna.
VOL. XI. No. 63. 2v
334 Miscellanea.
Seja pois aquelle aviso devido a quem for, escandalitanot muito
nelle, a parte que naõ podemos attribuir a ignorância . por ser o
manifesto effeito de Machiavelismo: isto he a insinuação que vai
sempre fazendo, ao mesmo tempo que pede o favor de um impres.
timo. que o favor he aos mesmos negociantes; porque he para o
Resgate: esta impostura tem um ar avelhacado, que he necessário
desenvolver seriamente.
O Soberano he o Chefe da Naçaõ, Administrador das Rendas
Publicas, Dislribudor da Justiça, &c. ; como tal nunca deve, nem
nunca se suppoem, que cobra os rendimentos públicos, ou os applica
senaõ em beneficio do Estado • d'onde vem logo aqui a cantilena de
dizer que este empréstimo para o Resgate de Argel, resulta em
beneficio dos mesmos negociantes ? He um modo de lhes negar o
merecimento que teriam ; ou o agradecimento que se lhes deveria
por fazerem o imprestimo.
A paz, ou a guerra, a tregoa ou as represálias que o Soberano
faz com outras naçoens, saõ sempre a beneficio da sua • e por isso
tem elle o direito de exigir dos povos os meios de levar a diante as
suas medidas < como, pois, podem armara patranha de fazer deste um
caso novo, e dizer que a paz com Argel he de utilidade aos negoci-
antes de Lisboa ?
Dirão talvez, que os negociantes se interessam mais nesta paz mar i-
ma com Argel, porque saõ donos de navios, que podem ser tomados
pelos Argelinos. Primeiramente naõ he verdade, que os negociantes
donos dos navios sejam os únicos, nem ainda os mais interessados na
sua salvação i a practica dos seguros lhes salva a propriedade ; e os
parentes e amigos da tripulação saõ os que soffrem a perca da gente.
Mas suppondo ainda, que a classe de negociantes e donos de navios
eram realmente os qne mais perdiam ; todo o Estado éra igualmente
obrigado a concorrer para a sua protecçaõ. Para isso se unem os
homens em sociedade para que uns protejam os outros - do contra-
rio, quando os Hespanhoes entrassem como inmigos no Alentejo,
poderiam dizer os Transmontanos, que contribuíssem os Alentejoens
para a guerra ; porqne a elles he a quem ella pezava; e quando en-
trassem os Francezes em Tias os Montes, diriam os Beiroens; paga-
remos para a guerra quando cá chegarem os Francezes i por hora
paguem os Transmontanos que he aquém o» Francezes fazem a
guerra
Este absurdo modo de raciocinar he o que se admitte, quando se
alega por motivo de deverem os negociantes contribuir com o cha-
mado imprestimo, o dizer que elles saõ os interessados na paz com
Art-el i porque tem os navios no mar ; como se a tomadia de navios
pelos Argelinos naõ causasse damno a toda a naçaõ.
No entanto estes procedimentos causam um desgosto dos negoci-
Miscellanea. 335
antes, que infelizmente desta maneira saõ conservados em tal situa-
ção que nem saõ úteis a si, nem podem servir ao Estado, quando o
seu auxilio mais necessário éra. E no meio disto saõ os cstrageiros
hábeis que tem ido adiantando o seu commercio e sua marinha; em
quanto a Portugueza tem ido de cabeça abaixo.

CONRESPONDENCIA.

Ao Redactor do Correio Braziliense.


Li a carta, que inserío no N°. 62 do seu Jornal de um certo Insu-
lano. Debaixo do titulo de Correio Funchalense, ou noticias Poli-
ticas da Madeira. Deixando o tal Insulano a respeito do Boticário,
e do Jurisconsulto denominados Inspectores d'Agricu!tura, me li-
mito ao que mais impressão me fez na ditta carta: e he o taõ
mal place, c forçado elogio á José Manoel da Câmara : está no estilo
do ditto José Manoel da Câmara: este no estilo do ditto José Ma-
noel, como terá visto nas suas odes Pindaricas, e nos seus autem
genuit aos Portuguezes ! Pois diz elle Insulano—cujo talento, conhe-
cimentos, nobreza, liberalidadc, e justiça sempre o elevarão a par dos
heroes. Seja heroe muito embora do Insulano 1 Mas critico, lite-
rato, e poeta nunca o foi ; prova as suas petites pieces análogas ao
Almocreve das petas—ainda que com menos merecimento, poisque
ao menos o José Daniel conhece que diz asneiras: e dis mais—cum-
prio com os seus deveres, como homem da corte I He bom homem
de corte I e bons deveres de homem de corte fazer prender escanda-
lozauieule o seu Prelado! o seu Bispo ! o chefe da religião ! o Bispo
do Funchal I o bem conhecido e benemérito Villares! E tem o ar-
rojo este Insulano de profanar o nome de homem de Corte dando o
a um hereje de Corte ! e de Politica 1
A conducta escandaloza do Heroe do Insulano com o BispoVilIares
sabea toda a Ilha, e muita gente da Europa • e até se sabe por ter
sido o ditto pseudo-homem de Corte tirado do Governo, e por muita
graça permetido estar em Lisboa mas sem lhe ser concedida a honra
de ver, e beijar a maõ ao Soberano.
Tratou a todo o individuo com politica ! Que o digaõ os da Ilha, e
as pessoas da primeira qualidade, que o Insulano (talves por espinha,)
chama Fidalgos de meia tigela, que sem entrar em genealogias o
governador devia, (a ser homem de corte e de juizo) respeitar, uma
vez que elle queria que o respeitassem, e a Pessoa que tinha a honra
de representar : o mais era uin mixto de aristocrato, democracia !
0 sair um empregado pobre de um lugar naõ prova senaõ falta
330 Miscellanea.
de economia, ou algum accidente funesto: o sair com muito di-
nheiro, he que pode provar mais alguma coiza ainda que este o po-
dia ganhar ao jogo, eaqnelle perdello.
Em fim sabe quem he o tal Heroe; he aquelle mesmo, que era
1807 dando se uma festa em Lisboa ao Junot em caza de huma Snr.
D de Noronha ; quando o ditto Junot appareceu lhe veio ao
encontro o exgovernador, que entaõ era dos descontentes, fazer lhe
os comprimentos no ettito mais rampant, e indigno, dizendo lhe entre
outras cousas, em um muito mao Francez, que tinha a maior honra,
e prazer de ver em caza dos seus Ancetres o Grande Duque d'Abran-
tes, o enviado do Grande Napoleaõ, e tudo isto ditto de modo, e coro
tanta reptilidade, que o mesmo Junot ficou rindo delle; e procurando
quem era este taldescendantdecara oblonga.
Em que elle merece o nome do heroe, he depois da tua conducta
na Ilha, e em Lisboa, apparecer no Rio de Janeiro no tempo do Fo-
gueteiro, que lhe achava rabo para o atirar com o Nome de Minis-
tro, e enviado aos Estados Uuidos. Felizmente ainda se acha no
Rio t e na verdade nm tal foguete so com um grande rabo, e mane-
jado pelo foqueteiro d'Arroios he que poderia panar a America como
tudo isto he publico na Madeira, e em Lisboa.
Como conheço que as suas intençoens naõ saõ de impor e cavilar
ao Publico por isso torneia liberdade de lhe remeter esta nota ao In-
sulano, que espero a queira inserir no seu jornal.
Sou Senhor Redactor NU attento, Ac.
LXITOI.
CORREIO BRAZILIENSE
D E S E P T E M B R O , 1813.

Na quarta parte nova os campos ara,


E se mais mundo houvera Ia chegara.
CAMOENS, c . VII. e . 14.

POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.

Portaria dos Governadores do Reyno sobre o empréstimo


para o Resgate.
\. ENDO-SE aberto para a paz com a Regência de Argel
um empréstimo a juro, repartindo-se a importância delle
pelos negociantes, e capitalistas das praças de Lisboa, e
Porto : manda o Principe Regente Nosso Senhor remetter
á Real Junta do commercio as duas relaçoens inclusas,
assignadas por Caetano José Ribeiro, Official Maior gra-
duado da Secretario d'Estado dos Negócios da Marinha :
a primeira com os nomes dos negociantes, e capitalistas de
Lisboa, que contribuíram com o total das quotas, que lhes
forao distribuídas ; e a segunda com os daquelles, que
suposto nao inteirassem as suas respectivas quotas, entrá-
taõcom araetade, ou mais de ametade da sua importância:
e ordena Sua Alteza Real que a mesma Junta convoque, e
louve no seu Real Nome, e com as expressoens de que por
sua lealdade, e patriotismo se fazem dignos todos os que
satisfizeram á expectaçaõ do mesmo Augusto Senhor, con-
correndo com as sommas, que se lhes pediramj e ainda os
VOL. XI. No. 64. 2 x
33S Politica.
mesmos, que (como he de suppôr) por imperiosas circum-
stancias entraram com ametade das ditas sommas, c manda
outro sim que o Governo destes reinos faça subir á sua
Real presença as ditas relaçoens para que seja constante
a Sua Alteza Real o relevante serviço, que elles fizeram cm
beneficio do commercio, e navegação nacional, e da
causa publica, no qual os que completaram as suas
quotas tem mais particular merecimento, que mui espe-
cialmente os recommenda á Real ceutemplaçaõ.
Subirá juntamente á Real presença do Principe Re-
gente Nosso Senhor a relação das pessoas, que ou se escu-
saram, ou contribuíram com menos de ametade de suas
quotas, para que a indefectível justiça de Sua Alteza Real
proceda a respeito destes indivíduos coin as demonstra-
çoens de desprazer, que forem do seu Real Agrado, e me-
recerem as suas diversas circumstancias, suspendendo-se
interinamente a publiçaõ de seus nomes até que se recebam
as Reaes Ordens.
A Real Junta do Commercio, Agricultura, Fabricas, c
Navegação destes Reynos assim o tenha entendido, e faça
executar, publicando pela impressão a presente Portaria,
e as ditas relaçoens inclusas, assim como a outra relação
relativa á praça do Porto, e a Carta dirigida pelo Secre-
tario do Governo da repartição da Marinha ao Chanceller
da Relação da dita cidade, que também se lbe remettem:
devendo igualmente o Governo destes Reynos levar á So-
berana presença o distincto serviço da Illustrissima Junta
da Administração da Companhia Geral da Agricultura
das Vinhas do Alto Douro, e dos Negociantes, c Capita-
listas da dita Praça, que sem excepçaõ de um só, con-
correrão promptamente com o total das respectivas quan-
tias, que llies foraõ requeridas, o que os faz com muita
particularidade beneméritos do Principe, e da Pátria.
Palácio do Governo, em 10 de Julho, de 1813.
Política. 339
Com as Rubricas dos Senhores Governadores do Keino.
Cumpra-se, e registe-se. Lisboa, 20 de Julho, 1813.
Com as Rubricas do Presidente, e Deputados da Real
Junta do Commercio.

Para Manoel Antonio da Fonseca e Goutea.


Accuso a recepção do officio de V. S. em data do pri-
meiro do corrente annunciando-me a entrega, que devia
fazer no cofre da commissaõ o negociante Antonio Nunes
Ribeiro, da quantia de quatro contos trezentos e setenta
-mil réis, com que se completava o empréstimo de oitenta
contos de réis, que por aviso de trinta de Abril próximo
passado Sua Alteza Real havia incumbido a V. S. de
ratear e solicitar da Illustrissima Companhia dos vinhos
do Alto Douro, edos negociantes da praça do Porto, para
os fins, e com as condiçoens expressadas na Portaria de
vinte e dois de Abril deste anno: remettendo-me V. S. ao
mesmo tempo, a relação nominal das pessoas, que para
elle concorreram, e as quantias que prestaram, o que tudo
fiz presente a Sua Alteza Real, e por sua ordem, devo
expressar a V. S. o louvor, que mereee a intelligencia,
actividade, e zelo com que V. S. desempenhou taõ cabal-
mente esta importantíssima diligencia, o que levará com
muita satisfação sua á Real presença do Principe Regente
Nosso Senhor. Incumbe Sua Alteza Real a V. S., que
no seu Real nome expresse as pessoas, que concorreram
para o mesmo empréstimo, o muito que os recommendou
na Real presença uma conducta taõ leal, e patriótica; e
correspondeo completamente á confiança, que o Governo
tinha dos seus sentimentos. O mesmo Governo além de
mandar imprimir para sua satisfação a dita lista, a levará
á presença do Principe Regente Nosso Senhor, para que
ao mesmo seja constante os nomes dos fieis vassallos, que
concorreram com tanta promptidaõ para este empréstimo.
2x2
340 Politica.
Quanto aos títulos que V- S. deo a cada um delles para
sua segurança, parece serem sufficientes, visto que as
entradas no cofre da commissaõ foraõ feitas em geral em
nome de V. S., podendo do mesmo modo receber do
cofre da commissaõ, e por junto as quantias, que pelo
rateio se forem cobrando para o seu pagamento, e distri-
buindo ns depois proporcionadamente pelos interessados ;
mas quando V. S. pelas suas oecupaçoens, naÕ possa ap-
plicar a este objecto o tempo, que lhe deve absorver até o
seu completo pagamento ; ou se daraõ pela commissaõ os
titulos correspondentes a cada um dos interessados; de-
vendo nesse caso os mesmos accionistas cobrar nqui a
parte dos pagamentos, que lhe corresponder, ou o que
será mais fácil, formando ahi uma commissaõ a sen con-
tento, (se os accionistas con vierem nisso) que receba por
junto, e a quem se passe um titulo geral de toda a divida,
c se obrigue depois a satisfazer individualmente a cada
accionista a parte correspondente ao seu empréstimo; ú
medida que elle for recebendo ; entendendo-se para estas
cobranças com a commissaõ encarregada aqui do mesmo
empréstimo : qualquer que seja o expediente, que se
adopte, V.S. mo cotnmunicará, para por de acordo a
dita commissaõ.
Deos guarde a V. S.
D. MIGUEL PEREIRA F O R J A Z .
Palácio do Governo, em oito de Junho, de mil oito-
centos e treze.
Secretaria de Estado da Marinha, em dez de Julho, de
mil oitocento e treze.
CAETANO JOSÉ' RIBEIRO, Official Maior graduado.

Para Francisco Antonio Ferreira.


Devendo o Capitão de mar a guerra José Joaquim da
Rosa Coelho, em conseqüência do Aviso que acabo de
expedir-lhe, entregar no Cofre da Conunissaõ encarregada
Politica. 341
da recepção dos fundos para os negócios com as Potências
Berberescas a somma de 114:486. Duros de Hespanha,
que existem na sua maõ, e restou do dinheiro que recebeo
para eflèituar a paz com a Regência de Argel: e devendo
também a Real Junta da Fazenda da marinha mandar in-
demnizar o referido cofre da somma de 1219 Duros, que o
sobredito Capitão de Mar e Guerra durante a sua viagem
dispendeo em objectos pertencentes á fragata Pérola: he
o Principe Regente Nosso Senhor servido que a commissaõ
logo que receber as apontadas quantias bem como as Me-
zadas, que na conformidade do Avizo da data deste ha de
cobrar da Alfândega Grande de Lisboa, mande satisfazer
ao negociante Henrique Teixeira de Sampayo, o que
constar legalmente se lhe está devendo por conta do di-
nheiro, que á sua ordem se apromptou em Gibraltar para
auxilio da verificação do Tratado de Paz ; e qne do re-
manescente (comprando-se a necessária porçaõ de papel),
proceda, depois de feito o indispensável annuncio no fim
do corrente mez, ao proporcionado rateio por conta do
capital, e juros, ás pessoas, que contribuíram com dinheiro
a titulo de Empréstimo, para se concluir a paz com a re-
ferida Regência; cedendo Sua Alteza Real (naõ obstante
o determinado no Aviso de 16 de Junho passado, expedido
á Real Junta do Commercio) do direito que tem para ser
contemplado nasobredita distribuição pelos dinheiros, que
adiantou o seu Real Erário, a fim de que os Accionistas
possaõ ser embolçados com maior brevidade por conta das
quotas partes, com que entrarão. O que tudo participio
a V- M. para sua intelligencia, e execução.
Deos guarde a V M.
D. MIGUEL PEREIRA FORJAZ.
Palácio do Governo, em 13 de Julho, de 1813.

Accordaõ em rellaçaõ, &c. que sendo visto, e exami-


nado o processo, que no Juizo da Inconfidência se formou
542 Política.
para a justificação do Visconde de Asseca, Antonio Maria
Corrêa de Sá Benevides Vellasco da Câmara, prezo na
Torre de Belém, e constar pelos Judiciaes Interrogatórios,
que se lhe fizeram, em tudo coherentes com os officios do
ministro-do Mesmo Senhor Conde do Funchal, que o dito
Visconde desertara do Exercito Francez nos Estados do
Imperador da Rússia, dos quaes tinha sahido com a Pro-
tecçaõ daquelle Soberano para procurar a sua pátria, insti-
gado pelos honrados sentimentos em que tinha nascido, e
que tinha conservado em todo o tempo da sua ausência,
sem os poder pôr em practica pela severa espionagem, que
vigiava sobre elle, e naõ constar de modo algum, que ao
depois de ter sahido. deste Reyno no tempo da Invasão
voltasse a elle para lhe fazer guerra, nem mesmo tivesse
entrado na Hespanha para seguir a causa do inimigo com-
mum : julgaõ ao dito Visconde d'Asseca por livre; e
izempto de culpa, por benemérito da Pátria, para que
possa nella ser considerado, como leal Vassallo do dito
Senhor, fiel e louvado Patriota, mui digno imitador de
seus Illustres Ascendentes, e para que possa requerer a sua
soltura, aonde lhe convier pela ordem a que estiver prezo;
e pague somente as custas.
GüERREinO,
FERRAÕ,
LEMOS.
Lisboa, 12 de Junho, de 1813.

ALEMANHA.
Manifesto da Declaração de Áustria contra a França.
A Monarchia Austríaca foi obrigada, pela sua situação,
por suas differentes connexoens com outras potências, •
pela soa importância na confederação dos Estados Euro-
peos, a entrar na maior parte das guerras que tem devastado
a Europa por mais de 20 annos. Em todo o progresso
destas árduas contendas o mesmo principio politico ten»
Politica. 34S
invariavelmente dirigido a S. M. Imperial. Amante da
paz, por um sentimento de dever, por sua natural incli-
nação, e por affeiçaõ a seu povo,—livre de todos os pen-
samentos ambiciosos de conquista, e engrandecimento,—
S. M. pegou nas armas unicamente quando foi a isso
chamado pela necessidade urgente da própria conser-
vação, pela sua anxiedade a respeito da sorte dos estados
contíguos, inseparável da sua, ou pelo perigo de ver a
todo o systema social da Europa victima de uma Potência
sem ley, e absoluta. Promover a justiça e a ordem tem
sido o objecto da vida de S. M. e de seu reynado ; so-
mente por isto tem a Áustria combatido. Se nestas fre-
qüentes e mal suecedidas contendas tem a Monarchia sof-
frido profundas feridas, com tudo S. M. teve a con-
solação de reflectir, que a sorte do seu império naõ foi
arriscada em emprezas desnecessárias, e violentas ; que
todas as suas decisoens se podiam justificar diante de
Deus, de seu povo, de seus contemporâneos, e da poste-
ridade.
Naõ obstante as mais amplas preparaçoens, a guerra de
1809 teria levado o Estado á sua ruina, se naõ fosse o
sempre memorável valor do exercito, e o espirito de ver-
dadeiro patriotismo, que animou todas as partes da Mo-
narchia; com o que se contrabalançaram todas as oceur-
rencias adversas. A honra da naçaõ, e a sua antiga fama
nas armas, tem felizmente sido mantidas durante todas as
adversidades desta guerra: mas perdêram-se algumas
preciosas provincias : e a Áustria, pela cessaõ dos paizes
adjacentes ao Adriático, ficou privada de toda a partici-
pação no commercio marítimo, um dos mais eficazes
meios de promover a sua industria; este golpe teria sido
ainda mais sensível se ao mesmo tempo se uaõ fechasse
todo o Continente, como se fechou, por um systema geral e
destruetivo, que impedia toda a communicaçaõ commer-
344 Politica.
ciai, e suspendia quasi de todo a communicaçaõ entre as
naçoens.
Os progressos e resultado desta guerra convenceram
plenamente a S. M. de que, na obvia imposibilidade de
um imraediato, e pleno melhoramento da condição poli-
tica da Europa, abalada até os mesmos alicerces, os
esforços dos Estados individualmente, cm sua própria de-
fensa, em vez de pôr limites á miséria geral, unicamente
tenderia a destruir a pequena força que ainda lhes restava,
accelerar ia n queda do todo, c até destruiria todas as
esperanças de melhores tempos para o futuro. Nesta con.
vicçaõ, S. M. preveo a importante vantagem que resulta-
ria de uma paz, que, se fosse segura por alguns annos,
poderia oppor-se a esta demasiado crescida, e até aqui
irresistível potência, podia permittir á sua monarchia
aquelle descanço que éra indispensável ao restabelici-
mento de suas finanças, e de seu exercito ; e ao mesmo
tempo obter para os Estados vizinhos um periodo de
relaxaçaó, que, sendo melhorado com prudência, e ac-
tividade, podia preparar o caminho para mais felizes
tempos. Uma tal paz, nas circumstancias actuaes de
perigo, somente se podia obter por um esforço extraordi-
nário. O Imperador conheceo isto, c fez estes esforços.
S. M. sacrificou lodo quanto éra mais charo ao seu cora-
ção, pela preservação do Império, pelos mais sagrados
interesses do gênero humano, como uma segurança contra
males sem medida, como penhor de melhor ordem de
cousas. Com estas vistas, superior aos escrúpulos do
commum, armado contra toda a sinistra interpretação do
momento, se fest uma aliiança, que era destinada a reani-
inar, por meio de um sentimento de alguma segurança, a
parte mais fraca c que mais soffria, depois das misérias de
«ma luta mal suecedida ; a inclinar a parte mais forte e vic-
toriosa a uma carreira de moderação e de justiça, sem •
Politica. 345
qae a communidade dos Estados sô pode ser considerada,
como uma communidade de miséria.
8. M. era tanto mais justificado nestas esperanças;
porque ao tempo da consumação desta uniaõ, o Imperado-;
Napoleaõ tinha chegado aquelle ponto de sua carreira,
em que a conservação de suas conquistas éra um objecto
mais natural, e desejável do que uma inquieta contenda,
em busea de novas acquisiçoens. Qualquer ulterior ex-
tensão de seus dominios, que ja a muito ultrapassavam
os seus próprios limites, era acompanhada de evidente
perigo, naõ somente para a França, que ja sucumbe de-
baixo do pezo de suas conquistas, mas até para os seus
próprios interesses. O que a sua authoridade ganhava
em extensão, necessariamente perdia em ponto de segu-
rança. Por uma uniaõ com a mais antiga familia Im-
perial na Christandade, o edificio de sua grandeza ad-
quirio aos olhos da naçaõ Franceza, e do mundo, tal
augmento de fortaleza, e de perfeição, que todo outro
plano de engrandeciinento deve naÕ somente enfranquecer
mas destruir a sua estabilidade. O que a França, a Eu-
ropa, e tantas naçoens opprimidas, e em desesperaçaÕ,
pedem encarecidamente ao ceo, he uma solida politica
prescripta ao triumphante Regedor, como ley de própria
conservação—e éra permittido esperar, que tantos e taõ
grandes motivos unidos prevaleceriam á ambição de um
individuo.
Se estes lisongeiros prospectos fôram destruídos, isso se
naÕ deve imputar á Áustria. Depois de muitos annos de
infructuosos esforços, depois de illimitados sacrifícios de
toda a descripçaõ, existiam motivos sufficientes para ten-
tar procurar uma melhor ordem de cousas, por confiança,
e concessão, quando torrentes de sangue naõ tinham até
aqui produzido senaõ miséria e destrucçaõ: nem pôde
S. M. jamais lamentar, que fosse induzido a tentallo.
Ainda se naõ tinha acabado o anno de 1808—a guerra de-
VOL. X I . No. 64. 2 T
346 Politica.
vastava ainda a Hespanha, o povo d'Alemanha apenas
tinha tido tempo sufficiente para se recobrar das devasta-
çoens de duas guerras anteriores,—quando, em má hora
o Imperador Napoleaõ resolveo unir unia considerável
porçaõ do Norte da Alemanha, com a massa dos paizes
que tinham o nome de Império Francez, e roubar ns an-
tigas cidades commerciaes de Hamburgo, Bremen, e Lu-
beck, primeiro de sua existência politica, e logo depois
de sua existência commercial, e com esta dos meios de
sua subsistência. Este violento passo foi adoptado sem
que houvesse sequer pretensoens plausíveis, com des-
prezo de todas as formas decentes, sem nenhuma declara-
ção previa, ou communicaçaõ com outro algum gabinete
e debaixo do arbitrário, c futil pretexto de que assim o
requeria a guerra com Inglaterra.
Este cruel systema, que era destinado a destruir o com-
mercio do mundo, á custa da independência, da prosperi-
dade, dos direitos, da dignidade ; e com a absoluta ruina
de toda a propriedade publica e particular, de todas as
Potências do Continente, foi proseguido com inalterável
severidade, na vaã esperança de forçar um resultado, que
se felizmente se naÕ provasse ser impossível de alcançar,
teria submergido a Europa por longo tempo em um estado
de pobreza, impotência, e barbaridade.
O decreto por que o novo dominio Francez se estabe-
leceo nas costas da Alemanha, debaixo do titulo de 32».
Divisão Militar, éra de si mesmo sufficiente para oceasio-
nar suspeitas aos Estados vizinhos ; e lhes causava tanto
maior susto, quanto isto éra o precursor de futuros, e
maiores perigos. Por este decreto se fez evidente, que o
systema que se tinha creado cm França (ainda que pre-
viamente transgredido, com tudo proclamado ainda cm
existência),—o systema dos pretendidos limites naturaes
do Império Francez, éra sem nenhuma outra justificação
ou explicação, derribado; e até os decretos arbitrários do
Politica. 347
Imperador fôram annihilados da mesma maneira arbitra-
ria. Nem os Principes da Confederação do Rheno, nem
o reyno de Westphalia, em uma palavra nenhum territó-
rio grande on pequeno, escapou, na execução desta horro-
rosa usurpaçaõ. Os limites apparentemente designados
por um cego capricho, sem regra ou plano, sem se ter
consideração ás relaçoens politicas antigas ou modernas,
intersectando rios e paizes, cortaram os Estados da Alle-
manha do centro e do Sul, de toda a connexaõ com o mar
Allemaõ, passaram o Elbe, separaram a Dinamarca da
Alemanha, estabeleceram as suas pretensoens mesmo até
o Baltico, e pareceram approxirnar-se rapidamente á linha
de fortalezas de Prússia, que ainda havia juncto ao Oder ;
e este acto de usurpaçaõ (ainda que poderosamente afiec-
tou todos os direitos e possessoens, todas as linhas de de-
marcação geographicas, politicas, e militares) foi conti-
nuado com tal character de accessaõ determinada, e com-
pleta de território, que éra impossível olhar para elle em
outro ponto de vista mais do que como precursor de ainda
maiores usurpaçoens, pelas quaes a metade da Alemanha
viria a ser provincia Franceza, e o Imperador Napoleaõ o
absoluto Governante do Continente.
Esta preternatural extençaõ de território Francez, naõ
podia deixar de produzir os mais sérios sustos á Rússia e
Prússia. Esta ultima, cercada de todos os lados, e ja in-
capacitada de ter livre acçaõ, privada de todos os meios
de obter novas torças, pareceo que se accelerava á sua dis-
solução. A Rússia ja cheia de temores, a respeito de suas
fronteiras occidentaes, pela conversão da cidade de Dant-
zic, declarada cidade livre no tractado de Tilsit, em um
posto militar Francez ; e de grande parte da Polônia em
provincia Franceza, naÕ podia deixar de ver no adianta-
mento do dominio Francez ao longo da costa do mar, e
nas novas cadêas, que se preparavam á Prússia, o irnmi-
nente perigo de suas possessoens Alemaas e Polacas.
2 Y 2
348 Politica.
Desde este momento, por tanto, ficou como decidida a
ruptura entre a França e a Rússia.
Naõ foi sem profunda e justa anxiedade, que a Áustria
observou a tormenta que se ia ajunctando. A scena de
hostilidades, em todo o caso seria contígua i s suas pro-
vincias, que em conseqüência das necessárias reformas no
systema de finanças, que tinha restringido o restabeleci-
mento de seus meios militares, estavam mui indefensas.
Em mais elevado ponto de vista, a contenda que aguar-
dava a Rússia parecia ainda mais duvidosa; porque co-
meçava, na mesma desfavorável conjunctura de negócios,
com a mesma falta de cooperação da parte das outras
Potências, e com a mesma disproporçaõ nos seus meios
relativos, consequentemente éra taõ desesperada ésla como
as demais contendas anteriores da mesma natureza. S. M.
o Imperador fez todos os esforços em seu poder, pela ami-
gável mediação com ambas as partes, para remover a tem-
pestade que ameaçava. Nenhum juizo humano podia
naquelle tempo prever que estava taõ próximo o periodo,
em que o falharem estas negociaçoens seria mais damnoso
ao Imperador Napoleaõ do que os seus mesmos opponentes.
Porém aosim o tinha resolvido a Providencia.
Quando ja naõ éra duvidoso o principio das hostilida-
des, S. M. foi obrigado a recorrer a medidas, que em uma
conjunctura taõ preternatural e perigosa, pudesse combi-
nar a sua segurança, com as justas consideraçoens dos in-
teresses reaes dos Estados visinhos. O systema da inac-
çaõ desarmada, única neutralidade, que o Imperador per-
mittiria, segundo as suas mesmas declaraçoens, êra total-
mente inadmissível, por todas as máximas de uma politica
solida; c por fim teria sido unicamente um vaõ esforço
para escapar do processo, que se aproximava. Uma
Potência taõ importante como a Áustria naõ podia renun-
ciar a toda a participação nos interesses da Europa ; nem
se podia collocar em uma situação, em que, igualmente
Politica. 349
inefficaz na paz ou na guerra, ella perderia o seu voto, e
a sua influencia em todas as grandes negociaçoens, sem
adquirir garantia alguma para a segurança de suas frontei-
ras. Preparar-se para a guerrra contra a França, teria
sido, nas presentes circumstancias, taõ pouco congruente
com a equidade como com a prudência. O Imperador
Napoleaõ naÕ tinha dado a S. M. nenhum fundamento
pessoal para procedimentos hostis: e naõ se tinha ainda
abandonado o prospecto de obter muitos resultados pro-
veitosos, por um emprego bem manejado das relaçoens
amigáveis ja estabelecidas, por confidenciaes representa-
çoens e por conselhos conciliatórios. A respeito dos inte-
resses immediatos do Estado, uma tal revolução teria ine-
vitavelmente sido acompanhada desta conseqüência—que
o território Austriano teria vindo a ser o primeiro e prin-
cipal theatro da guerra; o que, com a sua conhecida
falta de meios de defensa, teria em breve tempo derribado
a monarchia.
Nesta penosa situação, S. M. naÕ tinha outro recurso
mais do que tomar o campo da parte da França. Tomar
as armas pela França, no sentido verdadeiro da palavra,
teria sido uma medida naõ somente contradictoria com os
deveres, e principios do Imperador, mas até mesmo com
as repettidas declaraçoens deste Gabinete, que tinha, sem
reserva alguma, desapprovado está guerra. Na assigna-
tura do tractado de 12 de Março, de 1812, S. M. procedeo
sobre dous principios distinctos; o primeiro, como se
prova pelas palavras do tractado, éra naõ deixar meios
alguns que se naõ tentassem, que pudessem obter cedo ou
tarde uma paz : o outro foi collocar-se asi mesmo externa
e internamente, em uma posição, que, se fosse impossivel
obter a paz, ou no caso de que a volta que levasse a guerra
fizesse necessárias medidas decisivas de sua parte, pudesse
a Áustria obrar com independência; e, em qualquer des-
tes casos, adoptar as medidas, que lhe prescrevesse uma
350 Politica.
justa, e sabia politica. Foi sobre este principio que se
destinou a cooperar na guerra uma fixa, e comparativa-
mente pequena parte do exercito : os outros recursos mili-
tares, que estavam promptos naquelle tempo, ou que se
tinham ainda de preparar, naõ fôram trazidos ao prose-
guimento desta guerra. Por uma espécie de tácito acordo
entre os belligerantes se tractou o território Austriaco
como neutral. O fim e vistas reaes do systema adoptado
por S . M . naõ podia escapar o conhecimento da França,
de Rússia, ou de outro qualquer observador intelligente.
A campanha de 1812 ministrou um exemplo memorável
de se malograr uma empreza, sustentada por forças gigan-
tescas, conduzida por um capitão da primeira ordem,
quando, na confiança de grandes talentos militares, elle
despreza as regras da prudência, e ultrapassa os limites
da natureza. A illusaõ da gloria levou o Imperador Na-
poleaõ ás entranhas do Império Russiano; e uma falsa
vista politica das cousas o induizo a imaginar, que elle
podia dictar a paz em Moscow, decepar o poder de Rús-
sia por meio século, e voltar entaõ victorioso. Quando
esta magnânima constância do Imperador de Rússia, os
gloriosos feitos de seus guerreiros, e a constante fidelidade
de seu povo puzeram fim a este sonho; éra ja mui tarde
para o arrependimento, com impunidade. Todo o exer-
cito Francez estava espalhado, c destruido: em menos de
quatro mezes vimos o theatro da guerra transferido do
Dniepper e Dwina, para o Oder, c Elbe.
Esta rápida, c extraordinária mudança de fortuna foi a
precursora de uma importante revolução em todas as rela-
çoens politicas da Europa. A confederação da Rússia
Gram Bretanha, e Suécia, apresentava um ponto de re-
união a todos os Estados vizinhos. A Prússia, que os
rumores havia muito tempo tinham declarado, que estava
determinada a arriscar tudo, até mesmo preferir o correr o
risco de uma immediata destruição politica, antes do que
Politica. 351
soffrer a lenta e continuada oppressaõ; lançou maõ do
momento favorável, e se lançou nos braços dos Alliados.
Muitos dos Principes grandes e pequenos da Alemanha
estavam promptos a fazer o mesmo. Em toda a parte os
ardentes desejos do povo, anticiparam os procedimentos
regulares de seus Governos. A sua impaciência para
viver na independenoia, e debaixo de suas próprias leys, e
sentimento de ver offendida a honra nacional, e o ódio de
um dominio estrangeiro, arrebentou por todas as partes em
vivas chamas.
S. M. o Imperador, demasiado intelligente para naõ
considerar esta mudança dos negócios como conseqüência
natural e necessária de uma previa convulsão política ; e
demasiado justo para olhar para ella com vistas de ira, se
inclinou somente a segurar, por meio de medidas bem di-
rigidas e combinadas, os interesses reaes, e permanentes da
Republica da Europa. Ja no principio de Dezembro se
tinham dado passos da parte do gabinete Austriaco, a fim
de dispor o Imperador Napoleaõ a uma politica quieta e
pacifica, sob fundamento, que igualmente interessavam o
mundo, e a sua mesma felicidade. Estes passos fôram
renovados de tempos a tempos, e Cnvigorados. Tinham-
se concebido esperanças de que a impressão da ultima
campanha,—a lembrança dos inúteis sacrifícios de um
immenso exercito, as severas medidas de toda a sorte, que
teriam sido necessárias para reparar aquella perda,—a de-
cidida desinclinaçaõ da França, e de todas as naçoens
connexas com ella, em entrar na guerra, em que sem ne-
nhum prospecto de indemnizaçaõ futura, exhaurio e ar-
ruinou a sua força interna,—finalmente, que uma socegada
reflexão sobre o êxito duvidoso desta nova, e mui immi-
nente crise, moveria o Imperador a prestar ouvidos ás re-
presentaçoens d'Austria. O tom destas representaçoens
foi cuidadosamente adaptado ás circumstancias dos tem-
pos ; sérias quando a grandeza do objecto o requeria, mo-
3S2 Politica.
deradas, quando o desejo de um êxito favorável, ou as
amigáveis relaçoens existentes, exigiam isso.
Naõ podia certamente prever-6e, que aberturas nascidas
de taõ puros motivos seriam decididamente regeitadas;
porém a maneira porque fôram recebidas, e ainda mais o
contraste notável entre os sentimentos de Áustria e todo o
comportamento do Imperador Napoleaõ, até o periodo
destes mal succedidos esforços para paz, bem depressa des-
truíram as melhores esperanças que se tinham. Em vez
de trabalhar por uma linguagem moderada, a melhorar
pelo menos o nosso prospecto futuro, e a diminuir a des-
confiança geral; se declarava solemnemente em toda a
occasiaõ, perante as mais altas authoridades na França,
que o Imperador naõ attenderia a proposiçoens de paz, que
violassem a integridade do Império Francez, no sentido
Francez da palavra; ou que tivesse quaesquer pretençoens
as provincias arbitrariamente incorporadas.
Ao mesmo tempo, se fallou de condiçoens accidentaes,
com que naÕ parecia ter relação alguma este de si mesmo
creado limite : umas vezes ameaçando com indignação;
outras com amargo desprezo: como se naõ tivesse sido
possivel declarar em termos suficientemente distinctos a
resolução do Imperador Napoleaõ, de naõ fazer para o
descanço do Mundo, nem um só sacrifício nominal.
Estas demonstraçoens hostis fôram acompanhadas desta
particular mortificaçaõ para a Áustria, que ellas puzéram
até os mesmos convites de paz, que este Gabinete fez ás
outras cortes com o conhecimento, e apparente consenti-
mento da França, em um ponto de vista falso, e altamente
desavantajoso. Os Soberanos Uuidos contra França, era
vez de dar resposta ás proposiçoens que a Áustria fez
para negociaçoens, ou ás suas offertas da mediação, lhe
apresentaram as declaraçoens publicas do Imperador
Francez. E quando, no mez de Março, S. M. mandou
um ministio a Londres, para convidar a Inglaterra a
Politica. 353
participar nas negociaçoens de paz, o ministério Britan-
nico respondeo, que " naÕ acreditava que a Áustria con-
servasse ainda algumas esperanças de paz, quando o
Imperador Napoleaõ tinha no entanto expressado senti-
mentos, que eram unicamente tendentes á perpetuação da
guerra." Declaração esta que foi tanto mais penosa a S.
M. quanto éra justa e bem fundada.
A Áustria, porém, naõ cessou por isso de imprimir em
termos mais vigorosos e distinctos, a necessidade da paz ;
no espirito do Imperador da França, dirigida em todas as
suas medidas por este principio, de que, como toda a or-
dem e balança de poder na Europa ficou destruida pela
illimitada superioridade da França, naõ se podia esperar
nenhuma paz real, a menos que se naÕ diminuísse aquella
superioridade. S. M. no entanto adoptou todas as medi-
das necessárias para fortalecer, e concentrar os seus exér-
citos, conhecendo que a Áustria devia estar preparada
para a guerra, a fim de que a sua mediação naõ fosse in-
teiramente infruetifera. Alem disto, S. M. Imperial tinha
estado por longo tempo persuadido de que, a probabili-
dade de uma participação immediata na guerra, naõ
devia ja ser excluída de seus cálculos. O estado actual
das cousas naõ podia continuar ; disto estava convencido o
Imperador; esta convicção éra a mola principal de suas
acçoens, e. naturalmente se fortalecia por falharem todas
as tentativas para obter a paz. O resultado era apparente.
Por algum meio que fosse, ou de negociação, ou da força
d'armas, se devia effectuar um novo estado de cousas.
O Imperador Napoleaõ, naÕ somente sabia das propo-
siçoens de guerra da Áustria, mas até reconheceo, que
ellas eram necessárias, e as justificou por mais de uma
vez. Elle tinha razaõ para crer que S. M. o Imperador,
em um periodo taõ decisivo para a sorte de todo o
mundo, poria de parte todos os sentimentos pessoaes, e
momentâneos, consultaria somente a felicidade penna»
V O L . X I . N o . 64. 2 z
354 Politica.
nente de Áustria, e dos paizes porque ella se acha cer-
cada, e naÕ resolveria cousa alguma, senaõ o que este
grande motivo lhe dictasse como um dever. O Gabinete
Austriaco nunca se expressou era termos que justificassem
outra alguma construcçaõ ; e com tudo os Francezes,
naõ só reconheceram, que a mediação de Áustria nao
podia deixar de ser uma mediação armada ; mas declara-
ram, era mais de uma occasiaõ, que a Áustria nas actuaes
circumstancias, naõ podia limitar-se a uma parte secun-
daria, mas devia apparecer no theatro com força, e decidir
como uma Potência grande e independente. Seja o que
for que o Governo Francez possa temer ou esperar da
Áustria, este reconhecimento de persi mesmo éra uma
previa justificação de todas as medidas que se intentavam,
e que ate aqui tem adoptado S. M. Imperial.
Ate este ponto se tinham desenvolvido as circumstancias,
quando o Imperador Napoleaõ sahio de Paris, a fim de
fazer frente aos progressos dos exércitos Alliados. Até os
seus mesmos inimigos tinham feito justiça ao valor das
tropas Russianas e Prussianas, nas sanguinárias acçoens
do mez de Mayo. Porem, que o resultado deste primeiro pe-
riodo da campanha lhes naõ tivesse sido mais favorável, era
devido em parte á superioridade numérica da força Fran-
ceza, e aos universalmente reconhecidos talentos militares
de seu capitão; e em parte ás combinaçoens politicas
porque os Soberanos Alliados eram guiados em todas as
suas emprezas. Elles obraram na justa supposiçaõ de
que uma causa oomo aquella, em que se achavam empe-
nhados, naõ éra possivel que se limitasse só a elles; que
cedo ou tarde, quer fossem bem quer mal suecedide»,
cada um dos estados que ainda gozava de alguma sombra
de independência se deveria unir á sua confederação, e
que todos os exércitos independentos deviam obrar cora
elles. Elles, portanto, naõ largaram rédea ao valor de
suas tropas, senaõ quanto éra necessário no momento ; e
Politica. 355
conservaram considerável parte de sua força para um
período, em que, com meios mais extensos pudessem
olhar para o alcance de majores objectos. Pela mesma
causa, e com as vistas da desenvoluçaõ dos acontecimentos
consentiram no armistício.
No entanto a retirada dos Alliados deo á guerra, por
um momento, uma apparencia, que diariamente se
fazia mais interessante ao Imperador, pela impossibili-
dade, no caso de ir adiante, de permanecer tranqüilo ex-
pectador delia. A sorte da monarchia Prussiana éra um
ponto, que particularmente attrahia a attençaõ de S. M.,
conhecendo, como o Imperador conhecia, que o restabe-
licimento da Monarchia Prussiana éra o primeiro passo
para o de todo o systema politico da Europa; e elle vio
o perigo em que agora estava, como igualmente tocante a
si mesmo. Ja no mez de Abril tinha o Imperador Na-
poleaõ suggerido ao Gabinete Austriaco, que considerava
a dissolução da Monarchia Prussiana, como natural con-
seqüência de sua separação da França; e da continuação
da guerra ; e que agora somente dependia da Áustria o
unir aos seus Estados as mais importantes, e mais florentes
provincias da quella monarchia; suggestaõ esta que mos-
trou assaz distinetamente que se naõ podia com proprie-
dade alguma negligenciar meio algum de salvar aquella
potência. Se este grande objecto se naõ pudesse obter
por uma justa paz, éra necessário sustentar a Rússia e a
Prússia por uma poderosa co-operaçaõ. Com esta natu-
ral vista das cousas, no que nem a mesma França se podia
enganar, S. M. continuou as suas preparaçoens com in-
cançavel actividade. Nos principios de Julho elle deixou
a sua residência, e partio para as vizinhanças da scena de
acçaõ, a fim de trabalhar mais eficazmente na negociação
da paz, que ainda continuava a ser o mais ardente objecto
de seus desejos j e em parte para poder mais efficaz mente
2 z 2
356 Politica.
conduzir as prcparaçoens de guerra, se naõ restasse á Áus-
tria outra alternativa.
Pouco tempo antes o Imperador Napoleaõ tinha decla-
rado, " que tinha proposto que se formasse um congre&so
em Praga, aonde se ajunetassera, e lançassem os funda-
mentos ú fabrica de uma durável paz. Plenipotenciarios
da França dos Estados Unidos da America Septentrional,
Dinamarca, El Rey de Hespanha, e os outros Principaes
alliados de uma parte ; e de outra plenipotenciarios do
Inglaterra, Rússia, Prússia, Insurgentes de Hespanha, e
os outros Alliados desta massa hostil." A quem esta pro-
posição se dirigio, em que maneira, em que forma diplo-
mática, ou porqne orgaõ podia ter sido feita, foi perfeita-
mente desconhecido ao Gabinete Austriaco, que somente foi
informadoda circumstancia por meio das gazetas publicas.
Alem disto, como tal projecto se podia por em execução,
como da combinação de elementos taõ dissinullianles, sem
nenhum principio geralmente reconhecido, sem nenhum
plano regular e prévio, se podia cntablar uma negociação
de paz, éra taõ pouco intelligivel - que éra bem permittido
considerar toda a proposição mais como um jogo de ima-
ginação, do que como um convite serio, para a adopçaõ
de uma grande medida politica.
Perfeitamente informada de todos os obstáculos que se
oppunham a uma paz gerai, a Áustria tinha por longo
tempo considerado se seria possivel obter este distante e
difficultoso objecto progressivamente : e nesta opinião se
tinha expressado tanto a França como á Rússia e Prússia,
sobre o objecto de uma paz continental. Naõ porque a
Áustria tivesse mal concebido, por um só momento, a
necessidade c importância de uma paz universal entre
todas as grandes Potências da Europa, c sem o que naõ
havia esperança nem de segurança, nem de felicidade ;
nem porque imaginasse que o continente podia existir, se
a separação de Inglaterra naõ fosse invariavelmente cou-
Politica. 351
siderada como o mais terrível mal. A negociação que
a Áustria propoz, depois que a medonha declaração da
França, tinha quasi destruido todas as esperanças de que
a Inglaterra unisse os seus esforços na tentativa de pro-
curar uma paz geral ; ér.i uma parte essencial da grande
negociação que se aproximava paru um Congresso de paz,
geral e effcctivo : intentava-sc como preparatório, o esbo-
çar os artigos preliminares de um tractado futuro, para
alhanar o caminho, por um longo armistício Continental,
para uma negociação mais extensa e durável. Se o prin-
cipio sobre que a Áustria tinha procedido tivesse sido
outro algum mais do que este, nem aRussia, nem a Prús-
sia, ligadas pelos mais lòrtcs laços com a Inglaterra,
teriam certamente attendido ás proposiçoens do Gabinete
Austriaco.
Depois que as Cortes de Russia, e Prússia, animadas
pela confiança que tinham em S. M., taõ lisongeira ao
Imperador, tinham ja declarado a sua concurrencia no
proposto Congresso debaixo da mediação da Áustria, veio
a ser necessário obter o formal consentimento do Impe-
rador Napoleaõ, e determinar sobre que principio se
deviam levar a diante as negociaçoens. Para este fim
S. M. Imperial resolveo, pelos fins do mez de Junho,
mandar a Dresden o seu Ministro dos Negócios Estran-
geiros. O resultado desta missaõ foi uma convenção, que
se concluio aos 30 de Junho, aceitando a mediação de
S. M. Imperial, na negociação de uma paz Contin. ntal
geral, e se isto se naõ pudesse effectuar de um preliminar
para ella. Escolheo-se a cidade de Praga para a sessão
do Congresso, e o dia 5 de Julho para a sua abertura. A
fim de obter tempo sufficiente para a negociação, deter-
minou-se pela mesma convenção, que o Imperador Napo-
leaõ naÕ notificaria a ruptura do Armistício, que devia
terminar aos 20 de J u l h o ; e que existia aquelle tempo
entre ellee a Russia; até os 13 d'Agosto ; e S. M. o lm-
358 Política.
perador tomou sobre si o obter uma similhante declaração
das Cortes de Russia c Prússia.
Os pontos que se tinham determinado em Dresden,
fôram communicndos ás duas cortes. Posto que a conti-
nuação do Armilticio trouxesse consigo muitas objecçoens,
e mui sérios inconvenientes para aquellas cortes; com tudo
o desejo de dar a S. M. Imperial outra prova de sua con-
fiança, e satisfazer ao mesmo tempo o mnndo de que ellas
naÕ regeitariam nenhum prospecto de paz, por mais limi-
tado que fosse, que naõ recusariam tentativa alguma, que
pudesse alhanar o caminho para ella; superou toda a
outra consideração. A única alteração que se fez na con-
venção de 30 de Junho, foi que o termo da abertura do
Congresso, depois dos regulamentos fumes naõ podia de-
terminar-se taõ cedo; e que se defferissc ate os 12 de
Julho.
N o entanto S. M. que naõ queria ainda abandonar todas
as esperanças de terminar completamente, por uma paz
geral, as misérias da humanidade, e as convulsoens do
mundo politico, tinha também resolvido tentar de novo o
o Governo Britannico. O Imperador Napoleaõ, naõ so-
mente recebeo a proposição com apparente approvaçaõ,
mas offereceo voluntariamente expedir o negocio, conse-
dendo ás pessoas que para este fim se despachassem para
Inglaterra, uma passagem pela França. Quando Isto se
foi a pôr em execução, levantaram-se difficuldades ines-
peradas, demoráram-se os passaportes de tempos a tempos,
com frivolos pretextos, e por fim recusáram-sc inteira-
mente ; este procedimento deo novos e importantes funda-
mentos para entreter justas duvidas a respeito da sinceri-
dade das seguranças, que o Imperador Napoleaõ tinha
mais de uma vez expressado publicamente, de suas dispo-
siçoens para paz ; ainda que algumas de suas expressoens
naquelle periodo particular deram justa razaõ para crlr,
Politica. 3S9
que uma paz marítima éra o objecto de sua anxiosa soli-
citude.
Durante este intervallo, Suas Magcstadcs o Imperador
de Russia c Rey de Prússia nomearam os seus Plenipo-
tenciarios para o Congresso, e os muniram de instrucçoens
mui decisivas. Aos 12 de Julho chegaram ambos elles a
Praga, assim como o Ministro de S. M . encarregado do
q*ie respeitava a Mediação.
Naõ se deviam alongar as negociaçoens alem de 10 de
Agosto, excepto no caso, em que tomassem tal character,
que induzisse uma firme esperança de resultado favorável.
Até aquelle dia se tinha exlendido o Armistício pela medi-
ação d' Áustria : a situação politica e militar dos Sobera-
nos Alliados, a condição dos paizes que elles oecupavam,
e o seu ansioso desejo de terminar um incommodo periodo
de incerteza, impedi» que ge estendesse a mais tempo.
De todas estas circumstancias estava informado o Impera-
dor Napoleaõ: elle sabia mui bem que o periodo das ne-
gociaçoens estava necessariamente limitado pelo do armis-
tício, e com tudo elle naÕ podia esconder a si mesmo,
quanto as suas determinaçoens influiriam na feliz abrevia-
ção, e bom resultado das negociaçoens pendentes.
Foi portanto com real magoa, que S.M. percebeo logo,
naõ só que a França naõ dava passos sérios para accelerar
esta grande obra ; mas que, pelo contrario, parecia obrar
como se decididamente intentasse a procrastinaçaõ das ne-
gociaçoens, e a evazaó de um êxito favorável. Havia na
verdade um Ministro Francez no lugar do Congresso, po-
rém sem ordens algumas para entrar no negocio, até que
apparecesseo primeiro Plenipotenciario.
Era vaõ se esperou de dia em dia pela chegada deste
Plenipotenciario. E naÕ foi senaõ aos 21 de Julho que se
averiguou, que a demora que houve cm ajustar a renovação
do armistício entre os Commissarios Francezes, Russianos-,
e Prussianos—um impedimento de importância secundaria,
360 Política.
e que naÕ tinha influencia alguma no Congresso, e que se
podia obviar fácil e promptamente pela intervenção da
Áustria—foi practicado para servir de justificação a esla
extraordinária demora. E qu*mdo se removeo, este ulti-
mo pretexto, ainda assim naõ foi senaõ aos 28 de Julho, 16
dias depois do dia nomeado puni a abertura do Congresso,
que chegou o primeiro Plenipotenciario Francez.
Mesmo nos primeiros dias, depois da chegada do Minis-
tro, naõ havia duvida a respeito do exito do Congresso.
A forma porque se deviam entregar os Plenos Poderes, e
se haviam de conduzir as mutuas explicaçoens, ponto que
j a tinham tractado todas as partes, veio a ser objecto de
discussão, que fez abortar todos os esforços da Potência
Medianeira. A apparente insufficicncia dos poderes con-
cedidos ao Negociador Francez, oceasionou um silencio
de vários dias. Nem foi senaõ aos 6 d' Agosto, que este
Ministro fez novas declaraçoens, pelas quaes de forma
nenhuma se removiam as difficuldades relativas ás forma-
lidades, nem traziam a negociação um so passo mais pró-
ximo de seu objecto. Depois de uma inútil troca da notas,
sobre todas as questoens preliminares, chegou o dia 10 de
Agosto. Os Negociadores Russianos e Prussianos naó
podiam estender este termo: o Congresso estava acabado,
c a resolução, que a Áustria havia de formar, estava pre-
viamente determinada, pelo progresso desta negociação—
pela actual convicção da impossibilidade da paz,—pelo
ja naõ duvidoso ponto de vista, em que S. M. examinava
a questão em disputa—pelos princípios, e intençoens do»
Alliados, em que o Imperador via assuus próprias—e final-
mente pelas positivas declaraçoens antecedentes, que naõ
deixavam lugar a intelligcncias enganosas.
Naó he sem sincera afflicçaõ, e somente consolado pela
certeza de que se tinham cxhaurido todos os meios de evi-
tar a guerra, que o Imperador se acha agora obrigado a
o b r a ^ Por tres annos tem S. M. trabalhado com inces-
Politica. 361
sante perseverança, para effectuar, por medidas brandas, e
conciliadoras, uma paz real e durável para a Áustria, e
para a Europa. Todos os seus esforços falharam ; agora
naõ ha outro remédio, naõ ha outro recurso senaõ as armas.
O Imperador as toma sem nenhuma inimizade pessoal, e
pela penosa necessidade de um irresistível dever; e com
fundamentos, que nenhum fiel cidadão de seus reynos,
nem o mundo, nem o mesmo Imperador Napoleaõ, em ura
momento de tranqüilidade e razaõ, deixarão de reconhecer
por justos. A necessidade desta guerra está gravada no
coração de todos os Austríacos, de todos os Europeos, seja
qual for o dominio debaixo de que vivam, em characteres
legíveis, demaneira, que naõ he necessária alguma arte
para os distinguir. A naçaÕ e o exercito faraõ o seu dever.
Uma uniaõ estabelecida pela necessidade commum, e pelo
mutuo interesse de todas as Potências, que estaõ em armas
pela sua independência daraõ o devido pezo a nossos es-
forços ; e o resultado, com o auxilio do Ceo, será tal qual
deve preencher as justas expectaçoens de todos os amigos
da ordem, e da paz.

FRANÇA.
Relatório do Ministro da Guerra, a S. M. o Imperador,
datada de 9 de Agosto, 1813.
SENHOR !—Vos estais informado dos acontecimentos
que sem succedido no norte da Hespanha, desde o mez de
Junho passado, determinando conferir o commando de
vossos exércitos na Peninsula a S. Ex a . o Marechal Duque
de Dalmacia. Logo que elle se poz á sua frente se melho-
raram consideravelmente os negócios na Peninsula. Parou-
se a audácia do inimigo, e desfizêram-se os seus projectos.
Forçados por um momento a levantar o cerco de Pamplona,
perderam os Inglezes muita gente no ataqne que se lhes
fez, e fôram testemunhas da destruição das obras e arma-
VOL. X I . No. 64. 3 A
362 Politica.
zens, que tinham estabelecido juncto aquelle lugar;
pouco tempo depois do inimigo ter embarcado a sua arti-
lheria de cerco, e suspendido por algum tempo o assedio
de S. Sebastian, deixando ao pé daquella praça grande
numero de soldados, que em vaõ tentaram limpar a brecha.
Porem, Senhor, naõ obstante as favoráveis circumstan-
cias, e ainda que os exércitos de Aragaõ e Catalunha, que
naõ tem cessado de ser victoriosos, esperassem novas van-
tagens da concentração de suas forças, he impossível dissi-
mular a necessidade de mandar aos exércitos, reforços que
os ponham em estado de destruir os desígnios des Ingleses,
os quaes podem diariamente receber reforços. A elevação
dos facciosos, que os Inglezes tem excitado na Peninsula,
apresentará novos obstáculos ás nossas tropas: e naõ se
pode demorar o por os exércitos de Hespanha em estado
de as superar todas, e reasumir a superioridade.
Tenho ja submettido a V. M. as differentes cousas qne
me tem pedido os Marechaes Duque de Dalmacia, e d'
Albufera, para obter reforços, que saõ absolutamente indis-
pensáveis.
Agora tenho a honra de propor a V. M., que ordene uma
leva da ultima conscripçaõ, nos departamentos vizinhos
aos Pyreneos.
Os habitantes daquelles departamentos, animados pelo
amor da Pátria, e penetrados de quam importante be,
principalmente para elles, a defensa daquella fronteira,
naõ duvido, que faraõ com ardor novos esforços, que as
circumstancias exigem. Naõ ha ninguém no Sul, que naÕ
eteja penetrado destes sentimentos, e que naõ esteja
prompto a fazer os maiores sacrifícios, se forem necessá-
rios, para sustentar a gloria da França, e defender o terri-
tório. Ja Basques tomou as armas voluntariamente, sem
que fosse chamado por V. M., e marchou contrao inimigo.
Era todos os pontos desta parte do Império, os desejos dos
habitantes, movidos pelo interesse geral, clamam por esta
Politica. [363] 263
medida, que proponho a V. M., e todos estaõ convencidos
de sua absoluta necessidade. Em conseqüência proponho
a V. M. o ordenar, que se faça naquelles departamentos
uma leva de 30.000 homens, para reforçar os exércitos da
Hespanha. O Duque de F E L T R E ,
Ministro da Guerra.

Motivos do projecto do Senatus Consultum.


SENHORES SEN AOORES I—Quando em Dezembro pas-
sado vos adverti neste Tribunal que o Gabinete Inglez era
o fomentador da guerra, a vossa sabedoria reconheceo esta
verdade, que os acontecimentos posteriores tem, se he pos-
sivel, feito ainda mais evidente.
Enganado nas esperanças, que tinha concebido sobre as
vantagens dos nossos exrcitos no Norte : assustado, como
sempre he, á vista das negociaçoens, pensou somente na
guerra; a Inglaterra tem sido pródiga nesta parte do
Mundo de intrigas e promessas, assim como no Sul tem
•ido pródiga de reforços, e sacrifícios.
Obrigados a ceder á superioridade do numero, e ás
vantagens do commercio marítimo, os nossos exércitos na
Hespanha tem necessidade de reforços. A prudência naÕ
admitte que se faça alteração alguma nas disposiçoens,
determinadas da parte da Alemanha; disposiçoens, em
que somente se estribam as mais justas esperanças; e que
debaixo da direcçaõ do Imperador, garantem a mais pro-
funda segurança, e, se for necessário, as mais brilhantes
vantagens.
Pertence pois, aos departamentos do Sul o accrescentar
aos corpos d'exercito, que os defendam, as forças neces-
sárias.
Na ultima guerra se deo um exemplo glorioso, quando
o inimigo desembocou no antigo território da Belgia.
Os cidadãos se armaram admiravelmente, e deixando as
suas familias e oocupaçoens, marcharam em montoens
3 A2
364 Politica.
contra os Inglezes, que depressa, se viram obrigados a
retirar-se diante deste exercito.
Agora a valorosa Basques, e todos os valentes habitan-
tes dos Pyreneos, e departamentos vizinhos, animados da
aff.*içaÕ e fidelidade, com zelo e coragem, se offerecêram,
somente á voz da aproximação do inimigo ao norte da
Hespanha.
Porém o Imperador naõ intima que seja necessário fazer
uso por algum tempo deste generoso movimento. Elle
julga que he melhor tirar, nestes departamentos, certo nu-
mero de homens das conscripçoens de 1814, e annos pre-
cedentes, para entrarem nos esqueletos do exercito. O
Senatus Consultum, que vos trazemos, fixa o numero a
30.000. Será bastante para demorar o grogresso de van-
tagens de que o inimigo se tem gabado demasiado cedo, e
para tornar a tomar com elle aquella postura, que he pró-
pria da França para fazer chegar, e preparar aquelle mo-
mento, em que naõ possa mais dispor para a desmembraçaó
dos Hespanhoes, dos thesouros de México, que ella lhes
arranca, e com que fomenta o seu commercio em ambas as
Índias, prolonga o seu monopólio na Europa, sustenta o
seu exhausto credito, paga á gente qne tem conrompido,
e ministra aquelles fataes subsidiou, que desencaminham os
gabinetes.

Relatório feito pelo Conde ãe Bournonville, em nome da


Commissaõ especial.
SENHOR !—O Ministro de Guerra, e Oradores do Go-
verno tem demonstrado suficientemente, pelos seus res-
pectivos Relatórios, a imperiosa necessidade de reforçar os
nossos exércitos, que obram na Peninsula; demaneira que
pouco me resta a accrescentar aos meios de convicção, que
se tem taõ claramente desenvolvido. As sabias precauçoens,
tomadas pelo Imperador, antes da sua partida para o grande
exercito, a fim de cubrir todos os porto*, e estaleiros do
Politica. 365
Império, naturalmente obrigaram a Inglaterra a largar pôr
maõ ás projectadas grandes expediçoens marítimas; e, em
uma palavra, toda a sorte de ataques, em todos os pontos de
grande importância. A Inglaterra, que intriga muito, e
arrisca pouco, naõ se tem atrevido a comprometter-se em
desembarcar tropas mandando-as pelejar nas falanges Rus-
sianas e Prussianas. Teme os revezes, que tem cuidado
de prevenir, e que lhe seriam irreparáveis. Nesta con-
junctura, e a fira de parecer que faz alguma couza pelas
Potências que tem posto em movimento, o gabinente de
Londres preferio mixturar as tropas lnglezas cora os ban-
dos Hespanhoes e Portuguezes; na segurança de que po-
deria retirar-se sem inconveniente, e segundo os seus inte-
resses ; e daqui vem este repentino angmento de forças
consideráveis, que tem determinado os nossos exércitos a
fazer movimentos retrogados, do que vos informou o
Ministro da Guerra, e aquelles bandos, animados por al-
guns suecessos ephemeros, tem levado a sua audácia ao
ponto de investir as fortalezas de S. Sebastian e Pamplona.
Ja estavam traçadas as parallelas, cavadas as trinchei-
ras; e quasi practicavel uma brecha em San Sebastian,
quando a valente guarniçaõ cora suas mortíferas descargas
obrigou o inimigo a desapparecer*, e tornar a embarcar o
seu parque d'artilheria.
Da parte de Pamplona, se as fiossas vantagens naÕ tem
sido taõ brilhantes, os Inglezes naõ tem sido menos incora-
modados em suas obras, que se tem entupido em parte; e o
exercito tem mostrado rara intrepidez. Mas todos entes
bandos podem diariamente ser augmentados por outros;
as suas pretensas vantagens publicadas de uma extremi-
dade da Hespanha á outra, podem attrahir um raontaõ de
proselytas; a esperança de tomar estas duas praças, e de
fazer dellas um antemural a suas piraterias, pôde chamar
todos os salteadores ; todas estas circumstancias unidas
exigem a adopçaõ de uma prompta leva, que ponha os
366 Commercio e Artes.
nossos exércitos na Peninsula em situação de tomar á sua
antiga figura.
S. M. o Imperador e Rey, que aprecia o generoso movi.
mento de seus valorosos vassallos, naõ julga conveniente
fazer delles um uso prolongado, e tem julgado melhor ti-
rar daquelles departamentos certo numero de homens das
conscripçoens de 1812, 13, e 14; e annos antecedentes; e,
sendo necessário, incorporallos com os cascos (esqueletos)
do exercito.
O Senatus Consultum, que acabo de ter a honra de vos
lêr, fixa o numero em 30.000, e a vossa commissaõ espe-
cial, propõem unanimente a sua adopçaÓ.
N . B. A data do Senatus Consultum he de 24 d'Agosto.

COMMERCIO E ARTES.
Convênio entre os Commissarios Inglesei c Portugueses,
relativo a certos pontos do Tractado de Commercio de
10 de Fevereiro, de 1810.

IN OS abaixo assignados Commissarios nomeados pelo


Secretario de Estado dos Negócios Estrangeiros, de S. M.
Britannica, e pelo Embaixador do Principe Regente de
Portugal residente nesta Corte, para o ajuste de algumas
matérias comprehendidas no ultimo Tractado de Com-
mercio, que requerem ser ajustadas com toda a precisão
que a natureza das circuroítancias admittir, temos mutua-
mente concordado nos diversos pontos aqui abaixo mencio-
nados, e temos authentícado este acordo com as nossas res-
pectivas assignaturas.
Commercio e Artes. 367
I o . A Identificação dos Navios Britannicos.
Está concordado, que a certidão official de Registro, as
signada pelos próprios officiaes das Alfândegas Britannicas,
será julgada sufficiente para identificar um navio de
construcçaõ Britannica; e que produzindo-se tal certidão
elle será admittido como tal em qualquer porto, dentro
dos dominios de S. A. R. o Principe Regente de Portugal.

2. Verificação da Mercadoria Britannica nos Dominios


Portuguezes.
Está concordado, que na importação de quaes quer bens
ou mercadorias, do Reyno Unido para qualquer porto dos
Dominios de S. A. R. o Principe Regente de Portugal;
todos esses bens seraõ acompanhados pelos bilhetes do
despacho (Cocket) originaes de alfândega, e selados pe-
los próprios officiaes das alfândegas Britannicas, nos
portos do embarque, e que os bilhetes de despacho d'alfan-
dcga pertencentes a cada navio seraõ numerados progres-
sivamente ; o numero total declarado no primeiro e no
ultimo bilhete de despacho d'alfandega, pelo official pró-
prio da alfândega, no despacho final de cada vaso, em
qualquer porto Britannico, e está alem disso concordado
que antes do despacho final dos officiaes de busca
(searchers) no porto de embarque, se ajunctaraõ e ligarão
os bilhetes de despacho de cada navio, com o numero dos
taes bilhetes de despacho selado com o selo official, e
assignado pelo official de busca. Estes bilhetes de des-
pacho da alfândega assim junetos seraõ produzidos, junc-
tamente com o manifesto jurado pelo Capitão, ao Cônsul
Portuguez, o qual certificará o mesmo no Manifesto.
Estes bilhetes de despacho d'alfândega, assim seguros
junctamente, e o manifesto assim authenticado se tornará a
entregar aos officiaes de busca, em ordem a dar-se o des-
pacho final do navio.
368 Commercio e Artes.
3**. Arranjamento sobre os direitos chamados Scavage,
Package, e Trinity.
Está concordado, que se ponha o negociante Portu-
guez, no mesmo pé do Britannico, tanto a respeito dos
direitos chamados Scavage, e Package, que se pagam
á Corporação de Londres, como dos direitos que se pa-
gam pelos navios á Corporação (dos Pilotos) chamada
Trinity-House, em Londres: para effeituar isto, e pre-
servar ao mesmo tempo os direitos dos Foraes da Corpo-
ração de Londres, e da Trinity-House, em Londres: será
necessário, que paguem, e primeiro lugar, estes direitos
como ao presente se pagam ; », em todos os casos em que
apparecer que o negociante Portuguez tem pago mais
do que o Britannico, se lhe restituirà a differença, sem
despezas, e pela maneira que o Governo Britannico de.
terminar.

4». O modo de cobrar os direitos de 15 por cento, nas


fazendas lnglezas, em portos Portuguezes.
Está concordado, que o modo de ajustar esta ma-
teria com mais equidade, demaneira que se assegure ás
rendas Portuguezas o pleno pagamento dos direitos de
15 por cento ; e que se dê ao negociante a certeza de nafi
ser obrigado a mais, em caso algum ; parece ser o se-
guinte :—
Que o importador, quando der entrada nas alfândegas
Portuguezas, assigne uma declaração do valor de seus
bens, em tal somma, qual elle julgar próprio : e no caso,
em que o official Portuguez, que isto examinar, for de
opinião que tal avaluaçaõ he insuflicicute ; teraõ a liber-
dade de tomar os bens, pagando ao Importador o importe
segundo a sua declaração ; com a addiçaõ de 10 por
cento ; e voltando também os direitos pagos, quando as
fazendas forem entregues ao official Portuguez, o que
Commercio e Artes. 369
deve ser dentro de 15 dias, desde a primeira detenção da
fazenda.
Londres, 18 de Dezembro, 1812.
R. FREWIN. A. J. SAMPAVO.
W BOURNE. A. J. DA COSTA.

Observaçoens sobre o papel precedente.


Antes de entrarmos em matéria, convém declarar ao Leytor, que
publicamos naõ um original, mas uma traducçaõ nossa, naõ au-
thentica, do original Inglez ; e por tanto, conhecendo o perigo que
ha em traducçuens de documentos de similhante natureza, nos con-
tentamos com aseverar ao Leytor, que nos esforçamos por fazer uma
traducçaõ a mais literal possivel; conservando illeso o sentido do
original.
As muitas difficuldades, que oceasionou o mal pensado, e impro-
vidente tractado de commercio Roevidico, naõ obstante os grandes
louvores, quefizeramos interessados nelle, e tres ou quatro mise-
ráveis escrivinhadores alugados, chegaram ao ponto de tal evi.
dencia, que foi necessário recorrer a novas estipulaçoens e ajustes,
para poder levar isto adiante de algum modo. Nomearam-se por
tanto dous Commissarios Portuguezes, e dous Inglezes, para ajus-
tarem as duvidas, que resulta vam do tractado.
Desde o mez de Dezembro de 1812, se esperou com profundo
silencio o resultado de seus trabalhos; e a 7 do presente mez de
Septembro;os Commissarios Portuguezes chamáramos Negociantes
de sua naçaõ residentes em Londres, e tendo exposto • que se acha-
vam authorizailo.s pelo Embaixador de S. A. R. em Londres o
Conde do Funchal, a patentear o acordo, em que tinham entrado
com os Commissarios Inglezes, apresentaram um papel similhante
ao qne copiamos acima; e passaram a dar os seus argumentos de
justificação do que tinham ajustado.
Os nossos Leytores acharão no vol. IX. p. 380 deste periódico, a
narração do modo porque se nomearam estes Commissarios Portu-
guezes^ como se intentou buscar a approvacçaõ apparente dos
negociantes para esta transacçaõ. Agora só temos de reierir os re-
sultados.
As difficuldades que o mal aventurado tractado traz-, i com sigo,
quanto aos Portuguezes, se acharam ser de tres sortes: Ia. Pontos,
em que havia falta de reciprocidade real e verdadeira; quando as pa-
lavras exprimiam e promettiam a tal reciprocidade: 2a. pontos, cuja
ommissaõ faria mui difficultosa a execução do tractado, e que por
VOL. XI. No. 64. 3B
3*10 Commercio e Artes.
tanto requeriam estipulaçoens addicionaes ; e 3». ponto*, que sup-
posto estivessem estipulados, naõ se lhes dava execução.
He claro, que assim como o tractado de Commercio se fei tem a
apparatosa convocação de Negociantes para nomear os Negocia-
dores ; assim também poderiam os diplomáticos convencionar as
estipulaçoens, e formalidades da execução, sem estas junctas
geraes de negociantes, que o Embaixador Portuguez convocou em
Londres, em sua casa, para este fim.
NÓ9 sempre julgamos, que a tal convocação, ou especiosa con-
sulta dos Negociantes Portuguezes em Londres, naõ éra senaõ um
ópio de que naõ podia resultar bem algum, senaõ tapar-Ihe< a boca
por algum tempo; e isto pelas seguintes razoens.
Primeira; porque naÕ se pôde assignar razaõ alguma para que
fossem ouvidos, em plena assemblea, os Negociantes Portuguezes
residentes em Londres; e naõ se perguntasse a opinião do* Nego-
ciantes Portuguezes residentes em Lisboa, Rio de Janeiro, Bahia,
&c. a respeito do que a todos interessava.
Segunda; porque, supposto que o ajunctamento dos Portuguezes
em casa do Embaixador, desse motivo para o mundo crer, que o
que ali se fazia éra o que queriam as pessoas convocadas, com tudo
quem nomeou os Commissarios, e quem lhes deo as instrucçoens
foi o Embaixador; e naÕ os negociantes convocados - logo a con-
vocação daquelles homens, para naõ fazerem cousa alguma, foi
uma mera farça.
Terceira; porque havendo muitos Negociantes de opinião, que
o tractado estava irrito por falta de ratificação geral e incondicio-
nal da parte da Inglaterra; a presença de taes sugeitos dava appa-
rencia de approvarera, e ratificarem, aquillo mesmo que elles des-
approvavam.
Quarta ; porque se soube logo; que os pontos do tractado, que
alguns dos Negociantes queriam ver discutidos, nunca haviam de
vir ao conhecimento do Commissarios,- e portanto naõ podia dali
resultar seuaõ procrastinaçaõ.
Naõ deixará porém de ser coveniente lembrar aqui; que pouco
antes de publicarem os Commissarios o Convênio, que examina-
mos; apparecêo no jornal, de que os partidiitai do tractado Roevi-
dico »aõ compartes, uma tremenda invectiva contra os Negociantes
Portuguezes, que se queixavam do tractado : chama-lhe antes que to
chamem; foi » máxima nisto adoptada; isto he injuriara ver se
aterravam os negociantes a que se calassem, antes que apparesse a Ul
convenção, que se lhes queria fazer iugulir por mui boa.
Porem enganáram-sc nisto redondamente ; porque ns negociantes,
naõ obstante haver entre elles algum que, por promessas, ou pela
Commercio e Artes. 371
honra de tomar uma chicara de caflfe sem que o mandem sentar ;
ou por outros motivos, louvasse a torto e a direito tudo quanto vem
dos seus semideozes, com tudo uma grande maioridade, e pode
dizer-se que a totalidade, grilaram taÕ alto contra o naõ merecido
ataque que lhes fizeram, que estamos persuadidos, que os seus
gritos se haõ de ouvir mui longe. Mas vamos às estipulaçoens.
Muitos eram os artigos do tractado, comprehendidos nas tres
classes, que apontamos acima, que mereciam seria discussão; e
naõ se concordaram senaõ em quatro pontos; a respeito dos quaes
uma Nota official do Ministro, em um quarto de papel, éra mais que
sufficiente; e para naõ se fazer mais do que isto ; he perfeitamente
ridículo convocar negociantes, nomear Commissarios, esperar
desde Dezembro do anno passado, em uma palavra fazer um ruído,
que, vista a pequenhez da producçaõ, só podia ter em vista o lançar
poeria aos olhos da gente.
O Io- ponto determina o modo de verificar nos portos Portu-
guezes, se os navios Inglezes saõ de Construcçaõ Britannica. Para
isto naõ éra necessária nenhuma convenção apparatosa de assem-
bléas geraes de negociantes, de nomeação de Commissianos, &c.;
porque tendo o tractado estipulado que só os vasos de construcçaõ
Britannica poderiam gozar dos benefícios do tractado, nos portos
Portuguezes, compettiaa S. A. R. o Principe Regente de Portugal o
estabelecer em seus dominios a forma que fosse mais de seu agrado,
para verificar aquelle facto ; ou adoptar as mesmas formalidades
que se practicassem em Inglaterra a respeito dos navios Portugue-
zes em similhantes circumstancias. Este éra o curso simples e re-
gular das cousas ; mas naõ he o que convém aos que querem figu-
rar em fazer tractados, e governar, e mostrar poder c influencia, à
custa dos direitos de seu Soberano, e da felicidade de sua Pátria. E
senaõ, digam-nos; ja que submctlcram a dignidade do Principe
Regente de Portugal, a sugeilallo, por artigos de uma convenção,
a que reconhecesse por navios de construcçaõ Ingleza, os que
apresentassem taes e taes formas * por que naõ estipularam também,
que a Inglaterra fosse obrigada a reconhecer por navios de con-
strucçaõ Portugueza, os que trouxessem com sigo taes ou taes pa-
peis? Pelo mal aventurado plano de fazer apparecer sempre o
Soberano de Portugal governado pelos outros, sem que nem nestas
1>agatellas se lhe permitta figurar como igual. Nem nos digam,
como pregam os Godoyanos, que isto he culpa dos Inglezes; por-
que naõ podemos persuadir-nos que elles, tractando-se de fixar as
formalidades segundo as quaes fosse o Governo Portuguez obrigado
a reconhecer os navios de construcçaõ Britannica, se denegassem a
ajustar também as formalidades debaixo das quaes o Governo
3B2
3T2 Commercio e Artes.
Inglez fosse obrigado a reconhecer os navios de construcçaõ Portu-
trueza. E supponhamos, o que na verdade naõ cremos, quo os
Inglezes naõ queriam conceder que apparecesse igualdade reciproca
neste ponto ; nesse caso, naõ se faça convenção alguma, e legisle
o Soberano de Portugal na sua terra como bem lhe aprouver, para
preencher as estipulaçoens do tractado ; que os outros taõ obrigados
a estar por isso ; com tanto que elle cumpra com a letra, e espirito
do tractado, que ratificou.
O seguudo ponto, que he a verificação das fazendas Ingleza*, está
comprehendido nas observaçoens acima ,- porque, uma vez que as
fazendas lnglezas tem de gozar certos privelegios nos portos de Por-
tugal; ao Soberano daquelle paiz compete o determinar os docu-
mentos, que se lhe devem apresentar, para provar que as fazendas
tem direito aos privilégios que elle concedeo pelo tractado: se
porém esses regulamentos fossem gravosos aos Inglezes, ao seu
ministro pertencia o fazer representaçoens, e pedir a sua modificação
i Com que razaõ, ou para que fim, logo, se faz disto um objectode
negociação da parte do Ministério Portuguez í He pôr era disputa,
o que he direito indubitavel do Soberano. Depois veremos os motivos
porque se fazem estas embrulhadas.
O 3°. ponto, nos conduz a refleclir, sobre o pouco senso dos
defensores do tractado - porque accusando nós os Negociadores do
tractado Roevidico, de ignorarem a natureza dos arranjamentos
commerciaes da Naçaõ com que tractavam ; propuzemos como um
expediente, que se devia estipular ao tractado; isto que os Com-
missarios agora convencionaram. 0 Leytor achará esta idea nossa
na breve analyzeque fixemos ao tractado, logo que elle apparecêo j
e depois no vol. IX. p. 821. Contra o que nós ali dissemos sahiram
a campo os defensores do tractado Roevidico, tractando-nos de
louco, c ignorante por tal dizer-mos, e vindo com o exemplo da
Câmara de nma villa de Portugal, e outros argumentos desta laja *
dignas producçoens de quem se mette a fallar nas matérias que naõ
entende.
Agora, naõ só concederam tacitamente os Commissarios Portu-
guezes, que he verdade o que nós dissemos, de naõ serem direitos
da coroa a Scavage, Package, drc. • e sim propriedade particular
da Corporação de Londres, cm que o Governo Britannico naõ pode
tocar} mas o plano,que adopUram,paracomp«nsar esta desavantagem
do tractado, foi identieamente o mesmo, que o Correio Brazilieuse no
lugar acima citado, propoz, naõ porojulgnr melhor, mas exempllgra-
tia t como um dos meios que se podiam ter adoptado no tractado. Re-
eonhece-se por tanto que he verdade o que diz o Correio Braziliense,
Commercio e Artes. 373
de que o Governo Inglez naÕ pode dispor daquelles direitos * e
por conseqüência, que o Negociador Portuguez ignorava esta cir-
cumstancia que devia saber; adopta-se alem disto o mesmo plano
que o Correio Braziliense aponta para remediar o mal; e tem os
jornalistas do partido Roevidico, o desafogo de nos chamar revo-
lucionários, incendiarios, &c. por apontarmos remédios, que elles
mesmo tem seguido, e adoptado.
Esta ommissaõ, de naõ estipular no tractado as compensaçoenc
necessárias pelos direitos em Inglaterra, que o Governo naS
podia dispensar ; hc uma ommissaõ taõ vergonhosa ao character
do Negociador Portuguez, que cs defensores do tractado Roevidico
em vez de esgravatar na matéria, c provocar o Correo Braziliense
a fallar nisto; deveriam procurar-lbe o remédio o mais breve que
fosse possivel, e suffocar assim toda a discussão; sobre um facto,
que de todos os modos lhe he ignominioso; porque ou o Negociador
Portuguez sabia da existência dos direitos em Inglaterra desta natu-
reza ou naõ : se sabia, e nao estipulou a isso uma compensação,
que nos dissemos ser necessária ; e que a mesma existência deste
acordo agora prova que o éra; neste caso o Negociador estava atrai-
çoando os interesses de sua naçaõ, a pezar do conhecimento que
tinha da matéria; se naõ sabia isto, entaõ éra um homem que
ignorava, como temos muitas vezes dicto, a matéria em que se
mettiaa negociar. Nestes termos i quem naõ vé o ensovalho que
trazem ao partido Roevidico, aquelles seus chamados defensores,
que estaõ provocando discussoens, sobre matérias, que éra do seu
interesse metter no escuro ?
0 4°. ponto senaõ he uma deviaçaõ, pelo menos he modificação do
tractado de commercio; e com effeito esse he o methodo prac-
ticado nas afandegas de Inglaterra, nos Estados Unidos, e em quasi
todas as naçoens aonde se entendem os principios de Economia Po-
litica. Mas estes direitos de 15 por cento ad valorem fôram enten-
didos em Lisboa, como estendendo-se ás fazendas de Laã, a re-
speito das quaes tinha providenciado o tractado de Metliuen, que
se naõ alterou nisto pelo tractado Roevidico. Os Commissarios
porém guardaram silencio nesta parte. E por tanto será preciso
novas conferências, novos Commissarios. e novas disputas ; e tal
he outra vez o resultado de entregar estas matérias nas maõs do
Conde, que, por mais bom homem que seja, tem mais que provado,
que ou naõ entende da matéria, ou naõ quer arranjar as cousas
como convém.
Olhando pais para este acordo achamos, que, á excepçaõ da esti-
pulaçaõ sobre o equivalente dos direitos de Scavage, Package, e
Trinity-House; tudo o mais saõ arranjamentos tendentes a alhanar
374 Commercio e Artes.
as difficuldades que poderia encontrar o commercio Inglez nos
portos de Portugal, principalmente no arranjamento dos 15 porcento
ad valorem, que dá ao commercio Inglez a mais decidida vantagem,
c nada se fez para elucidar os pontos relativos ao commercio Portu-
guez, deixando-se isto para outra vez. He necessário confessar
que hc este um estranho modo de uma naçaõ tractar com nutra.
Os Commissarios Portuguezes disseram aos Negociantes no ajunc-
tamento do dia 7 ; que somente tracturam destes quatro pontos;
porque os Commissarios Inglezes declararam que naõ tinham in-
strucçoens para tractar dos outros. Mas entaõ * para que trac-
taram de cousa alguma ? Por este modo de obrar arranjaram os
Inglezes o que desejavam, e ficou por discutir, tudo o que perten-
cia a Portugal; donde se seguirá dizer o Conde, que ainda continuam
as negociaçoens, que o fazem demorar ein Inglaterra, e que no
entanto naÕ pode entregar o lugar a seu successor, nem ir para o
Brazil. No entanto, naõ nos admiraremos se virmos outru vez
lançar a culpa destes desarranjos aos Negociantes Portuguezes, cuja
convocação parece naõ ter tido outro fim, senaõ abrir a porta aos
insultos que ja se lhes fizeram, talvez como proemio de outros.

O Jornal Pseudo-Seientifico.
Os tres principaes Redactores deste Jornal nos tinham
dado esperanças, de que a sua obra seria de utilidade á
naçaõ Portugueza, alargando a esphera dos conhecimentos
das sciencias naturaes, com os extractos, que as numerosas
publicaçoens de Inglaterra lhe potlerium ministrar: porém,
sahindo constantemente fora desta linha, mctlendo-se a
fallar do que naõ entendem, fazendo-se escriptores de par-
tido, e defendendo os Godoyanos ; nos persuadiram, que
delles naõ havia que esperar, mais do que os absurdos e
contradicçoens em que estaõ diariamente cahindo.
Antes que passemos a dizer alguma cousa, sobre a
continuação da carta a respeito do tractado de Commercio
Roevidico, que elles publicaram no seu N°. XXVII, p.
411 • diremos duas palavras a respeito do N°. precedente;
sobre o que naõ tivemos tempo de nos alargar mais no
nosso N°. passado.
Os males que este Jornal tem feito ao partido, a quem
Commercio e Artes. 375
se dispoz a servir, sa5 taõ evidentes, que nos compadece-
mos de quem os emprega; visto que naõ entendem a ten-
dência de um Jornal, que he conduzido a trancos e a bar-
rancos, na direcçaõ justamente opposta aos que inventaram
este jornal para seu serviço. E vejamos exemplos.
I Que outra cousa, senaõ uma profunda ignorância da
maneira de conduzir um jornal de partido, disposto a sus-
tentar os principios, que inculcam, poderia induzir a estes
tres Redactores, a traduzir em língua Portugueza, e en-
viar para ser lido no Brazil, por quantos crioulos sabem
soletrar, " a Constituição Politica dos Negros de S. Do-
mingos í "
Se nós desejássemos obrar com a má fé com que esses tres
Redactores nos aceusam de sermos incendiados, revolu-
cionários, &c. ; diríamos que todos os tres Redactores
punham nas maõs dos negros do Brazil a Constituição Po-
litica dos Negros de S. Domingos, para excitar no Brazil
as ideas revolucionárias, e dar meios aos escravos de ar-
ranjar seus planos para ate fim. Mas nós naõ obramos
assim. E supposto que um dos Redactores seja um
Diplomático, attribuimos aquella publicação á ignorância
formal de quem conduz similhante Jornal, que ignora os
principios porque deve dirigir a escolha das peças que
convém publicar, e das que se devem oinmittir; e por isso
chamamos a tal publicação um erro crassissimo no seu
officio de Jornalista.
A publicação da Constituição de Hespanha naõ éra
sugeita aos mesmos inconvenientes; e com tudo os Godoy-
anos, reílectindo nella, quizéram emendar o que elles sup-
pozéram erro contra seu partido, c mandaram que o Jor-
nal Scientifico fatiasse contra cila ; para que as observa-
çoens em contrario servissem de contrapezo à publicação
da Constituição. Executaram os Redactores ésla tarefa
copiando algumas reflexoens no Jornal intitulado o " Es-
376 Commercio e Artes.
panbol," e mixturando-lhe de seu os miseráveis racionios,
que saõ fructo natural de Mia ignorância nestas matérias.
A p . 196 do N°. X X V l l . , nuttem-sc os Redactores a
querer interpretar o que diz Muntct.quit-.t sobre a orij,. nt
das sociedadades, c a p . 197 dizem isto fc- Nir.gucm ignora
quo a sociedade existe pelo mutuo consentimento i!c seus
membros, mas também todo o mundo sabe que este con-
sentimento, ou contracto he e tem sempre sido tácito, c
consequentemente naõ tem realidade."
Se os Redactores tivessem estudado Direito, como o
deveriam fazer antes de fallar nestas matérias, saberiam
que os pactos tácitos, e os consentimentos presumidos tem
tanta realidade como os contractos expressos; e que na
theoria do consentimento presumido, se fuudamciiti tod:i
a legislação dos quasi contractos, que compor ni uma im-
portante divisão no corpo de direi; j Roniaao c nos códi-
gos de todas as Naçoens Modernas. E quando os Redac-
tores, com taes errou mostram a sua toíal ignorância, alé
excluem a possibilidade de argumentar com cllcs; visto
que nem ao menos posiucm os elementos das sciencias em
que faliam.
Com a mesma ignorância do modo de escrever para seu
partido se mettem na questão de ser ou naõ útil publicar
as contas publicas; c decidem pela atfirmativa, ao mesmo
tempo que aceusam o Correio Braziliense de Revolucio-
nário, porque tem intimado a necessidade desta publicação
como remédio a muitos males públicos; ora no nosso Peri-
ódico nunca se fez uma proposição taõ geral, c por conse-
qüência, que involve absurdo, como hc o suppôr que se
devem publicar as despezas pessoaes do Soberano, coutra
isto sempre nos fomos; c os Redactores a pezar do seu
Godoyanismo atrcvem-se a recommendar tal medida.
Vamos porém á carta continuada.
O Jornal Scientifico seria o ultimo que se encarregasse
Commercio e Aries. 377
de inserir papeis contra o tractado Roevidico, e no entanto
com bordoada de cego, e publicando tudo que lhe cahc
diante de si, defendem aquelles homens o systema Roevi-
dico, e publicam ao mesmo tempo cousas, que se conhe-
cessem a sua tendência as teriam queimado no momento
em que as vissem.
Os Redactores, se entendessem do seu officio, deviam
conhecer, que toda a discussão sobre o tractado Roevidico
tende a pôr o seu partido de mal em peior estado ; c
quando publicam papeis destinados a lançar a culpa aos
Inglezes somente expõem os seus mesmoS protectores, a
ataques, e a retorçoens.
O Author da carta compara a estipulaçaõ do artigo 15
do tractado Roevidico, a uma invasão Franceza, c a sup-
poem peior que esta; em conseqüência da admissão das
manufacturas lnglezas, segundo o tal artigo 15; e propõem
como remédio a isto que se levante o valor ao ouro.
O Jornal Scientifico devia ter a prudência de naõ com-
parar o tractado Roevidico a uma invasão Franceza ; pri-
meiro porque o tractado he obra de seus patronos; e de-
pois, porque a estipulaçaõ do tal artigo 15 ; posto que
obscura; e sem equivalente reciproco, naõ vai ao ponto
de admittir em Portugal todas as manufacturas lnglezas.
Quapto ao remédio, naõ ha um só Economista de nome,
que naõ declame contra o levantar-so o valor á moeda,
para impedir a sua exportação; nós somos decididamente
desta opinião, que nada impede a sahida dos metaes pre-
ciosos de uma naçaõ senaõ a balança favorável de seu
commercio; porém, pelo menos, o remédio do author he
mui sugeito a controvérsia.
Convimo6 perfeitamente com o escriptor da Carta nas
conseqüências funestas, para a industria do Brazil, que se
dednzem deste artigo do tractado; porém ja que elle tanto
se queixa dos Inglezes deveria reflectir agora na conven-
ção que se acaba de ajustar, debaixo dos auspícios do
VOL. XI. N o . 64. 3 c
3T8 Commercio e Artes.
Conde de Funchal, segundo a qual, naõ obstante todos os
clamores contra este tractado, aquelle Ministro conveio
cm arranjar todos os pontos que eram de utilidade a In-
glaterra, e naõ fez mençaõ dos que interessavam a Portugal.
Concedamos, que ao tempo do tractado Roevidico os In-
glezes tomaram por surpreza o Negociador Portuguez; e
agora, depois de se ter dicto tanto sobre a matéria, ja pela
imprensa, ja pelos requerimentos dos Negociantes i que
desculpa daraõ de assim cuidarem do que convinha á
Inglaterra, e deixar no tinteiro, para a outravez, tudo que
dizia respeito a Portugal?
Se a retirada do Conde de Funchal da Inglaterra de-
pende tle quando elle findar esta negociação; e se ella
continuar com o mesmo vagar; morrerá elle e morreremos
nós, muito antes, que elle chegue a obedecer ás ordens de
seu Soberano < que o mandou retirar ao Brazil; mas que
saõ taes ordens ? De minimis non curai Prcetor, dizem
aqui muitos que nos chamaram a nós Jacobinos.
Amais terrível cláusula do tractado, he aquella que o
faz perpetuo ; cm tal estipulaçaõ naõ se sabe qual defeito
do Negociado he mais conspicuo, se a ignorância com
que estipulou a decadência de sua naçaõ; se a arrogante
confiança com que suppoz a sua obra taõ vantajosa, que
nada menos do que a sua perpetuidade lbe convinha.
Conhecidos porém os males, e recusando os Inglezes ainda
assim cumprir o ajustado; o curso natural das coiuas
pedia, que se desse fim a similhante tractado; mas os seus
defensores maquinaram uma comissão de arranjamento
para dar vigor, e conservar as estipulaçoens, que o naõ
cumprimento dellas tornava irritas; e para cumulo de im-
pudencia tiveram a abilidade de embaçar os negociantes,
convocando-os, e fazendo parecer ao mundo que esta se-
gunda approvaçaõ do tractado éra feita de seu consenti-
mento.
Depois disto todos os conselhos, que dá o Author desta
carta; que se naõ admitia isto, que senaõ consinta naquülo,
Commercio e Artes. 379
que o tractado íem estipulado; c que neste mesmo mo-
mento se ratifica,por meio de nova convenção, em que fazem
representar os mesmos negociantes, hc de inutilidade ma-
nifesta ; porque contra o ajustado e rafiçado, naõ sei que
haja remédio. Que quer dizer recommendar o escriptor,
que se imponha ás fazendas lnglezas o direito de 30 por
cento na importação, quando o tractado ajusta 15 ? O
argumenta de que os Inglezes impõem maiores direitos nos
vinhos naõ pode valer contra estipulaçoens expressas.
Nos jamais aconselharíamos a S. A. R. o Principe Re-
gente de Portugal, que quebrantasse a sua Real palavra,
havia meio de dissolver o tractado, quando elle naõ foi
cumprido pela outra parte; a nova Convenção sanou o
defeito, que podia servir; execração venha a quem he
culpado; mas a palavra dos Soberanos, a fé dos tracta-
dos, hc couza sagrada. NaÕ he porem para aqui apontar
o único remédio que ha.
O Escriptor desta carta fallando do artigo 19 do trac-
tado, em que se estipula o que parece reciprocidade na
introducçaõ de manufacturas Portuguezas em Inglaterra ;
diz que este artigo fora calculado para illudir os Portugue-
zes, e principalmente o Ministro Portuguez, que o assig-
nou : e diz que he fácil enganar a quem naõ sabe a legis-
lação Britannica. O Leytor vê bem por isto, que até
neste mesmo Jornal Scientifico, o archi-escravo do partido
Roevidico, se lança em rosto ao Negociador do tractado a
ignorância de que nós tantas vezes o temos accusado ; mas
para que se metlêram a fazer tractados sobre matérias que
ignoravam ? quem os obrigou a isso ? Lea-se a memória
do Conde de Linhares a S. A. R . e ali se achara a expli-
çaõ do enigma. Empregam-se negociadores desta laya, e
depois entram a chorar, como as crianças, que os enga-
naram.
Mas aqui o escriptor da carta queixando-se da falta de
sinceridade do Negociador Inglez, confessa (p. 418) que
toda a naçaõ que sabe governar naõ concede nem deve
38o Commercio e Artes.
conceder mais do que a Inglaterra concedeo a Portugal.
Logo, de que se queixa contra os Inglezes ? De que o
Conde Linhares concedesse o que naõ devia conceder?
Isso naõ está da parte dos Inglezes. Alem disto, naõ era
preciso saber a legislação Ingleza, bastava entender a lin-
gua em que se fez o tractado, para conhecer que esta esti-
pulaçaõ naõ éra reciproca nem ainda nas palavras; por-
que Portugal concedeo a admissão de todas as manufactu-
ras lnglezas, sem limitação; e a Inglaterra concedeo a
admissão das Portuguezas, com a limitação da naçaõ mais
favorecida (limitação que destroe a regra geral, visto que
naõ ha nenhuma naçaõ taõ favorecida na Inglaterra aquém
se concedam importar manifactos) logo até nem nas pala-
vras ha reciprocidade. E se os Scicntificos querem paliar
os horrorosos males que os Roevides fizeram a Portugal
com este tractado, altribuindo até isto á ignorância do
Conde de Linhares, he preciso que convenham que o
Conde nem ler sabia ; o que nós lhe naõ podemos conceder,
porque sabemos que o Conde entendia o Inglez, e quando
naõ o entendesse podia ler a traducçaõ.
Geralmente fallando, o escriptor desta carta repelte os
argumentos; que se acham ns do nosso conrespondente,
nos N°*. 60 e 61 do nosso Periódico; talvez com estylo
mais limado, mas sem outro pensamento novo, mais do que
a continua detracçaõ dos Inglezes, que parece ser agora o
objecto valido dos Scicntificos.
Asora, diremos mais uma palavra, sobre o argumento
usado por nosso conrespondente, e pelo author desta carta,
sobre estar o tractado nullo por falta de reciprocidade, e
por falta de ratificação da parte de Inglaterra.
O Conde do Funchal, ou quem quer que foi que mane-
jou este negocio em Inglaterra, acaba de derribar todos
estes planos de escapar ás misérias do tractado, com o
argumento de ser elle nullo, ou ter ficado depois irrito;
porque o partido Roevidico, a fim de sustentar o tractado,
inventou o estratagema de propor uma Commissaõ, para o
Commercio e Artes. 38 i
fim apparente de remediar algums dos males que provi-
nham do tractado; mas nenhuma cousa se fez a favor dos
Portuguezes nesta Commissaõ, como vimos acima; c ac-
quiescendo ás suas decisoens fundamentadas no tractado,
sanáram-se as nullidades que podia haver, com esta nova
ratificação ex post facto, e para cumulo do arranjamento ;
fez-se passar isto pelas maõs dos Negociantes, para se ale-
gar que os procedimentos, e a escolha dos commissario»
fôram feitos com sua approvaçaõ; e ter pretexto de dizer,
no caso que elles se queixem, " que faliam por effeito
de ignoraacia, loucura, pedantismo, ou natural raaledi-
oencia."
Eis aqui como o argumento da nullidade pela lesaõ
enorme, foi destruído por esta Commissaõ inventada pelo
partido Roevidico ; porque se deo nova approvaçaõ ao
que estava feito; admittio-se a sua justiça, concedêram-se
mesmo mais commod idades aos inglezes; e isto naõ cm
estado de ignorância; mas depois que os escriptos públi-
cos e as representaçoens dos particulares expuzéram todos
os defeitos do tractado ; c apontaram meios de remediar de
algum modo algumas asperezas.
Visto pois, que os mesmos Portuguezes, que deviam
punir por sua naçaõ, se estaõ portando deste modo, que
nos naõ fallera mais em nullidades, nem em lesoens enormes,
ou enganos fundados na ignorância dos Negociadores.

Resumo dos Gêneros que por diversas Embarcaçoens se


tem recebido dos portos da America Portugueza, e
Ilhas dos Açores para soccorro do Exercilo, e da Ma-
rinha, em conseqüência das Ordens de S. A. R. ; naô
te comprehendendo os que já tem sido annunciados em
outras oceasioens.
Distribuio-sc : para a Fabrica da Pólvora, 9.5S2 arro-
bas, e 6 lbs. de salitre, vindo do Rio de Janeiro. Para o
Commissario de Viveres, 330 arrobas de carne salgada do
Rio; 2.600 alqusires de farinha da Bahia: J.355 arrobas
382 Commercio e Artes.
de arroz da Bahia, e 5.998 arrobas dito de Pernambuco
(ao todo 7.354 arrobas de arroz) ; 37 pipas de agoa*
nrdente da Bahia ; 322 moios de milho, e 16 ditos de
feijão das Ilhas, (Terceira, e S. Miguel.) Para consumo
do Arsenal Real do Exercito, 8 páos de arco, e 9 páos de
paragiba, da Bahia; 10 pranchões, e 20 pranchas de
ama rol Io, de Pernambuco ; 14 pranchas de páo Brazil, 2
páos roliços, e 6 quadrados, do Pará. Para consumo do
Arsenal Real da Marinha; 144 taboas de tapinhoã; do
Rio ; 480 aduelas de vinhatico, e 58 peças de fundos, da
Bahia; 961 páos e pranchoens differentes, do Pará. Para
consumo dos Hospitaes Militares, 273 arrobas, e 171bs. de
quina, do Rio; e 258 arrobas, e SOlbs. dita, do Pará (ao
todo 532 arrobas, e 15Ibs.) N. B. Nos 322 moios de
milho, vindo das Ilhas, estaõ incluidos 26 moios, que se
perderão em Setúbal.

Resumo dos gêneros que entraram no Porto desta Capital


no mez de Junho, de 1813.
45.565 barricas de farinha. 11.960 toneladas, 40 bar-
ris, 16 pipas de trigo. 100 moios, 1.200 salamas, 3.500
fanegas, 419 barras, 2885 sacos, 140.425 buxelles de
milho. 3.618 toneladas, 90 buxelles, 6.761 fanegas,
38.777 barris de sevada. 200 fanegas, 90 salamas de
graõs. 3.546 barris, 2 488 sacos de arroz. 327 pipas de
azeite. 4.688 caixas de chá. 739 sacas de caffé. 3.677
barris de Carne. 96 barricas, 120 arrobas, 37 cestos de
presuntos, e 455 ditos a granel. 1.220 botijas de azeitonas
150 caixas de passas. 1.859 caixas, 276 feixes de assucar.
393 pipas, 278 barris de agoa-ardente. 11 pipas de gene-
bra. 40 ditas de cerveja. 6B3 ditas de vinho. 1.144 bar-
ris de manteija. 6.600 quintaes de bacalháo. 100 caixas
de queijos. 40 tonelladas de batatas. 1 moio, 10 pipas,
30 sacos de feijaõ. 18 caixas de quina. 2.494 sacas de
pimenta. 176 barris de biscoito. 30 pacas, 20 quintaes
de toicitobo. 126 barris de mel. 29 sacos de Amêndoa.
Commercio e Artes. 383

Preços correntes dos principaes productos do Brazil em


Londres, 25 de Septembro, 1813.

Gêneros. Qualidade. •Janlidadi Preço de Diretos.

Assucar branco 112 lib. 55s. 6is. 31. I4s. 7 | d .


trigueiro D". 45s. 52s.
mascavado D" 37s. 42a.
Algodão Rio Libra 20p. 2lp. 16s.lld.pr. 100 lib.
Bahia D°. 23p. 24p.
Maranhão D». 2Jip 24|p.
Pernambuco D". 24p. 26p.
Minas novas D*. 21p. 22p.
D°. America melhor D». nenhum I6s. 1 ld. por libra
Anoil Brazil D°. 2s. fip. 3s. 4d. por libra
Arroz D°. 112 lib. 36s. 42». 16s. 4d.
Cacao Pará 112 lib. SOs. 7 5s. 3s. 4d. por lib.
Caffé Rio libra 7 Os. SOs. 2s. 4d. por libra.
Cebo Bom 112 lib. 86s. 87s. 2s. 8d. por 112 lib.
Chifres grandes 123 SOs. 35s. 4s. 8d. por 100.
Couros de boy Rio grande libra 6p. 8p. 8d. por libra.
Rio da Prata D°. 6p. 9p.
D", de Cavallo D2. Couro 8s. 6p. 9s.
Ipecuacuanha Boa libra 13s.6p. 14s. 6p 3s. libra.
Quina Pálida libra is. 6p. 2s. Op. 3s. 8d. libra.
Ordinária Do.
Mediana 2s. 8p. 3s.
Fina 4s. 6p. 7s. fip.
Vermelha 4s. 7s.
Amarella 2s. 6p. 3s.
Chata D».
Torcida 3s. 9p 4s. 9d. ls. 8d. por libras.
Pao Brazil tonei 931. 1001. 11. a tonelada.
Salsa Parrilha
Tabaco Rolo 3s. 6d. libra excise
libra 6p. 7p. \ 3l.3s.9d.alf.l00lb.

Prêmios de seguros.
Brazil hida 10 guineos por cento. R.5.
vinda 12 a 15
Lisboa e Porto hida 40'. a 60*. em comboy
vinda 4 Gs. R. 40*. por era comboy
Madeira hida 5 a 6 G'.—Açores 8 G*. R. 3.
vinda 8 á 10
Rio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a tornaviagem
vinda o mesmo 15 a 20 G'.
[ 384 ]

LITERATURA E SCIENCIAS.
Novas Publicaçoens em Inglaterra.
NARRATIVE of LanceloVs Tour, 8vo. preço 8s.
Narrativa de uma viagem, feita no anno de 1667, á Grande
Chartreuse e Alet, por Dom Cláudio Lanceiot, author das
Grammaticas de Portroyal; incluindo algumas noticias
de De Rance, Reformador do mosteiro de La Trappe ; e
também do Abbade de S. Cjran, • Jansenio ; com um
breve esboço da celebre Instituição de Portroyal.

New Annual Register, 1812, 8vo. preço 1/. O Novo


Registro Annual, ou Deposito de Historia, Politica, e
Literatura do anno de 1812; a que precede a historia doa
Conhecimentos, Literatura, Gc«to, c Sciencias da Gram
Bretanha, durante o reynado de sua presente Majestade.
Podem obter-se jogos completos da sobre dieta obra
desde o anno de 1780, até o tempo presente ; em 33 vo-
lumes, preço 33 guineos.

Lives of the Admirais, &c. 8 volumes 8vo. preço


81. 8s. Com estampas. Vidas dos Almirantes Capitaens
c outros officiaes de marinha, que se tem distinguido nos
annaes do Mundo, e que tem sido os grandes meios de ele-
var a sua Pátria, a seu estado presente de gloria sem rival;
e de estender o seu Império a todas as partes do Globo.
N. B. Esta ediçaõ inclue, alem da obra original do Dr.
Campbell, a historia naval do pau até o flm de anno de
1812, com memórias históricas e biograpbicaa de quasi
150 Almirantes, Capitaens, &c. que se tem distinguido na
defensa e augmento da gloria da naçaõ ; junctamente com
uma breve noticia de mais de 200 officiaes de marinha de
differentes graduaçoens, que tem perecido no serviço de
Literatura e Sciencias. 385
mar; mas de quem se sabe muito pouco, para se poderem
fazer delles artigos distinctos de biographia no corpo da
obra.

Multeis Description of Germany, 8vo. preço 7s. Des-


cripçaõ topographica, e militar da Alemanha, e dos paizes
circumvizinhos. IIlustrada por um mappa, que contem
todos os caminhos militares, e distancias das povoaçoens.
Pelo Capitão Muller, dos Engenheiros Alemaens d' El
Rey.

Scotish Review, N°. IX. O N°. IX. da Revista Es-


coceza. Contem, a Historia da Reformaçaõ, por Cook—
a Historia da Sociedade Real, por Thomson—a Ediçaõ
de Junius, por Woodfall—As Liçoens de Hill—Sintaxe
sobre o pinturesco—Economia Politica de Ganilh—Botâ-
nica de Withering—Fallas de Grattan—Vida de Bossuet,
por Butler—Acordo da Raynha, por Hogg—Sobre a Ino-
eulaçaõ da Vaccina, por Sanders—Sobre a Divida Nacio-
nal, por Hamilton—Noticias Literárias—Novas publi-
caçoens.

Farmer's Magazine, Np. LV- preço 3s. O Armazém


do Agricultor, N Q . LY ; com a diversidade de artigos
que compõem esta obra, puramente sobre agricultura.

General Biography, Vol. VIII. 4to. preço 21. 2s. O


oitavo volume da Biographia Geral; ou vidas criticas, e
históricas, das mais eminentes pessoas de todas as idades,
paizes, condiçoens, e profissoens, arranjadas por ordem
alphabetica. Pelo Dr. Aikin, e outros historiadores.

General Senen, Siege de Tarragona, 8vo. preço 5s, em


Francez. Cerco, assalto, e tomada de Tarragona pelos
Francezes no mez de Junho, 1811, pelo general D. J.
Vos.. X I . No. 64. 3o
388 Literatura e Sciencias.
Senen de Contreras, Marechal de Campo nos exércitos de
S. M. Catholica Fernando V I I . ; governador desta for-
taleza ao tempo de sua tomada. Com a relação de sua
evazaõ do cestello Fort em que achava prezo; e algumas
observaçoens sobre a sua natureza, estratagemas e recur-
sos do Governo Francez.

Rivingtorfs Annual Register, 1796, 8vo. preço 1/. O


lfegistro Annual de Rivington ; ou vista da historia, poli-
tica e literatura do anno de 1796.

Stevens on Iluman Happiness, 12mo. preço 7s. Trac-


tado sobre a Felicidade Humana, pelo Reverendo Gui-
lherme Stevens, Doutor em Theologia.

Luder^s Character of Ilenry V., 8vo. preço 5s. En-


saio sobre o Character de Henrique V. sendo Principe de
Gales ; por Alexandre Luders.

BridgeJs lntroduction to Natural History, 2 vols. 8vo.


preço 1/. 5s. Introducçaõ ao estudo dos principios ma-
thematicos da Philosophia Natural; e contem uma serie
de liçoens sobre o movimento rectilineo c de projecçaÕ, a
acçaõ mechanica, e movimentos de rotação e vibração dos
corpos; pelo Reverendo B. Briclge, Bacharel em Theo-
logia, e Membro da Sociedade Real.

Letters of Britannicus, preço 2s. 6d. Cartas de Bri-


tanicus, ao Edictor do Morning Post, sobre o Bill de Mr.
Grattan, para favorecer os Catholicos Romanos da Gram
Bretanha, e Irlanda j on como elle se devia intitular, para
o adiantamento dos Papistas ou sectários do Papa.

Cossham's Time-tables. 12mo. preço I8s. Taboadas do


tempo, para facilitar o calculo dos juros, &c, nas letras de
Literatura e Sciencias. 387
cambio e contas correntes; e contem 365 taboadas, que
mostram, sem calcular, o numero de dias, desde cada dia
do anno até outro dia dado. Por J . N . Cossham, conta-
dor em Bristol.

Biglantfs History of England, 2 vols. 8vo. preço


IL 16s. A Historia de Inglaterra, desde o mais remoto
periodo até o fim do anno de 1812. Por Joaõ Bigland.

Letters by Eminenl Persons, 3 vols. 8vo. preço 1/.


l i s . 6d. Cartas escriptaspor pessoas eminentes, nos sécu-
los 17, e 18; ao que se ajuncta o jorual de Hearne a Rea-
ding, e a WhadonHall, solar de Browne Willis, Escudei-
ro. Vidas de Homens Eminentes. Por Joaõ Aubrey.
Tudo publicado agora do original que se acha na livraria.
Bodleiana, e no Museum Ashmoleano; com illustraçor-its
biograpbicas e literárias. Pelo Author das selecçoens do
Geatleman'* Magazine.

Stanfifld's Etsay on Biography, 8vo. preço lOs. 6;


Ensaio sobru o estudo c composição de Biographia, Por
Jaime Field Stauhcld.

NOVAS OESCUBERTAS.
(Artigo Communicado.)
Agricultura. Terrenos e Estrumes.
As vantagens do estrume nas terras saõ taõ grandes ; e
taõ importantes as conseqüências de sua judiciosa applica-
çaõ, aos interesses da Sociedade, que julgamos um dever
nosso, o contribuir com a nossa quota, para fazer o seu uso
mais geral e familiar ao publico. Um escriptor [Ilumina-
do e hábil, tem attribuido qtnsi todas as misérias das So-
ciedades, á penúria de mantimentoH para o homem ; por-
tanto, tudo o que pôde contribuir a diminuir este deffeito,
a abaixar os preços do paõ e da carne, auginentaudo a &ua
3 D 2
388 Literatura e Sciencias.
quantidade, deve ser da maior vantagem â sociedade. Da-
qui vem o valor dos estrumes. A experiência tem prova-
do, que se pôde fazer com que a terra produza pelo estrume
uma quantidade indefiijita de mais graõ, do que produzi-
ria no seu estado natural. A natureza e uso deste estrume,
e o melhor modo de o applicar ao terreno, vem consequen-
temente a ser objectos da primeira consideração na agricul-
tura. Para facilitar o estudo deste interessante ponto prin-
cipiaremos por explicar a natureza dos
Terrenos. A diversidade na composição das terras, em
geral, he tal, que se naõ pode applicar acampo algum uma
definição chimica rigorosa. Portanto as distincçoens dos
agricultores saõ melhores que as dos Chimicos. As divi-
soens communs de terreno quente e frio, saõ mui correc-
tas ; porque algums terrenos aquecem mais depressa do que
outros com os rayos do sol; e alguns se esfriam mais de-
pressa ; outros saõ vagarosos tanto em aquecer como em
esfriar. Esta simples distineçaõ usada judiciosamente,
habilitará o agricultor a conceber noçoens exactas do me-
lhor gênero de estrumes para o seu terreno; e também do
tempo e modo mais conveniente de o applicar. Em geral
os terrenos que contém muito barro duro branco ou amarello
saõ difficeis de aquecer, sendo ordinariamente búmidos re-
tém o calor somente por pouco tempo. Aqui o remédio
he obvio ; augmentar a sua capacidade de receber, e o
poder de reter o calor, e assim se augmentará em proporção
a sua fertilidade. Os terrenos calcareos saõ similhantes
em um sentido, que he o aquecerem-se vagarosamente;
porém como saõ sempre secos, retém o calor por mais tem-
po, consummindo-se mui pouco pela evaporação de sua
humidade. O terreno preto, e cor escura, contem muita
matéria de vegetação e furruginea, requer muito mais calor
do que o terreno de côr pálida, exposto ao sol em iguaes
circumstancias. Quando os terrenos saõ perfeitamente
secos, os que se aquecem mais facilmente também se esfri-
Literatura e Sciencias. 389
am com maior facilidade; porém Sir H. Davy tem averi-
guado, que os terrenos de côr mais escura, abundam em
matéria animal e vegetal, o que facilita o esfriarem- se, e
sendo aquecidos pelos maiores efTeitos do calor do sol se
esfriam mais vagarosamente do que os terrenos pálidos e
humidos; que consistem em matéria terrestre. Uma terra
preta pingue, contendo perto de uma quarta parte tle ma-
téria vegetal , expondo-se ao sol se elevou em uma hora,
de 65 a 88 gráos ; ao mesmo tempo que o terreno cale ireo
somente se aqueceo a 69 gráos nas mesmas circumstanci is.
Porém a terra preta vegetal perdeo, em meia hora, 15
gráos pondo.se á sombra em 62 gráos : ao mesmo tempo
que a terra calcarea perdeo somente 4 grãos no mesmo
espaço. A addiçaÕ da humidade somente augmentou estes
effeitos.
Estrumes. Naõ ha substancia ou principio que minis-
tre o sustento ou pabulum da vida vegetal ; naõ he nem o
carvaõ nem o hydrogeneo, oxigeneo, nem azote somente;
mas todos elles junctamente cm vários estados e combina,
çoens supportam a vegetação. As plantas consistem em
carvaõ, e matéria neriforme ; esta se deriva da seiva, qne
hc formada pela influencia unida da humidade do terreno
e ar externo. As substancias orgânicas, sendo privadas do
vitalidade, começam immediatamente uma serie de mu-
danças, até que se effectue a sua total dissolução. A ma-
téria animal exposta á acçaõ do ar, calor, e luz, se reduz
mais depressa á podridão e decomposição ; os vcí»<aes siõ
mais vagarosos, porém, finalmente cedem á ley geral.
Os períodos próprios para applicar os estrumes as terras
saõ descubertos pelo conhecimento do tempo e meios de
effectuar a decomposição das differentes substancias. Os
estrumes como a pedra de cal, alkalis, írypso, e outros saes,
ajudam este processo. Suppunha-se antigamente, que
estes estrumes obravam somente como estimulante*-, ou
pr,M-rv-uiiles, e que elles ciam, por assim dizer o sal e pi-
Jílü Literatura e Sciencias.
menta da vegetação: agora esta averiguado, que elles saõ
também parte própria do mantimento da planta, e que
elles suprem aquelle gênero de substancia á fibra vegetal,
que he análogo aos ossos dos animaes. A cal morta éra
usada nas arvores de fructo pelos Romanos, os Bretocns,
segundo Plínio, usaram desde tempo immemorial do barro
branco, mas naõ se sabe quando se principiou a usar da
cal queimada. A cal viva suppre a planta de matéria ja
assimilada ; porém perde logo a sua causticidade ; erabe-
bm Io o ácido carbônico, e se faz cal; c com tudo neste
estado se mixtura com outras substancias terrestres, e aug-
menta a fertilidade do terreno. Deseca a terra, priva-a
d • suas qualidades ácidas, e a dispõem a receber mais calor
do sol. A matéria muscilaginosa gelatinosa, saecharina,
oleosa, e carbônica, constitue a baze dos estrumes : o
sueco verde das plantas, que contem matéria saecharina, e
muscilaginosa, deve usar-se logo que a planta morre, c
lavraudo-se a terra em quanto os vegetaes estaõ verdes, a
sua matéria aeriforme, o gaz carbônico e outros, se ajunc-
taraõ na terra. O bolo do nabo agreste deve ser usado
seco e novo, ou semeado com a semente de nabo. A poeira,
que se ajuncta da cevada fermentada, que se tem usado
nas cervejarias, he um estrume mais forte pela matéria
saecharina, que contem. O linho verde, palha, erva do
mar, peixe, ossos em pó, cabèllo, trapos de laã, pennas,
peles, pedaços de couro, sangue, urina, toda a sorte du
estéreo, devem ser lançados na terra, antes que tenham
fermentado, quando os productos da fermentação ajudam
muito a riqueza do terreno. A fibra da madeira, usada nos
curtumes, a terra que se usa para queimar, as cinzas du
madeira, devem ser fermentadas antes que se usem, mix-
turando-as com a terra, por que saõ de difficil decompo-
sição.
Literatura e Sciencias. 391
Mina de Ferro.
Os mineralogistas sabem, que o que se chama flor do
ferro, he um verdadeiro carbonato de ferro. Porém os
chimicos tem modernamente descuberto, que a espécie
chamada barro de pedra de ferro, taõ geralmente empre-
gada em vários paizes como uma rica mina de ferro,
hc também um carbonato de ferro, que differe da flor de
ferro somente cm naÕ estar erristalizada, e ter meclianica-
mente mixturado com sigo alguma substancia siliciosa, e
magnesia. Ordinariamente se acha o alumen mixturado
com a silica, mas naõ em grande proporção. O barro de
pedra de ferro, em Colebrook Dale, consiste em Silicia
10-6, alumen 2, cal 1-6, magnesia 2-4, oxide de ferro 50,
magnese 2-6, e perca pela calcinaçaõ 32, total 101-2.
Esta descuberta pode vir a ser de grande importância aos
fundidores de ferro, naõ somente porque os habilita a se-
parar a magnesia, e çal, mas também a adoptar o carvaõ
que sé expelle, para a manufactura do aço. Desta maneira
se pode manufacturar o aço com o mesmo combustivel,
que agora se usa em fundir a mina de ferro, e he mui pos-
sivel, que se possa também conservar a magnesia.

Diamantes.
Os mineralogistas naõ tem até aqui averiguado, o depo-
sito peculiar ou matriz dos diamantes; ainda que os chi-
micos tenham provado, que a substancia mais dura entre
todas as pedras, consiste quasi inteiramente em carvaõ.
Os diamantes, que se acham na índia, e no Brazil, oceor-
rem ordinariamente em terrenos aonde ha correntes c allu-
vioens, que os separam lavando a terra. Os mineralogis-
tas por tanto tqm somente conjecturado a natureza da sua
cama natural, sem que tenham provas directas do facto.
Felizmente esta difficuldade tem sido removida. O Dr.
Benjamin Heyne, do Estabelicimento de Madras, trouxe
a Londres, uma peça da cama dos diamantes, cm Bina-
392 Literatura e Sciencias.
ganpally no Decan, contendo um diamante actualmente
embedido nella. Este he talvez o primeiro producto deste
gênero que se trouxe á Europa, e merece uma descripçaõ.
A sua apparencia externa, he uma conglomeraçaõ ; porém
como os graõs saõ geralmente arredondados, e a massa he
barro, aproximando-se ao killas em sua apparencia e natu-
reza, parece que mais merece o nome de amygdaloide. O
graõ arredondado de que he composta he principalmente
chalcedonia, de uma cor azulada parda, aproximando-se
alguma cousa ao byalites em sua apparencia. Variam em
grandeza desde o tamanho de uma cabeça d'alfinete, até o
de uma castanha. Estes nodulos estaõ mixturados com
fragmentos angulares de jaspe, e quartzo. Naõ saõ vi-
zives fragmentos alguns de corundum, ainda que se crê quo
apparecem algumas vezes nas camas que contem diamantes.
Ainda que os nodulos naõ saõ idênticos com os que se
acham na amygdaloide de Inglaterra., com tudo ha pouca
duvida de que o rochedo seja amygdaloide pertencente a
formação de um novíssimo floetz. Pela descripçaõ do Dr.
Heyne parece, que ainda que este rochedo amygdaloide be
de considerável grossura, os diamantes estaõ concentrados
em uma cama no centro, que tem mais de um pé de grossura;
e se distingue por ser mais duro que as outras partes.

PORTUGAL.
Sahio a luz : Epístola a S. Ex 1 . Lord Wellington,
Duque da Victoria, Gcneralissimo dos Exércitos Alliados,
pelos seus insignes triunfos, dedicadi em nome da naçaõ
Portugueza, por José Agossinho de Macedo. Acha-se na
loja de Joaquim Manoel Lopes do Nascimento, na rua dos
Algibebes, N°. 18. Na mesma loja se acha um opusculo,
intitulado Dissertação Lithurgica sobre a intelligencia da
Rubricado Missal, em defesa do respectivo Calendário,
relativamente á Missa de Defuntos nos primeiros dias des-
impedidos de cada mez. Segue-se a esta outra Disser-
tação, sobre a omissão da AUcluia em tempo de Páscoa.
[ 393 ]

MISCELLANEA.
(Novidades deste mez.)
AMERICA.
Embargo.
XXAVENDO-SE removido o preceito de segredo, imposto
á cerca dos últimos procedimentos, que se fizeram á porta
fechada na casa dos Representantes, podemos agora desen-
volver a matéria que fixou as suas attençoens.
Na terça feira, 20 do mez, de Julho se recebeo aseguinte
mensagem do Presidente dos Estados Unidos.

MENSAGEM EM CONFIDENCIA.
Ao Senado e Casa dos Representantes dos Estados Unidos.
Havendo fundamento sufficiente para inferir, que o ini-
migo se propunha a combinar, com o bloqueio de nossos
portos, licenças especiaes a vasos neutraes, ou vasos Bri-
tannicos disfarçados em neutraes; para assim tirar de nosso
paiz os gêneros e quantidades precisamente necessários ás
suas necessidr.des; ao mesmo tempo que o commercio ge-
ral continuava impedido : tendo também em vista a insidio-
sa distineçaõ entre os differentes portos dos Estados Uni-
dos ; e como tal systema, se naõ fôr contrariado, terá o
effeito de diminuir mui essencialmente o fim da guerra com
o inimigo, e animallo a continuar nella; ao mesmo tempo
que deixará o commercio geral dos Estados Unidos sugeito
á oppressaõ, que o inimigo lhe quizer impor, sugeitando
assim o todo aos regulamentos Britannicos, e serviço do
Monopólio Britannico. Recomendo á consideração do
Congresso a conveniência de uma immediata e efficaz pro-
hibiçaõ de exportaçoens, limitada a um dia próprio na ses-
saõ seguinte, e com a faculdade de ser removido, no entan-
to, em caso que cesse o o bloqueio de nossos portos.
JAIMES MADDISON.
VOL. X I . No. 64. 3 E
394 Miscellanea.
A mensagem foi referida a um committé de RelaçocnJ
Estrangeiras, que no dia seguinte informou, que naô
convinha obrar na conformidade da mensagem do Presiden-
te. Esta informação foi referida a um committé de toda a
casa, que emendou a primeira informação riscando a palavra
nàÕ convinha, e inserindo convinha. Esta emenda no Com-
mitté de toda a Casa foi tenazmente defendida pelo Ora-
dor, e outros, e com igual tenacidade contrariada por outros.
Deo-se parte que se tinha feito a emenda, e a casa concor-
dou nella, e referib a matéria a um Committé escolhido, do
qual M \ Grundy éra o presidente; este, no dia seguinte,
apresentou o projecto de um Bill, que impunha o embargo;
e consistia em 20 e tantas secçoens, que eram em substan-
cia copias dos actos passados de embargo, e continham
todas as nocivas clausalas do antigo acto que as vigorava.
O Bill foi immediateamente referido a um committé Je toda
a casa; passou acceleradamente pelo Committé, e deo-se
a informação à Casa sem emenda; porque foram regeitadas
todas as emendas propostas; dahi acceleradamente foi co-
piado, tirado a limpo, e passado no mesmo dia. Fez-se o
relatório ás 7 horas da noite. Os votos fôram; Sim, 80;
Naõ, 50.
Nomeou-se um Committé para levar este Bill ao Senado
e pedir-lhe a sua concurrencia. Sabbado, li-*, O Senado
mandou imprimir o Bill (confidencialmente) e pospôz a sua
consideração até o dia 26; e quarta feira o regeitou:
Sim, 16 ; NaS, 13.
29 de Julho.
He com muita satisfacçaõ que nos informam de que o
tyrannico Bill de Embargo, que passou ultimamente na
casa dos Representantes, no Congresso, foi regeitado por
nosso independente Senado, 18 votos contra 16. Estavam
ausentes dous Senadores (Daggctt de Connecticult, e Smith,
de Maryland) que prorarelmente teriam votado contra o
Bill.
Miscellanea. 395
As duas casas adiaram a sessaõ para a segunda feira que
vem, a menos que o Executivo proponha alguma outra vio-
lenta, ou louca medida.
Dizem que os Inglezes tem corrido as enxcarcias, como
se explicam os marinheiros, no rio Potomac, passaram
acima da bahia de Chesapeake, e estaõ mudando a scena
dos sustos que daõ, para Annapolis e Mobloun.

Outravez o Torpedo.

Norfolk, 27 de Julho.
M r . E. Mix, da marinha, sugeito de integridade, e em-
prehendedor, esteve por varias semanas preparando Torpe-
dos, para tentar a explosão de alguns dos navios do inimigo,
na bahia de Linnhaven. O navio Britannico de 74, Plan-
tagenet, tinha estado havia um mez fundeado de fronte do
farol de Cabo Henry, e raras vezes acompanhado por outro
vaso ; assim pareceo a M r . Ivlix, que éra o mais favorável
objecto para fazer a sua experiência. Consequentemente,
na noite de 18 de Julho, accompanhado pelo Capitão Bow-
man, de Salem, e guarda marinha M'Gowan, da esquadra
dos Estados Unidos, que offereceo voluntariamente o seu
auxilio durante toda esta empreza, sahio do lugar determi-
nado, e dirigio-se ao Plantagenet, de 74 peças, em uma
grande barca sem cuberta, a que deo o nome de Chesa-
peakês Revenge (a vingança de Chesapeake) ; e pela ob-
servação, que ja tinha feito, lhe naõ foi difficultoso acertar
com a estação do navio. Quando tinha chegado à distan-
cia de cousa de 40 yards, deixou cahir o Torpedo ao mar;
e no intsante mesmo em que o estava fazendo, lhe falláram
de um dos botes de guarda no navio. Tornou-se logo a
recolher a machina, e elle escapou-se a salvamento. Na
SE2
396 Miscellanea.
noite de 19 fez outra tentativa para descubrir se podia con-
seguir os seus fins, e outra vez foi descuberto antes que
pudesse conseguir os seus fins. N a noite de 20, elle che-
gou-se até á distancia de 15 yards da proa do navio, e di-
rectamente debaixo do gurupcz ; aonde continuou a fazer
os seus preparativos por 15 minutos, quando uma sentinella
do castello de proa gritou " O h , do b o t e ! " e assim elle
teve de escapar-se o mais depressa que pôde : como se naó
respondeo á sentinella, ella deo fogo á sua espingarda o
que foi seguido de uma rápida d e s c a r g a de mosqueteria, e
armas menores. A tiráram-se luzes azues para achar aonde
estava o bote ; naÕ valeo isso : atiraram depois foguetes em
varias direcçoens, que iilumináram a água por considerável
distancia, até aonde chegavam ; e assim obtiveram descu-
brir a posição do visitador nociurno; pelo que começou o
navio a dar fogo á sua artilheria pezada, arieou a amarra,
e fez-se á vela ; ao mesmo tempo que os botes continuaram
a caça. Os atrevidos intrusos, porém, escaparam sem
damno. Rrpeítiram-se estas visitas nas noites de 2 1, 22,
e 2 3 , sem melhor successo; porque o navio ficando assus-
tado, mudava a sua posição todas as noites. Porém na
noite de 24, pôde M r . Mix alcançar o achallo, e tendo to-
mado a sua posição a 100 yards de distancia, na direcçaõ
da suaamura de bombordo, deixou cahir ao mar a machina
fatal, justamente quando a sentinella gritava alerta. Foi
com a maré, e teria produzido o seu effeito completamente,
se naõ fosse uma causa, que naÕ h e conveniente descubrir
íi<*-ora ; mas que se pôde facilmente acautellar nas experiên-
cias futuras : fez a sua explosão poucos segundos antes do
que devia ser. A scena foi terrível e sublime! Foi simi-
lhante á concussaÕ de um terremoto, acompanhado de um
som mais forte, e mais terrifico do que o mais pezado tro-
vão. Levantou ao ar uma pyramide de água de mais 50
pés de circumferencia; na altura de 30 a 40 pés; aapparencia
éra de um vermelho escuro, tincto de purpura pelas bordas.
Miscellanea. 397

Havendo subido á sua maior altura arrebentou no cimo com


uma explosão temenda ; e cahio em torrentes na cuberta
do navio, q u e rolou para a cavidade que ficou na água, e
quasi se virou com a quilha para cima. Reynou logo d e -
pois uma perfeita escuridão. A luz que a explosão occa-
sionou a i n d a q u e transitória, servio a M r . Mix, e a seus com-
panheiros para descubrir, que as obras de proa do navio
ficaram destruídas ; e um bo'tc, que estava ao lado, com
vários homens d e n t r o , foi levado aos ares pela terrível con-
vulsão das águas. Terrível na verdade deve ter sido o ter-
ror pânico da equipagem do navio, pela bulha, e confusão,
que os nossos aventureiros lhe pareceo que observaram a
bordo ; e estaõ certos que quasi toda e equipagem se met-
teo nos botes.
Ainda que se naõ alcançou nesta occasiaõ o destruir ura
dos navios do inimigo, M r . Mix ficou iwais animado do que
desacoroçoado. Elle reselveo fazer outra tentativa, logo
q u e o t e m p o , e circumstancias lhe permittirem : e parece
confiado na experiência que a practica lhe tem dado, que
poderá fazer experiência para o futuro com certeza de bom
successo.
Depois da explosão do T o r p e d o , sabbado á noite, o
Plantagnet tem sido guardado por um navio de 74, e por
duas fragatas ; e com dous ou tres pataxos compreheiidem
todos os navios em Lynnhaven.

FKANÇA.
Paris, 1 de Septembro.
Os acontecimentos militares succedem uns aos outros
taõ rapidamente, que naõ permittem que se faça uma rela-
ção circumstanciada, mas, em quanto se espera, estamos
authorizados a publicar a seguinte carta, dirigida por S.
E x . o D u q u e de Bassano, Ministro dos negócios Estrangei-
ros, a S. A. Sereníssima o Principe Archi-Chanceller do
Império:—
398 Miscellanea.
MONSEIGNEUR!—Tive a honra de escrever a V Ex
hontem, 26, e de annunciar a V A. Sereníssima, que os
exércitos Russianos, Prussianos, e Austriacos marcharam
para atacar Dresden, debaixo da inspecçaõ de seus Sobe-
ranos, e que tinham sido repulsados cm todos os pontos.
Vós comprehendereis facilmente que o Imperador está
por tal maneira oecupado, que lhe he impossível, a este
momento, dar uma relação circumstanciada de todos os
acontecimentos que tem suecedido.
As hostilidades começaram aos 17. S. M. entrou em
Bohemia aos 19, oecupando o principal desembocadouro
em Ramburg e Gabei, tendo marchado as suas tropas até
duas léguas de Praga. Aos 21 estava na Silczia, derro-
tando os exércitos Russianos e Prussianos doi Generaes
Sachen, Langeron, York, e Blucher, e forçando as bellas
posiçoens do Bober.
Em quanto o inimigo suppunha que S. M. estava ainda
na Silezia, elle deixou ali um poderoso exercito, debaixo
das ordens do Duque de Tarentum, fez marchar as suas
guardas dez léguas por dia, e chegou a Dresden, que tinha
estado por alguns dias ameaçada de um iminente ataque.
S. M. entrou na cidade pelas 9 horas da manhaã, e im-
mediatamente fez as suas disposiçoens. Pelas 3 horas da
tarde, o exercito Russiano, Prussiano, e Austriaco, com-
mandado pelos Generaes Wittgenstein, e Kleist, e
Schwarlzenberg, desdobrou 150.000 homens, marchando
para a cidade. Todos os ataques fôram repulsados so-
mente pelas guardas antigas e novas, que se cubriram de
gloria.
O inimigo deixou 4.000 mortos ao pé de nossos reduc-
tos. Nós tomamos 2.000 homens, uma bandeira, c \árias
peças d'artilheria.
Esta manhaã, ás 4 horas, o Imperador foi ao campo ; a
chuva cahia em torrentes; os marechaes o Duque de
R-gusa, e o Duque de Belluno passaram a ponte com os
Miscellanea. 399
seus corpos. A's 8 horas começou o ataque de nossa parte
com uma viva canhonada. A extremidade da esquerda
do inimigo era comandada pelos Generaes Austríacos Ig-
nace, Giulay, e Klenau, e estava separada do resto do ex-
ercito pelo vale de Plauen. O Imperador ordenou que
fosse atacada pelo Marechal o Duque do Belluno, e pela
cavallaria do General Latour Maubourg, debaixo das or-
dens d'El Rey de Napoies. Nós contamos entre os nossos
tropheos de hoje 1 5.000 homens, entre os quaes ha o T e -
nente Field-marechal Metzko, dous generaes de brigada,
muitos ofticies superiores, 20 peças d'artilheria, e 10
bandeiras.
Durante este tempo o General Vandamme, que tinna
desembocado por Koenigsbruck, se apossou das alturas de
Pirna, marchou par ambos os lados da estrada de Peters-
walde, e se asenhorcoU das desembocaduras de Bohemia,
derrotando 15.000 homens, que se apresentaram diante
delle; e fazendo grande numero de prisioneiros.
A este momento todas as estradas de Peterswalde, e de
Freyberg foram intersectadas; os Russianos e Prussianos
vieram pela estrada de Peterswalde, e os Austríacos pela
de Freyberg.
Se o exercito do inimigo, que he numeroso ; porque he
composto de corpos Russianos e Prussianos, e de todo o
exercito Austriaco, se determinar a retirar-se, necessaria-
mente soffrerá perdas consideráveis; se se deixar ficar,
teremos amanhaã acontecimentos mui destruetores.
Desde a acçaõ de Ulm, nunca o exercito Francez esteve
exposto a peior tempo, nem a mais abundante chuva. O
Imperador esteve exposto â chuva todo o dia. A este
momento se vem lecolhendo. As numorosas columnas de
prisioneiros, peças d'artilheria, e bandeiras, que se toma-
ram vem atravessando a cidade. Os habitantes mostram a
mais viva alegria á vista destes tropheos. O Duque do
Reggio devia estar em Berlin aos 23 ou 24. O Duque de
400 Miscellanea.
Tarento expulsou os restes do inimigo de Silesia para
Breslau.
Naõ he um bulletim que estou dirigindo a V A. S. e
porém julguei que éra do meu dever dar-vos esta impor-
tante noticia ; naõ tendo S. M. tempo para escrever ; elle
goza mui boa saúde.
Uma circumstancia excitará a indignação universal; e
he que o General Moreau se acha no exercito do inimigo ;
no séquito do Imperador de Russia, como seu conselheiro
Privado. Elle tem tirado a mascara, que ha alguns annos
o naõ encubria das pessoas intelligentes. Eu naÕ posso
ainda, Monseigneur, mandar a V. A. Sereníssima os docu-
mentos relativos á declaração de guerra de Áustria. No
meio destes acontecimentos, que se succedem uns aos ou-
tros, naÕ tenho achado um momento de os por na presença
do Imperador. Sou com todo o respeito, Monseigneur,
Vosso humilde criado, &c.
O Duque de BASSANO.
Dresden, 27 d' Agosto, 6 horas da tarde.
As nossas perdas fôram mui inconsideraveis; as acçoens
d'hontem naõ nos custaram psssoa alguma da graduação.

19 de Agosto.
Hontem sahio de seus acontonamentos o Marechal Prín-
cipe de Eckmubl. O inimigo foi repulsado em todos os
pontos, depois de ter soffrido uma perna considerável; to-
máram-Be-lhe alguns prisioneiros. Os Dinamarqaezes se
comportaram muito bem. A noite passada mandou o
Principe atacar os tres entrincheiramentos que cobrem
Lauenburg. O 3°. batalhão do reg. 30 de linha, os forçou
á bayoneta calada; e o inimigo se retirou em grande
confusão, cruzando o Stecknitz, deixando a9 trincheiras
cheias de seus mortos e feridos. A perca, que elle soffreo
Besta occasiaõ deve ser considerável.
Miscellanea. 401
Lauenburg, 19 de Agosto.
S. A. Sereníssima, o Marechal Principe de Eckmuhl,
mandou hontem reconhecer a posição do inimigo, em frente
de Lauenburg, achou-se que consistia em 1.300 infantes, e
alguma cavallaria. Os entrincheiramentos, e a artilheria
faziam esta posição mui forte. S. A. Sereníssima mandou
a noite passada que se tomasse pelo 3 o . batalhão do reg.
30, com a bayoneta, sem se fazer fogo. O inimigo, de-
pois de deixar a cidade se retirou na maior confusão, cru-
zando o Stecknitz. Tomamos alguns prisioneiros, entre os
quaes ha vários officiaes Prussianos. A nossa perca, aos
18, consistio em 100 homens, a maior parte delles levemente
feridos; a perca do inimigo he muito mais considerável.

Syck, 19 de Agosto.
O quartel-general de S. A. Sereníssima o Principe de
Hesse, ainda aqui se acha, mas tudo indica, que se mudará
hoje. Mollu foi tomado; e hoje chegou noticia de que
também se tinha tomado Lauenburg que os Russianos
tinham fortificado. As nossas tropas se portaram valoro-
samente.
Paris, 3 de Septembro.
Recebemos esta manhaã a seguinte carta de Dresden:-—
" NaÕ posso dar vos as particularidades ; porém admi-
ramnos a nos mesmos os nossos bons suecessos. Quasi
sem perda alguma, temos destruído de todo, ou quasi, o
formidável exercito Austriaco. C reio que temos ja tra-
zido para Dresden de 30 a 40 mil prisioneiros Austríacos.
Estamos perseguindo os vencidos , e espero que se naõ
deixarão escapar assim."
Segundo as cartas particulares de Dresden, datadas de
29 pela tarde, o resultado das acçoens que suecederam
depois de 25 d'Agosto, he 50.000 homens mortos ou apri-
sionados, e alem disto tomamos grande numero de peças
dartilheria e bandeiras.
VOL. X I . No. 64. 3 F
4 Oi Miscellanea.
Fal Ia-se de um trem de 300 carretas d'artilhe ri a, que
nós tomamos na estrada de Freyberg.
Dizem que as duas estradas porque o inimigo se aproxi-
mou a Dresden, a de Freyberg, e a de Peterswalde fôram
cortadas pelas bellas manobras que ordenou a providencia
e o gênio de S. M. O inimigo agora, em ordem a retirar-
se para Rohemia, tem somente estradas mui difficultosas,
aonde deve soffrer perdas de toda a sorte. A retirada do
inimigo parece uma fugida.
Cartas de Hamburgo, que acabam de chegar, annun-
ciam algumas novas vantagens, que tem ganhado o Prin-
cipe de Eckmuhl, da parte de Rostock.

5 de Septembro.
S. M. a Imperatriz Raynha e Regente, tendo voltado
hoje de sua jornada a Cherbourg, se apeou no Palácio de
S. Cloud, pela uma hora da madrugada; ao meio dia a
artilheria annunciou a sua chegada á capital.

S. M. a Imperatriz Raynha e Regente recebeo a se-


guinte noticia do exercito, datada de 20 de Agosto :—
Os inimigos denunciaram o armistício aos 11, pelo
meio dia; e disseram que as hostilidades começariam aos
17 pela meia noite. Ao mesmo tempo uma nota, que o
Conde de Metternich, Ministro d'Austria nos Negócios
Estrangeiros, dirigio ao Conde de Narbonne lhe deo a
entender, que a Áustria tinha declarado guerra a França.
Aos 17 as disposiçoens dos dous exércitos eram as se-
guintes :—
O 4°., 12'., e T. corpo, debaixo das ordens do Duque
de Regio, estavam em Dahme.
O Principe de Eckmuhl, com o seu corpo, a que se
ajunctáram os Dinainarquezes, se acampou em frente de
Hamburgo, tendo o seu quartel-general em Bergedorff.
Miscellanea. 403
O 3 o . corpo estava em Liegnitz, debaixo das ordens do
Principe de Moskwa.
O 5 o . corpo estava em Goldberg debaixo das ordens do
General Lauriston.
O I I o . corpo estava em Lowenberg, sob o Duque de
Tarentum.
O 6 o . corpo, commandado pelo Duque de Ragusa, estava
em Buntzlau.
O 8 o . corpo, sob o Principe Poniatowski, estava em
Zittau.
O Marechal S. Cyr, estava com o 14°. corpo tendo a
ala esquerda sobre o Elbe, para o campo de Koenigstein,
de ambos os lados da estrada grande de Praga a Dresden,
e puchando o seu corpo de observação para as desemboca-
duras de Marienberg.
O 1*. corpo tinha chegado a Dresden, e aos 2 a
Zittau.
Dresden, Torgau, Wittenberg, Magdeburg, e Ham-
burg, tinha cada uma a sua guarniçaõ, e estavam armadas,
e providas de mantimentos.
O exercito do inimigo estava, em tudo quanto se pôde
averiguar, na seguinte posição;
S.000 Russianos e Prussianos tinham entrado na Bo-
hemia, na manhaã de 10, e deviam chegar ao Elbe aos
21. O exercito éra commandado pelo Imperador Ale-
xandre eRey de Prússia pelos Generaes Russianos Barclay
de Tolly, Wittgenstein e Milloradowitsch, e pelo General
Kleist. As guardas Russianas, e Prussianas formavam
parte deste exercito, o qual, juncto ao exercito do Prin-
cipe Schartzenberg formava um grande exercito, cuja
força éra de 200.000 homens. Este exercito devia obrar
na margem esquerda do Elbe, passando aquelle rio na
Bohemia.
O exercito de Silezia, commandado pelos Generaes
Prussianos Blucher e d'York, e pelos Generaes Russianos
3 r 2
404 Miscellanea.

Sachen e Langeron, p a r e c e que se ajunctava para


Breslau ; era da força d e 100.000 homens.
Vários corpos Prussianos e Suecos, e corpos da insur-
reicçaõ, cubriram Berlin, e se oppozéram a H a m b u r g o , e
ao D u q u e de R e g g i o . A força do exercito que cubria
Berlin se avaluava a 110.000 homens.
T o d a s as operaçoens do inimigo fôram feitas na suppo-
siçaõ d e q u e o Imperador passaria p a r a a margem esquerda
d o Elbe.
A guarda Imperial sahio de Dresden, e marchou para
Bautzen aos 15, e a 18 para G o e r l i t z .
Aos 19, o Imperador foi para Zittau, e ordenou instan»
taneamente ao corpo do Principe Poniatowski, que mar-
chasse, forçasse os desfiladciros de Boliemia, passasse a
g r a n d e cadeia de montanhas que separam a Bohemia da
Lusacia, e entrasse, em Gabei, em quanto o General L e -
fevre Desnouettes, com uma divisão d e infanteria e ca-
vallaria das guardas obteve posse de R u m b u r g , limpou de
inimigos a garganta das montanhas em Georgenthal, e o
General Polaco llcminski tomou Fiiedland, e Reichenberg.
Esta operação éra destinada a incommodar o inimigo em
P r a g a , e adquirir informaçoens certas relativamente a
seus desígnios. Soubemos ali o que os nossos espias j a
nos tinham communicado, que a melhor parte do exercito
Russiano e Prussiano estavam atravessando a Bohemia, e
e unindo-se na margem esquerda do Elbe, As nossas tro-
pas ligeiras pucháram a d i a n t e até a 16 léguas de Praga.
O Imperador estava em Zittau, tendo voltado de Bo-
h e m i a , aos 2 0 , pelas 10 horas da manhaã.
Elle deixou o D u q u e de Belluno com o 2a. corpo, em
Z i t t a u , para fortalecer o corpo do Principe Poniatowski.
Elle poz o General V a n d a m m e , com I o . corpo em Rum-
b u r g , para sustentai* o General Lefevre Desnouettes.
Estes dous generaes, oecupando a ponte com grande força,
m a n d a r a m construir redutos nas alturas que senhorêam a
Miscellanea. 405
ponte. O I m p e r a d o r tomou a estrada de Lobau na
Silezia, aonde chegou aos 20, antes das 7 horas da tarde.
O exercito inimigo da Silezia tinha violado a neutrali-
dade, e passou pelo território neutral depois de 12 do m e z .
Aos 15 insultou todos os nossos postos avançados, e apri-
si onou alaumas videttas.
Aos 16 um corpo Russiano se postou entre o Bober, e o
posto de Speller, occupado por 200 homens da divisão de
Charpentier. Estes valorosos homens, que descançavam
na fé dos tractados, correram ás armas, passaram pelo
centro do inimigo, e o dispersaram. Eram commandados
pelo Chefe de Divisão Guillermie.
Aos 18 o D u q u e de Tarentum deo ordem ao General
Rucchi, para tomar o pequeno lugar de Lahn, e marchou
para ali com uma brigada Italiana : elle executou valoro-
samente as suas ordens, e causou ao inimigo uma perda
de mais de 530 homens. As tropas Italianas atacaram as
Russianas, que eram superiores em numero, com a bayo-
neta calada.
Aos 19, o inimigo se acampou em Zobten. U m
corpo de 12.000 Russianos passou o Bober, e atacou o
posto de Liebenceken, que éra defendido por 3 compa-
nhias ligeiras. O General Lauristnn mandou pegar e.n
armas a uma parte de seu corpo, e sahio de Lowenberg,
marchou contra o inimigo, e o lançou ao Bober. A bri-
gada do General Lafitte, da divisão de Rochambeau, se
distinguio muito.
N o entanto o Imperador chegou a Lubau aos 20 ; e ao
romper do dia 21 estava em L o w e n b e r g , e mandou lançar
pontes a travez do Bober. O corpo do General Lauriston
cruzou o rio ao meio dia. O General Alaison, com seu
valor custumado, derrotou tudo que tentou fazer opposi-
çaõ á sua passagem, tomou todas as posiçoens, e repellio
o inimigo pelejando até j u n c t o de Colberg ; foi sustentado
pelo 5°. e 11°. corpo. N a sua esquerda, o Principe de
406 Miscellanea.
Moskwa mandou atacar o General Sachen com o 3*-- corpo
em frente de Buntzlau, derrotou-o, polo em fugida, c
tomou alguns prisioneiros.
O inimigo começou a retirada. Houve uma acçaõ em
•frente de Goldberg, aos 23 d'Agosto. O General Lau-
riston estava á frente do 5 \ e 11". corpo. Tinha diante
de si os Russianos, que cubríam a posição de Flensberg,
e os Prussianos que se extendiam para a direita, na estrada
de Liegnitz. Ao momento em que o General Girard des-
embocava para a esquerda, sobre Niederon, uma columna
de 25.000 Prussianos apparecêo neste ponto. Elle a man-
dou atacar no meio do abarracamento do campo antigo,
qoe foi forçado em todos os pontos: os Prussianos tentá-
Tam fazer vários ataques de cavallaria, que fôram repul-
sados < m toda a parte ; elles fôram expulsados de suas po-
siçoens, e deixaram cousa de 5.000 mortos no campo de
batalha, alem de prisioneiros, &c
Na direita, Flensburg foi tomada e retomada varias
vezes. Por fim o regimento 135 se lançou sobre o ini-
migo, e o derrotou Inteiramente. O inimigo perdeo
neste ponto 1000 mortos, e 4000 feridos. O exercito
Alliado se retirou em desordem, ecom grande pressa, para
Jauer.
Sendo assim derrotado o inimigo na Silezia, o Impera-
dor levou com sigo o Principe de Moskwa, deixou o com-
mando do exercito de Silezia ao Duque de Tarentum, e
chegou a Stolpcn aos 26. As guardas antigas, e novas,
infanteria, cavallaria, e artilheria marcharam 40 léguas em
4 dias.

S. M. a Imperatriz Raynha e Regente recebeo esta


manhaã a seguinte noticia do exercito, datada de 28
d\\ gosto:—
Aos 26 ás 3 horas da manhaã o Imperador entrou em
Dresden. O grande exercito Russiano, Prussiano, e Au*-
Miscellanea. t 407 ] 470
triaco, commando pelos Soberanos, estava em frente da
cidade ; e coroava todos os outeiros que cercam Dresden,
na distancia de uma pequena légua na margem direita. O
Marechal St. Cyr, com o 14°. corpo, e a guarniçaõ de
Dresden, occupava o campo entrincheirado, e alinhou
com os atiradores as fortificaçoens que cercam os subúr-
bios. Ao meio dia tudo estava tranquillo; porém aos
olhos escrutinizadores esta calma éra precussora de uma
tormenta : pareceo iniminente um ataque.
As 4 horas da tarde, ao signal de 3 peças d'artilheria,
se formaram seis columnas do inimigo, cada urna prece-
dida de 50 peças d'artílheria ; e em poucos momentos,
depois de descerem para a planicie, marcharam para os
redutos. Em menos de um quarto d'hora o fogo éra ter-
rível : tendo-se feito calar o fogo de um reducto, os ini-
migos o flanqueáram, e fizeram esforços ao pé das fortifi-
caçoens dos subúrbios, aonde grande numero foi morto.
Eram quasi 5 horas; combatia uma parte da reserva do
14°. corpo ; algumas bombas calaram na cidade ; este mo-
mento éra de aperto: o Imperador ordenou a El Rey de
Napoies, que marchasse com a cavallaria do General Latour
Maubourg para o flanco direito do inimigo ; e o Duque de
Treviso, que marchasse para o flanco esquerdo. As 4
divisoens das guardas novas, commandadas pelos Gene-
raes Dumoutier, Barrois, Deconz, e Rouguet, desembo-
caram entaõ, duas pela porta de Pirna, e duas pela porta
de Plauen. O Principe de Moskwa desembocou a frente
da divisão de Barris. Estas divisoens dorrotárarn tudo
quando se lhes apresentou adiante; o fogo immediata-
mente passou a uma distancia, do centro para a circum-
ferencia, e logo foi repulsado paia os outeiros o inimigo.
O campo de batalha ficou cuberto de mortos, artilheria, e
fragmentos. O General Dumoutier está ferido, asssim
como os Generaes Boyeldieu, Tyndal, e Combelles. O
official d'artilheria, Baranguer, está ferido mortalmente ;
408 Miscellanea.
éra um moço de grandes esperanças. O General Gross das
guardas foi o primeiro que se lançou aos fossos do reduto,
aonde os çapadores do inimigo estavam ja trabalhando,
em cortar as estacadas; elle recebeo uma ferida de
bayoneta.
Escurecendo a noite, parou o fogo, e o inimigo, tendo
falhado no seu ataque, deixou mais de 2.000 prisioneiros
no campo de batalha, que estava cuberto de mortos e
feridos.
Aos 27 o tempo éra horroroso, e a chuva cabia em tor-
rentes: os soldados tinham passado a noite na lama, e
água. A's 9 horas da manhaã podemos perceber clara-
mente, que o inimigo alongava a sua ala esquerda, e cu-
bria as alturas, que estavam separadas do seu centro pelo
vale de Plauen.
El Rey de Napoies partio com o corpo do Duque de
Belluno, e a divisão de Couraceiros, e desembocou na
estrada de Freyberg com a sua ala esquerda. Elle exe-
cutou isto com mui bom successo. As 6 divisoens, que
compunham esta ala, foram rompidas, e dispersas. Ametade
dellas, com as suas bandeiras, e artilheria, ficou prisio-
neira, e neste numero ha vários generaes.
No centro, uma viva canhonada fixou a attençaõ do
inimigo, e algumas tropas se mostraram promptas a ata-
callo oa esquerda.
O Duque de Treviso, com o General Nansouty, mano-
brou na planicie, com a sua esquerda para o rio, e a sua
direita nas alturas. O Corpo do Marechal St. Cyr unia a
nossa esquerda com o centro, que éra formado do corpo
do Duque de Ragusa.
Cerca das duas horas da tarde se decidio o inimigo a
fazer a sua retirada; tinha perdido a sua grande commu-
nicaçaõ com a Bohemia, na ala esquerda e direita. O re-
sultado deste dia be; de25 a30 mil prisioneiros, 50 ban-
deiras, e 60 peças d'artilheria. Podemos contar com que
Miscellanea. 409
o inimigo perdeo 60.000 homens. A nossa perda em
mortos, feridos e prisioneiros chega a 4.000 homens.
A cavallaria cubrio-se de gloria. O estado maior da
cavallaria publicará as particularidades, e mencionará os
que se distinguiram. As guardas novas tem merecido os
louvores de todo o exercito. As guardas velhas tiveram na
acçaõ dous batalhoens ; os seus outros batalhoens fôram
conservados em reserva na aldea, para estarem á disposi-
ção. Os dous batalhoens que pelejaram levaram tudo
diante de si.
A cidade de Dresden correo grande perigo. O com*
portamento dos habitantes foi tal, qual se devia esperar
de um povo alliado. El Rey de Saxonia e sua familia
ficaram em Dresden, e tem dado o exemplo de confiança.

S. M. a Imperatriz Raynha e Regente recebeo a se-


guinte noticia do exercito, datada de 30 d'Agosto:—
Aos 28, 29, e 30 seguimos os nossos bons suecessos.
Os generaes Castex, Doumerete, D'Oudenarde, do corpo
do General Latour Maubourg tomaram 1.000 caixoens ou
carros de munição, e ajunetaram muitos prisioneiros. As
aldeas estaõ cheias dos feridos do inimigo. Nos contamos
10.000 delles. O inimigo, segundo o que dizem os pri-
sioneiros teve 8 generaes mortos ou feridos.
O Duque de Ragusa teve varias acçoens nos postos
avançados, que attestam a intrepidez de suas tropas.
O General Vandamme, commandante do 1°. corpo, aos
25, desembocou por Konigstein, e aos 26 tomou posse do
campo de Pirna, da cidade, e de Hokendorf. Elle inter-
ceptou a grande communicaçaõ de Praga para Dresden.
O Duque de Wurtemberg, com 15.000 Russianos, foi
encarregado de observar esta desembocadura. Aos 23 o
General Vandamme o atacou, e derrotou, tomou-lhe 2.000
prisioneiros, 6 peças d*artilheria, e o expulsou para a
V O L . X I . No. 64. 3 G
410 Miscellanea.
Bohemia. O Principe de Réus, General de brigada,
official de grande merecimento, foi morto.
Aos 29 o General Vandamme tomou uma posição sobre
os outeiros de Bohemia, e se estableceo ali. Elle mandou
correr o paiz por differentes partidas de tropas ligeiras
para obter informaçoens do inimigo, para o incommodar,
e para se apossar de seus armazéns.
O Principe de Eckmuhl estava aos 24 em Schwcrin.
Elle naõ teve nenhuma acçaõ de conseqüência.
Os Dinamarquezes se tem distinguidoem vários ataques
de pouca importância.
A abertura da campanha tem sido a mais bilhante, e nos
permitte formar grandes esperanças. A qualidade de
nossa infanteria be mui superior á do inimigo.

Paris, 7 de Septembro.
S. M. a Imperatriz e Raynha recebeo as seguintes noti-
cias do exercito, datadas do l" de Septembro:
Aos 28 de Agosto, El Rey de Napoies, e o Duque de
Bclluno pernoitaram em Freyberg, aos 29 em Lichtenberg,
e aos 30 em Zittau, aos 31 em Sayda.
O Duque de Raguza, com o 6 o . corpo, pernoitou aos
28 era Dippoldiswalda, aonde o inimigo abandonou 1.200
feridos ; aos 29 cm Falkenham, e aos 31 em Zenwalda.
O 14°. corpo, debaixo das ordens do Marechal S. Cyr,
estava aos 28 em Maxen, aos 29 em Reinhordt Grumna,
aos 30 em Dillersdorf, aos 31 em Lielman.
O I o . corpo, sob o General Vandamme estava aos 28 cm
Hollendorf, e aos 29 era Peterswalda, oceupando as mon-
tanhas.
O Duque de Treviso estava postado em Pirna, aos 28 e
29.
O General Pagai, commandante da cavallaria tomou
alguns prisioneiros.
Miscellanea. 411
O inimigo se retirou para a posição de Dippoldiswalda
e Altenberg, a sua esquerda seguio a estrada de Plauen, e
retrocedeo por Tharandt para Dippoldiswalda, naõ po-
dendo retirar-se pelo caminho de Freyberg.
A sua direita naõ se podia retirar pela calçada de Pirna
nem pela de Dolma, e portanto se retirou para Maxen; e
dali para Dippoldiswalda: Tudo quanto ali havia de
partidários, ou corpos destacados fôram cortados.
A bagagem Russiana, Prussiana, e Austríaca, se emba-
raçou na calçada de Freyberg; tomaram.se ali vários
milheiros de carruagens. Chegando a Altenburg, aonde
o caminho de Toplitz para Dippoldiswalda he impracti-
cavei, o inimigo tomou a resolução de abandonar mais de
1000 carros de munição e bagagem. Este grande exer-
cito tornou a entrar na Bohemia, depois de ter perdido
parte de sua artilheria e bagagem.
Aos 29 o General Vandamme passou, com 8 ou 10 ba-
talhoens, a garganta da grande cadêa, e marchou para
Kulm; ali encontrou -o inimigo, cora a força de S ou 10
mil homens; que lhe offereceo batalha; mas naõ se
achando sufficicntemente forte, mandou descer o seu
corpo d'exercito; e bem depressa teria derrotado o ini-
migo. Em vez de tornar a subir e postar-se nas alturas,
ficou ali e tomou uma posição em Kulm, sem guardar a
montanha; esta montanha dominava a única calçada; e
he alta. Sô aos 30, o Marechal St. Cyr, e o Duque de
Ragusa chegaram ao desembocadouro de Toeplitz. O
General Vandamme pensou somente em fechar o caminho
ao inimigo, e tomar tudo. A inimigo que foge, ou se
devem fazer pontes de ouro; ou se lhe devem oppor bar-
reiras de ferro. Elle naó se achava assaz forte, para op-
por esta barreira de ferro.
Com tudo, percebendo o inimigo, que este corpo de
exercito de 18.000 homens se achava solitário na Bohemia,
separado por altas montanhas ; e que todos os outros esta-
3G2
412 Miscellanea.
vam ao pé das montanhas, e da outra parte ; vio que elle
estava perdido, a menos que o naÕ derrotasse; e concebeo
a esperança de o atacar com bom successo ; sendo má a
sua posição.
As guardas Russianas estavam á frente do exercito, que
pelejava em retirada , a ellas se uniram de novo duas divi-
soens Austríacas, o resto do exercito inimigo se lhe unio
ao desembocar, seguindo-se o 2*., 6* , e 4o. corpo: estes
alcançaram o I o . corpo.
O General Vandamme mostrou boa face, repulsou todos
os ataques, peneirou tudo quanto se lhe apresentou, e
cubrio de mortos o campo de batalha. Crcsceo a desor-
dem no campo inimigo ; e com admiração se vio o que um
pequeno numero de gente pôde fazer contra uma multidão,
cujo moral está enfraquecido.
As duas horas da tarde, a columna Prussiana do Gene-
ral Kleist, cortada em sua retirada desembocou por Peters-
walda, para se esforçar em penetrar na Bohemia; naõ
encontrou inimigo, chegou ao cimo das montanhas, sem
achar resistência ; postou-se ali, e dali vio o que se estava
passando. O effeito desta columna na retaguarda do ini-
migo decidio o negocio.
O General Vandamme marchou immediatamenle contra
esta columna, que repulsou : elle foi obrigado a enfran-
quecer a sua linha, neste delicado momento. Voltou-se a
fortuna; e com tudo elle pôde obter o derrotar a columna
do General Kleist, que foi morto : os soldados Prussianos
atiraram fora com as armas, e se preciláram nos fossos e
matos. Nesta refrega desappareceo o General Vandamme.
Suppôem-se que foi morto.
Os Generaes Carboneau, Dumoncean, e Philippon, de-
terminaram aproveitar-se deste momento para se retira-
rem ; parte pela estrada grande, e parte pelos atalhos,
com as suas divisoens, abandonando todo o material, que
Miscellanea. 413
consistia em 30 peças d'artilheria, e 300 carros de varias
qualidades, trazendo com sigo os cavallos.
Na situação em que os negócios estavam, naõ podiam
elles obrar melhor. Os mortos, feridos, e prisioneiros,
nesta acçaõ poderão fazer subir a nossa perda a 6000 ho-
mens. Julga-se que a perda do inimigo, naõ podia ser
menos de 4 a 5.000 homens.
O primeiro corpo se concentrou a uma légua do campo
de batalha, sobre o 14°. corpo. Fez-se uma lista das per-
das nesta catastrophe, que he devida ao ardor guerreiro,
mal calculado. O General Vandamme merece ser lamen-
tado, possuía rara intrepidez. Morreo no campo de
batalha, envejado por todos os homens valorosos.

S. M. a Imperatriz Raynha e Regente, recebeo a se-


guinte noticia do exercito, em data de 2 de Septembro : —
Aos 21 de Agosto, o exercito Russiano, Prussiano, e
Austriaco, commandado pelo Imperador Alexandre c Rey
de Prússia, entrou na Saxonia, e aos 22 marchou contra
Dresden, com 180 a 200 mil homens, tendo um immenso
material, e cheio de esperanças, naÕ somente de nos expul-
sar para a margem direita do Elbe; mas também de mar-
char para o Rheno, e o Elbe. E m cinco dias vio con-
fundidas todas as suas esperanças; 30.000 prisioneiros,
10.000 feridos cahiram em nosso poder, o que faz um nu-
mero de 40.000 homens; 20.000 mortos ou feridos, e
outros tantos doentes, em conseqüência da fadiga, e falta
de mantimentos (estiveram 5 on 6 dias sem paõ) o enfran-
quecêram em mais de 80.000 homens.
Naõ chega agora a 100.000 homens em armas, perdeo
mais de 100 peças d'artilheria, parques inteiros, 1.500
carros de munição e artilheria fôram queimados ou caíram
em nassas maõs; mais de 3.000 carros de bagagem, que
foram queimados, ou tomados ; ha 40 bandeiras ou estan-
dartes : entre os prisioneiros ha 4.000 Russianos. O ardor
414 Miscellanea.
do exercito Francez, e a coragem da infanteria, fixa a at-
tençaõ de todos.
O primeiro tiro d'artilheria, que se atirou das baterias
das guardas Imperiaes, no dia 27, ferio mortalmente o
General Morcau, que tinha voltado da America paru entrar
no serviço Russiano.
13 de Septembro.
Uma carta de Dresden, datada de 7, contém as seguintes
particularidades:—
O Imperador, quando voltou, passou revista a quasi
todo o corpo de Vandamme, ajunetado debaixo das ordens
do Conde de Lubau. Estas tropas, que com tanto valor se
desembaraçaram da difficultosa e perigosa posição, em que
as tinha posto o imprudente valor de seu chefe, estaõ ani-
madas de novo ardor; e S. M. tem dado provas de sua
satisfacçaõ conccdendo-lhe promoçoens, c distribuindo
prêmios pelos differentes corpos que as compõem.
O exercito Austriaco está acampado no interior de Bo-
hemia, entre Kommotau e Lauen ; oecupa-sc com a sua
reorganização; havendo o seu material soffrido grandes
perdas; e estando o seu pessoal reduzido mais de um
terço.
Estavam occupados em manobrar os corpos Russianos c
Prussianos, que estavam postados em Toeplitz.
Os corpos do Duque de Reggio, General Bertrand, e
General Regnicr, ganharam decididas vantagens aos 5 do
inez.
14 de Septembro.
Recebeo se a seguinte noticia, em que se pôde plena-
mente descançar como authentica ; a data he de Dresden
9 do corrente : —
O Imperador deixou a Silesia, aos 22 d'Agosto, depois
de ter derrotado o inimigo aos 2 1 , em Loewenburg. De-
pois de sua partida o Conde Lauriston ganhou uma assig-
nalatla vantagem.
Miscellanea. 415
S. M. deixou o commando ao Duque de Tarentum, que
fez disposiçoens para se aproveitar da victoria. Elle per-
seguio o inimigo vivamente, e o atacou nas alturas de
Jauer. Havia toda a razaõ para suppôr que estas dispo-
çoens teriam sido coroadas com os mais brilhantes sue-
cessos ; porém aos 26, e 27 a chuva cahio em torrentes, o
Bober arrebatou as pontes, e as estradas ficaram cubertas
d'água, por mais de 3 pês de profundidade. As columnas,
surprendidas em sua marcha pela enchente, ficaram sepa-
radas umas das outras : o inimigo ja era retirada percebeo
isto; e desejou tirar partido; porém vio-se attacado e ex-
pulsado das alturas, que occupava. A noite continuou o
tempo horroso: o Duque de Tarentum ajunctou as suas
columnas, c tomou uma posição um Buntzlau.
Sendo isto participado a S. M. elle sahio de Dresden.
Na noite de 3 atacou o inimigo; pela tarde de 4 o repul-
sou, e obrigou e tornar a passar o Queiss. Elle pernoitou
em Bautzen: e aos 6 voltou para Dresden a fira de se
oppôr aos movimentos, que o inimigo pudesse fazer, em
ordem a chamallo para a margem esquerda do Elbe.—
(Moniteur.)
Dresden, 31 de Agosto.
Segundo a informação do seu Valet-de-Chambre, o
Geueral Moreau foi ferido por uma baila d'artilheria, junc-
to aos entrincheiramentos, que se estabeleceram era frente
de Dresden. Aos 27, pelas 4 horas da tarde, foi levado
para Noethlitz, aonde ambas as pernas fôram amputadas
abaixo dos joelhos. Depois da amputação, elle pedio al-
guma cousa para comer, e uma chicara de chá. Offere-
ceo-se-lhe chá e tres ovos, elle tomou somente o chá.
Perto das 7 horas foi mettido era uma liteira, e de tarde
conduzido a Passindorf pelos soldados Russianos. Elle
passou a noite na casa de campo de M. Tretscheir, Gram
Mestre dos bosques. Nesía casa tomou somente outra
chicara de c h á ; queixou se muito das dores que soffria.
416 Miscellanea.
Aos 28, ás 4 horas da manhaã foi levado pelos soldados
Russianos de Passindorf para Dippoldiswalde, aonde tomou
um pouco de paõ, e um copo de limonada, em casa do
padeiro Watz. Uma hora dedois foi levado para as
fronteiras de Bohemia. Os solados Russianos o levaram
na caixa de um coche.
5 de Septembro.
O General Moreau, ferido mortalmente pela primeira bala
d'iiriilhcria, que se atirou dos redutos de Dresden, e levado
pelos soldados Russianos por meio da derrota, de que elle
foi testemunha, somente obteve, com grandes dores e diffi-
culdade, que lhe faziam dar grandes gritos, chegar ás fron*
teiras de Bohemia ao 6o. dia depois da amputação: elle
morreo entre os inimigos de sua pátria, era horrorosa des-
esperaçaõ. O seu corpo, foi conduzido a Lauen, aonde
ficou exposto em estado, sem duvida para mostrar ao povo
a celeridade com que o castigo segue a traição.
No dia em que foi ferido se assentou á meza de um So-
berano. Entre outros traidores, os Saxonios Langenou e
Tliielinaii, e o Suisso Jomini, cercavam o Imperador Ale-
xandre. Os dous primeiros levados por uma mortal ambi-
ção, vieram dirigir o fogo e a espada contra a Augusta
abilaçaõ de seu Rey, e Capital de sua pátria. O terceiro,
uo momento de recomeçar as hostilidades desertou do ex-
ercito, que o tinha adoptado, e era que estava condecorado
com uma graduação superior. O Imperador «PAusina,
naõ permitte que estes tres homens se lhe aproximem.
Elle tem dicto, " Pode-se fazer uso de traidores, assim
como se faz de espias." Em uma palavra, se o deprezo
pela traição he o primeiro sentimento de toda a alma vir-
tuosa, deve sempre ser um acto de prudência da parte de
um Soberano. He a sua própria causa que defende;
elle naõ pode honrar traidores sem arriscar a sua mesma
segurança.
Miscellanea. 417
Paris, 19 de Septembro.
S. M. a Imperatriz Raynha, Regente, recebeo a se-
guinte noticia do exercito, de 11 Septembro i—
O grande exercito do inimigo, derrotado em Dresden,
refugiou-se em Bohemia. Informados de que o Impera-
dor tinha ido para Silesia, os Alliados ajunctáram um
corpo de 80.000 homens, composto de Russianos, Prus-
sianos, e Austríacos ; e aos 5 marcharam para Hotten-
dorff, aos 6 para Gieshubel, e aos 7 para Pirna.
Aos 8 pelo meio dia, o Imperador marchou para Doh-
na, e ordenou ao Marechal St. Cyr, que atacasse a van-
guarda do inimigo, que foi repulsada pelo General Bon-
net das alturas de Dohna. Durante a noite, estiveram os
Francezes no campo de Pirna.
Aos 9, o exercito Francez marchou para Borna, e Furs-
tenwalde, o Quartel-general do Imperador estava em
Liebstadt.
Aos 10, o Marchai St. Cyr marchou da aldea de
Furstenwalde para Geyersberg, que senhorea as planicies
de Bohemia. O General Bomiet com a divisão 43, desceo
para a planicie de Toplitz. Foi visto o exercito do
inimigo, que trabalhou por se tornar a formar, depois
de ter recebido todos os destacamentos de Saxonia. Se o
desemhocadouro de Geyersberg fosse practicavel para
a artilheria, teria aquelle exército sido atacado de flanco
durante a sua marcha; mas foram inúteis todos os es-
forços que se fizeram para puchar a artilheria pelas mon-
tanhas abaixo.
O General Ornani desembocou pelas alturas de Peters-
walde em quanto General Dumonceau chegou aqui
por Hollendorf. Tomamos alguns centos de prisioneiros,
vários dos quaes saõ officiaes. O inimigo evitou constan-
temente a batalha, e se retirou precipitadamente em todas
as direcçoens:—Aos 11 voltou o Imperador para
Dresden.

VOL. XI. No. 64. 3H


413 Miscellanea.
S. M. a Imperatriz Raynha e Regente recebeo as se-
guintes noticias do exercito em data de 7 de Septembro:
O Duque de Reggio, cora o 12\ 7*. e 4o., corpo, mar-
chou aos 23 de Agosto para Berlin. Elle ordenou que
a aldea de Trebbin, defendida pelo exercito do inimigo,
fosse atacada, e forçada ; e continuou o seu movimento.
Aos 24 de Agosto, o 7o. corpo, naõ tendo sido bem
succedido na batalha de Gros Beeren, o Duque ide Reg-
gio marchou para W íttenberg.
Aos 3 de Septembro o Principe de Moskwatomouo
commando do exercito, e marchou para Interburg. Aos
5 atacou e derrotou o General Tauentzien .* porém aos 6
foi atacado em sua marcha pelo General Bulow. Algu-
mas cargas de cavallaria na sua retaguarda puzéram em
desordem o seu parque. Foi elle obrigado a retirar-se
pnra Torgau. Perdeo 8.000 homens, feridos, mortos, e
prisioneiros, e 12 peças d'artillieria. A perda do inimigo
deve ter sido muito grande.

Participação do Príncipe de Moskwa.


SENHOR !—O 12*"°. corpo do exercito atacou o inimigo
aos 5, e o expulsou com grande vigor para alem de
Seyda : tomamos 3 bandeiras, varias peças d'ar(ilheria, e
algums centos de prisioneiros Russianos. O campo de
batalha ficou cuberto com os mortes do inimigo.
No dia seguinte, 6; desembocou o 4*. corpo ás 3
horas de manhaã porNeuendorf e Juterbock ; possuindo o
inimigo as alturas na retaguarda de Dennewitz. O 7*.
corpo marchou para Rocbateck e o 12°. para Ohna : as-
sim recusei lhe a minha esquerda, e me puz em situação
de poder sustentar o 4*. corpo, que em vez d'atacar,
devia fianquear Juterbock pela sua direita, mascarar o
movimento que eu queria fazer para Dahma, e a que me
tinha determinado pela certeza de que todo o exercito do
iniiüio-o estava desembocando com grande pressa contra
Miscellanea. 419
Dennewitz. A guarda avançada do inimigo foi derro-
tada pela divisão do General Morand, que executou pro-
dígios de valor. A divisão do General Lorge, de caval-
laria ligeira, combateo mal, e foi repulsada em desordem,
o que causou alguma confusão, quea boa face da infanteria
bem depressa remediou. Sendo o inimigo reforçado rapi-
damente, todo o 4 o . corpo se achou empenhado na acçaõ.
0.1°., que se esperava, chegou por fim : e eu ordenei ao
General Reignier, que carregasse vivamente a direita do
inimigo, em quanto o General Morand renovava os seus
ataques. Este ataque geral teve mui bom successo. A
divisão Daneite se comportou bem : 60 peças «PartiI heria
atiraram com metralha ás tropas do inimigo, que puzé-
ram em desordem no terreno baixo, entre Golsdorf e
Wilmesdorf; em breve, o 12mo. corpo, que entrou viva-
mente na acçaõ, repulsou a direita do inimigo contra o
centro, separado da esquerda pelo 4 o . corpo. A este
momento se ganhou a batalha ; porém falhou a 2 a . divi-
são do 7o. corpo, e o todo deste corpo repentinamente caio
para a retaguarda, levando parte do 12 com sigo, e mu-
dou todo o estado das cousas.
O inimigo obteve lançar as suas massas entre o 4 o , e 12°
corpo, que pelejou ainda com maior fúria. Eu trouxe
insensivelmente o 4 o . da direita do 12°. A artilheria da
posição das alturas, entre Ohna e Dennewitz, encheo o
intervallo; e eu entaõ ordenei uma retirada. O 4 o . corpo
a effectuou em boa ordem, para Dahma, e o 7o. e 12°.
marchou para Schweinitz.
Esta manhaã o inimigo em numero de 3 a 4.000 ho-
mens, cora artilheria, e 120 cavallos, vindos de Luckau
atacou vehemente mente Dahma. O regimento 23 de
linha marchou contra elle, e o forçou a retirar-se precipi-
tadamente. A ponte de Hertzberg no Elbe, foi queimada.
Temos conservado outras duas, uma acima, outra abaixo
daquella cidade. A manhaã o 4 o . corpo, com uma divi-
3 H 2
420 Miscellanea.
saõ de cavallaria ligeira marchará de Hertzberg para
Torgau. O 7o. e 12°. corpos e outras duas divisoens de
cavallaria, occuparaõ posiçoens em Torgau.
A perda que se soffreo hontem he de cerca de 8.000 ho-
mens, e 12 peças d'artilheria ; a do inimigo deve ter sido
considerável. A artilheria dos differentes corpos tem
consumido grande parte de suas muniçoeRS. Nos tinha-
mos grande numero de prisioneiros em nossas maõs, mas
elles desappareceram durante a marcha de noite.
Sou com o mais profundo respeito, Sire,
Vosso hu nu lide criado e fiel vassallo,
O Príncipe de MOSKWA.
Torgau, 7 de Septembro, 1813.

