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autor
FÁBIO MACEDO SIMAS
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
Conselho editorial roberto paes e luciana varga
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
Tipos de leitura 27
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
5
1
A pesquisa na
universidade –
Tipos de pesquisa
em Letras
A pesquisa na universidade – Tipos de
pesquisa em Letras
Olá, alunos!
Certamente, ao longo de seu curso, você ouviu falar em artigos científicos,
pesquisa, ensaio crítico etc., não é mesmo? Tudo isso faz parte do universo acadê-
mico e, por isso, não poderíamos terminar nosso curso de Letras sem colocar um
pouco mais de foco nesses temas.
Mas, o que é uma pesquisa? O Que isso tem a ver com ciência? Para que de-
vemos pesquisar? A pesquisa deve ser qualitativa ou quantitativa? Essas e outras
questões serão tratadas neste capítulo que se inicia.
Mãos à obra?
OBJETIVOS
• Refletir a respeito do conceito de pesquisa;
• Reconhecer alguns elementos de uma pesquisa científica;
• Identificar alguns métodos de pesquisa.
Você já deve ter ouvido falar que a pesquisa é algo fundamental nas univer-
sidades. De fato, é a mais pura verdade! Da maneira como são organizadas as
universidades no Brasil e no mundo, a pesquisa é algo não somente fundamental,
mas que define o pensamento acadêmico desde tempos muito antigos.
No Brasil, por exemplo, pesquisa é um dos pilares avaliados pelas entidades
governamentais, juntamente com ensino e extensão, quando da avaliação de uma
IES – Instituição de Ensino Superior. A produção científica é importante para a
obtenção de bolsas de pesquisa, para chamar a atenção de órgãos de fomento (ex.:
CAPES, CNPq, FAPERJ, FAPESP etc.) e, inclusive, para a abertura de cursos de
mestrado e doutorado. Motta-Roth (2001, p.11) escreve:
capítulo 1 •8
No sistema universitário brasileiro, a política de financiamento (de bolsas de iniciação
científica, de bolsas de pós-graduação e de projetos de pesquisa) se baseia no co-
nhecido ditado ‘publique ou pereça!’ (Publish or perish!) das universidades americanas.
Essa pressão para escrever e publicar tem levado alunos, professores e pesquisadores
universitários a um esforço concentrado no sentido de formular textos de qualidade
na forma de artigos para periódicos acadêmicos e livros (...) Na cultura acadêmica, a
produtividade intelectual é medida pela produtividade na publicação.
Assim, você deve se perguntar o que isso tem a ver com você e com o seu curso
de graduação? A resposta é: tudo a ver! A formação dos professores universitários,
por exemplo, dá-se por meio de cursos de mestrado e doutorado, onde, obriga-
toriamente, deve-se defender uma tese, em outras palavras, fazer pesquisa! Além
disso, você ao longo do curso teve de “pesquisar”, “consultar livros, sites etc.”,
produzir textos para trabalhos, provas ou fóruns de discussão. Isso tudo tem a ver
com pesquisa.
Ademais, o ensino superior no Brasil e no mundo precisa seguir o que se
chama de “pensamento científico”, o que pode se caracterizar como a maneira
de olhar para o ensino a partir da ciência, ou seja, da pesquisa. Muitas vezes, na
graduação, nossos professores citam alguns artigos, ou o nome de alguns autores
que publicaram determinados textos importantes para dadas disciplinas ou aulas,
não é mesmo? Tudo isso tem a ver com pesquisa!
Outro ponto importante para nós neste início de caminhada é pensar um
pouco no papel da universidade. Muitos veem a universidade como o local onde
se pode adquirir um diploma, e não uma formação profissional mínima para a
entrada no mercado de trabalho. Para que isso se estabeleça, é preciso que a uni-
versidade dê ao seu aluno uma formação acadêmica de qualidade, com conteúdos
consistentes e antenados às novidades da área de atuação de cada um.
Se pensarmos um pouco no curso de Letras, muito tem sido desenvolvido no
que diz respeito ao ensino de Língua e Literatura, por exemplo. Como estamos
num curso de licenciatura, sabemos que se a sociedade muda seus comportamen-
tos, muda também as formas de aprender e de ensinar, comprometendo-nos ainda
mais com a pesquisa, com a ciência de modo geral. É exatamente por tudo isso que
estamos estudando uma disciplina especificamente voltada para a produção de um
ensaio crítico, uma oportunidade de um contato mais íntimo do nosso aluno – e
futuro professor – com a pesquisa, com o saber científico.
capítulo 1 •9
Agora, creio que podemos sistematizar um pouco mais o conceito de pesqui-
sa. Vickery (1972, p.33) advoga que pesquisa é qualquer investigação metódica,
desenvolvida para fornecer informações que possam solucionar um problema. Já
Menezes (1993, p. 39) considera que a pesquisa científica se define como um es-
tudo minucioso e sistemático, com a finalidade de descobrir ou detectar fatos ou
princípios relativos às diversas áreas do conhecimento humano. Por fim, Moura
(1993, p.19) afirma que trabalhos publicados e publicações são termos usados
para designar os documentos escritos de diversas naturezas, os quais, por meio
de registros gráficos ou impressos, são editados com a finalidade de difusão ao
público. Em outras palavras, a pesquisa é algo que se torna público, é voltada para
a sociedade de modo geral.
Numan (2007), por seu turno, considera que pesquisa deve ser processada a
fim de:
99 Buscar resultados a partir de métodos;
99 Resolver problemas, verificar aplicação de teorias, levando a no-
vas compreensões;
99 Esclarecer pesquisadores e leitores;
99 Provar ou não novas ideias, caracterizar fenômenos, fomentar questões
pessoais e da comunidade. Em outras palavras, não só satisfazer a indagação pes-
soal, mas também melhorar o bem-estar social;
99 Provar ou não provar, desmitificar, dar conta do que foi planejado, sus-
tentar um ponto de vista, descobrir o desconhecido, satisfazer questionamentos.
Descobrir causas de um problema e encontrar soluções.
Para ilustrar tudo isso, destacamos a versão on-line do jornal Folha de São
Paulo, que publicou um gráfico comparando o Brasil a outros países no que tange
à qualidade e à quantidade de pesquisa:
<http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2013/04/1266521-brasil-cresce-em
-producao-cientifica-mas-indice-de-qualidade-cai.shtml>
capítulo 1 • 10
Uma das possíveis leituras
que se podem fazer desse grá-
fico tem a ver com as primei-
ras posições dos dois rankings.
