Vous êtes sur la page 1sur 28

notas e críticas

Hiroshima
scientiæ zudia,e São Paulo, v. 3,razões
Nagasaki: n. 4, p. 683-710, 2005
para experimentar a nova arma

Hiroshima e Nagasaki:
razões para experimentar a nova arma
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

“...os japoneses estavam prontos para render-se


e não era necessário atingi-los com essa coisa horrível.”
General Dwight Eisenhower, 1963a

No momento em que a humanidade comemora, com tristeza, os 60 anos dos bombar-


deios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, é conveniente recordar as circunstâncias que
precederam esses ataques e culminaram nos dois trágicos eventos.
O emprego das armas nucleares tornou-se necessário – segundo as fontes ofi-
ciais norte-americanas – pois visava interromper a guerra e salvar a vida de centenas
de milhares de soldados. Estudos recentes desmentem essa tese e revelam que a des-
truição tinha por objetivo impressionar os soviéticos, impedindo o avanço de suas tro-
pas e marcando, na realidade, o início da guerra fria.

A fuga da Alemanha

Numa tarde de 10 de maio de 1933, milhares de jovens assistiram à queima de uma


montanha de livros dentro da Universidade de Berlim. Essa queima marcou o início de
uma nova era. Várias personalidades científicas de origem judaica, tais como Albert
Einstein (1879-1954) e Max Born (1882-1970), foram obrigados a deixar a Alemanha.
Alguns cientistas, como Jacob Franck (1882-1964) em Gottingen, demitiram-se em
sinal de solidariedade. Outros, como Eugene Wigner (1902-1995), Leo Szilard (1898-
1964) e Edward Teller (1908-2003), deixaram a Alemanha, pois o regime nazista esta-
va em contradição com suas convicções. Um grupo menos numeroso permaneceu na
Alemanha como, por exemplo, Otto Hahn (1879-1968) e Fritz Strassman (1902-1980).
A maior parte exilou-se na Inglaterra, na França e, principalmente, nos Estados Unidos.

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 683


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Outros optaram pela União Soviética, apesar das afinidades do governo desse país com
alguns dogmas de A. Hitler (1889-1945). Todavia, Stálin, mais lúcido que Hitler na-
quele momento, sabia que não poderia passar sem os cientistas. Impedia os cientistas
soviéticos de deixarem o país e recebia os cientistas estrangeiros.
O resultado da fuga da Alemanha foi a constituição, nos Estados Unidos, da maior
comunidade de sábios que jamais havia existido, o que será fundamental para que a
bomba atômica norte-americana torne-se mais tarde uma realidade.

A descoberta alemã

A descoberta da fissão nuclear,1 em 1938, pelos físicos alemães Hahn e Strassman, ocor-
reu em solo alemão. A descoberta, que não é revelada por nenhuma publicação, nem
mesmo na Alemanha, e que Hitler considerava um segredo, é transmitida para o Oci-
dente pelo dinamarquês Niels Henrik David Bohr (1885-1962). Nos Estados Unidos,
os cientistas vindos da Alemanha estavam convencidos de que o Terceiro Reich iria
tornar-se uma potência nuclear e certos de que convinha intensificar as pesquisas nu-
cleares a fim de ultrapassá-lo. Com efeito, os receios se confirmaram quando o gover-
no alemão subitamente proibiu a exportação de urânio das minas da Tchecoslováquia.
Era necessário fazer algo, advertindo o governo norte-americano; com esse objetivo,
Enrico Fermi (1901-1954), prêmio Nobel de física de 1938, e, em seguida, Leo Szilard
tentaram sensibilizar Edwin Hooper, almirante da Marinha – na época, o único setor
militar que dispunha de recursos para a pesquisa. As tentativas não obtiveram êxito.
Entrementes, Alexander Sachs, conselheiro particular de Roosevelt, sugere a Szilard
que prepare um dossiê sobre as pesquisas atômicas, a ser submetido ao presidente,
assinalando que seria conveniente que fosse acompanhado de uma carta assinada por
um cientista de grande renome. Ora, o nome para um tal empreendimento só poderia
ser o de Albert Einstein.

Como tudo começou

Seis meses depois da fissão do urânio ter sido anunciada, os jornais e revistas norte-
americanos discutiam o uso da energia nuclear, impropriamente chamada na época de
energia atômica. Lamentavelmente, a maioria dos físicos norte-americanos duvidava

1 Fissão (ou cisão) nuclear é o fenômeno de divisão de um núcleo atômico pesado, como o de urânio e plutônio, em
dois ou vários núcleos leves, com a liberação de uma quantidade enorme de energia.

684 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

da possibilidade de extrair energia nuclear, seja para fins pacíficos ou para construir
bombas atômicas. O primeiro cientista a pensar seriamente no desenvolvimento de
uma bomba atômica norte-americana – e, mais tarde, combater seu uso – foi o húnga-
ro Leo Szilard. O fato de não haver nenhum projeto oficial de pesquisa de energia nu-
clear nos Estados Unidos provocava-lhe profunda inquietação. Se as bombas nuclea-
res eram possíveis, como ele acreditava, a Alemanha nazista poderia desenvolvê-las
antes dos aliados (norte-americanos). O que mais o preocupava é que a Alemanha ha-
via interrompido a venda de urânio das minas da Tchecoslováquia.
Em janeiro de 1939, Szilard soube através de seu colega, o físico Isidore Isaac
Rabi (1898-1988), que o italiano Enrico Fermi tinha discutido a possibilidade de uma
reação em cadeia em uma apresentação pública, durante uma conferência de física teó-
rica. Ao ser questionado, Fermi sugeriu que havia somente cerca de 10% de probabili-
dade de que uma reação em cadeia de urânio tivesse sucesso. Para complicar a situa-
ção, Fermi expôs que a reação em cadeia era impossível com urânio natural (U238),
sendo preciso enriquecê-lo. Se o urânio enriquecido (U235) fosse necessário, existia
uma quantidade enorme de outros problemas e incertezas em relação aos métodos de
separação. Também havia outras controvérsias; além dos problemas concernentes aos
nêutrons rápidos e lentos, questionou-se a liberdade de transmissão das informações
dos avanços em física teórica e experimental, pois ela poderia favorecer os nazistas.
Szilard propôs que as pesquisas sobre fissão fossem mantidas em segredo; sugeriu a
Fermi que pedisse à Physical Review para postergar a publicação de um artigo que físi-
cos da Universidade de Columbia tinham escrito sobre o número de nêutrons secun-
dários emitidos por fissão. Niels Bohr, que estava presente, defendeu, com coerência,
que o sigilo nunca deveria ser introduzido na física (cf. Szilard, 1978, p. 54).

Leo Szilard, o pai da bomba atômica

Durante muito tempo, o judeu húngaro Leo Szilard, o verdadeiro pai da bomba atômi-
ca, teve a sua imagem eclipsada pela luz ofuscante de luminares como Albert Einstein,
Robert Oppenheimer e Enrico Fermi, com quem construiu o primeiro reator nuclear
em 1942.
Como relatou posteriormente, Szilard vislumbrou a possibilidade de uma rea-
ção nuclear em cadeia, em 1932, quando leu a profecia de uma bomba atômica de gran-
de poder de destruição, imaginada pelo escritor inglês H. G. Wells, em seu conto de
ficção-científica, The world set free, de 1914. A estória contém a mais importante profe-
cia de Wells: na época, os cientistas haviam descoberto o decaimento radioativo que
levava, em alguns elementos, algumas dezenas de milhares de anos. A taxa de liberação

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 685


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

de energia era tão lenta que se tornava praticamente inútil, mas a quantidade total era
enorme. Em sua novela, Wells imagina uma invenção para acelerar o decaimento ra-
dioativo, que conduz à produção de bombas capazes de explosões superiores a todos os
armamentos até então conhecidos.
Szilard concebeu a idéia de uma reação em cadeia em 1933, recém-chegado em
Londres, tendo registrado essa descoberta sob a patente U.K. 63.726 em 28 de junho
de 1934, no British Admiralty. Logo em seguida, tentou criar uma reação em cadeia usan-
do os elementos berílio e índio, sem sucesso. Em 1936 patenteou outra reação nuclear
em cadeia para o almirantado britânico.
Em 1938, Szilard foi convidado para ser professor na Universidade de Columbia,
em Manhattan, quando passou a residir em Nova York. Mais tarde, junto com Fermi,
estudou a fissão nuclear. Em 1939, concluem que o urânio seria o elemento capaz de
manter uma reação em cadeia. A patente desse reator nuclear será registrada sob o
número United States Patent 2708656, em 19 de maio de 1955, treze anos depois da cons-
trução do primeiro reator (cf. James, 1986).

