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CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Processo Administrativo Disciplinar n° 1.00654/2018-15


Relator: Erick Venâncio Lima do Nascimento
Requerente: Corregedoria Nacional do Ministério Público
Requerido: Francisco Raulino Neto

RELATÓRIO

Trata-se de Processo Administrativo Disciplinar (PAD) instaurado pela

Documento assinado via Token digitalmente por ERICK VENANCIO LIMA DO NASCIMENTO, em 06/09/2018 15:52:35.
Corregedoria Nacional do Ministério Público contra Membro do Ministério Público do Estado
do Piauí em virtude da prática, em tese, de falta funcional punível com suspensão de noventa
dias (artigo 155, II1 ), já que há indícios suficientes de cometimento da infração disciplinar
por violação aos deveres de manter ilibada conduta pública (art. 82, inciso I), zelar pelo pres-
tígio da Justiça, e pela dignidade de suas funções (inciso II), desempenhar com zelo suas fun-
ções (inciso VI), declarar-se suspeito nos termos da Lei (inciso VII); além da prática de crime
contra a administração pública (art. 150, VIII ).

O presente processo administrativo disciplinar foi instaurado por meio


da Portaria CNMP-CN nº. 171, de 13 de julho de 2018, , em que ficaram consignadas as
seguintes determinações:
1. Instaurar Processo Administrativo Disciplinar em face de
FRANCISCO RAULINO NETO, Promotor de Justiça do Ministério
Público do Estado do Piauí, em razão do seguinte fato que, em tese,
configura infração disciplinar:

Consta dos documentos extraídos dos autos da reclamação disciplinar


de nº 1.01117/2017-57, que, entre os dias 30 de maio e 7 de junho de
2018, FRANCISCO RAULINO NETO, na condição de Promotor de
Justiça, com consciência e vontade, praticou violação de deveres fun-
cionais, porque, contra disposição expressa de lei, realizou ato de ofí-
cio para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, visto que indevida-
mente manifestou-se em inquérito policial no qual não tinha atribui-
ções e no qual era suspeito em razão de amizade com o investigado, e
nele requereu indevidamente o arquivamento contra circunstâncias fá-
ticas e documentais contidas nos autos. Ainda, no mesmo ato, alegou

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insuficiência de provas como motivo do arquivamento em relação a


uma das vítimas, porém elencou as diligências faltantes, todas plena-
mente realizáveis, deixando de realizá-las diretamente ou determinar à
autoridade policial sua realização.
Consta da reclamação, deflagrada mediante representação da Correge-
doria-Geral do Ministério Público do Piauí, que, no inquérito policial
de nº 0004775- 58.2017.8.18.0140, se apurava a prática de crime do
art. 215 do Código Penal, várias vezes, pelo médico FELIZARDO
BATISTA tendo como vítimas suas pacientes. Informou a Corregedo-
ria de origem que o Membro imputado recebeu os autos do inquérito
policial no dia 30 de maio de 2017 oriundo da central de distribuição
de inquéritos e que, no dia 5 de junho, foi devolvido com a promoção
de arquivamento formulado em petição de 37 laudas. Ocorre que o im-

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putado não estaria mais respondendo pela 53ª Promotoria de Justiça de
Teresina e não teria mais atribuição para oficiar no inquérito, já que,
no dia 31 de maio de 2017, a sua portaria de designação havia sido re-
vogada e ele teria sido cientificado da revogação por correio eletrôni-
co institucional em 2 de junho de 2017. Além disso, teria causado pro-
funda estranheza que, em 21 de junho de 2017, a Corregedoria de ori-
gem havia detectado e instaurado pedido de providências para apurar
demora na atuação do imputado em inquéritos policiais, uma vez que
o mesmo deixou mais de 300 processos sendo 47 deles com réus pre-
sos e com prazo expirado sem nenhuma manifestação. Tais dados do-
cumentais evidenciariam que o imputado foi desproporcionalmente
“diligente” com o inquérito policial supramencionado, enquanto prio-
ridades inequívocas (processos com réus presos) eram deixados ao
abandono. Para agravar a situação, o desvelo com o inquérito policial
não foi à toa. O investigado naqueles autos era pessoa de sua amizade,
fato comprovado cabal e documentalmente pela página do próprio im-
putado na rede social Facebook, em que FELIZARDO BATISTA não
apenas consta como amigo do imputado como também de quatro dos
familiares do Membro. Corroborando a conduta de favorecimento à
pessoa de sua amizade, depoimentos de três servidores das Promotori-
as da Central de Inquéritos de Teresina-PI provam que o imputado de-
monstrou inusual interesse pelo inquérito referente ao investigado Fe-
lizardo Batista. Com efeito, as testemunhas Clerton Soares de Moura
Oliveira, Michel Miranda da Silva, e Lucas Araújo Alves Pereira nar-
ram com clareza que o imputado compareceu pessoalmente à sala de
triagem da Central de Inquéritos e solicitou especificamente o inquéri-
to policial em que era investigado seu amigo Felizardo Batista. O im-
putado pediu o inquérito a servidores do MPPI antes mesmo que este
viesse com carga à Instituição. Acrescente-se que a testemunha Mi-
chel ainda narrou que o imputado declarou à vista dos presentes que
Felizardo seria um “injustiçado”. O imputado ainda fez constar em sua
promoção de arquivamento a data de 31 de maio de 2017, justamente
a data em que foi editada Portaria na qual se determinava a cessação
de suas atribuições na Promotoria em que estava distribuído o inquéri-
to policial. No mesmo dia, foi designado outro Promotor de Justiça
para atuar na 53ª Promotoria de Justiça, conforme portarias anexadas

