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Semiologia do Sistema
Respiratório
ROBERTO CALDERON GONÇALVES

"As PERGUNTAS NÃO CESSAM, A BUSCA NÃO CESSA. NlSSO


EXISTE ALGO DE INFINITO, QUE FAZ A BELEZA."
(Pina Bausch)

INTRODUÇÃO
O sistema respiratório é capaz de desenvolver várias funções dentro
do organismo animal. A mais importante delas está relacionada às trocas
gasosas em que são realizadas a oxigenação sanguínea e a liberação de
gás carbónico, nos alvéolos pulmonares. A troca gasosa é chamada de
hematose e, para que ocorra, é necessária a aproximação do ar inalado
com o sangue na barreira alvéolo-capilar. Outras funções do sistema
respiratório são representadas pela manutenção do equilíbrio
ácido-base, pela atuação como um dos reservatórios sanguíneos do
organismo, por filtrar e provavelmente destruir êmbolos sanguíneos,
meta-bolizar substâncias como a serotonina, prostaglandina,
corticosterói-des e leucotrienos, além de ativar outras substâncias
como a angioten-sina. Atua, ainda, como um dos órgãos importantes
para as funções de termorregulação dos animais e na fonação
(Quadro 7.1).

Quadro 7.1 - Funções básicas do sistema respiratório.


1. Oxigenação sanguínea 3. Equilíbrio ácido-base
2. Eliminação de gás carbónico 4. Termorregulação
314 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

O sistema respiratório constitui-se, bronquíolos terminais, duetos alveolares e alvéo-


anatomi-camente, de narinas, coanas, seios los. Um leito capilar único, que começa nos breu
paranasais, laringe, traquéia, brônquios quíolos terminais, mistura o sangue originado d»
principais, brônquios segmentares, bronquíolos, artérias pulmonar e bronquial, embora exista UM
alvéolos. pequeno número de anastomoses arteriais r^
As vias de condução do ar para as unidades nível. O sangue arterial, de maneira geral, é d
fisiológicas de trocas gasosas são chamadas de vias nado pela veia pulmonar, com exceção das pr>
aéreas. As vias aéreas são divididas arbitrariamente meiras duas a três divisões da traquéia, que vi:
na altura da borda caudal da cartilagem cricóidea ao coração pelo sistema da veia ázigos. Uma .
em vias aéreas anteriores e posteriores. O ar ina- grandes consequências da proximidade dos
lado entra pelas duas narinas, é aquecido e brôo-quios com ramos da artéria pulmonar são os
umi-dificado nas coanas e nos seios paranasais, ca-- :•« de hemoptise, causados por trombose da
vai à laringe, daí à traquéia. Essas estruturas se veia cava caudal, em bovinos alimentados com
situam fora do tórax. A porção final da traquéia, já carboidri-tos em grande quantidade e de maneira
no tórax, divide-se em dois brônquios principais contínui.
que dão origem aos brônquios lobares ou Os pulmões são inervados por fibras p:
principais que, por sua vez, originam várias simpáticas do vago e por fibras simpáticas dos
gerações de brônquios segmentares. Esses gânglios torácico cranial e cervical. As fibras acom-
brônquios, próximos ao hilo pulmonar, são panham as vias aéreas e os vasos sanguíneos até
chamados de grandes brônquios, pois são os ácinos e a pleura. Poucas fibras são encontra-
visíveis em qualquer corte transversal do pulmão das no septo interalveolar. Os reflexos nervos.
c possuem cartilagem espessa em suas paredes. -são essenciais para a manutenção do controle da
Os brônquios dividem-se continuamente em respiração e para a defesa do sistema respiratório
contra agentes irritantes inalados. O tônus da
vários segmentos cada vez mais finos até os
musculatura lisa das vias aéreas e dos vasos san-
pequenos brônquios, que apresentam diâmetro
guíneos e as funções secretórias do aparelha
de l a 2cm. A cartilagem é tão esparsa que po-
mucociliar também estão sob o controle do siste-
dem ser confundidos num corte transversal do
ma nervoso. Os receptores de pressão estão loca-
pulmão. Desses brônquios saem os bronquíolos
lizados nos músculos lisos da traquéia e dos gran-
(não apresentam cartilagem nas paredes) finali- des brônquios. Esses receptores respondem à>
zando em bronquíolos terminais, que são as me- alterações de pressão transmural das vias aéreas
nores vias aéreas condutoras de ar. Os bronquíolos e estão envolvidos no reflexo de Hering-Breuer.
respiratórios são as últimas divisões bronquiais e O seu estímulo produz dilatação das vias aéreas
são assim chamados porque alvéolos emergem de e diminuição da resistência inspiratória. Recep-
suas paredes. Dessa maneira, eles apresentam tores para produtos irritantes são encontrados no
funções respiratórias e condutoras de ar. A uni- epitélio das vias aéreas e são supridos por fibras
dade funcional respiratória pulmonar, chamada de nervosas mielinizadas de pequeno calibre e são
ácino, é suprida por um bronquíolo terminal e é estimulados por partículas irritantes, como poei-
constituída de bronquíolos respiratórios, duetos ra, aerossóis e por estímulo mecânico. Esses re-
alveolares e alvéolos. ceptores estão envolvidos na produção da tosse e
Os pulmões são divididos anatomicamente em na estenose reflexa das vias aéreas. Eles estimu-
lobos, segmentos, lóbulos e ácinos, na ordem lam também o aumento da respiração com a aber-
decrescente de magnitude. tura das vias aéreas adjacentes aos ácinos colapsados
As divisões da artéria e veias pulmonares e por alguma doença pulmonar. As fibras não mie-
da artéria bronquial e dos linfáticos em geral acom- linizadas do nervo vago estão associadas aos re-
panham o mesmo sistema de ramificação das vias ceptores justacapilares no interstício do septo
aéreas intrapulmonares. Os ramos da artéria e veia al-veolar. Estes receptores são estimulados por
pulmonares c a artéria bronquial acompanham a gases irritantes e por congestão e edema do
árvore bronquial até os bronquíolos terminais. A espaço intersticial causando taquipnéia.
artéria bronquial supre os linfonodos do hilo A drenagem linfática do pulmão se faz por
pulmonar, pleura e brônquios e formam vasa dois sistemas: os linfáticos profundos que se ini-
va-sorum com a artéria pulmonar e, em alguma ciam nos duetos alveolares, acompanham as vias
extensão, com a veia pulmonar antes de se aéreas e artérias em direção aos linfonodos e te-
ramificar aos bronquíolos terminais distais. Os cidos linfóides e estão associados aos linfáticos
ramos da artéria pulmonar suprem
principalmente os
Semiologia do Sistema Respiratório 31
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justa-alvcolares que drenam a parte mais profunda inaladas em sua superfície. Os cílios apresentam
do pulmão; os linfáticos superficiais drenam a movimento constante em sentido oral, de tal
pleura visceral por um plexo que converge para o maneira que há movimentação do muco, desde
hilo pulmonar. as partes mais profundas do pulmão até a faringe,
levando essas partículas para a região anterior da
árvore respiratória onde serão deglutidas ou eli-
MECANISMOS DE DEFESA DO minadas pela tosse. Dessa maneira, um dos pri-
meiros mecanismos de defesa do sistema respi-
SISTEMA RESPIRATÓRIO ratório se inicia com a divisão anatómica da árvo-
Os mecanismos de defesa do trato respiratório são re traqueobrônquica, que permite melhor
variados e têm como função a inativação das par- impacta-ção e remoção das partículas inaladas
tículas e microrganismos inalados. Conforme o pelo sistema mucociliar.
tamanho e o peso específico das partículas, elas Outro mecanismo de defesa das vias respira-
penetram mais ou menos o trato respiratório. tórias se dá pelos macrófagos alveolares, que
Partículas grandes, em aerossol, são filtradas nas desempenham papel importante na limpeza de
próprias cavidades nasais e somente as menores partículas inaladas pois, sob condições de norma-
i capazes de atingir os pulmões. Cem por cen-das lidade, liquidam em poucas horas as bactérias que
partículas maiores que 10|J,m e 80% das penetram o sistema respiratório. Os macrófagos,
partículas com 5|J,m se depositam nas superfícies contendo material fagocitado no espaço alveolar,
das mucosas do trato aéreo anterior, sendo poste- caminham para o bronquíolo terminal, sendo le-
riormente removidas. Partículas entre 0,3 e 2|lm vados para fora do trato respiratório pelo sistema
de diâmetro podem alcançar os duetos alveolares mucociliar. Outros macrófagos são levados pelos
e alvéolos. Gases, vapores e partículas menores linfáticos até os linfonodos. Ainda, outras partí-
:ue 0,3(J.m não são filtradas nas vias aéreas, al- culas podem penetrar o espaço intersticial, alcan-
cançam os alvéolos e podem voltar a ser elimina- çando os vasos linfáticos, indo diretamente aos
das pelo ar expirado. linfonodos, sendo eliminados.
Dependendo da localização, do tamanho e da Os anticorpos também representam forte
Composição do material estranho depositado nas barreira à penetração de microrganismos no pul-
mucosas, pode haver estimulação de diferentes mão, existindo grandes secreções de
ripos de mecanismos de limpeza do trato aéreo. imunoglo-bulinas A (IgA) no trato aéreo
Assim, materiais irritantes grandes ou acúmulos anterior. Nos pulmões, é maior a quantidade de
de secreções nas vias aéreas altas são removidos imunoglobulinas do Tipo G (IgG).
rapidamente com reflexo de tosse ou espirro. As Todos esses mecanismos de defesa são
partículas de menor tamanho podem ser afe-tados por vários fatores endógenos e
deposi-:adas na superfície do trato aéreo coberta exógenos: agentes químicos, ar poluído,
pelos cílios das células cilíndricas ciliadas. desidratação, friagem, infecções concorrentes,
Os cílios revestem todo o trato respiratório, desnutrição, distúrbios metabólicos associados a
com exceção da parte rostral do nariz e parte da doenças agudas ou crónicas do tipo uremia,
faringe, dueto alveolar e alvéolo, sendo as células acidose, desequilíbrio hormonal. Além disso, o
cilíndricas ciliadas esparsas nos bronquíolos ter- sistema fagocitário pode estar deprimido por
minais e respiratórios. As partículas depositadas drogas imunossupressoras, citotó-xicas e por
na zona coberta pelos cílios são removidas pelo radiações que provocam depleção da medula
mecanismo de limpeza mucociliar. O muco, que óssea, fonte de macrófagos e neutrófilos.
-c deposita sobre os cílios, é produzido por célu-
las pertencentes ao epitélio de revestimento das
vias aéreas e por glândulas peribronqmais e, nos EXAME FlSICO DO SISTEMA
bronquíolos próximos aos alvéolos, por secreção RESPIRATÓRIO
dos pneumócitos Tipo II. Assim, esse muco se
apresenta em duas camadas: uma, em contato com O diagnóstico e o tratamento das doenças respi-
os cílios, menos viscosa (fase sol), que permite a ratórias em animais são uma constante e uma das
movimentação desses cílios e outra, mais viscosa principais atuações na clínica veterinária. Algu-
(fase gel), disposta sobre a camada de menor vis- mas doenças que afetam o sistema respiratório
cosidade, que facilita a aderência das partículas requerem poucos recursos diagnósticos, enquanto
outras exigem até o auxílio da necropsia. É de
316 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