Perceba que países desenvol-
vidos ocupam as primeiras
posições, revelando que o seu
desenvolvimento parece ter re-
lação direta com a qualidade e
com a quantidade de pesquisa
feita nesses países. O Brasil,
por sua vez, vem ganhando
posições importantes, mas
ainda longe de ocupar as pri-
meiras e importantes posições.
capítulo 1 • 11
Elementos da pesquisa científica
Em termos práticos, uma dada pesquisa, como vimos anteriormente, tem to-
das as suas etapas publicadas em alguma revista científica em forma de artigo ou
em algum trabalho mais amplo, como dissertações de mestrado e/ou teses de dou-
torado. No nosso caso, especificamente, vamos tratar de ensaio crítico, que nada
mais é do que um tipo de artigo científico.
Artigo é o principal gênero acadêmico no Brasil. Ainda segundo Motta-Roth
(2001, p. 18), o objetivo central de um artigo é discutir ou apresentar fatos referentes
a um projeto de pesquisa experimental sobre um problema específico ou apresentar
uma revisão de livros e artigos publicados anteriormente sobre o tópico dentro de uma
área de conhecimento específica. Mas sabemos que não se trata de algo tão simples.
Evidentemente, o discurso acadêmico possui suas peculiaridades, e por isso precisamos
conversar a respeito dos elementos de uma pesquisa científica, em nosso caso, em
forma de artigo ou ensaio crítico. Para tal, vamos nos apoiar em Motta-Roth (op. cit.).
Segundo a autora, num artigo científico é necessário mostrar algumas habili-
dades inerentes ao gênero em questão, como por exemplo:
capítulo 1 • 12
inteiro a um clique de distância, mas não podemos confiar em tudo o que está
publicado. Sabemos que a própria autoria de alguns artigos pode ser questionada,
quando não pesquisamos em sites de prestígio acadêmico.
Há, na grande rede, enciclopédias como a Wikipédia que não costumam
ter muito respaldo na comunidade acadêmica, uma vez que se trata, no caso da
Wikipédia, de uma enciclopédia aberta, ou seja, que pode ter seu conteúdo alte-
rado por qualquer pessoa. Academicamente, isso não é viável, por isso devemos
evitar consultas a sites como esse.
capítulo 1 • 13
Na área de Letras, há diversas revistas eletrônicas conceituadas, o que torna
difícil listar algumas. Todavia, a maioria das faculdades e institutos de Letras das
universidades federais do Brasil possuem algum tipo de publicação on-line, bem
como os seus respectivos departamentos de pós-graduação.
Além disso, destacamos alguns portais de periódicos brasileiros respeitados,
como Domínio Público, Portal CAPES, Portal CNPq e Scielo.
<www.domíniopublico.gov.br>
<http://www.periodicos.capes.gov.br/>
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No portal CAPES, pode-se ainda realizar pesquisa por assunto.
<http://cnpq.br/periodicos-cientificos>
<www.scielo.org>
capítulo 1 • 15
b) Refletir sobre estudos anteriores na área.
Apesar de já termos afirmado que é preciso olhar para trás quando vamos
fazer uma pesquisa verificando o que já fora dito a respeito do tema, não se deve
produzir “mais do mesmo”. É preciso que o pesquisador tenha em mente algumas
questões, como, por exemplo:
I. Qual a importância de voltar a esse tema?
II. O que lhe pode ser acrescentado?
III. O que ainda falta ser dito?
IV. Em que posso aplicar esses conceitos?
V. Há alguma situação nova em que se possam aplicar tais conceitos ou
teoria?
Essas perguntas são importantes não somente para delimitar o trabalho, mas
principalmente para que seja algo aceitável, plausível dentro da comunidade aca-
dêmica. Ainda que o seu trabalho não tenha pretensões mais ousadas, tais como
publicação em periódicos, ou projetos de mestrado/doutorado, e seja um trabalho
“somente” para obter uma nota, é preciso que se tomem esses cuidados, pois ainda
assim é algo do contexto acadêmico-científico.
capítulo 1 • 16
Pensemos numa grande e bonita casa. Para seus moradores, pode ser vista
como uma simples moradia. Para um comprador, um objeto de desejo. Já para um
corretor de imóveis, uma possibilidade de ganha pão e assim por diante. Pessoas
diferentes podem olhar de maneiras diferentes para uma mesma casa. É assim que
ocorre também com algum fenômeno linguístico, literário ou de ensino.
Vamos pensar agora num exemplo mais próximo de nossa área. Uma determi-
nada palavra pode ser analisada a partir de pontos de vista diferentes. Do ponto de
vista fonológico, é um conjunto de fonemas e sílabas realizando distinção de signi-
ficado. Já do ponto de vista morfológico, é uma união de morfemas promovendo
novos sentidos, o que nos traz também um pouco do ponto de vista semântico, e
assim por diante.
Mas voltemos à pesquisa, não é mesmo? Quando escolhemos pesquisar algo,
ou escrever um artigo a respeito de dado tema ou fenômeno, podemos recortá-los
de diferentes maneiras, o que precisa estar bem ajustado, delimitado antes de ini-
ciar o trabalho. Há diversas formas de discorrer sobre um tema, é o que chamamos
de abordagem.2
Antes de mais nada, corpus (plural corpora) é uma palavra latina que significa co-
letânea ou conjunto de dados ou documentos importantes para uma pesquisa. O ta-
manho ou a quantidade de corpora são proporcionais ao tamanho do trabalho em
que eles são usados. Quando se trata de um artigo, o corpus deve ser bastante enxuto,
delimitado, diferente de trabalhos maiores como dissertações de mestrados, ou teses de
doutorado e pós-doutorado, que precisam se embasar em maior quantidade de dados.
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Partindo para outro exemplo, um pesquisador pode querer verificar a ocorrência
de análises de texto literário ao longo da semana, comparando duas turmas de profes-
sores diferentes. Para tal, pode observar as aulas realizando anotações, ou entrevistar
alunos dessas duas turmas, gravar aulas, enfim, montar algumas evidências que lhe sir-
vam de corpus para sua pesquisa. Ao final, irá analisar e comentar os dados, verificando,
inclusive, resultados qualitativos dos alunos das duas turmas aplicando testes.
Você já deve ter percebido que há duas maneiras básicas de se olhar para os
corpora, não é mesmo? Podemos analisá-los sob o aspecto da quantidade ou da
qualidade dos dados. Isso é o que vamos estudar no próximo capítulo, quando
trataremos de Abordagens ou Métodos Qualitativo e Quantitativo.
