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03/12/2018 O mito do mito do encarceramento em massa

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Segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

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artigo “O mito do encarceramento em massa”, de Bruno Amorim Carpes,
promotor de justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Nele, o De mortes a ameaças, a
eminente jurista avoca para si a tarefa de desconstruir a ideia de que “o Brasil violência no campo mar...
3 de dezembro de 2018
possui um sistema punitivista e encarcerador em massa” – quali cações que
teriam sido atribuídas nos últimos anos pela “mídia engajada, ativistas e setores Temer e Bancos di cultam
da academia jurídica” e que seriam sustentadas na atualidade com base em seu acesso ao Fies em 2...
3 de dezembro de 2018
4º lugar no ranking mundial de países com maior contingente carcerário
absoluto no mundo, conforme os dados do Levantamento Nacional de Vice-presidente da OAB de
Informações Penitenciárias INFOPEN (dez. 2014), último relatório do Salto (SP) endossa ...
30 de novembro de 2018
Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), órgão do Ministério da Justiça
(MJ). A Era da Pós-verdade e seu
antídoto
Antes de mais nada, é de fundamental relevância notar que, no 30 de novembro de 2018

contemporâneo, surpreende a quantidade de pessoas que não apenas se


sentem confortáveis para opinar sobre a questão criminal, como também se
colocam na condição de verdadeiras “autoridades oniscientes” que, muito LIVROS JUSTIFICANDO
além do complexo conhecimento teórico produzido desde há muito por
diversos intelectuais e campos de saber, seriam capazes de realizar
diagnósticos e prognósticos sobre qualquer objeto de análise das ciências

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03/12/2018 O mito do mito do encarceramento em massa

criminais – já não bastasse a absurda quantidade de “pânicos” e


“empreendedores morais” (Stanley Cohen & Howard S. Becker,
respectivamente) forjados e presentes nas agências políticas e midiáticas[1],
que cotidianamente alimentam o senso comum do homem de rua (everyday
theories), como diria Alessandro Baratta. No campo jurídico em especial, na
condição de educador e de ator do sistema de justiça criminal preocupado com
a defesa intransigente dos direitos humanos, compreendo que, por
compromisso intelectual e político, é não apenas importante, mas de
emergencial necessidade, irmos além do monastério dos sábios[2].

“ A escolha pelo título “mito do mito” se dá exatamente pelo fato de o


encarceramento em massa ser uma realidade que somente poderia ser
acobertada por um discurso que visa ocultar o atroz, violento e
STALKING
R$ 69,90

sangrento cotidiano da execução penal e da política carcerária em


nosso país.


 

Conforme entendo, tal discurso pode, inegavelmente, induzir os mais incautos


– sejam acadêmicos, sejam membros da sociedade civil em geral – a um erro
grotesco[3]. Daí a importância do esclarecimento, tão apenas possível a partir
da refutação de cada um dos pontos defendidos pelo supracitado promotor de
justiça em seu artigo.

Inicialmente, podemos colocar como ponto de partida para uma discussão


realmente séria e comprometida com o fato de o Brasil ostentar a 5ª posição
no ranking de países com o maior número de habitantes no mundo. Para o
autor, tal informação teria sido “suspeitosamente omitida” no debate em República de Curitiba – Por
questão; e, invariavelmente, poderia explicar e legitimar o grande contingente que Lula?
carcerário do país, segundo a lógica naturalizadora do “quanto maior a R$ 49,90

população, maior o número de pessoas presas” – descartando-se, assim,


qualquer possibilidade de a quantidade de pessoas encarceradas em nosso país
ser considerada absurda.

De modo algum esta “crítica” se sustenta. Inicialmente, porque a própria


penologia contemporânea não con rma a correlação direta entre taxas de
encarceramento e a densidade populacional de um país (além de outras
variáveis estruturais, tais quais a composição demográ ca por idade, riqueza
das nações, bem-estar econômico dos cidadãos etc.)[4]; em segundo, porque
nem nenhum sociólogo/criminólogo/penólogo sério[5] nem o próprio DEPEN
ignora esse importante dado em sua análise carcerária (cf. pág. 14 do
relatório).

