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Semiologia do Sistema
Respiratório
ROBERTO CALDERON GONÇALVES
INTRODUÇÃO
O sistema respiratório é capaz de desenvolver várias funções dentro
do organismo animal. A mais importante delas está relacionada às trocas
gasosas em que são realizadas a oxigenação sanguínea e a liberação de
gás carbónico, nos alvéolos pulmonares. A troca gasosa é chamada de
hematose e, para que ocorra, é necessária a aproximação do ar inalado
com o sangue na barreira alvéolo-capilar. Outras funções do sistema
respiratório são representadas pela manutenção do equilíbrio
ácido-base, pela atuação como um dos reservatórios sanguíneos do
organismo, por filtrar e provavelmente destruir êmbolos sanguíneos,
meta-bolizar substâncias como a serotonina, prostaglandina,
corticosterói-des e leucotrienos, além de ativar outras substâncias
como a angioten-sina. Atua, ainda, como um dos órgãos importantes
para as funções de termorregulação dos animais e na fonação
(Quadro 7.1).
justa-alvcolares que drenam a parte mais profunda inaladas em sua superfície. Os cílios apresentam
do pulmão; os linfáticos superficiais drenam a movimento constante em sentido oral, de tal
pleura visceral por um plexo que converge para o maneira que há movimentação do muco, desde
hilo pulmonar. as partes mais profundas do pulmão até a faringe,
levando essas partículas para a região anterior da
árvore respiratória onde serão deglutidas ou eli-
MECANISMOS DE DEFESA DO minadas pela tosse. Dessa maneira, um dos pri-
meiros mecanismos de defesa do sistema respi-
SISTEMA RESPIRATÓRIO ratório se inicia com a divisão anatómica da árvo-
Os mecanismos de defesa do trato respiratório são re traqueobrônquica, que permite melhor
variados e têm como função a inativação das par- impacta-ção e remoção das partículas inaladas
tículas e microrganismos inalados. Conforme o pelo sistema mucociliar.
tamanho e o peso específico das partículas, elas Outro mecanismo de defesa das vias respira-
penetram mais ou menos o trato respiratório. tórias se dá pelos macrófagos alveolares, que
Partículas grandes, em aerossol, são filtradas nas desempenham papel importante na limpeza de
próprias cavidades nasais e somente as menores partículas inaladas pois, sob condições de norma-
i capazes de atingir os pulmões. Cem por cen-das lidade, liquidam em poucas horas as bactérias que
partículas maiores que 10|J,m e 80% das penetram o sistema respiratório. Os macrófagos,
partículas com 5|J,m se depositam nas superfícies contendo material fagocitado no espaço alveolar,
das mucosas do trato aéreo anterior, sendo poste- caminham para o bronquíolo terminal, sendo le-
riormente removidas. Partículas entre 0,3 e 2|lm vados para fora do trato respiratório pelo sistema
de diâmetro podem alcançar os duetos alveolares mucociliar. Outros macrófagos são levados pelos
e alvéolos. Gases, vapores e partículas menores linfáticos até os linfonodos. Ainda, outras partí-
:ue 0,3(J.m não são filtradas nas vias aéreas, al- culas podem penetrar o espaço intersticial, alcan-
cançam os alvéolos e podem voltar a ser elimina- çando os vasos linfáticos, indo diretamente aos
das pelo ar expirado. linfonodos, sendo eliminados.
Dependendo da localização, do tamanho e da Os anticorpos também representam forte
Composição do material estranho depositado nas barreira à penetração de microrganismos no pul-
mucosas, pode haver estimulação de diferentes mão, existindo grandes secreções de
ripos de mecanismos de limpeza do trato aéreo. imunoglo-bulinas A (IgA) no trato aéreo
Assim, materiais irritantes grandes ou acúmulos anterior. Nos pulmões, é maior a quantidade de
de secreções nas vias aéreas altas são removidos imunoglobulinas do Tipo G (IgG).
