Vous êtes sur la page 1sur 97

Editorial

Caros colegas,
Novamente temos a satisfação de encaminhar à co-
munidade veterinária e zootécnica mineira o volume
70 do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia.
A Escola de Veterinária e o Conselho Regional
de Medicina Veterinária de Minas Gerais, com satis-
fação vêm consolidando a parceria e compromisso
entre as duas instituições com relação à educação con-
tinuada da comunidade dos Médicos Veterinários e
Zootecnistas de Minas Gerais.
O presente número aborda, de forma objetiva,
a temática sobre Oncologia em Pequenos Animais,
abordando os aspectos relacionados ao desenvolvi-
mento destas enfermidades e os cuidados necessários
para o diagnóstico e tratamento do paciente oncológi-
co. O tema apresenta alta relevância já que a oncologia
veterinária é uma área pouco praticada e conhecida pe-
los médicos veterinários, mas que vem apresentando
um aumento da casuística na clínica veterinária. Deste
modo, este volume irá contribuir para o melhor enten-
dimento destas questões pelos profissionais da área.
Com este número do Cadernos Técnicos espera-
mos contribuir tanto para a conscientização quanto
Universidade Federal
para a informação aos colegas, auxiliando para que
de Minas Gerais possam construir as melhores opções de atendimento
Escola de Veterinária aos animais no contexto que estão inseridos.
Fundação de Estudo e Pesquisa em
Medicina Veterinária e Zootecnia Portanto, parabéns à comunidade de leitores que
- FEPMVZ Editora
utilizam o Cadernos Técnicos para aprofundar seu co-
Conselho Regional de nhecimento e entendimento sobre a oncologia veteri-
Medicina Veterinária do
Estado de Minas Gerais nária, em benefício dos animais e da sociedade.
- CRMV-MG
Prof Antonio de Pinho Marques Junior - CRMV-MG 0918
www.vet.ufmg.br/editora Editor-Chefe da FEMVZ-Editora
Prof José Aurélio Garcia Bergmann - CRMV-MG 1372
Correspondência:
Diretor da Escola de Veterinária da UFMG
FEPMVZ Editora
Caixa Postal 567 Prof Marcos Bryan Heinemann - CRMV-MG 8451
30123-970 - Belo Horizonte - MG Editor Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
Telefone: (31) 3409-2042
E-mail: editora.vet.ufmg@gmail.com Prof Nivaldo da Silva - CRMV 0747
Presidente do CRMV-MG
Conselho Regional de Medicina
Veterinária do Estado de Minas
Gerais - CRMV-MG
Presidente:
Prof. Nivaldo da Silva

E-mail:
crmvmg@crmvmg.org.br

CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ

Editor da FEPMVZ Editora:


Prof. Antônio de Pinho Marques Junior

Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:


Prof. Marcos Bryan Heinemann

Editor convidado para esta edição:


Dra. Gleidice Eunice Lavalle, médica veterinária do Hospital
Veterinário da UFMG, responsável pelo setor de Oncologia.

Revisora autônoma:
Cláudia Rizzo

Tiragem desta edição:


9.000 exemplares

Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.

Fotos da capa:
fundo com células e gato: bigstockphoto.com;
cão: arquivo pessoal de Rodrigo dos Santos Horta

Impressão:
O Lutador

Permite-se a reprodução total ou parcial,


sem consulta prévia, desde que seja citada a fonte.

Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. (Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG)

N.1- 1986 - Belo Horizonte, Centro de Extensão da Escola deVeterinária da UFMG, 1986-1998.

N.24-28 1998-1999 - Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, FEP
MVZ Editora, 1998-1999

v. ilustr. 23cm

N.29- 1999- Belo Horizonte, Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária e Zootecnia, FEP MVZ
Editora, 1999¬Periodicidade irregular.

1.Medicina Veterinária - Periódicos. 2. Produção Animal - Periódicos. 3. Produtos de Origem Animal, Tecnologia
e Inspeção - Periódicos. 4. Extensão Rural - Periódicos.

I. FEP MVZ Editora, ed.


Prefácio
Rodrigo dos Santos Horta - CRMV - 11.669
Médico Veterinário - UFMG
Doutorando em Ciência Animal - UFMG
Oncologia Veterinária
rodrigohvet@gmail.com

A medicina veterinária de pequenos ani-


mais passou por uma intensa transformação
nos últimos anos. O aumento do poder aqui-
sitivo da população e a maior disponibilidade
de recursos técnicos nos hospitais veterinários
ampliaram não só as opções de tratamento,
mas também o número de pacientes que po-
dem se beneficiar dos mesmos. Este número
do Cadernos Técnicos coloca a Oncologia
Veterinária em destaque e apresenta a impor-
tância do conhecimento das ciências básicas de
biologia celular e patologia para a compreensão
do câncer nos pequenos animais, que inclui
uma variedade enorme de doenças, com com-
portamento distinto. A complexidade dessas
doenças é acompanhada por uma variedade de
abordagens para diagnóstico e tratamento, sen-
do o planejamento fundamental para a obten-
ção de bons resultados, que priorizam sempre
a qualidade de vida e o aumento da sobrevida
do paciente com câncer. Com este número,
objetiva-se apresentar a clínicos e cirurgiões de
pequenos animais, bem como aos estudantes
que se interessam pela área, aspectos relaciona-
dos ao desenvolvimento destas enfermidades
e os cuidados necessários para o diagnóstico e
tratamento. A expectativa dos autores é que a
oncologia veterinária seja vista com a serieda-
de, responsabilidade e cautela, pois falhas na
abordagem diagnóstica e terapêutica podem
comprometer todo o tratamento, assim como
o bem-estar e a sobrevida dos nossos pacientes.
Sumário
1. O câncer em pequenos animais...................................................................7
Rodrigo dos Santos Horta,
Gleidice Eunice Lavalle.
Define o câncer e aborda o aumento da incidência dessa patologia em
pequenos animais.
2. Biologia tumoral.........................................................................................9
Rodrigo dos Santos Horta,
Cecília Bonolo de Campos,
Gleidice Eunice Lavalle.
Conceitos básicos de biologia e comportamento tumoral, desde o ciclo celular
até angiogênese, metástase e carcinogênese.
3. Exame citológico das neoplasias...............................................................27
Rubens Antônio Carneiro,
Rodrigo dos Santos Horta.
Aborda a importância da citologia e define diretrizes para a realização desse
exame.
4. Diagnóstico anátomo-patológico das neoplasias.....................................36
Conrado de Oliveira Gamba,
Rodrigo dos Santos Horta.
Estabelece a importância do patologista no diagnóstico e prognóstico das
neoplasias em pequenos animais, com uma abordagem geral sobre exame
histopatológico de rotina, mas também as colorações especiais (histoquímicas)
e as reações imuno-histoquímicas.
5. Cirurgia oncológica...................................................................................43
Rodrigo dos Santos Horta.
Descreve os princípios e objetivos da cirurgia oncológica, como modalidade
mais antiga no tratamento das neoplasias, mas ainda imprescindível na
grande maioria dos casos.
6. Quimioterapia antineoplásica...................................................................52
Cecília Bonolo de Campos.
Esse capítulo aborda os conceitos básicos, efeitos colaterais e cuidados de
biossegurança inerentes à quimioterapia antineoplásica.
7. Quimioterapia metronômica....................................................................60
Fernanda Camargo Nunes,
Cecília Bonolo de Campos,
Gleidice Eunice Lavalle.
A administração dos quimioterápicos em regime metronômico mostra-se
promissora e com grande relevância clínica para um grupo específico de
pacientes.
8. Eletroquimioterapia..................................................................................66
Rúbia Monteiro de Castro Cunha.
Aborda os princípios da eletroquimioterapia, uma modalidade terapêutica de
baixo custo no tratamento local das neoplasias.
9. Imunoterapia.............................................................................................70
Rodrigo dos Santos Horta,
Gleidice Eunice Lavalle.
Existem inúmeros indícios da associação entre inflamação e câncer, sendo a
imunoterapia uma modalidade de destaque no tratamento das neoplasias.
10. Terapias de alvo-molecular.......................................................................75
Rodrigo dos Santos Horta,
Gleidice Eunice Lavalle,
Cecília Bonolo de Campos.
Aborda o conceito e princípios das terapias direcionadas, com destaque para as
modalidades mais utilizadas na Oncologia Veterinária.
11. Radioterapia..............................................................................................83
Rúbia Monteiro de Castro Cunha,
Gleidice Eunice Lavalle.
Aborda os princípios da radiação oncológica e sua eficácia no controle local das
neoplasias.
12. Nutrição do paciente oncológico – uma visão integrativa........................89
Artur Vasconcelos,
Rodrigo dos Santos Horta,
Gleidice Eunice Lavalle.
Descreve as particularidades nutricionais do paciente oncológico e as alterações
na dieta que podem favorecer o tratamento desses animais.
O câncer em
pequenos
animais
Rodrigo dos Santos Horta* - CRVM-MG11669,
bigstockphoto.com.
Gleidice Eunice Lavalle - CRMV-MG 3855
* Email para contato: rodrigohvet@gmail.com

As neoplasias ocorrem pelo acúmu- biológicos distintos, mas que apresentam


lo progressivo de mutações no genoma como elemento comum o surgimento de
celular induzindo uma ruptura irreversí- novos tecidos (ou neoplasias), formados
vel dos mecanismos homeostáticos que por células com duas características prin-
regulam o crescimento, diferenciação cipais: elevada atividade proliferativa,
e morte celular1. Trata-se do resultado capacidade de invasão e colonização de
fenotípico de uma série de alterações outros órgãos3.
genéticas e epigenéticas, que podem ter A Oncologia representa uma especia-
ocorrido durante um longo período de lidade de grande destaque em Medicina
tempo1,2. Estas alterações podem ser her- Veterinária e o aumento da expectativa
dadas ou adquiridas, somaticamente, em de vida dos animais de companhia está
conseqüência de proces- diretamente relacionado
sos endógenos ou da ex- As neoplasias ao aumento da incidência
posição aos vários fatores ocorrem pelo de neoplasias4.
ambientais, como deter- acúmulo progressivo Da mesma forma
minadas substâncias quí- de mutações no que ocorreu na Medicina
micas, radiações ionizan- genoma celular Humana, observou-se na
tes e vírus oncogênicos .
2
induzindo uma Veterinária uma explosão
O termo câncer é de- ruptura irreversível de medidas preventivas
rivado da palavra grega dos mecanismos que visam prolongar a
“karkinos” e faz referência homeostáticos vida5. A prevenção de do-
ao caranguejo e ao aspec- que regulam enças infecciosas e parasitá-
to infiltrativo dos tumores rias, associada às melhorias
o crescimento,
sólidos, que inclui uma sé-
diferenciação e morte na nutrição, terapêutica e
rie de neoplasias malignas prática médica resultou em
com comportamentos
celular grande aumento na expec-
O câncer em pequenos animais 7
tativa de vida dos animais de companhia, ça. O médico veterinário deve, aos seus
o que infelizmente aumentou a probabili- pacientes e cuidadores, estar bem infor-
dade de desenvolvimento de doenças re- mado e atualizado sobre os métodos de
lacionadas à senilidade, como o câncer4. tratamento, com a consciência de que
Nos países desenvolvidos, as neo- novas formas terapêuticas são desenvol-
plasias representam a principal causa de vidas, continuamente, no mundo todo,
morte em cães6,7. Estudos realizados no tanto na Medicina Humana quanto na
Brasil apontam o câncer como a segun- Veterinária.
da maior causa de mortes em animais
de companhia5 e como a primeira, em Referências
animais idosos8. Um estudo baseado no 1. ARGYLE D.J.; KHANNA, C. Tumor biology and
diagnóstico da causa morte em 2000 ca- metastasis. In: WITHROW, S.J.; VAIL, D.M.;
PAGE, R.L. Withrow & MacEwen’s Small Animal
sos apontou o câncer como a maior cau- Clinical Oncology. 5.ed. Philadelphia: W.B.
sa, em animais de companhia, sendo que Saunders Company, 2013. Cap.2, p.30-50.
45% dos cães com mais de 10 anos de 2. BRASILEIRO FILHO, G.; PEREIRA, F.E.L.;
GUIMARÃES, R.C. Distúrbios do crescimento
idade morreram devido ao câncer9. e da diferenciação celulares. In: BRASILEIRO
A relação com os animais de com- FILHO, G. Bogliolo Patologia. 8.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan. 2012. Cap.8, p. 219-276.
panhia mudou ao longo dos anos, hoje
3. PINHO, M. Angiogênese: O Gatilho Proliferativo.
eles são incluídos na estrutura familiar, In: PINHO, M., Biologia Molecular do Câncer:
sendo o diagnóstico de uma neoplasia ou fundamentos para a prática médica. 1.ed. Rio de
câncer consentido com muita comoção Janeiro. Revinter Ltda, 2005. Cap.10, p.155-162.
4. WITHROW, S.J.; Vail, D.M.; PAGE, R.L. Why
pelos proprietários ou tutores desses ani- worry about cancer in pets? In: WITHROW, S.J.;
mais, muitos dos quais tiveram experiên- VAIL, D. M.; PAGE, R.L. Wiithrow e MacEwen’s
cias pessoais com membros da família, Small Animal Clinical Oncology, 5.ed., introduc-
tion, p. XV-XVI, 2013.
amigos ou consigo mesmo. 5. BENTUBO, H.D.L.; TOMAZ, M.A.; BONDAN,
Diante do paciente com câncer, E.F. et al. Expectativa de vida e causas de morte em
abordagens pessimistas podem reforçar cães na área metropolitana de São Paulo (Brasil).
Ciênc. Rural, v.37, n.4, p.1021-1036, 2007.
receios sem fundamentos pré-existentes
6. CRAIG, L.E. Cause of death in dogs according
e transmitir sentimentos desnecessários to breed: a necropsy survey of five breeds. J. Am.
de falta de esperança4. O cirurgião e clí- Anim. Hosp. Assoc., v.37, p.438-443, 2001.
nico oncologista devem demonstrar sen- 7. PROSCHOWSKY, H.F.  ; RUGBJERG, H.  ;
ERSOLL, A.K. Mortality of purebred and mixed-
sibilidade e solidariedade para buscar o breed dogs in Denmark. Prev. Vet. Med., v.58, p.63-
melhor tratamento, dentro dos recursos 74, 2003.
técnicos disponíveis, nível de compro- 8. FIGHERA, R.A.; SOUZA, T.M.; SILVA, M.C.
et. al. Causas de morte e razões para eutanásia de
metimento do proprietário e conjuntura cães da Mesorregião do Centro Ocidental Rio-
financeira, priorizando a qualidade de Grandense (1965-2004). Pesq. Vet. Bras., v.28, n.4,
p.223-230, 2008.
vida do paciente, que é o principal obje-
9. BRONSON T.R. Variation in age at death of dogs
tivo no tratamento, seguido do aumento of different sexes and breeds. Am. J. Vet. Res., v.43:
da sobrevida e intervalo livre de doen- 2057-2059, 1982.

8 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013


Biologia
tumoral

bigstockphoto.com
Rodrigo dos Santos Horta - CRVM-MG11669,
Cecília Bonolo de Campos - CRMV-MG 10902,
Gleidice Eunice Lavalle* - CRMV-MG 3855.
* Email para contato: gleidicel@yahoo.com.br

Introdução ração celular, e o câncer é pelo fato do


câncer ser uma doença de proliferação
No seu ciclo vital, as células encon- celular inapropriada3.
tram-se em duas fases: mitose (fase M) O ciclo celular é regulado por fato-
e interfase (fases G1, G2 e S) consti- res de crescimento externos e sinais da
tuindo o ciclo celular1,2. O própria célula que podem
processo de replicação de A conexão entre ativar genes especializa-
DNA e divisão de células o ciclo celular, dos para reparar o DNA,
pode ser descrito como responsável deter sua duplicação e
uma série de eventos co- pelo controle da parar a mitose ou esta-
ordenados que compõe proliferação celular, cionar o ciclo celular em
o ciclo de divisão celular e o câncer é pelo qualquer fase, quando há
e resulta em duas células fato do câncer ser ameaça da estabilidade
filhas3,4. A conexão entre o uma doença de do genoma. Existem pon-
ciclo celular, responsável proliferação celular tos específicos de checa-
pelo controle da prolife-
inapropriada. gem em que o ciclo pode
Biologia tumoral 9
ser continuado ou blo- apresenta comportamen-
A diferenciação
queado e os erros neste tos progressivos de dege-
celular é um processo
sistema são as principais neração como mutações
dinâmico que confere
causas de instabilidade adicionais para invasão de
às células o fenótipo
genômica em células can- tecidos adjacentes e me-
adequado ao tecido
cerosas . A fase G1 é in-
1 tástases à distância4.
em que se situam e é
corporada entre a divisão mantido por modo As células podem ser
celular (fase M) e síntese ativo pelos fatores classificadas em: células
de DNA (fase S), já a fase responsáveis pela lábeis, em renovação con-
G2 ocorre entre a fase S e diferenciação. tínua; quiecentes, man-
M. As fases G1 e G2 per- tendo a capacidade de
mitem o reparo do dano entrar em mitose quando
ao DNA e erros de replicação4. Células estimuladas; e perenes, que atingem
que não estão em divisão, geralmente, diferenciação terminal e não mais se di-
estão entre as fases M e S e são chama- videm . A população celular global de
1,5

um indivíduo adulto é mantida pelo nú-


das de células G02 (Fig.1).
mero de células originadas por mitose
Quando mutações nas neoplasias
e o de perdas celulares, geralmente por
permitem que a célula permaneça em
apoptose1.
um estado proliferativo e evitam di-
Células tronco (CT) são células
ferenciação terminal e morte, a célula
indiferenciadas capazes de: proliferar;
M autorenovar-se; produzir descendentes
que, após um número variável de di-
visões, se diferenciam e regeneram ou
M renovam células de diferentes tecidos;
e interagir com o seu nicho e modificar
G₀
suas propriedades. Estas células podem
G₂ G₁
ser totipotentes, pluripotentes ou mul-
tipotentes, e geram, respectivamente, o
S
embrião e tecidos extraembrbionários,
células dos três folhetos embrionários e
apenas um número limitado de células
I nos órgãos que residem1.
A diferenciação celular é um pro-
Figura 1. Ciclo celular, composto pela fase de cesso dinâmico que confere às células
mitose (M) e intérfase (I). A intérfase é dividida
nas fases G1, S e G2. Em G0 se encontram células o fenótipo adequado ao tecido em que
que não estão em divisão se situam e é mantido por modo ativo
10 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
pelos fatores responsáveis pela diferen- ferenciação celular e da proliferação e
ciação. A desdiferenciação celular ocor- diferenciação celulares1.
re quando há perda dessa manutenção
Hipotrofia
permitindo a perda do estado de dife-
renciação pela célula, retornando a es- Consiste na redução quantitativa
tados mais indiferenciados1. Os tecidos dos componentes estruturais e funções
neoplásicos perdem, de forma variável, celulares, resultando na diminuição
estes aspectos da diferenciação morfoló- do volume das células e órgãos. Pode
gica e de organização celular. Em geral, ser fisiológica (senilidade) ou pato-
os tumores malignos parecem menos lógica (exemplo: devido ao desuso e
diferenciados que os tumores benignos. compressão)1.
A perda de características morfológicas Hipertrofia
principais da maturidade do tecido é
frequentemente acompanhada pela per- Consiste no aumento dos consti-
da da capacidade funcional e desenvol- tuintes estruturais e das funções celu-
vimento de comportamento agressivo5. lares1,5, resultando no aumento do vo-
A semelhança entre as células ne- lume das células e dos órgãos. É uma
oplásicas e embrionárias pode ser forma de adaptação frente a maior exi-
explicada de duas formas diferentes. gência de trabalho e pode ser fisiológica
Primeiro, as células maduras normais (exemplo: musculatura uterina durante
sofrem desdiferenciação conforme evo- a gravidez) e patológica (exemplo: mus-
luem para células tumorais, levando à culatura esquelética em atletas). É um
reemergência de características mais processo reversível se houver o término
do estímulo1.
primitivas. Segundo, os tumores podem
se originar de uma pequena população Hipoplasia
de células-tronco encontradas em todos
Consiste na diminuição da popula-
os tecidos adultos; tais células-tronco
ção celular de um tecido, órgão ou parte
são necessárias para a renovação tecidu-
do corpo. Pode ser fisiológica (exemplo:
al normal5.
involução do timo) e patológica (exem-
plo: medula óssea por agentes tóxicos).
Nomeclatura Podem ser reversíveis dependendo da
Alteração no controle da divisão e sua causa1.
da diferenciação celulares resulta em
distúrbios da proliferação e/ou da dife- Hiperplasia
renciação. Esses distúrbios podem ser Consiste no aumento do número de
agrupados em alterações: do volume células1,5 de um órgão ou parte dele, por
celular, da taxa de divisão celular, da di- aumento da proliferação e/ou retardo
Biologia tumoral 11
da apoptose, só acontecendo em órgãos rável, núcleos irregulares e figuras mi-
com capacidade replicativa. Pode ser fi- tóticas são comumente encontradas6.
siológica (exemplo: glândula mamária Podem preceder alguns cânceres, inclu-
durante a lactação) e patológica (exem- sive, a diferenciação entre neoplasia e
plo: tireoide por excesso de TSH) É um displasia pode ser difícil. Existe a possi-
processo reversível, desde que a causa bilidade de que o processo estacione ou
seja eliminada. Hiperplasias podem regrida1.
ser difíceis de diferenciar de neoplasias
Neoplasia
benignas1.
Literalmente significa crescimento
Metaplasia novo5,6. Consiste em uma lesão caracte-
Consiste na mudança de um tipo rizada por proliferação celular anormal,
de tecido adulto (epitelial ou mesen- descontrolada e autônoma (em graus va-
quimal) em outro da mesma linhagem, riados), em geral, com perda ou redução
sendo mais observada em tecidos epi- de diferenciação, em consequência de
teliais1,5. É um processo adaptativo e alterações em genes e proteínas que re-
surge em resposta a agressões e o tecido gulam a multiplicação e a diferenciação
metaplásico é mais resistente. Exemplo: das células. O sufixo oma é empregado
transformação do epitélio estratificado na denominação de qualquer neoplasia,
pavimentoso não ceratinizado em epité- benigna ou maligna. Os termos carcino-
lio ceratinizado. É um pro- ma, sarcoma e blastoma
cesso reversível1. O sufixo oma é indicam, respectivamen-
empregado na te, neoplasia maligna epi-
Displasia denominação de telial, neoplasia maligna
Consiste em uma con- qualquer neoplasia, mesenquimal e que o
dição adquirida caracteri- benigna ou tumor reproduz estrutu-
zada por alterações de pro- maligna. Os termos ras com características
liferação e da diferenciação carcinoma, sarcoma embrionárias. Algumas
celulares acompanhadas e blastoma indicam, vezes as células tumo-
de redução ou perda da respectivamente, rais sofrem diferenciação
diferenciação das células neoplasia maligna divergente, resultando
acometidas . Acarreta na
1 epitelial, neoplasia nos tumores mistos que
perda de uniformidade de maligna mesenquimal contêm múltiplos tipos
células individuais e na sua e que o tumor celulares derivados de
orientação arquitetural. reproduz estruturas uma ou de múltiplas ca-
Células displásicas exibem com características madas germinativas1,5,6.
pleomorfismo conside- embrionárias. O tumor misto da glân-
12 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
dula mamária de cães, por exemplo, é infiltram, invadem ou metastatizam em
composto de uma mistura variável de sítios distantes, não há degenerações,
elementos epiteliais neoplásicos (epité- necroses, hemorragias e ulcerações
lio luminal e mioepitélio) e elementos associadas.
mesenquimais (tecido conjuntivo fibro- Neoplasias benignas, em geral, não
so, gordura, cartilagem, e osso)5. representam grande problema para seus
Teratomas são tumores benignos ou portadores, mas dependendo do seu
malignos originados de células toti ou volume, localização ou outras proprie-
multipotentes, constituídos por tecidos dades podem causar vários transtornos
derivados de mais de um folheto em- para o paciente, inclusive sua morte1,6.
brionário. Em benignos, pele e anexos, Assim, sua importância clínica é pela
ossos, dentes, olho, músculo, gordura, habilidade em causar pressão local, obs-
nervos, etc. podem ser encontrados; nos trução ou formar uma lesão que ocupa
malignos a diferenciação é limitada1,6. um espaço, como um tumor benigno
Toda neoplasia benigna e maligna cerebral2.
é constituída de dois componentes: o
Neoplasias Malignas
parênquima, composto por células ne-
oplásicas, e o estroma, porção não neo- Chamadas de câncer5,6 são, geral-
plásica, composta por tecido conectivo, mente, caracterizadas por ser pouco
vasos sanguíneos e células inflamatórias delimitadas, podem invadir os tecidos
do hospedeiro1,6. A quantidade de estro- e estruturas vizinhas, não apresentam
ma determina a consistência da neopla- cápsula e têm elevado índice mitótico
sia, cânceres com um estroma denso e que levam a um crescimento rápido,
abundante se tornam firmes6. degenerações, necroses, hemorragias
e ulcerações muito comuns. As células
Neoplasias Benignas são mais volumosas do que o normal,
São geralmente caracterizados por principalmente, pelo aumento da reação
células bem diferenciadas, semelhan- núcleo/citoplasma, núcleos e cromati-
tes a células normais, atipias celulares nas irregulares. As figuras de mitose fre-
e aquiteturais são discretas, baixo índi- quentes (típicas e atípicas) e anomalias
ce mitótico levando a um crescimento cromossômicas podem estar presentes,
lento, em que as mitoses são considera- em que a hipercelularidade é comum.
das típicas. Além disso, possuem cresci- As células se tornam pleomórficas e
mento expansivo, podem formar uma muitas vezes ocorrem infiltração, inva-
cápsula fibrosa em torno do tumor pela são, destruição e penetração em tecidos
compressão de estroma adjacente, não adjacentes, metástases regionais e à dis-
recidivam após exérese cirúrgica, não tância, podendo levar à morte do pa-
Biologia tumoral 13
ciente1,6. Há uma grande pela membrana basal1,
Denominamos
variação de diferenciação ou seja, um estágio pré-
como angiogenese
das células do parênquima -invasivo do câncer6. São,
o crescimento
que vai de bem diferen- geralmente, pequenos,
vascular localizado,
ciado a completamente e numerosos estudos, não invadem a membra-
indiferenciada . Quando nas últimas décadas, na basal ou porção me-2
6

a atipia é acentuada e há senquimal adjacente .


demonstram fortes
perda completa das ca- evidências de que o Alguns tumores benignos
racterísticas morfológicas crescimento tumoral evoluem para neoplasmas
de uma célula (células so- é dependente do malignos e alguns tu-
frem desdiferenciação, se desenvolvimento mores malignos aumen-
tornando indiferenciadas) de uma tam seu comportamento
a neoplasia é denomina- neovascularização agressivo no decorrer
da anaplásica, sendo esta específica. do tempo (um processo
uma importante caracte- denominado progressão
rística de malignidade . 1,6 maligna)5.
Geralmente, quanto mais rápido o cres-
cimento e anaplásico for o tumor, me- Angiogênese
nos provável será que exista atividade Para que uma célula evolua de seu
funcional resultante da diferenciação6. estado normal até assumir as caracterís-
Além disso, as células malignas ticas de uma célula neoplásica é neces-
possuem características importantes: sário à ocorrência de várias mutações,
alterações bioquímicas responsáveis envolvendo ativação de oncogenes, ina-
pelo maior metabolismo de proteínas tivação de genes supressores e não res-
e carboidratos, espoliando o organis- posta a estímulos apoptóticos. Porém,
mo, apresentam menor adesão e uma só isto não é suficiente para que esta
motilidade considerável, célula dê origem a um tu-
induzem angiogênese, ca- Carcinomas in situ mor com volume detectá-
pacidade de invasão, de correspondem à vel e capaz de ameaçar a
originar metástases e per- evolução inicial de vida de um individuo. Um
da parcial ou total de suas neoplasias malignas determinado grupo de
funções celulares1. epiteliais, em que as células consegue manter
Carcinomas in situ células estão limitadas um crescimento susten-
correspondem à evolução pela membrana basal, tado se existir uma fonte
inicial de neoplasias ma-
ou seja, um estágio de suprimento sanguíneo
lignas epiteliais, em que
pré-invasivo do específico e constante.
as células estão limitadas
câncer. Denominamos como
14 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
angiogenese o crescimento vascular lo- o tecido, após a eliminação do agente
calizado, e numerosos estudos, nas úl- agressor7.
timas décadas, demonstram fortes evi-
dências de que o crescimento tumoral Etapas da angiogênese
é dependente do desenvolvimento de As etapas da angiogênese se resu-
uma neovascularização específica7. mem em:
Angiogênese é o desenvolvimento 1. Estímulo angiogênico;
de novos capilares, vindos de um vaso
2. Vasodilatação;
sanguíneo pré-existente, processo co-
3. Degradação da membrana basal do
mum na inflamação crônica e reparo
vaso mãe;
de feridas8. As células endoteliais pro-
liferam em resposta a uma lesão, de- 4. Migração das células endoteliais;
sempenhando função fundamental de 5. Proliferação das células endoteliais;
reparo tecidual. Enquanto a lesão se 6. Formação de brotos capilares e do
desenvolve, as células são ativadas tanto lúmen com formação de uma nova
para conter o dano, como para reparar membrana9 (Fig.2).

Membrana basal
Célula endotelial

Fator A B
Tumor angiogênico

C Pericitos
D

Figura 2. Processo de angiogenese tumoral. Célula neoplasia induzindo a neoformação vascular.