Tal como o próprio International Centre for Prison Studies, do King’s College
London, por meio de sua base de dados online (The World Prison Brief), o O que é discriminação?
INFOPEN de dezembro de 2014 não trabalhou apenas com números absolutos R$ 49,90

(a partir dos quais o Brasil estaria em 4º lugar no ranking mundial – logo atrás
dos EUA, com 2.217.000 presos; China, com 1.657.812 presos; e Rússia, 644.237
presos), justamente porque considera a diferença populacional existente entre
vários países. Daí, da mesma forma que o órgão europeu faz suas análises, o
relatório ter tido seu diagnóstico de comparação construído com base na
metodologia de taxa de presos a cada 100 mil habitantes.

http://www.justificando.com/2017/09/19/o-mito-do-mito-do-encarceramento-em-massa/ 2/8
03/12/2018 O mito do mito do encarceramento em massa

A Maioridade Penal nos


Debates Parlamentares
R$ 59,90

O mito do mito do encarceramento em massa. Presídio Aníbal Bruno,


em Recife. Foto: José Braga Neto (Juiz)

É importante constatar que, ao mesmo tempo que países com a população


habitacional muito maior do que a do Brasil possuem muito menos pessoas
encarceradas (p. ex., a Índia possui cerca de 1,2 bilhões de habitantes, mas, em
termos absolutos, apresenta 200 mil presos a menos, aproximadamente),
também há muitos países que apresentam população muito pequena, inclusive
abaixo do índice internacional – ICPS (a exemplo do que ocorre com
Seychelles, que apresenta aproximados 92 mil habitantes) – o que, não à toa,
induz a uma variabilidade muito alta das estimativas.

Assim, considerando a necessidade de dados mais precisos e próximos da


realidade (claro, sempre se levando em conta que os dados trabalhados são
“congelados” e que a dinâmica de uxo carcerário – input e output – é muito
maior), tomou por base o DEPEN países com ao menos 10 milhões de
habitantes. Nesse novo marco comparativo, o Brasil apresenta a 6ª maior taxa
de presos por 100 mil habitantes, com taxa de 306 presos (atrás de EUA, com
698, em 2013; Cuba, com 510, em 2012; Tailândia, com 467, em 2015; Rússia,
com 446, em 2015; e Ruanda, com 434, em 2015), sendo a taxa mundial de 144
pessoas presas a cada 100 mil habitantes.

Mais adiante, considerando o Relatório do Sistema Prisional Brasileiro,


produzido pelo Conselho Nacional do Ministério Público (2016) – segundo o
qual o Brasil apresentaria em 2015 uma população carcerária de 557.310
presos, número menor que o informado pelo órgão federal em 2014 (622.202
presos), que conta também os presos em delegacias –, aponta o autor que isso
poderia ser atribuído ao “interesse dos estados brasileiros em in acionar sua
população carcerária, a m de possibilitar maiores repasses do FUNPEN (Fundo
Penitenciário Nacional), uma vez que são os entes federados que informam os
dados”. Mais além, alega que o Ministério da Justiça, ao tentar “mentir com
estatística” – oportunidade em que faz alusão a Daniel Hu –, não teria
respeitado os critérios do ICPS, que consideraria preso apenas as pessoas que
se encontram em regime integralmente fechado, bem como preso provisório
aqueles que se encontram aguardando julgamento.

Com todo respeito ao autor, novamente essas acusações não fazem o menor
sentido. Para além das supostas intenções não-declaradas dos estados, seria,
de fato, um absurdo não incluir nas taxas de encarceramento as pessoas

http://www.justificando.com/2017/09/19/o-mito-do-mito-do-encarceramento-em-massa/ 3/8
03/12/2018 O mito do mito do encarceramento em massa

detidas em delegacias, em centrais de triagem, em regime semiaberto etc.;


porque tão apenas um hermético formalista que só olha para seu próprio umbigo
negaria que tais pessoas não possuem liberdade restringida e que, portanto,
devem ser levadas em consideração na contabilidade de pessoas que sofrem
com as consequências da intervenção penal. Mais que isso: seria desconhecer e
ignorar por completo a realidade das carceragens das delegacias de nosso país,
que, na grande maioria das vezes, são muito piores do que as próprias
penitenciárias.

