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Sobre este pano de fundo o autor do Apocalipse quis proceder de modo que:
descreveu cenas de horríveis calamidades (simbolizando os males que os cristãos
sofrem no cotidiano da sua existência terrestre), entrecortadas por visões da corte
celeste, onde os anjos e os santos cantam “Aleluia!
E sendo celebração podemos afirmar tendo base em algumas perícopes que esta é
uma grande liturgia. Esta liturgia da celebração dos mistérios de Cristo fora dada a
Igreja que tem a autoridade de salvaguardá-la e de utiliza-la como caminho de
salvação e de contemplação do “Eterno no tempo”, conduzindo assim por meio
destes os seus fiéis até que se chegue o “Dia do Senhor”.
A liturgia é ação do “Cristo total”, os que agora a celebram, além dos sinais,
participam já da liturgia do céu, onde a celebração é inteiramente Comunhão e
Festa.
Incenso, altar, oficiantes por vezes designados como sacerdotes, participantes que
se prosternam, adoram, cantam a glória de Deus e de sua obra em Jesus Cristo por
meio de hinos de caráter muito tradicional.
O Aspecto litúrgico de numerosa passagens do Apocalipse salta aos olhos do leitor
menos mentalizado. Por vezes tem-se o sentimento de assistir a um diálogo litúrgico
entre um oficiante e uma comunidade que lhe responde.
Várias destas proclamações, especialmente o Santus, figuram hoje entre as partes
essenciais das grandes liturgias cristãs, ou seja, a “Santa Missa”.
Aparece também a figura de um Cordeiro Imolado que tem a missão de abrir o rolo
e soltar seus selos. Diante disso todas as criaturas cá no céu ou na terra diziam:
Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, o louvor, a honra, a
glória e o poder pelos séculos dos séculos.
O capítulo oitavo fala dos sete anjos que estavam diante de Deus e que a eles foram
entregues sete trombetas. Veio assim um outro anjo que se colocou diante do altar
com um turíbulo fumegante e da sua mão subia a fumaça de incenso com as
“orações de todos os santos até à presença de Deus” (Ap 8,4). O anjo tomou o
turíbulo e arremessou à terra.
Os capítulos 21-22 do livro do Apocalipse nos trazem uma visão de uma Igreja que
fora descida do céu a “nova Jerusalém”, a cidade santa que “descendo do céu, de
junto de Deus, preparada como noiva que se apronta para o noivo” (Ap21,2).
Depois logo revela o Cordeiro, “imolado e de pé” (Ap 5,6), Este é o Cristo crucificado
e ressuscitado, o único Sumo Sacerdote do santuário verdadeiro, o mesmo “que
oferece e que é oferecido, que dá e que é dado”, isto podemos ouvir nas palavras
da Consagração “que será dado por vós e por muitos para a remissão dos pecados”.
E por último, revela “o rio da Vida que brota do trono de Deus e do Cordeiro” (Ap
22,1), um dos mais belos símbolos do Espírito Santo.
(HANN, 2002,p.107-108).
Por que esse título? Porque é assim que a maioria de nós vê tal livro. Embora não
tendo lido o Apocalipse, ou lendo pequenos trechos dele, grande parte das pessoas
crê que ele fala do fim do mundo, com estrelas e prédios caindo sobre suas cabeças.
Além disso, ele falaria do grande sofrimento pelo qual os cristãos passarão, e isso
não é nada bom para qualquer pessoa, e além do mais, esse dado estaria em
contraste com a vida vitoriosa da qual o resto do Novo Testamento fala.
É comum ver esse tipo de interpretação. O livro também serviu para justificar
posturas politicamente corretas(???), que viam o Apocalipse falando que ex-União
Soviética juntamente com a China (Gogue e Magogue - Ap 20,7-8), como bloco
comunista e diabólico, combateriam os cristãos democráticos e capitalistas, os
quais, entretanto, venceriam com a ajuda de Cristo (obviamente essa visão foi
difundida por intérpretes norte-americanos).
Por essas e outras razões, por quê um cristão leria esse livro?
Por exemplo, a simbologia dos números: três, sete, doze, mil anos, cento e quarenta
e quatro mil. A figura de animais: dragão, besta, leão, urso, cordeiro.
Mas também é importante saber que o livro interpreta vários de seus símbolos. Ex:
1,12 com 1,20; 12,3 com 12,9; 17,3 com 17,9.
Até algum tempo atrás havia um consenso quanto a afirmação de que os cristãos
na Ásia estavam passando por perseguições e que o livro foi enviado nesse
contexto. De fato, o livro fala de perseguição: o próprio João está exilado numa
colônia penal em Patmos devido a perseguição religiosa - 1,9; os cristãos estão
passando por tribulações: 2,9-10; morte - 2,13; 6,9.
Seguindo este ponto de vista, o escritor veria nesses problemas esporádicos sinais
de um grande confronto que estava para se dar: Império Romano x Igreja nascente.
Isso não constituiu problema para a população, visto que estavam acostumados com
um culto politeísta, e adorar um deus a mais não seria problema.
Isso foi mais intenso principalmente na Ásia Menor, onde o culto ao imperador
desenvolveu-se de modo mais acentuado. O confronto estava apenas começando.
Para alguns, por outro lado, ele não existia. Esses cristãos
achavam que podiam adorar a Jesus e ao imperador. Eles
são criticados duramente no Apocalipse.
Aqui podemos ver a ligação entre o Estado e a religião. Será que hoje os dias são
diferentes? Não estaremos “adorando” religiosamente nosso mundo moderno,
secular, tecnológico, consumista, etc, etc???
Embora seja muito difícil de se chegar a um consenso, há alguns dados que podem
ser observados.
Todos os estudiosos admitem que o livro tem uma
forte ênfase sobre o número sete. Há:
• sete igrejas: capítulos 2 e 3.
• sete selos: capítulo 6 e 8,1-6.
• sete trombetas: 8,7-9,21 e 11,15-19.
• sete taças: capítulo 16.
• sete espíritos: 1,4; 4,5.
• sete bem-aventuranças: 1,3; 14,13; 16,15; 19,9; 20,6; 22,7.14.
Existiam outras, como por exemplo, a de Colossos. Isso nos leva a pensar
sobre o porquê dessa escolha ?
Outro aspecto era o fato de que cada uma dessas cidades possuía uma corte
romana, onde, por serem cristãos, os membros das igrejas poderiam enfrentar
problemas.
Nas três primeiras cidades (Éfeso, Esmirna e Pérgamo)
havia também templos dedicados a César onde a
população lhe oferecia sacrifícios como deus.
Além disso, o número sete, é muito significativo, indicando totalidade. Cartas para
“sete igrejas” poderia representar uma correspondência que visava atingir todas as
igrejas existentes.
O primeiro diz respeito ao fato de que o Apocalipse é enviado por Deus, através de
Jesus, por intermédio do anjo para João (1,1).