Concluir é nada mais do que colocar no papel tudo aquilo que se descobriu
a partir da observação e análise do corpus. É mostrar ao leitor a que conclusões
chegamos e que caminhos ainda estão abertos. Nesse momento, é quando infor-
mamos ao leitor, inclusive, se nossos objetivos foram alcançados ou não e a que
questões conseguimos ou não responder.
capítulo 1 • 18
PESQUISA QUALITATIVA PESQUISA QUANTITATIVA
99 Advoga o uso de métodos qualitativos; 99 Advoga o uso de métodos quantitativos;
99 Comprometida com a compreensão 99 Busca fatos ou causas de fenômenos
do comportamento humano a partir da sociais sem considerar estados subjeti-
perspectiva do autor; vos dos indivíduos;
99 Observação naturalística e 99 Medidas controladas e importunas;
não-controlada; 99 Objetiva;
99 Subjetiva; 99 Retirada dos dados: a perspectiva
99 Próxima dos dados: perspectiva do pesquisador;
do informante; 99 Infundada, orientada para a verifica-
99 Fundamentada, orientada para a des- ção, confirmatória, reducionista, inferen-
coberta, exploratória, expansionista, des- cial, e hipoteticamente dedutiva;
critiva e indutiva; 99 Orientada para o resultado;
99 Orientada para o processo; 99 Confiável: “dura”, dados replicáveis;
99 Válida: real, rica e aprofundada em dados; 99 Generalista: múltiplos estudos
99 Não-generalista: estudos de de caso;
caso específicos; 99 Assume uma realidade estática.
99 Assume uma realidade dinâmica.
capítulo 1 • 19
Se trouxermos essas duas perspectivas para o campo da pesquisa na área de
Letras, podemos analisar alguns exemplos. Pensando na sala de aula, sabemos que,
no Brasil, o uso do livro didático parece ainda ser bastante comum, por diversas
razões. Um pesquisador poderá, por exemplo, verificar numa dada escola ou em
diversas escolas com que frequência os professores de Português usam o livro e
que notas seus alunos obtém ao final de um bimestre letivo. De início podemos
caracterizar essa pesquisa como quantitativa, certo? Sim, mas podemos ter dois
olhares distintos, vejamos:
Suponhamos que o pesquisador conclua que a turma que usa o livro com mais
frequência conquista notas melhores e, por isso, recomenda que todos usem mais os
livros, temos um olhar quantitativo, fechado, comprovado por números. Entretanto,
se o pesquisador verificar, por exemplo, que as duas turmas usam livros diferentes?
Terá de fazer uma análise mais dedicada dos dois livros, compará-los, entrevistar
professores e alunos, perceber como é a relação das turmas com o material didático
e com o professor etc. Percebeu um olhar um pouco menos objetivo e mais subjeti-
vo? Temos uma abordagem qualitativa. Nesse caso, o pesquisador precisou verificar
comportamentos humanos que não passam por mensuração, mas por análise crítica
e reflexiva. O processo passa a ser tão ou mais importante que o produto.
Isso não quer dizer que um jeito de fazer pesquisa seja melhor ou pior que o
outro, mas que temos duas formas de olhar para um mesmo objeto. Lembra da
frase atribuída a Saussure? É o ponto de vista, ou seja, a maneira que olhamos para
um objeto que irá determinar sua função ou explicá-lo.
Em Letras, atualmente, a maior parte das pesquisas são de caráter qualitativo e
quantitativo ao mesmo tempo. Mas isso é possível? Sim! O nosso exemplo anterior
mostra bem isso. A partir de dados concretos podemos chegar a algumas conclu-
sões e realizar análises mais subjetivas, voltadas para a qualidade dos processos. Isso
também não significa que não haja pesquisas de caráter exclusivamente quantitati-
vo em Letras, mas não se avulta como algo comum hodiernamente.
A chamada Pesquisa Ação está se tornando cada vez mais comum no que tan-
ge à pesquisa voltada para a sala de aula. Esse tipo de pesquisa, segundo Numan
(2001, p. 17), tem sido definido de diferentes maneiras, mas considera alguns
aspectos que definem esse tipo de pesquisa, a saber:
I. É conduzida por quem a pratica, no caso, o próprio professor;
capítulo 1 • 20
II. É colaborativa, ou seja, é realizada com a colaboração de todos os envolvidos;
III. É voltada para a mudança, ou seja, pesquisa-se algo a fim de encontrar
soluções para algum problema cotidiano.
Independentemente do tipo de abordagem que você irá escolher para a sua pesquisa
na disciplina de TCC, é importante verificar todas essas questões e atentar para o recorte
que se fará do tema, algo que será trabalhado com mais detalhes nos capítulos seguintes.
ATIVIDADES
01. Entre nos portais de periódicos citados neste capítulo e procure artigos voltados para a
sua área de pesquisa. Procure por textos de autores mais renomados e outros mais atuais
oriundos de universidades consagradas.
capítulo 1 • 21
02. Depois de encontrados e lidos esses artigos, procure verificar se se trata de uma pesqui-
sa quantitativa, qualitativa ou ação.
REFLEXÃO
Só neste primeiro contato, você percebeu que fazer pesquisa não é algo tão simples.
Requer conhecimento do tema e, principalmente, do método a ser utilizado. Outro ponto
importante é perceber que a pesquisa auxilia os problemas de uma sociedade, promove
discussões, reflexões e, o mais importante: ciência.
A partir de agora, após alguns conceitos básicos, poderemos conversar um pouco mais
a respeito do modo como podemos construir um artigo / ensaio crítico, de modo a delimitar
adequadamente o tema e construir um texto que nos leve a conclusões importantes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MENEZES, Estera Muszkat. Produção Científica dos docentes da Universidade Federal de Santa
Catarina: análise qualitativa dos anos de 1989 e 1990. Campinas, 1993, 122p. Dissertação (Mestrado
em Biblioteconomia) – Departamento de Biblioteconomia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
MOURA, Angela Maria Saraiva de. A comunicação da produção intelectual docente na
Universidade Federal de Pernambuco. João Pessoa, 1993, 132 p. Dissertação (Mestrado em
Biblioteconomia) – Universidade Federal da Paraíba.
NUMAN, David. Research Methods in Language Learning. New York: Cambridge University Press, 2007.
VICKERY, B. C. The administration of research in institution. In.: The advisory board on research of
the library association, London. Objectives and Administration of Library Research. London:
The library association, 1972, p. 33-38.
capítulo 1 • 22
2
A pesquisa
bibliográfica e tipos
de leitura
A pesquisa bibliográfica e tipos de leitura
Olá, alunos!
Agora que já conversamos um pouco a respeito da pesquisa na universidade,
sua relevância e necessidade, podemos voltar nossos olhares mais fixamente para
questões técnicas da pesquisa.
É muito comum em trabalhos de conclusão de curso realizarmos o que se cha-
ma de Pesquisa Bibliográfica, ou seja, uma pesquisa a partir de outras pesquisas,
de outros autores seminais para a área escolhida. Para tal, precisamos também con-
versar a respeito do modo como lemos esses textos e/ou de que maneira podemos
extrair deles dados, informações, enfim, conhecimento para os nossos trabalhos.
Mãos à obra?
OBJETIVOS
• Refletir a respeito do conceito de pesquisa bibliográfica;
• Reconhecer alguns tipos de leitura;
• Relacionar os tipos de leitura com a pesquisa bibliográfica.