Convencer um pacifista

Entrei para a história como motorista de Szilard


Edward Teller

Como as coisas caminhavam, estava mais do que claro que pouco ou nada poderia ser
feito sem um apoio governamental para enfrentar a ameaça de que a Alemanha de-
senvolvesse armas nucleares antes dos Aliados. Os físicos a par da situação precisavam
de um apoio que permitisse que a comunidade científica fosse ouvida e financiada.
A “conspiração húngara” decidiu entrar em ação. Leo Szilard e seus conterrâneos
Edward Teller e Eugene Wigner, talvez mais do que ninguém, consideravam a enorme
ameaça que representaria a Alemanha nazista para o mundo, se fosse a primeira a de-
senvolver uma arma nuclear. Estavam preocupados em manter a possibilidade dos Es-
tados Unidos terem acesso ao suplemento de urânio. A primeira idéia aventada foi
contatar o governo belga com relação aos recursos em urânio existentes no Congo Bel-
ga, pois receavam que essa fonte de minério pudesse cair em mãos dos alemães. Szilard
lembrou que Einstein tinha relações pessoais de amizade com a rainha da Bélgica e que
poderia interceder a favor deles. Decidiram, então, procurar o seu mestre.
No verão, Einstein passava as férias velejando em Peconic, ao norte de Long
Island, Nova York. Em 12 de julho de 1939, Szilard e seu amigo Wigner dirigiram-se a
sua casa. Einstein, sempre muito sincero e autêntico nas suas conversas, recebeu os

686 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

visitantes, em seu grande gabinete, sem protocolo algum, usando uma camiseta e cal-
ças jeans. Ele aceitou a proposta de mediação, mas optou por uma aproximação indire-
ta, através de uma carta ao embaixador da Bélgica. Uma vez decidido, preparou-se um
rascunho da carta. Ao mesmo tempo, Wigner convenceu os outros de que uma aproxi-
mação direta com o governo dos Estados Unidos era necessária.
Em julho de 1939, o político e economista austríaco Gustav Stolper (1888-1947)
entrou em contato com Szilard para informá-lo que tinha conversado sobre o assunto
com Alexander Frederic Sachs (1889-1970), notável economista e amigo pessoal de
F. D. Roosevelt (1882-1945). Mais tarde, Szilard confirmou: “Sachs decidiu apoiar-
nos e convenceu-me completamente de que essas matérias estavam relacionadas à Casa
Branca e que a melhor coisa a fazer, do ponto de vista prático, era informar Roosevelt.
Ele disse-me que se elaborássemos um dossiê ele iria pessoalmente entregá-lo a
Roosevelt” (James, 1986, p. 305).
Com base na primeira discussão com Einstein, Szilard preparou o esboço da carta
para Roosevelt. No domingo de 31 de julho de 1939, Edward Teller conduziu Szilard até
Long Island, para um novo encontro com Einstein. Após conversarem, concluíram que
Sachs seria o melhor intermediário para chegar a Roosevelt e discutiram a carta.
Einstein optou por uma versão mais curta que incorporava parágrafos adicionais suge-
ridos por Szilard a partir das suas conversas com Sachs (cf. Szilard, 1978, p. 119).
Szilard transmitiu a carta em sua forma final a Sachs em 15 de agosto, anexando
um memorando de sua própria autoria, elaborado com base nas discussões sobre a
possibilidade da fissão, assim como seus riscos e ameaças. Na maior parte de setem-
bro, Szilard não obteve resposta. Finalmente, na última semana desse mês, Szilard e
Wigner ficaram sabendo, pelo economista, que ele ainda estava com a carta de Einstein.
Em 2 de outubro, Szilard informou a Einstein que a carta não tinha sido encaminhada
a Roosevelt. Mas, em 11 de outubro de 1939, Sachs solicitou uma audiência com
Roosevelt e encontrou-se com o presidente (cf. James, 1986, p. 314).2
Assim como freqüentemente acontece com os melhores planos, Sachs acrescen-
tou uma carta pessoal, encaminhando aquela de Einstein. Nela, sugere, em primeiro
lugar, “a criação de uma nova fonte de energia que poderia ser utilizada com o propósito
de produzir força”; em segundo lugar, “a liberação de tal reação em cadeia de um novo

2 Além da carta de Einstein, Sachs anexou uma carta pessoal; um memoradum de Szilard; uma separata do arti-
go “Neutron production and absorption in uranium” de H. L. Anderson, E. Fermi e L. Szilard, The Physical Re-
view, 56, 3, 01 de agosto de 1939; uma separata do artigo “Instantanious emission of fast neutrons in the interaction
of slow neutrons with uranium” de L. Szilard e W. H. Zinn, The Physical Review, 55, 6, 15 de abril 1939. Todos os
originais do dossiê podem ser consultados na Franklin D. Roosevelt Presidential Library and Museum, no arquivo
Sachs, Alexander Index <www.fdrlibrary.marist.edu/psf/box5/folo64.html>.

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 687


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

elemento ativo assim como algumas gramas de rádio poderiam ser usadas no campo
médico” e, finalmente, em terceiro lugar, a “construção, como uma eventual proba-
bilidade, de uma bomba de potência inimaginável até hoje, como observa o Dr. Einstein
em sua carta, ‘uma simples bomba desse tipo, levada num navio, explodindo em um
porto, pode muito bem destruir todo o porto assim como o território vizinho’”. Reco-
menda ainda um contato com as fontes de urânio belga. Finalmente, propõe designar
um comitê para servir de ligação entre a comunidade científica e a administração. Em
seu encontro com o presidente, Alexander Sachs comparou a situação à de Napoleão
quando recusou a construção de navios a vapor graças aos quais poderia ter desembar-
cado na Inglaterra mesmo com ventos contrários. Em conseqüência, Roosevelt res-
pondeu simplesmente: “é necessário agir” (cf. James, 1986, p. 314).
Em 2 de agosto de 1939, ou seja, seis anos antes de Hiroshima e Nagasaki, Albert
Einstein assinou o primeiro documento alertando o governo norte-americano sobre o
desenvolvimento de armas nucleares. Nele, solicitava que procurasse, com o apoio dos
físicos, desenvolver um projeto destinado à construção de bombas atômicas já que ha-
via sido interrompida a venda de urânio na Tchecoslováquia. Embora Einstein tivesse
assinado a carta, esta não correspondia inteiramente a suas convicções. Mais tarde, o
pai da relatividade, um pacifista desde a juventude, explicaria a sua atitude em virtude
do medo de uma tal arma nas mãos do governo nazista alemão. Einstein não contribuiu
pessoalmente para o projeto atômico.

O projeto Manhattan

Roosevelt respondeu a Einstein em 19 de outubro, oito dias depois de receber sua car-
ta, e logo a seguir criou o Comitê consultivo do urânio. Os primeiros recursos, cerca de
6 mil dólares, só foram liberados em 20 de fevereiro de 1940. Preocupados, Szilard e
Sachs fizeram um novo apelo a Einstein, com o objetivo de pressionar o presidente.
Então, uma segunda carta foi escrita, em abril de 1940, informando que os alemães
continuavam com as suas pesquisas secretas (cf. Szilard, 1978, p. 125).
Ao contrário do que se acredita, não foi a Alemanha que fez com que os norte-
americanos acelerassem a fabricação da bomba, mas os japoneses, quando em 7 de
dezembro de 1941, sem declaração de guerra, atacaram e destruíram a frota norte-ame-
ricana no Pacífico estacionada em Pearl Harbour. Dois dias depois, em 9 de dezembro,
os Estados Unidos entraram na guerra. A partir de então, um volume enorme de recur-
sos foi injetado no projeto de construção de armas nucleares. Até o fim da guerra, fo-
ram gastos 2 bilhões de dólares.

688 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

O projeto Manhattan Engineering District foi um dos maiores empreendimentos


ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial, destinado a desenvolver armas nuclea-
res para os EUA, com a assistência do Canadá e da Inglaterra. Coordenava as pesquisas
realizadas em 4 centros universitários: Columbia, Princeton, Chicago e Berkeley. O
organograma do projeto era muito nítido: em julho de 1942, estavam certos da possi-
bilidade das reações em cadeia; em janeiro de 1943, a realização da primeira reação em
cadeia e em janeiro de 1945 a conclusão da bomba atômica. Esse programa foi obede-
cido com uma variação de 6 meses para cada etapa. Em meados de setembro de 1942, o
general Leslie Groves (1896-1970) foi nomeado pelo Secretário de guerra para coor-
denar e chefiar a parte militar, tendo J. Robert Oppenheimer (1904-1967) como dire-
tor científico daquele que ficou conhecido como projeto Manhattan.

Primeira etapa: urânio e plutônio


Na primeira etapa, a preocupação era procurar um elemento químico que fosse capaz
de servir para a criação de uma arma que utilizasse a gigantesca energia liberada pela
fissão. Ora, essa exigência deveria responder a dois critérios: a facilidade e a qualidade
de produção desse elemento. Dois caminhos se apresentavam de início para a obten-
ção desse elemento, o urânio e o plutônio (elemento recentemente descoberto que não
existia na natureza, mas que podia ser obtido pelo bombardeamento do urânio natural).
Niels Bohr havia calculado que uma única variedade (isótopo) de urânio poderia ser
fissionada: o U235. Mas, por ser muito raro, era necessário separá-lo do resto do urâ-
nio; obstáculo que parecia intransponível. No entanto, o plutônio, também raro, teria
também que ser produzido em quantidade suficiente. Depois de vários estudos sobre a
reação em cadeia, concluiu-se, em março de 1941, que as primeiras experiências davam
uma resposta positiva ao projeto, que se mostrava factível com a condição de que os
problemas técnicos relativos às separações isotrópicas fossem resolvidos de maneira
satisfatória. Uma vez ultrapassados esses problemas técnicos de separação, o último
obstáculo era a produção de uma quantidade suficiente de material fissível ou físsil.

Segunda etapa: a primeira reação em cadeia


Após o estabelecimento da possibilidade de uma tal reação, era necessário produzi-la.
Em 2 de dezembro de 1942, em Chicago, Fermi construiu o primeiro reator capaz de
manter uma reação nuclear sob controle, produzindo a primeira reação nuclear de fissão
controlada, usando como combustível o urânio e barras de grafite como moderador. A
primeira pilha atômica do mundo, na primeira reação em cadeia produzida pela ciên-
cia, liberou meio watt de energia. Era muito pouco, mas estava experimentalmente

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 689


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

comprovado que era possível construir uma bomba atômica. Já não se tratava mais de
uma ficção.3 O principal problema tornava-se a produção do material físsil. Com efeito,
era necessário construir usinas que permitissem, por um lado, separar o U235 do urâ-
nio natural e, por outro lado, “a criação” do plutônio, principalmente a partir do U238.
Para obter uma quantidade suficiente de urânio ou plutônio, foi necessário construir
dois complexos industriais. Um em Oak Ridge, no Tennessee, para a produção do U235.
Para essa finalidade, foram construídos enormes filtros através dos quais só o U235
podia passar por difusão gasosa. O segundo complexo industrial foi instalado em
Hanford, próximo de uma pequena cidade às margens do rio Columbia no estado de
Washington. Totalmente isolado do exterior, o conjunto se apresentava como um bloco
de cimento armado de 250 metros de comprimento e 30 metros de altura, onde se se-
parava o plutônio do urânio. Esses dois conjuntos de extração funcionaram durante
todo o projeto Manhattan com o objetivo de recolher uma quantidade suficiente de
material. Desde março de 1943, a equipe de cientistas sob a direção de Oppenheimer,
instalada em Los Alamos, no deserto do Novo México, próximo da cidade de Santa Fé,
ocupava-se do estudo da estrutura da bomba propriamente dita.
Para satisfazer as necessidades de projetos e designer da bomba, uma imensa ci-
dade-laboratório foi instalada no meio do deserto onde deveriam ser projetadas e
construídas todas as peças necessárias ao projeto. Em Los Alamos, trabalhavam cente-
nas de físicos, dos quais 20 prêmios Nobel e alguns futuros, assim como cerca de 2.000
técnicos e pesquisadores, sendo 600 deles militares. Todos trabalhavam no mais com-
pleto sigilo (as crianças nascidas na cidade não podiam ter referido em seus documen-
tos o local de nascimento), obedecendo um organograma que exigia uma dedicação
exclusiva e permanente para satisfazer as diferentes etapas. As relações entre os pró-
prios militares não foram muito amistosas, em virtude do stress provocado pela urgên-
cia do projeto. Convém assinalar que o general Groves comandava o projeto a partir
dos seus escritórios em Nova York enquanto os pilotos encarregados do lançamento
das bombas atômicas eram treinados na base de Wendover, Utah.