Outro problema é o fato de que as cartas são escritas “para os anjos”, e somente
através deles para as igrejas. Nota-se isso quando são citados adjetivos no
“masculino” que, portanto, dizem respeito ao “anjo” e não à “igreja” (que é feminino).
Por exemplo: “rico” (2,9), “morto” (3,1), “frio” e “morno” (3,15). Isso que dizer que as
palavras de louvor e as advertências de Jesus dirigem-se a eles.
a)- Pressões, tanto de pagãos (1,9; 2,13) quanto de judeus (2,9; 3,9). Tal problema
se dava em virtude dos cristãos pertencerem a uma religião minoritária com
costumes estranhos (Santa Ceia, por exemplo) e acusada de ser atéia (por não ter
deuses e nem imagem deles).
As dificuldades com os judeus vinham do fato de que, após a destruição do templo
em Jerusalém (70 d.C.) os cristãos foram expulsos das sinagogas. Nelas, a partir
desse momento, eram pronunciadas maldições contra os cristãos. Para o Cristo,
essa é uma “blasfêmia” que se faz contra seu povo (2,9). As sinagogas onde tais
práticas aconteciam eram, na realidade, “sinagoga de Satanás” (2,9).
b)- Problemas internos com falsos mestres (2,2 - apóstolos; 2,6.15 - nicolaítas; 2,14
- os que seguiam os ensinos de Balaão; 2,20-23 - a profetiza Jezabel). Os “falsos
apóstolos” (2,2) eram pregadores itinerantes que viajavam pregando nas igrejas
falsos ensinos. Os “nicolaítas” (2,6.15) estão associados com os “seguidores de
Balaão” (2,14.15) e estes, por sua vez, com a “profetiza Jezabel” (3,20), visto que
todos eles “comiam coisas sacrificadas aos ídolos e praticavam a prostituição”.
Para estas pessoas, João era “radical” ao exigir o abandono dessas práticas. Como
podemos ver essa questão nos dias de hoje? Estaremos sendo radicais ou
permissivos? Temos enfrentado o problema da assimilação de valores não-cristãos?
Até onde isso é correto ou prejudicial?
c)- Problema com a frieza espiritual (2,4 - abandono do primeiro amor; 3,4 -
contaminação; 3,15 - perda de zelo). Esta questão relaciona-se diretamente com a
pessoa de Jesus Cristo. Mesmo que uma igreja combata as heresias, como a de
Éfeso (2,2.6), isso não substitui sua ligação com seu Senhor, apenas o
complementa. Essa relação, expressa pelo “conservar o nome de Jesus” é que dá
coragem para que se morra por Ele (2,13). É preciso ter um amor apegado a Jesus
que nos leve à comunhão com Ele e à prática de uma vida realmente transformada.
Quando isso não acontece, toma o seu lugar a frieza, e a auto-suficiência que coloca
Jesus à parte da vida (3,15-17.20). Para que a situação mude é necessário que se
ouça o chamado ao “arrependimento” (2,5.16; 3,3.19).
Talvez, mais do que nunca, nós, como igreja, devamos analisar nossas vidas dentro
dessa radicalidade do amor integral a Jesus. Devemos também refletir se estamos
constantemente avaliando a vida e vendo a necessidade de arrependimento.
Analisar as sete igrejas e seus problemas é muito importante para que possamos
ter um quadro correto do porquê o Apocalipse foi escrito. Nelas temos um misto de
igrejas que tem passado por dificuldades mas que estão se mantendo fiéis, e igrejas
que não tem conseguido discernir as exigências da vida cristã. Tal situação não é
diferente hoje. O problema principal para nós, semelhante ao das igrejas da Ásia, é
o da assimilação. Cada geração é chamada a refletir sobre sua conduta diante desse
desafio. Assimilaremos elementos, correndo o risco de sincretismo, ou nos
fecharemos totalmente, podendo nos tornarmos alienados?
Apocalipse 4 - Deus
Apocalipse 5 - Jesus
Esta seção termina com a adoração tanto a Deus quanto a Jesus Cristo (5,13-
14).
Comecemos com os 24 anciãos (4,4). Eles não são anjos, mas homens. Isso pode
ser verificado porque estão sentados em tronos (ver Mt 19,28), têm coroas (a coroa
é recebida pelo crente fiel - 2,10) e estão vestidos de branco (outra característica
dos cristãos - 3,4-5). Mas então, como identificá-los? Não há muita certeza quanto
a isso. Talvez, através do título anciãos, possamos pensar nos líderes da sinagoga
e das comunidades primitivas (presbítero significa “ancião”). Nesse sentido, tem-se
suposto que o número 24 representaria 12 tribos de Israel (= povo da Antiga Aliança)
mais 12 apóstolos (= povo da Nova Aliança), simbolizando o povo de Deus de todas
as épocas. Outra possibilidade seria a de que o número 24 representaria os
escritores dos livros do Velho Testamento (em algumas listas do cânon judaico
apresenta-se 24 livros). Estes escritores, por sua importância, estariam ao redor do
trono de Deus. Mas não como chegar a uma definição concreta.
Os seres viventes (4,6-8a) são apresentados tendo como pano de fundo Ez 1,5.10
e 10,20. Eles são descritos ali como “querubins”. Isaías também fornece uma parte
da imagem onde diz que os “serafins” têm seis asas (Is 6,2 // Ap 4,8a) e apresenta
o cântico deles (Is 6,3 // Ap 4,8b). Esses seres, pela proximidade com Ezequiel,
estão mais próximos de querubins do que serafins. Eles representam a criação visto
que um é semelhante ao “leão” (=os animais selvagens), outro ao “novilho” (=
animais domésticos), o terceiro ao “homem” (= raça humana), e o último a “águia”
(= pássaros). Estes seres, como representantes da criação louvam a Deus (v.8).
Além disso, os querubins eram responsáveis por guardar as coisas mais santas e
próximas de Deus (ver Gn 3,24 e Ex 25,20).
O capítulo 5 começa falando de um “livro” selado com sete selos, que está nas mãos
de Deus (v.1). Que livro é esse? É o livro que contém o domínio de Deus sobre todas
as coisas, bem como a definição da libertação do seu povo e a punição daqueles
que se voltam contra a igreja e seu Senhor. Portanto, tudo o que acontece no
Apocalipse é a revelação do conteúdo do livro.
João chora muito porque ninguém pode abrir o livro e, sendo assim, não há nenhuma
certeza quanto ao futuro (v.4). Porém um dos anciãos apresenta Jesus no v.5 como
“leão da tribo de Judá” (Gn 49,9-10 que fala do reinado provindo da tribo de Judá) e
“raiz de Davi” (Is 11,1 indicando que o Messias viria da família de Davi). Essas duas
descrições mostram Jesus em seu caráter real e vencedor. Por outro lado, no v.6
Ele é apresentado como “Cordeiro como tinha sido morto”, que demonstra o caráter
sacrificial da obra de Jesus. Esse aspecto é enfatizado nos dois cânticos que citam
a morte de dEle (v.9 e 12). Há aqui, possivelmente, a apresentação de Jesus como
aquele que vence através da morte como modelo para os crentes (2,10).