Biologia tumoral 15
Importância da angiogênese na Metástases
progressão tumoral
Metástase significa mudança de lu-
Angiogênese tumoral é a habilida- gar, transferência, sendo a formação de
de de células neoplásicas induzirem a uma nova lesão tumoral a partir de uma
formação de novos vasos, além de ser primeira, mas sem continuidade entre
um pré-requisito para o crescimento tu- elas1.
moral acima de 2 mm10. Para um tumor Todo tumor maligno tem capaci-
desenvolver um fenótipo metastático dade de formar metástases ou tumores
ou letal é necessário primeiro recrutar e secundários. As metástases são a maior
causa de falha do tratamento do câncer
sustentar o seu próprio suprimento san-
e consequentemente de morte dos pa-
guíneo, tumores incapazes de induzir
cientes. As células neoplásicas progres-
angiogênese permanecem microscópi- sivamente adquirem capacidade de me-
cos. A angiogênese é necessária para o tastatizar através de um processo lento
tumor crescer, invadir e metastatizar11. de múltiplos passos denominado casca-
O aumento da densidade de micro- ta metastática que envolve interação de
vasos tem sido correlacionado com alto diferentes moléculas19.
risco de recorrência local, presença de A formação de metástases é um pro-
metástase nos linfonodos e diferencia- cesso complexo que depende de intera-
ção histológica. Em adição à importân- ção entre as células malignas e o tecido
cia do prognóstico, a identificação de normal do hospedeiro, especialmente o
maior densidade de microvasos signifi- estroma1.
ca maior angiogênese tumoral, que pos- A aquisição do fenótipo metastá-
sibilita o uso racional de terapias antian- tico ocorre pelo acumulo de diferen-
giogênicas para estes pacientes12. Desta tes alterações genéticas e celulares que
forma terapias antiangiogênicas têm se traduzem em perda do controle de
sido propostas para o controle de câncer crescimento, desregulação da motilida-
de mama humano e aumento de sobre- de, proteólise, modificação da resposta
vida13,14,15,16,17. A inibição da angiogênese imune e angiogênese19.
representa uma nova oportunidade para Existem fortes evidências de que
tratar metástase pela mani- a angiogênese esteja re-
pulação do micro-ambien- As metástases são lacionada não apenas ao
te e do hospedeiro. O uso a maior causa de crescimento tumoral,
de inibidores de angiogê- falha do tratamento mas também ao processo
nese demonstrou efeito do câncer e de formação e desenvol-
terapêutico sinérgico em consequentemente de vimento das metástases.
modelo tumoral de ratos18. morte dos pacientes. A proliferação vascular
16 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
gera uma rede de capilares genes e genes supressores
A observação clinica
com paredes endoteliais de tumor e de sinais ge-
demonstra que certos
fragmentadas em meio a rados no estroma, não só
tipos de cânceres
um tecido formado por
têm maior afinidade do tumor como também
células neoplásicas com do órgão alvo em que a
para metástases em
baixa adesividade entre
determinados órgãos. metástase vai se instalar.
si, representando um fator Entre as células existen-
favorecedor à penetração tes em uma neoplasia,
e migração celular através da corrente somente aquelas que desenvolvem estas
sanguínea7. propriedades podem ter chance de ori-
A combinação destes processos per- ginar metástases1.
mite que uma ou várias células tumorais
Padrão de disseminação
ganhe capacidade metastática. O pro-
cesso de metastatização envolve intera- A distribuição das metástases varia
ções entre as células tumorais, as células amplamente, dependendo do tipo his-
do hospedeiro e a matriz extracelular19. tológico e da localização anatômica do
tumor primário. A observação clinica
Etapas da disseminação demonstra que certos tipos de cânce-
tumoral res têm maior afinidade para metásta-
A disseminação tumoral ou metás- ses em determinados órgãos. A escolha
tase é um processo completo, que pode do “órgão alvo” parece ser definida por
ser resumido nas seguintes etapas: interações específicas entre moléculas
1. Desprendimento das células do tu- da superfície das células neoplásicas e
mor primário; moléculas da superfície endotelial, que
2. Invasão do tecido local do hospedei- revestem os vasos de determinados
ro e entrada no sistema circulatório; órgãos19.
3. Escape à resposta imune do hospe-
deiro e a outros fatores físicos no in- Vias de disseminação
terior da circulação sistêmica; Qualquer câncer pode disseminar
4. Parada em um leito capilar de um ór- através de diferentes vias, com destaque
gão distante; para a linfática e hematógena.
5. Extravasamento do leito capilar para A via linfática é considerada a prin-
o interstício; cipal via para disseminação das neopla-
6. Invasão, indução de angiogênese e sias epiteliais malignas (carcinomas)1.
multiplicação no sítio da metástase19. Linfonodos acometidos, geralmente,
Esses processos ou etapas depen- encontram-se aumentados de volume e
dem de alterações na expressão de onco- com alterações de forma e consistência,
Biologia tumoral 17
estes podem ser palpados ou avaliados sicas são muito importantes, para dar
por exames de imagem (ultrassonogra- condição de estas chegarem a um órgão
fia, tomografia). É importante lembrar alvo e nele formar uma nova colônia1.
que nem toda linfadenomegalia próxi- De acordo com estudos experi-
ma de um câncer é metástase, sendo ne- mentais, o número de células malignas
cessário exame para confirmação da sus- que conseguem penetrar em um vaso
peita clinica. Produtos antigênicos dos sanguíneo é muito maior do que aque-
tumores são levados aos linfonodos e les que originam metástases. A imensa
estes reagem formando uma hiperplasia maioria das células tumorais na circula-
que poderá ser pronunciada, resultando ção, cerca de 90%, morrem por fatores
no aumento do órgão18. Por outro lado, diversos, principalmente, pela reposta
um linfonodo pequeno ou de tamanho imunitária do hospedeiro, defesa não
normal pode conter micrometástases imunitária (macrófagos, células NK,) e
que só são detectadas por exames mi- choque mecânico contra a parede vascu-
nuciosos, geralmente, empregando re- lar. Esta sobrevivência é maior quando
cursos adicionais para detectar células as células tumorais se aderem a plaque-
malignas isoladas, como, por exemplo, tas, linfócitos e fibrina1. Componentes,
técnicas de imuno-histoquimica1. tanto da célula quanto dos órgãos, são
Outra via de disseminação também essenciais para o aparecimento e locali-
bastante importante é a via hematóge- zação das metástases, servindo de base
na, células cancerosas que penetram na para sustentar a hipótese de “semente
corrente sanguínea podem ser levadas a solo” proposta por Paget, ou seja, a se-
qualquer parte do corpo. Apesar disso, mente só prolifera em solo fértil1.
esse processo não é aleatório, visto que
as células tumorais precisam se aderir Carcinogênse
ao endotélio do órgão alvo e responder A carcinogênese compreende a
aos estímulos quimiotáticos nele gera- formação e desenvolvimento de uma
dos. Em geral, as metástases iniciais se neoplasia, a partir de um processo
formam no órgão mais próximo. Assim, complexo e multifásico que depende
tumores dos órgãos tributários do sis- de fenômenos genéticos e epigenéticos
tema porta podem se metastizar para o espontâneos ou induzidos por agentes
fígado e o pulmão também é um órgão carcinogênicos que culminam com o
frequente para a doença metastática por surgimento de clones de células imor-
meio das veias pulmonares. Entretanto, talizadas e adquirem a capacidade de
só o critério anatômico não explica a invadir os tecidos vizinhos e provocar
localização preferencial das metástases, metástases1.
pois as propriedades das células neoplá- Em um indivíduo geneticamente
18 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
suscetível, células tumo- à exposição solar na espé-
Fatores ambientais
rais podem se originar de cie humana, como, tam-
podem ser
células normais, devido à bém, ao desenvolvimento
determinantes no
ocorrência de mutações desenvolvimento desse tipo de neoplasia
múltiplas e aditivas em do câncer, uma vez em cães e gatos de pele
genes envolvidos no con- que o processo de pobremente pigmentada
trole da divisão e diferen- carcinogênese pode e/ou pêlos brancos. Nos
ciação celulares (oncoge- ser induzido por gatos, o carcinoma espi-
nes, genes supressores de agentes carcinogênicos nocelular encontra-se in-
tumor, genes para apop- físicos, químicos ou timamente relacionado à
tose) ou pela existência biológicos. exposição solar, com uma
de defeitos no sistema de distribuição clássica sen-
reparo do DNA, resultan- do freqüente o desenvol-
do em instabilidade genética, que favo- vimento de lesões localizadas na face,
rece o acúmulo de mutações em regiões e nas áreas com pouco pêlo: plano na-
críticas do DNA. O processo de carci- sal, pinas e pálpebras. Lesões tissulares,
nogênese inclui três etapas: iniciação, denominadas ceratose actínica, consti-
promoção e progressão1. tuem lesões pré-malignas que precedem
Fatores ambientais podem ser de- o aparecimento do carcinoma de células
terminantes no desenvolvimento do escamosas “in situ” e invasor20,21.
câncer, uma vez que o processo de car- A inflamação crônica também tem
cinogênese pode ser induzido por agen- sido apontada na carcinogênese de car-
tes carcinogênicos físicos, químicos ou cinomas de células escamosas da cór-
biológicos1,20. A sensibilidade aos carci- nea em cães com ceratite pigmentar22 e
nógenos, no entanto, é individual e ex- apresenta elevada relevância clínica no
tremamente variável entre as espécies20. desenvolvimento dos sarcomas de apli-
cação felinos20. Inúmeros estudos des-
Tipos de carcinogênese tacam, ainda, a influência do asbesto,
radiação ionizante e o uso de implantes
Carcinogênese física
em cirurgias ortopédicas, no desenvol-
A relação entre a exposição à radia- vimento do câncer em animais e na es-
ção ultravioleta solar e o desenvolvimen- pécie humana1,20.
to de determinados cânceres de pele é
um dos exemplos mais conhecidos de Carcinogênese química
carcinogênese física20. O desenvolvi- Na espécie humana, a carcinogêne-
mento do carcinoma de células escamo- se química é classicamente representa-
sas encontra-se claramente relacionado da pelo tabagismo, o qual é relaciona-
Biologia tumoral 19
do ao desenvolvimento de neoplasias em cães, e do estrógeno e progestero-
malignas no pulmão20. Na Medicina na no desenvolvimento de neoplasias
Veterinária, no entanto, existe fraca mamárias20.
associação entre a convivência com
Carcinogênese biológica
fumantes e o desenvolvimento de neo-
plasias pulmonares em cães e gatos, mas A carcinogênese biológica é realiza-
existem relatos de maior incidência de da, principalmente, por agentes virais
carcinomas de células escamosas na ca- capazes de induzir a formação de tumo-
vidade oral e linfomas em gatos expos- res a partir da integração de seu DNA ao
tos à fumaça do cigarro de tabaco20,23,24. genoma do hospedeiro1,20.
Existem evidências de que pestici- Todos os vírus oncogênicos de RNA
das, herbicidas e insetici- são retrovírus e seu genoma, a partir de
das estejam relacionados uma transcriptase reversa,
ao aumento da incidência Todos os vírus é convertido em DNA de
de linfomas e carcinomas oncogênicos de RNA fita dupla (provírus) que se
de células transicionais
são retrovírus e seu integra ao genoma celular1.
da bexiga em cães, embo-
genoma, a partir de Nos cães, o papiloma-
ra seja difícil comprovar
uma transcriptase vírus, um vírus de DNA
reversa, é convertido da família papovaviridae,
essas evidências, deve-
em DNA de fita é o melhor exemplo de
-se limitar o uso desses
dupla (provírus) que carcinogênese biológica,
produtos em animais de
se integra ao genoma
companhia20. uma vez que a infecção
celular.
A ciclofosfamida, pode resultar na forma-
um agente citotóxico al- ção de tumores benignos
quilante, apresenta como um dos seus denominados papilomas, localizados
efeitos colaterais, o desenvolvimento de em regiões muco-cutâneas ou cutâne-
cistite hemorrágica estéril devido à ação as, que, em raras situações, podem se
de um de seus metabólitos na mucosa transformar em carcinomas de células
da bexiga, a acroleina, mas pode, even- escamosas20,26.
tualmente, favorecer o desenvolvimento Na espécie felina, uma maior varie-
do carcinoma de células transicionais da dade de vírus é descrita com potencial
bexiga em seres humanos e cães . 20,25
carcinogênico. Apesar de ser uma con-
Substâncias hormonais podem ser dição clínica menos freqüente, a papilo-
determinantes no desenvolvimento de matose viral felina, provocada por uma
uma série de neoplasias dos cães e gatos, espécie de papilomavírus específico dos
com destaque para a ação da testostero- gatos, pode provocar o crescimento de
na na formação de adenomas perianais papilomas em regiões de pele pilosa20.
20 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
O vírus da leucemia felina (FeLV, para o linfoma, cujo risco de desenvolvi-
feline leukemia vírus), da família retro- mento aumenta em 50% em gatos infec-
viridae e subfamília oncornavirinae, é tados20,27. No entanto, em pacientes com
um vírus de RNA, cujo provirus pode se infecções combinadas por FIV e FeLV, a
recombinar com inúmeros proto-onco- chance de desenvolvimento de linfoma
genes do genoma felino, resultando no aumenta em 77,3%27.
desenvolvimento de inúmeras doenças
neoplásicas20,27. A partir de uma ou mais
Etapas da carcinogênese
recombinações, a infecção pelo FeLV
Iniciação
aumenta o risco de desenvolvimento
de linfomas em 60% e pode provocar a A fase de iniciação corresponde à
formação de qualquer neoplasia hema- transformação celular, sendo considera-
topoiética, com exceção da leucemia de da irreversível. Geralmente, os agentes
mastócitos, leucemia eosinofílica, poli- iniciadores, são substâncias eletrofílicas,
citemia vera e mieloma múltiplo20,27,28. atraídas por moléculas com alta densi-
O vírus do sarcoma felino (FeSV, feline dade eletrônica, como é o caso das ba-
sarcoma vírus) é uma recombinação ses nitrogenadas dos ácidos nucléicos,
rara do FeLV, que resulta na formação capazes de estabelecer ligações covalen-
de sarcomas multicêntricos, de rápido tes com o DNA, formando adutos29,30. A
crescimento, principalmente, em gatos falha na reparação destas estruturas per-
jovens20,28. mite o aparecimento de mutações gené-
O vírus da imunodeficiência felina ticas permanentes nas células, com con-
(FIV, feline immunodeficiency vírus), sequente modificação de suas respostas
da família retroviridae e subfamília len- ao microambiente, tornando-as menos
tivirinae, é, da mesma forma que o FeLV, responsivas aos fatores que controlam a
um vírus de RNA, cujos efeitos são pro- proliferação e diferenciação celulares1,29.
vocados pela integração do provirus ao Dependendo de seu potencial muta-
genoma do hospedeiro. No entanto, gênico, a ação única ou múltipla (efeito
o efeito na carcinogênese é indireto e cumulativo e somatório) de um agente
decorre da imunossupressão provoca- iniciador, mesmo em doses baixas, pode
da pela infecção, o que reduz, drastica- ser suficiente para desencadear a carci-
mente, a vigilância imunológica contra nogênese, no entanto, não é capaz de
as células cancerosas, favorecendo a concluir o processo, pois a formação de
perpetuação de células que sofreram um câncer depende da ação de um agen-
mutações (iniciadas)20. A infecção por te promotor seqüencial à iniciação1.
FIV pode favorecer o desenvolvimento Agentes mutagênicos ou iniciado-
de inúmeras neoplasias, com destaque res de destaque incluem o alcatrão, ni-
Biologia tumoral 21
trosaminas e hidrocarbonetos aromá- sicas adquirem modificações biológicas
ticos policíclicos presentes no tabaco, tendendo para maior agressividade e
as infecções pelo vírus da leucemia fe- malignidade1.
lina, a radiação ultravioleta e a radiação A fase de progressão depende, entre
ionizante31,32,33,34. outros fatores, da ocorrência de muta-
ções sucessivas nas células tumorais,
Promoção
com alteração da expressão gênica e do
A promoção consiste na prolifera- fenótipo neoplásico, permitindo o cres-
ção das células iniciadas e é um fenôme- cimento descontrolado e autônomo (in-
no indispensável para a perpetuação da dependente de estímulos aparentes)1,2.
alteração genômica e para o desenvolvi- De uma forma geral, as células neoplá-
mento de uma neoplasia1. sicas apresentam maior
Ao contrário da ini-
A promoção consiste instabilidade genética, o
ciação, a promoção é um que permite a formação
na proliferação das
evento reversível que células iniciadas de células com fenótipos
pode levar vários anos e é um fenômeno diferenciados e vantagens
para se estabelecer, e indispensável para evolutivas36.
que pode ser interrom- a perpetuação Os tumores são for-
pido a partir da remoção da alteração mados a partir de um úni-
do agente promotor. Os genômica e para o co clone celular que sofreu
agentes promotores não desenvolvimento de alterações fisiológicas se
se ligam ao DNA e não uma neoplasia. desvencilhando dos me-
provocam mutações, mas canismos que controlam
têm a propriedade de irri- a proliferação e diferencia-
tar os tecidos e de provocar reações in- ção celular . A maioria ou totalidade dos
1

flamatórias e proliferativas, aumentando cânceres apresentam ou adquirem, em


a probabilidade de novas mutações1,34. algum estágio de seu desenvolvimento,
Inúmeros agentes podem atuar a capacidade de (1) evasão de apopto-
como agentes promotores, como ni- se (tornando-se células imortalizadas),
cotina, formaldeído e fenóis presentes (2) autossuficiência na sinalização do
no tabaco, hormônios, alérgenos, calor, crescimento celular, (3) insensibilidade
infecções por Helycobacter pylori e aos sinais que controlam a proliferação
traumas1,31,34,35. celular, (4) replicação ilimitada, (5) an-
giogênese sustentada, (6) invasão teci-
Progressão dual e metastização.36,37
A progressão tumoral é um proces- As células tumorais apresentam ain-
so reversível, no qual as células neoplá- da, uma desregulação do metabolismo
22 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
energético celular com maior aptidão vantagens na proliferação, sobrevivên-
para a captação de aminoácidos e síntese cia e invasão, são selecionadas em um
de proteínas, maior eficiência no meta- processo de seleção natural semelhante
bolismo da glicose, maior produção de ao proposto por Darwin1,2.
energia e maior tolerância à hipóxia1,36. As evidências da existência de cé-
As células do câncer são capazes de lulas-tronco, nos cânceres, ampliam
evadir à resposta imune e provocar in-
ainda mais a possibilidade de heteroge-
flamação contribuindo para a própria
neidade nos tumores, mesmo em fases
progressão tumoral36,37. Tudo isso só
iniciais de seu desenvolvimento1. Essa
é possível devido à elevada instabili-
dade genética das neoplasias que abre população de células, extremamente
precedentes, no princí- resistente à apoptose e agentes citotó-
pio da expansão clonal, xicos, permite a autorreno-
para o surgimento de
O câncer é formado, vação do tumor e favorece,
novas linhagens, subclo-
portanto, por devido a capacidade de di-
nais, com características
uma população
visão assimétrica, o apare-
distintas .1,36 heterogênea de
células, resultantes de cimento de linhagens com
O câncer é forma- novas mutações e vanta-
mutações sucessivas
do, portanto, por uma e aleatórias, com gens fenotípicas1,37.
população heterogênea diferenças sob A progressão tumo-
de células, resultantes os aspectos de ral, normalmente, resul-
de mutações sucessivas imunogenicidade, ta na evolução do cân-
e aleatórias, com dife- velocidade de cer para um estágio mais
renças sob os aspectos proliferação, agressivo, determinando
de imunogenicidade, capacidade de invasão maior invasividade local
velocidade de prolife- e disseminação, e metastização1(Fig.3).
ração, capacidade de resistência às drogas Mas existem situações,
invasão e disseminação,
e expressão de
extremamente raras, em
receptores de fatores
resistência às drogas e que ocorre a involução es-
de crescimento.
expressão de receptores pontânea ou aumento da
de fatores de crescimen- diferenciação do tumor,
to . Muitos desses clones celulares favorecendo o tratamento e a cura1,2. O
1,2

não sobrevivem, pois não reúnem as ganglioneuroblastoma, por exemplo, é


propriedades necessárias1. No entanto, uma neoplasia maligna de origem em-
as células mais resistentes e mais adap- brionária, que se desenvolve em pa-
tadas, com propriedades que oferecem cientes humanos na infância, mas que
Biologia tumoral 23
Iniciação

Promoção Promoção Promoção

Células de câncer

Metástase
Células normais

Figura 3. Etapas da carinogênese

pode se diferenciar em um ganglioneu- PAGE, R.L. Withrow & MacEwen’s Small Animal
Clinical Oncology. 5.ed. Philadelphia: W.B.
roma, perdendo suas características de
Saunders Company, 2013. Cap.2, p.30-50.
malignidade, o que favorece a exérese
cirúrgica1. 3. COLLINS, K.; JACKS, T.; PAVLETICH, N.P. The
Abordagens terapêuticas, que utili- cell cycle and cancer. Proc. Natl. Acad. Sci., v.94, n.7,
p.2776–2778, 1997.
zam agentes indutores de diferenciação,
têm sido propostas para alguns tipos 4. MASSAGUÉ, J. G1 cell-cycle control and cancer.
neoplásicos, a exemplo do emprego do Nature, v.432, n.18, p.298-306, 2004.
ácido retinóico ou isotretinoína, no tra-
5. KUSEWITT, D.F. Neoplasia e biologia tumo-
tamento do carcinoma espinocelular e ral. In: ZACHARY, J.F.; MCGAVIN, M.D. Bases
lesões pré-neoplásicas em gatos38,39. da Patologia em Veterinária. 5ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2012. Cap.6, p.289-321.
Referências
1. BRASILEIRO FILHO, G.; PEREIRA, F.E.L.; 6. STRICKER, T.P.; KUMAR, V. Neoplasia. In:
GUIMARÃES, R.C. Distúrbios do crescimento KUMAR, V.; ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.;
e da diferenciação celulares. In: BRASILEIRO MITCHELL, R.N. Robins Basic Pathology. 8ed.
FILHO, G. Bogliolo Patologial. 8ed. Rio de Janeiro: Philadelphia: W.B. Saunders Company, 2007.
Guanabara Koogan. 2012. Cap.8, p. 219-276. Cap.6, p.173-224.

2. ARGYLE D.J.; KHANNA, C. Tumor biology and 7. PINHO, M. Angiogênese: O Gatilho


metastasis. In: WITHROW, S.J.; VAIL, D.M.; Proliferativo. In: PINHO, M., Biologia Molecular

24 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013


do Câncer: fundamentos para a prática médi- Neoplasia, v.6, n.4, p.487- 495, 2001.
ca. 1ed. Rio de Janeiro. Revinter Ltda, 2005.
Cap.10, p.155-162. 18. SORENMO, K.U.; WORLEY, D.R.;
GOLDSCHMIDT, M.H. Tumors of the mamma-
8. COTRAN, R.S.; KUMAR, V.; COLLINS, T. ry gland. In: WITHROW, S.J.; VAIL, D.M.; PAGE,
Reparo dos tecidos: crescimento celular, fibro- R.L. Withrow & MacEwen’s Small Animal Clinical
se e cicatrização de feridas. In: COTRAN, R.S.; Oncology. 3ed. Philadelphia: W.B. Saunders
KUMAR, V.; COLLINS, T.; ROBBINS, S.L. Company, 2013, Cap.27, p.538-556.
Patologia estrutural e funcional. 6ed. Rio de Janeiro:
19. SCHMITT, F.C.; COSTA, C. Biologia Celular.
Guanabara Koogan, 2000. Cap.4, p.79-100.
In: MARLUCE, B.; LONGATTO FILHO, A.
9. MACHADO, R.D.P. Efeitos da angiotensina II e Aspectos clínicos e laboratoriais dos derrames ca-
angiotensina (1-7) na angiogênese in vivo. 2001. vitários. 1ed. Rio de Janeiro: Revinter Ltda, 2001.
68f. Tese (Doutorado em Ciências) - Instituto Cap.4, 241p.
de Ciências Biológicas, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte. 20. HENRY, C.J. Chemical, physical, and hormonal
factors. In: WITHROW, S.J.; VAIL, D.M.; PAGE,
10. MORRISON, W.B. Canine and feline mammary R.L. Withrow & MacEwen´s Small Animal Clinical
tumors. In: MORRISON, W.B. Cancer in dogs Oncology. 5ed. Philadelphia: W.B Saunders
and cats: medical and surgical menegement. 1ed, Company, 2013. Cap.1, Section B, p.15-29.
Philadelphia: Linppincott Willians & Wilkins,
1998. Cap.39, p.591-598. 21. CARPENTER, J.L.; ANDREWS, L.K.;
HOLZWORTH, J. Tumors and tumor like le-
11. FOLKMAN, J. Tumor angiogenesis factor. Cancer sions. In: HOLZWORTH, J. Diseases of the cat:
Res., v.344, n.8, p.2109-2113, 1974. medicine and surgery. Philadelfia: W.B. Saunders
Company, 1987. Vol.1, Cap.11, p.411-413.
12. SORENMO, K. Canine mamary gland tumors.
Vet. Clin. North Am.: Small Anim. Pract., v.33, p.573-
22. BERNAYS, M.E.; FLEMMING, D.; PEIFFER Jr,
596, 2003.
R.L. Primary corneal papilloma and squamous cell
13. HARRIS, A.L. Antiangiogenesis therapy and strat- carcinoma associated with pigmentary keratitis in
egies for integranting in with adjuvant therapy. four dogs, J. Am. Vet. Med. Assoc., v.214, n.2, p.215-
Recent Results Cancer Res., v.152, p.341-352, 1998. 217, 1999.

14. TOI, M.; BANDO, H.; KUROI, K. The predctive 23. BERTONE, E.R.; SNYDER, L.A.; MOORE, A.S.
value of angiogenesis for adjuvant therapy in breast Environmental tobacco smoke and risk of malig-
cancer. Breast cancer, v.7, n.4, p.311- 314, 2000. nant lymphoma in pet cats. Am. J. Epidemiol., v.156,
n.3, p.268-273, 2002.
15. SEARISTO, A.; KARPANEN, T.; ATITALO, K.
Mechanism of angiogenesis and their use in the in- 24. BERTONE, E.R.; SNYDER, L.A.; MOORE, A.S.
hibition of tumor growth and metastasis. Oncogene, Environmental and lifestyle risk factors for oral
v.19, n.53, p.6122 –6129, 2000.
squamous cell carcinoma in domestic cats. J. Vet.
16. LEEK, R.D. The prognostic role of angiogenesis Intern. Med., v.17, n.4, p.557-562, 2003.
in breast cancer. Anticancer Res., v.21, n.6, p.4325-
4331, 2001. 25. WELLER, R.E.; WOLF, A.M.; OYEJIDE, A.;
Transitional cell carcinoma of the bladder associat-
17. SLEDGE G.W. Breast cancer in the clinic: treat- ed with Cyclophosphamide administration, J. Am.
ment past, treatment future. J. Mamary Gland Biol. Anim. Hosp. Assoc., v.15, p.733-736, 1979.

Biologia tumoral 25
26. WATRACH, A.M.; SMALL, E.; CASE ,M.T. (1995-2005). J. Am. Vet. Med. Assoc., v.232, n.3,
Canine papilloma: progression of oral papilloma p.405-410, 2008.
to carcinoma. J. Natl. Cancer Inst., v.45, n.5, p.915–
920, 1970. 34. KLAUNIG, J.E.; KAMENDULIS, L.M.;
HOCEVAR, B.A. Oxidative stress and oxidative
27. FRANCIS, D.P.; COTTER, S.M.; HARDY Jr , damage in carcinogenesis. Toxicol. Pathol., v.38, n.1,
W.D. et al. Comparison of virus-positive and virus- p.96-109, 2010.
negative cases of feline leukemia and lymphoma.
Cancer Res., v.39, n.10, p.3866-3870, 1979. 35. RICCI, V.; ROMANO, M.; BOQUET, P.
Molecular cross-talk between Helicobacter pylori
28. HARDY Jr, W.D., ZUCKERMAN, B.E.; and human gastric mucosa. World J. Gastroenterol.,
MACEWEN, E.G. et al. A feline leukemia and v.17, n.11, p.1383–1399, 2010.
sarcoma virus–induced tumor-specific antigen,
Nature, v.270, p.249-251, 1977. 36. HANAHAN, D.; WEINBERG, R.A. Hallmarks of
cancer: the next generation. Cell, v.144, n.5, p.646-
29. LOUREIRO, A.P.M.; DI MASCIO, P.; 674, 2011.
MEDEIROS, M.H.G. Formação de adutos exo-
cíclicos com bases de DNA: implicações em mu- 37. MODIANO, J.F. The genetic basis of cancer.
tagênese e carcinogênese. Quím. Nova, v.25, n.5, In: WITHROW, S.J.; VAIL, D.M.; PAGE, R.L.
p.777-793, 2002. Withrow & MacEwen´s Small Animal Clinical
Oncology. 5ed. Philadelphia: W.B Saunders
30. FARMER, P.B. DNA and protein aducts as mark- Company, 2013. Cap.1, Section A, p.1-15.
ers of genotoxicity. Toxicol. Lett., v.149, p.3-9, 2004.
38. EVANS, A.G.; MADEWELL, B.R.; STANNARD,
31. MARTINEZ, M.A.R.; FRANCISCO, G.; A.A. A trial of 13-cis-retinoic acid for treatment of
CABRAL, L.S. Genética molecular aplicada ao squamous cell carcinoma and prenoeoplastic le-
câncer cutâneo não melanoma. An. Bras. Dermatol., sions of the head in cats. Am. J. Vet. Res., v.46, n.12,
v.81, n.5, p.405-419, 2006. p.2553-2557, 1985.