A pesquisa bibliográfica
capítulo 2 • 24
filosófica, pedagógica etc., e isso é feito quando delimitamos os autores/textos que
vamos utilizar em nossa pesquisa.
Já o segundo foco é um pouco mais abrangente, que tem a ver, segundo LIMA;
MIOTO (2007, p. 38) com um “conjunto ordenado de procedimentos de busca
por soluções, atento ao objeto de estudo, e que, por isso, não pode ser aleatório.”.
Em outras palavras, as autoras defendem que a pesquisa bibliográfica é aquela que
norteia um trabalho de pesquisa, a fim de ser utilizada para comprovar ou refutar
teses, avaliar e embasar exemplos, ou seja, é a própria maneira de se recortar e
analisar um dado tema.
Todavia, independentemente do foco que se queira dar à pesquisa bibliográ-
fica, consideramos que, para o nosso interesse neste livro, a segunda abordagem
seja mais pertinente. Entendemos que os ensaios e/ou artigos desenvolvidos para
os nossos TCC´s sejam uma pesquisa bibliográfica a fim de sustentar determinada
tese ou tema. Além disso, há que se observar também que os nomes pesquisa bi-
bliográfica e revisão da literatura se confundem ao longo das publicações diversas,
ou seja, não podemos usar nomenclaturas fechadas, rígidas, mas sim entender o
papel do nosso trabalho, da nossa pesquisa bibliográfica em tela.
Seja qual for o nome, olhar para a literatura a respeito do tema proposto é fun-
damental para um trabalho acadêmico de qualquer natureza, pois é através dela
que, segundo Motta-Roth; Hendges (2001, p.53) podemos situar nosso trabalho
dentro da grande área de pesquisa da qual faz parte o trabalho, contextualizan-
do-o. É muito comum (e bastante normal) um aluno recém-chegado à disciplina
de TCC propor ao seu professor orientador temas como leitura, escrita, ensino
de língua e literatura etc. Entretanto, são temas extremamente abrangentes, que
podem (e devem!) ser recortados. Na maioria das vezes, o recorte é feito quando
escolhemos determinados autores ou textos que seguem algumas linhas teóricas
com as quais desenvolvemos maior afinidade.
capítulo 2 • 25
99 Abrir um espaço para evidenciar que seu campo de conhecimento já está
estabelecido, mas pode e deve receber novas pesquisas; ou ainda,
99 Emprestar ao texto uma voz de autoridade intelectual.
Todo falante possui um saber das “coisas em geral”, que corresponde ao saber elo-
cucional. (...) A linguagem é considerada como atividade, e o saber elocucional, visto
como o falar em geral, mas não historicamente determinado. O saber idiomático, por
sua vez, diz respeito ao conhecimento das regras de determinada língua pelo falante, é
o “saber falar em uma língua”. Pelo fato de a língua ser um objeto histórico, considera-
se que o saber idiomático integra o plano histórico. Por último, o saber expressivo
concerne ao estilo e à situação de fala, por isso ao plano individual. Cada situação em
que se encontra o falante possui suas necessidades no plano linguístico – adequado
ou inadequado. (grifo nosso)
Isso quer dizer que há um saber expressivo, que está no plano individual, que
diz respeito não somente ao estilo, mas também às estruturas que determinado
gênero textual deve possuir para seguir parâmetros estabelecidos pela comunidade
linguística em questão – a acadêmica nesse caso. Em outras palavras, só podemos
realizar uma pesquisa bibliográfica se já gastamos algum tempo lendo algumas já
feitas, angariando modelos, formas de dizer e de se apropriar de algum conheci-
mento. Isso é ter “familiaridade com a produção de conhecimento prévia na área”.
REFLEXÃO
Há que se lembrar que, quando iniciamos um curso superior, passamos a ter contato com
textos científicos – principalmente artigos – da área em que estamos inseridos. Certamente,
você leu ao longo de sua caminhada acadêmica artigos, livros, textos de autores importantes,
apropriando-se e um discurso diferente daquele com o qual estava acostumado. A partir de
capítulo 2 • 26
então, percebe-se um modo novo de dizer, confirmar, refutar uma ideia. Ou seja: é a forma
“científica”, “acadêmica” de dizer.
Tipos de leitura
Para início de conversa, temos de esclarecer algo importante: neste livro, nosso
objetivo não é o de teorizar a respeito de leitura, mas sim de promover uma refle-
xão a respeito da leitura que se deve fazer dos textos acadêmicos escolhidos para
uma pesquisa de caráter bibliográfico.
Num sentido mais amplo, ler é extrair sentidos do texto, é tentar verificar os
propósitos do autor. Entretanto, parece-nos bastante claro que os sentidos de-
preendidos de uma obra literária, por exemplo, são muito mais complexos do que
os sentidos depreendidos de um gênero acadêmico qualquer. Não se trata somente
da linguagem em si, mas dos objetivos de cada gênero. O texto literário utiliza-se
da linguagem como instrumento artístico. Os textos da esfera acadêmica, por seu
turno, possuem maior precisão no que tange à linguagem, tornando os sentidos
mais evidentes, menos metafóricos.
capítulo 2 • 27
ATENÇÃO
Os textos da esfera acadêmica precisam seguir os preceitos da Norma Culta da língua,
uma vez que estamos ajudando a construir conhecimentos, a desenvolver conceitos, enfim, a
fazer ciência. Nesses textos, não usamos a língua de maneira artística, poética, mas devemos
sim usá-la com correção, concisão e clareza.
REFLEXÃO
Atualmente, as obras estão sendo cada vez mais digitalizadas, o que facilita a vida do
pesquisador, e isso é evidente. Além disso, modernamente, muitas revistas científicas estão
sendo publicadas exclusivamente pela internet. Entretanto, antes de se começar a escrever
qualquer trabalho científico, é preciso visitar algumas bibliotecas a fim de encontrar textos
importantes para a pesquisa e que ainda não foram digitalizados. Muitas vezes, alunos con-
tentam-se somente com o que se encontra no “Google” e deixam pra trás preciosidades que
poderiam enriquecer ainda mais o trabalho.
capítulo 2 • 28
manuseio das obras, para comprovar de fato a existência das informações que res-
pondam aos objetivos propostos.
capítulo 2 • 29
REFLEXÃO
Permita-se uma pequena pausa para um exercício. Vá ao Google e digite: a leitura na sala
de aula. Você verá que aparecerão “zilhões” de textos, o que já é um complicador. Exatamen-
te por isso as formas de leitura a, b e c são tão importantes antes de passarmos às outras
etapas, não é mesmo?