rapidamente com reflexo de tosse ou espirro. As Todos esses mecanismos de defesa são
partículas de menor tamanho podem ser afe-tados por vários fatores endógenos e
deposi-:adas na superfície do trato aéreo coberta exógenos: agentes químicos, ar poluído,
pelos cílios das células cilíndricas ciliadas. desidratação, friagem, infecções concorrentes,
Os cílios revestem todo o trato respiratório, desnutrição, distúrbios metabólicos associados a
com exceção da parte rostral do nariz e parte da doenças agudas ou crónicas do tipo uremia,
faringe, dueto alveolar e alvéolo, sendo as células acidose, desequilíbrio hormonal. Além disso, o
cilíndricas ciliadas esparsas nos bronquíolos ter- sistema fagocitário pode estar deprimido por
minais e respiratórios. As partículas depositadas drogas imunossupressoras, citotó-xicas e por
na zona coberta pelos cílios são removidas pelo radiações que provocam depleção da medula
mecanismo de limpeza mucociliar. O muco, que óssea, fonte de macrófagos e neutrófilos.
-c deposita sobre os cílios, é produzido por célu-
las pertencentes ao epitélio de revestimento das
vias aéreas e por glândulas peribronqmais e, nos EXAME FlSICO DO SISTEMA
bronquíolos próximos aos alvéolos, por secreção RESPIRATÓRIO
dos pneumócitos Tipo II. Assim, esse muco se
apresenta em duas camadas: uma, em contato com O diagnóstico e o tratamento das doenças respi-
os cílios, menos viscosa (fase sol), que permite a ratórias em animais são uma constante e uma das
movimentação desses cílios e outra, mais viscosa principais atuações na clínica veterinária. Algu-
(fase gel), disposta sobre a camada de menor vis- mas doenças que afetam o sistema respiratório
cosidade, que facilita a aderência das partículas requerem poucos recursos diagnósticos, enquanto
outras exigem até o auxílio da necropsia. É de
316 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
grande importância o diagnóstico precoce de uma seguir informações que dêem suporte ao clí no
afecção para a instituição do tratamento e preven- estabelecimento do diagnóstico. Por ser i:~n»
ção de novos episódios de doença, não só no animal conversa, ela tem que ser direcionada, na
examinado, mas no rebanho como um todo. deper-dência do problema do animal e do tipo de
As doenças se manifestam por sinais clínicos clief que se está atendendo. Evidentemente que.
identificados no exame semiológico que devem dr tro da anamnese, há necessidade de se colher
ser interpretados corretamente. Dessa maneira, ii formações, de uma forma regrada, para que não •
para uma conduta diagnostica adequada, é neces- perca de vista o objetivo e se obtenha todos os dada
sário que se faça um bom exame físico, já que necessários para o esclarecimento do caso clínico.
nenhum exame auxiliar consegue substituí-lo com Enfocando o sistema respiratório, é importanrc
eficácia. Apesar disso, muitas vezes é necessária extrair do histórico se o problema é individual a
a utilização de exames complementares para o coletivo. As doenças num único indivíduo podem
diagnóstico diferencial das doenças respiratórias. estar relacionadas somente a ele, como tambén
Uma das primeiras finalidades do exame clí- podem ser o início de um processo que afete c
nico é saber se a manifestação respiratória que rebanho. Dessa maneira, há sempre a nece--
está ocorrendo é realmente um problema do sis- -dade de atenção quanto ao surgimento de ca
tema respiratório ou não. Por exemplo, proble- v.-novos. Se o problema constatado é coletivo, o
mas de anemia intensa podem mimetizar pro- que se deve obter da história é o quanto ele está
blemas respiratórios, pois o animal terá que res- afe-tando o rebanho e isso é feito por meio do
pirar com maior rapidez e profundidade para com- cálculo dos índices de morbidade e de letalidade,
pensar a falha na oxigenação sanguínea. Da mes- ou seja, qual é o número de animais doentes no
ma maneira, problemas cardíacos podem exigir total de animais e quantos morrem dos que estão
mecanismos de compensação respiratória, para doentes.
