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Relés de Proteção
Notas de Aula
Campina Grande - PB
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Chagas - DEE / UFCG
Capítulo I
Relés Eletromecânicos
É apresentada uma descrição sucinta dos principais tipos de relés eletromecânicos utilizados
na proteção de sistemas elétricos. Em face da diversidade dos tipos existentes, os princípios de
funcionamento são explicados a partir de estruturas elementares. Apesar da gradativa
substituição pelos relés digitais, o estudo dos relés eletromecânicos é indispensável em um
primeiro curso de Proteção de Sistemas Elétricos, face do considerável número de unidades
ainda em operação. Além disso, a compreensão do princípio básico de funcionamento dos
demais tipos de relés é facilitada.
1. Relés de Sobrecorrente
É mostrado na Fig. 1.1 um tipo de relé que funciona mediante atração de uma armadura
basculante, denominada armadura em charneira. Funciona tanto em corrente alternada como
em corrente contínua. Acima de certo valor de corrente, Ia, é desenvolvida uma força de
atração no entreferro, Fe, que supera a ação da gravidade sobre a armadura móvel. Isto
ocasiona fechamento dos contatos de um circuito que causa disparo imediato de disjuntor,
acionamento de alarme ou outra ação de controle.
Este tipo de relé possui número de função 50, o qual é estipulado pela ANSI (American
National Standards Institute).
De acordo com a característica tempo versus corrente, esses relés são classificados como
relés de tempo definido e relés de tempo inverso. As características tempo-corrente dos
mesmos são mostradas na Fig. 1.2.
Fig. 1.2. Características de relés de sobrecorrente temporizados; (a) tempo definido; (b) tempo inverso.
Na característica de tempo definido, o relé não atua para correntes inferiores a Ia. Acima
deste valor, o relé atua em um tempo ajustável ta, o qual é independente do valor de corrente.
Na característica de tempo inverso, o tempo de atuação diminui à medida que a corrente
aumenta. São mostradas na Fig. 1.3 as diversas formas dessas características, com as seguintes
denominações: a - tempo normalmente inverso; b - tempo muito inverso; c - Tempo
extremamente inverso.
Essas características podem ser obtidas utilizando-se uma estrutura com funcionamento
baseado na indução de correntes parasitas em um disco metálico, como a mostrada na Fig. 1.4.
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A interação entre essas correntes e componentes de fluxo que incidem no disco resulta na
criação de um conjugado motor, no sentido de fechar os contatos. A função da mola é produzir
um conjugado antagonista, mantendo os contatos abertos ao máximo em condições normais. O
ímã permanente produz um conjugado de amortecimento, impedindo movimentos bruscos e
oscilações do disco em torno da posição de equilíbrio.
fluxo total Τ . Quando esses fluxos variam, é induzida uma força eletromotriz E nos terminais,
atrasada em relação a E. Esta corrente produz um fluxo B que, somado à componente
enlaçada pela bobina, resulta em um fluxo . A componente de Τ não enlaçada pela bobina
é 2 = Τ - 1 , defasada de de um ângulo β.
Agora, o problema é demonstrar que o somente haverá conjugado motor no disco se os
fluxos 1 e 2 estiverem defasados; assim, considera-se que:
1 1 sen t (1.1)
2 2 sen t (1.2)
É mostrado na Fig. 1.5 que a corrente i1 induzida no disco pelo fluxo interage com o fluxo
2 , do mesmo modo que i2, produzida por 2 , interage com . Isto resulta em forças que
atuam sobre o disco, fazendo-o girar. As correntes induzidas no disco, i1 e i2, são proporcionais
às derivadas dos fluxos que as produzem, ou seja:
d
i1 K a (1.3)
dt
d
i2 K a (1.4)
dt
F F1 F2 Kb i1 i2 (1.5)
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F Kb 1 2 sen (1.7)
A bobina do relé Fig. 1.4 é provida de derivações (tapes). Se for escolhido um tape
correspondente a um grande número de espiras, a corrente mínima de atuação é menor que a
necessária para acionar o relé quando se escolhe um tape com poucas espiras.