Em resumo, é preciso gastar horas sobre livros, artigos etc. Para aqueles que
preferem a leitura em papel, a sugestão é a de que usem sempre um lápis marcan-
do todos os tópicos que julgar relevantes para a pesquisa. Sublinhe, anote, enfim
“rabisque” seu texto! O mesmo deve ser feito por aqueles que escolhem ler em
outros suportes, como tablets, computadores e celulares: marquem tudo o que for
importante. Isso ajuda a organizar o pensamento, a colocar as ideias em ordem.
LEITURA
A leitura acadêmica na formação docente: dificuldades e possibilidades.
<http://www.revistadeletras.ufc.br/revista30_arquivos/15_Artigo%2013_Rev_Letras_
31_1_2_20123.pdf>
A importância do hábito da leitura na universidade. - <https://revista.acbsc.org.br/racb/
article/viewFile/846/pdf>
capítulo 2 • 30
MOVIMENTO 1 - SITUAR A PESQUISA
Sub-função 1A – Estabelecer interesse profissional no tópico OU
Sub-função 1B – Fazer generalizações do tópico E/OU
Sub-função 2A – Citar pesquisas prévias OU
Sub-função 2B – Estender pesquisas prévias OU
Sub-função 2C – Contra-argumentar pesquisas prévias OU
Sub-função 2D - Indicar lacunas em pesquisas prévias OU
EXEMPLO
Nos últimos anos, há um número crescente de estudos a respeito das mais diversas
teorias linguísticas discursivas.
EXEMPLO
A Linguística é reconhecida como ciência auxiliar ao professor na sua prática docente.
capítulo 2 • 31
Já a sub-função 2 tem a ver com o desenvolvimento do trabalho bibliográfico
em si. Você deve estar indagando: Uma pesquisa bibliográfica trata-se somente
de mostrar o que outros já escreveram a respeito de um dado tema? Claro que
não! Na verdade, “bebemos” em ricas fontes a fim de desenvolver nossas próprias
e novas pesquisas. Isso pode ocorrer dando um novo foco ao tema, procurando
investigar novos problemas, ou ainda provando ou refutando teses.
Como em todo e qualquer trabalho de caráter acadêmico, pelas razões mais
diversas e aquelas já demonstradas neste livro, precisamos citar, literalmente, aqui-
lo que autores consagrados dizem a respeito de determinada linha de pesquisa,
grande tema, assunto etc. Por exemplo, parece-nos inviável escrever um trabalho
a respeito da história da Linguística sem citar textos de autores como Saussure,
Chomsky, Martinet etc., pois são nomes consagrados na área. Aqui encaixa-se a
sub-função 2A.
Se o trabalho debruça-se em números, ou dados extensos já levantados por
outros autores, claramente serão citados ao longo do trabalho. Entretanto, a mera
citação avulta-se como algo pouco produtivo no campo da ciência. É preciso com-
preender os dados, interpretá-los. Em suma, fazer ciência! Sim, fazer com que os
estudos progridam, cresçam. Temos, então, os desdobramentos da Sub-função 2A.
A Sub-função 2B trata de “estender as pesquisas prévias”. Na verdade, espera-
se isso de todo e qualquer trabalho acadêmico, mas as autoras parecem referir-se
aos dados em si. Em outras palavras, ampliar o escopo do que já fora pesquisado
até o momento. Se pensarmos num exemplo, podemos levar em conta uma pes-
quisa hipotética a respeito das personagens mulheres de Machado de Assis. Num
primeiro momento, pode-se perceber que já há estudos diversos a respeito de qua-
se todas as personagens femininas machadianas, menos X, Y e Z. É ou não uma
extensão de pesquisas prévias?
Outra estratégia interessante para tratar os dados e/ou conceitos advindos da
pesquisa bibliográfica é contra-argumentar pesquisas prévias (Sub-função 2C).
Alguns resultados podem, por exemplo, parecer mais condizentes com determi-
nada época e menos com outras. Além disso, podemos discordar (comprovando,
claro!) de dados ou conclusões anteriores, comparar visões contrárias de dois au-
tores diferentes etc. Faz parte da construção do saber científico contra-argumentar
aquilo que já fora dito.
Por fim, todo esse trabalho de citação, análise, intepretação e comparação
leva-nos a encontrar lacunas, brechas a serem pesquisadas. Seja analisando algum
viés nunca outrora estudado, ou desdobrando um pouco mais uma análise pouco
capítulo 2 • 32
explorada. Todavia, isso só acontece quando lemos, estudamos, debruçamo-nos
sobre os textos escolhidos para a pesquisa.
ATIVIDADES
01. Pense num tema para o seu trabalho de TCC e escreva-o aqui:
03. Identifique os conceitos centrais com os quais esses autores trabalham nos textos que
você escolheu.
REFLEXÃO
A pesquisa bibliográfica é uma ótima estratégia para organizar o pensamento e dar conta
daquilo que pretendemos tratar em nosso Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Entretan-
to, é preciso seguir algumas etapas importantes.
Olhar para trás e verificar o que já fora pesquisado a respeito do tema, bem como sele-
cionar aquilo que é relevante para a nossa pesquisa nos ajuda a ter um rumo, um norte. Isso
é recortar o tema, fazer com que ele se torne mais palpável, mais próximo da nossa realidade.
Além disso, ler é fundamental! Os autores selecionados precisam ser lidos! Caso contrá-
rio, teremos bastante dificuldade na hora de tratar do nosso tema. Este capítulo mostrou-nos
algumas formas importantes de ler um texto. Esperamos que tenha ajudado!
Grande abraço!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIMA, Telma CS; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Procedimentos metodológicos na construção do
conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katálysis, v. 10, n. 1, p. 37-45, 2007.
MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. R. Artigo acadêmico: Revisão da Literatura. In.: MOTTA-ROTH, D.
(Org.) Redação Acadêmica: princípios básicos. 1. Ed. Santa Maria: Imprensa Universitária, 2001.
SALVADOR, A.D. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica. Porto Alegre: Sulina, 1986.
capítulo 2 • 33
SIMAS, Fábio Macedo. A construção das cadeias referenciais em redações de Português (LM)
e Inglês (LE). 2009. 224f. Dissertação de mestrado (Mestrado em Língua Portuguesa)–Instituto de
Letras, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.
capítulo 2 • 34
3
Normas para a
apresentação
de trabalhos
científicos
Normas para a apresentação de trabalhos
científicos
Olá, alunos!
Neste capítulo vamos tratar de algo não muito simpático, porém extremamen-
te importante para a pesquisa científica: as normas para apresentação de trabalhos
científicos.
Como já vimos, até agora, a pesquisa científica, em temos gerais, baseia-se
na análise, explanação e ampliação de tudo o que já foi feito até o momento. Isso
posto, é preciso mostrar, citar, referir-se, remontar-se a esses autores. Porém, há
regras bem rígidas para que isso possa ser feito em nossas pesquisas. É o que vere-
mos neste capítulo.
Mãos à obra?