EXERCITO DA CATALUNHA.
Officio do General de Divisão Lamarque a S. Ex*. o General
em Chefe.
Como o recado, que V. Ex*. me mandou, para me infor-
mar de que tinheis abandonado o plano de penetrar até
Vich, naõ me chegou ; naõ pude regular o meu compor-
tamento se naõ pelas ordens, que se continham na vossa
carta de 3 do corrente, escripta em cypbra, que recebi na
tarde de 5.
Ajunctei por tanto de 1.500 a 1.600 homens, que se
muniram com 6 dias de mantimento; e aos 6, pelas 8 ho-
ras da noite, partimos atravessando as montanhas de Lora e
Anzias, para ir ter ao pé de La Salut, d'onde devia puchar
adiante até as alturas de Vicb. Para conseguir este fim,
tivemos de trepar quasi perpendicularmente por duas ho-
ras, até que chegamos a uma brecha des rochedos de dous
on tres péz de largo, que éra a única passagem practicavel
nesta direcçaõ. Poucos indivíduos resolutos poderiam ter
feito parar todo o exercito; mas o ataque dos Miqueletes,
que precedeo a minha columna, foi taõ inesperado e vigo-
OÍO, que os postos do inimigo apenas tiveram tempo dt
Miscellanea. 421
dar fogo a algumas espingardas, e salvar-se com a fugida.
Aos 7, pelas 6 horas da tarde, o meu destacamento, depois
de uma marcha de mais de 20 horas, se formou nas alturas
de La Salut, posição que tinha mandado reconhecer taõ
cuidadosamente, como se tivesse o presentimento de que
tinha de combater no dia seguinte com todo o exercito
Hespanhol.
A altura, que nos occupamos no dia 8, distava de Vich
somente duas léguas e um quarto, e viamos claramente a
cidade. Ao mesmo tempo vimos sobre as alturas entre
Roda e Maulon, uma massa de infanteria, que eu calculei
que era de 2 a 3 mil homens. NaÕ tinha duvida que isto
fosse parte do exercito inimigo, que fugia diante de nossa
columna. Eram 4 horas, e V . Ex». me tinha annunciado.
que, ao mais tardar, chegaria a Vich ao meio dia.
Conservou-se um fraco fogo de mosqueteria; até as seis
horas, quando o inimigo marchou contra a minha direita
com duas peças d'artilheria, e um obuz, e atacou uma al-
tura, que estava occupada por uma companhia de volti-
geurs do regimento 60. Eu fui ali ter.com 200 homens do
dicto regimento, e 3 companhias do reg. 20 de linha. O
fogo foi mui vigoroso. Repetiram-se os ataques até ás 9
da noite, mas nós naõ perdemos um palmo de terreno.
Eu obedeci ás vossas ordens, que eram perseguir o ini-
migo quando elle se retirasse; e eu concebi que no dia se-
guinte elle seria totalmente destruído. O que removeo
toda a possibilidade de duvida, foi a circumstancia de que
todos nós ouvimos um fogo d'artüheria, e vivas descargas
de mosqueteira da parte de Vich. Isto naõ se podia attri-
buir aoutras causas senaófôramdepoisexplicadaspelagazeta
deste lugar, aonde li, que tinha bavido um fogo d'alegria
em todos os nossos acantonamentos, no dia S, em conse-
qüência das noticias das victorias no Norte.
Estávamos assim situados, com as nossas sentinellas em
frente das do inimigo, quando aos 9, aos tres quartos depois
422 Miscellanea.
das duas horas da madrugada, o Capitão Travers me
trouxe novas ordens de retroceder para Gerona. Naõ
tinha um momento que perder; faltava um quatro d'hora
para amanhecer. Os nossos postos avançados se setiráram
em silencio. Passamos pela cidade cm boa ordem e o*
meus escaloens estavam formados da outra parte da ponte
quando o inimigo apparecêo com algumas frentes de co-
lumnas, e com 1.200 a 1.500 atiradores, que avançaram
para nos atacar. Eu poderia ter continuado o meu movi-
mento ; mas éra necessário reprimir o ardor do inimigo,
para podermos ao depois continuar a nossa retirada com
menos incommodo. Os dous batalhoens do reg. 60, por-
tanto, esperaram até que o inimigo chegou á distancia de
meio tiro de espingarda; e entaõ começaram, em duas di-
visoens, um fogo taõ bem dirigido, que todos os que se
tinham adiantado retrocederam para a aldea; c a ponte e
suas vizinhanças ficou cuberta de mortos e feridos.
Nós continuamos a nossa marcha, levando com nosco os
nossos feridos, e nossa bagagem, e também um comboy de
gado, que hia para Vich. Como viemos por um caminho,
donde se separa outra estrada para Gru, foi necessário ac-
celerar a minha marcha; porque o inimigo tinha meios de
marchar pelo meu danço direito, chegar a Salut, e cortar
inteiramente a minha retirada. Eu ordenei ao Ajudante-
commandante Monistrell, que occupas e todas as pequenas
alturas com partidas de infanteria ; e nos marchamos rapi-
damente pelo dcsfiladeiro, de duas léguas de extensão, que
nos separava de La Salut, tendo conservado o inimigo em
respeito a cada passada. Era impossível tentar o subir as
alturas; os pedaços de rochedo, somente, que se rolassem
sobre nós, nos teriam destruído.—(Continuar-se-ha.)
(N. B. Este imperfeito officio se acha desta mesma
forma nas noticias de Hamburgo de que o transcrevemos.)
Miscellanea. 423
DINAMARCA.
Copenhagen, — de Agosto.
Acaba de apparecer aqui um folheto, intitulado « No-
tas a um artigo do Moniteur de 21 de Junho, de J 8 I 3 , " e
publicado em Stralsund, em Julho, de 1813; ali se diz
na Nota 7-.
< He notório, que M. de Kaas fingio estar doente em
Altona, para poder esperar ali a resposta ás proposiçoens
quetiuha feito aos generaes alliados ; e que o mesmo pre-
texto o deteve em Hamburgo: porém tendo sabido o re-
sultado da batalha de Bautzen, esqueceo-se de que tinha
promettido esperar uma resposta, e partio para o Quartel-
general do Imperador Napoleaõ."
E na nota 1 2 : —
" Naõ se fez proposição alguma a Mr. de Kaas; nos o
repetimos, foi elle quem as fez aos generaes dos Alliados."
Porém qualquer que seja a notoriedade disso ; he no-
tório, e mais de 30 pessoas o podem attestar, que M. de
Kaas actualmente adoeceo em Altona, quando ali chegou, se
he que se pôde chamar doença uma pequena indisposição,
nascida da fadiga da jornada, e que o obrigou a estar de
cama, naõ mais de 5 ou 6 horas. Fingir uma moléstia
de 5 ou 6 horas com a intenção que se lhe imputa—^ podia
nisso haver nenhum fim racionavel ? He alem disso no-
tório, e sabido de vários officiaes civis e militares em
Altona; que alguns dos que se chamaram Plenipotencia-
rios no serviço dos Principes Alliados trabalharam quanto
foi possivel para fallar com M. de Kaas, com a intenção
de impedir, por de meio reiteradas proposiçoens, que lhe
fizeram, o continuar na viagem para o Quartel-general
Francez; e para o persuadir a que se deixasse de sua
jornada. Para isto fizeram uso de uma proclamaçaõ im-
pressa, publicada por um General Sueco Von Dobela,
datada de Mayo, de 1812, e de uma missaõ de que M.
de Siguel seria encarregado perante S. M. El Rey de Di-
424 Miscellanea.
namarca, da parte do Principe da Coroa de Suécia. A
partida de Mr. de Kaas para Hamburgo, immediatamente
depois da conversação, que teve com estes senhores, dá
authoridade á reposta, que elle deo, e que devia dar á
taes insinuaçoens. Finalmente he notório, que M. de
Kaas naõ foi encarregado por seu Soberano á receber
nem a fazer taes proposiçoens ou aberturas a pessoa al-
guma. E , u'uma palavra, se factos taõ geralmente
sabidos naõ bastassem para justificar a M. de Kaas da
accusaçaõ de duplicidade, que se lhe deseja imputar, a
fim de manchar a sua corte; he para desejar que alguém
nomeasse os generaes Alliados, a quem M. de Kaas
mandou fazer taes proposiçoens, o seu objecto, e os
nomes daquelles que nisso serviram de instrumento.
Todos estes testemunhos conduzem á conclusão de que,
as notas, acima citadas, naõ podem ser olhadas de outra
forma, se naõ como contos de divertimento, segundo o
dictado antigo " calumniare audacter semper aliquid
haeret." Sendo uma continuação do que se tem promul-
gado, relativamente á missaõ do Conte Bernstorff, a Lon-
dres, e que o Ministério Britannico naÕ escrupulizou
demaziado de usar como meio de sua defensa para si.
Digam antes, que saõ instigados pelo mesmo espirito de
ódio, que tem sempre, e em todos os gabinetes, aonde se
ouve a sua voz, excitado novos inimigos ao Governo Di-
namarquez ; que tem feito comque a Norwega e o Norte
da Alemanha seja inundado de folhetos, cheios de raiva
contra ella; cujo objecto he convencer os Suecos, mas
que será mui difficil fazer-Ihes crer, que foi El Rey de
Dinamarca que primeiro quebrantou o tractado de Jon-
koping. Porém os estados, que compõem a Dieta da
Suécia, saberão algum dia apreciar, e reduzir, ao seu
valor real, todos estes sophismas, que se usara meramente
para lhes fazer crer, que a guerra, em que se acham in-
volvidos, he justa e necessária. Elles saberão apreciar,
Miscellanea. 425
se um gozo feliz e pacifico, que lhes prometeo a ordenança
de 15 de Agosto, de 1812, pela qual se abriram os portos
de Suécia a todas naçoens commerciaes, naõ teria maior
valor do que este systema de conquista, que he somente
gerado na sede da gloria, e que leva com sigo as somcntes
de sua mesma destruição.

EXERCITO ALLIADO N A PENÍNSULA.


Londres, Downing-street, 14 de Septembro.
O Major Hare chegou a esta Secretaria com officios do
Field Marechal Marquez de Wellington, de que o se-
guinte saõ copias :—

Lezaca, 2 de Septembro, 1813.


M Y LORD !—Aos 26 d1Agosto se abrio o fogo contra o
forte de S. Sebastian, e se dirigio contra o semi-bastiaõ no
angulo de Sueste, e no fira da cortina da face do sul. O
Tenente-general Sir T . Graham tinha ordenado que se
formasse ura estabelecimento na ilha de S. Clara, que se
effectuou na noite de 26 ; e se tomou prisioneiro o desta-
camento do inimigo naquella ilha. O Capitão Cameron
do 9°. commandava o destacamento que effectuou esta
operação, e Sir Thomaz Graham louva particularmente o
seu comportamento, e o do Capitão Henderson, dos en-
genheiros Reaes.
O comportamento do Tenente o Honr. James Arbuth-
not do armada Real, foi altamente meritorio ; assim como
o do Tenente Bell dos soldados de marinha.
Tudo quanto se tinha julgado practicavel pôr em exe-
cução, a fim de facilitar os áproches ás brechas, que se
fizeram nas muralhas da cidade, tendo sido executado aos
30 de Agosto, e tendo-se feito outra brecha no fim da
cortina foi a praça assaltada ás 11 horas do dia 31 ; e to-
mada. A perda de nossa parte foi grande. O Tenente-
general Sir James Leitb, que tinha chegado ao exercito,
VOL. X I . N o . 64. 3 i
426 Miscellanea.
somente dous dias antes ; e os Major-generaes Oswald e
Robinson, fôram infelizmente feridas na brecha ; e o Co-
ronel Sir Richard Fletcher, dos Engenheiros Reaes, foi
morto por uma bala de espingarda na entradas das trin-
cheiras. Neste official, e no Tenente-Coronel Crawford,
do regimento 9 o . soffreo o serviço dcís. M. uma perda mui
séria.
Tenho a honra de incluir a participação, que fez desta
operação Sir Thomas Graham, na qual V S. observará
com prazer outro distiucto exemplo da galhardia e perse-
verança dos officiaes e tropas de S. M., nas mais aperta-
das e difficcis circumstancias.
Todas as participaçoens concorrem em louvar o com-
portamento de um destacamento da 10 m \ brigada Portu-
gueza sob o commando do Major Snodgrass, que cruzou o
rio Urumca, e assaltou a brecha na direita, debaixo de
todo o fogo que se podia dirigir contra cites do castello e
cidade.
A guarniçaõ se retirou para o castello, deixando em
nossas maõs cousa de 270 prisioneiros ; e eu espero que
cm breve tempo terei o prazer de informar a V. S. de
termos tomado posse daquelle posto.
Depois que se tornou a começar o fogo contra S. Sebas-
tian, o inimigo retirou a maior parte de sua força para
o campo de Urogne, e havia toda a razaõ de crer que
elle fazia uma tentativa para soecorrer a praça.
Tres divisoens do 4 o . exercito Hespanhol, commanda-
das pelo General D. Manuel Freyre, oecupáram as altu-
ras de S. Marcial, e a «idade de Irun, pelo que se cubrio
e protegeo o aproche a S. Sebastian, pela estrada real ;
e estes foram sustentados pela primeira divbaõ de infan-
teria Britannica, sob o Major-general Howard, e pela
brigada do Major-general Lord Aylmcr, na sua «squerda,
e na retaguarda de Irun; e pela divisão do General
Lon«a, acampada na serra de Aya, ua retaguarda da sua
Miscellanea. 421
direita. Em ordem a segurallos ainda mais, eu fiz mar-
char duas brigadas da 4 a . divisão, aos 3 0 ; para o con-
vento de San Antonio, uma das quaes (a do General
Ross) sob o Tenente-general o Hon. Sir Lowry Cole
marchou no mesmo dia para Serra de Aya, e a outra, na
mesma manhaã de 3 1 ; deixando a 9». brigada Portugueza
nas alturas entre o convento, Vera, e Lezaca.
A brigada do Major-general Inglis, da 7 \ divisão,
marchou aos 30 para a ponte de Lezaca ; e eu dei ordens
ás tropas nos puertos de Echalar, Zugaramundi, e Maya,
para que atacassem os postos enfraquecidos do inimigo,
em frente destas posiçoens.
O inimigo cruzou o Bidassoa pelos váos entre Andara,
e destruio a ponte na estrada real, antes de romper o dia
31, com mui grande força, com a qual também fizeram
um desperado ataque ao longo de toda a frente da posi-
ção das tropas Hespanholas nas alturas de Marcial. Elles
fôram repulsados, alguns delles cruzando a rio, da ma-
neira mais valorosa, pelas tropas Hespanholas, cujo com-
portamento foi igual ao de outras quaesquer tropas, que
eu tenha visto combater : e tendo o ataque sido freqüente-
mente repetido, foi o inimigo derrotado em todas as oc-
casioens com a mesma galhardia, e determinação. O curso
do rio segue immediatamente por baixo das alturas do
lado Francez ; o inimigo tinha ali posto uma considerá-
vel quantidade de artilheria, pelo que puderam lançar
uma ponte ao rio, cousa de tres quartos de milha acima
da estrada real, e por ella passou nessa tarde um corpo
considerável, que com os outros que tinham ja passado
nos váos, fizeram outro ataque desesperado couira as
posiçoens Hespanholas. Este foi igualmente repulsado ;
e por fim, achando que eram inúteis todos os seus ataques
daquella parte, o inimigo tirou partido da escuridão que
produzio uma violenta tempestade, para retirar as suas
tropas desta frente totalmente.
3i2
428 Miscellanea.
Naõ obstante que, como tenho informado a V. S., en
tinha uma divisão Britannica em cada flanco do 4°. ex-
ercito Hespanhol, julgo-me feliz em poder participar, qae
o comportamento deste foi taõ conspicuamente bom, e elles
eram taõ capazes de defender a sua posição sem outro
auxilio, naÕ obstante os desesperados esforços do inimigo
para a tomar, que achando que o terreno naÕ permittia
-fazer uso da 1 \ e 4>. divisoens, nos flancos do corpo do
inimigo que attacava, nenhuma dellas entrou no menor
combate durante a acçaõ.
Quasi ao mesmo tempo que o inimigo cruzou o Bidas-
soa, em frente das alturas de S. Marcial, cruzou também
aquelle rio com perto de tres divisoens de infanteria, era
duas columnas, pelos váos abaixo de Salin, em frente da
posição, que occupava a 9*. brigada Portugueza. Eu
ordenei no Major-general Inglis, que sustentasse esta
brigada com a 7*. divisão debaixo de seu commando : e
logo que fui informado de como ta o ataque do inimigoi
mandei pedir ao Tenente-general Conde Dalhousie, que
marchasse também para o BidasSoa, cora a 7a. divisão; e
á divisão ligeira, que sustentasse o Major-general Inglis
por todos os meios em seu poder. O Major-general Inglis
achou que éra impossível manter-se nas alturas entre Le-
zaca e o Bidassoa, e se retirou para as outras em frente do
convento de Santo Antonio, que manteve.
N o entanto o Major-general Kempt marchou oom uma
brigada da divisão ligeira para Lezaca, com o que con-
servou o inimigo em temor, e cubrio a marcha do Conde
Dalhousie até se unirão Major-general Inglis.
O inimigo, parem, tendo completamente falhado na
sua tentativa, contra a posição do exercito Hespanhol, nas
alturas du San Marcial; e achando que o Major-general
Inglis linha tomado uma posição d'onde o naõ podiam
expulsar, ao mesmo tempo que cubria, c protegia a di-
reita do exercito Hespanhol, e os aproches de San Sebas-
Miscellanea. 429
tian por Oarzum, e que a sua situação na esqerda do
Bidassoa, a cada momento se fazia mais critica, se retirou
durante o noite.
A chuva quecahio de tarde, e durante a noite, encheo
de tal modo o Bidassoa, que a retaguarda da sua columna
foi obrigada a cruzar a ponte de Vera. E m ordem a
obter este ponto, os inimigos atacaram os postos da bri-
gada do Major-general Skerret da divisão ligeira, cerca
das 3 horas, na esquerda do Bidassoa. Ainda que a natureza
do terreno fazia impossível impedir inteiramente a passa-
gem da ponte depois de ser dia claro, executou-se isto
debaixo do fogo de grande parte da brigada do Major-
general Skerret; e a perda do inimigo nesta operação
dever ter sido mui considerável. Em quanto isto se pas-
sava na esquerda de exercito, o Marechal de Campo D .
Pedro Giron atacou os postos do inimigo em frente do
passo de Echalar, aos 30, c 31. O Tenente-general
Conde Dalhousie ordenou ao General Le Cor que atacasse
os que ficavam em frente de Zagarramundi, com a 6*.
brigada Portugueza, aos 31 ; e o Honr. Major-general
Çolville ordenou ao Coronel Douglas, que atacasse os
postos do inimigo em frente do passo de Maya, no mes-
mo dia, com a 7*. brigada Portugueza. Todas estas
tropas se comportaram mui bem. O ataque feito pelo
Conde Dalhousie demorou a sua marcha até a tarde do
dia 31 ; porem quando anoiteceoachava-se em uma situa-
ção favorável a seus progressos: e na manhaã do I o . ;
estava no poeto que lhe tinha sido destinado.
Nestas operaçoens, em que se derrotou o inimigo, na
sua segunda tentativa, qne fez para impedir que os Al-
liados se naõ estabelecessem nas fronteiras; executando-
se isto com uma parte somente do exercito Alliado; ao
momento em que a cidade de San Sebastian foi tomada de
assalto ; tenho tido grande satisfacçaõ em observar o zelo
430 Miscellanea.
e abilidade dos officiaes, e a galhardia e disciplina dos
soldados.
As differentes participaçoens do Tenente-general Sir
Thomas Graham, que tenho remettido a V S. teraõ mos-
trado a habilidade e perseverança, com que elle tem con-
duzido a árdua empreza que foi confiada á süadirecçaõ, c o
zelo e os esforços de todos os officiaes empregados debaixo
de suas ordens.
E u convenho plenamente nr. participação do Tenente-
general pelo que respeita ao cordial auxilio que elle re-
cebeo do Capitão Sir George Collier, e dos officiaes, e
maruja, e soldados da marinha, debaixo de seu com-
mando : os quaes tem feito tudo quanto estava em seu
poder para facilitar, e assegurar o bom successo. Os
marinheiros com a artilheria que haõ servido nas bate-
rias, e em todas as oceasioens tem manifestado aquelle
espirito que characteriza a Esquadra Britannica.
Eu naõ posso applaudir assas, o comportamento do
Marchai de Campo I). Manuel Freyre, commandante cm
chefe do 4 o . exercito Hespanhol, o qual, em quanto or-
denava as disposiçoens necessárias para as tropas de seu
commando, lhe dava o exemplo de galhardia que sendo
seguido pelos officiaes-generaes, chefes, e outros officiaes
dos regimentos ; assegurou o bom successo do dia. Nesta
participação, com que convenho, o general expressa a
difficuldade que achou em escolher exemplos particulares
de valor, em um caso em que todos se conduziram taõ
bem : porém menciona particularmente o General Mendi-
zabal, que offereceo voluntariamente os seus serviços, e
commandou nas alturas de San Marcial: o Marechal de
Campo Losada,que commandou no centro, e ficou ferido:
o Marechal de Campo José Garcia de Paredes, official
commandante da artilheria : os brigadeiros D. Juan Diaz
Porlier, D. Jozé Maria Espoleta. D . Stanislas Sane lies
Miscellanea. 431
a
Salvador, o chefe do estado maior do 4 . exercito, e D»
Antônio Roselly ; e os Coronéis Fuentes Pita, o com-
mandante dos engenheiros D . Joan Loarts, do regimento
de Ia Constituicion, e D . Juan Uarte Mendia.
O Major-general Inglis, e os regimentos de sua brigada
da 7*. divisão, sob o Coronel Mitchel, e o 6°. sob o Te-
nente-coronel Hawkins, cubriram a mudança deposição das
tropas das alturas entre o Bidassoa e Lezaca para as de
San Antonio; e estes corpos foram distinctos.
Em todas estas operaçoens tenho recebido todo o adju-
torio do adjutante-general, o Major-general Pakenham,
do quartel-mestre-general, o Major-general Murray, e
todos os officiaes do estado major, e de minha familia.
Remetto este officio pelo Major Hare, assistente-aju-
dante-general em exercicio, neste exercito; aggregado ao
Tenente-general Sir Thomas Graham ; e peço licença para
o recommendar á protecçaõ de V- S.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) "WELLINGTON.
P. S. Incluo as listas dos mortos e feridos nas opera.
çoens de 31 do passado, e 1°, do corrente: e os mappas
das perdas ante San Sebastian desde 28 de Julho até 31
d'Agosto.

Repartição da Guerra.
4 de Septembro, 1813.
Recebeo-se hoje um officio, na secretaria de Lord Ba-
thurst, dirigido a S. S. pelo Marechal de campo o Marquez
de Wellington, datado de Lezaca,25 d'Agosto; de que o
seguinte saõ extractos:—
Nem o inimigo nem os Aluados tem feito movimento
algum de importância, depois que transmitti a minha ul-
tima participação.
Tenho recebido participaçoens do Tenente-general
Lord W.Bentinck ate 19 do corrente, e dellas tenho a honra
4 32 Miscellanea.
de incluir copias, e extractos, dos quaes se vê que o Ma-
rechal Suchet ajunctou as tropas de seu commando em Villa
França, aos 10; consistindo de 25 a 30 mil homens, e
Lord W Bentinck as que tinha dentro do seu alcance em
uma posição sobre o rio Gaya, tendo suspendido todas as
operaçoens do cerco de Tarragona. S. S. porém naõ
ficou satisfeito com a sua posição, que naõ podia occupar
com força sufficiente; porque se lhe naõ tinham unido to-
das as tropas que esperava ; e era sugeita a ser flanqueada
em ambos os fiancos. Elle por tanto se retirou para Cam-
brils sem perca, á proporção que o Marechal Suchet avan-
çou, deixando Tarragona aberta, lugar este que os Fran-
cezes fizeram voar e evacuaram; e o Marechal Suchet se
retirou outra vez para Barcelona.
Peço licença para chamar a attençaõ de V. S. peculiar-
mente para a participação inclusa do Coronel Lord Frede-
rico Bentinck pelo comportamento de um destacamento
dos Hussares de Brunswick, em uma acçaõ com o inimigo
aos 15.
Eu approvo inteiramente que o Tenente-general Lord
Guilherme Bentinck se retirasse, porque naõ tinha podido
ajunctar toda a sua força ; e naõ se considerava suficiente-
mente forte para dar uma batalha geral ao inimigo.

Extracto da participação de Lord Guilherme Bentinck ao


Marquez de Wellington, datada de Cambrills, 16 de
Agosto, 1813.
Aos 3 veio ter a Tarragona o corpo do Duque dei Par-
que ; bem assim como a divisão do General Sarsfield aos
11. O General Elio naÕ pôde dispensar os 3 regimentos
da divisão de Migares, que eu lhe tinha pedido que mc
mandasse.
Aos 10 ouvi que o Marechal Suchet tinha voltado para
Villa Franca de Barcelona, e tinha trazido com sigo cinco
mil homens. As participaçoens dos dias seguintes naõ
Miscellanea. 433
deixaram duvida de que era a sua intenção marchar adi-
ante ; e aos 14 soube do Baraõ de Eroles, e Coronel
Manso, que alem de ajunctar tudo quanto pode das guar-
niçoens, se lhe tinha unido Decaen com 6.000 homens.
Em conseqüência desta noticia, suspendi todas as ope-
raçoens para o cerco de Tarragona, excepto o fazer faxina,
e nem desembarquei artilheria, nem as muniçoens.
Naõ houve opposiçaõ no Gaya, como eu na minha carta
antecedente tinha supposto. Havia somente duas estradas
de carros, para o atravessar, porém estavam a 10 milhas
de distancia uma da outra. Naõ tendo o rio água e sendo
invadeavel unicamente por causa do Íngreme de suas ri-
banceiras vem a ser vadeavel para a infanteria em toda a
parte. Um corpo postado no centro naõ poderia chegar a
nenhum dos flancos a tempo para impedir a passagem do
inimigo. O General Whittingham, que eu tinha mandado
com o seu corpo para os Cols de San Christina, e Libra,
dêo parte de que naÕ eram defensáveis por taõ pequena
força como a que podíamos dispensar para este objecto.
Eu intentava marchar adiante para o Lobregat. O ex-
ercito de Suchet esteve algum tempo dividido entre Bar-
celona, e Villa Franca, e seus orredores. Um movimento
rápido poderia ter me posso em estado de cahir separada-
mente sobre os seus corpos avançados, e obter posse da cor-
dilheira de montanhas desta parte do Lobregat, antes que
elle tivesse tempo de trazer as suas tropas de Barcelona.
Eu naõ pude executar este movimento antes de que se me
unisse Sarsfield; e antes que Suchet concentrasse as suas
forças em Villa Franca e suas vizinhanças. Tinham-se r e -
oebido participaçoens diversas a respeito das forças de
Suchet, fazendo-as montar de 20 a 25 mil homens.
A immediata vizinhança de Tarragona offerecia em si
mesmo uma boa posição; mas podia ser completamente
flanqueada por um inimigo, que cruzando os Cols se
aproximasse de Tarragona por Valli e Réus.
VOL. XI. No. 64. 3K
434 Miscellanea.
Aos 14, Suchet moveo um grande corpo para Alta Fulli,
mas sendo a estrada contígua á praia, as barcas canhonei-
ras o impediram de passar, se tal era sua intenção.
Aos 15 elle repulsou os postos nos Cols de San Christina
e Llebra, e ao depois forçou a retirar-se o corpo em Bra-
fia, pelo qual aquelles eram sustentados. Todo o seu ex-
ercito marchou por esta estrada.
Continuando Suchet a avançar para Tarragona, eu re-
solvi retirar-me durante a noite, e o exercito chegou aqui
esta manhaã, sem que soffresse perca alguma, e sem rece-
ber do inimigo incommodo algum. Se houvesse alguma
probabilidade racionavel de bom successo, eu lhe teria
apresentado batalha.

Extracto de um Officio do Tenente-general Lord Guilherme


Bentinck, ao Marquez de Wellington, datado deHospitalet,
19 de Agosto, 1813.
Hospitalet, 19 de Agosto, 1813.
Mv LORD !—Tenho a honra de incluir a copia de uma
participação, que me fez Lord Frederico Bentinck,
relativa a uma acçaõ que teve lugar aos 15, quando o ini-
migo avançava para Tarragona, e que terminou de uma
maneira mui honrosa para os hussares de Brunswick; parte
de cujo regimento somente combateo com um numero da
cavallaria inimiga mui superior.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) GUILHERME BENTINCK, Ten. Gèn.
Ao Marechal de Campo Marquez de Wellington, &c. &c.

Campo, juncto a Cambrils, 16 d'Agosto.


M Y LORD !—Em obediência de vossas instrucçoens, mar-
chei hontem por Fulles a Villabella, e reconheci a colum-
na do inimigo, que hia avançando para Valls. Logo que
começamos a retirar-nos, o inimigo nos seguio com caval-
laria, e infantaria, e um esquadrão do 4 o . de hussares me
Miscellanea. 435
apertou mui de perto na retaguarda, formada pela com-
panhia do Capitão Wulffen dos hussares de Brunswick, e
tentou carregallos e derrotallos. O inimigo achou sempre
opposiçaõ feita com determinado espirito e resolução; e o
Capitão Ericheson,com a sua companhia, foi mandado em
auxilio do Capitão Wulffen : o inimigo foi repulsado com
perca de um official morto, outro official ferido, e entre 20
a 30 soldados ficaram no campo passados á espada. Ca-
híram em nosso poder 16 prisioneiros, e 11 cavallos. Tive
sincero prazer em observar o espirito que mostraram os
officiaes e soldados dos hussares de Brunswick.
O Tenente-coronel Schrader, em toda a occasiaõ zelo-
so ; nesta foi particularmente útil em reprimir a impetuosi-
dade da sua gente.
Nas circumstancias em que entaõ nos achávamos com
uma forte columna do inimigo mui avançada no nosso flanco
direito, e dous batalhoens de infanteria (segundo me in-
formaram os prisioneiros) na nossa esquerda e retaguarda,
e em um paiz encerrado, eu julguei prudente naõ prose-
guir a vantagem que tínhamos obtido.
Sinto dizer que o alferes Radant dos hussares de Bruns-
wick foi ferido e aprisionado, e ajuncto o mappa do resto
dos feridos e extraviados.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) FREDERICO B E N T I N C K , Coronel.
Feridos e Extraviados.
Reg. 20 de Dragoens Ligeiros, 2 soldados, 2 cavallos,
extraviados; Hussares de Brunswick, 6 soldados feridos,
6 dictos extraviados, 4 cavallos mortos, 2 cavallos feridos,
2 dictos extraviados.
Total.—1 official, 13 soldados, 16 cavallos.

Londres. Secretaria do Almirantado, 4 de Sept. 1813.


O Almirante Lord Keith transmittio a Mr. Croker offi-
cios do Capitão Sir George Colher, datados de Passages,
3K2
436 Miscellanea.
aos 27 e 28 do passado, annunciando um bem succedido
ataque que se fez á ilha de St*. Clara, na embocadura da
enseada de S. Sebastião, às tres horas da madrugada do
dia 27, pelos botes da esquadra, sob o commando do
Tenente o Honr. James Arbuthnot, do navio de S. M.
Surveillante.
Os botes fôram esquipados pelos marinheiros, e soldados
da marinha, e uma partida de soldados, commandadas pelo
Capitão Cameron, do regimento 9 o .
O único lugar do desembarque éra abaixo de um de-
grao, que ficava a descuberto de um pequeno entrinebeí-
ramento na ponta de Oeste; e completamente exposto ao
fogo de metralha, e a toda a linha de obras na parte ocei-
dcntal do rochedo, e muros de San Sebastian. Estas cir-
eu instâncias locaes habilitaram uma mui pequena guarni-
çaõ de um official e 24 soldados, a fazer uma séria resis-
tência, pela qual fôram mortos dous dos nossos soldados, e
vm official do exercito, e outro da tropa de marinha, e 15
marinheiros e officiaes de marinha fôram feridos.
O comportamento dos officiaes, e gente foi de grande
merecimento; cada qual se mostrava ancioso para ser o
mais dianteiro. O Tenente-Bell, da Real tropa de Ma-
rinha, teve a boa fortuna de ser o primeiro, que pôde de-
sembarcar na praia, e foi immediatamente seguido pelo
Capitão Cameron, do 9°. e pelo Capitão Henderson dos
engenheiros.
Sir George Colher diz mais, que as baterias contra San
Sebastian tinham aberto fogo outra vez na manhaã de 26,
e continuaram um terrível fogo contra a praça ao tempo
da data das ultimas communicaçoens de Sir George.
Tinha-se construído uma nova bateria de marinheiros na
ilha de St*. Clara, pela qual se enfiavam as obras da praça.
As perdas nas baterias de brecha eram poucas, e dos
marinheiros empregados nellas só um foi ferido.
Miscellanea. 437
Londres. Repartição da Guerra.
14 de Septembro, 1813.
Chegou a esta o Major Wyndham com um officio do
Feld Marechal o Marquez de Wellington, datado de Le-
zaca, aos 10 de Septembro, de que o seguinte he ex-
tracto :—
Construio-se uma bateria no hornaveque, com grande
difficuldade, contra as obras do Castello de S. Sebastian,
que abrio o fogo na manhaã de S do corrente, e tenho o
prazer de vós informar, que a guarniçaõ se rendeo antes
da noite, incluo a participação do Tenente-general Sir
Thomaz Graham, e os termos da capitulação concordada
com a guarniçaõ, e listas da artilheria, muniçoens, &c. da
praça. A perda da guarniçaõ, durante o assedio, se diz
que chegou a dous terços de seu numero ao principio.
Peço licença para chamar a attençaõ de V. S. ao com-
portamento do Tenente-general Sir Thomaz Graham, e
dos officiaes generaes e tropas debaixo de seu commando,
na árdua operação de que refiro agora o seu ultimo bom
successo. Pelas ordens novamente expedidas pelo Go-
verno Francez, cresceram muito as difficuldades nas ope-
raçoens do sitio, e continuação do tempo que se devia em-
pregar ; e somente se pôde trazer á conclusão assaltando a
brecha do corpo da praça. O merecimento desta vanta-
gem, portanto, augmenta proporcionalmente; e se achará,
que as operaçoens naõ se prolongaram mais do que usual-
mente se requer para uma praça que possuia tres linhas de
defensa, incluindo o convento de S. Bartholomeu.
Durante as operaçoens contra o castello, a esquadra
tomou a seu cargo o ataque da ilha de Sancta Clara, pela
qual foi o inimigo mui incommodado na sua posição do
castello. O Capitão Sir George Colher, os officiaes, ma-
rinheiros, e soldados da marinha, continuaram a prestar
todo o auxilio que estava em seu poder ; e o Tenente-ge-
neral Sir. Thomaz Graham menciona particularmente o
438 Miscellanea.
CapitaÕ Boyle, do Lyra, e CapiuÓ Smith; e o Tenente-
coronel Dickson, commandante da artilheria, participou as
obrigaçoens que devia ao Tenente 0'ReiIly, do navio do
S. M. Surveillante, que commandou os marinheiros em-
pregados nas baterias.
Depois que escrevi a minha ultima, o inimigo sjunctoa
todas as suas tropas para a sua esquerda; porém tornou
a tomar outra vez a sua posição antiga depois de queda de
S. Sebastian.
Por uma participação do Duque dei Parque parece, que
quando o terceiro exercito Hespanhol cruzou ultimamente
o Ebro, em Amposta, depois que os Alliados se retiraram
de ante Tarragona, o inimigo fee uma sortida de Tortosa,
aos 19 do passado, ao longo da margem do Ebro, com
perto de 4"000 homens, e atacou a 3*. divisão do exercito.
O Duque dei Parque destacou tropas da margem direita,
debaixo do commando de D. Francisco Ferray, chefe de
estado-maior do exercito, e foi o inimigo immediatamente
repulsado, com perda considerável. Parece que as tropas
se comportaram notavelmente bem nesta occasiaõ, e o
Duque dei Parque applaude altamente o comportamento
do chefe do estado-maior.

Extracto de uma Carta do Tenente-general Sir Thomaz


Graham ao Marques de Wellington, datada do Ernani,
Septembro 9,1S13.
Tenho a satisfacçaõ de participar a V. S., que o cas-
tello de S. Sebastian se rendeo: e tenho a honra de trans-
mittirá capitulação, que, considerando todas as circumstan-
cias do caso, espero que V. S. pensará que obrei bem,
em a conceder á guarniçaõ, que certamente fez uma ga-
barda defensa.
Desde que se deo o assalto aos 31 do passado, o fogo
vertical dos morteiros, &c. da direita do ataque, foi con-
servado contra o castello, occasionando uma grande perda
Miscellanea. 439
ao inimigo; e hontem pela manhaã, uma bateria de 17
peças de 24 no hornaveque, e outra de tres peças de 18,
mais para a esquerda, ficaram completas, pelos extraordi-
nários esforços dos officiaes da artilheria e engenheiros,
auxiliados pelo infatigavel zelo das tropas: toda a arti-
lheria, no computo de 54 peças, incluindo duas de calibre
24, e um obuz na ilha, abriram fogo contra o castello ás IO
horas da manhaã, e com tal effeito, que antes da uma hora
da tarde se içou uma bandeira de tregoa na bateria Mira-
dor do inimigo; e depois de alguma discussão, se concor-
dou nos termos do rendimento. Dando assim a V. S.
outro grande resultado da campanha, na acquisiçaõ que
fizeram os exércitos Alliados deste interessante ponto na
costa, e juncto ás fronteiras.
O Capitão Stewart, dos Royals, Ajudante de Campo do
Major-general Hay, que tanto se distinguio durante o
cerco, se acha infelizmente entre os mortos, depois das
ultimas listas.
Na minha ultima participação omitti mencionar as mi-
nhas obrigaçoens ao grande zelo do Capitão, da armada
Real, que emprehendeo e executou a dificultosa tarefa de
levar as peças pela elevação da ilha, a uma bateria que
estava guarnecida por marinheiros debaixo de seu com-
mando, e que servio muito. O Capitão Boyle, do Lyra,
desde o principio se empregou constantemente, e com toda
a actividade em terra, e sou mui obrigado a seus serviços.
Alem dos officiaes d,artiiheria previamente mencionados,
qne tem continuado a servir com distineçaõ, naõ devo omit-
tir os nomes dos capitaens Morrison, Power, e Parker, que
se oecupáram constantemente nas baterias de brecha, e no
commando das companhias. Peço licença para repetir a
minha recommendaçaÕ passada do Capitão Cameron, do
regimento 9 o . de infanteria, que se offereceo voluntário
para commandar o ataque da ilha, e que se comportou
440 Miscellanea.
mui habilmente nesta occasiaõ, e durante todo o tempo
que ali commandou.

Convenção proposta para a capitulação do forte de La


Motte de San Sebastian, pelo Ajudante Commandante
Chevalier de Songeon, chefe do estado-maior das tropas
postadas no forte; munido de plenos poderes pelo General
Rey, commandante das dietas tropas; de uma parte; e
pelo Coronel De Lancey, deputado-quartel-mestre-gene-
ral, Tenente-coronel Dickson, commandante da artilheria,
e Tenente-coronel Bouverie, munidos de plenos poderes,
pelo Tenente-general Sir Thomas Graham, de outra
parte.
Havendo os sobredictos trocado os seus plenos poderes,
concordaram no seguinte :—
A R T . I. As tropas Francezas, formando a guarniçaõ do
Forte La Motte seraõ prisioneiras de guerra das tropas de
S. M. e seus Alliados.—Resposta : Concordado.
2. SeraÕ embarcadas nes navios de S. M. Britannica, e
conduzidas directamente a Inglaterra, sem ser obrigadas a
marchar por terra mais longe do que até o porto de Pas-
sages. —Resposta: Concordado.
3. O General e outros officiaes superiores, e os officiaes
dos regimentos, e estado-maior, assim como os officiaes
médicos, conservarão as suas espadas, e a sua bagagem
particular, e os officiaes inferiores e soldados conservarão
as suasmuchilas.—Resposta: Concordado.
4. As mulheres, crianças, e velhos, naõ militares, seraõ
mandados para a França, assim como os outros naõ com-
batentes, conservando a sua bagagem particular—Res-
posta : Concedido para as mulheres e crianças. Os velhos
e naô combatentes seraõ examinados.
5. O commissario de guerra, Burbier de Guilly, tendo
com sigo sua mulher, e duas filhas de seu irmaõ, que mor-
Miscellanea. 441
reo em Pamplona, requer que Sir Thomas Graham o au-
thorize a voltar para a França com as tres senhoras acima
mencionadas, por ser elle o seu principal protector. Elle
naõ he militar.—Resposta: Sir Thomas Graham submet-
terá este artigo ao Marquez de Wellington.
6. Os doentes e feridos seraõ tractados segundo a sua
graduação, e se terá cuidado delles como dos officiaes e sol-
dados Inglezes.—Reposta: Corcordado.
7. As tropas Francezas desfilarão amanhaã pela manhaã
pela porta do Mirador, com todas as honras de guerra, cora
armas e bagagem, tambor batente para a parte de fôra,
aonde deporão as armas : os officiaes de todas as gradua-
çoens conservarão as suas espadas, seus criados, cavallos e
bagagem, e os soldados as suas mucbilas, como se menciona
no artigo 3o.—Resposta : Concordado.
8. Um destacamento do exercito Alliado, composto de
100 homens, occupará de noite a porta do Mirador um
destacamento similhante occupará a porta da bateria do
governador. Estas duas portas seraõ para este fira eva-
cuadas pelas tropas Francezas, logo que a presente capitu-
lação for aceita e ratificada pelos generaes commandantes.
—Resposta: Concordado.
9. Os planos e todos ós papeis, relativos á fortificaçao,
seraô entregues a um official Inglez, e se nomearão igual-
mente officiaes de ambas as partes, para regular tudo
quanto diz respeito á artilheria, engenharia, e commissa-
riato.—Reposta: Concordado.
10. O general commandante das tropas Francezas, será
authorizado a mandar a S. Ex 1 . o Marechal Soult, um
official do estado-maior, que assignará a sua palavra
d'honra, de ser trocado por um official Inglez de igual gra-
duação. Este official será o portador de uma copia da
presente capitulação.—Resposta. Submettida a decisaõ a
Lord Wellington. O official que há de ser mandado ao
Marechal Soult, será escolhido pelo official commandante
das tropas Francezas.
V O L . X I . No. 64. 3 r.
442 Miscellanea.

11. Se houverem algumas difficuldades ou mas inteli-


gências, na execução dos artigos desta capitulação, a de-
cisaõ será sempre a favor da guarniçaõ Franceza.-—Respos-
ta : Concordado.
Feita e concluída aos 8 de Septembro, de 1813.
(Assignados) O Aju. Com. Chevalier SONCEON.
W. DE LANCEY, Coronel.
A. DICKSON, Ten .-coronel.
H. BOÜVERIE, Ten.-coronel.
(Approvada) O General Governador REY.
THOMAS GRAHAM, Ten.-general.
(Approvada) pela parte da Esquadra.
GEO. COLLTER, Com. da Esquadra.

Mappa dos prisioneiros.


30 officiaes : 1756 officiaes inferiores e soldados.
N. B. 23 officiaes, e 512 soldados daquelle numero saõ
doentes e feridos nos hospitaes.

Mappa da artilheria e muniçoens.


Peças de ferro montadas:—s calibre 24, 1 calibre 16,
3 calibre 12, 7 calibre 8. Peças de ferro desmontadas: 3
calibre 24, 1 calibre 16, 2 calibre J2, 7calibre4, 4 calibre
3, 2 caronadas calibre 9. Peças de bronze montadas; 1
calibre 24, 6 calibre 16, 3 calibre 12, 5 calibre 8, 6 calibre
6, 9 calibre 4, 6 calibre 3, 6 morteiros de 13 polegadas, 1
obuz de 8 polegadas, 6 obuzes de 6 polegadas. Peças de
bronze desmontadas, 3 calibre 16, 2 calibre 12, 2 calibre
8, 1 calibre 4, 1 morteiro de 1 polegada. Total 93.
Muniçoens:—Bala, I8J6 de calibre24, 12. o 35 calibre
16, 1220 calibre 12, 2.766 calibre 8, 4.640 calibre 4,—
Metralha: 1.126 calibre 12, 200 calibre 4, 902 calibre
3, 384 bombas de 10 polegadas, 380 barris de pólvora, de
100 libras cada um, 1.103 espingardas com bayonetas,
185.000 cartuxos com bala, para espingarda.
Miscellanea. 443
Mappa dos mortos e feridos do exercito Alliado.
Total.— 1 capitão, 1 soldado mortos, l tenente, 8 sol-
dados feridos.

PORTUGAL.

Suartel-general de Irurita, 31 de Julho, 1812.


ORDEM DO D I A .
Declara-se a Promoção seguinte, por Portaria, datada de
10 do corrente, em conseqüência de Proposta de Sua Ex-
cellencia o Senhor Marechal Beresford, Marquez de
Campo Maior, contando todos os promovidos a antigüi-
dade dos Postos, a que sobem, desde o dia 4 de Junho
próximo passado .*—
Tenentes-generaes, os l\\mo%. e Ex"10'. Senhores Mare-
chaes-de-Campo, José Antonio da Rosa, Mathias José Dias
Azedo, Conde de Sam-Payo, e Antonio de Lemos Pereira
de Lacerda.
Tenente-general, ficando desligado do Governo da Praça
de Elvas, o l\\m. e Ex1"0. Senhor Marechal-de-Campo,
Antonio Marcelino da Victoria.
Marechaes-de-Campo, os Ulm<". Senhores Brigadeiros
Agostinho Luiz da Fonseca, Jorge Allen Madden, Vicente
Antonio de Oliveira, Guilherme Frederico Sprye, Filippe
de Sousa Canavarro, e Carlos Frederico Lecor.
Marechaes-de Campo, os Illmos. Senhores Brigadeiros
Manley Power, o Thomaz Bradford, os quaes saõ Majores-
generaes nos exércitos de Sua Magestade Britannica.
Brigadeiros, ficando desligados do commando dos re-
spectivos regimentos, os l\\mot. Senhores Coronéis, Carlos
Ashworth, Thomas Guilherme Stubbs, Manoel Pamplona
Carneiro Rangel, o Joaõ Buchan.
Brigadeiro, o Illmo. Senhor Coronel Marquez de Ternay.
Coronel com o exercicio, que actualmente tem, o Senhor
3 L 2
4 44 Miscellanea.
Tenente-coronel Henrique Hardinge, Deputado do Senhor
Quartel-mestre-general do exercito.
Coronel, ficando annexo, como era, ao Deposito Geral
de Recrutas de Mafra, o Senhor Tenente-coronel JoaÕ
Watting.
Coronéis do exercito, os Senhores Tenentes-coroneis do
exercito, Duarte José Fava, e Joaõ Grant.
Coronel do Regimento de Infanteria, N°. 3, o Senhor
Tenente-coronel do Batalhão de Caçadores, N \ 5,
M. Creagh.
Coronel do Regimento de Infantaria, N°. 6, o Senhor
Tenente-coronel do Batalhão de Caçadores, N". 3, Jorge
Elder.
Coronel do Regimento de Infanteria, N*. 9, o Senhor
Tenente-coronel do mesmo Regimento, Carlos Sutton.
Coronel do Regimento delnfantaria, N". 12; o Tenente-
coronel do mesmo Regimento, Hawilland de Mesurier.
Coronel do Regimento de Infanteria, N°. 18, o Senhor
Tenente-coronel do Batalhão de Caçadores, N°. 6, Sebas-
tião Pinto de Araújo Corrêa.
Coronel do Regimento de Infantaria, N*. 21, o Senhor
Tenente-coronel do Regimento de Infantaria, N°. 2, Joaõ
Telles de Menezes e Mello.
Coronel do Regimento de Infantaria, N*. 22, o Senhor
Coronel do Regimento de Infantaria, N*. 12, Antonio de
Lacerda Pinto da Silveira.
Coronel do Regimento de Infantaria, N°. 23, o Senhor
Coronel aggregado ao Regimento de Infantaria, Nô. 8, Jo»é
de Vasconcellos e Sá.
Coronel do Regimento de Cavallaria, N*. 5, o Senhor
Tenente-coronel do Regimento de Cavallaria, N*\ 11,
Domingos Bernardino.
Coronel do Regimento de Cavallaria, N*. 12, o Tenente-
coronel do mesmo Regimento, o III"". e E x - Senhor
Visconde de Barbacena.
Miscellanea. 445
Tenente-coronel do Regimento de Infanteria, N°. 2, o
Major graduado em Tenente-coronel do Regimento de
Infantaria, N°. 16, Joaõ Gomersal.
Tenente-coronel do Regimento de Infantaria, N°. 3, o
Major graduado em Tenente-coronel do Regimento de
Infantaria, N°. 2, Lourenço Martins Pegado.
Tenente-coronel do Regimento de Infantaria, N°. 8, o
Major graduado em Tenente-coronel do Regimento de
Infantaria, N°. 18, Raphael Ouseley.
Tenente-coronel do Regimento de Infantaria, N°. 9, o
Major do Regimento de Infantaria, N°. 5, Jacinto Vieira
do Couto Soares.
Tenente-coronel do Regimento de Infantaria, N°. 12, o
Tenente-coronel aggregado ao Batalhão de Caçadores, N°.
7, Joaó Paes de Sande e Castro.
M O Z I N H O , Adjudante-general.

EXERCITO A L L I A D O NA A L E M A N H A .
Renovação das Hostilidades.
Carta do General em Chefe Barclay de Tolly ao Prin-
cipe de Neufchatel.
Reichenbach, 27 de Julho, (8 d'Agosto,) J8I3.
Senhor Major-general dos Exércitos Francezes!—
Naõ tendo as negociaçoens, que se abriram em Praga,
para o restabelecimento da paz, entre as Cortes Alliadas e
França, conduzido ao fim, a que ellas se propunham ;
tenho ordem de intimar a terminação do armistício con-
cluído em Peiswitz aos 23 de Mayo, (5 de Junho,) e
prolongado em Neumarkt aos 13 (26 de Julho.) Em con-
formidade da estipulaçaõ desta Convenção, tenho ordena-
do, a— que leve esta declaração ao quartel-general do
exercito Francez, e também que annuncie, que, em conse-
qüência, as hostilidades começarão no dia 5 (17) d'Agosto,
da parte dos exércitos Russiano, Prussiano, e Sueco.
446
Miscellanea.
Sinto excessivamente, q«ft as circumstancias me impu-
nham o cumpriu ento de taõ pcnos o dever para com V. A.
Sereníssima; e com tudo aproveito esta occasiaõ de reno-
var-vos as seguranças de minha alta consideração.
(Assignado) BARCLAY DE TOLLV.

Officios dos Ministros Inglezes na Alemanha, relativos ás


Operaçoens Exércitos Alliados.
Repartição da Guerra.
Londres, 21 de Septembro, 1815.
O seguinte saõ copias de officios, quercccbcoo Visconde
Castlereagh, principal Secretario de Estado de S. M.,
nos negócios estrangeiros, escripto pelo Tenente-general
Sir Charles Stewart, Enviado Extraordinário e Ministro
Plenipotenciario de S. M. juncto a El Rey de Prússia, em
datas de 27, 29, 30, e 31 de Agosto :—
Quartel-general de S. M. cl Rey de Prússia,
Zebrista, 27 de Agosto, 1813.
M Y LORD !—O meu ultimo officio terá informado a V.
S. da determinação dos exércitos Alliados de desembocar
da Bohemia, pelos differentes passos, na Saxonia, e entrar
immediatamente em operaçoens offensivas, no flanco c re-
taguarda do inimigo, se elle ainda mantivesse as suas posi-
çoens avançadas na Lusacia, e permanecesse na margem
direita do Elbe. Em quanto o exercito principal Russi-
ano commandado pelo General Barclay de Tolly, que in-
cluía os corpos de Wiífgcnstein e Milloradovitch, e o
corpo Prussiano do General Kleist, junctamente com todo
o exercito Austriaco, estavam obrando oflensi vãmente na
Bohemia, debaixo do Commandado era Chefe do Prin-
cipe Schwartzenberg; o corpo d'exercito do General Blu-
cher, composto de uma divisão de Prussianos, debaixo do
commando do Tenenfc-grneral DTork, e as divisociu
Miscellanea. 441
Russianas dos generaes Sachen, eLangcron, se moviam da
Silesia para Luzacia, e ameaçavam o inimigo era frente.
O General Blucher tinha de evitar o empenhar-se em algu-
ma acçaõ geral, especialmente contra números superiores.
Na conformidade destas intençoens o General Blucher
avançou em tres columnas, aos 20, de Lciguitz, Golbcrg,
e Jauer, para Buntzlau e Lowenberg. O corpo do General
Sachen se moveo pela direita para Buntzlau, e o General
Langerou, na esquerda. O inimigo abandonou Buntzlau,
destruio as suas obras, fez voar um armazém de pólvora;
e a força do General Blucher avançou para o Bober, aonde
foi atacada aos 20 pelo inimigo, que marchou em grande
força contra Buntzlau, Lowenberg, e Lahn ; e ali houve
uma renhida acçaõ. Dizem que Bonaparte commandou
em pessoa, e que apresentou ao General Blucher 110.000
homens. As tropas A lliadas disputaram o terreno com
grande valor; porém o General Blucher recebeo ordens de
evitar um combate geral, e porianto se retirou na melhor
ordem para Haynau, Pilgramsdorf Hirshberg, e para traz
do Katzbach ; aonde as suas tropas estavam na data das
ultimas noticias. A perda do General Blucher nesta
acçaõ se diz ser de2.000 homens; elle tomou ponm vá-
rios prisioneiros. O inimigo soffreo muito.
Os grandes exércitos, da parte de Bohemia, começaram
a passar as fronteiras aos 20 c 21 ; as columnas do Conde
Wittgenstein e General Kleist, pelo passo dePcterswakla;
os Austriacos por Komotau. Aos 22, o corpo do Conde
Wittgenstein se encontrou com o inimigo, e teve unia con-
siderável escaramuça com elle juncto a Berghishabel e
Zehista.
O inimigo saio ao encontro dos Alliados ÍI;*S fronteiras, e
tem sido rcpellido de todas as suas posiçocis, para Dres-
den, ainda que elle trabalhou, sem bom succvsso, por de-
fender o terreno a polegadas.
As differentes columnas dos Exércitos Alliados deviam
448 Miscellanea.
desembocar das montanhas c passos, em taes períodos,
previamente concertados, que provavelmente obrariam no
todo contra o inimigo, se se puzesse em pleno effeito o
plano que se tinha arranjado ; porém a vivacidade das
tropas desejando marchar adiante, c combater, trouxe o
corpo da direita á acçaõ na manhaã de 22. Os Francezes
éi .un commandados pelo General Gouvion St. Cyr (que
acabava de chegar com o Exercito de Wurtzenburg) c a
sua força consistia em mais de 15.000 homens ; elles eram
sustentados pelas suas tropas de Kenigstein, e pelas que
estavam no campo de Licbcnsteia, que montavam pelo
menos a 6 000 homens, debaixo do commando do General
Bonnet. Depois de uma vigorosa acçaõ o Conde Witt-
genstein repulsou o inimigo de todos os pontos, aprisionou
00 ou 400 homens, alem do grande numero de mortos c
feridos. A perda dos Alliados naõ foi grande.
O inimigo depois desta acçaõ se retirou para Konigstein,
seu campo entrincheirado em Leibnitz, e também para
varias obras, que tinha construido juncto a Dresden. Os
Alliados o apertaram de todos os lados, e os grandes exer-
cito estaõ agora rodeando Dresden.
Aos 25, o regimento de hussares de Grodno, do corpo
de Wittgenstein, teve uma renhida acçaõ, juncto a Dres-
den, na qual tomou 4 peças, e um obuz. As guardas
avançadas Russianas, Prussianas, e Austríacas, acamparam
esta noite nas alturas acima de Dresden, entre Nauslitz e
Ischernítz.
Aos 27 pela manhaã, o inimigo abandonou o terreno
que occupava na avançada de Dresden, chamado Grossen
Gatcn, e se retirou para os subúrbios e suas differentes
obras.
Tenho assim dado a V- S. nm esboço geral das opera-
çoens até este periodo; cada hora prepara novos aconteci-
mentos. Ainda se naõ fizeram as relaçoens officiues; e
a**sim receio que as minhas relaçoens circumslanciadas sfi-
Miscellanea. 449
jam imperfeitas em muitos pontos. Talvez a historia da
guerra naõ offerece um periodo, em que dous grandes ex-
ércitos estejam empenhados em taõ denodadas opera-
çoens.
Tenho muito prazer em referir a V- S. que dous regi-
mentos de hussares Westphalianos, commandados pelo Co-
ronel Hammerstein se passaram do inimigo, e desejam
anciosamente metter-se em batalha contra elle, e vingar-se
das misérias que tem trazido ao seu paiz.
Tenho a honra de ser, &c.
CARLOS STEWART, Tenente-general.

Quartel-general de S. M. I o Imperador.
Altenburg, 29 d'Agosto, 1813.
M Y LORD Í—Tendo o inimigo abondonado o terreno
ao redor de Dresden, chamado Grossen Gaten, e tendo-se
retirado para as suas obras, e para os subúrbios da cidade,
na manhaS de 2 7 ; julgou-se conveniente fazer um ataque
com uma grande força coutra a praça, cuja posse éra de
considerável importância. As tropas ligeiras do Conde
Wittgenstein, e General Kleist na direita da cidade, tive-
ram alguma perda durante a manhaã de 27 no ataque das
hortas: e na verdade, o inimigo tinha melhorado tanto,
pela arte, as defezas em torno da cidade, que evidentemente
era uma empreza de considerável difficuldade o alcançar.
As tropas marcharam ao assalto pelas 4 horas da tarde,
o Corpo do Conde Wittgenstein, em tres columnas, pela
direita de Gros Garten : o General Kleist marchou com
uma columna de ataque por estas hortas, e duas pela es-
querda. A sua columna da esquerda era commandada
pelo principe Augusto de Áustria : tres divisoens de Aus-
tríacos na equerda da cidade, debaixo da direcçaõ imme-
diata do Conde Colloredo, e Principe Maurício de Lich-
tenstein, se uniram aos Prussianos na esquerda: formando
os Prussianos o centro do ataque. Uma tremenda canho-
VOL, X I . No. 64. 3M
450 Miscellanea.
nada começou a operação *. estando ns baterias plantadas
em forma circular ao redor da cidade, o effeito foi mag-
nificio: depressa ficaram envolvidos no fumo os bcllos
edifícios de Dresden, e as tropas marcharam adiante, na
mais perfeita ordem de assalto. De (odos os lados se
aproximaram juncto á cidade. Os Austríacos tomaram
um reduto avançado de 8 peças, da maneira mais denoda-
da e galharda : eu nunca vt tropas algumas que se com-
portassem melhor: as obras eram da natureza mais furto
e naõ distavam mais de cem yardas da muralha principal;
e eram flanqueadas pelo fogo de mosqueteria, de varias
seteiras abertas em toda a parte dos edificos que domina-
vam ; mas nada podia exceder a galhardia com que foram
assaltadas : o inimigo fugio dali, somente para se abrigar
por detraz de novas defensas, enchendo de gente as grossas
muralhas da cidade, aonde éra impossível abrir brechas,
sem um longo, e continuando fogo de artilheria pezada.
O inimigo, pelo auxilio destes meios de resistência que
ministra uma praça forte, conservou em respeito as tropas
que taõ galhardamente tinham entrado as obras exteriores.
A noite se aproximava : e o inimigo tentou fazer uma sor-
tida com uma força considerável de suas guardas, mon-
tando pelo menos a 30.000 homens, a fim de separar a
tropas Alliadas, e tomar uma ala pelo flanco e ratagtiarda.
Percebeo-se isto immediatamente, e pnreceo evidente, que
naÕ era practicavel tomar a praça naquella noite, manda-
ram-se ordens ás tropas, e ellas voltaram para os seus
respectivos acampamentos. O Principe Maurício de
Lichtenstein, fez uma admirável disposição da parte em
que o inimigo fez a sortida; pelo que se evitou toda a
confusão. Esta empreza á proporção que éra de impor-
tância, foi, também de grande difficuldade : nenhumas
tropas se assignaláram mais ; c na minha humilde opinião
se fosse phisicamente possivel tomar a praça na quellas
circumstancias, ellas o teriam conseguido: mas naó havia
Miscellanea. 451
brechas por onde entratsem as tropas, e a artilheria posto
que juncto á noite fosse trazida juncto a cidade, na dis-
tancia de 100 passos da muralha, naô a podia bater nem
fazer alguma impressão.
Segundo o melhor calculo que pude fazer, avalio a
perda dos Alliados neste ataque, em menos de 4.000 ho-
mens. Os Austríacos foram os que mais soffrêram.
Asortida do inimigo foi o prelúdio de uma batalha mais
geral, que teve lugar na seguinte manhaã de 28. Bona-
parte tinha chegado a Dresden, vindo do seu exercito na
Luzacia, na noite de 22 ; e tendo uma grande força era
Dresden, pelo menos 130.000 homens, parece que se de-
terminou a atacar os Alliados, que oecupavam uma posi-
ção mui extendida nas alturas circumvizinhas.
O inimigo tinha grandes vantagens nas suas disposi-
çoens para o ataque: Dresden, alinhadade. artilheria, es-
tava na sua retaguarda - as suas communicaçoens naõ es-
tavam interceptadas ; se fizessem uma impressão podiam
scguilla, se falhassem podiam retirar-se com segurança, e
as nossas tropas naõ os podiam seguir para debaixo das
peças da praça. Um dos peiores dias que ja mais se vio,
augmentou consideravelmente as difficuldades dos Allia-
dos, que tinham chegado por marchas rápidas, máos ca-
minhos, e desfiludeiros, ás suas posiçoens; e cujos provi-
mentos, de toda a sorte, eram difficeis, senaõ impossíveis
de obter. Aproveitando-se destas desvantagens, Bona-
parte desdobrou ura immenso numero de peças d'artiíhe-
ria; c uma viva canhonada d« ambas as partes formou a
principal parte da batalha. Fizéram-se ataques em vá-
rios pontos, com a cavallaria Russiana, Prussiana, e
Austríaca, que muito se distinguiram; porem os
corpos principaes de infanteria de ambos os exércitos
naõ chegaram a contacto. O tempo estava taõ nebuloso,
e a chuva taõ incessante, que a acçaõ se manteve era todos
os pontos, cora as maiores desvantagens.
3 M 2
452 Miscellanea.
Perto do meio dia suecedeo uma catastrophc, que des-
pertou mais do ordinário a sensibilidade e pezar de todo o
exercito alliado. O General Moreau, conversando com o
Imperador de Russia, teve ambas as pernas quebradas por
uma bala d'arülheria, passando a bala atravessando o ca-
vallo ; perda esta igual á boa causa, e á profissão das ar-
mas. Hc impossível naô lamentar profundamente a sua
sorte. Ainda está vivo.
O inimigo continuou os seus esforços na posição dos
Alliados, até que achou que naÕ podia fazer impressão; e
parou a acçaõ.
A batalha ter-nos-ha custado 6 ou 7.000 homens. O
inimigo perdeo muito mais. Em um carga de cavallaria
Russiana contra a infanteria, e uma bateria ; se hiniou
grande numero de prisioneiros, ainda que se naõ puderam
trazer as peças.
Tenho ja referido a V. S. cm geral, as difficuldades, que
cercavam o exercito Alliado, em conseqüência da grande
força que se lhe oppunha; e pela opinião de que Bona-
parte passaria um corpo considerável de tropas para a
outra parte do Elbe em Koningstein e Pirna, para
se apossar dos passos em nossa retaguarda. Deram-se
ordens para se retirar o exercito Alliado, na noite de 28 ; c
o exercito se acha agora em marcha, em varias coluni-
nas.
He impossível naõ lamentar que taõ bello c taõ numeroso
exercito, perfeitamente completo em todas as suas partes,
tenha uma vez avançado, e feito um movimento retro-
grado ; porque se podem fazer máos cálculos sobre estes
acontecimentos, e o inimigo, pôde snppor que tem ganhado
uma vantagem. Eu posso somente afiançar a V. S. que o
exercito está taõ desejoso como sempre de se encontrar
com o inimigo ; e que existe o mesmo espirito determina-
do c resoluto, ainda que se tenha julgado necessário uma
mudança parcial de operaçoens.
Miscellanea. 453
A força do inimigo naõ se diminuio da parte de Luza-
cia, até os 23, em conseqüência dos seus esforços no E l b e ;
porque elle atacou outravez o General Blucher cora.
grande força, naquelle dia, em sua retirada para Janer.
Porem aos 24, elle avançou outravez, tendo o inimigo re-
trocedido ; o que indicava que elle trazia mais forças para
a Bohemia.
O corpo do General Austriaco Neuberg, avançou tam-
na direcçaõ de Zittau.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) CARLOS S T E W A R T , Tenente-general.

Toplitz, 30 d\Agosto, 1813.


MY L O R D !—Depois do meu officio de hontem, tenho
de informar a V.S. que houve hoje uma mui brilhante ac-
çaõ na estrada de Toplitz para Peterswalde, cousa de duas
milhas Alemaãs distante no primeiro lugar. Parece que uma
columna Russiana sob o commando do Conde Osterraaun,
tinha de retirar-se pelo passo de Osterwalda, e achou que
o inimigo, que tinha actualmente cruzado o Elbe em
Pirna e Konigstein, havia tomado posse do passo das
montanhas, e foram obrigados a abrir valorosamente o seu
caminho cora a bayoneta. Ficaram entaõ em acçaõ cora
o inimigo até tarde pela noite; e tendo sido reforçados
pelas reservas das guardas Russianas, cavallaria, e infan-
teria; aquella commandada por S. A. Imperial o Gram
Duque Constantino, que se mandou rapidamente
em seu auxilio: Este corpo de tropas, composto
de perto de 8.000 homens, conservou era respeito,
durante o dia, dous corpos e uma divisão do exercito
Francez, debaixo do commando dos Generaes Vandamme
e Bertrand, montando, pelo menos a 30.000 homens.
Faria injustiça ás guardas Imperiaes tle S. M., se ten-
tasse descrever a admiração que ine causou o seu valor e
assignalada galhardia. A cavallaria ligeira das guardas,
454 Miscellanea.
compostas de regimentos Polacos, e dragoens, carregou as
columnas de infanteria em linda maneira. O General
Diebzetch, official de grande merecimento, se distinguio
particularmente ; c da mesma forma o Principe Galitzin.
Elle foi ferido no ataque. O Conde Ostermann, ao anoi-
tecer perdeo um braço por uma bala d'artilheria; o Ge-
neral Commandante dos Couraceiros de S. George tam-
bém foi ferido.
A importância do valor que mostraram estas trop:is se
augmenta muito, considerando que se ellas naõ tivessem
mantido o seu terreno, as columnas do exercito, e a arti-
lheria, que se retirava por Altenberg, e que fôram demo-
radas p< Io máo estado dos caminhos, teriam ficado em
grande perigo.
S. M. Prussiana estava em Toplitz quando o inimigo
fez o seu rápido avanço por Peterswalda, e fez as mais ha-
> beis disposiçoens para reforçar o Conde Ostermann, e
pelo seu sangue frio, e esforços pessoaes, conservou a or-
dem e regularidade, sem que ainda mesmo a idea momen-
tânea de poder o inimigo ganhar a retaguarda, fosse ca-
paz de o perturbar. O admirável comportamento desta
Soberano cm todas oceasioens he o thema de louvoruni-
versal. O corpo do Conde Ostermann perdeo na acçaõ
deste dia 3.000 homens, que ficaram incapacitados de
combater.
Os Francezes poderão ter perdido o dobro. O corpo
do General Vandamme soffreo immenso. A cavallaria
das guardas Russianas tomou dous estandartes, e 300 ou
400 prisioneiros.
O inimigo seguio a nossa retaguarda, durante o dia,
pela estrada de Dippoldiswalda, e encontrou considerável
obstáculo na retaguarda, commandada pelo General Aus-
triaco Harberg.
Espero que V- S. desculpará a pressa com que esta vai
Miscellanea. 455
escripta; e dará o desconto ao periodo, e continuos movi-
mentos e operaçoens, que naÕ permittem muita exactidaõ.
Tenho a honra de ser, &c.
C A R L O S S T E W A R T , Tenente-general.

Toplitz, 31 de Agosto.
MY L O R D ! — A brilhante, e bem disputada acçaõ de
30 do passado, em que as guardas Prussianas se cubriram
de gloria, foi seguida por uma victoria geral e decisiva,
sobre aquella parte do exercito do inimigo, que tinha
avançado de Konigstein e Pirna, pela grande calçada, que
vai de Peterswalda a Toplitz. Veio a ser da maior im-
portância fazer este ataque naÕ somente para dar tempo a
que retrocedessem estas columnas do exercito, que ainda
se estavam retirando pela estrada de Altenberg e Dippol-
diswalda ; mas também ao mesmo tempo para ser desem-
baraçado das montanhas.
O inimigo, tinha a vantagem de poder puchar rapida-
mente adiante contra o nosso flanco direito, em uma boa
linha de caminho; ao mesmo tempo que as columnas do
exercito alliado, ainda que se retiravam por linhas mais
curtas, eram impedidas naõ somente pelo estado naõ favo-
rável do tempo, mas pelos caminhos, quasi intransitáveis.
Grande porçaõ do trem d'artilheria, e bagagem do ex-
ercito Alliado, naõ tinha ainda podido sahir das monta-
nhas, quando o inimigo estava j a em Hollcndorf c Kulm,
cousa de 3 milhas distante de Toplitz, aonde foi a scena
da acçaõ.
Tendo-se resolvido atacar, se fizeram immediatamente
as seguintes disposiçoens das tropas destinad >s para este
fim. Seis mil granadeiros Russianos 2.000 infantes, e
4.000 cavallos, debaixo das ordens immediatas do Gene-
ral Miloradovitch, junctamente com 12.000 Austríacos,
sob o commando do Conde Coloredo, e General Bianchi,
começaram a acçaõ; o resto das tropas ajunetadas para
456 Miscellanea.
esta empreza, se formaram em columnas de reserva na pla-
nicie adjacente.
A aldea de Kulm está situada ao pe de uma cordilheira
de montanhas, que forma uma barreira quasi impenetrável
entre a Saxonia e Bohemia; deste ponto se ramificam duas
cordilheiras, o terreno he geralmente lhano, offerecendo
com tudo, em algums lugares boas posiçoens defensivas.
Neste terreno, immediatamente em frente da aldea de Kulm,
colligio o inimigo uma grande força de infanteria, com
grande porçaõ d'artilheria ; conservou se incessantemente
um terrível fogo deste ponto, contra os Russianos, com-
mandados pelo General Miloradovitch.
Tal era a força das alturas adjacentes de Kulm c taõ
habilmente tinha o inimigo disposto de sua força pata sua
defensa, que se julgou mais conveniente fazer o principal
ataque na direita, era conseqüência do que, a infanteria
Austríaca teve ordem de se mover ao longo do terreno
alto da direita, em quanto as guardas Prussianas de infan-
teria começavam o seu ataque na esquerda, logo que os
Austríacos estivessem suficientemente adiantados. Em
quanto se executavam estes movimentos, o corpo do Gene-
ral Kleist, que se naõ tinha desembaraçado das montanhas,
apparecêo na retaguarda do inimigo descendo pelo caminho
porque o inimigo se tinha de retirar cm caso de necessidade.
Começou o ataque de todos os lados da maneira mais deci-
siva c vigorosa. A esquerda do inimigo foi flanqueada
pelo distincto valor e bom comportamento dos Austríacos,
sob Colloredo, carregando a cavallaria repetidas vezes;
em quanto no outro flanco o General Miloradovitch cora
os hussares das guardas, e granadeiros forçaram todos os
pontos, que o inimigo tinha cm vaó tentado defender.
Neste ponto cahiram nas maõs dos Russianos mais de 40
peças d'artilheria, 60 carros manchegos, muita bagagem,
e toda a equipagem do General Vandamme. Completa-
Miscellanea. 457
mente derrotado cm todos os pontos da frente ; e intercep-
tado na retaguarda pelo General Kleist, nada restava ao
inimigo se naó uma desesperada, e precipitada retirada.
A derrota fez-se geral, e o inimigo arremeçando as ar-
mas a terra em toda a direcçaõ, e cessando até de resistir
abandonando peças e estandartes, somente cuidou em pro-
curar abrigo nos matos.
Saõ consideráveis os fructos desta victoria. O General
Commandante Vandamme, seis outros officiaes Generaes
Giott, Haxo, Himberg, e o Principe Reuss ; 60 peças d'
artilheria e perto de 10.000 prisioneiros, com 6 estan-
dastes. Todo o estado maior, e muitos officiaes de gra-
duação estaõ também entre os prisioneiros. O inimigo
continua a sua retirada, perseguido de perto pelos Cossa-
cos, e cavallaria Alliada.
Tendo eu recebido uma grande contusão, pela explosão
de uma bomba, pouco depois do principio da acçaõ, me
vi na necessidade de deixar o campo de batalha ; e sou
devedor, portanto, pelas outras relaçoehs, que tenho dado
a V. S., ao Ajudante de Campo de S. A. R. o Cominan-
dante em Chefe, o Coronel Cooke, o qual assim nesta,
como em todas as outras oceasioens, depois que está juncto
a mim, me tem prestado grande auxilio.
Tenho agora de cumprir com o agradável dever, de
chamar a attençaõ de V^ S. a outro brilhantíssimo com-
bate, que terminou em grande honra, e vantagem do E x -
ercito.
Parece que, aos 25, o Marechal Macdonald oecupou
uma posição mui forte, nas vizinhanças de Jauer, na Sile-
zia ; que elle fortaleceo com numerosa e formidável artilhe-
ria. Foi porém atacado pelo General Blucher, na manhaã
de 26, e depois de uma renhida batalha expulsado de
todas as suas posiçoens, deixando sobre o terreno 50 peças
d'artilheria, 39 carros manchegos c carretoens de muni-
VOL. X I . No. 64. 3N
458 Miscellanea.
çoens, com um numero de prisioneiros que excede a
100 homens.
Renovou-se o combate cora novo ardor, e cora igual
successo da parte do General Blucher, nos dias 27, e 28,
cujo resultado parece ser, que 30 peças d'arülheria, e mais
5.009 prisioneiros fôram tomados durante os últimos dous
dias.
Segundo as ultimas noticias, o General Blucher conti-
nuava a perseguir o inimigo com a maior celeridade.
O General Principe de Reuss, que nomei a V. S. como
tomado entre os prisioneiros, morreo de suas feridas.
Tenho a honra de ser, &c.
CARLOS STEWART, Tenente-general.

Repartição da Guerra, 25 de Septembro.


Esta gazela contém um officio do Major Macdonald,
datado de Kaliski, bahia de Dantzic aos 7 de Septembro,
1813, referindo que aos 29 do passado os postos avançados
Russianos c Francezes tiveram uma ligeira acçaõ na aldea
de Langefubr, peito da noite o inimigo sahio com força,
atacou, e canhoneou toda a linha. Foram repulsados os
pontos avançados, porém sendo reforçados, depressa re-
cobraram o seu terreno. Nesta acçaõ a perda do inimigo
se pode avaluar a 400 homens, a dos Alliados a 300 ho-
mens.
Julgando-se necessário obter posse da aldea de Lan-
gefuhr situada na estrada real de Dantzic para Berlin,
cerca de uma milha de Dantzic e 1000 yardas do forte
chamado o Hagelsberg, aos 2 do corrente ás 5 horas da
tarde marcharam as tropas ao ataque em J columnas,
Os differentes ataques foram feitos pelo estylo mais
galhardo; o inimigo foi completamente surprendido, e
repulsado de todos estes postos. A perda do inimigo nesta
occasiaõ chega a mil homens; dos quaes sette officiac!*, e
Miscellanea. 459
250 soldados ficaram prisioneiros. A dos Alliados por
tudo será de 300 mortos e feridos.

Recebêram-se na secretaria do Conde Bathurst officios


do Tenente-general Conde Walmoden. O officio mais
importante he datado do quartel-general Schwerin, 4 de
Septembro, 1813, e refere que o Conde marchou aos 2 do
corrente, para Crivitz, e suas vizinhanças, e fim de poder
effectuar uma jnncçaõ cora as forças, que cubriam Ros-
tock, e estavam debaixo do commando do General Vege.
sack. Nesta marcha recebeo noticias de que o inimigo
(cuja força consistia em 18.000 Francezes, 12.000 Dina-
marquezes, e 100 peças de artilheria) tinha, naõ obstante a
sua decidida superioridade, retirado-se repentinamente de
Schwerin durante a noite de 22 do corrente, fazendo mar-
chas forçadas para chegar a Ratzeburg e Lubeck. O
Conde diz, que a posição que tinham oecupado as tropas
debaixo do seu commando, naõ somente impedia que o
inimigo effectuasse a conquista d e Mecklenburg, mas
também lhe tornava impossivcl o atacar; e longe de ter
obtido a menor vantagem, elle éra constantemente incom-
modado pelas nossas tropas ligeiras, por todos os lados, e
soffreo a perda de vários centos de prisioneiros. Na sua
retirada para Schonberg e Ratzeburgh, tomamos-lhe mais
de 500 prisioneiros.

Ordem do Principe Schzaaitzenberg ao seu exercito, na


data de 17 de Agosto, 1813.
Chegou o Grande dia ! Valorosos Guerreiros ! A nossa
Pátria descança em vós. Até aqui, todas as vezes que ella
vos chamou, vós justificastes a sua confiança.
Todos os esforços do Imperador para restabelecer na
Europa a paz ha tanto tempo desejada, e fixar a paz e
felicidade de nossos vizinhos, sobre uma base solida, fôram
até aqui em vaõ. Nem a constante paciência, nem as
3 N 2
460 Miscellanea.
representaçoens pacificas, nem a confiança com que as
outras Potências descançáram nos conselhos e medidas do
Imperador, em uma palavra nada pode trazer o espirito
do Governo Francez á moderação e á razaõ.
Nós naõ emprehendemos este combate solitariamente,
estamos nas mesmas fileiras, com tudo quanto a Europa
tem para oppor de grandeza, e de actividade, contra o po-
deroso inimigo de sua paz, e de sua liberdade. A Áustria,
a Russia, a Prússia, a Suécia, Inglaterra, Hespanha todos
aggrégam os seus reunidos esforços, para obter o mesmo
fim, uma paz bem fundamentada e durável, uma distri-
buição razoável de força entre os differentes Estados; c a
independência de cada uma das Potências separadamente.
Naõ he contra a França, mas contra o poder dominante
da França, fora de seus limites, que se tem levantado esta
Aliiança.
O que he possivel ultimar pela resolução e constância
das naçoens, a Russia e Hespanha o tem provado, o que se
pôde executar pelas forças unidas de tantos Estados pode-
rosos se verá no anno de 1814; Em taõ sancta guerra
devemos, mais do que nunca, conservar aquellas virtunVs;
pelas quaes os nossos exércitos se tem feito conspicuos cm
tantas guerras passadas.
Uma illimitada vontade de sacrificar tudo pelo nosso
Monarcha e nossa Pátria ; grande igualdade de animo nos
tempos bons ou desfavoráveis ; determinação e constância
no campo de batalha ; moderação e soffrimento para com
os fracos, estas qualidades devem sempre achar-se em nós.
Irmaõs em armas! Tenho vivido nas vossas fileiras por
todos estes annos, que tenho empregado no serviço de
minha Pátria. Conheço, c em vós honro os homens va-
lorosos, que conquistaram uma gloriosa paz, c aquelles
que estaõ seguindo as suas passadas. Eu descanço cm
vos! Fui escolhidod'enfre vos pelo nosso Monarcha, e o
seu benigno favor me pôz á vossa frente. A sua confi-
Miscellanea. 461
anca em mim, junctamente com a vossa, saõ a minha for-
taleza.
A maneira porque cada individuo pode ser útil ao todo,
será fixada pela esphera de acçaõ que lhe couber em par-
tilha ; mas em qualquer nomeação em qualquer situação,
em qualquer momento decisivo fazer sempre o seu dever,
o mais que estiver em seu poder, tal he a determinação que
nos deve fazer a todos iguaes; e levai-nos todos ao mesmo
glorioso ponto.
O Imperador permanecerá com nosco, porque nos tem
confiado o que ha de maior, a honra da naçaõ, a protec-
çaõ de nosso paiz natal, e a segurança, e felicidade da
posteridade.
GUERREIROS I—Sede agradecidos; porque hides á ba-
talha diante de Deus, que naõ abandonará a justa causa,
debaixo dos olhos de um Monarcha Paternal, e sensivel,
debaixo dos olhos de vossos agradecidos concidadãos, e a
vista de toda a Europa, que espera de vos grandes feitos,
e grande felicidade, depois de longo soffrimento. Lem-
brai-vos que deveis conquistar, para podeieis justificar
esta expectaçaó : combatei como convém a guerreiros da
Áustria, e vós conquistar eis.
(Assignado) C A R L O S , Principe de Schwertzenberg,
Feld-marechal.

Ordem Geral.
Goswicb, Quartel-general, 17 d'Agosto, 1813.
O conflicto sanguinário por nossa independência, tornou
a começar : todos os reforços de nosso illustre Alliado, e
nossos, para obter uma paz durável, sem mais effusaõ de
sangue, tem sido totalmente inúteis. O desígnio éra, que
nos gemêssemos debaixo de um ignominioso jugo, ainda
por longo tempo. A's armas, pois, valorosos Russianos,
Prussianos, e Alemaens! O nosso poder he formidável ;
porque possue, energia e uma grande força numérica S. A.
462 Miscellanea.
1. o Archiduque Carlos he o commandante em Chefe do
Exercilo Imperial Austriaco, que tem feito causa commum
com o nosso. Coragem na batalha, unida com a perseve-
rança, deve infalível mente prevalecer.
Em nome de S. M. El Rey de Prússia, como
General em Chefe do Exercito Alliado.
O Chefe do Estado-maior, Major-general Russiano,
MOREAÜ.

SUÉCIA.

Bulletims do Exercilo Combinado do Norte, debaixo das


Ordens do Príncipe da Coroa.
Bulletim I..
Quartel-general de Oranienburg, 13 de Agosto.
S. A. R. o Principe da Coroa chegou aqui hontem, e
neste lugar fixou o seu Quartel-general. O exercito unido
do Norte de Alemanha, de que S. A. R. tem o commando,
occupa as seguintes posiçoens :—
Uma parte do 4 o . corpo do exercito Prussiano, que forma
a reserva, debaixo do commando do Tenente-general Conde
Tauenzicn, tem o seu Quartel-general em Muncheberg, c
c extende a sua direita para Berlin.
O 4°. corpo do Exercito Prussiano, sob o Tenente-gene-
ral Von Bulow, tem o seu Quartel-gcDeral em Berlin, c em
conjuneçaõ com o corpo do Conde Tauenzien forma a ala
esquerda do exercito alliado.
O exercito Sueco, commandado pelo Marechal de campo
Von Stedingk, se ajuncta nas vizinhanças de Oranienburg,
com a sua frente juncto a Spandau. O Quartel-general está
aqui. A primeira divisão Sueca he commandada pelo Te-
nente-general Skioldebrand ; e a segunda pelo Major-ge-
neral Baraõ Posse. Esta ultima divisão forma um corpo,
commandado pelo Baraõ Sandals. Toda a forç.i Sueca
esta no centro do exercito alliado. A ala diiriiu consiste
dt* tropas iuissianas. «lcbaixo das ordens do Tenente-."iicral
Miscellanea. 463
Baraõ Winzingerode, cujo Quartel-general está em Brau-
denburg. O Tenente-general Conde Woronzow, cora o
seu corpo, pertence a esta ala, e tem o seu Quartel-general
em Plauen.
Um corpo Prussiano, sob o Major-general Herschfeldt,
está em frente de Magdeburgo. Communica pela sua ala
esquerda cora o exercite Russiano, e pela sua direita com o
corpo de observação do Elbe Inferior, sob o Tenente-
general Conde Walraoden: o seu Quartel-general está era
Sehwerin, e os seus postos avançados chegam de Lenrin a
Dessau , o centro para Lubeck. O Tenente-general BaraÕ
Von Vegesack pertence a este corpo d'cxercito : elle tem
debaixo de seu commando 3.000 homens Suecos, 3.000
Prussianos, e 3.000 Mecklemburguezes.
Corpos separados, pertencentes ao exercito de Conde
Tauenzicn, bloqueiam Custrin c Stettin.
O Major-general Gibbs dezembarcouemStralsund, com
um corpo de 3.000 homens Inglezes.
O General Baraõ Adlercreutz está á testa do estado-
maior-general do exercito-unido do Norte d'Alemanha, c
tem debaixode suas ordens o Major-general Baraõ Tarvast,
e o Conde Gustavo Lowenhjelmn, como Ajudantc-gcneral,
para receber, c transmittir ordens.
O exercito está de tal maneira disposto, que em dia e meio
de marcha se podem pôr na linha 80.000 homens.
Em quanto S. A. R., aos 11 do corrente, pela manhaã,
se achava passando revista ás tropas, que bloqueiam Stet-
tin, e fazendo-as manobrar ameaçendo ao mesmo tempo as
obras da fortaleza, se apontou a S. A. R, um obuz ; a gra-
nada cahio a 30 passos por detraz delle, e arrebentou.
S.A. R... que descubrio alguns soldados Francezes tre-
pando pelas obras exteriores, a quem os Cossacos depois do
tiro da fortaleza, estavam ao ponto de atacar, mandou
chamar ao commandante Francez, o qual consequentemente
apparecêo ante S. A. R. accompanhado por um Commis-
464 Miscellanea.
sario de guerra. O Principe da Coroa lhe disse brandamente,
que o official commandante do forte de Prússia tinha rom-
pido a tregoa, e feito fogo á escolta de S. A. R., e accres-
ccntou, « Eu podia fazervos a todos prisioneiros de guerra,
se mandasse á cavallaria, que vos atacasse, e vós vos naõ
podieis defender, pois estáveis sem armas." O official deo
as suas desculpas, e expressou o seu sentimento por aquelle
accidente. S. A. R. se retirou, depois de ter conversado
com elle por breve tempo. Os soldados Francezes, expri-
miram os seus cordeaes desejos pelo restabelicimento da
paz, e de ver pôr fira ás calamidades da guerra.
Julgando pelas preparaçoens dos Alliados em Stettin, he
de esperar, que se dê assalto á fortaleza, na conclusão do
asmislico. Pelo zelo e industria dos officiaes, que estaõ
encarregados de supprir os mantimentos ao exercito, ainda
se naõ tem padecido falta. O numero de doentes he mui
insignificante.

Bulletim II.
Quartel-general, Potsdam, 16 de Agosto.
O Principe Real mudou o seu Quartel-general para esta
cidade a noite passada. O exercito se está concentrando.
Quando expiraram as infruetíferas negociaçoens, que se
começaram em Praga, os Alliados intimaram hostilidades a
manhaã. Aos 11, pela uma hora da madrugada, o Conde
de Metternich entregou ao Conde de Narbonne, era Praga,
a declaração de guerra de Áustria contra a Franca.
S. A. R. acaba de dirigir ao exercito que está debaixo
de suas ordens : a seguinte declaração:—

Exercilo combinado do Norte d'Alemanha.


O Principe Real G.neralissimo.
AOS EXÉRCITOS.
Soldados!— Chamado pela confiança de meu Rey e dos
Soberanos seus alliados, para vos guiar na carreira, que se
Miscellanea. 405
vos vai abrir, descanço quanto ao successo de nossas armas,
na Divina Protecçaõ, na justiça de nossa causa, e no vosso
volor, e perseverança.
Se naõ fosse a extraordinária oceurrencia de aconteci-
mentos, que tem dado aos ullimos doze annos uma terrível
celebridade ; vos naõ vos verieis junetos sobre o território
Alemaõ; porém os vossos Soberanos conheceram q u e a
Europa he uma grande familia; e que nenhum dos Estados
de que ella he composta pôde ficar indifferente aos males,
que uma Potência conquistadora pôde impor a um delles.
Elles estaõ também convencidos, de que quando tal Potên-
cia ameaça atacar e subjugar todas as outras, deve somente
existir uma vontade entre as naçoens, que estaõ determina-
nadas a escapar da vergonha, e da escravidão.
Desde aquelle momento fostes chamados das margens do
Wolga e do*Don, das praias da Gram Bretanha, e das
montanhas, do Norte, para vos unir aos guerreiros Ale-
maens, que defendera a causa da Europa.
Este pois he o momento, em que a rivalidade os pre-
juizos nacionaes, e as antipathias, devem desapparecer
diante do grande objecto da independência das naçoens.
O Imperador Napoleaõ naõ pôde viver em paz com a
Europa, a meno3 que a Europa naô seja sua escrava. A
sua presumpçaõ levou 400.000 homens valorosos, a 700
milhas de distancia do seu paiz ; desgraças, contra que
elle se naõ dignou providenciar, calaram sebre a sua ca-
beça, e 300.000 Francezes pereceram no território de um
grande Império, cujo Soberano fez todos os esforços para
conservar a paz com a França.
Era de esperar, que este terrível desastre, effeito da D i -
vina vingança, teria inclinado o Imperador de França
a um systema menos sanguinário; e que instruído pelo
exemplo do Norte e de Hespanha, teria renunciado a idea
de subjugar o continente, teria consentido a deixar o mun-
do em paz; mas frustrou-se esta esperança; e aquella paz,
VOL. X I . N o . 64. 3o
466 Miscellanea.
que todos os Governos tinham proposto, foi regeitada pelo
Imperador Napoleaõ.
Soldados !—He ás armas portanto que devemos correr,
para conquistar o descanço, e a independência. Os mes-
mos sentimentos, que guiaram os Francezes em 1792, e
que os irapelliram a ajunetar-se, e combater os exércitos
que entraram no seu território, devem agora animar o vosso
valor contra aquelles, que depois de terem invadido a terra
que vos vio nascer, ainda tem nas cadeaes vossos irmaõs,
vossas mulheres, e vossos filhos.
Soldados!—Que nobre prospecto se vos abre! A liber-
dade dá Europa, o re&tabliciraento de seu equilibro, o fim
daquelle estado convulsivo, que tem tido vinte annos de
duração; finalmente a paz do Mundo, será o resultado de
vossos esforços. Fazei-vos dignos, por vossa uniaõ, vossa
disciplina, e vossa coragem, do alto destino que vos espera.
—Do meu Quartel-general, em Oranienburg, 15 ds
Agosto, 1813.
CARLOS JOAÕ.

Bulletim III.
Quartel-general, Charloltcnburg,
18 de Agosto, 1813.
O Principe Real sahio de Potsdara hontem pelas tres
horas da madrugada, transferio o seu Quartel-general pata
este lugar.
Tem-se recebido repetidas noticias de que as tropas do
inimigo se estaõ concentrando em força, em Bayrcutb, e na
direcçaõ de Trabbin, para puchar adiante ate Berlin.
S. A. R. concentrou o exercito combinado entre a capital
eSpandau. Desde hontem á noite tem chegado aquella
posição, quasi 90.000 combatentes. Alguns corpos mar-
charam 10 milhas Alemaãs em 36 horas.
O Tenente-general Baraõ Winzingerode fez um reco-
Miscellanea. 467
nhecimento na direita com 8 ou 6 mil cavallos. Adiantou-
se até Wittenberg, e Juterbock, no flanco esquerdo do ini-
migo, e tomou alguns prisioneiros, dos quaes dous saõ capi-
taens. O Coronel BaraÕ Conde de Sessel foi tomado, com
alguma cavallaria, O Tenente de Vims do regimento de
Hussares de Pomerania, atacou o inimigo em Zesch, e to-
mou 52 homens, e 21 cavallos de remonta, pertencentes a
um regimento de cavallaria de Hesse Darmstadt.
O inimigo, em tanto quanto se sabe, naõ tem passado as
fronteiras senaõ em partidas de reconhecimento.
O General de Divisão Francez Jomini, Chefe do Estado-
maior do Exercito, commandado pelo Principe de Moskwa,
passou-se para os Alliados aos 15 ; e passando pelo exercito
do General Blucher, dirigio-se aoQuartel-general Russiano.
Elle confirmou a noticia deque o Imperador Napoleaõ pro-
jectava atacar o exercito que cobre Berlin. O General
Blucher occupava Breslau aos 14.

Bulleiim IV
Potsdam, 21 d?Agosto.
Annuncia a posição do exercito do Principe da Coroa
de Potsdam até Trebbin Belitz;—que o inimigo tinha de-
baixo das ordens de Oudinot 20.000 homens em Lucken-
walde. Houveram algumas acçoens de postos avançados.
O General Walmoden participa que foi atacado juncto a
Lauenburg aos 17 e 18, por 6 batalhoens; porem que os
tinha repulsado.

Bulletim V.
Ruklsdorff: 24 de Agosto, ao meio dia.
Todas as informaçoens dos agentes secretos annuncia-
ram que na noite de 21 de Agosto, o Imperador Napoleaõ
estava concentrando os corpos dos duques de Reggio, Bel-
30 2
468 Miscellanea.
luno, e Padua, e o dos Generaes Bertrand e Regnier, for-
mando mais de S0.000 homens nos orredores de Bayreuth;
e presagiando tudo da parte destas tropas uma rápida mar-
cha contra Berlin, o Príncipe da Coroa fez as seguintes
disposiçoens:—
O terceiro corpo Prussiano, commandado por Bulow
pos duas divisoens entre Hernandorff e Klein Berin. Uma
divisão occupava ja Mitteuwalde, e outra Trebbin, a fim
de encubrir todo o movimento. O 4*. corpo Prussiano,
debaixo do commando de Tauenzein, se reunio em Bla-
kenfelde. O exercito Sueco sahio de Potsdam aos 22,
pelas 2 horas da madrugada, e marchou para Saarmund,
passou os desflladeiros, e tomou o seu posto em Rudlsderff.
O exercito Russiano e exercito Sueco, • se postaram em
Gutergatre. O General Czernicheff guardava Belitz e
Treunbritzen com 3.000 Cossacos, e uma brigada de in-
fanteira ligeira.
Os agentes secretos annunciáram que o Imperador Na-
poleaõ havia de passar por Luckau, no seu caminho para
Bayreuth. O General Czernicheff executou as suas ordens
com a sua intelligencia custumada, e levou o susto e a in-
quietação á retaguarda das columnas do inimigo. O Ge-
neral Herschfeldt, que tinha recebido ordens para marchar
das vizinhanças de Magdeburgo para Brandenburgo, e dali
para Saarmund, fez um rápido movimento de 5 milhas
Suecas em 10 horas.
Estavam as cousas assim dispostas, quando o inimigo ata-
cou o General Thumen em Trebbin, aos 22 pela manhaã.
A superiordade de seu numero determinou o general a eva-
cuar aquelle posto. O inimigo avançou successivãmente,
e occupou todo o intervallo entre Mittenwalde e o Saare,
cuberto por matos, e flanqueado por pântanos. Os postos
avançados retrocederam vagarosamente, e cubriram a frente
da linha. Aos 23, pek manbaã, o corpo do General Ber-
Miscellanea. 469
trand desembocou contra o General Tauenzien. Este o
repulsou, e tomou alguns prisioneiros.
A aldea de Gross Berin, contra que se dirigiam o 7°.
corpo Francês, e uma forte reserva, foi tomada por elle.
O corpo do Duque de Reggio marchou para Ahrendorff.
Pela occupaçaõ de Gross Berin ficava o inimigo na distan-
cia de 1.000 toesas do centro do campo. O General Bu-
low recebeo ordens de o atacar; elle executou isto com a
decisaõ de um hábil general. As tropas marcharam com o
sangue frio que distinguio os soldados do Grande Federico
na guerra de 7 annos. A canhonada foi viva por algumas
horas. As tropas avançaram com a protecçaõ da artilheria,
e cahiram com a bayoneta calada, sobre o 7mo. corpo, que
estava desdobrado na planicie, e que marchou denodamente
para o campo. Aqui houve varias cargas da cavallaria con-
tra as tropas do Duque de Padua, que fazem grande honra
ao General Prussiano Oppen. O exercito Russiano e
Sueco esteve na batalha, e esperou que desdobrasse o outro
corpo do inimigo para o atacar ao mesmo tempo. O Ge-
neral Winzingerode estava á frente de 10.000 cavallos, e o
Conde Woronzow commandava a infanteria Russiana.
O Marechal Conde Stedingk, á frente da linha Sueca
tinha a sua cavallaria em reserva. A aldea de Rushlsdorff,
situada na frente de seu campo, estava fornecida de infante-
ria, a fim de conservar aberta a communicaçaõ com o Ge-
neral Bulow. Os outros corpos do exercito inimigo naõ
tinham desembocado dos matos, e por isso se naõ moveram
os exércitos Russiano e Sueco.
Com tudo, ameaçando o inimigo a aldea de Ruhlsdorff,
e tendo ja puchado os seus atiradores contra as tropas ligei-
ras Suecas postadas na frente daquella aldea, o Principe
ordenou que alguns batalhoens sustentados pela artilheria
fossem reforçar os postos avançados ; e o Coronel Cardell
teve ordem de avançar com um batalhão de artilheria vo-
lante, e tomar o inimigo pelo flanco.
470 Miscellanea.
Até aqui os resultados da acçaõ de Gross Berin foram 26
peças d'artilheria, 30 caixoens, e muita bagagem ; e 1.500
prisioneiros, entre os quaes ha 40 officiaes, o coronel dos
Ulhanos, das guardas Saxonias, e vários tenentes coronéis
e majores Francezes. O numero de mortos e feridos do
inimigo he mui considerável, e os matos estaõ cheios de
extraviados, que a cavallaria ligeira apanha a todo o mo-
mento.
O inimigo se retirou para alem de Trebbin, que ja está
oecupado por dous regimentos de Cossacos. . Os Generaes
Bulow, Tauenzien, e 0'Rourke vaõ em seguimento do
inimigo, assim como toda a cavallaria ligeira Russiana.
O Principe Real achou entre os prisioneiros officiaes e
soldados que tinham servido debaixo de suas ordens, e que
derramaram lagrimas d'alegria quando tornaram a ver o seu
antigo general.

Bulletim VI.
Quartel-general, Saarmund, 28 d'Agosto.
O Principe Real mudou o seu quartel-general para este
lugar aos 26 d'Agosto.
O corpo do General Hinchfieldt estava, aos 26, cnlrc
Rckau c Golzow, aonde esperava cortar a retaguarda do
General Girard, que marchava de Ziessar para Bruck ;
porém o inimigo passou com tal pressa que o naõ pôde
effectuar.
Aos 25, dous officiaes e l04 soldados do inimigo de dif-
ferentes naçoens fôram trazidos para Potzdam ; elles se
deixáram tomar prisioneiros, por 30 homens de cavallaria
das milicias. Deitaram as armas a terra. Elles assegu-
ram que esta disposição he geral.
A perseguição do inimigo he taõ viva, que aos 25
General Rourke chegou a Gotten, aonde os Duques de
Reggio e Padua, e o General Regnier passaram a noite
precedente com uma divisão de seu exercito.
Miscellanea. 471
Tendo o inimigo obrigado o Coronel Adrianoff a reti-
rar-se de Jutterbock, e tendo tomado uma posição ali com
dous batalhoens de infanteria, e 600 hulanos Polacos,
provavelmente cora as vistas de facilitar uma retirada, e
conservar aberta a sua communicaçaõ com o Elbe, foi
desalojado aos 26, por uma partida de tropas, debaixo do
commando do General Rourke, e dous esquadroens Rus-
sianos, sob o Major Hellwig. O Coronel Krasowski
attacou e tomou posse da cidade. O General Berkendorf
perseguio o inimigo com quatro esquadroens de cavallaria
Russiana. Os dous esquadroens Prussianos, e duas peças
que estavam nas aldeas de Rohnbeck e Boschaw, se lhe
uniram. O inimigo perdeo nesta acçaõ mais de 300 ho-
mens mortos, além de muitos prisioneiros.
Vários officiaes Francezes se tem passado para nós, e
se tem incorporado nas nossas tropas.
O General Czernicheff oecupou Belsig na noite de 26,
com os seus Cossacos. O General Girard, que tinha
íêito halto em Lubnitz a fim de passar a noite ali, foi as-
sustado ; e houve uma viva acçaõ juncto a Belzig. Elle
porém naõ pode alcançar o tomar posse da cidade.
Aos 26, o Coronel Kruss voltou para Nieraeck com o
seu regimento de cavallaria, vindo da expedição a
Dahme, que executou brilhantemente. Cercado de todos
os lados pelo inimigo, naÕ pôde conservar a sua posição.
E com tudo tomou, á vista de uma forte columna, 70
carros carregados de mantimentos e da sua escolta, 6 of-
ficiaes, e 120 soldados; o resto foi morto ou disperso. O
Principe Real ordenou ao General Winzingerode, que
expressasse a este valoroso official a sua inteira satisfacçaõ
pelo valor c habilidade que mostrou em taõ interassente
occasiaõ.
O quartel-general do General Bulow estava era Elshcltz
aos 27; o General Borstell estava nas vizinhanças de
Lnckcnwalda ; o General Tauenasien tinha o seu
472 Miscellanea.
quartel-general era Bareuth aos 2 7 ; o seu corpo estava
postado entre aquella cidade, Goltzen, e Luckau. Elle
mostrou grande habilidade era ajunctar taõ brevemente a
sua reserva ; e muita actividade em expulsar o inimigo
dos matos. O General Wobeser, depois de incommodar
o flanco esquerdo, e retaguarda do inimigo, ajunctou
toda a sua força juncto a Golzen, marchou para Bareuth,
carregando uma força inimiga de 2.500 homens. Todas
as nossas tropas acossaram o inimigo na sua retirada. As
estradas estaõ todas cheias de armas, e cavallos mortos, ou
tesropiados. A retaguarda dos Francezes destruio a sua
bagage.
O General Walmoden atacou uma força Franceza, de
20.000 homens, cammandados pelo Principe de Eck-
mnchl, no dia 21 pela tarde : a batalha durou até muito
depois de anoitecer, ambas as partes mantiveram as suas
posiçoens. A nossa perda he de cerca de 100 homens
mortos e feridos; a dos inimigos, segundo a conta dos
prisioneiros, excede 500. Aos 23, elles se concentraram
em Wittenberg, e depois de varias demonstraçoens, des-
tacaram repentinamente 10.000 homens para Schwerin • o
resto seguio pouco depois. Tomaram uma posição forte
entre o lago grande e pequeno. O General Tettenborn,
com 4 regimentos de Cossacos, sustentado pelo corpo de
Lutzcn e de Reiche o observou de todas as partes, e lhe
cortou as communicaçoens, elles tem ja interceptado mui-
tos correios despachados pelo Governo Francez, e tomado
muitos carros de munição. Alem disto o General Vege-
sack observa os seus movimentos, e toma em conseqüência
as suas medidas. O General Walmoden conhecendo que
naõ devia deixar passar esta arriscada manobra do inimigo;
avançou para Gabreu; porém aos 26 marchou outra vez
porá Schwerin; d'onde o inimigo ainda naõ tentou mover-
se. Os Cossacos tem tomado cousa de 100 prisioneiros
Francezes e Dinamarquezes. O Conde Kielmansegge,
Miscellanea. 473
dos Caçadores Hanoverianos, passou o Elbe com o seu
destacamento juncto a Domitz, aos 25, na manhaã. Elle
atacou o inimigo em um posto entrincheirado, e depois de
ter morto e ferido cousa de 5 0 ; tomou tres officiaes, e 100
soldados.
O dia de hontem foi notável pela derrota do corpo do
General Girard, entre Lubnitz e Belzig, pelos combinados
esforços dos Generaes Czernicheff e Hirchfelt. O inimigo
tinha marchüdo contra Czernicheff, em quanto, sem que o
soubesse, Hirschfeldt estava na sua retaguarda. Elle se
aproveitou desta situação para cahir sobre o seu flanco
esquerdo. As alturas em frente da aldea de Hagel-
berg, e a em que o inimigo se tinha formado, foram toma-
das de assalto, e retomadas varias vezes. Depois de uma
obstinada resistência o exercito do inimigo que era mui
superior era numero ao nosso se retirou, em muita desor-
dem, e nós o perseguimos com os atiradores até que anoi-
teceo.
Nesta occasiaõ o General Czernicheff atacou o inimigo
pela parte de Belzig; a sua cavallaria executou algumas
brilhantes cargas. Um regimento de Cossacos carregou
uma columna de infanteria da força de 1.000 homens, e
os destruio ou aprisionou. Naõ podemos ainda especificar
todos os officiaes que se assignalaram na acçaõ deste dia.
O General Czernicheff tomou 60 officiaes, e 1.500 solda-
dos, e uma peça d'artilheria ; o General Hirsckfeldt entre
70 e 80 officiaes, e mais de 2.000 soldados, alem de 7
peças, muitos carros carregados de munição, e quasi toda
a bagagem do inimigo. A infanteria Prussiana tinha
necessidade de algum descanço depois de taõ trabalhosas
marchas; porém os Cossacos, sob o General Czernicheff
perseguiram o inimigo vivamente. O Coronel Benken-
dorff, na tarde de 27, passou pelos inimigos, e foi ter a
Gorzke. He provável que elles naõ escapem excepto os
VOL. X I . N o . 64. 3 P
474 Miscellunea.
fracos restos do corpo do General Girard, para Magdc-
burg, ou Wittenberg.
O que mais particularmente faz honra ao corpo do
General Hirschfeldt, saõ as marchas forçadas, que elle
executou immediatamente depois desta acçaõ. As tropas
novas da ultima leva, compostas principalmentede milicias
das novas Marcas, obtiveram uma victoria de um inimigo
superior em numero, e em artilheria. Isto prova o que o
ardente patriotismo, guiado por um hábil, e activo general
pôde executar. Saxonios, Bávaros, Wurtemburguezes!
Vôs tendes mostrado a vossa coragem, em uma causa
repugnante aos desejos, e aos interesses de vossa pátria, e
supportando um jugo estrangeiro, que nunca podia existir,
se vós fosseis animados por motivos verdadeiramente
nobres e puros ! Aonde está aquelle poder sobre a terra,
a que os Alemaens, unidos para combater pela indepen-
dência, e integridade de seu paiz, naÕ possam eficazmente
resistir?
O General Thumen mostrou grande valor nas acçoens
que precederam a acçaõ de Gross Berin. Ainda que
ferido, continuou a commandar em pessoa. O General
OcRourke mostrou cm todas as acçoens com o inimigo
grande sangue frio, e talento. Depois da renovação das
hostilidades, a força do inimigo, que se oppóem á dos
Alliados no Norte da Alemanha tem perdido mais de 12.000
homens, segundo as participaçoens dos generaes tem-se
tomado 7.000 prisioneiros, dos quaes 250 saõ officiaes, in-
cluindo vários coronéis, e tenente-coroncis.

Agosto 29, 9 horas da manhaã.


O Tenente-general Conde Tauenzien destacou o Gene-
ral Wobeser, paratomarposse da cidade de Luckau. Este
intimou hontem ao comniandante que se rendesse, eencon-
trando a negativa, bombardeou a praça. Ao momento era
que hia a dar o assalto, o commandante capitulou: o re.
Miscellanea. 475
sultado desta brilhante operação fôram 9 peças d'artilhe-
ria, 1.000 prisioneiros, e considerável quantidade de mu-
niçoens e armazéns.

Bulelim VII.
Quartel-general, Belitz, 30d'Agosto.
O Principe Real mudou o seu qnartel-general para este
lucrar no descurso do dia.
Por todas as noticias que recebemos dos prisioneiros do
corpo do General Girard, este official foi morto na acçaõ
de 27. O General Putlitz recebeo uma violenta contusão
na espadua, elle mostrou muito valor, e talento. Todas
as horas tomamos prisioneiros, e as tropas perseguem vi-
vamente o inimigo.
O General Borstel occupa Zinna, e Juterbock, e tem
dado em todas as occasioens provas de seu zelo e sciencia.
O inimigo pareceo disposto a concentrar-se hontem, em
Eckmansdorff, e Kattenborn, entre Wittenberg e Truen-
britzen. As noticias que se receberam hoje dos Generaes
Winzingerode, e Woronzoff, ja naõ deixam duvida de
que o inimigo se retirou para o Elbe. O General W i n -
zingerode o persegue com 8.000 cavallos.
O Generel Woronzoff, que foi tomar o commando da
guarda avançada Russiana, fez um ataque contra Juter-
bock, antes de hontem, cerca de noite; com 3 a 4 mil
homens; ao mesmo tempo que o inimigo tinha ao menos
20.000 na cidade ou juncto a ella. Uma viva canhonada
pôz o inimigo em grande susto. Esta operação faz a maior
honra aos talentos do General Woronzoff, que no momento
em que a começou naõ sabia que uma forte columna se
achava em marcha para o auxiliar, em caso que fosse ne-
cessário.
Todo o exercito está avançando.
O grande exercito Russiano, Austriaco, e Prussiano,
debaixo do commando do Marechal Principe Schwart-
3 p 2
476 Miscellanea.
zenberg, desembocou da Bohemia para a Saxonia aos 22
de Agosto, tomando uma posição na margem esquerda do
Elbe. As tropas que o inimigo tinha postado no desfila-
deiro fôram forçadas. Aos 26, o quartel-general dos Al-
liados estava diante de Dresden. Começou o bombar-
deamento, e a cidade estava ja em chamas. O Imperador
Napoleaõ chegou ali aos 25, cora as suas guardas. O
exercito Francez debaixo de suas ordens immediatas,
abandonou a Silezia c Luzacia, c se aproximou ao Elbe.
O General Blucher marchou de Jauer aos 25 pela manhaã,
e o seguio com todss as suas forças.

Bulletim VIII.
O General Principe Koudaschoff, que fora mandado
como expresso pelo Principe Schwartzenberg, do campo
diante de Dresden, a S. A. Sereníssima o Principe Real;
chegou com as suas noticias esta manhaã pelas oito horas.
O general atravessou o exercito do inimigo, cruzou o Elbe
a nado, com 200 Cossacos, entre Reissa e Mcisen, e forçou
vários postos. Elle acaba de partir para Eichenwerda,
d'onde irá para Dahme, aonde se encontrará com as pri-
meiras tropas Prussianas. Na sua marcha aprisionou 6
officiaes Polacos, que trouxe com sigo: chegou ao quartel-
general de S. A. Sereníssima sem perder um só homem.
Dous dos Cossacos fôram feridos de espada.

Bulletim IX.
Quartel-general Treuenbritzen, 1 de Septembro.
S. A. R. mudou o seu quartel-general para Buchholtt,
aos 30 d'Agosto, d'onde veio hontem para aqui ás 8 horas
da manhaã.
O inimigo tinha tomado posse da cidade de Marzahu,
Selwabeck, Eckmansdorf, e Feldhum ; hontem se descar-
regaram alguns tiros d'artilheria entre elle, e os nossos
corpos dereconhecimenío. O General Baraõ Aldcrcreutz
<oi destacado por S. A. R. para ver as posiçoens do íni-
Miscellanea. 477
migo, e marchou a cavallo na dianteira, acompanhado
pelo General Baraõ Tawart, até a distancia de 400 passos
de suas baterias.
O exercito unido está todo juncto. As vanguardas Rus-
stanas e Prussianas perseguem o inimigo pela estrada de
Wittenberg. Um corpo de tropas Suecas, compostas do
regimento de hussares Mornee, 2 batalhoens de Yagers, e
4 peças d'artilheria, commandadas pelo Ajudante-general
Baraõ Ccdestrom, está juncto com a vanguarda Russiana ;
as tropas ligeiras do General Czernicheff, e Coronel Breu-
del, acossam constantemente o inimigo. Os Generaes
Tauenzien e Herschfeldt dirigem os seus movimentos pe-
los do exercito, e estaõ connexos com elle.
O Principe de Eckmuhl ainda continuava na sua posi-
ção juncto a Schwerin, aos 28 d'Agosto. S. A. R. man-
dou hoje o Coronel Bjonsturna, com uma bandeira par-
lamentaria á avançada Franceza, para entregar a capitula-
ção do Commandante de Luckau.

Bulletim X.
Quartel-general de Rodigke, 4 de Septembro.
O Principe da Coroa mudou o seu quartel-general para
Buchaoltz aos 26de Agosto; aos31 para Truenbritzen j
e hontem para este lugar.
Luckau he um daquelles pontos nas fronteiras de Sax-
onia, que o inimigo fortificou com a maior assiduidade,
durante o Armistício. Elle contou com o poder defender
por longo tempo, e naõ esperava vernos taõ cedo. Damos
ao depois a capitulação desta praça. O Principe da Co-
roa ordenou que se fortificasse a montanha vizinha, traba-
balham nisto 6000 homens. Os subúrbios seraõ arrazados,
e por este meio a guarniçaõ de Luckau se poderá defen-
der.
O terreno, que hé muito desigual, a algumas léguas de
Wittenberg, favoreceo a retirada do inimigo, e impedio
478 Miscellanea.
que obrasse a cavallaria ligeira. NaÕ obstante se força-
ram varias vezes as suas posiçoens.
Aos 30 de Agosto, o General Winzingerode tiuha o
seu quartel-general em Niemeck. O General Blucher,
tinha o seu em Treuenbritzen aos 30 d'Agosto, e no 1*. de
Septembro em Frohnsdorff.
Aos 2 de Septembro o corpo d'cste general avançou
para as posiçoens de Schwolbeck e Feldhum, estando a
sua guarda avançada em Morzanher.
O inimigo guarneceo Kropstadt, porem desfilou durante
a noite, e ao romper do dia começou a retirada a sua
retaguarda. O General Borstel o perseguio até Thie-
sen. O inimigo começou uma viva canhonada, e fogo
de mosqueteria, para cubrir a sua posição; porém os
postos avançados do General Borstel se sustentaram ante os
desfiladeiros de Kopping, a 200 passos de Thusen. A di-
visão do Coronel Krafft subio as alturas de Kroppstadt,
para sustentar o General Borstel. Ao mesmo tempo o
General Dobschutz se fez senhor das alturas da cidade de
Zahne. Conservou-se a communicaçaõ com o General
Borstel pelo posto de Wollersdorff, de que tinha tomado
posse o Major Beyer. O resto do corpo do Generel Bu-
low tomou uma posição em Marzalau.
A divisão Prussiana, debaixo do commando do Coronel
Krafft, contribuio principalmente para o bom successo da
acçaõ em Gross Berin, e o seu commandante se distin-
guio por sua intrepidez. O corpo do Principe de Hesse
Homberg tomou igualmente uma parte activa nas acçoens
que houveram, e em todas as oceasioens tem o Principe
dado provas de seu valor e actividade. Sendo o inimigo
mui apertado pela sua esquerda, pelos Generaes Woron-
zoff, Grourk, e Czernicheff, fez algumas tentativas da
parte de Coswig, porém foi sempre repulsado com perda.
Aos 3 de Septembro, Tenente-coronel Zzbacha foi
destacado pelo General Woronzoff, para tomar posse dos
Miscellanea. 479
bosques juncto a Schmilkendorf, e executou as suas or-
dens com bom subcesso. Sendo depois cercado pelo ini-
migo com força quádrupla da sua, fez-lhe ainda assim
frente, e limpou o seu caminho em boa ordem, e com
pouca perda. Schmilkendorf foi outra vez guarnecida
pelo General Woronzoff.
O corpo d'exercito Francez, que tinha avançado para
Schewerin, ainda ali estava aos 2 do corrente: e tinha
destacado uma divisão Dinamarquesa para cubrir a sua
retaguarda. O General Tettenborn continuou a incommo-
modar as communicrçoens do inimigo, e assustar os seus
postos avançados. Elle tomou, juncto a Gadebusch, um
transporte de 40 carros com mantimentos e munição, tendo
morto ou disperso a sua escolta. As conseqüências da
victoria ganhada pelo General Blucher aos 26, no Katz-
bach, saõ decisivas. O resultado daquella acçaõ, aos 30,
montava a mais de 14.000 prisioneiros, 80 peças d'arti-
lheria, e 300 carros de munição.
Toda a divisão Franceza do General Pulhod, poz as ar-
mas em terra, aos 29 ds corrente, juncto a Lowenberg á
excepçaõ de 300 ou 400 homens, que atiraram com sigo
ao Bober. O General Blucher, aos 30 d'Agosto; tinha
o seu puartel-general em Holstein, juncto a Lowenberg, e
continuava em seguimento do inimigo. O General Be-
nigsen, com o seu corpo d'exercito, chegou a Breslaw aos
30, d'onde procedeo para Leignitz, marchando na mesma
linha do General Blucher.

Bulletim XI.
Quartel-general de Juterbocb, 8 de Septembro.
O Principe Real transferio o seu Quartel-general para
Rabenstein aos 4 deste mez.
Ao momento em que S. A. R. começou a marcha, afim
de avançar com o exercito Russiano e Sueco para Roslati,
com a intenção de cruzar ali o Elbe, e de tomar a direcçaõ
480 Miscellanea.
de Leipsic, S. A. R. soube, que o inimigo, depois de fazer
uma demonstração de passar para margem esquerda do rio,
voltou repentinamente para os seus entrincheiramentos de
Teuchel e Tragun, na avançada de Wittenburgh. Esta
repentina volta deo lugar a presumir, ou que elle intentava
atacar o exercito combinado na sua passagem cruzando o
Elbe, ou fazer um rápido movimento sobre Berlin.
O Principe Real demorou a marcha de suas tropas, e an-
itunciou o que teria lugar no dia seguinte : dous batalhoens
um Sueco, e outro Prussiano, foram mandados para Ros-
lau ; debaixo das ordens do Tenente-coronel Host, Aju-
dante de campo de S. A. R., a fim de ajunctar todos os
materiaes necessários, para a construcçaõ de uma ponte.
As noticias dos postos avançados annunciaram a cada
momento, que o exercito do inimigo estava marchando
para Zahne. Este posto, occupado pelo corpo do Gene-
ral Dobschutz, pertencia ao corpo d'excrcito do General
Conde Tauenzien, e foi atacado por uma força mui su-
perior aos 4 de Septembro, pela tarde, e manteve o seu
terreno com grande valor.
Tendo o inimigo sido repulsado em vários ataques,
tornou a entrar nos seus estrincheiramentos ante Wittem-
berg.—No dia seguinte, 5 de Septembro, se renovaram os
mais sanguinolentos ataques contra Zahne, e a pezar da
coragem que mostrou o General Dobschutz, com as tro-
pas debaixo das suas ordens, foi tomada esta posição. O
mesmo aconteceo, depois de uma obstinada resistência, ao
posto de Seyda, ocupado pelo corpo de Tauenzien.
A noticia dos camponezes, dos postos avançados, e dos
agentes secretos, todas annunciávam positivamente, que o
inimigo marchava pelo caminho de Torgau. Estas noti-
cias chegavam a todas as horas, e uma só pessoa trouxe a
novidade do que o inimigo intentava marchar para Juter-
bock.
O Principe Real partio dos 6 de Septembro, ás 3 horas
Miscellanea. 481
da madrugada, de Rabenstein, e ajunctou os exércitos
Sueco, e Russiano, nas alturas de Lobessen. S. A. R. es-
perava as participaçoens do General Tauentzem, que jul-
gava mui adiantado; quando recebeo uma informação do
General Bulow, annunciando que todo o exercito estava
em plena marcha para Juterboch. O Principe Real
ordenou-lhe que atacasse immediatamente o flanco e re-
taguarda do inimigo, antes que o General Tauentzein, que
defendia os aproches da cidade fosse obrigado a succumbir
ao numero maior. O exercito Sueco, que tinha entaõ
marchado mais de duas milhas Alemaãs, partio para Ju-
terboch, que ficaca ainda distante 3 milhas Alemaãs, e
foi seguido pelo exercito Russiano, á excepçaõ da guarda
avançada, commandada pelo Conde Woronzoff; perten-
cente ao corpo do General Czernicheff, a qual continuou
em frente de Wittemberg. Principiou immediatamente
a canhonada e mosqueteria entre as tropas Prussianas e o
exercito do inimigo. Os corpos Russianos e Suecos, de-
pois de suas marchas forçadas, fôram obrigados a fazer
halto por um momento, a fim de formar-se em ordem de
batalha. O exercito Prussiano, quasi de 40 000 homens,
susteve no entanto, com uma coragem verdadeiramente
heróica, os repetidos esforços de 70.000 do inimigo, sus-
tentado por 200 peças d'artilheria. A contenda foi de-
sigual e sanguinoleta. Porem as tropas Prussianas naÕ
se desconcertaram por um só momento, e se alguns bata-
lhoens foram obrigados a ceder, por um só instante, o ter-
reno que tinham ganhado, foi somente para o fim de o tor-
nar a occupar um momento depois. Em quanto isto se
passava 70 batalhoens de Suecos, e Russianos, 10.000
cavallos de ambas as naçoens, e 150 peças d'artilheria,
avançaram eun columnas de ataque, deixando espaços
intermediários para desdobrarem. 4.000 cavallos Rus-
sianos, e Suecos, tinham avançado a toda o galope, para
sustentar alguns pontos, para onde o inimigo dirigia prin-
VOL. X I . N o . 64. 3Q
482 Miscellanea.
cipalmente o seu ataque. A sua presença começou a
fazer parar o inimigo, c a apparencia das columnas con-
cluio o resto. Em um instante se decidio a sorte da bata-
lha. O exercito inimigo tocou a retirada, a cavallaria
carregou o denodamente, com atrevimento que se assimi-
lhava a fúria ; e levou desordem ás suas columnas, que se
retiraram com muita precipitação pela estrada de Dahme.
A força do inimigo éra composta de 4 corpos d'exercito.
O do Marechal Duque de Reggio, os dos Generaes Ber-
trand e Regnier, e do Duque de Padua ; e de 3 para 4.000
Polacos, de pé e de cavallo; tudo isto debaixo do com-
mando do Marechal Principe de Moskwa. O resultado
desta batalha, que se pelejou juncto â aldea de Donnewitz,
por cujo nome será designada, foi, ja hontem pela ma-
nhaã, de 5.000 prisioneiros, 3 estandartes, 25 a 30 peças
d'artilheria, e mais de 200 carros de munição. O campo
de batalha, e a estrada porque passou o inimigo está cu-
berta de mortos e feridos. O inimigo vigorosamente per-
seguido, pareceo desejoso de proseguir para Torgau, mas
naõ chegará aoaElbe antes que soffra perdas ainda mais con-
sideráveis. Hontem pela tarde o General Wobeser, que ti-
nha sido ordenado marchar com 5.000 homens dcLuckau pa-
ra Dahme, atacou naquella cidade, aonde se tinham aquar-
tellado o Principe de Moskwa, e os Duques de Reggio ePa-
dua parte do exercito inimigo, que intentava ir para Dres-
den : e tomou 2.500 prisioneiros. O Major Helwig cora
500 cavallos avançou paraSweitnitz e Hertzberg, e atacou
uma columna do inimigo pela noite, tomando 600 pri-
sioneiros, e S peças d'artilheria. As tropas ligeiras tra-
zem mais a todo o momento : e o General Regnier per-
maneceo por longo tempo exposto ao fogo dos nossos ati-
radores, na situação de um homem que deseja a morte.
Nos avaluamos, que o inimigo perdeo, até este momento,
em mortos, feridos, e prisioneiros, de 16 a 18 mil homens,
mais de 50 peças d'artiJheria, e 400 carros de munição.
Miscellanea. 483
A perda do inimigo, em mortos e feridos deve ter sido
immensa; metade da escolta do Principe de Moskwa foi
morta : o Marechal Duque de Regio carregou em pessoa
a infanteria do Conde Taueutzein. A perda das tropas
Prussianas he grande; e monta a 4 ou 5 mil homens mor-
tos ou feridos. Com tudo os resultados do dia devem con-
tribuir para a consolação de todo o verdadeiro patriota,
que achará, que o triumpho da causa da sua pátria está se-
gura pela morte destes valorosos homens. As tropas Sue-
cas e Russianas perderam pouco.
Os corpos andavam àsenvejas uns dos outros, quem exce-
deria em coragem e devoção. O heróico exemplo que
mostrou nesta occasiaõ o exercito Prussiano, he calculado
para existir para sempre nos annaes de fama militar, e para
inspirar a todos os que pelejam pela independência da
Alemanha. As tropas Russianas e Suecas, que tomaram
parte na batalha, apoiaram valorosamente os esforços de
seus irmãos em armas.
O General Bulow mostrou o sangue frio e valor de
guerreiro, que naÕ tem outro objecto mais do que a gloria
de seu Rey e defensa de sua Pátria. Os officiaes debaixo
de seu commando imitaram o seu honroso exemplo. O
Principe de Hesse Homberg, Generaes Oppen, Borstell,
e Thumen e o Coronel Kraft, se distinguiram da maneira
mais brilhante.
O General Conde Tauentzien continou a dar provas de
seus talentos e sangue frio. Durante quasi toda a acçaõ
elle sustentou os mais vigorosos e repetidos ataques do
inimigo, e tem sido de grande auxilio para o bom successo
da contenda, tanto pelo seu destemido comportamento,
como pela escolha de suas posiçoens.
O General Russiano Conde de Manteuffcl, se distinguio
carregando à frente de sua brigada. Os General Woron-
zoff, Czernicheff, Benckendorff, e Hirschfeldt, tendo sido
postados muito na vanguarda na ala esquerda do inimigo,
3o 2
484 Miscellanea.
naõ puderam ajudar na batalha; porem contribuíram es-
sencialmente para o nosso bom successo, pelas posiçoens
que occuparám.
O Marechal Conde Stedink, e General Baraõ de Win-
zingerode, os Generaes officiaes, e soldados debaixo do seu
commando, sentiram que a precipitada retirada do inimigo,
quando elles se aproximaram, lhes naõ desse occasiaõ a
completar a sua destruição, por um ataque simultâneo. O
vento, e as grades nuvens de poeira, impediram por muito
tempo que os exércitos Russiano e Sueco se distinguissem
um ao outro, naõ obstante o marcharem de concerto, e so-
bre a mesma linha.
O Principe Real tem constantemente andado acompa-
nhado pelo seu estado maior ; o General baraõ de Adler-
creutz naõ o deixou, até que recebeo ordens de marchar
para a direita do exercito Prussiano, com varias peças
d'artilheria, debaixo da direcçaõ do Coronel Cardill. Este
General preencheo, exactamente as intençoens de S. A.
R ; e diariamente adquire novos direitos á sua estimação
e amizade.
Elle está também mui satisfeito com o zelo do General
Baron Tawast, e do General Conde de Lowenbjelm. Os
Generaes o baraõ de Suchtelen, de Vincent, de Kruse-
mark, e Pozzo di Borgo tem constantemente servido junc-
to á pessoa do Principe Real.
Hoje se cantou um Te Deum solemne em todos os corpos
do exercito, pelas vantagens, que ganharam as forças com-
binadas, desde o principio das hostilidades.
Entre os prisioneiros ha um grande numero de Saxonios
que pediram que os deixassem formar em uma Legiaõ
Saxonia, e pelejar a bem da independência dos Soberanos
e da liberdade Germânica. O Principe Real condencen-
deo com a sua offerta, persuadido de que a devoção destes
valorosos homens séra da satisfacçaõ das Potências Alliados.
Miscellanea. 485
Bulletim XII.
Quartel-general de Juterboch, 10 de Septembro.
Cada dia nos dá novas provas que as conseqüências da
batalha de Dennewitz, saõ de maior importância do que se
suppunha ao principio. Ja se calcula a mais de 10.000
prisioneiros, 80 peças, mais de 400 carros de munição, tres
bandeiras, e um estandarte tomados.
Depois que o General Wobeser poz em fugida, o exer-
cito do inimigo em Dahme, continuou este a retirar-se para
Torgau. As nossas tropas ligeiras naÕ desistiram de o
perseguir, tomando-lhes prisioneiros, carros de munição e
bagagem. O inimigo tem destruído as pontes do EIster,
nas vizinhanças de Annaberg, e Hertzberg.
Na verdade, a cavallaria tem cruzado aquelle rio, porém
he necessário concertar as pontes, antes que passe a artilhe-
ria. Tomaram-se 800 prisioneiros juncto á ponte de Tor-
gau, e alguns batalhoens, que acharam que éra impossivel
chegar a Torgau voltaram para a direcçaõ de Muhlenberg,
e tomaram a estrada que vai para Dresden.
O Marechal Principe de Eckmuhl sahio de Schwerin na
noite de 2 para 3 de Septembro, com todo o seu exercito.
Considerando a forte posicaõ em que elle estava, este mo-
vimento parece ser conseqüência dos progressos que faz o
exercito alliado da parte da Saxonia. O inimigo teve tem-
po sufficiente para pôr tudo prompto para a sua retirada,
de maneira que naõ pudemos alcançado com a nossa artilhe-
ria e bagagem. Alem disto levou-nos tempo de dianteira,
antes que os corpos dos Generaes Walmoden, e Vegessack,
o primeiro dos quaes estava etn Crewitz, e o outro juncto
a Warin, pudessem marchar.
O corpo d'exercito, commandado pelo Principe de Eck-
muhl, marchou em duas columanas pelas estradas de
Gadebusch e Rhena, e fez halto a meia milha de distancia
de Ratzburg. A divisão do General Loison se retirou na
mesma direcçaõ de Wismar, por Gravensrauhlentorf para
*86 Miscellanea.
Scouberg. Neste lugar as tropas Dinamarquezas se se-
pararáram das Francezas. Estas marcharam para Ratz-
berg, e aquellas para Lubeck, aonde deixaram uma guar-
niçaõ; e ao depois se acamparam mais adiante em Oldes-
loke. Todo o exercito Francez se retirou, cruzando o
Steignitz, em cujas margens se acampou, destruindo todos
os meios de atravessar aquelle rio. A perda do inimigo
nesta accelerada retirada excede 1.000 homens, dos quaes
mais de 600 tem ficado prisioneiros. Os Cossacos do
corpo de Lutzow e Von Reicbe, com a cavallaria Han-
seatica, fizeram vários ataques na retaguarda do inimigo.
Do lado do General Vegesack, foi o inimigo perseguido
até debaixo das peças de Lubeck. O Major Amim, que
commandava [a cavallaria Hanseatica, com graniu- habili-
dade, foi ali morto por uma bala d'artilheria. Os Yagers
de Mecklanburg atacaram um esquadrão Dinamarquez nas
vizinhanças de Dassow, e lhe causaram perda considerável.
Os Dinamarquezes tem commettido muitos actos de
violência em Mecklenburg. O mais notável heque elles
saõ commandados por um Principe de Hesse, cuja familia
esta declarada pelo Imperador Napoleaõ ter perdido as
suas possessoens; e que com tudo serve aquelle Monarcha,
debaixo do commando do Principe de Eckmuhl.
Wittenberg esta bloqueado pelo General Czernicheff.
Um numero de tropas sufficiente esta observando Magde-
burgo, na margem direita do Elbe. O resto do corpo do
General Girard se escapou para aquella fotaleza, da mar-
gem esquerda do Elbe. As sortidas da guarniçaõ se limi-
tam agora a cortar lenha nos matos de Biederitz, o que se
faz unicamente para destruir aquelle bosque, que pertence
a El Rey de Prússia.
Os postos avançados do corpo do General Tauenzien
estaõ em Enflenberg, Elstewerda, e Rutland ; e as partidas
de reconhecer se adiantam até Hoyerswerda, e vizinhanças
de Grossen Hayn. As tropas ligeiras Russianas estaõ ao
Miscellanea. 487
longo do Elbe até Mecklenberg, e encerram Torgau a
pouca distancia. Destacamentos Russianos e Prussianos
vaõ até as vizinhanças de Bautzen, e se encontram com
os corpos dos generaes Benigsen e Blucher.
Depois destas favoráveis acçoens, o exercito combina-
do se moveo da Bohemia para a Saxonia, e aos 5 de Sep-
tembro, marchou pelo caminho da Peterswalda e Alten-
berg, contra Pirna e Dippoldiswalda. Grandes destaca-
mentos, sustentados por corpos numerosos de reserva, ti-
veram ordem de ir para a retaguarda do inimigo, e cor-
tar-lhe as suas communicaçoens. Durante este tempo o
Imperador Napoleaõ foi outravez para a Silezia, com as
suas guardas e algumas tropas mais. O Principe de
Moskwa devia cubrir o seu flanco esquerdo ; e ao depois
devia derrotar o exercito commandado por S. A. R. e
voltar parte de sua força contra o Neisse. As occurren-
cias do dia 6 estragaram este plano. O exercito do Mare-
chal Principe de Moskwa está disperso ; tem perdido duas
terças partes de sua artilheria; todas as suas muniçoens e
bagagem, e acima de 20.000 homens. O Imperador Na-
poleaõ voltou para Dresden. O exercito do General Von
Blucher o segue ; e com toda a probabilidade lhe causará
uma considerável perda. O exercito unido do Norte da
Alemanha está portanto em connexaõ pela sua ala esquer-
da, com o exercito da Silezia. O General Benigseu
segue todos estes movimentos.

RUSSIA.
S. Petersburgo, 21 de Julho.
Ao momento em que os beroes do Norte; coroados com
os louros da Victoria, descançávam entre as margens do
Elbe e do Oder, depois dos penosos trabalhos a que se
tinham sugeitado, durante o curso de uma campanha,
queserásempre memorável; os verdadeiros filhos daHespa-
nha, na residência dos Monarchas Russianos, se ajuncta-
48& Miscellanea.
tam em torno do estandandarte de seu paiz, e prestaram o
juramento de -fidelidade a seu legitimo Soberano. Anhe-
lando ardentemente unir-se aos seus compatriotas, e re-
conquistar a liberdade e independência de sua pátria. Aos
7 deste mez teve lugar em Zarskoselo a ceremonia da
bençaõ das bandeiras do regimento Imperial Hespanhol de
Alexandre. O Ministro Plenipotenciario, o Cavalheiro
Bardaxi Azara, de acordo com o Ministro da Guerra,
Principe Gortscbakoff, escolheram este dia em memória
da brilhante victoria, ganhada aos 7 de Julho, de 1808,
pelos Hespanhoes, juncto a Baylen. A ceremonia foi
conduzida na seguinte ordem :-—
O novo regimento Hespanhol, consistindo em 1.300
homens, e divido em tres batalhoens, se formou na
melhor ordem na grande praça de Sophia. O Principe
Gortschakoff, logo que chegou lhes passou revista. Es-
tando feitas todas as disposiçoens necessárias, e tendo
chegado a Imperatriz, começou a cerimonia da bençaõ
com as oraçoens do custume. Depois apresentáram-se as
bandeiras ao commandante deste regimento, o Coronel
0'Donnell, e a dous officiaes do mesmo regimento. O
corpo prestou entaõ juramento de fidelidade a Fernando
VII. e á constituição, segundo a forma prescripta. Depois
se cantou o Te Deum ; e se fez o serviço Divino, acabado
o qual, o Sacerdote officiante recitou a oraçaõ pela vida de
S. M. o Imperador, e toda a sua Augusta familia. Os
guerreiros Hespanhoes penetrados da maior gratidão, fize-
ram resoar os ares com gritos de " Viva o Imperador, vi-
va a sua Augusta familia." Depois o Ministro Hespa-
nhol fez a estes guerreiros uin discurso, em que trouxe á
sua lembrança de maneira mui viva, as desgraças de sua
pátria, seus esforços para repellir a tyrannia, o bom suc-
cesso que tinha ja coroado o seu valor, e a perseverança,
que naõ podia deixar de completar o seu triunipho, e exi-
gir um eterno monumento de sua gloria, e lançar os funda-
Miscellanea. 489
mentos de sua prosperidade futura. N a conclusão deste
excellente discurso, a que as circumstancias agora d e r a m
maior interesse, exclamaram todos estes guerreiros,
<• Viva Fernando V I I . " e desfilaram na presença de S . M .
a Imperatriz, e do retrato de seu Soberano. Esta festi-
vidade deo occasiaõ a reflectir em varias circumstancias
extraordinárias. N o anno de 1812 estes mesmos H e s p a -
nhoes, arrancados d e suas casas, e de envolta com uma
confusa mixtura de differentes naçoens da Europa, fôram
atirados por Napoleaõ ao território de Russia: e este anno
se viram apparecer no meio dos Russianos, naÕ como ini-
migos; mas como outros tantos amigos e alliados. Assim
a Providencia, em seus impenetráveis decretos, os t r o u x e
de uma extremidade do sul da Europa até os paizes do
Norte; para prestarem nestas regioens o j u r a m e n t o d e fide-
lidade a seu legitimo Soberano.

Reflexoens sobre as novidades deste mez.


BRAZIL.

A p. 366, deste N". achará o Leytor o Convênio, feito pelos Com-


missarios Inglezes e Portuguezes, á cerca das estipulaçoens do trac-
tado de commercio ; e depois algumas breves observaçoens nossas a
esse respeito.
Damos sinceramente os pezames ao Soberano, e ao povo do Bra-
zil ; por uma transacçaõ desta natureza; mas em vez de consumrair
o tempo em lamentaçoens inúteis, sobre o que está feito, ratificado,
e de novo approvado ; aconselharíamos, que cuidassem no Brazil
em appellar para o único recurso que lhes resta, que be o melhora-
mento interno de seu paiz. He verdade, que, depois de estar uma
naçaõ ligada por um tal tractado de commercio, recomraendar-lhe,
que cuide de sua prosperidade, he o mesmo, que deitar um homem,
ao mar com um pezo ao pescoço, e dizer, que se esforce a nadar
para a terra; porém, se o pezo naõ for taõ grande que absolutamen-
te o faça mergulhar logo ; he do seu dever esforçar-se por chegar í
praia. Nestes termos, ainda que o tractado seja, como convém
todos hoje em dia, um grande impedimento à prosperidade do
Brazil, com tudo, uma vez que isto ja naõ tem remédio, deve-se
olhar para os ramos de industria e prosperidade nacional, que ad-
VOL. XI. No. 64. 3R
490 Miscellanea.
mrttirem melhoramento, e nadar com o pezo ao pescoço o melhor
que puder ser.
Por varias vezes temos apontado a necessidade de estabelecer um
plano combinado, e continuado com perseverança, segundo o qual,
melhorando ao mesmo tempo as finanças publicas, e a industria par-
ticular, se sustentem mutuamente uns aos outros, todos estes ramos
de prosperidade nacional, que podem ser a gloria de um Soberano
Pay da Pátria, e de ura Povo cheio de riquezas naturaes. Mas
quando falíamos agora a respeito daquellas partes de um tal plano,
que poderiam de algum tênue modo contrabalançar as desavanta-
gens deste tractado, viria a ser perigoso o publicar aqui ns nossas
ideas, porque o mesmo acto de as manifestar, daria occasiaõ a i-ue
os rivaes cuidassem em as contraminar. Ligados, portanto, com
estas poderosas consideraçoens, julgamos que nos devemos limitar a
ideas mui geraes ; e com tudo taes, que sirvam de estimulo e de
despertar a attençaõ dos homens, que estando á testa dos Negócios
no Brazil, quizerem servir com honra, e ser de utilidade a sua
Pátria.
Pensar de commercio marítimo, depois de similhante tractado, he
tempo perdido : d'onde concluímos, que o único recurso vera a ser
a industria interna. A China naõ tem commercio externo, e com
tudo he um prospero, rico, e respeitável paiz. A comparação da
China com o Brazil, naõ he descomedida, em ponto da capacidade
de terreno, fertilidade do chaõ, bondade do climn, c facilidade de
communicaçoens internas. Logo ; julgamos mui ajuizado imitar no
Brazil a politica dos Chinezes: e o primeiro passo que lembra logo
he o augmento da população; naõ uma população inútil quasi, ou
adventicia; como saõ, por exemplo, os escravos Africanos, ou os
negociantes estrangeiros, que temporariamente residem nos portos
de mar, para seus fins commerciaes; mas sim uma população com-
posta de colônias Europeas, das naçoens mais bem entendidas na
agricultura, nas artes, e nas sciencias; que assentando o seu domi-
cilio no paiz, e enlaçando-se com as familias nacionaes, venham
elles, e seus descendentes a ser cidadãos úteis.
Contra este augmento de população, produzido por colônias
estrangeiras, só se podem alegar dous inconveniente»; um hc, as
despezas que saõ necessárias para obter esta população no paiz |
outro, a diversidade de seitas, e religioens.
Quanto à primeira; quando observamos o grande numero de
gente, que de vários paizes da Europa, principalmente da Alemanha
e Irlanda, concorrem aos Estados Lnidos, até sugeitando-»e a servir
como escravos, depois que lá chegam, por um certo numero de
annos, quanto baste para pagar as despezas da passagem ; naõ temos
a menor duvida de que se podem arranjar planos para este fim, que
Miscellanea. 491
sejam mui pouco dispendiosos: alem de que, a riqueza que provém
do augmento de população he taõ importante, que comparados com
ella os gastos da imigração, vem estes a reduzir-se a quasi nada;
considerada a utilidade do Estado.
Quanto á segunda; nenhuma pessoa, por mais escrupulosa, que
seja, no Brazil, pensará que he mais peccado ser Luterano, Calvi-
nista, &c. no Brazil, do que o he sêllo na Alemanha, Hollanda, &c.;
logo naõ pôde peputar-se mal algum, que aquellas pessoas, que se-
guem as suas seitas nas suas terras originaes, as vaõ taõbem seguir
ao Brazil. Poderá talvez alegar-se que o que ha nisto de máo he o
perigo do contagio 5 porém, como a experiência de todas as idades
tem mostrado, que os povos recebem, antes do que dem a religião
ao paiz para onde se mudam ; a probabilidade está, que os protes-
tantes, que se mudarem da Europa para o Brazil, se faraõ catholicos
mais depressa, do que nenhum catholico dela se fará protestante;
d'onde, considerando a probabilidade da conversão destes estran-
geiros de varias seitas, taõ longe está de ser um mal, que he um
grande beneficio que se faz á religião, pela grande opportunidade
que a todos se offerece de se converterem; o que sem duvida ac-
contencerá, se naõ se usarem de meios coactivos, nem directos nem
indirectos, mas somente da persuasão, e bom tractamento.
Entre as medidas accidentaes nos melhoramentos do Brazil, con-
tamos a introducçaõ das machinas úteis á agricultura e ás artes. A
Inglaterra somente, poderia fornecer, neste gênero, emprego para
um agente da Corte do Brazil, que fosse encarregado deste ramo.
He prohibida em Inglaterra a exportação de certas machinas, mas
naõ de todas; e o agente empregado neste serviço deveria usar de sua
discrição. Quando se compara o systema de agricultura do Brazil,
com o da Inglaterra, fica taõ patente o ponto de civilização de am-
bas as naçoens, que o contraste salta aos olhos: e conhecendo os
meios porque a Inglaterra se tem melhorado ; naõ ha motivo para que
Portugal naõ siga o mesmo, no Brazil; principalmente agora, que
tendo-se lançado os fundamentos á ruina do commercio externo,
por meio deste tractado ; he de indispensável necessidade o fazer
valer os recursos internos ; os quaes se devem deduzir do augmento
de população, do melhoramento da agricultura, da introducçaõ das
artes: tudo isto fomentado pelas bem reguladas finanças do Estado.

Tractados com Inglaterra.


Nós desejamos, que a Corte o Brazil, reflectindo, com madureza,
no tractado Roevidico, se acabasse de persuadir de quam ruinosos
saõ os tractados feitos por pessoas inhabeis.
A tomada de algums navios Portuguezes, que andavam no com-
mercio da escravatura, deo lugar a que se fizessem em Londres re-
3R2
492 Miscellanea.
clamaçoens a este respeito; e ouvimos, que por occasiaõ disto se
emtablou uma negociação, para Portugal ceder á Inglaterra Bissáo
e Cacheo - abolindo-se, em compensação disto, a divida do ultimo
empréstimo.
Em nome do bom senso; basta de tractados; basta o que tem
feito os Negociadores Portuguezes. Se os navios fôram tomados
indevidamente, em conseqüência de entrarem em um negocio de
escravatura, que lhes éra permittido pelo tractado, naõ ha mais nada
que fazer senaõ pedir affiucadamente a sua restituição, naõ saõ pre-
cisos tractados, nem ha nisto que fallar em compensaçoeus reciprocas.
Se o tractado naõ justificava aquellas negociaçoens, perca-se muito
embora o seu valor, naõ se sacrifiquem de mais a mais os territórios
da Naçaõ. Portugal tem cora que possa pagar as suas dividas; naõ
he preciso vender os seus dominios. Se se fazem novos tractados,
manejados pelos mesmos Negociadores, de certo haverá novos mo-
tivos de desgosto entre as duas Naçoens.

COLÔNIAS HESPANHOLAS.
Recebemos gazetas de Buenos-Ayres, e noticias até 10 de Julho:
naõ trazem mais nada de importante, senaõ o que refere uma gazeta
extraordinária de Buenos-Ayres de 19 de Junho; em que se diz, que
o General Carrera, havendo tomado Yercas, Buenos, e San Cinlas,
tomou também a cidade de Concepcion, aos 25 de Mayo; repul-
sando o exercito de Lima.
Os revolucionistas tinham ainda no cerco de Montevideo 7 a
8.000 homens; mas duvidava-se da fidelidade de seu chefe, o General
Artigas; suppondo algumas pessoas, que se a patente, que lhe man-
dou ajuncta de Sevilha, lhe chegasse á maõ antes d'elle se ter de-
clarado a favor da insurrecçaõ, seria este general agora um activo
partidista dos realistas.
Chegou a Inglaterra o navio de guerra Montague, com noticias
do Rio de Janeiro até 6 do passado, e do Rio da Prata até os fins de
Junho. O seguinte saõ extractos de cartas:—
" Rio de Janeiro, 4 de Agosto.
« Eu deixei Montevideo aos 25 de Junho, cm conseqüência do aperto
do cerco. As tropas de Buenos Ayres tem estado por mais de 12
mezes diante daquella praça. Quando eu sahi; mais de 4.000 ha-
bitantes tinham morrido, uns de suas feridas, outros por falta de
mantimento, e pelas moléstias, que se seguem a tal estado das cousa».
Aos 23 do mez passado chegou a este porto um transporte com 300
homens, que pertenciam a ura comboy que traz 1.500, <• saliiram de
Cadiz para Monte Video; aonde teraõ chegado a este (rmp... 15
dias depois de sahir este comboy de Cadiz se lhe devia seguir oul/o
Miscellanea. 493
com 4.000 homens; de maneira que provavelmente, no presente
mez se uniraõ em Montevideo 9.000 homens em armas, incluindo a
guarniçaõ. Esta força indubitavelmente será bastante para fazer le-
vantar o assedio, e emprehender operaçoens offensivas contra Buenos
Ayres; e com tudo eu naõ julgo que tal exercito será sufficiente
para restabelecer a obediência, naquelle Vice Reynado, posto que
1.000 homens, no principio da revolução teriam sido bastantes para
a supprimir.-'
O Montague traz a bordo uma grande quantidade de espécie;
dizem que chega o computo, a 1-.000.000 de dollars ou patacas
Hespanholas, alem de prata e ouro outro milhaõ.

DINAMARCA.
Elsinour, 7 de Septembro.
Aos 2 do corrente commeçáram as hostilidades directas. entre a
Dinamarca e Suécia. Um comboy de vasos mercantes, acompanhado
por alguns navios de guerra Suecos, partiram de Malmoe para passar
o Sund. O Commandante Jessen, teve ordens de fazer uma tentativa
para os fazer pagar o uzual direito em Cronenburg, segundo a prac-
tica. Logo que a divisão deste commandante tomou uma posição
conveniente para este fim, uma fragata Sueca, e 9 barcas canhoneiras
deram fogo a bandas inteiras. Ao mesmo tempo um navio de linha
Sueco, e duas escunas chegaram do sul. O commandante, vendo os
Suecos determinados a passar sem pagar os direitos, tomou uma po-
sição no lado Dinamarquez. e trabalhou por mandar adiante alguns
vasos, que cortassem os navios para fora do comboy. A força unida
do vento e maré, naõ admittia que as barcas canhoneiras obrassem
eíficasmente; ao mesmo tempo que ajudava os Suecos a passar rapi-
damente. Com tudo um navio mercante Sueco foi lançado á costa
Sueca, aonde se queimou : uma barca canhoneira Sueca recebeo 30
balas; porém em geral esta acçaõ naõ teve conseqüências, porque
o Commandante Dinamarquez tinha ordens expressas de esperar até
que os Suecos começassem a fazer fogo.

ALEMANHA.
O Imperador de Áustria unio-se com os Alliados contra a França,
e, o que mais he, assumio o nome de Imperador da Alemanha. A
p. 342 publicamos o manifesto de declaração da guerra,papel mui bem
escripto, eque se attribue á penna do celebre escriptor Mr. Ghent.
Posto que esta producçaõ mostre claramente o comportamento justo e
decidido,que a Áustria adoptou em sua mediação, com tudo está
bem longe de seguir os passos dos de mais Alliados; porque he visi-
vel, ein todo o seu theor, certa contemplação a respeito do Gover-
494 Miscellanea.
nante da França, que se naõ encontra nos papeis públicos dos outros
Alliados: por exemplo; conserva-se sempre o titulo de Impendor
dos Francezes, chama-se a Napoleaõ, mais de uma vez o maior capi-
tão da nossa idade; declara-se que o Imperador d "Áustria naõ tem
contra elle nenhuma razaõ de inimizade pessoal, &c.
Tem alguns explicado isto, pelas differentes vistas dos Alliados,
porque, ao mesmo tempo que se presume, que o Imperador de Hm-
sia e Rey de Prússia, e talvez a Inglaterra, tem em vista a annihi-
Iaçaõ, ou ao menos uma considerável diminuição do poder do
actual Governante da França, julgam que a Suécia se contentará
com poder fazer uma paz taõ favorável, que recebendo algum aug-
mento de território, segure ao mesmo tempo o seu commercio ma-
rítimo, contra os ataques que tem recebido do chamado systema
continental da França ; e suppoem também mais, que a Áustria ape-
nas deseja repellir os Francezes, ao ponto de que naõ tenham a asecn-
dencia, que até agora tem conservado na Alemanha, e nada mais.
Algumas pessoas.q ue asseveram ter tido bons meios de informação;
estabelecem como facto, que o seguinte foi o fundamento das nego-
ciaçoens entre Áustria e França.
A Áustria pedio:
1. A restituição, para si, das provincias Illiricas: 2. Que se eva-
cuassem as fortalezas Prussianas: 3. A restituição de Dantzic á
Prússia: 4. Quesedeclarassem independentes as cidades de Ham-
burgo, e Lubeck ; 5. A extincçaõ da confederação do Rheno : 6.
Quese abandonasse o Gram Ducado de Warsovia, e que se rcstiluis-
sem as suas provincias á Áustria e Prússia.
O Imperador Francisco prometteo aos Alliados; que, se o Go-
verno Francez lhe naõ desse uma resposta cabal, antes do dia 10 de
Agosto, elle declararia guerra á França. Cré-se que a Áustria naõ
esperava uma ruptura, porque tinha razaõ de pensar, que poucos
dias antes de lindar o armistício, a França entraria, pelo menos, em
explicaçoens. Por outra parte he racionavel o presumir, que Na-
poleaõ naõ julgasse que seu sogro iria taõ longe com suas ame-
aças; o certo he que lhe mandou as seguintes.
Proposiçoens da França.
I. A restituição das provincias Illiricas, excepto a Istria : 2.
Abandonar o Gram Ducado de Warsovia, com tanto que se achasse
uma indemnizaçaõ para o Rey de Saxonia, de 500.000 almas: 3.
Evacuar as fortalezas Prussianas, e entregar Dantzic á Prnssia, com
tanto que as fortificaçoens de Dantzie fossem arrazadas.
Estas proposiçoens fôram regeitadas tanto por Áustria tomo pelos
Alliados; e com tudo se crê, que se fosse concedida a Istria, a Curte
de Vienna estava disposta a trabalhar por persuadir os Alliados, a que
concordassem nos demais termos.
Miscellanea. 495
Abertura da campanha na Alemanha.
Findo o armistício, se notificou a renovação de hostilidades, em
uma carta do General Barclay de Tolly, ao Major-general do exercito
Francez. vid. p. 445.
0 exercito Alliado se podia considerar com a esquerda em
Bohemia, tendo o quartel-general em P r a g a ; o centro na Silezia,
com o quartel-general em Breslau : a direita em Prússia; tendo
o quartel-general em Berlin. Na esquerda se achavam os Impe-
radores de Russia, e Áustria, e Rey de Prússia; no centro com-
mandava o General Blucher, e a grande reserva Russiana, o Ge-
neral Beuigsem ; a direita he dirigida pelo Principe da Coroa de
Suécia.
Os Alliados começaram na offensiva, e vendo que as tropas Fran-
cezas tinham atacado o seu centro, a diieita dos Alliados entrou na
Saxonia pelos desiiladeiros de Bohemia, aos 21 d'Agosto, e ameaçou
tomar por assalto Dresden, que he o quartel-general de Napoleaõ,
e o deposito principal do exercito Francez. Esta manobra bem
pensada e executada com promptidaõ, fez recolher Bonaparte a
Dresden, aliviou o General Blucher, que commandava o centro dos
Alliados; e habilitou o Principe da Coroa a marchar de Berlin para
Saar inunde.
Havendo os Alliados conseguido este fim tornaram a sahir das
vizinliancas de Dresden para Bohemia; e os Francezes, tomando
isto por uma fugida desconcertada, mandaram alguns corpos em
seu alcance, Napoleaõ voltou outra vez contra o General Blucher,
e mandou a Ney, que lhe sustentasse a esquerda atacando o Prin-
cipe da Coroa. Tudo sahio errado aos Francezes; p o r q u e ; Ney,
foi derrotado pelo Principe da coroa em Dennewitz; e em vez de
sustentar, com uma victoria, a esquerda de Napoleaõ, foi obrigado
a retroceder ate T o r g a u : Vandamme que na direita perseguia
os Alliados foi feito prisioneiro nosdesfiladcirosde Bohemia, e Bona-
parte, assim desconcertado na esquerda e direita, tornou a recolher o
seu centro - entrou segunda vez em Dresden, aos 6 de Septembro, e
deixou desembaraçado o corpo de Blucher, que se adiantou em
proporção até Bautzen; derrotando o Duque de Tarentum no
Bober aos 26 e 27 d'Agosto; chegando ao Queiss, pondo-se em
communicaçaõ directa, pela direita com o exercito do Principe da
Coroa, e pela esquerda, com o grande exercito de Bohemia.
Oestado cm que ficavam os exércitos, ao tempo das ultimas noticias,
era este : na esquerda dos Alliados se achavam estes interceptando 1
as estradas de Dresden para a França, por Chemnitz : o exercito do
Principe da Coroa mandava partidas avançadas até Leipsic ; e o
General Blucher apertava a frente dos Francezes. Nestes termos,
se Bonaparte naõ puder derrotar inteiramente um destes tres corpos
496 Miscellanea.
epuchar adiante, o que naõ he mui natural; porque umaaTançadao
expõem sempre a um ataque de flanco ; ou ha de dispor-se a ser blo-
queado em 1 r HIIII - ouhade abi ir o seu caminho aponta da espada,
largar Dresden, e vir estabelecer-se no Rheno ; nesse caso,
se mudará o theatro da guerra, para as fronteiras de França.
He mui difficil saber ao certo o numero dos combatentes de cada
uma das partes; porém, de tudo quanto se tem publicado a este res-
peito, julgamos, que por aproximação se pôde chegar ao seguinte
resultado, das forças combatentes Francezas e Alliadas.
Exercito Francez.
Dresden. Bonaparte commanda aqui em pessoa tendo debaixo
de suas ordens immediatas Murat (Rey de Nápoles,) Berthier (Prin-
cipe de Neufchatel), Ney (Principe de Moskwa).
As guardas commaudadas por Morlier (Duque de Treviso.) 60.000
I o . Corpo; Vandamme - 20.000
«<-. Do. Victor (Duque de Belluno) - - 20.000
6". Marmont (Duque de Ragusa) 20.000
U°.— Marechal St. Cyr, 20.000
Cavallaria; Latour Maubourg - 40.000
Guarniçaõ de Dresden, General Durosnal 20.000

200.000
Exercilo dc Silesia. Commandado por Macdonal Duque de Tarentum.
3 o . Corpo ; pertence a Ney - 20.000
S". Corpo; Conde Lauriston 80.000
11». pertence a Macdonald que he commandante chefe 20.000
20 000
Cavallaria *

80.000
Luzacia. Mantendo os desfiladeiros de Bohemia, em Rumbcrg,
Gabei, Friedland, e Renkenbach Principe Poriatowski,
(Polacos) 20.000
Exercito de Prússia, Commanda Oudinot (Duque de Regio).
4». Corpo; Conde Bertrand 20.000
<,... , Conde Regnier 20.000
I2* . pertence a Oudinot que commadaem Chefe 20.000
10
Cavallaria' - - *000
70.000
Naõ se sabe com quem estaõ o 9*., 10*., e 13°., corpos,
lalvez estaõ com Angereau, que marcha de Bamberg
para a Bohemia, e naturalmente chegarão a 60.000
Baião EWe. Este exercito he commandado por Davonst
(Principe d'Eckmubl) Era composto de 5 divisoens, cada
Miscellanea. 497
uma das quaes consiste geralmente de 7 a 10.OCO homens,
alem de um corpo de Dinauiarquezcs de 13.000 homens,
chamaremos portanto tudo isto • 55.000
Itália. Naõ se tem averiguado a força deste exercito,
mas o menos parece ser - 60.000
Bavária. O exercito Bávaro he commando pelo General
Wrede, está em Branau, e ameaça Liutz, Vienna, e a linha
do Danúbio, avalua-se em 30.000
Alem disto ha, o 2 9 . exercito de reserva sob o General
Kcllermunn (Valray)
Gram total 570.000

Exercito dos Alliados.


O excercito principal, commandado pelos Imperadores de Russia e
Áustria, e Rey de Prússia, na data do ataque de Dresden consistia
em duzentos mil homens ; a saber.
Austríacos sob o Principe Sclnvartzenberg 90.000
Russianos e Prussianos, em Praga íiO.000
Corpo do General Klenau - 30.000

200.000
Exércitos Alliado s na Silesia - - 100.000
Do. cm Prússia, 120.000
Tropas Alliadas nos bloqueios de Dantzic, Stettin, Cus-
trin, &c. 60.000
Reserva Russiana, sob Benigsen - 60.000

Gram Total dos Alliados 540.000

Superioridade numérica dos Francezes 50.000

Quando se compara a magnitude das forças, que se acham oppostas


na Alemanha, 30.000 homens mais ou menos, faz taõ pouca dif-
ferença, que podemos dizer que os exércitos combatentes saõ iguaes.
Mas a differença consiste na qualidade dos officiaes e tropas, que con-
pôeui estes exércitos. Muito se tem dicto em louvor dos generaes
Francezes, mas temos razaõ para crer que Napoleaõ nao faz delles o
mesmo conceito, que faz a maior parte da gente ; o <|ue os buletins,
o officios públicos, tem dicto do Marechal Jourdan, do General
Vandamme, de Oudinot, e mesmo de Soult; provam bastante o que
avançamos. Quanto ás tropas; quando vemos desertar para os
Alliados esquadroens interios de hussares VVcstphaiiauos, temos
VOL. I X . No. C4. 3s
498 Miscellanea.
razaõ de concluir, que alem das tropas verdadeiramente Francezu,
as demais assustam mais do que ajudam os planos da França.

FRANÇA.
Publicamos neste numero as relaçoens officiaes do exercito; que,
ja desde as derrotas da campanha passada na Russia, deixaram de
apparecer em Bulletims; e alt'm disto, (contra o nosso custume
usual) publicamos algumas noticias particulares, sobre o mesmo as-
sumpto, extrahidas das gazetas Francezas. Obramos assim, para
que os nossos Leytores tenham occasiaõ de observar as omissoens,
que se encontram nas relaçoens officiaes Francezas; e as grosseiras
exaggeraçoens de suas noticias particulares; tudo dirigido a con-
servar os Francezes na perfeita ignorância de quanto lhes diz res-
peito, ou importa ao interesse publico de sua naçaõ.
Acima, no artigo Alemanha, dissemos qual fôra o resultado da
mediação de Áustria; e he evidente que o Governo Francez naõ
deseja ceder a menor parte dos territórios e grandeza, que tem ad-
quirido á custa de todas as mais Potências Europeas; as quaes estaõ
todas persuadidas, que naõ ha para ellas mais salvação do que a hu-
miliaçaõ deste monstruoso poder da França.
A questão somente he - se os meios da França actualmente lhe daõ
bem fundadas esperanças de se oppor aos Alliados,e alcançar a vic-
toria final. Somos de opinião que naõ; e julgamos, que, desde que
Nar.oleaõ assuraio as rédeas do Império Francez, nunca o seu poder
se vio mais arriscado. Dos Estados independentes somente a Dina-
marca se acha de sua parte; mesmo essa, se os Francezes forem
obrigados a retirar-se da linha «Io Elbe, se verá obrigada a tomar
entro partido.
O Relatório do Ministro da Guerra e n França, que publicamos a
p. 361 desde N"., propondo uma leva de 30.000 homens, para os ex-
ércitos destinados contra a Península, fiz uma importante confissão;
e hc, que " se naõ pode dissimular a nere.ssidude de mand »r refor-
ços aos exércitos de Hespanha;" e por outra parte, o expositoi dos
motivos do Scnatus-Consu Itum, que decretou ésla levo, confessa
(vide p. 26i) " que a prudência naõ |-erimlle* que se faça alteração
al"uma da parte da Alemanha:" donde temos; qne, se, naõ ob-
stante essa prudência, forem os exércitos Francezes derrotado», teraõ
elles a maior difficuldade em se restabelecer, ou procurar os reforços
necessários.
As o-azetas de Londres acabam de publicar um mui cuiioso docu-
mento, que veio de Moskow ; e se diz que fora achado entre os papeis
que ali ficaram na casa que oecupou o Major-general do exercito
Francez, quando esteve naquella cidade. Contem uma couta mui
Miscellanea. 499
especificada do numero de tropas, nomes dos commandantes Fran-
ezes. &c. Por aqui se vê, que os Francezes entraram na Russia
com um exercito de 500.000 homens; e somente na batalha e
Borodino perderam 56.000.

PORTUGAL.

Carta Circular do Secretario da Juncta do Commercio em


Lisboa aos negociantes, que concorreram para a contri-
buição do Resgate em Argel.
" A R ai Juncta do commercio, agricultura, fabricas e
Navegação destes Reynos ; tendo aprazado o dia 1-. feira, 9
do corrente, para agradecer em nome do Principe Regente
Nosso Senhor a todas aquellas pessoas, que satisfizeram a sua
Real expi-ctaçaÕ, pelo modo com que se prestaram ao im-
prestimo aberto para a conclusão da paz com a Regência
d'Argel ; manda avizar a V. M ce . para que no dicto dia
pelas 11 horas da manhaã se ache no mesmo tribunal, para
assistir a este acto, que lhe deve ser muito Iisongeiro, pelo fim
aque se destina, e a que naÕ devefaltar, para que tenham cum-
primento as Reas ordens expedidas a este respeito."
" Deus guarde a V M ce . Secretaria da Real Juncta do
Commercio, aos 4 de Agosto de 1813."
" JOSÉ' ACCURSIO DAS NEVES."

Tanto julgamos ser justo censurar o Aviso de que falíamos no


nosso N°. passado, relativamente a este negocio da contribuição du
Resgate; cortio julgamos ser de nossa obrigação o louvar a medida
que se annuncia na carta acima; e nos Avizos que publicamos a p.
33** deste N*>.
Segundo os nossos principios, o Soberano, ou o Governo, poderia
exigir uma derrama, ou pedido, ou outro qualquer imposto do
povo, para occurrer a esta necessidade publica. Em tal caso, uniu
vez que a imposição lie obrigatória, e compelle a todos os cidadãos;
ou ao menos a todos aquelles que estaõ na classe, que se sugeita a
contribuição; ninguém teta merecimento, em pagar a quota que
lbe cabe: cumpre com uin dever rigoroso, e se naõ cumprisse com
elle teria os bens confiscados, ou iria para a cadea.
0 governo, porém, escolheu outro caminbo, (e que certamente naõ
he o peior, quando a natureza das circumstancias o permitte) pe-
dindo empréstimos e donativos voluntários. Neste caso todos os que
apparecem, e contribuem, fazem uma obra que os torna beneméritos
3 S2
500 Miscellanea.
da pátria, e portanto merecem os louvores do publico, e os agra-
decimentos formaes do governo. A Regência de Lisboa, pois,
obrou neste caso com muita justiça e prudência; e os Senhores do
Governo podem estar seguros, que sempre que assim se despegarem
do systema Godoyauo, o publico concorrerá com elles, e o povo e o
governo, naõ formarão senaõ um só corpo.

Extracto de Gazeta de Lisboa, A7*. 186.


" A juncta da administração do Tabaco faz publico a todas is
pessoas, que pertendercui arrematar o contracto geral do tabaco, e
Saboarias, do primeiro de Janeiro de 1815 em diante, separado ou
unido com « das Saboarias, que concorram a apresentar na mesma
juncta os seus lanços, sócios, e convenientes declaraçoens, cm todos
os dias, e horas do seu despacho, dentro de dous mezes contados do
dia 3 do corrente mez de Agosto em diante, findos os quaes se pre-
cederá á mesma arremataçaõ nos dias que se designarem, na forma
das Reaes Ordens.— LOURENÇO ANTÔNIO DE ARAÚJO."

A,ou. mole em pedra dura, tanto ddalè que fura. ( Com que se-
nhores Godayauos, ja naõ he crime de lesa magestade, o dizer que
os contractos Reaes se devem por a lanços a quem mais der ? • Com.
que ja se podem seguir as doutrinas do Correio Braziliense mais
neste pontinho ? Ora deixem estar, que naõ ha de ser isto só que
havemos de ver reformado se Deus nos der vida. Nós achamos
ainda assim falta, com este modo de fazer o primeiro avizo para ic
por o contracto a lauços; mas em fim pôz-se a lanços, eis aqui um
ponto ganho ; esc os capitalistas em Lisboa, entrarem a gritar, que
querem os lanços todos dados a um tempo, e em carta fechada, na
presença da juncta • e que o contracto seja arrematado ao que mais
offerecer; taõ bem se ha de ganhar este outro ponto; e assim ja que
afortuna quer que exista o monopólio; ja que as pessoas que em
Portugal entendem de economia politica, naõ tem ainda nas maté-
rias de governo a ascendência, sobre os ignorantes, que éra justo
que tivessem ; ao menos tire o erário o maior partido que he pos-
sivel da existência deste monopólio : arremate-se a quem mais der
em beneficio do thesouro publico; e naõ se atormentem com res-
tricçoens os narizes dos pobres, para fazer com que tal ou
tal contractador fassa uma casa de milhoens, com que viva no luxo,
c superfluidade; e o que peior he; com que peite os ministros, c
homens públicos para que o protejam. Este passo devem os pa-
triotas considerar, como mais uma pluma uocapacetc vktorioso dos
vassallos fieis, dos verdadeims amigos da pátria; eque por con-
seijuencia marca mais um gráo de humiliaçaõ nos Godoyanos.
Miscellanea. 501
O Visconde d'Asseca.
A. p. 341 deste N°. publicamos a sentença de justificação (leste
fidalgo na Rclaçaõ de Lisboa. A qual yem assignada por Guerreiro,
Ferraõ,e Lemos. Naõ sabemos nada do comportamento do Visconde
durante o tempo que elle servio os Francezes, para que possamos
nem se quer conjecturar que elle éra criminoso; porque, quanto
ao dizer que o Marquez d'Alorna, Conde da Ega, e outros fid.ilgos
se tornaram rebeldes contra seu soberano, e traidores contra a Pá-
tria, dahi naõ se segue nada contra a classe dos fidalgos; os crimes
pessoaes naõ devem nunca passar á classe a que pertence o indi-
víduo; outros saõ os defeitos, que achamos nesta classe de fidalgos
Portuguezes.
Mas ainda que tivéssemos alguma cousa a dizer, o que realmente
naõ temos, contra o Visconde; bastava o ler elle sido absolvido j u -
dicialmente por uma sentença, para ser uma injuria atroz, o fallar
delle como culpado de crime de lesa magestade.
Naõ he portanto com o Visconde, mas com os seus juizes, que o
havemos por agora. Com que, Senhores Guerreiro, Ferraõ, e Lemos
assentam Vossas Senhorias, que deviam alegar para a obsolviçaõ do
Visconde, os officios do Senhor Conde de Funchal em Londres? Se
ha coúsa que deva doer a todo o patriota, he ver que os juizes se
fazem homens de partido; porque a imparcialidade, hc (a primeira
qualidade do j u i z ; e sem ella naÕ pôde a magistratura ser res-
peitada.
A presumpçaõ contra o Visconde resultava, de ter elle servido
no exercito Francez, que andara pela França, Alemanha, Russia,
&c.; óra que pôde saber disto o Conde de Funchal, que esteve todo
este tempo em Londres ? Ora essa he boa ; cousa nenhuma. Entaõ
para que allegáram com os seus officios estes juizes ? para que
fallar em uma testemunha, que nem vio nem ouviu nada do reo?
l'v ! porque convém aos amigos dos Roevides atirar com elles diante
do publico a torto, e a direito, como se o mundo se naõ pudesse
nieclier sem o auxilio destes poderosos Atlantes.
Isto lieoijuc se chamam trapaças politicas dos homens que dese-
jam figurar, e apparecer em tudo, que se faz em publico ; e o cus-
tume tem ja feito quese passe por essas pelolicassein grande enfado;
mas realmente he cousa séria ver que juizes, ou magistrados, se
prestem, ao porem de dar uma sentença, a servir estes fins «lc par.
tido. Se o Conde de Funchal se intrometteo por abelhudo e mete-
diço a escrever officios sobre o Visconde de Asseca, de cujo com-
portamento, na Alemanha e Russia, elle naõ podia saber nada de
sciencia própria em Londres, e portanto naõ podia ser testemunha em
tal caso ; similhantes officios naõ tinham lugar no processo do Vis-
502 Miscellanea.
conde, nem tinham os juizes que falhar nelles em seu aecordatn,
salvo se fosse para os declarar irrelevantes.
E se naõ, supponhamos o caso contrario ; isto he, que o Conde do
Funchal aqui de Londres lhe dava na cabeça dizer nos officios, que o
Visconde d'Asseca, se tinha comportado na França ou na Russia
como traidor j naõ alegaria o advogado do Visconde, que o teste-
munho do Conde de Funchal se devia regeitar como sendo de teste-
munha incompetente, que nada sabia de scieucia própria > Pois
se isto havia ter lugar para o caso de condamnaçaõ ; o mesmo se
deve dizer no caso de absolvição.
Perdoem suas senhorias este pequeno lembrete ; mas assim como
naõ conhecemos um character mais respeitável na sociedade doque
he um magistrado; assim também naõ podemos soffrer que algum
individuo na magistratura, odesdoure, serviudo a partidos, coinehe
neste caso, mettendo os Roevldes pelos olhos á gente, sein necessi-
dade, nem motivo.

O General Moreau.
Este infeliz general tinha chegado da America, e entrado no ser-
viço de Russia, como major-general do exercito Alliado, quando na
batalha de Dresden aos 27 de Agosto, teve ambas as pernas feridas
por uma bala de peça, estando de cavallo, e fallando com o Imperador
de Russia; a bala quebrou-lhe primeiro uma perna, atravessou o
cavallo, e ferio-lhe depois a outra perna; ambas foram amputadas,
mas o general morreo no dia 4 de Septembro. A seguinte be a
copia da ultima carta que elle escreveo a sua mulher:—
" MINHA CHARA AMIGA !—Na batalha de Dresden, ha tres dias,
uma bala de peça me levou ambas as pernas. Este velhaco de Bo-
naparte he sempre feliz.
" Fez-se-me a amputação o melhor que foi possivel. Ainda que
o exercito tem feito um movimento retrogrado, naõ hc porque
encontrasse revezes, mas por se achar espalhado, e a fim de se
aproximar ao General Blucher.
" Desculpa a má escripta. Eu te amo e te abraço de todo o meu
coração.
" Encarrego a Rapatel, de acabar. «• V. M."
" MADAMA ! O General me permitte escrever-vos na mesma
folha, em que elle vos traçou algumas linhas. Julgai da minha dor,
e sentimento, pelo que elle acaba de dizer-vos.
" Desde o momento em que foi ferido, que o naõ tenho deixado.
e naõ deixarei mais até que esteja perfeitamente curado. Temos as
melhores esperanças ; e eu, que o conheço, posso dizer que o salva-
Miscellanea. 503
remos. Elle soffreo a amputação com uma coragem heróica ; sem
perder os sentidos; tirou-se o primeiro apparelho, e as feridas vaõ
mui bem. Naõ teve senaõ um pequeno accesso de febre quando se
estabeleceo a supuraçaõ, que tem diminuído consideravelmente.
" Deveis perdoar-me todas estas miudezas, ellas saõ taõ dolorosas
para mim em escrevêllas, como seraõ para vós em Jêllas; tenho ne-
cessidade de coragem ha quatro dias; e necessitarei ainda mais.
Contai com o meu ciudado, minha amizade, e todos os sentimentos
que me tendes inspirado, vós, e elle, para o servir; naõ vos assus-
teis; naõ posso recominendar-vos que tenhaes coragem; eu conheço
o vosso coração.
" Naõ deixarei passar uma só occasiaõ sem vos dar noticias delle.
O medico acaba de assegurar-me, que se isto continua assim, em
cinco semanas poderá andar de carruagem.
" A Deus, Madama, e respeitável amiga, eu sou bem infeliz.
" Eu abraço a pobre Izabella,
" O mais devoto de vossos criados,
*•« Laun, 30 d'Agosto, 1813." «' RAPATEL."
" 1*. de Septembro.—Elle vai bem, a eslá tranquillo."