Finalmente, Jesus toma o livro (v.8) e no capítulo 6 ele começa a abrir os selos. É
importante notarmos aqui que a visão do trono de Deus e de Jesus representa o
passado, o momento da exaltação de Jesus à direita de Deus através da
ressurreição e a posse de seu domínio sobre todo o universo.
Como dissemos acima, os selos não apresentam o conteúdo do livro, mas são
antecipações a ele. Os quatro primeiros selos devem ser vistos formando um bloco
pela unidade da estrutura que gira em torno dos cavaleiros, enquanto o quinto fala
especificamente da igreja, o sexto sobre a segunda vinda, e o sétimo vem somente
no capítulo 8.
O primeiro cavaleiro (6,2), que leva um “arco” representa soldados “partos” que eram
os únicos arqueiros montados na época. A Pártia era um reino situado a leste da
Palestina e que significava constante fonte de ameaça ao domínio romano no
oriente. Aqui este cavaleiro simboliza guerras e conquistas que ameaçavam o
império romano.
O terceiro cavaleiro (v.5-6) traz a imagem da escassez. “Uma medida de trigo” era
o consumo de uma pessoa durante um dia. “Um denário” era o salário de um dia de
trabalho. Portanto, mostra-se aqui que os tempos são difíceis, visto que gasta-se
todo o dinheiro para a alimentação de uma única pessoa. A cevada, mais barata,
era o alimento dos pobres. Somente com ela poderia-se alimentar a família. A
questão aqui é a crise econômica.
O quarto cavaleiro (v. 7-8) parece sintetizar o segundo e o terceiro. Ele traz a morte
pela “espada” que pode ser referência à guerra, mas também a todo o tipo de morte
violenta, p.ex. assassinato. A morte pela “fome” é uma derivação mais intensa da
escassez do v.6.
O quinto selo (v.9-11) apresenta os cristãos que têm sido mortos. Eles estão diante
de Deus (v.9). O Apocalipse até aqui fez menção apenas a uma morte (2,13) e à
possibilidade de se morrer (2,10). Possivelmente João vê as coisas de modo
presente e também futuro, ou seja, estaria vendo aqueles que “seriam” mortos. Eles
pedem vingança a Deus, mas não especificam seus assassinos. Isso será mostrado
mais adiante no livro.
O sexto selo (v.12-17) expressa a segunda vinda de Jesus. Pode-se notar através
dos sinais no v. 12 e pela referência ao “dia da ira” (v.17), termo vétero-testamentário
que significa o dia da vinda de Deus para julgamento.
Mas, qual o sentido desses selos? Eles simbolizam a presença do mal, pecado e
sofrimento no mundo, durante todas as épocas, atingindo todas as pessoas, sejam
cristãs ou não. Isso pode ser visto através da comparação com Mt 24. O segundo,
terceiro e quarto selos estariam relacionados com Mt 24,6-8; o quinto selo com Mt
24,9-13; e o sexto selo com Mt 24,29-31. É importante frisar que Mt 24 não apresenta
“sinais” antecipatórios para a vinda de Jesus, pelo contrário, seu objetivo é mostrar
que tais acontecimentos não representam o fim (24,6b e 8). O mesmo se dá com os
selos do Apocalipse. Eles mostram que os cristãos estão sujeitos a sofrimentos
dentro do mundo como qualquer ser humano e que tais tribulações não evidenciam
a chegada do juízo de Deus ao mundo, elas não são o “conteúdo” do livro, são
apenas um dado preliminar.
Antes que o sétimo selo seja aberto, temos o capítulo 7. Ele expressa um interlúdio
para a abertura do último selo. Isso fornece uma caráter dramático ao texto. Deve-
se esperar mais um pouco para que o sétimo selo seja aberto e, finalmente, possa-
se conhecer o conteúdo do livro.
O capítulo 7 não segue uma ordem cronológica com o capítulo 6, como se, depois
da segunda vinda de Jesus, acontecessem os fatos descritos nele. Pelo contrário,
fala-se para que não se danifique o planeta até que os servos de Deus sejam
selados (v.3). É impossível falar em dano sobre a terra após a segunda vinda de
Cristo!
Temos, no capítulo 7, duas cenas: uma na terra (v.1-8), e outra no céu (v.9-17). Na
primeira, temos os cristãos sendo selados (v.3), o que significa que eles recebem a
marca de Deus, são possessão dEle. Isso lhes dá garantia de que Deus os guardará
durante os períodos de sofrimento. O número de “cento e quarenta e quatro mil de
todas as tribos de Israel” (v.4) significa, por um lado, um recenseamento que Deus
faz, mostrando que conhece exatamente quantos são os seus. Por outro lado, o
número indica que são doze mil de cada uma das 12 tribos. Isso é simbólico, e quer
mostrar a totalidade do povo de Deus. Não falta ninguém! Esse Israel é o “Israel
espiritual” (Gl 6,16; Tg 1,1), a Igreja. Mesmo que ela sofra, Deus a guarda.
Na segunda cena (v.9-17), temos a igreja no céu. Os crentes estão “diante do trono
e do Cordeiro” (v.9). São, especialmente, aqueles que têm morrido por seu
testemunho (v.14 com 6,9). Para eles é apresentado o término do sofrimento como
acontecerá na segunda vinda (v.16-17 com 21,4). Esta imagem é importante para
as igrejas da Ásia Menor, onde alguns haviam morrido e outros estariam para
morrer, demonstrando o seu destino e sua bem-aventurança ao lado do Senhor.
CONCLUSÃO:Deus está no controle de todas as coisas! Jesus tem o domínio sobre
a história. Mesmo que passemos por tribulações, o Senhor nos conhece um a um.
Isso deve fazer diferença para nós!
Na abertura dos selos, quando esperamos que o sétimo seja aberto, o escritor
apresenta um interlúdio (capítulo 7) para somente depois dele abrir o último selo.
Mas, para nossa surpresa, esse selo não introduz a abertura do livro com a
revelação do seu conteúdo e conseqüentemente a vinda de Jesus; pelo contrário,
ele traz uma nova série de sete. Agora são sete trombetas que serão tocadas! Elas
compõe o conteúdo do sétimo selo. Temos um novo bloco do livro que volta a
apresentar o paralelismo progressivo.