Terceira etapa: a conclusão da bomba


Apesar da Alemanha ter assinado a sua rendição em 7 de maio de 1945, o projeto não
sofreu nenhuma desaceleração, ao contrário, os cientistas estimulados pelo Exército
continuaram com suas pesquisas. Outros, porém, passaram a discordar. No início de

3 “Nada poderia ser mais óbvio para as pessoas no início do século XX do que a rapidez com a qual a guerra estava se
tornando impossível [...] [mas] elas não veriam isso até que as bombas atômicas explodissem em suas mãos impo-
tentes”. H. G. Wells, The world set free, 1914.

690 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

julho, Szilard encaminhou ao novo presidente, Harry Truman (1884-1972), um pedido


no qual tentava convencê-lo do perigo do uso de armas nucleares. Sem sucesso, redi-
giu uma petição dirigida ao presidente contra o uso de armas nucleares dado o seu poder
destruidor. A petição foi assinada por 69 cientistas e entregue ao presidente em 17 de
julho de 1945. Em um dos parágrafos, Szilard prevê a corrida às armas atômicas que
deu origem aos arsenais nucleares:

O desenvolvimento do poder nuclear fornecera aos países novos meios de des-


truição. As bombas atômicas a nossa disposição representam apenas o primeiro
passo nessa direção e quase não existirá limite para o poder destrutivo que se
tornará disponível no curso de seu desenvolvimento futuro. Assim, uma nação
que assume o precedente de usar essas forças da natureza recém-liberadas para
fins de destruição pode ter de assumir a responsabilidade de abrir a porta para
uma era de devastação em escala inimaginável (Szilard, 1978, p. 211 ).

Nesse mesmo mês, o projeto Manhattan chegava a sua conclusão. Ao contrário


da idéia inicial, efetivamente, não se tinha uma única bomba, mas duas. Os Estados
Unidos se encontravam, portanto, de posse de dois tipos de bomba, uma usando o U235,
que seria lançada sobre Hiroshima, e uma outra de plutônio, que seria lançada em
Nagasaki. Como a quantidade de plutônio era superior à de urânio, foi possível cons-
truir duas bombas de plutônio, sendo uma delas usada para um teste. A bomba que
usava U235, chamada Little boy (Garoto), pesava 4 toneladas e explodia pela colisão de
duas cargas de urânio; a que usava plutônio, denominada Fat man (Homem gordo ou
Gordo), explodia pela compressão do plutônio colocado no seu centro.

A operação trinity: o primeiro teste de uma bomba nuclear

A idéia de uma explosão experimental não era novidade. Em 1940, os cientistas fran-
ceses haviam sugerido um ensaio no Saara e os ingleses numa zona deserta da Austrá-
lia. Em 1944, o general Groves escolheu Alamogordo no deserto do Novo México a cer-
ca de 350 km de Los Alamos e a 35 km da aglomeração humana mais próxima. Em um
ano, o sítio se transformou num complexo de estradas ligando os centros de observa-
ção situados em abrigos de cimento armado, construídos ao redor do ponto zero. Ali
foi edificada uma torre de aço, onde foi colocado o artefato que produziria a primeira
explosão experimental de uma bomba atômica. Essa operação foi denominada Trinity,
nome atribuído por Oppenheimer a essa bomba de plutônio.

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 691


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Em 15 de julho de 1945, 150 cientistas reunidos em Alamogordo apressavam-se


para assistir ao ensaio da bomba de plutônio Trinity, que ocorreu em grande segredo no
dia seguinte. À noite, os cientistas atômicos reuniram-se no abrigo de cimento arma-
do situado a 8 km do ponto zero: Oppenheimer, James Chadwick (1891-1974), Otto R.
Frisch (1904-1979), Ernest O. Lawrence (1901-1958) etc. No fim da noite, como as
condições meteorológicas se mostrassem satisfatórias, foi decidido que o teste tivesse
início. Assim, logo depois das 5 horas da manhã, ocorreu a primeira explosão nuclear
da história.
Um relâmpago capaz de cegar, visível a uma distância superior a 35 km, foi se-
guido de uma enorme detonação. O efeito pode muito bem ser considerado como sem
precedente, magnificente, belo, estupendo e terrificante. Nenhum fenômeno de po-
der tão monstruoso havia sido realizado antes pela mão humana. Os efeitos luminosos
indescritíveis iluminaram toda a região com uma luz muitas vezes superior à do Sol em
pleno meio-dia. Era uma luz dourada-vermelha-violeta-cinza e azul, que iluminou cada
um dos cumes das montanhas vizinhas. Trinta segundos mais tarde, escutou-se a ex-
plosão. O deslocamento de ar chocou-se violentamente contra as pessoas e quase su-
bitamente uma trovoada ensurdecedora e terrificantemente interminável se seguiu,
mostrando que éramos pequenos seres blasfemadores que haviam ousado tocar nas
forças até então reservadas ao Todo Poderoso, comentou o general Thomas F. Farrel.
Participando do mesmo sentimento, Oppenheimer lembrou-se de uma citação do tex-
to em sânscrito Bhagavad Gita: sou Shiva, o destruidor de mundos: “[...] ‘agora, me
transformei num companheiro da morte, um destruidor de mundos. Estas palavras
me vieram à memória instintivamente e fui dominado por sentimentos de uma pro-
funda piedade” (cf. Kunetka, 1978, p. 170).
Em seu relato, o general Groves descreve:

uma nuvem compacta, maciça, se forma, em seguida, sobe em flutuações para o


alto com uma potência inimaginável. À primeira explosão sucederam-se duas
outras de menor luminosidade. A nuvem subiu a uma grande altura, tomando a
forma de um globo e depois de um cogumelo, a se alongar na forma de uma cha-
miné para então se espalhar em várias direções sob a ação dos ventos que sopra-
vam em diversas altitudes (Groves, 1963, p. 275).

O chefe dos testes, Kenneth T. Bainbridge (1904-1996), murmurou espirituo-


samente na orelha de Oppenheimer: “Oppie, agora somos todos bastardos” (cf. Lamont,
1965, p. 123-4). A potência da explosão foi avaliada em aproximadamente 20 mil tone-
ladas de TNT. A operação Trinity coroou o esforço científico e industrial que havia ab-
sorvido dois bilhões de dólares, em cerca de cinco anos.

692 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

A bomba alemã

A bomba tornou-se imediatamente uma arma diplomática, pois o presidente Harry


Truman, que se encontrava na Conferência de Potsdam,4 foi imediatamente informa-
do do sucesso da explosão experimental.
Os sábios americanos estavam contentes por terem vencido os seus colegas ale-
mães. Assim pelo menos pensavam eles. Algumas semanas mais tarde, foram infor-
mados de que a bomba alemã, que tanto temiam e que os havia conduzido a uma corri-
da científica durante quase cinco anos, na realidade jamais existira, sequer como
projeto. Mas, por que razão? A razão era simples, Hitler e Hermann Wilhelm Goering
(1893-1946), fundador da Gestapo, não tinham nenhuma confiança nos físicos ale-
mães que acreditavam, a despeito da guerra, que a fabricação de uma tal bomba era
factível. Na verdade, um projeto atômico alemão havia existido sob a chefia do físico
Werner K. Heisenberg (1901-1976), no Instituto de Física Kaiser Wilhelm de Berlim.
Apesar da natureza do seu trabalho nessa função, sua colaboração é, até hoje, motivo de
controvérsia. Aliás, foi ele quem revelou a existência do programa nuclear a Niels Bohr,
durante uma conferência, em Copenhague, em setembro de 1941. A partir dessa reu-
nião, a longa amizade entre os dois terminou, tendo Bohr partido para colaborar com o
projeto Manhattan. Existe uma grande polêmica; alguns historiadores sugerem que
Heisenberg teria tentado atrasar o projeto nuclear nazista, no que parece ter tido su-
cesso, como afirmou depois da guerra (cf. Cornwell, 2003).
Mas, devido à rivalidade que existia entre os pesquisadores, agravada pelos re-
cursos colocados à disposição, a aventura da bomba alemã terminou em julho de 1942.
O governo recusou-se a dar a sua aprovação a um projeto que lhe havia sido apresenta-
do por um físico cujo nome se ignora até hoje. Goering declarou a Hitler que um tal
projeto absorveria uma soma considerável e que, em situação de guerra, esse orça-
mento não poderia ser suportado. Alegou também o fato de que esse projeto era quase
totalmente hipotético. Assim, a posição alemã foi a de continuar desenvolvendo armas
novas, que não se baseassem na energia nuclear. Foi assim que nasceram as bombas
voadoras. Hitler, no entanto, havia encorajado os rumores sobre um projeto atômico
alemão ao invocar o perdão de Deus pelos últimos cinco minutos da guerra (cf. James,
1986). Paul Joseph Goebbels (1897-1945), ministro da propaganda de Hitler, havia tam-
bém invocado uma arma prodígio. Todas essas afirmativas impulsionaram não só o
projeto Manhattan como a operação Alsos, que por fim descobriria a ação da equipe de
Heisenberg e sua localização.
4 Conferência realizada em Potsdam, de 17/6/1945 a 2/8/1945, onde se reuniram os principais chefes de governo
dos países aliados com seus respectivos assessores: EUA (Truman, J. Byrnes), Reino Unido (Churchill, Atlee, A.
Eden) e URSS (Stálin, Molotov).

