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Mmats, MO MesMo tempo que cultiva a terra, para man- Tor ae tutgondigho de."rurarbene’” CULTURA/AMERICA LATINA Os ‘‘rururbanos’’, categoria, em si, polémica, além do alo encontrarem um reconhecimento tedrico, encon- ttam dificuldades para o seu reconhecimento politico. Diana da questo “reforme ogidria para quom?”. os O outro Ocidente urbanos”’ nao se identificam com 0 “publico-meta’’ ulvalizado como beneficiario do grocesso de reforma JOSE GUILHERME MERQUIOR™ ugriria, tanto pelos varios agentes — no ambito da cida- de e@ do campo — que lutam pela sua realizagdo, como pelos organismos governamentais envolvidos com a questo. v wW. H. Auden A realidade demonstra a presenga dos ‘‘rururba- nos" no cendrio dos movimentos sociais no campo, ape: sar de serem ‘‘camuflados’’, ou de terem sua existéncia omitida nos discursos, seja por idealizag#o ou por medo das implicagdes politicas que sua existéncia pudesse acarretar. Percebe-se, a partir dal, que devem ser ques- tionadas as reificagdes e idealizacdes para que se dé con- ta da diversidade dos fatos, das categorias ‘‘desviantes”’ em relago a0 que se considera ‘‘classificdvel’’ politi camente. E, nesse sentido, a posigdo dos “‘rururbanos’” nao deveria ser vista como exética, mas sim como reque- rente de um espago proprio dentro do contexto mais geral. Enfim, o processo ‘‘rururbano"’ suscita questdes in- teressantes para a elaboracdo de programas e para a aclo. pratica de entidades e partidos politicos que atuam no campo. De toda forma, qualquer que seja o sentido atri- buido & reforma agraria no Brasil, a movimentagdo so- cial na Baixada Fluminense tem demonstrado 0 quanto esto’ proximas a questéo agraria e a questao urbana, principalmente em regides com grau de urbanizagao tao elevado, e 0 quanto esta proximidade pode engendrar o apereciriento de um personagem novo, « exigit recone. Gimeno nos planos teoriee e poll “Considerei sua ética protestante do trabalho a0 mesmo tempo pratica e simpatica.”” Mustragao de Fldvio Resende de Carvalho * Enafsta, embsixador brasil Bartamento de Linguagem ¢ 26 de setembro do 1988, Traducio de Sentoe oR PRESENCA PRESENCA oo A tarefa de interpretar a América Latina continua inacabada. Para ficar num s6 exemplo, os paroxismos do problema da divida, cam suas conseqiléncias sociais consternadoras, reacenderam velhas questdes de destino ¢ identidade. Ademais, 0 declinio de alguns modelos de explicagao — isto é, da chamada sdeiolagia da dependén- cia’ — tem fornecido um glamour renovado para inter- pretagdes culturalistas Ironicamenté, o dependentismo floresceu justamente quando nossas principais econo: mias se desenvolviam, e agora que as taxas de crescimen- to tém sido reduzidas de maneira tio perigosa a visao economicista cai em desuso. Exatamente ao final da década perdida para o de- senvolvimento latino-americano, a década dos oitenta, 0 Ppensamento norte-americano voltado para seus irméos do Sul ganha nova obra-prima de brilho e erudi¢ao. Refi- ro-me, 6 claro, ao fivro de Richard Morse, 0 Espelho de Préspero (1982). Rapidamente traduzido para 0 es panhol e para o portugués, 0 livro foi recebido de forma calorosa por intelectuais latino-americanos. Os aplausos de Antonio Candido, no Brasil, e Leopoldo Zea”, no México, no consistiram somente num pretexto para a consagragdo da longa e rica obra de uma autoridade tra- dicional em estudos latino-americanos, e tampouco num cumprimento amavel a uma das personalidades mais atuantes da academia americana. Eles foram também um gesto, altamente representativo, de gratidao num nivel mais profundo — gratidfo para com a mensagem de Morse. De fato, o proprio Morse enfatiza que © Espelho de Préspero Consiste, acima de tudo, numa tentativa de investigar se a civilizagdo Ibero-Americana possui “uma mensagem pata o mundo moderno”.