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ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da CORTE ESPECIAL do Superior Tribunal de Justiça, prosseguindo no
julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Teori Albino Zavascki dando provimento ao
agravo regimental, no que foi acompanhado pelos Srs. Ministros Hamilton Carvalhido,
Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Luiz Fux, Castro Meira, Arnaldo Esteves Lima e Massami
Uyeda, por unanimidade, dar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Hamilton Carvalhido, Nancy
Andrighi, Laurita Vaz, Luiz Fux, Teori Albino Zavascki, Castro Meira, Arnaldo Esteves
Lima e Massami Uyeda votaram com o Sr. Ministro Relator. Não participaram do julgamento
os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Francisco Falcão e João Otávio de Noronha.
Impedido o Sr. Ministro Gilson Dipp. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Eliana
Calmon. Convocado o Sr. Ministro Massami Uyeda para compor quórum. Presidiu o
julgamento o Sr. Ministro Felix Fischer.
RELATÓRIO
'Pelo pedido de auxílio jurídico direto, o Estado estrangeiro não se apresenta na condição de
juiz, mas de administrador. Não encaminha uma decisão judicial a ser aqui executada, mas
solicita assistência para que, no território nacional, sejam tomadas as providências
necessárias à satisfação do pedido.
"Surpreendente tal decisão, e nem se diga que as razões do agravo foram suficientes para
alterar o juízo de convicção do D. Presidente do STJ, pois o conteúdo nele veiculado é
literalmente igual ao constante do pedido de suspensão, não foi motivada por nada de novo"
(fl. 685).
"Com efeito, o pedido de suspensão formulado pelo Agravado não atende aos requisitos de
admissibilidade, porque não fundamenta e comprova circunstâncias fáticas de grave lesão à
ordem, à saúde, à segurança ou à economia públicas. Igualmente, a r. decisão padece do
vício da falta de fundamentação qualitativamente determinada pelo artigo 271 do Regimento
Interno do Superior Tribunal de Justiça" (fl. 689).
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"... o potencial ofensivo do ato está justamente na ordem de solicitação por invocação de um
acordo internacional bilateral que, uma vez acatada, proporcionará a quebra do sigilo
bancário. Isso implica sim dizer que a Autoridade-coatora 'determinou', 'ordenou' e
'requisitou' a execução de disposição do Acordo de Assistência Legal Mútua que gera a
quebra do sigilo bancário, e assim o fez à margem do controle da legalidade" (fl. 696).
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"... interpretar o Acordo de Assistência Legal Mútua que atribui sentido de prescrição da
solicitação do processo de cooperação internacional envolvendo o acesso pelo Ministério
Público a dados bancários dos investigados sem a prévia autorização judicial implica
admitir sentido normativo contrário à Constituição e à legalidade, o que fulmina a
legitimidade constitucional do Acordo internacional e, com isso, o torna passível de
indispensável controle de constitucionalidade. Com efeito, deve ser afastada a interpretação
da condição de possibilidade da solicitação da cooperação à margem do sistema de controle
judicial das informações tratadas no sistema brasileiro como sigilosas, se a idéia é a
preservação da validade desse ato normativo internacional" (fl. 704).
(g) Produção ilícita da prova
"Não tendo sido realizada a troca dos instrumentos de ratificação tal como preconiza o
'Artigo XX' do Acordo, logo não cumprida está a condição suspensiva de eficácia, exigida
justamente porque o Decreto n. 3.810⁄2001 vige. Com efeito, é correto o argumento do MM.
Juízo monocrático de entender inexistir ainda as condições formais para a superação da
condição suspensiva de vigência do Acordo, porque: 'Falta-lhe a ratificação, como imposto
pelo seu próprio artigo XX'" (fl. 707).
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Se dos fatos em relação aos quais atribui-se a prática de crimes há interesse ou patrimônio
público da União envolvido - exclusivamente ou não -, então a legitimidade ativa para
promover as medidas judiciais cabíveis não é do Ministério Público Estadual, mas sim do
Ministério Público Federal, por força do inciso I do artigo 109 da Constituição Federal" (fl.
712⁄713).