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 693


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

O projeto Alsos ou operação Alsos foi um esforço no final da Segunda Guerra


Mundial dos aliados (principalmente da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos), relacio-
nado com o projeto Manhattan e destinado à captura de recursos nucleares, materiais
e humanos para a futura pesquisa dos EUA, evitando que caíssem nas mãos dos soviéti-
cos, assim como descobrir o que os alemães sabiam sobre as armas nucleares. O pessoal
responsável pelo projeto estava logo atrás da linha do front, primeiro na Itália, depois
na França e na Alemanha, procurando pessoas, artigos, materiais e centros dedicados
à pesquisa. O projeto conseguiu encontrar muitas equipes envolvidas no esforço ale-
mão e boa parte do equipamento e registros remanescentes. A maior parte dos pesqui-
sadores (incluindo Heisenberg, Otto Hahn e Carl von Weizsacker) foi seqüestrada e
enviada para Farm Hall, na Inglaterra, por vários meses. Suas discussões foram secre-
tamente gravadas; mais tarde, transcrições dessas gravações foram publicadas.

Os ataques dos EUA aos civis

Em 7 de maio de 1945, quando o marechal Alfred Jodl (1890–1946) assinou o auto de


capitulação da Alemanha nazista, o seu aliado, o Império japonês, não era mais do que
uma sombra de si mesmo. Com efeito, a situação militar era crítica. O outrora exército
de elite – a aviação – não existia mais, pois, desde algum tempo, ele se resumia a um
pequeno número de adolescentes despreparados mas profundamente corajosos. A
maior parte deles, em defesa de seu Imperador, aceitava realizar as temíveis missões
kamikazes. O domínio e a defesa dos mares estavam seriamente comprometidos; res-
tava muito pouco da marinha mercante e da de guerra. As defesas antiaéreas estavam
completamente inoperantes de modo que entre 9 de março e 15 de junho, os bombar-
deiros B-29 norte-americanos tinham realizado mais de sete mil ataques sem terem
sido gravemente atingidos pelas baterias antiaéreas japonesas. Ao retornarem de suas
incursões pelo território japonês, as superfortalezas norte-americanas apresentavam
poucos danos e as menores baixas possíveis.
Já era esperado o pedido de rendição dos japoneses, tendo em vista essa situação
crítica. O General Curtis Emerson LeMay (1906-1990), responsável pelo ataque ao Ja-
pão, havia dado ordem de misturar as bombas explosivas com as incendiárias, a fim de
dificultar o combate aos incêndios. LeMay estava convencido de que os métodos de
seus predecessores, que realizavam bombardeios a altas altitudes, eram ineficientes
nas condições de tempo reinantes no Japão. Em conseqüência, decidiu adotar a tática
de realizar bombardeios a baixa altitude, atacando as cidades japonesas com bombas
incendiárias somente quando as condições meteorológicas permitissem. LeMay co-
mandou as operações dos superfortalezas B-29 contra o Japão, em um ataque maciço

694 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

de mais de 600 toneladas de bombas, sobre 16 cidades japonesas, e 1.665 toneladas de


bombas incendiárias sobre a cidade de Tóquio: entre 9 e 10 de março de 1945, foram
mortos mais de cem mil civis em uma única noite. O ataque ao Japão só foi ultrapassado
em horror pelas três incursões ou ataques dos aviões anglo-canadenses e norte-ame-
ricanos sobre a cidade alemã de Dresden, cidade sem defesa e desprovida de objetivos
militares, nas noites de 13 e 14 de fevereiro de 1945. O responsável pelos bombardeios,
Sir Arthur Travers Harris (1892-1984), chefe do comando da frota aérea de bombar-
deamento britânico que recebeu a ordem de destruir Dresden, afirmou mais tarde que
o bombardeio não era uma necessidade militar, mas uma demonstração de força em
relação aos demais aliados (cf. Saward, 1984).
Uma estatística precisa não é possível, mas um cálculo estimado indica que, en-
tre março e agosto, cerca de 700 mil civis japoneses foram mortos.
Em 6 de dezembro de 1944, numa carta ao General Douglas MacArthur (1880-
1964), o brigadeiro Bonner F. Fellers (1896-1973) denunciou o que chamou de “o mas-
sacre de não combatentes mais selvagem e bárbaro de toda a humanidade”. Mais tarde,
o secretário de guerra Henry L. Stimson (1867-1950) registrou no seu diário, em 6 de
junho de 1945: “receio que os EUA ganhem a reputação de haver cometido mais atroci-
dades e crimes de guerra5 do que Adolf Hitler” (cf. Stimson, 2000 [1945]).
Após a guerra, no Time Magazine, o general LeMay afirmou: “acredito que se nós
tivéssemos perdido a guerra eu teria sido enforcado como criminoso de guerra. Feliz-
mente, estou do lado dos vencedores”. Para o comandante da Força Aérea dos Estados
Unidos, o objetivo era “arrasar o Japão, conduzindo a civilização japonesa à idade da
pedra” (cf. Time, 26/03/1945). Aliás, durante a Guerra da Coréia, LeMay iria repetir
essa metáfora sem cessar para descrever o que os chefes dos esquadrões deveriam rea-
lizar sobre o território coreano.

Por que lançar um ataque nuclear sobre o Japão?

Se o Japão estava praticamente arrasado, por que então lançar um ataque nuclear sobre
Hiroshima? Segundo o Departamento de Estado norte-americano, o lançamento de
um ataque nuclear a essa cidade evitaria a morte de milhares de norte-americanos no
caso de uma invasão ao território japonês, alegação sempre utilizada ao longo de toda a

5 Crime de guerra é uma violação das leis e costumes de guerra. Os crimes de guerra são definidos por acordos
internacionais, incluindo as Convenções de Genebra e, de maneira particular, o Estatuto de Roma (no artigo 8),
gerindo as competências da Corte penal internacional. Em geral, um ato é definido como um crime de guerra a partir
do momento em que uma das partes em conflito ataca voluntariamente objetivos (tanto humanos como materiais)
não-militares.

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 695


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

presidência de Harry Truman, que afirmava que a destruição de Hiroshima e Nagasaki


havia salvado 200 mil vidas humanas (cf. Public papers, 1965). Ao fim de seu mandato,
Truman começou a brincar com as cifras, aumentando o número de perdas evitadas
como meio de justificar o massacre nuclear. Mais tarde, aos jornalistas que escreve-
ram as suas memórias, relatou na primeira versão que o holocausto nuclear havia sal-
vado 300 mil vidas de soldados norte-americanos e aliados. Por ocasião da publicação
do livro, em 1955, o total era de meio milhão de vidas americanas salvas, sendo que em
algumas ocasiões Truman chegou a falar de 1 milhão. Na realidade, o algarismo de meio
milhão servia-lhe para aliviar a consciência. Outros participantes da decisão utiliza-
ram o mesmo expediente como, por exemplo, Winston Churchill que, em sua biografia
autorizada, declara que Hiroshima e Nagasaki haviam salvo 1,2 milhão de vidas (cf.
Alperowitz, 1965). Também o marechal Sir Arthur Harris, chamado “o bombardeador”,
chegou a falar que 3 ou 6 milhões de vidas haviam sido poupadas com os ataques a
Hiroshima e Nakasaki. Até hoje para justificar o holocausto nuclear sobre o Japão, os
aliados lançam mão do argumento das vidas poupadas, tendo em vista que todos eles
sabiam que o Japão queria assinar uma rendição na qual o Imperador e o Império fos-
sem preservados.
Mas o grande interesse dos aliados era a conquista e ocupação do território japo-
nês. Várias operações de conquista foram programadas, dentre as quais as principais
foram os planos Olympic e Coronet. O Estado-Maior propôs que o primeiro ataque, de-
nominado Olympic, deveria ocorrer no dia 1o de novembro na ilha de Kyushu, de onde
se deslocaria para a ilha primordial, Honshu, onde estão localizadas as cidades de Osaka
e Tóquio. A segunda invasão, operação Coronet, seria na própria Honshu, na primavera
de 1945, com tropas inglesas que seriam transferidas da Europa. O objetivo era claro:
cada região, cada ruína, deveria ser conquistada. A grande dificuldade era a cultura
japonesa e sua disponibilidade para a morte voluntária, sua mentalidade de defender-
se até a morte. Os norte-americanos estavam seguros da vitória, porém o problema era
o preço em vidas humanas que seria imposto aos norte-americanos e japoneses. O ge-
neral Marshall estimava que as perdas se elevariam no mínimo a 31 mil mortos, feridos
e desaparecidos. Por outro lado, alguns dirigentes militares norte-americanos sabiam
que poderiam dispor de uma nova arma, as duas bombas atômicas construídas no pro-
jeto Manhattan.
A essa altura, sabia-se que Stálin estava interessado na continuidade da guerra
com o Japão e, conseqüentemente, em participar da ocupação, já que disposto a cum-

6 Conferência em Yalta de 4 a 11 de fevereiro de 1945, quando os principais chefes de estado dos países aliados,
Roosevelt, Churchill e Stálin, se reuniram para dividir o mundo depois da vitória sobre a Alemanha.