Para contrabalançar o conjugado motor, existem os conjugados antagonistas exercidos pela
mola em espiral e pelo ímã permanente, representados pela constante K1. Assim, o conjugado
líquido sobre o disco é:
T K1 N I K 2
2
(1.10)
K2
Ia (1.11)
N 2 K1
A corrente Ia é a corrente mínima de atuação ou corrente de pickup do relé. Ela depende dos
seguintes fatores:
O valor de corrente para o qual o relé abre seus contatos após ter atuado é chamado
corrente de drop-out.
Na prática, são feitos dois ajustes nesse relé, descritos a seguir:
▪ Ajuste de corrente, feito por escolha do tape com o número de espiras adequado (ajuste
grosso) e da regulagem da ação da mola (ajuste fino).
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▪ Ajuste de tempo, feito através da regulagem da distância inicial entre o contato fixo e o
contato móvel. Para um mesmo valor de corrente de defeito, quanto maior for essa
distância, maior será o tempo que o contato móvel leva para tocar o contato fixo. Esses relés
apresentam um pequeno disco acima do disco de indução, geralmente com as graduações 0,
1, 2,..., 11. O ajuste 0 corresponde à situação de fechamento dos contatos e o ajuste 11
corresponde à situação de abertura total dos mesmos.
São mostradas na Fig. 1.7 as curvas características deste relé. Cada curva corresponde a um
ajuste de tempo diferente.
O relé de sobrecorrente temporizado possui número de função 51, estabelecido pela ANSI.
O circuito de disparo do disjuntor aos quais os contatos principais desses relés acham-se
ligados contém indutâncias de valores elevados. Porém, esses contatos são relativamente
frágeis, não sendo adequados à interrupção de correntes contínuas em circuitos fortemente
indutivos. Caso haja atuação do relé e posterior abertura acidental dos contatos (trepidações,
etc), os mesmos certamente serão danificados por ação de arcos voltaicos intensos. A fim de
evitar que isso ocorra, é efetuado o processo de selagem, descrito na Fig. 1.8.
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Os relés 51 são denominados relés de fase e o relé 51N é denominado relé de terra. Por motivo
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de economia, é omitido um relé na forma de ligação indicada em (b). Porém, pode-se verificar
que, neste caso, para qualquer tipo de curto-circuito no primário, haverá atuação de pelo
menos um relé.
Os relés de fase devem ser ajustados para não operar para a máxima corrente de sobrecarga
admissível no sistema. Isso pode trazer alguns problemas, pois, em alguns sistemas, as
correntes de curto-circuito podem apresentar valores baixos, até inferiores à corrente de carga.
Neste caso, a proteção de sobrecorrente não é indicada.
O relé de terra é sensibilizado por:
In Ia Ib Ic 3 I0 (1.12)
Assim, ele só atua em caso de defeito que envolva a terra. A vantagem dos relés de terra é
que seus ajustes são independentes da corrente de carga do sistema, sendo menos afetados
pelas modificações da rede. Em condições normais, a corrente 3I0 não ultrapassa 10% da
corrente de carga. Conclui-se que esses relés são mais sensíveis que os relés de fase.
2.1. Fundamentos
O relé de sobrecorrente direcional possui número de função 67, estabelecido pela ANSI.
Uma unidade direcional eletromecânica é mostrada na Fig. 1.10, bem como o diagrama
fasorial correspondente. O princípio de funcionamento desta estrutura é o mesmo do relé de
indução descrito no item 1.2. A diferença é que o torque eletromagnético age sobre um cilindro
metálico, ao invés de um disco. Além disso, a bobina de defasagem não é necessária, pois já há
uma defasagem entre os fluxos produzidos por I e IU. A função do resistor R é variar o ângulo α
entre a tensão U e a corrente IU no circuito de potencial.
A ação dos fluxos magnéticos defasados que incidem sobre o cilindro consiste na produção
de um conjugado motor, o qual é dado por:
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T K1 U I sen( ) (1.13)
O conjugado será máximo para θ = τ. Pelo diagrama, τ – α = 90°. Assim, tem-se a seguinte
expressão modificada:
T K UI sen ( 90 ) K UI cos ( ) (1.14)
O relé opera se T > 0, ou se cos (θ - τ) > 0, ou ainda se - 90°+τ < θ < 90°+τ. No diagrama da
Fig. 1.11 são indicadas as regiões de operação e não operação.
