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Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
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o trabalho de editoração deste livro_(normahzaçao, rt d' gramação) foi realizado
a e e 1a SUMÁRIO
pelo Colégio Brasileiro de Reproduçao Ammal - CBRA.
CBRA
Alameda das Princesas 1275 Carlos Am érico Pacheco; Alberto Duque Portugal... .. ......... ................ .. ..... 7
31275-1 80 Belo Horizonte - MG
Tel.: (031) 491 -7122; Fax: (031) 491 -7025 PARTE 1- CONCEITOS BÁSICOS
http://www.cbra.org.br
e-mail: cbra @cbra.org.br; cbra@ uol.com.br A concepção de desenvolvimento regional
Paulo Roberto Haddad.. ... ..... ...... .......... ........ ................ .. ... ............... ... .. .... . 9
Apêndice técnico: A competitividade do agronegócio - Estudo de
COMITÊ OE APOIO TÉCNICO c/uster
Alexandre Loures Bandeira Dias- CBRA Paulo Roberto Haddad.... ....... ............. ..... .. ..... ......... ..... ............................. 23
Maria Helena C.da Silva - CBRA 2 Impactos dos planos de governo sobre a agroindústria brasileira
Marta Lúcia Oliveira - CBRA Paulo Roberto Haddad ........... .................. ....... ......... .. .. ... ............ ...... ... .. ..... 37
Simone Martins de Abreu - CBRA 3 Análise dos impactos das políticas macroeconômicas sobre a
agroindústria brasileira
Paulo Roberto Haddad.. .. ..... . ...... ....... ............. ......... .. ................. ......... ..... .. 43
CNPq -Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 4 A agroindústria e os desequilíbrios regionais de desenvolvimento
Paulo Roberto Haddad..... ...... ........ ......... .... ...... .... ... .......... ......... .. ........ .... .. 53
SEPN 0 .509 Bloco A Ed.Nazir I
70750-901 Brasília-DF 11 - ESTUDO DE CASOS
Tel: (0 6 1) 348-9381 Fax: (061) 348-9394
Home-page: www.cnpq.br O cluster do cacau no sul da Bahia
E-mail: prcunha@cnpq.br ou gloriag@cnpq.br Gilberto C.C . Mascarenhas; Rosalina Ramos Midlej; Salvador dai Pozzo
Trevizan ; João Manuel Afonso; Ebiezel Nascimento Andrade Filho;
Josemar Xavier de Medeiros ........................ ........ .................. ....... ...... ...... ..
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C737 A competitividade do agronegócio e o desenvolvimento regional no
O c/uster suinícola do oeste de Santa Catarina
Brasil; estudo de cluster. I Organizado por Paulo Roberto Jonas lrineu dos Santos Filho ; Neusa Alice dos Santos; Mário Duarte
Haddad ai ai. - Brasília:CNPq/Embrapa, 1999. Canever; Ivan Sergio Freire de Sousa; Luís Fernando Vieira ................ .. ..
OOOp .: ii. 125
O cluster de grãos na região de Rio Verde no Sudoeste de Goiás
1 Agronegócio _ Brasil. 2. Agroindústria- Brasil. 3.
Des~nvolvimento regional - Brasil. I. Haddad, Paulo Roberto . Flávio Augusto D'Araújo Couto; José de Anchieta Monteiro .. ...... .. ......... .. ..