A abertura do sétimo selo introduz uma cena celestial (v.1-2). Um anjo queima
incenso para oferecer com as orações dos santos (v.3-4). Os sacrifícios no V.T. eram
apresentados com incenso (Lv 16,12), e a oração, vista como um sacrifício a Deus
passou a ser comparada ao incenso que sobe diante de Deus (Sl 141,2). Esta cena
fornece a garantia de que as orações dos fiéis têm chegado a Deus e que Ele as
responde. Essa resposta se manifesta quando o anjo pega o fogo do altar e joga
sobre a terra (v.5). Isso indica o julgamento de Deus que se dará através do toque
das trombetas. Talvez fosse isso que os cristãos pediam em suas orações.
As pragas que vêm por intermédio das trombetas devem ser entendidas como
conseqüência e retribuição aos pecados dos homens. Somente nesse sentido é que
pode-se entender que a terra e a natureza sofram (8,9.11. Ver Rm 8,20-22). Além
disso, o pano-de-fundo das trombetas se encontra nas pragas do Egito (Ex 7-11)
que mostram o juízo de Deus sobre um povo que oprimiu os israelitas e não quis
ouvir a voz de Deus.
Primeira trombeta (8,7). Representa qualquer tipo de destruição que causa dano à
terra (ver a relação com a sétima praga em Ex 9,24-25).
Sexta trombeta (9,13-21). Esta última trombeta, antes do final, apresenta um último
aviso e mais grave: a morte (v.15, 18). De fato, ela nos faz pensar na nossa situação
diante de Deus. Mas mesmo diante dela, os homens não se arrependem (v.20-21).
Um anjo vem e afirma através de um juramento que não haverá demora para o fim
(10,1-7). Ordena-se a João que coma o livro que está com o anjo (v.8-10), sinal e
símbolo de vocação profética (ver Ez 2,8-3,3). Comer o livro significa encher-se da
revelação profética. Isso acontece porque João tem muito o que profetizar (v.11).
Essa mesma igreja que é protegida por Deus, é mandada testemunhar através do
símbolo dos dois profetas (11,3). Eles são Elias (v.6a) e Moisés (v.6b), que eram
tidos como os maiores profetas de Israel. Em termos proféticos, representam muito
bem a Igreja. Eles são guardados por Deus (v.5). Devem profetizar 1.260 dias,
período esse entendido como compreendendo o tempo entre a primeira e segunda
vindas de Jesus (ver 12,4-5.14). A besta, que surgirá no capítulo 13, os mata (v.7-
8). Os povos alegram-se com isso (v.10), possivelmente porque eles pregavam
contra seus pecados. Mas três dias e meio depois da morte das duas testemunhas
elas ressuscitam (v.11), como o Senhor Jesus, e vão para junto do Pai (v.12). Esse
é o destino da Igreja. Embora receba forças para suportar os tormentos que se
abatem sobre a terra, sua pregação aos homens desperta ira, e ela é perseguida.
Isso tem acontecido na história da Igreja e acontecerá até a vinda de Jesus.
Por fim, temos a sétima trombeta (11,15-19). Ela marca a chegada do fim. Jesus
julga os mortos, dá galardão aos santos e destrói os ímpios (v.18-19). Aqui Jesus é
visto em toda a sua justiça que trará alegria àqueles que sofreram em seu nome e
punição para os que o rejeitaram.
Nas trombetas temos novamente o paralelismo progressivo. Pela segunda vez são
apresentadas catástrofes que se manifestam na história da humanidade. O objetivo
delas agora é atingir os descrentes a fim de despertar arrependimento e fé neles. A
Igreja é enviada ao mundo para testemunhar o evangelho de Jesus (cp. 11). Porém,
apesar dos sinais de Deus e da pregação da Igreja, o mundo não crê e mantém-se
endurecido em seu pecado. Nesse contexto, a sétima trombeta vem para dar o
pagamento que cada um merece.
Neste estudo começamos um novo ciclo dentro do Apocalipse. Nele, as coisas vão
ficando mais claras e explicadas. Aqui, fora as referências indiretas nas cartas às
igrejas, é a primeira vez que o império romano aparece de modo claro. Ele é citado
devido a sua relação com os cristãos. Todo o resto do livro será um desenvolvimento
do que for mostrado neste texto.
O dragão quer “devorar o filho da mulher” (v.4). Ou seja, ele queria matar Jesus
Cristo antes que Ele consumasse sua obra na cruz (Ver, nesse sentido, a intenção
demoníaca de Herodes em Mt 2,16-18). Porém não consegue. A criança é
arrebatada aos céus por Deus (v.6), o que significa sua ascensão após a
ressurreição. O objetivo destes primeiros seis versículos, portanto, é mostrar como
o diabo foi malsucedido ao tentar destruir o Senhor Jesus Cristo.
Como conseqüência do que foi dito acima, os versículos 7-12 mostram a expulsão
do diabo do céu que se deu com a encarnação, vida (o que pode ser visto através
da vitória sobre o diabo no deserto - Mt 4, e nos diversos exorcismos), morte e
ressurreição de Jesus (Jo 12,31-32; 16,11). Essa expulsão é apresentada através
de uma luta celestial (vs.6-9). A vitória de Jesus é assumida pelos cristãos (v.11).
A primeira, a “besta que surge do mar” (13,1) é o império romano (ver 17,3 e 9, onde
menciona-se os “sete montes”, referência explícita à cidade de Roma). O “mar”
representa os poderes que se opõe ao domínio de Deus (Sl 74,13-14; 89,10-11) ou
então significa o “mar Mediterrâneo”, lugar de domínio romano. Em ambos sentidos,
mar, aqui, significa oposição a Deus. A besta que vem do mar é o império romano
que se opõe a Deus e ao seu povo. Estamos agora falando do presente, dos
problemas da comunidade em seus dias diante de Roma.
Por trás deste domínio político, diz João, está o diabo (v.2b). Fica claro que a
questão da oposição de Roma que surge, ou surgirá, não é uma questão política
apenas, mas sim religiosa. É nesse sentido que os cristãos devem entender a
situação e se posicionar diante dela. Se em Rm 13 o imperador é instrumento de
Deus, neste capítulo ele é instrumento do diabo. Como o cristão deve se comportar
diante dessas realidades?
A “cabeça ferida de morte que é curada” (v.3), no texto grego é muito parecida com
a afirmação sobre Jesus, que é o “Cordeiro como tinha sido morto” (5,6). A “cabeça”
significa um imperador romano (ver 17,9b). Portanto, há um imperador que arroga o
direito de ocupar a mesma posição de Jesus como ressurreto. Na época havia uma
lenda que dizia que o imperador Nero, morto em 68 d.C., voltaria à vida, e, cria-se,
isso estaria acontecendo. Domiciano era, para o povo, o Nero redivivo! Isso
maravilhava “toda a terra” (v.3b) e trazia “adoração ao dragão e à besta” (v.4).