32. LOEB, L.A.; HARRIS, C.C. Advances in chemical 39. TOMA, S.; PALUMBO, R.; VINCENTI, M. et al.
carcinogenesis: a historical review and prospective. Efficacy of recombinant alpha-interferon 2ª and
Cancer Res., v.68, n.17, p.6863–6872, 2008. 13-cis-retinoic acid in the treatment of squamous
cell carcinoma. An. Oncol., v.5, n.5, p.463-465,
33. KISELOW, M.A.; RASSNICK, K.M.; 1994.
MCDONOUGH, S.P. et al. Outcome of cats
with low-grade lymphocytic lymphoma: 41 cases

26 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013


Exame citológico
das neoplasias
Laboratório de Patologia Clínica da Escola de Veterinária da UFMG
Rubens Antônio Carneiro* - CRMV-MG1712,
Rodrigo dos Santos Horta - CRVM-MG11669.
* Email para contato: rubensac@ufmg.br

Introdução extensão da mesma em relação às mar-


gens de segurança, e, principalmente,
Citologia é uma poderosa ajuda a rapidez na intervenção. Geralmente,
na prática veterinária que pode indicar a citologia é realizada primariamente
diagnóstico rápido, econômico. O diag- à histopatologia no sentido de se apu-
nóstico citológico ou a citopatologia é rar um diagnóstico, aliando-se o baixo
definida como exame morfológico de grau de invasão do exame citológico
células, individualmente, com a quantidade de in-
sem a presença da arqui- O diagnóstico formação obtida e com
tetura tecidual. É comu- citológico ou a a estrutura tecidual da
mente utilizada para o citopatologia é histopatologia1,2,3
diagnóstico de processos definida como Uma citologia pode
inflamatórios, parasitá- exame morfológico alterar ou eliminar a ne-
rios, neoplasias benignas de células, cessidade de um procedi-
ou malignas, é muito im- individualmente, mento cirúrgico. Massas
portante para se avaliar a sem a presença da benignas como lipomas,
necessidade de cirurgia, a arquitetura tecidual. cistos epidérmicos, pro-
Exame citológico das neoplasias 27
cessos inflamatório, não precisam ser à obtenção de preparações citológicas
removidas rapidamente e quando o são, são: PAAF (Punção aspirativa por agu-
a margem de segurança não precisa ser lha fina), aspiração de medula óssea, la-
tão acentuada como para uma neoplasia vado traqueal e bronco-alveolar.
maligna. Qualquer evidência de malig-
nidade sugere o início precoce do trata- Métodos de coleta para
mento, clínico ou cirúrgico, no último preparações citológicas
caso, com encaminhamento do material
para histopatologia. Punção aspirativa por agulha
A possibilidade de disseminação de fina (PAAF)
células através de punção é inferior a É o método mais simples e comum
0,01%, enquanto que, em uma biópsia de colheita de material para exame mi-
existe uma probabilidade maior de dis- croscópico, pouco invasivo, realizado,
seminação comprovada pela presença normalmente por aspiração. Pode ser
de células malignas em tecidos inicial- utilizado em: tecidos, linfonodos, glân-
mente não comprometidos3. É impor- dulas salivares, glândulas mamárias, ór-
tante salientar que a citologia não subs- gãos e massas internas. Utiliza-se agu-
titui o exame histopatológico, apesar do lha simples de 21- 25 gauges, seringas
valor de seu diagnóstico, pois não ofere- de 3-20 ml e lâminas de vidro limpas
ce informações sobre a invasão tecidual, e desengorduradas. Para linfonodos e
a arquitetura do tecido envolvido e o massas de consistência macia, como os
grau histológico, e os exames, são, por- lipomas, pode-se usar seringa de 3 ml
tanto, complementares4. ou até agulhas sem seringas realizando a
As amostras citológicas podem ser punção não-aspirativa, por capilaridade.
originadas de diversas fontes, como: Para massas mais firmes recomenda-se a
pele e tecido subcutâneo, secreções utilização de seringas maiores. Devem-
auriculares, líquidos cavitários (urina, se evitar agulhas de maior calibre devido
líquor, líquido pericárdico, líquido pleu- à possibilidade de se promover a biópsia
ral e líquido peritoneal), linfonodos, tipo agulha, dificultando a avaliação mi-
medula óssea, próstata, mama, entre ou- croscópica5. A técnica pode ser realiza-
tras. O uso de preparações citológicas da com ajuda de um citoaspirador (Fig.
em tecidos doentes é usualmente rápido 1), que facilita o trabalho, diminuindo o
e fácil, proporcionando, na maioria dos número de assistentes.
casos, informações preliminares sobre Este método é comumente utiliza-
a neoplasia que podem ser usadas para do para aspiração de massas cutâneas e
ajudar no planejamento diagnóstico e subcutâneas, massas intratorácicas, in-
terapêutico4. As técnicas mais comuns tra-abdominais, incluindo fígado, baço e
28 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
punções transabidominais e transtoraci-
cas, que devem ser realizadas mediante
sedação ou anestesia, para reduzir o des-
A conforto. Evita-se a punção nas neopla-
sias de bexiga, uma vez que o carcino-
ma de células de transição, tipo tumoral
mais frequente, apresenta capacidade
excepcional de esfoliação e implantação
B em outros tecidos5.
Para a aspiração de massas, locali-
zadas nas cavidades torácica ou abdo-
minal, é importante a preparação como
área cirúrgica, porém, em tecidos co-
muns, somente com assepsia usando
C álcool 70%.
A punção com agulha fina pode ser
realizada da seguinte forma:
a) Estabilize o material a ser aspirado
com uma das mãos;
b) Introduza a seringa na massa, faça
D uma pressão negativa de cerca de
3-10 ml com a agulha dentro da mas-
Figura 1 – Uso do citoaspirador
Adaptadas de Meinkoth & Cowell (2002)5 sa e em movimento de vai e vem,
acione a seringa em várias direções.
O movimento deve ser
próstata. Grandes massas
A punção aspirativa também direcionado em
devem ser aspiradas perto de massas cutâneas vários graus de profundi-
da periferia para evitar as- e subcutâneas, dade no sentido de aspirar
piração de possíveis áreas geralmente, não o material de várias cama-
de necrose. Em punções exige anestesia, das teciduais. Massas teci-
abominais e torácicas mas punções duais muito fibrosas po-
pode-se fazer a punção transabidominais e dem dificultar a aspiração,
aspirativa guiada pelo ul- transtoracicas, que nestes casos, podem ser
trassom. A punção aspira- devem ser realizadas usados agulhas de calibre
tiva de massas cutâneas e mediante sedação maiores.
subcutâneas, geralmente, ou anestesia, para c) Utiliza-se a introdução
não exige anestesia, mas
reduzir o desconforto. apenas da agulha em mas-
Exame citológico das neoplasias 29
sas muito friáveis e sangrantes, sem b) Certificar que a massa ou local teve
aspiração, mas apenas por capilarida- sua estrutura toda aspirada para evi-
de para não provocar sangramento. tar erros de interpretação;
Neste caso, penetre apenas agulha, a c) Evitar força excessiva na aspiração e,
movimente dentro da massa em vá- principalmente, na realização do es-
rias direções, superficial e profunda- fregaço para evitar esmagamento e
mente cerca de 5-20 vezes 6
destruição das células;
d) Libere a pressão do embolo da seringa d) Use agulhas diferentes para massas
antes de retirá-la da massa para evitar diferentes, pois, poderá haver conta-
ruptura de pequenos vasos e até aspi- minação e diagnóstico errôneo;
ração de tecidos em torno da massa. e) Caso aja sangramento, interromper a
Pode ocorrer também a sucção do ma- aspiração e confeccionar o esfregaço
terial para dentro da seringa, dificul- somente com o material do canhão
tando a preparação do material. da agulha e não aspirar5.
e) Desconecte a agulha da seringa e en-
cha-a com ar;
Escarificação
f) Recoloque a seringa na agulha; Consiste na raspagem da lesão para
g) Expulse o ar da seringa através da agu- obtenção do material e é indicada para
lha empurrando o material ai contido lesões planas, ulceradas, ou durante a
para uma lâmina de vidro fazendo um cirurgia5.
esfregaço com ajuda de outra lâmina;
Esfoliação
h) Secar a lâmina ao ar e cora-la pelos
métodos convencionais. É importante Consiste na coleta de material com
a confecção de várias lâminas, princi- “swab” ou escovinha. É indicado para
palmente, para aprovei- a retirada de material do
tar a presença do animal A biopsia medular ouvido, vagina, uretra e
no hospital ou clínica. oferece ao clínico bexiga5. Caso o material
O número de resulta- informações não se apresente úmido,
dos inconclusivos e cole- importantes pode ser umedecido com
tas insatisfatórias podem sobre a atividade solução salina, porém evi-
ser reduzidos, a partir das hematopoiéticas das te substâncias emolientes
seguintes diretrizes: células medulares, como óleos que dificul-
a) Evitar aspirar onde além de evidenciar a tam a aposição. Após a
houver inflamação e presença de parasitas, colheita, rola-se o “swab”
necrose, pois o ma- invasão medular por sobre a lâmina sem esfre-
terial pode não ser células neoplásicas ou gá-la, para evitar danos
representativo. mielofitíase. celulares.
30 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
Coleta de medula óssea Coleta de fluidos corporais
A biopsia medular oferece ao clínico
Toracocentese9
informações importantes sobre a ativi-
dade hematopoiéticas das células medu- Em casos necessários, onde se sus-
lares, além de evidenciar a presença de peita de processos inflamatórios ou ne-
parasitas, invasão medular por células oplásicos intratorácicos, é feita a punção
neoplásicas ou mielofitíase. É um méto- devidamente delimitada pela radiolo-
do de fácil execução, mesmo em casos gia. O material necessário consiste em
de trombocitopenia grave. Dependendo agulhas normais, tipo 25/7, seringas
do animal é feito apenas com anestesia de tamanhos variados, dependendo da
local, da seguinte forma: quantidade a ser coletada, que deve ser
a) Limpe e faça uma anti-sepsia cirúrgica a mínima possível, dependendo da afec-
na área a ser puncionada; a área prefe- ção. As efusões pleurais se abundantes,
rida para pequenos animais é a asa do geralmente, , são bilaterais. A punção
íleo, a região externa e, em alguns ca- deve ser realizada na região ventral do
sos, a cabeça do úmero e fêmur; tórax, no sétimo ou oitavo espaço inter-
b) Faça uma infiltração na pele, tecido costal, próximo á junção costocondral.
subcutâneo e periósteo com pequena Acoplar a seringa à agulha e após pene-
quantidade de lidocaína; tração no local adequado, que deve ser
c) Perfure a pele com a agulha de pun- previamente preparado assepticamente,
ção, que é composta de um estilete aspirar suavemente. Com o material,
interno tipo mandril, perfure o pe- preparar o esfregaço conforme indi-
riósteo. Assim que agulha estiver cado e se estiver muito fluido pode-se
firmemente fixada no osso, retire o centrifugá-lo.
mandril;
d) Fixe uma seringa de 10 ml na agulha e Paracentese9
faça aspiração da medula com pressão O local deve ser preparado assep-
moderada para evitar rompimento de ticamente e o animal colocado em de-
capilares sangüíneos intramedulares, cúbito lateral e bem contido. A punção
o que provocaria uma diluição do pode ser feita pré ou pós-umbilical,
material medular com sangue; dependendo da localização alterada do
e) Assim que o material medular fluir na baço ou bexiga. Aspirar suavemente o
seringa, libere a pressão da seringa, líquido e enviar ao laboratório.
retire a agulha e faça, com o material
obtido, vários esfregaços em laminas Artrocentese8
limpas e desengorduradas. Consiste na aspiração do liquido
f) Corar com métodos convencionais. sinovial. É importante para o auxílio
Exame citológico das neoplasias 31
no diagnóstico de lesões mais maiores. Prepara-se
Os esfregaços são
articulares. Com auxilio a área a ser puncionada
efetuados com
de uma seringa normal de depilando-a e aneste-
líquidos menos
cerca de 3 ml, o local deve siando-a. Introduz-se,
viscosos os quais
ser puncionado e aspirado, proporcionam então, um cateter vascu-
após antissepsia. A articu- mais facilidade no lar com agulha de calibre
lação deve estar parcial- deslizamento da 18 a 22 no ligamento cri-
mente fletida e estendida, lâmina. Se o fluido cotireódio e quando este
alternadamente, enquan- é mais viscoso a atingir o lúmen da tra-
to se realiza a palpação de preparação em forma queia, o impulsione até
sua superfície até que um de “squash” é mais que alcance a bifurcação
ponto macio possa ser lo- adequada para se bronquial. Instile e aspire,
calizado. Aspira-se pouca obter um preparado simultaneamente, cerca
quantidade e procede-se citológico mais fino. de 10 ml de soro fisiológi-
o esfregaço de forma con- co. Este material deve ser
vencional e a seguir se faz a centrifugado e preparado
coloração. um esfregaço com meios convencionais.
O material coletado de fluidos cor-
Lavagem traqueobrônquica8 porais deve ser acondicionado em fras-
Consiste, basicamente, na instilação cos sem anticoagulante, frascos com
de uma solução salina no interior da tra- EDTA e para cultura bacteriana.
queia e dos brônquios e sua posterior
aspiração. Esta solução aspirada contém Confecção das lâminas
células que são usadas para diagnóstico
de afecções. O lavado endotraqueal é in- Esfregaço de amostras fluídas
dicado para a colheita de material de ga- Os esfregaços são efetuados com lí-
tos e cães de pequeno porte, que devem quidos menos viscosos os quais propor-
ser anestesiados, pois serão entubados. cionam mais facilidade no deslizamento
O paciente deve ser posicionado em da lâmina. Se o fluido é mais viscoso a
decúbito lateral com o catéter urinário preparação em forma de “squash” é mais
inserido dentro do tubo endotraqueal. adequada para se obter um preparado
Com auxílio de uma seringa, instilar e citológico mais fino (Fig. 2).
aspirar rapidamente pequena quanti- a) Pequena amostra deve ser depositada
dade de soro fisiológico. Este material na superfície lateral da lâmina;
deve ser centrifugado e ser preparado b) Tracionar uma Segunda lâmina na
um esfregaço com o sedimento. A téc- superfície da primeira ao encontro da
nica transtraqueal é indicada para ani- amostra depositada;
32 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
A B C D
Figura 2 - Confecção do esfregaço fluido
Adaptadas de Meinkoth & Cowell (2002)5

c) Como a amostra irá se distribuir uni- rial colhido;


formemente pela borda da lâmina, c) A lâmina superior é deslizada ao lon-
empurrar suavemente a lâmina supe- go da superfície da lâmina inferior,
rior, distribuindo a amostra na super- promovendo-se a distribuição do
fície anterior. material. Evitar força excessiva para
não destruir as células.
Esmagamento (“squash”)
Utilizada para materiais mais visco- Impressão (“in print”)
sos (Fig. 3). As preparações citológicas por im-
a) Depositar o aspirado sobre a lâmina; pressão são realizadas em tecido esfolia-
b) Colocar uma segunda lâmina sobre do ou ulcerado. Em alguns casos, pode-se
a primeira, comprimindo o mate- esfoliar uma ferida e fazer o “in print”.

A B C D
Figura 3 – Confecção do squash
Adaptadas de Meinkoth & Cowell (2002)5

Exame citológico das neoplasias 33


a) Esfolie uma área representativa da le- de medula óssea podem não absor-
são com algum material cortante; ver bem a coloração se a preparação
b) A borda deve estar livre de sangue e for antiga5. As lâminas devem ser ar-
será retirado com papel de filtro ou mazenadas em caixas ou vasilhames
gaze. Toque, gentilmente, a superfície próprios.
esfoliada com uma lâmina de vidro
limpa e desengordurada fazendo com Coloração
que por um tempo rápido a lamina Os corantes do tipo Romanowsky
“se adira” ao material a ser examina- são tipicamente policromáticos, pos-
do. É importante evitar sangramen- suem propriedades tintoriais exce-
tos para a boa qualidade do esfregaço, lentes para características nucleares
que também pode ser feito de mate- e diferenciação núcleo/citoplasma5,
rial cirúrgico. com destaque para o Panótico (Diff-
Retire a lâmina e seque-a ao ar, co- Quick), Giemsa, Wrigt, Leishman e
rando por corantes de rotina. May Grunmwald. Para lesões inflama-
tórias em que se buscam neutrófilos
Fixação do material e bactérias, o Wright é o corante mais
A maioria das preparações citoló- indicado.
gicas é fixada à seco, principalmente, O novo azul de metileno não pro-
àquelas a serem coradas pelos coran- move uma coloração permanente,
tes de Romanowsky, mas as prepa- mas é considerado um bom corante
rações, em que forem necessários os para neoplasias, células teciduais e
corantes de Papanicolaou e Shorr, de- fungos. Trata-se de um corante bási-
vem ser fixadas com álcool absoluto. co, excelente para a visualização de
Evita-se o uso de vapores de formalina núcleos e nucléolos e granulações de
como conservantes, pois mastócitos.
podem interferir na co- É importante Os corantes de
loração10. É importante que as amostras Papanicoulau são consi-
que as amostras sejam sejam enviadas ao derados permanentes e
enviadas ao laboratório laboratório sem amplamente utilizados
sem coloração, para coloração, para que na ginecologia huma-
que o técnico utilize o técnico utilize a na para diagnóstico de
a coloração de sua coloração de sua neoplasias. Permitem
preferência, mas devem preferência, mas melhor evidenciação do
ser coradas em um espa-
devem ser coradas núcleo e consequente-
ço de 24 horas. Algumas
em um espaço de 24 mente as possíveis aber-
células, principalmente,
horas. rações nele presentes.
34 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
Outras colorações, como o 3. FRIEDRICHS, K.R.; YOUNG, K.M. Diagnostic
Periodic Acid Shiff (PAS), usadas para cytopathology in clinical oncology. WITHROW,
S.J.; VAIL, D.M.; PAGE, R.L. Withrow &
avaliações de fungos e o Sudam III re-
MacEwen´s Small Animal Clinical Oncology. 5.ed.
comendado para avaliação de lipomas Philadelphia: Saunders, 2013, cap. 7, p. 111-130.
e lipossarcomas, também são utiliza-
4. MORRISON, W.B. Diagnotic cytology: Common
dos na rotina, no entanto, dado a sua
techniques for obtaining cytology smears. In:
praticidade, o panótico representa o MORRISON, W.B. Cancer in Dogs and Cats
corante mais frequentemente utilizado Medical and Surgical Management. Philadelphia:
na rotina clínica de pequenos animais. Williams & Wilkins, 1998. p.71-78

5. MEINKOTH, J.; COWELL, R., Sample collection


Considerações finais and preparation in cytology: increasing diagnostic
A citologia é um método diagnós- yield, Vet. Clin. Small Anim., v. 32, p. 1187–1207,
tico confiável e minimamente invasivo, 2002.

mas não substitui o exame histopatoló- 6. HENRY C.J.; POPE, E.R. Methods of tumor di-
gico. Na oncologia veterinária, a citolo- agnosis: Fine needle aspiration and biopsy tech-
gia é um exame de extrema importância niques. In: HENRY, C.J.; HIGGINBOTHAM,
M.L. Cancer management in small animal practice.
para o diagnóstico, planejamento e con-
Canada: Saunders, 2010. p. 41-46.
dução de um caso clínico. Uma vez que
não é possível avaliar a arquitetura teci- 7. FREITAS, E.F.; OLIVEIRA, S.R. Diagnóstico cito-
lógico em Medicina Veterinária. Cadernos Técnicos
dual, o resultado pode nem sempre ser
de Veterinária e Zootecnia. n.30, p. 29-47, 1999.
conclusivo. A coleta de material e pre-
paração das lâminas, bem como o for- 8. PARRY, B.W. Synovial fluid. In; COWELL, R.L.;
TYLER, R.D. Diagnostic cytology of the dog and
necimento de um histórico detalhado, é
cat. California: American Veterinary Publication,
fundamental para melhorar a condição
1993. p. 121-136.
e confiabilidade do diagnóstico.
9. TVEDTEN, H. Cytology of neoplastic and inflam-

Referências atory masses. In: WILLARD, M.D.; TVEDTEN,


H.; TURNWALD, G.H. Small Animal. Clinical
1. OGILVIE, G.K.; MOORE, A.S. Managing the Diagnosis by laboratory methods. Philadelphia:
veterinary cancer Patient: A Pratice Manual. New Saunders, 1994, p. 321-341.
Jersey: Veterinary Learning Systems co, 1995.
10. SHELLY, S. Cutaneous lesions, Vet. Clin. Small
542 p.
Anim., v. 32, p. 1-46, 2003.
2. DENICOLA, D.; REAGAN, W. J. Using cytol-
ogy in the Diagnosis of Cancer. In: MORRISON,
W.B. Cancer in Dogs and Cats Medical and Surgical
Management. Philadelphia: Williams & Wilkins,
1998. p.79-94.

Exame citológico das neoplasias 35


Diagnóstico
anátomo-
patológico
das neoplasias

bigstockphoto.com

Conrado de Oliveira Gamba* - Doutorando do


Programa de Pós-graduação em Patologia/UFMG,
Rodrigo dos Santos Horta - CRVM-MG11669.
* Email para contato: conradogamba@yahoo.com.br

Introdução Em oncologia veterinária, ção do prognóstico


os patologistas exercem e tratamento destas
Em oncologia ve-
função importante no lesões. O diagnóstico
terinária, os patolo-
manejo de neoplasias, pois definitivo destas ne-
gistas exercem função
importante no manejo disponibilizam informações oplasias é o histopa-
de neoplasias, pois dis- histopatológicas e imuno- tológico, porque pro-
ponibilizam informa- histoquímicas relevantes porciona detalhes
ções histopatológicas e para a definição do da histomorfologia
imuno-histoquímicas
prognóstico e tratamento do tumor como ple-
relevantes para a defini-
destas lesões. omorfismo, grau de
36 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
metástases à distância), além de ser uma
importante informação para a determi-
nação da sobrevida e do tratamento de
pacientes oncológicos, em geral.

Coleta e remessa de
material
Os cuidados com a coleta e re-
messa de material são fundamentais
para assegurar a qualidade do exame
anatomo-patológico.
Após o procedimento de exére-
se das neoplasias o espécime deve ser
imediatamente acondicionado em reci-
pientes com diâmetro de abertura lar-
gos, contendo os chamados fixadores
histológicos responsáveis pelo retardo
dos efeitos post mortem dos tecidos
(inibição ou interrupção do processo
autólise), mantendo sua arquitetura
normal. Existem vários tipos de fixado-
res, porém, o mais utilizado, atualmen-
te, por ser mais acessível e de uso sim-
ples, é o formaldeído 10% tamponado
neutro. É importante salientar que para
uma fixação adequada, o mesmo deve
diferenciação, índice mitótico, presença representar de 10 a 20 vezes o volume
ou ausência de necrose e a precisão da do material fixado. O período necessá-
excisão. rio para a fixação é dependente do ta-
manho da amostra e pode variar de 12
Além da avaliação do tumor pri-
a 24 horas1,2. Amostras que excedem o
mário, em oncologia a amostragem de
período de fixação de 48 horas podem
linfonodos é imprescindível e permite comprometer o procedimento imuno-
o estadiamento de animais portadores -histoquímico, assim, é aconselhável o
de neoplasias mamárias, pelo sistema acondicionamento das mesmas em ál-
TNM (tamanho tumoral, envolvimen- cool 70%3.
to de nódulos linfáticos e presença de Além disso, é imprescindível a iden-
Diagnóstico anátomo-patológico das neoplasias 37
tificação correta do ma- consiste na secção do ma-
Outras medidas terial e descrição da apa-
terial a ser encaminhado
também são
para o laboratório de pa- rência da superfície de cor-
importantes
tologia. Para isso os fras- te especificando a presença
na avaliação
cos devem ser rotulados de nódulos ou massas tu-
macroscópica de
em letra legível (nome do morais e suas medidas. A
neoplasias, dentre elas
remetente, procedência, medição do tamanho das
a identificação das
identificação do animal) lesões é importante em
margens profundas
e acompanhados por uma oncologia, pois permite o
e laterais com tinta
requisição informando os
nanquim, que permite estadiamento dos pacien-
dados do paciente (nome, tes pelo sistema TNM co-
a avaliação da
idade, raça, espécie) e do suficiência da excisão mumente utilizado para
proprietário (nome com- cirúrgica que quando, definição do prognóstico e
pleto e telefone para conta- não alcançada pode do tratamento das neopla-
to), além das informações direcionar para a sias mamárias. O corte do
do espécime (data da co- utilização de terapias material pode revelar ou-
leta, localização da lesão, adjuvantes. tras características, como:
tamanho da lesão, presença rangência (característica
ou não de ulceração e o tipo de procedi- geralmente observada em tumores mistos
mento cirúrgico), histórico clínico e qua- mamários caninos) e untuosidade (obser-
dro clínico do animal, dentre outros dados vada em lipomas cutâneos). Outras medi-
necessários para a obtenção do diagnósti- das também são importantes na avaliação
co definitivo1. macroscópica de neoplasias, dentre elas
a identificação das margens profundas e
Avaliação macroscópica laterais com tinta nanquim, que permite
Após o recebimento do material o a avaliação da suficiência da excisão ci-
patologista responsável realiza a avalia- rúrgica que quando, não alcançada pode
ção macroscópica que inclui observa- direcionar para a utilização de terapias
ção, descrição e amostragem do espéci- adjuvantes.
me. O primeiro passo nesta análise é a
identificação do órgão/tecido contendo
Processamento do
a lesão, posteriormente executando-se material
a descrição da aparência externa e me- Após o processo observacional e
dição do espécime. Subsequentemente, descritivo da macroscopia executa-se a
efetua-se a descrição da consistência do amostragem do material para encami-
material, além da presença de nódulos nhamento e processamento. Diante da
superficiais ou internos. A etapa posterior heterogeneidade, no que se refere ao
38 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
tamanho das amostras re- levar à perda de epítopos
A definição do
cebidas em laboratórios,
diagnóstico definitivo sensíveis às temperaturas
o número de fragmentos
de neoplasias ocorre, elevadas inviabilizando a
encaminhados para o pro- realização da técnica de
principalmente,
cessamento e avaliação imuno-histoquímica3.
pela avaliação
microscópica deve ser histopatológica de dois As outras etapas, que
determinado de acordo, quesitos principais, sucedem o processamen-
principalmente, com o ta- como: características to, são a microtomia (cor-
manho do espécime. Para de malignidade e te dos blocos de parafina
neoplasias mamárias é origem/histogênese do em fitas de 3 a 5 µm), o
preconizada a retirada de tecido neoplásico. acondicionamento do
três fragmentos em amos- corte em lâminas histo-
tras entre 3-5 cm de diâ- lógicas e o aquecimento
metro; a retirada de cinco fragmentos do corte em estufa a 60°C. É importante
foi determinada para amostras medindo ressaltar que para realização da técnica
acima de 5 cm de diâmetro4. Evita-se de imuno-histoquímica o aquecimen-
amostragem de áreas necróticas centrais to não deve exceder 37°C, além disso,
de neoplasias priorizando sempre às para melhor aderência dos cortes acon-
periféricas. selha-se utilizar lâminas histológicas
Após a fixação e a amostragem, especiais com carga positiva ou gelati-
inicia-se a etapa de processamento do nizadas . Após condicionamento em
5,6

material que consiste na impregna- estufa, realiza-se coloração por hema-


ção do tecido com uma substância de toxilina e eosina e fixação de lamínulas.
consistência firme que permita, pos- O desfecho destas etapas se dá pela vi-
teriormente, seccioná-lo em camadas sualização do material em microscopia
delgadas. Pelo fácil manuseio e bons óptica de luz com descrição histopato-
resultados, a parafina é a mais utilizada lógica e determinação do diagnóstico
neste procedimento. As etapas do pro- definitivo com auxílio ou não da técnica
cessamento são: desidratação, realizada de imuno-histoquímica.
com utilização de álcool em concen-
tração crescente; diafanização com a Avaliação microscópica
substituição do álcool, agora presente A definição do diagnóstico definiti-
nos tecidos, por xilol; impregnação do vo de neoplasias ocorre, principalmen-
tecido com parafina fundida a 60°C. te, pela avaliação histopatológica de
Na etapa de impregnação com parafina dois quesitos principais, como: caracte-
aconselha-se não exceder a temperatura rísticas de malignidade e origem/histo-
limite de 60°C, pois esta prática pode gênese do tecido neoplásico.
Diagnóstico anátomo-patológico das neoplasias 39
A identificação precisa do tecido mitótico classificando as neoplasias em
de origem de uma neoplasia é essencial graus I, II e III12. Outro exemplo, são os
para o seu diagnóstico definitivo sendo mastocitomas cutâneos que, com base
possível determinar os tecidos epiteliais no índice mitótico, pleomorfismo celu-
ou mesenquimais em que o tumor se lar e quantidade de grânulos intracito-
desenvolveu. plasmáticos, são graduados em graus I,
A definição do caráter benigno ou II e III10,11.
maligno do tecido neoplásico se baseia
nas características histológicas de malig- Colorações especiais
nidade, dentre elas: a delimitação da ne- (histoquímicas)
oplasia, presença de metástase, presen- Outros métodos morfológicos,
ça de invasão linfática e/ou estromal, como as colorações especiais, podem
índice mitótico, status de também ser aplicados
diferenciação e caracte- A técnica de imuno- para auxílio na determi-
rísticas celulares como histoquímica, nação do diagnóstico
anisocitose, anisocario- além de auxiliar definitivo das lesões neo-
se e proporção núcleo/ na definição do plásicas. Dentre as colo-
citoplasma7. diagnóstico definitivo, rações pode-se destacar o
Outros métodos também auxilia na Ácido Periódico de Schiff
também podem ser in- determinação do (PAS), importante para a
dicativos de prognósti- prognóstico e da diferenciação entre áreas
co dos tumores, além de conduta terapêutica carcinomatosas in situ e
influenciar na decisão mais adequada para o invasão estromal através
da conduta terapêutica paciente oncológico. da evidenciação da mem-
pelo oncologista. Dentre brana basal, e que além
eles destaca-se a graduação histológica disso, possibilita a identificação de gli-
que baseada nas características histo- cogênio; Tricrômico de gomori que per-
patológicas de diferenciação tumoral mite, principalmente, a visualização de
determina graus que variam de I a III colágeno diferenciando fibrossarcomas
às neoplasias. Em neoplasias mamá- de outras neoplasias mesenquimais;
rias, principalmente em carcinomas Fontana de Masson, evidencia a presen-
tubulares, o sistema de graduação his- ça de melanina nos melanomas; Azul de
tológica é de extrema importância na toluidina, assim como o Giemsa, permi-
determinação do protocolo terapêutico te a visualização de grânulos intracito-
de eleição8,9,10,11. Este sistema leva em plasmáticos produzidos por mastócitos,
consideração características como ple- consequentemente, auxiliando tanto na
omorfismo, formação tubular e índice identificação de mastocitomas cutâneos
40 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
quanto na graduação dos mesmos2. determinação do prognóstico e da con-
duta terapêutica mais adequada para
Imuno-histoquímica o paciente oncológico. Características
Alguns tumores indiferenciados po- como índice de proliferação celular
dem oferecer dificuldade na determina- elevado (determinado pelo marcador
ção da histogênese, sendo aconselhado, Ki-67/MIB-1) e negatividade para o re-
nestes casos, a utilização de marcado- ceptor de estrógeno são relacionadas a
res imuno-histoquímicos específicos um prognóstico desfavorável de neopla-
para células epiteliais (citoqueratina sias, em que o segundo, principalmente,
AE1AE3) e mesenquimais (vimentina). relaciona-se a neoplasias mamárias17,18.
Algumas neoplasias podem assumir
aspecto de células isoladas, denomi- Considerações finais
nadas neoplasias de células redondas, Diante do exposto, o adequado exa-
que são representadas, principalmente, me anatomopatológico fornecerá ao on-
por mastocitomas, Tumores Venéreos cologista clínico informações a respeito
Transmissíveis (TVT), linfomas, plas- da evolução clínica (prognóstico) ou
mocitomas e histiocitomas. A diferen- mesmo informações para a terapêutica
ciação entre estes tumores ocorre, espe- específica (preditivo) de uma determi-
cialmente, pela avaliação dos aspectos nada neoplasia. Resultados mais fide-
morfológicos aliados às características dignos podem ser alcançados com uma
clínicas dos pacientes, porém, em al- maior interação e troca de informações
gumas situações, diante da semelhança entre clínicos e patologistas.
morfológica, pode haver a necessidade
de utilização da técnica de imuno-his- Referências
toquímica na determinação do diag- 1. VASCONCELOS, A.C. Necrópsia e remessa de
material para laboratório em medicina veterinária.
nóstico definitivo. Dentre os principais 2a Ed. Teresina, Universidade Federal do Piauí,
marcadores imuno-histoquímicos utili- 1987.
zados destaca-se o CD117/c-kit usado 2. HRUBAN, R.R.; WESTRA, W.H.; PHELPS,
para identificação de mastocitomas; o T.H.; ISACSON, C. Surgical pathology dissection.
Springer-Verlag New York, Inc. 1996.
CD3 para o diagnóstico de linfomas de
3. WERNER, M.; CHOTT, A.; FABIANO, A.;
linfócitos T; o CD79a para identificação BATTIFORA, H. Effect of Formalin Tissue Fixation
de linfomas de linfócitos B e de plasmo- and Processing on Immunohistochemistry. Am. J.
Surg. Pathol., V. 24, N. 7, P. 1016-1019, 2000.
citomas; e a vimentina no diagnóstico
4. ESTRELA-LIMA A.; ARAUJO M.S.S.;
de TVT13,14,15,16. COSTANETO, J.M. et al. Immunophenotypic fea-
A técnica de imuno-histoquímica, tures of tumor infiltrating lymphocytes from mam-
mary carcinomas in female dogs associated with
além de auxiliar na definição do diag- prognostic factors and survival rates. BMC Cancer,
nóstico definitivo, também auxilia na v. 10, p. 1-14, 2010.