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aos autos. Adentrando no conteúdo da manifestação em que o imputa-


do requereu o arquivamento do inquérito policial, mister se faz atentar
que se tratava de apuratório versando sobre a prática de crimes sexuais
contra várias vítimas. Em relação à maioria, o imputado requereu o ar-
quivamento sob o fundamento de decadência do direito de representa-
ção. Contudo, ao menos em relação a uma das vítimas, o fundamento
foi ausência de provas (...)
Estranhamente, embora elencasse as diligências necessárias e todas
fossem facilmente realizáveis, o imputado não as realizou nem tam-
pouco baixou os autos à autoridade policial para que o fizesse, nos ter-
mos do art. 16 do Código de Processo Penal. Nem ao menos ofereceu
denúncia requerendo em cota fossem realizadas as diligências em Juí-
zo. Em que pese a negativa do Membro com relação às imputações, os

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elementos de prova contidos nos autos evidenciam a prática de infra-
ção disciplinar. Em primeiro lugar, resta devidamente provada a ami-
zade entre o imputado e Felizardo Batista. Consta dos autos que não
apenas o imputado e Felizardo Batista são amigos na rede social Face-
book como quatro familiares do primeiro também são amigos do se-
gundo (Yvelise Raulino, Patrícia Raulino, João Victor de Oliveira
Raulino e Rosangela Raulino). (...)
A alegação do imputado de que o indiciado não era amigo próximo,
mas tão somente “amigo de Facebook” não lhe favorece. Se o indicia-
do era amigo de redes sociais do imputado e até mesmo de vários fa-
miliares deste, o mínimo que se conclui é que era pessoa que, muito
longe de lhe ser estranha, gozava de um apreço e proximidade, aptos a
configurar amizade íntima ensejadora de suspeição (CPP, art. 258 c/c
art. 254, I). Com efeito, há que se ressaltar que se aplica a toda a Ad-
ministração Pública, e com muito mais razão ao Ministério Público,
fiscal da Constituição e defensor da sociedade, o conhecido brocardo
segundo o qual à mulher de César não basta ser honesta, deve também
assim parecer aos olhos de todos. A máxima acima é deveras aplicável
ao se tratar dos institutos da suspeição e do impedimento. O próprio
STJ, inclusive, examinando esta questão, já flexibilizou de modo am-
pliativo o alcance desse dispositivo, permitindo a declaração de sus-
peição do Juiz até mesmo com base no preceito genérico inscrito no
art. 145, IV, do CPC/2015, que contempla a hipótese do Juiz “interes-
sado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes” 10.
Assim, além de serem honestos, os membros do Ministério Público
devem também parecer honestos, e disso se esqueceu o imputado ao
atuar em inquérito no qual era investigado seu amigo Felizardo. Re-
corde-se, porque oportuno, que o Conselho Nacional do Ministério
Público, visando proteger o próprio Membro de constrangimentos in-
devidos, já decidiu, com lastro em arestos do STF11, ser descabida a
exigência de exposição do motivo da suspeição ao órgão correcional
para fins de controle, a fim de evitar ao Membro “optar por uma atua-
ção temerária a ter que revelar algo que lhe causasse constrangimentos
de ordem pessoal” 12. Ou seja, tudo a fim de facilitar uma discreta de-
claração de suspeição, preservando a ordem jurídica, a sociedade, a
imagem do Ministério Público e do próprio Membro. Porém, contra

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tudo isso agiu o imputado, que requereu o arquivamento do inquérito


policial, com isso obtendo a impunidade do indiciado Felizardo, sendo
o favorecimento indevido comprovado por inúmeras evidências: 1) o
imputado, durante curtíssimo período em que permaneceu como de-
signado no órgão de execução ao qual havia sido distribuído o inquéri-
to, agiu de forma dedicada para obter autos de inquérito policial, autos
estes que ainda não haviam chegado às suas mãos e sequer haviam
dado entrada ao Ministério Público; 2) durante esse curtíssimo período
de alguns dias, após, obter os autos, o imputado redigiu pedido de ar-
quivamento de mais de 37 (trinta e sete) páginas; 3) o imputado se
deslocou pessoalmente à Central de Inquéritos e lá solicitou aos servi-
dores especificamente o inquérito em que era investigado Felizardo
Batista; 4) o imputado declarou a servidor do Ministério Público,

