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2 Os 30 anos da Constituição: A
balzaquiana bra...
Presídio Central em Porto Alegre/RS. Foto: Luiz Silveira/ Agência CNJ 3 de dezembro de 2018
No último dia 5 de setembro de 2017, foi publicado na editoria online de Transexualidade e a fé: o viés
política do Estadão (como também é chamado o jornal O Estado de S. Paulo) o mais doloroso ...
3 de dezembro de 2018
artigo “O mito do encarceramento em massa”, de Bruno Amorim Carpes,
promotor de justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Nele, o De mortes a ameaças, a
eminente jurista avoca para si a tarefa de desconstruir a ideia de que “o Brasil violência no campo mar...
3 de dezembro de 2018
possui um sistema punitivista e encarcerador em massa” – quali cações que
teriam sido atribuídas nos últimos anos pela “mídia engajada, ativistas e setores Temer e Bancos di cultam
da academia jurídica” e que seriam sustentadas na atualidade com base em seu acesso ao Fies em 2...
3 de dezembro de 2018
4º lugar no ranking mundial de países com maior contingente carcerário
absoluto no mundo, conforme os dados do Levantamento Nacional de Vice-presidente da OAB de
Informações Penitenciárias INFOPEN (dez. 2014), último relatório do Salto (SP) endossa ...
30 de novembro de 2018
Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), órgão do Ministério da Justiça
(MJ). A Era da Pós-verdade e seu
antídoto
Antes de mais nada, é de fundamental relevância notar que, no 30 de novembro de 2018
http://www.justificando.com/2017/09/19/o-mito-do-mito-do-encarceramento-em-massa/ 1/8
03/12/2018 O mito do mito do encarceramento em massa
”
Tal como o próprio International Centre for Prison Studies, do King’s College
London, por meio de sua base de dados online (The World Prison Brief), o O que é discriminação?
INFOPEN de dezembro de 2014 não trabalhou apenas com números absolutos R$ 49,90
(a partir dos quais o Brasil estaria em 4º lugar no ranking mundial – logo atrás
dos EUA, com 2.217.000 presos; China, com 1.657.812 presos; e Rússia, 644.237
presos), justamente porque considera a diferença populacional existente entre
vários países. Daí, da mesma forma que o órgão europeu faz suas análises, o
relatório ter tido seu diagnóstico de comparação construído com base na
metodologia de taxa de presos a cada 100 mil habitantes.
http://www.justificando.com/2017/09/19/o-mito-do-mito-do-encarceramento-em-massa/ 2/8
03/12/2018 O mito do mito do encarceramento em massa
Com todo respeito ao autor, novamente essas acusações não fazem o menor
sentido. Para além das supostas intenções não-declaradas dos estados, seria,
de fato, um absurdo não incluir nas taxas de encarceramento as pessoas
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03/12/2018 O mito do mito do encarceramento em massa
No mais, cabe destacar que, por lei (Lei nº 7.210/84, arts. 71 e 72, e do Decreto
nº 6.061/07, art. 25), o DEPEN é responsável por executar a Política
Penitenciária Nacional e apoiar administrativa e nanceiramente o Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) – possuindo, dentre
outras atribuições estabelecidas e relacionadas à execução e à administração
penais, o papel de compor os dados o ciais sobre o sistema penitenciário do
país, uni cando e disponibilizando periodicamente os dados das unidades
federativas, o que faz restar extremamente infrutífero esse intento de
contestação da metodologia utilizada pelo órgão que busca defender a
prioridade das informações colhidas pelo CNMP, que não possui atribuições
o ciais para tanto – muito menos sem argumentar porque tal metodologia
seria mais quali cada e verossímil do que aquela.
Cabe ainda observar o fato de que os dados atuais apresentados pelo ICPS
sequer são do DEPEN, cujo último relatório o cial foi de dezembro de 2014.