Outros pontos importantes são as informações
compensar uma diminuição de oxigenação decor-
sobre o início do processo, se foi em forma de surto,
rente das alterações circulatórias.
ou ocorrem casos esporádicos ao longo do tempo.
Outra finalidade importante é localizar o pro-
O tempo e o tipo de evolução devem ser levados
cesso dentro do sistema respiratório, se está restrito
em consideração, estabelecendo-se há quanto
às vias aéreas anteriores ou às posteriores e, ainda,
tempo o problema iniciou-se, se o animal adoe-
se inclui o interstício pulmonar. As vias aéreas an-
ceu rapidamente ou apresenta evolução lenta e
teriores incluem as narinas, seios paranasais, farin-
progressiva ou estacionária dos sinais clínicos. A
ge, laringe e traquéia. Às vias aéreas posteriores finalidade dessas observações é verificar a gravi-
pertencem os brônquios maiores, os brônquios seg- dade do caso e a patogenicidade e transmissão do
mentares e os bronquíolos, que levam o ar inalado agente agressor.
até os sacos alveolares e alvéolos, para a realização Tratamentos anteriores ao atendimento de-
das trocas gasosas (hematose). A localização da le- vem ser explorados, para eventuais modificações
são é feita utilizando-se os métodos semiológicos. do plano terapêutico a ser adotado. Por exemplo,
Embora o exame clínico seja encarado como um animal portador de uma infecção respiratória
arte por alguns autores, ele depende de cuidado, em curso que está recebendo um determinado
técnicas apropriadas, paciência e rotina lógica de tipo de antibiótico sem alteração do processo
exame, que venham cobrir todas as possibilidades infeccioso não deverá tomar o mesmo tipo de
eventuais. Essas técnicas podem ser realizadas em .antimicrobiano, a não ser que testes de laborató-
conjunto ou separadamente. Pelo exame semioló- rio confirmem a sensibilidade do microrganismo
gico, considerando-se o histórico ou anamnese, a ao agente terapêutico utilizado.
inspeção, palpação, percussão, ausculta e olfação, Dentro dos problemas respiratórios, há sem-
o clínico deve ter como finalidade localizar o pro- pre necessidade de se colher, pela história, toda
cesso dentro do sistema respiratório, se possível, a sintomatologia clínica observada, estabelecer
estabelecer a sua natureza e sua etiologia. uma relação estreita entre o sinal ou sinais clíni-
cos apresentados e o momento em que eles
ocorrem com maior intensidade durante o ma-
Anamnese nejo do animal. Como manifestações clínicas de
doenças do sistema respiratório que podem ser per-
A anamnese é uma conversa que se tem com cebidas pelo acompanhante temos o corrimento
o acompanhante do animal, no intuito de se con- nasal, espirro, tosse, fadiga durante exercício,
Semiologia do Sistema Respiratório
317
Tabela 7.1 - Frequência respiratória em animais geral, esses tipos de ritmos respiratórios esc
domésticos (movimentos por minuto - mpm). associados à hipoxia ou a depressões cerebrais.
Espécie Jovens Adultos Pela observação da respiração, ou seja. da
Bovina 24 a 36 10 a 30 relação inspiração e expiração, dos movimentai
do tórax e abdome e da postura adotada pelo
Ovina 36 a 48 20 a 30
Caprina 36 a 48 Até 7 dias - 20 a 30 8
animal, pode-se classificar a atívidade respiratõr*
Equina 20 a 40 Até 6 meses - a 16 como normal (eupnéia) ou dificultosa (dispneia
10 a 25 - Fig. 7.2). Na respiração normal o movimenn»
Cães 20 a 30 18 a 36 inspiratório é ativo e mais rápido que o
Gatos - 20 a 30 expirató-rio, que c passivo e mantém uma relação
temporal de 1:1,2 respectivamente.