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quando pediu os autos do inquérito, que considerava Felizardo um
“injustiçado”; 5) como visto acima, na promoção de arquivamento,
conquanto o imputado tenha identificado inúmeras diligências que de-
veriam ser realizadas pela autoridade policial (diligências estas que
eram plenamente realizáveis, a exemplo de oitivas de pessoas conheci-
das e localizáveis) requereu o arquivamento em relação a uma das ví-
timas tendo como fundamento a insuficiência de provas, omitindo-se
do dever de realizar ele mesmo tais diligências ou proceder na forma
do art. 16 do CPP, baixando os autos à autoridade policial; 6) o arqui-
vamento foi datado de 31 de maio de 2017, mesmo dia em que foi
emitida Portaria revogando a designação do imputado no órgão de
execução em que tramitava o inquérito e designando outro Promotor
de Justiça para atuar em seu lugar; 7) ao mesmo tempo em que era ex-
tremamente diligente com o inquérito de seu amigo Felizardo, o impu-
tado deixou mais de 300 (trezentos) de inquéritos e processos crimi-
nais sem manifestação, sendo 47 (quarenta e sete) deles com réus pre-
sos além do prazo legal.
Desse modo, configurado o crime de prevaricação (art. 319 do Código
Penal), além de ato de improbidade administrativa na modalidade vio-
lação dos princípios que regem a Administração Pública (art. 11, ca-
put, da Lei 8.429/1992), notadamente aos deveres de honestidade, im-
parcialidade, legalidade, e lealdade à Instituição. No plano disciplinar,
ocorreu, em tese, violação aos deveres funcionais de manter ilibada
conduta pública, zelar pelo prestígio da Justiça, e pela dignidade de
suas funções, desempenhar com zelo suas funções e declarar-se sus-
peito nos termos da Lei. 2. Indicar, atendendo à exposição circunstan-
ciada acima realizada, a ocorrência de infração disciplinar aos deveres
de manter ilibada conduta pública (art. 82, inciso I), zelar pelo prestí-
gio da Justiça, e pela dignidade de suas funções (inciso II), desempe-
nhar com zelo suas funções (inciso VI), declarar-se suspeito nos ter-
mos da Lei (inciso VII); além da prática de crime contra a administra-
ção pública (art. 150, VIII13), ensejadora da sanção de suspensão de
noventa dias (artigo 155, II14), todos da Lei Complementar Estadual
12/1993, Lei Orgânica do Ministério Público do Piauí. (...)”

Foram apensados ao presente procedimento administrativo disciplinar

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os autos da Reclamação Disciplinar nº 1.01117/2017-57, com todos os elementos de


informação que deram origem à respectiva Portaria de instauração.

Referida reclamação foi instaurada a partir do encaminhamento pelo


Corregedor-Geral do MP/PI de representação apresentada pelo Delegado-Geral de Polícia
Civil do Estado do Piauí, Riedel Batista dos Santos Reinaldo, que solicitou ao órgão
correcional do Ministério Público do Piauí, por meio do Ofício n. 12.102-1551/GDG/17, de 5
de julho de 2017, que adotasse providências disciplinares contra o Dr. Francisco Raulino
Neto, promotor de justiça titular da 37ª Promotoria de Justiça de Teresina-PI e que respondia

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pela 53ª Promotoria de Justiça de Teresina-PI.

O Corregedor-Geral apontou o que segue:


1. O promotor de justiça Francisco Raulino Neto teria buscado
informações acerca do inquérito envolvendo o Sr. Francisco Felizardo, supostamente seu
amigo, antes mesmo do feito ter chegado ao Ministério Público;
2. Antes de analisar os autos do inquérito policial relativo ao Sr.
Francisco Felizardo, em que poderia, potencialmente, vir a se pronunciar oficialmente, já teria
expressado juízo de valor em benefício do indiciado;
3. Referido inquérito policial teria sido devolvido em 05 de junho
de 2017, quando promotor de justiça não possuiria mais atribuição para atuar no feito;
4. Foi noticiado que o promotor requerido datou a referida
promoção de arquivamento do inquérito policial como sendo do dia 31.05.2017, justamente
na data que sua respondência pela 53ª Promotoria de Justiça cessou;
5. A documentação disponível indica que, no período em que o
promotor de justiça respondeu pela 53ª Promotoria, teria deixado mais de trezentos processos,
sendo quarenta e sete processos judiciais com réu/indiciados presos com prazo expirado e sem
nenhuma manifestação, exatamente no período em que cuidou de promover o arquivamento
do inquérito policial referido pelo Delegado-Geral e que tinha como indiciado, o Sr. Felizardo
Batista, supostamente seu amigo íntimo;
6. Há informação de que as manifestações de arquivamento do
Promotor de Justiça, quando da respondência pela 53ª Promotoria, eram concisas, enquanto a
promoção de arquivamento questionada havia sido extensa.

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7. Por fim, afirma que para evitar qualquer alegação de


parcialidade ou de falta de isenção da Corregedoria-Geral do Ministério Público do Piauí,
encaminhou o ofício da lavra do Delegado-Geral de Polícia Civil do Estado do Piauí para a
adoção das medidas legais cabíveis por este CNMP, quanto à eventual prática de violação de
dever funcional por parte do promotor de justiça.

O reclamado apresentou defesa nos seguintes termos:


1. Avaliar a existência de uma amizade íntima pelo simples fato de

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que duas pessoas são “amigas no facebook” ou foram indicadas para ser “adicionado aos
amigos”, repetimos, é um tremendo equívoco.
2. Verdadeiros amigos se conhecem bem, sabem onde cada um
mora, frequentam-se, encontram-se, saem para restaurantes etc. O Promotor de Justiça
FRANCISCO RAULINO NETO não sabe sequer o endereço de médico FRANCISCO
FELIZARDO, por isso mesmo não poderia frequentá-lo. Não bastasse, não se encontram, não
se comunicam e nem possuem qualquer relacionamento social ou familiar.
3. nenhum depoimento ou fato trazido ao Inquérito Policial deixou
de ser analisado e confrontado com outros fatos, como os depoimentos das atendentes e as
indicações do médico indiciado por outros médicos às suas pacientes, apontadas como
vítimas.
4. a manifestação apresentada pela suposta vítima NATHÁLIA
DANIELLE MACHADO SANTOS foi efetivamente apreciada pelo Promotor de Justiça que,
analisando e confrontado todas as provas existentes nos autos, de maneira individual e
também dentro do contexto geral, não por fragmentos ou contextos, formou convicção da
necessidade de Arquivamento;
5. a mensagem encaminhada por “email” em 2 de junho de 2017,
cientificando o promotor requerido da revogação da Portaria de designação para atuar na 53ª
Promotoria, não foi lida pelo Promotor de Justiça, que à época estava responsável pelos
processos de seis Promotorias de Justiça;
6. O Diário da Justiça nº 8.221, com a revogação da Portaria nº
801/2017, pela Portaria 1.255/2017, somente foi PUBLICADO NO DIA 06/06/2017,