Diagnóstico anátomo-patológico das neoplasias 41


5. SCHUTTE, B.; REYNDERS, M.M.; BOSMAN, Vet. Pathol., v. 4, n. 2, p. 153-180, 2011.
F.T.; BLIJHAM, G.H. Effect of tissue fixation on
anti-bromodeoxyuridine immunohistochemistry. 13. GIMENO, E.J.; MASSONE, A.R.; MARINO, F.P.;
J. Histochem. Cytochem., v. 35, n. 11, P. 1343-1345, IDIART, J.R. Intermediate filament expression and
1987. lectin histochemical features of canine transmis-
sible venereal tumour. APMIS, v. 103, n. 9, p. 645-
6. FARMILO, A.J. Fixation and Processing. 650, 1995.
In: FARMILO, A.J. Education Guide
Immunohistochemical Staining Methods Fourth 14. MILNER, R.J.; PEARSON, J.; NESBIT, J.W.;
Edition, California: Dako, 2006. CLOSE, P. Immunophenotypic classification of
canine malignant lymphoma on formalin-mixed
7. CULLEN, J.M.; PAGE, R.; MISDORP, W. An paraffin wax-embedded tissue by means of CD3
overview of cancer pathogenesis, diagnosis and and CD79a cell markers. Onderstepoort J. Vet. Res.,
management In: MEUTEN, D.J. Tumors in v. 63, n. 4, p. 309-313, 1996.
Domestic Animals. 4. ed. Iowa: Blackwell, 2002.
Cap. 1, p. 3-44. 15. WEBSTER, J.D.; KIUPEL, M.; KANEENE, J.B. et
al. The use of KIT and tryptase expression patterns
8. ELSTON, C.W.; ELLIS, I.O. Pathological prognos- as prognostic tools for canine cutaneous mast cell
tic factors in breast cancer. I. The value of histologi- tumors. Vet. Pathol., v. 41, n. 4, p. 371-377, 2004.
cal grade in breast cancer: experience from a large
study with long-term follow-up. Histopathology, v. 16. FERNANDEZ, N.J.; WEST, K.H.; JACKSON,
19, n. 5, p. 403-410, 1991. M.L.; KIDNEY, B.A. Immunohistochemical and
histochemical stains for differentiating canine cuta-
9. ELSTON, C.W.; ELLIS, I.O. Assessment of histo- neous round cell tumors. Vet. Pathol., v. 42, n. 4, p.
logical grade. In: The breast, Third Ed. Churchill 437-445, 2005.
Livingstone, London, 1998. p. 365-384.
17. PENA, L.L.; NIETO, A.I.; PÉREZ-ALENZA, D.
10. GOLDSCHMIDT, M.H.; HENDRICK, M.J. et al. Immunohistochemical detection of Ki-67 and
Tumors of the skin and soft tissues In: MEUTEN, PCNA in canine mammary tumors: relationship
R.G. Tumors in domestic animals. 4. ed. Iowa: to clinical and pathologic variables. J. Vet. Diagn.
Blackwell, 2002. Cap. 2, p. 45-117. Invest., v. 10, n. 3, p. 237-246, 1998.
11. MISDORP, W. Malignant Mammary tumors in the 18. NIETO, A.; PEÑA, L.; PÉREZ-ALENZA, M.D.
dog and cat. In: MEUTEN, D.J. Tumors in domestic et al. Immunohistologic detection of estrogen re-
animals. 4. ed. Iowa: Blackwell, 2002. Cap. 12, p. ceptor alpha in canine mammary tumors: clinical
589-606. and pathologic associations and prognostic signifi-
cance. Vet. Pathol., v. 37, n. 3, p. 239-247, 2000.
12. CASSALI, G.D.; LAVALLE, G.E.; DE NARDI,
A.B. et al. Consensus for the diagnosis, prognosis
and treatment of canine mammary tumors. Braz. J.

42 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013


Cirurgia oncológica
bigstockphoto.com

Rodrigo dos Santos Horta* - CRVM-MG11669.


Email para contato: rodrigohvet@gmail.com

Introdução século XIX, William Halsted introdu-


ziu princípios cirúrgicos básicos, com o
A ressecção cirúrgica representa a
objetivo de prevenir infecções e favore-
modalidade terapêutica mais antiga, ca-
cer a cicatrização tecidual, mas também
paz de interferir, de forma
significativa, na evolução desenvolveu uma série de
do câncer1,2. A cirurgia A ressecção normas e recomendações
oncológica foi imple- cirúrgica representa gerais para a cirurgia on-
mentada no século XVI, a modalidade cológica que continuam
no entanto, seu desenvol- terapêutica mais apresentando importante
vimento esteve limitado antiga, capaz de valor prático2,3.
aos conhecimentos sobre interferir, de forma Os objetivos da cirur-
anestesia, antissepsia e significativa, na gia oncológica podem ser
controle analgésico1,3. No evolução do câncer.
definidos conforme a fun-
Cirurgia oncológica 43
ção do cirurgião: diagnóstico, tratamen- cirúrgica, no entanto, depende do tipo
to e prevenção2,3. e graduação da neoplasia a ser tratada,
do tamanho e localização do tumor e de
Princípios da cirurgia sua capacidade de invasão tecidual1,3.
oncológica O tipo de tecido envolvido também
é relevante para a definição das margens
Ressecção contínua e margens fáscias musculares e tecidos ósseos, re-
de segurança presentam barreiras físicas relativamen-
te eficientes no controle do crescimen-
A cirurgia oncológica preconiza a to tumoral, enquanto o tecido adiposo
ressecção contínua do tumor dentro mostra-se ineficiente, sendo, normal-
de planos teciduais macroscopicamen- mente, indicadas margens cirúrgicas su-
te normais, objetivando a obtenção de periores a um centímetro2.
amplas margens de segurança (Fig. 1)2,3. A ressecção cirúrgica pode ser clas-
De uma forma geral, recomenda- sificada, conforme os planos teciduais
-se a excisão com margens de um a três dissecados em intracapsular, marginal,
centímetros em todas as direções, inclu- ampla e radical2,3.
sive na profundidade2. A agressividade A ressecção intracapsular envolve

Pele

Fáscia
Músculo

Errado Certo
Figura 1: Representação esquemática de ressecções cirúrgicas incompletas e completas, respectivamente
Adaptado de FARESE et al., 20063

44 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013


a dissecção da pseudo- em recorrência do tumor
Cirurgias amplas e que determinadas neo-
cápsula do tumor provo-
consistem na remoção plasias podem recidivar,
cando sua redução, mas
do tumor com mesmo em pacientes cuja
deixando doença macros-
margens completas excisão cirúrgica foi com-
cópica no sítio cirúrgi-
de tecidos normais pleta pelo desprendimen-
co . A ressecção marginal
3
em todas as direções, to de células neoplásicas
consiste na extirpação do enquanto cirurgias
tumor próximo à pseudo- no sítio cirúrgico, durante
radicais resultam na
cápsula, o que, normal- a manipulação do tumor e
remoção completa
mente, resulta em doença ressecção dos tecidos4,5.
de uma estrutura
microscópica residual2,3. anatômica ou do Manipulação
Ressecções intracapsula- compartimento delicada dos tecidos
res ou marginais são indi- que contém o A manipulação delica-
cadas apenas para lesões tumor, resultando, da dos tecidos é um prin-
de natureza benigna ou normalmente, em cípio básico da cirurgia
quando a remoção com- prejuízos funcionais e
geral, fundamental para
pleta não é viável, impli- estéticos. garantir a viabilidade dos
cando na necessidade de
tecidos e favorecer o pro-
terapias adjuvantes, com
cesso de cicatrização3. Na cirurgia on-
destaque para a radioterapia e quimiote-
cológica os tecidos tumorais devem ser
rapia, que se mostram mais eficazes no
manipulados, gentilmente, para evitar o
tratamento da doença microscópica3. A
desprendimento de células neoplásicas
probabilidade de se deixar doença mi- no leito da ferida cirúrgica6. A limpeza
croscópica é, drasticamente, reduzida abundante do leito cirúrgico, com so-
quando ressecções amplas ou radicais lução fisiológica, pode auxiliar na re-
são utilizadas2. moção mecânica de células neoplásicas
Cirurgias amplas consistem na re- que, eventualmente, se desprenderam,
moção do tumor com margens com- mas não substitui o tratamento delicado
pletas de tecidos normais em todas as dos tecidos3.
direções, enquanto cirurgias radicais
resultam na remoção completa de uma Hemostasia precoce
estrutura anatômica ou do comparti- Células neoplásicas são constante-
mento que contém o tumor, resultando, mente liberadas na circulação venosa
normalmente, em prejuízos funcionais e e linfática. A hemostasia precoce dos
estéticos2,3. vasos (principalmente venosos) tem
É importante lembrar que excisões como objetivo prevenir a liberação de
incompletas nem sempre irão resultar grandes êmbolos tumorais na circulação
Cirurgia oncológica 45
sistêmica, com destaque para os tumo- de um paciente com câncer, em que a bi-
res que dispõem de amplo suprimento ópsia não pode comprometer uma res-
vascular, como: neoplasias esplênicas, secção cirúrgica curativa subseqüente2,3.
testiculares e pulmonares3.
Cirurgia para tratamento
Objetivos da cirurgia
Ressecção do tumor primário
oncológica
A intervenção cirúrgica no paciente
Cirurgia para diagnóstico oncológico é um dos métodos mais efe-
O diagnóstico de uma neoplasia tivos no tratamento da maioria dos tu-
é fundamental para a definição de um mores sólidos em cães e gatos, e pode,,
prognóstico preciso e para em muitos casos, oferecer
a escolha do tratamento A interpretação a possibilidade de cura3.
mais adequado7. A bióp- do exame No entanto, antes de se
sia ou excisão cirúrgica de histopatológico, bem estabelecer esse objetivo,
qualquer tecido em que se como o momento e é necessário reunir o má-
suspeite de envolvimen- a forma de coleta do ximo de informações re-
to neoplásico resulta em tecido, representam lacionadas ao paciente e à
avaliação histopatológi- uma das etapas mais neoplasia.
ca, pois é o único méto- cruciais no manejo A cirurgia curativa
do capaz de diagnosticar de um paciente com depende de um planeja-
com precisão a maioria câncer, em que a mento extremamente de-
dos processos tumorais . 3,7 biópsia não pode talhado, obtido a partir da
As biópsias excisionais, comprometer uma reunião de informações
em que os tumores são ressecção cirúrgica sobre o tipo e graduação
extirpados com margens curativa subseqüente. do câncer a ser tratado, o
amplas, permitem o diag- estadiamento do pacien-
nóstico e tratamento em te, os efeitos locais e sis-
uma única intervenção cirúrgica e são, têmicos esperados para cada tumor, o
normalmente, preferíveis às biópsias in- prognóstico do paciente e as opções de
cisionais, nas quais as amostras de dife- tratamento complementares e alterna-
rentes locais da neoplasia são recolhidas tivos disponíveis1,3. A possibilidade de
na tentativa de se estabelecer o diagnós- cura deve considerar a quantidade de
tico2. A interpretação do exame histo- lesão que será provocada ao paciente,
patológico, bem como o momento e a em termos estéticos e funcionais, assim
forma de coleta do tecido, representam como o estado de saúde, estilo de vida e
uma das etapas mais cruciais no manejo nível de atividade de cada indivíduo8. A

46 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013


analogia proposta por Cady1 ilustra bem recidivantes tornam-se, portanto, poten-
a importância desses critérios na abor- cializadas com capacidade de se infiltrar
dagem cirúrgica: a biologia tumoral e a em planos teciduais anteriormente não
seleção adequada dos casos são manda- envolvidos, com a perda da anatomia,
tórias e podem ser representados pelo alteração da vascularização e da respos-
“rei” e pela “rainha” em uma monarquia, ta imunológica local1,3. Dessa forma, é
enquanto os detalhes técnicos dos pro- importante que cicatrizes referentes aos
cedimentos cirúrgicos são, analogamen- procedimentos anteriores, inclusive bi-
te, representados pelos príncipes e prin- ópsias incisionais, sejam excisados em
cesas da realeza, que, frequentemente, continuidade ao tumor primário3.
tentam destronar seus soberanos, con-
Exérese de linfonodos regionais
quistando algumas vitórias, mas que
normalmente são temporárias1. Apesar Inúmeros questionamentos a cer-
disso, o resultado do tratamento en- ca da remoção de linfonodos regionais
contra-se relacionado em pacientes com cân-
também à técnica cirúr- A primeira cirurgia cer continuam sem res-
gica utilizada, em que os é aquela que oferece posta2,3. Linfadenopatias
princípios da cirurgia on- a maior chance de são caracterizadas por
cológica não podem ser cura ao paciente, alterações na forma, vo-
negligenciados . 1,3 ratificando a lume ou consistência
A cirurgia é o mé- importância do dos linfonodos, poden-
todo mais amplamente planejamento do ser provocadas por
utilizado para o controle terapêutico. inflamações, estímulos
regional da doença e re- imunológicos (hiperpla-
presenta a primeira opção terapêutica sia reacional) e neoplasias9. A avalia-
em pacientes com estadiamento inicial, ção citológica por Punção Aspirativa
portadores de neoplasias localizadas e por Agulha Fina (PAAF), geralmente,
com baixo potencial metastático3. permite a diferenciação destes proces-
A primeira cirurgia é aquela que sos9,10. O linfoma é a neoplasia mais
oferece a maior chance de cura ao pa- frequentemente diagnosticada a partir
ciente, ratificando a importância do da PAAF de linfonodos, seguida pelas
planejamento terapêutico1,2,3. Tumores metástases de tumores sólidos, em que,
não tratados levam mais tempo para se geralmente, as neoplasias epiteliais
disseminarem do que tumores recorren- apresentam maior potencial de disse-
tes. Remoções cirúrgicas incompletas minação para linfonodos do que as ne-
deixam para trás os componentes mais oplasias mesenquimais11,12. Nesse con-
invasivos e agressivos do tumor3. Lesões texto, os linfonodos podem representar
Cirurgia oncológica 47
um sítio primário de metástase ou um tornou-se importante no tratamento
indicador de doença sistêmica13. Na do câncer, na Medicina Humana, par-
primeira situação é importante investir ticularmente, para as neoplasias da
na cirurgia, apesar do consentimento da mama3. A aplicação do azul patente ou
necessidade de quimioterapia adjuvante. fluoresceína na região do tumor primá-
No segundo caso, no entanto, a exérese rio permite a identificação do primeiro
dos linfonodos acometidos, embora não linfonodo que recebe o fluxo linfático.
contribua com a sobrevida do paciente, O linfonodo sentinela é então removido
pode favorecer a resposta aos tratamen- e submetido à análise histopatológica e,
tos adjuvantes, controlar, mesmo que a dissecção dos planos linfáticos mais
temporariamente, efeitos sistêmicos da profundos é indicada nos casos de posi-
neoplasia (síndromes paraneoplásicas) e tividade3,13. Na Medicina Veterinária, no
prevenir ou reduzir obstruções no intes- entanto, o estadiamento do linfonodo
tino grosso e trato urinário3,13. sentinela não apresenta a relevância e
Linfonodos macroscopicamente importância demonstrada na Medicina
normais podem conter micrometásta- Humana, devido à menor complexida-
ses. Dessa forma, linfonodos que dre- de das conexões e drenagens linfáticas,
nam regiões acometidas por neoplasias mas existem indicações potenciais e a
devem, sempre que possível, ser inves- técnica pode ser útil para determinadas
tigados, a partir da coleta de material neoplasias da cabeça e pescoço3.
por PAAF ou biópsia, incisional ou ex-
Ressecção da doença metastática
cisional, para estadiamento do paciente,
fundamental na decisão por tratamen- No tratamento do paciente com
tos adjuvantes3. No entanto, a remoção câncer, a cirurgia pode ser indicada tam-
profilática de linfonodos normais pode bém para a remoção de doença metastá-
comprometer a resposta imune local tica, principalmente, quando se trata de
e agregar morbidade ao paciente, com lesões únicas no parênquima pulmonar
impacto na sobrevida, sendo contrain- e fígado2,3. Apesar de ocorrer em pa-
dicada em regiões cuja importância da cientes jovens, o câncer apresenta maior
drenagem linfática é crítica, como no prevalência em pacientes idosos, no en-
caso dos linfonodos mediastinais, dos tanto, a idade cronológica nem sempre
linfonodos sublombares3,13 ou quando se encontra relacionada à idade fisioló-
existe proximidade e aderência à estru- gica3. O tratamento cirúrgico, por mais
turas vitais. agressivo que seja não pode ser negado
O conceito de linfonodo sentinela a cães e gatos idosos que apresentam as
(primeiro linfonodo a receber o flu- funções orgânicas preservadas, basean-
xo linfático de um tumor primário) do-se apenas na idade1,3.
48 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
Intenção paliativa deixa no sítio cirúrgico um milhão de
Em alguns pacientes, o objetivo da células tumorais . O exame histopato-
3

cirurgia no tratamento é apenas palia- lógico deve avaliar as margens cirúr-


tivo, sem benefício na sobrevida, mas gicas com o auxílio de tinta nanquim,
priorizando a qualidade de vida3. A es- no entanto, é virtualmente impossível
plenectomia, devido à ruptura de um para os patologistas avaliarem todas as
hemangiossarcoma primário do baço, margens de uma neoplasia, a não ser
tem como objetivo conter a que inúmeros cortes se-
hemorragia, mas, provavel- jam realizados para uma
Cirurgias
mente, terá pouco impacto melhor amostragem2.
citorredutoras
na sobrevida do paciente1,3. Nos casos de margens
resultam na seleção
De forma semelhante, pa- das células mais contaminadas, cirur-
cientes com doença pulmo- resistentes de um gias para ampliação da
nar metastática assintomá- tumor e a remoção de excisão ou tratamentos
tica não terão aumento na 99,9% de um tumor adjuvantes devem ser
sobrevida caso o tumor pri- de um centímetro indicados de acordo
mário seja removido, mas (1x109 células) deixa com o comportamento
tal procedimento deve ser no sítio cirúrgico um biológico da neoplasia
indicado se o tumor primá- milhão de células e opções de tratamento
rio estiver associado à dor e tumorais. disponíveis2,3. Avanços
infecção, limitando a vida nos exames de imagem
do paciente, como no caso podem favorecer o pla-
de osteossarcomas apendiculares dos nejamento cirúrgico ao permitir melhor
cães e neoplasias mamárias ulceradas3,14. delimitação do tumor, de forma a mini-
A cirurgia paliativa deve ser considerada mizar a ocorrência de procedimentos
de forma cuidadosa, pois a morbidade citorredutores3.
do procedimento, muitas vezes pode
Cirurgia para prevenção
não justificar o ganho esperado.
Determinados tipos de câncer em
Citorredução cães e gatos podem ser prevenidos. A
A remoção incompleta de um tu- ooforectomia realizada precocemente
mor, intencional ou não, é raramente in- (antes do terceiro cio) reduz drastica-
dicada, mas frequentemente realizada2,3. mente o risco de desenvolvimento de
Cirurgias citorredutoras resultam na se- neoplasias mamárias em cães e gatos3.
leção das células mais resistentes de um Segundo Schneider et al.15, o risco para o
tumor e a remoção de 99,9% de um tu- desenvolvimento de tumores mamários
mor de um centímetro (1x109 células) em cadelas castradas antes do primeiro
Cirurgia oncológica 49
ou segundo cio é de 0,5% e 8%, respec- jetivando a obtenção de margens cirúr-
tivamente. De forma semelhante, gatas gicas livres de células neoplásicas3,17. O
não castrada apresentam uma predis- pós-operatório doloroso e a mutilação
posição sete vezes maior ao desenvolvi- se justificavam pelo aumento nas taxas
mento de neoplasias mamárias, quando de cura e sobrevida, quase que exclu-
comparadas às fêmeas castradas2. Nos sivamente relacionadas ao tratamento
machos, a orquiectomia pode prevenir cirúrgico17,18. No entanto, nas últimas
a ocorrência de adenomas hepatóides2,3. décadas, com o advento de tratamentos
A remoção de lesões pré- adjuvantes mais eficien-
-cancerosas, como é o caso Grandes avanços tes, precisos e diversifica-
dos pólipos intestinais e só irão ocorrer dos, com limitada toxici-
neoplasias intraepieliais quando os cirurgiões dade, abriram-se novas
(“in situ”), previne o de- oncológicos perspectivas na aborda-
senvolvimento de lesões se tornarem gem terapêutica do pa-
malignas . Procedimentos
3
primeiramente ciente oncológico3,17. A
cirúrgicos são indicados biólogos e cirurgia radical do século
também para a correção compreenderem a XX foi adaptada, abrin-
de anomalias anatômicas influência não só da do espaço para cirurgias
congênitas que podem cirurgia, mas também conservadoras, com mu-
predispor a neoplasias, da anestesia, infecção, tilações limitadas, melhor
como, por exemplo, os resposta imunológica, funcionalidade e controle
testículos criptorquídi- transfusões da dor pós-operatória,
cos que apresentam uma sanguíneas e fatores sem prejuízo nas taxas de
predisposição 13,6 vezes de crescimento no cura e sobrevida17.
maior para o desenvolvi- prognóstico de seus A melhor compreen-
mento de Sertoliomas . 16 pacientes. são do comportamento
A ampliação do conhe- biológico e os métodos
cimento sobre o genoma canino pode mais precisos de estadia-
elucidar predisposições genéticas e au- mento (ultrasonografia, angiograma, to-
mentar as indicações de cirurgias onco- mografia computadorizada, ressonância
lógicas preventivas3. magnética e tomografia por emissão de
pósitrons) permitirão que as cirurgias
Considerações finais sejam mais precisas e menos mutilantes,
A cirurgia oncológica, tan- porém, grandes avanços só irão ocor-
to na Medicina Humana quanto na rer quando os cirurgiões oncológicos
Veterinária, sempre foi associada a in- se tornarem primeiramente biólogos e
cisões amplas e ressecções extensas ob- compreenderem a influência não só da
50 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
cirurgia, mas também da anestesia, in- 10. MYLONAKIS, M. E.; PAPAIOANNOU, N.;
SARIDOMICHELAKIS, M. N.; KOUTINAS, A.
fecção, resposta imunológica, transfu- F.; BILLINIS, C.; KONTOS, V.I. Cytologic pat-
sões sanguíneas e fatores de crescimen- terns of lymphadenopathy in dogs infected with
Leishmania infantum. Vet. Clin. Pathol., v. 34, n. 3,
to no prognóstico de seus pacientes3. p. 243-247, 2005.
11. HORTA, R.S.; VALENTE, P.C.L.G.; CAXITO,
Referências L.M. et al. Estudo retrospectivo (2009-2012) de
1. CADY B: Basic principles in surgical oncology, 388 exames de tecidos hematopoiéticos (linfono-
Arch Surg 132:338–346, 1997. do, baço e medula óssea) de cães. Clín. Vet. (São
Paulo), v.XVIII, p. 60-68, 2013.
2. BERG, J. Tratamento cirúrgico. In: SLATTER, D.
Manual de Cirurgia de Pequenos Animais, 3. ed., v. 2., 12. FARESE, J.P.; WITHROW, S.J. Surgical onco-
cap. 163, p. 2324-2328, 2007. logy. In: WITHROW, S.J.; VAIL, D. M.; PAGE,
R.L. Wiithrow e MacEwen´s Small Animal Clinical
3. FARESE, J.P.; WITHROW, S.J. Surgical oncol- Oncology, 4.ed., Philadelfia: Saunders, cap. 10, p.
ogy. In: WITHROW, S.J.; VAIL, D.M.; PAGE, 149-156, 2013.
R.L. Withrow & MacEwen’s Small Animal Clinical
Oncology. 5.ed. Philadelphia: W.B. Saunders 13. Cady B. Lymph node metastases: Indicators, but
Company, 2013. Cap. 10, p. 149-156. not governors of survival, Arch Surg, v.119, p.1067–
1072, 1984.
4. ROGERS, S.K. Mast cell tumors. Veterinary Clinics
of North American: Small Animal Practice, v. 6, n. 1, 14. GARZOTTO, C.; BERG, J. Sistema musculoes-
p. 87-101, 1996. quelético. In: SLATTER, D. Manual de Cirurgia
de Pequenos Animais, 3. ed., v. 2., cap. 174, p.
5. DOBSON, J.M.; SCASE, T.J. Advances in the di- 2460-2474.
agnosis and management of cutaneous mast cell
tumours in dogs. J. Small. Anim. Pract., v. 48, p. 424- 15. SCHNEIDER, R.; DORN, C.R.; TAYLOR,
431, 2007. D.O.N. Factors influencing canine mammary can-
cer development and postsurgical survival. J.Natl.
6. Gilson, S.K.; Stone, E.A. Surgically induced Cancer Inst., v. 43, n. 6, p. 1249-1261, 1969.
tumor seeding in eight dogs and two cats, J. Am.
Vet. Med. Assoc, v.196,p.1811–1815, 1990. 16. HAYES, H.M.; PENDERGRASS, T.W. Canine tes-
ticular tumors. Epidemiologic features of 410 dogs.
7. HORTA, R.S.; COSTA, M.P.; LAVALLE, G.E. et Int. j. Cancer, v. 18, p. 482, 1976.
al. Fatores prognósticos e preditivos dos tumores
caninos definidos com auxílio da imuno-histoquí- 17. YOUNES, R.; KOWALSKI, P.L. (in Editorial)
mica. Ciênc. Rural, v. 42, p. 1033-1039, 2012. Acta Oncológica Brasileira, v. 20, 2000.

8. Fisher, B. Biological research in the evolution 18. BLAND, C.S. The Halsted mastectomy: present
of câncer surgery: a personal pespective. Cancer illness and past history. West. Med. Med. J. West., v.
Res.,v.68, p.10007-10020, 2008. 134, p.549-555, 1981.

9. MOREIRA, M. A.; LUVIZOTTO, M. C.;


GARCIA, J. F.; CORBETT, C. E.; LAURENTI, M.
D. Comparison of parasitological, immunological
and molecular methods for the diagnosis of leish-
maniasis in dogs with different clinical signs. Vet.
Parasitol., v. 145, n. 3-4, p. 245-252, 2007.