No mais, cabe destacar que, por lei (Lei nº 7.210/84, arts. 71 e 72, e do Decreto
nº 6.061/07, art. 25), o DEPEN é responsável por executar a Política
Penitenciária Nacional e apoiar administrativa e nanceiramente o Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) – possuindo, dentre
outras atribuições estabelecidas e relacionadas à execução e à administração
penais, o papel de compor os dados o ciais sobre o sistema penitenciário do
país, uni cando e disponibilizando periodicamente os dados das unidades
federativas, o que faz restar extremamente infrutífero esse intento de
contestação da metodologia utilizada pelo órgão que busca defender a
prioridade das informações colhidas pelo CNMP, que não possui atribuições
o ciais para tanto – muito menos sem argumentar porque tal metodologia
seria mais quali cada e verossímil do que aquela.

Quanto ao fato de supostamente o DEPEN desrespeitar a forma de análise do


ICPS, vale atentar que é ele próprio quem coleta elementos informativos para
compor sua base de dados e realizar o comparativo global. Vale destacar que os
dados do DEPEN são precisos quanto à discriminação da população prisional,
ao sistema penitenciário estadual, às secretarias de segurança e carceragens
de delegacias, ao sistema penitenciário federal etc.; de modo que, se houvesse
alguma espécie de problema nisso, este estaria na forma de realização da
pesquisa por parte do órgão inglês – cuja autoridade é retoricamente
sustentada e respeitada pelo próprio Bruno Carpes –, e não do órgão
brasileiro.

Cabe ainda observar o fato de que os dados atuais apresentados pelo ICPS
sequer são do DEPEN, cujo último relatório o cial foi de dezembro de 2014.
Considerando que o Centro mantém sua base de dados sempre atualizada, de
acordo com a acessibilidade e publicização correspondente às circunstâncias e
especi cidades de cada país, os dados atuais (tempo deste escrito),
correspondentes a julho de 2017, são do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) –
segundo o qual o Brasil nem mais se encontra em 4º lugar no ranking global de
países mais encarceradores, mas em 3º, tendo ultrapassado a Rússia ao atingir
o quantitativo de 657.680 pessoas presas.

Segundo o “justo critério” defendido pelo promotor, o Brasil estaria na 60ª


posição mundial e na 8ª posição da América do Sul, com 224 presos a cada
100.000 habitantes. Contudo, aí cabe relembrar exatamente o ponto
anteriormente ressaltado: a necessidade de tensionamento quanto às
realidades populacionais de cada país. Isso vale para todos os países do globo;
mas, para falar apenas da América do Sul, enquanto o Brasil apresenta cerca de
207 milhões de habitantes, conforme o último senso de 2016, os demais países
apresentam realidades muito distintas (Chile: 17,91 milhões; Colômbia: 48,65
milhões; Equador: 16,39 milhões; Paraguai: 6,725 milhões; Uruguai: 3,444
milhões; Venezuela: 31,57 milhões; Peru: 31,77 milhões; Bolívia: 10,89
milhões; Suriname: 558.368 mil; Guiana: 773.303 mil; Guiana Francesa:
250.377 mil). Que justiça há em comparar países com populações
absurdamente desproporcionais com a nalidade de tentar deslegitimar a
existência do grande encarceramento no Brasil?

Por m, Bruno Carpes comenta ainda dois pontos que precisam ser
tensionados, a saber: (a) a falência da prisão e (b) a existência de uma

http://www.justificando.com/2017/09/19/o-mito-do-mito-do-encarceramento-em-massa/ 4/8
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“cegueira ideológica” que sustentaria a “falácia da narrativa do


encarceramento em massa”.