181
CDD-338.1 CDU-339.5 (81) O c/usterda fruticultura no pólo Petrolina-Juazeiro
Carlos Roberto Machado Pimentel. ... ........... . ....... .. ..... ...... ............. ... ..... .. ... 229
III- CONCLUSÃO
Considerações finais
Paulo Roberto Haddad .. .... ................................... ..... ............ ......... ... .. ....... 263
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Este é um livro que trata das relações entre desenvolvimento, c1encia e Para delimitar a concepção fundamental de um processo de desenvolvimento
tecnologia como instrumento de promoção social e aumento da competitividade da regional, é preciso, desde o início, distingui-la do mero processo de crescimento eco-
economia brasileira. Tem-se aqui o resultado de um trabalho que não só foi multi- nômico. A localização e a implantação de novas atividades econômicas numa região
institucional, mas também multi e interdisciplinar. Economistas, sociólogos, biólogos e podem elevar os seus níveis de produção, de renda e de emprego a um ritmo mais
profissionais das ciências agrárias formaram equipes de trabalho que coletaram e intenso do que o crescimento de sua população, sem que, entretanto, ocorra um pro-
analisaram dados das mais diferentes fontes. Temos convicção de que o mesmo traz cesso de desenvolvimento econômico e social. Os valores per capita do produto e da
contribuições originais e relevantes ao tema do desenvolvimento regional, podendo renda regional se expandem, denotando basicamente que a região estará vivendo
servir de base para o melhor entendimento e mesmo para o fortalecimento do uma etapa favorável na sua trajetória de crescimento econômico e que, em média,
agronegócio brasileiro. estará havendo um aumento na quantidade de bens e serviços à disposição dos seus
habitantes.
..
ticas comandadas principalmente pelo Governo Federal, geram condições externas às limitações físicas ou por legislação ambiental), na sobre-exploração da força de
decisões regionais que podem estimular ou freiar o crescimento económico da região, ho (que pode encontrar resistências políticas ou legais com o avanço da redemo-
de acordo com os rebatimentos específicos destas políticas sobre sua estrutura pro- n::tLIILa•vaiJJ ou na informalidade e na clandestinidade de suas operações (que podem
dutiva. Quase sempre, estas políticas são , por si só , predominantes e capazes de ex- com a modernização e eficácia dos sistemas tributários e previdenciários).
plicar o crescimento económico e a evolução da renda de uma determinada região.
As vantagens competitivas dinâmicas da agroindústria de uma região, aquelas
Por outro lado, o processo de desenvolvimento de uma região, que pressupõe resistem aos processos de globalização e de integração da economia nacional,
o seu crescimento económico, dependerá, segundo Boisier (1993), fundamentalmente , inicialmente, da sua dotação de recurs.os naturais e de sua posição relativa
da sua capacidade de organização social que se associa: (a) ao aumento da autono- regiões do país e do exterior. No médio prazo, pode-se afirmar que esta dota-
mia regional para a tomada de decisões; (b) ao aumento da capacidade para reter e corresponde simplesmente ao estoque dos recursos naturais que são requeridos,
reinvestir o excedente económico gerado pelo processo de crescimento local; (c) a um . algum grau m~is significativo, pela economia nacional para atender às demandas
crescente processo de inclusão social, (d) e, a um processo permanente de conserva- · e externa . A medida que os requisitos da economia se modificam a longo pra-
ção e preservação do ecossistema regional. Esta capacidade de org~nização social da composição e a dimensão do estoque se alteram e, nesse sentido, o significado
região é o fator endógeno por excelência para transformar o crescimento em desen- seja "a dotação de recursos" de uma região muda com a dinâmica do cresci -
volvimento, através de uma complexa malha de instituições e de agentes de desenvol- económico, ou seja, com os determinantes da demanda final (preferências dos
vimento, articulados por uma cultura regional e por um projeto político regional. idores, distribuição de renda, comércio exterior), com as condições tecnológi-
produção (surgimento de novos produtos e novos processos) , da organização
Segundo esta concepção, mais explicitamente, o desenvolvimento de uma ,. ,.,,~,n~a produtivo e de seu arcabouço político-institucional (legislação ambiental,
determinada região pressupõe : de segurança etc.).
• um crescente processo de autonomia decisória;
• uma crescente capacidade regional de captação e reinversão do excedente Em geral, quando se pretende definir quais são as potencialidades de cresci-
económico; económico de uma região a partir da sua dotação de recursos, é preciso estar
um crescente processo de inclusão social; de que o conceito de potencialidade de recursos é económico e não físico. Ou
• uma crescente consciência e ação ambientalista; o valor de um recurso natural não é intrínseco ao material, mas depende da es-
• uma crescente sincronia intersetorial e territorial do crescimento; da demanda, dos custos relativos de produção, dos custos de transporte, das
tecnológicas que sejam comercialmente adotadas etl;.