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Quando ocorre a motorização, a unidade direcional (32) fecha um contato, permitindo que a
tensão do sistema opere o relé de tempo (2), o qual comanda a abertura do disjuntor. De
acordo com os desenvolvimentos do item 1.2, o torque produzido sobre o disco é dado por:
T K U ac I a cos ( ) (1.15)
Para que o relé opere, deve-se ter T > 0, o que implica em -60o < < 120o e Para = = 30o,
o relé desenvolve torque máximo.
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4. Relés de Sobretensão
Esses relés têm forma construtiva idêntica à do relé de sobrecorrente descrito no item 1.2.
A principal diferença é que são alimentados por um transformador de potencial.
Uma das aplicações desses relés é a proteção contra defeitos fase-terra em sistemas com
neutro isolado ou aterrado através de impedância elevada, com o relé de sobretensão (59)
utilizado em conjunto com três TPs ligados em delta aberto, como é mostrado na Fig. 1.15.
Neste caso, as correntes são insuficientes para sensibilizar os relés de sobrecorrente. Sabe-se
que defeitos fase-terra ocasionam sobretensões sustentadas nas fases sãs, como indica o
diagrama fasorial da Fig. 1.15. Observando que Ua = 0, a tensão no relé é dada por:
5. Relés Diferenciais
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O funcionamento desse relé pode ser entendido mediante análise da Fig. 1.16, Fig. 1.17 e
Fig. 1.18. O equipamento indicado pode ser um gerador, motor, transformador ou linha de
transmissão.
Na Fig. 1.16, há duas possibilidades: o sistema opera normalmente ou o defeito ocorre no
ponto F, fora da zona entre os TCs. As correntes I1 e I2 são iguais em módulo e em fase, de
modo que IO = 0; assim, o relé não opera.
Na Fig. 1.17, o defeito ocorre na zona interposta aos TCs, sendo o defeito alimentado apenas
por um lado, o que faz o relé atuar. Na Fig. 1.18, o relé também atua, havendo contribuição de
corrente por ambos os lados.
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Vê-se que o relé é sensível à diferença fasorial entre as correntes. No caso da Fig. 1.16, os
módulos de I1 e I2 são iguais e a defasagem entre elas é de 0°. Na Fig. 18, mesmo considerando
os módulos de I1 e I2 iguais, a defasagem é de 180°, ocorrendo atuação do relé, ao contrário do
primeiro caso. Assim, a proteção será tanto mais seletiva quanto maior for a probabilidade de
ocorrer atuação do relé em caso de defeito na zona compreendida entre os dois TCs, e nunca
ocorrer atuação em caso de defeito externo. Entretanto, a suposição de que IO = 0 na Fig. 1.16
constitui uma idealização. Mesmo em condições normais de operação, pode haver uma
corrente residual circulando no relé, a qual se torna ainda maior em caso de defeito externo.
Isto é causado principalmente pelos seguintes fatores:
Para ser seletivo, o relé deve ser ajustado de modo a tolerar essas discrepâncias, o que
implica em perda de sensibilidade.
Neste caso, é usado um resistor em série com o relé (resistor de estabilização). O valor da
resistência R deve ser calculado de modo que o relé não atue para as condições mais adversas.
Isto ocorre quando o defeito externo produz corrente máxima, com um TC saturado e o outro
não saturado. No circuito da Fig. 1.19 é mostrado um circuito equivalente em que são
consideradas as condições descritas. Os valores de reatância de magnetização indicados
correspondem a uma situação de plena saturação em um dos TCs (Xm1 ≈ 0) e de não saturação
no outro (Xm2 elevada). Os parâmetros R1 e R2 são as resistências totais dos secundários dos
TCs, incluindo enrolamentos e fiação. Assim, pode-se escrever:
R1
R I o R 1 I1 Io I1 (1.18)
R
I1 I S I m1 (1.19)
I 2 I S I m2 (1.20)
I o I 2 I1 I m1 I m 2 (1.21)
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R1 R I
Io I 2 1 F ,max (1.22)
R1 R R1 R K N
Se Io,min é a corrente mínima de atuação do relé, então, para que não haja atuação indevida:
R1 I F , max
I o , min (1.23)
R1 R K N
I F , max
R R1 R1 (1.24)
K N I o , min
Por outro lado, o alto valor de R não impede que o relé opere para defeitos internos, pois as
correntes no secundário dos TCs se somam, forçando a passagem de uma corrente suficiente
para sensibilizar o relé.