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conforme documentação anexa;


7. O Pedido de Providência n. 50/2017 foi arquivado por se
constatar falha que adveio da Tecnologia da Informação que resultou na desigual distribuição
dos processos;
8. Segundo o servidor Breno Reis do Nascimento: “(...) por erro de
configuração nos contadores do Sistema SIMP, o Dr. RAULINO passou a receber todos os
processos distribuídos de forma automática para a 53ª PJ da Capital, ou seja, houve um erro
de configuração por parte da Coordenadoria de Tecnologia da Informação; que o Depoente

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fez a inclusão do Dr. RAULINO como responsável pela 53ªPJ no SIMP; que, ao incluir o Dr.
RAULINO como responsável pela 53ª PJ, o Depoente fez constar o contador de ‘notícias de
fato’ do Núcleo das Promotorias de Família e Sucessões para a 37ª PJ (da qual o Dr.
RAULINO é o titular) como sendo o contador também da 53ª PJ, o que levou o desequilíbrio
da distribuição para a 53ª PJ de Teresina (...); que tão logo a Coordenadoria de Tecnologia da
Informação do MPPI foi comunicada, pelo Ofício n 143/2017-MPJC, de 5 de junho de 2017,
firmado pela Dra. RITA DE FÁTIMA, Coordenadora do Núcleo das Promotorias Criminais
de Teresina-PI, do desequilíbrio na distribuição de feitos à 53ª PJ, o equívoco foi corrigido no
dia 9 de junho de 2017 com alteração do contador que havia sido configurado de forma
indevida; que o problema foi solucionado e a 53ª PJ passou a não receber processos
distribuídos de forma automática até equilíbrio da quantidade de processos em relação às
outras Promotorias da Central de Inquéritos, conforme ofício n. 04/2017-CTI”.
9. A Corregedoria Geral do Ministério Público do Estado do Piauí,
no exercício do poder de diligência, realizou a oitiva de três auxiliares das Promotorias da
Central de Inquérito do Ministério Público. Os depoimentos dos três auxiliares das
Promotorias de Justiça da Central de Inquéritos foram, em parte, deturpadores da realidade,
omissos, contraditórios e inverídicos. Como declarações contraditórias citou, por exemplo, as
seguintes falas dos declarantes:
“CLERTON, falando sobre um processo que sequer existia, disse: “que
o Declarante procurou no Sistema de Consulta Processual
“ThemisWeb” do Tribunal de Justiça do Piauí e verificou que não havia
sido distribuído ao Ministério Público, tendo o Declarante dito ao Dr.

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RAULINO que no momento em que o processo chegasse ao Ministério


Público avisaria a ele (Dr. RAULINO)”. (Destaque nosso).
Sobre esse fato, falou MICHEL: “que o CLERTON informou ao Dr.
RAULINO que o procedimento, onde figurava FRANCISCO
FELIZARDO como investigado, ainda não se encontrava no Ministério
Público; que, então, o Dr. RAULINO solicitou ao CLEITON que tão
logo procedimento chegasse o informasse acerca do paradeiro”.
(Destaque nosso).

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Vejamos, por fim, as palavras de LUCAS sobre o mesmo assunto: “que
o servidor CLERTON tentou localizar o processo no SIMP, mas
verificou que o processo ainda não estava no Ministério Público; que,
em seguida, o servidor CLERTON procurou informação no Sistema
ThemisWeb do Tribunal de Justiça do Piauí e verificou que o processo
ainda se encontrava no Fórum Criminal; que o servidor CLERTON
imprimiu o extrato do sistema ThemisWeb e entregou para o Promotor
RAULINO.”
10. Como poderia o Promotor de Justiça ter mencionado que o
médico FRANCISCO FELIZARDO estava sendo injustiçado se não havia processo
instaurado contra ele, em relação a uma suposta prática delitiva?
11. Em relação ao número de laudas afirma: “Até por uma questão
lógica, não se pode comparar um inquérito policial envolvendo apenas uma pessoa apontada
como indiciada e outra como vítima com um inquérito policial que contém dois supostos
indiciados e nove supostas vítimas. As peças que pugnam pelo arquivamento de um e de outro
inquérito jamais poderiam ter a mesma extensão, até porque no caso do inquérito policial
envolvendo o médico FRANCISCO FELIZARDO todas as provas apresentadas foram
exaustivamente analisadas”;
12. Promoveu o arquivamento por duas razões: “(1ª) o inquérito foi
mal instruído e não compete ao Promotor de Justiça ensinar a uma Delegada de Polícia (que
inclusive estava de licença para tratamento de saúde quando assinou o relatório do inquérito
policial) como trabalhar corretamente (doc. 15); (2ª) a Delegada de Polícia requereu prazo

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para a realização de novas diligências, juntou as provas que julgava necessárias e encerrou o
inquérito policial, com a elaboração do relatório. Pronto.
13. Nunca houve, por parte do Promotor de Justiça FRANCISCO
RAULINO NETO, a exteriorização de qualquer juízo de valor em relação a processo onde
atue, nem antes nem após a promoção de arquivamento;

A Corregedoria Nacional instaurou o presente PAD ad referendum do


Plenário contra o Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Piauí Francisco

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Raulino Neto, titular da 37ª Promotoria de Justiça de Teresina/PI.