A classificação da dispneia pode ser de gran-
respiratória. O ritmo normal é observado como de auxílio na localização do processo respirató-
uma inspiração, uma pequena pausa, expiração rio. A dispneia inspiratória está relacionada às al-
e uma pausa maior, voltando, em seguida, a uma terações das vias aéreas anteriores seja por
inspiração. Qualquer alteração no ritmo respira- este-noses, corpos estranhos ou inflamações,
tório é denominada de arritmia respiratória. que diminuam o lúmen das vias aéreas
Existem alterações clássicas de ritmo, como dificultando a entrada de ar. Isso c facilmente
a respiração de Cheyne-Stokes, na qual se obser- entendido, poi> as vias aéreas anteriores
va frequência respiratória crescente até atingir um apresentam pouca sustentação e, como
auge, diminuindo em seguida até apnéia e, em consequência, quando o animal faz inspirações
seguida, uma FR novamente crescente; ocorre nas forçadas, a tendência das vias aéreas. que estão fora
fases finais de insuficiência cardíaca, em intoxica- da cavidade torácica, é o "cola-bamento" e,
ções por narcóticos e lesões cerebrais. A respira- portanto, diminuições em seu calibre
ção de Biot, na qual há dois ou três movimentos intraluminal dificultarão a entrada de ar na
respiratórios, apnéia, um ou dois movimentos, outra árvore respiratória.
apnéia e assim por diante; ocorre por afecções A dispneia expiratória se relaciona a proces-
cerebrais ou de meninges. Outro tipo de ritmo c sos mórbidos, que diminuam a elasticidade de re-
o de Kussmaul, observado como inspiração pro- torno pulmonar ou que provoquem obstruções das
funda e demorada, apnéia, expiração prolonga- pequenas vias aéreas, dificultando a saída do ar.
da, repetindo-se o ciclo; é visto em coma e into- como ocorre no cnfisema pulmonar, nas bronqui-
xicação por barbitúricos (Fig. 7.1). De maneira tes e bronquiolites. Nesse caso, podemos enten-
der o processo se observarmos que, durante a
Ritmo de Cheyne-Stokes
Ritmo de Biot
Figura 7.2-Dispneia
em bovino. Nota-se a
boca entreaberta e dis-
tensão de pescoço. ,..
inspiração, há pressão negativa intratorácica e, por- nas alterações anatómicas, como ocorre nas pneu-
tanto, expansão das vias aéreas que estão dentro monias focais, já provocam alterações nas trocas
do tórax. Durante a expiração, como a pressão ne- gasosas, estimulando esse mecanismo de compen-
gativa diminui, existe compressão das paredes sação. A hiperpnéia, por sua vez, está relacionada
torácicas sobre o pulmão e, conseqiientemente, principalmente a processos que dificultam a ex-
sobre as vias intratorácicas. Se houver corpos pansão pulmonar como, por exemplo, o pneumo-
estranhos, muco em excesso ou qualquer outro tórax ou, temporariamente, logo após o exercício.
problema que diminua a luz dessas pequenas vias, O tipo respiratório é outra característica que
haverá dificuldade de saída do ar alveolar e, pode indicar a localização da alteração patológica
con-seqúentemente, maior esforço para expirar. dentro do sistema respiratório. O tipo respiratório
No edema pulmonar a dispneia é do tipo mista, normal nos animais domésticos é o costoabdominal,
pois o pulmão, pela presença de líquido no que pode sofrer alterações para os tipos costal e
interstício, terá dificuldade de expansão e, abdominal. Os animais portadores de processos
conseqiien-temente, dispneia inspiratória. Com que manifestam dor torácica, como fraturas de
a saída de líquido de dentro dos vasos costela ou pleurite, podem apresentar o tipo
sanguíneos para o interior dos bronquíolos, res-piratóf io ou respiração, predominantemente
haverá também dificuldade de saída de ar dos abdominal, como forma de defesa contra a dor.
alvéolos, caracterizando uma dispneia mista. Aqueles que têm dor abdominal, como nos casos
Apesar disso, nesta doença em especial, ocorre de peritonite ou nas grandes compressões sobre
predominância de dispneia inspiratória pela o diafragma (por exemplo, nas dilatações
dificuldade maior de trocas gasosas e grande gástricas), podem apresentar respiração do tipo
hipoxia resultante. Na broncopneumonia, a costal.