Temos, nestes versículos, um princípio importante para a manutenção de todo poder
político: criar uma “aura de divinização” em torno de si. Ou seja, apresentar-se como
representando Deus, ou então, divinizando seus heróis. É o que acontece com os
Estados Unidos, que dizem cuidar da democracia de todo o mundo, como país
escolhido por Deus, sendo que, na realidade, trazem opressão. De modo
semelhante, o Brasil apresentava o golpe de estado de 1964 como orientado por
Deus para preservar a democracia contra o “comunismo diabólico”. O Apocalipse
nos ajuda a ver por “detrás” dessa máscara. Ver o quem realmente está agindo. E o
que se esconde por detrás dessa fachada é o poder diabólico que gera violência,
sofrimento e derramamento de sangue.
Esta segunda besta, enquanto manifestação religiosa, opera “sinais”, visto que
Satanás está por trás dela (2Tss 2,9). Ela desenvolve uma identidade profética
poderosa, semelhante a Elias (v.13. Ver 1Rs 18,30-38). Também torna viva a
imagem da besta (v.15a), possível referência aos oráculos que eram proferidos por
ela. Assim como os que adoram a Deus foram marcados (7,3), os adoradores da
besta também o são (v.16). Tal procedimento significa a identificação daqueles que
são leais, tanto a Deus, quanto à besta. Esta caracterização irá definir o destino de
cada pessoa no desenrolar do livro. Assim como a marca de Deus, a marca da besta
também era simbólica. Não existe dado histórico indicando que todos que adoravam
ao imperador recebiam uma marca. A marca consistia na própria lealdade, fosse a
Deus ou ao diabo. Portanto, adorar ao imperador inclinando-se diante de sua
estátua, maravilhando-se com seus sinais prodigiosos, e seguindo suas orientações
como se fosse um deus, já constituía um sinal que haveria de identificar seus
praticantes.
Do mesmo modo, o “número da besta” (v.18) não introduz um nome específico, visto
que já sabemos que a besta é o império romano, representado por seu imperador,
Domiciano, mas sim um simbolismo. O número seis, por ser inferior ao sete, número
da perfeição, simboliza exatamente seu oposto, a “imperfeição”. Dizer que o número
da besta é 666, significa dizer que, apesar de toda sua arrogância e poder, o império
romano é imperfeito, até mesmo frágil e que, portanto, é sábio aquele que se
mantém ao lado de Deus.
A imagem das duas bestas é altamente relevante para nós. Muitas vezes, de modo
infantil, temos nos preocupado com o “significado” do número da besta e do seu
sinal, não compreendendo o real sentido disso. Na verdade, tem o sinal da besta
aquele que sente-se fascinado pelo estilo de vida da sociedade; aquele que idolatra
uma ideologia, seja comunista ou capitalista; aquele que coloca um propósito de
vida materialista para si; aquele que se deixa guiar por um Estado totalitário, ou
pseudo-democrático, etc. Todas essas expressões de vida e, na realidade, de fé,
quando se tornam senhoras de nossa vida, nos marcam com o sinal do verdadeiro
dirigente de nossos destinos: o diabo. É por isso que devemos lembrar sempre: a
característica deles é 666, ou seja, eles são imperfeitos! Temos tido discernimento
para entender isso???
Outro anjo anuncia o juízo de Deus sobre os que “adoram a besta”. Se anteriormente
Deus havia, através das catástrofes na história, chamado tais homens ao
arrependimento (cp. 8 e 9), agora define seu destino futuro (vs.9-11).
Há, em seguida, uma bem-aventurança sobre os que tem morrido no Senhor (v.13).
Isso mostra que Deus nunca esquece daqueles que lhe são fiéis.
Por fim, há a descrição do juízo final (vs.14-20). Ele é visto como uma “ceifa” (v.15-
16. Ver Mt 13,30) que objetiva aqueles que “adoram a besta”, os quais serão atirados
no “grande lagar da cólera de Deus”.
O capítulo quatorze fala, portanto, do juízo de Deus, que é mais específico do que
os já apresentados, e que enfoca aqueles que não o temem. Traz, de certa forma,
consolo para os que sofrem, e já é uma resposta à oração dos fiéis que pediam
justiça (6,10). Esta justiça será mais desenvolvida nos capítulos seguintes.
AS SETE TAÇAS
Capítulos 15 e 16
Novamente, neste ciclo, vemos repetir-se o período que cobre toda a história
humana. Devemos repetir que estes capítulos não estão em “seqüência cronológica”
com os anteriores. Evidência disso é a afirmação em 14,8 de que Babilônia (Roma)
“caiu”. Porém em 16,19 fala-se novamente de sua destruição e no capítulo 17 ela é
descrita de modo detalhado antes de perecer.
Os três capítulos estudados hoje estruturam-se assim:
? Capítulo 15. Cena de abertura no céu.
? Capítulo 16. As sete taças da ira de Deus.
João introduz uma visão que manifesta o tempo presente ao mostrar no céu aqueles
que “venceram a besta”. Isto é importante, pois assegura que aqueles que foram
aparentemente “derrotados” e “mortos” pela besta (13,7.15), na realidade, foram
“vitoriosos” sobre ela. Eles não estão tristes por terem morrido, pelo contrário, tem
cânticos de louvor a Deus e ao Cordeiro em seus lábios (15,3-4).
Em seguida sete anjos recebem sete taças de ouro contendo a cólera de Deus
(15,7). Isso significa que o que está para acontecer na terra não é obra do acaso,
mas obra de Deus. O que acontece na terra é definido no céu.
Para corroborar com o que foi dito acima, ou seja, que tanto trombetas quanto taças
cobrem o mesmo período da história, basta que coloquemos em colunas paralelas
os temas das trombetas e das taças para vermos a incrível semelhança:
Não deve ser surpresa para nós que o juízo de Deus se manifeste na história. Ele já
agiu assim em Babel (Gn 11,1-9) e em Sodoma e Gomorra (Gn 19,24-25). Tais
manifestações são apenas um prelúdio do grande ato de punição que será levado a
cabo no dia do juízo final.
O capítulo 16, então, expressa a ação de Deus contra Roma e seus seguidores,
dentro daquilo que seria o futuro em relação ao tempo de João e que culminará com
a volta de Jesus Cristo (16,17-21). Isso deve ser entendido por nós como a
manifestação do juízo de Deus na história e no final da história contra todo poder
que se levante contra Ele e sua Igreja. Você pode identificar algum fato desse na
história da humanidade?
A primeira taça (16,2) lembra a sexta praga do Egito (Ex 9,8ss). Quando as pessoas
se manifestam impenitentes e contrárias `a vontade de Deus, sua própria saúde
pode ser atingida.
A segunda taça (16,3) relaciona-se com a primeira praga do Egito (Ex 7,17-21). Ela
atinge o ser humano indiretamente, visto que ele depende do mar para viver.
A terceira taça (16,4-7), assim como a segunda, relaciona-se com a primeira praga
do Egito (Ex 7,17-20). Aqui fala-se da água enquanto necessária para a vida
humana. Possivelmente sua poluição deve-se à pecaminosidade do homem. Até
com uma certa ironia, o anjo explica o por quê dessa praga (v.6). Também ouve-se,
vindo do altar de Deus, vozes que louvam a justiça de Deus ao exercer juízo. É
provável que essas vozes sejam dos cristãos que clamavam por justiça em 6,10.