grande importância o diagnóstico precoce de uma seguir informações que dêem suporte ao clí no
afecção para a instituição do tratamento e preven- estabelecimento do diagnóstico. Por ser i:~n»
ção de novos episódios de doença, não só no animal conversa, ela tem que ser direcionada, na
examinado, mas no rebanho como um todo. deper-dência do problema do animal e do tipo de
As doenças se manifestam por sinais clínicos clief que se está atendendo. Evidentemente que.
identificados no exame semiológico que devem dr tro da anamnese, há necessidade de se colher
ser interpretados corretamente. Dessa maneira, ii formações, de uma forma regrada, para que não •
para uma conduta diagnostica adequada, é neces- perca de vista o objetivo e se obtenha todos os dada
sário que se faça um bom exame físico, já que necessários para o esclarecimento do caso clínico.
nenhum exame auxiliar consegue substituí-lo com Enfocando o sistema respiratório, é importanrc
eficácia. Apesar disso, muitas vezes é necessária extrair do histórico se o problema é individual a
a utilização de exames complementares para o coletivo. As doenças num único indivíduo podem
diagnóstico diferencial das doenças respiratórias. estar relacionadas somente a ele, como tambén
Uma das primeiras finalidades do exame clí- podem ser o início de um processo que afete c
nico é saber se a manifestação respiratória que rebanho. Dessa maneira, há sempre a nece--
está ocorrendo é realmente um problema do sis- -dade de atenção quanto ao surgimento de ca
tema respiratório ou não. Por exemplo, proble- v.-novos. Se o problema constatado é coletivo, o
mas de anemia intensa podem mimetizar pro- que se deve obter da história é o quanto ele está
blemas respiratórios, pois o animal terá que res- afe-tando o rebanho e isso é feito por meio do
pirar com maior rapidez e profundidade para com- cálculo dos índices de morbidade e de letalidade,
pensar a falha na oxigenação sanguínea. Da mes- ou seja, qual é o número de animais doentes no
ma maneira, problemas cardíacos podem exigir total de animais e quantos morrem dos que estão
mecanismos de compensação respiratória, para doentes.
Outros pontos importantes são as informações
compensar uma diminuição de oxigenação decor-
sobre o início do processo, se foi em forma de surto,
rente das alterações circulatórias.
ou ocorrem casos esporádicos ao longo do tempo.
Outra finalidade importante é localizar o pro-
O tempo e o tipo de evolução devem ser levados
cesso dentro do sistema respiratório, se está restrito
em consideração, estabelecendo-se há quanto
às vias aéreas anteriores ou às posteriores e, ainda,
tempo o problema iniciou-se, se o animal adoe-
se inclui o interstício pulmonar. As vias aéreas an-
ceu rapidamente ou apresenta evolução lenta e
teriores incluem as narinas, seios paranasais, farin-
progressiva ou estacionária dos sinais clínicos. A
ge, laringe e traquéia. Às vias aéreas posteriores finalidade dessas observações é verificar a gravi-
pertencem os brônquios maiores, os brônquios seg- dade do caso e a patogenicidade e transmissão do
mentares e os bronquíolos, que levam o ar inalado agente agressor.
até os sacos alveolares e alvéolos, para a realização Tratamentos anteriores ao atendimento de-
das trocas gasosas (hematose). A localização da le- vem ser explorados, para eventuais modificações
são é feita utilizando-se os métodos semiológicos. do plano terapêutico a ser adotado. Por exemplo,
Embora o exame clínico seja encarado como um animal portador de uma infecção respiratória
arte por alguns autores, ele depende de cuidado, em curso que está recebendo um determinado
técnicas apropriadas, paciência e rotina lógica de tipo de antibiótico sem alteração do processo
exame, que venham cobrir todas as possibilidades infeccioso não deverá tomar o mesmo tipo de
eventuais. Essas técnicas podem ser realizadas em .antimicrobiano, a não ser que testes de laborató-
conjunto ou separadamente. Pelo exame semioló- rio confirmem a sensibilidade do microrganismo
gico, considerando-se o histórico ou anamnese, a ao agente terapêutico utilizado.
inspeção, palpação, percussão, ausculta e olfação, Dentro dos problemas respiratórios, há sem-
o clínico deve ter como finalidade localizar o pro- pre necessidade de se colher, pela história, toda
cesso dentro do sistema respiratório, se possível, a sintomatologia clínica observada, estabelecer
estabelecer a sua natureza e sua etiologia. uma relação estreita entre o sinal ou sinais clíni-
cos apresentados e o momento em que eles
ocorrem com maior intensidade durante o ma-
Anamnese nejo do animal. Como manifestações clínicas de
doenças do sistema respiratório que podem ser per-
A anamnese é uma conversa que se tem com cebidas pelo acompanhante temos o corrimento
o acompanhante do animal, no intuito de se con- nasal, espirro, tosse, fadiga durante exercício,
Semiologia do Sistema Respiratório
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ruídos ouvidos durante a respiração, respiração AVALIAÇÃO FÍSICA DO