Cirurgia oncológica 51
Quimioterapia
antineoplásica
bigstockphoto.com
Cecília Bonolo de Campos CRMV-MG 10902.
Email para contato: ceciliabonolo@gmail.com

Introdução ção do tamanho tumoral ou prolongar


a vida em vários cânceres metastáticos3.
Quimioterapia é uma forma de trata- Células que estão se dividindo rapi-
mento sistêmico para o câncer que pode damente são mais suscetíveis aos efeitos
proporcionar um aumento dramático de fármacos antineoplásicos, não sem
na qualidade de vida de vários pacien- diferenciação entre células normais e
tes. É definida como o uso de fármacos tumorais, o que leva ao
citotóxicos para benefício aparecimento dos efei-
médico. Estes fármacos Células que estão tos colaterais. As células
são capazes de induzir da- se dividindo da medula óssea, sistema
nos químicos nas células1 rapidamente são linfoide, trato gastroin-
em divisão celular através mais suscetíveis aos testinal, epiderme e ór-
da interferência nos pro- efeitos de fármacos gãos reprodutivos são es-
cessos envolvidos na pro- antineoplásicos, não pecialmente suscetíveis.
gressão do ciclo celular2. sem diferenciação Células cancerígenas po-
Podem levar a uma remis- entre células normais dem ser mais suscetíveis
são completa em alguns e tumorais, o que leva aos efeitos genotóxicos
cânceres disseminados e ao aparecimento dos da quimioterapia quan-
ser efetivos na diminui- efeitos colaterais. do comparadas às células
52 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
não cancerígenas, resul- eliminação dos fármacos6.
Os fármacos
tando na eficácia de qui- A maior parte dos pacien-
quimioterápicos
mioterapia . Tumores de
1
tes veterinários, submeti-
devem ser
crescimento rápido são dos à quimioterapia, man-
administrados
melhores candidatos para nos intervalos tém boa qualidade de vida
quimioterapia do que os apropriados que durante o tratamento3.
de crescimento lento3,4. permitem a morte de Os agentes antineo-
Tumores menores tem células tumorais e a plásicos podem ser classi-
uma maior porcentagem recuperação de células ficados em três categorias:
de células em estado normais, que possuem agente ciclo celular não
proliferativo. Quando os melhores mecanismos específico age em células
tumores aumentam de de reparos e permitem que estão se dividindo;
tamanho, esta porcen- a correção dos danos agente ciclo celular espe-
tagem diminui e ocorre celulares causados cífico age em células em
morte celular espontânea. pelo tratamento. todas as fases do ciclo ce-
Além disso, se não houver lular; e agente ciclo celu-
margem de segurança e lar fase específico, age em
exérese completa da neoplasia, após a células que estão em apenas uma fase
remoção cirúrgica, as células tumorais do ciclo celular. As doses de fármacos
remanescentes apresentam um aumen- antineoplásicos são expressas em peso
to da taxa de crescimento. Isto é cha- corporal (mg/kg) ou em área de super-
mado de fenômeno de recrutamento fície corporal (mg/m2)4. Os fármacos
e deve ser usado como vantagem pelo quimioterápicos devem ser adminis-
clínico, pois é nesse período em que o trados nos intervalos apropriados que
tumor é mais sensitivo à quimioterapia, permitem a morte de células tumorais
facilitando a ação do agente antineoplá- e a recuperação de células normais, que
sico4, 5. possuem melhores mecanismos de re-
A escolha da terapia específica de- paros e permitem a correção dos danos
pende do tipo tumoral, grau histológi- celulares causados pelo tratamento6.
co do tumor, estadiamento da doença e A quimioterapia possui diferentes
tolerância do paciente e do proprietário objetivos, a saber: terapia adjuvante,
aos efeitos colaterais dos diversos trata- que consiste no tratamento quimioterá-
mentos3. Deve-se usar a dose máxima pico após a remoção cirúrgica ou con-
tolerada, mantendo a qualidade de vida trole por radiação do tumor primário
do animal. Considerar a redução de com o objetivo de tratar doenças ocul-
dose quando houver disfunção em ór- tas, geralmente, envolvendo exposição
gãos responsáveis pelo metabolismo ou sistêmica aos fármacos; terapia neoad-
Quimioterapia antineoplásica 53
juvante, a qual baseia-se na utilização modificação de alvos, reparo de danos
de quimioterápicos antes do tratamento ou reconhecimento e resposta aos da-
com outras modalidades (como remo- nos. Alterações nos níveis de fármacos
ção cirúrgica do tumor primário) com celulares pode ocorrer por decréscimo
a intenção de redução do tamanho tu- na entrada de fármacos ou aumento do
moral para aumento do controle e pre- seu efluxo2, 6.
venção de possível crescimento de mi- O sucesso de combinação de qui-
crometástases pós-operatórias; terapia mioterapia, quando comparado a trata-
de indução, fundamenta-se na fase de mentos com agentes únicos, é atribuído
tratamento inicial com fármacos com a à superação de resistências naturais e
intenção de induzir remissão em cânce- adquiridas de células tumorais, assim
res linfoides ou hematopoiéticos; tera- como o uso de agentes que diferem com
pia de manutenção, baseia-se no uso de relação aos seus efeitos colaterais dose
quimioterápicos de forma contínua para limitante2.
manter a remissão; terapia de consolida-
ção, fundamenta-se na intenção de sus- Efeitos colaterais
tentar uma remissão; terapia de resgate, Os dois principais efeitos colaterais
constitui-se no uso de quimioterápicos relacionados com a administração de
após a recorrência tumoral ou quando quimioterápicos são: toxicidade gas-
um tumor não responde à terapia pré- trointestinal e mielossupressão1, 7. A an-
via; e quimioterapia paliativa, tem o ob- tecipação de possíveis complicações e a
jetivo de diminuir sinais clínicos no caso atenção para sinais subclínicos é essen-
de doença inoperável ou disseminada cial para garantir a introdução precoce
que é associada com distúrbios funcio- de tratamento de suporte profilático ou
nais ou dor2. terapêutico3.
A resistência adquirida ou a seleção Os perfis de toxicidades de antine-
de células resistentes, durante o trata- oplásicos podem ser categorizados em:
mento quimioterápico, imediatamente evidentes
é considerada um dos A antecipação de (no momento ou em 24
maiores mecanismos de possíveis complicações a 48 horas após tratamen-
insucesso terapêutico. A e a atenção para to), efeitos agudos atrasa-
resistência de células tu- sinais subclínicos dos (2 a 14 dias) e cumula-
morais aos agentes qui- é essencial para tivos/crônicos (semanas,
mioterápicos específicos garantir a introdução meses ou anos)2.
poderá ocorrer através de precoce de tratamento Toxicidades imediatas
vários mecanismos: me- de suporte profilático incluem hipersensibilida-
tabolismo de fármacos, ou terapêutico. des em infusões devido
54 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
à liberação de histamina associada a cal, fazer compressas com gelo, aplicar
reações alérgicas (L-asparaginase), de- dexrazoxane em dose 10 vezes maior
granulação de mastócitos induzido por à dose de doxorubicina ou fazer um
veículos (paclitaxel), náusea e emese debridamento cirúrgico precoce (se o
agudos por agentes específicos (cispla- medicamento não estiver disponível),
tina) ou devido à infusão muito rápida podendo ser necessário a amputação e
(doxorubicina), necrose tecidual mo- até mesmo eutanásia do paciente1,6.
derada a severa por quimioterápicos Cerca de 50% dos casos apresen-
vesicantes administrados de maneira tam sinais gastrointestinais brandos,
incorreta (alcaloides da vinca e doxo- mas, geralmente, apresentam curta du-
rubicina). Efeitos agudos retardados in- ração e são considerados aceitáveis se
cluem supressão da medula óssea e náu- um benefício significativo é observado1.
sea, emese e diarréia. Na maioria dos Consequências mais severas são obser-
casos esses efeitos são autolimitantes e vadas como anorexia prolongada (mais
a incidência de hospitalização é baixa2. frequente em gatos) até gastroenterite
A injeção perivascular de quimiote- hemorrágicas intensas1,3,7. Esses sinais,
rápicos pode variar entre uma perda lo- geralmente, desenvolvem dentro de 24-
cal de pele e tecidos moles em casos me- 72 horas após a administração da qui-
nos severos (vincristina e vimblastina) e mioterapia1,7. O tratamento é, na maio-
mudanças necróticas severas e extensas, ria das vezes, sintomático, a restrição
geralmente, envolvendo a necessidade de alimentação seguida de dieta leve é,
de amputação (doxorubicina)1,3. Após normalmente, suficiente, porém pode
extravazamento de vesicantes leves a ser necessária a hospitalização com
moderados como os alcaloides da vin- antiemétios3.
ca, deve-se aspirar o máximo possível Mielossupressão surge do efeito ci-
do fármaco para fora do local, observar totóxico direto em precursores hema-
a área, infiltrar a área com 4 a 6 ml de topoiéticos e ocorre após cada adminis-
bicarbonato de sódio (8,4%) e dexame- tração de quimioterapia1. Neutrófilos,
tasona (8mg) e reduzir a inflamação e plaquetas e hemácias são, preferencial-
edema com a aplicação mente, afetadas, nessa or-
de compressas quentes O ponto mais baixo dem. O ponto mais baixo
por 10 a 15 minutos a de mielossupressão, de mielossupressão, de-
cada 6 horas durante 24 denominado nadir, nominado nadir, ocorre
a 48 horas. Já no caso dos ocorre tipicamente tipicamente entre 5 a 10
vesicantes severos como entre 5 a 10 dias, dias, após a administração
a doxorubicina, deve-se após a administração do quimioterápico; por
aspirar o fármaco do lo- do quimioterápico isso, é importante realizar
Quimioterapia antineoplásica 55
um hemograma completo do animal em servados menores efeitos gastrointesti-
quimioterapia 7 dias após a aplicação nais, menor perda de peso e ausência de
que irá detectar o nadir1,3. Alguns fár- distúrbios cardíacos (associados ao uso
macos, como a carboplatina, podem ter de doxorubicina). Nesse estudo, os ani-
um nadir secundário, depois de aproxi- mais receberam vitaminas A, C, D e E
madamente 21 dias. A administração de como antioxidantes.
antibióticos profiláticos é controversa, Vail et al.9 descreveram o maropi-
mas parece ser benéfico. Pacientes neu- tant (Cerenia®) como sendo altamente
tropênicos e febris devem ter a quimio- eficiente na prevenção e tratamento de
terapia adiada3. emese associado ao tratamento com
Exemplos de potenciais toxicidades cisplatina em pacientes caninos oncoló-
crônicas/cumulativas incluem: disfun- gicos. Estes animais não precisaram de
ção hepática, após múltiplas doses de terapia antiemética adicional.
CCNU, anormalidades cardíacas em Quando ocorre um efeito adverso,
cães, após exceder a dose cumulativa se- o abandono da terapia ou a redução da
gura de doxorubicina e doença renal em dose subsequente deve ser levado em
cães depois do uso de cisplatina e em ga- consideração1. Não existe padronização
tos após o uso de doxorubicina2. de diretrizes para ajustes em doses de
Cães e gatos podem perder pelo antineoplásicos. Em geral, uma redução
devido à administração de agentes qui- de 20 a 25% na dose subsequente é re-
mioterápicos, apesar de ser raro (mais comendada em pacientes que tiveram
comum em animais de crescimento de toxicidades dose limitante moderado a
pelo contínuo). Os gatos podem tam- severa, como neutropenia ou emese2.
bém perder suas vibrissas. Raramente
podem ocorrer toxicidades neuroló- Biossegurança
gicas: neuropatia periférica com al- As principais vias de exposição aos
caloides da vinca, ototoxicidade com quimioterápicos incluem: contato com
cisplatina, e toxicoses neurológicas, pele e mucosas, inalação e ingestão. O
principalmente, em gatos tratados com principal risco ocorre através da expo-
pequenas quantidades de 5-fluoracil6. sição ocupacional por meio de contato
Todorova8 descreveu que a inclusão crônico em baixos níveis. Esses fárma-
de antioxidantes aos protocolos qui- cos são mutagênicas, carcinogênicas e
mioterápicos padrões em cães com car- teratogênicas1,10.
cinomas mamários levou a uma menor Idealmente, sistemas totalmente fe-
incidência de efeitos colaterais indese- chados deveriam ser usados para a pre-
jáveis e melhor tolerância sem redução paração e administração de substâncias
de seus efeitos anticancer. Foram ob- citotóxicas, como as capelas de fluxo
56 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
laminares. Quando não for possível, fumar. Toda a equipe envolvida no ma-
substâncias devem ser manejadas em nuseio e administração de substâncias
áreas limpas e silenciosas com ventila- citotóxicas deve ser treinada apropria-
ção adequada, baixo tráfico de pessoas damente. Conforme demonstrado na
e onde há proibição de comer, beber e Fig. 1, vestimentas protetoras aprova-
Hospital Veterinário da UFMG

Figura 1: A) Frasco contendo o quimioterápico ciclofosfamida e Mini-Spike®, dispositivo que irá reduzir
a ocorrência de aerossóis. B) Material utilizado para preparação de quimioterapia com ciclofosfamida
em infusão lenta: frasco de 100 ml de soro fisiológico, equipo macrogotas, frasco de ciclofosfamida de
200 mg liofilizado, Mini-Spike®, 10 ml de água de injeção para diluição do fármaco, seringa de 10 ml.
C) Preparação sendo realizada em capela de fluxo laminar vertical. D) Preparação finalizada, soro fisio-
lógico contendo ciclofosfamida para infusão lenta em circuito fechado. Notam-se os equipamentos de
proteção individual utilizado durante toda a preparação: capote descartável, touca descartável, duas
luvas descartáveis em cada mão, óculos e máscara apropriada
Fonte: Hospital Veterinário da UFMG

Quimioterapia antineoplásica 57
das para manipulação de removendo o fármaco
Pacientes recebendo
quimioterápicos também e lavando a área 3 vezes
quimioterapia
devem ser providenciadas com detergente e enxa-
podem excretar
e incluir: luvas (duas luvas guando com água limpa.
metabolitos ativos
de látex sem talco é acei- ou quimioterápicos Se houver contaminação
tável), equipamento res- inalterados nas de alguma pessoa, deve-
piratório, óculos e capote fezes, urina e -se retirar todo o vestu-
impermeável protetor. vômito, necessitando ário contaminado, lavar
Sistemas que reduzem o de cuidados na imediatamente com água
risco de ocorrência de ae- manipulação e sabão e, no caso de ex-
rossóis diminuem ainda posição nos olhos, lavar
mais o risco de exposição os olhos constantemente
(PhaSeal® e Mini-Spike®)1,3,11. por pelo menos 15 minutos com solu-
Quimioterapia deve ser preparada ção isotônica e sempre procurar atendi-
em sistema fechado para evitar vaza- mento médico11.
mento. Comprimidos nunca devem ser Pacientes recebendo quimioterapia
divididos, devem ser manipulados na podem excretar metabolitos ativos ou
dose apropriada. Containers separados quimioterápicos inalterados nas fezes,
para descarte de material citotóxico urina e vômito, necessitando de cuida-
devem estar disponíveis e claramente dos na manipulação1. Como os animais,
identificados1. geralmente, deixam o hospital com seus
É essencial que o cateter venoso seja proprietários, após o tratamento, a pre-
colocado adequadamente em uma veia sença de resíduos pode representar um
periférica que não tenha sido usada re- risco10.
centemente ou que não tenha sido dani- Knobloch et al. (2010) examinaram
ficada na tentativa de se colocar o cateter amostras de urina de cães diagnostica-
no lugar. Isso irá prevenir extravasamen- dos com linfomas e mastocitomas para
to acidental de fármacos irritantes para detectar a presença de resíduos de qui-
os tecidos como vincristina, vimblastina mioterapia, após o tratamento citotóxi-
e doxorubicina3. A administração deve co. Ciclofosfamida apresentou resíduos
ser iniciada apenas com diluente para detectáveis apenas imediatamente após
confirmação de que não esteja ocorren- a infusão do fármaco. Vimcristina mos-
do extravasamento, em seguida se admi- trou resíduos detectáveis no período de
nistra o quimioterápico11. 3 dias após sua aplicação, resíduos de
Em caso de quimioterápico derra- vimblastina foram encontrados após 7
mado, um profissional usando o equi- dias de aplicação e resíduos de doxo-
pamento protetor deve limpar a área rubicina até 21 dias após sua aplicação.
58 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
Não se sabe se essas concentrações me- Referências
suráveis são suficientes para representar 1. Polton, Getting started with veterinary chemo-
um verdadeiro risco de saúde para pes- therapy. Ir. Vet. J., 61(7), 468, 2008.

soas10. Recomenda-se avisar os proprie- 2. Gustafson, D.L.; Page, R.L. Cancer


Chemotherapy. In: WITHROW, S.J.; VAIL, D. M.;
tários a usarem luvas para limpeza de fe- PAGE, R.L. Wiithrow e MacEwen’s. Small Animal
zes e urina de seus animais e lavar a área Clinical Oncology, 4.ed., Philadelfia: Saunders, cap.
11, p.157-179, 2013.
com água sanitária3. 3. MacDonald, V. “Chemotherapy: Managing
Na experiência dos autores, a qui- side effects and safe handling’’. Can. Vet. J., v.50.6,
p.665, 2009.
mioterapia nos pequenos animais deve
4. Norris, A. M.; Withrow, S. J. A Review of
ser considerada como uma importante Cancer Chemotherapy for Pet Animals. Can. Vet. J.,
ferramenta no tratamento de pacientes v.25(4), p.153–157, 1984.
oncológicos. Profissionais que possuí- 5. LANORE, D.; DELPRAT, C. Quimioterapia
Anticancerigena; São Paulo, Roca,p, 185, 2004.
rem interesse em trabalhar com fárma-
6. Ogilvie, G. K. Chemotherapy and the surgery
cos citotóxicos devem procurar dados patient: principles and recent advances. Clinical
de literatura referente às diferentes Techniques in Small Animal Practice, v.13(1), p.22–
32, 1998.
neoplasias e os protocolos quimioterá-
7. Polton, G. Chemotherapy protocols used in
picos específicos para cada doença. O veterinary practice. In Practice, v.34(7), p.382–391,
2012.
uso adequado da quimioterapia (muitas
8. Todorova, I. “Effects of chemotherapy alone
vezes em associação com outras modali- and chemotherapy combined with antioxidants in
dades terapêuticas) pode ser responsá- dogs with mammary gland carcinoma.” Bulg. J. Vet.
Med, v.14, p. 45-56, 2011.
vel pelo maior objetivo do tratamento
9. Vail, D. M.; Rodabaugh, H. S.; Conder,
do paciente oncológico, o aumento da G. a.; Boucher, J. F., & Mathur, S. Efficacy
sobrevida do paciente com manutenção of injectable maropitant (Cerenia) in a randomized
clinical trial for prevention and treatment of cispla-
de sua qualidade de vida. tin-induced emesis in dogs presented as veterina-
ry patients. Veterinary and Comparative Oncology,
v.5(1), p.38–46, 2007.
10. Knobloch, A.; Eberle, N.; Nolte, I.;
Hamscher, G., & Simon, D. Cytotoxic Drug
Residuesin Urine of Dogs Receiving Anticancer
Chemotherapy, J. Vet. Intern. Med., p.384–390, 2010.
11. Takada, S. Principles of chemotherapy safety
procedures. Clinical Techniques in Small Animal
Practice, v.18(2), p.73–74, 2003

Quimioterapia antineoplásica 59
Quimioterapia
metronômica

bigstockphoto.com

Fernanda Camargo Nunes - Mestranda do Programa de Pós-graduação em Patologia/ UFMG,


Cecília Bonolo de Campos - CRMV-MG 10902,
Gleidice Eunice Lavalle* - CRMV-MG 3855.
* Email para contato: gleidicel@yahoo.com.br

Introdução tratamento na DMT. Esses intervalos


permitem a recuperação de tecidos nor-
A terapia sistêmica contra o câncer mais vulneráveis, como o epitélio intes-
fundamenta-se na utilização de qui- tinal e as células precursoras de medula
mioterápicos citotóxicos que inibem óssea, a observação de efeitos colaterais
ou matam células que estão em rápida e instituição de cuidados de suporte
divisão. A maior parte desses fármacos quando necessário3.
é administrada em doses únicas ou em A abordagem em DMT é ampla-
ciclos de terapia. São utilizadas as doses mente utilizada na medicina e resulta
mais altas possíveis sem causar níveis em curas definitivas para certos tipos
de toxicidade potencialmente fatais, re- de cânceres. Segundo Schiller et al.4 e
ferido como “Dose Máxima Tolerada” Leaf5, apesar do grande número de qui-
(DMT)1,2. Contudo, um nível de toxici- mioterápicos e de ensaios clínicos para
dade é esperado, o que requer intervalos testá-los, o progresso tem sido modes-
de ruptura entre os ciclos sucessivos de to em termos de cura ou de prolongar
60 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
significativamente a vida mento dos vasos sanguí-
Nos últimos anos,
de pacientes com câncer, neos do tumor, processo
esforços para
principalmente, aqueles conhecido como angiogê-
administrar agentes
com doença em estágio nese tumoral7, o qual é um
citotóxicos de forma
avançado ou metastático. processo crítico para o de-
contínua, com um
Também existe um reco- senvolvimento e progres-
curto período de
nhecimento crescente de são do tumor8. Os efeitos
intervalo, ou mesmo
que os ganhos obtidos nenhum, têm recebido citotóxicos dos fármacos
no tratamento de uma nas próprias células tu-
maior interesse.
série de tumores sólidos morais, devido à exposi-
podem ter atingido um ção contínua das células
patamar .3 cancerígenas aos fármacos e alterações
Em oncologia veterinária o objetivo na imunologia tumoral9 também são be-
tem sido administrar fármacos, tanto nefícios clínicos estabelecidos pela QM.
quanto pode ser tolerado pelo paciente, Aumento desses benefícios parece ocor-
o que, geralmente, resulta em menores rer quando a QM é utilizada em combi-
doses do que as utilizadas em oncologia nação com agentes antiangiogênicos3.
humana, pois  a principal prioridade é
manter a qualidade de vida do pacien- Mecanismos de ação
te. Nos últimos anos, esforços para ad- Quimioterápicos tradicionais são
ministrar agentes citotóxicos de forma considerados inespecíficos, pois causam
contínua, com um curto período de danos em células de rápida divisão, in-
intervalo, ou mesmo nenhum, têm re- cluindo não só as células tumorais, mas
cebido maior interesse3. Essa estratégia também células de tecidos normais.
alternativa denominada quimioterapia Alguns quimioterápicos tradicionais
metronômica (QM) é definida como demonstram apresentar características
a contínua administração de fármacos antiangiogênicas2. O efeito antiangio-
quimioterápicos em doses que são sig- gênico dos fármacos quimioterápicos se
nificativamente mais baixas do que as deve ao fato de que o endotélio associa-
doses convencionais (DMT)6. Outros do ao tumor também está se dividindo
sinônimos para definir a QM são qui- rapidamente1,2. Contudo, o intervalo de
mioterapia antiangiogênica, quimiote- tempo entre os ciclos de quimioterapia
rapia contínua em baixas doses e qui- convencional favorece a sobrevivência e
mioterapia ortometronômica. regeneração de células endoteliais, per-
Em contraste com os efeitos cito- mitindo a persistência da angiogênese
tóxicos diretos da quimioterapia em do tumor10.
DMT, a metronômica inibe o cresci- Para tumores sólidos crescer além
Quimioterapia metronômica 61
de poucos milímetros de endoteliais derivadas da
Regimes contínuos de
tamanho, uma rede cres- medula óssea, necessárias
quimioterapia podem
cente de vasos sanguíneos para a expansão dos vasos
impedir a recuperação
devem ser formada. Esta
na divisão de células sanguíneos do tumor .
3

rede de vasos promove Embora ainda não


de tumor, conhecido
a troca de oxigênio, nu-
como "repovoamento", haja nenhuma evidência
trientes e a remoção de que, possivelmente, sobre isso, a QM também
resíduos da massa tumo- ocorre durante pode ter alguns efeitos
ral11. Esse processo de os períodos de diretos sobre as células
crescimento dos vasos intervalos entre ciclos tumorais, como a indu-
sanguíneos dentro do mi- de quimioterapia ção de diferenciação ce-
croambiente do tumor é convencional lular. Regimes contínuos
conhecido como angiogê- de quimioterapia podem
nese. Segundo Folkman , 11
impedir a recuperação na
a interferência com este processo de divisão de células de tumor, conhecido
angiogênese pode ser explorada como como “repovoamento”, que, possivel-
uma eficaz estratégia antitumoral. mente, ocorre durante os períodos de
Browder et al.7 e Klement et al.12 intervalos entre ciclos de quimioterapia
demonstraram que o potencial para a convencional1. A cinética de repovoa-
quimioterapia antiangiogênica pode mento se tornar cada vez mais agressiva
ser alcançado através da redução ou com os sucessivos ciclos de quimiotera-
eliminação do período de interrupção pia na DMT. Sendo assim, encurtar ou
entre os ciclos que permite a recupera- eliminar os períodos livres de fármacos
ção de células endoteliais. Assim, a QM entre os ciclos evita essa “resistência
influencia na angiogênese sobre três cinética”13.
aspectos específicos. O primeiro é um Um mecanismo adicional que expli-
efeito citotóxico direto nas células en- ca os benefícios da QM envolve altera-
doteliais dos vasos sanguíneos, devido ções nas células do sistema imunológico
à exposição contínua. O segundo meio presentes no microambiente tumoral. A
de diminuição da angiogênese pare- destruição das células tumorais pode ser
ce ser um efeito indireto, causado pelo mediada por linfócitos T citotóxicos,
desequilíbrio relativo entre fatores de células T helper e/ou células naturais
crescimento e inibidores angiogênicos, killers, e possivelmente por linfócitos
evitando, assim, uma maior expansão B.  No entanto, estes tipos de respostas
dos vasos. Finalmente, o terceiro as- imunes são influenciados por um sub-
pecto em que há uma interferência no conjunto de linfócitos conhecidos como
recrutamento de células progenitoras células T reguladoras (T-reg). Essas
62 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
células estão normalmente envolvidas ciclofosfamida, administrado em baixa
na prevenção de doenças autoimunes, dose, teve efeitos imunomodulatórios e
bem como na tolerância induzida pelo antiangiogênicos17.
tumor3. Uma desvantagem da ciclofosfami-
Baixas doses de ciclofosfamida, da, administrada em longo prazo, é o
usada como QM, foram capazes de di- potencial efeito adverso de cistite he-
minuir células T CD4+CD25+ e células morrágica estéril que tem sido observa-
T-reg em pacientes humanos com cân- do em cães tratados com quimioterapia
cer14. Biller et al.15 identificaram e quan- metronômica18. Um agente alquilante
tificaram estas células em cães com cân- alternativo que não causa cistite hemor-
cer. Em um estudo de respostas imunes rágica estéril é o clorambucil. A ausên-
em cães com linfoma e osteossarcoma, cia de efeitos colaterais em longo prazo
durante o tratamento de quimioterapia, e sua apresentação por via oral o torna
também manifestou-se uma diminuição uma opção atraente para a administra-
nos números de células T e respostas de ção em terapia metronômica18. Em cães,
anticorpos, com base no pressuposto de clorambucil, administrado em DMT
que o tratamento de quimioterapia in- tem eficácia comprovada no tratamento
duz a imunossupressão16. de doenças crônicas como leucemia lin-
Estudos recentes sugerem que T-reg focítica19, linfoma e mieloma20. Quando
estão aumentados no sangue de cães utilizado como QM, o clorambucil
com vários tipos de câncer, incluindo demonstrou ter um impacto negativo
melanoma, linfoma, e osteosarcoma15. sobre os precursores vasculares endo-
Segundo Burton et al.17, o sangue de teliais21. Além disso, foi associado com
cães com sarcoma de tecidos moles uma diminuição no número e na viabili-
(STM), quando comparado com uma dade de células endoteliais progenitoras.
população de cães saudáveis, continha Outro agente alquilante é a lomuns-
um número significativamente aumen- tina. Os efeitos adversos associados
tado de T-reg. Quando esses cães com com doses citotóxicas de lomustina,
STM receberam ciclofosfamida por via em humanos, incluem desconforto
oral, diariamente, na dose de 15 mg/m2, gastrointestinal, mielossupressão e he-
o número de T-reg foi diminuindo ao patotoxicidade22. Em cães raros efeitos
longo de 28 dias. A administração diária adversos, como: nefrotoxicidade, derra-
de ciclofosfamida na dose de 15mg/m2 me cavitário e febre inexplicável foram
também está associada à significativa di- relatados22. Em um estudo prospectivo
minuição da densidade de vasos sanguí- Tipp et al.23 avaliou o efeito da lomusti-
neos dentro dos tecidos tumorais. Esses na como terapia metronômica em cães
resultados sugerem que o protocolo de com citologia ou confirmação histoló-
Quimioterapia metronômica 63
gica de neoplasia, tumor oncologia veterinária24. O
A quimioterapia
inoperável ou incomple- objetivo de usar essa nova
metronômica não
tamente retirado, quimio- abordagem terapêutica é
substitui o tratamento
terapia refratária, doença o de se controlar a doen-
convencional, mas
residual microscópica ou ça, mantendo-a estável,
pode ser utilizada
presença de metástases. e prolongar a sobrevida
como alternativa
Segundo o autor, embora global, mantendo a quali-
no tratamento
alguns cães tenham apre-
paliativo de pacientes dade de vida do paciente.
sentado efeitos gastroin-
com neoplasias Referências
testinais, mielossupres- metastáticas, tumor
são, hepatotoxicidade e inoperável ou em 1. Kerbel, R.S.; Kamen, B.A.
Antiangiogenic basis of low-dose
nefrotoxicidade, a admi- casos de resistência ao metronomic chemotherapy. Nat.
nistração metronômica de quimioterápico. Ver. Cancer, v. 4, p.423-436, 2004.
lomustina em cães, sem 2. Miller, K.D.; Sweeney,
C.J.; Sledge, G.W. Redefining
comprometimento renal, the target: chemotherapeutics as antiangiogenics.
com neoplasias metastáticas ou termi- J Clin. Oncol., v.19, p.1195- 1206, 2001.
nal, foi bem tolerada. 3. Mutsaers, A.J. Metronomic Chemotherapy.
Topics in Companion Animal Medicine (Oncology),
Considerações finais v.24, p.137-143, 2009.
4. Schiller, J.H.; HARRINGTON, D.; BELANI,
A QM tem se mostrado uma nova C.P. et al. Comparison of Four Chemotherapy
Regimens for Advanced Non–Small-Cell Lung
opção terapêutica, indicada mediante Cancer. N. Engl.J Med., v.346, p.92-98, 2002.
uma ampla avaliação de cada caso clíni- 5. Leaf, C. Why we’re losing the war on cancer (and
co. A quimioterapia metronômica não how to win it). Fortune, v. 149, p.77–97,2004.
substitui o tratamento convencional, 6. Hanahan, D.J.; Bergers, G.; Bergsland,
E. Less is more, regularly: metronomic dosing of
mas pode ser utilizada como alternati- cytotoxic drugs can target tumor angiogenesis in
va no tratamento paliativo de pacien- mice. J. Clin. Invest., v.105, p.1045-1047, 2000.
tes com neoplasias metastáticas, tumor 7. Browder, T.; Butterfield, C.E.;
inoperável ou em casos de resistência ao Kraling, B.M.; et al. Antiangiogenic scheduling
of chemotherapy improves efficacy against expe-
quimioterápico. Devido à possibilidade rimental drug-resistant cancer. Cancer Res., v.60,
de causar efeitos colaterais, os pacientes p.1878-1886, 2000.