Nesse sentido, determinei a intimação pessoal do Promotor de Justiça


do Estado do Piauí, Francisco Raulino Neto, para cientificá-lo da submissão da instauração
do presente feito ao referendo do Plenário deste Conselho Nacional na 12ª Sessão Plenária
deste CNMP, a realizar-se na data de 14.08.2018.

É relatório.

VOTO

A controvérsia posta resume-se ao seguinte fato: supostamente o

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promotor de justiça FRANCISCO RAULINO NETO praticou violação de deveres funcionais


por ter realizado ato de ofício para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, visto que
indevidamente manifestou-se em inquérito policial no qual não tinha atribuições e no qual era
suspeito em razão de amizade com o investigado, e nele requereu indevidamente o
arquivamento contra circunstâncias fáticas e documentais contidas nos autos. Ainda, no
mesmo ato, alegou insuficiência de provas como motivo do arquivamento em relação a uma
das vítimas, porém elencou as diligências faltantes, todas plenamente exequíveis, deixando de
realizá-las diretamente ou determinar à autoridade policial sua produção.

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Verifica-se dos autos que a Corregedoria-Geral de origem encaminhou
o ofício da lavra do Delegado-Geral de Polícia Civil do Estado do Piauí para a adoção das
medidas legais cabíveis por este CNMP, quanto à eventual prática de violação de dever
funcional por parte do promotor de justiça Francisco Raulino Neto, sob o argumento de evitar
qualquer alegação de parcialidade, tendo em vista que o Corregedor-Geral e dois de seus
assessores (promotores de justiça Rodrigo Roppi de Oliveira e João Malato Neto) encontram-
se respondendo a uma demanda no âmbito deste CNMP (Reclamação Disciplinar n.
1.00268/2017-42), onde figura como recorrente o Dr. Francisco Raulino Neto, o qual aduz ser
vítima de perseguição pela Corregedoria-Geral do Estado do Piauí.

Consta documentação nos autos da reclamação disciplinar, que trouxe


os fundamentos para a instauração do presente PAD, as seguintes informações:

1. A Portaria PGJ/PI n. 1255/2017 revogou a Portaria PGJ/PI n.


801/2017, que designou o promotor de justiça Francisco Raulino Neto, titular da 37ª
Promotoria de Justiça de Teresina, para responder pela 53ª Promotoria de Justiça de Teresina,
em 31 de maio de 2017.
2. A Portaria PGJ/PI n. 1256/2017 designou o promotor de justiça
Jorge Luiz da Costa Pessoa para responder pela 53ª Promotoria de Justiça de Teresina em 31
de maio de 2017.
3. Em 2 de junho de 2017 foi encaminhada a Portaria PGJ/PI n.

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1255/2017 para o e-mail institucional do promotor de justiça Francisco Raulino Neto, dando-
lhe conhecimento, no entanto, não há confirmação de recebimento.
4. A Portaria PGJ/PI n. 1255/2017 foi publicada em 6 de junho de
2017.
5. O Pedido de Providências n. 50/2017, que foi instaurado em
virtude de acúmulo de procedimentos judiciais na 53ª Promotoria de Justiça de Teresina em
razão de distribuição desigual dos feitos oriundos da Vara da Central de Inquéritos da Capital,
foi arquivado, tendo-se entendido pela inexistência de indício de descumprimento dos deveres

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estatuídos no art. 82 da Lei Complementar Estadual n. 12/93 por parte do promotor de justiça
Francisco Raulino Neto.
6. No parecer do promotor de justiça Francisco Raulino Neto que
trata do processo n. 0004775-58.2017.8.18.0140 (violência sexual mediante fraude) consta:
data de entrega ao MP: 30.05.2017 e data da promoção de arquivamento: 31.05.2017.
7. O Corregedor-Nacional solicitou várias informações à
Corregedoria-Geral do Piauí, entre elas a indicação da quantidade de feitos em que o membro
reclamado se manifestou no período em que esteve designado para responder pela 53ª
Promotoria de Justiça, bem como a quantidade de feitos em que se manifestou na mesma
promotoria, após o término do período de sua designação.
8. O Corregedor-Geral informou: a. que no período em que
respondeu pela 53ª PJ de Teresina, ou seja, de 20 de abril a 02 de junho de 2017, o Reclamado
despachou 130 (cento de trinta) feitos da 53ª Promotoria de Justiça de Teresina, sendo 07
(sete) arquivamentos, 117 (cento e dezessete) manifestações e 06 (seis) ciências (relatório de
produtividade do SIMP); b. o promotor de justiça requerido despachou, após o término do
período de sua designação, 05 (cinco) feitos, os quais 04 (quatro) foram entregues em
05.06.2017, entres estes o Processo n. 0004775-58.2017.8.18.0140 relativo ao inquérito
policial acerca de violação sexual mediante fraude, e 01 (um) foi entregue no dia 13.06.2017.
9. O promotor de justiça que assumiu a 53ª Promotoria de Justiça
de Teresina, após o requerido, informou que havia entrado em exercício em 02 de junho de
2017, tendo tomado conhecimento da existência de 521 (quinhentos e vinte e um) processos,
distribuídos à 53ª Promotoria de Justiça. Informou ainda que em 05 de junho foi devolvido