A estrutura mais elementar desse relé é mostrada na Fig. 1.20. O mesmo apresenta uma
armadura em balanço que gira em torno de um pivô. Sobre a armadura atuam três forças
exercidas pelos seguintes elementos:
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▪ Bobina de restrição, com tape central, formando duas meias bobinas de NR / 2 espiras, (ação
contrária à operação, FR).
▪ Mola (ação contrária à operação, FM).
2 N N
N O
IO R I1 R I 2 2 (1.26)
2 2
k
IO I1 I 2 (1.27)
2
k
IO I1 I 2 (1.28)
2
Uma vez que IO = Ia - Ib, resulta:
2 k
I1 I2 (1.29)
2 k
2 k
I1 I2 (1.30)
2 k
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NR N I I
I1 R I 2 N R 1 2 (1.31)
2 2 2
K 2 I1 I 2
I1 I 2 (1.33)
K1 2
Fig. 1.23. Característica I1–I2 versus (I1 + I2)/2 do relé diferencial percentual.
A curva característica sofre uma distorção na região próxima à origem em face da ação da
mola. Mesmo com IR = 0, é necessário que Io ≠ 0 para que o relé atue.
A inclinação da curva característica, em termos de percentagem, define a sensibilidade do
relé, pois determina os tamanhos das áreas de atuação e de não atuação (quanto menos
inclinada for a curva, mais sensível é o relé).
A Fig. 1.24 ilustra a comparação entre o relé amperimétrico (curva A) e o percentual (curva
B).
6. Relés de Distância
Os relés de distância (21) são largamente usados na proteção de linhas de transmissão. Eles
têm como princípio a medição da impedância de sequência positiva compreendida entre o
ponto de localização do relé e o ponto de ocorrência do defeito. Seu nome deve-se ao fato de
que a grandeza medida é proporcional à distância entre os citados pontos.
T K1 I 2 K 2 U 2 K3 (1.34)
K1 I 2 K2 U 2 K3 (1.35)
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Z K1 / K 2 Z O (1.36)
A constante ZO é o valor mínimo de impedância secundária para o qual o relé atua (alcance
do relé). Sendo as constantes KC e KP as relações de transformação nominais do TC e do TP,
pode-se escrever para Z, termos de grandezas primárias:
U L / KP K
Z ZL C (1.37)
I L / KC KP
Considerando o sistema da Fig. 1.26, a impedância vista pelo relé é Z = R + jX. No plano R-X,
a equação (36) corresponde a um círculo de raio ZO centrado na origem. Tal figura representa a
característica do relé, para a qual:
U2 U 2 P jQ
Z R j X (1.38)
P jQ* P2 Q2
U 2P
R (1.39)
P2 Q2
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U 2Q
X (1.40)
P2 Q2
T K1 I 2 K2 U 2 K3 U I cos K4 (1.41)
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Relé de Impedância
Relé Ohm
T K1 I 2 K3 U I cos K 4 (1.42)
Z cos K (1.44)
A equação (1.44) representa uma reta no plano R–X, como indica a Fig. 1.29.
Vê-se que esta característica é aberta e ocupa uma área ilimitada no plano R-X. Isto constitui
um problema a ser solucionado, conforme será explicado mais adiante.
Relé de Reatância
Z cos ο Z sen K X K (1.45)
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Relé de Mho
T K3 U I cos K 2 U 2 K 4 (1.46)
K cos Z (1.48)
Esta equação representa no plano R–X uma circunferência de diâmetro K, passando pela
origem dos eixos, como é mostrado na Fig. 1.31.
7. Considerações Adicionais
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velocidades de operação, o atrito e inércia das partes móveis podem afetar o desempenho da
proteção. Isso também ocorre quando há operações repetidas, como no caso de sistemas com
religamento automático. No instante do religamento, não há tempo suficiente para as partes
móveis se recomporem no sentido de assumir a mesma posição que ocupavam antes da
ocorrência falta.
Um efeito que merece atenção especial é denominado sobrepercurso (overtravel, em inglês).
Mesmo que o torque de operação cesse de atuar antes do fechamento dos contatos do relé, o
movimento de rotação pode continuar por certo tempo, em face da inércia do rotor (cilindro ou
disco). Este efeito deve ser levado em conta na coordenação dos relés de sobrecorrente tipo
indução.