submetidos a protocolos metronômicos 8. Kerbel, R.S. The anti-angiogenic basis of metro-


nomic chemotherapy. Nature Nat.Rev. Cancer; v.4,
devem ser avaliados periodicamente. p.423–436, 2004.
De modo geral, os protocolos de QM 9. Zitvogel, L.; Apetoh, L.; Ghiringhelli,
são bem tolerados. A baixa toxicidade F.; et al. The anticancer immune response: indis-
pensable for therapeutic success? J.Clin. Invest.,
combinada com a facilidade de adminis- v.118, p.1991–2001, 2008.
tração por via oral e o baixo custo tor- 10. Monestiroli, S.; Mancuso, P.; Burlini,
nam os protocolos de QM atraentes na A. et al. Kinetics and viability of circulating endo-

64 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013


thelial cells as surrogate angiogenesis marker in na Dogs with Soft Tissue Sarcoma. J Vet. Int. Med.ine,
animal model of human lymphomas. Cancer Res., v.25, p.920–926, 2011.
v.61, p.4341–44, 2001.
18. Leach, T. N.; Childress1, M. O.; Greene
11. Folkman, J. Tumor angiogenesis: therapeutic S. N. Prospective trial ofmetronomic chlorambucil
implications. N. Engl.J.Med., v. 285, p.1182-1186, chemotherapy in dogs with naturally occurring
1971. câncer. Vet Comp Oncol, v.10, n.2, p. 102-12, 2012.
12. Klement, G.; Baruchel, S.; Rak, J. et al: 19. Leifer, C.E. Chronic lymphocytic leukemia in
Continuous low-dose therapy with vinblastine the dog: 22 cases (1974–1984). J. AM. Vet.Med.
and VEGF receptor-2 antibody induces sustained Assoc. 1986; v.189, p. 214–217, 1986.
tumor regression without overt toxicity. J. Clin.
Invest., v.105, p.15-24, 2000. 20. Vail, D.M. Hematopoietic tumors ‘‘plasma cell
neoplasms.’’ In: Withrow & MacEwen’s Small
13. Wu, L. & Tannock, I. F. Repopulation in muri- Animal Clinical Oncology, 4th edn., SJWithrow
ne breast tumors during and after sequential treat- and DM Vail, eds., St. Louis, Saunders, Elsevier,
ments with cyclophosphamide and 5-fluorouracil. p.769–784, 2007.
Cancer Res., v. 63, p.2134–2138,2003.
21. Schmidt, A.; B¨olck, B.; Jedig, M. et al.
14. GHIRINGHELLI, F.; Menard, C.; Puig, P.E. Nitrogen mustard (chlorambucil) has a nega-
et al: Metronomic cyclophosphamide regimen se- tive influence on early vascular development.
lectively depletes CD4CD25 regulatory T cells and Toxicology; v.263, p. 32-40, 2009.
restores T and NK effector functions in end stage
cancer patients. Cancer Immunol Immunother, 22. Kristal, O.; Rassnick, K.M.; Gliatto,
v.56, p.641-648, 2007. J.M. et al. Hepatotoxicity associated with CCNU
(lomustine) chemotherapy in dogs. J. Vet.  Intern.
15. Biller, B.J.; Elmslie, R.E.; Burnett, R.C. Med., v.18, p.75–80, 2004.
et al. Use of FoxP3 expression to identify regula-
tory T cells in healthy dogs and dogs with cancer. 23. Tripp, C.D.; Fidel, J.; Anderson, C.L.
Vet. Immunol. Immunopathol.;116:69–78, 2007. Tolerability of Metronomic Administration of
Lomustine in Dogs with Cancer. J Vet. Intern. Med.,
16. Walter, C.U.; Biller, B.J.; Lana, S.E. et al: v.25, p. 278-284, 2011.
Effects of chemotherapy on immune responses in
dogs with cancer. J. Vet. Int. Med., v.20, p.342-347, 24. FARESE, J.P.; WITHROW, S.J. Surgical onco-
2006. logy. In: WITHROW, S.J.; VAIL, D. M.; PAGE,
R.L. Wiithrow e MacEwen’s Small Animal Clinical
17. Burton, J.H.; Mitchell, L.; Thamm, Oncology, 5.ed., cap.14, p.215-259, 2013.
D.H.; Dow, S.W.; . Biller, B.J. Low-Dose
Cyclophosphamide Selectively Decreases
Regulatory T Cells and Inhibits Angiogenesis in

Quimioterapia metronômica 65
Eletroquimioterapia
Rúbia Monteiro de Castro Cunha

Rúbia Monteiro de Castro Cunha CRMV-MG 10900, rubiamcc@gmail.com

Introdução membrana e possui diversas aplicações


na biotecnologia1.
A eletroquimioterapia consiste da
Como a eletroporação facilita o
associação dos princípios da quimio-
transporte do fármaco através da mem-
terapia convencional, aos princípios da
brana celular apenas para
eletroporação com objeti-
vo de aumentar a entrada A eletroquimioterapia as moléculas que são po-
de um fármaco nas células consiste da associação bremente ou não perme-
tumorais. A eletroporação dos princípios da áveis, a seleção é limita-
promove o aumento da quimioterapia da aos fármacos que são
permeabilidade da mem- convencional, hidrofílicos e não têm
brana plasmática através aos princípios da sistemas de transporte
da aplicação de pulsos de eletroporação com na membrana2. As doses
campo elétrico externos objetivo de aumentar dos fármacos podem ser
à célula. A permeabiliza- a entrada de um drasticamente reduzidas,
ção ocorre pela formação fármaco nas células já que a eletroporação
de poros na estrutura da tumorais. aumenta em várias vezes
66 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
a sua eficácia no local da aplicação dos múltiplos nódulos, já que ela excede a
pulsos elétricos, o que reduz os efeitos frequência de contração tetânica, de for-
colaterais3. ma que os oito pulsos de 100 µsegundos
são percebidos pelo paciente como
Mecanismo de ação apenas uma contração3. A aplicação de
A eletroquimioterapia induz uma oito pulsos administrados perpendicu-
redução transiente do fluxo sanguíneo larmente (4 + 4) melhora o efeito da
local, encarcerando o fármaco no teci- eletroquimioterapia, pois essa mudança
do e promovendo um maior tempo de na orientação faz com que toda a massa
ação deste. Além disto, o extravasamen- tumoral seja envolvida pelos eletrodos e
to massivo de antígenos tumorais após mais células tumorais sejam expostas ao
a eletroquimioterapia ativa o sistema campo elétrico acima do valor limiar para
imune e aumenta ainda mais a eficácia a eletropermeabilização efetiva5.
desta modalidade terapêutica4. A princípio, existem dois tipos dife-
Vários estudos determinaram os di- rentes de eletrodos: eletrodos em placa
ferentes fatores que controlam a eficácia e eletrodos de agulhas. Os eletrodos
antitumoral da eletroquimioterapia: em placa são usados para o tratamento
rota de administração do quimioterápi- de lesões de pele ou superficiais e são
co, tipo do eletrodo e características dos compostos por duas placas paralelas de
pulsos elétricos3,4,5,6. aço inoxidável, com apenas um, sete e
Os fármacos podem ser adminis- oito milímetros de espessura, largura e
trados pelas vias intratumoral (IT) ou comprimento, respectivamente, com as
endovenosa (IV). Quando o fármaco é pontas arredondadas e com uma dis-
administrado sistemicamente (IV), os tância interna entre as placas de sete
pulsos elétricos precisam ser aplicados milímetros4,7. Os eletrodos de agulhas
no tumor durante o pico farmacocinéti- são de dois tipos, posicionadas em duas
co, que acontece entre oito a 28 minu- filas paralelas ou em um arranjo cir-
tos em humanos; para a administração cular (hexagonal). Em contraste com
intralesional (IT), no entanto, os pulsos os eletrodos em placa, os eletrodos de
precisam ser aplicados de um a 10 mi- agulhas devem ser inseridos no tecido
nutos após a injeção da droga4. tumoral até a borda tumoral profunda.
Os pulsos devem ser aplicados em Em ambos os casos (placa ou agulha),
um ciclo de oito pulsos, com amplitude tumores maiores podem ser tratados re-
de 1100 a 1300 V/cm, com uma duração posicionando-se os eletrodos de forma
dos pulsos de 100 µsegundos, e frequ- que todo o volume tumoral seja tratado
ência de 1Hz ou 5kHz2. A frequência de por um campo elétrico suficientemente
5kHz é selecionada nos pacientes com alto4.
Eletroquimioterapia 67
A cisplatina é um dos A sua eficácia foi demons-
fármacos mais eficazes
A eletroquimioterapia trada em estudos utilizan-
no tratamento de carci-
aumenta a do vários modelos de tu-
concentração
nomas. No entanto, estes mores, em camundongos,
intracelular de
tumores desenvolvem re- ratos, coelhos, gatos, cães,
bleomicina em 300 a
sistência à cisplatina com
700 vezes, com uma cavalos e porquinhos da
consequente falha no
consequente elevação Índia . Em um estudo, a
2

tratamento. Um dos me-


da citotoxicidade na eficácia antitumoral da
canismos propostos para ordem de milhares de eletroquimioterapia com
essa resistência é o seu pe- vezes. bleomicina foi testada em
queno acúmulo intracelu- três modelos tumorais di-
lar . O transporte da cis-
8
ferentes e com caracterís-
platina, através da membrana plasmática ticas biológicas distintas. A interrupção
não eletroporada, é difícil, pois apenas do crescimento do fibrossarcoma SA-1,
50% ocorrem por transporte passivo. A do melanoma maligno B-16 e do tumor
eletroporação da membrana plasmática ascítico de Ehrlich (EAT) foi observada
permite um maior fluxo e acúmulo do em todos os camundongos submetidos
fármaco nas células, o que eleva a sua à eletroquimioterapia, enquanto nem a
citotoxicidade em até 80 vezes4. bleomicina, nem os pulsos elétricos, uti-
A bleomicina é um agente antine- lizados isoladamente, tiveram nenhum
oplásico usado em uma variedade de efeito sobre o crescimento tumoral
tumores humanos e caninos. A sua ci- quando comparado com os controles10.
totoxicidade decorre, principalmente, Um estudo com casos clínicos ava-
de danos diretos provocados no DNA. liou a eficácia da eletroquimioterapia
É um agente extremamente tóxico uma com bleomicina em diversos tipos tu-
vez dentro da célula, mas esta citotoxi- morais de origem epitelial de cães, situ-
cidade intrínseca elevada é restrita pela ados na pele ou mucosas e obteve uma
inabilidade da bleomicina de se difundir taxa de remissão total de 88%11.
livremente através da membrana plas- No estudo de Larkin et al.3, os tu-
mática9. A eletroquimioterapia aumenta mores tratados com eletroquimiotera-
a concentração intracelular de bleomici- pia com bleomicina apresentaram mor-
na em 300 a 700 vezes, com uma con- te celular por apoptose3. A apoptose é
sequente elevação da citotoxicidade na um processo ativo, no qual a célula sofre
ordem de milhares de vezes3. contração e condensação de suas estru-
A bleomicina e a cisplatina foram turas, fragmenta-se, sendo fagocitada
testadas em protocolos de eletroqui- por células vizinhas e por macrófagos
mioterapia em modelos animais in vivo. residentes, não ocorrendo nela o fenô-
68 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
meno de autólise. A ne- 4. SERSA, G.; MIKLAVCIC,
Com relação ao D.; CEMAZAR, M., et al.
crose, por outro lado, é a
procedimento, a Electrochemotherapy in treatment
morte celular ocorrida no of tumours. Eur. J Surg. Oncol. v.34,
eletroquimioterapia p.232 – 240, 2008.
indivíduo vivo, seguida
é fácil, rápida de 5. CEMAZAR, M.; MIKLAVCIC,
de fenômenos de autólise.
realizar e apresenta D.; VODOVNIK, L.; et al.
As células mortas em pro- Improved therapeuti effect of elec-
baixo custo. trochemotherapy with cisplatin by
cesso de autólise se com- intratumoral drug administration
portam como um corpo and changing of electrode orien-
tation for electropermeabilization on EAT tumor
estranho, irritante, no organismo vivo .
12
model in mice. Radiol Oncol. v.29, p. 121 – 127,
1995.
Considerações finais 6. SERSA, G.; CEMAZAR, M.; MIKLAVCIC, D;
RUDOLF, Z. Electrochemotherapy of tumours.
Com relação ao procedimento, a Radiol Oncol. v.40(3), p. 163 – 174, 2006.
eletroquimioterapia é fácil, rápida de 7. KODRE, V.; CEMAZAR, M.; PECAR, J., et al.
realizar e apresenta baixo custo. Os re- Electrochemotherapy compared to surgery for
treatment of canine mast cell tumours. In Vivo. v.23,
quisitos mínimos são uma sala adequa- p. 55 – 62, 2009.
da para a preparação e tratamento do 8. GATELY, D. P.; HOWELL, S. B. Cellular accumu-
paciente e um eletroporador com dife- lation of the anticancer agent cisplatin: a review. Br.
J Cancer. v.67, p. 1171 – 1176, 1993.
rentes tipos de eletrodos que são usados
para diferentes tamanhos de nódulos tu- 9. GOTHELF, A.; MIR, L. M; GEHL, J.
Electrochemotherapy: results of cancer treatment
morais. Após o tratamento, os pacientes using enhanced delivery of bleomycin by electro-
não precisam de nenhum cuidado espe- poration. Cancer Treat. Ver. v.29(5), p. 371 – 387,
2003.
cial ou medicação2.
10. SERSA, G.; CEMAZAR, M.; DAMIJAN, M., et al.
Electrochemotherapy: variable anti-tumor effect
Referências on diferent tumor models. Bioelectrochemestry and
Bioenergetics. v.35, p. 23 – 27, 1994.
1. SILVA, M. D. Desenvolvimento e avaliação de um
gerador programável de pulsos monofásicos de 11. SILVEIRA, L. M. G.; BRUNNER, C. H. M.;
campo elétrico para eletroporação. Rio de Janeiro: CUNHA, F. M., et al. Utilização de eletroquimiote-
UFRJ, 2011. 86p. Tese (Mestrado) – Programa rapia em neoplasias de origem epitelial ou mesen-
de Pós-graduação em Engenharia Biomédica, quimal localizadas em pele oou mucosas de cães.
COPPE, da Universidade Federal do Rio de Braz. J Vet.Res.Anim. Sci. v.47, p. 55 – 66, 2010.
Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. 12. pereira, F.E.L. degenerações. Morte celular.
2. SERSA, G.; CEMAZAR, M.; RUDOLF, Z. Alterações do Interstício. In: FILHO, G.B. Bogliolo
Electrochemotherapy: advantages and drawbacks Patologia, 7°ed., Guanabara koogan, cap. 4, p. 43-
in treatment of cancer patients. Cancer Therapy., 82, 2006.
v.1, p. 133 – 142, 2003.
3. LARKIN, J. O.; COLLINS, C. G.; AARONS, S., et
al. Electrochemotherapy – Aspects of preclinical
development and early clinical experience. Ann.
Surg., v. 245, p.469 – 479, 2007.

Eletroquimioterapia 69
Imunoterapia
bigstockphoto.com

Rodrigo dos Santos Horta - CRVM-MG11669,


Gleidice Eunice Lavalle* - CRMV-MG 3855.
* Email para contato: gleidicel@yahoo.com.br

Introdução No combate Coley observou que os


ao câncer, a pacientes com câncer que
No combate ao cân-
imunoterapia desenvolviam infecções
cer, a imunoterapia surge
surge como uma bacterianas secundárias e
como uma modalidade
modalidade apresentavam maior so-
de destaque, desenvol-
vida para ativar os com- de destaque, brevida do que aqueles
ponentes celulares da desenvolvida para sem infecção, inferindo a
resposta antitumoral ou ativar os componentes participação do sistema
agir seletivamente sobre celulares da resposta imunológico no cresci-
estruturas moleculares do antitumoral ou agir mento tumoral2. As pes-
próprio tumor1. seletivamente sobre quisas desenvolvidas por
No final do século estruturas moleculares Coley construíram a base
XIX, o cirurgião William do próprio tumor. para a modulação inespe-
70 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
cífica da resposta imune no tratamento do Mycobacterium bovis, foi inicial-
do câncer1. mente desenvolvida como uma vacina
Quanto ao tipo de estimulação do para tuberculose, no entanto, apresenta
sistema imunológico, a imunoterapia efeito antitumoral importante, princi-
pode ser considerada ativa ou passiva, palmente, no tratamento e prevenção de
apesar de que, muitas vezes, ambos os recidivas de carcinomas de células tran-
mecanismos possam coexistir1,3. Na sicionais não invasivos4. Na Medicina
imunoterapia ativa, substâncias esti- Veterinária, a administração do BCG,
mulantes e restauradoras da função em combinação com a gonadotrofina
imunológica são administradas com a coriônica humana, que também apre-
finalidade de provocar uma resposta an- senta propriedades imunomoduladoras
titumoral. Na imunoterapia passiva ou e antitumorais, mostrou-se tão eficaz
adotiva, substâncias ativas são adminis- quanto à quimioterapia adjuvante pa-
tradas com o, objetivo de proporcionar drão com vimblastina no controle do
uma capacidade imunológica no com- mastocitoma canino5. Os mecanismos
bate à doença3. Ao se considerar a sele- antitumorais não são completamente
tividade das imunoterapias disponíveis, conhecidos, mas o BCG estimula, de
podemos classificá-las como inespecífi- forma ativa, a função dos linfócitos T
cas ou específicas1. auxiliares do tipo 1 (T-helper type 1,
Th1), mediada pela produção de cito-
Imunoterapia inespecífica cinas inflamatórias como o interferon-
O objetivo da imunoterapia ines- -alfa (IFN-α), interferon-gama (IFN-γ)
pecífica é melhorar a resposta inata e e interleucina-2 (IL-2). Essa resposta
adaptativa do sistema imunológico no resulta em citotoxicidade das células
reconhecimento e destruição das cé- tumorais mediada por linfócitos T e in-
lulas malignas3. Imunoterápicos ines- dução de células T de memória de longa
pecíficos ou modificadores da resposta duração, capaz de promoverem prote-
imunológica incluem complexos bacte- ção contra a recorrência da doença1,4.
rianos, vírus oncolíticos e citocinas ca- A ativação dos macrófagos por cepas
pazes de estimular ou restaurar a função inativadas de Corynebacterium parvum
imune de forma ativa e/ou passiva1,3. e mais, especificamente, pelo L-MTP-
Os complexos bacterianos mais PE (liposome-encapsulated-muramyl-
utilizados na terapia anticancerígena tripeptide-phosphatidyethanolamine),
incluem o DNA da parede celular de demonstrou efeito antitumoral em cães
micobactérias1. O bacilo de Calmette aumentando a sobrevida global após a
e Guérin (Bacillus of Calmette and cirurgia6,7. Em um estudo com 98 cães
Guérin, BCG), uma estirpe modificada portadores de melanoma oral em esta-
Imunoterapia 71
diamento inicial, a taxa de antígenos tumorais e,
de sobrevida de dois anos
O Interferon-alfa ainda, o efeito antiangio-
(IFN-α) é a droga
foi de 25% em cães trata- gênico1,9. O Interferon-
imunomodulatória
dos apenas com cirurgia, alfa (IFN-α) é a droga
mais utilizada
mas de 80% nos pacien- imunomodulatória mais
no tratamento do
tes que receberam trata-
melanoma em cães e utilizada no tratamento
mento adjuvante com o do melanoma em cães e
também no homem,
L-MTP-PE . 7
também no homem, pro-
proporcionando
Vírus oncolíticos se aumento do porcionando aumento do
replicam, preferencial- intervalo livre de intervalo livre de doença
mente, em células tumo- doença em pacientes em pacientes com enfer-
rais, sendo capazes de com enfermidade midade em estadiamento
destruir essas células de em estadiamento avançado3,9-14. Em cães,
forma direta (passiva) ou avançado. a dose recomendada no
a partir da estimulação tratamento adjuvante do
da resposta imunológica melanoma de cavidade
inata e adaptativa do paciente (ativa). A oral é de três milhões de unidades por
seletividade desses agentes possibilita m², por via intramuscular, a cada sete
ainda o desenvolvimento de terapias di- dias, por seis semanas, precedida da ad-
recionadas com a distribuição de genes, ministração de anti-histamínicos, como
fármacos e citocinas para o interior das a prometazina, para minimizar a ocor-
células malignas1. O vírus da cinomose rência de reações anafiláticas graves10,15.
canina representa um agente imunote- Campos et al.15 relatam o sucesso da
rápico em potencial no tratamento do combinação do IFN-α e da carboplati-
linfoma, uma vez que o vírus atenuado na no tratamento adjuvante à cirurgia
se mostrou capaz de se ligar seletiva- radical, em dois cães com melanoma
mente aos receptores de membrana de cavidade oral, sendo que, um deles
CD46 e CD150, frequentemente, su- apresentava metástase em linfonodo re-
perexpressos nos linfócitos malignos de gional, resultando em sobrevida e inter-
cães, promovendo a lise dessas células1,8. valo livre de doenças superiores àqueles
As citocinas representam agentes descritos na literatura. Outras citocinas,
imunoterápicos promissores no tra- com destaque para a interleucina-2,
tamento do câncer1. Os mecanismos interleucina-12 e fator de necrose tu-
antitumorais incluem redução da pro- moral-alfa, demonstraram resultados
liferação celular, aumento da apoptose, encorajadores no tratamento do osteos-
aumento da atividade dos linfócitos T e sarcoma metastático e carcinomas pul-
células NK, estimulação da apresentação monares em cães1.
72 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
Imunoterapia Atualmente,
contra antígenos tumorais
específica específicos1,17. Atualmente,
inúmeros anticorpos
inúmeros anticorpos são
Imunoterápicos espe- são incluídos no
incluídos no tratamento
cíficos podem atuar de for- tratamento padrão de
padrão de pessoas com
ma ativa e estimular a res- pessoas com câncer,
câncer, com destaque para
posta antitumoral, a partir com destaque para
o bevacizumab, que apre-
da utilização de vacinas o bevacizumab,
senta ação antiangiogênica
antitumorais ou de forma que apresenta ação
ao atuar diretamente no
passiva, conferindo ao pa- antiangiogênica ao
fator de crescimento en-
ciente capacidade imuno- atuar diretamente no
fator de crescimento dotelial vascular (vascular
lógica antitumoral a partir endothelial growth factor,
da administração de anti- endotelial vascular.
VEGF), utilizado em asso-
corpos monoclonais1,3. ciação à quimioterapia no
O uso de vacinas antitumorais re- tratamento dos carcinomas mamários,
presenta uma estratégia relevante no carcinomas de células renais e, como pri-
tratamento do melanoma canino metas- meira linha, no tratamento do carcino-
tático7. Respostas clínicas satisfatórias fo- ma coloretal metastático1. Na Medicina
ram obtidas com a utilização de vacinas Veterinária, os maiores esforços foram
autólogas, produzidas a partir de células direcionados à produção de pequenas
tumorais do próprio paciente ou alogê- moléculas inibidoras de proteínas tirosi-
nicas, com células tumorais de outros pa- na-quinase18. Apesar de alguns estudos
cientes da mesma espécie, no entanto, os terem demonstrado a eficácia do bevaci-
resultados mais promissores foram obti- zumab em outras espécies, a administra-
dos com vacinas xenogenéticas, conten- ção repetida, provavelmente, resultaria
do o DNA responsável pela codificação no desenvolvimento de anticorpos con-
da tirosinase humana7,16. Além de não ter tra o medicamento, produzido contra o
apresentado toxicidade, a vacina, produ-
VEGF humano, limitando a duração dos
zida independentemente da disponibili-
benefícios clínicos1.
dade de amostras tumorais, mostrou-se
eficiente no controle da doença metas- Considerações finais
tática, resultando em sobrevida média Apesar dos desafios, o uso de imu-
de 224 a 389 dias, dependendo do esta- noterápicos representa uma opção viável
diamento clínico do paciente16. no tratamento e controle do câncer em
A revolução das terapias-direciona- pequenos animais. Historicamente, a
das iniciou-se na década de 70 com os imunoterapia foi desenvolvida para me-
primeiros ensaios clínicos e a utilização lhorar a resposta do sistema imunológico
de anticorpos monoclonais direcionados contra as células tumorais, no entanto,
Imunoterapia 73
alguns dos imunoterá- uma necessidade ime-
A realização de triagens
picos discutidos nesse clínicas é uma necessidade diata para validar o uso
capítulo podem apre- imediata para validar o dos imunoterápicos
sentar elevada toxicida- uso dos imunoterápicos em em associação conco-
de, quando administra- associação concomitante ou mitante ou sequencial
dos de forma sistêmica, sequencial aos tratamentos aos tratamentos con-
principalmente, em do- convencionais como vencionais como ci-
ses altas. A realização cirurgia, quimioterapia e rurgia, quimioterapia
de triagens clínicas é radioterapia. e radioterapia.

Referências Veterinary Cancer Therapy Handbook. 2.ed.


Colorado: AAHA Press, 2000. p. 141-144, J1-J10.
1. BILLER, B.J. Cancer immunotherapy for the ve- 11. GARBE, C.; TERHEYDEN, P.; KEIHOLZ, U.; et
terinary patient. Vet. Clin. North Am.: Small Anim. al. Deutsches Ärzteblatt International, v. 105, n. 49, p.
Pract., v. 37, p. 1137-1149, 2007. 845-851, 2008.
2. MCCARTHY, E.F. The toxins of William B. Coley 12. EGGERMOT, A.M.M.; TESTORI, A.;
and the treatment of bone and soft-tissue sarcomas. MARSDEN, J.; et al. Utility of adjuvant systemic
Iowa Orthop. J., v. 26, p. 154-158, 2006. therapy in melanoma. Ann. Oncol., v. 20, n. 6, p. 30-
3. GUTH, A.M.; DOW, S. Cancer immunotherapy 34, 2009.
In: WITHROW, S.J.; MACEWEN, E.G. Withrow 13. HAUSCHILD, A. Adjuvant interferon alfa for
and MacEwen’s small animal clinical oncology. 5.ed. melanoma: new evidence-based treatment recom-
Philadelphia: Saunders, 2013. Cap.13, p. 198-214.
mendations. Curr. Oncol., v. 16, n. 3, p. 03-06, 2009.
4. VAN DER MEIJDEN, A.P. Non-specific immuno-
therapy with bacille Calmette-Guerin (BCG). Clin. 14. SCHADENDORF, D.; ALGARRA, S.M.;
Exp. Immunol., 2007, v. 149, n. 1, p. 179-180. BASTHOLT, L.; et al. Immunotherapy of distant
metastatic disease. Ann. Oncol, v. 20, n. 6, p. 41-50,
5. HENRY, C. Clinical comparison of LDI-100, a pre- 2009.
paration containing human chorionic gonadotro-
pin and bacillus Calmette-Guerin, to single-agent 15. CAMPOS, C.B.; HORTA, R.S.; COBUCCI, G.C.;
vinblastine for the treatment of canine mast cell et al. Abordagem cirúrgica das neoplasias ma-
tumors. Annals of Veterinary Cancer Society Annual márias em pequenos animais: perfil do paciente,
Conference. Pine Mountain (GA), p. 19-22, 2006. comportamento e epidemiologia tumoral. In: VI
6. OGILVIE, G.K.; MOORE, A.S. Tumors of the Curso De Atualização Em Oncologia Veterinária,
oral cavity. In: OGILVIE, G.K.; MOORE, A.S. 2010, Botucatu, SP. Suplemento da Veterinária e
Managing the Veterinary Cancer Patient: a Practice Zootecnia. Botucatu, SP: Faculdade de Medicina
Manual. 1 Ed. New Jersey: Copyright, V, p.332- Veterinária e Zootecnia da UNESP, 2010. v. 18. p.
336, 1995. 7-12.
7. LIPTAK, J.M.; WITHROW, S.J. Cancer of the gas- 16. BERGMAN, P.J.; MCNIGHT, J.; NOVOSAD. A;
trointestinal tract. In: WITHROW, J.; VAIL, D.M. et al. Long-term survival of dogs with advanced
Small Animal Clinical Oncology. 4.ed. Philadelphia: malignant melanoma after DNA vaccination with
Elsevier, Cap.21, p.455-465, 2007. xenogeneic human tyrosinase: a phase 1 trial. Clin.
8. SUTER, S.E.; CHEIN, M.B.; VON MESSLING, Cancer Res., v. 9, p. 1284-1290, 2003.
V.; et al. In vitro canine distemper virus infection of 17. FORERO, A.; LOBUGLIO, A. History of antibody
canine lymphoid cells: a prelude to oncolytic the- therapy for non-Hodgkin’s lymphoma. Sem. Oncol.,
rapy for lymphoma. Clin. Cancer Res., v. 11, n. 4, p. v. 30, n. 6, sup. 17, p. 1-5, 2003.
1579-1587, 2005. 18. LONDON, C.A. Signal transuction and cancer.
9. SABEL, M.S.; SONDAK, V.K. Pros and cons of In: WITHROW, S.J.; MACEWEN, E.G. Withrow
adjuvant interferon in the treatment of melanoma. and MacEwen’s small animal clinical oncology. 5.ed.
The Oncologist, v.8, p.451-458, 2003. Philadelphia: Saunders, 2013. Cap. 14, section B, p.
10. KITCHELL, B.; LARUE, S.M.; ROOKS, R.L. 221-229.