OBJETIVOS
• Apresentar algumas normas para a apresentação do TCC;
• Reconhecer alguns tipos de normas;
• Rever algumas normas da ABNT.
Introdução às normas
capítulo 3 • 36
SAIBA MAIS
ABNT é uma sigla para Associação Brasileira de Normas Técnicas. A ABNT não cuida
somente de regras de formatação de trabalhos acadêmicos, mas também de diversas outras
questões. No link a seguir você poderá ter acesso a Missão, Visão e Valores desse órgão:
<http://www.abnt.org.br/abnt/missao-visao-e-valores>
Todavia, no meio acadêmico, quando dizemos que temos de seguir a ABNT, referimo-nos
às regras de formatação de nossos trabalhos.
SAIBA MAIS
A Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) publicou em seu site um documento tratando das
Normas de Vancouver. Para nós de Letras, é mais importante olharmos para a ABNT, mas
para aqueles que possuem a curiosidade um pouco mais aguçada, segue o link: <http://
www.fiocruz.br/bibsp/media/normas_bibensp.pdf >.
capítulo 3 • 37
Breve explanação das principais normas da abnt
EXEMPLO
Além disso, uno-me à voz de Marcuschi (2012, p.24), que afirma haver no texto uma ca-
racterística constitutiva fundamental: o múltiplo referenciamento, ou seja, o texto é cons-
truído por meio de referências e retomadas formando uma espécie de “cadeia pronominal”.
Os referentes são várias vezes retomados, referidos, mas nem sempre pelas mesmas ex-
pressões. Para nós, isso parece se tornar mais evidente nos fóruns de discussão, pois o con-
teúdo é formulado e reformulado por diversas pessoas e por meio de diferentes processos
de referenciação.
capítulo 3 • 38
CURIOSIDADE
Quando colocamos o ano ao lado do sobrenome do autor, isso quer dizer que nos refe-
rimos ao seu texto (artigo, livro etc.) publicado no citado ano. Para sabermos a que obra o
ano se refere, basta irmos à seção das REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e verificar qual é
a obra usando o sobrenome do autor e o ano. No exemplo anterior, Marcuschi (2012) refere-
se a: MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: o que é e como se faz? São Paulo:
Editora Parábola, 2012.
Já a citação direta é aquela a que damos destaque, seja com o uso de aspas, seja
fazendo um recuo. Vamos a dois exemplos também retirados de Simas (2015):
EXEMPLO
Hemais e Biasi-Rodrigues (2005, p.118), com base na proposta sociorretórica de John M.
Swales, afirmam o seguinte:
O conceito de propósito comunicativo, em sua concepção original, é o critério privilegiado
na definição de gênero, embasa o gênero e determina não apenas a sua estrutura esquemá-
tica, mas também as escolhas em torno de conteúdo e estilo. [...] Em 1990, Swales já discutia
a dificuldade de identificar com precisão o conceito de propósito comunicativo, especialmen-
te a dificuldade de identificar claramente o propósito de um exemplar de gênero. Ao reavaliar
o problema, Askehave & Swales entendem que o propósito comunicativo é menos visível do
que a forma, e, portanto, dificilmente servirá como critério básico para a conceituação de um
gênero. [...] os membros mais experientes exploram o gênero, manipulando os elementos de
intenção, posicionamento, forma e função para as suas intenções pessoais, e o fazem dentro
dos propósitos socialmente reconhecidos. (HEMAIS e BIASI-RODRIGUES, 2005, p.118).
Você já deve ter percebido que temos duas formas de fazer uma citação direta,
com aspas ou com recuo. No exemplo anterior, quando Simas (2015) cita Hemais
e Biasi-Rodrigues (2005) temos uma citação direta com recuo. O que isso quer
dizer? Vejamos:
A ABNT solicita que, quando a citação direta for maior do que 3 (três) linhas,
deve-se realizar um recuo de 4 cm, diminuir a fonte e usar espaçamento simples.
Observe que a citação de Hemais e Biasi-Rodrigues teria bem mais do que três
linhas se não houvesse recuo. Por isso, realizou-se o recuo.
capítulo 3 • 39
ATENÇÃO
Quando for necessário efetuar um recuo, não podemos nos esquecer de que além do
recuo, devemos diminuir a fonte (10) e colocar espaçamento entre linhas simples.
Mesmo assim, a citação continua a ser direta, uma vez que se “copia” inte-
gralmente o que fora escrito pelas autoras. Outra forma de se realizar uma citação
direta é colocando o trecho entre aspas, mas isso só é possível quando a citação
tiver até 3 (três) linhas, senão é preciso fazer com recuo. Veja o exemplo a seguir.
EXEMPLO
Isso posto, não podemos nos esquecer da célebre afirmação de Bahktin: "Cada campo
de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados" (BAKHTIN,
1979, p. 280), o que significa dizer que toda comunicação é realizada por meio de um deter-
minado gênero textual, seja oral, escrito ou digital.
capítulo 3 • 40
em fonte 10m espaçamento simples. Veja também que o próprio editor de texto
nos oferece a possibilidade de escrevê-las:
Existe um padrão para que as fontes sejam citadas ao longo do texto. É o que
chamamos de Sistema de Chamada para citação de fontes. Mas como isso funciona?
Simples, vejamos:
Quando estamos escrevendo nosso trabalho e verificamos que naquele mo-
mento podemos citar algo que já lemos a respeito do tema, podemos fazê-lo da
seguinte forma, tal como nos mostra o quadro a seguir, retirado de Michielini
(2016, p.151)
capítulo 3 • 41
Autor e data:
Quando o autor faz parte do texto, ou seja, fora dos parênteses
Todas essas citações que fazemos ao longo do texto (todas!) devem vir expli-
citadas na parte a que denominamos de referências ou referências bibliográficas.
Modernamente, não se fala mais em Bibliografia, mas em Referências. Entende-se
que bibliografia é algo mais abrangente, tem a ver com tudo o que se leu para o
trabalho, mas nem tudo fora de fato usado nele. Já as Referências explicitam tudo
o que foi de fato usado, citado no trabalho.
Segundo a NBR 6023:2002, da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2002), as fontes consultadas para um trabalho de caráter científico devem ser lis-
tadas no final do trabalho em ordem alfabética pelo último sobrenome do primei-
ro autor. Além disso, deve-se utilizar o negrito para destaque no título das publica-
ções e dos periódicos, separadas entre si por um espaço simples. Veja um exemplo:
capítulo 3 • 42
FÁVERO, Leonor; ANDRADE, Maria Lúcia; AQUINO, Zilda. Oralidade e escrita: pers-
pectivas para o ensino de Língua Materna. São Paulo: Cortez, 2005.
Observe que temos os sobrenomes das autoras em caixa alta, seguidos por
vírgula, o nome e ponto e vírgula, assim: FÁVERO, Leonor; ANDRADE, Maria
Lúcia; AQUINO, Zilda. Somente após o nome da última autora que colocamos
um ponto.