Bibliografia
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Capítulo II
Relés Estáticos
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1. Relés de Sobrecorrente
Quando a corrente primária se eleva além de certo valor, a tensão em R4 excede o nível
necessário para o corte de T1, o qual depende do ajuste do potenciômetro P2 e do ajuste de
tape de TCA. O transistor T1 corta, provocando o carregamento de C através de R2 e P1.
Quando a tensão em C excede certo valor (determinado pelo ajuste do potenciômetro P3), T2
conduz, o mesmo ocorrendo com T3. Assim, o relé auxiliar TR é energizado, ocasionando
disparo do disjuntor.
Foi anteriormente afirmado que o princípio de operação dos relés direcionais consiste na
comparação do ângulo de fase da corrente (grandeza de operação) em relação a uma tensão ou
corrente (grandeza de polarização). É mostrada na Fig. 2.3 uma unidade direcional baseada na
comparação de amplitudes, onde a condição de operação é:
U / ZI U / ZI UZI UZI (2.1)
O funcionamento deste circuito pode ser entendido mediante análise do diagrama fasorial
da Fig. 2.4.
A reta pontilhada vertical corresponde ao lugar geométrico descrito pelas extremidades dos
fasores U Z I quando o relé se acha na iminência de operação. O relé atuará se -90o < - <
90o, ou se -90o + < < 90o + . As regiões de operação e de não operação acham-se indicadas
no diagrama da Fig. 2.5.
O diagrama de blocos de outro modelo de unidade direcional é mostrado na Fig. 2.6, bem
como os sinais de saída dos diferentes módulos. O nível de atuação corresponde a um ângulo
de coincidência = 90o entre os dois sinais. É fácil ver que haverá sinal não nulo na saída do relé
se o ângulo de defasagem estiver compreendido na faixa - 90o < < 90o.
2. Relés de Distância
Os sinais de entrada S1 e S2 das equações (2.2) e (2.3) são obtidos através de combinações
lineares de diferentes sinais, como é indicado na Fig. 2.8.
Além dos TPs e TCs convencionais, são utilizados transformadores de características
específicas, denominados transactores. Um transactor consiste em um transformador de
núcleo magnético com entreferro, com o primário ligado diretamente ao secundário do TC. No
secundário se acha ligado um resistor que é submetido a uma tensão dada por:
U T ZT I (2.4)
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S2 K 2 U ZT 2 I (2.7)
Considera-se que:
U Ue j (2.8)
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I Ie j (2.9)
Assim, a impedância Z vista pelo comparador é dada por:
Z U / I U / I e j Z e j (2.10)
As impedâncias ZT1 e ZT2 são dadas por:
j 1
ZT 1 ZT 1 e (2.11)
j 2
ZT 2 ZT 2 e (2.12)
A condição para que haja sinal de disparo na saída de um comparador é que S2 ≥ S1, ou seja:
j 2
j 1
K 2 Z ZT 2 e K1 Z ZT 1 e (2.15)
K 1
2
K 22 Z 2 2Z K1 Z T 1 cos1 K 2 Z T 2 cos2 Z T21 Z T22 0 (2.19)
Esta inequação estabelece a condição de operação de um comparador de amplitude. A partir
da escolha apropriada de diferentes valores de K1, K2, ZT1 e ZT2, podem-se obter diversas
características do relé no plano R-X.
X Z sen (2.22)
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Z 2 R2 X 2 (2.23)
Assim, de (2.20):
K 2 R 2 K 2 X 2 2 K Z Z T 1 cos cos 2 K Z Z T 1 sen sen Z T21 Z T22 0 (2.24)
2 2 2
Z cos Z sen Z
R T1 X T1 T2 (2.27)
K K K
Esta inequação descreve um círculo no plano complexo R-X, como é mostrado na Fig. 2.10.
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K 2 Z 2 2 K Z ZT cos 0 (2.29)
Desenvolvendo o termo em cosseno e usando as expressões (2.21), (2.22) e (2.23):
2 ZT
R2 X 2 R cos X sen 0 (2.30)
K
2 2 2
Z cos Z sen Z T
R T X T (2.31)
K K K
Esta equação descreve a característica mostrada na Fig. 2.12.