Quanto à questão relativa ao instituto do cárcere, diz que a sua crítica se


transformou em um “mantra” a partir do momento em que se constata que “o
aumento do número de presos não interferiu na escalada assustadora da
criminalidade”. Para ele, “inverte-se de forma bizarra a relação de causa e efeito,
segundo a qual a pena é consequência do crime e não o contrário”. No mais, seria
um “verdadeiro escândalo atribuir à pena e não à impunidade o cenário caótico de
violência em que ora vivemos”, sentencia o nobre promotor. Fundamental
atentar que esse tipo de discurso retórico, fundado numa clara lógica de defesa
social, é pouco cientí co e claramente político; bem como se encontra
criminologicamente atrasado ao reviver as mortas (pelo visto, nem tão mortas
assim…) ideias do século XIX nos idos da criminologia de recorte positivista.

Não obstante, para contestar essa noção, não é nem tanto necessário recorrer
aos densos estudos da criminologia (crítica) contemporânea, já que a própria
legislação (art. 59, Código Penal; art. 1º, Lei de Execução Penal) é clara ao
atribuir à prisão as funções de retribuição e prevenção. Dessa forma, é o
próprio discurso político-criminal o cial que visa a legitimar a prisão como a
forma punitiva capaz de prevenir futuros delitos a partir do encarceramento
daquele que é tido como criminoso – seja ao neutralizá-lo e ao tentar
melhorá-lo, seja ao tentar ensinar para a sociedade valores fundamentais para
a vida social e as consequências da prática de delitos (segundo lições básicas de
dogmática penal, seriam as funções de neutralização, ressocialização,
dissuasão e intimidação consolidadas nas teorias relativas da pena).

Se, a partir de seu ordenamento jurídico, o Estado faz uma promessa à


sociedade de que irá prevenir a “criminalidade” com a aplicação de penas e
com isso, ao longo dos anos, passa a liderar os rankings mundiais de
punitividade[6] embora ainda assim apresente uma realidade cada vez mais
violenta – a exemplo dos índices de homicídio, que só tendem a aumentar[7]
–, quem é, a nal, que defende um discurso absurdo? E mais: a que(m) serve a
defesa desse “discurso de impunidade”, não é mesmo?

Quem pensa de forma contrária ao autor ainda tem que carregar consigo o
rótulo de “perdido” por recair na “lama da ideologia”, em uma verdadeira
“cegueira ideológica” – como se existissem discursos neutros; e como se
quem defendesse a existência da “Bandidolatria e Democídio”[8] (obra
referenciada ao nal de seu texto) não incorresse na espécie. A história
de nitivamente não é linear: ela é feita de rupturas e permanências, e, nesse
sentido, em pleno século XXI, é impossível não retroagir dois séculos e
retomar a “boa vontade” positivista presente na sustentação de uma
“neutralidade axiológica do saber” e do “princípio do barão de Münchhausen”.

Segundo as lições de Michael Löwy, aquela vontade

“enaltecida por Durkheim e seus discípulos é uma ilusão ou uma misti cação. Liberar-se por um

‘esforço de objetividade’ das pressuposições éticas, sociais ou políticas fundamentais de seu próprio

pensamento é uma façanha que faz pensar irresistivelmente na célebre história do Barão de

Münchhausen, ou este herói picaresco que consegue, através de um golpe genial, escapar ao

pântano onde ele e seu cavalo estavam sendo tragados, ao puxar a si próprio pelos cabelos… Os que

pretendem sinceramente seres objetivos são simplesmente aqueles nos quais as pressuposições

estão mais profundamente enraizadas”[9].

Diante de todo o exposto, muito aquém do debate sério (p. ex. Roger Matthews
em “The myth of punitiveness”, Theoretical Criminology, 2005), como ignorar
a realidade de um país que, da década de 90 a 2014, teve um aumento
populacional-carcerário de 575%, saltando de 90 mil para mais de 600 mil
pessoas presas (INFOPEN, jun., 2014)? Como ignorar o altíssimo nível de
presos provisórios em nosso país, um contingente que beira os 40%, com
alguns Estados que superam os 80% (p. ex. Sergipe e Alagoas) – mesmo que

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ainda exista um princípio constitucional de presunção de inocência? Como


ignorar um dé cit de 250.318 vagas con rmadas em amontoados de pessoas
reclusas? Como ignorar que ainda existam para muito mais de 200 mil
mandados de prisão a serem cumpridos? Como ignorar… Um discurso que
ignora tal realidade é um discurso que assusta – assusta, mas não surpreende.