696 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

prir a palavra estabelecida nos acordos da Conferência de Yalta,6 segundo a qual a União
Soviética deveria agora declarar guerra ao Japão. Os norte-americanos, contudo, se-
guros da sua vitória, não gostariam que os soviéticos viessem a participar da ocupação
do Japão. Se, por um lado, eles pressionavam o Japão para não prolongar inutilmente
os combates e exigiam uma rendição incondicional, por outro lado, ponderavam que a
utilização da bomba atômica seria um meio de eliminar rapidamente as manobras rus-
sas, evitando a penetração soviética na Ásia.
Um dos principais homens envolvidos na decisão de Truman de ordenar o bom-
bardeamento atômico de Hiroshima foi seu Secretário de estado, James F. Byrnes (1879-
1972), um político da Carolina do Sul, mais tarde senador e governador. Em Potsdam,
em 25 de julho, Truman aprovou e assinou a ordem de lançamento da bomba atômica
sobre o Japão, redigida pelo general Groves. Com a aprovação de Churchill, que tam-
bém assina o pedido, Truman redigiu um comunicado solicitando a rendição incondi-
cional dos japoneses e informando que, caso essas condições não fossem aceitas, o
governo norte-americano iria utilizar uma arma de grande poder destruidor. Em 26 de
julho, esse ultimato é enviado ao Japão: a rendição incondicional ou a exterminação.
Em 28 de julho, os japoneses rejeitam o ultimato.
Quatro cidades haviam sido designadas pelo projeto Mannathan: Hiroshima, ci-
dade industrial, com bases militares e um importante porto de onde saíam as frotas
para o Pacífico; Kokura, principal arsenal; Nigata, porto, siderúrgicas e refinarias;
e Kioto, grande centro industrial. A partir desse momento, cessaram os bombardea-
mentos, para que fosse possível determinar a efetiva capacidade de destruição do arte-
fato nuclear.

Little boy e Fat man vão à guerra

Em 6 de agosto de 1945, às 2h30min, hora local, e com condições meteorológicas favo-


ráveis sobre Hiroshima, o bombardeiro B29 batizado de Enola Gay (em homenagem à
mãe do piloto que comandava a missão) decolou do aeroporto militar norte-ameri-
cano Tinian, nas Ilhas Marianas, sob o comando de Paul Tibbets, sendo a tripulação
composta de Robert Lewis, Thomas Ferebee, William Parsons, Morris Jeppson e ou-
tros. O comandante Tibbets era o único que conhecia os efeitos da bomba que transpor-
tava, medindo 4,50 metros de comprimento e 76 cm de diâmetro. Às 8h9min,
Hiroshima aparece entre as nuvens. Às 8h16min45s a bomba é lançada. A explosão de
60 kg de U235, equivalente a 12.500 toneladas de TNT, ocorreu 40 segundos mais tar-
de, a 580 metros acima da cidade, provocando a morte de 140.000 civis. O número de

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 697


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

sobreviventes foi superior a 300.000, que apresentaram efeitos de curto e longo ter-
mo decorrentes de doenças provenientes da exposição à radiação.
A bomba atômica produziu efeitos arrasadores. Nos primeiros milionésimos de
segundos, a energia térmica liberada na atmosfera transforma o ar em uma bola de
fogo de aproximadamente 1 km de diâmetro. Durante alguns segundos um calor de vá-
rios milhões de graus paira sobre Hiroshima. No solo, a temperatura atinge vários mi-
lhões de graus sob o epicentro da explosão. Num raio de 1 km, tudo foi instantanea-
mente vaporizado e reduzido a cinzas; até 4 km do epicentro os prédios e os seres
humanos sofreram combustão instantânea e espontânea; num raio de 8 km, as pessoas
sofreram queimaduras de 3º grau.
Após o calor, ocorreu uma onda de choque que provocou um efeito devastador,
causado pela enorme pressão devida à expansão dos gases; essa onda de choque pro-
grediu a uma velocidade de 1.000 km por hora, como se fosse um muro de ar sólido. Ela
reduziu a pó tudo o que se encontrava num raio de dois quilômetros. Dos 90 mil prédi-
os da cidade, 62 mil foram completamente destruídos.
Um efeito ainda pouco conhecido em 1945 foi a radioatividade espalhada pela
explosão nuclear, que provocou câncer, leucemia e outras doenças. Ela disseminou um
terror muito maior do que outras conseqüências, pois suas manifestações só aparece-
riam dias, meses e até mesmo anos após a explosão.
Em 6 de agosto de 1945, a Casa Branca comunicou o bombardeio de Hiroshima
ao povo norte-americano: “acabamos de lançar sobre o Japão a força de onde o Sol tira
o seu poder. Nós conseguimos domesticar a energia fundamental do universo”. O pre-
sidente Harry Truman declarou: “O mundo constata que a primeira bomba atômica foi
lançada sobre Hiroshima, uma base militar; nós ganhamos, contra a Alemanha, a cor-
rida da sua descoberta. Nós a utilizamos com a finalidade de reduzir a angústia da guer-
ra e com o fim de salvar as vidas de milhares e milhares de jovens americanos. Nós
continuaremos a empregá-la até conseguirmos destruir completamente os recursos
bélicos japoneses” (cf. Truman, 1955.).
Em 9 de agosto de 1945, às 11h2min, uma segunda bomba nuclear, a Fat man, foi
lançada por Charles Sweeney, Frederick Ashworth e outros de um bombardeiro B-29
sobre a cidade de Nagasaki. O alvo foi trocado de Kokura para Nagasaki em virtude das
más condições de visibilidade. A explosão, equivalente a 22 mil toneladas de TNT, foi
obtida usando 8 kg de plutônio 239, com uma bomba de 4.5 toneladas, que provocaram
a morte de mais de 70 mil civis.
Em 15 de agosto, Hirohito, Imperador do Japão, anunciou a capitulação incondi-
cional de seu país. Ele tinha 46 anos, quando se dirigiu pela primeira vez ao seu povo
para comunicar chorando, em linguagem arcaica, que o Japão perdera a guerra. O inima-
ginável tinha acontecido, era necessário aceitar o inaceitável: a rendição, a ocupação, a

698 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

humilhação. Acabara o Grande Império. Em 2 de setembro de 1945, a rendição japo-


nesa é assinada. Assim estava terminada a Segunda Guerra Mundial, que não acabou
em 8 de maio com a capitulação do Terceiro Reich, mas em 6 e 9 de agosto de 1945, com
as duas bombas que deram início à guerra fria.

A guerra fria e a hegemonia norte-americana

A utilização da nova arma tem provocado desde então interpretações históricas con-
troversas. Para alguns historiadores, os norte-americanos só a utilizaram contra os
japoneses com a finalidade de intimidar os soviéticos, demonstrando sua superiori-
dade militar e impedindo sua participação na ocupação do Japão. Mas, para esse obje-
tivo, a utilização de uma única bomba seria suficiente. Segundo outros historiadores, a
segunda bomba indica a vontade dos EUA de colocar um fim ao conflito muito dispen-
dioso sob o ponto de vista da perda de vidas humanas.
A divulgação da relação da bomba com a guerra fria diplomática só se tornou
possível, nos anos 50 e 60 do século passado, quando os documentos privados do ar-
quivo norte-americano foram liberados e analisados pelo historiador Gar Alperowitz,
em 1965.
O Secretário de estado Byrnes, que no Senado havia sido o principal assessor de
Truman antes que esse viesse a ocupar a presidência após a morte de Roosevelt, não
escondeu jamais a sua influência junto ao presidente na decisão de bombardear Hiro-
shima. Leo Szilard, que o havia encontrado, em 28 de maio, assim relatou o seu encon-
tro: Byrnes sabia que não era necessário utilizar a bomba contra as cidades japonesas
para ganhar a guerra. Sua idéia era de que a posse e o uso da bomba tornaria a União
Soviética mais fácil de ser controlada (cf. Lanouette & Szilard, 1994). A palavra-chave
não é nem compromisso e nem negociação, mas controle. O próprio Truman afirma-
ria, em suas Memórias: “Byrnes já me havia dito [em abril de 1945] que, de seu ponto
de vista, a bomba permitiria [aos Estados Unidos] ditar as condições do fim da guerra”
(cf. Truman, 1955).
Além de ter constituído uma experiência de uma arma de destruição em massa
com seres vivos, a solução final de usar a bomba atômica contra Hiroshima e Nagasaki
serviu de demonstração mundial do poder econômico, tecnológico e político norte-
americano. Depois da explosão experimental da primeira bomba atômica, em 16 de
julho de 1945, no Novo México, Truman decidiu excluir a União Soviética de toda pre-
sença significativa na ocupação e controle do Japão. Com efeito, a chegada dos russos a
Berlim, antes dos americanos, constituiu uma preocupação de que o mesmo poderia
ocorrer em relação à ocupação do Japão.

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 699


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Em suas memórias, I was there, o almirante William Daniel Leahy (1875-1959),


chefe do Estado Maior do presidente Roosevelt e mais tarde do presidente Truman,
explicou: “Os japoneses já estavam vencidos e prontos para capitular [...] a utilização
em Hiroshima e Nagasaki dessa arma bárbara não nos ajudou a ganhar a guerra. [...]
sendo o primeiro país a utilizar a bomba atômica, adotamos [...] a regra ética dos bár-
baros da Idade das Trevas” (Leahy, 1950, p. 429 e 514).
A mesma opinião foi exposta pelo general Eisenhower, em suas memórias:

Em [julho] de 1945, [...] o Secretário de guerra Stimsom, em visita a meu quar-


tel-general na Alemanha, informou-me que nosso governo estava preparado para
lançar a bomba atômica no Japão. Eu era um daqueles que sentiam que havia um
conjunto de razões conclusivas para questionar a sabedoria de um tal ato. […] o
Secretário, após me informar do sucesso do teste da bomba no Novo México e do
plano de usá-la, perguntou-me da minha reação, aparentemente à espera de um
vigoroso assentimento (Eisenhower, 1963b, p. 312).
Durante seu relato dos fatos relevantes, eu tive a consciência de um sentimento
de depressão e assim comuniquei-lhe a gravidade das minhas dúvidas. De início,
com base em minha convicção de que o Japão já estava derrotado e que a utiliza-
ção da bomba era desnecessária. Em seguida, porque acreditava que o nosso país
devia evitar chocar a opinião mundial utilizando uma arma cujo emprego não era
mais obrigatório como medida para salvar a vida dos norte-americanos. Eu tinha
a convicção de que o Japão estava, naquele momento [agosto de 1945], procuran-
do algum modo de capitular salvando um pouco do seu orgulho (Eisenhower,
1963b, p. 380).