rápida e superficial (taquipnéia) e a dificuldade
respiratória (dispneia). SISTEMA RESPIRATÓRIO
A tosse pode estar exacerbada ou se apresen-
tar somente durante a alimentação e, nesse mo- Inspeçao
mento, devemos colher informações e estabelecer
relações entre o tipo de ração, isto é, se é pulve- A inspeção é o método semiológico em que se
rulenta ou não, sobre a altura do cocho de alimen- faz a observação do animal como um todo e, nes-
tação, que pode provocar traumatismos constantes se caso, particularmente, do sistema respiratório.
na traquéia ou laringe. Tosses secas e constan- Deve-se observar o animal, preferencialmente sem
tes, principalmente durante exercícios, geralmente tocá-lo e sem excitá-lo, pois isso poderá provocar
estão relacionadas a problemas inflamatórios modificações na frequência respiratória e até no
traqueais ou traqueobrônquicos. tipo de respiração. Se o exame estiver sendo rea-
O corrimento nasal pode se mostrar mais lizado em um animal de grande porte, o exami-
intenso no momento do animal abaixar a cabeça nador deve olhá-lo obliquamente, colocando-se
para comer. Isso nem sempre se relaciona ao efeito de preferência na parte posterior ou na dianteira
da alimentação sobre a secreção nasal, mas sim a do animal, de maneira que possa observar o ponto
um efeito físico de facilitação de sua drenagem de transição costoabdominal. Em cães e gatos, a
para o exterior. Entretanto, pode ser um dos pri- observação da respiração pode ser feita olhan-
meiros sinais de alteração do sistema respirató- do-se o animal de cima para baixo, com o animal
rio, seja em casos de rinites ou de aumento de ainda mantido no chão.
secreção na árvore respiratória. Deve-se contar a frequência respiratória (FR)
Da mesma maneira, é de suma importância a em um minuto e verificar o tipo e o ritmo respi-
observação do local onde o animal dorme. De- ratórios. Na Tabela 7.1, estão ilustradas as fre-
vem ser observadas a umidade, temperatura in- quências respiratórias de adultos, nas diferen-
terna, ventilação e insolação, e o tipo de cama tes espécies animais.
utilizada nessas instalações, se é pulverulenta ou Oscilações fisiológicas da frequência respiratória
possui agentes irritantes, desde palhas ou feno (FR). Quanto menor a idade do animal, maior será
mofado cm grandes animais ate tecidos empoei- a FR, que diminui com o avançar da idade. Ani-
rados em pequenos animais. Todos esses são mais de grande porte e animais obesos apresen-
fa-tores predisponentes às infecções tam FR menores que os de pequeno porte e
respiratórias, especialmente nos animais mais magros. A FR aumenta gradativamente durante
novos. a gestação, é mais elevada durante o exercício,
De maneira geral, tudo que for irritante às vias em ambientes quentes e úmidos e em situações
aéreas pode provocar alterações nas células que as de estresse, especialmente nos cães e nos suínos.
recobrem ou interferir nas células de defesa, faci- Oscilações patológicas da frequência respiratória.
litando o crescimento de agentes microbianos, que Caracterizadas por taquipnéia, bradipnéia ou
podem provocar inflamação local e instalação da apnéia.
doença clínica respiratória. As principais manifes-
tações de doença no sistema respiratório ocorrem, • Taquipnéia: é o aumento da FR. Ocorre em
como resultado de obstruções, troca reduzida de situações de febre, dor ou diminuição da
oxigénio e dióxido de carbono, inflamação, septi- oxigenação sanguínea.
cemia e toxemia (Quadro 7.2). • Bradipnéia: é a diminuição da FR. Pode ocorrer
nas depressões do sistema nervoso central ou
próximo à morte do animal.
Quadro 7.2 - Principais indícios de envolvimento do
• Apnéia: é a ausência total de respiração.
sistema respiratório.
Outra particularidade que deve ser observa-
• Intolerância ao exercício (fornecimento inade
da durante a inspeção é o ritmo respiratório. Quando
quado de oxigénio - equinos).
• Ruídos respiratórios anormais (obstruções).
se está aferindo a FR, deve-se observar se o rit-
• Corrimento nasal (infecção, neoplasias, hemorragias). mo respiratório está dentro dos padrões conside-
• Dispnéias (inspiratórias e/ou expiratórias). rados normais ou se estão ocorrendo variações que
• Febre. possam ajudar o clínico no diagnóstico de lesão
318 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

Tabela 7.1 - Frequência respiratória em animais geral, esses tipos de ritmos respiratórios esc
domésticos (movimentos por minuto - mpm). associados à hipoxia ou a depressões cerebrais.
Espécie Jovens Adultos Pela observação da respiração, ou seja. da
Bovina 24 a 36 10 a 30 relação inspiração e expiração, dos movimentai
do tórax e abdome e da postura adotada pelo
Ovina 36 a 48 20 a 30
Caprina 36 a 48 Até 7 dias - 20 a 30 8
animal, pode-se classificar a atívidade respiratõr*
Equina 20 a 40 Até 6 meses - a 16 como normal (eupnéia) ou dificultosa (dispneia
10 a 25 - Fig. 7.2). Na respiração normal o movimenn»
Cães 20 a 30 18 a 36 inspiratório é ativo e mais rápido que o
Gatos - 20 a 30 expirató-rio, que c passivo e mantém uma relação
temporal de 1:1,2 respectivamente.
A classificação da dispneia pode ser de gran-
respiratória. O ritmo normal é observado como de auxílio na localização do processo respirató-
uma inspiração, uma pequena pausa, expiração rio. A dispneia inspiratória está relacionada às al-
e uma pausa maior, voltando, em seguida, a uma terações das vias aéreas anteriores seja por
inspiração. Qualquer alteração no ritmo respira- este-noses, corpos estranhos ou inflamações,
tório é denominada de arritmia respiratória. que diminuam o lúmen das vias aéreas
Existem alterações clássicas de ritmo, como dificultando a entrada de ar. Isso c facilmente
a respiração de Cheyne-Stokes, na qual se obser- entendido, poi> as vias aéreas anteriores
va frequência respiratória crescente até atingir um apresentam pouca sustentação e, como
auge, diminuindo em seguida até apnéia e, em consequência, quando o animal faz inspirações
seguida, uma FR novamente crescente; ocorre nas forçadas, a tendência das vias aéreas. que estão fora
fases finais de insuficiência cardíaca, em intoxica- da cavidade torácica, é o "cola-bamento" e,
ções por narcóticos e lesões cerebrais. A respira- portanto, diminuições em seu calibre
ção de Biot, na qual há dois ou três movimentos intraluminal dificultarão a entrada de ar na
respiratórios, apnéia, um ou dois movimentos, outra árvore respiratória.
apnéia e assim por diante; ocorre por afecções A dispneia expiratória se relaciona a proces-
cerebrais ou de meninges. Outro tipo de ritmo c sos mórbidos, que diminuam a elasticidade de re-
o de Kussmaul, observado como inspiração pro- torno pulmonar ou que provoquem obstruções das
funda e demorada, apnéia, expiração prolonga- pequenas vias aéreas, dificultando a saída do ar.
da, repetindo-se o ciclo; é visto em coma e into- como ocorre no cnfisema pulmonar, nas bronqui-
xicação por barbitúricos (Fig. 7.1). De maneira tes e bronquiolites. Nesse caso, podemos enten-
der o processo se observarmos que, durante a

Ritmo de Cheyne-Stokes

Ritmo de Biot

Figura 7.1 - Esquemas de


alguns tipos de arritmias
Ritmo de Kussmaul respiratórias.
Semiologia do Sistema Respiratório
319

Figura 7.2-Dispneia
em bovino. Nota-se a
boca entreaberta e dis-
tensão de pescoço. ,..