A quarta taça (16,8-9) lembra a maldição de Deus sobre os que não o temem (Dt
28,22). Como não pensar, em termos contemporâneos, ao câncer de pele, devido a
poluição da atmosfera?
A quinta taça (16,10-11) atinge diretamente a besta (império romano - cp. 13). É a
ação direta de Deus sobre os poderes políticos, religiosos etc que se levantam
contra Ele. A história tem mostrado como povos que não deram ouvidos a Deus
foram retiradas do cenário internacional, como o Egito, Assíria, Babilônia, Grécia,
Roma, e, mais recentemente, a União Soviética (com muita certeza porque
perseguiu os cristãos).
A sexta taça (16,12-16) manifesta a oposição do diabo (dragão), de Roma (besta) e
da máquina religiosa romana (falso profeta - em 19,20 ele é visto como aquele que
faz com que as pessoas adorem a besta, mesmo papel da segunda besta em
13,12.15) contra Deus. Eles procuram unir aqueles que lhes dão apoio para lutar
contra Ele (v.14). O lugar em que eles vão lutar chama-se “Armagedom”. Não há
concordância quanto ao lugar e seu sentido. O certo é que ele representa a mesma
batalha que virá mais tarde em 19,11-21 e 20,7-10. Porém aqui ela não é descrita.
A sétima taça (16,17-21) apresenta a vinda de Cristo (ver o paralelo entre o v.20 e
6,14), relacionada com a destruição de Babilônia (= Roma. Ver 17,5.9). O juízo sobre
Roma na história é somente uma antecipação do juízo final que virá sobre ela.
As taças introduzem a ação direta de Deus contra os inimigos de seu povo. Nos
capítulos 17 a 20 eles serão destruídos um por um. Depois virá a recompensa para
aqueles que são fiéis.
Primeiramente vem uma visão de Roma, a meretriz (vs. 3-6). Através das indicações
do texto torna-se claro concluir que essa mulher é a cidade de Roma (Ver vs.9a e
v.18). Suas vestes e adornos enfatizam sua “realeza e riqueza” (v.4). Ela está
“assentada sobre a besta” (v.3), que é o império romano (ver cp. 13), mostrando
assim que governa-o e é o seu centro. Ela é descrita como a “mãe das meretrizes e
das abominações da terra” (v.5), sendo, portanto, o centro de todo o mal que havia
no mundo de então. Sua última e principal característica é “estar embriagada com o
sangue dos santos” (v.6. Ver 13,7.15).
Continuando a descrição da besta, ela tem “dez chifres” que são dez reis (v.12)
aliados a ela e que têm poder por um período curto de tempo (“uma hora”). São
submissos à besta (v.13). Formam uma frente para combater o Cordeiro, que os
vence (v.14. Essa batalha é apresentada em 19,11-21).
A queda de Roma não é um fato isolado na história. Ela tem conseqüências. E elas
se manifestam para aqueles que se relacionavam com a capital do império.
Primeiramente os reis da terra se lamentam com a destruição da cidade (vs.3 e 9).
Eles participavam de seu poder e agora sentem a perda dele. Em segundo lugar,
temos os mercadores da terra (vs. 3. 11-16) que se enriqueceram através do
comércio com ela. Terão que buscar lucro em outro lugar. E, em terceiro lugar, vem
os mercadores do mar, a marinha mercante (vs. 17-19) que também se enriqueceu
por transportar as mercadorias de e para Roma no oceano Mediterrâneo. Todas
essas pessoas sofreram com a destruição de sua parceira. Deixaram de auferir
lucros com a ausência dela. Pode ser que entre elas se encontrassem cristãos. Isso
mostra como é perigoso viver uma religiosidade superficial, que esconde uma vida
essencialmente profana, e que se vende ao sistema de influências, ao lucro com
negócios escusos. Hoje não será assim também???
A besta com os reis da terra se reúnem para lutarem com Jesus (v. 19). Esta cena
foi antecipada em 16,14-16. Embora essa batalha não seja descrita, seu resultado
é apresentado. A besta com o falso profeta (que é a segunda besta do cp. 13. Ela
opera “sinais” - 19,20. Comparar com 13,13) são aprisionados e lançados no “lago
do fogo que arde com enxofre” (v. 20b), lugar de sofrimento eterno (20,10b),
chamado de “segunda morte” (20,14), para onde irão os que não estão inscritos no
livro da vida (20,15). Mais dois inimigos do Senhor Jesus são destruídos! Essa será
a punição final do império romano e de todo império ou nação que se levante contra
Deus.
Temos aqui uma descrição da segunda vinda de Jesus em termos de uma “batalha”.
Essa mesma segunda vinda já foi vista como uma “ceifa” (14,14-20). O Apocalipse
usa várias imagens para descrever o mesmo fato.
Nestes três capítulos vimos a punição de três inimigos do Senhor Jesus e de sua
Igreja: a prostituta (Roma), a besta (império romano), e o falso profeta (máquina
estatal de promoção da adoração do imperador). Os seguidores da besta já haviam
sido punidos no capítulo 16. Essa imagens são importantes para, primeiramente,
fortalecer aqueles que sofrem e são perseguidos, a fim de permanecerem fiéis a seu
Senhor. Em segundo lugar, elas nos lembram que um dia aqueles que nos têm
trazido “lágrimas aos olhos e a morte” (21,4) serão punidos pelo Senhor Jesus na
manifestação de sua justiça. Mas há um último inimigo a ser vencido - o dragão,
Satanás. Isso acontecerá no capítulo 20.
No estudo anterior (capítulos 17 a 19) vimos como o Senhor Jesus venceu três de
seus inimigos: Roma, a besta (império romano) e o falso profeta (máquina estatal
romana a serviço da divinização do imperador). Hoje vemos sua vitória sobre o
último e maior adversário: o dragão (diabo). Ele é o último a ser vencido por ser o
mais importante e por que estava por trás dos outros motivando-os para que
perseguissem a Igreja. Portanto, após sua derrota João poderá falar da igreja
vitoriosa vivendo com seu Deus e seu Senhor (capítulos 21 e 22).
Neste bloco temos pela última vez o aparecimento do paralelismo progressivo, isto
é, o modo pelo qual o Apocalipse conta a história começando com o passado e
caminhando até o futuro. Constatamos isso através do “aprisionamento de Satanás”
(20,2) que se deu na encarnação, morte e ressurreição de Jesus (Lc 11,20-22),
referindo-se, portanto, ao passado; por intermédio da apresentação dos cristãos que
se “opuseram a besta” (20,4), que diz respeito ao presente; e na descrição do “juízo
final” (20,11-15), que manifesta o futuro. Vemos, novamente, a apresentação da
história da humanidade desde a primeira até a segunda vinda de Jesus Cristo.