O encarceramento em massa, segundo Vera Malaguti Batista, é, em síntese,


“um paradigma que se globalizou nos anos 1990 e começa com a transformação de
toda con itividade social em crime. O crime passa a funcionar como um fetiche –
impede a compreensão dos processos sociais. Além disso, há uma simbiose
crescente entre o penal e o bélico. A noção de guerra passa a aplicar-se ao cotidiano
da sociedade”.

No mais, pronto para as divergências que naturalmente advirão após a leitura


destas breves digressões, sem mais nada dizer, co com Pavarini – recém-
falecido catedrático da Università di Bologna e um dos maiores penólogos do
mundo ocidental –, que certa vez ensinou: “la crisi della pena moderna è in
primo luogo misurabile nel suo grado di in azione, esattamente come la
moneta”[10] (a crise da pena moderna é, em primeiro lugar, mensurável no
seu grau de in ação, exatamente como a moeda). Ignorar o encarceramento
em massa é, literalmente, uma pena.

Adrian Barbosa e Silva é Doutorando e Mestre em Direito, com ênfase em


Intervenção Penal, Segurança Pública e Direitos Humanos, pela Universidade
Federal do Pará (UFPA). Especialista em Direito Penal e Criminologia pelo Instituto
de Criminologia (ICPC). Professor do Centro Universitário do Pará (CESUPA) e da
Faculdade Estácio do Pará (FAP). Coordenador do Grupo Cabano de Criminologia.
Coordenador Regional do Instituto Brasileiro de Direito Processual Penal
(IBRASPP). Advogado Criminalista. E-mail: adrian_abs26@hotmail.com

[1] Em sentido semelhante, na tentativa de desconstruir os dados apresentados pelo INFOPEN, foi

o texto do jornalista Felipe Moura Brasil, publicado em seu blog no site da Veja.com:

http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/brasil-e-no-minimo-o-34-em-numero-de-

presos-por-100-mil-mas-jornais-caem-na-maquiagem-do-relatorio-do-infopen/. Acesso em:

13.09.17.

[2] “Resumindo a questão colocada, podemos falar de um processo de produção autoritária da

subjetividade quando as instituições criam a ilusão de um espaço social homogêneo, transparente

e unívoco; um espaço onde os atores sociais cticiamente se sentem pertencentes a uma Nação,

graças ao efeito integrador dado por sua condição de simples consumidores do discurso

autorizado; em contrapartida podemos falar de uma produção democrática da subjetividade,

quando surgem, na sociedade, discursos de reformulação e resistência à disciplina e à vigilância

impostas pela cultural o cial. No discurso de resistência, os atores sociais adquirem a estatura de

criadores e não mais de consumidores passivos do discurso o cial” (WARAT, Luis Alberto.

Introdução Geral ao Direito – II: A epistemologia jurídica da modernidade. Porto Alegre: Sergio

Antonio Fabris Editor, 2002, p. 66).

[3] Apesar das quali cações, analiso neste momento exclusivamente a questão quantitativa do

encarceramento (contingente populacional). No mais, analisar o “Multirão carcerário: Raio-x do

sistema penitenciário brasileiro”, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em:

http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/mutirao_carcerario.pdf. Acesso

em: 13.09.17.

[4] PAVARINI, Massimo. El grotesco de la penología contemporânea. Revista brasileira de ciências

criminais, São Paulo, v. 17, n. 81, nov./dez., 2009, p. 235.

[5] Conferir, por exemplo, a níveis americano, europeu, latino-americano e brasileiro,

respectivamente, os seguintes trabalhos: GARLAND, David (Ed.). Mass imprisionment: social causes

and consequences. London/Thousand Oaks/New Delhi: Sage Publications, 2001; LARRAURI, Elena.