Alem do General Moreau, que he ja morto ; se tem passado para


o serviço dos Alliados, os seguintes officiaes Francezes.
De Villot, General, considéra-se um grande tactico.
Rewbell, Tenente-general, filho do Ex-director Rewbell.
Guichard, Tenente-general.
De Jomini, Tenente-general, um dos mais experimentados officiaes
de engenharia da Europa • e grande amigo de Moreau.
Alem destes, vários officiaes Francezes de menos graduação ser-
vem como ajudantes-de-campo no estado-maior dos sobredictos
generaes. O ajudante-de-campo, e secretario valido de Moreau he
o Coronel Rapatel; este ha um anno que está na Russia, e sabe as
linguas Russiana e outras. O anno passado passou por Londres
vindo da America, em sua viagem para a Russia.

Guerra da Peninsula.
Oque publicamos neste N°., relativamente á guerra da Peninsula,
consiste no rendimento da cidade, e fortaleza de San Sebastian : a
cidade por assalto, e o forte por capitulação ; he assim, que todos os
mezes nos daõ os exércitos Alliados da Península occasiaõ de lhes
dar os parabéns de sua gloria; e os agredecimentos, pelo serviço,
que fazem á causa da Peninsula, e da Europa civilizada.
Por outra parte publicamos taõ bem um officio do General de
Divisão Lamarque da Catalunha, em que participa ao Governo
504 Miscellanea.
Francez as operaçoens daquella parte do exercito Francez. Os
Francezes retiráram-se de Tarragona, e desmantelaram a praça;
naõ porque fossem a isso obrigados pelo General Murray, nem pelo
General Lord Bentinck (os quaes ambos, julgaram mais prudente
retirar-se á vista dos Francezes do que pelejar com elles); porém
sim pela difficuldade de conservar as suas communicaçoens.
Um official, que chegou do exercito de Lord Wellington, o avalia
em 120.000 homens dos quaes 30.000 saõ Portuguezes, 40.000 In-
glezes, e 50.000 Hespanhoes.

Os Francezes se acham ainda de posse das seguintes praças na Penin-


sula:— Santona, Pamplona, Jaca, Sagunto, Morella, Peniscola, Tortosa,
e Tarragona. Tarragona está vigorosamente sitiada, e Pamplona somente
bloqueada: esta ultima posto que mui forte, he natural, que seja „ pri-
meira que se renda; posto que sua guarniçaõ seja numerosa; porque está
Ja na maior penúria de viveres.
O que nos tem summamente desgotado, nas noticias particulares, que
temos recebido da Hespanha, he o dizer-se que o Governo Hespanhol na8
fornece mantimento sufficiente ás suas tropas. Os soldados Hespanhoes
sabem que os Francezes esgotaram o seu paiz de dinheiro; portuotu naõ
exigem paga; servem por mero patriotismo; mas pedem pafl ; sem comer
naõ só naõ podem pelejar, mas até nem existir. Os Francezes acharam
mantimentos bastantes para as suas tropas, em quanto existiram na Hespa-
nha, sem os trazer de fora • porque os naõ acharão os Hespanhoes, se
tiverem igual cuidado nesta repartição i

A esquadra Ingleza, qne bloqueia Flessingen, celebrou de uma maneira


mui brilhante as victorias da Hespanha. Fez-se á vela para juncto do
porto aonde a esquadra inimiga está fundeada ; pmbandeirou-se Ioda, içoii
em toda a parte a bandeira Hespanhola por cima da Franceza, e deram
os navios todos uma salva geral de 21 tiros: o que causou naõ pequena
admiração aos inimigos. Feito istofizeram-s.-na volta do mar.
Miscellanea. 505
CONRESPONDENCIA.

Carta ao Edictor sobre a venda dos Bens da Coroa.


SENHOR EDITOR DO CORREIO BRAZILIENSE!
Sem me intrometer na analize, ou censura dos Decretos, e Leys da
Corte do Rio de Janeiro; como tenho visto no seu jornal as suas
refiecçoens sobre os dittos decretos, c alem disto sabido pelo seu
mesmo jornal de embargos pela chancelaria ao decreto de 1 de No-
vembro de 1812 ; mas naõ me conste, nem veja, que até agora
se representasse sobre a Carta Regia de 13 de Dezembro de 1812
á respeito da venda dos Bens da Coroa; lhe digo pode colligir
qual he o espirito, que conduz estes Jurisconsultos para se opporem
á execução do decreto de 7 de Novembro ; e nada mais ! Pois
agora que sé trata da dignidade da monarquia, c do Monarca, de
o privar daquillo, que parece incrivel, que ainda tenha, vista a
sua grande bondade, e generosidade, naõ ha ninguém que repre-
sente os inconvenientes da Carta Regia ! Ha sim um chanceller, que
com o pretexto, e capa de Fiscal se oppôe á um decreto essen-
sialissimo a segurança publica, e da monarquia, por isso que lhe
vai bater na sua alçada! mas naõ ha j á um procurador da Coroa!
e isto porque se tracta da primeira prerogativa, e excellencia
da monarquia, e do Monarca; a independência. Que taes Patres
Conscripti? Bem lhes importa a elles que o soberano venda a ca-
zaca, com tanto que se naõ mexa com elles ! Mas que hade ser se
há Soberanos, e principes, a quem se está pondo sobre a meza a
peor carne, disfruntando alias os seus inspectores «le cozinhas, e os
seus feitores de capa, c espada á melhor sopa, eomelhor Rost Beef!
c chega a bondade do soberano ao ponto de os naõ mandar inforcar!
A's suas judiciozas refiecçoens naõ tenho a acrescentar, se naõ re-
petir; para que hade o soberano privar-se de Bens, que em toda a
Monarquia por mais limitada saõ inalienáveis, e que devem naõ só
estar reservados para em qualquer circumstancia ser a mesmo o
esplendor do throno, mas até mesmo para se poder manter com a dig-
nidade devida a familia Real, principalmente, quando cila he, como
actualmente, taõ numerosa.
Quando o Principe recommenda; e pede uma contribuição para se
remirem os desgraçados Portuguezes captivos em Argel, e para ha-
ver uma aliiança, com que se contem tranquillos, e socegados os
Portuguezes em suas cazas, e até o negociante certo com o seu
commercio, e lucros, grita se, e naõ se executa ' (Mas a razam he
clara, porque o Principe de Portugal naõ fas, como fez o Junot que
assim que chegou a Lisboa fez fixar, e apparecer 40 milhoens de
contribuição; e assim mesmo éra um bello general, e um bom
VOL. IX No. 64. 3 T
506 Miscellanea.
homem para muita gente de Lisboa!) e se assim mesmo se grita
o que naõ gritariaõ se vissem o principe cm circumstancias de pedir
uma contribuição, e ajuda de custo para sustentar cora o decoro e
dignidade devidos a Familia Real, decoro, e dignidade, que a naçaõ
tem obrigação de sustentar, para isso goza de privilégios, honras e
interesses sociaes que alias naõ gozaria. Portanto para que hade
o Principe vender o que tem para ao depois se ver nas circum-
stancias de recorrer a contribuiçoens, e verificar te o ditado, que
quem dá o que tem fica a pedir! Naõ be a venda dos Beos
da Coroa para soccorrer o estado ? e sendo assim, j i se tentarão por-
venturatodos os outros meios, e recursos para apparecerem os 13
milhoens ? Naõ certamente. Ainda que Portugal tenha tofTrido
uma guerra em toda a extensão destructora por espaço de 0 annos,
podia lhe provar, pois he claro, que se a classe da pobreza be maior
era numero, taõbem a dos capitalistas, e monopolistas he despro-
porcionadissima e muito maior que era em 1807, a ponto de ha.
-verem grandes casas de contractadores feitas em 4 annos! e por-
tanto porque se naõ haõ de obrigar estes capitalistas que tem enri-
quecido com a desgraça da sua pátria a que se tintem para o em-
préstimo dos 12 milhoens para a salvação da ditta sua pátria, epara
até contarem seguros os seus capitães, e naõ se exporem a outra
contribuição de 40 milhoens!
O que he necessário fazer, e cnraque eu sempre gritei, he pór nas
maons dos Portuguezes, e de só Portuguezes estabelecidos em Por-
tugal, ou no Brazil as rendas, e Contractos da Coroa a fim de que,
ainda que seja immenso o lucro, e proveito que lhes resulta de tal,
he a elles que o Soberano, e a Coroa podem reccorrer em Cazos
appertadosi e jamais a pseudo Portuguezes, e a estrangeiros que tem
o seu Capital, e as immensas somas, que tem tirado da Coroa e das
administraçoens, aqui no Banco, e depois riem com estas apparen-
tas, e estudadas quebras. Empréstimo pedido em Inglaterra por
via do Embaixador naõ sou de voto, nem será aquelle, que tiver
prezenciado o empréstimo, e o manejo de 1809; cuja ametade por
aqui ficou em bambinelas, &c.
Se o Governo do Brazil quizer olhar seriamente para os recursos
da Coroa, sem mesmo gastar o tempo era reformas de finanças, e de
novos planos de arrecadação, asseguro lhe que pode dobrar a re-
ceita, uma vez que haja uma vigilância escrupuloza sobre os Con-
trabandos dos Diamantes; do Pau do Braiil, e do Marfim, que se
esta fazendo ás escancaras em todo o Brazil, e na Costa dAfrica •
razam porque o mercado aqui destes gêneros deve diminuir em
preço, e em quantidade; a respeito de Diamantes, que o digaõ os
Navios de Guerra Inglezes, que aqui chegaõ, que trazem mais por
conta de particulares, que da Coroa, naõ em numero, mas era
Miscellanea. 507
pezo, e valor. Junto a Cabo Frio, na Bahia, em Pernambuco car-
rega se talves mais Pau do Brazil por Conta de Contrabando, que
por conta da Coroa: n'esta ultima Terra heaté escandalozo o modo
como se fas este trafico dentro mesmo do recife 1 razam porque o
lugar de Juiz d'Alfândega rende tato !
Portanto para accudir ás precizoens do Estado naõ he que se es-
tabelecerão os Patrimônios Reaes; dezorganizar taes estabeleci-
mentos he como v. m°. diz, impolitico, e desnecessário: ha outros
recursos, que bem manejados, e tirados do alcance devorador das
Harpias Nacionaes saÕ mais que sufficientes para taes fins.
Sou Snr. Redactor,
Seu Venerador, &c.
VERITAS.

Resposta a Conrespondentes.
LYSITANO. A sua memória he inadmissível; porque as imprensas
naõ tem os characteres, que para isso se necessitam. Seria precizo
mandar fazer uma fundição delles expressamente ; o que occasio-
naria uma despeza, muito alem do que o nosso conrespondente terá
idea.

Hum verdadeiro Portuguez. He contra o nosso plano, inserir


neste Periódico, memórias que tem ja sido publicadas pela imprensa ,-
principalmente, quando a sua extençaõ vai tanto além do que per-
mitte o tamanho, que convém á nossa obra.
CORREIO BRAZILIENSE
DE OUTUBRO, 1818.

Na quarta parte nova os campos ara,


E se mais mundo houvera Ia chegara.
CAMOENS, c. V I I . e. 14.

POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.

Alvará que regula o numero dos Ministros na Casa da Sup-


plicaçaõ e Casa do Ptrto, e augmenta as Alçadas de todos
os Ministros.
JDJU O Príncipe Regente Faço saber aos que o presente
Alvará com força de Lei virem, que dependendo em
grande parte a prosperidade pública da boa administração
da justiça civil, e criminal; conseguindo os povos por
meio delia gozar a abrigo das leis da liberdade civil, e
politica, que estas lhes afiançam, e seguram, e que he com-
patível com o estado da sociedade, e da segurança pes-
soal, e dos sagrados direitos de propriedade; e naõ poden-
do obter-se taõ úteis vantagens sem que a referida Admi-
nistração de justiça se faça com presteza, simplicidade, e
expedição; para o que he necessário, que se naõ multipli-
quem os pleitos, antes se diminuaõ quanto for possivel,
e que se naõ compliquem com particulares, e escuzadas
commissoens, que fazem difficil, e embaraçado o curso
das demandas com manifesto prejuizo dos litigantes, de-
vendo além disto haver sufficiente, e naõ sobejo número
de Ministros, para que nem faltem para o expediente dos
negócios occorrentes, nem o estorvem pelo seu excessivo
número com prejuizo da Minha Real Fazenda no paga*
VOL. XI. No. 65. S ti
510 Politica.
mento de ordenados supérfluos. Foi-me presente pelos
Governadores do Reino, que era necessário, e conveniente
por estes, e outros motivos reduzir a um limitado, e certo
número os Ministros da Casa da Supplicaçaõ, e da Relação
e Casa do Porto, que nestes tempos se tinha insensível, c
consideravelmente augmentado apezar das antigas Leis,
que o tinhaõ taxado, com prejuizo da pública utilidade e
augmento de despeza da Minha Real Fazenda, ora neces-
sitada da mais exacta economia para acudir á defeza do
Estado, diminuir alguns lugares desnecessários da mesma
Casa da SuppliçaÕ; extinguir aquellas especiaes com-
missoens, que a experiência tem mostrado inúteis, insuffi-
cientes para o fim da sua instituição, ou prejudiciaes; e
augmentar as Alçadas de todos os Ministros a fim de di-
minuir o número dos pleitos nas Instâncias superiores,
ficando por esta maneira mais firmes, e certos os dominios,
e mais socegados, e felices os meus fiéis vassallos. E
tomando em consideração este importante negocio, tendo
ouvido o parecer de pessoas doutas, e zelosas do Meu Real
Serviço, e conformando-me com o dos Governadores do
Reino; Sou Servido Determinar o seguinte.
1. A Casa da Supplicaçaõ de Lisboa constará daqui em
diante do número de sessenta ministros com effectivo ex-
ercicio nella, sem que por algum motivo, por mais espe-
cioso que seja, se possa augmentar ; e a Relação e Casa do
Porto constará do numero de quarenta e cinco também
effectivos, além do chanceller.
2. Tendo mostrado a experiência, que doze Casas de
Aggravos na Casa da Supplicaçaõ bastaó para o expedi-
ente das causas, que alli sobem por appellaçaõ, e aggravo,
e para o mais expediente da referida meza, que se tornará
menos complicado pela diminuição de pleitos, que lia de
produzir o augmento das Alçadas; e que duas varas da
correiçaõ do cível da corte saõ também bastantes para a
expedição dos respectivos negócios, que nellas se trataõ,
Politica. 511
naõ se tendo verificado os motivos, que fizeram necessário
o decreto de tres de Fevereiro de mil setecentos setenta e
seis. Hei por bem extinguir duas Casas de Aggravos, re-
duzindo-as a doze, e duas varas da correiçaõ do Civel da
Corte, ficando somente duas, como aconteceo antes do re-
ferido decreto.
3. Sendo inútil aos interesses da Minha Real Fazenda,
e até prejudicial ao socego das familias, implicadas em
dividas Fiscaes antigas, a Commissaõ das dividas Reaes pre-
téritas creada pelo Decreto de onze de Outubro de mil
setecentos sessenta e seis, cujos motivos se naõ verificaram
com vantagem da Minha Real Fazenda. Sou Servido
Havella por extincta, e Ordeno que as Execuçoens, que
estiverem correndo no Juizo desta Commissaõ, se remet-
taõ aos dos Feitos da Minha Real Fazenda para nelles se
ultimarem.
4. Tendo sido necessário augmentar as Alçadas estabe-
lecidas na Ordenação do Reino para as cousas, de que se
intentassem Revistas, para a Relação e Casa da Porto, e
para todos os mais ministros, pelo Alvará de vinte e seis
de Janeiro de mil seiscentos noventa e seis, porque o tem-
po que tinha decorrido alterara o valor, e preço de todas
as cousas, como natural, eordinariamente acontece ; sendo
muito maior o espaço que tem havido desde a publicação
do sobredito Alvará atégora ; e tendo occorrido muitos
outros motivos ponderosos para augmentar os valores de
todos os gêneros, naÕ quadrando por isto a sobredita legis-
lação ao presente tempo, alem de querer diminuir as
Instâncias dos pleitos de pouco valor, que se proseguem
muitas vezes por caprichos mal entendidos e porfiosos.
Sou outrosim servido augmentar todas as sobreditas Alça-
das com mais duas partes do que se acha estabelecido no
citado Alvará de vinte e seis de Janeiro de mil seiscentos
noventa e seis ; como por exemplo a da Relação do Por-
to, que tem por elle a Alçada nos bens de raiz de duzentos
3 u 2
512 Politica.
e cincoenta mil réis, ficará sendo daqui em diante de se-
tecentos e cincoenta mil reis ; observando-se esta regra
em todas as mais Alçadas, na fôrma da Tabeliã assignada
pelo Conde de Aguiar, do Meu Conselho de Estado, Minis-
tro e Secretario de Estado dos Negócios do Brazil.
Pelo q u e : Mando á Meza do Desembargo do Paço;
Presidente do Meu Real Erário; Regedor das Justiças;
Conselho da Minha Real Fazenda ; Governador da Rela-
ção e Casa do Porto; e a todos os Tribunaes, Ministros
de Justiça; e mais pessoas, a quem pertencer o cumpri-
mento deste Alvará, o cumpram, e guardem sem embargo
de quaesquer Leis, ou disposiçoens em contrario, que to-
das Hei por derrogadas, como se de cada uma dellas fizesse
expressa mençaõ. E valerá como carta passada pela chan-
cellaria, posto que por ella naõ ha de passar, e que o seu
effeito haja de durar mais de um anno, sem embargo da
ordenação em contrario. Dado -no Palácio do Rio de Ja-
neiro, em 13 de Maio de mil oicentos e treze.
PHINCIPE.

Tabeliã do Regulamento das Alçadas, que se devem obser-


var daqui am diante.
Tara excluir a revista nos bens de Raiz 1:050.000
Nos Moveis 1:200.000
Nas causas sentenciadas em uma
ou duas Instâncias, de Raiz 360.000
Moveis 600.000
Corregedor doCivel da Corte, e do Porto
Raiz 75.000
Moveis 90.000
Penas 30.000
Relação do Porto
Raiz 740.300
Moveis. yoo.ooo
Politica. 513
Corregedores das Comarcas
Raiz 32.000
Civel da Cidade de L.sboa
Moveis 40.000
Juiz de índia e M m a
Penas 12.000
Provedor dasCapellaseReziduos^
Ouvidor da Altandega
Raiz 32.000
Moveis 40.000
Penas 12.000
Provedores das Comarcas
Raiz 32.000
Moveis 40.000
Penas 12.000
Juizes de Fora das Terras da Coroa
ia
Raiz 16.000
Moveis 20.000
Penas 6.000
Juizes de Orfaõs desta Cidade e
Juizes dos Orfaõs de Fora
Raiz 16.000
Moveis 20.000
Penas 6.000
Palácio do Rio de Janeiro em treze de Maio de mil oito-
centos e treze.—CONDE DE AGUIAR.

AMEKICA.
Relaçoens com a França.
Mensagem do Presidente dos Estados Unidos ao Congresso.
A' Casa dos Representantes dos Estados Unidos.
Remetto á Casa dos Representantes um Relatório do
Secretario de Estado, que contem a informação requerida
em suas resoluçoens de 21 de Junho próximo passado.
Washington, 12 de Julho, 1813.
(Assignado) J A I M E S MADISON.

O Secretario de Estado, a quem se referiram varias


Resoluçoens da Casa dos Representantes, de 21 do passado,
514 Politica.

requercndo-se-llic q u e desse informação sobre certos pon-


tos, relativos ao decreto Francez de 23 d' Abril, 1811 ;
tem a honra do fazer ao Presidente o seguinte relatório: —
Fornecendo a informação que requer a Casa dos Repre-
sentantes, o Secretario de Estado presume, que se poderá
j u l g a r sufficiente, que elle refira o que he que agora se ex-
i g e , q u e parte disso tem j a s i d o cotmnunicado; e supprir o
q u e falta. Elle porém considera mais conforme ás vistas da
Casa, naõ attender ao «jue j a se communicou ; e satisfazer
as todas as perguntas, dando resposta a cada uma dellas;
com a explicação própria que lhe diz respeito.
A Casa dos Representantes requereo informação—
q u a n d o , por q u e m , e em que maneira, recebeo este Go-
verno a primeira noticia do Decreto do Governo Francez,
q u e tem a data de 28 de Abril, de 1811, e que se repre-
senta ser uma revogação definitiva dos Decretos de Berlin
e Milaõ:—Se Mr. Russell o Ex-encarregado de Negócios
dos Estados Unidos, juncto ao Governo Francez, jamaÍ9
admittio ou negou a este Governo, a exactiilaõ da declara-
ção do Duque de Bassano a Mr. Barlovv, como se refere na
carta de Mr. Barlow de 12 de Mayo, 1812, ao Secretario
de Estado, que o dicto Decreto tinha sido communicado ao
predecessor de Mr. Barlow, a l i ; e apresentar á Casa
qualquer conrespondencia com Mr. Russell sobre esta
matei:;!, que naõ seja impróprio communicar; e também
qualquer conrespondencia entre Mr. Barlow, e Mr. Rus-
sell, que exista na Secretaria de Estado; por onde se
averigue se o Ministro da França nos Estados Unidos
jamais informou este Governo da existência do dicto
D e c r e t o ; e apresentar ante a Casa, qualquer conrespon-
dencia com o dicto Ministro, relativa a isto, e que naõ
seja impróprio communicar; com qualquer outra informa-
ção, que esteja em posse do Poder Executivo, e cuja pu-
blicação se naÕ supponha contraria ao interesse publico ;
que seja relativa ao dicto Decreto, e sirva a mostrar em
Politica. 515
que tempo, por quem, e em que maneira se fez primeira-
mente saber a este Governo, ou a algum de seus Agentes
ou Representantes; e ultimamente informar a Casa se o
Governo dos Estados Unidos jamais recebeo da França al-
guma explicação das razoens porque aquelle Decreto se
occultou deste Governo, e seu Ministro, por tanto tempo
depois de sua data ; e se este Governo pedio alguma ex-
plicação disso, e se a França omittio o dálla ; se este Go-
verno tem frito algumas Representaçoens, ou expressado a
sua dissatisfacçaõ ao Governo Francez por tal omissão.
Estas perguntas abraçam dous objectos distinctos. O
primeiro refere-se ao comportamento do Governo da
França, a respeito deste Decreto. O segundo, ao Go-
verno dos Estados Unidos. Para satisfazer ao que a Casa
deseja sobre o ultimo objecto, parece próprio o tractallo, em
dous pontos de vista differentes ; primeiro, no que respeita
o comportamento deste, nesta transacçaõ ; segundo, no que
respeitao seu comportamento para com ambos os belligeran-
tes, em algumas occasioens importantes connexas com ella.
As resoluçoens naÕ exigem especialmente um relatório de
tal extençaõ; porém como as medidas do Executivo, e os
actos do Congresso, fundados nas communicaçoens do
Executivo, que se referem a um dos Belligerantes, tem,
por uma conseqüência necessária, relação immediata uns
com os outros; parece que tal relatório obviamente se
comprehende nos seus objectos. Fundado neste principio
se preparou o relatório, na esperança de que quanto mais
plena informação se desse sobre cada ramo da matéria,
maior satisfacçaõ teria a Casa.
O Secretario de Estado tem a honra de participar, em
resposta aquellas perguntas ; que a primeira noticia que
este Governo recebeo do Decreto Francez de 28 de Abril,
de 1811; foi communicado por Mr. Barlow, em uma
carta, datada de 12 de Mayo, 1812, que foi recebida nesta
repartiça.ó aos 13 de Julho seguinte ; que a primeira inti-
maçaõ a Mr. Barlow, da existência deste decreto, segundo
513 Politica.
o que apparece de suas communicaçoens, lhe foi feita
pelo Duque de Bassano, em uma conferência informal em
algum dos dias entre o I o . e 10. de Mayo, 1812: e que a
communicaçaõ official disso a Mr. Barlow, foi feita aos 15
daquelle mez, e a requirimento seu ; que Mr. Barlow re-
metteo uma copia daquelle Decreto, e da carta do Duque
de Bassano, que o annunciava, a Mr. Russell, em carta
datada de 11 de Mayo, na qual elle também informou a
Mr. Russell que o Duque de Bassano tinha dicto que o
Decreto lhe tinha sido devidamente communicado a elle
Mr. Russell; que Mr. Russell respondera, em uma carta a
Mr. Barlow, datada de 29 de Mayo, que o primeiro co-
nhecimento, que tivera de tal Decreto, éra o que resultava
de sua carta ; e que repetidas vezes tinha ja referido isto
mesmo a este Governo. O papel marcado (A) he a copia
de um extracto da carta de Mr. Barlow á Repartição de
Estado, de 12 de Mayo, 1S12. (B) A carta do Duque de
Bassano a Mr. Barlow de 10 do mesmo mez; (C) o ex-
tracto de uma carta de Mr. Barlow a Mr. Russell, de II
de Mayo; (D) extracto da resposta de Mr. Russell de 29
de Mayo ; e (E) a carta de Mr. Russell á Repartição de
Estado, datada de 30.
O Secretario de Estado participa também, que nem o
Ministro Francez, nem outra alguma pessoa fez jamai»
communicaçaõ alguma a este Governo, relativamente ao
Decreto de 28 d'AbriI, de 1811; senaõ a que se refere: e
que nunca se deo a este Governo, nem se publicou ao tem-
po de sua data ; nem, em tanto quanto se sabe, aos Repre-
sentantes ou Agentes dos Estados Unidos na Europa. Pe-
dio-se ao Ministro da França, que explicasse a causa de
um procedimento, apparertemente taó extraordinário, e
digno de objecçaõ; elle respondeo que a primeira noticia
que tinha recebido daquelle decreto foi pelo navio Wasp,
em uma carta do Duque de Bassano, de 10 de Mayo,
1812; em que elle exprimia a sua admiração, excitada
Politica. 517
pela communicaçaõ de Mr. Barlow, de que naÕ tivesse
recebido a carta de Mayo, 1811, que se mandou primeiro ;
em que lhe transmittio a copia do Decreto para informa-
ção deste Governo. Esperávam-se mais explicaçoens de
Mr. Barlow, mas nenhumas se deram. O ponto de vista,
em que este Governo olhou para esta transacçaõ, foi men-
cionado pelo Presidente na sua Mensagem ao Congresso;
e communicada também a Mr. Barlow, em uma carta de
14 de Julho, 1812 ; com as vistas das explicaçoens, que se
pediram ao Governo Francez. Aos 9 de Mayo, de 1812,
o Imperador sahio de Paris para o Norte, e dous dias
depois o seguio o Duque de Bassano. A morte de Mr.
Barlow, suspendeo uma negociação para o ajuste das
offensas, e arranjamento de nosso commercio, com o
Governo da França, negociação que continuava havia
longo tempo, e que se diz estava próxima a concluir-se,
quando Mr. Barlow morreo. O seu successor, nova-
mente nomeado, está authorizado a recomeçar a negocia-
ção, e a concluílla» Elle tem instrucçoens de exigir do
Governo Francez a reparação de todas as injurias, e uma
explicação dos motivos porque se occultou a este Governo
o conhecimento do Decreto; tanto tempo depois de sua
adopçaÕ.
Dos documentos a que se refere parece, que Mr. Bar-
low naõ perdeo tempo ; logo que soube da existência do
Decreto Francez de 28 de Abril, de 1811 ; era pedir copia
delle, e remettella a Mr. Russell, o qual immediatamente a
apresentou ao Governo Britannico urgindo, sob funda-
mento desta nova prova da revogação dos Decretos
Francezes, que fossem revogadas também as ordens Bri-
tannicas em Conselho. A nota de Mr. Russell a Lord
Castlereagh he de 23 ; na qual promette submetter o
Decreto á consideração do Principe Regente. Mas parece,
que naquelle tempo se naõ deo motivo a esperar, que se
VOL. XI. No. 65. 3 x
518 Politica.
revogariam as ordens em Conselho, em conseqüência da»
quelle Decreto ; e que posto que ao depois se alegasse
CBOIO fundamento de sua revogação ; com tudo a revoga-
ção se deve attribuir a outras causas. A sua revogação naõ
teve lugar senaõ aos 23 de Junho ; mais de um mez ao
depois que o Decreto Francez se apresentou ao Governo
Britannico: demora esta, que de si mesmo indica, em um
periodo de tal momento e taõ critico, naõ somente negli-
gencia, mas desattençaõ ao Decreto Francez. Podem pro-
duzir-se outras provas de que a revogação das Ordens em
Conselho Britannicas, naõ foi produzida pelo Decreto
Francez. Eu referirei uma, que além do testemunho que
se contem nas cartas de Mr. Russell, aqui communicadas,
marcadas (G) se julga convincente. Na communicaçaõ
de Mr Baker a Mr. Graham, em 9 de Agosto, 1812 ; que
se fundou nas instrucçoens de seu Governo, na dnta taõ
moderna de 17 de Junho; e em que diz elle, que se man-
daria para este paiz uma declaração otfícial, propondo
uma revogação condicional das Ordens em Conselho, em
tanto quanto ellas dizem respeito aos Estados Unidos; naõ
se faz a menor mençaõ do Decreto Francez. Uma das
condiçoens, que entaõ se contemplava, éra que as Ordens
em Conselho se revivessem no fim de 8 mezes, a menos
que o comportamento do Governo Francez, e o resultado
das communicaçoens com o Governo dos Estados Unidos,
fosse tal que, na opinião do Governo Britannico, fizesse que
se revivessem; condição que prova incontestavelmente,
que o Decreto Francez naõ foi considerado pelo Governo
Britannico como fundamento sufficiente para a revogação
das Ordens em Conselho. Prova também que, naquelle
dia, o Governo Britannico tinha resolvido naó revogar as
Ordens sobre a base daquelle Decreto; visto que a revo-
gação proposta tinha de depender, naõ do que o Governo
Francez havia ja feito, mas sim do que elle poderia fazer
para o futuro; edos arranjamentos em que se devia entrar
Politica. 519
com os Estados Unidos, independentes da revogação
Franceza.
O Decreto Francez de 28 d'Abril, 1811; foi transmi-
tido aos Estados Unidos pelo navio Wasp, navio publico,
que havia muito tempo tinha estado esperando nos portos
da Gram Bretanha, e França, pelas cartas do nosso Minis-
tro, relativas a estes importantíssimos negócios, com ambos
os Governos. Recebeo-se na Repartição de Estado aos 15
de Julho, 1812 ; quasi um mez depois da declaração de
guerra contra a Gram Bretanha. A noticia da revogação
das Ordens em Conselho naõ foi recebida senaõ pelo meado
do mez seguinte. Portanto, era impossível que nem um
nem outro destes actos, em qualquer ponto de vista que se
olhassem, pudessem ser tomados em consideração, ou
tivessem influencia alguma na decisão daquelle importante
acontecimento.
Se o Governo Britannico estivesse disposto a revogar as
suas Ordens em Conselho, em conformidade do principio
que professara têllo movido, e com a condição, que elle
mesmo tinha prescripto ; naõ havia razaõ para demorar a
sua revogação até que se produzisse um Decreto, tal como
o de 28 de Abril de 1811. A declaração do Governo Fran-
cez de 5 d'Agosto, 1810 tinha plenamente satisfeito a tudo
que o Governo Britannico exigia, segundo seus mesmos
princípios, na quelle ponto. Por elle se declaravam revo-
gados os Decretos de Berlim e Milaõ, para ter isso effeito no
I o . de Novembro seguinte, no qual dia teve effeito. A
única condição, que se lhe ajunctava, era; que ou a Gram
Bretanha seguisse o exemplo, e revogasse as suas Ordens
em Conselho; ou que os Estados Unidos puzessem em vi-
gor contra ella o seu Acto de Naõ-importaçaõ. Esta con-
dição éra de sua natureza subsequente, naõ precedente, re-
servando a França o direito de reviver os seus decretos, no
caso em que se naõ executasse nenhuma das alternativas.
Por esta declaração se punha inteiramente no poder da
3x2
520 Politica.
Gram Bretanha o terminar esta controvérsia da maneira
mais honrosa para ella. A França lhe tinha cedido o terre-
no, debaixo da condição, com que a Gram Bretanha tinha
declarado que deseja conformar-se. Se cila satisfizesse a
isto, o Acto da naÕ importação nao se teria posto em rigor,
nem se podiam reviver os decretos Francezes. Recusando
acceder, ella se fez responsável portudo que se seguio
depois.
Pelo decreto de 28 d'Abril 1811, se disse, que estavam
definitivamente revogados os decretos de Berlin e Milaõ;
e se declarava; que o fundamento daquella revogação éra
o acto de NaÕ-importaçaõ contra a Gram Bretanha. A re-
vogação, annunciada pela declaração de 5 de Agosto, 1810,
éra absoluta e final, excepto quanto á condição que lhe
éra subseqüentemente annexa. Este ultimo Decreto re-
conhece, que aquella condição se tinha executado, e re-
nuncia o direito de o reviver, em conseqüência daquella
execução; e se extende retrogradando ao 1°. de Novembro,
o que confirma todas as circumstancias da revogação pre-
cedente. O ultimo acto portanto, quanto á revogação, naõ
he outra cousa senaõ a confirmação do primeiro. He neste
sentido que aquelles dous actos se deviam entender em
França. He no mesmo sentido que o devem entender as
outras Potências.
Revogando as Ordens em Conselho sob o pretexto do
Decreto Francez de 28 d'Abril de 1811, o Governo Britan-
nico tem concedido, que as devia ter revogado ao tempo da
declaração de 5 d'Agosto de 1810. He impossível fazer
distineçaõ entre os dous actos, ou separar um do outro, de
maneira que se possa justificar com principios sólidos, e
consistentes, a revogação das Ordens em Conselho sob o
fundamento de um acto, e negar a sua revogação, pelo
outro. O segundo acto faz a revogação definitiva < mas
porque razaõ ? Porque se tinha posto em força o Acto de
Naõ-importaçaõ, contra a Gram Bretanha; na conformi-
Política. 521
dade da condição subsequente, affixada á primeira revo-
gação; e sua negativa em naÕ revogar as suas Ordens em
Conselho, Estando o acto ainda em força, e sendo nelle
expressamente fundado o Decreto de 28 de Abril de 1811,
a Gram Bretanha revoga as suas Ordens em Conselho, so-
bre a base deste ultimo Decreto. A conclusão he, portan-
to, irresistível, de que por esta revogação, visto todas as cir-
cumstancias do caso, o Governo Britannico tem reconhecido
a justiça das pretensoens dos Estados Unidos em esperar a
revogação na primeira occasiaõ. Aceitando a ultima revo-
gação sanccionou a precedente; tem também sanccionado
o comportamento deste Governo, em pôr em execução o
Acto de NaÕ-importaçaõ contra a Gram Bretanha; fundado
na revogação precedente.
Desta revogação do Governo Britannico resultam outras
importantes conseqüências. Por construcçaõ obvia e justa,
a aceitação do Decreto de 28 de Abril, de 1811, como
fundamento da revogação das Ordens em Conselho, se de-
via entender retrocedendo ao I o . de Novembro, 1810, dia
em que teve effeito a revogação precedente. O Secreta-
rio de Estado tem plena confiança, quese a disputa pudesse
ser submettida ao juizo de um tribunal de justiça impar-
cial, tal houvera sido a decisaõ. Elle confia igualmente
que tal será o juizo que pronunciará sobre isso o mundo
illuminado, e imparcial. Porém, se estes dous actos
se pudessem separar um do outro, da maneira que
este pudesse ter sido a base da revogação das Ordens
em Conselho, distinctamente do primeiro ; segue-se que,
trazendo a data de 28 d' Abril, de 1811, a revoga-
ção devia ter relação aquella data. Na interpretação
legal, entre as naçoens, assim como entre os indivíduos,
devem olhar-se os actos deste o tempo em que come-
çam a obrar; e quando elles impõem á outra parte uma
obrigação moral ou politica, aquella obrigação come-
ça com o principio do acto. Porém tem-se argumentado,
522 Politica.
que o decreto Francez nau foi promulgado, nem notificado
ao Governo Britannico, senaõ um anno depois de sua data.
Esta objecçaõ naõ tem vigor. Aceitando um acto, cuja
data be de um anno anterior á sua promulgação admitte-se
que no intervallo naõ se fez cousa alguma repugnante a elle.
Naõ se pôde presumir, que Governo algum aceitasse d'ou-
tro, como base sobre que fundava uma medida importante,
nm acto de data anterior e remota, empenhando-se em
certo curso de comportamento de que aquelle mesmo Go-
verno tinha duvidado, e que tinha violado, durante o inter-
vallo. Se qualquer Governo violasse um acto, cujas deter-
minaçoens éra obrigado a observar por outro anterior, rela-
tivamente a outra parte interessada; e que professava ter
observado, antes de sua aceitação pela outra parte, naõ ae
podia presumir que deixaria de o violar depois da aceita-
ção. A conclusão he irresistível, que se o outro Governo
aceitou tal acto, com o conhecimento de sua violnçaõ ante-
cedente, fundamentando nelle alguma medida de sua parte;
tal acto deve ter sido somente o motivo apparente, e naõ o
motivo real de tal medida.
A declaração do Principe Regente, de 21 d'Abril, 1813,
he uma plena confirmação destas observaçoens. Por este
acto do Governo Britannico se annuncia formalmente,
pela authoridade de um Relatório do Secretario de Estado
dos Negócios Estrangeiros ao Senado Conservatito de
França, que os decretos Francezes estaõ ainda em vigor,
e que as ordens em conselho naõ seraõ revogadas. Naõ
pode deixar de excitar considerável admiração, que o Go-
verno Britannico, immediatamente depois; isto be aos
23 de Junho, revogasse as suas ordens em Conselho, «orno
fundamento do decreto Francez, de 28 d'Abril, de 1811.
Por este procedimento, o Governo Britannico te envolveo
em manifesta contradicçaÕ. Elle manteve por um acto,
que os decretos Francezes estavam em pleno vigor; e por
outro, que elles tinham sido revogados durante o mesmo
Politica. 523
espaço de tempo. Elle também admitte, que por ne-
nhum acto do Governo Francez, ou de seus corsários se
tinha commettido violação alguma da revogação annunciada
pela declaração do Governo Francez, de 5 de Agosto, de
1810; ou pelo menos que tal violação se naõ julgou de suf-
ficiente pezo para impedir a revogação das Ordens em
Conselho.
Fez-se a objecçaõ de que a declaração do Governo
Francez, de 5 de Agosto, de 1810, nao era um acto tal,
que o Governo Britannico devesse reconhecer. O Secre-
tario de Estado está plenamente convencido de que esta ob-
jecçaõ he absolutamente sem fundamento. A declaração foi
communicada pelo Imperador, por meio de seu mais conde-
corado orgao, o Secretario dos Negócios Estrangeiros, ao
ministro Plenipotenciario dos Estados Unidos em Paris.
He impossível conceber um acto mais formal authentico,
e obrigatório, da parte do Governo Francez, do que este de
que se tracta. i Pode um governo, mesmo pedir, ou
esperar de outro, que assegure a execução de um dever,
por mais importante que seja, de outra maneira mais do
que uma promessa official clara e plenamente expressa ?
I Pode dar-se melhor segurança de sua execução ? Se
nisto houvesse alguma duvida, o comportamento da mesma
Gram Bretanha, em casos similhantes, a teria removido
completamente. Toda a historia de sua communicaçaõ
diplomática com as outras potências, sobre a matéria dos
bloqueios, vai de acordo com este procedimento do Go-
verno Francez. Nos sabemos que quando o seu governo
institue um bloqueio, o Secretario dos Negócios Estran-
geiros o annuncia aos Ministros das outras potências que
residem em Londres ; e que a mesma forma se observa,
quando elles se revogam. Nem j a mais se questionou a
authoridade de algum daquelles actos.
Se o Ministro da França nos Estados Unidos tivesse feito
uma declaração similhante a este governo, por ordem do
524 Politica.
seu i teria direito a ser respeitada, ou seria respeitada ?
Pelo uso das naçoens se naÕ poderia negar tal respeito. O
arranjamento feito com Mr. Erskine he plena prova da
boa fé desde Govemo; e de sua imparcialidade em suas
transacçoens com ambos os Belligerantes. Foi feito com
aquelle ministro, com o fundamento de seu character pu-
blico, e confiança que he devida; sobre cuja baze se re-
moveo o acto de IncommunicaçaÓ, pelo que dizia respeito
á Inglaterra, e se deixou em pleno vigor quanto á França.
A falência daquelle arranjamento somente se pode impu-
tar ao Governo Britannico, que, regeitando-o, tomou so-
bre si grande responsabilidade ; naõ somente a respeito
das conseqüências, que se lhe seguiram; mas em desap-
provar e annular o acto de seu Ministro, sem mostrar, que
elle tinha excedido a sua authoridade. Aceitando a de-
claração do Ministro Francez dos Negócios Estrangeiros,
em prova da revogação Franceza, os Estados Unidos naõ
deram provas de-accreditar impropriamente o Governo da
França. Comparando ambas as transacçoens se verá, que
se se mostrou uma confiança notável, e respeito a algum
dos dous governos, foi ao da Gram Bretanha. Aceitando
a declaração do Governo da França, na presença do Im-
Imperador, os Estados Unidos se apoiaram em bazes mais
firmes, do que aceitando o de um Ministro Britannico
neste paiz.
Ao requirimento que fizeram os Estados Unidos, para
que se revogassem os Ordens em Conselho, fundamentando-
se na base da revogação Franceza, de 5 d'Agosto, respondeo
o Governo Britannico, pedindo uma copia das Ordens ex-
pedidas pelo Governo Francez para pór em execução
aquella revogação, petitorio este sem exemplo na commu-
nicaçaõ entre as naçoens. Por este requirimento deixava
de ser questionável se a revogação Franceza éra ou naõ
de sufficiente extençaõ, ou éra fundamentada em condi-
çoens justificáveis. Duvidava-se da promessa do Governo
Politica. 525
Francez ; havia de instituir-se uma indagação, quanto ao
modo porque ella seria desempenhada, e preservada a sua
fé, naÕ pelo comportamento subsequente dos seus corsários
para com os vasos dos Estados Unidos, mas por uma
copia das ordens dadas aos corsários, i Aonde iria isto
parar ? Se o Governo Francez intentasse uma fraude
com esta declaração de revogação, annunciada ao Ministro
dos Estados Unidos, e ao depois a este Governo j naõ po-
deria igualmente commetter outra fraude em qualquer com-
municaçaõ que fizesse ? Se o Governo Britannico naÕ
queria dar credito ao acto do Governo Francez, assim an-
nunciado formalmente, he provável que o desse a alg»im do-
cumento de inferior character dirigido a seus próprios
subditos? Ainda que éra da politica, e talvez do inte-
resse do Governo Britannico envolver os Estados Unidos,
em tal controvérsia com o Governo Francez; estava bem
longe de concordar com os interesses dos Estados Unidos
o fazêllo. Elles consideravam ser do seu dever, aceitar
do Governo Francez a revogação de seus decretos ja feita
e olhar para o seu comportamento, e para o de seus corsá-
rios, sanccionados pelo Governo, para a sua fiel execução,
ou violação. Tendo os Estados Unidos sido offendidos por
ambas as Potências, naõ desejavam, nos seus esforços para
obter justiça de uma dellas, vir a ser o instrumento da
outra.
Elles estavam ainda menos inclinados a isso no exemplo
presente, considerando, que a parte, que os apertava,
mantinha em plena força os seus illegaes edictos contra o
Commercio Americano ; aos mesmo tempo que naõ podia
negar, que, pelo menos, a outra parte tinha feito conside-
ráveis avanços para uma completa acommodaçaõ, sendo ma-
nifesto ao mundo, naÕ somente que a fé do Governo Fran-
cez se achava empenhada para a revogação de seus decre-
tos ; mas que a revogação effectivamente se poz em exe-
cução no I o . de Novembro, 1810, a respeito dos Estados
VOL. XI. No. 65. 3Y
526 Politica.
Unidos; que vários vasos Americanos, tomados em vir-
tude delles, foram reentregues, e suspendidas todas as de-
cisoens judiciaes, por sua ordem; e também que conti-
nuou a dar as mais positivas seguranças de que a revoga-
ção seria fielmente executada.
Argumentou-se também, que a revogação Franceza
éra condicional; e que por essa razaõ se naõ podia aceitar.
Tem-se ja respondido a esta objecçaõ, plenamente. Me-
rece porém attençaõ que us actos do Governo Britannico,
relativos a este objecto, particularmente a declaração de 21
de Abril, 1812, e a revogação de 23 de Junho, do mesmo
anno, saõ igualmente, e da mesma forma, condicionaes.
NaÕ he pouco admirável, que o Governo Britannico tivesse
feito objecçaõ a uma medida de outro Governo, aque elle
mesmo tinha dado sancçaõ por seus próprios actos. He com
tudo próprio o notar, que se removeo completamente esta
objecçaõ, aceitando.se o Decreto de 2S d'Abril, de 1811.
O Governo Britannico tem também argumentado, que
naÕ podia confiar na fiel execução do Governo Francez,
em nenhum ajuste que este fizesse relativo á revogação
de seus Decretos. Esta objecçaõ seria igualmente appli-
cavel a qualquer outro pacto, que se contrahisse com a
França. Em quanto se mantivesse, seria uma barreira
contra todo o tractado, mesmo um tractado de paz entre
elles. Porém também se tem admittido, que hc mal fun-
dada, pela aceitação do Decreto de 28 d'Abril, 1811.
O Secretario de Estado presume que estes factos e ex-
plicaçoens, sustentadas como saõ por documentos authcn-
ticos, provam; primeiro, que a revogação das Ordens
Britannicas em Conselho se naÕ devem attribuir ao Decre-
to Francez, datado de 23 d'Abril, de 1811; e segundo;
que, fazendo deste decreto a baze de sua revogação, o
Governo Britannico tem concedido, que as devia ter revo-
gado, sob o fundamento da declaração do Governo Fran-
cez de 5 d'Agosto, 1810, demaneira que tivesse effeito
Politica. 527
em Novembro seguinte. A que causa se pudesse justa-
mente attribuir a revogação das Ordens Britannicas em
Conselho, naõ pôde agora ser cousa duvidosa, para nin-
guém que tenha notado com justo discernimento, o
curso dos acontecimentos. Deve servir de grande con-
solação ao bom povo destes Estados, o saber, que naÕ he
em vaõ, que elles se tem submettido a privaçoens.
A discussão de outras offensas, particularmente a que
respeita a prisaõ dos marinheiros para o serviço de mar,
se tinha findado havia algum tempo, antes do periodo de
que se tracta. Era indigno do character dos Estados
Unidos continuar a discussão, sobre aquella disputa, quan-
do éra evidente, que dali naõ podia resultar vantagem al-
guma. Reservou-se o direito para se tornar a produzir
e urgir, quando isso se pudesse fazer eficazmente. No
entanto, se perseverou com vigor na practica da prisaõ de
marinheiros.
Ao tempo em que se declarou a guerra contra a Gram
Bretanha, naÕ se tinha offerecido arranjamento algum que
satisfizesse, nem éra provável que se fizesse algum rela-
tivamente á prisaõ dos marinheiros; e nada estava mais
longe das esperanças deste Governo do que a revogação
das Ordens em Conselho. Todas as circumstancias, que
tinham occurrido, tendentes a illustrar a politica, e as
vistas do Governo Britannico, faziam aquelle estabeleci-
mento de todo improvável. Desde o principio daquelle
systema de hostilidades, que a Gram Bretanha tinha adop-
tado contra os Estados Unidos, as suas pretensoens tinham
crescido gradualmente, ou ao menos se tinham desenvol-
vido mais plenamente, segundo as circumstancias, até
que ao momento em que declarou a guerra, elles tomaram
um character que dissipou todo o prospecto de accommo-
daçaõ. As Ordens em Conselho, disseram elles, tinham
sido adoptadas sob um principio de retorsaõ contra a
França; ainda que ao tempo em que se expedio a ordem de
3Y2
528 Política.
de Mayo de 1S07, naõ tinha occurrido alguma medida em
França, contra a qual ella pudesse servir de retorsaõ: e
na data da Ordem seguinte, Janeiro 1807 ; éra apenas
possivel que este Governo tivesse se quer ouvido do de-
creto de Berlin, a que ella se referia. Disse-se ao tem-
po de sua adopçaõ, e por algum tempo ao depois, que
ellas seriam revogadas, logo que a França revogasse os
seus decretos, e que o Governo Britannico procederia com
o Governo de França, paripassu, na revogação. Porém,
depois da declaração do Governo Francez, de 5 de Agosto,
de 1810, porque se declararam revogados os decretos de
Berlin e Milaó, o Governo Britannico mudou de tom, e
continuou a augmentar as suas pretençoens, até o mo-
mento em que se declarou a guerra. Objectou-se pri-
meiro, que a revogação Franceza éra condicional, e naÕ
absoluta; ainda que a única condição, que lhe éra annexa
fosse que a Gram Bretanha seguisse o exemplo; ou que
os Estados Unidos preenchessem a sua promessa, execu-
tando contra ella o acto de Naõ-importaçaõ. Exigio-se
entaõ, que a França revogasse os seus regulamentos in-
ternos, como condição da revogação das Ordens Britan-
nicas em Conselho. Depois disso, que a revogação Fran-
ceza se extendesse a todas as naçoens neutraes; bem assim
como aos Estados Unidos; e ultimamente, que os portos
de seus inimigos, e todos os portos de que éra excluída a
bandeira Britannica, se abrissem ás manufacturas Britan-
nicas, em portos Americanos: condiçoens estas taõ ex-
travagantes, que convencem a todo o juizo desapaixo-
ado, de que eram exigidas naõ na esperança de que se
lhe satisfizesse; mas para terminar a discussão.
Considerando plenamente todas estas circumstancias,
parece que chegou o periodo, e que vem a ser do dever
dos Estados Unidos assumir aquella postura, para com a
Gram Bretanha, que he devida aos seus direitos violados,
c a seu character como naçaõ independente. Ter-se es-
Política. 529
cusado da crise, seria abandonar tudo quanto ha de
mais precioso a um povo livre. O rendimento de nossos
marinheiros ás prisoens Britannicas, com a destrucçaõ da
nossa navegação e commercio, naõ seriam os seus únicos
males. A dessolaçaõ da propriedade por maior, e mais
extensa que seja, affecta um interesse que admitte repa-
ração. Somente he incurável a ferida, que fixa um es-
tigma á honra nacional. Em quanto o espirito do povo
existe indomável, sempre se acharão na sua virtude recur-
sos iguaes aos maiores perigos, e mais apertadas necessi-
dades. He da natureza de um Governo livre, o inspirar
no corpo do povo sentimentos generosos c nobres, e
he do dever das authoridades constituídas, fomentar
e appellar para estes sentimentos, e desancar no apoio
patriótico de seus constituintes. Se elles se tivessem mos-
trado desiguaes á crise, teriam dahi resultado as mais
fataes conseqüências : a prova de sua fraqueza ficaria re-
gistrada ; porém naÕ seria somente sobre elles que cahirt-
am os seus terríveis effeitos. Teriam abalado os funda-
mentos do mesmo Governo, e até os sagrados principios da
revolução, de que dependem todas as nossas instituiçoens
politicas. Cedendo ás pretençoens de uma Potência Es-
trangeira, sem fazer nm esforço varonil em defeza de
nossos direitos, sem appellar para a virtude do povo,
ou para a fortaleza da nossa uniaõ, se teria accusado e
feito crer, que nestes recursos existia occulto o mal-
j Aonde poderia o bom povo destes Estados fazer outra
resistência firme ? < Aonde seria o seu ponto de reunião ?
Tendo o Governo de sua escolha sido deshonrado, e de-
monstrada a franqueza de suas instituiçoens, teria sido com-
pleto o triumpho do inimigo. Teria alem disto sido du-
rável.
As Authoridodes constituidas dos Estados Unidos, nem
temeram, nem anticipáram estes males. Ellas tem plena
confiança na fortaleza da Uniaõ, na firmeza e virtude do
630 Politica.
povo, e estavam convencidas, que quando se fizesse a ap-
pellaçaõ, se daria ampla prova de que a sua confiança
naõ tinha sido mal collocada. NaÕ se duvidava que um
aperto da parte do Estrangeiro, bem depressa dissiparia
as parcialidades e prejuizos estrangeiros, se taes existissem ;
e nos uniria mais estreitamente como um só povo.
Declarando a guerra contra a Gram Bretanha, os Estados
Unidos se puzéram em situação de retorquir ás hostili-
dades, que ha tanto tempo tem soffrido do Governo Bri-
tannico. A manutenção dos seus direitos foi o objecto
da guerra. Quanto aos desejos deste Governo de termi-
nar a guerra, com condiçoens honrosas, disso se tem dado
amplas provas, nas proposiçoens feitas ao Governo Bri-
tannico immediatamente depois da declaração de guerra,
pelo Encarregado de Negócios dos Estados Unidos em
Londres, e pela promptidaõ e maneira porque se aceitou a
mediação do Imperador de Russia.
Anticipáram alguns, que a declaração de guerra contra
a Gram Bretanha, obrigaria os Estados Unidos a uma
connexaõ mais intima com o adversário daquella, muito
em desvantagem destes. O Secretario de Estado julga
conveniente observar, que isto está mui longe do facto. A
discriminação a favor da França, segundo a ley, em con-
seqüência da França ter aceitado a proposição feita igual-
mente a ambas as Potências, produzio uma differença entre
ellas, neste caso especial, mas somente neste caso. A
guerra contra a Inglaterra foi declarada, sem nenhum con-
certo ou communicaçaõ com o Governo Francez ; naõ
produzio connexaõ entre os Estados Unidos e a França,
ou intelligencia alguma quanto ao seu proseguimento,
continuação, ou terminação. As relaçoens apparentes en-
tre os dous paizes, saõ as verdadeiras, e as únicas. Os
Estados Unidos tem justas pretensoens a respeito da Fran-
ça, pelas espoliaçoens feitas a seu commercio no alto mar,
e nos portos da França; e o seu ministro, que morreo,
Politica. 531
foi, assim como he o seu presente ministro, instruido a ex-
igira reparação destes damnos, e apertar por isso com toda
a energia, devida á justiça de suas pretençoens, e ao cha-
racter dos Estados Unidos. O resultado destas negocia-
çoens será communicado ao Congresso em devido tempo.
Os papeis marcados (1) contem copias de duas cartas, di-
rigidas desta repartição a Mr. Barlow, uma aos 16 de J u -
nho, 1812 ; justamente antes da declaração de guerra ; e
a outra de 14 de Julho seguinte, que mostram distincta-
mente as relaçoens existentes entre os Estados Unidos e a
França, na quelle interressante periodo. Nisso naÕ tem
occurrido depois mudança alguma.
Tudo o que se submette respeituoamente.
Repartição de Estado, JAMES MONROE.
Julho 12, 1813.
Ao Presidente dos Estados Unidos.

DINAMARCA.
Declaração de Guerra contra a Suécia.
Desde o momento em que se concluio, em Jonkoping,
a paz entre a Dinamarca, e Suécia; S. M. tem feito esfor-
ços taõ sinceros como constantes para manter a amizade
e boa intelligencia com aquelle estado vizinho, mas ao
mesmo tempo naõ podia deixar de observar que o Governo
Sueco, longe de ser animado pelos mesmos sentimentos,
tinha demasiado freqüentemente dado provas de differente
disposição.
Pelo tractado de Jonkoping, era a Suécia obrigada a
expulsar de suas costas os navios de guerra, e corsários
des inimigos de Dinamarca. Elles continuaram naõ so-
mente a deter os navios mercantes, juncto ás costas de
Suécia; mas até aprezar alguns dentro dos portos de
Suécia. Raras vezes se dignou responder ; e nunca deo
remédio algum ás reiteradas queixas do Governo Dinamar-
quez, relativamente ás perdas que resultavam daquelle
532 Politica.
estado das cousas, ao Commercio Dinamarquez e da
Norwega. Desta maneira a costa Sueca, no Categate,
ficou ao depois da paz, relativamente á navegação Dina-
marqueza, na mesma posição hostil, em que estava durante
a guerra. A declaração de guerra que o Governo Sueco se
deixou persuadir que devia publicar contra a Inglaterra,
naõ produzio a este respeito alteração alguma : e depois
do restabelecimento da paz com a Gram Bretanha, os pe-
rigos, a que ficava exposta a navegação Dinamarqucza,
se extenderam a toda a costa Sueca.—O navegante Dina-
marquez podia esperar achar-se protegido contra todo o
ataque da parte dos inimigos de sua naçaõ, nas costas de
uma Potência amiga e vizinha. Elle devia crer que um
Governo, que constantemente basofia da sua liberdade e
independência, estaria disposto, ainda que fosse somente
pela consideração de sua própria dignidade, a manter os
seus direitos territoriaes. Porém os marinheiros Dirá-
marquezes fôram enganados mui freqüentemente em suas
esperanças, quando no momento de perigo procuraram
protecçaõ no território Sueco; aonde os botes armados do
inimigo esperavam uma fácil preza.—Despojados de
sua propriedade; e muitas vezes perseguidos pelo inimigo
até no mesmo continente Sueco, somente lhes restava
o sentimento e dor de suas perdas; porem ao mesmo
tempo se despertava a sua justa indignação, vendo o go-
verno de uma naçaõ vizinha dispensar-se de prestar aquella
protecçaõ, que elles tinham direito de esperar.
A estipulaçaõ do tractado de paz de Jonkoping, que
determinava que fosse restituida a propriedade dos res-
pectivos subditos dos dous estados, que depois da ruptura
estivesse posta em estado de seqüestro, foi executada da
parte de Dinamarca sem alguma demora ; e com a mais
escrupulosa exactidaõ. Na Suécia, pelo contrario, tem
ainda sido detida a propriedade de vários vassallos Dina-
roarquezes. As representaçoens freqüentemente renova-
Politica. 533
das, a fim de a obter ou o seu valor, naõ produziram se-
naõ frivolos subterfúgios, ou promessas de indemnizaçaõ ;
cuja realidade até aqui se tem esperado em vaõ.
A Suécia naÕ se limitou a dar estas provas de disposi-
çoens pouco amigáveis para com Dinamarca.
Ja por um tracta o, concluído no principio do anno
passado, entre as Cortes de S. Petersburgo, e Stockholmo ;
e que foi ao depois confirmado em Abo, a Suécia ficou se-
gura do auxilio de Russia, para a execução do plano en-
entaõ fixo de tomar o reyno de Norwega. Com a mesma
intenção se concluio depois um similhante tractado, entre
a Suécia, e a Gram Bretanha.
Mas antes de chegar ás hostilidades declaradas, ella
dezejou experimentar meios mais moderados porém naõ
menos insidiosos.
A Suécia trabalhou por seduzir os habitantes oa Nor-
wega, mandando para este Reyno de tempos a tempos pro-
clamaçoens insidiosas, e esforçando-se assim por allienallo
do dominio de seu legitimo e hereditário Soberano. Ao
mesmo tempo grande numero de navios carregados da
graõ para a Norwega, que se tinham suecessivamente des-
pachado por conta do Governo Dinamarquez, e de vários
indivíduos, fôram detidos nos portos Suecos, aonde tinham
sido obrigados a procurar refugio, ja por occasiaõ de pe-
rigos do mar, ja por causa dos corsários do inimigo. Fo-
ram absolutamente inúteis todas as representaçoens, que se
fizeram contra uma medida, violenta em si mesmo, e atroz
por suas conseqüências a respeito dos habitantes deNorwega.
O Governo Sueco, em vez de resposta, usou de um pretex-
to mui pouco ou nada applicavel ás cargas de graõ de que
se tractava, isto he; que éra prohibida em Suécia a expor-
teçaõ de graõ. Nos nao podemos deixar de entender o
objecto dos obstáculos, que se oppunham a dar mantimen-
tos á Norwega. Era pela fome que se desejava obrigar
os Norwegas a que se submettessem ao dominio de Suesia.
VOL. XI. No. 65. 3z
534 Política.
O Governo Sueco, descançando em seus poderosos Al-
liados, naõ se envergonhou de proporá S. M., que cedesse
a Norwega por outros paizes, de que a Suécia naõ estava
de posse, e de que ella naõ podia, nem devia esperar o po-
der dispor livremente.
Naõ podendo obter o seu objecto, r m com proposiçoens
atrai coadas, a que se uniam freqüentemente as ameaças;
nem pelas reiteradas tentativas para induzir os Norwegas
a que atraiçoassem os seus deveres para com seu Sobe-
rano, o Governo Sueco manifestou o seu mao humor pela
suspensão das relaçoens ministeriaes entre os dous Estados.
O encarregado de negócios de S. M. teve ordem de re-
tirar-se de Stockholmo, e se mandou recolher a missaõ
Sueca em Copenhagen. O Cônsul-geral Dinamarquez
em Gottenburgo, foi também mandado despejar. Pouco
depois o Governo Sueco suspendeo toda a communicaçaõ
entre os dous Estados. Desta maneira tinha ja a Suécia
rompido todas as relaçoens amigáveis com a Dinamarca.
Fechou-se o accesso nos Estados de Suécia a todos os vas-
sallos de Dinamarca.
Naõ parou aqui. Prohibio.se o curso ordinário do3 cor-
reios entre Dinamarca e Norwega, pela Suécia, como se
tinha estipulado nos tractados.
O navios Suecos tiveram ordem de naõ pagar os direitos
do Sund, ainda que S. M. em virtude de tractados anterior-
mente concluídos com a Suécia, e do novo confirmado
pelo tractado de Jonkoping, tinha a elles o mais incontestá-
vel direito.
Porém naô bastou, que os vasos Suecos fossem desta ma-
neira dispensados por seu governo, de preencher a obriga-
ção de pagar os direitos do Sund ; os navios armados Suecos
empregaram a força para impedir que os vasos de outras
naçoens pagassem os direitos.
Por fim um official Sueco de marinha declarou, por es-
cripto, ao Governador d'ElRey emBornbolm, que tinba
Política. 535
ordem de aprehender todos os navios que trouxessem ban-
deira Dinamarqueza; e interromper toda a communicaçaõ
entre Christiansand e Bornholm. Pouco tempo depois um
official da Marinha Real, que voltava de Bornholm para
Copenhagem foi impedido em alto mar, por um brigue
Sueco, e levado a Ystadt, d'onde naõ voltou ainda. Tendo
o Governo Sueco por tantos meios, naõ somente dispensa-
do-se de preencher os deveres de bom vizinho, para com a
Dinamarca, e tendo suspendido todas as communicaçoens,
que em geral subsistiam entre paizes e Estados vizinhos, a
respeito dos quaes existia uma reciproca boa intelligencia,
tanto por ocôasionar perdas aos vassallos d'El Rey, como
por adoptar medidas tendentes a subjugar a Norwega, S,
M. se vê obrigado; postoque a seu pezar, a reccorrer
ás armas, e repellir com a força todo e outro qualquer
insulto da parte de um governo, que por longo tempo teia
exercitado hostilidades contra os Estados Dinamarqueses,
e contra os vassallos d'El Rey.
Tem-se ja expedido as ordens necessárias, a este respei-
to, aos chefes do exercito e Esquadra de S. M.
Nunca houve uma guerra defensiva mais justa—Nunca
Governo algum deo maiores provas de paciência e soffri-
mento, em differir o recurso às armas, para manter a segu-
rança do Estado; e protegera propriedade de seus subditos.
A necessidade somente podia induzir a S. M. a tomar
uma resolução taõ repugnante aos sentimentos de seu cora-
ção. Mas estes devem necessariamente ceder ao dever de
defender os Estados, e subditos, que a Providencia lhe con-
fiou, contra ataques pérfidos, e naõ provocados, da parte
de um Governo, cujos planos hostiz contra a Dinamarca,
toda a Eurppa conhece.
S. M., que sempre descança com inteira confiança na
immovel fidelidade, e constante affeiçaõ de um amado po-
vo ; naõ desejava comprar uma vergonhosa e precária paz,
pelo sacrifício de seus valorosos, e leaes Norwegas. Mas
3z2
536 Politica.
elle deseja sinceramente que o Governo Sueeo, reparando
as injurias que tem feito aos vassallos de S. M., e adoptan-
do, e proseguindo em principios pacíficos, possa dar occa-
siaõ a que se restabeleça entre as duas Naçoens, aquella
boa intelligencia, que somente he adaptada aos seus recí-
procos interesses.
Dado em Copenhagen, aos 3 de Septembro, de 1813.

FRANÇA.
DOCUMENTOS OFFICIAES RELATIVOS A' GUERRA COM A
SUÉCIA.
Relatório do Ministro de Guerra a S. M. o Imperador e
Rey.
SENHOR! V- M., por um tractado, assignado em
Fontainebleau aos 3 de Outubro de 1807, com El Rey de
Dinamarca, garantio aquelle Soberano a integridade de
seus dominios ; todavia ainda que estes ajustes foram co-
nhecidos da Suécia, esta se offereceo em 1807 a fazer cauza
commum com a França, na guerra que entaõ preparava co-
tra a Russia, se S. M. lhe quizesse assegurar a posse da
Norwega, que a Suécia cobiçava sem outros direitos, ou
titulos, que naõ fossem os da sua proporia conveniência. V.
M. olhou esta proposta como uma afronta : nenhuma ra-
zão poderia determinar V. M. a atraiçoar os interesses do
seu alliado : a Suécia teve de buscar, em outra parte o apoio,
que V. M. recuzou à sua ambição: ajunctou-se aos inimigos
de V. M. para roubar o seu Alliado; propôs á Russia, co-
mo em paga de tomar parte na guerra contra a França, que
aquella a ajudasse com suas forças a conquistar a Norwega :
um artigo especial do tractado assignado em St. Petersburgo
aos 24 de Março, de 1812, foi, que, no cazo de que a Dina-
marca estivesse pela cessaõ da Norwega á Suécia, se lhe
dariam indemnizaçoens no território Francez. Estes
contractos sem exemplo nos annaes das naçoens foram apro-
vados ela Inglaterra, e por uma transacçaõ em 3 de Maio
Politica. 537
passado, esta naçaõ accedeo ásconvençÕens que existiam
entre Russia e Suécia, e assegurou a reunião da Norwega á
Suécia. Por estes dous tractados a Suécia tomou contra
V. M. um caracter hostil; mas ja muito antes ella tinhavio-
ladootractado de 6 de Janeiro, de UIO,esquecendo-se das
generozas condiçoens, quo V. M. lhe concedeo, desprezan-
do a obrigação que ella tinha contraindo, em preço da res-
tauração da Pomerania Sueca, de fechar os seus portos ao
commercio Inglez ; e os quaes ella abrio no mesmo anno :
estes portos se tornaram em colônias lnglezas; Cônsules
Inglezes ahi rezidiam ; e ainda que a Suécia tivesse declarado
guerra à Inglaterra, as esquadras, e comboys Britannicos
francamente entravam, e se demoravam nos portos de Sué-
cia ; productos coloniaes, e fazendas lnglezas se accumu-
lavam nos portos Suecos, para d'ahi serem transportados
ao interior da Pomerania, e d'aqui inundarem o continente.
A Suécia fez mais ; rompeo em abertas hostilidades contra
os vassallos de V. M. que foram assassinados em Stralsund**
sem que de taes attentados se podesse obter suficiente repa-
ração. Dous navios com bandeira Franceza foram maltra-
tados em alto mar por navios Suecos, um d'aquelles, o
Mercúrio, atacado por força superior no Sund pelo brigue
de guerra Venta Lille foi conduzido a um porto Sueco,
aonde a tripulação foi posta em ferros. Todas as reprezen-
taçoens do governo de V. M. foram baldadas, e V. M.
ordenou por isso que se occupasse a Pomerania até que a
Suécia desse todas as satisfacçoens devidas á dignidade da
coroa de V. M.
V. M. sentia o ter de uzar de vigor para com uma naçaÕ
que estimava, e que há perto de 200 annos havia sempre
seguido o systema da França. Estas dispozisoens, Senhor,
que só tinham por objecto o chamar a mais justos sentimen-
tos um amigo, que entendeo mal as suas obrigaçoens, des-
mascararam um inimigo j á colleado contra nós: Em vir-
tude dos ajustes d'esta Jiga, cujas principaes esti^uiaçoens
538 Politica.
trago a V- M., as tropas Suecas, no principio d'e&ta
campanha, ouzaram invadir o território Francez. V. M.
por um novo tractado com a Dinamarca, tornando mais
apertados os laços, que o unem a esta naçaõ,e tomando até
mais interesse na cauza d'ella, fez também um tractado
reciproco de aliiança com a Dinamarca, e declarou guerra
á Suécia. Eu proponho á V. M. que mande publicar a
declaração da guerra entre França e Suécia; e ao mesmo
tempo mande communicar ao Senado, e promulgar como
ley do Estado, em conformidade da constituição, o tractado
de 10 de Julho passado entre França e Dinamarca.
(Assignado) O DUOUE DE BASSANO*
Dresden, 20 d'Agosto, (copia fiel).

Seguia-se aqui o tractado concluído em Copcnhagen aos


10 de Julho de 1813 pelo qual França e Dinamarca se ga.
rantiram a integridade de seus territórios Europeos, e colo-
niaes, e em que ambas declararam guerra á Suécia, Russia,
e Prússia.

DOCUMENTOS OFFICIAES RELATIVOS A' GUERRA COKTRA


ÁUSTRIA.
Relatório a S. M. o Imperador e Rey.
SENHOR! a primeira guerradaAustriacontraaFrançadurou
seis annos, e acabou pelos preliminares de Leoben. O ex-
ercito Francez estava entaõ senhor da Hollanda, da Bélgica,
das margens doRneiio, provincias Itálicas da Áustria, Con-
dado de Gorice, Istria, Stiria, Carinthia, Carniola, e Tiro!:
elle se achava entaõ sobre os montes de Samering-Berg,
a pequena distancia de Vienna, que a corte havia ja aban-
donado. A moderação do conquistador parecia uma segu-
rança da duração da paz; mas apenas eram passados IS
mezes, poderam persuadir ao gabinete Austríaco, que tudo
tinha mudado em França, que um exercito Francez estava
-;m o Nilo, e que a dezordem da administração interior
inha cauzado a desmembraçaõ da maior parte do exercito*
A Áustria correo ás armas.
Politica. 539
O tractado de Luneville pôz fim á 2 a . guerra d'Áustria
que durou dois annos: os exércitos Francezes estavam sobre
oSaave, e n'este mesmo Leoben, aonde a primeira guerra da
Áustria foi terminada. Lizongeavamo-nos entaõ, que a
paz seria de longa duração: queriamo-nos persuadir, que
o gabinete da Áustria tendo sido induzido a quebrar os ajus-
tes feitos em Leoben, em consideração ao estado, em que
entaõ se achava o interior da França, naõ haveria de ter
mais motivo algum para romper a paz, quando aquellas cir-
cumstancias já naÕ existiam. França consagrava entaõ
todos os seus esforços ao restabelecimento de sua marinha,
e aos preparativos contra a Inglaterra.
A Itália estava sem tropas, e o nosso estado militar des-
cançava á sombra da paz ; o nosso único exercito estava
em Bayonna; o gabinete d'Austria esqueceo-se dasliçoens
passadas; ajunctou-se á Russia, e á Inglaterra, e os exércitos
Austríacos marcharam contra a Baviera.
O exercito Francez bem depressa se fez senhor da capital,
e dos tres quartos da monarchia; V. M. poder-lhe-hia ter
dictado condiçoens duras; porem consentio em moderadas,
e o tractado de Presburg foi assignado na capital da Hun-
gria—A 3*. guerra d'Áustria foi assim acabada em 3 mezes ;
acabou como a 3*. guerra Punica, pela tomada da capital:
esta desgraçada cidade sem haver tido parte em as paixoens
de seu gabinete, alheia á ambição, que tinha dictado sua
politica, chorou os erros, de que se achava victima, e fo
objecto da compaixão do conquistador.
Nós persuadimo-nos, de que o Gabinete de Vienna, illus-
*rado pela experiência, naõ pensaria dali em diante senaõ
em conservar a paz. Mas quatro annos depois, estando
V. M. em Hespanha, colocando a Áustria a sua confiança,
nos immensos armamentos, que havia longo tempo estava
preparando, tendo em armas 400.000 homens, naô vendo
exercito algum, que fosse capaz de lhe impedir o chegar
até quasi ás margens do Rheno, naõ examinou se a nova
540 Politica.
guerra éra justa ; calculou somente as soas conseqüências,
créo que era certo o bom successo, e determinada somente
por estas consideraçoens, invadio a Bavária.
Em tres mezes levou o exercito Francez as suas con-
quistas até a Hungria e Moravia, occupou pela segunda
vez a capital, e se assenhoreou da maior parte do território
da Monarchia. Ficou compromettida até a mesma exis-
tência do Império de Áustria. Porém as vistas do Impe-
rador fôram constantemente dirigidas, a um único fim—o
de forçar a Inglaterra a reconhecer por fim os direitos ma-
rítimos de todas as naçoens, sem o que nem pôde existir
equilíbrio, nem descanço na Europa; elle consentio em as-
signar o tractado de Vienna que concluio a quarta guerra
de Áustria, e cuja moderação admirou o Mundo. Se nós
naõ cremos que a paz seria eterna, ao menos nos lisongea-
mos de que seria de longa duração.
Em fim, o Gabinete de Áustria pareceo entender, os
seus interesses reaes; e pensar, por fim, unicamente em
repairar as suas percas: curar as feridas, que o seu papel
moeda tinha recebido; o qual consumio a riqueza publica,
e a dos indivíduos; e achar que a volta da prosperidade
publica dependia de uma sabia politica e de uma longa
paz. Desbandou o seu exercito; e os defeitos de sua or-
ganização interior fixaram toda a sua attençaõ.
Fez-se imminente a guerra entre a França e a Russia.
A Áustria, excedeo os desejos da França, e propoz a sua
aliiança. (1) Assignou-se um tractado aos 14 de Março,
1812, um exercito Austriaco marchou com o exercito
Francez, para defensa dos grandes interesses do Conti-
nente ; correo o sangue Austriaco nas batalhas contra os
Russianos.
Políticos, que consideravam os principios até entaõ pro-
fessados pelo Gabinete de Vienna, ficaram admirados com
uma aliiança, que sabiam ser contraria a seus sentimentos
secretos; mas outros políticos, naõ menos illuminados,
Politica. 541
julgando de suas disposiçoens, segundo a sua situação real;
vendo que a Áustria depois de tantos sacrifícios, saia de
uma contenda que lhe tinha sido quatro vezes fatal; con-
siderando o desastroso estado de suas finanças, os embara-
ços de sua anministraçaô, a complicação de sua organiza-
ção interior, pensaram que ella renovaria o systema de
Kaunitz, e seguraria para si, como fez pelo tractado de
1736 uma longa paz, que lhe daria tempo a recobrar a sua
antiga prosperidade: elles pensaram que o seu interesse
bem entendido, a conservaria na aliiança. Como uma
transacçaõ particular, o tractado de 14 de Março era um
erro do gabinete ; mas considerado independente da guer-
ra com a Russia, que éra a occasiaõ, e o corollario delle,
visto como baze de uni systema, que devia segurar 40
annos de paz, a aliiança parecia ser dictada por grandes
vistas : ella éra o meio mais efficaz de cicatrizar tantas
feridas, que ainda sangravam. Estas consideraçoens pon-
derosas como eram, naÕ fôram bem fundadas. A aliiança
de 1812 naõ éra resultado de systema; mas o effeito das
circumstancias.
Logo que os desastres dos mezes de Novembro, e De-
zembro passado, fôram sabidos no Gabinete de Vienna,
elle julgou que a França estava abandonada pela fortuna;
apressou-se a passar para outro systema; de Governo allia-
do a Áustria se fez inimigo. Os corpos auxilares, que
pelejaram com o exercito Francez, fôram os fundamentos
do principal exercito, destinado a combater a França. E
com tudo, acontecimentos inesperados illudiram toda a
previdência; elles naõ tinham entrado nos cálculos de
Áustria: ella estava sem finanças, sem exércitos; provou,
que todos os seus reforços naõ puderam obter o pôr em
armas, em Janeiro passado, 60.000 homens. Tendo to-
mado a sua resolução, antes de ter os meios de a suppor-
tar ; e calculando, que eram necessários 6 mezes para se
por em estado de apresentar um exercito no campo de ba-
VOL. X I . No.*65. 4A
542 Polilica.
talha, o gabinete de Vienna sentio a necessidade de oceul-
tar as suas intençoens, debaixo das apparencias de fideli-
dade a seus contractos, e do amor de paz. Offereceo a
sua mediação ás Potências Belligerantes; porém ao mes-
mo tempo principiou as levas, e correo át armas. O Mi-
nistro que dirigia as finanças, entregue inteiramente ao
restabelicimento da Monarchia, ainda que pessoalmente
rnutria o ódio contra a França, continuou unido á aliiança,
como único meio de poder obter o restabelicimento da
economia interior. Elle oppôz a maior resistência i
guerra; e nomeou-se-lhe successor. Immediatamente
se creou novo papel moeda no computo de 100
milhoens de francos, os planos de ordem, e economia,
até aqui seguidos, fôram derrotados, e o Gabinete se
precipitou na guerra. Em vaõ representaram homens
illustrados, que o exercito ja naõ existia; que os esqueletos,
ou cascos, somente se podiam encher com recrutas; que o
material estava destruído; que éra necessário naõ menos
de 18 mezes, para organizar o estado militar da Áustria;
que os negócios das grandes naçoens naõ se deviam condu-
zir com repentes; nem impor instantaneamente nm
grande systema; que, visto naõ terem recusado entrar
em connexoens com a França, éra necessário ficar neutral
em 1812; e oecupar-se com o restabelicimento do exer-
cito; porém que tendo adoptado a aliiança em 1812, éra
necessário persistir nella em 1813: elles representaram
qne por uma sabia politica, e algum manejo, a Áustria
podia tirar vantagens reaes, sem se expor áos accasos da
guerra, em que ella se farta parte principal, exigindo ex-
ércitos na Silezia, na Saxonia, na Baviera, e na Itália:
qoe apresentar-se nesta séria contenda, sem estar preparado
para ella, ésa expôr-se a uma catastrophe fatal, ou ao menos
submergir-se em todas as incertezas de uma guerra longa
e geral, em que Sa envolver a Europa; e com tudo, se as
circunstancias fossem favoráveis para habilitar a Áustria
a recuperar a sua influencia, elles se enganavam naõ per-
Politica. 543
cebendo que a base de toda grandeza de um Estado saõ
as boas finanças, ou um bom systema de dinheiro, e os exér-
citos bem organizados, e esquipados : e que um bom exer-
cito naõ consiste em grande numero de homens, mas sim
na qualidade dos soldados : que perserverando por alguns
annos no systema de aliiança, a Áustria recobraria a sua
antiga prosperidade; e com ella a sua independência
real, para que lança os fundamentos uma boa administra-
ção do interior e militar. Porém os partidistas da guerra
responderam, que elles raciocinavam, como se a França
fosse a mesma, quando a sua fortuna tinha mudado : como
se ella tivesse exércitos, quando a parte escolhida de seus
soldados tinha sido destruída pela severidade do inverno.
Elles disseram, que se a Áustria tinha somente recrutas,
éra também contra recrutas, que tinha de pelejar, e que
éra alem do poder de governo algum créar aquella taõ
formidável cavallaria Franceza, que em Ratisbotia e W a -
gram tinha decidido a victoria; que tinha chegado o
momento de arvorar outra vez a águia Austríaca—de
humilhar a águia Franceza, e fazêlla voltar a seus antigos
limites.
Desde o mez de Abril, se occupava o Gabinete de
Vienna; e prometteo aos inimigos de França, que aos 20
de Junho, estaria em campanha com 150.000 homens.
Em quanto a Áustria se armava abertamente, o Gabinete
fazia uma guerra de insinuaçoens para enfraquecer a Fran-
ça, tentando os seus alliados. A Áustria mostrou á Di-
namarca, á Saxonia, á Baviera, e a Wittenberg, e até mes-
mo a Napoies, que nada desajava senaõ a paz ; que naÕ
queria nada para s i : induzio-os com isso, a naõ fazerem
armamentos inúteis, e a naõ dar soccorros á França ; por-
que o ponto naõ éra pelejar; mas fazer a paz ; pois a Áus-
tria tinha 150.000 homens para pôr na balança, contra
aquella das duas Potências, que desejasse continuar a
guerra. Aquellas insinuaçoens, naô podiam por um só
4A 2
544 Politica.
momento impor senaõ a gabinetes taõ pouco illumi-
uados, que acreditassem o desinteresse dos Austríacos.
Porem as batalhas de Lutzen, e Wurschen, ainda mais
do que os desastres de Novembro e Dezembro, admi-
raram todos aquelles que taõ mal tinham calculado os
meios da França, e taõ pouco tinham previsto os aconte-
cimentos ; talvez elles estimariam retroceder em suas pas-
sadas, porem o gabinete estava ja empenhado ; trabalhou
por atribuir as novas victorias a causas independentes das
forças dos exércitos Francezes ; porém os seus procedimen-
tos ficaram certos ; avançou as mais contradictorias pre-
tençoens ; e desejou alliar-se com a França, deixando em
reserva todas as causas do tractado de aliiança: desejou
ser o mediador, e permanecer ligado a nossos inimigos
Nós respondemos que a Áustria tinha liberdade de renun.
ciar a aliiança, que a França naõ soffreria por isso; mas
que ella naó queria meias medidas, que saõ o recurso com-
mum da irresoluçaõ, e da fraqueza* Nos aceitamos a aber-
tura de um Congresso, ainda que prevemos, que naó teria
um resultado prompto para a presente guerra ; mas como
o meio de conservar abertas as negociaçoens que condu-
ziriam algum dia á paz. Naõ apontarei aqui a maneira
porque o Gabinete de Vienna exercitou a mediação de
Áustria ; nem me demorarei em relatar circunstanciada-
mente o que se fez no Congresso de Praga ; elle nunca ex-
istio. Depois das batalhas de Lutzen e Wurzchen, a
Russia e Prússia se teriam disposto a tractar sinceramente,
se naõ tivessem esperado que a Áustria entraria nas suas
rixas, e poderem lançar sobre ella o pezo da guerra. Tal
be o circulo vicioso em que o Gabinete de Áustria tem
posto a Europa : elle pertendeo ser o portador da paz a
nossos inimigos; ligando-se com elles, tomando sobre si a
maior parte das altern;.tivas perigos, c sacrifícios, animou-
os á guerra. Julgou que podia guiar as Potências ; nms
foi guiado por ellas; conduziram-no á guerra para o iu-
Politica. 545
teresse dellas. A Russia esperava, levantando o povo
«lesde o Vistula até o Rheno, erigir entre ella e nós uma
barreira de desordem, e de anarchia; naõ sendo bem suc-
cedida aquella tentativa, offereceo-se outro modo—ella
lançou maõ delle ; precipitou na guerra-a Áustria.
Potlia o Gabinete Austriaco pensar seriamente, depois
de tantas e taÕ serias provas, que tinha do poder dos exér-
citos Francezes, ciu repulsar-nos dentro em alguns mezes,
para os nossos antigos limites ? Seriam necessários 20 an-
nos de victorias, para destruir o que 20 annos cie victorias
tinham creado. Porém, ja que tal éra o seu pensamento
i porque, depois da paz d'Amiens, desbandou a Áustria os
seus exércitos? Porque, em 1811, se alliou eila c o m a
França ? Nenhum dos procedimentos do Gabinete de Vi-
enna escaparam ao das Thuillerias. Desde o mez de No-
vembro, que foi prevista a mudança do systema Austriaco ;
e se o governo exigio da naçaÕ levas extraordinárias, quan-
do suecedeo a traição do General York ; porque isso lhe
fez prever a separação da Prússia ; exigio outras de novo
quando a Prússia se separou ; porque preveo a separação
da Áustria. He esta previdência, que estragou todas as
combinaçoer.s do gabinete de Vienna, e que puzéram os
exércitos Francezes em estado de fazer frente contra todos
os seus inimigos. Porém, Senhor, asPotencias da coaliçaõ
sentem, que para tentar o complemento dos desígnios, que
por fim deixaram de dissimular, necessitavam de fazer
grandes esforços. He necessário, que, á vóz de V. M., se
levantem do seio da França numerosos batalhoens, que
ponham os nossos numerosos exércitos em situação de po-
der continuar a guerra com novo vigor, a fim de poder
providenciar a todos os accasos, quando toda a Europa está
em armas; quando independentemente dos exércitos re-
gulares, os generaes da coaliçaõ chamam à batalha o Land-
wehr, e o Landsturm ; e fazem de cada homem um solda-
do ; a naçaõ Franceza deve igualmente á sua segurança,
546 Politica.
assim como á sua gloria, o mostrar nova energia; deve
consagrar á conquista de uma paz durável, esforços pro-
porcionados aos que os seus inimigos fazem para realizar
os projectos de uma ambição que naõ conhece limites.
(Assignado) O Duque de BASSANO,
Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Dresden, 20 d'Agosto, 1813.

SUÉCIA.

Declaração de Guerra contra a Dinamarca.


Nos Carlos, pela Graça de Deus Rey de Suécia, e dos
Godos, e Vândalos, &c. &c. &c. Herdeiro de Norwega,
Duque de Sleswik, Holstein, &c. &c. fazemos saber: —
Que El Rey de Dinamarca, depois de longa continuação
de comportamento naó amigável, pelo qual, naõ obstante
o tractado de Paz de 1809, foi o Commercio Sueco con-
stantemente incommodado pelos corsários Dinarnarquezes
tendo por fim procedido a actuaes hostilidades, dando or-
dens a seus subdidos para que tractassem como prisioneiros
de guerra, todos os Suecos, que se achassem abordo dos
navios capturados; achamos necessário repellir a força
com a força; e por esta declaramos, que tem começado o
estado de guerra com Dinamarca : tomaremos todas as me-
didas necessárias para providenciar á segurança de nossos
vassallos e Reyno, e para obter para nós a racionavel re-
paração ; consequentemente por esta ordenamos e manda-
mos, que cesse inteiramente, deste dia em diante, sobas
penas da ley, toda a navegação, e communicaçaõ, por cor-
reios ou outra qualquer troca de cartas, com quaesquer
portos, cidades, e lugares da Dinamarca ou Norwega, ou
provincias que lhe pertençam. E por esta causa, he de
nossa benigna vontade e ordenamos a todos os Feld-mare-
chaes, Governadores em Chefe, Commandantes Generaes,
Almirantes, Governadores de Districtos, e todos os demais
Commercio e Artes. 547
commandantes de mar e terra, que elles e todas as pessoas,
que sob elles servem, naó somente tomem, em toda a parte,
todas as precauçoens para que esta nossa vontade seja de-
vida e immediatamente publica, mas igualmente que tomem
serio cuidado, para que se dê plena execução, e seja es-
trictamente observada; conforme o que se devem regular
todos aquelles a quem o conhecimento desta pertencer.
E em confirmação disto assignamos as presentes com a
nossa maõ, e a mandamos sellar com o nosso Sello Real.
Dada no Palácio de Haga, aos 15 de Septembro, de
1813. (Assignado) CARLOS. (L. S.)
(Contra-assignado) A. G. MORNER.

COMMERCIO E ARTES.
Tractado de Commercio entre Portugal e Inglaterra.
J . ENDO os Redactores do Jornal Pseudo-Scientifico con-
tinuado com a publicação da carta, sobre o tractado do
Commercio, convém que nós os vamos também seguindo.
Os nossos Leitores, que tiverem passado pelos olhos o
que temos dicto de mal contra entre tractado, naõ tem ne-
cessidade de que lhe expliquemos o objeeto que temos em
vista, respondendo a algumas asserçoens deste Conrespon-
dente dos Scicntificos ; mas, pelo que respeita as pessoas,
que naõ tiverem presente na lembrança cousas que se tem
escripto ha alguns annos ; naõ julgamos desnecessário o
repetir aqui, que naõ pretendemos disfarçar ou paliar os
males deste tractado; nem as suas péssimas consequen -
cias ; o que temos em vista he fazer aquella distineçaõ
prudente, que attribue as causas a quem ellas saõ verda-
deiramente imputaveis.
O partido Roevidico naõ tem poupado meios alguns para
insinuar, que he contra o Governo, e Naçaõ Ingleza que
548 Commercio e Artes.
se deve clamar, pelos inconvenientes que resultam dotrac
tado de Commercio ; nós somente este principio comba-
temos, intimamente persuadidos de que o clamor, que o
partido Roevidico está levantando contra os Inglezes, por
meio deste Jornal (e outros que a seu tempo se saberão)
he um clamor injusto ; e mal fundado.
NaÕ se preciza ter estudado muita Diplomacia; nem ter
tido demasiada leitura na collecçaõ geral dos tractados,
para saber que, quando uma naçaÕ propõem a outra uma
negociação ; pede sempre estipulaçoens a seu favor, com
as maiores vantagens, que pode pretextar; mesmo sem es-
peranças de as obter ; e que a parte opposta naõ somente
nega isso, mas até promette muito menos do que na reali-
dade faz tençaõ de conceder; excepto nás proposiçoens
que se fazem como condição sine qua non. Em uma pa-
lavra aquillo que se chama regatear, quando se compra ou
vende por miúdo ou por atacado, entre os mercadores
particulares; he precisamente o que, practicando-se nos
grandes arranjamentos das Naçoens, entre os Diplomáticos,
se chama negociar.
Isto posto, por mais extravagantes que fossem as propo-
siçoens de Lord Strangford ao Coverno Portuguez, naõ
podem os Portuguezes queixar-se delle, porque cumpria
com o seu officio ; e quem he o culpado he o negociador
Portuguez, que lhas concedeo.
Supponhamos que Lord Strangford pedia ametade dos
teritoriosdo Brazil para Inglaterra ; e que chamava a isto
um equivalente de se permittir aos Portuguezes o virem
negociar a Inglaterra ; e suppunhamos mais que o mesmo
Lord Strangford naõ esperava que tal cousa lhe cornedes-
sem, eque pedia aquella extravagância para verse obtinha
uma cousa menor ; e, quando mal pensava, adia que lhe
concedem á olhos fechados tudo o que pedio; < acaso
dirá alguém que competia a Lord Strangford o largar por
maõ á metade do território do Brazil que lhe tinham dado .'
Commercio e Artes. 549
l Que diria delle o seu Governo ? <; e se o seu Governo
consintisse nisso, que diria do Governo a sua Naçaõ.
He necessário por as cousas em seu lugar; e he con-
veniente e útil indagar as causas dos males, para os
atribuir a quem compete; do contrario nunca se reme-
deiam; porquanto, se em vez de se imputar a disgraça deste
tractado ao Negociador Portuguez, se imputa aos Ingle-
zes, seguir-se da dahi; que a manhaã, se torna a mandar
o mesmo negociador ou outro de similhante laya, para ne-
gociar com os Estados Unidos, ou com a França; repetir-
se-ha a mesma scena de erros; e queixar-se-haõ entaõ
dos Americanos, ou dos Francezes ,* e assim por falta de
atribuir o mal á sua verdadeira causa, nunca lhe acertarão
com o remédio;
Exemplifiquemos isto, nos mesmos exemplos desta
carta. A continuação delia, neste extracto, começa pelo
artigo V. do tractado, em que se estipulam os recíprocos
direitos de residência dos vassallos de uma naçaõ nos terri-
tórios da outra.
Nós temos mostrado ja, que naõ só esta estipulaçaõ do
tractado he reciproca, e perfeitamente mutua; mas que
pela parte que he favorável aos Portuguezes, quem tem
requerido a sua infracçaõ tem sido o mesmo Ministro Por-
tuguez em Inglaterra; que fez a requirimento seu expul-
sar daqui o Corrêa, o Viconsul de Liverpool, &c; e que
faz com que na Policia dos Estrangeiros em Londres
(Alien Oflice) se naõ dê passaporte ou licença de residir
a Portuguez algum, sem uma carta delle Embaixador Por-
tuguez. Logo i Como he isto imputavel aos Inglezes ?
A estipulaçaõ deste artigo pela parte de Portugal he so-
mente de utilidade aos Portuguezes; assim como pela
parte de Inglaterra he somente de utilidade aos Inglezes ;
qualquer dos dous Governos pôde, naÕ obstante o tractado,
renunciar ás vantagens que delle lhe provem; se os
VOL. XI. No. 65. 4B
550 Commercio e Artes.
Portuguezes renunciam a esta sua utilidade { que tem com
isso os Inglezes ?
Nem contra isto está o argumento, de que os indivíduos
Portuguezes naõ quizéram, nem querem renunciar ao
grande beneficio, que lhes resulta de se verem livres do
incommodo do Allien-Ofiice; porque as Naçoens naõ trac-
tam com os indivíduos, he com os Governos; e se o Repre-
sentante do Governo Portuguez em Inglaterra renuncia a
qualquer vantagem, que a sua naçaÕ tenha no tractado ; he
por isso que deve estar o Governo Inglez, e naó pelo que
lhe disserem Pedro, Sancho, ou Martinho, posto que Por-
tuguezes sejam.
Neste mesmo paragrapho se faz mençaõ de que os Por-
tuguezes em Inglaterra pagam igualmente com os Inglezes
todos os tributos ; e que naó acontece isto aos Inglezes em
Portugal, aonde saõ izentosde muitos direitos, que os Por-
tuguezes pagam. Imputar isto a culpa dos Inglezes he
um absurdo taõ manifesto, que até os mesmos Redactores
se envergonharam do que tinha escripto o seu pretenso
conrespondente no texto, e inseriram n' uma nota, como
opinião sua, que a culpa he dos Portuguezes que lhes naõ
pedem esses direitos, e naÕ delles Inglezes, que os naõ
haõ de offerecer sem que lhos peçam. Os Scientifico*;
nestas matérias portam-se como o outro que nunca dizia
que o homem naõ tem cabelo, senaõ, quando he taõ calvo,
que Jhe apparecem os miolos.
Quanto ao argumento da nullidade, uma vez que naõ só
o Governo Portuguez, o da, e está dando por valido; uma
vez que os mesmos negociantes Portuguezes em Londres,
fosse por que fosse, pediram que se lhe concedesst-
a izençaõ de certos direitos, fundamentando-se na exis-
tência e validade do tractado; naó sei como se possam
trazer em duvida a sua existência ou validade ; porque
quem pede o cumprimento das condiçoens de um con-
tracto, suppoem o contracto valido ; e quando valido nao
Commercio e Artes. 551
fora por outras causas, o aceitar quaesquer commodos, em
conseqüência, e por virtude desse contracto, he reconhe-
cêllo e ratificállo. Isto saõ principios taõ admittidos na
legislação Pátria, e no direito das gentes que naõ ha para
que nos demoremos em provállo.
Os Inglezes he verdade, que cuidaram unicamente, neste
ultimo arranjamento, feito por Commissarios Negociantes,
que publicamos no nosso Numero passado, em arranjar os
pontos que lhes eram mais importantes ; mas competia aos
Commissarios da parte de Portugal ajustar os pontos, que
convinham a sua naçaõ ; naõ fizeram isto, porque naõ lhes
importou, ou porque tinham outras vistas, queixem-se
de si.
No entanto, como o Ministro Portuguez meteo nisto o
Cônsul de Liverpool, naõ esqueceo estipular, que os do-
cumentos, para provar originalidade das fazendas e navios
Inglezes, fossem legalizados per ante os Cônsules Portugue-
zes em Inglaterra; e logo tiveram a bondade os taes cônsu-
les de determinar que levariam propinas das partes por
esse serviço; e alem disso arrogáram também a si o esta-
belecer o quantum dessas propinas ; verificando assim, que
os empregados Portuguezes fazem dos direitos Majestaticos
roupa de Francezes; pois até os Cônsules acham, que
tem direito para impor tributos a beneficio de suasalgibei-
ras, e determinar quanto esse tributo deva ser.
Foi este o partido que tiraram os Portuguezes, de ter o
Ministro em Londres mettido estes arranjamentos nas maõs
de um Cônsul, que ninguém podia duvidas que havia de
chegar a braza á sua sardinha. Quanto aos interesses de
Portugal, que aqui se pretextam, ninguém, que tenha o
menor conhecimento do modo por que estas cousas se
fazem, poderá julgar, que a medida de fazer reconhecer
os Cockets da Alfândega Ingleza pelos Cônsules Portugue-
zes em Inglaterra, he um meio de impedir o contrabando
no Brazil.
4B2
552 Commercio e Artes.
A prova da originalidade dos navios he ainda mais pre-
cária, do que a das fazendas; porque, como naõ se exige
senaõ o registro do navio; e todos os navios Inglezes, sejam
de construcçaõ Ingleza ou naô, obtém esse registro, como
acontece em Portugal com os navios que tem pago os
direitos no passo da madeira, he evidente que deste regu-
lamento, que fez o tal Cônsul, so resulta o proveito, que
elle tirara, das propinas de reconhecer a certidão do Regis-
tro; e em conseqüência deste ajuste fica o Governo Por-
tuguez com as maõs ligadas, para naÕ poder em seus por-
tos disputar, se qualquer navio he ou naó de construcçaõ
Ingleza, uma vez que lhe apresenta a certidão de registro
da alfândega Ingleza, reconhecida pelo Cônsul Portuguez;
pois tal he o ajuste. Assim vai tudo em Portugal; e quei-
xam-se entaõ dos Inglezes.

SUÉCIA.
Lemos em um dos Jornaes Inglezes, que o Governo de
Suécia promulgou um Edicto, em que se determina, que
se naõ possa dar entrada nas alfândegas de Succia a fazen-
das ou mercadorias algumas, que naõ sejam importadas
em navios Suecos, ou das naçoens donde as mesmas mer-
cadorias forem originárias; a excepçaõ do sal, que se
admittirá em quaesquer navios que seja, e de qnalquer
parte que venha.

Resumo dos Gêneros que entraram no Porto de Lisboa em


todo o mez de Julho, de 1813.
22.702 barricas de farinha. 1.100 fanegas, 1.900 quar-
teiras, e 4.196 salamas de trigo. 36.147 buchels, 400 sac-
cos, e 2 moios de milho. 11.449 fanegas, 3572 toneladas,
213 moios, 200 saccas, e 400 barris de cevada. 160 tone-
ladas de aveia. 9.344 saccas, e 2.693 barris d' arroz.
6-791 barris de carne. 19.582 barris de manteiga. 911
pipas de vinho. 432 pipas, 40 barris, 400 odres, e 80
Commercio e Artes. 553
botijas de azeite. 14.045 quintaes de bacalháo. 9 barri-
cas, e 172 arrobas de presuntos. 8.510 saccas de cacao.
7.096 saccas de caffé. 5.000 caixas de chá. 2 878 ditos
de assucar. 538 pacotes de cravo, e 30 barris de dito fino-
794 pipas de agoa-ardente. 102 pipas de cerveja. 45
pipas de vinagre. 105 botijas de azeitonas. 79 paneiros
de tapioca. 284 saccas de farinha de pào. 21 golpelhas
de amêndoas. 6 barris, 20 saccos, e 300 fanegas de feijaõ.
1.650 barris de biscoito. 200 pacas de toucinho. 50
pipas de azeite de peixe. 12 barris de mel, e 7 fardos de
quina.

Resumo dos Artigos comestíveis que entraram pela Barra


da Cidade de Lisboa, em o mez de Agosto, 1813.
600 toneladas de trigo. 300 fanegas, e 98 salmas de
milho, 10.689 quintaes de bacalhaõ. 2.995 sacas de ar-
roz. 1.126 pipas, e 360 odres de azeite. 13.574 barris
de manteiga. 1.299 caixas, e 52 feixes de assucar. 44
barricas, e 24 arrobas de presuntos. 20 pacas de toucinho.
136 sacas de farinha de pào. 110 barris de mel. 1.510
moios de favas. 50 toneladas, 94 moios, 4.924 barris, 925
sacos de cevada. 150 toneladas de Feijaõ. 8 toneladas de
batatas. 490 cabazes de queijos. 87 arrobas de peixelim.
25 pipas de cerveja. 1.200 barris de enxovas. 23 caixas
de salmões. 35 pipas, e 64 golpelhas de atum. 59 golpe-
lhas de amêndoas, e 19 sacos de cominhos.
554 Commercio c Artes.

Preços correntes dos principaes productos do Brazil em


Londres, 25 de Outubro, 1S13.

Gêneros. QuHltühüe. QaulidHde l'rc\"o de a Diretos.

Assucar iranco Uslib. 55». 65s. 31. 14». 7 } d .


trigueiro Du. 45». 52».
mascavado D u . 37». 42».
Algodão Rio ' Libra 20p. - l p . 16». I l d . p r . lOOlül.
Bahia D° SSp. -lp.
Maranhão n°. 23*p. 2+ip.
D°. 24p. 26p.
D". 21p. 22p.
D c . America melhor 0o. nenhum 16». l l d . por libra
Annil Brazil D°. 2s. 6p. Ss. •Id. por libra
Arroz 0o. 112 lib. •Mis. 42». 16s. 4d.
Cacao Pará 112 lib. CO». 7 5». 3s. 4«l. por lib.
Caffé Rio libra 70». 80». 2». 4d. por libra.
Cebo Bom 112 lib. 8Gs. 87». '.'». 8d. por 112 lib.
Chifres grandes 123 20». 35s. 4». 8d. por 100.
Couros de lio' Rio grande libra 6p. 8|i. 8d. por libra.
Rio da Prata D" Cp. Op.
D<*.dcCavall( »D?. Couro Ss. 6 p . 9».
Ipecuacuanha Boa libra 13». 6 p . 14». <»p 3». libra.
Quina Pálida libra ls. 6p. 2». Op. 3». s.l. libra.
Ordinária D».
Mediana 2». 8p. 3í
Fina 4». 6p. 7». i.|».
Vermelha 4». 7».
Amarella 2». Cp. 3».
Chata D".
Torcida 3». 9p. 4». 9d. ». 8d. p o r libra».
Pao Brazil 1toiiel 931. 1001. 4 1. a tonelada.
Salsa Parrilha
». Cd. libra excite
Tabaco Rolo ibra 1 6p. |
'"• IP I.3».9d.alf.l00lb.

Prêmios de seguros.
Brazil hida 10 guineos por cento. 11. b.
vinda 14 a 15
Lisboa e Porto hida 6G'.
vinda 2 G*. cm comboy
Madeira hida 5 a 6 G'\—Açores 8 G'. R. 3.
vinda 8 á 10
ltio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a tornaviajrrm
vinda o mesmo 15 a 18 G'.
[ 555 ]

LITERATURA E SCIENCIAS.
Noticias das obras publicadas em Inglaterra.
jyUTLER's Skelch ofGeography, 8vo. preço 9s. Esboço
de Geographia antiga e moderna, para o uso das escholas;
Por Samuel Butler, Doutor em Thelogia, Primeiro Mes-
tre na Eschola livre de Grammatica, em Shrewsbury.

RundeWs Symbolic Illustrations. Part. I. 4to. preço


lOs. 6d. A primeira parte (será completa a obra em tres
partes) das Illustraçoens symbolicas da historia de Ingla-
terra, acompanhada da narrativa dos principaes aconteci-
mentos ; destinados principalmente á instrucçaõ da mo-
cidade. Por Maria Anna Rudell, de Percy-House, em
Bath ; authora da Grammatica da Historia Sagrada.

Final Debates on the índia Charter; 8vo. preço 5s.


Debates finaes, sobre a renovação e aceitação da Carta
Patente da Companhia das índias Orientaes, em varias
Sessoens dos Proprietários dos Fundos das Indias-Orien-
taes ; aos 9 ; 13, 16, e 21 de Julho, de 1813; com um
appendix, que contém o resumo do Bill, para continuar a
companhia na posse dos territórios Britannicos na índia,
junctamente com certos privilégios exclusivos.

March's Speech on Missionaries to índia; preço 2s.


Resumo da falia de Carlos March, Escudeiro, Membro do
Parlamento, na casa dos Communs, 1 de Julho 1813, sobre
a cláusula do Bill dasIndias-Orientaes ; que determina que
se concedam mais facilidades ás pessoas que vaõ á índia,
para rins religiojos.

Hopkirtfs Flora Glattian<e ,- Svo. preço 7s. 6s. Flora


Glattianae ; cathalogo das plantas indígenas nas margens
556 Literatura e Sciencias.
dò rio Clyde, e vizinhanças da Cidade de Glasgow. Por
Thomaz Hopkirk. Sócio da Sociedade Linneana; e
membro da Sociedade Wemeriana de Historia Natural em
Edinburgo.

Cullen"s Nosologia, by Thompson; 8vo. preço ls. Sy-


nopsis Nosologia; Methodicaj, Auctore Gulielmo Cullen,
Medicinar; Doctor. Nuper in Acad. Edin. Med. Pract.
Prof. Medico Regio ajud Scotos Primário, &c. Ao que
se acrescenta um Appendix, que contem a synopse dos
Systemas de Sauvages, Linnaeus, Vogel, Sagar, Mc.
Bride, Cullen, Swediaur (1812) Young (1813). A classi-
ficação das moléstias cutâneas de Vi Man ; e traducçaõ da
Nosologia de Cullen, com citaçoens dos melhores autho-
res, que tem escripto desde aquelle tempo. Por Joaõ
Thompson, M. D.

Watt on Chincough, 8vo. preço lOs. 6d. Tractado so-


bre a historia, natureza, e tractamento da Tosse violenta,
que os Inglezes chamam Chincough; incluindo uma varie-
dade de casos e dissecçoens. Ao que se ajuncta, uma
inquirição relativa á mortandade das principaes moléstias
das crianças, e do numero que tem morrido antes de dez
annos de sidade, em Glasgow, durante os trinta annos pas-
sados. Seu Author Roberto Watt, M. D. Leitor de
theoria e practica de Medecina em Glasgow.

Barlow's Mathematical Diclionary; Part. IV. preço


7s. 6d. A 4a. parte do novo Diccinario Mathematico, e
Philosophico ; que comprehende a explicação dos termos
e principios das mathematicas puras e mixtas, e daquelles
ramos da Philosophia natural, que saõ susceptíveis de ex-
plicação mathematica. Com esboços históricos da origem,
progressos, e estado actual das diííerenres repartiçoens
destas sciencias; e uma noticia das descubertas e escriptos
Literatura e Sciencias. 557
dos authores mais celebres, tanto antigos como modernos.
Por Pedro Barlow, da Academia Real Militar de Wool-
wich.
Esta obra será completa em 6 partes, e formará um
volume em 8vo. grande, com estampas, &c.

BritishReview,l<sa. IX. O N«. IX. da Revista Bri-


tannica ou Jornal critico de Londres.

Bonnycastlé's Treatise on Álgebra ; 2 vols. 8vo. preço


l/. 4s. Tractado de Álgebra, em practica, e theoria,
com illustraçoens,e notas : contém uma variedade de par-
ticularidades, relativas ás descubertas, e melhoramentos,
que se tem feito, neste ramo da analyze ; por Joaõ Bon-
nycastlé; Professor de Mathematicas na Academia Real
Militar de Woolwich.

O N°. XXXVI. do Jornal Medico de Edinburg.

O N". XVIII. do Quarterly Review on Revista de


quartel; publicado aos 25 de Septembro, 1813.

Noticias Literárias.
Acha-se na imprensa—Index geral á Revista de Edin-
burgo, desde o seu principo até Outubro, de 1812.

Aeha-se também na imprensa a obra de Madama De


Stael, que foi prohibida em Alemanha.
Esta interessante obra, cuja mysteriosa prohibiçaõ tem
há tanto tempo excitado a curiosidade da Europa ; he o
resultudo das observaçoens de Madama de Stael, sobre
as maneiras, sociedade, literatura, c philosophia dos Ale-
maens.
Chegou-se a imprir em Paris uma ediçaõ desta obra de
10.000 copias, no anno de 1810; e ainda que no decurso
VOL. XI. No. 65. 4 c
558 Literatura e Sciencias.
impressão se submetteo á censura de uma espécie de
policia literária; repentinamente houve ordem de sup-
primir toda a ediçaõ. Escapou porem um exemplar, do
qual se vai fazer a presente ediçaõ; e conterá todas as
passagens, que fôram riscadas pelos censores de Bona-
parte; e um prefacio, em que se refere a historia desta
celebre perseguição literária.

O publico terá dentro cm pouco tempo a segunda e


terceira parte da estima vel obra intitulada Monasticum
Anglicum, que he uma preciosa collecçaõ para a historia
ecclesiastica de Inglaterra; e que he actualmente ra-
rissima.

O Conde de Lauderdale publicará no decurso do mez


que vem " Consideraçoens sobre o estado da moeda cor-
rente em Inglaterra.''

J. Philipart, Escudeiro, publicará em breve tempo, em


dous volumes de oitavo," Campanhas do Norte, illustradas
com mappas, e estampas, e com os retratos dos Imperado-
res Alexandre e Bonaparte.

Mr. Wathen, de Hereford, está preparando o jornal de


uma viagem ás índias Orientaes, pela Madeira, Cabo de
Boa-Esperança, Madrass, Pulo Penang, Malaca, e Macáo;
e sua volta por S. Helena.

Mr. Singer tem na imprensa " Elementos de Eletrici-


dade, e Electrochimica, que he uma synopse do estado ac-
tual dos conhecimentos sobre a electricidade.

Mr. Smithies, de Sunderland, tem posto na imprensa


uma obra sobre a navegação, e Astronomia náutica, que
tem oecupado a sua attençaõ por muitos annos. Contem
Literatura e Sciencias. 559
tudo quanto he necessário ao navegante e ao astrônomo
practico.

Mr. W. Henley está preparando para a imprensa uma


serie de taboas chimicas, que se dirigem a mostrar as pro-
priedades de todos os corpos conhecidos, o resultado,
de suas unioens, &c. ; e formam um resumo completo da
sciencia chimica.

PORTUGAL.
Sahio á luz : Matéria Medica, distribuída em classes, e
ordens segundo seus effeitos; em que plenamente se apon-
taõ suas virtudes, dores, e moléstias a que se fazem appli-
caveis, addiccionada com as taboas da Matéria Medica,
methodicamente seguidas de selectas, originaes, e copiosas
formulas, e de um Diccionario Nosologico, ou nomencla-
tura Sinonymica das moléstias, symptomas, vicios, e affec-
çôes da Natureza; para uso dos Estudantes assim de Me-
dicina, e Cirurgia, como de Pharmacia, e mesmo para o
dos práticos modernos. Saô 2 vol. em 4 o . ; e vende-se
nas lojas dos Mercadores de Livros no Terreiro do Paço,
e nas dos mais desta capital a 1.600 réis.

MISCELLANEA.
Jornal Pseudo-Scientifico.
.LNo N°. 47 do nosso periódico, julgamos conveniente
fazer algumas observaçoens, sobre o plano, que se estabe-
leceo para a Academia Militar do Rio de Janeiro, o qual
analyzamos, em um ponto de vista puramente scientifico,
e reprovamos em algumas partes aquelle plano.
He claro, que isto era uma questão meramente literária;
4 c 2
560 Miscellanea.
mas o Jornal Pseudo Scientifico tomou disto occasiaõ, no
seu numero do mez seguinte, para nos assaltar, chaman-
do-nos calumniadores, que atacávamos indirectamente o
Principe, visto que elle tinha approvado aquelle plano,
que a nossa, era a linguagem dos que buscam demolir as
bazes da segurança publica ; que os triumphos da maligni-
dade e da inveja terminam sempre na confusão de seus sec-
tários, &c. &c. e por fim que nos declaravam a ruen a.
Naõ deixou de nos admirar esta destemperada tormenta ;
porque a questão éra meramente scientifica; isto he se o
plano dos estudos mathematicos éra ou naõ bom; nos naõ
faltávamos nos Redactores daquelle Jornal; e a nossa opi-
nião podia ser boa ou má; éra meramente o exame da-
quelle plano; e por tanto a trovoada da parte daquelles
Redactores, concluindo com declaração da guerra paraeeo-
nos mui fôra de propósito, visto que o plano, que nós des-
approvavamos, naô era delles mas sim do Conde de Linha-
res ; e se os Redactores julgavam dirTerentemente a res-
peito da bondade daquelle plano de estudos mathematicos,
naõ sabemos como dahi se seguisse que nos devessem atacar,
chamando-nos homens que desejamos destruir as bazes da
segurança publica, e acabando com a declaração da guerra.
No cntarno respondemos ás suas invectivas ; elles repli-
caram ; e naõ tem deixado de nos atacar constantemente,
e com taes personalidades, que até se orTerecêram como
médicos para nos curar de nossa loucura; ao que temos
julgado conveniente responder sempre alguma cousa.
Assim como nos admiramos daquelles ataques pessoaes,
qne os Redactores nos fizeram ; sem que nos os tivéssemos
ofifendido em couza que saibamos; assim também naõ es-
perávamos que elles agora declarassem, como fizeram, no
seu numero do mez passado, que se naõ queriam metter
mais com nosco.
Eis aqui o que he que chama em Portugal; partida de
cavalleiro; parada de sendeiro.
Ja que julgaram conveniente declarar-nos a guerra sem
Miscellanea. 561
nenhuma provocação de nossa parte; naó obstante a sua
declaração agora, de que naõ querem mais brigar teraõ a
bondade de ouvir uma historia.
Era uma vez um tambor, e desafiou e insultou um sol-
dado, que estava quieto, e naó bulia com elle; e tanto
disse, e tanto provocou o soldado, que este se dirigio ao tam-
bor para lhe dar dous murros : que fez o tambor, deitou-
se no chaõ, e entrou a gritar, que se o soldado lhe desse,
havia dizer a todo o mundo que elle éra um cobarde, que
dava n' um homem deitado. A historia naÕ diz, se o sol-
dado deo ou naÕ dous pontapés no tambor, que se deitou
no chaõ ; mas tal vez este fosse o tractamento que merecia.
Dizerem os Scientificos, que naõ esperdiçaraõ mais o seu
tempo com fazer caso do que nos dizemos, he muito má
desculpa, para se escapar do combate ; se os Senhores
Scientificos acharam, que valia a pena de nos declarar a
guerra, haõ de ter paciência, haõ de esperdiçar algum
tempo em brigar com nosco; porque como saõ duas partes
as que brigam naÕ esta no poder d'uma só começar a
guerra, e acaballa quando quizer ; tenham paciência haõ
de nos ouvir por mais algum tempo.
He verdade, que naõ nos pôde dar grande credito nem
ao nosso periódico, o occupar-nos com responder, ou
examinar seriamente os escriptos de homens, que em vez
tle argumentos se dirigem á pessoa do Redactor, chamando-
lhe jacaré sanhudo ; e outras inepcias dessa natureza ; mas
como a leitura aturada séria, exige que se interrompa al-
gumas vezes com a recreação, julgamos que naõ virá mal
aos nossos Leitores o dar-lhes de vez em quando, para se
divertirem, passagens dos Scientificos ; eos que naõ quize-
rem de todo nem ouvir fallar em taes Scientificos, em vendo
um artigo com este titulo, se naõ estiverem de humor a
rir-se podem passar a diante.
Porém Senhores Scientificos haó de brigar quer se
deitem no chaõ quer naÕ; naõ lhes hade valer a manha.
E julgamos, que nada convém mais aos Redactores do
56*2 Miscellanea.
que instar na peleja; visto que um delles he o celebre
cavalleiro andantc, que desencantou o D or . Cardozo; e hc
dus cavalleiros Andantes o brigar sempre levem murros ou
naó levem. Esperamos pois de sua cavallaria Andantc que
naÕ arrie bandeira.
Vamos ao caso do seu ultimo N". j Com que authori-
dade chamam os Scicntificos aos empregados na actual
Embaixada em Londres, " corja de Beikley-square?"
Nós naõ dissemos que aquellas palavras, de que usamos em
um do nossos N os . anteriores, se deviam attribuir aos Kin-
pregados da Embaixada; tínhamos em vista outra cousa
mui differente ; e se os Scientificos, cm vez de ir pôr a
carapuça ali; perguntassem de quem fatiávamos, lhe darí-
amos uma explicação bem cabal de quem queríamos desig-
nar ; mas elles com a sua custumada prudência, que taó
bem vai servindo ao seus protectores, que tem dado com
elles na lama, fôram chamar aos da embaixada a " corja
de Berkley-square," pondo o barrete em seus mesmos
amigos, sem consultar primeiro quem lhe podia dar a de-
vida explicação. Ora, cm suas consciências, Senhores
Scientificos; digam-nos < naõ deviam perguntar ao arru-
mador do armazém, aquém o barrete pertencia antes de o
entregar a alguém ? Pois olhem; temos melhor opinião
de alguém dos addidos á Embaixada, do que os Senhores
Scientificos tem do chefe; e no entanto, estamos calados.
Dispensar-nos-he mos de retorquir aos nomes, que nos
chamam ; por uma razaõ bem obvia ; porque aquelles ter-
mos taõ baixos, que saõ ainda mais baixos que o vulgar;
trazem com sigo a sua mesma resposta ; visto que mostram
a educação de quem os usa; alem disto nada nos impede,
que lhes digamos couzas bem pezadas, e verdades que
bem lhe doam; sem que nos seja preciso descer a fazer
uso de expressoens, que até ja estaõ prose ri ptas pelos
lacaios, que aspiram a ser creados de escada acima ; dei-
xemos pois as expressoens baixas a quem convém ; vamos
ao que elles escrevem pertendendo seriedade.
Miscellanea. 563
Quando vimos o rompante do seu N<\ passado contra os
negociantes Portuguezes; mal poderíamos conjecturar,
que haviam taõ vergonhosamente cantar a palinodia, no
N*?. seguinte, em termos taõ miseráveis ; chegando a dizer
que naõ conhecem ninguém a quem a sua invectiva fosse
applicavel. Quanto ao faltar á palavra do que promettê-
ram ; de publicar a justifiçaÕdos Negociantes Portuguezes;
isso sempre nos esperamos. Porém vejamos com que
razoens justificam essa falta de palavra.
Naõ cumprem com o que promettêram ; porque a justi-
fiçaõ dos Negociantes apparecêo j a em outro jornal; mas
nem todos os que lem o Scientifico, leraÕ aquelloutro jor-
nal ; e portanto éra de justiça, que o Jornal, que publicou
o primeiro ataque contra os Negociantes, e que publica
agora uma replica ao que elles disseram em sua justifica-
ção, publicasse também essa justificação; do contrario
he mostrar a questão só por uma face. Alem disso o pro-
meti ido he devido; promettêram publicar a Justificação, e
naÕ o fizeram, primeiro alegando falta do tempo : (o qoe
se lhe provou que naõ éra assim ;) e depois, porque ja tinha
apparecido em outro Jornal; o que taõ bem naõ vale;
porque o apparecer aquella Justificação em outros jornaes
naõ os alli via va de sua promessa.
Agora, o outro ponto ; que naÕ se dirigia aos membros
do club, a catilinaria que fizeram. Dizem os Scientificos
(p. 606) " Nos declaramos porém, que naõ conhecemos
um só membro do club, a quem a nossa censura se possa
applicar: se existe, que se emende." O ataque foi feito
aos Negociantes Portuguezes, Negociantes saõ os mem-
bros do Club ; e portanto justificando-se, e mostrando, que
elles tem feito as representaçoens que julgaram conveni-
entes ao Commercio, tem mostrado em si mesmo o exemplo
de negociantes, que naõ andam a gritar pelas ruas; mas
de homens cordatos, que dirigiram as suas queixas ás au-
thoridades que suppozéram, que as pediam remediar.
564 Miscellanea.
Põem os Scientificos a hypothese-se " se algum existe
que se emende." Mas isto he querer justificar a sua accu-
saçaõ suppondo uma hypothese, que tem acabado de con-
fessar que naõ existe. O estrebilho com que concluem os
seus paragraphos " Naõ podemos conceber como se per-
suadiram, &c.'' He uma verbiagem ridícula; porque,
quando se fez um ataque geral a todos os Negociantes
Portuguezes, tinham os do club o direito de se justficar,
mostrando, que aquellas accusaçoens vagas lhes naõ eram
imputaveis ; e fizeram isto com uma moderação extrema,
contentando-se com a narração de factos, taõ simples
quanto he convincente.
Asseveram, que he um facto, que naó ha entre os nego-
ciantes Portuguezes aquella uniaõ systematica, que ha en-
tre os Negociantes Inglezes ; e que deixam de produzir as
provas, e a vil tarefa de nomearindividuos a viz jornalistas.
( Que foi Ia fazer a burra ! Perguntava o frade leigo,
todas as vezes que lhe naõ fallavam a propósito da questão.
t Que foi Ia fazer a burra Senhores Scientificos t* Que
tem a falta de uniaõ systematica dos Negociantes, com os
ter accusado, todos em montão, de serem mal dizentes,
ignorantes, e pedantes. Os negociantes podem naõ ter
entre si uniaõ, e com tudo naõ serem maldizentes, &c.;
isso saõ cousas mui differentes. " E a que vem aqui o
dizer, a tarefa de produzir provas, he deixada a viz jor-
nalistas ? Quererão com isso dizer, que basta a sua hon-
rada palavra para se crer no que elles dizem sem produzir
provas ? Pois se assim pensam, parece-nos que estaõ mui
enganados. E neste caso estamos certos que o publico
todo julga, que a accusaçaõ que fizeram contra os Nego-
ciantes Portuguezes he taõ falsa, quanto lie vaga, e gené-
rica ; e que esta sua palinodia he taó desprezível, «-uauto
he mesquinha, e evasiva.
Esqueciamo-nos dizer duas palavras a respeito de nos
chamarem delatores infames. Perdoem Senhores Scientili-
Miscellanea. 565
cos, nós pensávamos, que o ser delator ou denunciante era
cousa muito honrosa ; seguíamos nisto o exemplo do 111"10.
e Revmo. Senhor Principal Souza, que foi o denunciante na
causa de Panças; pelo mero motivo de servir a coroa como
bom e fiel vassallo ; e quanto aos serviços, que um dos
Redactores do Scientifico fez aos Francezes, em quanto
elles estiveram em Portugal, como fôram publicados por
elle mesmo, na collecçaõ, que ajuncta á sua <( Conducta''
aonde se acham muitas expressoens de agradecimentos dos
empregados Francezes, pelos bons serviços que elle lhe s
fez; julgávamos que isso naõ éra cousa de segredo ; mas,
como se escandaliza, perdoe; e naõ fatiaremos mais nisso ;
ainda que saibamos, que havemos de guardar esta pro-
messa, como os Senhores Scientificos guardaram a pro-
messa que fizeram aos Negociantes Portuguezes de lhes
publicar a sua justificação.

Depois de termos escripto o que fica acima, se nos


pedio, que inseríssemos os seguintes :—

Quesitos dirigidos aos Redactores do Jornal Scientifico.


1°. Qual he a razaõ, porque os esclarecidos Redactores
do Jornal Scientifico, chamam ao Redactor do Correio
Braziliense, a p. 130 do N ° . 23, denunciante, e delator
infame; e naõ desmentem o facto de terem elles feito
serviços a Bonaparte }
2o. Naõ saõ os esclarecidos Redactores, igualmente de-
nunciantes, e infames delatores, quando annunciam a p .
131 do N°. 28, que descreverão, e daraõ a conhecer aonde
pertence o tal novo Conrespondente e Suggeridort veterano
J . da C , o que elles só conhecem por advinhaçaõ ?
Naõ ha nesta mutua delação uma differença bem notá-
vel, qual he a de ser a declaração do livro Azul publica, e
VOL. XI. No. 65. 4D
566 Miscellanea.
designar o crime, podendo assim ser contrariada; e a do
livro Amarelo occulta, e por tanto filha da intriga, e da
vileza ? Naõ se acham as paginas do livro Amarelo cheias
de vituperios, e execraçoens contra as denuncias occultas ?
Naõ seria próprio da imparcialidade e justiça, que cha-
racter! «am o Jornal Scientifico, e os seus esclarecidos Re-
dactores, que quando descrevessem, e dessem a conhecer
aonde pertence o tal Mascara-dc-Ferro ou Suggeridor, re-
inettessem também, para ali se julgar com verdadeiro co-
nhecimento de causa, uma copia fiel do tal versinhoa Napo-
leon, e dos Documentos sobre os serviços feitos aos Hos-
pitaes Francezes, para que se conheça igualmente o cha-
racter puro, e immaculado dos esclarecidos authores de taõ
dignas producçoens ?
5Ò. Como combinam os esclarecidos Redactores, o que
escrevem contra as Cortes de Hespanha, nos N". 26, e 27
do seu Jornal, com o que tinham escripto a p. 556 do N*.
15 sobre os bens de uma monarchia limitada em Hespanha,
e da propaganda, que dali podia sahir, para restituir ao
Gênero Humano o uso legitimo de seus direitos f Naó con-
fessaram os Redactores a p. 555 do mesmo N°., que trans-
creviam com prazer o discurso, que incluía taes proposi-
çoens, por coincidirem com as suas próprias ideas, e sen-
timentos, qae elle continha ?
6°. Quaes saõ aquelles laços de seda, de qae faliam os
esclarecidos Redactores a p. 376 do N*. 27, com que se
deveriam prender as maõs dos Soberanos ?

Avizo saudável aos Redactores sobre os taes laços de seda.


Lembrem-se o» esclarecidos Redactores, que as diversas
paixoens dos homens, em sociedade, naõ podem equilibrar-
se taõ regularmente, como em mechanica as forças de uma
machina. Que o amor próprio faz parecer a cada um, que
a sua obra sabirá mais perfeita que a dos outros. Que
Miscellanea* 567
quando as Cortes de Hespanha formaram a Constituição
boa ou má, pensou a maior parte de seus membros, que
punham Laços de seda ao Soberano. Que a Assemblea
Nacional de França pensou o mesmo ; mas qual foi o re-
sultado? A Convenção Nacional, os horrores sabidos da
Revolução, e a Guilhotina, aonde expiaram os seuscrknes,
e erros, quasi todos os principaes fabricantes dos taes
Laços de Seda, e até mesmo o esclarecido e philantropico
Medico, que inventou e deo o nome aquelle mortífero in-
strumento ! 1! Lembrem-se os esclarecidos Redactores,
qae a tal descuberta dos Laços de Seda poderá naÕ agradar
aonde pertence; e que todos, que tem trabalhado para ella,
poderão em tempo opportuno ser enviados a estabelecer
taõ importante manufaetura, aonde seja mais útil do que
tem sido na Europa, por exemplo nas Pedras Negras, ou
outro prezidio da África.

Novidades deste mez.

INGLATERRA.
Medalha de distineçaõ para os officiaes militares, que se dis-
tinguem em acçoens.
Guardas-de-cavallaria, 7 de Outubro, 1813.
Tendo-se achado inconveniente considerável, no aug-
mento do numero das medalhas, que se tem concedido em
commemoraçaó dos brilhantes e distinctos acontecimentos,
em que o bom successo das armas de S. M. tem recebido
a approvaçaõ Real, foi o Principe Regente servido orde-
nar, em nome e a bem de S. M., que se adoptassem os se-
guintes regulamentos, na concessão, e circulação de taes
signaes de distineçaõ: a saber;—
1*. Que cada official, recommendado para tal distine-
çaõ, naõ trará senaõ uma medalha.
4D2
568 Miscellanea.
2 o Que para o segundo e terceiro acontecimento, de
que se faça commemoraçaõ em simileante maneira, cada
individuo recommendado para trazer a distineçaõ, porá
um colchete de ouro pregado na fita porque se suspende a
medalha, e nelle escripto o nome da bataiha ou cerco, aque
se refere.
3*. Que admittindo-se a pretençaõ de quarto distinetivo,
trará cada official uma cruz, com os nomes das quatro ba-
talhas, ou sitios, respectivamente escriptos nella ; e a trará
em vez das distineçoens previamente concedidas a taes indi-
viduos.
4 o . Que em cada occasiaõ de similhante natureza, que
possa occurrer, subseqüentemente á concessão da cruz, se
concederá outravez o colhete, aquelles que tiverem di-
reito a distineçaõ addicional, que se deve trazer na fita
porque se suspende a cruz, da mesma sorte que se des-
creve no N". 2 o . destes regulamentos.
S. A. R. he alem disto servido ordenar, em nome e a
bem de S. M., que a distribuição de medalhas, ou condo
coraçoens, por similhantes serviços de distincto mereci-
mento, se regularão da maneira seguinte: a saber.
!•. Que nenhum general, ou outro < íficial, se conside-
rará com direito a recebêílas, a menos que naó tenha es-
tado pessoal, e particularmente na quellas occa<iioens de
grande importância, e peculiar brilhantismo, e em cuja
commemoraçaõ o Principe Regente, em nome e a bem de
S. M. seja benignamente servido conceder taes signaes de
distineçaõ.
2". Que nenhum official será considerado candidato
para a medalha, ou distinetivo, senaõ com a especial seleo
çaÕ, e participação do commandante das forças, no lugar,
referindo que tem merecido a distineçaõ por serviços con-
spicuos.
3 \ Que o commandante das forças transmittirá ao
Miscellanea. 569
commandante em Chefe listas assignadas por elle, em que
especifique os nomes e graduaçoens daquelles officiaes que
tiver escolhido pelas haver em particularmente merecido.
4°. O commandante das forças, fazendo a selecçaõ, li.
mitará a sua escolha ás graduaçoens abaixo mencionadas :
a saber.—Officiaes Generaes. Officiaes commandantes de
brigadas. Officiaes commandantes de artilheria, ou enge-
nheiros. Ajudante-general. Quartel-mestre-general. De-
putado dicto; tendo a patente de field-officer (official su-
perior.) Assistente-ajudante e quartel-mestre general;
tendo a patente de field-officer (official superior;) e sendo
chefe do Estado-Maior, com corpo destacado, ou divisão
distincta do Exercito. Secretario-M.litar, tendo a patente
defield-officer(official superior.) Officiaes commandantes
de batalhoens, ou corpos equivalentes a elles; e officiaes
que tenham succedido ao actual commando, durante a ac-
çaõ, em conseqüência da morte ou mudança do official
commandante original.
O Principe Regente, portanto, he benignamente servido
ordenar, em nome e a bem de S. M.; que em commemo-
raçaõ das brilhantes victorias obtidas pelas armas de S. M.,
nas batalhas de Roliça, Vimeira, Coruna, Tatavera-de-la-
Reyna, Bussaco, Barrosa, Fuentes de Onor, Albubera, e
Salamanca, e nos assaltos e tomadas de Ciudad-Rodrigo, e
Badajoz, os officiaes do exercito abaixo mencionados,
presentes naquellas occasioens, gozarão do privilegio de
trazer as condecoraçoens do distineçaõ ; e tendo S. A. R.
approvado as cruzes, medalhas, e colchetes, que se pre-
pararam, hc servido ordenar, que as tragam os officiaes
generaes suspensas por uma fita da cor da banda com ore-
las azues, peduradas ao pescoço; e os officiaes comman-
dantes de batalhoens, ou corpos que lhes sejam equiva-
lentes, e officiaes que tenham succedido no actual comman-
do durante a acçaõ, os Chefes das Repartiçoens Militares,
e seus deputados e assistentes (tendo a graduação de Field-
officers;) e todos os demais officiaes, que foram especial-
570 Miscellanea.
mente recommendados, a traraõ fixa a uma fita da mesma
descripçaõ na casa do botaõ de seu uniforme.
O Principe Regente he também servido ordenar em
nome e a bem de S. M., que as condecoraçoens, que se
deveriam ter concedido aos officiaes, que morreram entaõ
ou mortos depois das sobreditas batalhas e cercos, seraõ
em signal de respeito por suas memórias, transmittidas a
suas familias.

Officiaes, que tem direito a trazer a cruz, ou cruz com um


ou mais colchetes.
Field-marechal Arthuro, Marquez de Wellington, C. G.
Ten. general Sir Guilherme Carr Beresford, C. B.
Sir James Leith, C. B.
Sir Thomas Picton, C. B.
O Hon. Sir Carlos Stewart, C. B.
Maj.-general Sir George Murray, C. B. Quartel-mestre
general.
Denis Pack, Tropas Portuguezas.
Mar. de Campo. D. Miguel Alava, Tropas Portuguezas.
Brig.-general B. DTJrban, Tropas Portuguezas.
D. José 0'Lalor, Tropas Portuguezas.
Coronel Guilherme Howe De Lancey, Deputo Q. M.Gen.
André Frederico Barnard ; reg. 95 inf.
Ten.-Coronel VV. Robe, da Artilheria Real.
Honr. R. De Poer French, reg. 74 inf.
Sir Ricardo Fletcher, que foi dos Engenheiros Reaes.
Guilherme Williams, reg. 13 infant.
Carlos Sutton, reg. 9 Portuguez.
Henrique W. Carr, reg. 83 inf.
Alexandre J. Dickson, Artilheria Real.
Officiaes que tem direito a trazer a medalha, e dous colchetes.
Ten.-general Sir Brent Spencer, C. B.
Sir Stapleton Cotton, C. B.
Miscellanea. 571
Ten.-gen. Sir Rowland Hill, C. B.
Honr. Sir George Lourey Cole, C. B.
Major-general Henrique Fane
Eduardo Howarth, da Artilheria Real.
Brigadeiro-gen. D. Manuel Mozinho, Tropas Portuguezas.
Coronel Samuel Venables Hind, reg. 32 inf.
S. A. Sereníssima o Principe Hereditário de Orange.
Frederico Arentschildt, I o . dragoens ligeiros L. Alem.
Alexandre Wallace, reg. 88 inf.
James Campbell, reg, 94 inf.
Honr. Carlos J. Greville, 38 inf.
James Bathurst (como Secretario Militar)
Hoylet Framingham, Artilheria Real.
R. Arbuthnot, Estado Maior do Marechal Beresford.
Tenente-coronel Joaõ Nugent, 38 inf.
Henrique Watson Ellis, 23 inf.
JoaÕ Colbourn, 52 inf.
Henrique Hardinge, Dep. Q. M. Tropas Portuguezas.
George Elder, 3 o . Caçadores.
Thomas Noel Hill, I o . reg. Portuguez.
Russel Manners, 74 inf.
Carlos Broke, Assistente Quart. M. General.
Carlos Rowati, 52 inf.
Alexandre Cameron, 95 inf.
Lord F. J. U. Somerset, 43 inf.
James Wilson, 48 inf.
Júlio Hartman, Artilheria da L. Alemaã d'El Rey.
Major Guilherme Percival, 95 inf.
Officiaes que tem direito a trazer a medalha e um colchete.
Tenente-general Sir Thomaz Graham, C. B.
Major-general JoaÕ Slade.
Henrique F. Campbell.
Segismundo Baraõ Low.
Carlos BaraÕ Alten.
572 Miscellanea.

George Anson.
Guilherme Anson.
James Kemmais.
Roberto Burne.
Joaõ Ormsby Vandeleur.
George T. Walker.
James Kemp.
Honr. E. M. Pakenham.
Roberto Ross.
Lord R. E. Somerset.
Brigadeiro-gen. W. M. Hervey, reg. 79 inf. Portuguez.
Conde D. Luiz de Rezende, Serviço Portuguez.
D . Antonio de Lemos Pereira de laCerda, Portuguez-
Champlemond, Portuguez.
Coronel James Sterling, 42 inf.
James Lyon, 97 irif.
Joaõ Elley, Guardas Reaes de Cavallo.
Carlos P. Belson, 53 inf.
Joaõ Guise, 3 inf. das guardas
Guilherme Stubbs, 23 Portuguez.
Neil Campbell, 16 Portuguez.
James Douglas, 8 Portuguez.
Ricardo Collins, que foi das tropas Portuguezas.
Guilherme Mc Beau, 19 reg. Portuguez.
Ten.-coronel Ernesto Leonhard, inf. L. Alemaã d'El Rey.
Joaõ Cameron, 9 inf.
Guilherme Iremonger, 2 inf.
Eduardo BJakeney, 7 inf.
Henrique Crawford, 9 inf.
R. D. Jackson, das guardas.
Honr. F. C. Ponsonby, 12 dragoens.
Colin Campbell, 63 inf.
F. Arbuthnot, 5 reg. das índias Occidentaes.
F. B. Hervey, 14 dragoens ligeiros.
Miscellanea. 573
Honr. C. M. Cathcart, Assistente Q. M. G.
Rudolpho Bodecker, 1 de linha Legiaõ Alemaã.
Francisco Brooke, 4 inf.
Honr. R. L. Dundas, Estado Maior.
Joaõ Waters, Tropas Portuguezas.
George Berkley, 85 inf.
Hugh Halkett, 7 de linha Legião Alemaã.
Eduardo Gibbs* 52 inf.
Henrique Sturgeon, Estado Maior.
Joaõ Philippe Hunt, 52 inf.
Honr. H. B. Packenham, 26 inf.
Ten.-coronel J . H . Algeo, I o . caçadores.
Joaõ May, Artilheria Real.
Joaõ F. Burgoyne, Engenheiros Reaes.
Guilherme Gomm, 9 inf.
Roberto H . Dicke, 42 inf.
Bryan O T o o l e , 2 Caçadores.
Dudley St. Leger Hill, 8 Caçadores.
D'Araújo Bacellar, 21 reg. Portuguez.
Alexandre Anderson, 11 reg. Portuguez.
Major Adolpho BaraÕ Whurmb, 2 o . de linha L. A.
George Langlands, 13 Batalhão Veterano.
Guilherme C. Seton, reg. 88.
Officiaes que tem direito a trazer somente a medalha.
Tenente-general o Honr. Sir Guilherme Stewart, C. B.
Major-generaes Joaõ Hamilton, Guilherme Houston,
Honr. Guilherme Lumley, Daniel Houghton ; Sir Henri-
que Clinton, C. B . ; George Baraó Bock ; Victor Baraõ
Alten ; Joaõ H o p e ; Honr. Carlos Colville; J. G. de Mar-
cham; Honr. George De G r e y ; Roberto Crauford;
Guilherme Borthwick; J . H . C. D . Bernewitz ; Henrique
Mc. Kinnon ; W . H. Pringle ; Honr. Guilherme Ponson-
by ; Guilherme Inglis; Guilherme F. S p r y e ; Honr.
Thomaz Guilherme Fermor ; Thomas Bradford ; Manley
Power; Matheus Lord Aylmer.
VOL. X I . No. 65. 4 E
574 Miscellanea
Mariscai de Campo, D. Carlos de Hespanha, do exer-
cito Hespanhol.
Brigadeiro-generaes Archibald Campbell, do exercito
Portuguez ; Francisco Joaõ Coleraan, que foi do dicto ;
D. Francisco Ignacio de Capelda, do Exercito II es
panhol.
Coronéis.—H. J. Cumming, reg. 11 de dragoens li«»ei.
ros; Collin Halkett, 2o. batalhão da Legiaõ Alemaã d'EI
Rey ; Roberto Lord Blantyre, que foi do reg. 42; Carlos
A. Harcourt, reg. 40 de inf.; George Klingsohr, que foi
do 5 de linha da L. Alemaã; Guilherme Kelly, do reg. 24;
Honr. Henrique Cadogan, que foi do reg. 71 de inf.;
Hugh H. Mitchell, reg. 51 inf.; A. de Lacerda Pinto da
Silveira, do serviço Portuguez; Antônio Tavares, do ser-
viço Portuguez; D. Júlio 0'Neill, do Exercito Hes-
panhol.
Tencnlc-coroneis.—Burgh Leighton, do 4o. reg. de
dragoens; Frederico Barlow, que foi do reg. 61 inf.;
Honr. Henrique Brand, das guardas; James S. Barnes,
I o . reg. inf; Roberto Fulton, que foi do 79 inf.; George
Cuyler, 11 reg. inf.; Honr. GeorgeCarlton, 44 reg. inf.;
Honr. Alexander Abercomby, 28 inf.; Carlos Pratt, reg.
5 inf. ; Guilherme Johnston, 68 reg. inf.; Luiz Davis,
reg. 36 inf.; Thomas Forbes, reg. 45 inf.; Joaõ Kings-
bury, que foi do reg. 2 de inf.; Joaõ Mc. Lean, reg. 27
inf, Henrique S. Eyre, que foi do reg. 82 inf.; Sara-
brook Anson, que foi do Io. reg. das guardas de inf.;
Guilherme Fenwick, reg. 34 inf.; Roberto Travers, reg.
10 de inf. ; Joaõ Carlos Rooke, 3°. reg. de inf. das guar-
das; Joaõ Broomhead, reg. 77 inf.; George Middlcmore,
que foi do reg. 48 inf.; Joaõ H. Dunkin, reg. 77 inf.;
Carlos de Belleville, da Legiaõ Alemaã d'EI Rey; Gui-
lherme Davy, do reg. 60 inf.; Henrique H. Bradford, do
11 reg. inf.; Alexandre G. Woodford, das guardas;
Carlos de Jonqueires, 2o. reg. de dragoens, Legiaõ Ale-
maã d'£l Rey; Henrique S. Bouverie, das guardas;
Miscellanea. 575

Carlos Mc. Leod, que foi do reg. 43. ; Marcos J. Du-


faure, Chasseurs Britanniques ; James Erskine, reg. 48
inf.; Arthuro B. Clifton, I o . de dragoens; Joaõ BaraÕ
Bulow, I o . reg. dragoens, da L. A. d'ElRey; Guilherme
Stewart, 3 reg. inf.; Guilherme C. Eustace, Chasseurs
Britanniques; Clemente Archer, que foi do 16 dragoens
ligeiros; Joaõ Williams Watson, reg.de Dillon; Gui-
lherme Gwin, que foi do reg. 45 de p e ; Honr. Hugho
Arbuthnot, que foi do reg. 5 2 ; Guy G. L.'Estrange, reg.
26 inf. ; Guilherme C. Spring, do reg. 57 inf. ; Thomaz
Pearson, que foi do reg. 23 inf. ; Roberto Nixon, 2 ca-
çadores ; D. L. Gilmour, 95 inf.; Archibaldo Mc. Don-
nell, 13 batalhão reterano; Alexandre Petrie, reg. 79 inf.;
Guilherme Woodgate, reg. 60 inf.; G. H. B. Way, 29
inf.; Eneas Macintosh, reg. 79 inf. ; Alexandre Hamil-
ton, reg. 30 inf".; Joaõ Wood, que foi do reg. 32 inf.;
Henrique Thornton, reg. 40 inf. ; Thomas Chamlain,
reg. 24 inf.; George Grey, que foi do reg. 30 inf.; Joaõ
Mc, Nooth, reg. 7 inf. ; Patrício Lindesay, reg. 39 inf.;
Guilherme Brooke, reg. 48 inf.; Carlos Paterson, reg. 28
inf.; Henrique Ride wood, que foi do reg. 48 inf.; Carlos
Napier, reg. 5 0 ; Miguel Mc. Creagh, 5 de caçadores;
Guilherme Smith, reg. 50 inf.; Guilherme Williams
Blade, reg. 20 dragoens ligeiros ; Edward Miles, reg. 38
inf.; Adolpho Baraõ Beck, I o . de linha L. A. d'£l Rey ;
George Harding, reg. 44 inf.; Guilherme Howe Knight
Erskine, que foi do reg. 27 inf.; Honr. Lincoln Stanhope,
17 dragoens ligeiros; George T. Napier, reg. 52 inf. ;
Frederico Augusto de Hertsberg, inf. de Brunswick;
Ricardo Archdall, que foi do reg. 40 de inf.; Frederico
Newman, 11 inf.; David Williamson, reg. 4 inf.; Tho-
mas Dalmer, reg. 23 inf. ; Guilherme C. Clowes, que foi
do reg. 3 dragoens; Joaõ Piper, do reg. 4 inf. ; Colin
Campbell, 1: inf.; Thomaz Lloyd, reg. 94 inf.; Leo-
nardo Greewell, reg. 45 inf. ; Francisco D'Oyley, 1-,
reg. das guardas; Henrique Ridge, que foi do reg. 5 inf;
576 Miscellanea.
A. W- Young, 3 reg. das índias Occidentaes; Honr.
James Stewart, reg. 7 das índias Occidentaes ; Thomaz
Downman, Artilheria Real: Joaõ Gillics, reg. 40 inf. ;
JoaÕ Gordon, reg. I o . inf.; Frederico De Hartwig, 1 ba-
talhão ligeiro da L. A. d'El Rey ; Vernon Graham, do
estado maior de Nova Escócia ; Hcw Ross, Artilheria
Real; Edmund H. Williams, 4 de caçadores ; Frederico
Stovin, rrg. 28 inf.; D'Avelans, 1°. Caçadores ; F. J. da
Costa Amaral, 19 reg. Portuguez; George Browne, 9
caçadores; Alexandre W-Campbell, 4 reg. Portuguez;
F . X . Calheiras, 7 reg. Portuguez; A. C. Crooksbank,
12 caçadores ; Joaquim da Câmara, reg. 13 Portuguez ;
Joaõ Gomersal, reg. 21 Portuguez ; Eduardo Hawk-
shaw, 7 caçadores; Henrique Pynn, tropas Portu-
guezas; F. X . da Silva Pereira, reg. 5 Portuguez ; B.
Ferreira de Souza, do scrv ço Portuguez; H. Wutson,
reg. 1 de Cav. Portugueza ; Donald Mac Donncll, 11
reg. Portuguez ; D. Kamon Dias, do serviço Hespanhol;
D . Christobnl Escobar, do serviço Hespanhol; D. Joaõ da
Malla Paz, do excicito Hespanhol.
Majores : Ricardo Vandeleur, que foi do reg. 88 inf ;
C. Thalman, reg. 7 de linha L. A. d'EI Key ; George
Wilkins, reg. 95 inf.; Aug. de Bcrger, que foi do 7 ba-
lhaõ de linha da L. A. d'El Rey ; F. N. Offley, que foi
do reg. 23 inf.; Ernestus de Burgwedei, que foi do 3 li-
geiro da L. A. d'El Rey ; Joaõ Stewart, do reg. 95 inf. ;
Joseph Carncross, da Artilheria Real; George St. Leger
Gordon, que foi do reg. 8 das índias Occidentaes; Carlos
Oito, que foi do reg. Io. dragoens ligeiros L. A. d'El
Rey; Carlos Aly, 5 de linha L. A. d'El Rey, A. D.
Faunce, reg. 4. inf. ; Pedro 0'Harc, que foi do reg. 95
inf.; Ricardo Armstrong, reg. 16 Portuguez; Pbilipc
Baraõ Gruben, 1 reg. dragoens ligeiros L. A. d'El Rey ;
Guilherme Napier, reg. 43d'inf.; George J. Goldiz, reg.
66 inf. ; Joseph Thompson, que foi do reg. 88 inf.; Jo-
seph Wells, reg. 43 inf.; Joaõ Squire, que foi dos En-
Miscellanea. 577
genheiros Rcacs; Roberto Buli, da Artilheria R e a l ;
JoaÕ William Beatty, reg. 7 inf.; James Singer, que foi
do reg. 7 inf.; George Miles Milnes, reg. 45 inf. ; J .
Hill, 5 caçadores; Roberto Gardiner, Artilheria R e a l ;
Joaõ Thomaz Lcaky, reg. 23 inf. ; George King, 7 reg.
inf.; Roberto Macdonald, da Artilheria Real ; Roberto
Lauson, Artilheria R e a l ; Frederico Sympher, Artilheria
da L. A. d'El Rey ; Joseph Hawtyn,reg. 23 inf.; G. H .
Murray, reg. 16 dragoens ligeiros; James Bogle, reg. 94
inf.; Samuel Hext, reg. 83 inf.; James Miller, reg. 23
Portuguez ; Victorde Arentschildt, Artilheria Portugueza;
F. de Paula Azeredo, reg. 23 Portuguez ; Sebastião Pinto,
6 de caçadores; M. C. Teixeira Pinto, 3 de Caçadores;
Joseph Ward, 7 de caçadores.
Capitaens: Carlos Anderson, que foi do reg. 94 inf. ;
Marco Anncsley, reg. 61 inf.; Conway Benning, reg 66
inf.; Fielding Browne, reg. 40 inf.; Roberto Douglas,
da Artilheria Real; Guilherme Green, dicto ; Guilherme
Keith, reg. 23 inf.; La Roche de Stadkenfeld, que foi do
1 de linha L . A. d'El Rey 4 George Wilson, reg. 4 inf.;
Thomas Gell, reg. 29 inf. ; D. Francisco Xavier Cueto,
do Exercito Hespanhol ; El Sargento Mayor, D. Santiago
Ruiz, do Exercito Hespanhol.—
Por ordem de S. A. R. o Principe Regente,
(Assignado) F R E D E R I C O , Commandante em Chefe.

COLÔNIAS HESPANHOLAS.
Buenos-Ayres, 13 Junho, IS13.
Governo de Chili.
O Ministro deste Governo, em um officio de 14 do cor-
rente, remetteo, por um Correio Extraordinário, os se-
guintes documentos:—
Officio do General em Chefe do Exercito Libertador, ao
Excellentissimo Governo Supremo.
EXCELLENTISSIMO SENHOR ! —Com o maior prazer tenho
de communicar a V- Ex. a tomada de Falcahuano, que se
578 Miscellanea.
effectuou depois de um ataque de 4 horas. A pressa com
que sou obrigado a dar esta informação no meio dos meus
deveres para com os exercito que commando, e para tan-
tos objectos de urgente necessidade, somente me permit-
te m mencionar as seguintes poucas particularidades.
A nossa perda nesta acçaõ foi merameute de um grana-
deiro e um membro da milicia nacional; naõ tenho averi-
guado qual tenha sido a perda do inimigo; mas tenho a
felicidade de assegurar a V. Ex., que nesta occasiaõ os
prisioneiros naô soffreram acto algum de violência, pro-
vando que os meus camaradas naõ saó mais valentes do
que generosos; e que os excessos, que se comettem em
taes occasioens, se naõ podem prevenir em nenhum, me-
lhor do que no exercito do Chile.
Neste porto achei 4 fragatas do inimigo, o Miantinomo,
Palafox, Quatro amigos, e Britannica. O ultimo destes
desejava sahir mas o vento lhonaÕ permittio; e tenho, por-
tanto, mandado uma barca canhoneira para tomar posse delia,
a fim de que possam desembarcar os officiaes, passageiros,
traidores e prisioneiros que estaõ a bordo. Eu nomearei
uma Commissaõ para formar os inventários destas prezas,
e outros eflèitos do exercito do inimigo.
" Os prisioneiros, que se tomaram em Yervas Buenas,
fôram-me entregues, e um igual numero de defensores de
sua pátria seraõ postos em liberdade. Tenho abundância
d'armas, vestidos, e muniçoens.
" A artilheria tem sido desmontada pelo inimigo, eu a
restituirei immediatamente ao próprio estado, e tendo pre-
parado convenientemente os meus meios, passarei o mais
depressa que puder a Chilan, para a dar o golpe final aos
miseráveis restos do exercito do Vice Rey de Lima.
" Tenho descuberto aqui grande quantidade de armas,
salitre preparado, mantimentos, c outros effeitos: que nos
seraõ mui úteis. Deus vos guarde muitos annos.
" JOSÉ MIGUEL DE CARRCRA.
" Do Campo de Talcahuano, 29 de Mayo."
Miscellanea. 579
Moniteur Americano, 8 de Junho, 1813.
Pela fragata Vittoria, que chegou ultimamente de Val-
paraiso, e que deixou Lima aos 6 de Abril, recebemos as
seguintes noticias:
O objecto detestado dos Americanos, Goyeneche, escre-
veo de Oruro ao Vice-Rey, renovando a sua resignação
do commando do exercito, que tantas vezes foi derrotado,
debaixo de suas ordens ; e para terminar este difficultoso
negocio, se convocou em Lima um Conselho Militar, a
que assistiram Officiaes de todas as classes; e por fim se
determinou qae o ministro Arequipa se retirasse, e que ou
Abascul, ou Ilinostrosa fosse nomeado em seu lugar. A
nomeação foi feita em conseqüência da carta ; e se orde-
nou, que Goyeneche entregasse o commando a D. JoaÕ
Ramiry, até que chegasse o novo general. Em Lima se
diz, que a derrota do impio Trístan he uma das intrigas de
Goyeneche, e que o esperavam em Lima para lhe dar o
prêmio de suas acçoens, merecido por todos aquelles filhos
desnaturalizados, que tem sido o flagello da mais terna de
todas as mais. Americanos, vede o castigo dos traidores e
infiéis.

Despacho Official.
Excellentissimo Senhor! Hontem, se avistou a fragata
S. Domingos de Guzman, preza de D. Xavier Mandano.
A noite o Commandante deste porto me informou,
que tinha sabido por um official e quatro marinheiros,
que desembarcaram em Cumlus, que havia a bordo 38
officiaes, e 100.000 dollars, para o exercito do General
Paneja. No mesmo instante montei a cavallo, e tomei as
medidas necessárias para que se naõ deixasse o lugar da
Ancboragem. As barcas canhoneiras e outros vasos peque-
nos tiveram ordem de se apromptar para este fim ; e esta
manhaã ao romper do dia, se me annunciou que se tinha
rendido. Desembarcaram ja do navio 32 officiaes 3 entre
os quaes ha um ministro de marinha; e 50.000 dollars,
680 Miscellanea.
com uma quantidade de tabaco, que se trouxe para s
praya. A fragata entrará no porto em duas horas; e entaõ
attenderei a todas as circumstancias, que podem contribuir
para remunerar a marinha Americana, que em tantas
oceasioens tem feito os mais essenciaes serviços á sua
pátria. Os papeis fôram lançados ao mar, e trabalharemos
pelos recobrar. Estamos agora esperando a fragata e 500
espingardas. Logo que possa segurar estas prezas, e o
porto, partirei a toda a pressa pera Chillau, a fim de con-
cluir a nossa feliz campanha.
Por cartas interceptadas achei, que estes eram os uoicos
reforços, que o General Realista esperava, e agora elle naõ
pode esperar nem mais um homem nem mais um real;
porem em quanto elles estaõ lamentado a sua miséria e os
desastres de Goyeneche, ordenaram que se preparasse o
modelo de uma pyramide, que se deve levantar em honra
de seu Rey, e a gloria de suas armas, &c.
Deus guarde a V. Ex*. muitos annos.
JOSÉ MIGUEL DE CARRERA.
Talcahuano, 8 de Junho, 1S13.
Ao Governo Supremo de Chili.

ESTADOS UNIDOS.
Finanças Americanas.
As Gazetas Americanas contem uma carta de Mr. Jones,
que serve de Secretario do Thesouro, fazendo as vezes de
Mr. Gallatin, datada de 19 de Julho, e dirigida a Mr. Bibb,
Presidente do Committee dos Meios-e-Modos, sobre o
objecto de novas exigências, que se faraõ precisas para as
depezas da guerra. Diz a carta, que as despezas addicio-
naes das repartiçoens de guerra e da marinha, requererão
um empréstimo de novo, no computo de dous milhoens de
dollars, para o serviço do anno corrente. Passa depois a
dizer, que " como o empréstimo para o serviço do 1814,
naô pode convenientemente fazer-se naquelle anno, taÕ
cede, que satisfaça ao que se necessita no Thesouro, no
Miscellanea. 581
principio do mesmo anno, propoem-se, que alem da somma
de dous milhoens, acima mencionados, para o presente an-
no, se authorize agora um empréstimo, sufficiente, com
as sommas que se receberem das rendas publicas, para
pagar as despezas dos primeiros tres mezes do anno de 1814.
O que o Thesouro necessita para aquelles tres mezes,
se avalia da maneira seguinte:— Dollars.
Despezas civis, diplomáticas, e miscêllaneas 400.000
Para a divida publica, exclusivas as notas do
Thesouro, e juros dellas, que se tem de pagar
nos mezes de Janeiro, e Fevereiro, de 1814 ;
e que seraõ providenciados do excedente do
fundo de amortização no anno de 1813 1:100.000
Para ás repartiçoens de guerra e marinha. 6:000.000

7:500.000
Receita avaliada.—A somma a receber dos di-
reitos das alfândegas, durante aquelle periodo
se pode avaliar em. 1:500.000
Venda das terras publicas, e direitos internos
que se poraõ em vigor no 1". de Janeiro,
1814. 250.000
O balanço que ficará no Thesouro aos 31 de
Dezembro próximo futuro, se avalia em cerca
de dous milhoens de dollars. Como esta
somma he de algum modo maior do que he
necessário para se reter permanentemente no
Thesouro, se pode delia applicar para as ne-
cessidades do primeiro quartel do anno de
1814, a somma de 250.000

Fazendo tudo juncto. 2:000.000


E deixará para ser providenciado pelo emprés-
timo 5:300.000

7:500.000
VOL. XI. No. 65. 4 r
582 Miscellanea.
Toda a somma, portanto, que se suppoem conveniente
que o Presidente tenha authoridade de obter por via de
empréstimo, antes do fim do presente anno, vem a ser
7:500.000 dollars, da qual se avalia, que 2:000.000 seraõ
precisos para o presente anno, e o resíduo para supprir o
serviço do anno de 1814.

Carta do Imperador Alexandre o Madama Moreau.


" Toplitz, 6 de Septembro, 1813.
t(
MADAMA !—Quando a terrível desgraça que suece-
deo, juncto a meu lado, ao General Moreau, me privou
das luzes, e da experiência daquelle grande homem, eu en-
tretinha a esperança de que á força de cuidado se poderia
obter conservállo a sua familia, e á minha amizade. A
Providencia dispôz outra cousa. Elle morreo como tinha
vivido, na plena energia de uma alma forte e constante.
Naõ há senaó um remédio aos grandes males da vida, que
he o ter quem delles participe. Na Russia, Madama,
acharcis estes sentimentos em toda a parte; e se vos con-
vém fixar-vos ali, eu procurarei todos os meios de embele-
zar a existência d'uma pessoa, de quem farei um dever de
ser o consolador e o apoyo. Rogo-vos, Madama, que des-
canceis nisto Írrevogavelmente, naõ me deixeis ignorar
nunca circumstancia alguma, em que vos possa ser útil, e
escrevei-me sempre directamente. Conhecer d'antemaÕ
os vossos desejos, será para mim um prazer. A amizade,
que consagrei a vosso marido, existe alem da sepultura ; e
naõ tenho outro meio de a mostrar, ao menos em parte,
para com elle, senaõ fazendo tudo quanto estiver em meu
poder para segurar a felicidade de sua familia. Nc-ias
tristes e cruéis circumstancias, aceitai, Madama, estes sig-
naes de amizade, eas seguranças de todos os meus senti-
mentos. " ALEXANDRE."
Miscellanea. 583
Estado Comparativo
Da População e Forças de Terra dos differentes Estados,
que se acham presentemente em guerra.
Nomes dos Estados. População. Forças de Terra. Observaçoens.
Império da Gram Bretanha 16:531.000 306.760 perto de 1 em 54
Russia - 32:248.000 560.000 75
- Áustria 20:216.000 320.000 63
Reyno de Prússia - 4:984.887 250.000 20
Suécia - 2:826.000 45.000 44
Hespanha 10:396.000 100.000 104
Portugal 3:559.000 30.000 118
Sicilia 1:656.000 10.000 165
Ducado de Warsovia 8:774.402 30.000 126

Total 105:691.339 1:651.760 64


Diminuindo as tropas de que
se naõ pode dispor : —
Gram Bretanha.. 150.000
Russia 260.000
Áustria 100.000
Prússia 50.000 560.000
Resta 105:691.339 1:091.760
Império Francez, incluindo
todos os novos departa-
mentos 42:316.000 590.000 perto de 1 em 72
Reyno de Itália 6:719.000 40.000 168
4:yo».uuu 16.000 310
1:638 000 15.000 169
Confederação do Rheuo . . 13:560.120 119.000 114
Reyno de Dinamarca . 2:509.600 74.000 134
Estados Unidos d'America. 6:500.000 20.000 325
Paizes naõ incluidosacima:
Parte do Condado de Kat-
zenelnhogen... 18.000
Principado de Erfurth . . . 50.330
Provincias Illiricas 110.000

Total 78:385.000 874-.000 89


Dimi
íinuindo tropas (leque a 1 .„_ 000
França naõ pôde dispor. ) "
Resta - 27:206.289 684.000
584 Miscellanea.
N. B. Publicamos esta conta estatística das naçoens, que se acham
em guerra; pela acharmos copiada cm todas as gazetas lnglezas;
mas os nossos leytorcs veraõ quam pouco ella hé exacta, observando
o numero de tropas, que se assigua a Portugal.

FRANÇA.

Noticias Officiaes do Exercito d'Alemanha.


Paris, 1 de Outubro.
S. M. a Imperatriz Raynha e Regente recebeo a seguinte
noticia do exercito, datada de 26 de Septembro:—
O Imperador passou em Pirna os dias 19 e 20. S. M.
ordenou, que se lançasse uma ponte ao Elbe, naquelle
lugar, e se estabelecesse na margem direita uma cabeça de
ponte.
Aos 21 veio o Imperador dormir em Dresden ; e aos 22
foi para Harlavv. Elle ordenou immediatamente que des-
embocasse pelo bosque de Bischoffvverder, o 11 corpo,
commandado pelo Duque de Tarentum; e o 5°. corpo,
commandado pelo General Souham. O exercito do ini-
migo em Silezia—que tinha marchado, a direita comman-
dada por Sachen para Camenz ; a esquerda commandada
por Langeron para Neustadt, na desembocadura de Bohe-
mia; e o centro, commandado por York, para BischorT-
werder—se retirou instantaneamente de todos os lados. O
General Girard, commandante da nossa guarda avançada,
o seguio rapidamente, e fez alguns prisioneiros.
O inimigo foi repellido pelejando até o Spree. O Ge-
neral Lauriston entrou em Neustadt.
Negando-se assim o inimigo á batalha, voltou, o Impe-
dor para Dresden, aos 24, para tomar uma posição nas al-
turas de Weissig.
O 8 o . corpo, commandado pelo Principe Poniatowski,
tornou a passar para a margem asquerda.
O Conde de Lobau, com o 1°. corpo, ainda occupa
Gieshubel.
Miscellanea. 585
O Marechal St. Cyr occupa Pirna, e a posição de Doh-
na. O Duque de Belluno occupa a posição de Freyberg.
O Duque de Ragusa, com o 6 o . corpo, e a cavallaria do
General Latour Maubotirg, estava alem de Grossenhayn :
elle tinha repulsado o inimigo para a margem direita, alem
de Torgau; para facilitar a passagem de um comboy de
20.000 quintaes de farinha, que iam pelo Elbe acima era
botes; e que chegaram a Dresden.
O Duque de Padua está em Leipsic ; o Principe de
Moskwa está entre Wittenberg e Torgau.
O General Conde Lefebvre Desnouettes ia com 4.000
cavallos em seguimento do traidor Thielman. Este Thiel-
rman he um Saxonio, a quem El Rey enclieo de favores.
Em paga de tantos benefícios, elle se mostrou o inimigo
mais irreconciliavel de seu Rey e de sua Pátria. A freute
de 3.000 cavallos, parte Prussianos, parte Cossacos, e Aus-
tríacos, elle roubou as cavalherices d'El Rey, impôz em
toda a parte contribuiçoens para seu uso particular, e trac-
tou os seus compatriotas com todo o ódio de um homem
atormentado pelo crime. Este desertor condecorado com
o uniforme de Tenente-general Russiano marchou para
Naumberg, aonde naõ havia nem commandante nem guar-
niçaõ, e surprendeo ali 300 ou 400 doentes. Com tudo o
General Lefebvre Desnouettes o encontrou aos 19 em
Freyberg, tomou-lhe os 300 ou 400 doentes, que aquelle
malvado tinha arrancado de suas camas, fez alguns centos
de prisioneiros, tomou alguma bagagem, e retomou alguns
carros que elle havia roubado. Thielman refugiou-se eu-
taÕ para Zeist, aonde o Coronel Munsdorff, partidário Aus-
triaco, se lhe ajunctou. O General Lefebvre Desnouettes
o atacou aos 24 em Altenburg, matou-lhe muitos homens,
e entre outros um Príncipe de Hohenzollern, eum coronel.
A marcha de Thielman tinha causado alguma demora
nas communicaçoens de Erfurth e Leipsic.
586 Miscellanea.
O exercito inimigo t!e Berlin parece que está fazendo
prcparuçofiis paia lançar uma ponte em Dessau.
O Príncipe de Neufchatcl está molesto de uma febre bi«
l o s a : tem estado de cima por alguns dias. S. M. nunca
teve melhor saúde.
S. M. a Imperatriz Haynha c Regente, recebeo a se-
guinte noticia do exercito, em data «lc 13 de Septembro,
1813.
O Quartel-general do Imperador estava cm Dresden.
O Duque du Tarentum, eom o y \ , 110., e 3"., corpo estava
postado na margem esquerda do Spree. O Principe Po-
niatowski, com o 8°. corpo estava em Stolpen. Todas
estas forças estavam assim concentradas na margem direita
do Elbe, dentro de um dia de marcha de Dresden.
O Conde Lobau, com o Io. corpo estava em Nollendorf,
na avançada de Peterswalde; o Duque de Treviso em Pir-
na ; o Marechal St. Cyr, nas alturas de Borna, oecupando
as desembocaduras de Fursteuwaldu e Geyerberg; o Du-
que de Uelluno em Altenberg.
O Principe de Moskwa estava em Torgau, com o 4*.,
*<•., e 12°., corpo. O Duque de Ragusa, e El Rey de Ná-
poles com a cavallaria do General Latour Maubourg, esta-
vam marchando para Grossen Hay n. O Principe de Eck-
muhl estava em Katzeburg.
O exercito do inimigo de Silezia estava na direita do
Sprce.- O da Bohemia, os li ussianos, e Prussianos, na pia»
íiicic de Toplitz, e um corpo Austriaco em Marienberg. O
exercito inimigo, de Berlin, estava em Juterbock.
O General Francez Margaron, occupava Leipsic com um
corpo de observação. O Castello deSonnestcin, acimade.
Pirna, foi oecupado, fortificado, e armado. S. M. deo o
commniido de Torgau ao Conde de Narbonne.
Os quatro regimentos das guardas de honra fôram agrega-
dos, o primeiro aos caçadores de montanhas das guardas; o
Miscellanea. 587
segundo aos dragoens; o terceiro aos granadeiros de caval-
lo; o quarto ao primeiro regimento de lanceiros. Estes
regimentos das guardas lhe suppriraõ instructores, e todas
as vezes que marcharem á batalha, seraõ unidos a soldados
veteranos, por quem seraõ guiados ; e cujos, cascos, ou es-
queletos elles reforçaraÕi Um esquadrão de cada regi-
mento das guardas de honra fará sempre o serviço juncto ao
Imperador, com um esquatiraõ fornecido por cada regi-
mento das guardas; o que fará montar o numero dos es.
quadroens em serviço a 8.

S.M. a Imperatriz Raynha recebeo a seguinte noticia do


exercito de 17 de Septembro, 1813 :—
Aos 14 o inimigo desembocou de Toeplitz para Nollen-
dorf, a lim de fianquear a divisão Dumonçeau, que estava
nas alturas. Esta divis iõ se retirou cm boa ordem para
Gieshubel, aonde o Conde Lobau ajunctou o seu corpo-
Desejando o inimigo atacar o campo em Gieshubel, foi
repulsado, e perdeo muita gente.
Aos 15 o Imperador deixou Dresden, e marchou para o
campo de Pirna. Elle dirigio o General Mouton-Dtivernet,
commandante da divisão 24, pelas aldeas de Langenheners-
«lorffe Bera ; ílanqt.cando assim a direita do inimigo. Ao
mesmo tempo o Conde de Lobau o atacou em frente; o
inimigo foi repellido com a ponta da espada nas costas,
por todo o resto do dia.
Aos 16 o inimigo occupava ainda as alturas alem de Pe-
terswalda. Ao meio dia se principiou a perscguillo, elle
foi desalojado de sua posçaõ. O General Orua.no fez al-
gumas bellas cargas com a divisão de cavallaria das guar-
das, e o Principe Poniatowski, com a cavallaria ligeira Po-
laca. O inimigo foi repulsado para a Bohemia em grande
desordem. Elle fez a sua retirada com tanta actividade,
que somente lhe pudemos apanhar alguns prisioneiros, entre
os quaes se acha o General Blucher, que comir-atuiara a
588 Miscellanea.
guarda avançada e lie filho do General em Chefe Russiano,
Blucher.
A nossa perda foi insignificante. O Imperador dormio
em Peterswalda, aos 16, caos 17 voltou para Pirna.
Thielman, um General que desertou do serviço Saxonio,
com um corpo de partidários e desertores, tinha marchado
paraoSaale. Uin Coronel Austriaco, também como parti-
dário, marchou para Golditz. Os Generaes Margaron,
Lefebre Desnouettes, e Pire, fôram com columnas de infan-
teria, e cavallaria, em seguimento destas partidas do inimi-
go ; esperando dar boa conta dellas.

26 de Septembro.
S. M. a Imperatriz Raynha Regente, recebeo a seguinte
noticia do exercito, datada de 19 de Septembro: —
Aos 17, pelas 2 horas da tarde, o Imperador montou a
cavallo, e em vez de ir para Pirna, foi ter aos postos avan-
çados. Tendo percebido que o inimigo preparava grande
quantidade dt faxinas, para defender a decida das monta-
nhas, S. M. ordenou ao General Duvernct, que o atacasse ;
este General tomou a aldea de Aibesan, com a divisão,
42, e expulsou o inimigo para as planícies de Toplitz.
Foi encarregado de manohrar de tal maneira, que pudesse
reconhecer inteiramente a posição do inimigo, e obrigallo
a patentear as suas forças. Este General foi perfeitamente
bem succedido na execução de suas instruc<;oens. Elles
empenhou em uma viva conhonada, alem «Io alcance da
artilheria, e que lhe causou mui pequeno damno ; porém
havendo uma bateria Austríaca de 24 peças deixado a sua
posição para se aproximar á divisão Duvernct, o General
Ornano ordenou que os lanceiros de vermelho «Ias guardas
a carregassem ; elles tomaram estas 24 peças, e passaram
á espada todos os artilheiros, mas somente puderam trazer
com sigo os cavallos, duas peças de artilheria, c um trem de
dianteira.
Miscellanea. 589
Aos 18, o Conde Lobau ficou na mesma posição, occu-
pando a aldea de Arbesan, e todas as desembocaduras da
planicie. As 4 horas da tarde o inimigo mandou uma di-
visão para surprender a altura acima da aldea de Keimitz,
Esta divisão foi repulsada, á ponta da espada, (l'epéedans
les reins) e se fez fogo de metralha por uma hora. Aos 18,
pelas 9 horas da noite, S. M. chegou a Pirna; e aos 19, o
conde de Lobau tornou ás suas posiçoens adiante de Hol-
endorff e do campo de Gieshubel. A chuva cahia em
torrentes.
O Principe de Neufchatel se acha alguma cousa molesto
com um accesso de febre.
S. M. está muito bem.
O Marechal Duque de Valmy recebeo em Mayence um
correio de Dresden, que lhe encarregou de fazer saber em
Paris, que até os 19 de Septembro naõ havia nada de novo
no exercito; e que éra possivel que se passasse algum tem-
po, antes que se expedisse algum correio; assim que se
naõ admirassem, se estivessem alguns dias sem receber no-
ticias do exercito.
Cartas de Bayonna, datadas de 22 do corrente, dizem,
que chegam diariamente aquella cidade dez a quinze deser-
tores Inglezes e Portuguezes.

S. M. a Imperatriz Raynha, Regente, recebeo as seguin-


tes noticias do exercito, em data de 28 de Septembro.
O Imperador tem dado o commando de um dos corpos
das guardas novas ao Duque de Reggio. O Duque de
Castiglione se pôz em marcha com o seu corpo, para tomar
uma posição nas desembocaduras do Saale. O Principe
Poniatowski marchou com o seu corpo para Peneg. O
General Conde Bertrand, aos 26, atacou o corpo d'exercito
inimigo de Berlin, que cubria aponte lançada em Warten-
bourg, forçou-o, tomou-lhe alguns prisioneiros, e o expul-
sou pelejando até á cabeça de ponte. O inimigo evacuou
Vot. XI. No. 65. 4 c
590 Miscellanea.
a margem esquerda, e destruio a sua ponte. O General
Bertrand mandou immediatamente destruir a cabeça de
ponte. O Principe de Moskwa marchou contra Oranien-
baun, e o Io. corpo contra Dessau. Uma divisão Sueca,
que estava em Dessau, se deo pressa a passar para a mar-
gem direita. O inimigo atirou da outra parte do rio algu-
mas bombas que cahiram em Wittenberg.
Aos 28, o Imperador passou revista ao 1°. corpo de ca-
vallaria nas alturas de Weissig.
O mez de Septembro tem sido muito máo, muito molha-
do contra o que he usual neste paiz. Espera-se que o mez
de Outubro será melhor.
O Principe de Neufcbatel está melhor de sua febre bilio-
sa; e vai convalescendo.

EXÉRCITOS DE ARAGAÕ E CATALUNHA.


27 de Septembro.
Exercito da Catalunha.—O General Decaen, comman-
dante do exercito de Catalunha, refere, em um officio, da-
tado de 19 do corrente, que o Marechal Duque de Albufera
ganhara, nas vizinhanças de Tarragona, uma vantagem do
inimigo, o qual perdeo 4 peças d'artilheria, grande numero
de homens mortos c feridos, e alguns centos de prisioneiros.
O Duque d'Albufera voltou para Barcelona aos 16 ; e o
General Decaen, para Gerona depois de ter cooperado nes-
ta expedição, e annunciado uma participação immediata do
Marechal, quedará a completa narração desta acçaõ.