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Chagas - DEE / UFCG
A característica desse relé pode ser obtida fazendo-se = 90o na Fig. 2.13. Assim, obtém-se a
característica da Fig. 2.14.
A característica direcional pode ser obtida a partir da característica mho da Fig. 2.12,
fazendo-se ZT / K suficientemente grande, como é indicado na Fig. 2.15.
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A combinação de duas características tipo mho produz o resultado mostrado na Fig. 2.18.
Características Poligonais
Essa característica é obtida a partir da associação de várias características tipo ohm (Fig.
2.13), como é mostrado na Fig. 2.21.
Bibliografia
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Capítulo III
Relés Digitais
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A Fig. 3.1 ilustra a arquitetura de um relé digital típico. As entradas analógicas compreendem
grandezas como tensões e/ou correntes, dependendo do tipo de relé. Um relé de
sobrecorrente requer três correntes de fase e a corrente residual 3I0 do circuito. Além dessas
correntes, um relé de distância requer as tensões fase-neutro de cada fase. Um relé diferencial
de barra pode requerer até 30 entradas. Os valores dessas grandezas no primário da rede são
reduzidos para 115/3 V e 5 A, mediante os TPs e TCs instalados no pátio da subestação.
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Chagas - DEE / UFCG
Os sinais de saída dos circuitos sample and hold são disponibilizados na entrada de um
multiplexador, cuja função consiste em selecionar os dados analógicos de entrada de forma
sequencial para o estágio seguinte (um por vez), o que permite a utilização de apenas um
conversor A/D, ocasionando economia e simplicidade no projeto. Sendo 1 ciclo equivalente a
16,67 ms e admitindo que a duração de uma varredura completa do multiplexador seja inferior
a 10 μs, o erro máximo gerado será de, no máximo, 0,02 graus. Este erro é desprezível, para
aplicação em relés.
O princípio de funcionamento de um multiplexador analógico é ilustrado na Fig. 3.4. O
circuito mostrado permite a aplicação de quatro sinais, um a cada instante, a uma carga
comum, mediante um arranjo de chaves controladas por pulsos gerados na sequência indicada.
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Para conversores A/D de, respectivamente, de 8 bits, 12 bits e 16 bits, com faixa dinâmica de
10 V, tem-se os valores de R, R% e E% mostrados na Tabela 3.1.
Os conversores com resolução vertical de 12 bits são os mais aplicados em proteção, pois
são relativamente baratos e oferecem boa precisão, com tempos médios de 25 µs. Conversores
de 8 bits, menos precisos e mais baratos, são utilizados em relés de sobrecorrente. Conversores
de 16 bits são também utilizados.
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Memórias
A memória volátil RAM (Read Only Memory) funciona como buffer (rascunho) para
armazenamento temporário dos valores de entrada, para acumular resultados intermediários
dos programas de proteção e para armazenar dados a serem guardados posteriormente em
memória EEPROM.
A memória não volátil ROM (Read Only Memory) é utilizada para armazenagem permanente
de programas do relé digital, como as rotinas relacionadas ao algoritmo matemático de
detecção e classificação de defeitos. Essas rotinas também são denominadas firmware. As
memórias ROM permitem apenas a leitura, ou seja, as suas informações são gravadas pelo
fabricante uma única vez. Após isso, não podem ser alteradas ou apagadas, somente acessadas.
A memória não volátil EEPROM (Electronically-Erasable Programmable Read-Only Memory)
é utilizada para armazenagem dos parâmetros de ajustes do relé ou outros dados importantes
que não são modificados com grande frequência. Uma EEPROM pode ser programada e
apagada eletricamente várias vezes.
de surtos de tensão. O número de entradas e saídas depende do tipo de relé e deve ser
especificado pelo comprador.
Portas de Entrada/Saída
As portas seriais permitem a introdução de dados para ajustes dos valores dos parâmetros
de atuação do relé, bem como o fornecimento de dados relacionados a registros oscilográficos,
e outras tarefas. Na interface serial, os bits são transferidos em fila (um bit de cada vez).
As portas paralelas proporcionam permitem o intercâmbio de informações em tempo real.
Na comunicação em paralelo, grupos de bits são transferidos simultaneamente a cada ciclo
através de diversas linhas condutoras dos sinais. Com essa forma de transmissão, a taxa de
transferência de dados é bastante alta.