74 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013


Terapias de
alvo-molecular
Montagem de fotos de bigstockphoto.com
Rodrigo dos Santos Horta - CRVM-MG11669,
Gleidice Eunice Lavalle* - CRMV-MG 3855,
Cecília Bonolo de Campos - CRMV-MG 10902.
*Email para contato: gleidicel@yahoo.com.br

Introdução Terapias direcionadas desses medicamentos é


ou terapias de alvo- condicionada à existência
Terapias direcio-
molecular específicas e identificação de um alvo
nadas ou terapias de
representam uma terapêutico e a aleatorie-
alvo-molecular especí-
tecnologia de ponta dade desses tratamentos
ficas representam uma
tecnologia de ponta no no tratamento do não deve ser admitida. Os
tratamento do câncer, câncer, devido à princípios e limitações da
devido à habilidade de habilidade de atuar, quimioterapia conven-
atuar, preferencialmen- preferencialmente, cional continuam sendo
te, em alvos moleculares em alvos moleculares aplicados, no entanto, é
responsáveis pela sina- responsáveis pela possível obter resultados
lização do crescimento
sinalização do mais previsíveis, com
e proliferação tumoral1.
crescimento e maior janela terapêuti-
Contudo, a utilização
proliferação tumoral ca e menor toxicidade2.
Terapias de alvo-molecular 75
Inúmeros tipos de terapias direcionadas tores de crescimento que regulam a sua
estão disponíveis na medicina veteriná- ativação, como é o caso do KIT1.
ria, com destaque para a inibição de re- Na Medicina Veterinária, os estu-
ceptores tirosina-quinase e inibição de dos ainda são iniciais, mas existem evi-
ciclo-oxigenase1-4. dências de que a ativação anormal dos
receptores tirosina-quinase encontra-se
Inibidores de proteínas associada à sinalização celular persisten-
tirosina-quinase te, com perda dos mecanismos de regu-
Proteínas-quinases (fosforilases) lação da proliferação e sobrevivência ce-
são enzimas que catalisam a transfe- lular, favorecendo o desenvolvimento e
rência de grupamentos fosfato a partir progressão de diversos tipos de câncer .
1

de moléculas de adenosina trifosfato O mastocitoma é a neoplasia cutâ-


(ATP) para resíduos específicos, evi- nea mais freqüente nos cães e a utiliza-
denciam-se os de tirosina (proteínas ção de inibidores dos receptores tirosi-
tirosina-quinases), localizados na pró- na-quinase representa uma terapia-alvo
pria proteína (autofosforilação) ou em relevante, tendo em vista a descoberta
outras moléculas, de forma a permitir a de alterações na atividade do receptor
transdução de sinais intracelulares que, KIT .
7,8

em última instância, irão promover al- O proto-oncogene c-KIT codifica o


terações na transcrição gênica, com im- receptor tirosina-quinase KIT. Trata-se
pacto na proliferação e sobrevivência da de uma proteína transmembrana cujo
célula1,2. substrato é identificado como fator
As proteínas-quinases podem es- de crescimento de mastócito/células-
tar localizadas na superfície (proteínas -tronco (mast/stem cell growth factor,
transmembranosas), no citoplasma ou SCGF), ou simplesmente ligante KIT .
9

no núcleo da célula1,5. O ligante KIT e seu res-


Das 518 proteínas-qui- O mastocitoma é a pectivo receptor atuam
nases identificadas na neoplasia cutânea mais como um modulador
espécie humana, 90 são freqüente nos cães e a para a diferenciação, pro-
dependentes de tirosina- utilização de inibidores liferação, sobrevivência e
-quinase, em que 58 estão dos receptores tirosina- ativação de mastócitos9.
localizadas na membrana quinase representa Mutações no c-KIT
celular e atuam como re- uma terapia-alvo (resultando na ativação
ceptores tirosina-quina- relevante, tendo em em oncogene) estão as-
se, divididos em 20 subfa- vista a descoberta de sociados à patogênese de
mílias6. Esses receptores, alterações na atividade diversas doenças neoplá-
geralmente, se ligam a fa- do receptor KIT. sicas no cão e na espécie
76 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
humana10. No homem, mutações nos O fosfato de toceranib (SU11654)
exons 11 e 12 são identificadas em 95% provoca a inibição do receptor KIT,
dos pacientes com tumor estromal gas- apresentando, portanto, uma ação anti-
trointestinal, enquanto que as mutações tumoral direta e antiangiogênica1. Em
pontuais no exon 17 estão associadas um estudo realizado com 86 cães com
a mastocitose sistêmica11. No cão, por- mastocitoma recidivante ou metastáti-
centagens expressivas (30-50%) de mu- co, o toceranib foi administrado na dose
tações do tipo duplicações, em tandem de 3,25mg/kg, a cada 48 horas, duran-
internos do exon 11 (podendo envolver te seis semanas, e resultou em resposta
também o intron 11 e o exon 12), fo- parcial ou completa em 37,2% dos cães
ram observadas no mastocitoma8,10,12,13. tratados1. Como esperado e observado
Essas mutações comprometem a função por London1, observou-se maior taxa
do domínio justamembranar de regu- de resposta nos pacientes com mutações
lação negativa, de forma que a autofos- detectadas no gene c-KIT (60% versus
forilação e ativação do receptor passa 31,3%). O fosfato de toceranib pode
a ocorrer de forma constitutiva, inde- causar neutropenia leve à moderada e,
pendente da ligação ao substrato10. As em raras situações, fraqueza muscular1,5.
mutações no exon 11 do gene c-KIT O masitinib atinge um número li-
raramente são identificadas em masto- mitado de proteínas-quinases, dentre
citomas bem diferenciados e estão rela- elas o receptor KIT15. Em um estudo
cionadas a um pior prognóstico8,11,12. realizado com 202 cães com mastoci-
O CD117 é um epítopo do receptor tomas de grau II e III (segundo a clas-
KIT e sua expressão nos mastocitomas sificação de Patnaik16) não metastáticos
caninos é elevada, sendo possível ob- (estadiamento I e II) e não ressecáveis, o
servar três padrões de imunomarcação, masitinib, na dose de 12,5mg/kg, admi-
com diferenças no prognóstico: KIT I é nistrado diariamente, resultou em atra-
a marcação perimembranosa; KIT II é a so no tempo de progressão da doença
marcação citoplasmática focal; e KIT III e aumento da sobrevida, quando com-
é a marcação citoplasmática difusa4,9,14. parado ao grupo placebo, sendo que o
Os padrões II e III de imunomarcação resultado foi mais pronunciado nos pa-
representam uma localização aberrante cientes com mutações no gene c-KIT17.
da proteína e estão relacionados à maior O masitinib pode apresentar toxicidade
risco de recidiva local e menor sobrevi- renal, ocasionando perda protéica e, em
da, indicando pior comportamento bio- raros casos, anemia hemolítica de ori-
lógico, mas não estão necessariamente gem desconhecida1.
associados à presença de mutações no Tanto o fosfato de toceranib,
gene c-KIT11. quanto o masitinib podem induzir
Terapias de alvo-molecular 77
anorexia, vômito, diar- seqüência genética não é
A resistência aos
réia e sangramento a mesma, e os genes são
inibidores de tirosina-
gastrointestinal .
1,17
regulados por dois siste-
quinase pode ocorrer
A resistência aos ini- mas independentes e dis-
após uma resposta
bidores de tirosina-qui- tintos. O sítio de ligação
inicial favorável,
nase pode ocorrer após do agente inibidor na iso-
em decorrência de
uma resposta inicial fa- forma Cox-2 é 25% maior
alterações nos genes
vorável, em decorrência que da Cox-1, apresenta
responsáveis pela
de alterações nos genes
síntese de outros sítios também local de ligação
responsáveis pela síntese da proteína. secundário, além do sítio
de outros sítios da pro- catalítico, o que tem per-
teína, conforme relatos mitido a inibição seletiva
de Antonescu et al.18 em tumores estro- de Cox-221.
mais gastrointestinais humanos tratados Cox-1 é expressa constitutivamente
com o imatinib. em muitos tecidos e está envolvida na
manutenção da homeostasia celular. Em
Inibidores de ciclo- contraste, a Cox-2 não é frequentemente
oxigenase detectável em tecido normal, mas pode
A ciclo-oxigenase é um composto apresentar altos níveis de expressão em
homodímero com 2 subunidades de resposta a uma variedade de estímulos,
70.000d e um grupo heme. Enzimas, incluindo mitogênicos, provocados por
com atividades catalíticas, medeiam hormônios, citocinas e fatores de cres-
à conversão de ácido aracdônico em cimento. Os efeitos de ambas as ciclo-
uma série de diferentes prostaglandinas. -oxigenases são mediados via tirosina
Existem duas isoformas para as ciclo- quinase, proteína quinase C e proteína
-oxigenases, Cox-1 e Cox-2, a primeira é quinase A19,22.
considerada uma ciclo-oxigenase cons- Cox-1 é primariamente expressa no
titutiva, está presente em uma grande estômago, rins, trato reprodutivo femi-
variedade de tecidos, e a segunda, que nino, plaquetas, pulmões, intestino del-
não é, geralmente, detectável na maioria gado, ceco e colón. É responsável por
dos tecidos, é considerada uma forma produzir a série de prostaglandina E
induzível19,20. (PGE) e prostaciclinas, que são impor-
Embora sejam, aproximadamente, tantes na manutenção da integridade
60% homólogas e com similares me- da mucosa gástrica. A prostaglandina
canismos de metabolização do ácido produzida por Cox-1 nos rins causa va-
aracdônico, as isoformas Cox-1 e Cox- sodilatação, auxilia na manutenção do
2 apresentam algumas diferenças. A fluxo sanguíneo renal, previne isquemia
78 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
e mantém a taxa de filtração glomerular flamatórias (IL-1, TNF-α), fatores de
durante a hipotensão. Cox-1 é também crescimento (EGF, FGF, PGF, TGFβ),
responsável pela produção de trombo- carcinógenos e oncogenes (ras, Her-
xano, um potente indutor de agregação 2 neu), induzem a atividade de Cox-2.
plaquetária23. Numerosos tipos de células expressam
Cox-2 é a forma induzível encontra- Cox-2 e respondem com mitose, in-
da primariamente no sítio inflamatório. cluindo células endoteliais, células de
É também constitutivamente expressa músculo liso, condrócitos, fibroblastos,
nos rins (mácula densa) e sistema ner- monócitos, macrófagos e células si-
voso central, com função relevante em noviais. A produção de PGE por estas
muitas fases da reprodução, incluindo células é importante para a resposta in-
ovulação, fertilização, implantação do flamatória e em alguns casos pode con-
embrião, desenvolvimento da placen- tribuir para a carcinogênese23.
ta e parto23. Prostanóides gerados pela A maior expressão de Cox-2 e al-
enzima Cox-2 nos rins podem ser im- tas concentrações de prostaglandinas
portantes na regulação do sistema reni- são associadas à doença inflamatória
na–angiotensina, no equilíbrio hidroe- crônica, tais como artrite reumatoide e
letrolítico e por consequência Cox-2 é vários tipos de cânceres humanos, a sa-
coadjuvante na manutenção da função ber: colón, cabeça e pescoço, pulmão,
renal21. bexiga, próstata, estômago e câncer de
Dois eventos contribuem para o au- mama. Durante a progressão do câncer,
mento do potencial de crescimento do prostaglandinas podem mediar vários
tecido neoplásico: aumento do número mecanismos: proliferação celular, apop-
de divisões celulares e angiogênese. A tose, modulação do sistema imune e
Cox-2 é uma proteína que é relacionada angiogênese20,22.
ao desenvolvimento da angiogênese nos Células tumorais que expressam
processos neoplásicos. A expressão de Cox-2 vindas de tumores grandes pro-
Cox-2 está ligada à angiogênese e à pro- duzem mais fatores angiogênicos do
gressão da doença e a sua inibição é um que células tumorais sem Cox-2. Este
dos principais e mais promissores alvos mecanismo envolve a baixa regulação
de agentes quimioterápicos não especí- e produção de tromboxanos, PGE2 e
ficos para a prevenção e tratamento do prostaciclinas por células endoteliais
câncer colo retal24. que expressam Cox-223. Costa et al22 su-
A principal função da Cox-2 é au- gerem que Cox-2 e seus produtos (pros-
mentar a produção de PGE, conheci- taglandinas) possam manter a resposta
da como um importante modulador inflamatória e, provavelmente, induzem
inflamatório. Várias citocinas pró-in- a liberação de VEGF para aumentar a
Terapias de alvo-molecular 79
permeabilidade capilar, Cox-2, os DAINE apre-
Com o conhecimento
visto que esta é a mais sentam mecanismos an-
que diferentes tipos
importante função deste titumorais que envolvem
de câncer epitelial
fator de crescimento. A
expressam Cox-2 e têm ativação e inibição das
maior expressão de Cox- vias de sinalização celular
altos níveis de PGE2,
2 em cânceres é vista au- bloqueadores de Cox-2 com regulação de genes,
mentando a angiogênese, têm sido avaliados na que são capazes de inibir
o que sugere que o uso de terapia anticâncer. oncogenes e genes rela-
inibidores específicos de cionados à angiogênese
Cox-2 possa ser de gran- e indução da apoptose23.
de ajuda no tratamento antiangiogênico. Lavalle et al.25 demonstraram que o
Com o conhecimento que diferen- tecido mamário normal das cadelas não
tes tipos de câncer epitelial expressam apresenta expressão de Cox-2, mas que
Cox-2 e têm altos níveis de PGE2, blo- essa enzima apresenta expressão com
queadores de Cox-2 têm sido avaliados escores variados em neoplasias mamá-
na terapia anticâncer. Os antiinflamató- rias malignas, existindo ainda uma cor-
rios não hormonais (DAINE) inibem relação positiva entre a expressão dessa
a produção de prostaglandinas por ini- enzima e a densidade microvascular.
bição de Cox, que ocorre por alteração Pacientes com superexpressão de Cox-
enzimática ou por competição pelo sítio 2 apresentaram menor sobrevida global,
Cox do ácido aracdônico. Existem três ratificando a participação dessa enzima
classes de inibidores de Cox: 1) os nãos na angiogênese e progressão tumoral, o
seletivos, que inibem mais Cox-1 do que que sugere o uso de inibidores de Cox-
Cox-2, provocando inúmeros efeitos 2 no tratamento adjuvante de animais
colaterais particularmente no trato gas- portadores de tumores malignos, com
trointestinal (Piroxicam, Cetoprofeno); elevada expressão de Cox-225.
2) os que inibem preferencialmente a Em um segundo momento, os auto-
Cox-2, com menor ocorrência de efeitos res demonstraram um aumento na so-
colaterais (Carprofeno, Meloxican); e brevida global de pacientes portadores
3) uma nova categoria são os inibidores de câncer de mama avançado tratados
seletivos de Cox-2, intitulados coxibes, com cirurgia associada à quimioterapia
pois em sua dosagem terapêutica inibe e ao uso de inibidores não seletivos e se-
apenas a isoforma Cox-2, sem interfe- letivos para Cox-2, quando comparados
rência na atividade de Cox-1(vioxx, ce- aos animais tratados somente com ci-
lecoxib, firocoxib)23. rurgia, reforçando a sugestão dos inibi-
Em adição à diminuição da produ- dores de Cox-2 em pacientes indicados,
ção de prostaglandina, via inibição de ou seja, aqueles cujos tumores apresen-
80 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
tam expressão da enzima tituem a quimioterapia
O clínico deve estar
Cox-226. Considerando convencional, pois esta já
atento às indicações e
as características de uma está bem estabelecida. O
benefícios das terapias-
terapia-alvo e a possibi-
alvo específicas, pois o clínico deve estar atento
lidade de ocorrência de tratamento aleatório, às indicações e benefícios
efeitos colaterais, mesmo além de não beneficiar das terapias-alvo especí-
com inibidores seletivos o paciente, pode
de Cox-2, o tratamen- ficas, pois o tratamento
resultar em aumento aleatório, além de não be-
to só pode ser indicado da morbidade, pela
mediante a predição de neficiar o paciente, pode
ocorrência de efeitos
seu poder terapêutico, a colaterais importantes. resultar em aumento da
partir da confirmação da morbidade, pela ocor-
expressão da Cox-2 no rência de efeitos colate-
tecido neoplásico. rais importantes. O estudo da biologia
tumoral para alguns tumores caninos,
Considerações finais
como as neoplasias mamárias e o masto-
O estudo acerca dos mecanismos citoma, encontra-se avançado e permite
moleculares relacionados ao desenvol-
selecionar os pacientes para diferentes
vimento do câncer permite o desenvol-
protocolos conforme as características
vimento de tratamentos antineoplásicos
mais previsíveis e específicos, com toxi- tumorais. No entanto, carecem estu-
cidade cada vez menor. Os resultados dos para a definição de protocolos te-
dos tratamentos direcionados são pro- rapêuticos e conhecimento dos efeitos
missores, mas esses fármacos não subs- colaterais.

Referências caninos definidos com auxílio da imunohistoquí-


mica. Ciênc. Rural, v. 42, n. 6, p. 1033-1039, 2012.
1. LONDON, C.A. Tyrosine kinase inhibitors in
5. LONDON, C.A. Signal transuction and cancer.
Veterinary Medicine. Top. Companion Anim. Med.,
In: WITHROW, S.J.; MACEWEN, E.G. Withrow
v. 24, n. 3. p. 106-112, 2009.
and MacEwen’s small animal clinical oncology. 5.ed.
2. AMORA, A.; SCHOLAR, E.M. Role of tyrosine Philadelphia: Saunders, 2013. Cap. 14, section B,
kinase inhibitors in cancer therapy. Perspectives in p. 221-229.
Pharmacology, v. 315, n. 3, p. 971-979, 2005.
6. PAWSON, T. Regulation and targets of receptor
3. CHAN, G.; BOYLE, J.O.; YANG, E.K.; et al. tyrosine kinases. Eur. J. Cancer, v. 38, n. 5, p. 3-10,
Cycloxygenase-2 expression is up-regulated in 2002.
squamous cell carcinoma oh head and neck.
7. LONDON, C.A.; HANNAH, A.L.;
Cancer Res., v. 59, p. 991-994, 1999.
ZADOVOSKAYA, R.; et al. Phase I dose escala-
4. HORTA, R.S.; COSTA, M.P.; LAVALLE, G.E.; et ting study of SU11654, a small molecule receptor
al. Fatores prognósticos e preditivos dos tumores tyrosine kinase inhibition by imatinib mesylate on

Terapias de alvo-molecular 81
mast cell tumors in dogs. J. Vet. Intern. Med., v. 22, n. 17. HANH, K.A. OGILVIE, G.K; RUSK, T.; et al.
4, p. 985-988, 2008. Masitinib is safe and effective for the treatment of
canine mast cell tumors. J. Vet. Intern. Med., v. 22, n.
8. AVERY, A.C. Molecular diagnostics of hematologic 6, p. 1301-1309, 2008.
malignancies in small animals. Vet. Clin. North Am.:
Small Anim. Pract., v. 42, p. 97-110, 2012. 18. ANTONESCU, C.R.; BESMER, P.; GUO, T.; et al.
Acquired resistance to imatinib in gastrointestinal
9. LONDON, C.A.; THAMM, D.H. Mast cell tu- stromal tumor occurs through secondary gene mu-
mors. In: WITHROW, S.J.; MACEWEN, E.G. tation. Clin. Cancer Res., v. 11, n. 11, p. 4182-4190,
Withrow and MacEwen’s small animal clinical oncol- 2005.
ogy. 5.ed. Philadelphia: Saunders, 2013. Cap. 20,
p.335-355. 19. KENNETH, K., M.; Cyclooxygenase 2 induction:
molecular mechanism and pathophysiologic roles.
10. JONES, C.L.R.; GRAHN, R.A.; LESLIE, M.B.; et J. Lab. Clin. Med.,v. 128, p.242-245, 1996.
al. Detection of c-kit mutations in canine mast cell
tumors using fluorescent polyacrylamide gel elec- 20. DORÉ, M., LANTHIER, I., SIROIS, J.
trophoresis. J. Vet. Diagn. Invest., v. 16, p. 95-100, Cyclooxygenase-2 expression in canine mammary
2004. tumors. Vet. Pathol., v. 40, n.2, p.207-212, 2003.
11. WEBSTER, J.D.; YUZBASIYAN-GURKAN, V.; 21. KUMMER, C.L.; COELHO, T.C.R.B.
KANEENE, J.B.; et al. The role of c-kit in tumori- Antiinflamatótios não esteróides inibidores da ci-
genesis: evaluation in canine cutaneous mast cell clooxigenase-2 (Cox-2): aspectos atuais. Rev. Bras.
tumours. Neoplasia, v.8, p.104-111, 2006. Anest., v.52, n.4, julho- agosto, p.498-505, 2002.
12. ZEMKE, D.; YAMINI, B.; GURKAN- 22. COSTA, C., SOARES,R.; REIS FILHO, J.S.; et al.
YUZBASIYAN, V. Mutation in the juxtamembrane Cyclo- oxygenase 2 expression is associated with
domain of c-kit are associated with higher grade angiogenesis and lymph node metastasis in human
mast cell tumors in dogs. Vet. Pathol., v. 39, p. 529- breast cancer. J. Clin. Pathol., v.55, p.429-434, 2002.
535, 2002.
23. FLORY, A.B., LE BLANC A.K.; The role of cy-
13. LETARD, S.; YANG, Y.; HANSSENS, K.; et al. clooxygenase in carcinogenesis and anticancer
Gain-of-function mutations in the extracellular do- therapy. Comp. Cont. Educ. Pract. Vet., p .616-626,
main of kit are common in canine mast cell tumors. august, 2005.
Mol. Cancer Res., v. 6, p. 1137-1145, 2008.
24. PINHO, M. Angiogênese: gatilho proliferativo. In:
14. ARAÚJO, M.R.; PREIS, I.S.; LAVALLE, G.E.; et PINHO, M. Biologia Molecular do Câncer, funda-
al. Histomorphological and immunohistochemi- mentos para a prática médica. 1.ed., Rio de Janeiro:
cal characterization of 172 cutaneous round cell Revinter, 2005. Cap. 10, p. 155-153.
tumours in dogs. Pesq. Vet. Bras., v. 32, n. 8, p. 772-
780, 2012. 25. LAVALLE, G.E.; BERTAGNOLLI, A.C.;
TAVARES, W.L.; CASSALI, G.D. Cox-2 expres-
15. OGILVIE, G.K.; HENSEL, P.; KITCHELL, B.E.; sion in canine mammary carcinomas: correlation
et al. Masitinib – a target therapy with applications with angiogenesis and overall survival. Vet. Pathol.
in veterinary oncology and inflammatory diseases. v.46, n. 6, nov., p. 1275- 1280, 2009.
CAB Reviews: perspectives in agriculture, veterinary
science, nutrition and natural resources, v. 6, n. 21, 26. LAVALLE, G.E.; DE CAMPOS, C.B.;
2011. BERTAGNOLLI, A.C.; CASSALI, G.D. Canine
malignant mammary gland neoplasms with ad-
16. PATNAIK, A.K.; EHLER, W.J.; MACEWEN E.G. vanced clinical staging treated with carboplatin
Canine cutaneous mast cell tumor: morphologic and cyclooxygenase inhibitors. In Vivo, v. 26, n. 3,
grading and survival time in 83 dogs. Vet. Pathol., v. p. 375-379, 2012.
21, p. 268-274, 1984.

82 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013


Radioterapia

bigstockphoto.com

Rúbia Monteiro de Castro Cunha - CRMV-MG 10900,


Gleidice Eunice Lavalle* - CRMV-MG 3855.
* Email para contato: gleidicel@yahoo.com.br

Introdução Avanços no equipamento de radio-


terapia permitiram menor agressão aos
A radioterapia é o uso da radiação tecidos saudáveis e maior precisão con-
ionizante para o tratamento das neo- tra os tumores. Estes avanços técnicos
plasias. É um tratamento local eficaz reduziram o volume de tecido tratado,
para muitos tumores sólidos no cão e o que permitiu uma intensificação da
no gato, sem efeitos sistêmicos. As cé- dose e melhorou a probabilidade de
lulas cancerígenas fora do campo de controle tumoral2.
radiação não são acometidas, portanto, Além do aperfeiçoamento tecnoló-
os efeitos colaterais estão limitados aos gico, um melhor entendimento da bio-
tecidos dentro do campo de radiação1. logia da radiação dos tecidos saudáveis
A radioterapia começou a ser usada na e tumorais permitiu o desenvolvimento
Medicina Veterinária logo após a des- de melhores protocolos de radioterapia2.
coberta dos raios-x por Roentgen em A radiação ionizante mata as células
1895. Por meio de ensaios clínicos ran- em divisão pela deposição de energia
domizados e estudos retrospectivos, a perto ou no ácido desoxirribonucleico
eficácia da radioterapia foi estabelecida2. (DNA). Quando o dano ao DNA é ir-
Radioterapia 83
reparável, ocorre a morte exposto à radiação, uma
a radiação é mais
celular. As células nor- fração constante de cé-
eficaz no controle
mais e as células tumorais lulas morre, ao invés de
do câncer quando os
no campo de radiação são
tumores são pequenos um número constante.
acometidas, o que resulta Portanto, o controle tu-
ou subclínicos
em efeitos colaterais nos (microscópicos), como moral será melhor quan-
tecidos saudáveis no cam- depois de uma excisão do houver menos células
po de radiação e diminui- incompleta. tumorais, como no caso
ção do tumor . 1 de tumores pequenos ou
Em geral, a probabili- subclínicos1.
dade de controle local do tumor é maior A radioterapia também pode ser usa-
quando a radiação é combinada com a da para o tratamento paliativo de sinais
excisão cirúrgica. A doença macroscópi- clínicos relacionados ao tumor quando
ca pode ser cirurgicamente excisada e as fatores como doença metastática ou do-
células cancerígenas microscópicas pe- ença local avançada provavelmente re-
riféricas atingidas pela radiação; ou a ra- sultarão em óbito precoce. Ao contrário
diação pode ser aplicada antes da excisão dos protocolos com objetivo de cura,
cirúrgica para reduzir o tumor e facilitar que requerem várias semanas de trata-
a obtenção de margens cirúrgicas livres mentos diários de radiação, os protoco-
de células neoplásicas. No entanto, a ra- los paliativos envolvem tratamentos me-
diação é mais eficaz quando há menos nos frequentes e em menor quantidade,
células cancerígenas. Isto é verdade por o que minimiza o risco de efeitos colate-
dois motivos: o efeito da oxigenação, rais clinicamente significativos .
1

ou seja, tumores grandes, que contém


células em hipóxia são menos sensíveis Princípios básicos da
aos efeitos da radiação. Assim, a radia- radiação oncológica
ção é mais eficaz no controle do câncer
quando os tumores são Os quatro Rs da
pequenos ou subclínicos Os primeiros radioterapia
(microscópicos), como oncologistas a Os primeiros onco-
depois de uma excisão trabalhar com logistas a trabalhar com
incompleta. O segundo radiação descobriram radiação descobriram
motivo é que a morte ce- que uma dose total que uma dose total maior
lular induzida pela radia- maior poderia ser poderia ser administrada
ção segue a cinética expo- administrada se as se as doses fossem di-
nencial. Isto significa que doses fossem divididas vididas em frações me-
cada vez que o tumor é
em frações menores. nores. Eles observaram
84 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
que a resposta tumoral era maior e que dem novamente. O intervalo entre uma
ocorria menos injúria aos tecidos saudá- mitose e a próxima é conhecido como
veis. A resposta do tumor e dos tecidos ciclo celular. As células são distribuídas
saudáveis no intervalo de tempo entre entre o ciclo celular. A sensibilidade à
as frações, embora ainda não completa- radiação varia, dependendo da fase do
mente compreendida, foi descrita como ciclo celular em que as células se encon-
os quatro Rs da radioterapia: Reparo tram no momento da radiação. As célu-
do dano ao DNA, Redistribuição das las na fase S tardia são mais resistentes
células no ciclo celular, Reoxigenação à radiação, e as células em mitose são as
das células tumorais e Repopulação do mais sensíveis. Quando uma fração da
tumor e dos tecidos saudáveis. Todos radioterapia é administrada, muitas das
estes processos acontecem entre as fra- células na porção sensível do ciclo celu-
ções ao longo do curso da radioterapia2. lar são mortas. Durante o intervalo entre
A divisão da dose total da radiação as frações, as células da fase S tardia, que
em frações é importante por um núme- são mais prováveis de estar vivas do que
ro de razões. A primeira razão é para ex- as outras, progridem para as fases mais
plorar as diferenças potenciais nas capa- sensíveis de ciclo celular. Este fenôme-
cidades de reparação entre os tumores no é conhecido como redistribuição2.
e os tecidos saudáveis. Foi provado que Devido ao seu crescimento rápido
as células dos mamíferos reparam uma e vasculatura anormal, os tumores fre-
porção do dano causado pela radiação. quentemente se tornam parcialmente
Este reparo acontece rapidamente na hipóxicos. Este é um fator importante
maioria dos tecidos e está praticamen- na reposta à radiação, porque a falta do
te completo dentro de 24 horas após a oxigênio resulta em menor dano da ra-
administração de uma fração2. Ao con- diação ao DNA. Durante os intervalos
trário das células saudáveis, as células entre as frações de radiação, muitas das
cancerígenas têm uma células tumorais em hipó-
capacidade limitada de A duração da xia se tornam aeróbias e,
reparo do DNA . 1 radioterapia portanto, mais sensíveis à
Outro evento que é importante, radiação. Este fenômeno
ocorre entre as frações primariamente, devido é conhecido como reoxi-
da radiação é a redistri- à repopulação tumoral, genação tumoral2.
buição celular. Os tumo- mas também devido A duração da radio-
res e os tecidos saudáveis aos tecidos normais terapia é importante,
em divisão proliferam que se proliferam primariamente, devido
por mitose. Após um in-
rapidamente, como a à repopulação tumoral,
tervalo, as células se divi-
mucosa e a pele. mas também devido aos
Radioterapia 85
tecidos normais que se proliferam ra- protocolos preconizam múltiplas fra-
pidamente, como a mucosa e a pele. As ções por dia para administrar a dose
células tumorais que não foram destru- total em um período curto e prevenir a
ídas pela radiação continuam a se re- repopulação, mas em tamanhos de fra-
plicar durante o curso da terapia. Este ção menores para minimizar os danos
processo é exacerbado por um fenôme- aos tecidos de reposta tardia. As frações
no conhecido como repopulação ace- devem ser espaçadas em pelo menos 6
lerada. Após aproximadamente quatro horas para permitir o reparo ao dano do
semanas de terapia, os tumores fazem a DNA dos tecidos saudáveis2.
repopulação mais rápido do que inicial-
mente. A razão para este fenômeno não Dose total
está clara, mas pode estar relacionado A dose de radiação é administrada
à redução no tempo do ciclo celular, a em unidades conhecidas como Gray.
um aumento no número de células que Um Gy é 1 Joule/kg e é igual a 100 rad,
estão ativamente se dividindo ou a uma medida de radiação previamente usada.
redução no número de células que nor- A dose total administrada a um pacien-
malmente morrem (fator de perda celu- te deve ter uma baixa probabilidade de
lar). Independente da causa, quando o causar reações significativas nos tecidos
tratamento dura mais do que quatro se- saudáveis de resposta tardia na região da
manas, a repopulação pode alterar o re- terapia. No entanto, como mencionado
sultado. A repopulação acelerada pode anteriormente, a resposta destes teci-
ter um impacto maior em tumores que dos depende do tamanho da fração. Por
se dividem rapidamente do que em tu- exemplo, 48 Gy administrados em 12
mores que se dividem lentamente2. frações de 4 Gy tem uma probabilidade
Tecidos normais de resposta agu- muito maior de causar efeitos tardios do
da também são atingidos pelo tempo. que uma dose de 48 Gy administrada
Estes tecidos também fazem a repopu- em 16 frações de 3 Gy. A probabilidade
lação durante a radioterapia. A mesma do controle tumoral é considerada bas-
dose de radiação administrada em um tante semelhante, porque os tecidos de
período curto resulta em efeitos agudos resposta aguda, como os tumores, não
mais graves do que se administrada em são tão sensíveis ao tamanho da fração
um longo período. Os tecidos saudáveis em que a dose é administrada. Os be-
de resposta tardia não são significativa- nefícios de protocolos que usam doses
mente afetados pela duração da radiote- pequenas por fração são claros: eles pos-
rapia. O tamanho da fração é uma consi- sibilitam que uma dose total maior seja
deração muito mais relevante. O tempo administrada sem aumentar a probabi-
entre as frações é importante. Alguns lidade de danos aos tecidos saudáveis
86 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
de resposta tardia. Esta sa oral, o epitélio intesti-
Não existe um
dose mais alta se traduz nal e as estruturas epite-
protocolo de
em uma melhor probabi- liais dos olhos e da pele
radioterapia perfeito,
lidade de controle tumo- e ocorrem durante ou
e todos os protocolos
ral. No entanto, os ganhos pouco depois da radio-
comumente usados
deste tipo de protocolo terapia. Estes tipos de
nas Medicinas
podem ser perdidos se o tecidos são chamados de
Humana e Veterinária
requerimento se estender tecidos saudáveis de res-
têm vantagens e
por um período de tempo posta aguda ou precoce.
desvantagens
que permita que a repopu- Estes efeitos geralmente
lação comece a interferir são autolimitantes e a re-
no controle tumoral. A dose total tole- cuperação é rápida. No entanto, os efei-
rada também depende do tipo de tecido tos precoces podem ser incômodos para
saudável de resposta tardia no campo de o paciente e aflitivo para o proprietário
radiação. Por exemplo, o cérebro e a me- e, em raras circunstâncias, podem resul-
dula espinhal são menos tolerantes aos tar em morte do paciente se não houver
efeitos da radiação do que o músculo ou o cuidado adequado. O tratamento é
o osso. Outro fator que deve ser consi- sintomático, baseado no senso comum,
derado ao selecionar a dose apropriada é tratamento de suporte e no conheci-
o volume de tecido no campo. Grandes mento de que os sintomas se resolverão
volumes de tecidos saudáveis são mais em algumas semanas ou, ocasionalmen-
susceptíveis aos danos do que volumes te, meses .
1,2