Copia de unia Carta dirigida a S. Ex-. o Ministro da


Guerra, pelo Marechal Duque df Albufera.
Villa França, 16 de Septembro.
MONSEIONEUR !—No principio de Septembro, Lord
Bentinck se mudou da costa do mar para as margens do
Ebro, e estabeleceo o Quartel-general do exercito Anglo-
ilespanhol em Villa Franca, oecupando o Col d'Ordal;
Miscellanea. 591
formando armazéns em Villa Nova, e mandando manobrar
os corpos d1 exercito do General Copons, e divisoens de
Whittingham e Sarsrield, no Lobregat Superior, para
Manresa, Esparaguera, e Mariorell. O ajunctamento de
30 peças de artilheria, a uma marcha de distancia de minha
linha, e todas as disposiçoens de manobra e formação, me
annunciáram um próximo ataque. Eu resolvi-me a antici-
pallo e impedir que os meus movimentos fossem apertados
e restrictos ás portas de Barcelona.
Aos 12, se ajunctou o exercito de Aragaõ no Lobregat,
em quanto o General em Chefe, Conde Decaen, con vidando-
o eu a isso, trouxe parte do exercito de Catalunha. Eu
lhe ordenei que restringisse, e guardasse a minha direita
das tropas do General Copons; e que marchasse ao depois
para S. Saturni, sobre Villa Franca, e co-operasse no meu
ataque pela estrada grande.
As 8 horas da noite eu passei a ponte de Mollins-del-
Rey, com uma lua clara, que favoreceo a minha marcha;
e a divisão Harispe, que ia na vanguarda, marchou para
Ordal.
Aquella posição mui difflcil e mui escabrosa, e a que se
naõ pôde chegar, senaõ depois de passar por um desfila-
deiro de tres léguas, estava occupada com uma guarda
avançada de 9.000 homens, debaixo das ordens do Coronel
Frederico Adams, composta de tropas lnglezas, Calabrezas,
e por gente escolhida da divisão Sarsrield.
O General em Chefe Lord Bentinck tinha chegado ali
na mesma noite, com o Almirante Hallowell, fosse para
preparar as suas disposiçoens, para um ataque immedíato;
ou fosse, por alguma informação que recebeo de meus
movimentos, para reforçar este importante ponto : a infan-
teria na posição éra sustentada pela artilheria, e uma re-
serva de cavallaria.
Aos primeiros tiros de espingarda, o General Melsop,
commandante da guarda avançada, adiantou com vivaci-
4 G 2
592 Miscellanea.
dade os voltigeurs do regimento 7™". de linha, derrotou
os postos, e formou a sua brigada em frente dos rcduc-
tos. A cavallaria do inimigo foi visla descendo em co-
lumna pela estrada, com a intenção de repulsar, o que o
inimigo indubitavelmente julgou ser um reconhecimento;
porém a nossa artilheria ligeira os fez desapparecer cm
breve tempo, e os voltigeurs arremeçáram-sc a montanha.
A vivacidade e extençaõ do fogo, que o inimigo imme-
diatamente começou ao longo de toda a sua frente, nos
mostrou qual éra a sua força. O General Melscop or-
denou ao I o . batalhão do 7mo que avançasse, o qual elle
cm pessoa sustentou com o 2°.; em quanto o -14o. regi-
mento de sua parte montou os reduetos : elle tornou-se a
formar, repulsou os atiradores, e com a espada irt maõ á
frente de sua columna, ordenou, que se tocasse a degolur,
e se tomou pela força a primeira posição do inimigo.
Houve neste ponto o mais obstinado combate; o ini-
mio-o furioso, e com grandes gritos, voltou segunda vez
com reservas de novo, para obter posse da posição ; e
secunda vez foi repulsado para a sua segunda posição,
d'onde nos abismou com o seu fogo.
A nossa infanteria, acustumacla a assaltos, soube como
se havia tonar a formar, e voltou ao ataque com con-
stância : um pelotão de çapadores, que tinha marchado
com a guarda avançada, se cubrio de gloria : o Chefe «le
Ratalhaõ Feuchere, do regimento 44, ficou ferido, capi-
taneando as suas tropas. Eu ordenei á divisão Herbert
que avançasse havendo-a eu formado na esquerda «li
estrada; em quanto o General Ilarispe marchava com a
sua reserva, o regimento 11G de linha, para sti.s(e;:lar it
1». brigada. Por fim combinou-se um esforço geral, e o
2». batalhão do 116 teve ordem de ir para a esquerda e
fianquear o 2a. redueto. O seu Coinmaiidante, Bugeaiid,
executou o movimento com igual arlc c vigor. A brigada
Melsop atacou ao mesmo tempo com irresistível fúria, e
Miscellanea. 593
ficamos em toda a parte senhores do campo de batalha.
Em um instante ficou cuberto de mortos e feridos: os
Hespanhoes c Calabrczes fugiram em desordem para os
matos c montanhas.
Loo-o que as tropas se tornaram a formar, eu mandei ao
General Dclort, commandante da cavallaria, que avan-
çasse para seguir os Inglezes; que se retiraram precipita-
damente pela estrada real. Eu esperava alcançar a sua
artilheria, que tinha podido obter pôr-se em retirada.
O regimento 4 o . de hussares derrotou os hussares de Bruns-
wick; e, naõ obstante algumas descargas de infanteria,
obteve tomar quatro peças da artilheria Ingleza, que me
trouxeram com os seus cavallos, c dous caixoens; to-
maram também muita bagagem , e 500 prisioneiros, para
se ajunctarem aos 1.200 mortos ou feridos. O regimento
27 Inglez, de linha, ficou quasi todo destruído : o seu
Coronel o General Frederico Adam, Ajudante de Campo
do Principe Regente, ficou ferido: grande numero de
officiaes pereceo nesta acçaõ : a nossa perda foi compara-
tivamente muito pequena.
Parte da guarniçaõ de Barcelona, commandada pelo
General Conde Maurício Mathieu, e uma divisão do ex-
ercito de Catalunha, com 4 batalhoens Italianos, tinha
marchado, durante a noite, debaixo das ordens do Ge-
neral em Chefe Decaen, para passar o Lobregat, e o
Noya. Antes de chegar a Martorell, teve o General
Mathieu de combater e desalojar tres batalhoens de Erol-
les, em posiçoens mui clifficultosas. Pela noite tomou
alguns prisioneiros, e partio outra vez para S. Estevan, c
S. Saturni. De manhaã, vio o corpo de Manso, e alguns
Calabrezes em ordem de batalha ; ordenou que fossem
atacados pelo General Ordonneau, com alguma cavallaria,
e somente a sua guarda avançada, do regimento 18 li-
geiro, debaixo das ordens do Chefe de Batalhão Pellegrin,
derrotou os dous primeiros batalhoens. O inimigio foi
594 Miscellanea.
disperso, deixando 30 prisioneiros, c 50 mortos ou fe-
ridos. O General em Chefe Decaen seguio o General
Malthieu com toda a pressa possivel; mas em conse-
qüência de infinitas difficuldades, depois de uma mui
longa marcha, por caminhos quasi impracticaveis á ca-
vallaria, e alé mesmo á infanteria, que só podia avançar
um por um, cm distancia, amanheceo o dia antes que pu-
dessem tomar a posição de S. Saturai.
O ataque do Coronel d'Ordal, que se naõ concluio
senaõ ás duas horas da manhaã, por uma marcha vagarosa
do exercito d'Aragaõ, favoreceu os meus desígnios pelo
resto do dia. A infanteria seguio, no romper do dia, o
General Dclort, que marchou na vanguarda com a caval-
laria, e o batalhão do Commandante Bugeaud. Eu or-
denei-lhe que fizesse halto a uma légua de distancia deste
lado de Villa Franca, por dclraz das alturas, d'ondc se
descubrio todo o exercito inimigo em ordem de batalha,
em tres linhas. Uma grande baixa, a estrada, e uma
ponte intersectada cubríam a frente; a sua esquerdu se
aproximou á aldea de S. Cugat, no que os nossos atira-
dores o anticipáram. Eu tive por um momento a es-
perança de que este exercilo desdobrado daria tempo a
completarem-se os nossos movimentos : porém Lord
Bentinck, sabendo sem duvida que havia perigo na sua
posição, somente desejou fazer uma apparencia por um
momento. Elle levantou campo c passou pelas linhas.
Começou immediatamente a retirada, em boa ordem, pari
Villa Franca. Eu mandei avançar a artilheria e caval-
laria ; a qual brevemenie causou alguma desordem nas
columnas do inimigo.
Em quanto passávamos a baixa, e a minha infanteria
desembocava para seguir a marcha sem demora, o inimigo
deixou Villa Franca, c se tornou a formar na retaguarda.
Com uma honrada confiança, que se naõ enganou, todos
os habitantes ficaram cm suas casas, c viram respeitadas
Miscellanea. 595
ai suas pessoas, e a sua propriedade, no meio de uma das
mais vivas acçoens. A cavallaria começou a alcançar a
retaguarda, quando esta deixava a Villa: o Coronel
Christophe, á frente dos hussares, e de um esquadrão de
couraceiros, apertou vivamente a artilheria que tinha des-
ordenado : um fogo de infanteria, que se achava de em-
buscada, e os hussares de Brunswick, cubriram o movi-
mento do inimigo: e se íizéram ataques de ambas as
partes com muito vigor. A brigada do regimento 24 d«
dragoens, ea cavallaria ligeira Westphaliana, manobraram
ao mesmo tempo na direita : o General Meyer, que a
conduzio, encontrou o regimento de cavallaria Ingleza
N". 2o, e alguns hussares de preto; atacou-os com dous
esquadroens, o primeiro á frente das tropas achou op-
posiçaõ no Coronel Bentinck, commandante da cavallaria
inimiga, deram-se mutuamente alguns golpes de espada.
Em quanto assim estávamos mixturados, um batalhão,
oceulto em uns matos c vinhas, abrio repentinamente o
mais vivo logo; o resto do regimento 24 de dragoens
marchou adiante, seguido pelo batalhão, commandado
por M. Bugeaud, que em todo o dia formou a guarda
avançada do exercito. O inimigo, a favor deste ultimo
esforço, passou uma segunda baixa, e queimou a ponte
na estrada, deixando mais de 190 cavallos, que fôram
tomados, e ainda maior numero de mortos, feridos, e pri-
sioneiros. Os hussares de preto, ou do Duque de Bruns-
wick, soffrâram particularmente nestas ultimas acçoens ;
desde este momento nos chegaram prisioneiros em con-
siderável numero. O exercito Inglez oecupou por um
momento a posição de Arbes, e de La Vendreil, d*onde,
pela noite, alcançou a estrada de Allafulla que he um
continuo desfiladeiro na costa do mar. Parece que se vai
postar para Cambrils e Hospitalet; os doentes foram re-
tirados de Tarragona, e toda a frota se apresentou para
cubrir a sua retirada. Nós nos adiantamos para a parte
596 Miscellanea.
de Vendreil, aonde postei o Gcueral Meyer com a guarda
avançada. Tendo-se retirado parte dos Hespanhoes, pela
estrada de Igualada, a cavallaria ligeira os atacou com o
seu valor ordinário, e nos trouxe alguns homens c cavallos,
pertencentes aos dragoens de La Mancha, tropas perfeita,
mente bem montadas, c bem parecidas.
O General Bentinck, aos 15, me escreveo pedindo-me
permissão para fazer as ultimas honras ao capitão de dra-
goens IIanson, homem de grande distineçaõ por seu va-
lor ; eu me dei pressa a permittir, que assistisse um official
Inglez.
O inimigo perdeo mais de 3.500 homens, naÕ somente
em mortos e feridos, mas também em prisioneiros e de-
sertores, sem incluir a perda de sua bagagem e artilheria.
As tropas que entraram em combate merecem os maiores
elogios: a artilheria servio com a maior distineçaõ, c
cada arma mostrou um ardor illimitado, e grande devoção.
Rogo a V. Exv que receba a lista dos differentes soldados
que mereceram prêmios, e que a submeta a S. M. Sou, &c.
(Assignado) O Marechal Duque D'ALBUFERA.
P. S. Todas as noticias que recebi das fortalezas de
Denia, Sagunto, Peniscola, Morella, Lerida, Tortosa,
e Mequinenza, saõ mui satisfactorias; as suas guarniçoens
estaõ em mui bom estado ; ellas tem derrotado o inimigo,
em toda a parte em que elle tem feito movimentos juncto a
ellas.
O General Baraõ Robert, que commanda em Tortosa,
queimou todos os botes, que o inimigo tinha ajunetado no
Ebro Inferior, c ganhou brilhantes vantagens.
Miscellanea. 597
Extracto de uma Carta a S. Ex*. o Ministro da Guerra, tstripta ptlo General
Conde Decaen, commandante do Exercilo da Catalunha, datada de Gerona,
1 de Outubro, 1813.
MONSEIGNEUR!—Tinha eu ordenado ao General de Divisão Lamarque,
que marchasse para Olot, com a brigada Petit, composta dos regimentos
67, e 113; e um esquadrão do 2 9 ; a fim de observar os movimentos dos
Hespanhoes, que se dizia terem alguns desígnios contra La Ccrdagne, nas
Fronteiras de França.
O General Petit manobrou, em conformidade das instrucçoens que tinha
recebido. Aos 28 de Septembro estava em Cainpredon ; aos 29 voltou
para Olot • no I o . e 2 o . dia de Outubro marchou para o pé de Grau, na
direcçaõ de St. Privat, e aproveitou-se da presença de suas tropas para
exigir o pagamento das contribuiçoens; e ajunctar algumas requisiçoens
para a subsistência de sua brigada.
Os Hespanhoes inrommodados com estes movimentos, se aproximaram
a Olot aos 2 ; e tomaram uma posição, em numero de 3 à 4 mil homens,
nas alturas de St. Privat.
O General Petit os reconheceo aos 3 ; resolveo atacallos aos 4 e expul-
sftllos daquellas vizinhanças, o qiíe se executou com vigor e discernimento.
O General Petit partio de Olot ao romper do d i a ; chegou pelas 7 horas
da manhaS á presença do inimigo, e achando-o mais forte do que na noite
precedente; os regimentos de Burgos, Tarragona, Ausonia, &c. coroaram
com duas linhas de infanteria as montanhas na direita, e esquerda de St.
Privat; um esquadrão dos hussares de S. Narcisse estava ein ordem de
batalha no vale, protegido pela infanteria.
A brigada Franceza fez halto, para se formar, e descançar algum tanto ;
0 inimigo tomou isto como c(leito da irresoluçaõ ; desceo com grande gri-
taria, e atacou vivamente algumas companhias de volligeurs, que se for-
maram na vanguarda. O General Petit mandou iminediatarrrente tocar ao
ataque; os seus quatro batalhoens instantaneamente marcharam na direc-
çaõ que se lhe tinha prescripto ; o inimigo admirado deste ataque se reti-
rou de posição em posição, todas fôram tomadas, e cubertas com os seus
mortos.
As difficuldades do terreno, que demoravam a nossa marcha, permitli-
ram que os Hespanhoes freqüentemente se tornassem a formar; o togo foi
mui vivo desde as 8 horas até o meio dia; e durou até as 4 horas da tarde.
Por fim tudo foi obrigado a ceder, ante a infatigavel coragem de nossas
tropas, que perseguiram o inimigo por varias léguas do campo de batalha,
e o dispersaram completamente. Nós tomamos someníe alguns prisio-
neiros ; mas elle perdeo muita gente na retirada, pelo fogo de nossa ino5-
quetena, e grande numero se lançou pelos precipícios abaixo em sua
fugida.
Fsta acçaõ nos custou 2 officiaes, e 7 sub-ofliciaes e soldados mortos, e
VOL. XI. No. 65. 4 H
598 Miscellanea.
1 officiaes, e 61 soldados feridos. Tenho a honra de remetter com esta a
V. Ex*. uma lista da perca de cada regimento em particular.
As boas disposiçoens c comportamento do General Petit, saõ dignos de
elogio. Elle foi excellentemente apoiado, pela devoção dou regimentos
113 e 67, de caçadores montados; e um batalhão do regimento II dr
linha. Algumas companhias deste batalhão postas em reserva no monte
Olivet, debaixo das ordens do Tenente-coronel Jaeques, fizeram um mo-
vimento, com arte e denodo, que foi mui útil ao ataque geral.
( Assignado) Conde DccAor.
PARIS, 21 DE Otmmno.—As noticias do quartel-general do exercilo de
Itália, saõ as seguintes :—
O inimigo tem obrado mui fracamente contra os movimentos de nossas
tropas, na grande estrada de Laybach. As suas forças principaes mar-
cham por desvios, com a intenção de trabalhar por achar uma opportuoi-
dade de cahir sobre o nosso flanco. O inimigo tem sido reforçado surda-
mente pela parte de Finme.
Trieste foi outravez ameaçado por uma columna de tropas que desem-
bocaram de Martora, e alguns bandos tem chegado de Istria, que parece
augmentarem-se; e em fim pelos corsários Britannicos, que apparecêram
em frente daquelle porto.
No 1°. de Outubro, o inimiga avançou em força, para reconhecer uma
partida de nossas tropas, que oecupáram Adelsberg, mas foi vivamente
repulsado. Aos 2 de Outubro, o Prinripe Vice-Rey marchou para as
alturas de Prevalt, e o General Palombini para Passawiczn. A divisão
de reserva estava em Brixem aos 28 de Septembro. O General Giffienque
annuncia, aos 29, que no dia antecedente, o General Maszuchelli tinha
tomado ao inimigo o posto de San Sigisuiondo, defendido por 801! homem.
O inimigo se retirou precipitadamente pnra Wilbache.

Noticias de Paris.
4 de Outubro.
O senado se ajunctou hoje 4 de Outubro pelo meio dia,
ob a presidência de S. A. Sereníssima o Principe Archi-
chanceller do Império, que foi recebido segundo a forma
usual.
S. A. Sereníssima, tendo tomado o seu lugar, abrio a
sessaõ, e disse :—
" SEWHORES !—Trago ao Senado, por ordem de S. M.
o Imperador c Rey, os documentos relativos í guerra com
Áustria e Suécia.
«« Esta communicaçaõ, determinada pelas leys, do
Miscellanea. 599
Estado somente tem sido demorada por accidenles impre-
vitos.
" Explicaçoens sobre taõ grandes interesses naÕ accre-
sccntariam cousa alguma á convicção, que vós deveis ter
pelo conhecimento de factos, que somente tle per si in-
formam, e naõ podem ser suppridos pelo raciocínio.
" Ha, porém, Senhores, uma circumstancia em que me
demorarei, e que naÕ escapará a vossa sabedoria, nem a
attençaõ da Europa. A continuação da guerra he con-
traria aos desejos de S. M. Elle tem feito tudo para im-
pedir que recomeçassem as hostilidades ; e vereis que,
ainda quando se perderam as esperanças de accommo-
daçaõ, o Imperador manifestou o desejo de que se tor-
nasse a ajunctar um Congresso, e trabalhou seriamente em
reconciliar os interesses dos differentes belligereutes."
Tendo S. A. R. acabado de fallar, um dos Secretários
leo os seguintes documentos officiaes. Depois desta com-
municaçaõ, o Senado, a proposição de S. Ex*. o Conde
Laccpcde, presidente annual, deliberou sobre apresentar
a S. M. o Imperador e Rey, um Memorial de Agradeci-
mentos, e encarregou ao official conrespondente, que o
preparasse.
7 de Outubro.
Hoje, quinta-feira, á uma hora, S. M. a Imperatriz
Raynha e Regente sahio do Píilacio das Thuillerias, e foi
ter ao Senado, com o séquito, ordem, e procissão, que se
publicou nos jornaes.
Os Gram-Officiaes do Senado, e 24 Senadores, rece-
beram a S. M. na porta exterior do seu Palácio. A Im-
peratriz Raynha e Regente tendo descançado no quarto,
que estava preparado para a receber, foi ter ao salaõ das
sessoens.—(Seguia-se aqui os nomes e ordem da procissão
dos Creados, Officiaes de Estado, &c.) Quando S. M.
chegou, todos os Senadores se descubriram, c puzérain de
pé.
4 H 2
600 Miscellanea.
S. M. subio ao throno colocado á esquerda do Impera-
dor, e os Ministros e Gram-officiaes se sentaram em ca-
deiras á direita e esquerda. S. M. entaõ fez a seguinte
falia :—
» S E N A D O R E S ! As principaes Potências da Europa
indignadas pelas pretençoens da Inglaterra, uniram, no
anno passado, os seus exércitos aos nossos, para obter a
paz do mundo, e o restabelicimento de todas as naçoens.
Com as primeiras casualidades da guerra se despertaram
as paixoens dormentes. A Inglaterra, e a Russia con-
duziram a Prússia e Áustria a unir-se a sua cansa. Os
nossos inimigos desejaram destruir os nossos alliados, e
castigallos por sua fidelidade. Desejaram levar a guerra
ao seio de nosso bello paiz, vingar os triumphos, que le-
varam nossas victoriosas águias ao centro de seus Estados.
E u sei melhor que ninguém o que o nosso povo teria de
temer, -se jamais soífrcsse ser conquistado. Antes que eu
subisse ao throno, a que fui chamada pela escolha de meu
augusto esposo, e pela vontade de meu pay, tinha a me-
lhor opinião da coragem e energia deste grande povo.
Esta opinião tem crescido (odos os dias, por tudo quanto
tenho visto debaixo de meus olhos. Informada, por estes
quatro annos passados, dos mais Íntimos pensamentos de
roeu esposo, sei que sentimentos o agitariam sentado
em um throno envilecido, e debaixode uma coroa sem
gloria."
«< Francezes, o vosso Imperador, o vosso paiz, e a
vossa honra vos chamam."
O Principe Archichanceller tendo recebido as ordens de
S M. permittio que falasse o Ministro de Guerra, o qual
subio á tribuna, e leo um relatório dirigido ao Impe-
rador.
O Principe Archichanceller, tendo outra vez recebido
as ordens da Imperatriz, permittio qne, em nome de S.
Miscellanea. 601
M. fallasse o Conde Reynaud, um dos dous Oradores do
Conselho de Estado, que apresentou ao Senado um pro-
jecto de Senatus Consultum, depois de ter explicado os
seus motivos.
O projecto do Senatus Consultum tem por objecto uma
leva de 280.000 homens, 120.000 dos quaes seraõ das
classes de 1814, e annos precedentes ; e nos departamentos,
que naÕ tem contribuído para a ultima leva de 30.000 ho-
mens ; e 100.000 da conscripçaõ do 1815.
O Conde de Lacepede se levantou e disse :—
SENHORA !—Antes que proponha ao Senado medidas
relativas ao projecto do Senatus Consultum, que acaba de
ser apresentado, tenho a honra de pedir a V M. Imperial
e Real que me permitia offerecer lhe, em nome de meus
collegas, a repcitosa homenagem de todos os sentimentos
de que estamos penetrados vendo qne V- M . preside no
Senado, e ouvindo as memoráveis palavras, que pronun-
ciastes do throno. Com que gratidão, com que religioso
cuidado, conservaremos nós para sempre a sua memó-
ria !
" Senadores 1—Tenho a honra de propor-vos, que se
remetta o projecto a uma Commissaõ." ___
Em conformidade das ordens da Imperatriz Raynha e
Regente, o Principe Archichanceller propoz a votos, a
proposição do Conde Lacepede, que foi adoptada. Pro-
cedeo-se ao escrutínio para a nomeação da commissaõ. A
commissaõ será composta do Conde Lacepede, Duque de
Dantzic, Conde de Ia Apparent, Conde Dejean, Conde
CÕlchen. Fará o seu relatório sabbado que vem.
S. M. adiou a sessaõ, e voltou para as Thuillerias com
o seu séquito. A partida da Imperatriz do palácio das
Thuillerias, a sua chegada ao palácio do Senado, e a sua
volta para as Thuillerias, fôram annunciados por salvas
d'artilheria. S. M. foi accompanhada em seu progresso
de grilos " Viva a Imperatriz !" " Viva o Imperador !"
602 Miscellanea.
9 de Outubro.
Hoje, sabbado, se ajunctou o Senado Conservador, sob
a Presidência do Principe Archichanceller do Império,
entaõ o Senador, Conde Dcjean, cm nome da commissaõ
especial nomeada na sessaõ «le 7 deste mez, fez o relatório
sobre o projecto de Senatus Consultum, apresentado na-
quelle dia, relativo á leva de 280.000 homens ; c o Se-
natus Consultum foi approvado pelo Senado.
Ilnje, quinta feira, 14 de Outubro, se ajunctou, o Senado Conservativo
às duas horas, sob a Presidência do Archi-chanceller.
O Senador Conde Segui-, em nome de um Committé especial, nomeado
na sessaõ de 12 do correnle, fez um relatório de um projecto de Senatus
Consultum, apresentado hoje, relativo á ilha de Guadaloupe. O Senatus
Consultum foi adoptado pelo Senado,e se expedio o seguinte;—
DECRETO.

A R T . I. Naõ se concluirá tractado algum de paz entre o Imperador dos


Francezes, e a Suécia, sem que a Suécia tenha previamente renunciado á
posse da ilha Franceza de Guadaloupe.
2. He prohibido a todo o Francez, na ilha de Guadaloupe, sob pena dr
deshonva, o prestar juramento qualquer ao Governo de Succin—aceitar
delle algum emprego—dar-lhe qualquer auxilio.
3. O presente Senatus Consultum será trnnsinittido por uma mensagem
a S. "U. o Imperador e Rey.
Pelo Imperador, cm virtude dos poderes qne nos foram confiado*.
(Aunignaila) M A R U 1.1)1/A.
Pela Imperatriz Regente, CAHBACI-.I~.ES, Duque de ('adore.

HESPANHA.

Carta de Lord Wellington a D. JoaÕ GDoneju, Minish u


da Hespanha, datada do Quartel-ganerai Duarte, 2 «A
Julho, li 13.
EXCELLENTISSÍMO SENHOR !—Tive a honra de receber
a carta de V- Ex'. datada »le 15 do passado; informando-
me de que a Regência tinha julgado conveniente remover
o Capilaõ-general Canta tios do commando do Y. exercilo,
a fim de que elle possa occupar o lugar de Conselheiro «le
l-jstado; poiquc elle se uai» adiava á írc;ite do 4' exer-
Miscellanea. 603
cito, que a Regência lhe tinha confiado; que o General
Freire fora nomeado Capitaõ-general da Estrema-
dura e Castella; e devia commandar o 4 o . exercito
que o General Lacy fôra nomeado Capitaõ-general da
Galliza, e para o commando das tropas daquella pro-
vincia, independentemente do general do 4 o . exercito ;
e que o General Giron devia transferir os seus serviços
para o 1". exercito..
Como a Constituição da Monarchia Hespanhola tem de-
clarado aos Ministros responsáveis pelos actos, que saõ me-
didas do Governo, confio, que me posso aventurar a dirigir
algumas observaçoens a V Ex 1 . sobre este objecto, que
vos rogo hajais de submetter á Regência.
A justiça, que he devida ao character do General
Castanos, omcial este, que tem servido a sua Pátria em in-
tima uniaõ comigo, durante os tres annos passados, sem
que tenha havido uma só differença de opinião entre nôs
em cousa nenhuma de importância; me obriga a lembrar
a V. Ex*., que a situação local do 4°. exercito; antes da
abertura da campanha, impedio que elle se formasse em
um corpo, á frente do qual se pudesse com dignidade co-
locar o capitaê-general, considerando a dignidade e gra-
duação de seu ofricio ; e ainda mesmo, quando tivesse sido
practicavel, pela localidade, a uniaõ do 4''. exercito, o de-
plorável estado do Thesouro Real, e dos recursos applica-
veis á sua subsistência, teria impedido que aquelle corpo
tivesse continuado unido, por alguma extensão de tempo.
V. Ex* sabe muito bem, que, quando falta o dinheiro
para a manutenção de tropas, he possivel que em um dis-
tricto particular do paiz se achem mantimentos para a sub-
sistência de um pequeno numero, sem paga alguma; mas
que isso he impracticavel a respeito de grandes corpos de
tropas; e por esta razaõ, e outras relativas ao estado de
disciplina e organização peculiar de alguns corpos, eu naõ
julgei conveniente que se ajunetassem mais tropas ao 4".
COt Miscellanea.
exercito, do que as duas divisoens que compunham o ex-
ercito de Galliza, debaixo do commando do General
Giron.
Seria indecente e impróprio, considerando a graduação
e situação do General Castanos, além de ser inconveniente;
colocallo á frente destas duas divisoens, ou de outra qual-
quer porçaõ do 4". exercito ; e por esta razaõ, e a requiri-
mento meu, elle fixou o seu quartel general com o meu,
c com o do exercito Portuguez.
V- Ex". naõ somente deixou de attender a estas circum-
stancias, na medida que recommendou ao Governo, a res-
peito do General Castanos, mas passou sem attençaõ outras
consideraçoens.
O General Castanos, alem de commandar o 4". exercito,
éra Capitão general da Estremadura, Castella, a Galliza;
e naquelle character tinha de preencher deveres da maior
impoitancia ao interesse publico; e particularmente á
conservação «Io exercito.
Um dotes deveres éra restabelecer as authoridades
Hespanholas nos differentes districtos, e cidades, que o ini-
migo ia suecessivamente evacuando ; e considerando a
natureza das operaçoens do exercito, e a linha particular
de marcha, que elle seguia, ser-lhc-ia impossível desem-
penhar aquella obrigação, se elle estivesse literalmente á
frente do 4°. exercito ou no quartel-general, que, desde
o periodo de 24 de Mayo, mudava todos os dias de situa-
ção, sem entrar nunca na grande estrada, ou em alguma
cidatle capital, excepto Salamanca, aonde o General Cas-
tanos o deixou.
Fui eu mesmo, e naõ o General Castanos, quem suggciro
a idea «le que S. Ex". fosse empregado desta maneira ; e me
he necessário dizer, que, considerando o modo porque
o General Giron tem commandado no campo as divisoens
do exercito de Galliza, teríamos negligenciado o bem do
Estado, se naõ tivesse tocado ao General Castaüos atpiella
Miscellanea. 605
mesma linha tle procedimento, que elle tem seguido, e pe-
lo qual elle se acha agora perseguido e defamado.
Quanto aos arranjamentos, que V. E x \ faz, para o fim de
encher os differentes officios, que exercitava o General
Castanos a requirimento meu, e em que elle se tem condu-
zido com plena satisfacçaõ minha, segundo o que tenho
communicado ao Governo. Creio que, além dos incon-
venientes e males que resultam ao serviço desta sorte de
mudanças, especialmente durante operaçoens militares;
naõ se pôde negar, que elles saõ em directa violação do
contracto feito com a Regência passada, e confirmado pela
presente ; arranjamento que, como V Ex». sabe, foi o que
me induzio a tomar o commando do exercito Hespanhol.
V. Ex*. sabe também, que naõ he este o primeiro ex-
emplo, em que tem sido violado aquelle contracto, formado
com tanta solemnidade, e depois de taõ madura delibera-
ção ; e ninguém pôde conhecer melhor do que vós mesmo,
os inconvenientes que daqui resultam ao bem do serviço.
V. Ex", sabe igualmente bem a minha disposição natural,
e os meus desejos de continuar a servir a Naçaõ Hespa-
nhola, até onde se extende a minha habilidade; mas a pa-
ciência e submissão a injurias taõ grandes, tem seus limi-
tes; e confesso que tenho sido tractado pelo Governo Hes-
panhol, nestas matérias, da maneira mais imprópria, ainda
como simples individuo.
Naõ pertence ao meu character, nem tenho inclinação
de fazer alarde de meus serviços ; mas ao menos posso de-
clarar publicamente, «jue nunca abusei dos poderes, que
as Cortes, e o Governo me confiaram, nem ainda nos ne-
gócios mais triviaes ; nem queja mais os empregasse para
outros fins mais do que para promover o bem do serriço.
Em confirmação desta verdade, appello para V. E. mesmo,
como testemunha; e creio que se admittirá, que as cir-
cumstancias, que fizeram necessária a formação do con-
tracto acima mencionado, requerem igualmente o seu pre-
VOL. X I . No. 64. 4 i
606 Miscellanea.
enchimento, se se deseja que eu contiuue no commando do
exercito.
Deus guarde a V E. muitos annos,
(Assignado) W E L L I N G T O N , Duque de Ciudad Rodrigo.
Quartel-general de Huarte, 2 de Julho, 1813.

Noticias Officiaes dos Exércitos Alliados na Alemanha.


5*. RELATÓRIO DO EXERCITO.
H E R N H I T , 10 DF SEPTEMBRO.—No 1°. de Septembro, a guarda avan-
çada do exercito de Silezia passou o Queis; e, aos 2, o Neiss. O exercito
seguio a marcha. Aos 8 estava o inimigo na ribeira de Lobau, e se reti-
rou aos 4 para Bautzen. O inimigo tinha ja evacuado Huchkirk, quando
as suas columnas fizeram halto, e em seu turno atacaram a guarda avan-
çada. Nós soubemos que vinham marchando tropas por Bautzen; e os
prisioneiros disseram que Napoleaõ vinha com grandes reforços. Appa-
recêo muita cavallaria, e pela tarde do dia 4, se confirmou que o Impera-
dor linha chegado ao meio dia com as suas guardas. O General-em-Chefe
retirou a sua guarda avançada, sob o General Wasilkofl', por detrás do
ribeiro de Lobau; concentrou-se o exercito em uma dirccçaS retrograda,
no Landskron (uma cnrdilheria de montanhas) esperando ver se o inimigo
retrogradava o seu exercito vencido, ou oflcrecia batalha.
Aos 5 o inimigo desdobrou uma força considerável na avançada de
Reichenbach, que começou um vivo ataque, contra um corpo do cier-
cito. O Gcncral-em-Chefe achou que nad era conveniente dar batalha ao
inimigo, elle portanto se retirou com o exercito para o Queis* e Neisse,
deixando um corpo na margem esquerda do Neissc para vigiar o inimigo,
se elle se achasse inclinado a avançar mais para a Silezia. Quanto mais
elle se removesse de Dresden, mais effectivas seriam as operaçoens do
grande exercito de Bohemia.
Ein vaõ esperava o exercito de Silezia, aos 6, e 7 de Septembro, que o
inimigo cruzasse o Neisse: elle conhecia a sua perigosa situação, e o Im-
perador, aos 7, estava ja de volta em Dresden, com os seus reforços, qu«
tinha adiantado para o Neisse.
O partidário Russiano Principe Madelofl*, os Coronéis Rachutnoff e
Figner, os Majores Prussianos Felckenhausen, e Boltenstern, obram nit
retaguarda do inimigo, e lhe fazem muito damno. Aos 2 de Septembro, o
primeiro tomou, em "iVur-chen, um batalhai} do inimigo, consistindo em
um coronel, 5 capitaeii". IS tenentes, dous ajudantes, e 077 homens. Aos
4, tomou lambem em BisrhoflsweHa um destacamento de 500 homens, que
guardavam um grande comboy de muniçoens, e fez voar 100 carros de mu-
uiçoens.
Ao; H o exercito de Silezia se poz em marcha. O General Conde St.
Miscellanea. 607
Priest evacuou o Neissa em Ostriz. O corpo do Conde Langeron seguio
aos 9. Conforme as disposiçoens feitas, o Tenente-general St. Priest devia
atacar vigorosamente Korbau, e ser apoiado pelo Conde Langeron, em
quanto o corpo de Y o r k tomava o corpo do inimigo, em Gorlitz, pelo
flanco e retaguarda, no Landskron, e o cortava de Reichenbach.
O General St. Priest cahio sobre o corpo de exercito Polaco, que estava
concentrado em Lobau, e expulsou o inimigo de Mittel-Hartwigsdorf,
Ebersdorf, e Lobau. Porém o ataque do corpo em Goerlitz, naõ se pôde
por em execução ; porque o inimigo conhecendo o seu perigo se retirou
taõ rapidamente, que os Cossacos do General Sachen apenas os puderam
alcançar.
O Ajudante do Principe Poniatowski foi tomado prisioneiro com uma
participação em seu poder, da acçaõ em Lobau, dirigida ao Principe de
Neufcbatel. Dali parece que o inimigo naquella occasiaõ perdeo 23
officiaes e 500 homens.
Aos 10 de Septembro se retirou o inimigo para Bautzen. A nossa
guarda avançada entrou em Hochkirk, e os Cossacos se acham nos orredores
de Bantzen.

Participaçoens Militares Austríacas.


Quartel-general de Toeplitz, 29 de Septembro, 1813.
Recebemos a seguinte noticia do exercito que obra nas fronteiras
de Itália. A respeito da expedição de Istria, o Tencnte-feld-inarechal
Radivojevich tem recebido participaçoens de que o Tenente-general Nu-
gent obteve tomar posse dos pontos fortes de Pola, Capo d'Istria, e Monte
Maggiore; aonde, entre outras cousas, achou uma quantidade considerá-
vel de artilheria, e muniçoens, a saber, 46 peças de 3 0 ; 4 de 12-, e 249
barris de pólvora, e grande quantidade de muniçoens por manufacturar.
O General Nugent estava ao ponto de começar as suas operaçoens, de
Pisina na Istria, na retaguarda do inimigo ; para o que o tinham zelosa-
mente sustentado os Inglezes; por quanto naõ somente lhe tinham dado
os seus artilheiros para trabalhar com as peças, mas também tinham distri-
buído armas, e muniçoens, para completar o armamento do Landsturm da
Istiria.
O Major Gavendo, que está postado com o seu destacamento em
Lippa, conserva dali as suas communicaçoens com o General Nugent.
Aos 16 de Septembro o General Colseis foi atacado por uma columna
do inimigo, consistindo em dous batalhoens de infanteria, c do regimento
delia Regina, que tinham avançado com duas peças de artilheria, e dous
obuzes de Krainburg. Depois de uma renhida acçaõ de 4 horas, foi o
inimigo obrigado á retirar-se. O regimento hussar de Radetzby se dis-
tinguio mui particularmente.
Naõ obstante haver o General Rebrovich derrotado, e disperso o in!-
4i2
608 Miscellanea.
migo, aos 16, com tudo este ultimo depois de ter recebido reforços r o l l »|
deraveis de Krainburg c Loibel, tentou no dia seguinte renovar um atuou**
na posição daquelle general, em S. Marcim, u qual, porem, em eonsr
quencia do valor das tropas, foi repellido em «odus os pontos.

6". Participaçai do Exercito de Silezia, commaudado pelo General Blucher


Bautzen, 25 de Septembro, 1813.
Aos 10 de Septembro, j a o exercito de Silezia se tinha unido no corpo
Austriaco do Conde Bubna. Aos 11, os generaes S. Priest, e Rapsrwirh
cruzaram o Spree, em Schieuirwaldc e Postewilz : o General Conde
Bubna avançou para Neustadt. Aos 12 antes de amanhecer, o inimigo eva-
cuou a sua posição em Bautzen e Neustadt, e se retirou para traz dr
Bischofswerda e Stolpen. Aqui estava a um dia de marcha de Dresden,
e em immediata communicaçaõ com a sua ala direita, para Pirna.
Aos 14, o General St. Priest avançou. A sua cavallaria entrou em
Drebnitz, aonde se aprisionaram um chefe de batalhão, e vários ceutoi de
homens.
O inimigo foi cada vez mais e mais apertado na sua posição de Dresden,
aonde, segundo as informaçoens dos prisioneiros e desertores, que vem
para nós em tropas, a falta de forragem c mantimentos se faz cada dia
mais sensível.
Aos 22, o Marechal Macdonal levantou campo dr sua posiçaÕ em Schr-
nifeld, para Bischofswerda. A guarda avançada, romiiiandadu pelo
general Russiano Rudzcwitz, e pelo coronel Prussiano Ratzlcr, o obriga-
ram a pelejar a cada palmo que marchava; porém a sua força superior o
habilitou a occupar Bischofswerda pela noite, depois de ter toQrido con-
siderável perda pelos ataques de infanteria. A nossa guarda avançada
teve 12 officiaes, e 300 homens mortos ou feridos. Aos 23, o inimigo con-
tinuou o seu ataque. A guarda avançada lhe cedro o mato de Bischof-
werda; mas logo que elle desembocou do m..to, voltaram os nosso» de
roda, e a cavallaria Russiana sob o general Ru-siam» Witt e Emanuel,
c o m a cavallaria Prussiana sob o Coronel Kalzler repulsaram o inimigo
para o mato. 10 officiaes, e mais de 300 homens das guardas Wentphalin-
nas ficaram em nossas maõs • o campo de batalha ficou cuberto de mor-
tos e feridos.
O inimigo porém, que éra mui superior em forças, marchou a diante
para Godau. Aqui o terreno se abre, e se iicabn o mato denso, e para a
parte de Bautzen, ha planicies, aonde podem manobrar cmn rflrilo
grandes massas de cavallaria. O General em Chefe postou o corpo de
Von Sachen, em uma posição occulta, para cahir sobre o inimigo n»
flanco, e retaguarda, aos 84, quando elle atacasse o enenito. Como o
inimigo permaneceo tranquillo até o meio dia, cm frente i!a nossa guarda
avançada, o General em Chefe ordenou ao BaraÕ Sachen, que diferisse o
seu ataque: as suas columnas desembocaram pela ala esquerda do ini-
Miscellanea. 609
migo ; c a noite impedio que se effectuasse movimento algum na sua reta-
guarda. Portanto o ataque decisivo, foi fixado para o romper do dia 2 5 :
o inimigo porém naõ esperou por elle, e se retirou de noite para Bis-
chofswerda.
Assim falhou totalmente este terceiro movimento offensivo contra o
exercito de Silezia, com perda de 2.U0O homens.
O paiz tem soffrido evcessivainente com estas marchas do exercito
Francez. O exercito combinado achou o» habitante»» de Iodos os lugares
do caminho, por onde passou, deede Goerlitz até Schrniedefeldt, lançados
fora de suas casas, pela barbaridade de seus alliados; e tinham fugido
para o interior dos matos.

LONDRES.—SECRETARIA DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS, 22 D*OUTUBRO.

O seguinte saí Copias dos Officios do Tenente-general Sir Carlos Stewart; e


Eduardo Thortilon, Escudeiro.
Tor.plitz, 1 d' Outubro, 1813.
Mr LORD !—A acçaõ, que mencionei no meu ollicio de 29 do passado,
juncto a Altenberg, se achou ser de maior importância do que ao princi-
pio se imaginou ; e o Hetman Platow, com a sua habilidade e galhardia
cnstumada, executou um brilhante feito contra um considerável corpo do
inimigo,
Este corpo estava debaixo das ordens do General Lefebvre, Desnouetes,
c consistia de alguma cavallaria ligeira Franceza, os huhlanns Polacos das
guardas, e uma brigada de dragoens ligeiros, debaixo das ordens do Gene-
ral Pirot. Os Generaes Keisciski e Krutecks estavam também era com-
mando.
A força consistia em g.000 cavallos, e 700 infantes, um esquadrão de Ma-
melucos, e uma pequena partida de Tartaros das guardas, debaixo das
ordens do Coronel Murot. Tudo isto foi atacado por Platow, e derrotado
completamente.
O General Keiseiski, dizem os prisioneiros, foi morto. Os fructos desta
victoria saõ 1.500 prisioneiros, 5 peças, e 40 officiaes (3 do estado maior.)
O exercito sahio daqui, e o seu movimento he para a esquerda. O corpo
do General Conde Wittgenstein estava hontem em Coinotau, e o do Gene-
ral Kleist juncto a Brux.
Os Austríacos estaõ marchando para Chemniiz, chegou-nos do inimigo
um rumor, que Napoleaõ, acompanhanhado por El Rey de Saxonia, e sua
familia, partio para Leipsic aos 28 do passado: dizem que se mudaria
para ali o Quartel-general.
O corpo Francez, roínniandndo pelo Marechal Angerau, marchou de
Bambcrg para Coburg, tendo deixado uma força considerável em Wuitz-
burg.
Tenho razaõ para crer, que o exercito Russiano e Prussiano excede
80.000 homens, que se ajunetam agora na linha de Clieinmitz e Freyberg:
610 Miscellanea.
a isto se deve accrescentar o corpo de Kleinau, de 10 mil homens, juncta-
mente com todos os Austríacos.
O corpo do General Benigsen, a que se viajou revista hoje, csl.i ,-„, P ,.
tado mui effectivo quanto ;is apparencias, porem naõ tenho informarão
exacta dos números a que chegam.
Acha-se na estrada de Praga, um reforço de 7.000 homens do coip.i
Prussiano do general Kleist.
Tenho a honra de ser, &c.
Jlo Visconde Castlereagh. CARLOS STEW ART, Tenente-general.

Zerbst, 4 d'Outubro, 1813.


M Y LORD !—Tenho a honra de informar a V. S., que o General Pozzo
di Borgo recebeo noticias do Quartel-general dos exércitos na Bohemia;
™ data de 24 do passado, referem ellas, que, havendo o corpo do General
Bennigsen feito a sua juneçaõ como grande exercito, os Soberanos Alliados
tomaram a resolução de fazer um movimento de Bohemia, pela sua es-
querda ; c que este movimento se executaria no I o . do presente mez.
Esta informação determinou o Principe Real a tentar a passagem dn
Elbe. Tinha-se j a completado a ponte em Roslau, em quanto se traçavam
as obras da cabeça de ponte na margem esquerda, e iam em estado de pro-
gresso. Alguns destacamentos de tropas Suecas estavam de posse de Des-
sau, e se estava fortificando a cidade de Ackcn, na margem esquerda, um
pouco mais abaixo no rio, debaixo da direcçaõ do Conde Woronzofl'; r
em tal maneira que a tornarão uma praça de considerável força; era
quanto se acceleravam os preparativos, para construir ali uma ponte.
No entanto, o inimigo, que parecia naõ ter idea da passagem do Elhe,
em Acken, mandou fortes destacamentos de tropas para occupar Dessau, e
a linha do Mulda, e se empregaram em construir obras tanto em frente da-
quella cidade, como na cabeça de ponte de Rosslau, com a intenção de im-
pedir ali a passagem, e interromper os movimentos do exercito depois da
passagem. Isto deo occasiaõ a escaramuças entre o inimigo, i* a guarda
avançada Sueca, que foi obrigada a deixar Dessau, e retirar-se para a w-
xinhança da cabeça de ponte em Rosslau, e, na verdade, na margem direita
do rio.
Nestas circumstancias recebeo o Principe Real noticia do General Blu-
cher, no I o . do corrente; informando a S. A. K. que naquelle dia fazia mn
movimento com todo o seu exercito para a sua direita, na direcçaõ de
Hertzberg ; e qne no dia seguinte elle estaria em Jes-n ; aos 3 em EWrr,
e no seguinte dia (hoje) effeciuaria a passagem do F.lhc em Kl-ter, dirigin-
do-se a Keinhere, contra o corpo Francez postado ali.
A ponte em Acken tinha-se justamente concluído, e hontem, hoje, ou
talvez amanha*, saõ os dias em que se falia como prováveis, que -e
passará o rio.
O General Blucher cruzou o rio, em F.lster, hontem, com alguma opposi-
Miscellanea. 611
ça3, e atacou a aldea entrincheirada de Wartenberg na margem opposta,
a qual tomou, depois de uma obstinada resistência, fazendo-se senhor de
16 peças d'artilheria. Entende-se que esta victoria, que foi alcançada con-
tra um corpo commandado por Bertrand naõ se obteve sem perca conside-
rável, principalmente entre as tropascommandadas pelo General D'York:
mas ainda se naõ receberam as relaçoens circutnstanciadas.
O Principe Real recebeo esta noticia hontem a noite, estando em Ros-
slau ou iramedialauiente depois de chegar aqui, e tomou a resolução de
mandar todo exercito cruzar o Elbe, em Acken e Rosslau, os Russianos no
primeiro lugar, os Prussianos e Suecos, em Rosslau alguma cousa mais
larde alias entende-se que os Francezes fariam pé firme em Dessau. Isto
porém naõ éra de esperar uma vez que se completou a passagem em Acken
pelos Russianos, particularmente na posição do exercito do General Blu-
cher. Com effeito soube-se esta manhaS que os Francezes, se tinham re-
tirado de Dessau, aonde consequentemente, me dizem, que o Principe Real
estabelecerá o seu quartel-general esta noite. S. A. R. sahio deste lugar
esta manhaS pelas 9 horas.
Hontem a noite Mr. Aldecreutz, filho doGeneral, e Ajudante-de-Campo
do Principe Real, voltou aqui do quartel-general Imperial aonde fôra
mandado depois da batalha de Donnewitz. Traz noticias do actual movi-
mento do Grande Exercito, no 1". do corrente como se tinha projectado ;
calculava-se que houtem, 3, teria avançado até Chcmnitz.
Ainda naõ recebi as relaçoens da acçaõ do General Blucher; porem o
baraõ De Wetterstedt me prometteo de demorar este mensageiro, até que
receba esta noite o officio delle para M'. de Rehauscn, c mc prometteo
(quando foi hoje para Dessau) transmittir-me ao mesmo tempo as mesmas
particularidades, se as obtivesse. Eu conservarei este oflicio aberto para
ellas.
Tenho noticias indirectas do General Czernicheff ter tomado posse, com
o seu corpo de Cossacos, de toda a cidade de Cassei, d'onde fugio Jeronimo
Bonaparte ; nada porém recebi ainda do mesmo General.
Tenho a honra de ser, &c.
E. TnoR\rov.
P. S. 10 horas da noite. Tenho a honra de incluir a V. S. uma carta
que acabo de receber do Baraõ Wetterstedt.

Quartel-general Dessau, 4 d'Outubro.


Segundo as participaçoens, que se receberam do General Blucher, elle
combateo com o 4 o . corpo Francez, commandado pelo General Bertrand,
Este searhava fortemente entrincheirado em uma aldea entre Wartenberg
* Bledin. O Corpo do General d'York desalojou, e derrotou o inimigo,
tomandollie mais de 1.000 prisioneiros; 16 peças d'artilh<*ria, c 70 carros
manchegos, com o seu trem. Um corpo de 2.000 homens atirou com SÍTO
**m Wittenberg, o resto do corpo inimigo retroe«'e») r»ir:i Kcuiberg. O
612 Miscellanea.
General Blucher o persegue, e terá o seu quartel-general, e«ta noite, na-
quelle ultimo lugar. A sua cavallaria está em Duben. Esta aiunlm*! pelas
6 horas, as tropas do inimigo, debaixo do comutando do Marechal Ncv, ,|„r
estavam nesta cidade cm numero de 18.000 homens, principiaram a -na rr.
tirada para Leipsic. Os nossos postos avançados se adiantaram no decur-o
da noite até Raghun e Jcrnitz; c a manhaã se fará a junernõ com o G>.
neral Blucher. A vanguarda do exercilo Russiano debaixo das ordens do
Conde Woronzow occupa Coethen. Bernburpo esta guarnecido por «aval-
iaria Russiana. Amanha"! os dous exércitos do Principe Real, c do General
Blucher faraõ uin movimento combinado, em avançada, provavelmente na
direção de Leipsic. Elles formam junctamente um total de 127.000 ou
130.000 homens. S . A . It. sem duvida estabelecerá o seu quartel-general
et» Raghun. Tenho a honra de ser, &c.
D E WETT**RSTEDT.

Proclamaçaõ que o Imperador Alexandre dirigio ás suas


Guardas, por occasiaõ da derrota de rondam me.
Neste memorav«-l dia, valentes guerreiros das minha»
guardas, vos tendes culierto de louros immortaes, e feito á
vossa Pátria assignalados serviços. Cum valor sem igual
rezististes, e depois desbaratastes um inimigo mui superior
em numero, que, dos Oi redores de Toeplitz, marchava fu-
rioso a invadir a Bohemia. Vossos peitos foram buluartes,
que fizeram parar os seus passos ; e foi por este tcrriwl
golpe que preparastes o caminho para a completa VICUHM
que se seguio. Um considerável corpo do inimigo foi
Tdicido, desbaratado, e completamente destruído; seu
chefe, generaes, officiaes, e sette mil priziom-iros ; CG ppç.u
de artilheria, grande numero de caixoens, e carros caltiram
em vosso poder. Assim vencem os Russianos, e s;il*«*ui
abater o orgulho de um inimigo temerário! Guardas, de-
fensores do vosso Soberano, c «Ia vossa pátria, uc**t<: dia
sempre famozo mantivestes a gloria do vosso nome ; rece-
bei de mini, eda vossa pátria o testemunho da nossa grati-
dão; esta, assim como a vossa gloria immortal, foi com-
prada a preço do vosso sangue, t: a custo de brilhantes fa-
çanhas. Em testemunho de minha inteira satisfacçaõ con-
Miscellanea. 613
firo as bandeiras de S. Jorge aos regimentos de Ismaylow-
sky, e Semeanowsky, e as trombetas da mesma ordem aos
regimentos de Ismaylowsky, e aos caçadores. Possa a
mao de Deos proteger-vos, deffensores da fé e da justiça.
Agosto 29, de 1813.

Bulelims Austríacos.
Noticias officiaes do exercito principal, datadas de
Toeplitz, 31 de Agosto, depois de terem narrado as parti-
cularidades da destruição do corpo de Vandamme, referem
o seguinte:—
" O Coronel Mensdorff está manobrando com o melhor
effeito na retaguarda do inimigo. Elle tem interceptado
correios, tomado alguns prisioneiros, disperso varias divi-
soens de cavallaria que se mandaram contra elle, e con-
serva os 8.000 homens da guarniçaõ de Leipsic, em tal
estado de susto, que se naó atrevem a fazer movimeuto
algum."
Quartel-general de Toplitz,
1 de Septembro, 6 horas da tarde.
O Exercito Francez, cora a força de 80.000 homens,
que éra destinado para a Silezia, apenas chega a 10.000,
que estejam em estado de organização; o resto foi deban-
dado, 15.000 prisioneiros, 92 peças, 300 carros de muni-
ção, e 4 águias estaõ nas maõs do conquistador. O resto
saõ mortos, feridos, ou dispersos ; somente o crescimento
das águas do Bober impedio a completa destruição do ini-
migo.
Toda a divisão de Puthod foi destruída juncto a Lowen-
berg; cahio nas maõs do Ceneral Langeron, com o seu
General, e todos os officiaes do seu estado-maior; os «jue
naõ ficaram prisioneiros fôram afogados no Bober.
O Exercito do Marechal Macdonald se pode olhar como
annihilado.
VoL. XI. No. 65. 4 K.
614: Miscellanea.
Quartel-general Toplitz, 9 de Septembro, 18IS.
As guardas avançadas do exercito principal ganham dia»
riamente terreno na Saxonia. A do General Conde Witt-
genstein teve hontem uma mui brilhante acçaõ; expulsou
o inimigo de Pirna e Dohn para Dresden. Pela tarde o
inimigo recebeo reforços consideráveis, e atacou as nossas
tropas com grande impetuosidade; porém este ataque fui
repellido pelos valorosos Russianos, e os postos de Pirna,
Zehist, e também Zitschendorff fôram mantidos. Dous
esquadroens do reg. 14 de hussares Francezes fôram cerca-
dos durante a batalha; a maior parte delles passados á
espada; e todo o resto com o Tenente-coronel, que os
commandava ficaram prisioneiros.
A guarda avançada da ala direita está diante de Zitten,
e em Rumburg. O Coronel Connezichy tomou Rum-
burg por assalto ; e fez ali grande numero de prisioneiros.
O Imperador Napoleaõ parece, que por alguns dias tem
dirigido todas as suas forças contra o General Blucher.
Este, porém, naõ aceitou a batalha que se lhe offereceo; c
marchou contra o Neisse ; em quanto as suas tropas des-
tacadas, em cooperação com as tropas Austríacas do Ge-
neral Babna manobraram com grande effeito na retaguarda
do exercito.
O Major Falkenhausen, e Capitão Schwanenfeld, se en-
contraram no Io. do corrente, entre Goerlitz e Bautzen,
com uma companhia de artilheria Franceza, I esquadrão de
caçadores ; e uma companhia de infanteria. Elles os dis-
persara m completamente, tomáram-lhea ultima peça, que
lhe ficou da batalha do Katzbach. Um Secretario do
Duque de Vicenza, Gram Estribeiro, que tinha sido en-
viado para preparar quartéis em Bautzen, foi tomado no
seu caminho para ali.

Londres.—Repartição da Guerra, S de Outubro.


Recebêram-se officios, de que o seguinte saõ extractos
ecopias, na Secretariado Visconde Castlereagh, Principal
Miscellanea. 615
Secretario de S. M. nos Negócios Estrangeiros; escriptos
pelo General Visconde Cathcart, datados de Toeplitz, 13
de Septembro; e do Tenente -general o Honr. Sir Carlos
Stewart, datados de Praga, 14 de Septembro, 1S13.

Extracto de um Officio do General Visconde Cathcart, data-


do de Toplitz, 13 de Septembro, 1813.
Os Austríacos tomaram posse das estradas, que vaõ para
a Saxonia, por Marienberg, e Altenburg; e o General
Kleinau das que vaó ter a Chemnitz, e Freyberg. O
paiz entre o Elbe e o Elster he corrido pelas partidas do
corpos dos alliados. Estas participam, que o inimigo se
tem empregado em mudar os doentes e convalescentes, e
bagagem, pasaLeipsic.
Praga, 14 de Septembro, 1813.
MY LORD !—Aos 8 do corrente, o corpo do Conde Witt-
genstein, e a parte do corpo do General Kleist, que está
debaixo das ordens do General Zeithen, o qual tinha
outravez avançado pelas montanhas para alem de Peters-
walda, e Zehista, na estrada de Dresden, fôram atacados
por uma força mui superior do inimigo, e houve uma re-
nhida acçaõ.
O Conde Wittgenstein tinha o seu quartel-general em
Pirna, quando o inimigo começou a avançar. A princi-
pal contenda durante o dia foi pela aldea de Donha, que
foi defendida com muito valor, e galhardia pelos alliados :
mas trazendo o inimigo numero mui crescido juncto da
noite, o Conde Wittgenstein determinou retroceder, e eva-
cuar Dohna: o corpo do General Zeithen, por tanto, teve
ordem de occupar Pirna pela noite, e o corpo do Conde
Wittgenstein se retirou para Peterswalde.
A perda dos alliados, na acçaõ deste dia, se pode avaliar
em cerca de mil homens mortos, e feridos: a do inimigo
he muito maiscousideravel.
4K2
616 3Iiscellanea.
S. A. R. o Duque de Cumberland estava no campo ; c
ajudou á acçaõ deste dia.
O General Kleinau foi destacado, com um corpo para
Freyberg e Cheinnitz, na esquerda, em quanto os Aus-
tríacos se moveram, como eu disse no meu primeiro offi-
cio, para Anssig, e Leutmeritz, juncto ao Elbe.
Aos 9, o inimigo continuou a sua avançada, e os alliados
se retiraram, pelejando, e disputando cada polegada de
terreno nas montanhas. Bonaparte tinha chegado e vi-
nha avançando uma força mui considerável, fosse com a
determinação de fazer um ataque geral; ou com o fim de
*uma grande demonstração, para cubrir um movimento re-
trogrado, e mudar um grande armazém de pólvora de
Konigstein para Dresden.
Avançando o inimigo, déram-se ordens immediatamentt
para que os Austríacos fizessem uma contramarcha, e os
alliados começaram logo a ajunctar todas as suas forças,
nos ja victoriosos campos deCulm e Toeplitz.
Aos 19 o inimigo apertou, apparentemente com maior
força, das montanha para Cultn e Toeplitz. Elles naó
somente avançaram corn as columnas, que seguiam a reta-
guarda do Conde Wittgenstein ; mas também com outro
corpo mui considerável por Zinnfalde e Kraufen. A este
tempo as columnas Austríacas naó tinham ainda entre si
communicaçaõ estreita de Aussig e Leutmeritz ; e sabia-
se que o inimigo sobreexedia muito em numero as forças
Russianas e Prussianas; com tudo, determinou-se da ma-
neira mas galharda dar lhe batalha, no caso, que elle
avançasse ; e fez-se consequentemente a disposição.
Sendo-me mtvssario retirar-me do quartel-general,
soube do Coionel C<»oke, que o inimigo continuava aos
11 fazer taes demonstraçoens, que indicavam um ataque
geral ; e ao. 18 avançaram e ro.náaram pos>e da aldea de
Cul.n. Mais da metade do corpo Austríaco se tinha entaõ
unido ao exercito, e tomado a sua posição : tinham mar-
Miscellanea. 617
chado com muito máo tempo, e peiores caminhos, sem
intermissaõ, desde 10; porém chegaram em excellente
ordem; e Bonaparte pôde entaõ perceber o exercito al-
liado; que éra de mais de 100.000 homens, postados, com
800 peças d'artilheria, promptos a dar-lhe batalha. Parece,
com tudo, que el|e começou a sua retirada de Nollendorf
cerca do meio dia. Os aljiados começaram inimediata-
mente a limpar a sua frente; e a manda' grandes des,»
tacamentos de partidas de reconhecimento; e o corpo do
General Kleioau foi outra vez destacado para a esquerda,
reforçado por duas divisoens sob o commando do Principe
Lichtenstein.
Attí o meio dia de 13, continuava o inimigo a sua re-
tirada, levantando campo, e destruindo todas as estradas
em todas as direcçoens de Dresden. Isto demorará de
algum modo o seguimento dos alliados, e até fará ainda
mais dificultoso um movimento de flanco ou lateral.
Recebêram-se noticias de que o General Blucher entrou
em Bautzen aos 10 ; mas naõ tenho recebido bulletims
officiaes do quartel-general Prussiano.
O Coronel Russiano Principe Modatoff, com as guardas
Alexandrowski, executaram um brilhanre rasgo aos 9,
entre Bautzen e Dresden. Queimaram 200 carros de
munição, tomaram uma parte da bagagem de Bonaparte,
e aprisionaram 1.200 homens.
Eu dou os parabéns a V - S . , mui sinceramente, pela
brilhante victoria do Principe de Suécia. O lustre addi-
cional, que resulta desta batalha, para as armas S. M.
Prussiana, serve de objecto de elogio a S. A. R., o qual
diz, que saõ agora viziveis os soldados do Grande Frede-
rico em todas as acçoens em que elles entram.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) CARLOS STEWAKT.
Ao Visconde Castlereagh, &c, &c.
61S Miscellanea.

Copia dos Papeis inclusos por Sir Carlos Stewart.


Toeplitz, 11 de Septembro, 1813.
SENHOR !—O inimigo avançou contra nós; cerca de
uma hora depois que sahistes daqui, aos 10 do corrente.
Parecia existir a maior incerteza tanto a respeito do seu
numero, como do ponto, em que deviam atacar.
Pela tarde, destacamentos fortes das tropas ligeiras do
inimigo tomaram posse da estrada que vai pelos passos de
Altenburgo, e repulsaram os granadeiros dos Russianos
quasi até a planicie, que fica por baixo.
Como o inimigo naõ fazia uso d'artilheria, nem appa-
recêo ao mesmo tempo na estrada de Peterswalde; naõ
havia indicio de ataque serio, até que era ja mui tarde.
Os alliados porém repulsaram a sua esquerda, collo-
cando as tropas, o peças ao longo da fralda da montanha,
entre a aldea de Culm e Toeplitz, ao mesmo tempo que
todo o exercito estava formado em posição de duas linhas,
tendo a direita apoiada nas montanhas adjacentes á ci-
dade ; estavam em reserva, em ambos os flancos, columnas
de infanteria.
O terreno éra apertado, e offerecia pouca vantagem no
caso de um esforço serio, na frente dos Francezes.
O fogo cessou ao pór do sol; e os alliados ficaram na
posição durante a noite.
Eu inclino-me a attribuir este movimento da parte do
inimigo ao desejo de saber a figura geral do paiz em torno
de nós; e o numero das tropas que tínhamos á maõ.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) HENRIQUE COOKE.
A Sir Carlos Stewart.

Toeplitz, 12 de Septembro, 1813.


SENHOR !—O inimigo cresceo consideravelmente em
numero, durante todo o dia de hontem ; e perto da noite
Miscellanea. 619
•e perecebeo grande movimento na sua esquerda. Logo
avançaram com artilheria pela estrada grande, e acima
dos Russianos, commandados pelo Conde Pahlen, da al-
dea de Nolendorf, quasi até Culm.
Ao anoitecer fomos reforçados por mais de 25.000 ho-
mens do exercito Austriaco. Estas tropas foram imme-
diatamerrte postadas no extremo da nossa esquerda, a
certa distancia das montanhas. Ellas marcharam com
pouca interrupção desde a manhaã de 10 do corrente, e
durante toda a noite, mas estavam em boa ordem, e com
poucos extraviados.
Tudo indicava um ataque geral na manhaã seguinte.
Os prisioneiros explicavam as escaramuças de hontem,
dizendo, que Bonaparte nos tinha reconhecido; e &
noite, toda a cordilheira de montanhas estava cuberta com
os fogos do inimigo.
Os corpos de St. Cyr e Victor, e toda a cavallaria das
guardas, e o resto da divisão Vandamme, eram -js tropas
que se achavam na nossa frente. Hoje perto do meio dia,
porém, começou o inimigo a retirar-se de Nollendorf.
Cre-se que mandaram grandes destacamentos para
Komotau. Em conseqüência disto, foi o General Kleinau
reforçado por duas divisoens de tropas ligeiras Austríacas,
debaixo das ordens do Principe Lichtenstein.
Os alliados estaõ differentemente postados, como vos
participei aos 10. O resto dos Austríacos destacados para
o Elbe estaõ cubrindo a estrada de Aussig, na nossa
direita.
Chegáram-nos hoje officios do Principe Real de Suecià,
annunciando as alegres novas de uma victoria ganhada
pelos alliados, debaixo do commando de S. A. R. nas
vizinhanças de Wittenberg.
Mais de 8.000 prisioneiros, 60 peças, 200 carros, e 40
peças de artilheria fôram tomados. Dizem que os Prus-
sianos soíTreram o forte desta acçaõ, perderam muita gente,
620 Miscellanea.
e fizeram grande honra ao seu exercito. A batalha foi
aos 7, e 8 do corrente. Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) HENRIQUE COOKE.

Officio do Tenente-general Conde Walmoden, dirigido ao


Secretario de Guerra, em Londres.
Quartel-general de Domitz, 20 de Septembro.
M Y LORD !—Depois da minha ultima participação,
datada de Schwerin, aos 4 do corrente; o Marechal I)a-
voust tem contiuado sobre o rio Stocknitz. Tendo-mc
mudado para Domitz, mandei lançar ao rio uma ponte
de botes, para ali cruzar o Elbe, com uma cabeça de
ponte, a fim de passar o rio, logo que o inimigo appare-
cesse na margem esquerda, ainda que elle permanecia em
combinação com os Dinamarquezes, com quem se imagi-
nava, que elle tinha deixado de cooperar, em conseqüência
da ultima marcha separada das tropas Francezas para
Ratzburgo, e das Dinamarquezas para Lubeck; o ini-
migo continuou, contra as minhas esperanças, em estado
de inactividade por vários dias. Consequentemente fiz.
mais outro movimento para elle, fixando o meu quartel-
general em Hagenau, aos 12 do corrente.
Tendo sido informado por cartas interceptadas da
intenção que o Marechal Davoust tinha de destacar
8 ou 9 mil homens, a fim de limpar a margem es-
querda do Elbe, e avançar para Magdeburg, eu ciiucl
o rio pela meia noite, aos 14 do corrente, juncto a Do-
mitz, tomando as tropas debaixo do meu commando, a
excepçaõ dos Suecos, c MeckJemburguczes, que ficaram
na posição de Grevesmulhen, e a legiaõ llanseatica, que
deixei com a infanteria «Io corpo de Lutzou na margem
direita. Aos 15 oecupei a posição de Grevesmulhen, e a
legiaõ Hanseatica, que deixei com a infanteria do corpo
de Lutzou na magem direita. Aos 15 oecupei a posição
de Jetzel, juncto a Danenberg.
Miscellanea. 621
No emtanto o Marechal Davoust tinha destacado o
General Pecheux, com a parte principal de sua divisão,
que tendo passado o Elbe, marchou para Dahlenberg.
Tarde na noite de 15 fui informado de que esta força se
tinha postado em Gorde. Na manhaã seguinte, 16, ao
romper do dia, puz as tropas em movimento. O inimigo
tinha occupado as alturas em frente de Gorde, na estrada
de Dannenberg. Eu postei as minhas tropas no vale, com
as vistas de occultar ao inimigo o meu numero, assim
como de esperar o seu ataque. Pelo meio dia recebi
informação de que a parte principal de sua força estava
entre as aldeas de Oldendorf e Eichsdorf, um quarto de
milha Alemaã na retaguarda de Gorde. Naõ havia tempo
que perder ao ataque.
Mandei que a infanteria Hanoveriana marchasse com
duas bateiras, debaixo das ordens do Major-general Lyon,
para a estrada grande, que vai ter ao castello de S. M.
em Gore, a fim de atacar o inimigo pela frente: o Ge-
neral Tettenborn, formava a guarda avançada, com tres
regimentos de Cossacos. Ordenei ao mesmo tempo, que
seis batalhoens de infanteria, e uma bateria, e uni re-
gimento de hussares da Legiaõ Alemaã Russiana, mar-
chassem, debaixo das ordens do General Arentschildt,
pelos bosques de Gorde, para fianquear a ala direita do
inimigo; e eu destaquei o General Dornberg para a es-
querda do inimigo, na direcçaõ de Dubdelwald, á frente
do 3 C . regimento de hussares da legiaõ Alemaã d'El Rey,
os hussares de Estorf, uma bateria de artilheria de cavalio,
e metade da brigada de fogueteiros.
Os postos avançados do inimigo, nos matos, fizeram
pouca resistência, retiráram-se para a extremidade do
bosque, aonde, tendo-os perseguido, achei o corpo do
inimigo mui vantajosamente postado, em urna altura em
frente da estrada de Daunenberg.
As 4 horas da tarde fôram vistas as nossas duas co-
VOL. XI. No. 65, 4 i>
G2lJ Miscellanta.
lumnas avançando para fora do mato, e o inimigo re-
spondeo fracamente ao fogo da nossa artilheria, com 8 ou
IO peças. Suprendido com ver taõ grande corpo de in-
fanteria, ao mesmo tempo que elle imaginava que tinha
de encontrar-se somente com tropas ligeiras, o inimigo
principiou as suas disposiçoens para retirada, ao momento
em «pae os nossos batalhoens se formavam para o ataque.
Hc mui provável que elle se teria muito antes disto deter-
minado a retirar-se ; se naõ fosse que o General Pecheux,
commandante deste corpo, estava actualmente com os
postos avançados no bosque, em distancia da sua posição,
aonde teve somente tempo de chegar ; justamente quando
as nossas tropas se preparavam a formar-se contra elle.
 esq»ierda do inimigo começou a retroceder—a direita
conservou-se firme para cubrir a sua retirada. Este flanco
foi formado nas alturas em tres columnas de batalhoens,
e fez a mais maravilhosa resistência ; quando ás 5 horas e
meia a nossa infanteria atacou duas destas columnas por
todos os lados.
A este periodo, a maior parte dos quadrados do inimigo
horrorizado, e rompido por todos os lados, começou a ceder,
e por fim fugio em todas as direcçoens, para as alturas vi-
zinhas, aonde a desordem geral brevemente se communi-
cou aos que tinham sido postados ali, para cubrir a retirada.
Tendo-se puchado o ataque e seguimento do inimigo
até N.ahrendorf, o inimigo se vio cortado da estrada de
Dahlenburg, e se retirou para Bleckede; e na manhaS se-
guinte tomou a passar o EJbe, juncto a Zollenspicker.
Tendo o General Pecheux perdido os seus cavallos, e ba-
gagem, foi obrigado a fugira pé.
' As sette hor^s, e meia da tarde, eu entreguei a seguida
do inimigo fugitivo aos cossacos; e ajunetei as tropas,
aquém a tscuridade da noite, e natureza do terreno naõ
favorável, fazia impossível que seguissem o inimigo. Alem
djsto recebi informação de que o inimigo vinha avançando
Miscellanea. G23
pela margem direita do rio, a fim de de desalojar o meu
destacamento em Boitzenburgo, e aproximar-se a Domitz,
e ponte da outra parte.
O corpo do inimigo, de quem alcançaram as tropas, que
estão debaixo do meu commando, taõ assignalada victoria,
éra de 5 a (5 mil homens, incluindo 600 cavallos, e 10 peças
d1artilheria, a sua perda he de 1.500 a 2.000 homens em
mortos e feridos. O numero dos prisioneiros tomados
chega a 1.500, entre os quaes se acha o General Mielozin-
ski, dous ajudantes de campo do General Pecheux, o Co-
ronel Fitz-James, e vários outros officiaes. Tomamos 8
peçasd'artilheria, e 12 carretoens de muniçoens. Depois
da acçaõ, o General Tettenborn, com a guarda avançada
occupou Bleckede e Luneburg.
Eu estou plenamente satisfeito com o valor das tropas,
e sou particularmente obrigado ao Major-general Lyon,
que mostrou nesta occasiaõ a actividade e intrepidez, que
nelle taõ bem se reconhecem ; assim como também aos
brigadeiros Halket, e Martin, e ao Major Bruckman.
Os batalhoens de Laugrehre Bennigsen se distinç-uiram
muito. O General Dornberg commandou a cavallaria
com todo o espirito e vivacidade, que saõ taõ characteristi-
cas daquelle official.
Naõ posso louvar suíficientemente o valor do 3 9 . reg.
de hussares da Legiaõ Alemaã d'El Rey, taõ conspicuo
nos seus repetidos ataques, capitaneados pelo seu comman-
dante o Major Kuper; como igualmente o do 1*. de hus-
sares, da LegiaÕ Alemaã Russiana, contra os quadrados do
inimigo. Eu lamento que a gloria que o primeiro destes
reg. ganhou, fosse adquirida com perda taõ considerável.
Eu estimara, que se atrahisse a attençaõ de S. A. R. o
Principe Regente, para o comportamento do Major Kuper,
commandante deste regimento, á frente do qual foi a sua
galhardia taõ conspicua.
Naõ posso omittir o mencionar os serviços, que recebi,
624 Miscellanea,
nt staoccasia«">, do meu Ajudante-general, o Tenente c o -
ronel D. Claiisewitz. Teulio também experimentado o
maior ad; o to ri o do meu estado-maior pessoal. O C;\pitaõ
de Grabbde, orriciul «Ias guardas UiisManas, achei que foi
extremamente útil ; assim como o Tenente-coronel, Conde
Fernando Kielmansegge. Sou muito obrigad») ao Tenen-
te-general Conde-Luiz Kielmansegge, pelo auxilio que me
tem prestado em todas as oceasioens.
Peço licença para chamar a attençaõ de V S. a as-
saz brilhante aeçió que o Conde Frederico Kielmansegge,
coronel «le um corpo de caçadores, teve ha algum tempo
com os Francezes, e que ate aqui se me naõ offereceo oc-
casiaõ de mencionar. Foi em conseqüência desta acçaõ,
em «jue os Francezes, perderam mais de 150 prisioneiros,
que nos estamos ja em posse de Dannenberg e suas vizin-
hanças, e achamos aqui as nossas tropas ligeiras, na chegada
do nosso corpo principal.
A perda que sofíireoo corpo debaixo do meu commando,
monta, a 500 homens somente em mortos c feridos; entre
os primeiros se acham o Major De Vaux, o Capitão Hugo,
e alferes Cramer ; alem de dous officiaes da Legiaõ Russi-
ana Alemaã. O Cossacos debaixo das ordena do General
Tettetiboin, no dia seguinte, avaii«;áram até Harburgo, e
cortaram todas coinmiinicaçóens do Marechal Davoust,
elle í,e verá na necessidade de destacar outra força para ai
restabeleci r.
He somente a consideração da grande superioridade do
inimigo quem me restringe á naõ satisfazer os meus aneio-
sisnimos desejos, atacatido-o de uma vez, no Steckwitz.
Aos 1*7, tendo o inimigo puchado adiante a sua guarda
avançada de Moilen para Wittenberg, pela curada de Sch-
werin, me »leo lugar a temer um movimento oílensivo na
outra margem <i'onJe eu tirei as tropas para esta expe-
diçaõ. Portanto tendo obtido o meu fim, resolvi a tornar
a passar para a margem opposta do rio, e consequentemente
Miscellanea. 625
estabeleci o meu qnartel-general em Domitz, com as vistas
de estar prompto a obrar de ambos os lados do Elbe, se-
gundo as oceasioens que me der o inimigo.
Tenho a honra «le ser, &c.
{Assignado) L. C. W A L L M O D E N , Tenente-general.

Lista dos mortos, feridos, e extraviados.


1 Capitão, 1 tenente, 2 alferes, 6 sargentos, 78 soldados,
e 1H cavallos mortos; 1 Tenente-coronel, 3 majores, 8
capitaens, II tenentes, 6 alferes, 16 sargentos, 335 solda-
dos, 173 cavallos, feridos : 90 soldados, e 33 cavallos ex-
traviados.

Extracto de um Officio do Conde de Aberdeen a Lord Castlereagh, datado de


Comotau, 9 de Outubro, 1813.
O exercito avançou em linha direita para Leipsic, e. juncto aquella
cidade estabeleceo o quartel-general o Principe Schwartzenberg. O
Principe Real « o General Blucher avançaram para o mesmo ponto, e as
tropas alliadas tem quasi formado a sua juneçao. Portanto, ha uma cor-
tinaformada,que atravessa esta parte da Saxonia, e se extende de Dessau
até Marienburg na fronteira de Bohemia. No entanto o General Bennig-
len, com o corpo de Colloredo, expulsou o inimigo dos seus entrincheira-
mentos, em Gieshubel, e avançou para Dresden, na grande estrada de
Toeplitz.
Sa*} inteiramente desconhecidas a actual posição e intençoens de Bona-
parte. Uma força considerável, nao menos de 5(1.000 homens, se acha
opposta ao Principe Schwartzenberg, e geralmeute se crfi, que Bonaparte
em pessoa fará um movimento rápido com a massa de seu exercito para
atacar o General Blucher, antes de se effectuar sua juucçaõ com o Priu-
cipe Real. Seja como for, naõ he provável que alguma vantagem parcial
melhore essencialmente as suas esperanças, nem faça mais duvidoso o hom
successo final dos alliados. Estando a sua communicaçaõ r.om a França
totalmente destruído—o seu exercito em considerável penúria—os seus
armazéns quasi exhaustos, e o paiz, em que elle se acha, ah^olutamente
sem meios de os tornar a prover, elle deve em pouco tempo achar, que lie
necessário romper o circulo que se tem tirado em torno delle: nesta tenta-
tiva poderá provavelmente ser hem succedido, mas ha toda a razaõ de <•--
perar, que isso será acompanhado da destruição de grande parte de seu
exercito.
Faz-se plena justiça aos talentos militares, e hábeis combinaçoens do
Principe Marechal; se elle tivesse sido menos prudente ou menos rir-
6S6 Miscellanea.
cnmspecto em seus -movimento*, naõ nos acharíamos nóa na formidável •
superior posiçaS, qae podemos agora uinmmir.
P. S. Por noticias recebidas esta manhaS parece, qne o Principe
Schwartsenberg, com o corpo principal de sen exercito, se achava em
Chemnitz, e snas vizinhanças. Bonaparte sahio de Dresdeo ans 7, com
El Rey de Saxonia, e sua familia, e está cm Rochliti, aonde se aiuncU
principalmente o seu exercito. O General Bennigsen avançou para
Dresden ; aonde se diz que Bonaparte deixou somente uma f«aca guarui-
ça5, consistindo, segando os rumores, em naõ mais de 3.000 homens.

Extracto de um Officio do Tenente-generalo Honr. Sir Charles Stewart, C. B.


ao Visconde Castlereagh, datado do Quartel-general do Principe Remi ie
Suécia, era Rottenburg, aos 11 d'Outubro, 1813.
Na conformidade das instrucçoens de V. S., achando-mc suflicieuteinente
restabelecido de minha ferida para viajar, deixei o quartel-general do
exercito adiado em Toplitz, aos 3 do corrente, e cheguei ao do Príncipe
da Coroa de Suécia, em Radegast, juncto a Zorbig, aos 8. M'. Thornton
tem plenamente informado a V. S. das interessantes noticiai militares da-
quelle periodo. Agora tenho de TOS informar, que, depois da brilhante
passagem do Elbe pelo General Blucher, em Elitcr, em que elle mostrou
proeminente decisaõ e discernimento; e a conseqüente passagem do mesmo
rio pelo exercito do Príncipe Real, nos pontos de Rosslao, e Acken,
S. A. R. o Principe da Corda concebe» que um movimento de todas as
forças alliadas, para a margem esquerda do Saale, oa obrigaria o Inimigo
a uma batalha geral, oa seria o meio mais efficaz de embaraçar, e Incom-
modar a soa retirada, se elle se determinasse a uma medida, que os movi-
mentos combinados dos exércitos de Bohemia, Silezia, e do Norte da Ale-
manha, em seos flancos, e sobre todas as soas communicaçoens, pareciam
fazer taõ indispensavelmcntc necessário.
Napoleaõ parece que tinha manobrado de Dresden, segando os rumores,
com am grande corpo de cavallaria na margem direita, e toda a soa Infan-
teria na margem esquerda do Elbe, pelo rio abaixo, até Arclaa : de Tor-
gau se fez uma grande demonstração de 80 ou 30 mil homens, dirigida ao
ponto de Elster, aos 8, aonde passou o General Blucher* provavelmente
com o desígnio de ameaçar aquelle general, e de o obrigar a tornar a pas-
sar o rio. A denodada determinação" dos alliados, porém, oaS era de se
fazer parar por uma demonstração" ; e todo o exercito de Blacber está
c ora em intima cominonicaçao" com o do Príncipe Real, tendo o primeiro
marchado de Doben para Jesnitl, aos 9, e passado o Molda • e o Principe
da Coroa concentrado as snas forças entre Zorbig, Radegast, e Bitterflcld.
O inimigo, segundo as noticias, parece qne se está ajunetando cerca de
Ealenberg, e Oschatz, entre o Molda e o Elbe.
Aos 10, o General Blucher marchou de Jesnitz para Zorbig, e os exér-
citos de Silezia e do Norte da Alemanha se acham ali junetos: ha vendo-se
Miscellanea. 627
tomado a resolução" de passar o Saale, déram-se as ordens pela noite, e o
General Blucher marchou com o exercito de Silezia para passar o rio cir*.
Wettin, havendo-se construído ali pontes para este fim.
O Rcneral Bulow, com o seu corpo d'excrcito, devia igualmente passar
em Wetlin, o General Winzingerode com os nnssianos em Rothenburg, e
o Principe Real com os Suecos em Asleben e Bernburg. Depois toda a
força alliada se devia postar em ordem de batalha, com a sua esquerda m>
Saalc, esperando a ulterior desenvoluçaõ dos movimentos do inimigo. O
corpo do General Bulow, e o corpo do General Winzingerode, depois de
ter passado o rio, devia formar a direita do exercito de Silezia, c os Suecos
ficaram em reserva, ou segunda linha.
Cada corpo d'exercito do inimigo se devia formar em tres linhas, o Ge-
neral Woronzoff, que forma a guarda avançada em Halle, deve regular os
seus movimentos pelas tentativas do inimigo, e retroceder para as forças,
passando em Wetlin se for attacado por numero superior, alias deve con-
servar Halle o mais tempo que puder.
V. S. observará por estes destemidos e decisivos movimentos, que os
pontos de passagem do Elbe, por aonde passaram 09 exércitos haõ de ser
destruídos, se isso for necessário, e que se preparam outras pontes, abaixo
de Magdeburg, em caso de necessidade. O corpo de observação, debaixo
das ordens do General Thumcn, ante Wittenberg, que consta de seis mil
homens, teve ordem (110 caso cm que o inimigo force ali a sua passagem,
para o flm de estender-se pela margem direita do Elbe, c voltar por Mag-
deburg, seja em conseqüência da extremidade a que se acha reduzido,
seja por intentar outro improvável, mas possivel acontecimento, de querer
marchar com todas as suas forças para Berlin) de retirar-se para o General
Tauenzien, que deve ficar em Dessau com 10.000 homens; e, segundo as
circumstancias, ou manobrar na direita contra qualquer esforço que possa
fazer o inimigo, ou com marchas forçadas ir reforçar, em caso de necessi-
dade os exércitos junetos ao pé do Saale. O General Tauenzien será auxi-
liado por todo o Landsturm, e se lhe unirão também alguns corpos menores
destacados.
Chegou agora noticia de que Platow, com os seus Cos=acos, estava em
Pegau; os Generaes Kleist e Wittgenstein, com a avançada do grande
exercito de Boheii ia, se aproximavam a Altenburgo, e parece que está
completamente estabelecida a nossa communicaçaõ, na retaguarda do e x -
ercito Francez, Eram ainda vagas as noticias sobre os movimentos do
inimigo; porém recebêram-se avizos na noite de 10, de que movia as suas
tropas dos differentes pontos de Lutzen e Wurzen para Leipsic, e se disse
mais qne se esperava que Bonaparte ali chegasse aos 10. A sua força en-
tre Dresden e Leipsic, exclusivamente das guarniçoens he, pelo calculo
mais subido, de 180.0(10 homens; e a do exercito de Silezia 65.000 homens,
e a d o Principe Real 60.000, com 600 peças d'artilheria, e he impossível
»er mais lindo exercito, nem mais plenamente apetrechado em todas as
«uas parles.
628 Miscellanea.
Pelas informaçoens, qne se receberam l*»je, se sabe, que o Onerai P1«-
tow, com todos os seus Cossacos, chegou a Lutzen havendo tomado algum
centos de prisioneiros em Weísscnfels, e veio pôr-se em completa rnniniu-
nicaçaõ com a avançada dos Cossaco» do General Woronzoff, de Halle
Platow participa que o exercito dn inimigo se ajuncta uo pe de Leipsic.
Temos noticias certas de que o exercito de Bohemia está agora entre Al-
tenburg e Chemnitz ; e o General Kennigsen com a divitaõ Austríaca de
Colloredo, que se lhe tinha unido, meditava uma demonstração para
Dresden.
P. S. O General Blucher, cm consequencia da difficuldade rm completar
a ponte, naõ pôde passar cm Wcltin, porém marchou para Halle aonde
passou. O General Bulow naõ passou hoje, mas o resto du exercito alliado
está na margem esquerda do Saale.

EXERCITO ALLIADO NA PENÍNSULA.

Londres.—Repartição da Guerra, 6 de Outubro.


Receberam-se na Secretaria de Lord Bathurst officiosdo
Feld-mareclial Marquez de Weilington, datados de Lezaca,
19 e de 27 Septembro : o seguinte saõ extractos:—
Naõ tem occurrido nada de importância nas posiçoens
do exercito depois que me dirigi a V- S. aos 10 do cor-
rente. Tendo a guarniçaõ de Pamplona fuito varias sor-
tidas, durante o bloqueio, e sido em todas ellas repulsada
com perda, executou uma com força considerável, aos 10;
provavelmente com as vistas de reconhecer a força com
que se mantinha o bloqueio; porém foi immediatamente
repulsada. O Marechal-de-Campo D. Carlos de Hespa-
nha, que commanda o bloqueio ficou infelizmente ferido,
n;as ainda pôde exercitar o seu commando; e elle tem
informado mui favoravelmente, a nspeito dos officiaes e
tropas empregadas debaixo de seu commando nesta occa-
siaõ.
Lezaca, 27 de Septembro, IS13.
Tenho a honra de incluir a copia de um ofKcio de 15 c
17 do corrente, que recebi do Tenente-general Lord Gui-
lherme Bentinck, d'onde apparece que a sua guarda
avançada sob o Coronel Adam, foi atacada por uma força
Miscellanea. 629
considerarei do inimigo, na noite de 12 do corrente, no
passo de Ordal; e que tinha sido obrigado a retirar-se com
perda de 4 peças d'artilheria. Eu confio que a perda de
gente naô seria considerável; mas naõ tenho recebido
as listas da que soffreram os corpos empenhados nesta
occasiaõ.
Dá-me grande prazer o poder participar, que as tropas
Hespanholas, que entraram em acçaõ: a saber: os regi-
mentos de Badajoz, Tiradores de Cadiz, e Voluntários d*
Aragaõ, que compunham uma brigada de infanteria da
divisão do General Sarsfield, do 2° exercito, se compor-
taram notavelmente bem ; assim como o 2-. batalhão do
regimento 27; a infanteria ligeira Calabreza ; e a companhia
de atiradores do 4°. regimento de linha da Legiaõ Alemaã
d' El Rey, e regimento de Roll. Em conseqüência deste
acontecimento o Tenente-general Lord Guilherme Ben-
tinck se retirou para as vizinhanças de Tarragona, e ouço
que o inimigo tornou a cruzar outra vez o Lobregat.
NaÕ tem acontecido cousa nenhuma de extraordinário
na frente do exercito que está debaixo de meu commando
hnmediato.

Extracto de um Officio do Tenente-general Lord Guilherme


Bentinck ao Marechal Marquez de Wellington, datada
de Tarragona, 15 e 17 de Septembro, 1813.
Segundo a intenção, que expressei na minha carta de
Í7 d' Agosto, o exercito se moveo para diante, e chegou a
Villa Franca aos 15 de Septembro. Todas as noticias con-
tinuaram a corroborar a partida de uma força considerável
de Suchet, para França. Foi somente aos 27, que se co-
meçaram a levantar duvidas, a respeito da verdade desde
facto. Parece que se tinham mandado grandes destaca-
mentos com os comboys que fôram para França, os quaes
Voltaram com outros de carne salgada, e muniçoens; e,
em tanto quanto pude saber, naõ sahiram da Catalunha
VOL. XI. No. 65. 4M
630 Miscellanea.
mais de 3.000 homens. O publico tinha sido enganado,
pela mudança de todos os officiaes empregados Hespa-
nhoes ; e pelas preparaçoens que se fizeram para a defensa,
e supprimentos de Barcelona.
A força Franceza tinha até aqui sido dispersa pelo Lo-
bregat, em Sabadell, e contornos de Barcelona.
Aos 11, o inimigo unio cousa de 12.000 homens em
Molins de Rey, todas as suas forças disponiveis de Ampur-
dam, e todas as guarniçoens chegaram a Barcelona ; e tudo
pareceo indicar um movimento geral.
O exercito Britannico estava postado em Villa Franca,
e nas aldeas em sua frente, até as montanhas do Lobregat.
O passo de Ordal, por onde vai a estrada grande, estava
oecupado pela avançada do exercito, sob o commando do
Coronel Adam, e tres batalhoens da divisão do General
Sarsrield. O passo éra mui forte, e eu naó tinha appre-
hensoens de que pudesse ser forçado. A linha provável de
ataque como certa, éra voltando pela nossa esquerda, por
Martorell e San Saturrrí, aonde se postou o primeiro ex-
ercito.
Eu naõ tinha numero de gente igual ao que os Francezes
podiam trazer contra mim : eu tinha sido obrigado a deixar
a divisão do General Wittinghatn em Réus e Vais, por
falta de mantimentos, e meios de transporte. A divisão do
General Sarsfield estava também sem subsistência ; porém
em ordem a naõ me retirar inteiramente para a retaguarda,
cru naõ estar preparado para tirar partido de quaesquer
circumstancias favoráveis, tomei sobre mim anticipar os
mantimentos que sabia que vinham do General Elio, e que
eu podia dar, por estarem embarcados em transportes Hri-
tannicos. Eu duvidei que o inimigo tivesse intenção de
avançar ; mas se elle o fizesse ; o forte posto cm minha
frente, ou o desvio de Martorell, se viesse por aquelle ca-
minho, me dariam tempo sufficiente para me retirar cin
segurança. Porém aos 12, pela meia noite, o inimigo
Miscellanea. 631
atacou o passo de Ordal, e o tomou, depois de uma ob-
stinada resistência, por ter grande superioridade de nume-
ro. Os corpos fôram obrigados a salvar-se nas montanhas;
e duas peças de 6°., com duas peças de montanha, infeliz-
mente cahíram nas maõs do inimigo. A única consolação
que tenho a offerecer, he o valor tanto dos Inglezes como
dos Hespanhoes; da firmeza e galhardia destes faliam to-
dos os officiaes Britannicos, que estiveram presentes em
termos da maior admiração. Sinto ter de dizer, que o
Coronel Adam ficou gravemente ferido; assim como o T e -
nente-coronel Reeves, e vários outros officiaes do segundo
batalhão do regimento 27. O Calabrez naõ soffreo muito.
Naõ posso dar uma lista exacta da nossa perda, mas espero
que se achara naõ ser considerável; ouço que 2.000 homens
se uniram ao Coronel Manso, juncto a S. Saturni; entre
os quaes ha 200 de nossas tropas; e grande numero tem ja
vindo a unir-se de varias partes da costa, e chegam a todas
as horas. Eu puz immediatamente o exercito em retirada;
os dragoens, e couraceiros do inimigo nos apertaram mui
de perto, fôram porém valorosamente carregados, ainda
que mui superiores em numero, pela nossa cavallaria, a
qual pelo meio dia acabou com o seguimento.
Sou muito obrigado ao Coronel Lord Frederico Bentinck,
pelo juizo e espirito, com que dirigio as operaçoens de sua
brigada. O reg. 20 de dragoens, commandado pelo T e -
nente-coronel Hawker, os hussares de Brunswick, pelo
Tenente-coronel Schraeder; a cavallaria Siciliana, pelo
Capitão Stagopede, se distinguiram muito ; o exercito fez
a sua retirada, sem perda, para Vendrills, d'onde marchou
outra vez na mesma noite para Altahella, e hontem de noite
se acampou em frente desta cidade.

Septembro 17.
Incluo as participaçoens dos differentes officiaes, com-
mandantes dos corpos, e artilheria, na acçaõ de Ordal, para
informação de V S.
4 M2
632 Miscellanea.
Septembro 17, 9 Horas da Noite.
Acabo de receber noticia de qne o inimigo sahio de Villa
Franca esta manhãa ; e voltou para Molino de Rey, juncto
ao Lobregat. Incluo uma listados mortos e feridos.

Tarragona, 15 de Septembro, 1813.


M Y LORD ! Tenho a honra de vos informar, que perto
das 11 horas na tarde de 12 ; o inimigo atacou o piquete
postado em frente de Ordal. O corpo livre Calabrez se
tinha previamente movido do outeiro, para a esquerda da
posição; a fim de occupar o terreno mais para a sua direita,
aonde havia as ruinas de uma fortificaçaõ velha. As 12 o
inimigo tentou forçar a sua passagem; a hora da noite
que éra fez que nos fosse impossível averiguar com exac-
tidaõ quaes eram as intençoens do inimigo, nem descubrir
a extençaõ de sua força, resistio-se ao ataque na esquerda
da estrada com muita galhardia ; e o inimigo foi repettidas
vezes repulsado pelas tropas Hespanholas, que occupavam
o terreno, entre a estrada e o lugar em que eu estava pos-
tado : a força principal do inimigo foi dirigida contra a
direita da posição. Perto das duas horas, me participou o
Capitão Baraõ Cremains, que o Coronel Adam, e o Tenente-
coronel Reeves estavam ambos feridos ; que o inimigo
estava ganhando terreno, e vencendo as nossas tropas na
direita. Eu avancei com os Calabrezes, e ataquei a es-
querda da columna do inimigo. O inimigo tinha ja obtido
fianquear a direita da posição, e as tropas, que tinham de-
fendido o flanco foram obrigadas a retirar-se, eu portanto
determinei retroceder, conservando a posse dos outeiros na
esquerda da estrada.
Ao amanhecer mandei uma patrulha para o valle de S.
Saturni, e em conseqüência da informação que tive de que
a villa de »S. Saturni estava occupada por tropas Hespa-
nholas, marchei com a intenção de me tornar a unir ao ex-
ercito, pela estrada, que vai dali para Villa Franca; depois
Miscellanea. 633
de cruzar o rio que está em frente da villa, fui atacado por
uma considerável força do inimigo, tanto de infanteria
como de cavallaria, e obrigado a retroceder pelo caminho
de Barcelona. Alcancei atravessar a estrada real, sem que
o inimigo o percebesse, e dali parti na direcçaõ de Sed-
ges, na esperança de que o inimigo naõ teria oocupado
aquelle lugar; e que poderia embarcar o corpo ali, ou
em Villa Nueva, o que tenho a satisfacçaõ de participar
que se executou no primeiro lugar durante a noite de 13.
Tenho a honra de transmittir a V. S. a participação do
ataque na direita da posição : a qual tenho recebido do
Capitão Miller, commandante da companhia de atiradores
de De Roll ; e do Capitão Waldron, que commandou o
segundo batalhão do reg. 27; depois que ficaram feridos
o Tenente-coronel Reeve e o Capitão Mills.—Sou, &c.
(Assignado) J. CAREV, Com. C. F. C.
Ao Tenente-general Sir Guilherme Bentinck, &c.

Lista dos mortos.


I Capitão; 2 subalternos, 1 sargento, 24 soldados, 7 ca-
vallos, mortos; 1 coronel, 1 tenente-coronel. 2 capi-
taens, 13 subalternos, 1 sargento, 32 soldados, 54 cavallos,
40 mulas extraviados.
N . B. naÕ se pôde bem averiguar o numero dos mortos
feridos e extraviados do 2". batalhão de reg. 27, corpo livre
Calabrez, Companhia de atiradores De Roll, e 4o batalhão
da Legiaõ Alemaã d'EI Rey: porque estes corpos se vi-
ram obrigados a dispersar-se pelas montanhas. Ja volta-
ram 700 homens, e se sabe que muitos outros estaõ em
marcha para se unirem ao exercito. Pela mesma razaõ
he igualmente impossivel averiguar correctamente a perda
da brigada Hespanhola.
O Corpo Britannico ; a saber, o 2". batalhão do regi-
mento 27, o Corpo livre Calabrez, e as companhias de
atiradores naõ excederam de 1100 homens na acçaõ.
634 Miscellanea.
LONDRES.—REPARTIÇÃO" DA GUERRA, IS DE OUTUBRO.

O Capitão Conde de March chegou hoje com um officio do Fcld-mare-


chal Marquez de Wellington, dirigido a Conde Bathurst, um dos princi-
paes Secretários de Estado de S. M , ; do qual o seguinte he copia.
Letaca, 9 de Outubro, 1813.
"MY LORD!—Tendo julgado conveniente cruzar o Bidassoa, com a es-
querda do exercito, tenho o prazer de informar a V. S. que se effectuou
aquelle objecto aos 1 do corrente.
O Tenente-general Sir Thomaz Graham, ordenou quea 1*. e 5'. diviso-
ens, e a 1*. brigada Portugueza, sob o brigadeiro-general Wilson, cruzasse
aquelle rio em tres columnas abaixo, e uma acima do lugar da ponte de-
baixo do commando do Major-general Hay, Coronel o Honr. Greville
Major-general o Honr. Eduardo Stopford, e Major-general Howard; o
Tenente-general D . Manuel Freire ordenou, que aquella parte do exercito
Hespanhol, que estava immediatamente debaixo de seu commando, cru-
zasse em 3 columnas, nos váos, acima daquelles que passaram as tropas
Alliadas Britannicas e Portuguezas. Os primeiros eram destinados a to-
mar os entrincheiramentos do inimigo, cerca e acima de Andaye, ao mesmo
tempo que os últimos tomassem os de Montagne-Verte, e das alturas de
Mandale, pelo que flanqueartam a esquerda do inimigo.
As operaçoens de ambos os corpos de tropas fôram bem sucredid.T» cm
todos os pontos. As tropas Britannicas e Portuguezas tomaram 7 peças
d'artilheria, nos redutos e baterias que assaltaram, e as tropas Hespanholus
uma peça nos redutos, que acommetteram.
Tive particular satisfacçaõ" em observar a firmeza e galhardia de todas
as tropas. O reg. 9 Britannico, encontrou mui forte opposiçaõ • carregou
mais de uma vez com a bayoneta • e soffreo bastante: mas julgo-me feliz
em poder accrescentar, que nas outras partes destes corpos a no»sa perda
naõ foi grande.
As tropas Hespanholas, sob o Tcnente-geueral D. Manuel Freire, te
portaram admiravelmente bem, e fl.inqiieáram e tomaram os entrincheira-
mentos do inimigo no outeiro, com grande dexteridade e galhardia; e *»u
muito obrigado ao Tenente-general, e ao Tenente-general Sir Thomaz
Graham, e aos officiaes do Estado-maior de ambos os corpos, pela execução
dos arranjamentos desta operação.
O Tenente-general Sir Thomas Graham, havendo assim estabelecido
dentro do território Francez, as tropas do Exercito Alliado Hritaimico, c
Portuguez, que taõ freqüentemente se distinguiram debaixo de sua» ordem,
resignou o commando ao Tenente-general Sir Joaõ* Hope, qne tinha che-
gado da Irlanda no dia antecedente.
Em quanto isto se passava na esquerda, o Major-general C. Barão" Alten
atacou, com a divisai! ligeira, os entrincheiramentos do inimigo em Puerto
de Vera, sustentado pela divisão Hespanhola, sob o brigadeiro-general
Miscellanea. 635
Longa; e o Marechal de Campo, D. Pedro Giron atacou os entrincheira-
mentos e postos do inimigo na montanha chamada La Rhune, immediata-
mente na direita da divisão ligeira, com o exercito da reserva da Anda-
luzia.
O Coronel Colborne, do reg. 52, que commandava a brigada do Major-
general Skerrett, na auzencia do Major-general, em conseqüência de sua
mà saúde, atacou a direita do inimigo em um campo, que estava forte-
mente entrincheirado j e o reg. 52, debaixo do commando do Major Mein,
carregou da maneira mais galharda, e tomou oentrincheiramento á-bayon-
neta. O 1°. e 3 a . de caçadores, e o 2°. batalhão do reg. 95, assim como o
reg. 52, se distinguiram neste ataque.
A brigada do Major-géneral Kempt atacou por Puerto, aonde a oppo-
siçaõ naS foi mui grande ; e o Major-general Carlos Alten participou a
sua opinião do discernimento que mostraram tanto o Major-general, como
o coronel Colborne, nestes ataques. Sou particularmente obrigado ao
Major-general Carlos Alten, pela maneira em que executou este serviço :
a divisão ligeira tomou 22 officiaes e 100 soldados prisioneiros, e tres peças
d'artilheria.
Estas tropas levaram tudo diante de si, da maneira mais galharda, até
que chegaram ao pé do rochedo, em que está a hermida, e fizeram repet-
tidas tentativas, para tomar o posto de assalto; mas éra impossível subir
acima, e o inimigo ficou durante a noite de posse da bermida', e sobre um
rochedo na mesma cordilheira de montanhas, com a direita das tropas Hes-
panholas. Passou-se algum tempo bontem de manhaS, antes que se des-
vanecesse a nevoa suficientemente para reconhecer a montanha, que eu
achei ser inaccessivel, pela sua direita, e que o seu ataque se podia com
vantagem combinar, com o ataque das obras do inimigo, em frente do
campo de Saarre. Consequentemente ordenei ao exercito de reserva, que
se concentrasse na sua direita, e logo que começou a concentração, o ma-
rechal de Campo D. Pedro Giron ordenou ao batalhão de las Ordenes,
que atacasse o posto do inimigo, no rochedo da direita da posição occu-
pada por suas tropas, que instantaneamente se tomou da maneira mais ga-
lharda. Estas tropas seguiram o seu bom successo, e tomaram o entrin-
cherramento, que protegia a direita do campo de Saarre, e o inimigo eva-
cuou immediatamente todas as suas obras, para defender os aproches do
campo, de que tomaram posse os destacamentos, que se mandaram da 7*.
divisão, enviados para este fim pelo Tenente-general o Conde de Dalhou-
sie, por Puerto de Eschalar.
D. P. Giron estabeleceo entaõ um batalhão na esquerda do inimigo,
sobre o rochedo da hermida. Era demasiado tarde para proseguir adi-
ante, a noite passada, e o inimigo se retirou do seu posto da hermida, e do
campo de Saarre, durante a noite.
Da-me singular satisfacçaõ o puiier participar o bom comportamento
636 Miscellanea.
dos officiaes e tropas do exercito de reserva da Andaluzia, tanto nas ope-
raçoens de 7 do corrente, como nas de hontem.
O ataque, que fez hontem o batalhão de las ordenes, debaixo do com-
mando do Coronel Hore, foi executado com mui boa ordem, e com tanto
espirito, quanto tenho visto em tropas algumas : e estou muito satisfeito
com o espirito e disciplina de todo este corpo.
Naõ posso applaudir demasiado a execução dos arranjamentos para
estes ataques, que fez o Marechal de Campo D. Pedro Giron, e os officiaes-
generaes, e do estado maior, debaixo de suas ordens.
Omitti participar a V. S. no meu officio de 4 do corrente, que, no meu
caminho para Roncesvalles, no I o . do corrente, ordenei ao Brigadeiro-
general Campbell, que trabalhasse por tomar os piquetes do inimigo que
lhe ficavam em frente, e que elle atacou naquella noite, com mui bom suc-
cesso com as tropas Portuguezas de seu commando, tomando ura piquete
todo inteiro, que consistia em 70 homens : taõ bem se tomou por assalto
um posto fortificado na montanha de Arolla,e toda a guarniçaõ foi passada
á espada.
Depois que escrevi a V . S. a ultima vez, recebi cartas do Tenente-gene-
ral Clinton, na Catalunha, em data de 3 do corrente. O General estava
ainda em Tarragona, e o inimigo na sua posição antiga no Lobregat.
O Tenente-general Lord Guilherme Bentinck se tinha embarcado p a r a
Sicilia aos 22 de Septembro.
Mando este officio pelo meu ajudante de campo o Capitão Conde de
March, que peço licença p a r a recommendar á protecçaõ de V. S.
Tenho a honra de ser, &c.
{Assignado) WELLINGTON.
Incluo a lista das perdas, que soffremos na ultima operação ; e lista dos
mortos, feridos, e extraviados, do exercito commandado pelo Tenente-
general Lord Guilherme Bentinck, nas acçoens de Ordal, aos 12 e 13 do
passado.

Total da perca na passagem do Bidassoa, aos 7 e 0 d1 Outubro.


Perca Britannica.—1 Capitão, 3 tenentes, 5 sargentos, 1 tambor, 69
soldados, mortos: 1 major, 12 capitaens, 22 tenentes, 4 alferes, 1 do esta-
do-maior, 33 sargentos, 3 tambores, 419 soldados, feridos : 5 soldados, ex-
traviados.
P e r d a Portugueza.—1 Tenente-coronel, 1 capitão, l tenente 2 alferes, 2
sargentos, 41 soldados; mortos: 1 major, 1 capitão, 2 tenentes, 7 alferes;
18 sargentos, 1 tambor, 152 soldados, feridos : 8 soldados, extraviados.
Naõ se receberam ainda listas exactas da perca Hespanhola, mas ava-
lua-se em 750 mortos, feridos e extraviados.
Miscellanea. 637

Bullelíms do Exercito Combinado do Norte aVAlemanha.


Bulletim XIII.
Quartel-general de Leyda, 12 de Septembro.
O Principe da Coroa mudou o seu quartel-general hon-
tem á noite para este lugar. Muitos dos officiaes que fica-
ram prisioneiros na ponte de Torgau, affirmâram hontem
que o Principe de Moskwa estava morto. Outros dizem
que o viram na cabeça de ponte exhortando as suas tropas
a defendélla. Os mesmos officiaes referem, que poucos
momentos antes que as columnas Suecas e Russianas appa-
recessem na planície, o Principe de Moskwa se poz á
frente da reserva, composta de duas divisoens, e mar-
chando contra o exercito Prussiano, exclamou, " A vic-
toria he nossa : dentro emdous dias estaremos em Berlin."
Elle porém, demorou a marcha, vendo a multidão dos
batalhoens, que chegavam ; e a desordem se fez com-
pleta, com a chegada da cavallaria.
As divisioens do exercito Prussiano, que sofTrêram mais,
se estaõ reorganizando, c concertando as suas perdas. He
difficil mostrar mais valor, ou mais perseverança, do que
mostraram os soldados novos Prussianos. O batalhão do
Landwehr se pôde agora comparar ás melhores tropas da
Europa.
Naõ existem zelos algums no Exercito Combinado.
Elle apresenta a pintura de uma familia de homens valo-
rosos, que tem jurado vencer ou morrer na defensa da
honra de seus Soberanos, e da liberdade da Europa.
O General Winzingerode ja se moveo cruzando o Elbe,
com alguns milhares de Cossacos ; e o General Czernicheff
ja occupa Dessau e Coethen.
O exercito está juncto ao Elbe, e se ajunetam mate-
riaes cm muitos pontos para a passagem daquelle rio.
Tres mil homens Prussianos do Landsturm passaram o
Elbe em Leutzen, para o fim de proteger os antigos sub-
ditos de Prússia.
VOL. X I . N o . 6 5 . 4 N
638 Miscellanea.
O Landsturm da Pomerania Sueca ja tem estado em
serviço activo. Dons mil cidadãos de Stralsund se offe-
recêram voluntariamente para trabalhar nas fortificaçoens
daquella praça.
As participaçoens de nossos agentes secretos em Leipsic
referem, que chegaram ali correios, annunciando a en-
trada das tropas Austriacas era Munich.

Bulletim XIV.
Quartel-general Koswig, 14 de Septembro.
O Principe da Coroa mudou o seu quartel-general para
este lugar, antes de hontem.
O exercito tem feito um movimento geral para o Elbe.
Elle está oecupado com os meios de obter pontos fortes
juncto aquelle rio, a fim de auxiliar o Grande Exercito.
Os exércitos do centro, commandados pelos Generaes
Blucher, e Bennigsen, se aproximam a Dresden. O Ca-
pitão Sueco Platen, dos hussares de Morner, qae foi
mandado a effectuar uma juneçaõ com o General Blucher,
conseguio o seu fim nas vizinhanças de Bautzen.
O ardente desejo de Napoleaõ, de annihilar o exercito
do Norte de Alemanha, tem oceasionado aquelle Sobe-
rano muita perda de tempo, e muita gente em marchas,
e contra marchas. A fim de sustentar as operaçoens do
Marechal Príncipe de Ragusa, era Hoyeswerda, aos 7 de
Septembro, este corpo, com a força de 25.000 homens
teve ordem de marchar para Berlin, a fim de effectuar
uma juneçaõ ali com o Principe de Moskwa. Portanto se
devia mandar um forte destacamento para o flanco direito
do General Blucher e obrigallo a retirar-se. O Duque de
Ragusa chegou a Hovcs-Dennewitz, c se retirou apressa-
damente duas horas depois ; marchando por Konigsbruck
para Dresden, aonde o Imperador Napoleaõ, que o pre-
cedeo, eutrou na manhaã de 9.
Duas vezes o Imperador Napoleaõ cora as suas guardas,
Miscellanea. 639
e o corpo do Duque de Ragusa fez movimentos offensivos;
e duas vezes, obrigado pelas circumstancias, se retirou
com precipitação e perda.
Na retirada de 8, o corpo do Duque de Ragusa foi
atacado em Hoyeswerda, pelo destacamento do Coronel
Figner, das guardas Russianas. O coronel, á frente de
800 cavallos, perseguio o Duque de Ragusa até Konigs-
bruck matou-lhe muita gente da sua retaguarda, e tomou-
lhe mil prisioneiros. Continuando sem intermissaÕ o segui-
mento do inimigo, este official se encontrou com a baga-
gem, tomou a maior parte delia, matou-lhe muita gente,
trouxe 400 cavallos de puchar. Voltando depois para
Grossenhayn, derrotou dous esquadroens do inimigo, per-
tencentes á divisão de Girardin. Pessoas, que este offi-
cial mandou para Dresden, o asseguraram, quando vol-
taram, que aquella cidade estava provida de mantimen-
tos, e necessários do exercito somente para 15 dias; e
nada restava para os habitantes.
A corte de Saxonia, antigameute taõ feliz, e tranquilla,
vê agora a sua capital exposta a todos os horrores de um
sitio. O mesmo Rey, que éra abençoado por seus subdi-
tos, he agora uma miserável testemunha das calamidades
queopprimem o seu povo, sem que lhe sêju possivel ali-
viallas ; e sem outro prospecto mais do que o vêllas ainda
mais aggravadas.
A naçaó Saxonia conhece a sua humiliaçaõ, e a de seu
Soberano ; e deseja tornara assumir a sua graduação, entre
os Estados independentes : ja se manifesta um espirito pa-
triótico ; e bem depressa se veraõ na Saxonia 100.000 ho-
mens armados, em defeza dos interesses da Alemanha, e
da grande causa da Europa.
A legiaõ Saxonia se está formando ao mesmo tempo que
a de Baden ; e os Alemaens podem mostrar, que saõ dig-
nos de seus antepassados. He de esperar, que, em breve
tempo, todas as naçoens desde as costas do Baltico até
4 N2
640 Miscellanea.
as margens do Rheno, se levantarão em massa, e repul-
sarão os oppressores do Continente para a margem esquerda
daquelle rio. O temor ja os naõ pódc assustar ; porque
400,000 guerreiros victoriosos estaõ promptos em todos os
tempos para os auxiliar e ajudar.
Os Alliados naõ tem desígnios contra a França : elles
amam, elles respeitam os Francezes; porém estaõ deter-
minados a naõ ser governados senaõ por seus próprios
Principes, e por suas leys. Se os Francezes do dia de
hoje saõ dignos daquelle glorioso nome, elles se deixarão
de pelejas por uma causa, que tem trazido tantas calami-
dades ao gênero humano, c que expõem a sua reputação
a tanto perigo.
Segundo as noticias de Itália, o Vice Rey foi comple-
tamente derrotado pelo exercito do General Hiller.
Um desertor, que chegou neste momento de Leipsic,
refere ; que o Duque de Dalmacia, Soult, foi outra vez
derrotado uo terreno Francez, pelo Marquez de W e l -
lington.
A moléstia do General Lagerbring, Chefe do Estado-
maior do exercito Sueco, privou o exercito, por algum
tempo, de seus serviços. O General Von Sparre supre o
seu lugar, e cumprirá com estes deveres entanto quanto
as oecupaçoens deste official lhe permittirem.
O Principe Carlos de Mecklemburg Schwerin tem to-
mado o commando do Landsturm do paiz.
Pequenos destacamentos tem ja passado o Elbe, e tem
atirado mutuamente alguns tiros de espingarda, com os
postos avançados Francezes.

Bulletim XV.
Quartel-general de Zerbst, 16 de Septembro.
O Principe da Coroa mudou hontem o seu quartel-ge-
neral para esta cidade. O General Czernicheff passará
hoje o Elbe com um corpo de cavallaria e artilheria. Elle
Miscellanea. 641
levará o terror á retaguarda do inimigo, e effectuará uma
juneçaõ com os partidários do grande exercito de Bo-
hemia.
O Capitão Russiano Fabeck, pertencente ao corpo do
General Czernicheff, que tinha ja passado o Elbe, avan-
çou para Naumburg, aonde achou o General Thielman
com perto de 1.000 cavallos. O Capitão Fabeck, que
se lhe tinha unido com 80 Cossacos somente, atacou o ini-
migo em Querfurth c tomou prisioneiros um Coronel Bá-
varo um Tenente-coronel Francez, 40 officiaes, c 500
soldados! Elle entregou os soldados ao regimento de
Cossacos do corpo do General Thielman, e mandou todos
os officiaes para esta parte do rio.
As noticias de Cassei referem, que reyna a maior con-
sternação naquella cidade, e paizes adjacentes. Os mem-
bros do corpo diplomático estaõ fazendo preparaçoens para
a sua partida. O Ministro Francez, Rjiuhardt, manifesta
grande inquietação.
O Príncipe de Eckmuhl ainda occupa a linha por detrnz
do Steckwitz ; e aos 12 do corrente tinha o seu q-mrtel ge-
neral em Ratzeburg. Tinha destacado o General Pecheux
com 8 ou 9 mil homens para Magdeburg. O General
Conde Walmodeu foi informado deste movimento por
cartas, que tem sido interceptadas, na margem esquerda
do Elbe. Elle partio com parte de suas forças para Do-
mitz, a fim de vigiar os movimentos do inimigo, e se se
offcrecesse occasiaõ de obrar offensivamente contra elle.
A guarda avançada do exercito do Gen; ral Blucher,
estava aos 13, cm Bautzen, e continuou o seu movimento
para Dresden, perseguindo as tropas Francezas, á propor-
ção, que estas se retiravam. Hontem se receberam noti-
cias do General Wobeser, que está em Falkenberg, diante
de Herzberg, aonde o General Tauenzien tem o seu
quartel-general; elle refere que dous corpos d'exercito do
inimigo, sob o commando do Rey de Nápoles, com 13
642 Miscellanea.
reo-imentos de cavallaria, estavam na margem direita do
Elbe. As patrulhas avançaram para a poáiçaõ do Gene-
ral Wobeser ; e tentaram interceptir um comboy de man-
timentos, porém sem bom successo.
Os Generaes Blucher e Beunigsen daraõ boa conta destes
dous corpos, se elles naÕ tornarem a passar para a margem
esquerda do Elbe. O General Tauenzien obrará conse-
quentemente de concerto com o exercito Alliado, de quem
elle forma a esquerda.
O Quartel-general das tropas Suecas está em Roslau.
A vanguarda está ja na margem esquerda do Elbe, e adi-
anta os seus postos avançados até Dessau. O General
Bulow, tem o seu quartel-general em frente de Witten-
berg ; o cerco começará immediatamente. A guarniçaõ
desta praça foi reforçada.

PROCLAMAÇAÕ.
O Principe da Coroa de Suécia aos Saxonios.
SAXONIOS !—O Exercito Combinado do Norte da Ale-
manha tem passado as vossas fronteiras ; naÕ para fazer a
guerra ao povo de vosso paiz ; mas somente para atacar os
seus oppressores.
Vós naÕ podeis deixar de desejar ardentemente o bom
successo de nossas armas, cujo objecto só he reviver a
vossa arruinada prosperidade, e restabelecer o VOÍ-SO Go-
verno no seu explendor e independência. Nós continu-
amos a considerar a todos os Saxonios como amigos. A
vossa propriedade será respeitada; o exercito observará a
mais exacta disciplina, e as suas necessidades seraõ sup-
pridas da maneira menos pezada ao vosso paiz. Naõ de-
sampareis as vossas casas, continuai como d'antes nas
vossas oecupaçoens ustiaes.
Bem cedo importantes acontecimentos vos libertarão do
perigo de uma politica ambiciosa. Sede dignos descen-
dentes dos antigos Saxonios, e se o sangue Alcnviõ tem de
Miscellanea. 0-1*
derramar-se, seja pela independência da Alemanha, e naõ
para o prazer de um simples individuo, cora quem naõ
estais ligados por laço algum, nem por interesse algum
commum. A França he bella, e assaz extensa; os con-
quistadores da antigüidade se contentariam com tal Im-
pério. Os mesmos Francezes desejam yoltar aos seus li-
mites, que a natureza lhes tem prescripto. Elles odiara a
tyrannia, posto que lhe sejam subordinados. Aventurai-
vos por fim a dizer-lhes, que estais resolvidos a ser livres;
e estes mesmos Francezes vós louvarão; e elles mesmos vos
animarão a perseverar em vossa generosa empreza.
C A R L O S JOAÕ.
Quartel-general de Juterbock, 10 de Septembro, 1813.

Bulletim XVI.
Quartel-general de Zerbst, 20 de Septembro.
O Generul Von Puttlitz, que está encarregado da ob-
servação de Magdeburgo, se acha postado em Mockern :
elle enviou vários destacamentos de infanteria para a mar-
gem esquerda do Elbe.
Duas companhias do regimento de Joseph Napoleaõ,
compostas de 1G4 homens, com o seu chefe de batalhão, e
outros dous officiaes, se passaram para as nossas avan-
çadas em Biedcritz, na noite de 16 paia 17 de Septembro,
Elles tiveram permissão de conservar as suas armas, c
foram levados ao quartel-general de S. A. R., d'onde
seraõ mandados para Hespanha, pela via de Stralsund.
Parte do Landsturm de Preignitz, debaixo do com-
mando do Major Vrou Puttlitz, cruzou o Elbe, e tomou,
posse das vizinhanças de Seehausen e Osterburg. Elle
protege os habitantes da Marca-Antiga de Brandenburg
contra as requisiçoens de partidas errantes, e Governo de
Westphalia.
O Tenente-general Conde Walmoden, tendo recebido
informação de que o Príncipe de Eckmuhl tinha desta-
c l 4 Miscellanea.
, d o a divisão do General Pecheux, para a margem es.
r
nuerda do Elbe, passou aquelle rio em Domitz, e na sua
m a r c h a , aos 16, se encontrou com o iuimigo. O General
P e c h e u x se linha postado vantajosamente nas alturas por
detraz tle G o e r d e . Começou a canbonada; o ataque
feito pelos aliradores de Lutzow e Reiclie, e os bem com-
binados movimentos das columnas de infanteria, forçaram
o inimigo a th i x a r a s alturas, e formar se em massa na
planície. Ao momento em que as nossas columnas tinham
chegado até as alturas, a (avaliaria, e os cossacos appa-
recêram no Üiuico esquerdo do inimigo. Naõ obstante
isto, elle fez uma obstinada defeza, sustentou um vivo
combate com a infanteria, e repulsou vários ataques da
cavallaria. Com tudo depressa foi obrigado a ceder á
artilheria, parte da qual seguio de mui perto a infanteria.
Sendo o inimigo repetidas vezes atacado pela infanteria,
th' vários lados, desejou accelerar a sua retirada; c desde
•entaõ a Mia desordem foi completa; porque caliio sobre
elle tanto a infanteria como a cavallaria. O corpo do ini-
migo teria sido totalmente destruído, senaõ fosse o chegar
:\ noite, <: ser o terreno escabroso, o qne fez que se salvasse
uma paríe. O campo de batalha ficou cuberto de mortos
v feridos. Tomamos 8 peças d'artiIJicria, 12 carros de
munição, e grande quantidade d:-bagagem. O General
de brigada Mcilzinski, dous ajudantes òo General P e -
cheuxj e mais de 1.000 homens, ficaram prisioneiros.
Ainda no dia seguinte se apanharam prisioneiros em todos
os lados; demaneira que o todo c.irga a perto de 1.800
homens. O General Pecheux penico o seu cavallo, e es-
canou--c a pé. O resto de sua divisão se está retirando
em desordem para Ekckcãe ; perseguido pelos Cossacos,
debaixo do comnamlo do General Teítenborn.
A nossa perda consís/e cm .70 officiaes e'100 soldados
mortos ou feridos. Os majores Von Lutzon, Firks, e
Scliaiscr, estaõ feridos: o Major D e n u i x foi morto.
Miscellanea. 645
Todas as tropas debaixo do commando do Tenente-gene-
ral Conde Walmoden andaram ás invejas umas das outras,
neste dia, qual mostraria mais zelo, e valor. O terceiro
regimento de hussares Inglezes, o 1°. da Legiaõ, e vários
outros batalhoens das Legioens Ingleza e Russiana, se
se distinguiram muito. Os atiradores de Lutzou e Reiche
tomaram a primeira peça. A artilheria Ingleza, e os
corpos de fogueteiros merecem os maiores louvores.
Durante este ataque, o inimigo avançou, com alguns
milhares, de homens, contra Boitzenburg porem sem ne-
nhum effeito. O General Walmoden mudou o seu quartel-
general, aos 17, para Dannenherg, para ficar mais perto,
e poder melhor observara quella parte do corpo d'exercito
do Principe de Eckmuhl, que ficou na margem direita do
Elbe.
O grande exercito unido de Bohemia deve ter ganhado
novas vantagens ; as contas officiaes ainda naõ chegaram.
Sabmos por noticias particulares de Leipsic, que na
noite de 16, 8.000 de cavallaria, 2.000 dos quaes esta-
vam desmontados, e varias peças d'artillicria desmontadas
chegaram ali. O hospital de campanha foi trazido de
Dresden para Leipsic, e parte delle se passou até Mer-
seburg.
A falta de forragem em Dresden he taõ grande, que ha
algum tempo, que morrem todos dias 200 cavallos.
O General Thielman aprisionou em Weissenfels, um
general, 37 officiaes, e 1.200 soldados. Aos 14, os cos-
sacos tomaram em Wurtzen um comboy de carros carre-
gados de trigo, que era destinado para a guarniçaõ de Tor-
gau, e era escoltado por um batalhão Saxonio. O Coro-
nel Von Mcnsdorf interceptou correios, cujas cartas ex-
põem o estado de abatimento do exercito Francez.
O General Blucher tem o seu quartel-general em Baut-
zen, pela sua ali direita, combina as suas operaçoens cora
as do exercito unido do Norte d'Aleraauha, e pela sua ala
V O L . X I . No. 65. 4 o
646 Miscellanea.
esquerda se communica com o exercito de Bohemia,
Tendo recebido noticia de que o 6 o . corpo d'exercito do
inimigo marchava para Grossen Hayn, o General Blucher
mandou marchar para Camenz o corpo do General Sa-
chen. A vanguarda deste corpo perturbou o inimigo
todo o dia 15 e 16. O 6". corpo do exercito retrocedeo
para Dresden, e o I o . corpo de cavallaria se poz em movi-
mento para seguir a infanteria. O General Conde Tau-
enzien se preparava para o seguir.
O General Wurtembergez, Franquemonl, se tinha
queixado ao General Delort, chefe do estado maior do 4».
corpo, que as suas tropas andavam sempre em avançada
na vanguarda, e na retirada, na retaguarda. Aquelle ge-
neral lhe respondeo : « Deveis estar satisfeito que isso
assim seja : he do nosso interesse que vós todos sejaes
mortos ; porque do contrario, bem depressa vos voltareis
contra nós."
A Dinamarca, que tem cedido ás ameaças c ardilez do
BaraÕ Alquier, aos 3 de Septembro declarou guerra â
Suécia. He estranho, que nesta declaração, as hostili-
dades previamente commettidas contra a Suécia, tanto
por mar como por terra, se passasem em silencio: Nos
esperamos que o Governo Dinamarquez, sendo informado
das oceurrencias no progresso da guerra, percebera final-
mente o perigo que corre; e obrigado pelo total desar-
ranjo de suas finanças, tomará a resolução, e aceitará as
proposiçoens, que se lhe fizerem. Do contrario, se
aquella Corte naÕse unirá causa commum senaõ quando
esta tiver triumphado, naõ terá nisso merecimento, nem
será de utilidade alguma o alcançar-lhe condiçoens mode-
radas. Todo o Norte vê, com pezar, a illusaõ do Go-
vemo Dinamarquez. O Ministro Alquier, que ali he
conservado, deve elle mesmo admirar-se do poder c eíleiío
de suas ordens. Ao momento em que todos os principes
da Confederação do Rheno, se estaõ preparando para sa-
Miscellanea. 647

cudir o j u g o ; h e ditncultoso explicar a razaõ da submis-


são da Corte de Copenhagen.

Bulletim XVII.
Quartel-general de Zerbst, 22 de Septembro.
O General H o w a i s k i , com os seus Cossacos, e o G e -
neral Von Dobschuss, com 4 esquadroens, que fazem parte
da g u a r d a avançada do General Tauenzien, se encon-
traram, aos 19 do corrente, entre Borack e Schwediss,
com o I o ., 8 o . , e 19°. regimentos Francezes de caçadores
de cavallo, atacáram-nos com tam bom successo, que
destes 3 regimentos apenas se escaparam 30 homens. O
Coronel T a y l l e r a n d , 2 tenentes coronéis, e 16 officiaes,
e 500 homens ficaram prisioneiros, o resto foi morto ou
ferido. U m a circumstancia notável, e que somente se
pode attribuir á falta de uniaõ que reyna nas tropas do ini-
migo, he, que toda a nossa perda consistiu em um só Cos-
saco ferido. O General Dobschuss oecupou C o s d o r f e
Muhlberg. O General W o b e s e r observa T o r g a u . Dous
grandes botes, que vinham pelo Elbe abaixo carregados
de muniçoens e vestuário para a guarniçaõ desta ultima for-
taleza, foram tomados. O Capilaõ Von Zcunest, que
fora mandado com 30 homens do L a n d w e h e r , de cavallo,
para a margem esquerda do Elbe, destruio os entrin-
cheiramentos, construídos juncto a R o g a t z . O inimigo
mandou de W o l m i r s t a d t s 100 homens, p a r a impedir isto ;
porém o Capitão Z e u n e r t cahio sobre elles, á frente dos
seus 30 homens, e depois de uma obstinada resistência os
passou á espada. Tomáram-se alguns prisioneiros q u e
todos estavam feridos. O mesmo Capitão Zeunert ficou
gravemente ferido nesta acçaõ.
O Coronel Bjornsíjerna, tendo sido destacado com as
tropas Suecas para a margem esquerda do E l b e , marchou
aos 20 para Kembcrg, na esperança de surprender ali
uma companhia de Polacos ; mas estes tinham j a deixado
4o 2
648 Miscellanea.
o lugar, e tomaram o caminho de Leipsic. O coronel
foi por fim reconhecer a cabeça de ponte, juncto a Mit-
tenbero-, e tomou juncto mesmo á artilheria da praça um
corpo avançado e um correio que trazia varias cartas.
Entre estas ha varias do Governador-general Lapoype,
dirigidas ao Marechal Ney Duque de Elchingen ; ao
Duque de Reggio; e aos generaes Regnier, Narbonne, e
Margaron. O contheudo destas cartas mostra, naõ so-
mente que os soldados, mas ate mesmo os officiaes e sar-
gentos da quella fraca guarniçaõ de Wittenberg, desertam
todos os dias.
O General Conde Walmoden refere, em data de 19,
que o General Tettenborn perseguio o inimigo na sua fu-
gida para Bleckedee Brackede, Luncnburgo, Winsen, e
mesmo até Harburg ; em toda a parte temos apanhado
soldados, que ficavam atraz. O General Pecheux se
escapou com 500 ou 600 homens, que ajunctou em Lu-
nenburg, aonde chegou na manhaã do dia seguinte ao da
batalha, e procedeo em sua marcha para Winsen, e Hopte,
sem parar. O general inimigo Osten tinha ido adiante com
um destacamento de Harburg para Winsen, mas deixou
aquelle lugar, quando o nosso destacamento se aproximou :
ainda se acham dispersos pelo caminho muitos feridos. O
numero de prisioneiros tem crescido a 1.300, durante o se-
guimento foram tomadas as bandeiras, pertencentes ao re-
gimento 3 o . de linha. Aos 18, o inimigo fez um grande
reconhecimento de Mollen, para a parte de Zarrentein ;
e por fim atirou com sigo para traz, indo com a sua ala
direita contra Boitzenburg. O Conde Walmoden recebeo
ordens de atacar o Principe de Eckmuhl, com as suas
forças unidas. Elle he sustentado por 15.000 homens do
Landsturm de Mecklenburg, sob o commando do Principe
Hereditário.
A leva em massa se esta organizando em toda a parte,
n a margem direita do Elbe. Este exemplo bem depressa
será seguido na margem esquerda do Elbe, e em breve se
Miscellanea. 649

exlenderá uma guerra nacional desde o Elbe até o R h e n o ,


similhante aquella com que começou a libertação da Hes-
panha. Os chefes dos districtos esperam somente o signal
para ajunctar as suas forças; e este momento naõ está mui
distante.
O General Blucher tem p u c h a d o adiante um forte des-
tacamento para Konigsbruch. O Conde Von Tauenzien
tomou posse de Liebenwerda, e Elsterwerda, e da linha
por detraz do Elster. O inimigo levantou o seu campo
de Stolzenhagen, junto a Elsterwerda, na noite de 19 para
2 0 : calcula-se em 4.000 homens. Segundo as ultimas
noticias El R e y de Napoies estava em Grossen H a y n .
O I m p e r a d o r Napoleaõ em pessoa, aos 17, atacou o
posto de Nollendorf, nos estreitos passos d a Bohemia,
porém foi repulsado, pelos corpos Austríacos dos generaes
Colloretlo, e Meerveld, com perda de 7 peças d'artilheria,
1 estandarte, e 4.000 prisioneiros, e o General de Brigada
Kreutzcr, q u e foi tomado.
O exercito unido do Norte d'Alemanha tem tomado
mais de 28,000 prisioneiros desde o fim da tregoa. Desde
17 de Agosto até 18 de Septembro passaram por Berlin,
como prisioneiros de g u e r r a , 18.257 soldados, e 299 offi-
ciaes ; e mais de 2.000 se acham de caminho para
aquella c i d a d e : de 2 a 3.000 ficam doentes nos hospitaes
de J u t e r b o c h , Treuenbiictzen, Belzig, e Brandenburg ;
e o corpo d'exercito sob o Conde W a l m o d e n , que manda
os seus prisioneiros para Stralsund, tem tomado mais de
4.000. Se accrescentar mos a este numero o dos mortos,
e extraviados, podemos contar, que a perda total do ex-
ercito opposto ao do Norte da Alemanha, naõ he menos
de 45.000 homens desde 17 de Agosto.
Os prisioneiros tomados pelo exercito sob o General Blu-
cher, e grande exercilo de Bohemia, chegam a 10.000.
Podemos por tanto sem exaggeraçaõ calcular a perda do
inimigo, desde a renovação das hostilidades em mais de
100.000 homens, e 2.250 peças d'artilheria.
650 Miscellanea.
Se como ha razaõ de esperar, a Bavária e Wurtem-
ber"- se unirem á causa da liberdade da Alemanha, o Impe-
rador Napoleaõ naõ terá mais de 150.000 homens, que
oppor aos Alliados.
E l Rey de Dinamarca, mandou sahir o ministro Prus-
siano, e deo como causa disso, que como a Prússia está
em guerra com o Imperador Napoleaõ, naõ se podia
soffrer por mais tempo a presença daquelle ministro em
Copcnhagen. Esta corte trabalha por se justificar com os
alliados, por causa da sua declaração contra a Suécia, e
pretende ter dado aquelle passo, meramente para evadiras
incessantes instâncias do Baraõ Alquier, que pedia 10.000
homens mais, para serem mandados para o Holstein.
Nisto porém parece que ha uma vasta differença, entre a
intenção e o acto.
O inimigo ja naõ tem posição forte na margem esquerda
do Elbe, de Wittenberg até Schernbeck. Os seus postos
avançados estaõ entre este ultimo lugar, e Magdeburgo.
O General Czernicheff está em Bernburg, o Major Vohn
Roseusten em Rosenburg o menor, e o Major Czeczenski
em Zocrbig. As partidas destacadas tem penetrado até
Halle, aonde se puzeram era connexaõ com o General
Thielman, c daii até Delitscb e Billerfeld, e na ala es-
querda até Egein c Wantzlebcn. Elles somente puderam
tomar um pequeno numero de prisioneiros : porque nunca
acharam o inimigo com força considerável. O Major
Von Lowenstein tomou um transporte de 1.300 medidas de
cevada c outros provimentos, que se destinavam para
Magdeburgo.
A vanguarda do exercilo Russiano, commandada pelo
Conde Von Woronzoff, está em Acken (na margem es-
querda do Elbe.) A vanguarda Sueca, debaixo do com-
mando do General Schulzenheim, está em Dessau.
O Principe da Coroa tem confiado o cerco de Witten-
berg ao General Bulow.
Miscellanea. 651

BULLETIM XVIII.
Quartel-general de Zerbs', 26 de Septembro, 1813.
Aos 21 ao romper do dia, dous ofliciaes Saxonios apparecêram
ante os postos avançados Suecos em frente de Worlitz, c os infor-
maram de que os seus batalhoens, se passariam para nos. O Coronel
Bjornstierna, acompanhado por alguns hussares, foi ter á frente dos
batalhoens para os receber. O seu commandante, o Major Von
Buoau, declarou, em nome de toda a sua tropa, que desejava com-
bater debaixo das bandeiras de S. A. R. pela liberdade da Alemanha.
Este batalhão he o primeiro do regimento d'EI Rey : a sua força
chega a 8 officiaes e 360 soldados. Entrou em Worlitz com bayo-
netas fixas, e tambores batentes ; e terá o nome de 1». batalhão da
Legiaõ Saxonia d'El Rey. Em tres dias, ao mais tardar, se comple-
tara a 800 homens.
O official Cossaco Obreis, que foi destacado com 30 homens, aos
23 juncto a Goldwitz, tomou um capitão, 2 officiaes, e 40 dragoens
Saxonios, prisioneiros, depois de um ligeiro combate.
Seis barcas canhoneiras Suecas, commandadas pelo Capitão Kru-
ger, canhoneãram com bom effeito a cidade de Stetlin, o subúrbio
de Damra, e as baterias que ligam estes dous lugares.
Aos 24 de Agosto, se desmontaram tres peças em Damm. O
Tenente-coronel Feririam, o seu ajudante, um sargento-maior, e
vários soldados fôram mortos; e grande numero feridos, da parte
do inimigo. Aos 30 de Agosto, a porta de Damm foi arrombada a
tiros d"artilheria ; e no 1°. de Septembro, se dirigio o fogo contra a
mesma cidade. As barcas tiveram alguns homens mortos nestas
acçoens.
Para attrahir a attençaõ da guarniçaõ de Wittenberg da parte
aonde se tinham aberto as trincheiras, e diminuir portanto a nossa
perda, recebeo o General Bulow ordens de bombardear a praça da
parte opposta. A's 2 horas da tarde de 24 mandou atacar os su-
búrbios. As judiciosas disposiçoens, que fez o General Hirsclifeldt,
fizeram com que o ataque fosse completamente bem succedido. Os
subúrbios foram tomados, e o inimigo repulsado em todos os pontos t
nós tivemos poucos feridos, e nem um só homem morto. Este ata-
que faz grande honra ao General Hirschfeldt.
Abriram-se as trincheiras da parte de Luthersbrunn, na noite de
24 para 25 : o bombardeamento começou na mesma noite, e se in-
cendiaram varias partes: o fogo continuou desde as 10 horas da
noite até ás 5 horas da manliaã seguinte. Podia distinguir-se o
g52 Miscellanea.
fo.ro das torres de Leipsic e Dresden. Ao mesmo tempo se abrio"
segunda parallela, da parte do castello. A cavallaria do (onde
Woronzow guarnece Halle, Querfurth, Ernsleben, Bernsburg e Hal-
berstadt.
Esteve em Quedlinburg um destacamento. Parte desta cavallaria
formou uma juneçaõ com o grande exercito de Bohemia, e marchou
para a retaguarda do General Lefebvre, que escaramuçava com o
General Thielmann. Em Leipsic tudo está na maior confusão.
Esta cidade j a naõ pôde pagar as contribuiçoens de dinheiro, manti-
mentos, e cavallos, que se lhe impõem de todas as partes. O povo
está reduzido a tal gráo de miséria, que as authoridades, que levam
estas ordens tem tudo que temer. Os soldados Francezes estaõ cança-
dos, e enfadados de uma guerra sem objecto a que elles chamam
guerra de assucar e caffé.
O General Czernicheff partio para uma expedição secreta, com
um corpo de 3.000 cavallos.
O Major Hellwig, do corpo do General Bulow, abrio, na margem
esquerda do Elbe uma communicaçaõ com a vanguarda do General
Schulzenheim, em Dessau.
O Feld-marechal, Conde Stedinck, mandou construir obras consi-
deráveis acima de Rosslau, e entre o Elbe e o Mulda. 0 General
Baraõ Winzingerode está formundo a cidade de Achen em uma for-
taleza.
0 governo militar entre o Oder, e o Vistula tem posto todo o
Landsturm na margem direita do Oder, debaixo das ordens do gene-
ral commandante dos sitios de Stettin e Custrin. Este Landsturm
formará uma massa de perto de 55.000 homens em uma linha de 7
milhas Alemaãs. 0 Landsturm na margem esquerda do Oder pro-
duzirá na mesma extensão igual numero de gente. Esta força naõ
he certamente necessária, em conjuneçaõ com as tropas de linha,
para accelerar o rendimento destas praças. Consequentemente era
uma linha de 14 milhas Alemaãs ha j a organizada uma massa de
100.000 paizanos, que estaõ promptos a pelejar em defensa e protec-
çaõ de suas casas.
Quando Magdeburgo estiver cercado, se chamará a campo o Land-
sturm daquella provincia; a cada passo que o exercilo Aluado der
para diante, achará massas, que o ajudem.
Cartas recebidas de Dresden referem, que a Principe de Neufcha-
tel está mui descontente, e que tem feito as mais urgentes represen-
taçoens, para persuadir o Imperador Napoleaõ, que faça a paz. Se
Miscellanea. 653
se tivessem seguido os seus conselhos, a humanidade teria tido
menos que lamentar.

BULLETIM XIX.

Aos 27 de Septembro começou o inimigo a fazer a sua retirada de


Grossenhayn, para cruzar o Elbe em Meissen ; e assevera-se, que se
está preparando para evacuar Dresden. Os desertores nos assegu-
ram, que os armazéns militares daquella Cidade fôram j a queimados;
e que os habitantes se acham expostos á mais horrorosa miséria.
0 General Conde Tauenzien, sem a menor demora, destacou a sua
cavallaria ligeira em seguimento do inimigo : destinam-se vários
destacamentos fortes para a margem esquerda do Elbe. A infante-
ria daquelle general felizmente se unio j a ao corpo de exercito de
Blucher. O quartel-general deste, se mudou para Elsterwerda aos
28. O General Benigsen tem estado em Zittau desde os 25 ; pela
actividade unida destes tres corpos se espera que o inimigo será em
breve forçado para traz, para o paiz entre o Elbe, e o Sàale.
Wittenberg continua a ser vivamente bombardeada. Na noite
de 27 a 2 8 , a cidade estava incendiada em vários pontos - ardeo uma
torre do castello, e cahio abaixo.
Alem das bombas, se usam igualmente os foguetes, debaixo da
mui hábil direcçaõ do Capitão Inglez Bogue. A guarniçaõ respon-
deo aos nossos ataques, com a sua artilheria; mas inteiramente sem
effeito : podem os sitiados talvez tentar uma sortida, porém o Ge-
neral Bulow está diante da praça com 30.000 homens; e se for
necessário pôde ser reforçado com mais 10.000
As necessidades de Magdeburgo tem chegado ao seu maior a u g e .
Mais de cem mil familias, que estavam absolutamente sem subsis-
tência, sahiram daquella cidade. Grande parte da guarniçaõ, que
he composta de todas as naçoens, está doente. A inimizade dos
Saxonios e Westphalianos contra o militar Francez, tem arrebentado
em violentos distúrbios; fizérain-se fogo uns aos outros com armas
pequenas, e os Francezes fôram obrigados em sua defeza a voltar as
peças d'artilheria contra os amotinados. O Imperador Napoleaõ
deo ordem aos seus generaes para tomar Dessau, custasse o que
custasse. Recebeo-se informação disto em tempo sufficiente para
se noticiar ao Major-general Schulzenheim, que evacuasse a praça,
e se retirasse gradualmente para as obras da cabeça de ponte. Exe-
cutou-se isto aos 27, entre o meio dia e as 2 horas da tarde. O
inimigo naõ emprehendeo cousa alguma contra o General Von
V O L . X í . No. 65. 4 p
ç-r»,j, Miscellanea.

Schulzenheim. O Coronel Bjornstierna, que estava em Worlitz,


teve ordens de retroceder para a margem direita do Elbe. Antes
de hontem, a partida que cobria os trabalhadores, na cabeça d<í
ponte, fez um reconhecimento até Dessau. Aquelles postos do ini-
migo, que se tíuliam aventurado a sahir da cidade fôram rebatidos,
e repulsados até as ruas; c a partida de reconhecimento voltou para
traz a pôr-se de dentro dos entrincheiramentos. Nestas escaramuças
tivemos '20 homens mortos, e feridos.
Logo depois recebemos noticias de que o inimigo linha recebido
reforços em Dessau, c estava avançando contra a cabeça de ponte.
O Feld-marechal, Conde Stedink, mandou contra elle o Coronel
Bjornstierna com 1.000 infantes, e alguns cavallos, e duas peças
d'arlilheria. O inimigo se retirou apprcssadamente para a cidade,
e fechou as portas. Alguns officiaes moços e soldados, levados de
demasiado valor, atiraram com sigo, a pezar da chuva de balas do
inimigo das casas e dos muros, a uma porta, e trabalharam por ar-
romballa com machados, mas os pregos e travessas de ferro, fizeram
isto impossível. O Coronel Bjornstierna ordenou ás suas tropas, que
se retirassem para a cabeça de ponte. Quando elle tinha chegado
á distancia de 100 varas o inimigo abrio a porta, e fez fogo com 3
peças d'artilheria. O coronel fez halto, e respondeo ao fogo com a
sua artilheria, marchou contra o inimigo, que tornou a marchar
para a cidade ; e fechou as portas. A nossa perda consiste em dous
officiaes mortos, e alguns feridos; e 3 ou 4 soldados mortos, e perto
de 40 feridos. O Coronel Bjornstierna teve 3 cavallos mortos ou
feridos. Pela noite, tornou o inimigo a sahir da cidade e tomou a
sua direcçaõ para a ponte que atravessa o Mul.ia, a qual estava en-
carregada a um batalhão, sob o commando do Coronel Aklercreutz.
,''ste valoroso ofacialcruzou aponte, atacou o inimigo, e o repulsou
outra vez para a cidade, cujas portas entaõ se fecharam.

Hontem ás 9 horas da manhaã, o inimigo se mostrou com um


corpo de 7 ou H mil homens, nas vizinhanças de Oranienhaun, entre
o Mttldau e o Elbe .- como nós tínhamos recolhido os nossos postos,
o inimigo mostrou svm/itom.is de marchar contra os entrincheira-
mentos, e de os forçar. O Tenente-general Baraõ Sandcls se poz á
frente de tres hataihoeas, sahio de nossas linhas e foi directamente
ao inimigo. Derrotou, e o levou diant-J de si, pelo caminho por onde
Unha vindo; por mais de um quarto da milha Alemaã. Como este
general tinha recebido ordens de voltar para a cabeça de ponte, elle
ns executou com tal precisão, que naõ poderia ser melhor em um
imento de parada. O fogo da mosqueteria contra os atiradores.
movi
Miscellanea. oüv
continuou por algumas horas; e o inimigo naõ emprehendeo mais
cousa alguma: segundo o que referem os camponezes, o inimigo
perdeo mais de 600 homens. Tivemos um official morto, JO feri-
dos; e peito de 300 soldados mortos ou feridos.
O Feld-marechal, Conde Von Stedinck, queria passar a noite na
cabeça de ponte, e foi necessária toda a persuasão de S. A. R. o
Principe da Coroa, para alcançar delle que se abstivesse de tal reso-
lução.
O Tenente-coronel Marowitz, que tinha sido destacado como par-
tidário, para sustentar as operaçoens do General Tettenboru, forçou
a sua entrada em Brunswick, surprendeo as tropas a l i ; e aprisionou
uni coronel, e 400 officiaes e soldados.
O Capitão Russiano Barotzi foi atacado em Halle. por tropas mui
superiores ás suas em numero; mas este valoroso official manobrou
taõbem, que repulsou o inimigo, e tomou-lhe alguns prisioneiros.
Cm destacamento, que se mandou contra iMerseburg achou a
cidade ja evacuada pelo inimigo.
O General Conde Worozow, tendo 9abido que o inimigo se tinha
yoltado para Coethen, mandou os Capitaens Oreschoff e Lowenstein,
que marchassem contra elle, com um destacamento de Cossacos.
Elles se lançaram sobre os tres esquadroens de Uhlanos Polacos, der-
i otáram-nos, e tomaram prisioneiros o official commandante e 40
soldados.
A communicaçaõ do Imperador Napoleaõ com a França está cor-
tada ao ponto, que os seus mensageiros se vem na necessidade de
serem escoltados por divisoens inteiras. Até aqui eram somente as
tropas ligeiras quem fazia esta espécie de g u e r r a ; mas agora, os
habitantes de vários districtos principiam a seguir o exemplo dos
Hespanhoes e Russianos, fazendo causa commuui com os militares
dos alliados.
A deserção do exercito do inimigo he mui grande : passam-se
para a nossa parte, 30 ou 4 0 homens todos os dias.
Temos interceptado vários officios do Conde Dernath, Ministro
Dinamarquez na Corte de Saxonia, a M r . Von Rosencrantz. Como
estes eram destinados a dar á Corte de Dinamarca a iulomiaçaõ ne-
cessária, relativamente ao estado dos negócios em Dresden, ter-ie-ha
cuidado de que elles cheguem ao lugar do seu destino.

4 f 2
fj5g Miscellanea.
BULLETIM XX.
Quartel-general em Dessau, 4 d*0utubro.
O Principe Real translerio hoje o seu quartel-general paia
este lugar.
As tentativas, que fez o inini'_'o, aos 29 de Septembro, para
tomar as obras, que apenas estavam traçadas, na ponte de
Rosslau, foi-lhe mais fatal do que elle suppunha. Os officiaes
e soldados aprisionados e os desertores, e habitantes do paiz,
coincindem em avaliar a sua perda a 1.500 homens, pelo cal-
culo mais biixo, enterraram se aqui de 700 a 1000 homens. O
General Sanilcls lhe causou esta perca somente com tres bata-
lhoens.
O General Blucher, por uma destas marcha» de que a his-
toria apenas fornece exemplo, e que somente podia suggerir o
enthusiasmo pela liberdade de seu paiz ; avançou, com a maior
parte (lc sou exercito das vizinhanças de Bautzen para Elslcr*
c, ainda que tivesse de levar com sigo a equipagem de uma
ponte, effectuou a passagem cm taõ breve tempo, como teria
feito um simples viajante. Depois de passar o Elbe atacou o
4 o . corpo do exercito inimigo, commandado pelo General Ber-
trand, aos 3 de Outubro, juncto a Wartenburg, pôllo em
fugida, matou grande numero, expulsou o de todos os entrin-
cheiramentos, e tomou 16 peças, 70 caixoens com seus arreios,
6 1.000 prisioneiros.
O Tenente-coronel Lowenstein, com um pequeno destaca-
mento de Cossacos, pelejou contra mais de 2.000 homens, nas
ruas bc Bernburg. Depois de u:n conflicto de duas horas, e de
inimigo ter sido reforçado cora artilheria, foi o lugar abando-
nado mas retomado logo no dia .seguinte, a habilidade e cora-
gem dos Cossacos nesta occasiaõ, assim como a que tnn mos-
trado nas precedentes fr-z-lhcs a maior honra * elles pelejam
fi-ualnientc nas fuleiras, rompem os esquadrocn-, atacam os
quadrados massiços, passam os rios a n.ido, e apresentam-se na
retaguarda do inimigo, aonde espalham o terror e a desordem,
O exercito Russiano cruzou hoje o Elbe ern Aclier». O Gene-
ral Winzingerode mandou avançar para Cothcn a sua van
guarda, commandada pelo Conde Woronzoff.
Miscellanea. 657
A cidade de A c k e n estará d e n t r o em p o u c o tempo t a õ bem
fortificada, q u e , para a tomar, será necessário um cerco r e g u l a r .
H e um ponto na margem esquerda, que o inimigo deixou de
o c c u p a r , e d'onde o exercito alliado tira agora utilidades essen-
ciacs.
H a v e n d o o exercito Sueco lançado uma ponte de botes sobre
o Elbe, em llosslau, passou esta manhaã o rio, ao romper do
dia, c se moveo o u t r a vez para Dessau. Os seus postos avan-
çados se cxtemlem para R a g h u n e J o n i t z , e eslá etiectuada a
juneçaõ com o General Blucher. O exercito do Marechal
JNcy deixou Dessau e J o n i t z ás ò horas da m a n h a ã . A sua
retaguarda foi vigorosatnento perseguida, c se t o m a r a m alguns
prisioneiros.
SeraÕ ainda precisos mais 5 ou 6 dias p a r a se completarem
as obras cm Rosslau. Ellas saõ traçadas em uma bella plani-
cie e fazem grande honra ao General S p a r r e . O 3o. corpo
d'exercito 1'rus^iano, sob o commando do General Bullow,
deve cruzar o Elbe a m a n h a ã , o que fará igualmente o G e n e r a l
Conde Tauenzien, com o seu corpo. O General Tliumen
ficará cm frente de Wittenberg. Este general deve c o n t i n u a r
o cerco com o mesmo vigor, que mostrou j á cm Spandau. Se
Wittenberg cahir nas uiaÕs dos alliados, elles ficarão senhores
do Elbe, p o r q u e esta fortaleza c u b r i r á Berlin, e servirá a o
mesmo tempo de deposito p a i a os exércitos alliados.
C m viajante, que chegou aqui de Cassei, ref<Te, que o G e -
neral Czernicheff chegou ali aos 2 8 , tomou a cidade Ha, e poz
cm liberdade os prezos de estado. E s p c i a . s e a conlirmaçaõ
desta novidade.
Antes de hontem, S. A . R . o Principe da C o r o a passou re-
vista ao b a t a l h . õ Saxonio, que se passou p a r a os alliados.
Estas tropas teu» um a bella apparencia. lillas expressaram a
sua resolução de servir á causa da A l e m n n h a , e de seu paiz
natal.
( N . B . Este bulletim conclue com a noticia do rendimento
da cidade, e cidadela de S. Sebastião, n a H e s p a n h a , e d e r r o t a
de Soult aos 31 de Agosto, e l de Septembro.)
658 Miscellanea.

BULLETIM XXI.
Quartel-general de Dessau, 6 d'Oulubro.
O inimigo se retira na direcçaõ de Leipsic. O quartel,
general Jo Marechal Ney, estava em Bittcrneld na noite de 4
para 5. O Maior Czciintscheíf, perseguia anda o inimigo, na
margem direita do Mulda, pelejou todo o dia 4 com a cavalla-
ria da retaguarda, foi cercado varias vezes, p matou e aprisio-
nou grande numero do inimigo. O CapitaÕ Obrcskoff, que
foi mandado com 80 Cossacos para a margem direita do Mulda,
a fim de formar unia communicaçaõ com a guarda avançada do
General Blucher, perseguindo o inimigo entre Oranienburg e
Golp tomou 38 prisioneiros. O General 0'Rourk marchou
para Zorbig, e o Tenente-coronel Melnikoff para Landsberg.
Elle e o Tenente-coronel Chrapowitzky teve hontem uma bri.
lhante acçao, entre Landsberg e Delitsch. O General Francez
Fournier marchou de Leipsic com uma divisão de cavallaria, e
4 peças d'artilheria, a fim de se lhe oppôr. O inimigo, nao
obstante a sua superioridade de forças foi derrotado, e perse-
guido até as portas de Delitsch, com perda considerável em
mortos e feridos, alem de 150 piisioneiros, um dos quaes he
official. O Tenente-coronel Lowenstern continuou a incom-
modar, em frente de Bernbourg, a cavallaria do inimigo, que,
nao obstante ser superior em numero, fez demonstraçoens de
se retirar para Magdeburg.
O Major Baraõ d'Essen, Ajudantc-de-Campo do Principe
da Coroa, e o Capitão Russiano Krasnakutzki, marcharam
para Delitsch, com um regimento de Cossacos. O Coronel
Stael perseguio o inimigo com grande vigor. Elle se distinguio
por seu valor, e habilidade na acçao juncto a Dessau, aos 26
de Septembro.
A expedição do General CzernichelT teve o melhor e mai.
brilhante successo. Ja mais o denodo, os talentos, e o valor
foram taõ conspicuos como nesta occasiaõ. O general, depois
de tres gloriosos combates, entrou em Cassei, aos 30 de Sep-
tembro, por capitulação. Marchou aos 24 para Eisleben, aos
20 para Rosla, e evitando os corpos Wcstphalianos, comman-
dados pelo General Bastineller, postou-se cm Hcilligenstadr,
Miscellanea. 6à9

tez ura movimento lateral, passou por Sondershausen, e chegou


aos 26 pela noite a Mulhausen. Daqui marchou em um dia
para Cassei. El Rey recebeo a noticia de sua chegada somente
duas horas antes. Investindo a cidade por todas as partes,
ordenou aos Cossacos, e hussares de Izun, que atacassem os
batalhoens do inimigo, postados em Bettenhausen, com seis
peças d'artilheria. Fôram tomadas as peças, com um bri-
lhante ataqne; o inimigo, disperso, deixou mais de 400 dos
•eus prisioneiros. O Coronel Bedriaga foi morto nesta occa-
siaõ. Este official, que possuía valor naÕ commum, he lamen-
tado por todo o exercito Russiano. Os fugitivos fôram perse-
guidos até á cidade; mas como as ruas estavam entupidas com
barricadas, os Russos por fim retrocederam. El Rey ajunctou
dous batalhoens das guardas, e mil cavallos, e fugio pela estra-
da, que vai para Frankfort. O Coronel Bekendorff carregou
4 esquadroens de cavallaria ligeira que formavam parte da
escolta; nem um só escapou : tomou 250 homens e 10 offi-
ciaes. O General Czernitscheff, foi então informado de que o
General Bastinellcr vinha avançando para Cassei. Marchou
durante a noite de 28 para Melzulgen, a rim de o encontrar
com todas as suas forcas. O corpo inimigo foi disperso, naõ
•e tomaram senaõ 20 couraceiros, e duas peças. As tropas
que seguiram El Rey foram igualmente dispersas; mais de 360
homens dellas se passaram para o General Czernitscheff, c
marcharam com elle aos 30 para Cassei. Elle fez uso da arti-
lheria que tomou ao iuimigo, c canhoncou a cidade. A porta
chamada de Leipsic, foi tomada, com a artilheria que ali se
achava, pelo Coronel Benkcndorff. Naquelle momento o Ge-
neral Czernitscheff offereceo termos de capitulação ao General
de Divisão Alix. Elle obteve a passagem livre para as tropas
Francezas e Westphalianas, com suas armas, e bagagem mili-
tar. Estas tropas deviam ser escoltadas por Cossacos, até a
distancia de duas milhas de Cassei. A cidade foi occupada, na
noite de 30, pelos Russianos. A alegria dos habitantes foi
além de toda a descripçaõ. A maior parte das tropas West-
phalianas, se passaram para o partido dos alliados: mais de
1.500 estavam ja alistados, quando partio o correio ; e a cpn-
e6Q Miscellanea.

MS9a g , que se deo ao R e y n o de Westphalia, hc da mais vio.


lenta desciipçaÕ.
H e neste m o m e n t o , q u e o N o r t e da Alemanha deve justificar
as esperanças, que a E u r o p a entretem de seu patriotismo, e da
coragem de seus habitantes.
A s guardas avançadas do exercito combinado do Norte da
Alemanha, e do exercito de Silezia, distam uma da outra so-
mente meia légua,
O grande exercito de Bohemia desembocou para a Saxonia.
O H e t m a n Platoff, teve nma acçao em Alten burgo, aos 29 de
S e p t e m b r o , com o General Lefevre Desnouettes, que comman-
dava 8.000 homens, entre os quaes havia 5 brigadas de caval-
laria das guardas. Este corpo foi completamente derrotado, e
perdeo mais de 1 000 homens, que ficaram prisioneiros, 5
peças, e 3 estandartes, e foi perseguido até Zeist. O corpo do
General Thielman, e o do Coronel Menízdorff, se lhe uniram
neste seguimento do inimigo.
O Principe da Coroa vio hontem desfilar por esta cidade
p a r t e do 3 o . corpo do exercito Prussiano, debaixo das ordens
do General Bulow ; e hoje fez o mesmo todo o 4 o . corpo, com-
mandado pelo General Conde Tauenzien. S. A. li. vio outra-
vez com prazer, estas valorosas tropas, e ficou altamente saíis.
feito com o estado de seu armamento, c com sua nobre e mili-
tar apparencia.

Reflexoens sobre as Novidades deste Mez.


3HAZÍL.
Chc-ou a Londres um sugeito, com o character de conselheiro da
embaixada do Principe Kegeitte de Portugal, e se encontra aqui com
o Embaixador de S.A. li-, o Conde de Funchal, que continua a
exercitar as suas funcçoens; com o enviado extraordinário e minis-
tro plcnipoteiiciario o Conde de Palmelu, com um secretario d e
legaçaõ addido ao Conde de Funchal, com outro secretario de lega-
çaõ, addido ao Conde de Pa/mela; além de escreventes, &e„ que
estaõ em actual exercido com o embaixador.
Todos estes homens tem ordenados grandes, propoicionaes aos
empregos a que saõ destinados.
Uns delles trabalham, bem ou mal, em suas oecupaçoens; outros
Miscellanea. 661
naõ se lhes da occupaçaõ alguma ; porque he impossivel achar que
fazer para dous ministros, dous secretários de Legaçaõ, &c. &c.
O Almanack da Corte novamente impresso, chama ao Conde de
Palmela, ministro de Portugal, e ao Conde de Funchal, ministro do
Brazil; fosse quem fosse que deo esta informação ao compilador
do Almanack ; o custume he averiguar-se isto antes de se publicar.
Até aqui saõ factos. A seu tempo as reflexoens.

ESTADOS UNIDOS.
A p. 513 publicamos um extenso documento dos Estados Unidos,
em que se acha mui clara idea do actual estado da questão entre
aquella potência e a Inglaterra. Este elaborado papel, he a resposta
do Secretario de Estado a certos quesitos, que fez ao poder execu-
tivo a Casa dos Representantes no Congresso.
Como a França publicou um documento, ou decreto, em que se
revogavam os seus decretos de bloqueio ; e com data rr.ui anterior ;
a pergunta do Congresso éra tendente a veriguar, se o poder execu-
tivo tivera noticia daquelle decreto, entre a epocha da data que se
lhe attribue, e o tempo de sua publicação. A resposta éra simples ;
mas o secretario de Estado em vez de satisfazer á pergunta, como o
poderia executar, em mui poucas palavras, passa a fazer um longo dis-
curso a respeito das relaçoens politicas com a Inglaterra, esforça-se
em mostrar, que esta naõ revogon as suas Ordens em Conselho, em
conseqüência daquelle decreto Francez; e accumulando tanta ma-
téria estranha a respeito do estado du questão com Inglaterra, nada
diz sobre as relaçoens com a França, sendo aliás a pergunta concer-
nente ás communicaçoens com a França. Por fim sempre responde,
que o Governo Francez naõ coramunicou ao dos Estados Unidos o
tal decreto de revogação de bloqueios, senaõ ao tempo da sua publi-
cação, posto que a data fosse anterior ; d'onde fica evidente, que os
Francezes antidatáram o documento ; e falsamente quizéram per-
suadir, que fora feito ao tempo que declarava; porque éra inútil
fazer um decreto, que se naõ havia de communicar ás partes aquém
interessava. Sobre isto porém o Secretario de Estado naõ faz obser-
vaçoens algumas.
E porém, sem que lho perguntem, faz grandes racionios para mos-
trar; que o Governo Inglez naõ revogou as suas Ordens em Conselho
de bloqueio, em conseqüência da revogação Frauceza, e sim por
outros motivos 5 mas < que tem com isso os Americanos ? Deseja-
vam a revogação das Ordens em Conselho, estas foram com effeit»
VOL. XI. No. 65. 4 Q
662 Miscellanea.

revoo-adas: o motivo, porque assim fôram revogadas he indifferente


aos Estados Unidos.
O Secretario vale-se desta occasiaõ, para fallar na questão da pri-
zaõ dos marinheiros 5 que naõ vinha absolutamente ao caso. Este
ponto he mui intricado 5 porque a legislação Ingleza se acha diame-
tralmente opposta á legislação Americana; levar isto á decisaõ da
guerra, antes de tentar a negociação, parece demasiado violência;
porque a Inglaterra naõ revogaria as suas leys municipaes, e que
affectam unicamente a seus subditos, só porque lhe declaram guerra
os EstadosUuidos; a questão hc taõ importante ao character da naçaõ
Ingleza, que seria necessário suecumbir de todo para ceder tal ponto;
e os Estados Unidos naõ presumirão, conjecturamos nós, que podem
conquistar as ilhas Britannicas em tres mezes.
Por outra parte, a Inglaterra naõ pode ter duvida a entrar em um
arranjamento para este fim; quando as mutuas concessoens deixem
illeso o character nacional, e a subordinação da marinha, taõ es-
sencial á mesma existência da Gram Bretanha.
Esta perseverança do Governo Inglez, a respeito dos seus mari-
nheiros, se lhe faz tanto mais necessária, quanto he considerável o
numero de marinheiros Inglezes, que foge e deserta para a marinha
dos Estados Unidos. Assegura-se que em um committé do Congresso,
nomeado para examinar o estado actual da navegação Americana, se
provou, que havia 14.000 marinheiros estrangeiros abordo de vasos
Americanos; 12.000 dos quaes se suppunha serem Inglezes; c destes
somente 1.600 estavam naturalizados cidadãos Americanos.
Foi em conseqüência disto, que se passou o ultimo bill sobre a
naturalização dos marinheiros, e outros estrangeiros—legislação
que se aproxima mais ás leys e usos das Naçoens Europeas, do que
a practica que ate aqui queriam manter os Estados Unidos. Parece,
que aquelle bill cede tudo aquillo porque os Americanos estaõ
fazendo a guerra; e com tudo continuam em guerra; porque
aquella ley naõ ha de ter effeito, se naõ depois de feita a paz!

FRANÇA.
O decreto, que inserimos a p. 602, assignado pela Imperatriz, he
um daquelles rasgos de Napoleaõ, de que ha taõ freqüentes exemplos,
e que taõ bem characterizam o fogoso de soa tempera, a qual o leva
muitas vezes ao estado de cegueira.
A Inglaterra estava de posse da ilha de Guadaloupe, que tomou
por força d'armas. Achou depois conveniente ceder esta sua posses-
Miscellanea. G62

saõ á Suécia por um tractado : agora apparece o Senatus Consultum


com um projecto de ley, i|ue determina se na") faça a paz com a
Suécia, sem i]ue esta entregue á França a ilha de Guadalupe.
O lazer a paz, ou declarar a guerra, nao he, nem pôde ser em paiz
nenhum, olijecto da legislatura, naõ só por que isso affecta
homens, que nnõ tem obrigação de estar pela legislação que lh«
prescreve uma naçaõ estrangeira; mas porque, a guerra ou a puz
saõ objectos de politica, expediente, ou conveniência, c nunca maté-
ria de legislação.
Parj cumulo do absurdo prohibe este decreto aos habitantes de Gua-
daloupe, que aceitem lugar, honras, ou emprego algum do Governo
de Suécia sob pena de deshonra. A França naõ pode legislar para os
habitantes de um paiz, que naõ hc seu; c os moradores do paiz
conquistado naõ tem outra alternativa senaõ obedecer ao poder
dominante, que hc o seu soberano de facto.
A pena, que se inflige aos habitantes, que aceitarem algum em-
prego, be igualmente dictada com similhante absurdo ; declara-se
que seraõ deshonrados. ; Ora como pôde o Governo da França des-
honrar ninguém, que vive n'um paiz estrangeiro? <• Ou que signi-
fica aqui a palavra deshonra ?
0 Governo Francez oceultou sempre quanto pôde, que o Prin-
cipe da Coroa de Suécia tinha entrado na liga dos Alliados contra
Bonaparte ; e por fim, chegando as cousas ao ponto de que o silencio
somente servia de dar pezo á opinião de que éra este um inimigo mui
temível, começaram os Francezes a insultallo, de todas as formas :
mas estes insultos servem de provar unicamente quanto dôe a Bona-
parte o ter perdido um amigo, e feito delle um inimigo poderoso.
A p. 53(> publicamos o relatório do ministro da guerra, sobre a
guerra com a Suécia. He um papel frivolo, escripto no gosto Fran-
cez, em qne se repettea accusaçaõ de ter a Suécia offerecido ligar-se
com a França, se esta lhe segurasse a posse de Norwega; e de se
ter ligado com os Aluados, unicamente pelos motivos d'ambiçaõ, e
de querer apossar-se da Norwega, a que naõ tem direito algum.
0 relatório do mesmo Ministro da Guerra relativo á Áustria, que
damos a p. 538, vinha acompanhado de mui volumosos documentos,
alguns dos quaes saõ bem interessantes; porém a sua insersaõ he
incompatível com os limites do nosso periódico, só por si encheriam
um volume; os documentos, pertencentes á negociação de Praga
somente, saõ 42. No entanto se houver lugar daremos nos nossos
N", subsequentes, os que forem mais interessantes e esseuciaes,para
4 Q 2
C64 Miscellanea.
entender as verdadeiras relaçoens actuaes entro a Fiança c a
Áustria.
Deste relatório, porém, vera o Leytor, que a França se enganou
mui completamente, a respeito das vistas de Áustria ; e que o gabi-
ente de Vienna se portou com taõ consummada abilidade, que illudui
perfeitamente todas as intrigas e planos do ministro Francez.

HESTANHA.
O Leytor achará neste N°. a p. 602, a importante carta de Lord
Wellington ao Minsstro de Guerra da Hespanha, cm conseqüência
de ter o Governo Hespanhol faltado aos ajustes e condiçoens, que
estabelecera com aquelle General, quando lhe deo o commando
dos exércitos Hespanhoes. Audi alterara partem ,* he uma máxima
essencial, para julgar entre dous ligantes. Lord Wellington es-
tabelece o seu caso naquella Carta : para julgar do seu merecimento,
cora piecisaõ, seria necessário ver a resposta do Govemo Hespanhol,
o que ainda nos naõ chegou á maõ. E com tudo he necessário
confessar, que Lord Wellington estabelece o seu caso com tanta
força, que ficamos convencidos de sua razaõ ; porquo suppómos
impossível, que, tractando-se de factos, Lord Wellington allegasse
áo mesmo Governo Hespanhol com um ajuste que naõ existisse.
Por outra parle; publicou-se, no Diiende-de-los-coffés, em Cadiz,
uma carta de S. Sebastian, assignada " Mirringui \ila\erde," <
que foi copiada cm algumas das gazetas lnglezas, aonde se queixa
aquelle individuo das atrocidades, pilhagem, mortes, estupros, e
incêndios commettidos pelas tropas Alliadas, que tomaram S. Se-
bastian. He impossível que demos credito a acusaçoens, que MÍ
fazem tanto menos criveis, quanto saõ mais abomináveis; simples-
mente pelo testemunho de um individuo; mas uma vez que tae*
cousas se publicam em Cadiz, á face do mesmo Governo Hespanhol,
incumbe a este o examinar, e authenticar aquelles factos; c, se
achar que a acusação he falsa, impor ao promulgador de taes ca-
lumnias, as mais severas penas, que a ley permittir; pelo contrario ;
se as achar verdadeiras, deve exigir de Lord Wellington, qm cas-
tigue exeraplarissimamentc os culpados, c mui principalmente o»
Officiaes commandantes naquella occasiaõ. Sir Thomas Graham»
que commaudava cm chefe o cerco de S. Sebastian, he pessoalmente
designado na quella carta, e portanto be de esperar, que um of-
ficial de tal graduação como elle he, naõ guarde o s.lenc.o n-uma
accusaçaõ taõ seria.
Miscellanea. 665
Quanto a Lord Wellington, estamos plenamente convencidos,
considerando todo o seu comportamento passado, que, se taes atro-
cidades se commetterain em S. Sebastian, elle naõ foi informado
dellas; alias as teria punido como convém. Naõ dizemos isto,
porque o brilhantismo de suas victorias nos offusque a razaõ ao
ponto de o desculparmos, se pensássemos, que elle éra capaz de
fechar os olhos a crimes daquella natureza, commettidos por seu
exercito, contra o$ seus mesmos alliados z nenhumas victorias,
nenhuma gloria militar, nos farta louvar um guerreiro, a quem a
humanidade e a moral faltassem ao ponto de permittir similhante
desenfreamento em suas tropas. Dizemos pois, que ou taes factos
naõ existiram, ou se existiram Lord Wellington naõ soube delles;
porque todos os actos de sua vida publica lhe daõ o character mais
humano, e porque tem mostrado em suas ordens, e proclamaçoens
ao exercito, que commanda, que naõ somente deseja sustentar a
boa disciplina, mas ale exige de suas tropas que os Francezes sejam
bem tractados; e quando elle assim obra a respeito de seus inimigos
l quem se persuadirá, que elle permittisse outra cousa a respeito de
seus mesmos Alliados ?
A concórdia, e a boa harmonia, que deve reynar entre os Al-
liados, exige que se naõ façam, em uma das Naçoens, accusa-
çoens contra a outra, sem provas covincentes; uma vez porém
que se fizeram, a indagação do caso, e a publicação do resultado da
indagação, cora o castigo ou do calumniador ou dos deliquentes,
hc de absoluta necessidade, para o bom êxito da causa commum.
Em prova do character justiceiro e integro de Lord Wrellington,
referiremos uma anecdota. Escreveo aquelle illustre guerreiro
um officio aos 3 de Julho passado, e nelle disse de passagem, que
" o General Clausel tinha repassado o Ebro por que fôra informado,
pelo Alcaide de Tudella, que as tropas Alliadas estavam naquella
estrada." Provou depois aquelle Alcaide, a Lord Wellington, que
elle naõ fôra quem deo a informação aos Francezes; e por mais
insignificante que isto parecesse, Lord Wellington escreveo logo um
officio ao Governo de Hespanha, em data de 22 de Agosto, con-
traiu zendo-se, e dando, com seu próprio punho, publicidade á ino-
cência do Alcaide.
66b Miscellanea.
INGLATERRA.
A p. 567, publicamos uina Ordem do Com mandante em Chefe das
tropas, que descreve os regulamentos piescriptos porS. A. K. o Prin-
cipe Regente ; sobre a distribuição das medalhas concedidas aos offi-
ciaes, que se distinguem em acçoens relevantes.
Publicamos também as listas dos officiaes a quem fôram concedi-
das estas condecoraçoens ; por se acharem ali es nomes de muitos
officiaes Portuguezes, ou conimandando tropa* Portuguezas. K
para naõ perdermosésta occasiaõ de perpetuar a honra das armas de
Portugal, ajunetamos aqui uina estampa em que se representa a me-
dalha, os colchetes, e a cruz, que formam a» differentes insígnias,
pelas quaes »e designam as acçoens, em que os individuo» se distin-
guiram.
Offereccmos t sla Estampa, e a dedicamos, aos SENHOR»s OFFICIAÍ:*
PORTUGUEZLS, que se acham no Exercito, naõ só pelo agradecimento
que lhes devem todos os Portuguezes, como defensores da 1'alria ;
mas também por terem salvado o character Nacional do estado de
despreze, em que geralmente era tido na Europa ; e por provarem
ao Mundo, á custa de seu sangue; que se circumstancias adversas
tinham suspendido por algum tempo a carreira de gloria militar,
qae OK antepassados dos Portuguezes começaram com tanto estrondo
no Mundo, nem por isso se devia julgar que o valor da Naçaõ, ou
seu character militar se tinha annihilado.
Apreciamos ainda mais esta distineçaõ conferida a officiaes Portu-
guezes, por vir de uma Naçaõ Estrangeira; porque o testemunho
uaõ be suspeito : tanto mais que vem de uma Naçaõ donde oi Por-
tuguezes naõ estavam accuslumados a receber demasiados elogios; c
portanto fica evidente a justiça do Louvor; o merecimento dos indi-
víduos, e a gloria Nacional.

PORTUGAL.
Ministros de Justiça.
Publicamos, a p. 509, ura Alvará, expedido em conseqüência de
representaçoens do Governo de Lisboa, pelo qual se regula o nmurro
ée Ministros da Relação de Lisboa, e Porto, e se augmcntaõ a» alça-
das a duas terças partes mais do que até aqui eram.
Quanto á necessidade do augmento das alçadas, he isso mui claro ;
porque tendo subido o preço de todas as cousas; ou, o que he o
mesmo, diminuído o valor nominal do numerário, convinha que a« al-
çadas se augmentassem na mesma proporção; assim como se deve-
ria fazer a mesma alteração nas muletas, propinas, &c, que cm toda a
boa legislação he necessário, que sigam o passo com o valor da»
1 Ife o maJèlo rfajíta, 4.J& a vista, do perfil
</ue pedura a >n. </,i//ut, da. meda Vi a com. arvidnaf
ntvijfrifntrx ao irdof do pescoço, que a coèrem.
e nos corvncis, iw ietaa da cazac, 6 A. cruz, çuc designa
2 ffecoèverso da medalha. 4- iatulhas.
•YOreverso da medalÁa; a âo# 6.0 co&Jwte.tfue designa
genentes k* um pouco maior cada um, uma iata/Áa .
669 Miscellanea.
tribuidos nos tres Tribunaes Supcriories (chamados Kiug s-bench,
Common Pleas, e Exchequer) os quaes de tres em tres mezes se diri-
gem ás provincias, em o que nós chamaríamos correiçoens, decidem
todas as causas civis, e criminaes ; em conjuneçaõ com os magistra-
dos territoriaes, e recolhem-se depois a julgar as causas, que \cn:
por appellaçaõ a seus respectivos tribunaes ; e todos os doze junetos
formam, quando he necessário, uma assemblea, cm que se decidem
os pontos intrincados de direito, que IhesaÕ reservados nas sentenças,
e daõ interpretação authcntica ás leys duvidosas, como se faz cm
Portugal, com os assentos da Casa da Supplicaçaõ.
Nem os limites do nosso Periódico, nem os fins a que elle se dirige,
nos permittem entrar aqui nas miudezas da comparação entre o
estado da magistratura em Portugal, e o de Inglaterra ; c julga-
mos que bastará, para estimular a indagação deste essencial ramo
da administração publica, comparar as generalidades
O território Inglez he maior que o de Portugal; a sua população
muito maior; mais também as transacçoens mercantis; que natu-
menle se seguem do maior commercio interno c externo ; daqui se
deduz, que deve haver maior numero de pleitos.
Logo se na Inglaterra bastam doze Juizes, incluindo os tribunaes
superiores, donde vem, que sejam necessários em Portugal cento c
cinco, alem dos Tribunaes superiores ?
As despezas que este enorme estabelicimento de magistrados
e x i g e ; a complicação que necessariamente produz no foro; e o
favor que isto dá a multiplicação dos pleitos, e a conseqüência neces-
sária delles, que he a incerteza dos direitos de propriedade, reque-
rem um exame circumspecto do estado da magistratura.