inspiração, há pressão negativa intratorácica e, por- nas alterações anatómicas, como ocorre nas pneu-
tanto, expansão das vias aéreas que estão dentro monias focais, já provocam alterações nas trocas
do tórax. Durante a expiração, como a pressão ne- gasosas, estimulando esse mecanismo de compen-
gativa diminui, existe compressão das paredes sação. A hiperpnéia, por sua vez, está relacionada
torácicas sobre o pulmão e, conseqiientemente, principalmente a processos que dificultam a ex-
sobre as vias intratorácicas. Se houver corpos pansão pulmonar como, por exemplo, o pneumo-
estranhos, muco em excesso ou qualquer outro tórax ou, temporariamente, logo após o exercício.
problema que diminua a luz dessas pequenas vias, O tipo respiratório é outra característica que
haverá dificuldade de saída do ar alveolar e, pode indicar a localização da alteração patológica
con-seqúentemente, maior esforço para expirar. dentro do sistema respiratório. O tipo respiratório
No edema pulmonar a dispneia é do tipo mista, normal nos animais domésticos é o costoabdominal,
pois o pulmão, pela presença de líquido no que pode sofrer alterações para os tipos costal e
interstício, terá dificuldade de expansão e, abdominal. Os animais portadores de processos
conseqiien-temente, dispneia inspiratória. Com que manifestam dor torácica, como fraturas de
a saída de líquido de dentro dos vasos costela ou pleurite, podem apresentar o tipo
sanguíneos para o interior dos bronquíolos, res-piratóf io ou respiração, predominantemente
haverá também dificuldade de saída de ar dos abdominal, como forma de defesa contra a dor.
alvéolos, caracterizando uma dispneia mista. Aqueles que têm dor abdominal, como nos casos
Apesar disso, nesta doença em especial, ocorre de peritonite ou nas grandes compressões sobre
predominância de dispneia inspiratória pela o diafragma (por exemplo, nas dilatações
dificuldade maior de trocas gasosas e grande gástricas), podem apresentar respiração do tipo
hipoxia resultante. Na broncopneumonia, a costal.
dispneia é do tipo mista, pois existe a dificuldade A Inspeção nasal é de grande importância no
exame do sistema respiratório. Deve-se observar
de expansão pulmonar (dispneia inspiratória)
alterações do espelho nasal, também chamado de
decorrente da congestão provocada pela
muflo, se há rcssccamento, como nos casos de
inflamação e saída de exsudato nos brônquios e
febre, desidratações ou hipovolemias; erosões,
bronquíolos, que determina dificuldade na expi-
como na febre catarral maligna, ou ainda quais-
ração (dispneia expiratória). quer outros tipos de lesões que possam indicar
O pulmão pode responder funcionalmente a ou levar a alterações da respiração. No conduto,
uma diminuição das trocas gasosas por dois me- também chamado de fossa nasal, deve-se verifi-
canismos compensatórios: aumentando a frequên- car modificações na coloração e umidade da mucosa
cia (taquipnéia) e amplitude (hlperpnéiá) respira- e procurar lesões como úlceras, erosões, pólipos,
tórias. A taquipnéia não ajuda a localizar a altera- tumores e corpos estranhos, que podem ser vis-
ção dentro do sistema respiratório, pois peque-
320 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

tos na inspeção direta da cavidade nasal. A mu- se purulento quando há contaminação


cosa nasal sadia é de cor rósea, úmida e não tem bacteria-na e migração de células leucocitárias
lesões visíveis. e restos celulares para o muco. Lesões
Na inspeção das narinas, o corrimento nasal vasculares provocadas por corpos estranhos,
pode fornecer informações sugestivas da locali- ferimentos, úlceras ou pólipos podem
zação do processo mórbido. O corrimento nasal determinar corrimento do tipo hemorrágico. As
pode ser oriundo do trato respiratório anterior ou vezes, os animais apresentam corrimento nasal
posterior. Se ele é unilateral, pode indicar altera- com conteúdo alimentar, geralmente de
ções na narina correspondente c os processos mais coloração esverdeada nos herbívoros ou
comuns são corpos estranhos, úlceras e ferimen- relacionada ao tipo de alimento ingerido, nos
tos locais. Se ele é bilateral, pode representar outros animais (Fig. 7.4). O odor é variável, indo
comprometimento de ambas as narinas, especial- desde a ausência de cheiro até putrefação. Esse
mente em processos inflamatórios que aumentam tipo de corrimento mostra defeitos na de-
a secreção nasal, ou pode se originar de locais glutição por lesões na faringe ou processos obs-
situados posteriormente à narina, tais como laringe, trutivos de esôfago e o animal pode apresentar
traquéia e brônquios, acometidos por afecções que refluxo nasal quando deglute.
aumentam a quantidade de secreções inflamató- Finalmente, no exame das narinas deve-se
rias nessas vias aéreas. atentar para o odor da respiração e para o fluxo do
O corrimento nasal deve ser analisado quanto ar exalado. O odor pútrido da respiração está re-
ao tipo: classificado como seroso, mucoso, puru- lacionado a lesões nas quais há destruição
lento e hemorrágico ou suas combinações. O tipo teci-dual, tais como na laringite necrótica, em
seroso é observado normalmente nos bovinos, que abscessos pulmonares ou na pneumonia por
lambem constantemente as narinas (Fig. 7.3). Esse aspiração. Fluxo de ar desigual nas narinas
tipo de corrimento é mais intenso em animais implica em diminuição de calibre de uma delas,
deprimidos e sempre está relacionado a afecções que pode ser encontrado em obstruções por
do sistema respiratório. O corrimento seroso ga- corpos estranhos, tumores ou quaisquer outros
nha significado clínico quando se apresenta em problemas que provoquem estenoses no lúmen
excesso, em qualquer espécie de animais. O cor- da narina com menor fluxo de ar. Da mesma
rimento nasal mucoso relaciona-se, principalmen- maneira é importante sentir, com as costas das
te, à produção exacerbada de muco pelas glân- mãos, a temperatura do ar exalado (Fig. 7.5). O
dulas das narinas, consequente a inflamações aumento da temperatura, no fluxo de ar saído de
viróticas ou alérgicas. O corrimento nasal torna- uma das narinas, é indicativo de processo
inflamatório na cavidade nasal correspondente.

Figura 7.3 - Hemoptise, em bovino,


causada por trombose da veia cava
caudal. Na hemoptise o sangue sai pela
boca e narinas, geralmente associado
à tosse.
Semiologia do Sistema Respiratório
321

A tosse é um dos mecanismos de limpeza do


sistema respiratório e ocorre quando há irritação
das terminações nervosas da laringe e traquéia
provocada pela inflamação da mucosa, seja por
ação direta do agente agressor sobre a mucosa ou
pela produção excessiva de muco. Tosse seca e
com-tante geralmente indica alteração inflamatória
nas vias aéreas superiores, como na faringite e
na laringite, podendo estar presente também
nas traqueítes. Tosse úmida ou produtiva,
relacionada ao aumento de exsudato
broncopulmonar, como nas broncopneumonias,
pois o líquido inflamatório se movimenta nas vias
aéreas com a respiração, estimulando a tosse.
Para confirmar a informação recebida do acom-
panhante do animal e verificar o tipo de tosse,
deve-se fazer o reflexo de tosse que, nos grandes
Figura 7.4 - Corrimento nasal esverdeado (conteúdo ali-
mentar) em equino.
animais, pode ser realizado de duas maneiras,
beliscando-se ou esfregando-se os primeiros anéis
traqueais logo abaixo da glote ou, como c feito
principalmente nos adultos por problemas de
enrijecimento dos anéis cartilaginosos e por sua
difícil compressão, pela obliteração do ar inalado
até que o animal comece a reagir, soltando-se em
seguida. O animal irá inspirar uma grande
quantidade de ar rapidamente, tendendo a tossir se
houver inflamação das vias aéreas. Nos pequenos
animais e nos grandes animais de pequeno porte,
o reflexo de tosse c estimulado por compressão e
movimentos de fricção ou pelo beliscar dos
primeiras anéis traqueais.
Figura 7.5 - Avaliação da
força de expulsão e da tem-
peratura do ar expirado em
bovinos.
322 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