dispneia é do tipo mista, pois existe a dificuldade A Inspeção nasal é de grande importância no
exame do sistema respiratório. Deve-se observar
de expansão pulmonar (dispneia inspiratória)
alterações do espelho nasal, também chamado de
decorrente da congestão provocada pela
muflo, se há rcssccamento, como nos casos de
inflamação e saída de exsudato nos brônquios e
febre, desidratações ou hipovolemias; erosões,
bronquíolos, que determina dificuldade na expi-
como na febre catarral maligna, ou ainda quais-
ração (dispneia expiratória). quer outros tipos de lesões que possam indicar
O pulmão pode responder funcionalmente a ou levar a alterações da respiração. No conduto,
uma diminuição das trocas gasosas por dois me- também chamado de fossa nasal, deve-se verifi-
canismos compensatórios: aumentando a frequên- car modificações na coloração e umidade da mucosa
cia (taquipnéia) e amplitude (hlperpnéiá) respira- e procurar lesões como úlceras, erosões, pólipos,
tórias. A taquipnéia não ajuda a localizar a altera- tumores e corpos estranhos, que podem ser vis-
ção dentro do sistema respiratório, pois peque-
320 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
sendo preenchida por alguma substância, por Técnica. Feita com o animal em posição
exemplo, pus. Esse sinal sugere sinusite ou qua-drupedal ou sentado (pequenos animais),
tumo-rações em seio paranasal, ou seja, lesões em ambiente silencioso. Pode ser dígito-digital ou
que ocupam espaço. Por outro lado, se houver mar-telo-plessimétrica (Fig. 7.7). Deve ser feita
acúmulo de gás, o som pode se modificar para dor-soventral e craniocaudalmente, em toda a
timpânico como, por exemplo, nos casos de área torácica, deslocando-se o plessímetro nos
infecção da cavidade sinusal por bactérias espaços intercostais. Para a detecção dos limites
anaeróbicas, produtoras de gás. posteriores da área pulmonar é melhor que se faça
Nos pequenos animais, a percussão dos seios a percussão dirigida craniocaudal e
paranasais não tem aplicação prática, pois as di- dorsoventralmente.
ferenças entre os sons são de difícil identificação
pelo menor tamanho das cavidades. Limites
• Anteriores: musculatura da escápula (som maciço).
• Superiores: musculatura dorsal (som maciço).
Percussão do Tórax • Posteriores: de acordo com a espécie animal,
observando-se o cruzamento de linhas que passam,
A resposta sonora à percussão do tórax pode
imaginariamente, nos espaços intercostais (EIC)
variar desde o som normal (claro) até as alterações
com linhas, imaginárias e horizontais, que passam
sonoras com significado clínico. Áreas de sons
sobre a tuberosidade ilíaca (linha ilíaca), tubero-
submaciços ou maciços podem indicar preenchi-
sidade isquiática (linha isquiática) e na articulação
mento do parcnquima pulmonar por tecidos sóli-
cscapuloumeral (linha do encontro) (Tabela 7.2).
dos ou que, pelo menos, diminuam a quantidade
de ar no órgão, como nos casos de pneumonia, O som na região mais central do tórax é cha-
abscessos ou tumores pulmonares. Áreas de som tim- mado claro. Avançando para trás, no limite poste-
pânico indicam maior preenchimento do pulmão por rior, passa a ser timpânico ou submaciço (na de-
ar e podem se relacionar a enfísema pulmonar ou pendência de haver mais ou menos conteúdo de
pneumotórax. gás nas estruturas abdominais). Na região infe-
As alterações patológicas devem estar próxi- rior do tórax o som é submaciço.
mas à parede torácica e ter tamanho suficiente
para que possam ser percebidas por esse método
semiológico, pois o som produzido pela percus-
Variação Patológica dos Sons à Percussão
são tem penetração de quatro a sete centímetros Ampliação*da área de percussão. Geralmente
no pulmão. indica enfisema pulmonar. Nessa afecção, o som
claro modifica-se para timpânico.