Com bastante satisfacçaõ temos de annunciar, que nos chegaram í


maõ listas dos pagamentos de juros, e amortização do principal, do
empréstimo para o resgated'Argel. A commissaõ, que maneja isto, dá
a sua conta clara, e distinetamente; especifica os nomes dos indivíduos,
o saldo dos capitães que vencem juros; o vencimento do juro nos
que o recebem ; e os que fazem donativo delle; a somma que se lhes
pagou em rateio para amortização do principal, c o saldo que se deve
a cada um.
A commissaõ naõ pode deixar de alcançar com isto a plena confi-
ança da naçaõ; e podem estar certos, que he com o procedimento
desta natureza, que o povo apoiará de boa vontade as medidas pu-
blicas; e se daraõ passos rápidos para a annihilaçaõ do teimoso, «
abominável partido dos Godoyanos.
Miscellanea. 669
Negócios Militares.
Como o exercito P o r t u g u e z forma parte d o exercito Alliado, c o m
mandado por Lord Wellington, as noticias que respeitam aos Portu-
tuguezes, se acharão nos officios do commaiid-mte em chefe, que
transcrevemos em seu lugar. Porem c o m o alem dos elogios d a q u e l e
general ás tropas Portuguezas, o Marechal Beresford leni publicado
Ordens do dia, cm que naõ só se menciona e m geral o merecimento
das tropas, mas também se designam os indivíduos que se tem dis-
tinguido ; com summo prazer as copiamos aqui, para contribuir c o m
nosso pequeno esforço a proclamar c eternizar, c o m o c o n v é m , a
gloria dos homeus beneméritos da Pátria.

Quartel-general de Zarauz, 11 de agosto, de 1813.


ORDEM DO DIA.
Com infinito prazer tem ontra vez o lll m o . e E*£c,°. Senhor Marechal
Beresford, Marquez de Campo-Maior de dar agradecimentos em nome de
S. A. R.-o Principe Regente nosso Senhor ao exercito Portuguez, pela sua
conducta em todos os ditlercntes encontros com o inimigo desde a batalha
•nV Vittoria, e mais particularmente pelas provas, que deo da sua disci-
plina, valor, c adhesaõ á causa pública, e ú da sua pátria na grande bata-
Um de 2d do mez passado, juncto a Pamplona, conimanduda cm pessoa
pelo l\[m°. e Ex1"0. Senhor Marechal General Duque da Vittoria, c na de
30 do mesmo mez, debaixo das ordens de Sua Excellencia o Senhor Te-
nente-general Rowland Hill, assim como em todos os ataques feitos pelo
inimigo, e contra este depois da sua ultima entrada, até ú sua expulsão do
território Hespanhol, o que deo lugar a uma lula de tanta honra, e gloria
para as armas alliadas.
O Senhor Marechal teve o gosto de vir a brigada do cominandodo Senhor
Brigadeiro Thomaz Ouilherme Stubbs (quarta divisão), regimentos de in-
fantaria, N°. II, e 23, e batalhão de c;içndores, N°. 7, sustentar, e aug-
mentar a sua antiga reputação; e de ver adquirir reputação a brigada,
do coininandi) do Senhor Brigadeiro Archibaldo Campbell, regimentos de
infantaria, N°. 4 e 10, e batalhão de caçadores, N \ 10; mas observa, que
a comlurla do regimento, N°. 4, e batalhão, N*. 10, merece ser mencio-
nada com especialidade. Ou referidos senhores brigadeiros, os officiaes,
oliiciaes inferiores, e soldados, que estaõ debaixo das suas ordens, acceita-
raõ os agradecimentos do Senhor Marechal, porque elles mereceram a ad-
miração.
O Senhor Marechal vio igualmente a boa conducta do regimento de in-
fantaria, N". 1*2, e batalhão de caçadores, N u . 9,/debaixo das ordens do
Senhor Marechal-dc-Campo A!leu Madden ; e roga ao mesmo Setihui
Mareohal-iIe-Campo, aos oliiciaes, officiiies inferiores, e soldados dcslit
flois corpos, que ostejaõ seguros da perfeita satisfacçaõ úi> Sculíor iiarj»-
VOL. XI. No. 65. 4. a.
6
70 Miscellanea.
ehal pela sua boa conducta. O batalhão de caçadores, N". 9, tem-ie di>-
tinguido sempre.
O Senhor Marechal tem todo o motivo para exprimir a sua sntisfarçnõ,
pela conducta da brigada dos regimentos de infantaria, Nv 7, 16, e bata-
lhão de caçadores, N». 2, debaixo das ordens do Senhor Marorltal-dc-
Campo Carlos Frederico Lecor ; ao qual roga o Senhor Marechal, que a
manifeste aos officiaes, officiaes inferiores, e soldados da brigada.
O Senhor Brigadeiro Carlos Ashworth terá a bondade de fazer saber
aos corpos da brigada do seu commando, os regimentos de infantaria, N-.6
* 18, c batalhão de caçadores, N». 6, que o Senhor Marechal soube com a
maior satisfacçaõ da sua brilhante conducta no dia 30, e deseja que elle
acceite para si, e dê aos officiaes, officiaes inferiores, e soldados ns agra-
decimentos, e approvaçaõ do Senhor Marechal, que elles muito bem sou-
beraõ merecer.
O Senhor Marechal felicita a S. E. o Senhor Tenente-j-oncral Conde de
Amarante pela brilhante conducta da sua divisão; e porque as nuas bri-
gadas, ainda que separadas, se comportaram de modo, que pareciaõ riva-
lisar entre si, sobre qual havia de mostrar melhor conducta, e ganhar mai'.
honra. O Senhor Marechal, tendo feito ao Senhor Brigadeiro Archibaldo
Campbell os mais altos elogios da sua brigada, tem a satisfacçaõ de dizer,
que a brigada do commando do Senhor Brigadeiro Antonio Hvppólilo da
Costa, regimentos de infantaria, N°. 2 e 14, debaixo das ordens immediatas
de S. E. o Senhor Tenente-general Conde de Amarante, naõ tnerereo me-
nos os elogios do Senhor Marechal. O mesmo Senhur Tenente-general
receberá por isto os seus agradecimentos, c terá a bondade de os dar au
Senhor Brigadeiro Antônio Hyppólito da Costa, e aos officiaes, ofTu-iae»
inferiores, e soldados da valorosa brigada do Algarve.
O Senhor Marechal aproveita esta occasiaõ para exprimir no Senhor
Marechal-de Campo Thomaz Bradford a sua satisfacçaõ, pela conducta
da Lrigada do sen commando, regimentos de infantaria, N". 13 e !?4, e
batalhão de caçadores, N". 5, nos combates junto a Villa Franca, i- To-
losa, e no assalto do Convento, e reduto diante da praça de S. .Sebastião,
onde estes corpos se conduziram de modo, que o Senhor General ficou sa-
tisfeito. O Senhor Marechal exprime também a sua satisfaeçuõ pela con-
ducta do batalhão de caçadores, N°. 4, nos referidos combates, e asfalto.
O Senhor Marechal declara, que o exercito Portuguez cumprio bem, r.
valorosamente o seu dever, e continuara assim a cumprido ; e a sua |).it» i.i
«em razaõ para ficar ufana com elle. O Senhor Marechal naõ pó lc per-
der esta occasiaõ para lembrar á» tropas, que reparem nos cffeil.ii da sub-
ordinação, e disciplina, para segurar a sua continuação ; e ao, olli. lacs de
todas as graduações, que cuidem constantemente em tudo o que rc-peita a
manter, e aperfeiçoar uma e outra.
O Senhor Marechal n;iõ pode concluir «em declarar, que acompanha na
magoa, pela morte dos valorosos officiaes, c soldados, a sua patiia, e seu»
Miscellanea. 671
parentes; mas consolem-se, qae elles perderão a vida honrosamente com-
batendo com valor pela mais justa de todas as causas. A morte do Coro-
nel Havilland Lc Messurier será taõ sentida pelo serviço, como por todas
as pessoas, que o conheciaõ ; porem elle, e os Tenentes-coroneis Lourenço
Martins Pegado, e Cândido Basylio da Victoria, morrerão dando exemplo
do valor, qae tem vencido ao inimigo.
O Senhor Marechal também está magoada pelas feridas, qae receberam
os Senhores Brigadeiros Antonio Hyppôlito da Costa, Carlos Ashworth, e
Manoel Pamplona Carneiro Rangel, e todos os mais officiaes, c soldados
do exercito; e espera anciosameote o seu prompto restabelecimento, e qae
o serviço tenha bem depressa a vantagem da sua assistência.
O Senhor Marechal depois de tantas provas dadas pelo exercito Portu-
guez de ama conducta a mais honorífica, e gloriosa para este, e para a
pátria, se serve com infinito gosto do poder, que S. A. R. foi servido con-
ferir-lhe, pelos desejos, qae o mesmo Augusto Soberano sempre teve, de
fazer recompensar o mais depressa possivel os beneméritos do seu exer-
cito : e ainda que quando todos se conduzem taõ brilhantemente, naõ he
possivel recompensar a todos com a igualdade que deseja, com tudo o
Senhor Marechal espera, que ua selecçaS, que fez, o exercito fique con-
vencido, de que queria prehencher as intençoens de S. A. R, animando, e
recompensando o merecimento, e que naõ fez distineçaõ de pessoas. O
caminho das recompensas, assim como os meios de se adquirirem, estarão
sempre igualmente francos. Todos podem servir a sua pátria: todos seraõ
considerados segundo o seu merecimento, sejaõ officiaes, sargentos, ou
soldados.
(Segue-se a promoção, na qual S. £ . elogia o Major Joaquim Teles
Jordaõ.)

Quartel-general de Htrnani, 1 de Septembro, de 1813.


ORDEM DO D I A .
Sua Ex». o Senhor Marechal Beresford, Marquez de Campo Maior, tem
a mais completa satisfacçaõ em mandar transcrever nesta ordem o aviso,
que abaixo segue; por manifestar o bom conceito, que a Suas Excellencias
os Senhores Governadores do Reyno merecem os officiaes, e soldados do
exercito.
AVISO.

III"'. e Ex-o*. SENHOR,—Tendo levado á presença dos Governadores do


Reyno os Officios, que S. Ex*. o Marechal-general Duque da Victoria
ultimamente me dirigio, referindo os detalhes das acções, que tem havido
desde a memorável batalha de Victoria, mui particularmente nos dias 28 e
SO de mez passado; e tendo visto os mesmos Governadores, com a maior
satisfacçaõ, quanto as tropas Portuguezas se distinguiram nas sobredictas
acçoens, continuando a dar as mais decisivas provas do sen valor, e da sua
disciplina, devida essencialmente ás fadigas e incansáveis esforços de
4*2
672
Miscellanea.
V. Ex».; me encarregou o Governo de significar a V. Ex". nos termo» mais
expressivos, o regozijo, com que recebeo taõ gratas noticias, e de recom
mendar-lhe ao mesmo tempo, que no Real Nome do Principe Regente
nosso Senhor haja V. Ex'. de agradecer a todos os officiaes e soldados do
ÍÜU e x e n u o a parte, que ti veraõ nestes gloriosos suecessos, os quaes o
mesmo (inverno fará constar na Soberana presença de Sua Alteza Real
pela primeira occasiaõ.
Palácio do Governo, cm 19 de Agosto, de 1813.
Deos guarde a V. Ex».
D . MIGUEL PEREIRA FORJAZ.
MOZINHO, Ajudante-general.
Senhor Marquez de Campo Maior.

Quartel-general de ITernani, 9 de Septembro, de 1813.


ORDEM DO D M .
«?. Ex". o Senhor Marechal Beresford, Marquez de Campo Maior, tem
novamente a satisfacçaõ de poder empregar-se na mais agradável parte do
seu dever, que he fazer justiça aos beneméritos do exercito de 8. A. R. o
Principe Regente nosso Senhor, pela sua conducta na frente tfo inimigo.
S. Ex'. torna ainda a ter o gosto de repetir ao exercito (cujo ardor e
zelo no serviço da pátria chega a ponto taõ subido !) que a emulação dos
corpos c indivíduos, e o desejo de engrandecerem a sua gloria, he tal, que
a única difTerença entre elles a este respeito consiste em se lhes apresenta-
rem mais ou menos oceasiõens para mostrarem o seu fervor, e patriotismo.
Cada tentativa feita contra o inimigo, ou emprehendida por este, dá nova
occasiaõ a S. Ex*. para louvar a valente rumducia dos corpos, e dos indi-
víduos.
S. Ex". taõ somente faz justiça aos corpos empregado* no assalto, e to-
mada da praça de S. Sebastião no dia 31 do mez passado, assegurando-
lhes a sua perfeita satisfacçaõ, c admiração pela conducta, que tiveraõ, da
qual S. Ex*. foi testemunha. O- soldados Porlngti"Zes naõ só patentearam
entaõ o seu ardente desejo, mas também - capacidade de rivaliaarem na
conducta com os seus camaradas, e alliados do exercito Britannico.
A 3*. brigada de infantaria Portugueza merece* os elogios do Senhor
Marechal; e roga S. Ex". ao Senhor Marcrhal-de-Campo Frederico Spry,
que assegure da sua approvaçaõ ao Senhor Coronel Luiz do Rego Barreto,
do regimento N°. 15, ao Senhor Coronel M Cicngh, do regimento N*. 3
(da conducta dos quaes Senhores Coronéis fazem oi maiores elogioi os
Senhores Generaes, debaixo de eu ja» ordens elles operaram), e nos officiaes,
officiaes inferiores, e soldados destes dois regimentos da brigada, pelo teu
comportamento taõ honros» para a pátria.
S. Ex*. nuÕ pôde deixar de parliri»!ari>nr a conducta de todo o destaca-
mento da 10". brigada de infantaria Porlnçuez.i, que foi ao assalto, com-
mandada pelo Senhor Coronel M'Beau ; e a do Major K. Snodgraii, que
Miscellanea. 673
merecem o mais alto elogio. Nunca se mostrou valor mais determinado, e
ao mesmo tempo que melhor se regulasse, do que o do referido destaca-
mento: foi admirado por todos! O Senhor Coronel M'Bean acceitará, e
dará ao Major K. Snodgrass, aos officiaes, officiaes inferiores, e soldados a,
segurança da admiração, e os agradecimentos de S. Ex».
Deseja S. Ex*., que o batalhão de caçadores, N°. 8, da terceira brigada
de infantaria, e o destacamento do batalhão de caçadores, N°. 5, da décima
brigada recebam a certeza de sua plena approvaçaõ. S. Ex*. ficou parti-
cularmente satisfeito da ordem, e regularidade, com que o batalhão de
caçadores, N". 8, debaixo do commando do Tenente-coronel Dudley
Fleger lliil, se reunia, e se conservava prompto, depois da tomada d;t
praça. S. Ex*. tem razaõ para estar contente pelo mesmo motivo com
os mais corpos, que entraram no assalto.
S. Ex'. naõ pode deixar de admirar os sentimentos, que animaram os des-
carnemos da 9*. brigada da infantaria, e dos corpos Portuzuczes da divisão
ligeira, que se ofTereeeram para trem voluntariamente ao assalto ; S. Ex».
presenciou, que a sua conducta no mesmo assalto foi tal, qual se poderia
esperar de quem se offereceo para elle por altos estímulos de honra.
No mesmo dia teve a 9». brigada occasiaõ de mostrar ao inimigo, q u e e r a
daquelles mesmos soldados, que o vencerão nos campo? de Victoria, e Pair-
plni-a : c o batalhão de Caçadores, N. 3 , de sustentar juncto de Vera a sua
antiga reputação contra o inimigo.
A conducta ria 7 \ brigada uo seu ataque de noite contra o campo inimigo
nas abas do Porto de Maia merece os elogios de S. Ex*., e o Sr. Coronel
Joaõ Douglas os recebera para si, e dará aos officiaes, officiaes inferiores,
e soldado* da Brigada.
O Sr. Marechal de campo Carlos Frederico Lecor f"a'á saber á 6». briga-
da, que commanda, a satisfação de S. Ex» pelo comportamento, que cila te-
ve ; elhc dará os agradecimentos de S. Ex*.
A conducta do exercito Portuguez satisfez plenamente a S. Ex*.. que naõ
CiItai a a informar delia a S. A. R.; e S. Ex". passa a preencher as vistas c-
desejos paternaes de S. A. R. recompensando parte dos quese distinguiram •
posto que todos mereceram louvores, e agradecimentos.
Aproveita-se S. Ex". desta conjunctura para exprimir a sua satisfacçaõ
pelo zelo, e cuidado dos officiaes de Saúde do exercito Portuguez em tra-
tarem dos feridos, e pelos seus esforços em lhes procurarem todo o alli vio,
e accominoduçaõ possivel, que as snas circumstancias exigem, e que a sua
conducta merece. Naõ ha dever mais sagrado, do q»ie o de assistir aos va-
lorosos soldados, que se sacrificam pela causa da p á t r i a ; nem cousa que
mais console o seu espirito, do que receber em taes oceasioes os desvelos, e
attenções dos seus officiaes de toda a classe, ainda que particularmente os
de Saúde saõ os que mais podem alli via-los da sua mortificaçaõ. Também
•e aproveita S. Ex". com muito prazer desta occasiaõ, para dar os seiià
agradecimentos ao S. Doutor Guilherme Wyuii. Ciruigiaõ honorário da
674 Miscellanea.
Câmara de S. A. It., e do exercito pelos grandes ferviços, que S. Ex". t>m
experimentado delle ra razaõ do seu cargo, durante eslcs tres últimos an.
aos. O zelo, actividade, e conhecimentos deste official tem sempre andada
a par.

Officiaes, sargentos ajudantes, e sargento., promovidos, contando a antigüidade


dos Postos, a que sobem do dim 31 de Agosto próximo passado.
Major du regimento de infantaria, N. 3 , Carlos Stewart Campbell, major
do regimento de infantaria, N. 13, K. Snodgrase, graduados em Tenente -
coroneis.
Capi aõ do regimento de infantaria, N. 3, Bento José Valente. Capitão
do regimento de infantaria, N. 13, Severino Joaquim Ferreira da Costa.
Capitão do regimento de infantaria, N. 15, Antonio Joaquim Rozado, gra-
duados em majores.
Tenente do regimento de infantaria, N. 13, Joaõ Antonio Pereira de Cas-
tro. Tenente do regimento de infantaria, N. 24, José de Azeredo Pinto.
Tenente do regimento de infantaria, N. 24, Antônio de Padua. Tenente
do batalhão de caçadores N. 5, Manoel Joaquim de Menezes, graduado;
em capitães.
Alferes do regimento de infantaria, N. 15, Antonio Carlos de MagalhSei.
Alferes do regimento de infantaria N. 15, Antonio Guedes Seabra. Alferes
do batalhão de caçadores, N. 6, José Carrasco Guerra, graduado» em
Tenentes.
Ajudante com a patente de alferes do regimento de Infantaria, N. l i ,
Theotonio Nobre, Tenente com o exercicio que actualmente tem.
Sargento do regimento de infantaria, N. 13, Antônio Luiz da Cunha.
Sargento ajudante do regimento de infantaria, N. 15, Jeronymo Caetano
de Almeida Manso, alteres dos respectivos regimentos.
Sargento ajudante do regimento d* infantaria, N. 15, Telesforo Joié dr
Mattos, alferes do regimento de infantaria, N. 3.
Sargento ajudante do regimento de infantaria, N.24, Francisco Antônio.
Sargento do regimento de infantaria. N. 24, Joaõ Pinto. Sargento aju-
dante do batalhão de caçadores, N. 3, Manoel Martins Taveira, alferes dos
respectivos corpos.

Officiaes, e sargentos promovidos, que sendo de divide,, que naS fizeram o sitio
da praça de S.SebasliaS, foram ao assalto, por se offi recerem voluntariamente,
contando a antigüidade dos postos, a que sobem, do dia 31 dt Agosto próxi-
mo passado.
Capitão do regimento de infantaria, N. II, Antonio de Gouvéa da Mnia i
graduado em major.
Tenente do regimento de infantaria. N. II, Ignacio Pereira de Larrrda.
Tenente do regimento de infantaria, N. 23, Jerooymo Rogado de Oliveira,
graduados em capitão.
Miscellanea. 675
Alferesdo regimento de infantaria, N. 17, Joaquim José de Santa Anna.
Alfere? do batalhaS de caçadores, N. 1, Pedro Ozorio da Fonceca, gradua-
dos em Tenentes.
Sargento do regimento de infantaria, N. 11, José Gomes. Sargento do
regimento de infantaria, N. 11 ; JoaÕ Antonio Coelho. Sargento do regi-
mento de infantaria, N. 17, Marcai José sargento do regimento de infanta-
ria, N. IT, Manoel BarraÕ. Sargento do regimento de infantaria, N. 23,
Joaquim Roberto. Sargento do regimento de infantaria. N. 23, José Ig-
nacio. Sargento do batalhão de caçadores, N. 1, Manoel José Pires Car-
reiro, alferes dos dos respectivos corpos.
Mozinho, Adjudante-General.

GUERRA DO NORTE.
Os nossas Leitores acharam neste N°* copiosissimos documentos,
que descrevem os progressos da campanha; e supposto isto nos leve
a publicarmos o nosso jornal muito mais volumoso, do que oroinet-
temos no seu prospecto ; com tudo julgamos que a addicçaõ éra es-
sencial, para conservarmos nelle todas as noticias importantes da his-
toria do sempo.
Começamos com as noticias Francezas, que o Leytor observará
serem mui diminutas ; o que acontece por duas razoens; uma por-
que sendo os acontecimentos da guerra desastrosos aos Francezes, o
seu governo occulta cuidadosamente tudo quanto se passa ; outra
porque, achando-se os Alliados na retaguarda do exercito Francez,
saõ os correios interceptados, e as communicaçoens todas mui pre-
cárias.
Damos depois as noticias officiaes do exercito Alliado, as quaes
nos chegara principalmente pelos agentes Inglezes, que residem nos
quartéis generaes dos exércitos Russiano, e Austriaco, e por fim os
bulletims do Principe da Coroa de Suécia ; com o que se completa a
mais ampla relação da campanha que he possivel obter.
De todas estas noticiasse colhe, que, havendo-se Bonaparte forti-
ficado cm Dresden, e obstinado a copservar aquelle posto a todo
custo, para salvar a sua reputação militar, como quiz fazer em
Moscow ; os alliados o atacaram na sua direita pela Bohemia, com o
grosso dos exércitos Austriaco, Russiano, e Prussiano; em frente
pelos corpos do General Blucher, e reserva Russiana do General
Bennigscn; e na sua esquerda pelo exercito combinado do Norte, sob
o commando do Principe da Coroa. Por varias vezes sahio Bona-
parte de Dresden para atacar, j a os inimigos que tinha na direita, ja
os que lhe licávam em frente ; estes evitando sempre batalha geral
obrigaram constantemente" Bonaparte, a retirar-sc para Dresden sem
676 Miscellanea.
ganhar consa alguma, antes soffrendo alguma perda; e o que mais
he ganhando assim tempo os Alliados para realizar os seus planos.
Por fim o Principe da Coroa passou o Elbe, o mesmo fez o Gene-
ral Blucher, que por uma rápida marcha de flanco chegou a Elster;
ambos se dirigiram á retaguarda de Leipsic ; e ali formaram uma
juneçaõ com os exércitos de Bohemia, que de Toeplitz e Bgra mar-
charam por Chemnitz e Freyberg e Gera, para as vizinhanças de
Leipsic ; aonde formam um cordaõ ua retaguarda do exercito de
Bonaparte, que completamente o separa da França e de todos os
seus recursos.
Bonaparte se acha portanto na mesma situação, em que esteve o
anno passado em Moscow; isto he, reduzido â necessidade de formar
todo o seu exercito em uma columna, e cortar o cordaõ qoe o cerca
abrindo a passagem com a espada na maõ, para ir ter k França.
Esta operação naturalmente expõe ni a sua columna a ser constan-
temente atacada nos flancos, e naõ duvidamos, que a retirada lhe
seja taõ desastroza como a que fez o anno passado.
0 seu systema de aliiança» se enfraquece todos dias i porque o tello
desamparado o General D'York o anno passado; produzio o desam-
parallo a Prússia; daqui se seguio a separação da Áustria - e desta
ultimamente a da Baviera t que se unio ja aos Alliados por um
traclado, que assignou com Áustria, aos 8 de Outubro; em que se
obriga a por em campo contra os Francezes 35.000 homens.
O Governo Francez ordenou uma leva de 280.000 homens, mas
antes qae elles lêjain soldados se acharão nas fronteiras de França os
immensos exércitos Alliados, tendo á sua disposição os paizes da Con-
federação do Rheno, e talvez a Hollanda e a Suissa t o que diminue
tanto os recursos Francezes, quanto augmenta em dobro o dos
Alliados.
Em um snpplcraento a Gazeta de S. Peteriburgo, de 24 de Sep-
tembro se acha nm bello estado comparativo das forçai phisicas, eco-
nômicas, e moraes de Napoleaõ, no anno de 1812, com as que elle
tem no anno de 18131 que he o seguinte.
Em Janeiro, de 18131 Napoleaõ estava de posse absoluta do Im-
pério Francez, do Reyno de Itália, llliria, e parte meredional da
Hespanha. 2. Era indubitavelmente senhor dos estados da Confe-
deração do Rheno. da Prússia, do Reyno de Napoies, e do Gram
ducado de Warsovia i tinha a posse das fortalezas do Oder, o uma
limitada alliaoçacom a Dinamarca. 3. A Áustria temia o seu poder,
estando o seu poder militar reduzido, o sendo obrigada pebs cir-
«nmslancias a ser alliada da França, e dar-lhe um contingente de
30000 homens 4. A Russia tinha os seus portos fechados; ICO.OOO
Miscellanea. 677
homens nas fronteira, para defender a sua independência; porém
estava em guerra com a Inglaterra, com a Porta, e pouco depois com a
Suécia. 5. Esta ultima Potência estava em neutralidade com a
França; e Napoleaõ lhe offereceo subsídios para a obrigar a declarar-
se por elle. 0. Napoleaõ tinha um exercito de 500.000 veteranos no
Oder, e no Vistula, para atacar a Russia: esta guerra tirou de seus
thesouros mais de 600 milhoens, e de seusarsetiaes 2.(00 peças d'arti-
lheria. Os Polacos lhe ministraram 80.000 homens, c 100 milhoens.
Elle trouxe para esta guerra 70.000 cavallos. 7. Napoleaõ tinha
em suas maõs o monopólio dos productos coloniaes, em quasi toda a
Europa. Este monopólio lhe rendia 100 milhoens. 8. Napoleaõ
tirou contribuiçoens da Áustria, da Prússia, e da Uliria. Elle tinha
os rendimentos de toda a Itália, da Confederação da Alemanha, da
Polônia, e de todo o Império Francez, que montavam a quasi mil
milhoens. Naõ obstante estes recursos, o déficit no anno de 1812,
foi dobrado. 9. Naõ obstante as batalhas de Aspern e Eyhu, Napo-
leaõ conservou a reputação de ser invencível; elle gozou uma opi-
nião de que nada lhe podia resistir* bastava-lhe mandar, e tudo
cedia á sua vontade,—ordenar, e tudo estava feito,—dirigir e tudo
se movia á seu prazer,—amiunciar um acontecimento, e a pre--
dicçaõ era cumprida. Somente a Hespanha formou uma excepçaõ,
a qual com tudo naõ dissipou a crença geral.

Agosto, 1813.
I. Napoleaõ perdeo parte da 32». divisão militar, parte da Illiiia,
toda a Hespanha, e as ilhas da Dalmacia. 2. A Prússia, Mccklein-
burg, e Gram Ducado de Warsovia, ja naõ eram dependências suas ;
pelo contrario a Prússia e Mecklemburg, estaõ em armas contra
elle. 3. A Áustria tem um exercito de mais de 400.000 homens ;
ella ja naõ he alliada da França, e se tem unido em nova aliiança
contra ella. 4. A Russia tem alem de suas fronteiras 200.000 ho-
mens ; ella occupa o Gram Ducado de Wassovia ; os seus portos
estaõ abertos ; ella esta unida com a Inglaterra, Prússia, Suécia, e
Hespanha: em paz com a Turquia, que augmenta consideravel-
mente a sua força moral; e tem provado por factos, que naõ pôde
ser conquistada. 5. A Suécia entrou na guerra, e fornece ãO.oOO
homens, que obram no Continente. f>. Estes 500.000 veteranos de
Napoleaõ, desapparecéram: elle perdeo toda a sua cavallaria, vários
marechaes, 80 generaes; deste exercito somente lhe restam alguns
milhares de officiaes. A artilheria, armas e effeitos, os 600 milhoens,
tudo está perdido, junctamente coin os contingentes Prussiano e
VOL. XI. No. 65. 4 s
678 Miscellanea.
Pol.ico. Destes elle tem som *nle lõ.OiO homens, com as tmldiçoeus
e s t u paiz. "•• Aquelle moco, t lio tom dt-opparecido, quasi intei-
ramente, depois que se abriram os portos de Uus-iae l'rus*i •, depois
niie teru.inmi a guerra entre os Hus.-ian->» e Turcos, e que os Ino-le-
zes occupiram as ilhas da Dalmacia. 8. Tem cessado as contribui-
çoens Austríacas, Polacas, e Prussianas. A llliiia eslá exhsusla ; as
despezas da guerra e do exercito lera dobrada i qual será portanto
o déficit do ann« de 1813? Ja naõ existe o systema conlineiilal
contra a Inglaterra *, de fado está destruído. 9. As batalhas de
Smolensko, e Uorodino, de Krasnoi, de Lutzen, e Ioda a ultima
campanha provam, que, com forças iuferiores se lhe pode resistir e
derrotallo ; e que, consequentemente, elle deve ser vencido com for-
ças iguaes, e destruído com forças superiores.
Deste estado comparativo resulta que o poder c gloria de Napo-
leaõ tem dirainuido sensivelmente, desde o anno de 18l«; o seu
exercito tinha entaõ além disso 110.000 auxiiiarcs, a saber,
50.000 Polacos, 30.000 Prussianos, e 30.010 Austríacos • o seu in-
imigo tem agora uma força auxiliar de 330 000 homeus; a «aber
200.000 Austríacos, 100.000 Prussianos, e 30.000 Suecos. As suas
rendas tem diminuído cem milhoens; e a diminuição será ainda
maior, se tomar-mos em consideração, o que elle recebia pelas re-
quisiçoens em Prússia, e todos os paizes da Confederação do Rheno.
e as contribuiçoens de guerra de Prússia, Polônia, e Áustria.

Guerra da Peninsula.
Este nome he apenas applicavel, quando se tracta do Exercito
Alliado, que commanda Lord Wellington; porque elle se acha ja
dentro em França; nem faz ao caso a pequena porçaõ de território
que os Francezes ainda oecupam na Catalunha, e em Aragaõ.
Profetizou Napoleaõ, que lançaria os Inglezes ao mar pelo Tejo
fora, e arvoraria as águias Francezas cm Lisboa i Como se cumprio
a profecia ? Justamente pelo contrario. Portugal ja a muito que
está libertado dos Francezes, a Hespanha quasi livre com uma mui
pequena excepçaõ; e <> exercito Alliado invadindo a mesma França,
postado nos seus territórios, e ameaçando Bayonna.
Se resultados desta mfureza nzõ persuadem os partidistas Franco-
zcs de que as piofecias Vapoleouica» saõ (alliveis; a sua obstinação
he na \crdade incurável.
A força moral do Governante da França deve estar abatida, naõ
somente nus naçoens estrangeiras, mas até mesmo entre os France-
zes. Napoleaõ tem sempre tido o cuidado de desfigurar, de occultar
Miscellanea. 67 9
mesmo inteiramente os progressos do exercito Alliado de Hespanha ;
ainda se naõ publicou em França nenhuma conta da batalha de Vit-
toria, nem da tomada de S. Sebastian; porém agora será absoluta-
mente impossível, que os Francezes ignorem, que os desastres de
seus exércitos em Hespanha tem sido taes, que as tropas alliadas
estaõ estabelecidas em França • e que sensação naÕ deve isto causar
em Paris f
Napoleaõ tractava sempre de ridículo as tropas Portuguezas e
Hespanholas, naõ faliava de outros inimigos na Peninsula senaõ de
40.000 Inglezes; se naõ tinha de brigar senaõ contra estes, muito
miseráveis eram os seus 100.000 Francezes, que oecuparam a Hes-
panha e Portugal, visto que fôram derrotados por 40.000 homens.
Mas a experiência terá ensinado aos Francezes, que os povos da
Peninsula sabem brigar-; e que ha mais alguma gente em armas do
que os 40.000 Inglezes.
[ 680 "j

CONRESPONDENCIA.

Londres, — de Outubro, dr. 1S13.


Sr.unoR "REDACTOR no CORREIO BIIAZILIENSE,
Em o numero 64 do seu jornal, e por difiercules vezes, se esforçu
Vni«. para persuadir aos Portuguezes, que os tractados últimos
entre Portugal e a (iram Bretanha se achaõ válidos, em virtude da
admissão Lacita que suppoem a convenção, que acaba de arranjar
se, entre os commissarios das duas nações; concedendo com tudo
por esse mesmo principio, e outras razões que aponta, a sua previa
iiullidade. Na fc porem em que Vmce. parece estar, lamenta a nossa
sorte, mas sempre nos aconselha a rezignarmo- nos a ella com pa-
ciência, naõ fazendo uzo das nossas faculdades para nos livrar-mos
do pezo que nos submerge, mas deixando-nos afogar sem mur-
murar para o bem dos uossos amigos, e em perfeita caridade com
ei les.
VmCe. ate se lembra de algums que possaõ escapar, c aconselha
os a que se tornem Chinas para o seu bem.
Os Portuguezes naõ pedem deixar de reconhecer os Serviços que
VmCe. lhes lem feito, e poderá continuar a fazer lhes, expondo os
abuzos, e aconselhando as reformas, que exigem, e quesaõprccizas e
indispensáveis para elevar o Soberano, e a naçaõ ao gráo de digni-
dade que Ihrs compete, postoque para terem ainda melhor efTcito
seria bem para desejar, que nunca Vm«e. recorresse a Personalidades,
nem uzasse de certa linguagem que enxovalha tanto a quem a em-
prega, como aquém se derige. Elles com tudo estranharão agora o»
seus sentimentos, e os seus conselhos, e sentindo muito que Vn*-*, se
deixasse arrastrar pela influencia maligna, a que os attribuem, os
regei taõ com indignação, c com desprezo.
Os Portuguezes tem tido uma ir.uy grande parte uma part*
muito gloriosa no livramento e liberdades da Europa, ou do mundo»
para se deixarem agrilhoar, em recompense, e o seu principe adorado,
com no> os ferros, semelhantes aquelles que tem sahido despedaçar.
Elles naõ tem derramado o seu sangue, e cooperado taõ efficaz-
mente para derribar o systema continental, ou anti-commcrci.il, o
para restabelecer as antigas relações entre as nações, para ficarem ;
em recompensa, privaduê dessas relaçíT-s c do v-u commercio; em
fim elles naõ tem feito tantos sacrific.os e naõ tem dado um taõ
glorioso exemplo ás naçoens, entre as quaci tem feito uma figura taõ
Miscellanea. 6% l
conspícua, para serem tidos, em recompensa, cm menos conta do que
qualquer d'ellas, e ficarem sendo os únicos escravos de influencia ou
dominação estrangeira, quando todas se achaõ livres d'ella. Os Por-
tuguezes conhecem bem os seus interesses , e ainda melhor a dignidade
e os direitos, que competem ao seu soberano, e á sua naçaõ. Elles
souberaõ restauralos, c saberão sempre conservalos, e se naõ teme-
rão, e repelliraõ repetidas invazões no campo, seria delírio esperar,
que sucumbissem ás de gabinete.
A palavra de S. A. R. naõ está de forma alguma compromettida.
Levado naturalmente de instâncias repetidas e importunas, condes»
cendeo sim a entrar em tractados, que a politica teria antes aconse-
lhado a recuzar, ou demorar, mas determinou logo, e fixou imprete-
rivelmente a sua baze imrautavel de reciprocidade e mutua conve-
niência. Eis aqui o objecto que se reconheceo de parte a parte ;
e nem se podia propor, ou esperar outra couza de duas nações in-
dependentes, alem de amigas e Alliadas.
Se agentes ignorantes ou maliciozos transgredirão os limites que
lhes tinhaõ sido assignalados c fizeraõ eslípulações diametralmente
oppostas ao fim que os seus respectivos soberanos tinhaõ em vista,
c que altamente logo ao principio proclamarão, tenham, cfique com
elles muito embora o merecimento que adquiriram ; e a recompensa
que lhes he devida. A Execração e o desprezo de ambas as nações J
estas porém, e os seus augustos soberanos naõ podem ser, nem saõ
contaminados por influencia taõ ridícula ; pelo contrario, assim
como o sol, que he as vezes escurecido por nuvems passageiras,mas
apparece depois ainda mais brilhante do que dantes, elles saberão
fazer verificar por novo tractado, ou sem elle, a reciprocidade d*In-
teresses, e a mutua conveniência dos seus respectivos vassallos, que
desde o principio e sempre se propozeraõ, pois bs esta a palavra
que deraõ, c a que se achaõ corapromeitidos, uni para com o outro,
e ambos para com os seus respectivos vassallos; e todas as estipu-
laçoens, que se oppóem ao espirito e á letra delia, saõ por isso nullas
e de nenhum vigor, e ate afrontozas ao seu decoro.
Ninguém ignora quaes, e que taes saõ as estipulaçoens dos refe-
ridos tractados, e escuzo por tanto accrescentar mais couza alguma
a semelhante respeito. Devo porem, e bastará por ora repetir, pois
Vmce. mesmo o confessa, que seriaõ capazes de arruinar toda a nossa
navegação e commercio, extinguir toda a nossa industria; e preci-
pitamos finalmente em um abysmo de miséria e insignificancia em
que ficaríamos eternamente submergidos. Demais foi taõ infeliz
semelhante producçaõ, que ate este parlamento, cuja approvaçaõ he
682 Miscellanea.
indispensável, eomo Vmce. sabe, para serem valiilos quaesquer trac.
tados, na5 o« sanccionou senaõ cm parte, e consequentemente essas
estipulaçoens que cxcluio, e também outras que naõ excluio; em
fim os pouquíssimos previlcgios, e vantagens que offereciaõ aos
Portuguezes, naõ foraõ ate agora cumpridos neste paiz, c de f.icto
nunca foraõ, nem estaõ ratificadas semelhantes tractados.
Vm". naõ deve ignorar nada disto, mas parece i;uercr fazer nos
acreditar, que naõ obstante tudo, como se nomearão e a junct.ir.io
commissarios das duas nações e arranjarão quatro pontiuhos, ou re-
gulações, para se poder conduzir melhoro commercio, que hc certo
naõ está interrompido ; por isso mesmo ficáraõ como naõ existentes
todas as duvidas, queixas, e razões precedentes, e ficou tudo sanado
aprovado, e ratificado, e por conseqüência os pobres Portuguezes
sem consolação, ou remédio algum mais do que ir para o fundo com
uma pedra ao pescoço.' Com effeito se os taes pontinhos tiveraõ
semelhante virtude, foi grande a entrega na verdade ; mas naõ hc da
crer, que quatro regulações assignadas por particulares tivessem
mais força do que 34 cstipulaçõcs as>ignadas por alias personagems
Taes sensimentos, c tal linguagem naõ parecem seus. Seja porem
como for, seraõ impotentes, toda*as maquinações, e vaõs todos os
esforços para nos privarem da justiça que temos.
Convenho com tudo Vm". que seria muito melhor naõ nos termos
oecupado com taes pontinhos, nem entrar mos cm ncuhunis outros.
Assim pouparemos os IIICMIIOS desgostos, que motivarão a nossa
indignação e as nossas queixas, c Vmc*. também, ou aquelles por
quem fala, ficarão desenganades, c perderão todas suas espeiaiiças
por uma vez.
O nosso soberano pódeadopfar todas as medidas, e fazer todas as re-
gulações que melhoreslhe parecerem pura o commercio, e navegação
dos seus vassallos, e dos estrangeiros dentro dos seus domínios. £ se
etn consideração ás circumstancias actuaes entender que nelles deve
admittir algumas manufacturas e productos, que eraõ alias prohi-
bidos, saberá igoalmente rezolver como, c porque navios haõ de en-
trar, que direitos haõ de pagar, como se haõ de cobrar, e finalmente
quando e como deverão cessar, logo que a prosperidade da naçaõ o
exigir.
S. A. R. como pay, amante dos seus fieis vassallos, terá sempre
era vista os seus interesses, e os seus direito*, e ao mesmo tempo que
o mayor favor e graça, a que pessaõ aspirar os estrangeiros inait
favorecidos, seja o de serem tidos em igoal conta com os nacionaes,
S. A. R. saberá com tudo regular suas relações com todas as naçõei
Miscellanea. 683
sobre a baze eterna, e immut vel, que j . i proclamou, de perfeita
reciprocidade, e mutua conveniência. As que mayojes vantagens
e previlegios nos concederem, tem direito a esperar, e devem en-
contrar também mayores vantagems e mayoies previlegios da nossa
parte; e as que menos nos concederem, menos também devem da
nos receber, nenhuma pode co<n justiça requerer, e menos esperar
o contrario, e se houver alguma taõ inl.it nada que tenha semelhan-
tes pertenções, devem ser tractados com o profjndo desprezo qu«
inspiraõ e merecem.
Finalmente observarei, que os Portuguezes ainda que muy distan-
tes, orfaõs, e sem recursos proclamarão no meio dos inimigos, de
que estavaõ rodeados, o nome augusto do seu principe, e bastou
lhes invocado para todos se reunirem, e fazerem as proezas que tem
assombrado o mundo. Elle bem conhece o muito que lhes deve
e que a elles, somente ti elles, se pode entregar com confiança. Taes
vassallos naõ podem ser trahidos. Os seus direitos, a sua dignidade,
e a sua independência, saõ invioláveis; e seria fazer a mayor das
injustiças ao melhor dos principes, o recear, o lembrar se quer, que
elle fosse capaz de commetter o deposito sagrado que lhe está con-
fiado, e que constitue a sua própria grandeza e gloria.
CORREIO BRAZILIENSE
DE NOVEMBRO, 1S13.
Na quarta parle nova os campos ara,
E se mais inuiitlo houvera Ia chegar,*..
C á í o s v s , c. v n . e. 14.

POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.

P O R T A R I A SOBRE OS R E C R U T A M E N T O S .

f-^FUERENDO o Principe Regente nosso Senhor prevenir os


abusos, que podem resultar da má intelligencia das leis, al-
varás e Portarias publicadas, sobre o recrutamento da tropa
de linha, e milicias; os quaes, contra a sua Re.il intenção,
poderão causar uma diminuição no numero de recrutas pre-
cisas para a conservação do estado completo do exercito,
ficando individamente isentos muitos indivíduos dos que de-
veriaõ ser recrutados, e recrutando-se incompetentemente
outros que devem ser isentos, ou pelas suas circumstancias
phystcas, isto hc, por falta de idade, altura, robustez, econ-
<tituiçaõ própria para o serviço do Exercito ; ou pelos pri-
vilégios, que lie indispensável guardar em attençaõ á Popu-
lação, Agricultura, Pesca, Commercio, Navegação, Artes,
Officios, e Sciencias, cujos ramos necessitai) ser promovidos,,
animados, e protegidos para conservação do estado civil e
militar ; he o mesmo Senhor Servido Mandar declarar,
depois de ouvir o parecer do Marechal dos seus exércitos,
e Commandante em chefe, o Marquez de Campo Maior,
que todos os sobreditos privilégios se Bquem entendendo
da maneira, por que vaõ explicados aos artigos juntos, as
signados por D. Miguel Pereira Forjaz, do Conselho d<
V O L . XI. No. 66. 4 T
686 Politica.
sua Alteza Real, Tenente-general dos seus exércitos e se-
cretario dos negócios estrangeiros, guerra, e marinha; os
quaes deverão ser considerados como fazendo parte desta
portaria para se lhes dar a sua mais inteira execução, cm
quanto o mesmo Senhor naõ mandar o contrario. O mes-
mo Secretario o tenha assim entendido, c faça expedir as
ordens necessárias. Palácio do Governo, em vinte e oito de
Septembro, de mil oitocentosetreze.
Com quatro rubricas dos Governadores do Reyno.

Artigos de que faz mençaõ a Portaria de 28 de Septembrode


1813 sobre a isenção do recrutamento de tropa de linha e
milicias.
População.
Art. I. SaÕ isentos do recrutamento de tropa de linha
todos os indivíduos casados legitimamente, antes ou depois
de 15 de Dezembro de 1809; o que deverão provar com as
suas competentes cartas de casamento, passadas em forma
que façaõ fé, perante as authoridades a quem houverem de
ser apresentadas.
Agricultura.
Art. 2. Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha os
criados de cada lavrador propriamente dicto, ou chefe de la-
voura; e um dos tilhos, que tiverem empregado na lavou-
ra ; bem entendido que esta isenção, só aproveita a um
boniem por cada junta de bois, que tiver o dicto lavrador ou
chefe de lavoura ; e sendo este mesmo homem empregado
effectivauicnte com a junta de bois no serviço dos differen-
tes ramos de Agricultura, exclusivamente de qualquer outro
serviço; e com tanto que os ditos criados provem ser natu-
raes das tetras onde se achaõ assallariados, ou pelo menos
que nellas se achem residindo por mais de um anno : o que
deverão mostrar por certidões dos párocos das respectivas
freguezias: sendo também preciso que os mesmos criados
appareçaõ munidos de attestações passadas por seus respec-
Politica. 687
tivos amos, conforme ao modelo /•/, para se conhecer, naõ
só a identidade de pessoa, mas ainda que vencem sallario, e
que lhes saõ indispensáveis para a sua lavoura: o lavrador
ou o chefe da lavotira para gozar da sobredita isenção a
respeito de um de seus filhos empregado nella, e dos seus
criados acima ditos, deverá provar que todos os seus carros
estaõ matriculados para o serviço dos transportes do exer-
cito no seu respectivo julgado, na conformidade do pará-
grafo primeiro, artigo segundo da regulação approvada, e
mandada observar por portaria de 7 de Dezembro de 1311;
o que faraõ constar por certidão authentica passada pelo
escrivão do julgado, em virtude de despacho do respectivo
juiz, conforme o modelo li: podendo os párocos supprir a
falta de tabelliães no reconhecimento dos sobreditos attesta-
dos, os quaes deverão ser reformados um mez antes das épo-
cas marcadas para as revistas Semestres no artigo terceiro,
capitulo 2°. do regulamento para o recrutamento.
Art. 3. Saõ isentos do recrutamento de milicias os Fei-
tores, caseiros, e maioraes dos pastores de gado das pessoas
de distineçaõ, ou pela sua qualidade de nobreza, ou pelos
seus empregos ; e saõ isentos de tropa de linha os criados
domésticos dos fidalgos e ministros, que os servirem quoti-
dianamente com raçaõ e sallario, tendo sido admittidos an-
tes de 15 de Dezembro de 1809 ; o que devera constar por
certidões dos párocos das respectivas freguezias; devendo-
se entender uma e outra isenção a favor das communidades
religiosas, com tanto que cada um dos ditos indivíduos este-
jaõ munidos de um attestado, que naõ só mostre a identi-
dade de pessoa, mas ainda a sua presistencia nos ditos em-
pregos ou serviços: semelhantes attestados deverão ser as-
signados pelos chefes das familias acima especificados, e
pelas principaes pessoas das communidades; e reformados
um mez antes das épocas, ou tempo marcado para as revistas
da verihcaçaõ das pessoas hábeis para o recrutamento na
conformidade do seu regulamento.
4 T2
*-»SS Politica.
Pesca.
Art. 4 Saõ isentos do recrutamento de tropa de liiil>,-i c
milicias os indivíduos empregados elTcctivamente IIOÍ dif-
ferentes íamos de pesca, formados eni socieadatles ou con,
panhas, estando munidos de attestados, que provem identi-
dade de pessoa, sendo assignados pelos mestres, ou arraes
das respectivas embarcações, verificados pelo ministro terri-
torial, e finalmente reformados um mez antes das revistas
semestres.
Commercio.
Art. 5. He isento do recrutamento tle tropa de linha um
guarda livros, ou um caixeiro de negociante matriculado
na Rtal Junta do Commercio; apresentando-se o dito guarda
livros ou caixeiro munido de um attestado passado por seu
patrão, e reformado como fica dito nos artigos anteceden-
tes ; e mostrando ao mesmo tempo que já se acha matricu-
lado na sobredita Real Junta.
Navegação.
Art. 6 Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha e
Milicias os homens marítimos empregados effectivamente
na tripulação dos navios do commercio, ou naveguem pelo
alto mar, ou pela costa; e igualmente os que formaõ as
campanhas das embarcações, que navegaõ pelos rios, com
tanto que estas embarcaçoens sejaõ approvadas pelo Senado,
ou Câmara do districto respectivo; bem entendido, que
neste numero de embarcações se naõ incluem os botes: saõ
igualmente isentos do recrutamento de tropa de linha e mi-
licias os marítimos, que nas embarcações de guerra, ou mer-
cantes tiverem feito mais de tres viagens; devendo mostrar
uns e outros dos referidos marítimos por attestados a identi-
dade de pessoa, assignados pelo capitão, ou mestre do na-
vio, e verificados pelo juiz do districto a que pertencerem .*
bem entendido, que todos elles ficaõ sujeitos ao serviço da
marinha para que forem recrutados; e que os capitães, ou
mestres das embarcações, que navegaõ pelos rios, para go-
Politica. [689] 889
zarein da sobredita isenção a favor das suas tripulações, de-
vem mostrar que estaõ alistados no respectivo julgado para
o serviço do exercito, na forma declarada no artigo 2. a
respeito dos criados dos lavradores.

Artes Mecânicas.
Art. 7. Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha e
milicias os mestres, officiaes, aprendizes, operários e indi-
víduos empregados nos arsenaes Reaes do exercito, da ma-
rinha, das obras publicas e militares, e suas respectivas de-
pendências ; na. impressão Regia e Real fabrica de cartas de
jogar, suas administrações e commissões ; na Real fabrica
das sedas e agoas livres ; e nas minas de ferro e carvaõ de
pedra; com tanto que todos elles se mostrem munidos de
um titulo extrahido dos livros de matricula do modelo C,
que deve haver em cada uma das sobreditas repartições,
particularmente para este fim ; pelo qual mostrem que se
achaõ effectivamente empregados no serviço de qualquer
ramo das referidas repartiçoens; reformando-se estes titulos
na forma reconimendada no artigo 2., os quaes devem ser
assignados pelos chefes de cada uma dellas.
Art. 8. Saõ isemptos do recrutamento da tropa de linha
os mestres, officiaes, e aprendizes das fabricas estabele-
cidas por Alvará, ou Decreto, e por Portaria da Real
Junta do Commercio em resolução de Consulta, pro-
vando os donos ou mestres das fabricas perante o ministio
territorial respectivo que as suas fabricas se achaõ estabe-
lecidas em virtude de algum dos referidos titulos, e que
naõ tem mais officiaes e aprendizes do que aquelles que
lhes saõ indispensáveis ; e devendo ter os mestres, ou do-
nos das sobreditas fabricas os livros de matricula determi-
nados no Artigo 7, rubricados pelo ministro territorial,
para delles extrahirem os attestados, que deverão passar
aos seus officiaes e aprendizes para gozarem da sobredita
isenção; devendo estes attestados ser também rubricados
690 Politica.
pelo dito ministro, e reformados de seis em seis mezes na
forma prescrita tios artigos antecedentes.

Artes Liberaes.
Art. 9. Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha e
milicias os cirurgiões, Boticários, Dentistas, e Alveitares,
apresentando elles as suas competentes cartas de examina-
dos, e approvados nas suas respectivas artes : como tam-
bém os praticantes de Cirurgia e Pharmacia, provando
uns e outros freqüência e aproveitamento com. certidões
de matricula: saõ igualmente isemptos do recrutamento
de tropa de linha e milicias os alumnos das aulas regias
de desenho e architectura civil, e de esculptura, provando
uns è outros freqüência e aproveitamento com certidões de
matricula.
Officios Mechanicos.
Art. 10. Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha
os mestres, e os aprendizes até á idade de vinte annos,
(tendo dado cinco annos ao officio), dos seguintes officios;
carpinteiro de carros, capinteiro de casas, carpinteiro de
machado, carpinteiro de noras ; Moleiro; Pedreiro ; Can-
teiro ; Cabouqeiro ; Ferreiro; Serralheiro; Espingardeiro;
Albardeiro ; Selleiro; Freireiro; Corrieiro; Cuteleiro ;
Bainheiro; Fusteiro; Surrador ; Cortidor ; Odreiro ; Co-
ronheiro ; Çapateiro ; Alfaiate ; Algibebe ; Tanoeiro ;
Latoeiro de fundição ; Latoeiro de folha branca; Batefo-
Iha, Fundidor de cobre; Dourador; Serigueiro de chapóos ;
Serigueiro de agulha ; Torneiro; Oleiro ; Sombreireiro;
Tecelaó ; Vidraceiro; Ourives de prata; Esparteiro; Cor-
doeiro de esparto, piassa e linho; devendo tanto os mes-
tres como os aprendizes mostrar a identidade das suas pes-
soas com attestados authenticos, a saber; os mestres apre-
senteraõ attestados passados pelo Juiz do Povo, e nas ter-
ras em que o naõ houver, pelos juizes dos officios, ou juiz
do respectivo julgado: quanto aos aprendizes seraõ igual-
Politica. 691
mente obrigados a apresentar semelhantes attestados, com
a differença porém de serem passados pelos seus respecti-
vos mestres, e rubricados pelas sobreditas authoridades.
Saõ igualmente isentos do recrutamento de tropa de linha
os aprendizes provenientes da casa pia, em quanto naõ
completarem vinte e um annos de idade ; bem entendido
que estes e os outros aprendizes, só lhes aproveita a refe-
rida isenção no caso de serem effectivos nos seus officios,
circunstancia que deverá ser expressamente declarada nos
•obreditos attestados.
Art. 11. Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha
e milicias os feri adores, assim os Mestres como os officiaes
e aprendizes, exceptuando o caso de serem precisos para
servirem na praça de ferradores nos regimentos de caval-
laria, e no batalhão de artilheiros-conductores; ficando
tanto os mestres, como os officiaes e aprendizes obrigados
a apresentar no acto das revistas semestres attestados, se-
melhantes aquelles, que ficaõ determinados no artigo ante-
cedente para os mestres e aprendizes dos officios nelle
especificados.
Sciencias.
Art. 12. Saõ isentos do recrutamento de tropa de linha
os estudantes matriculados nas aulas do collegio das artes,
da Universidade de Coimbra, e nos annos de cada uma das
seis faculdades da mesma Universidade : igualmente saõ
isentos do sobredito recrutamento os estudantes matricula-
dos na Academia Real da Marinha de Lisboa, e da cidade
do Porto, e na Real Academia de Fortificaçaó, Artilheria,
e Desenho; como também os estudantes matriculados nas
aulas do commercio e d e desenho, e seminários episcopaes,
provando uns e outros estudantes a sua freqüência e apro-
veitamento com certidões de matricula.

Administração Civil e Militar.


Art. 13. SaÕ isentos do recrutamento de tropa de
linha, e milicias os indivíduos empregados na administra-
692 Politica.
çaõ pública, civil, e militar, com exercicio elfectivo nos
differentes tribunaes, secretarias, repartiçoens, inclusive
as militares, e civis do exercito ; sendo elles os proprietá-
rios de taes empregos; e naõ serventuários e supranume-
rarios sem vencimentos de ordenado, ou sallario, e os ser-
ventuários de quaesquer empregos das sobreditas reparti,
çoens, estando em circunstancias de serem recrutados, em
attençaõ á sua idade, e qualidades fysicas, naõ lhes poderá
servir de isenção o titulo, por que mostrarem o seu em-
prego ; e para se evitarem as difficuldades que podem oc-
Correr na pratica desta disposição, isto he, sobre a legi-
timação de cada um dos sobreditos indivíduos n fim de
gozarem da referida iscmpçaõ, determina Sua Alteza Real
que todos os tribunaes, secretarias, repartiçoens civis e
militares, e magistrados que tem debaixo das suas ordens
officiaes de justiça, ou fazenda remettaõ *i Secretaria de
Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, até 30 de
Novembro próximo futuro, relaçoens nominaes das pes-
soas nelles empregadas, conforme o Modelo D, paru se
remetterem aos respectivos generaes, governadores das
armas listas das pessoas, que nas sobreditas relaçoens se
encontrarem em circunstancias de serem isentas du sobre-
dito recrutamento; ficando os mesmos tribunaes, secreta-
rias e sobreditas repartiçoens na obrigação de continuarem
a remessa das mesmas relaçoens á referida Secretai ia de
Estado, um mez antes das épocas marcadas para as revis-
tas semestres, recommendadas no Art. 3, cap. 2 do Regu-
lamento do Recrutamento de 22 de Agosto, de 1812 ; bem
entendido, que a falta das mencionadas relaçoens produ-
zirá consequentemente o recrutamento dos indivíduos em-
pregados nas repartiçoens, que tiverem coir-metudo esta
falta estando elles nas circunstancias de o serem: devendo
os sobreditos empregados apresentar attentados, que veri-
fiquem a identidade de pessoa nos actos das sobreditas re-
vistas.
Política. 693
Amparo da Vieuvez e Velhice.
Art. 14. Em attençaõ ao estado do Viuvez de Mais, e
á idade avançada de alguns pais, cujos filhos lhes servem
de auxilio com o producto de seus próprios trabalhos :
permitte Sua Alteza Real, que o filho que alimentar sua
Mãi Viuva, ou seus pais decrépitos, ou valetudinarios com
o producto do seu próprio trabalho e agencia, vivendo
ao mesmo tempo na companhia delles, seja isento do re-
crutamento ; mas esta isençaÕ só deve ter lugar quando o
número dos indivíduos apurados para o recrutamento da
tropa de linha for maior que o das recrutas rateadas á res-
pectiva Capitania Mór; provando elles por certidões dos
respectivos párocos que saõ os únicos filhos que soccorrem
seus pais, e que naó tem outros filhos, ainda que ausentes,
a quem possaõ recorrer para a sua subsistência.

Conclusão.
Art. 15. FicaÕ por tanto sujeitos ao recrutamento de
tropa de linha todos os indivíduos nacionaes e naturalisa-
dos, comprehendidos nas idades de dezoito a trinta annos
cuja altura naõ for menor que 57£ pollegadas, e cujas
circunstancias declaradas nos sobreditos artigos de isençaÕ,
os naõ isentarem deste recrutamento; tendo aliás a consti-
tuição fysica apropriada para o serviço do exercito.
Art. 16. S. A. R. por esta occasiaõ lembra e recom-
menda o cumprimento do disposto nos parágrafos II. e IV
do Alvará de 17 de Fevereiro, de 1797, pelo qual ficaÕ
privados de varias graças, e privilégios, e além disto sujei-
tos a pagarem o quinto dos bens de morgados e capellas
para as despezas da guerra aquelles administradores dos
mesmos vinculos, que naõ tendo impossibilidade, deixa-
rem de se alistar voluntariamente nos corpos do seu ex-
ercito ; e cuja execução está privativamente confiada aos
provedores das comarcas do Reyno.
Art. 17. S. A. R. Manda igualmente declarai*; que no
VOL. XI. No. 66. 4 v
694 Politica.
recrutamento de milicias deve seguir-se restricta, e rigoro-
samente o que se acha determinado no seu regulamento,
com a differença porém de se recrutar somente até a idade
de 45 annos; e de terem baixa do serviço os milicianos,
que completarem 50 annos de idade ; convém a saber que
em quanto houverem indivíduos proprietários, isto he,
donos de prédios rústicos ou urbanos, se recrutarão unica-
mente destes, preferindo os solteiros aos casados; (]tie só
na falta absoluta de proprietários se recorrerá aos homens
de officios, dando-se igualmente entre elles preferencia
aos solteiros ; e que só na falta absoluta de proprietários,
e homens de officios se recrutarão os homens jornaleiros,
entre os quaes se devem também preferir os solteiros aos
cassadss; bem entendido, que nos homens jornaleiros senaõ
devem comprehender os criados de servir.
Art. 18. Finalmente determina S. A. R. a mais inteira
observância dos presentes artigos a todas as authoridades a
quem cumpre a execução do disposto no regulamento para
o recrutamento de tropa de linha e milicias, approvado e
mandado observar pOr Portaria de 22 de Agosto, de 1812.
Palácio do Governo, em 28 de Septembro, de 1313.
D. M I G U E L PÜREIRA FORJAZ.
Politica. 695

MODELO A.

Dos Attestados de que se faz mençaõ nos Artigos 2°., 3°.,


4 o ., 5 o ., 6 o ., 7 o ., 8°., 9 o ., 10°., e II o , da Portaria de
28 de Septembro, de IS 13.

GOVERNO DAS ARMAS C A P I T A N I A MÓR


DE DE

ATTESTO, que (aqui o nome, sobrenome e appellido do


indivíduo de quem se attesta) está empregado em (aqui a
qualidade, ou nome do emprego, ou officio do dito indivi-
duo, e desde quando se acha empregado) e affirmo ser
effectivo em minha (casa, officina, logea, embarcação,
lavoura, &c.) no sitio d (aqui o nome da rua lugar,
p
&c.) N - ( a q u i o nnmero da propriedade) e para assim
constar aonde he convier, passei o presente attestado por
mim assignado. (Aqui o nome da terra, de residência da
pessoa que attesta, e declaração do dia, mez, e anno em
que for passado o attestado.)
Lugar de assignatura de quem attesta.
Lugar da assignatura da pessoa, que reconhecer a sobre-
dita assignatura, sendo preciso.
ESTARURA,
(Signaes)
{
••/ CABELLOS,
OLHOS,
côr.
côr.

4 v 2
696 Politica.

MODELO B.

Dos Livros de Matricula determinado no Artigo 1°. </(í


Portaria, de 28 de Septembro, de ls 13.

GOVERNO DAS ARMAS CAPITANIA MÓR


DE DE

Rubrica do Juiz respectivo.

ATTESTO, que no livro de matricula dos transportes


do julgado de (aqui o nome do districto do julgado) Ne.
(aqui o numero do Julgado) da Inspecçaõ de (aqui o nome
do districto da inspecçaõ) está registado a foi. (aqui o
numero da folhado L°.) debaixo do N°. (aqui o numero do
transporte, e a espécie de transporte) de que l*e dono
(aqui o nome, sobrenome, e appellido do dono). E para
constar aonde convier, passei o presente (aqui o lugar da
terra de residência do escrivão attestante.) Data do dia,
mez e anno em que foi passado o presente attestado.

Lugar do Reconhecimento por Trabellião.


Politica. 697
Números.
Empregae.

NOMES
Annos de Idade ao
tempo da Matricula. Filiações.

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*s

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Naturali-
dades.

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Estado.

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Quando
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cia actualmente. "1

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dos nesta Repar- J
tição.
<3-

Annos de serviço 3
nesta, e n'outras
Repartiçoens.

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Cl
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•e.
Politica. 699

ÁUSTRIA.

Tractado de Amizade, e de Aliiança defensiva, entre as Cortes


de Vienna, e S. Petersburgo, concluído em Toeplitz, aos 9
de Septembro ("28 de Agosto), de 1813.
Nós Francisco I , pela Divina Clemência, Imperador de
Áustria; Rey de Jerusalém, Hungria, Bohemia, Dalmacia,
Croácia, Sclavonia, Gallicia, cDodomiria; Archiduquc d'Áus-
tria: Duque de Lorena, Wurtzburg, e Franconia; Gram
Principe de Transylvania; Margravc de M o r a r i a ; Duque de
Styria, Carinthia, Silezia Alta e Baixa, Conde de Hapsburgo,
&c.
Fazemos saber, a todas e cada uma das pessoas, nisso inte-
ressadas, por estas presentes :—
Que naÕ desejando nós, nem o Sereníssimo e Poderosíssimo
Imperador de todas as Russias, cousa nenhuma mais anciosa-
mente do que promover, por uma paz firme, o bem da Europa,
ha tanto tempo perturbado pelas calamidades da guerra, e ten-
do, para este objecto, mutuamente unido os nossos conselhos a
fim de prover á taõ desejada ordem das cousas, que firmemente
esperamos resulte de nossos recíprocos esforços para obter este
íim, se entrou em um tractado por ambas as partes contractantes,
cujo theor he o seguinte :—
Em tiome da Sanctissima e Individua Trindade.
S. M. o Imperador de Áustria, Rey de Hungria, e Bohemia,
v. S. M. o Imperador de tadas as Russias, igualmente animados
do desejo de pôr fim ás calamidades da guerra, e segurar o seu
futuro descanço pelo estabelecimento de um justo equilíbrio
entre as Potências, tem resolvido proseguir na guerra, em que
se acham empenhados, para taõ saudável objecto, com todas as
forças, que a Providencia tem posto á sua disposição. Dese-
jando ao mesmo tempo extender os effeitos de um concerto taõ
útil até o periodo em que tendo a presente guerra obtido o
ieu pleno bom successo, os seus mútuos interesses requeiram
imperiosamente a manutenção da ordem das cousas, que será
o feliz resultado do mesmo; tem nomeado para traçar os arti-
gos de um tractado de amizade, e aliiança defensiva, os se-
guintes Plenipotenciarios munidos com suas instrucçoens.
700 Politica.
S. M. o Imperador d'Áustria, Rey de Hungria e Bohe-
mia, a Sieur Clemente Wenccsláo Lothaire, Conde de Mct.
ternich Winneburg-Ochsenhausen, cavalleiro do Tosaõ d'ouro
Gram Cruz da Real Ordem de S. Stevaõ, Gram Águia da Le-
gião d'Honra, Gram Cruz da Ordem de S. Jozé de Wurl-*.-
hurg, cavalleiro da de S. Joaõ de Jerusalém, Chanceller da
Ordem Militar de Maria Thereza, Curador da Academia Im-
perial das bellas Artes; Camarista, Conselheiro Privado, Mi-
nistro de Estado e de Conferências, e dos Negócios Estran-
geiros, de S. M. Imperial Real c Apostólica :—
E S. M. o Imperador de todas as Russias, ao Sieur Carlos
Roberto, Conde de Nesclrodc, Conselheiro Privado, Cama-
rista, e Cavalleiro da Ordem de S. Wolodimir da 3a. Classe:
Os quaes, tendo trocado os seus plenos poderes, que se
acharam estar em boa e devida forma, concordaram nos artigos
seguintes:—
ART. 1. Haverá amizade, sincera e constante uniaõ, entre
S. M. o Imperador de Áustria, Rey de Hungria, c Bohemia, <•
S..M. o Imperador de todas as Russias, seus herdeiros e suc-
cessores. As Altas Partes Contractantes, em conseqüência
disto, prestarão a maior attençaõ á conservação da reciproca
amizade c conrespondencia entre cilas, evitando tudo quanto
possa subverter a uniaõ c boa intelligencia. que felizmente sub-
siste entre cilas.
2- S. M. o Imperador de Áustria garante a S. M. o Impera-
dor de todas as Russias, aposse de todos os seus Estados, pro-
vincias, e dominios.
Pila outra parte S. M. Imperial de todas as Russias garante
a S. M. o Imperador de Áustria a posse dos Estados, provín-
cias, c dominios pertencentes á coroa de S. M. Imperial, Real,
c Apostólica.
3. Como conseqüência desta reciproca garantia, as Altas
Partes contractantes trabalharão constantemente de roncerto,
nas medidas que lhe parecerem mais próprias, para a conserva-
ção da paz da Europa; e no caso cm que os Estados de qual-
quer dellas seja ameaçado de invasão, cilas empregarão os Seu»
mais cificazes bons officios, para o impedir.
Politica. 701
4. Porem como os bons oflkios, que cilas se promcttcm uma
á outra, poderão nao ter o desejado effeito, S. M. Imperiais
se obrigam a ajudar daqui cm diante um ao outro, com uni
corpo de 60.000 homens, no caso em que qualquer delles seja
atacado.
5. liste exercito será composto de 50.000 infantes, c 10 000
cavallos. Será munido com um corpo de artilheria de cam-
panha, com muniçoens, e com tudo o mais que he necessário ;
tudo proporcionado ao numero das tropas acima estipulado.
O exercito auxiliar chegará ás fronteiras da Potência que for
atacada, ou ameaçada de invasão de suas possessoens, dous
mezes ao mais tardar, depois que se tenha requerido o auxilio.
6. O exercito auxiliar estará debaixo do commando itnme-
mediato do general em chefe do exercito da Potência que o re-
querer ; será conduzido por um general dos seus, c empregado
cm todas as operaçoens militares, conforme as regras da guerra.
O soldo do exercito auxiliar será á custa da Potência requerida ;
as raçoens, porçoens de mantimento, forrarem, kz. assim corno
o aquartelamento, será á custa da Pofcnria requerente, logo
que o exercito auxiliar passar as suas fronteiras ; c isto no mes-
mo pé cm que esta fornece ou fornecer as suas próprias tropas,
no campo e nos quartéis.
7. A ordem, e economia interna mTitar destas tropa*, de-
penderá unicamente de seu próprio chefe. 0~- tropheos c saque
que fôrem tomados aos inimigos, pcrtencer;iõ as tropas que os
tomarem.
8. No caso, qne o soccorro estipulado nao seja sufilcienfe
para o que necessitar uma das Potências que for atacada, S-
M. o Imperador d'Aus(ria, c Rey de Bohemia c Hungria,
c S. M. o Imperador de todas as Russias reservam para si, o
entrar em mutua intelligencia, sem perda de tempo, sobre o
fornecimento de auxílios mais consideráveis, segundo a exigên-
cia do caso.
9. As Altas Partes contractantes promettem reciprocamente
uma á outra, que no caso em que qualquer das duas seja obri-
gada a pegar em armas, ella naÕ concluirá nem paz nem
tregoa, sem incluir também o seu alliado; a fim de que este
VOL. X I . No. 6G. 4x
702 Politica.
naÕ seja atacado, em «sentimento do auxilio que tiver pr-»i.
tado.
10. Transmittir-se-hao ordens aos embaixadores c ministros
das Altas Partes Contractantos nas Cortes Estrangeiras, para
que se prestem mutuamente bons oflicios, c para que obrem em
perfeito concerto, em todas as oceurrencias em que se envolvam
os interesses de seus amos.
11. As duas Altas Partes Contractantes formando este trac-
tado de amizade e aliiança puramente defensiva, naõ tem outro
objecto mais do que garantir reciprocamente uma á outra as
suas possessoens, c segurar, em tanto quanto dellas depende, a
tranqüilidade geral: ellas naÕ intentam por isto invalidar na
menor cousa os ajustes antecedentes e particulares, igualmente
defensivos, que tiverem contraindo com seus respectivos allia-
dos, mas antes mutuamente se reservam a liberdade de con-
cluir, para o futuro, outros tractados com outras Potências; o
que, longe de causar pela sua uniaõ algum detrimento ou incon-
veniente ao presente, lhe communicaraÕ maior força e effeito;
promettendo porém, ao mesmo tempo, naÕ contrahir ajustes
alguns contrários ao presente tractado, e desejando antes, por
consentimento commum, convidar, e admittir a elle outras
Cortes, que tiverem os mesmos sentimentos.
12. O presente tractado será ratificado por S. M. Imperial e
Real Apostólica, e porS. M. Imperial de todas as Russias; e
as ratificaçoens seraÕ trocadas dentro do espaço de 15 dias,
contando do dia da assignatura, ou antes se fór possivel.
Em testemunho do qne, nós os abaixo assignados Plenipo-
tenciarios, temos assignado, em virtude de nossos poderes, o pre-
sente Tractado de Amizade e Aliiança defensiva, e lhe anuamos
o sello de nossas armas.
Dado em Toeplitz, aos 2 de Septembro (28 de Agosto,) do
anno de nosso Senhor, 1813.
(L. S.) CLEMENTE WENCESLAO LOTHAIRE.
Conde METTEBNICH-WINNEBEKC-
OciUtNHAUSEN.
(L. S.) CARLOS ROBERTO.
Conde NESSELROUE.
Politica. 703
Portanto, tendo attentamente pezado todos, e cada um dos
artigos deste tractado, os ratificamos, e declaramos que nos saÕ
agradáveis em todos os respeitos ; e por estes presentes declara-
mos e professamos, que saÕ ratificados, e agradáveis; promet-
tendo e empenhando a nossa palavra Cesarea, que cumpriremos
fielmente tudo quanto nelle se contem : em testemunho do que
temos assignado as presentes cartas de ratificação com a nossa
maõ, e lhe mandamos affixar appenso, o nosso Real e Cesareo
sello.
Dado em Toeplitz, na Bohemia, aos 20 de Septembro, e 22°.
anno de nosso reynado.
(Assignado) FRANCISCO.
(Conlrassignado) CLEM. W E N C . LOTHAIRE.
CONDE METTFRNICH.
Por ordem, JOSEPH DE HUDFI.IST.
(AOS 9 de Septembro se concluio em Toeplitz outro tractado
entre Áustria e Prússia, justamente com as mesmas estipula-
çoens ; e foi assignado pelo Conde Metternich, e BaraÕ Harden-
berg.)

INGLATERRA.
Falia do Principe Regente, na abertura do Parlamento.
My Lords e Senhores,
Com o mais profundo pezar sou de novo obrigado a annun-
ciar-vos a lamentável indisposição de S. M. O grande eesplen.
dido successo, com que a Divina Providencia foi servido aben-
çoar as armas de S. M., e de seus Alliados, uo decurso da pre-
sente campanha, tem produzido as mais importantes conse-
qüências para a Europa. Em Hespanha, a gloriosa, e decisiva
victoria, alcançada junto de Vittoria, foi seguida pelo adianta-
mento das forças Alliadas até os Pyreneos. pela repulsa do
inimigo em totlas as tentativas para reganhar o terreno que
tinha sido obrigado á abandonar, pela tomada das fortaleza de
St. Sebastian, e finalmente pelo estabelecimento dos Exércitos
Alliados sobre as fronteiras de França.
Nesta serie de brilhantes operaçoens, vós tereis observado
4x2
704* Politica.
com a maior satisfacçaõ o consumado saber, e habilidade do
Grande Commandante, o Feld-Marechal Marquez de Wç|.
lington, e a firmeza, e inconquistavel espirito que tem sido
igualmente desenvolvido pelas tropas das tres naçoens unidos
debaixo de seu commando.
A terminação do armistício no Norte da Europa, e a decla.
TaçaÕ de guerra do Imperador de Áustria contra a França, tem
sido accompanhadus, por um systema de cordeal uniaõ e con.
certo entre as Potências Alliadas. Os cfTcitos desta uniaõ tem
excedido as esperanças que se tinham calculado. Pelas assig.
naladas victorias ganhadas sobre os exércitos Francezes na
Silezia, em Culm, e em Dennevitz, foram completamente frus.
trados os esforços do inimigo, que intentava penetrai- no coração
da territórios da Áustria, e da Prússia. Kstes suecessos tem
sido seguidos por uma serie de operaçoens, combinadas com
tanto juizo, e executadas com taõ consumada prudência, vigor
e habilidade, que nao so tem resultado delles o desarranjo de
todos aquelles projectos, que o Governante da França tinha taS
presunçosamente annunciado na renovação da contenda, mas
também o captiveiro, e destruição da maior parte do exercito
debaixo do seu immediato commando.
Os annaes da Europa naõ oíTercccm exemplos do victorias
mais brilhantes, e decisivas do que as que tem sido recentemente
alcançadas em Saxonia. Em quanto a perseverança, c coragem
exhibidas pelas forças alliadas de todas as espécies, empenha-
das neste conflicto, tem exaltado seu character militar ao mais
alto ponto de gloria, vós haveis, estou persuadido, concordar
comigo em prestar o tributo de applatiso aquelles Soberanos, e
Principes que nesta sagrada causa de independência nacional,
taõ eminentemente se tem distinguido como Capitaens dos exér-
citos de suas respectivas naçoens. Com tal prospecto diante
de vos, estou persuadido que posso contar com a maior confi-
ança sobre a vossa disposição para me habilitar a fornecer a
necessária assistência, em apoio d'um systema de aliiança, que
tendo origem principalmente nas magnânimas, e desinteressadas
-vistas do Imperador da Russia, e seguido, como tem sido, pelas
outras Potências Alliadas com correspondente energia, tem
Politica. 705

produzido uma mudança a mais importante, em os negócios do


Continente.
Eu ordenarei que as copias das diversas convençoens que eu
tenho feito com as Potências do Norte, vos sejam appresenta-
das, logo que a ratificação dellas esteja concluída em forma.
Tenho mais para dar-vos a saber; que tenho concluído um
tractado de aliiança, e concerto com o Imperador de Áustria,
e que a poderosa liga ja formada tem recebido uma importante
addicçaõ de força, pela declaração da Baviera contra a França.
Eu confio bem, em que vós haveis de olhar com particular sa-
tisfacçaõ, para a antiga connexaõ com o Governo da Áustria,
c que apreciando justamente todo o valor da accessaÕ desta
grande Potência á causa commum, haveis de estar promptos
para me habilitar, quanto como as circuinstancias o permitam,
a sustentar S. M. Imperial no vigoroso proseguimento da con.
tenda.
A guerra, entre este Paiz, e os Estados Unidos da America;
ainda continua; porem tenho a satisfação de informar.vos que
as medidas adoptadas pelo Governo dos Estados Unidos para
a conquista do Canada, tem sido frustradas pelo valor das
tropas de S. M., e pelo zelo e lealdade de seus vassallos Ame-
ricanos. Em quanto a Gram Bretanha cm con juneçaõ com
seus alliados está exercitando seu maior poder contra o inimigo
commum de todas as naçoens independentes, deve ser matéria de
profundo desgosto encontrar um addicional inimigo no Governo
de um paiz, cujo real interesse no bom fim desta contenda deve
ser o mesmo que o nosso.
Todo o inundo sabe que a Inglaterra naÕ foi agressor nesta
guerra. Eu naÕ tenho visto até aqui alguma disposição da
parte do Governo dos Estados Unidos para a acabar, da qual
me podesse approveitar, que naS seja contraria á devida
attençaõ áos interesses dos vassallos de S. M. Eu estou
sempre prompto para entrar, a todo o tempo, em discussão com
aquelle Governo, a fim de fazer um ajuste conciliatório das dif-
ferenças, entre os dois Paizes, sobre princípios de perfeita re-
ciprocidade, que nao sejam oppostos ás estabelicidas máximas
do direito publico, e direitos maritimos do Império Britannico.
706 I\>?ilica.
Senhores das Caza do Communs,
Eu tenho ordenado que a. estimativa piur. o serviço do õo^ni.it-j
anno vos seja apprcsentaJu. Eu tenho pezar de que sejam
necessários taõ graudos il; pendios ; os qiia"„ confio coin
tudo que vós haveis do j il^a.- indispensáveis, quando conside-
rardes a extençaõ, c natureza de nossos esforços militares. Eu
naÕ duvido da vossa promptidaõ paia supprir ás necessidades
«Io serviço publico. Dou-vos os parabéns da melhora, c du
florecente estado do nosso commercio, e confio que a abundante
colheita que temos recebido da bcmfazcja maÕ da Providencia
durante o presente anno, hade fornecer substancial conforto
ao povo de S. M., e produzir um considerável augmento nos
differentes ramos das rendas publicas.
My Lords c Senhores,
Dou-vos os parabéns da dicidida convicção cm que agora eslá
felizmente grande porçaõ da Europa ; de que a guerra, cm que
as Potências Alliadas estaõ empenhadas, hc uma guerra de
necessidade, c que os projectos de monarchia universal podem
somente ser destruídos por unia combinada, e determinada
resistência. O espirito publico, e enthusiasmo nacional que
tem succes3Ívamentc concluído a libertação dos Reynos de Es-
panha, e Portugal, e do Império da Russia, felizmente agora
annima o povo da Alemanha; c podemos com razaõ ter a maior
confiança de que a mesma perseverança da sua parte ha do
finalmente produzir o mesmo glorioso resultado.
Eu naÕ posso deixar de lamentar a continuação desfa pro-
longada guerra, c de todas as misérias que a insaciável ambição
do Governante da França tem causado cm toda a Europa. Nunca
será obstáculo para paz, disposição alguma da minha parte,
ou da dos Vassallos de S. M., para exigir da Franca sacrifícios
que sejam incompatíveis com sua honra, ou justas pertençoens
como naçaõ. A restauração daquella grande felicidade sob
principios de justiça, c de equidade, nunca deixou de ser o meu
maior dezejo; porém estou inteiramente persuadido que cila
go pôde ser obtida pela continuação daquelles esforços que ja
tem livrado do poder do inimigo, taõ considerável porçaõ da
Europa.
Politica. 707
Estas grandes vantagens, podem ser em grande parte, attri-
buidas á firmeza, e perseverança deste P a i z : animemos pois
esta consideração com novos esforços, e assim espero, que pos-
samos concluir esta longa, e árdua contenda, o que deverá
ser de um modo que seja consistente com a independência de
todas as naçoens empenhadas nella, e com a segurança geral da
Europa.

Convenção" entre S. M. Britannica, e entre S. Jtf. o Imperador de todas


as Russias, assignada em Reichenbach, aos 15 de Junho, de 1813.
Em nome da Santíssima, e Indivisível Trinidade.—S. M. o Rey do
Reyno Unido da Gram Bretanha e Irlanda, e S. M. o Imperador de
todas as Russias, naõ tem poupado sacrifício, nem negligenciado
esforço algum, para pôr um termo aos destruetivos projectos do ini-
migo da Europa. Hc em um periodo, em que a Providencia tem
manifestamente favorecido suas armas, que S. Al., annimados pelo
dezejo de restaurar a independência, paz, e prosperidade das na-
çoens, com o preposito de empregarem todos os meios em seus po-
deres, para o complemento deste saudável fim, concordaram em
ajustar, por uma particular convenção, a natureza, e extençaõ dos
soccorros pecuniários, e a assistência que as duas coroas haõ mutua-
mente fornecer uma a outra, durante esta guerra. Nisto confor-
mes, nomearam seus respectivos Plenipotenciarios, a saber, S. M. o
Rey do Reyno Unido da Gram Bretanha e Irlanda, a Guilherme
Shaw, Visconde Cathcart, Baraõ Cathcart, e Greenock, Par do
Reyno, Conselheiro Privado, Vice-Almirante de Escócia, General no
Exercito, Coronel do Segundo Regimento das Guardas de Corpo, e Ca-
valleiro da Antiquissima.eNobilissinia Ordem do Cardo,&c.&c. Embai-
xador Extraordinário, e Plenipotenciario juncto de S. M. o Imperador
de todas as Russias,e S. M. o Imperador de todas as Russias a Carlos,
Conde de Nesselrode, Conselheiro Privado, Secretario de Estado, Ac-
tual Camarista, Cavalleiro da Ordem de St. Ulodirair da Terceira
Classe, eaJoaõd'Anstett, Conselheiro Privado, Cavalleiro Gram Cruz
da Ordem de St. Ulodimir da Segunda, e da de St. Anna da Primeira
Classe, e de St. Joaõ de Jerusalém; os quaes depois de terem compa-
rado, e trocado seus plenos poderes, concluíram os seguintes artigos:—
ART. 1°. S. M. o Imperador de todas as Russias, estando firme-
mente resolvido a continuar a presente guerra cora a maior energia,
promette empregar durante a mesma, cento e sessenta mil homens
708 Política.
de tropas effectivas, de todas as espécies de armas, excluindo as
•--uarniçoens das fortalezas.
S». Para contribuir da sua parte, na mais efficaz, c prompU
maneira, S. M. o Rey da Gram Bretanha, pronielle de por ;'i dismj-
siçaõ de S. M. o Imperador de todas as Russia», as seguintes som-
mas, para o serviço do anno de 1813:—1*. Lni milhaõ, e trezentas,
e trinta, e tres mil, trezentas, e trinta c quatro libras sterlinas, a pa-
gar etn Londres.—2 o . A Inglaterra toma sobre si a sustentação da
esquadra Russiana, c sv.ia tripulação, que agora se acha nos portos
da Gram Bretanha $ cuja despeza he avaliada etn quinhentas mil
libras esterlinas.
3°. A somma de um milhaõ, e trezentas, c trinta, c tres mil, tre-
zentas, e trinta e quatro libras esterlinas, hade ser pa^a ás mezadas,
de modo tal, que toda a somma esteja paga no primeiro de Janeiro,
de 1814.
4°. Para suprir a falta de espécie, cuja cscaccz se experimenta
cada dia mais na circulação do Continente, e para combinar, nesta
importante contenda, todos os meios que possam segurar seu bom
successo :—As duas Altas Partes Contractantes, decominuin arcordo
com S. AI. o Rey de Prússia, tem concordado em publicar notas,
pagaveis ao portador, com o nome ele Papel Federativo.
(A.) O total deste papel moeda, naõ deverá exceder a soinma de
cinco milhoens esterlinos, da qual as tres Potências Contractantes
saõ juntamente fiadores. Dois terços desta somma seraõ postos á
disposição da Russia, e um terço á da Prússia.
(B.) O embolço desta somma de cinco milhoens sterlinos, deve
ser feito pelas tres Potências, nas seguintes porçoens, c de tal ma-
neira que :—
A Inglaterra ha de tam somente tomar sobre si tres sextos; Russia,
dois sextos; e Prussia, um sexto.
(C.) Este embolço naõ terá lugar antes do 1°. dia de Julho, de
1815, ou seis mezes depois da conclusão de uma definitiva paz.
(D.) A somma dn cinco milhoens sterlinos de Papel Federativo,
assim como deve circular cm nome das tres Potências, lambem
naõ deve ser em caso algum applicaila a coiza alguma outra que naõ
seja as despezas da guerra, e a sustentação dos exercilo» em actiw-
dade.
(E.) Uma Commissaõ nomeada pelas tres Potências regulará tudo
aquillo que disser respeito á distribuição das sommas. O*, pagamen-
tos deverão ser progressivamente de mez a mez. Entretanto, tudo
o que diz respeito a forma, aílianramento, circula«;aõ, appropria-
Politica. 709
çaõ, circulação, e embolço deste papel, deve ser regulado de uma
maneira mais particular, por uma convenção especial, cujas estipu-
laçoens, deveram ter a mesma força, e valor como se ellas tivessem
sido inseridas, palavra por palavra, no presente tractado.
5°. Tendo o Governo Britannico tomado sobre si a sustentação da
esquadra Russiana, pela somma de 500.000 lib. sterlinas, como fica
dicto no Art. 2 o ., S. Ai. o Imperador de todas as Russ*as consente
também que S. M. Britanni-a empregue a dieta esquadr-. nos mares
da Europa, da maneira que ella julgar mais própria, para as opera-
çoens contra o inimigo commum.
6o. Ainda que a presente Convenção estipula t-iõ somente os soc-
corros que haõ de ser fornecidos pela Gram Bretanha durante o anno
de 1813, comtudo como os seus reciproco» empenhos devem perma-
necer em vigor tanto tempo como a presente guerra durar, as duas
Altas Partes Contractantes, formalmente prometem de entrar em
novos ajustes sobre a ajuda que deverão prestar uma á outra, se a
guerra, o que Deus naõ permitia, for prolongada além do periodo
acima determinado; sendo porém esses novos ajustes, principal-
mente com as vistas de dar maior desenvolvimento a seus esforços.
7°. As duas Altas Partes Contractantes, haõ de obrar no mais per-
feito concerto a respeito das operaçoens militares, e francamente
communicaraõ nma á outra tudo aquilo que tiver relação com sua
respectiva policia; e sobre tudo, promettem reciprocamente, de
naõ negociar separadamente com seus inimigos communs, nem as-
signar paz, nem troca, nem Convenção alguma, que naõ seja por
mutuo consentimento.
8. Será permittido que certos officiaes andem juntos aos Generaes
Commandantes-em-Chefe dos differentes exércitos em serviço activo,
e que delles se faça confiança ; devendo ter a liberdade de se corres-
ponderem com as suas Cortes, e tellas sempre constantemente infor-
madas dos accontecimentos militares que tiver havido, assim como
também de tudo aquillo que for relativo ás operaçoens daquelles
exércitos.
9». A presente Convenção deverá ser ratificada com a menor de-
mora possivel. Em testemunho do que os respectivos Plenipoten-
ciarios tem assignado a presente Convenção, por seu próprio punho,
e lhes tem annexo o sêllo de suas armas.
Feita em Reichenbach, aos tres (quinze) de Junho, de 1813.
(L.S.) CATHCART.
(L.S.) CARLOS, Conde de Nesselrode.
(L.S.) JOAÕ D'ANSTETX.

VOL. XI. No, 66. 4 v


710 Politica.
Resumo da Convenção entre S. V. Britannica, c S. M. o Rey de Prússia,
assignada em Reichenbach, aos 14 de Junho, de 1813.
Em nome da Santíssima e Indivisível Trindade.—S. M. o Hey do
Reyno Unido da Gram Bretanha e Irlanda, e S. M. o Rey de 1'russia,
unidos para o propósito de assegurar a independência da Europa,
tem resolvido regularem, por meio de uma Convenção expressa, a
natureza, e extençaõ dos soccorros pecuniários, e da assistência que
haõ de fornecer um ao outro. Para cujo fim nomearam seus res-
pectivos Plenipotenciarios, a saber; S. AI. o Rey do Hcyno Unida
da Gram Bretanha e Irlanda, ao Honr. Sir Carlos Guilherme Stewart,
Cavalleiro da Ordem do Banho, & c , Alcmbro do Parlamento do
Reyno Unido, um dos Tenentes-gcneracs de S. M., e seu Enviado
Extraordinário, e Ministro Plenipotenciario juncto a S. M. o Key de
Prússia; e S. M. o Rey de Prússia, ao Baraõ Carlos Augusto de Har-
denberg, seu Chanceller de Estado, Cavalleiro das Ordens Prussianas
da Aguia.Negra, e Incarnada, da Cruz de Ferro, de St. Joaõ de Je-
rusalém, de St. André, de St. Alexandre \ew»ki, de St. Anua de Rús-
sia, e de varias outras, &c. &c. Os quaes, depois de terem verificado,
e trocado seus plenos Poderes, concluíram os seguintes artigos:—
ART. 1°. Sendo o objecto do presente tractado, restabelecer a in-
dependência dos Estados opprimidos pela França, as duas Altai
Partes Contractantes, ligam-se portanto para dirigirem todas as suas
operaçoens para aquelle fim ; e como, para complemento do mesmo,
hade ser essencial o restabelecer a Prússia na posse do poderquelhe
compete, e impedir que a França haja nunca mais de occupar algu-
ma das praças fortes no Norte da Alemanha, nem exercer alguma
sorte de influencia naquella parte; S.M. o Key do Heyno Unido da
Gram Bretanha e Irlanda, obriga-se a cooperar efTectivaincnte para
aquelle fim; e pela outra parte, S. M. o Key de Prússia, que ja, cm
suas negociaçoens com a Russia, expressamente reconheceo os direi-
tos da Casa de Brunswick-Lunenburg em Hanover, deverá cooperar
com todos os seus meios na restauração dos Estados hereditário»
aquella Augusta Casa.e á Ducal Casa de Brunswick.
2°. Prússia promette manter um exercito de oitenta mil homens
sobre o campo, a fora as guarniçoens nas fortalezas.
3°. Inglaterra promette por á disposição de S. M. Prussiana, para
o anno de 1813, a somma de 666.6661. em mezadas. E se obriga i
mesma estipulaçaõ do tractado Russiano, para OJ cinco milhoens de
Papel Federativo.
(Os Artigos 4*., 5°., e 6*., saõ como os do tractado Russiano.)
1-. A marinha Britannica, deverá cooperar aonde for practicavcl,
Política. 711
aa defensa dos Estados da Prússia, em apoio das expediçoens mili-
tares ein favor da causa commum, e na protecçaõ do commercio da
Prússia.
8°. Este tractado deverá ser logo coiniaunicado à Russia, Suécia,
e Áustria.
9°. Deverá ser ratificado com a menor demora possivel. Em tes-
munho do que, &c. &c.
Reichenbach, 14 de Junho, de 1813.
CARLOS STEWART.
C A. DE HARDENBERG.

Convenção' entre S. M. Britannica, e o Imperador ãe Todas as Russias,


assignada em Pcterswalda, em 6 de Julho, de 1813.
S. M. El Rey do Reyno Unido da Gram Bretanha, e Irlanda, e S. M.
o Imperador de Todas as Russias, tendo desejos, em conseqüência dos
Íntimos laços de amizade que existem entre elles, de concertarem
j unetos, os meios, e facilitarem os esforços, que reciprocamente em-
pregam na contenda contra França, tem assentado em concluir unia
convenção sobre estes principios. Para este preposito nomearam
os seus plenipotenciarios, a saber, S. M. o Rey do Reyno Unido da
Gram Bretanha, e Irlanda, Guilherme Shaw, Visconde Cathcart,
Baraõ Cathcart, e Greenock, um dos Pares do Reyno, um de seus
Conselheiros Privados, Vice Almirante de Escócia, General em Chefe,
Coronel do Regimento das g-uardas de corpo, Cavalleiro da anti-
quissima, e nobilissima ordem do Cardo, Embaixador Extraordinário
e Plenipotenciario junto a S. M. o Imperador de Todas as Russias;
e S. M. o Imperador de Todas as Russias, David de Alopeus, seu
Conselheiro Privado, e Actual Camarista, Enviado Extraordinário, e
Ministro Plenipotenciario a S. M. o Rey de Prússia, Cavalleiro Gram
Cruz da Ordem de St. Vladimir da segunda classe, e da de St. Anna
da primeira classe ; os quaes despois de terem reciprocamente com-
municado seus plenos poderes, concordaram sobre os seguintes
artigos:—
ART. 1°. Fornecendo os vastos dominios do Império da Russia, a S.M.
Imperial, o numero de tropas que ella tem determinado empregar al-
iem das fronteiras do seu Império, e S. M. o Rey do Reyno Unido da
Gram Bretanha, e Irlanda, tendo appropriado a maior parte das suas
para defensa de Hespanha, e protecçaõ de Portugal, tem S. M. Bri-
tannica consentido em tomar sobre si as despezas da mantença da
Legiaõ Alemaã, no serviço de S. M. Imperial, a força da qual Legiaõ
sorá augmentada até mil homens.
4 Y 2
712 Politica.
2°. A dieta Legiaõ ficará à absoluta disposição de >. Af. Britan-
nica, por todo o tempo em que ella prover á sua manutenção ; para
ser empregada no Continente da Europa, e será commandada por
officiaes generaes da sua escolha. A S. M. Imperial pertencerá o
prover ao recrulemento da Legiaõ,e conservalla em estado de servir
e completa, o mais que for possivel ; ao mesmo tempo que o repor
os artigos fornecidos para o apetrechamento, armamento, e o misecn
campagne, da, ditta Legiaõ pertencerá a S. M. Britannica. Todas ns
sommas pagas pela Gram Bretaurm, em virtude dos artigos da pre-
sente Convenção, seraõ empregadas taõ somente em satisfazer as
despezas, e a manutenção da Legiaõ Alemaã no serviço de S. M.
Imperial.
3°. As altas partes contractantes, tem assenlado, que as somas drs
tinadaspara a manutenção do ditto corpo deverão ser pagas 6 ordem
do Governo de S. M. Imperial, na proporção de dez libras «terlinas,
e quinze shelins por anno, por cada homem efertivo da Legiaõ, tom
a expressa condição, que o seu numero naõ excederá dez mil
homens.
S. M. Britannica promette fornecer as armas, muniçoens, farda-
mento, e os artigos de apetrechamento que faltarem, aquelle pe-
ríodo, em que o corpo for posto à sua disposição. Todos os artigos
de fardamento, e apetrechamento, para a Legiaõ, como tem sido
fornecidos por S. AI. o Imperador, e as companhias de artilheria a
cavallo, e a pé, os dous regimentos de hussares, a companhia de ca-
çadores, e os quatro batalhoens de infanteria, achando-se em parte
fardados, apetreehados em o primeiro de Abril ; S. AI. Britannica se
obriga a pagar por cada recruta no dicto corpo, desde o dia quatro
de Abril, a soma especificada na lista abaixo mencionada, marca I.
annexa á presente convenção. Se despois do dia 4 de Abril, a Le-
giaõ for augmentada copa um, ou mais batalhoens a despeza do
fardamento, e apetrechamento fornecido pelo Imperador, ser-lhe-
ha satisfeita, na conformidade dos termos esperificados na dirU
lista marcada 1. A proporção que o b° Q". 7". e 8*. batalhoens
forem achados completos, a despeza das carretas, cavallo», e outros
artigos especificados na lista abaixo mencionada, do» ailis-os forne-
cidos aos primeiros quatro batalhoens, para estarem promptos para
marchar, será reiinbolçadapelo Governo Russiano. A formação da
Legiaõ, e as despezascalculadas para sua manutenção e especificadas
na lista annexa á presente convenção pelas letras A, B, ( , D, E, F,
G H, I, declara-se que formam uma parte integrante delia. A som-
ma de dez libras e quinze shelins, meocionada no precedente artigo,
Politica. 713
he destinada para constituir a paga de cada official, soldado,e outros
homens effectivos mencionados na ditta lista como actualmente
servindo, assim como também para pagar as outras despezas nella
referidas. A remonta, provimentos, e hospital geral da Legiaõ
Alemaã será também a custa do Governo Britannico, o qual terá a
superintendência da administração, e consummo da mesma. Todos
os arranjos feitos com os governos dos paizes aonde existe o theatro
da guerra, para provisionar as tropas de S. M. Imperial, seraõ apli-
cáveis à dieta Legiaõ Alemaã, toda a vez e quando S. M. Britannica
a empregar em seu serviço.
5" 0 subsidio fixado no terceiro artigo ha de ser pago de dous
em dous mezes, adiantados para os officiaes, e soldados, que forem ja
effectivos no ultimo dia do precedente mez. O primeiro pagamento
deverá dattar do primeiro de Abril, de 18 13 (estilo novo) para o nu-
mero de tropas indicado na relação do Coronel H. Lowe, ao serviço
de S. AI. Britannica, o qual foi nomeado para passar revista á Legiaõ
oo mez de Abril. Em quanto aos doentes, que estiverem nos hospi-
taes da Russia, estes naõ seraõ metidos na conta ate que tenham
passado as fronteiras da Russia depois de convalecidos. Porque
podem ter acontecido algumas mudanças nos precedentes mezes, far-
se-haõ deducçoens, ou addiçoens em cada pagamento, segundo as
circumstancias do cazo ; isto he a paga adiantada para um que mor-
reo, deo baixa ou desertou nos últimos dous mezes, será descontada
do pagamento ; e a que houver de ser para recrutas, será augmen-
tada no mesmo. Em ordem a encontrar as despez is de recrutar,
e marchar, será dado um mez de paga a titulo de gratificação, a cada
recruta, na occasiaõ de reunir-se ao seu corpo.
6o. As raçoens seraõ distribuídas á Legiaõ Alemaã, conforme a
practica adoptada no exercito Prussiano, a qual também servirá de
regulamento para a deducçaõ da paga do soldado, para as provisoens
fornecidas pelo governo, assim como também para os soldados doen-
tes e feridos nos hospitaes.
7o. Como a estimativa foi feita em estado de guerra, a proporção
dos pagamentos, será reduzida nas proporçoens especificadas nas
listas annexas a esta convenção, no caso que a Legiaõ fique ao soldo
da Gram Bretanha, quando as circumstancias permittiretn que a dieta
Legião seja posta no estabelecimento de paz.
8». Todos os pagamentos que houverem de ser feitos em virtude
desta presente convenção, seraõ calculados em moeda Prussiana, na
proporção de oito gross dinheiro corrente, por um shelin sterlinos
por tlnler. As despezas de cambio, e bilhethes seraõ reguladas todos
714 Politica.
os mezes segundo o curso do cambio mais geralmente estabelecido
pelos negociantes no Continente, ao tempo do pagamento, e todos
os bilhetes de cambio deverão ser acompanhados por uma nota do
estudo do cambio, certificada por dous banqueiros.
9". Os preços, e as pagas tendo sido pela baze desta convenção,
calculados em rublos de prata, e em Coroas de ouro, as duas Altas
Partes contractantes convém em determinar o valor de uma Coroa
d'ouro, em ordem a regularem as proporçoens da paga, e os preços
dos outros objectos assentes nas listas, em dinheiro corrente de Prús-
sia. O valor de uma Coroa d'ouro hc portanto pelo presente artigo
fixado em ura rix-thaler, dois groj, e oito pfeunings, moeda corrente
da Prússia.
10». S.M. o Imperador, consente em ceder á S. M. Britannica, assim
no character de Rey do Reyno Unido da Gram Bretanha, e Irlanda,
como no de Eleitor de Hanover, a propriedade da Legiaõ, se as cir.
cumstancias da guerra induzirem S. M. o Rey a desejar este arranjo •
o que, entretanto, de nenhum modo tornará invalidas as graças
concedidas por S. M. Imperial, aos indivíduos que compozerein a
Legiaõ.
II». Os indivíduos inválidos por doenças, ou em conseqüência de
feridas, receberão sua paga na mesma proporção que os inválidos no
exercito Prussiano. O pagamento será feito por aquella potência,
a cujo serviço a Legiaõ estiver, ao tempo que os inválidos se retira-
rem do serviço ; de forma que S. M. o Imperador toma sobre si o
o pagamento destas pensoens, ate o periodo em que a Legiaõ passar
para o serviço de Gram Bretanha, ou para o do Eleitor de Hannover,
na conformidade do theor do artigo 10*
12». A presente convenção permanecerá com força em quanto
durar a presente guerra; e se, ao periodo de uma paz, definitiva a
LegiaS ainda continua na qualidade de um corpo Russiano, ao soldo
da Gram Bretanha, ura mez de soldo lhe será pago, como também ua
proporção de um mez de soldo, por cada cincoenta milhas Alemaãs
que a Legiaõ tiver de marchar até as fronteiras de Russia, ou para o
lugar aonde haja de ser debandada, ou de seu ulterior destino alem
das fronteiras da Russia.
13*. Se alguns outros objectosficarempara ajustar, a respeito da
Legiaõ, que naõ tenham sido arranjados, nem acautelados na presente
convenção, as Altas Partes contractantes reservam para si mesmos o
fazellos ajustar por seus respectivos Enviados, deixando também aos
mesmos, a correcçaõ de alguns erros de calculo que poderem ter ido
nas listas annexas a esta convenção.
Politica. 715
|4«. A presente convenção será ratificada, e as ratificaçoens,
trocadas dentro de dous mezes, a contar do dia de sua assignatura, ou
mais cedo se for possivel. Em virtude do que, nos os abaixo assigna-
dos, munidos com plenos poderes por S. M. o Rey do Reyno Unido
da Gram Bretanha e Irlanda, e Sua Magestade o Imperador de todas
as Russias, temos assignado a presente convenção, e lhe temos an-
nexo o sello das nossas armas. Feita em Peterswalda, na Silezia,
aos 24 de Junho, (6 de Julho,) de 1813.
(Assignados) (L.S.) CATHCART.
(L.S.) D. ALOPEDS.

Convenção Suplementaria ao Tractado de concerto, e subsidio


de 15 'de Junho, de 1813, entre S. M. Britannica, e S. M.
o Imperador de todas as Russias, assignada em Londres, em
30 de Septembro, de 1813.
Em nome de Santíssima, e Indivissivel Trindade.—A es-
cacéz da moeda metálica, produzindo difficuldades, e con-
sideráveis perdas no fornecimento dos soccorros pecuniários
que S. M. Britannica está desejozo de fornecer aos seus allia-
dos, para os ajudar a sustentar as despezas da guerra contra a
França, foi concordado, entre S. M. o Rey do Reyno Unido
da Gram Bretanha, e Irlanda, de um lado, e S. M. o Impera-
perador de Todas as Russias, e o Rey de Prússia, do outro
lado, que uma parte destes soccorros será fornecida pela ajuda
do credito publico da Gram Bretanha, e debaixo da forma de
bilhetes de credito, applicaveis exclusive para as despezas da
guerra, e para serem reembolçados em dinheiro metálico, nos
termos, e condiçoens aqui adiante estipulados.
Em conseqüência, e em execução do artigo quarto da con-
venção concluída em Reichenbach, em 3 (15) de Junhodo pre-
sente anno, S. M. o Rey do Reyno Unido da Gram Bretanha,
e Irlanda, e S. M. o Imperador de todas as Russias, nomearam
os seus Plenipotenciarios para concluírem a presente conven-
ção ; a saber, S. M. o Rey do Reyno Unido da Gram Breta-
nha e Irlanda, Roberto Stwart Visconde Castlereagh, Conse-
lheiro privado, e um de seus principaes Secretários de estado ;
e S. M. o Imperador de todas as Russias, o Conde de Lieven,
tenente-general de seus exércitos, seu ajudante de campo gene-
716 Politica.
ral, seu embaixador extraordinário, e plenipotenciario, juncto
a S. M. Britannica, cavalleiro das ordens de St. Alexandre
Newski, de St. Jorge da 3V classe, e Gram Cruz de St. IT|0.
dimir da 2 \ classe, de St. Anna de 1". classe, commandante de
St. Joaõ de Jerusalém, cavalleiro das ordens Prussianas das
Águias, Preta, e Incarnada, c commandante Gram Cruz da
ordem Sueca da Espada, os quaes, despois de terem trocado os
seus respectivos plenos poderes, e acharem queerim em devida, e
própria forma, tem concordado sobre os seguinte artigos:—
ART. IO. S. M. Britannica, promete propor ao seu parla-
mento para authorizar a creaçaõ destes bilhetes de credito, para
beneficio de S. M. o Imperador de todas as Russias, e do Rey
de Prússia; para a soma de dous milhoens e meio Sterlinos,
ou de 15 milhoens de thalers Prussianos, da denominação, e
pezo de 1764 : e desta somma será cada mez fornecido um mi-
lhaõ de thalers Prussianos, até tres mezes despois da assigna-
tura de uma paz geral, no cazo de que isto accontecesse antes
de o total da somma estar posto cm circulação. O valor do
cada bilhete será especificado nelle simultaneamente cm thalers
Prussianos, em duros Hespanhoes, na proporção de um duro
por um thaler, e meio. A formula será como a que vai an.
nexa ao presente instrumento. A manufactura destes bilhetes
será feita exclusivamente pelo Governo Britannico taõ cedo
como for possivel, scram afliançados pela ley, c o embolço del-
les será feito em moeda metálica, a principiar um mez despois
da ratificação de uma paz geral.
2 o . Dous terços da somma assim circulada cada mez será
entregue a S. M. o Imperador de todas as Ilussias, para o ser-
viço de seu exercito ; e o outro terço, a S. M. o Rey de Prús-
sia, para o serviço de seu exercito.
E esta circulação deverá ser computada desde o dia 3 (15)
de Junho do corrente anno; de maneira que S. M. Britannica
promete por á disposição de S. M. o Imperador, e o Rey,
para o primeiro pagamento, tantos milhoens da thalers quantos
os raezes passados despois de 3 [15] de Junho próximo passa,
do; c dalli por diante um milhaõ cada méz, ate que a circula-
ção de 15 milhoens de thalers, assim especificada, esteja com-
pleta.
Politica. 717
o
3 . Estes bilhetes de credito haõ de ser circulados por mi-
lhoens de thalers, classificados, e numerados separadamente con-
forme a data da sua circulação, e cada milhão será dividido
em series, e subdividido em números, de maneira que os bilhe-
tes mostrarão a data do mez cm que elles tiverem sido postos em
circulação, e a declaração do milhaõ de que elles formam uma
parte, e a da serie a que pertencem, assim como também o seu
numero naquella serie. Naõ se fará bilhete que valha menos
de um cento de thalers Prussianos.
4°. Seraõ nomeados commissarios pelas altas partes con-
tractantes no Continente, os quaes seraõ encarregados de diri-
gir a circulação do ditto papel, na conformidade dos princi-
pios estabelecidos pala presente convenção : estes commissa-
rios seraõ escolhidos da classe commerciante; seraõ mandados
concertar juntos sobre as medidas que lhes parecerem úteis
para o credito do papel em questão ; e os commissarios Rus-
sianos, e Prussianos, aquém os bilhetes acima mencionados
forem entregues, teraõ particular cuidado em que a circulação
delles seja regulada de maneira que naõ possam cair em des-
crédito.
5a. Estes bilhetes de credito, nao teraõ interesse: porem
abrir-se há um escriptorio geral, naquella cidade do Norte da
Alemanha, que o Governo Britannico, em consulta com as
Cortes da Russia, e da Prússia, apontar para este preposito ;
em o qual os possuidores de cada bilhete seraõ admittidos a
fazer delles um fundo á 6 por cento ; isto he, a convertellos
em capital em um fundo de 6 por cento; o registro do qual
será feito da mesma maneira que se faz o da divida nacional
Ingleza, nos livros do Banco de Inglaterra, ou, á escolha dos
donnos dos dittos bilhetes, cm Cautelas, com 6 por cento de
interesse, registradas, e numeradas. Os Commissarios Ingle-
zes no Continente seraõ mandados fazer este registro, do qual
duas copias seraõ enviadas para Inglaterra todos os mezesj para
segurança das partes interessadas.
6o. O interesse destes bilhetes postos em fundo, e conver-
tidos em um capital de 6 por cento, ou em Cautelas, como fica
declarado no Art. 5"., será pagavel todos os 6 mezes, naquella
VOL. XI. No. 66. 4 z
718 Politica.
cidade do Norte da Alemanha, que os Commissarios do S. M.
Britannica assignarein para esse fim, á começar desde o mez
seguinte aquelle em que forem depositados no escriptorio geral.
O pagamento deste interesse, assim como também o reembolço
do capital será feito em um dos cunhos acima especificados no
Art. I o . Os bilhetes que nem tiverem sido registrados, nem
capitalizados, antes da assignatura dos preliminares da pai,
teraõ direito á um interesse de meio por cento por iu< z, a co-
meçar desde o periodo da dieta assignatura, até o do seu rc-
embolço.
7°. O rccmbolço do total dos quinze milhoens de thalers, ou
bilhetes de credito, que S. M. Britannica toma sobre si, scra
feito, na forma que está especificada no Art. 1°., em dinheiro
metálico ; ou ura thaler Prussiano segundo a Tarifa de 1764,
ou em duros da Hespanha, na proporção de um thaler, e meio
por cada duro, e na de um milhaõ de thalers por mez, á
principiar desde o mez seguinte á ratificação de uma paz geral.
O reembolço destes bilhetes será feito da maneira seguinte:—
primeiro, os bilhetes capitalizados, segundo a ordem de suas
assignaturas, e depois os bilhetes de cada mez naÕ capitalizados,
segundo a data da sua publicação, desorteque o reembolço,
será completo em 15 mezes. O embolço, assim como o paga-
mento do interesse será feito naquellas cidades do Continente
que forem apontadas para esse fim. No cazo, o que Deus naõ
permita, que o estado de paz, fixado para o reembolço seja
de novo perturbado antes da inteira execução do rcembol-
ço, os pagamentos naÕ seraõ por isso interrompidos.
8°. S. M. Britannica reserva para si o direito de anticipar,
como ella julgar próprio, o periodo do reembolço, tanto do
capital dos 6 por cento, como o dos bilhetes naõ convertidos
cm capital.
9°. A prezente Convenção será ratificada pelas Altas Partes
Contractantes, e as ratificaçoens trocadas na própria, e devida
forma em Londres, taõ cedo eomo for possível. V.m testemu-
nho do que, nos, os abaixo assignados, em virtude dos nossos
plenos poderes, temos assignado a presente convenção, e lbe
semos annexo o sello das nossas armas.
Política. 719

Feito em Londres, aos 18 [30] de Septembro no anno de


Senhor, de 1813.
(L. S.) CASTLEREAGH.
(L.S.) CONDE DE LIEVEN.

Convenção Supplementaria do tractado de concerto e subsidio,


del.de Junho, de 1813, entre S. M. Britannica, e S. M.
o Rey de Prússia ; assignada em Londres, aos 30 de Sep-
tembro, de 1813.
Em nome da Santíssima e Indivissivel Trindade.—A escacez
da moeda metálica, produzindo difficuldades, e consideráveis
perdas no fornecimento dos soccorros pecuniários que S. M.
Britannica tem desejos de fornecer a seus Alliados, para os
ajudar a supportar as despezas da guerra com a França, foi
concordado entre S. M. o Rey do Reyno Unido da Gram Bre-
tanha e Irlanda, de um lado, e S. M. o Imperador de todas as
Russias, e o Rey de Prússia de outro, que uma parte destes
soccorros será fornecida pela ajuda do credito publico da Gram
Bretanha, e debaixo da forma de bilhetes de credito, applica.
veis exclusive para as despezas da guerra, e para serem reem.
bolçados em dinheiro de metal, debaixo das termos, e condi-
çoens adiante stipuladas.
Em conseqüência, e em execução do 4°. Art. da convenção
concluída em Reichenbach, em 14 de Junho do presente anno,
S. M. o Rey do Reyno Unido da Gram Bretanha, e Irlanda, e
S. M. o Rey de Prússia tem nomeado os seus plenipotenciarios
para concluir a presente convenção, a saber, S. M. o Rey do
Reyno Unido da Gram Bretanha e Irlanda, Roberto Stewart,
Lord Visconde Castlereigh, conselheiro privado, e um de seus
principaes Secretários de estado, e S. M. o Rey de Prússia, o
BaraÕ Jacob Kleist, Ministro de Estado, e da guerra de S. M.
Prussiana, seu Inviado Extraordinária, o Ministro Plenipoten.
ciario juncto a S. M. Britannica, Gram Cruz da Ordem da
Águia Incarnada, cavalleiro da Ordem de St. JoaÕ de Prússia,
os quaes despois de trocarem seus plenos poderes, acharam que
era em devida, e própria forma o terem concordado nos seguin-
tes artigos:—
4z 2
7 20 Commercio e Artes.
[Agora seguem-se nove artigos, exactamente os m esmos ds
conveuçaÕ com a Russia.]
Feita em Londres, em 30 de Septembro do anno de nosso
Senhor, de 1813.
(Assignado) (L. S) CASTLEREACH.
(L. S.) JACOBI KLEIST.

COMMERCIO E ARTES.
Contracto do Tabaco em Portugal.
ji-EPETIDAS vezes temos falladodaadministraçaódo Ta-
baco, considerando-o, ja como importante ramo das ren-
das publicas, ja como objecto de agricultura, e commer-
cio. A naçaõ conseguio por fim, que se declarasse, nas
gazetas de Lisboa, que o contracto do tabaco se havia de
pôr a lanços ; e que se admittiiiam em justa concurrencia
todos os que nelle quizessetn lançar. NaÕ he pouco ter-
se obtido esta medida; principalmente quando se consi-
dera, a natureza dos argumentos, que se produziram,
contra as observaçoens do Correio Braziliense a este res-
peito.
Aceusar o Correio Braziliense de jacobino, desorganiza-
dor, &c. porque recommendava, que se puzesse a lanços
o contracto, he uma daquellas diatribes, que estamos acus-
tumados a ouvir, e que sempre esperamos, todas as vezes
que trazemos a publico as tramas dos Godoyanos: porém
diatribes e insultos naõ saõ argumentos. Por toda a razaõ
por todo o argumento, os defensores do antigo systema
naô disseram outra cousa senaõ, que o govomo tinha mui
boas razoens para obrar como obrava; e que naõ éra ob-
rigado a dar satisfacçoens ao Correio Braziliense, nem a
seus sequazes. E eis aqui o veo do mysterio prompto a
cubrir quanto ha de máo.
Commercio e Artes. 721
Nós admittimos, como parte essencial de qualquer ad-
ministração, o que se chama " Segredo de Estado" e este
segredo he o único mysterio em Politica. Tudo o mais he
impostura ; ou, fallando em fraze commum, capa de vi-
lhacos. No caso de que tractamos, he evidente, que naõ
havia taes razoens occultas, para se naõ pôr o contracto a
lanços, senaõ razoens, que se envergonhavam de ver a luz
do dia : e a prova disso he ; que, naõ obstante essas pon-
derosas razoens, está rezolvido que se ponha o contracto a
lanços a quem mais der. < Aonde estaõ pois essas razoens,
que faziam chamar jacobino e desorganizador a quem
clamava por esta mesma medida, que o governo adoptou
agora ? i Accaso se tornaria também o Governo jacobino,
e desorganizador ?
Como tenhamos alguma noticia de que o Governo de
Hespanha tem feito certas proposiçoens a Portugal, relati-
vamente ao negocio do tabaco, da-nos isto occasiaõ de tor-
nar a entrar na matéria, e fazer algumas observaçoens
sobre a importoncia de deixar este commercio do tabaco
livre; ou, pelo menos, quando se continue o monopólio, a
tomar algumas precauçoens, para que naõ soffra tanto a
cultura do gênero, nem se cause tanto damno ás rendas
publicas que dabi se podem tirar.
Os contractadores do tabaco tem sempre posto todos
entrávez possíveis para que se naõ exporte o tabaco de
Portugal para Hespanha ; e como as condiçoens do con-
tracto naó lhe permittem, nem nunca peruiittiram, o im-
pedir isto directamente; valem-se de todos os meios indi-
rectos, que estaõ em seu poder, para o fazer.
He quasi desnecessário o repetir aqui, o que tantas
vezes temos dicto, que quanto mais se favorecer o consum-
mo deste gênero tanto mais se favorece a sua agricultura ;
por conseqüência, tanto mais se fomenta o emprego dos
povos, e tanto mais se augmentam as rendas publicas que
dahi resultam, como saõ os dizimos, direitos de alfândega
722 Commercio c Artes.
na exportação do gênero, direitos das fazendas, que vem
em retorno delle, fretes dos navios que se empregam na
exportação, e depois nos gêneros de torna viagem, &c. ítc.
Logo todo o impedimento directo ou indirecto no con-
t-unimo do gênero he de grande detrimento á prosperidade
do Estado, e ás rendas do Erário. E tal impedimento hc
sem duvida a objecçaõ que fazem os contractadores á MU
exportação.
O argumento dos contractadores para impedir que se
exporte o tabaco de Portugal para Hespanha, e outros
paizes, he que lhes falta este gênero para o consumo do
paiz. Este argumento naÕ deve de forma alguma valer
aos contractadores; porque elles se obrigam a fornecer o
Reyno deste gênero ; e se naô forem providentes em o
mandar buscar a tempo, e que isso produza temporaria-
mente escacez no gênero, so firam a pena de seu descuido
ou desmazêlo, comprando-o mais caro aonde quer que o
acharem ; e sem duvida o augmento do preço do gênero
estimulará o lavrador a plantar mais, c induzirá o negoci-
ante a trazer maior quantidade ao mercado, com o que
voltarão os preços ao seu nivel natural.
Este he o remédio, que convém á prosperidade do paiz,
e naõ o outro taõ mal entendido de impedir a exportação
do gênero ; e muito menos ainda a impolitica medida de
permittir aos contractadores, como se tem feito, que impor-
tem o tabaco da Virgínia. Os privilégios se chamam em
direito leys odiosas ; e portanto nunca se devem entender
senaõ restrictamente. O contracto do tabaco, odioso neste
sentido, assim como n' outros, deve limitar-se e restringir.
se meramente â faculdade que se lhe concedeo, de impos-
tar exclusivamente do Brazil todo o tabaco que for neces-
sário para consummo do Reyno de Portugal, e nada mais;
logo a cultura deste gênero no Brazil, que livre éra, livre
ficou, e livre he também a exportação deste gênero para
os paizes estrangeiros ; e portanto o odioso privilegio dos
Commercio e Artes. 723
monopolistas naõ se deve por forma nenhuma interpretar
cxtendendo-.se a estes ramos, que o seu contracto naõ ab-
range; e tudo quanto se faz a beneficio dos contractadores,
alem da mera letra do contracto, he um abuso, e uma in*
justiça formal a todos os que se empregam na cultura ou
commercio daquelle gênero.
Nestes termos os arranjamentos sobre a exportação do
tabaco de Portugal para a Hespanha devem ser unicamente
objecto de ajustes entre o Governo Portuguez e Hespa-
nhol, sem que para isto seja necessário consultar nem a
Juncta do Tabaco nem os contractadores ; visto que este
negocio com o estrangeiro naÕ entra de forma alguma nas
condiçoens do contracto.
Os terríveis abusos do Governo de Hespanha, principal-
mente durante a administração de Godoy, saõ taõ conheci-
dos, que naõ he preciso demorar-mo-nos em provallos ;
mas convém dizer aqui o modo porque elles influíam em
Portugal, neste commercio do tabaco, para que se acautel-
lem os mesmos males para o futuro, uma vez que se tracta
de fazer ajustes com Hespanha nesta matéria.
Nòs sabemos que havia certo contractador, ou contrac-
tadores do tabaco em Lisboa, que tinham formado relaço-
ens na Corte de Madrid, com o corrompido Governo de
Godoy, para metter na Hespanha grandes quantidades de
tabaco. Isto posto convinha a taes contractadores causar
escacez do gênero em Lisboa, para lhe levantar o preço:
dahi impediam a sua exportação, com o pretexto da falta
do gênero ; e depois exportavam-no elles mesmos para
Hespanha.
Depois de causar estes abuzos em Portugal iam fazer
outros maiores em Hespanha ; porque no tranzito de Por-
tugal até Madrid tinham arranjado os meios e modos de
deixar ficar grande parte pelo caminho, que vendiam por
contrabando: da porçaõ que chegava a Madrid, parte éra
recusada com o pretexto de que era gênero de má quali-
724 Commercio e Artes.
dade, e tornava-se a tirar para fora, e antes que chegasse
ao porto aonde se tornaria a embarcar, ficava a maior por-
çaõ vendida por contrabando. Deste modo a ardilez do
tal contractador em Lisboa, e a corrupção da administra-
ção em Madrid, vexava o commercio do gênero em ambas
as naçoens, defraudava os réditos de ambos os Governos, c
engordava os rilonopolistas, e concussionarios públicos.
Naõ he necessário neste caso nomear pessoas ; porque
o que temos aqui em vista he que se acautellem os mes-
mos abusos para o futuro ; e basta lembrar os factos para
que o Governo fique aprecatado; se quizer fazer o seu
dever.
Pouca penetração basta para conhecer, que, estabele-
cida esta conrespondencia, de fraudes systematicas ; quanto
mais obstáculos se punham ao commercio do tabaco, maior
éra o lucro dos interessados no abuso, tanto em Portugal
como na Hespanha ; e quanto mais os Governos faziam
opposiçaõ ao contrabando, tanto mais a seu salvo embol-
savam os monopolistas os seus ganhos, demaneira que
alem do monopólio que a ley lhe concedia, podiam também
apossar-se do monopólio do contrabando.
Seria infinito discorrer por todas as conseqüências funes-
tas, que se deduzem do estabelecimento de monopólios ; c
se o facto, que temos citado, naõ basta para abrir os olhos
do Governo, inútil seria multiplicar os exemplos.
Dando porém um passo mais adiante nesta matéria;
parece-nos que, uma vez que a Hespanha tem feito pro-
posiçoens a Portugal sobre este ramo de commercio, naó
só convém ao Governo Portuguez o facilitar a exportação
do gênero para Hespanha, mas esforcar-se em persuadir o
Governo Hespanhol aque facilite a entrada do gênero,
para com isso augmentar as suas rendas provenientes dos
direitos de importação; e também fazer que os direitos
sejam suficientemente módicos para favorecer o consummo
do gênero, e desanimar as emprezas dos contrabandistas,
Commercio e Artes. 726
fazendo que o lucro do contrabando naõ equivalha a pena
do risco.
Nisto se deve empregar a habilidade de um bom negocia-
dor; mas he necessário, que o Governo Portuguez dê o
exemplo da liberaliclade de ideas, e que prove com a prac-
tica a utilidade deste bem entendido systema de econo-
mia politica, que deve ser igualmente útil a ambas as
naçoens.
Agora he necessário considerar-mos outro estratagema
a que se tem recorrido, depois que as declamaçoens a este
respeito obrigaram o-Governo a declarar, que poria o con-
tracto a lanços, e em justa competência de quem mais
desse. Consiste o estratagema em naõ apparecer quem
lance no contracto.
He em casos similhantes, que o Governo deve mostrar
a sua firmeza e energia : he contra uma conspiração simi-
lhante, aquém se naõ pode assignar o cabeça, que o minis-
tério deve dirigir a sua habilidade; he nestes casos que
se precisão os talentos dos políticos.
Ninguém se persuadirá, que os actuaes contractadores
arremataram o monopólio, meramente para beneficio do
Estado; nem que tem continuado nelle empobrecendo-se
todos os dias. Ninguém se persuadirá, que os negocian-
tes, que o anno passado offerecêram mais pelo contracto,
do que deram os que o disfrustam, fizeram esses offereci-
mentos ás cegas e sem calcular ; o objecto he de demasiada
importância, para que entrassem nelle ás apalpadellas.
Logo se naÕ ha quem se offereça a lançar, ao menos tanto
quanto aquelles promettiam, a causa naÕ pode ser o temor
de perdar; deve haver outros motivos. Sejam elles quaes
fôrem; a linha de comportamento do Governo deve ser a
mesma, firme, resoluta, e justa. Mas, antes de dizermos
mais alguma cousa sobre as medidas que o Governo deve-
ria adoptar vejamos se podemos achar uma hypothe-se,
que explique a falta de concurrentes a lanços (se he que
V O L . X I . N o . 66. 5A
726 Commercio e Artes.
existe) sem recorrer k causa alegada do temor de perda*
inseparáveis de similhante contracto.
Supponhamos, pois, que os actuaes contractadores, e os
outros que se lhe oppuzéram o anno passado, se distribuem
em varias facçoens, que cada um delles faz uma combina-
ção com a roda de amigos ricos, com quem se ajusta, e
diz ; que o melhor modo de se assegurar do monopólio he
naõ lançar em publico, mas sim dirigir-se a vias particu-
lares, ainda que sejam necessárias despezas, para obter o
monopólio por via de mercê especial, como até agora se
fazia. Este calculo se fundaria; primeiro, em que o Gover-
no naturalmente se havia assustar, vendo que naõ apparecia
quem lançasse no contracto ; e segundo, que a favor disto
estava a practica passada ; e que o ministério antes se ac-
commodaria ao custume velho, do que tentaria novas, e
perigosas experiências ; alem disto, se a estes argumentos
faltasse força, força lhe dariam alguns presentes.
Pomos isto como hypotese, mas esta hypotese explica
porque naõ ha quem lance publicamente no contracto, sem
ser necessário recorrer ao temor de perdas, para explicar a
falta de arrematantes. Outras bypoteses igualmente ter-
ríveis mas practicaveis se podem considerar; baste-nos po-
rém esta para passarmos a examinar, como o Governo lbe
pode obstar.
Para animarmos o Governo a manter-se com energia
contra todos os monolistas, basta lembrar, que as safras
médias, e regulares do tabaco montam de 22.000 a 25.000
rolos: o contracto faz uso de 8.000, até 10 000 rolos;
logo nem o GoveroOf nem os lavradores dependem unica-
mente do contracto para o consummo do gênero, antes a
abolição do contracto, barateando o gênero, lbe deve aug-
mentar o consummo.
Depois: a Juncta pedio a declaração dos sócios fiadores
dos que lançassem no contracto : esto medida fez retroce-
der os que queriam arrematar, sem figurar em publico ;
Commercio e Artes. 727
donde se segue que nao he o temor da perda, mas o sys-
tema dos estratagemas, quem os impede de apparecer.
He possivel, que achando-se o Governo, em Lisboa, ou
no Rio-de-Janeiro, embaraçado por faltas de dinheiro, al-
guém aconselhe, que se aceite algum empréstimo de pes-
soas ricas, aquém em recompensa se dê entaõ o contracto.
Muitas vezes, com esta capa do interesse publico, se fo-
mentam e adiantam as vistas dos indivíduos; mas he entaõ
que a energia do Governo deve naõ sacrificar interesses
geraes e permanentes, a utilidades secundarias, e tempo-
rárias. Medidas desta natureza saõ comparáveis ás do pay
de família improvidente, que para satisfazer ás despezas
de um dia, empenha os seus bens nas maõs de um usura-
rio, sacrifica todas as suas rendas para pagar as usuras, e
chega em breve ao estado de total ruina.
Mas i que se aconselharia entaõ ao Governo, nesta per-
plexidade?
Naõ he possivel, que nestes breves ensaios possamos
desenvolver planos, que necessitam de longas combinaço-
ens para se explicarem, e que dependem da discussão de
outros pontos da Administração publica do Reyno; mas
em geral podemos dizer, que se as circumstancias fazem
que se naÕ possa desatar o nó, o Governo deve ter energia
bastante para o cortar.
Em uma palavra, antes do que submetter-se á vontade
dos monopolistas, o Governo deve, ou assumir a si a ad-
ministração do monopólio; ou (o que he infinitamente
mais preferível) pôr livre o commercio do gênero, e im-
pôr-lhe tal direito no consummo, que eqüivalendo ao que
pagam os monopolistas, seja menos gravoso aos consum-
midores; e pôr conseqüência favoreça mais a extração do
gênero, com maior vantagem da agricultura, e acerescen-
tamento das rendas do Erário.
He entaõ, que o Governo Portuguez pode entrar em
ajustes com a Hespanha, sem estar com as maõs ligadas
S A2
T28 Commercio e Artes.
por contractos ruinosos ; e, tendo resolvido esta medida,
pôde combinar com o Governo Hespanhol os meios de
impedir o contrabando; meios que seraõ tanto mais prac-
ticaveis, quanto os direitos fôrem mais moder <io<.
Nós naÕ julgamos, que o Governo Portuguez possa ul-
timar uma reforma taõ uni como esta, sem achar obstácu-
los, sem que se exponha aos gritos ja dos Godoyanos inte-
ressados, ja dos afferrados a tudo que he custume, ja dos
ignorantes, que em vez de raciocinar, e estudar, preferem
antes a rotina de seguir o que está feito, favorecendo a
priguiça, que os desinclina do trabalho. Mas se um indi-
viduo, mettido aqui n' um canto da terra se tem atrevido a
arrostar contra os abusos dos grandes, dos poderosos, dos
ricos monopolistas; e tem resistido a seus ataques, e tido
a satisfacçaõ dt- ver fazer reformas úteis; quanto maior naõ
deve ser a coragem d* um Governo, que obra convencido
de que só tem em vista o bem de seus subditos ?

Lisboa, 6 dt Novembro.
EDICTAL.
JoaÕ de Mattos e Vasconcellos Barbosa de Magalhães, do
Conselho de sua alteza Real o Principe Regente Nosso
Senhor) Intendente Geral da Policia.
Sendo necessário attender por meio de novas providen-
cias á necessidade, que a cultura das terras na provincia
da Estremadura tem experimentado, como be notoriamente
sabido, por falta dos braços indispensáveis aos trabalhos
ruraes, muito particularmente na presente estação, em que
se precisa cuidar do apanho da azeitona, cuja producçaõ na
dita Provincia felizmente foi no presente anuo uiuitoabon-
daute ; e constando que naõ tem sido bastante, nem as de-
terminações desta Intendencia para se restituirem ás terras
des seus antedecentes domicílios os homens jornaleiros, que
tinhaõ vindo para esta capital por causa da invasão do ini-
migo, nem as positivas ordens a este mesmo fim publicadas
Commercio e Artes. 729
na portaria Regia, de 9 de Junho deste anno, transcripta
no Edictal affixado por esta Intendencia em data do l s . de
Julho ultimo, conservando-se ainda nesta mesma capital
uma parte dos referidos homens jornaleiros, que com suas
mulheres, e filhos preferem a ruinosa mendicidade ao lucro
honesto, que em seu proveito, e em beneficio da agricultura
podiaõ tirar dos trabalhos próprios da sua condição, vol-
tando aos seus domicílios; do que resulta a existência do
escândalo, desordens, e abusos perniciosos, que precaveo a
ley da creaçaõ da policia em conformidade do que contra os
ociosos, e vadios, se achava disposto na ordenação do Rey-
no liv. V. tit. 68. Convindo muito providenciar efficaz-
mente sobre o referido: determino o seguinte :
1. Os indivíduos, que adquirem a sua subsistência avul-
samente pelo trabalho honesto dos seus braços, como
cabazieros, vendilhões, e outros occupados em serviços de
pouca consideração, e proveito, com especialidade aquel-
les de um, e outro sexo, que existem ainda nesta capitai
desde quando vieraõ refugiar-se por causa da invasão do
inimigo em 1810, e tinhaõ nos seus domicílios aquelle, ou
similhante modo de vida, devem no mais breve espaço de
tempo, que naõ excederá ao dia 15 do corrente, sahir de
Lisboa a procurar serviço no apanho da azeitona nas terras
da Provincia de Estremadura. E por esta Intendencia se
lhes expediráõ gratuitamente, e com esta declaração, os
passaportes necessários para o seu transito.
2. Entender-se-haõ particularmente comprehendidos
nesta determinação todos os bomens, mulheres, e rapazes
em estado por sua saúde de serem assim occupados, que
passado o referido termo forem achados vagando sem do-
micilio certo, sem abrigo, ou destino, pernoitando nesta
cidade debaixo d'Alpendres, ou tilheiros, nos cães, estalei-
ros, ou barracas, procedendo-se a seu respeito como em
similhantes circumstancias foi determinado pelo Principe
Regente Nosso Senhor, em Portaria de 5 de Março, de
730 Commercio e Artes.
1812, que se publicou por esta intendencia em edital afi-
xado a 6 do dito mez e anno.
3. Todos aquelles indivíduos, que achando-se nos ter-
mos expressados se naõ conformarem ao referido, seraõ
prezos, e obrigados immediatamente a irem empregar-se
nos sobreditos trabalhos, aonde precisos forem, vencendo
alem da comedoria do estilo um jornal inferior ao do preço
corrente, o qual em pena da sua desobediência lhes será
taxado pela Câmara, a que pertencer o districto em que
forem occupados ; e a referida taxa naõ poderá ser abaixo
de 240 réis diários aos homens, e 120 réis ás mulheres, e
rapazes.
4. O lavrador que precisar de taes jornaleiros, passado o
dia 15 do corrente, os poderá requerer nesta Intendencia
apresentando-se a esse fim legitimado com uma guia ex-
pedida pelo presidente da Câmara, em cujo districto tiver
a sua residência, e tendo assignado um termo em que *e
obrigue a satisfazer o preço regulado na forma do artigo
antecedente, e pelo tempo que declarar se lhe fazem neces-
sários os mesmos jornaleiros para empregar nos seus tra-
balhos, para por esta Intendencia lhe serem entregues.
5. Em ordem a facilitarem os ajustes dos- lavradores com
os homens de que precisarem, a praça do campo de Santa An-
naservirá para que nos domingos de cada semana,começan-
do no 1*. depois do dia 15 do corrente, os indivíduos de um,
e outro sexo, que se acharem nas circumstancias referidas,
concorraõ a dita praça, ajuntado-se ali a fim de contracto-
rem com os ditos lavradores, nomeando entre si capatazes
da sua escolha para formarem ranchos, e passarem logo a
empregar se no trabalho, como he costume geralmente
practicado nas terras do Reyno.
6. Ajustado o rancho, e assigoado pelo lavrador o termo
de que trata o artigo 4, será o mesmo lavrador obrigado a
prestar a cada pessoa do rancho 40 réis por legoa para as
despezas do caminho, acompanhando o referido lavrador,
Commercio e Artes. 731
•u pessoa por elle proposta os jornaleiros de que assim se
encarregar, para conduzillos ás terras, em que se propozer
empregallos.
7. Os ministros criminaes dos bairros desta capital, os
juizes de fora, e ordinários das terras da Estremadura te-
raõ cuidado de vigiar sobre a observância do que fica es-
tabelecido especialmente nos artigos 2, e 3. O mesmo
faraõ as Patrulhas da Guarda Real da Policia, ficando par-
ticularmente incumbido ao Juiz do crime do bairo de An-
daluz ter cuidado, e dar as providencias próprias para que
no ajuntamento em praça, de que trata o artigo 5, haja re-
gularidade, e boa ordem.
E para que chegue a noticia de todos, cumprindo-se
assim, mandei lavrar o presente edital, que será impresso,
e aífixadoem todos os Lugares públicos desta eapital, ena
provincia da Estremadura, para que das disposições nelle
conteudas se naõ possa allegar ignorância.
JOAÕ DE MATTOS E VASCONCELLOS BARBOSA
DE MAGALHÃES.
Lisboa, em 3 de Novembro, de 1313.

Resumo dos Gêneros que entraram no porto de Lisboa


em o mez de Septembro, de 1813.
4.200 barricas, 3.905 surrões de farinha.—132 moios,
1.038 surrões, 320 saccos de trigo.—128 moios, 6.874
barris de cevada —1.842 moios de favas, 316 moios de fei-
jaõ.—2225 barris de carne.—3.520 caixas, 250 feixes de
assucar.—155 sacas de café.—1.009 pipas de agoa-ardente
—900 barris, 8 toneladas, 11.938 sacas de arroz.—7.394
barris de manteiga.—7.979 quintaes de bacalháo.—170
pipas, 166 harris de vinho.—255 pipas de azeite.—2.000
botijas de ezeitonas.—252 saccas de farinlia de páo.—70
barricas, 7 caixas de quina.—3 barris, e 2 saccas de ta-
maras.
732 Commercio e Artes.
Resumo dos gêneros que entrarão no porto de Lisboa no
mez de Outubro, de 1813.
525 moios, 3.330 fanegas, 12.169 salinas, 40 toneladas,
350 sorrões de farinha de trigo.— 2.200 fanegas, 38 moios
de milho.—3.800 fanegas, 586 toneladas, 1.033 moios de
cevada.—11.065 barris de mantegja.—2.135 barris de
carne.— 1.000 caixas de chá.—1.465 caixas, 24 feixes de
assucar.—43.386 quintaes de bacalháo.—393 pipas de
agoa-ardente.—8.551 sacas de arroz.—2.780 ditas, e 40
barricas de caffé.—3.760 sacas, 44 barricas de cação.—
420 moios, 180 fanegas de favas.—312 moios, 1.080
sacos de feijaõ.—1.806 pipas, 1.800 odres de azeite.—
39 barris de mel.—5 paneiros de cravo.—90 toneladas,
60 canastras be batatas.—11 pipas de vinho.—3.400 ar-
robas de figos.—56 barricas de atum.—17 bois.—37 gol-
pelhas de amêndoas.
Commercio e Artes. 733
Preços correntes dos principaes productos do Brazil em
Londres, 25 de Novembro, 1S13.

Qualltlride. lantidud' Preço de n Diretos.


Gêneros.

branco 112 lib. 588. 70s. 31. 14s. 7 §d.


Assucar
trigueiro D". 50s. 55s.
mascavado D". 42s. 45».
Algodão Rio Libra 20p. 2lp. 16s. 11 d. p r . 100 lib.
Bahia 0o. 254p. 26èp.
Maranhão D0. 2,fp. 2Mp. ,
Pernambuco D°. 27p. 28p.
Minas novas D°. 2lp. 22p. 1
D". America melhor I)°. 2s.9p. 3s.'ip. Ifi. I I . p r . 100Iba.
Annil Brazil D". 28. 6p. 3s.t>p. •id. por libra
Arroz D°. 112I1I1. 3Gs. 42s. I6s. -1 d.
Cacap Pará nalib. 70g. 85s. ')•;. 4d. por lib.
Caffé Rio libra 99s. 105s. Ss. 4d. por libra.
Cebo Bom 112 lib. 90s. JOOs. St. 8d. por 112 lib.
Chifres grandes I?3 20s. 35s. 4s. 8d. por 100.
Couros de boy Rio grande libra 6p. 8p. Sd. por libra.
Rio da Prata D°. Cp. 9p.
D p . de Cavallo D?. Couro 8s. 6p. 9s.
Ipecuacuanha Boa libra I3s.6p. U s . 6p. 3s. libra.
Quina Pálida libra ls. 6p. 2s. Op. 3s. 8d. libra.
Ordinária Do.
Mediana 2s. 8p. 3s.
Fina 4s. 6p. 7s. 6p.
Vermelha 48. 7s.
Amarella 2s. Op. 38.
Chata D».
Torcida 3s. 9p. 4s 9d ls. 8d. por libras.
Pao Brazil tonei 9àl. 1001. 4l. a tonelada.
Salsa Parrilha
Tabaco Itolo libra 7p. 8
( P s * b ü * l l D r a «tcisa
P' )|U3s.9d.alf.l00lb.

Prêmios de seguros.
Brazil hida J0 guineos por cento. R. 5.
vinda 14 a 15
Lisboa e Porto bida 8 G\
vinda 2 G'. em comboy
Madeira hida 5 a 6 C—Açores 8 G5. R. 3.
vinda 8 á 10
Rio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a tornaviagem
vinda o mesmo 15 a 18 G5.

VOL. XI. No. 66. 5B


C 734 j

LITERATURA E SCIENCIAS.
Noticias das obras publicadas em Inglaterra.

JtCVLAMFSs Vocabulary, 8vo. preço 5s. Vocabulário


d e palavras lnglezas, principalmente das que se deiivam
d o Saxonio, com a sua signiticaçaõ em Hespanhol, ao
que se ajuncta uma breve grammatica Ingleza, p-ira o uso
dos Hespanhoes: por R. Rylame, mestre de línguas.
Neste diccionario se explicam todas as palavras lnglezas,
que saõ mais difBceis a entender para um Hespanhol, ex-
cluindo os derivados do Grego e Latim, que, com pequena
alteração na orthographia, tem o mesmo sentido em Inglez
e Hespanhol.

A Treatise on Politeness, Svo. preço 5s. Tractado de


polidez e civilidade, destinado ao uso da mocidade de am-
bos os sexos, traduzido do Francez por uma Senhora.

Mahon on Signs of Murder, Svo, preço 5s. Ensaio so-


bre os signaes de assassimo nos infantes recemnastklos,
traduzido do Francez, do Dr. I*. A. Mahon, professor de
medecina Forense, na eschola Medica de Paris, & c &c.
P o r Christovam Johnson, Cirurgião, Membro tia Keal Socie-
dade Medica de Edinburgo, &c. Com prefacio e notas do
Traduetor.

Gentlemaris Mathematicul Companion, 1814,12mo. preço


2s. 6d. O N°. 1814 do Companheiro Matliematico do
Cavalheiro para o anno de 1314, obra annual. Contém
Respostas aos enigmas do anno passado, Jeroglyphicos
em lugar de nomes, Perguntas, e Questoens ; e também
algumas propostas para be responderem no N" seguinte.
Junctamente com outros papeis importantes, c selecçociis
d e obras raras, &c.
Literatura e Sciencias. 7S5
Thomson on Inflammation, 8vo. preço 14s. Liçoens
sobre a inflaminaçaô, em que se apresenta uma vista «Ias
doutrinas geraes, paihologicas, e practicas, da Cirurgia
Medica. Por Joaõ Tomson, M. D. F. R. S. E. &c.

Frey1's Hebrew Grammar, Svo. preço lOs. 6d. Gram-


matica da lingua Hebraica, em Inglez, junctamente com
todo o livro dos salmos. Por Jozé Samuel C. F. Frey,
Edictor da Bíblia de Vender Hoogbt em Hebraico.
Pelo emprego de mestre de Hebraico, que o Author
exercitou entre os de sua naçaÕ ; e numerosos discípulos
que ao depois teve entre os Christaõs, teve muitas ocea-
sioens de experimentar e alterar as regras, que original-
mente se tinham estabelecido na grammatica da lingua
Hebraica; todas as vezes que os discípulos achavam algum
embaraço; e humildemente espera que, de algum modo
possa alcançar o abrir um caminho para obter o conheci-
mento desta antiquissima e sagrada lingua, em menos
tempo, e com muito menos difficuldade e perplexidade do
que outra nenhuma lingua antiga ou moderna. Esta gram-
matica he dividida em dous capitulos differentes, seguidos
por exercícios ou themas, conformes ás regras preceden-
tes, para que vaõ junctamente a practica e a theoria: e
para fazer que o estudante fique perfeito, na verdadeira
pronunciaçaõ da lingua, tem o author dado em toda a
obra a pronuncia Hebraica em Inglez.

Art qf Preserving the Sight, 12mo. preço 4s. 6d. A


Arte de conservar a vista sem defeito até a extrema velhice,
e de a restabelecer e fortificar quando se enfraqueça, com
instrucçoens sobre o modo de proceder em casos acciden-
taes, que naÕ requerem o auxilio de pessoas da profissão
Medica ; e próprio modo de tractamento dos olhos depois
das bexigas: ao que se ajunetam algumas observaçoens
5E2
736 Literatura e Sciencias.
sobre os inconvenientes que resultam do uso das óculos or-
dinários, &c. Por um oculista experimentado.

Historia de Ia Revolucion de Nueva Espanha, antiguatnente


Anahnac; ou verdadeira origem e causas delia, com a
relação de seus progressos, até o presente anno de 1813 •
por D. Jozé Guerra, D', na Universidade de Mexüo.
2 volumes 12°.
Mais de uma vez temos comparado as potências Euro-
peas, em suas politica para com as colônias, com um ho-
mem que tracta de criança seu filho adulto ; e a este er-
rado sentimento temos atribuído a adopçaõ de muitas me-
didas que desapprovamos. He absolutamente essencial
que o pay de familias mude e altere o modo de proceder
para com seus filhos, á proporção que elles se adiantam
em idade - e pelo mesmo principio a politica que as na-
çoens Europeas tinham adoptado há 300 annos, quando
as suas colônias estavam em absoluto estado de infância, he
evidentemente inapplicavel, quando essas colônias tem
chegado a tun estado de população, riquezas e influencia,
que naturalmente lhe daõ preponderância entre as
naçoens.
O Author da obra que temos presente, propoem-se a
explicar as cauzas das presentes commoçoens nas colônias
Hespanholas, e ainda que naó possamos concordar com elle
em muitos de seus racionios; com tudo a deducçaõ de
factos, que se acha nesta obra, prova incontestavelmetite
o principio que deixamos estabelecido acima.
O objecto primário da obra he responder a outra, que
se imprimio em Cadiz com o titulo de " Origen de laespan-
tosá Revolucion de Nueva Espaiía, por D. Juan Lopes
Cancelada." E ainda que o A. da obra qne annunciamos,
a devide em livros, e por epochas, confunde estas algumas
vezes, por seguir o A. aquém responde. Ha outro motivo
mais de confusão nas epochas, que vem a ser, o ter-se es-
Literatura e Sciencias. 737
cripto esta obra em diversos períodos: o A. porém expli-
ca isto no prefacio.
Começa o Livro I. com o motivo da primeira revolução
em México aos 15 de Julho, de 1808, sendo Vicerey D.
Jozé Iturrigaray; quando ali chegou a noticia de que os
Francezes se tinham apossado da Hespanha, Murat tomado
as rédeas do Governo, e os conselhos e tribunaes de Ma-
drid reconhecido a authoridade de Napoleaõ. Passa depois
a descrever as confusas, e mal pensadas medidas, que se
adoptaram no recebimento de taõ inesperada nova; muito
mais porque a noticia se mandou publicar na gazeta, sem
reflexão ou comento, que designasse propriamente o horror
da quella usurpaçaõ, e o systema que o governo pretendia
seguir. Foi entaõ que o ajuntamento da cidade de México
resolveo fazer uma representação ao Vice Rey que o A.
copta; e em que D . Fernando VIL que ja ali tinha sido
proclamado Rey, era designado meramente como Principe
das Asturias; o que prova a confusão dos espíritos, e a falta
de deliberação ; ao que accrescia a difficuldade de saber,
se a guerra com a Inglaterra continuava ainda ou naõ.
As resoluçoens porem que se tomaram ficaram occultas,
obrigando-se com juramento todos os que nisso tiveram
voto, a guardar uin inviolável segredo. Esta medida
agravou o mal causando suspeitas no povo; e sobre esta
resolução se explica o A. assim. (p. 18.)
" Por certo que este acordaõ contém providencias urgentíssimas,
dignas da maior crise que ja mais se leo nos annaes da Monarchia, e
este he o acordaõ que se communicoii á cidade, para que ella e o
publico se desembaraçassem das suspeitas de infidelidade que entre-
tinham contra o Governo, por lhe ter annunciado taõ fria e seca-
mente as renuncias de Bayonna, a sua aceitação pelos supremos tri-
bunaes da Corte, e a obediência que prestaram a José Napoleaõ.
Mas i para que oceultar com juramento um acordaõ, que tanto po-
diam fazer, permanecendo fieis a EernandoVII., como sugeitando-se
ao intruso Jozê ? Os ouvidores na sua resposta impressa na gazeta
de México, aos 17 de Dezembro, de 1808, respondem ao Conselho de
738 Literatura e Sciencias.
índias (o qual tractava as ordens, que tinha expedido para que at
Américas reconhecessem a Jozé Napoleaõ, como o dr Castella tiniu
ordenado em Hespanha) que no acordaõ de 15 de Junho sr tinham
compromeltido a naõ obedecer ás ordens de Murat, nem de outro
algum Soberano, se naõ ao legitimo de Hespanha. Se foi nW\m
i Para que fizeram juramento de occultallo ao po\o ? c porque naõ
o escreveram no Acordaõ.
Deste pequeno extracto verá o leytor, que o A. imputa
em grande parte as desordens da America, aos erros dos
que ali estavam em poder, ainda quando a sua fidelidade
seja sem suspeita. E o A. faz evidente, que uma vez que
a cidade pedia a renovação do juramento a Fernando VII.
e a declaração explicita de que se defenderiam os seus di-
reitos, o segredo das resoluçoens do governo naõ podia dei-
xar de produzir suspeitas no publico, dar occasiaõ a for-
marem-se varias conjecturas, e fomentar assim a creaçaõ
de partidos, que, uma vez estabelecidos, seria de grande
difficuldade o destruir, nem ainda mesmo de lhe dar a di-
recçaõ que se desejasse para o futuro.
O estabelicimento de varias junctas em Hespanha, que
todas se intitularam supremas, foi outra causa primaria
da confusão nas colônias; c naõ obstante a confusão que
isto produzio na America, a cidade de México protestou
contra as renuncias de Bayonna, em um excellente papel
(que o A. copia a p. 28) com o quese confirmou a autho-
ridade de Fernando VII.; posto que por causa das divisoens
de opinião, que a irressoltiçaõ anterior tinha causado, ja
se naó podiam desfazer, nem annibilar os partidos.
He nesta epocha, que o A. trabalha por imputar aos
differentes membros do governo, a culpa que Cancelada
atribue ao Vice Rey, aquém o A. justifica; alegando
principalmente, que os ouvidores saõ os conselheiros le-
gaes dos Vice Reys, e os responsáveis pelas medidas do
Governo.
No livro H., passa o A. a descrever as medidas adop-
tadas, depois que a opinião geral fez com que se reconhe-
Literatura e Sciencias. 739
cesse a Fernando VII., e se largasse por maõ inteiramente
toda a idea de obedecer a ordens, que procedessem dos
Francezes ou viessem por sua via. Aqui tracta dos proce-
dimentos da juncta deSevilha, que tomou sobre si o expe-
dir ordens ás colônias, ediz o A. (p. 37.)
" Porém he necessário advertir, que, entre as juntas illegaes e tu-
multuaria* de Hespanha, houve uma que sendo a mais irregnlar em
sua formação, e a mais indecente pelos sugeitos que a compuzéram,
foi a mais ambiciosa de todas, e ainda que de uma cidade subalterna
e conquistada, naõ só pretendeo dominar todas as da Península, ainda
que outras se intitularam também eomo ella " Suprema de Hespa-
nha," mas accrescentou " e das Índias." Tal foi a Juncta de Se-
vilha."
Aqui refere o A. declaração de guerra contra a França,
em que dá ao Vice Rey Iturrigaray grande credito por esta
medida. Depois explica as leys Hespanholas porque se de-
vem governar as colônias nos casos de falta de Governo,
porém com muita razaõ mostra, que as circumstancias
presentes nunca entraram na contemplação daquellas leys,
e que por isso mesmo que eram extraordinárias requeriam
também medidas extraordinárias. O Vice Rey foi decla-
rado lugar Tenente d'El Rey, o que o A. justifica de vá-
rios modos, e principalmente com a necessidade do caso.
Porem por mais necessária que fosse esta resolução extra-
ordinária, ainda assim deo motivo a suspeitar-se de que o
Ayuntamiento queria elevar o Vice Rey ao throno; e tem
havido na Europa, quem tenha intentado propagar esta
idea.
Havendo o A. no Livro 2°. mostrado as medidas do go-
verno, passa 110 Livro 3 o . a descrever o juramento que pres-
tou voluntariamente o povo a Fernando VII. o enthusias-
com que se portou neste caso, e as suas conseqüências.
A lealdade do povo das Américas Hespanholas para com
seu soberano he descripta neste livro com tal clareza, que
julgamos conveniente dar aqui um extracto do principio
deste civro ( p . 15.)
740 Literatura e Sciencias.
" Visto que temos ja fallado do perdaõ que o Vice Rej concedeo
por occasiaõ de se prestar o juramento a Fernando VII., por quem
mandou levantar bandeira ajuncta que se congregou nodi«9d'Agos
to,saiamos por um momento dostribunaes para participar, do alvoroço
do povo, que tendo-o ja proclamado por si mesmo com as effusoeiu
mais ternas de sua sincera lealdade, só esperava pelo decreto supe-
rior para largar as velas a seu enthusiasmo. O Vice Rey expedio,
sem demora, as ordens mais precisas, para verificar logo o juramento
em todo o reyno, e éra tal a ânsia que este tinha de afiançar com o
juramento a sua fidelidade a Fernando VII., que houve povoaçaõ
qne recebendo a noticia ameia noite, a esta mesma hora prestou o
juramento. Reunam-se todas as festas, regozijo», illutninaçoens, c
demonstraçosns de affecto que a Peninsula deo a Remando VII.
cm todas as suas proclamaçoens, e entaõ se poderá formar uma idea
do extasis em que se achava a nova Hespanha por seu Rey, e da
magnificiencia que patenteou nesta occasiaõ a sua metrópole Impe-
rial. Um dilúvio, diz o Vice Rey, que inundou a sua secretaria de
officios dos cabidos, auyntamientos, religioens, parcialidades de índi-
os, e toda a classe de particulares, que naõ pareciam senaõ que a
porfia se apressavam a offerecer suas pessoas e liavcres ao serviço e
defensa do reconhecido soberano, edestes seus dominios consternados."
No livro IV. passa o A. mostrar como este excellente
prospecto se mudou, por ter a juncta de Sevilha mandado
as suas ordens directamente ao Cabildo de México, sem
fazer cazo do Vice Rey ; porque, este propoz a votos o
que se devia fazer ; e daqui em diante tudo foram partidos
dissençoens, e discórdias. Tractou-se de saber se se obe-
deceria ajuncta de Sevilha, ou a outra qualquer das que
se institularam Soberanas em Hespanha : 86 votos fôram
de parecer, que se naõ tractasse por entaõ da matéria; 10
foram singulares; 55 votaram, que se naõ reconhecesse
Juncta alguma ; alguns poucos, que se obedecesse ajuncta,
outros que se mandasse buscar ao Brazil, para Regente, o
Infante D. Pedro.
No livro V. o A. refere as medidas que propuzéram al-
guns para formar uma juncta independente no México, e
discute os argumentos com que CanceIJada tentou justificar
a prisaõ do Vice Rey.
Literatura e Sciencias. 741
Seria demasiado longo seguir o A. em toda a soa narrativa,
mas do que temos extrahido conhecerá o Leytor que as des-
graçasda guerra civil nas colônias Hespanholas, teriam sido
prevenidas, se as authoridades estivessem melhor de acordo
entre si, se houvesse o cuidado de fixar a opinião publica
em uma serie de medidas, qne fossem tendentes a nm
plano, com unidade de desígnio.
Os livros seguintes deste volume, e do segundo, continu-
am a historia das guerras civis no México, era seus differ-
entes progressos; e o A. seguindo o plano de inserir do-
cumentos en» provade todas as suas assersoens, faz a sua co*
lecçaõ extremamente interessante, e até essencialmente ne-
cessária a todas as pessoas, que, por sua situação politica
no Mundo, saÕ obrigadas a estudar a historia da actual re-
volução na America.
Quanto ao estylo do A. he claro, familiar, e puro; mas
algumas vezes entra em discussoens sobre principios políti-
cos, e de direito das gentes, em abstracto ; que naó pode-
mos approvar em uma obra meramente histórica.
O A. alem disto professa grande imparcialidade; mas
apenas se pôde abrir uma pagina sua, em que se naô en-
contre algum rasgo a favor dos Americanos; e ainda qae
seja de grande instrucçaõ a lembrança, que A. mui fre-
qüentemente faz, de vários factos da historia antiga da-
quellas conquistas, com tudo será difticil o justificar a sua
menção, quando se tracta meramente da historia desta re-
volução actual. E como os Hespanhoes que conquista-
ram o México, eram Europeos, eo seu comportamento mui
reprehensivel, geralmente fallando, o lembrar de novo
aquelles factos, quando a guerra civil actual he indubitavel-
mente entre os Europeos e Americanos, naõ pôde isso
deixar de apurar mais os ódios.
He possivel, que as constantes accusaçoens dos Hespa-
nhoes contra os Americanos produzaõ esta retorsaõ da
parte do A.; mas ainda que isso seja conveniente, apenas
VOL. X I . No. 66. fie
742 Literatura e Sciencias.
se pódc chamar imparcial; posto que naõ desejamos de-
cidir até que ponto a sua parcialidade seja justificável.
Que os Hespanhoes tem commettido atrocidades contra
os Americanos que acham em armas, he nm facto que o A.
tem amplamente provado; ir.as que os Americanos iiaG
tenham feito outro tanto, he o qne resta a demonstrar. A
carniçaria, e a crueldade acompanham sempre as guerras
civis, como nos mostra a historia de todos paizes; de que
parte começassem neste caso, e qual dos partidos tenha
sido o mais moderado, he o que o historiador contemporâ-
neo mal pode decidir; principalmente quando o historia-
dor, pertencendo ao paiz que se acha em guerra civil, he
necessariamente arrastrado pelo turbilhão dos partidos,
e se acha interessado na questão por uma ou por outra
parte.
Daqui porém naõ queremos deduzir cousa alguma con-
tra a veracidade dos factos; pelo contrario esta historia traz
com sigo o character de verdadeira, e os documentos em
que se estriba fazem a sua veracidade indisputável; ma*
quanto aos raciocínios, e ás elaçoens, que o A. deduz dos
factos ficará sempre livre ao Leitor o julgar dellas como
melhor lhe parecer.
Por fim o A. he indubitavelmente um partidista da in-
dependência das Américas, que a Hespanha presente-
mente combate; e nesta intelligencia se devem entender
todos os seus argumentos. Os principios de direito publi-
co que explica, o conhecimento da forma do Governo, c da
Legislação Hespanhola, que comenta, daõ a conhecer o A.
por um homem de luzes ; e por isso se devem convencer
os Hespanhoes, que nem todos os habitantes do México
saõ rebanho de carneiros, que se pôde levar para onde,
como, e quando o pastor quizer.
Vendo um natural do interior da America, raciocinar com
tantos principios, como desenvolve o A., naturalmente,
o espirito he levado a conjecturar, que outros haverá na
Miscellanea. 743
quelle paiz de iguaes luzes ; e que se os Hespanhoes Eu-
ropeos tractarem aos Americanos todos, com o desprezo
que suppoem uma absoluta ignorância naquelles povos, os
resultados dessa falsa supposiçaõ devem ser erros, e as con-
seqüências dos erros o máo successo de suas emprezas.
Com effeito o segundo volume desta obra menciona bas-
tantes, e em data muito moderna, para mostrar á Hespa-
nha Europea, que deveria ter olhado para a America com
olhos muito mais sérios do que até aqui tem feito ; e que o
naõ terem conhecido na Europa o que be a America, lhes
tem ja,custado mui charo.

MISCELLANEA.
Jornal Scientifico.
\J PERIÓDICO, que por irrisaó se tem designado com
este titulo, em conseqüência de suas extravagantes preten-
soens, que o fizeram julgar, que ninguém mais tinhadireito a
fallar em matérias scientificas, guardou jaosilencio a nosso
respeito no seu N° do mez passado; por outras palavras,
deitou-se no chaõ para naõ brigar, como se isso o livrasse
da ignomínia em que tem incorrido. Declarou a guerra e
deitou a fugir. Seus Redactores aproveitaram se da liber-
dade da imprensa em Inglaterra, para declamar contra essa
mesma liberdade; e aproveitáram-se da protecçaõ dos Go-
doyanos para espalhar as suas rapsódias contra tudo quanto
ha de racionavel em politica; e por fim com as declara-
çoens de que naõ fariam personalidades, tem atacado todas
as pessoas que saõ, óu suspeitam ser de opinioens diversas
das suas. Ja dissemos que lhes naõ havia de valer a manha
744 Miscellanea.
de se deitarem no chaõ ; provocáram-nos, lie justo que ex-
ponhamos as suas iuconsequencias, e sua perniciosa ten-
dência.
Entre as muitas personalidades, que se acham neste con-
tradictorio jornal, que prometteo naõ fazer personalidades,
he conspicuaa diatribe com que naquelle jornal se atacou
aos negociantes Portuguezes em Inglaterra, e quando estes
se justificaram, cantou o jornal Scientifico a Palinodia, e
declarou que naô queria fallar dos Negociantes Portugue-
zes em Inglaterra, que naõ éra do club Portuguez que
tractava, que se naõ devia entender de seus membros o que
dizia ; e ainda que fosse natur<:l o declarar de quem fadava,
calou esta parte essencial: dematicira quo a sua inocente
accusaçaõ deve entender-se contra ninguém.
Dahi vem com uma longa catilinaria contra o Correio
Braziliense, e accusa um Veterano I. da C. que ameaça
com denunciar aonde compete ; e quando a pessoa a -juem
éra appücavel a descripçaõ se queixou, cantam outravez
os scientificos a palinodia, e declaram no sen N". passado,
em letra garrafal nos termos mais abjectos de humiliaçaõ,
que naÕ he elle de quem fallaõ. Pois entaõ, Senhores
Scientificos, de quem fallavam ? Oh ! de ninguém, de
ninguém. Faremos conhecer o I. da C. aonde compete.
Vil e occulta delação < porque te naõ mostras cara a
a cara com o delatado ? Porque a intriga e mentira só se
nutrem ra escuridão e nas trevas. Mas os amantes da boa
causa, os verdadeiros patriotas, os vassallos fieis, devem re-
gosijar-se, vendo que os Godoyanos naõ acham para assa-
lariar, senaõ Redactores desta casta, cutos escriptos
assignalam a cada pagina novos triumphos á razaõ, e áo
bem do publico ; a pezar de seus esforços em contrario.
Homens educados nos principios da escravidão, e vileza,
naô conhecem aqueMe termo medido de dignidade, que
deve seguir o homem honrado, e o espirito independente.
Miscellanea. 745
Insolentes na prosperidade, viz e. rasteiros na adversidade,
naó conhecem outro trilho senaõ a tyrannia e o despotismo
de uma parte, sustentados pelo orgulho ; c da outra a ab-
jecçaõ, e a infâmia.
Naõ pense aquelle dos Redactores a quem istodirigimos,
que intentamos por aqui fazer-lhe cargo da liumílidade de
sua origem ; nem que chamamos um crime o ter elle co-
meçado a vida por limpar os çapatos a um pobre mestre de
grammatica em Coimbra; nem subir elle depois a alta digni-
dade de abrir e fechar a porta do collegio dos frades Ben-
tos de Coimbra com uma correa atada á cintura, d'onde
teve occasiaõ de entrar no collegio dos pobres denomina-
do o collegio da brôa.
Bem longe de fazermos disto motivo de accusaçaõ sup-
poriamos isso occasiaõ de elogio ; porque segundo os nos-
sos principios a nobreza que os homens adquirem por si,
fazendo-se babeis nas armas ou nas letras, he de muito
maior louvor ao indivíduo, do que a nobreza, que se herda
dos antepassados :

Vix ea nostra voeco.


Ou como disse o nosso Poeta
buscar com seu forçoso braço
As honras, que elle chame próprias suas.

Naõ falíamos pois dessa humildade de origem, mas da vi-


leza de principios, que se acham no orgulho da prosperi-
dade, e rasteira submissão na adversidade.
Se os Negociantes Portuguezes em Londres, ou os que
eram membros do club se portaram mal j deveria o Jor-
nal Scientifico allegar como razaõ de naõ os comprebender
em sua diatribe, o serem elles assignantes daquelle periódi-
co ? E se se. portaram bem i o naÕ ser assignantes éra
motivo bastante para serem vituperados ? ' A que vem
por tanto a baixeza de dizer, que os membros do club naõ
deviam entender por si as accusaçoens ; porque eram as-
•j*46 Miscellanea.
si«rnantes daquelle periódico? Se aquellas palavras tem
algum sentido, he este, que desejando alguém naõ ser ata-
cado naquelle periódico deve ser assignante delle ; e q ue
quanto mais exemplares pagar mais será elogiado. Se
esta naõ he á necessária conseqüência daquella declaração,
os Redactores devem dizer-nos qual seja.
Esta viléza de sentimentos, e naõ a humildade de origem,
he que atacamos, quando uin jornal, que nos declara a
guerra para servir o godoyanismo; que faz delaçoens ge-
raes, e depois cheio de medo nega que aquellas delaçoens
comprebendam pessoa alguma. E querendo para isso sa-
hir da linha de Sciencias, que estudaram, os Redactores naõ
daõ um passo em que naõ cometam um erro.
A. p. 19, mettendo-se a censurar uma passagem da Re-
vista de Edinburg, intitulam a El Rey de Hespanha,
" Sua Magestade muito Catholica."
O mais noviço aprendiz em diplomacia sabe, que o trac-
tamento dos Reys de França éra " S. M. Christianissima ;"
o de Portugal, " S. M. Fidelissima;" e ode Hespanha naó
tinha o superlativo, e somente se intitulava " S. M. Ca-
tholica:" Mas os Scientificos, mettem«se a escrever uin
jornal em que tractam de politica, e até isto ignoram,
e intitulam a El Rey de Hespanha " S. M. muito Ca-
tholica."
O motivo de se embaraçarem os Redactores do jornal
Scientifico com a Revista de Edinburg, be o dizer-se ali
em abstracto, que ha paizes christaõs, em que o crime de
salteadores de estradas he freqüente, e trazer-se o exemplo
de Hespanha e Portugal; com o que se daõ os Redactores
por mui escandalizados, e trazem uma authoridade de um
escriptorlnglez, para provar o bom character da Naçaõ
Portugueza. E he com estas estúpidas questoens, que pre-
tendem demostrar o seu Patriotismo, quando so deixam
ver uma ignorância formal.
O escriptor Inglez, que citam, fallou muito bemdocha-
Miscellanea. 7 Al

racter da Naçaõ Portugueza; dahi nada se segue; podia


elle estar taõ enganado, como outro que fallasse mal dos
Portuguezes. Todo o mundo sabe a precaução com que
se devem lêr as obras dos viajantes, que descrevem o cha-
racter das naçoens por onde passam. A brevidade da re-
sidência ; a celeridade com que se escrevem as observa-
çoens; a pouca exactidaõ destas; os incidentes da compa-
nhia boa ou má, que as casualidades podem trazer ao via-
jante, saÕ outras tantas circumstancias, que produzem no
seu espirito ideas, que posto sejam correctas nos exemplos
particulares, vem a ser muitas vezes de todo falsas quando
se generalizam a toda a naçaõ ; logo o texto que alegaram
os Redactores da authoridade de um inglez militar, que
viajou por Portugal, pode ser taõ fallivel, como a authori-
ridade que tinham por si os Revisores de Edinburgo.
Alem disto a questão naÕ éra nem Portugal nem Hespa-
nha. Convinha aos Revisores para seu raciocínio alegar
com terras christaãs aonde se achasse o crime de Saltea-
dor; e lembráram-se dos exemplos de Portugal e Hespa-
nha £ e quem pôde negar que estes crimes se acham na-
quelles paizes ? i quem ignora o provérbio, do Pinhal da
Azatnbuja, e o roubar em Sierra Morena? Daqui se naõ
segue que naõ haja os mesmos crimes em outros pai/es,
mas os revisores lembráram-se daquelles dous exemplos,
na comparação, que tinham de fazer com o Tyrol i a que
propósito logo vem aqui, o trazer a authoridade de um es-
criptor Inglez, que dá mui bom character á NaçaÕ Portu-
gueza, como he o General Macktnon ? Assim havendo
tantas cousas, que os Redactores poderiam notar na Re-
vista de Edinburgo, a respeito tle Portugal, vaõ buscar,
como se de propósito quizessem mostrar a sua pobreza de
ideas, uma passagem em que taõ pouco ha a notar.
Comoaservile cega obediência destes escriptores do
partido Godoyano nos tem causado o mudar inteiramente
a opinião que a principio formamos da utilidade, que se
poderia seguir á literatura Portugueza, de haver mais um
748 Miscellanea.

jornal impresso fôra do Reyno na lingua materna, só nos


occupamos delle para divertimento de nossos pouquíssimos
leytores, como lhes chama o Scientifico. Baste pois por
agora de brinco : e esperamos até ver a resposta que daõ
aos quesitos de nosso conrespondente. Se continuarem
deitados no chaõ, dirigiremos alguma cousa a seus nume-
rosíssimos leitores no nosso N u . seguinte.

Novidades deste mez.

EXÉRCITOS ALLIADOS NA A L E M A N H A .