Procedimento Administrativo Disciplinar N° 1.00654/2018-15 12


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parte do acervo, constando nele vários processos de réus presos sem qualquer manifestação.
10. A Corregedoria-Geral de origem realizou oitiva de três
auxiliares das Promotorias da Central de Inquéritos do Ministério Público do Estado do Piauí,
que afirmaram que em data não precisada do mês de maio de 2017, o Promotor de Justiça
Francisco Raulino Neto, que respondia pela 53ª Promotoria de Justiça do Estado do Piauí,
compareceu à sala de triagem da central de inquéritos do Ministério Público e buscava
informações referentes ao procedimento policial onde figurava como investigado Francisco
Felizardo e que um deles, chamado Michel Miranda da Silva, declarou que: (...) além da

Documento assinado via Token digitalmente por ERICK VENANCIO LIMA DO NASCIMENTO, em 06/09/2018 15:52:35.
informação do procedimento policial mencionado, não lembra com clareza o que mais o Dr.
Raulino conversou ou disse ali, mas pode afirmar que, durante a conversa acerca do
procedimento em questão, o Dr. Raulino chegou a falar a palavra ‘INJUSTIÇADO’; que o
Declarante estava dividindo sua atenção com as atividades de triagem que desenvolvia no
local, por isso não sabe precisar se a palavra dita pelo Dr. RAULINO, ou seja, a palavra
‘INJUSTIÇADO’ se referia à pessoa do Sr. FRANCISCO FELIZARDO (...)”; já o declarante
chamado Lucas Araújo Alves Pereira afirmou: “(...) que, durante o tempo em que o servidor
CLERTON estava procurando no computador o paradeiro do processo do médico, o Dr.
RAULINO, ainda na sala de triagem, disse as seguintes palavras: ‘ESTE RAPAZ ESTÁ
SENDO INJUSTIÇADO’!”.

Em esclarecimentos adicionais, o Procurador-Geral de Justiça


apresentou as seguintes informações:
1. A 53ª Promotoria de Justiça de Teresina foi instalada a partir da
Portaria PGJ-PI nº 801, de 20 de abril de 2017, tendo sido o promotor de justiça Francisco
Raulino Neto designado para nela oficiar, portanto, inexistia acervo processual até aquela
data.
2. Segundo correspondência eletrônica da Coordenadoria de
Tecnologia da Informação – CTI, o Sistema Integrado do Ministério Público – SIMP teria
registrado no intervalo de 20 de abril de 2017 a 02 de junho de 2017 um total de 687
(seiscentos e oitenta e sete) processos recebidos pela 53ª Promotoria de Justiça de Teresina.
3. Após retificação de erros na distribuição dos processos,

Procedimento Administrativo Disciplinar N° 1.00654/2018-15 13


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verificou-se que a quantidade correta seria 387 (trezentos e oitenta de sete) processos.
4. O mesmo SIMP, computou a saída de 123 (cento e vinte e três)
processos da 53ª Promotoria de Justiça de Teresina.
5. Inexiste no SIMP ferramenta capaz de emitir relatório acerca da
quantidade de processos recebidos com prioridade ou a quantidade de feitos com prioridade
que foram despachados no intervalo acima referido.
6. No final do intervalo de 20 de abril de 2017 a 02 de junho de
2017 restaram 264 (duzentos e sessenta e quatro) processos.

Documento assinado via Token digitalmente por ERICK VENANCIO LIMA DO NASCIMENTO, em 06/09/2018 15:52:35.
7. Inexiste possibilidade de mensurar, dentre os 264 (duzentos e
sessenta e quatro), a quantidade de processos com réus presos.

Foi informado ainda acerca do histórico do andamento do processo n.


0004775-58.2017.8.18.0140, que foi arquivado pelo promotor de justiça requerido, o que
segue:

1. Em 15.03.2017 recebido na 50ª Promotoria de Justiça de


Teresina.
2. Em 20.03.2017 – despacho – prorrogação de prazo para
investigação (manifestação favorável ao pedido de dilação de prazo feito pela autoridade
policial).
3. Em 30.05.2017 recebido no Centro de Distribuição Criminal de
Teresina; redistribuído: 53ª Promotoria de Justiça de Teresina, promotor de justiça: Francisco
Raulino Neto por distribuição automática.
4. Em 05.06.2017 12:36:09 – movimento: atos finalísticos –
manifestação; descrição: “Em que pese o esforço empreendido pela autoridade policial, que
chegou a requer e a empreender novas diligências, não se conseguiu provar a existência do
crime apontado. Assim diante da incerteza existente nos autos, bem como a falta de
dados consistentes a autorizar o início da ação penal pública condicionada, este órgão
opina pelo arquivamento do presente inquérito policial”.
5. Em 05.06.2017 17:09:58 – movimento: atos comuns –

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movimentos internos – transferência de distribuição; descrição: Promotoria: 53ª Promotoria


de Justiça - Teresina - Promotor: Jorge Luiz da Costa Pessoa - Tipo de Distribuição: Em
Lote.