O milênio pode ser visto a partir de duas ênfases diferentes no texto: numa
perspectiva “terrena” (vs. 1-3), relacionada com a prisão de Satanás, e numa
abordagem “celestial” (vs.4-6), enfocando a presença dos cristãos mortos no céu
juntamente com Cristo.
O diabo é “preso” por mil anos. Como dissemos acima, isso se relaciona com a
vitória de Jesus sobre ele (Ver Lc 11,20-22; Jo 12,31; 16,11; 1Jo 3,8b). Esta
mensagem já foi apresentada no capítulo 12,7-12. Esta prisão significa que ele não
tem mais poder para “enganar as nações” (v.3). Antes da manifestação de Jesus
Cristo, o diabo exercia domínio (não absoluto, é claro) sobre os povos, guiando-os
para a distância de Deus. Mas com a presença de Jesus e posteriormente da Igreja,
os homens começam a ser arrancados do reino do diabo e transportados para o
reino de Jesus (Cl 1,13). Agora as trevas não podem mais se opor à luz (Jo 1,5).
Através da pregação do evangelho os homens são chamados à salvação.
O período de “mil anos” durante o qual o diabo está preso deve ser entendido
simbolicamente, do mesmo modo como foram entendidos os “quarenta e dois
meses” (11,2), os “mil duzentos e sessenta dias” (11,3; 12,6), o “um tempo, tempos
e metade de um tempo” (12,14), e “uma hora” (17,12). Este período representa um
tempo que se estenderá “da encarnação até um pouco antes da segunda vinda de
Cristo”. Logo após os mil anos o diabo “será solto por pouco tempo” (v.3).
Dentro de uma perspectiva “celeste”, os mil anos relacionam-se com o destino
daqueles que tem sido mortos em nome de Jesus (v. 4-6). Eles são descritos como
“sentados em tronos para julgar” (v. 4). Esta visão é conhecida do resto do Novo
Testamento (Ver Mt 19,28; Lc 22,30; 1Co 6,2). Eles “reinam” (v.4) e são “sacerdotes”
(v.6) junto a Cristo. Isto já foi dito daqueles que crêem em Jesus (1,6; 3,21; 5,10).
Se anteriormente eles foram apresentados “sofrendo”em nome de Jesus, agora eles
são vistos “reinando” com Ele. Isso era muito importante para as comunidades para
quem João escrevia. Mesmo que para o mundo os cristãos fossem perdedores, na
realidade eles eram vencedores. Estavam na presença de seu Senhor reinando
juntamente com Ele.
Nos versículos 7 a 10 é descrita a vitória sobre o diabo. Após os mil anos, o diabo é
solto (v.7) por “um pouco de tempo” (v.3b). Será um período curto de tempo no qual
ele fará uma oposição feroz a Deus. Paulo já falou dessa manifestação satânica dos
últimos tempos (2Tss 2,1-4; 7-12). Essa oposição é descrita no Apocalipse como
uma sedução das nações que há “nos quatro cantos da terra” (v. 8a = todas as
nações do mundo), que são chamadas de “Gogue e Magogue”. Tais nomes vêm de
Ez 38,2 e, qualquer que seja o sentido que desenvolvem nesse texto, aqui eles
simbolizam a reuniam de todos os povos ao lado do diabo para lutar contra Jesus
Cristo. O texto não descreve a luta, dando porém o resultado: “desce fogo do céu e
os consome” (v.9). Tal batalha já foi descrita como acontecendo num lugar
desconhecido ou ignorado chamado “Armagedom” (16,13-16); ou como a reunião
de dez reis com a besta para lutar contra o Cordeiro (17,12-14); ou mesmo como a
batalha de Jesus contra a besta e os reis da terra (19,19-20). São maneiras
diferentes de descrever a mesma cena. Por fim, o diabo é vencido. Ele é lançado no
lago de fogo e enxofre onde estão a besta e o falso profeta (v.10). O último inimigo
do Senhor Jesus e da Igreja é derrotado!
O final do capítulo (vs. 11-15) apresenta a segunda vinda de Jesus Cristo como o
dia de julgamento para os homens. Esta cena é vista de outras duas perspectivas
no livro: como uma ceifa (14,14-20), e como uma batalha (19,11-21). Embora não
se diga quem é o juiz, deve ser o próprio Deus, que é várias vezes designado como
aquele que está sentado no trono (4,2; 5,1.7.13; 6,16; 17,10.15; 19,4; 21,5). Os
mortos de todos os tempos e épocas se apresentam diante do dEle (vs. 12-13).
Esses, que até aqui receberam juízos “na história”, serão julgados segundo suas
“obras”. Não devemos estranhar tal afirmação visto que aparece em outros lugares
como Mt 25,31-46; e 2Co 5,10. Os cristãos foram criados para “boas obras” (Ef 2,10)
e pelos seus “frutos” é que podem ser conhecidos (Mt 7,16-18). O destino das
pessoas será decidido em função de sua postura: se foram seduzidos e seguiram a
besta, serão condenados. Se foram fiéis a Jesus Cristo, e colocaram sua lealdade a
Ele acima do amor a suas próprias vidas, terão seus nomes inscritos no livro da vida
(vs. 12 e 15). A partir desse momento, o livro descreverá a vida dos cristãos em
comunhão com Deus e Jesus Cristo (cp. 21 e 22).
O capítulo 20 é a conclusão das lutas e batalhas pelas quais a igreja passa neste
mundo. Os cristãos mortos são vistos no céu reinando com Jesus. O diabo, em sua
última oposição é derrotado. E o destino final dos homens é manifestado. A partir
daí só haverá gozo (cp. 21 e 22).
O APRISIONAMENTO DO DRAGÃO (SATANÁS) E A
VITÓRIA DA IGREJA
Parte II - Capítulos 20 a 22,5
Neste segundo estudo desta seção que intitulamos Vida da Igreja com seu Senhor
na Nova Jerusalém (ver estudo anterior), abordaremos o capítulo 21:1 até 22:5.
Vimos anteriormente a derrota do diabo e o juízo final (capítulo 20). Agora veremos
o povo de Deus em Sua presença na eternidade gozando da recompensa da
fidelidade à Ele.
1.1. Visão Geral sobre a Nova Era inaugurada por Cristo - 21:1-8.
Sendo assim, devemos tomar por certo que, onde o escritor fala da cidade, ele
está usando uma linguagem simbólica para falar do povo de Deus, da Igreja,
de nós mesmos:
a. É protegida - v.12.
Essa proteção é indicada pela referência à “muralha alta” (Ver Is 26,1). Na
antigüidade era inconcebível uma cidade que não estivesse protegida contra seus
inimigos através de uma muralha inexpugnável. Essa idéia é usada aqui para dar
certeza aos que estarão na presença do Pai de que nenhum mal os ameaçará. O
tempo das ameaças e perigos já terminou.