® Em sua visdo, ele certamente possui, e-uma mensagem que, além de boa, Para uma breve alutio critica de tearia de desendincia. ver o mel en. “Pawar and identity: polities and ideology in Latin America”, Government and Opposition, vol. 19, n.-2, Londres, (primavera ae 1984). pp. 299-49, A tradugio brasileira do Expelho de Prospero 6 de Antonio Candido. Zea fez do livre © ponto de partida de seu Uitima trabalho, Biseurso Marginalizecibn y la Barbarie, Barcelona: Anthropos, 1985. jo ar pelavrat finait da introducko do proprio Morse. Cf. R. Morse, El Expeio del Prospero: un estudio de In dialdetica del Nuevo Mundo (te. por Stella Mastenagelol. México: Siglo XXI, 70 PRESENGA precisa ser aproveitada. O professor Morse 6 o principal sucessor de uma linha de eruditos e letrados americanos cujo apego 4 América Latina reflete uma postura critica diante de sua propria cultura. Os nomes de Waldo Frank e Frank Tannenbaum surgem de imediato 4 mente. O Préspera de Morse so os prosperos EUA, olhando com um sentimento de repulsa por si mesmo para o atrasado porém ainda nao desencantado Sul. Isto soou como mu- sica para nossos ouvidos latino-americanos. José Enrique Rodé — que, como autor do Mirador de Préspero, foi uma das fontes do inspirado titulo do ivro de Morse — costumava dizer que o barbarismo con- siste em pretender ser como os outros. Em seu celebra- do Ariel, Rodé opée o Ibérico ao anglo-americano, & agora 0 anglo-americano Morse busca na Ibero-América a imagem especular de sua cultura yankee. De outra par- te, Zea, em seu nove livro, Discurso desde marging- lizacion y ta Barbarie, em grande parte um didlogo com Morse (que por sua vez discute trabalhos anteriores de Zea), chega ao ponto de mencionar uma ‘‘barbaro- mania” que atormenta os intelectuais do Norte. Assim como existia na época de Rodé uma nortemania entre latino-amoricanos, como ele préprio dizia, atualmente o pensamento nortista se esforga para descobrir ¢ avaliar. culturas nfo-ocidentais. Prospero finalmente entendeu a maldig&io de Caliban: “Que caia sobre vas a peste verme- Iha por ter me inculgado vossa linguagem!”” (Tempesta- de, 1, 2). © progresso comega a acolher duvidas sobre si mesmo e suspira pelo atraso alheio. Mas, eis que surge uma sispeita: seré que isto no faz com que o pense mento nortista se torne um pouco “barbaro’’, no sentido de Rod6? O calibanismo de Morse vinga, oitenta anos depoi © arielismo de Rod. Pois Caliban, como sabemos, quei: xa-se nao contra Ariel, mas sim da lei de Prospero. Na verdade, a simpatia de Morse por Caliban preenche & mesma fungao psicolégica que o panegirico ao, espirito alado, 0 antidoto ao anglo-materialismo, cumpria erh Rodé. Em ambos os casos existe a postulagSo de a superioridade mora! da cultura ibérica, supUstai mais humana e cordial, mais ladica e sociavet do" sua contrapartida anglo-americana. E isto explic@.o fate de que, assim come os insipidos elogios de Rodé, & PRESENCA n" autocritica de Morse revolve nossa autocomplacéncia enquanto herdeiros da cultura ibérica. O professor Morse sustenta uma viso bastante p: iva da “‘matriz teimosa’” do pensamento e do senti- mento da cultura social ibérica: a nogdo, por assim dizer, tomista de um estado orgénico, hierarquico, porém hu- mano. Por dbvio, este holismo calido, distante do estado mecanico de Hobbes e Locke, se inclina mais para 0 po- pulismo do que para a democracia; e até mesmo suas versbes de esquerda tendem a ser “‘rousseaunianas”’, ar- ticuladas em torno de assungSes mistificadoras a respei toda vontade geral, ao invés de genuinas praticas demo- craticas. Nao importa: aos olhos de Morse, isto é defini- tivamente melhor