A partir das informações constantes dos documentos acima


mencionados, conclui-se a princípio:

1. Em que pese o Pedido de Providências n. 50/2017 ter sido

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arquivado pela inexistência de indício de descumprimento dos deveres estatuídos no art. 82 da
Lei Complementar Estadual n. 12/93 por parte do promotor de justiça Francisco Raulino
Neto, excluídos os 300 (trezentos) processos, que foram distribuídos equivocadamente,
verifica-se que restaram 264 (duzentos e sessenta e quatro) processos, em relação aos quais
não consegui obter informação acerca de eventuais processos urgentes, por exemplo, de réus
presos, de todo modo, considerando que o processo n. 0004775-58.2017.8.18.0140 (violência
sexual mediante fraude) foi recebido em 30.05.2017, apenas 2 dias antes de encerrada a
designação do promotor de justiça para responder pela 53ª Promotoria, provável que havia
processos mais antigos que o especificado, os quais ficaram sem manifestação.
2. Não é possível afirmar, portanto, se os 47 processos de réus
presos estavam entre os 300 (trezentos) que foram distribuídos equivocadamente ou entre os
264 (duzentos e sessenta e quatro), efetivamente de responsabilidade do promotor requerido.

3. No que concerne à Portaria PGJ/PI n. 1255/2017 que revogou a


designou do promotor de justiça Francisco Raulino Neto, titular da 37ª Promotoria de Justiça
de Teresina, para responder pela 53ª Promotoria de Justiça de Teresina, temos o seguinte: I.
foi expedida em 31.05.2017, na mesma data em que foi expedida a Portaria PGJ/PI n.
1256/2017 que designou o promotor de justiça Jorge Luiz da Costa Pessoa para responder
pela 53ª Promotoria de Justiça de Teresina; II. foi enviada mensagem eletrônica para o e-mail
institucional do promotor de justiça requerido acerca da referida Portaria n. 1255/2017 em
02.06.2017, no entanto, não há como afirmar que ele teve conhecimento nesta data, já que não
há nos autos confirmação do recebimento deste e-mail; III. A Portaria n. 1255/2017 foi

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publicada em 06.06.2017.
4. Por meio do Ofício n. 01/2017-53PJ, o promotor de justiça
Jorge Luiz da Costa Pessoa informou ao Corregedor-Geral que entrou em exercício na 53ª
Promotoria de Justiça de Teresina em 02 de junho de 2017.

5. Há documentação nos autos (despacho – ref: procedimento


administrativo n. 5677/2017-PGJ; Portarias 846/2017 e 1254/2017), da qual constam os
seguintes registros: a. Somente na data de hoje (05/06/2017), foram entregues, para a

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Secretaria da Central de Inquéritos, parte dos procedimentos que estavam em poder da 53ª
Promotoria de Justiça, sob a responsabilidade do Dr. Francisco Raulino Neto; b. a partir de
hoje 05.06.2017 o nome do Promotor de Justiça Jorge Luiz da Costa Pessoa passou a ser
inserido no SIMP, como responsável pela 53ª Promotoria de Justiça de Teresina.

6. De acordo com o documento que traz a movimentação do


processo n. 0004775-58.2017.8.18.0140, este foi redistribuído para a 53ª Promotoria de
Justiça de Teresina em 30.05.2017 e devolvido com manifestação de arquivamento em
05.06.2017, juntamente com outros três processos, com protocolo no SIMP em 2015 e 2017.

7. Contudo, verifica-se que no parecer de arquivamento subscrito


pelo promotor de justiça requerido, referente ao processo n. 0004775-58.2017.8.18.0140, há
as seguintes informações: data de entrega ao MP: 30.05.2017 e data da promoção do
arquivamento: 31.05.2017.

8. Já em relação à suposta amizade existente entre o promotor de


justiça requerido e o médico FRANCISCO FELIZARDO indiciado no inquérito policial
relativo ao mencionado processo n. 0004775-58.2017.8.18.0140, não há como afirmar que
existe uma amizade íntima, tendo em vista que somente há nos autos a informação de que são
“amigos” no facebook, assim como também consta ser o requerido “amigo” de alguns
familiares do referido médico, no entanto, é estranho que tenha dado prioridade para um feito
com tamanha complexidade e proferido manifestação em menos de 24h, conforme informado

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por ele próprio em seu parecer, sendo que existiam 264 (duzentos e sessenta e quatro) outros
processos sem manifestação naquela promotoria.

9. No que diz respeito às declarações dos 3 (três) servidores


auxiliares das Promotorias da Central de Inquéritos do Ministério Público do Estado do Piauí,
afere-se que apenas um deles afirmou que houve comentário por parte do promotor de justiça
requerido acerca da “injustiça” do feito, o outro não tinha certeza e um deles não declarou
nada a respeito deste fato. Em relação a este fato, fica a dúvida se houve ou não referida
manifestação, mas é inegável ser incomum o fato de um membro buscar informações acerca

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de processo específico que ainda não havia sequer chegado à promotoria, como ocorreu no
presente caso.