Até hoje a controvérsia continua sobre a questão de saber se a utilização dessa


bomba sobre o Japão era verdadeiramente necessária para dar um fim à guerra. Ao con-
trário desses pontos de vista, logo que foi informado do holocausto de Nagasaki quan-
do retornava da Conferência de Postdam, a bordo do cruzador Augusta, Truman se or-
gulhava afirmando: “é o maior acontecimento da história” (cf. Truman, 1955).
Na grande visão de Churchill, Nagasaki, e Hiroshima nada mais foram que um
elemento da estratégia da guerra fria que começava a surgir. De fato, em 22 de julho de
1945, ele registrou em seu diário:

Nós temos a partir de agora em mãos alguma coisa que restabelecerá o equilíbrio
conjunto. O segredo desse explosivo e a capacidade de utilizá-lo vão modificar
completamente o equilíbrio diplomático que estava à deriva desde a derrota da
Alemanha (Churchill, 1953, p. 646).

700 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

Segundo o chefe de gabinete de Churchill, o marechal de campo Alan Francis


Brooke (1883-1963),

Churchill via já um meio de eliminar todos os centros industriais soviéticos e


todas as regiões de forte concentração de população. Ele estava inebriado por uma
magnífica imagem, como único detentor dessas bombas, capaz de lançá-las onde
quisesse e, portanto, tornava-se o Todo-Poderoso, capaz de ditar as suas vonta-
des a Stálin (cf. Brooke, 2002).

Os anos de guerra não mudaram a maneira de ver de Churchill, mas a sua tática e
a sua retórica. O seu espírito estava dominado pela idéia de “que o comunismo não era
uma política, mas uma doença”. Na tarde de 10 de fevereiro de 1946, Truman e Churchill
se reuniram na Casa Branca para conversar sobre o discurso que o homem do charuto
iria pronunciar no dia 5 de maio, em Fulton, no Missouri, quando lançaria a expressão
cortina de ferro (cf. Harbutt, 1986).

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão


Doutor pela Universidade de Paris (Sorbonne);
Membro titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
da Academia Brasileira de Filosofia e do Museu de Astronomia e
Ciências Afins do Rio de Janeiro.
mourão@ronaldomourão.com

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 701


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Apêndice

Cronologia das armas nucleares

Data Evento
1931 O núcleo de hidrogênio pesado, ou deutério, é descoberto por Harold Urey.
1932 O átomo de urânio é desintegrado por John Crockcroft e E. T. S. Walton na Inglaterra.
1933 O físico húngaro Leo Szilard vislumbra a possibilidade da reação nuclear em cadeia.
Os nazistas assumem o poder na Alemanha.
1938
22/12 Otto Hahn envia artigo para Lise Meitner contendo resultados experimentais que são
interpretados por Meitner e o sobrinho Otto Frisch como uma fissão nuclear.
1939
06/01 Hahn e o assistente Fritz Strassman publicam seus resultados sobre a fissão nuclear.
26/01 Em conferência na Universidade George Washington, Niels Bohr anuncia a descoberta da
fissão nuclear por Lise Meitner e Otto Frisch.
29/01 Robert Oppenheimer conclui que a fissão nuclear pode ser aplicada para fins nucleares.
11/02 Lise Meitner e Otto Frisch publicam uma interpretação teórica do resultado de Hahn-
Strassman da fissão nuclear.
Jun./jul. Werner Heisenberg visita os Estados Unidos.
02/08 Albert Einstein escreve ao presidente Franklin Roosevelt, sobre o uso do urânio como
uma nova fonte de energia.
01/09 Bohr e John Wheeler publicam uma teoria da fissão nuclear.
Início da Segunda Guerra Mundial: a Alemanha invade a Polônia.
03/09 A Inglaterra e a França declaram guerra à Alemanha.
16/09 O Departamento alemão de armas nucleares reúne físicos para o desenvolvimento das
pesquisas sobre fissão nuclear.
05/10 O Departamento alemão de armas nucleares assume o controle do Instituto de Física
Kaiser-Wilhelm em Berlim-Dahlem.
06/12 Heisenberg submete ao Departamento alemão de armas nucleares a primeira parte do
relatório sobre as prospecções e métodos para explorar a fissão nuclear.
1940
29/02 Heisenberg submete ao Departamento alemão de armas nucleares a segunda parte do
relatório.
03/05 As tropas alemãs ocupam a Noruega, seqüestrando a única instalação produtora de água
pesada do mundo, em Vemork.
19/05 Frisch e Peierls submetem um memorando ao governo inglês estimando a massa crítica
do U235 necessária para uma bomba atômica, assim como alertando para a urgência no
início de um projeto de pesquisa voltado para as armas nucleares.

702 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

15/06 Com o ciclotron de Berkeley, Philip Abelson e Edwin McMillan demonstram que os
nêutrons capturados pelo U238 conduzem à criação dos elementos 93 e 94, o netúnio
e o plutônio.
17/07 Carl von Weizsäcker sugere ao Departamento alemão de armas nucleares que o netúnio
produzido em um reator poderia ser usado como material explosivo na bomba de fissão.
1941
Janeiro Von Weizsäcker registra uma patente cuja aplicação refere-se à bomba de plutônio.
20/01 Walther Bothe e Peter Jensen relatam os resultados sobre a absorção dos nêutrons que
sugerem que o grafite não poderia ser usado como moderador numa reação em cadeia.
23/02 O plutônio é descoberto por Glenn Seaborg.
Março Von Weizsäcker visita Niels Bohr, em Copenhague.
28/03 Os físicos norte-americanos confirmam que o plutônio é fissível, portanto, utilizável em
uma bomba.
22/06 Os alemães invadem a União Soviética. August Fritz Houtermans relata às autoridades
alemãs a possibilidade de usar plutônio em uma bomba.
Setembro Von Weizsäcker visita outra vez Niels Bohr, em Copenhague, agora em companhia
de Heisenberg.
05/12 Erich Schumann, chefe de pesquisa do Departamento alemão de armas nucleares, ordena
uma revisão de todos os projetos de pesquisa.
06/12 Roosevelt autoriza o Manhattan Engineering District, conhecido como Manhattan Project,
em Los Alamos, com a finalidade de desenvolver uma bomba atômica.
07/12 O Japão ataca Pearl Harbour. Os Estados Unidos entram na guerra.
1942
Fevereiro O Departamento alemão de armas nucleares decide renunciar quase inteiramente à
pesquisa em fissão nuclear e abandonar o Instituto de Física Kaiser-Wilhelm.
26/02 Heisenberg, Hahn e outros cientistas pronunciam uma série de conferências populares
sobre armas nucleares para o Ministério da Educação do Terceiro Reich, em Berlim.
Abril A primeira multiplicação de nêutrons é obtida em teste com um reator experimental
em Leipzig.
Junho Heisenberg relata a pesquisa em fissão a Albert Speer, Ministro alemão para o armamento
e produção de guerra, e a outros oficiais superiores.
09/06 Hitler aprova um decreto colocando o Conselho de Pesquisa do Reich subordinado a
Goering e Speer.
Julho Com o apoio do Departamento alemão de armas nucleares, Kurt Diebner inicia a cons-
trução de um reator usando um projeto alternativo de cubos metálicos suspensos e imer-
sos em água pesada, produzindo a multiplicação de nêutrons positivos no ano seguinte.
01/07 Heisenberg torna-se um atuante chefe do Instituto de Física Kaiser-Wilhelm e elabora um
plano para a construção de um reator contendo água pesada e placas de urânio metálicas.
23/09 O general Leslie Groves é nomeado comandante militar e J. Robert Oppenheimer, diretor
científico do Projeto Manhattan.

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 703


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

05/11 A construção de uma instalação destinada à separação dos isótopos de urânio tem início
em Oak Ridge, Tennessee, EUA.
02/12 Primeira reação de fissão nuclear controlada numa pilha de esferas de urânio colocadas em
tijolos de grafite, produzida por Enrico Fermi e Leo Szilard, na Universidade de Chicago.
1943
Janeiro Tem início a construção das instalações dos reatores em Hanford, Washington,
destinados à produção de plutônio para a bomba.
05/05 O Japão é escolhido como primeiro alvo para um futuro ataque com a bomba atômica de
acordo com o Comitê de política militar do Projeto Manhattan.
06/05 Heisenberger, Hahn e outros cientistas pronunciam conferências sobre as pesquisas em
fissão para a Academia Alemã de Pesquisa em Aerodinâmica.
Setembro No outono, os institutos de pesquisa em Berlim são transferidos para o sul da Alemanha
para escapar dos bombardeios dos aliados. O Instituto de Física Kaiser-Wilhelm é distri-
buído entre Berlim e as vizinhanças de cidades do sul, como Hechingen e Haigerloch.
Dezembro Niels Bohr visita Los Alamos.
1944
01/01 Walther Gerlach é indicado “plenipotenciário” de toda pesquisa em fissão com apoio do
Conselho de pesquisa do Reich.
06/06 O Dia D da invasão da Europa.
Agosto A Missão Alsos, unidade de inteligência científica norte-americana, chega à Europa.
Novembro A Missão Alsos conclui que não existe nenhuma bomba atômica alemã.
1945
Janeiro Gerlach ordena a transferência dos remanescentes da equipe de Heisenberg e Diebner
para o sul da Alemanha.
Descoberta da massa crítica do U235 por Otto Frisch. Experimento desenhado por R.
Feynman. (Um acidente de irradiação de nêutrons provocará uma morte em fevereiro).
Dispositivo de ignição para implosão é concluído por Luís Alvarez.
16/01 Em Hanford, tem início a separação do plutônio.
20/01 Início da operação na difusão gasosa usada para suprir o enriquecimento de urânio.
Desenvolvimento do teflon como vedador.
Bombardeamento do Japão com bombas incendiárias em baixa altitude,
proposto por C. LeMay, comandante da esquadra de bombardeiros B-29.
Fevereiro O sistema de implosão é concluído por G. Kistiakowsky.
O teste Trinity é decidido. O sistema de implosão só será empregado na bomba de plutônio.
Início da difusão térmica líquida para enriquecer urânio.
Tinian, nas Ilhas Marianas, no Pacífico, é escolhida como base para a bomba atômica a
ser lançada por um bombardeiro B-29 sob o comando de Frederick Ashworth.
04/02 Conferência de Yalta. Solicitação da rendição incondicional do Japão: acordo entre
os aliados e a URSS sobre a participação soviética no ataque ao Japão, logo após
a rendição alemã.