do que 0 atornismo social da democra- cia yankee, 0 qual é descrito com desgosto quase mar- cuseano. Definitivamente, O Espelho de Prospero no espera muito do principio liberaldemocratico na América La- tina. Morse termina a parte historica de seu livra persua- dido de que a matriz criptotomista de nossa cultura po- litica persistiré. Assim sendo, a sua expectativa 6 a de que “a mistura da cultura politica ibérica com 0 rous- seaunianismo possa preencher os ideais humanistas de maneira mais adequada do que o enxerto do marxismo na tradig&o nacional russa ou a mescla anglo-atlantica de liberalismo e democracia.’”* © Espelho de Prospero contém varias paginas de ouro ~ em prosa plirpura —, sobretudo quando caracte- riza a especificidade da via hispanica para o despertar da era moderna, inspirado em historiogratia revisionista perspicaz, em José Antonio Maravall por exemplo, Mor- se rejeita, com acerto, o cliché de uma Espanha que rea- ge_inflexivelmente & modernidade. Segundo Morse, a infancia_da modernidade comportou mais de uma face ta, e a Espanha teria optado, simplesmente, por um pa- dro bastante diverso daquele seguido pela Europa do Norte. Alem disso, durante um século inteiro, isto 6, entre 1470 e 1860 — a era de Nebriza, Vivés, Cisneros, Vitéria e Suarez ~, a cultura espanhola demonstrou pos. suir notavel grau de tolerdncia e um pronunciado gosto Pela experimentacdo intelectual. Desta forma, Morse nda Morse, Espejo, p. 146 (traducéo minha, o texto original ern Ing (std para sor publicado). 72 PRESENCA consegue mais uma vez ser profundamente esclarecedor a respeito do passado intelectual da Ibéria, metropolita- na ou colonial. O Espetho de Préspéto é uma seqiiéncia valiosa e a mais abrangente de.suas explorapdes prévias ne campo da historia das i érico. © que dizer da Ibero-América moderna e indepen- dente? Aqui, penso que Morse 'seguiu de perto seu famo- so ensaio ‘The Heritage of Latin-America’, publicado em 1964,5 no qual a nogdo de Estado Patrimonial Espa. nhol 'é central. Patrimonialismo, como sabemos, € um conceito esbocado por Maquiavel e elaborado por Max Weber que consiste na confluéncia de duas caracteristi- cas: por um lado, a confusio, ou superposieao, do do- minio pGblico com o patrimdnio privado; por outro, do politico com o econdémico. Na Ibéria, as instituigdes feudais eram frgeis e as- sim, como escreve Morse, carentes de fortes “lacos con- tratuais de vassalagem"’. Os grupos saciais dependiam es- sencialmente da Coroa. A debilidade das posses privadas levou, por sua vez, 8 criagdo de uma tradi¢o parlamen- tar incipiente ¢, por conseguinte, a uma capacidade re- duzida de controle do poder real. . Na América Espanhola 0 colapso da autoridade me- tropolitana mergulhou as vice-realezas precedentes numa prolongada “‘disputa pela tomada do aparato do estado patrimonial, segregado do estado imperial que Ihe deu origem’’.* Oligarquias locais, cidades e clas lutaram pelo poder num vacuo de legitimidade. Os caudilhos, e o esti- lo personalista de lideranca, nao se capacitaram a insti tucionalizar 0 poder, e, assim, durante quase um século, 80 0 Chile, sob o regime de Portales (o império brasileiro foi a outra Unica excegao}, alcangou estabilidade. Ainda que de forma aproximada, a tese de que o patrimonialismo teria sido o principal suporte da politi- ca luso-brasileira ja havia sido defendida por Raymundo Faoro, alguns anos antes do ensaio de Morse. Do que se conclui que, enquanto o estado patrimonial forneceu meio século de estabilidade ao império brasileiro, nada 4 O-ensaio consta em Louis Hartz led.), The Founding of New Secleter, N. York: Hareourt, 1964. " Morse, ‘Heritage’, cit (ver nota S}, p. 162. PRESENCA 7”

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