1. Os autos dão conta de que o Ministério Público do Estado de São Paulo "instaurou o
Inquérito Civil nº 569⁄2009, com a finalidade de apurar notícias de irregularidades
praticadas por membros da Igreja Universal do Reino de Deus" e de que "no curso do
referido procedimento investigatório foi expedida Solicitação de Assistência Legal com
fundamento no Tratado de Assistência Legal Mútua entre Brasil e Estados Unidos da
América (...), a fim de que autoridades destinatárias do pedido de cooperação, naquele País,
providenciassem informações relativamente a operações bancárias indicativas da ilicitude
noticiada nos autos do Inquérito Civil" (fl. 03⁄04).
A MM. Juíza de Direito Dra. Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi concedeu a ordem para
"tornar nulo o teor da Solicitação de Assistência Legal Mútua que objetiva a quebra do
sigilo bancário a que se reporta a petição inicial porquanto desprovida de prévia e
necessária autorização judicial" (fl. 539).
O Ministério Público do Estado de São Paulo requereu a suspensão dos efeitos da sentença no
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (fl. 36⁄57), e, denegado o pedido (fl. 59⁄65), fez
por renová-lo no Superior Tribunal de Justiça (fl. 01⁄33).
Inicialmente o pedido foi indeferido (fl. 565⁄569), mas a decisão foi reconsiderada no âmbito
de agravos regimentais interpostos pelo Ministério Público do Estado de São Paulo e pelo
Ministério Público Federal (fl. 667⁄668).
Sobreveio o presente agravo regimental, interposto pela Igreja Universal do Reino de Deus,
dando conhecimento de fato novo: o de que a 16ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, anulou o processo penal instaurado para apurar os mesmos fatos que
estavam sendo investigados pelo Ministério Público Estadual no inquérito civil.
“Com a devida vênia, mostra-se irrelevante, do ponto de vista jurídico, a decisão proferida
pela col. 16ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça que no Habeas Corpus nº
990.10247420-8 determinou a remessa do feito criminal à Justiça Federal.
Referido feito trata da ação penal instaurada em virtude de fatos apurados pelo Ministério
Público do Estado de São Paulo, com relação a pessoas físicas, conforme, inclusive, tivemos
oportunidade de noticiar nos presentes autos.
Entretanto, não fica afastado o interesse no julgamento do pedido desuspensão de segurança
por uma simples razão: ela se refere à atividadeinvestigatória do Ministério Público na
esfera cível, para fins de ajuizamento de eventual ação civil pública" (fl. 1524⁄1525, o
sublinhado não é do texto original).
Cabe acrescentar que o pedido de auxílio direto (ao qual se relaciona a suspensão de
segurança em epígrafe) foi expedido nos autos do Inquérito Civilnº 569⁄2009, instaurado
pelo DD. 9º Promotor de Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital, Dr. Saad
Mazloum, com a finalidade de apurar notícias de irregularidades praticadas por membros
da Igreja Universal do Reino de Deus – utilização indevida de pessoa jurídica com a
consequente possibilidade de sua dissolução (art. 50 e 51 do Código Civil de 2002).
Tal investigação ainda se encontra em andamento, e não está o auxílio direto prejudicado,
persistindo o interesse na obtenção de informações junto às autoridades requeridas, nos
Estados Unidos da América.
Por essa razão, a anulação da ação penal pela decisão proferida pela col. 16ª Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça, que no Habeas Corpus nº 990.10247420-8 determinou a
remessa do feito criminal à Justiça Federal, não afeta o interesse na obtenção de
informações através do pedido de auxílio direto.
O acordo a que se refere o requerente, e no qual se funda o pedido de auxílio direto, é aquele
promulgado pelo Decreto nº 3.810, de 2 de maio de 2001, que trata da assistência judiciária
em matéria penal entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos
Estados Unidos da América.
No entanto, o auxílio direto pleiteado se deu no âmbito de inquérito civil, instaurado com a
finalidade de instruir "ajuizamento de eventual ação civil pública".
À vista da unidade do Ministério Público Estadual, o pedido de cooperação internacional
estava justificado pelo trâmite da ação penal; afinal, a prova resultante do auxílio direto
poderia ser aproveitada no processo penal.
Anulado o processo penal, com a remessa dos respectivos autos à Justiça Federal, o pedido
deve ser renovado, se for o caso, pelo Ministério Público Federal; o Ministério Público
Estadual não pode sustentá-lo nos autos de inquérito civil, sob pena de se ampliar os termos
de um acordo internacional restrito à eficácia da repressão penal.
Voto, por isso, no sentido de dar provimento ao agravo regimental, indeferindo o pedido de
suspensão.