• uma crescente percepção coletiva de pertencer à região .
A delimitação de um sistema produtivo regional competitivamente dinâmico é A questão dos custos relativos é crítica: uma oportunidade favorável em algu-
imprescindível para uma região inserida num País que passa, de u.m l.ado, por um ·lbc:ali:dade ou região pode não ser explorada devidamente por causa da existência
crescente processo de integração nacional desde o f1m dos anos c~nquenta, a qu~l melhor oportunidade em outra localidade ou região. Portanto, a incorporação
vem estimulando a concorrência interregional; e, de outro lado, por um processo ma1~ noções de custos de oportunidade e de concorrência são importantes para a me-
recente de integração global, que amplia o espaço da concorrência internacional. E compreensão do conceito de competitividade interregional.
difícil imaginar a sobrevivência de atividades económicas de qualqu~~ .naturez~ .e ~m
qualquer escala produtiva numa região que não disponha de co~pet1t1v1d~de d1nam1ca Não se pode deixar de avaliar as oportunidades de investimentos que podem ir
em termos de preço e de qualidade para enfrentar bens e serv1ços eqw~alentes que à medida que a própria exploração da base de recursos naturais da regi-
chegam aos seus municípios e localidades com custos de tra~s~ortes e Impostos al- o crescimento do seu mercado interno. O mercado interno de uma região é,
fandegários cada vez mais declinantes, num contexto de comercio extenor desregula- função de três vetares principais: o tamanho da população regional; o seu nível
mentado. produtividade; o grau de concentração na sua distribuição pessoal e familiar de
e de riqueza. Quanto maior a população, maior o nível de produtividade (quanto
Neste sentido, é preciso, inicialmente, que se distingam as vantagens .: conô- a capacidade de produzir, maior a capacidade de consumir) e mais bem distribuída
micas espúrias das vantagens competitivas dinâmicas específicas de cada reg1ao. As de uma região, maior será a dimensão de seu mercado interno. Embora em ai-
vantagens competitivas espúrias são aquelas que não se sustentam no longo prazo regiões, em que a base económica seja predominantemente agroindustrial,
por estarem fundamentadas apenas em incentivos fiscais e financeiros ~eco!rentes ~qu~ ii o seu sistema produtivo e problemas de degradação ambiental acarretem
podem desaparecer a partir das exigências de um programa de estab1hzaçao e~on?ml rtiginosa da capacidade produtiva dos recursos naturais (os quais, somados à
ca), no uso predatório dos recursos naturais do ecossistema (que podem se restnng1r ou fundiária, podem levar os níveis de produtividade agrícola para patamares ex-
12 A Concepção de Desenvolvimento Reg ional de Desenvolvimento na I 13
Nova atividade:
Exirativa Mineral
Aumento na · Expansão n·a·
metalurgia ·dá produção, na 1------l arrecadação de
não ferrosos · renda e nos valo· impostos diretos,
.res indiretos e taxas
Efeitos induzidos Uma economia regional, cuja base produtiva é constituída predominantemente
Figura 4 - Efeitos induzidos de uma nova atividade econômica. único tipo de bem, é extremamente vulnerável. Os choques adversos no preço
J
deste bem nos mercados extra-regionais, o aparecimento de substitutos ou a exaustão se o perfil de distribuição de riqueza e de renda pessoal da nova atividade não
do mesmo, sem que, num dado lapso de tempo, a estrutura produtiva da região tenha se for suficiente para provocar a desconcentração da distribuição prevalecente
diversificado, coloca problemas de difícil solução, pelo menos no curto e médio prazos. (ou que, até mesmo, alue na direção de reforçar o padrão concentrador), se-
rão menores os efeitos induzidos para promover a expansão do mercado in-
Conclui-se, pois, que uma das condições para que uma atividade econômica terno regional;
que se localiza numa região possa promover o desenvolvimento sustentável desta re-
gião e não estimule apenas um ciclo de crescimento instável e pouco duradouro, é • se os capitais investidos na nova atividade forem originários de outras regiões,
indispensável que haja uma difusão do dinamismo da expansão da nossa atividade não se conseguirá internalizar os excedentes financeiros gerados no novo ci-
econômica para outros selares da economia regional; vale dizer que esta atividade clo produtivo, os quais "vazam" para regiões desenvolvidas, implicando na re-
deve se articular de maneira adequada com o sistema produtivo regional (ver Fig.6) . duzida capacidade de auto-financiamento para se promover a diversificação
da estrutura produtiva regional.