Considerando que o Centro mantém sua base de dados sempre atualizada, de
acordo com a acessibilidade e publicização correspondente às circunstâncias e
especi cidades de cada país, os dados atuais (tempo deste escrito),
correspondentes a julho de 2017, são do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) –
segundo o qual o Brasil nem mais se encontra em 4º lugar no ranking global de
países mais encarceradores, mas em 3º, tendo ultrapassado a Rússia ao atingir
o quantitativo de 657.680 pessoas presas.
Por m, Bruno Carpes comenta ainda dois pontos que precisam ser
tensionados, a saber: (a) a falência da prisão e (b) a existência de uma
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03/12/2018 O mito do mito do encarceramento em massa
Não obstante, para contestar essa noção, não é nem tanto necessário recorrer
aos densos estudos da criminologia (crítica) contemporânea, já que a própria
legislação (art. 59, Código Penal; art. 1º, Lei de Execução Penal) é clara ao
atribuir à prisão as funções de retribuição e prevenção. Dessa forma, é o
próprio discurso político-criminal o cial que visa a legitimar a prisão como a
forma punitiva capaz de prevenir futuros delitos a partir do encarceramento
daquele que é tido como criminoso – seja ao neutralizá-lo e ao tentar
melhorá-lo, seja ao tentar ensinar para a sociedade valores fundamentais para
a vida social e as consequências da prática de delitos (segundo lições básicas de
dogmática penal, seriam as funções de neutralização, ressocialização,
dissuasão e intimidação consolidadas nas teorias relativas da pena).
Quem pensa de forma contrária ao autor ainda tem que carregar consigo o
rótulo de “perdido” por recair na “lama da ideologia”, em uma verdadeira
“cegueira ideológica” – como se existissem discursos neutros; e como se
quem defendesse a existência da “Bandidolatria e Democídio”[8] (obra
referenciada ao nal de seu texto) não incorresse na espécie. A história
de nitivamente não é linear: ela é feita de rupturas e permanências, e, nesse
sentido, em pleno século XXI, é impossível não retroagir dois séculos e
retomar a “boa vontade” positivista presente na sustentação de uma
“neutralidade axiológica do saber” e do “princípio do barão de Münchhausen”.
“enaltecida por Durkheim e seus discípulos é uma ilusão ou uma misti cação. Liberar-se por um
‘esforço de objetividade’ das pressuposições éticas, sociais ou políticas fundamentais de seu próprio
pensamento é uma façanha que faz pensar irresistivelmente na célebre história do Barão de
Münchhausen, ou este herói picaresco que consegue, através de um golpe genial, escapar ao
pântano onde ele e seu cavalo estavam sendo tragados, ao puxar a si próprio pelos cabelos… Os que
pretendem sinceramente seres objetivos são simplesmente aqueles nos quais as pressuposições
Diante de todo o exposto, muito aquém do debate sério (p. ex. Roger Matthews
em “The myth of punitiveness”, Theoretical Criminology, 2005), como ignorar
a realidade de um país que, da década de 90 a 2014, teve um aumento
populacional-carcerário de 575%, saltando de 90 mil para mais de 600 mil
pessoas presas (INFOPEN, jun., 2014)? Como ignorar o altíssimo nível de
presos provisórios em nosso país, um contingente que beira os 40%, com
alguns Estados que superam os 80% (p. ex. Sergipe e Alagoas) – mesmo que
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03/12/2018 O mito do mito do encarceramento em massa
[1] Em sentido semelhante, na tentativa de desconstruir os dados apresentados pelo INFOPEN, foi
o texto do jornalista Felipe Moura Brasil, publicado em seu blog no site da Veja.com:
http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/brasil-e-no-minimo-o-34-em-numero-de-
13.09.17.
e unívoco; um espaço onde os atores sociais cticiamente se sentem pertencentes a uma Nação,
graças ao efeito integrador dado por sua condição de simples consumidores do discurso
impostas pela cultural o cial. No discurso de resistência, os atores sociais adquirem a estatura de
criadores e não mais de consumidores passivos do discurso o cial” (WARAT, Luis Alberto.