La economía política del castigo. Revista Electrónica de Ciencia Penal y Criminología, v. 11, n. 6, 2009;

http://www.justificando.com/2017/09/19/o-mito-do-mito-do-encarceramento-em-massa/ 6/8
03/12/2018 O mito do mito do encarceramento em massa

SOZZO, Máximo. ¿Más allá del neoliberalismo? Cambio político y penalidad en América del Sur.

Cuardernos del pensamiento crítico latinoamericano, CLACSO, n. 23, pp. 1-4, mayo, 2015; no Brasil,

CARVALHO, Salo. Substitutivos penais na era do grande encarceramento. In: ABRAMOVAY, Pedro;

BATISTA, Vera Malaguti. Depois do grande encarceramento. Rio de Janeiro: Revan, 2010.

[6] É interessante notar que, ao contrário da abordagem sustentada por Bruno Carpes, para René

van Swaaningen, professor de International & Compartive Criminology da Erasmus School of Law, as

taxas de encarceramento desenvolvem papel fundamental no debate sobre o punitivismo. Como

fenômeno sociocultural, que implica tanto elementos qualitativos quanto quantitativos, as taxas

são muito relevantes para compreendê-lo e se correlacionam muito bem com outros indicadores

de punitivismo (v.g. con ança nos cidadãos e no governo, gasto no bem-estar social, sistema

político nacional, qualidade dos pro ssionais que operam o sistema penal, sensacionalismo

midiático ou não etc.). Exempli ca com Estados Unidos e Japão. O primeiro seria o país mais

punitivo do mundo (739 presos a cada 100.000 habitantes), já no Japão (58 presos a cada 100.000

habitantes), não obstante o país apresentar baixas taxas de encarceramento, as condições

carcerárias e controle social seriam bastante rigorosos, inclusive fora da prisão (SWAANINGEN,

René van. Revirtiendo el giro punitivo. Revista Derecho Penal, año I, n. 1, pp. 259-292, mayo, 2012).

[7] Com índices praticamente sempre ascendentes, em 2015, o Brasil registrou 59.080 homicídios,

o que representa o quantitativo de 28,9 mortes a cada 100 mil habitantes – muito mais do que

apresentou em 2005, quando ocorreram 48.136 homicídios. Cf. Atlas da Violência 2017, produzido

pela parceria entre o Instituto de Pesquisas Aplicadas – IPEA e o Fórum Brasileiro de Segurança

Pública – FBSP, disponível em:

http://www.ipea.gov.br/portal/images/170602_atlas_da_violencia_2017.pdf. Acesso em:

13.09.17.

[8] Apesar de não ser o foco deste ensaio, ao mencionar tal obra, impossível não recordar da

polêmica gerada com a promoção das ideias de “bandidolatria mata”, “desencarceramento

mata”, “impunidade mata”, compartilhadas neste livro e no evento Segurança Pública como Direito

Fundamental recentemente divulgado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Não apenas o

evento foi duramente criticado por importantes intelectuais críticos do direito (a exemplo, dentre

outros, de Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, Alberto Zacharias Toron e Leonardo Isaac

Yarochewsky), como também foram destaque os vergonhosos agressivos ataques realizados

publicamente por promotores de justiça no facebook ao editor do Justi cando, que, por sua vez,

havia duramente criticado o evento e tais ideias face ao compromisso constitucional daquela

instituição.

Cf. http://www.justi cando.com/2017/07/24/juristas-denunciam-ataques-sofridos-por-editor-

do-justi cando-apos-critica-evento-do-mp-rj/. Acesso em: 13.09.17.

[9] LÖWY, Michael. As aventuras de Karl Marx contra o barão de Münchhausen: marxismo e

positivismo na sociologia do conhecimento. Trad. Juarez Guimarães e Suzanne Felicie Léwy. 10ª ed.

São Paulo: Cortez, 2013, p. 43.

[10] PAVARINI, Massimo. Uno sguardo ai processi di carcerizzazione nel mondo: dalla ‘ronda dei

carcerati’ al ‘giromondo penitenziario’. Rassegna penitenziaria e criminologica, Roma, n. 1-2, p.

105-136, 2002.

 Adrian Barbosa e Silva bandidolatria Democídio encarceramento em massa Justi cando Mito

O mito do encarceramento em massa

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