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CURITIBA
2015
JOÃO VICTOR SOARES SANTOS
CURITIBA
2015
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SUMÁRIO
8. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 11
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1. INTRODUÇÃO: ANDRÉ BAZIN
2. A ARTE DO REAL
Bazin acreditava no cinema enquanto “arte do real”, e em seu primeiro ensaio, via
a realidade cinematográfica estabelecida pelo espaço, que segundo Andrew (2002),
acaba por não ser muito prática por não dizer-nos o porquê do cinema parecer realista.
Seu segundo ensaio abrange o que Andrew chama de “tese psicológica do
realismo” (2002, pg. 117) , essa teoria baseava-se basicamente na noção de que vemos
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o cinema como realidade por ser registrado mecanicamente, em primeira instância, sem
intervenção humana. Logo, as imagens parecem reais porque, psicologicamente, cremos
em sua origem automática. Nenhum homem a pintou, não parece haver modificação
humana, apenas um acontecimento que foi registrado através de um processo mecânico
no qual o homem não possui uma intervenção direta.
Embora na prática haja inúmeras intervenções humanas enquanto um filme está
sendo feito, segundo Andrew (2002), Bazin acreditava que todas as invenções do homem
eram direcionadas ao desejo inerente ao cinema de perfeita representação da realidade.
Andrew afirma (2002) que embora a tecnologia se aproxime cada vez mais da
realidade, o cinema não é exatamente igual a realidade, e diz que Bazin tenta exemplificar
em seu ensaio, através de inúmeras metáforas, a diferença entre a fotografia e a
realidade em si, ou seja, seu objeto. Bazin chamou a fotografia de “um modelo de luz”
(What is cinema?, pg. 96 apud. As Principais Teorias do Cinema, pg. 117), que não é o
objeto em si, mas um desenho, logo, “somos atingidos por tais desenhos porque eles
foram, na realidade, deixados pelo objeto que nos fazem lembrar.” (ANDREWS, 2002.
Pg. 117) Ou seja, cremos no cinema como realidade porque fazemos associações com
o que vemos e vivemos no dia-a-dia.
Assim, Bazin também compara a diferença das emoções que sentimos ao vermos,
por exemplo, um filme sobre montanhistas e uma foto real de um homem real no topo de
uma montanha real. A segunda nos trás uma emoção autêntica, em contraponto com o
filme que nos faz sentir coisas talvez muito parecidas, mas no fundo temos a consciência
de que nada daquilo é de fato real.
Bazin então concluiu que a matéria-prima do cinema é esse desenho que nos
remete a realidade, e não ela, propriamente dita. E esta é a matéria-prima que deve ser
trabalhada afim de nos aproximar cada vez mais com a realidade bruta da qual se origina.
3. REJEIÇÃO DO ESTILO
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lo e modificá-lo completamente, e que “os teóricos devem descrever e explicar o que foi
feito no cinema, em vez de deduzir o que deveria ser feito utilizando algum sistema
abstrato” (As Principais Teorias do Cinema, pg. 119).
Para Bazin, o realismo se opunha à abstração, ou seja, à simbolização ou
convenção, e via a rejeição desses aspectos como uma potencialização da estética
realista.
O que isso quer dizer? Por exemplo, em uma cena do episódio final da quarta
temporada de Game of Thrones, série mundialmente conhecida e produzia pela HBO, o
personagem John Snow vai até um local hostil para conversar com seu inimigo. Em
determinado momento da ação, John Snow olha de relance para uma adaga que está
em cima de uma mesa próxima aos dois. A montagem da cena e seus closes são feitos
de forma com que entendamos imediatamente que a intenção do personagem em
questão é ferir seu inimigo. Logo, o simples olhar para o lado, devido a manipulação, nos
dá diretamente o significado desta ação, transformando a realidade em uma série signos
abstratos que utilizam de convenções. A presença do inimigo associada ao olhar de
relance para uma faca, empiricamente nos remete a uma intenção violenta.
Bazin acreditava que o cinema realista devia abrir mão desses significados
impostos, deixando que as cenas fossem simplesmente registradas, sem qualquer
manipulação ou montagem. Aos olhos dos estetas tradicionais isso era um erro, pois
consideravam essa manipulação a verdadeira essência da arte cinematográfica.
Para Bazin, a exploração da realidade empírica com objetivos pessoais não era o
suficiente, ao que Andrew relata sobre o pensamento de Bazin, seu desejo maior parecia
ser o de trazer o cinema cada vez mais próximo da realidade autêntica da fotografia do
homem sobre a montanha, e acreditava que só seria possível chegar ao puro registro do
que foi a ‘verdadeira realidade’ se o cinema deixasse a manipulação das imagens de lado
e desse espaço à simples reprodução dos acontecimentos, sem signos impostos,
deixando que cada elemento tenha seu próprio significado e particularidade, dentro de
um complexo espaço com diversos outros elementos, também com suas próprias
particularidades e seus próprios significados.