Tabela 7.2 - Limites posteriores de percussão da área pulmonar nos animais domésticos.
..——»•———-
Localização
Espécie animal
a a 2 g
Equinos 17 EIC 14 EIC 10 EIC 8
a a
Ruminantes 12 EIC 11 EIC EIC
a Q a
Caninos 11 EIC 10 EIC 8 EIC
a a a
Suínos 11 EIC 9 EIC 7 EIC
Som metálico. Esse tipo de som quase sempre origem provável de sua produção.
caracteriza o estiramento de paredes cavitárias por
quantidade exagerada de gás, associada ou não a
líquidos. Pode aparecer nos casos de cavernas
pulmonares cheias de ar, como na tuberculose,
no pneumotórax e na hérnia diafragmática com
penetração de alças intestinais no tórax.
Maciço ou submaciço. A variação do som claro
para maciço ou submaciço é indicativa de áreas de
condensação ou compressão pulmonar por tumores
ou grandes abscessos; atelectasia ou preenchimento
dos espaços intersticiais por líquido, inflamatório
ou não, como no edema pulmonar e nas pneumonias.
Linha de percussão horizontal. Quando se faz a
percussão do tórax e há modificação do som claro
para submaciço ou maciço em linha reta, paralela
ao local onde o animal está em pé, há indicação de
presença de líquido na cavidade torácica, seja por
exsudato, em casos de pleurisia com derrame
tran-sudato no hidrotóraxou sangue, mais
raramente, no hemotórax. Para se verificar a
horizontalidade da percussão, desloca-se o animal,
levantando ou abaixando a sua parte anterior, seja
numa rampa nos grandes animais ou manualmente
nos cães e gatos.
Auscultação
A auscultação é o método diagnóstico que dá
maiores informações a respeito do funcionamen-
to do sistema respiratório. A interpretação
corre-ta dos ruídos respiratórios pressupõe
conhecimentos sobre a produção de som e sua
transmissão no trato respiratório, bem como
dos efeitos que modificam o padrão normal dos
ruídos produzidos. Deve-se auscultar as vias
aéreas superiores e a região torácica
separadamente, embora não se deva esquecer
que pode haver interferência da auscultação de
uma área sobre a outra, especialmente dos ruídos
produzidos nas vias aéreas anteriores, que podem
interferir na ausculta dos pulmões. Em vista
disso, é bom lembrar que o local no qual se ouve
o ruído com maior intensidade corresponde à
Técnica
O animal deve ser auscultado preferencial-
mente em posição quadrupedal e em repouso. A
ausculta pode ser feita diretamente, com o ouvi-
do sobre uma toalha no tórax, ou indiretamente,
com estetoscópio. Ausculta-se todo o tórax, da
frente para trás e de cima para baixo, sendo ideal
realizar também a ausculta de cima para baixo e
de frente para trás, esquadrinhando-se, assim, toda
a área pulmonar (Fig. 7.8). Deve-se auscultar em
cada local, no mínimo, dois movimentos respira-
tórios (Fig. 7.9). Para um diagnóstico mais preci-
so, pode ser necessária a aplicação de exercício
leve (caminhada) ou a inibição temporária da res-
piração do animal, manobras que intensificam os
sons respiratórios. Ainda, pode-se adaptar um saco
plástico no focinho, chamado de saco respiratório
sem, no entanto, obliterar as narinas, mas sim-
plesmente aumentando o teor de CO 2 no ar ina-
lado. Ainda que as manobras sejam feitas para se
exacerbar os ruídos pulmonares é sempre melhor
a ausculta com o animal em repouso, para que se
possa ter uma padronização dos ruídos ouvidos
com esse método semiológico.
Os ruídos que podem ser auscultados são
divididos em duas categorias: os ruídos normais,
com suas variações patológicas, e os ruídos patoló-
gicos, também chamados de ruídos adventícios
respiratórios.
