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03/12/2018 O crepúsculo da democracia — CartaCapital

Conjunturando
Política
Direito

O crepúsculo da democracia
por Adrian Barbosa e Silva* — publicado 02/05/2018 15h00, última modificação 02/05/2018 13h11

Defender a prisão de Lula é também defender a punição de miseráveis


inocentes
Ricardo Stuckert

Ato de encerramento da caravana Lula por Minas Gerais na Praça da Estação, no Centro de Belo
Horizonte
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03/12/2018 O crepúsculo da democracia — CartaCapital

Alegam os defensores das condenações e da execução provisória da pena do ex-presidente Luiz


Inácio Lula da Silva que seriam decisões revestidas de legitimidade, pois proferidas por órgãos
oficiais do Judiciário (13ª Vara Federal de Curitiba, TRF-4 e STF), devendo por isso ser
respeitadas, mesmo por aqueles que não concordam com o desfecho: afinal, em uma democracia,
mais que respeitar a vontade da maioria, fundamental seria respeitar as decisões de suas
instituições.

Concordo e discordo.

Concordo porque, em um espaço democrático, precisamos saber lidar com a pluralidade e a


divergência, bem como as instituições democráticas precisam ter independência funcional. Em
especial isso se aplica ao Poder Judiciário, que, não sendo composto por membros eleitos pelo
povo, detém a função contramajoritária de tutela de direitos e garantias fundamentais. Trata-se do
papel de consolidação de uma blindagem de direitos (núcleo rígido e intangível) contra a pretensa
vontade de uma maioria que eventualmente queira suprimi-los.

Discordo porque não é qualquer decisão proferida por uma instituição que apresenta legitimidade.
Para além de sabermos por quem é proferida (condição necessária), precisamos saber se ela
atende ao conteúdo substancial da Constituição e de seus preceitos fundamentais (condição
suficiente).

Leia também:
O preço da indulgência
A Regra Lula

No que se refere ao HC (habeas corpus) 152.752/PR, no qual se buscava prevenir eventual prisão
do ex-presidente, ao claramente assumir a necessidade de inversão da seletividade operada
pelos órgãos do sistema penal brasileiro, o discurso do ministro Luís Roberto Barroso foi o de que
a execução provisória da pena deveria ocorrer para que criminosos de “colarinho branco” não
pudessem passar impunes pela persecução penal.

Para reforçar sua posição, considera, com base nos dados da Assessoria de Gestão Estratégica
do STF e na quantidade de 25.707 recursos extraordinários julgados no período de 01.01.09 a
19.04.16, que o número de absolvições no STF seria baixíssimo (0,035%: 9 absolvições em meio
a 25 mil recursos).

Além disso, seriam raros os pobres que conseguiriam chegar aos tribunais superiores para
rediscutir questões de direito relativas à violação de lei federal (STJ) ou à Constituição (STF) em
seus processos criminais, em vista da ausência de recursos financeiros para tanto.

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Segundo Luigi Ferrajoli, um dos teóricos do direito e da democracia mais respeitados no mundo, a
expressão “Estado de Direito” (apregoada logo no art. 1º da Constituição) implicaria um
ordenamento normativo no qual o poder público (em especial, o penal) seria rigidamente limitado
e vinculado à lei.

O processo penal democrático seria baseado em um sistema de controle do arbítrio e do erro


judiciais, planificando-se em um modelo de certeza relativa pautado na presunção de inocência (in
dubio pro reo), segundo o qual nenhum inocente seria punido à custa da incerteza de que também
algum culpado pudesse ficar impune.

É exatamente o oposto do que ocorreria em modelos autoritários que trabalham com presunção
de culpabilidade (in dubio pro societate): à custa da incerteza de que algum inocente fique preso,
é importante que nenhum culpado fique solto.