Officios dos Agentes Inglezes nos Exercito* Alliados, uo


Ministro dos Negócios Estrangeiros em Londres.
Skenditz, 17 de Outubro, de 1813.
M Y LUUU.—O glorioso exercito da Silesia tem accrcscentado
outra victoria á sua lista, e a frente de seus veteranos chefes ho
decorada com novos louros.
Quarenta peças de canhão, doze mil mortes, feridos, e pri-
sioneiros, uma águia, e muitos caixoens, tem sido os fructos
da victoria de Radefeid, e Lideiithal. Para dar a V. S. a mais
clara idea que eu possa desta batalha, hé-me precizo retro-
ceder á posição do exercito da Silezia, e do Norte da Ale-
manha aos 14 do corrente. Quando nos recebemos intelligen-
cia certa de que o inimigo estava retiraudo-se da margem di-
reita do Elbe para se reunir em Lcipsig, a este tempo o Prín-
cipe Real estava cm Cothen, e o General Blucher cm Halle.
O primeiro occupava com as guardas avançadas a margem
esquerda do Mulda, e o ultimo Merseburg c Schenditz.
O General Blucher, aos 14, moveo o seu quartel-general
para Gros Hugel, fazendo avançar a sua vanguarda sobre a
estrada real de Leipsig, oecupando as vilas de ambos os lados.
O inimigo estava em massa na sua frente, oecupando ainda
Dehlítsch, e Bitterfeld, cora algumas tropas áo longo do Mulda.
O Principe da Coroa de Suécia expedio ordens para marchar
para Halle na noite de 14; porem quando suas tropas estavam
cm marcha, levantou elle o seu quartel-general em Sclbitz, •
Miscellanea. 749
collocou o exercito Sueco com a direita cm Wittin, e a esquerda
junto á Petersberg. O General Bulow occupava o centro de
sua linha entre Petersberg, e Oppin, e o corpo de Winzinge-
rode estava na esquerda em Zorbig.
O Ge neral Blucher achou que as forças do inimigo, consis.
iam do 4 o ., 6'., e 7*. corpo do exercito Francez, e grande
parte da Guarda, debaixo do commando dos Marechaes Mar.
mont, e Ney, e do General Bertrand, oecupando a linha, com
a direita em Freyroda, e a esquerda em Lidcnthal. O Paiz he
aberto e muito favorável para cavallaria, em roda destas ulti.
mas aldeas; porem o inimigo estava postado na frente de um
bosque de alguma extençaõ, juncto de Radefeldt: e detrás delle
o terreno he mais entre cortado; naõ obstante, geralmente fal-
lando, he aberto e capaz para todas as armas.
A disposição do atraque do exercito da Silezia foi como se
segue. O corpo do General Langeron estava para attacar e
tomar Freyroda, e logo Radefeld, tendo o corpo do Ge-
neral Sachen em reserva. O corpo de exercito do General
d'Yorck destinado para se mover sobre a grande calçada que vai
á Leipsig, até onde ella toca a aldea de Sitzchera; aonde, vol-
tando sobre sua esquerda, devia forçar o inimigo em Lindeuthal.
As guardas Russianas, e as guardas avançadas eram para car.
regar sobre a estrada principal de Leipsig. O corpo do Gene-
ral Priest que chegava de Merseberg, devia seguir o corpo do
General Langeron. A cavallaria, e as differentes reservas se for.
tnaram no campo descoberto, entre as aldeas. Era perto do
meio dia, ainda as tropas nao estavam nos seus postos. O
.inimigo logo depois da primeira carga abandonou as aldeas
avançadas, c retirou.se em alguma distancia, porem tenazmente
reteve o terreno dos arvoredos sobre a sua direita, e as aldeas
de Gros, e Klein Wetteritz, como taõbem as de Mockern, e
JVIokaw, sobre a sua esquerda. Em Mockern seguio-se uma
fianguiuolcntissima contestação ; foi tomado, e retomado pelas
tropas de d'Yorck cinco vezes ; o fogo de mosquetaria foi vi-
víssimo, e aqui foi a maior força do combate ; muitos dos offi-
ciaes superiores foram mortos, ou feridos; por ultimo os vic-
toriosos Silesios arrojaram tudo diante de si, e atiraram com o
V O L . X I . N o . 66. 5 n
750 Miscellanea.
inimigo até alem do Partha. Nas plauices houve muitas cai-
gas brilhantes com a i av 'liaria. O regimento de hiiss*iri-<. d,
Brandenburg distinguio.se de uma maneira particular, e ..in-
tentado pela infanteria carregou uma batteria de oito peças que
tomou.
O inimigo taõbem fez uma obstinada resistência na direita ,
nas aldeas do grande c pequeno Weteritz, c Ilchausen, no
campo em roda dos bosques : e quando elles perceberam que
nós tínhamos forçado a sua esquerda, mandaram um addicional
corpo de tropas, sobre o Conde Langeron, o qual esteve prin.
cipalmente travado com o corpo do iVIarechalNey que chegou,
das visinhanças de Duben. Entretanto, os Russianos, da mes-
ma forma que os seus bravos alliados em armas, fizeram os mais
brilhantes esforços, e foram completamente bem suecedidos; ,i
noite foi quem pôz o fim á acçao. A cavallaria Russiana obrou
«Ia mais brilhante maneira. A cavallaria do General Kolp to-
mou uma batteria de 13 peças, c os Cossacos do General Ema-
nuel, cinco. O inimigo retirou.se para a banda de Sicgcritz, e
Pfosen, e attraveçou o rio Partha. O corpo do General Sa-
chen, que sustentou o General Langeron, muito se distinguio
na presença de Buonaparte, que, parece, segundo dizem os
prisioneiros, chegou do outro lado do seu exercito ás cinco da
tarde.
O corpo do General (1'Yorck, o qual taõ ronspicuamente se
distinguio, teve muitos dos seus m.iis bravos officiaes mortos,
ou feridos: entre estes últimos, os Coronéis Meinmitz, Kut-
zler, Bouch, Hillcr, Lowcnthal, Laurentz ; os Majores SCIIOH,
e Bismarck. A perda destes officiaes pequena etn numero, In-
seria, porque todos elles quasi comm.-indavam brigadas, em
razão da eseacez de officiaes generaes do exercito Prussiano; e
tenho um sincero pezar cm ter de accrescentar, que Sua Alie/»
Sereníssima o Principe de Mecklenberg Strelitz que se esta* 1
distinguindo de uma maneira particular, tendo-lhe matado dois
cavallos, e cujo bravo corpo tomou quinhentos prisioneiros, e
uma águia, recebeo uma grande, porem, espero, que nao perigosa
ferida. Entre os Russianos tem o General Ghinchin, e vários
Miscellanea. 751

officiaes, mortos e feridos: e eu avalio a perda total do General


Blucher, de seis a sette mil homens que naÕ podem combater.
Eu posso accrescentar muito pouco ao catalogo dos mereci-
mentos deste bravo exercito, esforçando-mc fracamente; po-
rem como creio fielmente em particularizar os seus procedimen-
tos. V. S. ha de, como estou persuadido, appreciar o enthusias-
mo, e o heroísmo pelo qual as suas operaçoens tem sido guiadas.
Elle tem combattido vinte c uma vez, depois que se romperam
as hostilidades. V. S. está taõ certo do distincto merecimento,
e muito eminentes serviços do Geueral Gneisenau, que me he
desnecessário, nesta nova occaziaõ, alludir a elles.
Eu uni o General Lowe áo General Blucher no campo; e
estando auzente no principio da manhaã com o Príncipe Real,
pertence a este muito beuemerito official o informar a V. S.
que eu tenho obtido toda a assistência das suas relaçoens.
O meu Ajudante-de-Campo, o Capitão Dcring, official de
merecimento, temo que desgraçadamente tenha cahido nas mãos
do inimigo.
Eu agora, o melhor que me for possivel, passo a fazer a
V. S. sabedor dos movimentos militares do grande exercito
até o dia 16, e a disposição para o ataque, que foi enviada
ao Principe da Coroa, e ao General Blucher, pelo Principe
Schwartzenburg, e que foi para se executar neste dia. Os
corpos do General Guilay, do Principe Maurício Lichtenstein,
de Thielman, e Platoff, foram reunidos nas visinhanças de
Markrasted, e deviam mover-se para diante sobre Leipsig, cor-
tando a communicaçaõ de um lado, com o exercito do General
Blucher, e do outro lado, deviam estes corpos, destacar para a
sua direita, para facilitarem o ataque do corpo do General
Mereveldt,e as divisoens BianchieWeissenworf,sobre Zwackau,
eConnewitz; em cujo sitio ultimo, a ponte que atraveça o Pleis-
se devia ser tomada. A cavallaria do General Nostilez devia
formar na sua direita. Em caso de retirada, estes corpos de-
viam retirar-se para a banda de Zeitz.
As reservas das Guardas Russianas e Prussianas deviam
mover-se sobre Rotha, aonde deviam atraveçar o Pleisse, e for-
mar em columnas sobre a sua margem direita. As reservas do
£ B í
752 Miscellanea.

Príncipe de Hesse Homberg, do General Merevcldt, e Witt.


genstein deviam taõbem tomar posição nesta paragem.
O General Barclay de Tolly para commaodar tomou as co-
lumnas sobre a margem direita do Pleisse : os Generaes Witt.
genstein, Kleist, e Klcinau, deviam avançar das suas respec-
tivas posiçoens sobre Leipsig ; as guardas Russianas formando
a sua reserva. O General Colloredo avançava de Borna, como
reserva para o General Kleinau. A retirada destes devia ser
sobre Chemnitz. Os Generaes Wittgenstein, Kleist, e Kleinau
sobre Altcnberg, e Penig. O exercito do General Bennigsen
devia carregar desde Goldlitz sobre Grimma, e Wurlzcn. O
corpo do Conde Bubna tinha sido rendido de fronte de Leipsig
pelo do General Tr.istoy.
O exerc grande continuou um fogo muito forte cm todo
o dia 16. A noite já tarde chegou noticia ao General Blu-
cher, que Bonaparte tinha atacado em pessoa toda a linha dos
alliados, e formando a sua cavallaria no centro, alcançou o
romper o exercito alliado, antes que a sua cavallaria podesse
chegar; entretanto naõ pôde tirar dahi partido, o segundo pa-
réce retirou-se pela tarde, e os alliados oecupáram a sua posi-
ção em que estavam antes do ataque.
Ainda ignoro as relaçoens circunstanciadas destes aconte-
cimentos.
N o dia 17 todos estavam promptos para renovar o ataque
n-esta parte. O Principe Real que tinha o seu quartel-general
em Landsberg, e o seu exercito por detrás, marchou ás duas
da madrugada; e, com o corpo do General Winzingerode, e
General Bulow, chegou pelo meio do dia a Brittenfcld, sobre
a esquerda do General Bulow. A cavallaria, e artilheria do
General Winzingerode tinha marchado para diante, durante a
noite, até juncto ás eminências de Taucha.
Naõ se ouvindo tiros de canhaõ deste lado do exercito
(ainda que o corpo do General Blucher estava debaixo de ar-
mas) e taõbem como estava conhecido que o General Bennig-
sen naÕ podia chegar, até este dia, a Grimma, e parte do exer.
cito do Principe Real estando ainda na retaguarda, pareceo
çonveuieat eeperar-se pelo dia seguinte para renovar o ataque
Miscellanea. 753
geral. O inimigo mostrou-se com grande força n'uma bôa po-
sição sobre a esquerda do Partha, sobre uma cordilheira de
montes de alguma extençaõ, que vai parallela ao rio. Alli
ouve alguns tiros de canhão pela manhaã, o inimigo fée evo-
luçoens, e os hussares de Mccklenberg carregaram a sua afan-
ada até dentro dos subúrbios de Leipsig, e tomaram tres ca-
nhoens, e alguns prisioneiros dos hulanos das guardas. O
nosso estado de coizas he tal que justamente podemos entreter
as mais lizongeiras esperanças, debaixo da protecçaõ da Divina
Providencia, que até aqui, taõ conspicuamcnte nos tem favo.
recido na gloriosa causa em que estamos empenhados.
Eu sou, &c.
(Assignado) CAHLOS STEWAET, Tenente-general.

Leipsig, 19 de Outubro, de 1813.


M Y LORD,—Finalmente approxima.se a Europa ao ponto
de sua libertação ; e a Inglaterra pódc triumphante, em con.
juncçaÕ com seus alliados, olhar para o prospecto futuro de ai.
cançar quella a gloria, aque os seus inauditos, e firmes esforços
na causa commun, taõjustamente lhe dam titulo.
Desejaria eu que coubesse a mais hábil penna a sorte de
descrever, a V. S. os explendidos acontecimentos destes dous
dias: porém acho que farei melhor o meu dever esforçando-me
agora somente em referir os factos principaes a fim de os enviar
sem perda de tempo, deixando para a primeira occasiaõ o dar a
conta mais pelo miúdo.
A victoria do General Blucher, no dia 16, foi seguida por
ontra no dia 18 em que o total das forças combinadas venceo
o exercito de Bonaparte, nas vizinhanças de Leipsig. O s
fructos deste gloriozo dia sam a collectiva perda de mais de
cem peças de canhão, sessenta mil homens, immenso numero de
prizioneiros, e deserção de todo o exercito Saxonio, e taõbem
das tropas Bávaras, e de Wurtemberg, consistindo em arti-
lheria, cavallaria, e infanteria; e muitos generaes, entre o s
quaes sam Regnier, Vellery, Brune, Bertrand, e Lauriston.
A estes objectos de alegria, se seguio logo a tomada por as.
salto da cidade de Leipsig, esta manliara, a dos armazéns, arti.
•754 Miscellanea.
lheria, muniçoens da Praça, com o Rey de Saxonia, e toda a sua
«orte; a da guarniçaõ, e retaguarda do exercito Francn, a
de todos os inimigos feridos (cujo numero excede trinta mil)
e em Qm se seguio também a apertada fuga du Bonaparte, que
sahio rapidamente de Leipsig ás hove horas, entrando os alli.
ados ás onze: alem disto; a completa derrota do exercito Fran.
cés que foge em todas as direcçoens esforçando-se por escapar,
e achando-se ainda rodeado.
O ultimo resultado pode V. S. conhcccllo melhor pela rela.
çaÕ da nossa posição militar. Agora será o meu cuidado dar
vos uma conta, a mais suecinta, c clara que possa, primeiro*
das operaçoens geraes, e combinadas que determinou o grande
exercito ; e depois, descrever o que aconteceu debaixo de mi-
nha immediata observação, isto he, os movimentos do Principe
Real, e do General Blucher.
Os meus officios até 17, tem descripto a posição dos escr.
citos alliados até aquella data. Havendo o Príncipe de Sch-
wartzenberg, annuuciado que ora da intenção de Suas Magcs-
tades os Soberanos Alliados, renovar o atuqnc no dia 18, e
sendo os exércitos do Norte; e da Silesia dirigidos a cooperar;
n'isto fizéram-se as seguintes disposiçoens. Duvo aqui obser-
var que o ataque que fez o grande exercito, aos 1 o, foi nas vi.
zinhanças de Liebert, e Wolkowitz. Como o terreno era par-
ticularmente apto para cavallaria, seguio-se um muito sanguino.
lento, e vivo combatte com esta arma, e cpm a artilheria, que
excedia em numero seiscentas peças entre os dois exércitos.
Dous solitários edifícios que o inimigo tinha oecupado com di-
versos batalhoens de infanteria, e que formavam quasi o centro
da posição do inimigo, foram atacados pela infanteria Russiana,
e depois de serem varias vezes, repulsados, os tomaram com
espantosa carniceria.
O total da cavallaria inimiga, debaixo do commando de
Murat, teve entaõ ordem de avançar: fizeram portanto os
inimigos um ataque desesperado sobre o centro da posição
alliada, o qual obtiveram forçar por um curto espaço de tempo.
Para se opporem a esta poderosa cavallaria, seis regimentos de
couraceiros Austríacos carregaram cm columnas. Nada pôde
Miscellanea. 755
exceder o accerto e a desesperada valentia deste momento:
elles arrojaram tudo diante de si, destruindo, oiço dizer, re-
gimentos inteiros, e voltaram para o seu campo com muitos
prisioneiros, tendo deixado oito centos dragoens dentro da linha
do inimigo. Muitos officiaes foram mortos, e feridos. O G e -
neral Latour Maubourg, que commandava a cavallaria do ini-
migo, debaixo de Murat perdeu uma perna. Ambos os exér-
citos estavam quasi sobre o mesmo terreno, aonde a contenda
tinha começado.
Em quanto o grande exercito estava para começar o seu
ataque, na manhaã de 18, desde os seus differentes pontos de
reunião, nas principaes aldeas situadas sobre as estradas reaes
que vaõ a Leipsig, os exércitos do Norte e da Silesia, deviam
atacar junetos, desde a linha do Saale, e sobre a posição do
inimigo ao longo do rio Partha, O General Blucher cedéo áo
Principe Real trinta mil homens de infantaria, cavallaria, e
artilheria de seu exercito ; e com este formidável reforço, oexer-
cito do Norte devia atacar desde os altos de Taucha, em quanto
o General Blucher devia reter a .sua posição de fronte de Leip-
sig, e fazer o maior esforço que podesse para tomar posse da
Praça.
N o cazo que todas as forças do inimigo se dirigissem contra
um dos dous exércitos, deviam estes sustentar-se um áo outro,
e consultarem sobre movimentos futuros. Aquella porção da
força inimiga que por algum tempo esteve opposta áo Principe
Real de Suécia, e ao General Blucher, tinha tomado uma muito
boa posição sobre a margem esquerda do Partha, tendo a sua
direita no forte ponto de Taucha. e a esquerda para a banda de
Leipsig.
A primeira operação do exercito do Principe Real foi o for-
çar a direita do inimigo, e obter posse dos altos de Taucha. O
corpo de Russianos commandado pelo General Winzingerode, e
os Prussianos sob o General Bulow, foram destinados para
este fim, e o exercito Sueco foi destinado para forçar a passa-
gem do rio em Plosen, e Mockau. A passagem foi executada
sem muita opposiçaõ. O General Winzingerode tomou cm
756 Miscellanea.

Taucha perto de 3.000 prisioneiros, c alguns canhoens. O


General Blucher poz o seu exercito cm movimento logo que
percebeo que o grande exercito estava empenhado com muito
calor nas vizinhanças das aldeas de Stollintz, e Probcstfacyda .-
e o exercito do Príncipe Real ainda bem naõ tinha feito o seu
movimento de flanco, ja a infanteria inimiga tinha abandonado
a linha do rio, e retirado-se para a planice, em linha, c colum.
na, para a banda de Leipsig, oecupando Somerfelt, PauusdorfT,
e Schonfeldt, á preça, protegendo sua retirada. Os aconte-
cimentos deste dia foram aqui marcados, principalmente por
uma mui forte canhonada, e algumas brilhantes manobras da
cavallaria do General Winzingerode: excepto por fim quando
o General Langeron, que tinha atravessado o rio, atacou a al-
dêa de Schonfeld, achou considerável resistência, e ao principio
nao pode romper caminho; porem sempre alcançou toraalla,
mas foi outra vez repulsado; e tntaÕ o General Blucher lhe
mandou mui expressas ordens de a retomar á ponta da baioneta,
o que elle concluio antes de escurecer. Alguns batalhoens
Prussianos, do corpo do General Bulow estavam também for.
temente empenhados em Paunsdorf, e o inimigo ia-se retirando
delles, quando o Príncipe Real ordenou que a brigada de fo-
gueteiros debaixo do commando do Capitão Bogue, se formasse
na esquerda d'u«a bateria Prussiana, e fizesse fogo sobre as co-
lumnas que 6e -retiravam: a formidável arma de Congreve
naÕ tinha ainda bem concluído o entorpecer um massiço de in.
fanteria; o qual se rendeo logo á primeira descarga (como to.
madfls de um terror pânico,) quando o bravo, c benemérito Ca-
pitão Boyne, ornamento de sua profissão, e cuja morte hc
grande perda para seus amigos escu pa z, recebeu um tiro
na cabeçi, que privou o exercito de seus serviços. O Tenente
Strangways que lhe suecedeo no commando da brigada recebeo
do Principe Real os agradecimentos pelos serviços que a bri-
tada fez. Durante a acçaS 22 peças de artilheria Saxonia se
reuniram á nós, desertando do inimigo; assim como também 2
regimentos de hussares VVesIphalianos, e 2 batalhoens Saxonios.
Houve logo occasiaõ opportuna de fazer u«o das primeira*
Miscellanea. 757
contra o inimigo, pela nossa artilheria, c muniçoens naõ ter
avançado toda; e o Principe Real mandou por um official dizer
aos outros, que elle hia capitaneallos contra o inimigo, o que
elles acceitaram, sem excepçaõ de um só.
Estando ja estabelecida a cominutiicaçaõ entre os postos dos
grandes ataques, destes dous exércitos, o GraÕ Duque Con-
slantiiio, os Generaes Platoff, Milaradovitch, e outros officiaes
de distineçaõ vieram ter com o Principe Real, communicando
lhe os acontecimentos, c progressos naquellas partes. Pareço
que o inimigo féz uma mui desesperada resistência em Probcthide,,
Stetteritz, e Conncwitz, porem as differentes columnas que sus-
tentavam estes pontos, como descrevi no meu primeiro officio,
arrojaram por fim tudo diante de si.
Tendo o General Bennigsen tomado as aldeas sobre a margem
direita do Reutscheve, tendo-se lhe reunido o General Bubna,
qoe veio de Dresden, no bloqueio da qual cidade foi rendido
pelo General Tolstoy, e manobrando também o General Guilay
com 25.000 Austríacos sobre a margem esquerda do Elster, o
corpo do General Thielman, c do Principe Maurício marchou
sobre o mesmo rio, e o resultado deste dia foi, que o inimiga
perdeo mais de 40.000 homens, entre mortos, feridos, e prisio-
neiros; 65 peças de artilheria, c 17 batalhoens de infanteria
Alemaã, com todas as suas bandeiras c Generaes, os quaes de-
sertaram em massa durante a acçao. Os exércitos ficaram
aquella noite sobre o campo, que tinham taÕ valentemente
conquistado. O Principe Real poz o seu bivouac em Pauns-
dorflf; o General Blucher ficou um Wetterritz, e o Emperador,
e o Rei de Prússia em Roda.
Perto do fim do dia soube-se que o inimigo se hia retirando
por Weisscnfels, e Nauniburg ; o Rei de Prússia mandou ordem
ao General Blucher para destacar sobre aquella parte. O mo-
vimento do Principe Real completamente lhe cortou a retirada
por Wittenberg, c, pela banda de Erfurt, muito tempo antes se
lhe tinha tornado impracticavel: so lhe resta a linha do Saale
porem como os (lanços e a rettaguarda lhe haÕ de ser picados
durante a marcha, naõ se pode dizer com que porção de exer-
cito elle ha de chegar ao Rheno. Esta manhaã, a cidade de
VOL. X I . No. 66. 5 E
758 Miscellanea.
Lcipsic foi atacada, e tomada, despois de uma pequena resistên-
cia, pelos exércitos de Blucher, do Principe Real, Ge-
neral Bennigsen, e Grande exercito. Os Marechaes Marmont,
e Macdonald commandavam na cidade: estes e os Marechaes
Angereau, c Victor com difficuldade escaparam, com uma pe.
quena escolta. Suas Magcstades o Imperador da Russia, c o
Rey de Prússia, e o Príncipe Real de Suécia, catla um a frente
de suas respectivas tropas, entraram na cidade por difforentos
pontos e vieram encontrar-se na grande Praça
As acclamaçoens, e regozijos do povo naõ se podem descre
ver. A multiplicidade de brilhantes feitos, c a impossibilidade
de poder justamente apreciar-se, a firmeza que foi mostrada, a
vallentia de espirito do commandante em Chefe, o Marechal
de Campo o Principe Schwartzenberg,© dos outros experimen-
tados Capitaens ; c também o curto espaço de tempo que mc foi
concedido para concluir este officio, podem obter-ine, como
espero, suffieicute desculpa de eu naÕ mandar uma mais meu.
da, e perfeita conta, a qual com tudo espero dar para o
futuro.
Envio este officio pelo meu Ajudante de Campo, M'. Jamrs,
que se tem destinguido pelos seus serviçios, depois que está neste
exercito : elle também tem sido presente commigo em todos os
últimos acontecimentos, e poderá expor a V. S. todos os mais
particulares.
Tenho a honra de ser, &c. &c.
(Assignado) CARLOS STEWART, Tenente-general.
P. S. Chegou hoje ao campo da batalha um official que vern
do exercito do General Tetfenborn, e trás informação de se ter
rendido Bremen ao corpo de baixo do seu commando, e as cha-
ves da cidade, que foram apprcsentadas pelo Principe Real, ao
Imperador da Russia •—
Quartel-general do Principe Real, Cothen,
14 de Outubro, (A-1813.
M Y LORO, Como hc incerto, se este officio chegará ao seu
destino em razaõ da nossa presente situação, por isso escrevo
poucas linhas. Pelo uieu officio de 11 informei a V. S. de que
o exercito da Silesia e o do Principe Real, estivam junto do
Miscellanea. 759
Saale, no dia 11 do corrente. N o dia 12 soube.se que o ini-
migo tinha reunido consideráveis forças sobre a margem direita
do Mulda, entre Duben, Eulenberg, e Jesnitz; quando ao
mesmo tempo se julgava que estava com força cm frente do
grande exercito; poiem todas as suas forças pareciam estar
concentradas entre o Mulda, Leipsig, e Torgau. O grande
exercito, aos 12, conforme as noticias que se receberam, estava
postado da maneira seguinte:—o principal corpo cm Altem-
burg; o corpo do General Wittgenstein em Borna, aonde se
sabe que teve um bem succedido encontro com o inimigo ; o
General Kleinau em Frohberg ; os Generaes Guilay e Thielman
em Zeitz;' o Principe Maurício Lichtenstein em Pegau; o Ge-
neral Bennigsen tinha-se adiantado de Peterswalde, e Dohna,
para Waldheim ; e o General Bubna teve um cncotilro mui
brilhante defronte de Dresden no dia 1 0 ; também conseguio
tomar a cabeça de ponte em Pirna, destruio os botes, c tomou
canhoens, e prisioneiros. Segundo se diz, o inimigo deixou
somente 12.C00 homens de guarniçaõ em Dresden. A' esta
geral informação aceresceo mais, que o inimigo tinha desfilado
de Wittenberg para a margem direita do Elbe, e no dia 11
tinha feito retirar o corpo do General Thumcn. Ficou logo
sendo da maior importância o saber-se com certeza o numero
das forças inimigas que passaram em Wittemberg. O plano de
Bonaparte passar com todo o seu exercito cm Torgau, e Wit-
tenberg, abandonando assim todas as suas communicaçoens, e
facilitando a todos os exércitos alliados o reunirem-se, e pos-
tarem.se entre elle, e França, parece uma medida taõ desespe-
rada, e calculo taõ pouco militar, que até que esta interessante
crise se desenvolva por si mesma, he impossível pronunciar uma
opinião. O Principe da Coroa, em conseqüência do estado
das coizas acima ditto, tornou a repassar o Saale, aos 13, e
marchou para Cothen, aonde se postou ; ficando assim em dis.
tancia de uma marcha, do General Blucher, em Halle, podendo
cada exercito apoiarse um ao outro, e combinarem seus movi.
mentos, e se espera o grande exercito a cada hora em Leipsig.
As novidades deste dia saÕ, que seis divisoens do exercito ini.
iii'go, e as ga rdaspassáram em Wittenberg, c dirigem se para
5 E 2
760 Miscellanea.
Berlin. As nossas communicarocns ao travéz do Elbp, f m
Rosslau, e Acken, foram atacadas, c o General Tauenzien
evacuou, a primeira; c por temor que lhe fosse tomada a re.
taguarda pelo inimigo que passou cm Wittenberg, retinio-se ao
General Thumen, c vai-se retirando sobre Zerbst, e pnra a
banda de Potsdam. A insignificante perda da nos»a communi-
caçaõ ao travéz do Elbe, excepto abaixo de Magdeburg, pode
ser um inconveniente temporário: porém como a annihiliçao
do exercito Francez lie o único objecto, o Príncipe da Coroa
tem tomado a resolução de marchar para Halle, c rcunir.se ao
corpo do General Blucher e ao grande exercito, e quando
todos os exércitos estiverem reunidos será na verdade coiza bem
extraordinária se V. S. naÕ recebe uma boa conta do inimigo.
Chegou do grande exercito a noticia de estar assignado o trac-
tado com a Bavi,-ra. O corpo do General Walmoden, assim
como o do General Tatientzicn, devem obrar segundo as cir.
cumstancias. He dificultoso o poder dizer decididamente que
plano elles ham de adoptar.
Tenho a honra de ser, kc.
(Assignado) CAULOS STEWAUT, Tenente-general.

IIalie, 15 de Outubro, de 1813.


M Y LORD,—As relaçoens transmittidas no meu offiiio de 11
do corrente, fundadas na informação que entaõ se tinha rece-
bido, de que seis divisoens das novas guardas do inimigo tinham
desfilado de Wittenberg e também tropas de Torgau, para a
margem direita do Elbe, c o terem tomado posse de Dessau,
pode causar uma momentânea anxiedade no espirito do publico ;
c eu estou portanto dezejoso de dissipalla o mais cedo possivel:
agora pois tenho a honra de informar a V. S., que, segundo as
noticias recebidas, o inimigo está concentrando as tuas tropas
desde a banda de Wittenberg, e do baixo Mulda c parece que
se está ajunetando nas vizinhanças de Leipsig, Taucha, e Eu-
lenberg. Estas noticias saÕ em parte derivadas de um Tenente-
coronel do exercito Francez, que aprisionamos, a quem se
achou uma carta dirigida ao Marechal Marmont, ordenando lhe
que se pozesse cm marcha para Leipsig, e que estivesse de-
baixo das ordens de Murat. As forças do inimigo que tem
Miscellanea. 7(51
estado manobrando na margem direita do Mulda, e que attra-
vcssàram o Eibe saõ commandad is pelos Marechaes Ney e
Marmont; c elles tem taõ cuidadosamente occultado os seus
movimentos, por marchas, e contramarchas, e o paiz he taõ
fechado, e difficultoso, junto á eonjuncçaÕ dos dous rios, que
as noticias que temos naÕ saÕ pxactas. Comtudo he certa a
noticia, vinda do grande exercito, de que o inimigo se reuuio
nas vizinhanças de Leipsig. No dia 14 retirou-se de Zerbst,
e deixou Acken, aonde se tinha mostrado, e depois de destruí-
rem a nossa cabeça de ponte etn Rosslau, abandonaram-a; e
os Cossacos do corpo do General Wmtzingerode, e do exer-
cito do Principe Real arrojaram-o de Dessau, que tornou a ser
oecupado. Estes differentes accontecimentos confirmaram a
outra noticia, e as apparencias eram de que movimento de Wit-
tenberg tinha sido emprehendido com vistas de attrahir o exer-
cito do norte, a repassar o Elbe. Sob principios geraes mili-
tares, o attravessar aquelle rio sem estar de posse de Witten-
berg, pode ser tido por muitos, como uma duvidosa, senaõ
mal fundada empreza ; porem, por outra parte, devem.se tam-
bém pezar as vantagens que se seguiam da reunião de perto de
300.000 homens, rodeando o inimigo por toda a parte; a des-
moralização de seus exércitos, sua inquietação a respeito de
mantimentos, cuja falta, cercado como elle está, deve necessa-
riamente augmentar; e finalmente a vantagem de tornar a
entrar por uma vez immediatamente em medidas vigorosas,
offensivas em todos os pontos. O Principe Real de Suécia
tinha destacado, no dia 14, -ama divisão do seu exercito de-
baixo das ordens do Principe de Hesse Homburg, para resta-
belecer a sua communicaçaõ em Acken, c assegurar a passagem
do rio, c a cidade (a qual he fortificada), reforçando.a o mais
possivel. Comtudo, o General Hirschfeld ja tinha segurado
esta posição, antes de chegar o reforço. A guarniçaõ de Mag-
deburg fez ataques sobre a posição de Bernburg, juncto ao
Saale, ponto de infinita importância para a passagem daquelle
rio, em caso de necessidade: porem foram aqui de novo sacu-
didos por outro destacamento de Cossacos, do corpo do Ge-
neral Wintzingerodc, e foi ali posta uma guarniçaõ de dous
762 Miscellanea.
batalhoens, e algumas peças. O exercito do rrincipe Real
estendeo-se hoje, com a direita na direcçaõ das montanhas de
Petersberg, o ponto mais importante deste paiz, pela sua des-
penhada elevação, e com a esquerda para a banda de Colheu,
c Elsdorf, cm quanto suas guardas avançadas se tinham tulian.
tado até as aldeas na margem esquerda do Mulda. O exercito
da Silesia estava em posição juncto de Halle, com suas guardas
avançadas cm Merseberg e Sckendilz. Por noticias recebidas
do grande exercito, consta que o General Wittgenstein, no dia
13, fez um reconhecimento geral vindo de Boina, c marchou
para a esquerda, oecupou Pegau no dia 14, com a maior parte
do seu corpo, estabelecendo as suas communicaçoens; pela
esquerda com o corpo Austriaco do General Gnilay, c do
Principe Maurício Lichtenstein, postado em Weissi-nfels perto
de Naumburg, e ajunctou.se aos Generaes Thielman, e Flatolf,
para as bandas de Lutzen ; e pela direita com o corpo do Ge-
neral Kleinau, que marchava para Borna, c devia destacar,
para Grimma, e Colditz. Os granadeiros, c couraceiros Rus-
sianos estavam cm Altemburg. O principal corpo do grande
exercito, isto he, o corpo do General Mereveldt, o exercito
Austriaco de reserva, e as guardas Russianas c Prussianas to.
maram posição em Zeitz, o corpo de Colloredo, em Chcmnitz,
c Penig, e destacaram para a banda de Rocklitz; o General
Bennigsen tinha ordem para se fazer senhor das estradas que
vaõ a Nossen, e Meisscn, e continuar para diante, com toda a
expedição. Nesta disposição geral devem os exércitos andar
para diante, cercando o inimigo até chegarem a ponto de po-
derem atacar por todos os lados. Nestas circumstancias, era
evidente, que, se o inimigo houvesse de forçar a passagem ao
travez de um dos corpos, os outros unidos haviam do cahir
sobre o ponto atacado. Esta operação vem a ser mais fácil, á
proporção, que a communicaçaõ entre os diííerentis exércitos
estiver estabelecida, e o circulo cm roda do inimigo estreitado.
Em caso de retirada, de um lado a margem esquerda do Saale
offerece uma linha mui forte, e do outro, as posiçoens de
Lutzen, Weissenfels, e Altenburg. Tambcm tenho de parti-
cipar a V. S., que o corpo Bávaro do General Wrede, c o
Miscellanea. 763
Austríaco do Principe Reuss, estaõ caminhando a marchas
/orçadas sobre Bambcrg. Eu tenho um natural dezejo de por
a V. S. de posse da mais constante conrespondencia, e fazendo-o
assim (como as informaçoens variam a cada hora), tenho receio
de ser inexacto; porem neste caso espero a indulgência de V. S.
Todos os corpos do grande exercito, marcharam hoje para
diante. O General Blucher marchou para Gros Kugel, e
Skenditz, e estendeo a sua guarda avançada até Leipsig; e o
Principe Real tem a sua direita em frente de Petersberg, e a
esquerda em Zorbig, com os Suecos juncto de Wettin, c as
guardas avançadas em Brehna.
Tenho a honra de ser, &c,
(Assignado) CARLOS STEWART, Tenente-general.
LONDRES.—SECRETARIA DA G U E R R A , 23 D E NOVEMBRO, 1813.
Tem-se recebido nesta Secretaria, pelas ultimas Mallas de He-
ligoland, Gazetas de Bremen até 9 do corrente; das quaes o
seguinte saÕ extractos :—
NOTICIAS RECEBIDAS DOS EXÉRCITOS ALLIADOS.
Bremen, 7 de Novembro.
A destruição, c dispersão do exercito Francez despois das
batalhas decezivas nas vizinhanças de Leipsig, cada dia se mos-
tra ser mais completa. O inimigo ja naÕ pára, e busca salvar-
se fugindo para o Rheno. Poucos corpos chegarão lá, com o
seu fugitivo Imperador: a maior parte fica destruída no ca-
minho ; saÕ feitos prisioneiros, dispersados, ou buscam salvar-
se no serviço do Exercito Alliado. O exercito do Norte de.
baixo das ordens do Principe Hereditário de Suécia; adiantou-
se, e estava, segundo as ultimas noticias, junto a Cassei, e
Gottingen. O Principe da Coroa mesmo, tinha partido deste
ultimo logar, para Hanover. O Quartel-general do Grande
Exercito de Bohemia, esperava-se em Frankfort sobre o Mein,
aonde uma forte divisão de Bávaros, e Wurtemburguezes ja
tinha chegado. Uma divisão das tropas do General Tottcn-
born oecupou a forte praça de Minden, outro corpo passou ao
travéz de Oldenburg em perseguimento do inimigo, que cm
pequena força se tinha outra vez approxitnado desta cidade,
para punir os habitantes pela alegria que tinham mostrado com
» approxímaçaÕ das tropas Russianas.
764 Miscellanea.
PROCLAMAÇAÕ.

Por ordem de *-?. M. o Imperador de todas os Russias, meti


Amo, c pela de S. A. R. o Príncipe Hereditário de Suécia, as
Auctoridades Francezas da Cidade de Bremen, e de seo antigo
território, ficam dissolvidas desde hoje, o a Constituição da
livre Cidade Hauseatica de Bremen, fica por esta retaurada.
O Major-general imperial Russiano.
Baraõ VON TETTENBORN.
Bremen, 25 d'Outubro, de 1813.

Nova Gazíta de Bremen, 0 de Novembro, Ae 1813.


BERLIM, 4 DE NOVEMBRO—Recebemos as seguintes noticias
do quartel-general do Marechal de Campo Von Blucher:—
DÉCIMA RELAÇÃO DO EXERCITO.
EiNsi-.NAcn, 27 D'OUTUBUO.—Logo no dia 19 de Octubro,
despois do assalto da cidade de Leipsig os corpos de Conde
Von Langeron, c Von Sacken partiram para Skenditz. A ca-
vallaria d»» corpo de Sacken ás ordens do General Vasilsliikolí
attravcssou o Elster.
O principal corpo do exercito Francez, c o Imperador Na-
poleaõ, passaram a noite cm Mark-Ranstadt. No dia 20 de
Octubro, o General Vasilshikoff avançou sobre Lutzen, to-
mando ao inimigo 2.100 prisioneiros. Os corpos de Langeron,
e Sackcu marcharam para a banda de Lutzen. Otíencral Von
Vork vindo de Halle pelo campo da batalha de Rossback [na
guerra dos sette annos] encontrou o inimigo marchando de
Weissenfels para Freiburg, e acanhoneou as suas columnas. O
principal corpo do exercito Francez naÕ se aventurou a passar
por Kosen ; porem atravessou o Saale junto a Weissenfels, e
iam seguindo a estrada de Freiburg. O Imperador Napoleaõ
passou a noite perto de Weissenfels, sobre a margem esquerda
do Saale.
N o dia 21 d'Outubro, os corpos de Langeron, c Sacken
partiram para Weissenfels. O inimigo queimou as pontes. O
Marcchal-de-Campo, Von Blucher fez, por meio da sua arti-
lharia, que o inimigo fosse lançado fora da margem esquerda do
Saale, e mandou immediatamente lançar uma ponte sobre o rio.
Miscellanea. 765
Esta foi feita no mesmo sido em que S. M. o Rey Frederico,
antes da batalha de Rossbach, mandou que fosse construída
uma ponte de paos; e hc de notar, que o mesmo carpinteiro
que foi empregado na prezeute occaziaÕ, tinha naquelle tempo,
quando éra moço, sido um dos obreiros. O General Von
Yorck avançou sobre Qucrfurth, a fin de prevenir o inimigo
de passar o rio Unstrut em muitas columnas. Parte da caval-
laria de reserva ás ordens do Coronel Coide Vou Honkel, en-
controu-se com um* columna inimiga que ia escoltando alguns
prisioneiros: atacou-a logo; libertou 4.000 prisioneiros, jun-
tamente com 100 officiaes das diversas Potências Alliadas, que
tinham sido feitos prisioneiros no dia 26 de Agosto, e 16 d'0u-
tubro, e fez.lhc muitos prisioneiros.
Quando se conheceo que estas eram as columnas inimigas
mais atrazadas, o General Von Yorck voltou logo para a es-
querda, para a banda de Frieburg, fez um impetuoso ataque
sobre as columnas inimigas em sua marcha, derrotou-as por
meio de um vivo ataque de infantaria, e laiçou-as para dentro
dos valles que estam juntos ao rio Unstrut. Os carros de trem
do inimigo ainda naÕ tinham chegado aquelle rio, porem elles fize-
ram voar uma quantidade de carros de pólvora, e deixaram atraz
um grande numero de canhoens, carros manchegos c equipagens
dos Generaes. Por noite, estavam cm pod.-r do General Von
Yorck, um general, dous coronéis, para cima de 1000 prisio.
n ei ros, 18 peças de campanha, e uma quantidade de carros de
muniçoens. O numero de armas, c carros que foram achados
no dia seguinte, ainda se naÕ sabe exactamente. No dia 22 de
Outubro, estavam promptas as pontes sobre o Unstrut, e o ex-
ercito passou em tres columnas, sem comtudo, lhe ser possivel
alcançar o inimigo. No dia 23, o exercito adiantou-se até
Sommcrnada. O inimigo concentrou-se junto á Erfurt, e pa-
recia querer tomar posição ali, affira de dar algum repouso aos
íeus cavallos estafados. O marechal de campo approvcifou.se
desta circumstancia, mandou fazer um rápido movimento ao
exercito, com a vista de fianquear a esquerda do inimigo. O
exercito no dia 24 estava em Tennstadt, e uo dia 25, para além
Vo-t. X I . Xo. W. 5 p
7(56 Miscellanea.
de Langensalza. No dia 26 marchou em 3 columnas, sobre
Gotha, e o Horselsberg, na direcçaõ de Eiscnach. O inimigo
estava ja em plena retirada. A vanguarda, debaixo do com.
mando do General Ruezeiwich féz perto de 2.000 prisioneiros
nas vizinhanças de Gotha. O General Von Yorck encontrou
o inimigo marchando ao travéz do valle de Horsel, na vizi-
nhança de Eiscnach, atacou.o, e despois de um combate de in.
fantaria tomou a aldéa de Elkrodt; por este modo cortando ds
Eisenach o quarto corpo do exercito inimigo. Este porem
meteo-sc para a floresta de Thuringia, c vé-se obrigado a fazer
rodeios para poder chegar á villa de Vach. No dia 27 de Ou-
tubro, o exercito attravessou o desfiladeiro de Eiscnach, perse-
guindo o inimigo em todas as direcçoens. A cada hora estatn
chegando novas conduetas de prisioneiros.

RELAÇÃO MILITAR AUSTRÍACA.


A concluzao" deste importante Documento he da maneira seguinte *.—•
OUTUBRO, 19.—No dia 11), ao romper da manhaS, ainda o inimigo
occupava com força Zwei, NauudorfF, e o moinho defronte dos subúr-
bios para o lado de Sonewitz. 0 ataque geral foi renovado fii sette
da manhaS, e o inimigo arrojado para a banda de Leipsig. Ali, pro-
curou elle ganhar tempo para retirar as suas tropas, artilheria, e ba-
«*agem; para cujo fim enviou um parlamentario, propondo entregar
o resto das tropas Saxonias, debaixo da condição, que Leipsig naõ
havia de ser atacado, c que a guarniçaõ Franceza, com tudo o que
pertencia ao exercito devia ser deixada partir livremente.
Esta proposta foi rejeitada. Os Alliados estavam ja senhores di>«
subúrbios ; o inimigo dezejava ainda continuar a defender a cidade,
para dentro da qnal os Alliados estavam ja deitando fogo. As tro-
pas Saxonias que estavam na cidade, de repente voltaram ai armas
contra os Francezes; um regi.ncnto de infantaria de Baden seguio o
exemplo dos Saxonios: o combate fez-se universal; os inimigos fo-
ram postos na maior confuzaõ ; cada um pensava tam somente de se
Mcapar, e os Alliados foram senhorn da cidade.
Despois de fazer a enumeração dos tropheos desta aisignalada
victoria, a Ralação continua da maneira seguinte:
O Principe Poniatowski, que uo dia 16 tinha sido nomeado Mare-
chal Francez, quando achou que naõ podia encapar pela ponte sobre
Miscellanea. 767
o Elsler, Ibrecjou por attravcssir o rio acavallo ; e segundo o qu»
diz inn de seus Ajudantes prisioneiro, morreo aftogado.
F.sta tarde 8 regimentos de infaiitaria.Polacos, abandonaram os es-
tandartes do inimigo, e ilezerlaram para os Alliados. O campo da
batalha, de :s milhas de comprido, c outras lautas de largo, cin o qual
se esteve pelejando quasi Ires dias, pela independência da Alemanha,
c repouso da Europa, está tam coberto de corpos mortos do exercito
inimigo, que a perda do exercito Francez em Iodos os pontos, pode
calcular-se em 40.000 homens pelo menos. A perda total dos Allia-
dos, em mortos, e feridos, pode calcular-se ao muito cin 10.000. Os
tres Monarelias Alliados, estiveram, durante a batalha deciziva de
hontem, nos altos dentre Wachavv, e Probsthayda : os seus olhos fo-
ram testemunhas do extraordinário valor das suas tropas; S. M. Im-
perial mesmo, sobre o campo de batalha revestio de Gram cruz da
Ordem de Maria Thereza, o marcchal-de-campo, Principe Schwart-
/emberg Commandante cm Chefe. Sua Magestade o Imperador da
ftussia também foi servido conferir a S. A. a ordem de St. Jorge da
Primeira Classe ; e S. M. o Itey de Prússia, a ordem da Águia Negra.
" A o General da cavallaria, Blucher, cuja sabedoria, e ener-
gia empregada nas mais dillicultozas operaçoens no curso desta
campanha, contribuíram tanto para os gloriozos resultados das re-
centes batalhas ; S. M o Imperador foi servido conferir a Gram Cruz,
da Ordem de Maria Thereza, e ao General Guiescnau, Quartel-
mestre-general daquelle official, a cruz de commandaiilc da mesma
ordem. O exercito combinado está etn movimento para perseguir
o inimigo."

PItUSSIA.
BERLIM, 25 D*OUTIIBTIO.—Recebemos agora do exercito as seguin-
tes noticias officiaes : —
O corpo do General Von Langeron, e o do General Von Sacken,
passaram a noite de 19 do corrente, em Skenditz, e o do General
Von Yorck, em Halle. No dia 20, o General Wastitscheff, que tinha
passado o Flster, puxou para diante para Lutzen, c fez 200 prisio-
neiros. O General Von Blucher, mandou que o corpo de exercito
acima, marchasse de Skenditz para Lutzen, pelas pontes de Leipsig
naõ estarem ainda bem completas. Durante este tempo, o General
Ton Yorck tinha marchado de Halle para Mucheln, c mandado, que
o inimigo, que tinha passado o Saale perto de Weissonfels, fosse per-
seguido pela cavallaria, e artilheria volante, a qual fez um vivo fogo
5 F2
768 Miscellanea.
sobre elle. O inimigo relirou-sc para dentro das vizinhanças <l*>
Frieliurg. No dia 21, ao romper da manhaã, os corpos de rxerrilo
dos Generais Von Langeron, e Sacken, estavam nas vizinhanças dr
Weissenfels; o iuimigo immediatamente queimou a ponte, c retirou-
se sobre Fricburg. O General Von Rlurhvr imincdiiitamentc lançon
uma ponte sobre o Saale, e ambos os corpos passaram aquelle rio.
0 General Von Yorck tinha, no meio tempo, marchado parti Qucr-
furth, para prevenir o iuimigo de estender a sua ala esquerda, e mar-
char cm diversas columnas. Nisto foi elle completamente bem suc-
cedido. Atacou o inimigo junto a Frieliurg, c depois de um mui
vivo combate de infantaria, fello fugir, com perda de 1.200 prisio-
neiros, 18 peças d'artilheria, e um grande numero de carros do trem.
A's tres da manhaã, o inimigo deixou a cidade, lie impossível de-.-
crever a confusão que reinava de fronte da cidade. Ali i animem
estendidos, acolá carroças de muniçoens, c de bagagem, c ontris car-
ruagens reviradas, umas por entre as outras, mesmo até as margem
do Unstrutt.
Entaõ o nosso exercito attravessou o Unstrutt sobre tres pontes,
entre Frieliurg, e Taucha, e eslá agora no antigo Prinripado de Er-
furth, para a capital do qual as restantes forças do inimigo se tinham
retirado todas, cm razaõ do General Von Yorck lhes embaraçar o
marcharem cm columnas separadas. O Coroti'-l Conde Ilenkel,
afFortunadamente libertou um numero de officiaes Prussianos, Htix-
sianos, c Austríacos, c 4.000 soldados, que tinham cabido nas maus
do inimigo, e fez prisioneira a forte escolta que os conduzia.
0 Ilettman Platoff, tinha tomado a estrada de Xainnberg, com um
grande corpo de Cossacos, para interceptar o inimigo ua sua reti-
rada, c o corpo do General Von Yorck ia uo seguimento delle pelo
caminho de Halle.
Montem as 8 horas, o Principe da Coroa avançou com todo o s-*u
exercito contra Leipsig, aonde o inimigo nos recebeo com um mui
vivo acrolbiineiilo d • bailas de artilheria, <• granadas, du uma bate-
ria que elle tinha reservado para o fim de estorvar uma perseguiça»
mui forte. Isto com tudo foi mui depressa feilo arroinmodar.
Coiza de uma hora antes de a cidade ser de todo evacuada, o Prín-
cipe da Coroa foi informado pelo Imperador da Russia, que o Key
de Saxonia, que estava cm Leipsig, tinha mandado um parlamenta-
rio, para se render á descripçaõ, e que so tinha pedido que se pou-
passem os habitantes, e as suas propriedades; e S. M, o Imperador
da Russia lhe tinha respondido,qu* o Rey de Saxonia podia estai
Miscellanea. 769
socegado á respeito da cidade de Leipsig, e seus habitantes, porem
que ua sua pessoa, S. M. Imperial somente via uni Principe de ani-
mo hostil. S. A. 11. o Principe Coroa f »i ao mcs'iio tempo informa-
do, de que o Imperador Napoleaõ no verdadeiro estilo de Protector
di Confederação do Rheno, havia mandado dizer ao desafortunado
Augusto, que se houvesse com os Alliados o melhor que podesse,
porque elle naõ lhe podia dar auxilio.—[Aqui se^ue-se, como os Im-
peradores da Áustria, e da Russia, o Rey de Prússia, e o Principe de
Suécia, entraram pelas difíerentes portas e se encontraram ua praça
do mercado, dando-se mutuamente os parabéns.]
Vinte c seis Generaes Francezes estaõ prisioneiros. Os principaes
saõ os Generaes llegnier, e Laurision. O Genoral Latour Matibourg
teve aqui um pé cortado fora, c ainda assim Napoleaõ o obrigou a
sair da praça, em conseqüência do qne morreo naõ longe daqui.
Tres outros Generaes Frincczes soíIVcram hoje amputação. A per-
da do exercito combinado he considerável, pore:n, ua verdade uaõ
pode ser comparada coin a total destruição de todo o exercito de
Napoleaõ. O exercito Sueco foi o que soílreo menos perda. O
numero dos carros de bagagem, c iniiiiiçocus, tomados calcula-se cm
l.jOO. Ternos cm Leipsig 23.000 Francezes doentes, e feridos, aflo-
ra 30.000 que foram tomados prisioneiros. Além das j a mencia-
nadas, focava achadas carretis de peças em grande numero, e 30.000
espingardas encaixotadas caíram cm nosso poder.—(Gazela de Slral-
sund, 28 d'Outubro.)
Lr.ipsic, 19 D'OOTUBRO.—Logo que o exercito da Silezia comple-
tou a sua reunião com o grande exercito, e que o Príncipe Heredi-
tário de Suécia, teve lançado as necessárias pontes sobre o Halle,
partiram de Schkcuditz. O iui.tiigo eslava junto de Radefeldo, e
Ledcnthal, porem a sua força naõ era conhecida.
No dia 16 d'0utu!m>, deram-se ordens para se fizer um ataque
geral sobre as posiçoens do inimigo. O grande exercito marchou
pela estrada que vai de Borna á Leipsig. O General Conde Guilay
avançou de Lutzen pela estrada de Markranstadt. A' uma hora, o
exercito da Silesia começou o ataque. O Conde Von Langeron des-
alojou o inimigo de RadcfclJc, e avançou para Breitenfeld, sobre
Grosswettcnlz. O General Vou Yorck tomou a aldea du Ledeutliaf,
e repellio o inimigo para a banda de Leipsig. Aqui acharam elles
consideráveis massas de inimigos, que se tinham postado entre Eu-
tretsch, c Mockern. Este ultimo sítio estava guarnecido por infau-
taria inimiga: foi tomado, e tornado a perder. O inimigo trouxe
40 peças de artilheria para este ponto, com as quaes protegia a sua
T70 Miscellanea.
infanteria que estava travada. O total da infanteria du «orno ( i (
Von Yorck veio por degraos ao fogo de miisc*ucteria, em quanto o
corpo do Condo Langeron tiufia tomado, perdido, c tomado a tomai
as aldeas do Grande, c Pequeno YYittcritz sob o-flanco esquerdo. (1
corpo de Sacken formava a reserva. O gencral-ein-clielc deo-lbe
urdem para avançar ; porem antes de elle chegar, o valoi das tropa»
tiuha decidido a contenda. O inimigo foi inteiramente rechaçado
em Mockern, e a cavallaria penetrou a infanteria que fugia ,
e findou a batalha com a chegada da noite junto de Eutrelsch r
Gohles, de fronte de Leipsig. Unia águia, dous pares de bandeiras,
c para cima de 2.000 prisioneiros, foram o resultado da batalha de
Mocke.-n. O Marechal Marmont coininandava o exercito iniinisro
que consistia do 4"., 6"., e 7°. corpos.
A nossa perda he considerável; vários officiaes de graduaç.-iõ per-
tenceutes ao corpo do General Von Yorck, foram feridos. \ o dia
lt (1'Outuhro, o corpo d»; General Langeron fez um movimento
contra a direita do inimigo, a qual estava formada detrás de ICn-
tretsch. O Tenente-general WasellschekofF avançou com os seu>
Cossacos, c quatro regimentos du cavallaria, entre Entretscb, •
Schonfcld, contra a linha inimiga que o recebeo com um vivo fogo
d°artilh?ria. O inimigo linha puxado cavidlario sobre o seu flanco
direito. Dous regimentos da cavallaria de WasctLschekoff lançaram-
se sobre a cavallaria inimiga que estava postada por detrar da in-
fantaria, e a ti/eram fu^ir á redea solla para os subúrbios de Leipsig,
que por delraz se giiariieeein de 2.000 peças. Aqui tra\ aram-se, c
um grande numero de infantaria c cavallaria foi passada a espada
foram tomados muitos prisioneiros, e cinco peças d'.n Irlheria.
A linha do inimigo que e-!ava posta em ordem, e em cuja relta
guarda se fez o ataque, permanecei» em niassu a pé firme, e fez uni
fogo de canhaõ para todos os lados. Os luiss.ins collocaram no
centro a artilheria que Uniram tomado, c voltaram para o meio do»
seus camaradas debaixo do fogo da mosquetaria inimiga.
Este ataque de cavallaria pode contar-sc entre os inaiK excellentes
e distinclos no curso desta campanha. O inimigo a-;ora retirou-»"
ao travez do Partha, e para o lado de Leipsig. Pela tarde, o exer-
cito do Norte juntou-se ao llanco esquerdo do exercilo da Silezia, c
recebeo-se informação do exercito principal, que o General Hennig-
seu havia de chegar a tempo de se poder atacar o iuimigo uo dia ls,
por todo* os lados.
No dia 13 ao romper da manhaã o estrondo da artilheria começou
a nm tempo, em toda a roda do exercito Francez. Segundo a» dis
Miscellanea. 77 í
posiçoens que se fizeram, o corpo do Conde Langeron devia unir-se
ao exercito do Principe Hereditário de Suécia, passar o rio Partha
nas vizinhanças de Taucha, e atacar a direita do inimigo. O General-
em-Chefe, com tudo, da posição do inimigo concluio, que naõ seria
mui difficultozo forçar o Partha junto de Mockau, e como o desfi-
lamento do exercito do Norte pela banda de Taucha, havia por isso
ser facilitado, deo ordens para o ataque. O inimigo fez pouca re-
sistência, e o corpo do General Langeron avançou sobre o Partha
para a banda de Leipsig. Estávamos nos mesmo a ponto de ataear
alguns dos regimentos de cavallaria do inimigo, quando elles deser-
taram para nos; eram Saxonios. A infantaria, e artilheria Saxonias
desertaram para o exercito do Norte. O exercito do Norte avançou
logo sobre oflancoesquerdo do inimigo, e reunio-se-Ihe o de Ben-
nigsen, o qnal tornou a juntar-se ao exercito principal, que estendia
a sua esquerda até o Elster. Pelo meio dia, o fumo dai tilheria
mostrava o concentrico progresso de todos os exércitos. Meio mi-
lhaõ de homens estava em acçaõ dentro do espaço de uma, milha
quadrada (Alemaã). O corpo do General Langeron achou o inimigo
postado sobre, e â roda de Schonfeldt, aonde elle encontrou com
uma mui forte canhonada. O General Langeron mandou atacar
Schonfeld, pela infanteria: tomou-o; o inimigo poz lhe o fogo ; reto-
mou-o, e naõ era ainda noite quando Langeron o tornou a tomar ;
entretanto, o General Sacken, para o ajudar, tinha atacado a cidade
de Leipsig, e o Rosenthal com infantaria, e por este modo repartio
as forças do inimigo. O corpo d'York esteve de reserva neste dia.
Ao principio da noite, foi o inimigo forçado a recuar de todos os
lados, de encontro a Leipsig: porem sobre a estrada de Lutzen, e
Weissenfels obteve com força superior, o fazer retirar para o Elster,
o corpo de observação do General Conde Guilay, e deixa* desempe-
dida a estrada de Lutzen.
Com esta informação, o General-em-chefe mandou marchar na
mesma tarde, o corpo do General Von Yorck para Halle, para che-
gar primeiro que o inimigo â margem esquerda do Saale perto do
Merseberg, e Weissenfels.
No dia 19 d'Ouíubro, o inimigo via-se ir em plena retirada para
dentro da cidade de Leipsig. Uma quantidade de carros do trem,
puxados para defronta de Leipsig, foram incendiados por elle. As
nove horas estava o inimigo limitado á cidade, e vimollo ir-se reti-
rando em desordem. Entaõ fez-se um ataque de todos os lados; o
inimigo defendeo-se com muita obstinação. O corpo de Von Sacken
tomou de assalto os entrincheiramentos defronte da porta de Halle,
772 Miscellanea.
e avançou mesmo para a porta; porém a posição do inimigo cm mui
vanlajoza; c dous canhoens postados na porta jogaram com inc-
tralha por tal maneira que o valor das tropas uaõ pode vencer estes
obstáculos. O General-em-chefe mandou-lhes soccorro pelo corpo do
Conde Langeron que avançou a passo ligeiro pelos prados fio longo du
Partha, e este movimento decidio a tomada da porta de Halle, a vista
do que o inimigo deixou a sua poiiçaõ cm plena fugida. 0 exer-
cito do Norte tinha assaltado a porta Alemaã, c combatia na espla-
nada. Por quatro lados os soldados da* quatro naçoens maiores da
Europa, penetraram na cidade, e fraternalmente assistiam uns aos
outros. Todas as tropas Alctnaat que se achavam na cidade se ren-
deram. Os Generaes commandantes, Regnier, e Lauriston caíram
em nosêo poder, assim como muitos outros Gunerac* e um immcnio
numero de prisioneiros, que se avalia para sima de 20.000 j 103 ca-
nhoens, e mais-dc 2000 carros de muniçoens foram tomados somente
na cidade de Leipsig. O corpo do Príncipe Poniatowski foi achado
no rio Pleiwa. O inimigo vai fugindo pelo lado de Lutzen. Ainda
se naõ pode perceber como elle pode escapar. O Imperador Napo-
leaõ, com 20..i00 homens das Guardas forma a rettaguarda.
Acaba de receber-se a seguinte noticia certa:—
Napoleaõ intentava uttravcssar o passadiço junto de Koesco, ni
tua retirada: porem achou lá Von Yorck, o qual lhe tomou 54 ca-
nhoens, e por esta razaõ foi outravíz obrigado a voltar para a direita.
Quinze mil Wirtemburguezes guuriicciain Franckfort sobre o Mcin -
espera-se ali nm segundo corpo. O Hey, que segundo noticias, tem-
se posto da banda dos Alemaens, eslá levantando o Laoüwehr, em
seus estados.
BERLIN, 20 D'OCTOURO.—O grande desposito militar Francez que
estava para ser transportado cm 40 embarcaçoens de Dresden para
Torgau caio cm nosso poder, c espera-se que chegue a Berlin, no dia
St do corrente.

Bullelins do Exercilo combinado do Norte da Alemanha.

BDLLKTIX XXII.
Quartel-general de Leipsig, 10, i'Outubro.
O rrande exercilo de Bohemia, e oi exércitos unidos du Norte da
Alemanha, da Silezia, c o do comniando do General Bcnigssen ti-
nham marchado todos para a banda de Leipsig, aonde Napoleaõ
tinha concentrado o total das suas força». Depois das memoráveis
batalhas de 16, c 18 de Outubro, a cidade de Leipsig fui tomada por
assalto no dia 19, á uma hora da tarde. O Imperador da Áustria, c
Miscellanea. 773
iia Russia, o Rey de Prússia, e o Principe Hereditário de Suécia en-
contrarem-se juntos nesta cidade. Uma conta mais particular desta
notável occurrencia guerreira, será dada sem demora.
O Imperador Napoleaõ vai em plena retirada com os restos do seu
exercilo, o qual segundo todas as contas, naõ excede o numero de
75, á 80.000 homens; e vain-o perseguindo fortemente. A crença
da sua invencibilidade está destruida. As I ropas Alemaãs, e Polacas
abandonam os seus estendartes em grande numero. A liberdade da
Alemanha, e a independência da Europa foram ganhadas em Leipsig.
A perda do exercito Francez, excede 60.000 homens, 15 Generaes
prisioneiros, entre elles, os Chefes de corpos inteiros do exercito,
Regnier, e Lauriston para cima de 15.000 prisioneiros, 250 peças de
artilheria 900 carroças de trein, e umas poucas de águias, e estandar-
tes saõ estes os resultados daquelle gloriozo dia. O inimigo deixou
á traz de si, neste sitio 23.000 doentes, e feridos.

BULLETIM XXIII.
Quartel-general de Leipsig, 21 d?Outubro, de 1813.
Os movimentos e marchas do exercito combinado, que precederam
os grandes resultados agora obtidos, tem necessariamente suspeno.do
a publicação das operaçoens, em ordem a approveitar por uma vez
o plano, e suas conseqüências.
O Imperador Napoleaõ, •vixou Dresden, em 5 de Outubro, e mar-
chou em duas columnas sobre e Meissen, uma tomando a esquerda, e
a outra a margem direita do Elbe. Chegou a Wurtzen, e féz alto.
Este movimento, que foi 4 dias tarde demais, foi fatal para o exer-
cito Francez, e destruio em 2 batalhas, o character maciço da
invencibilidade de Napoleaõ. Os exércitos da Silezia, e do Norte
da Alemanha, estavam sobre a margem esquerda do Elbe. Nem
possuíam de facto uma posição, nem uma praça forte em uma
ou outra margem . porem fortes no valor de seus soldados, tinham
formado a resolução de naõ repassarem o rio sem darem, ou recebe-
rem batalha.
O Principe Real, e o General Blucher, dezejando sair promptamente
desta precariasituaçaõ,uniram-se com oPrincipeGuilherme de Prússia,
em 17 de Outubro, om Muhlbeck, junt;> ao Mulda, e determinaram
marchar para Leipsig. O Imperador Napoleaõ, desejando passar-lhe â
diante, formou tençaõ de atacar o exercito de Silesia. Marchou
contra elle com int'*-;aõ de lhe penetrar a linha, e impediilo dt re-
gauhar a ponte r, ., elle tinha construído em VVartenburg. Este rao-
VOL. XI. No. 66. 5a
774 Miscellanea,
vimcnto foi previsto,? o exercito da Silesia passou da direita par» ;i
margem esquerda do Mulda • na noite de 10, c I l,os dous exércitos
deixaram as suas posiçoens cin Zorbig, Jessnitz, c Hadegast, em ordem
a porem-se detrás do Saale. O exercilo da Silesia marchou sobre
Halle, e o do Norte da Alemanha, marchou sobre Hotbenburg, <*
Bernburg. O Imperador Napoleaõ atônito com esta marcha, parou
o seu movimento sobre o Elbe, e despois tomou a resolução de o con-
tinuar. Tomou sobre Dessau as obras, c a ponte de Roslati, desta-
cou dous corpos de seu exercito sobre Wittenberg, e mandou que o
(iencral Tbuuien, que commandava o bloqueio da fortaleza, fosse
atacado. Aquelle general, depois de se ter defendido valorozaineote
recuou sobre o corpo do General Tauenzien, que tinha repassado o
Elbe. O iuimigo immediatamente marchou sobre Roslau, c atacou
o General Tauenzien, o qual, ua conformidade das suas instrucçoens,
fez um movimento retrogrado, para cobrir Berlin. O inimigo mar-
chou sobre Acken, com tençaõ de destruir a ponte. As tropas pos-
tadas sobre a margem direita, defenderam os approchesdc certas ba-
terias mal completas, mas foram por fim obrigados a retirar-se para a
margem esquerda do rio, e trouxeram com sigo alguns botes que
compunham a ponte ; e naõ sofreram perda. A que elles tiveram
nos encontros antecedentes nas visinh ancas de Dessau, Coswig,e Wi-
temberg, naõ montava á mais de 40(1 homens.
Tendo-se recebido noticias de toda a parte, que o Imperador Napo-
leaõ tinha ajunetado uma força considerável, entre Duben, c Witten-
berg, em ordem a desfilar ao travez daquella cidade, sobre Magde-
burg, e por-se fora da sua arriscada posição, o exercito do Norto
da Alemanha, repassou o Saale no dia 13, e marchou sobre Cuthcn,
com o destino de seguir a marcha do exercito do Imperador c de o
atacar aonde quer que o encontrasse. Tinha-se recebido noticia que
o 4°., e o 7"., corpo, do 2°. corpo de cavallaria, estavam sobre a
margem direita do Elbe, o 1 Io. em Wittenberg, c o > . em Ocssau, e
as guardas antigas, e novas, em Duben. O Duque de Ragusa eslav»
em Delitzsch. O inimigo na mesma tarde atacou a cidade de Acken.
A divisão do Principe de Hesse Homburg marchou naquella direcçaõ,
repom o General Hirsfeld tinha ja tido a boa fortuna de repellir aquella
porçaõ do 3». corpo Francez que tinha feito o ataque.
A ponte de Acken eslava ja restabelecida, c todas ai preparações
feitas para se atravessar o Eibeá viva força, quando chegaram noli-
cias que o Imperador Napoleaõ, tinha feito retroceder diversos corpos
do seu exercito, e tinha reunido as suas tropas entre Duben, c Wui t-
ren. A presença, com tudo, de dous corpos entre Dessau. e Witlc
Miscellanea. 775
berg, e Duben, féz suspeitar que elle intentava dar um grande golpe,
tendo mudado os seus planos. Porem como estava continuamente
vio-iado todos os seus movimentos eram conhecidos, e os do exerci-
to do Norte da Alemanha eram por conseqüência regulados em pro-
porção. O exercito marchou sobre Halle, no dia 15 de Outubro.
0 Imperador percebendo que elle hia para atravessar o Saale, con-
centrou o seu exercito na visinhança de Leipsig. O Grande exercilo
de Bohemia, commandado em chefe pelo Principe Schwartzenberg, ap-
proximou-se daquella cidade, ao mesmo tempo, e a situação do exer-
cito Francez tornava-se peior cada momento. Nodia 16 de Outubro,
o exercito do Norte da Alemanha, em vez de marchar sobre o Saale,
raovco para a esquerda, c dirigio a sua marcha sobre Landsberg. O
General Blucher, que tinha ja marchado sobre Schkenditz, marchou
sobre Freyroda, e Radefelde, aonde elle, no mesmo dia, atacou o ini-
migo, c o forçou a recuar para traz do Partha, depois de uma obsti-
nada peleja : e tomou nesta occasiaõ 2,000 homens, uma águia, e 30
peças de canhaõ.
Todas as informaçoens annuuciarain que o Imperador Napoleaõ,
havia de atacar, no dia seguinte, o exercito da Silezia com a maior
parte das suas forças unidas. O exercito do Norte da Alemanha pos-se
em marcha no dia 17, pelas 2 da manhaã, da sua posição em Lands-
berg, echegou mui cedo aos altos de Breitenfeld, aonde se accampou
O dia estava socegado. Na manhaã seguinte, o Principe William de
Prússia e o General Blucher reuniram-se ao Principe Real; Sua Al-
teza Real foi informado de que o exercito da Bohemia havia de ata-
car o inimigo naquelle dia, eelle resolveo-se a tomar uma parte vigo-
rosa no ataque. Concertou com o General Blucher, que o exercito
do Norte havia de proceder sobre Taucha, para formar, pela esquerda,
a juneçaõ com o exercito do General Bennigscn, e que o corpo do
General Conde Langeron, havia de obrar durante o dia, debaixo das
ordens de Sua Alteza Real. Poucos momentos despois, ouvio-se
uma canhonada na direcçaõ do exercito da Bohemia, c as tropas
marcharam em ordem a passar o Partha. O corpo do General Bu-
low, e a cav -diária do General Winzingerode, que formavam a ex-
tremidade da esquerda, avançaram sobre Taucha. O exercito Rus-
siano, cuja guarda avançada era commandada pelo Tenente-ge-
neral CondeWoronzorfF, vadeeu acorrente, perto de Grasdorf. O
exercito Sueco passou entre aquelle sitio, e Plausig: ja ua tarde prece-
dente o General Winzingerode tinha feito occupar Taucha, e tomou
neste sitio tres oíHciacs, e 200 homens. O inimigo, comtudo. perce-
bendo toda a importaucia daquelle ponto, tinha desalojado os Cos-
5 G 2
776 Miscellanea.
sacos, e occnpado a aldéa com força considerável. O General Pah.
len, valorosamente sustentado pelo Coronel Arnoldi, da artilharia
a cavallo, que perdeo uma perna nesta occasiaõ, teve um brilhante
ataque, tomou a aldea,cercou dous batalhoens Saxonios que lá cita-
vam, e feios prisioneiros. A cavallaria entaõ avançou, e concluio a
juneçaõ com a guarda avançada do General Neipperg, que formava
parte de uma divisão Austriaea, commandada pelo General Conde
Bubna, pertencente ao exercito do General Bennigsen. 0 Hettinan
Platoff chegou ao mesmo tempo com os seus Cossacos, e poucos mo-
mentos despois Sua Alteza Imperial, o Gram Duque Constatitino. 0
iuimigo que tinha abandonado a aldeá de Paunsdorff, ataceu-a ou-
travez vigorosamente, com infantaria, e varias baterias. 0 corpo
do General Bulow, que justamente acabava de subir, foi mandado
atacar aquella aldea. Foi tomada com grande valentia: o inimigo
começou uma viva canhonada; diversas baterias Russianas, • Prus-
sianas lhe corresponderam, e cobriram-se de gloria. A cavallaria
Russiana, com o General 0'R»urke, Manteufel, Pahlen, Bekendorff,
e Ch.-stak á sua frente, esteve varias horas exposta a um fogo de 100
peças de artilharia, com o mais determinado desprezo da morte, o
que fez desmaiar o inimigo. Pelas tres horas começou elle a desfilar
as suas massas, das aldeas de Sellershausen, e VolkmersdoríT. O Prín-
cipe Real ordenou quea cavallaria Russiana atacasse: o movimento
do inimigo afrouxou,perdeo 4 peças de canhaõ,e reentrou nas aldeai.
Poucos momentos despois, o General ManteuíHe foi ferido com ama
baila de canhaõ, de que despois morreo. Este completo official he
geralmente chorado.
As nossas columnas iaõ marchando sobre Leipsig, qnando podero-
sas massas do inimigo foram vistas desembocar, entre Molka, c F.n-
glesdorff, ameaçando fianquear a nossa esquerda. O General Blucher
que casualmente estava postado defronte da aldea de Stelteritz, man-
dou mover em frente ás suas tropas, o que foi executado pelo General
Conde Neipperg, e assim, o inimigo estava colocado na presença de
sua divisão. Um official de artilheria Saxonio, tiuha ja passado para
nos 10 peças de canhaõ. As tropas postadas naquelle ponto, naõ
pareciam muita* em numero: foi necessário reforçadas. O Príncipe
de Hesse Horaburg foi mandado avançar para lá, e elle executou esti-
mo vimerito cora a precisão, e regularidade de uma parada. O Ge-
neral Bulow atacou, e tomou as aldeas de Stuntz, e Sellershausen, ai
quaes estavam fortemente occupada», e protegidas com artilheria
A resistência foi obstinada, as tropas Prussianas sustentaram-tc lá du-
rante a noite, em despeito dos repetidos esforços do inimigo. F.ste
Miscellanea. 777
ataque decidio os resultados do dia daquella parte. 0 inimigo, com-
tudo, continuou a avançar sobre a nossa esquerda, em ordem a demo-
rar a nossa marcha sobre Leipsig. Como naquella direcçaõ havia
falta de artilheria, o Principe Real dirigio o General Rnssiano Baraõ
de Wit, a convidar, da sua parte, o official commandante das baterias
Saxonias, para que lhe emprestasse o uzo da sua artilheria, ate che-
garem as baterias do exercito, que estavam detidas nos desfiladeiros
Este official, que ja tinha servido debaixo do commando do Priucipe,
appresiou-se a obedecer-lhe, e as 10 peças intentadas pouco antes
para consolidar a escravidão da Alemanha, foram despois applicadas
para assegurar a sua independência. Este exemplo deveria provar ao*
conquistadores, que o terror que elles inspiram, termina cora o poder
que o creon. O Coronel Diedericks commandante da artilheria Rus-
siana, unido ao General Bulow, fez grandes serviços nesta ocasião
0 Capitão Bogu« commandante da companhia de fogueteiros Ingleza
assignalou-se da mesma maneira. Este bravo official foi morto, e he
geralmente lamentado. Os foguetes produziram o mais decidido ef-
feito. 0 inimigo, no meio tempo, mandou sair um mui considerável
corpo, de Leipsig, pela sua esquerda, o qual marchou contra o Gene-
ral Conde Langerou. Este general, que com suas tropas tinha mos-
trado grande valor na tomada da adea de Shonfeld, achou qoe era
necessário apoiar o General, Conde de St. Priest, que naõ tinha arti-
lheria. Viste peças Suecas debaixo das ordens do General Cardel
chegaram à todo o gallope: o ponto foi assegurado, e o inimigo, por
meio de um vivo, econtiunado fogo, obrigado a fazer uma precipi-
tada retirada.
Chegando entaõ a noite, poz-se o exercito em vigia. Os gene-
raes Suchtelin, Stewart, Vincent, Pomo di Borgo, e Krusemark,
estiveram por va.-ias horas, expostos áo fogo mais violento. O pri-
meiro teve um cavallo morto. Pelas 5 da manhaã seguinte, tendo-
se o iuimigo retirado de Volkmersdorff, para dentro dos subúrbios,
de Leipsig, o 1'rincipe Real ordenou áu General Bulou que tomasse
a cidade; e este mandou áo Principe de Hesse Homburg, que fizesse
o ataque: a divisão do General Borstell foi destinada para o apoiar.
A porta éra protegida por uma palissada, e os muros estavam cheios
de seleiras; naõ obstante isto as nossas tropas forçaram o ca-
minho até dentro das ruas a tempo que o Principe de Hesse Hom-
burg foi ferido por uma balia * o inimigo tendo oecupado todas as
cazas, fez-se o conflito mui violento, e esteve indecizo por algum
tempo. Um reforço de 6 batalhoens Suecos, que tinha chegado com
uma balaria, féz um serviço essencial. O Major Doblenfoi morto ;
778 Miscellanea.
bc uraa grande perda para o exercito. A artilharia Sueca foi dirj.
gida pelo Major Edenhelm, que foi gravemente ferido: o General
Burstcll tomou o commando no lugar do Principe de Hesse Hom-
burgo : elle chegou com tropas frescas, a cidade foi conservada, e
quem do inimigo se naõ quiz render foi passado a espada. Cinco
batalhoens de caçadores Russianos da guarda avançada do General
Woronzoff, tinham no meio tempo avançado para apoiar as tropas
Prussianas, e Suecas, no ataque da cidade. 0 regimento 14 de ca-
çadores, commandado pelo Coronel Krasowski, tomou a porta cha-
mada Das Grimmische Thor, e tomou diversos canhoem. 0 Gene-
ral Baraõ Aldercrutz, esteve em todo a parte aonde o perigo éra
maior, annimando as tropas pelo seu valoroso exemplo.
Como o inimigo foi o obrigado á fazer a sua retirada pelos desfila-
deiros de Plejssa, a bagagem, canhoens, e tropas, apertavam-se era
confusão ao longo das passagens estreitas que lhes restavam abertas,
e que fôram em breve suffocadas pela sua geral desordem. Nenhum
pensava senaõ de se escapar. As guardas avançadas do exercito da
Silezia, e de Bennigssen, entraram quazi áo mesmo tempo pelas ou,
trás portas da cidade.
O Imperador da Áustria, e o da Russia, o Rey de Prússia, c o
Principe Hereditário de Suécia, encontrarem-se em Leipsig depois
desta brilhante victoria.
Os resultados das batalhas de Leipsig, saõ immensos, e decisivos.
Ja no dia 13, o Imperador Napoleaõ tinha começado a por o seu ex-
ercito em retirada pelas estradas de Lutzen, e Weissenfels. Elle naõ
retirou a sua pessoa daquelle sitio até ás 10 horas da manhaã do dia
19. Sabendo que um fogo de mosquetaria tinha ja commeçado á
porta de Ranstadt, para a banda de Lutzen, foi obrigado a sair pela
porta de Pegau Os exércitos Alliados tinham tom ido | j Generaes,
e entre elles o General Regnier, e Lauristnn que coinm.inilavain cor-
pos de exercito. O Principe Poniatowski foi afogado, einprchen-
dendo attravessar o Elster. O corpo do General Dumoiircsticr,
Chefe de Estado-Maior do corpo 11°. foi achado uo rio, c mais de 100
homens foram afogados nelle. O Duque de Bassano, eicapou 4 pé.
O General Ney suppoem-sc que foi ferido. Mais de 250 peças de
canhaõ, 900 caixoens, e acima de 15.000 prisioneiros tem caidu nas
maõs dos Alliados, e varias águias, e bandeiras. O inimigo aban-
donou aqui mais de 23.000 doentes, c feridos, com todo o estabeleci-
mento do Hospital. A perda total do exercito Francez deve montar
á perto de 1)0,000 homens. Segundo todos os calculus, o Imperador
Napoleaõ naõ pôde salvar do desastre geral, mais de 75, á 80,00»;
Miscellanea. 77&
homens. Todos os exércitos Alliados, cstam em marcha na persc-
guimento delle, e a cada momento cstam chegando prisioneiros, ba-
gagens, e artilheria. As tropas Alemaãs, c Polacas desertaram dos
estandartes, em bandos • e tudo annuncia que a liberdade da Ale-
manha foi conquistada em Leipsig.
Naõ se pode conceber, como um homem que tem commandado em
30 batalhas regulares, e que se tem feito famoso por gloria militar,
appropriandoá si todo o mérito dos antigos Generaes Francezes, tenha
sido capaz de concentrar o seu exercito em uma posição taõ pouco
favorável como aquella em que elle o collocou.
O Elster, e o Pleissa na rettaguarda, um terreno pantanozo para
attravessar, e tam somente uma única ponte para passarem 100,000
homens, e 3,000 carros de bagagem. Todos preguntaraõ, he este •
grande Capitão que até agora tem feito tremer a Europa ?

Exercito Alliado na Peninsula.


LONDRES REPARTIÇÃO DA GUERRA, 9 DE NOVF.MUHO.
Lord Harthur Hill chegou esta manhaã com officios do
Marcchal-de-Campo Marquez de Wellington, para o Conde
Bathurst, datados de Vera, 1 de Novembro, dos quaes o se-
guinte saÕ extractos:—
Vera, 1 de Novembro, de 1813.
Nada de importância tem accontccido na linha depois da
ultima vez que escrevi a V- S.
A guarniçaõ inimiga de Pamplona, propoz z D. Carlos
d'Espanha, de se render no dia 26, debaixo das condiçoens:—
I o . Que se lhe havia de conceder o marchar para França com
seis peças de canhaõ; e 2 o . Que se lhe havia de conceder o
marchar para França, com promessa de naõ servir contra os
alliados durante um anno, e um dia. Todas estas condiçoens
foram rejectadas por D. Carlos d'Espanha, e foi lhes ditto que
elle naÕ tinha ordem para lhes acceitar capitulação em ter-
mos alguns, que naÕ fossem, o entregarcm.se prisioneiros de
guerra: ao que elles declararam que nunca se haviam da
sujeitar.
Vera, 1 de Novembro, de 1818.
Depois que escrevi a V. S. esta manhaã, recebi uma c?.rtade
D . Carlos d'£spanha, da qual envio copia, cm que me annuncia
o rendimento da fortaleza de Pamplona, por capitulação, fican-
780 Miscellanea.
do a guarniçaõ prisioneira de guerra: por cujo accontecimento
pesso licença para dar os parabéns a V S. Eu naÕ posso ap.
plaudir sufficientementc o comportamento de D. Carlos d'Kspa.
nha, c o das tropas debaixo do seu commando, duraitc o
periodo cm que elle commandou o bloqueio, que he, desde c
principio de Agosto. Em todas as sortidas que o inimigo fez,
foi rechaçado com perda; e o general, officiaes, e tropas tem-sc
comportado bem cm todas as occazioens. D. Carlos d'Kspanht
foi mui mal ferido no dia 10 de Septembro, como referi no meu
officio de 19 daquelle méz -, porem tendo dado parte de que
estava prompto para continuar o exercicio das suas obriga.
çoens, pareceo-me justo pertniltir.lhe o continuar no com.
mando, cujos deveres até aquelle momento tinha executado
d'uma maneira taõ satisfactoria; e muito folgo que lhe cahisse
em sorte o ser o instrumento que restaurasse á Monarchia IIi s
panhola, uma fortaleza de tanta importância como Pamplona,
Como naÕ recebi ainda a minuta rJvi termos da capitulação
espero poder remettellos, para a primeira occasiaõ.
(Traducçaõ.)
EXCELLENTISSIMO SENHOR,—Seja dada gloria a Deus, e
honra aos triumphos de V. E. nesta sempre memorável cam-
panha.
Tenho a honra, e a grande iatisfacçaÕ de dar a V. E. oi
parabéns pelo rendimento da fortaleza de Pamplona, cuja capi-
tulação, depois de ter sido assignada pelos officia*s superiores
munidos com meus poderes, e pelos delegados do General Com-
mandante da Praça, agora acab« Jc ratificar, em virtude da
authoridade que V. E. me conferio. A guarniçaõ fica prisio-
neira de o-uerra, como V E. tinha determinado d.sde o prin-
cipio e ha de marchar á manhaã ás duas da tarde, em oi dom a
ser conduzida ao porto de Passages. As nossas tropas oecupam
uma das portas da cidadela, c as Francezas, a praça.
Datado do Campo de fronte de Pamplona, 31 d'Outubro, d«
1 8 1 3
- , . , ir •
Deus guarde a preciosa vida de V. £•.
(Assignadu) CARLOS ESPANHA.
Jo S. Ex*. Marechal Duque de Uudad Rodrig:
Aliiccllaiiea. 781
IISNDRES.—SECRETARIA DA Gitr.r-.HA, 19 DE NOVEMBRO, DE 1813.
Um officio, do qual o seguinte lie extracto foi hoje recebido na Se-
cretaria do Conde Batluio.', dirigido a S. S. pelo Feld Marechal Mar-
quez de Wellington, tintado de Vera S de Novembro, de 1813.
Tenho a honra de enviar a copia da capitulação i*al;uarniça3 de Pam-
plona. Nada de importância tem oci-onido na linha despois que eu es-
crevi á V. S. no primeiro ;;.> corrente; nem tenho ouvido coiza alguma a
respeito do General Clinlon.
Olficio do Irene ra? d' Hespanha.
Tenho a honra de vos transinittir. para ser apprczentada á Sua Excelên-
cia o Coinuiaiidante em Chefe dos Exercito» Nacionaes, a capitulação con-
cedida á guarniçaõ da cidade, e cidadela de Pamplona, nos termos pre-
scriptos pela ordem de S. E. o Cornirandante em Chefe. Naõ me-tem
sido possivel trnnsmiltir-volla, antes, por me ter sido necessário o retella
para fazer cumprir as suas condiçoens. Também incluo um certificado o
qual eu exigi do Cabeça da Administração Civil da Praça, antes de come-
çar a tractar com o inimigo, em ordem a eu poder estar seguro que nenhum
dos habitantes tinha morrido por mau tractamento, ou necessidade, durante
o bloqueio. (Assignado) CARLOS DE HESPANHA.

O General de Brigada Cassan, Baraõ do Império, Membro da Legiaõ


de Honra, Governador da Praça, e Cidadela de Pamplona, da parte de S.
M. Imperial e Real Napoleaõ; e o Marechal de Campo Don Carlos
d'Hespanha, cavalleiro da Ordem de St. Joaõ de Jerusalém, Commandante
em Chefe das tropas Hespanholas, e alliadas que formam o bloqueio da
ditta cidadela, e praça, tem nomeado para discutir, e decidir sobre os ar-
tigos de Capitulação, segundo os termos porque a praça, e cidadela deve-
rão ser entregues ás dittas tropas, á saber
O Major-general Cassan nomea o Ajudante Commandante L. de Mau-
une, Baraõ do Império, Membro de Legiaõ de Honra, Chefe do Estado-
maior ; c Don Carlos d "Hespanha nomea o Baraõ Don Francisco D. Vives,
commandante-general do terceiro destricto da linha do bloqueio ; o Coro-
nel Goldfinch, do serviço de S. M. Britannica, e o coronel D. Ventura
Mina, Chefe do Estado-maior da segunda divisão do quarto corpo do e x -
ercito Hespanhol.
Estes officiaes tendo-se ajuntado entre os postos avançados da praça, e
ss das tropas do bloqueio, no sitio do Hospital de St. Pedro, e tendo tro-
cado seus respectivos poderes, tem, hoje 30 de Outubro de 1813, concor-
dado sobre os seguintes artigos, sujeitos as ratificaçoens de seus respectivos
Generaes.
ART. 1°.—A guarniçaõ marchará para fora da praça com as honras da
guerra, áfimde marchar para França, e será escoltada até os postos avan-
çados do exercito Francez, por um destacamento do exercito Alliado.
Resposta.—A guarniçaõ Franceza sairá da praça com todas aj honras d»
VOL. XI. No. 6ü. íu
782 Miscellanea.
guerra, deporá as armas, bandeiras, e águias, a 300 varas de distancia da
estacada, entregar-se haõ prisioneiros de guerra áoj exércitos HespanSor*.,
e Alliados, e marcharão para o porto de Passages, para alli embarcarem,
e serem levados a Inglaterra.
Os officiaes commandantes da escolta da guarniçaõ tomarão na marcha
todos os meios necessários para assegurar o preenchimento dos artigos da
capitulação á respeito de todas as pessoas concernentes.
2 o .—Os subalternos, e soldados conservarão as suas mochila», e os ofli.
ciaes as suas espadas e bagagem.
Resposta.—Concedido, com a condição qne a praça, t a cidadela seraõ
entregues sem que se lhes tenha feito injuria alguma, e que tu balai, r toilm
as muniçoens que ficarem, deverão ser achadas sem que tenham soBrido
damno algum, e que seraõ lá deixadas provisoens para tres dias. Se fita-
rem algumas minas nas obras da cidadela, a pólvora com que ellas estive-
rem carregadas, será extraída antes da entrega da praça. Concedido tam-
bém em consideração á que naS ha duvida alguma de que a gunrniraft
Franceza se tem comportado honradamente para com ns habitantes da ci-
dade durante o bloqueio.
3°.—Os officiaes de saúde, e outros empregados no exercito Francez,
seraõ tractados como a guarniçaõ e gozarão as mesmas vantagens.
Resposta.—Concedido, e elles podem ser propostos pelo Marquez de
Wellington, Commandante em Chefe dos exércitos Alliados, áo General em
Chefe do exercito Francez, em troca por Hespanhoes, e principalmente os
de Navarra, qne estaõ detidos em França como prisioneiros.
4<>a Os militares que tem sotrrido amputação, e todos os quo nnõ estam
em estado de servirem voltarão para França logo que possam supportar a»
fadiga* da jornada.
Resposta.—-Ficarão prisioneiros de guerra, até que sejam trocadus, r
seraõ tractados como o resto da guarniçaõ.
5« Os doentes no hospital, seraõ tractados com todo o cuidado devido
a sua situação; ficarão com elles officiaes de saúde, e infermeiros em nu-
mero sufficiente, e logo que estejam perfeitamente recobrados, ellei, e ai
pessoas que ficarem com elles seguirão o destino da guarniçaõ.
Resposta.—Concedido.
6„ o exercito alliado provera o numero de carroças, cavallof, ou mu-
las necessário para a transportaçaõ da bagagem, e do» invalido».
Resposta. Concedido, a respeito do qoe poder ser providenciado pelo
paiz.
1«.—Hospedaria, e provisoens, seraõ fornecidas ái tropas da guarniçaõ
nos sitios de paragem íegundo os arranjos, e á custados exércitos Alliados.
8».—Como os militares da guarniçaõ entejam muito enfraquecidos, em
conseqüência das privaçoens que tem soffrido, as paragens em sua marcha,
leraõ o menos distantes que possivel fôr.
Resposta.—Conced ido.
Miscellanea. 783
9°.—Todos os Francc/cs (naõ combatentes) que estiverem a este mo-
mento na cidade de Pamplona, naô deverão ser considerados prisioneiros
de guerra; e dar-se-lhes-ha licença para voltarem para França.
Resposta.—Esses podem ser propostos em troca por Hespanhoes da ad-
ministração civil, que eslani retidos cm F r a n ç a , e especialmente, por ha-
bitantes de Navarra.
10".—Passaportes para voltarem para França, seraõ dados a todos os
velhos para cima de 60 annos de idade, ás mulheres, e creanças dos mili-
tares, e outros empregados no exercito Francez.
Resposta.—Este artigo, deve ser ti-.in-.miilido, e particularmente recom-
dado pelo General commandante do bloqueio á S. E. o Commandante em
Chefe, o Duque de Ciudad Rodrigo.
II".—Os Hespanhoes, e Francezes que tem residido em Hespanha antes,
ou despois de 1808, e que despois deste periodo tem servido ein algum em-
prego civil, naõ seraõ em nenhum modo molestados, nem elles. nem suas
familias, cm suas pessoas, ou propriedade, por conta de suas opinioens, ou
da parte que elles podem ter tido. As famílias de taes entre elles, que no
decurso do méz de Junho passado, tiverem seguido o exercito Francez,
receberão protecçaõ para si, e para a sua. propriedade.
Reposta.—Essas pessoas ficarão debaixo da protecçaõ das Leis do Go-
verno Hespanhol
12°.—Os officiaes prisioneiros de guerra sob palavra em Pamplona, naõ
ficando livres pela prezente capitulação, naõ lhes será permittido servi-
rem contra á França, ou seus Alliados até que sejam regularmente trocados.
Resposta.—Todos os officiaes de qualquer graduação que sejam,achados
sob palavra, ou prezos na fortaleza de Pamplona seraõ entregues sem con-
diçoen-i, áo General Commandante do bloqueio ; por ser matéria de di-
reito, que todas as pessoas militares tem a sua liberdade, quando saõ acha-
dos cm uma fortaleza de que toma posse um exercito da naçaõ á que elles
pertencem.
13°.—Seraõ nomeados de ambas as partes Commissarios p a r a a entrega
e receita de todas as coizas concernentes á artilheria, a repartição dos in-
ginheiros, e á administração geral.
Resposta.—Concedido : todos os planos pertencentes á fortaleza, assim
como todos os outros papeis públicos, seraõ fielmente entregues áo Com-
missario Hespanhol pelo Commissario da fortaleza.
14°.—O General, Governador da fortaleza, terá a escolha de inviar de
Pamplona um official, pelo caminho mais perto, á S. E. o General em
Chefe dos exércitos Francezes, em ordem á transmittii-llie a prezente ca-
pitularão, e expor-lhe as razoens delia.
Similhante official deverá ser fornecido com uma escolta sufficiente p a r a
a sua segurança pessoal, até os postos avançados do exercito Francez, e
naõ será considerado como prisioneiro de guerra.
Resposta.—-Concedido, um official que naõ seja acima de Capitão ;
5 H 2
784 Mifceliiinefi.
deve ser considerado como prisioneiro de guerra soh palavi.i, este bl - r , (r .„
cado ; o que pode logo fazer-se por um olficial do exercito Hespanhol, d,.
igual g r a d u a ç ã o : todos os officios de q*ie elle for encarregado, dever.1(J
ser abertos
15»,—Logo que as ratificaçoens forem trocadas, commissarios nomcailn-,
na conformidade do artigo 13 da presente capitulação, seraõ admiltido,
dentro da fortaleza a fim de executarem a sua missaõ. No mesmo dia e
immediatamente depois da trocadas ratiiicaçocns, destacamentos d is lio.
p a s bloqueanlcs occuparaõ a porta do Soccorro, a da cidadela, e n Fort,-»
de França, da cidade: e para evitar desordem, e confuzaõ, as tropas hio-
queantes naõ entrarão na praça, c cidadella até que as tropas Fraiiccziis
tenham saido.
Resposta.—Concedido.
16".—A guarniçaõ evacuará a praça no 1». de Novembro, ás '2 horas P.
M . , pela Porta Nova.
Resposta.—Concedido.
17°.—Deve-se entender distiuctainentente, que a guarniçaõ de P-i-n-ilo-ia
deverá gozar de todas as vantagens qm* podesem ser aftí.inçail.is por ma
armistício, que tenha sido conclui.Io, entre S. Al. o Impei adore Re-, e a;
potências alliadas, prévio áratificação da presente capitulação.
Resposta.— Recuzado.
18°.—Se alguma discussão se levantar no perenrhiineiito dos artigos da
prezente capitulação, a int. rpretaçaõ será sempre á favor da guarniçaõ.
Resposta.—Concedido.

Condiçoens impostas d GuarniçaS pelos OJidaes Cimmandantesdo» Attiadm.


Nenhum Hefpanhol, seja de que se\o, ou classe fYir, poderá seguir a
guarniçaõ Franceza ao seu destino; e todos assim civis, como militares
ficarão debaixo da protecçaõ das leis.
Resposta.—As pessoas aqui designadas, naõ receberão da giiajiiiraõ, f.t
cilidade para sairem de seu paiz.
Todos os prisioneiros de guerra, sem excepçaõ alguma, c todos oi deter-
iores pertencentes aos exércitos Hespanhoes, e Alliados, seraõ entregues
ás dittas tropa» alliadas, sem troca, logo que a capitulação for ratificada.
Resposta.—Os prisioneiros de guerra contidos neste artigo, seraõ entre-
trues aos exércitos alliados, assim como lambem os descrlore» se ulguns
houver.
O empréstimo forçado, de vinte mil duros, levantados nobre o. habitantes
durante o bloqueio (os fundos do qual foram applicados para o pagamento
das tropas da guarniçaõ) naõ sendo rcrobravel por estar o paiz ou upadu
oelosexercito- Alliados, devera ser reconhecido coaio um credito de H<-«-
p.iiiha, sobre o Governo Francez, e será levado em conta, quando cm uma
p a i «*« interesses das duas naçoens forem uccomodados.
Ke.-posta. S e n mui fácil de accomodar a questão, quando aj duas na-
Miscellanea. 785
i(>ens tratarem sobre os seus respectivos interesses; outro tanto se deve á o
Governo Francez por conta dos atrazados das contribuiçoens de N a v a r r a ;
c a mesma cidade, , muitos dos habitantes de Pamplona, deviam junta-
mente, em o primeiro de Janeiro do presente anno a soma de trezentos e
trinta mil, seis centos, c quatorze realles de vcllou.
As prezentes feitas em dua3 copias defronte de Pamplona, o dia, mez, e
anno, da forma abai xo, e a>s':gnados Fiancisco Uionizio Vives. Baraõ L.
de Maiicune, W. Goldlincli, Capitão dos Reaes Engenheiros, e o Tenente-
coronel Ventura de Atena. A prezente capitulação ratificada cm todas as
suas partes, em Pamplona, aos 31 de Octubro, de 1813. O General Go-
vernador da cidade e cidadela de Pamplona. BARAÕ DE CASSAN.
A prezente capitulação approvada, e ratificada pelo abaixo assignado
Marechal de Campo do* Exércitos Nacionaes de Hespanha, Cavalleiro d a
Real Ordem Militar de St. Luis, e de St. J o a õ de Jerusalém, Comman-
dante do bloqueio de Pamplona, em virtude da auctoridade do Marechal-
general o Duque de Ciudad Rodrigo, General em Chefe dos Exércitos Na-
cionaes, e Alliados de Hespanha.
Campo de fronte de Pamplona, 31 de Outubro, de 1813.
(Assignado) CARLOS D'HESPANHA.
(Copia fiel) L. WIMPFEN.

Eu, Don J o z é Joaquim Foncella.'1, Presidente da Municipalidade de


Pamplona, certefico, que o Brigadeiro Don Francisco Dionizio Vives, o
Coronel Goldfinch, e o Coronel Don Ventura de Mena, officiaes nomeados
pelo Marechal de Campo Don Carlos d'Hespanha, commandante em chefe
da direita da linha do Bloqueio, tendo comparecido diante de mim, e re-
querendo-me que eu houvesse deattestar qual tinha sido a conducta da gu-
arniçaõ Franceza durante o bloqueio, eu explanei lhes, que á respeito do
povo, tinha sido conforme á boa disciplina, e q u e as providencias dadas
pelo Governador, durante a escacéz, que perdominou em conseqüência do
bloqueio, naõ occazionou a morte de algum habitante.
Km ordem a que isto possa valer aquelles á quem respeitar, dou a pre-
zente no Convento de St. Pedro ein 30 de Octubro, de 1813.
(Assignado) O M A R Q U E Z DE FONCELLAS.
(Copia fiel) A. WIJIPFEN.

FRANÇA.
Noticias officiaes do Exercito na Alemanha.
30 D"OUTUBRO.—S. M. a Imperatriz, Raynha Regente, recebeo a s e -
guinte noticia da situação dos Exércitos, aos 4 de Outubro :—
O General Conde Lefebvre Desnouettes foi atacado, aos 28 de Septem-
bro, ás 7 horas da manhaã, em Altenberg, p o r 10.000 cavallos, e 3.000 in-
fantes. EUe effectuou a sua retirada diante de forças mui superiores; fez
786 Miscellanea.
alguns ataques lindos, e causou grande damno ao inimigo. Elle perdeo300
de sua infanteria e chegou ao Saale. O inimigo éra commandado pelo
Hetman Platow, e pelo General Thielman. O Principe Poniatowski mar-
chou aos 2 para Altenberg por Nossen, Waldheim, e Colditz, derrotou o
inimigo, tomou mais de 400 prisioneiros, e o repulsou para a Bohemia.
Aos 27 o Principe de Moskwa tomou posse de Dessau, que uma divisão
Sueca occupava; e repulsou aquella divisão para a cabeça de ponte. No
dia seguinte chegaram os Suecos, e retomaram a cidade. O General Ouil-
leminot os deixou avançar até tiro de metralha ; desmascarou entaõ as suas
baterias, e os repulsou, com perda considerável.
Aos 3 d'Outubro, o exercito inimigo da Silezia marchou por Konigs-
bruk e Elsterwerda para o Elster, lançou uma ponte na curvutura do Elbe,
em Wartenberg, e passou ali aquelle rio. O General Bertrand foi postado
em nm istbmo, e excellente posição cercada de pântanos. Entre as 9horas
da manhaS e 5 da tarde, fez o inimigo 7 ataques e foi sempre repulsado •
e deixou 600 mortos no campo de batalha; a nossa perda foi de SOO homens
mortos e feridos. Esta grande differença foi devida á bondade da posição,
que occupavatn as divisoens de Morand e Fontanelli. Pela tarde, o Ge-
neral Bertrand, vendo que desembocavam novas forças, julgou conveniente
effectuar a sua retirada, e tomou uma posição no Mulda, com o Principe
de Moskwa.
Aos 4, o Principe de Moskwa estava em Doelitz, na margem esquerda
do Mulda. O Duque de Ragusa, e o corpo de cavallaria do General La-
tour Mauburg, estavam em Eulenberg. O terceiro corpo eslava em Tor-
gau; 350 partidários, commandados por um Major-general Russiano,
tinham marchado para Mulhausen, e sabendo que a cidade de Cassei estava
sem tropas, tentaram surprender-lhe as portas. Elles foram repulsados -
porém no dia seguinte, tendo-se debandado as tropas Westphalianas, os
partidários entraram em Cassei. Elles entregaram tudo ao saque, e reti-
ráram-se passados alguns dias. El Rey de Westphalia se tinba retirado
para o Rheno.

S. M. a Imperatriz Raynha Regente recebeo a seguinte noticia da situa-


ção dos exércitos aos 15 dOutubro :—
Aos 7 o Imperador sábio de Dresden; aos 8 pernoitou em Wurtzen, aos
9 em Eulenburg, e aos 10 em Duben.
O Exercito inimigo de Silezia, que tinha marchado para Wurtzen se re-
retirou immediatamente, e tornou a passar para a margem esquerda do
Mulda; o nosso teve algumas acçoens, nas quaes fez alguns prisioneiros, e
tomou vários centos de carros de bagagem.
O General Regnier tinba marchado para Wittenberg e tendo passado o
Elbe marchou para Roslau,flanqueouaponte de Dessau, tomou-a, e mar-
chou para Aken, e tomou ali posse da ponte. O General Bertrand mar-
chou para as pontes de VVartenburg, e se apossou dellas. O Principe de
Miscellanea. 787
Moskwa marchou para a cidade de Dessau, e se encontrou com uma divi-
são Rassiana. O General Dumas a derrotou, e tomou-lhe 300 homens, e 9
peças dartilheira. Vários correios de gabinete, com importantes cartas
foram aqui tomados ; entre elles se acha o Sieur Kratt.
Depois de ter assim tomado posse de todas as pontes do inimigo, éra a
intenção do Imperador passar o Elbe, manobrar na margem direita,desde
Hamburgo até Dresden; ameaçar Potsdam e Berlin, e tomar Magdeburg
por centro das operaçoens, e para este fim tinha Magdeburg sido supprida
com muniçoens de guerra, e mantimentos. Porém aos 15, soube o Impera-
dor, em Duben, que o exercito Bávaro se tinha unido ao exercito Austría-
co, e ameaçava o Baixo Rheno. Esta inccrivel desersaS, fez com que
se previsse a desersaõ de outros principes, e induzio o Imperador a tomar
a resolução de voltar para o Rheno, penosa mudança; porque tudo estava
preparado para obrar sobre Magdeburgo: porém teria sido necessário
ficar separado, c sem communicaçaõ com a França, pelo espaço de ura
mez: isto naõ éra conveniente ao momento em que o Imperador fixou os seus
planos; porém o caso ja naõ éra o mesmo; visto que a Áustria faa ter á
sua disposição dous exércitos de novo ; o exercito Bávaro, e o exercito
que se oppunha ao Bávaro. O Imperador, por tanto mudou os seus planos
com estas imprevistas circumstancias, e mudou o seu quartel-general para
Leipsic.
No entanto El Rey de Napoies, que ficou em observação em Freyberg,
recebeo ordem, aos 7 de mudar a sua frente, e marchar para Genig e Froh-
burg, obrando sobre Wurtzen e Wittenberg. Uma divisão Austríaca, que
occupava Augustenberg, fez este movimento difficultoso, EI Rey recebeo
ordens de a atacar; elle a derrotou, tomou vários batalhoens, e ao depois
effectuou o seu movimento para a direita. No entanto a direita do exer-
cito inimigo de Bohemia, composta do corpo Russiano do General Witt-
genstein tinha marchado para Altenberg, quando recebeo a noticia de que
o Rey de Napoies tinha mudado de frente. Marchou para Freyberg, e ao
depois pela esquerda de Bania, colocando-se entre El Rey de Napoies e
Leipsic. El Rey naõ hesitou sobre a manobra que devia fazer; fez uma
conversão, e marchou contra o inimigo, derrotou-o, tomou lhe 9 peças
d'artilheria, 1.000 prisioneiros, e expulsou-o para alem do Elster, depois
de lhe ter causado uma perda de mais 4 para 5.000 homens.
Aos 15 a posição do exercito era a seguinte:—O quartel general do Im-
perador estava em Reidnitz, a meia légua de distancia de Leipsic. O 4°.
corpo commandado pelo General Bertrand estava na aldea da Lindenau.
O 6°. corpo estava era Libenthal. El Rey de Napoies com o 2°., 8°., e 5°.,
corpo, tinha a sua direita em Delitz, e a esquerda em Liberwnlkowitz.
O 3°., e 7°.,estavam em marcha de Eulenberg, para fianquear o 6''. corpo.
O Grande exercito Austríaco de Bohemia tinba o corpo de Guilay em
frente de Lindenau, um corpo em Zwenkaw, e o resto do exercito com a
esquerda contra Grobern, e a direita contra Naumdorf. As pontes do
788 Miscellanea.
Wurtaen e Eulenberg, no Mulda, e a posiçaS de Taucha, juncto ao Partha,
estavam occupadas pelas nossas tropas. Tudo annunciavu uma grande
batalha.
O resnltado dos nossos differentes movimentos, nestes seis dias, foi 5.000
prisioneiros, varias peças d'artilheria, e o causar grande damno ao inimi.
go. Nestas circumstancias se cubrio de glorias o Principe Poniatowski.

S. M. a Imperatriz, Raynha Regente, recebeo as seguintes noticias da


situação do exercito na noite de 16:—
Aos 15, o Principe Schwartzcmberg, commandante do exercito inimigo,
annunciou na ordem do dia, que no dia seguinte, 16, haveriauma batalh»
geral e decisiva. Nesta conformidade, aos 16, pelas 9 horas da manhaS,
desembocou o grande exercito Alliado contra nós: trabalhou constante
mente por se extender para a sua direita. Observou-se ao principio qur
tres grandes columnas marchavam, uma no longo do Elster, contra a aldea
de Delitz, a segunda contra a aldea de Wackau, ea terceira contra Libcr-
wolkowitz. Estas tres columnas eram precedidas por 200 peças dartilhc-
ria. O Imperador fez immediatamente as suas disposiçoens.
A's 10 horas era a canhonada violentíssima, e ás 11, estavam os dous
exércitos combatendo nas aldeas de Delitz, Wachau, e Liberwolkowiü.
Estas aldeas fôram atacadas 6 ou 7 vezes, o inimigo foi constantemente re-
pulsado, e cubrio os aproches de mortos. O Conde Lauriston, com o 5".
corpo, defendeo a aldea, na esquerda (Liberwolkowitz), o Principe Po-
niatowski, com os seus valentes Polacos, defendeo a aldea da direita,
(Delitz) e o Duque de Belluno defendeo Wachau.
Ao meio dia foi repulsado o 6". ataque do inimigo: nosfiramossenhores
de tres aldeas, e tiuhamos tomado 2.000 prisioneiros. Quasi no mesmo
(empo o Duque de Tarentum desembocou por Holhauscn, marchando con-
tra um reduto do inimigo, que o General Carpentier tomou a passo doble
apossando-se da artilheria, e tomando alguns prisioneiros.
O momento pareceo decisivo. O Imperador ordenou ao Duque de Reg-
gio que marchasse para Wanrhau com duas divisuem das guardas novas.
Ordenou igualmente ao Doque de Treviso, que marchasse contra Liber-
wolkowitz com outras duas divisoens das guardas novas; e que tomas*»*
posse de um extenso mato, que está na esquerda da aldea. Ao mesmo
tempo mandou avançar no centro uma bateria de 150 peças d'artilheri.i,
que commandava o General Drouet. Todas estas disposiçoens tiveram o
successo, que dellas se esperava. A artilheria do inimigo foi ter a alguma
distancia. O inimigo se retirou c todo o campo de batalha ficou em nosso
poder.
Eram tres hdras da tarde, todas as tropas inimigas estavam combatendo,
elle recorreo & sua reserva. O Conde Merfeldt, que commandava etn
chefe a reserva Austríaca, sustentou com 6 divisoens todas as tropas etn
todos os ataques, e as guardas Imperiaes Russianas, que formavam a re-
Miscellanea. 789
serva do exercito Austriaco sustentaram o centro. A cavallaria das
guardas Russianas, e os Couraceiros Austríacos se precipitaram, pela sua
esquerda, sobre a nossa direita: tomaram Delitz, e vieram direitos aos
massiços do Duque de Belluno. El Rey de Napoies marchou com os cou-
raceiros do General Latour Maubourg, c carregou a cavallaria inimiga
pela esquerda de Wachau, a tempo que a cavallaria Polaca, e os Dragoens
das guardas, commandados pelo General Letort, atacaram a direita. A
cavallaria inimiga foi derrotada, e dous regimentos inteiros ficaram no
campo de batalha. O General Letort aprisionou 300 Austríacos e Rus-
sianos. O General Latour Maubourg tomou alguns centos de homens das
guardas Russianas. O Imperador ordenou immediatamente á divisão Cu-
rial das guardas, que avançasse, para sustentar o Principe Poniatowski.
O General Curial marchou contra a aldea de Delitz atacou com a bayo-
neta, tomou-a sem dar um só tiro, e tomou 1.200 prisioneiros, entre os
quaes se achou o General-em-Chefe Merfeldt.
Restabelecendo-se assim as cousas na nossa direita, se pôz o inimigo em
retirada, e naÕ se nos disputou mais o campo de batalha. A reserva d'ar-
tilheria das guardas, que commandava o General Drouet, estava com os
atiradores : a cavallaria inimiga veio atacallos. Os artilheiros forma-
ram as suas peças em quadrado, tendo tido a precaução de as carregar
com metralha; e fizeram fogo com tal acerto, que n'um instante foi o
inimigo repulsado. Durante estes acontecimentos avançou a cavallaria
Franceza para sustentar estas baterias.
O General Maison, que commandava a divisão, official de grande mere-
cimento, foi ferido. O General Latour Maubourg, que commandava a
cavallaria teve uma perna cortada pela coixa. A nossa perda neste dia
foi de 2.500 homens, entre mortos e feridos. Naõ será exageraçaõ avaliar
a do inimigo em 25,000. Naõ se pode ser demasiado em elogiar a bôa
conducta do General Lauriston, e do Principe Poniatowski durante este
dia. O Imperador para dar á este ultimo uma prova da sua satisfacçaõ,
nomeou-o no campo da batalha, Marechal de França,e coneedeogrande nu-
mero de decoraçoens aos regimentos de seu corpo. O General Bertrand
foi ao mesmo tempo atacado na aldea de Lindenau, pelos Generaes Guilay,
Thielman, e Lichtenstcin. Desdobraram de diferentes partes perto de 50
peças de cauhaõ : o combate durou seis horas, sem que o inimigo podesse
ganhar uma polegada de terreno : ás cinco da tarde o General Bertrand de-
cidio a victoria, carregando com a sua reserva, e naõ somente fez inúteis
os intentos dos inimigos que se apinhavam para se apoderar das pontes de
Lindenau, e dos subúrbios de Leipsig, mas atbe os obrigou a evacuar o cam-
po da batalha. O Duque de Ragusa estava empenhado sobre a direita do
Partha, á uma legoa de Leipsig, e perto de quatro legoas do campo da ba-
talha, aonde o Imperador estava; e por uma daquellas fataes circunstan-
cias que muitas vezes tem influencia sobre os mais importantes negócios;
o terceiro corpo, que estava destinado para apoiar o Duque de Ragusa,
VOL. XI. No. 66. 5 i
790 Miscellanea.
naô tendo ouvido coiza alguma daquella banda às 10 horas da mnnhal, e
ouvindo pelo contrario uma terrível canbonada do lado aonde estava o
Imperador, julgou á propósito marchar para lá, e assim perdeo o dia em
marchas. O Duque de Ragusa, abandonado as suas próprias forças de-
fendeo Leipsig, e sustentou a sua posição durante o dia: porem snfreo
perdas que naS eram compensadas com o estrago feito ao inimigo, apoiar
de ser grande.
Alguns batalhoens de artilheiros de marinha condusiram-ze mal. Os
Generaes Compans, e Frederick foraõ feridos; de tarde o mesmo Duque
de Ragusa, levemente ferido, foi obrigado a reconccntrar a sua posiçaS
sobre o Partha. Neste momento foi obrigado a abandonar varias peças
desmontadas, c alguns carretoens.

S. M. a Imperatriz Raynha Regente * recebeo as seguintes noticias a


respeito da situação dos exércitos cm 24 de Outubro, de 1813:—
A Batalha de Wachau desconcertou todos os projectos do inimigo .
porem o seu exercito éra taõ numeroso que ainda lhe restavam recursos.
A toda apressa reunio, durante a noite, os corpos que tinha deixado sobre
a sua linha de operaçoens, e as divisoens que estavam sobre a Saale; e
apressou a marcha do General Beniguen que vinha subindo com 40.000
homens depois do movimento qne o inimigo féz retirando-se, na tarde de
16, e durante a noite, foi occupar uma excellente posição á duas legoas na
retaguarda. Foi percizo empregar o dia 17 em fazer reconhecimentos, e
em determinar a respeito do ponto de ataque, e também era necessário
aquelle dia para dar tempo a que os parques da reserva chegassem, e sub-
stituíssem as 60.000 bailas de canhaõ que tinham sido gastas oa batalha.
O inimigo teve por isso tempo para reunir suas tropas que tinha espa-
lhadas, quando se entregou áos seus chimericos projectos, e para receber
os reforços que esperava. O Imperador, tendo recebido noticias da
chegada daquelles reforços e sabendo que a posição do inimigo era muito
forte, resolveo atrahillos para outro terreno.
No dia 18 ás duas horas da madrugada, approximou-se pnra duas léguas
de Leipsig, t formou o seu exercito com a direita em Connewitz, o centro
em Probslheide, e a esquerda em Stettcritz, pnndo-fe elle mesmo em o
o moinho de Ta. O Principe de Moskwa, da sua parte, tinha colocado suai
tropas em frente do exercilo da Silesia, junto áo Partha, o 6". corpo em
Schonfeld, e o 3o. e 7". áo longo do Partha com o General Dombrowski
guardava a posição, e os subúrbios de Leipsig sobre a estrada de Halle.
As tres da manhaS, o Imperador estava na aldea de Lindenau, e ordenou
ao General Bertrand que marchasse sobre Lutzen, e Wissenfeld, para var-
rer a planice, e assegurar os drsfiladeiros do Saale, e a linha de communi-
caçaõ com Erfurt. As tropas ligeiras do inimigo dispensaram-se, e pelo
meio dia o General Bertrand estava Senhor de WeisnenfrU, e da ponte
sobre o Saale. O Imperador, tendo assim assegurado as suas communica-
çoens esperou comfirmezapela aproximação do inimigo. As 9 hora»
Miscellanea. 791
os gritos annunciáram que o inimigo estava avançando contra toda a linha,
A's lOhoras começou a canhonada. O Principe Poniatowski, e o General
Besol defenderam a poute de Connewitz. El Rey de Nápoles, com o
segundo corpo, estava em Probstheida, e o Duque de Tarentum em Holz-
hausen. Todos os esforços do inimigo, durante o dia, contra Connewitz,
e Probslheyde, falharam. O Duque de Tarentum foi flanqueado em
Holzhausen. O Imperador lhe ordenou, que tomasse uma posição na al-
dea de Stettcritz, a canhonada foi terrível. O Duque de Castiglione, que
defendia um mato no centro, manteve-se ali todo o dia. As guardas anti-
gas estavam formadas em reserva, em um terreno algum tanto elevado, em
quatro columnas massiças, dirigidas para os principaes pontos de ataque.
O Duque de Reggio foi mandado para sustentar o Prinncipe Poniatowski;
e o Duque de Treviso, para guardar os desembocadouros da cidade de
Leipsic. O successo principal da batalha foi na aldea de Probenstbeyda :
o inimigo atacou-a 4 vezes, com força considerável, e 4 vezes foi repulsado
com grande perda. As 5 horas da tarde, o Imperador mandou avançar a
artilheria de reserva, e repulsou o fogo do inimigo, que se retirou para a
distancia de uma légua do campo de batalha.
No entanto o exercito de Silezia atacou o Subúrbio de Halle. Todos
os seus ataques repetidos muitas vezes durante o dia, falharam sempre,
Elle tentou com todas as suas forças passar o Partha em Schonenfeldt, e S.
Tecla. Tres vezes obteve ganhar pé na margem esquerda, e tres, vezes o
Principe de Moskwa o repulsou, e derrotou á ponta da bayoneta. As 3
horas da tarde foi nossa a victoria, tanto nesta parte contra o exercito de
Silezia, como do lado do Imperador contra o grande exercito de Bohemia.
Porém neste instante o exercito de Saxonia, infanteria, cavallaria. e arti-
lheria, e a cavallaria de Wittemberg se passou em corpo para o inimigo.
O exercito Saxonio que ficou, constava somente do General em Chefe Zes-
chau, e 500 homens. Este acto de traição naõ somente causou um vácuo
nas nossas linhas, mas também entregou ao inimigo o importante desembo-
cadouro confiado ao exercito Saxonio ; que levou a sua infâmia ao ponto
devoltar instantaneamente as suas 40 peças contra a divisão Durut. Suece-
deo a isto um momento de desordem ; o inimigo passou o Partha, e mar-
chou para Reidnitz, que oecupou ; e ficou agora na distancia de meia lé-
gua de Leipsic. O Imperador mandou as suas guardas de cavallo, com-
mandadas pelo General Nansouty, com 20 peças d'artilberia, que tomassem
deflancoas tropas que avançaram ao longo do Partha para atacar Leipsic.
Elle marchou em pessoa com uma divisão das guardas para a aldea
de Leidnitz. A promptidaõ destes movimentos restabelcceo a ordem. A
aldea foi retomada, e o inimigo repulsado a grande distancia. O campo
de batalha ficou inteiramente em nosso poder, e o exercito Francez ficou
victorioso nos campos de Leipsic, assim como tinha ficado nos de Wachau.
Ao anoitecer, o fogo da nossa artilheria tinha em todos os pontos repulsa-
do o inimigo para uma légua de distanciado campo de batalha, Os gene-

5 i g
792 Miscellanea.
raes de divisão Vtal, e Rctchamfeeau morreram gloriosamente. A nossa
perda neste dia pód* »er avaliada em 4.00*9 homens mortos ou feridos i a do
inimigo «teve ter sido extremamente consiatravel. Elles naõ nos tomaram
prisioneiros, e nós tomamos-lhe 500 homens.
A's 6 horas da tarde o Imperador fez as suas disposiçoens, e deo as or-
dens para o dia seguinte. Porém ás 7 horas, os generaes Sorbier, e Du-
lauloy, commandantes da artilheria do exercito, e das guardas, vieram ao
seu bivouac, e o informaram de que a munição de reserva eslava acabada,
e restavam somente 16.000 bailas de peça: « que isto apenas seria bas-
tante para uma canhonada de duas horas, depois do que naõ restaria mu-
nição para os acontecimentos ulteriores • quo o exercito tinha, em 5 dias,
atirado mais de 220.000 balas, e que só se poderia obter mais suprimento
em Magdeburg ou Erfiirt. Este est-ado das cousas fez necessário um proni-
to movimento, para um deste» dous grandes depósitos. O Imperador se
decidio para Erfort, pela mesma razaõ qne o induzio a vir a Leipsic, a flm
de poder apreciar a desersaõ de Bavária.
O Imperador deo immediatam-eníe ordens para que a bagagem, os
parques, e a artilheria passassem os desfiladeiros de Lindenau : deo ordens
similhantes á cavallaria, e aos differentes corpos do exercito, e foi entaõ
ter ao Hotel Prussiano; nos subúrbios de Leipsic, aonde chegou ás 9 horas
da noite. Esta circumstancia obrigou o exercito Francez a renunciar ot
fructos de duas victorias, em que tinba com tanta gloria derrotado tropas
mui superiores em numero, e os exércitos de todo o continente. Porém
este movimento naõ deixava de ter difficuldades. De Leipsic até Lin-
denau ha um desfiladeiro de duas léguas, com 5 ou 6 pontes no caminho.
Propoz-se o postar 6.000 homens, e 60 peças d' artilheria em Leipsic, que
he uma cidade murada; e occupar aquella cidade como eabeça-de-desflla-
deiro, e queimar os seus vastos subúrbios, a fim de impedir qne o inimigo
eíftctuasse o alojar-se ali, e dar pleno campo á nossa artilheria dos muros
para jogar. Por mais odiosa que fosse a traição dos Saxonios, naõ se pôde
resolver o Imperador a destruir uma dtts mais hellnB cidades dn Alema-
nha ; entregalla ás desordens de todo o gênero, que saõ inseparáveis de tal
modo de defensa; e isto debaixo dos olhos de um Rey, que fora servido
acompanhar o Imperador de Dresden, e que estava sensivelmente afllicto pelo
comportamento de seu exercito. O Imperador quiz antes expor-se a per-
der alguns centos de carros do que-adoptar esta barbara medida. Ao rom-
per do dia, todos os parques, a bagagem, e toda a artilheria, a cavallaria,
as guardas, e dous terços áo exercito, tinham Ja pairado o desvlndeiro. O
Duque de Tarentum, e Principe Poniatowski, estavam encarregados de
conservar os subúrbios por tanto tempo, quanto bastasse para todo o exer-
cito desembocar, e executarem entaó", elles mesmo», a passagem do desfila-
deiro ás 11 horas. As 6 horas da manhaS os Magistrados de Leipsic man-
daram uma deputaçaõ ao Principe Schwartzenberg, para lhe pedir, qae
naõ fizesse daquella cidade a scena de «ma accaõ, o que oceosionaria a «ua
ruina. As 9 horas o Imperador montou acavallo, entrou em Leipsic, « tf.
Miscellanea. 793
uma visita a El Rey. Elle deixou a este Principe em plena liberdade de
fazer o que lhe parecesse c de naÕ deixar os seus dominios expostos aquelle
espirito sedicioso, que se tinha fomentado entre os seus soldados. Tinha-se
formado um batalhão Saxonio, em Dresden, que se unio ás guardas novas.
O Imperador mandou formallo em Leipsic, em frente do Palácio do Rey,
para lbe servir como guarda, e protegêllo contra os primeiros movimentos
do inimigo. Meia hora depois o Imperador foi ter a Lindenau, para espe-
rar ali a evacuação de Leipsic, e para ver que as ultimas tropas passassem
as pontes, antes de se pôr em marcha. No entanto o inimigo foi breve-
mente informado de que a maior parte do exercito tinha evacuado Leipsic,
e qae somente restava ali uma forte retaguarda. Elle atacou portanto vi-
vamente o Duque de Tarentum e o Principe Poniatowski; mas foi repeti-
das vezes repulsado; e no acto de defender os subúrbios a nossa retaguarda
effectuou a sua retirada. Porém os Saxonios, que tinham ficado na cidade,
fizeram de cima dos muros fogo ás tropas, o que as obrigou a accelerar a
sua retirada, e occasionou alguma desordem.
O Imperador tinha ordenado que os engenheiros fizessem minas ptw
baixo da ponte entre Leipsic e Lindenau, a fim de afazer voar no ulti-
mo momento, e retardar assim a marcha do inimigo, e dar tempo á nossa
bagagem para desfilar. O General Dulauloy tinha encarregado esta ope-
ração ao Coronel Montfort. Este coronel, em vez de permanecer no seu
posto, para dar as ordens, e fazer o signal, ordenou a um cabo de esqua-
dra, e quatro sapadores que fizessem voar a ponte no instante em que o
inimigo apparecesse. O cabo de esquadra, um ignorante, comprehenden-
do mal a natureza do serviço de que fôra encarregado, logo que ouvio o
primeiro tiro, que se deo dos muros da cidade, lançou fogo ás minas, e fez
voar a ponte. Parle do exercito estava ainda do outro lado com um
parque de 80 peças de artilheria, e alguns centos de carros ; a guarda
avançada desta parte do exercito, que se ia aproximando á ponte, vendo-a
voar, concebeo que estava em poder do inimigo. Um grito de susto se es-
palhou de fileira em fileira—" O inimigo está cerrado com nosco na reta-
guarda, e as pontes estaõ cortadas."—Os infelizes soldados se dispersaram,
e trabalharam por escapar-se do melhor modo que puderam. O Duque
de Tarentum cruzou o rio a nado: o Conde Lauriston menos feliz foi a
fogado; o Principe Poniatowski montou em um cavallo fogoso, atirou
com sigo á água, e naõ foi mais visto. O Imperador naõ foi informado
deste desastre, senaõ quando éra ja demasiado tarde para o remediar. De
facto, naõ éra possivel remediar-se. O Coronel Montfort, e o cabo de
esquadra dos sapadores fôram entregues a um conselho de guerra.
He impossível ainda o averiguar as perdas oceasionadas por este infeliz
acontecimento, mas ellas se avaliam em 12.000 homens, e alguns centos de
carros. A desordem que occasionou no exercito mudou a face das cousas.
O exercito Francez, posto gue victorioso, chegou a Erfurt como chegaria
um exercito dtrrotado. He impossível descrever o pesar que sente o exer-
cito pelo Principe Poniatowski, Conde Lauriston, e todos os valorosos
794 Miscellanea.
homens que pereceram em conseqüência deste fatal acontecimento
Nós naõ temos noticia do General Regnier, naõ se sabe se foi morto oa
aprisionado. A profunda dôr do Imperador se pode facilmente conceber,
considerando, que elle vè, pela inattençaõ a suas sabias disposiçoens, que
os resultados de tantas fadigas, e trabalhos, se tem desvanecido completa-
mente.
Aos 19, o Imperador pernoitou em Márkranstaedt; o Duque de Reggio
f cou em Lindenau. Aos 20, o Imperador passou o Saale em WeisscnfeU.
Aos 21 o exercito passou o Unstret em Freyhurg; o General Bertrand so
postou nas alturas de Cosen. Aos 22 o Imperador pernoitou na aldea de
Ollendorf. Aos 2S chegou a Erfurth. O inimigo, que se tinha enchido de
consternação pelas batalhas de 16, ede 18 i pelos desastres de 19 se enchro
de coragem, com a ascendência da victoria. O exercito Francez, depois
de taõ brilhantes suecessos, perdeo a sua postura victoriosa. Achamos cm
F.rfurt mantimentos, muniçoens, vestuário, e tudo que o exercito precisava.
O Estado maior publicará as participaçoens dos diferentes chefes do exer-
cito, pelo que respeita os officiaes, que se distinguiram nas grandes bata-
lhas de Wachau e Leipsic.
MILAÕ, 19 DOUTIBRO. — A falia feita no Senado do Império, pella Im-
peratriz Raynha e Regente, he bem digna de ser enusiderada por todos os
Italianos. S. M. entre outras, repetio estas memoráveis pallavras: —
" Eu conheço melhor que ninguém o que o nosso povo terá pura temer
se algum dia elle se deixa conquistar.
" Italianos I he á nós, he principalmente á nos a quem pertence o re-
tectir sobre estas palavras, que evidentemente sahiram do coração da
Imperatriz. Ella passou a sua primeira mocidade no meio daquelles mes«
mos indivíduos, que tem presentemente empenhado seu Pay em fazer-nos
guerra. Ella disse que conhecia melhor que ninguém os sentimentos com
que elle* estaõ animados, e a sorte que nos fariaS loffrer se chegassem a
conquistar-nos.
" Italianos 1 se os sentimentos com que os nossos inimigos eitaõ animado»
deviaõ excitar a coragem e a resistência dos Francezes, quanto mais devi-
am elles infiammar o nosso patriotismo, e valor? Os Francezes nunca
fôram vassallos de nossos inimigos. Estes naõ tem coiza alguma que expro-
brar ios Francezes senaõ o serem mais fortes, e mais bem commandados.
Porem nós que temos mudado de Soberanos, e que estamos ligado* ao nosso
Rey por tantos laços de gratidão, e de amor i nós que temos posto nossa
gloria, eamkiçaõ em servillo, formemos, se be possível, nma idea do re-
tentimento, e particular vingança de que bem depressa seremos o objecto,
e as victimas.
" Nibguem duvida que os esforços de nossos inimigos haõ de tornar-*»^
em vergonha sua, e que haõ de cahir diante do gênio, e poder do Impera-
dor. Os dias de Lutzen, e Dresden, deviaõ convencellos do absurdo d«
suas esperanças, e provar-lhes que o Imperador be agora mais forte e mal»
grmnde que nunca.
Miscellanea. 795
" Supponhamos que o inimigo havia por um momento peneirar até nos t
elle naõ havia, ao principio, deixar de fallar-nos em um estilo paternal, •
prometter-nos de se esquecer do passado. Porem quem de entre nos se
deixaria enganar com suas artificiosas promessas f Nos o conhecemos.
Nos naõ temos ainda esquecido o dia 13 de Messidor, que precedeu o im-
mortal dia de Marengo. Podemos nós crer que i Imperador havia de
perdoar jamais aos funecionarios de todas as classes, aos generaes, offi-
ciaes, aos soldados, que o tem taõ ameudadas vezes conquistado ? Haveria
elle de perdoar aos Lombardos seu primeiro enthusiasmo, e a fidelidade de
que elles tem dado tantas provas ? Haveria elle de perdoar aos Batonais,
aos Brecianos—os sentimentos de admiração, c zelo com que elles tem sido
constantemente animados para com o Imperador? Haveria elle de per*
doar aos Venezianos a profunda pena que lhes causou o tractado de Campo
Formio, e a alegria que mostraram ao ouvir do tractado de Presbourg l
Haveria de perdoar aos Modenezes os serviços de todas as sortes que elles
tem feito ao Soberano nas administraçoens, e nos exércitos. Aos Tirolezes
os sentimentos de fidelidade que elles tem provado despois do ultimo tra-
tado de Viena ? Aos Professores de nossas Universidades, e nossos Liceos,
os preceitos, os exemplos de patriotismo que elles tem dado á nossa moci-
dade? Ah? perguntai, perguntai a S. M. a Imperatriz ; ella se dignará
jnforuiarvos que aquelles se enganam estravagantemente asi mesmos em jul-
gar que podem obter poimeio de covardia, o abandonarem seus pri-
muros deveres.
" Italianos! todos nós conhecemos os nossos deveres, e naõ podemos de-
maziadamente repetir que os nossos mais importantes interesses nos man-
dam preenchellos."
4 DE NOVEMBRO.—S. M. a Imperatriz Raynha e Regente recebeo as se-
guintes noticias a respeito da situação dos exércitos em 31 d'Outubro:—
Os dous regimentos de courasseiros do Rey de Saxonia, que formavam
parte do primeiro corpo de cavallaria tinbam ficado com o exercito Fran-
cez. Depois que o Imperador deixou Leipsig, mandou ao Duque de Vi-
cenza, que lhes escrevesse a carta annexa e mandou-lhes que retrocedessem
para Leipsig para servirem de guarda ao Rey. Quando nós ja éramos
sabedores da rebelião da Baviera, um batalhão Bávaro estava ainda com
o exercito: S. M. mandou que a seguinte carta fosse escripta, pelo Major-
general, ao commandante daquelle batalhão. " O Imperador deixou
Erfurth no dia 25." O nosso exercito féz tranquillamente a. sua marcha
para o Main. " No dia 29 chegou a Gilnhausen: um corpo de inimigos de
o á 6.000 homens de cavallaria, infanteria, e artilheria, o qual nos sabia-
mos por prisioneiros que era a guarda avançada do exercito Austriaco, e
Bávaro; apparecêo ali. Esta guarda avançada foi repellida e obrigada
a retirar-se. Nos em continente restabelecemos a ponte que o ini-
migo tinha destruído. Logo soubemos de prisioneiros que o exercito
Austriaco, e Bávaro que se dizia ser de 60 a 70.000 homens robustos, vin-
dos de Branau, tinham chegado á Hanau, e pretendiam estorvara passagem
ao exercito Francez.
No dia 29 pela tarde os attiradores da guarda avançada do inimigo fo-
ram repellidos para alem da aldea de Langeusebolde, e ás 7 da tarde
79G Miscellanea.
Imperador, e seu quartel-general estavam no Castello de Jesembnrg, na.
quella aldea.
No dia seguinte, 90, ás 9 horas da manhaS, o Imperador montou a ca-
vallo. O Duque de Tarento marchou a diante com 5.000 attiradores-
debaixo das ordens do General Charpenlier, a cavallaria do General Se-
bastiani, a divisão da guarda commandada pelo General Friant, e a caval-
laria da antiga guarda os seguiam ; o resto do exercito marchava na reta.
guarda.
O inimigo tinha postado seis batalhoens na villa de Ruckengem, em
•rdem a cortar todas as estradas que vaõ ao Rheno. Algumas descargas
de metralha, e um ataque de cavallaria fizeram retirar estes batalhoens
precipitadamente. Os attiradores assim que chegaram ao principio dum
bosque, duas legoas distante de Haoau, naõ demoraram mais o travarem-
se. O inimigo foi repellido até aquelle ponto do bosque aonde se juntam
as estradas, nova, e velha. Naõ tendo que oppôr á superioridade da
nossa infanteria, fez esforços por se approveitar de seu grande numero,
« extendeo o fogo para a sua direita.
A brigada de 2.000 attiradores do 2*. corpo, commandada pelo General
Dubreton, estava empenhada em sacudillos, e o General Sebastiaai féa
qne varias cargas bem succedidas fossem executadas sobre os attiradores
do inimigo nas partes abertas do bosque.
Por este modo os nossos 5.000 attiradores reprimiram todo o exercito
inimigo, ganhando insensivelmente tempo até as S da tarde.
Logo que chegou a artilheria, o Imperador mandou ao General Cúria,
que marchasse á passo de carga, «obre o inimigo, com dous batalhoens de
caçadores das guardas antigas, e que o repeli isse até além da desemboca-
dura ; ao General Drouet que subisse immediatamente com 50 peças de
c tohaõ, e ao General Nansouty, com todo o corpo do General Sebastlani,
e rom a cavallaria das guardas antigas atacasse vigorosamente o inimigo na
planicie.
Todas aquellas disposiçoens.foram exactamente executadas. O General
Cariai destruio diversos batalhoens do inimigo. Os Austríacos, e os Bá-
varosficaramatterrados so com o aspecto das guardas antigas. De 15 ate
58 peças de canhaõ, foram suecessivamente collocadas com aquella activi-
dade, intrepidez c sangue frio, qne distingue o General Drouet.
O General Nansouty marchou na direita destas baterias, e mandou que
um corpo de 10.000 homens de cavallaria inimiga fosse atacado pelo
Onerai Leveque, major da guarda antiga, pela divisão de couraceiros de
St. Germain, e suecessivamente pelos granadeiros, e dragoens dn cavalla-
ria da guarda. Todos estes ataques tiveram o mais feliz resultado • a ca-
vallaria inimiga foi destruída, e aceutilada; diversos quadrados de infante-
riaforampenetrados; o regimento Austriaco 8ordes, e os Hulaoos do Prin-
cipe Schwartzenberg foram inteiramente destruído».
O inimigo abandonou precipitadamente a estrada de Frankfort qne
tinba tomado, e todo o terreno que occupava com sua esquerda : póz-sc
etn retirada, e pouco depois em completa derrota. Eram cinco da tarde,
fez o inimigo um esforço na sua direita, para desempenhar a esquerda, e
dar á «ta tempo para se reformar. O General Friant mandou dou»
Miscellanea. 797
batalhoens da guarda antiga para uma casa de quinta situada sobre a es.
trada velha de Hanau.
Foi logo o inimigo lançado fora de sua vantajosa posição, sua direita
obrigada a recuar, pôs-se em retirada, e repassou em desordem o ribeiro
de Kentzig. A victoria foi completa. O inimigo que pretendia fechar
todo o paiz, foi obrisado a evacuar a estrada de Frankfort e de Hanau.
Fizemos 6000 prizioneiros, e tomámos diversas bandeiras, e varias peças
de canhaõ. A perda do inimigo andou por 19.000 homens entre mortos,
feridos, e prizioneiros. A nossa apenas anda de 400, á 500 mortos ou feri-
dos. Nos tivemos empenhados taõ somente 5*000 attiradores, 4 batalhoens
da guarda antiga, e perto de 80 esquadroens de cavallaria, e 120 peças de
canhaõ.
O inimigo, áo romper da manhaã do dia 30, retirou-se na direcçaõ de
Aschaffenburg
O Imperador continuou a sua marcha, e ás 3 da tarde S. M. estava em
Frankforj.
As bandeiras tomadas nesta batalha, assim como as que se tomaram nas
batalh.-is de Wachau, e Leipsig, foram enviadas para Paris.
Os couraceiros, os granadeiros a cavallo, e os dragoens fizeram cargas
brilhantes. Dous esquadroens do 5°. regimento das guardas de honra,
commandados pelo Major Salucas, distinguiram-se particularmente, e daõ
razaõ para presumir o que se pode esperar deste corpo para a seguinte
primavera, quando elles estiverem perfeitamente organizados e discipli-
nados.
O General da artilheira do exercito, Nourrit, e o General Devaux, major
da artilheria da guarda, mereceram ser distinguidos. O General Letort,
major de dragoens nas guardas, ainda que ferido na batalha de Wachau,
queria atacar á frente do seu regimento, e teve o cavallo morto.
No dia 31 de tarde, o grande quartel general estava em Frankfort; o
Duque de Treviso, com duas divisoens das guardas novas, e o primeiro
corpo de cavallaria estava em Gilnhausen ; o Duque de Regio tinha che-
gado a Frankfort; o Conde Bertrand, e o Duque de Ragusa estavam em
Hanau ; o General Sebastiani juncto ao Nidda.

Carta do Duque de Vicenza ao Capitai Commandante dos dous regimentos de


couraceiros Saxonios, empregados no corpo de cavallaria do Conde Latour
Maubourg.
Mackraustoeãe, 19 de Outubro,
SENHOR COMMANDANTE.—Appresso-me a informar-vos de que o Impera-
dor auctorisa os dous regimentos de Couraceiros Saxonios da guarda, e de
Zeschwitz, que estaõ servindo em seus exércitos, para irem para
Leipsig : S. M. pensa que será agradável ao vosso bom Rey o ter estas tro-
pas da sua guarda junto á sua pessoa, nas presentes circunstancia*. O Ge-
neral Latour Maubourg, que está informado desta disposição, vos dará todas
as facilidades necessárias, de sortequc a volta destas tropas naõ encontrará
dificuldade alguma.
Tenho a honra de ser, &c. &c. Ac.
(Assignado) CAULINCOTJRT, DUO.CE DE VICENZA.
VOL. X I . No. 66. ô K
798 Miscellanea.
Carta do Major-general ao Tenente-coronel command-nte das tropas Bá-
varas.
Erfurth, 24 de Outubro.
O Rey vosso amo esquecendo-se do que o Imperador tem feito em seu
favor, declarou guerra contra a França. Em circumstancias taes as tro-
pas Bávaras que se acham com o exercito deveriam ser desarmadas, e fei-
tos prisioneiros de guerra: porem isto seria contrario á confiança que as
tropas debaixo das suas ordens deveriam ter nelle. Portanto, senhor, a
intenção de S. M. he que vós ajunctcis o vosso batalhão : ser-vos haõ dados
armazéns, provisoens para quatro dias, e marcbareis daqui para fora,
indo por Cobourg, á Bamberg, aonde recebereis as ordens do ministro de
S. M. o Rey de Baviera. Taõbem seria igualmente contrario aos senti-
mentos de honra, e lealdade,que vos houvesseis de pegar <un armas contra
a França; e por conseqüência o desejo do Imperador he que vós, e os
vossos officiaes dem sua palavra de honra de, nem vos, nem os vossos solda-
dos servirem contra a França antes de passar um anno.
(Assignado) ALEXANDRE.
Principe Vlce-Condestavrl

WCRTZBOCRG, 23 D'OOTDBRO.—Aqui se publicou o seguinte :—


Quartel-general dt Wurttbourg, 23 dt Outubro, de 1813.
A R T . I O . A cidade de Wurtzbourg está declarada em estado de cerco.
2*. Todas as Authoridades nomeadas por S. A. Serenisslma o Archi-
duque, Gram Duque de Wurtzbourg, continuarão no exercício de seus em-
pregos.
S°. Toda a conrespondencia, e communicaçaõ com o inimigo, he prohi-
bida, debaixo das penas estabelecidas no Código Militar Francez. As
pessoas culpadas deite crime seraõ julgadas por uma commissaõ militar.
4°. Toda a offença, provocação, ou acçaõ, de um habitante contra um
militar, será julgada segundo as mesmas leys, e pelo mesmo tribunal.
5*>. Todo o estrangeiro nascido em paiz que esteja em guerra com 8. M.
o Imperador dos Francezes, e 8. A. S. o Archiduqne, Gram Duqoe de
Wurtzbourg, deve sair hoje da cidade; e do Gram Ducado, dentro de 3
dias; excepto se estiver á 6 mezes em Wurtzbourg, e poder provar salis-
factoriamente de que vive. Os que infringirem as disposiçoens deste ar-
tigo, seraõ julgados reos, e tractados como toes.
6 o . Todos aqnelles que naÕ poderem provar como vivem, serão1 obriga-
dos a sair da cidade até o dia 23, ao mais tardar.
O General de DivisaS, «tt. Ac. r Commaodaote-
em-Chefe da Cidadela de Wurtzboarg,
Toatuuv.

A Sua Alteza Sereníssima o Príncipe de JVeufchmtel, rice-conáeilmVel,


Major-general.
Leipsig, 12 ée Outubro, de 1813.
M E D PRINCIP-*,—Tenho a honra de informar a V. A . , que cheguei
h o j e a Leipsig, cora 26 enquadroens, q u e c o m p õ e m o ,*. corpo da
cavallaria.
Miscellanea. '799
S. Ex'. o Marechal Duque de Castiglione sem duvida ha de ter
participado a V. A. as particularidade* da nossa marcha.
Nos chegamos no dia 9 a. Naumbourg ; a minha cavallaria ligeira
oecupou Withau, e dous regimentos de dragoens, o 19, e o 22, oceu-
param Flemingen. O inimigo atacou Fleiningen coin 1.000 caval-
los, c 4 peças de canhaõ. O Coronel Mennet, do 19, repellio o
ataque ; com a perda somente de 4 cavallos mortos pela artilheria.
O General Subervie foi atacado em Withau por dous mil de caval-
lo, e dous mil infantes ; e Gomo temesse ser surpreheudido, retirou-
se para Nauinburg sem perder um so homem. Depois desta excel-
lente retirada da cavallaria ligeira, o inimigo oecupou o desfiladeiro
de Withau, sobre a estrada que vai da Naumbourg á Weissenfels.
No dia seguinte (dia 10) S. Ex*. o Duque de Castiglione continuou e
sua marcha sobre Leipzig, e fez suas dispoziçocus pata atacar, e
lançar o inimigo fora do desfiladeiro de Withau. Tres batalhoens
de infantaria ligeira, commandados pelo General Aymer, foram bas-
tantes para tomar a posição ; e a nossa infantaria nova, naõ obstante
o fogo da musquetaria, e a canhonada do inimigo, fez-se senhora da
ponte de Withau, e de todas as pequenas inatas que coroam aquella
üiiücultoza posição. A cavallaria ligeira immediatamente passou o
desfiladeiro, sustentada pelos dragoens em escalocns. Atacou, sobre
o terreno elevado que vai para Stoelzen, e Prelsch, a rettaçuarda
da cavallaria inimiga, rodeou a infantaria, a qual foi obrigada a cair
em desordem: mataram 100 homens, de cavallaria, e infantaria, e
protegeram o movimento da infantaria ligeira. Os esforços unidos
destes dous corpos fizeram comque 300 infantes inimigos pozessem
as armas cm terra, e tomámos 20 cavallos. Adiante deste terreno
elevado ha um pequeno desfiladeiro no meio de um bosque, e acaba
em uma vasta planice que vai á aldéa de 1'retscli, c á pequena villa
de Zeits. A artilheria ligeira da minha cavallaria j a tinha feito muito
damno áo inimigo, e tinha-o obrigado a passar o desfiladeiro do bos-
que com muita pressa; fiz avançar a cavallaria em columna serrada
a fim de oceultar sua força ao inimigo, cuja força era maior em
dobro, porém eu dezejava chegar as maõns com elle para o conven*»
cer do valor dos nossos soldados de cavallo antigos. O inimigo
puxou a sua cavallaria a todo o galope, e immediatamente marchou
contra nós com o regimento de dragoens antigos, de La Tour, e com
a cavallaria ligeira de Kayser. O regimento 6°. de dragoens do
nosso Imperador marchou a frente da columna contra estes dous
regimentos: o combate tornou-se interessante; mandei que dous
esquadroens da brigada uo General Monliglier, abrissem sobre a
direita, e esquerda, e os dous regimentos abandonaram-nos o cam-
po, deixando-o coberto de Austríacos mortos. O inimigo féz mar-
char oilo esquadroens de dragoens de Hohcnzollcrn, c dous esqua-

5 iS
gOO Miscellanea.
droens dos hussares negros Prussianos, para apoiar os dragoens etn
outro tempo chamados La Tour, porem agora SI. Vicente. 0 S».
reo-itneato de dragoens Francezes, apanhou estes novos regimentos
de flanco, lançou-se sobre elles, e destruio-os completamente; ao
momento em que um único esquadrão do 13°., rodeado por 800
cavallos formados em circulo, destruía tudo o que lhe chegava áo
pé. Este esquadrão era commandado pelo Chefe de Esquadrão de
Xigneville. " Ao mesmo tempo a cavallaria ligeira, commandada
pelo General Subervie, voltando de ter derrotado um igual numero
de hussares Prussianos, e um esquadrão de hulauos, achou-se ll.ui-
queada por dobrado numero de inimigos: porem o Coronel Merraet,
que na ausência do General de Grigada, commandava os regimentos
18°., 19'., 22°., e 24». de dragoens recebeo 6rdens para desdobrar a
sua columna; o 18". e 1!)°. bateo o inimigo em todas as partes, o
qual deixou 660 mortos sobre o campo da batalhn, 100 soldados da
cavallo, e vários officiaes prisioneiros, e 1S0 cavallos. Nós lemos
somente para sentir a falta do capitão de escolha do 11°. de dra-
goens, 14 caçadores, e 4 dragoens. O Generaes Montiligier e Suber-
vie destioguiram-se, Todos ns officiaes e soldados, durante estci
quatro suecessivos ataques sobre um terreno de um quarto de legoa
de comprido, combateram á voz de " Viva o Imperador!"
Os regimentos de dragoens de M. Vicente, c de Hohenzollcrn, e a
cavallaria ligeira de Keyser foram destruidos nesta valorosa peleja.
Nos tivemos, da nossa parte, 18 mortos, e 120 dragoens, caçadores,
ou hussares feridos; porem um cento delles, tornarão para os seus
postos dentro de 7, ou 8 dias. Os corpos do inimigo eram comman-
dados pelos Generaes Thielman, o Principe de Liclitenstein, e Biron
de Courland. O inimigo tinha 4.000 cavallos, e nós apenas V.600.
Oi dragoens antigos de La Tour, e a cavallaria ligeira de Kcyser
eram a flor da cavallaria Austríaca.
Em a minha relação áo Duqne de Castiglione, fiz conhecer os
nomes de diversas pessoas que se portaram com valor; porem todos
•aõ merecedores dos favores de S. M. pela sua intrepidez, c zelo.
(Assignado) Conde MILHAUD, General de Divisão.

S. M. a Imperatriz Raynha e Regente recebeo as seguintes noti-


cias dos exercilo» era 3 de Novembro :—
Em 30 d'Outubro, no momento em que foi dada a batalha de
Hanau, o General Lefebvre, á frente da sua diviiuiõ de cavallaria, e
do 5°. cerpo de cavallaria, commandado pelo General Milhaud, Aan-
queou toda a direita do exercito pelo lado de Bruckoebrl, e Mieder-
Issinghi-iin. Entaò achou-se em pretenda de um corpo de cavallaria
Russiana e Alliada, constando de 6 a 7.000 homeos ; começou o com.
bate, houve vários ataques, todos em vantagem nossa, e aquelle
Miscellanea, 801
corpo inimigo formado pela juneçaõ de dous ou tres corpos de par-
tidistas, foi derrotado, e fortemente perseguido. Tomamos-lhe 150
prisioneiros montados, A nossa perda consiste em perto de 60 ho-
mens feridos.
No dia seguinte à batalha de Hanau, estava o inimigo em plena
retirada ; o Imperador naõ quiz perseguido ; o exercito estava can-
sado, e S. M., longe de lhe importar muito, teria de ver cora des-
gosto, a destruição de 4 ou 5.000 Bávaros que seria o resultado
desta perseguição. S. M., portanto contentou-se com mandar que
a rettaguarda do inimigo fosse levemente perseguida, e deixou o
General Bertrand juncto áo rio Kenlzig.
Pelas 3 da tarde, o inimigo sabendo que o exercito tinha marcha-
do, voltou atras, esperando obter alguma vantagem sobre o corpo
do General Bertrand. As divisoens Morand, e Guilleruet, permitti-
ram-lhe o fazer suas preparaçoens para a passagem do Kentzig, e
quando acabou de passar marcharam sobre elle cotn a bayoneta ca-
lada, e impediram-o para dentro do rio, aonde a maior parte da sua
gente foi afogada. O inimigo perdeo 3.000 homens nesta occazíaõ.
O General Bávaro Wredc, commandante-em-chefe daquelle exer-
cito, foi mortalmente ferido; e he notável, que todos os parente*
que elle tinha no exercito morreram na batalha de Hanau; entre
outros o Principe de Restingen, seu euteado.
A divisão Bavaro-Austriaca entrou em Frankfort, no dia S0, pelo
meio dia; porem â approximaçaõ dos batedores do exercito Fran-
cez, retirou-se para a margem esquerda do Mein, depois de ter des-
truído a ponte. Em 2 de Novembro, a rettaguarda Franceza eva-
cuou Frankfort, e marchou para o Nidda. No mesmo dia pelas 5
horas da manhaã, entrou o Imperador em Mayence.
Suppoem-se entre o povo, que o General Wrede foi o auetor, e
principal agente da rebelião da Bavária. Este General tinha sido
carregado de benefícios pelo Imperador.
9 DE NOVEMBRO.—O exercito da Itália, commandado pelo Principe
Vice-Rey, acaba de ganhar uma nova vantagem. O inimigo perdeo
varias peças de canhaõ, c mais de lá.000 homens, entre mortos,
feridos, e prisioneiros. O Conde Megau voltou para o quartel-
general, que está em Bassano. As noticias recebidas em Milaõ no
primeiro de Novembro, do quartel-general do Principe Vice-Rey,
annunciam, que em 30 düutubro, as tropas debaixo das ordens do
Vice-Rey tinham tomado uma posição junto áo Rave.
Nos estamos esperando pelo resultado do ataque que devia ser
feito no mesmo dia pelo Con-ie Grenier contra o inimigo, que se diz
ter perto de 3.000. O eslafele que chegou a Milaõ no dia 2 de No-
vembro vindo do quartel-general, trouxe a noticia que, no dia 31 de
Outubro o Principe Vice-Rey féz que o inimigo fosse attacado por
S02 Miscellanea.
duas divisoens, debaixo das ordens do General Grenicr. 0 ataque
foi perfeitamente bem succedido, e as tropas mostraram o maior
ardor. Um batalhão do regimento 42 tomou unia peça de canhaõ •
tomámos 300 prisioneiros; as nossas partidas estam-os trazendo á
cada momento. O inimigo teve 600 mortos, e feridos. A nossa
perda he bagatela : todos fizeram a sua obrigação.

DECRETO IMPERIAL.
Napoleaõ, por graça de Deus, e pela Constituição, Imperador da
França, Rey de Itália, Protector da Confederação do Rheno, Medi-
ador da Confederação Suissa, &c. &c.
A todos aquelles que as presentes letras virem, saude.
Nos temos decretado, e decretamos o seguinte :—
O Corpo Legislativo he convocado para o dia 2 de Dezembro
próximo.
Nos mandamos, e ordenamos que o presente seja inserido no bwle-
tim d;is le\ s.
Lado etn nosso quartel-general Imperial de Gotha, aos 52 de Ou-
tubro, de 1813.
(Assignado) NAPOLEAÕ.
Pelo Imperador. Visto por nos,
O Ministro Secretario d>* Estado, Conde l>»t:t'.
Vice-grandc Eleitor, Cins. .M*i meio.

ST. CLOUD, 10 ni NOVEMBRO.—Hoje ás II horas, *. V. o Impera-


dor fiz um Conselho de Finanças, ao qual assistiu o Duque de Cíucla,
Ministro das Finanças; o Conde Moilien, Ministro do Thesouro Im-
perial, e o Conde de Sussi, Ministro das Manufacturas e Commercio,
e áo qual vários Conselheiros de Estado foram chamados. A's '.',
S. M. prezidio a um Conselho de Ministros.
Vinte e duas bandeiras tomadas nas batalhas de Wachau, de Leip-
sig, e de Hanau, chegaram no dia 7 ao Ministro da Guerra. Foram
trazidas por Mr. de Couteis, .lj;idante-de-Canipo de S. A. S. o Prín-
cipe de Nenfchatel. Domingo que vem, o Ministro da Guerra hade
apprcsentallas a S. M. Imperial. Estas bandeiras tinham sido annnn-
ciadas, a S. M. a Imperatriz, por uma carta de S. M. o Imperador,
datada de Frankfort, 1». de Novembro, de 1813, c concebida nestes
termos .*—
MADAMA, E MUITO CARA ESPOSA,—Invio-vos 20 bandeiras tomadas
pelos meus exércitos nas batalhas de Wachau, Leipsi", e Hanau.
Mas saõ uma homenagem que eu gosto de vos render. Dezcjo que
vóspossais ver nella um signal da minha grande satisfacçaõ pelo
vosso porte durante a Regência que eu confiei d'- vos.— (Mvtiíi »•,
11 de Novembro.)
Miscellanea. 803
Extracto de uma Carta do General Lameth, Commandante de Santana,
á S. Ex*. o Ministro da Guerra.
Santona, 21 de Septembro, de IS 13.
MONSEIGNEUR,—O Duque de Dalmacia despachou dous trincadorcs
armados, os quaes mui aflbrtunadamcnte chegaram aqui na noite de
l«, para 20 do corrente. Estas embarcaçoens trouxeram-me varias
ca rias de V. Ex"., de differentes datas ; umas eram respostas, e ou-
tras diziam respeito á coizas do serviço; á cerca do que terei a
honra de fallar a V. Ex'. em cartas separadas. Tres dias depois da
batalha de Victoria, fiz uma sortida, ã fim de colher o gado que no
paiz havia. A força das guerrilhas cresceo em pouco tempo de 4
H 5.000 homens, das partidas de Campillo, Herrera, Salasar, alguns
destacamentos de Longa, e alguns Inglezes, e Escocezes. No dia 10
de Agosto atacaram elles Le Brusco, com 1.000 homens. Em 20 do
mesmo méz, fizeram igualmente uma tentativa sobre Laredo com
2.000 homens; e em ambos os pontos falharam, com perda conside-
rável. Depois destes tem incurtado os seus bloqueios o mais possi-
vel : os corsários inimigos naõ tein sido menos adi vos; nam ob-
stante, o corsário Basaul, que esta aqui, pôde tomar um brigue mer-
cante, carregado com tabaco, e uma pouca de quina ; e uma barcaça
carregada com 50 vasilhas de vinho. Eu tenho applicado o vinho,
e a quina para o uso da praça, cumprindo com as formalidades que
asseguram o direito de captura.

Do mesmo, para o mesmo, datada de Santona, 30 de Septembro, de 1813-


MO-ÍSEIGNEUR,—Tenho a honra de iuformar á V. Ex*. que no dia
2J do corrente, depois do ir>eio dia, o vento de N. E. estando mui
forte, o tempo chuvoso, e o horizonte espesso, uma embarcação de
tres mastros, trazendo, bandeira Ingleza, entrou para dentro do ca-
nal, debaixo do fogo do forte de St. Caries.
Este navio era Inglez, carregava 250 toneladas, vinha armado com
8 pequenas peças d'artilheria, e trazia a bordo 19 soldados, e offi-
ciaes inferiores de differentes regimentos, e das guardas lnglezas.
A earga era composta de sevada, e fardamento novo para as tropas
Britannicas. Isto foi uma preza importante, continha perto de
350.000 libras de graõ muitos pares de pantalonas, polainas, &c. &c.
V. Ex». achará uma conta transmittida com esta. Informei o Duque
de Dalmacia, deste affortunado accoutecimeuto, e espero as suas
ordens para a disposição da carga. Também mandei ao Marechal
os documentos, e declaraçoens do CapitaÕ deste navio (chamado a
Margarida de Londres) dos quaes V. Ex*. achara copias juntas com
esta carta.
804 Miscellanea.
Ordem do Dia, á viçessima quinta Legiaõ" de Gendarmuria.
Mayence, 31 d'Outubro, ás 10 horas da noite.
Gcndarmes, annunciai por toda a parte, que hontem em Hanau.
junto a Frankfort, S. M. o Imperador exterminou o exercito unido,
Bávaro, e Austríaco; que pertendia tomar-lhc a passagem, s. M.
hade estar á manhiã dentro dos muros de Mayence ; os prisioneiros
tomados em Hanau eliegaraÕ do conquistador. Annunciai mais, qne
a checada do nosso augusto Soberano deve dissipar Iodos os receios
á respeito dos projectos do inimigo.
A presente será inviada por um mensageiro extraordinário; &
saber, I o . <'e Mayence à Gerinershcim, 2 o . por outro mensageiro, do
Mayence a Wesel. Cada brigada a lera ; e aununciara a feliz noti-
cia, a todas as authoridades, e habitantes.
O* officiaes de gendarinaria, appressar-se-haõ em publit-alli pi-a
lá da linha do Kht-uo, c particularmente em Coblentz, Trcves, lo-
logne, e Aix-la-Chapelle.

DECRETO IMPERIAL.

Extracto das Minutas da Secretaria de Estado.


Palácio de St. Cloud, 11 de Novembro, de I81S.
Napoleaõ, Imperador dos Francezes, Rey de Itália, 1'rolector da
Confedei.çaõ do Rheno, Mediador da Confederação Suivta, íi,c &c.
Em conseqüência da representação do nosso Ministro tias Finança»,
considerando a urgmuia das circutnslancias e sendo assim r-solvnl<>
pelo nosso Conselho de Estado, lemos decretado, c derretamos o
seguinte:—
ART. 1°. Seraõ arrecadadas 30 Cenlcssimas em ad-liçaõ á contri-
buição sobre as portas, janchs, e patentes de 1813. As dittas Cfln-
tessimas seraõ pagas em Ires pagamentos, por terços, o primeiro eu:
Novembro, o segundo cm Dezembro de J8IJ, e o terceiro cm Ja-
neiro de 1814.
2". A contribuição pessoal, e a parte da contribuição sobre a pro-
priedade, que he arrecadada por classes, será dobrada para o anno de.
1S13. Os impostos addicionaes seraõ recebidos, nos peridos fixados
no precedente Artigo.
3». As pensoens dos mestres, e as de recebedores, sobre as contri-
buiçoens extraordinárias assima mencionadas, scraü au^tn-ntadas
Iam somente nesta proporção : para os mestres um quarto, c para
«s recebedores, a metade da proporção fixada, como tributo sobre o
principal.
4 o . A contar desíe dia, serão recolhidas duas novas dccimai por
kilooranimos sobre sal, e dez centessimas, cm addiçaõ, assim como
em respeito as receitas da administração das Uvas recolhidas, m••
Miscellanea. 805
sujeitas ao décimo da g u e r r a ; como as tarifas de concessão, que naõ
sejam as de convenção, ou accesso.
5", O tributo adilicional sobre o sal, será exigido pelo sal rema-
nente nos armazéns, na conformidade do Art. 8 o . da ley de S de
Abril, de 180G, e do Decreto Imperial de 11 de Junho seguinte.
6*. Naõ obstante a disposição do precedente Artigo, a Adminis-
tração do sal além dos Alpes, naõ venderi sal acima de 60 centessi-
mos o killograinmo (G sois a lib.)
7o. As dispoziçoens deste Decreto naõ seraõ applicaveis, senaõ, no
qne pertence ao tributo sobre o sal, áos Departamentos das Bocas
do Mctisa, das Bocas do Yssel, do Alto Yssel, do Frcse, do Ems de
Oeste, do Ems do Este, e do Zuyder Zee, em razaõ dos extraordiná-
rios pezos que supportam.
8*. Os nossos Ministros estam encarregados, cada um no que lhe
compele, tia execução do presente Decreto o qual será inserido no
Bulletim das Leys. (Assignado) NAPOLI-AÕ.
O Ministro Secretario de Estado ad Ínterim,
Duque de CADORF.

PARIS, 13 DE NOVEMBRO.—Uonlem o Principe Archi-Chanceller


presidio a uma assemblea extraordinária do Senado.
O Duque de Castiglione, e o Baraõ Michel, commandante dos gra-
nadeiros da Guarda Imperial, ha uns dias que chegaram a Paris.
i l DE NOVEMBRO.—Hoje, Domingo, 14 de Novembro, pelo meio
dia, S. M. o Imperador e Rey, estando sobre o Throno, rodeado do9
Principes, Grandes Dignitarios, Ministros, Grandes Officiaes, Grandes
Águias da Legiaõ de Honra, e Olficiaes em serviço á roda de S. M.»
recebeo o Scaado, que foi conduzido a sua audiência por um Mestre
de Ceremonias, e um Assistente, introduzido por S. Ex*. o Gram
Mestre, e apprcscntado por S. A. S. o Principe Vice Grande Eleitor ;
S. Ex*. o Conde de Lacepede, Presidente, fallou nestes termos:—
" SENHOR,—Os pensamentos do Senado tem constantemente accom-
panhado V. M. no meio dos memoráveis accontecimentos desta cam-
panha ; elle tremeo á vista dos perigos q u e V. M. correo. Os esfor-
ços dos inimigos da França tem em vaõ sido favorecidos pela rebe-
lião dos nossos Alliados, por traiçoens sem exemplo, por acconteci-
mentos extrordinarios, e por fatal accidente. V. M. tem sido superior
á tudo: vos combalieis pela paz. Antes da renovação das hostilida-
des V. M. offereceo o ajuntamento de um Congresso, áo qual todas
as Potências, até as mais insignificantes, deveriam ser chamadas, para
conciliarem todas as dissençoens, e porem a base de uma paz honrosa
A toilas as naçoens. O vossos inimigos, Senhor, opposeram-se áo
ajuntamento deste Congresso. He sobre elles que toda a escando!*
da guerra deve cair. V. M., que conhece melhor q u e ninguém as
VOL. XI. No. 66. 5 t
806 .Miscellanea.
necessidades, c os sentimentos dos vossos vas-allos, sabe que II<M dero-
j:!ini)s paz- Entretanto, todas as n-çoens do Continente, ti-in mus
motivos para isso do que nos, ii.se, apezar do dezejo, •> do inl> rei>e
do 50 milhoens de almas, nossos inimigos, recuznndo Irattar, de-
7"j nem, impondo-nos condiçoens, prescrever-nos uma snrle de
capitulação; as suas falaccs esperanças sei.iò tornadas uborln.K; os
Franceses mostrarão pelo seu zelo, e pelos seus sacrifícios, que
nunca entenderam melhor os seus deveres para com a palri.i, a honra,
S. M. respondeo ;—
" SrvvDoRKs,—Eu acecito os sentimentos que vós expressais a meu
respeito.
" Apenas ha um anno que toda a Europa estava a nosso favor,
agora, toda a Europa marcha contra nos. He porque a opinião do
mundo he formada pela França, ou pcl.i Inglaterra, Nos, portanto,
teríamos muito que temer, a naõ ser a energia, o o poder da naçaõ.
A posteridade dirá, que, se criticas circiiinslancfas se oHerircrani,
naõ foram superiores á França, nem a mim."
No mesmo dia, Mr. Crauford, Ministro Plenipotenciario, e En-
viado Extraordinário dos Estados Unidos da America, teve a honra
de ser admittido a uma audiência, c apprczcntou n S. M. as suas cre-
denciaes : depois da audiência, S. M. féz uni Conselho de Commercio.
Si. MM. depois disto foram pagar uma \ isita á S. A. S., Madama, que
esta ligeiramente indisposta, e dali fòrain para o Palácio de SI.
Cloud.
Um official que saio de Dresden cm 3 de Novembro, trouxe oflkios
do Marechal St. Cyr, com as seguintes noticias :—Em 12 d'Oiitubro,
o inimigo atacou a aldea de Plauen ; foi rechaçado, e os tropas iian-
cezas ficaram senhoras do campo da balallia. Este combato foi de
pequena importância. No dia 17, o Marechal St. Cyr tendo sabido
que o General /lennigsen tinha largado o campo, deixando o General
Tolstoi, tam somente com 15.000, marchou contra o exercito Uus-
siauo, atacou--?, derrotou-o, e tomou-lho 20 peças d'urlilheria, 3.000
prisioneiros, e repcllio o resto com espada nos rins, para as fronteiras
da Bohemia. Todo aquelle corpo podia ser tomado se nos liwssv-
uios mais cavallaria porem o Marechal St. C\r, linha somente l.ftll)
cavallos. Uma parle de sua força occupava o furte de Sonncustrin,
e estava cm communicaçaõ com elle. O (íeneral Kleinau, c um
corpo do General Chastclar, tinha marchado sobre Dresden, estavam
sobre a margem esquerda do Elbe: a direita estava intt-iraincnlc
livre. 0 Marechal St. Cjr tinha feito demolir o Castelo de Mrm< n,
depois de ter tirado a guarniçaõ. Os forrageiros todos os dia* iaõ
a tres e a quatro legoas de distancia da Praça. Havia lá provisoens
de reserva para dez dias; c estavam-se preparando para marchar
«obre Magdeburg. 0 Conde de Lobau, Condo Dumas, Conde Du-
Miscellanea. 807
rosnel, c todos os outros Generaes estavam bons. Perderam ua
batalha de 17, tam somente 150 homens; o inimigo naÕ tinha da-
quella parte ponte sobre o Elba.
Cartas de Bayona dizem que mais de 400 soldados Hespanhoes,
chegaram a Bayona no decurso do méz.

MINISTÉRIO OA GUERRA.—EXERCITO DA ARAGAÕ.


Extracto de uma Carta do Marechal Duque de Albufera â S. Ex*. *»
Ministro da Guerra.
Barcelona, 3 de Novembro, de 1813.
MONSIEUR LE DUC,—Naõ tenho dado a V. Ex*. uma conta dos pe-
quenos combates de postos avançados, os quaes ainda que sempre a
nosso favor, naõ eram de sufficiente importância, para fazerem o
sujeito de uma relação: litnitar-me-hei a dizer-vos, que nestas pe-
quenas escaramuças, os nossos soldados tem mostrado a sua pres-
teza, e zelo. Eu ordenei ao General Delort que marchasse com
1.000 cavallos, e 1.200 infantes, sobre Granollers, e que ammea-
çasse a estrada de Vich, em quanto a divisão de Musner postada em
SabadelI, avançava para Arnetilha, e ammeaçava o flanco direito do
inimigo. 0 General Delort marchou sobre o desfiladeiro de Garuja.
e por meio desta cooperação, rodeou o inimigo que estava estabele-
cido em 12 reduetos escalonados, e que precipitadamente fugio de-
pois de uma curta resistência que lhe custou alguns mortos e feridos.
0 General Delort mandou arrazar todos aquelles intrincheiramentos.
Recebi noticias de Tortoza, datadas de 20 d'Outubro. O General
Robert da-me noticias satisfactorias da praça e das tropas. No dia
9 ganhou uma assignalada vantagem sobre o Empecinado. No dia
15 sette batalhoens das tropas do General Elio sairam das aldeas de
Jezus, e Las Roquetas, para atacarem os postos exteriores sobre a
margem direita do Ebro. O General Robert, com 1.200 homens,
50 cavallos, e 4 peças d'artilheria, marchou contra elles. O inimigo
exposto ao fogo da fortaleza, e atacado por esta parte da valente
guarniçaõ, perdeo mais de 600 homens, e foi posto em completa
derreta. Desde este momento, o General Robert, tem sido senhor
de uma considerável extensão alem da praça. Elle dá os maiores
louvores ás suas tropas, especialmente ao Coronel d'Artilheria Ricca,
e ao Coronel Perpet, do 3°. de ligeiros.
(Assignado) Marechal Duque d'AbauFERA.

15 DE NOVEMBRO.—Domingo depois da missa, S. M. a Imperatriz,


estando nos seus quartos no Palácio das Tuilleries, cercada das suas
damas, e olficiaes em seu serviço deo uma audiência ao Ministro da
Guerra, o qual lhe appresentou 20 bandeiras tomadas ao inimigo nas
5 L 2
•*-.()*•<, Miscellanea.
batalhas de Wachau, c Leipsig, e Hanau, cada umi era levada por
um official. O Ministro, e estes Officiaes foram conduzidos a esta
audiência por uni Mestre de Cerimonias, <• appiescutados á Impera-
triz pela Duqueza de Monlebcllo, Dama d'Honra juncto a S. M. \ a
acçaõ de apresentar á S. M., S. Ex' o Ministro da Guerra disse—
" MADAMA,—Eu apprcsento a V. M. as baudeiras tomadas oa ba-
talha de Wachau, Leipsig, e Hanau, as quaes S. M. o Imperador me
mandou do campo da batalha c mc ordenou que as nppresentassr a
V. M. com a caria adjuncla. Estas bandeiras attcslaraõ á posteri-
dade o valor dos exércitos Francezes.
" Traiçoens sem exemplo, tem procurado grandes vantagens para
os nossos inimigos; inas naõ lhes dam gloria; elles naõ podem sus-
tentallas por meio de similhantes troféus. Scja-me licito, Madama,
dar-me os parabéns por esta missaõ.
S. M. replicou—
" SENHOR MINISTRO DA GUERRA,—Eu fico cheia de reconheci-
mento, por esta nova prova de lembrança, c pelos sentimentos de
meu Augusto Marido.
" Tudo o que elle fizer em meu favor, eu lhe mereço pelo inen
desprendido affcclo para com elle, c para com a França. Collocais
da minha parte, rstes tropheos, na Igreja dos Inválidos, para que
aquelles homens valentes vejam nisto uma prova do interesse que en
tomo por elles. Eu conheço todos os direitos que elles tem à minha
protecçaõ.
16 DE NOVEMBRO.—O Senado ajunloii.se hontem extraordinária,
mente, debaixo da presidência de S. \. o Principe Arch-Cbancellcr
do Império, o Conde Rcgnaud de M. ./oaõ de Angley, c o Conde
Mole, Conselheiros de Estado, estiveram presentes a assemblea.
MARGCVS DO MEIN, 1 DENOVBUBRO.—S. M. O Imperador da Auslria
passou o dia 5 em Hanau. Trás um accouipanhamento numeroso, c
nelle se distinguem, o Conde de Metternich, Ministro dos Negócios
Estrangeiros, o Grande Camariíta, Conde Urbna, o Ettriheiro-Mor,
Conde Trautmansdorf, o General d'Artilheria, Baraõ Duque, o Ge-
neral de Kulchera, Ajudantc-gencral de S. M., o Conselheiro de Es-
tado de Rodekowich, o Baraõ Binder, anleriormeute Membro da
Áustria, em Cwnpenhague, Mr. de Floret, antigamente Conselheiro
de Embaixada junto áo Embaixador Austriaco em Pari», o Grande
Bourgrave de Bohemia, o Conde de Kolli-ivr.ith, o Embaixador In-
o-lez, Lord Aberdeen, os Baroens Humboldt, e De Bildli, os Ministre»
Prussianos e Sueco».—A di»graça do (•entrai Russiano, Conde de
Tolstoi, attrihite-se á derrota qne elle sollteu defronte de Dresden
quando elle foi o inesperadamente atacado pelo Marechal M. (yr
one tinha sido deixado naquella capital, l s l e Martrlial depois mar-
chou sobre Magdt-bui-fo. reunindo as tropas Iraiitc/n que estavam
imito ao Elba.
Miscellanea. 809
CARLSRURE, 5 DE NOVEMBRO.—Foi no dia 22 que S. M. o Rey de
Saxonia saio para Berlin com a sua familia. Diz-se que a demora
de S. M. ali, hade ser pequena: hade partir depois para a pequena
cidade de Schwidt, na estrada de Brandcnburg, aonde se estam pre-
parando quartos no Castello, para elle, e para a sua comitiva.
6 DE NOVEMBRO.—O General Bávaro Wrede, em 15 de Outubro,
tomou o cominaudo em chefe do corpo Austriaco, que se tinha re-
unido aos Bávaros. Entre o dia 1 j , e o dia 23, aquelle exercito féz
marcha de 15 léguas, annunciando por toda a estrada, que ia destru-
ir o exercito grande Francez, e prevenir que elle repassasse o Rheno.
No dia 23, o General Wrede ouvio o que tinha accontecido cm
Leipsig, e no mesmo dia, ajuntou-se-Ihe o Conde de Zeppclin, Minis-
tro de Estado do Rey de Wurfemberg. As differentes divisoens
deste exercito passaram o Mein em Ocheseufurt, e Ufhcnhem, uo dia
23 e 24. O General Wrede, sendo junto por um considerável corpo
de tropas alliadas, debaixo do commando do Coronel Austríaco
Schechler, partio para Aschaffenberg.no dia 27,depois de ter emvam
intimado á cidadella de Wurtzburg, que se rende-se. A divisão de
Cossacos, commandada pelo General Bergman, tinha-se reunido ao
General Wrede no dia 29. Foi com estas forças consideráveis que
aquelle exercito marchou sobre Hanau, aonde elle chegou com algu-
ma rapidez Iam somente para ser desbaratado, e perder as suas ban-
deiras, os seus melhores officiaes, e o seu Gcncral-cm-Chcfe. A
Gazela de Mtinich, de 2 de Novembro, expressa-se nos seguintes ter-
mos lacônicos a respeito desta batalha:—" Recebemos hoje as noti-
cias que se deo a batalha nas vizinhanças de Hanau, entre o exercito
Anstriaco-Bavaro, e o exercito Francez, e na qual as tropas alliadas
tem dado novas provas do seu valor. O General Conde Wrede foi
ferido."
7 DE NOVEMBRO.—O General Wrede está ainda em Hanau ; a mais
perigoza de suas feridas he no abdômen : soffre grandes dores. Os
Médicos, e Cirurgioens persistem em crer que naõ pode recobrar-se
S. M. o Imperador da Áustria chegou no dia 5 á Hanau. O Conde
de Metternich, Ministio dos Negócios Estrangeiros, chegou na noite
de 4, para 5, á Frankfort. Varia» pessoas dezejain tirar favoráveis
conjecturas desta jornada.
O Rey de Prússia foi para Berlin de donde hade voltar para o
exercilo dos Alliados.
MILAÕ, 8 u s NOVEMBRO.—Cartas vindas do quartel-general, data-
das de Verona, 6 de Novembro, dizem o seguinte:—
0 exercito terminou a sua marcha para tomar uma posição sobre
o Adige. Eslam-se formando almazens, em todos os pontos daquelle
departamento, o que faz suppôr que o exercilo permanecerá ali por
longo tempo.
810 Miscellanea.

Reflexoens sobre as novidades deste me:.