Ruídos Normais
Os ruídos normais são produzidos pela turbu-
lência do fluxo de ar nas vias aéreas com diâmetro
superior a 2mm, podendo variar na qualidade,
dependendo da localização do estetoscópio, da
velocidade do ar durante a respiração e da quanti-
dade de tecido sobre a área que se está ouvindo.
Hoje há tendências de se denominar os sons
ouvidos à auscultação pelos locais de produção
desses ruídos. Assim temos:
Semiologia do Sistema Respiratório
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menores e bronquíolos. É um ruído suave, ouvido Portanto, o ruído bronco-bronquiolar pode es-
nos dois terços posteriores do tórax, durante a tar aumentado fisiologicamente nos animais jovens
inspiração. (maior frequência respiratória e menor espessura
torácica), nos magros, nos de pêlos curtos e na-
Variações dos Ruídos Respiratórios Normais queles que realizam exercícios físicos. Pode es-
tar aumentado patologicamente na hipertrofia
AUMENTO DOS RUÍDOS RESPIRATÓRIOS NORMAIS vicariante ou compensadora das áreas normais
quando há hepatização pulmonar cm áreas vizi-
Basicamente, o aumento de intensidade dos nhas àquelas a que se está auscultando; nas
ruídos normais do pulmão à auscultação significa dispnéias, pois os movimentos respiratórios são
aumento na quantidade de ar que penetra neste mais amplos, e nos casos de infiltração líquida do
órgão e, conscquentemente, maior vibração das pa- pulmão, na presença de brônquios pérvios.
redes das vias aéreas. Toda vez que houver aumento Da mesma maneira, o ruído
na intensidade da respiração seja por aumento na traqueobrôn-quico pode estar aumentado em
frequência respiratória (taquipnéia), na amplitu- intensidade quando houver estenose de vias
de (hiperpnéia) ou ainda por dificuldade respira- aéreas anteriores e nos casos de infiltração
tória (dispneia), haverá exacerbação na ausculta dos líquida do interstício pulmonar, quando os
sons respiratórios. brônquios menores passam ter paredes rígidas,
Os ruídos respiratórios normais podem estar que refletem melhor o som. Nessas situações,
exacerbados, também, nos casos em que haja as regiões do interstício pulmonar, preenchidas
fa-cilitação de sua transmissão, especialmente por líquido, têm que ter uma extensão adequada
quando houver líquido no interstício pulmonar, e conter brônquios pérvios, próximos à parede
aumentando sua densidade (Fig. 7.10). Os torácica. Além do aumento na intensidade,
processos patológicos que levam à deposição de observa-se, nesses casos, aumento da área de
líquido no interstício pulmonar aumentando, auscultação do ruído traqueobrônquico, podendo
assim, a transmissão sonora são pneumonias, ser notado em toda a área pulmonar, onde
congestão e edema pulmonar. normalmente não c ouvido. No cavalo adulto,
Outro caso onde se observa intensidade au- excetuando-sc ostnagros, ausculta-se somente o
mentada dos ruídos respiratórios normais é quando ruído bronco-bronquiolar na área torácica,
houver aproximação do ouvido com o órgão pro- sendo considerada patológica a ausculta do ruído
dutor da manifestação sonora, ou seja, nos ani- traqueobrônquico. O significado clínico desse tipo
mais com parede torácica delgada. de som é congestão local, de origem infla-
matória ou não.
nose da laringe, compressão da traquéia ou muco se está fazendo a auscultação do sistema respira-
espesso depositado nesses locais. Se aparecer no tório, dificultando o diagnóstico. Por isso é im-
fim da inspiração ou expiração pode indicar obs- portante lembrar, sempre, que todo ruído auscul-
trução das pequenas vias aéreas, como nos casos tado, para ser valorizado, deve estar relacionado
de bronquite ou bronquiolite e doença pulmonar com o movimento do órgão que se está ouvindo.
obstrutiva crónica.