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Para entendermos melhor, em um primeiro momento, podemos traçar uma breve
comparação entre o pensamento de Bazin e uma câmera escondida. Geralmente as
vemos em programas de televisão em quadros de comédias ou pegadinhas, e muitas
das vezes, se olharmos com mais atenção e analisarmos, é possível constatar que há
manipulação humana nas ações, porém, nossa primeira impressão é sempre de que se
trata de um registro de uma realidade absoluta e que, sem sombra de dúvidas, aconteceu.
Tudo porque não há manipulação de imagem, montagens ou signos impostos, é apenas
a câmera trazendo consigo o principio da fotografia, o registro despretencioso que traz
consigo seus próprios significados.
4. ANTOINE ET COLETTE
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acontece é que a câmera não desvenda esse significado para o espectador, ela apenas
registra a ação. Como no exemplo que vimos do episódio de Game of Thrones, se
fossemos adaptar a ação a esse realismo que vimos em Bazin, o olhar continuaria
existindo, e a adaga também, porém, não teríamos a clareza das intenções do
personagem, pois o que nos dá a informação de que o personagem possui a vontade de
ferir seu inimigo é o modo como a cena é montada, e não a ação em si, que é um simples
olhar para o lado.
Em Antoine et Colette, não há informações impostas, não há signos que utilizam
da verdade impírica para estabelecer uma convenção, há apenas as cenas sendo
registradas, quase como uma câmera escondida, com poucos closes, cenas abertas e
sem muitos cortes, e que em primeira instância, nos deixam de certa forma confusos com
o objetivo do filme.
E é um equívoco pensar que o filme não tem um significado, pois na realidade o
que vemos é um milhão de signos não decifrados, e que clamam pela subjetividade de
cada um para desvendá-los, sem a intervenção de convenções pré-estabelecidas. Se
estamos vendo uma cena de um casal brigando na rua, ninguém nos diz o que houve ou
nos dá o motivo da briga. Nós devemos colher as informações que estão presentes e são
inerentes ao fato e nós mesmos damos um signifcado àquela ação, que pode ou não ser
a verdadeira realidade do casal, assim como o que o espectador entende pelo filme
Antoine e Colette pode não ser o que o cineasta estava querendo dizer. Porém, ao que
me parece, esse significado pré-estabelecido já não tem mais tanta importância no
realismo de Bazin, o que o realismo deve buscar é um distanciamento desses signos e
deixar com que um filme tenha seus significados por si só
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enriquece a cena e dá ao espectador o poder de construir seus próprios significados a
partir do que vê.
Segundo Andrew, os pensamentos de Bazin provam que “O cineasta realista não
é um homem sem arte, apesar de seu filme poder parecer destituído de arte. Ele tem o
talento para as artes do auto-afastamento, que são antes de tudo as virtudes humanas”
(ANDREWS, 2002. Pg. 137). Logo, Bazin defendia um cinema expandido, repleto de
potencialidades e infinitos significados.
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7. CONCLUSÃO: O CINEMA E A NATUREZA
Segundo Andrew (2002), Bazin via o cinema como produto da natureza, que
amava. Era amante da terra, da botânica e dos animais, e acreditava que o cinema tinha
a função de fazer-nos descobrir cada dia mais a natureza como um todo.
Andrew (2002) torna bastante evidente a paixão de Bazin pelo instrumento que faz
possível a perpetuação de imagens e as carrega para além do tempo, e acredito, além
de sua teoria, essa foi sua maior contribuição para a arte cinematográfica mundial.
Acredito que não há melhor maneira de finalizar o artigo do que com a conclusão
do próprio Dudley Andrew sobre o trabalho de André Bazin:
Não há dúvidas de que a visão de Bazin deve ser honrada, mas por se tratar de
ideias ousadas e ainda hoje inovadoras, resta saber como cada cineasta enxergará a
proposta de deixar seu ego de lado para dar ênfase ao cinema, e deixar com que ele
próprio seja a estrela do filme.
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8. BIBLIOGRAFIA
GAME of Thrones Season 4, Episódio 10: The Children. Direção: Alex Graves.
Intérpretes: Kit Harington e outros. Roteiro: David Benioff & D. B. Weiss. USA, HBO, 2014.
50 min. Widescreen, colorido. Produzido por: HBO
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