11 it A Z ir..
Relaçoens da Corte do Rio de Janeiro com as Potências
Europeas.
O defeito, que se chama cobardia, consiste em que. quando ns ho-
mens comparam as suas forças phisicas c moraes com as de outros
homens, avaliam as próprias, em menos do qne devem ; e as alhcas
cm mais do que convém: e resulta dahi o sentimento interno de fra-
queza, c temor, que impede fazerem-se os devidos esforços, para i
justa defeza dos indivíduos, c das naçoens.
Neste senlido imputamos á cobardia, a opinião daquelles Politico»
Portuguezes, que asseveram que Portugal uaõ tem forças nem me-
ios de se defender, e sustentar a sua dignidade como naçaõ : c obra ir.
cm conseqüência desses principios. He portanto da nossa intenção
mostrar aqui o contrario ; c que se Portugal naõ goza entre as Po-
tências da Europa uma dignidade mui conspicua, naõ hc por falta d •
meios, mais sim pela cobardia du alguns de seus Político», que tem
estado, e estaõ á frente dos Negócios Publico».
Durante esta conlcnda, em que a Europa se tem einpenlndo con-
tra a Revolução Franceza, stircumbíram ao systema Francez todas
as Naçoens Europeas, excepto a Inglaterra. E a ultima, que fo-
conquistada pelos Francezes foi a Naçaõ Portugueza.
Dê-se o louvor a quem lie devido, pelo que respeita a Portugal
e naõ hesit-i.ios em dizer, que aquella iesi«lencia continuada, c pro-
longada portantos annos, foi sempre devida á firmeza de S. A. 11, o
Principe Re^»nlc de Portngr.l: a elle individualmente; porque hr
bem sahido, que entre as diversas opinioens do» Politico» da Corte de
Lisboa, a maiorid ide foi de voto que Portugal «c naõ podia defen-
der. E asseveramos que a opinião individual de S. A. R. foi sempre
pelo contrario, e que em conseqüência de sua firmeza, a que o» do
partido contrario chamavam obstinação a favor da Inglaterra, he de-
vido o sustentar-se Portugal livre do jugo Francez, até o ultimo
periodo, cm que todas as demais Naçoens do Continente se achavam
proslradas.
Chegou por fim o momento, em que S. A. R. naõ pôde nini» re.iv-
tir; nem aos esforços da França, nem á cobardia de «eus Politico» i *"
ctilaõ tomou uma resolução, que foi o principio da libertação da
Europa. Aqui tornamos outravez a attribuir tolo o merecimento
exclusivamente ao Principe Regente; porque a »ja retirada p..ra o
B.uzil íic obra iTÍ-ranicnt*-- >ua, sem quo fossem necessárias a» in»lan-
Miscellanea. 811
cias de seus Conselheiros, e muito menos a influencia de nenhuma
Naçaõ Estrangeira. Nao podemos porem aqui deixar de alludir ao
que My-Lord Mrangford asseverou em sen officio á corte de Londres
na data de 29 de Novembro de 1807 (vide Corr. Braz. vol. I. p. 20)
que tendo tido conferências com S. A. etn Lisboa aos '21 de Novem-
bro, e representando as razoens que havia para se adoptar aquella
medida, S. A. R. publicara aos 28 o decreto, em que aununciou a sua
retirada para o Brazil. O modo porque aquelle officio está conce-
bido, fez persuadir ao mundo, que Lord Strangford foi quem induzio
S. A. R. a retirar-se para o Brazil. Protestamos altamente contra
este erro histórico ; porque sabemos, por authoridades incontestá-
veis, c naõ hesitamos nomear Sir Sidney Smith, entre ellas, que
quando Lord Strangford entrou etn Lisboa na fragata Confiance, j a
S. A. R. tinha embarcado a bordo de sua esquadra a Familia R e a l ;
por tanto, naõ podiam ler a menor parte nesta resolução, as per-
suaçoens ou argumentos, que My Lord Strangford menciona por ex-
tenso em seu oíficio.
Asseverando, por estas razoens, que o merecimento da resolução
de S. A. R. a elle somente compete; veremos agora os resultados
desta resolução em beneficio de Europa.
Naõ pôde haver duvida, que a intenção de Napoleaõ éra apossar-
se da Pessoa de S. A. R. e de toda a Familia Real de Portugal, como
fizera em Hespanha - pois declarou em Paris, que a Casa de Bra-
gança tinha cessado de reynar em Portugal.
Daqui se devia seguir a posse dos thesouros da America, e por-
tanto os meios de subjugar sein remissão toda a Europa, dirigindo-se
a realizar o projecto da Monarchia universal.
S. A. R. porém, segurando a sua Augusta Pessoa, frustrou este
plano de Napoleaõ, e conservou em sua familia um ponto de re-
união para o patriotismo dos Portuguezes, e dos Hespanhoes, como
tem provado os resultados. O merecimento individual do Principe
Regente se realça ainda mais ; pelas importantes conseqüências que
se seguiram á Europa ; porque, em conseqüência de ficar segura a
Familia Real Portugueza, se seguio o levantamento de Portugal
contra os Francezes; isto animou os Hespanhoes a seguir o mesmo:
o exemplo da Peninsula foi citado pelo Imperador de Russia, em
suas proclamaçoens, a Prússia se unio á Russia, a Suécia, a Áustria,
e finalmente a Alemanha obrou da mesma sorte ; e o grande resul-
tado tem sido a libertação da Europa.
Mas para que um facto desta magnitude naõ fique unicamente
fundamentado na nossa assersaõ; convém que transcrevamos aqui
818 Miscellanea.
nma passagem da falia de Lord Liverpool na Casa dos Pares, qnanrfi,
se tractou de responder a falia que S. A. R. - Principe Regente da
Grani Bretanha fez ao parlamento aos 4 dote mez.—
'< Portugal (disse Lord Liverpool) naçaõ pouco poderosa, e Ul.
vez, naquelle momento particular, a menos militar da Europa, »r
fez formidável, e resislio com bom successo ás mais bem disciplina-
das tropas de França. Pequeno como he aquelle pai/.; «tincompa-
raçaõ de outras naçoens da Europa, cora tudo o estabelicimento dos
exercito* da Portugal foi da maior conseqüência, como fundamento
dos bons suecessos dos exércitos Alliados na Peninsula, e por que deo,
além do geral sentimento Nacional; um tom militar, debaixo de cuja
influencia as tropas Portuguezas se tem elevado, a serem iguaes ás
lnglezas."
Daqui poisficaevidente, que Portugal naõ somente pode defender-
M mas deo o exemplo ás outras Naçoens, e no modo de pensar de
_My Lord Liverpool, foi Portugal quem começou a dar a esta guerra
novo character, toruando-a guerra nacional, em vez de guerra dos
Governos que até eu taõ éra. Nem contra isto está que Portugal
lera o auxilio de seus Alliados: as maiores Potência» precisão, e »e
valem de seus Alliados; c o que queremos dizer he, que Portugal
possue mais recursos para sua defensa e sustentação, do qne nenhuma
Potência da Europa de igual território ou população.
Quanto ao numerário, nenhuma naçaõ possue minas de ouro mais
ricas do que as do Brazil. Pelo que respeita a construcçaõ de va-
sos para uma marinha de guerra, o Brazil offerece abundância de
madeiras. As minas de ferro naõ se tinham lavrado até aqui; porem
agora he indubitavel, que podem ser mui produetivas pdss experi-
ências que se tem feito. A naçaõ Portugueza, possue oi melhores
marinheiros, que se pòdein desejar; e o§ soldados Portugueses lera
os elogios naõ suspeito» de todos os militares que os tem visto com-
bater,
Isto posto he claro, que nenhuma naçaõ da Europa possue nem
mais nem tantos recursos, á proporção de sua grandeza e necessida-
des. Mas como essa grandeza be limitada, e de pouca extensão,
relativamente as outras Potências da Europa, argumentado daqui,
qne Portugal naõ he de pezo algum nos negócios da Europa. Isto
hc nm paralogi»mo, inventado para cubrir a cobardia, de que nos
queixamos no principio deste artigo.
Sem entrarmos em factos de tempos remotos, em que Portugal
effectivamente atroou o Mundo com o estrondo de seu nome; e
limitando-nos unicamente ao tempo presente; deixamos ja exposto
Miscellanea. 813
acima, como a mera decisaõ do Principe Regente, no que dizia res-
peito á sua pessoa, teve influencia considerável em derrotar os pla-
nos dos Francezes: e depois vimos a confissão de Politicos Estrangei-
ros, quanto ao exemplo que as tropas Portuguezas tem dado de
coragem e firmeza. Isto posto, he inegável, que Portugal tem re-
cursos, e que pôde ter influencia nos grandes negócios da Europa;
com tanto que os que estaõ ã testa do Governo saibam ou queiram
fazer uso de seus meios. Vejamos agora até que ponto essa influ-
encia, ou esses recursos, que a produzem, podem chegar.
O nosso termo de comparação he a Suécia, aquelle reyno contem
2:826,000 habitantes, e Portugal 3:559.000. A Suécia tem em armas
43.000 homens. Portugal, com algum esforço, pôde apresentar em
campo 60.000 homens ; alem de milicias, &c. As minas do Brazil e
os productos do Commercio Portuguez, saõ superiores aos da
Suécia, em proporção muito maior que a da população, ou do ex-
ercito das duas naçoens; e quando se faz entrar ao calculo o valor
das colônias Portuguezas, principalmente o Brazil, a importância
de Suécia, comparada com Portugal, he notavelmente pequena.
Agora, o Governo Sueco commanda o seu exercita, posto que receba
subsídios da Inglaterra para seu pagamento: offereceo-se-lhe uma
ilha no golpho México, para induzir este reyno a ligar-se contra a
França,fizéram-se-lhepromessas a respeito da uniaõ de Norwega á
Suécia. O Principe da Coroa de Suécia recebe diariamente as mais
assignaladas provas de respeito dos Soberanos Alliados, e como gene-
ral do exercito Sueco, que conserva debaixo de suas ordens, cada
dia une novos louros ás armas Suecas; depois de ter faltado ao
Governo Francez no tom mais decisiva, e da mais firme dignidade.
Portugal, pela cobardia dos Politicos, que suppunham aquelle
reyno incapaz de defensa, achou-se sem exercito, quando delle ne-
cessitava ; levanta-se o povo ; e desembarca ali um exercito Inglez,
sem ter feito nenhum accordo prévio com o Embaixador do Prín-
cipe Regente de Portugal em Londres. Officiaes Inglezes saõ em-
pregados em disciplinar os exércitos Portugueze», e em os com-
mandar ; as tropas do reyno obram como auxiliares dos que tinham
vindo em seu auxilio., e naõ podem obter um tropheo, uma ban-
deira, que pendurem em seus templos. A situação de Portugal re-
queria isto, diraÕ j naõ disputamos este ponto ; porque he incidental á
questão ; o que queremos dizer he que Portugal podendo apresentor
em campo um exercito maior que o da Suécia, tendo mais recursos
do que ella; deveria pelo menos fazer uma igual figura no mundo:
VOL. XI. No. 66. 5 ai
814 Miscellanea.
e poderia, se os sous politicos soubessem fazer uso dos meio»
que tem, entrar na liga da Europa, fazendo com os demais alliado»
tractados taõ vantajosos como a Suécia, ou ao meuos figurar do
per si no que lhe coubesse.
O Brazil deveria dar o ouro, e Portugal a gente ; mas S. A. R.
acha-se só era seu Conselho, e todas as vezes que falta o dinheiro,
os seus financeiros naõ sabem cogitar outro meio, senaõ pedir em-
prestado à Inglaterra. O Soberano naõ pode, nem he da sua obri-
gação olhar para as miudezas dasfinanças,a seus ministro» compete
isto ; e elles naõ fazem mais que occultar ao publico os seu» meios
e modos de receita e despeza. Naõ he assim, que uma naçaõ que
tem a possibilidade de figurar, pode nunca chegar a ser poderosa.

FRANÇA.
Tem sido uma observação geral, que as conquistas rápida», e
demasiado extensas, naõ podem ser de duração t ma» nunca o caitigo
da ambição descomedida seguio de mais perto o crime, do que no
exemplo de Bonaparte. Teve este homem era seu poder findar a
revolução Franceza, passar para sua familia o throuo Francez, e
dar paz e socego á Europa. Cuidaria alguém que o alcance de ob-
jectos de tanta magnitude satisfariam a ambição de um aventureiro,
que á força de crimes chegou a ser soberano de uma naçaõ pode-
rosa. Mas naõ bastou isto: subjugou naçoens independente», e pa-
cificas ; uietteo a contribuição seus alliados, meditou a ruina dos
maiores Impérios da Europa ; intitulou-se omnipotente; e expedio
decretos em forma de prophecia».
No 3°. bnlletim, datado de Berlin dos 10 de Novembro 1806 de-
clarou, que o exercito Francez naõ sairia de Berlin até se naõ entre-
garem as possessoens e colônias Hespanholas, Hollar.tlezai, e Fran-
cezas, e so fizeste uma paz geral. No bulleiiu- JU di»»c, que era
necessário que a presente guerra fo»»e a ultima, a I»tit de que o» qne
daqui em diante tomassem armas contra o povo Francez, conhe-
cessem bem o perigo de tae» empreza», e de «ua» inevitáveis conse-
qüências. Ao» 26 de Outubro de 180g proferiu no Senado de Pari»
estas palavras : " Eu parto dentro em pouco» dias, para me por em
pessoa á frente do meu exercito ; e cora a ajuda de Deu» coroar El
Key de Hespanha era Madrid ; e arvorar as minhas águias nos muro»
de Lisboa. Era 29 de Fevereiro de 1813, ja depois de derrotado em
Russia, declarou," que estava satisfeito com seus alliado», que os
naõ abandonaria, que manteria a integridade de »eu» E»tado», qne
os Russianos voltariam para o» seu» horrororo» climas.
Miscellanea. 815
Tudo iito tem succedido pelo contrario. Elle foi obrigado a sair
de Berlin, c as colônias de Hollanda, e França longe de serem resti-
tuidas, entraram com as que restavam no poder da Inglaterra. O
pretenso Rey de Hespanha he um triste fugitivo em França. Por-
tugal está livre e seguro j c as tropas Portuguezas e Hespanholas in-
vadindo o sul da França. Os Alliados com quem Bonaparte se dava
por satisfeito, longe de estar satisfeitos com elle, todos o tem aban-
donado ; e o norte da França corre tanto perigo de invasão como
o sul.
Quanto ao estado interno da França, naõ pôde haver duvida de
sua consternação. Ho mui difficil averiguar de um paiz estrangeiro,
qual he a opinião publica em França; mas todos os symptomas
tendem a mostrar que o Governo soffre uma grande agitação. Bo-
naparte exige uma leva de 300,000 homens. O Senado suspende a
execuç?õ da Constituição, naõ permittindo a renovação de uma
terça parte de seus membros, que devia ter lugar. O ministério
tem uma mudança considerável, nos chefes de todas as reparti-
çoens. Tudo isto prova a mais decidida agitação.
Se reílectimos além disto, que em todos os momentos críticos
desta revolução os Francezes se tiraram do embaraço momentâneo,
mudando a forma do Governo, e imputando ao antigo todos os
inales acontecidos, posto que fossem quasi as mesmas pessoas, quo
compunham o Governo novo ; nada nos admiraria ss víssemos Bo-
naparte deposto do throno; e algum outro Governo substituído era
seu lugar; e estamos persuadidos que as mudanças de ministério
naõ tem outro fim senaõ tentar a opinião publica a ver se estas
mudanças satisfazem ; e se o descontentamento continuar, recorrer
entaõ a mudança mais radical,
Os suecessos da guerra, que recapitularaos em outra parte, trou-
xeram a Paris Bonaparte, e a sua linguagem, era vez de prophetizar
conquistas nao faz mais do que appellar para orgulho nacional
Francez, conjurando o povo a que se defenda da invazaS que o
ameaça.
Se a ruina do exercito exigio a leva de "Í00 mil homens, a deca-
dência das finanças obrigou ao expediente de duplicar os tributos,
espécie de vexame, a que até aqui naõ estavam os Francezes muito
aceustumados.
Ao mesmo tempo que em Paris se estavam apresentando á Impe-
ratriz Memórias de parabéns, que se pretendiam serem escriptas na
Hollanda, os Hollandezes estavam expulsando de seu paia as autho-
lidadas Francezas, e declarando a sua independência,
5M 2
816 Miscellanea.
A confederação do Rhcuo está extincta, e todos os principes dr
alguma nota, que pertenciam a esta forçada e violenta liga, „• tem
revoltado, e unido aos Alliados. A Suissa sacudio o ju"o de seu
pretenso Mediador ; e supposto, que por hora sô se tenha declarado
neutral, ninguém duvida que e»te seja o primeiro passo para se re-
solver coutra a França. O Tirol, e parte das costas do Adriático
incluindo o importante porto de Trieste obedecem já ao Imperador
de Áustria, e quanto á Itália, Eugeuio Beauharnois, tem sido obri-
gado a retisar-se para aquém do Adige, com o fraco exercito que
commanda.
No entanto Napoleaõ continua a ter em prisaõ o Summo Ponti-
fice, e o legitimo Soberano da Hespanha; ma» estas victimas da
traição e da aleivosia, naõ podem com seu captiveiro melhorar a
condição do tyranno, antes servem de fazer mais conspicua a sua
horrorosa injustiça.
Em uma palavra, he chegado o momento em que Bonaparte deve,
sem remédio, vere humilhado o seu orgulho.
-*%%*».
HESPANHA.
Mo nosso N". passado fizemos mençaõ do uma accuiaçnS, que te fei rm
Cadiz, por meio dos Jornaes pnblicos, contra o exercito Alliado, na to-
mada de S. Sebastião, e temos agora a satisfacçaS de annunciar, que Lord
Wellington coofotou amplamente a calumnia. He verdade, que naO nega
o saque, nem as terríveis consequencins de uma tomada por asiallo ; mai
em prova da impossibilidade de impedir os males, alega com a circum-
staocia da grande mortandade dos officiaes Alliados naacçaO ; mortandade,
que deixou a soldadesca sem chefe», e por conseqüência tem tem superio-
res, que pudessem reprimir as violências, que se comattem em taet oceatí-
ocus: além disto, logo que soube o que te passou, mandou procurar o» cul-
pados, que punio mui exemplarmente. Convencido! como ettnmot, poi
uns razoens de que na3 podia fazer iiiais, na<J lendo nó» publicado a.
accusaçoens, julgamos qne naO he necessário deraorarmo-nos em copiara
justifiçaS daquelle chefe, ta3 bom general, como homem justo e humano.
O Ministro do3 Negócios Estrangeiros em Cadiz, fez um relatório k\
Cortes, tobre as relaçoens da Hespanha com outras Potências, em quo
menciona o protesto do Núncio do Papa, que ainda se acha em Tavira i rr*
fere os procedimentos da Corte do Rm-de-Janeiro, para com Buenot-
Ayrcs e Montevideo, expõem as relaçoens amigáveis que editem com »
corte de Palermo, mas qne aquella nação1 protestou contra o artigo da
Consti tuçaS, que regala a «uccetsaS á corda de Hespanha. Mostra ot bon«
.ermos em que estad com a Inglaterra; e que, ouc5 obstante nafl te ter
completado um tractado de subsídios, com tudo a Inglaterra aflereceo ar-
Miscellanea. 817
mas, muniçoens, e vestuário para um exercito de cem mil homens. A me-
diação Ingleza para com as colônias Hespanholas ficou suspensa ; As re-
laçoens, com Russia e Suécia, saõ as melhores. A Turquia ficoo neutral,
e permittio a residência de um Enviado Hespanhol cm Constantinopla.
O Governo dos Estados Unidos naõ reconheceo ainda Fernando VII-
como rey de Hespanha, e com tudo permittio-se a residência de um En-
viado na eapital ; naõ obstante apossou-se de algumas terreno de Hes-
panha.
O Secretario da Fazenda fez também o seu relatório, no qual conta com
um exercito de 140.000 homens de infanteria, e 18.000 de cavallaria, para
cuja mantença lhe falta dinheiro ; e explica o imprestimo de 8 milhoens
que a Regência contrahio, para occurrer a estas despezas ; e ainda assim
se naõ julgaram as rendas publicas adequadas ás despezas, e se propunha
pedir emprestado á Inglaterra dez milhoens.
Nos negócios do interior da Hespanha achamos uma oceurrencia algum
tanto ridícula, qne mencionaremos por curiosidade. Um Jornalista ob-
scuro da Irlanda, cnthusiasmado com a gloria de seu patrício Lord Wel-
lington, disse que elle merecia ser Rey de Hespanha, este despropósito foi
copiado para algumas gazetas lnglezas ; e sabendo-se isto em Cadiz, al-
guns Nobres da primeira ordem, taes como o Doque de Ossuna; o Viscon-
de de Gante, o Duque de Frras, fizeram nma declaração publica, por oc-
casiaõ disto; de que nunca obedeceriam a outro Soberano em Hespanha,
mais do que a Fernando VII. ou seus successores, segundo a ordem da
ConstituiçaS. Para quem entende que cousa hc a liberdade da imprensa
em Inglaterra, e como o jornalistas em suas conjecturas põem reys e tiram
reys, aquella solemne declaração parece um pouco irrizoria: mas isso
prova, o pouco que se entende na Hespanha o espirito, e modo porque
saõ conduzidos os jornaes públicos em Inglaterra.

Mudança do Governe para Madrid.


Extracto do Supplemento a Gazeta de Madrid, de 12 d'Outubro
A Regência do Reyno foi servida expedir o seguinte decreto :—
Don Fernando por graça de Deus, &c. &c.—E em seu captiveiro e au-
sência a Regência do Reyno nomeada pelas Cortes Geraes, e Extraordiná-
rias, a todos aquelles porqnem estas presentes forem vistas, ou ouvidas,
fazem saber, que as Cortes tem decretado o seguinte :—
As Cortes tem decretado, qne o Congresso, e o Governo haja de sahir
immediatamente de Cadiz para a Ilha de Leon, e que se mudarão para
Madrid taõ depressa houver informação de que tudo está prompto na-
quella cidade para os abilitar a começar suas sessoens ; excepto se as po-
liticas circumstancias da Europa e da Hespanha grandemente mudarem.
818 Miscellanea.
A Regência do Reyno o fará constar para seu comprimento t para que se
imprima, publique, e circule.
Dado em Cadiz, aos 4 d'Outubro, de 1813.
F. K. U K I.F.DESMA, Presidente.
R. FELICO, Deputado Secretario.
M. A. DEZOT*ALCAIU*E,:IJE, Deputado Secretario
Para a Regência do Reyno.
Nos por isso mandamos a todos os Tribunaes, Justiças, Chefes, Governa-
dores, e outras Authoridades tanto Civis rumo Militares, e Ecrlesiattica».
de qualquer classe, e dignidade, que o cumpram, e façam cumprir, pre-
heneber, e executar o pretente Decreto, em todas as suas partet.
Cadiz, 4 dOutubro, de 1813.
D. D E BOURBON, Cardeal de Scala, Arce-
bispo de Toledo, Presidente.
PEDUO DE Ar; MI.
GAMRIEI. CISCAR.

HOLLANDA.
As setteProvinocia Unidas, que constituíam, o que >e chamava comminn
mente Hollanda, victimas da perfídia Franceza ha tantos annus; sa-
cudiram aquelle pezado jugo, c declararam a sua independência. An-
nunciou-se em liava este a acontecimento pela seguinte notificação, aos
17 de Novembro.
'* Tendo sido dissolvido o Governo, se as cnu«a« roVinua-fcm assim,
por poucos dias que fosse, te poderiam temer a-, mais horroio^as conseqüên-
cias da saque, c effiisau de sangue; temos por tiinlo julgado k P r de nosso de-
ver convocar sem demora um ajunctamento dos principiara» membros e mi-
nistros do antino Governo, que sub-islia cm 1724, . 1795. O ajuncta-
mento se fará a manhaã pelo meio din,em casa de Mr. Gvsbert Carcl Von
Hogendorp, em Knrnterdyk."
(Assignados) V. V A \ D F . « DI;VN VAI» MtAnrv.
C. K. VA.V HoorvooRP,
O. RF.PELAEK VAN- Dnirr,
J. F. VAN- II....i MI ,
f. D. CnANcnoit,
T. C. D E JO\CK.
Em conseqüência desta convocação se nomeou um Governo Provi>ion.*il,
o qual mandou immediatamente uma deputaçaõ a Londre-, pedindo ao
Principe de Orange, que voltasse para a Hollanda a restabelecer o an-
tigo Governo, em que a tua familia tinha por tantos anno, gozado
da dignidade de Stadhoulder. O Principe de Oran-*e partio immediata-
mente. c se embarcou cm Deal aos 37 de Novembro, com a promci-a do
Miscellanea. [819]
Governo Inglez de que se lhe mandariam logo em seu auxilio 16.000
homens, parte dos quaes está j a embarcada.
Como os Hollandezes precizam neste momento alguma personagem que
ponham á frente dos negócios públicos, e que lhes sirva de ponto de re-
união, naõ obstante as consideraçoens, que estaõ em contrario, he indi-
zivel o enthusiasmo com que se olha para o Principe de Orange. As
authoridades Francezas, coui o chamado Duque de Placcnça (Le Brun) a
sua frente deitaram a fugir com a maior pressa que puderam, mas naõ
taõ velozmente que alguns naõ ficassem victimas do furor popular. Gor-
ciim lie o lugar para onde retiraram por haver ali alguma guarniçaõ ;
mas os exércitos Alliados do Príncipe da Coroa, e de Blucher, entraram
ja no território Hollandez pelo Norte. O susto dos francezes hc tal,
que evacuaram, sem fazer a menor restiteneia, as praças de Bergcn-op-
Zoom, Breda, e. Nimeguen ; quese acham agora orcupadas pelos patriotas.
Maestricht porem, posto que expulsasse os Francezes, naõ parece
decidida a abrir as portas ao partido de Orange. Os Cossacos entraram
em Amsterdam aos 23 de Novembro, e aguarniçaõ Franceza que se
tinha fechado na casa da cidade rendeo-seprisioneira. Roterdam e
Leyden saõ os quarteis-generaes dos chefes patrióticos e os Francezes
naõ se atrevem a passar de Gorcum.

INGLATERIIA.
A perseverança deste paiz em manter a guerra contra as usurpaçoens
Francezas, foi em fim coroada com o melhor successo ; e assim vemos hoje
em dia todas as naçoens da Kuropa seguindo o mesmo partido. Os sa-
crifícios, que a Inglaterra lie obrigada a fazer, saõ mni consideradaveis;
com tudo o credito do Governo parece naõ ter limites.
Pelo* tractados feitos com a Russia, Áustria, Prússia, e Suécia, que
publicamos neste N°. a p. 707 e seguintes, se obriga a Inglaterra a dar a
estas naçoens avultados subsídios, que augmentam a divida nacional, e
que pelo modo porque saõ feito-., isto hc garantindo o papel moeda con-
tinental, era de suppôr, que isto deteriorasse algum tanto o credito pu-
blico. Pelo contrario ; n-tõ *ó os empréstimos para os despezas correntes
vaõ adiante, in.-.s as acçoens do novo empréstimo se estaõ vendendo a 10
por cento de prêmio.
A falia de S. V. R. o Principe Regente, na abertura do Parlamento,
vai copiada a p. 70.3 ; e os principios de moderação, que ali se acham,
deram geral satisfacçaõ na Inglaterra; porque ficou ali declarado, que o
Governo Inglez naõ exige da França senaõ termos, que tornem a paz
segura, em vez de fazer uma trégua incerta.

POUTl'G AL.
Entre as reformas úteis, que temos tido a felicidade de testemunhar em
Portugal, desde que escrevemos este Periódico, he a publicação de certa*
820 Miscellanea.
contas, e rendimentos, que a Naçaõ tem direito he SHber como saíi arran-
jadas, e que he do interesse do mesmo Governo publicar, para adquirii
credito, e a confiancia da Naçaõ. A commissaõ, que administra as
contribuiçoens do Resgate d'Argel, continuou a ministrar ÀAcademia Real
das Sciencias de Lisboa os documentos necessários para se publicarem si
contas a este respeito ; e j a sahio o 3°. N*. impresso na Impressão Regia.
Isto he um modo indirecto ou tortuoso de fazer as cousas; porque a Aca-
demia das Sciencias naõ tem relação alguma com o arranjo de contas de
dinheiro:; mas assim mesmo louvamos a medida; por ser boa em si, pelo
exemplo que dá, e porque he preciso desculpar a pouca regularidade,
quando se se começa de novo em uma Naçaõ uma practica útil, de que naõ
havia exemplo. Vejamos agora unicamente a utilidade desta medida.
Acha-se feito o arranjo mercantil das contas com a clareza e distineçaõ,
que dependia da Commissaõ, e be para desejar que este louvável traba-
lho, c que tanta houra faz á Commissaõ do ReBgatc, continue até o final
ajuste do producto das loterias, distracte dos empréstimos, e principal-
mente a separação clara deste objecto, para que se naõ ronfundn com
outras despezas, que tejam de diversa natureza. E aqui devemoi
lembrar, que a naçaõ tem o direito a esperar que no N*. 4*. te publi-
quem os nomes, e condição dos resgatados, para que a ninguém Aque o
menor escrúpulo da exacta applicaçaõ dos fundos ao objecto tomente
aque os eontribuintes os applicáram. Naõ podemos inculcar dema-
siado, quanto o Governo ganha cm credito com ette honesto modo de
proceder.
A utilidade desta publicação fica evidente, quando contiderar-mos, que
por ella se pôde vir no conhecimento das faltai na administração • o
lembrundo as cousas, que pódein produzir duvida se oferece át partri
interessadas occasiaõ de dar cxplicaçoeut, e desfazer quaes quer sus-
peitas que possam occurrer, donde resulta, firmar-se cada ver mais e msis
o credito publico.
Por exemplo: esperamos nós uma etplicaçaõ dos 800.000 rtis, quea
p. 6 da collecçaõ N°. 1". a Juncta do Commercio deo do cofre do Mari-
nheiro da índia; e que differença fazem dos 4:000.000, que a p. 45 do
N". .1". se acham na lista dos donativos com apparencia de forçados;
porque a primeira quantia se diz extrahida daquelle cofre, e a segunda
se diz, que pertence a elle. Como este cofre pertence a certa classe de
prsoas, o publico tem direito de saber, com que authoridade, e porque
termos se fez uso deste dinheiro alheio.
Os nossos Leitores teraõ a bondade referir-te ao que dissemos em
outro N". deste jornal, relativamente a 4:000.000 de reis, que »e nppli-
cáiam ao res".ite; e que tínhamos duvidas n este respeito ; agora se ver»
por estas contas, que os taet 4:000.000 de reis foram tirados do Mari-
nheiro da índia; do que •• Juncta do Commercio naõ de\o ter di-
reito de dispor a seu arbítrio; pois aquelle dinheiro naõ he seu ; e na".
Miscellanea. 821
convém fazerem-se liberal idades do dinheiro alheio: mas como isto
pôde naõ ser assim uma explicação conveniente servirá de satisfazer o pu-
blico, de que,naõ obstante as apparencias, o que se fez foi justo e correcto.
A. p. 10 do N". 2 o . achamos tombem outro motivo de duvida, que vem
a ser uns 20:000.000 de reis recebidos do Rfo-de-Janeiro, sem que sobre
isto se diga mais nada. O Avizo de 28 de Novembro, de 1812, que pu-
blicamos no Correio Braziliense, (vol. x. p- 101.) he posterior ao rece-
bimento do dinheiro, que teve lugar em 7 de Agosto, de 1811 ; logo he
justo que se explique, que capitanias ou indivíduos contribuíram, para
se dar o louvor a quem o merece.
A transacçaõ do Almirante Ramires, também exige alguma explicação ;
que por oflerecendo S.Ex*. a p. 7, do N°. I o . 800.000 reis para o resgate de
seu filho, que estava entre os captivos, depois a p. 2*2 achamos que soli-
citou haver a si outravez aquella quantia. Ora as contribuiçoens da
naçaõ, evidentemente se deviam applicar primeiramente aos pobres, e
naõ aos que naõ precízam de esmolas.
Outro artigo, que naõ está claro a nosso modo de entender, hea quantia
de 2:000.000 de reis, que se consignaram pela Ribeira. • Donde, e como
sahio este dinheiro ?
Naõ temos a memor duvida de que nos N os . futnros, a Comuiissaõ dará
cabaes respostas a tudo isto, mas lembramos os factos para mostrar a
utilidede que se segue de taes publicaçoens, e que os Senhores do Governo
enteudam, que ha quem retticta nestas matérias.

No N°. 235 do Mercúrio Luzitano, achamos mencionada uma con-


trovérsia com o Redactor do Concizo de Cadiz, sobre certa passagem que
se referia a Portugal. Naõ desejamos entrar na matéria, e somente
falíamos nisto, para dar os parabéns á Naçaõ Portugueza dos progressos
que vai fazendo a Imprensa.
Quando o desejo de atacar o Correio Braziliense fez com que se per-
inittíssem em Lisboa as publicaçoens de Periódicos, em qne se inseriram
quantas invectivas lembraram a respeito do Correio Braziliense e de seu
Redactor, nós nos alegramos com isso, e previmos, que aquelle passo
necessariamente havia de contribuir para diminuir as restricçoens de
imprimir; com eileito temos visto depois o que nunca se observou em
Portugal, sobre a permissão de imprimir, e por fim lemos uma contro-
vérsia entre um Jornalista de Lisboa, e outro de Cadiz. He assim que se
começa, e naõ desesperamos de ver esta parte da administração publica,
fazer progressos de melhoramentos muito mais consideráveis.

GUERRA DO NORTE.
No nosso N°. passado tínhamos deixado a Napoleaõ na marcha de
Dresden, para Leipsic; e no decurso de um mez, este chefe orgulhoso
VOL. X I . No. 66- 5N
8á-2 Miscellanea.
peideo a decisiva batalha de Leipsic, c t-ndo sido dctliuidn o seu exercito
retirou-se para Frankfort c Mayence com um resto de 80.000 homens,
tendo «ahido a campo com 570.000.
Obstinou-se Bonaparte em conservar Dresden, como fez o anno passado
em Moscow, e o resultado foi o mesmo; isto he foi obrigado a retirar-se
o o fez taõ tarde, que j a se naÕ pôde salvar. O seu caminho era por
Lcipsic, c nesta cidade concentrou todas as suas forças. O Leitor verá
pelos documentos que publicamos a este respeito, que os Alliados tiveram
tempo de marchar de todos os lados, formando um circulo em torno de
Lcipsic, e do exercito Francez. Bonaparte oflereceo batalha e foi der-
rotado : nestes lermos rompeu a linha c fugio, e os Alliados entraram
Lcipsic por todas as partes, e de tal maneira, que á mesma hora se
acharam na praça publica de Lcipsic os Imperadores.de Russia, e Áustria
o Rey de Prússia, e Principe Real de Suécia.
Aqui encontraram o Rey de Saxonia, que Bonaparte tinha abandonado,
e o fizeram prisioneiro.
A cavallaria Alliada, seguio os restos do exercito Francez até Mnyrnce,
r Bonaparte chegou a Paris, a pedir outra conscripçaõ de 300.000 ho-
mens.
Os Aluados marcharam contra a França em tres columnas. Uma pelo
sul que vai juncta com as tropas Bávaras, unidas ja na Aliiança outra
pelo centro, a que se tem aggregado os Príncipes que formavam a confr-
deraçaõ do Rheno, outra pelo Norte, que commanda o Principe da
Coroa de Suécia.
Esta, tendo reduzido a nada o reyno de Wcttphalia, cujo rey-rnque,
Jeronimo Bonaparte, fugio logo'se vio em perigo; passou a restabelecei
o Eleitora !o de Hannover a seu legitimo Soberano; e dahi procedeo pira
a Hollanda. aonde os patriotas tinham ja feito preparativos para sacudir o
jugo Francez, e abrir as portas aos Alliados.
D.LVottít, que continuou cm Hamburgo, acha-se agera com a única re-
tirada, que podia ter, cortada inteiramente, vista a revolução da Hollanda.
e a sua uniaõ aos Aluados.
Deita maneira os Departamentos quese tem j a desmembrado da França,
contem uma população mui considerável; que juncto aos Principes, que
ahjuiáram a confideraçaõ Uo Itheno, tornam a França relativamente mui
fraca.
As percas Fraiice/as foram exactamente avaliadas no Berlin Conrespon-
de.nl de 6 de Novembio, acçaõ por acçaõ, com a declaração das datu* e
'ugarrs das batalhas; c montam 129.152 prisioneiros, 801 peças d' arti-
lüeiia ; e 2.906 carros de munição.
A isto se devem acrescentar 16.000 homens, qae se renderam com o
marechal St. Cyr, e u Dre-Jen, ao general Klenan ; e os perda» suh-e-
qurules aquella dali. Tudo o mais saõ m.irto», ou ettropiados oo ponto
a,- se naõ conto cm entra o. prisioneiro».
MiscelUmea. 823
Agora resta-nos considerar as vistas e fins da guerra. A falia do Prin-
cipe Regente da Gram Bretanha, no Parlamento, declara que, a guerra
se naõ faz com motivos de ambição, e que a Inglaterra naõ desej' 1
impor á França condiçoens humilhantes.
Na proclamaçaõ do Conselheiro Austriaco, Roschmanny, aos Tyrolezes,
publicada em Botzen aos 24 de Outubro, se acham estas notáveis pa-
lavras.
•' A determinação dos limites de cada Estado, naõ dependerá para o
futuro do prazer de um só Soberano, nem do direito de conquista, porém
sim do consentimento das outras Potências. Tal he o desejo de meu Amo
—o objecto desta guerra—o espirito da paz, que se deve conquistar, e que
restabelecerá a todos os povos da Europa os seus direitos."
Se as primeiras Potências da Europa concordar em neste principio, ve-
remos restaurado o Direito Publico, e das Gentes; que a revolução
Franceza tinha derribado, e pizado aos pés, começando com o pretexto
das mudanças, que os antigos Governos precisavam ; eacabando com obrar
tudo quanto a sua desenfreada ambição e cobiça lhe dictava, dando por
toda a razaõ, como Bonaparte tantas vezes declarou, que isso convinha á
França : e apoiando a usurpaçaõ com o poder das armas.
Este estado violento das cousas, cm que se negava até a existência do
do direito Natural, e das regras imm.uta.vei» da moral, naõ podia ser de
duração; e se a infelicidade fosse tal que elle durasse, os Europeos se
tornariam taõ selvagens como os mais bárbaros, e ignorantes Alfricanos.
Aquellas palavras portanto da Proclamaçaõ, que citamos, nos fazem
crer, que se contempla • estabelecimento de algum Congresso, em que os
grandes direitos das Naçoens se discutam: e nada he mais fácil do que
isso, se as Potências Principaes garantirem as dsecioens de tal Congresso
amas ás outras : a ley decidirá entaõ e naõ a força.

5 N 2
824 Miscellanea.
CONHESPONDENCIA.

Carta ao Redactor sobre a innoculacaÕ da Vaccina.


tnR. REDACTOR DO CORREIO BRAZILIENSE.

Ainda qne o Jornal, qne V. M. com muita propriedade chama pseudn-


scientifico, pertendea, passados 4 annos à publicação de um opputculo
que por ordem de S. A. R. se imprimio aqui sobre a Vaccina, chlcaaear a
ditta publicação, ou o autor, naõ se fez muito cato ditto ; porque alem de
ter neste tempo o auctor muitas mais coisas, e de muito maior interesse
em que cuidar, dava lhe o desconto, aquelle que tem sempre os qoe es-
crevem para adular, e para ter que comer ; isto he adular o perseguidor
dos Portuguezes. E ninguém melhor que V. M. tabe qne outro tempo
antes de se começar a publicar o ditto pseudo-Jornal lhe levava a sua
Caza um dot actuaes redactores papeladas calumoiatorias escritas pelo
ditto perseguidor contra Portugueses de conhecida honra para te interlrem
no Sen Jornal, cujos originaes V. M. deve ter.
Quando naõ havia que fazer que olhar para ceo, e mar respondeo te io
Patrão do pseudo-Jornal scientifico, a qual resposta te naõ tem feito
publica porque ainda tem bavido colzas de mais iotereate em qne cuidar:
mas bade apparecer breve, naõ tanto porque se esteja persuadido qne o
que se avança no tal pseudo faça moça na opinião publica, multo menos
na do Mondo literário mas tim, porque este foi, e he o gosto de quem te
consultou na Corte, e a quem se respeita.
No entanto em quanto se naõ publica se faraõ algumat observaçoens
sobre o qne se lé no teu Jornal N. 03. Dizendo primeiro que tudo, que
te respeita muito as aoctoridadet conttituidas pelo Soberano, mas muito
mais a auctoridade, donde elles emanaÕ, o Mesmo Soberano, e por liso
quando ellas tendem a desfigurai!»», te naõ comprometello, cessa tal res-
peito, que se inverte immediatamente em desprezo : e os que assim naõ
pensaõ taõ duas vezes, segundo a tua phraie, godoianot; uma, porque
assim obrava Manoel de Godoy quando se servia do Nome de Cario» 4
para auetorizar quanta indignidade te podia conceber contra a Soberania,
e o caracter nacional, e ate a entrada de Murat em Madrid, e a prizaõ
da familia Real. Segunda vez godoiano, porque he taõ detcarado qae
nem lhe faz abalo o que he sahido e conhecido por todot ot seus con-
temporâneo». Em uma palavra naõ be ja tempo, vido» o» facto», de crer
niait nas auctoridade» coaititaidat, que DO iatereMe dellas, o da fonte
d' onde emanam ; porquanto o» Soberano» mandaõ respeitalla» condicio-
nalmente, e em quanto ella» o naõ atraiçoaõ, alia» reoovaõ-te at Sceuat
godoyauas, e os godoy» ! vamos áo cazo.
Segundo se vé no N. 63 do seu Jornal a pag. 248 e 843 fet-te pastar
nma carta circular denominada do governo ao» Prelados Dioceiono,, e
outra ao» corregtdort das eoiumareas a fim de se fazer promover a Vac-
Miscellanea. 825
cina com todo o rigor religioso, e civil! Nada mais natural segundo
os princípios de toda a impulsaõ servil, sem entrar o automatismo orange-
tangico, que haver taõbem cm Portugal o seu holocausto vaccinal obrigado ;
e a sua adoração a matéria patrida das pústulas, que nascem nas tetas
das vaccas a que rhamaõ hoje os illuminados o Mima specie; perservator l
porem nada he mais fora de propozito, e de menos lógica, do que os
principios, e dados para o ordeno:
Pois principia a carta: sendo a Vaccina reconhecida por todas as Na-
çoens civilizadas, como perservativo innocente da funesta epedemia
das Bexigas &c. Naõ se Sabe o que o Dezembargador chama todas as
Naçoens civilizadas: se saÕ as do Continente da Europa, devia saber que
nestas mesmo ha diversidade de oppinioens sobre isto : e que em quanto
aos governos isto nada valle, pois devia se lembrar que ja houve tempo,
em que todos os governos do Continente da Europa foraõ de um accordo,
digo do accordo Bonaparti Seruitutis a que se chamava o Sistema Con-
tinental, e que S. A. R. o Principe Regente de Portugal se naõ quiz
conformar com taes ideas geraes, e de Cuinmum acordo, que quizeraõ
seguir todos os governos denominados civilizados da Europa 1 Portanto
este preâmbulo vai varrado, e naõ tem nem sombra de Lógica.
Em quanto ao que se diz para diante na Carta—até com o paternal
exemplo que deu o Principe Regente N. S. fazendo vaccinar seus Au-
gustos Filhos, ou he engano, ou impostura—porquanto até Novembro de
1812, naõ só se naõ tinhaõ vaccinado os Augustos Filho» de S. A. R.
o Principe Regente, mas continuava a ter toda a aversão a tal o Mesmo-
Senhor em conseqüência dos funestos, e repetidos effeitos, que se tem
visto sobrevir em todo o Brazil ás pessoas vaccinadas, no que era taõ bem.
conforme S. A. R. a Serenessima Princeza D. Maria Thereza a ponto
de ter dezengenado um zeloso e accerrimo Vaccinante a respeito da
pertençaõ de querer sacrificar e vaccinar S. A. R. o Senhor Infante
D. Sebastiam ; o que tudo se sabe até por se ter tido a honra de ouvir
fallar S. S. A. A. contra está mania Vaccinal. Se sequer dizer na
carta que S. S. A. A. o Senhor Infante D. Miguel, e a Senhora Infanta
D. Izabel Maria foraõ vaccinados, há mais de 8 annos ; he um facto, porem
he igualmente outro facto, e quese deveria mencionar na carta, que foi
esta vaccinaçaõ dos dois Senhores uma concauza á taõ justa aversão,
que S. A. R. tem para com a vaccina, isto pelo resultado ; pois que sendo
a Familia Real taõ sadia, c gozando os Senhores de taõ boa saúde saõ
os dois vaccinados dos sete, que tem S. A. R. os que soffrem, e que
menos bem pas saõ e isto naÕ se avança ás cegas, dillo, e pode o dizer
quem vive áo pe dos Senhores, e no Paço, e quem he capaz de ver ás
coizas com critica, e conhecimento ; e graças a Deus sem preocupação e
obstinacidade, em fim sabe o S. A. R. e he o que basta—Portanto o
argumento de se dizer em 1813, que os Filhos de S. A. R. foraõ vacci-
nados (lendo todos 7, e só dois os vaccinados em 1805, e com bem más
826 Miscellanea.
conseqiiencia», que he o que tem augmentado a justa aversão d. S ,\. f{_
a taõ detestável practica) he argnmento contraproducente, c que >ó
impõe a ignorantes dos factos, e do que se tem passado.
An que diz a carta no fim—Sua Alteza Real Manda remeter a V. I V .
alguns exemplares das instruçoens sobre o modo de vaccinar, a rim de que
V. l . \ \ possa divulgar estes necessários conhecimentos &c. tem a tei.
ponder-se que Sua Alteza Real mandou em 1807 imprimir e publicai
um folheto a Sua Custa contra a vaccina, c que desde entaõ para ra tem
acerescido razoens, e factos para o Mesmo Senhor ser cada vez maiscoutr-i
similhante, e abominável practica.
l i e gallante a primeira recomendação ao» Bispos em que se lhes dir
que lie melhor promover a Vaccinaçaõ pelo exemplo, qne pelo Consrlho ;
isto he que façam vaccinar toda a familia Episcopal, c todos os fnr-
nigoens dos Seminários, em uma palavra tudo de prima tonsura para
cima 1 Donde quasi se collige, que entra a Unçaõ Vaccinal em algum
dos grãos das ordens! ridiculum alaue profanum l
Se ressusitasse o Legislador dos Hebreos, o Lrlislador dos Anibes, n
que naõ diriaõ ? Vendo uma Religião, donde, o grande que tem as suai
aos olhos de todo o Mundo, foi tirado, profanada, e sevandijada com
annexins, e o mais he de transubstanciaçuõ ! taõ impuros, e ridículos'
Diriaõ sem duvida ; quam melhor, c mais proveitozo naõ terin á raça.
Portugueza, que aquelle que ser occupa em obrigar a enxetlar nu consti-
tuição tenra, e delicada dos rccemnascidot Portuguezes uma matéria piiru-
lenta das Pústulas, que nascem nas tetas das Vaccas, se oecupasse em fater
persuadir o Povo, e a Naçaõ, qne se lavasse mais, e mai, repetidas
vezes.
Diriaõ sem duvida, quam melhor, e mais proveitozo naõ seria qm
aquelle que se occupa em obrigar a enxertar moléstias de Brutos na l-.cono-
mia Animal, se oecupasse em reccomendar limpeza e areio aos seus com-
patriotas para assim se evitar a immensidade de Sarnas, Tinhas, e as im-
mensas moléstias cutâneas, que tanto preduminaõ em Portugal !
Em tim diriaõ, quam melhor naõ seria estudar o homem, e a Natureza
que fazer de Macaco, e a cega immilaçaõ de autômato crendo mais em
jornaes doque talves no credo. Masque importa o que ellct diriaõ ie
ressuscitavam em um século, em que era moda çujar em lugar de limpar:
Tal he a Higiene que o Legislador das Portas de Sol! tem achado mrlboi
a mais apta para regenerar a sua espécie ; e tal he o contraste do nu»»,
Alroram com o de Mafoina.
F.ste ao menos no meio de todas as suas impiedades, e absurdos unio i
religião como ponto essencial ao Bem Ser dos Homens, e da raça Humana,
a limpeza. Aquelle porém sem a menor critica sacrilegamenle profana
uma religião toda santa, servindo se d'clla para obrigar a Naçaõ a que se
iniporralbe, e. a sua descendência.
Em quanto a carta aos Corregedores he gailante arcccommcndaçaõ, q'"
Miscellanea. 827
se lhes faz, isto he, que promovaó, a vaccinaqaC por todos os meios. Seroinda
.<« porem unicamente da penuazav, e do exemplo, e nunca da auctoridade (fc.
Manda-se aos Corregedores, que naõ saõ nas suas respectivas comarcas,
(pie auctoi idades tem veis, e que nada intimaõ senaõ de vara alçada;
que fjçaõ i.-lo por pcrsunzaõ, c nunca por auctoridade ; rUum leneatis.
E logo para baixo diz.
4. Que V. M. procure fazer vaccinar todos os indivíduos, que estiverem
de baixo da nua immediata direcaú. Jiló he, lodo o povo da comarca : de
sorte que devem ser as correiçoens mais repetidas, e em lugar da in-
specçaõ das egoas, que tem competido aos Provedores devem agora o»
Corregedores inspectar as Vaccas, as tetas, e as suas vizinhanças. . . .
Eu, Snr. Redactor como estou na posse, e no habito de nem por sombras
admittir disfiguradores ás qualidades do Melhor dos Príncipes, custe o
que custar, e vi pelo seu Jornal querer se impor á Naçaõ Portugueza
com o Nome Sagrado de S. A. R., e com, a Sua Augusta Familia tomei
esta occaziaÕ para lhe declarar, c aos que lerem o seu Jornal, que as ideas
de S. A. R. o Principe Regente saõ mais claras e exactas que as dos tra-
palhoens, e que graças a Providencia tem os Portuguezes um soberano de
uma p-rspicacidade, e agudeza de Intendimenlo muito supperior ao
coinmum dos homens: o tolerar S. A. R. practicas oppostas a Sua In-
tima e Real Persuazaõ prova a Sua Extrema Bondade de que se naõ
deveria a!)uzar. Sou muito attento venerador.
ANTI-IMPOSTO i».

Funchalense. No. N". seguinte.


CORREIO BRAZILIENSE
D E DEZEMBRO, 1813.

Na quarta parte nova os campos ara,


E si* mais mundo houvera Ia chegara.
CAMOENS, c. vn. e. 14.

POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.

EDICTAL.
Domingos Jozé Cardoso Commendador da Ordem de Christo,
Desembargador da Casa da Supplicaçaõ, e Commissario
em Chefe do Exercito Portuguez, por S. A. R. o Prin-
cipe Regente Nosso Senhor, SCc.
IS AO tendo esquecido aos Paternaes Cuidados de S. A .
R. todas as providencias, que as circumstancias actuaes
tem offerecido para remediar os males, q u e a presente
guerra tem oceasionado aos povos : pelas providentes or-
dens, que me foraõ dirigidas em l de O u t u b r o do corrente
anno, também tem mercido a sua consideraç;iõ o pagamento
das dividas de transportes a t r a z a d a s ; mandando consignar
para esse fim sommas equivalentes para se amortizarem ;
mas sendo necessário saber-se ao certo a importância das
ditas dividas, para regular os pagamentos com a igualdade,
que he própria da sua indefectível justiça, naõ he possivel
verificarem-se nesta parte as justas intenções de S. A. R.,
sem que primeiro sejaõ reunidos, e legalizados todos os
documentos, q u e existem em poder das pessoas, a quem
pertencem.
Fará verificar pois esta medida assas necessária, vou por
este Edital fazer publico, que na Corte e Provincia da E x -
tremidura está authorizado o assistente cotnmiisario, Cle«
Voh. X I . N o . 6 7 . 5 o
830 Politica.
mente Eleuterio Amado, para receber todos os documen-
tos, que se lhe apresentarem das dividas dos transportes, (
que o mesmo está obrigado a dar ús partes cautelas inten
nas, que seraõ as copias dos mesmos documentos, etn
quanto lhes naõ entregar os seus legitimos titulos.
Que do mesmo modo estaõ authorizados no Algarve o
deputado Joaquim Gomes de Abreu, residente em Kxtrc-
moz ; na Beira-Baixa, o commissario José Antonio Vcloso
residente no Rocio de Abrantes; na Beira Alta, o assistente
commissario Manoel Lopes de Figueiredo, residente no
Porto da Raiva, e o deputado commissario geral Joaquim
de Magalhães e Menezes, residente em Lamego; no Porto
e Minho, o commissario Domingos Joaquim de Almeida,
residente na dita cidade ; e em Tras-os-Montes, o depu.
tado Francisco Luiz Ferreira, residente em Chaves.
Que os sobreditos empregados estaõ munidos de iustruc-
ções necessárias para promover as sulemnidades, que a lei
exige para validade dos dictos documentos ; facilitando-se
deste modo ás Partes as diligencias, que de outro modo
seriaõ muito incotnmodas ; em razaõ das grandes distan-
cias, em que se acham os empregados, de quem dependem
as sobreditas solemnidades.
Que para maior commodidade das Partes estaõ também
authorizados os Ministros Territoriaes, para receberem os
referidos documentos, passando cautelas interinas, e ha-
vendo dos sobredictos deputados as copias acima ditas, para
entregarem ás partes, as quaes ficarão inteiramente tendo
a mesma validade, que os originaes donde forem extra-
hidas.
Que depois de reunidos, e Jegnlizados t- referidos docu-
mentos, seraõ numerados os títulos, que se houverem de
dar ás partes, para por via delles serem chamados por sua
ordem para os pagamentos, que se houverem de fazer.
Que aquelles Vales, que naõ poderem ser legalizados
por defeituosos, seraõ entregues ás partes para usarem do-
Politica. 831

recursos, que lhes competirem, e nos mesmos Vales será


declarado o motivo, porque naõ saÕ approvados.
Todas as referidas providencias, que S. A. It. foi servido
estabelecer, devem ser executadas com a maior exactidaõ
possivel pelos empregados para esse fim escolhidos ; e sup-
posto mereçaõ toda a confiança, todavia, sealgu.n se mos-
trar omisso nas diligencias, d e que foi encarregado, h iven-
do parte queixosa, será por sua via indemnizada ck- todo
o prejuizo q u e soffrer : do que para constar, mandei affixar
o presente Edital, que vai por mim assignado.
DOMINGOS JOZE CARDOSO.
Lisboa, 12 de Novembro, de 1813.

Provisão de reprehensaõ á Câmara de S. Miguel.


Em conseqnencia de immediata resolução de S. A. R.
tomada em consulta da Meza do desembargo do Paço d o
Rio de Janiero, se expedio pela mesma meza em data de
Março deste presente anno uma provisão dirigida ao Cor-
regedor da Comarca de S. Miguel, vereadores e mais offi-
ciaes da Câmara da cidade d e Ponte Delgada, na qual S .
A. R. foi servido desapprovar e extranhar muito severa-
mente o precedimeiuo, que com o vereador mais velho
Jaquim José Alvares Cabral tiveraÕ os mais veradores e
procurador da dita de commum acordo, ou antes por uma
maquinação do J u i z de Fora servindo de corregedor, sus-
pendendo-o despoticameiite do Cargo de J u i z pela O r d e -
nação, com o pretexto de emendar excessos e abusos do
referido J u i z Cabral, contra os quaes tinhaõ os remédios
das leis e recursos competentes ; declarando a dita provi-
são ser este facto e x t r a n h o , praticado sem authoridade e
jurisdicçaõ, uma usurpaçaõ formal dos supremos direitos
da Soberania, e ordenando S. A . R . , que no caso de s e n a õ
haverem nomeado depois novos vereadores, fosse restituida
a vara ao dito J u i z , ao qual ficanaÕ obrigados a indemni-
zar por todas as perdas e damnos, q u e se liquidassem,
•> o 2
832 Política.
tanto o Corregedor interino como os vereadores que n«: *_
nâraõ o absurdo termo de suspensão, que se mandou tran-
car e riscar, de fôrma que mais naó possa ler-se para naô
ficar memória de um taõ escandaloso c funesto exemplo.

ÁUSTRIA.
Proclamaçaõ" publicada pelo General Von Hillcr em Trenlo, em 2a
d •Outubro, de 1813.
Povo DE ITÁLIA,—Tenho passado o» Alpes com um exercito de
80.000 homens, e entro nas planices da Itália. A Providencia vai a
por termo á tyrania que vos opprimia, que sacrificava oi vossos
-filhos no norte da Hespanha por uma injusta causa; paralisava o
commercio, e a industria, e espalhava a desolação pelos campos do
Itália, taõ favorecidos pelo Ceo. Eu tenho oecupado os passos de
communicaçaõ entre a Itália, e a Áustria, lenho rodeado cm suai
fontes, o Isonzo, o Tagliamento, o Piava, e o Brenta, e tenho tor-
nado impossível para o vosso General-em-Chefe o escapar-me, para
qualquer parte que se volte. Verona, Mantua, Milam, esperam ter
libertadas em poucos dias. 0 Norte, o Este, e o Oeste da Europa
tem fornecido todas as suas forças, e a flor da mocidade de sua po-
voaçaõ, para restabelecerem a independência de seus Estados, e ja
agora estam livres. Procurai na Áustria, na Russia, na Prússia, e
na Hespanha o Francez que governava o mundo 1 acliarcii cadáveres,
prisioneiros, feridos, e traços de devastação, porém o inimigo já là
naõ tem corpo algum de tropas cm armas.
As excellentes provincias do Sul da Europa devem também parti-
cipar da alegria do inundo, a fim de que voltem os teinpoi antigos,
de ordem, e de justiça. O meu Soberano foi servido confiar-me cita
grande obra; levantai-vos, portanto, povos de Itália, vos sabeii o»
meios de resistência que o inimigo tem para me nppor, vos liem
vedes que saõ os ultimos. Eu tenho debaixo das minhas bandeiras
30.00U homens que ainda naõ tem pelejado nesta santa guerrt, o
que estam ardendo em dezejos de terem parte na gloria daquelle»
que os precederam. Novos exércitos se estam formando além dos
Alpes; a sorte da Itália está decidida; lembrai aos vossos filhos que
elles nasceram no antigo paiz da gloria, e que » cumulo da f;ioT,s*
consiste era combater debaixo das bandeiras do mais justo dos Mo-
narcas, pela paz do mundo, e pela independência das naçoens.
O General d'Artiiheria, Commaodantc-eni-Chcfc dos Imperiaes
e Reaes Exércitos do Tyrol, e da Itália,
Baraõ HILLFII.
Politica. $33
BAVIERA.
Declaração de Guerra contra a França.
Todos sabem as relaçoens que estes últimos oito annos tem ligado a
Bavária â França, assim como também os motivos qne as ocrazio-
•aratn, e a escrupulosa boa fé cora que o Rey tem preenchido as suas
condiçoens. Outros Estados, gradualmente seguiram o primeiro
Alliado do Império Francez. Esta juneçaõ de Soberanos tomou a
forma de uma Uniaõ, de uma natureza de que a Historia de Alema-
nha mostra mais de um exemplo. O Acto de Confederação, assignado
cm Paris cm 12 de Julho, de 1806, ainda que imperfeito, estipulou
as condiçoens mutuas que deviam existir entre os Estados Confede-
rados, e S. M. o Imperador dos Francezes, como Protector desta
Aliiança.
O fundamento deste tractado, de ambos os lados, era o interesse de
ambas as partes, nem outro podia existir; porque de outra sorte este
Acto de Confederação nao seria senaõ um acto de incondicional sub-
missão.
Entrctando o Governo Francez mostra tello considerado neste
sentido, porque em todos os actos que se seguiram aquelle solemne
contracto nunca teve em vista a applicaçaõ dos pontos funda-
mentaes que faziam a guerra Continental mutua para as differentes
partes contractantes, nem o espirito, nem a intenção que presidia em
seu teor, porem deo-lhe, de seu próprio capricho, a mais extensa
explicação: requeria, á sua vontade, as forças militares da Confede-
ração, para guerras que eram inteiramente alheas de seus interesses,
e cujos motivos lhes uaõ tinham sido previamente intimados.
A Bavária, que considerava a França como o principal sustenta-
culo de sua preservação, porem cujos principios, naõ obstante, lhe
causaram' os mais sérios cuidados, preenchia com reflecçaõ to-
das as obrigaçoens para com a França com o maior zelo e integri-
dade; para cila nenhum sacrifício parecia demasiadamente grande,
para satisfazer aos desejos de seu Alliado, e para contribuir para a
restauração da Paz Continental que se dizia ser o fim destas renova-
das emprezas.
Quando, cm 1812, o Imperador Napoleaõ determinou a guerra
«outra a Russia, exigio da Bavária o contribuir cora o maximum do
seu contingente. Esta guerra éra innegavclmcnte toda alhea dos in-
teresses da Bavária; foi-lhe doloroso, em todos os respeitos, soffrer
que as suas tropas marchassem contra um Estado que tinha sempre
sido seu amigo, e que por muitos tempos passados fôra o affiançador
da sua independência, e contra um Soberano que hc ligado á família
834 Política.
Real por um dobrado vinculo de parentesco. Ja o Ministério Fran-
cez se tinha exprimido nos termos mais assustadores, e mesmo oi
tinha proclamado em documentos diplomáticos á face da Europa.
Estas expressoens naõ tendiaõ, senaõ a representar os Estados da Con.
federão como se elles fossem os vassallos de França, e seus Principes
ligados, sob pena de traição, a tudo o que S. M. o Imperador Napo-
leaõ quizesse exigir delles.
Naõ obstante o receio que a expressão de principios taes deve ne-
cessariamente causar, ainda a Bavária se resolveo, como naõ tinha
ponto de lei que apoiar, a consentir que 30.000 homem das suas tropas
•e reunissem ao exercito Francez. As desgraças sem exemplo que
distinguiram aquella campanha saõ demasiadamente bem conhecidts
para aqui fazer agora a triste descripçaõ dellas. Todo o exercito
Bávaro, incluindo um reforço de 8000 homens, que se lhe reunio no
mez de Outubro, foi destruído. Poucas familias ha que naõ andas-
sem de lueto por aquella catastrophe; e o que mais dôr causava ao
paternal coração de S. M., era que Unto sangue tinha sido derramado
em uma cansa que naõ era a da naçaõ. Entretantofizeram-sepre-
paraçoen» para uma nova campanha, e Bavária, que era tam adhe-
rente ao seu alliado, quanto desgraçada, naõ hesitou em tornar a por
os debilitados restos de 38.000 Bávaros que tinham combatido de-
baixo dos estandartes Francezes, em uma nova divisão. No começo
da campanha, gloriosos prospectos coroaram as f.rmas do Imperador
Napoleaõ, tam freqüentemente victoriosas. A Alemanha, e toda a
Europa, cria que, como o Imperador se achava entaõ em uma con-
dição em que podia mostrara sua moderação, sem se expor talguma
suspeita de fraqueza, acceitaria a mediação que Áustria, pelos mais
sábios c generosos motivos, offerecia, para o fim de procurar paz
ao mundo, ou pelo menos ao Continente. Esta esperança foi des-
truída. Pelo contrario vio ella crescer o numero de seus inimigos
pela poderosa coaliçaõ de Áustria, á coaliçaõ ja formada contra o
Imperador Napoleaõ. Desde eite momento, a situação da Bavária
tornou-se mui critica. A energia do Governo Bávaro, e o affecto de
uma naçaõ, que naõ considera pezado sacrifício algum quando he ne-
cessário provar o seu amor para um adorado Soberano, tinha Ja, como
por um poder mágico, creado um novo exercito o qual marchou
para as Fronteiras da banda da Áustria; porem o exercito Francez
a que o Imperador Napoleaõ tinba dado o nome de Exercito da
Observação da Bavária, e que se estava reunindo nas vizinhanças de
Wurtzbourg* e nos territórios circumvizinbos, cm vez de apoiar o
exercito Bávaro, de repente recebeo outro destino. Nesta critica
Politica. 835
situação naS se dignou o Imperador Napoleaõ empregar «obre o
seu mais fiel Alliado, a menor consideração dos meios de sua pro-
tecçaõ. Nem o segundo Exercito de Observação que estava para
se ajunctar debaixo do commando do Marechal Augerau, se chegou
a formar, e o seu débil casco, que estava ainda em Wurtzbourg,
inteiramente dcsappareceo. Estando desta maneira totalmente
desamparado, S. M. teria infringido o mais sagrado de todos os de-
veras, se naõ tivesse cedido aos desejos dos seus fieis vassallos, que
diariamente mais se manifestavam. Os Soberanos Alliados contra
a França naõ deicharam de informar o Governo Bávaro dos prin-
cipios de moderação que o animava, e de assegurallo da sua formal
garantia da integridade do Reyno de Bavária, e de todas as tua*
fronteiras, como eram naquelle tempo, com condição qne o Rey
havia de ajunctar suas forças de guerra ás delles, naõ para
continuarem uma guerra de ambição contra a França, mas para
assegurar a independência das Naçoens Alemaãs, e dos estado»
de que ella consiste, e para obrigarem o Imperador Napoleaõ
a assignar uma paz honrosa. S. M. naõ podia recuzar similhantes
proposiçoens sem se fazer criminoso para com os seus vassallos,
c sem ser cego para com os sagrados principios sobre os quaes a
sua conservação somente pode ser fundada. Confiando plenamente
cm tam francos, e generosos oferecimentos, rcsolveo-sc portanto
a acceitallos em toda a sua extençaõ • e a concluir uma aliiança com
os tres Principes, contra as extensas vistas que a França tem mos-
trado manter, e para os bons eflèitos do que S. M. ha de fazer os
seus maiores exforços. S. M. deseja que uma prompta paz, haja de
restaurar cedo as relaçoens que el!e naõ teria abandonado, a naõ ser
a illegal extençaõ de um poder, que se fazia cada dia mais insuppor-
tavel, que o obrigou a dar este passo, c a fazer a aliiança q ac féza
Daqui em diante, S. M. unida nos interesses, e nos sentimentos com
os seus altos, e poderosos Alliados, naõ ha de desprezar meio algum
que possa contribuir para tornar inais apertados os vinculos que •
ligam a elles.

CONFCDERAÇAÕ SllISSA.
Nos os Landamman, e os Membros da dieta dos 19 cantoens da con-
ederaçaõ Suissa; a vos, caros confederados, saúde. A guerra que
ha pouco estava longe das nossas fronteiras, vai-se approximando do
nosso paiz, e das nossas pacificas habitaçoens. Debaixo de taes cir.
cnnstancias era do nosso dever, como Deputados dos Cantoens Confe-
derados, reflectir maduramente sobre a situação do paiz. para dirigir
836 Política.
comnumicaçocns ás Potências Beligerantes, e fazer todas as ulterio-
res disposiçoens que as circunstancias pedem.
Fieis aos principios de nossos antepassados, temos em virtude e
ordens do nosso governo, declarado, com unauime voz, e vontade a
neutralidade da Sussia.
Nos vamos transmitir, e notificar nas mais próprias formas, aos
Soberanos em guerra, o solemne acto que acabamos de passar com
esta intenção.
Graças á protecçaõ divina, a observação de uma cxar.ta neutralida-
de tem, por muitas idades, afiiaiiçado a liberdade, e repouso do nosso
paiz ; Agora, da mesma forma que em outro tempo, so esta neutrali-
dade compete à nossa situação e ás nossas necessidade*. Nos, portan-
to, dezejamos estabelecella, e fazella respeitar por todos os meios que
estiverem em nosso poder: nos dezejamos assegurar a liberdade e a
independência da Suissa, manter a sua prezente constituição, r preser-
var o nosso território de todas as tentativas; o que he o fim de todos
os nossos exforços.
Para este effeito dirigimo-nos a vos, caros Confederados de todos
os Cantoens da Suissia, e vos damos immediatamente informarão
da declaração que acaba da ser publicada, A Dieta espera de cada
um de vos, quem quer que sejais, que haveis de obrar nas mesmas
vistas; que haveis de contribuir por todos os meios para a causa
commum; que haveis de fazer todos os exforços e sacrifícios que o
bem do paiz, e a sua preservação pedirem; e que assim toda a na-
çaõ se mostrará digna dos seus antepassados, c da felicidade que elles
gozaram.
Queira o Soberano Senhor do mundo acceitar a homenagem de
nossa profunda gratidão pelos immensos benefícios que ategora tem
espalhado sobre o nosso paiz, e seja a preservação, a tranqüilidade, e
a felicidade deste Estado, posto debaixo da sua protecçaõ, concedida
ás nossas súplicas.
Dada em Zurich, cm 20 de Novembro.
O Landamman da Suissa, Presidente da Dieta,
(Assignado) J. I)s* Rr.iNHAnn.
O Chanceller da Confederação,
(Assignado) Monuso-r.

Declaração das Potências Alliadas.


O Governo Francez ordenou uma leva de 300.000 conscriptos.
Os motivos do Senatus Consultum para aquelle effeito, coutem
Politica. 837

uma appellaçaõ ás Potências Alliadas. Elias portanto se


acham compellidas a promulgar de novo, á face do inundo, as
vistas que as guiam na presente guerra, os principios, qne for-
mam a baze de seu comportamento, os seus desejos, e as suas
determinaçoens.
As Potências Alliadas naÕ fazem guerra á França, mas sim
contra aquella preponderância altivamente annunclada,—contra
aquella preponderância, que, para desgraça da Europa, e da
França, tem o Imperador Napoleaõ por muito tempo exercitado
alem dos limites de seu Império.
A victoria tem conduzido os Exércitos Alliados até ás
margens do Rheno. O primeiro uso que Suas Magcstedas Im-
periaes e Reaes fizeram da victoria, foi offerecer paz a S. M.
o Imperador dos Francezes. Uma postura fortalecida pela
accessaÕ de todos os Soberanos e Principes da Alemanha, naõ
teve influencia nas condiçoens daquella paz. Estas condiçoens
eram fundadas na independência dos outros estados da Europa ;
as vistas das Potências saÕ justas em seu objecto, generosas
e liberaes na sua applicaçaõ, dando segurança a todos, e honra
a cada ura.
Os Soberanos Alliados desejam qne a França seja grande,
poderosa, e feliz; porque a Potência Franceza no estado de
grandeza, e força, he um dos fundamentos do edificio social da
Europa. Ellas desejam que a França seja feliz,—que torne
a reviver o commercio Francez,—que as artes, aquellas ben-
çaõs da paz, floreçam outra vez; porque um povo grande so-
mente pode estar tranquillo á proporção que for feliz. As
Potências confirmam ao Império Francez uma extençaõ de
território, que a França nunca teve, cm tempo de seus reys;
porque uma naçaÕ valorosa naÕ decahe de sua graduação, por
ter em seu turno experimentado revezes, em uma contenda
obstinada e sanguinária, em que tem pelejado com sua custu-
mada valentia.
Porem as Potências Alliadas desejam também ser livres,
tranqüilas, e felizes. Ellas desejam um estado de paz, em
que, por meio de uma sabia divisão do poder, por um justo
equilíbrio, se possa daqui em diante livrar o seu povo das in-
V O L . X I . N o . 67. 5 p
838 Política.
numeraveis calamidades, que tem oprimido a Europa, por estes
vinte annos passados.
As Potências Alliadas nao deporão as armas, até que naõ
tenham alcançado este grande, e benéfico resultado; este no-
bre objecto de seus esforços. Elias nnÕ deporão as armas, até
que se naÕ restabeleça de novo o estado politico da Europa,—
até que principios immutaveis tenham tornado a assumir os seus
direitos sobre pretensoens vaas; até que a sanctidade dos trac-
tados tenha porfimassegurado uma paz real k Europa.
Frankfort, 1 de Dezembro, 1813.

HOLLANDA.
Proclamaçaõ' feita pelo Commandante Russiano aos habitantes da
Hollanda.
BRAVOS HOLLANDEZES !—Seria um insulto o suppôr que voi pre-
cizais que vos lembrem as grandes façanhas de vossos antepassados.
Todos vos sabeis perfeitamente quanto eitc desgraçado paiz loflreo
em conseqüência de ser subjugado pelos Francezes. Os Exércitos
Francezes estam annihilados, e portanto esta nas vouni inaons o
verdes-vos livres dos poucos Francezes que ainda permanecem na
vossa pátria. Um exercito às ordens do Principe Hereditário de
Suécia ; e commandado pelo General Russiano, Baraõ Winzingerode
approxima-se ás vossas fronteiras, para livrar-vos do jugo da escra-
vidão Franceza, para restaurar o vosso commercio, e restabelecer
aquella liberdade para a qual os vossos antepassados tao profusamente
sacrificaram suas vidas, e fortunas. Confiai naquella Divina Pro-
videenia, que ha de coroar cora suas bcoçaons os vossos exforçm na
causa da liberdade, e da vosia pátria. Sede obedientes aquelles a
quem, até que um ulterior arranjo se faça, está confiado o Go-
verno. Perto está o periodo em que vos haveis de gozar de um go-
verno estabelecido, o qual se ha de empregar em fazer-vos esquecer
dos vossos passados males.
PROCLAMAÇAÕ.
Em nome do Governo Geral.
Como a paz, e segurança comuns estejam ammesçadas pela banda de
Gorcum por um bando de Paisanos de Antwerpia e Brabantezcs con-
jcriptos, reunidos para aquelle fim por meio da força , temoi ajune-
tado um corpo de tropas para fazer parar os progressos deste bando
desesperado • e noinoado para o commandar o General Baraõ Sueerts
De Landas,
Politica. 839
Hollandezes I assisti-o p o r toda a parte *, Magistrados das cidades,
Paizanos habitantes das vilas, e das aldeas- cada u m c o m o poder. O
general fará arranjos para a devida a applicaçaõ dos meios que v o s
lhe podcrdes facilitar.
(Assignado) GILBERTO K A R E L V A N H O G E N D O R P .
F. D . CHANGUION, Principal Secretario.

ITÁLIA.
Proclamaçaõ do Principe Vice-Rey.
Povo DO RÍVNO DE ITÁLIA !—Vos fostes felizes testemunhas dos primei-
ros feitos do Heroe, qne preside aos vossos destinos; pelo que vós estaes
mais constantemente presentes nos seus pensamentos, e sois mais cliaros a o
seu coração.
Apenas tinha elle restabelecido, com sua triumphante maõ, o throno de
Carlos Magno, quando esse throno se fortificou, e confirmou para sempre.
Todos os Francezes juraram sustentallo, e defendello ; elles tem sido fieis
a seu juramento.
Porém o que o Imperador tem feito pela França, naõ éra sufficiente para
a sua grande alma. Elle naô podia ser insensível á sorte da Itália. O seu
primeiro desejo foi tornarvos a dar a vossa antiga existência, e a vossa an-
tiga fama.
Elle pôz sobre a sua cabeça a coroa de ferro, por longo tempo deixada
em esquecimento, e as abobadas de vosso templo resoáram, com aquellas
memoráveis palavras, D/eu me Vá donnée, gare aqui ta touche.
Estas palavras excitaram o vosso enthusiasmo, e até o vo,\>o orgulho ; vós
apreciastes o verdadeiro sentido dellas, e unanimemente repetistes, Dieu
ta lui ti donnée, gure a qui Ia touche.
Desde aquelle momento existio o reyno de Itália ; desde aquelle mo-
mento os Italianos renascidos, se lembraram da gloria de seus antepassa-
dos; desde aquelle momento, aos olhos da Europa admirada, tomaram o
seu lugar entre as naçoens mais honradas.
Italianos I Eu vos conheço ; vós também sereis fiéis aos vossos juramen-
tos. Um inimigo, que vos tem de tempos a tempos subjugado, e que, nas
idades passadas mais contribuio para vos dividir, naõ vio sem inquietação,
nem sem zelos, a vossa resurreiçaõ, e o expleudor que a cercava.
Pela terceira vez se atreve agora a ameaçar o vosso território, e a vossa
independência.
Vòs tendes valorosamente corrido a reprimir os seus primeiros esforços;
Vós nao deixareis de o fazer arrepender de seu terceiro ; quantos motivos
de novo excitam agora o vosso patriotismo e o vosso valor!
Naõ vos tendes esquecido, que lia doze anno» éreis capazes de sentir o que
sois agora;
A maõ, que vos creou, vos tem dado as instituiçoens mais nobres e mais
5 P2
840 Commercio e Artes.
.-encrosas. Estas instituiçoens constituem ao mesmo tempo o vosso ort-uth*
r a vossa felicidade e vòs naõ sotfrereis que elles se atrevam a tentar o rou
bar-vo-las. Itália, Itália, este sagrado nome, que na antigüidade pro-
duzio tantos prodígios, seja agora o vosso grito de reunião.
Levantem-se os vossos guerreiros a este grito ; voem em tumulto a for
segnnda muralha á pátria, ante aqual o inimigo se naõ atreverá a an
tar-se.
O valoroso homem, que peleja por sua casa, por sua familia, pela gloria
e independência de sua pátria, he sempre invencível.
Seja o inimigo obrigado a sabir de nosso território, e nós em breve tem-
po poderemos dizer a nosso augusto Soberano,'« Senhor, éramos dignos de
receber de vos uma pátria, temos sahido defendella."
(Assignado) EUGÊNIO NAPOLEAJ.
Quartel-general de Gradisca, 11 de Outubro, 1813.

COMMERCIO E ARTES.
-Estado do Commercio em Portugal.
IM AO deixará de haver quem snpponha, que he fasti-
dioso repetir tantas vezes observaçoens sobre os mesmos
objectos, e que, tendo nós fallado do contracto do tabaco
em tantos dos nossos números, deveríamos naõ cansar mais
os leytores com tal matéria. A isto respondemos, que por
mais que os gritos do gotoso sejam repettidos, e enfastiem
o enfermeiro, com tudo em quanto as dores da gota
continuam a molestar o doente, elle tem direito de conti-
nuar também a gritar: assim* acabe a oppressaõ do mono-
pólio, e nós deixaremos logo de fallar no contracto do
tabaco.
A manufactura do tabaco chamado rape, que em 1800
produzia o que bastava para o consumo de 936 arrobas, em
1812, ex cedeo a 26.000 arrobas, com proporcionado
augmento de lucro dos contractadores, sem que por isso
acerecesse maior rendimento á coroa ; antes pelo contrario
grande damno á cultura do tabaco do Brazil, pela intro-
ducçaõ em Lisboa do tabaco de Virgínia *. pessoa ititclli-
Commercio e Artes. 841
sente avaluou este excesso de lucros em mais 320:000.000
de reis. Constamos que se fez saber u to ao Governo do
Rio-de-Janeiro; quando os Contractadores solicitaram o
augmento do preço do rape ; augmento que effectivamente
alcançaram.
Importa mui pouco á natureza dos crimes de que alguém
heaccusado, quaes saõ os motivos do accusador: sija inveja,
ódio, amor da justiça; nada tem isso que fazer como o
crime; a questão be se a accusaõ se prova ou naõ. He
neste sentido que nos importa pouco, que as pessoas de
quem recebemos as nossas inforniaçoens sejam ou naó
influídas por inveja dos lucros dos Contractadores ; ou por
zelo das rendas publicas : o que nos importa he averiguar,
se os monopolistas se enrii-uessem com rendimentos, que
ou o povo naõ devia pagar, ou deviam ser ap.jlicados para
o Erário Regio.
A primeira e mais obvia observação, que oceorre a res-
peito do tabaco ; he a indevida influenci-i qne os Contrac-
tadores tem no commercio deste gênero em gera!. O
Privilegio do contracto consiste unicamente no direito
exclusivo de vender tabaco no R e y n o ; a exportação do
gênero para fora naõ só naó he da sua competência ; mas
qualquer ingerência do contracto he sumuiamente nociva
aos interesse da cultura e commercio deste ramo, e conse-
quentemente damnoso ás rendas do Estado.
Dizem que a Corte do Rio-de-Janeiro, naõ podendo
resistir ás representaçoens, que se lhe tem feito a este
respeito, ordenou ao Governo de Lisboa, que informasse
sobre isto, e o Governo pedio o parecer da Juncta do
tabaco.
Se de propósito se quizesse ficar na ignorância do que
ha a dizer nesta matéria, naõ poderia o Governo tomar
melhor expediente do que mandar buscar informação á
Juncta do Tabaco. Esta Juncta he composta de Magis-
trados, que pelos seus serviços, probidade, e applicaçaõ ao
842 Commercio e Artes.
«•studo de direito, e conhecimentos sobre matérias forenses
tem talvez chegado aos mais eminentes, tt mais reiidosot
lugares da Magistratura ; mas destas mesmas qualincaçoens
se M?»iie, que similhantes homens naõ saõ competentes tura
decidir esta matéria do contracto, que depende de conhe-
cimentos alheios de seus estudos. Deixando por agora o
tabaco, consideraremos o commercio do Reyno em geral.
A Juncta do Commercio de Lisboa expedio uma ordem,
em data de 18 de Outubro, 1813; em conseqüência de
immediata resolução de S. A. R. de 9 de Novembro, de
1812; e despacho da mesma Juncta de 4 de Março, de
1813 ; determinando ao Dezembargador do Porto Jozé de
Mello Freire, que convocasse 20 negociantes daquella
praça, os quaes em uma memória por escripto apontas-
sem os abusos, que se acham introduzidos no commercio,
e providencias que convém dar-lhe. O documento nos
parece taõ importante, que julgamos dever copiallo aqui
por exteuso.

D. Joaõ, por graça de Deus, &c. Faço saber a vós Dezembarga*


dor da Kdaçaõ da Casa do Porto Joze de Mello Freire ; que tendo
eu maudado ouvir os principaes negociantes das praça* de Lisboa e
Porto, sobre as providencias que julgarem ncccss-iri-is a respeito da
navegação e commercio nacional, nas actuaes circumstancias, como
veieis pela minha resolução de 4 de Março do corrente anno ; expe-
dida em coiisuHa da Real Juncta do Couuiiercio, Agricultura, Fabri-
cas, e Navegação destes Hcyuos, que vos envio por copia, para me-
lhor instrucçaõ desíe negoro. llcv por bem de ordenar-vos quo
chameis á rom presença 20 negociautc-i dtsvi praça do» mais dis-
tinctos pelas suas luzes c patriotismo, aos quaes encarregueis de
apontar por escripto em uma memória, coma possivel «>«» isafl oi
abusos, que se acham introduzidos, e D» proii.lencias que exigem
a navegação, e Commercio destes Re*.nos, paia sita maior prosperi-
dade, debaixo dos limites apontados na sobreúicla consulta; cuja
memória me remetlereis sem perda de tempo, para me se. presente,
e eu deliberar o que me parecer justo. O Príncipe Ki-geate v S. S.
o mandou por seu apertai maudado, pelos ministros aS.iixo u s i n a -
dos, Deputado» da Real Juncta do Coinmeft-io. agricultura, Fabri-
Commercio e Artes. 843
cas, e Navegação. Augusto Jozé Henrique Gonzaga a fez em Lis-
boa, aos 18 de Outubro, dclS 13. Por immediata resolução de S. A. It.
de 9 de Novembro, de 1812, e Despacho do Tribunal de 4 de Março,
de 1813.

Quando nós recommendamos a necessidade de consultar


aquellas classes de homens intelligentes, que podem
illustrar o Governo nos differentes ramos da administração,
esperamos sempre duas cousas, uma, que nos atacai iam
por essa causa, visto que recommendavamos medidas novas
e remédios de abusos: outra que a pezar de todos os enfa-
dos sempre alguma parto se havia adoptar. Lembrámos
aos nossos Lrytores especialmente o qne dissemos a res-
peito da Juncta do Commercio, no Vol. VII. do nosso
Periódico, p. 53, e p. 305. Naõ podemos por tanto deixar
de louvar, qne sobre o estado do commercio do Reyno,
ouça a Juncta o parecer dos negociantes. Agora porém
quanto ao modo porque isto se fez, naõ vamos ainda de
accordo.
Se a Juncta consulta os Negociantes, he claro que he
porque naõ sabe resolver por si sobre as matérias do
commercio ; menos por tanto deve saber o Dezembarga-
dor Freire; e se isto assim se deve suppôr * como se lhe
deixa o escolher os negociantes que saõ mais capazes de
dar o seu parecer r
Alem disto \ como se haõ de reunir as opinioens de 20
homens, de maneria que componham uma só memória com
a possivel concisão, j o, se as opinioens forem differentes,
quem ha de ser o Redactor, que as ponha em ordem, e
melliodize em forma de memória ?
Naõ des-jando repettir aqui o que dissemos no lugar
citado, para ali remettemos o Leytor, a fim de que veja uin
esboço do modo porque os eMabelicimeuros mercantis se
melhoram em Inglaterra ; e como o Governo ouve a opi-
nião dos indivíduos, ja por meio dos periódicos, ja pelas
844 Commercio o Artes.
representaçoens voluntárias de differentes associaçoens, e
subilivisoens ile.-*se.s associaçoens.
Ai;nella opinião dos 20 negociantes, se fosse possivel
obter-se, se devia limitar segando a ordem da Juncta uni-
camente aos abusos ; logo os usos naõ conformes com a
prosperidade do Commercio devem ficar em silencio. A
repugnância, com que a Junsta se determinou a este passo,
lie mui visível ; naõ só porque nao deixa aos Negociantes
a faculdade de deliberar como, e sobre os objectos que
quizerem; mas também porque, sendo a resolução de
S. A. R. datada de 9 de Novembro, 1812; e vindo ao
conhecimento da Juncta em 4 de Março, 1813, naÕ se
expedio esta ordem para o Porto senaõ em 18 d'Outubro,
1813.
A organização actual da Juncta do Commercio he sum-
maniente defeituosa, vi>tos os objectos, que lhe estaõ en-
carregados. Se aquelle tribunal tivesse unicamente de
julgir das causas forenses, em matérias de commercio, naõ
pn cizava a Juncta de outros membros mais do que Ma-
gistrados, e certo numero de Negociantes, que lhe servis-
sem como de Jurado, Adjunetos, com esta ou outra qual-
quer denomiuaçiiõ que fosse. Mas quando a Juncta tem
de decidir, e informar o Governo sobre planos de Commer-
cio e seu melhoramento ; para o que se precisão conheci-
mentos de Economia Politica, os magistrados naõ saõ as
pessoas, cujos conhecimentos saõ applicaveis á matéria.
Por tanto se em vez de ser o Secretario da Juncta do
Comtiiercio, ou outro alguém, o que nomeie os Negoci-
antes, que se desejam consultar ; se deixassem aos mesmos
os Negociantes deliberar entre si, subdividindo-se em
classe* tios negociantes da Índia, do Brazil, do Norte, do
Mediterrâneo, &c. se em vez de prescrever-lhe as matérias
sobre que haõ de deliberar, se deixassem discutir, bem
ou mal como pudessem, nas matérias em que por força
haõ de entender mais do que as outras classes de gente :
Commercio e Artes. 845
se em vez de os mandar apresentar um papel em segredo,
que fulano ou sutano, aquém aquellas ideas-naõ agradam,
lança ao fogo, ou passa em silencio, se permittissem que
taes opinioens corressem pela critica do publico ; naõ pode-
ria deixar de resultar daqui um exame, que daria a conhe-
cer a verdade por tal maneira, que os interessados nos
abusos, quando lhe naõ fosse absolutamente impossível,
teriam summa difficuldade em suffocar.
A distancia em que o Soberano se acha de Lisboa, faz,
mais essenciaes estas precauçoens,* porque; supponha-
mos a Juncta composta de homens inhabeis, por qualquer
razaÕ que seja, he quasi impossível que o Soberano, no
systema actual das cousas, possa vir a ttr cabal conheci-
mento disso. Podem chegar á sua presença queixas de
alguns indivíduos, que tenham sido mal tractados pela
Juncta; mas ainda que se prove uma injustiça em taes
casos, dahi se naÕ segue a má organização ou systema do
Tribunal, o que somente se pôde inferir de medidas
geraes.
O primeiro trabalho, a primeira occupaçaõ da Juncta
do Commercio deveria ser remover os obstáculos que se
oppóem á prosperidade do Commercio nacional, e cuja
existência dá grandes vantagens ás outras naçoens, aonde
taes obstáculos naõ existem. Estas medidas podem ser
adoptadas tanto mais facilmente, quanto dependem unica-
mente do Governo do paiz; sem que necessitem de forma
alguma, de tractados, ajustes ou regulamentos das Naçoens
Estrangeiras.
Por exemplo, supponhamos, que as leys da repartição
da saúde demoram desnecessariamente o expediente dos
navios; que a administração da alfândega retarda o embar-
que das fazendas, e que por falta de cães, e outros requi-
sitos se expõem as cargas, e os navios, a perigos, que exi-
jam augmento de soldadas, ou de premies de seguro
Neste caso deveria haver uma Juncta de Commercio, orga-
VOL. XI. No. 67. 5 Q
846 Commercio e Artes.
nizada por tal maneira, e com te' ,oens taes com os indi-
víduos negociantes, que fosse cii vidamente informada des-
tes entraves ao commercio, e consultasse iminediatainente
o Governo sobre os meios de os remediar.
A practica mostra que tal se naõ faz. Se um negoci-
ante vê o seu navio embaraçado, naó se lembra, nem a fal-
lar a verdade se pôde delle esperar que se lembre ou en-
carregue, de fazer requirimentos, em que gasta tempo c
dinheiro, para expor ao Governo a causa do mal, e o
remédio geral: contenta-se com desembaraçar o seu navio
seja por peditorios, protecçoens,ou peitas; e quando obtenha
o seu fim no seu caso particular, a desordem continua sem
interrupção.
Se este negociante, porem, tivesse a faculdade de fazer
o que se faz em Inglaterra ; isto he convocar os negociantes
de sua classe, que estaõ em circumstancias de serem expos-
tos aos mesmos males, e todos junetos cuidassem do remé-
dio geral, e o expuzessem & Juncta: e se esta Juncta fosse
eomposta de pessoas capazes de entender e julgar da jus-
tiça da representação, diariamente se veriam remover oi
obstáculos, que se oppóem á prosperidade do Commercio,
e este poderia contender com o das outras naçoens.
A Juncta do Commercio, que pela ley de creaçaõ devia
ser composta de nove deputados, se acha somente com
cinco, depois que perdeo tres homens hábeis ; Soares, Rat-
ton, e Vandclli: dous destes deportados injustamente
(ainda teimamos em chamar a esta deportação injusta ; por-
que o Governo de Lisboa, ainda naõ pôde provar a justiça
da sua execução a lá militaire) e deixaram assim um vá-
cuo, que se naõ encheo; visto que depois que elles safai ram
a Juncta naõ tem melhorado nem feito couta alguma ;
quanto ao Secretario, a historia da Revolução, com os elo-
gias dos Souzas, lhe deo o lugar, por tanto sobre o. seus
merecimentos naõ ba nada a dizer.
A Juncta do < ommercio, he alem disso encarregada dos
Commercio c Aries. 847
melhoramentos da Agricultura. Vandelü tinha direito a
poder fallar desta matéria: deitáram-no fora ; e nem foi
subsUuiuo por alguma pessoa de conhecimentos, nas
matérias em que elle podia ter voto ; nem a Juncta desde
entaõ cuidou em mandar plantar uma batata, ou uma estaca
d' oliveira : em uma palavra, no artigo agricultura, a Juncta
he perfeitamente nulla.
As fabricas, saõ outro ramo que lhe pertence, e que
precisam uma continuada vigilância e protecçaõ *, a qual he
necessário passar a medidas favorecedoras neste caso, usando
de meios positivos de augmentar a industria ; quando no
caso do Commercio seria bastante remover os obstáculos,
e deixar o resto ao cuidado dos indivíduos. Mas a Juncta
do Commercio tem feito taõ pouco a respeito das Fabricas,
depois da expulsão dos Francezes, como a respeito do
Commercio e da Agricultura. Referiremos um caso unica-
mente, que demonstra o modo porque os negócios saõ
conduzidos nos Tribunaes e Repartiçoens publicas, exem-
plificado na Jnucta do Commercio.
Uma pequena fabrica de chapeos, no Porto, tendo uma
encommeda de Chapeos para Gaiiza, pode alcançar para
este trafico uma porçaõ de pelas de coelho, que entraram
na alfândega: o fabricante requereo á Juncta do Comruer-
ciode Lisboa uma Provisão, para que se lhe entregassem as
Peles, na forma do estylo : a Juncta mandou ouvir um Mi-
nistro ; o qual mandou que informasse um offlciaí, que co-
nheceria da verdade do caso; voltaram todos ">tes papeis
outravez á Juncta de Lisboa, a qual mandou passar a Pro-
-.isaõ, pela qual pagou o fabricante 100 reis •>**• Secretario,
e 80 reis sello. O Fabricante empregou nesta diligencia
um Correspondente em Lisboa, o qual tirando os papeis e
cartas do correio os metteo no Tribunal; mas faltava uma
attestaçaõ, e portanto ordenou-se que informasse t; Jwmis-
tro F, se podia dispensar-se na attestaçaõ. Nestes teim»--*,
vim negociante estrangeiro do Porto mandou buscar os cha-
r .-» r.
O H IS
848 Commercio e Artes.

peos a Inglaterra, e chegaram a Vigo, antes que o Fabri-


cante do Porto tivesse obndo os despachos necessários para
as suas peles. Deste caso ainda que pouco importante »c
conhece a causa da inferioridade do 1 Commercio Poi-tin>uez
comparado cmn o de* outras naçoens, aonde as facilidades
que se lhe ministram daÕ aos indivíduos vantagens decididas.
Naõ queremos neste exemplo culpar a Juncta de des-
mazêlo, ou frouxidaõ, talvez o seu Regimento lhe naõ
permitte obrar de outra maneira senaó com estas delongas;
uias o que desejávamos éra, que a Juncta fosse composta
de taes pessoas, e organizada de mnneira, que á proporção
que se descobrem estes inconvenientes consultasse logo o
Governo, sobre o melhor modo de os remover.
Em Lisboa está em vigor a antiga pauta do Consulado,
feita (segundo nossa lembança) antes de haver fabricas de
estamparia em Portugal; e portanto as chitas tle algodão
saõ avaliadas a 240 reis por covado; assim alguma chita
azul, que ainda se estampa em Portugal, paga de sabida
uo Consulado 3 por centro sobre a tal avaliação de i40 reis,
quando ella custa de 160 a 200 reis ; e isto à face dos nego-
ciantes Inglezes, que estaõ vendendo as suas cintas em Lis-
boa a 120, ate 200 reis o covado. A Juncta do coinuicr-
cio, portanto, devia pertencer o informar-se destes regufu-
nieutos destruetivos das fabricas nacionaes, e propor ao Go-
verno o seu remédio.
Se as fazendas de Bengala, que se usam nas estamparias,
pagam lô por centro de direitos na casa da índia, adthnde
a isto os tres por cento; c considerando que as fazendas
lnglezas, que tiverem pago direitos em Portugal, naõ saõ
obrigadas a novos direitos no Brazil, he evidente que &c
podem exportar as chitas lnglezas de Lisboa para o Brazil
mais baratas do que as chitas Portuguezas.
As pessoas que naõ relk-ctem, ou naó entendem du Eco-
nomia Politica, naõ se lembram de outro remédio a males
desta natureza seuaõ a prohibiçaõ da mercadoria estran-
Commercio e Artes. 849
geira. Mas a melhor prohibiçaõ, que um Governo pode
fazer ao negociante, he arranjar o systema de maneira, que
-he naÕ faça conta o commercio que se deseja prohibir. Se
pelo contrario oa direitos de importação e exportação mal
entendidos daõ a vantagem ás manufacturas estrangeiras, he
claro, que naõ se precisa outra prohibiçaõ mais do que a
reforma de taes regulamentos.
O algudaõ do Brazil devia ser naó somente livre de direi-
tos de entrada em Portugal, mas receber um prêmio, quan-
do se tornasse a exportar manufacturado ; se as cousas as-
assim fossem reguladas; quaes seriam as fabricas estran-
geiras, que poderiam competir com as de Portugal, no
no mercado do Brazil ?
Nem se nos diga, que o Governo perde immediatamente
o rendimento desses direitos; porque se tal medida enrique-
cesse os fabricantes de Portugal, elles consumiriam mais
assucar, mais café, e mais productos do Brazil, no que, as-
sim como em outros ramos, o Governo percebe direitos e
rendas immediatas; como he a décima dos edifícios da
fabrica, &c. alem das utilidades remotas, que provem do
augmento da industria, favorecendo-se as fabricas, e fomen-
tando com ellas a população.
Por outra parte, sendo as chitas estampadas em panos
brancos da índia, sugeitas a 19 por cento de direitos, isto
he \'o de entrada na casa da índia, e 3 de Consulado á sahi-
da; he evidente que as chitas lnglezas, que pagam somente
15 por cento, saõ 4 por cento mais favorecidas que as na-
cionaes ; ora tal arranjamento naõ lembrou ainda a Politico
nenhum, senaõ em Portugal. E se ali he da competência
de algum tribunal o indagar estas matérias, e representallas
ao Governo, he sem duvida u Juncta do Commercio a quem
isto compete.
Notemos outro ramo que éra da competência da Juncta
o examinar—a navegação. Dizem-nos que o Ministro en-
carregado dos transportes marítimos, cuja repartição só se
extendia aos barcos do Teio. Hyates, e embarcaçoens pe-
850 Commercio e Aries.
quenas ; exige dos navios d'alto bordo da carreira do Bra/.il
480 reis de propina, estabelecida sem ley nem authoridade
alguma mais do que a do Ministro; c sem que istosepa--ut?
naõ podem os navios obter o passe da torre ; o escrivão d •
alfândega do tabaco exige igual emolumento, e com i«»ual
falta de titulo ou authoridade legitima. O negociante
sugeita-se a pagar esta pequena somma, que se lhe ex-
torque, antes do que andar com requirimentos; c no
entanto o abuso continua.
A Juncta do Commercio, como protectora da navegação,
devia olhar por isto, pôr fim a estes abusos, c outros dos
guardas, &c. e fazer com que os navegantes Portugueze*.
naõ achassem mais difficuldades cm sua occupaçaõ, do que
encontram os das outras naçoens. Do Rio-de-Janeiro se.
nos informa, que chegara ali uma representação da Juncta
do Commercio de Lisboa; queixando-se de que lhe naõ
mandavam copias das leys, alvarás, e decretos, cuja exe-
cução lhe compete. Se isto assim he o descuido e desma
zelo vai mais longe, e pede a justiça, que se naõ carregue
á Juncta mais do que ella merece.
E com tudo, parece-nos, que o Alvará de 4 de. Fevereiro de
1811, e outras determinaçoens, daõ livre a *-;.l:ic!a de todas
as manufacturas de Portugal; e somente pur interprci.iço-
ens ccrelninas, se podo obrar em contrario. UM esta-, um*
sideraçcens as que nos parecem assas pondeiozas, | ara que
a Juncta do Commercio se reforme, e modclle de novo,
visto q ÍC as circunistanras actuaes do Mundo exigem mais
attençaõ ao ramo do cotnmeroio, do que sciía necessário
nos tempos antigos. Ne.te ponto da adtninistr.i(;;.õ ha a
grande d.fncukla.Je de que o interesse do indivíduo coui*
n:erciante, está quasi sempre em opposiçaõ ao Couiimrcio
em geral ; mas he necessário ouvido; e haver entaõ uma
atithoriti.de independente, que julgue da justiça das repic
senta çocus.
Commercio e Artes. 851
Resumo dos gêneros que entrarão no Porto de Lisboa cm toda
o mez de Novembro, de 1813.
•24 Moios, 12.300 Fanegas, 800 quarteiras, 367 sacos,e
9 9 couros de trigo: 402 surrões de farinha de trigo; 627
moios, e 6.575 fanegas de cevada ; 19.527 quintaes de ba-
calháo; 35 pipas, e 732 barris de aguardente; 620 caixas
d'assúcar; 1.259 sacas de caffe ; 1.200 sacas d'arroz ; 803
ditas de cacáo; 1.700 cestos de queijos ; 58 pipas de vi-
nho ; 18 moios, 130 sacos, e SO salinas de feijaõ; 2.800
barris de manteiga ; 1.513 barris, 530 caixas, e 106 quin-
taes de passas ; 19.000 arrobas de figos 1.427 barris de
carne; 1.000 barris de enxovas; 30 pipas de Serveja;
192 golpelhas, e 25 sacas de amêndoas; 120 golpelhas de
alfarobns; 28 barricas de atum ; 30 sacas de milho; 122
ditas de aveia; 60 jarras de uvas; 75 tonedadas de batatas ;
-37 moios de tramoços.
852 Commercio e Artes.

Preços correntes dos principaes productos do Bratil tm


Londres, 25 de Dezembro, 1813.

Gt-ueros. Uu.M.uS'. Qantidade Preço de D i rcloj.

Assucar branco 11*2 lib. 58s. 70s. 31. I4s. 7{d.


trigueiro D". 50». 55s.
ninsta*. ado D". 42». 45s.
Algodão Rio Libra 20p. 21 p. 16s. Ild.p'. lOOlib
Bahia D". 25èp. 264*1.
Maranhão D° 2 \o. 2ti*p.
Pernambuco D". 27p. 28p.
Minas novas D°- 3lp. 22p.
D". America melhor Du. 2s.!)p. 3».?p. 16. II.pr. lOOlbs.
Annil Brazil D». 2s. 6p Ss.tip. 4d. por libra
Arroz D°. 112 lib. 3Cs. 42s. I6s. 4d.
Cacao Pará 112 lib. 7 Os. 8is. 3s. 4d. por lib.
Calfe Rio libra 99s. 105». 2i.4d. por libra.
Cebo Bom 112 lib. 90s. lOOs. 2i. 8d. por 112 lib.
Chifres grandes 123 2üs. 35s. 4s. 8d. por 100.
Couros de boy Kio grande libra 6p. 8p. 8d. por libra.
Rio da Prata D°. Cp.
D s . de Cavallo DS. Couro 8s. 6p. 9s.
Ipectiacuauha Boa libra l.-(s 1.(1. 14s. c.p 3t. Itbrn.
Quina Pálida libra !s. 6p. 2s. Op. 3i. bd. libra.
Ordinária D».
Mediana 2». 8p. 3s.
Fina 4s. t>p. 7». 6p.
Vermelha 4s. 7*.
Amarella 2s. 6p. 3J.
Chata D".
Torcida 3s. 9p 4s.0d. IÍ. 8d. por librai.
Pao Brazil tonei 951. 1001. 4l. a tonelada.
Sal** Parrilha 3». Cd. libra rxriie
Tabaco Rolo libra 7p. 8|i. j 3l.5«.9rl.all. lOOll*.

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Brazil hida 10 guineos por cento. R. 5.
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Lisboa e Porto hida 8 G ' .
vinda 2 G*. em comboy
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vinda 8 á J0
Rio da Prata hida 12 á 15 guineos; com a torna viagem
vioda o mesmo 15 a 18 G\
[ 853 ]

LITERATURA E SCIENCIAS.
Novas descubertas nas Artes.
./VlNDA que a Politica seja o principal objecto do nosso
periódico ; e que os grandes interesses dos Estados occu-
pem quasi exclusivamente a attençaõ da Europa, neste
momento, naõ perdemos com tudo de vista o dar a nossos
Leytoresj em um pequeno espaço deste jornal, noticias
das novas descubertas, que continuamente tem lugar nas
artes úteis, mesmo no meio dos estrondos da guerra ; com
o que progressivamente se melhoram os conhecimentos dos
homens, e se augmentam os benefícios da vida social.
Sociedade Real. Londres, 4 de Novembro.
Quinta feira passada teve esta Sociedade uma Sessaõ,
depois das ferias grandes. Sir Joseph Banks, seu digno
Presidente, tomou a cadeira de presidência. Leo-se um
papel do Dr. Wollaston, sobre o que elle denomina «* os
equivalmentes Chimicos"; e consistia em uma lista das
partes componentes de todos os saes conhecidos, quanti-
dade de oxigênio, hydrogenio, azote, baze, e água que
contém, pelo seu pezo e medida ; e as proporçoens defi-
nitivas dos átomos integraes, de todos os compostos conhe-
cidos. O objecto deste papel he abreviar o trabalho dos
Chimicos analistas, auxiliar a memória do estudante, e
apresentar uma vista summaria ou resumo dos conheci-
mentos Chimicos, reduzidos á forma de taboa, que se pôde
usar com uma escala graduada movei, ou regra corrediça,
que demonstra os differentes productos, e respectivas
partes componentes, em um ponto de vista.
Insectos. Mr. Serres, de Montpelier, fez experiências
na anatomia dos insectos ; e descubrio, que os gafanhotos,
e outros insectos de gêneros análogos, naÕ saõ, como até
aqui sesuppunha, animaes ruminantes ; elles naÕ trazem
segunda vez o mantimento á boca; porem meramente, em
VOL. X I No. 67. Sn
851 Literatura e Sciencias.
certas circumstancias, lançam fora um sueco de bilisou fel,
que possuem em grande abundância. Este phisiologista
examinou os líquidos curados, na cavidade do peritoneum
de vários insectos, e elles fôram absorvidos pelos vasos com-
pridos, e delgados, que sempre se acham fixos a alguma
porçaõ do canal intestinal. Isto tende a provar que o uso
•ie taes vasos he a secressaõ da massa commum dos hu-
mores, dos licores digestivos, e lançallos no canal intesti-
nal. Elle averiguou também, que os foliculos de certos
insectos, que se bem considerando como estômagos, nunca
recebem o mantimento, e saõ meramente reservatórios do
humor da bilis."
Víboras. M. Dutrachet observou uma circumstancia
notável, na prenhez das víboras. Parece que as pequenas
víboras tem os seus vasos umbilicaes distribuídos, naõ so-
mente sobre a gema do ovo, em que estaõ originaria-
mente incluídas, mas que, parte destes vasos estaõ também
distribuídos pela superfície interna do ovidueto, e formam
ali uma rede, que se pôde considerar como verdadeira
placenta. As víboras, portanto, participam do modo de
nutrir o foetus peculiar aos animaes mamães, e que até
aqui se suppunha faltar inteimmenve nos animaes da
classe dos oviparos.
Mel. Segundo as experiências, que tem feito vários
chimicos, parece que o mel consiste em quatorze-quizeavos
de charope, e um quinto de substancia branca farinacea,
insipida. Sendo adulterado com farinha ou gomtna, o ue
muitas vezes acontece, se pôde descubrir a fraude aque-
cendo-o; quando he puro se derrete todo em charope fino
transparente; mas se he adulterado, o corpo extraneo lhe
dará a apparencia de lodoso. A substancia branca farina-
cea que se acha no mais puro mel, pôde ser separada do
charope evaporando-o com carvaõ. He esta substancia
branca que faz com que o mel obre taõ poderosamente no
estômago, « baixo ventre; se o charope for limpo delia,
Literatura e Sciencias. 855
àü poderão tomar tres on <iuatrn oiiças para o almoço, sc*m
oileilos nocivo-;, ou violentos: mas uma doze de duas
oitavas deste branco, ou parte concreta oceasiona choli-
cas, laxidaõ, &c. Para preparar o charope de mel, que
he mui saudável, e nutriente, e livre dos effeitos spasmo-
dicos e laxativos do mel commum, se daõ as seguintes
direcçoens. Dissolvam se oito onças de mel com duas de
água fria, ajnnte-se-lhe uma onça le carvaõ de o^sos (os-
sos calcinados, phosphato de cal) mexa-se a mixtnra, e
deixe-se repousar por hora e meia, e entaõ se filtre. O
charope passa primeiro muito turvo, mas pouco depois se
faz claro. O carvaõ lhe dá um ciie.ro particular, que fa-
cilmente se lhe tira, expondo-o a um fogo brando por um
quarto d'hora.
Cogumelos soporiferos. Os habitantes de Kamtschatka
e paizes vizinhos, fazem uso, segundo Lóngsdorf, de uma
espécie de agaiico ou Cogumelo, pelas suas qualidades de
ebriegar. Um cogumelo grande, ou dous pequenos, diz
elle, he bastante para produzir grande excitaçaõ, ou
extrema ebriaguez. Os effeitos narcóticos <l,jste fungus,
que se augmentam muito pelo uso da água fria, se maui-
festam em meia hora, ou mais, até duas horas, depois de
tomados, por irritação dos músculos, tontura da cabeça,
somnolencia, e todos os effeitos geraes do vinho, ou es-
píritos ardentes. A propensão para dançar, e fazer gestos
extraordinários, characteriza o uso deste agarici- (o mes-
mo que exhala dos gazes de oxide, e de a/ote) e he mui
notável a sua acçaõ na urina. Esta secreçaõ adquire as
qualidades narcóticas muito mais decididamente do que os
mesmos cogumelos, e os bêbados naquelles paizes avida-
mente bebem a urina de seus companheiros. Uma taça
mediana cheia desta urina, produz ainda dous dias ao de-
pois, maior gráo de ebriaguez, e a urina da pessoa que a
bebe produz ainda maior estado de bebedice, e assim por
diante até a urina do quinto bebedor. Duas ou tres cu«
5 R 2
í\")fy literatura e Sciencias.
lheves de gordura, ou azeite de peixe, saÕ sufficientes pjr*
remediar os má.s effeitos uo estômago e baixo ventre, oc-
casiouados pe1;) uso deste agarico, cuja espécie particular
Mr. Langsdoif naõ descreve.
Carvaõ. Os navios de S. M. Britannica Spitfire, e
Bonnc Citoyenne, andando a corso na costa de Greenlatid
descubriram, ha pouco tempo duas camadas distinetas de
carvaõ nas ribanceiras da ponta de Nordeste da ilha do
Urso. A camada de cima he de qualidade superior; a ca-
mada de baixo he pezada, e cheia de sulphur, mas arde
bem. Com esta se acha mixturada uma mina metálica,
que se julga ser estanho, mas provavelmente será ferro.
A ilha do Urso está na lat. 74° 28, long. 18". 20. E com
bom anchoradouro todo em roda da ilha, e de fácil ac-
cesso, excepto ao S. E. aonde a costa he alta, e de roche-
dos. A ilha terá 12 milhas de diâmetro, he estéril, e
contém unicamente alguns ursos e rapozas, e aves aquáti-
cas. A feliz descuberta de uma ilha em tal situação, e que
contém tal thesouro mineral como he o carvaõ, deve ser de
incalculável vatagem para a maior parte dos Norvegas
que dependem deste paiz para o combustível, e que an-
nualmente padecem muito pela falta de fogo, naó só para
os objectos culinares, mas também para as fabricas, e of-
ficios mechanicos em geral.

Tableau Politique de V Europe, depuis Ia bataille de Leip-


sic, gagnée le 18 Octobre, 1813.
O folheto, que annunciamos aqui aos nossos Leitores,
impresso em Londres na língua Franceza, contém 96 pa-
ginas; e posto que naõ seja volamoso, he assai completo
oa exposição que faz do estado politico da Europa, prin-
cipalmente nas relaçoens das diversas Potências a respeito
da França.
O Governo revolucionário da França, havendo tentado
Literatura e Sciencias. 857
reduzir todos os Governos da Europa a Renublicas, e de-
pois fazellos submetter ás vistas e interesses da França ;
por meio das intrigas, que facilmente se introduzem nas
commoçoens populares, aspirou depois á Monarchia Uni-
versal, abolindo inteiramente alguns dos Eatados autigos,
e reduzindo outros a tal estado de fraqueza, que naõ ti-
vessem outra alternativa mais do que obedecer ao Con-
quistador.
As victorias da Russia, a formação da Aliiança entre as
principaes Naçoens da Europa, contra a França, e por
fim a batalha de Leipsic, desfizeram estes planos dos Fran-
cezes, e derribáram Bonaparte daquella elevação de poder,
a que o tinham elevado, menos as forças de seus exércitos,
do que as intrigas de gabinete ; he portanto o fim do Au-
thor mostrar, como este poder da França augmentado
por meios injustos, e para fins iníquos, se acha reduzido
a um estado de abatimento, que o impossibilita de con-
tinuar em seus planos, e offerece aos Alliados a melhor
occasiaõ possivel de restabelecer o equilíbrio da Europa,
ao ponto de se poder fazer uma paz geral, que se funde
em bazes firmes, e prometta uma duração, que tranqüi-
lize as Naçoens. Eis aqui como o A. principia.
" Ha quatorze, que um usurpador se tem servido de dous meios
para subjugar o Mundo. Eoganava-o com sua politica; enchia-o
de admiração, com a fortuna de suas armas; e, mais feliz do que
hábil, tinba apoiado cm seus bons suecessos a força da opinião, que
fazia acreditar cm suas mentiras; e tinha achado nestas mesmas
mentiras o meio de segurar os se JS bons sucessos."
*' Desde a jornada de 18 Brumaire, em que a França foi subjuga-
da, assim como o foi depois a Lombardia, na batalha de Marengo,
e a Prússia na de Jenna, Bonaparte esparzindo diante de si o ter-
ror, naõ tinha alcançado a victoria senaõ porque, antes de com-
bater, ja seus adversários estavam vencidos. Fazendo-se mais atre-
vido por cada nova empreza, redobrou a sua audácia, à medida
que duplicava a timidez, he assim que, suffocando a verdade, atra-
vessou a Europa, apoiando a sua força real, em uma força imagi-
naria."
S5S Literatura e Sciencias.
" O encanto devia durar, em quanto o niajico lutasse Ut.inte.:.
si as naçoens habituadas a fundamentar a sua resistência not n..
casos de probabilidades; porém se encontrasse com um po\o
antigo, mais próximo da natureza, isto hc, mais aprmimarlo ac-
ostado em que o homem pertence mais a seus sentimentos, c nicuot
a seus cálculos, o encanto deveria entaõ desfazer-se."
" As duas Potências auxiliarei que fizeram que Napoleaõ fosse
bem succedido em todas as suas campanhas; isto he a mentira, e o
terror, faltaram-lhe na sua invasão da Russia."
Passa o A. depois a mostrar como na Russia, na Hespa-
nha, e em Portugal, as naçoens deixaram de raciocinai
sobre os bulletins, e proclamaçoens insidiosas dos Fran-
cezes, attendêram unicamente aos sentimentos do patrio-
tismo, e bastou isto para derrotar os exércitos veteranos da
França. Queimáram-se alguns edifícios, pereceram glo-
riosamente alguns milhares de patriotas; mas sugeitando-
se a estes sacrifícios as naçoens conservaram a sua inde-
pendência, e a soberania de seus Governos.
Havendo o A. demonstrado o progresso rápido, e as
causas da decadência do usurpador, examina as vistas mo-
deradas dos Alliados, e a necessidade em que estnõ de se
pôr ao abrigo de novas tentativas; e o interesse dos mes-
mos Francezes em naÕ favorecer as vistas de Bonaparte, o
qual, segundo o A., " podendo remediar todos os males
da França, e talvez da Europa, naõ fez senaõ destruir
tudo que havfa de bom.'* E diz assim a p. 16.
•• Para reconquistar alguma influencia marítima, se pcrdfram
60.000 homens, 80 milhoens, c S. Domingos. Para rivalizar o
eomiucrcio de Inglaterra, se arruinaram todas as manufacturas ilr*
França. Para abater a casa de Bourbon na Itália, para a annilii
lar na Hespanha, se levantaram 600.060 soldados: para sustentar
um systema Continental inadmissível, se desvanecirnm quinze annos
de gloria: para comprar cúmplices, visto que um usurpador nau
tem subditos, se entregaram as Finanças át mais liorrorows con-
cuwoens: o sorvedouro da divida publica se tornou a abrir para
adquirir riquezas, e se segou a população, a fim de poder di»pór
de uma pnpularaõ mais numerosa."
Literatura e Sciencias. 859

Como Bonaparte tem ja proposto duas vezes a paz, de-


pois da derrota de seus exércitos, o A. considera quaes
seriam os effeitos de tal paz, se os Alliados deixassem á
França o poder de tornar a declarar a guerra, quando
achasse occasiaõ oportuna; e diz assim a p. 36.
" Ha certas precauçoens, que se devem tomar, fazendo a paz,
de que os Alliados se naõ púdem aproveitar como elle (Bonaparte)
que em iguaes circumstancias lhe tem dado taõ despoticamenle o
exemplo: assignando-a nas margens do Rheno, sobre o terreno
exhausto da Alemanha * poderão elles deixar grandes exércitos
para observar os movimentos deste Bonaparte, que, seja qual for a
denominação que se lhe der, seja qual for o character que elle mos-
trar apparencias de assumir, será sempre o seu inimigo ? Se naõ saõ
os paizes reconquistados os qne haõ de manter similhantes exér-
citos i poderá a Russia manter por longo tempo cem mil homens a
quinhentas léguas de distancia de suas fronteiras ? i Será a Suécia
que tem feito taõ grandes esforços para se privar de seu Principe, e
de seu exercito? c se as Potências mais distantes naõ podem fazer
taes despezas {até qne ponto convém confiar similhante vigilância
ás Potências, que estaõ mais próximas para se encarregar delia?
A paz, portanto, lançará 0 germen da inquietação entre os Gabi-
netes, que tem mostrado tanta boa fé durante a guerra, e Bonaparte
assignando-a terá ja ganho a primeira victoria."

O Leytor porem naõ dcvciá concluir do que copiamos


acima, que o systema do A. suppoem a conquista, ou a
desmembraç&õ das províncias da França: pelo contrario
elle estabelece por uma indução de raciocinios, que tal
plano he contra as intençoens, e contra os interesses doy
mesmos Alliados ; como se vê da seguinte passagem.
" Se a conquista da França (diz o A. a p. 44) aprc-ienta grandes
obstáculos, os que se oppóem á sua divisão naõ saõ menos insu-
peráveis. Os Alliados os conhecem, e os Francezes naõ tem nada
que temer a este respeito. Km vaõ o tyranno, pura os persuadir que
he contra elles que se dirige o ódio que se tem a elle só, lhes grita
•--Ameaçam-vos com a escravidão—he precizo que a França saiba,
que a naõ ameaçam senaõ com a liberdade, I\aò se lhe apresenta
uin novo jugo, mas sim a offerta de a libertar do jugo que sofTie."
O A, desenvolve, com precisão e clareza, a» e>rc;tm«
860 Literatura c Sciencias.
slancias que elevaram Bonaparte ao throno da França; c
depois as causas immediatas que operaram a sua ruina; a
este respeito he digna de copiar-se a recapitulaçaÕ, que
que o A. faz. a p. 72.
" Admirando os homens, que naõ saõ outra cousa mais do que
es instrumentos, he sempre ao principio das cousas que se deve
voltar. A Providencia que castiga, mas que nunca desampara, aban-
donando a Europa a um Conquistador, tinha reservado tres grandes
meios para a restabelecer: uma ilha rica e poderosa, uma penin-
sula, que era impossível rodear; em fim um grande povo digno de
usar do nome de Slaves, (esta palavra significa, ua língua Russiana*
Gloria) de quem descendem, e de derramar, como elles, na Europa
os multidoens de bárbaros, que a fizeram suecombir."
O Leytor facilmente conhecerá daqui, que segundo o
systema do A. as tres poderosas causas da regeneração da
Europa fôram a perserverança da Inglaterra, que com
as suas riquezas conservou no continente o espirito mi-
litar : o patriotismo da Hespanha, que demonstrou quanto
pôde o enthusiasmo nacional, ainda sem os recursos ne-
cessários : e o valor dos Russianos, que reanimou todo o
Norte da Europa.
Resta por tanto expor a maneira porque Bonaparte
conservava o seu poder; e por fiin o modo de anniliilai
completamente o despotismo da França, e lançar os fun-
damentos da uma paz solida, e durável. Quanto aos
meios por que Bonaparte extendeo, e conservou a sua
dominação, daremos a conhecer os sentimentos do A. com
um extracto, p. 8S.
" O oppressor da Europa governava metade de seu território;
tinha enganado a França com a esperança de ser feliz ; a Itália com
as vistas de se ver reunida; a Confederat-aõ do Rheno pelo temor da
Prússia e da Áustria • a Hespanha pela traição; a Hollanda pela
perfídia ; a Áustria por suas negociaçoens; a Prússia por suas in-
trigas; a Saxonia por sua hypocrisia; a Polônia por falsas esperan-
as ; a Russia em fim com a promessa de tornara estabelecer a tran-
qüilidade.*'
He claro que o poder de Bonaparte fundado em bazes
Literatura e Sciencias. 861
taõ precárias naõ podia ser de alguma duração; e somente
a sua ambição desmedida o poderia cegar ao ponto de
naõ conhecei que eram applicaveis á sua situação, os mui-
tos exemplos dos conquistadores, que tem succumbido
debaixo das ruínas de vastos dominios mal adquirido», 8
sustentados pela força armada, sem o favor da opinião.
He desta theoria, que o A. deduz a necessidade que ha
de restituir a familia dos Bourbons ao throno da França;
e entaõ naõ haverá naçaõ, que tenha cousa nenhuma a
recear da coaliçaõ, que se acha formada contra Bona-
parte.
" Para dissipar (diz o A. p. 90) toda a inquietação a respeito da
Coaliçaõ de hoje, he preciso perguntar, aonde está o poder que-pode
destruir a opinião : o oppressor da França levautaria ainda ali
1.100.000 soldados, e com tudo naõ poderia vencer 20 naçoens que
se tem constituído o deposito de seus exércitos. (- Quaes seriam os
resultados de suas victorias r Fariam ellas com que as ideas re-
trogradassem ? Ha vinte annos, os Soberanos hiam como por um
rio acima, contra a torrente da opinião; presentemente vem com
a torrente, trazendo com sigo os votos e desejos dos povos a seu
lado."
Em quanto os Soberanos combatiam contra a Naçaõ Franceza, a
luta éra penosa, e deviam suecumbir; porém depois que saõ as
naçoens as que combatem contra um Corso, a opinião mudou de
lugar, e passou para o campo dos vencedores. Porém se todos os
principios, todos os sentimentos de reunião estaõ da parte dos Al-
liados, um golpe de vista rápido fará ver, que quasi todos os recur-
sos saõ também por elles."
«' A Prússia tem sido devastada; mas os seus habitantes se tem
•convertido cm soldados invencíveis ; a necessidade e a desesperaçaõ
tem feito mais do que a economia de Frederico Guilherme I., e o
gênio de seu filho.. Os exércitos se tem feito inais nuníerosos, a
affeiçaõ á causa tem suprido o material, a disciplina tem nascido da
necessidade de a restabelecer : gente útil se tem apresentado de todas
as partes, as nuvens, que oceultavam os generaes hnbeis, se t e n
dissipado ; Blucher *:ilvou a sua.Patrin, e a Prus-sia de hoje naõ tem
nada a invejar á do Grande Frederico."
" Instruído pela experiência, a Confederação da Rheno ja uaõ
VOL. X I . N o . 67. 5 s
862 Literatura e Sciencias.
procura o seu apoio na tyrannia ; ella naõ tentará mais substrahir-
se ás leys, que tinha feito, para se lançar cm um sjstrm.t que ainda
ignora *, ella naõ verá na França senaõ uma barreira á ambição dai
Potências, senaõ um freio, á ainbiçaõ dos Francezes.
" A Áustria, que encerra em si, tudo quanto constitue a ver-
dadeira força de um Estado ; Monarchia como o mesmo Taylleratul
confessa, cujas raízes penetram até o centro da da terra, a Áustria
terá aprendido, que o egoísmo em politica he a mais funesta de
todas as combinaçoens."
" Talvez demasiado inclinada a tomar as agitaçoens das fac-
çoens, pela salvação do Estado, a Suécia sente ja todo o valor de
sua situação brilhante ; ella vé no grande homem, que entre Lutzen
e Leipsic traz á lembrança o grande Gustavo, o rcmctliador dus males
que Carlos XII. lhe tinha oceasionado, e ngradece ao O o o ter
tirado do seio da desordem o heroe, que lhe dá o socego, e pre-
para a sua prosperidade."
" A Dinamarca corrigida pela experiência aprenderá talvez, que
he preferivel o participar das infelicidades dos valorosos, antes do
que da fortuna dos máos : ameaçada com unia liçaõ severa, 10
apressará a comprar a estimação dos distribuidores da jttstça Eu-
ropea."
" A Hollanda, cuja boa fé hc o seu verdadeiro poder, entregando
de novo os seus capitães ao commercio, a sua industria ao trabalho,
a sua paciência ao elemento que a cerca, naõ se csqucrccrá, que a
sabedoria de adquirir he preciso unir a energia que Conserva • e
a barca do Estado, fatigada com as tempestades republicanas, vai
lançar a anchora verdadeira, que somente pode segurar a sua tran-
qüilidade."
" A Itália mais impaciente do jugo que nenhum outro paiz,
porém mais vigiada, espera, e provavalménte conspira. Ja naõ
ha temores a seu respeito, so se teme por estes infelizes Franceze»,
inocentes por assim dizer dus crimes que cometem. Naõ se pode
trazer á lembrança sem tremer as Vésperas >iciliunai i c o pensa-
mento, retrogradando, com dôr, na historia, vè estes bello» paizes
serem o túmulo de seus conquistadores."
" Tal he o quadro das Potências, que tom recebido um grande
exemplo da Inglaterra, da Hespanha, c da Russia. Sc a força da
opinião, que levanta a Europa, a generosa mas previdente Ingla-
terra continua a unir as suas riquezas, a Peninsula a sua energia,
A. Itnssia o seu admirável interesse, está segura de reconquistar
& sua tranqüilidade."
Literatura e Sciencias. 863
" A revolução que se fez ha 25 annos, se aproveitou dos erros
de todos os reys; a revolução de hoje se deve aproveitar de seus
talentos, c de suas virtudes : os Alliados naõ podem ignorar os re-
cursos que possuem ; os acontecimentos acabam agora de lhol re-
velar."
" Mas quaes saõ estes recursos, que o Ceo lhes tinha, por assim
dizer oecullado, a fim de produzir a epocha, ein que cessaria de os
punir l"
" A lies, anha estava quasi conquistada: um throno, um altar
acabam de fugir : a pitria em Portugal naõ éra ja pátria; mas Wel-
lington estava reservado pela Providencia, e duas naçoens valentes
fôram salvas."
" A França, depois de 25 annos, tem necessidade de descanço;
a Europa necessita naõ a temer; o mundo inteiro tem necessidade
de lhe prestar a sua estimação, e esta mesma Provideucia lhe con-
servou um rey justo, sem ambição, uma familia sem resentimento,
principes generosos, que até tremem de ser confundidos com o seu
tyranno."
" Os Alliados para evitar as exncçoens, que os fariam odiosos, tem
necessidade de subsídios, e ésla Providencia concentra todas as ri-
quezas do Mundo naquelle povo do Universo, que he o mais digne
de fazer dellas um uso nobre."
" Desencaminhando os principes da Confederação dos Rheno,
fechando por longo tempo os olhos aos erros da Prússia, e aos da
Áustria, tem mantido no throno Soberanos cheios de honra, e dig-
nos de ouvir a verdade.
" Naõ podendo de um só golpe dar á Suécia a sua preponderância
dos séculos passados, ella tem ligado a sua gloria á do chefe que
deo a seus soldados, e lhe prepara um glorioso futuro."
" Em fim para coroar' tantos benefícios, reunir tantos elementos
differentes, derribar tantos obstáculos, sutfocar tanta ambição -, mo-
derar tantos zelos, consolidar taõ vasto edifício; ella põem a sua
obra debaixo da guarda da probidade, da honra, e todvis os senti-
mentos heróicos; e põem as virtudes no coração do Imperador
Alexandre."

5s2
86*1 L>'cralurc e Sciencias.

Noticia de iwxas publicaçoens cm Inglaterra.

SemplSs Tour fram Hamburg, Sro. preço ls. Obsc-r-


raçoens feitas cm uma pequena viagem de Hamburgo, por
Berlin, c Breslau, até Silberberg ; e dali até Gottenburgo,
passando por onde estiveram os Alliados com o seu quartel-
general. Por Roberto Semple : Authcr de duas viagens á
Hespanha, e um eboço de Caracas.

Cuvier1 s Theory of lhe Earth, 8TO. preço Ss. Ensaio


sobre a theoria da terra, traduzido do Francez de Mr-
Cuvier, Secretario perpetuo do Instituto Francez, Professor
e Administrador do Museum de Historia Natural, &c.
Traduetor Roberto Kerr, F. R. S. e F. A. S. de Edin-
burgo, com notas mineralogicas, e uma conta das descu-
bertas geológicas de Cuvier, pelo Professor Jameson : e
duas boas estampa.
Esta obra deve ser extremamente útil ao estudante de
geologia ; porque contem vistas originaes c mui importan-
tes sobre este objecto; e se occupa mais com as importan-
tes particularidades de factos c observaçoens, do que com
estabelecer theorias engenhosas. O Christaõ pode munir-
se, por esta producçaõ de um philosopho Parisiense, com
armas para dafender a sua fé, contra aquelles escriptores
que tem trabalhado pela destruir com objecçoens contra a
narrativa do dilúvio de Moisés, e antigüidade da espécie
humana. E o Ensaio he escripto em estylo taõ elegante,
e taõ claro em sua narração, e ministra tanta informação
em uma interessantíssima parte da Historia Natural, que
naõ pode o Leitor deixar de tirar delle grande porçaõ de
instrucçaõ e divertimento.

Li/onc.i Fruit Trees, 810. preço 5s. Observaçoens IO-


Literatura e Sciencias. 865
bre a esterilidade das arvores fructiferas, e meio de a pre-
caver e curar. Com uma Estampa. Por P. Lyon.
Neste pequeno tractado se indica um methodo pelo qual
se pode fazer com que as arvores de qualquer idade que
sejam dem immediatamente fructo, se augmente a sua
quantidade, e melhore a sua qualidade ; se renovem as ar-
vores velhas, se promova o crescimento das novas, e se
remova completamente a gangrena; que he moléstia uni-
versalmente fatal ás arvores de fructo, e que ate aqui se
julgava incurável.

Musical Riography, 2 vols. Svo. preço li. 4s. Biogra-


phia Musica, ou Memórias das vidas e escriptos dos mais
eminentes compositores, e escriptores, que tem florecido
em differentes paizes da Europa, durante os últimos tres
séculos, e incluindo memórias dos que ainda vivem.
A intenção do A. na execução desta obra, foi supprir
aos amantes da musica com anecdotas das vidas, e obser-
vaçoens sobre os escriptos impressos ou manuscriptos, de
eminentes mestres, e que naõ somente sirvam de recreio,
e instrucçaõ, mas também sirvam de guia para quem
quizer compar as suas obras.

GoldonVs Memoirs, 2vob. Svo. preço \l. \s. Memórias


de Goldoni (o celebre poeta dramático) escriptas por elle
mesmo. Traduzidas por Joaõ Black.
[ 8G6 j

MISCELLANEA.
BuUctúiis do Exercito do Norte de Alemanha.
KuL-.ri-iji XXIV.
Quartel-general de Muhlhauscn, CS d Outubro, de 1813.
o PRÍNCIPE da Coroa mudou hontem o seu quartel-general paru
Muhlh-itisen, para cujo sitio tinha avançado por Mcrschurg, Artem,
eSue.dersli-.msen. Oi grandes resultados da batalha de Leipsig, cada
dia se fazem mais e mais visíveis. O exercito do Imperador Napo-
leaõ vai-se retirando a marchas forçadas, e cada dia soffre perdas
consideráveis. Kllc marchou em direcçaõ a Erfurt; porem, segundo
as ultimas nciicias, aquelle ponto está ua posse dos alliados. 0 Ge-
neral Bluchersegue apertadamente todos os vestígios du inimigo;
em quanto o grande exercito tle Bohemia, cujo quartel-general es-
tava no dia 4 em Weimar, vai marchando pelo seu flanco esquerdo,
e o exercito do Norte da Alemanha está em parte sobre o seu flanco
direito, c cm parte se estende mais alem.
Os Generaes Yorck, e Wasilschikovr, cujos corpos formam a van-
guarda do exercito da Silezia, atacaram a rettaguarda do inimigo
perto de Weissenfels, e Freyberg, c tomaram para cima de 4.000
prisioneiros, 40 peças d'artilheria, e um numero de carros de baga-
gens c muniçoens. O General Bubna tomou 800 ppisionciros da
Guarda Impei ial, cm Butliestadt, e o General Bcnnigsen, que mar-
chou pela estrada de Bcbro, achou um grande numero de extravia-
dos, c de canhoens abandonados, e carroças das bagagens, tudo ao
longo da estradas. Na estrada du Erfurt, o mesmo Imperador Na-
poleaõ mandou queimar mais du* 600 carros dj pólvora. O Coronel
Chrapowitski tomou posse da cidade do Gotha no dia 22, e entaõ fez
prisioneiros o Ministro Francez, Baraõ de Aynon, 73 officiaes, c DIW
homens. Fez voar SO carros de pólvora, e depois disto rcuiiio-w
cm Moischleben, ao General Slowaisky no dia 12; o qual tinha sido
destacado do grande exercito para se por cm roda do exercito Fran-
cez. O Coronel Bekeudorf, ao mesmo tempo incomodou o inimigo
em toda a sua marcha para F.rfurt, foi continuamente escaramu-
çando com a cavallaria do General Sebasliani, e tomou uma quan-
tidade de prisioneiros. O General Czernitscheff, a cujo corpo estes
partidistas pertencem, marchou para Eisenach para prevenir a tc*-ta
da columna iuiniigi. O Imperador Napoleaõ, no dia 10, dorinio
em Mark-Raustadt, no dia 20 em Weissenfels, em 21 em Eckarit-
berg; na madrugada do dia 23 estava em F.rfurt, donde partio para
Gotha.
Miscellanea. 807
Cartas interceptadas dizem, que naquellas vizinhanças, as estradas
reaes estavam cobertas, c. como se estivessem semeadas de fugi-
tivos, sem armas, nem fardamento. O Marechal St. Cyr fez um
movimento de Dicsde para Torgau; provavelmente com o intento
de tirar as guarniçoens d.iquella fortaleza, e de Wittcuherg, e unidas
ao seu corpo, avançar até Magdeburgo, e dali para França. Vários
corpos de exercito estam avançando, de differentes pontos, uns para
os outros, reunindo se para o accometerem, e cortallo. O General
Tauenzien está na vizinhança de llostau ; e hade reunir os corpos
dos Generaes Von Hirchfeld, e Von Thumen ao seu. O General
Conde Tauenzieu segue os movimentos do General St. Cyr, e o
General Bennigsen cujo exercito se tinha ja reunido ao do Principe
da Coroa, ha de mandar que o corpo do General Doctoroff tome a
mesma direcçaõ, c ha de tomar sobre si o commando de todas aa
tropas Russianas, e Prussianas, que estaõ destinadas para manobrar
contra os corpos inimigos. O General Strogonoff ha de reunir-se ao
exercito do Principe da Coroa.
O General Tetteuborn, que estava com um corpo de tropas ligeiras,
perto de Lunembourg tomou posse, no dia 15 d'Outubro, da cidade de
Bremen, por capitulação. O General Conde Walmoden está de ob-
servação ao exercito do General Davoust que, mui provavelmente,
pouco hade tardar que naõ se retire. A perda total do exercito
alliado do Norte da Alemanha, naõ excede de 2 a 5.000 homens,
entre mortos e feridos. A do General Conde Langeron foi mais
considerável. Este General faz os maiores elogios ao comporta-
mento dos Generaes Keptzewitzch, do Conde de St. Priest, e Rond-
zewitzsch, e igualmente a todos os officiaes e soldados debaixo do
seu commando. Na batalha de 18 d'Oulubro, o Tenente-general Sir
C. Stewart colocou elle mesmo os fogueteiros Inglezes, no meio do
fogo mais vivo, e voluntariamente emprehendeo a execução de va-
rias ordens de S. A. II. o Príncipe da Coroa, e o fez a inteira satis-
facçaõ de S. A. R. Os Generaes Tawast, e Lawinheihu, distinguiram-
se; o primeiro conduzio 2 baterias de 12 cauhoens a um ponto que
estava mui fortemente atacado pelo inimigo, e por este inodo con-
tribuio para a segurança deste flanco do exercito. O General Sure-
main dirigio elle mesmo a artilheria Sueca a qual fez fogo sobre a
porta de Leipsig, e depois nas ruas daquella cidade. A cavallaria de
Winzingerode avançou até Vach, e segue os movimentos do inimigo,
que em parte parece tomar a direcçaõ de Witzlar. Este General
mostrou na batalha de Lcpsig os mesmos talentos, e valor, de que
d'antes tinha dado tantas proras. A infanteria ltus-iiana tem sus-
8GS Miscellanea.
tentado sua antiga fama por uma firmeza, qua sempre a dislm*.,;,.
Os Generaes Woronzoff, Laptieff, Harpe, e Wonitsch, deram a
S. A. R. a maior satisfacçaõ pelo seu com por lamento.

BULLETIM XXV.
Quartel-general de Heiligenstadl, 30 d'0utubro, de 1813.
O Principe da Coroa mudou hoje o seu quartel-general para este
sitio. O Imperador Napoleaõ continua a sua retirada para o ilhenn.
Os exércitos alliados seguera-o, e estam-o incomodando continua-
mente. Todas as informaçoens recebidas nos asseguram que elle
naõ tem comsigo mais de 50, á 60.000 homens; o resto do seu ex-
ercito está disperso, e anda errante pelas montanhas, sem guia, nem
armas. O General Czernitscheff, que commanda uma das vanguar-
das do exercito alliado do Norte da Alemanha, no dia 25 do cor-
rente, junto a Elstrode, naõ longe de Eiscnach , mandou atacar utn
destacamento de cavallaria de SOO homens, commandado pelo Ge-
neral de Divisão Fournier: meteo-o para dentro de um desfiladeiro
aonde a maior parte destes homens foram passados á espada, e 300
feitos prisioneiros. Os Cossacos que fizeram este ataque naõ eram
mais de 200, ou 300 homens mas valentes. Tcndo-se DO dia 27, rece-
bido informação de que as novas guardas Francezas tinham passado a
noite em Fulda, o General Czernitscheff fez seu imincdiato o Ge-
neral llowaiski e destacou o Coronel Benkcndorf para Fulda. Este
General fez fugir o inimigo, tomou-lhe 500 prisioneiros, e destruio
o almazeni de trigo que ali estava estabelocido. Como se soube que
as novas guardis formavam a vanguarda do exercito Francez.; o
General Czernitscheff colocou-se entre ellas, e o exercito que ai
seguia, debaixo do commando do Imperador Napoleaõ, e assim es-
perou a approximaçaõ das columnas inimigas. Logo que elle lhe
percebeo a frente, mandou-a atacar. Tres esquadroent. de gendar-
ines das guardas foram atacados e feitos recuar sobre as tropas que
os seguiam O General Czernitscheff dispersou a vanguarda do
Imperador Napoleaõ destruio-lhe os almazens donde elle pensava
suprir o seu exercito e pôs-lhe as estradas impracticavei». 0 Te-
nente-general Conde Woronzoff no dia 28, mandou guarnerer Cam-I
por uma parte da sua vanguarda ; poucas horas depois, o Conde de
M. Priest, do exercito da Silesia, entrou naquelU praça. O Conde
Von Woronzoff também para Ia foi hoje, e ha de ir tamlx ni o Ge-
neral BaraÕ Von Winzingerode com todo o seu exercito. O Rey
de Wcstphaüa, ignor.mte do resultado da batalha de Leipsig, fi-
tava ainda socegado em Cassei no dia 24, c naõ tinha com sigo mais
de 4 ou 5.000 recrutas. So ao outro dia, 25, soubs quam mal seu
Miscellanea. 869
Irmaõ tinha sido tractado, e no dia 26 partio sem demora para
Coblentz, pelo caminho de Wetzlar. O General Carra St. Cyr tor-
nou a entrar em Bremen, porem provavelmente naõ ha de lá estar
muito tempo. O Marechal Principe de Eckmuhl ainda estava aos
26 na posição que tinha tomado no Stciknitz, porem observou-se
que se andavam fazendo preparaçoens para lançarem uma ponte
junto a Zollcnspecker. 0 que elle intenta fazer ainda se naõ sabe
exactamente. Algumas pessoas que se julgam bem informadas,
dizem que o Imperador Napoleaõ lhe dera ordens de se defender
em Hamburgo até a ultima extremidade, para prevenir, o mais
que podesse, que os Dinamarquezcs declarassem guerra contra a
França. Os Francezes naõ se daõ bem com os Dinamarquezcs;
estes, nada mais dezejam sinceramente, do que fazer causa commum
com os Alliados, e esperam com impaciência a declaração do seu Rey.
0 exercito Saxonio que se unio aos alliados, e recebeo o exercito
do Norte debaixo d'armas quando elle entrou em Leipsig; ha de por-
se etn campo sem demora. Os seus Generaes, Officiaes, e soldados,
dezejam vingar os insultos que se lhes tem feito. O Rey de Wirtem-
berg declarou-se a favor da boa causa dos alliados. As suas tropas
ja chegaram a Aschaffcnburg, e estam em marcha para se unirem ás
tropas Austríacas, e Bávaras, debaixo do commando do General
Conde Wrede. A libertação de Hanover cedo ha de acontecer. O
Poder, e a Justiça estam a ponto de destruir o edificio levantado pela
oppressaõ, e força superior.

Carta do Principe Hereditário de Suécia ao Tenente-general Stewart.


0 zelo no serviço, os talentos, e o valor que tendes mos-
trado em todas ns oceasioens, no serviço da boa causa em que esta-
mos empenhados, e de que tendes dado ultimamente tantas provas
nas batalhas junto a Leipsig, nos dias 18, e 19 do corrente, tem-me
Induzido a pedir para vos, ao Rey, meu amo, as Honras de Gram
Cruz, e Commandante da Real Ordem Militar da Espada. Eu re-
servo para mim o entregar nas vossas maons a Insígnia desta Ordem.
Julgo-me feliz em dar-vos com isto uma prova da bem merecida
estima qne eu tenho para com vosco, e do valor em qne tenho os
serviços feitos por V. Ex'.
Concluo com pedir a Deus que vos tenha, Tenente-general
Stewart, debaixo da sua altíssima e graciosíssima protecçaõ.
Vosso bem alfeiçoado, &c.
(Assignado) CARLOS JOAÕ.
Oo meu quartel-general d'Artem, 25 dOtdubro, de 1813,
VOL. XI. No. 67. 5 T
•^-•O Miscellanra.

BOLLETIM X X V I -
Quartel-general de Hanottr, 10 de Sovembro, de IS,j
O Principe Real transferio o seu quartel-general para Hano>«i
tendo passado por Gottingen, Eimbeck, e Ettzi.
O Imperador Napoleaõ repassou o Rheno em Mcnlz ; deixou as es-
tradas cubertasde mortos, e moribundos: estes tmtes, c irrefriigavri»
testemunhos das suas derrotas tem mostrado aos exércitos alliados a
estrada que elles devem seguir ; Hanau, emfim,veio a ser para Na-
poleaõ tuna nova Beresjna, He somente ao heroísmo de seus solda-
dos, e aos talentos de seus Generaes que elle deveo a sua salvação. O
General Czernischeff, que constantemente formou a guarda a>ançada
contra o exercito Francez durante a sua retirada para o Rheuo, contri-
buiu grandemente para o resultado da batalha de Hanau. Aquelle gene-
ral cançou o inimigo durante todo o dia 30 de Outubro ; c tendo sido in-
formado no dia 31, que uni corpo de 10.000 homens de cavallaria ia
escoltando o Imperador Napoleaõ, resolveo atacallos com 5 regiincn-
tosde Cossacos, no que foi muito mais bem succedido do que espera-
va, porque por varias vezes rechaçou o inimigo, que foi obrigado a
retirar-se debaixo do fogo dos seus canhoens, e tomou-lhe 400 prizi-
oneiros. Este General desde Erfurt até as margens do Rheno foi in-
cessantemente o perseguidor de Napoleaõ ; umas vezes atacando a sua
guarda avançada, outras vezes retardando-lhe a marcha, fjzcndo-lhe
voar as pontes, cortando-lhe as estradas, ou entiilhando-lhas. Estas
operaçoens, que o Imperador Napoleaõ affiecta considerar como um
indigno modo de lazer a guerra, porqiie ellas lhe saõ perniciosas,
obrigaram-o a entrar muitas vezes em combates,cm os quaes o Gene-
ral Czernischeff tomou 400 prizionciros, incluindo dous coronéis, e
'iOoutrosoiikiaes. Este General de divisão tem obrado sempre como o
corpo ligeiro doExercito do Norte da Alemanha, daquelle exercito, que
Napoleaõ encontrou em Gr.-s Beurcu, em Dennewitz, c cm Leipsig.
O Tencute-g *neral Conde Woronzoff louva altamente- os talento» do
Tenente-coronel Chrapowitski, o qual enrostaudo-se aosflanemdo
inimigo durante a sua retirada, fez 500 prizionciros. A guarda
avançada do General Baraõ Win/iii^erotle, pcr«*guio o corpo du
General Rigaud, c oulms destacamentos inimigos sobre a e-rfiadade
Wesel,c Dusscldorff. A vilade Minister foi occtipada no dia 5 por
tropas Ruíwianai. IMa f.<rça do inimigo perdeo em sua rcliiada
mais de 600 prizioneiros, dos quaes o Major tVtcscwskv tomou iOu.
O tíeneral Telteiihorn cot., os seus corpos lerniiiilo a divisão do tie-
ncral CarraSt. Cyr, <; a» tropas que vinliani i!e Hollanda, asquaci de»
wjava".i reocupar Bremen. O Principe Ht-al (-.ti IUUÍIO saliitcíl»
<.<im-t ai (i-.itladc da«i';'•!!<• Gcneiaf
Miscellanea. 871
O Marechal Davoust ainda occupa a sua antiga posição sobre o
Stecknitz, eja naõ pode cffeituar a sua retirada para França. O Ge-
neral Baraõ Winzingerode está a um dia de marcha de Bremen,e ha
de extender as suas tropas por todo o paiz de Oldenburg mesmo até
as fronteiras de Hollanda, para onde elle j a mandou o Coronel Na-
rishkin. O General Bulow está em Miuden ; ha de mandar um corpo
para Munslcr, c a sua cavallaria está prompta para formar uma
juneçaõ com a do General Czernicheff sobre as margens do Rheno.
0 General Conde Woronzow está em marcha sobre Luneburg. Uma
divisão do exercito Sueco, commandada pelo Tenente-general, o
Baraõ de Sandels está em Brunswick; a divisão do Major-general de
Posse,em Hanover, e a do Major-general de Beye, em Hildesbcim.
A cavallaria debaixo do commando do Tenentc-gcueral Shilde-
braud, occupa as aldeas em roda de Hanover.
0 exercito está recobrando-sedas suas fadigas, c reparando o seu
fardamento, e suas equipagens. A Regência do Eleitorado de Hanover
foi restabelecida, e o inimigo agora somente occupa sobre o baixo
Elbe, Harburg, Stade, e o pequeno forte de H o p e ; porem pode-se
presumir que naõ poderá defender-se muito tempo. Em Hanover,
os habitantes de todas as classes tem dado provas do mais terno
affecto para cora o seu Soberano, e o mesmo em todas as outras par-
les do Electorado. O Principe Real, cuja fortuna foi tellos comman-
dado em outro tempo como um General do inimigo, tem recebido
com sensibilidade os signaes de lembrança, e de reconhecimento, que
elles lhe tem dado pelo modo com que elle se comportou para com
elles.
0 quartel-general do Grande Exercito Alliado estava no dia
5 em Frank fort. Assim os inauditos esforços que a França féz em
1813, tiveram os mesmos resultados que osde 1812. As legioens Fran-
cezas, que faziam tremer o inundo, estam-se retirando, buscando a
sua salvação para de traz do Rheno, natural barreira da França, e que
seria mesmo uma barreira de ferro ; se Napoleaõ naõ tivesse desejado
subjugar todas as naçoens, e extorquir-lhes as suas terras.
Ainda que os limites parecem fixados pela natureza, o exercito
Russiano apprezcnta-se diante delles, porque Napoleaõ foi buscar os
Russianos a Moscow, o exercito Prussiauo apparece diante delles, por-
que cm quelirantamento de sua fé jurada, Napoleaõ ainda possue as
fortalezas daquella Monarquia, o exercito Austriaco apparece defronte
delles, porque a Áustria tem insultos que vingar, e porque ella se lem-
bra que despois da paz de Presburg, o titulo de Imperador de Ale-
pianka foi arrancado ao seu Supremo Chefe ; se os Suecos também lá
5T2
872 Miscellanea.

estaõ, be porque no meio de uma profunda paz, e cm violação dos


mais solemnes tractados, Napoleaõ traidoramente os surprrnhriideo
em Stralsund, e insultou-os em Stockholm. Os Alliados tem pezar
das desgraças dos Francezes, lamentam as calamidades que a guerra
traz com sigo, e longe de serem deslumbrados, como Napoleaõ, pe-
los suecessos com que a Divina Providencia tem favorecido as suas
armas, estam so ardentemente desejozus de paz. Todas as naçoens
suspiram por aquella dádiva do ceo, e até aqui so Napoleaõ se tem
opposto á felicidade do mundo. Daqui vem que todos os Príncipes,
-ultimamente seus Alliados, se apressam a abjurar os vinculos que os
uniam com elle, mesmo aquelles cujos estados tinham sido engrande-
cidos em conseqüência de seu poder, ou de sua influencia, renunciara
sua grandeza, e a sua apparente amizade.

BULLETIM XXVII.

Quartel-general de Lubeck, 6 de Dezembro, de 1813.


O General Bulow com as suas tropas tomou de assalto &
fortaleza de Arnheiin ; praça da maior importância para
a defeza da Hollanda. Tinha uma guarniçaõ de 4.000 homens
e ordinariamente armada. Os Prussianos deram nesta occa-
siaõ uma nova prova da intrepidez que os characteriia. A
perda do General Bulow, em mortos c feridos, foi de 300 ho-
mens. A do inimigo deve ter sido considerável, Tomaram-se
alguns centos de prisioneiros. O Major Marklay com um
destacamento que formava parte da guarda avançada do O n e
ral Winzingerode, entrou em Amsterdam em '24 de Novembro,
uo meio das acclamaçoensdos habitantes. Seguio-se-lhe o Ce-
ntral Benkendorff. N o dia 27 de Novembro o General Gaga-
rin, com 3 0 0 Cossacos desmontados, atacou a guarniçaõ de
Deventer que tinha sahido fora para queimar, ou occupar um
dos subúrbios, edespois de um combate mui profiado, fez re-
cuar o inimigo ate á ponte matou uma quantidade, e tomou 60
prisioneiros. N o dia 2 8 o Coronel Narisckin oecupou Amers-
ort a guarniçaõ da qual se retirou para Naarden. Os dous
ortes de Cuxaven, Faro, e Napoleaõ, foram tomados. A
guarniçaõ foi prisioneira de Guerra.
N o s estamos melhorando as fortificaçoens de Doesburg, e
Zutphen. O General Winzingerode inviou ao Principe da
Miscellanea. 873
Coroa as chaves da cidade Utretcht, tomada pelas tropas do
Coronel Narischkin.
O Principe Real transmiüo-as ao Imperador Alexandre. O
Conde Strogonoff está encarregado do bloqueio de Harburg.
O Exercito Sueco tendo-se approximadode Stecknitz, com o
corpo de Lut/.ovv, occupju os pontos desde a embocadura do
rio até os orredores do Buchen. Fizeram-se disposiçoens para
atacar o inimigo no dia 2 de Dezembro. O General Conde
Woronzow, e o General Tettenborn, tinham recebido sirdens
para altravessar o Elbe cm Boitzenburg. O Marechal Prin-
cipe de Eckmuhl abandonou a sua posição pela noite, e reti-
rou-se para traz de Bille. O Major Cederstrom, com um corpo
ligeiro, passou ao mesmo tempo o Elbe em Gcschstadt. As
tropas attravessaram o Stecknitz, perseguiram a rettaguardado
inimigo, e tomaram alguns prisioneiros. A margem esquerda
do Stecknitz, appresenta em certos pontos, cabeços, e posi-
çoens que parecem inconquistaveis. As bordas do rio que o
inimigo occupava saÕ muito ásperas, e a outra margem he qua-
si toda ella pantatioza. Os pontos accessiveis apprezentam
entrincheiramentos construidos com grande cuidado, estacadas,
e frizados por um modo, que podiam fazer parar por muitos
dias os progressos das mais intrépidas, e guerreiras tropas. O
exército féz um movimento sobre a sua direita. O General
Woronzow avançou sobre Launberg ; o exercito Sueco, sobre
Mollen, e Ratzburg. No dia 3 o General Woronzow mar-
chou sobre Schwarzenbeck, e tomou Bergedoaf por assalto.
A cavallaria féz alguns prisioneiros. O General Tettenborn
avançou sobre Amfeld, uniiulo.se com a cavallaria do Conde
Woronzou, c cortou a communiçaÕ entre Hamburgo e Lubeck.
No dia 4, o General Walmoden passou o Stecknitz, e reunio
a maior parte das suas tropas, em Klinkradc. A sua guarda
avançada encontrou o inimigo na aldea de Sievembautn e arro-
jou.o de lá depois de ter tomado alguns prisioneiros. O exer-
cito Sueco marchou entre o Wacknitz, e o Stecknitz, féz adi-
antar os seus postos avançados até á margem esquerda deste
ultimo rio, e expulsou o inimigo. O General Vegesak attra-
vessou o Wacknitz em Grunau, c restabeleceo a ponte em
Cruinessen ; tomando a esquerda do exercito Sueco. Um forte
destacamento de todas as armas, commandado pelo Tenente-
874 Miscellanea.
coronel Anckaroward, permaneceo entre o Wacknitz, e o
Trave para observar Lubeck por aquella banda, c ajunctar os
materiaes para a construcçaõ de uma ponte defronte de
Schwartau. Na manhaã do dia 5, o General Posso fez atacar
a posição do inimigo com o Landwehr, o por uma divisão da
brigada do General Schuhzenheim, e depois de um pequeno
fogo de musqueteria tomou os reduetos, e restabcleceo a ponte.
Alguns homens foram mortos, e feridos. O BaraÕ de Melin,
do primeiro regimento das guardas, oflicial de distineçaõ, foi
morto nesta occaziaÕ. O General Vegesack passou em Steck-
nitz, cm ordem á reunir-se ao Conde Wallmoden que devia
avançar sobre Oldcslohe. Como se intentava tomar Lubeck &
escala, o Marechal Conde Stcdingk fez avançar o exercito
Sueco. Quando chegou a meia legoa distante da cidade, man-
dou fazer alto, para esperar pelas escadas ; durante o intervalo
entrou cm conferências com o inimigo. Eram ja 3 horas, e as
escadas naõ eram chegadas; o conhecimento que o General
Stedingk tinha da fortaleza de Lubeck, e dos meios de defeza
que ella offerecia a um homem de talento, e resoluzaS induzi.
ram-o a naÕ rejeitar proposiçoens. O General Lallemand as-
signou com o Coronel Biornstierna, chefe do estado-maior do
exercito Sueco, uma capitulação stipulando que as tropas ini-
migas haviam de evacuar a cidade ás 10 horas da noite, largar
ás 6 da tarde a porta de Mollen, e naÕ ser perseguida até o
romper da manhaã do dia seguinte. Como o inimigo naÕ tinha
para defender mais que a porta de Mollen, coberta por um
doble fosso cheio de água, c obras avançadas, sempre estava na
sua maõ o fazer a sua retirada, em quanto naõ houvesse ponte
sobre o Trave, e segundo as uniformes relaçoens de todos os
engenheiros, eram precizas 24 horas para lançar uma. As
tropas entraram na cidade ás 10 da noite. O inimigo retirou-
se sobre Segeberg. O General Wallmoden vai marchando
sobre aquelle ponto; e o General Shieldebrand começou esta
manhaã ás 6 horas no perseguimento do inimigo com a sua
cavallaria. Ja se tem feito alguns centos de prisioneiros. Os
habitantes de Lubeck estavam determinados a ajudar, por
meios mais eracazes do que meros dezejos, os esforços do exer-
cito que foi restaurar-lhes o seu nome, os seus direitos, e inde-
pendência ; elles estavam promptos para a juntarem as suas ar-
Miscellanea. 873
mas ás dos assaltantes. Esta valente resolução he uma appella-
çaõ aos habitantes de Hamburgo. Agora Lubeck toma a sua
antiga denominação de Livre Cidade Hanseatica, outra vez a
bandeira da civilização, e do commercio tremula nos seus mu*
ros. He por este modo que sempre a justiça ha de destruir o
edificio levantado pela violência. O R e y de Dinamarca deve
ver na capitulação concedida ás suas tropas, que a porta de
reconciliação com a Suécia ainda naÕ está fechada. Elle naõ
tem mais que fazer que dar ouvidos ás suppiicas dos seus vassa-
los, aos dezejosdos habitantes do Norte, e á s generosas proposi-
çoens da Suécia e seus Alliados.

EXÉRCITOS ALLIADOS NA ALEMANHA.

Officios dos Agentes Inglezes nos Exércitos Alliados, ao Minis-


tro dos Negócios Estrangeiros em Londres.
Gotlingen, 2 de Novembro, de 1813.
M T LORD,—A intentada marcha do Exercito do Norte sobre
Cassei, como circunistanciei no meu uliimo officio, foi demorada, e o
Principe Real foi persuadido a dirigir as suas operaçoens para Hano-
ver, e para o Norte, pelas seguintes razoens:— O Mareehal Davoust,
ainda está em posição sobre a margem direita do Elbe, e parece que
naõ tem vontade de se separar dos Dinamarquezes, em quanto
poder manter-se ali; o corpo do Tenente-general Walmoden nao
tem força bastante para tomar a offensiva sem apoio considerável.
A extenninaçaõ do inimigo do Norte da Alemanha, a posse de Bre-
men, bocas do Weser, e do Elba ; a prompta tomada de Hamburgo,
a vantagem de abrir uma immediata communicaçaõ com Inglaterra
durante o inverno • a libertação dos dominios Electoraes de S. M.,
e a organização do seu poder civil, e militar; a facilidade que ha-
verá para as futuras operaçoens do Exercito do Norte, tanto em
Hollanda, como no Hheno, quando sua rettaguarda estiver inteira-
mente segura; e ultimamente, a esperança de completamente cortar
de Hollanda o Marechal Davoust, saõ as unidas consideraçoens que
tem determinado S. A. R. a alterar a sua proposta marcha, e o Ex-
ercito do Norte está agora em marcha para Bremen, e Hanover, de
onde ha de ser dirigido contra as restantes forças inimigas no Norte
da Alemanha.
0 Principe Real transferiu o seu quartel-general de Muhlhausen
876 Miscellanea.
para Dingelstadt no dia 29; no dia 30 para Heiligenstadt, e hontem
para este sitio. A guarda avançada, commandada pelo Tenente
general Woronzoff, e os Russianos, pelo General Winzingerode, c
liaram cm Cassei no dia 30. Os Suecos, c Prussianos, estavam na
vizinhança de Heiligenstadt, naquelle dia em que S. A. R. determinou
a mudança na linha da marcha Chegaram noticias do General
Czernicheff, datadas de Ncuhaus 21. Conta elle, que teudo-sc reu-
nido áo General Slowski, com outro corpo de partidários do exer-
cito grande, marchou para Fulda, cuja cidade ocrupou fazendo 500
prisioneiros ; destruio depois os almazens do inimigo, e marchou a
destruir as pontes, e tornar as estradas impracticaveis o mais possivel,
tendo alcançado o postar-se entre o principal corpo do inimigo, e a
sua guarda avançada. A maneira porque o General Czernicheff os
fatiga, naõ se pode descrever. Estando na sua posição de Fulda,
percebeo ns avançadas de suas forças reunidas, consistindo de alguns
esquadroens de gendarmes, marchando para a cidade, entaõ elle im-
mediatamente avança com os seus Cossacos, ataca-os, deslroe-os, e
depois volta a seguir a guarda avançada sobre a estrada real de
Frankfort - levando a destruição a todos os pontos do inimigo,antes
da sua chegada. O General Czernicheff diz, que Bonaparte foi de
Eissenach para Voch, e que tinha tençaõ de ir áo Wescr, porem a
marcha do Príncipe Real, e do Marechal Blucher prevenio-o, c sup-
poem que a linha de Bonaparte ha tle ser agora Wclzlar ; e aocre-
ccnla que o seu exercito está reduzido a 50.000 homens armados e
reunidos, entretanto muitos do inimigos vam-sc retirando em diffe-
rentes direcçoens, mesmo desarmados; a retirada parece-se inteira-
mente com a da Russia. Uma partida de Cossacos apanhou mu
Coronel Francez, com uma carta de Jeronimo Bonaparte, para
Murat; e mando incluza uma copia delia, porque he um documento
interessante. Muitas noticias concordam em que reyna a maior
consternação em França, e que o descontentamento uo interior, vai-
se manifestando mui geralmente. Das intrépidas, e nobres façauhas
dos partidistas, podemos tom ir com igual prazer para os grandes
movimentos dos Alliados. O quartel-general do Imperador, em 31
do passado, estava em Melrichstadt, no 1°. do corrente, em Muners-
tadt,e hoje ha de ficarem Heldcrsheim. 0grande exercito continua
a marcha de suas cjlumnas, sobre Fraukfort; no dia 7 ha de chegar
a Aschaffenbourg, e no dia 9 ao Meyn. Por cartas do C-cneral
Conde Wrede, datadas de 28, sabemos que elle tinha atacado, e to-
mado a cidade de Hanau naquelle dia, com a primeira divisão de
Austríacos, e Bávaros • c féz um graudü numero de prisioneiro»,
Miscellanea. 877
mais duas divisoens do seu exercito deviam reunir-se-lhe no dia 29,
e todas as tropas Wurtemberguezas no dia 30. O General Wrede»
estava em communicaçaõ com Orloff, Mensgikoff, e com o corpo
ligeiro de partidistas do grande exercito. O General Wrede confirma
a noticiado inimigo ter somente 6.000 homens em Frankfort: pro-
vavelmente haõ de retirar-se para Cassei : também faz mençaõ da
retirada do inimigo por Wetzlar, e Coblentz, e diz mais, que ha de
tomar as suas medidas á proporção. O General Blucher, com e
exercito de Silezia, noticia de Philipstadt, e Hunsfeldt, em 29, que
he tal a dezordem na fugida do inimigo, que elle naõ pode desistir
um momento de o perseguir, muito cançadas que as suas tropas an-
dem . S. E. está diariamente fazendo prisioneiros, e vai marchando
para Wetzlar. O General Bennigsen chegou a Halle no dia 29. Pa-
rece que o corpo do General Gouvion St. Cyr, que originalmente se
attestou que tinha partido de Dresden para Torgau, e Wittenberg, e
que ultimamente se suppôs que tinha marchado para Chemnitz, naõ
tem, comtudo, deixado Dresden. Uma parte do corpo do General
Regnier [provavelmente separado do exercito Francez pelas opera-
çoens dos Alliados, e pela batalha de Leipsig] foi o corpo que se
tomou pelo do General St. Cyr. Este corpo está agora acampado
junto a Torgau sobre a margem direita do Elbe. O General Ben-
nigsen vai marchando para o Elbe, para manobrar com todos os dif-
ferentes corpos debaixo das sUas ordens, na mais vigorosa maneira.
Ha informação de um corpo do inimigo que anda por 1S.000 ho-
mens, marchando de Hollanda, debaixo do commando do General
Molitor, porem eu naõ creio que elle tenha avançado mais do que
até Kovesden, e Bourtanger. O General Carra St. Cyr reoecupou a
cidade de Bremen com uma parte da sua força ha poucos dias ; eva-
cuando-a o General Tettenborn. Comtudo, cedo será restaurada.
A marcha das columnas do Principe Real he da maneira seguinte-
Os Russianos marcham de Cassei por Paderhorn, para Bremen, e
Oldenburg ; os Prussianos as ordens do General Bulow, para Minden,
e os Suecos para Hanover. He com inexplicável satisfacçaõ que dou
parte a V. S. da entrada que hontem fizeram as tropas alliadas den-
tro dos Electoraes dominios de S. M. O enthusiasmo, lealdade, e
desmarcada alegria do povo, naõ se podem descrever; e posto que
ha 10 annos que este paiz está separado de seu legitimo Soberano,
he claro que elle vive tendo arraigado no seu coração o mesmo pro-
fundo affecfo como sempre. A recepção do Principe Beal deve ter
sido muitíssimo agradável a S. A. R. ao mesmo tempo que os pou-
cos Inglezes que estavam presentes, foram festejados com desmedi-
das acclamaçoens.
VoL. XI. No. 67. 5u
878 Miscellanea.
He de notar, e mui agradável a anecdota, que durante a elevação
de uma nova authoridade, e a destruição de todas as memórias an-
tigas, o busto do nosso reverenciado Monarcha [que eu jul-ro que
foi um presente de S. M. a Raynha, aos Professores, e Estudantes]
tem sido conservado no seu lugar, era a Universidade, e nunca maõ
sacrilega se offereceo para o mover dali.
Estam-se tomando medidas debaixo da authoridade da Regência
para o restabelecimento de todas as authoridades civis; c S. A. R. o
Principe de Suécia, c o m a maior attençaõ, e cuidado em providen-
ciar ás suas tropas por meio de requisiçoens, tem feito arranjos para
pagamento, e em tudo tem attençaõ para com o paiz, e seus habi-
tantes, como um paiz o mais de seu gosto.
Tenho a honra de ser, &x.
CARLOS STEWART, Tenente-general.
Ao Visconde Castlereagh, Sfe. Sçc. 8fc.

Copia de uma carta de Jeronimo Bonaparte ao General Murai.


Meu CARO IRMAÕ,—Consta-me que tendes chegado a Vach ; esta
nova desinquicta-mc. A minha situação he horrível, dizei-me a ver-
dade, e se eu deverei recuar : porque tenho commigo apenas 4, ou
5.000 miseráveis conscriptos, como está o Imperador, naõ mc façais
esperar pela resposta, bem conhecercis a minha anxiedade.
Eu vos abraço como vos amo,
(Assignado) JERONIMO NAPOLEAÕ.

Hanover, II de Novembro, de 1813.


Mv LORD,—Tenho pouco que circunstanciar á V. S. depois do meu
ultimo olhou : assim como também ainda naõ vi uma conta official
pela qual possa formar juizo da maneira porque Bonaparte, c o m
os restos de seu exercito, se desembaraçou de Hanau, e Frankfort, e
attravessou o Rheno em Cassei. As saiiguiuolentas e disputadas
acçoens pelo General Wrede, merecem inquestionavelmente os maio-
res elogios. A força de Bonaparte, como elle se retirou pela grande
linha das suas comiiiunicaçoens, foi provavelmente augnicntada por
tropas de Erfurt, e de outras praças em seu caminho, e nas batalhas
com o General Wrede, parece que apprezeutou de 70, a 80.000 ho-
mens; força muito superior aquella que nos julgávamos que elle
possuía, depois de suas diversas perdas. Comtudo, está bem claro
que elle uaõ se julgava seguro com este numero, pois sabe-se, que
durante a ultima batalha, tractou de se salvar rum uma escolta de
10.00i) de cavallaria; a qual o Geueral Czernicheff mui valorosa
mente accoineteo, e maltratou.
Miscellanea. 879
O exercito do Marechal Blucher, parece ter-se dirigido por fora
da grande linha da estrada de Frankfort, sobre a qual ia seguindo o
inimigo, e marchando sobre Wetzlar, e Coblentz. Foi previsto, que
quando o General Wrede occupou Hanau, e Frankfort, Bonaparte
havia de marchar sobre Coblentz: porem como o Marechal Blucher
tomou outra direcçaõ, está visto que nenhuma parte do grande ex-
ercito chegou, nem podia chegar a tempo de poder tomar parte nas
acçoens com o General Wrede: o que hé para lamentar.
O Principe Real mudou o seu quartel-general para Hanover no
dia 6. Os Prussianos do commando do General Bulow, estam em
Minden, e o General Winzingerode hade chegar a Bremen em um ou
dous dias. Os Suecos estam em marcha para Harburg. O corpo do
General Bennigsen está descendo o Elbe, e chegou a Lutzen. Este
General com o Tenente-general Conde Walmoden haõ de manobrar
sobre a margem direita contra a posição do Marechal Davoust sobre
o Stecknitz. Os Generaes Winzingerode e Bulow naõ teraõ demora
em começar a sua marcha para a Hollanda. O General Bennigsen
traz comsigo amplas forças. 0 General Bulow terá, em poucos dias,
recrutado o seu exercito nos antigos dominios de S. M. Prussiana,
até o numero a que montava antes da abertura da campanha. A
ampla, generosa, e liberal ajudado Principe Regente, em armas, e
fardamento, he de uma inestimável conseqüência nesta occaziaõ
para estes bravos Prussianos. Os últimos comboys para os exércitos
do Marechal Blucher, e General Bulow, todos estam no caminho; e
saõ os meios de reequipar, e armar estes corpos de exercito, promp-
tamente, quasi como no seu original estabelecimento. Deve ser taõ
agradável para a naçaõ Ingleza, como honroso para o seu Governo
o ver quam opportuuamentc este soccorro está á maõ. A gratidão
do General Blucher, e do General Bulow, segundo me foi expressada,
deve ser agradável á V. S. A derrota do Marechal Blucher, he
{creio en) como vou a dizer: no dia 10 á Freyburg, no dia l i a
Wegerbush, no dia 12 a Freburg, e no dia 13 a Muhlheim, junto a
Cologne. Abstenho-me de recapitular as enthusiasticas demonstra-
çoens que se seguiram á entrada dos Alliados outra vez nesta capital.
Remeto inclusa a V. S. unia Gazeta de Frankfort, e vós haveis, sem
duvida, observar cora prazer a collecçaõ das reservas Austríacas, e a
admirável proclamaçaõ do Baraõ Hiller ; ella foi certamente publi-
cada antes que as noticias da batalha de Leipsig podessem chegar

ao seu conhecimento.]
Tenho a honra de ser, &C,
(Assignado) CARLOS STEWART, Tenente-general.
5 U2
580 Miscellanea.
P. S. Acaba de chegar a noticia de que uma parte da guarniçaS
Franceza de Magdebourg foi inteiramente destruída e repellida para
debaixo dos muros da praça. Foram tomados T00 infantes, e 6
canhoens. Remeto incluzo o bulletim publicado em Halle, em 9 do
corrente. C. S.

Hanover, 11 de Novembro, de 1813.


MY LORD,—Depois de ter fechado o meu officio, vi o incluso
Supplemento á Gazeta de Frankfort, de 4 do corrente, que contem
uma conta das operaçoens do General Wrede, cm Hanau, e Frank-
fort, em 29, 30, e 31 do passado. Também annexo a Proclamaçaõ
publicada pela Regência de Hanover.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) CARLOS STEWART, Tenente-general.

Copia do Supplemento d Gazeta de Frankfort, de 4 de Novembro.


Quartel-general de Frankfort, 3 de Novembro, de 1813.
Depois da tomada de Wurtzburg, os exércitos combinados, Aus-
triaco, e Bávaro, dirigiram a sua marcha sobre Hanau, em ordem á
accometer o exercito grande Francez, que se hia retirando por
aquelle sitio. Em 19 d'Oulubro a nossa guarda avançada atacou o
inimigo entre Rottenbach,e Gelnhauscn ; e depois de um áspero com-
bate, o General de Divisão Delamolte tomou-lhe dous canhoens, e
4.000 prisioneiros, entre os quaes havia dous generaes e 150 officiaes.
No dia 3, pela manhaã, o General-cm-Chefe Conde Wrede fez um
reconhecimento pelo qual se verificou positivamente, que o inimigo
tinha ainda de 60, a 80.000 homens. Em conseqüência dos destaca-
mentos que o exercito combinado havia feito, tinha entaõ defronte
de Hanau tam somente 30.000 homens ; e <> General-em-Chefe, que,
com forças taõ desiguacs, naõ podia impedir o inimigo de fazer a
sua retirada pela estrada de Frankfort; determinou fazer-lhe ao
menos aquella operação o mais difficultoza possível. Km conse-
qüência postou o exercito combinado defronte de Hanau, a direita
apoiada sobre Kenzing, c a esquerda a cavalleiro sobre as estradasque
vam para Gelnhausen, e Frankfort. A guarda avançada tinha or-
dem para retirar-se para dentro da posição do exercito; movimento
que o General Delamolte executou com a maior regularidade.
Sobre o fianco esquerdo do exercito combinado, na planice entre a
\ ill.i de Hanau, e a mata de Laiupner, diversas baterias tinham sido
colocadas para receberem o iuimigo quando houvesse de desfilar.
Também a maior parte da cavallaria tinha sido postada ali, para, c
Miscellanea. 881
mais que potlessc, impedir o inimigo de se formar. No dia 30, ás 11
da manhaã, avançou o inimigo sobre a estrada, em columnas pcza.
das, a tempo que os seus atiradores, passavam ao travez da mata.
Cento e oitenta peças de canhaõ saíram á frente para obrigar o ex-
ercito alliado a dar passagem. O Imperador Napoleaõ fez todos os
esforços para conseguir este objecto, porem em vaõ. O exercito
alliado, com valor heróico, possuio o campo da batalha até á noite.
Os violentos ataques de cavallaria sobre o flanco esquerdo, c todos
os ataques sobre o direito foram repcllidos. O General Bávaro
Conde Rekers, com a sua divisão, particularmente contribuiu por
meio da mais gloriosa firmeza, para este successo. 0 inimigo tinha
soffrido damno considerável, particularmente nas suas guardas anti-
gas. O objecto do Commandante, em impedir a retirada do inimigo,
foi completado, e pela noite retirou o flanco esquerdo para traz de
Hanau, afim de o naõ expor sem necessidade, assim como também
para poder renovar o ataque no dia seguinte.
O inimigo começou a sua retirada. Em ordem a cobrilla féz um
assalto em Hanau, que estava occupada pela brigada de Dimar.
Austríaca ; suas diversas tentativas foram sem fructo, cfoi obrigado
a contentar-se com lançar algumas bombas dentro da vila. Este
fogo, porem, féz pouco damno durante a noite. Em ordem a pou-
par a vila, e previnir a renovação do bombardeamento, o General-
em-Chefe retirou a guarniçaõ em 31 d"0utubro ás oito da manhaã. Os
Francezes, entretanto tornaram a entrar em Hanau tendo começado a
roubar, e a expulsar os habitantes que estavam occupados cm apagar
o fogo ; resolveo-se o General-ein-Chefe a prevenir a destruição da
villa, c mandou que fosse tomada ás duas horas da tarde do mesmo
dia. O General a c o m p a n h a d o pela sua comitiva, e pelo General
de Gcppert, Austriaco, á frente de uma columna de granadeiros, e
caçadores Austríacos, dirigio o assalto em pessoa, o qual su execu-
tou com a maior regularidade. Em meia hora a villa foi tomada,
porem o Coinmandante-em-Chefe, foi mortalmente ferido. Esta ir-
reparável perda para o exercito alliado, enfureceo as tropas a um
ponto tal, que naõ foi mais possivel podellas conter; todo o Fran-
cez que foi encontrado na villa, foi passado á bayoneta. O inimigo
postou-se alem das portas sobre a ponte do Rcnzing, porem, apezar
da mais annimoza resistência, foi immediatamente cxpellido da sua
posição, e na manhaã seguinte, completamente effectuou a sua reti-
rada. O exercito alliado vai no perseguituento delle. Os corpos
do exercito combinado profiavaiu um com o outro, em darem pro-
vas do inais distincto valor. A sua perda he comparativamente
882 Miscellanea.
inconsideravel. O total monta a 7.000, entre mortos, feridos, o
alguns extraviados ; o exercito naõ perdeo bandeiras, nem canho-
ons; o inimigo pelo contrario deixou sobre o campo da batalha
15.000 mortos, e feridos. A maior parte destes últimos pereceram
na mata de Lampner, pela rapidez com que o ininiraigo se retirou
naõ lhe dar lugar a levallot dali. A estrada de Hanau para Frank-
furt está coberta de corpos mortos, de cavallos mortos, e de carros
de muniçoens desmontados: o que prova a dezordera com que os
restos do grande exercito Francez fugio. Apanham-se fugitivos em
todas as estradas, e além dos ja mencionados, 15.000 prisioneiros
foram modernamente trazidos: o numero delles augmenta a todos
os instantes. Entre estes prisioneiros acham-se os Generaes Morsell,
e Avesani, e 280 officiaes. FRMNEL.

Proclamaçaõ'.
As victoriosas armas dos potências alliados, tem, debaixo da ma-
nifesta protecçaõ da Divina Providencia, quazi completado a liberta
çaõ do paiz dos seus dez annos de soffrimento. O valente exercito
do Norte ja se está avizinhando, elle he commandado por S. A. R. o
lllustre Principe Hereditário de Suécia, cujo amor da justiça e he-
roísmo, o tem disposto e qualificado para vir a ser o libertador dos
Alemaens. As tropas do nosso Rey, unidas a este exercito, tem ja
oecupado a capital, e grande parte do paiz. Todos os fieis Hano-
verianos haõ de venerar ogradecidamente nesta conjoladora mu-
dança de coizos, aquellas sabias medidas que o nosso bem amado
Rey, tem sempre firmemente seguido durante as mais calamitosas cir-
cumstancias, e as quaes S. A. R. o Príncipe Regente, que he com
igual fervor interessado no bem de seos hereditários Estados Ale-
maens, tem cora igual constância continuado, e completado. Em
vez de gemermos debaixo do jugo de um governo estrangeiro, para
quem a anniquilaçaõ de nossa constituição e liga, a destruição
da nossa propriedade, e a efuzaõ do sangue de nossos filhos, era
somente um pretexto para a gratificação de uma vaã ambição,
somos outravez abençoados pelo paternal Governo de Principes
Naturaes, que cstam acostumados a procurar a sua gloria, e felici-
dade, em fazer a nossa. Um filho do nosso mui reverenciado Mo-
narcha, S. A. R. o Duque de Cumberland, que sempre depois da sua
primeira residência entre os Hanoverianos, tem concebido o mais
vivo affecto para elles, está prezente em pessoa, e tem-se generosissi-
tnamente resolvido a contribuir activãmente para se effectuar o bem
da antiga herança de seus illustres antepassados.