704 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

05/02 Transporte do plutônio 239 de Hanford para Los Alamos, em uma solução de ácido nítrico.
16/02 Klaus Fuchs, agente da inteligência soviética, entrega dados do sistema de implosão,
tendo recusado receber 1.500 dólares de recompensa.
28/02 Os líderes de Manhattan e o reitor de Harvard, James Bryant Conant, Hans Bethe,
George Kitiakowsky e Richard Tolman reúnem-se para decidir o desenvolvimento
de um projeto de implosão Christy.
Março A Alemanha testa um dispositivo nuclear em Thüringia.
Na Alemanha, desenvolvido por W. Heisenberg, K. Diebner, C. von Weizsäcker e outros,
o reator nuclear B-8 entra em operação experimental sem, no entanto, alcançar o estado
crítico. Trata-se de um reator de tipo cilíndrico que emprega grafite como refletor do
nêutron e água pesada como moduladora.
Na Alemanha, em Haigerloch, a equipe de Heisenberg espera os últimos momentos da
guerra, retardando o projeto do reator.
10/03 Um grande ataque aéreo em Tóquio: 234 bombardeiros B-29 com 1.665 toneladas de
bombas incendiárias provocam a morte de 100.000 vítimas civis.
15/03 A Força Aérea dos EUA ataca os prédios de uma refinaria de metal, em Oranienburg
(cerca de 25 km ao norte de Berlim) para impedir a produção alemã do urânio metálico.
12/04 Verificação da massa crítica do plutônio 239 por O. Frisch.
17/04 O minério de urânio alemão, encontrado em Stuttgard por John Lansdale Jr., da unidade
especial do exército dos EUA para a Missão Alsos, é enviado ao projeto Manhattan.
23/04 Um reator alemão, em Heigerloch, é apreendido pela Missão Alsos, sob o comando de
B. Pash e S. Goudsmit.
A Missão Alsos captura cientistas alemãs e equipamentos, em Hechingen, Haigerloch
e nas proximidades de Tailfingen.
24/04 Os físicos alemães von Weizsäcker, O. Hahn, Max von Laue são presos em Hebingen.
26/04 Na Alemanha, a Missão Alsos encontra depósitos de urânio metálico e água pesada.
01/05 A Missão Alsos captura os físicos alemães Diebner e Gerlach, em Munique.
02/05 Berlim é ocupada.
03/05 W. Heisenberg é preso pela Missão Alsos dos EUA, em Welfeld, na Baviera alemã.
07/05 A Alemanha assina a rendição.
08/05 Fim da guerra na Europa.
09/05 Comitê interino dos EUA sobre poder nuclear, composto por Henry Stimson, Ralph Bard,
Vannevar Bust, James Byrnes, William Clayton, Karl Compton, George Harrison e, como
convidado, Harvey Bundy prevê o desenvolvimento de armas nucleares pela União Sovié-
tica em sete anos.
25/05 Leo Szilard adverte pessoalmente o presidente Truman sobre os perigos
das armas atômicas.
A Operação de invasão de Kyushu escolhe para comandantes: Douglas MacArthur
(exército), Chester Nimitz (marinha) e Henry Arnold (corpo de ar do exército).
A operação, designada “Operation Olympic,” é programada para o dia 1º de novembro.

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 705


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

28/05 Joseph Grew, sub-secretário do Departamento do estado, prediz a rendição dos japoneses
ao presidente Truman.
Leo Szilard expressa sua opinião contra o uso da bomba ao conselheiro presidencial
J. Byrnes. Sua intervenção é rejeitada.
31/05 Recomendação sobre o uso imediato das armas nucleares é aprovada pelo Comitê interi-
no: Byrnes, Stimson, Marshall, Groves, Bundy, Conant, Compton, Lawrence, Fermi,
Oppenheimer. A sugestão de Oppenheimer, de convidar a União Soviética para assistir a
primeira explosão (Operação Trinity), é recusada.
Maio Na Alemanha, cerca de 130 toneladas de óxido de urânio alemão são encontradas na
fronteira do território ocupado pelos norte-americanos em Berlim. Apreendido pelo
exército vermelho, é enviado à União Soviética.
Mais de 100 toneladas de urânio alemão são apreendidas na Bélgica.
Junho O urânio é processado por difusão térmica líquida e difusão gasosa. Aperfeiçoamento do
enriquecimento por difusão gasosa.
Montagem da bomba de plutônio para a Operação Trinity.
06/06 As recomendações sobre o uso da bomba atômica pelo Comitê interino são comunicadas
ao presidente Truman por Stimson.
10/06 O 509o Grupo da Força Aérea dos EUA chega a Tinian com onze bombardeiros B-29.
11/06 O Comitê James Frank, constituído por J. Frank, L. Szilard, Eugene Rabinowitch,
recomenda a notificação antes do uso da bomba atômica. Sete cientistas em Chicago
recomendam uma demonstração pública do poder destruidor da bomba.
18/06 General Marshall estima em cerca de 63 mil mortos ou feridos no caso da Operation
Olympic (invasão de Kyushu) pelos EUA.
01/07 Leo Szilard redige uma petição ao presidente Truman solicitando que a bomba atômica
não seja utilizada no Japão.
03/07 Concluída a carcaça da bomba de U235.
Dez dos cientistas alemães capturados são enviados da Bélgica para a Inglaterra,
onde são confinados em Farm Hall.
12/07 O primeiro núcleo de plutônio chega em Alamogordo.
13/07 A inteligência americana descobre que o único obstáculo à paz com o Japão é a ‘rendição
incondicional’, pois os japoneses queriam manter o Império.
16/07 Teste da Trinity. A primeira bomba atômica de plutônio é detonada, em Alamogordo, no
deserto do Novo México, com 90 minutos de atraso, dadas as condições meteorológicas,
às 5h29min45s, com força explosiva equivalente a 18.600 toneladas de TNT.
Transporte da Little Boy pelo cruzador Indianápolis, 4 horas após a explosão da Trinity.
17/07 Uma petição contra o uso de armas nucleares é entregue ao presidente Truman, redigida
por L. Szilard e subscrita por sessenta e nove cientistas.
Truman, Stálin e Attlee se encontram em Potsdam, próximo a Berlim, para discutir o
futuro da Alemanha e sua ocupação pelas nações do Eixo.
20/07 D. Eisenhower, comandante das forças aliadas, recomenda ao presidente Truman que não
use a bomba atômica, pois não era necessário.

706 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

23/07 Um telegrama de George Harrison a Potsdam informa que o lançamento da bomba


atômica sobre o Japão seria possível a partir de 1º de agosto.
Conclusão do segundo núcleo do plutônio.
24/07 Stálin é informado por Truman do sucesso do primeiro teste experimental
de uma bomba atômica.
25/07 O presidente Truman, em Potsdam, aprova o lançamento de bombas atômicas no Japão.
26/07 A Little Boy chega em Tinian, a bordo do cruzador Indianápolis.
Declaração de Potsdam, exigindo do Japão a rendição incondicional.
28/07 Declaração de Potsdam rejeitada pelo Japão.
31/07 Concluída a montagem da Little Boy, a equipe espera bom tempo.
02/08 As partes da Fat Man chegam em Tinian.
04/08 Instrução ao grupo dos bombardeiros B-29. Apresentação por William Parsons do filme
documentário sobre a Operação Trinity.
05/08 A data do bombardeio em 6 de agosto é decidida por Curtis LeMay. Instalação da Little Boy
em um bombardeiro B-29, nomeado Enola Gay, em homenagem à mãe do Capitão Tibbets.
06/08 Bombardeio sobre Hiroshima com a Little Boy por Paul Tibbets, Robert Lewis, Thomas
Ferebee, William Parsons, Morris Jeppson e outros às 8h16min45s. Explosão de 60 kg
de U235, equivalente a 12.500 toneladas de TNT. A bomba pesava 4 toneladas. 140.000
cidadãos civis foram mortos. Em curto e longo termo, os sobreviventes, cerca de
300.000, desenvolveram doenças devidas à exposição à radioatividade.
07/08 O presidente Truman é avisado do lançamento da bomba atômica no cruzador Augusta,
no Oceano Atlântico, quando voltava de Potsdam.
08/08 Stálin assina a declaração de guerra ao Japão logo depois da rendição da Alemanha,
como havia acordado em Yalta.
A Fat Man é montada e instalada em um bombardeiro B-29.
09/08 A URSS ataca o Japão invadindo a Manchúria.
Bombardeio de Nagasaki com a bomba Fat Man por Charles Sweeney, Frederick Ashworth
e outros às 11h2min. O alvo foi transferido de Kokura por causa da péssima visibilidade.
Explosão de 8 kg de plutônio 239, equivalente a 22.000 toneladas de TNT. Peso bruto da
bomba de 4,5 toneladas. Mais de 70.000 civis morrem.
Em reunião com seus ministros, O Imperador Hirohito decide aceitar a Declaração
de Potsdam.
10/08 A Declaração de Potsdam é aceita pelo Japão, através da Suíça, com o pedido de que o
Imperador seja mantido. J. Byrnes deseja rejeitá-la, não obstante, Truman aceita.
11/08 O transporte a Tinian do segundo núcleo e iniciador de plutônio é cancelado por ordem
de Marshall. A próxima bomba de plutônio seria lançada possivelmente em 17 ou 18
de agosto.
12/08 Resposta dos EUA ao pedido japonês.
15/08 Rendição incondicional do Japão. Fim da Segunda Guerra Mundial.
20/08 Na URRS, o Comitê especial da bomba atômica é constituído (Georgi Malenkov, Boris
Vannikov, Avrami Zavenyagin, Mikhail Peruvuhin, Peter Kapitza e Igor Kurchatov).