Diante da afirmação de que Jesus “vem sem demora” (v.7), o Espírito Santo e a
Igreja (noiva) dizem: “Vem” (v.17). Mas para que esse desejo se cumpra de modo
eficaz na vida do cristão é necessário que ele “guarde” as palavras do livro (v.7b).
Isso já foi dito em 1,3. “Guardar” significa “viver, observar, cumprir na vida”. De modo
mais específico, “guardar” significa “não acrescentar nada” (v.18) e “não retirar nada”
(v.19). O que Deus tinha que revelar está no livro, não existem acréscimos. Isso é
importante diante de tanta fantasia que tem existido em torno do Apocalipse durante
a História. Acrescentar pode significar uma mudança da mensagem numa visão
meramente “espiritualista e mística” do livro que não leva em consideração todo o
caráter político e social do confronto da Igreja com a besta e o dragão. “Tirar” pode
revelar o pensamento por parte de alguns de que João foi muito radical em suas
posições, que a realidade não é assim. Isso pode ter acontecido na época de escritor
e pode acontecer em nossos dias. Talvez essa tentação se apresente na vida
daqueles que acham que podem ter uma vida fiel a Deus e ao mesmo tempo andar
de mãos dadas com o mundo e seus conceitos.
Finalmente, João novamente nos apresenta sua definição sobre o livro que
escreveu: é uma “profecia” (v.7. 10. 19 com 1,3). Já falamos do sentido de profecia
na Introdução - II. A profecia é o “testemunho de Jesus” segundo 19,10b. Ou seja,
este livro é uma profecia na medida em que fala dos desígnios de Jesus Cristo, Sua
vontade para seu povo e para a Humanidade. Portanto, o livro é muito importante,
visto que não contém palavras de João, mas de Jesus mesmo.
Este bloco, por estar no meio dos dois textos anteriores (vs.6-10 e 16-21) apresenta
como que uma conseqüência em relação à eles. Os servos de Deus, aqueles que
desejam ansiosamente a vinda de Jesus Cristo, que não acrescentam nada e nem
retiram nada do livro, têm um tipo de comportamento no presente. Aqueles que não
observam as palavras da profecia e não se importam com a vinda de Jesus Cristo,
apresentam um modo de vida próprio. Os vs.11-15 tem como função realçar essa
questão como um alerta para os cristãos daquela época e para nós, os que vivemos
no presente.
O texto apresenta um tom realístico impressionante. Se no último estudo vimos a
beleza e glória da vida com Jesus Cristo no Novo Céu e na Nova Terra, este texto
nos traz de volta ao presente fazendo-nos esquecer de qualquer pensamento
ingênuo que nos leve a pensar que a vida não precisa ser exatamente igual àquela
apresentada no Apocalipse. “As coisas podem ser mais fáceis”, dirão alguns. Mas
para João a vida é dura e cheia de conflitos exatamente como o livro nos mostra.
Vemos isso no v.11 onde se diz que os homens continuarão até a vinda de Jesus
Cristo sendo “injustos e imundos” de um lado, e “justos e santos” de outro. Embora
o cristão tenha um compromisso social com a sociedade segundo outros textos do
Novo Testamento, o conflito entre a vontade de Deus e a ação do diabo continuará
até o fim. Não existe meio termo. Ou se está de um lado, ou de outro. É a postura
diante da mensagem do livro que irá decidir qual nossa posição.
Falando do destino final dos seres humanos, João novamente apresenta de uma
divisão entre os homens. Haverá aqueles que “entrarão na cidade pelas portas”. São
os que foram julgados por “suas obras” (21,11-15) e que receberão o “galardão”
(v.12. Ver 11,18). Possivelmente esse galardão significa simplesmente a salvação,
“o direito à árvore da vida” (v.14b). Mas enganam-se aqueles que pensam que o
Apocalipse trabalha com o conceito da salvação “pelas obras”. Para João, as obras
são evidência da fé e da fidelidade. Porém todos os cristãos estarão na presença de
Jesus Cristo porque “lavaram suas vestiduras no sangue do Cordeiro” (v.14).
Por outro lado, haverá aqueles que ficarão de fora. São apresentados no v.15. Eles
já apareceram em 21,8 como aqueles que, longe de participarem do Novo Céu e da
Nova Terra, irão para a “segunda morte”. São os que não levam em conta as
advertências do Apocalipse. São os mesmos “injustos e impuros” do v.11a.
Estes últimos versículos do livro querem dar um caráter solene à obra diante de seus
ouvintes. Ela não pode ser menosprezada. Seu objetivo é abrir os olhos daqueles
que têm contato com ela a fim de poderem discernir a época em que vivem. O fim
“não está distante”. O diabo não irá se manifestar apenas no “futuro”. A besta não é
nenhum ser “bizarro” que aparecerá com uma placa indicando: “besta”, nem seu
sinal será uma “tatuagem”, ou o “código de barras” das embalagens. O Apocalipse
é atual e sempre será. Ele nos ajuda a ver, por trás das estruturas sociais e políticas,
quem está realmente agindo. Ele nos questiona se “já” não temos a marca da besta,
se não seguimos o estilo de vida de uma sociedade secularizada que é guiada pelo
diabo.
Espero que o estudo deste livro tenha ajudado você a discernir melhor a vida e a se
posicionar diante dela. Meu desejo é que diante da mensagem do Apocalipse você
não seja considerado como “morno”. Isso será muito perigoso. Se este estudo
ajudou-o a quebrar barreiras que se levantavam contra o Apocalipse, e se você
passou a “simpatizar” , “gostar” e a “respeitar” este livro, já estarei satisfeito. Afinal,
devemos reconhecer que a Bíblia não poderia terminar com outro livro tão
maravilhoso como o Apocalipse!
BIBLIOGRAFIA
*Dentre estes comentários, o de Prigent é o mais completo, sendo o
melhor em língua portuguesa até o momento presente. Porém é um
texto técnico, de difícil leitura para pessoas não acostumadas com a
linguagem exegética. Para os que lêem inglês sugiro o livro de
Talbert. Ele trabalha bastante as questões literárias e é de leitura
agradável. Em português, para uma primeira leitura Mesters é
muito sugestivo. Para aprofundamento, os textos de Hendricksen
(embora um tanto antigo) e de Wilcock ajudarão bastante.
BORING, M. Eugene. Revelation. Louisville, John Knox Press. 1989. 236 p. (Série:
Interpretation. A Bible Commentary for Teaching and Preaching).
CAIRD, G.B. The Revelation of Saint John. Peabody, Hendrickson Publishers. 1966.
316 p. (Série: Black’s New Testament Commentary).
PRIGENT, Pierre. O Apocalipse. São Paulo, Edições Loyola. 1993. 455 p. (Série:
Bíblica Loyola, no. 8).