menores. Não existe um protocolo de Células que se dividem mais lenta-


radioterapia perfeito, e todos os proto- mente ou células que não se dividem
colos comumente usados nas Medicinas (por exemplo, ossos, pulmão, coração e
Humana e Veterinária têm vantagens e células do sistema nervoso) também são
desvantagens2. atingidas pela radiação, apesar das mu-
danças demorarem mais para se torna-
Efeitos colaterais rem aparentes. Estes tipos de tecidos são
chamados de tecido saudáveis de res-
Os efeitos colaterais da radioterapia posta tardia. Os efeitos tardios podem
são previsíveis. Células em divisão são, levar meses a anos para se desenvolver
por definição, sensíveis à radiação, e in- e quando acontecem, podem ser bastan-
cluem as células tumorais e as popula- te graves e resultar em fibrose, necrose,
ções de células renovadoras (por exem- perda da função e até mesmo morte. Os
plo, células tronco epiteliais). Os efeitos efeitos podem ser permanentes e, mui-
precoces envolvem os tecidos que se tas vezes não há tratamento1,2.
proliferam rapidamente, como a muco-
Radioterapia 87
O tecido linfoide, incluindo as neo- sível. O processo inclui a otimização da
plasias linfoides, é altamente radiossen- orientação do raio, o formato do raio e
sível e é uma exceção à regra de que a cálculos da distribuição da dose nos te-
morte celular ocorre no momento da di- cidos saudáveis e tumorais1.
visão celular. A morte celular dos tecidos Assim como para cirurgia, a radio-
linfoides ocorre horas após a irradiação. terapia eficaz requer o conhecimento
Este é o motivo pelo qual a irradiação de da extensão da doença. Com o uso de
metade do corpo está sendo investigada exames de imagem avançados, incluin-
como um tratamento adjuvante para a do a tomografia computadorizada e a
quimioterapia do linfoma multicêntrico ressonância magnética, é possível de-
nos cães1. linear, precisamente, a extensão da do-
Certa quantidade de dano nos teci- ença macroscópica, o que permite uma
dos saudáveis de resposta aguda acon- maior acurácia no planejamento e uma
tece em todo paciente de radioterapia. maior probabilidade de controle tumo-
A dose total de radiação para a maioria ral. Nem todos os tumores necessitam
dos pacientes depende da probabilidade de exames de imagem avançados para
de dano aos tecidos de resposta tardia. um planejamento eficaz do tratamento1.
O objetivo da radioterapia é destruir a Quando a radioterapia é planejada,
capacidade reprodutiva do tumor sem uma margem de tecido saudável ao re-
danos excessivos aos tecidos saudáveis dor do tumor é incluída no campo de ra-
adjacentes. Este objetivo é alcançado diação para incluir células cancerígenas
mais facilmente dividindo-se a dose to- microscópicas e permitir pequenas va-
tal em frações (fracionamento) que são riações no posicionamento do paciente.
administradas em um período de tem- Os campos de radiação também podem
po. A relação entre estes três parâmetros incluir os linfonodos regionais se há ris-
deve ser cuidadosamente considerada co de metástase subclínica1.
no desenvolvimento dos planos de tra-
tamento com radiação, porque a relação
Referências
1. LARUE, S.M.; GORDON, I.K. Radiation therapy.
tempo-dose-fracionamento é crítica In: WITHROW, S.J.; MACEWEN, E.G. Withrow
para a radioterapia bem sucedida2. and MacEwen’s small animal clinical oncology. 5.ed.
Philadelphia: Saunders, 2013. Cap. 12, p. 180-197.

Planejamento 2. ARGYLE, D.J.; BREARLEY, M.J.; TUREK, M.M.;


ROBERTS, L. Cancer Treatment Modalities. In:
ARGYLE, D. J. Decision Making in Small Animal
O planejamento da radioterapia se Oncology. 1.ed. Wiley-Blackwell, 69-128, 2008.
refere ao processo de assegurar que a
dose de radiação administrada ao tumor
é adequada e que os tecidos saudáveis
críticos sejam poupados o máximo pos-
88 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
Nutrição do paciente
oncológico – uma
visão integrativa

bigstockphoto.com
Artur Vasconcelos - CRMV-MG10896,
Rodrigo dos Santos Horta - CRVM-MG11669,
Gleidice Eunice Lavalle - CRMV-MG 3855.
*Email para contato: gleidicel@yahoo.com.br

Introdução Apesar de ainda ser


volvendo a doença com
visto como um campo parentes ou conhecidos
Poucas situações na
a ser desvendado, a humanos. Considerando
prática da clínica veteri-
nutrição de pacientes o grande volume de in-
nária causam maior co-
moção quanto o anúncio oncológicos já é uma formações veiculadas
do diagnóstico de câncer realidade e algumas pela mídia popular e
em um animal de estima- descobertas nos a própria procura por
ção. A maioria das pes- permitem recomendar promessas de cura e tra-
soas já teve de lidar com alterações dietéticas tamento por terapias
situações similares en- específcas complementares, muitos
Nutrição do paciente oncológico – uma visão integrativa 89
tutores já possuem uma inclinação em baixo consumo de fibras e ingestão des-
procurar, na dieta, possíveis causas e so- balanceada de ácidos graxos essenciais3.
luções para a doença do seu animal1. Diversos veterinários e tutores interes-
Nos últimos anos, surgiu um núme- sados em complementar a terapia alopá-
ro significativo de estudos tratando so- tica preferem a utilização de uma dieta
bre o efeito de diversos componentes da caseira, muitas vezes porque o próprio
dieta em doenças neoplásicas2. Apesar paciente oncológico apresenta uma
de ainda ser visto como um campo a ser maior seletividade alimentar (WYNN,
desvendado, a nutrição de pacientes on- 2006). Além disso, diversos aditivos,
cológicos já é uma realidade e algumas ingredientes e contaminantes encon-
descobertas nos permitem recomendar trados nas rações têm sido apontados
alterações dietéticas específcas3. Não como carcinógenos potenciais. Entre
existem estudos controlados que com- eles, podemos citar o uso de resíduos de
provem o valor de dietas específicas para abatedouros, metais pesados, conser-
todos os tipos de tumor, mas há indica- vantes e corantes proibidos para consu-
ções de benefícios obtidos com dietote- mo humano, aflatoxinas, pesticidas e re-
rapia para cães com linfoma e tumores síduos de promotores de crescimento6.
nasais4,5. Em virtude da ausência de es- Alguns autores acreditam ainda, que
tudos com tumores específicos, a dieta rações comerciais secas convencionais,
recomendada para esses tumores acaba que são o principal tipo de alimento ofe-
sendo a mesma para pacientes oncoló- recido aos cães e gatos, oferecem uma
gicos diversos, porque sua fundamenta- inadequação nutricional, quanto ao ba-
ção está baseada na redução da taxa de lanceamento de nutrientes, o que pro-
proliferação e formação de metástases4. voca, nos animais, um estado de incom-
petência imunológica, além de servir
Importância da dieta na de substrato para que células tumorais
oncologia iniciais evoluam para a doença clínica1,7.
A dieta do paciente oncológico deve Estudos que relacionam a composição
ser avaliada sobre três óticas: causadora, nutricional com o aparecimento de tu-
preventiva ou tratamento. O questio- mores são escassos e, geralmente, pouco
namento sobre a segurança de dietas esclarecedores. Observou-se uma pos-
comerciais disponíveis é crescente e sível redução na incidência de tumores
verídico6. Na medicina humana, diver- mamários em cadelas alimentadas com
sos fatores estão relacionados ao surgi- teores elevados de proteína, no entanto,
mento de tumores: obesidade, consumo alterações nos teores de extrato etéreo,
de alimentos de baixo valor  nutritivo, parecem não interferir no aparecimento
como farináceos e açúcares refinados, da doença2.
90 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
Se a primeira preocupação da nutri- que encontra-se desafiado do ponto de
ção é não fazer o mal, evitando compo- vista nutricional2. Além disso, um pa-
nentes potencialmente carcinogênicos, ciente desnutrido tem dificuldade para
os avanços na nutrigenômica ou inte- metabolizar drogas quimioterápicas de
ração de um nutriente diretamente na forma adequada, mostrando sinais co-
expressão genética têm se revelado uma laterais de toxicidade com mais intensi-
nova ferramenta na prevenção direta de dade e frequência4. Porém, o princípio
câncer. A dieta é sem dúvida o fator am- fundamental da nutrição do paciente
biental mais importante na expressão fe- oncológico é mantê-lo em normorexia,
notípica. Ou seja, não somente o DNA ou seja, toda e qualquer alteração dieté-
determina como o corpo responde a tica não é válida se o paciente não ingere
diferentes alterações dietéticas. Estas o alimento .
5

também interferem na expressão gêni-


ca através da modulação na transcrição, Particularidades
processamento e transporte de mRNA, nutricionais do paciente
afetando a síntese protéica. Nutrientes oncológico
específicos, como antioxidantes e áci- Diversas alterações metabólicas já
dos graxos da série ômega 3 podem di- foram elucidadas no paciente oncoló-
minuir agressões ao DNA que resultem gico, principalmente, nos cães. O de-
em mutações e, consequentemente, clínio de alguns aminoácidos, a perda
carcinogênese. Dietas baseadas na ca- de peso por proteólise, a depleção das
racterização de genótipos individuais reservas de lipídeos e a hiperlactatemia
estão num futuro não muito distante. são as principais delas. A perda de peso
Se informações genéticas específicas pode estar relacionada à anorexia, devi-
relacionados ao apareci- do a efeitos colaterais de
mento de tumores forem Se informações drogas quimioterápicas,
descobertas, poderemos genéticas específicas por exemplo, ou direta-
manipular a dieta de for- relacionados ao mente relacionada à sín-
ma que haja modulação aparecimento de drome paraneoplásica de
da sua expressão, preve- tumores forem caquexia, definida como
nindo o aparecimento da descobertas, perda de peso mesmo
doença8. poderemos manipular com aporte calórico apa-
É inegável que uma a dieta de forma que rentemente adequado,
dieta adequada pode, haja modulação da sua em virtude da esfoliação
sim, interferir na qualida- expressão, prevenindo do paciente pelo próprio
de de vida e longevidade o aparecimento da tumor4. Contudo, um
do paciente oncológico, doença. exame clínico detalhado,
Nutrição do paciente oncológico – uma visão integrativa 91
além de avaliar o escore de condição bilizador de lipólise (lipid-mobilizing
corporal, deve eliminar outras possíveis factor, LMF) , dificultando o armazena-
causas de perda de peso secundárias ou mento de lípides em adipócitos e acen-
paralelas ao câncer, como: diabetes, in- tuando a perda de peso1.
suficiência renal e cardíaca2. Alterações do metabolismo de ami-
Pacientes oncológicos caninos pos- noácidos específicos também são ob-
suem alterações do metabolismo protéi- servadas. Há uma redução dos amino-
co similar ao observado em roedores e ácidos glutamina, cisteína e arginina na
humanos e a perda de tecido muscular corrente circulatória. Logo, uma dieta
é a mais evidente1,3. A caquexia no pa- com altos teores de proteína de alta bio-
ciente com câncer é explicada por di- disponibilidade, bem como a comple-
versos mecanismos. Por muito tempo mentação com aminoácidos específicos,
acreditou-se que ela ocorria, principal- pode ser benéfica ao paciente, mas tam-
mente, por uma alteração da taxa de bém ao tumor2,3. A suplementação com
metabolismo basal, com o aumento da glutamina, um aminoácido facilmente
requisição energética em repouso, o que destruído no processo de fabricação de
é questionado por estudos recentes9. alimentos comerciais secos e úmidos,
Nos últimos anos, são descritos siste- pode melhorar a eficácia de tratamentos
mas proteolíticos, ativados por citocinas quimioterápicos e radioterápicos, além
e outros fatores tumorais, como o fator de diminuir seus efeitos colaterais e a
de necrose tumoral alfa (tumor necro- toxicidade. A suplementação de cisteí-
sis factor alpha, TNF-α) e o fator indu- na, componente importante do sistema
tor de proteólise induzido por tumor antioxidante da glutationa, principal
(proteolysis-inducing factor, PIF). O defensor da integridade celular e mo-
principal deles é o sistema proteolítico bilizador da resposta imune, tem mos-
ubiquitina/proteassoma. Eles levam di- trado atividade anticâncer e inibidora
retamente à atrofia muscular observada da neoangiogênese. A administração
em pacientes com câncer, de arginina, aminoácido
com a liberação dos ami- Pacientes oncológicos mais estudado na nutri-
noácidos na corrente cir- caninos possuem ção oncológica, tem sido
culatória para a produção alterações do benéfica em pacientes
de energia ou eliminação metabolismo protéico humanos com diversos
na urina3. Além disso, o similar ao observado tipos de tumor e sua res-
TNFa age indiretamen-
em roedores e humanos posta já foi avaliada em
te e conjuntamente com
e a perda de tecido pacientes caninos com
outras citocinas de ação
muscular é a mais linfoma e tumores nasais.
evidente
direta, como o fator mo- Ela favorece a resposta
92 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
a tratamentos quimiote- atualmente. Ambos são
Cães com linfoma
rápicos e radioterápicos, componentes de fosfolí-
têm valores
bem como reduz a imu-
significativamente mais pides da membrana celu-
nossupressão induzida lar. O efeito anti-inflama-
altos de triglicérides e
pelo tumor. Trata-se de valores mais baixos de tório dos ácidos graxos
um aminoácido essen- lipoproteínas de alta da série ômega 3 já é bem
cial, que participa da densidade. caracterizado. Sua degra-
reparação tecidual e esti- dação, após uma possível
mula a atividade de linfó- agressão contra a parede
citos T e NK (natural killers), além de celular, resulta na liberação de eicosa-
influenciar nos valores séricos de diver- nóides menos inflamatórios, ou mesmo
sas citocinas. Como única precursora com propriedades anti-inflamatórias,
do óxido nitrítico, molécula mensageira quando comparados ao ômega 6. Isso,
multifuncional, influencia a iniciação e por si só, já é benéfico para pacientes de
progressão tumoral com efeitos sobre tumores, que frequentemente possuem
a diferenciação, adesão e apoptose de algum processo inflamatório regional
células tumorais3. Seu uso em até 2% associado3.
da proteína bruta total tem se mostrado Mas o aumento do interesse pelos
seguro .2
PUFAs é justificado por descobertas de
Os perfis séricos de lipídios têm sido efeitos diretos na taxa de crescimento
estudados em alguns pacientes oncoló- tumoral. Seu uso é embasado por estu-
gicos caninos. Cães com linfoma têm dos em cultivos celulares, modelos vivos
valores significativamente mais altos de com roedores com diversos tipos de tu-
triglicérides e valores mais baixos de li- mor, estudos clínicos em pacientes on-
poproteínas de alta densidade. Mesmo cológicos humanos e caninos1. De for-
que dietas com altos teores de gordura, ma geral, podemos incluí-los no grupo
quando comparadas com dietas ricas em de substâncias que previnem o câncer
carboidratos, tenham sido relacionadas por atraso, como o tamoxifeno, interfe-
a uma melhor resposta à quimioterapia, ron-alfa, retinóides e anti-inflamatórios
sugere-se que o tipo de lipídeos ofereci- não esteróidais, que não ampliam a taxa
dos seja ainda mais importante. Ácidos de cura, mas aumentam os tempos de
graxos polinsaturados de cadeia longa remissão com efeitos colaterais, normal-
(polyunsaturated fatty acids, PUFAs), mente, pouco pronunciados3. Sugere-se
das séries 3, como o docosahexaenói- também um efeito antiproliferativo so-
co e o eicosapentaenóico, e das séries bre células tumorais, efeito anti-metas-
6, como o araquidônico, são, talvez, os tático e inibidor de caquexia (através da
nutrientes mais estudados na nutrição inibição de LMF e PIF)1, bem como o
Nutrição do paciente oncológico – uma visão integrativa 93
aumento da eficácia da o organismo a um ciclo
Antioxidantes
quimioterapia e radiote- energético ineficiente,
(vitamina E, C,
rapia . Acredita-se em
3,5
pois há necessidade de
carotenóides, zinco
um efeito através da pe- transformá-lo em glico-
e selênio) podem
roxidação lipídica, princi- ser benéficos como se novamente no fígado,
palmente quando admi- preventivos da o que pode agravar a ca-
nistrados conjuntamente carcinogênese, quexia1,3. Verifica-se que
com outros agentes pró- protegendo o DNA esta alteração metabóli-
-oxidantes, na ausência de agressões, levando ca persiste mesmo após
de vitamina E .3
a um menor índice de quimioteria e remoção
Ainda há dúvidas so- mutações. cirúrgica de tumores,
bre a dosagem efetiva de supondo uma ação du-
ácidos graxos ômega 3 radoura, mesmo em pa-
no tratamento do paciente oncológico, cientes que acreditamos curados ou sem
bem como a efetividade de outras fon- sinais clínicos3.
tes diferentes do óleo de peixe, como o Assim, as células tumorais, que pre-
óleo de linhaça. Mais estudos são neces- ferencialmente utilizam carboidratos
sários para esclarecer estas questões4. A como fonte energética, encontram difi-
maioria dos alimentos secos de qualida- culdades para metabolização de lipíde-
de superior apresenta proporções entre os, e consequentemente, reduzem sua
ácidos ômega 3 e 6 entre  1:10  e 1:5. taxa de proliferação4. Evidências que
Suplementação adicional pode levar a carboidratos simples são contraindica-
valores próximos de 1:1, mas alterações dos para pacientes oncológicos ganham
de coagulação já foram descritas nessa cada vez mais força3. Pacientes com lin-
faixa2. Pelo menos um estudo chegou foma alimentados com dietas ricas em
a proporções ainda mais altas, como gordura tem maiores períodos de remis-
1:0,3, com maiores períodos de remis- são. E com isso, uma dieta rica em gor-
são em cães com linfoma, sem efeitos dura é geralmente recomendada para a
colaterais10. maioria dos pacientes com câncer4.
Células tumorais têm uma taxa mais Antioxidantes (vitamina E, C, ca-
alta de metabolismo energético anaeró- rotenóides, zinco e selênio) podem ser
bio, dependendo mais de glicose para benéficos como preventivos da carci-
suprimento de calorias. Isso leva ao acú- nogênese, protegendo o DNA de agres-
mulo de lactato na corrente circulatória sões, levando a um menor índice de
(acidose metabólica), convertido a par- mutações2. Seu uso em altas doses para
tir do piruvato, metabólito da glicólise2. pacientes oncológicos, porém é contro-
Além disso, o acúmulo de lactato leva verso, porque pode interferir no meca-
94 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
nismo de ação de quimioterápicos que rio e a utilização de ingredientes de ori-
matam células tumorais por oxidação, gem duvidosa. Por fim, é um alimento
bem como sobre o efeito de ácidos gra- processado, alvo do questionamento já
xos da série ômega 31,2,4. Contudo, pelo discutido anteriormente por defensores
menos um autor tem sugerido que eles, da alimentação natural4. Se a dieta co-
ao contrário, aumentam o efeito dos mercial for a opção mais viável, conside-
quimioterápicos. Também acredita-se rando as particularidades do paciente e
em um efeito sinérgico entre vitaminas, do tutor, devem-se priorizar rações con-
minerais e enzimas antioxidantes, como vencionais de alta qualidade, com mais
a coenzima Q10, sendo recomendada de 35% de proteínas e 25% de gorduras,
a sua utilização em conjunto, em doses para o cão, e mais de 40% proteínas e
baixas ou moderadas5. 30% de gorduras, para o gato (em ma-
téria seca). A suplementação, principal-
Opções de dieta mente, com óleo de peixe, nesse caso, é
Existe no mercado americano uma especialmente indicada. Pacientes com
dieta comercial úmida que traz benefí- restrições alimentares específicas, com
cios por ser baseada nos pilares da nutri- insuficiência renal crônica, hipertrigli-
ção oncológica, com teores elevados de ceridemia e pancreatite devem reconsi-
proteínas e extrato etéreo, carboidrato derar2 esta dieta.
reduzido e adição extra de ácidos graxos No quadro 1, é apresentada uma
da série ômega 3 e do aminoácido argi- adaptação de uma dieta natural sugerida
nina. Apesar dos estudos que indicaram para pacientes com câncer5. Trata-se de
melhora do prognóstico dos pacientes uma dieta básica, que não é testada para
de linfoma, há problemas pontuais com consumo em longo prazo, ou seja, não
o produto em questão, como: a sua dis- há garantias se é completa para todos
ponibilidade, o custo para o proprietá- os animais, nas diversas condições me-
Quadro 1 – Dieta natural sugerida para pacientes com câncer (adaptação)5

COMPONENTE QUANTIDADE
Carne de ave ou de peixe cozida 50% do volume da dieta
Vegetais congelados ou frescos, cozidos ou crus 50% do volume da dieta
Azeite de oliva 15 ml para cada 10 kg de peso
Carbonato de cálcio 330mg para cada 10 kg de peso
Suplemento vitamínico mineral humano
1 para cães>10 kg; ½ para < 10 kg
(comprimido)
Óleo de peixe (cápsulas de 1000mg) 2 para cada 10 kg de peso
Quadro 1:Adaptado de WYNN, 2006
5

Nutrição do paciente oncológico – uma visão integrativa 95


tabólicas que se encontram. Mesmo as- do com outras modificações dietéticas
sim, serve de referência para utilização e terapia convencional, e não existem
na maioria dos pacientes oncológicos grandes estudos sobre dosagem e segu-
e recomenda-se reavaliação periódica rança para carnívoros domésticos, de-
para ajustes de acordo com a resposta vendo proceder com cautela1,5.
e evolução da doença. A melhor opção
seria buscar o auxilio de um nutrólogo Considerações finais
veterinário para confeccionar uma dieta Infelizmente, a percepção de que
livre de desbalanços grosseiros5. modificações dietéticas podem interfe-
Vários ingredientes de uso culiná- rir diretamente no aparecimento e con-
rio possuem interesse na nutrição do trole do câncer ainda é infrequente entre
paciente oncológico. A cúrcuma ou o os veterinários alopatas, seja por desco-
açafrão da terra possui atividade anticar- nhecimento sobre a patofisiologia dos
cinogênica e antioxidante11. Sugere-se o sinais observados no paciente oncológi-
uso de uma colher de chá para cada 25 co ou por treinamento insuficiente em
kg de peso vivo5. O alho pode induzir nutrição animal. Porém, a dietoterapia
diferenciação e apoptose em células tu- é considerada, já há algum tempo, um
morais, mas seu efeito anticarcinogêni- dos pilares da terapia oncológica com-
co ainda não é totalmente esclarecido1. plementar. Apesar de improvável efeti-
É recomendado em doses de até um vidade por si só, uma dieta natural e que
dente de alho fresco para cada 20 kg de inclua componentes nutracêuticos pode
peso vivo5. Porém, sua utilização é ques- ser útil não só na prevenção do câncer
tionável pela possibilidade de indução em pacientes saudáveis, mas também no
de anemia hemolítica em tratamento quando com-
altas doses .
2 Alimentos e extratos binada com terapias con-
Alimentos e extra- vegetais ricos em vencionais, aumentando
tos vegetais ricos em flavonoides (frutas a imunidade do paciente
flavonoides (frutas ver- vermelhas, chá verde, e reduzindo a progressão
melhas, chá verde, soja) soja) também têm da doença.
também têm seu uso re- seu uso recomendado Por mais que desco-
comendado por suas já por suas já descritas bertas específicas contri-
descritas propriedades propriedades buam para nortear nossas
antioxidantes e indutoras antioxidantes decisões sobre o que ofe-
de diferenciação e apop- e indutoras de recer como alimento ao
tose em células tumorais. diferenciação e paciente com câncer, não
Mas, novamente, seu uso apoptose em células podemos deixar de en-
só faz sentido combina- tumorais. xergar o cenário comple-
96 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 70 - setembro de 2013
to. Não é somente um paciente oncoló- guide to over 200 conditions, herbs, vitamins and su-
pplements, New York: Three Rivers Press, 2001. p.
gico, mas um animal com necessidades 44-53.
nutricionais específicas, em um ambien- 5. WYNN, S.G. Natural medicine for cancer patients.
te familiar variável e com um tutor que, Procedings of North American Veterinary Conference,
2006.
em alguns casos, apresenta limitações
6. PITCAIRN, R.H.; PITCAIRN S.H. What´s really
diversas, inclusive financeiras. Muitas in pet food. In: PITCAIRN, R.H.; PITCAIRN
vezes, conceitos básicos de nutrição são S.H. Dr. Pitcairn’s complete guide to natural health
esquecidos e os melhores suplementos for dogs and cats. 3.ed. United States of America:
Rodale, 2005. Cap 2, p. 9-28.
não vão fazer muito por um animal que
7. LONSDALE, T. Junk pet food and the damage
já recebe uma dieta inadequada. A dieta done. Nexus Magaz., v. 14, n. 6, P. 31-35, 2007.
prescrita para um paciente deve ser sim- 8. VESTER, B.M.; SWANSON, K. Nutrient-gene in-
ples, acessível e de fácil entendimento. E teractions: application to pet nutrition and health.
Vet. Focus, v.17, n.2, P. 25-32, 2007.
não um esboço da complexa ciência que
9. ARGIULES, J.N.; RODRIGO, M.C.; BUSQUETS,
é a nutrição, a qual ganha nova dimen- S.; LÓPEZ-SORIANO, F.J. Catabolic mediators as
são na sua interseção com a oncologia.  targets for cancer caquexia. Drug Discov. Today, v. 8,
n. 18, p. 838-844, 2003.

Referências 10. OLGIVIE, G.K.; FETTMAN,


MALLINCKRODT, C.H. et al. Effect of fish oil,
M.J.;

1. DAVENPORT, D.J., ROUDEBUSH, P. The use arginine, and doxorubicin chemotherapy on remis-
of nutraceuticals in cancer therapy. Procedings of sion and survival time for dogs with lymphoma:
North American Veterinary Conference, 2006. a double-blind, randomized placebo controlled
study. Cancer, v. 88, n. 8, P. 1916-1928, 2000.
2. WAKSHLAG, J.J., KALLFELZ, F.A. Nutritional
status of dogs with cancer: dietetic evaluation and 11. PIPER, J.T.; SINGHAL, S.S.; SALAMEH, M.S. et
recommendations. In: PIBOT, P.; BIOURGE, V.; al. Mechanisms of anticarcinogenic properties of
ELLIOT, D.A. Encyclopedia of canine clinical nutri- curcumin: the effect of curcumin on glutathione
tion. Paris: Aniwa SAS, 2006. Cap. 13, p. 408-425. linked detoxification enzymes in the liver. Int. J.
Biochem. Cell Biol., v. 30, n. 4, p. 445-456, 1998.
3. OLGIVIE, G.K. Nutrition and cancer: frontiers for
cure. Procedings of WASAVA world congress, 2006.
4. MESSONNIER, S. Cancer. In: MESSONNIER,
S. Natural Health Bible for dogs and cats: your A-Z

Nutrição do paciente oncológico – uma visão integrativa 97

Vous aimerez peut-être aussi