.Efeitos pofenciais de Nesta situação hipotética, caracteriza-se um cenário pessimista para o desen-
dispersão para frente ,..,,.,,nr,., de
uma região que poderia se denominar de "enclave econômico regional",
e para trás todos os efeitos perversos em termos da limitada capacidade de difusão e de di-
ismo de uma atividade econômica sobre o desenvolvimento da região. Este cená-
·Características Difusão potenCial dó é totalmente irrealista, quando examinamos a experiência histórica de algumas
Tecnológicas da dinamismo da .nova produtoras de alimentos ou de matérias-primas minerais, cujo crescimento
f- atividade so.bre os
noya atividade ico ocorreu a partir da formação de uma base econômica para a exploração de
' -Econômica ,setores da economia · os naturais ainda que submetidos a primeiros processamentos . O cenário per-
; , re ional: também, que se vislumbre o esforço de planejamento a ser feito para que se re-
liI as tendências restritivas ao desenvolvimento de uma região e, ao mesmo tem -
Perfil da distribuição . esclarece alguns dos motivos pelos quais muitos dos ciclos económicos que vie-
'
I de rende e efeitos · acontecendo historicamente em muitas regiões, não foram capazes de dinamizar
,I
i'' induzidos C maneira sustentável o seu processo de desenvolvimento.
'
Grau de diversidade
da base de recursos 1---------------------~ DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
naturáis dare ião
É preciso que, na estratégia de desenvolvimento econômico e social de uma
Ião se introduza crescente consciência e ação ambientalista através da adoção do
Figura 6 - Mecanismos de difusão da nova atividade econômica sobre a economia de uma de sustentabilidade no processo de expansão da produção e do consumo, a
região. que a taxa de uso dos recursos regionais (particularmente, os naturais) seja no
mo igual à taxa de reposição e de conservação destes recursos (ver Fig. 7). As
A pior situação para o processo de desenvolvimento de uma região sob o as- Constituições, a do Brasil e as dos Estados da Federação, priorizaram, em vári-
pecto analisado poderá ocorrer quando houver a convergência dos seguintes fatores seus dispositivos, a indispensável condicionalidade de se incorporar a dimensão
relacionados com a implantação de uma nova atividade econômica (Haddad & no processo de planejamento nacional e estadual. Entre estes dispositivos,
Schwartzman, 1976): a ação popular, que visa a anular atos lesivos ao meio ambiente; estudo
de impacto ambiental para instalação de obra ou atividade potencialmente cau -
• se a região estiver exportando produtos de grande peso gerados pela nova de significativa degradação do meio ambiente; sistemas de sanções penais e
atividade, o transporte de retorno tende a ocorrer com capacidade ociosa, re- nlr1íst.ratíva1s para as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente .
duzindo-se o frete de retorno; diante de fretes de retorno mais baixos, eleva-se ros dispositivos constitucionais, ancorados em intensa mobilização política
a capacidade competitiva para as importações, inibindo-se possíveis ativida- rrvn~írTlont'"" conservacionistas, nos darão certa segurança para afirmar que a pre-
des locais substitutivas de importação voltadas para a demanda regional (im- llnl~ç:ao ambiental é uma tendência de peso ao longo dos próximos anos, trazendo
pacto reduzido para os efeitos de encadeamento e para os efeitos induzidos); mudança uma concepção alternativa de desenvolvimento, na qual a questão dos
I
ecossistemas não seja tratada à margem das principais decisões sobre a acumulação complexa e interdependente rede de temas de natureza econômica e social.
de capital e seus efeitos distributivos.