10. No que concerne à análise de mérito do referido processo n.


0004775-58.2017.8.18.0140, ou seja, apreciação das provas, incluindo o conteúdo das falas
das testemunhas, trata-se de atividade-fim em relação a qual este CNMP não tem atribuição
para se imiscuir. No entanto, considerando que a fundamentação para arquivamento do citado
processo foi a insuficiência de prova para a existência do crime, e tendo o próprio requerido
indicado várias diligências necessárias, que poderiam ter sido realizadas pela autoridade
policial ou pelo próprio requerido para esclarecer os fatos, há certa incoerência na
manifestação de arquivamento, especialmente em se tratando de questão de elevada
gravidade, o que indica, no mínimo, falta de diligência do requerido.

A Corregedoria Nacional, após análise dos fatos, entendeu configurado o


crime de prevaricação (art. 319 do Código Penal), além de ato de improbidade administrativa
na modalidade violação dos princípios que regem a Administração Pública (art. 11, caput, da
Lei 8.429/1992), notadamente aos deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e
lealdade à Instituição.

No plano disciplinar entendeu a Corregedoria Nacional que ocorreu, em


tese, violação aos deveres funcionais de manter ilibada conduta pública, zelar pelo prestígio
da Justiça, e pela dignidade de suas funções, desempenhar com zelo suas funções e declarar-se
Procedimento Administrativo Disciplinar N° 1.00654/2018-15 17
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suspeito nos termos da Lei.

Por fim, indicou a ocorrência de infração disciplinar aos deveres de


manter ilibada conduta pública (art. 82, inciso I), zelar pelo prestígio da Justiça, e pela
dignidade de suas funções (inciso II), desempenhar com zelo suas funções (inciso VI),
declarar-se suspeito nos termos da Lei (inciso VII); além da prática de crime contra a
administração pública (art. 150, VIII), ensejadora da sanção de suspensão de noventa dias
(artigo 155, II14), todos da Lei Complementar Estadual 12/1993, Lei Orgânica do Ministério

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Público do Piauí.

Conclui o Corregedor-Nacional:
“A instauração de Processo Administrativo Disciplinar, ad referendum do
Plenário, em face do Promotor de Justiça do Ministério Público do
Estado do Piauí, FRANCISCO RAULINO NETO, em virtude da prática,
em tese, de falta funcional punível com suspensão de noventa dias (artigo
155, II), já que há indícios suficientes de cometimento da infração
disciplinar por violação aos deveres de manter ilibada conduta pública
(art. 82, inciso I), zelar pelo prestígio da Justiça, e pela dignidade de suas
funções (inciso II), desempenhar com zelo suas funções (inciso VI),
declarar-se suspeito nos termos da Lei (inciso VII); além da prática de
crime contra a administração pública (art. 150, VIII).
A remessa de cópias em formato digital via Sistema ELO ao Procurador-
Geral de Justiça do Piauí para: 1) adoção de eventuais providências de
natureza criminal em relação ao crime de prevaricação (CP, art. 319); 2)
que este remeta cópias ao órgão de execução com atribuições em relação
ao ato de improbidade administrativa (Lei 8.429/1992, art. 11); 3) para
que adote as providências necessárias, caso assim entender, para a
declaração de nulidade do parecer de arquivamento exarado pelo
reclamado nos autos do inquérito policial de nº 0004775-
58.2017.8.18.0140, bem como da decisão judicial que o acolheu.”

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Diante das controvérsias postas e em razão, especialmente, de haver


processos remanescentes, em que o requerido não se manifestou, e que aportaram na 53ª
Promotoria de Justiça de Teresina em momento anterior ao processo n. 0004775-
58.2017.8.18.0140, já que este foi recebido nos últimos dias da sua designação, em
30.05.2017, e ainda restarem ao final 264 (duzentos e sessenta e quatro) processos, e diante da
complexidade do referido processo que tratava de tema delicado, mas apesar disso foi
arquivado pelo requerido em menos de 24h, mesmo com a indicação dele próprio da

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necessidade de diligências plenamente exequíveis, entendo pela necessidade de instauração
do PAD.

Assim, independentemente de ter o requerido devolvido os autos do


mencionado processo em data anterior ou posterior a do término de sua designação, bem
como do depoimento do servidor da central de inquéritos quanto ao interesse do promotor
naquele inquérito determinado, antes mesmo da sua chegada à promotoria, ao meu sentir, os
fatos narrados indicam a indispensabilidade de uma investigação mais aprofundada para que
sejam definitivamente esclarecidos e, se for o caso, sejam adotadas as medidas sancionatórias
adequadas.

O feito encontra-se em fase inicial, em virtude da necessidade de


referendo deste plenário para regular continuidade do feito.

Dessa forma, após a intimação pessoal da parte requerida, bem como a


intimação de seu advogado, submeto ao referendo do Plenário deste Conselho Nacional a de-
cisão do Corregedor Nacional que determinou a instauração de processo administrativo disci-
plinar em desfavor do Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Piauí, Francis-
co Raulino Neto.

Pelas razões expostas, VOTO PELO REFERENDO da decisão do Corre-


gedor Nacional que determinou a instauração do processo administrativo disciplinar em desfa-

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vor da Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Piauí, proferida na Reclama-


ção Disciplinar n. 1.01117/2017-57, e pela ratificação dos atos até então praticados nos autos
do processo administrativo disciplinar epigrafado.

É como voto.

Brasília-DF, 28 de agosto de 2018.

Documento assinado via Token digitalmente por ERICK VENANCIO LIMA DO NASCIMENTO, em 06/09/2018 15:52:35.
ERICK VENÂNCIO LIMA DO NASCIMENTO
Conselheiro Relator

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