A seguir, temos o nome do livro em negrito, mas quando o título possui um
complemento após dois pontos, o complemento não precisa estar em negrito:
Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de Língua Materna.
Outra informação importante para o reconhecimento da referência é colocar
a cidade onde foi publicada a obre, seguida de dois pontos e o nome da editora
seguido de vírgula e, por fim, o ano. O ano deve ser o indicado nas citações ao
longo do trabalho.
Observe que a citação feita é a do artigo, o nome do livro vem depois de “In.:”
com a indicação “(orgs.)”, após o nome dos autores, mostrando que se trata de
um livro organizado por mais de um autor. Caso seja organizado por somente um
autor, deve-se usar “(org.)”. Somente o nome do livro – e não do artigo – vem
em negrito.
capítulo 3 • 43
Regras para elaboração de referências em meios eletrônicos
A já citada norma NBR 6023:2002 afirma também que devemos listar nas refe-
rências todas as obras utilizadas para o trabalho, independentemente do suporte físico,
seja livro, artigo, slide, CD ROM, DVD, fotografia e documentos em meio eletrônico.
Atualmente, é muito comum realizarmos pesquisas pela internet, o que nos leva
a artigos, livros etc. oriundos do meio eletrônico. Para essas fontes, temos algumas
especificidades na hora de escrever a referência, tal como a data de acesso e o link,
vejamos o exemplo de Michielini (2016, p. 114), com base na ABNT (2002):
Observe que o link vem entre os sinais < >, e a data do acesso ao link, logo após
o mesmo. É preciso usar as expressões “Disponível em” e “Acesso em”. Vejamos
outro exemplo:
ATIVIDADES
01. Escolha qualquer artigo ou livro utilizado em sua pesquisa, e tente procurar na parte das
referências por alguns autores citados ao longo do texto. Veja como essas citações são feitas.
capítulo 3 • 44
02. Nesse mesmo texto, procure observar como o autor utiliza as notas de rodapé.
REFLEXÃO
As normas de formatação para trabalhos acadêmicos nunca foi algo simples, porém sempre
foram extremamente necessárias. Exatamente por conta dessa relevância e do nosso momen-
to com o TCC em Letras que resolvemos falar um pouco a respeito de algumas dessas regras.
Vimos, por exemplo, como se realiza a citação de autores e como essas citações deve
ser devidamente referenciadas na seção denominada “Referências” ou “Referências Biblio-
gráficas”. Um trabalho com citações adequadas e bem feitas, certamente, alcançará objetivos
interessantes ao longo da jornada acadêmica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: apresentação de periódicos. Rio de
Janeiro: ABNT, 2002.
MICHIELINI, Roziane do Amparo Araújo. Orientações para elaboração de trabalhos técnicos
científicos: projeto de pesquisa, teses, dissertações, monografias, relatórios entre outros trabalhos
acadêmicos, conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Belo Horizonte: PUC-
Minas, 2016. Disponível em: http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_
ARQUI20160217102425.pdf. Acesso em 26 de agosto de 2016.
SIMAS, Fábio Macedo. Referenciação em fóruns educacionais em EAD: a interface entre oralidade
e escrita. 2015. 285f. Tese de Doutorado (Doutorado em Estudos de Linguagem) – Instituto de Letras,
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2015.
capítulo 3 • 45
capítulo 3 • 46
4
Temas relevantes
para o trabalho de
conclusão de curso
em Letras
Temas relevantes para o trabalho de
conclusão de curso em Letras
Olá, alunos!
Chegou a hora de conversarmos um pouco a respeito de alguns temas que
podem ser tratados no seu TCC. Agora, não vamos nos prender a regras de forma-
tação, mas sim ao conteúdo do trabalho em si.
Sabemos que, em alguns casos, é mais difícil encontrar um bom tema do que
escrever o próprio trabalho, uma vez que quanto mais familiarizados com os as-
suntos estivermos, melhor será nosso TCC.
Mãos à obra?
OBJETIVOS
• Apresentar alguns temas prováveis para o TCC;
• Mostrar as áreas em que se encaixam esses temas.
capítulo 4 • 48
Se a sua habilitação é alguma língua estrangeira, como Inglês e Espanhol,
o escopo se alarga ainda mais, pois podemos trabalhar com Língua Estrangeira,
Literaturas em Língua Estrangeira e ainda Linguística Aplicada ao Ensino de
Língua Estrangeira, como veremos com mais detalhes adiante.
Esses três grandes temas precisam, como já vimos em capítulos anteriores, ser
recortados, pois são extremamente abrangentes. Vejamos algumas possibilidades:
TEMA SUBTEMAS
Análise Linguística;
Fonologia;
Língua
Morfologia;
Sintaxe.
Literatura Brasileira
Literatura Portuguesa
Literatura Estrangeira (Inglesa, Espanhola, Norte-americana etc.)
Literatura
Literaturas Africanas em Língua Portuguesa
Literatura Infanto-juvenil
Teoria Literária
capítulo 4 • 49
Neste capítulo, como já dissemos, não pretendemos tratar de todos os temas,
pois cada um merece um livro exclusivo, mas vamos pincelar alguns deles para que
possam inspirar vocês quando forem escrever o TCC. Vamos continuar?
Análise Linguística
Uma forma muito comum de fazer uma pesquisa em Letras é realizando uma
Análise Linguística. Como o próprio nome diz, trata-se de analisar algum ponto/
tópico gramatical específico. Para que se possa realizar esse tipo de análise, é pre-
ciso que você tenha duas coisas: primeiro, um corpus, ou seja, algo em que você
possa realizar sua análise; segundo, um viés de análise, ou seja, fonologia, morfo-
logia ou sintaxe.
Exemplificando, você poderia verificar a frequência com que dois grupos de
pessoas utilizam determinada estrutura gramatical e levantar hipóteses, como ní-
vel de escolaridade, classe social, quantidade de leitura etc.
Outra possibilidade de análise linguística é quando olhamos também para o
contexto de produção dos textos ou ainda quando ampliamos o escopo de análise
para o discurso, ou seja, para tudo aquilo que está no entorno textual. Antunes
(2003, p.86) advoga:
Dessa forma, são regras, por exemplo, a descrição de como empregar os pronomes;
de como usar as flexões verbais para indicar diferenças de tempo e de modo; de como
estabelecer relações semânticas entre partes do texto (relações de causa, de tempo,
de comparação, de oposição e etc.); de quando e como usar o artigo indefinido e o
definido; de quando e de como garantir a complementação do verbo ou de outras pa-
lavras; de como expressar exatamente o que se quer pelo uso da palavra adequada, no
lugar certo, na posição certa (ANTUNES, 2003, p. 86).