Os relés modernos normalmente possuem teclado e display de cristal líquido frontal, de
forma a permitir que os ajustes possam ser implantados diretamente, sem necessidade de
utilização de microcomputadores externos (laptops, PCs, etc.). Também são equipados com
LEDs para a sinalização local de atuação das funções principais.
A fonte de tensão contínua destinada à alimentação dos circuitos do relé, normalmente do
tipo chaveado, possui valores típicos de + 5V e + 15 V.
2. Teorema da Amostragem
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Chagas - DEE / UFCG
Assim, para que não ocorra o aliasing, devem ser empregados filtros passa-baixas com
frequência de corte igual à metade da taxa amostral dos conver-sores A/D. Em relés de
proteção, para a taxa de amostragem de 960 amostras por segundo, a frequência de corte deve
ser igual ou inferior a 480 Hz.
i I m sent i (3.7)
u'
U m cost u (3.8)
i'
I m cost i (3.9)
Combinando (3.6) e (3.8) bem como (3.7) e (3.9), obtém-se:
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Chagas - DEE / UFCG
2
u'
Um u2 (3.10)
2
i'
2
Im i (3.11)
Assim, o módulo da impedância vista pelo relé é dado por:
Um
Z (3.12)
Im
i sen t i
tg t i (3.14)
i ' cos t i
u 1 i
u i tg 1 tg (3.15)
u' i'
Essas expressões precisam ser discretizadas para que sejam aplicáveis aos algoritmos
processados pelo relé digital.
Considerando um processo de aquisição de sinais com intervalo de amostragem h e três
amostras consecutivas de tensão e três de corrente, tem-se:
uk 1 uk 1
uk, (3.16)
2h
ik 1 ik 1
ik, (3.17)
2h
(uk 1 uk 1 ) 2
U m uk2 (3.18)
(2 h) 2
(ik 1 ik 1 ) 2
2
Im i k (3.19)
(2 h) 2
u k h ik h
tg 1 tg 1 (3.20)
uk 1 uk 1 ik 1 ik 1
O processamento desse algoritmo requer o uso de uma janela de dados, como é mostrado
na Fig. 3.7. No instante de ocorrência da falta verifica-se o afundamento de tensão indicado. A
48
Chagas - DEE / UFCG
forma de onda é amostrada a uma taxa de 12 amostras por ciclo e a janela contém 3 amostras.
A janela é móvel ou deslizante, pois quando uma nova amostra é lida, a mais antiga é
descartada.
di(t )
u (t ) K RT i (t ) LT (3.21)
dt
A corrente de defeito apresenta uma forma de onda do seguinte tipo:
i(t ) I P e t / T sen t iCC (t ) iCA (t ) (3.22)
1
u (t ) K RT I P e t / T LT I P e t / T uCA (t ) (3.23)
T
RL
u (t ) K I P e t / T RT T uCA (t ) (3.24)
L
Fazendo RT = R e LT = L, tem-se u(t) = uCA(t). Assim, a tensão fornecida pela a impedância
mímica não contém a componente contínua relacionada à corrente de curto-circuito. Na
prática, o casamento de impedâncias não é perfeito, pois a resistência do defeito, incluindo o
arco, pode alterar de modo significativo o valor de R, principalmente para faltas muito
próximas do relé. Além disso, a impedância mímica pode amplificar ruídos de altas frequências,
problema que é contornado pelos filtros anti-aliasing.
Atualmente, existem inúmeras técnicas mais eficientes que a descrita. Os algoritmos mais
utilizados têm como base a transformada discreta de Fourier e a técnica de mínimos
quadrados.
50
Chagas - DEE / UFCG
As curvas tempo versus corrente do tipo inverso são mostradas na Fig. 3.11, para ajustes
multiplicadores de tempo Tm variando de 0,05 a 1.
52
Chagas - DEE / UFCG
100.00
10.00
Tempo, t ( s )
1
1.00
0.4
0.3
0.2
0.1
0.10
0.05
0.01
1000.00
100.00
(d)
10.00
(a)
Tempo, t ( s )
1.00 (b)
(e)
0.10
(c)
0.01
0.00
Fig. 3.12. Tipos de curva - (a) Inversa; (b) muito inversa; (c) extremamente
inversa; (d) tempo longo; (e) tempo curto.
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5. Considerações Adicionais
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Bibliografia
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