Diante destas considerações, entendo que devemos ser críticos da prisão do ex-presidente,
porque, constitucionalmente, a ele deveria ser dado o tratamento de uma pessoa inocente (como
qualquer outro cidadão). E também por tudo que seu aprisionamento representa neste momento:
defender Lula é defender a democracia.

Para fins de raciocínio e para sustentar minha hipótese, darei um único exemplo: o caso do
princípio da insignificância. Segundo o próprio STF, trata-se de um “princípio que consiste em
afastar a própria tipicidade penal da conduta, ou seja, o ato praticado não é considerado crime, o
que resulta na absolvição do réu”. Desse modo, condutas que lesem de modo irrisório bem
jurídico alheio não poderão ser punidas porque, tecnicamente, crimes não serão.

No caso de crimes patrimoniais, por exemplo, a jurisprudência fixou que, para a aplicação do
princípio, o valor da coisa subtraída deveria ser muito aquém de um salário mínimo à data do fato,
trate-se de dinheiro, de aparelhos eletrônicos, de roupas, de alimentos ou outros (como aponta a
pesquisa coordenada pelo professor da USP Pierpaolo Cruz Bottini).

Sabemos bem a classe social das pessoas que cometem esses ilícitos e acabam por subtrair
galinhas, desodorantes, sabonetes, shampoos, colheres de pedreiro, peças de carne etc.

O sítio do STF afirma que, dos 340 habeas corpus analisados pelo Supremo de 2008 a 2010, em
91 dos casos (27%) foi reconhecida a aplicação do princípio, ou seja, 91 pessoas que haviam sido
condenadas em outras instâncias foram consideradas inocentes por não terem praticado crime
algum. Enquanto pelos cálculos de Barroso teríamos 9 inocentes presos, pela base de dados do
próprio STF teríamos 91 inocentes absolvidos após responderem, por vários anos, a processos
criminais, seja encarcerados, seja sob o estigma social que carrega quem, em liberdade,
apresenta ficha criminal positiva.

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Diante disso, não assusta nem um pouco que referências mundiais no campo das ciências
humanas e sociais como Eugenio Raúl Zaffaroni (aqui), Boaventura de Sousa Santos (aqui),
David Harvey (aqui) e o próprio Luigi Ferrajoli (aqui), dentre tantos outros, tenham se posicionado
de forma contundente e crítica à condenação do maior estadista que a América Latina já viu e,
incontestavelmente, um dos principais atores políticos da promoção da justiça social em nosso
país.

Não conseguiram destruir sua imagem, como é perceptível na mais recente pesquisa do Instituto
Datafolha divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, na qual Lula mesmo após a prisão, se encontra
em primeiro lugar na corrida presidencial, com 31% das intenções de voto.

Como bem sustentou Juarez Cirino dos Santos, em entrevista ao Justificando, o que existiria
contra o ex-presidente seriam processos políticos com aparência de criminais, de modo que, "se
não conseguiram destruir a imagem de Lula, precisam inviabilizá-lo politicamente" com a tentativa
de legitimação do encarceramento provisório daquele que, como Getúlio Vargas, foi (positiva ou
negativamente) rotulado de “pai dos pobres”.

Em síntese: consciente ou inconscientemente, ser a favor da recente prisão de Lula é também ser
a favor da punição de miseráveis inocentes. Daí, de duas uma: ou o cidadão se posiciona pelo
lumiar ou pelo apagamento da democracia. Se enfrentar o crepúsculo, deve se posicionar por Lula
livre!

* Adrian Barbosa e Silva é doutorando e mestre em Direito, com ênfase em Intervenção Penal,
Segurança Pública e Direitos Humanos, pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e especialista
em Direito Penal e Criminologia pelo Instituto de Criminologia (ICPC). É também professor do
Centro Universitário do Pará (CESUPA) e da Faculdade Estácio do Pará (FAP), coordenador do
Grupo Cabano de Criminologia e coordenador Regional do Instituto Brasileiro de Direito
Processual Penal (IBRASPP)

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