Palpação flamação da garganta, caracterizando processos


como faringite, laringite ou abscessos. Esse exa-
Além do reflexo de tosse descrito anterior- me deve, portanto, ser acompanhado por inspe-
mente, que já é uma manobra de palpação da ção interna da faringe, seja por inspeção direta
traquéia, deve-se palpar todas as partes externas com abridores de boca e abaixadores de língua
do sistema respiratório à procura de depressões ou com auxílio de endoscopia.
(afundamento do osso nasal, fratura de anel À palpação pode-se sentir vibração na altura
tra-queal cervical, fratura de costelas) ou da laringe ou traquéia, que se chama frémito
aumentos de volume, que possam ou não ter sido laríngeo ou traqucal e c indicativo de líquido em
verificados à inspeção. Observa-se sempre nessas quantidade excessiva ou membranas que vibram
alterações superficiais os sinais clássicos da à passagem do ar. Da mesma maneira, pode-se
inflamação (dor, calor, rubor, tumor) e, na sentir o frémito torácico que tem como significa-
dependência do local encontrado, pode-se do clínico a presença de líquido (inflamatório ou
relacioná-los a processos inflamatórios não) nos brônquios, de atrito pleural (roce
localizados como, por exemplo, abscessos. No pleu-ral) ou, quando sentido sobre a área
caso de se sentir esses sinais de inflamação nos cardíaca, de sopro cardíaco ou roce pericárdico.
espaços intercostais, sem aumentos de volume
nessa região, é indicação considerável de
pleurite; se houver piotórax associado à pleurite Percussão
há, além do aumento da temperatura,
abaulamento dos espaços intercostais, visto à ins- A percussão é um dos métodos semiológicos
peção nos animais magros. que fornece informações a respeito do estado fí-
A palpação do tórax deve ser feita com a mão sico do sistema respiratório. Deve ser realizada
espalmada e com as pontas dos dedos apoiadas desde os seios paranasais até a porção posterior
nos espaços intercostais (Fig. 7.6). Aumenta-se do tórax.
gradativamente a pressão dos dedos e observa-sc Nos seios para-nasais (frontal, lacrimal e ma-
a reação do animal; com essa manobra, evita-se xilar) a percussão deve ser feita com o cabo do
confundir a reação própria do animal a uma pres- martelo de percussão e de forma comparativa entre
são brusca sobre o costado. o lado esquerdo e direito da cara do animal. A
Se, à palpação, os linfonodos submandibulares principal alteração* que se consegue ouvir é a
se revelarem aumentados e houver ânsia de vó- modificação do som normal (claro) para maciço,
mito ou tosse à palpação da laringe, especialmente indicando que uma cavidade, antes vazia, está
em pequenos animais, pode ser indicação de in-

Figura 7.6 - Palpação do


tórax de bovino.
Semiologia do Sistema Respiratório
323

sendo preenchida por alguma substância, por Técnica. Feita com o animal em posição
exemplo, pus. Esse sinal sugere sinusite ou qua-drupedal ou sentado (pequenos animais),
tumo-rações em seio paranasal, ou seja, lesões em ambiente silencioso. Pode ser dígito-digital ou
que ocupam espaço. Por outro lado, se houver mar-telo-plessimétrica (Fig. 7.7). Deve ser feita
acúmulo de gás, o som pode se modificar para dor-soventral e craniocaudalmente, em toda a
timpânico como, por exemplo, nos casos de área torácica, deslocando-se o plessímetro nos
infecção da cavidade sinusal por bactérias espaços intercostais. Para a detecção dos limites
anaeróbicas, produtoras de gás. posteriores da área pulmonar é melhor que se faça
Nos pequenos animais, a percussão dos seios a percussão dirigida craniocaudal e
paranasais não tem aplicação prática, pois as di- dorsoventralmente.
ferenças entre os sons são de difícil identificação
pelo menor tamanho das cavidades. Limites
• Anteriores: musculatura da escápula (som maciço).
• Superiores: musculatura dorsal (som maciço).
Percussão do Tórax • Posteriores: de acordo com a espécie animal,
observando-se o cruzamento de linhas que passam,
A resposta sonora à percussão do tórax pode
imaginariamente, nos espaços intercostais (EIC)
variar desde o som normal (claro) até as alterações
com linhas, imaginárias e horizontais, que passam
sonoras com significado clínico. Áreas de sons
sobre a tuberosidade ilíaca (linha ilíaca), tubero-
submaciços ou maciços podem indicar preenchi-
sidade isquiática (linha isquiática) e na articulação
mento do parcnquima pulmonar por tecidos sóli-
cscapuloumeral (linha do encontro) (Tabela 7.2).
dos ou que, pelo menos, diminuam a quantidade
de ar no órgão, como nos casos de pneumonia, O som na região mais central do tórax é cha-
abscessos ou tumores pulmonares. Áreas de som tim- mado claro. Avançando para trás, no limite poste-
pânico indicam maior preenchimento do pulmão por rior, passa a ser timpânico ou submaciço (na de-
ar e podem se relacionar a enfísema pulmonar ou pendência de haver mais ou menos conteúdo de
pneumotórax. gás nas estruturas abdominais). Na região infe-
As alterações patológicas devem estar próxi- rior do tórax o som é submaciço.
mas à parede torácica e ter tamanho suficiente
para que possam ser percebidas por esse método
semiológico, pois o som produzido pela percus-
Variação Patológica dos Sons à Percussão
são tem penetração de quatro a sete centímetros Ampliação*da área de percussão. Geralmente
no pulmão. indica enfisema pulmonar. Nessa afecção, o som
claro modifica-se para timpânico.

Figura 7.7 - Percussão


dígito-digital da cavidade
torácica de um cão.
324 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

Tabela 7.2 - Limites posteriores de percussão da área pulmonar nos animais domésticos.

..——»•———-
Localização
Espécie animal
a a 2 g
Equinos 17 EIC 14 EIC 10 EIC 8
a a
Ruminantes 12 EIC 11 EIC EIC
a Q a
Caninos 11 EIC 10 EIC 8 EIC
a a a
Suínos 11 EIC 9 EIC 7 EIC

Som metálico. Esse tipo de som quase sempre origem provável de sua produção.
caracteriza o estiramento de paredes cavitárias por
quantidade exagerada de gás, associada ou não a
líquidos. Pode aparecer nos casos de cavernas
pulmonares cheias de ar, como na tuberculose,
no pneumotórax e na hérnia diafragmática com
penetração de alças intestinais no tórax.
Maciço ou submaciço. A variação do som claro
para maciço ou submaciço é indicativa de áreas de
condensação ou compressão pulmonar por tumores
ou grandes abscessos; atelectasia ou preenchimento
dos espaços intersticiais por líquido, inflamatório
ou não, como no edema pulmonar e nas pneumonias.
Linha de percussão horizontal. Quando se faz a
percussão do tórax e há modificação do som claro
para submaciço ou maciço em linha reta, paralela
ao local onde o animal está em pé, há indicação de
presença de líquido na cavidade torácica, seja por
exsudato, em casos de pleurisia com derrame
tran-sudato no hidrotóraxou sangue, mais
raramente, no hemotórax. Para se verificar a
horizontalidade da percussão, desloca-se o animal,
levantando ou abaixando a sua parte anterior, seja
numa rampa nos grandes animais ou manualmente
nos cães e gatos.