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 707


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

02/09 O Japão anuncia formalmente a rendição.


15/09 Relatório sobre a construção de bombas atômicas, apresentado a Groves pelo major
Lauris Norstad, estima que 204 bombas atômicas deveriam estar prontas para serem
lançadas contra um inimigo hipotético, por exemplo, a União Soviética. Inicia-se a
corrida para a formação dos arsenais atômicos.
28/09 O painel científico do Comitê interino recomenda o desenvolvimento da bomba de
hidrogênio (Compton, Lawrence, Germi, Oppenheimer).
Outubro Edward Teller solicita o apoio de Oppenheimer para participar da construção de uma
bomba de hidrogênio. Oppenheimer recusa.
16/10 Renúncia de Oppenheimer de Los Alamos. Substituído por Norris Bradbury.
02/11 “Mensagem de Los Alamos”, discurso de Oppenheimer no qual, além de renunciar,
anuncia o início da Era Atômica.
15/11 Declaração de Truman-Attlee-King, o Acordo New Quebec. Uma doutrina que determina
que os conhecimentos da energia atômica sejam mantidos pelos EUA, Inglaterra e
Canadá, proposta pela Comissão de energia nuclear das Nações Unidas.
23/11 A União Soviética conclui um acordo secreto com a Tchecoslováquia, adquirindo direitos
exclusivos sobre todo o urânio explorado no país. Os minérios de Jachymov são aqueles de
que Marie Curie primeiramente extraiu o polônio e o rádio.
Dezembro ENIAC (computador com 18.800 tubos de vácuo, 140 quilowatts, 30 toneladas) elabora
uma primeira versão dos cálculos termonucleares. Los Alamos prepara meio milhão de
cartões perfurados de dados.
22/12 Repatriamento dos físicos alemães na Alemanha Ocidental pelos EUA.
1946
Edward Teller desenvolve o projeto de uma arma termonuclear.
03/01 Os dez cientistas da Alemanha capturados retornam à Alemanha, onde permanecem,
sob supervisão dos aliados, na zona de ocupação inglesa.
25/01 Projeto da bomba atômica soviética é aprovado (Stálin, Beria, Molotov, Kurchov).
05/03 Discurso de Winston Churchill sobre a cortina do ferro, em Fulton, Missouri, EUA.
17/03 Controle internacional do poder nuclear proposto por Gooderham Acheson, com base
em relatório de Oppenheimer.
02/04 Los Alamos Soviético: é escolhido o local atômico do laboratório da bomba, em Sarov,
a 400 km a leste de Moscou.
Abril Primeira conferência sobre o desenvolvimento de uma “super” (bomba de hidrogênio).
Reunião de E. Teller, E. Konopinsky, J. Manley, P. Morrison, von Neumann, S. Ulam,
N. Bradberry e K. Fuchs em Los Alamos. Propunha uma mistura do deutério e do trítio
em um recipiente cilíndrico inflamado pela “bola de fogo” da bomba atômica.
Robert Serber se opõe.
14/06 O plano nuclear de controle elaborado por Bernard Baruch é apresentado nas Nações
Unidas: o controle internacional do poder nuclear é contra-atacado pela União Soviética,
que se opõe à proibição da construção de bombas atômicas.

708 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005


Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma

Junho Início dos arsenais de armas nucleares: produção de 9 bombas Fat Man, utilizando o
plutônio produzido e o capturado nos países estrangeiros.
1/07 Início dos testes atômicos que têm por finalidade examinar os efeitos de explosões
nucleares em embarcações, aviões e navios. Uma frota de navios ancorados na lagoa do
atol de Bikim, nas ilhas Marshall, é usada como alvo. As armas usadas são bombas
atômicas do tipo Fat Man, essencialmente não modificadas em relação aos projetos da
época da guerra.
25/12 O início da operação de um reator nuclear (F-1) – 100 watts, usando 400 toneladas de
grafite e 50 toneladas de urânio – é interrompida na Alemanha.

bibliografia
Alperowitz, G. Atomic diplomacy: Hiroshima and Potsdam. The use of the atomic bomb and the American
confrontation with the Soviet power. London: Secker and Warburg, 1965.
Bernstein, J. & Cassidy, D. Hitler’s uranium club: the secret recordings at Farm Hall. New York: Springer,
2001.
Bess, M. Realism, utopia, and the mushroom cloud: four activist intellectuals and their strategies for peace (1945-
1989) – Louise Weiss (France), Leo Szilard (USA), E. P. Thompson (England), Danilo Dolci (Italy). Chicago:
University of Chicago Press, 1993.
Blackett, P. M. Fear, war and the bomb: military and political consequences of atomic energy. London: Turnstile
Press, 1948.
Broke, A. F. War diaries, 1939-1945. London: Weidenfeld & Nicholson, 2002.
Churchill, W. S. The Second World War. Boston: Houghton Mifflin Company, 1953. v. 6: Triumph and
tragedy.
_____. Winston S. Churchill: his complete speeches, 1897-1963. New York: Chelsea House Publishers, 1974.
Cornwell, J. Hitler’s scientists: science, war and the devil’s pact. London: Peguin Books, 2003.
Eisenhower, D. Ike on Ike. Newsweek, 11 nov. 1963a.
_____. The White House years. New York: Doubleday, 1963b. v. 1: Mandat for change.
_____._____. New York: Doubleday, 1965. v. 2: Waging peace.
Esterer, A. K. & Esterer, L. A. Prophet of the atomic age: Leo Szilard. New York: Julian Messner, 1972.
Grandy, D. A. Leo Szilard. Science as a mode of being. Lanham: University Press of America, 1996.
Groves, L. Now it can be told (story of the Manhattan Project). London: Andre Deutsch, 1963.
Harbutt, F. The iron curtain: Churchill, America and the origins of the cold war. Oxford: Oxford University
Press, 1986.
Harris, A. T. Bomber offensive. Barnsley: Pen & Sword, 1947. (Pen & Sword Military Classics).
Hawkins, H. S.; Greb, G. A. & Szilard, G. W. (Ed.). Collected works of Leo Szilard: scientific papers. Cambridge,
Massachusetts: The MIT Press, 1987. v.3.
James, R. R. The making of the atomic bomb. New York: Simon and Schuster, 1986.
Kunetka, J. W. City of fire: Los Alamos and the atomic age, 1943-1945. Albuquerque: University of New
Mexico Press, 1978.
Lamont, L. Day of Trinity. New York: Atheneum, 1965.
Lanouette, W. The odd couple and the bomb. Scientific American, 285, 5, p. 104-9, 2000.

scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005 709


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Lanouette, W. & Szilard, B. Genius in the shadows. A biography of Leo Szilard: the man behind the bomb.
Chicago: Chicago University Press, 1994.
Leahy, W. D. I was there: the personal history of the chief of staff to presidents Roosevelt and Truman. London:
Victor Gollencz, 1950.
Marx, G. Szilard Leó (A múlt magyar tudósai) Budapest: Akadémiai Kiadó, 1997.
Ottaviani, J.; Johnston, J.; Jones, J. & Kemple, C. Fallout: J. Robert Oppenheimer, Leo Szilard, and the political
science of the atomic bomb. Vienna: G.T. Labs, 2001.
Powers, T. Heisenberg’s war: the secret history of the German bomb. Vienna: G.T. Labs, 2001.
Probert, H. Bomber Harris. His life and times. London: Greenhill Press, 2001.
Public papers of the presidents: Harry S. Truman. Washington: Government Printing Office, 1965.
Rose, P. L. Heisenberg and the nazi atomic bomb project, 1939-1945: a study in German culture. Berkeley:
University of California Press, 2001.
Saward, D. Bomber Harris: the authorized biography. London: Cassell, 1984.
Stimson, H. L. Henry Lewis Stimson papers, manuscripts and archives. New Haven: Yale University Library,
2000 [1945].
Szilard, L. Voice dolphin. New York: Simon & Schuster, 1961.
_____. Zehn Gebote: ten commandments. London: G.W. Szilard, 1964.
_____. Reminiscences. Harvard: Harvard University, 1968. (Charles Warren Center for Studies in American
History).
_____. Leo Szilard, his version of the facts. In: Weart, S. R. & Szilard, G. W. (Ed). Collected works of Leo
Szilard. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1978. v. 2.
_____. Toward a livable world: Leo Szilard and the crusade for nuclear arms control. In: Hawkins, H. S.;
Greb, G. A . & Szilard, G. W. (Ed.). Collected works of Leo Szilard: scientific papers. Cambridge,
Massachusetts: The MIT Press, 1987. v. 3.
_____. The voice of the dolphins. New York: Holiday House, 1988.
_____. The voice of the dolphins and other stories. Palo Alto: Stanford University Press, 1992. (Stanford Nu-
clear Age Series).
The spirit of Hiroshima: atomic bomb tragedy. Hiroshima: Hiroshima Peace Memorial Museum, 1999.
Time Magazine. Ten-Day Wonder. 26 mar. 1945.
Truman, H. S. Memoires, years of decision. New York: Doubleday, 1955. v.1.
Weart, S. R. & Szilard, G. W. (Ed.). Collected works of Leo Szilard. Cambridge, Massachusetts: The MIT
Press, 1978. 2 v.
Wigner, E. P. Leo Szilard (1898-1964): a biographical memoir. New York: Columbia University Press, 1969.
(Biographical memoirs / National Academy of Sciences).

710 scientiæ zudia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005

Vous aimerez peut-être aussi