Nesta alegre mudança de circumstanciai, naõ temos hesita-


Miscellanea. 883
do, de reasumir em o nome do legitimo Soberano, o Governo do
Dominios Electoraes. Nos temos-nos lizongcado, de ter a satisfac-
çaõ, mesmo nesta primeira notificação, de communicar aos fieis Ale-
maens vassallos de S. M. as primeiras expressoens, que S. A. R. o
Princpe, nosso actual Regente, foi servido dirigir-lhe, tam cedo, em
15 d'Outubro próximo passado, em ordem a assegurallos das suas
graciosas intençoens, e dos seus indefatigaveis esforços para a sua
felicidade. Accidentoes circumstancias nos tem impedido de receber
mos esta tam condescendente Proclamaçaõ de S. A. R. Nos deve-
mos portanto contentar nos, por agora, com a segurança de que
S. A. R. está particularmente cuidadoso de restaurar, o mais de-
pressa possivel, para os seus vassallos, a disfructaçaõ da sua antiga
feliz constituição.
O executar este alto projecto será o nosso mais aggradavel dever.
Porem tudo tem sido demaziadamente transtornado, para que este
objecto se possa conseguir de uma vez. Nos, portanto, confirma-
mos, preliminarmente, as provisionaes Commissoens do Governo,
que foram nomeadas pela authoridade militar, e que debaixo da nossa
superintendência, haõ daqui em diante immediatamente prover ás di-
versas provincias, tudo aquillo que for da primeira, e mais instante
necessidade, naõ duvidando, que apoiados pela experimentada fide-
lidade dos Hanoverianos havemos de ver bem depressa entre nos, a
restauração da nossa primeira felicidade, e de nossas primeiras
comodidades, no cazo que uma paz durável segure o que até aqui
se tem ganhado. Porem se obtivémos isto; ainda naõ he tempo de
pormos de parte as armas. O inimigo foi destruído, foi humilhado
mais que em tempo nenhum, porem elle pode, e ha de levantar-se
outra vez, se os Alemaens prematuramente julgarem que podem
por-se em descanço. Naõ se deve occultar que para o futuro saõ
indispensáveis amplos sacrifícios, e posteriores esforços daquelle
nosso ha tanto tempo experimentado valor. O espirito publico, e
antiga gloria militar dos Hanoverianos saõ penhores de que elles tem
vontade e estam promptos para os fazerem ; e que depois de tantos
suecessos, naõ haõ de negar-se a algum convite, principalmente para
sustentar o ultimo esforço. Concórdia, corage, confiança, e patrio-
tismo infalivelmente asseguram o bom êxito.
Os Conselheiros Privados do Rey da Gram Bretanha nomeados
para o Electoral Ministério de Brunswick-Lunebourg, para Estado,
e Gabinete.
DECKBN. BnKMk«-
Hanover, 4 de Novembro, de 1813.
884 Miscellanea.
Repartição dos Negócios da Guerra, 17 de Novembro.
O officio de que o seguinte he uma copia foi hoje recebido
pelo Conde Bathurst, vindo do General Coude Nugent, com-
mandante de um exercito de S. M. I. cm Itália:—
Trieste, 1 de Novembro, de 1813.
M Y LORO,—Como as tropas debaixo do meu conimaudo
foram augmentodas por um corpo de tropas lnglezas, que se
reuniram a mim debaixo das ordens do Coronel Robertson,
parece-me razaõ iuformar á V. S. das suas posteriores opera-
çoens.
Pela minha primeira carta ficou V. S. sabendo as minhas
operaçoens ate a tomada de Fiume, e a primeira operação nas
vizinhanças. Eugênio Beauharnois tinha a sua força principal
em Laybach, c a minha posição como lhe prejudicasse á retta-
guarda, e 4 communicaçaõ, mandou-me atacar por uma força
seis tantos maior que a minha, composta de 16 batalhoens,
com 20 peças. Depois de uma mui bem disputada acçao no
dia 14 de Septembro, e muitos movimentos que tinham sido
concertados de antemão com o Almirante Frecmantlc, falhou
inteiramente o projecto do inimigo, e nós tomamos posse de
toda a Istria, guardando o cordaõ de montanhas qne se ex-
tende de Trieste atu Fiume. No dia '21 encontrei o Almirante
Freemantle, com parto d» esquadrão Britannico cm Capo de
Istria cujo posto fortificámos fortemente. Alongando-sc a
nossa posição pelo flanco do inimigo, ainda mais que de antes,
obrigou o a ter uma grande força de fronte de miin; o Gene-
ral Radavojavich fez um uzo mui hábil desta circunstancia,
e impei lio o inimigo de todos os lados para a banda de Laybach.
No dia 23 fez-se um movimento geral; eu marchei para Bassa-
vizza, junto a Trieste, e cobrindo a minha esquerda contra
aquella praça, passei para a banda de Prcvaltle, e Adelsberg. O
inimigo foi entaõ forçado a retirar-se precipitadamente; e Eu-
gênio Beauharnois despois de ter perdido cm differentes acçoens
perto de 10.000 homens, principalmente em prizionciros, che-
gou no dia 2 d'Outubro a Prcvald com perto de 20.000 ho-
mens ; formando uma linha entre aquelle praça e Optshina, em
communicaçaõ com Trieste.
MisccUanca. 885
Pelo meio da noite de 23 para 24 d'Outubro, ataquei a sua
direita em Optsihna, e o forcei a retirar-se para o lado de Gorizia.
N o dia 5 as brigadas de Staremberg, e Czirick forçaram a po-
sição do inimigo em Santa Cruz ao tempo cm que eu tomei a
ponte de Merna, junto a Gorizia. O inimigo pela noite pas-
sou o Isonzo, e nos tomamos posse de Gorizia. Offereccndo-
nos entaõ o Isonzo uma posição forte, marchei para triz sobre
Trieste com parte das minhas tropas. O Almirante Freemantle
ja entaÕ tinha dezembarcado marinheiros, e feito preparaçoens
para o cerco. A rapidez dos nossos movimentos naÕ nos per-
mittio que trouxesse mos um trem de bater; portanto nao havia ali
outras peças senaõ as da Esquadra, as quaes o Almirante
Freemantle dezembarcou com grande actividade, ao mesmo
tempo se começaram as baterias. No dia 12, a cidade de
Trieste foi tomada pelo BaraÕ Duque Aspre e nós adiantamos
os nossos postos daquella banda unidos com as muralhas. O
Coronel Robertson dezembarcou de Lissa com destacamentos
do regimento 35, De Roll, os Corsos, Calabrezes, e da Leva
Italiana, com 6 peças de artilharia de campanha, e dous mor-
teiros. No dia 16 começou o nosso fogo, c de tarde oecupamos o
moinho de vento, que hé uma torre forte, e redonda. As nossas
obras tinham-se approximado em differentes pontos, e os postos
avançados do inimigo foram tomados, excepto o Schanza Vena:
a companhia de Croatas appodcrou.se de um bosque, trezentas
jardas distante dos muros deonde elles, durante o cerco, fize-
ram muito damno ao inimigo nos seus baluartes. Em 2 3 , foi o
Schanza tomado, o que se deveo em grande parte k coragem, e
esforços do Rowley. Duas baterias para calibre de 18, e 32,
foram immediatamente começadas, e o Capitam Rerenstil
abrio nm fosso o qual formou a primeira parallela na distancia
de 400 jardas. Estableceo-se uma bateria de morteiros junto
ao Schanza e uma para obuzes no meio tempo do ataque em
frente. O Capitam Rains oecupou com dous morteiros nma
bateria na rettaguarda, que jogou com grande effeito. Logo
que estas baterias foram promptas capitulou o inimigo.
O trabalho de todas estas obras foi incrivel, em razaõ da
moleza do terreno occazionada pelas continuas chuvas, e pelo
VOL. XI. No. 67. 5x
886 Miscellanea,
fogo do inimigo ; e a naõ ser o extraordinário trabalho de todos
os homens, e a perfeita harmonia que reinava, coiza nenhuma
poderia vencer as difficuldades. Os officiaes, soldados e mari-
nheiros da Esquadra Britannica trabalharam com distineçaõ, o
animados pela presença do Almirante, que prezidia em pessoa,
ás obras, e dirigia as baterias. Das tropas Inglesas de terra,
os Calabreses foram os qae tiveram mais opportunidade de se
distinguirem. O Capitão Ronca, valente official, foi fe-
rido ; despois do que o commando passou ao Tenente Butler,
que mostrou coragem e actividade. O Coronel Robcrtson foi
destinado para a direita do ataque, se elle houvesse de conti-
nuar. O Tenente Rains da Real Artilheria, dirigio o fogo dos
morteiros com grande effeito e intelligencia. O Capitão An.
gelo, do regimento 2 1 , que esteve comigo durante as operaçoens
qae precederam o cerco, fez serviços mui ess. nciaes. O Capi-
tão Berenstil, da Leva Italiana, fez as vezes de engenheiro; me-
rece ser recommendado com a maior particularidade: esteve
con tinuamentenas trincheiras sem ser rendido. O rendimento do
castelo de Trieste remata uma das mais interessantes partes das
nossas operaçoens e da-nos a posse da costa desde a Damalcia
até a ponta do Adriático, e de todas as estradas que dali partem.
Todas estas operaçoens provam como, pela mutua assistência do
exercito e da marinha, uma força mui superior pode a final ser
rebatida. Sempre achei o Almirante Freemantle prompto para
me apoiar; e pela confiança que isto me inspirava pude eu em-
prehender operaçoens, que de outra sorte teriam sido destruc-
tivas: foi a isto que eu devi o poder manobrar na rcttaguarda
do inimigo, e perder freqüentemente a minha communicaçaõ de
terra, convencido de que era breve a tornaria a ter aberta. Em
quanto ao cerco do castelo de Trieste, pelo que fica dicto, V.
S. conhecerá que a maior parteda honra deve-se ao Almirante
Freemantle, c k marinha ; c he do meu dever o confessado. O
resultaJo desta primara campanha he, que alem dos mortos a
feridos nas differentes acçoens, tem o inimigo soffrido em prizi-
onciros uma perda que he maior do que o numero das tropa*
que eu commando.
Tenho a honra de ter, &c. &c.
(Assignado) NOQBNT, Major-general.
Miscellanea. 887
SECRETARIA DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS, 25 DE NOVEMBRO.

Os officios, de que o seguinte saÕ copias, e extractos, foram


hoje recebidos pelo Visconde Castlereagh, Principal Secretario
de Estado deS. M., da Repartição dos Negócios Estrangeiros;
Tindos de S. E. o Conde de Aberdeen K. T., de S. E. o Ge-
neral Visconde Cathcart, K. T., do Tenente-general o Honr.
Sir Carlos Guilherme Stewart, e de Duarte Thornton, Esq.

Officio da Conde de Aberdeen, K. T. datado de Frankfort)


7 de Novembro, de 1813.
M Y LORD.—S. M. Imperial fez a sua entrada publica em
Frankfort hontem pela manhaã.
O Imperador Alexandre, e a sna comitiva, foram-lhe sair ao
encontro a alguma distancia da cidade. S. M. recebeo as cha-
ves da cidade da maS dos Principaes Magistrados á Porta de
Hanau e depois continuou a cavallo, passando pelas ruas prin-
cipaes até a Igreja Cathedral aonde se canton um Te Deum.
Como eu accompanhava S. M. I. nesta occaziaõ, fui uma pre-
sente testemunhado enthusiastico applauso com que foi recebido.
As ruas, as janelas, e mesmo os telhados estavam cheios de es-
pectadores, que pareciam porfiar uns com os outros sobre quem
havia de dar maiores demonstraçoens de alegria, éra impossível
poder-se interpretar mal a sinceridade, e os sentimentos do co-
ração que foram manifestados.
O affectuoso olhar dos habitantes foi mui bem provado ao
verem o Soberano, que 21 annos antes tinha sido coroado den-
tro dos seus muros, reapparecer no caracter de seu libertador.
A noite, os dous Imperadores foram para o theatro, e foram
recebidos com acclamaçoens. Todo o sentimento da peça que
tinha relação ás proezas que se faziam na cauza da Europa foi
vivamente applaudido.
Ainda que seja mui agradável o demorar-me sobre estas cir-
cumstancias, sou com tudo igualmente feliz em poder informar
a V. E. dos continuados progressos dos Alliados; e da substan-
cial acquisiçaÕ, que recentemente se tem feito, pela acccssaÕ de
differentes Principes á causa commum. Os Estados de Hesse
Darmstadt, Nassau, e Baden, tem-se respectivamente dirigido a
5x3
888 Miscellanea.
S. M. I. tem abjurado a Confederação do Rheno, c implorado
a mediação de S. M. para com as Potências Alliadas, tem e x .
primido o seus dezejos de se unirem á Aliiança. Outros Esta.
dos de menor importância tem seguido o mesmo caminho, e
posso agora aventurar me a dar a V S. os parabéns pela disso-
lução daquella formidável Confederação, inslituida por Buona.
parte para o duplo fim de ser um indcstructivel baluarte para
França, no cazo de invasão estrangeira, ou o instrumento di
suas maõs para a subjugaçaÕ do resto da Europa.
Tenho a honra de ser, &c. &c.
(Assignado) ABERDEEK.
Ao Right Flon. Lord Visconde Castlereagh, Sçc.
Extracto de um officio do Visconde Cathcart, K. T. datado de
Frankfort, sobre o Maine, 8 de Novembro, de 1813.
(Este officio, tendo descrevido a entrada do Imperador da
Áustria em Frankfort, com menos particularidades que este
ultimo de Lord Aberdeen, proseguc assim : ) — " O ultimo offi-
cio que tive a honra de dirigir a V. S. era datado de 30 do pas-
sado em Meiniugen. Napoleaõ escapou aos Cossacos, e aos
seus outros perseguidores, e levou comsigo as relíquias da sua
guarda, e alguns outros corpos para a margem esquerda do
Rheno, deixando aqui mui poucas tropos. A possessão de uma
fortaleza em Erfurt foi o grande instrumento porque esta retira,
da se effectuou. Pcnssava-se que éra possivel quecllehouvesse
de fazer alguma para da por detraz deste posto, porem pelo con.
trario, redobrou a marcha, e estando em posse da melhor es-
trdda, em quanto os atalhos por onde os alliados se esforçavam
para o interceptar eram quazi intransitáveis, ganhou elle varias
marchas. O General Conde Wrede demorou.lhe valorosamente
os progressos por dous dias em Hanau ; no primeiro particu-
larmente, pelejaram os Francezes com grande obstinação, e a
perda foi considerável de ambos os lados. Ha ali um pequeno
campo, aonde um official de graduação, que vio, me assegura,
que a carniecria de homens e cavallos foi mui extraordinária. Os
esforços deste exercito A nstriaco-Bavaro, ainda que demoraram
o inimigo por dous dias, com tudo naÕ podiam prevenir que elle
chegasse a Mayence primeiro que as columnas, ás ordens do
Miscellanea. 889
Marcchal-dc-Campo Principe Schwartzcmberg, podessem apa-
nhallo.
Ha differentes cálculos a respeito das forças do inimigo ; po-
rem considerando o numero deixado sobre o campo da batalha
cm Leipsig, e naquella cidade, o numero dos prisioneiros man-
dados para a rettaguarda, durante a retirada, por todos os cor-
pos que seguiram o inimigo, c as perdas inseparáveis de todas
as retiradas de uma natureza taõ difficultoza e taõ extensa,
parece impossivel que tenha levado com sigo 50.000 homens,
posto que ha pessoas que calculam um numero maior. Bona-
parte estava prezente na batalha de Hanau, e diz-se que os
seus officiaes mostraram maior talento militar nesta occasiaõ,
do que na passada. O grosso do exercito esta-se ajunetando
aqui, e será immediatamente appromptado para ulteriores ope-
raçoens. O exercito do Feld-Marechal Blucher está em
marcha para o Rheno, na direcçaõ de Ehrenbreisteim. O seu
quartel-general está hoje em Limbourg.
O Rey de Prússia tem estado cm Berlim, e cm Brelau de-
pois da batalha de Leipsig. S. M. espera-se aqui immedi-
atamente.

Officio do Visconde Cathcart, K. S. datado de Frankfort, sobra


o Maine, em 10 de Novembro, de 1813.
Mv LORD.—O inimigo tinha retido uma po-içaÕ em Stock-
heim, e estava empregado em restaurar as linhas antigas, que
passavam desdea testa de ponte em Cassei, em roda daquella po-
sição, e para traz até o Rheno. O Marechal Príncipe Sch-
wartzenberg determinou fazer parar esta obra c occupar
mesmo a posição ; e com este intento fez-se hontem um ataque
em que as linhas foram levadas por assalto, e o inimigo foi
repellido para dentro das obras de Cassei, com perda de vários
centos de prisioneiros e quatro peças de canhaõ. Tenho a
honra de remeter com este officio a relação deste valente ataque, a
qual neste momento me euviou o Major-general Sir Roberto
Wilson. A constante practica do Major-general, tanto nesta
como na ultima campanha, tem sido o accompanhar todo o
ataque de conseqüência, que se (em feito dentro do seu alcance,
890 Miscellanea.
e nesta occasiaõ esteve unido a uma das partidas assaltantes.
O advertir esta circumstancia naÕ he senaÕ para fazer justiça
a este official, para manifestar, que o zelo, actividade, e intre.
pidez, que elle tem mostrado em todas as occasioens, tem.lhe
conciliado a estima de todos os officiaes, de todas as gradua-
çoens, e naçoens, que tem sido testemunhas disto, e tem certa-
mente feito grande credito ao serviço de S. M.
Tenho a honra de ser, &c. &c. &c.
CATHCAKT.

Frankfort, 10 de Novembro, de 1813.


M Y Lonn,—Tenho a honra de informar a V S. que o cor-
po do Conde Guilay, c o do General Meervcldt, com a cavai,
laria Austrhc.i de reserva, marchou para desalojar o inimigo de
Stockheira, cuja cidade e posição se sabia que elle estava for-
tificando. O Conde Guilay marchou sobre a calçada de
Stockst. O corpo do General Meervcldt, commandado pelo
Principe Luiz Lichtcnstein, foi dirigido sobre o Donner Muhl,
entre Stockst, c Cassei. O ataque começou perto das duas
da tarde. O inimigo fez um fogo vigoroso com a artilheria de
Stockst, sobre 6 peças de canhaõ, em uma obra que estava
na frente da columna do Principe Luiz, c lançou muitas bom.
bas dos morteiros de Cassei. A artilheria Austríaca, naÕ ob-
stante, avançou con tanta corage, c rapidez, que o fogo do
inimigo foi logo diminuindo: a este tempo as columnas de in-
fanteria avançaram c se apoderaram dos entrincheiramentos, e
da villa ; a qual estava cercada de um alto muro, c dobrada cs.
tacada nas entradas.
Os entrincheiramentos ainda naÕ estavam completos porem
estavam traçados cm uma escala considerável.
Tomaram-se 4 peças de canhaõ, c o commandante da villa,
o Ajudante.dc-Campo do General Guilemar, vários officiaes, e
vários centos de homens.
O resto do inimigo do corpo do General Bertrand retirou-se
sobre Costheim, e Cassei, c oecupando o intermédio campo
brenhoso, sustentou durante o resto do dia um vivo fogo de
attiradores ; porem deve ter com elle soffrido muito, porque os
Miscellanea. 891
canhoens Austríacos jogavam sobre elles, de um alto superior á
sua posição, e outras peças sobre a margem esquerda do Maine,
faziam fogo de flanco.
A perda Austríaca naÕ he considerável, porem ha vários of-
ficiaes que lamentar.
O Principe Marechal mandou fortificar os cabeços acima de
Cassei; até que as obras estejam completas, as tropas que hon-
tem combateram haõ de occupar o terreno.
A vista da bandeira Austríaca, outra vez tremulando victo-
riosa sobre o Rheno, e do grande deposito militar do inimigo,
donde sahiam aquelles exércitos que causaram tanta desola-
ção, e mizeria na Alemanha, excitou um interesse nas opera-
çoens de hontem, que todo o individuo sentio, e que foi final-
mente manifestado pelo retinido das enthusiasticas acclama.
çoens quando o Marechal passou.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) ROBERTO W I L S O N , Major-gen.

Officio do Tenente-general o Hon. Sir Carlos Stezcart, K. B.


datado de Hanover, 16 de Novembro, de 1813.
M Y LORD,—Tenho a maior satisfacçaõ de annunciar a V . S .
que esta manhãa se receberam aqui, por via de S. A. R. o
Principe Hereditário de Suécia, noticias do General Thielman,
commandante das tropas Saxonias sobre o Elbe, informando
que o General Gouvion St. Cyr, e a guarniçaõ Franceza de
Dresden (consistindo de perto de 16.000 homens) despois de
infruetuosamente tentarem obter uma capitulação se renderam
prisioneiros de guerra, ao General Kleinau, commandante das
forças alliadas de fronte da praça. Dou a V. S. os parabéns
por esta boa noticia.
Tenho a honra de ser, &c. &c.
(Assignado) CARLOS STEWART, Tenente-gen.
Ao Visconde de "Castlereagh.

Extraccto de um officio de Duarte Thornton, Esc. datado de


Bremen, 19 de Novembro, de 1813.
Tenho a honra de informar a V. S., que cheguei a esta cidade
892 Miscellanea.
hontem a tarde; o Principe Real chegou mais cedo, antes de
hontem pela manhaã. Achei aqui o Mensageiro Daniels, que
Sir Carlos Stewart despachou de Hanover, e que depois de ter
feito uma mal succedida tentativa para ir pelo Wcser abaixo,
tornou para este sitio. Torna hoje a partir. Por elle tenho a
opportuuidade de informar a V. S. que o Principe Real recebeo
informação de que as tropas Russianas pertencentes ao corpo
do General Winzingerode estam de posse de Groeningen, e tem
avançadoaté Yssel, aonde oecupam Zwol, Zutphen, c cstam na
vizinhança de Deventer. O corpo de exercito debaixo do com-
mando do General Bulow eslá em marcha sobre Arnheim ; po-
rem as fatigantes marchas que elle tem sustentado tem feito ne-
cessário dar ás tropas alguns dias de repouso entre Munster, e
esta terra.
Esta noticia parece ter determinado S. A. R. a ir cm pessoa
até Hollanda, á frente das tropas Russianas e Prussianas;
deixando os negócios no Norte, Davoust, e a tomada de
Hamburgo, ao General Baraõ Aldercrcutz, com as tropas
Suecas, e o corpo do Conde Walmoden, e as tropas Rus.
sianas do commando do General Bennigssen.

Extracto de uma carta dt um ojficinl pertencente ao quartel-general de


S. A. R. o Principe da Coroa, datada de Hanover, 11 de Novembro.
" Approuve a S. A. It., cm quanto estava em Heilegensladl, o recebei
ama deputaçaõ da Universidade e Magistratura da cidade de Guttin^eu,
que fui iuviada para expressar os sentimentos dos habitantes e ns sunt es-
peranças de o verem brevemente dentro das suas muralhas. No dia I de
Novembro o quartel-general passou para Gottingen. Os Magistrados e os
moradores armados receberão o Principe da Coroa às portai, repicando
os sinos da terra na occasiaõ j o ar rrtumbava com as alegres Acclnmaçoeni
dos habitantes que vinham em montes ao encontro de S. A. R. Novas don-
zela!, de branco, trazendo na* maous grinatdas de louro, se juntaram no
antigo palácio da pre**eitura, aonde 8. A. R. se apenu, e formaram uma
ala por toda a extensão das escadas até as antecameras. A noite, ns e*itu-
daiii*-" moços, seguidos pelos cidadaons, vieram com tochas, e musica,
nlTereier a sua obediência com tres vivas. To.Ia a cidade foi illuininnda ;
as ruas c-tavam cheias de espectadores que abraçavam e davam parabéns
u: s aos outros, apertando cordcalMiente as maons ao* soldados Suecos;
Duuca e\pr< ssocn- de alegria se uzaratn com mais vivacidade, nem com
mais sentimento do coração.
Miscellanea. 893
O amor, alegria, e admiração dos bons Hanoverianos, tem continua-
mente accoinpaiihado S. A. R. desde a sua primeira entrada neste paiz
J',i<i muitas das mais pcquena.s- terras, os habitantes naÕ tinhaõ outros meios
de exprimir os seus sentimentos senaõ por creanças, e flores ; porem estes
mesmos reconhecimentos, por serem procedidos de coração, foram rece-
bidos com benevolência. No dia 6 do corrente, S. A. It. chegou a. Hano-
ver. O Duque de Cumberland, que tinha chegado lá dous dias antes, foi
ao encontro de S. A. R. até fora dos subúrbios. Um considerável corpo
de cidadãos armados, com lenços nos braços esquerdos em parada. Os
canhoi-ns aturaram, e todos os sinos repicaram. AsjanHIas das cazas es-
tavam cheias de senhoras, que participando da alegria geral saudavam o
libertador da sua pátria com as mais vivas expressoens de alegria, e grati-
dão. Todos os habitantes da cidade, r d a s terras vizinhas, se ajunetaram
nas ruas, c continuamente repetindo " Viva o Principe Heredisario de
Suécia,'* accompanliarum a comitiva ao palácio de Moutbrillant, aonde
S. A. R. se apeou.
Os ministros de Estado, e a Magistratura, estavam lá promptos para re-
ceberem S. A. R. A noite, a cidade esteve brilhantemente illuminada.
Exhibio-se um grande numero de transparências; os sentimentos de leal-
dade para com o legitimo Soberano do paiz, a alegria pela sua liberta-
ção, e a gratidão para com o seu libertador, estavam em muitas partes
misturados cm uma terna pintura. He impossível descrever o tumulto
da alegria publica com a prezença de S. A. R.
A maneira porque todos os coraçoens corriam a enconfrallo, prova qne
a lembrança dos antigos benefícios, estava junta com a gratidão pelos pre-
zcníes; e o exercito vé, com nobre orgulho, o sou exaltado, r amado Ge-
neral rodeado destes reconhecimentos ; aquelle que, despois de perto de
200 annos, sobre o mesmo terreno, e o mesmo lugar, tornou a dar ao nome
de " um Sueco," a mesma significação q u e a de " um defensor, da liber-
dade, e da independência das Naçoens Alemaãs." Que exprobaçoens,
que horríveis remorsos de consciência naõ attrnmentariam a alma de Na-
poleaõ, se elle podessf ser um invisível espectador daquelle enlhusiasmo,
que, ao mesmo tempo que exprimia o tributo de gratidão, e de admiraçau
para com o seu libertador, exprimia igualmente a inteligível sentença da
condemnaçaõ contra o oppressor, e contra os seus feitos.
O exercito Sueco está agora repousando das suas fadigas, e ao mesmo
tempo gozando daquelle descanço de que tanto necessitava. Tem feito
mui longas e fatigantes marchas, com os çapatos de todo gastos, e o farda-
mento em pouco melhor estado, c por mãos caminhos. A pezar de tudo
as tropas Suecas que aqui estaõ, coiza de 12.000 homens, em uma revista
que S. A. lhes passou, pareceram muito bem aos numerosos espectadores,
pela sua excellente postura, e disciplina. Estaõ actualmente chegando
os diversos artigos para seu reequipamento } e este exercito p lenamente
provido de todos ns neccssaiíos, lia de brevemente continuar na sua glorio-
VOL. X I . No. 67. 5 y
894 Miscellanea.
sa carreira, para onde qnrr que o chamar a ordem do seu Rey, o interesse
da sua pátria, e o bem das naçoens.
CASSEI , 5 DE No\ i Mimo.— foi aqui publicada a seguinte procla-
maçaõ por S. A. R. o Principe Electorial de Hesse:—
" HESS ES ES !—Outra véx torno a chomarvos pelo vosso nome, que
tinheis perdido, assim como o de Alemaens ; porem vn* naõ Unheis perdido
a vossa fidelidade, c aflt-cto para com os vossos Príncipes. Isto conliere-se
pelo vivo regozijo com que me recebestes, o qae féz com que o dia da
minha chegada haja de Irmbntrme sempre. Eu, do campo da batalha,
aonde a vo«s» libertação* de um dominio estrangeiro foi obtida pelas vic-
toriosas armas das potências alliadas, corri n vus, e acliei-vos similhantes
nos vossos bravos antepassados, que sempre nrrostraram com valor os •>.*-
rigos da guerra; bem cedo também vosajunetareis às fileiras daquelles que
combatem pela honra, e pela independência da Alemanha. Declarai
vos mesmos, portanto, aquelle i aquém eu encarregar de vos conduzir a
este grande propósito, qae vos estais promptos, logo quo mru pai, que
brevemente voltará para vós, vos chamar. Mostrai-voH dignos do seu
amor, do vosso honrado nome, e da vossa libertação; agora, peln vossa
moderoçaS, tranqüilidade, e boa ordem, e quando em armas, por aquelle
valor, e firmeza qne sempre vos distinguio.
(Assignado) Gi ILHKRMK. Príncipe Eleitoral de Hesse.
BERLIM, 18 DE Novoraan.—Acabamos de receber u Gazeta de Leipsig,
de 16 do corrente, contendo o seguinte
Capitulação da Cidade de Dresden.
ART I. A guarniçaõ de Dresden, marchará para fora da cidade, rnnr
armas r bagagem, « deporá as armas de fronte dos reductoi. Os officiaei
censervuraõ as suai espadas. Ão exemplo da capitulação concedida no
Marecbal-dc-Cantp», Conde Wurmser, em Mantua; um batalhão de 600
homens conservara as sons armas, e dnos peças de canhaõ, com carros de
muniçoens, e cavallos de tiro; 85 gendarmes da Guarda Imperial, também
reterão" os suas armas e cavallos; c *í.> gendarmes pertencentes à divisão,
lambem reterão as tuas armas, e cavallos.
!>. Todos os prisioneiras de guerra qne r«to8 actualmente em Dresden
irraõ postos em liberdade immrdiatamc-uledepois da signatura desta capi
lulaçaS, e considerados como trocados.
3. A guarniçaõ de Dresden he prizioueira de guerra, e será invlad»
para França. O Marechal Conde Gouvion St. Cyr, da-se por fiador ir.
que nem officiaes. nem soldados, haõ de servir contra alguma das potências
alliadas empenhadas na guerra com França, até que sejam completamente
trocados.
Será feita, e entregue uma lista dobrada de todos os officiaes superiores,
tubalternos, r soldados. A lista dos generaes, Estado-maior, e oüctoes
superiores será assignada por elles mesmos, debaixo da promessa de nau
•rrvirem ate terem completamente trocados; a lista dos nomes dos solda-
Miscellanea. 895
do9, será assignada da mesma sorte. 6era feita uma similhante lista dos
doentes, c feridos.
4. O Marechal Gouvion St. Cyr, empenha-se em fazer effectuar, o
mais de pressa possivel, a troca da guarniçaõ por um igual numero de
prizionciros de guerra das Potências Alliadas, posto por posto.
5. Tam de pressa um numero de prizioneiros de guerra das Potências
Alliadas estiver em liberdade, um similhante numero da guarniçaõ de
Dresden será considerada em liberdade.
6. A guarniçaõ evacuará Dresden em 6 columnas, cada uma das quaes
conterá a sexta parte das tropas; o provisionamento dellas deverá ser
feito gradualmente e pelo modo Austriaco.
A accomodaçaõ, raçoens, marcha e dias de repouso, devem ser fixados
segundo um plano de marchar adoptado por S. E. o Conde Kleinau, ge-
neral da cavallaria. A primeira columna deverá partir no dia 12 de No-
vembro, e a seguinte seguilla pela mesma estrada em distancia de um
dia de jornada . Os geiidaru.es de cavallo devem accompanhar cada co-
lumna para a conseivaçaõ da boa ordem.
7. Os doentes e feridos haõ de ser tractados do mesmo modo que os dos
Alliados -, logo que estejam bons seraõ maudados para França com as
mesmas condiçoens da guarniçaõ. Os necessários cirurgioens, e a gente
preciza para tratar delles, deveram ficar atráz, e deveraS ser postos em
uma condição igual aos das potências alliadas.
8. As tropas Polacas, e outros alliados de França voltando para l á ,
seraõ consideradas como Francezas.
9. As pessoas naõ combatentes, naõ devem ser consideradas como pri-
zioneiras de guerra, e haõ de accompanhar as tropas na sua marcha.
10. Todos os Francezes agora em Dresden, que naõ estiverem em ser-
viço militar, terão a liberdade de accompanhar as tropas; porem sem
terem direito á subsistência. A estes consentir-se-lhes-ha o disporem
como quizerem da soa reconhecida propriedade.
11. O Embaixador Francez, assim como os Embaixadores de todas as
Potências Alliadas da França receberão passaportes para suas terras.
12. Km um dia depois da assignatura da prezente capitulação as
caixas militares, muniçoens, e provisoens de guerra, canhoens, e tudo o
que pertence ás fortificaçoens, será rendido ao exercito alliado sitiante,
assim como as pontes, com os seus pertences, os carros do trem, e cavallos,
pertencentes os tropas, e artilheria com uma relação por escripto.
13. No dia seguinte á assignatura da capitulação, um dos reductos,
e barreiras dos subúrbios de ambos os lados do Elbe, e igualmente duas
portas da cidade velha, e uma porta da cidade nova seraõ postos em
poder das tropas alliadas do exercito sitiante.
14. Os generaes, Estado-maior, e officiaes superiores, conservaraõas
suas bagagens, e cavallos que lhes saõ dados pelas ordenaçoens do serviço
Francez, e receberão forragem para os dittos durante a marcha. As for-
3 Y 2
896 Mistellanea.
talezas de Sonnenstein «eraõ rendidas dentro de 6 horas depois da a--,,.,
natura da piezente capitulação. A guarniçaõ deve marchar para Dres
don, eali unir-je ásua própria divisão.
Feita, e approvada por tolos os Coronéis, Baraõ Rotkirrh, e Marn-
urien Ciiefes do Estado Maior General do corpo de exercito Imperial
Austriaco, e Russiano, que foram nomeados para este propósito pelos
seus respectivos corpos. S. E. o Grueral de Cavallaria Imperial e Real
Donde Von Kleinau, e S. E. o Tenente-general Conde Tosltoy, de um
lado, e o Coronel Imperial Francez, Merion.do Corpo dos Engenheiros, e
Perrin, o Ajudante Commandante, Conde Lobau do outro lado, que estaS
munidos com os uecessarios poderes, pelo Marechal ComleGouvion St. Cyr.
(Assignado) Baraõ Von ROTAKIRCII.
Coronel Imperial c Real, e Chefe do Estado Maior
General da Quarta Divisão.
Hrrtzwalde, 11 de Novembro, de ISIS. Coronel Mimun v
Os precedentes artigos seraõ ratificados pelos generaes comman-
dantes dos Exércitos Alliados defronte de Dresden ; pelo General Conde
Von Kleinau, e pelo Tenente-general Russiano, Conde Tolstoy, c pelo
Imperial Marechal do Império Conde Guuvion St. Cyr. Depois do que
ficará tendo a devida força e validade.
(Assignado) O Tenente-general Conde TOLSTOT.
O Tenente-general Conde VON KI.FI-.-U'.

EXÉRCITOS ALLIAD08 NA FI*,N'l NS1T. A .


Officio do Feld Marechal Marquez de Wellington ao Seerctario
da Guerra Conde Bathurst; datado de:—
St. Pé, 13 de Novembro, 1813.
MY LORD,—Os inimigos tem, desde o principio de Agosto, oceu-
pado uma posição, tendo a direita sobre o mar, na frente de St. Jeau
«le Luz, e sobre a esquerda do Nivelle, o centro sobre La Petite La
Jt hune em Sarr'-, e sobre os montes por detraz da aldéa, e a esquerda,
consistindo de duas divisoens de inlánteria, debaixo do commando
do Conde de Erlon, sobre a direita daquelle rio, em uma forte mon-
tanha por detraz de Anhoue, e sobre a montanha de Mondorin, que
protegia a approxiinaçaõ daquella villa; o inimigo tinha tido uma
divisão, debaixo do commando do General Foy,em St. Jean ficd de
Fort, á qual se icunio uma do exercito de Aragaõ, debaixo do com-
mando do General Paris, ao tempo em que a esquerda do exercito
alliado altravessava o Bidassoa, no dia 7 d'Outubro ; a divisão" do
General Foy unio-se as que estavam no* moDtanhas por detraz de
Anhoue, quando o Tenente-general Sir Rowland Hill marchava para
dentro do valle de Bastan.
Miscellanea. 897
O inimigo naõ satisfeito com a natural fortaleza desta posição,
tinha o todo delia fortificado, e a direita, cm particular, tinha-a for-
tificado tanto, que eu naõ julguei conveniente o atacaüa em frente.
Tendo-se Pamplona rendido no dia 31 d'Outubro, e a direita do ex-
erciio ficando dcsoccnpada do bloqueio da praça; mandei marchar
o Tenente-general Sir Rowland Hill, no dia 6, c 7, para dentio do
valle de Bastan, logo que o estado das estradas, depois das recentes
cht.vas, o permitisse, com o intento de atacar o inimigo no dia 8 do
corrente; porem como a chuva que caio no dia 7, tornasse outra-
vez as estradas impracticaveis, fui obrigado a ditferir o ataque até
o dia 10, quando completamente fomos bem suecedidos era tomar
todas as posiçoens da esquerda, e do centro do inimigo, separando
aquella, desta, e por este modo rodeando a forte posição do inimigo
sobre o baixo Nivelle, occupada pela sua direita, a qual foi obrigado
a evacuar durante a noite, e tomatnos-lhe 51 peças de canhaõ, e
1.200 prisioneiros.
O objecto do ataque sendo forçar o centro do inimigo, c estabele,-
cer o nosso exercito na retaguarda da sua direita, foi o ataque feito
em columnas de divisoens cada uma dellas pelo Official General seu
commandante, e formando cada uma a sua própria reserva. O
Tenente-general Sir Rowland Hill dirigio os movimentos da direita,
que consistia da 2'. divisão, debaixo do commando do Tenente-
general o Ilon. Sir Guilherme Stewart, da 6*. divisão, debaixo do
commando do Tenente-general Sir H. Clinton, uma divisão Portu-
gueza, do commando do Tenente-general Sir Joaõ Hamilton, e uma
divisão Hespanhola, commandada pelo General Morillo, e a brigada
de cavallaria, do Coronel Grant, e uma brigada de artilheria Portu-
gueza, debaixo do oommando do Tenente-coronel Tulloh, e tres
peças de montanha, cotnmandadas pelo Tenente Robe.que atacaram
as posiçoens do inimigo por detraz de Anhoue. O Marechal Sir
Guilherme Beresford dirigio os movimentos da direita do centro,
com a da 3", divisão, commandada pelo Major-general o Honoravel
Carlos Colville, a T. divisão, commandada relo .Marechal-de-Campo
LeCor, e a 4a. divisão, commandada pelo Tenente-n-eneral o H;>n.
Sir Lowry Cole, esta ultima atacou os reduetos na frente de Sarré,
aquella aldea, e os montes por detraz delia, apoiada pela esquerda,
pelo exercito de reserva de Andalusia, debaixo do commando do
Marechal-de-Campo Don Pedro Giron, o qual atacou as posiçoens
do inimigo, na direita de Sarré, sobre os declives de La Petite La
Rliune, e os altos alem da aldea sobre a esquerda da 4*. divisão.
O Major-general Carlos Baraõ Alten, cora a divisão Hespanhola do
898 Miscellanea.
General Longa, atacou as posiçoens do inimigo sobre La Petite La
Rhune. e tendo-as tomado, cooperaram com a direita do centro, no
ataque dos altos por traz de Sarré.
A brigada de cavallaria do General Alten, debaixo da direcçaõ do
Tenente-general Sir Stapletou Cotton, seguio os movimentos do
centro, e havia 3 brigadas de artilheria cora esta parte do exercito,
e tres peças de montanha com o General Giron, e tres com o Major-
general Carlos Alten.
O Tenente-general Don Manuel Freyre, marchou em duas colum-
nas, desde os montes de Mondale, para Ascaiu, em ordem a appro-
veitor-se de alguus movimentos que o inimigo podesse fazer da
direita da sua posição para o centro; e o Tenente-general Sir Joaõ
Hope, com a esquerda do exercito, forçou as posiçoens exteriores
do inimigo em frente dos seus intrincheiramentos sobre o baixo
Nivelle, tomou o reducto acima de Orogne, e estabeleceo-se sobre
os altos iinmedialoraente oppostus a Sibour, prompto par se appro-
veitsr de algum movimento que fizesse a direita do inimigo. O
ataque começou com dia, e o Tenente-general o Hon. Sir Lowry
Cole, tendo obrigado o inimigo a evacuar o reducto sobre a sua
direita em frente de Sarré, por meio de uma canhonada, e o outro em
frente da esquerda da aldea tendo sido também evacuado ; ao ap-
proximar-se a 7*. divisão, debaixo do commando do General Le Cor,
para o atacar, o Tenente-general Sir Lowry Cole, atacou e tomou
posse da aldéa, que estava rodeada pela esquerda, pela 3*. divisão,
commandada pelo Major-general o Hon. Sir Carlos Colville, e pela
direita, pela reserva de Andaluzia, commandada por Don Pedro
Giron, e o Major-general Carlos Baraõ Alten, tomou os posiçoens
sobre La Petite La Rhune. O todo entaõ cooperou no ataque da
principal posição do inimigo por detraz da aldea. A 3*. e 7*. divi-
soens immediatamente tomaram os reduetos sobre a esquerda do
centro do inimigo, e a divisão ligeira, os da direita, em quanto a 4*.
divisão com a reserva de Andaluzia, sobre a esquerda atacou as po-
siçoens do centro. Com estes ataques foi o inimigo obrigado a
abandonar au suas fortes posiçoens, que tinha fortificado com Unto
cuidado, e trabalho, e deixou no principal reducto sobre o monte, o
1*. batalhai"/ do regimento 88, que immediatamente se rendeo.
Em quanto estas operaçoens se faziam no centro, tinha eu o pra-
zer de estar vendo a 6*. divisão, commandada pelo Tenente-general
Sir Henrique Clinton que depois de ter altravessado o Nivelle, e ter
forçado as estacados do inimigo sobre ambas as margens, e tendo co-
berto a passagem da divisão Portugueza, debaixo do commando do
Miscellanea. 899
Tenente-general Sir Joaõ Hamilton, sobre a sua direita, fez o mais
brilhante ataque sobre a direita da posição inimiga por traz de
Anhotic, e sobre a direita do Nivelle, e tomou todos os entrincheira»
meu tos, e os reductos sobre aquelle flanco. 0 Tenente-general Sir
Joaõ Hamilton apoiou com a divisão Portugueza, a 6*. divisão sobre
a sua direita, e ambos cooperaram no ataque do segundo reducto, o
qual foi immediatamente tomado.
A brigada do Major-general Pringles, da 2*. divisão, commandada
pelo Tenente-general o Hon. Sir Guilherme Stewart, forçou as esta-
cadas do inimigo sobre o Nivelle, e na frente de Anhoue; entaõ o
Major-general Bring, cora a sua brigada da 2*. divisão, tomou os
entrincheiramentos, e um reducto mais distante sobre a esquerda do
inimigo, em cujo ataque o Major-general e estas tropas se distin-
guiram. O General Morillo cobrio a avançada do lodo, para os
altos detraz de Anhoue, atacando os postos do inimigo sobre os de-
clives de Mandarin, e seguindo-os para a banda da Itzatee. As tropas
que estavam sobre os altos por detraz de Anhoue, por estas opera-
çoens, debaixo da direcçaõ do Tenente-general Sir Rowland Hill,
foram forçadas a retirar-se para a ponte de Cambo sobre o Nive, a
excepçaõ da divisão em Mandarin, a qual em conseqüência da mar-
cha de uma parte da 2». divisão, debaixo do commando do Tenente-
general o non. Sir Guilherme Stewart, foi arrojada para dentro das
montanhas para a banda de Baygoris.
Logo que as montanhas foram tomadas em ambas as margens do
Nivelle, ordenei que a 3*., e 7*. divisoens, que formavam a direita
do nosso centro, marchassem pela esquerda daquelle rio sobre St.
Pé, e a 6*. divisão pela direita sobre o mesmo sitio, em quanto a
4'., e a ligeira, e a reserva do General Girou, occupavam os mon-
tes para sima de Ascain, e cobriam este movimento por aquelle lado,
e o Tenente-general Sir Rowland Hill, o protegia pelo outro. Uma
parte das tropas do inimigo tinha-se retirado do seu centro, e tinha
attravessado o Nivelle em St. Pé, e tanto que a 6*. divisão se ap-
proximou da terceira ás ordens do Major-general o Hon. Carlos
Colville, e da 7'. divisão, commandada pelo General Le Cor, attra-
vessaram o rio, atacaram, e immediatamente ganharam a posse
dos montes da outra banda.
Por este modo nos estabelecemos na rettaguarda da direita do
inimigo; porem tinha-se consumido tam grande parte do dia que
naõ era possivel continuar a fazer outras manobras; e fui obri-
gado a difièrir as nossas posterioret operaçoens para a manhaã se--
guinte. O inimigo evacuou .-Ucam no principio da tarde, de cuj»
900 Miscellanea.
aldéa tomou posse o Tenente-general Don Manuel Frerie, e lar«*ou
todas as suas obras e posiçoens na frente de St. Jean de Luz durante
a noite, e retirou-se sobre Bidart, destruindo todas as pontes sobre
o Baixo Nivelle. O Tenente-general o Hon. Sir Joaõ Hope seguio-o
com a esquerda do exercito, logo que pôde altravessar o rio; e o
Marechal Sir Guilherme Beresford moveo o centro do exercito o
mais para diante que o estado das estradas, depois de unia violenta
chuva, lhe permitia; e o inimigo retirou-se outravez na uoite do
dia 11, para dentro de uiu campo iotrincheirado ua frente de
Bayona.
No curso destas operaçoens de que tenho dado a V. S. uma idea,
era que lançamos o inimigo fora das posiçoens em qua andou a
trabalhar tres mezes com grande trabalho e cuidado, cm que toma»
roos 51 peças de canhaõ, 6 carros de muniçoens, e 1/200 prisioneiros,
tenho a satisfacçaõ de referir o bom porte dos officiaes e tropas.
A mesma relação mostrará quanta razaõ eu tive de ficar satisfeito
com o do Marechal Sir Guilherme Beresford, o com o do Tenente-
general Sir Rowland Hill, que dirigiram o ataque do centro, c di-
reita do exercito, e com o dos Tenentes-gcneracs o Hon. G. L.
Cole, o Hon. Sir Guilherme Stewart, Sir Joaõ Hamilton, e Sir Hen-
rique Clinton, e do Major-general o Hon. C. Colvillc, Carlos Baraõ
Alten, Marecbal-de-Campo P. Le Cor, e Marechal-de Campo Don
Pablo Morillo, que conimandavam divisoens de infanteria, c coiu a
de Don Pedro Giron, commandante da reserva de Andaluzia. O
Tenente-general Sir Rowland Hill, e o Marechal Sir Cu-lhermc Be-
resford, e estes Officiaes Generaes, tem communicado os seus jui/os
•obre o portaincnto dos generaes e tropas debaixo dos seus respec-
tivos commandos; e eu particularmente rcconimendo á attençaõ
de V. S, o do Major-general Byng, e do Major-general Lambei t,
que conduziram o ataque da 6*. divisão • e da mesma forma parti-
cularmente observo a valorosa conducta dos regimentos 51*., e 68-.,
commandados pelo Major Price, <• pelo Tenente-coronel Hawkins,
do brigada do Major-general Inglis, no ataque dos montes acima de
St. Pé, na tarde do dia 10. A 8*. brigada Portugueza, da terceira
divisão, cara mandada pelo Major-general Power, igualmente se dis-
tinguio no ataque da esquerda do c«ntro do inimigo, e a brigada do
Major-general Anson, da 4*. divisão, na aldea dé sarré, e no centro
das montanhas.
Ainda que a mais brilha ntc parte deste serviço naõ foi da repar-
tição do Tenente-geueral o Hon. Sir J. Hope, e do Tenente-general
Dou M. Fxej re, tenho.comtudo, toda a razaõ para estar satinfeito tom
Miscellaneai. 901
O morlo porque estes officiaes se conduziram no serviço de que tive-
ram a direcçaõ. A nossa perda, posto que considerável, naõ foi, com-
tudo, Iam grande como se poderia esperar, considerando a fortaleza
das posiçoens atacadas, e o espaço Je tempo (desde o romper da
inaiihaã aié o escurecer) durante o qual as tropa; estiveram em com-
bate ; porem devo accrecentar que o Coronel Barnard, do regimento
95, foi gravemente, posto qüe espero que naõ perigosamente, fe-
rido; e que perdemos o Tenente-coronel Lloyd, do regimento 9 4 ;
official que se tinha freqüentemente distingnido, e que dava grandes
esperanças. Na formação do plano para este ataque, e em todas as
operaçoens, recebi o maior auxilio, do Quartel-mestre-general,
Sir George Murray, e do Ajudante-generalj o Hon. Sir Duarte Pa-
keiiham, e do Tenente-coronel Lord Fitzroy Soinmerset, do Tenente-
coronel Campbell, e de todos os officiaes do meu pessoal Estado-
maior, e de S. A. S. o Príncipe de Orange.
A artilheria, qne esteve no campo, foi de grande serventia para nos,
e naõ posso sufficientemente reconhecer a intelligencia, e actividade
com que foi trazida para o ponto do ataque, debaixo da direcçaõ do
Coronel Dickson, pelas más estradas au travéz das montanhas, e
besta estação do anno.
Envio este officio pelo meu Ajudante-de-Campo, o Tenente Mar-
quez de Worcester, o qual, peço licença, para recommendar a V. S.
Tenho a honra de ser, &c.
(Assignado) WEIXHÍGTON.
P. S. Remeto a conta dos mortos c feridos. Depois que recebe-
mos a conta das perdas do inimigo, tomamos mais 100 prisioneiros,
e 400 feridos.

Proclamaçaõ do Feld-Marechal Marquez da Wellington ao


povo Francez.
A o entrar no vosso paiz, sabei qüe tenho dado as mais posi-
tivas ordens (uma copia tias quaes vai juncta com esta) para
prevenir todos aquelles males que saÕ as conseqüências ordiná-
rias da invasão, a qual sabeis vos que he o resultado da que o
vosso Governo fez em Hespanha, e dos triumfos do E xercito
Alliado debaixo do meu commando.
Vos podeis estar certos que eu hei de pôr estas ordens em
execução, e rogo-vos, que façais prender, e conduzir á minha
prezença todos aquelles que contravindo estas tíispostçoens, vos
fizerem alguma injuria. Porem requer-se que vos permaneçaes
VOL. X I . No. 67. 5z
902 Miscellanea.

em vossas cazas, e naõ tomeis parte alguma nas operaçoens da


guerra de que o vosso paiz vai a ser o theatro.
(Assignado) WBLLINOTON.
Ainda que o paiz que está em frente do exercito seja um
paiz inimigo, o General em Chefe fortemente deseja que os ha-
bitantes sejam bem tractados, e propriamente tractados como
ate qui se tem feito.
Os officiaes e soldados devem lembrar-se, que as suas naçoens
estaõ em guerra com França, porque aquelle que está á testa
da naçaÕ Franceza naS lhes quer permittir que estejam em paz,
e dezeja obrigallos a submetter.se ao seu jugo: naÕ se devem
esquecer de que os maiores males, que o inimigo experimentou
na sua invasão de Hespanha e Portugal, procederam das desor-
dens, e crueldades que os soldados, authorizados, e mesmo pro-
tegidos pelo seu Chefe, cometeram sobre os infelizes e pacíficos
habitantes do paiz.
Seria coiza deshumana, e indigna das naçoens a quem o
General em Chefe allude, o tomarem vingança daquella con-
ducta, sobre os pacilcos habitantes de França; e esta vingança
havia em todo o cazo, cauzar ao exercito males similhantes, ou
ainda maiores que os que o inimigo soffreo na Peninsula, e seria
mui contrario ao interesse publico.
Devem portanto ser observadas nas cidades, e vilas de França
as mesmas regulaçoens que tem atequi sido practicadaa nas re-
quisiçoens das provisoens que forem exigidas do paiz, e os com-
missarios, pertencentes a cada um dos exércitos das differentes
naçoens, receberão dos seus respectivos Generaes em Chefe or-
dens relativas ao modo porque se haõ de pagar as provisoens, e
o espaço de tempo dentro do qual o pagamento deve ser feito.

FRANÇA.
Extr actos do Moniteur.
As nossas fronteiras estam ameaçadas—inimigos implacáveis, eu
jas fieiras tem sido ingrosBadas pela traição, dezejam invadir o terri-
tório Francez. A guerra acendida na Europa pela influencia^da In-
glaterra, naB pode ser sugeita aos cálculos comuns da politica. A
questão naõ he sobre parcial cessaõ de território, he o Norte preci-
pitando-se sobre o Sul, como se precipitou nos primeiros tempos da
Miscellanea. 903
Monarchia. A França foi entaõ, como hé agora, o grande obstá-
culo para o successo das naçoens do norte. O nosso paiz tem sido
sempre o Baluarte da civilização, e um objecto de inveja para as
outras potências, porque elle he também o paiz das artes o centro
dos melhoramentos, e um modelo para as naçoens, em tudo o que
he nobre e glorioso.
He portanto aquelle antigo ódio contra a França, aquelle desejo de
humilhar a sua gloria—que agora dirige os planos de nossos inimi-
gos. He em circumstancias dificultosas que a grandeza das naçoens,
assim como a dos indivíduos, se conhece. A naçaõ advertida de
seu prezente perigo, experimentara que a sua salvação está depen-
dente da sua energia, e da sua cabal confiança no Governo. Saõ ne-
cessários grandes sacrifícios; todas as consideraçoens particulares de-
vem ceder o passo ao bem de todos : o inimigo está ás nossas por-
tas, he-nos precizo repellilo. Os Francezes devem outravez mos-
trar-se dignos dos seus antepassados cuja gloria he como um depo-
sito sagrado confiado ao seu patriotismo: sejam, em uma palavra,
dignos do nome que tem, e do Soberano que freqüentemente os
tem conduzido á victoria, tomando parte em suas fadigas, e em
seus perigos.
Os nossos inimigos tem esquecido qne a França he a terra dos va-
lentes, e a pátria da honra. Naõ se lembram, que á voz da pátria
ameaçada, naõ ha Francez que naõ saiba qual he o seu dever, e que
naõ esteja prompto para o preencher. Talvez elles imaginem que
nós havemos de esperar socegadamente por aquellas cohortes indisci-
plinadas que a toda a parte levam comsigo roubo, e devastação.
As suas esperanças haõ de ser frustradas. Os nossos monumentos
públicos, os chefes de obra das artes, immortaes tropheos de nossas
victorias, cada porçaõ desta terra natal, tam favorecida pela natu-
reza ; tudo o que he Francez está debaixo da guarda de todos : he
assim que de Mayence a Perpignam, de Brest a Toulon, dos Alpes
aos Pirineos, todo o cidadão estará prompto para voar em auxilio
dos seus concidadãos. Nos ja vimos os Prussianos em campa-
nha, ja vimos os Russianos sobre as nossas fronteiras, lemos aquellas
proclamaçoens, em que as ameaças eram misturadas com insulto, e
um so único movimento da naçaõ foi bastante para dissipar todo o
perigo. Exaqui um nobre exemplo que deve agora ser imitado.
Acorde pois todo o Francez á voz do governo, que dirige os nossos
recursos, e os nossos esforços ; lembre-se cada um de nos, que nada
haque temer, com tantoque se corresponda ás exigências do seu Sobe-
rano. He por um unanime e generoso movimento que nós havemos
5 Z 2
904 Miscellanea.
de expedir para longe das nossas cidades, de nossas mulheres, e de
nossos filhos, para longe dos sagrados túmulos de nossas pai s, <> fla-
gelo da guerra, o insulto, e a devastação. Nos somos Franceses, e
nunca deixaremos de o ser.
20 D E NOVEMBRO.—S. M. hontem em St. Cloud presidio a um con-
selho de Estado ; decretou nelle a creaçaõ de dons exércitos de
100.000 homens cada um; um será organisado cm Turin, e o outro
in Bourdeaux.
21 D E NOVEMBRO.—Hontem a tarde foram apprczentadoipor S. E.
o Principe Archi-chancellcr do Império, para prestarem juramento o
Conde Mole nomeado Gram Juiz, Ministro da Justiça ; o Duquede
Bassano, emqualidadc de Ministro Secretario de Estado ; o Duque de
Vicenza, cm qualidade de Ministro dos Negoicos Estrangeiros; o
Conde Daru, em qualidade de Ministro para a administração da
Guerra; o Baram Castas, em qualidade de Director Geral das pontes,
e das estradas. S. M. nomeou Ministros de Estado, o Duque de
Massa, e o Conde de Cassan: e eiprimio-lhes a satisfacçaõ que os
seus serviços lhe tinham causado, e o desejo que elle tinha de que
elles continuassem a ajudallo com os seus avizos, e bons conselhos i
c que naõ havia outra razaõ para os mandar retirar, senaõ a da
saúde destes Ministros. S. M. nomeou, o General Conde Bertrand,
Grande Marechal do Palácio • o Marechal Duque de Albufera,para o
posto de Coronel-general da guarda ; vago pela morte do Duque de
Istria. Os generaes de divisão, Conde Kegnier, Conde Lahord,
Conde Charpentier, Baron Maison gram-cruzes da Imperial Ordem
da Reunião.
Uma naçaõ taõ generosa, como illuminada, taõ poderosa como a
naçaõ Franceza preciza somente ser fiel a si mesma, proteger os de-
zejos de seu governo, para preservar a sua graduação entre as na-
çoens, e confundir os projectos dos seus inimigos. A historia está
cheia de factos notáveis que provam que os perigos llic tem le-
vantado o annimo,e que ella tem sido sempre superior aos aconte-
cimentos. Nos devemos agora dar aos nossos descendentes aquelle
exemplo que recebemos dos nossos antepassados. A hereditária glo-
ria do povo Francez nunca deve ser obrigada. Se alguns coraçoens
houver gelados pelo egoísmo, capazes de olhar com indilTerença para
os perigos da pátria ; excite-os o sentimento do seu interesse pró-
prio. Tudo o que elles agora possuem na ordem social, a salvação
dos indivíduos depende da salvação do todo. O humilliador jugo de
um estrangeiro, o insulto, o roubo, havia de cair sobre todas as
cabeças, sobre todas as condiçoens, e amargos, e inúteis pezarct,
Miscellanea. 905
haviam seju'r-se immedi itamente á inctividarJe, e á falta de zelo
nos cidadãos.
He Inglaterra quem está diant d - uós ; Inglaterra está nos cam-
pos dos nossos iuimigns, he em favor delia, lie para satisfazer o sea
inextinguivel ódio contra França que as naçoens do Norte se tem
posto ein campo. Ódio para com a França he o patriotismo de um
Inglez. Quem he o Francez que a tal idea naõ esti p r o m p t i a pegar
em armas, e exclamar : naõ, a França nunca dobrar o pescoço diante
da Inglaterra ! Este nobre sentimento existe no c. raçaõ de todo o
Francez, se disso podemos formar um juizo pela actividade com que
os valorosos homens destinados para defenderem as nossas fronteiras
marcham para o posto da honra. Uma emulação digna de louvor
annima os departamentos ; e nós pensamos que he um dever o parti-
c*ilarizar aquelles que se distinguem pelo seu zelo, e pela sua ener-
gia. Nós diremos delles que tem sido beneméritos da sua pátria.

Carla do Principe Vice Rry ao Ministio da Guerra.


M O N S I E U R LE D u c de F E L T R E . — D e p o i s de ter rept-Uido o
inimigo, e varias marchas p o vale do Adige, da banda de R o v e -
redo, formei o projecto de ir sobre elle pela estrada de Vicenza,
e rcsolvime a isto principalmente porque eu sabia que elle in-
tentava fartificar-se na posição de Caldiero. Este ataque devia
ser feito aos 14, porem o tempo demorou-o até o dia 15, qne
foi quando fiz desfilar de Vicenza uma parte das tropas em 3
columnas; a sa')tr:—o General Quesnel na esquerda, o G e -
neral Mazcognct no centro, e o General Mcrmet, com a cavai-
taria, e uma brigada de infantaria ná direita, tendo uma brigada
em reserva. A c h a m o s o inimigo oecupando os montes de Cal-
diero, cm numero perto dd 1 0 , 0 0 0 ; atacámollo fortemente, c
apezar da sua vigoroza resistência, a vila de Ilasi, a de Cologa
aola, e os mantes de Caldiero foram suecessivamente tomados
n o meio de gritos de Viva o Imperador. O inimigo tendo sido
arrojado para d.-ntroda planice, foi perseguido até para alem da
corrente de A l n o n , e a nossa artilheria causou-lho muito damno
em o desfiladeiro. O ittimuo teve mais de 1.500 homens
mortos, e feridos, e 9 0 0 prizionciros ficaram em nosso poder.
[ A g o r a s.-guia-se o elogio dos officiaes que se destinguiram.J
N o s tivemos, apenas 500 homens incapacitados do combater;
infelizmente entre elles ha pelo menos 300 officiaes, entre os quaes
900 Miscellanea.
jamc deram parte de 60ofiBciaes superiores; porem o dia custou
ao inimii-,0 certamente de 2.-200, a 2.400 homens.
A'vista disto, peço a Deus, M. le Duc de Feltre, que vos
tenha na sua santa, e digna guarda.
EUGÊNIO NAPOLEAÕ.
Caldiero, 15 de Novembro, de 1811.

DECRETO IMPERIAL.

Palácio da* Tltuilleries, S7 de Sovrmbro.


Aapnloaô, &c. &c temos decretado e decretamos o seguinte:—
ART. 1. A somma de 27:569.966 francos, será posta á disposição d»
nosso Ministro Director da Administração da Guerra, sobre o credito do
Budget (calculo de receita e despeza) de 1813.
A ditta somma será carregada oa distribuição para Dezembro.
2. Será distribuída pelas difterentes assembléas da Bolça da Adminis-
tração da RepartiçaS da Guerra, isto he:—
Bolça do Interior 24:016.5*3
DHta do Exercito Grande 3:553.381

Total 27:569.996
3. A ditta quantia total de 27:569.966 francos, scra paga em divisoens
na conformidade da lista appensa ; a saber:—
Sobre o producto das 30 centessimos levantadas na
conformidade do nosso Decreto de 11 do corrente.. 22:067,62'i
£ sobre o producto das taxas das terras 5:502.344

A fazer uma igual somma de 27:569.966


4. O Ministro da Administração' da Repartição du Guerra ha de pôr a
ditta somma, por meio de assignados, á disposição dos prefeitos, para pa-
garem as requisiçoens feitas para as provisoens militares das praças forti-
ficadas, e. provisoens, forragens, lenhas, petrechos, requisitos para os hos-
pitaes, cavallos, ou carroças fornecidas por requisição.
5. O Ministro da Administração da Repartição da Guerra, dirigirá a
cada Prefeito uma Nota dos fundos que elle ha dr pôr á sua disposição,
declarando a sorte de artigos que ba3 de ser fornecidos, para cujo paga-
mento, cada credito vai determinado, e juntamente os preços porque cllcs
haõ de ser calculados.
6. O Ministro do Thesoiro inviará uma copia desta Nola ao Recebedor
Geral de cada RepartiçnS.
7. O Prefeito entregará, a favor daqoelles de quem tiver exigido os ar.
tigos por requisiçaü, assignados sobre o Recebedor gera) do departamento,
e o Recebedor-geral pagallos-ba do producto das contribuiçoens menciona-
da , no Artigo I.
Miscellanea. 907
8. Estabeleccr-se-ha nma Secretaria Especial de liquidação para se
liquidarem, e pagarem sem demora os artigos requeridos, e que saõ for-
necidos pelos departamentos, sendo a base desta liquidação o valor esta-
belecido, e naõ o facticio, que as circumstancias podem dar ás provisoens,
e artigos fornecidos, porem o seu valor real.
9. Os nossos Ministros da Administração" da Repartição da Guerra, do
Interior, e do Imperial Thesouro, estam encarregados, cada um pelo que
lhe pertence, da execução do presente Decreto.
(Assignado) NAPOLEAÕ.
Pelo Imperador,
O Duque de BASSANO, o Ministro
Secretario de Estado.

PARIS, 27 n s NOVEMBRO.—S. M. formou hoje um Conselho da Adminis-


tração da Subsistência Militar. S. M. saio a cavallo esta manhaã. Vizi-
tou a rua de Tournon, as novas obras no Luxembourg, e os jardins antigos
da Cartucho, c o novo Mercado do Vinho: ia accompanhado pelo General
Conde Caffarelli, Baraõ Mixgregni, um pagem, e o Cavalleiro Fontaine,
seu architeeto, que lhe mostrava as differentes obras.
S. M. ficou mui. agradado do Mercado do Vinho, e conversou muito
tempo com as pessoas que contractam no artigo, para que este útil estabe-
lecimento he destinado. Voltou pelo Palácio do Arcebispo, pelo Mer-
cado das Flores, e pelo Cães, rodeado de uma multidão de povo cujas
acclamaçoens attestaram sua alegria por verem S. M.
Ha perto de um mez que o inimigo tem estado sobre as nossas fronteiras
sem ousar passai las; a respeitosa vista das nossas invencíveis falanges, o
zelo, e ardor de todos os varonis habitantes que encerram as nossas pro-
vincias do Rheno tem sido bastante para rebater a sua audácia, e dissipar
as suas loucas esperanças. Porem o perigo naõ está passado. Este ge-
neroso movimento deve ser communicado a todas as partes de França: o
fogo do patriotismo deve inflamar todas as almas. Quando a theatro da
guerra estava ainda longe do nosso paiz ; quando o estrondo dos canhoens
retumbava somente sobre um paiz estrangeiro, podiamos nos comtemplar
quietos aquelles terríveis jogos de Marte; poderíamos adormecer em uma
agradável segurança: porem agora naõ he tempo de dormir, naõ he tempo
de fallar, devemos obrar, devemos mostrar-nos, dignos daquelles memorá-
veis, e dificeis períodos em que a liberdade da França esteve em perigo.
Quando o inimigo, ha vinte annos atráz, esteve postado nas planices de
Champaigne, e nos ameaçava com iminente destruição, toda a França,
indignada se levantou espontaneamente, e o inimigo retirou-se com preci-
pitação paia as suas fronteiras: e a favor de quem foi este movimento
feito ? Que nos esperava quando voltássemos para casa ? Esperava-nos a
anarchia e todas as suas desordens. Comtudo a França preferio a honra
a qualquer perigo: escolheo antes cair nas cadêas de seus domésticos tira-
908 Miscellanea.
nos, do que na« dos estrangeiros : suhineteo-se antes á fúria da anarchia,
do que á vergonha da escravidão. E agora que todas as partes da ordem
social estam reconstituídas, e açora que o inimigo so nos pode trazer es-
cravidão ou anarchia, naÕ havemos nos de correr ao combate ? naõ have-
m >s de estar promptos para os maiores sacrifícios ? Quem pode soffrer ser
seduzido por in>idiozas promessas, por vaãs, c falia zes pi'oclauiaçoens ?
As gahaçorns do inimigo, a disciplina dos seus exércitos, e os seus princí-
pios de moderação, c desinteres ? e ? Podeis vos crer, que se elle pene-
trasse as vossas provincias, havia de guardar muito tempo a sua pretendida
disciplina, ou cumprir as suas promessas ? Certamente a conquista de
tantos cidades florecentes, de tantas c tam ricas terras, naõ pode ser con-
cluída sem combates; e entaõ a que eicesso de desordens naõ ha de será
nosso paiz entregue ; que roubo, que rarniecria, que abrazamento !
Imaginemos por um momento o inimigo ás nossas portas. Eis vedes as
nolheres tremendo, perdidas, fugindo; ns velhos, as donzelas, e as cre-
ançtu obrigados a abandonar a casa de seus pays, levando comsigo algu-
mas tristes relíquias dos seus bens, buscando no meio dos brenhas, nos inaii
impenetráveis n \\ros um asilo contra as fúrias da soldadesca. Olhai, e
vede por toda a parte tumulto e agitação.
A h ! que disciplina podeis vos esperar daquellas rafílas de Cossacos,
que naõ tem outra paga senaõ a que podem roubar aos habitantes das cida-
des e das terras; que estrangeiros em civilização, artes, sciencias, e letrai,
nada podem estimar do que nos estimamos, naiia respeitam do qu.- nos
respeitamos; piles queimaram as suas próprias habilaçoens; podeis vos
suppôr que lhes custará muito a queimar as nossas?
Basta que nos lembremos que o exercito dos alliados he urn exercito ao
soldo da Inglaterra ; que as Potências reuni.'us naõ saõ senaõ os ergos
instrumentos da desmarcada umMçaõ. c implacável ódio contra a 1'runça,
Qne boa intenção, que favoráveis sentimentos podemos nos esperar do
Gabinete de Londres? Durante o espaço de 10 nnnns Imo >. vii limas
de todos os horrores da revolução, de todos os flagclos da discórdia civil.
Certamente se a Inglaterra dezejusse su (Tocar o monstro da anarchia, quan-
tas vezes naõ se líie offereceo a opportuiiidarie ? Porem lon^e de dezejar
restaurar-nos o r. pouso, he o nosso repouso que ella teme; lie o nos.u
poder, c gloria, a oos«a industria, as nossas arte-, que ella dezeja anni.
hillar; para reinar só no mundo todo; para fa-;er todas as naçoen* tii-
bularias aos seus negociantes : este he o único objecto da sua nmbiçaõ ; o
constaate fito de todos os seus esforços, de todas r.s suas intrigas, de toda
a sua incomprehensivel profusão. Ella dezeja a todo o custo ver-se livre
de urna rival que a arruina. Que triumfo, que alegria naõ seria a delia se
chega^-e ., tempo de poJer effeituar u ruina da trança, dcslruir nt sua»
esquadras, annihilar o seu commercio, e dividir as suas provin» i i ! V
ruina da l-rauça seria a ruina commum de todo o mundo. Subjugai
Franca, e ficará completa a escravidão do universo.
Miscellanea. 909
E podemos nos entregar-nos a similhantes reflexoens sem estremecer-
mos ? Haverá braço que naõ se arme para evitar similhante calamidade ?
Ah! naõ imitemos aquelles Athenienses, que entregues inteiramente aos
seus prazeres, e á suo indolência, so se occuparam dos jogos dos tbeatros,
e de alguns frivolos discursos, quando Felipe lhes estava as portas ; mas
lembremos-nos que para preservarmos os louros de Apoilo, he-nos preciso
colher as palmas de Marte.
30 DE NOVEMBRO.—Asseguram-nos que fora prorogada a abertura das
Sessoens do Corpo Legislativo ; porem naõ somos informados do dia em
que haõ de ser.
O Journal de Paris, do dia 30, depois de ter relatado o numero de
Duques, Duquezas, Condes, e Condessas, que foram appresentados ao
Imperador, no Domingo depois da missa, diz:—S.M. no mesmo dia fez
um Conselho de Administração, para o fardamento do exercito. O Conde
Dam, Ministro da Guerra, e o Conde Cessac, Presidente da Repartição
da Guerra, estiveram prezentes.

DECRETO IMPERIAL.
Do Palácio das Thuillerias, 29 de Novembro, de 1813.
Napoleaõ, Imperador dos Francezes, Rey de Itália, Protector da
Confederação do Rheno, Mediador da Confederação Suissa, &c. &c. &c.
Temos decretado e decretamos o seguinte:—
ART. 1. A abertura das Sessoens do Corpo Legislativo, fixada pelo
nosso Decreto de 25 de Octubro próximo passado, para 2 de Decembro,
terá lugar em 19 de Dezembro.
O presente será inserido no Bulletim das Leis.
(Assignado) NAPOLEAÕ.
Pelo Imperador,
O Ministro Secretario de Estado,
(Assignado) O Duque de BASSANO.

Falia do Imperador ao corpo Legislativo aos 19 de Dezembrot


de 1813.
Senadores, Conselheiros de Estado, Deputados dos
Departamentos no Corpo Legislativo,
Victorias esplendidas tem elevado a gloria das armas Fran-
cezas, durante esta campanha; deserçoens sem igual-tera-
tornado inúteis estas victorias: tudo se tem voltado contra
nós. A mesma França estaria em perigo, se naÕ fosse a uniaõ
e energia dos Francezes.
Nestas pezadas circumstancias, o meu primeiro pensamento
VOL. XI. No. 67. 6A
910 Miscellanea.
foi chamarvos em torno de mim. O meu coração necessita da
presença, e da affeiçaõ de meus vassallos.
A prosperidade nunca me seduzio. A adversidade mc achará
sempre superior aos seus ataques.
Por varias vezes tenho dado a paz ás naçoens, quando ellas
tinham perdido tudo. De uma parte de minhas conquistas
tenho erigido thronos, para reys que me abandonaram.
Tinha eu concebido e executado grandes desígnios para a
prosperidade, e felicidade do Mundo. Monarcha, e pay,
eu senti que a paz augmenta a segurança dos thronos, e a das
familias. Entrou.se em negociaçoens com as Potências Allia-
das ; e eu tenho-me cingido ás bazes preliminares que ellas
apresentaram. Tive então esperanças de que, antes de se abrir
esta sessão, seajunetaria o Congresso em Manheim : porem
novas delongas, que se naÕ devem attribuir á França, deferi-
ram este momento, por que clamam os desejos vehementes do
mundo.
Tenho ordenado que se vos apresentem todos os documentos
originaes, que se acham na pasta da minha repartição dos Ne-
gócios Estrangeiros. Vos saberéis o que elles contem, por
meio de um committé. Os oradores do meu conselho vos in-
formarão da minha vontade a este respeito.
Da minha parte nao ha obstáculo ao restabelecimento da
paz. En conheço e participo de todos os sentimentos dos
Francezes,—Eu digo, dos Francezes; por que nao ha um só
delles, que deseje a paz, á custa da honra.
He com pezar, que peço deste generoso povo novos sacri-
fícios, mas elles saÕ ordenados pelos seus mais nobres, e mais
charos interesses. Era necessário recrutar os meus exércitos
com numerosas levas: as naçoens nao podem tractar com se-
gurança, senaõ mostrando toda a sua força. O augmento de
impostos vem a ser indispensável. 0 que o meu Ministro de
Finanças vos ha de propor, he conforme ao systema de finanças
que eu tenho estabelecido. Nos oceurremos a todas as despezas,
sem empréstimos, que consomem o futuro; e sem papel moeda,
que he o maior inimigo da ordem social.
Eu estou satisfeito com os sentimentos, que o meu povo da
Itália me tem testemunhado, nesta occasiaõ.
A Dinamarca e Napoies, somente, permaneceram fieis na f ua
aliiança comigo.
Miscellanea. 911
A Republica dos Estados Unidos da America, continua com
successo a sua guerra contra Inglaterra.
Tenho reconhecido a neutralidade doi desanove Cantoens
Suissos.
Senadores, Conselheiros de Estado, Deputados
dos Departamentos no Corpo Legislativo,
Vós sois os orgaõs naturaes deste throno: pertence-vos dar
o exemplo de energia; que pôde recommendar a nossa geração
ás geraçoens futuras. Que naÕ digam ellas, " Elles sacrifica-
ram os melhores interesses de sua pátria." Elles reconheceram
as leys, que a Inglaterra, durante quatro séculos, em vaõ pro-
curou impor á França.
O meu povo naõ pôde temer, que a política de seu Impera-
dor atraiçoe ja mais a gloria nacional. De minha parte,
confio que os Francezes seraõ constantemente dignos de si
mesmos, e de mim.

HESPANHA.
ARTIGO OFFICIAL.
A Regência do Reyno foi servida publicar o seguinte Decreto :—
As Cortes desejando por em execução o seu Decreto de 3 do cor-
rente relativo a sua mudança para Madrid, decretam, que a Regên-
cia do Reyno deverá informar as Cortes do momento em que o es-
tado da saúde publica, e as precauçoens tomadas pelas juntas da
saúde haõ de permittir esta mudança.

HOLLANDA.
AMSTERDAM, 20 DE NOVEMBRO.
Hontem, em conseqüência de uma resolução dos Delegados para o
Governo de Amsterdam, e do Norte da Hollanda, fez-se acçaõ de
graças em todas as Igrejas desta cidade pelas especiaes mostras do
favor Divino dadas ao nosso paiz nestes tempos memoráveis, na expul-
são dos nossos jurados inimigos das terras Hollandezas, com humildes
preces a Deus para abençoar com o seu amparo, e favor os esforços
de S. A. R. o Principe de Orange, dos Delegados do povo cin geral, e
de todo o Hollandez em particular. Os Ministros eccleslastscos tam-
bém exhortaram os seus ouvintes para assistirem com contribui,
çoens voluntárias, ao restabelecimento do thezouro publico, que foi
quazi inteiramente saqueado pelos nossos inimigos Francezes, &c. &c
para que a Hollanda venha a ser um paiz feliz, e com o favor de
6 A 2
912 Miscellanea.
Deus, estando o mar aberto, possa dar a cada um a opportunidade
de reparar as perdas que tem soffrido, e para que possamos em con-
seqüência estar seguros de nos naõ acontecerem infortúnios taes
como os que soffreram os nossos lamentados irmaons de Wocrdens
que convencem todos os Hollandezes que nenh uns sacrifícios saõ de-
maziadamente grandes, sendo para nos livrar do jugo do9 Francezes.
2 DE DEZEMBRO.—Hontem pelas 3 horas, S. A. S. o Principe de
Orange féz a sua entrada solemne dentro desta capital, pela porta de
Haerlem, ao estrondo da artilheria, e ao som dos repiques de todos
os sinos. A alegria foi geral em todas as classes de habitantes. Naõ
se pode descrever o numero do povo que estava juncto, e que
corria a todos os pontos aonde S. A. passava. Naõ cessavam as ale-
gres acclamaçoens de " Viva! Orange boven!" e " Viva Guilher-
me Primeiro, Soberano Principe dos Hollandezes!" Esta noite a ci-
dade esteve illuroinada.
HARLFM, 29 DE NOVEMBRO.—Varias noticias das margens do Yssel
annunciam, que o General Prussiano Poppen, com uma columna de
8000 homens, e 40 peças de canhaõ, decampou no dia 28 para mar-
char para Utrecht, pelo caminho de Doesburg, e Arnhem. O Gene-
ral Benkendorf chegou no dia 17 a Zwoll, com 2.000 hussares, 2.000
infantes, e 10 peças de canhaõ. O General Bulow, com o exercito
principal, que he avaliado em 30.000 homens, decampou de Munstcr
no dia 25. Zutphen foi occupada pelos Alliados; porem os Fran-
cezes ainda tinham uma guarniçaõ cm Deventer.
(Gazeta Extraordinária do Zueder-Zcc, 30 de JiTovembro.)
Amslerdam, 30 de Novembro.
Em nome de S. S. A. o Principe de Orange, e Nassau, e da Assem-
blea Geral dos Hollandezes Unidos para o Governo dos Negócios de
A [ii-.irril.uii. e do Norte da Hollanda.—A importância da nova que
temos de communicar persuadio-nos a publicar esta Gazeta Extraor-
dinária, para fazer saber que o General Krayenhef, Governador da
Cidade de Amsterdam, hontem 29, pelo seu Ajudante-dc-Campo
Colonel Van Don Posch, tomou posse da cidade de Utrecht, em
nome de S. A. R. o Principe d e Orange. Brevemente communica-
remos os nomes das pessoas que tem emprehendido o administrar o
governo desta cidade, agora restaurada aos Hollandezes.
(Assignados) J. M. KKMPF.R.
J A N I L ' 8 í-CHULTfcfR.

UTRECHT, 1 DE DEZEMBRO, AS 7 HORAS DA TARDE.—O Governo


Provisional da Cidade de Utrecht informa os bons habitantes desta
cidade, que recebeo hoje a seguinte carta :—
O General Von Bulow, que está avançando, tomou hontem á tarde
por assalto a vilade Arnheim. A guarniçaõ foi pastada á espada :
Miscellanea. 913
um pequeno numero tinha-se retirado na maior desordem, sendo per-
seguido pela cavallaria.
Rogo-vos que queiraes dar ao publico informação deste feliz, e im-
portante successo; porisso que pode ser muito agradável a muitos.
O Major, e Commandante do regimento dos Hussares Negros,
(Assignado) SANDRART.
(Copia fiel.)
O Presidente do mencionado Governo Provisional,
(Assignado) J. VAN DI-R VELDEU.

Os Commissarios Geraes do Governo Nacional rezidente em Amslcr-


dam ; aos Habitantes da dita cidade.
PATRÍCIOS !—Chegou finalmente o momento que pos um fim a toda a
vossa insegurança. As borrascas das mudanças estaõ passadas, e a obra
começada ha dous séculos pelos nossos grandes antepassados, debaixo
de grandes difficuldades, concluio-se finalmente por nos, debaixo de
difficuldades ainda maiores. Nenhum Principe estrangeiro, igno-
rante da vossa constituição, e usos, hade daqui em diante dirigir a
seu capricho, os vossos mais caros privilégios ; os fructos da vossa
industria uaõ seraõ mais preza de estrangeiros nem mais os vossos
filhos seraõarrastrados para terras alheas para pelejarem por estran-
geiros; e por uma cauza alhea da vossa própria felicidade ; naõ tor-
narão mais os habitantes empregados no Governo Supremo a estro-
pear as vossas forças, e enervar o vosso valor. Naõ he Guilherme
6°. a quem o povo da Hollanda tornou a chamar sem saber o que
poderia esperar delle.
He Guilherme Primeiro, que, como Soberano Principe pelo dezejo
dos Hollandezes, apparece como Soberano entre aquelle povo,que em
outro tempo foi livrado por outro Guilherme Primeiro, da escravi-
dão de u ni desgraçado despotismo. A vossa liberdade civil será asse-
gurada pelas leis, por uma Constituição, que haja de estabelecer
a vossa liberdade, e mais bem establecida que nunca; porem
as oceurreucias exteriores, as mudanças entre as naçoens, cujo
governo politico tem em parte sido a occasiaõ, e a cauza dos pro-
tentozos feitos, que por um pouco de tempo tiveram maravilhada
a Europa, haõ de também ser balançados por um similhante arranja-
mento : isso requer poucos mais sacrifícios, e o nome Hollandez será
outra vez honrado como dantes, e a bandeira Hollandeza outra vez
será vista tremular sobre todos os mares. O Principio está dado. Os
Hollandezes saõ livres, e Guilherme Primeiro lie Soberano dos Livres
Hollandezes.
Dada em Amsterdam, em 1 de Dezembro.
(Assignados) I. M. KEMPER.
FANIUS SCKOTTJ;.
914 Miscellanea.
GRAVENSHAGE, 5 DE DEZEMBRO.
S. A. R. o Principe de Orange pedio que se publica-se nas
gazetas que dous honrados patrícios, um chamado Alberto Van
Dikshoom, vivendo em Portugal, e Bastian Wey, morador em
Spykcnisse, apezar de terem soffrido grandes perdas, e oppres-
soeus causadas pelo Governo Francez, dezejavam comtudo dar
convincentes provas do seu amor para com a sua pátria, e para
com a pessoa de S. A. R. o Príncipe de Orange, como Soberano
deste paiz. Estas briosas pessoas fizeram prezente de um sol.
dado de cavallo completamente equipado, e mantido á sua
custa pelo espaço de 3 mezes tomando igualmente sobre si, o
sustento de suas mulheres c filhos.
O Comraissario-geral dos Negócios do Interior mostrou-se
infinitamente satisfeito com esta agradável noticia, dezejando, e
esperando que este exemplo haja de ser seguido por muitos
outros.

Guilherme Frederico, Principe de Orange, e de Nastau, a


todos aquelles a quem respeitar, saúde.-—
Os meus sentimentos, i minha entrada hoje nesta capital,
saõ inexprimiveis. Restituido aquelle povo que nunca cessei de
trazer na minha lembrança, considero-me como um pai no meio
da sua familia, depois de 19 annos de ausência.
Nunca, Hollandezes, nunca a minha recepção em Hollanda,
e minha entrada em Amsterdam se haõ de apagar, na minha
memória, e, pelo vosso amor, eu vos prometo que nunca vos
achareis enganados. He o vosso dezejo, Hollandezes, que eu
esteja em uma mais alta relação para com vosco do que hou-
vera de estar, se naÕ tivesse eu nunca estado ausente. A vossa
confiança, o vosso amor entregam a Soberania nas minhas
maons; e eu vejo-me por todos os lados obrigado a tomalla,
por isso que a necessidade do paiz, e a situação da Europa,
requerem que eu assim o faça.
" Seja pois. Sacrificarei as minhas próprias opinioens aos
vossos dezejos. Acceito o que os Hollandezes me offerecem ;
porem so o acceito debaixo da fiança de uma sabia constitui-
ção, que haja de assegurar a vossa liberdade contra todos os
possíveis abusos futuros; acceito-o com a inteira imposição de
todos os deveres que esta acceitaçao me prescreve.
Miscellanea. 915
Os meus antepassados deram o nascimento á vossa índepen.
deu cia, a manutenção da qual ha de ser a incessante tarefa de
mim, e da minha posteridade.
Eu, nas prezentes circumstancias, ainda um tanto criticas,
conto sobre a vossa cooperação e sacrifícios ; e depois de um
curto periodo de esforço, querendo Deus, nenhum estrangeiro
poderá mais resistir, sobre o vosso próprio terreno, ao ardor
da renovada naçaõ, e ás triumfantes armas dos nossos Alliados.
Feita na Casa do Conselho de Amsterdam, em 2 de Dezem.
bro, de 1813.
(Assignado) W. F. Principe de Orange.
Por ordem de S. A.
VAN DER DUYN V A N . MAASDAM.

LEYDTSN, 9 DE DEZEMBRO.—A seguinte proclamaçaõ foi


hoje lida á multidão circunstante no meio de repiques de sinos,
e ao som das trombetas estando o corpo todo dos cidadaons
armados debaixo de armas formado na frente da Caza da
Cidade :—
0 Governo Provincial da Cidade de Leiden, aos Habitantes
daquella Cidade.
CIDADOENS, E HABITANTES DF. LEYDEN,—Ainda bem o
amado Principe dos Hollandezes, naõ tinha posto o pé outra
vez sobre o seu paiz natal, quando de todas as partes se mani-
festou o dezcjo de que Guilherme Frederico Principe de Orange
e de Nassau houvesse de permanecer naõ somente na mesma
dignidade, e relação para com o nosso paiz, que os seus illustres
antepassados, mas que houvesse de ser Soberano Principe dos
Hollandezes.
Nos com todo o coração desejávamos com-vosco offerecer a
S. A. esta grande dignidade em nome de todos os cidadaons, e,
similhante á grande cidade de Amsterdam, saudallo a elle mes-
mo como tal no dia em que a nossa cidade houvesse de ser hon-
rada com a sua presença.
Porem ainda que o alegre dia naÕ está longe, os habitantes
da cidade de Leyden estaõ demasiadamente impacientes para
que esperem por elle para satisfazerem o seu dezejo.
Pois bem, cidadoens, e habitantes de Leyden, desde o dia
de hoje reconhecemos o Illustre decendente da Caza de Orange,
916 Miscellanea.
como Soberano Principe, e respeitamollo como tal. A unidade
do Soberano poder deve agora ser o resguardo do nosso edificio
politico: tornarão as nossas liberdades civis a reviver assegu.
radas por sabias leis. Agora debaixo do governo de um Prín-
cipe do sangue de Nassau, nascido em o nosso próprio paiz,
educado nos principios da honra, e da religião dos nossos ante-
passados, que conhece as nossas necessidades, e respeita as
nossas maneiras, ha de começar o restabelecimento dos Hollan-
dezes, e com a bençam de Deus, ser felismente concluído.
EntaÕ cada um oecupe o seu posto á roda do nosso amado
Principe, e promova com toda a sua habilidade a grande obra,
que elle tem acabado por amor de nos. A preservação dos
Hollandezes, a nossa felicidade, e a da nossa posteridade saõ os
teus únicos objectos, c haõ de ser assegurados debaixo do seu
governo.
Nenhuns sacrifícios podem ser demasiadamente grandes par.*
salvar, e preservar o nosso paiz.
Nenhum constrangimento estrangeiro nenhum despotismo,
nenhum poder externo haverá mais de arrastrar os nossos filhos
á morte.
Seja Guilherme Frederico, Principe de Orange, e de Nassau,
Soberano da Hollanda, o ponto de reunião de todos os valen-
tes Hollandezes, seja o escudo contra o qual toda a discórdia,
e espirito de partido se quebre, e apertado o vinc-ufo pelo quaf
a uniaõ, poder, honra e prosperidade pode outravez morar
entre nós.
O Deus dos Hollandezes, o Deus dos nossos pays o abençoe,
fortaleça, ajude, e sustente.
Feita, e resolvida pelo Governo Provizional da cidade de
Leyden, em 8 de Dezembro, de 1813, e no dia seguinte, depois
de repiques dos sinos publicada ao povo da torre da Caza da
Cidade pelos chefes do Governo Provisional da cidade de
Leyden. ANTÔNIO GUSTAVO, BaraÕ de Boctzclacr.
M*. GERARDUS.
MARTINIIO VON BOMMEL.
JOAÕ G A E L .
M'. D. M. GASBERG HELDWIER, C
M r . GUILHERME PEDRO KLFIST.
Por mim P. A. Du Ptiu.
Miscellanea. 917
Esta Proclamaçaõ foi recebida com unanuimes acclamaçoens
pelas turmas do povo, com gritos de " viva Guilherme Frede-
rico Principe de Orange Soberano Principe dos Hollandezes.
Despois disto tocou a musica da guarda da cidade, e todo o
corpo desfilou por diante da Caza da Cidade aonde os Membros
do Governo estavam de pé ás janelas.

LONDRES*.—SECRETARIA DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS, 4 DE DEZEMBRO.


S. A. S. o Principe de Orange, accompanhado por S. Ex*. o Conde
de Clancarty, apportou em Scheveling, aonde desembarcou da nau
de S. M. Guerreiro, capitaneada pelo Lord Visconde Torrington, 4>.
ieira 30 do passado, ás 4 horas da tarde, no meio tle enthusiasticas
acclamaçoens de uma numerosa concurrencia de povo ajunetado para
o receber. S. A. immediatamente partio para Hague, e recebeo
neste lugar as congratulaçoens das authoridades publicas. S. A.
tinha tençaõ de continuar para Amsterdam no dia 2.
Pelas ultimas noticias recebidas de Hague de 2 do corrente,
soube-se que o inimigo tinha evacuado Utrecht, e ia-se retirando
sobre Gorcum, e Nimeguen.
O General Bcnkendorf tinha chegado a Amsterdam, no dia 1°.
com 2.500 homens, e immediatamente publicou a seguinte procla-
maçaõ.
Muyden tinha sido tomado por assalto com perda do inimigo de
400 homens, 12 officiaes, e um canhaõ.
O navio de S. M. Jason tinha ancorado em Scheveling na manhaã
do dia 2, com o Major-general Taylor, e uma parte das armas des-
tinadas para o serviço da Hollanda.
Recebeo-se no mesmo dia a noticia de se ter declarado o Brille
em favor de S. A. S. o Principe de Orange.

Traducçaõ de uma Proclamaçaõ" do General Russiano Bcnkendorf, á


sua entrada em Amsterdam.
O General Russiano Beckendorf acaba de dezembarcar em Ams-
terdam com 2.500 homens de infanteria; a sua cavallaria regular, e
artilheria, hade estar á manhaã á tarde em Amarsfoort; os seus
regimentos de cavallaria, commandados pelo General Staal, e pelo
Coronel Nariskin, estaõ em Utrecht e limpam o paiz. Todos os
Russianos estaõ annimados com o nobre dezejo de cooperar na
libertação da Hollanda. Elles entram no vosso paiz como amigos.
Hollandezes ! correi ãs armas ; anime-vos o espirito de tornardes a
ser uma naçaõ, e de serdes dignos dos vossos antepassados. A
VOL. X I . No. 67. 6 B
918 Miscellanea.
hora be chegada; o inimigo verá o que um povo unido pode fazer,
quando todas as dissençoens estaõ extinetas pelo espirito de vin-
gança, e pelo mais puro patriotismo.
Publicada em Amsterdam, em o 1*. de Dezembro, de 1813.

Traducçaõ' de uma Carta do General Bcnkendorf a S. Ex'. o General


Kragenoff, Commandante da Cidade de Amsterdam.
GENERAL,—Tenho a honra de vos participar que um destacamento
das minhas tropas entrou em Muyden, tomou um canhaõ, c o total
da guarniçaõ, composta de 400 homens, e doze officiaes caíram em
nosso poder. Os Hollandezes tem-se distinguido particularmente,
combatendo pela banda dos Cossacos. Prezentemente eslâ-sc ou-
vindo um fogo forte do lado de Naarden.
Apresso-me a communicar-vos esta importante noticia, e rogo-vos
que o publiqueis sem demora em Amsterdam, e também que o par-
ticipeis ao Governo em Hague.
Tenho a honra de ser, &c. &c.
(Assignado) A. BENHENDORF.
Amsterdam, 1 de Dezembro, de 1813.

( Postscripto.)
LONBRES :—SECRETARIA DOS NEGÓCIOS DA GUERRA, 4 DE DEZEMBRO.
Um officio de que o seguinte he uma copia foi hoje recebido pelo
Visconde de Castlereagh, Principal Secretario de S. M. da Reparti-
ção dos Negócios Estrangeiros, vindo do Tenente-general Sir William
Stewart, K. B. datado de
Marburg, junto a Frankfort, 18 de Novembro, de 1813.
Mv LORD,—Em um officio antecedente roínmuniqm i a V. S. a
substancia de uma relação, recebida na manhaã do dia 15, do Ge-
neral Thielman, contendo o rendimento de Dresden, e da sua guar-
niçaõ ficando prisioneiros de guerra. Pelos noticias mais officiaes-
que V. S. agora receberá, ha de ver que a relação, recebida no
quartel-general do exercito do Norte, naõ era correcta, a respeito
do rendimento da guarniçaõ como prisioneiro* de guerra. A capi-
tulação, pela qual a guarniçaõ havia de tornar para França, e ser
trocada homem por homem,foi pedida, e concedida; porem isto naõ
foi ratificado pelo commandante em chefe ; assim tem ainda de pas-
sar mais algum tempo primeiro que tomemos posse desta importante
praça.
Eu siuceramente lenho pezjr de ter dado a V. S. uma relação, que
me veio de taõ boa authoridade, e que naõ obstante, suecedeo naõ
ser confirmada, em todos os seus factos.
Tenho a honra de ser, &c. &c.
(Assignado) CARLOS STEWART.
Ao fisconde Castlereagh, Sfc. &e.
Miscellanea. 919
SECRETARIA DA GUERRA, 4 DE DEZEMBRO.
Receberam-se officios de Heligoland, datados de 28 de Novembro :
As baterias de Blexen, e Carlsburgh estam em poder dos Alliados;
em conseqüência a navegação de Weser tornou-se perfeitamente
livre. O exercito do Priucipe Real vai marchando contra Ham-
burgo com grande força. As tropas Dinamarquezas estám junctas
nas vizinhanças de Altona.
Os Alliados estaõ de posse de Ratzeburgh ; tomaram o forte de
Hope na passagem do Elba, em Zoliin Spmcher.
Dantzic tem sido meia destruída pelo bombardeamento.

PRÚSSIA.
BERLIN, 26 DE OUTUBRO.
Os Magistrados sentem o maior prazer em appresentar aos habi-
tantes desta cidade est:is expressoens da satisfacçaõ de S. E. M.,e dos
quaes lambem se pode confiada mente esperar, que haõ de correspon-
der a confiança que S. M. nelles põem, e que naõ haõ de ter desmaio
no ultimo exercicio do seu zelo patriótico.—Berlin, 28 d'Outubro,
de 1813.
O Burgomestre, e Conselho desta Real Capital.
BUSCHING.

30 D'OUTUBRO.—S. R . M. na occaziaõ dos parabéns que lhe fo-


ram appresentados pelos Magistrados, e Deputados desta cidade da
parte de seus habitantes sobre a sempre memorável victoria alcançada*
em Leipsig, foi servido expedir, no dia 26, a seguinte gracioza Carta
de Gabinete aos Magistrados, e Deputados aesta Cidade.
Agradeço aos Magistrados, e Deputados desta Capital os bons sen-
timentos que expressaram no seu Comprimento de 22 do corrente,
e rogo-lhes que hajam de assegurar aos habitantes i]ue eu tenho ob-
servado com prazer o vivo interesse que elles tomaram nos felices
resultados dos esforços dos exércitos unidos para sustentarem a inde-
pendência da Alemanha; que eu naõ sou menos sensível á attençaõ
com que esta cidade tam honradamente se distinguio em soecorrer
o estado dos dcífensores da sua pátria, e que eu me conservo na
esper. nça de que elles haõ de continuar a dar um louvável exemplo
ás outras cidades do Reyno.
(Assignado) FREDERICO GUILHERME.
Aos Magistrados, e Deputados desta Capital.

(Da Gazeta de Berlin, de 13 de Novembro.)


O Imperador da Russia ajuntou em Leipsig os Generaes Polacos prisio-
neiros, e declarou-lhes que as Potências Alliadas tinhaõ assentado em por
6 B 2
920 Miscellanea.
em liberdade todos os prisioneiros Polacos e mandallos para o seu pai>,
no caso que elles lhes dessem a certeza de que naõ haviam de tornar »
pegar em armas contra o bem geral da Europa. Os Generaes deram as
suas palavras de honra, e confiavam que podiam responder o mesmo pe I n
sentimentos dos seus soldados. O Imperador acceitou a sua palavra de
honra e despedio-os com estas palavras. Tornai a levar para a vossa
pátria as débeis relíquias de um numeroso exercito que tem sido mal ap-
plicado por um conquistador, para a oppressaõ das naçoens. Elles ainda
podem fazer-se bons cidadãos ; e tem nprehendido que a corage so naõ
funda as naçoens-, mas antes a benevolência, com a qual todo o individuo
applica o seu valor, os seus poderes, e a sua liberdade a bem da felicidade
geral.
Duas columnas destes prisioneiros, debaixo do commando dos Gencrar.;
Kaminski, e Kranski, haõ de attravessar o Oder em Frankfort do Oder, r
etn Crossen ; os mesmos Polacos que ainda ficarem no nosso paiz haõ de
ser postos em liberdade. Os Polacos, eui Gotha, inviaram os seus Gene-
raes ao Imperador Napoleaõ a declarar-lho que elles iam a sepnr*»r--r <!•>
seu exercito, porque depois da grande batalha, tinham perdido MS espe-
ranças de voltarem á sua pátria. Napoleaõ ao principio incolcri/.ou-sc
muito, e perguntou-lhes se elles pcnsav.iin que o antigo leaõ estava morto ;
mas porfim pedio-lhes que se demorassem mais uma semana com elle, e que
depois podiam partir. Os Generaes acceitaram estas condiçoens. de qtu-
informaram os seus soldados, os quaes marcavam os dios com lápis nos
seus czakos. Nas vizinhanças de Frankfort cada um produzio os seu-. 7
riscos, e partiram para os Alliados, em numero perto de 3.000, de 100.000
que dantes eram.
CASSEL, 31 D'OUTUBRO.—O Moninnr Westphalinno, qne prementemente
apparece em differente traje (por ser inteiramente Alemaõ). contem muitas
matérias notáveis. Nos começaremos por citar o seguinte agradável
artigo, que he de muita conseqüência:—
O estrondo da artilheria, e o» repiques de todos os sinos, aiiniiuriaram-
nos hontem pela manhaã a chegada de S. A. S. o Príncipe Eleitoral de
Hesse. S. A. acaba actualmente de chegar aqui ás 2 horas, no moio das
alegres acclamaçoens de um immenso concurso de povo. Paizanos a ca-
vallo, cavalhadas de quintciros, e caçadores, junctamente com o total dai
Guardas Nacionaes, levando adiante as suas antigas bandeiras, puxavam a
procissão em columnas cerradas do meio das quaes rcsoavain, em altos
tons bymnos ao Senhor dos exércitos. Seguiam-se logo bandos de rapari-
gas que semeavam o chaõ de flore*. De todas as jaiiellus grinaldnt, r
ramalhctes eram entornadas sobre o Principe, o qual, nreompanhado poi
uma divisão de caçadores montados, mal podia desenlear-sc dos impetu-
oso» transportes da contente plebe, que levada dos ternos sentimentos
que lhe inspirava o recobrar suas propriedades, se upinhava em roda
deste penhor delia, que tanto amavam. Todos queriam vello, queriam
fallar-lhe, e pelos braços, e pela garganta abriam caminho aos sentimenloi
que com irresistível força oecupavam todos os coraçoens. Com sentimen-
tos nao menos profundos correspondia o Principe a estou demonstraçoen»
Miscellanea. 921
dos fieis coraçoens Alemaens. As Guardas Nacionaes, e os cidadaons de
todas as condiçoens, e religioens, a p é , e a cavallo, formavam, de mistura,
o fecho da procissão. S. A. S. ao apear-se, tomou o seu quartel na Hos-
pedaria da Casa Vermelha, aonde os caçadores tiveram a honra de fazer
a guarda á S. A. S. A noite houve um baille na Casa da Opera, que foi
honrado pela presença de S. A. S. o Principe Eleitoral de Hesse, e tam-
bém pela do General Imperial Russiano, e Commandante-em-Chefe, o
Conde de St. Priest, e pela de todos os Generaes Imperiaes Russianos, e
Officiaes do Estado-maior, que se achavam nesta cidade. Toda a cidade
foi suberbamente illuminada,e o espectaculo da única verdadeira expressa?
daquelles delicados sentimentos nacionaes, que nenhuma sugestão estran-
geira pode produzir, senaõ procede de uma inteira satisfacçaõ de affei-
çoados e confidentes ânimos, faz este dia feliz, e ao mesmo tempo um dos
mais interessantes e memoráveis, que nunca se vio em a nossa cidade.
O Conde de St. Priest tinha entrado nesta cidade no dia 29 do corrente
á frente do 8 o . corpo, e para ella a presença certa da sua futura tran-
qüilidade. A chegada do Principe Hereditário de Suécia está annunciada
para ser no decurso de poucos dias. A sua vanguarda j a está em Cappel.
Sendo o valor do rublo Russiano fixado a 25 por cento, ns habitantes de
Westphalia devem receber este papel moeda pelo mesmo valor porque
corre na Prússia e na Saxonia.
O Monitor de 2T, contem o que se segue:—
Imperiosas circumstancias obrigaram S. M. a partir desta cidade.
Ainda que S. M. deixa os seus fieis vassalos pelo presente, confia, entre
tanto, que elles haõ de continuar a comportar-se com a mesma resignação
• tranqüilidade porque elles sempre se tem feito tam distinctos.
Os Ministros do Conselho de S. M.
(Assignados) Conde WOLFRADT, Ministro da Justiça.
Conde HONE.
Conde MARIENRODI.
MALCHUS, Ministro das Finanças, e (pro
tempore) Ministro dos Negócios do
Cassíl, 25 d'Outubro. Interior.

PORTUGAL.
Estado da Organização do Exercito em Campanha em o
I o . de Novembro, de 1813.
2* D I V I S Ã O , Tenente-general Sir Howland Hill.
5*. Brigada, brigadeiro Carlos A s h w o r t h . —
R e g i m e n t o d e Infanteria, N". 6.—Tenente-coronel Maxwel Grant.
R e g i m e n t o d e Infamteria, N». 18.—Major Mathias José de Sousa.
Batalhão de C a ç a d o r e s , N", 6, — T e n e n t e - c o r o n e l Pedro Fearon.
D I V I S Ã O P O R T U G U C Z A , a qual anda sempre annexa á 2*. Tenente-
çreneral Joaõ Hamilton.
2". B r i g a d a , B r i g a d e i r o J o a õ B u c h a n .
R e g i m e n t o d e Infanteri i, N». 2 , — T e n e n t e - c o r o n e l J o a õ Gomersall.
R e g i m e n t o d e Infanteria ,N." 1 4 , — M a j . J a c i n t o A l e x a n d r e Travassos.
922 Miscellanea.
4*. Brigada, Brigadeiro Archibaldo Campbell.
Regimento de Infanteria, N'°. 4,—Major Henrique Grove.
Regimento de Infanteria, N \ 10,—Coronel Luís Maria de Sousa Vahia.
Batalhão de Caçadores, N°. 10,—Capitão graduado em Major Fraa-
cisco Antonio Pamplona.
3'. DÍVISAÕ, Tenente-general Thomas Piclon.
8*. Brigada, Marechal de Campo Power.
Regimento de Infanteria, N°. i),—Corouel Carlos Sutton.
Regimento de Infanteria, N".2I,—Coronel Joaõ Telles de Menezes.
Batalhão do Caçadores, N°- II,—Tenente-coronel Durzback.
4*. DIVISÃO, Tenente-general Jorge Lawrey Cole.
9*. Brigada, Coronel José de Vascoucellos.
Regimento de Infanteria, N°. 11,—Tenente-cor. Alexandre Andrcson.
Itegimentodc Infanteria, N".22,—Tenente-coronel Diogo .Miller.
Batalhão de Caçadores, N°. 7,—Major Joaõ Scotl Lille.
5*. Di VISA õ, Tenente-general James Lcith.
3 \ Brigada, Coronel Luis do Rego Barreto.
Reo-iiuento de Infanteria, Nu. 3,—Coronel Miguel Mac Creagh.
Regimento de Infanteria, N°. 15,—Major Archibald Campbell.
BaUlhaõ de Caçadores, N". 8,—Capitão Joaquim Antônio Duarte.
6*. DIVISÃO, Tenente-general lV. H. Clinton.
7*. Brigada, Coronel Joaõ Douglas.
Regimento de lufanteria, N". 8,—Cap. Antonio Venccslaõ Santo Clara.
Regimento de Infanteria, N°.12,—Tenente-coronel Guilherme Bealy.
Batalhão de. Caçadores, N°. i),—Tenente-coronel Jorge Brown.
7* DIVISÃO, Marechal de Campo Carlos Frederico Lc Cor.
o*. Brigada, Coronel Joaõ Uoyle.
Regimento de Infanteria, N". 7,—Ten.-cor.FranciscoXavicrCalheiroí
Begimenlu de Infanteria, N". Il>,—Ten.-col Francisco José da Costa
do Amaral.
Batalhão de Caçadores, N°. 2.—Tenente-coronel (.'. II iíarhf-lkc,
Um» AO LIGEIRA, Major-gi-ueral Baraõ d ' Aliem.
R.*j>in\ei-tode Infanteria,N". 17,—Tenente-coronel Jo.ij Itolt.
Batalhão òc Caçadores, N". I,—Maj. Ant. Lobc. Teixeira de Barro».
Batalhão de Caçadores, N" 3,—Ten.-cor. Manoel Pinto da SiUeii a.
N. B. Estas 2 Brigadas uaõ estaõ anno ;a» a Divisão.
1* Brigada, Brigadcinr Wilson.
Regimento de Infanteria, N" I,— Major Guilherme 0*llara.
Urgimentodeliifaiiteria.No. 16,—Coronel Francisco Homem de
Magalãcs 1'izarro.
Batalhão de Caçadores, N«. 4,—Tenente-coronel E. H. Williams.
Miscellanea. 923
10». Brigada, Marechal de Campo Thomas Bradford.
Regimentode Infanteria, N°. 13,—Ten.-cor. Joaõ Carlos de Saldanha.
Regimento de Infanteria, N°. 24,—-Coronel Guilherme Mac Bean.
Batalhão de Caçadores, N». 5,—Tenente-coronel Thomas St. Clair.
Major-general II. Fane.
Regimento de Cavallaria, N". 4,—Coronel Joaõ Campbell.
Coronel Visconde de Barbacena.
Regimento de Cavallaria, N°. 1,—Tenente-coronel Henrique Watson.
Regimento de Cavallaria, N». 6,—Tenente-corenel Ricardo Diggens,
Regimento de Cavallaria, N". 11,—Tenente-coronel Martinho Corre»
de Moraes e Castro.
Regimento de Cavallaria,N«. 12,—Tenente-cor. Antonio Carlos Carri.
Andaó~ annexas á Divisão" Portugueza.
Commaiiilanle-gera! o Tenente-coronel de Regimento de Artilhe-
ria, N». 3, Alexandre Tulloh.
Brigada de Artilheria de Calibre Commandada pelo Capitão do Regi-
9, guarnecida pelo Regi- incuto de Artilheria, N°. 3 .
mento, N°. 2 — Carlos Michell.
Brigada de Artilheria de Calibre Commandada pelaCapitaõgraduado
6, guarnecida pelo Regi- emMajordo mesmo Regimento
mento, N°. 1 — de Artilheria N°. 3, Joaõ da
Cunha Preto.
Brigada de Artilheria de Cali- Commandada pelo Capitão gradua-
bre 9, guarnecida pelo Re- do em Majordo mesmo Reg. de
gimento, N*>- 1, — Artilheria N°.3,Sebastião José
de Arriaga
N. B. Ha uma Brigada de Artilheria do Regimento N°- 1, com-
mandada pelo Capitão do mesmo Regimento Pedro Rozierres, a
qual naõ tem bocas de fogo.
MANOEL DE BRITO MOZINHO, Ajudante general.
Quartel-general de Errazu, 1°. de Novembro, de 1813.

DECRETO.
Tendo consideração á capacidade, e prestirao de Antônio Moreira
Dias : Hey por por bem fazer-lhe mercê do emprego de Adminis-
trador do Terreiro Publico da cidade de Lisboa, ficando sem effeito
a que teve Francisco Monteiro Pinto, por Decreto de 24 de Julho,
de 1811, que por justos motivos, que me fôram presenteo sou ser-
vido revogar. O Conde de Peniche Inspector Geral do Terreiro
Publico o tenha assim entendido, e o faça executar. Palácio do Rio-
de-Janeiro, em 29 de Julho, 1813.
924: Miscellanea.
Reflexoens sobre as novidades deste mez.
BRAZIL.
No Rio-de-Janeiro se imprime um Jornal, cujo titulo h e " O Patriota;"
c com o do mez de Ajosto vieram ter-nos á maõ algumas traducçoens im-
pressas no Brazil; e t n rc outras a Hrnriadade Voltaire.
Ha dez annos, estando a Corte era Lisboa, que ninguém se atreveria a
dar a um Jornal o nome de Patriota; e a Henriada de Voltaire entrava no
numero dos livros que se naõ podtam lt-r sem correr o risco de passar por
atheo, pelo menos por Jacobino. E temos agora que em taõ curto espaço
j a se assenta, que o povo do Brazil pode lêr a Henriada de Voltaire • e
pode ter um jornal com o titulo de Patriota, termo que estava proscripto,
como um dos que tinham o cunho revolucionário. Por mais insignificante
que pareça a circumstaucia de se deixar correr um jornal com o nome de
Patriota, ou permittir-se uma traducçaõ da Henriada; nos julgamos isto
matéria de importância; porque he seguro indicio, de que o terror inspirado
pela revolução Franceza, que fazia desattender a toda a prnpnsiçaS de
reformas, principia a ."-bater-se, é ja se naõ olha para as ideas de melhora-
mento das instituiçoens publicas, como tendentes á anarchia, em vez de
servirem á firmeza do Goveruo.
Rarisssmas vezes as grandes mudanças nacionaes saõ o resultado de con-
spiraçoens; procedem ellas sempre de causas profundas, e extensas, na cs-
truetura e estado da Sociedade ; donde resulta a necessária rombinnçaõ
de indivíduos, que parecem ser os authores, quando na realidade naõ saõ
senaõ ns instrumentos da revolução, que sahe á luz em virtude das circum-
stancias.
Nestes termos quanto mais se expuzerem os males do Estado, mais facil-
mente se lhe providenciará o remédio, e mais directamente se deslroem os
causas originaes das grandes commoçoens publicas.
Por uma perversão insensata, durante a revolução Franceza, se attri-
buio á palavra Patriota, o mesmo sentido de Revolucioui»|a,ou monarcho-
maco. e com este phantasma se punham os povos em opposiçaõ com os
governos, fazendo os Gorioyannos entaõ os seus interesses nas águas en-
voltas. A palavra Patriota significa, o bom cidadão, o amante de sua
pátria; e por conseqüência o defensor do Governo, e das instituiçoens do
paiz. Vemos pois cora muito prazer, neste annuncio do Rio-de-Janeiro,
que esta honrada denominação, começa a surgir do opprobio em que se
achava.
O exemplo da Henriada, te pôde extender a muitos outros livros, que
naõ prohibidos, pelo temor de que produzam opinioens erradas, no povo.
A nossa opinião be, que a revolução Franceza produzio os escriptos que
em muitos paizes da Europa, principalmente em Portugal, tem sido prohi-
dos ; como te fossem causadores da revolução; nós dizemos que esta foi
que.m produzia taes escriptos, e naõ 03 escriptos a revolução. Nenhuns
Miscellanea. 925
escriptos se publicaram em Portugal, que fossem o ' precursoresou motores
da revolução de 1649: muitos appareceram depois: as causas daquella re-
volução fôram as oppressoens e máo governo dos Felipes, que occasioná-
ram a combinação de circumstancias, que serviram de estimulo aos con-
jurados, e a p o z elles a todo o povo de Portugal. Os escriptos illuminam
tanto o povo como o governo. Se expõem abusos, que na realidade exis-
tem; o governo naõ tem mais que remediallos para alcançar a approvaçaõ
e a confiança da naçaõ. Se os abusos naõ existem, como em taes escriptos
se pôde dizer o que naõ he verdade, facilmente se responde a elles, e o
povo em geral naõ acreditará o que he falso, quando se lhe apresenta em
comparação com o que he verdadeiro.

ESTADOS UNIDOS.
O committé do Congresso, a quem se referio a parte da mensagem do
Presidente, relativa a guerra, apresentou uma volumosa collecçaõ de do-
cumentos, para justificar as queixas, que tem contra a Inglaterra. Estes
documentos fôram divididos nas seguintes classes. I. Mao tractamento dos
prisioneiros Americanos. 2. Detenção dos marinheiros Americanos, como
vassallos Britannicos, debaixo do pretexto deterem nascido em território
Britannico, ou de naturalização. 3. Detenção dos marinheiros como prisio-
neiros, por se acharem em Inglaterra quando se declarou a guerra. 4. Ser-
viço forçado dos marinheiros Americanos, prezos para bordo dos navios
de guerra Inglezes. 5. Violação das bandeiras parlamentarias e de tre-
goa. 6. Resgate dos prisioneiros Americanos, que recebem os selvagens,
que estaõ ao serviço de Inglaterra. 7. Roubo, e destruição da proprie-
dade particular na bahia de Chesapeake e paiz vizinho, 8. Matança dos
prisioneiros Americanos (que se renderam aos officiaes da Gram Bretanha)
practicada pelos selvagens empregados no serviço Inglez : abandonando
aos selvagens os cadáveres dos prisioneiros Americanos mortos pelos In-
glezes, &c. 9. Crueldades commettidas em Hampton na Virgínia.
Por occasiaõ deste relatório se repettem' os argumentos contra os proce-
dimentos de Inglaterra, que se acham públicos, em vários documentos.
Este negocio da America parece interminável: porque os Americanos naô
cessam de representar ao mundo o que dizem ser o seu direito ; enaõ apre-
sentam forças nem de mar nem de terra, com que obriguem a Inglaterra a
ceder, do que os Inglezes chamam justo, e os Americanos injusto. No
Canada tiveram os Inglezes ultimamente algumas victorias, mas em sue-
cessos mui insignificantes ; porque nenhuma das Potências tem forças assaz
consideráveis, para decidir a contenda.

HESPANHA.
As Cortes Ordinárias de Hespanha foram inauguradas aos 25 de Septem-
bro- O Senhor Ledesma, da Estremadura foi escolhido Presidente: Ge-
VOL. X I . No. 67. 6c
92ü Miscellanea.
mez Herrera, de Caba, Vice Presidente: Feliu, do Pern, 1«. Secretario .-
Z.imalacarregui, de Guipuscoa, i*. Secretario : Acosta, de Cuba, S*. Se-
cretario : e Dias, de Granada, 4 a . Secretario. As Cortes encerraram a
sua sessaõ na Islã de Leon aos 29 de Novembro; e deverão ajnnctar-se em
Madrid no 1'. de Janeiro, 1814.
A Regência deveria começar a sua jornada para Madrid, pelo meado dr
Dezembro.

FRANÇA.
A falia de Napoleaõ ao corpo Legislativo no dia 19 de Dezembro, que
publicamosap.—expâema presente situação da França com maior clareza
do que podia esperar-se. Confessa Bonaparte as derrotas, que tem soffri-
do, o desamparo dos Aluados ; a actual invasão do território Francez; a
falta de dinheiro; e a precisão de um exercito numeroso.
Parece-nos, que ha um meio seguro de avaliar as perdas dos Francezes,
pela calculo que resulta dos seos recrutamentos. Em Septembro de 1812,
se determinou uma conscripçaõ de 137.000 homens (veja-se o Côrr. Braz.
Vol. IX. p. 580.) Em 11 de Janeiro de 1813; se decretou a leva de 350.000
homens; (Corr. Braz. vol. X. p. 64.) Era Agosto de 1813 ; se de terminou
outra leva de 30.000 homens; (Corr. Braz. vol. XI. p. 361) e agora, se
determina a leva de 350.000 homens, fazendo isto um total, no espaço de 14
mezes, de 867.000 homens; alem dos chamados voluntários, e gene d'ar-
merie.
Enorme como esta multidão de gente parece, ainda assim naõ he a perca
dos soldados somente quem produz as difficuldades, em que se acha o Go-
verno Francez. Os fardamentos, muniçoens, equipaget, carros, cavallos,
A c 4c. &c, que he necessário para por cm campanha 867.000 homens hc
matéria de grande momento.
Bonaparte falia da paz, e dá a entender co-n a maior ambigüidade pos-
sível, que tem ajustado, ou concordado em preliminares de paz. Ao de-
pois consideraremos este ponto, quando tractarmo» dos alliados; por agora
notaremos, qae as expressoens de Napoleaõ saõ taõ vagas, qne se naõ po-
dem entender em outro sentido senaõ o de entreter os Franceses, em
quanto estes lhe daõ a gente, e o dinheiro, qae lbe saõ necessários: antes
da batalha de Leipsic se fizeram proposiçoens a Bonaparte, que elle nnõ
quiz aceitar; naõ he natural, que os Alliados depois de batalha de Leipsic,
e acontecimentos subsequentes, mitigassem as suas pretensoens.
Bonaparte se mostrou sempre iuimigo da divida publica, e svitema de
empréstimos para occurrer as despesos do Estado; e o mais forte argu-
mento de snas predicçoens sobre a ruina de Inglaterra, he a divida publi-
ca Ingleza. No entanto este mesmo Napoleaõ recorre agora a emprésti-
mos, e se contenta com fallar mal do papel moeda.
A França tem perdido debaixo do governo de Bonaparte, colônias que
tinha formado durante seus antigos reys ; e conquistas, que tinha adquirido
Miscellanea. 927
no tempo mesmo de sua anarchia Republicana. A marinha está destrnida ;
o commercio externo limitado ao ramo das piratcrias de corsários ; a p o -
pulação diminuída, e os recursos públicos enfraquecidos com as repettidas
perdas de homens, de dinheiro, de cavalllos, de artilheria, e de tudo o qne
na fraze Franceza se chama o material do exercito. Bonaparte em sua
falia ao corpo Legislativo exige mais sacrifícios. * Para que fim saõ estes
sacrifícios dos Francezes ? Para sustentar no throno da França uma dy-
nastia nova, e satisfazer a ambição de um individuo, que, tendo sido no-
meado cônsul, assumio o titulo, e o poder de Imperador, e de déspota.
Bonaparte conservou os Francezes em total ignorância de seus desas-
tres, até que os Alliados vieram dentro da França contar os suecessos de
suas victorias. Bonaparte continua a chamar-se Protector da Confedera-
ção do Rheno: confederação que j a naõ e x i s t e ; igualmente se intitula
Mediador da Confederação Suissa, quando esta sedeclara neutral; que he
o mesmo que sacudir as ligaçoens que tem com o Mediador.
Deste esboço do estado interno da França he impossível naõ concluir,
que o poder de Bonaparte está taõ abalado, que se os Alliados forem fieis
a seus interesses he impossível que as couzas continuem em França como
se acham agora.

ALLIANÇA CONTRA A FRANÇA.

Aassersaõ de Bonaparte no corpo Legislativo,de quese tinhacingidoaos


preliminares de paz, que lhe propuzéram os Alliados: a nomeação de
Lord Castlereigh, Secretario de Estado dos Negócios Estrangeiros em In-
glaterra, para ir ter ao Continente: e finalmente os rumores que correm
de que actualmente se tracta em Frankfort do arranjamento de uma paz
geral ; daõ occasiaõ a examinar-mos a situação relativa dos Alliados para
com os Francezes ; j a pelo que respeita á guerra; j a pelo que pertence á
paz.
No principio deste anno, se achava Napoleaõ em Paris, como se acha
agora fallando ao seu Senado ; depois de ter sido derrotado em Russia, e
perdido a aliiança de Prússia. Em Fevereiro nomeou a Regência, e vol-
tou em 15 de Abril para o exercito; estabelecendo o seu quartel-general
em Dresden, e a linha principal de defensa ao longo do Elbe. Ainda a
este tempo conservavam os Francezes importantes praças, e largo terreno
da parte direita do Elbe, e na linha do Oder. Desde entaõ, os exércitos
Francezes pelejaram sempre em retirada; principalmente desde que o
Principe da Coroa, começou a marchar com seu exercito para cooperar
effectivamente com os Alliados; e datou o seu Bulletim I, de Oranienburg
aos 13 de Agosto.
O exercito Francez perdeo a batalha de Luoeburgo, em Março ; e em
Mayo tinham evacuado Berlin; e em Junho ao mesmo tempo que se man-
6c 2
928 Miscellanea.
daram cantar Te Deums em França, os Francezes tinham sido derrotados
em Lukau, pelo General Bulow.
A' proporção, que os tropas alliadas se adiantavam,os Francezas se con-
centravam para juncto do seu gram quartel-general em Dresden, e naõ
tendo produzido efièito as negociaçoens que se começaram rm Praga, se
rompeo, por intimaçaõ feita aos 8 de Agosto o Armistício que tinha
começado em 4 de Junbo. Aos 11 se declarou a Áustria contra a
França; e desde entaõ se conheceo que a intenção dos Alliados éra ro-
dear os Francezes em Dresden. Esta cidade resistio uo primeiro ataque;
e depois houveram muitas acçoens em torno deste lugar, ja nos desfila-
deiros que dividem a Saxonia da Bohemia, ja ua Silezia rm frrnte
de Dresden, ja na esquerda da linha Franceza, no Elbe, que foi rodeada
pelo Principe da Coroa, o qn.nl se dirigio a Leipsic por rste lado ; rm
quanto os Austríacos, Russianos. e Prussianos marcharam ao mesmo ponto
pela direita do inimigo, e lhe cortaram a communicaçaõ com a França.
Temos naõ menos authoridade do que a do Principe da Coroa de Suécia,
para aceusar a Bonaparte nesta occasiaõ de falta de gener.-il.-ito ; porque
tanto se demorou em Dresden, que se atrazou quatro marchas do sru ini-
migo; deixou-se cercar pela retaguarda, equaodo quiz romper alinha, para
abrir caminho á sua retirada, achou-se com um poderoso exercito contra,
aquém cedeo o terreno perdendo com a cidade de Leipsic, uma das mais
importantes batalhas que se tem pelejado durante rstrs 20 annos dr guerra.
Desde esse momento, em que se pôde dizer que Bonaparte so salvou do
exercito a sua pessoa, uaõ houve mais do que uma precipitada fugida da
parte dos Franccze-; ruma marcha naõ interrompida da parte dos Allia-
dos, quechegárain ate Frankfort, passando o theatro da guerra do Odrr e
Elbr, aonde se achava no principio do anno, para os margens do Rheno,
e até mandado partidos para dentro dos limites da França antiga.
A estes recessos se deve ajunctar a revolução da Hollanda, que haven-
do rxpulsado os Francezes dr suas principaes cidades, nos Paizes
Baixos, será a França obrigada a pôr em estado de defeza as praças fortes
do Brabante.
Nu Península tem os suecessos sido igualmente favoráveis aos Alliados,
po-to qur ns operaçoens sejam rm ponto mais pequeno.
No principio deste atino se achava o quartel-general de Lord Wellington
em Frcineda, donde se mudou aos 22 de Mayo, rm srguimento dos Kran-
crzes, que *e retiraram pelas estradas que vaõ ter a Madrid, e dali i
França. A marcha foi taõ rápida, que os Alliados atlravek-áram toda a
Hespanha em quatro mezes, passando o Bidnssna, e entrando rm França
aos 7 d'Outiihio; e achando-se hoje cercando Bayonna, e de posse de
S. Jran dr t nz, nor.de e-,ta o quartel-general de Lord Wellington. Esta
avanç :da dos Alliados e retirada dos Franc-zes, naõ se fez sem renhidas
contend-.s, e batalhas importantes ; entre outras foi a de Vittoria, aos 19
de Junho; nn que os Francezes commandados por Jozé Bonaparte,e pelo
Marechal Jourdan, foram completamente derrotados.
Quanto á paz, ou negociaçoens para uma pacificação geral; a que Bo-
naparte allude em sua falia ao Senado; julgamos que este acontecimento
está ainda mui distante. A p. 494 deste volume, achará o Leytor as pro-
Miscellanea. 929
posiçoens de Áustria, para a paz, ao tempo do Armistício e negociaçoens
de Praga; assim como o contra-projecto dos Francezes. Algumas das
cousas, que entaõ pedio a Áustria, estaõ ja conseguidas, sem que fosse ne-
cessário a concurrencia da vontade de Napoleaõ ; tal he a dissolução da
Confederação do Rheno, porém Bonaparte ainda naõ tem convido eui
termos, que satisfizessem aos principaes Alliados.
Nos temos razaõ para crer, que Bonaparte depois da derrota de Leip-
sic, e do levantamento de Hollanda, conveio em consentir na independên-
cia da Hespanha, da Hollanda, e da Alemanha: isto he, concorda em dar
aquillo de que os Alliados j á estaõ de posse, e recusa largar cousa alguma,
que tenha ainda a probabilidade de poder defender. A este respeito he
importante observar; que a única Potência d'entre os Alliados, de cuja
sinceridade se poderia duvidar, pelas suas ligaçoens de familia com Bo-
naparte; he felizmente aquella, que tem mais interesse em obrigar o Go-
verno Francez „. largar, ao menos parte de suas possessoens alem dos
Alpes; e sobre isto se fizeram j a proposiçoens distinetas á França, ao
que Bonaparte respondeo com outro contra-projecto, oferecendo renunciar
a Coroa de Itália em Beauharnois, d a r á Astria o território de Veneza,
Napoies a Murat, os Estados Ecclesiasticos ao Papa, e conservar para si a
Toscana, Gênova, Parma, Placencia, Piemont, Savoia, e o Vaiais. Daqui
se vé a impossibilidade de concluir o arranjamento das bazes da pacifica-
ção ; porque os Alliados naõ podem nunca consentir de bom grado, em
que Bonaparte fique de posse de paizes, que lhe daõ a entrada livre em
toda a Itália, e portanto, qne s o n o nome deixa de ficar debaixo de sua
influencia.
A declaração dos Alliados, publicada em Frankfort no 1°. de Dezem-
bro, naõ somente estabelece que os Alliados fazem a guerra sem motivos
de ambição, e unicamente para obterem uma paz, que lhes afiance a posse
paeilica de seus Estados ; mas também declara, que os Alliados consenti-
rão em conceder á França maior extensão de território do que j a mais
gozou aquella naçaõ, durante o governo de seus antigos reys.
O mundo politico se tem dividido em opinioens differentes, a respeito
do merecimento daquella Daclaraçaõ dos Alliados: uns julgam esta pro-
ducçaõ taõ contraria aos interesses dos Alliados; ijue a naõ suppoem se-
quer um papel authentico : outros julgam, que a Declaração naõ foi ("ri ia
com a concurrencia de todos os Alliados, e especificamente que fui contra
a vontade do Principe da Coroa de Suécia ; e que a influencia, e vista da
Áustria tiveram a principal parte naquella medida; outros em fim assentam,
que a Declaração he cheia da moderação que convém, conforme ás vistas
dos Alliados; e mui adaptada a seus interessei.
Quanto á sua authenticidade, he indubitavel, vista a explicação que os
Ministros Inglezes deram ao Parlamento. Mas pelo que respeita á con-
currencia de todas as Potências Alliadas, parece que, pelo menos a Ingla-
terra naõ consintio nisso ; porque a resposta que os Ministros Inglezes
deram as perguntas que sobre esta matéria lhe íisséram alguns membros do
Parlamento, consisti o meramente nisto ; " que o-< Alliados fizeram aquella
declaração, plenamente informados das vistas do Governo Britannico."
Aqui pois se naõ diz, que houvera o conseutimento, nem a concurrencia
930 Miscellanea.
da Inglaterra; e porque os Ministros recusaram dar explicaçoens ma".»
claras, se concluio geralmente, que naõ linha havido tal concurrencia da
parte de Inglaterra.
Considerando agora o merecimento da Declaração ; on até que ponto
convém com os interesses da Europa; naõ ha duvida, que todo aquelte
papel he concebido em termos de moderação, que muito convcm aos prin-
cípios, qoe os Alliados protestam terem adoptado, para sua guia, nesta
guerra contra a França; r pacificação a que se propõem ; e por mais qne
se possa dizer contra o character de Bonaparte, todos os homens moderados
saõ de accordo, que os Potências Alliadas naõ tem direito de prescrever
á França a forma de Governo, que deverá ter, nem a pessoa, que .*» deve
governar. Se os Francezes querem antes ser governados por um motulro,
qtre tem introitizido naquelle paiz o mais ilimitado despotismo militar,
regeitando a familia dos Bourbons, que he a linha de seus legitimos Sobera-
nos ; as Naçoens estrangeiras poderão lamentar a cegueira dos Fraucezcs.
mas seguramente naõ tem direito de lhe dictar a ley a este respeito. Ate
arroi os termos geraes da Declaração dos Alliados, merecem o nome de
moderação; porém quando se diz, qoe os Alliados, concederão á França
n a b território do qne ella possuia em tempo de seus reys, convém consi-
derar, ale que ponto similhante concessão vai de accordo com os interesses
dos outros Estados da Europa, e com as se*ruraliçns de paz inalterável; e
tranqüilidade interna e externa; que as Potências Alliados se propõem
alcançar por meio desta guerra.
Para bem entendermos esta queslaÕ consideraremos os territórios Fran-
cezes, como, e quando foram adquiridos.
No tempo de Luiz XIV. e pelo tractado de Westphalia adquirio a
França a Alsacia; no tractado de Aix-la-Chapelle ficou cornos Paizes
Baixos Francezes, ou Flandres; pelo tractado de Nimej-iien se lhe cedíram
varias fortalezas dus Paixes Baixos Austríacos, o Frauche Conte, Stras-
bnrgo, r outras cidades.
A acquisiçaõ dos mais territórios, que a França (em feilo depois da sua
revolução, naõ entram, segundo parece, no sentido daquella Declaração
dos Alliados: e com elTeito nem as cessoens da Áustria, no tractado de
Campo Formio em 179T; nem os limites do tractado de Luneville, com Áus-
tria e ftu .ia; «em o tractado de AHiiens, em 1808 ; e muito menos a» ac-
qirisiçoen? feitas posteriormente aquelle tractado, depois da declaração
da guerra actual com a Inglaterra, saõ por forma alguma compatíveis cout
nma paz, que assegure a tranqüilidade da Europa.
Portanto considerando este manifesto dos Alliados relativamente aos
antigo-, limites da França, he para o tractado de Utrecht que devem»*»
olhar ; e parece, que as expressoens da Declaração datada de Frankfurt,
ainda permittem aos Francezes esperar mais do que elles tiveram confir-
mado em Utrecht.
No entanto aquelle tractado foi considerado taõ pernicioso á Inj-laterra,
que o Negociador Inglez (Lord Bolinghrooke) foi accusado e processado
no Parlamento por esse facto. O mesmo Bolingbroke, um do-, melhores
politicos desru tempo naô* negou as más conseqüências daquelle tractado,
que desarranjava o equilíbrio da Europa, dando á França mais poder d»
Miscellanea. 931
que convinha ; e limitou a defensa de suas medidas, a expor a impos-ú Viii-
dade de vencer os obstáculos, que oppunham as mesmas naçoens, que eram
interessadas em acautelar o demasiado crescimento da França.
A queixa principal contra as estipulaçoens daquelle tractado, pelo que
respeita a França, funda-se na aquisição de fortalezas, e de territórios,
que deixando a França etn plena segurança, lhe abriam as fronteiras da
Alemanha. Presentemente falla-se do Rheno, como dos limites naturaes
da França; mas este rio naõ forma uma barreira assas forte de per si, ua
margem direita naõ tem a Alemanha sufficiente numero de cidades forti-
cadas, que obstera effieazmente a iovazaõ dos Francezes; e na margem
esquerda possue a França actualmente tres linhas de cidades fortificadas.
Naõ he de menos importância, a consideração dos limites da França da
parte da Hollanda; principalmente havendo o Principe de Orange assu-
mido o titulo de Soberano dos Paizes Baixos. Naõ está ainda explicado
os direitos ou pretensoens que este titulo comprehende; mas s e o s Alliados
consentiram na creaçaõ daquella denominação e dignidade, saõ obrigados
3. cuidar no estabelicimento das fronteiras da França por esta parte; tanto
mais, que as inumeráveis fortalezas, que os Francezes possuem tios Paizes
Baixos, os fazem temíveis como vizinhos.
Quanto ás possessoens Francezas na Itália, somente a pura necessidade
obrigará os Alliados a deixallas aos Francezes. As colônias da França,
«juc a Inglaterra possue, poderão ser restituidas, ao menos em j-irte, sem
Inconveniente considerável: mas aqui vem outra vez a consideração da
compensação que se ha de offerecer á Inglaterra por estas colônias que
restituir, ou pelas despezas, e prejuizos que tem incorrido na guerra; qua
se ns Alliados concordam em que tenha sido injusta da parte da França,
lie necessário que esta se obrigue a reçarcir os damnos que tem causado.

INGLATERRA.
O Parlamento adiou as suas sessoens até Março, próximo futuro: medi-
da que causou algum debate; porque alguns membros queriam, que a ses-
saõ ou continuasse por mais tempo, ou tornasse a começar antes daquella
epocha.
Em conseqüência da independência da Hollanda, o Governo Britannico
levantou o bloqurio daquelle paiz, e permittio o commercio entre as duas
Naçoens; a notificação, que se fez aos Ministros Estrangeiros residentes
em Londres sobre este assumpto, apparecêo na Gazeta da Corte de 11 de
Dezembro.
Por nma igual communiçaõ official, se declarou, na mesma data, que as
costas do mar Adriático, entre Trieste, e a extremidade Meredional da
Dalmacia, estavam livres da dominação Franceza; e por tanto se tinha
levantado o bloqueio que faziam ali as forças navaes Brilannicas.

A novidade mais importante da Inglaterra, he a partida de Lord Castle-


reagh, Secretario de Estado dos Negócios Estrangeiros, para o continente.
Aquelle ministro sahio de Londres aos 27 do corrente, e pela circumstan-
cia de levar com sigo sua mulher e familia, se julga que terá demora a sua
932 Miscellanea.
missaõ. Os fins desta viagem, saõ por hora secretos; mas he fácil deeon-
jecturar, que elle se destina a ser o Negociador pela parte de Inglaterra
no Congresso das Potências Belligerantes, que segundo as noticias (ractam
de fazer a paz.
Esta medida he de absoluta necessidade da parte do Governo Inglez, quer
a paz seja, quer naõ, provável. Segundo a falia do Orador do Governo
em Paris, os Alliados recusaram fazer um armistiico, durante as negocia-
çoens; donde se segue que os suecessos da guerra faraõ variar todos dias
o estado das negociaçoens, segundo os respectivos exércitos forem mais ou
menos bem suecedidos, e derem mais ou menos coragem a seus Negociadores ;
daqui sem duvida procedeo, o adoptar o Governo Inglez o expediente de
mandar ao Congresso um dos membros do Gabinete, que estando plena-
mente informado das vistas de seus collrgas, e munido de poderes mais am-
plos do que talvez conviria dar a outro Embaixador, que na5 estivesse na
mesmos circumstancias, pôde seguir com menos embaraços a marcha dos
acontecimentos, sem esperar respostas de sua Corte.

EXERCITO ALLIADO OA PENÍNSULA.


Depois de termos este N°. na imprensa, chegaram a Londres os officios
de Lord Wellington, que dissiparam as duvidas sobre a natureza da vic-
toria, que os armas Alliadas tinham alcançado. NaÕ tendo tempo para
copiar os officios por extenso; no> contentamos com transcrever aqui o
Bulletim official, em que se recapitulam os acontecimentos ; deixando
para o N*. futuro a integra dos officios.
" Londres. Secretariada Guerra 29 Dezembro. Chegou o Major Hill,
com officios do Marquez de Wellington, datados de S. Jean de Luz, 14 de
Dezembro.
" Depois que o inimigo foi expulsado do Nivelle, orcupou um campo
entrincheirado mui forte connexo com a fortaleza de Bayonna. A divi-
são do General Paris, em S. Jean Pied de Port, e havia corpos fortes em
Ville Eranche, e Mouguere, entre o Nive e o Adour.
" Aos 9 do corrente Lord Wellington ordenou, que a ala direita, com-
mandada por Sir Rowland Hill, cruzasse o Nive em Cambo; e a 6*. divi-
são passou o mesmo rio, am Ustaritz, a fim de favorecer a primciia ope-
ração.
'* Ambos estes movimentos tiveram o mais completo bom successo.
Parle da 6". divisão se distinguio, repulsando o inimigo das alturas juncto
a Ville Franche.
" No mesmo dia, a ala esquerda, commandada por Sir Joaõ Hope, rr-
conheceo a direita do campo entrincheirado do Inimiga, e a divisão ligeira
rrcoiiheceo ao mesmo tempo a frente que faz face a Bassussarly :' foram
repulsados oi postos do inimigo; e os nossos voltaram para os tuas respec-
tivas posiçoens pela noite.
" Na manhaã de 10, todo o exercito do inimigo se moveo para fora do
seu campo, e atacou com grande a fúria ala esquerda commandoda p»r Sir
Joaõ Hope, e a divisão ligeira, sob o General Carlos Alten i mas ambos
estes ataques fôram repulsados, no mais galhardo estylo, e Sir Joaõ Hope
Miscellanea. 933
tomou cousa de 500 prisioneiros. O ímpeto da acçaõ cahio sobre a bri-
gada Portugueza do General Campbell, duas brigadas da 5'. divisão, sob
o coronel Robinson e coronel Greville ; e sobre o reg. 52 de infanteria
ligeira. Todas as tropas se distinguiram e esta tentativa do Marechal
Soult. para obrigar Lord Wellington a retirar toda a sua ala direita, lan-
çando toda a força Franceza sobre a sua esquerda, ficou inteiramente
frustrada.
" Depois da acçaõ deste dia, passaram-se para nós do inimgo os regi-
mentos de Nas-.au e Frankfort.
" Os Francezes naõ repeítiram as suas tentativas contra a divisão 1-gei-
ra; mas atacaram duas vezes os postos da ala esquerda (ainda que mais
fracamente) no decurso dos dous dias seguintes. O inimigo foi completa-
mente repulsado, em todas as occasioens, e as guardas de infanteria se dis-
tinguiram no ultimoataque.
O inimigo entaõ retirou quasi todas as suas forças da direita, e na
manhaã de 13 começou um ataque desesperado contra Sir R. Hill, que se
tinha postado entre o Adoureo Nive.
Lord Wellington, prevendo esta tentativa, tinha ordenado, que as di-
visoens 4*. e 6*.; e parte da 3*. reforrçassem Sir R. Hill ; porém o tenente
general obteve derrotar o inimigo, com immensa perca, antes que estos
tropas se lhe pudessem unir.
" As brigadas do major-general Barnes (Britannica) e a do Brigadeiro-
general Ashworth (Portugueza) soffYéram a parte mais árdua do conflicto
e se comportaram admiravelmente.
" O inimigo, derrotado em todos os pontos, se retirou entaõ para os seus
entrincheiramentos.
" Lord Wellington falia nos termos mais elevados do comportamento do
Tenente-general Sir Joaõ Hope, e Sir R. Hill, nas differentes acçoens.
O tenente-general Sir W. Stewart, e Major-general Howard, Barnes,
Pringle, Robinson, e Byng taõ bem se mencionam com louvor.
" Os Major-generaes Barnes, Robinson, e Ashworth, acham-se entre os
feridos.
" O numero total dos Inglezes e Portuguezes soldados e cabos, mortos
nestas differentes acçoens he de 572; ns feridos saõ 3.400."

PORTUGAL.
A p. 831, publicamos uma provisão do Dezembargo do Paço do
Rio-de-Janeiro, na qual se manda reprehender a Câmara da cidade
de Ponta Delgada na Ilha de S. Miguel, pelos procedimentos que teve
com o Vereador mais velho, que servia o lugar que se chama Juiz
pela Ordenação.
Naõ temos nenhuma informação do facto, mais do que o indica-
do na provisão ; e portauto nem podemos, nem desejamos entrar na
justiça do caso. 0 nosso fim he notar as expressoens da provisão ;
que se fazem dignas de louvor, pelos principios, que admittem. A
mesma provisão naõ entra nas particularidades do facto, e se limita
VOL. X I . No. 67. G o
934 Miscellanea.
a dizer, que " se havia excessos c abusos a emendar, havia tambein
contra elles os remédios das leys, e recursos competentes ;" e declara
m lis a provisão que " o que se practicou sem authoridade e jurisdic-
dicçaõ, hc uma usurpaçaõ formal dos supremos direitos Ua Sobe-
rania."
Alegramo-nos de ver reconhecidos, cm um instrumento publico
desla natureza, os principios que temos adoptado, sobre as matérias
de governo; pelos quaes lemos combatido; c que nunca deixaremos
de inculcar; em quanto continuarmos na redacçaõ deste Jornal.
As leys snõ feitas para proteger o fraco contra o poderoso ; o
ouço intendido contra o mais astuto ; e portanto os attentados con-
tra os directos dos indivíduos saõ tanto mais abomináveis, quanto
vem em nome das authoridades constituídas, e em violação das
leys. Se o Juiz pela Ordenação cm Ponta Delgada commetteo er-
ros, appliqueiu-se a elles os remédios das leys, por mais que elle me-
recesse castigas, esses castigos se tornam injustos sendo impostos
•cm as formalidades das leys, e por pessoas que naõ tem authoridade
para o fazer.
Quando os infelizes deportado» pela Septembrizaida de Lisboa, e
que residem em P. Miguel, lessem esta provisão 4- que diriam dos Se-
nhores Reverendissimo.1» Governadores do Reyno, que os degradaram
sem mais ley que a sua vontade, sem ínai» processo nem formalidade,
do que a ordem arbitraria de prizJÕ c extermínio.
Naõ podemos admittir, que nem ainda o mesmo Soberano tenha
direito de obrar despoticamente, e sem as formalidades, senaõ em
casos rarksimos, e extremos ; ma* ja que assim querem, em nome da.
fortuna, ou para melhor dizer da desgraça, diga-se que o Hey tem o
direito de assim obrar; ae.coiiiinodar-nos-heinos com isso; porque
um fim diz o rifaõ, que be necessário que haja um rey que no» enfor-
que. Alem disto, se o rey tem paixoens essas poderão ser nocivas só
a um ou outro indivíduo; e quando aconteça algum caso dessesdeve
ter-se paciência; e considerar o bem geral; antes do que o mal da
um individuo. Mas naõ estamos dispostos a extender a mesma in-
dulgência, a quanto homem máo se achar revestido com alguma ju-
risdicçaõ, seja muita, seja pouca, em nome do Monarcha. Naõ te-
mos duvida cm recommendar, qne os homens se sugeitam ás arbitra-
riedades de um rey» fazendo este sacrifício i o bem commum • mas
dizer que todos os que possuem alguma jurisdicçaõ podem fazer o
que quizerem ; porque obram em nome d'El Rey, be um absurdo
que naõ deve entrar na cabeça de ninguém.
0 modo porque esta provisão esta bole o principio, que nós tonU
vezes temos inculcado, he quasi nas mesmas palavras, que em algu-
mas oceasioens temos usado» isto hc, " que o que se practica sem
anlhoridade e jurisdicçaõ, hc uoea usurpaçaõ formal dos supremo*
Miscellanea. 935
direitos da Soberania." Donde se segue, que os empregados pú-
blicos, que obram contra as leys, longe de lhes servir de abrigo o
nome do Soberano, com cuja authoridade se cobrem, segundo que-
rem os Godoyauos ; saõ réos de outro crime mais, alem da violência
quecauzam ao indivíduo particular; e hc, a usurpaçaõ dos direitos
Soberanos.
Quando pois a caterva de escriptores, alugados pelos Godoyanos,
se lembrar de nos chamar jacobinos, desorganizadores, doidos, &c.
por avançarmos estes e similhantes principios, será bom olhar para
usta provisão, aonde vemos «anecionadocom um documento publico
desta natureza, o principio que inculcamos contra os Godoyanos.
Nem basta dizer-se, que os Governadores de Portugal nao fôram
castigados pela atrocidode das deportaçoens da Septembrizaida ; e
que assim parece que aquelle crime foi saríceionado pela auctoridade
suprema.
A isso repondcinos, que nem todos os que o merecem vaõ á forca:
uns escapam por empenhos; outros por testemunhas falsas ; outros
porque as circumstancias naõ saõ provadas, &c. Assim o escaparem
osGovenadores do Reyno naõ prova nada contra o nosso principio,
que vemos aqui authorizado neste documento ; e nos regozijamos
de o ver adoptado em theoria, c executado na practica. Naõ he
esta a primeira vez, que temos tido a satisfacçaõ de ver gente de
grande authoridade convertida aos principios do Correio Brazili-
ense ; e esperamos que naõ seja este o ultimo exemplo.

6 D 2
936 Miscellanea.
CONRESPONDENCIA.

Carta ao Redactor sobre o Correio Funch alense.


SENHOR REDACTOR.
A imparcialidade do sen Periódico, e o amor, que Vai", coufessa á
verdade, naõ me deixa duvida qne queira inserir no seu primeiro numero
algu&s notas sobre a mizeravel corto, com o titulo de Correio Ftmchalenst,
qne Vmee. transcreveo a p. 167, do sea N*. 63.
Nada mais natural a espíritos superficiaes, qne terem a animosidade de
darem suas reflexões ao publico, sobre matérias quejabsolutamrnie ignorafl:
amontoando palavras sem solidei, e sem nexo, e que apenas podem illudir
cabeças extraviados. Estimara possuir o sen picante critério, para res-
ponder ao Filosofo Insulano, ainda que julgo, qae quando Vm". occnpou
snas paginas, com aquellas inertes reflexõons, conheceo o dedo do gigante,
e levou talvez em vista ridicularizar o Filosofo com os suos mesmas armas.
Qae magoa naõ resulta a um Portuguez, amante da sua Pátria, quando
observa calados seus patrícios por tantos tempos sobre objectos os mais
dignos, e vê que o primeiro ensaio que se dá ao Publico, be huo (orpe e
rediculo embrulhada, que so couza vergonha, e abnrraclmento.
Desejara saber, • que comparação encontra o Filosofo Insulano, entre
a Madeiro, e a Arca de Noe t i Que coberencia na variedade de Llngoas,
quando bnâ só familia occupava o todo da Arco, devendo drduslr-se que
fosse entre ellrs huS só linguogrm i * Como compara, Confinai, mau Go-
verno, e injustiça, com a porçaõ escolhida para restabelecer o organização
do Mundo? O Colosso de noticias o que se propõem o Filosofo, sobre o
nosso mui interessante pais, começo por esto Pirâmide Conico com o ver-
tice por baze I Portanto forei minhas reflexoens, sempre pronto o des-
dizer-me, se ontnu com bom senso, e melhores razões, distraírem meus
princípios, convencendo-me que me enganei.
Nada provoco tonto o nosso Filosofo, como 480.000 R'. palha t seooio, a
codo um dos Inspectores Geraes do Agricultura. Estou certo que se colara
se 8. A. R. lbe desse a tal palha * sovada, que lbe oecupasse os dentei,
dando-lhe descanço á lingoo, que só procura espolhor venenos que pelo-
raõ tudo.
Noõ pretendo dizer qoe os Inspectores, sejoÕ dr profundos conhecimen-
tos, em todos os ramos, que preciso um lugar de tonto cooslderaçoõ , po-
rem seguro que saõ homens beneméritose honrados rntre aquelle», de que
se podia lançar maõ, quando o Governo de Portugal, quiz ioformar-ir dos
productos naturaes desta Colônia, hug das mais interessantes qae tem o
coro*. Foraõ portanto empregados, (em 1794 ou 1795) por Ordem de 8.
II. » R*inh« N \ S*. sendo Governador do Madeira D. Diogo Pereira
Fogos ; e desempenharam seus deveres com approvaçaõ do Governador,
e do Ministério.
Soa. reflexoens sobre o Melhoramento do Agricultora, Estrada. Mattos,
Miscellanea. 937
e encanamentos de Agoos, dirigidas ao Governo de Portugal, foi origem
da creaçaõ dos lugares de Inspectores Geraes da Agricultura, em 1800; e
naõ admira que aquelles homens fossem nomeados, quando já tinhaõ ser-
vido o Estado, em objectos bem análogos; tendo neste novo Emprego, o
mesmo Ordenado, que percebiaõ desde 1794. Portanto Snr. Fitozofo,
naõ foi pura mercê.
D. Jozé Manoel da Câmara, que merece elogios oo nosso Fitozofo, foi o
mesmo que veio crear em 1800 estes Empregos : foi elle que promoveo
bastante, começando estradas, projectando levadas que tudo diri-
girão os mesmos Inspectores. Porém logo depois, começarão a parali-
zar-se estes interessantes trabalhos, quando apenas começados, por cauzas
que naõ me cabe agora produzir.
O memorável Governo de Pedro Fagundes, por seis desgraçados annos,
cauzou a aniquilaçaõ de todo I Este Governador, bem conhecido pelo
famoza entrega da Ilha da Madeira em Dezembro, de 1807, naõ só estorvou
quanto pertenderaõ os Inspectores, mas até tomou sobre si, remetter para
as despezas da Guerra em Portugal, o Donativo Voluntário que os povos
desta Ilha tinham dado, para as privativas despezas do melhoramento de
Estradas I fazendo disto um serviço para com o Soberano! Todos devem
louvara applicaçaõ: i mas que authoridade teve para fazello? e que
males naõ produzem estes procedimentos arbitrários, ainda que sejaõ para
os melhores fins I Outros fundos que o Soberano, liberalmente dotou para
as despezas da Agricultura, foraõ igualmente naõ sei para quel «Que
podiaõ fazer os Inspectores? Construir estradas, e levadas, primeiras ba-
zes da riqueza rural, naõ sei que possa fazer-se sem dinheiro : a menos que
o nosso Filosofo, o tenha descoberto na sua Aula de Historia natural, para
a investigação da mincralogia, botânica, e zoologia, (de que elle provavel-
mente deve ser o digno Professor,) e para que elle julga dever aplicar-se
aquelle dinheiro. Mas, se me permitte o Filosofo, devia lembrar-se pri-
meiro de estabelecer Aulas regulares de prime ras letras, e gradualmente
outras (que por nossa desgraça tanto se precizaÕ) e depois viria a sua
Zoologia, por onde também conhecêssemos a que classe elle pertence.
O sangue frio, e desprezo com que vejo olharem os Inspectores, para as
reflexoens do Insulano, faz-me julgar qne elles naõ querem dar-se á pena
de responder-lhe: o que naõ louvo; mas lhes aconcelhara que se justifi-
cassem, servindo-se das armas qae tem para distruirem snas invectivas. O
novo Governador, cujo bom nome dá as melhores esperanças, dizem que
conta promover os trabalhos da Agricultura; por tanto offerece nm vasto
campo aos Inspectores, para demonstrarem o utilidade de seus empregos, e
sua aptidão para elles.
O artigo do Fagundes naõ me dará trabalho, pois até me cauza tédio,
lembrar-me da imbecillidade, e sórdida vileza daquelle vizinho de Galiza,
que vergonhozamente sahio desta Ilha (por felicidade nossa) embarcando
938 Miscellanea.
is quatro horas da manhaS, por naõ atrevrr-se a mostrar a cara, e sem
despedir-se do seu successor, como um criminoso fugitivo.
O Snr. Ascenço de Siqueira, merece respeito aos Funcbalensrs, por suas
boastençSes. D. Jozé Manoel da Câmara, concluiria grandes rouzas, se
mal fundadas intrigas o naõ desviassem da estrada que devia seguir, e por
fatalidade naÕ destruíssem seus bons projectos.
Lord Moira, foi dignamente recebido: porém os acclanmçõrs " Viva o
Heroe Inglez," be hua mentira taõ lavado, que bem mostra o caracter do
nosso Filosofo.
Naõ me pouparei o responder a todos os Correios que promette o Redac-
tor do Correio Funchalense: o qual espero queira applicar o seu talento em
utilidade do sua Pátria, dando maõ de calumnias, e cavitoções.
Sou Snr. Redactor do Correio Braziliense,
Sen Muito attento Venerador e Criado.
Septembro SO, de 1813. FUBCHALEWSE.
[ 939 ]

INDEX
DO VOLUME XI.

JI30, 62.

POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
Extractos do processo do Padre Joaõ Rodriguez Lopes na Relação
Ecclesiastica, em Lisboa p. 3
Portaria para concertar as casas arruinadas por occasiaõ da guerra 15
Edictal da Juncta de Commercio, sobre as contribuiçoens para o
Resgate em Argel 16
Brazil. Carta Regia, para a venda dos bens da coroa 18
Estados Unidos. Mensagem do Presidente no Congresso 19
Prússia. Proclamaçaõ d'F,l Rey 26

COMMERCIO E ARTES.
Carta ao Redactor sobre o contracto do Tabaco 28
Reposta á corte acima 30
Inglaterra. Resumo das contas Publicas, sobrefinançase commercio
do Reyno 36
Preços correntes em Londres 39

LITERATURA E SCIENCIAS.
Inglaterra. Relatório, sobre o estabelicimento da Vaccina ...... 40
Novas Publicaçoens em Inglaterra 47
Noticias literárias 52
Portugal. Novas Publicaçoens 54
Imitação da Ode livre de Horacio, Jam satis terris Sfc. 55

MISCELLANEA.
tfouidades destt mtz. America Hespanhola 57
940 Index.
França. Noticia* officiaes do Exercito p. 61
Decreto, que ordena certas listas na 32*. divisão militar 03
Continuação das noticias do exercito do Norte (jj
Noticias do Exercito d'Aragaõ "J7
Hespanha. Evacuação de Madrid ft7
Officio do coronel Alvares, sobre o evacuação de Castro 02
Inglaterra. Falia do Príncipe Regente ao Parlamento 94
Operação do Exercito Inglez no Canado 96
Noticias officiaes d i Esquadra Ingleza, nas Costas d'America 98
Tomada de uma fragata Americana 102

Exércitos Alliados na Peninsula.


Officio de Lord Wellington, datado de Carvajales, 25 de Mayo . . . . 105
• • Ainpudia, 6 de Junho 107
Documento annexo, em data de Morales, 2 de Junho 109
Officio de Lord Wellington, datado de Villa Dirgo, 13 de Junho 110
Subijana, 19 de Junho 112
Salvatierra, 22 de Junho 115
Irunzum, 21 de Junho 125
Orcnyen. 26 de Junho 126
Ostiz, 3 de Julho 126
Officio do General Graham, de Tolosa, 26 de Junho 130
Conde d'Abisbal Santa Martha, I de Julho 134
de Lord Wellingtun, Ostiz 3 de Julho 136
do General Murray, Tarragona, 9 de Junho 137
. Abordo do Navio Malfa, 14 de Junho . 13H
• de Lord Wellington, Zubieta, 10 de Julho ' 1 -'
Portugal. Ordem do dia do Marechal Beresford 144
Sicilia. Carta da Raynha a Lord Bentinck 145

Reflexoens sobre as Novidades deste mez.


Brazil. Venda dos bens da Coroa '"'fl
Colônias Hespanholas '"**
I.si.idos Unidos • '54
França '55
Hespanha '56
Inglaterra '57
Exercito Alliado na Peninsula '58
Portugal. Relação Lcclesiastica, Inquisição '"*
Correspondência. Noticia sobre a barra d'Aveiro '"*
Carta ao Redactor—Correio Fucnhalense
C.irta ao Redactor, sobre o Decreto expedido no Rio de Janeiro—
continuada • '
Index. 941

J!3ü. 63.

POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
Tractado de Paz entre Portugal e Argel p. 173
Alvará de abolição da Juncta dos Tres Estados 178
Hespanha. Extracto do Manifesto da Regência, sobre os procedi-
mentos do Núncio do Papa 185
Documentos relativos á demissão do Núncio 180
Suécia. Resposta a um artigo da gazeta de Copenhagen 199
Notas a um artigo do Moniteur de 35 de Junho 208

COMMERCIO E ARTES.
Sobre o Tractado de Commercio com Inglaterra .... 214
Preços correntes em Londres 230

LITERATURA E SCIENCIAS.
Novas Publicaçoens em Inglaterra 231
Noticias literárias 236
Novas descubertas 237
Portugal. Circular aos Bispos, sobre o Vaccina 242
aos Corregedores sobre a Vaccina .... 243
Sessaõ da Academia dos Sciencias em Lisboa 245
Brazil. Abertura da Academia Militar 246
Resposta á Revista d'Edinburgo 247

MISCELLANEA.

Novidades deste mez.


Brazil. Relação dos despachas, publicados no Rio de Janeiro aos
13 de Mayo, 1813 258
Colônias Hespanholas 262
Exercito sitiador de Montevideo 266

Exercito Alliado na Peninsula.


Ordem do dia pelo Marechal Wellington, Treuta, 9 de Julho • • 268
Extracto de um officio de Lord Wellington, Zubieta, 10 de Julho 269
Lesaco, 19 de Julho 270
VOL. X I . No. 67. 6 E
942 Index.
Extracto de um officio do General Graham, Ernani, 18 de Julho . .p. 272
Officio de Lord Wellington, datado de San Estevan, I d'Agosto • • 274
Lezaca, 4 d*Agosto . . . 288
França. Exercito na Hespanha 292
Proclamaçaõ do Marechal Soult 300
Noticias do exercito do Norte 303
Malta. Noticias da peste 305
Portugal. Organização do actual exercito Portuguez 308
Suécia. Entrevistado Principe da Coroa, e Imperador de Russia 310
Rus.ia. Noticias do Exercito, Ordem do dia 314
Gazeta de Berlin sobre as atrocidades dos Francezes . . . . 315
Noticias d'Hamburgo 318
Proscripçoens, ordenadas pelos Francezes 319

Rtflexoens sobre as Novidades deste mez.


Brazil. Sobre a Cayenna 32S
França 324
Congresso em Praga 325
Mappa dos exércitos Francezes na Alemanha .... 329
Guerra da Peninsula 330
Portugal; Sobre a Inquisição ; Resgate d'Argel 331
Correspondência. Ao Redactor Contra o correio Funrhalense ... 335

JI20. 64,
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
Portaria para o Reígate d'Argrl 337
Avizo a Manuel Antonio da Fonceca Gouvra, sobre o dicto •• 339
Francisco Antouio Ferreira, sobre o dicto . 340
Sentença do Visconde d'Asseca, no juizo da Inconfidência .. 341
Alemanha. Manifesto de declaração da Áustria contra França .. 342
França. Relatoi io do Ministro da Guerra ao Imperador, 9 d'Agoito 361
Motivos do Senatus Consultum para uma leva de 30.000 homem .. 363
Relatório do Conde Bournonville, sobre o mesmo •• • 364

COMMERCIO E ARTES.
Convênio entre os commissarios Inglezes e Portugueses sobre certos
pontos do tractado de commercio de 1810 •••• *"*'
Observaçoens sobre o papel precedente *69
Index. 943
Sobre o Jornal Pseudo-Scientifico p.374
Resumo dos gêneros recebidos em Lisboa do Brazil para Soccorro
do Ex-reito 381
Resumo dos gen**ro< entrados no porto de Lisboa no mez de Junlio 382
Preços correntes em Londres 383

LITERATURA E SCIENCIAS.
Novas publicaçoens em Inglaterra 364
Novas descuberta; 387
Portugal. Novos publicaçoens ... 392

MISCELLANEA.
Novidades deste mez.
America. Embargo nos Estados Unidos • • • • 393
Torpedo, outra vez posto em uso • • • • 395
França. Noticias do Exercito do Norte - • • • 397
Exercito da Catalunha 420

Exercito Alliado na Peninsula.


Officio de Lord Wellington, datado de Lezaca, 2 de Septembro .. 425
, 4 de Septembro .. 431
Extracto da participação de Lord Bentinck, Cambrills, 16 de Agosto 432
Officio de Lord Wellington, datado de Lezaca, 10 de Septembro . . 437
— do General Graham, Ernani 9 de Septembro .... 438
Capitulação de S. Sebastian 440
Portugal. Ordem do dúi à.r> Marechal Beresford ... 443

Exercito Alliado na Alemanha.


Renovação das hostilidades. Carta do General Barclay de Tolly ao
Principe de Nrufchatel 445
Officios dos Ministros Inglezes na Alemanha, relativos ás operaçoens
dos Exércitos Alliados 446
Officio do General Stewart, datado de Zebista, 27 d'Agosto 446
— Altenburg, 29 d'Agosto 449
m— Toplitz, 30 d'Agosto 453
, 31 d*Agosto 455
Ordem do Principe Schwartzenberg ao exercito 459
Ordem do dia do General Moreau — ** 461
Suécia. Bulletins do Exercito combinado do Norte da Alemanha. .
Bulletim I. Oranienburg, 13 d'Agosto 462
II. Potsdam, 16 d'Agosto 464
6 E2
944 Index.
Il.ill-iira III. Charlotenburg, 18d'Agosto p. 466
IV. Potsdam, 21 d'Agosto 467
V. Ruklsdorff, 24 d'Agosto 467
VI. Saarmund, 28 d'Agosto 470
VII. Belitz, 30 d'Agosto 475
VIII. D°. 476
• IX. Treurnbrietzrn, 1 de Septembro 476
X. Rodigke, 4 de Septembro 477
XI. Juterbock, 8 de Septembro 479
— XII. Juterbock, 10 de Septembro 484
Rrj-sia. Noticias de S. Petersburg, 1 de Julho 487

Reflexoens sobre as novidades deste mez.


Brazil. Crnvenio sobre o trartado de Commercio 489
Colônias Hespanholas 498
Dinamarca 493
Alemanha 493
Exercito Francez 496
Exercito dos Alliados 497
Portugal. Circular do Secretario da Juncta do Commercio sobre
os Resgates 499
Extracto do Gazeta de Lisboa, Contracto de Tabaco 500
Visconde d*Assem. 501
General Moreau 502
Guerra da Península 603
Conrespondencia. Carta ao Redactor sobre a venda dos bens da Coroa 505
Rrtposto a Conrespoodentcs

JI30. 65.
POLÍTICA.
Documentos officiaes relativos a Portugal.
Alvará, que regula os Ministros do Cosa do Supplicaçaõ, &c 509
Tabeliã do regulamento dos alçados 512
America. Relaçoens com a França. Mensagem do Presidente dos
Estados Unidos ao Congresso 515
Dinamarca. Declaração de guerra contra a Suécia 530
França Documentos relativos a guerra com a Suécia 535
Documentos relativos á guerra cootra o Áustria 538
Suécia. Declaração de guerra contra a Dinamarca 54*'
Index. 945

COMMERCIO E ARTES.
Sobre o Tractado de Commercio entre Portugal e Inglaterra p. 549
Suécia. Regulamentos Commerciaes 552
Resumo dos gêneros que entraram em Lisboa, em Julho, 1813 . . . . 552
D*. - em Agosto, 1813 553
Preços correntes em Londres 554

LITERATURA E SCIENCIAS.
Noticias das obras publicadas em Inglaterra 555
Noticias literárias 557
Portugal _ 559

MISCELLANEA.
Sobre a Jornal Pseudo Scientifico * • 659
Quezitos dirigidos aos Redactores do Jornal Scientifico 665
Novidades desde mez.
Inglaterra. Medalha de distineçaõ para os officiaes militares, que
se distinguem em acçoens 567
Colônias Hespanholas. Noticias de Buenos-Ayres - 577
Estados Unidos. Finanças Americanas 580
Carta do Imperador Alexandre a Madama Moreau • 582
Estado comparativo das forças dos Belligerantes 483
França. Noticias do exercito d'Alemanha - 584
Exércitos d'Aragaõ e Catalunha 590
Exércitos da Itália 598
Noticias de Paris 593
Falia da Imperatriz ao Senado 600
Decreto sobre a ilha de Gaudaloupe 600
Hespanha. Carta de Lord Wellington ao Ministro da Guerra, de
Huarte, 2 de Julho, 1813 602

Noticias officiaes dos Exércitos Alliados na Alemanha.


Participaçoens MitHares Austríacas, Toplitz, 29 Septembro . . . „ _ 605
Bautzen, 25 Septembro . . . . 608
Toplitz, 1 d'Outubro 609
Zerbst, 4 d-Outubro 610
Dessau, 4 d'Outubro 611
Proclamaçaõ do Imperador Alexandre ás suas guardas 612
Bnlletims Austríacos Topllto, 1 de Septembro 61S
946 Index.
Officios dos Ministros Inglezes ; de Toplitz, 13 de Septembro p. 615
Officios dos Ministros Inglez-s, de Praga, 14 de Septembro 615
Toplitz, 11 de Srptrmbro 61t
Toplitz, 12 dr Srptrmbro 618
Officio do Conde Walmoden Domitz, 20 de Septembro 620
de Lord Aberdeen Comotau, 9 d'Outubro 625
do General Stewart Rothenburg, 11 d'Outubro 620

Exercito Alliado na Peninsula.


Officio de Lord Wellington, datado de Lezaca, 27 Septembro . . . . 628
de Lord Guilherme Bentinck, de Tarragona, 17 de Septembro 629
de Lord Wellington, Lezaca, 9 d'Outubro 634

Bulletins do Exercilo Combinado do Norte d" Alemanha.


Bulletim XIII. Leydo, 12de Septembro 637
XIV. Kosvtig, 13de Septembro 638
XV. Zerbst, 16 de Septembro 640
XVI. Zerbst, 20 de Septembro 643
XVII. Zerbst, 2°. de Septembro 647
XVIII. Zerbst, 26 de Septembro 651
XIX. 653
XX. Dessau, 4 d'Outubro 656
XXI. Dessau, 6 d'Outubro 658

Reflexoens sobre as novidades deste mez.


Brazil 660
Estados Unidos 661
França 662
Hespanha 664
Inglaterra. Medalha de Exercito 666
Portugal. Ministros de Justiça 606
Commissaõ do Resgate 668
Negócios Militares 669
Guerra do Norte 675
Guerra de Peninsula 678
Conrespondencia ABO
Index. 947

Ba, 66.
POLÍTICA.
Documentos Officiaes relativos a Portugal.
Portaria sobre os Recrutamentos p. 685
Áustria. Tractado de Aliiança com a Russia 699
Inglaterra. Falia do Principe Regente no Parlamento 703
Convenção com o Imperador de Russia 707
Resumo da Convenção entre a Inglaterra e Prússia 710
Convenção entre Inglaterra e Russia 711
Convenção Supplementaria entre os mesmos 715
Convenção Supplementaria, en're Inglaterra e Prússia 719

COMMERCIO E ARTES.
Contracto do tabaco em Portugal 720
Edictal sobre os vadios em Lisboa 728
Gêneros comestíveis entrados em Lisboa, no mez de Septembro ... 731
1—, no mez d' Out ubrq 732
Preços correntos em Londres 733

LITERATURA E SCIENCIAS.
Noticias das obras publicadas em Inglaterra 734
Analize da obra intitulada, Revolucion de Ia Nueva Hespana 736

MISCELLANEA.
Jornal Scientifico '43

Novidades deste mez.


Exércitos Alliados da Alemanha.
Officio do General Stewart, datado Skenditz, 17 d'Outubro 748
, Leipsic, d'Outubro 753
. Cothen, 14 d'Outubro 758
. Halle, 15 d'Outubro 760
Noticias dos exércitos Alliados: de Bremen, 7 de Novembro 763
948 Index.
Noticias do Exercito do General Bloajer p. 764
Relação Militar Austríaca 766
Prússia. Noticias do Exercito 767

Bulletims do Exercito combinado do Norte da Alemanha.


Bulletim XXII. Leipsic, 10 de Outubro 772
• XXIII. Leipsic, 21 dOutubr* 773

Exercilo Alliado da Peninsula.


Officio de Lord Wellington, datado de Vera, 1 de Novembro 779
Vera, 1 de Novembro 779
• Vera, 8 de Novembro 781
Do General d'Hespanho 781
Capitulação de Pamplona 781
França. Noticias officiaes do Exercito da Alemanha 785
Carta do Duque de Vicenza ao commandante dos dous regimentos
Saxonios, no serviço do França 797
Carta do Major-general, ao Commandante das tropas Bávaras 798
Officio do General Milhaud ao Major-general 798
Carta do General Lameth, commandante de Santona 103
Ordem do dia a 5*. legiaõ de Gendarmerie 804
Decreto Imperial impondo contribuiçoens 804
Falia do Prrsidente do Senado 805
Noticias do Exercito da Catalunha 807
Falia do Ministro da guerra á Imperatriz 808

Reflexoens sobre as Novidades deste mez.


Brazil. Relaçoens da Corte do Rio-de-Janeiro com [as Potências
Europeas 8'0
França 814
Hespanha 816
Mudança do Governo para Madrid 817
Hollanda 818
Inglaterra *"•*
8 9
Portugal '
82
Guerra do Norte '
Conrespondencia. Corto ao Redactor sobre a Vaccina *"
Index. 949

Jf30. «57.

POLÍTICA.

Documentos officiaes a Portugal.


Edictal para ô pagamento de dlVfdas dos transportes do exercito • p. 829
Provisão, de reprebençaõ à Câmara de S. Miguel . . 831
Áustria. Procla-naçaõ dé general Hiller aos TyrôleZes . 832
Baviera. Declaração de guerra contra o França - - 833
Confederação Suiteã. Declaração de sua neutrat idade - 835
DeelaraqaS das Potências Aluadas - 838
Hollanda. Proclamaçaõ do Commandante Russiano 838
Proclamaçaõ em nome do Governo Geral - 838
Itália. Proclamaçaõ do Príncipe Vice-rey 8391

COMMERCIO E ARTES.
Estado do Commercio em Portugal - - 840
Resumo dos gêneros, que entraram em Lisboa, en Novembro 850
Preços correntos em Londres - 852

LITERATURA E SCIENCIAS.
Novas descubertas nas Artes . 853
Analize da obra intitulada " Tableau Politique," &c. 856
Noticia de novas publicaçoens em Inglaterra - 864

MISCELLANEA.
Bulletins do Exercito do Norte da Alemanha.
Bulletim XXIV. datado de Mulbansen, 28 d'Oatubro - .866
XXV. Heiligenstadt, 30 d-Outubro 868
XXVI. - Hannover, 10 de Novembro 879
< XXVII. Lubeck, 6 de Dezembro - 872

VOL. XI. No. 67. 6r


950 Index.
Exercitas Alliados na Alemanha,
Officios dos Agentes Inglezes nos Exércitos Aluados oo Ministro dos
Negócios Estrangeiros, em Londres, Gottingen, 8 de Novembro
1813 - - p. 87»
Copia de uma carta de Jeronimo Bonaparte ao general Murat - 878
Officios dos Agentes Inglezes Hanover, 11 de Novembro - 878
— Hanover, 11 de Novembro 880
Copia da gazeta de Frankfort, de 30 de Novembro 880
Proclamaçaõ da Regência de Hanover 888
Officio do General Nugent. Trieste 1 de Novembro - 884
Officios dos Agentes Inglezes. Frankfort 7 de Novembro 887
Frnkfort, 8 de Novembro 888
Frankfort, 10 de Novembro 889
Frankfort, 10 de Novembro 890
• Frankfort, 16 de Novembro 891
• Bremen, 19 de Novembro 891
Extracto de uma corto, datada de Hannover, 11 de Novembro 892
Capitularão da cidade de Dresden 894

Exércitos Alliados da Península.

Officio de Lord Wellington, de St. Pé, 13 de Novembro, 1813 896


Proclamaçaõ de Lord Wellington ao povo Francez 901
França. Extractos do Moniteur 902
Carta do Principe Vice Rey ao Ministro da guerra 905
Decreto Imperial. Despezas publicas 906
Do. Abertura da sessaõ do Corpo Legislativo 909
Falia do Imperador ao Corpo Legislativo, em 19 de Dezembro 909
Hespanha. Artigo Official. Mudança das Cortes 011
Hollanda. Noticias de Amsterdam 911
de Utrecht 912
Proclamaçaõ dos Commissarios do Governo em Amsterdam 913
do Principe de Orange 914
do Governo interino de Leiden 915
Noticias officiaes deEondres, relativas á Hollanda 917
Priuna. Noticias de Berlin, de 26 d'Outubro 919
13 de Novembro 919
Portugal. Estado da organização do Exercito em campanha no
1*. deste mez 921
Decreto de nomeação de Administrados do Terreiro 923
Index. 951
Reflexoens sobre as novidades deste mez.
Brazil p. 924
Estados Dnldos . 935
Hespanha - 925
França • . 926
Alliados contra a França 927
Inglaterra 931
Exercito Alliado da Peaiasula -> 932
Portugal - - 933
Coaresyoadencl# 936

WM n o VOL. XI.

Impresso por W. Lewis, St. JohnVsquare, Londre*.

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