Auscultação
A auscultação é o método diagnóstico que dá
maiores informações a respeito do funcionamen-
to do sistema respiratório. A interpretação
corre-ta dos ruídos respiratórios pressupõe
conhecimentos sobre a produção de som e sua
transmissão no trato respiratório, bem como
dos efeitos que modificam o padrão normal dos
ruídos produzidos. Deve-se auscultar as vias
aéreas superiores e a região torácica
separadamente, embora não se deva esquecer
que pode haver interferência da auscultação de
uma área sobre a outra, especialmente dos ruídos
produzidos nas vias aéreas anteriores, que podem
interferir na ausculta dos pulmões. Em vista
disso, é bom lembrar que o local no qual se ouve
o ruído com maior intensidade corresponde à
Técnica
O animal deve ser auscultado preferencial-
mente em posição quadrupedal e em repouso. A
ausculta pode ser feita diretamente, com o ouvi-
do sobre uma toalha no tórax, ou indiretamente,
com estetoscópio. Ausculta-se todo o tórax, da
frente para trás e de cima para baixo, sendo ideal
realizar também a ausculta de cima para baixo e
de frente para trás, esquadrinhando-se, assim, toda
a área pulmonar (Fig. 7.8). Deve-se auscultar em
cada local, no mínimo, dois movimentos respira-
tórios (Fig. 7.9). Para um diagnóstico mais preci-
so, pode ser necessária a aplicação de exercício
leve (caminhada) ou a inibição temporária da res-
piração do animal, manobras que intensificam os
sons respiratórios. Ainda, pode-se adaptar um saco
plástico no focinho, chamado de saco respiratório
sem, no entanto, obliterar as narinas, mas sim-
plesmente aumentando o teor de CO 2 no ar ina-
lado. Ainda que as manobras sejam feitas para se
exacerbar os ruídos pulmonares é sempre melhor
a ausculta com o animal em repouso, para que se
possa ter uma padronização dos ruídos ouvidos
com esse método semiológico.
Os ruídos que podem ser auscultados são
divididos em duas categorias: os ruídos normais,
com suas variações patológicas, e os ruídos patoló-
gicos, também chamados de ruídos adventícios
respiratórios.

Ruídos Normais
Os ruídos normais são produzidos pela turbu-
lência do fluxo de ar nas vias aéreas com diâmetro
superior a 2mm, podendo variar na qualidade,
dependendo da localização do estetoscópio, da
velocidade do ar durante a respiração e da quanti-
dade de tecido sobre a área que se está ouvindo.
Hoje há tendências de se denominar os sons
ouvidos à auscultação pelos locais de produção
desses ruídos. Assim temos:
Semiologia do Sistema Respiratório
325

Figura 7.8 - Delimitação do campo pulmonar em cães.


Articulação escapulo umeral (AEU) ou linha de encontro;
Linha ilíaca (LI) e Tuberosidade isquiática (Tl).

Figura 7.9 - Auscultação do


campo pulmonar. Auscul-
ta-se duas movimentações
respiratórias, no mínimo.

Ruído laringotraqueal. E o ruído provocado pela Ruído traqueobrônquico. Antigamente chama-


vibração das paredes da laringe e da traquéia, sendo do ruído bronquial, sopro glótico ou tubárío. Ouvido
ouvido sobre a região da traquéia cervical, no na área torácica, produzido pela passagem do ar
momento da passagem do ar. Patologicamente, pelos grandes brônquios e porção final da traquéia,
pode-se ouvir, nessa região, o estridor traqueal, com vibração de suas paredes. É um ruído rude,
como se fosse o ranger de uma porta se abrindo, ouvido no terço anterior do tórax, tanto na inspi-
associado a casos de estenose de laringe ou tra- ração quanto na expiração.
quéia, e as crepitações de traquéia, provocadas Ruído bronco-bronquiolar. Antigamente chama-
por acúmulo de líquido ou muco nesses locais, do de murmúrio vesicular. Ruído respiratório pro-
como se fosse o estourar de bolhas. duzido pela vibração das paredes de brônquios
326 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

menores e bronquíolos. É um ruído suave, ouvido Portanto, o ruído bronco-bronquiolar pode es-
nos dois terços posteriores do tórax, durante a tar aumentado fisiologicamente nos animais jovens
inspiração. (maior frequência respiratória e menor espessura
torácica), nos magros, nos de pêlos curtos e na-
Variações dos Ruídos Respiratórios Normais queles que realizam exercícios físicos. Pode es-
tar aumentado patologicamente na hipertrofia
AUMENTO DOS RUÍDOS RESPIRATÓRIOS NORMAIS vicariante ou compensadora das áreas normais
quando há hepatização pulmonar cm áreas vizi-
Basicamente, o aumento de intensidade dos nhas àquelas a que se está auscultando; nas
ruídos normais do pulmão à auscultação significa dispnéias, pois os movimentos respiratórios são
aumento na quantidade de ar que penetra neste mais amplos, e nos casos de infiltração líquida do
órgão e, conscquentemente, maior vibração das pa- pulmão, na presença de brônquios pérvios.
redes das vias aéreas. Toda vez que houver aumento Da mesma maneira, o ruído
na intensidade da respiração seja por aumento na traqueobrôn-quico pode estar aumentado em
frequência respiratória (taquipnéia), na amplitu- intensidade quando houver estenose de vias
de (hiperpnéia) ou ainda por dificuldade respira- aéreas anteriores e nos casos de infiltração
tória (dispneia), haverá exacerbação na ausculta dos líquida do interstício pulmonar, quando os
sons respiratórios. brônquios menores passam ter paredes rígidas,
Os ruídos respiratórios normais podem estar que refletem melhor o som. Nessas situações,
exacerbados, também, nos casos em que haja as regiões do interstício pulmonar, preenchidas
fa-cilitação de sua transmissão, especialmente por líquido, têm que ter uma extensão adequada
quando houver líquido no interstício pulmonar, e conter brônquios pérvios, próximos à parede
aumentando sua densidade (Fig. 7.10). Os torácica. Além do aumento na intensidade,
processos patológicos que levam à deposição de observa-se, nesses casos, aumento da área de
líquido no interstício pulmonar aumentando, auscultação do ruído traqueobrônquico, podendo
assim, a transmissão sonora são pneumonias, ser notado em toda a área pulmonar, onde
congestão e edema pulmonar. normalmente não c ouvido. No cavalo adulto,
Outro caso onde se observa intensidade au- excetuando-sc ostnagros, ausculta-se somente o
mentada dos ruídos respiratórios normais é quando ruído bronco-bronquiolar na área torácica,
houver aproximação do ouvido com o órgão pro- sendo considerada patológica a ausculta do ruído
dutor da manifestação sonora, ou seja, nos ani- traqueobrônquico. O significado clínico desse tipo
mais com parede torácica delgada. de som é congestão local, de origem infla-
matória ou não.

Figura 7.10 - Utilização do


"saco respiratório" para au-
mentar a intensidade dos
ruídos respiratórios.
Semiologia do Sistema Respiratório
327