Ronco. Ruído grave, de alta intensidade, pro-
duzido pela vibração de secreções viscosas aderi- Percussão Auscultatória
das às paredes de grandes brônquios, durante a
passagem do ar. O mesmo pode indicar broncopneu- Outro método semiológico para o exame do
monia se sua origem, ou seja, o seu ponto máximo sistema respiratório é a associação da auscultação
de ausculta estiver no tórax, ou mostrar laringite com a percussão. Faz-se a percussão traqueal com
ou laringotraqueíte se for ouvido com maior o dedo ou com o cabo do martelo (em grandes
intensidade na região da laringe ou traquéia. animais) e a auscultação pulmonar
Rocepleural. Ruído provocado pelo atrito das conjuntamen-te, ou seja, produzimos um som e o
pleuras visceral e parietal inflamadas, indican- escutamos na área pulmonar.
do pleurite. Num animal sadio, as pleuras des- Dessa maneira pode-se ouvir:
lizam suavemente, uma sobre a outra, sem pro-
vocar ruído algum. Quando há inflamação e • Em tecido normal: um ruído débil, impreciso,
deposição de fibrina sobre elas, o atrito se trans- distante e difuso.
mite ao ouvido do examinador como se fosse o • Em tecido atelectásico ou congesto: ouve-se um
esfregar de duas folhas de papel, ou áspero como ruído breve, seco e preciso, como nascido ime
o esfregar de duas lixas, ou de couro molhado diatamente debaixo do ponto que se está
ou, ainda, um gemido. auscultando.
Sopro, roce ou ruído cardiopleural. Ruído rude, • Em coleções líquidas no espaço pleural: o ruído
semelhante ao raspar de duas superfícies áspe- se apresenta longe, mas preciso e breve.
ras, ouvido durante a inspiração c coincidente
com a movimentação cardíaca. Corresponde ao
atrito da pleura sobre o pericárdio inflamados,
indicando, portanto, uma pleurite associada a uma
Punção Exploratória ou
pericardite. Toracocentese
Sopro ou ruído cardiopulmonar. Ruído suave,
de baixa intensidade, semelhante ao soprar com E outro método exploratório que pode ser uti-
os lábios apertados. A entrada do ar que passa nos lizado para diferenciar o diagnóstico de exsudato
brônquios menores das áreas pulmonares que estão e transudato pleural e para colheita de líquido
sobre o coração pode ser interrompida durante o pleural, tanto para exame como para fins terapêu-
período de contração isométrica da sístole ven- ticos. Utiliza-se agulha 6 a 8cm x 2mm (60x20;
tricular. Quando ocorre a sístole, a passagem do 80x20) ou até uma sonda mamaria, depois de se
ar é liberada, ouvindo-se esse tipo de som inter- fazer uma pequena incisão na pele anestesiada,
rompido de forma sequencial a cada novo início para sua introdução na cavidade torácica.
da sístole. Ocorre em animais sadios ou naqueles
em que há excesso de produção de muco, como
nas bronquiolites. Local da Punção
Broncofonia. Ruídos propagados das vias aé- Equinos. No 6° EIC (espaço intercostal) do
reas anteriores, como a voz, os gemidos, a tosse, as
lado esquerdo ou 5° EIC do lado direito do tórax.
crepitações ou os estridores laríngeos. São ouvi-
Ruminantes e suínos. No 5Q EIC no lado es-
dos ora como zumbidos imprecisos, ora claramen-
querdo ou 4- EIC no lado direito.
te, principalmente na região anterior do tórax.
Ruídos acessórios que perturbam a auscultação. Carnívoros. No ângulo entre a área de macicez
Ruídos das contrações dos músculos cutâneos, cre- cardíaca e o limite do pulmão, fazendo-se a per-
pitações dos pêlos, ruídos de deglutição e ruídos cussão com o animal sentado.
gastroentéricos. Todos esses ruídos e mais os pro- A agulha deve ser introduzida acima da veia
duzidos no ambiente podem ser ouvidos quando torácica e sempre no bordo oral da costela, para
evitar nervos e vasos intercostais.
Semiologia do Sistema Respiratório
329
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