Introdução Geral ao Direito – II: A epistemologia jurídica da modernidade. Porto Alegre: Sergio
[3] Apesar das quali cações, analiso neste momento exclusivamente a questão quantitativa do
sistema penitenciário brasileiro”, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em:
http://www.cnj.jus.br/images/pesquisas-judiciarias/Publicacoes/mutirao_carcerario.pdf. Acesso
em: 13.09.17.
respectivamente, os seguintes trabalhos: GARLAND, David (Ed.). Mass imprisionment: social causes
and consequences. London/Thousand Oaks/New Delhi: Sage Publications, 2001; LARRAURI, Elena.
La economía política del castigo. Revista Electrónica de Ciencia Penal y Criminología, v. 11, n. 6, 2009;
http://www.justificando.com/2017/09/19/o-mito-do-mito-do-encarceramento-em-massa/ 6/8
03/12/2018 O mito do mito do encarceramento em massa
SOZZO, Máximo. ¿Más allá del neoliberalismo? Cambio político y penalidad en América del Sur.
Cuardernos del pensamiento crítico latinoamericano, CLACSO, n. 23, pp. 1-4, mayo, 2015; no Brasil,
CARVALHO, Salo. Substitutivos penais na era do grande encarceramento. In: ABRAMOVAY, Pedro;
BATISTA, Vera Malaguti. Depois do grande encarceramento. Rio de Janeiro: Revan, 2010.
[6] É interessante notar que, ao contrário da abordagem sustentada por Bruno Carpes, para René
van Swaaningen, professor de International & Compartive Criminology da Erasmus School of Law, as
fenômeno sociocultural, que implica tanto elementos qualitativos quanto quantitativos, as taxas
são muito relevantes para compreendê-lo e se correlacionam muito bem com outros indicadores
de punitivismo (v.g. con ança nos cidadãos e no governo, gasto no bem-estar social, sistema
político nacional, qualidade dos pro ssionais que operam o sistema penal, sensacionalismo
midiático ou não etc.). Exempli ca com Estados Unidos e Japão. O primeiro seria o país mais
punitivo do mundo (739 presos a cada 100.000 habitantes), já no Japão (58 presos a cada 100.000
carcerárias e controle social seriam bastante rigorosos, inclusive fora da prisão (SWAANINGEN,
René van. Revirtiendo el giro punitivo. Revista Derecho Penal, año I, n. 1, pp. 259-292, mayo, 2012).
[7] Com índices praticamente sempre ascendentes, em 2015, o Brasil registrou 59.080 homicídios,
o que representa o quantitativo de 28,9 mortes a cada 100 mil habitantes – muito mais do que
apresentou em 2005, quando ocorreram 48.136 homicídios. Cf. Atlas da Violência 2017, produzido
pela parceria entre o Instituto de Pesquisas Aplicadas – IPEA e o Fórum Brasileiro de Segurança
13.09.17.
[8] Apesar de não ser o foco deste ensaio, ao mencionar tal obra, impossível não recordar da
mata”, “impunidade mata”, compartilhadas neste livro e no evento Segurança Pública como Direito
Fundamental recentemente divulgado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Não apenas o
evento foi duramente criticado por importantes intelectuais críticos do direito (a exemplo, dentre
outros, de Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, Alberto Zacharias Toron e Leonardo Isaac
publicamente por promotores de justiça no facebook ao editor do Justi cando, que, por sua vez,
havia duramente criticado o evento e tais ideias face ao compromisso constitucional daquela
instituição.
[9] LÖWY, Michael. As aventuras de Karl Marx contra o barão de Münchhausen: marxismo e
positivismo na sociologia do conhecimento. Trad. Juarez Guimarães e Suzanne Felicie Léwy. 10ª ed.
[10] PAVARINI, Massimo. Uno sguardo ai processi di carcerizzazione nel mondo: dalla ‘ronda dei
105-136, 2002.
Adrian Barbosa e Silva bandidolatria Democídio encarceramento em massa Justi cando Mito
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