DIMINUIÇÃO DE INTENSIDADE DOS tão com quantidade exagerada de líquido, deter-


RUÍDOS RESPIRATÓRIOS NORMAIS mina a formação de uma onda, suficiente para cau-
De maneira geral, pode-se ter diminuição dos sar a obstrução de sua luz. Como a pressão ante-
ruídos à auscultação pulmonar sempre que houver rior e a posterior a essa onda líquida são diferen-
tes, a tendência é que haja desobstrução da luz
interferência na transmissão desses sons ao ouvido
bronquial para, em seguida, haver nova obliteração,
de quem está auscultando; quando houver dimi-
já que o ar continua entrando. A sonoridade pro-
nuição da velocidade de penetração de ar nas vias
vocada por essas obstruções e desobstruções se-
respiratórias, seja por obstruções ou por diminui-
quenciais se assemelha ao estourar de bolhas, sen-
ção da atividade respiratória; ou quando ocorre-
do por isso chamado antigamente de estertor
rem obstruções nas vias aéreas anteriores, preju- bolhoso, ou então, como parecia com o som pro-
dicando a velocidade do ar nas vias aéreas poste- duzido ao soprar ar em líquido, era denominado de
riores, diminuindo a vibração das paredes dessas estertor úmido. Atualmente, por ser um ruído
estruturas. de crepitação, é chamado de crepitação grossa, de-
Assim, os ruídos bronco-bronquiolar e tectado nos casos de broncopneumonia e edema
traqueo-brônquico podem estar diminuídos pulmonar.
fisiologicamente nos animais gordos, de pêlos Crepitação fina ou estertor crepitante (termo
longos, com maior espessura da parede torácica, antigo). Ruído semelhante ao esfregar de cabe-
musculosos (maior distância do ouvido ao órgão los, próximo à orelha, ou ao estourar de peque-
produtor do som) e, nos que estão há muito tempo nas bolhas. Antigamente, acreditava-se que se esse
em repouso (menor frequência e amplitude tipo de ruído estivesse ocorrendo durante a fase
respiratórias). Podem estar diminuídos inspiratória da respiração, seria provocado pelo
patologicamente, cm afecções dolorosas do tórax, descolamento das paredes dos alvéolos preenchidos
levando à respiração superficial; diminuição da por líquido inflamatório. Mas hoje, sabendo-se que
elasticidade pulmonar; nas aderências pulmo- os ruídos são produzidos em tubos de, no máxi-
nares extensas (menor entrada de ar); nos mo, 2mm, dcdaiz-se que esse ruído seja produzi-
exsuda-tos fibrinosos, edemas ou cnfisemas do durante o descolamento das paredes das pe-
subcutâneos, nas coleções de ar ou líquido na quenas vias aéreas preenchidas por líquido ou muco
cavidade plcural (dificultam a capacidade de em excesso. Se ele for inspiratório, pode signifi-
ausculta do indivíduo, já que afastam o órgão car edema pulmonar ou pneumonia; se
produtor de som do ouvido do examinador). As expirató-rio ou inspiratório/expiratório (misto),
estenoses das vias aéreas, atingindo até os grandes doença pulmonar obstrutiva crónica,
brônquios, diminuem a intensidade do ruído bronquiolite e enfise-ma pulmonar.
bronco-bronquiolar. Essa característica sonora pode Inspiração interrompida ou murmúrio vesicular
até desaparecer (área de silêncio) quando os interrompido (denominação antiga). Pequenas in-
alvéolos, bronquíolos e pequenos brônquios estão terrupções na inspiração, como se fosse o soluçar
cheios de cxsudato ou quando há grande área de de uma criança chorando. Se esse ruído for ouvi-
compressão por tumor, abscessos e na atelectasia do durante a inspiração, com a parede torácica mo-
pulmonar. vimentando-se de uma única vez, é indicação de
Um outro fenómeno sonoro que pode ser obstrução sequencial de brônquios, com líquido
detectado é a chamada inspiração interrompida ou em quantidade e viscosidade insuficientes para
murmúrio vesicular interrompido (denominação provocar a crepitação grossa. Se o ruído for ouvi-
antiga), que é o ruído provocado pela interrup- do com o tórax se movimentando em dois tem-
ção na inspiração, podendo ser ouvido em ani- pos, é sugestivo de dor à inspiração (pleurite) ou
mais sadios e nos excitados, nas enfermidades do- excitação psíquica do animal.
lorosas da pleura e na bronquite com exsudato Sibilo. Manifestação sonora aguda, de alta
(obstrução sequencial de brônquios, interrompen- intensidade, que se assemelha a um chiado ou
do a corrente de ar). assobio. Indica estreitamento de vias aéreas cau-
sado por deposição de secreção viscosa aderida,
que deforma a luz tubular como se fosse um bico
Ruídos Patológicos ou Adventícios de flauta ou, ainda, broncoespasmo. Se ocorrer
no início da inspiração, está relacionado princi-
Crepitação grossa ou estertor amido (termo palmente a processos extratorácicos, como este-
antigo). Significa, clinicamente, aumento de lí-
quido no interior de brônquios, seja inflamatório
ou não. O ar, ao passar pelos brônquios, que es-
328 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

nose da laringe, compressão da traquéia ou muco se está fazendo a auscultação do sistema respira-
espesso depositado nesses locais. Se aparecer no tório, dificultando o diagnóstico. Por isso é im-
fim da inspiração ou expiração pode indicar obs- portante lembrar, sempre, que todo ruído auscul-
trução das pequenas vias aéreas, como nos casos tado, para ser valorizado, deve estar relacionado
de bronquite ou bronquiolite e doença pulmonar com o movimento do órgão que se está ouvindo.
obstrutiva crónica.
Ronco. Ruído grave, de alta intensidade, pro-
duzido pela vibração de secreções viscosas aderi- Percussão Auscultatória
das às paredes de grandes brônquios, durante a
passagem do ar. O mesmo pode indicar broncopneu- Outro método semiológico para o exame do
monia se sua origem, ou seja, o seu ponto máximo sistema respiratório é a associação da auscultação
de ausculta estiver no tórax, ou mostrar laringite com a percussão. Faz-se a percussão traqueal com
ou laringotraqueíte se for ouvido com maior o dedo ou com o cabo do martelo (em grandes
intensidade na região da laringe ou traquéia. animais) e a auscultação pulmonar
Rocepleural. Ruído provocado pelo atrito das conjuntamen-te, ou seja, produzimos um som e o
pleuras visceral e parietal inflamadas, indican- escutamos na área pulmonar.
do pleurite. Num animal sadio, as pleuras des- Dessa maneira pode-se ouvir:
lizam suavemente, uma sobre a outra, sem pro-
vocar ruído algum. Quando há inflamação e • Em tecido normal: um ruído débil, impreciso,
deposição de fibrina sobre elas, o atrito se trans- distante e difuso.
mite ao ouvido do examinador como se fosse o • Em tecido atelectásico ou congesto: ouve-se um
esfregar de duas folhas de papel, ou áspero como ruído breve, seco e preciso, como nascido ime
o esfregar de duas lixas, ou de couro molhado diatamente debaixo do ponto que se está
ou, ainda, um gemido. auscultando.
Sopro, roce ou ruído cardiopleural. Ruído rude, • Em coleções líquidas no espaço pleural: o ruído
semelhante ao raspar de duas superfícies áspe- se apresenta longe, mas preciso e breve.
ras, ouvido durante a inspiração c coincidente
com a movimentação cardíaca. Corresponde ao
atrito da pleura sobre o pericárdio inflamados,
indicando, portanto, uma pleurite associada a uma
Punção Exploratória ou
pericardite. Toracocentese
Sopro ou ruído cardiopulmonar. Ruído suave,
de baixa intensidade, semelhante ao soprar com E outro método exploratório que pode ser uti-
os lábios apertados. A entrada do ar que passa nos lizado para diferenciar o diagnóstico de exsudato
brônquios menores das áreas pulmonares que estão e transudato pleural e para colheita de líquido
sobre o coração pode ser interrompida durante o pleural, tanto para exame como para fins terapêu-
período de contração isométrica da sístole ven- ticos. Utiliza-se agulha 6 a 8cm x 2mm (60x20;
tricular. Quando ocorre a sístole, a passagem do 80x20) ou até uma sonda mamaria, depois de se
ar é liberada, ouvindo-se esse tipo de som inter- fazer uma pequena incisão na pele anestesiada,
rompido de forma sequencial a cada novo início para sua introdução na cavidade torácica.
da sístole. Ocorre em animais sadios ou naqueles
em que há excesso de produção de muco, como
nas bronquiolites. Local da Punção
Broncofonia. Ruídos propagados das vias aé- Equinos. No 6° EIC (espaço intercostal) do
reas anteriores, como a voz, os gemidos, a tosse, as
lado esquerdo ou 5° EIC do lado direito do tórax.
crepitações ou os estridores laríngeos. São ouvi-
Ruminantes e suínos. No 5Q EIC no lado es-
dos ora como zumbidos imprecisos, ora claramen-
querdo ou 4- EIC no lado direito.
te, principalmente na região anterior do tórax.
Ruídos acessórios que perturbam a auscultação. Carnívoros. No ângulo entre a área de macicez
Ruídos das contrações dos músculos cutâneos, cre- cardíaca e o limite do pulmão, fazendo-se a per-
pitações dos pêlos, ruídos de deglutição e ruídos cussão com o animal sentado.
gastroentéricos. Todos esses ruídos e mais os pro- A agulha deve ser introduzida acima da veia
duzidos no ambiente podem ser ouvidos quando torácica e sempre no bordo oral da costela, para
evitar nervos e vasos intercostais.
Semiologia do Sistema Respiratório
329