SAIBA MAIS
Se você quiser ler um pouco mais a respeito de Análise Linguística, numa
perspectiva mais reflexiva, leia o artigo “Uma tentativa de análise linguísti-
ca de um texto do gênero "relato histórico" ” da Profa. Terezinha Costa-Hübes em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-76322010000100009>
capítulo 4 • 50
Linguística
EXEMPLO
O Prof. Gérson Rodrigues publicou um artigo no qual analisa alguns tex-
tos jurídicos, numa perspectiva funcionalista. Ele analisa como se dá a ordem
VS (Verbo + Sujeito), a partir do olhar da teoria funcionalista. Leia o artigo em
<http://revistalogoseveritas.inf.br/lev/?p=1292> .
EXEMPLO
O Prof. Fábio Simas faz isso em seu artigo “O livro didático e o ensi-
no de Português como LM”, onde o professor analisa um livro didático específi-
co, a partir da perspectiva de alguns autores linguistas pontuais. Leia o artigo em
<http://revistalogoseveritas.inf.br/lev/?p=1290> .
capítulo 4 • 51
Linguística Aplicada
capítulo 4 • 52
ensinando na sala de aula e a sua relevância haja vista os objetivos de docentes e
discentes naquela disciplina. Bom tema, não é mesmo? Muitas vezes, um professor
de Língua Estrangeira não consegue cativar muito a atenção de seus pupilos por
focar somente na gramática normativa, não é mesmo? Um aluno mais viajado
pode verificar que, na prática, é bem diferente...
SAIBA MAIS
Se você quiser se aprofundar um pouco mais na questão da Gramática x Ensino, leia o
texto de Marina Célia Mendonça, Língua e ensino: Políticas de Fechamento. Publicado em
MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (orgs.) Introdução à Linguística: domínios
e fronteiras. Vol. 2. São Paulo: Cortez, 2006.
capítulo 4 • 53
LÍNGUA SUJEITO TEXTO SENTIDO
3- Instrumento Depreendido
que se encontra Sujeito da enunciação Transmissão de da intenção do
à disposição dos responsável pelo sen- pensamentos da falante; trata-se
indivíduos, que o tido; predominância da mente do falante de um evento
utilizam como se consciência individual para a mente do mental que se
ele não tivesse no uso da linguagem. ouvinte. realiza nessa
história. descoberta.
Um exemplo de como podemos olhar para este quadro é olhar para o tipo de
atividade ministrada pelo docente em sala de aula. Um professor que entende a
língua como um sistema, certamente ministrará aulas e atividades de gramática
com frases descontextualizadas, tirando o foco da língua em uso.
Sendo assim é fundamental o professor de línguas estar bastante consciente
daquilo com que se deseja trabalhar: objetivos, conceitos chave etc., para que possa
alcançar seus objetivos. A Linguística Aplicada nada mais é do que a aproximação,
o contato das teorias linguísticas com a sala de aula e/ou com os usos da língua.
capítulo 4 • 54
Literatura
A Literatura, de modo geral, pode ser estudada de diversas formas, tal como
vimos com as Línguas. Isso quer dizer que podemos utilizar textos literários como
instrumentos de análise linguística, ou ainda de Linguística Aplicada. Mas...
como assim?
Simples: podemos comparar duas turmas. Em uma delas, o professor ministra
aulas de literatura e em outra não. Como seria o resultado desses alunos em disci-
plinas como História, Geografia ou Ciências que exigem bastante carga de leitura
e intepretação? Ou ainda como a Literatura pode influenciar na capacidade argu-
mentativa dos alunos? E tantos outros questionamentos que podem ser levantados
a partir da arte literária, não é mesmo?
SAIBA MAIS
Outra dica interessante é o artigo Leitura e sala de aula: da teoria Literária à Prática Esco-
lar, de Ivanda Maria Martins Silva, fruto de uma premiada tese e publicado em
<http://www.pgletras.com.br/Anais-30-Anos/Docs/Artigos/5.%20Melhores%20
teses%20e%20disserta%C3%A7%C3%B5es/5.2_Ivanda.pdf. Outra dica interessan-
te é o artigo Leitura e sala de aula: da teoria Literária à Prática Escolar, de Ivanda Maria
Martins Silva, fruto de uma premiada tese e publicado em <http://www.pgletras.com.br/
Anais-30-Anos/Docs/Artigos/5.%20Melhores%20teses%20e%20disserta%C3%A7%-
C3%B5es/5.2_Ivanda.pdf>.
capítulo 4 • 55
não só na forma de narrar, mas na importância que esses ambientes têm pra um
e pra outro.
Olhando para uma obra literária em prosa, podemos, por exemplo, estudar:
a) A visão de mundo da época;
b) O papel da mulher na sociedade da época;
c) Elementos históricos presentes na obra;
d) A verossimilhança;
e) A linguagem poética;
f ) O narrador;
g) As vozes presentes na obra;
h) A construção/desconstrução de personagens;
i) O humor;
j) A morte;
k) A tristeza;
l) A alegria;
m) O amor;
n) A traição;
o) Como se davam os relacionamentos da época;
p) Entre outros.
capítulo 4 • 56
SAIBA MAIS
Para quem deseja trabalhar com Literatura em seu TCC, é leitura obrigatória o texto
do Prof. Jairo José Xavier Mais poesia na sala de aula. Publicado em 2003, no Caderno de
Letras da UFF. Graças à tecnologia, temos este brilhante artigo on-line em: <http://www.
cadernosdeletras.uff.br/joomla/images/stories/edicoes/29/artigo1.pdf>.
ATIVIDADES
01. A partir do que você leu neste capítulo, identifique dois recortes possíveis para cada um
dos grandes temas estudados: Língua, Linguística e Literatura.
02. Com qual desses temas você acha que se identifica mais e por quê? Reflita.
REFLEXÃO
Ao longo deste livro, você pôde perceber a relevância acadêmica e pessoal que um bom
Trabalho de Conclusão de Curso possui. Mas percebeu também que não é algo tão simples
de ser executado, e nós nunca escondemos isso de você. Foi exatamente nesse sentido que
este livro foi pensado.
Neste capítulo, você pôde refletir a respeito de grandes temas que certamente nortearão
o seu TCC. A partir dos grandes temas Língua, Linguística e Literatura, você poderá optar
com mais segurança por algo que lhe seja útil e agradável. Temos a certeza de que você se
identificou com alguns desses temas e, com a ajuda do seu professor orientador terá condi-
ções de desenvolver um ótimo trabalho.
capítulo 4 • 57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, I. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola, 2003.
SIMAS, Fábio Macedo. A construção das cadeias referenciais em redações de Português (LM)
e Inglês (LE). 2009. 224f. Dissertação de mestrado (Mestrado em Língua Portuguesa)–Instituto de
Letras, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.
KOCH, Ingedore Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Contexto, 2002.
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