EXAMES AUXILIARES NO O exame radiográfico é um exame não invasivo


do tórax, estruturas intratorácicas e seios paranasais,
DIAGNÓSTICO DOS PROCESSOS que ajuda na identificação e definição das doen-
ças intratorácicas e do trato respiratório anterior.
RESPIRATÓRIOS O exame radiográfico do trato respiratório
Apesar do exame clínico ter importância absoluta anterior é importante na avaliação das áreas e es-
no diagnóstico das doenças respiratórias, alguns truturas inacessíveis pelo exame físico ou
exames complementares são de extrema impor- endos-cópico. Podem ser obtidas informações
tância para o auxílio diagnóstico. sobre os seios paranasais, septo nasal, bolsa
O hemograma fornece informações esclarece- gutural, faringe e laringe. É indicado nos casos de
doras, principalmente no sentido de indicar se a al- secreção nasal uni ou bilateral, epistaxe,
teração respiratória é infecciosa ou não. No deformidades faciais e orofaciais, desvios de
leuco-grama, o encontro de leucocitose com septo, fraturas, neoplasias, hematomas,
neutrofilia indica um processo bacteriano e a abscessos e sinusite. A faringe e a traquéia
leucopenia com linfocitopenia sugere um processo cervical também podem ser analisadas por
virai. Os processos inflamatórios do sistema radiografia lateral.
respiratório provocam, na maioria das vezes, As radiografias torácicas possibilitam a visuali-
aumento de fíbrinogênio, que pode ser aferido zação de estruturas densas e líquidas, em contras-
quando se faz o hemograma. te com ar pulmonar. O aumento da radiodensidade
O exame parasito lógico de fezes é indicado no pode indicar alteração vascular, brônquica, inters-
diagnóstico de verminose pulmonar, ticial ou alveolar. A análise radiográfica do trato
utilizando-se, especialmente, técnicas para respiratório» posterior de pequenos animais possi-
bilita o diagnóstico de pneumonias, bronquites,
detecção de larvas dos parasitas.
edema, enfisema pulmonar, pleuris, abscessos ou
A titulação sorológica de anticorpos é usada,
tumores torácicos e pulmonares. Em animais de
principalmente, para se detectar anticorpos contra
grande porte, essa técnica é mais utilizada em ani-
agentes virais, que são potencialmente
mais jovens ou de pequeno porte. Bovinos e equi-
patogêni-cos para o sistema respiratório. Embora
nos adultos exigem equipamentos especiais, dispo-
seja de grande auxílio para se descobrir a etiologia
níveis somente em grandes centros diagnósticos.
da doença, tem suas limitações. Um grupo de A ultra-sonografia torácica possibilita detec-
animais vacinado ou que tenha tido contato com o tar abscessos, tumores, enfisema e problemas de
vírus que se está pesquisando pode apresentar pleura, especialmente acúmulo de líquido na
sorologia positiva para aquele anticorpo sem cavidade torácica, como no caso de pleurite com
significar que o animal está doente. Muitos efusão.
animais têm título sorológico e, durante o A endoscopia é hoje de grande auxílio no
episódio de um problema respiratório, a detecção diagnóstico das doenças respiratórias em grandes
de anticorpos não esclarecerá a sua etiologia. No animais. Permite ver e analisar as características
entanto, a associação dos sinais clínicos com o físicas e funcionais do sistema respiratório, além
resultado sorológico deverá fornecer fortes
indícios para identificar o agente causal.

Figura 7.11 - Realização de lavado traqueal em equinos.


330 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

de facilitar a colheita de secreções durante o exame, A necropsia é um método seguro na pesquisa


que poderão servir para o diagnóstico do agente etiológica das afecções pulmonares nos animais.
causal. Gonsegue-se, com esta técnica, o reconhecimento
Os lavados traqueobrdnquíco e broncoalveolar das lesões que acometem o sistema respiratório e
estão intimamente associados com o exame físico a realização da colheita do material necessário para
por fornecer acesso ao trato respiratório inferior, análises diagnosticas, tanto para verificação do tipo
permitir colheita de células, de material para de lesão como do agente causal.
cultura microbiológica e exames Com o uso cada vez maior dos métodos au-
imuno-histo-químicos e, dessa maneira, xiliares, o clínico está adquirindo grande ajuda
proporcionar o diagnóstico do agente causal, para o diagnóstico e estudo das doenças respira-
determinar a gravidade da resposta inflamatória, tórias. Muitos dos métodos apresentam custos
auxiliar na instituição do tratamento adequado e elevados ou são pouco práticos e só se justifi-
do prognóstico das doenças respiratórias. cam em alguns animais. Outros necessitam de
As medidas de gases sanguíneos arteriais pela estudos mais profundos para que sejam usados
gasometria são indicadas para documentar a insu- na rotina diagnostica. Mas, sem dúvida, traba-
ficiência pulmonar, diferenciar hipoventilação de lhos futuros nessa área irão fornecer, cada vez
outras causas de hipoxemia, ajudar a determinar mais, meios para o diagnóstico rápido c seguro
a necessidade de terapia de suporte com oxigénio das doenças respiratórias dos animais.
e monitorizar a resposta ao tratamento. A amostra
de sangue arterial deve ser obtida, preferen-
cialmente, cm uma seringa de plástico, BIBLIOGRAFIA
heparini-zada, sem bolhas de gás na amostra. A
AMES, T.R., HMIDOUCH, A. Pathoflsiology and diagnosis
agulha deve ser introduzida numa rolha de
of respiratory discasc. In: KOBLUK, C.N., AMES, T.R.,
borracha, para que seja vedada e impedir o
GEOR, RJ. The Horse: Diseases and Clinicai Management.
equilíbrio da amostra com o ar atmosférico. Deve Philadelphia: W.B. Saunders Company, v.l, cap. 12,
ser conservada em gelo ou água gelada até o p.199-212, 1995.
momento do exame, não devendo ultrapassar 90 BARROS, M.S.R.M., CASTRO, R.S., TABOSA, J.H.(l,
minutos do horário de colheita. Em processos BRITO, M.E, AMARAL, B. Colheita do fluido
respiratórios, esse exame mostra alterações da brôn-quio-alveolar de bezerros através da
troca do ar alveolar com o sangue. Tem suas traqueoccntese transcutânea. Arq. Brás. Med Vet. e
desvantagens relacionadas a custo e Zootec., v.46, p.41-9, 1994.
complexidade dos equipamentos necessários BEECH, J. Cytology of tracheobronquial aspirates in horses.
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para esse teste.
BEECH, J. Equine Respiratory Disorders. Malven: Lca &
A biopsia pulmonar é indicada para obtenção
Febiger, 1991. p.458.
de amostra tecidual para diagnóstico histológico CORSTVET, R.E., RUMMAGE, J.A., HOMER, J.T. Recovery
ou para informações prognosticas, principalmen- of pulmonary alveolar macrophages from nonanesthctized
te, em casos de moléstias pulmonares difusas. Em calvcs. Am. J. Vet. Rés., v.43, p.2253-4, 1982.
casos de lesões focais, como nas neoplasias, a co- CRANE, S.A., ZIEMER, E.L., SWEENEY, C.R. Cytologic
lheita deve ser guiada por ultra-som ou and bacteriologic cvolution of tracheobronchial aspirates
endosco-pia, visto que a amostra obtida c muito from clinically normal foals. Am. J. Vet. Rés., v.50,
pequena. p.2042-8, 1989.
A biopsia pulmonar é contra-indicada nos casos DERKSEN, F.J., BROWN, C.M., SONEA, I., DARIEN,
B.J., ROBINSON, N.E. Comparison of transtracheal
de hipertensão pulmonar, cistos, abscessos e
aspirate and broncoalveolar lavage cytology in 50 horses
coa-gulopatias, devendo ser evitada, também,
with chronic lung discase. Equine Vet. J., v.21, p.23-6, 1989.
em animais com depressão grave, dispnéicos DIXON, P. Collection of tracheal respiratory secretions in
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A toracocentese é indicada para a colheita de DIXON, P.M. Ancillary diagnostic techniqucs for the
amostras de líquido plcural para realização de exa- investigation of equine pulmonary disease. Equine Vet.
mes citológicos e microbiológicos e, também, como Educat., v.9, p.72-80, 1997.
método terapêutico em animais com ventilação FREEMANN, K.P., ROSZEE, J.F. Equine cytology patterns
comprometida pela compressão pulmonar, por in respiratory conditions of probable or know infectious
depósitos de líquido ou ar no espaço pleural. As origin. Compend. Cont. Educ. Pract. Vet., v.19, p.378-83,
1997.
complicações da toracocentese são o pneumotó-
rax, causado pela laceração pulmonar, hemotórax
ou piotórax iatrogênico.
Semiologia do Sistema Respiratório
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